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1 Análise da incidência de filas em um serviço drive-thru de uma empresa de fast-food Leonardo dos Santos Lourenço Bastos (UEPA) [email protected] Matheus Lopes Mendes (UEPA) [email protected] Felipe Barbosa Rodrigues (UEPA) [email protected] Vitor William Batista Martins (UEPA) [email protected] Resumo: O presente artigo analisou a formação de filas em uma empresa multinacional de fast-food, localizada no município de Belém PA, avaliando as frequências de chegada a cada minuto e o tempo de atendimento decorrido da escolha da refeição até o momento de recebimento do produto solicitado. Testaram-se as distribuições de Poisson e Erlang-k para os dados de chegada e os dados de atendimento. Com isso, determinaram-se os parâmetros da fila, os quais foram analisados de acordo com o contexto de filas no estabelecimento. Como forma de análise, verificou-se a taxa de ocupação do servidor, o tempo médio de espera da fila, o tamanho médio da fila, o tempo médio de espera no sistema, o tamanho médio do sistema e a probabilidade do sistema estar vazio a fim de caracterizar o sistema de filas de acordo com o modelo proposto. Como resultados, foi possível identificar um nível considerável da utilização do servidor, entretanto sem sobrecarregamento do mesmo, e um número de clientes em fila a ser observado, uma vez que, um automóvel ocupa espaço considerável no sistema, e o serviço de drive-thru deve proporcionar um atendimento mais rápido possível. Palavras-chave: Teoria de Filas; Distribuição Erlang; drive-thru; fast-food. 1. Introdução Devido à expansão dos sistemas de fast-food no decorrer dessas duas últimas décadas, o impacto em sua demanda intensificou-se. O atual cotidiano das pessoas confere um ritmo acelerado de idas e vindas, o que resulta em tempos mínimos para realização de atividades como a refeição, e que fomentou a expansão da cadeia de fast-food’s pelo mundo. Porém, tal crescimento não foi acompanhado de forma efetiva pelos gestores de tais empreendimentos, sobretudo no contexto dos atendimentos dentro destes estabelecimentos. Grande parte das pessoas sabe o que são filas. Frequentemente, o ser humano vive o desconforto de ficar esperando por um atendimento em um determinado sistema, seja ele em lotéricas, bancos, supermercados, entradas em estacionamento e aeroportos e em diversas outras situações. Entretanto, nem sempre se é sabido por este cliente a verdadeira finalidade deste sistema, a qual está no âmbito gerencial da empresa que lida com a fila. Geralmente a formação de filas acontece quando a procura pelo serviço é maior que a capacidade de atendimento a esta procura (citação). A ocorrência de filas é difícil de ser evitada, uma vez que os processos estão sujeitos à aleatoriedade da demanda. Além disso, a capacidade do sistema é limitada, e sua expansão pode ser muito custosa. Desta forma, a fila pode servir como uma ferramenta de regulação do sistema de atendimento, mas também é

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Análise da incidência de filas em um serviço drive-thru de uma

empresa de fast-food

Leonardo dos Santos Lourenço Bastos (UEPA) – [email protected]

Matheus Lopes Mendes (UEPA) – [email protected]

Felipe Barbosa Rodrigues (UEPA) – [email protected]

Vitor William Batista Martins (UEPA) – [email protected]

Resumo: O presente artigo analisou a formação de filas em uma empresa multinacional de

fast-food, localizada no município de Belém – PA, avaliando as frequências de chegada a

cada minuto e o tempo de atendimento decorrido da escolha da refeição até o momento de

recebimento do produto solicitado. Testaram-se as distribuições de Poisson e Erlang-k para

os dados de chegada e os dados de atendimento. Com isso, determinaram-se os parâmetros

da fila, os quais foram analisados de acordo com o contexto de filas no estabelecimento.

