anÁlise da influÊncia da adiÇÃo de materiais … mestrado - daniel.pdf · uma das formas mais...

83
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA MESTRADO EM ENGENHARIAL AMBIENTAL URBANA ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE MATERIAIS POZOLÂNICOS NA CORROSIBILIDADE DO CONCRETO ARMADO POR MEIO DE TÉCNICAS ELETROQUÍMICAS PROJETO DE MESTRADO Daniel Andrade Mota Salvador 2014

Upload: lamhuong

Post on 08-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

MESTRADO EM ENGENHARIAL AMBIENTAL URBANA

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE MATERIAIS POZOLÂNICOS NA

CORROSIBILIDADE DO CONCRETO ARMADO POR MEIO DE TÉCNICAS

ELETROQUÍMICAS

PROJETO DE MESTRADO

Daniel Andrade Mota

Salvador

2014

1

RESUMO

São expressivos os impactos socioambientais causados por atividades

humanas de natureza industrial, como a extração de matéria-prima e a geração

de resíduos poluentes. Nesse contexto, a deterioração precoce das estruturas

de concreto armado, principalmente pela ação deletéria de processos

corrosivos, traz grandes prejuízos financeiros à sociedade pela necessidade de

recuperações e/ou substituição de peças degradadas. Neste trabalho será

abordado o uso de dois resíduos industriais, a sílica ativa e a cinza volante, na

mistura de concreto em substituição parcial à massa de cimento. Também será

utilizado o metacaulim, proveniente da calcinação de argilominerais. Sabe-se

que determinadas adições minerais, devido a sua atividade pozolânica e efeito

microfíler, tem a capacidade de incrementar algumas propriedades do concreto,

relacionadas diretamente à sua durabilidade. Serão avaliadas três dosagens de

cada adição, sendo 5, 10 e 15%. Dados obtidos de medidas eletroquímicas da

resistividade do concreto, potencial de corrosão e espectroscopia de

impedância eletroquímica, serão utilizados para avaliar o comportamento das

misturas, com o objetivo de determinar o teor ótimo de cada uma dessas

adições, tendo em vista o incremento na durabilidade do concreto.

Palavras-chave: resistividade; concreto; adição mineral; corrosão.

2

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

2 JUSTIFICATIVAS ........................................................................................... 3

3 OBJETIVOS .................................................................................................... 4

3.1 Objetivo geral ............................................................................................ 4

3.2 Objetivos específicos ................................................................................ 4

4 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 5

4.1 Durabilidade e vida útil das estruturas de concreto armado ..................... 5

4.2 O concreto de cimento Portland ................................................................ 9

4.2.1 Estrutura de poros ............................................................................ 10

4.2.2 Mecanismos de transporte ................................................................ 12

4.2.3 Resistividade elétrica ........................................................................ 15

4.2.4 Técnicas eletroquímicas para medida da resistividade ..................... 21

4.3 O processo corrosivo .............................................................................. 26

4.3.1 Tipos de corrosão ............................................................................. 30

4.3.2 Meios Corrosivos .............................................................................. 31

4.4 Corrosão das armaduras no concreto armado ........................................ 34

4.4.1 Passivação das armaduras ............................................................... 37

4.4.2 Íons Cloreto ...................................................................................... 39

4.4.3 Etapas de ocorrência da corrosão .................................................... 41

4.5 Fatores que influenciam o processo de corrosão.................................... 43

4.6 Materiais Pozolânicos ............................................................................. 44

4.6.1 Sílica ativa ........................................................................................ 49

4.6.2 Metacaulim ....................................................................................... 51

4.6.3 Cinza volante .................................................................................... 54

5 METODOLOGIA ........................................................................................... 57

5.1 Revisão de literatura ............................................................................... 57

5.2 Caracterização das matérias-primas ....................................................... 57

5.2.1 Cimento ............................................................................................ 57

5.2.2 Agregados ........................................................................................ 58

5.3 Dosagem ................................................................................................. 58

5.4 Avaliação da corrosibilidade do concreto armado ................................... 59

5.4.1 Ensaio de medida do potencial de corrosão ..................................... 59

5.4.2 Medida da resistividade elétrica do concreto .................................... 61

5.4.3 Ultrassom .......................................................................................... 64

6 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 66

7 RESULTADOS ESPERADOS ...................................................................... 74

8 IMPACTOS ................................................................................................... 74

8.1 Acadêimco .............................................................................................. 74

8.2 Científico ................................................................................................. 75

8.3 Tecnológico ............................................................................................. 75

8.4 Ambiental ................................................................................................ 75

8.5 Social ...................................................................................................... 76

9 CRONOGRAMA ........................................................................................... 77

1

1 INTRODUÇÃO

A demanda energética nos dias atuais, principalmente por parte das

indústrias, tem fomentado o consumo de grandes volumes de matéria-prima.

Uma das formas mais comuns de obtenção de energia é através da queima de

biomassa para aproveitamento da energia térmica, liberada pelas reações

exotérmicas de combustão. O eucalipto de reflorestamento é um tipo de

biomassa muito utilizada para esse fim.

Com base em dados da Associação Brasileira de Produtores de

Florestas Plantadas (ABRAF) [1], pode-se estimar que a biomassa de quase 2

milhões de hectares de florestas plantadas foram destinadas a produção de

lenha e carvão vegetal, gerando assim, grandes volumes de cinza como

resíduo.

As indústrias de extração e metalurgia são também grandes poluidoras

do meio ambiente. As produtoras de ferro-silício e silício metálico geram como

resíduo a sílica ativa. Esse resíduo é constituído basicamente de sílica amorfa,

em teores acima de 80%, sob a forma de diminutas partículas esféricas (ϕ50% ≈

0,1µm).

Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Ferroligas e

Silício Metálico (ABRAFE) [2], e considerando a proporção de sílica ativa que é

gerada em conjunto com a produção dos insumos industriais, pode-se estimar

uma produção nacional deste resíduo, no ano de 2004, de 180 mil toneladas.

A destinação inadequada pode comprometer a conservação da vida

animal e vegetal dos locais de disposição final, nem sempre em acordo com a

legislação ambiental.

Outro grande impacto ambiental causado pela atividade humana está

na produção de cimento, que é muito utilizado nas misturas de concreto.

O concreto armado é um material largamente utilizado pela sua grande

versatilidade. A harmoniosa interação entre aço e concreto provê excelentes

condições de comportamento mecânico e de durabilidade.

Além de proporcionar às armaduras um ambiente favorável, de alta

alcalinidade, o concreto de cobrimento se constitui numa camada de proteção

física contra a ação de agentes deletérios presentes na atmosfera.

2

Como resultado dessa versatilidade o cimento é, atualmente, o

segundo insumo mais consumido do mundo, perdendo apenas para a água.

Havia em 2012, somente no Brasil, oitenta e cinco fábricas de cimento. A

produção nacional, neste ano, chegou a mais de 68 milhões de toneladas. O

consumo per capita foi estimado em 353 Kg/habitante [3].

Apesar dos esforços de diversos pesquisadores ao redor do mundo

para reduzir o impacto da produção do cimento, os métodos tradicionais ainda

lançam na atmosfera cerca de 800 a 1.000 Kg de gás carbônico (CO2) por

tonelada de cimento produzido. Considerando a produção no ano de 2012,

essa indústria pode ter lançado na atmosfera um montante de 68 milhões de

toneladas de CO2, somente no Brasil. A produção mundial no ano de 2011 foi

contabilizada em mais de 3,5 bilhões de tonelada [3].

Não obstante sua versatilidade, o concreto armado, principalmente

quando mal concebido, tende a apresentar manifestações patológicas diversas

com o passar do tempo.

Nesse âmbito, a corrosão das armaduras tem sido o problema mais

comumente observado nessas estruturas, causada principalmente pela ação

danosa de cloretos e sulfatos [4-7]. Além dos dispendiosos custos financeiros

com recuperações, problemas relacionados à corrosão podem causar graves

tragédias, inclusive com perdas de vidas humanas.

Visando amenizar os problemas ambientais causados pela produção

dos resíduos, como cinza e sílica ativa, e do cimento, muitos pesquisadores

estudaram formas de substituir o cimento por resíduo nas misturas de

concretos e argamassas. Como resultado, atualmente matrizes cimentícias são

comumente utilizadas no acondicionamento de resíduos. Elas são baratas,

mostram uma história amplamente documentada de segurança, e são

provenientes de uma tecnologia facilmente acessível.

Pretende-se neste trabalho a determinação do teor ótimo da adição de

dois resíduos, a sílica ativa e a cinza volante, além do metacaulim, em

substituição a parte da massa de cimento.

Será avaliada a influência dessas adições sobre as características de

corrosibilidade do concreto, através do uso de técnicas eletroquímicas de

3

medida, como a resistividade elétrica, o potencial de corrosão e a

espectroscopia de impedância eletroquímica.

2 JUSTIFICATIVAS

Há fortes impactos ambientais associados à produção em larga escala

de resíduos provenientes de atividades industriais. A grande quantidade de

resíduos gerados, associada à disposição final em locais inadequados, tem um

grande potencial de degradação ambiental.

Outro fator fortemente impactante para o meio ambiente é a produção de

cimento. Segundo insumo mais consumido no mundo, causa impactos desde a

extração das matérias primas até a obtenção do produto final, sendo

responsável por cerca de 8 a 9% de todo o CO2 emitido pelo Brasil [8].

Como material largamente utilizado ao redor do mundo, as estruturas de

concreto armado apresentam falhas com o passar do tempo, e observa-se que

a corrosão das armaduras tem sido a mais recorrente e impactante delas.

Dados atuais de monitoramento de pontes rodoviárias, realizado pelo

governo dos Estados Unidos, revela que cerca de 15% das 586.000 estruturas

monitoradas apresentam deficiência estrutural, causada basicamente por

processos corrosivos avançados. Há previsão de gastos da ordem de 100

bilhões de dólares em 10 anos para recuperação/reconstrução dessas pontes

[9].

Foi estimado que cerca de 5% dos recursos de uma nação

industrializada são dispendidos com prevenção e manutenção/substituição de

elementos degradados por corrosão, sem contar os custos indiretos gerados

por perdas relacionadas à paralizações para execução de reparos [10].

Uma das técnicas já difundidas para reduzir a quantidade de CO2

lançado na atmosfera é a substituição de parte do clínquer por compostos

minerais. Assim, a realização de estudos para desenvolver e aprimorar os

materiais empregados em estruturas de concreto armado é de grande

importância, pois viabiliza a destinação de resíduos que antes seriam

dispensados ao meio ambiente.

4

Além disso, a adição mineral em substituição a parte do cimento

corrobora para a economia de cimento, possibilitando uma desaceleração na

produção, bem como melhorando a qualidade das matrizes cimentícias,

principalmente sob o ponto de vista da durabilidade, prolongando a vida útil das

estruturas.

As adições pozolânicas tiveram grande impulso ao serem usadas em

concretos de cimento Portland porque, além dos aspectos técnicos,

proporcionam vantagens econômicas, e substituem um material nobre (clínquer

Portland), além de conferirem melhores características de qualidade.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Analisar a influência da adição de materiais pozolânicos (sílica ativa,

metacaulim e cinza volante) em substituição a parte da massa de cimento,

sobre as propriedades de corrosibilidade do concreto, avaliada através de

técnicas eletroquímicas.

3.2 Objetivos específicos

Definir o teor ótimo das adições pretendidas.

Comparar características de corrosibilidade do concreto contendo três

diferentes teores de adições minerais, e do concreto de referência.

Comparar medidas de resistividade do concreto, obtidas por diferentes

técnicas eletroquímicas.

5

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Durabilidade e vida útil das estruturas de concreto armado

Observa-se, nos dias atuais, que as estruturas de concreto armado têm

apresentado reduzida durabilidade. Esse fato pode estar atrelado, entre outros

fatores, à modernização dos métodos de cálculo de dimensionamento, que

torna as estruturas cada vez mais esbeltas e deformáveis, e leva os materiais

mais próximos dos seus limites de utilização [11].

A atenção dada ao assunto é crescente, visto que os prejuízos

financeiros com reparos são imensos, além do risco a vidas humanas. A “Lei

dos 5”, ou regra de Sitter, mostra a evolução dos custos em função da fase da

vida da estrutura em que a intervenção é feita. Segundo esta regra, uma

intervenção corretiva, na fase de uso da estrutura, pode custar até 125 vezes

mais do que tomar essa iniciativa na fase de concepção dos projetos.

Sendo assim, o EN 1990 - Eurocode 0 determina que uma estrutura

deve ser concebida, dimensionada e executada para ter uma resistência

estrutural, aptidão em serviço e durabilidade de modo que, durante sua vida útil

de projeto, resista a todas as ações e influências externas susceptíveis durante

sua execução e utilização, além de permanecer adaptada ao uso para o qual

foi concebida.

A NBR 6118 (ABNT, 2014) define como durabilidade a capacidade da

estrutura em resistir às influências previstas, e deve ser definida em conjunto

pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de

elaboração do projeto. As estruturas devem conservar sua segurança,

estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente a sua vida

útil.

Para o FIP-CEB (Comitê Euro-international du Béton), durabilidade é a

capacidade de uma estrutura em oferecer o desempenho requerido durante um

período de vida útil desejado, de acordo com a influencia dos fatores de

degradação.

O Comitê 201 do American Concrete Institute (ACI) também adotou

uma definição de durabilidade do concreto, como a sua capacidade de resistir

6

as ações de intempéries, abrasão, ataque químico, ou qualquer outro processo

de degradação.

A partir das definições adotadas internacionalmente, pode-se entender

a durabilidade como o resultado da interação entre a estrutura e o meio

ambiente em que esta se encontra inserida, e será fundamentalmente regida

pelas características tanto ambientais, quanto das estruturas.

