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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
ENGENHEIRO COELHO
LETRAS
MORIÁH SOARES MACHADO DE MORAES
ANÁLISE DA PRÁTICA DO ENSINO DE LITERATURA EM ESCOLAS
CONFESSIONAIS
ENGENHEIRO COELHO
2013
MORIÁH SOARES MACHADO DE MORAES
ANÁLISE DA PRÁTICA DO ENSINO DE LITERATURA EM ESCOLAS
CONFESSIONAIS
Trabalho de conclusão de curso do Centro
Universitário Adventista de São Paulo do curso
de Letras, sob orientação do prof. Ms.Neumar de
Lima.
ENGENHEIRO COELHO
20013
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Letras apresentado e aprovado em ___ de ______ de ____.
_________________________________________________
Prof. Ms. Neumar de Lima
_________________________________________________ Prof. Ms. Davi Oliveira
AGRADECIMENTOS
Graças dou a Deus pela vida que me concedeu e a oportunidade da conclusão deste
curso.
Grata sou ao Centro Universitário Adventista de São Paulo por empenhar-se em
prestar uma boa qualidade de ensino possibilitando a mim esta graduação.
Grata sou ao Prof. Ms. Neumar de Lima pela orientação, prestatividade e suporte na
construção deste trabalho de conclusão de curso.
Grata sou aos meus pais e irmã, Vanderlei, Silvana e Alícia, pelo carinho, dedicação e
amor em providenciar todos os recursos necessários para minha formação
intelectual, física e espiritual.
Agradeço, por fim, ao meu noivo, Weslley, pelo companheirismo durante esses anos
de estudo.
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar estudos sobre o ensino da
disciplina de literatura de acordo com uma perspectiva cristã em escolas confessionais do
sistema educacional adventista do sétimo dia. Busca também entender a importância das
aulas de literatura e os desafios que compreendem o ensino desta disciplina na escolha de
textos abordados e de que maneira devem ser utilizados em classe pelo professor. Por meio
de autores cristãos como Zyngier (1993), Timm (1996), Cardoso (1999, 2002), Knight (2010),
entre outros, tentaremos encontrar as metodologias por eles sugeridas para lidar com as
situações apresentadas na prática do ensino desta disciplina de forma que não sejam
deixados de lado os objetivos acadêmicos e a filosofia confessional da instituição de ensino.
O questionamento principal deste estudo é até que ponto os docentes de literatura estão
conscientes a respeito dos conceitos discutidos por esses autores cristãos e qual é o impacto
deles em sua prática docente. Para tanto, faremos uma verificação, em pequena escala, da
prática de professores de literatura em escola confessional adventista, buscando conhecer
seus desafios, preocupações, embasamento teórico e metodologias utilizadas. Por fim,
analisaremos os estudos bibliográficos a as respostas dos docentes, comparando a realidade
docente com aquilo que se tem escrito sobre o tema.
Palavras-chave: Literatura; Ensino; Perspectiva cristã; Escola Confessional.
ABSTRACT
This paper aims to analyze studies on teaching literature according to a Christian perspective
on confessional schools of in the educational system of the Seventh-day Adventist Church. It
also seeks to understand the importance of literature classes and the challenges that the
teaching of this subject faces when chosing texts and how they should be used in the
classroom by the teacher . Through Christian authors as Zyngier (1993 ) , Timm (1996 ) ,
Cardoso ( 1999, 2002 ) , Knight (2010 ) , among others , we will try to find the methodologies
suggested by them to deal with the situations presented in the practice of teaching of this
subject so that the academic goals and the denominational philosophy of the institution are
not negleted. The main question of this study is the extent to which literature teachers are
aware of the concepts discussed by these Christians authors and what is their impact on
their teaching practice. To do so, we will check, on a small scale, the practice of literature
teachers in a confessional Adventist school, getting to know their challenges, concerns, and
theoretical methodologies. Finally, we will analyze bibliographic studies and the answers of
the teachers, comparing the teaching reality with what has been written about the subject.
Keywords: Literature; Teaching; Christian Perspective; Confessional Schools.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 08
2 METODOLOGIA.................................................................................................................... 10
3 A IMPORTÂNCIA DAS AULAS DE LITERATURA...................................................................... 11
4 POR QUE A DIFICULDADE DE ENSINAR EM UMA PERSPECTIVA CRISTÃ.............................. 13
4.1 Ler ou não ler, eis a questão............................................................................................. 14
4.2 Quando ler........................................................................................................................ 15
4.3 Por que ler........................................................................................................................ 16
4.4 Como ler............................................................................................................................ 17
5 A PRÁTICA DOCENTE EM ESCOLAS CONFESSIONAIS............................................................ 20
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................... 24
7 REFERÊNCIAS........................................................................................................................ 25
ANEXO A...................................................................................................................................27
8
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar estudos sobre o
ensino da disciplina de literatura de acordo com uma perspectiva cristã em escolas
confessionais do sistema educacional adventista do sétimo dia. Busca também entender a
importância das aulas de literatura e os desafios que compreendem o ensino desta disciplina
na escolha de textos abordados e de que maneira devem ser utilizados em classe pelo
professor. Por meio de autores cristãos como Zyngier (1993), Timm (1996), Cardoso (1999,
2002), Knight (2010), entre outros, tentaremos encontrar as metodologias por eles sugeridas
para lidar com as situações apresentadas na prática do ensino desta disciplina de forma que
não sejam deixados de lado os objetivos acadêmicos e a filosofia confessional da instituição
de ensino.
O questionamento principal deste estudo é saber até que ponto os docentes de
literatura estão conscientes a respeito dos conceitos discutidos por esses autores cristãos e
qual é o impacto deles em sua prática docente. Para tanto, faremos uma verificação, em
pequena escala, da prática de professores de literatura em escola confessional adventista,
buscando conhecer seus desafios, preocupações, embasamento teórico e metodologias
utilizadas. Por fim, analisaremos os estudos bibliográficos a as respostas dos docentes,
comparando a realidade docente com aquilo que se tem escrito sobre o tema.