Como forma de análise, verificou-se a taxa de ocupação do servidor, o tempo médio de

espera da fila, o tamanho médio da fila, o tempo médio de espera no sistema, o tamanho

médio do sistema e a probabilidade do sistema estar vazio a fim de caracterizar o sistema de

filas de acordo com o modelo proposto. Como resultados, foi possível identificar um nível

considerável da utilização do servidor, entretanto sem sobrecarregamento do mesmo, e um

número de clientes em fila a ser observado, uma vez que, um automóvel ocupa espaço

considerável no sistema, e o serviço de drive-thru deve proporcionar um atendimento mais

rápido possível.

Palavras-chave: Teoria de Filas; Distribuição Erlang; drive-thru; fast-food.

1. Introdução

Devido à expansão dos sistemas de fast-food no decorrer dessas duas últimas décadas,

o impacto em sua demanda intensificou-se. O atual cotidiano das pessoas confere um ritmo

acelerado de idas e vindas, o que resulta em tempos mínimos para realização de atividades

como a refeição, e que fomentou a expansão da cadeia de fast-food’s pelo mundo. Porém, tal

crescimento não foi acompanhado de forma efetiva pelos gestores de tais empreendimentos,

sobretudo no contexto dos atendimentos dentro destes estabelecimentos.

Grande parte das pessoas sabe o que são filas. Frequentemente, o ser humano vive o

desconforto de ficar esperando por um atendimento em um determinado sistema, seja ele em

lotéricas, bancos, supermercados, entradas em estacionamento e aeroportos e em diversas

outras situações. Entretanto, nem sempre se é sabido por este cliente a verdadeira finalidade

deste sistema, a qual está no âmbito gerencial da empresa que lida com a fila.

Geralmente a formação de filas acontece quando a procura pelo serviço é maior que a

capacidade de atendimento a esta procura (citação). A ocorrência de filas é difícil de ser

evitada, uma vez que os processos estão sujeitos à aleatoriedade da demanda. Além disso, a

capacidade do sistema é limitada, e sua expansão pode ser muito custosa. Desta forma, a fila

pode servir como uma ferramenta de regulação do sistema de atendimento, mas também é

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capaz de gerar custos e insatisfações não planejados para o mesmo.

Com base neste contexto, esta pesquisa tem como objetivo a análise da formação de

filas em um serviço de drive-thru em uma empresa de multinacional de fast-food no

município de Belém – PA. Para isto, realiza-se a análise do tempo de atendimento e espera

quando há formação de filas no sistema, com a aplicação de ferramentas estatísticas para

modelar os processos de chegada e atendimento. Logo, determinam-se os parâmetros de

desempenho da fila estudada os quais auxiliam na tomada de decisão acerca do processo.

2. Referencial Teórico

Abordam-se a seguir o amparo teórico acerca de teoria de filas e do modelo utilizado

nesta pesquisa, assim como a técnica de avaliação efetuada para justificar o uso do modelo

teórico.

2.1 Teoria de Filas

A concepção da Teoria de Formação de Filas é atribuída ao engenheiro dinamarquês

A.K. Erlang pela análise dos painéis de controle telefônico da companhia telefônica

dinamarquesa, onde desenvolveu muitos dos resultados usados nos dias de hoje em dia na

formação de filas (MOORE & WEATHERFORD, 2005).

A Teoria de Filas corresponde à modelagem analítica de processos ou sistemas que

resultam em espera, e tem como objetivo determinar e avaliar quantidades, denominadas de

medidas de desempenho, que expressam a produtividade/operacionalidade desses processos

(FOGLIATTI e MATOS, 2007)

Um sistema de fila é composto por um processo de chegada de recursos aos quais

serão prestados serviços, podendo-se ter um ou mais servidores, e, com isso, ocorre o

processo, o qual pode ou não causa a espera de quem chega. Pode-se dizer que há três

elementos básicos: o processo de chegada, o processo de serviço e a disciplina de

atendimento; e mais três elementos considerados adicionais: número de servidores,

capacidade do sistema e tamanho da população. (ANDRADE, 2009).

