análise da causa raiz de incidentes relacionados à segurança do

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO THALYTA CARDOSO ALUX TEIXEIRA Análise de causa raiz de incidentes relacionados à segurança do paciente na assistência de enfermagem em unidades de internação, de um hospital privado, no interior do Estado de São Paulo Ribeirão Preto 2012

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRO PRETO

    THALYTA CARDOSO ALUX TEIXEIRA

    Anlise de causa raiz de incidentes relacionados segurana do

    paciente na assistncia de enfermagem em unidades de internao, de

    um hospital privado, no interior do Estado de So Paulo

    Ribeiro Preto

    2012

  • Thalyta Cardoso Alux Teixeira

    Anlise de causa raiz de incidentes relacionados segurana do

    paciente na assistncia de enfermagem em unidades de internao, de

    um hospital privado, no interior do Estado de So Paulo

    Tese apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Enfermagem junto ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem Fundamental. rea de concentrao: Enfermagem Fundamental Linha de Pesquisa: Fundamentao terica, metodolgica e tecnolgica do processo de cuidar em Enfermagem. Orientadora: Profa. Dra. Silvia Helena De Bortoli Cassiani

    Ribeiro Preto

    2012

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE

    TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA

    FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    FICHA CATALOGRFICA

    Teixeira, Thalyta Cardoso Alux Teixeira Anlise de causa raiz de incidentes relacionados

    segurana do paciente na assistncia de enfermagem em unidades de internao, de um hospital privado, no interior do Estado de So Paulo. Ribeiro Preto, 2012.

    236 p.: il.; 30 cm Tese (Doutorado) Universidade de So Paulo. Escola

    de Enfermagem de Ribeiro Preto, 2012. rea de concentrao: Enfermagem.

    Orientadora: Cassiani, Silvia Helena De Bortoli

    1. Enfermagem. 2. Qualidade da Assistncia Sade. 3. Segurana do Paciente. 4. Gerenciamento de Segurana. 5. Acidentes por Quedas. 6. Erros de Medicao.

  • FOLHA DE APROVAO TEIXEIRA, Thalyta Cardoso Alux

    Anlise de causa raiz de incidentes relacionados segurana do paciente na assistncia de enfermagem em unidades de internao, de um hospital privado, no interior do Estado de So Paulo

    Tese apresentada Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Enfermagem junto ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem Fundamental. rea de concentrao: Enfermagem Fundamental

    Aprovado em: _____/_____/_____

    Banca examinadora

    Prof. Dr._____________________________ Instituio: ______________________

    Julgamento __________________________ Assinatura: _____________________

    Prof. Dr._____________________________ Instituio: ______________________

    Julgamento __________________________ Assinatura: _____________________

    Prof. Dr._____________________________ Instituio: ______________________

    Julgamento __________________________ Assinatura: _____________________

    Prof. Dr._____________________________ Instituio: ______________________

    Julgamento __________________________ Assinatura: _____________________

    Prof. Dr._____________________________ Instituio: ______________________

    Julgamento __________________________ Assinatura: _____________________

  • DEDICATRIA

    Aos meus pais, Ricardo e Mrcia, que me apoiaram e me ajudaram a

    tomar decises e estiveram ao meu lado tanto nos momentos difceis

    quanto bons. Sempre sero exemplos de dedicao, respeito, dignidade

    e fora. So tudo para mim!

    Se hoje cheguei a esta vitria, foi porque vocs me possibilitaram isto.

    Ao meu namorado, Daniel, pela compreenso, pelo apoio, pela

    amizade e pelo companheirismo que, em muitos momentos,

    demonstrou-me o seu amor participando comigo nesta jornada de

    conhecimento.

    A minha irm Thamires, que esteve ao meu lado por vrios anos, que

    me fez companhia a muitas idas a Ribeiro Preto, minha companheira

    e minha amiga.

  • Agradecimentos

    A Deus, por ter me dado fora para enfrentar os momentos difceis e

    no ter me deixado desistir, apesar dos obstculos enfrentados.

    Profa. Dra. Silvia Helena De Bortoli Cassiani, pelos ensinamentos

    compartilhados ao longo desses anos, ensinando-me a ser enfermeira,

    pesquisadora, professora e alm de tudo isto, pelo seu profissionalismo

    e por batalhar por seus objetivos. Voc merece tudo o que j conquistou

    e exemplo para muitos alunos.

    Ao meu irmo Rodrigo e a todos os amigos que me incentivaram nesta

    caminhada.

    Em especial, as minhas amigas, Dbora e Vanessa, pela amizade,

    conversas, dicas e ajuda na coleta de dados.

    A minha amiga e gerente Silvia que me ajudou ajustando minha

    escala de trabalho nas idas a Ribeiro Preto durante esses quatro anos

    do doutorado e com conversas que fortaleceram o meu trabalho como

    enfermeira.

    A Thais, por possibilitar e apoiar a realizao deste estudo e a Aline,

    pelas conversas e ajuda nesta trajetria.

    As minhas amigas, Ana Elisa Bauer de Camargo e Silva, Fernanda

    Gimenes, Adraiana Miasso e Simone Optiz pelas sugestes e

    contribuies neste trabalho.

  • A grande amiga Simone Ferreira por todos os anos de convivncia e

    amizade verdadeira, que sempre me ajudou, principalmente nos

    momentos mais decisivos para a concluso deste trabalho.

    Para no me esquecer de dizer o nome de cada funcionrio do hospital

    em estudo, desde a equipe da higiene, copa, enfermagem, farmcia,

    mdica, at os diretores deste hospital e principalmente aqueles que se

    uniram a mim durante a realizao do estudo, buscando melhorias

    para a segurana dos pacientes.

    E a todos os funcionrios da EERP-USP que, de alguma maneira,

    possibilitaram o meu crescimento profissional desde a graduao,

    mestrado e agora no doutorado, na construo do conhecimento sobre

    qualidade e segurana do paciente.

    Sem vocs eu no conseguiria chegar aonde cheguei... Ao fim de mais

    uma conquista.

    Muito obrigada!

  • Nada suficientemente bom. Ento vamos fazer o que certo, dedicar

    o melhor de nossos esforos para atingir o inatingvel, desenvolver ao

    mximo os dons que Deus nos concedeu, e nunca parar de aprender.

    BEETOVEN

  • RESUMO

    Teixeira, T.C.A. Anlise de causa raiz de incidentes relacionados segurana do paciente na assistncia de enfermagem em unidades de internao, de um hospital privado, no interior do Estado de So Paulo. 2012. 236f. Tese (Doutorado) - Programa de Ps-Graduao em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. Ribeiro Preto, 2012.

    Atualmente a maioria das instituies vem buscando a qualidade da assistncia, a segurana dos pacientes e o gerenciamento de riscos nos servios de sade, a fim de proporcionarem uma assistncia livre de riscos e danos, o que pressupe que incidentes sejam analisados para prevenir sua ocorrncia. Trata-se de um estudo do tipo exploratrio, cujo objetivo foi analisar dois tipos de incidentes relacionados segurana do paciente, na assistncia de enfermagem, que foram notificados em um hospital geral e privado, do interior do Estado de So Paulo, no perodo de janeiro a maro de 2012, por meio da metodologia da Anlise de Causa Raiz. Dessa forma, o universo em estudo foi constitudo por 62 incidentes relacionados segurana do paciente, sendo 11 quedas e 51 erros de medicao notificados. A pesquisa foi realizada em duas fases, sendo que, na primeira fase, os dados dos formulrios de notificao e dos pronturios dos pacientes foram transcritos para o instrumento de coleta de dados. Na segunda fase, incidentes relacionados segurana dos pacientes e que causaram danos, em relao s quedas, ou que tinham potenciais, no caso dos erros de medicao, foram submetidos a essa anlise. Assim, 82,3% dos incidentes notificados foram erros de medicao, e 17,7% foram quedas. A maioria dos incidentes ocorreu nas alas de internao, e a equipe de enfermagem se envolveu em 78,5% dos incidentes. Os erros de omisso (31,5%), de horrio (22,2%), de tcnica de administrao (14,8%) e de dose (14,8%) foram os principais tipos de erros de medicao ocorridos. O custo das quedas foi R$ 91,88 e dos erros de medicao foi R$ 1.188,43. Os eletrlitos, antimicrobianos e analgsicos foram os principais medicamentos envolvidos nos erros de medicao. Com relao aos fatores causais das quedas analisadas, 25,7% foram relacionadas categoria paciente, 22,9%, equipe, 17,1%, ao ambiente, 14,3%, tarefa, 11,4%, ao indivduo e 8,6%, gesto. Um total de 83 causas contribuiu com a ocorrncia dos erros de medicao, sendo que a categoria gesto contribuiu com 32,6% dos erros, indivduo com 21,7%, equipe com 19,3%, ambiente com 12,0%, tarefa com 9,6% e paciente com 4,8%. Posteriormente, recomendaes para evitar a ocorrncia desses incidentes na instituio, focando as melhores prticas, foram propostas. Descritores: Enfermagem. Qualidade da Assistncia Sade. Segurana do Paciente. Gerenciamento de Segurana. Acidentes por Quedas. Erros de Medicao.

  • ABSTRACT

    Teixeira, T.C.A. Root cause analysis of incidents related to patient safety in nursing care in inpatient units, a private hospital in the State of So Paulo. 2012. 236p. Dissertation (Doctoral Program) Graduate Program in Fundamental Nursing of the University of So Paulo at Ribeiro Preto College of Nursing. Ribeiro Preto, 2012.