O EN 1990 - Eurocode 0 propõe alguns aspectos a serem

considerados para termos de durabilidade:

condições do meio ambiente;

projeto da estrutura e a escolha do sistema estrutural;

escolha dos materiais;

dispositivos construtivos;

execução e o controle da qualidade na obra;

medidas de proteção específicas;

manutenção.

Outro conceito, intimamente ligado e comumente confundido com

durabilidade, é o de vida útil, que está mais associado ao período de tempo

pelo qual uma estrutura deve manter determinadas características.

O EN 1990 - Eurocode 0 define vida útil como o tempo no qual a

estrutura ou uma das suas partes é considerada apta a ser utilizada como

previsto, realizando-se a manutenção projetada, e sem a necessidade de

intervenções maiores e fora do previsto.

De acordo com o FIP-CEB (Comitê Euro-international du Béton), vida

útil é o tempo em que a estrutura mantém um limite mínimo de comportamento

em serviço, para o qual foi projetada, sem elevados custos de manutenção e

reparo.

No Brasil, uma conceituação de vida útil é oferecida pela NBR 6118

(ABNT, 2014) como sendo o período de tempo durante o qual se mantém as

características das estruturas de concreto, desde que atendidos os requisitos

de uso e manutenção previstos em projeto, bem como a execução de dos

reparos necessários decorrentes de danos acidentais.

7

Modelos matemáticos foram criados para a previsão da vida útil de

estruturas de concreto armado, o que é de fundamental importância para o

estudo do seu desempenho. TUUTTI apud RIBEIRO [11] oferece um modelo

simplificado para previsão de vida útil de estruturas contaminas por íons cloreto,

conforme figura 01.

Figura 01. Modelo de vida útil proposto por TUUTTI apud RIBEIRO [11].

Esse modelo determina dois estágios para a vida útil, a iniciação e a

propagação. A iniciação é o tempo que leva para a penetração de agentes

agressivos atravessem a camada de cobrimento de concreto, chegando às

armaduras. A partir daí ocorre a propagação, onde se desenvolvem os

processos corrosivos até que se atinja um grau inaceitável de deterioração.

HELENE apud RIBEIRO [12] propôs, a partir dos modelos existentes,

os tipos de vida útil de uma estrutura, conforme mostrado na figura 02.

8

Figura 02. Modelo de vida útil proposto por HELENE apud RIBEIRO [12].

Tendo em vista a grande importância da camada de cobrimento sobre

o tempo de vida útil de uma estrutura, o EN 1990 - Eurocode 2 faz

recomendações quanto ao controle de fissuração, com determinação de limites

de abertura e profundidade. A camada de cobrimento recebe atenção especial,

e são recomendadas exigências específicas para seu dimensionamento,

devendo-se levar em conta:

classe de exposição ambiental;

a classe de resistência do concreto;

a existência de controle da qualidade do concreto;

o tipo de armadura e sua natureza metálica;

existência de proteção anticorrosiva;

controle de posicionamento das armaduras.

9

Para um bom atendimento aos requisitos de durabilidade deve-se

projetar dispositivos específicos para as necessidades específicas de cada

elemento da estrutura, visando sua proteção contra os agentes ambientais

deletérios. Esses dispositivos devem ser considerados desde a fase de projeto

até a execução [13].

4.2 O concreto de cimento Portland

O cimento Portland é assim chamado pela sua semelhança, em dureza

e cor, com a pedra da ilha de Portland, na Inglaterra, utilizada nas construções

da época. É definido como um aglomerante hidráulico produzido pela moagem

do clínquer, sua principal matéria prima.

O clínquer consiste basicamente em silicatos de cálcio hidráulicos, com

adição de uma ou mais formas de sulfato de cálcio, e se configura em nódulos

de 5 a 25 mm de diâmetro. Sua obtenção é um produto da calcinação de uma

mistura pré-determinada de matérias-primas.

Fonte comum de cálcio, a pedra calcária e o mármore contêm teores

de argila e dolomita (CaCO3.MgCO3). A presença de alumina (Al2O3), óxido de

magnésio (MgO), além de óxidos de ferro (Fe2O3), confere um efeito

mineralizante na formação dos silicatos de cálcio, principais responsáveis pela

resistência mecânica do cimento. Assim, além dos silicatos de cálcio, fazem

parte do produto final do cimento aluminatos e óxidos de ferro e magnésio.

A adição de cerca de 5% de sulfato de cálcio moído ao cimento tem a

função de controle das reações iniciais de pega e enrijecimento [11].

Devido a sua complexidade química, as reações de hidratação do

cimento têm sido intensivamente estudadas. Sabe-se que os produtos de

hidratação compõem uma matriz de fases cristalinas e amorfas, que são

mostradas na tabela 01, que traz também os principais compostos que

participam da composição do clínquer.

10

Tabela 01. Abreviação dos principais componentes do clínquer e do produto de

hidratação do cimento [11].

Óxido Abreviação Composto Abreviação

CaO C 3CaO.SiO2 C3S

SiO2 S 2CaO.SiO2 C2S

Al2O3 A 3CaO.Al2O3 C5A

Fe2O3 F 4CaO.Al2O3.Fe2O3 C4AF

MgO M 4CaO.3Al2O3.SO3 C4A3S

SO3 S 3CaO.2SiO2.3H2O C3S2H3

H2O H CaSO4.2H2O CSH2

Os principais compostos responsáveis pela resistência mecânica do

concreto são o C3A (primeiras 24 horas), o C3S (até 28 dias) e o C2S (a partir

de 45 dias) [11].

4.2.1 Estrutura de poros

A formação da microestrutura do concreto é algo complexo, pois além

de ser constituído por diversos compostos distintos, distribuídos de forma

heterogênea, há ainda a presença de vazios, que formam a estrutura porosa do

material. A quantidade e distribuição do tamanho dos poros são responsáveis

pelo desempenho do concreto, especialmente quanto à durabilidade e

resistência a penetração de agentes deletérios [7].

A permeabilidade do concreto, não é uma função simples da

porosidade, mas depende também das dimensões, distribuição, forma,

tortuosidade (do caminho a ser percorrido pelos fluidos) e continuidade dos

poros, além de depender da interconectividade da rede capilar [14]. Portanto,

11

pode-se ter dois concretos distintos, com a mesma porosidade, mas com

valores típicos de coeficientes de permeabilidade bem diferentes.

Os vazios se formam pela evaporação da água em excesso, além do

necessário para a hidratação do cimento. A figura 03 mostra possíveis

caminhos que podem se formar no interior do concreto devido sua estrutura de

poros:

Figura 03. Representação esquemática da estrutura porosa do concreto [11].

Como pode ser visto na figura 03, a estrutura porosa, caso

interconectada, pode criar caminhos de acesso ao interior do concreto,

facilitando a entrada de agentes agressivos que poderão dar início, por

exemplo, ao processo de corrosão das armaduras.

Os poros na pasta de cimento podem ser classificados, conforme figura

04, em: poros de ar aprisionado, decorrentes do processo de adensamento;

poros de ar incorporado, decorrentes do uso de aditivos incorporadores de

ar; poros capilares, oriundos da saída de água livre do concreto; e poros de gel,

12

devido à água de gel; tendo os três primeiros tipos maior relevância para a

durabilidade do concreto [7].

Figura 04. Esquema de distribuição do tamanho dos poros na pasta endurecida.

4.2.2 Mecanismos de transporte

Grande parte da durabilidade do concreto deve ser atribuída a

capacidade de transporte de massa na sua rede de poros e/ou fissuras. Isso

determinará o grau de dificuldade encontrada pelos agentes agressivos ao

tentar penetrar no concreto [13].

Entre os principais mecanismos de transporte de massa no concreto,

que influenciam no processo corrosivo, pode-se citar: a permeabilidade, a

absorção capilar, a difusão e a migração iônica [11].

13

4.2.2.1 Permeabilidade

A permeabilidade pode ser definida como uma propriedade do material,

e expressa a facilidade com que um liquido o atravessa, sob uma diferença de

pressão.

Para concreto, a permeabilidade expressa a facilidade com que um

fluido (geralmente a água) penetra através da sua rede porosa. Será

determinada pela permeabilidade da pasta de cimento, que depende da sua

relação água/cimento e grau de hidratação.

Para uma mistura bem executada, o coeficiente de permeabilidade aos

gases é tão baixo que se torna muito difícil medições precisas. Sofre forte

influência do grau de saturação, pois a presença de água tende a preencher os

poros. A permeabilidade aos gases se dá por gradientes de concentração, que

no caso de gases agressivos dispersos na atmosfera, em geral, é muito

pequeno [15].

4.2.2.2 Absorção capilar

A absorção capilar expressa a capacidade do material em absorver

fluidos através da sua rede de poros capilares, sob condição de diferença de

umidade. A propriedade de absortividade (S) de um material pode ser obtida

experimentalmente, com o auxílio da equação (01):

(01)

Onde é o volume acumulado de água absorvida por unidade de área, A é um

termo constante, e é o tempo.

É uma propriedade de difícil controle, já que o refinamento da estrutura

dos poros, conferidos por redução da relação água/cimento ou adição de

pozolanas, por exemplo, ao mesmo tempo em que reduz a porosidade total,

refina as estruturas porosas, aumentando portanto as pressões capilares.

14

Essa característica pode aumentar a absorção capilar, mas concretos

mais porosos, com baixa absortividade capilar, ocasionam outros problemas

insuperáveis de durabilidade [11].

4.2.2.3 Difusão

A difusão é um mecanismo de transporte de substâncias entre dois

meios intimamente ligados, através de uma diferença de concentração. À

medida que esse gradiente é atenuado, a difusão será mais lenta.

É a difusão que rege a penetração dos principais agentes deletérios ao

concreto armado: o gás carbônio e os íons cloreto, além do oxigênio,

fundamental aos processos corrosivos.

Há dois tipos de fluxo relacionados à difusão, sendo eles o estado

estacionário, onde o fluxo iônico já foi estabelecido e é constante ao longo do

tempo; e o não estacionário, onde o fluxo não é constante, e depende do

tempo e da profundidade de penetração.

As características desse fenômeno de transporte irão depender do

gradiente de concentração, da temperatura, da microestrutura e da composição

química da matriz cimentícia [11]. Durante o processo difusivo pode haver

interação entre a substância que se difunde e os elementos do cimento, como

é o caso da absorção dos íons cloreto por parte dos aluminatos, o que retarda

a difusão num concreto contendo essa substância.

4.2.2.4 Migração iônica

Migração iônica, como o próprio nome define, é um mecanismo de

transporte que envolve a movimentação de íons. É possibilitada pela existência

de uma diferença de potencial, que o descolamento iônico tende a equilibrar.

Esse fenômeno esta presente em estruturas submetidas a potenciais

elétricos, como dormentes de trens e metrôs que usam energia elétrica para

deslocar-se, além de estruturas submetidas à proteção catódica por corrente

impressa e outras formas de proteção que envolva movimentação de cargas

15

elétricas. Em estruturas de concreto armado que se encontram em processo

corrosivo das armaduras também se observa esse fenômeno.

Conceitualmente, o fluxo por migração iônica pode ser definido como a

soma de três fenômenos: a difusão pura, a migração elétrica e a convecção.

ANDRADE apud RIBEIRO [15] considerou em seu trabalho que a parcela da

difusão pura, para diferenças de potencial entre 10 e 15V, é desprezível. Assim,

se não houver gradientes de pressão ou umidade (eliminando a parcela da

convecção), a migração iônica se traduz puramente pela migração elétrica.

Ensaios de migração, como o utilizado por RIBEIRO [11], são capazes

de determinar o fluxo iônico, bem como os coeficientes de difusão no estado

estacionário e não estacionário, relacionados diretamente com as fases de

propagação e iniciação da corrosão, respectivamente.

4.2.3 Resistividade elétrica

A resistência elétrica (R) é uma grandeza física, que expressa o

impedimento imposto por determinado meio ao fluxo de corrente elétrica, e

depende das dimensões e do tipo de material que constitui o meio. Já a

resistividade elétrica (ρ), que também expressa uma medida de impedimento

ao fluxo de corrente elétrica, é uma propriedade característica do meio onde se

observa esse fluxo, independentemente da geometria e dimensões do corpo

em estudo. [16].

Assim sendo, pode-se dizer que a resistividade é uma propriedade do

concreto, que indica sua capacidade de resistir à passagem de corrente

elétrica. Essa propriedade é substancialmente influenciada pela permeabilidade

aos fluidos e difusividade iônica da sua rede de poros [17].

O fluxo de corrente elétrica no concreto é de natureza eletrolítica, e se

dá através dos íons presentes na solução contida nessa rede de poros e outros

espaços vazios, como microfissuras [18].

Caso não haja eletrólito em quantidade suficiente e/ou

interconectividade entre poros, é possível que a corrente elétrica tenda a fluir

através dos compostos do concreto, o que aumenta intensamente sua

resistividade, tornando-o praticamente um isolante elétrico.

16

A presença de sais na solução intersticial do concreto, como cloretos,

nitratos e sulfatos, facilitarão a ocorrência da corrosão, pois, uma vez que são

eletrólitos “fortes” facilitam a mobilidade de cargas elétricas, através da difusão

iônica [19].

HORNBOSTEL et al. [20] relata a existência de uma relação

inversamente proporcional entre resistividade e taxa de corrosão. Vale ressaltar

que, de acordo com os autores, essa relação não é valida para concretos

saturados, uma vez que, sob essas condições a medida de resistividade será

baixa (pela excesso de eletrólito disponível), enquanto a taxa de corrosão

também estará baixa, já que em concretos saturados há pouca disponibilidade

de oxigênio.

Um balizamento para valores referência de resistividade, em relação à

ocorrência da corrosão, é oferecido por órgãos normalizadores internacionais,

como a norma CEB-192, da FIB (Fédération Internationale du béton) e o

boletim europeu CE-COST 509 (Corrosion and protection of metals in contact

with concrete), apesar das discrepâncias mostradas entre ambas. A tabela 02

mostra um comparativo entre esses valores [11].

