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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE UERN CAMPUS AVANÇADO “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA” – CAMEAM DEPARTAMENTO DE LETRAS DL Programa de Pós-Graduação em Letras - PPGL Mestrado Acadêmico em Letras Área de concentração: Estudos do Discurso e do Texto Análise das marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e na conclusão das monografias de alunos da graduação do curso de Letras/UERN IVONEIDE AIRES ALVES DO REGO Pau dos Ferros 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN CAMPUS AVANÇADO “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA” – CAMEAM

DEPARTAMENTO DE LETRAS – DL Programa de Pós-Graduação em Letras - PPGL

Mestrado Acadêmico em Letras Área de concentração: Estudos do Discurso e do Texto

Análise das marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e na conclusão das monografias de alunos da

graduação do curso de Letras/UERN

IVONEIDE AIRES ALVES DO REGO

Pau dos Ferros 2012

IVONEIDE AIRES ALVES DO REGO

Análise das marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e na conclusão de monografias de alunos da graduação do curso

de Letras/UERN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL), do Departamento de Letras, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado “Profª Maria Elisa de Albuquerque Maia”, como requisito para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientadora: Profª. Dra. Maria do Socorro Maia Fernandes Barbosa.

Pau dos Ferros 2012

Rego, Ivoneide Aires Alves do.

Análise das marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e na conclusão das monografias de alunos da graduação do Curso de Letras/UERN. / Ivoneide Aires Alves do Rego. – Pau dos Ferros, RN, 2012.

97 f.

Orientador (a): Prof.ª Dra. Maria do Socorro Maia F. Barbosa.

Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Departamento de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras. Área de Concentração: Estudos do Discurso e do Texto.

1. Gênero – Dissertação. 2. Monografia – Análise – Dissertação. 3. Marcas Ideológico-Discursivas – Dissertação. I. Barbosa, Maria do Socorro Maia F. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III.Título.

UERN/BC CDD 401.41

Catalogação da Publicação na Fonte. Bibliotecário: Tiago Emanuel Maia Freire / CRB - 15/449

IVONEIDE AIRES ALVES DO REGO

Dissertação “Análise das marcas ideológico-discursivas presentes na

introdução e na conclusão das monografias de alunos da graduação do curso de

Letras/UERN” aprovada como requisito para obtenção do título de Mestre em Letras,

na área de Estudos do Discurso e do Texto, apresentada ao Campus Avançado

“Profª Maria Elisa de Albuquerque Maia” – CMAEAM, da Universidade do Estado do

Rio Grande do Norte – UERN, elaborada sob orientação da Profª. Dra. Maria do

Socorro Maia Fernandes Barbosa.

Aprovada em 13 de dezembro de 2012

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Profª. Dra. Maria do Socorro Maia Fernandes Barbosa – UERN

Orientadora

_____________________________________________________________ Profª. Dra. Marília Varella Bezerra de Faria - UFRN

Examinadora

_____________________________________________________________ Prof. Dr. João Bosco Figueiredo Gomes – UERN

Examinador

_____________________________________________________________ Profª Dra. Maria Lúcia Pessoa Sampaio – UERN

Examinadora (Suplente)

Ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo.

Foucault

Às minhas filhas, razão maior da minha existência,

rochas terrenas que me dão força para mover o mundo, por elas...

A Ayesha y Ayssa, que ainda adentrando o complexo mundo dos adultos,

foram inconscientemente obrigadas a ceder muitos dos momentos que poderíamos ter passado juntas.

AGRADECIMENTOS

A Deus, Soberano que me concedeu o dom da sabedoria

e paciência para superar os obstáculos encontrados no decorrer da elaboração desse trabalho.

Aos Professores do curso, Mestres com M maiúsculo,

profissionais competentes, dedicados e verdadeiros orientadores que muito contribuíram compartilhando conhecimentos, mediando caminhos e

saberes, responsáveis por nossa formação acadêmica e acima de tudo pessoal.

Em meio a esse seleto grupo, destaco a Profª Socorro Maia, minha orientadora, professora, amiga,

Mestre que me viu dar os primeiros passos no universo acadêmico e soube me guiar diante de todas as dificuldades,

me viu crescer e percebeu em mim muitas vezes, a capacidade de avançar, mesmo eu não me sentindo capaz de superar as dificuldades encontradas,

A você professora, o maior de todos os agradecimentos.

Aos amigos colegas de curso que juntos trilhamos caminhos, superamos dificuldades e sempre juntos mesmo por meio de formas diversas sempre presentes

incentivando uns aos outros para que juntos chegássemos à essa vitória.

À minha Mãe, Que mesmo sem compreender o valor desse trabalho,

me ensinou a valorizar o saber e sempre acreditou que o estudo fosse a porta para o conhecimento,

domínio do mundo, e sucesso pessoal, Obrigada mãe.

À Leo,

Por acreditar em mim quando nem eu mesma mais acreditava.

A Deus por ter colocado em meu caminho pessoas que puderam me ajudar das mais variadas formas, a essas que não dar pra listar o nome porque foram muitas,

oro a Deus para que vocês também sejam abençoadas com anjos em seus caminhos

assim como fui abençoada com vocês na minha vida.

REGO, I. A. A, Análise das marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e na conclusão de monografias de alunos da graduação do curso de Letras/UERN. Pau dos Ferros, 2012. 97 p. Dissertação de Mestrado. Mestrado em Letras. Departamento de Letras, Campus Avançado Profª Maria Elisa de A. Maia. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

RESUMO

Os estudos que tratam dos gêneros textuais se configuram em diversas áreas de investigação, mostrando ser, atualmente, um campo muito fértil na área acadêmica. As pesquisas que tratam de gêneros, mais precisamente gêneros acadêmicos, estão pautadas na ideia de que os sujeitos que produzem seus discursos, mesmo estando presos às normas de produção científica e acadêmica, revelam em seus textos as marcas de seus discursos e da ideologia presente em seu contexto de produção. Compartilhando dessas concepções, bem como o conceito bakhtiniano sobre ideologia, linguagem e discurso, situamos nossa pesquisa, com a intenção maior de investigar e analisar as produções dos alunos da primeira turma do curso de Língua Espanhola do CAMEAM/UERN. Com o objetivo identificar e analisar as marcas ideológico-discursivas dos alunos autores de seus trabalhos monográficos, considerando o contexto histórico, político e social como elementos que interferem na produção dos seus discursos e neles deixam marcas reconhecíveis e passíveis de análise. Para tanto, realizamos um estudo teórico que deu prioridade aos trabalhos de Bakhtin (2003 e 2006), Fiorin (2007), os quais contribuíram na compreensão sobre os conceitos de discurso, ideologia e gêneros; Swales (2008) o qual desenvolveu um modelo de análise de gêneros, mais precisamente gêneros acadêmicos. As normas de produção acadêmica presentes nos manuais de orientação de Köche (2009), Martins Júnior (2010), Moroz (2006), Lakatos (2007),Oliveira (2009), os quais apresentam as regras básicas necessárias à construção da produção escrita na academia. Além das contribuições de Araújo (2008), Motta-Roth (2008), Biasi-Rodrigues; Hemais e Araújo (2009) e Bezerra (2009), dos quais retiramos o conceito de Unidades Retóricas utilizado na análise do corpus coletado. Como procedimento metodológico, selecionamos treze monografias, das quais separamos as seções de introdução e de considerações finais, buscamos identificar o conjunto de informações que as compunham, atentando para as mais recorrentes, separando-as e agrupando-as conforme as unidades e subunidades retóricas. Os resultados obtidos mostraram que as introduções das monografias variam quanto a sua estruturação mediante os pré-requisitos necessários para sua constituição, a delimitação do tema, objetivos, justificativa, metodologia e marco teórico. Encontramos variações em relação à disposição das informações que compõem as Unidades e Subunidades Retóricas, principalmente na descrição da justificativa e da metodologia. A análise das considerações finais mostrou que os alunos tiveram dificuldades em articular a discussão dos resultados obtidos com suas respectivas pesquisas. Mostrou ainda as marcas ideológico-discursivas presentes nas introduções e considerações finais das monografias dos alunos estão atreladas ao curso de formação, às leis de regulamentação do espanhol, do curso de formação e das concepções por eles apreendidas com o estudo da teoria de base de suas pesquisas. Em suma, foi possível compreender como a produção escrita acadêmica deve ser organizada,

quais os requisitos mínimos para sua constituição enquanto gênero acadêmico e científico, bem como as dificuldades dos alunos em fazer uso das normas que regularizam a produção acadêmica, e, ao mesmo tempo não consegue se desprender delas para por em evidência seu discurso pessoal ao concluir seus trabalhos. Palavras-chave: Gênero. Monografia. Marcas ideológico-discursivas. Introdução. Considerações finais.

REGO, I. A. A, Analyze of the dialogic discourse marks of the introduction and conclusion of students’ monograph of graduation course of Letras/UERN. Pau dos Ferros, 2012. 97 p. Mastery Dissertation. Mestrado em Letras. Departamento de Letras, Campus Avançado Profª Maria Elisa de A. Maia. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

ABSTRACT

The studies that treat about text genres are involved in many field and research areas, showing to be in present days, a fertile field in the academic area. The researches that involve genres, more specifically academic genres are based on a idea that the individual that produce their discourse, even been guilt to the produce scientific academic rules, they reveal in their discourses the marks of their discourses and ideology present in their produce context. Sharing of these conceptions, even taking by north the bakhtinian concept about ideology, language and discourse that we situate our research, with the main purpose of investigate and analyze the student’s production of the first group of the Spain Course of the CAMEAM/UERN. Starting of our main objective identify and analyze the discourse ideological marks of the students authors of theirs monographic works, considering the historical, politic and social context as elements that interfere in the production of their discourses and in itself leave marks recognized and possible by analyzes. For that, we realized a theory study that give priority to the Bakhtin (2003, 2006) studies, and Fiorin (2007), who contributed in the comprehension about the discourse concepts, ideology and text genres, Swales (2008) who developed a genre analyze model more precisely academic genres. The rules of academic production in the handbooks orientations of Köche (2009), Martins Junior (2010), Moroz (2006), Lakatos (2007) and Oliveira (2009) that presented the basic rules necessary to the building of the writing produce in the academy. Beyond of contribute of Motta-Roth (2008), Biasi-Rodrigues; Hemais and Araújo (2008) and Bezerra (2008), from what we retired the concepts of Rhetoric Unities used in the comprehension and analyzes of the text constitute of introduce and final considerations of the monographic corpora of this research. As methodological procedure by analyze, been in a holy thirteen monographic, among theirs we separated the introduction sections and the final considerations, we find identify the group information that organized them, attempted to the recurrent information presents in the corpora analyzed, separating the information and adding according to the rhetoric unities with more information and rhetoric subunits with more detailed information. The obtained results through the corpora showed that the introductions of the monographs vary about the structure because of the necessary requirement for their constitution, the theme delimitation, objectives, justify, methodology and the theory mark, we found variations connected to the disposition of the information that compose the Unities and Subunits Rhetoric mainly in the methodology and justify description, and more incidents in the others items. The analysis of the final considerations showed that the students had difficulties in to articular the results discussion obtained with their respective researches. The analyze also showed the discourses and ideological marks in the students monographs joined at the formation course, at the laws that regulate the Spain in the Brazilian teaching, of the formation course and the conceptions apprehend by them with the base theory of their researches. In the end, it was possible to comprehend

how the writing academic production must be organized, what are the necessary requirement to its constitution while scientific and academic genre, as well, the students difficulties in using the rules that regulate the academic production and at the same time don’t get to give off them to put in evidence their personal discourse in their works conclusion. Key words: Genre. Discourse and ideological marks. Introduction. Final considerations.

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - A organização retórica de resenhas de especialistas ................... 31

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Dados quantitativos da análise das introduções das monografias ................................................................................................................................... 56 Tabela 02 – Dados quantitativos da análise das considerações finais das monografias .............................................................................................................74

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

OS ESTUDOS SOBRE OS GÊNEROS .................................................................... 19

1.1 Contextualização histórica sobre o estudo dos gêneros .............................. 19

1.2 Gênero e comunidade discursiva .................................................................... 24

1.3 Contextualizando a monografia como gênero produzido na comunidade

acadêmica ................................................................................................................ 31

ESTUDOS SOBRE IDEOLOGIA E LINGUAGEM .................................................... 36

2.1 Considerações sobre ideologia e linguagem ................................................. 36

2.2 A materialização da ideologia e do discurso nas esferas sociais ................ 40

DELINEAMENTO DA AÇÃO INVESTIGATIVA ........................................................ 45

3.1 O tema pesquisado ........................................................................................... 45

3.2 O método escolhido .......................................................................................... 46

3.3 A escolha e seleção do corpus ........................................................................ 46

3.4 Da análise e interpretação dos dados ............................................................. 48

3.5 O tratamento e tabulação dos dados............................................................... 50

AS MARCAS IDEOLÓGICO-DISCURSIVAS PRESENTES NA INTRODUÇÃO E

CONCLUSÃO DE MONOGRAFIAS DE ALUNOS DA GRADUAÇÃO .................... 54

4.1 Organização das marcas ideológico-discursivas no gênero monografia: ... 55

4.1.1 Considerações sobre a unidade retórica 01 – introdução do trabalho ..... 57

4.1.1.1 A Subunidade 1 – Contextualizando o trabalho ............................................ 58

4.1.1.2 Subunidade 2 – Apresentando o tema .......................................................... 60

4.1.1.3 Subunidade 3 - Apresentando objetivos ........................................................ 61

4.1.1.4 Subunidade 4 – Questionando o tema .......................................................... 63

4.1.1.5 Subunidade 5 – Descrevendo aspectos metodológicos ................................ 65

4.1.2 Considerações sobre a unidade retórica 02 – justificativa ......................... 66

4.1.2.1 Subunidade 1 - Argumentando sobre a relevância da pesquisa ................... 67

4.1.2.2 Subunidade 2 – Relacionado a pesquisa com a teoria de base .................... 68

4.1.2.3 Subunidade 3 – Apontando a relevância pessoal ......................................... 69

4.1.2.4 Subunidade 4 - Apontando a relevância acadêmica ..................................... 71

4.1.3 Considerações sobre a unidade retórica 03 – Apresentação dos capítulos

da monografia .......................................................................................................... 72

4.2 Organização das marcas ideológico-discursivas no gênero monografia:

seção de considerações finais ............................................................................... 73

4.2.1 Considerações sobre a unidade retórica 01 – Retomada da proposta da

pesquisa ................................................................................................................... 75

4.2.1.1 Subunidade 1 – Retomando o tema .............................................................. 75

4.2.1.2 Subunidade 2 – Retomando os objetivos ...................................................... 78

4.2.2 Considerações sobre a unidade retórica 02 – Retomada dos resultados . 79

4.2.2.1 Subunidade 1 – Sintetizando os achados ..................................................... 80

4.2.2.2 Subunidade 2 – Sugerindo soluções ............................................................. 81

4.2.3 Considerações sobre a unidade retórica 03 – Contribuição da pesquisa . 82

4.2.3.1 Subunidade 1 – Apresentando a importância final da pesquisa .................... 83

4.2.3.2 Subunidade 2 – Contribuindo com a ciência ................................................. 83

4.2.3.3 Subunidade 3 - Contribuindo com o ensino ................................................... 85

4.3 As marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e nas

considerações finais ............................................................................................... 86

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 90

Introdução

14

INTRODUÇÃO

O texto acadêmico nos últimos tempos tem se configurado como um objeto

de estudo das mais variadas áreas da linguagem e por sua especificidade e

cientificidade, tem despertado o interesse de pesquisadores dos estudos do texto e

da linguagem.

Diversas pesquisas já foram feitas a respeito das produções que circulam no

universo acadêmico, dentre eles, Swales (1990 apud Biasi Rodrigues 2009 ) ganhou

destaque nessa área com o resultado de suas pesquisas nos estudos do texto e do

discurso, com ênfase na análise da estrutura organizacional do texto acadêmico,

criando um modelo de análise e desenvolvendo conceitos que serviram de base

para diversos pesquisadores posteriores.

Autores como Motta-Roth (2008), Araújo (2008) e Bezerra (2009), por

exemplo, foram alguns dos estudiosos que se destacaram no Brasil em relação ao

estudo do texto acadêmico, nas mais variadas formas de representação do uso da

linguagem que circula no meio acadêmico-científico, utilizando como referência e

modelo de análise os resultados das pesquisas de Swales (1990).

Dentre as pesquisas já realizadas pelos mencionados autores, tornou-se

evidente que o aluno universitário tem problemas no uso e aplicação do

conhecimento teórico acadêmico adquirido no decorrer do curso na construção da

redação de suas pesquisas, ou seja, o aluno tem dificuldades em unificar a teoria

encontrada nas pesquisas bibliográficas e seu discurso pessoal no momento de

produção do discurso acadêmico, resultando, na sua maioria, em textos acadêmicos

que se configuram como recortes de ideias dos autores, mais do que propriamente

em discursos de compreensão e interpretação própria do aluno.

Fato esse observado a partir do nosso contato com os alunos da primeira

turma do curso de Letras Língua Espanhola do Campus Avançado Profª Maria Elisa

de Albuquerque Maia – CAMEAM da Universidade do Estado do Rio Grande do

Norte – UERN. Oportunidade essa que nos colocou frente a alunos, orientandos,

que possuíam inúmeras dúvidas sobre como articular a teoria e a prática durante

suas primeiras pesquisas científicas e na redação de suas pesquisas, no caso, a

construção de seus trabalhos monográficos.

15

Durante essa experiência, foi perceptível que os alunos em sua maioria

tinham dificuldades com a construção da redação científica, além das dúvidas sobre

como e onde exprimir suas opiniões e conclusões próprias geradas com a pesquisa,

e, ao mesmo tempo, seguir as orientações, normas e estruturas mínimas exigidas

pelos manuais de redação acadêmico-científica.

A partir de então, o problema foi detectado, a dificuldade dos alunos na

redação científica dos seu trabalhos acadêmicos, tornando-se objeto de estudo e

motivação pessoal e profissional, pois como profissional, é preciso conhecimento

teórico, prático e científico para orientar melhor o aluno da graduação durante o

processo de produção e construção de sua monografia.

No tocante ao Curso de Mestrado, essa pesquisa contribui com a linha de

pesquisa Texto, ensino e construção de sentidos, uma vez que está voltada para o

estudo do texto acadêmico, o qual se liga ao ensino na graduação e busca ainda a

construção de sentido nas marcas ideológico-discursivas presentes nas Introduções

e Considerações Finais das monografias que constituem o corpus dessa pesquisa.

Cabe salientar que o espaço acadêmico vem se configurando nos últimos

tempos como um ambiente de pesquisas não apenas externas, ou seja, fora do

universo acadêmico, mas também internas, o espaço acadêmico como produtor de

discursos específicos, com o intuito de averiguação do alcance das propostas de

trabalho desenvolvidas nas mais diversas áreas. Proporciona, então, uma avaliação

da produção realizada dentro do próprio meio acadêmico, observando as

especificidades de cada área de estudo.

Diante desses fatores, analisamos como ocorre, na organização do texto

acadêmico, a disposição do conteúdo científico gerado com a pesquisa e a

interpretação pessoal do aluno pesquisador. Optamos pelo estudo de treze

monografias, das quais escolhemos as seções de introdução e de considerações

finais, pelo fato de se configurarem em espaços onde o aluno apresenta os recursos

linguísticos textuais que validam o seu trabalho e dão forma a um texto dissertativo-

argumentativo e, ao mesmo tempo, científico.

Nesse estudo, atentamos para os seguintes questionamentos que deram

origem à essa investigação: (i) como os alunos organizam a introdução e a

conclusão de suas monografias? (ii) Quais marcas ideológico-discursivas podemos

encontrar em textos de alunos da graduação? (iii) Que ideologias (pessoais,

teóricas, históricas e sociais) se encontram presentes no texto monográfico.

16

Assim, traçamos como meta geral para o desenvolvimento dessa pesquisa

identificar e analisar as marcas ideológico-discursivas que compõem as seções de

introdução e conclusão das monografias da primeira turma de graduação do curso

de Letras Língua Espanhola do CAMEAM/UERN. E, de modo específico,

objetivamos: (i) analisar como os alunos organizam a introdução e a conclusão de

suas monografias (ii) identificar e analisar as marcas ideológico-discursivas

encontradas em textos de alunos da graduação;; (iii) verificar que ideologias

(pessoais, teóricas, históricas e sociais) se encontram presentes no texto

monográfico.