    Presently, most institutions have sought care-provision quality, patient safety and risk management in health care services so as to provide risk- and damage-free caregiving, which presupposes that incidents should be analyzed in order to prevent their occurrence. This is an exploratory study the objective of which was to analyze two types of patient-safety-related incidents occurring during nursing care at a general private hospital in So Paulo state from January to March 2012 by means of the Root Cause Analysis Methodology. Hence, the universe under study consisted of 62 patient-safety-related incidents, of which 11 were falls and 51 were reported medication errors. The study was conducted in two phases, and in the first phase, the data on report forms and on patients medical records were transcribed to the data collection instrument. In the second phase, the patient-safety-related incidents that caused harm in relation to falls or those that were potentially harmful in the case of medication errors were analyzed. Hence, 82.3% of the reported incidents were medication errors, and 17.7% were falls. Most of the incidents occurred in the hospitalization wards, and the nursing staff was involved in 78.5% of the incidents. Omission (31.5%), time (22.2%) administration-technique (14.8%) and dose (14.8%) errors were the major medication-error types that occurred. The cost of falls was R$ 91,88 (USD 44.15), and that of medication errors was R$ 1.188,43 (USD 571.06). Antimicrobial electrolytes and analgesics were the main medicines involved in medication errors. As regards the causal factors of the analyzed falls, 25.7% were related to the patient category, 22.9% to the team, 17.1% to the environment, 14.3% to the task, 11.4% to the individual and 8.6% to management. A total of 83 causes contributed to medication-error occurrence, and the management category contributed with 32.6% of the errors. The individual category contributed with 21.7%, the team with 19.3%, the environment with 12.0%, task with 9.6% and patient with 4.8%. Later, recommendations to prevent the occurrence of these incidents in the institution were proposed with a focus on best practices. Key words: Nursing. Quality of Health Care. Patient Safety. Safety Management. Accidental Falls. Medication Errors.

  • RESUMEN

    Teixeira, T.C.A. Anlisis de causa raz de incidentes relacionados con la seguridad del paciente en la atencin de enfermera en las unidades de hospitalizacin, un hospital privado del Estado de So Paulo. 2012. 236f. Tesis (Doctorado) - Programa de Pos-Graduacin en Enfermera Fundamental de la Escuela de Enfermera de Ribeiro Preto de la Universidad de So Paulo. Ribeiro Preto, 2012.

    Actualmente la mayora de las instituciones busca la calidad de la atencin, la seguridad de los pacientes y la gestin de riesgos en los servicios de salud, con el fin de proporcionar una atencin libre de riesgos y daos, lo que presupone que incidentes sean analizados para prevenir su ocurrencia. Se trata de un estudio del tipo exploratorio, cuyo objetivo ha sido analizar dos tipos de incidentes relacionados con la seguridad del paciente, en la atencin de enfermera, que fueron notificados en un hospital general y privado del interior del Estado de So Paulo entre los perodos de enero a marzo de 2012, por medio de la metodologa del Anlisis de Causa Raz. De esa forma, el universo en estudio fue constituido por 62 incidentes relacionados con la seguridad del paciente, siendo 11 cadas y 51 errores de medicacin notificados. La investigacin fue realizada en dos etapas, siendo que, en la primera etapa, los datos de los formularios de notificacin y de las fichas de los pacientes fueron transcritos para el instrumento de recopilacin de datos. En la segunda etapa, incidentes relacionados con la seguridad de los pacientes y que causaron daos, en relacin a las cadas, o que tenan riesgo potencial, en el caso de los errores de medicacin, fueron sometidos a ese anlisis. As, 82,3% de los incidentes notificados fueron errores de medicacin, y 17,7% fueron cadas. La mayora de los incidentes ocurri en las salas de internacin, y el equipo de enfermera se involucr en el 78,5% de los incidentes. Los errores de omisin (31,5%), de horario (22,2%), de tcnica de administracin (14,8%) y de dosis (14,8%) fueron los principales tipos de errores de medicacin ocurridos. El costo de las cadas fue de R$ 91,88 y el de errores de medicacin fue de R$ 1.188,43. Los electrlitos, antimicrobianos y analgsicos fueron los principales medicamentos involucrados en los errores de medicacin. Con relacin a los factores causales de las cadas analizadas, 25,7% fueron relacionadas a la categora paciente, 22,9% al equipo, 17,1% al ambiente, 14,3% a la tarea, 11,4% al individuo y 8,6% a la gestin. Un total de 83 causas contribuy con la ocurrencia de los errores de medicacin, siendo que la categora gestin contribuy con 32,6% de los errores, individuo con 21,7%, equipo con 19,3%, ambiente con 12,0%, tarea con 9,6% y paciente con 4,8%. Posteriormente, fueron propuestas recomendaciones para evitar la ocurrencia de incidentes en este tipo de institucin, centrndose en mejores prcticas. Descriptores: Enfermera. Calidad de la Atencin de Salud. Seguridad del Paciente. Administracin de la Seguridad. Accidentes por Cadas. Errores de Medicacin.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Aspectos do gerenciamento de risco .................................................

    37

    Figura 2 - Modelo do desenho dos fatores causais ..........................................

    62

    Figura 3 - Diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe ou causa e efeito ..........

    63

    Figura 4 - Fluxograma do processo de medicao do hospital em estudo ........

    73

    Figura 5 - Desenho dos fatores causais do incidente 1 .....................................

    97

    Figura 6 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 1 ........................................................................................

    98

    Figura 7 - Desenho dos fatores causais do incidente 2 ......................................

    100

    Figura 8 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 2 ........................................................................................

    101

    Figura 9 - Desenho dos fatores causais do incidente 4 ......................................

    103

    Figura 10 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 4 ........................................................................................

    104

    Figura 11 - Desenho dos fatores causais do incidente 9 ....................................

    106

    Figura 12 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente ..........................................................................................

    107

    Figura 13 - Desenho dos fatores causais do incidente 10 ..................................

    109

    Figura 14 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 10 ......................................................................................

    110

    Figura 15 - Desenho dos fatores causais do evento 1 .......................................

    114

    Figura 16 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 12 ......................................................................................

    114

    Figura 17 - Desenho dos fatores causais do incidente 14 ..................................

    117

    Figura 18 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 14 ......................................................................................

    118

    Figura 19 - Desenho dos fatores causais do incidente 23 ..................................

    119

    Figura 20 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 23 ......................................................................................

    120

  • Figura 21 - Desenho dos fatores causais do incidente 26 ..................................

    123

    Figura 22 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 26 ......................................................................................

    123

    Figura 23 - Desenho dos fatores causais do incidente 33 .......................................

    126

    Figura 24 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 33 ......................................................................................

    126

    Figura 25 - Desenho dos fatores causais do incidente 34 ..................................

    129

    Figura 26 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 34 ......................................................................................

    129

    Figura 27 - Desenho dos fatores causais do incidente 41 .................................

    132

    Figura 28 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 41 ......................................................................................

    133

    Figura 29 - Desenho dos fatores causais do incidente 43 ..................................

    135

    Figura 30 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 43 ......................................................................................

    136

    Figura 31 - Desenho dos fatores causais do incidente 46 ..................................

    138

    Figura 32 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 4 ........................................................................................

    138

    Figura 33 - Desenho dos fatores causais do incidente 47 ..................................

    141

    Figura 34 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 47 ......................................................................................

    141

    Figura 35 - Desenho dos fatores causais do incidente 51 ..................................

    144

    Figura 36 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 51 ......................................................................................

    145

    Figura 37 - Desenho dos fatores causais do incidente 52 ..................................

    147

    Figura 38 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 52 ......................................................................................

    147

    Figura 39 - Desenho dos fatores causais do incidente 53 ..................................

    150

    Figura 40 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 53 ......................................................................................

    150

  • Figura 41 - Desenho dos fatores causais do incidente 59 ..................................

    152

    Figura 42 - Identificao dos fatores causais por meio do diagrama de causa e efeito do incidente 59 ...................................................................................... Figura 43 - Diagrama de Pareto das quedas analisadas .................................. Figura 44 - Diagrama de Pareto dos erros de medicao analisados ...............

    153 178 187

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio dos participantes das equipes de Anlise de Causa Raiz em relao s reunies realizadas .........................................................

    80

    Tabela 2 - Distribuio do nmero de reunies realizadas em relao aos meses e tempo de durao. Campinas, 2012 ................................................

    84

    Tabela 3 - Distribuio dos tipos de incidentes relacionados segurana do paciente, segundo o local de ocorrncia. Campinas, 2012 ........................

    90

    Tabela 4 - Distribuio das categorias profissionais envolvidas nos incidentes relacionados segurana do paciente. Campinas, 2012 ..............

    91

    Tabela 5 - Distribuio dos incidentes relacionados segurana do paciente, segundo a faixa etria dos pacientes envolvidos nas ocorrncias. Campinas, 2012 ..............................................................................................

    91

    Tabela 6 - Distribuio dos tipos de quedas ocorridas. Campinas, 2012 .......

    92

    Tabela 7 - Distribuio dos erros de medicao, segundo o tipo de erro. Campinas, 2012 ..............................................................................................

    93

    Tabela 8 - Distribuio dos medicamentos envolvidos nos incidentes, segundo a classe farmacolgica. Campinas, 2012 .........................................

    94

    Tabela 9 - Distribuio das categorias de fatores causais relacionadas s quedas. Campinas, 2012 ................................................................................ Tabela 10- Causas dos erros de medicao em relao s categorias de fatores causais. Campinas, 2012 ....................................................................

    111 154

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Gerenciamento de risco versus segurana do paciente ................

    36

    Quadro 2 - Tipos de erros de medicao relacionados ao preparo e administrao de medicamentos .....................................................................

    49

    Quadro 3 - Fatores causais que influenciam a prtica clnica .........................

    50

    Quadro 4 - Medicamentos potencialmente perigosos .....................................