É comum haver questionamentos a respeito da literatura usada no meio cristão. Esta
é uma preocupação que pais e líderes religiosos têm, e muitos direcionam seus filhos para
escolherem a literatura que é a mais adequada segundo os padrões bíblicos. Parte dos
professores cristãos possuem a mesma preocupação, e ao mesmo tempo a responsabilidade
de transmitir aos alunos o conhecimento necessário para que prossigam em seus estudos
durante a vida.
Por conta desta preocupação entre educadores cristãos, há anos estudiosos deste
meio têm pesquisado e escrito trabalhos a respeito do ensino de literatura em escolas
cristãs. Dentre os pesquisadores nesta área utilizados para a fundamentação dessa pesquisa
estão: Calvin College (1970), Gazeta (1991), Zyngier (1993), Moncrieff (1996), R. Timm
9
(1996), L. Timm (1999), Cardoso (1999;2002), McQuoid (2000), Lima (2002), White (2007) e
Knight (2010).
A preferência por esses estudiosos se deve ao fato de grande parte deles partirem de
princípios cristãos para a concepção de suas ideias a respeito do ensino de literatura. Sendo
assim, suas obras serviram de embasamento para a própria docência de Literatura por
professores cujos valores são cristãos. Zyngier, por exemplo, explica a importância de
ensinar os alunos a serem críticos ao lerem, e para a pesquisadora, este é o papel do
professor de literatura. Partindo do estudo das obras já citadas, desejamos, portanto, fazer
considerações sobre os princípios que envolvem o exercício deste ofício tão importante à
educação.
Pela dificuldade da prática docente na disciplina de literatura, surgiu a necessidade
de parâmetros cristãos para sua aplicação. É neste contexto que certas perguntas são feitas
para entender-se a forma ideal para este ensino.
Considerando a realização desta pesquisa e outras já mencionadas, foi despertado o
interesse, que move este trabalho, no qual nos questionamos sobre a conscientização do
docente de literatura sobre o valor que sua prática tem e quais os princípios que motivam e
direcionam sua metodologia de ensino. Ainda nos perguntamos se tantos estudos profundos
sobre o ensino de literatura têm sido utilizados pelos professores cristãos em sua prática
docente e de que maneira.
10
2 METODOLOGIA
A pesquisa realizada no UNASP – campus de Engenheiro Coelho e seguirá os moldes
da pesquisa exploratória, por ser feita por meio de levantamento bibliográfico sobre o
assunto e a partir de entrevistas feitas com professores de Literatura no Ensino Médio sobre
a prática que os mesmos têm no ensino de sua disciplina.
O objetivo das entrevistas é verificar em pequena escala, conforme já ressaltada, a
prática de professores de literatura em escola confessional adventista, buscando conhecer
seus desafios, preocupações, embasamento teórico e metodologias utilizadas. O
questionário possui cinco perguntas e foi aplicado com cinco professores de literatura. Essas
perguntas e as respostas dos professores se encontram no Anexo A. As respostas dos
docentes, refletindo de certa forma a realidade de professores de literatura em escola
confessional adventista, foram analisadas em comparação com os estudos bibliográficos a
fim de tirarmos as devidas conclusões conforme os objetivos deste trabalho.
11
3 A IMPORTÂNCIA DAS AULAS DE LITERATURA
Professores de diversas disciplinas defendem sua área como sendo a mais importante
de todas. No entanto, se a crítica é essencial a todo pesquisador e estudante para uma busca
rica e de real aprendizado, então a literatura é a mais importante de todas as disciplinas,
pois segundo Northrop Frye (apud ZYNGIER, 1993, p. 67), não se pode ensinar literatura,
mas crítica. Zyngier (1993, p. 69) explica que entre os papéis do professor de literatura está o
de prover ao aluno estratégias de interpretação, avaliação e crítica de qualquer texto, de
maneira que possa fazer tudo isto em estudos independentes. Sendo assim, o conteúdo
desta disciplina será aplicado no estudo de qualquer assunto. A crítica e os questionamentos
impulsionam o pesquisador a buscar respostas.
Este assunto ainda assume maior proporção quando se considera o que a literatura
abrange e a sua capacidade de refletir a sociedade. Por meio dela é possível encontrar até
mesmo a moda, costumes e comidas da época. De forma mais profunda, é na literatura que
são descritos os valores e filosofias que permeavam a mente do homem nos anos em que foi
escrita. É na disciplina de literatura todo este conhecimento pode ser contemplado.
Quando se chega ao âmbito cristão da educação, os docentes deste meio
reconhecem a diferenciação que deve haver no ensino. Knight (2010, p. 15) afirma que o
professor deve ter consciência dos objetivos que sua aula deve atrair. Ele mesmo precisa ter
seus valores claramente definidos, bem como o tipo de influência que seu ensino irá
promover como docente em uma instituição cristã, pois estes deverão ser seu constante
estandarte.
Assumindo o propósito deste posto e procurando uma metodologia que se enquadre
a estes parâmetros, o professor de literatura precisa refletir a respeito de algumas questões
e buscar um modo de enfrentar os desafios que despontarão no ofício que escolheu. Os
alunos de professores comprometidos com seus propósitos refletirão tal atitude em seus
estudos particulares atuais e futuros. Espelhando-se em seus mestres, os próprios
12
estudantes poderão sabiamente avaliar os fins de seus estudos e optar por meios de
aprendizagem congruentes para suas metas acadêmicas (KNIGHT G., 2010, p. 15).
Como se pode concluir, educadores cristãos firmes em seus ideias espirituais e
acadêmicos são uma poderosa força de influência aos alunos cuja responsabilidade
assumiram. Seja na literatura, seja em qualquer outra disciplina, as aulas devem ser
ministradas de forma a atender aos fins que o docente se propõe a buscar. Sobretudo,
entendendo a capacidade que esta ciência tem, maiores esforços devem apresentar os
docentes que a representam no meio educacional cristão.