Dessa forma, ao realizarmos nossa pesquisa, tomamos por base os

conceitos de texto e ideologia expressos em: Bakhtin (2006), Fiorin (2007),

Guimarães (2009), Brandão (2004), Orlandi (2007). As concepções sobre gênero

textual e discurso presentes em Bakhtin (2003), Marcuschi (2008), Motta-Roth

(2008), Araújo (2008), Bezerra (2009), Machado (2005), e os conceitos e

orientações de produção do texto acadêmico, expressos nos manuais de redação

científica com os ensinamentos de Oliveira (2009), Martins Junior (2010), Moroz

(2006), Köche (2009), Lakatos (2007), dentre outros trabalhos que apresentaram

contribuições para o desenvolvimento dessa pesquisa.

Em suma, nossa pesquisa vem acrescentar novas discussões relacionadas

ao discurso, ao promover estudos sobre aspectos relacionados à ideologia e à

linguagem, assim como põe em evidência o texto acadêmico como objeto de estudo

para o aprimoramento de conhecimentos científicos.

Para a compreensão de como nossa pesquisa foi realizada e quais os

resultados encontrados, desenvolvemos este trabalho dissertativo que se encontra

dividido em quatro capítulos. O Capítulo 1 “Os estudos sobre os gêneros textuais”

apresenta um apanhado teórico dos principais conceitos de gêneros e comunidade

discursiva, bem como uma breve descrição dos trabalhos desenvolvidos acerca do

estudo dos gêneros relacionados ao espaço acadêmico e científico. O Capítulo 2

“Estudos sobre ideologia e linguagem” traz um estudo das principais concepções

sobre ideologia e linguagem, considerando as noções de discurso, formação

discursiva e ideológica. O Capítulo 3 “Delineamento da ação investigativa”

compreende a descrição do método e dos procedimentos utilizados para a

realização da pesquisa, assim como a descrição do tratamento e análise dos dados

coletados. O Capítulo 4 “As marcas ideológico-discursivas na introdução e

17

conclusão de monografias de graduação” apresenta a análise quali-quantitativa e

interpretativa das marcas ideológico-discursivas presentes no corpus escolhido para

a realização da nossa investigação.

Por fim, as Considerações finais, onde sintetizamos os resultados

encontrados com a pesquisa, avaliamos a contribuição dos teóricos para o estudo e

desenvolvimento desse trabalho, assim como discutimos acerca dos resultados

obtidos. E, como toda pesquisa científica não é estanque, nem encerra nos seus

resultados, nosso trabalho conclui demonstrando os espaços para futuras pesquisas

e aprimoramento do discurso ideológico aqui apresentado.

18

Capítulo I

19

OS ESTUDOS SOBRE OS GÊNEROS

Se os gêneros do discurso não existissem e nós não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente e pela primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria quase impossível.

Bakhtin

Neste primeiro capítulo, fazemos uma discussão teórica sobre um tema que

tem ganhado cada vez mais espaço meio às pesquisas em torno da linguagem, os

gêneros textuais e seu universo de manifestação nas práticas de linguagem.

Trabalhamos inicialmente com os pressupostos teóricos de Bakhtin (2003), o

qual defende os gêneros como uma manifestação da linguagem de acordo com os

diversos campos da atividade humana. Fizemos uma trajetória pela concepção de

gêneros e comunidade discursiva de Swales (1990), assim como, pelo

conhecimento acerca dos trabalhos significativos de Araújo (2008) e Motta-Roth

(2008) como desdobramento e aplicação do modelo de pesquisa projetado por

Swales para o estudo dos gêneros. Por fim, fizemos um passeio pelo trabalho de

Bezerra (2009) que uniu as contribuições de Motta-Roth (2008) e Araújo (2008) para

a realização de sua pesquisa em torno dos gêneros.

Dessa forma, trazemos inicialmente uma contextualização das teorias que

abordam o estudo dos gêneros, desde os primórdios até as pesquisas mais

recentes, buscando compreender o que são gêneros e como os estudos sobre

gêneros evoluíram. Depois nos delimitamos ao estudo das pesquisas que

relacionam os gêneros à esfera acadêmica e científica.

1.1 Contextualização histórica sobre o estudo dos gêneros

Os estudos acerca dos gêneros, embora pareçam recentes, já existiam

desde as antigas civilizações, tendo suas origens na Grécia antiga com os estudos

platônicos e aristotélicos, marcando o início das discussões a respeito dos gêneros

textuais.

20

Ambos Platão e Aristóteles apresentaram postulados significativos para a

apreensão do conceito de gêneros a partir das esferas e condições de produção dos

discursos. Platão limitou seus estudos aos gêneros literários – lírico, épico e

dramático, e Aristóteles se voltou para o estudo dos gêneros retóricos, delimitando-

os a três grandes gêneros: judiciário, deliberativo e epidíctico, e, junto a esses três

gêneros, encontram-se interligadas as noções de éthos, lógos e páthos, o primeiro

relativo ao sujeito, o segundo diz respeito ao saber, à razão e o terceiro referente ao

público ou auditório. (REBOUL, 2004)

Quando Aristóteles se deteve nos elementos do lógos surgiram as

implicações dos argumentos que objetivam situar o ouvinte, é no cerne dessas

relações de situar e contextualizar o ouvinte que foi possível encontrar a ligação

entre os gêneros e suas esferas de produção e circulação. (ROJO, 2008)

Nesses termos, os estudiosos clássicos, quando se propuseram a pensar a

língua, reconheceram traços linguísticos formando determinados conjuntos de

enunciados dotados de certas similaridades em suas composições, e portanto,

sendo possível delimitá-los e classificá-los. A despeito da noção de texto e discurso

vigentes na época, o reconhecimento de uma tipicidade linguística permitiu o estudo

e a análise destes, atrelados às esferas da atividade social que permitiam suas

respectivas construções e circulação.

Embora já naquela época houvesse certa preocupação com o contexto de

produção e circulação dos gêneros discursivos, os estudos acerca desse tema

estavam muito mais voltados para os gêneros literários, quando, na verdade,

deveriam ser reconhecidos “como determinados tipos de enunciados que são

diferentes de outros tipos, mas têm com estes uma natureza verbal (linguística)

comum.” (BAKHTIN, 2006, p. 262-263, grifos do autor)

Em outras palavras, os discursos podem se diferenciar quanto ao tipo, a

forma, o conteúdo, a origem, a finalidade, etc, mas partem de um núcleo enraizado

na essência da atividade comunicativa humana que é a linguagem em uso nas mais

diversas situações de interação, mas que apresentam similaridades comuns, que ao

mesmo tempo, permitem reconhecê-las.

Mais de vinte séculos depois dos estudos platônicos e aristotélicos, a

concepção de gêneros esteve atrelada à literatura clássica, nesses termos seria

difícil listar aqui todos os estudos já feitos sobre os gêneros no decorrer desse

21

tempo, dada a enorme quantidade de produção cultural e linguística já registrada

pela humanidade. (MARCUSCHI, 2008)

Todavia as concepções sobre gênero transpuseram os domínios dos

estudos literários e retóricos, sobretudo após os trabalhos do pensador russo Mikhail

Bakhtin no século XX com a publicação do livro Marxismo e Filosofia da Linguagem,

bem como da obra Estética da criação Verbal, na qual se encontra um adendo que

trata unicamente dos gêneros do discurso.

Na modernidade, os preceitos bakhtinianos sobre os gêneros do discurso

representaram um marco nos estudos a respeito da relação entre linguagem e

atividade social que fora iniciado por outros estudiosos.

Porém, Bakhtin (2006) era contra os postulados estruturalistas que

defendiam o estudo da linguagem de forma dissociada, ou seja, língua e fala,

indivíduo e sociedade eram tratados sob ponto de vista isolados. Bakhtin (2006) viu

justamente no contexto de produção e uso da língua um vasto campo de pesquisa e

compreensão da linguagem. Para Bakhtin, todas as atividades humanas estão

associadas ao uso da linguagem, bem como o explica ao afirmar que:

O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional. (BAKHTIN, 2006, p. 261)

Sob esse ponto de vista, a linguagem origina-se a partir de uma mesma

base, a interação comunicativa. Nesse caso, cada construção linguística é única por

estar ligada ao sujeito que a produz. Todavia essa produção está alicerçada nas

situações comunicativas compartilhadas por todos os indivíduos em seus

respectivos campos e áreas de atuação em sociedade.

Por isso, Bakhtin (2006, p. 262) afirma que “cada enunciado particular é

individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente

estáveis de enunciados.” Esses campos de uso da língua são “estáveis” por

apresentarem similaridades no uso da linguagem, mas existe a “relatividade” pelo

22

fato de que cada indivíduo faz uso da linguagem de modo diferente por razões

diversas, por isso cada enunciado é visto de modo pessoal e particular.

Assim como a diversidade de gêneros pode ser considerada infinita dada a

imensa variedade de gêneros discursivos, sejam eles orais ou escritos, produzidos a

partir da multiplicidade das interações humanas, principalmente se tomarmos como

exemplos resultantes dessas interações e atividades, as réplicas do diálogo

cotidiano, a carta, documentos oficiais e não oficiais, as diversas formas de

publicações científicas e todos os gêneros literários, desde uma frase poética a um

grande e volumoso romance. Entretanto cada uma dessas manifestações de

linguagem possui em comum a mesma característica, representam a língua em uso.

Dada a ideia de que há uma heterogeneidade de gêneros discursivos,

Bakhtin (2006) aponta a necessidade de classificação e distinção entre os gêneros

discursivos, classificando-os em gêneros primários e gêneros secundários, os

primeiros sendo considerados simples e os segundos complexos:

Os gêneros discursivos secundários (complexos - romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos, etc.) surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado (predominantemente o escrito) – artístico, científico, sociopolítico, etc. No processo de sua formação, eles incorporam e reelaboram diversos gêneros primários (simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata. (BAKHTIN, 2006, p. 263, grifos do autor)

De modo mais claro, podemos entender os gêneros primários (simples)

como aqueles que se constroem a partir das relações e interações mais imediatas

entre indivíduos, uma conversa na rua com um desconhecido, um cumprimento, um

lembrete em um pedaço de papel, um diálogo entre conhecidos, um pedido de

ajuda, conversas oriundas de favores como o empréstimo de uma caneta, um

isqueiro, um papel, por exemplo. Por outro lado, os gêneros secundários são mais

complexos por estarem vinculados à manifestações linguísticas social e

culturalmente mais elaboradas como publicações científicas em geral, periódicos,

artigos, romances.

A classificação realizada por Bakhtin (2006) não é estanque uma vez que os

gêneros, mediante sua natureza de constituição podem se correlacionar. Uma

23

conversa simples entre pessoas, um gênero simples, pode aparecer dentro de um

romance, gênero secundário. Daí a ideia de que os gêneros são relativamente

estáveis, pois, como explicita Carvalho (2005, p. 132), os gêneros são “sensíveis a

fenômenos socioculturais e portanto passíveis de inovação”.

Por isso o trabalho de Bakhtin se revelou um marco nos estudos da

linguagem e do discurso. Foi Bakhtin (2003) quem uniu a concepção de gênero ao

resultado da atividade humana, ou seja, a interação. É a teoria bakhtiniana que

explica que cada “esfera” de atuação humana produz seus próprios enunciados, os

“gêneros dos discursos”. Esses enunciados revelam relativa estabilidade, pois

servem de modelo para a criação de novos discursos.

A relativa estabilidade dos enunciados revela que existe certa regularidade

nos discursos, portanto, nos gêneros produzidos pela e na sociedade. Assim, deve-

se levar em consideração o fato de que os gêneros funcionam como um alicerce

para a produção de novos gêneros, pelo fato de que um gênero serve de modelo

para a materialização dos discursos subsequentes. Nesses termos, o indivíduo lança

mão de moldes preestabelecidos e produz seu novo discurso, os gêneros já lhe são

dados precedentemente, não é o indivíduo quem cria os gêneros, como bem o

explica Bakhtin (2003, p. 282, grifos do autor):

Falamos apenas através de determinados gêneros do discurso, isto é, todos os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo. Dispomos de um rico repertório de gêneros de discurso orais (e escritos). Em termos práticos, nós os empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos podemos desconhecer inteiramente a sua existência. [...] até mesmo no bate-papo mais descontraído e livre nós moldamos o nosso discurso por determinadas formas de gênero, às vezes padronizadas e estereotipadas, às vezes mais flexíveis, plásticas e criativas (a comunicação cotidiana também dispõe de gêneros criativos).

Os discursos por serem oriundos das mais variadas situações de interação

humana, trazem em si as marcas dos contextos de produção e as situações em que

são construídos, o que de certo modo os caracteriza e, ao mesmo tempo, possibilita

classificá-los.

Nessa perspectiva, os gêneros são concebidos como ação social, pelo fato

de este espelhar “a experiência de seus usuários – e um texto é a materialização

desta experiência, por meio da ação ali levada a cabo, [...]”. (CARVALHO, 2005, p.

133)

24

De fato, os gêneros são pré-construtos, precedem nossas ações e são, ao

mesmo tempo, necessários para que elas aconteçam. Os gêneros existem histórica

e culturalmente imbricados nas relações sociais através do tempo e ficam

hipoteticamente armazenados na história das relações humanas. O indivíduo, nesse

caso pode lançar mão de um ou outro modelo de referência para construir um

gênero novo em uma nova situação de uso da linguagem, os gêneros “são

portadores de um ou de vários valores de uso: em uma determinada formação

social, determinado gênero é considerado como mais ou menos pertinente para

determinada ação social.” (MACHADO, 2005, p. 250)

Embora o indivíduo utilize modelos pré-construídos de gêneros para realizar

ações de linguagem, o resultado dessa ação de linguagem não será uma

reprodução exata de um modelo, “dado que as situações de comunicação de

linguagem, pelo menos em parte, são sempre diferentes, o produtor vai sempre

adaptar o gênero aos valores particulares da situação em se encontra.” (MACHADO,

2005, p. 251).

Os estudos dos gêneros ganharam força a partir de Bakhtin (2003), assim

como se diversificaram com interpretações de outros pesquisadores, que buscaram

compreender através de inúmeras e diversificadas pesquisas a constituição dos

gêneros a partir das relações sociais.

1.2 Gênero e comunidade discursiva

Uma das vertentes que se destinaram a pesquisar os gêneros a partir das

relações sociais, diz respeito aos trabalhos de John Swales que apresentam

conceitos teóricos e variadas pesquisas relacionadas aos gêneros, mas é com a

obra Genre Analysis: English in academic and research settings publicada em 1990

que Swales ganha destaque ao lançar o modelo CARS (Create a research space),

usado para a análise da organização de textos, principalmente textos acadêmicos

como introduções de artigos que aparecem como seu objeto de estudo. (BIASI-

RODRIGUES; ARAÚJO; SOUSA, 2009).

Para a criação desse modelo, Swales (2009) desenvolve uma abordagem

teórica pautada na concepção de gênero, partindo do conhecimento e análise do

contexto de produção textual do gênero em estudo, visto que, para ele “[...] os

elementos linguísticos não são suficientes para uma análise do gênero, para o seu

25

reconhecimento em qualquer situação comunicativa, profissional ou não, e para que

a comunicação seja bem-sucedida”. (BIASI-RODRIGUES; ARAÚJO; SOUSA, 2009,

p. 18 – 19).

A construção do conceito de gêneros é feita por Swales (1990) tendo como

base vários campos de estudo, todavia quatro deles proporcionaram o

desenvolvimento de sua pesquisa, o estudo do folclore, da literatura, da linguística e

da retórica. O folclore contribuiu na medida em que aponta a relevância sociocultural

dos gêneros motivada pelo uso constante e imprescindível dos gêneros por seus

usuários, considerando os gêneros como formas permanentes. A literatura, ao

contrário dos folcloristas, contribui na explicação da instabilidade da forma, dadas as

variações sofridas pelos gêneros para atender as demandas de uso social.

Com a linguística, Swales (1990) relaciona gênero e discurso, partindo do

pressuposto de que “[...] a realização de um gênero se faz através do discurso,

razão pela qual a análise de estruturas discursivas se integra aos estudos de

gêneros”. (BIASI-RODRIGUES; ARAÚJO; SOUSA, 2009, p. 21). A retórica colabora

na medida em que classifica os diversos tipos de discurso, embora não sendo

suficiente, Swales (1990) se apoia numa abordagem analítica que leva em

consideração a ação social proporcionada pelo gênero em detrimento à forma

discursiva.

Partindo desses quatro campos, o conceito de gêneros para Swales será

explicitado a partir de cinco características básicas: a classe – considerando que os

textos se agrupam pela semelhança entre eles; o propósito comunicativo – dada a

finalidade e o objetivo de realização do evento comunicativo no cotidiano dos

indivíduos e dos grupos sociais; a prototipicidade – os textos que se agrupam por

características comuns são considerados modelos reconhecíveis e de base para a

realização de um gênero específico; a lógica ou razão - que aponta as convenções

do formato do gênero devido à finalidade de uso, ou seja, a razão específica o

conteúdo, a estrutura e a forma; por fim, a terminologia – a nomeação dos gêneros

revela como os usuários assimilam o gênero em seu uso comunicativo real. (BIASI-

RODRIGUES; ARAÚJO; SOUSA, 2009).

Essas cinco características foram fundamentais para que se chegasse a

uma compreensão do conceito de gêneros, formulado por Swales (1990, p. 58):

26

Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, os membros dos quais compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da comunidade discursiva original e, portanto, constituem a razão do gênero. A razão dá forma à estrutura esquemática do discurso e influencia e restringe as escolhas de conteúdo e estilo. O propósito comunicativo é ao mesmo tempo um critério privilegiado e opera para manter o escopo de um gênero como aqui concebido estreitamente focado na comparável ação retórica. Além do propósito, os exemplares do gênero exibem vários modelos de similaridade em termos de estrutura, estilo, conteúdo e público-alvo. Se todas as expectativas forem realizadas, o exemplar será visto como um protótipo pela comunidade discursiva original. Os gêneros têm nomes que são herdados e produzidos pelas comunidades discursivas e importados por outras e constituem uma comunicação etnográfica valiosa, mas tipicamente necessita de validação adicional. (tradução nossa)

1

Essa definição apresentada por Swales (1990) nos faz perceber que a noção

de gêneros está vinculada a um grupo de indivíduos que compartilham as mesmas

normas e valores comunicativos, isso evidencia que a constituição e validação de

um gênero não se faz por um único indivíduo, mas de acordo com o grupo que lança

mão dos gêneros para agirem e interagirem dentro de seu próprio grupo ou entre

grupos.

O que nos leva a compreender perfeitamente o conceito de comunidade

discursiva apresentado por Swales (1990), posto que, para ele, a produção textual é

uma ação social, dada as normas estabelecidas convencionalmente para sua

constituição, as quais ainda demonstram o comportamento e o conhecimento do

grupo no qual se origina. Os indivíduos que irão se apropriar desses gêneros já

encontrarão essas convenções instituídas pelo grupo anterior e se sentirão

estimulados a lançar mão dessas convenções para garantir sua inserção no grupo

do qual desejam fazer parte.

A comunidade discursiva, ao nosso entender, se caracterizará por um grupo

dinâmico de usuários que possuem interesses comuns, que se relacionam

dinamicamente e produzem eventos comunicativos que, por sua vez, revelam essas

relações inerentes a esses grupos. Embora o conceito exato de comunidades

1 A genre comprises a classes of communicative events, the members of which share some set of

communicative purposes. These purposes are recognized by the expert members of the parent discourse community, and thereby constitute the rationale for the genre. This rationale shapes the schematic structure of the discourse and influences and constrains choice of content and style. Communicative purpose is both a privileged criterion and one that operates to keep the scope of a genre as here conceived narrowly focused on comparable rhetorical action. In addition to purpose, exemplars of a genre exhibit various patterns of similarity in terms of structure, style, content and intended audience. If all high probability expectations are realized, the exemplar will be viewed as prototypical by the parent discourse communities and imported by others constitute valuable ethnographic communication, but typically need further validation.

27

discursiva, apresentado por Swales (1990) suscite dúvidas quanto às delimitações

precisas na caracterização de uma comunidade discursiva, todavia elas possuem

um aspecto que não pode ser negado ou excluído, toda comunidade discursiva

possui meios de intercomunicação entre seus membros, além desses membros

possuírem interesses semelhantes.

Uma comunidade discursiva possui além dos mesmos objetivos e

interesses, normas que regularizam as funções comunicativas, compartilham do

mesmo léxico, o qual será produzido e utilizado para situações, eventos

comunicativos específicos de uma comunidade, nesses termos, há a possibilidade

de alguns membros da mesma comunidade serem mais experientes que outros e

dominarem todo o conteúdo da comunidade, aqueles que não possuem esse

conhecimento, mas possui interesse, se esforçará para “[...] construir o próprio

conhecimento das convenções discursivas que permitirão a sua participação plena

nas atividades da comunidade”. (BIASI-RODRIGUES; ARAÚJO; SOUSA, 2009, p.

24).

