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FACULDADE SUDOESTE PAULISTA Instituição Chaddad de Ensino S/C Ltda. PSICOLOGIA GEOVANA DE MORAES FUSCO ANÁLISE COMPORTAMENTAL DAS REGRAS DE UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA DO INTERIOR PAULISTA AVARÉ-SP 2013

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FACULDADE SUDOESTE PAULISTA Instituição Chaddad de Ensino S/C Ltda.

PSICOLOGIA

GEOVANA DE MORAES FUSCO

ANÁLISE COMPORTAMENTAL DAS REGRAS DE UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA DO INTERIOR PAULISTA

AVARÉ-SP 2013

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GEOVANA DE MORAES FUSCO ANÁLISE COMPORTAMENTAL DAS REGRAS DE UMA COMUNIDADE

TERAPÊUTICA DO INTERIOR PAULISTA Monografia apresentada ao curso de Psicolo-gia da FSP – Faculdade Sudoeste Paulista co-mo requisito parcial para obtenção do título bacharel em Psicologia.

Orientador: Prof.° Ms. David Marconi Polonio.

AVARÉ-SP 2013

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FACULDADE SUDOESTE PAULISTA – FSP PSICOLOGIA

FOLHA DE APROVAÇÃO DE MONOGRAFIA

ANÁLISE COMPORTAMENTAL DAS REGRAS DE UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA DO INTERIOR PAULISTA.

AUTOR: GEOVANA DE MORAES FUSCO ORIENTADOR: PROF MS. DAVID MARCONI POLONIO

________________________________________ Prof Ms. David Marconi Polonio

DATA DA APROVAÇÃO: _____/_____/______

NOTA FINAL: _______________

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DEDICATÓRIA Com muito carinho, dedico aos meus pais pelo apoio, incentivo pela realização dos meus ide-ais, encorajando-me a cada dia a enfrentar todas minhas dificuldades e medos.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a DEUS pela dádiva da vida, e por ter ajudado a manter a fé

nos momentos mais difíceis e poder ter iluminado meus caminhos nessa trajetória do curso de

psicologia onde ser psicóloga é um sonho muito esperado.

Em especial aos meus pais Geraldo e Lucelena que me incentivaram em minha trajetó-

ria, sendo eles além de pais amigos, companheiros e confidentes, que hoje sorriem orgulhosos

ou choram emocionados, que muitas vezes, na tentativa de acertar, cometeram falhas, mas que

inúmeras vezes foram vitoriosos, que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos, para

que, muitas vezes, eu pudesse realizar o meu sonho. Compartilharam o meu ideal e os alimen-

taram, incentivando a prosseguir na jornada, mostrando que o meu caminho deveria ser segui-

do sem medo, fossem quais fossem os obstáculos minha eterna gratidão vai além de meus

sentimentos.

A você meu irmão Geraldo que por muitas vezes pode compartilhar minhas angústias,

que agradeço por todo amor e carinho.

Ao meu namorado Leandro, por todo amor, carinho, paciência e compreensão quem

me dedicou seu tempo e compartilhou sua experiência para que minha formação fosse tam-

bém um aprendizado de vida, meu carinho e meu agradecimento, o seu olhar crítico e constru-

tivo me ajudou a superar os desafios desse trabalho de conclusão de curso, serei eternamente

grata.

Ao professor e coordenador David Marconi que, com muita paciência e atenção, dedi-

cou do seu valioso tempo para me orientar em cada passo deste trabalho. Aos professores Ru-

bens, Márcia, Maria Isabel, Tatiane, Edson, Ana Cláudia, João, Maria Cristina, Rafael, Diego,

entre tanto outros pela contribuição na minha vida acadêmica e por tanta influência na minha

futura vida profissional.

Agradeço também ao Pablo Kurlander pela sua confiança e dedicação por ter me ensi-

nado aos primeiros passos na atuação prática da psicologia como estagiária na Comunidade

Terapêutica Nova Jornada pelo imenso aprendizado no decorrer do estágio com cada depen-

dente químico, e o quanto cada um deles fez com que eu também pudesse realizar este traba-

lho.

Aos meus colegas de classe, em especial Camila, Andréia, Tassiana, Nadia, a quem

aprendi a amar e construir laços eternos. Obrigada por todos os momentos em que fomos es-

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tudiosas, brincalhonas, atletas e cúmplices. Porque em vocês encontrei verdadeiras irmãs.

Obrigada pela paciência, pelo sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre se estendia quando

eu precisava. Esta caminhada não seria a mesma sem vocês.

A todos também meus companheiros de classe que nesses cinco anos que ouviram os

meus desabafos, que presenciaram e respeitaram o meu silêncio, que partilharam este longo

passar de anos, de páginas, de livros e cadernos, me acompanharam, choraram, riram, senti-

ram, participaram, aconselharam, dividiram as suas companhias, os seus sorrisos, as suas pa-

lavras e mesmo as ausências foram expressões de amor profundo. As alegrias de hoje também

são de todos nós, pois seus amores, estímulos e carinhos foram armas para essa minha vitória.

A minha amiga querida Camila por todo apoio e cumplicidade, dedicação e preocupa-

ção, porque mesmo distante estava presente em minha vida.

Obrigada a todos que, mesmo não estando citados aqui, tanto contribuíram para a con-

clusão desta etapa e para a Geovana que sou hoje.

“Que todo o meu ser louve ao Senhor, e que eu não esqueça nenhuma das suas bên-

çãos” Salmo 103:2.

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“Um ambiente físico e cultural diferente fará um homem diferente e melhor” (SKINNER, 2002).

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RESUMO

O presente trabalho trata-se de uma análise comportamental de uma área das normas do setor de generalidades das regras de uma Comunidade Terapêutica do interior do Estado de São Paulo. Trata-se então de uma pesquisa documental, ao analisar comportamentalmente as regra da Comunidade Terapêutica foi possível avaliar sua clareza e, posteriormente, sua possível eficácia. Esta análise foi feita transformando as regras em descrições de contingências, identi-ficando-se inicialmente os antecedentes, as respostas e as consequências, dispondo as descri-ções de contingências em um quadro funcional. Em seguida, foi avaliada a probabilidade de tais regras serem seguidas. Através deste trabalho foi possível verificar que a maioria delas não descreve seus antecedentes e resposta o seguimento de regras, portanto não se torna claro devido a não descrição de contingências. Palavras chaves: Dependência química, Comunidade Terapêutica, regras, comportamento governado por regras.

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ABSTRACT

The present paper treats of a behavioral analysis about the rules of a Therapeutic Community in São Paulo countryside. Being a documentary research upon analyzing behaviorally the rules of the Therapeutic Community, it has been possible to evaluate its explicitness and, later, its effectiveness. This analysis has been accomplished turning the rules into descriptions of contingencies, identifying initially, the backgrounds, the replies and the consequences af-fording the descriptions of contingencie in a functional approach. Then, it has been evaluated the probability of these rules be followed. Through this task, it has been possible to verify that the most of them don't obtain in the functional board their backgrounds and the reply in the following rules, however, it doesn't become clear due to the lack of descriptions of contingen-cies Keywords: Chemical dependency, Therapeutic Community, Rules, Behavior managed by Treatment Rules.

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Proporções das regras com antecedentes...............................................................34 Gráfico 2 – Proporções das regras com consequências............................................................34 Gráfico 3 – Proporções das regras com antecedentes e consequências....................................35

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Modelo de análise de contingências.......................................................................26 Quadro 2 - Análise de contingências das Normas de Moradia.................................................30

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................11

2. DESENVOLVIMENTO .....................................................................................................13

2.1 Fundamentação Teórica..................................................................................................13

2.1.1 A dependência química como problema social.............................................................13

2.1.2 Comunidades Terapêuticas............................................................................................14

2.1.3 Comunidades Terapêuticas no Brasil............................................................................18

2.1.4 Comportamento governado por regras..........................................................................19

2.1.5 Regras em Comunidade Terapêutica.............................................................................21

2.1.6 Fatores que facilitam ou dificultam o seguimento de regras........................................23

2.2 Método...............................................................................................................................26

2.2.1 Cenário............................................................................................................................26

2.3 Análise e discussão............................................................................................................30

3. CONCLUSÃO.....................................................................................................................37

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................38

ANEXOS .................................................................................................................................40

Anexo 1 – Normas de Moradia: Generalidades...................................................................41

Anexo 2 – Autorização...........................................................................................................43

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1. INTRODUÇÃO

A Comunidade Terapêutica tem dado provas de constituir uma eficiente abordagem de

tratamento do abuso de substâncias químicas e de problemas da vida vinculados a esse abuso.

