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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO IX SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 22 e 23de Outubro de 2015, CCSA/UFPE ANAIS VOLUME II Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE Período de realização: 22 a 23 de outubro de 2015 IX SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS Período de realização: 21 a 24 de outubro de 2015 Educação e Pesquisa em Ciências Contábeis

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO IX SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 22 e 23de Outubro de 2015, CCSA/UFPE

ANAIS

VOLUME II

Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE

Período de realização: 22 a 23 de outubro de 2015

IX SEMINÁRIO UFPE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Período de realização: 21 a 24 de outubro de 2015

Educação e Pesquisa em Ciências Contábeis

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Reitor: Prof. Anísio Brasileiro de Freitas Vice-Reitor: Prof. Silvio Romero de Barros Marques CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Diretor: Prof. Jeronymo José Libonati DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS Chefe: Prof. Evaldo Santana de Souza MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS Coordenador: Prof. Luiz Carlos Miranda Vice-Coordenadora: Profª Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres COMISSÃO ORGANIZADORA Coordenadora: Profª Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres Vice-Coordenador: Prof. Luiz Carlos Miranda COMISSÃO CIÊNTÍFICA Abinair Bernardes da Silva Aldemar de Araújo Santos Anderson de Almeida Barros Cacilda Soares de Andrade Carolina Velozo Maciel Christianne Calado Vieira de Melo Lopes Cláudio de Araújo Wanderley Jeronymo José Libonati João Gabriel Nascimento de Araújo João Marcelo Batista do Nascimento Juliana Gonçalves de Araújo Kathariny Bione Kécia da Silveira Galvão Lívia Vilar Lemos Luiz Carlos Marques dos Anjos Luiz Carlos Miranda Marco Tullio de Castro Vasconcelos Moisés Almeida Raimundo Nonato Rodrigo Bastos Rodrigo Vicente dos Prazeres Tiago de Moura Soeiro Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres Vera Lúcia Cruz

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EQUIPE OPERACIONAL Sebastião Luciano da Silva (Secretário do Mestrado em Ciências Contábeis) Luciana Firmino Tavares (Assistente em Administração) Rachel Christine Magalhães (Bolsista) Lorena Vilaça Montenegro (Bolsista) Anderson Nascimento de Oliveira (Mestrando) Clariovaldo Enias Tavares da Silva (Mestrando) Flávio Rodrigo Leal Tunico (Mestrando) Francis Cleiton Balbino da Silva (Mestrando) Isabella Christina Dantas (Mestranda) Jean Gama dos Passos (Mestrando) José Felipe Pereira da Silva (Mestrando) Leilson Vanderson Barbosa da Silva (Mestrando) Luciana Oliveira da Silva (Mestranda) Maria Andressa Lopes de Araújo (Mestranda) Maria Emanuela de Paula C. da Silva Rodrigues (Mestranda) Rayssa Kelly Melo das Mercês (Mestranda) Rubiana Cristóvão da Silva (Mestranda) Priscilla Milfont de Medeiros (Mestranda) Marina Fidélis Jerônimo de Oliveira (Mestranda)

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APRESENTAÇÃO

O Seminário UFPE de Ciências Contábeis constitui-se em um encontro científico anual, com objetivo de promover um espaço científico que estimule a discussão e a reflexão sobre temas atuais e as tendências mundiais da Contabilidade.

Estando em sua nona edição traz o tema: “Educação e Pesquisa em Ciências Contábeis.”

Com um público para estudantes, professores, pesquisadores e profissionais da área de Ciências Contábeis e áreas afins, bem como, representantes de entidades de classe.

O evento é realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UFPE- PPGCC/UFPE.

ÁREAS TEMÁTICAS

Contabilidade e Controladoria Empresarial Contabilidade e Controladoria Gerencial Educação e Pesquisa em Contabilidade Informação Contábil para Usuários Externos Informação Contábil para Usuários Internos Mercados Financeiros, de Crédito e de Capitais Tema Livre

DATAS IMPORTANTES

Início da submissão de trabalhos – 06 de julho de 2015 Último dia de submissão dos trabalhos – 20 de setembro de 2015 Divulgação dos resultados – 06 de outubro de 2015 Último dia para inscrição dos trabalhos aprovados – 20 de outubro de 2015 Período do Seminário – 21 e 24 de outubro de 2015

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ÍNDICE

10. CONTROLE INTERNO E CONFLITOS DE INTERESSES EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ...............................................................................................................................................................................160

11. UM ESTUDO DA EFETIVAÇÃO DE RECEITA PRÓPRIA EM PEQUENOS MUNICÍPIOS PERNAMBUCANOS ..........................................................................................................................................177

12. RELATO INTEGRADO: UMA ANÁLISE DE CONTEÚDODOS INDICADORES-CHAVE (KPIS) DOS CAPITAIS NÃO FINANCEIROS NAS EMPRESAS DO NOVO MERCADO ................................................190

13. CONTABILIDADE PARTIDÁRIA E PRESTAÇÕES DE CONTAS DOS PARTIDOS POLÍTICOS NA PARAÍBA ............................................................................................................................................................207

14. ANÁLISE DA RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL EM CIRCUNSTÂNCIAS DE CONCENTRAÇÃO DA ESTRUTURA DE PROPRIEDADE ...........................................................................223

15. EXISTE DIFERENÇA NO RISCO SISTEMÁTICO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E NÃO FINANCEIRAS? QUAIS OS SEUS DETERMINANTES? ...............................................................................242

16. MERCADO IMOBILIÁRIO NA CIDADE DE RECIFE: UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE BOLHA PARA A ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO MERCADO IMOBILIÁRIO DE RECIFE .....................................................259

17. O PANORAMA DAS EMPRESAS DE SANEAMENTO DO NORDESTE NO QUE SE REFERE À

ADEQUAÇÃO À CPC 37 - ADOÇÃO INICIAL DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE ...............................................................................................................................................................................270

18 . CONTRADIÇÃO INSTITUCIONAL E MUDANÇA NA ALTA ADMINISTRAÇÃO: O CASO DE UMA EMPRESA DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO NORDESTINA ..............................................................283

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APRESENTAÇÃO ORAL

10. CONTROLE INTERNO E CONFLITOS DE INTERESSES EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Autores: Elizangela Borba Ferreira da Silva, Gustavo Henrique Costa Souza, Luiz Antônio Félix Júnior

Resumo

Ao definir as suas normas de controle interno, as organizações procuram estabelecer as regras e condutas que deverão orientar a relação comercial com seus clientes. Tais regras, em teoria, deveriam ser observadas e obedecidas pelos funcionários da instituição que as definiu a fim de assegurar a validade jurídica das transações efetivadas, garantir a clareza nos pactos firmados, e evitar prejuízos de qualquer natureza. Este trabalho teve por objetivo analisar se relações pessoais eventualmente mantidas entre funcionários e clientes das cinco maiores instituições financeiras do país provocam conflitos de interesses capazes de ocasionar o descumprimento destes normativos institucionais e expor a organização a toda sorte de riscos. Para isto, a estratégia metodológica definida foi a aplicação de questionário com os funcionários de dez sucursais bancárias situadas na Capital Pernambucana e também na Região Metropolitana de Recife. Os dados obtidos sugerem que o relacionamento pessoal entre clientes e funcionários das agências existe e, efetivamente, leva estes últimos desobedecer aos controles internos, assumindo riscos que excedem os limites de tolerância determinados pela organização.

Palavras-chave: Controle interno. Conflitos de interesses. Instituições financeiras.

1 INTRODUÇÃO

A elaboração de sistemas de controle interno eficazes passa por blindá-los contra certas ameaças, evitar alguns perigos e reconhecer que determinadas práticas trazem um risco significativo para o negócio. Entretanto, idealizar e implementar um sistema de controle interno com esta consciência não garante o seu funcionamento e sucesso. As estruturas dependem das pessoas que as coordenam, mantém e operam. Os “padrões” de controle interno, portanto, só serão realmente seguidos se as pessoas encarregadas do seu cumprimento tiverem interesse em adotá-los.

Contudo, havendo incongruência entre os interesses de patrões e empregados, entra em cena o elemento risco, que - no âmbito das instituições do ramo financeiro – podem ocasionar prejuízos financeiros significativos, além de ter várias motivações e assumir diferentes contornos. Em algumas situações, o conflito de interesses pode ter origem em conflitos de ordem ética, quando as relações interpessoais motivarem a realização de negócios desvantajosos, mas também pode ter implicações positivas, quando tais relações ajudarem a suavizar a resistência do cliente no fechamento de uma operação.

Esta pesquisa pretende oferecer uma dupla contribuição: em primeiro lugar, intenta colaborar com o arcabouço de conhecimentos teóricos desenvolvidos pela academia acerca

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das particularidades dos sistemas de controle interno em instituições financeiras; além disto, este estudo quer estimular as instituições financeiras a aprimorar seus instrumentos de controle a fim de prevenir riscos associados ao descumprimento de normas. Dada a representatividade que o segmento bancário tem para o mercado brasileiro, e considerando que não foram identificados estudos brasileiros com a abordagem aqui descrita, este trabalho assume uma característica diferencial que justifica a sua realização.

A pesquisa então, emerge da seguinte questão problema: o relacionamento interpessoal entre clientes e funcionários de instituições financeiras ocasiona desobediência às normas de controle interno? Partindo deste questionamento o presente trabalho objetivou verificar se o relacionamento interpessoal entre clientes e funcionários de instituições financeiras motiva o descumprimento de normas institucionais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 COMPLIANCE E RISCOS NO SETOR BANCÁRIO

Ao estudar a implementação de regras de compliance em bancos italianos, Birindelli e Ferretti (2013) demonstraram uma associação entre risco operacional e risco de compliance. Assim, o trabalho de Birindelli e Ferreti (2013) chama a atenção para a relação entre falhas operacionais e regras de comportamento, bem como para a inserção de elementos éticos e de conduta nas diretrizes de controle das organizações bancárias. O grau de adesão das pessoas de uma instituição às normas de controle interno que tratam de conflitos de interesses e de outros dilemas éticos revela o quanto estas pessoas estão afinadas e comprometidas com o modelo organizacional.

Laruccia e Yamada (2013) afirmam que o papel da gestão do compliance dentro das instituições financeiras é importante para mitigar diversos tipos de risco – entre os quais destacam o ambiental, o de imagem e o financeiro (que, em geral, se materializa pela inadimplência). Lima e Lopes (1999) alertam para outro tipo de risco, o operacional, e o associa a problemas de ordem tecnológica e à capacidade de processamento de informações. Deloach (2001), com uma visão mais ampla, ao falar deste tipo de risco faz referência à ineficácia e ineficiência na execução do modelo de negócio da empresa – e não apenas à insuficiência tecnológica e comunicacional que havia sido sinalizada por Lima e Lopes (1999).

No contexto das empresas do ramo financeiro, Gitman (1997, p. 202) traça claramente a ligação entre risco e finanças ao afirmar que risco é “a possibilidade de prejuízo financeiro”. O autor afirma ainda que “o termo risco é usado alternativamente com incerteza, ao referir-se à variabilidade de retornos associada a um dado ativo”. Com esta afirmação, ele sinaliza que a fragilidade dos controles internos de uma organização pode ocasionar riscos que, em última instância, impactarão no resultado financeiro da companhia (e, por conseguinte, ameaçarão a sua capacidade de dar retorno aos seus acionistas). O intercâmbio de boas práticas de controle, por outro lado, produz o efeito contrário: ajuda a consolidar padrões de qualidade que direcionam a avaliação dos processos e que, ao fim, também refletirão nos resultados da empresa (MARSHALL, 2002).

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2.2 CONFLITOS DE INTERESSES

Bouças e Gomes (2010) alertam que o atingimento dos objetivos da organização resulta de uma combinação, de um alinhamento, entre os interesses da empresa e os interesses individuais de cada membro da organização. Nesta mesma linha de pensamento, Léliz e Mario (2009, p. 3) indicam que o “desalinhamento de interesses [...] inibe a otimização dos recursos e a maximização dos retornos da firma”.

Léliz e Mário (2009) colocam ainda que a redução desta incongruência entre os interesses poderia aumentar a riqueza da organização. Ao traçar a ligação entre os conflitos de interesses e os retornos esperados, os autores afirmam que a minimização destes conflitos é uma tentativa de fazer com que os riscos não se materializem e prejudiquem a empresa.

O hiato entre os objetivos das pessoas e os das organizações foi estudado Jensen e Meckling (1976) quando preconizaram a chamada Teoria da Agência. Os autores estabeleceram que quando em uma organização o dono do capital (chamado “principal”) e as pessoas que para ele trabalham (chamados “agentes”) têm interesses destoantes, está configurado o chamado “conflito de agência”. Para gerenciar tal conflito o principal costuma empregar recursos financeiros e sistemas de controle. Sobre este último ponto, convém destacar que Merchant e Simons (1986) realizaram um robusto estudo sobre as noções de controle e gestão à luz da Teoria da Agência (e também da psicologia)

A relação entre patrões e empregados é mediada por contratos (tácitos ou escritos) que vão nortear o comportamento dos indivíduos dentro da organização. Neste sentido, Léliz e Mario (2009, p. 3) incluem entre as formas de monitoramento dos funcionários as “estruturas formais de controle interno” e pontuam que “o comportamento individual nas organizações [...] depende da natureza dos contratos firmados dentro do ambiente da firma”. Gerir tais contratos é uma importante ferramenta de controle.

A Figura 1 expressa como se origina o impacto em controles internos de que trata o presente estudo.

Figura 1 – Fluxo Explicativo do Impacto em Controles Internos

Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa. A existência de relacionamentos próximos, ou mesmo íntimos, entre funcionários e

clientes, cuja motivação excede as razões de cunho comercial, constitui uma ligação não profissional (ou extra-profissional) arriscada. O patrão - que procura não expor desnecessariamente a empresa a riscos - corre o perigo de que seus funcionários, em razão da amizade construída com clientes, extrapolem os limites de risco que estão autorizados a correr. Em outras palavras: o interesse do patrão será minimizar o risco, ao passo que o interesse dos funcionários estará em preservar os laços particulares que estabeleceram. Está caracterizado aí o conflito de interesses que, uma vez instaurado, pode impactar a implementação dos controles internos bem como o cumprimento das normas da organização.

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A natureza deste impacto, se prejudicial ou benéfica, será desvendada e discutida no presente estudo na fase de análise dos dados coletados.

Isto posto, emerge da reflexão teórica apresentada, a seguinte hipóteses de pesquisa: H0: O relacionamento interpessoal entre clientes e funcionários gera conflitos de interesses que afetam a implementação e o cumprimento das normas de controle interno.

A hipótese H0 demanda o estabelecimento de premissas capazes de construir uma linha de raciocínio clara que leve à aceitação ou rejeição da hipótese. As premissas são: há indícios de relacionamento pessoal (não profissional) entre clientes e funcionários? (P1); há conflitos de interesses que expõem a instituição a riscos não desejados pelo principal? (P2); os funcionários toleram riscos não desejados pelo principal em razão de ligações particulares com clientes? (P3). Estas premissas estão intimamente conectadas e devem ser verificadas na ordem apresentada. O procedimento que será seguido a partir do atendimento (ou não) destas premissas está indicado a seguir, no Quadro 1:

Quadro 1 – Matriz de Análise da Hipótese Ho

Premissas Resposta Procedimento P1: Há indícios de relacionamento pessoal (não profissional)

entre clientes e funcionários? Sim Prosseguir para Premissa P2 Não Rejeitar hipótese H0

P2: Há conflitos de agência que expõem a instituição a riscos não desejados pelo patrão?

Sim Prosseguir para Premissa P3 Não Rejeitar hipótese H0

P3: Os funcionários toleram riscos não desejados pelo patrão em razão de ligações particulares com clientes?

Sim Aceitar hipótese H0 Não Rejeitar hipótese H0

Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

3 METODOLOGIA

3.1 AMOSTRA

Esta pesquisa elegeu as empresas do setor financeiro como seu campo particular de estudo. O critério de escolha dos sujeitos de pesquisa levou em consideração a representatividade da carteira destas instituições. Admitiu-se que quanto maior o volume de depósitos que elas recebem, maior a confiança que elas inspiram, maior a responsabilidade sobre tais recursos, e – consequentemente - mais consistentes devem ser os controles internos que orientam o manejo destes recursos.

Assim, tendo em vista as restrições de recursos para um universo de estudo mais amplo, foram escolhidas duas agências de cada uma das cinco maiores instituições financeiras (bancárias) do país, em termos de depósito total. O ranking que contém esta informação é divulgado mensalmente no site do banco central (www.bcb.gov.br). As agências foram determinadas por critérios de conveniência e acessibilidade, sendo que – obrigatoriamente – uma deveria estar situada na Capital Pernambucana e outra na Região Metropolitana de Recife.

É preciso deixar claro que não fizeram parte desta amostra sucursais com atendimento diferenciado para o público de alta renda. Isto porque os controles internos nestas sucursais já

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são, institucionalmente, flexibilizados – em vista das necessidades específicas da carteira de clientes delas.

3.2 TÉCNICA DE INVESTIGAÇÃO

A técnica escolhida para realização da pesquisa foi a da aplicação de questionários, os quais foram distribuídos, respondidos e recolhidos de forma eletrônica através do site Survey Monkey. O acesso aos funcionários das sucursais foi negociado mediante visita e conversa com o gestor da unidade. Foi garantida a todos os respondentes a preservação de suas identidades, a confidencialidade das suas respostas, e o respeito ao princípio voluntarismo – que é um requisito de ordem ética adotado no Brasil.

Foram respondentes do questionário funcionários da área operacional das sucursais (tais como caixas, supervisores e tesoureiros), e funcionários da área comercial (tais como assistentes comerciais, gerentes de relacionamento e gerentes gerais).

O questionário foi dividido em três partes: a primeira visou identificar o perfil do respondente; a segunda constou de perguntas objetivas diretas – as quais foram respondidas monossilabicamente com “sim” ou “não”; por fim, a terceira parte trouxe um conjunto de questões de caráter subjetivo, que foram valoradas de acordo com a Escala Likert de cinco pontos (discordo totalmente, discordo parcialmente, não concordo nem discordo, concordo parcialmente, concordo totalmente). Os dados foram tabulados com o auxílio do software Microsoft Excel , versão 2007.

4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO

4.1 PERFIL DOS RESPONDENTES

Com relação ao perfil dos respondentes é importante destacar que 60% deles têm entre 25 e 35 anos e 62% são mulheres. Embora 40% dos respondentes informe que trabalha na instituição em que está há menos de cinco anos, quase a metade deles (48%) já exerce função gerencial. 92% das pessoas que responderam à pesquisa residem em Recife.

4.2 INDÍCIOS DE RELACIONAMENTO PESSOAL

A seção que se segue, cujos dados são apresentados de modo condensado nas Tabelas 1 a 6, é o resultado de uma investigação conduzida no sentido de identificar possíveis indícios de relacionamento pessoal entre os clientes e os funcionários das agências bancárias em análise. A Tabela 1 trata da existência de parentesco entre os funcionários e os clientes. 38,78% dos respondentes disseram não ter familiares com conta na agência em que trabalham. Porém, a maior parte - representada por 59,18% - admitiram ter parentes como clientes da agência em que estão lotados.

Tabela 1 - Tem parente(s) com conta nesta agência? Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 29 59,18 Não 19 38,78 Não se aplica às funções desempenhadas 1 2,04 Total 49 100 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

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Alguns esclarecimentos merecem ser feitos a respeito deste tópico. O primeiro deles concerne ao fato de que a pergunta feita não levou em consideração o tipo de conta que o parente do funcionário teria. Para o escopo deste estudo, não interessa diferenciar o cliente que possui conta corrente daquele que possui conta poupança, por exemplo. A questão apresentada aos respondentes visa apenas identificar a existência de um relacionamento, de um vínculo, entre a rede familiar do bancário e o seu local de trabalho, sendo este relacionamento expresso por meio de uma conta – qualquer que seja a natureza da mesma.

Outro esclarecimento que merece ser feito diz respeito ao fato de que, ao inquirir o bancário sobre se ele (a) tem parentes com conta na agência em que atuam, não importa saber se eles foram ou são os responsáveis diretos pela abertura ou manutenção de tais contas. Embora não se possa dizer com certeza que o simples fato de possuir uma conta na agência em que se tem um parente trabalhando (ou: trabalhar em uma unidade onde um parente mantém conta) gera favorecimentos, facilitações, ou qualquer tipo de confusão entre a dimensão pessoal e a profissional, pode-se dizer que tal situação, no mínimo, cria possibilidades e oferece as condições para que tais coisas ocorram (e, portanto, representa um indício de relacionamento pessoal).

Quanto a possuir amigos com conta na agência, como exposto na Tabela 2, verificou-se semelhante resultado e, por conseguinte, entendimento similar. 67,35% dos respondentes registraram possuir amigo com contas nas suas agências.

Tabela 2 - Tem amigo(s) com conta nesta agência? Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 33 67,35 Não 15 30,61 Não se aplica às funções desempenhadas 1 2,04 Total 49 100 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

É preciso ter em mente que tanto os vínculos de amizade quanto os de parentesco propiciam o mesmo risco para a instituição bancária. Na presente pesquisa, portanto, a distinção entre parentes e amigos decorre de razões meramente didáticas: visa auxiliar aos respondentes a se recordar mais claramente das pessoas com quem mantém algum tipo de relação pessoal (seja por pertencer à mesma parentela, seja por pertencer ao mesmo círculo de amizades).