O próprio Swales (1998) revisa sua pesquisa e amplia os critérios

estabelecidos para a definição de comunidade discursiva, devido à possibilidade de

um indivíduo fazer parte de diferentes comunidades discursivas, bem como da

possível inter-relação entre as comunidades, acarretando novas interferências

comunicativas, devido às adaptações e evoluções dos gêneros, que por sua vez,

refletem o desenvolvimento natural das relações sociais e comunicativas dos

indivíduos.

Assim, o conceito de comunidade discursiva passa para a “teoria de

comunidade discursiva”, nela Swales (1998) se apoia em outros estudiosos que

tratam o conceito de comunidade discursiva como local ou global, em seus trabalhos

Swales (1998) irá usar o conceito de comunidade de lugar, a qual será vista por ele

“como um grupo de pessoas que regularmente trabalham juntas e têm uma noção

estável dos objetivos do grupo, ao mesmo tempo em que percebem a possibilidade

de haver mudança nos objetivos”. Um aspecto relevante nessa revisão de conceito

diz respeito ao papel dos gêneros, que possibilita a validação das atividades que

forem realizadas fora da comunidade discursiva, abrangendo aspectos excluídos no

conceito anterior, como é o caso da divergência entre membros. (BIASI-

RODRIGUES; ARAÚJO; SOUSA, 2009, p. 26).

28

As discrepâncias na delimitação e identificação dos gêneros levando em

consideração também variações nas comunidades discursivas, implica dizer que as

mudanças no interior das comunidades discursivas também afetam os gêneros por

elas produzidos. (BIASI-RODRIGUES; HEMAIS; ARAÚJO).

Foi o que Swales (2004, p. 73) explicitou ao afirmar que:

Os propósitos sociais evoluem, e eles também podem se expandir ou se retrair. [...] os esquemas da ação social podem mudar, modelos podem ser transferidos, especialmente podem ocorrer, características não prototípicas podem ocupar níveis mais centralizados, atitudes institucionais podem se tornar mais ou menos amigáveis para os de fora, e até mesmo atos discursivos podem dar origem a diferentes interpretações. (tradução nossa).

2

Outra concepção revisada por Swales (2004) relaciona-se ao propósito

comunicativo como elemento definidor do gênero, isso porque o objetivo, a forma e a

função de um gênero podem ser usados a partir da intenção pessoal de um

indivíduo experiente, nesse acaso pode haver outros propósitos implícitos naqueles

socialmente reconhecíveis por um indivíduo menos experiente da comunidade

discursiva. Desse modo, ocorre uma manipulação por parte daquele(s) que utiliza(m)

um gênero, podendo interferir na identificação do propósito real do gênero produzido

ou utilizado.

Contudo, mesmo o propósito deixando de ser visto como elemento definidor

e reconhecedor de um gênero, ele passa a ser utilizado como um critério de análise

e investigação do gênero. Partindo dessa nova concepção, ao usar o propósito

como princípio de análise de um gênero, Swales (2004) percebeu a existência de

elementos complexos na constituição de um gênero, que necessitam de análises

mais profundas e de um procedimento metodológico mais detalhado e definido. Daí

surge a criação do modelo CARS (Create a research space) baseado na “análise de

estratégias usadas por escritores/ autores para distribuir informações nos textos

pertencentes a gêneros”. (BIASI-RODRIGUES; HEMAIS; ARAÚJO; 2009, p. 29).

Esse modelo desenvolvido por Swales (1990) foi elaborado mediante um

estudo de 48 introduções de artigos de pesquisa e mais tarde, em outra etapa foi

utilizado para a análise de 110 outras introduções de artigos de três áreas distintas:

física, educação e psicologia. A diversificação das áreas foi importante para testar a

2 Social purposes evolve, and they can also expand or shrink. […] the frames of social action can

change, standards can shift, speciation can occur, nonprototypical features can occupy more central ground, institutional attitudes can be more or less friendly to outsiders, and even speech acts can give rise to different interpretations.

29

eficácia do modelo, posto que as áreas diferenciadas poderiam revelar

características diferentes nos resultados obtidos com as análises.

Todavia, o resultado das duas pesquisas, revelou um princípio regulador de

quatro movimentos retóricos que Swales (1990) chamou de moves, os quais

organizavam o texto das introduções dos artigos de pesquisa. Surgiu, ainda, a

necessidade de separação entre um movimento e outro. As escolhas feitas pelo

autor do texto no momento de organizar a disposição das informações que podem

ser opcionais foram consideradas opções de apoio à informação mais importante; o

movimento retórico, essas opções que também podem ser informações secundárias

de apoio, foram chamadas de steps.

O modelo CARS desenvolvido por Swales (1990) passou a ser amplamente

utilizado por estudiosos e pesquisadores que se voltam para a análise de textos

acadêmicos inclusive no Brasil. O modelo CARS foi adotado em pesquisas

brasileiras, mantendo a estrutura de moves e steps, mas recebendo uma

nomenclatura que traduz o conceito de ambos, assim como, tem atendido aos

propósitos de estudo e apreensão das informações dispostas nos gêneros

analisados mediante o uso desse modelo.

Duas pesquisadoras brasileiras se destacaram no uso do modelo CARS em

suas pesquisas, Motta-Roth em trabalho publicado em 1995, no qual apresenta uma

adaptação do modelo CARS em sua pesquisa, e Araújo, em 1996, ao fazer uma

releitura do trabalho de Motta-Roth (1995) apresenta outro modelo de análise

baseado no modelo CARS desenvolvido por Swales (1990).

Motta-Roth (2008) argumenta, em sua pesquisa, que analistas de gêneros

discursivos acadêmicos tentam explorar a necessidade e a possibilidade de

explicitar uma convencionalidade textual. Isso porque a produção textual é

socialmente orientada e construída na forma de significado do discurso, portanto

escolhas retóricas não são feitas livremente, mas obedecem a limitações impostas

pela tradição literária, essas marcas organizam o discurso e o caracterizam ao

mesmo tempo.

Por sua vez, Bezerra (2001) ao analisar a distribuição de informações em

resenhas acadêmicas para sua dissertação de mestrado, submete suas análises aos

modelos desenvolvidos por Motta-Roth (1995) e por Araújo (1996), segundo ele

esse procedimento foi muito produtivo, pois, houve:

30

[...] a possibilidade de reforçar os pontos mais pertinentes de cada proposta, considerando a existência de expressiva zona de intersecção entre os dois modelos. Mais que isso, foi possível enriquecer a análise, complementando as lacunas deixadas ora por uma, ora por outra proposta. (BEZERRA, 2009, p. 99).

No estudo realizado por Bezerra (2009), o pesquisador percebeu que a

análise dos dados revelaram necessidades de adaptação do modelo, posto que foi

preciso dar conta de diferentes peculiaridades apresentadas nos corpora analisados,

no caso resenhas escritas por alunos e por especialistas. Isso mostra que a

construção do texto produzido por seus autores apresentam características próprias

do gênero, bem como revelam o domínio discursivo de seus produtores, um grau

maior de conhecimento por parte de especialistas e um grau menor por parte dos

alunos.

Bezerra (2009, p. 100) nos explicita esse detalhe ao afirmar que:

As peculiaridades de cada modalidade de resenha se evidenciaram de tal forma que podemos falar de um padrão (mais complexo) para descrição de resenhas de especialistas e um padrão menos complexo para dar conta da organização retórica de resenhas de alunos.

Cada unidade de informação maior distribuído nos textos analisados foi

denominada Unidade Retórica e as informações menores de Subunidades

Retóricas. É válido esclarecer que uma unidade retórica é reconhecida como uma

unidade de conteúdo informacional dentro de uma estrutura hierárquica de

distribuição de informações na arquitetura física do texto, podendo ser realizada a

partir das escolhas possíveis de um conjunto de subunidades, de acordo com os

propósitos do autor. (BEZERRA, 2009, p. 101)

Essas unidades de análise como unidades retóricas, são unidades de

informação que caracterizam a organização retórica do gênero. Cada uma delas é

sinalizada através das pistas lexicais e gramaticais – elementos microestruturais –

que expressam a função retórica das diferentes partes do texto. (ARAÚJO, 2008)

Em outras palavras: “uma unidade retórica é reconhecida como uma unidade

de conteúdo informacional dentro de uma estrutura hierárquica de distribuição de

informações na arquitetura física do texto”, (BIASI-RODRIGUES 1998, p. 130).

A organização retórica dos textos analisados por Bezerra (2009) propiciou a

criação do seguinte modelo de análise; presente no Quadro 01:

31

Quadro 01 - A organização retórica de resenhas de especialistas

Unidade retórica 1 – Introduzir a obra Subunidade 1 – Definindo o tópico geral e / ou Subunidade 2 – Argumentando sobre a relevância da obra e / ou Subunidade 3 – Informando sobre o autor e / ou Subunidade 4 – Fazendo generalizações sobre o tópico e / ou Subunidade 5 – Informando sobre a origem da obra e / ou Subunidade 6 – Referindo-se a publicações anteriores Unidade retórica 2 – Sumarizar a obra Subunidade 7 – Descrevendo a organização da obra e / ou Subunidade 8 – Apresentando / discutindo o conteúdo e / ou Subunidade 9 – Citando material extratextual Unidade retórica 3 – Criticar a obra Subunidade 10 – Avaliando positiva / negativamente e / ou Subunidade 11 – Apresentando questões editoriais Unidade retórica 4 – Concluir análise da obra Subunidade 12A – Recomendando a obra completamente e / ou Subunidade 12B – Recomendando a obra apesar de indicar limitações e / ou Subunidade 13 – Indicando leitores em potencial

Fonte: Bezerra (2009, p. 100-101)

Esse modelo revela que os autores dos textos distribuem as informações em

suas produções de modo semelhante, mesmo se tratando de diferentes conteúdos

ou temas. É o caso dos livros resenhados que são de diferentes áreas, revelando a

existência de um padrão na composição dos textos escritos, esse padrão está

vinculado ao propósito comunicativo da produção dos textos analisados, assim como

se organiza em torno dos moldes de produção do grupo do qual e para o qual ele foi

criado, o universo acadêmico.

A pesquisa de Bezerra (2009), bem como a de seus precedentes, nos faz

compreender a teoria de gêneros a partir da apreensão deste como produto das

relações sociais, culturais e históricas. Dessa forma, temos os mais variados

gêneros que surgem das diversas esferas de comunicação social. Dentre elas

vamos dar destaque à esfera acadêmica - científica, que é onde circulam os textos

que são de nosso interesse de estudo e análise.

1.3 Contextualizando a monografia como gênero produzido na comunidade acadêmica

O universo acadêmico é um espaço social no qual diferentes indivíduos

interagem e produzem discursos orais e principalmente escritos, visto a natureza e a

finalidade da produção desses discursos.

32

É em meio à academia que encontramos diversas produções discursivas

como: teses, dissertações, monografias, artigos, resenhas, resumos, enfim, uma

série de produções que possuem um propósito semelhante, gerar, manipular e

divulgar o conhecimento científico.

No ensino superior alunos e professores, pesquisadores em geral vivem em

meio à pesquisas e análises de temas e conteúdos de diversas áreas, seja das

ciências humanas ou das ciências exatas, cada uma dessas áreas apresentando ou

exigindo em maior ou menor escala um rigor científico na exposição e relato dessas

pesquisas realizadas na academia.

Assim, para esclarecer o objetivo geral para o trabalho desenvolvido nas

universidades no que se refere à formação de um aluno pesquisador, nos

apropriamos das palavras de Figueiredo e Bonini (2006, p. 417) os quais explicitam

que:

Durante sua formação de ensino superior, espera-se que os estudantes universitários adquiram a capacidade de discutir e aplicar conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso (ou das disciplinas), e expor suas ideias sobre determinado tema, de forma clara e convincente. Para tal, o aluno universitário deve utilizar-se do discurso acadêmico, e dos gêneros aceitos para uso dentro deste discurso (na modalidade escrita, podemos citar o artigo acadêmico, a resenha, o relatório).

Diante do exposto pelos autores, o aluno inserido no universo acadêmico

deve se apropriar de técnicas e conhecimentos que ainda não domina para adentrar

outro nível de convivência e interação de grupo social. Para tanto, é preciso o

reconhecimento e uso do discurso acadêmico, o qual engloba todas as suas

variantes de gêneros produzidos especificamente nesse meio, sejam orais e

principalmente escritos, como os já citados: artigo, resenha e relatório de pesquisa,

que pode ainda ser traduzido como monografias, dissertações e teses.

Essas pesquisas são importantes porque revelam novos saberes, margeiam

a descoberta de soluções para os problemas detectados, propiciando a

compreensão das relações individuais e sociais, implicando na qualidade da

condição e existência humana, quando traz no bojo dessas pesquisas alternativas

que melhoram as relações sociais em sentido restrito e global, assim como

interferem positivamente na qualidade de vida do indivíduo.

33

Daí a relevância da acuidade na construção dos textos que relatam as

pesquisas acadêmicas, não podendo gerar dúvidas ou incoerências no relato do

resultado das investigações, pois, como argumenta Chibeni (2012, p. 01):

O que caracteriza um texto acadêmico é, antes de tudo, o seu objeto: ele veicula o fruto de alguma investigação científica, filosófica ou artística. Deve, pois, refletir o rigor, a perspectiva crítica, a preocupação constante com a objetividade e a clareza que são parte inerente da pesquisa

acadêmica.

Para a construção desses textos, o autor deve dominar a linguagem

científica, que circula no meio acadêmico, que de acordo com Oliveira (2009), possui

como característica a explicação, a clareza da expressão exata do pensamento,

inteireza da informação, a imparcialidade, a ordenação lógica, a acuidade, a

objetividade e, por último, a simplicidade.

Em linhas gerais, o texto acadêmico por sua especificidade apresenta um

caráter científico, ele é essencialmente objetivo, direcionado a um meio e um fim, os

quais por sua vez devem estar em consonância com o curso para o qual o trabalho é

exigido como forma de avaliação final e obtenção de um grau superior, como é o

caso do que se exige do aluno do curso de Letras do CAMEAM/UERN.

A monografia é um trabalho de iniciação científica, orientado para a pesquisa teórico-empírica, cujo tema deve localizar-se nas áreas temáticas dos estudos Linguísticos e Literários e contribuir para a formação profissional do graduado em Letras. (PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE LETRAS/CAMEAM/UERN, 2008).

A produção textual da monografia de graduação, nesse caso, implica em um

ato linguístico onde um autor apresenta suas ideias por escrito a um público alvo, o

leitor. Ainda nos restringindo ao texto monográfico, o autor argumenta a favor de que

seus objetivos e suas ideias são válidas para a realização da pesquisa. No dizer de

Souza (2009, p. 01):

[...] entre as características de uma monografia de graduação, destaca-se a necessidade de apresentar temática única e ter um problema de investigação bem delimitado, uma vez que, para convencer seus interlocutores da pertinência da temática e da relevância do problema a ser investigado, é preciso que se elabore argumentativamente a justificativa para que o(s) interlocutor(es) possa(m) ser convencido(s) dessa pertinência.

34

Dessa forma, podemos perceber que o texto acadêmico deve possuir

elementos e recursos linguísticos que o caracterizem e o validem como tal, a

construção de uma justificativa que convença o leitor da validade do trabalho, a

delimitação do tema e da situação problema, são alguns desses elementos que

constituem o trabalho monográfico.

Essa preocupação em relacionar a estrutura específica do texto monográfico

com a linguagem acadêmico científica e o conhecimento produzido pelo aluno

através de sua pesquisa leva-nos a tentar compreender como o aluno articula a

linguagem na construção de seu discurso pessoal e acadêmico. Vale salientar que,

no meio acadêmico, o funcionamento da linguagem através da construção dos

sentidos por meio da interpretação possibilita o desenvolvimento de trabalhos que

segundo Souza (2008, p. 58):

[...] discutir o funcionamento discursivo da linguagem, refletindo acerca das próprias práticas discursivas, numa perspectiva interacional e considerando os aspectos sócio-históricos, dialógicos e discursivos da organização das ideias pelos interlocutores em seus processos de discursivização.

Nesses termos, o texto acadêmico figura como um desses espaços sociais

no qual os interlocutores, se utilizam de recursos linguísticos para se fazerem

entender, e ao mesmo tempo interagem ao produzir seus discursos para outrem,

dialogando com o público através de seus textos, expondo e ao mesmo tempo

defendendo suas ideias.

É nesse aspecto da interação, quando o aluno, autor do texto monográfico,

expõe e defende suas ideias, que podemos encontrar marcas em seu discurso que

revelam não apenas suas ideias pessoais, mas, também, as condições de produção

de seu discurso, sejam elas sociais, históricas, políticas e econômicas, todas

presentes na conjuntura do texto acadêmico.

35

Capítulo ii

36

ESTUDOS SOBRE IDEOLOGIA E LINGUAGEM

Sabemos que cada palavra se apresenta como uma arena em miniatura onde se entrecruzam e lutam os valores sociais de orientação contraditória. A palavra revela-se no momento de sua expressão, como produto da interação viva das forças sociais

Bakthin .

Neste segundo capítulo, elencamos conceitos que tratam do estudo das

ideologias atreladas aos estudos do discurso e do texto, atentando para as

condições de produção dos discursos, formação ideológica e discursiva.

Nesse caso buscamos as concepções de Bakhtin (2009), o qual é referência

nos estudos da ideologia e dos signos ideológicos como elementos indissociáveis

das relações sociais entre os sujeitos. Fazemos uma complementação de conceitos

com os trabalhos significativos de Fiorin (2007), Orlandi (2007), Guimarães (2009),

Brandão (2004), Fernandes (2005), e a interpretação dos trabalhos de Bakthin feita

por Miotello (2008) e, por fim, uma leve pincelada com as palavras de Foucault

(2009).

Assim, esse capítulo se volta inicialmente para as concepções gerais sobre

ideologia e linguagem, quais os principais conceitos, como esses termos se

aproximam na teoria e nas práticas sociais.

2.1 Considerações sobre ideologia e linguagem

A palavra ideologia ganha espaço nos estudos sobre a linguagem quando

analisada sob o ponto de vista da construção de sentido e interpretação das ideias

de um individuo ou grupo, atrelado às práticas sociais que, por sua vez, são

reveladas na e pela linguagem.

Bakthin (2009) vai nos apresentar o conceito de ideologia vinculado ao signo

como elemento passível de interpretação e refração da realidade na qual esse signo

é constituído, conforme ele mesmo argumenta ao afirmar que:

Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo, mas, ao

37

contrário destes, ele também reflete e refrata uma outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia. (BAKHTIN, 2009, p. 31, grifos do autor)

Nesses termos, o signo, objeto físico, quando transformado em signo

ideológico, acarreta toda uma carga simbólica que é própria de seu objeto de

origem, além de todo um sentido que lhe é convencionalmente atribuído pelos

indivíduos que o institucionalizam e reconhecem como verdadeiro e passam a

utilizá-lo como referência nas suas práticas cotidianas.

Pelo fato de esse signo ideológico ser utilizado como referência, ele revela

as características dos grupos que o convencionaliza, por isso um objeto, ao ser

convertido em signo ideológico, também “passa a refletir e a refratar, numa certa

medida outra realidade”. (BAKHTIN, 2009, p. 31). A realidade que o signo reflete e

refrata pode ser fiel ou distorcida, dependendo do ponto de vista do qual ele é

observado e julgado. Isso ocorre porque, nas relações entre os indivíduos, cada

grupo irá determinar suas próprias regras de criação e manipulação do signo

ideológico, por isso ele não apenas reflete a realidade, mas é constituído de parte

dessa realidade, que também lhe é geradora.

Nesses termos, o signo ideológico não se origina aleatoriamente

desvinculado de experiências isoladas de um único indivíduo, “o próprio signo e

todos os seus efeitos (todas as ações, reações e novos signos que ele gera no meio

social circundante) aparecem na experiência anterior.” (BAKHTIN, 2009, p. 33).

É na organização dos indivíduos em grupos sociais que o signo ideológico

se constitui e se manifesta através da interação entre seus elementos. Essa

interação se dá pelo uso da linguagem como ferramenta indispensável para

expressão de pensamentos e ideias, interpretação e compreensão de si mesmo e

dos outros, como indivíduos que compartilham regras, valores e códigos. Conforme

explicita Bakhtin (2009, p. 36), ao falar sobre o papel da comunicação para a

interação social:

[...] esse aspecto semiótico e esse papel contínuo da comunicação social como fator condicionante não aprecem em nenhum lugar de maneira mas clara e completa do que na linguagem. A palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra não comporta nada que não esteja ligado à essa função, nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social. (grifos do autor)

38

Embora a palavra possibilite a interação social, todavia ela por si só não

constitui um signo ideológico. É preciso que lhe seja atribuído um valor, uma função

para que ela se configure como tal, portanto seu espaço de criação é quem lhe

determina a função, seja ela de cunho moral, estético, científico ou religioso.