Por isso tem se tornado, nas últimas décadas, uma das modalidades mais procuradas para a

recuperação de dependência química do álcool e das drogas, tanto no Brasil como em muitas

partes do mundo (KURLANDER, 2012), atendendo no Brasil a 85% das internações por ál-

cool e drogas (UNIAD, 2013; SENAD, 2013).

Segundo Kurlander (2012), De Leon (2008) e Fracasso (2008) as Comunidades Tera-

pêuticas existem há mais de 50 anos, tempo suficiente para caracterizar uma dinâmica especí-

fica de trabalho, assim como uma problemática que merece ser estudada à luz da sua própria

história.

De Leon (2008) e Fracasso (2008) afirmam que cada vez mais, tanto a população leiga

quanto os profissionais da área da saúde, procuram ou encaminham para este tipo de trata-

mento a maioria dos casos de dependência química e do álcool, em detrimento dos antes tra-

dicionais tratamentos de base medicamentosa hospitalar.

Segundo De Leon (2008) e Kurlander (2012) a problemática se deve também ao fato

de que o alcoolismo e, principalmente, a dependência química, mesmo havendo registro do

consumo de álcool e drogas desde a antiguidade, são doenças da atualidade, motivo pelo qual

o seu tratamento e recuperação ainda estão em foco de pesquisa e desenvolvimento.

Uma das principais características do comportamento da maioria dos dependentes

químicos é uma grande dificuldade em seguir regras básicas de comportamento em grupo, o

que faz com que seja extremamente importante o aprendizado destas regras para favorecer

tanto a adesão ao tratamento quanto a vida em abstinência de álcool e drogas após o mesmo.

Segundo Baum (2006), as regras são úteis para complementar contingências fracas e

complexas1, como acontece com muitas das regras das Comunidades Terapêuticas, objeto

deste estudo. Na medida em que as contingências se tornem mais claras, elas se tornarão mais

fortes, ou seja, o controle do estímulo será mais eficaz.

Skinner (2003) descreveu comportamento governado por regras como sendo comporta-

mentos que se encontram sob controle de estímulos discriminativos verbais.

1 Segundo Baum (2006), contingências complexas são aquelas nas quais não está descrito claramente o compor-

tamento a ser seguido. Isso as tornaria fracas, ou seja, menos prováveis de serem seguidas.

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É importante ressaltar que comportamento governado por regras refere-se a dois ope-

rantes que são mantidos por contingências diferentes: o operante de seguir regras e o operante

especificado pela regra. O comportamento especificado pela regra se mantém pelas contin-

gências nela descrita e o comportamento de seguir regras é mantido por suas consequências

naturais (SKINNER, 2003).

Então comportamento governado por regras pode ser modificado através da alteração

tanto dos antecedentes como das consequências ou de ambos.

Segundo Skinner (2003, p. 145)

o comportamento governado por regras é particularmente importante em algumas circunstâncias. Regras facilitam a aquisição e manutenção do comportamento quan-do as consequências do comportamento são pouco claras ou ineficazes. São de fun-damental importância nessas ocasiões, pois podem possibilitar certo controle por consequências remotas. Além disso, regras apresentadas pelo experimentador e a-quelas elaboradas pelo próprio sujeito têm sido consideradas como uma das variá-veis determinantes das diferenças entre o desempenho de humanos e não humanos submetidos a esquema de reforçamento.

O comportamento inadequado dos residentes2 durante o tratamento, caracterizado pelo

não seguimento das regras básicas da Comunidade Terapêutica, pode trazer consequências

negativas tanto para si mesmo quanto para o grupo, como a perda de privilégios, por exemplo.

Este estudo tem como objetivo descrever, a luz da análise de comportamento, as con-

tingências das regras de moradia de uma Comunidade Terapêutica.

Os objetivos específicos deste estudo são:

a) descrever as regras em termos de contingências de reforçamento;

b) avaliar se os antecedentes e consequentes são claros para os residentes;

c) identificar se estas contingências são fracas ou fortes;

d) classificar o efeito como sendo de curto ou longo prazo.

Espera-se que este estudo possa contribuir para a identificação das possíveis fragilida-

des regras da Comunidade Terapêutica estudada, contribuindo para que sejam feitas as mu-

danças necessárias, fortalecendo assim as contingências para as adequações comportamentais

esperadas.

2 Residente é o nome utilizado na Comunidade Terapêutica estudada para designar cada um dos dependentes

químicos que se encontram em tratamento.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Fundamentação Teórica

2.1.1 A dependência química como problema social

De acordo com Baum (2006) os problemas sociais são problemas comportamentais.

Todos eles têm a ver com o fazer as pessoas se comportarem melhor governar bem, obedecer

à lei, apreender na escola, reciclar o lixo.

Como levar as pessoas a se comportar adequadamente?

Para Silva (2000), o problema da dependência química é visto como resultado de

uma falta de adaptação à realidade e uma ausência de habilidade do indivíduo em lidar com o

meio social, ou ainda de uma incapacidade em resolver os problemas que a vida lhe apresenta.

O uso de drogas infelizmente continua sendo um grande problema na atualidade. A

produção delas é combatida, mas é grande o número de pessoas que permanecem no uso de

álcool e drogas, não buscando um tratamento, tanto em Comunidade Terapêutica como em

qualquer outra modalidade disponível.

O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizado pelo Instituto

Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) e pela Unidade de Pes-

quisa em Álcool e Drogas (UNIAD, 2013), afirma que o consumo de drogas e álcool em ex-

cesso traz, além do dano para a saúde da população, outros problemas sociais agregados à

degradação causada pela compulsão pelas drogas em geral e bebidas.

Dissociar diversão de exagero e combater a banalização e a irresponsabilidade com o

esclarecimento contínuo e a insistente exemplificação dos estragos causados pela bebida e

pelas drogas, podem promover mudanças em uma sociedade vulnerável à dependência quími-

ca de forma claramente desigual.

De acordo com Fracasso (2008) o consumo de droga e álcool, tal como outras pro-

blemáticas, é influenciado pelos contextos social e cultural, pelo estilo de vida e comporta-

mento que o usuário dependente químico apresenta, afetando também muitas áreas do social

na vida do individuo sua relação com a família, amigos, a busca de um emprego, área da saú-

de e o julgamento da sociedade.

Desde a vida do indivíduo, aos amigos, a família, a produtividade escolar e profis-

sional, a área da saúde entre outras.

Segundo Fracasso (2008) o indivíduo que procura um tratamento pode vir voluntari-

amente ou pressionado por questões legais, familiares e outras, porém devemos ter presente

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que, mesmo aquele que vem voluntariamente, apresentará, inicialmente, um período de resis-

tência.

Este problema se manifesta no sintoma da dependência química, mascarando-se, em

vários níveis da sua vida como a perda da autonomia e liberdade pessoal para fazer projetos,

escolhas e decisões como ser esse candidato a procurar um tratamento, mas o dependente

químico tenta resgatar essa autonomia individual.

Segundo Fracasso (2008, p. 277),

Dependente químico é um ser humano confuso e ferido. Está fazendo mal a si mes-mo e, neste momento, é incapaz de se defender. Por isso necessita de uma ajuda ex-terna que o acompanhe em uma nova direção e o sustente com amor e profissiona-lismo. É um ser humano sozinho, fisicamente separado dos outros, emocionalmente fecha-do, socialmente marginalizado, que, porém, não perdeu a criatividade, a necessidade de “pertencer”, de fazer amizades e ter amor. Um ser humano capaz de confrontar, estimar, respeitar, perdoar, de mostrar qualida-des e de ter consciência. É um protagonista digno, comunicativo e dinâmico, que expressa muda, cresce. Desenvolvendo-se partindo de si mesmo em direção aos ou-tros. É um ser humano feito para viver em grupo, expressando sentimentos, fatos e acon-tecimentos para resgatar valores comuns e reduzir as tensões sociais.

Quando se fala desse ser humano – o dependente químico – deve-se considerar

que é um ser único em sua dimensão familiar e social, um indivíduo potencialmente capaz de

renascer e projetar a própria vida em direção à autonomia e liberdade, através de seus relacio-

namentos familiares e afetivos.