    52

    Quadro 5 - Definio dos elementos do desenho dos fatores causais ............

    61

    Quadro 6 - Desenvolvimento das reunies com a equipe de Anlise de Causa Raiz que analisou as quedas e os erros de medicao .......................

    81

    Quadro 7 - Descrio dos incidentes relacionados s quedas ........................

    222

    Quadro 8 - Descrio dos incidentes relacionados aos erros de omisso ......

    223

    Quadro 9 - Descrio dos incidentes relacionados aos erros de horrio ........

    226

    Quadro 10 - Descrio dos incidentes relacionados aos erros de tcnica de administrao ..................................................................................................

    228

    Quadro 11 - Descrio dos incidentes relacionados aos erros de tcnica de administrao e omisso .................................................................................

    229

    Quadro 12 - Descrio dos incidentes relacionados aos erros de dose ..........

    230

    Quadro 13 - Descrio do incidente envolvido no erro de tcnica e dose .......

    231

    Quadro 14 - Descrio dos incidentes envolvidos nos erros de dose extra ....

    232

    Quadro 15 - Descrio dos incidentes relacionados aos medicamentos administrados e no autorizados pelo mdico ................................................

    233

    Quadro 16 - Descrio do incidente relacionado ao erro de via de administrao ..................................................................................................

    234

    Quadro 17 - Descrio dos elementos e a representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 1 .............

    96

    Quadro 18 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 2 .............

    99

    Quadro 19 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 4 .............

    102

  • Quadro 20 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 9 .............

    105

    Quadro 21 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 10 ...........

    108

    Quadro 22 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 12 ...........

    113

    Quadro 23 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 14 ...........

    116

    Quadro 24 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 23 ...........

    119

    Quadro 25 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 26 ...........

    122

    Quadro 26 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 33 ...........

    125

    Quadro 27 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 34 ...........

    128

    Quadro 28 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 41 ...........

    131

    Quadro 29 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 43 ...........

    134

    Quadro 30 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente ................

    137

    Quadro 31 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 47 ...........

    140

    Quadro 32 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 51 ...........

    143

    Quadro 33 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 52 ...........

    146

    Quadro 34 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 53 ...........

    149

    Quadro 35 - Descrio dos elementos e representao simblica dos eventos e condies no desenho dos fatores causais do incidente 59 ...........

    152

    Quadro 36 - Recomendaes realizadas pela equipe de Anlise de Causa Raiz para a preveno de quedas na instituio .............................................

    180

  • Quadro 37 - Apresentao de estratgias para preveno de quedas em pacientes idosos nos hospitais ........................................................................ Quadro 38- Recomendaes propostas pela equipe de Anlise de Causa Raiz para evitar a ocorrncia dos erros de medicao na instituio ..............

    186 188

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Associao Brasileira de normas Tcnicas _____________________________ ABNT

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria ____________________________ ANVISA

    Agency for Healthcare Research and Quality __________________________ AHRQ

    American Medical Association _______________________________________ AMA

    American Nurses Association ________________________________________ ANA

    American Society of Healthy-System Pharmacists ______________________ ASHP

    American Society of Quality Control _________________________________ ASQC

    Ampola _________________________________________________________ AMP

    Anlise da rvore de Falhas _________________________________________ FTA

    Anlise de risco de processo ______________________________________ HAZOP

    Associao Paulista de Medicina ____________________________________ APM

    Bomba de Infuso ___________________________________________________ BI

    Canadian Patient Safety Institute ____________________________________ CPSI

    Centers for Disease Control_________________________________________ CDC

    Compromisso com a Qualidade Hospitalar _____________________________ CQH

    Comit de tica em Pesquisa ________________________________________ CEP

    Conselho Regional de Enfermagem ________________________________ COREN

    Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo ____________ CREMESP

    Cloreto de Potssio ________________________________________________ KCl

    Cloreto de Sdio _________________________________________________ NaCl

    Decilitro __________________________________________________________ DL

    Equipamentos de proteo individual __________________________________ EPI

    Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto ____________________________ EERP

    Estados Unidos da Amrica _________________________________________ EUA

    Harvard Medical Practice ___________________________________________ HMP

    Hora ______________________________________________________________ H

    Instituto de Medicina Americano ______________________________________ IOM

    Instituto para Prticas Seguras no uso de Medicamentos _________________ ISMP

    Joint Comission Accreditation ________________________________________ JCA

    Joint Comission for Accreditation of Healthcare Organization _____________ JACHO

    Joint Comission Internacional _________________________________________ JCI

    Medicamentos potencialmente perigosos ______________________________ MPP

  • Miligrama ________________________________________________________ MG

    Mililitro ___________________________________________________________ ML

    Minuto __________________________________________________________ MIN

    National Coordinating Council Medication Error Reporting and Prevention ___ NCCMERP

    National Center for Patient Safety ___________________________________ NCPS

    National Patient Safety Agency _____________________________________ NPSA

    National Patient Safety Fundation ____________________________________ NPSF

    National Quality Frum _____________________________________________ NQF

    Normas Brasileiras Regulamentadoras _________________________________ NBR

    Organizao Mundial de Sade _____________________________________ OMS

    Organizao Nacional de Acreditao ________________________________ ONA

    Organizao Pan-Americana de Sade ______________________________ OPAS

    Pneumonia associada a ventilao mecnica ____________________________ PAV

    Rede Brasileira de Enfermagem e Segurana do Paciente _________ REBRAENSP

    Servio de Controle de Infeco Hospitalar ____________________________ SCIH

    Soro Fisiolgico ____________________________________________________ SF

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ___________________________ TCLE

    The International Society for Quality in Health Care _____________________ ISQua

    Unidade de Terapia Intensiva ________________________________________ UTI

    Via Endovenosa ____________________________________________________ EV

    Via Oral __________________________________________________________ VO

    Via Subcutnea ____________________________________________________ SC

    World Health Organization __________________________________________ WHO

  • SUMRIO

    APRESENTAO .................................................................................................... 22

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 27 1.1 Qualidade, a segurana do paciente e o gerenciamento de riscos ..................... 28 1.1.1 Gerenciamento de riscos nas instituies de sade ........................................ 35 1.1.2 Ferramentas e metodologias da qualidade ...................................................... 38 1.2 O uso de indicadores para avaliar a qualidade da assistncia prestada ao paciente ..................................................................................................................... 41 1.2.1 Quedas ............................................................................................................. 45 1.2.2 Erros de medicao.......................................................................................... 48 1.3 A metodologia da Anlise de Causa Raiz ........................................................... 53

    2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 65 2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 66 2.2 Objetivos especficos .......................................................................................... 66

    3 MATERIAL E MTODOS ...................................................................................... 67 3.1 Tipo de estudo ..................................................................................................... 68 3.2 Local do estudo ................................................................................................... 68 3.3 Universo em estudo ............................................................................................ 75 3.4 Procedimentos tico-legais ................................................................................. 75 3.5 Instrumentos de coleta de dados ........................................................................ 76 3.6 Estudo-piloto ....................................................................................................... 76 3.7 Coleta dos dados ................................................................................................ 77 3.8 Clculo dos custos relacionados ocorrncia dos incidentes ............................. 87 3.9 Organizao e apresentao dos dados ............................................................. 88

    4 RESULTADOS ....................................................................................................... 89 4.1 Anlise de Causa Raiz das quedas que levaram a danos aos pacientes ........... 95 4.1.1 Fatores causais das quedas ........................................................................... 111 4.2 Anlise de Causa Raiz dos erros de medicao ............................................... 112 4.2.1 Fatores causais dos erros de medicao ....................................................... 154

  • 5 DISCUSSO ........................................................................................................ 155 5.1 Anlise de Causa Raiz das quedas analisadas ................................................. 161 5.1.1 Fatores causais das quedas analisadas ......................................................... 162 5.2 Anlise de Causa Raiz dos erros de medicao analisados ............................. 166 5.2.1 Fatores causais dos erros de medicao analisados ..................................... 167

    6 RECOMENDAES ............................................................................................ 177 6.1 Recomendaes para prevenir as quedas analisadas ...................................... 178 6.2 Recomendaes para prevenir os erros de medicao analisados .................. 186

    7 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 194

    8 LIMITAES DO ESTUDO ................................................................................. 198

    9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................... 200

    APNDICE .............................................................................................................. 214

    ANEXO ................................................................................................................... 235

  • 22

    APRESENTAO

  • Apresentao | 23

    Desde a graduao em enfermagem, tenho participado ativamente do

    grupo de pesquisa em segurana do paciente, vinculado Escola de Enfermagem

    de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP-USP) e sob coordenao

    da Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani.

    Durante o perodo, tive a oportunidade de participar como pesquisadora

    em projeto multicntrico e em congressos nacionais e internacionais relacionados ao

    tema.

    Essas experincias possibilitaram expandir minha viso sobre os

    aspectos relacionados segurana, na assistncia em sade, e a concluir que os

    incidentes relacionados segurana do paciente so frequentes, havendo a

    necessidade de mais estudos voltados para a preveno dos riscos causados por

    estes incidentes.

    Tambm, atuando como enfermeira assistencial em uma Unidade de

    Terapia Intensiva adulto (UTI), membro do Comit de Gerenciamento de Riscos e

    membro da Rede Brasileira de Enfermagem em Segurana do Paciente, polo

    Campinas-SP, pude observar que incidentes ocorrem frequentemente nas

    instituies de sade e que precisam ser analisados, a fim de buscar estratgias

    para preveni-los.

    Nesse contexto, convivendo com pesquisadores, administradores,

    gestores, coordenadores e profissionais que atuam diretamente na assistncia,

    observei que muitas instituies no sabem como analisar os incidentes

    relacionados segurana do paciente.