13
4 O PORQUE DA DIFICULDADE DE ENSINAR EM UMA PERSPECTIVA CRISTÃ
Geralmente, é possível reconhecer em certos movimentos literários a mentalidade
dos autores da época em que foi escrito. Cada obra reflete conceitos de uma filosofia de
vida, de uma forma de entender tanto a sociedade quanto a espiritualidade. No mundo
cristão, entende-se que tudo deve ser analisado de forma crítica para perceber-se que
princípios estão por trás de tudo. Lima (2002) explica que o estudo da literatura segundo
uma visão cristã é admitir que há um conflito de valores entre o bem e o mal. Portanto, a
dificuldade de ensinar-se literatura de uma perspectiva cristã está ligada primeiramente às
controversas ideias filosóficas que contradizem os preceitos religiosos do ensino cristão.
Em segundo lugar, a relação de princípios religiosos é vista, no mundo acadêmico,
como algo separado de estudos científicos. Segundo Roth (2005, p. 5), “nos séculos
passados, a ciência não era uma filosofia secular”. Isso é notado pelo grande número de
cientistas e estudiosos que tinham as suas convicções religiosas. O autor cita Kepler, Boyle,
Galileu, Lineu, Pascal e Newton como cientistas que criam em Deus e que ajudaram a
consolidar a ciência moderna.
Comentando sobre o secularismo no meio científico, Roth (2010, p. 237) afirma que
“esta, é, afinal de contas, a nova era científica na qual Deus não existe ou é irrelevante”. Por
isso, diretrizes que tenham por base conceitos de cunho bíblico estão fora de questões
estudantis para as organizações escolares em geral. Na educação cristã, no entanto, os
princípios bíblicos fundamentam e guiam os propósitos da escola, o que não acontece no
contexto escolar secular.
Constatando-se a necessidade e o dever do professor cristão de ter seu ensino
arraigado em convicções da educação cristã, ele precisa ter uma percepção clara da guerra
de conceitos. O docente deve conscientizar-se de tudo que envolve esta questão. A origem e
objetivo de cada obra e período literário, as filosofia das obras atuais, bem como as
sugestões metodológicas para o ensino de literatura de forma cristã de escritores cristãos –
14
de tudo isto o professor de literatura deve estar consciente para planejar e aplicar às suas
aulas.
4.1 Ler ou não ler, eis a questão
Muitos educadores do meio religioso questionam a leitura de certas obras por parte
dos alunos, e até acham que não ler as obras seria o correto. Outros ainda preferem apenas
apresentar o resumo das obras exigidas para provas de vestibular. Para Cardoso (1999)
parece que não será utilizando apenas resumos de obras que o propósito bíblico-cristão
estará sendo cumprido. O autor afirma que é necessária uma sistematização dos objetivos
da docência de literatura, e então, uma aplicação. Portanto, é preciso haver uma definição
de que tipo de literatura é desaprovado pelos princípios bíblicos. White (2007, p. 279)
manifestou a mesma preocupação de educadores de hoje: “O que lerão nossos filhos?”.
Segundo ela, é preciso alimentar os jovens com material que edifique o caráter.
Quando Timm (1996, p. 9), com base em Ellen White, comenta o uso de
dramatizações na igreja, ele recomenda a avaliação cuidadosa das intenções que motivaram
a peça. O mesmo conceito pode ser aplicado à leitura e a muitas outras atividades que não
serão tratadas nesta pesquisa. O argumento de que a escritora Ellen White reprova a ficção
e de que a Bíblia desaprova a falsidade ou história fantasiosas não parece se adequar a
qualquer ficção, mas àquelas que ferem os princípios da educação cristã.
Ao falar do legado de Ellen White a respeito do assunto de ficção, Moncrieff (1996, p.
10) explica que a crítica da autora quanto à ficção refere-se às obras de má reputação de sua
época. Enquanto ela reprovou algumas obras de ficção, recomendou outras. A questão da
escritora não estaria no tipo de gênero textual, mas na obra em si. E o autor continua
dizendo que, sendo assim, os princípios que classificam a obra em boa ou má devem ser
aplicados às demais obras. Seguem alguns princípios:
(1) Tende a viciar. (2) Pode ser sentimental, sensacional, erótica, profana ou barata. (3) É escapista, fazendo com que o leitor regrida a um mundo de fantasia e seja menos capaz de enfrentar os problemas da vida de cada dia. (4) Desqualifica a mente para o estudo sério e a vida devocional. (5) Consome tempo e é sem proveito. (MONCRIEFF, 1996).
15
Em uma análise destes autores, conclui-se que não há problema no uso de
literaturas, mas em outros aspectos do lecionar desta. Portanto, pode-se dizer que um
professor que deseja aproximar-se dos princípios cristãos de ensino deve estar consciente de
como leciona sua disciplina. Aspectos como a fase adequada dos alunos para cada leitura, as
razões e motivações da obra e de sua aula, a forma que será exposta aos alunos, todos estes
aspectos devem ser levados em conta.
4.2 Quando ler
A literatura é incrível por sua abundância de estilos para todos os gostos, costumes,
gênero e idade. Quando ela adentra a sala de aula, o docente não pode ignorar
principalmente a questão da idade. Assim como filmes recebem uma indicação classificativa,
os educadores precisam apresentar os livros de forma adequada à idade de seus alunos.
Timm (1999, p. 38), por exemplo, explica que “em cada período da vida existem predileções
ou inclinações distintas, às quais os pais e educadores deveriam estar bem atentos”.