A sua presença ativa no contexto social exige um comportamento mais adequado e

aceitável, tanto para a sociedade na qual se insere, quanto para si mesmo. Para isso precisa

buscar ajuda, favorecendo o crescimento através de um processo individual e social.

2.1.2 Comunidades Terapêuticas

Segundo De Leon (2008), a Comunidade Terapêutica se constituiu, há mais de 50

anos, como o modelo que mais tem dado provas substanciais para o tratamento do abuso de

álcool e drogas, assim como de outros problemas associados.

De acordo com Fracasso (2008) e De Leon (2008) em 1860 foi fundada uma organi-

zação religiosa chamada Oxford. Esta organização era uma crítica à Igreja da Inglaterra, e seu

objetivo era o renascimento espiritual da humanidade. Originalmente chamada Associação

Cristã do I Século, acabou mudando o nome em 1900 para Moral Rearmement. Este grupo,

conhecido como Grupo de Oxford, buscava um estilo de vida mais fiel aos ideais cristãos:

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encontrava-se várias vezes por semana para ler e contemplar a bíblia e se comprometiam reci-

procamente a ser honestos.

Em Oxford, cujo objetivo era o “renascimento espiritual da humanidade”, acomoda-

va de modo amplo todas as formas de sofrimento humano. No início do século XX, com as

suas atividades em alta, os dirigentes do grupo constataram que aproximadamente 25% dos

seus participantes eram alcoolistas em abstinência, o que acabou dirigindo naturalmente o seu

foco de atenção para esta problemática específica.

Segundo De Leon (2008) e Fracasso (2008) alguns integrantes deste Grupo Oxford in-

fluenciaram a formação de outro grupo, atualmente conhecido a nível mundial, os Alcoólicos

Anônimos (AA). Em 1935 dois alcoólicos tentando se recuperar, Bill Wilson, corretor da bol-

sa de Nova York, e doutor Bob Smith, médico cirurgião de Akron, se conheceram na casa

deste último, quando o primeiro tentava se contatar com outro alcoólico em recuperação, a

fim de evitar uma recaída.

Segundo Fracasso (2008, p. 273)

A aplicação do conceito de ajuda às pessoas em dificuldades, feita pelos próprios pa-res, é a base das relações vividas na Synanon, posteriormente onde cada pessoa se interessa e se sente responsável pelas outras. Desde o início acolheram alguns jovens que estavam tentando ficar em abstinência de outras drogas, e em decorrência disso a Comunidade Terapêutica que teve seu início a uma CT para alcoolistas, abriu por-tas para jovens que usavam outra substância psicoativas.

Ainda segundo De Leon (2008), Fracasso (2008) em 1958, Charles Dederich, alcoóli-

co em recuperação e membro dos AA, uniu suas experiências pessoais com as experiências de

grupo, e iniciou um grupo semanal de “ associação livre” no seu apartamento junto com ou-

tros membros da irmandade, que acabou resultando em perspectíveis mudanças psicológicas

nos participantes. Essas reuniões foram consideradas pelos seus membros como uma nova

modalidade de terapia, e em pouco tempo resolveram constituir esse grupo como comunidade

residencial, até que em Agosto de 1959, em Santa Mônica, Califórnia, EUA, foi fundada ofi-

cialmente Synanon, o primeiro protótipo de Comunidade Terapêutica para a recuperação de

dependentes químicos da história.

De acordo com Kurlander (2012, p. 20) a mais notável mudança promovida por este

grupo foi a passagem do ambiente não residencial das reuniões regulares para a convivência

integral no modelo de Comunidade Terapêutica. Obviamente as questões relativas ao ambien-

te residencial do novo programa de tratamento exigiram mudanças radicais quanto à estrutura

organizacional, regras, metas, filosofia e orientação ideológica e, principalmente, o perfil dos

atendimentos pelo programa.

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Outra particularidade deste grupo foi o atendimento de dependentes químicos, e não

somente o alcoolismo, já que outros grupos anteriores (Oxford e AA) atenderiam unicamente

esse tipo de dependência. Como, de acordo com De Leon (2008), o perfil do dependente quí-

mico é diferente do perfil do alcoólico, isto também exigiu uma mudança na postura e meto-

dologia do grupo, o que significou também um marco evolutivo na conceituação do que é, e a

quem trata, a Comunidade Terapêutica.

Synanon também introduz uma série de atividades culturais na vida da comunidade,

como, por exemplo, pintura, música e dança, como uma nova modalidade terapêutica, o que

representa, sem dúvidas, uma inovação na forma de tratar os dependentes químicos.

Estas mudanças também significaram modificações nos elementos básicos e essenciais

do que tinha sido o grupo num começo, e isto provocou sérias controvérsias na direção do

mesmo.

De Leon (2008) e Fracasso (2008) indicam que o primeiro modelo autodenominado

como Comunidade Terapêutica foi o Daytop Village, fundado em Nova York, em 1963, por

egressos de Synanon, junto ao Monsenhor William O’Brien e David Deitch. O principal dife-

rencial desta nova abordagem foi a inclusão de profissionais da área da saúde dentro da equi-

pe técnica, o que, apesar das grandes resistências por parte dos participantes das primeiras

gerações de Comunidades Terapêuticas, se tornou parte integrante do modelo principal do que

se entende atualmente como Comunidade Terapêutica.

É claro que muitas são as discussões a respeito, já que a vivência diária dentro da Co-

munidade Terapêutica com as tensões e conflitos que tanto a caracterizam, e a teoria asséptica

de muitos profissionais da área que se dedicam à pesquisa, nem sempre parecem falar da

mesma realidade.

Quanto a isto De Leon (2008, p. 8) afirma que

o que as Comunidades Terapêuticas têm questionado ou rejeitado não são novas in-formações, mas formulações abstratas, vistas muitas vezes pelos profissionais das Comunidades Terapêuticas como irrelevantes para a vida real dentro e fora dessas comunidades.

Após Daytop Village as iniciativas dirigidas à recuperação da dependência química

em regime de Comunidade Terapêutica aumentaram vertiginosamente pelo mundo todo, pro-

porcionalmente ao aumento do problema da dependência química. Programas terapêuticos na

Europa e nas Américas floresceram, expandindo este ideal e adaptando-o a cada realidade.

Este tipo de alternativa terapêutica se consolidou e deu origem a outras Comunidades

Terapêuticas que conservando os seus conceitos básicos de uma comunidade terapêutica fo-

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ram se aperfeiçoando e fazendo com que essas Comunidades Terapêuticas se tornassem mais

reconhecidas.

De acordo com De Leon (2008) embora a Comunidade Terapêutica de tratamento da

dependência química tenha por base várias fontes, tanto recentes como antigas, a expressão

“Comunidade Terapêutica” é moderna. Seu uso inicial servia para descrever as Comunidades

Terapêuticas psiquiátricas surgidas na Grã-Bretanha no curso dos anos 1940.

Não há nenhum elemento que permitia ver com clareza se as Comunidades Terapêuti-

cas psiquiátricas inglesas influenciaram as Comunidades Terapêuticas de tratamento da de-

pendência química na América do Norte. Porém um breve exame do uso da Comunidade Te-

rapêutica na psiquiatria social revela algumas características comuns a todas as Comunidades

Terapêuticas, o que explicaria a sua origem comum:

De acordo com De Leon (2008, p. 15) são características da Comunidade Terapêutica

psiquiátrica:

- considera-se a organização como um todo responsável pelo resultado terapêutico;

- a organização social é útil para criar um ambiente que maximize os efeitos tera-

pêuticos, em vez de constituir mero apoio administrativo ao tratamento;

- um elemento nuclear é a democratização: o ambiente social proporciona oportuni-

dades para que os pacientes participem ativamente dos assuntos da instituição;

- todos os relacionamentos são potencialmente terapêuticos;

- a atmosfera qualitativa do ambiente social é terapêutica no sentido de estar funda-

da numa combinação equilibrada de aceitação, controle e tolerância com respeito a

comportamentos disruptivos;

- atribuir-se um alto valor à comunicação;

- o grupo se orienta para o trabalho produtivo e para o rápido retorno à sociedade;

- usam-se técnicas educativas e a pressão do grupo para propósitos construtivos;

- a autoridade se difunde entre funcionários e responsáveis e os paciente.

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Segundo Fracasso (2008) as características da Comunidade Terapêutica psiquiátrica

são idênticas às das atuais Comunidades Terapêuticas para dependentes químicos, já que am-

bas se organizam em torno aos mesmos princípios básicos.