Na fila (Figura 1) temos que os clientes surgem de certa população e que formam uma

fila onde aguardam por algum serviço. Realiza-se, então, o atendimento necessário, após o

qual o cliente deixa o sistema de filas (HILLIER E LIEBERMAN, 2010).

FIGURA 1 - Modelo Básico de Filas. Fonte: Adaptado de HILLIER E LIEBERMAN (2010).

Estudar um sistema de filas tem como objetivo entendê-lo e, se possível, melhorá-lo

ao mudar certos parâmetros. A teoria de filas, pela análise matemática detalhada, procura

calcular estes parâmetros que caracterizam a fila, com a intenção de melhor entender o

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comportamento do sistema (GROSS e HARRIS, 1974).

Abordam-se, a seguir, conceituam-se os processos de chegada e atendimento, a

disciplina de atendimento e a capacidade do sistema, os quais determinam características do

modelo de filas a ser abordado.

2.1.1 Processo de Chegada

O processo de chegada é quantificado através da taxa média de chegada em um

determinado intervalo de tempo (λ) e ocorre de maneira aleatória (ARENALES et al, 2007).

Para caracterizar esta aleatoriedade corretamente, um processo de chegada deve dispor de

uma distribuição de probabilidade, tal como uma distribuição normal, Poisson, exponencial

negativa, Erlang, etc., ou também pode ocorrer de forma determinística, na qual a taxa de

chegada é constante.

2.1.2 Processo de Atendimento

O processo de atendimento é quantificado pelo ritmo médio de atendimento (μ) e do

tempo, ou, duração média do serviço (Tempo Médio de Atendimento - TMA). Arenales et al.

(2007) admitem que, em um mesmo momento, atende-se apenas um usuário por servidor; o

processo não varia ao longo do tempo; e não é afetado pelo número presente no sistema.

Pode-se verificar também mais de um servidor no sistema, sendo que esta quantidade é

definida de acordo com o a demanda existente.

2.1.3 Disciplina de Atendimento

Segundo Winston (1994) a disciplina da fila descreve o método usado para determinar

a ordem em que os clientes são selecionados para entrar em serviço. Afirma-se ainda que a

disciplina de fila mais comum é a dos primeiros que chegam são os primeiros a serem

atendidos - First In, First Out – FIFO (WINSTON, 1994). Cardoso et al. (2008) indicam ainda

que a disciplina de filas, além de seguir o modelo FIFO ou PEPS (Primeiro que entra,

Primeiro que sai) ocorre de forma manual.

2.1.4 Capacidade de Atendimento

Todo sistema de fila pode ter sua capacidade caracterizada. Ela corresponde ao

número máximo de usuários que um sistema pode comportar, considerando a fila e o

atendimento (FOGLIATTI e MATTOS, 2007).

Fogliatti e Mattos (2007) ainda incluem que um sistema pode ser considerado como

sendo de capacidade infinita, ou seja, sem limites para a entrada do usuário no sistema e como

sendo de capacidade finita, em que um sistema já lotado não permite a entrada de um usuário

no mesmo

2.1.5 Canais de serviço

Os canais ou postos de serviços são os locais onde são atendidos os clientes. O número

de postos de um sistema pode ser finito ou infinito (FOGLIATTO e MATTOS, 2007). Deste

modo, as estruturas de filas apresentadas podem ser descritas de acordo com o número de

canais (servidores) e as etapas de atendimento realizadas. Verifica-se, a partir da FIGURA 2,

a ocorrência de uma fila com apenas um canal e uma fase (A); canais múltiplos com apenas

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uma fase (B); canal único com fases múltiplas (C); e, por fim, canais e fases múltiplas

(FOGGLIATTO e MATTOS, 2007).