Outro aspecto que caracteriza a palavra e faz dela um elemento

imprescindível à interação humana é seu lugar de origem e manifestação, a

consciência individual. Mesmo partindo do princípio de que o indivíduo não se

constitui isoladamente, mas se constrói nas relações com outros e destes com o

meio social. O ser humano é quem primeiro produz e manifesta a palavra, faz uso

dela de acordo com seus interesses particulares, e também de acordo com os

interesses do grupo social do qual faz parte. É o que defende Bakhtin (2009, p. 37)

quando diz que:

Embora a realidade da palavra, como a de qualquer signo, resulte do consenso entre indivíduos, uma palavra é, ao mesmo tempo, produzida pelos próprios meios do organismo individual, sem nenhum recurso a uma aparelhagem qualquer ou a alguma outra espécie de material extracorporal. Isso determinou o papel da palavra como material semiótico da vida interior, da consciência (discurso interior). Na verdade, a consciência não poderia se desenvolver se não dispusesse de um material flexível, veiculável pelo corpo. E a palavra constitui exatamente esse tipo de material. (grifos do autor)

É fato que a palavra está inserida em todas as relações humanas, sejam

elas de natureza individual e particular, seja de natureza pessoal e social ou coletiva,

um diálogo entre namorados, uma reflexão sobre um problema pessoal, a

observação e análise de um discurso político, a compreensão dos fenômenos

econômicos, sociais e culturais. Por esse motivo, por meio da apreensão da palavra,

será possível perceber toda e qualquer alteração nas relações sociais, bem como

pressupor o surgimento de novos modelos ideológicos.

Na interpretação de Miotello (2008, p. 172) a palavra funciona:

[...] como agente e memória social, pois uma mesma palavra figura em contextos diversamente orientados. E, já que, por sua ubiquidade, se banham em todos os ambientes sociais, as palavras são tecidas por uma multidão de fios ideológicos, contraditórios entre si, pois frequentaram e se constituíram em todos os campos das relações e dos conflitos sociais. Dentro das palavras, em uma sociedade de classes, se dá discursivamente a luta de classes. O signo verbal não pode ter um único sentido, mas possui acentos ideológicos que seguem tendências diferentes, pois nunca consegue eliminar totalmente outras correntes ideológicas dentro de si.

39

Essa luta de classes ocorre por meio do discurso, o qual é perceptível

quando observamos diferentes discursos que circulam socialmente em diferentes

épocas e lugares, e, percebemos em maior ou menor escala, as condições

históricas e socioeconômicas que agem como pano de fundo ou lado a lado com a

argumentação e justificação das ideias veiculadas aos interesses de quem os

divulga ou registra.

Esses discursos estão materializados, registrados nas mais variadas formas

de expressão linguística em diferentes épocas da história da humanidade, como é o

caso dos hieróglifos no antigo Egito, o conhecimento científico e bíblico na Idade

Média e o domínio da norma culta, padrão de relacionamento social exigido pela

classe dominante na atualidade.

O que observamos é que, em cada uma dessas épocas mencionadas

anteriormente, o ideal que prevalece é o da classe dominante, o que vai ao encontro

dos pressupostos marxistas de que:

As ideias da classe dominante são em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual. [...] Na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o façam em toda sua extensão e, consequentemente, entre outras coisas, dominem também como pensadores, como produtores de ideias; que regulem a produção e distribuição de ideias de seu tempo e que suas ideias sejam, por isso mesmo, as ideias dominantes da época. (MARX e ENGELS, 1965, p. 14 apud BRANDÃO 2004, p. 21).

Partindo dos pressupostos de Marx, a ideologia é vista sob o aspecto da

dominação da classe superior sobre a inferior, a classe dominante determina o que a

classe dominada deve pensar e agir, construindo suas ideias a partir das ideias da

classe dominante. Ou seja, padrões, normas e valores éticos, morais, sociais,

culturais e econômicos, são, na maior parte dos casos, disseminados por aqueles

que tem maior reconhecimento social e poder econômico, como é o caso da norma

culta como linguagem exigida pela classe social econômica mais alta, impondo

nesse caso, uma ideologia de que falar fora do padrão culto é considerado errado.

Ricoeur, por outro lado, compreende a ideologia em três instâncias: como

distorção da realidade, legitimação dessa realidade e como integração. No que se

refere à distorção, o ser humano tenta explicar e compreender sua própria vida seja

40

ela pessoal ou social pelo viés do natural e sobrenatural, encobrindo a realidade da

qual faz parte. No que diz respeito à legitimação, é quando a ideologia organiza e,

ao mesmo tempo, reflete as estruturas sociais: “essas estruturas passam a impor

aos sujeitos sentidos institucionalizados, tomados como naturais. Dá-se aí a

inserção histórica, o assujeitamento ideológico do falante”. (GUIMARÃES, 2009, p.

103). A integração, nesse caso, seria uma consequência do assujeitamento do

indivíduo, ao incorporar às suas ideias os ideais do grupo no qual está inserido.

Fiorin (2007) também dá dimensões ao conceito de ideologia, partindo da

concepção de que todo conhecimento se acha comprometido com interesses sociais

e define ideologia, numa visão mais individualista, comum e resumida, como um

conjunto de ideias ou representações “que servem para justificar e explicar a ordem

social, as condições de vida do homem e as relações que ele mantém com os outros

homens” (FIORIN, 2007, p. 28). De forma ampla, ideologia significa “uma ‘visão de

mundo’, ou seja, o ponto de vista de uma classe social a respeito da realidade, a

maneira como uma classe ordena, justifica e explica a ordem social” (FIORIN, 2007,

p. 29).

Nesses termos, cada classe social corresponde uma dada visão de mundo,

e que todo tipo de conhecimento possui um compromisso com interesses sociais.

Somos levados, pois, a ver a materialização dos fenômenos ideológicos na

linguagem como resultado de uma aquisição discursiva no processo de

aprendizagem linguística, que se dá no meio social permeado pela disseminação

dos interesses da classe dominante, por isso podemos afirmar que: “A ideologia é

constituída pela realidade e constituinte da realidade. Não é um conjunto de ideias

que surge do nada ou da mente privilegiada de alguns pensadores. Por isso, diz-se

que ela é determinada, em última instância, pelo nível econômico”. (FIORIN, 2007,

p. 30).

A classe de maior poder aquisitivo, tem também maior acesso à

manipulação e circulação da linguagem nos mais variados âmbitos sociais.

2.2 A materialização da ideologia e do discurso nas esferas sociais

A princípio a definição de ideologia encontra-se estreitamente ligada a de

formação ideológica, enquanto a ideologia, de maneira geral, é a forma como uma

41

determinada classe social percebe a realidade, seja ela de maneira invertida ou não,

a formação ideológica compreende a representação dessa determinada forma de

perceber a realidade, e assim, concebê-la e divulgá-la. Pois tal como argumenta

Fernandes (2005, p. 22) “A ideologia materializa-se no discurso, que, por sua vez, é

materializado pela linguagem em forma de texto”.

Com isso, as formações ideológicas, tal como a ideologia, não se separam

dos quadros da linguagem por ser esta, a sua forma de veiculação e propagação,

principalmente através dos mais variados gêneros textuais e seus suportes. Como

bem advoga Guimarães (2009, p. 103):

A ideologia se instaura na sociedade principalmente pela língua, da qual o sujeito se apropria para comunicar-se, fazer-se entender – fato que justifica a definição de discurso como ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos.

Diante do exposto, podemos conceber a formação ideológica e a formação

discursiva como duas faces da mesma moeda que se completam para revelar que é

o discurso que por sua vez, traz em si as marcas do contexto no qual foi produzido.

Discurso este, que é formado pela palavra, signo impregnado de sentidos

construídos no arquétipo da formação ideológica do indivíduo que da palavra faz uso

para construir e dar sentido ao seu discurso, isso porque, no dizer de Orlandi (2007,

pp. 42-43):

[...] o sentido não existe em si mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sociohistórico em que as palavras são produzidas. As palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as empregam. Elas “tiram” seu sentido dessas posições, isto é, em relação às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem.

Nesse panorama, Fiorin (2007) nos traz sua concepção de formação

ideológica, dizendo que esta “deve ser entendida como a visão de mundo de uma

determinada classe social, ou seja, um conjunto de representações, de ideias que

revelam a compreensão que uma dada classe tem do mundo” (FIORIN, 2007, p. 32).

Brandão (2004, p. 49) vai ainda acrescentar que a formação discursiva:

42

[...] permite dar conta do fato de que sujeitos falantes, situados numa determinada conjuntura história, possam concordar ou não sobre o sentido a dar às palavras, “falar diferentemente falando a mesma língua”. Isso leva a constatar que uma FD não é “uma única linguagem para todos” ou “para cada um sua linguagem”, mas que numa FD o que se tem é “várias linguagens em uma única”. (grifos do autor)

Como as formações ideológicas revelam a visão/compreensão que uma

classe social capta da realidade, os discursos produzidos sob a influência de uma

dada formação ideológica estarão marcados e atravessados por seus princípios e

valores. Assim, os pensamentos produzidos nesse meio estarão determinados pela

formação ideológica correspondente. Vale ressaltar, ainda com Fiorin (2007, p. 32)

que “há, numa formação social, tantas formações discursivas quantas forem as

formações ideológicas”.

Diante disso, podemos considerar que a linguagem é o instrumento de

comunicação por excelência, seja ela utilizada de forma verbal ou não verbal, e

nenhuma visão de mundo existe fora dos seus âmbitos. Por esse motivo, cada

formação ideológica possui uma formação discursiva correspondente com vistas a

materializar sua respectiva concepção do real. Com isso, Fiorin (2007, p. 32), afirma

que a formação discursiva “é um conjunto de temas e de figuras que materializa uma

dada visão de mundo”.

Em suma, uma formação discursiva como compõe uma formação ideológica,

revela-a quando se materializa nos discursos produzidos por sujeitos. A ideologia e

as formações discursivas e ideológicas são elementos indissociáveis nas relações

entre os sujeitos e destes com o contexto no qual apreende, atua e produz

discursos.

Isso porque o homem adquire seus conhecimentos linguísticos através de

ensinamentos ou em sua convivência diária, apreendendo nesse caso, uma

determinada formação discursiva e é com ela, ou a partir dela, que ele produzirá

seus discursos e reagirá, fazendo uso da linguagem frente aos acontecimentos.

Conforme foi dito, as ideologias ganham vida por meio da linguagem, nas

produções discursivas, revelando a forma como uma determinada classe social

percebe e concebe a realidade. Tudo isso faz do discurso um lugar de reprodução

de ideias e visões de mundo num determinado contexto histórico-social, segundo as

determinações ideológicas que o acompanha e o determina.

43

Do mesmo modo como os grupos sociais e seus indivíduos não são

estanques, estão em constante evolução e transformação, assim são também os

discursos, eles “não são fixos, estão sempre se movendo e sofrem transformações,

acompanham as transformações sociais e políticas de toda natureza que integram a

vida humana”. (FERNANDES, 2005, p. 22)

Diante do exposto, a análise e estudo de materializações discursivas como o

texto escrito, por exemplo, vai nos mostrar as formações discursivas, ideológicas,

sociais e pessoais de um indivíduo inserido em um grupo social com ideologias

próprias, que perpassam seu discurso e se tornam presentes e evidentes na

materialização de suas produções discursivas, pois, “a história não cessa de nos

ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou sistema de

dominação, mas aquilo porque, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos

apoderar.” (FOUCAULT, 2009, p. 10).

Em outras palavras, esse poder está imbricado na luta e conquista pessoal

do indivíduo que busca dominar e compreender os diferentes signos ideológicos, de

modo a ingressar nas mais variadas comunidades discursivas.

44

Capítulo iii

45

DELINEAMENTO DA AÇÃO INVESTIGATIVA

Por mais que se esforce, o cientista, o investigador, estará sempre sendo influenciado por uma ideologia, por uma visão de mundo, pela sua formação, pelos elementos culturais e pela época em que vive. Há uma expectativa que orienta a sua visão de mundo e a busca de explicações.

Köche

No terceiro capítulo, fazemos uma contextualização da pesquisa mediante

uma descrição dos procedimentos e métodos adotados para a realização da ação

investigativa. Apontamos as ações realizadas para a escolha do corpus, seleção,

coleta e tabulação dos dados. Nesse capítulo elucidamos como os dados foram

tratados mediante os critérios previamente elencados, separados e analisados

conforme o modelo CARS proposto por Swales (1990). Por último, fizemos uma

caracterização da pesquisa, a qual prioriza a qualidade e quantidade dos dados

coletados a partir da análise documental.

3.1 O tema pesquisado

Tema de acordo com Lakatos (2007, p. 160) "é o assunto que se deseja

estudar e pesquisar". O estudo que ora se concretiza com a realização desse

trabalho trata da análise das marcas ideológico-discursivas das introduções e das

considerações finais de monografias da graduação do curso de Letras/UERN.

Pomos em evidência o estudo do texto acadêmico, o qual, no caso de

trabalhos da graduação, representa o reconhecimento do saber científico adquirido

pelo aluno no decorrer do curso de formação acadêmica. O aluno como pesquisador

deve ter conhecimento dos pré-requisitos da pesquisa científica, para tanto, ele

constrói o seu texto tentando obedecer às normas e padrões estabelecidos pela

comunidade discursiva da qual faz parte, nesse caso a comunidade acadêmica.

Dessa forma, é possível identificar e analisar, na produção do aluno,

determinados padrões, normas de escritura, a linguagem científica, evidenciando o

interesse particular do pesquisador em persuadir e convencer o leitor da validade/

relevância de seu trabalho, bem como seu interesse em adentrar e contribuir com as

46

pesquisas e produções que fazem parte do contexto acadêmico.

3.2 O método escolhido

Partindo do pressuposto de que o conhecimento é construído baseado em

saberes pré-existentes e está intimamente ligado a uma forma de intervenção e

interação do homem com o espaço em que vive, o nascimento de uma ideia ou

saber está indiretamente ligado à coletividade, ao conhecimento de grupo que de

alguma forma interfere nas suas ações pessoais, na sua forma de interagir com o

outro.

Sobre a gênese do conhecimento individual e, ao mesmo tempo, coletivo,

Moroz (2006, p. 09) argumenta que:

A produção de ideias e, portanto, do conhecimento, tem um caráter social: as ideias e o conhecimento são representações da vida do ser humano, num dado momento de sua história; em outras palavras, o conhecimento reflete o contexto social no qual é produzido. Ao lado disso, o conhecimento não é fruto da atividade isolada do ser humano; ao contrário, tem um caráter coletivo, mesmo quando formulado ou defendido por um único homem. O homem vive em sociedade, e é a partir desta vida que as ideias são criadas.

Com base nos saberes já acumulados acerca do estudo dos textos, mais

precisamente a respeito do texto acadêmico e sobre gêneros textuais, escolhemos o

método dedutivo, pelo fato da existência de muitas teorias que envolvem o estudo

dos gêneros textuais, relacionando-os às mais diversas formas de expressão e

comunicação dentro do cotidiano humano. Assim partimos da teoria de gêneros e da

teoria sobre ideologia e discurso previamente defendida por Bakhtin (2006) e do

modelo de análise proposto por Swales (1990) para testar e analisar os dados

coletados através do corpus pesquisado.

3.3 A escolha e seleção do corpus

O corpus escolhido para investigação e análise se compõe por textos

acadêmicos, mais precisamente monografias de graduação, observando as seções

de Introdução e de Considerações Finais dessas monografias, com o intuito de

estudar o modo como os alunos organizam as informações que dispõem nos textos

dessas seções, bem como identificar as marcas ideológico-discursivas dos autores

47

desses trabalhos.

A monografia como texto acadêmico compreende um texto exigido como

trabalho científico de conclusão de curso, seguindo padrões pré-estabelecidos, uma

situação problema específica, abordando diferentes aspectos do tema pesquisado.

Diante do exposto, Lakatos (2006, p. 151) explica que a monografia:

Trata-se, portanto, de um estudo sobre o tema específico ou particular, com suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto não só em profundidade, mas em todos os seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina.

Dessa forma, para a obtenção dos dados, nossa pesquisa se caracteriza

como documental, por tratar do manuseio de trabalhos acadêmicos, monografias,

que são um registro escrito dos primeiros passos investigativos do aluno no nível

superior.

Para tanto, optamos pelo levantamento de todos os textos monográficos dos

alunos que compunha a primeira turma do Curso de Letras Espanhol semestre

2010.2 do Campus Avançado Profª Maria Elisa de A. Maia – CAMEAM da

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.

Dessa forma, o corpus se constitui de 13 monografias, dentre das quais foram

separadas as seções de introdução e considerações finais, por representar o espaço

onde o aluno expõe argumentos para convencer o leitor da validade de sua pesquisa

e, ao mesmo tempo, resume o conteúdo total do seu trabalho monográfico, bem

como apresenta os resultados e a relevância da pesquisa realizada.

Feita a coleta dos dados, encontramos 13 monografias, estas foram

agrupadas e separadas de acordo com o tema das pesquisas realizadas pelos

alunos: problemas relacionados ao ensino de Língua Espanhola, o estudo literário e

a investigação linguística e discursiva presente em textos de Língua Espanhola.

Feito isso, encontramos 09 monografias que abordam implicações do ensino de

línguas, 02 que envolvem a literatura e 02 monografias que versam sobre os

estudos discursivos em corpora de Língua Espanhola. Pelo fato de nossa pesquisa

voltar-se para o estudo do texto como produto das relações sociais, tendo em vista o

contexto sócio- histórico no qual é produzido, todos os textos foram escolhidos,

desde os trabalhos monográficos que tratam dos problemas do ensino de Língua

Espanhola, por revelar em seu interior, a situação da implantação desse idioma no

48

sistema educativo brasileiro, dando ênfase à chegada do curso de licenciatura em

Língua Espanhola no CAMEAM/UERN, até os textos que se relacionam com o

espanhol pelo víeis da produção literária nesse idioma, e as produções feitas de

análises em corpora autênticos oriundos de países hispânicos.

Tendo o corpus devidamente selecionado, separamo-lo em dois grupos para

análise. O primeiro composto pelas seções de Introdução e o segundo formado

pelas Considerações Finais, essa separação nos permitiu realizar um estudo mais

apurada do corpus e uma análise mais precisa dos dados.

3.4 Da análise e interpretação dos dados

O estudo dos dados partiu da delimitação das informações dispostas nos

textos das seções de Introdução e de Considerações Finais, buscando estabelecer

um padrão na organização e distribuição das informações ao longo do texto. Cabe

salientar que, nessa primeira etapa, levamos em consideração o conteúdo

informacional independente dos limites da oração ou do parágrafo.

Essa primeira análise nos revelou três grandes blocos de conteúdos, os quais

puderam ainda ser divididos em blocos menores de informações. Aos blocos

maiores denominamos Unidades Retóricas e aos blocos menores demos o nome de

Subunidades Retóricas.

Desse modo, tendo em mente o modelo CARS (Create a resource space)

proposto por Swales (1990) e trabalhado por Motta-Roth (2008) e Araújo (2008), foi

feita a divisão e descrição do texto composto pelo aluno em moves e steps,

reconhecidos como unidades e subunidades retóricas, de modo a encontrar e

agrupar, comparar e interpretar as marcas ideológico-discursivas dos alunos

presentes nos textos acadêmicos, pudemos realizar uma análise pormenorizada dos

dados, agrupando-os de acordo com a incidência das informações dispostas nos

textos coletados.

O processo metodológico pautado no modelo CARS vem sendo testado e

usado com adaptações, em diferentes estudos que envolvem gêneros em português

e inglês. A visão de gênero de Swales é aplicada à descrição de uso da linguagem

em termos de "rhetorical moves" e "steps" como unidades de análise de texto, essas

unidades de análise são unidades de informação que caracterizam a organização

49

retórica do gênero. Cada "move" e "step" é sinalizado através das pistas lexicais e

gramaticais - elementos microestruturais - que expressam a função retórica das

diferentes partes do texto. O trabalho de Swales (1990) tem demonstrado que os

textos acadêmicos são baseados em uma série de estágios convencionalmente

estruturados.