2.1.3 Comunidades Terapêuticas no Brasil

Após um breve histórico da Comunidade Terapêutica ela então chega ao Brasil. Se-

gundo Fracasso (2008), em 1968, na cidade de Goiânia nasce à primeira Comunidade Tera-

pêutica brasileira, o Desafio Jovem do Brasil.

Porém Kurlander (2012) relata que o site oficial do Desafio Jovem do Brasil teria di-

vulgado a fundação da primeira casa de Goiânia teria acontecido em 1977, tendo como pri-

meiro presidente o Pr. Bernardo Johnson, cinco anos depois do lendário Pr. David Wilkerson

ter vindo ao Brasil pela primeira vez através deste.

Em 1978, segundo Fracasso (2008) e Kurlander (2012) e o site oficial da Fundação

Padre Haroldo (2013), foi fundada uma entidade filantrópica chamada Associação Promocio-

nal Oração e Trabalho (APOT), hoje designada “Instituto Padre Haroldo”, que no mesmo ano

iniciou os trabalhos na Comunidade Terapêutica “Fazenda do Senhor Jesus” para homens

adultos dependentes químicos. A mesma instituição fundou em 1989 uma unidade em Cam-

pinas, SP, para meninos de rua e em 1993 uma unidade para adolescentes.

Em 1990 foi fundada a Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas

(FEBRACT, 2013), oferecendo cursos de capacitação para a equipe de trabalho. A sua sede

está localizado em Campinas, SP, sendo o Padre Haroldo Rahm, acima citado, o presidente.

Em pesquisa realizada em 2004 pelo Ministério da Saúde, sobre o perfil das Comuni-

dades Terapêuticas no Brasil, como mostra Duarte (2010), foram identificadas 339 Comuni-

dades Terapêuticas que faziam internação integral para dependentes químicos. Destacou-se

que 55% encontravam-se na região Sudeste, cerca de 30% no Sul e as demais regiões do país

concentravam apenas 15% das instituições deste tipo. A grande maioria das comunidades

(73%) foi implantada a partir da década de 1990 e atendiam, principalmente, homens (77%).

De acordo com os dados da FEBRACT (2013), 30% a 35% das pessoas que frequentaram

Comunidades Terapêuticas deixaram definitivamente de consumir drogas.

Segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID) (BRASIL,

2013) existem quase 1700 Comunidades Terapêuticas cadastradas no Brasil, embora se consi-

dere que existam mais de 3000 no total.

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Esta grande expansão das Comunidades Terapêuticas no Brasil evidencia o vertiginoso

aumento da procura por tratamento para a dependência química, fruto da crise social existen-

te, decorrente do evidente crescimento do problema no país e no mundo.

O modelo de Comunidade Terapêutica mostra que cada indivíduo deve se responsabi-

lizar pelo seu progresso, pelo seu crescimento como indivíduo e na sociedade, assim como em

cada grupo em que esteja inserido, para que possa sim ser alcançada a abstinência de álcool e

drogas.

De acordo com Fracasso (2008, p. 279)

o programa terapêutico-educativo a ser desenvolvido no período de tratamento na Comunidade Terapêutica tem como objetivo ajudar o dependente químico a se tor-nar uma pessoa livre através com a mudança de seu estilo de vida. A proposta da CT deve considerar que o dependente químico pode desenvolver-se nas diversas dimen-sões livre entre a equipe e os residentes, em uma organização solitária, democrática, e igualitária.

A Comunidade Terapêutica se torna um ambiente terapêutico ao dependente químico,

com o tratamento ao decorrer dos meses em que ele permanece em seu tratamento o residente

tem a necessidade de libertar suas energias em um sentido pleno de eficácia capaz de realizar

um projeto de vida construtivo de apreender a lidar consigo mesmo.

2.1.4 Comportamento governado por regras

Toda cultura tem suas regras. A criança que cresce em uma determinada cultura pode

apreender a obedecer a algumas de suas regras sem que seja explicitamente instruída a fazê-lo

(BAUM, 2006).

Baum (2006) afirma que talvez as pessoas sejam tão propensas a seguir regras em

parte porque são expostas, desde muito cedo, a tantas e tão diferentes relações de reforço pró-

ximas. Inúmeras vezes as crianças fazem o que lhes mandam fazer e ganham doces, afeto e

aprovações. As regras são verbalizadas pela mãe, pai, outros membros da família e depois

pelos professores.

Segundo Baum (2006) dizer que comportamento é “controlado” por uma regra é di-

zer que está sob controle do estímulo regra, e que a regra é certo tipo de estímulo discrimina-

tivo.

Nós nos concentramos nas discriminações que envolvem enunciados verbais de re-

gras, tal como as regras de um jogo, porque historicamente as pessoas têm a capacidade de

responder ao comportamento verbal. As regras podem ser tanto escritas como faladas, como:

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não é permitido jogar bitucas ou papéis fora das caixas de lixo. Além de a regra ser falada,

existe esse local certo com objetivo para serem jogados, mas não é sempre que isto ocorre.

Skinner (2003) diz que uma regra funciona como um estímulo discriminativo verbal

e é eficaz como parte de um conjunto de contingências de reforço. As regras descrevem con-

tingências, ou seja, relações entre eventos que antecedem o comportamento, a resposta e suas

conseqüências.

O comportamento governado por regras sofre pouco efeito das consequências desse

comportamento. Uma pessoa segue regras porque em sua história foi reforçada a seguir regras

similares, ou por reforçadores sociais arbitrários ou pela consequência natural do comporta-

mento especificado pela regra. A sociedade arranja as consequências para o responder de a-

cordo com as regras, estabelecendo e mantendo, desta forma, o comportamen-

to(PARACAMPO, 2005).

O comportamento de seguir regras ou instruções pode se modificar em função das

condições antecedentes ou de consequências.

Segundo Baum (2006, p. 166)

apenas os comportamentos que podem ser descritos por regras podem ser chamados de controlados por regras no sentido empregado. Os behavioristas sustentam a pos-sibilidade de uma explicação científica e tentam mostrar que o seguimento de regras pode ser explicado por conceitos de análise comportamental (reforço, controle de es-tímulo).

As regras são apresentadas na comunidade desde o momento em que os residentes

chegam até o fim de seus tratamentos, são explicadas verbalmente a todo o momento e tam-

bém escritas em suas apostilas. Sempre que as regras são seguidas passam a ser algo comum,

não há reforçadores, mas no momento em que são violadas surgem as punições, que nem

sempre são eficazes, pois o comportamento volta a se repetir.

Para Baum (2006) o comportamento controlado por regras envolve duas relações,

sendo elas a longo prazo e a curto prazo.

Há mudanças de comportamento em todo tempo, algumas regras são adquiridas e in-

corporadas rapidamente, configurando-se como de curto prazo. Já para outras regras é neces-

sária uma intervenção mais específica para que seja adquirida, como sendo um reforçador ou

uma punição. Através destes haverá consequências específicas para o comportamento, o que

colaborará com que este seja repetido ou extinguido. Esta seria a relação de longo prazo.

Regras especificam contingências, mas apenas isso não seria suficiente para defini-las.

Ao invés de, simplesmente, evocar um comportamento que foi reforçado no passado, as re-

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gras teriam funções mais abrangentes, semelhantes às das contingências, alterando as regras

reforçadoras ou punidoras de outros estímulos.

Skinner (2003), por exemplo, propõe que regras seriam estímulos especificadores de

contingências. Para ele regras seriam assim definidas, pois envolveriam descrições verbais das

relações entre a emissão de um comportamento, os eventos que o antecedem e suas prováveis

consequências. As regras evocariam comportamentos que foram reforçados diferencialmente

no passado, da mesma forma como ocorre com outros estímulos.

Baum (2006) também fala da relação que pode ser observada entre o controle por re-

gras e contingências de longo prazo, mas considera que as regras são apenas estímulos dis-

criminativos verbais, dispensando qualquer critério formal para sua definição.

Para ele os aspectos formais e funcionais de regras são variáveis importantes a serem

consideradas quando se investiga o estabelecimento e manutenção do comportamento de se-

guir regras. Estes mostraram que se apresentadas na forma de ordem, de sugestão e de acordo

estabelecem comportamentos novos e que os comportamentos estabelecidos pela ordem têm

maior probabilidade de serem mantidos após a mudança nas contingências.