2.2 Notação de Kendall

Prado (1999) declara que em geral, um modelo de filas pode ser descrito pela seguinte

notação: A/B/c/K/m/Z. Esta notação recebe o nome de Notação Kendall, em homenagem ao

seu criador David Kendall, e cada parâmetro é caracterizado da seguinte forma:

A: descreve a natureza da distribuição dos intervalos entre chegadas;

B: descreve a natureza da distribuição do processo de atendimento;

c: correspondo ao número de servidores no sistema;

K: é a capacidade máxima do sistema;

m: é o tamanho da população da qual vem clientes;

Z: é a disciplina de atendimento da fila.

Com baste nestes parâmetros, é possível definir o tipo de fila a ser estudado. Conforme

citado anteriormente, os parâmetros A e B possuem denotações de acordo com as

distribuições dos processos de chegada e atendimento, respectivamente, e, assim, recebe uma

denominação especial na notação de Kendall. Podem ser “M”, em caso de uma distribuição

exponencial negativa, ou Poisson, determinados como processos “Markovianos”; “Ek”, em

caso da presença de uma distribuição de Erlang com parâmetro k; “Hm”, para uma

distribuição geométrica com estágio m; “D” para casos determinísticos; e “G” para denotação

Geral.

Nesta pesquisa, aborda-se o modelo de filas M/Em/1/∞/∞/FIFO, no qual há a presença

de uma distribuição Erlang-k para o processo de atendimento de clientes, juntamente com

distribuição de Poisson no caso das chegadas.

2.2 Modelo M/Ek/1

O modelo de Erlang contém um só servidor, e as chegadas têm distribuição de Poisson

com parâmetro λ e os tempos de serviço ocorrem com uma distribuição de Erlang-k com

parâmetros k e μ (PEREIRA, 2009). Além disso, a notação M/Ek/1 já pressupõe que a

capacidade do sistema e o tamanho da população são considerados infinitos, bem como a

disciplina de atendimento ser a do tipo FIFO. Desta forma, a notação completa se verifica

como M/Em/1/∞/∞/FIFO.

Este tipo de modelo é aplicado no caso em que temos um trabalho que tem de passar,

etapa para etapa, através de uma série de r fases de produção independentes, e cada etapa tem

um tempo com distribuição exponencial com um parâmetro comum μ. A análise do modelo

M/Ek/1 não difere muito da do modelo M/M/1 (PEREIRA, 2009).

Para Hillier e Liebermann (2006), “a distribuição de tempo de serviço exponencial

supõe um grau muito elevado de variabilidade...”, enquanto a função de Erlang gera uma

menor incerteza pelo fato de encontrar-se em um campo intermediário de variação, onde está

localizada a maioria de serviços reais, ou seja, entre a variação zero e a variação da

distribuição exponencial encontrasse a Distribuição de Erlang.

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Para o modelo M/Ek/1, além da determinação dos ritmos de chegada e de atendimento

a partir dos dados, os outros parâmetros podem ser calculados de acordo com as seguintes

fórmulas:

TABELA 1 - Fórmulas para cálculo do parâmetro de filas do modelo M/Ek/1

Fonte: Adaptado de FOGGLIATTO e MATOS (2007).

Como forma de estabelecer as fórmulas citadas, necessita-se confirmar as distribuições

analisadas para os processos de chegada e de atendimento. Realiza-se, portanto, um teste de

aderência, para verificar se os modelos teóricos de distribuições podem representar os dados

reais dos processos destacados.

2.3 Teste de Aderência: Qui-Quadrado

Stevenson (2001), afirma que o uso dos testes de aderência ocorre para a avaliação de

informações sobre a distribuição de dados em uma população. Os processos de chegada e

atendimento de clientes no sistema podem ser ajustados graficamente para a distribuição de

probabilidade, ou por um teste não paramétrico, o teste do Chi-Quadrado (SONCIM et al,

2001).