    Primeiramente, para que isso ocorra necessrio focar a cultura da

    segurana do paciente nas instituies em todos os setores e conscientizar todos os

    profissionais em relao a sua importncia.

    Essa cultura o resultado de valores, atitudes, percepes, competncias

    e padres de comportamentos individuais e coletivos que determinam o

    compromisso com a qualidade do cuidado.

    Tambm, necessria atitude, para que administradores ou gerentes dos

    servios junto com suas equipes implantem departamentos para avaliar a qualidade

    da assistncia que prestada e utilizar indicadores para gerenciar isto.

    Implantem o gerenciamento de riscos para avaliar os processos falhos,

    identificar os riscos que podem estar presentes a e propor estratgias voltadas para

    a segurana do paciente, baseando-se nas melhores prticas.

  • Apresentao | 24

    importante, que os administradores ou gestores foquem na cultura de

    no punio, ou seja, considerando que falhas ocorrem devido a sistemas

    defeituosos, nos quais essas causas so multifatoriais no sendo levada em

    considerao apenas a falha humana.

    Reason (2003) prope duas formas de abordar o erro a abordagem do

    sujeito e a abordagem do sistema. A primeira se detm nos atos inseguros dos

    indivduos que trabalham na ponta, isto , nos erros e na violao de procedimentos

    adotados por pilotos de avies, controladores de voo, mdicos, enfermeiras,

    cirurgies, entre outros, a partir de um processo mental fora do padro tais como:

    esquecimento, desateno, descuidado, motivao pobre, negligncia e

    imprudncia.

    Enquanto a segunda considera que erros ocorrem devido a um sistema

    mal-elaborado. Neste sistema, falhas ativas e falhas latentes levam ocorrncia dos

    incidentes. As falhas ativas so aquelas que ocorrem no nvel do operador da linha

    de frente do trabalho, sendo seus efeitos sentidos quase que imediatamente e

    apresentando-se em forma de lapsos, deslizes e falhas no processo. Falhas latentes

    ficam adormecidas dentro deste sistema e so relacionadas a influncias

    organizacionais, superviso insegura e precondies para atos inseguros (REASON,

    2000).

    Dessa forma, considero que falhas humanas so esperadas at mesmo

    nas instituies de excelncia, que no se pode mudar a natureza humana, mas

    possvel modificar as condies de trabalho dos indivduos, a fim de prevenir,

    minimizar ou evitar a ocorrncia de incidentes relacionados segurana do

    paciente.

    Logo, vrios pases vm atuando nas temticas da qualidade, segurana

    do paciente e gerenciamento de riscos, a fim de proporcionar um ambiente seguro.

    Estudo realizado pelo Commonwealth Fundation, fundao privada que

    financia investigao independente na rea da sade, avaliou a experincia dos

    pacientes na Austrlia, Nova Zelndia, Canad, Reino Unido, Alemanha e Estados

    Unidos da Amrica (EUA), por meio de entrevistas realizadas pelo telefone, no

    perodo de maro a junho de 2005. Nessa pesquisa, 2.200 pacientes adultos foram

    questionados em relao ocorrncia de erros mdicos, de medicao e de

    diagnstico. Os pesquisadores identificaram que 34% dos americanos, 30% dos

    canadenses, 27% dos australianos, 25% dos neozelandeses, 23% dos alemes e

  • Apresentao | 25

    22% dos ingleses relataram ter vivenciado algum desses erros (SCHOEN et al.,

    2005).

    Os pases da Amrica do Norte, Oceania e Europa so os pioneiros nas

    investigaes da ocorrncia de incidentes relacionados segurana do paciente e

    investigam esta temtica desde o incio da dcada de 1990, a fim de implementarem

    estratgias para preveni-los. Os pases da Amrica Latina, inclusive o Brasil, mais

    recentemente vm atuando em relao a isso, mas as aes ainda no so to

    efetivas quanto se espera.

    Vrias tecnologias vm sendo recomendadas como o uso do computador

    nos processos, cdigo de barras, pulseiras de identificao dos pacientes, assim

    como a realizao das atividades baseando-se em protocolos atuais e evidncias

    cientficas, a fim de prevenir a ocorrncia de incidentes que podem ser evitados

    (GIMENES et al., 2010; MIASSO et al., 2006; TEIXEIRA; CASSIANI, 2010).

    Em busca de aes efetivas para minimizar a ocorrncia dos incidentes

    relacionados segurana do paciente, vrias ferramentas da qualidade vm sendo

    utilizadas bem como referenciais trazidos de outras reas como aviao e indstria

    para que sejam aplicadas na rea da sade.

    Para se analisar a ocorrncia de incidentes relacionados segurana do

    paciente nas instituies de sade, duas metodologias vm sendo utilizadas, a

    Anlise de Causa Raiz e a Anlise do Modo e Efeito da Falha.

    Elas compartilham caractersticas como: so mtodos no estatsticos de

    anlise, tm como meta reduzir a possibilidade de dano para os pacientes e so

    capazes de identificar condies que podem causar dano (JOINT COMMISSION ON

    ACCREDITATION OF HEALTHCARE ORGANIZATIONS, 2005).

    A diferena principal entre essas duas metodologias est no momento em

    que so aplicadas. Enquanto a Anlise de Causa Raiz implementada quando um

    incidente j ocorreu, dentro de uma abordagem reativa, a Anlise do Modo e Efeito

    da Falha tem abordagem proativa, buscando determinar o que pode ocorrer de

    errado, com o objetivo de evitar as falhas e seus efeitos (SILVA, TEIXEIRA,

    CASSIANI; 2008).

    Essas duas metodologias so recomendadas para serem utilizadas no

    gerenciamento de riscos dentro das instituies de sade, apesar disso nota-se que

    frequentemente as instituies brasileiras no sabem como aplic-las.

  • Apresentao | 26

    Assim, motivada pelo estudo realizado em 2007, no curso do mestrado,

    no qual, a metodologia da Anlise de Causa Raiz foi utilizada, a fim de avaliar a

    ocorrncia de erros de medicao em uma unidade de clnica mdica, de um

    hospital universitrio, esta mesma metodologia foi escolhida, pois fornece subsdios

    para uma investigao profunda sobre a ocorrncia desses incidentes, a fim de

    elucidar as causas e propor recomendaes.

    Somente quando relatos sobre a ocorrncia dos incidentes ocorrem,

    possvel realizar notificaes. Existem duas maneiras de notificar os incidentes, a

    forma manual, com o preenchimento de formulrios padronizados e, tambm, por

    meio de sistemas de informao que so elaborados para esta finalidade.

    As notificaes de incidentes relacionados segurana do paciente tm

    papel mpar neste processo, pois possibilita documentar a ocorrncia desses

    incidentes nas instituies.

    A partir do momento que se consegue documentar isso, uma equipe

    multiprofissional deve analisar os incidentes considerando onde, quando, quem foi

    envolvido, como, por que isto ocorreu e quanto custou.

    Uma investigao minuciosa deve ser realizada, a fim de encontrar as

    causas, propor recomendaes e implement-las, o que consequentemente

    promover a segurana do paciente, e a qualidade do cuidado prestado ser

    garantida.

    Dessa forma, este estudo visa a unificar em uma nica metodologia, ou

    seja, a Anlise de Causa Raiz, vrias ferramentas da qualidade que podero ser

    utilizadas por qualquer instituio de sade, de forma clara e objetiva, a fim de

    analisar incidentes relacionados segurana do paciente na assistncia de

    enfermagem.

  • 27

    1 INTRODUO

  • Introduo | 28

    1.1 Qualidade, a segurana do paciente e o gerenciamento de riscos Atualmente a maioria das instituies vem buscando a qualidade da

    assistncia, a segurana dos pacientes e o gerenciamento de riscos nos servios de

    sade, a fim de proporcionarem uma assistncia livre de riscos e danos.

    A questo da qualidade iniciou-se com a Revoluo Industrial e a

    disseminao da produo em srie, e ela vem sendo modificada com o passar dos

    anos.

    A qualidade que se tem hoje, somente surgiu com a Segunda Guerra

    Mundial. Nessa poca, j havia uma preocupao com a qualidade dos produtos, o

    que significava garantir que todos os produtos fabricados teriam as mesmas

    caractersticas e no apresentariam defeitos.

    Cada produto era inspecionado a fim de identificar problemas, mas este

    mtodo no era muito eficiente e logo isto foi substitudo pelas tcnicas estatsticas

    de controle da qualidade, como o Diagrama de Ishikawa, espinha- de-peixe ou

    tambm conhecido como causa e efeito, dentre outros.

    H muitas definies sobre a qualidade, utilizadas tanto em relao s

    empresas quanto em relao s instituies de sade e em outras esferas.

    No uso tcnico, a qualidade pode ter dois significados: as caractersticas

    de um produto ou servio que afetam sua capacidade de satisfazer necessidades

    explcitas ou implcitas e um produto ou servio livre de deficincias (AMERICAN

    SOCIETY OF QUALITY CONTROL, 1995).

    De acordo com Philip Crosby, qualidade significa "conformidade com os

    requisitos. A qualidade uma estratgia imperativa que pode ser especificamente

    quantificada em valores monetrios para obter profundas melhorias de produtividade

    e lucratividade (CROSBY, 1979).

    A nfase da qualidade deve ser na preveno, e o objetivo das empresas

    proporcionar solues s necessidades dos clientes, fornecedores, funcionrios e

    acionistas, completando todas suas transaes corretamente desde o primeiro

    contato (CROSBY, 1979).

    Alm disso, a qualidade se expandiu para a rea da sade, no focando

    apenas os produtos, mas tambm os servios oferecidos e procedimentos

    realizados.