Macquoid (2000, p. 26) escreve que os textos apresentados em sala de aula,
principalmente quando contêm conceitos contrários aos padrões éticos, morais e espirituais
de escolas cristãs, não devem ser expostos de forma gratuita, sem uma preparação dos
alunos ao assunto, contrastando com os conceitos corretos. O autor ainda acrescenta que o
professor não deve ter medo de mostrar esses textos se a turma tem a idade e nível de
maturidade adequados.
4.3 Por que ler
O ensino de literatura é algo muito importante para o desenvolvimento intelectual
dos estudantes. Os momentos de aula desta disciplina são repletos de oportunidades. Em
primeiro lugar, oportunidades para o ensino de interpretação da realidade e da ficção, bem
como da reflexão e crítica. A aula de literatura se presta também ao exercício da escrita, ao
estudo da arte e do uso das palavras. Além disso, podem-se mencionar as oportunidades
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para a análise de ideias que o texto transmite, como se contrastam com o ideal moral e ético
cristão, e também com as filosofias de cada período da história, incluindo as de hoje.
As aulas de literatura são indispensáveis a educadores que desejam motivar seus
alunos a pesquisar e pensar na real interpretação que há de tudo o que se fala, faz ou diz.
Proporcionam também momentos para ensinar seus alunos a ponderar sobre tudo o que
estudarão em seu caminho acadêmico. São as aulas de literatura que incentivarão a prática
da leitura por parte dos discentes, que constitui a base de qualquer estudo.
Cardoso (1999, p. 17) diz que “nem toda ficção está dissociada da realidade”, pois
muitas vezes a ficção parte de um fato real para um fato ficcional. O autor cita Euclides da
Cunha como um escritor que retratou relatos verdadeiros a respeito da Guerra dos Canudos.
O autor é influenciado por muitos fatores para compor uma obra. Tudo o que o escritor
viveu, leu e estudou pode servir de inspiração, mesmo inconsciente, para um livro. Até
mesmo Aristóteles, citado por Cardoso (1999, p.17, 18), define literatura como uma imitação
da realidade.
Outra característica da literatura é o seu poder de refletir a cultura de povo. Segundo
Mcquoid (2000, p. 14), a tradição de muitos povos era transmitida através da fala, mas com
o passar do tempo, a escrita tornou-se mais popular. Ele acrescenta que mesmo na era
feudal muito era escrito para documentar propriedades e registrar informações a respeito
da vida civilizada.
Um exemplo do estudo de obras literárias com o objetivo de fazer uma reflexão
sobre a sociedade são as obras da autora inglesa Jane Austen, cujas obras criticam a posição
da mulher diante da sociedade e a hipocrisia da nobreza. Mcquoid (2000, p. 18) também cita
Shakespeare como um autor que refletiu em suas obras as diferentes visões da cultura,
sociedade e história política de sua época. O pesquisador também cita Charles Dickens como
outro crítico da sociedade dos seus dias, e Jonathan Swift em uma autobiografia na qual fez
uma sátira política e social.
A literatura, segundo Moncrieff (1996, p. 12), tem duas funções: deleitar e instruir.
Para o pesquisador, isto deve ser equilibrado, pois a sociedade tende a fazer referência à
literatura como algo que não é deleitoso. Os professores, então, devem aproveitar a
oportunidade de unir instrução e entretenimento em suas aulas, incentivando os alunos a
17
ter gosto pela leitura. Devem também guiá-los a escolher suas leituras de acordo com os
princípios cristãos, os quais o educador terá oportunidade de transmitir em sala de aula
citando obras que se harmonizem com a eles ou não, utilizando o contraste.
4.4 Como ler
Após ter esclarecido as razões da disciplina e as situações em que esta pode ser
aplicada, basta que o docente determine a metodologia empregada. Este ato é fundamental
para o andamento de qualquer aula. Sobretudo, em um sistema de parâmetros díspares da
educação de outras escolas, nos centros educacionais cristãos a forma do ensino deve ser
cuidadosamente ponderada.
Sendo a literatura um meio para o exercício do discernimento, deve o professor
aproveitar as oportunidades que tem em suas classes. Mcquoid (2000, p.26) menciona que o
professor precisa dar ao estudante a chance de perceber a essência do texto. Segundo o
autor, o docente deve possibilitar que o aluno desenvolva as faculdades críticas para que em
outras situações possa interpretar e analisar o que lê.
O docente deve tratar o que é exigido academicamente com alta disciplina moral,
ética e espiritual. Gazeta (1991, p. 45) sugere o processo de seleção dos textos trabalhados,
e explica que algumas perguntas precisam ser feitas na escolha de um material trazido para
ser trabalhado em sala de aula. As perguntas são referentes à influência do texto sobre os
alunos e sobre os efeitos que este irá gerar. O professor deve aproveitar as chances que tem,
ao planejar suas aulas, de refletir a respeito do impacto de seus ensinos sobre seus
educandos.
Alguns estudiosos sugerem de maneira prática metodologias para lecionar literatura.
Cardoso (2002, p. 11) sugere o uso de vídeos, jogos, debates, criação de páginas na internet,
criação de linhas do tempo com várias obras literárias, tempo de recreio com atividades
musicais ou poéticas, recriação de uma obra pela perspectiva de algum personagem
diferente ou mesmo do gênero do livro, e de ilustração da história. O autor explica que a
intenção do professor será a de criar diversos mecanismos para lecionar a matéria. Este
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compartilhamento de ideias é muito importante no meio educacional cristão, em especial,
para que os professores estejam conscientes das inúmeras oportunidades e possibilidades
de doutrinar juízo de valores em suas classes.
É importante que a literatura ensinada nas escolas cristãs tenha o propósito de
envolver os alunos com cada obra estudada em literatura (CALVIN COLLEGE, 1970, p.23).
Este envolvimento, através de atividades criativas e estratégicas, pode ser um meio do
estudante formar sua própria opinião a respeito do assunto. Isto é significante para a
concepção de um real entendimento sobre qualquer conteúdo. Quando o discente tem essa
oportunidade de travar um novo conhecimento que foi avaliado por uma visão crítica dele
próprio, tal conteúdo dificilmente será esquecido, e os princípios por ele aprendidos
poderão tornar-se os dele também.