Montgomery e Runger (2002) descrevem o procedimento formal para a realização do

teste de ajuste de curva baseado na distribuição Qui-Quadrado. Primeiro, calculam-se as

frequências observadas para cada intervalo de classe da distribuição desconhecida, definida

como Oi. A partir do modelo de distribuição teórico, determinam-se as frequências esperadas

para os mesmos intervalos de classe da distribuição de probabilidade dos dados, definidas por

Ei. Após calcular as frequências necessárias, aplica-se a seguinte equação:

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FIGURA 2 - Fórmula do Teste Qui-Quadrado - Valor calculado. Fonte: Montgomery e Runger (2002).

Para que a hipótese da distribuição desconhecida possa descrita pela distribuição

hipotética seja aceita, avalia-se o teste estatístico, definindo-se um valor Qui-Quadrado

teórico (também chamado de “tabelado”), para um nível de confiança α; e k-p-1 graus de

liberdade, no qual k é o número de intervalos de classe e p é o número de parâmetros da

distribuição hipotética. Este valor é comparado ao valor de Qui-Quadrado calculado pela

fórmula citada, e caso seja menor, a hipótese de aderência é aceita.

3. Método de Pesquisa

Pesquisas com o objetivo de descrever características de determinado objeto de estudo,

ou estabelecer relações entre variáveis, podem ser classificadas, pelos seus objetivos, como

descritiva, as quais também são realizadas com fins de atuação prática (GIL, 2002). A partir

de seus procedimentos técnicos, a pesquisa pode ser classificada como Estudo de Caso, no

qual há um estudo exaustivo da questão abordada a fim de estabelecer amplo conhecimento

da mesma (GIL, 2002 apud SILVA; MENEZES, 2005).

A realização desta pesquisa teve como delineamento a resolução da seguinte questão:

Como se caracteriza uma fila em um processo de drive-thru? Logo, objetivou-se a

caracterização da fila, ou seja, analisar seus dados de entrada do ponto de vista da Teoria de

Filas e calcular seus parâmetros para a tomada de decisão. As etapas da pesquisa podem ser

verificadas na FIGURA 3 abaixo.

FIGURA 3 – Etapas de Pesquisa. Fonte: Autores (2015).

Em um primeiro momento, realizou-se uma revisão bibliográfica a respeito das

técnicas referentes à análise dos processos de chegada e atendimento em filas. Com isso,

realizou-se a coleta de dados correspondentes a estes processos na empresa, e verificaram-se

as técnicas estatísticas para classificação e análise dos dados.

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1

( )i i

i

k

i

O E

E

7

A coleta de dados foi feita com o objetivo de reunir informações à respeito da chegada

dos veículos no sistema (pista de drive-thru) e do processo de atendimento dos elementos.

Para a primeira, ocorreram medições de chegadas de veículos a cada minuto, em um total de

90 minutos. Para o atendimento, foram cronometrados os tempos em que os veículos eram

atendidos no local, considerado o tempo total de um conjunto de atendimentos.

Posteriormente, com os dados já obtidos, os mesmos foram classificados e tabelados

para que se pudesse fazer inferências e obter dados estatísticos que são utilizados na etapa

seguinte, tais como as frequências e médias. Entretanto, os dados obtidos seguiram para

tratamento estatístico a fim de que se fosse determinada uma distribuição de probabilidade

para cada situação (chegada e atendimento) para que se pudesse calcular os efetivos

parâmetros da fila.

O teste de aderência utilizado foi o qui-quadrado, visto que a amostra foi

consideravelmente grande, e o teste foi feito com a ajuda do módulo StatFit, do programa de

simulação Promodel, já que ele é capaz de indicar e testar distribuições de probabilidades

mais próximas do conjunto de dados reais (LEAL e ALMEIDA, 2003). Para o teste de

aderência, consideram-se sa hipóteses nulas de que os dados realmente seguem as

distribuições propostas. Logo, se o dado teórico for maior que o dado da distribuição Qui-

Quadrado obtido pelas informações observadas, a hipótese nula não é rejeitada.