Apesar do grande parte dos respondentes ter relatado que tem familiares e amigos como clientes de suas respectivas agências, como demonstrado das Tabelas 1 e 2, 71,4% afirmou não encontrar-se com clientes fora do ambiente de trabalho. É o que demonstra a tabela 3, abaixo:

Tabela 3 - Encontra-se com cliente(s) fora do ambiente da agência? Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 13 26,5 Não 35 71,4 Não se aplica às funções desempenhadas 1 2,0 Total 49 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

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Vale salientar que embora em um primeiro momento este dado possa causar estranheza, não se pode perder de vista que a sociedade do século XXI, com tantas ferramentas tecnológicas à sua disposição, passa por um momento de virtualização das relações humanas. De modo que não é incompatível ter amigos e parentes como clientes e, mesmo assim, não encontrar-se com eles.

Na Tabela 4, pode-se observar que a temática das conversas entre funcionários e clientes nem sempre se atém a assuntos estritamente ligados à prestação de serviços financeiros (englobada nesta prestação a oferta de produtos). 77,6% dos respondentes da pesquisa relataram que tratam, sim, de assuntos paralelos ao trato negocial com os clientes.

Tabela 4 - Conversa com cliente(s) sobre assuntos alheios à prestação de serviços financeiros? Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 38 77,6 Não 11 22,4 Não se aplica às funções desempenhadas 0 0,0 Total 49 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

A priori isto não indica que necessariamente haja conversas de cunho íntimo entre clientes e funcionários. Isto porque o processo de venda de qualquer produto ou serviço (ligado à atividade financeira ou não) requer a sondagem de algumas informações para que o vendedor (neste caso, o bancário) possa fazer uma oferta adequada e convença o cliente a fechar uma operação. Contudo, não se pode negar que nestas ocasiões se abre uma “brecha”, uma oportunidade, para que o diálogo se acentue e favoreça o processo de construção de um relacionamento pessoal. Por isso, está-se admitindo na presente pesquisa que a conversa sobre assuntos alheios ao trato negocial constitui um indício (embora não uma certeza) de relacionamento pessoal entre clientes e funcionários das sucursais bancárias investigadas.

A seguir, a Tabela 5 traz um diferencial na análise feita até então: ela indaga acerca do comportamento dos colegas dos respondentes. Das 49 pessoas arguidas, 37 afirmaram ter “algum colega (também bancário) que tinha ligações pessoais com cliente(s) da agência em que atuava”. Isto significa, como mostra a tabela abaixo, que 75,5% dos respondentes já testemunhou tal fato.

Tabela 5 - Já soube de algum colega (também bancário) que tinha ligações pessoais com cliente(s) da agência em que atuava?

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 37 75,5 Não 12 24,5 Não se aplica às funções desempenhadas 0 0,0 Total 49 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Ao mesmo temo em que esta questão visa, por outro prisma, verificar a ocorrência

destas conexões particulares entre clientes e funcionários, ela também testa o grau de coerência e veracidade entre as respostas dos bancários. Diante dos indícios apontados nas

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questões/tabelas anteriores, seria algo inusitado se os respondentes não apontassem a existência concreta destas ligações pessoais.

Naturalmente, não foi requerido que os bancários dessem uma resposta em primeira pessoa acerca desta matéria porque se supõe que - seja por conservadorismo moral, seja por prudência em relação às desconhecidas consequências de suas respostas – eles teriam dificuldades em admitir as suas próprias ligações pessoais com clientes da agência. Isto, em última análise, provocaria distorções e vieses, comprometendo os resultados da pesquisa. Assim, a estratégia de perguntar sobre as ligações de terceiros (seus colegas de trabalho) livrou este viés e permitiu a obtenção de um resultado consoante com os indícios anteriormente apresentados. Quando questionados sobre o cumprimento de metas e a utilização de seus clientes mais próximos para tal fim, avaliou-se – conforme mostra a Tabela 6 - que 83,7% dos entrevistados disseram realizar a prática de entrar em contato com estes clientes para requisitar-lhes apoio com vistas ao atingimento dos objetivos estabelecidos pela empresa.

Tabela 6 - Para atingir metas, já entrou em contato com cliente(s) mais próximos a fim de solicitar apoio dos mesmos para cumprir certos objetivos?

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 41 83,7 Não 7 14,3 Não se aplica às funções desempenhadas 1 2,0 Total 49 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Sobre este ponto é importante comentar duas coisas: a primeira diz respeito ao termo “clientes mais próximos”. Ao responder positivamente a uma questão escrita nestes termos, os respondentes estão não só confessando uma prática, mas também - ao mesmo tempo - admitindo que existem, sim, clientes com os quais eles têm um nível de proximidade maior. Este é, portanto, um flagrante que corrobora o resultado obtido na questão anterior (vide Tabela 6). Tomadas em conjunto, as questões 5 e 6 sinalizam que, tanto os respondentes quanto os seus colegas de trabalho, possuem – sim – ligações particulares com clientes. E estas ligações são de tal modo estreitas que os bancários chegam ao ponto, inclusive, de acionar estes clientes mais próximos para que eles (mais por solidariedade que por necessidade) ajudem a cumprir suas metas mediante aquisição dos produtos e/ou serviços financeiros.

A outra coisa que merece ser comentada diz respeito à motivação dos bancários quando contatam estes clientes ditos “mais próximos”. Não é objeto da presente pesquisa a análise de motivações pessoais. Não se quer aqui conjecturar sobre o que leva um bancário a agir deste ou daquele modo. Contudo, não se pode ignorar a observação de Silva e Navarro (2012, p. 227-228):

Os bancários passaram por momentos de redefinição em seus “traços constitutivos”, transformaram-se em “bancários-vendedores”, capacitados para atender integralmente os seus clientes, muitas vezes de forma individualizada, para cumprir metas a eles impostas de vendas de títulos, seguros, aplicações e demais produtos e serviços bancários (SILVA e NAVARRO, 2012, p. 227-228)

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Em outras palavras: a transformação do bancário em um vendedor (constantemente pressionado a atingir metas de venda) pode estar na raiz de algumas práticas. O ‘bancário-vendedor’ - premido pela necessidade de satisfazer seu patrão e, assim, manter-se empregado - acaba se valendo de pessoas próximas (neste caso, clientes) que lhes possam ajudar neste sentido. Assim, chegando ao fim da seção 4.2, pode-se concluir – a partir dos dados obtidos – que há sim indícios de relacionamento pessoal entre os clientes e funcionários das agências bancárias que participaram desta pesquisa e, portanto, está validada a premissa P1 (“Há indícios de relacionamento pessoal (não profissional) entre clientes e funcionários?”). Retomando a estratégia de prova anteriormente definida, uma vez ratificada a premissa P1, a fase seguinte deve ser a análise dos riscos. Deste modo, na seção 4.3, seguinte, pretende-se validar (ou não) a premissa P2, a qual argui: “Há conflitos de agência que expõem a instituição a riscos não desejados pelo patrão?”.

4.3 EXPOSIÇÃO A RISCOS DECORRENTES DE CONFLITOS DE INTERESSES

Nesta etapa, foram feitos questionamentos no sentido de identificar conflitos de interesse capazes de colocar a figura do banco em risco. O primeiro procedimento sobre o qual os respondentes foram indagados foi o da coleta de assinatura. Como indicado na Tabela 7, 75% dos entrevistados declararam já ter realizado o procedimento de coleta de assinatura em data posterior a da efetivação da operação.

Tabela 7 - Já colheu assinatura posteriormente à realização de operação? Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 36 75,0 Não 11 22,9 Não se aplica às funções desempenhadas 1 2,1 Total 48 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

A situação exposta na tabela acima constitui uma confissão expressiva e importante no que diz respeito à temática “riscos”. A aposição de assinatura ex post facto representa uma lacuna na formalização do negócio, o que – juridicamente – pode ensejar a nulidade ou o desfazimento da operação. Contudo, a existência – anteriormente comprovada – de relações pessoais entre bancários e clientes faz com que o procedimento de coleta de assinatura seja deixado para ‘depois’. Seja por confiar no cliente, seja pela pressa em fechar negócio (e, assim, cumprir metas), o fato é que esta atitude conflita com os interesses do banqueiro – que quer cumprir as exigências formalísticas a fim de preservar seu patrimônio, evitando desgastes judiciais e prejuízos financeiros decorrentes de transações feitas sem o trato jurídico adequado. Apesar de “burlar” a questão da assinatura 50% dos respondentes afirma não dispensam procedimentos padrão exigidos pelas entidades bancárias. Em um primeiro momento este resultado induz o pesquisador a suspeitar de incoerência nas respostas: se 75% dos respondentes já colheram assinatura posteriormente à formalização do negócio, então – no mínimo – estes mesmos 75% deveriam ter admitido que já dispensaram procedimentos

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obrigatórios. Na Tabela 8, os resultados, a priori controversos, podem ser visualizados melhor:

Tabela 8 - Já dispensou procedimento padrão exigido pela organização por julgar que a operação era corriqueira e recorrente?

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 22 45,8 Não 24 50,0 Não se aplica às funções desempenhadas 2 4,2 Total 48 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Contudo, esta diferença pode ser explicada de dois modos: primeiro, alguns podem ter respondido a questão 8 de forma negativa porque a dispensa de procedimento que perpetraram não foi motivada “por julgar que a operação era corriqueira e recorrente”. Dispensaram por outras razões, que não esta. Segundo: a resposta “não” ao nono quesito pode indicar que – em alguns casos – a aposição de assinatura não é “procedimento padrão exigido pela organização”. Logo, colhê-la a posteriori não significa, necessariamente, ter dispensado “procedimento padrão”. Esta última interpretação, embora difícil de exemplificar no plano dos eventos, parece possível e plausível no plano das hipóteses.

A justificativa para tal dispensa de procedimento (confessada por 45,8% dos respondentes) encontra-se na própria formulação da questão: “por julgar que a operação era corriqueira e recorrente”. O caso, e o problema, é que este mitigador de riscos inexiste na norma das organizações e não é, de modo algum, autorizado pelo banqueiro. O fato de a operação ter caráter ‘corriqueiro’ (trivial, banal) não indica que ela esteja livre de riscos ou que estes sejam tão pequenos que possam ser desconsiderados; da mesma forma, a operação julgada recorrente (costumeira, habitual) não está imune a fraudes e engodos perigosos. Portanto, está-se diante de um caso em que o funcionário cria uma ‘norma paralela’, estabelecendo exceções à norma institucional e concedendo autorizações a si mesmo, à revelia do que recomendam os controles internos - que materializam os interesses do patrão e a forma como ele deseja que os negócios sejam conduzidos. Passando à décima questão, a realidade que se constata ganha novos e diferentes contornos: como mostra a Tabela 9, 68,8% dos respondentes afirmam que não se valem de alçadas superiores para abonar operações fora do padrão.

Tabela 9 - Costuma acionar e utilizar alçadas superiores para abonar operações fora do padrão? Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 12 25,0 Não 33 68,8 Não se aplica às funções desempenhadas 3 6,3 Total 48 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Múltiplas interpretações decorrem deste resultado. Primeiramente, como demonstrado na Tabela 1, 48% dos entrevistados são gerentes – o que, naturalmente, lhes dá mais autonomia para decidir e operar. Portanto, era esperado que a maior parte dos respondentes não precisasse recorrer a outras instâncias para requerer certas autorizações. Depois, é possível que, em alguns casos, a utilização de alçadas superiores gere desconforto ou até

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advertência. Pedir que um gerente geral ou superintendente, por exemplo, abone uma operação que claramente foge aos padrões pode levar a questionamentos sobre as opções éticas do subalterno solicitante resultando, inclusive, na aplicação de medidas disciplinares contra ele. Assim, é compreensível que a maioria dos respondentes não faça este tipo de acionamento.

Contudo, 25% dos respondentes admitiram “acionar e utilizar alçadas superiores para abonar operações fora do padrão”. Tal comportamento, embora represente um compartilhamento ou mesmo uma transferência da culpa inerente à transgressão da norma, revela um claro desacordo em relação aos interesses do banqueiro (que estabeleceu o “padrão” a fim de protegê-los). Naturalmente, esta divergência gera exposição a riscos.

Neste ponto do trabalho, é possível afirmar que há, sim, “conflitos de agência que expõem a instituição a riscos não desejados pelo patrão (premissa P2)”. Os dados obtidos a partir das respostas às questões 7, 8 e 9 credenciam a que tal afirmação seja feita. Portanto, seguindo o procedimento de prova anteriormente traçado, é preciso – agora – investigar se estes conflitos de interesses, e os riscos a eles inerentes, estão associados a “ligações particulares com clientes” (premissa P3). Isto será feito a partir das provocações trazidas pelas questões 10 e 11, apresentadas a seguir. Na Tabela 10 percebe-se que os respondentes dividem-se quanto ao recebimento de presentes em datas comemorativas. 54,2% afirmam receber de clientes tais mimos, e 43,8% dizem não receber.

Tabela 10 - Em datas comemorativas (Páscoa, Natal, Festas Juninas, etc.) costuma receber presente(s) do(s) mesmo(s) cliente(s)?

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 26 54,2 Não 21 43,8 Não se aplica às funções desempenhadas 1 2,1 Total 48 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Antes de analisar estas respostas convém esclarecer a formulação da pergunta: é próprio da cultura brasileira receber (ou mesmo trocar) presentes em datas comemorativas. Contudo, o diferencial desta questão está em quem oferece o presente: “o(s) mesmo(s) cliente(s)”. O fato de não ser um cliente qualquer oferecendo um regalo em uma situação pontual aponta para a criação de um costume baseado em um vínculo: trata-se do mesmo funcionário recebendo presente do mesmo cliente em uma mesma ocasião.

Portanto, a aceitação costumeira de presentes dados pelos mesmos clientes a funcionários de agências bancárias constitui um perigo para o negócio e um evidente conflito de interesses: o funcionário quer preservar os laços que criou com o cliente enquanto que o banqueiro quer preservar seu patrimônio. Seguindo a mesma lógica da Tabela 5, abaixo, a questão apresentada na Tabela 11 insere uma arguição sobre o comportamento alheio. Como dito anteriormente, esta estratégia de investigação é utilizada no presente estudo com a finalidade de evitar que, por escrúpulo de serem descobertos e julgados os participantes do estudo não fossem sinceros em suas respostas. Apesar de o pesquisador lhes ter dado, conforme protocolo ético, a garantia de confidencialidade das respostas, poderia ocorrer de alguém não se sentir à vontade de

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responder com veracidade um questionamento tão contundente. Ao perguntar sobre o comportamento de um terceiro, aumentam-se as chances de obtenção de uma resposta veraz.

Tabela 11 - Já soube de algum colega que - para oferecer um atendimento diferenciado - assumiu pessoalmente riscos maiores que o permitido pelos normativos da organização?

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Sim 29 60,4 Não 19 39,6 Não se aplica às funções desempenhadas 0 0,0 Total 48 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Como se vê, 60,4% dos respondentes disse conhecer colegas que já assumiram riscos maiores que os tolerados pela organização com o fito de oferecer ao(s) cliente(s) um atendimento diferenciado. Este número de respostas positivas apresentado na Tabela 11 é elevado e sinaliza que seis em cada dez bancários já testemunharam desobediência aos controles internos. O conflito de interesses com exposição a riscos, neste caso, é nítido. As questões 10 e 11, que compõem e encerram esta seção 4.3, levam – portanto - à validação da premissa P3 (“Os funcionários toleram riscos não desejados pelo patrão em razão de ligações particulares com clientes?”). Deste modo, uma vez validadas as três premissas, conforme o rito estabelecido no quadro 1, pode-se dizer foi aceita a hipótese H0, a qual postulava que “o relacionamento interpessoal entre clientes e funcionários gera conflitos de interesses que afetam a implementação e o cumprimento das normas de controle interno”.

4.4 QUESTÕES AVALIADAS ATRAVÉS DE ESCALA LIKERT

Para dar profundidade à analise dados e avaliar como a filosofia de negócios dialoga com as opções éticas dos funcionários, foram elaboradas algumas questões cujas alternativas de resposta foram gradativas e não taxativas, ou seja, os respondentes manifestaram o seu nível de concordância/discordância com a proposição formulada pelo pesquisador em vez de dar uma resposta monossilábica do tipo “sim” ou “não”. Tal estratégia de investigação foi aplicada mediante uso da Escala Likert de cinco pontos, na qual o grau 1 representa a total discordância e o 5 a total concordância. Assim, passando à Tabela 12, a seguir, é possível observar que 47,% dos respondentes discordam de que a flexibilização da norma para clientes antigos expresse confiança. A ideia de fazer uma pergunta neste sentido – e desta forma - teve o intuito de avaliar se, de acordo com a compreensão dos bancários, o fator tempo de relacionamento com o banco induziria a uma compreensão mais laxa segundo a qual exceções à norma poderiam ser abertas em nome da confiança depositada no cliente.

Tabela 12 - Quando se trata de cliente(s) antigo(s), flexibilizar uma norma é um indicativo de confiança. Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 22 47,8 Discordo parcialmente 6 13,0 Não concordo nem discordo 5 10,9 Concordo parcialmente 11 23,9

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Concordo totalmente 2 4,3 Total 46 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

O resultado obtido acima reflete, talvez, um dilema ético que tem sido vivido pelos bancários

atualmente: obedecer às exigências normativas (para não arriscar seu emprego) ao mesmo tempo em que reconhece que o trato devido a um cliente de longa data não é o mesmo dado a um cliente recente. Note-se que, embora em uma questão de princípios se esperem resultados mais “partidários”, dicotômicos, 24 respondentes não acompanharam os 22 que disseram discordar totalmente da afirmação proposta. Continuando a discussão sobre a flexibilização da norma para clientes antigos, foi perguntado aos bancários das agências que participaram da pesquisa se esta flexibilidade era vista como uma delicadeza, um gesto de amabilidade com o cliente. O percentual de discordância, neste caso, foi maior: 58,7% dos respondentes não encaram as coisas desta forma.

Tabela 13 - Quando se trata de cliente(s) antigo(s), flexibilizar uma norma é uma delicadeza. Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 27 58,7 Discordo parcialmente 7 15,2 Não concordo nem discordo 6 13,0 Concordo parcialmente 5 10,9 Concordo totalmente 1 2,2 Total 46 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

É preciso perceber o diferencial desta questão em relação à anterior: a introdução do elemento

“delicadeza” teve por finalidade verificar em que medida ligações históricas com os clientes motivam a concessão de favores. Criar exceções à norma como se fossem cortesia para certo grupo de clientes (os antigos) indiciaria que a relação entre banco e clientes não estaria pautada apenas no cumprimento de deveres e exercício de direitos, mas sim em ‘pactos de cavalheiros’ - mesmo que destoantes das regras vigentes. Como quase sessenta por cento dos bancários discordou do enunciado proposto na questão 13, pode-se dizer que a maioria dos respondentes tem consciência clara de que flexibilizar a norma não é um préstimo a mais que se pode oferecer ao cliente.

Para mensurar o grau de dissociação entre amizade e negócios, foi proposto que os respondentes informassem o quanto concordavam com o ditado popular “Amigos, amigos. Negócios à parte”. 51,1% das respostas colhidas foram “concordo totalmente”. Na compreensão destes, o profissionalismo deve sobrepor a amizade e a ética deve suplantar as relações pessoais que porventura tenham sido construídas ao longo dos anos. Contudo, ainda surpreende que o público respondente esteja tão dividido com relação a esta questão. Somados os percentuais das outras opções fornecidas pela Escala Likert que foi aplicada, vê-se que 48,9% não dá seu total assentimento a esta afirmativa proposta na questão 14. A partir disto, é possível supor - com razoabilidade - que os bancários têm dificuldades em separar estas duas realidades (a pessoal e a profissional).

Tabela 14 - Quando se trata de cliente(s) antigo(s), deve prevalecer a máxima "Amigos, amigos. Negócios à parte".

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 7 15,6 Discordo parcialmente 2 4,4 Não concordo nem discordo 3 6,7 Concordo parcialmente 10 22,2 Concordo totalmente 23 51,1 Total 45 100,0

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Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Saindo da seara dos “clientes antigos”, a pergunta de número 15 abordou a questão da fidelidade ao banco. A suposição que embasou a arguição era a de que bancários poderiam querer recompensar tal fidelidade realizando concessões e flexibilizações não autorizadas pelos normativos da instituição financeira a que estão ligados. Os resultados encontrados foram bastante heterogêneos, de modo que apenas por agrupamento de opções se pôde chegar a algum entendimento: somando as opções que representam discordância (“discordo totalmente” e “discordo parcialmente”), vê-se que 55,6% dos respondentes não acha que “cliente(s) fidelizado(s) ao banco merece(m) um tratamento normativo diferenciado”. Esta sutil maioria ratifica o que todas as Tabelas desta seção 4.4 até agora apresentaram: embora os bancários se dividam quando a matéria é o juízo de questões éticas ligadas ao seu dia a dia, ainda prevalece (com um percentual suavemente mais elevado) o grupo que rechaça os vários tipos “favoritismos” que as questões sugerem e que, portanto, parece ter os seus valores éticos preservados.