  • Introduo | 29

    Dessa forma, Avedis Donabedian, mdico e professor, em 1980, definiu a

    qualidade em sade como sendo resultante da aplicao da cincia associada

    tecnologia, valorizada pelas relaes interpessoais que so fortalecidas pelo

    aumento de benefcios e diminuio de riscos (DONABEDIAN, 1980).

    Essa a abordagem mais utilizada relacionada com a qualidade dos

    cuidados de sade e inclui trs reas ou dimenses:

    a) estrutura: referente s instituies, equipamentos, pessoal,

    organizao e disponibilidade para a prestao de cuidados;

    b) processo: referente prestao de cuidados e s atividades realizadas;

    c) resultado: denota efeitos da prestao de cuidados aos pacientes.

    Cada uma dessas dimenses pode ser avaliada separadamente ou em

    combinao, ou seja, se a estrutura e os elementos do processo so bem atendidos,

    pode-se antecipar um resultado positivo para a sade de um paciente que est

    recebendo cuidados nesse sistema (DONABEDIAN, 1980).

    Essa definio, no entanto, abstrata, ampla e complexa, visto que

    abrange diferentes reas ou dimenses e tem vrios enfoques.

    Donabedian (1980) apresentou sete pilares da qualidade em sade para

    explicar melhor, como:

    Eficcia: a habilidade da cincia mdica em oferecer melhorias na

    sade e no bem-estar dos indivduos;

    Efetividade: a relao entre o benefcio real oferecido pelo

    sistema de sade ou assistncia e o resultado potencial de um

    sistema ideal;

    Eficincia: a habilidade de obter o melhor resultado em relao ao

    menor custo;

    Otimizao: o balano mais vantajoso entre custo e benefcio, ou

    seja, o estabelecimento do ponto de equilbrio relativo, em que o

    benefcio elevado ao mximo em relao ao seu custo

    econmico;

    Aceitabilidade: a adaptao dos cuidados mdicos e da

    assistncia sade s expectativas, aos desejos e aos valores dos

    pacientes e leva-se em considerao os conceitos de

    acessibilidade, relao mdico-paciente, amenidades, preferncias

  • Introduo | 30

    do paciente em relao aos efeitos da assistncia e aos seus

    custos;

    Legitimidade: conformidade s preferncias sociais, ou seja,

    possibilidade de adaptar satisfatoriamente um servio

    comunidade ou sociedade como um todo;

    Equidade: a determinao da adequada e justa distribuio dos

    servios e benefcios para todos os membros da comunidade,

    populao ou sociedade.

    Segundo a Organizao Mundial de Sade - OMS (2008), um servio de

    sade com qualidade aquele que organiza seus recursos da forma mais efetiva em

    resposta s necessidades sentidas, com segurana, sem desperdcio e de acordo

    com os padres de elevado nvel e respeito pelos direitos humanos.

    Assim, vrios autores vm considerando, recentemente, a segurana

    como mais um pilar da qualidade em sade (KRISTENSEN, MAINZ, BARTELS,

    2007; MCDONALD et al., 2008).

    Semelhante ao que foi apresentado por Donabedian, a OMS apresentou

    os seis pilares da qualidade em sade, incluindo a segurana, que foram descritos a

    seguir (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2006):

    Eficcia: prestao de cuidados de sade utilizando uma base de

    evidncias e que resulta em melhores resultados de sade para os

    indivduos e comunidades, com base nas suas necessidades;

    Eficincia: prestao de cuidados de sade de forma a maximizar o

    uso dos recursos, evitando o desperdcio;

    Acessibilidade: cuidados de sade fornecidos de maneira aceitvel,

    em uma determinada rea de abrangncia, proporcionando um

    ambiente em que as competncias e os recursos so adequados

    necessidade mdica;

    Aceitabilidade (centrado no paciente): cuidados de sade

    fornecidos, levando-se em considerao as preferncias e

    aspiraes individuais dos pacientes e a cultura de suas

    comunidades;

  • Introduo | 31

    Equidade: prestao de cuidados de sade que no variam em

    qualidade por causa de caractersticas pessoais como sexo, etnia,

    localizao geogrfica ou status socioeconmico;

    Segurana: prestao de cuidados de sade que minimizam riscos

    e danos para os usurios do servio.

    Alm disso, identifica-se que a qualidade em sade busca a aplicao de

    uma prtica segura para assistir pacientes nas instituies de sade, ou seja, a

    prtica segura refere-se a toda interveno na estrutura ou no processo, de modo a

    reduzir o risco dos pacientes sofrerem um incidente relacionado segurana do

    paciente (WHO, 2009).

    Incidente relacionado segurana do paciente um evento ou

    circunstncia que poderia ter resultado, ou que resultou, em danos desnecessrios

    ao paciente. Um incidente pode ser uma circunstncia relatada, um quase erro, um

    incidente sem dano ao paciente ou um incidente com dano, ou seja, um evento

    adverso (WHO, 2009):

    J segurana do paciente envolve a reduo do risco e danos

    desnecessrios associados com os cuidados de sade a um nvel mnimo (WHO,

    2009).

    A expresso segurana do paciente faz referncia aos fatores que

    influenciam as instituies em implementar a cultura de segurana, levando-se em

    considerao as melhores prticas.

    Essa expresso deve ser vista como o resultado, ou seja, o trabalho que

    desenhado em um sistema no qual protocolos so atualizados e baseados na

    literatura cientfica, tecnologia implementada a fim de melhorar os processos,

    treinamento realizado a toda equipe de sade proporcionando mais segurana e

    menos riscos aos pacientes.

    Envolve, frequentemente, a promoo de um ambiente seguro,

    explorando as possibilidades de falhas e criando defesas no atual sistema, a fim de

    reduzir falhas potenciais.

    O movimento da segurana do paciente iniciou-se na dcada de 1990,

    quando o primeiro estudo realizado sobre este assunto, o Harvard Medical Practice

    (HMP), indicou que 3,7% dos pacientes internados sofreram eventos adversos,

    sendo que dois teros desses eventos poderiam ter sido evitados, e 14% foram

    fatais (BRENNAN et al., 1991).

  • Introduo | 32

    Nessa dcada os estudos sobre esta temtica ainda eram incipientes.

    O ano de 1995 foi crucial para a segurana do paciente, pois uma srie

    de eventos relacionados a erros mdicos comearam a ser publicados em jornais

    americanos (LEAPE, 2008).

    Em 1996, a American Medical Association (AMA) e a Joint Comission for

    Accreditation of Health Care Organization (JACHO) se uniram e anunciaram a

    formao da National Patient Safety Fundation (NPSF) que elaboraram um sistema

    de notificao de eventos adversos baseados na no punio.

    Mas, foi apenas em 1999, com o relatrio do Instituto de Medicina

    Americano (IOM), que houve repercusso tanto nacional quanto internacionalmente

    sobre a segurana dos pacientes e que demonstrou que os erros no eram

    causados apenas por falhas humanas, mas por sistemas defeituosos (KHON;

    CORRIGAN; DONALDSON, 2001).

    Desde ento, vrias aes comearam a ser adotadas em relao

    segurana do paciente. Em 2001, 50 milhes de dlares foram destinados a Agency

    for Healthcare Research and Quality (AHRQ) para pesquisas em segurana do

    paciente. E os hospitais foram motivados a promover mais a segurana

    dos seus pacientes.

    Instituies no governamentais tambm comearam a promover a

    segurana do paciente e o National Quality Forum (NQF) elaborou e aprovou 30

    medidas, relacionadas a prticas seguras, que deveriam ser realizadas para

    promover a segurana do paciente e o cuidado de enfermagem (NQF, 2003).

    A OMS, desde 2002, tem realizado vrios projetos e programas

    relacionados lavagem das mos, a cirurgias seguras, ao controle de infeces e

    quedas, segurana na prescrio, distribuio, dispensao e administrao de

    medicamentos e segurana nas transfuses, entre outros, a fim de promover e

    alcanar a segurana do paciente nas instituies.

    Aps a publicao do relatrio do IOM e da 55 Assembleia da OMS, os

    Estados-membros so levados a prestar o mximo de ateno possvel ao assunto

    segurana do paciente e a estabelecer e fortalecer isto por meio de normas globais

    para a qualidade da assistncia, e o nmero de estudos publicados comeou a

    aumentar.

    Seguindo a tendncia mundial, o Brasil publicou um estudo sobre a

    ocorrncia de erros de medicao em uma instituio hospitalar, envolvendo as

  • Introduo | 33

    situaes relatadas pela equipe de enfermagem respeito da ocorrncia destes

    incidentes (CARVALHO; CASSIANI, 2000).

    Em 2004, houve a publicao de artigo sobre a ocorrncia de erros

    mdicos, levando-se em considerao os aspectos ticos e processos instaurados

    no Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo (MACRI et al., 2004).

    A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), desde 1999, vem

    instituindo aes para promover a segurana do paciente como a criao da Rede

    de Hospitais Sentinelas, sendo que estes hospitais deveriam notificar eventos

    adversos e queixas tcnicas de servios de sade, sangue e hemoderivados,

    materiais e equipamentos hospitalares. Por isso o cargo de gerente de risco foi

    criado para fazer o elo entre a ANVISA e o hospital (CASSIANI, 2005).

    Cada hospital designa um gerente risco, profissional responsvel por

    articular a assistncia s reas de farmacovigilncia, tecnovigilncia, hemovigilncia

    e vigilncia de saneantes.

    A Rede Sentinela identifica, em produtos sob vigilncia, problemas que

    comprometam a qualidade e a segurana do seu uso. Envia s autoridades

    sanitrias os relatos desses problemas sob a forma de notificao e assim contribui

    com as aes regulatrias da ANVISA.