Para este teste de aderência, consideraram-se as hipóteses de uma distribuição Poisson

para os dados de chegada de veículos visto que a frequência de chegada segue uma

distribuição discreta de probabilidade, e uma distribuição Erlang para os dados de

atendimento, já que estes tempo são considerados em uma distribuição contínua de

probabilidade. Ressalta-se que, para ambos os testes, fixou-se um nível de confiança em 95%.

Para o teste dos dados de chegada, o valor de Qui-quadrado teórico levou em consideração

dois graus de liberdade, referentes à distribuição de Poisson. Para os tempos de atendimento,

consideraram-se cinco graus de liberdade, a partir das classes das distribuições contínuas.

Por fim, com a validação das distribuições de probabilidade para os processos de

chegada e de atendimento, os parâmetros da fila são devidamente calculados. Logo, a fila

pode ser devidamente caracterizada e seus valores utilizados para tomadas de decisão.

3.1 Estudo de Caso

Esta pesquisa teve como plano de estudo uma empresa especializada em lanches do

tipo fast-food. Ela se localiza no centro da cidade de Belém, e atende à população local

oferecendo serviços internos, dentro do seu estabelecimento comercial, com estacionamento

para clientes; e também serviços de drive-thru, no qual o cliente é atendido dentro de seu

veículo, na área externa do local.

A análise foi feita no serviço de drive-thru, no período noturno, considerado de maior

pico durante a semana, pela própria empresa, e justificado pelo horário de tempo livre dos

clientes. O serviço abordado é composto pela entrada de veículos, um por um, no qual o

cliente é atendido, em um primeiro momento, para realização do pedido e pagamento, e, em

seguida, em outro caixa, realiza-se o recebimento do lanche. Os servidores são compostos por

atendentes do próprio estabelecimento.

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5. Análise e Discussão dos Resultados

5.1 Processo de Chegada e de Atendimento de Veículos

Os dados coletados para o processo de chegada de veículos a cada minuto no tempo

total consierado foi separado em uma tabela e classificado de acordo com a TABELA 2

abaixo. Nota-se que, apesar do horário em que a coleta de dados foi realizada ser

caracterizado pelo alto movimento, a não chegada de veículos obteve uma maior frequência

entre os dados. Porém, também se verifica a maior presença de carros por minuto é de um.

TABELA 2 – Dados de Frequências de Chegada

Análise de Chegadas

Chegadas Frequências

Observadas

Frequências

Relativas

Número de

Chegadas

0 47 0,52 0

1 24 0,27 24

2 11 0,12 22

3 6 0,07 18

4 2 0,02 8

Total 90 1 72

Fonte: Autores (2015).

Com base nas informações de frequência observdas abordadas na TABELA 2, as

discussões anteriormente citadas podem ser verificadas no gráfico de histogramas da

distribuição dos dados na FIGURA 4 abaixo.

FIGURA 4 – Distribuição dos Dados de Chegada. Fonte: Autores (2015).

A partir do gráfico, pode-se notar que o comportamento dos dados de chegada é

condizente com a distribuição de Poisson, visto que também foi utilizada uma abordagem

discreta para o processo de chegadas. Ainda é observável que a quantidade “zero” de carros

por minuto foi presente em praticamente metade de todos os dados observados.

Com uma análise análoga, os dados de tempos de atendimento dos veículos também

foi tabelado com a finalidade de obter informações estatísticas à respeito do processo de

atendimento. Estas informações seguem a TABELA 3 abaixo.

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TABELA 3 – Dados de Tempos de Atendimento

Análise dos Tempos de Atendimento (em segundos)

Classe Intervalos Pontos

Centrais

Frequência

Observada

Frequência

Relativa

1 0 17 8,5 0 0

2 17 35,47 26,24 10 0,1389

3 35,47 53,94 44,71 23 0,3194

4 53,94 72,42 63,18 14 0,1944

5 72,42 90,89 81,65 13 0,1806

6 90,89 109,36 100,12 6 0,0833

7 109,36 127,83 118,59 6 0,0833

Total 72 1

Média 63,17925 -

Fonte: Autores (2015).

