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Análise aderência bambu-concreto Julho/2016
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016
Análise aderência bambu-concreto
Luiz Renato Henrique Darolt – [email protected]
Projeto, Execução e Controle de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Araranguá, SC, cinco de outubro de dois mil e quinze.
Resumo
Devido à procura cada vez mais significante por materiais alternativos na construção civil,
vários estudos estão sendo feitos para que se encontre um material sustentável e alguns
propõem a utilização do bambu-concreto. Este trabalho apresenta um estudo experimental
sobre o comportamento de varetas de bambu (in natura) no concreto, com o objetivo de
analisar o efeito do bambu-concreto na resistência de aderência à tração e a resistência a
tração na flexão. O programa experimental se ateve à comparação de resultados entre dois
materiais distintos. Foram confeccionados seis corpos de prova para o ensaio de flexão,
normatizado pela NBR 12142, onde, três são em concreto simples e três com inserção de
duas taliscas de bambu. Realizou-se ensaios de arrancamento com doze corpos-de-prova,
com dois diferentes tipos de materiais: oito com talisca de bambu e quatro com barra de aço
CA-50, onde foi aplicada uma força vertical para obtenção de sua resistência de aderência à
tração. Os resultados obtidos evidenciaram que por resistência á flexão na tração houve uma
diminuição de 37,65%, já no caso na resistência de aderência os resultados com bambu
tiveram 7,44% da resistência obtida com barra de aço.
Palavras-Chave: Bambu. Flexão Simples. Aderência.
1. Introdução
A concepção básica de uma estrutura de concreto armado com bambu consiste na capacidade
de resistência dos materiais: o concreto, resistente aos esforços de compressão, e as varetas de
bambu, aos esforços de tração. Teoricamente, quando é eficiente, a aderência garante que
esses dois materiais atuem de forma unificada, garantindo, também, a capacidade do concreto
de continuar a resistir aos esforços após a ocorrência da sua fissuração (PARK & PAULAY,
1975), e é esta aderência do bambu com o concreto que é a responsável por essa transferência.
O bambu é um material que possui propriedades mecânicas compatíveis às dos materiais
utilizados em estruturas de concreto armado (LIMA JR. ET AL, 2000) e em virtude disto, há
estudos sobre a possibilidade da utilização desse material como reforço nesses tipos de
estruturas. (GEYMAYER E COX, 1970).
Segundo Beraldo & Chen (2002), a utilização de materiais de construção à base de matrizes
cimentícias reforçadas por fibras cresce rapidamente e, nos países desenvolvidos, o volume
utilizado alcança o nível de milhares de toneladas por ano. Os estudos sobre este e outros
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materiais não convencionais são desenvolvidos e motivados pela escassez de habitações
populares no Brasil e em outros países em desenvolvimento.
Desde a pré-história, o bambu é intensamente utilizado na construção civil, principalmente na
China e no sul Asiático, nas estruturas de habitações e pontes. Estas, construídas há cinco mil
anos, utilizavam cabos feitos de fibras de bambu e tinham uma incrível capacidade de vencer
grandes vãos. Como exemplo referencial na arquitetura com material sustentável, tem-se o
TAJ MAHAL, que recentemente foi reformado e sua estrutura milenar de bambu foi
substituída por aço.
Existem diversas vantagens na utilização deste material sustentável, como: seu baixo custo, a
rapidez no crescimento, a boa resistência à tração e consumo baixo de energia para fabricação
das fibras. Essas fibras são as principais responsáveis pela resistência mecânica, pois
constituem 40 a 50% de tecido e contribuem com 60 a 70% do peso total do colmo, podendo
ocorrer variações entre os gêneros e espécies (GROSSER; LIESÉ, 1974).
No mundo, há, em media, 75 gêneros e 1250 espécies de bambu, das quais 62% são da Ásia,
34% das Américas e 4% da África e da Oceania. A classificação e identificação botânica das
espécies é muito difícil, tendo em vista que esse tipo de vegetal floresce em intervalos de
tempo muito longos (30 a 100 anos) dependendo da espécie e de condições ambientais
(LOPEZ, 1974). Porém, é possível identificar suas características individuais, que se diferem
no comprimento, espessura e pela posição que ocupam dentro do feixe no colmo (LESE,
1998). Salgado et. al.(1994) e Azzini e Beraldo (2000) estudando espécies de bambu de
grande porte, observaram diferentes valores médios para o comprimento, largura e espessura
da parte das fibras de bambu.