Tabela 02. Valores de resistividade elétrica do concreto e sua relação com o

risco de ocorrência da corrosão [11].

Resistividade (kΩ.cm) Risco de corrosão

CEB-192 COST 509

> 20 > 100 Desprezível

10 a 20 50 a 100 Baixo

10 a 50 Moderado

5 a 10 < 10 Alto

< 5 Muito Alto

17

A tabela 03, apresentada por HORNBOSTEL et al. [20], mostra alguns

valores limites de medidas de resistividade e sua relação com taxa de corrosão,

publicadas por diversos autores.

Tabela 03. Critérios para a avaliação da atividade de corrosão em termos de

resistividade do concreto [20].

Intensidade da corrosão em termos de

resistividade (Ω.m) Corrosão

induzida por Forte Moderada Fraca

< 50 50-120 > 120

Cloretos

< 65 65-85 > 85

< 70 70-300 > 300-400

< 100 100-300 > 300

< 200 200-1000 > 1000

< 50 Sob discussão > 100-730

Outros

< 100 100-1000 > 1000-2000

< 100 100-1000 -

< 50 50-200 > 200

< 80 80-120 > 120

Outra correlação com a resistividade foi observada por SENGUL [21],

dessa vez com a difusividade iônica. Diversas misturas de concreto, na

presença de íons cloreto, foram testadas. Utilizaram-se medidas de

resistividade obtidas na literatura, a partir das quais se estimou valores de

difusão de cloretos. Com uma diferença de 9% entre os valores estimados e os

medidos, para as mesmas condições de ensaios, a relação se mostrou forte.

A figura 05 mostra a relação encontrada por SENGUL [21]:

18

Figura 05. Relação entre difusão de cloretos e resistividade elétrica [21].

Para todos os materiais porosos, a equação de Nernst-Einstein

expressa a relação entre a resistividade eléctrica e difusividade iónica, tal como

mostrado na equação 02:

(02)

onde é a difusividade para o íon i, R é a constante dos gases, T a

temperatura absoluta, Z é a valência iônica, F é a constante de Faraday, é o

número de transferência do íon i, é o coeficiente de atividade do íon i, é

a concentração do íon i na água dos poros, é a resistividade elétrica.

Para um íon específico e determinadas condições ambientais pode-se

afirmar que serão constantes: a valência iónica, número de transferência, o

coeficiente de atividade, constante dos gases, a constante de Faraday e a

temperatura absoluta. Para uma mistura de concreto específica, a

concentração iônica na água dos poros é também constante.

Uma vez que todos os parâmetros, com exceção da difusividade e

resistividade, são constantes para um determinado tipo concreto, para uma

dada condição de umidade e temperatura, estes parâmetros constantes podem

19

ser expressos por um parâmetro único, o Sendo assim, a equação 03 pode

ser reescrita como:

(03)

Onde representa uma constante equivalente à inclinação da reta de correção

entre difusividade e resistividade elétrica.

SANTOS [18] afirma que a resistividade do concreto é especialmente

sensível às características da pasta, pois a resistividade elétrica dos agregados

é acentuadamente maior que a da matriz cimentícia, o que rapidamente conduz

à conclusão de que quanto maior a relação pasta/agregado, menor será a

resistividade do concreto e vice-versa.

Nesse caso, a medida da resistividade será regida basicamente pela

disponibilidade de acesso e eletrólito na matriz cimentícia. Em geral, essas

disponibilidades são regidas pelas condições ambientais e de proporções e

procedimentos de mistura [20], lançamento e cura.

De acordo com PLOOY et al. [22], a medida de resistividade pode

variar ao longo de várias ordens de grandeza, sendo por esse motivo bastante

utilizada para mensurar as condições do concreto. Quando seco, o concreto se

comporta como isolante elétrico, podendo apresentar resistividade elétrica de

até 100.000 Ω.m. Quando saturado e na presença de íons, esse valor pode cair

para algo em torno de 10 a 500 Ω.m.

MADANI et al. [23] estudaram a influência de adições minerais ao

concreto sobre sua resistividade elétrica, e afirmam que a adição de sílica ativa

não tem representativa influência sobre a resistividade do concreto aos 7 dias.

Já a idades de 28 e 90 dias foram observadas melhoras significativas. A figura

06 mostra como diferentes quantidades de sílica ativa afetam o comportamento

resistivo do concreto. As proporções analisadas foram de 3, 5 e 7,5%.

20

Figura 06. Efeito da adição de sílica ativa na resistividade do concreto.

(adaptado de MADANI et al. [23])

Essa relação é confirmada por VIEIRA et al. apud ABREU [24], que

verificou maiores valores de resistividade para concreto contendo 6 e 12% de

microssílica, conforme mostra a figura 07:

Figura 07. Resistividade do concreto com adição de microssílica (VIEIRA et al.

apud ABREU [24]).

POLDER et al. [19] afirma que a resistividade do concreto está

relacionada com os principais estágios da vida em serviço de uma estrutura: a

iniciação e a propagação da corrosão. Locais onde a resistividade é menor

21

indica uma maior susceptibilidade à penetração de agentes deletérios, e apesar

de não fornecer informações sobre taxa de corrosão, indica locais onde o

processo pode estar ocorrendo de forma mais intensa.

Assim, as medidas de resistividade podem ser utilizadas como um

indicador de durabilidade e controle de qualidade do concreto, além da

possibilidade de rápida classificação, pois a medida de resistividade é

instantânea. A difusividade do concreto pode ser controlada indiretamente

através de tais medidas [25].

4.2.4 Técnicas eletroquímicas para medida da resistividade

A resistividade elétrica vem sendo estudada há alguns anos como uma

técnica não-destrutiva para avaliação do risco de corrosão em estruturas de

concreto armado. Sua grande importância deriva de uma alta sensibilidade às

condições do concreto, como umidade, temperatura, concentração iônica,

porosidade e interconexão entre poros [19, 22].

O princípio da medida da resistividade elétrica baseia-se na aplicação

de uma diferença de potencial entre dois eletrodos posicionados em faces

planas e opostas, ou embutidos no corpo de prova, e medição da corrente

elétrica gerada. A partir da relação entre tensão e corrente, determina-se a

resistência (R), de acordo com a lei de Ohm. A resistividade do concreto pode

ser obtida multiplicando-se o valor de (R) por um fator de correção chamado

constante de célula, que depende das dimensões do corpo de prova em

análise [11].

Algumas técnicas foram desenvolvidas ao longo dos anos para efetuar

esse tipo de medida, e diferenciam-se basicamente na quantidade de eletrodos

e no seu posicionamento na superfície do corpo de prova. Nesse caso é

importante observar a eficiência do contato elétrico entre o eletrodo e a

superfície do concreto [18].

De acordo com MILLARD apud SANTOS [18], a resistividade, a

princípio, pode ser medida utilizando-se dois eletrodos em contato com a

superfície do concreto. Trata-se de uma técnica pouco precisa e reprodutível,

pois é fortemente influenciada pelo tamanho dos eletrodos e condições de

22

superfície da amostra, como a presença de agregados nas proximidades dos

eletrodos, o que pode levar consideráveis erros de medição.

4.2.4.1 Quatro eletrodos

Inicialmente desenvolvido para medições de resistividade em solos, o

método dos quatro eletrodos leva o nome do seu criador, Wenner. Depois de

muitos estudos a técnica foi adaptada para o uso em concreto, desenvolvendo-

se assim equipamentos específicos para medidas neste tipo de material.

Neste ensaio os quatro eletrodos são posicionados de forma linear,

com espaçamento uniforme entre eles, conforme ilustrado na figura 08.

Figura 08. Esquema de medição da resistividade elétrica pelo princípio de

Wenner (adaptado de PLOOY [22]).

A medida é feita aplicando-se uma corrente elétrica alternada entre as

sondas externas (pontos A e B), e medindo-se a diferença de potencial entre as

sondas internas (M e N). Usualmente utiliza-se uma fonte de corrente alternada,

com frequência variando entre 50 e 1000 Hz. Evita-se a aplicação de corrente

contínua, devido o fenômeno de polarização do eletrodo que pode ocorrer

nesses casos, mascarando a medida [19].

23

A partir da relação entre a diferença de potencial medida e a corrente

elétrica aplicada, e considerando o valor da constante de célula, calcula-se o

valor de resistividade do concreto, de acordo com a equação 04:

(04)

Aparelhos modernos são capazes de fazer esse cálculo internamente,

oferecendo como resultado a medida direta da resistividade.

Esse método possui uma vantagem relacionada ao fato de que a

medida do potencial é registrada entre os dois eletrodos internos. A depender

da distância entre eles é possível evitar a forte influência da presença de

agregado graúdo. MILLARD apud SANTOS [18] afirma que um afastamento de

50 mm é suficiente para obtenção de medidas de resistividade relativamente

precisas em quase todo tipo de estrutura de concreto armado.

4.2.4.2 Técnica do Potencial de corrosão

Trata-se de um ensaio proposto para avaliar o potencial de corrosão

em armaduras de aço incorporadas ao concreto, o que é feito através da

análise qualitativa dos potenciais de eletronegatividade destes elementos em

relação a um eletrodo estável de referência.

Apesar da limitação intrínseca a essa técnica, que não possibilita a

determinação da taxa de corrosão, que é a velocidade com que o processo

corrosivo está a ocorrer, é possível identificar a presença de pontos críticos de

uma estrutura que podem estar em processo de corrosão ativo.

Mesmo sem perceber-se sintomatologia aparente, através dos valores

de eletronegatividade infere-se maior ou menor potencial para a ocorrência de

um processo corrosivo [26]. A norma americana ASTM C 876/91 estipula

valores limites de potencial eletroquímico e sua relação com o processo

corrosivo, conforme tabela 04. Esses valores são dados em relação ao eletrodo

de calomelano saturado, que será utilizado na presente pesquisa.

24

Tabela 04. Limites de potencial de corrosão com referência ao eletrodo de

calomelano saturado [26].

Tipo de eletrodo Probabilidade de ocorrer corrosão

< 10% 10% - 90% > 90%

Hg, Hg2Cl2/KCl (Calomelano

Saturado) > -0,124 V 0,124 V a -0,274 V < - 0,274 V

De acordo com FREIRE [27], em situações de resistividade eletrolítica

muito elevada, o potencial de corrosão pode possuir mais de um valor,

possivelmente relacionados às zonas anódica e catódica, devido a formação de

macropilhas, o que ocorre devido ao fenômeno da queda ôhmica.

Outra interferência causada por uma situação de alta resistividade do

concreto de cobrimento é a não identificação da corrente de corrosão, pois

naturalmente a corrente elétrica tende a evitar caminhos mais resistivos. Essa

característica depende da espessura da camada de cobrimento, e é

particularmente importante, pois pode fazer com que processos corrosivos em

estado ativo não sejam identificados (MONTEMOR apud. RIBEIRO [11]).

4.2.4.3 Espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE)

Segundo RIBEIRO [28], a espectroscopia de impedância eletroquímica

é uma técnica muito útil, devido sua versatilidade para a caracterização de

sistemas eletroquímicos. Capaz de caracterizar particularidades de variados

sistemas eletroquímicos, bem como determinar a influência de processos

individuais de eletrodo ou eletrólito, além de avaliar a transferência iônica em

regiões de volume e interface.

A impedância, de forma genérica, significa uma medida de

impedimento ou oposição ao fluxo, ocasionado fundamentalmente pela

transferência de energia, através de elementos carregados eletricamente. De

acordo com MONTENOR apud. RIBEIRO [11], a impedância de um circuito

elétrico representa o grau de dificuldade que um sinal elétrico, enviado a esse

circuito, encontra ao percorrê-lo. É uma combinação de elementos passivos de

um circuito elétrico: resistência, capacitância e indutância.

25

Essa técnica parte do pressuposto que determinado sistema

eletroquímico formado no sistema aço-concreto pode ser representado por um

circuito elétrico,

4.2.4.4 Ultrassom

A técnica de ultrassom consiste na medição da velocidade com que

uma onda sonora se propaga através de um corpo de prova, com frequências

entre 20 e 300 KHz [29].

Os equipamentos utilizados para esse tipo de medição são constituídos

por uma unidade central, que possui um gerador de impulsos elétricos, um par

de transdutores, emissor e receptor, um amplificador e um dispositivo

eletrônico para medição do tempo que leva até o pico (amplitude máxima) do

pulso gerado no transdutor emissor chegar ao transdutor receptor [30].

Esse método de ensaio fornece informações sobre propriedades

mecânicas do concreto, como resistência à compressão e módulo de

elasticidade, além de identificar a presença de falhas ou vazios no seu interior.

Apesar de não fornecer informações diretas sobre o processo da corrosão, as

características de qualidade do concreto mensuradas através deste

experimento são fortemente influentes sobre o fenômeno corrosivo [30].

A norma inglesa BS EN12504-4:2000 estabelece os procedimentos

para aplicação dessa técnica e fornece uma tabela que relaciona valores de

velocidade ultrassônica com a qualidade do concreto, conforme tabela 05:

26

Tabela 05. Relação entre velocidade de propagação e qualidade do concreto

(BS EN12504-4:2000).

Velocidade longitudinal da onda (Km/s) Qualidade do concreto

V < 2 Muito fraca

2 < v < 3 Fraca

3 < v < 3,5 Média

3,5 < v < 4 Boa

4 < v < 4,5 Muito Boa

V > 4,5 Excelente

4.3 O processo corrosivo

Pode-se definir corrosão como a interação destrutiva entre um metal e

o meio no qual está inserido. Esse processo ocorre através de reações

químicas ou eletroquímicas e pode estar associado ou não a esforços

mecânicos atuantes no material, podendo causar perdas significativas nas suas

propriedades fundamentais, tais como resistência mecânica, elasticidade e

ductilidade [7, 31].