Tabela 15 – Cliente (s) fidelizado (s) ao banco merece (m) um tratamento normativo diferenciado. Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 12 26,7 Discordo parcialmente 13 28,9 Não concordo nem discordo 3 6,7 Concordo parcialmente 14 31,1 Concordo totalmente 3 6,7 Total 45 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Na Tabela 16, tem-se outro prisma de análise: a lógica da reciprocidade. Este conceito, muito comum no meio bancário, foi introduzido na formação dos bancários pelas próprias instituições financeiras. O pressuposto é: quem quer algo do banco tem que dar algo ao banco e vice-versa. Por trás desta mentalidade está a ideia de que para perpetuar uma relação comercial é preciso intensificá-la – mediante aquisição de produtos e/ou contratação de serviços.

Tabela 16 – Cliente (s) que costuma (m) adquirir muitos produtos do banco merece (m) um tratamento normativo diferenciado.

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 14 31,1 Discordo parcialmente 9 20,0 Não concordo nem discordo 3 6,7 Concordo parcialmente 16 35,6 Concordo totalmente 3 6,7 Total 45 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Lemgruber e De Macedo Wellisch (1980) já haviam estudado o impacto da exigência de reciprocidade sobre algumas decisões tomadas por instituições financeiras, mas não chegaram a analisar se a raiz desta exigência (tida como prática ou costume) está associada a um “toma-lá-dá-cá” que desemboca em descumprimento dos controles internos.

É este exatamente o ponto da questão 16: se o cliente, cedendo à pressão por reciprocidade, contrata uma porção de produtos e serviços financeiros, ficará ele com ‘cartas na manga’ perante o banco? A receita que ele gera para o banco faz com que os bancários o considerem um ente acima da norma e, por isso, imune a ela? O resultado que ele proporciona

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à instituição faz com que os funcionários fechem os olhos certas irregularidades por ele cometidas?

Com números mais uma vez bastante controversos, os dados nos permitem dizer que 35,6% dos respondentes concordam parcialmente que clientes com alta reciprocidade (ou seja: os que costumam adquirir muitos produtos) merecem, sim, um “tratamento normativo diferenciado”. Quando tabulados os dados (vide Tabela 16), este foi o percentual mais elevado que se obteve, com 16 pessoas assinalando a alternativa “concordo parcialmente”. Saliente-se, porém, que 14 pessoas (31,1%) marcaram a alternativa “discordo totalmente”. Continuando neste assunto concernente à reciprocidade, a questão 17 introduz uma possibilidade mais ousada: ela interroga sobre a utilização da norma flexível como moeda de troca para pedir aos clientes reciprocidade (leia-se: pedir que adquiram mais produtos ou serviços). Em sua maioria (43,5%), os bancários respondentes discordam totalmente de que esta prática deva ocorrer. Contudo, ressalte-se que quase vinte por cento manifestaram apenas discordância parcial neste quesito.

Tabela 17 - A flexibilização de uma norma pode ser realizada a fim de ter argumentos para solicitar ao (s) cliente (s) reciprocidade.

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 20 43,5 Discordo parcialmente 9 19,6 Não concordo nem discordo 5 10,9 Concordo parcialmente 10 21,7 Concordo totalmente 2 4,3 Total 46 100,0

Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Na última interrogação do questionário aplicado nesta pesquisa a temática foi os idosos, as pessoas com deficiência, e quaisquer outros grupos vulneráveis. A legislação em vigor já assegura a estas pessoas tratamento prioritário e facilitação do acesso delas às agências bancárias. Entretanto a natureza jurídica das relações negociais firmadas com estes clientes não difere daquilo que é pactuado com demais clientes. Ou seja: não existem contratos de exceção nem o banco constrói normativos específicos para estas pessoas.

Entretanto, dadas as particularidades deste público, pode ocorrer de funcionários de agências bancárias quererem flexibilizar normas para oferecer um atendimento diferenciado. Foi o que se tentou sondar com a questão 18, cujos resultados estão abaixo tabelados:

Tabela 18 - Deve-se flexibilizar a norma para atender a idosos, pessoas com deficiência, e quaisquer outras pessoas que apresentem algum tipo de vulnerabilidade.

Frequência Relativa Frequência Absoluta (%) Discordo totalmente 17 37,8 Discordo parcialmente 12 26,7 Não concordo nem discordo 1 2,2 Concordo parcialmente 10 22,2 Concordo totalmente 5 11,1 Total 45 100,0 Fonte: elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

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Dos bancários que responderam ao questionário desta pesquisa, a maior parte discordou da afirmação proposta (37,8% discordaram totalmente e 26,7% discordaram parcialmente). Neste quesito, portanto, os interesses do banco parece se harmonizar com o dos funcionários.

5 CONCLUSÃO

Este estudo teve o intuito de investigar se a existência de ligações pessoais entre clientes e funcionários de instituições financeiras seria capaz de fazer com que estes últimos infringissem as normas de compliance a que se submeteram por força de vínculo empregatício. A motivação para tal infração, segundo a hipótese formulada por esta pesquisa, estaria relacionada a conflitos de interesses entre o funcionário (que tenderia a preservar seu relacionamento pessoal com os clientes) e o banco (cuja preocupação seria minimizar riscos e evitar prejuízos). Tendo validado todas as premissas estabelecidas, os dados obtidos a partir desta pesquisa confirmam a hipótese e permitem afirmar que clientes e funcionários das agências bancárias estudadas, de fato, mantêm relações que vão além da dimensão profissional, e que estas conexões pessoais ocasionam inobservância e desobediência aos controles internos. Embora as respostas a alguns quesitos tenham sido bastante heterogêneas, as questões avaliadas pela Escala Likert sugerem que – de um modo geral – a consciência ética e a noção de acerca do que é ou não adequado e justo estão preservadas na maioria dos respondentes. Isto indica que, quando violam os controles internos, estes funcionários o fazem cientes dos riscos inerentes a tal ato.

REFERÊNCIAS

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11. UM ESTUDO DA EFETIVAÇÃO DE RECEITA PRÓPRIA EM PEQUENOS MUNICÍPIOS PERNAMBUCANOS

Autores: Marco Túlio José de Barros Ribeiro, Marcelo Victor José de Barros Ribeiro, Luiz Carlos Miranda, Yony de Sá Barreto Sampaio, Jeronymo José Libonati Resumo

O objetivo deste estudo é evidenciar se os mandamentos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que tratam da efetiva arrecadação de receitas próprias, geraram algum impacto percebido nos índices que denotam a relação entre as receitas tributárias e as receitas correntes em pequenos municípios pernambucanos com até 20.000 habitantes. A partir do ano imediatamente anterior à vigência da LRF (1999), foi analisado o ano imediatamente posterior (2001), bem como o ano de 2012 (último exercício disponível no banco de dados contábeis dos municípios), num panorama comparativo doze anos após a promulgação da LRF, com utilização do banco de dados “Finanças do Brasil” (FINBRA), vinculado ao Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (SICONFI/STN/MF). Os resultados encontrados por meio do teste U de Mann-Whitney, e com o auxílio do SPSS versão 17, apontam para a confirmação da hipótese de investigação com relação ao aumento progressivo da participação da receita tributária em relação à receita corrente após a promulgação da LRF. Isto denota um envolvimento dos municípios pernambucanos integrantes da amostra com até 20.000 habitantes em incorporar práticas de gestão trazidas pela LRF, quando vinculadas à administração dos tributos municipais.

Palavras-chave: Receita Própria. Lei de Responsabilidade Fiscal. Pequenos Municípios. FINBRA.

1 INTRODUÇÃO

A Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000, também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), surgiu com o objetivo de proporcionar o adequado equilíbrio fiscal, regulamentando vários aspectos da administração pública brasileira. (BRASIL, 2000)

Em vigor há quinze anos, a LRF estabelece que os gestores de todas as esferas, seja no âmbito federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, devem buscar o equilíbrio nas contas públicas de acordo com os indicadores e procedimentos objetivamente especificados e com bons princípios de gestão. (OLIVEIRA, 2010)

A busca do equilíbrio fiscal dos entes da administração pública se constitui no ponto focal instituído pela LRF. Ao estabelecer marcos importantes para o resgate do planejamento e dos orçamentos como instrumentos fundamentais para o aperfeiçoamento contínuo da administração pública no Brasil, a LRF define em seu artigo 11 como requisito essencial na responsabilidade da gestão fiscal do ente da Federação, a previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos de sua competência constitucional.

No caso de uma gestão pública municipal eficaz deve-se esperar que os gestores dos municípios adotem todos os procedimentos necessários para concretizar a sua receita própria de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis Intervivos (ITBI) e de outras taxas e contribuições, de forma que arregimente argumentos plausíveis com o objetivo de aumentar as receitas de transferências da União e do Estado, considerando uma melhoria nos serviços públicos disponibilizados.

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Esse vislumbre parte da ideia de que a renda disponível das famílias em municípios brasileiros entendidos como pequenos, com população até 20.000 habitantes, já não é suficiente para a sustentabilidade familiar, não sobrando para pagar, por exemplo, o IPTU. Para Scur e Platt Neto (2011, p. 54), na realidade, esses municípios apresentam destacada dependência orçamentária de recursos provenientes dos repasses de transferências federais e estaduais.

Nos pequenos municípios brasileiros verifica-se baixa capacidade de gerar receitas com a tributação de seus próprios contribuintes, refletindo condições críticas em serviços públicos, insatisfação por parte dos munícipes quanto à qualidade de vida e altos movimentos migratórios. (GERIGK; CLEMENTE; TAFFAREL, 2010)

A partir desta visão propõe-se a seguinte pergunta para orientar a investigação: com a vigência da LRF, qual o impacto nos níveis de arrecadação de receitas tributárias em municípios pernambucanos com população de até 20.000 habitantes?

Desta maneira, o objetivo deste estudo é evidenciar se os mandamentos da LRF, que tratam da efetiva arrecadação de receitas próprias, geraram algum impacto percebido nos índices que denotam a relação entre as receitas tributárias e as receitas correntes em municípios pernambucanos com até 20.000 habitantes.

A partir do ano imediatamente anterior à vigência da LRF (1999), será analisado o ano imediatamente posterior (2001), bem como o ano de 2012 (último exercício até o momento disponível no banco de dados contábeis dos municípios), num panorama comparativo doze anos após a promulgação da LRF, por meio do “Finanças do Brasil” (FINBRA), vinculado ao Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (SICONFI/STN/MF).

Pensa-se que efetivar a arrecadação de receitas próprias, especialmente a receita de impostos, em municípios do interior do Estado, onde o gestor municipal mantém um relacionamento político com a comunidade com encontros informais nos eventos e nas ruas da cidade, não é algo imediato e trivial. Já nas capitais ou nos municípios maiores, que possuem sistemas de controle de arrecadação mais sofisticados, com um corpo de auditores e fiscais já maduro e institucionalizado, os reflexos políticos para os gestores municipais são muito mais diluídos. Assim, esta pesquisa pretende se inserir nas discussões em torno da reforma tributária, especialmente no foco relacionado com a repartição tributária para os municípios de pequeno porte.

Os resultados encontrados na presente pesquisa apontam para a confirmação da hipótese de investigação com relação ao aumento progressivo da participação relativa da receita tributária em relação à receita corrente após a promulgação da LRF. Os níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes foram maiores em 2001 e 2012, sendo mais consideráveis em 2012. Isto denota um envolvimento dos municípios pernambucanos integrantes da amostra com até 20.000 habitantes em incorporar práticas de gestão trazidas pela LRF, quando vinculadas à administração dos tributos municipais.

De forma a melhor detalhar o presente artigo, a seção 2 irá expor a plataforma teórica visando à temática de pesquisa com respeito à gestão pública por resultados, gestão pública municipal, receita pública, receita pública municipal e lei de responsabilidade fiscal com a construção das hipóteses de pesquisa. Em seguida, na seção 3, será apresentada a metodologia com os constructos dos testes estatísticos utilizados. Na sequência, a seção 4 reunirá toda a análise dos resultados encontrados e, finalizando, na seção 5 com a conclusão de pesquisa.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Alguns estudos recentes buscaram compreender relações sobre o orçamento público e gestão financeira.

2.1 ALGUMAS PESQUISAS EM ORÇAMENTO E FINANÇAS PÚBLICAS

Heylen, Hoebeeck e Buyse (2013) estudaram a evolução da taxa da dívida pública em relação ao PIB em 21 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) entre 1981 a 2008, cuja entidade possui sua sede em Paris (França). Para os autores, o forte aumento das taxas de dívida pública e da crescente preocupação sobre a sustentabilidade das finanças públicas desde a recessão em 2008 e 2009, impuseram a necessidade de um ajuste fiscal significativo e estratégias de redução da dívida na maioria dos países da OCDE. A principal conclusão do artigo é que o corte das despesas fixas e aumento de impostos podem contribuir para a redução da dívida, num primeiro momento, mas os efeitos não são fortes. Por exemplo, corte salarial pode contribuir para redução da dívida pública, mas apenas quando a eficiência do setor público é baixa. Conte (2014) buscou avaliar se a LRF contribuiu para melhoria dos indicadores fiscais do Estado do Rio Grande do Sul (RS), tendo por período de análise os anos de 2004 à 2012. Segundo autor, a LRF consolidou regras quantitativas e de procedimentos que visavam reduzir o grau de discricionariedade nas políticas orçamentária e fiscal, definindo um arcabouço mais robusto e abrangente para a política fiscal a ser seguido por todos os níveis de governo. Por outro lado, apesar da importância da LRF, esta não foi por si só a garantia de melhoria da situação fiscal do RS, pois o gasto público e o endividamento apresentaram crescimento superior ao da Receita Corrente Líquida (RCL), mostrando uma postura de gestão divorciada da melhoria da situação fiscal. Santos e Camacho (2014) analisaram a relação entre receitas e despesas, com enfoque no equilíbrio orçamentário objetivando contribuir com a Prefeitura Municipal de Cosmópolis/SP na avaliação de seu planejamento e posterior execução orçamentária, referente aos anos de 2007 à 2012, utilizando quocientes do Balanço Orçamentário. Por meio da análise dos quocientes obtidos, os autores mostraram que as receitas arrecadadas nos anos de 2007, 2008 e 2011 superaram as despesas executadas, resultando em um superávit orçamentário. Por outro lado, as despesas realizadas foram superiores às receitas arrecadadas nos anos de 2009, 2010 e 2012, ocasionando déficit orçamentário. Assim, os autores concluem sobre a importância do acompanhamento da gestão municipal por meio de indicadores de desempenho. E, Liguori e Steccolini (2014) promoveram uma reflexão sobre contabilidade, inovação e mudanças no setor público. Para as autoras, as reformas no setor público têm sido muitas vezes referidas como New Public Management (NPM), com introdução de princípios de mercado, reivindicando que uma melhor tomada de decisão fariam as organizações públicas mais eficientes e eficazes. Para elas, as atuais crises econômicas e fiscais estão colocando novos desafios para contadores e acadêmicos do setor público.

Basicamente há uma tendência nestas pesquisas da área pública em se mensurar a eficiência, a eficácia e efetividade da Gestão Pública. Tais pesquisas apresentam o direcionamento em se conhecer melhor o ambiente em que se dá a origem e aplicação dos recursos públicos que são escassos.

Neste sentido, um dos grandes desafios atuais na atuação dos gestores públicos brasileiros de todas as esferas, alcance de responsabilidades e níveis de governo é o desenvolvimento e a implementação de ferramentas e procedimentos de gestão pública, que redundem na melhoria dos padrões de resultado, eficiência, eficácia e efetividade no âmbito

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de todo o conjunto das políticas públicas que necessitam ser desenvolvidas. (RIBEIRO FILHO, 2012)

Uma gestão por resultados deve funcionar como viga mestra da administração pública contemporânea, aumentando a responsabilidade dos gestores públicos, cuja preocupação está no desempenho da administração.

2.2 GESTÃO PÚBLICA POR RESULTADOS

Ribeiro Filho et al. (2012, p.8), com respeito ao caso brasileiro,

Na verdade, a gestão baseada em resultados é um modelo prescrito na Constituição Federal de 1988, fruto de uma peregrinação conceitual cujo cerne motivador está presente em todas as Constituições republicanas. A avaliação do cumprimento das metas previstas no plano plurianual e a avaliação dos resultados, quanto a eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial das entidades da administração pública, configuram o leito normativo fundamental para esta abordagem desafiadora em termos de impacto comportamental e desafios de gestão.

Para que se possa implantar uma administração focalizada em resultados, impõe-se redesenhar o modo de gestão dos sistemas de administração pública. Os gestores públicos precisam definir claramente os resultados que se pretende obter, implementar o programa ou serviço, mensurar e avaliar o rendimento e, caso seja necessário, fazer ajustamentos para aumentar a sua eficiência e a sua eficácia.

Neste sentido, a busca pelo enfoque gerencial visando resultados se faz no quadro das restrições legais a que está sujeito o administrador público. Diante da relevância que os municípios apresentam na estrutura público-administrativa brasileira, o espaço de manobra do gestor para decidir sobre a aplicação dos recursos se torna fundamental. Entende-se que o espaço de manobra é constituído pelo montante de recursos financeiros sobre os quais os administradores públicos efetivamente podem exercer escolhas quanto à aplicação e é, portanto, o que permite aos municípios imprimirem características próprias e diferenciadas às suas administrações. (GERIGK; CLEMENTE, 2011)

Uma gestão por resultados que visa melhorias na administração pública, em particular numa gestão pública municipal, depende essencialmente da correta e persistente administração dos recursos financeiros.

2.3 GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL

A autonomia do Município Brasileiro está assegurada na CF/88 para todos os assuntos de seu interesse local e expressa sob o tríplice aspecto político (composição eletiva do governo e edição das normas locais), administrativo (organização e execução dos serviços públicos locais) e financeiro (decretação, arrecadação e aplicação dos tributos municipais). (COSTA, 2011)

A gestão pública, em particular a municipal, envolve a interpretação de objetivos, a fim de transformá-los em ações por meio do planejamento, da organização, da direção e do controle, e compreende o conjunto de ideias, atitudes, normas e processos que determinam a forma de distribuir e de exercer a autoridade política e de se atender aos interesses públicos. (MATIAS-PEREIRA, 2012)

Nesta perspectiva, está incluída a gestão financeira que se refere aos procedimentos empregados na obtenção e administração dos recursos financeiros (receita pública) necessários para a realização dos serviços públicos e dos programas de interesse local.

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2.4 RECEITA PÚBLICA

Conceitualmente, refere-se a todo recebimento de impostos, taxas e transferências correntes e de capital em que a receita pública caracteriza-se como toda entrada de recursos na entidade, independente da contraprestação de serviços ou de entrega de produto. Assim, reflete todo o conjunto de recursos financeiros que entram para os cofres do ente público, providos de quaisquer fontes, a fim de ocorrer às despesas orçamentárias e adicionais do orçamento. (SLOMSKI, 2005)

Verifica-se que a conceituação de receita pública é vista por uma ótica essencialmente financeira. As receitas públicas constituem-se de ingressos originários de fontes bem definidas com fato gerador próprio e permanente sem contrapartida de obrigações e tem como finalidade atender às despesas públicas. As receitas públicas orçamentárias são aqueles que foram previstas no orçamento e efetivamente arrecadas; já as receitas extra-orçamentárias são aquelas que não foram previstas no orçamento e não fazem parte da atividade do Estado, muito embora fossem arrecadadas.

Assim, a condição de autonomia prevista na CF/88 aos municípios implica numa efetivação das políticas públicas, cujo ente deverá valer dos meios para obtenção de recursos, na sua grande maioria, pelo recolhimento coercitivo de tributos ou penalidades, bem como por contra prestação ou serviço produzido por empresas estatais.

2.5 RECEITA PÚBLICA MUNICIPAL

Conforme Anselmo (2013), a receita própria municipal tem uma base de arrecadação menor em relação à do Estado e da União. Neste aspecto, a receita pública municipal é composta pelos seguintes componentes tributários:

� Impostos municipais: Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e Imposto sobre a Transmissão de Bens Intervivos (ITBI);

� Taxas municipais: Taxas de Serviços Urbanos (TSU) e Taxas de Poder de Polícia (TTP);

� Contribuições Municipais: Contribuição de Melhorias e Contribuição para Iluminação Pública.

Por outro lado, no contexto da efetivação da receita tributária (ou própria) dos municípios, ressalta-se uma dependência em sistemas de informações adequados, de modo a identificar o grau de atualização e confiabilidade das informações dos contribuintes (imobiliárias e mobiliárias) e reavaliar as alíquotas tributárias aplicadas, devendo ser exercida por servidores treinados, contando com recursos prioritários para a realização de suas atividades. Busca-se uma reorganização da estrutura da área de tributação, com planejamento das receitas e adequação da legislação quanto à máxima utilização da capacidade arrecadatória. (SANTOS; ALVES, 2011; ANSELMO, 2013)

A importância de uma gestão eficiente da arrecadação das receitas é ressaltada, inclusive, na própria CF/88 no art. 37, onde elege a administração tributária como atividade essencial ao funcionamento do ente federativo. Ressalta-se que a eficiência e eficácia no exercício da competência de cobrar os tributos, entretanto, tem como objetivo ampliar os recursos disponíveis para a prestação de serviços com a excelência que o contribuinte exige em contrapartida dos valores pagos, visando efetividade e resultados de uma gestão pública municipal.