Esses estudos tem ajudado na compreensão dos padrões de organização

textual, bem como esses padrões são expressos linguisticamente. Araújo

(2008)'delineou um modelo de distribuição das informações composto de quatro

unidades de informação, denominadas "unidades retóricas" e realizadas por

"subunidades retóricas" opcionais em sua maioria. De modo a compreender melhor,

podemos dizer que:

Uma unidade retórica é reconhecida como uma unidade de conteúdo informacional dentro de uma estrutura hierárquica de distribuição de informações na arquitetura física do texto, podendo ser realizada a partir das escolhas possíveis de um conjunto de subunidades, de acordo com os propósitos do autor. (BEZERRA, 2009, p. 101)

Nesses termos a interpretação dos dados teve por base o conceito de

unidade retórica exposto em Bezerra (2009), visando identificar no texto das

introduções e das considerações finais das monografias que compreendem o corpus

levantado para a coleta dos dados, a estrutura e a distribuição das informações na

tessitura do texto acadêmico, na tentativa de encontrar as marcas do discurso

pessoal do aluno em meio ao discurso acadêmico.

Essa análise levou em consideração os aspectos qualitativos do discurso do

autor do trabalho monográfico, pondo em evidência a relação entre seu discurso

pessoal e o discurso acadêmico, trabalhando nos liames de junção e interação

destes discursos dentro dos textos analisados.

Partindo dos critérios de seleção e análise dos dados, resta-nos esclarecer

que a interpretação dos dados coletados também compõem parte importante de

uma investigação científica que visa elucidar as respostas encontradas às perguntas

feitas para uma determinada pesquisa, estabelecendo sentidos e relacionando-os

aos conhecimentos já existentes, no caso as teorias que serviram de base para a

execução da pesquisa, testando-as ampliando-as ou negando-as.

Lakatos (2007, p. 170) define a interpretação como uma "atividade intelectual

50

que procura dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros

conhecimentos." Na visão da autora, interpretar diz respeito à ação de criar e

produzir conhecimento novo pautado no já existente, proporcionando visões ricas e

amplas, seguindo os critérios previamente estabelecidos para isso. O que vai ao

encontro de nossa pesquisa, postos os critérios escolhidos para realização, análise

e discussão dos dados encontrados mediante as teorias previamente estudadas

para a efetivação da ação investigativa aqui realizada.

3.5 O tratamento e tabulação dos dados

Considerando que os dados advêm de textos monográficos, mais

precisamente das seções de Introdução e Considerações Finais, as amostras de

análise e interpretação foram apresentados em recortes desses textos que puderam

ilustrar o modo como os alunos organizam a introdução e a conclusão de suas

monografias, a presença das marcas ideológico-discursivas dos autores, assim

como, a forma como os alunos organizaram o conteúdo informacional de seus

textos. Salientamos que todos os exemplos foram fielmente transcritos dos textos

dos alunos, de modo a preservar a fidelidade das informações coletadas.

Todos os textos de Introdução e de Considerações Finais foram codificados

com o termo TEXTO e com um número que vai do 01 ao número 13 de acordo com

a sequência em que foram sendo analisadas e ainda para preservar a identidade de

seus autores. Os textos que tratam das Introduções receberam o código “TEXTO I”

seguido do número do texto e os textos referentes às Considerações Finais

receberam o código “TEXTO CF”, também seguido do número de codificação.

Uma vez detectada a forma de organização do conteúdo dos textos e as

marcas ideológico-discursivas marcadas nos textos, esses dados foram agrupados

em quadros, para depois serem reagrupados em tabelas de acordo com os modelos

de unidades e subunidades retóricas proposto por Bezerra (2009).

O agrupamento desses dados em tabelas foi importante pelo fato de ajudar

na exposição dos dados e viabilizar a compreensão da interpretação feita pelo

investigador. Conforme defende Lakatos (2007, p. 171) o uso de quadros ou tabelas:

É bom auxiliar na apresentação dos dados, uma vez que facilita, ao leitor, a compreensão e interpretação rápida da massa de dados, podendo, apenas com uma olhada, apreender importantes detalhes e relações. Todavia seu

51

propósito mais importante é ajudar o investigador na distinção de diferenças, semelhanças e relações, por meio da clareza e destaque que a distribuição lógica e a apresentação gráfica oferecem às classificações.

Assim sendo, a disposição e análise dos dados foi apresentada em tabelas

que mostraram a estrutura do texto acadêmico produzido pelos alunos,

representadas pelas Unidades e Subunidades Retóricas e o percentual de

incidências encontradas nos textos analisados.

Os dados levantados, a partir da análise realizada nos textos acadêmicos,

mostraram ainda as marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e nas

considerações finais. Essas marcas foram tratadas considerando o grau de

semelhança na sua constituição e disposição no texto monográfico, presentes nas

Unidades e Subunidades retóricas e, em seguida, foram interpretadas de acordo

com o conteúdo ideológico-discursivo encontrado.

Nesse caso, é válido elucidar que a identificação do conteúdo informativo nos

textos, teve por base os mecanismos léxico-gramaticais, os quais funcionaram como

pistas semânticas para o reconhecimento das Unidades e Subunidades retóricas,

bem como das marcas ideológico-discursivas sendo que estas últimas foram

tratadas de modo qualitativo.

De modo a tentar responder aos seguintes questionamentos: (i) como os

alunos organizam a introdução e a conclusão de suas monografias? (ii) Quais

marcas ideológico-discursivas podemos encontrar em textos de alunos da

graduação? (iii) Que ideologias (pessoais, teóricas, históricas e sociais) se

encontram presentes no texto monográfico? Organizamos a análise do corpus de

acordo com as seções selecionadas para estudo.

Na primeira seção, apresentamos uma análise geral da estrutura do texto

acadêmico, considerando a parte introdutória das monografias estudadas e as

Unidades e Subunidades encontradas analisando-as junto aos recortes do corpus

usados como amostras, e ainda expomos a análise das marcas ideológico-

discursivas presentes nas introduções dos textos monográficos. A segunda seção

expõe uma análise da estrutura do texto acadêmico, observando as considerações

finais e a análise das marcas ideológico-discursivas encontradas nessa parte do

texto.

52

Como o texto acadêmico deve possuir linguagem clara e objetiva

(OLIVEIRA, 2009), a análise levou em consideração a objetividade e imparcialidade

na descrição dos elementos encontrados nos dados coletados, e ao mesmo tempo

foi inserida a nossa interpretação e comentários a partir do observado mediante o

corpus analisado.

53

Capítulo iv

54

AS MARCAS IDEOLÓGICO-DISCURSIVAS PRESENTES NA INTRODUÇÃO E CONCLUSÃO DE MONOGRAFIAS DE ALUNOS DA GRADUAÇÃO

O estudo ora apresentado foi baseado na teoria dos gêneros difundida e

ampliada através de pesquisas realizadas por diferentes autores como Swales

(1990), (2004), (2008), Biasi-Rodrigues (2009), Motta-Roth (2008), Araújo (2008),

Bezerra (2009), dentre outros pesquisadores que compartilham trabalhos que tratam

de gêneros e que estes, por sua vez, são direcionados ao estudo do texto

acadêmico utilizando como modelo de análise o modelo CARS (Create a research

space).

Partindo do estudo realizado por Swales (1990), no qual ele desenvolve uma

proposta metodológica de análise da estrutura organizacional de textos acadêmicos,

o modelo denominado CARS é baseado na análise da organização retórica dos

textos, observando a distribuição e recorrência de informações que aparecem nos

textos, lembrando que uma unidade retórica compreende uma unidade de

informação que caracteriza a organização retórica do gênero. Cada uma delas é

sinalizada através das pistas lexicais e gramaticais – elementos microestruturais –

que expressam a função retórica das diferentes partes do texto (Cf. ARAÚJO, 2008).

Com o modelo CARS, Swales (1990) parte do princípio de que um autor de

texto utiliza estratégias, recursos ou princípios para distribuir informações na

produção escrita e ao mesmo tempo, essas produções pertencentes a um gênero

específico possuem uma estrutura similar, obedecendo aos princípios e objetivos

comunicativos que dão origem ao discurso que compõem o texto escrito.

No referente a essa pesquisa, nos delimitamos a esfera acadêmica, onde

são produzidos periodicamente trabalhos como resumos, resenhas, artigos,

monografias, dissertações e teses, e nos detivemos em monografias de conclusão

de curso de graduação, mais especificamente nas seções de introdução e conclusão

dos trabalhos monográficos.

Vale salientar que nossa análise ainda levou em consideração as categorias

de análise baseadas nos conceitos de ideologia propostos também por Bakhtin

(2006), e explicitados por Fiorin (2007), observando as formações ideológico-

discursivas dos autores dos textos, atentando para a identificação do contexto de

produção discursiva, averiguando o contexto social, histórico e político presentes na

55

construção dos textos, na tentativa de mostrar que esses elementos contribuem e

interferem na produção do texto acadêmico e científico, mesmo este seguindo

padrões pré-estabelecidos pela esfera de produção e circulação.

Atentamos ainda para a investigação das marcas ideológico-discursivas dos

produtores dos textos acadêmicos, posto que, tal como defende os autores que

serviram de base para essa pesquisa, todo texto é base recorrente para outros

textos, mas as situações comunicativas são inovadas e, portanto, o autor do texto

sentirá necessidade de adaptar o seu discurso à situação comunicativa na qual se

encontra ou para a qual o texto é produzido.

Nesses termos, nosso corpus constitui-se de 13, monografias da primeira

turma de graduação do Curso de Letras Língua Espanhola semestre letivo 2010.2,

coletadas junto à biblioteca do Campus Avançado Profª Maria Elisa de A. Maia –

CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN no mês de

setembro do semestre letivo de 2011.1.

4.1 Organização das marcas ideológico-discursivas no gênero monografia: seção introdutória.

Durante o tratamento, análise e discussão dos dados, observamos as

peculiaridades que compõem o texto monográfico, sendo este em linhas gerais,

composto por elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Estes, por sua vez,

ainda são divididos em partes menores que totalizam o trabalho. Nos elementos

textuais que tratam do relato da pesquisa, encontra-se a introdução do trabalho

monográfico, a qual, lembrando os conceitos de Lakatos (2007), Oliveira (2009) e

Köcke (2009), deve ser clara, objetiva e constar o problema a ser pesquisado, os

objetivos da pesquisa, a justificativa, a metodologia, o marco teórico e as hipóteses,

dependendo da natureza da pesquisa.

Cada um desses tópicos que devem estar presentes na introdução do

trabalho monográfico pode ser considerado uma Unidade Retórica por compreender

uma unidade de informação que se relaciona com outra para compor uma estrutura

maior com mais dados e informações.

Então, a introdução de monografias foi o texto escolhido e delimitado para

decomposição e análise da distribuição das informações que o compõem. A

disposição dos dados que dão forma à introdução podem variar quanto à quantidade

56

e à ordem em que aprecem no texto, entretanto a introdução deve conter todos os

elementos recomendados pela norma acadêmico-cientifica.

Cabe salientar que nem todas as unidades retóricas encontradas no corpus

ocorrem na mesma sequência e posição no texto, visto que há a flexibilidade e

particularidade da escrita e intencionalidade do autor, assim a análise estrutural

levou em consideração a ocorrência das unidades retóricas voltadas para a

organização coerente do texto de acordo com as teorias de metodologia de pesquisa

acadêmica científica.

Desse modo, na análise da estrutura das 13 introduções coletadas

obtivemos o seguinte quadro de resultados e unidades retóricas divididas em

subunidades informacionais, como podemos ver na Tabela 01.

Tabela 01 – Dados quantitativos da análise das introduções das monografias

UNIDADE RETÓRICA 01 – Apresentação da pesquisa

Subunidade 1 - Contextualizando o trabalho 13 100%

Subunidade 2 - Apresentando o tema 13 100%

Subunidade 3 - Apresentando objetivos 13 100%

Subunidade 4 – Questionando o tema 09 69%

Subunidade 5 – Descrevendo aspectos metodológicos 03 23%

UNIDADE RETÓRIA 02 - Justificativa

Subunidade 1 - Argumentando sobre a relevância da pesquisa 08 62%

Subunidade 2 – Relacionando a pesquisa com a teoria de base 13 100%

Subunidade 3 – Apontando a relevância pessoal 05 38%

Subunidade 4 – Apontando a relevância acadêmica 11 85%

UNIDADE RETÓRICA 03 - Apresentação dos capítulos da monografia

Subunidade 1 – Apresentando o primeiro capítulo 13 100%

Subunidade 2 – Apresentando o segundo capítulo 13 100%

Subunidade 3 – Apresentando o terceiro capítulo 13 100% Tabela baseada em Bezerra (2009)

A análise da estrutura introdutória mostrou que, no nível macro, as

introduções são compostas em três grandes blocos de informação, as quais foram

denominadas como Unidades Retóricas: Apresentação da Pesquisa, Justificativa e

Apresentação dos capítulos da monografia. Cada um desses blocos contém outro

conjunto de informações semelhantes, com dados pertinentes, denominadas

Subunidades que relacionadas formam o bloco maior, o qual possui um propósito

comunicativo mais elaborado, por isso considerado uma unidade retórica.

57

4.1.1 Considerações sobre a unidade retórica 01 – introdução do trabalho

A análise da Unidade Retórica 01 – Introdução do trabalho mostrou que essa

unidade está presente em todos os textos coletados. E, mediante o estudo das

informações dispostas, nomeamos cinco subunidades retóricas: Subunidade 1 –

Contextualizando o trabalho, Subunidade 2 – Apresentando o tema, Subunidade 3 –

Apresentando objetivos, Subunidade 4 – Questionando o tema e Subunidade 5 –

Descrevendo aspectos metodológicos.

Em todas as introduções foram encontradas as três primeiras subunidades,

Contextualizando o trabalho, Apresentando o tema e Apresentando objetivos.

Entretanto, percebemos discrepâncias nas subunidades 4 – Questionando o tema e

5 – Descrevendo aspectos metodológicos.

A Unidade Retórica 01 naturalmente é recorrente em todos os trabalhos. A

presença dela é imprescindível na construção do texto monográfico, por ser pré-

requisito para a construção do texto científico acadêmico. Os manuais de redação

científica deixam claro como essa seção do texto científico deve ser escrita. Foi o

que encontramos nos manuais de Lakatos (2007), Oliveira (2009), Köche (2009),

Martins Júnior (2010), à guisa de exemplificação.

Foi possível perceber uma regularidade na disposição das informações das

Subunidades 1, 2 e 3, posto que todas as introduções das monografias abordaram

esses elementos na sua construção, apresentando extensões variáveis de

parágrafos, que variaram de dois a oito parágrafos, conforme a intenção e redação

dos autores dos textos monográficos.

Diante dos dados contabilizados na Tabela 01, em relação à Unidade

Retórica 01, Subunidades 1, 2 e 3, podemos dizer que todos os textos analisados

fizeram uma contextualização introdutória do trabalho, relacionando a pesquisa com

o contexto social vigente, ou seja, apresentam dados e ou informações que de

alguma forma, associam o tema pesquisado com a realidade social e o curso de

formação.

Por outro lado, dentro dessa mesma Unidade Retórica 01, houve variações

entre as Subunidades 4 – Questionando o tema e Subunidade 5 – Descrevendo

aspectos metodológicos, porque alguns trabalhos analisados não apresentaram uma

ou outra dessas subunidades. A Subunidade 4 – Questionando o tema foi

encontrada em nove dos 33 textos analisados, isso significa que quatro deles não

58

aparecem questões de pesquisa ou qualquer questionamento ainda que de modo

implícito sobre o que se deseja investigar.

4.1.1.1 A Subunidade 1 – Contextualizando o trabalho

A Subunidade 1 apresentou informações variadas a respeito do conteúdo do

trabalho monográfico, envolvendo dados sobre o ensino de Língua Espanhola,

desde as leis que consolidaram o ensino de Espanhol no Brasil até a modernidade e

a evolução socioeconômica como fatores relevantes para iniciar a apresentação do

trabalho. Conforme observamos nos destaques em negrito dos recortes feitos do

corpus analisado nas amostras (01), (02) e (03):

(01)

A importância que o conhecimento da língua espanhola tem recebido nos últimos tempos, em decorrência de fatores como, por exemplo, a globalização da economia mundial, as privatizações na América do Sul, a consolidação do MERCOSUL, as relações nas áreas do comércio, da economia e dos negócios, é indiscutível. Some-se a isso o fato de ser o espanhol o segundo idioma mais usado na comunicação internacional (cf. SEDYCIAS, 2002)

TEXTO I 01

(02)

O ensino/aprendizagem do Espanhol no Brasil é uma realidade que não é recente, mas em função de vários fatores sócio econômicos, essa língua ganhou maior importância dentro da sociedade brasileira em nossos dias. Seja pela globalização, ou pelo Mercosul e por outras questões de carga cultural, o espanhol está se tornando uma língua imprescindível por conta das necessidades de comunicação.

TEXTO I 04

Exemplo (03)

Considerando o crescente contato com a Língua estrangeira, em especial a Língua espanhola, em ambientes formais de ensino, torna-se necessário aprofundar as investigações, apresentando e abordando em nosso presente estudo de como ocorre o processo de ensino e aprendizagem.

TEXTO I 08

59

Observemos que, nos recortes (01), (02) e (03), os autores dos textos fazem

menção ao contexto social e econômico quando utilizam termos como:

“globalização”, “comunicação internacional”, “a educação brasileira”, “novas

exigências do mundo no tocante à necessidade de comunicação”, são fatores que

trazem elementos sociais, situações de contexto nacional e internacional,

vivenciados e observados pelos autores dos textos. Portanto, compreendem o

contexto de produção discursiva revelado pelas marcas do discurso do aluno, ao

apresentar no seu texto dados e informações de cunho social a nível nacional e

internacional, mediante as informações expostas no texto, o que vai ao encontro do

que foi estudado em Bakhtin (2003) e Fiorin (2007), os quais expõem a noção de

texto como espaço para a materialização de discursos que trazem em suas

essências os estratos sociais e individuais dos sujeitos que os produzem.

As palavras usadas na composição dos textos provam que o discurso do

aluno expresso no texto acadêmico está permeado pelas ideologias que movem o

contexto social. Podemos perceber isso, nas amostras (01) e (02), as relações

socioeconômicas implicitamente determinam o que se deve aprender. É uma

amostra clara da classe dominante interferindo no sistema educacional nacional, o

que vai ao encontro dos conceitos de ideologia dominante expostos por Brandão

(2004).

Em outras palavras, nas amostras (01) e (02) tornou-se perceptível o poder

econômico de um grupo que, de certa forma, determina ou impõem o que aprender,

como aprender e porque aprender. No caso do corpus analisado, a necessidade de

se aprender espanhol devido a acordos financeiros internacionais e a globalização.

A relação do aluno com o curso de formação em Licenciatura em Língua

Espanhola é perceptível, quando mencionam em seus textos elementos como:

“educação brasileira”, “ensino de língua estrangeira”, “língua espanhola”, “processo

de ensino e aprendizagem”, “didática” são termos e expressões tipicamente usadas

em contextos relacionados ao ensino e aprendizagem de língua estrangeira, o qual

envolve, por sua vez, sujeitos como alunos, professores e situações ligadas ao

processo de ensinar e aprender, evidenciando no texto, portanto marcas do contexto

de produção discursiva dos sujeitos que produziram o texto acadêmico. Conforme

estudado em Fiorin (2007), os alunos produtores dos textos analisados são sujeitos

presos aos temas das formações discursivas que existem na formação social em

que estão inseridos, por isso não utilizam palavras que não sejam condizentes com

60

seu curso de formação e o meio no qual estão inseridos como pessoas que

produzem discursos.

4.1.1.2 Subunidade 2 – Apresentando o tema

A temática dos trabalhos monográficos foi apresentada em todas as

introduções analisadas. Considerando que nove possuem como tema ensino de

língua espanhola (leitura, metodologia, material didático, interlíngua, gêneros

textuais, ensino e aprendizagem), duas monografias apresentaram estudos literários

e 02 abordaram a argumentação na propaganda em espanhol.

As informações a respeito do tema estão dispostas em um ou mais

parágrafos de texto nas introduções, a depender dos argumentos usados pelos

autores dos textos para comentar ou discutir a temática de seus trabalhos. Cabe

salientar que as pistas lexicais e semânticas das palavras usadas pelos alunos.

deixam em evidência sobre o que trata a pesquisa. Isso é elemento importante, dada

a função de um texto introdutório, informar sobre o que se trata a pesquisa.

Os manuais de pesquisa e redação científica, Lakatos (2007), Martins Junior

(2010), Köche (2009) deixam isso claro ao argumentar que, na introdução de um

relato de uma pesquisa científica, faz-se necessário deixar explícito de que trata a

pesquisa. Nesse caso, essa subunidade cumpre sua função dentro do texto das

introduções analisadas, conforme observamos nas amostras (04), (05), (06) e (07):

(04)

Desta forma, nota-se que a relação entre literatura e teologia vem de muitos anos, pois podemos perceber as suas marcas até mesmo nos salmos das sagradas escrituras.

TEXTO I 02

(05)

Os métodos de ensino sempre despertaram grande interesse no ensino de língua estrangeira, uma vez os estudiosos dessa área almejam alcançar uma didática eficiente e que promova um pleno ensino/aprendizagem.