Moncrieff (1996, p. 12) sugere três mudanças de atitude no contexto educacional
quanto à visão que se tem de ficção, presente constantemente na literatura: (1) escolher
bons livros procurando compreender os objetivos deste, (2) reconhecer propósitos de
instrução e prazer da literatura, e (3) procurar avaliar não somente os defeitos, mas as
excelências das obras. Essas três sugestões novamente apontam para uma visão crítica de
qualquer tipo de arte que existe. A ignorância sobre um assunto gera fracos e instáveis
argumentos.
Tudo precisa ser avaliado, tendo-se firmemente valores e princípios acoplados a esse
juízo. Sobre este assunto, White (2007, p. 271) aconselha que os jovens “devem ter cuidado
com o que leem, bem como com o que ouvem”, acrescentando que “não podem estar
distraídos nenhum momento sequer”. White (2007, p. 285) ainda cita o verso bíblico escrito
em Provérbios capítulo 4 verso 23: “‘Guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes
da vida’”. Tal citação pode ser aplicada aos parâmetros educacionais da educação cristã, pois
o foco do ensino deve estar sempre firme nos princípios e valores cristãos. Estes constituem
o âmago da educação excelente.
5 A PRÁTICA DOCENTE EM ESCOLAS CONFESSIONAIS
19
A pesquisa de campo deste trabalho foi aplicada aos professores que lecionaram ou
lecionam literatura em escolas confessionais em diferentes estados do Brasil. Por motivos
éticos, não serão revelados os nomes ou escolas em que atuaram. Trata-se de uma pequena
amostra do que alguns professores têm como realidade em sua prática de ensino. Estas
perguntas não tiveram o objetivo de avaliar a prática ou concepções dos professores, mas o
intuito de entender qual é a realidade daqueles que exercem ou exerceram a docência de
literatura em escolas cristãs e refletir sobre as abordagens feitas a este respeito. A partir das
reflexões feitas nos capítulos deste trabalho, segue uma análise das respostas destes
profissionais.
As perguntas dirigidas aos professores foram as seguintes:
1 - Quais as suas preocupações ao preparar uma aula de literatura? (ética, moral, acadêmica,
exigência institucional, outra).
2- Sente algum problema ao dar as obras de literatura requeridas no currículo escolar?
3- Deparou-se com algum desafio ao ensinar literatura por causa da filosofia confessional da
escola?
4- Que autores lhe servem de base para seus planejamentos de aulas de literatura?
5- Quais as metodologias de ensino que você utiliza?
A primeira questão interrogou os professores quanto às suas preocupações, pois
frente aos desafios que família, governo e escola exigem, o professor precisa administrar
tudo que lhe é requerido. Os sujeitos 2 e 3 citaram os aspectos acadêmicos e religiosos como
principais preocupações ao elaborar suas aulas. O sujeito 1 afirmou preocupar-se apenas
com o aspecto acadêmico. Os sujeitos 4 e 5, por sua vez, afirmaram ser sua principal
preocupação integrar a filosofia cristã ao ensino da disciplina. Percebe-se que as opiniões
estão bem divididas, pois enquanto duas respostas envolveram os dois aspectos, três
abordaram apenas um aspecto: uma o acadêmico e as outras duas o aspecto religioso.
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A variação de preocupações pode acontecer pela própria formação de cada professor
e os diferentes tópicos por eles aprendidos como referência em seu ensino. Além disso, cada
escola também tem uma abordagem diferente, bem como pais e alunos diferentes. O
professor pode precisar adequar-se e enfocar algum tópico mais do que outro. Com um
olhar crítico, pode-se afirmar que o equilíbrio entre o aspecto acadêmico e o filósofo-cristão
é o mais indicado, mas na prática, cada experiência pode exigir uma atitude alternada,
embora a postura equilibrada entre preocupações acadêmicas e religiosas pareça poder
adequar-se mais facilmente a qualquer tipo de público.
A questão 2 indagou quanto à existência de desafios enfrentados durante a
abordagem de obras requeridas pelo currículo escolar. Os sujeitos 2 e 4 afirmaram que
tentam criar em seus alunos um espírito crítico, embora o sujeito 2 tenha afirmado não ter
nenhum problema ao usar qualquer obra e o 4 tenha afirmado ter problemas com obras
com ideologias erradas. O sujeito 3 afirma ter problemas também, e explica que as obras
Realistas/ Naturalistas e Modernistas são constrangedoras a alguns alunos. Os sujeitos 1 e 5
afirmaram não ter problemas quanto às obras literárias, embora o sujeito 5 cite
preocupações suas com obras de Clarice Lispector e Jorge Amado e o sujeito 1 diga que
percebe problemas quanto ao curto tempo de aulas e falta de leitura dos alunos.
Portanto, enquanto um afirma não haver nenhum problema quanto às obras, outro
afirma ter problemas com específicas escolas literárias e não explica o que faz para resolver.
Os outros três sujeitos, embora respondam de forma diferente quanto a haver ou não
problema nas obras, concordam em abordar as obras de forma que possibilite uma nova
leitura além da que os alunos fariam normalmente.
Percebe-se que as reflexões de autores cristãos sobre a leitura crítica na disciplina de
literatura é praticada por três dos entrevistados ao encontrarem problemas nas obras.
Através das respostas a essa pergunta, pôde-se perceber que as recomendações de uma
leitura cuidadosa, afirmada nas obras utilizadas na pesquisa bibliográfica deste trabalho,
podem e são feitas na prática pelos professores, como Mcquoid (2000, p.26) afirma, por
exemplo. Verifica-se esta posição nos sujeitos 2, 4 e 5. Os sujeitos 1 e 3 não revelaram sua
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prática, o primeiro por não perceber problemas e o segundo por não ter citado sua posição
ao ler as obras.