Nessas reações os metais interagem com substâncias não metálicas

presentes no meio, formando compostos semelhantes aos encontrados na

natureza, dos quais foram extraídos. Sendo assim, é possível afirmar que a

corrosão se trata de um processo inverso à metalurgia, onde os metais tendem

a retornar ao seu estado combinado, termodinamicamente mais estável [32],

conforme representado no esquema da figura 09:

27

Figura 09. Ciclo metalurgia X corrosão [32].

Há duas formas de ocorrência da corrosão segundo sua natureza, a

oxidação (ou corrosão “seca”) e a corrosão eletroquímica (ou corrosão aquosa).

Ambas podem acometer as barras de aço do concreto armado [7].

A corrosão seca trata-se basicamente de ataques por reações do tipo

gás-metal, de onde forma-se uma fina película de óxidos na superfície metálica.

Esse processo, que ocorre de forma muito lenta à temperatura ambiente, não

afeta significativamente o metal, exceto à presença de gases extremamente

nocivos [7].

Comumente definida como a principal causa de degradação das

armaduras de aço-carbono do concreto armado, a corrosão eletroquímica se

caracteriza por ser um processo que ocorre em meio aquoso. A ocorrência

deste fenômeno é possibilitada pela formação de uma película de eletrólito na

superfície do metal, que no caso do concreto armado é propiciado pela

presença de água na sua rede de poros, fissuras e outros meios de acesso.

O processo da corrosão é resultado da formação de uma pilha ou

célula de corrosão, constituída basicamente por:

Ânodo: eletrodo de caráter eletrônico positivo, onde ocorrem as

reações de oxidação dos íons metálicos, também conhecidas como reações de

dissolução do metal. Os elétrons excedentes no metal tendem a migrar para as

28

zonas catódicas, enquanto os íons metálicos são liberados na solução

eletrolítica e estarão livres para reagir com outras substâncias.

Cátodo: eletrodo de caráter eletrônico negativo, onde ocorrem as

reações de redução dos íons de hidrogênio, da água do eletrólito e

eventualmente espécies eletroquímicas presentes no concreto. Essas reações

são possibilitadas pela presença dos elétrons extras que migraram das regiões

anódicas. Nessas zonas catódicas observa-se a chamada deposição catódica.

Eletrólito: meio condutor (geralmente líquido), contendo íons, que

possibilitarão o fluxo de elétrons, formando o circuito fechado da pilha.

Circuito metálico: condutor metálico. Nesse caso, a barra metálica

por onde os elétrons migram de zonas anódicas para catódicas.

Figura 10. Representação esquemática da célula eletroquímica de corrosão.

Segundo CASCUDO [7], a corrosão ocorre sob um determinado

mecanismo, no qual há a formação de íons metálicos e liberação de elétrons

na região anódica, onde se processa a dissolução do metal (região deteriorada,

desgastada), conforme indicado na equação 05, para o caso do Ferro:

2Fe → 2Fe2+ + 4e– (05)

29

De forma simultânea, ocorre no cátodo o consumo dos elétrons

liberados no ânodo, que resulta na redução dos íons de hidrogênio e do

eletrólito (H2O), formando os íons hidroxila OH-, conforme equação 06:

2H2O + O2 + 4e– → 4OH– (06)

Os produtos das reações que ocorrem nas regiões anódicas tendem a

se deslocar por difusão, através da solução do eletrólito, para a região catódica.

Sob o mesmo princípio, os produtos gerados nas regiões catódicas tendem a

migrar para as regiões anódicas. A interação química entre esses diversos

produtos está descrito nas equações 07, 08 e 09:

2Fe + 2H2O + O2 → 2Fe2+ + 4OH- (07)

2Fe2+ + 4OH- → 2Fe(OH)2 ou 2FeO. H2O (08)

2Fe(OH)2 + H2O + 1/2O2 → 2Fe(OH)3 ou Fe2O3.H2O (09)

O resultado dessas interações é a formação dos conhecidos produtos

finais da corrosão, ou ferrugem. A figura 11 ilustra como se dá o processo

corrosivo na superfície metálica:

Figura 11. Processo corrosivo na superfície metálica [25].

Na figura 11 (A) catodos e anodos são distribuídos aleatoriamente por

toda a superfície metálica e conectados eletricamente pelo substrato de aço.

Íons ferrosos e hidroxilas são formados através de reações eletroquímicas e se

30

difundem superficialmente. Quando se encontram, precipitam produtos que

originarão a ferrugem.

Conforme as áreas anódicas corroem, um novo material, de diferente

composição (a ferrugem) vai sendo exposto, conforme mostra a figura 11 (B).

Este novo material causa alterações dos potenciais elétricos entre as áreas

anódicas e catódicas, causando sua mudança local. O que era anodo passa a

ser catodo, e vice-versa.

Com o tempo, toda a superfície acaba se corroendo de modo uniforme

– figura 11 (C) [25].

4.3.1 Tipos de corrosão

Existem diferentes formas de ocorrência da corrosão, com

características físicas e químicas distintas, dentre as quais pode-se destacar a

galvânica, por concentração diferencial, sob tensão, por pites e generalizada.

A corrosão galvânica é uma forma bastante comum que ocorre quando

dois metais (ou ligas metálicas) com potenciais corrosivos distintos são

eletricamente conectados. Sua intensidade dependerá do meio corrosivo, da

extensão das áreas anódica e catódica, e da magnitude da diferença entre os

potenciais de corrosão dos metais/ligas que estão conectados.

Quando a superfície metálica esta em contato com diferentes

concentrações de diferentes agentes, tais como íons, oxigênio (aeração) ou

pela presença de frestas, tem-se o fenômeno da corrosão por concentração

diferencial. As áreas expostas à maior concentração iônica tenderão a assumir

a função de cátodo, onde ocorrerão as reações de redução.

Em peças submetidas tensões estáticas combinadas a um meio

corrosivo, o metal tenderá a sofrer a chamada corrosão sob tensão. Esse tipo

de ocorrência é particularmente perigosa, uma vez que a atuação de apenas

10% da carga máxima de resistência do metal é suficiente para propiciar o

surgimento de tal morfologia, caracterizada por fissuras no metal, além de

perda significativa de ductilidade [7]. Essas fissuras podem surgir nos

contornos de grãos (intergranular) ou entre os grãos (transgranular).

31

Não menos perigosa é a corrosão que ocorre pela formação de pites,

ou puntiforme. Associada ao conceito de micropilha ocorre pontualmente, e se

caracteriza por distâncias microscópicas entre o anodo e o catodo, ocorrendo

uma dissolução perigosamente concentrada do metal nestes pontos, com

grave perda de ductilidade.

De forma mais abrangente, a corrosão generalizada ataca grandes

áreas da superfície metálica. Mais comumente associada ao concreto armado,

caracteriza-se por distâncias maiores entres zonas anodicas e catodicas, onde

a consequência no metal é a formação de crateras, com consequente produção

de maior volume de produtos da corrosão, como os óxidos e hidróxidos.

4.3.2 Meios Corrosivos

É de fundamental importância a influência exercida pelo ambiente em

contato com a superfície metálica no processo corrosivo. Dentre eles podemos

destacar a atmosfera, águas naturais, solos e produtos químicos.

A intensidade de um processo corrosivo dependerá diretamente de

algumas características particulares do meio ambiente sob influência, tais como

umidade relativa, temperatura média, intensidade e direção dos ventos

(principalmente em zonas costeiras), chuvas, insolação e presença de

substâncias poluentes como fuligem, gases ácidos.

Em função das condições do ambiente a corrosão pode ser classificada

em seca: onde não há a presença de água, limitando-se o processo a uma

oxidação superficial; úmida: que ocorre em ambientes de umidade relativa

<100%, onde forma-se fina camada de eletrólito sobre a superfície do metal; e

molhada: a corrosão eletroquímica, onde o metal está em contato com a

solução liquida do eletrólito [33].

Essas condições de ambiente serão determinadas pelo clima e

atmosfera locais. A NBR 6118 (ABNT, 2014) prescreve que a agressividade do

meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre

as estruturas de concreto armado, independentemente da influência da

32

atuação de outros agentes de naturezas diversas. A norma classifica os

ambientes conforme mostrado na tabela 06:

Tabela 06. Classes de agressividade ambiental de acordo com a NBR 6118

(ABNT, 2014).

Classe de

agressividade

ambiental

Agressividade

Classificação

geral do tipo de

ambiente para

efeito de projeto

Risco de

deterioração da

estrutura

I Fraca Rural

Insignificante Submersa

II Moderada Urbana Pequeno

III Forte Marinha

Grande Industrial

IV Muito forte

Industrial

Elevado Respingos de

maré

A atmosfera rural é considerada como a menos agressiva do ponto de

vista da ocorrência de corrosão, pois normalmente não possui agentes

agressores em concentrações suficientes para causar danos significativos.

Esses locais geralmente estão distantes de fontes poluidoras do ar, salvo em

situações onde haja uma fonte local específica, como áreas de armazenamento

de fertilizantes, por exemplo.

Regiões ao ar livre localizadas em grandes centros urbanos, com alta

taxa populacional, possuem atmosfera urbana. Nesses ambientes se verifica a

notável concentração de gases nocivos, tais como o óxidos de enxofre (SO2),

dióxido de carbono (CO2), além de outros gases, fuligem e chuvas ácidas. As

principais fontes são as oriundas de atividades humanas, como transporte

urbano e pequenas indústrias.

33

Ambientes localizados próximo ou sobre o mar sofrem a influência da

atmosfera marinha, fonte de composições fortemente agressivas às armaduras,

tais como cloretos de sódio, magnésio, potássio, além de sulfatos e diversos

outros agentes agressivos. Comparando com a atmosfera rural, é notoriamente

mais agressiva no que tange à velocidade de corrosão. Vinculada à ação dos

ventos tem sua capacidade deletéria potencializada, com a formação do spray

marinho, que contem uma combinação especialmente agressiva às estruturas:

íons cloreto e umidade.

Contaminada por fortes concentrações de diversos tipos de gases e

outros elementos ácidos, a atmosfera industrial oferece alto risco ao

desenvolvimento da corrosão, acelerando o processo significativamente. Sua

agressividade deve ser considera em conjunto com a umidade relativa do ar,

que estando abaixo de valores críticos não se caracterizará como meio para

ocorrência de acentuados processos corrosivos.

Locais fechados e com baixa taxa de renovação de ar, caracterizam a

atmosfera viciada. Exemplo mais significativo, coletores e interceptadores de

esgoto estão expostos a considerável concentração de gases contendo

sulfetos. Microrganismos capazes de oxidar enxofre e sulfetos podem criar

meios corrosivos para o concreto pela geração compostos agressivos como fim

desse processo, a exemplo do ácido sulfúrico.

A tabela 07 oferece valores de corrosão relativa entre atmosferas

distintas sob as quais as estruturas podem estar submetidas:

Tabela 07. Valores de corrosão relativa entre atmosferas distintas [18].

Atmosfera Corrosão Relativa

Rural Seca 1 – 9

Marinha 38

Industrial (marinha) 50

Industrial 65

Industrial, fortemente poluída 100

34

4.4 Corrosão das armaduras no concreto armado

A corrosão das armaduras de aço-carbono imersas nas estruturas de

concreto armado nada mais é que um caso específico da corrosão

eletroquímica em meio aquoso, que neste caso, se encontra confinado nos

poros da matriz cimentícia. Segundo HELENE [4], para que esse fenômeno

ocorra:

a) É necessário existir um Eletrólito: a existência de um eletrólito na

superfície das barras de aço é possibilitada graças à presença da água no

concreto, que é tanto maior quanto maior for a umidade relativa do ar. Sua

principal função é permitir o fluxo iônico no concreto, fechando o circuito

elétrico criado com a liberação dos elétrons a partir da dissolução do metal.

b) É necessário existir uma diferença de potencial (DDP): ao sofrer

dissolução, cada átomo de ferro libera dois elétrons, deixando a peça metálica

com carga negativa, criando-se assim, um potencial de equilíbrio ou reversível.

Esse potencial por si só não gera a força eletromotriz necessária ao

desenvolvimento da célula de corrosão, mas a presença de elementos capazes

de interagir com esses elétrons sobressalentes poderá produzi-la, dando início

ao processo.

c) É necessário presença de oxigênio: a presença de oxigênio é de

fundamental importância para a formação dos diversos óxidos de ferro, assim

como para a velocidade de corrosão. A figura 6 mostra como a crescente

concentração de O2 acelera o processo corrosivo até uma concentração em

torno de 10 ml/l. A partir desse valor o excesso da substância no eletrólito

acaba por dificultar sua difusão. No contexto da corrosão eletroquímica o

oxigênio é um agente a reduzir-se, utilizando os íons sobressalentes da zona

anódica.

35

Figura 12. Efeito da concentração de oxigênio na velocidade de corrosão [11].

d) Podem existir agentes agressivos: existem elementos que podem

acelerar o desenvolvimento do processo da corrosão como, por exemplo, os

íons cloreto (Cl-), sulfeto (S2-), gases ácidos, fuligem, etc, que agirão impedindo

a formação ou quebrando a película passivadora das armaduras.

A figura 13 ilustra esquematicamente a ocorrência da pilha

eletroquímica de corrosão na armadura embutida no concreto.

Figura 13. Representação esquemática da pilha eletroquímica de corrosão da

armadura no concreto [25].

36

Os principais sintomas relacionados à ocorrência da corrosão nas

armaduras são manchas de cor marrom avermelhado, fissurações paralelas ao

aço e destacamentos da camada de cobrimento do concreto, além de perda de

aderência entre a armadura e o concreto. A depender do estado de oxidação o

processo corrosivo do ferro metálico pode gerar compostos de volume até seis

vezes maior que o do metal, conforme ilustrado na figura 14. Esse aumento

volumétrico acaba por ocasionar o surgimento de tensões internas de tração no

concreto de até 15 Mpa, e são essas tensões que irão provocar as fissuras e

destacamentos já mencionados [25].