TEXTO I 04

61

(06)

No caso específico de uma língua estrangeira que mantêm grande proximidade com a língua materna, como é o caso do espanhol com o português, as estratégias ou recursos empregados pelos aprendizes no momento de se comunicar podem levar ao surgimento, em diversos contextos comunicativos, de determinados níveis de interferência, caracterizando uma interlíngua (IL). [...]

Mediante essas constatações, os erros na interlíngua escrita de brasileiros aprendizes de espanhol ocorrem principalmente em virtude da LM, [...]

TEXTO I 06

(07)

A propaganda, com frequência, transmite a mensagem do desejo, imprimindo no público-consumidor certos sentimentos que serão geridos conforme a vontade do produtor do texto, [...]

A argumentação é um campo muito abrangente que tem como finalidade convencer e persuadir nas muitas situações em que a comunicação se faz presente.

TEXTO I 12

Podemos observar nas amostras as informações que tratam os temas das

pesquisas dos alunos, “literatura e teologia”, “métodos de ensino em língua

estrangeira”, “interlíngua”, “propaganda e argumentação”, evidenciando o assunto

abordado no trabalho, bem como a análise dos textos introdutórios revelou que

100% deles apresentam o tema de pesquisa, pré-requisito da função desses textos.

4.1.1.3 Subunidade 3 - Apresentando objetivos

Essa subunidade traz como conteúdo as metas e ou objetivos da pesquisa,

pré-requisito importante e necessário à introdução de um trabalho, pois deixa claro

qual a finalidade da pesquisa e os propósitos que se deseja alcançar a partir do

estudo feito.

Os objetivos são fáceis de serem identificados no texto através de pistas

lexicais e semânticas, como os verbos que os introduzem, os quais, segundo

recomendações de Martins Junior (2010), devem sempre aparecer no infinitivo

demonstrando a ação que se deseja realizar e que metas se espera alcançar.

62

No corpus analisado foi possível identificar os objetivos e os propósitos das

pesquisas realizadas, conforme vemos nas amostras (08), (09) e (10) dos objetivos

encontrados nas introduções analisadas.

(08)

O nosso campo de investigação foi uma escola pública estadual [...] onde procuramos:

Verificar se o professor da escola campo de pesquisa procura desenvolver a habilidade de leitura de textos em sala de aula.

Detectar quais e como são trabalhadas as estratégias de leitura.

TEXTO I 01

(09)

A proposta deste trabalho é averiguar que tipos de dificuldades estes alunos de graduação (futuros professores) apresentam referentes aos elementos segmentais (sons) da Língua Espanhola e sugerir, com base nos dados coletados e apoiados no aporte teórico, atividades que possam auxiliar na aprendizagem desses elementos.

TEXTO I 03

(10)

Essa pesquisa tem como principal objetivo evidenciar e descrever as crenças de três professores de espanhol com relação à oralidade, esses docentes participaram de um curso de capacitação [...]. Buscamos observá-los, enquanto profissionais atuantes com a língua espanhola nas escolas públicas no ensino médio.

.

TEXTO I 07

Nas amostras (08), (09) e (10), podemos perceber a presença dos verbos no

infinitivo “verificar”, “detectar”, “averiguar”, “sugerir”, “evidenciar”, o uso desses

termos evidencia o propósito investigativo, além de se constituir como informações

específicas dentro do texto do aluno, bem como demonstra o discurso do aluno

investigador que cria e determina propósitos para uma ação investigativa,

característica própria da linguagem acadêmico-científica.

63

4.1.1.4 Subunidade 4 – Questionando o tema

O questionamento do tema se constitui como um conjunto de informações

usadas junto à apresentação do tema. Mostra-se como um recurso usado para

discutir o tema lançando mão de questionamentos que podem ter gerado a

pesquisa.

Esses questionamentos ficaram evidentes por meio de perguntas diretas e

ou indiretas no texto das introduções analisadas. Conforme observamos as

perguntas apresentadas na amostra (11)

(11)

Com o interesse de estudar como está sendo implantado o ensino de espanhol em uma escola pública de Ensino Médio na cidade [...], tentaremos buscar respostas para os seguintes questionamentos:

Que diretrizes os documentos como a Lei 11.161, Lei de Diretrizes e Bases – LDB e as Orientações Curriculares Nacionais – OCNs apontam para o ensino de espanhol?

O ensino de língua espanhola na escola pública está sendo trabalhado de acordo com o que dizem os documentos oficiais?

Como é a prática docente do professor de Língua Espanhola na escola campo de pesquisa?

TEXTO I 05

Todavia não foram todos os textos de introdução que apresentaram essa

subunidade informacional, sendo esta encontrada em 69% dos textos analisados, ou

seja, nove das 13 introduções não trazem nenhum tipo de questionamento

investigativo.

Podemos inferir que são trabalhos que não tentam resolver problemas, mas

apenas fazem uma análise descritiva de fatores relacionados à Língua Espanhola e

o curso de formação, como o caso dos trabalhos voltados para a análise literária e

outro que aborda questões do ensino e aprendizagem. Esses trabalhos partem de

convicções, deduções para pesquisa e análise, conforme vemos nas amostras (12)

e (13) a seguir:

(12)

[...] o presente trabalho tem como objetivo mostrar que através de uma narrativa podemos tecer inúmeras considerações a respeito das características que constitui um personagem. Também é possível que em cada contexto narrativo existam

64

aspectos da realidade social, embora constituída por meio de um mundo fictício, [...].

É partindo desse prisma que a proposta dessa investigação é levantar a construção da identidade de um personagem fictício, protagonista narrador [...].

TEXTO I 13

(13)

Diante dos pressupostos teóricos anteriormente citados, estamos certos de que, além de melhorar a capacidade de aplicar os jogos no ensino de língua espanhola para crianças, tal aplicação se tornará mais motivadora para aprender uma língua não conhecida, [...]

[...] Assim diante da curiosidade despertada após o

amadurecimento das ideias concretas que nos fizeram aplicar e/ou desenvolver essa pesquisa, surgiu a necessidade de entendermos a importância de uma ferramenta como o uso de atividades lúdicas no ensino de Língua Espanhola para crianças.

TEXTO I 08

Na amostra (12), é perceptível que o autor do texto coloca como elemento

norteador da pesquisa “as características que constituem um personagem”. Isso

revela que não implica em responder uma questão de pesquisa, mas em realizar

uma pesquisa descritiva, que pode justificar o fato de essa monografia não

apresentar questões de pesquisa ou qualquer tipo de questionamento explícito sobre

a temática pesquisada.

A amostra (13) apresenta já na introdução conceitos que fundamentam a

pesquisa e, ao mesmo tempo, não implica em um trabalho que busca respostas para

questionamentos, mas, na reflexão da teoria estudada, o fato de poder “tecer

considerações” a respeito da temática da pesquisa, mostra que o autor do texto não

busca encontrar respostas para uma situação problema relacionada ao ensino, mas

na reflexão do uso de recursos didáticos no processo de ensino e aprendizagem.

A amostra (13) também põe em evidência o contexto de produção do autor

do texto, ao tratar de recursos didáticos ligados ao processo de ensino e

aprendizagem de língua espanhola, como as “atividades lúdicas no ensino de

Língua Espanhola”. Isso mostra que o autor do discurso presente nesse texto faz

parte de um contexto que utiliza ou trabalha com a Língua Espanhola como idioma

estrangeiro.

65

4.1.1.5 Subunidade 5 – Descrevendo aspectos metodológicos

Essa subunidade possui como função apresentar a descrição, ainda que

sumária, dos procedimentos investigativos adotados pelo pesquisador. Ela foi

encontrada em apenas três dos 13 trabalhos monográficos, isso representa 23% do

corpus analisado.

Considerada uma delineação breve dos procedimentos metodológicos, que

foram utilizados para a realização da pesquisa monográfica, pertinente na introdução

do trabalho, segundo Köche (2009), implica na compreensão do texto monográfico

como um todo, posto que a descrição metodológica contribui para que o leitor tenha

uma visão geral do trabalho monográfico.

Essa subunidade informacional ficou evidente no uso de poucas palavras

que indicam o passo a passo de como foi feita a pesquisa, conforme observamos na

amostra (14):

(14)

[...] a metodologia encontra-se organizada da seguinte forma: em primeiro momento construímos um diálogo entre a literatura e teologia, [...]. Em seguida, por nosso trabalho tratar do discurso teológico místico no discurso literário, fez-se necessário levantarmos concepções sobre o que venha ser discurso, [...].

[...] Nessa análise, procuraremos fazer um recorte da obra,

mostrando passagens representativas que destacam o discurso religioso do autor.

TEXTO I 02

Na amostra (14), percebemos a descrição feita pelo aluno autor do texto

acadêmico, a respeito dos procedimentos adotados para a análise dos dados em

sua pesquisa, termos como “metodologia encontra-se organizada” é um indicativo da

preocupação em explicar como foram realizados os procedimentos de análise dos

dados.

No trecho “nessa análise, procuraremos fazer um recorte da obra,

mostrando passagens representativas que destacam...”, podemos perceber a

descrição dos procedimentos de tratamento do corpus e representação dos dados

para análise, ficando evidente, no texto do aluno, a representação da metodologia

no seu texto.

66

Por outro lado, houve a falta da descrição da metodologia de pesquisa em

muitos trabalhos. Foi um problema encontrado em 10 monografias, o que representa

77% das introduções que não apresentaram aspectos metodológicos, ficando esta

parte restrita apenas ao capítulo metodológico no corpo do texto monográfico. Isso

revela falhas na construção da introdução, podendo interferir na compreensão do

trabalho monográfico, ou na motivação, por parte do leitor, em procurar conhecer o

texto monográfico completo.

4.1.2 Considerações sobre a unidade retórica 02 – justificativa

A Unidade Retórica 02 – Justificativa foi encontrada em todos os textos

analisados, porém, houve variações referentes às informações que compunham o

texto da justificativa, implicando em discrepâncias nas subunidades encontradas

dentro das justificativas analisadas.

A justificativa na introdução de um relato de uma pesquisa científica é

requisito obrigatório, pois implica na valorização e reconhecimento pelo conteúdo

abordado na pesquisa, segundo Lakatos (2006) e Oliveira (2009), a justificativa não

pode ser uma citação de outros autores, mas do próprio autor do texto, pois a

justificativa interfere na capacidade de convencer o leitor sobre a importância da

pesquisa, seja essa relevância de cunho pessoal ou de caráter científico.

A redação da justificativa não deve ser feita de modo a fugir ao rigor dos

padrões da linguagem científica, antes devendo o seu autor, no domínio da

linguagem culta e do conteúdo que deseja pesquisar, persuadir sobre a necessidade

de realização da pesquisa.

Cabe salientar que a justificativa é parte importante para que o texto seja

aceito pelo grupo social para o qual foi produzido, principalmente o universo

acadêmico.

Dessa forma, analisando as introduções das monografias que compõem o

corpus dessa pesquisa, foi possível identificar a justificativa como uma unidade

retórica, pelo fato de ser constituída por um conjunto de informações dispostas no

texto, de modo a demonstrar a sua relevância. Nessa Unidade Retórica,

encontramos quatro subunidades informacionais: Subunidade 1 – Argumentando

sobre a relevância da pesquisa, Subunidade 2 – Relacionando a pesquisa com a

67

teoria de base, Subunidade 3 – Apontando a relevância pessoal, Subunidade 4 –

Apontando a relevância acadêmica.

4.1.2.1 Subunidade 1 - Argumentando sobre a relevância da pesquisa

A incidência de argumentos que justificassem a relevância da pesquisa

foram encontrados em oito dos 13 textos coletados, os quais apresentam

argumentos que justificam com clareza e dão suporte à necessidade de realização

da pesquisa, conforme observamos nas amostras (15), (16) e (17):

(15)

[...] não se sabe ao certo como o trabalho com leitura em língua espanhola vem sendo desenvolvido em escolas locais. E somado a isso, a própria sanção da “Lei do Espanhol” representa suficiente justificativa para que se realizem estudos na área, sobretudo pela preocupação em realizar um ensino de qualidade por parte dos professores de espanhol, [...].

TEXTO I 01

(16)

Assim, levando em consideração que a Língua Espanhola como disciplina já faz parte do ensino de muitas escolas públicas e cursos de natureza privada, é preciso fazer uma reflexão sobre a importância desse idioma no processo educativo e sobre a forma como está sendo implantado no contexto educacional.

TEXTO I 05

(17)

Sendo assim, como essa área de pesquisa é relativamente nova, justifica a necessidade de mais pesquisas sobre a formação de professores de língua estrangeira, levando em consideração a complexidade que envolve essa questão.

TEXTO I 07

A amostra (15) revela porque o autor do texto considera importante a sua

pesquisa, a implantação da Lei 11.161 de 05/08/05, a qual oficializa e torna

obrigatório o ensino do espanhol nas escolas brasileiras, além do desconhecimento

68

do trabalho com leitura, que vem sendo desenvolvido nas escolas. São razões que

justificam e tornam necessária a realização de sua pesquisa.

Como justificativa na amostra (16), encontramos a “reflexão” da implantação

do idioma espanhol no contexto educacional, tornando evidente seu argumento

sobre a relevância da pesquisa realizada pelo autor da monografia.

Na amostra (17), encontramos como justificativa, argumentos voltados para

a recente implantação do espanhol e nova área de ensino e aprendizagem, portanto

espaço propício para a realização de pesquisas, tendo como foco a formação de

professores de língua estrangeira.

Os três exemplos trazem como elementos relevantes e argumentos o fato do

espanhol como idioma novo no contexto de ensino nacional, inclusive local, o que

evidencia o contexto de produção do discurso do aluno acadêmico, mostrando que

ele está fazendo parte de um momento histórico do seu tempo, e, esse fato histórico,

político e social reflete na sua formação discursiva, a qual se mostrou presente na

materialização do seu discurso acadêmico.

Embora essas amostras demonstrem os argumentos dos autores sobre a

relevância da pesquisa, a análise dos dados mostrou também que cinco trabalhos

monográficos não apresentam motivos claros para a realização de suas respectivas

pesquisas, ou seja não justificam adequadamente a necessidade de realização dos

seus trabalhos, o que nos faz crer que os autores desses textos apresentaram

dificuldades em dominar a linguagem acadêmico-científica.

4.1.2.2 Subunidade 2 – Relacionado a pesquisa com a teoria de base

A Subunidade 2 – foi informação presente em 100% do corpus analisado,

isso quer dizer que os 13 textos introdutórios expõem a teoria que norteou suas

investigações e relacionam essa teoria com a pesquisa realizada. Isso significa dizer

que todos mencionam na introdução os teóricos que, de alguma forma,

fundamentaram seus trabalhos, de acordo com o que observamos nas amostras

(18) e (19):

(18)

Autores como Richards e Rogders (1986), Abadías (2000), Vilaça (2008), Brown (2001) deram uma importante fundamentação teórica ao trabalho.

TEXTO I 04

69

(19)

O estudo das crenças sobre ensino/aprendizagem de línguas tem crescido nas últimas décadas. Pesquisas como a de Barcelos (2000, 2006); Almeida Filho (1999, 2009); Vieira Abrão (2006) apontam resultados referentes à prática reflexiva do professor de língua estrangeira como algo necessário para a desconstrução de algumas crenças.

TEXTO I 08

Os recortes nas amostras (18) e (19) mostram explicitamente como os

autores dos trabalhos monográficos articulam em suas introduções a temática de

suas pesquisas com os teóricos que fundamentam suas pesquisas, detalhe

importante na construção da introdução de monografias.

Os dados mostram que as pesquisas foram feitas obedecendo aos princípios

investigativos de estudo e leitura de estudiosos que já apresentaram alguma

informação a respeito do tema pesquisado pelo aluno. Isso prova que o texto dos

teóricos é base textual para a construção de novos textos gerados com as pesquisas

dos alunos, o que vai ao encontro da teoria de gêneros defendida por Bakhtin

(2006), a qual defende a noção de gêneros como construtos que alicerçam os novos

discursos.

4.1.2.3 Subunidade 3 – Apontando a relevância pessoal

A Subunidade 3 – Apontando a relevância pessoal não foi encontrada em

todas as introduções das monografias. Apenas cinco dos 13 textos introdutórios

apresentam alguma relevância pessoal ou de alguma forma identificam-se com a

necessidade de realização de sua pesquisa. Quando oito introduções não

mostraram nenhuma relação pessoal com a pesquisa, isso significa dizer que

apenas 38% dos alunos autores de monografias não conseguiram demonstrar na

introdução de seus trabalhos a relevância pessoal de suas pesquisas, o que nos

leva a inferir a dificuldade do aluno em inserir no texto científico sua marca

ideológico-discursiva, considerando os conceitos anteriormente apresentados sobre

discurso e ideologia expressos por Bakthin (2006) e Fiorin (2007).

A relevância pessoal foi detectada de forma sutil e impessoal no texto

monográfico, ou seja, a linguagem científica acadêmica interferiu na construção do

texto, pois os dados revelam que o aluno autor do texto acadêmico teve dificuldades

70

em expor na introdução seu entendimento pessoal sobre a importância da pesquisa,

ou ainda a relevância da pesquisa em si para sua formação pessoal. Quando

encontrada essa relevância pessoal estava exposta em primeira pessoa do plural ou

de modo impessoal, o aluno não consegue se expressar de outra forma porque deve

obedecer à norma de escritura acadêmica, conforme vemos nas amostras (20), (21)

e (22) listados abaixo.

(20)

O interesse em abordar essa temática e delimitá-la ao município de Pau dos Ferros – RN surgiu pelo fato de almejarmos oferecer um texto científico que sirva de instrumento para pesquisas acerca do processo de ensino/aprendizagem do espanhol, implantado recentemente nas escolas públicas desse município.

TEXTO I 04

(21)

Entendemos que a pesquisa sobre crenças, os conhecimentos e experiências que o aluno já possui sobre leitura, é de suma importância para que estratégias sejam selecionadas e aplicadas.

TEXTO I 10

(22)

Propomos esse estudo de caso tendo como motivação inicial nossa vivência de sala de aula, enquanto professores estagiários de espanhol, levando em conta nossas dificuldades para desenvolver a habilidade de leitura durante o estagio. Tais percalços serviram como provocação à realização deste estudo, [...]

TEXTO I 01

Ao analisarmos as amostras (20) e (21), percebemos que os autores dos

textos usam a primeira pessoa do plural, incluindo-se no processo da ação

investigativa. Quando são utilizadas as palavras “O interesse em abordar essa

temática... almejarmos [...]”, “entendemos que a pesquisa ... é de suma importância”,

observamos a necessidade de destacar a relevância de realização da pesquisa,

porém o aspecto pessoal não aparece explicitamente. Somente a amostra (22)

demonstrou mais explicitamente a necessidade e justificativa pessoal para a

realização da pesquisa, apresentando argumentos relevantes para a realização de

sua pesquisa e condizentes com sua formação pessoal e acadêmica, ao destacar a

71

vivência de sala de aula no estágio e as dificuldades passadas durante esse

período.

4.1.2.4 Subunidade 4 - Apontando a relevância acadêmica

A Subunidade 4 – Relevância acadêmica foi encontrada em 11 textos,

representando 85% de incidência dessa subunidade na estrutura das introduções

analisadas, que apresentam trechos mencionando sobre a contribuição do trabalho

para a academia e apenas dois textos, ou seja 15% das introduções não

apresentaram nenhuma menção sobre a importância ou contribuição do trabalho

para o contexto acadêmico ou científico.

A Relevância acadêmica na introdução das monografias foi justificada em

sua maioria pela falta de pesquisas voltadas para o processo de ensino de Língua

Espanhola recém implantado no município campo de pesquisa, como bem

observamos nas amostras (23), (24) e (25) abaixo:

(23)

Daí, o nosso estudo ganhar relevo acadêmico, tendo em vista que não existem estudos a nível local que fornecem um panorama especifico sobre o trabalho com leitura em língua espanhola, que a práxis nem sempre se dá adequadamente e, ainda, que existe a necessidade de os professores de espanhol recém-formados pelo CAMEAM/UERN conhecerem o contexto em que irão intervir.

TEXTO I 01

(24)

De tal maneira, a relevância de nossa pesquisa está no fato de poder contribuir com futuros estudos dessa categoria, além de ser importante para o ensino de espanhol, e auxiliar professores no tocante a melhor forma de lidar com erros, [...]

TEXTO I 06

(25)

Convém destacar que essa pesquisa é relevante porque impulsionará outras pesquisas que visam investigar a estrutura retórica do gênero résumen, bem como de outros gêneros acadêmicos e não-acadêmicos. É relevante também porque contribuirá para a produção escrita acadêmica e para os estudos de Análise de gêneros discursivos, [...]