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2.6 A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF)

No propósito de garantir o equilíbrio orçamentário e de responsabilidade na gestão, a LRF traz medidas para prevenção de riscos das contas públicas. Um dos aspectos está no efetivo ingresso de recursos necessários à atividade do ente público.

Em particular, com a LRF foi deflagrado o processo para combater o crônico desequilíbrio fiscal da administração pública brasileira, em todas as esferas de governo, representando um verdadeiro código de conduta dos administradores públicos na gestão das finanças públicas. (MATIAS-PEREIRA, 2010)

Os modelos-base para construção do modelo brasileiro de responsabilidade fiscal são descritos a seguir, conforme Quadro 1:

Modelos-base Algumas Características Principais

Fundo Monetário Internacional

Fiscal Transparency

� transparência dos atos; planejamento; publicidade; responsabilização; relatórios fiscais.

Nova Zelândia

Fiscal Responsibility Act � princípios de gestão fiscal responsável; gerenciamento de riscos.

Comunidade Econômica Europeia

Tratado de Maastricht

� Definição de critérios para verificação da sustentação financeira de um governo; estabelecimento de metas e punições; pacto de estabilidade e crescimento.

Estados Unidos da América

Budget Enforcement Act

� Fixação de mecanismos de controle de gastos; garantia de limites e metas orçamentárias.

Quadro 1: Modelos-base para a construção do modelo brasileiro de responsabilidade fiscal

Fonte: Elaboração própria baseada em Nascimento e Debus (2002)

A LRF estabelece como requisito essencial, com foco na gestão fiscal, que o ente institua, preveja e arrecade de maneira efetiva todos os tributos de sua competência, de modo buscar efetivar as receitas próprias ou tributárias e reduzir a grande dependência, essencialmente em municípios, das transferências fiscais. (FIGUEIRÊDO; NÓBREGA, 2010)

De acordo com o parágrafo único do art. 11, o não cumprimento dessa regra, no que se refere aos impostos, implica que os Municípios ficarão proibidos de receber transferências voluntárias. Neste caso, refere-se a não entrega de recursos correntes ou de capital de outro ente da Federação, à título de cooperação, auxílio ou assistência financeira.

Santos e Alves (2011) esclarecem que os gestores municipais têm sofrido pressão crescente por parte da sociedade para que gerenciem com eficiência e que sejam eficazes nos resultados, dado que cada vez mais os recursos, que são escassos, são disputados para atenderem a novas necessidades.

Aos serviços públicos municipalizados, como por exemplo a saúde e a educação, os gestores públicos municipais devem buscar arrecadação própria, para dar sustentabilidade às despesas programadas, atendendo aos preceitos da LRF que impõe restrições à renúncia de receitas sob pena de comprometimento da execução das despesas.

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2.7 HIPÓTESES DE PESQUISA

Presume-se que houve mudanças da gestão fiscal no comparativo entre 1999 e 2001; entre 1999 e 2012; e entre 2001 e 2012. Logo, três hipóteses podem ser formuladas para serem testadas, à saber:

a) os níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes do ano de 2001 são maiores do que aqueles verificados no ano de 1999;

b) os níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes do ano de 2012 são maiores do que aqueles verificados no ano de 1999;

c) os níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes do ano de 2012 são maiores do que aqueles verificados no ano de 2001;

Em simbologia matemática usual, têm-se os seguintes sistemas de hipóteses, conforme Quadro 2:

Sistemas de Hipóteses

H01: µ1999 = µ2001

H11: µ2001 > µ1999

H02: µ1999 = µ2012

H12: µ2012 > µ1999

H03: µ2001 = µ2012

H13: µ2012> µ2001

Quadro 2: Relação dos três Sistemas de Hipóteses.

Fonte: Elaboração própria.

3 METODOLOGIA

Conforme Brasil (2010), o Estado de Pernambuco, localizado na Região Nordeste e com uma população 8.796.448 habitantes, é constituído por 185 municípios dos quais, aproximadamente, metade deles com até 20.000 habitantes.

Os dados com a posição das receitas municipais, bem como o número de habitantes foram obtidos através do sistema FINBRA disponível em banco de dados Microsoft Access® no sítio http://tesouro.fazenda.gov.br/contas-anuais.

Posteriormente os dados foram exportados para três planilhas no Microsoft Excel®, segregados por ano estudado, com o objetivo de realizar a triagem dos mesmos. As planilhas dos anos de 1999, 2001 e 2012 apresentaram, respectivamente, 143, 183 e 168 municípios com dados relativos ao número de habitantes e composição da receita orçamentária.

Para realização da análise foi identificado os municípios com até 20.000 habitantes com referência ao ano de 1999, desde que tais também estivessem nos dois outros anos. Com a identificação concluída, foi definida uma amostra composta por 69 municípios para os três anos.

No que se refere ao processo comparativo, lançou-se mão do indicador INjk de análise da relação percentual entre a receita tributária (RTRjk) do município j no ano k com sua receita corrente (RCOjk), com o objetivo de facilitar o manuseio dos dados monetários e excluir o efeito da inflação. Do exposto, tem-se a seguinte expressão:

×=

jk

jkjk RCO

RTRIN 100

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Com a implementação do indicador em questão na planilha Excel, a formatação dos dados da amostra é finalizada, cujo resultado se pode observar no Quadro 3 (Apêndice). Em seguida, os dados já formatados foram tabulados no SPSS, versão 17, para execução dos testes estatísticos adequados.

Como não foi possível confirmar a normalidade dos dados por meio dos testes Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk (p-valores = 0,00), os testes não-paramétricos se mostram mais adequados para a inferência estatística. No caso, para se comparar duas amostras independentes, segundo Bruni (2009), uma alternativa ao teste paramétrico para igualdade de médias (teste t de Student) é a prova não-paramétrica U de Mann-Whitney. Tal teste não exige hipótese sobre distribuições populacionais e suas variâncias, ao contrário do teste t que exige normalidade dos dados de mesma variância.

Com o auxílio do SPSS, o teste U de Mann-Whitney irá criar um ranking (postos ou ordenação) de todos os casos (independente do grupo) e depois irá proceder a comparação dos rankings entre cada grupo. Assim, se observará o rank médio e a soma dos rankings de cada grupo (se haver diferença estatisticamente significativa entre os grupos, espera-se que os rankings médios sejam altamente diferentes). Caso o p-valor retornado for menor que o nível de significância do teste (0,05), rejeita-se a hipótese nula quanto à igualdade das médias. Assim, ocorre a não-rejeição da hipótese alternativa quanto à desigualdade das médias. Neste aspecto, caso se verifique que os postos médios entre os grupos (no caso: 1999 e 2001; 1999 e 2012; 2001 e 2012) sejam maiores em 2001 e 2012, além de µ2012 > µ2001, se confirmarão as hipóteses de pesquisa quanto ao aumento progressivo da participação relativa da receita tributária em relação à receita corrente após a promulgação da LRF nos anos em questão.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O Quadro 4 a seguir destaca a estatística descritiva dos dados da amostra. Verifica-se que, para o indicador IN1999, a média é de 1,534%, com intervalo de confiança (95%) entre 1,201% à 1,867%. Já para o indicador IN2001, a média é de 1,834%, dentro do intervalo de confiança entre 1,493% e 2,175%. E, o indicador IN2012 mostra uma média de 3,153%, com um intervalo de estimativa provável para 95% dos dados entre 2,689% e 3,617%.

Estatística Erro-padrão

IN1999

Média 1,534 0,166

Intervalo de confiança para a média (95%)

Limite inferior 1,201

Limite superior 1,867

Desvio padrão 1,384

Mínimo 0,242

Máximo 10,671

IN2001

Média 1,834 0,171

Intervalo de confiança para a média (95%)

Limite inferior 1,493

Limite superior 2,175

Desvio padrão 1,420

Mínimo 0,258

Máximo 11,504

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IN2012

Média 3,153 0,233

Intervalo de confiança para a média (95%)

Limite inferior 2,689

Limite superior 3,617

Desvio padrão 1,934

Mínimo 0,786

Máximo 12,984

Quadro 4: Estatística descritiva dos dados

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados coletados.

Os índices médios já demonstram um aumento progressivo da participação da receita tributária em relação à receita corrente nos anos estudados. Para os períodos 1999-2001, 1999-2012 e 2001-2012 houve um aumento, respectivamente, de 19,56%, 105,54% e 71,92%. De forma a verificar se tais variações são de fato divergências estatisticamente significativas, os Quadros 5, 6 e 7 a seguir mostram o resultado do teste U de Mann-Whitney.

Anos Postos médios

(mean rank)

Soma dos postos

(sum of ranks)

P-valor

(NS=0,05)

1999 61,20 4.223 0,015

2001 77,80 5.368

Quadro 5: Resultado do teste U de Mann-Whitney para o grupo “1999-2001”

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados coletados.

Pelo Quadro 5 se percebe que a primeira hipótese foi confirmada quanto aos níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes do ano de 2001 serem maiores do que aqueles verificados no ano de 1999. De fato, o teste retornou um p-valor menor que o nível de significância adotado (NS=5%), mostrando que há diferenças estatisticamente significativas entre os anos 1999 e 2001. E, de forma a confirmar o aumento no período, os postos médios são 61,2 e 77,8, respectivamente, para os anos 1999 e 2001.

Neste período ocorreu um efeito de aprendizagem na implementação de procedimentos para efetivação da receita própria nos pequenos municípios integrantes da amostra com até 20.000 habitantes. Apesar de haver diferenças efetivas no período 1999-2011, há uma pequena variação dos postos médios, mostrando que houve um esforço discreto para efetivação da receita própria resultado da adequação à nova lei.

Anos Postos médios

(mean rank)

Soma dos postos

(sum of ranks)

P-valor

(NS=0,05)

1999 44,12 3.044 0,000

2012 94,88 6.547

Quadro 6: Resultado do teste U de Mann-Whitney para o grupo “1999-2012”

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados coletados.

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Já a segunda hipótese de pesquisa, onde os níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes do ano de 2012 são maiores do que aqueles verificados no ano de 1999 também foi confirmada. O teste U de Mann-Whitney indicou um p-valor menor que o NS do estudo, verificando que há diferenças estatisticamente significativas entre os anos 1999 e 2012. Para o ano de 2001 (com posto médio de 46,74) e para o ano de 2012 (com posto médio de 92,26) se verifica que há um grande aumento da efetivação da receita própria, mostrando que o nível de participação da receita tributária dos Municípios integrantes da amostra, tomados em conjunto, diferiu estatisticamente, sendo bem maior em 2012 do que em 1999.

Anos Postos médios

(mean rank)

Soma dos postos

(sum of ranks)

P-valor

(NS=0,05)

2001 46,74 3.225 0,000

2012 92,26 6.366

Quadro 7: Resultado do teste U de Mann-Whitney para o grupo “2001-2012”

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados coletados.

E, a terceira hipótese de estudo, onde afirma que os níveis de participação da receita tributária em relação às receitas correntes do ano de 2012 são maiores do que aqueles verificados no ano de 2001 foi confirmada, pois a hipótese nula quanto à igualdade de médias foi rejeitada. De fato, as médias são diferentes e aquelas verificadas em 2012 são maiores do que em 2001, pois o mean rank do ano 2001 foi de 46,74 e do ano 2012 foi de 92,26.

Quando se analisa conjuntamente os três períodos, o que ocorreu foi um efeito de adaptação para implementação de procedimentos de efetivação da receita tributária nos pequenos municípios integrantes da amostra, indicando um impacto na gestão de receitas tributárias desde a promulgação da LRF.

5 CONCLUSÃO

O objetivo do estudo foi evidenciar se os mandamentos da LRF, que tratam da efetiva arrecadação de receitas próprias, geraram algum impacto percebido nos índices que denotam a relação entre as receitas tributárias e as receitas correntes em municípios pernambucanos com até 20.000 habitantes.

A LRF ao definir regras que afirmam os requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do município, colocando vedação de transferências voluntárias para o ente que não cumprir o dispositivo com relação aos impostos, trazem a necessidade do desenvolvimento e implementação de sistemas de informações gerenciais, que se tornam indispensáveis à efetivação das receitas próprias.

No período 1999-2001 há uma percepção, de forma geral, dos esforços direcionados em concretizar a receita própria municipal, apesar de ser discreto. Por outro lado, verifica-se aumentos vertiginosos da participação da receita tributária em relação a receita corrente da amostra, quando se analisa 1999 em relação a 2012, bem como 2001 em relação a 2012. Na medida em que o município é ente da Federação, na forma da Constituição Federal de 1988, implica na assunção das vantagens e desafios da descentralização política e administrativa. Tal cenário sugere a utilização de Tecnologias da Informação (TI) como requisito para a atualização e informatização do cadastro predial e do cadastro territorial; atualização da planta

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de valores; atualização e digitalização do mapa da área urbana; licenças para construção; e informatização do cadastro de alvarás de habitação.

Como sugestão para futuras pesquisas é a expansão dos constructos do presente estudo também para municípios maiores, segregados por região ou PIB (Produto Interno Bruto), com verificação das mesmas hipóteses construídas, a título de comparação e verificação dos preceitos legais quanto a obediência para efetivação da receita própria nos demais municípios brasileiros.

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APÊNDICE j MUNICÍPIO INj1999 IN j2001 IN j2012 35 Machados 1,97403 1,95771 2,77837 1 Afrânio 1,77695 2,08848 3,22869 36 Manari 0,46426 0,25855 2,46599 2 Agrestina 2,30741 2,69671 3,48454 37 Mirandiba 2,19497 1,82100 2,17429

3 Barra de

Guabiraba 1,88181 1,36112 2,31597 38 Moreilândia 1,25438 1,15209 4,61362

4 Belém de

Maria 0,63829 1,13688 2,78879 39 Orocó 1,98037 2,81783 2,74265

5 Betânia 1,55976 1,20880 2,36193 40 Parnamirim 2,45318 2,59553 11,58262 6 Brejinho 2,55999 2,78244 2,25827 41 Poção 1,20654 1,29893 1,56523 7 Buenos Aires 2,45960 2,46080 3,48177 42 Primavera 0,85683 0,77033 2,58707 8 Cachoeirinha 1,68674 1,72293 3,33344 43 Quixaba 1,17458 1,05156 2,13302

9 Calumbi 0,46721 1,78707 5,20551 44 Riacho das

Almas 1,91089 2,34826 3,37153

10 Camocim de

São Félix 3,87011 3,27175 3,43441 45 Rio Formoso 2,45856 1,29591 4,10203

11 Camutanga 0,55131 0,92930 2,30094 46 Sairé 1,77166 2,36154 5,49956 12 Capoeiras 0,54665 1,33514 2,53414 47 Salgadinho 2,58621 1,79983 3,96460 13 Carnaíba 1,01522 1,34187 5,55150 48 Saloá 0,70169 0,72684 2,00270

14 Carnaubeira da

Penha 1,00275 1,58914 1,97284 49 Santa Cruz 1,12868 1,35076 2,15391

15 Casinhas 1,18298 0,82500 2,37630 50 Santa Cruz da Baixa

Verde 1,14686 1,39903 1,97686

16 Cedro 0,97034 2,01160 2,21765 51 Santa

Filomena 1,67986 1,04872 1,71761

17 Chã de Alegria ,91042 2,07976 2,52198 52 Santa Maria do Cambucá

0,94748 2,00503 1,98288

18 Cortês 0,57679 1,10508 3,23857 53 Santa

Terezinha 1,62801 1,18736 3,17847

19 Dormentes 0,93193 3,01847 3,27029 54 São Joaquim

do Monte 2,58592 2,12755 2,85972

20 Feira Nova 1,82207 1,61436 3,30570 55 São José da

Coroa Grande

4,44474 5,31776 6,51171

21 Granito 0,66872 0,75937 3,20990 56 São Vicente

Ferrer 1,37794 1,54715 1,93204

22 Iati 0,77355 1,46101 1,39861 57 Serrita 0,74467 1,31813 2,16746

23 Ibirajuba 0,75127 0,94250 2,30153 58 Solidão 0,55437 0,90158 2,14626

24 Iguaraci 2,11192 1,52840 2,62606 59 Tacaimbó 0,55957 1,58123 2,87505 25 Ingazeira 0,99886 1,52000 1,65615 60 Tacaratu 2,37742 2,94437 4,46121 26 Itacuruba 0,52103 1,52178 4,17763 61 Tamandaré 10,67128 11,50403 12,98417 27 Itapetim 1,35254 1,39144 0,78648 62 Terezinha 0,55574 1,96856 1,82517 28 Jucati 0,72030 0,37742 1,05379 63 Terra Nova 1,62847 1,73515 4,59668 29 Jupi 0,24189 1,89157 1,61200 64 Triunfo 1,01999 1,05047 3,98813 30 Jurema 1,59161 1,54551 2,00347 65 Tupanatinga 1,74250 0,86997 3,14515

31 Lagoa do

Carro 1,72946 2,26921 2,34092 66 Tuparetama 2,54497 1,56566 3,20026

32 Lagoa do Itaenga

1,51338 1,75563 2,32035 67 Verdejante 1,18291 1,87936 4,15805

33 Lagoa do Ouro 0,67755 2,35585 1,66632 68 Vertentes 0,38048 1,32867 3,85898 34 Lagoa Grande 1,23562 2,92714 3,29866 69 Xexéu 0,34131 1,07894 2,60333

Quadro 3: Formatação do indicador INjk para cada ano da amostra Fonte: Elaboração própria baseada em FINBRA

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12. RELATO INTEGRADO: UMA ANÁLISE DE CONTEÚDODOS INDICADORES-CHAVE (KPIS) DOS CAPITAIS NÃO FINANCEIROS NAS EMPRESAS DO NOVO

MERCADO

Autores: Maxleide Nascimento Castro,Raimundo Nonato Rodrigues, Natalia Mary de Sousa Oliveira, Talita Maria Alves de Santana Silva e Thais Tailine Santos da Silva Resumo Desde 2009, há uma discussão em âmbito internacionalacerca do pensamento corporativo integrado, que tem por finalidade integrar informações financeiras e não financeiras em um único relatório, que é denominado “Relato Integrado”. E para este estudo o objetivo foi distinguir quais são as características e classificações dos indicadores-chave de desempenho dos capitais não financeiros. Tais capitais se restringem ao Capital Natural, Capital Humano, Capital Social e de Relacionamento e Capital Intelectual, sendo excluídos os capitais Financeiros e Manufaturado. Esta pesquisa utilizou-se a pesquisa documental, como também a técnica de análise de conteúdo. A amostra consiste em 63 empresas listadas no segmento do Novo Mercado da BM&FBOVESPA, que divulgaram relatórios com informações não financeiras em 2012. Foram analisados os conteúdos dos indicadores-chave divulgados, quanto às características e às classificações, e, no geral, observou-se que 61% dos indicadores apresentaram características “quantitativas não monetárias”, e a maior representação foi do Capital Humano. E na segunda analise 58% apresentaram a classificação “Neutra”, e também foram identificados aspectos negativos (Ruim) nos indicadores (11%).Esta pesquisa corrobora para o avanço dos estudos nesta temática, pois até 2014 há uma lacuna de trabalhos empíricos ligados ao “Relato Integrado”. Palavras chave: Relatório Integrado; Capitais Não Financeiros, Indicadores-Chave.

1INTRODUÇÃO

Relatórios Integrados (RI) é a mais recente proposta de inovação na comunicação empresarial na divulgação de desempenho financeiro e não financeiro das empresas (VILLIERS et al, 2014).Essa nova abordagem de evidenciação pode ser considerada como um avanço na perspectiva da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) no que se refere à contribuição voluntária de uma empresa para o desenvolvimento sustentável, que vai além das exigências legais (GAMERSCHLAG; MOLLER; VERBETEEN, 2011). Nos últimos anos, percebe-se que os órgãos não governamentais ligados ao ambiente de negócios, estão em campanha de incentivo para que as empresas divulguem informações sobre o desempenho social e ambiental de suas operações.

Na contabilidade French (2013) diz que a mudança e os esforços na criação de novos padrões de divulgação ao redor do mundo, elucidam os riscos e as oportunidades inerentes a operação das organizações, e que essas mudanças acenderama preocupação de como as empresas se comunicam com as partes interessadas.E que as organizações tendem a ter uma posição competitiva mais forte quando não utilizam somente a contabilidade tradicional, mas também as informações do seu modelo de negócio alinhado à criação de valor a partir do desempenho das dimensões socioambientais, como apoio na tomada de decisão (DASCALU, 2008),

Em 2009 tornou-se pauta da discussão no encontro mundial “Accounting for Sustainable” a discussão sobre a ideia de um pensamento integrado corporativo, quanto à efetividade da utilização de diversos recursos de uma entidade, e adivulgação dos impactos

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positivos e negativos causados na sociedade como um todo alinhadoa geração de valor da organização(A4S, 2009).Perez Junior et al (2014) relatou que a idealização do relatório integrado não significa "apenas mais um relatório", poisintegralizaras informações financeiras e não financeiras devem ter como resultado a efetivaçãodos recursos utilizadospelas organizações. Assim sendo, a proposta do Relato Integrado (RI), foca estrategicamente na comunicação da criação de valor a partir do alinhamento do modelo de negócio com a utilização de seus capitais (financeiro, intelectual, manufaturado, humano, social e de relacionamento e natural).Segundo Chenget al (2014), os Relatórios Integrados (RI) apresentam novas oportunidades de pesquisas, considerando que, esse modelo de relatório está em fase de desenvolvimento, e ainda não há possibilidade de medir os efeitos que esses novos relatórios causaram nas partes interessadas.