A estrutura anatômica dos colmos do bambu está diretamente relacionada com as
propriedades mecânicas, portanto, o envelhecimento desta parte influencia algumas
propriedades, tanto físicas como mecânicas, e consequentemente afeta o processamento e a
utilização do material.
Beraldo (1991) avaliou o uso do bambu como material na construção civil. No Brasil, alguns
fatores limitantes impedem que a demanda aumente, como, a pequena vida útil do vegetal
comparado ao aço e a variação volumétrica quando sujeito à umidade, o que acaba destruindo
a união bambu-concreto, resultando em grandes deflexões e fissurações quando carregado e à
baixa aderência entre os materiais, em virtude de sua superfície lisa.
Diante destas situações, pesquisadores desenvolveram e continuam desenvolvendo estudos
para viabilizar o uso do “bambu-concreto” com níveis maiores de segurança e confiabilidade.
Ensaios realizados por Mehra (1951), mantiveram as dimensões das peças constantes. Pode-se
perceber que as dimensões do bambu variaram de 5,0 a 7,5%, quando submetido a ciclos de
umedecimentos à secagem dos mesmos. Outro problema relevante a ser considerado na
associação “bambu-concreto” e um dos grandes entraves a sua utilização é a sua aderência.
Esse processo depende do grau de saturação do colmo depois do endurecimento do concreto,
da extensão e proporção de retração e das saliências do colmo, da proporção bambu-concreto
e da variação da temperatura.
O espaçamento correto entre as varetas de bambu que servem de armadura em peças de
concreto é um fator importante para determinar a resistência ao cisalhamento das mesmas.
Ensaios indicaram que quando o reforço longitudinal, principalmente, é muito espaçado, a
resistência à flexão é prejudicada. No caso de ser utilizado em linhas verticais, e quando o
ponto em questão é perto da linha neutra da peça, a área de concreto da seção horizontal de
cisalhamento pode ser danificada, causando fissuras na peça. Em muitas amostras testadas sob
carregamento a flexão, a causa das rupturas foi atribuída ao cisalhamento horizontal. Segundo
Lima Jr. (1999), as vigas de “concreto-bambu” são mais deformáveis do que as que utilizam
aço como reforço, devido ao baixo módulo de elasticidade do bambu, ocasionando fissuras de
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grande abertura, levando a peça ao colapso. O reforço de cisalhamento melhora o
comportamento das vigas bambu-concreto.
É nessa perspectiva que esse trabalho será desenvolvido: avaliar experimentalmente a
resistência de aderência bambu-concreto e a resistência de tração na flexão, porém com
diferentes materiais adotados para os corpos-de-prova, comparando os resultados com os
obtidos utilizando materiais de construção civil convencionais.
2. Materiais e Métodos
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, amostras de bambu foram coletadas e utilizadas em
analises experimentais que permitiram avaliar seu comportado associado ao concreto, levando
em consideração: a resistência de aderência à tração tendo como referência e base a RILEN-
FIP-CEB (1973); e a resistência à tração na flexão tendo como base e referência a norma
NBR 12142.
O bambu coletado tem entre seis à oito anos de idade, segundo o proprietário que forneceu as
amostras. Após serem coletadas, foram armazenadas durante vinte dias, protegidas dos raios
solares e sem contato com o solo, para que a umidade não interferisse no procedimento.
Passado esse período, os bambus foram cortados na seção transversal com um comprimento
de dois metros para facilitar a sua secagem.
Os ensaios de arrancamento (aderência) foram realizados com base na norma brasileira NBR
6152 que trata sobre os ensaios de tração à temperatura ambiente. Oito corpos de provas
foram preparados com varetas de bambu inseridas no concreto, tendo como dimensões: trinta
centímetros de comprimento, dois centímetros de largura e meio centímetro de espessura, e
foram moldados em formas de placas resinadas, com dez centímetros de largura, dez
centímetros de altura e dez centímetros de comprimento. Além desses, foram também
preparadas seis varetas de bambu, manualmente, para os ensaios de flexão, com dimensões de
trinta centímetros de comprimento, dois centímetros de largura e meio centímetro de
espessura.