    Por conseguinte, comits multidisciplinares comearam a ser constitudos,

    a fim de promover programas e atividades para prevenir a ocorrncia de incidentes,

    recebendo o nome de Comits de Gerenciamento de Riscos.

    No ano seguinte, foi instituda a poltica para o uso racional de

    medicamentos pela ANVISA aos hospitais sentinelas, objetivando atendimento mais

    eficaz, tico e cientificamente embasado no uso dos medicamentos e tambm

    exigindo a prescrio correta dos medicamentos pela equipe mdica.

    Em 2007, a ANVISA juntamente com a Organizao Pan-Americana de

    Sade (OPAS) e a OMS criaram a Rede Nacional de Monitoramento da Resistncia

    Microbiana, conhecida por Rede RM.

    Em 2011, lanou o Plano Nacional para Segurana do Paciente e

    Qualidade em Servios de Sade, o qual embasado nas metas e aes globais

    para segurana do paciente proposta pela OMS, em 2005, que incluem a

    higienizao das mos, procedimentos clnicos seguros, segurana do sangue e

    hemoderivados, administrao segura de injetveis e imunobiolgicos, segurana da

    gua e manejo dos resduos.

  • Introduo | 34

    Todas essas aes promovidas pela ANVISA foram importantes para

    conscientizar gestores, gerentes, administradores e tambm os profissionais da rea

    da sade em relao ocorrncia de incidentes relacionados segurana do

    paciente, no Brasil.

    A enfermagem tambm vem se atentando ao que vem ocorrendo no

    mundo e considerando isto, em 2005, foi criada pela OPAS a Rede Internacional de

    Enfermagem e Segurana do Paciente, em Concepcin- Chile, com o objetivo de

    traar tendncias e prioridades no desenvolvimento da enfermagem na

    rea da Segurana do Paciente, na Amrica Latina.

    No Brasil, dando continuidade a isso foi criada a Rede Brasileira de

    Enfermagem e Segurana do Paciente (REBRAENSP), em maio de 2008, como

    uma estratgia adotada por grupos de enfermeiros, para desenvolvimento de

    articulao e de cooperao entre instituies de sade e educao, com o objetivo

    de fortalecer a assistncia de enfermagem segura e com qualidade.

    Essa rede vem difundindo e divulgando, atravs dos seus polos estaduais

    e municipais, os conceitos de segurana do paciente da OMS e outras instituies,

    incentivando a criao e participao de enfermeiros em comits de segurana do

    paciente e instituindo, nos locais de trabalho, atitudes e iniciativas, com base

    cientfica (CASSIANI, 2010).

    Tambm, o Conselho Regional de Enfermagem (COREN), do Estado de

    So Paulo, vem trabalhando com essa temtica. Objetivando promover a segurana

    do paciente e focando no redesenho dos sistemas, a gesto do COREN-SP 2008-

    2011, em parceria com a REBRAENSP, e algumas universidades promoveram o

    Programa para Segurana do Paciente que incluiu a Declarao da Enfermagem do

    Estado de So Paulo para promover a Segurana do Paciente e elaborou uma

    cartilha com 10 passos para a segurana do paciente, no primeiro frum do COREN

    sobre essa temtica.

    Esses foram alguns fatos importantes que demonstram que tanto o Brasil

    quanto a enfermagem vm seguindo a tendncia mundial em relao ao movimento

    da segurana do paciente, incentivando a cultura de no punio, ou seja, aquela na

    qual a inteno no identificar culpados, mas sim redesenhar os sistemas que

    esto defeituosos.

    Inserido nesse contexto de qualidade e segurana do paciente, o

    gerenciamento de riscos foi mais uma estratgia apresentada que pode ser utilizada

  • Introduo | 35

    a fim de diminuir os riscos quando algum incidente ocorreu durante a assistncia

    prestada ao paciente, pela equipe de sade.

    1.1.1 Gerenciamento de riscos nas instituies de sade

    O gerenciamento de riscos envolve a administrao dos riscos, bem como

    as defesas existentes na instituio, a fim de evitar a ocorrncia dos riscos

    novamente.

    Os profissionais da sade e as instituies tornam-se familiares com o

    gerenciamento de riscos, depois que o paciente sofreu alguma injria relacionada

    assistncia prestada.

    Esse gerenciamento o processo pelo qual as medidas de segurana

    so selecionadas e implementadas para se atingir um nvel aceitvel de risco,

    previamente estabelecido, a um custo razovel (ROPER, 1999).

    O nvel baseia-se no valor atribudo pelo seu proprietrio e no impacto

    e/ou consequncia causado por um incidente. Risco tambm a probabilidade de

    uma vulnerabilidade especfica ser explorada por uma determinada ameaa

    (ROPER, 1999).

    A equipe que constitui um comit em gerenciamento de riscos deve ser

    treinada e capacitada a gerenciar a ocorrncia dos incidentes nas instituies, sendo

    que o responsvel por este gerenciamento deve ser o gerente de risco.

    O gerente de risco deve, dentre outras atividades, monitorar a ocorrncia

    dos riscos, ou seja, identificar, analisar, avaliar e trat-los junto a uma equipe

    multiprofissional por meio de planos elaborados com metas e objetivos a serem

    alcanados e buscando minimizar a ocorrncia destes riscos.

    O Quadro 1 apresenta algumas diferenas entre o gerenciamento de

    riscos e a segurana do paciente.

  • Introduo | 36

    Quadro 1- Gerenciamento de risco versus segurana do paciente

    Gerenciamento de risco Segurana do paciente

    So as tticas organizacionais para

    corrigir os problemas.

    a cultura organizacional que direciona

    as mudanas.

    O foco o caso individual. O foco so as falhas do sistema

    A investigao ocorre aps a

    identificao do evento

    Volta-se para a recuperao do erro para

    reduzir os danos.

    Implementa tticas para resolver o caso,

    ao invs das falhas do sistema.

    Envolve as caractersticas do sistema, e

    os arqutipos so identificados

    Tem relao com as normas legais do

    cuidado

    Envolve os fatores humanos impactantes

    nas falhas do sistema.

    Busca resultados para conduzir o

    processo falho.

    Os esforos so concentrados nas boas

    prticas e melhorias do sistema.

    Reativo Proativo

    Fonte:YOUNGBERG, 2011

    Alm disso, o gerenciamento de riscos auxilia os responsveis a tomar

    decises dentro das instituies, a fazer escolhas conscientes e a priorizar aes.

    Em 2009, a Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT),

    apresentou a Norma Brasileira de Regulamentao (NBR) ISO 31000 sobre o

    gerenciamento de riscos, seus princpios e diretrizes salientando que esta norma

    deve ser aplicada de forma integrada, ou seja, em todos os setores das instituies.

    uma norma que fornece os princpios e diretrizes para gerenciar qualquer forma de

    risco de uma maneira sistemtica, transparente e confivel, dentro de qualquer

    escopo ou contexto, buscando a qualidade do servio prestado (ABNT, 2010).

    O gerenciamento de riscos envolve que a instituio de sade adote uma

    poltica de preveno de riscos como requisito para a qualidade, cujos principais

    objetivos criar uma base slida e segura para a tomada de deciso e o

    planejamento da segurana do paciente, a partir do monitoramento dos eventos

    adversos e da minimizao dos danos, alm da preveno de incidentes

    (HINRICHSEN, 2012).

    Embora existam muitas formas de gerenciar os riscos nos servios de

    sade, as instituies devem considerar trs aspectos fundamentais deste tipo de

    gerenciamento: avaliao, controle e o financiamento do risco (Figura 1).

  • Introduo | 37

    Figura 1- Aspectos do gerenciamento de risco

    Fonte:YOUNGBERG, 2011

    O primeiro aspecto envolve identificar e analisar o risco. Um conjunto de

    riscos deve ser identificado, a fim de se obter uma lista dos principais riscos de uma

    instituio, bem como a anlise do risco deve ser realizada para compreender o que

    ocorreu, identificando as causas e suas consequncias.

    O segundo aspecto envolve o controle do risco. Neste momento, o

    gerente de risco foca a ateno da alta administrao da instituio para a

    magnitude do incidente e a probabilidade dos danos voltados para uma estratgia

    competitiva desta instituio de sade.

    Alm disso, o gerente deve se esforar para garantir que suas iniciativas

    controlem os riscos, baseando-se no que a instituio preconiza. Dessa forma, as

    medidas adotadas para evitar ou minimizar tais riscos tero maior probabilidade de

    evitar e reduzir os danos ou perdas (YOUNGBERG, 2011).

    O terceiro aspecto o financiamento do risco que importante para

    identificar o impacto do incidente na instituio, inclusive considerando o seu custo.

    Para o gerenciamento de risco ser eficaz, necessrio que as

    recomendaes para evitar a ocorrncia dos incidentes estejam adaptadas

    estratgia financeira da instituio, o que influencia a sua sobrevivncia no futuro.

    Nos Estados Unidos da Amrica, o gerenciamento de riscos muito

    utilizado, pois as seguradoras de sade no pagam a ocorrncia de incidentes

    relacionados segurana do paciente nas instituies de sade.

    Avaliao do risco

    Controle do risco Financiamento do risco

  • Introduo | 38

    Muitas vezes, esse gerenciamento utilizado para avaliar o que ser

    pago ou no instituio de sade devido ocorrncia do incidente.

    Nota-se que o gerenciamento de riscos no pode representar somente

    isso, mas deve ser parte de um esforo de uma equipe que continuamente identifica

    incidentes e faz as modificaes necessrias antes ou aps a sua ocorrncia.

    No Brasil, ainda no h essa forma de atuao das seguradoras de

    sade, mas sabe-se que gastos financeiros podem ser reduzidos prevenindo a

    ocorrncia desses incidentes nas instituies de sade.