2.1.5 Regras em Comunidade Terapêutica

Segundo De Leon (2008) os privilégios e sanções são também componentes distinti-

vos da comunidade como método. Eles constituem as respostas explícitas da comunidade à

maneira como os indivíduos atendem as expectativas dela.

Essas respostas refletem respectivamente a aprovação e a desaprovação de compor-

tamentos e atitudes dos indivíduos com respeito às regras da vida diária, da recuperação e dos

ensinamentos do bem viver da Comunidade Terapêutica.

De Leon (2008) afirma também que a aprovação social, na forma de apoio positivo e

de afirmação verbal, e a desaprovação, na forma de críticas e correções, ambas a cargo dos

companheiros, ocorrem diariamente na interação entre eles. Mas os privilégios e sanções dis-

ciplinares são os modos prescritos de expressão da aprovação e desaprovação pela comunida-

de.

Para ele os privilégios são recompensas explícitas concedidas pelo corpo de funcio-

nários com base tanto em mudanças do comportamento e das atitudes como no progresso clí-

nico geral no programa.

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Embora os privilégios concedidos pela Comunidade Terapêutica sejam bastante mo-

destos3, é sua relevância social e psicológica para o indivíduo que aumenta sua importância.

Segundo De Leon (2008, p. 232)

o sistema de privilégio funciona como recurso de construção da comunidade. Ele define os incentivos e recompensas explícitos destinados a residentes que se inte-gram ao sistema social de maneira bem-sucedida. Assim, os privilégios são os sím-bolos mais explícitos de mobilidade e sucesso pessoal na microssociedade da Co-munidade Terapêutica. Sua importância é decorrência direta de valorização pelo in-dividuo da comunidade que os concede. Logo, a busca de privilégios pelo indivíduo reflete sua agregação à comunidade. Reciprocamente, os privilégios reforçam a cre-dibilidade (isto é, integridade) da Comunidade Terapêutica, estimulando assim a a-gregação.

Os privilégios são usados para promover a socialização individual e o crescimento

pessoal, este sistema de privilégios da Comunidade Terapêutica ensina aos residentes que a

participação produtiva numa comunidade se baseia em conquistar as coisas por meio de esfor-

ço, e não em direitos adquiridos. Os privilégios adquirem sua importância e seu valor na Co-

munidade Terapêutica porque são conquistados, o que exige investimento de tempo e energia,

a automodificação e o risco de fracasso e desilusão.

Inversamente, os dependentes químicos têm dificuldades para tolerar as sensações de-

sagradáveis, as desilusões e a frustração, e, como decorrência, o adiamento da satisfação. Para

esses residentes, a perda de direitos secundários4 é incômoda, servindo, portanto como conse-

quências efetivas e componentes de seu processo de aprendizagem (De Leon 2008).

A maioria dos privilégios está explicitamente associada com mudanças de estágio ou

fase de cada residente onde se tem um olhar para a aprendizagem social e do crescimento pes-

soal de cada um. Aumento de privilégios pode reforçar seu comportamento em relação a sua

autonomia pessoal fazendo com que o ambiente na Comunidade Terapêutica se torne mais

favorável para seu tratamento

Segundo De Leon (2008) o termo “sanções” abrange todas as modalidades de desa-

provação de comportamentos e atitudes que não atendam às expectativas da comunidade.

Para ele (2008, p. 239)

as sanções podem ser agrupadas em corretivos verbais e ações disciplinares. Os cor-retivos verbais consistem em reações dos companheiros e dos funcionários decorren-tes de comportamentos e atitudes negativos que, embora não sejam infrações das re-gras, não conseguem atender às expectativas da comunidade.As ações disciplinares consistem em consequências negativas especificamente prescritas que o corpo de funcionários aplica a comportamentos e atitudes que constituem infrações ou viola-ções de regras explícitas.

3 Melhor explicados no Método – Cenário. 4 Idem.

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No início do tratamento os residentes agem com um comportamento que não é compa-

tível com o dia-a-dia da comunidade, relacionado mais à vida que tinham antes da internação

do que com o estilo de vida da recuperação. Tanto os corretivos verbais como as ações disci-

plinares destinam-se a facilitar a aprendizagem de mudança de comportamento durante o tra-

tamento.

Na Comunidade Terapêutica, as sanções disciplinares consistem numa variedade de

consequências negativas prescritas para comportamentos e atitudes que violam regras explíci-

tas da comunidade ou deixam de atender a expectativas da comunidade.

As sanções têm múltiplas funções para a comunidade e para os residentes, como a-

prender a viver em grupo, na qual as sanções disciplinares promovem a consciência comunitá-

ria, mantendo uma ordem social, e aprender a reger a própria vida são fundamentais para o

processo de socialização sendo o processo fundamental no tratamento em geral.

De Leon (2008) afirma que um elemento definidor da socialização na Comunidade Te-

rapêutica é apreender a viver numa comunidade com regras, normas e expectativas prescritas.

O respeito a regras é essencial à ordem social, mas também indica a aceitação pelo indivíduo

da Comunidade Terapêutica como cultura da mudança.

Segundo De Leon (2008, p. 245)

As Comunidades Terapêuticas mantêm um código explícito de regras e regulamen-tos que definem as fronteiras comportamentais da segurança física e psicológica da comunidade. Violações e infrações dessas regras e desses regulamentos levam a sanções ou ações disciplinares aplicadas pelo corpo de funcionários. O código de re-gras pode ser organizado em três níveis de rigor que refletem a importância das re-gras, regras essências, regras básicas e regras da casa.

Entretanto privilégios e sanções são consequências do seguimento de regras sendo elas

regras essências, básicas ou da casa na qual com um sistema integrado de consequências posi-

tivas ou negativas que mantém a ordem social e facilita a socialização e o crescimento pessoal

de cada residente da Comunidade Terapêutica.

2.1.6 Fatores que facilitam ou dificultam o seguimento de regras

Há vários fatores que facilitam ou dificultam o seguimento de regras da Comunidade

Terapêutica, as respostas da comunidade à avaliação que faz dos residentes consistem em

várias reações, decisões e estratégias empregadas para promover a participação continua e o

seguimento dessas regras.

Os fatores em respostas palavras e ações podem ser de apoio, afirmativas, críticas, re-

forçadores ou punitivas.

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Dessa maneira, segundo De Leon (2008), as mudanças de tarefa, afirmações, privilé-

gios e medidas disciplinares podem ser usados para facilitar o atendimento pelo residente das

expectativas da comunidade em relação às regras.

No início do tratamento para os recém-chegados as regras são mais flexíveis, pois ain-

da não atenderam as expectativas relativas do tratamento, e seus comportamentos estão rela-

cionados com fatores do não seguimento de regras.

Afirma De Leon (2008) que a Comunidade Terapêutica dá apoio e instruções e o resi-

dente tem mais oportunidade, enquanto passa pelo primeiro estágio de aprendizagem, para

atender as expectativas da comunidade sendo este um fator que irá facilitar o seguimento de

regras.

A avaliação e respostas do seguimento de regras são correlativas às expectativas da

comunidade em termos de desempenho, responsabilidade, autonomia a cada estágio de trata-

mento do residente.

No inicio do tratamento o residente é exposto aos recursos, pessoas e atividades da

comunidade, a fim de aprender a usá-los para a automudança em relação a sua disposição ao

seguimento de regras sendo para cada residente facilitador ou não.

O que pode ser um comportamento aceitável no início do tratamento pode mais tarde

ser inaceitável, provocando uma resposta diferente do esperado pela comunidade.

Na verdade os residentes indicam seu crescimento pessoal quando usam as respostas

das regras, tanto positivas quanto negativas, como oportunidade de aprendizado para aprofun-

dar a automudança de seu comportamento.

Regras podem interferir na adaptação do comportamento não-verbal humano às con-

tingências de reforço. Regras que descrevem as contingências de reforço podem facilitar a

adaptação do comportamento podendo então regras serem seguidas.

De acordo com Paracampo (2005), no entanto, quando as contingências mudam, tor-

nando as regras discrepantes das contingências, o comportamento estabelecido por regras tem

menor probabilidade de mudar dificultando o seguimento de regras onde acompanhando tais

mudanças do que o comportamento inicialmente estabelecido por modelagem ou reforço dife-

rencial, ou seja, o comportamento estabelecido por regras parece pouco sensível a alterações

nas contingências de reforço.