De acordo com as informações na TABELA 3, é possível observar que os tempos de

atendimento se concentram mais na classe de número 3, com tempos de atendimento entre

aproximadamente 35 e 53 segundos. Como o serviço de drive-thru tem um objetivo de ser um

serviço rápido, pode-se determinar que os tempos totais mais frequêntes são considerados

plausíveis para satisfação do cliente em um horário sendo considerado de grande movimento.

Estas informações foram também colocadas em um gráfico a fim de observar o

comportamento dos dados de tempos de atendimento. Segue-se portanto, a FIGURA 5 com o

gráfico dos dados de atendimento em segundos.

FIGURA 5 – Distribuição dos Dados de Chegada. Fonte: Autores (2015).

Conforme anteriormente mencionado, os dados possuem maior concentração ao redor

da classe 2, a qual confere maior frequência relativa e observada dos dados, com quase 30%

dos dados totais. O gráfico também mostra que o serviço atual de drive-thru estudado obteve

poucas demoras no atendimento, visto que o a frequência relativa dos tempos mais longos se

observa baixa em relação às outras

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Apesar das distribuições dos dados observados serem capazes de determinar dados

estatísticos e oferecer inferências estatísticas a respeito do comportamento da fila, é

necessario realizar os testes de aderências destes dados de chegada e atendimento à

distribuições já conhecidas.

5.2 Aplicações do Teste Qui-Quadrado

Com o uso do StatFit, realizaram-se os testes de Qui-quadrado para estabelecer a

aderência das distribuições hipotéticas com os dados coletados a fim de relacionar o modelo

real com um dos modelos de fila já padronizados. A TABELA 4 a seguir mostra os resultados

dos testes de aderência para os dados de chegada e de atendimento.

TABELA 4 – Dados de Tempos de Atendimento

Teste de Qui-Quadrado - Chegadas

Distribuição Poisson

χ² calculado 3,41

χ² tabelado (0,95;2) 5,99

Parâmetro "λ" 0,8

Teste de Qui-Quadrado - Tempos de Atendimento

Distribuições Erlang Exponencial

χ² calculado 1,67 47,2

χ² tabelado (0,95;5) 11,1 11,1

Coeficiente "k" 5 -

Parâmetro "TMA" 12,57 62,85

Fonte: Autores (2015).

Para os dados de chegada, conforme anteriormente constatado pelos gráficos, o teste

confirmou a representação para a distribuição de Poisson. Logo, seguindo-se o parâmetro

desta distribuição, a taxa determinada foi de 0,8 carros/min, o que resulta numa taxa de

veículos que chegam de 0,013 carros/segundo.

No caso dos tempos de atendimento, o teste de aderência mostrou que os dados

observados têm mais afinidade com a distribuição de Erlang em relação à usual distribuição

Exponencial. Logo, a confirmação para a primeira distribuição resultou no cálculo do

parâmetro de Tempo Médio de Atendimento (TMA) igual a 12,57 segundos, o que resulta em

uma taxa de veículos atendidos de 0,080 carros/segundo.

5.2 Determinação dos Parâmetros

A partir destes dados, determinaram-se os parâmetros do modelo de filas abordado

para caracterização do modelo real. Ressalta-se que, como a distribuição hipotética de tempos

de atendimento foi a de Erlang-5, a média destes tempos, para calculo do ritmo médio de

atendimento foi o valor estabelecido pela própria distribuição, assim como o ritmo médio de

chegada correspondeu ao parâmetro “λ” da distribuição de Poisson estabelecida.