Para a realização do ensaio à flexão simples foram moldados seis corpos-de-prova
prismáticos, sendo três somente em concreto puro e os outros três com taliscas de bambu
confinadas no concreto na parte inferior, respeitando o cobrimento nominal de 25 mm,
conforme o especificado na NBR 6118, e com as seguintes medidas: quinze centímetros de
largura, quinze centímetros de altura e cinquenta centímetros de comprimento. O concreto utilizado apresentava fck 25 MPa do tipo convencional com traço de 1:3,12:3,20,
os materiais utilizados foram:
Agregado Miúdo: Areia lavada média;
Agregado Graúdo: Brita 19,0 mm ou ¾;
Cimento: CPV ARI RS;
Água.
Aditivo: Plastificante Muraplast FK 120.
Em um primeiro momento, um terço do volume do cubo foi preenchido e foram colocadas as
varetas de bambu e também as de aço. Após, completou-se o preenchimento do cubo de
concreto, fazendo com que as varetas e os aços ficassem posicionados no centro das peças.
Para o ensaio de arrancamento (aderência) moldou-se oito corpos de prova de dez centímetros
de largura, dez centímetros de altura e dez centímetros de comprimento. Desses, três com
taliscas de bambu. E mais quatro corpos-de-prova com aço CA-50 Ø 16,0mm (figura 1) –
adotou-se o aço Ø 16,0mm devido a sua área de contato ser aproximada ao do bambu
utilizado.
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Para os ensaios de tração na flexão foram moldados seis corpos de prova, sendo que três
continham duas varetas de bambu. Para atender à norma NBR 6118, respeitou-se o
cobrimento nominal de 25mm conforme fck de 25MPa. Para isso, foi preciso utilizar duas
pastilhas de 25mm de espessura (figura 1).
Figura 1 – Corpos-de-prova à serem ensaiados
Fonte: Elaboração Própria (2015)
O tempo de cura, conforme a norma brasileira NBR 6118, foi de sete dias. Os primeiros
ensaios de arrancamento foram realizados com vinte e oito dias, e os seguintes após 60 dias
da concretagem. Já os ensaios de flexão simples foram ensaiados quatorze dias após a
concretagem.
No ensaio de arrancamento, conforme a recomendação e base de RILEM/CEB/FIP (1973), o
objetivo foi determinar a resistência à tração da interface bambu-concreto, obtendo-se o
deslocamento para cada acréscimo de carga à tração aplicada na talisca de bambu confinada
no concreto endurecido, de acordo com o RILEM/CEB/FIP (1973). Os cubos com varetas
para ensaios de arrancamento (aderência) foram submetidos á ação de força de tração por uma
máquina específica, chamada Emic DL 10000, com uma célula Trd 28, extensômetro Trd 6,
onde foram presos através de um aparato metálico que envolve os cubos e é fixado em uma
das extremidades da máquina por uma garra e na outra extremidade, é fixada a vareta de
bambu por uma garra. Com isso, pode-se determinar a resistência de aderência entre o bambu
e o concreto. A medição da tensão de aderência do bambu se deve á seguinte fórmula:
Equação 1
Onde:
Farr = É a força aplicada em (N)
u = É o perímetro de contato em (cm)
lb = É o comprimento da barra em contato com o concreto (cm)
Os cubos produzidos para o ensaio de arrancamento (aderência) foram fixados em um aparato
metálico, que suporta a força exercida pelo equipamento de ensaio. Esta força foi aplicada
através de processo mecânico pela EMIC DL 10000 – com uma velocidade de 10 mm/mim –
e foi medida do inicio ao fim do escorregamento (momento em que a força fica nula ou que os
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corpos-de-prova acabam se rompendo), quando não há mais o deslocamento, ou seja, quando
a vareta de bambu se desprende totalmente do bloco de concreto.