Uma explicação para a freqüente insensibilidade do comportamento humano às con-

tingências de reforço programadas em situações experimentais pode estar na maneira como

regras e contingências restringem a variabilidade do comportamento. (CAVALCANTE,

2004).

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O comportamento governado por regras geralmente não apresenta variação em relação

à regra podendo então tornar com que o seguimento de regras seja mais difícil a ser seguido.

Um problema, no entanto, é que quando as contingências mudam e não as regras, estas pode-

rão mais atrapalhar do que ajudar

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2.2 Método

Este trabalho é uma pesquisa documental, que visa descrever, através da análise de

comportamento, as contingências das regras de moradia de uma Comunidade Terapêutica,

avaliando posteriormente se as mesmas seriam capazes de produzir, ou não, comportamentos

mais adequados para a vivência em grupo.

Para isto foram utilizadas as Normas de Moradia (CTNJ, 2013) da Comunidade Tera-

pêutica estudada. Estas normas estão divididas em sete setores: Generalidades, Banheiros e

Lavanderia, Dormitórios, Laborterapia, Refeitório, Reuniões e Dias de visita.

Para esta análise foi selecionado o setor de Generalidades5, por ser o mais abrangente.

O mesmo conta com 36 normas básicas de comportamento dentro da Comunidade Terapêuti-

ca.

Após a avaliação das contingências, as mesmas foram avaliadas de forma quantitativa,

a fim de oferecer um panorama mais claro da distribuição das mesmas.

Foram então analisadas as 36 regras do setor de Generalidades das Normas de Mora-

dia, cada uma separadamente, identificando antecedentes, respostas e consequências, segundo

o quadro abaixo:

Quadro 1 - Modelo de análise de contingências

Isto foi feito a fim de verificar se as regras são claras enquanto resposta, analisando se

as regras seriam eficazes e prováveis de serem seguidas.

2.2.1 Cenário

A Comunidade Terapêutica estudada é uma entidade que atende dependentes quími-

cos do sexo masculino, entre 18 e 65 anos de idade, em regime de internação voluntária, por

um tempo mínimo de nove (9) meses, o que configura o regime de Proteção Social Especial

de alta complexidade.

5 Ver Anexo 1.

Antecedente Resposta Consequência

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No Regimento Interno (CTNJ, 2010) é acrescentado que todos os candidatos devem

apresentar evidências de sanidade mental para poderem ser admitidos, ou seja, não serão ad-

mitidos indivíduos com transtornos psiquiátricos, podendo sim ser admitidos indivíduos com

transtornos de humor.

Ainda segundo o Regimento Interno, “os candidatos deverão se submeter a uma tria-

gem de avaliação, consistente em, pelo menos, uma entrevista preliminar, na qual será avalia-

do pela coordenação o pedido de internação” (CTNJ, 2010).

A CTNJ possui Normas de Moradia específicas (CTNJ, 2013) divididas nos sete seto-

res acima descritos.

O objetivo principal do tratamento é estacionar o ciclo da dependência de álcool e

drogas, recuperar o indivíduo moral, física, social e espiritualmente, assim como também pre-

parar a família do dependente de álcool e drogas para recebê-lo eficientemente ao concluir o

tratamento.

O tratamento tem uma duração mínima de nove meses, indistintamente, em todos os

casos, sendo que dentro desse período existem três etapas com objetivos específicos em cada

uma delas, sendo estas:

a) 1ª etapa - 1º ao 3º mês: Adaptação e Desintoxicação;

b) 2ª etapa - 3º ao 6º mês: Conscientização;

c) 3ª etapa - 6º ao 9º mês: Ressocialização.

A primeira etapa começa ao ingressar na comunidade e se estende até o terceiro mês

de tratamento, sendo os primeiros objetivos a serem atingidos: adaptação ao grupo e ás nor-

mas da Comunidade Terapêutica, desintoxicação física (inicial) do álcool e das drogas, assim

como também uma desintoxicação emocional dos danos psicológicos e sociais causados pela

dependência de álcool e drogas.

A segunda etapa se inicia no terceiro mês e se estende até o sexto, e é nela que aconte-

ce o principal objetivo do tratamento, que é o desenvolvimento afetivo-emocional, assim co-

mo a aquisição de um maior grau de maturidade pelo residente. Através da conscientização da

doença, dos defeitos de caráter, da derrota total perante a doença e, consequentemente, da

necessidade de mudança, se consegue a reconstrução da vida.

Nos três últimos meses se vivencia a terceira etapa, a Ressocialização, que consiste no

retorno progressivo à sociedade. Durante estes três meses finais o residente realiza uma visita

mensal de uma semana à família (ou outros) para poder avaliar a evolução do tratamento, as-

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sim como a maturidade adquirida durante os meses anteriores. Esta etapa também é importan-

te para a família, que também se preparou para este momento ao longo do tratamento. Para

aqueles que concluem o tratamento são realizadas reuniões semanais de apoio, nas quais se

efetua a manutenção dos ensinamentos e das mudanças adquiridas durante o mesmo, através

do Programa de Prevenção à Recaída e dos 12 Passos para Graduados, desenvolvidos pelo

Coordenador da CTNJ e autor desta pesquisa.

A CTNJ (2010) afirma que estes objetivos são atingidos mediante uma metodologia

própria, com base nas diretrizes da FEBRACT, seguindo o Código de Ética para Coordenado-

res e Residentes, elaborado pela mesma Federação.

A CTNJ é uma entidade Ecumênica, sem uma denominação religiosa específica, e por

tanto diversos grupos religiosos – católicos, evangélicos e espíritas – desenvolvem atividades

com os residentes.

As atividades terapêuticas propostas dentro do cronograma de trabalho são: Labortera-

pia, Reuniões de estudo dos 12 Passos (adaptados pelo Coordenador da CTNJ), Reuniões de

estudo sobre Dependência de Álcool e drogas,Reuniões de Confronto e Autoajuda, Dinâmicas

de grupo, Reuniões de Avaliação Grupal, Reuniões de Sentimento, Atividades religiosas, A-

tendimento psicoterapêutico e orientação familiar, Cursos Profissionalizantes, Educação Físi-

ca e Reiki.

A equipe da CTNJ é do tipo mista, ou seja, está composta por profissionais – Psicólo-

gos, Estagiários de Psicologia, Assistente Social – e dependentes em recuperação (monitores),

além dos voluntários diversos.

Seguindo as regras, das normas de moradia o residente de acordo com seu tempo no

tratamento pode adquirir alguns privilégios (reforços) modestos dentro do grupo, como por

exemplo: saída para atividades externas a partir do 3º mês de tratamento, tornar-se responsá-

vel por setores de trabalho, tornar-se tutor de residentes recém chegados, dirigir reuniões e

outras atividades do cronograma.

O não seguimento das regras leva a sanções6 que são aplicadas pela equipe sendo in-

formações diretas aos residentes da Comunidade Terapêutica, podendo ser estas a perda de

direitos secundários (Punição negativa) no lazer e tempo livre ou o acréscimo de funções em

horário livre (Punição positiva).

A perda de direitos secundários pode ser: ver TV, jogar futebol, baralho, sinuca, do-

minó, academia, caminhada, ouvir música, assistir televisão, etc.

6 Na CTNJ as sanções são chamadas de Experiências Educativas.

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Já o acréscimo de funções em horário livre pode ser: copiar a matéria que esteja sendo

estudada, realizar um trabalho no horário livre, etc.

Os monitores marcam no decorrer da semana as transgressões de cada residente, sendo

informações diretas pelos mesmos avisando o mesmo quando marcado, e depois, juntamente

com o restante da equipe é decidido qual experiência educativa de uma forma verbal o resi-

dente irá receber, de acordo com a quantidade, frequência e reincidência destas transgressões.

As mesmas são avaliadas em equipe a fim de que nenhum membro da mesma possa se utilizar

delas como forma de vingança pessoal.

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2.3 Análise e discussão

Após a análise das regras da Comunidade Terapêutica obteve como resultado no

quadro abaixo os seguintes dados a serem analisado e discutidos.

Quadro 2 - Análise de contingências das Normas de Moradia

Antecedente Resposta Consequência

Sempre que a sirene tocar

Deve-se parar de fazer o que estiver fazendo e dirigir-se ao local da próxima atividade.

Punição positiva

Jogar bitucas ou papéis fora das caixas de lixo.

Punição positiva

Rabiscar ou desenhar os mó-veis e/ou as paredes da co-munidade.