    Tambm, frequentemente divulgada na mdia a ocorrncia de eventos

    adversos envolvendo a equipe de sade e que comumente provocam alguma ao

    legal contra membros desta equipe e, at mesmo, levam degradao da imagem

    das instituies envolvidas.

    Nesse contexto, o gerenciamento de riscos atua como uma estratgia

    fundamental para evitar aes legais e a degradao da imagem das instituies,

    bem como introduzir a segurana do paciente para promover a qualidade da

    assistncia que prestada aos pacientes.

    Vrias instituies de sade j trabalham com o gerenciamento de riscos,

    a fim de identificar e analisar a ocorrncia de incidentes relacionados segurana

    do paciente, e, tambm, as universidades esto comeando a apresentar

    competncias de segurana do paciente nas suas disciplinas com este objetivo.

    Dessa forma, importante que gestores ou administradores tenham em

    mente que qualidade, segurana e o gerenciamento de riscos caminham juntos e,

    que os incidentes ocorridos devem ser analisados, suas causas devem ser

    identificadas, estratgias focando a segurana dos pacientes devem ser

    implementadas a fim de evitar que esses incidentes ocorram novamente,

    minimizando os riscos e danos aos pacientes.

    1.1.2 Ferramentas e metodologias da qualidade

    Quando os nveis de qualidade apresentam perdas significativas, aes

    devem ser tomadas para corrigi-las, resultando em melhoria para a instituio. Para

  • Introduo | 39

    isto ocorrer, a anlise de incidentes relacionados segurana do paciente deve ser

    realizada apoiando-se nas ferramentas da qualidade.

    As ferramentas da qualidade permitem e visualizao de um processo,

    permitindo o estudo de sua variao. Segundo Haddad (2004) e Alves (2012), vrias

    ferramentas da qualidade total devem ser entendidas como tcnicas utilizadas com a

    finalidade de definir, mensurar, analisar e propor solues para os problemas que

    interferem no bom desenvolvimento dos processos de trabalho.

    Segundo essas autoras, as principais tcnicas utilizadas nas instituies

    de sade so: folha de verificao, diagrama de Ishikawa, brainstorming, diagrama

    de Pareto, PDCA (Plan, Action, Check and Do), fluxograma, diagrama de disperso

    e histograma. A seguir, segue uma descrio sucinta de cada uma destas

    ferramentas (HADDAD, 2004; ALVES, 2012).

    Folha de verificao: utilizada para coletar dados sobre fatos que ocorrem com frequncia num certo perodo de tempo,

    permitindo uma percepo da realidade e uma imediata

    interpretao da situao e ajudando a diminuir incidentes

    indesejveis. Tambm conhecida como checklist e vem sendo

    utilizada pelas instituies de sade com frequncia.

    Diagrama de Ishikawa: tambm conhecido como diagrama de espinha-de-peixe ou causa e efeito uma ferramenta de

    representao grfica que possibilita a identificao das causas de

    um determinado problema. No estudo, este diagrama ser

    referenciado como diagrama de causa e efeito.

    Brainstorming (tempestade de ideias): uma tcnica utilizada com

    um grupo de pessoas onde todos os participantes contribuem com

    um grande nmero de ideias, num certo perodo de tempo, de

    maneira espontnea, e sobre determinado assunto que necessite

    de soluo.

    Diagrama de Pareto (Vilfred Pareto): baseia-se no princpio de que 80% dos problemas resultam de cerca de apenas 20% das causas

    potenciais, ou seja, a regra dos 80 por 20. Baseando-se nisto, o

    Diagrama de Pareto apresenta-se sob a forma de um grfico de

    barras demonstrando de forma estratificada as vrias causas na

    determinao da prioridade da resoluo do problema.

  • Introduo | 40

    PDCA (Plan, Do, Check, Act): um mtodo gerencial utilizado para controlar o processo, com as fases bsicas de planejar,

    executar, verificar e atuar corretamente, refletindo a base da

    filosofia da melhoria contnua (Kaizen).

    Fluxograma: uma representao grfica que descreve e mapeia as diversas etapas de um processo, ordenando-as em uma

    sequncia lgica, proporcionando uma viso integrada do fluxo de

    um processo tcnico, administrativo ou gerencial por meio de

    smbolos padronizados.

    Diagrama de disperso: apresenta-se na forma de grfico, auxiliando a visualizao de alteraes sofridas por uma varivel,

    quando a outra se modifica e pode apresentar diferentes nveis de

    correlao (positiva, negativa ou sem correlao).

    Histograma: um grfico de barras que demonstra a variabilidade das medidas de uma caracterstica do processo em torno da mdia.

    Ele facilita a soluo de problemas, principalmente quando se

    identificam, numa srie, a histria, evoluo e a tendncia de um

    determinado processo.

    Tambm, existem vrias metodologias da qualidade que podem ser

    utilizadas para investigar os incidentes de forma reativa, ou seja, aps a sua

    ocorrncia, como a Anlise da rvore de Falhas, no qual um grfico apresenta a

    combinao das falhas, e a Anlise de Causa Raiz que representa um problema e

    seus diversos tipos de causas.

    Diferentemente dessas metodologias, a Anlise do Modo e Efeito da

    Falha realiza uma abordagem proativa, buscando identificar o que pode ocorrer de

    errado, assim como o HAZOP, ou seja, a anlise de risco, utilizado para avaliar o

    risco de processos aplicados em novos projetos.

    Na rea da sade, as metodologias mais difundidas na literatura para

    analisar a ocorrncia de incidentes relacionados segurana do paciente a

    Anlise de Causa Raiz e a Anlise do Modo e Efeito da Falha (FASSET, 2011).

    No existe apenas uma ferramenta ou uma metodologia que garanta o

    sucesso da instituio e a qualidade da assistncia prestada.

  • Introduo | 41

    O importante considerar os pontos primordiais e escolher o caminho

    que mais se adapte realidade da instituio, utilizando ferramentas ou

    metodologias que agreguem valor ao desempenho da sua gesto e

    consequentemente da instituio (ALVES, 2012).

    Aps a escolha das ferramentas ou da metodologia, fundamental que

    incidentes relacionados segurana do paciente sejam analisados e

    consequentemente evitados por meio de aes que, quando implementadas,

    eliminam suas causas.

    Um sistema no punitivo de comunicao de incidentes requerido para

    a coleta de dados necessrios ao monitoramento da sua real incidncia nas

    instituies.

    Espera-se que haja estrutura adequada para a identificao dos

    incidentes to logo ocorram, de maneira que aes possam ser realizadas o mais

    rpido possvel, evitando complicaes graves no estado de sade do paciente.

    essencial que as circunstncias sejam esclarecidas, no interessando

    quem cometeu o incidente, ou seja, uma prtica de segurana na qual o sistema no

    punitivo e que permite apoio, educao e investigao profunda das causas,

    prevalecendo o enfoque nas causas relacionadas ao sistema ao invs de individuais.

    A anlise dos incidentes permite tomar decises adequadas, a fim de

    reverter a situao e, at mesmo, fazer com que este incidente colabore a seu favor

    com um aprendizado do processo.

    1.2 O uso de indicadores para avaliar a qualidade da assistncia prestada ao paciente

    A qualidade da assistncia prestada aos pacientes nas instituies de

    sade pressupe que indicadores sejam utilizados, a fim de avaliar a segurana dos

    processos, estruturas e resultados e diminuir os riscos.

    Para identificar se um sistema est em conformidade com as aes

    recomendadas, necessrio que a instituio busque um ideal de qualidade a ser

    conquistado.

  • Introduo | 42

    Para isto, h vrias organizaes voltadas para avaliaes externas das

    instituies de sade que concedem certificaes e acreditao, tais como: no

    exterior, a Joint Comission Accreditation (JCA), Joint Comission Internacional (JCI),

    Accreditation Canada, entre outros e, no Brasil, temos o Programa de Controle de

    Qualidade Hospitalar, conhecido como CQH Compromisso com a Qualidade

    Hospitalar e a Organizao Nacional de Acreditao (ONA).

    Em 1953, a JCA foi fundada nos EUA, a fim de realizar o processo de

    acreditao, ou seja, avaliar instituies buscando a melhoria da qualidade dos

    servios prestados aos pacientes.

    Em 1997, foi criada a JCI com a finalidade de realizar o processo de

    acreditao internacionalmente. Hoje, mais de 60 pases possuem hospitais

    acreditados por esta organizao, dentre eles o Brasil.

    Accreditation Canada uma instituio sem fins lucrativos, independente,

    credenciada pela Sociedade Internacional de Qualidade em Sade (ISQua) que

    fornece as instituies de sade nacionais e internacionais, um processo externo de

    avaliao a fim de melhorar os servios que prestam a seus pacientes e clientes

    com base em padres de excelncia.

    No Brasil, a Associao Paulista de Medicina (APM) e o Conselho

    Regional de Medicina do Estado de So Paulo (CREMESP) criaram o Programa

    CQH, a fim de avaliar os servios de sade, em 1991, no Estado de So Paulo, e

    que fornece uma certificao.

    Baseado em manuais de acreditao americano, canadense, espanhol,

    ingls, entre outros e no manual editado pela OPAS, foi elaborado o Manual

    Brasileiro de Acreditao Brasileira, em 1998, e em 1999, foi ento constituda

    juridicamente a ONA, iniciando-se a partir da a implantao das normas tcnicas do

    Sistema Brasileiro de Acreditao (BRASIL, 2001).

    Alm de hospitais acreditados nacionalmente, tambm h hospitais

    acreditados internacionalmente com a JCI ou Accreditation Canada.

    O processo de acreditao tem a finalidade de criar uma cultura de

    segurana e qualidade dentro de uma organizao que continuamente se esfora

    para melhorar processos de cuidado do paciente.