Figura 14. Variação de volume dos compostos resultantes do processo

corrosivo do ferro metálico [34].

O surgimento dessas trincas e fissuras geralmente não acarretam

grandes problemas estruturais, mas são potencialmente perigosas pelo fato de

abrirem caminho para a penetração de água, oxigênio e agentes agressores, o

que irá acelerar continuamente o processo corrosivo já instalado.

37

4.4.1 Passivação das armaduras

O concreto provê dupla proteção às armaduras metálicas: através do

cobrimento, de caráter físico, que propicia um relativo isolamento do meio

externo; e sua alcalinidade, de caráter químico. Nas primeiras idades, a

alcalinidade do concreto é conferida pela presença, nos seus poros, da solução

saturada de hidróxido de cálcio - Ca(OH)2, proveniente das reações de

hidratação dos silicatos de cálcio (C2S e C3S) presentes no cimento. Em idades

mais avançadas esse caráter alcalino passa a ser garantido pela presença dos

hidróxidos de sódio (NaOH) e de potássio (KOH), que conferem soluções de

pH variando entre 12,5 e 13,5 na fase líquida do concreto [35].

Esse meio altamente alcalino em que as armaduras metálicas estão

inseridas faculta a formação de uma película passivadora sobre sua superfície.

De característica altamente aderente, finíssima espessura e formada

basicamente por óxidos de ferro, esta película protege quimicamente o metal,

impedindo o acesso do oxigênio, umidade, agentes agressivos, assim como

dificultando a dissolução do metal [36].

Uma forma física adicional de proteção às barras é uma camada de

deposição de cristais hexagonais de hidróxido de cálcio na sua superfície,

formada por precipitação [7].

Num metal, a transição do estado ativo para o passivo reduz

significativamente a velocidade de corrosão, que acaba sendo muito lenta.

Essa redução pode chegar a ordem de 104 a 106 [11].

POURBAIX apud GENTIL [33] avaliou as reações termodinamicamente

possíveis em função do potencial de eletrodo, tendo como base o eletrodo

padrão de hidrogênio, e do pH do meio. Isso foi feito para diversos sistemas

metal-solução, e a figura 15 mostra o diagrama de Pourbaix simplificado para o

sistema ferro-água a 25°C, que serve como base para análise das condições

oferecidas pelo concreto às armaduras de ferro.

38

Figura 15. Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-água a 25°C

[33].

Através desse diagrama é possível identificar as condições em que o

metal estará num estado imune à corrosão, passivo, ou sujeito a ocorrência

deste processo deletério.

Na zona imune, a ocorrência das reações de corrosão é

termodinamicamente desfavorável, e o metal encontra-se estável. Na zona de

passivação os óxidos e hidróxidos do metal são estáveis; na zona de corrosão

as condições de potencial elétrico e pH são favoráveis a ocorrência da

dissolução do metal [33].

Na nas condições específicas de pH (entre 12,5 e 13,5) e faixa usual

de potencial de corrosão do ferro no concreto, têm-se um estado de passivação

do metal. Variações nos valores de pH, como por exemplo a redução causada

pela ocorrência da carbonatação, que reduz o pH a valores menores que 9, o

que induz as armaduras a um estado ativo, propício a ocorrência da corrosão.

Os mecanismos preponderantes para a ocorrência da perda da

camada passivadora do aço são a presença de íons cloreto e a redução do pH

através da ação da frente de carbonatação que, a depender da profundidade

que alcançar pode atingir a proteção do aço.

39

4.4.2 Íons Cloreto

A presença de cloretos no concreto pode se dar de diversas maneiras:

uso de aditivos aceleradores de pega, agregados e/ou água de mistura

contaminados, tratamentos de limpeza e atmosfera exposta a ambiente

industrial e névoa marinha.

Pode-se observar três diferentes formas de ocorrência no concreto:

quimicamente ligado ao aluminato tricálcico (C3A), dando origem ao cloro-

aluminato, também conhecido como sal de Freidel (C3A.CaCl2.10H2O);

adsorvido na superfície dos poros; ou sob forma de íons livres. Esta última,

foco de maior atenção, representa a fonte de íons que irão interagir no

processo corrosivo [4].

A penetração desses íons na matriz cimentícia se dá pela ação de um

mecanismo duplo, ocorrendo primeiro a sucção e depois a difusão. Sua

influência é extremamente danosa, visto que, além de aumentar a

condutividade do eletrólito, eles participam diretamente na formação dos

produtos de corrosão. Os ânions Cl- poderão atuar sem consumir-se, conforme

mostrado nas reações 10 e 11:

Fe3+ + 3Cl- FeCl3 + H20 (10)

FeCl3 + 3OH- 3Cl- + Fe(OH)3 (11)

Essa característica é particularmente nociva, uma vez que pequenas

quantidades dessa substância serão capazes de provocar graves problemas

corrosivos. A figura 16 mostra o efeito da concentração de cloreto de sódio

sobre a taxa de corrosão, para o caso do ferro em contato com água saturada

de ar, em temperatura ambiente [37].

40

Figura 16. Efeito da concentração de cloreto de sódio sobre a taxa de corrosão

[37].

Pode-se observar uma taxa máxima de corrosão para a concentração

de 3% de NaCl. Essa taxa é crescente até atingir um pico na concentração de

3%. Após isso ela decresce constantemente, visto que o excesso de íons

dificulta sua difusão no eletrólito.

Figura 16. Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-água com

cloretos (355 ppm).

41

A figura 16 mostra como a presença de cloretos reduz a área de

possibilidade de ocorrência da passivação do metal no diagrama de Pourbaix

simplificado para o sistema ferro-água. Observa-se que parte dessa área foi

substituída por uma região de passividade imperfeita e outra de ocorrência de

corrosão por pites.

4.4.3 Etapas de ocorrência da corrosão

Segundo TUUTTI apud ZHANG & LOUNIS [36], a corrosão pode ser

descrita como um processo de dois estágios, a iniciação e a propagação.

a) Iniciação

A iniciação da corrosão, também chamada de período dormente ou de

incubação, é tida como o período de tempo em que o agente agressivo penetra

no concreto, porém sem observarem-se danos relacionados, até que sua

concentração na superfície do aço atinja um valor limite para provocar sua

despassivação.

Um exemplo de atuação de um agente agressor sobre a película

passivadora é a presença do íon cloreto, conforme mostrado na figura 17, de

onde será gerado um processo corrosivo puntiforme. Na ilustração está

representado o momento final do período de iniciação da corrosão, quando a

película passivadora é rompida.

Figura 17. Rompimento localizado da película passivadora pela atuação de

íons cloreto (adaptado de PANNONI [21]).

42

As características de transporte de massa do concreto da camada de

cobrimento são determinantes nesse processo. A conformação da rede de

poros, bem como a existência de fissuras, pode acelerar o período de iniciação

da corrosão, uma vez que um concreto poroso e fissurado facilitará a

penetração dos agentes agressores. Particularidades do ambiente, como

temperatura e umidade, exercem um papel igualmente importante nesse

processo [9].

b) Propagação

A fase de propagação consiste no período de tempo em que se

desenvolvem a dissolução do metal e os produtos da corrosão, até que o

processo chegue a um estágio de danos inaceitáveis [18], conforme ilustrado

na figura 18.

Figura 18. Propagação da corrosão pela atuação de íons cloreto (adaptado de

PANNONI [34]).

Segundo ANDRADE apud SANTOS [18], a velocidade com que este

processo ocorrerá será controlada pelo teor de umidade presente nos poros do

concreto, que tem importante atuação como eletrólito. A figura 19 mostra a

influência da umidade na velocidade de corrosão, representada como “massa

corroída”. A umidade, por sua vez, é regulada pela temperatura, que atua

43

também com grande importância sobre o desenvolvimento do processo

corrosivo.

Figura 19. Influência da umidade relativa na velocidade de corrosão [18].

4.5 Fatores que influenciam o processo de corrosão

Diversos trabalhos técnicos [4, 7, 38, 39] citam a variada gama de

fatores que influenciam o processo da corrosão nas armaduras do concreto

armado, cada qual com sua devida relevância.

A camada de cobrimento de concreto age como uma barreira físico-

química contra agentes agressivos [27]. Desde que bem concebida pelo

projetista, e bem executada, com atenção a procedimentos de mistura,

transporte, lançamento, adensamento, cura, etc., essa camada se constituirá

numa importante barreira protetora. Alguns autores afirmam que a presença de

fissuras nessa camada apenas antecipa o início do processo de corrosão, não

comprometendo significativamente a vida útil da estrutura [7].

Cimentos com adições de escória de alto forno e materiais pozolânicos

apresentam estrutura da pasta mais compacta, reduzindo a difusividade iônica

e permeabilidade, e aumentando a resistividade do concreto. Destaca-se a

presença do C3A (aluminato tricalcico), capaz de combinar-se com os íons

44

cloreto, imobilizando-os na formação do cloroaluminato de cálcio, comumente

conhecido como sal de Friedel [7].

Para HELENE [4], a relação água/cimento é um dos parâmetros de

influência mais importantes quanto à corrosão das armaduras, pois,

determinará a qualidade do concreto. Esse parâmetro tem influência direta

sobre a difusividade dos agentes nocivos, o volume total de poros e a

resistência do concreto, sendo mais significativo que a própria espessura de

cobrimento.

Além disso, o tipo de aço empregado tem relevante importância sobre

o processo corrosivo, uma vez que diferentes metais/ligas metálicas

apresentam características peculiares quanto a corrosão. Diferenças na

composição química da superfície do aço também podem contribuir com o

processo de corrosão, por gerar gradientes de tensão [7].

Agentes agressivos podem ser incorporados ao concreto através da

utilização de aditivos aceleradores de pega, comumente constituídos por

cloreto de cálcio (CaCl2). Outras fontes são agregados e água contaminada,

além da utilização de ácido muriático (ou ácido clorídrico), para limpeza das

estruturas, prática frequente nas obras da construção civil [27].

Pode-se assim perceber que o processo corrosivo é influenciado por

diversos fatores, de naturezas distintas. A previsão do processo corrosivo

torna-se então uma difícil tarefa, onde geralmente há a atuação de mais de um

desses fatores a ser analisada.

4.6 Materiais Pozolânicos

Foram denominadas pozolanas as cinzas vulcânicas utilizadas há

muitos anos por gregos e romanos, que misturadas à cal geravam um produto

de propriedades hidráulicas, obtendo-se assim melhor desempenho mecânico

[9].

De acordo com a ASTM C 618 (1978) e a NBR12653 (ABNT, 2014), a

pozolana se caracteriza como um material silicoso ou silicoaluminoso que por

sí só possue pouca ou nenhuma propriedade aglomerante, mas, quando

45

finamente dividido e na presença de água, reage com o hidróxido de cálcio à

temperatura ambiente para formar compostos com propriedades aglomerantes.

A pozolana de origem vulcânica ou sedimentar com atividade

pozolânica, geralmente de caráter petrográfico ácido, com teores de SiO2 ≥

65%, é classificada como natural. Já a oriunda de tratamentos térmicos, como

argilas calcinadas, ou subprodutos industriais com atividades pozolânicas,

como a sílica ativa e a cinza volante, por exemplo, são classificadas como

artificiais [40].

ISAIA [41] cita que, a princípio, o uso de pozolanas teve como motivos

principais a diminuição dos custos e/ou aumento da resistência mecânica. No

entanto, foi observado através de pesquisas de laboratório, que ao longo do

tempo as adições minerais tornaram-se importantes para garantir uma maior

durabilidade das estruturas de concreto com elas executadas.

Para que o material pozolânico possua boa reatividade, é essencial

que a sílica esteja em seu estado amorfo, isto é, vítreo, pois quando em estado

cristalino sua reatividade é muito fraca [34].

A presença de pozolanas no concreto desencadeia efeitos químicos e

físicos, citados a seguir.

a) Efeito químico

O efeito químico está relacionado, basicamente, com a capacidade de

interação entre a sílica e o hidróxido de cálcio proveniente da hidratação do

cimento, gerando compostos hidratados similares aos formados durante a

hidratação do cimento, como o silicato de cálcio hidratado – C-S-H, que é o

principal responsável pela resistência das pastas de cimento. Essa interação

entre sílica e hidróxido de cálcio é denominada de reação pozolânica [42].

Quando numa solução rica em hidróxido de cálcio, como é o caso da

pasta de cimento, a sílica se dissolve devido ao pH elevado, segundo a reação

12.

SiO2 + 2OH- H2SiO42- (12)

46

Na presença de íons cálcio, liberados na quebra do hidróxido, o C-S-H

menos solúvel precipita [9], de acordo com a reação 13.

xCa2+ + H2SiO42- + 2(x-1)OH- + yH2O C-S-H (xCaO.SiO2.yH2O) (13)

A reação 13 descreve o mesmo processo que ocorre com os silicatos

de cálcio durante o processo de hidratação do cimento, entretanto, em

presença de sílica sólida a relação S/C do C-S-H é menor que a obtida da

dissolução dos silicatos de cálcio decorrentes da hidratação do cimento. A

reação pozolânica é definida como balanço das reações 12 e 13, que

descrevem processos de dissolução e precipitação, respectivamente [9].

A tabela 08 mostra as exigências químicas a serem atendidas por um

material pozolânico, segundo a NBR 12653 (ABNT, 2014).

Tabela 08. Exigências químicas para materiais pozolânicos segundo a

NBR12653 (ABNT, 2014).