Sanção

Cortar ou arrancar plantas e/ou árvores dentro da comu-nidade

Punição positiva

Maltratar os animais que pertencem à comunidade, assim como prender ou caçar qualquer tipo de animal.

Punição positiva

Os residentes que não este-jam no setor dos animais não poderão alimentar os mês-mos, principalmente nos ho-rários das refeições.

Punição positiva

Manter os animais fora da casa.

Punição positiva

Emprestar roupas, objetos de uso pessoal, sapatos, etc, fazer qualquer tipo de transa-ção, comércio ou aposta en-volvendo qualquer tipo de objeto ou serviço em seu próprio beneficio.

Sanção

O uso de óculos escuros, brincos, cola-res,correntes,pulseira e den-tro da instalações da comuni-dade.

Punição negativa

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O uso de bonés dentro da casa ou da capela, ou durante a noite, assim como toucas ou gorros quando o clima não esteja frio não devem ser usados.

Sanção

Portar dinheiro e/ou objetos de valor dentro da comuni-dade, assim como qualquer outro objeto que esteja rela-cionado como proibido den-tro do enxoval.

Punição negativa

A lista de compras será reali-zada a cada 2ª feira.

Os residentes não poderão pedir nada fora deste dia, assim como tampouco pode-rão pedir objetos que não sejam de uso básico.

Sanção

Até o sábado, As cartas a enviar devem ser entregues abertas à coorde-nação

Para serem lidas e enviadas na 2ª feira junto com a lista de compras. (reforço) As cartas entregues após o sábado serão enviadas na semana seguinte. (extinção)

As cartas a receber serão entregues após serem lidas pela coordenação, sem existir para estas um dia específico.

Esperar.

Em locais indevidos (pisos cimentados, locais muito próximos a casa ou a capela, lugares de uso comum), as-sim como fazê-lo pelas jane-las ou portas.

Cuspir Sanção

Sentar sem camisa nos sofás e cadeiras da comunidade, assim como apoiar os pés neles.

Sanção

Não é permitido sentar sobre as mesas ou sobre os pousa-braços ou encostos dos sofás

Sanção

Fumar dentro da casa, assim como nas portas da mesma, ou na área externa nos horá-rios de refeições.

Sanção

Ouvir rádio ou som num vo-lume inconveniente

Sem autorização da coorde-nação.

Ligar a TV

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Pular as janelas dos quartos ou da cozinha, assim como o muro da área externa.

Sanção

Pular as janelas dos quartos ou da cozinha, assim como o muro da área externa.

Sanção

Ficar sem fazer a barba, e o banho devem ser diários.

Punição negativa

Passear nu, de cueca, sunga ou toalha pela casa.

Punição negativa

Fora de hora, seja residente da cozinha ou não.

Comer qualquer tipo de ali-mento

Sanção

Sem autorização da coorde-nação.

Abrir o freezer ou a geladeira Sanção

Devem ser evitados os “pa-pos de ativa7”

Por serem contraproducentes na busca do tratamento (re-forço).

É proibido xingar ou gritar com os companheiros.

Clima deve ser de respeito Sanção

Agressão física ou moral dentro da comunidade

Sanção e punição negativa

Sem o consentimento das pessoas.

Colocar apelido Sanção

Qualquer tipo de brincadeira de mão entre os residentes.

Punição negativa

Após o horário de recolhi-mento, ou antes, do desper-tar.

Conversar na sala Sanção

O horário de recolhimento será após a programação nos dias de Tv

E 30 minutos após a reunião nos dias da mesma.Nas 6ª feiras e nos sábados será ás 1:30hs.Os residentes poderão ficar fora dos quartos até 30 minutos após este horário.

Desde que seja fora da casa ou da área externa.

A programação será definida pela coordenação

Assistir filmes ou programas que estimulem o impulso sexual

Sanção

7 Papo de ativa: Fala ostensiva sobre álcool ou drogas.

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Mandar recados para fora da comunidade através de ter-ceiros, assim como conversar com visitas da mesma cidade fora do dia de visita

Sanção

Pede-se que se devolvam aos seus devidos lugares, e em ordem, os objetos de uso comum (livros, jogos, jor-nais, instrumentos, ferramen-tas de trabalho, panos, rodos, vassouras, esponjas, garrafas, ferro elétrico, etc.) após a utilização sempre limpos e arrumados

Punição positiva

Zelar para que não haja des-perdício de produtos da co-munidade, e pela conserva-ção do patrimônio da comu-nidade.

A quebra ou danificação do patrimônio será debitada dos residentes cada caso será estudado pela equipe (puni-ção negativa)

Ao serem analisadas as trinta e seis regras do setor de Generalidades, que compõe as

Normas de Moradia, com os resultados da análise do quadro acima.

Em relação a estas regras serem claras ou não, observa-se que na maioria delas foram

pouco identificados antecedentes e consequência, ou seja, com as contingências incompletas o

seguimento de regras se tona confuso a serem seguidas, na qual não fica claro qual o compor-

tamento a ser adequado para se ter dentro de uma Comunidade Terapêutica, pois gera duvidas

em relação do porque ter essas regras, e se não obedecidas quais serão as punições e as san-

ções, e se obedecidas quais os reforçadores.

Observou-se que na maioria delas não foram identificados antecedentes e consequên-

cia, constituindo assim regras negativas, ou seja, regras cujas contingências não estão descri-

tas por completo e, portanto, segundo Baum (2006), são menos prováveis de serem seguidas.

Das 36 regras 13 (36%) trazem antecedentes, 4 (11%) consequências e 2 (6%) com an-

tecedentes e consequências, como mostram os gráficos 1, 2 e 3.

Estas regras são basicamente punitivas e não reforçadoras, o que, segundo Baum

(2006), pode não reforçar o comportamento a aderir a estas regras.

Ao mesmo tempo, o efeito esperado destas regras pode ser avaliado como de longo

prazo, já que as contingências dos comportamentos esperados não se encontram descritos de

forma específica.

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Gráfico 1 - Regras com antecedente

36%

64%

Sim

Não

Gráfico 2 - Regras com consequência

11%

89%

Sim

Não

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Gráfico 3 - Regras com antecedente e consequência

6%

94%

Sim

Não

No entanto, com as proporções demonstradas nos gráficos analisados acima é de ex-

trema importância que haja um entendimento destas regras por parte dos residentes, através

das quais poderão garantir a adequação do seu comportamento de acordo com o proposto pela

Comunidade Terapêutica.

De acordo com Paracampo (2005) regras especificam contingências, mas apenas isso

não seria suficiente para defini-las. Ao invés de, simplesmente, evocar um comportamento

que foi reforçado no passado, as regras teriam funções mais abrangentes, semelhantes às das

contingências, alterando as funções discriminativas, estabelecedoras, reforçadoras ou punido-

ras de outros estímulos.

Isso explicaria por que, em tantos casos, o seguimento de uma regra ocorre muito de-

pois de sua emissão, já que diferentemente dos estímulos discriminativos, os efeitos dos estí-

mulos alteradores de função em geral não são tão imediatos.

Skinner (2003), por exemplo, propõe que regras seriam estímulos especificadores de

contingências. Para ele regras seriam assim definidas, pois envolveriam descrições verbais das

relações entre a emissão de um comportamento, os eventos que o antecedem e suas prováveis

consequências.

Baum (2006) também fala da relação que pode ser observada entre o controle por re-

gras e contingências de longo prazo, mas considera que as regras são apenas estímulos dis-

criminativos verbais, dispensando qualquer critério formal para sua definição.

Para ele os aspectos formais e funcionais de regras são variáveis importantes a serem

consideradas quando se investiga o estabelecimento e manutenção do comportamento de se-

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guir regras. Estes mostraram que se apresentadas na forma de ordem, de sugestão e de acordo

estabelecem comportamentos novos e que os comportamentos estabelecidos pela ordem e tem

maior probabilidade de serem mantidos após a mudança nas contingências.

Com esta análise traz a possibilidade de que mudanças podem ocorrer no comporta-

mento dos residentes, e no seguimento de regras tornando mais claras e evidencia que as re-

gras poderiam apresentar maior adesão se suas contingências fossem descritas de forma mais

completa.

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3. CONCLUSÃO

As Comunidades Terapêuticas tem se tornado, no Brasil, a modalidade mais procurada

para o tratamento da dependência química, oferecendo um modelo singular de atendimento,

sendo que as regras instituídas por estas podem promover mudanças significativas no compor-

tamento dos residentes.