Neste sentido a divulgação dos capitais financeiros e não financeiros de uma organização tem o papel de sustentar, teoricamente, o conceito de geração de valor e também de direcionar as empresas para que assegurem todas as formas de capitais por elas utilizadas ou afetadas (IR, 2013). Desta forma,os fluxos de capitais podem depender de indicadores quantitativos, tais como os KPIs (Key PerfomanceIndicators), que podem ajudar no aumento da comparabilidade, sendo particularmente úteis para expressar e relatar metas estabelecidas versus realizadas (IR,2014).

Nos últimos 20 anos houve um desenvolvimento considerável na literatura acadêmica sobre sistemas de contabilidade e prestação de contas para a gestão combinada e a comunicação de desempenho financeiro e não financeiro (Villiers, et al. 2014). Gray (2010) já havia realizado um ensaio teórico com o objetivo de iniciar uma autocrítica da contabilidade para a sustentabilidade através de um exame de significados e contradições no desenvolvimento sustentável, e obteve várias narrativas com sugestões de um desenvolvimento misto e condicional, que desafiam o campo dos negócios com reivindicações de sustentabilidade.

Villierset al. (2014) no seu estudo mostra que o rápido desenvolvimento da política de comunicação integrada, e os desenvolvimentos iniciais da prática, apresentam desafios teóricos e empíricos por causa das diferentes maneiras em que os relatórios integrados é compreendido e adotados dentro das instituições. Mediante a escassez de estudos empíricos, que tratam da analise de conteúdo dos indicadores-chave de desempenho não financeiros e do “Relato Integrado” levanta-se o seguinte questionamento: Como as empresas brasileiras de capital aberto estão divulgando os indicadores-chave de desempenho dos capitais nãofinanceiros?

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Até a década de 1970, predominava o modelo de crescimento econômico pós-

industrial, que estimulava o consumo em massa, a alta produtividade,a rentabilidade das empresas e a exploração dos recursos naturais. Tal modelo sustentava a noção de que os recursos naturais eram infinitos (KIDD, 1992).Deste modo, nas últimas décadas a discussão sobre a interação entre o desenvolvimento econômico versus sustentável, o bem estar da sociedade, a equidade social e o esgotamento dos principais recursos naturais sãotemas relacionados com os impactos negativos ou positivo decorrentes da relação entre organizações e o meio ambiente (SACHS, 2002; BUARQUE,2008; MOLDAN; DAHL, 2009; SACHS,2004; DIESENDORF, 2000; MEBRATU,1998).

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A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo já abordava esta temática, que para Mebratu (1998), permitiu chegar à conclusão de que o dano causado pelas atividades humanas no ambiente natural torna tais atividades insustentáveis. Dessa forma, ainda conforme o autor, reconheceu-se a importância da gestão ambiental e o uso da avaliação ambiental (por meio de indicadores e apresentação de relatórios) como ferramenta de gestão. Dessa forma, torna-se necessário que as empresas alcancem e adotem os objetivos da sustentabilidade empresarial.

1.1 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

As empresas são os principais agentes de mudança rumo aos objetivos do

desenvolvimento sustentável (TREGIDGA; MILNE; KEARINS, 2014), visto que suas atividades impactam negativamente ou positivamente o âmbito social, econômico e ambiental de uma localidade. Tais instituições são integrantes fundamentais de uma economia, na medida em que contribuem para a geração de empregos e riquezas para uma sociedade (DUNPHY; GRIFFITHS; BENN, 2007). Além disso, as corporações impactam o ambiente natural, sua própria força de trabalho e a sociedade em geral, por meio de escolhas de matérias-primas, processo de fabricação, atividades comunitárias, geração de empregos, práticas de trabalho, pressão sobre o governo para criação de leis, dentre outras atividades (DIESENDORF, 2000).

Nesse sentido, Porter e Kramer (2006) argumentam que há uma dependência mútua entre empresa e sociedade, uma vez que a empresa fornece bens ou serviços e empregos, e, em contrapartida, obtém da sociedade mão-de-obra e clientela para o consumo dos seus produtos. Ou seja, o conceito de sustentabilidade empresarial, além de englobar elementos dos conceitos de desenvolvimento sustentável e de teoria dos stakeholders, engloba também aspectos da responsabilidade social empresarial (RSE) e da prestação de contas corporativas (accountability) (WILSON, 2003). Segundo Lo e Sheu (2007), a sustentabilidade empresarial seria o objetivo final de uma organização, e a responsabilidade socialempresarial seria o meio para alcançá-la.

2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

A conexão entre empresa e sociedade foi feita a partir da necessidade de enfrentar

problemas ambientais e sociais globais, e o desenvolvimento dos setores privados (SANDLER; LOYD, 2009).Por muito tempo os empresários afirmaram que a responsabilidade social das empresas dizia respeito apenas aos acionistas. Devido ao impacto causado pelas ações empresariais, e em resposta às mudanças causadas pela globalização, munida da consciência do seu poder de mercado, hoje é consenso que as empresas são responsáveis por todos os stakeholdersinternos e externos (DUBIELZIG; SCHALTEGGER, 2005).Por isto, faz-se necessário odiálogo e o envolvimento da empresa com todas as partes interessadas, a partir de um relacionamento ético e transparente, no qual implicam na responsabilidade social corporativa (INSTITUTO ETHOS,2007).

Nesta perspectiva vários autoresdiscutem sobre a responsabilidade social nas empresas, quanto ao seudesenvolvimento na produção e divulgação de informações não financeiras (ambiental e social),divulgadas normalmente por meios de comunicações de informações financeiras (WANDERLEY; COLLIER, 2000; KOLK, 2003; DAUB, 2005;GOLOB; BARLETT, 2007; SANDLER; LOYD, 2009; CASTRO; SIQUEIRA; MACEDO, 2009; GANESCU, 2012;).O estudo de Castro (2015) contemplou as empresas de capital aberto (BM&FBovespa) listadas no segmento do novo mercado do ano de 2012 e constatou que 61%

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das informações não financeiras estão presentes nos relatórios que contém informações financeiras.

1.2 DIVULGAÇÕES NÃO FINANCEIRAS

Para Gray (2010), a emergência do desenvolvimento sustentável teve uma influência

crescente na literatura contábil, permitindo o desenvolvimento da contabilidade social e ambiental e na elaboração de relatórios de sustentabilidade.

Cardoso (2006) já relatava que a informação e os processos de divulgações sempre estiveram presentes na evolução das estratégias empresariais e na própria evolução das organizações. Contudo, de acordo com Gray (2010), nos últimos 40 anos, a divulgação de relatórios de sustentabilidade têm ganhado ênfase por parte das empresas como forma de prestar contas à sociedade sobre suas interações com a sociedade e o ambiente natural.

Eccles e Krzus (2011) ainda relatam que as organizações responsáveis pela contabilidade e por relatórios não financeiros, como por exemplo, IASB e GRI, se reuniram para levantar a possibilidade de estabelecer a estrutura de governança e diretrizes para o desenvolvimento de um modelo de estrutura adequado ao mercado.Muitas dessas estruturas englobam indicadores de sustentabilidade que permitem avaliar os avanços ou retrocessos rumo aos objetivos do desenvolvimento sustentável (MEADOWS, 1988).

Por fim Eccles e Krzus (2011, p.11) diz que não há “empresa social”, “empresa cidadã”, “empresa sustentável” ou titulações assemelhadas, se as atividades são firmemente inter-relacionadas [...]. Nesse sentido, os autores afirmam a importância da proposta de um Relato Integrado ou Relatório Único para a organização. Por exemplo, a África do Sul é o país pioneiro nesse modelo de relatório, pois, desde 2010, as empresas de capital aberto listada na Johannesburg Stock Exchange (JSE) são obrigadas a divulgar de forma integrada as informações sobre o desempenho financeiro e não financeiro (IR, 2012, p.4).

1.3 RELATO INTEGRADO

Foi criada uma coalizão global compondo reguladores, investidores, empresas,

organismos de normalização, os contabilistas e organizações não governamentais, denominada de InternationalIntegratedReportingCouncil- IIRC para a elaboração da estrutura conceitual de um Relato Integrado - RI(IR, 2013). Juntos partilharam opiniões sobre como deveria ser uma comunicação que demonstrasse a criação de valor, e enfatizaram que este pode ser o próximo passo na evolução da comunicação corporativa (IR,2013).

No framework do RI, diversas vezes é mencionado o termo “geração de valor”, isso significa que os valores presentes na empresa podem ser preservados ou reduzidos em diversas situações que ocorrer trocas de capitais, como também na relação da geração do valor ao logo do tempo (curto, médio ou longo prazo) (IR, 2013). E Perez et al (p.23, 2014) afirma que “as empresas dependem de diversos tipos de capitais para que suas atividades gerem valor”.

Neste sentido esses capitais são depósitos de valores que se tornam insumos para o modelo de negócios de uma organização (IR, 2013, p.11). Eles são aumentados, diminuídos ou transformados através das atividades e produtos da organização, sendo aprimorados, consumidos, modificados, destruídos ou afetados de alguma forma por essas atividades(IR, 2013, p.11).

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Assim, o propósito desse estudo é analisar os indicadores-chave de desempenhos relacionados aos capitais não financeiros, pois está descrito na parte complementar do draft do framework “Capitals”, que os indicadores quantitativos podem ser muito importantes para explicar os usos e efeitos entre o fluxo de capitais de uma organização (IR, 2013, p. 4).

E no Quadro 1 apresentamos os indicadores-chave de desempenho (KPIs) de capitais não financeiros identificados no estudo anterior do IIRC em 2013.

Quadro1 – KPIs - Capitais não financeiros Indicadores-chave de Desempenho – KPIs – Capitais não financeiro

Capital Natural (7) Capital Humano (11) 1. Emissão de CO2 2. Consumo de energia por Fonte de energia 3. Quantidade de resíduos 4. Acidentes ambientais 5. Resíduos reciclados 6. Investimentos em proteção ambiental 7. Animais adquiridos para testes

8. Número de funcionários 9. Diversidade 10. Total investido em treinamento 11. Funcionários em aprendizagem eletrônica corporativa 12. Média de idade 13. Média de dias de treinamento por funcionário 14. Resultado da pesquisa com funcionários 15. Acidentes com lesão por milhões de horas trabalhadas 16. Taxa de absenteísmo 17. Taxa de demissão 18. Relação de salário mínimo

Capital Social e de Relacionamento(8) Capital Intelectual (8) 19. Ranking de “Excelente lugar para trabalhar” 20. Número de voluntários 21. Reclamações trabalhistas / Processos 22. Envolvimento em ações sociais 23. Envolvimento em projetos culturais 24. Índice de satisfação do cliente 25. Provisão para projetos sociais 26. “Investimento social” (dinheiro gasto em

filantropia)

27. Número de patentes requeridas 28. Dinheiro gasto em P&D 29. Número de testes com nova tecnologia 30. Reconhecimento da marca

Outros itens que podem incluir: 31. número de novos produtos desenvolvidos; 32. despesas com o desenvolvimento de mudanças/processos da

organização; 33. despesas com o desenvolvimento de softwares para sistemas internos; 34. vendas geradas por produtos originados de P&D

Fonte: Adaptado de IR(2013, p. 21)

Os estudos que contemplam o tema do Relato Integrado (RI), ainda estão tímidos, mas

podemos observar um avanço na temática conforme o Quadro 3.

Quadro3 – Estudos Anteriores Autores Objetivo Resultados

Dragu e Tudor (2013) Investigar se há uma correlação entre a adoção voluntária de relatórios integrados e os fatores políticos, culturais e econômicos externos, baseado nateoria institucional.

As evidências são de que o fator político, cultural e econômico, estão influenciando a adoção dosrelatórios integrados.

Sanchez et al. .(2013) Analisar o impacto do sistema cultural nacional Hofstede, que representa os valores dosstakeholderslocais, nos relatórios integrados, em comparação com a disponibilização de documentos que contém o desempenho das empresas.

Os resultados obtidos mostram que as empresas localizadas em sociedades com forte coletivista e valores feministas estão na vanguarda da integração de informações.

Aceitunoet al. (2013)

Analisar a influência de um dos fatores institucionais mais importantes, o sistema legal, sobre o desenvolvimento de relatórios integrados.

Os resultados mostram que as empresas localizadas em países de direito civil, e onde os índices de lei e ordem são altos, são mais propensos a criar e publicar uma ampla gama de relatórios integrados, favorecendo, assim, a tomada de decisão dos diferentes stakeholders.

Lodhia (2014)

Explorara transição para relatórios integrados por um banco (referido como Good Bank) e identificar os controladores desta transição, fornecendo assim subsídios para outras empresas que procuram se engajar em tais relatórios.

O Good Bank, está habilitado para fazer a transição para o relatório integrado, já que , sua estrutura organizacional contempla a responsabilidade econômica, ambiental e social, juntamente com os valores e metas corporativos.

Haller eStaden (2014)

Contribuir para as discussões atuais sobre o conceito de Relatórios Integrados (IR) e fornecer uma proposta prática e útil de um instrumento que poderia ajudar a aplicar o conceito de IR na prática empresarial.

Baseado em uma revisão abrangente da literatura e de pesquisa internacional, o artigo argumenta que a estrutura de apresentação da medida tradicional de "valor adicionado" em uma "demonstração do valor adicionado" chamado (DVA) tem o potencial de servir como uma prática e instrumento de comunicação eficaz para IR.

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Villierset al. . (2014)

O objetivo deste trabalho é sintetizar conhecimentos de contabilidade e prestação de contas, no rápido crescimento da pesquisa no campode comunicação integrada e propõe uma agenda abrangente para futuras pesquisas nesta área.

O trabalho mostra que o rápido desenvolvimento da política de comunicação integrada, e os desenvolvimentos iniciais da prática, apresentam desafios teóricos e empíricos por causa das diferentes maneiras em que os relatórios integrados é compreendido e adotados dentro das instituições.

Higginset al. . (2014)

Explorar como os gestores estão se antecipando, para contribuir com a adoção e institucionalização dorelato integrado (RI) nas empresas australianas.

Duas narrativas principais dominam a experiência dos nossos gestores: (1) IR como narração de histórias e (2) IR como corresponder às expectativas. Estas duas narrativas são construídas simultaneamente e eles montaram parcelas contrastantes em relação a acontecimentos relevantes, responsabilidades e personagens. E a estratégia da empresa, e seu engajamento na solução deproblemas atuais.

Fonte: Elaboração própria

3 METODOLOGIA

Para esta pesquisa utilizou-se como base o estudo anterior de Nossa (2002), naaplicação da técnica de análise de conteúdo.

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A priori, foi verificado se todas as empresas pertencentes ao segmento do Novo

Mercado da BM&FBOVESPA, no ano de 2012, divulgaram algum relatório que continha informações de cunho não financeiro em seus sítios eletrônicos, porém não foram consideradas as demonstrações contábeis (TABELA 1).

Tabela 1 – Variáveis Dicotômicas – Relatórios

Situação Nº Empresas %

Divulga 63 49,2

Não Divulga 65 50,8

Total 128 100

No caso desta pesquisa, das 128 empresas analisadas (População), delimitou-se a amostra por conveniência em 63 empresas, que apresentaram, no mínimo, um (1) relatório contendo informações não financeiras (TABELA 2).

Tabela 2 – Amostra– Empresas versus Setor

Nº Empresa Setor Nº Empresa Setor

1 EMBRAER S.A. Bens Industriais 33 MINERVA S.A. Consumo não Cíclico

2 ROMI S.A. Bens Industriais 34 DIAGNOSTICOS DA AMERICA S.A. Consumo não Cíclico

3 VALIDS.A. Bens Industriais 35 SAO MARTINHO S.A. Consumo não Cíclico

4 WEG S.A. Bens Industriais 36 TEREOS S.A. Consumo não Cíclico

5 MAHLE S.A. Bens Industriais 37 HYPERMARCAS S.A. Consumo não Cíclico

6 ALLLOGISTICA S.A. Construção e Transporte 38 SLC AGRICOLA S.A. Consumo não Cíclico

7 EVEN S.A. Construção e Transporte 39 BRASIL PHARMA S.A. Consumo não Cíclico

8 JSL S.A. Construção e Transporte 40 PROFARMA S.A. Consumo não Cíclico

9 TPI S.A. Construção e Transporte 41 BCO BRASIL S.A. Financeiro e Outros

10 CCR S.A. Construção e Transporte 42 BMFBOVESPA S.A. Financeiro e Outros

11 ETERNIT S.A. Construção e Transporte 43 ALIANSCE S.A. Financeiro e Outros

12 TECNISA S.A. Construção e Transporte 44 PORTO SEGURO S.A. Financeiro e Outros

13 MRV S.A. Construção e Transporte 45 ULTRAPAR S.A. Financeiro e Outros

14 PORTOBELLO S.A. Construção e Transporte 46 BR MALLS S.A. Financeiro e Outros

15 CYRELA BRAZIL S.A Construção e Transporte 47 CETIP S.A. Financeiro e Outros

16 CYRELA COMM. S.A Construção e Transporte 48 SAO CARLOSS.A. Financeiro e Outros

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17 LOJAS RENNER S.A. Consumo Cíclico 49 DURATEX S.A. Materiais Básicos

18 ESTACIO S.A. Consumo Cíclico 50 HERINGER S.A. Materiais Básicos

19 B2W - S.A Consumo Cíclico 51 FIBRIA CELULOSE S.A. Materiais Básicos

20 CIA HERING Consumo Cíclico 52 PARANAPANEMA S.A. Materiais Básicos

21 MAGAZINE LUIZA S.A. Consumo Cíclico 53 QGEP PARTICIPAÇÕES S.A. Petróleo, Gás e Biocombustíveis

22 AREZZOS.A. Consumo Cíclico 54 POSITIVO INFORMATICA S.A. Tecnologia da Informação

23 BHG S.A. Consumo Cíclico 55 BEMATECH S.A. Tecnologia da Informação

24 GRENDENE S.A. Consumo Cíclico 56 TIM PARTICIPACOES S.A. Telecomunicações

25 MULTIPLUS S.A. Consumo Cíclico 57 CPFL ENERGIAS RENOVÁVEIS S.A. Utilidade Pública

26 NATURA S.A. Consumo não Cíclico 58 EDP - ENERGIAS DO BRASIL S.A. Utilidade Pública

27 BRF S.A. Consumo não Cíclico 59 LIGHT S.A. Utilidade Pública

28 COSAN S.A. Consumo não Cíclico 60 TRACTEBEL ENERGIA S.A. Utilidade Pública

29 BIOSEV S.A. Consumo não Cíclico 61 SABESP S.A Utilidade Pública

30 FLEURY S.A. Consumo não Cíclico 62 COPASA MG S.A Utilidade Pública

31 JBS S.A. Consumo não Cíclico 63 CPFL ENERGIA S.A. Utilidade Pública

32 MARFRIG S.A. Consumo não Cíclico

3.2 TRATAMENTOS DOS DADOS

Neste estudo foi aplicada a análise de conteúdo, que Bardin (2011, p.37) conceitua

como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações”. E para isto, utilizaram-seplanilhas eletrônicas no tratamento dos dados.

A análise de conteúdo apresentou-se em duas fases. A primeira aborda as características das informações referentes aos indicadores (KPIs), no qual serão verificados os tipos de divulgações realizadas. A segunda fase se refere às classificações atribuídas às divulgações, podendo ser elas neutra, boa ou ruim.Para analisar o conteúdo do indicador-chave identificado, foram consideradas tambémsentenças, tabelas, gráficas e figuras que predominam o propósito geral do conteúdo relacionado ao indicador, com base no estudode Nossa (2002).

3.2.1 PRIMEIRA FASE: CARACTERÍSTICAS DOS INDICADORES-CHAVE DE DESEMPENHO

As características das informações não financeiras podem serdefinidas como a maneira pela qual a informação é apresentada nos relatórios (NOSSA,2002). A base dessa análise se apoia em estudos anteriores como o de Nossa (2002), Gray et al. . (1995), de Hackston& Mille (1996) e de Salomone&Gallucio (2001), que apresentam os tipos de divulgações presentes nos diversos relatórios empresariais.

Para essa análise, foram observadas as características declarativas, quantitativas não monetárias, quantitativas monetárias e quantitativas monetárias e não financeiras, para cada KPI. O Quadro 4 apresenta o resumo das atribuições utilizadas para essa análise.

Quadro4 – Checklist – Característica da Informação Característica das Informações Conceitos

Nula Nenhuma informação foi apresentada para aquela categoria

Declarativa A informação qualitativa é apresentada e expressa em termos puramente descritivos (grifo nosso).

Quantitativa não-monetária A informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza não financeira (grifo nosso).

Quantitativa monetária A informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza financeira (grifo nosso).

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Quantitativa monetária e não financeira A informação quantitativa é apresentada e expressa em números de natureza financeiras e não financeiras1 (grifo nosso).