Propriedades

Classe de Material Pozolânico

N C E

SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 ≥ 70 ≥ 70 ≥ 50

SO3 ≤ 4 ≤ 5 ≤ 5

Teor de umidade ≤ 3 ≤ 3 ≤ 3

Perda ao fogo ≤ 10 ≤ 6 ≤ 6

Ácalis disponíveis em Na2O ≤ 1,5 ≤ 1,5 ≤ 1,5

Valores expressos em porcentagem (%)

b) Efeito físico

O efeito microfíler confere maior densidade e compacidade à matriz

cimentícia, através do preenchimento de vazios entre os grãos de cimento.

Para que esse mecanismo atue é necessário que o diâmetro médio das

47

partículas da adição sejam semelhantes ou inferiores ao diâmetro médio das

partículas do cimento.

O preenchimento dos vazios por diminutas partículas também

proporciona à matriz cimentícia um refinamento da estrutura de poros, uma vez

que sua presença cria pontos de nucleção para os desenvolvimento dos

cristais provenientes dos produtos de hidratação do cimento. Isso propicia o

desenvolvimento de uma quantidade maior de cristais de menor dimensão, ao

invés de menor quantidade de cristais relativamente maiores.

O resultado da ação conjunta do efeito microfíler e do refinamento da

estrutura de poros pode ser acompanhado pelo ensaio de absorção capilar. A

figura 20 mostra resultados obtidos por BARATA [43] sobre a taxa de absorção

capilar em concretos com adição de sílica ativa, metacaulim e uma referência.

Figura 20. Taxa de absorção capilar dos concretos de referência e com adições

de sílica ativa (SA) e metacaulim (MC) [43].

Outra influência importante dessa ação conjunta é o incremento nas

características da zona de transição entre a pasta e os agregados do concreto.

Devido a dificultação do movimento das moléculas de água, que mitiga

o efeito da exsudação, somado ao preenchimento mais efetivo dos vazios entre

48

os grãos do cimento e dos agregados, observa-se uma significativa redução de

espessura dessas zonas, o melhora o desempenho do concreto tanto do ponto

de vista mecânico quanto de durabilidade [40].

A tabela 09 traz as exigências acerca das características físicas que

devem ser apresentadas por um material pozolânico, segundo a NBR12653

(ABNT, 2014).

Tabela 09. Exigências físicas para materiais pozolânicos segundo a NBR12653

(ABNT, 2014).

Propriedades

Classe de Material Pozolânico

N C E

Material retido na peneira 45 μm * < 20 < 20 < 20

Índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias, em relação ao controle *

≥ 90 ≥ 90 ≥ 90

Atividade pozolânica com cal aos 7 dias ≥ 6 Mpa ≥ 6 Mpa ≥ 6 Mpa

(*) Valores expressos em porcentagem (%)

AGHABAGLOU et al. [44], num trabalho comparativo sobre os efeitos

da adição de diferentes minerais pozolânicos em matrizes cimentícias,

observou que essas adições influenciam positivamente diversas características

da matriz cimentícia, tais como resistência a compressão e propriedades de

transporte, que influencia diretamente parâmetros como absorção de água e

penetração de agentes deletérios.

Resultados positivos sobre a resistência a compressão também foram

obtidos por ZHANG e MALHOTRA [45], conforme mostrado na figura 21.

49

Figura 21. Evolução da resistência à compressão de concretos com relação a/c,

a/(c+MCAR) e a/(c+AS) igual a 0,4 [45].

As alterações observadas nas propriedades dos produtos cimentíceos

com a adição de pozolanas varia com a quantidade adicionada, com o

processo de mistura e com o tipo de material utilizados, e podem ser anilisadas

em três estágios distintos: pasta fresca, hidratação/cura e pasta endurecida.

Essas alterações podem ser de caráter físico e/ou químico, devido aos efeitos

microfiler e pozolânico, respectivamente.

4.6.1 Sílica ativa

A sílica ativa (ou microssílica) é um subproduto da produção de silício-

metálico e ferro-silício, insumos muito utilizados por indústrias metalúrgicas,

químicas e eletrônicas. A composição química da microssílica, assim como

suas propriedades físicas, varia com o tipo de liga produzida, com o processo e

matéria-prima utilizados [40]. A quantidade de resíduo gerado pode chegar a

cerca de 55% da quantidade de liga metálica produzida [46].

Constituindo-se macroscopicamente num pó finíssimo, que apresenta

superfície específica média aproximadamente duas ordens de grandeza maior

que o cimento (20.000 m²/kg da sílica contra 350 a 600 m²/kg do cimento), sua

50

coloração pode variar do cinza claro ao escuro, o que depende da quantidade

de carbono residual presente no material [24].

A adição de sílica ativa ao concreto tem demonstrado influência

positiva sobre suas propriedades, tanto no estado fresco quanto no estado

endurecido. Na pasta fresca o comportamento reológico é alterado,

apresentando maior coesão, com uma redução significativa na tendência a

segregação e exsudação. Além disso a viscosidade e as forças de atração

interna são aumentadas, obtendo-se assim um produto mais homogêneo [43].

Sua ação pozolânica, vinculada a extrema finura (efeito microfiler),

confere à matriz cimentícia uma microestrutura mais compacta e densa, com

menos poros e maior capacidade de resistir a esforços mecânicos e a ação de

agentes agressivos [34], sinônimo de maior durabilidade.

Segundo DAL MOLIN apud. VIEIRA et al. [24], pelo fato da reação da

microssílica com o hidróxido de cálcio ser rápida e pouco variável, menores

tempos de cura são necessários para atingir a resistência e estrutura de poros

desejada.

Devido ao tamanho reduzido, suas partículas preenchem espaços

intersticiais entre os grãos de cimento, a princípio ocupados pela água. Como

efeito, criam-se pontos de nucleação para os produtos de hidratação,

proporcionando um refinamento da estrutura de poros [34].

Para o concreto esse efeito é especialmente importante na zona de

transição pasta/agregado, uma vez que muitas das suas principais

propriedades são significativamente influenciadas pelas características desta

região [47].

Resultados obtidos por METHA e MONTEIRO [34] indicam reduções

superiores a 80% na espessura da zona de transição em concretos com adição

de sílica ativa, em relação a um concreto de referência, sem adições [48].

VIEIRA et al. [24] citam pesquisas realizadas com microssílica, nas

quais foi observado, em relação a um concreto sem adição, melhoria nos

resultados obtidos em ensaios de permeabilidade, penetração de íons cloreto,

absorção de água e perda de massa em decorrência de ação química.

Resultados obtidos por DOTTO et al. [49] revelam um acréscimo de até

5 vezes na resistividade elétrica de concreto com adição de 12% de sílica ativa.

51

O autor indica que este material pode ser utilizado de forma eficaz na proteção

das armaduras contra a corrosão.

Em contraponto, KULAKOWSKI et al. [50] afirma que concentrações

superiores a 10% dessa adição, eleva o potencial de ocorrência da corrosão

por carbonatação. Para proporções inferiores a 10% a situação inverte, e a

presença da sílica ativa passa a ter efeito positivo contra o avanço da frente

carbonatada.

METHA e MONTEIRO [34] concluíram que o teor ótimo de adição de

sílica ativa varia de 7% a 10% da massa de cimento, podendo chegar a teores

de 15% em algumas situações especiais. Valores muito semelhantes, variando

de 8% a 10%, foram sugeridos por AÏTCIN apud CARMO et al [51].

A influência da adição de microssilica a matrizes cimentícias, tais como

o refinamento da estrutura porosa (com consequente dificultação do transporte

de massa), a redução do teor de hidróxido de cálcio pela formação dos

produtos da reação pozolânica, além da redução do teor C/S nesses produtos,

tem distinto papel sobre o melhor desempenho de concretos quanto a

durabilidade.

4.6.2 Metacaulim

Normalmente obtido através da calcinação de argilas, cauliníticas ou

caulins de alta pureza, o metacaulim é um material aluminossilicoso, com

proporções semelhantes de SiO2 e Al2O3.

Apresenta-se numa escala de cores que varia do mais claro -

esbraquiçado, ao mais escuro - acinzentado. A cor depende essencialmente da

quantidade de sílica e alumínio presente; quanto mais claro, maior o teor de

sílica e alumínio, configurando-se num material mais puro e reativo; quanto

mais escuro menor o teor de sílica e alumínio, onde se tem um material menos

puro e reativo [51].

Quando a caulinita, um argilomineral constituído por silicatos

hidratados de alumínio (Al4Si4O10(OH)10), é submetida a tratamentos térmicos

entre 400ºC e 700ºC, ocorre o processo de desidroxilação, que destrói sua

estrutura cristalina pela remoção das hidroxilas. Esse processo a transforma

52

num componente amorfo, de elevada desordem cristalina e quimicamente

instável, conhecida por metacaulinita (Al2Si2O7) [43].

Dado suas características morfológicas, esse composto é responsável

pela atividade pozolânica do argilomineral, mas para temperaturas de

calcinação acima de 900ºC, haverá formação de compostos cristalinos estáveis,

pouco reativos e com insignificante atividade pozolânica [40, 43].

Assim como na sílica ativa, a reação pozolânica do metacaulin ocorre

pela interação da metacaulinita com os hidróxidos de cálcio presentes na pasta

cimentícia, formando gel C-S-H e alguns produtos cristalinos como aluminato

de cálcio hidratado e alumiossilicato hidratado - C2ASH8, C4AH13 and C3AH6

[52].

O metacaulim vem sendo largamente estudado e utilizado como adição

a argamassas e concretos. Demonstrando atividade pozolânica eficaz,

influencia de forma relevante na melhoria das propriedades mecânicas e de

durabilidade de matrizes cimentícias [52].

Vários autores [43, 51, 53] observaram que a adição de metacaulim

confere ao concreto no estado fresco maior coesão, facilidade de acabamento

e reduzida exsudação. Propriedades do estado endurecido, como a

compressão simples, tração por compressão diametral e absorção de água,

também foram otimizadas.

Em semelhança à sílica ativa, a presença de metacaulim em misturas

de concreto proporciona a densificação das zonas de transição pasta/agregado,

devido a ação do efeito microfiler [54].

ROSSIGNOLO et al. [53] verificou ainda, que a adição de 10% de

metacaulim reduziu, aproximadamente, uma média de 50% da profundidade de

carbonatação em relação a uma referência, que não continha adições.

Numa vasta revisão de literatura, SIDDIQUE [52] enumera diversas

vantagens do uso de metacaulim como adição a matrizes cimentícias, que

afetam diretamente sua durabilidade. Entre elas pode-se citar melhorias na

resistência mecânica nas primeiras e mais avançadas idades, redução da

absorção capilar, permeabilidade, maior resistência ao ataque de agentes

deletérios, como sulfatos e cloretos, e mitigação do efeito expansivo da reação

alcali-sílica, a depender do tipo de agregado.

53

A tabela 10 oferece um comparativo entre os requisitos fisico-químicos

exigidos em normalização brasileira, norte americana e indiana, para que um

material possa ser caracterizado como metacaulim.

Tabela 10. Requisítos fisico-quimicos para o metacaulim.

Característica Brasileira

NBR 15894-1*

Indiana

IS1344*

Americana

ASTM 618*

SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 - ≥ 70 ≥ 70

SiO2 ≥ 44 e ≤ 65 ≥ 40 -

Al2O3 ≥ 32 e ≤ 46 - -

CaO + MgO ≤ 1,5 ≤ 13 -

SO3 ≤ 1 ≤ 3 ≤ 4

Na2O ≤ 0,5 - -

Equivalente alcalino em

Na2O ≤ 1,5 - -

Umidade ≤ 2 - ≤ 3

Peda ao fogo ≤ 4 ≤ 5 ≤ 10

Resíduo na peneira com

abertura de malha de 45μm ≤ 10 ≤ 12 ≤ 34

Índice de desempenho com

cimento aos 7 dias ≥ 105 - -

Índice de atividade

pozolânica (Chapelle) ** ≥ 750 - -

Área específica B.E.T. *** ≥ 15 - -

Álcalis solúveis em água - ≤ 0,1 -

Material solúvel em água - ≤ 1 -

* Valores expressos em (%)

** Expreso em (mgCa(OH)2 / gmaterial)

*** Expresso em (m².g-1)

54

4.6.3 Cinza volante

É um material finamente particulado, proveniente da queima de carvão

pulverizado ou granulado, a altas temperaturas: 1200 a 1600°C. Possui

superfície específica semelhante à do cimento, variando entre 300 e 700 m²/Kg,

e é um pouco mais leve, com massa específica em torno de 190 a 240 Kg/m³

[55].

A assim chamada cinza volante é a parte mais fina, arrastada pelos

gases de combustão e recolhidas por precipitadores eletrostáticos ou

mecanicamente, através de filtros ciclone, enquanto a cinza pesada é aquela

que fica depositada no fundo das fornalhas, e possuem textura mais grosseira.

A cinza volante é tradicionalmente adicionada na fabricação de

cimentos. A NBR 5736 (ABNT, 1991) define a faixa limite do teor de adição de

cinzas na fabricação do cimento pozolânico CP IV, que varia entre 15 e 50%.

Já a norma NRB 11578 (ABNT, 1991) define esse mesmo parâmetro para o

cimento CP II Z, que deve conter entre 6 e 14% de cinzas. De modo

semelhante, a norma americana ASTM C595 (1994) define dois tipos de

cimentos onde se permite utilizar a adição de cinzas na fabricação, com teores

limítrofes de 15 a 40% para o tipo I-P, e menos de 15% para o I-PM. [35]

De acordo com resultados obtidos em pesquisa realizada por VASKE

[56], a presença de até 30% de cinza volante em misturas de concreto

incrementou significativamente sua resistência à compressão (figura 22), ao

tempo que reduziu a absorção de água por capilaridade (figura 23). Foram

avaliados teores de 0, 15, 30 e 45% de cinza em substituição à massa de

cimento.

55

Figura 22. Influência de diferentes teores de cinza na resistência a compressão

do concreto [56].