A carga aplicada seguiu os mesmos padrões para os corpos-de-prova com taliscas de bambu,
como para os de Aço CA-50 Ø 16,0mm. Para se ter um parâmetro de análise, foram ensaiados
quatro corpos com talisca de bambu e dois com barra de aço, aos 28 dias, e outros quatro
corpos com bambu e dois com barra de aço, aos 63 dias. Nos ensaios com as barras, foram
adaptadas duas chapas de aço, para que o aparato suportasse a carga exercida pela EMIC.
As ilustrações a seguir mostram claramente os resultados obtidos nos ensaios de arrancamento
(aderência), à medida que foram ensaiados:
Figura 2 – Corpos de prova prontos para serem ensaiados
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Figura 3 – Preparação da amostra no aparato
Fonte: Elaboração Própria (2015)
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Figura 4 – Amostra com talisca de bambu com 30 mm de escorregamento
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Figura 5 – Amostra com talisca de bambu após o ensaio
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Figura 6 – Preparação da amostra com a barra de aço
Fonte: Elaboração Própria (2015)
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Figura 7 –Amostra com a barra de aço sendo ensaiada
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Figura 8 – Momento de ruptura do corpo de prova.
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Para se obter a área de contato da vareta de bambu com o concreto, calculou-se o perímetro
conforme equação 2:
Equação 2
Onde:
Ac = Área de Contato;
bt = Base da seção transversal do bambu;
ht = altura da seção transversal do bambu;
lc = Comprimento de ancoragem do bambu no concreto.
Com isso, pode-se determinar a resistência de aderência entre o bambu e o concreto. Os cubos
com varetas para ensaios de arrancamento (aderência) foram submetidos á ação de força de
tração por uma máquina de ensaios (Emic DL 10000), com uma velocidade aplicada de 10
mm/mim, para que se pudesse medir a força aplicada do inicio do escorregamento até o final,
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onde se tem uma força nula. Quando os corpos de prova entravam em colapso, a vareta de
bambu se desprendia totalmente do bloco de concreto. Este procedimento teve como base e
referencia a norma NBR 12142, onde consta que se deve promover a aplicação controlada da
carga sobre o corpo de prova a ser ensaiado.
Esta carga foi aplicada de forma uniforme até se obter o valor máximo suportado. Para a
obtenção dos valores da resistência à tração na flexão para os corpos de prova com o bambu, e
tomando como base a NBR 12142, utilizou-se a seguinte equação:
Equação 3
Onde:
Fcm = Resistência à tração na flexão (MPa) ;
P = Carga máxima aplicada (N);
a = Distância média entre a linha de ruptura na face tracionada e a linha correspondente ao
apoio mais próximo, obtida com aproximação de 1 mm, mediante a tomada de, pelo menos,
três medidas (a ≥ 0,283l);
b = Largura média do corpo-de-prova na seção de ruptura (mm);
h = Altura média do corpo-de-prova na seção de ruptura (mm).
A norma NBR 12142 – que trata dos ensaios de flexão – recomenda para a realização dos
ensaios: apoiar e centralizar o corpo-de-prova no dispositivo de carregamento, assim como o
dispositivo na máquina de ensaio, conforme demonstrado na figura 10.
Figura 9 - Posicionamento dos elementos para o ensaio de flexão
Fonte: NBR 12142 (1991)
Após posicionados, inicia-se o acionamento e verificação até que a carga indicada seja
nula, considerando o momento em que o corpo-de-prova entra em contato com os
elementos de aplicação de carga. Então, deve-se carregar o corpo-de-prova continuamente e
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sem choques, com crescimento constante a uma velocidade de (0,9 a 1,1) MPa/min, até a
ruptura.
Neste momento, deve-se determinar, na seção de ruptura, a altura e a largura (média de três
determinações) do corpo-de-prova, utilizando o paquímetro, com aproximação de 0.1 mm
para corpos-de-prova de dimensão básica de 150 mm e 250 mm, conforme a MB-2, e com
outro instrumento que permita uma aproximação de 1 mm, para corpos-de-prova de
dimensão básica de 450 mm.
Os prismas produzidos para o ensaio de flexão simples, medindo 50,0 cm de comprimento,
foram apoiados em bases roliças na máquina EMIC, com um vão teórico resultante de 45,0
cm, como mostra a figura 11.
Figura 10 – Esquema de Carregamento do Prisma.