Grande parte dos dependentes químicos não possuem uma vida regrada, vivendo sem

limites, não dando importância para as regras sociais mais básicas, o que faz com que a aqui-

sição de regras de conduta seja parte integrante do tratamento.

Sendo o objetivo desta pesquisa analisar as contingências das regras de uma Comuni-

dade Terapêutica, foi identificado que provavelmente estas teriam baixa adesão, por não ser

claramente descritas aos residentes.

Conclui-se, após a avaliação das contingências, descritas nas regras analisadas não

descrevem os comportamentos claramente, fazendo com que elas sejam seguidas, com maior

probabilidade, em longo prazo.

Por este motivo se sugere a possibilidades de que essas regras sejam modificadas, es-

clarecendo melhor as contingências de cada uma delas, a fim de obter maior e melhor resposta

às mesmas, para que cada uma dessas regras possa ter mais eficácia na adequação do compor-

tamento dos residentes da Comunidade Terapêutica.

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REFERÊNCIAS

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DUARTE, Paulina do Carmo Vieira. Avaliação de comunidades terapêuticas que prestam atendimento a pessoas com transtornos decorrentes do uso de crack e outras substâncias psicoativas. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cts=1331517345793&ved=0CFAQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.viver-bem.fmb.unesp.br%2Fdocs%2FSenad%2FProjeto%2520AVALIACAO_Cts_16_02_2011.doc&ei=S1RdT6-pOoWagwfGw4yiCw&usg=AFQjCNFqVNEjJ0G_EgrDB8EN9wwG3JkJgQ>. Acesso em: 11 set. 2013.

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FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE COMUNIDAES TERAPÊUTICAS. Disponível em: <www.febract.org.br>. Acesso em: 07 mar. 2013. FRACASSO, Laura. Comunidade Terapêutica: uma abordagem psicossocial. Campinas: Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Educação Física, 2008. Disponível em: <http://www.fef.unicamp.br/biblioteca/Encontrointerdisciplinar/Texto%202%20Laura.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2013.

FUNDAÇÃO PADRE HAROLDO. Disponível em: <www.padreharoldo.org.br>. Acesso em: 25 set. 2013. KURLANDER, P. A. “A SÍNDROME DOS TRÊS MESES”: a desistência no tratamento da dependência química em duas Comunidades Terapêuticas do interior do Estado de São Paulo. 2012 Monografias (Bacharelado em Psicologia) - Institui-ção Chaddad de Ensino, Faculdade Sudoeste Paulista, Avaré-SP. MONTE SERRAT, Saulo (org). Drogas e Álcool - Prevenção e Tratamento. 7ª reimpressão - Campinas, SP: Komedi, 2012. PARACAMPO,C.C.P. & ALBUQUERQUE, L.C. Comportamento controlado por regras: revisão crítica de preposições conceituais e resultados experimentais. Intera-ção em Psicologia, 2005. Disponível em: <http://scholar.google.com.br/scholar?q=COMPORTAMENTO+VERBAL+PARACAMPO&btnG=&hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5>.Acesso em: 12. dez. 2013. SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dis-sertação. 3ª Edição, 2000. 121 p. SENAD. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/senad/>. Acesso em: 10 out. 2013. SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. Tradução de: João Carlos Todorov, Rodolfo Azzi. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (coleção biblioteca universal). UNIAD. Disponível em: <uniad.org.br>. Acesso em: 10 out. 2013.

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ANEXOS

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Anexo 1 – Normas de Moradia: Generalidades 1. Sempre que a sirene tocar deve-se deixar de fazer o que estiver fazendo para dirigir-se ao

local da próxima atividade. 2. Não é permitido jogar bitucas ou papéis fora das caixas de lixo. 3. Não é permitido rabiscar ou desenhar os móveis e/ou as paredes da comunidade. 4. Não é permitido cortar ou arrancar plantas e/ou árvores dentro da comunidade. 5. É proibido maltratar os animais que pertencem à comunidade, assim como prender ou

caçar qualquer tipo de animal. 6. Os residentes que não estejam no setor dos animais não poderão alimentar os mesmos,

principalmente nos horários das refeições. 7. É da responsabilidade de todos os residentes manter os animais fora dos alojamentos, re-

feitório e cozinha. 8. Não é permitido emprestar roupas, objetos de uso pessoal, sapatos, etc, assim como fazer

qualquer tipo de transação, comércio ou aposta envolvendo qualquer tipo de objeto ou serviço em seu próprio benefício.

9. Não é permitido o uso de óculos escuros, brincos, colares, correntes, pulseiras e fones de ouvido dentro das instalações da comunidade.

10. Não é permitido o uso de bonés durante as reuniões e durante a noite, assim como toucas ou gorros quando o clima não esteja frio.

11. Não é permitido portar dinheiro e/ou objetos de valor dentro da comunidade, assim como qualquer outro objeto que esteja relacionado como proibido dentro do enxoval.

12. A lista de compras será realizada semanalmente. Os residentes não poderão pedir nada fora deste dia, assim como tampouco poderão pedir alimentos ou objetos que não sejam de uso básico, nem mesmo exigir uma marca determinada para os produtos solicitados. A coordenação determinará a real necessidade dos produtos solicitados.

13. As cartas a enviar devem ser entregues abertas à coordenação, para serem lidas e enviadas semanalmente. As cartas entregues fora do prazo estipulado serão enviadas na semana se-guinte.

14. Não serão enviadas cartas através do Grupo de Apoio a familiares. 15. As cartas a receber serão entregues após serem lidas pela coordenação, sem existir para

isto um dia específico, já que dependerá da disponibilidade da equipe. 16. Não é permitido cuspir em locais indevidos (pisos cimentados, locais muito próximos a

casa ou refeitório, assim como em lugares de uso comum), assim como fazê-lo pelas jane-las ou portas.

17. Não é permitido sentar sem camisa nos sofás e cadeiras da comunidade, assim como apoi-ar os pés neles.

18. Não é permitido sentar sobre as mesas ou sobre os pousa-braços ou encostos dos sofás. 19. Não é permitido fumar em locais fechados. 20. Não é permitido ouvir rádio ou som num volume inconveniente. 21. Não é permitido ligar a TV sem autorização da coordenação. 22. Não é permitido pular as janelas dos quartos ou da cozinha. 23. Não é permitido ficar mais de uma semana sem fazer a barba, e o banho deve ser diário. 24. Não é permitido passear nu, de cueca, sunga ou toalha pela comunidade. 25. Não é permitido comer qualquer tipo de alimento fora de hora, seja ele da cozinha ou não. 26. Devem ser evitados os “papos de ativa” por serem contraproducentes na busca do trata-

mento. 27. O clima deve ser de respeito, é proibido xingar ou gritar com os companheiros. 28. Não é permitido nenhum tipo de ameaça, agressão física ou moral dentro da comunidade.

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29. Não é permitido colocar apelidos sem o consentimento da pessoa. 30. Não é permitido qualquer tipo de brincadeira de mão entre os residentes. 31. Não é permitido conversar nos quartos, ou nas proximidades deles, após o horário de reco-

lhimento ou antes da alvorada. 32. O horário de recolhimento será após a programação nos dias de TV, e 30 minutos após a

reunião nos dias da mesma. Nas 6ªs feiras será à 1:30hs., e nos sábados às 2:30hs. Os resi-dentes poderão ficar fora dos quartos até 30 minutos após este horário, desde que seja fora das proximidades dos mesmos, e sem fazer barulho, para não atrapalhar os companheiros.

33. Não é permitido assistir filmes ou programas que estimulem o impulso sexual. A progra-mação será definida pela coordenação.

34. Não é permitido mandar recados para fora da comunidade a través de terceiros, assim co-mo conversar com as entrevistas e/ou visitas fora do dia de visita, sem a autorização da coordenação.

35. Pede-se que se devolvam aos seus devidos lugares, e em ordem, os objetos de uso comum (livros, jogos, jornais, instrumentos, ferramentas de trabalho, panos, rodos, vassouras, es-ponjas, garrafas, ferro elétrico, etc.) após a utilização, sempre limpos e arrumados.

36. Deve-se zelar para que não haja desperdício de produtos e pela conservação do patrimônio da comunidade. A quebra ou danificação do patrimônio será debitada do residente. (Cada caso será estudado pela equipe).

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Anexo 2 – Autorização