Figura 23: Influência de diferentes teores de cinza na absorção de água do

concreto [56].

Em contraste aos resultados obtidos por VASKE [56], GLUITZ e

MARAFÃO [57] observaram perda de resistência mecânica com a adição de

cinzas. Esse comportamento foi atribuído ao fato do material (cinza) estudado

56

não ter apresentado atividade pozolânica satisfatória, pois o silicato não

apresentou-se na fase amorfa.

A figura 24 compara os resultados obtidos para proporções de 5, 10, 15

e 20% de cinza.

Figura 24. Influência de diferentes teores de cinza na resistência a compressão

[57].

Como resultado de sua pesquisa, DOTTO et al. [49] afirma que a

adição de cinza volante incrementa de forma significativa a resistividade

elétrica do concreto, que foi analisada pela técnica eletroquímica dos quatro

eletrodos (Wenner). Foi observado também melhorias nas propriedades de

permeabilidade, mesmo que estatisticamente desprezíveis.

Em concordância, SHAFAATIAN et al. cita em seu trabalho que a

adição de cinza volante em argamassa tem o efeito de redução do coeficiente

de difusividade iônica entre 400 a 700%, devido à redução da porosidade e do

tamanho dos poros, além das reações pozolânicas. Essa característica é

especialmente importante para a durabilidade do concreto armado.

57

5 METODOLOGIA

As atividades listadas abaixo são as fundamentais para realização

desta pesquisa:

5.1 Revisão de literatura

Durante todo o processo de estudos e ensaios estará em andamento

uma revisão de literatura focada em embasar a teoria utilizada nos processos

práticos, analisar resultados e dirimir qualquer dúvida sobre o assunto.

5.2 Caracterização das matérias-primas

5.2.1 Cimento

O cimento selecionado será caracterizado fisicamente, com a

determinação da sua área superficial (BET), massa específica (ABNT NBR NM

23:2001) e distribuição de tamanho de partículas (sedígrafo a laser). Em

seguida, serão realizadas análises químicas (fluorescência de raios-x, FRX) e

mineralógicas (difração de raios-x, DRX) para determinar sua composição e as

fases presentes.

Tabela 11. Normas/métodos a serem utilizados na caracterização do cimento.

ANÁLISE NORMA/MÉTODO

Área superficial BET

Massa específica NBR NM 23:2001

Distribuição do

tamanho das

partículas

Sedígrafo a laser

Química FRX

Mineralógica DRX

58

O cimento utilizado será o CP V-ARI RS, de alta resistência inicial, uma

vez que não possui adições pozolânicas, eliminando a possibilidade de

influência de outras adições reativas.

5.2.2 Agregados

Será feita a caracterização física dos agregados com medições da

massa unitária, massa específica, área superficial e análise granulométrica,

conforme normas/métodos referenciados na tabela 12.

Tabela 12. Normas/métodos a serem utilizados na caracterização dos

agregados.

ANÁLISE AREIA BRITA

NORMA/MÉTODO NORMA/MÉTODO

Área superficial BET -

Massa Unitária NBR NM 45:2006 NBR NM 45:2006

Massa específica NBR NM 52:2009 NBR NM 53:2009

Granulometria NBR NM 248:2003 NBR NM 248:2003

5.3 Dosagem

Serão dosados diferentes traços de concreto através do método do

American Concrete Institute (ACI), que baseia-se nas exigências de resistência,

durabilidade e trabalhabilidade. A consistência do concreto no estado fresco

será determinada a partir do ensaio de abatimento do tronco de cone (“slump

test”). Em seguida, serão moldados corpos de prova cilíndricos, para a

determinação das propriedades físicas e mecânicas: porosidade, densidade

aparente, distribuição dos tamanhos dos poros, absorção de água por

capilaridade (NBR 9779:2012), resistência à compressão (NBR 7215:1996).

59

5.4 Avaliação da corrosibilidade do concreto armado

Quanto ao comportamento do concreto frente à corrosão, serão

realizados os ensaios descritos a seguir.

5.4.1 Ensaio de medida do potencial de corrosão

No presente trabalho será avaliado o potencial de corrosão em corpos

de prova prismáticos com dimensões de 5x7x9 cm3, onde serão inseridas duas

barras de aço do tipo CA-50 com 6,3 mm de diâmetro por 100 mm de

comprimento, segundo metodologia adotada por RIBEIRO [11]. Com o intuito

de padronizar as condições de superfície, as barras de aço passarão por um

processo de limpeza, conforme preconiza a norma ASTM G-1/03:

Imersão em solução de ácido clorídrico 1:1 contendo 3,5 g/L de

hexametilenotetramina por dez minutos, para retirada da carepa de

laminação, de presença comum na superfície de aços CA-50;

Lavagem e escovação com cerdas plásticas em água corrente,

complementando o procedimento anterior;

Imersão em acetona por dois minutos, para limpeza de gorduras e

melhor evaporação da água;

Secagem com jato de ar quente.

Após o procedimento de limpeza e secagem as barras serão pesadas e

parcialmente revestidas com fita isolante, a fim de se delimitar as áreas que

estarão expostas ao ataque dos agentes agressores, conforme esquema

mostrado na figura 25.

60

Figura 25. (A) e (B) Esquema de delimitação da barra com fita isolante comum;

(C) e (D) esquema do posicionamento das barras de aço no corpo

de prova [11].

Os corpos de prova passarão por ciclos molhagem/secagem, com

exposição à solução saturada de cloreto de sódio a 3%/estufa. As medidas de

potencial serão realizadas a cada semiciclo, ou seja, a cada retirada da estufa

e a cada emersão da solução salina.

Após as medições dos potenciais, que serão realizadas com o auxílio

de um multímetro digital, os CP’s serão rompidos à compressão e suas

armaduras limpas, conforme preconiza a ASTM G-1/03, e pesadas, para

avaliar-se a perda de massa devido à corrosão.

Assim, a taxa de corrosão poderá ser calculada utilizando-se a

equação 14.

(14)

61

Onde K = constante (para TC(mm/ano), K=8,76.107; para TC(g/m2.ano), K =

8,76.107.D); W = perda de massa (g); A = área de exposição (cm2); T = tempo

de exposição (h); D = densidade (para o aço CA-50, D = 7,85 g/cm3).

5.4.2 Medida da resistividade elétrica do concreto

5.4.2.1 Técnica dos dois eletrodos

Na técnica dos dois eletrodos, utilizada por RIBEIRO [11], duas sondas

são imersas num corpo de prova de concreto de medidas 20x20x10 cm3. Cada

sonda é composta por dois eletrodos de aço inoxidável em formato anelar,

espaçados entre si e fixados num corpo de polietileno de alta densidade

(PEAD), de comportamento elétrico isolante.

Devido a esse espaçamento entre os eletrodos da sonda é possível a

realização de medidas a diferentes profundidades do cobrimento de concreto, o

que melhor representa a condição de resistividade do meio que está sendo

analisado.

A tensão aplicada entre as sondas, que devem ter um afastamento de

10 cm, gera uma corrente alternada que ira percorrer o concreto, conforme

esquema da figura 26.

62

Figura 26. Esquema para medida da resistividade pelo método dos dois

eletrodos [11].

Da relação entre a tensão aplicada e a corrente medida é possível

calcular a resistência do circuito, que será imperada pela parcela da

resistividade do concreto. O cálculo pode ser feito conforme equação 15:

(15)

Onde ρ é a resistividade elétrica do concreto (Ω.cm); V a tensão

aplicada no corpo de prova; I a intensidade de corrente medida, que o

atravessava; A a área da face do corpo de prova em contato com os eletrodos

(cm2) e; L a distância entre os eletrodos (cm).

63

5.4.2.2 Técnica das quatro sondas

Para a medição da resistividade elétrica do concreto, baseado no

princípio do dispositivo de Wenner, será utilizado o aparelho Resipod, da

fabricante Proceq.

Uma corrente elétrica alternada máxima de 200µA é aplicada por

diferença de potencial através das duas sondas localizadas nas extremidades

do equipamento, gerando um fluxo de corrente no concreto, enquanto as duas

sondas internas medirão a diferença de potencial. O aparelho faz os cálculos

automaticamente e fornece o valor da resistividade medida no material sob

análise, em kΩ.cm.

A figura 27 ilustra o esquema de medição.

Figura 27. Esquema de medição da resistividade do concreto utilizando-se o

conceito de Wenner dos quatro pontos.

64

5.4.2.3 Espectroscopia de impedância eletroquímica

Os corpos de prova utilizados nesse ensaio serão idênticos aos do

ensaio de potencial de corrosão, tanto nas dimensões quanto no tratamento

dado as barras metálicas.

Eles também serão submetidos a ciclos molhagem/secagem, com

exposição à solução saturada de cloreto de sódio a 3%/estufa. Como as

medidas são mais espaçadas que as de potencial de corrosão, as amostras

ficarão uma semana em estufa e três semanas em solução salina.

O eletrodo de calomelano satura será utilizado como referência, além

do contra-eletrodo de grafite. As barras do corpo de prova são utilizadas como

eletrodo de trabalho. Nos três primeiros meses as medidas devem ser feitas a

casa 30 dias e, após esse período, de dois em dois meses.

5.4.3 Ultrassom

Na presente pesquisa será utilizado o equipamento Pundit Lab, da

marca Proceq, que possui largura de banda entre 20 e 500 KHz.

Com esse equipamento pode realizar-se:

Medição da velocidade do pulso;

Medição da extensão do trajeto;

Avaliação de uniformidade;

Medição da velocidade da superfície;

Medição da profundidade da fissura;

Estimativa do módulo de elasticidade dinâmico de amostra;

Estimativa da resistência à compressão usando apenas a

velocidade de pulso, ou em combinação com um esclerômetro.

Antes de efetuar as medições é preciso observar alguns cuidados,

como medir da forma mais precisa possível a distância (extensão do trajeto)

entre os transdutores, assegurar o acoplamento acústico adequado dos

transdutores à superfície em teste, com aplicação de uma fina camada da

65

pasta de acoplamento ao transdutor e à superfície de teste. Em alguns casos

pode ser necessário preparar a superfície alisando-a.

A figura 28 ilustra o esquema de medição:

Figura 28: Esquema execução de medição com o aparelho de ultrassom.

Diversos fatores podem influenciar a velocidade de propagação, sendo

os mais importantes o comprimento total do percurso, dimensões do corpo de

prova, presença de armaduras, além de fatores influenciados pelo ambiente,

como temperatura e estado de umidade do concreto [30].

66

6 REFERÊNCIAS

[1] ASSOCAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS

PLANTADAS - ABRAF. Anuário estatístico 2013 ano base 2012. Brasília,

2013. Disponível em:

<http://www.abraflor.org.br/estatisticas/ABRAF13/ABRAF13_BR.pdf>.

Acesso em: 20 out. 2014, 21:12.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE FERROLIGAS DE

SILICIO METÁLICO - ABRAFE. Disponível em:

<http://www.abrafe.ind.br/novosite/>. Acessado em: 20 mai. 2014, 1:46.

[3] SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO – SNIC. Relatório

anual 2012. Disponível em:

<http://www.snic.org.br/pdf/relatorio_anual_2012-13_web.pdf>. Acessado

em: 04 nov. 2014, 23:12.

[4] HELENE, P. R. L. Corrosão de armaduras para concreto armado. 4. ed.

São Paulo: PINI, 1999.

[5] ROMANO, F. S. Estudos do Ingresso de Cloretos em Concretos

localizados no litoral norte do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.

153p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio Grande do

Sul.

[6] HODHOD, O. A., AHMED, H. I. Modeling the service life of slag

concrete exposed to chlorides, Ain Shams Engineering Journal, v.5,

p.49-54, 2014.

[7] CASCUDO, O. O controle da corrosão de estruturas em concreto:

inspeções e técnicas eletroquímicas. São Paulo : Pini; Goiânia, GO :

Editora UFG, 1997.

67

[8] SILVA, A. S.; BARBOSA, D. S.; SACRAMENTO, G. S.; JESUS, T. J. M.;

MACEDO, M. C. Filho Gestão dos resíduos sólidos gerado pelo setor

da construção civil (construtoras) em Aracaju. Cadernos de

Graduação - Ciências Exatas e Tecnológicas Unit, v. 2, n.1, p. 137-144,

Março 2014.

[9] BOUNY, V.B.; CUSSIGH, F.; ROUGEAU, P. Durabilidade do concreto.

Bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo

com o ambiente. cap.9, 1. ed, São Paulo : IBRACOM, 2014.

[10] CALLISTER JR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de

materiais: uma introdução. 8. ed, Rio de Janeiro : LTC, 2013.

[11] RIBEIRO, D. V. Influência da adição da lama vermelha nas

propriedades e na corrosibilidade do concreto armado. São Carlos,

2010. 222p. Tese (Doutorado), Universidade Federal de São Carlos.

[12] RIBEIRO, D.V. Durabilidade e vida útil das estruturas de concreto. In:

Corrosão em estruturas de concreto armado: teoria controle e

métodos de análise. cap.3, ed. Campus, coordenado por D.V. RIBEIRO,

Rio de Janeiro, 2014.

[13] ROUGEAU, P.; GUIRAUD, P. A durabilidade no contexto normativo

europeu. In: Durabilidade do concreto: bases científicas para a

formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente. 1. ed,

cap. 7. Ed. J.P. OLLIVIER e A. VICHOT, Ed. Tradução: O. Cascudo e H.

Carasek. São Paulo: IBRACOM, 2014.

[14] NEVILLE, A.M. Propriedades do concreto. Traduzido por Salvador E.

Giammusso. São Paulo: PINI, 1982. 495 p.

68

[15] RIBEIRO, D.V. Estrutura dos poros e mecanismos de transporte no

concreto. In: Corrosão em estruturas de concreto armado: teoria

controle e métodos de análise. cap.5, ed. Campus, coordenado por D.V.