A questão três questionou a existência de desafios na relação disciplina e filosofia
confessional da escola. Os sujeitos 1, 3 e 5 afirmam nunca ter tido nenhum desafio ao
ensinar as obras em virtude da filosofia da escola. O sujeito 4 revela que encontrou um
desafio ao relacionar as obras aos princípios da instituição escolar, mas não explica como
age frente a isso. O sujeito 2 não revelou se houve algum desafio, mas explica sua percepção
quanto à integração da filosofia cristã com a prática docente.
Percebe-se que os sujeitos 2 e 3 utilizam metodologias semelhantes que buscam
destacar tanto as virtudes quanto os desvios de princípios cristãos. As afirmações dos
sujeitos 2 e 3 demonstram seu reconhecimento da importância da escolha da metodologia
de ensino da literatura.
A questão quatro refere-se aos autores nos quais se baseiam os professores. O
sujeito 1 não cita nomes de autores, mas declara recorrer a variados materiais dando
preferência àqueles sobre história da literatura com informações a respeito dos períodos,
obras, autores de literaturas de diferentes países. O sujeito 2 cita Massaud Moisés como
autor que baseia suas aulas teoricamente e William Cereja metodologicamente. O sujeito 3
cita Ronnie Roberto Campos e Wander Rocha de Oliveira, autores dos livros didáticos, mas
explica haver outros autores que utiliza para basear-se teoricamente. O sujeito 4 cita Ellen G.
White como uma fonte norteadora e diz haver outros autores, mas não especifica quais
autores ou obras nem seu conteúdo. O sujeito 5 cita Domício Proença Filho, José de Nicola e
Massaud Moisés.
A última questão indaga os professores quanto às metodologias por eles adotadas.
Exceto o sujeito 2, que afirma utilizar aula expositivo-dialogada, os demais compartilham o
uso de aulas expositivas, embora o sujeito 1 não esclareça como se dá a análise das obras
em classe. Os sujeitos 3, 4 e 5 afirmam utilizar-se de meios audiovisuais, dramatizações,
entre outros. O sujeito 2 diferencia-se ao citar páginas de rede social, como Facebook e
Instagram, para o ensino de literatura.
22
Principalmente as respostas dos sujeitos 2, 3, 4 e 5, revelaram estar de acordo com
informações citadas neste trabalho, como esta: “É importante que a literatura ensinada nas
escolas cristãs tenha o propósito de envolver os alunos com cada obra estudada em
literatura” (CALVIN COLLEGE, 1970, p.23), pois, ao se importarem com a utilização de
recursos e metodologias alternativas, demonstram preocupação em envolverem seus alunos
com conteúdo. Isto comprava que é possível utilizar metodologias variadas para o ensino de
literatura, que existe a preocupação de fazê-lo, e de que isto já é realizado por vários
professores. Embora o número de entrevistados seja pequeno, representa de alguma forma
a existência de uma experiência que tende a repetir-se com outros docentes.
23
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo analisar estudos sobre o ensino da disciplina
de literatura de acordo com uma perspectiva cristã em escolas confessionais do sistema
educacional adventista do sétimo dia. Buscou entender a importância das aulas de literatura
e os desafios que compreendem o ensino desta disciplina. Para tanto, foram abordados
textos de autores como Zyngier (1993), Timm (1996), Cardoso (1999, 2002), Knight (2010),
entre outros.
O questionamento principal deste estudo foi entender como se dá a prática dos
docentes de literatura. Tendo em vista a importância das aulas de literatura para a educação
e estudo das demais disciplinas, bem como para o ensino de interpretação (Zyngier, 1993, p.
69) nota-se que as habilidades desenvolvidas na disciplina de literatura serão aplicadas pelo
aluno em toda sua vida acadêmica. Tal importância requer do professor apurada percepção
ao preparar suas aulas e levar seus alunos a refletirem e aprenderem a fazê-lo por si.
O constante aperfeiçoamento do docente é essencial para exercer uma boa prática.
Estudos a partir de bons autores da área podem auxiliar o profissional a desenvolver seu
trabalho. Contudo, na área educacional cristã adventista, o ensino é visto de forma muito
mais profunda que nas demais escolas não confessionais. Com base na filosofia cristã
adventista, o professor deve definir seus valores e objetivos ao educar. Para tanto, autores
como White (2007), Zyngier (1993), Timm (1996), Cardoso (1999, 2002) e Mcquoid (2000),
pesquisadores cristãos na área de literatura, podem servir de apoio ao professor.
Sobre o exercício de leitura nas aulas de literatura, Mcquoid (2000, p. 26), por
exemplo, afirma que é preciso permitir ao aluno contemplar o texto em seu âmago e
desenvolver habilidades críticas, para que mesmo sem a orientação do professor, ele possa
interpretar e criticar sozinho. White (2007, p 271) aconselha que os jovens devem sempre
estar atentos àquilo que leem e ouvem. Sendo assim, uma postura crítica é sempre
necessária, não no sentido de apenas recriminar tudo que lê, mas discernir o desígnio por
detrás.
Com base nos autores citados, entre outros, foi feita uma pesquisa bibliográfica que
serve de auxílio aos professores de literatura em sua prática. Além disso, através de uma
24
verificação, em pequena escala, da prática de professores de literatura em escola
confessional adventista, buscamos conhecer os desafios, preocupações, embasamento
teórico e metodologias utilizadas. Por fim, analisamos os estudos bibliográficos a as
respostas dos docentes, comparando a realidade docente com aquilo que se tem escrito
sobre o tema.