    Para alcanar certificaes ou acreditao, as instituies de sade so

    avaliadas periodicamente por essas organizaes, focando seus processos,

  • Introduo | 43

    estruturas e resultados por meio de indicadores e outros aspectos voltados para a

    qualidade.

    Como apresentado anteriormente, a definio de qualidade abstrata,

    ampla e complexa. Sabe-se que no possvel medir qualidade, mas possvel

    avali-la por meio de indicadores que refletem se a assistncia ao paciente est

    sendo realizada conforme a meta esperada em uma instituio.

    Indicador no uma medida direta da qualidade, mas uma medida

    qualitativa ou quantitativa que pode ser usada para monitorar e avaliar a qualidade

    dos cuidados prestados ao paciente por meio de dados administrativos disponveis

    nas instituies e que podem servir como instrumentos para melhorar o cuidado

    futuramente (AHRQ, 2006).

    a medida utilizada para determinar, atravs do tempo, o desempenho

    de funes, processos e resultados de uma instituio (JCI, 2008).

    Um indicador deve refletir uma medida vlida que descreve uma

    realidade, podendo ser uma taxa, um coeficiente, um ndice, um nmero absoluto ou

    um fato (BITTAR, 2008).

    Taxa/coeficiente o nmero de vezes que um fato ocorreu dividido pelo

    nmero de vezes que ele poderia ter ocorrido, multiplicado por uma base e definido

    no tempo e no espao. ndice a relao entre dois nmeros ou a razo entre

    determinados valores, tendo como exemplo o ndice de rotatividade de leitos

    (BITTAR, 2008).

    Nmeros absolutos podem ser indicadores, medida que se comparam

    valores iguais, maiores ou menores a ele, resultantes de atividades, aes ou

    estudos de processos, estrutura, resultados ou meio ambiente. Fatos, por sua vez,

    demonstram a ocorrncia de um resultado benfico ou no, como por exemplo, uma

    no conformidade ou outro resultado adverso qualquer ou no (BITTAR, 2008).

    necessrio, no entanto, que as instituies utilizem indicadores

    apropriados para sua realidade, levando-se em considerao seus objetivos. Alm

    disso, um banco de dados com esses indicadores deve ser utilizado, permitindo a

    montagem de sries histricas que podem ser comparadas consigo mesmas ou com

    outras instituies, quando analisadas no tempo.

    Alguns indicadores gerais devem ser utilizados por qualquer instituio de

    sade como: avaliar mortalidade de pacientes, nmero de pacientes/dia nos setores,

    taxa de rotatividade de pacientes, taxa de readmisses, a ocorrncia de infeces,

  • Introduo | 44

    dentre outros. Tambm, indicadores especficos para determinados setores das

    instituies devem ser utilizados, como, por exemplo, em uma unidade de terapia

    intensiva (UTI) pode ser avaliado a taxa de extubao acidental, taxa de pneumonia

    associada ventilao mecnica (PAV), pneumotrax associado insero de

    cateter venoso central, entre outros (GARROUSTE-ORGEAS et al., 2012; CQH,

    2012).

    Processos infecciosos podem ser evitados com medidas simples, como a

    higienizao das mos, uso de equipamentos de proteo individual (EPI), elevao

    da cabeceira do leito acima de 30 (no caso de PAV), limpeza/desinfeco do

    ambiente, uso racional de antimicrobianos e controle da glicemia no ps-operatrio

    (HINRICHSEN, 2012).

    Tambm, o planejamento correto dos horrios prescritos dos agentes

    anti-infecciosos, sua dispensao e distribuio adequada pela equipe de farmcia,

    juntamente com o preparo e administrao corretos e respeitando as

    recomendaes dos fabricantes, so essenciais para evitar o desenvolvimento da

    resistncia antimicrobiana nas instituies de sade e para uma melhor eficcia da

    teraputica do paciente.

    Alguns exemplos de indicadores de gesto de pessoas, na enfermagem,

    so: horas de assistncia de enfermagem, horas de enfermeiro por unidade, horas

    de tcnico ou auxiliar de enfermagem por unidade, taxa de absentesmo, taxa de

    rotatividade, e a taxa de acidente de trabalho (CQH, 2012).

    H tambm indicadores voltados assistncia de enfermagem como

    incidncia de lceras por presso, quedas, erros de medicao, flebite, entre outros

    (CQH, 2012).

    Assim, os indicadores so fundamentais para monitorar incidentes

    relacionados segurana do paciente e refletem a qualidade da assistncia

    prestada, identificando se determinados fatores podem estar prejudicando os

    pacientes assistidos em uma determinada instituio, e por isto, devem ser

    utilizados.

    No presente estudo, dois tipos de indicadores voltados assistncia de

    enfermagem, ou seja, quedas e erros de medicao, foram monitorados por um

    perodo de trs meses e seguem descritos nos prximos tpicos.

  • Introduo | 45

    1.2.1 Quedas

    Nos EUA, as quedas so as causas mais comuns de leses no fatais

    para pessoas com mais de 65 anos. Dos indivduos residentes na comunidade com

    idade superior a 65 anos, 32% caem a cada ano, e as mulheres caem com maior

    frequncia que os homens (CENTERS FOR DISEASE CONTROL - CDC, 2006).

    Nesse mesmo pas, a taxa de quedas aumentou entre os anos de 1999 a

    2004, de 29 para 41 quedas por 100.000 habitantes (CDC, 2006). Devido a este

    aumento, h esforos voltados a minimizar e reduzir a ocorrncia deste tipo de

    incidente.

    No Brasil, estudo realizado por meio de reviso de pronturios de

    pacientes internados em um hospital geral, no perodo de cinco anos, identificou 495

    idosos cujo motivo da internao foi a queda. Destes, 66,5% eram mulheres e 25,1%

    estavam na faixa etria maior que 81 anos. O principal tipo de queda foi da prpria

    altura, sendo que a maioria dos pacientes ficou internada de um a dez dias, e 74,8%

    apresentaram fraturas de membros inferiores (BARBOSA, NASCIMENTO; 2001).

    Outro estudo brasileiro verificou um aumento na prevalncia de quedas

    de 28,6% para 31,1%, em relao aos anos 2000 e 2006 respectivamente (TELLES,

    2008).

    Entende-se por queda um incidente no intencional que resulta no

    deslocamento do paciente para o cho ou outro nvel mais baixo que sua posio

    inicial (WHO, 2007; CQH, 2012).

    Sabe-se que a maioria das quedas pode ser evitada com medidas

    preventivas. Frequentemente, pacientes sofrem quedas dentro das instituies de

    sade e leses ocorrem em consequncia disto o que acarreta no aumento do

    tempo de internao e custos a mais em relao assistncia prestada.

    A maioria das quedas ocorre em pacientes idosos e os custos destas

    quedas esto aumentando significante em todo o mundo. Segundo a WHO (2007)

    os custos relacionados s quedas podem ser categorizados sob dois aspectos:

    Custos diretos: abrangem os custos relacionados aos

    medicamentos e servios de sade prestados, como por exemplo,

    tratamento, avaliao mdica e reabilitao;

  • Introduo | 46

    Custos indiretos: perdas da produtividade na sociedade

    relacionadas s atividades nas quais os indivduos ou cuidadores

    estariam envolvidos caso no tivessem de cuidar de leses

    causadas pelas quedas.

    Vrias organizaes vm monitorando esses tipos de incidentes

    relacionados segurana do paciente, visto que, queda um indicador de qualidade

    na assistncia de enfermagem.

    As principais organizaes tanto internacionais quanto nacionais, como,

    American Nurses Association (ANA), pelo NFQ, JCA, CQH, ONA, dentre outras vem

    monitorando este tipo de incidente como um indicador.

    Dentre essas organizaes, a JCA, no ano de 2010, promoveu um

    programa lanando metas de segurana para prevenir quedas e leses

    relacionadas, nas instituies de sade.

    Esse programa voltou-se para a documentao desses eventos, a fim de

    eliminar erros latentes em programas de preveno visto que erros de

    monitoramento podem ocorrer se no for identificado o paciente que tem risco para

    queda.

    Tambm, podem ocorrer erros latentes quando o paciente no

    monitorado para identificar uma leso aps a queda, como um traumatismo

    craniano.

    As quedas ocorrem como resultado de uma complexa interao de

    fatores de risco. A literatura apresenta que os vrios fatores de risco para quedas

    so classificados em trs categorias distintas: intrnsecos, extrnsecos e

    comportamentais.

    Os fatores de risco intrnsecos relacionam-se histria prvia de quedas,

    idade superior a 60 anos e crianas, sexo feminino, alguns tipos de medicamentos

    como drogas psicoativas, diurticos, vasodilatadores, antiarrtmicos, vasodilatadores

    e a polifarmcia, distrbio de marcha e equilbrio, deficincia nutricional, declnio

    cognitivo, deficincia visual e doenas ortopdicas (GANZ et al., 2007; CAMPBELL

    et al., 1999; BUENO-CAVANILLAS et al., 2000; MAHANT; STACY, 2001).

    Nos fatores de risco extrnsecos, so considerados os riscos ambientais

    como: iluminao inadequada, superfcies escorregadias, tapetes soltos ou com

    dobras, degraus altos ou estreitos, obstculos no caminho, ausncia de corrimo em

  • Introduo | 47

    corredores e banheiros, roupas e sapatos inadequados, rteses inapropriadas. O

    fator comportamental relaciona-se s pessoas mais ativas que so aquelas que tm

    maior risco de cair devido maior exposio aos riscos (GREGG, PEREIRA,

    CASPERSEN; 2000).

    Na literatura, algumas escalas vm sendo elaboradas e utilizadas para

    avaliar o risco de quedas nos pacientes. A escala mais utilizada a Fall