Fonte: Adaptado de Nossa (2002)

3.2.2 SEGUNDA FASE: CLASSIFICAÇÕES DOS INDICADORES-CHAVE DE CAPITAIS

Para classificar qualitativamente o teor da informação, foram analisadas as classificações das informações reportadas nos relatórios das empresas, conforme os estudos anteriores de Gray, Kouhy e Lavers (1995); Rover et al. . (2008); Nossa (2002).

São três as classificações recomendadas pelos autores: neutra, boa e ruim (Quadro 5). Tais classificações se referem ao impacto das informações na empresa, sendo neutra, quando as informações divulgadas não fornecem subsídios necessários para relacionar um benefício ou prejuízo; e quando a informação é considerada boa, infere-se que tal informação traz benefícios à empresa relacionada a legitimidade, diferentemente de quando a informação é considerada ruim.

Quadro5– Classificações dos Indicadores-chave de Capitais Classificação Descrição

Neutra informação não detalhada e clara dos aspectos negativos e positivos dos fatos não financeiros da empresa.

Boa informação positiva de fatos não financeiros da empresa. Ruim informação negativa de fatos não financeiros da empresa. Fonte: Adaptado Gray et al. (1995), Nossa (2002), Rover et al. (2008).

Para esta etapa foram elaborados parâmetros de classificações no que se referem às classificações Boa e Ruim.Essas classificações foram parametrizadas a partir de dois princípios: o primeiro é o equilíbrio, que diz que o relatório deve refletir aspectos positivos e negativos do desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação equilibrada do desempenho geral; e o segundo é o princípio da comparabilidade, em que as questões e informações deverão ser selecionadas, compiladas e relatadas de forma consistente (GRI, 2006).

Já a classificação Neutra foi utilizada quando um indicador apresentava aspectos não detalhados e claros, como também quando demonstrava complexidade, exigência de conhecimentos técnicos do pesquisador e embasamento teórico aprofundado sobre aquele determinado conteúdo.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO 4.1.1 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÕES DOS INDICADORES

No geral, percebe-se que os relatórios que contêm informações não financeiras divulgados entre as empresas pesquisadas, são apresentados em modelos diferenciados no que se refere à formatação, formato, padronização, leiaute e design. Por serem diversificados os relatórios, encontrou-se dificuldade tanto na coleta de dados como na identificação dos indicadores propostos no checklist. França (2012, p. 241) diz que essas diferenças podem 1Informações financeiras são expressas em moeda nacional, já a informações não financeiras são expressas em valores não monetários.

Nesse caso, o indicador apresenta as duas características, exemplo: R$ 1000,00 foram gastos com a recuperação de 1000 hectares de terra degradada.

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acontecer “[...] em função das diversas leis, princípios, normas e ferramentas que já foram criadas [...]”. Também foi observado que alguns indicadores eram apresentados em partes distintas do relatório, esse fato era comum quando constavam os modelos GRI e balanço social no mesmo relatório. E ainda quando algumas informações eram relatadas comumente no perfil da empresa, na mensagem do presidente, na estratégia, e em outras partes voltadas à apresentação da organização.

Os indicadores-chave de desempenho já identificados foram analisados quanto à sua característica e classificação conforme predito na metodologia deste trabalho, e divididos em cinco tópicos: capital natural, humano, social e de relacionamento, intelectual e geral. Subdivididos em duas partes, na primeira parte, verificam-se as características que se desdobram em quatro quesitos: (I) Declarativa; (II) Quantitativa não monetária; (III) Quantitativa monetária e (IV) Quantitativa monetária e não financeira. Já na segunda parte foram analisadas as classificações que se desdobram em três aspectos: Neutra, Boa e Ruim.

4.1.2 CAPITAL NATURAL

Na primeira parte foram analisados os indicadores-chave de capital natural com objetivo de identificar as características da informação. E verificou-se que 72% dos indicadores possuíam a característica “quantitativa não monetária" . As demais características obtiveram uma baixa frequência: Declarativa (10%), Quantitativa monetária (11%) e Quantitativa monetária e não financeira (7%) (Figura1).

Figura 1– Frequências das características - indicadores-chave

Ainda observando a Figura 1, o desempenho da característica “quantitativa não monetária", com 72%, pode ser explicada pela definição da ecoeficiência, que tem como objetivo evidenciar o desenvolvimento de processos produtivos com a minimização do impacto ambiental negativo por meio da redução do uso de recursos materiais e energéticos, e pela minimização de geração de resíduos líquidos, sólidos e gasosos ao longo do ciclo de vida do produto (DIAS, 2014, p.41 grifo nosso).

Na segunda parte, foram analisados os indicadores-chave de capital com objetivo de identificar as classificações da informação. E verificou-se que 55% dos indicadores foram classificados como “Neutra". E as demais classificações obtiveram uma frequência Boa (25%) e Ruim (20%) (Figura 2).

Figura 2 – Frequências das classificações -indicadores-chave

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4.1.3 CAPITAL HUMANO

No Capital Humano verificou-se que os indicadores apresentaram85% da característica “quantitativa não monetária", acima do resultado do capital natural (72%). Enquanto que os demais obtiveramuma baixa frequência: Declarativa (5%), Quantitativa monetária (5%) e Quantitativa monetária e não financeira (5%) (Figura 1). (Figura 3). No geral os resultados foram similares ao do Capital Natural.

Figura 3– Frequência das características -indicadores-chave

O desempenho da característica “quantitativa não monetária", com 85%, pode se explicar, pois a maioria dos indicadores tem aspectos quantitativos como: quantidade, taxa, índice. Já as classificações dos indicadores-chave de capital humano resultaram em “Neutra" (66%), “Boa” (24%) e “Ruim” (10%) (Figura4).

Figura 4– Frequências das classificações -indicadores-chave

4.1.4 CAPITAL SOCIAL E DE RELACIONAMENTO

Nos indicadores-chave do capital social e de relacionamento, observou que, diferente dos resultados de frequência nos capitais natural e humano, nesse capital houve uma participação mais homogênea entre as características, contudo a característica “quantitativa não monetária" (39%) ainda alcançou a maior frequência comparada as outras características(Figura 5).

Figura 5– Frequências das características -indicadores-chave

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E os indicadores-chave obtiveram a classificação “Boa” (70%), ao contrário do capital natural e humano que obtiveram a maior participação da classificação “Neutra”. E as demais características obtiveram uma frequência baixa em Neutra (20%) e Ruim (10%) (Figura 6).

Figura 6– Frequências das classificações -indicadores-chave

4.1.4 CAPITAL INTELECTUAL

Neste capital a maioria dos indicadores apresentou característica “declarativa" (51%), diferente dos capitais natural, humano, social e de relacionamento. Já as demais características obtiveram baixa frequência, entre elas destaca-se a característica “Quantitativa não monetária”, enquanto nos outros capitais obteve participação acima de 50%, e nesse igualou-se com a “característica monetária e não financeira” (20%) (Figura 7).

Figura 7 – Características das informações -indicadores-chave

Apesar dos indicadores apresentarem aspectos de quantidade e valor, exceto o indicador de “Reconhecimento de marca”, a característica com alta frequência foi a “Declarativa”, que apresenta aspectos descritivos. Esse resultado pode ter sido influenciado por ter considerado menções relacionadas aos indicadores.

Os indicadores-chave desse capital foram todos classificados como “Neutra” (100%), devido à complexidade do tema, e ausência de embasamento teórico para avaliar se o indicador é bom para a empresa, ou se é ruim.

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4.1.5 GERAL (CAPITAL NATURAL, HUMANO, SOCIAL E DE RELACIONAMENTO E INTELECTUAL)

Ao distinguir como as características e classificações dos indicadores-chave de desempenho não financeiros são apresentadas nos relatórios das empresas, foi possível averiguar o desempenho entre os capitais reportados nos relatórios no ano de 2012.

Verificou-se que a maior parte dos indicadores no geral apresentaram a característica “quantitativa não monetária" (61%). E as demais obtiveram uma baixa frequência, com destaque da característica “quantitativa monetária” (9%) (Figura 8)

Figura 8– Frequências das características -indicadores-chave

A característica “quantitativa não monetária” foi a mais representativa entre as demais, destacando nesse grupo o capital humano (85%), seguido do capital natural, com 72%. Já a “Declarativa” obteve um desempenho maior no capital intelectual (50%), ao contrário dos outros capitais. Enquanto as outras características, “Quantitativa monetária” e “Quantitativa monetária e não financeira”, obtiveram participações medianas e baixas em todos os capitais (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Capitais não financeiros por características -indicadores-chave

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Desta forma, observou que a maior frequência de 58% foi apresentada pela classificação “Neutra”, seguida da classificação “Boa” com 31%, já a classificação “Ruim” obteve a menor frequência com 11% (Figura 9).

Figura 9 – Frequências das classificações -indicadores-chave

Nesse sentido, os capitais estudados possuem em sua maior parte a classificação “Neutra” (Gráfico 2). Esse fato demonstra que a maioria dos indicadores não apresentam informações claras sobre aspectos de aumento ou redução, ou até mesmo menção narrativa de melhora ou piora do indicador.

Gráfico 2 –Capitais não financeiros por classificações

No geral observa-se que, os indicadores-chave analisados apresentaram uma baixa divulgação quando se tratam de aspectos negativos, os estudos anterioresindicaram uma tendência de baixa divulgação, principalmente quando são divulgados de forma voluntária (ROVER et al, 2008; NOSSA, 2002; DYE, 2001; BEUREN; SANTOS; GUBIANI, 2013, VERRECHIA, 2001). Em relação à identificação dos aspectos negativos e positivos, esta análise foi possível, devido a utilizaçãodos princípios de equilíbrio e comparabilidade das diretrizes de relatório de sustentabilidade - GRI.

5 CONCLUSÃO

A divulgação de informações não financeiras ao longo do tempo vem sendo tema de discussão de vários autores nacionais e internacionais, mas no caso das 128 empresas pertencentes ao segmento do novo mercado que agrega companhias com alto nível de transparência e divulgações adicionais, somente 63 empresas (49,2%) divulgaram informações sobre capitais não financeiros em 2012. Dada a constante discussão acerca da ideia do Relato Integrado e sua adoção, este trabalho teve como objetivo distinguir as características e classificações desses indicadores.

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Após a analise de conteúdo nos indicadores observou que a maior parte dos indicadores apresentou a característica “quantitativa não monetária" (61%). E as demais obtiveram uma baixa frequência, com destaque da característica “quantitativa monetária” (9%), esse resultado demonstra que os indicadores predominantes não têm caráter financeiro, pode-se se justificar o resultado, pois a maior parte dos indicadores é apresentada naforma deunidades de medidas e 17%de maneira narrativa. E ainda observando o conteúdo dos indicadores, foramidentificados 31% de classificação boa, e mais da metadedos indicadores não foram classificados como bom ou ruim, e estes ficaram na classificação neutra (58%). Esse resultado pode ter sofrido influência da subjetividade, pois muitos indicadores não foram parametrizados por falta de conhecimento técnico do pesquisador e comparabilidade.

Essa pesquisa apresenta como limitação o período da análise, já que a discussão sobre a integração das informações financeiras e não financeiras iniciaram em meados de 2011, e, posteriormente, o lançamento da Estrutura Conceitual (framework) do Relato Integrado, em 2013, portanto observou-se que pode haver uma tendênciaá adequação a essa nova proposta. Constatou que duas empresas utilizavam uma estrutura semelhante à proposta do RI – BRF Foods S.A (consumo não cíclico) e CCR S.A. (Construção e Transporte) – as quais eram estruturadas por tipo de Capital, a saber, natural, humano, social e de relacionamento e intelectual.

Sugere-se, para pesquisas futuras, ampliar a amostra para empresas pertencentes a outros segmentos da bolsa, como também analisar empresas de carteiras teóricas relacionadas ao tema sustentabilidade. Outra sugestão é fazer um estudo da divulgação das empresas antes e pós-lançamento da Estrutura Conceitual do RI.

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13. CONTABILIDADE PARTIDÁRIA E PRESTAÇÕES DE CONTAS DOS PARTIDOS POLÍTICOS NA PARAÍBA

Autores: Hrannye Gilbert Mendonça da Costa Cavalcanti, Vera Lúcia Cruz e Ramon Rodrigues dos Santos

Resumo

Os partidos políticos possuem personalidade jurídica de direito privado sem fins lucrativos, com suas fontes de receita originárias de doações de pessoas físicas e jurídicas como também os repasses do governo que são recursos do Fundo Partidário. Com isso, esse estudo teve como objetivo, através de um levantamento no site do Tribunal Superior Eleitoral, evidenciar as demonstrações contábeis e os demonstrativos complementares exigidos pela Resolução TSE n. 21.841/04 das agremiações partidárias no estado da Paraíba que receberam maior quantidade de recursos do Fundo Partidário entre 2011 e 2013, a fim de observar o processo de análise dessas prestações e de como essas informações foram transmitidas. Os resultados destacam que tratando do uso com recursos do Fundo Partidário, as agremiações analisadas desobedeceram algum tipo de exigência, estando em desconformidade nesse aspecto. Referindo-se às receitas, todas evidenciaram as suas formas de arrecadação, com exceção de alguns valores de transferências que não foram especificados e de receitas de origem não identificada. Neste contexto, cada um teve destaque em determinados aspectos, não tendo um partido que se sobressaiu em relação aos demais e sujeitando-se aos relatórios de diligências, que solicitam a complementação de informações ou apresentação daquelas omissas.

Palavras chave: Partidos Políticos. Prestação de Contas. Fundo Partidário. Demonstrações Contábeis.

1 INTRODUÇÃO

Historicamente, a obrigatoriedade dos partidos políticos manterem suas prestações de contas junto à Justiça Eleitoral advém das Leis nº 4.740/65 e nº 5.862/71. A partir da aprovação da Constituição de 1988 as agremiações passaram a ter personalidade jurídica de direito privado sem fins lucrativos, tendo suas fontes de receita as doações de pessoas físicas e jurídicas e repasses do governo que são recursos do Fundo Partidário, além de seguir as Normas Brasileiras de Contabilidade.

Em decorrência dessa obrigação, a Contabilidade vem em auxílio ao processo eleitoral, consequentemente o profissional dessa área exerce função ao que concerne em conhecer, analisar e propor sugestões a essas entidades ancorando-se nos Princípios Fundamentais de Contabilidade e demais normas editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelo Tribunal Superior Eleitoral (CARREIRA, 2007). A falta ou a desaprovação total ou parcial da prestação de contas realizada pelos partidos tem como consequência a suspensão de cotas do Fundo Partidário e sujeita os responsáveis às penas da lei. Dependendo do caso, tal decisão é passível de recurso a ser dirigido aos tribunais regionais eleitorais ou ao TSE. Além disso, a partir da análise das prestações, geralmente a Justiça Eleitoral determina diligências que julgar necessárias para complementação de informações ou saneamento de irregularidades encontradas (TORRES, 2013).

Além de prestar contas à Justiça Eleitoral, as agremiações partidárias devem publicar junto à imprensa oficial suas informações contábeis para conhecimento da sociedade, a fim de que os interessados possam ter acesso as movimentações financeiras. Dessa forma, esse

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trabalho estudou a informação contábil das prestações de contas anuais em comparativo com as exigências da Justiça Eleitoral, dando enfoque as agremiações partidárias do estado da Paraíba, a fim de observar o processo de análise dessas prestações e de como essas informações são transmitidas.

Por receberem dinheiro público e doações, se justifica o controle das contas partidárias pela Justiça Eleitoral, fazendo com que a transparência contábil venha a ser presente a fim de evidenciar a forma de utilização desses recursos através das prestações de contas. Com base no exposto, chegou-se ao seguinte questionamento desse estudo: De que forma as informações contábeis das prestações de contas partidárias anuais são apresentadas para análise junto à Justiça Eleitoral?

Em levantamento realizado nas prestações de contas apresentadas pelas direções nacionais durante os exercícios de 2012 e 2013 através de publicação de demonstrativos no site do TSE em 2014, observou-se que a distribuição das cotas do Fundo Partidário para os partidos do Estado da Paraíba diminuiu em relação aos exercícios supracitados, sendo 12 agremiações que receberam esses recursos em 2012, enquanto apenas 10 tiveram receitas com Fundo Partidário em 2013, tal fator pode ser dado por não apresentação ou desaprovação das contas. O controle realizado pelos Tribunais Eleitorais vem buscar a diminuição da corrupção que é dada através de omissões e irregularidades constantes nas contas, fazendo com que as agremiações partidárias utilizem os valores recebidos de acordo com o exigido em legislação específica e aquelas que não utilizaram da maneira determinada deixem de receber ou devolvam essas cotas.

Sendo assim, o estudo foi motivado por acessibilidade as informações com o intuito de evidenciar a informação contábil nas prestações de contas anuais dos partidos políticos DEM, PMDB, PSDB e PT do estado da Paraíba junto à Justiça Eleitoral, observando como os partidos utilizam os recursos arrecadados por meio de doações, contribuições e cotas do Fundo Partidário, além de observar as conformidades e desconformidades constantes em suas apresentações. Dessa forma, esta pesquisa pretende colaborar para o aprofundamento de estudos sobre auditoria nas prestações de contas partidárias e demais pesquisas para a academia, como também para análises sobre a Contabilidade Partidária.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 CONTABILIDADE PARTIDÁRIA

Os partidos políticos são entidades de terceiro setor, que segundo Niyama e Silva (2011) é constituído por pessoas jurídicas sem fins lucrativos, que não fazem parte do setor público e que não possuem interesse no lucro. A Lei 9.906/95 que dispõe sobre os partidos políticos, trata no Artigo 30 que as direções nacionais, regionais e municipais devem manter a escrituração contábil sob responsabilidade de profissional habilitado em contabilidade para permitir o conhecimento da origem das receitas como também da destinação das despesas.

Além disso, as prestações de contas precisam ser realizadas por profissional contábil, devendo conter a assinatura do mesmo. Já a legislação específica que complementa a supracitada é a Resolução do TSE nº 21.841/04 que estabelece critérios e procedimentos contábeis aplicados aos partidos políticos em suas prestações de contas anuais, onde devem demonstrar a forma de utilização de suas despesas assim como a geração de suas receitas. Existem algumas características específicas da Contabilidade quando aplicadas a esse tipo de agremiação, como a forma de arrecadação de receitas e da utilização das despesas.

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Para os partidos políticos, receita é a entrada de recursos através de doações e contribuições tanto financeiras quanto estimáveis em dinheiro por pessoas físicas ou jurídicas, sendo as contribuições estipuladas em estatuto partidário realizadas por seus filiados; e de cotas do Fundo Especial de Assistência aos Partidos Políticos, o Fundo Partidário. (COELHO NETO, 2010). A geração de receitas financeiras em sua maioria é realizada por meio de arrecadação de recursos, que devem ser, obrigatoriamente efetuadas por depósito bancário diretamente na conta específica do partido ou por cheque cruzado em nome da agremiação partidária conforme o § 3º do Art. 39 da Lei 9.096/95.

Para recebimento desses valores, os partidos devem apresentar duas contas bancárias, sendo uma delas para uso exclusivo de recursos do Fundo Partidário, enquanto a outra é utilizada para outros recursos, sejam esses doados por pessoas físicas ou jurídicas. Já as receitas realizadas por meio de doações de bens e serviços estimáveis em dinheiro, de acordo com a Resolução nº 21.841/04 devem ser avaliadas com base em preço de mercado, além de comprovação por documento fiscal que venha a caracterizar a doação ou por termo de doação na impossibilidade de documentação.

Além das várias maneiras de arrecadação de receitas são expressas também na Resolução nº 21.841/04 as formas de receitas que não podem ser utilizadas pelas agremiações partidárias, essas são dadas por fontes vedadas ou por meio de recursos de origem não identificada. Tratando de recursos por meio de fontes vedadas, segundo o artigo 5 da Resolução citada, o partido não pode receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma de pretexto, nenhum tipo de contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, mesmo que por meio de publicidade de qualquer espécie de entidade ou governo estrangeiro; autoridade ou órgãos públicos, com ressalva para as dotações do Fundo Partidário; autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou entidades governamentais; e entidade de classe sindical.

Já os recursos oriundos de fonte não identificada não podem ser utilizados pelas agremiações e, após julgados todos os recursos referentes à prestação de contas do partido, devem ser recolhidos ao Fundo Partidário e distribuídos aos partidos políticos de acordo com os critérios estabelecidos nos incisos I e II do art. 41 da Lei nº 9.096/95 que são os seguintes:

I - um por cento do total do Fundo Partidário será destacado para entrega, em partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral;

II - noventa e nove por cento do total do Fundo Partidário será distribuído aos partidos que tenham preenchido as condições do art. 13, na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. (BRASIL, 1995).

O partido político responsável pelo recebimento desses recursos de origem não identificada deve ser excluído da distribuição proporcional citada acima. Caso tenham utilizado essas dotações antes de aviso para recolhimento, deve ser feita a devolução de todos os valores com a realização de despesas. A aplicação de despesa aos partidos políticos pode ser conceituada como gastos realizados pelas agremiações partidárias, que tem como principal objetivo alcançar e garantir a autenticidade do sistema representativo nacional. (CARREIRA, 2007) e a forma de comprovação das despesas para os partidos políticos está prevista no Art. 9º da Resolução nº 21.841/04:

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Art. 9º A comprovação das despesas deve ser realizada pelos documentos abaixo indicados, originais ou cópias autenticadas, emitidos em nome do partido político, sem emendas ou rasuras, referentes ao exercício em exame e discriminados por natureza do serviço prestado ou do material adquirido:

I - documentos fiscais emitidos segundo a legislação vigente, quando se tratar de bens e serviços adquiridos de pessoa física ou jurídica; e

II - recibos, contendo nome legível, endereço, CPF ou CNPJ do emitente, natureza do serviço prestado, data de emissão e valor, caso a legislação competente dispense a emissão de documento fiscal. (BRASIL, 2004).