Fonte: Elaboração Própria (2012)
A carga foi aplicada seguindo os mesmos padrões para todos os corpos de prova e o
carregamento foi realizado de forma continua, até atingir a ruptura ou colapso do prisma.
As ilustrações a seguir mostram as deflexões nos prismas, à medida que vão sendo
carregadas, até sua ruptura.
Figura 11 – Início do Carregamento do Prisma sem a Talisca de Bambu
Fonte: Elaboração Própria (2012)
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Figura 12 – Colapso do Prisma sem a Talisca de Bambu
Fonte: Elaboração Própria (2012)
Figura 13 – Inicio do Carregamento dos Prismas Armadas com as Varetas de Bambu
Fonte: Elaboração Própria (2012)
Figura 14 – Ruptura dos Prismas Armadas com as Varetas de Bambu
Fonte: Elaboração Própria (2012)
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Figura 15 – Detalhe da Ruptura dos Prismas Armadas com as Varetas de Bambu
Fonte: Elaboração Própria (2012)
Ainda com base na mesma norma e buscando a obtenção dos valores da resistência à tração
na flexão para os corpos de prova com concreto puro, a equação a seguir também foi
utilizada:
Equação 4
Sendo:
Fcm = Resistência à tração na flexão (MPa) ;
P = Carga máxima aplicada (N);
L = distância entre os cutelos de suporte, (mm)
b = Largura média do corpo de prova na seção de ruptura (mm);
h = Altura média do corpo de prova na seção de ruptura (mm).
3. Resultados e discussões
A análise dos resultados consistiu em duas etapas: a primeira nos ensaios de aderência, tendo
em vista uma averiguação e comparação entre as tensões de aderência dos materiais
elaborados com o bambu e com o aço; e a segunda nos ensaios de tração da flexão, onde
foram analisados os resultados médios das tensões – comparando os materiais utilizados no
procedimento.
3.1 Resultados de arrancamento (aderência)
A realização dos ensaios de arrancamento (aderência) possibilitou a observação de que os
corpos de prova com taliscas de bambu obtiveram resultado inferiores aos corpos de prova
com aço, conforme demonstrado na tabela a seguir:
Descrição
Área de
Contato
(cm²)
Força aos
28 dias (kN)
Força aos 63
dias (kN)
Tensão de
Aderência aos 28
dias (MPa)
Tensão de
Aderência aos 63
dias (MPa)
CP-Bambu 01 50,00 2,01 2,01 0,402 0,402
CP-Bambu 02 50,00 1,68 1,62 0,336 0,324
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CP-Bambu 03 50,00 2,10 1,09 0,420 0,218
CP-Bambu 04 50,00 1,38 1,84 0,276 0,368
Média 50,00 1,79 1,64 0,358 0,328
CP- Aço Ø16mm 01 50,26 19,96 28,91 3,970 5,751
CP- Aço Ø16mm 02 50,26 28,47 28,24 5,664 5,617
Média 50,26 24,21 28,57 4,817 5,684
Tabela 1: Resultados dos ensaios de aderência.
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Através dos resultados obtidos, foi possível a realização de um desvio padrão para se observar
a variação comportamental dos corpos de prova com taliscas de bambu, demonstrados na
tabela 2:
Descrição 28 dias 63 dias
CP-Bambu 0, 0658 0, 089
CP- Aço Ø16mm 1, 198 0, 094
Tabela 2: Desvio Padrão Calculado para os dias 28 e 63 dias com base nas tensões obtidas. Fonte: Elaboração Própria (2015)
Observando a tabela 1, pode-se afirmar que as forças exercidas nos corpos de prova com
bambu após 63 dias da concretagem não obtiveram variações relevantes em consideração os
resultados encontrados após 28 dias. Analisando, ainda, os gráficos entre força e deformação,
mostrados abaixo, nota-se o comportamento parecido entre as duas idades de rompimento de
cada material utilizado:
Gráfico 1 – Comportamento entre força x deformação nas amostras contendo bambu.
Fonte: Elaboração Própria (2015)
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Gráfico 2 – Comportamento entre força x deformação nas amostras contendo aço.