Com base disto, aplicaram-se as equações abordadas para o modelo de filas M/Ek/1 a

fim de obter os valores de ritmo médio de chegada, ritmo médio de atendimento, e os

parâmetros de caracterização do comportamento da fila, pelo modelo (TABELA 5):

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TABELA 5 – Dados de Tempos de Atendimento

Parâmetros da Fila - M/Ek/1

λ 0,013 clientes/segundo

μ 0,080 clientes/segundo

k 5 (Parâmetro Erlang)

ρ 81,76%

TF 169,13 segundos

NF 2,20 clientes

TS 181,71 segundos

NS 2,36 clientes

P0 18,24%

Fonte: Autores (2015).

Com os parâmetros obtidos de taxa de chegada e de atendimento, pode-se obsverar

que o segundo é maior que o primeiro, logo há a formação de filas para o período de tempo

em que se realizou esta pesquisa. Para a formação de filas, observa-se ainda que o sistema

apresenta uma taxa de ocupação um pouco maior que 80%, o que pode-se inferir que o

sistema de atendimento não está sobrecarregado, o que caracteriza que o horário possui

certamente um movimento considerável de veículos no sistema, mas não gera uma sobrecarga

no trabalho do atendimento.

A respeito do tamanho da fila e dos carros totais no sistema, eles são bem próximos e

se matêm dentro do layout do sistema. Entrentato, quando se verificam os tempos de espera

na fila e no sistema, são tempos consideravelmente adequados para o serviço considerado,

mas também eles podem sofrer interferências dos pedidos realizados dentro do

estabelecimento, os quais podem atrasar, caso o período de pico também seja no serviço no

interior do estabelecimento.

6. Conclusões

Verifica-se que o estudo a respeito da formação de filas em um serviço de drive-thru

garante o entendimento de como o mesmo é organizado e se ele está apropriado para a reação

dos clientes. Neste estudo, considerando-se os dados de chegada e de atendimento, observa-se

que há a formação de filas para o horário noturno estudado. Entretanto, é uma fila que pode

ser considerada aceitável para a capacidade do arranjo físico do sistema.

O estudo da formação de filas compreendeu que os dados de frequência de chegada e

os dados de tempos de atendimento seguem as distribuições de Erlang e distribuição de

Poisson, respectivamente. Especificamente para o segundo, a distribuição de Erlang também

se caracterizou pela junção dos tempos de atendimento dos postos de atendimento,

considerando um tempo total, visto que, como característica da própria distribuição, ela é uma

junção de distribuições exponenciais. Isto caracterizou, portanto, o modelo M/Ek/1 para a fila

estudada no contexto abordado.

A taxa de ocupação do servidor, com valor de 81,76%, demonstra que o servidor, de

modo geral, não está sobrecarregado, porém, há um atendimento considerado quase constante

dos veículos que entram no sistema. Além disso, o tempo médio de espera da fila de 169,13

segundos (aproximadamente 2,80 minutos), o qual, apesar de relativamente mediano,

demonstra que o período estudado possui um tempo razoável para o serviço.

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Destaca-se também que o tamanho médio da fila foi de 2,20 clientes, sendo,

aproximadamente, dois veículos esperando o serviço, o qual se adequa ao arranjo físico do

sistema, e evita com que a fila acabe obstruindo outros caminhos como as ruas e calçadas.

Desta forma, para a melhoria do serviço de drive-thru pode-se considerar a diminuição

do tempo de fabricação do produto, o que reduziria ainda mais o tempo de espera na fila,

através de melhorias e organização do processo. Seria interessante também uma modelagem

que considerasse individualmente os postos de atendimento para melhor entendimento da

formação de filas no local. Além disso, o trabalho de atendimento aos clientes no interior do

estabelecimento também pode ser estudado a fim de perceber como é organizada a fabricação

de pedidos internos e para o drive-thru.

Referências

ANDRADE, E. L. Introdução à Pesquisa Operacional. São Paulo: Editora LTC, 4ª. Ed., 2009.

ARENALES, M.; ARMETANO, V. A.; MORABITO, R.; YANASSE, H. H. Pesquisa operacional: para cursos

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