RIBEIRO, Rio de Janeiro, 2014.

[16] GIROTTO, E.M.; SANTOS, I.A. Medidas de resistividade elétrica DC em

sólidos: como efetuá-las corretamente. Quimica Nova, Vol. 25, No. 4,

639-647, 2002.

[17] RIBEIRO D.V., LABRINCHA J.A., MORELLI M.R. Efeito da adição da

lama vermelha na corrosibilidade do concreto armado avaliado por meio

de técnicas eletroquímica, IBRACON Structures and Materials Journal,

vol. 5, nº 4, 2012.

[18] SANTOS, L. Avaliação da resistividade elétrica do concreto como

parâmetro para a previsão da iniciação da corrosão induzida por

cloretos em estruturas de concreto. Brasília, 2006. 178p. Dissertação

(Mestrado), Universidade de Brasília.

[19] POLDER, R.B. Test methods for on site measurement of resistivity of

concrete - a RILEM TC-154 technical recommendation, Construction and

Building Materials, v.15, pg.125-131, 2001.

[20] HORNBOSTEL, K.; LARSEN C.K.; GEIKER, M.R.; Relationship between

concrete resistivity and corrosion rate – A literature review, Cement &

Concrete Composites, v.39, p.60–72, 2013.

[21] SENGUL, O. Use of electrical resistivity as an indicator for durability,

Construction and Building Materials, v.73, p.434–441, 2014.

69

[22] PLOOY, R; LOPES, S.P.; VILLAIN, G.; DÉROBERT, X. Development of a

multi-ring resistivity cell and multi-electrode resistivity probe for

investigation of cover concrete condition, NDT&E International, v.54,

pag.27–36, 2013.

[23] MADANI, H.; BAGHERI, A.; PARHIZKAR, T.; RAISGHASEMI, A. Chloride

penetration and electrical resistivity of concretes containing nanosilica

hydrosols with different specific surface áreas, Cement & Concrete

Composites, v.53, p.18–24, 2014.

[24] VIEIRA, F. P.; KULAKOWSKI, M. P.; DAL MOLIN, D.; VILELA, A. C. F.;

Estudos de durabilidade em concretos e argamassas com adição de

microssílica. Porto Alegre, 2007. Universidade Federal do Rio Grande do

Sul.

[25] PANNONI, F. D. Princípios da proteção de estruturas metálicas em

situações de corrosão e incêndio. In: Coletânea do Uso do Aço. 4. ed,

v.2. Minas Gerais: Gerdau Açominas, 2004.

[26] MATOS, O. C.; HELENE, P. R. L. Avaliação experimental da corrosão

de armaduras em concreto utilizando a técnica de medida dos

potenciais de eletrodo. São Paulo: Escola Politécnica da USP, 1992.

(Boletim Técnico, n. 58)

[27] FREIRE, K. R. R. Avaliação do desempenho de inibidores de

corrosão em armaduras de concreto. Curitiba, 2005. 192p. Dissertação

(Mestrado), Universidade Federal do Paraná.

[28] RIBEIRO, D.V.; ABRANTES, J.C.C. Uso da Espectroscopia de

Impedância Eletroquímica (EIE) para monitoramento da corrosão em

concreto armado. Iº Encontro Luso-Brasileiro de Degradação em

Estruturas de Concreto Armado, Salvador. Anais... Salvador: 2014. 17p.

70

[29] RIBEIRO, D.V.; CUNHA, M.P.T. Técnicas de avaliação e monitoramento

da corrosão em estruturas de concreto armado. In: Corrosão em

estruturas de concreto armado: teoria controle e métodos de análise.

cap.8, ed. Campus, Elsevier, coordenado por RIBEIRO, D.V. Rio de

Janeiro, 2014.

[30] PEREIRA, E.; MEDEIROS, M. H. F. Ensaio de "Pull Off" para avaliar a

resistência à compressão do concreto: uma alternativa aos ensaios

normalizados no Brasil, Rev. IBRACON Estrut. Mater. vol.5 n.6 São

Paulo, 2012.

[31] FARIAS, R. F.; TEZUKA, Y. Corrosão das armaduras do concreto:

mecanismos e controle. São Paulo: Escola Politécnica da USP, 1992.

(Boletim Técnico, n. 69).

[32] PONTE, H.A. Fundamentos da corrosão. Paraná, 2000. Universidade

Federal do Paraná.

[33] GENTIL, V. Corrosão, LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora, 3ª ed.

Rio de Janeiro, 1996.

[34] MEHTA P.K.; MONTEIRO P.J.M. Concreto: estrutura, propriedades e

materiais. PINI, São Paulo-SP, 1994.

[35] FIGUEIREDO, E. J. P.; MEIRA, G. R. Corrosão das armaduras das

estruturas de concreto. In: Concreto: ciência e tecnologia. 1. ed, v.1,

cap. 26, ed. G.C. Isaia, São Paulo : Ibracon, 2011.

[36] ZHANG, J.; LOUNIS, Z. Sensitivity Analysis of Simplified Diffusion-

Based Corrosion Initiation Model of Concrete Structures Exposed to

Chlorides. Cement and Concrete Research, v. 36, no. 7, July 2006, pp.

1312-1323.

71

[37] ALMEIDA, F.C.R.; SALES, A. Efeito da ação do meio ambiente sobre as

estruturas de concreto. In: Corrosão em estruturas de concreto armado:

teoria controle e métodos de análise. cap.4, ed. Campus, Elsevier,

coordenado por RIBEIRO, D.V. Rio de Janeiro, 2014.

[38] VILASBOAS, J. M. L.; MACHADO, S. L. Uma proposta de classificação

da agressividade ambiental para a cidade de Salvador-BA. Revista

IBRACON de Estruturas e Materiais, v.3, n. 2, p. 219-247, 2010.

[39] PONTES, R. B. Disseminação de íons cloreto na orla marítima do

bairro de Boa Viagem, Recife-PE. Recife, 2006. 121p. Dissertação

(Mestrado), Universidade Católica de Pernambuco.

[40] DAL MOLIN, D. C. C.; Concreto: Ciência e Tecnologia. v. 1, cap. 8. São

Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, 2011.

[41] ISAIA, G. C. Efeito de misturas binárias e ternárias de pozolanas em

concreto de elevado desempenho: um estudo de durabilidade com

vistas à corrosão da armadura. São Paulo, 1995. Tese (Doutorado) -

Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

[42] HOPPE Filho, J. Sistemas cimento, cinza volante e cal hidratada:

mecanismo de hidratação, microestrutura e carbonatação de

concreto. São Paulo, 2008. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica,

Universidade de São Paulo.

[43] BARATA, M.S. Concreto de alto desempenho no estado do Pará:

estudo de viabilidade técnica e econômica de produção de concreto

de alto desempenho com os materiais disponíveis em Belém através

do emprego de adições de sílica ativa e metacaulim. Porto Alegre,

1998. 188p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio Grande

do Sul.

72

[44] AGHABAGLOU, A.M.; SEZER, G.I.; RAMYAR, K. Comparison of fly ash,

silica fume and metakaolin from mechanical, Construction and Building

Materials, 70 (2014) 17–25.

[45] ZHANG, M.H.; MALHOTRA, V.M. Characteristics of a thermally activated

alumino-silicate pozzolanic material and its use in concrete, Cement and

Concrete Research, Vol. 25. No. 8. pp. 1713-1725.1995.

[46] DAL MOLIN, D. C. C.; Concreto: Ciência e Tecnologia. v. 1, cap. 8. São

Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, 2011.

[47] MASO, J.C. Influence of the interfacial transition zone on composite

mechanical properties, Interfacial Transition Zone in Concrete, ed. by

MASO, J.C., E & FN SPON, London, pp.103-16, 1996.

[48] ROSSIGNOLO, J.A. Avaliação da zona de transição interfacial pasta-

agregado leve em concretos com sílica ativa e látex SBR. Revista

Matéria, v. 12, n. 3, pp. 532 – 540, 2007.

[49] DOTTO J.M.R.; ABREU, A.G.; DAL MOLIN, D.C.C.; MULLER, I.L.

Influence of silica fume addition on concretes physical properties and on

corrosion behaviour of reinforcement bars, Cement & Concrete

Composites 26 (2004) 31–39.

[50] KULAKOWSKI, M.P.; PEREIRA, F.M.; DAL MOLIN, D.C.C. Carbonation-

induced reinforcement corrosion in silica fume concrete, Construction

and Building Materials, v. 23 (2009) 1189–1195.

[51] CARMO, J. B. M.; PORTELLA, K. F.; Estudo comparativo do desempenho

mecânico da sílica ativa e do metacaulim como adições químicas minerais

em estruturas de concreto. Cerâmica, v. 54, p. 309-318, 2008.

73

[52] SIDDIQUE, R.; KLAUS, J. Influence of metakaolin on the properties of

mortar and concrete: A review; Applied Clay Science, Volume 43, Issues

3–4, March 2009, Pages 392–400.

[53] ROSSIGNOLO, J.A.; OLIVEIRA, I.L. Efeito do metacaulim nas

propriedades do concreto leve estrutural, Acta Sci. Technology, Maringá,

v. 29, n. 1, p. 55-60, 2007.

[54] POON, C.S.; LAM, L.; KOU, S.C.; WONG, Y.L.; WONG, R. Rate of

pozzolanic reaction of metakaolin in high-performance cement pastes,

Cement and Concrete Research, Volume 31, Issue 9, September 2001,

Pages 1301–1306.

[55] DAL MOLIN, D.C.C. Adições minerais para concreto estrutural. In:

Concreto: ensino, pesquisa e realizações. 1. ed, v.1, cap. 12. Ed. G.C.

Isaia, São Paulo : Ibracon, 2005.

[56] VASKE, N. R. Estudo preliminar da viabilidade do aproveitamento da

cinza proveniente de filtro multiciclone pela combustão de lenha de

eucalipto em caldeira fumotubular como adição ao concreto. Porto

Alegre, 2012. 325p. Teses (Doutorado), Universidade Federal do Rio

Grande do Sul.

[57] GLUITZ, A.C.; MARAFÃO, D. Utilização da cinza da madeira de

eucalipto na substituição parcial do cimento Portland em argamassa.

Pato Branco, 2013. 53p. Trabalho de conclusão de curso (TCC),

Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

[58] SHAFAATIAN, S.M.H.; AKHAVAN, A.; MARAGHECHI, H.; RAJABIPOUR,

F. How does fly ash mitigate alkali–silica reaction (ASR) in accelerated

mortar bar test (ASTM C1567)?, Cement & Concrete Composites, n.37,

p.143–153, 2013.

74

7 RESULTADOS ESPERADOS

Determinação do teor ótimo de adição de materiais pozolânicos em

misturas de concreto, com vistas à melhoria dos seus parâmetros de

corrosibilidade, além de incremento em propriedades principalmente físicas e

mecânicas no estado endurecido.

Avaliação da influência da adição de materiais pozolânicos sobre a

resistividade elétrica do concreto, medida através de técnicas eletroquímicas.

Comparação entre técnicas eletroquímicas de medição da resistividade

elétrica do concreto.

Comparação entre a influência de diferentes materiais pozolânicos

sobre propriedades de corrosibilidade do concreto.

Avaliação da influência de materiais pozolânicos sobre as medidas de

potencial de corrosão em corpos de prova armados com aço-carbono.

8 IMPACTOS

8.1 Acadêimco

Consolidação das linhas de pesquisa relacionadas à durabilidade das

construções no Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana (MEAU).

Consolidação dos nomes:

Laboratório de Ensaios em Durabilidade dos Materiais – LEDMa:

onde está a ser realizada toda a parte prática do trabalho, trata-se

de um laboratório muito bem equipado com maquinário moderno,

onde é possível a realização dos mais diversos ensaios relacionados

à durabilidade dos materiais.

Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana – MEAU: busca-se

consolidar as linhas de pesquisa relacionadas à durabilidade dos

materiais deste programa de mestrado, e consolidar seu nome como

referência nacional e internacional.

75

Universidade Federal da Bahia: fortalecimento do nome da nossa

instituição de ensino, assim como sua Escola Politécnica e o

Departamento de Ciência e Tecnologia dos Materiais (DCTM).

8.2 Científico

A realização deste trabalho irá contribuir com a comunidade científica

voltada ao estudo da corrosibilidade do concreto, assim como da utilização de

materiais pozolânicos como adição a matrizes cimentícias. Será produzida uma

dissertação de mestrado, além de artigos científicos voltados ao tema.

8.3 Tecnológico

Determinação de teores ótimos de adições pozolânicas a matrizes

cimentícias com vista a obter-se melhorias na durabilidade, e

consequentemente na vida útil total das estruturas de concreto armado.

Fortalecimento do uso de técnicas eletroquímicas como parâmetro para

monitoramento de estruturas de concreto armado quanto a estados corrosivos.

8.4 Ambiental

Redução dos impactos ambientais causados por todo o ciclo de

produção e comercialização do cimento, já que o incremento de adições

pozolânicas se faz em substituição a um percentual de sua massa, reduzindo

seu consumo.

Redução dos impactos ambientais causados por atividades industriais

poluidoras, como a queima de biomassa e a produção de ferro-silício, a partir

do uso de resíduos dessas atividades, como cinza voltante e sílica ativa,

respectivamente.

Incremento da vida útil total das estruturas de concreto armado,

adiando intervenções de manutenção e uma possível geração de resíduos,

provenientes de partes de estruturas degradadas.

76

8.5 Social

Redução de gastos com procedimentos de manutenção periódica, visto

que o aumento da durabilidade do concreto acarreta um incremento da sua

vida útil. As estruturas podem ser mais eficientes e, portanto, mais duráveis.

Todos os impactos ambientais afetam direta e/ou indiretamente o bem

estar dos seres humanos.

77

9 CRONOGRAMA