TEXTO I 08

72

As amostras (23) (24) e (25) nos mostram como os autores dos textos

deixaram explícita a relevância acadêmica e científica da pesquisa, palavras como

“relevo acadêmico”, “contribuir com futuros estudos”, “contribuirá para a produção

escrita acadêmica”, demonstram bem a importância e a contribuição das pesquisas

para o contexto acadêmico.

4.1.3 Considerações sobre a unidade retórica 03 – Apresentação dos capítulos da monografia

A Unidade Retórica 3 – Apresentação dos capítulos da monografia foi a

unidade de maior incidência. Todos os 13 textos introdutórios fazem uma descrição

detalhada ou parcialmente detalhada dos capítulos que compõem o texto

monográfico, então as subunidades da Unidade Retórica 01 ficaram resumidas a

três subunidades: Subunidade 1 – Apresentando o primeiro capítulo, Subunidade 2 –

Apresentando o segundo capítulo e Subunidade 3 – Apresentando o terceiro

capítulo.

Encontramos introduções com apenas um parágrafo de descrição dos

capítulos, outras fizeram descrições minuciosas em três ou mais parágrafos, a

depender da quantidade de informações relevantes para os autores das introduções.

Devido aos 100% de reincidência da Unidade Retórica – 03, optamos por

apresentar um único exemplo dessa unidade que ao mesmo tempo, engloba as

subunidades informacionais, como bem revela a amostra (26):

(26)

Para um melhor entendimento do que almejamos com essa investigação, fizemos um aparato teórico de estudiosos da temática por nós pesquisada, que nos guiarão para a realização do presente trabalho. Em seguida, abordamos os passos metodológicos que nortearam a nossa pesquisa e posteriormente realizamos a análise dos dados coletados e também nossas considerações finais, com alguns apontamentos necessários para compreender o objetivo da nossa investigação.

TEXTO I 06

Os termos, “fizemos um aporte teórico” refere-se aqui ao primeiro capítulo do

trabalho de monografia, as palavras “Em seguida, abordamos os passos

73

metodológicos” remetem ao segundo capítulo do trabalho monográfico e,

“posteriormente realizamos a análise dos dados [...] nossas considerações finais”.

Esses fragmentos, portanto, apresentam uma breve descrição da sequência dos

capítulos que compõem a monografia, mostrando a preocupação do aluno em

apresentar, em poucas palavras, o conteúdo dos capítulos que compõem o texto do

seu trabalho de pesquisa.

De modo geral a análise da seção de Introdução das monografias que

serviram de corpus para nossa pesquisa nos permitiu compreender o modo como os

alunos organizam as informações nos seus textos. Os três grandes blocos

informacionais que compõem as justificativas, as Unidades Retóricas apresentaram

diferentes aspectos e conteúdos informacionais que diferiram em tamanho,

disposição de parágrafos e ordem na sequência do texto, assim como a ausência ou

presença de conteúdos informacionais que compunham as subunidades

encontradas dentro de cada Unidade Retórica.

Essa variação nos conteúdos de informação possibilitou as discrepâncias no

percentual das subunidades retóricas, resultando em percentuais variados em

algumas das subunidades dentro da mesma Unidades Retórica, como o encontrado

na Unidades Retórica 01 Apresentação da pesquisa, onde foi possível encontrar a

Subunidade 01 Contextualizando o trabalho em 100% do corpus quando a

Subunidade 05 Descrevendo aspectos metodológicos em apenas 23% dos textos

analisados, e Unidade Retórica 02 Justificativa.

4.2 Organização das marcas ideológico-discursivas no gênero monografia: seção de considerações finais

O texto de conclusão de um trabalho científico, a monografia de graduação,

também segue padrões pré-estabelecidos pelas normas técnicas científicas.

Devendo conter segundo Köcke (2008) e Oliveira (2009) a retomada do problema

inicial exposto na introdução e apresentar as principais contribuições que trouxe à

pesquisa.

Partindo dessas categorias, encontramos a seguinte composição estrutural

nas considerações finais das monografias analisadas e elaboramos o seguinte

quadro de resultados e Unidades Retóricas, apresentado na Tabela 02.

Tabela 02 – Dados quantitativos da análise das considerações finais das monografias

74

UNIDADE RETÓRICA 01 - Retomada da proposta da pesquisa

Subunidade 1 - Retomando o tema 13 100%

Subunidade 2 – Retomando os objetivos 10 77%

UNIDADE RETÓRICA 02 – Retomada dos resultados Subunidade 1 – Sintetizando os achados 09 69%

Subunidade 2 – Sugerindo soluções 07 54%

UNIDADE RETÓRICA 03 – Contribuição da pesquisa Subunidade 1 – Apresentando a importância final da pesquisa 10 77%

Subunidade 2 – Contribuindo com a ciência 09 69%

Subunidade 3 – Contribuindo com o ensino 06 46%

A análise da estrutura da conclusão dos trabalhos monográficos mostrou

que, no nível macro, as considerações finais, assim como as introduções, são

compostas em três blocos de informação: retomada da proposta da pesquisa,

retomada dos resultados e contribuição da pesquisa. Cada um desses blocos

contém outra construção mais ou menos semelhante, com informações pertinentes,

que relacionadas que formam o bloco maior, o qual possui um propósito

comunicativo mais elaborado, por isso também considerado uma unidade retórica

dentro do texto de conclusão das monografias.

Dados os resultados apresentados na Tabela 02, realizamos uma análise

mais pormenorizada das informações expostas nas Unidades e Subunidades

Retóricas, buscando detalhes que pudessem comprovar ou ilustrar os dados

numéricos sistematizados, atentando ainda para elementos e recursos linguísticos

que revelassem marcas ideológico-discursivas na conjuntura do texto final das

monografias.

Ao iniciarmos a análise dos textos das Considerações Finais, encontramos

três Unidades Retóricas, Unidade Retórica 01 – Retomada da proposta da pesquisa,

Unidade Retórica 02 – Retomada dos resultados e Unidade Retórica 03 –

Contribuição da pesquisa.

Como vimos as considerações finais de um trabalho de natureza científica

devem ser compostas de informações que retomem e discutam as ideias principais

da pesquisa e, sobretudo, apresentem as contribuições que a pesquisa traz para seu

meio de produção, entretanto, nem todos os trabalhos analisados trazem em seu

texto a relevância da pesquisa, posto que apenas 77% deles possuem todos os pré-

requisitos exigidos pelas normas técnicas para a redação do texto científico.

75

Quando traçamos esses dados em números percentuais, percebemos que

as considerações finais dos textos monográficos analisados apresentam uma

construção geral, semelhante em unidades informacionais. Mas, esses textos

diferem na disposição das informações, assim como não apresentam informações

claras e lineares, que possam ajudar o leitor na compreensão da necessidade e

contribuição da pesquisa feita pelo aluno da graduação, principalmente, quando três

dos 13 textos não apresentam nenhum argumento de validação de sua pesquisa

nem de cunho pessoal, nem relacionado à academia. Isso quer dizer que 23% dos

textos de considerações finais analisados não conseguiram apresentar nenhuma

contribuição da pesquisa nem para com o ensino ou para com a ciência.

4.2.1 Considerações sobre a unidade retórica 01 – Retomada da proposta da pesquisa

A Unidade Retórica 01 – Retomada da proposta da pesquisa está presente

em todos os textos coletados, isso porque, em todos os trabalhos, ou seja, em 100%

das considerações finais analisadas, encontramos a Subunidade 1 – Retomando o

tema. Por outro lado, menos trabalhos, isto é 77% dos textos de considerações

finais, apresentaram a Subunidade 2 – Retomando os objetivos, ocorrendo nesse

caso, variações entre essas duas subunidades. A Subunidade 3 – Exposição da

relevância final da pesquisa foi encontrada em parte da pesquisa, ficando restrita a

77% do corpus analisado.

4.2.1.1 Subunidade 1 – Retomando o tema

A retomada do tema ao final da pesquisa é necessária para compreensão

geral da pesquisa e dos resultados obtidos mediante a realização da investigação

científica.

É pré-requisito exigido por manuais de redação e orientação acadêmica

como os de Oliveira (2009), Köche (2009), Martins Júnior (2010) e Lakatos (2007), a

retomada do tema pode ser feita também resumindo os capítulos da monografia.

Durante as análises, percebemos que os alunos retomam a temática de

seus trabalhos, sumarizando os procedimentos metodológicos como é o caso da

amostra (27) retirada do Texto 01

76

(27)

A partir dos dados coletados mediante notas de campo, artefatos físicos e questionários, bem como, do cruzamento e triangulação desses dados, nos foi possível verticalizar a discussão acerca do ensino de leitura em língua espanhola. Tomando como corpus especificamente a prática, de um professor do ensino médio da rede estadual de ensino.

O trabalho monográfico aqui realizado se iniciou com uma discussão das teorias que tem como objetivos o texto, o leitor e o ensino da leitura. Dado o espaço reduzido que dispúnhamos optamos para investigar apenas um dos aspectos cerca da construção de sentidos realizada no processo da leitura: o conhecimento dos gêneros textuais. Para tanto, apoiamo-nos em autores ligados à epistemologia da linguística do texto que tende para o víeis sócio-discursivo-interacional [...]

TEXTO CF 01

Este exemplo apresenta a sequência da ação investigativa e, logo após

menciona os objetivos da pesquisa, a teoria escolhida e a temática do trabalho.

Nesse caso, o aluno construiu o seu texto de acordo com as normas técnicas e, ao

mesmo tempo, retoma seu discurso e revela seu contexto social de produção

discursiva, ao utilizar termos relacionados à “língua espanhola” e a “prática de

professor” vocabulário típico das esferas ligadas à esfera de ação educativa, como é

o caso de cursos de licenciatura de formação acadêmica ou outro contexto que

tenha relação com o ensino.

Outro exemplo de retomada do tema da pesquisa pode ser observado na

amostra (28):

(28)

Estudar, averiguar e buscar métodos que possam satisfazer as necessidades do ensino/aprendizagem de língua estrangeira é um fato que desde séculos passados até os dias atuais se mantém incessante. É nesse bojo de estudos relacionados ao ensino de uma língua estrangeira, muitos posicionamentos teórico-metodológicos foram criados e renovados.

Nessa busca contínua por novas didáticas de ensino é que se configura em nossa realidade atual, com ascensão da língua espanhola no Brasil, a necessidade de estarmos apresentando os resultados desse trabalho, que por meio de um procedimento metodológico estruturado, buscou no cotidiano das escolas públicas desse município verificar os métodos de ensino do professor de língua espanhola.

TEXTO CF 04

77

A temática do trabalho, em (28), volta-se para o estudo de metodologias de

ensino, tema que é retomado, quando o autor do texto utiliza termos como

“posicionamentos teórico-metodológicos”, “novas didáticas de ensino”, e relaciona

sua temática com seu contexto social e de produção discursiva ao mostrar o

ambiente da pesquisa realizada: “buscou no cotidiano das escolas públicas desse

município verificar os métodos de ensino do professor de língua espanhola”. Outro

exemplo de contextualização social diz respeito ao uso da seguinte frase: “[...] se

configura em nossa realidade atual, com ascensão da língua espanhola no Brasil”.

Nesses termos, o autor do texto mostra as condições que condicionam a origem e

necessidade de pesquisas voltadas para o ensino de espanhol, idioma em ascensão

e implantação obrigatória no sistema de ensino brasileiro.

Mais um exemplo de retomada da pesquisa pode ser comprovado com a

amostra (29).

(29)

Em nossa investigação constatamos que tratar do lúdico é um campo sensível, pois percebemos em nossa pesquisa que muitos professores tem um pensamento de que o lúdico deve ser utilizado apenas como uma forma de revisar conteúdos e não uma ferramenta mediadora capaz de ser utilizada como um objeto principal de ensino, pois a partir do momento que fazemos esta utilização como estamos tanto contribuindo com o ensino-aprendizagem como colaborando com o crescimento social da criança.

TEXTO CF 08

Na amostra (29) retirada do Texto 08, a retomada da temática da pesquisa,

o uso de jogos lúdicos no processo educativo, é perceptível pelas palavras “lúdico”,

“objeto” e “ensino-aprendizagem”.

Retomar o tema de pesquisa se mostrou um recurso discursivo que

compõem a seção de Considerações Finais em textos acadêmico-científicos, por

isso se constituiu como uma Subunidade Retórica pertinente em todos os textos do

corpus analisado.

Dispor esse tipo de informação na organização da estrutura do texto de

considerações Finais mostra que o autor estrutura seu texto dentro dos padrões da

norma técnica e científica e, ao mesmo tempo, deixa marcas de seu discurso e

contexto de produção, quando defende a ideia de que o uso do lúdico contribui para

78

a formação social e intelectual da criança em processo de aprendizagem de língua

estrangeira.

4.2.1.2 Subunidade 2 – Retomando os objetivos

A retomada dos objetivos nas considerações finais se faz necessário para

que o leitor do texto compreenda melhor o que foi pesquisado e avaliar se os

resultados alcançados condizem com os objetivos e metas traçados.

Rever os objetivos foi conteúdo informacional recorrente em quase todos os

textos de Considerações Finais analisados, 77% deles, ou seja, 10 textos

apresentaram os objetivos do trabalho novamente, enquanto 23%, isto é, 03 dos

textos analisados não recorreram ou retomaram os objetivos e metas da pesquisa

na conclusão de seus trabalhos, apenas o tema da pesquisa.

Observemos as marcas da retomada dos objetivos nas amostras (30) e (31),

apresentados abaixo:

(30)

Nossa intenção com esse estudo foi investigar se os professores de língua espanhola de 02 (duas) instituições privadas da cidade de Pau dos Ferros/RN faziam a utilização de ferramentas lúdicas, ao ensino de língua espanhola, a crianças provenientes do ensino fundamental.

TEXTO CF 08

(31)

Propomo-nos a realizar um trabalho com o texto literário em língua espanhola, visando introduzir este gênero nos estudos de alunos iniciantes do espanhol como língua estrangeira E/LE. Acreditamos que seria proveitoso porém, que não se trata de uma tarefa fácil. Isso porque conhecemos a realidade da educação brasileira, em que há resistência de se incorporar até mesmo livros de literatura em língua materna. No entanto, ser educador significa está sempre em busca de inovações e ideias que se possam melhorar a prática. O professor deve estar sempre na posição de pesquisador em busca de soluções possíveis e tentando adaptar as que não são.

TEXTO CF 10

79

A amostra (30) trás o objetivo de pesquisa, o fragmento “Nossa intenção

com esse estudo foi investigar se os professores” representa as metas traçadas para

a realização da pesquisa, bem como mostra o tema pesquisado.

A análise dos dados mostrou ainda que as subunidades retóricas se

aglutinam como o observado na amostra (31) retirado do Texto 10. A exposição do

objetivo geral da pesquisa funciona também como a retomada da temática do

trabalho, o uso do texto literário no processo de ensino e aprendizagem de Língua

Espanhola, “Propomo-nos a realizar um trabalho com o texto literário em língua

espanhola, visando introduzir este gênero nos estudos de alunos iniciantes do

espanhol como língua estrangeira E/LE”.

Afirmações como “conhecemos a realidade da educação brasileira”,

demonstra o contexto de produção discursiva que está atrelado ao contexto

educacional, de formação acadêmica, podendo ainda nos levar a inferir que o autor

do texto apresenta uma concepção ideológica de que a maior parte dos indivíduos

conhecem os problemas presentes no sistema educativo brasileiro, ao mesmo

tempo, leva-nos a perceber que seu contexto de vivência social está atrelado à

educação, seu curso de formação e interesse de pesquisa.

Outro detalhe que nos chama à atenção diz respeito à seguinte informação

“ser educador significa está sempre em busca de inovações e ideias que se possam

melhorar a prática. O professor deve estar sempre na posição de pesquisador em

busca de soluções possíveis e tentando adaptar as que não são”. Percebemos

nesse fragmento os conceitos ideológicos oriundos de teorias que provavelmente

foram usadas na construção do trabalho, e passou a fazer parte da ideologia do

autor do texto, porque ele não faz referência a esse tipo de afirmação, mas a usa

para mostrar seu posicionamento frente a situação problema relatada na pesquisa.

4.2.2 Considerações sobre a unidade retórica 02 – Retomada dos resultados

A Unidade Retórica 02 – Retomada dos resultados foi encontrada nos 13

trabalhos analisados, isso implica dizer que 100% das Considerações Finais expõem

informações sobre os dados coletados junto às pesquisas realizadas.

Essa unidade pode ainda ser dividida em duas subunidades de conteúdo

informacional: Subunidade 1 – Sintetizando os achados e Subunidade 2 – Sugerindo

soluções, todavia as informações dispostas nas subunidades diferem quanto ao

80

tratamento dado aos resultados gerados com as pesquisas, porque a análise dos

textos mostrou que somente 69% dos alunos autores dos textos que relatam suas

pesquisas descrevem algum tipo de resultado ou situação problema encontrado e

somente 54% apresenta algum tipo de sugestão ou encaminhamento para possível

solução do problema encontrado.

4.2.2.1 Subunidade 1 – Sintetizando os achados

As considerações finais de um relato de pesquisa acadêmica compreende o

espaço para apresentação sintética dos resultados encontrados a partir da análise

dos dados. Nas Considerações Finais que compreendem o corpus dessa pesquisa,

foram encontrados argumentos e informações que compõem uma unidade

informacional menor, como a Subunidade 1, a qual representa a sintetização dos

problemas encontrados com a pesquisa dos alunos.

A análise dessa subunidade nos revelou que 69% dos textos, ou seja, nove

textos de Considerações Finais apresentam dados referentes aos problemas

encontrados com as pesquisas, enquanto 31%, isto é quatro textos conclusivos não

apresentam nenhuma situação problema, o que nos leva a inferir que esses quatro

textos descrevem o que descobriram em suas análises e que os dados encontrados

não se mostram como uma situação problema de modo explícito, mas na descrição

dos achados com a pesquisa, conforme observamos nas amostras (32), (33) e (34)

abaixo:

(32)

Como resultado, nossa investigação constatou que o professor analisado apresenta concepções um pouco distorcidas do que é gênero textual, leitura e construção de sentido. E que por isso, empreende abordagens metodológicas também inadequadas impedindo a consecução do objetivo de formar leitores competentes e autônomos, capazes de controlar no todo o processo de leitura.

TEXTO CF 01

(33)

Constatamos em nossas análises que as dificuldades apresentadas pelos alunos (homens e mulheres) são basicamente as mesmas. Eles apresentaram algum tipo de problema na pronúncia e/ou na audição em fonemas (em sons considerados novos, ou seja, até então nunca pronunciados)

TEXTO CF 03

81

Diante das palavras iniciais dos parágrafos das amostras (32) e (33), “como

resultado de nossa investigação”, “Constatamos em nossas análises” é possível

evidenciar os resultados obtidos pelos pesquisadores, informações que compõem a

Subunidade 1, ou seja, os autores dos textos apresentam e ou descrevem os

resultados encontrados com pesquisa, não necessariamente constituindo-se como

um problema a ser resolvido ou analisado, visto que, nem todos os que descreveram

os achados apontaram encaminhamentos para pesquisas futuras ao final de seus

relatos.

4.2.2.2 Subunidade 2 – Sugerindo soluções

Durante o tratamento e tabulação dos dados, foi possível identificar os textos

analisados que apresentaram ou discutiram resultados e fizeram a exposição de

alguma sugestão ou encaminhamento diante das situações conhecidas ao término

da pesquisa.

Isso porque dos nove textos que discutem os problemas identificados com a

pesquisa, isto é 69% dos textos de considerações finais, apenas sete, ou seja, 54%,

apontam sugestões ou possíveis soluções, ou ainda encaminhamentos diante dos

resultados, convergindo na Subunidade 2 – Sugestões ou possíveis soluções. Essa

subunidade ficou interligada à Subunidade 1, posto que se temos um problema algo

pode ser sugerido para analisa-lo ou minimizá-lo, é parte da pesquisa científica

também encontrar soluções para problemas específicos. Traços discursivos que

indicam sugestões e/ou soluções para os problemas encontrados foram percebidos

nas amostras (34) e (35) abaixo:

(34)

Portanto é crucial investir na formação dos professores de maneira a lhes permitir o acesso direto ao conhecimento, como sugere Biasi-Rodrigues (2002), com vistas ao desenvolvimento de uma base teórico-metodológica que lhe permita tomar decisões mais acertadas e fundamentadas quando da adoção de métodos, de procedimentos, de materiais e de entornos de ensino.

TEXTO CF 01

(35)

A partir dessa considerações, salientamos a nossa convicção de que um estudo sobre os alunos em que se trabalha é de grande importância no sentido de que o professor deve

82

conhecer seus alunos em todos os aspectos, inclusive com relação à sua pronúncia para que possa ajuda-lo quando que estes apresentarem equívocos na realização de algum som.