Por meio desta pesquisa, for possível concluir que a realidade abordada nos textos de
autores cristãos cumpre-se na prática de alguns docentes de literatura, mas não parece
cumprir-se satisfatoriamente na de outros. Além disso, entendemos que existe divergência
de opiniões entre os professores quanto à docência desta disciplina pelas diferentes
experiências de cada professor, pelas diversas escolas, pais e alunos. Portanto, a despeito
dos parâmetros adotados por cada profissional em suas aulas, foi possível notar que cada
professor busca adequar-se às necessidades do local em que ensina tanto no aspecto
acadêmico quanto no aspecto filosófico.
Esta pesquisa restringe-se ao ensino de literatura em escolas confessionais
adventistas, sendo que a pesquisa de campo fora realizada em escolas adventistas
brasileiras, não podendo ser estes resultados aplicados a prática de outros países, em
virtude das diferentes políticas existentes. Contudo, os autores da pesquisa bibliográfica são
de outras nacionalidades e seus estudos podem ser aplicados em sentido mais amplo.
Concluído este estudo, verificou-se a amplitude do tema e a necessidade de mais
pesquisas na área de ensino de literatura. Aspectos envolvendo a psicologia na análise de
obras, formação de professores de literatura e o estudo da filosofia, o impacto da literatura
na sociedade e seu reflexo no ensino, entre outros assuntos, servem de sugestões a estudos
futuros.
25
7 REFERÊNCIAS
CALVIN COLLEGE. Contrasting Christian approaches to teaching literature. Grand Rapids, Michigan, 1970.
CARDOSO, A. L. O joio e o trigo da ficção. Revista da Escola Adventista. São Paulo, 2º semestre 1999, p. 17-20, 1999.
CARDOSO, A. L. Dentro da literatura, dentro da vida. Revista da Escola Adventista. São Paulo, 1º semestre 2002, p. 10-13, 2002.
GAZETA, S. Como ensinar literatura nas escolas adventistas. Revista Adventista. São Paulo, Abril 1991, p. 41-45, 1991.
KNIGHT, G. Uma igreja mundial. Casa Publicadora Brasileira: Tatuí,SP, p. 9-24, 2010.
KNIGHT, G. Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2010.
LIMA, N. Os movimentos literários vistos de uma perspectiva cristã: uma abordagem no contexto do grande conflito. Revista da Escola Adventista. 1º semestre 2002, p. 32-36, 2002.
MCQUOID, N. The teaching of English literature: a biblical perspective. New Castle: Education Lectures, 2000.
MONCRIEFF, S. E. Adventistas e ficção: outra consideração. Revista Diálogo Universitário. V. 8, p. 9-12, 1996.
ROTH, A. A. A ciência descobre Deus. Revista Diálogo Universitário. V. 17; p. 5-7, 2005.
ROTH, A. A. A ciência descobre Deus. Tatuí,SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010.
TIMM, R. O uso de dramatizações na igreja. Revista Adventista. São Paulo. Setembro, p. 8-9, 1996.
TIMM, M. L. Os “milagres” dos desenhos animados. Revista Adventista. São Paulo, Maio 1999, p. 18, 1999.
WHITE, E. Mensagem aos Jovens. Tatuí,SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
ZYNGIER, S. O papel do professor no ensino de literatura. Cadernos de Letras. V. 9, p. 67-71, 1993.
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ANEXO A
1 - Quais as suas preocupações ao preparar uma aula de literatura? (ética, moral, acadêmica,
exigência institucional, outra).
Sujeito 1: As minhas preocupações ao preparar uma aula são a exigência institucional e
acadêmica: preciso apresentar um número “x” de obras para cumprir o programa, além de
ensinar os alunos a perceber e desfrutar a riqueza da Literatura.
Sujeito 2: Sempre procuro realizar meus planejamentos - para escola confessional ou não - a
partir da filosofia bíblica. Sempre me pergunto se a abordagem de Cristo para aquele tipo de
ensinamento iria ao encontro - ou de encontro - com o que pensei inicialmente. Por isso,
acredito que minhas preocupações mesclam-se, espontaneamente, entre ESPIRITUAIS (que
envolvem a ética, a moral, a filosófica) e EDUCACIONAIS (estas já são de cunho cognitivo,
mercadológico, teórico e pragmático).
Sujeito 3: A primeira preocupação é acadêmica, pois trabalho com o Ensino Médio e sempre
há a preocupação com vestibular, por isso exploro ao máximo as escolas literárias, autores e
obras. Ao planejar as aulas também me preocupo com a educação religiosa, abrindo espaço
para observações de cunho ético e moral, sempre analisando o conteúdo de acordo com os
princípios transmitidos pela instituição.
Sujeito 4: Minha principal preocupação é a integração fé-ensino, por literatura ser algo tão
pessoal (autores), encontramos muita coisa que foge aos princípios da instituição
(confessional).
Sujeito 5: Como professor da rede Adventista de ensino, ao preparar minhas aulas, minha
maior preocupação é de como aliar o conteúdo programático curricular aos princípios
cristãos. Nesse diapasão, há uma busca constante em demonstrar a religiosidade ora
exercida pelo homem, ora ignorada nas escolas literárias e em suas respectivas obras.
27
2- Sente algum problema ao dar as obras de literatura requeridas no currículo escolar?
Sujeito 1: Nenhum, exceto os fatos óbvios de não haver tempo suficiente para explorar
como poderia as obras literárias e de os alunos não lerem as obras devidamente antes das
aulas!
Sujeito 2: Desde o início de minha carreira docente trabalho com o Ensino Médio e este nível
de ensino está atrelado às tão mal faladas LISTAS DE OBRAS OBRIGATÓRIAS (geralmente
FUVEST/UNICAMP). Tento criar no aluno o espírito crítico ligado ao aspecto lógico daquela
obra, incentivando-o a perceber a ilogicidade filosófica de muitas delas em relação ao perfil
de vida que um cristão procura seguir. Nunca me senti mal ao ter que trabalhar com
nenhuma delas porque todas me deram subsídio para reiterar ou refutar aspectos espirituais
- que é o meu foco de trabalho.
Sujeito 3: Sinto problemas quando trabalho obras Realistas/Naturalistas e Modernistas.