Fonte: Elaboração Própria (2015)
Avaliando os resultados obtidos, pode-se verificar que a diferença entre os valores dos
experimentos se dá por uma variação dimensional de contato bambu x concreto. E ao analisar
a relação da tensão de aderência nos corpos de prova de bambu entre os 28 e 63 dias,
constatou-se uma diferença nos valores médio das tensões de 8,52%, contudo, nenhuma das
amostras ensaiadas teve ruptura nas varetas de bambu. Esta diferença relacionada às tensões
pode ser causada por uma série de variáveis, como a modificação dimensional pela perda de
água para o ambiente no processo de cura entre o bambu e o concreto e outras mais
especificas, onde seria preciso um estudo mais aprofundado sobre essa questão.
Na comparação com as amostras que contém aço, a aderência das amostras de bambu é
aproximadamente quinze vezes menor. No estudo realizado, as amostras com aço não
apresentaram boa aderência, pois o concreto veio ao colapso antes mesmo que a máxima força
para o seu deslocamento fosse obtida, contudo, ainda assim, percebeu-se que o valor foi
superior ao do bambu.
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3.2 Resultados de flexão simples
A tabela a seguir apresenta a leitura das cargas obtidas até a ruptura nos dois modelos de
corpos de prova, sendo que um é somente em concreto puro e o outro recebeu a inserção das
taliscas de bambu.
Descrição Seção do Bambu
(cm²)
Força Aplicada
(kN)
Tensão de Flexão (MPa)
CP-Bambu 01 0, 0001 20,30 2,74
CP-Bambu 02 0, 0001 25,10 3,32
CP-Bambu 03 0, 0001 19,10 3,19
Média 0, 0001 21,50 3,08
CP- Concreto 01 - 26,50 3,53
CP- Concreto 02 - 27,50 3,67
CP- Concreto 03 - 29,60 3,95
Média - 27,87 3,72
Tabela 3 – Resultados de ensaios de tração na flexão aos 14 dias Fonte: Elaboração Própria (2015)
Analisando a tabela 3, verificou-se que entre os dois modelos adotados houve a redução da
tensão de flexão média em torno de 17,2%. Importante constatar que nenhuma das amostras
ensaiadas teve ruptura nas varetas de bambu.
4. Conclusão
Dentre as amostras de arrancamento utilizadas para sanar o problema de pesquisa, a falta de
aderência do conjunto do bambu teve um desempenho abaixo do esperado, resistindo
aproximadamente quinze vezes menos que às amostras de aço, ficando em torno de 7,44%
abaixo da resistência das amostras de aço. Já nas análises á flexão, o comportamento dos
experimentos não obteve uma melhora como era o esperado. Com relação a resistência, houve
uma diminuição em torno de 17,20%, sendo que na estrutura de concreto houve primeiro a
aparição de uma trinca e, logo após a aplicação da carga máxima, a amostra veio ao colapso.
Quanto aos corpos que continham duas taliscas de bambu no seu interior, percebeu-se que
houve a fissuração da peça, mas não o seu colapso total. No procedimento pode-se verificar
que a fissura continuou aumentando, porem suportando uma carga constante sem total
rompimento.
Comprova-se, então, que o colapso das amostras á flexão ocorreu somente nas peças de
concreto puro. Já em peças armadas com bambu não foi possível, devido a pouca resistência
da armação e ao escorregamento junto ao concreto, ocasionando a falta de aderência do
conjunto bambu-concreto e enfraquecendo a peça estudada. Observando os valores
encontrados no presente trabalho, fica claro, a reduzida aderência conferida na associação do
bambu-concreto, visto que não houve ruptura em nenhuma vareta de bambu dos corpos de
prova ensaiados.
Todavia, o processo se tornaria duradouro caso ocorresse um avanço tecnológico nos
equipamentos e métodos de aplicação, onde possibilitaria uma padronização de produção e,
por conseguinte, uma garantia de qualidade do material – quanto à sua aderência. Empregar o
bambu em estado natural é ineficiente, não compensando o trabalho para a confecção das
taliscas de bambu. Desta forma, espera-se que este trabalho venha contribuir para um maior
entendimento do desempenho à aderência e a flexão simples servindo de estímulo para outros
trabalhos e para o desenvolvimento desta área.
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Referências
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