TEXTO CF 03

As amostras (35) e (36) apresentaram sugestões de como os problemas

encontrados com a pesquisa podem ser solucionados. As indicações de

“investimento na formação de professores” e a “sugestão de um estudo sobre os

alunos” expõem as características das indicações dos autores dos textos a respeito

dos achados de suas respectivas pesquisas. Contudo o percentual de 46% dos

alunos não conseguiram ou não consideraram relevante apontar sugestões,

encaminhamentos ou soluções para os problemas encontrados com suas pesquisas.

Fato esse que revela um domínio parcial do discurso acadêmico cientifico por parte

dos alunos, representando um problema na conjuntura das considerações finais

analisadas.

4.2.3 Considerações sobre a unidade retórica 03 – Contribuição da pesquisa

A Unidade Retórica 03 – Contribuição da pesquisa foi definida a partir da

apresentação de informações que explicam a importância resultante da ação

investigativa. Na estrutura final do texto, foi possível perceber que dez dos 13

trabalhos analisados, isto é, 77% dos textos analisados apresentaram argumentos

ou dados que salientassem a necessidade da pesquisa para o meio acadêmico,

enquanto que três dos 13 textos conclusivos, ou seja, 23% dos textos analisados

não apresentaram nenhuma informação ou argumento relacionado à importância da

pesquisa e sua contribuição para o ensino ou para a academia.

Essa Unidade Retórica tem como finalidade expor argumentos que validem

a realização da pesquisa, podemos inferir e reconhecê-la como se fosse um

fechamento ou apresentação das contribuições com o alcance ou não dos objetivos

propostos para a realização do trabalho.

Foi possível identificar três subunidades de conteúdo informacional que

compõem os últimos parágrafos das Considerações Finais analisadas, a

Subunidade 1 – Apresentando a importância final da pesquisa, Subunidade 2 –

Contribuindo com a ciência e Subunidade 3 – Contribuindo com o ensino.

83

4.2.3.1 Subunidade 1 – Apresentando a importância final da pesquisa

Dos 13 textos de Considerações Finais analisados, 10 mostraram evidências

de necessidade e relevância da pesquisa, isso representa 77% do corpus estudado.

Essa relevância da pesquisa ficou evidente quando encontramos termos que

indicam a importância da pesquisa, como o exposto nas amostras (36) e (37)

(36)

Mediante essas discussões, é relevante enfatizar que estudos dessa categoria são de extrema relevância para professores e futuros profissionais de espanhol, pois a pesquisa em foco leva-nos a refletir sobre a melhor maneira de lidar com os erros no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, [...]

TEXTO CF 06

(37)

Resta-nos colocar que esse trabalho foi de suma importância, porque nos ajudou a perceber como ocorre de maneira concreta o diálogo entre duas correntes tão diferentes, a literatura e a teologia.

TEXTO CF 06

Palavras como “relevante enfatizar”, “estudos dessa categoria são de

extrema relevância” e “esse trabalho foi de suma importância” mostram a

preocupação do autor do texto em expor as ideias que justificam a realização da

pesquisa. E revela o discurso do aluno autor do texto, bem como seu contexto de

formação discursiva, quando delimita com suas palavras ao público destinado a

usufruir os benefícios dos resultados da pesquisa como o exposto na amostra (37).

4.2.3.2 Subunidade 2 – Contribuindo com a ciência

A preocupação dos autores dos textos em apresentar argumentos que

justificassem a relevância e as contribuições da pesquisa para com a ciência se

mostraram evidentes em 69% do corpus analisado. Isso significa que, encontramos

informações voltadas para a função dessa subunidade retórica, ao exporem à

academia os novos dados encontrados a partir do estudo realizado, ampliando então

as discussões já existentes sobre a temática pesquisada.

84

Os argumentos usados pelos autores das Considerações Finais para indicar

as contribuições de suas pesquisas para com a ciência, ficaram evidentes a partir do

uso de palavras como “útil”, “possa ter contribuído para a discussão acerca dos

gêneros”, conforme o observado nas amostras (38), (39) e (40):

(38)

Esperamos que este trabalho possa ser útil a profissionais e pesquisadores preocupados com o ensino, especialmente àqueles interessados em desvendar as crenças dos professores de línguas.

TEXTO CF 07

(39)

Esperamos que a nossa investigação possa ter contribuído para a discussão acerca dos gêneros e que possa alimentar os estudos de outros pesquisadores nessa área de estudos dos gêneros.

TEXTO CF 09

(40)

A importância de um trabalho monográfico como o nosso está no seu caráter pioneiro, uma vez que não há estudos focados especificamente no trabalho com leitura em língua espanhola que vem sendo desenvolvido no município de Pau dos Ferros.

TEXTO CF 01

Quando os autores mencionam outros pesquisadores, futuros profissionais,

eles se eximem da participação dos resultados da pesquisa, ou dos possíveis

encaminhamentos que ela pode desprender, porque não há espaços discursivos

nesses parágrafos dos textos que revelem a implicação da pesquisa na formação

pessoal ou intelectual do pesquisador.

Por outro lado, quatro ou seja, 31% dos textos analisados não apresentaram

nenhum indício de contribuições para com a ciência, como se a pesquisa não

tivesse nenhuma relação com algum estudo feito sobre a mesma temática. Isso nos

leva a inferir que o aluno não domina totalmente as regras de produção acadêmica,

mais precisamente as que tratam da conclusão de relatos de pesquisa como as

monografias de conclusão de curso.

85

4.2.3.3 Subunidade 3 - Contribuindo com o ensino

O texto das Considerações Finais apresenta em seus parágrafos a

conclusão de todo o relato da pesquisa, e no corpus analisado, as contribuições da

pesquisa aprecem nos últimos parágrafos do texto conclusivo, mencionando ora as

contribuições com a ciência, ora as contribuições com o ensino. Apesar de a

Subunidade 2 – Contribuindo com a ciência ter apresentado incidência em 69% do

corpus analisado, as contribuições com o ensino só apareceram em 46% dos textos

estudados, o que representa um aspecto falho na conclusão de monografias

principalmente quando elas são produzidas em cursos de formação de professores,

que deveriam apresentar alguma contribuição para com o ensino.

Levando em consideração as análises feitas das temáticas das pesquisas

realizadas e relatadas nos textos de introdução e de considerações finais, convém

lembrar que nove, ou seja, 69% dos textos versam sobre o ensino e suas

especificidades. Ter como resultado de análise mais detalhada apenas 46%, do

corpus analisado, isto significa que apenas seis textos apresentaram como conteúdo

informacional as contribuições para com o ensino, como o identificado nas amostras

(41), (42) e (43):

(41)

É relevante enfatizar que estudos dessa categoria são de extrema relevância para professores e futuros professores de espanhol, pois a pesquisa em foco leva-nos a refletir sobre a melhor maneira de lidar com os erros no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, pois os erros apontados nos possibilitam fazer uma análise sobre quais aspectos o professor pode trabalha-los e solucioná-los para o desenvolvimento da interlíngua dos aprendizes.

TEXTO CF 06

(42)

Esperamos que este trabalho possa ser útil a profissionais e pesquisadores preocupados com o ensino, especialmente àqueles interessados em desvendar as crenças dos professores de línguas.

TEXTO CF 07

(43)

Sintetizamos as constatações mais representativas detectadas na pesquisa, na tentativa de contribuir com o trabalho de professores estudiosos, que também se preocupam com os problemas que aparecem durante a aprendizagem da língua estrangeira. Esperamos despertar nos professores de espanhol,

86

sejam eles de universidades, cursos, escolas ou qualquer que seja seu ambiente de trabalho, pelo menos uma inquietação de sobre como está a aprendizagem da pronúncia de seus alunos, para que estes professores repensem o valor dado a este aspecto da língua e possam agir de maneira a melhorar o aprendizado de seus alunos.

TEXTO CF 03

Os alunos autores dos textos das Considerações Finais expõem como

aspectos relevantes dos resultados de suas pesquisas a contribuição para o

“trabalho de professores que se preocupam” com o processo de ensino e

aprendizagem de línguas estrangeiras, revelando na linguagem escolhida para

transmitir informação as marcas linguísticas inerente ao seu contexto de produção e

o meio para o qual foram produzidas.

As informações nessa subunidade retórica estão inerentemente voltadas

quase que exclusivamente para o curso de formação dos alunos autores dos textos,

evidentes nos termos como “professores e futuros professores de espanhol”,

“processo de ensino”, “aprendizado” tudo que se relaciona a cursos de formação de

educadores.

As contribuições de uma pesquisa podem ser entendidas como um exemplo

da teoria de gêneros, visto que a pesquisa não nasce de um amontoado de ideias

aleatórias, mas do bojo das pesquisas que precedem as novas inquietações. Surge

então das lacunas deixadas pelas limitações dos critérios de análises escolhidos de

acordo com os princípios dos pesquisadores, cabendo então à nova investigação

intercalar esses dados e gerar o conhecimento novo alicerçado nos formatos dos

discursos e textos deixados pelos autores precedentes.

4.3 As marcas ideológico-discursivas presentes na introdução e nas considerações finais

Partindo da concepção de Bakhtin (2009) que toda palavra é um signo

ideológico, e esta por sua vez, está atrelada às ações sociais e às manifestações de

linguagem, tomamos o texto acadêmico então, como um exemplo dessa

manifestação linguística, que trás imbricado na sua constituição diferentes

87

ideologias, a depender do contexto de produção discursiva e do(s) indivíduo(s) que

produz(em) os textos que circulam socialmente.

Dessa forma, ao escolher o texto acadêmico como objeto de estudo e

análise, foi necessário também elencar critérios para delimitação e identificação das

marcas ideológicas nos discursos presentes nos textos, essas foram feitas

considerando o grau de semelhança na sua constituição e disposição no texto, em

outras palavras, buscamos identificar as expressões linguísticas e palavras mais

comuns nos textos analisados, interpretando o fator de maior incidência como uma

marca ideológico-discursiva presente no texto. Cabe salientar ainda, que a

identificação das marcas se intercala às ações retóricas, aos argumentos e

informações usadas pelos alunos para compor seus textos.

De um modo geral, e de acordo com os dados analisados podemos inferir

que o contexto de produção discursiva dos alunos está atrelado a um grupo social

ou comunidade discursiva no dizer de Swales (1998) que discute fatos ligados à

educação no Brasil, pois são expressões e termos comuns e reincidentes na

conjuntura dos textos: a Lei 11.161 de 2005 que torna obrigatório o ensino de

espanhol no Brasil, as referências ao sistema educacional brasileiro e ao processo

de ensino e aprendizagem.

Aas marcas ideológico-discursivas presentes nos textos analisados, nos

revela o curso de formação dos alunos autores dos textos acadêmicos, são todos

sujeitos que fazem parte do curso de Letras com habilitação em Língua Espanhola,

que mais tarde estarão inseridos no ambiente de alguma instituição de ensino.

Detalhe revelado ao encontrarmos palavras como: Língua Espanhola, leitura em

língua espanhola, professor de língua espanhola, formação do professor,

aprendizagem de Língua Estrangeira, escolas.

As crenças na necessidade de se estudar e refletir sobre os problemas do

processo de ensino e aprendizagem de língua espanhola, também compõem as

marcas ideológico-discursivas encontradas nos textos analisados. Expressões

como: “busca contínua por novas didáticas de ensino”, “estamos tanto contribuindo

com o ensino-aprendizagem como colaborando com o crescimento social da

criança” e “salientamos a nossa convicção de que...”.

A formação acadêmica como elemento necessário a uma boa prática

pedagógica é outro recurso retórico comum nos textos analisados. Expressões e

termos como: “... relevância para professores e futuros profissionais de espanhol...”,

88

“profissionais e pesquisadores preocupados com o ensino”, “a necessidade de os

professores de espanhol recém-formados pelo CAMEAM/UERN...”, foram

encontradas tanto nos textos de Introdução como de Considerações Finais.

Ao ler os textos que serviram de corpus para essa pesquisa foi possível

perceber que os sujeitos autores dos textos estão inseridos num contexto discursivo

marcado pela comunidade acadêmico-científica. Podemos dizer que as ideologias

que atravessam o discurso escrito dos alunos autores dos textos estão vinculadas à

ideologia dominante do discurso acadêmico-científico, pelo fato de que, na Unidade

Retórica 2 Justificativa, Subunidade 3 Apontando a relevância pessoal, foi

perceptível a dificuldade dos alunos redigirem argumentos que mostrassem a

relevância pessoal de suas pesquisas, quando identificada, essa relevância estava

expressa de modo impessoal, porque a linguagem acadêmico-científica assim o

exige.

Cabe salientar que, a identificação e análise das marcas ideológico-

discursivas não levou em consideração a separação dos textos em Introdução ou

Considerações Finais, mas a incidência das informações pertinentes e mais

evidentes na tessitura dos textos produzidos pelos alunos e, que contribuíssem para

a inferência da temática da pesquisa, o contexto de produção e circulação dos

textos, e os argumentos reincidentes em todos os textos.

89

CONSIDERAÇÕES FINAIS

90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho com gêneros tem suscitado cada vez mais pesquisas em torno do

texto como produto das relações e interação humana. Tomamos o texto acadêmico

como exemplo de gênero textual a ser investigado por sua especificidade e meio de

circulação. Sabendo que o gênero acadêmico tem ganhado cada vez mais exemplos

de pesquisas voltadas para a compreensão de sua constituição e relevância no meio

acadêmico e científico, procuramos em nossa investigação considerar os pré-

requisitos básicos para sua construção.

Partindo dos pressupostos teóricos que tratam dos estudos dos gêneros

inicialmente traçados por Bakhtin (2003), o qual expõe o conceito de gêneros

atrelados ao discurso, depois discutido e interpretado por diferentes estudiosos:

Swales (1990), Marcuschi (2008), Motta-Roth (2008), Araújo (2008), Biasi-Rodrigues

(2009), Bezerra (2009) nos propomos a estudar e compreender o conceito de

gêneros, mais precisamente o conceito de gênero acadêmico científico, atentando

para as questões de sua constituição e circulação no meio acadêmico.

Os estudos de Bakhtin (2003), Fiorin (2008), Orlandi (2007) e Brandão

(2004) contribuíram no entendimento dos conceitos sobre discurso e ideologia

discutidos e utilizados no decorrer da pesquisa e na análise dos dados. Assim como

o conhecimento de técnicas e normas dos manuais de redação científica escritos

por: Köche (2009), Lakatos (2007), Moroz (2006) e Oliveira (2009) apoiaram nas

discussões e descrições das normas acadêmico-científicas que regem o texto

acadêmico, mais precisamente o gênero monografias de graduação, corpus da

pesquisa em estudo.

Com base nos teóricos anteriormente elencados, traçamos como objetivos

identificar e analisar as marcas ideológico-discursivas encontradas nas introduções

e considerações finais de monografias de graduação, analisando como os alunos

organizam a introdução e conclusão de suas monografias, e ainda, verificando que

ideologias (pessoais, teóricas, históricas e sociais) se encontram presentes no texto

monográfico.

Mediante o modelo de análise escolhido, criado por Swales (1990) e

utilizado e adaptado por diferentes estudiosos do texto acadêmico, o modelo CARS

(Create a Resouce Space) serviu plenamente ao nosso propósito de investigação e

91

análise da constituição estrutural das informações dispostas nas introduções e

considerações finais que foram analisadas.

Os números encontrados com a verificação quantitativa das informações

distribuídas nos textos nos possibilitou traçar uma análise da estrutura da introdução

dos textos das monografias, bem como da incidência das informações e analisar

qualitativamente o percentual das informações encontradas no corpus analisado.

Levando em consideração os dados encontrados, podemos dizer que o

percentual de trabalhos que possuem sua estrutura ao nível macro, com introdução

do trabalho, justificativa da realização da pesquisa e descrição dos capítulos do

trabalho monográfico consta em 100 % dos textos, todavia isso não significa que as

introduções são claras e objetivas, posto que, quando fazemos uma análise mais

detalhada das Unidades Retóricas e damos ênfase nas Subunidades Retóricas

encontradas, percebemos diferenciais na conjuntura do texto produzido pelos

alunos.

As subunidades, 13 no total, não estão presentes em todos os textos

analisados, tendo variações entre um ou outro texto, como as Subunidades 4 e 5 da

Unidade Retórica 01 e todas as Subunidades da Unidade Retórica 02, ficando

apenas a Unidade Retórica 03, como elemento estrutural padronizado em todos os

textos da introdução.

Diante dos percentuais obtidos, a maior incidência de discrepâncias na

construção dos textos está presente na justificativa quando todas as Subunidades

apresentam números e percentuais diferenciados nos elementos informacionais.

A Justificativa foi a Unidade Retórica de maior divergência quanto ao

percentual de incidências e recorrências, pois apenas 38% dos alunos conseguiram

apresentar a relevância pessoal de suas pesquisas, quando 100% conseguiu

relacionar a pesquisa e a teoria de base.

Podemos inferir que o discurso acadêmico-científico interfere na construção

do texto dos alunos, pois a preocupação em construir um texto que envolvesse a

teoria de base da pesquisa prevaleceu sobre a importância e contribuição da

pesquisa para a formação pessoal do aluno, detalhe corroborado pelo percentual de

alunos que conseguiram expor a relevância acadêmica de suas pesquisas 85%

contra os 38% que de alguma forma expuseram a importância pessoal da pesquisa.

No que se refere à análise das marcas ideológico-discursivas, pudemos

encontrar exemplos que mostraram o contexto de produção discursiva dos alunos,

92

quando estes mencionaram a Lei que torna obrigatório o ensino de espanhol no

sistema educacional brasileiro, a necessidade de se estudar os problemas que

envolvem o ensino de espanhol, visto que são futuros professores e faz necessário

compreender seus possíveis espaços de atuação no futuro.

Na seção de considerações finais também encontramos divergências quanto

à incidência das informações que compunham os textos dos alunos. Posto que

100% dos alunos retomaram a temática de suas pesquisas ao concluírem seus

trabalhos, porém apenas 77% deles retomam seus objetivos de pesquisa.

69% dos alunos discutem os problemas encontrados, mas apenas 54%

deles apontam sugestões ou possíveis soluções para esses problemas, o que nos

faz deduzir que os alunos tiveram dificuldades na redação de suas pesquisas,

hesitando no momento de apresentar soluções ou possivelmente deixando por conta

do leitor de seus trabalhos pensar ou refletir sobre as soluções para os problemas

detectados com as pesquisas.

A análise do corpus nos mostrou, ainda, que os alunos autores de seus

textos monográficos tiveram dificuldades para ajustar os conhecimentos

desprendidos com a pesquisa e a relevância pessoal da realização de seus estudos

acadêmicos. Fato esse que incide sobre a responsabilidade dos professores durante

à orientação e construção dos trabalhos dos alunos. O que vai ao encontro da nossa

necessidade de realização dessa pesquisa, adquirir conhecimentos sobre a

construção e composição do texto acadêmico, de modo que possamos orientar

melhor os alunos na produção de seus textos.

Outro fator importante está relacionado à relevância acadêmica ao por em

evidência o texto acadêmico como objeto de investigação científica, de modo a

indiretamente avaliar a qualidade das produções acadêmicas da primeira turma de

espanhol do CAMEAM/UERN, e contribuir para os estudos do texto e do discurso ao

suscitar a continuação de discussões a respeito dos gêneros acadêmicos científicos.

O conhecimento das normas e padrões exigidos pelos manuais de

metodologia, assim como, a análise das marcas ideológico-discursivas, se

constituem em um saber que oportuniza a educadores orientar melhor os alunos

durante o processo produção acadêmica, e, aos alunos a melhorarem seus textos

através do domínio das técnicas de escrita acadêmica.

Torna-se relevante a necessidade de professores e alunos tomarem

conhecimento dos resultados dessa pesquisa, porque ela propicia uma auto

93

avaliação e reflexão sobre suas práticas educativas no que tange à orientação na

produção acadêmica, no referente aos professores, e, no modo como se organiza a

produção acadêmica, bem como em quais espaços torna-se mais evidente a

presença de seu discurso ideológico e pessoal, em relação aos alunos.

Desse modo, evidenciamos através desse trabalho, a importância de

pesquisar e refletir a respeito das produções textuais que circulam no meio

acadêmico, mais precisamente as introduções e considerações de monografias de

graduação, atentando para o modo como elas se constituem por meio da mescla do

discurso científico e do discurso do aluno pesquisador, discursos estes que são

atravessados pelos contextos sociais, históricos e políticos, que, por sua vez,

influenciam os alunos no momento de produção de seus textos acadêmicos,

revelando as marcas ideológico-discursivas do meio no qual estão inseridos

enquanto sujeitos que interagem socialmente por meio da palavra.

94

REFERÊNCIAS

95

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