Alguns alunos sentem-se constrangidos com a abordagem de algumas obras.
Sujeito 4: Com certeza. Procuro, quando necessito usar alguma obra literária que eu não
recomendaria, apelar para os alunos verificarem os pontos negativos da obra, os conceitos
equivocados e/ou ideologias contrárias, e a partir daí desenvolver a atividade, levando-os a
crítica.
Sujeito 5: Não. Penso que não devemos ocultar nenhuma obra literária por conta de seu
conteúdo, principalmente àquelas requeridas pelos vestibulares. Minha preocupação é
mostrá-las sob uma nova ótica e não a que o autor esperava que o aluno desorientado
percebesse. Para tanto, cito autores como: Clarice Lispector, que trabalha muito o
esoterismo, descrença cristã, etc. Outro autor preocupante é Jorge Amado, que por sua vez
tenta introduzir a macumbaria em suas obras.
3- Deparou-se com algum desafio ao ensinar literatura por causa da filosofia confessional da
escola?
Sujeito 1: Nunca tive esse problema nas minhas aulas nas duas escolas de Ensino Médio em
que trabalhei, pois eu partilhava plenamente da filosofia confessional da escola. Também
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não havia restrição ao trabalho com as obras por parte dos pais de alunos, pois eles se
preocupavam com a preparação de seus filhos para o vestibular. E isso implicava a análise de
uma lista de obras nas aulas em classe.
Sujeito 2: Ainda existem gestores que não compreendem o que o apóstolo Paulo diz no Novo
Testamento: "veja de tudo; retenha o que é bom". Talvez o "trauma" destes
educadores/diretores perpasse por experiências negativas com professores de literatura que
simplesmente moldaram-se ao mercado e desprezaram a BÍblia. Eis aí uma questão que
aponta limites quase imperceptíveis na era contemporânea... Trabalhar com o adultério em
Dom Casmurro, por exemplo, sem apresentar o contexto social da época em que a obra foi
escrita, sem conhecer o pensamento social do século XIX, e sem contrapor a atitude de Jesus
perante o mesmo tema (desde os Dez Mandamentos até Maria Madalena...) não é aula de
literatura cristã. É uma abordagem sem diferencial algum. Aí está o problema.
Sujeito 3: Nunca tive problemas em relação aos livros solicitados, pois trabalho muito os
conceitos apresentados nas obras em forma de debate e sempre oriento a turma antes da
leitura, ensino a usufruírem o que é bom, mesmo quando a obra é carregada de conceitos
contrários aos princípios morais e éticos da nossa instituição.
Sujeito 4: Sim, por literatura ser algo tão pessoal (autores), encontramos muita coisa que
foge aos princípios da instituição (confessional).
Sujeito 5: Não. Mas soube de professores que já tiveram problemas com pais de alunos que
não gostaram de saber que seus filhos estão lendo determinadas obras. Eu, graças a Deus,
até o momento não tive nenhum problema.
4- Que autores lhe servem de base para seus planejamentos de aulas de literatura?
Sujeito 1: Eu recorro ao material de vários autores no preparo e planejamento das minhas
aulas. Quando compro um livro para minha biblioteca pessoal, dou preferência a edições
com prefácio, notas e ensaios dentro da própria obra literária. Também recorro a obras de
meu acervo do tipo "História da Literatura" – com informações sobre os períodos, autores e
principais obras das literaturas brasileira, portuguesa, francesa e russa.
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Sujeito 2: Agora só leciono para a Educação Superior, mas quando fui professora do Ensino
Médio (e isso durou 15 anos), usava Massaud Moisés como embasador teórico e William
Cereja como metodológico (este último por trabalhar com a questão dialógica entre
literatura, cultura, história, linguagem e intertextualidade).
Sujeito 3: Moriáh, os livros que consulto estão em casa, não sei dizer agora os críticos
literários e os outros didáticos que uso para complementar as aulas, mas a base é o material
da casa publicadora, autores: Ronnie Roberto Campos e Wander Rocha de Oliveira.
Sujeito 4: Acredito que os livros de Educação de Ellen White me norteiam, mas ainda assim
há livros de autores não cristãos necessários pelo conteúdo.
Sujeito 5: Domício Proença Filho; José de Nicola; Massaud Moisés.
5- Quais as metodologias de ensino que você utiliza?
Sujeito 1: Minha metodologia basicamente consiste em: leitura prévia do texto pelos alunos
e posterior análise das obras em classe, mostrando o contexto socio-histórico, marcas de
estilo pessoal e de época e os principais temas encontrados na obra escolhida para o estudo
em classe.
Sujeito 2: Gosto muito da utilização das TIC's como instrumentos metodológicos. Numa
geração tecnológica, acho difícil não fazer uso do Instagram (por que não comparar um texto
literário a uma das fotos deste aplicativo?), do Facebook (por que não compreender o
comportamento social de um século, comparando-o com as relações diluídas desta rede
social?). Entretanto, ainda acho insubstituível o "olho no olho" da aula expositivo-dialogada:
aquele momento em que você "sente" o aluno, interpreta-o, escuta-o, comove-se com ele e,
aí, faz da escola um lugar comunicante e da comunicação um lugar de aprendizado.
Sujeito 3: Para exposição dos conceitos aula expositiva com slides no projetor, análise de
músicas de acordo com a escola literária, filmes ou trechos de seriados, reportagens
especiais da TV Brasil, e debates sobre as obras.
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Sujeito 4: Na verdade, varia muito de sala pra sala, de conteúdo pra conteúdo, tento
desenvolver atividades lúdicas com meus alunos, atividades em que necessite o
envolvimento dos mesmos (seminários, apresentações musicais, desenhos, etc.) mas a
predominância é aulas expositivas.
Sujeito 5: A metodologia que utilizo são aulas expositivas e interativas, análise literária de
obras, construção de textos, músicas, e encenações.