De acordo ainda com a Resolução citada, as despesas devem ser realizadas por meio de cheques nominativos ou por crédito bancário identificado, com ressalva para valores que estejam abaixo do teto fixado pelo TSE com pagamento em dinheiro de acordo com o Art. 10 da mesma.

Tratando das despesas com recursos do Fundo Partidário, o partido deve comprovar sua realização de forma separada, já que os valores que recebem por meio desse órgão possuem destinação específica, sendo determinada no artigo 8 da Resolução 21.804/04 que sua utilização deve ser feita para os seguintes fins: Manutenção das sedes e serviços do partido, como por exemplo material de expediente, também com pagamento de pessoal, que tem o limite máximo de vinte por cento do total recebido do Fundo, em cada nível de direção do partido; propaganda doutrinária e política, através de propagandas realizadas por meio de televisão e rádio, através de panfletos e banners; alistamento e campanhas eleitorais; e na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, tendo como valor mínimo vinte por cento do total recebido do Fundo Partidário. Caso a realização das despesas utilizadas com as verbas do Fundo Partidário não respeite o determinado pela Lei dos partidos, deve ser feita a devolução dos valores utilizados para o Tesouro Nacional.

2.2 PESQUISAS EMPÍRICAS

Os estudos relacionados com partidos políticos geram algumas linhas de pesquisa que vão desde o entendimento financeiro à função do profissional contábil nessa área e as prestações de contas. Costa (2007) realizou um estudo sobre o financiamento e prestação de contas dos partidos políticos e das campanhas eleitorais através de uma análise crítica. O trabalho objetivou fazer uma descrição e análise das normas e dos procedimentos aplicados ao financiamento e prestação de contas dos Partidos Políticos e das campanhas eleitorais. Ao analisar essa questão, foram evidenciados os pontos fortes e fracos, com a apresentação da doutrina. O estudo concluiu que há diversas questões que podem ser objetos de melhoras tanto por parte de alteração da legislação quanto por meio das resoluções do TSE.

No trabalho de Coelho Neto (2010) houve um estudo sobre a contabilidade como ferramenta de gestão realizando uma análise de sua utilização pelos diretórios dos partidos políticos do município de São José em Santa Catarina, estudou se os diretórios municipais dos partidos políticos da cidade de São José, no estado de Santa Catarina, utilizam as informações contábeis para fins além dos previstos na legislação e identificou que dos 18 partidos com diretórios ativos em São José 10 se propuseram a participar da pesquisa. Em sua maioria os

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partidos terceirizam a sua contabilidade e praticam a transparência somente até o solicitado pela legislação. Além disso verificou-se que apenas um partido, dentre os avaliados, faz uso das informações para além do solicitado pela legislação.

Silva e Fredericci (2014) estudaram a função do contador na prestação de contas eleitorais de candidatos em 2014 com o objetivo de pesquisar e abordar “A Função do Contador na Prestação de Contas Eleitorais”, o estudo ficou voltado às campanhas eleitorais de candidatos na eleição de 2014, eles identificaram uma evolução em setores importantes do Brasil como a política, na área profissional da contabilidade e do direito, através da aprovação da lei que obriga os candidatos e partidos à entrega de sua prestação de contas eleitorais mediante assinatura dos profissionais de direito e contabilidade. A Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 instituiu essa obrigação até 2002, apenas para os partidos políticos, então a partir de 2014, um importante mecanismo de controle sobre a arrecadação e destinação dos recebimentos e despesas nas eleições foi instituído pela Resolução nº 23.406/14, passando mais transparência e confiabilidade à população brasileira.

3 METODOLOGIA

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população desse estudo engloba os partidos políticos do Estado da Paraíba, sendo aqueles que receberam recursos do Fundo Partidário durante os exercícios de 2011 a 2013. A amostra foi dada pelas prestações de contas anuais das que tiveram maior quantidade de verbas do Fundo Partidário, sendo apresentadas ao Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.

Foi realizado um levantamento no site do Tribunal Superior Eleitoral, que disponibiliza as prestações de contas das direções nacionais, nelas se encontram o demonstrativo de recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos estaduais. É por meio das direções nacionais que as estaduais recebem essas cotas. Diante disso, foi observado que do total de partidos políticos ativos na Paraíba durante os exercícios de 2011 a 2013, apenas seis agremiações receberam recursos do Fundo Partidário. Outros partidos também receberam essas cotas, porém não em forma consecutiva dos exercícios analisados. A tabela 1 demonstra os valores totais recebidos por essas agremiações através do Fundo Partidário.

Tabela 1: Valores recebidos pelos partidos políticos na Paraíba do Fundo Partidário (em milhares)

Partido 2011 2012 2013 Total PMDB 241.684 596.192 982.752 2.206.528 PSDB 567.754 596.192 604.458 1.768.404

PP 238.000 650.000 312.200 1.200.200 DEM 356.000 288.000 345.000 989.000

PT 431.258 293.973 153.526 878.767 PSB 103.705 166.510 154.461 454.685

Fonte: Elaboração própria (2014)

Das seis agremiações que receberam as cotas, quatro foram selecionadas. O critério de escolha foi realizado em vista daquelas que receberam maior quantidade de recursos do Fundo Partidário durante o período analisado. Os partidos que mais receberam cotas foram: DEM, PMDB, PSDB e PP. Porém, em razão das prestações de contas do PP estarem sendo analisadas, não houve possibilidade de acesso das mesmas, fazendo que o PT fosse escolhido em substituição por ser o que mais recebeu cotas depois do PP. Portanto, as quatro

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agremiações analisadas foram: DEM, PMDB, PSDB e PT. A coleta de dados foi realizada no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, em acesso aos documentos das prestações de contas nas suas versões físicas.

3.2 ANÁLISE DE DADOS

Das prestações de contas, foram analisadas as Demonstrações Contábeis e os demonstrativos complementares exigidos pela Resolução do TSE 21.841/04. As Demonstrações Contábeis analisadas foram as seguintes:

Quadro 1: Demonstrações Contábeis

Balanço Patrimonial (NBC T 3.2)

Para o Balanço, o TSE solicita que o Ativo Circulante e o Passivo Circulante sejam apresentados duas vezes, uma para os recursos do Fundo Partidária e a outra para os recursos próprios; deve haver também a evidenciação das contas bancárias para essas formas de arrecadação, que também é exigida pela Norma.

Demonstração de Resultado (NBC T 3.3)

Os modelos das Demonstrações de Resultado do TSE e da ITG 2002 possuem algumas diferenças, sendo a da norma mais abrangente, evidenciando as receitas e despesas de forma segregada, enquanto o modelo do Tribunal evidencia o resultado de maneira mais geral.

Demonstração de Lucros ou Prejuízos

Acumulados (NBC T 3.4)

A ITG 2002 não evidencia modelo para apresentação da DLPA, não estando na norma a obrigatoriedade de seu envio, já o TSE possui o modelo específico como recomendação.

Demonstração de Mutações do

Patrimônio Líquido (NBC T 3.5)

Assim como a Demonstração de Resultado, a DMPL deve seguir o modelo da ITG 2002 onde as palavras lucros e prejuízos devem ser substituídas por superávit ou déficit.

Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (NBC T

3.6)

Essa Demonstração vem deixando de ser utilizada, porém até então os partidos são obrigados a enviarem a mesma em suas prestações de contas, a nova Resolução que trata das contas partidárias não solicitará a apresentação da DOAR nos próximos exercícios. A ITG 2002 não disponibiliza modelo dessa demonstração, bem como não determina o envio dela. De modelo, apenas no site do TSE que disponibiliza para essas entidades.

Fonte: Elaboração Própria (2014)

Em relação aos demonstrativos complementares exigidos pelo TSE, foram analisados:

Quadro 2: Demonstrativos Complementares exigidos pela Resolução TSE 21.841/04

Demonstrativo de Receitas e Despesas

Em relação aos recursos do Fundo Partidário existem algumas exigências que devem ser adotadas pelos partidos, como o limite da utilização com FP de 20% para despesas com pessoal, 5% do recebido investido em “programas de difusão e participação de mulheres na política”, e no mínimo 20% para “criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política”, devem também essas cotas apenas com manutenção da sede e serviços para funcionamento do partido.

Demonstrativo de recursos do Fundo

Partidário distribuídos aos órgãos estaduais

O envio desse demonstrativo é dado em planilha com todos os meses do exercício, devendo a agremiação evidenciar o quando recebeu em cada mês. Sua apresentação é feita pelas direções nacionais, porém as estaduais também o evidenciam, mesmo que não sejam obrigadas.

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Demonstrativo de recursos do Fundo

Partidário distribuídos aos órgãos

municipais/zonais

Sua apresentação contém dentro dos valores em que as direções estaduais receberam das nacionais, repasses que as mesmas fazem para os munícipios e zonas que possuem direção partidária. Nele deve conter todos os meses do exercício, com os valores distribuídos e para qual órgão a direção estadual efetuou a transferência.

Demonstrativo de recursos do Fundo

Partidário distribuídos a candidatos

Esse demonstrativo é apresentado em exercícios que ocorrem eleições, no caso das prestações analisadas, apenas o exercício de 2012 é necessária a apresentação do mesmo. Deve ser evidenciado o candidato, o valor repassado e a data, já que essa transferência deve ser realizada antes da ocorrência das eleições.

Demonstrativo de Sobras de Campanha

Trata dos valores de candidatos ou comitês financeiros que ao final das eleições permaneceu em banco sem ter sua utilização em algum tipo de despesa, esses recursos devem ser devolvidos aos respectivos partidos informado qual candidato ou comitê efetuou a devolução, assim como valor, espécie dos recursos, CNPJ e a data.

Demonstrativo de transferências

financeiras Intrapartidárias

recebidas

São os valores repassados por outras direções do partido, nesse caso ao órgão estadual dados por meio de recursos próprios da entidade. Nele deve estar contido data, origem do recurso, CNPJ da direção e valor.

Demonstrativo de transferências

financeiras Intrapartidárias

efetuadas

Essa peça, assim como no demonstrativo transferências recebidas, é constituída por valores que a direção estadual com seus recursos próprios repassou para outras direções, sejam de nível nacional ou municipal. Deve estar expressa a data, bem como o destinatário do recurso, seu CNPJ e o valor transferido.

Demonstrativo de doações recebidas

Essa peça engloba as doações que realizadas por pessoas físicas ou jurídicas, sendo as mesmas consideradas nas contas de “recursos próprios”. As arrecadações devem ser discriminadas com data, espécie do recurso, doador, o CPF/CNPJ e o valor.

Demonstrativo de contribuições

recebidas

O demonstrativo abrange as contribuições realizadas por filiados das agremiações, como também por parlamentares e outras direções. Deve conter nesse demonstrativo, data, espécie do recurso, contribuinte, CPF/CNPJ e valor.

Demonstrativo de obrigações a pagar

São apresentadas nessa peça as obrigações das entidades para os próximos exercícios. Caso houve algum tipo de obrigação, devem ser evidenciadas no demonstrativo os fornecedores, a natureza do gasto, valores e vencimentos.

Fonte: Elaboração Própria (2014)

Após a coleta de dados em acesso físico as prestações de contas lotadas no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, as informações necessárias foram digitalizadas para a partir daí ser realizada a análise dos dados. A última etapa consistiu na análise dos dados, onde os quatro partidos escolhidos por critério supracitado tiveram as peças das prestações de contas do período analisado evidenciadas em quadros que tratavam da apresentação das mesmas e se estavam em conformidade com o TSE e as Normas Brasileiras de Contabilidade. Além disso, todo acesso no TRE-PB foi permitido, já que muitas dessas informações são divulgadas.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise foi realizada a partir das prestações de contas de cada partido durante os exercícios de 2011 à 2013, sendo evidenciadas as apresentações das demonstrações contábeis e demonstrativos complementares do TSE. Foi dado maior enfoque para o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Receitas e Despesas por terem informações de uso dos recursos do Fundo Partidário. As demais demonstrações e demonstrativos, além das apresentações, também foram avaliadas em relação as suas conformidades em relação aos modelos do Tribunal e da ITG 2002, bem como das desconformidades encontradas nas prestações de contas. Os resultados foram obtidos a partir de análise de cada partido durante os exercícios tratados.

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4.1 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

O Partido Democratas enviou todas as suas prestações de contas do período analisado. No Balanço Patrimonial, o Ativo foi registrado de acordo com o modelo disponibilizado pelo TSE em ambos os exercícios, seguindo o plano de contas. Foram realizados os registros de “Caixa” e “Banco Conta Movimento” em segregação dos valores com Fundo Partidário e de Recursos Próprios, obedecendo a exigência do TSE, bem como estando em conformidade com a ITG 2002; as contas bancárias foram evidenciadas durante os três exercícios, porém não especificaram qual pertence a cada forma de arrecadação, o que não constitui desconformidade mas deve ser expresso em Notas Explicativas e em Relação de Contas Bancárias que é uma peça complementar exigida pelo Tribunal. No Ativo Circulante, em todas as demonstrações analisadas, houve registro de imobilizado com máquinas, equipamentos e móveis, porém nenhum desses valores tiveram depreciação acumulada, o que pode se configurar como inconsistência.

No Passivo, os exercícios apresentados estão em conformidade com o TSE e com a norma. Ao final das demonstrações, apenas em 2012 foi registrado “superávit” de acordo com a exigência da norma, enquanto os outros exercícios evidenciaram apenas como Resultado Acumulado, o que é aceito pelo Tribunal mas está em descordo com a ITG tratada. A Demonstração de Resultado, DLPA, DMPL e DOAR encontram-se todas em conformidade com os modelos do TSE em relação aos três exercícios. Já a Demonstração de Resultado e DMPL do Democratas que possuem modelos também na norma, não evidenciam as informações solicitadas, estando apenas de acordo com Tribunal, sendo essas demonstrações aceitas.

Em relação ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), no Balanço Patrimonial, o Ativo foi apresentado em conformidade com o TSE e com a ITG 2002 nos três exercícios analisados, tendo registro de dois “Ativos Circulantes”, um para os recursos da entidade, outro para o Fundo Partidário, seguindo a recomendação do Tribunal; foram registradas todas as contas bancárias especificadas em “Banco Conta Movimento” indo de acordo com a norma, sendo também alegadas em Notas Explicativas; no Ativo Não Circulante também houve segregação dos valores do FP com os de recursos próprios, sendo evidenciados nos “Imobilizados” os bens móveis e imóveis de forma detalhada, estando de acordo com as exigências e seguindo o Plano de Contas do Tribunal. O Passivo também segue as recomendações de separação dos recursos do FP com os demais, suas obrigações foram expressas, bem como os fornecedores discriminados em todos os exercícios; em 2012 foram registradas dívidas de campanha, onde o partido pode assumir valores de candidatos, comitês ou de outros diretórios, essa conta foi evidenciada no Circulante do FP em razão de dívidas de candidato nas eleições de 2010 em que a agremiação fica responsável pela quitação desses valores utilizados por candidato específico, não estando desobedecendo alguma exigência; no mesmo exercício foram registrados “Recursos de origem não identificada” no Circulante de Recursos Próprios referente à um depósito que não teve identificação, onde o partido se compromete a realizar devolução desse valor, buscando estar em conformidade.

A Demonstração de Resultado do PMDB foi de acordo com a ITG 2002, evidenciando de forma segregada as contas de receitas e despesas identificáveis, por tipo de atividade. Além do registro do “Superávit” no lugar de “Lucros”, obedecendo a exigência. Todos os exercícios foram apresentados de acordo com a norma. A DLPA foi apresentada de acordo com o modelo do Tribunal, já a DOAR não foi evidenciada em nenhum dos exercícios analisados. Já sobre a DMPL, em 2012 o partido apresenta nessa demonstração apenas o “Resultado Líquido” sem as movimentações das contas do Patrimônio Líquido.

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No que se refere ao Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, assim como os demais, apresentou suas contas referente aos exercícios analisados junto ao TRE-PB. No Quadro 8 estão expostas as Demonstrações Contábeis e Demonstrativos exigidos, sendo observado no mesmo, quais peças foram apresentadas e se estão em conformidades com o TSE e, no caso das Demonstrações, também com as Normas Brasileiras de Contabilidade.

O Balanço Patrimonial foi apresentado no modelo do TSE, estando em conformidade com o mesmo nos três exercícios analisados, obedecendo a segregação no Ativo Circulante para FP e para recursos próprios; foram evidenciadas as contas bancárias das formas de arrecadação, indo de acordo com a ITG 2002; o Ativo Circulante também vem de encontro com as conformidades, sendo evidenciados os bens para funcionamento das atividades da entidade. No Passivo Circulante foram feitas as discriminações de todos os fornecedores, assim como de outras obrigações que o partido possui, seguindo a ITG 2002, no entanto, não vai de encontro com as recomendações do TSE que pede que se tenha segregação dos recursos próprios com o Fundo Partidário, estando os três exercícios registrados dessa maneira. E no Patrimônio Líquido o partido obedece a norma, realizando a evidenciação do Resultado do Exercício por “Superávit/Déficit” em substituição de “Lucros/Prejuízos”, sendo apenas o exercício de 2011 registrado como “Superávit” e os demais como “Déficit”. Além disso, a Demonstração de Resultado, DLPA, DMPL e DOAR foram apresentadas nos exercícios analisados, bem como estão em conformidade com os modelos do Tribunal, sendo essas demonstrações aceitas para análise das prestações de contas.

Já o Partido dos Trabalhadores, o PT, foi a quinta agremiação a receber mais cotas do Fundo Partidário durante os exercícios em análise, substituindo o Partido Progressista por impossibilidade de acesso as contas. No Balanço Patrimonial, o Ativo Circulante vem de acordo com o modelo do Tribunal, sendo evidenciado um para o Fundo Partidário, enquanto o outro para os recursos próprios; em “Banco Conta Movimento” são apresentadas as contas bancárias específicas para as formas de arrecadação de acordo com a ITG 2002, destacando a criação de conta para “programas de difusão e participação de mulheres na política”, onde a agremiação deposita 5% do recebido pelo FP para essa finalidade, a mesma só não foi evidenciada em 2012, assim como a conta referente ao FP, que deve ser apresentada, estando nesse exercício em desconformidade com o TSE. O Ativo Não Circulante vem de acordo com a Norma Brasileira de Contabilidade, bem como do Tribunal. O Passivo Circulante segue o modelo do TSE, separando os recursos do FP dos demais, sendo os registros das obrigações feitos em conformidade durante os três exercícios. O Patrimônio Líquido também está de acordo com a ITG 2002, apresentando em Déficit do Exercício, com exceção de 2013 que registra Superávit.

A Demonstração de Resultado em 2011 e 2013 foi apresentada sem registro de valores das despesas, apenas os resultados sem suas respectivas deduções, estando em desacordo com o Tribunal e com a norma, enquanto a Demonstração de Mutações do Patrimônio Líquido e a Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos foram apresentadas em conformidade com o Tribunal, já a Demonstração de Mutações do Patrimônio Líquido só foi evidenciada em 2013, estando também de acordo com o TSE. Por fim, o quadro abaixo consolida a divulgação das demonstrações contábeis dos quatro partidos políticos analisados nesta pesquisa.

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Quadro 3: Quadro-Resumo – Demonstrações Contábeis

DEM PMDB PSDB PT

2011 2012 2013 2011 2012 2013 2011 2012 2013 2011 2012 2013

BP ↑ ↑↑↑ ↑ ↑↑↑ ↑↑↑ ↑↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑↑ ↑↑ ↑↑↑

DRE ↑ ↑ ↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↓ ↑ ↑ ↓ ↑ ↓

DLPA ↑ ↑ ↑ ↑ ↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓ ↓ ↑

DMPL ↑ ↑ ↑ ↓ ↓ ↑↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓

DOAR ↑ ↑ ↑ ↓ ↓ ↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑

Fonte: Resultados da Pesquisa (2014)

Legenda: ↑: Apresentado em conformidade com TSE; ↑↑: Apresentado em conformidade com a ITG 2002; ↑↑↑: Apresentado em conformidade com TSE e ITG 2002; ↓: Apresentado em desconformidade/Não apresentado; BP: Balanço Patrimonial; DRE: Demonstração de Resultado; DLPA: Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados; DMPL: Demonstração de Mutações do Patrimônio Líquido e DOAR: Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos.

Conforme o quadro 3, após a análise das prestações de contas partidárias anuais, foi evidenciado que a maioria dos partidos políticos realiza a apresentação das Demonstrações Contábeis com base nos modelos do TSE. Para o Balanço Patrimonial, todas as agremiações apresentaram dois Ativos Circulantes, uma para o Fundo Partidário e outra para os recursos próprios; também evidenciaram as contas bancárias em obediência a ITG 2002. A maior parte dos partidos foi de acordo com o modelo do Tribunal, apresentando dois passivos circulantes. Com exceção do DEM, os demais substituíram Lucro ou Prejuízo por Superávit ou Déficit, obedecendo a Norma para entidade sem finalidade de lucros.

A Demonstração de Resultado em que a ITG 2002 solicita segregação de evidenciação de receitas e despesas, por tipo de atividade, apenas o PMDB foi de acordo, as outras agremiações que apresentaram foram de acordo apenas com o TSE ou tiveram alguma desconformidade. A DLPA e DOAR quando apresentadas, estiveram em conformidade com o modelo do TSE, já que a norma para essas entidades não fornece modelo específico. A DMPL evidenciada pelos partidos também segue o Tribunal, com exceções de algumas desconformidades citadas.

4.2 DEMONSTRATIVOS COMPLEMENTARES EXIGIDOS PELA RESOLUÇÃO TSE 21.841/04

Em relação ao DEM, no Demonstrativo de Receitas e Despesas, os recursos do Fundo Partidário tiveram representações de mais 90% nos três exercícios analisados, sendo essa a maior forma de arrecadação da entidade; todos os valores recebidos foram evidenciados de forma segregada, estando em conformidade com o TSE, dentre essas receitas foram encontradas doações de pessoas físicas, contribuições de parlamentares e sobras de campanha.

Se tratando das despesas, houve separação dos valores com Fundo Partidário em relação aos demais valores, obedecendo a exigência do Tribunal; já em relação ao uso das cotas do FP, o partido só fez registro de “criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política” no exercício de 2011 e mesmo assim inferior ao estabelecido que é de no mínimo 20% do recebido utilizado para essa finalidade, não houve evidenciação de “programas de difusão e participação de mulheres na política” que deve ter 5% do recebido pelo FP investido, de acordo com o artigo 44 da Lei dos Partidos

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Políticos, não comprovando se houve destinação desse valores, estando em desacordo com as exigências; em relação ao limite de “despesas com pessoal” de 20% estabelecido pela Lei 9.096/95, o partido respeitou apenas em 2011 utilizando 14% do total, já em 2012 e 2013, foram utilizados 21% e 25%, respectivamente.

O demonstrativo de Sobras de Campanha em 2012 encontra-se em desconformidade pelo fato do Demonstrativo de Receitas e Despesas ter sido registrado com “Sobras de Campanha” no valor de R$13.984 enquanto no que se refere o demonstrativo tratado, só foi evidenciado o valor de R$ 24 sem identificação de candidato e seu CNPJ. Já no Demonstrativo de doações recebidas, o DEM em 2011 recebeu doações de pessoas físicas de acordo com o Demonstrativo de Receitas e Despesas, enquanto no demonstrativo analisado não há nenhum registro de doador, bem como de suas informações.

Em relação ao PMDB, o seu Demonstrativo de Receitas e Despesas segrega todas as formas de receitas, especificando quais foram realizadas por recursos estimáveis em dinheiro e quais receitas foram financeiras, estando a evidenciação das mesmas em conformidade com o Tribunal; a maior forma de arrecadação foi advinda pelo Fundo Partidário, com 51% em 2011, 74% em 2012 e 88% em 2013, havendo um aumento nesses recebimentos; outras receitas que tiveram alguma representatividade nesses exercícios foram dadas através de contribuições de parlamentares e filiados, sobras de campanhas, doações de pessoas jurídicas e repasses da Direção nacional; em 2011 e 2013 houveram registros de “Outras Receitas Diversas” em que o partido colocou “a especificar” e que não possui identificação, devendo as mesmas serem comprovadas por documentação, caso sejam de origem não identificada, o partido deve efetuar a devolução desses valores ao Fundo Partidário.

O Demonstrativo de recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos estaduais em 2011 não evidenciou informações mesmo tendo recebido as cotas do governo. Já o Demonstrativo de transferências intrapartidárias recebidas em 2011 e 2013 foi enviado o sem movimentação, enquanto foi comprovado o recebimento pela direção nacional nos valores de R$40.000 e R$67.252, respectivamente. Já no exercício de 2012, o PMDB registrou valor inferior no demonstrativo tratado em comparativo com as receitas.

No que se refere ao Demonstrativo de Receitas e Despesas do PSDB, o partido evidenciou suas informações de acordo com o Tribunal, detalhando todas as formas de receitas e separando as despesas com Fundo Partidário. Nas arrecadações houve diminuição da representatividade das cotas do FP, sendo de 96% em 2011, 65% em 2012 e 52% em 2013, isso ocorreu pelo aumento de outras cotas, já que a agremiação recebeu praticamente os mesmo valores durante esses anos; durante esses exercícios houveram diversas formas de receitas, tais como de pessoas físicas e jurídicas, sobras de campanhas, contribuições de parlamentares e filiados, como também de repasses de recursos próprios da Direção Nacional com grande representatividade nas receitas de 2013; no exercício de 2011, foi registrado em Receitas Operacionais, valores dados como “Receitas não identificáveis”, esses valores, que de acordo com a Lei dos Partidos Políticos, são receitas de origens não identificadas que devem ser devolvidas ao Fundo Partidário e distribuídas aos demais partidos com critérios observados na Legislação supracitada; já em 2012, o partido teve “Receitas Financeiras das Eleições de 2012” que representa 21% do total recebido, devendo o mesmo comprovar a origem dessa arrecadação.

Tratando das despesas em relação ao uso do FP, o partido respeita o limite de 20% de despesas com pessoal com exceção do exercício de 2013, que ultrapassa em 6% o teto máximo estabelecido; a maioria das despesas foram com manutenção da sede e serviços para funcionamento da entidade; já as despesas obrigatórias de “programas de difusão e participação de mulheres na política” em 5% do recebido pelo FP e “criação e manutenção de

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instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política” com 20%, não foram apresentadas ao Tribunal, estando em falta com essa exigência e em desacordo com a Lei dos Partidos Políticos.

O Demonstrativo de recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos estaduais só foi apresentado em 2013 e sem movimentação, tendo o mesmo recebido cotas nesse exercício, no valor de R$ 604.458, ocorrendo erro de registro pelo fato dessa receita estar evidenciada no Demonstrativo de transferências financeiras intrapartidárias recebidas. O Demonstrativo de recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos municipais/zonais encontra-se em desconformidade, sendo observada transferência para direção municipal no valor de R$4.500, não evidenciando esse recebimento. Já o Demonstrativo de sobras de campanha em 2012 apresentou as informações dos candidatos, porém o de Receitas e Despesas expressa um valor acima do registrado no supracitado.

Já as despesas com Fundo Partidário do PT foram segregadas das demais, estando em conformidade com o TSE, em relação ao uso com essas cotas o partido respeitou o limite de 20% “para despesas com pessoal” com exceção de 2012, que ultrapassou em 3% do permitido; em nenhum dos exercícios analisados houveram valores registrados em “criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política” que deve ter no mínimo 20% investido nessa finalidade. Em relação a despesa com “programas de difusão e participação de mulheres na política” foi depositado em 2011 valor inferior ao estabelecido; em 2012 o registro nessa obrigatoriedade alcança 7,5%, isso se deve pelo fato de que em algum exercício anterior o partido não contribuiu com essa obrigação, devendo ser acrescido 2,5% do total recebido para utilizar nessa despesa; e em 2013 não houve registro de valor na despesa tratada. A maioria dos valores foram utilizados com manutenção da sede e nas atividades para funcionamento do partido. Dos demonstrativos, o que se encontra em desconformidade é o de recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos estaduais, onde o partido apresentou valor abaixo do evidenciado pela direção nacional. O quadro 4 evidencia a divulgação dos demonstrativos exigidos pela Resolução TSE 21.841/04 pelos partidos políticos analisados por este artigo.

Quadro 4: Quadro-Resumo – Demonstrativos Complementares exigidos pela Resolução TSE 21.841/04

DEM PMDB PSDB PT

2011 2012 2013 2011 2012 2013 2011 2012 2013 2011 2012 2013

DRD ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑ ↑↑ ↑↑

DRFPE ↓↓ ↑ ↓↓ ↓↓ ↑ ↑ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↑ ↑

DRFPMZ ↓ ↓↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓

DRFPC ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓↓ ↑ ↑ ↑ ↑

DSC ↑ ↓↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓↓ ↑ ↑ ↑ ↑

DTFIR ↑ ↑ ↑ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↑ ↑ ↑ ↑

DTFIE ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑

DDR ↓↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑

DCR ↑ ↓↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓↓ ↑ ↑

DOP ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑

Fonte: Resultados da Pesquisa (2014)

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Legenda: ↑: Apresentado em conformidade; ↑↑: Apresentado de acordo com modelo TSE; ↓: Sem distribuição; ↓↓: Apresentado em desconformidade/Não apresentado; DRD: Demonstrativo de Receitas e Despesas; DRFPE: Demonstrativo de recursos do FP distribuídos aos órgãos estaduais; DRFPMZ: Demonstrativo de recursos do FP distribuídos aos órgãos municipais/zonais; DRFPC: Demonstrativo de recursos do FP distribuídos a candidatos; DSC: Demonstrativo de sobras de campanha; DTFIR: Demonstrativo de transferências financeiras Intrapartidárias recebidas; DTFIE: Demonstrativo de transferências financeiras Intrapartidárias efetuadas; DDR: Demonstrativo de doações recebidas; DCR: Demonstrativo de contribuições recebidas e; DOP: Demonstrativo de obrigações a pagar.

Ressalta-se que no Demonstrativo de Receitas e Despesas todas as agremiações fizeram registro detalhado das formas de receitas, evidenciado as cotas do Fundo Partidário, doações, contribuições, sobras de campanhas, entre outras. Houveram receitas de origens não identificadas para praticamente todas as agremiações, caso esses valores não forem comprovados, deve ser realizada a devolução ao FP. No caso das despesas, todos também fizeram segregação da utilização com recursos do FP.

Já na utilização desses valores, as exigências em sua maioria não foram atendidas; o único partido que obedeceu o limite de 20% para “despesas com pessoal” durante os três exercícios foi o PMDB; já com a despesa de “programas de difusão e participação de mulheres na política” o DEM e PSDB não apresentaram valores investidos para tal finalidade em nenhum dos exercícios analisados, as outras agremiações apresentaram parcialmente; assim também foi dado para despesas com “criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política” onde apenas o DEM e PMDB evidenciaram parcialmente uso do FP para esse fim.

Em relação aos Demonstrativos de recursos do Fundo Partidário distribuídos aos órgãos estaduais, municipais/zonais ou para candidatos quando apresentados em sua maioria estavam em conformidade, com exceções de omissões de recebimentos ou de valores registrados abaixo do observado. Assim também foi constatado nos Demonstrativos de transferências financeiras intrapartidárias recebidas e efetuadas. Os demonstrativos de sobras de campanhas, doações recebidas e contribuições recebidas, em relação as suas desconformidades foi observado a falta de alguma informação necessária para análise, bem como de valores abaixo ou omitidos dados em confronto com os registros das receitas.

5 CONCLUSÃO

Além do dever de atender as exigências eleitorais, os partidos políticos podem utilizar da Contabilidade como meio de benefício próprio em suas gestões, buscando conhecer suas informações econômicas/financeiras, de modo a otimizar a utilização dos recursos recebidos, propiciando ao governo uma simplificação no acompanhamento desses repasses dados por meio do Fundo Partidário e também para aqueles que realizaram algum tipo de doação. Neste contexto, o presente trabalho buscou estudar a informação contábil das prestações de contas anuais em comparativo com as exigências da Justiça Eleitoral, dando enfoque as agremiações partidárias do estado da Paraíba, com o intuito de observar como os partidos utilizam os recursos arrecadados por meio de doações, contribuições e cotas do Fundo Partidário, além de observar as irregularidades constantes em suas apresentações.

Do que foi apresentado ao Tribunal, constatou-se que os partidos utilizam dos modelos oferecidos pelo TSE para evidenciação da maioria de suas Demonstrações e Demonstrativos e seguem a Norma Brasileira de Contabilidade na maioria das peças apresentadas. Os resultados destacam que o partido que apresentou maior quantidade de peças componentes de suas prestações de contas durante os exercícios analisados foi o DEM; já o que apresentou em

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menor quantidade foi o PSDB. Em relação as exigências da ITG 2002, a agremiação que melhor evidenciou suas informações de acordo com os modelos da norma nos três exercícios analisados foi o PMDB. Já se tratando dos modelos do TSE, todas as agremiações apresentaram a maioria de suas Demonstrações e Demonstrativos em conformidade com o Tribunal, destacando o PSDB que das peças apresentadas teve apenas uma em desconformidade. Os outros três partidos tiveram a mesma quantidade de peças em desconformidade.

Tratando do uso com recursos do Fundo Partidário todas as agremiações desobedeceram algum tipo de exigência dada na Lei dos Partidos Políticos, estando em desconformidade nesse aspecto. Já em relação as receitas, todos evidenciaram as suas formas de arrecadação, com exceção de alguns valores de transferências que não foram especificados e de receitas de origem não identificada. Dessa forma conclui-se que, dos partidos analisados, todos tiveram conformidades e desconformidades, omissões em algumas apresentações e inconsistências em outras. Cada um teve destaque em determinados aspectos, não tendo um partido que se sobressaiu em relação aos demais.

Diante das prestações de contas enviadas ao Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, foi observado que os partidos apresentam as peças que compõem suas contas de forma incompleta, faltando alguma demonstração contábil ou demonstrativo complementar, fazendo com as agremiações fiquem sujeitas aos relatórios de diligências, esses que solicitam a complementação de informações ou apresentação daquelas omissas. Cabe a essas agremiações buscarem manter as conformidades com o TSE e de sua norma, como também melhorar a fidedignidade das informações nessas prestações de contas e evidenciar todas aquelas que forem solicitadas pelo Tribunal; além de buscar também utilizarem da forma correta os recursos do Fundo Partidário, seguindo a Legislação dos Partidos Políticos. Afinal, quanto maior for a conformidade de suas contas mais benefícios essas entidades terão, como também aqueles que auxiliam as agremiações terão mais segurança sobre suas doações e contribuições, além de um melhor acompanhamento para o governo e repasses contínuos do Fundo Partidário.

Com isso, esta pesquisa pretende colaborar para o aprofundamento de estudos sobre auditoria nas prestações de contas partidárias e demais pesquisas para a academia, como também para análises sobre a Contabilidade Partidária. Sugere-se para fins de pesquisa, ampliar o escopo deste trabalho para outros estados, e até mesmo para esfera nacional, a fim de analisar a continuidade e a manutenção destes resultados.

REFERÊNCIAS

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14. ANÁLISE DA RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL EM CIRCUNSTÂNCIAS DE CONCENTRAÇÃO DA ESTRUTURA DE PROPRIEDADE

Autores: Rodrigo Vicente dos Prazeres e Juliana Gonçalves de Araujo Resumo Este trabalho teve por objetivo analisar a relevância das informações contábeis na precificação das ações das companhias abertas da BM&FBovespa em circunstâncias de concentração da estrutura de propriedade. A metodologia utilizada foi a de análise de regressão múltipla com dados em painel para o período de 2005 a 2013 através da modelagem de Collins et. al. (1997), que relaciona o preço das ações às informações contábeis. O referido modelo foi adaptado as variáveis representativas da concentração da estrutura de propriedade. Como resultados observou-se que os modelos de regressão utilizados apresentaram um poder explicativo ( ) sobre o preço das ações na ordem de 49.39% e 49.55%, respectivamente. Adicionalmente, a análise das variáveis utilizadas demonstrou que em circunstâncias de concentração da estrutura de propriedade, apenas as variáveis Patrimônio Líquido por Ação e Liquidez das Ações se apresentaram significantes e positivamente relacionadas ao preço das ações. Por outro lado, as variáveis representativas da geração de benefícios econômicos como o Lucro por Ação e Ebitda por Ação, bem como a Concentração Acionária e Crescimento, não se mostraram significativas, implicando dizer que no caracterizado contexto de concentração de estrutura de propriedade e de fraca proteção legal aos investidores minoritários, como é o mercado brasileiro, estas variáveis não podem ser consideradas relevantes para a precificação das ações. Palavras chave: Concentração da Estrutura de Propriedade. Informação Contábil. Relevância.

1 Introdução

O grau de qualidade das informações contábeis depende, fundamentalmente, de sua relevância para o processo decisório. Para Beisland (2009) a temática da relevância da informação contábil aplicada ao mercado de capitais, ou value relevance, procura compreender como a informação contábil se relaciona ao preço das ações.

Esta temática ganhou força com a publicação dos trabalhos de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968), que utilizaram pela primeira vez métodos econométricos para relacionar às métricas contábeis ao preço das ações, caracterizando como relevante a informação contábil com capacidade de explicar o preço ou o retorno das ações.

Comumente, as pesquisas relativas a essa temática são conduzidas através de um enfoque positivista (WATTS; ZIMMERMAN, 1978), assumindo-se, como premissa subjacente, a Hipótese do Mercado Eficiente (FAMA, 1970), na qual os preços das ações devem refletir as informações disponíveis ao mercado, sendo a informação contábil uma das principais fontes para os investidores na precificação dos ativos (LOPES; IUDÍCIBUS, 2012).

Desse modo, as discussões que envolvem esta temática tomam por ponto de partida que os preços das ações refletem as informações disponíveis ao mercado, que os agentes econômicos possuem o mesmo nível de informação, e que os processos de elaboração e a divulgação das informações contábeis ao mercado não sofre influência de nenhum fator.

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No entanto, Piotroski e Roulstone (2004) afirmam que os participantes do mercado possuem diferentes níveis de informação e estes também podem influenciar no grau de relevância das informações prestadas. Sobre essa hipótese, Edmans e Manso (2009) alertam para a possibilidade de intervenção de acionistas detentores de maiores blocos de propriedade (Blockholders) nos atos de gestão, o que, conforme Brockman e Yan (2009), constitui uma das formas pelas quais o ambiente informacional das firmas pode vir a ser afetado.

Esse fato contribui para o possível surgimento do conflito de agência entre os acionistas majoritários e minoritários (Edmans, 2013), onde uma maior concentração da estrutura de propriedade confere aos blockholders benefícios suficientes para incorrer em custos de monitoramento e de incentivos à gestão, a fim de influenciar a expropriação dos direitos de propriedade dos investidores minoritários em seu favor.

Tal hipótese, segundo Velury e Jenkins (2006), é plausível, visto que quanto maior a magnitude dos recursos investidos, maior tende a ser o monitoramento e a intervenção dos grandes acionistas nos atos de gestão e na busca pelo alinhamento dos interesses dos gestores com os seus. Dada essa característica, é possível que os blockholders obtenham informações de melhor qualidade em relação aos demais acionistas, que tenderiam a obter informações de menor qualidade (EDMANS, 2013).

Diante deste contexto, o trabalho examina a relevância da informação contábil em circunstâncias de concentração de propriedade, avaliando a capacidade das informações financeiras em capturar e resumir as informações que determinam o valor de uma empresa (Francis e Schipper, 1999).

Para tanto, foi utilizada a modelagem de Collins et. al. (1997) de forma adaptada. Esta modelagem, originalmente, relaciona métricas contábeis ao preço das ações com a finalidade de verificar tanto a significância estatística das variáveis, quanto o coeficiente de determinação do modelo de regressão estimado. Além disso, considerou-se a afirmativa de Sarlo Neto et. al. (2010) de que no mercado de capitais brasileiro, a estrutura de propriedade das organizações é caracterizadamente concentrada, sendo, portanto, introduzidas no modelo de Collins et. al. (1997) variáveis que buscam captar o efeito da concentração de propriedade.

Diante do exposto, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa norteador deste estudo: Qual a relevância das informações contábeis na precificação das ações das companhias abertas listadas na BM&FBovespa em circunstâncias de concentração de propriedade?

Espera-se com este estudo contribuir para a verificação da relevância da informação contábil em circunstâncias de concentração de propriedade (SARLO NETO et. al., 2010), posto que o mercado de capitais brasileiro é caracterizado como um ambiente onde os mecanismos de proteção aos investidores minoritários são notadamente de fracos (Sonza e Kloencker, 2014), constatação esta que teoricamente aponta para um prejuízo no grau de relevância das informações contábeis na precificação das ações e que contribui para o surgimento de conflitos de agência entre acionistas majoritários e minoritários (EDMANS, 2013).

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL

A temática da relevância da informação contábil assume como premissa subjacente que a informação contábil-financeira útil divulgada ao mercado é uma das principais ferramentas para a previsão e confirmação no processo decisório sobre precificação de ações e outros títulos negociados no mercado (BEISLAND, 2009).

Para que a informação contábil seja considerada relevante, é necessário que esta possua caráter preditivo, confirmatório ou ambos, e que seja capaz de fazer diferença no processo decisório mesmo que seus usuários decidam não levá-la em consideração (CPC 00 (R1), 2011).

Sendo assim, a informação contábil é considerada relevante quando esta proporciona aos usuários tanto maior capacidade de previsão sobre a geração futura de benefícios econômicos por parte das organizações, bem como maior poder de confirmação sobre o comportamento anteriormente previsto, para que as ações ou outros títulos negociáveis no mercado possam ser precificados de forma mais confiável e justa. (CPC 00 (R1), 2011).

Seguindo esta perspectiva, Holthausen e Watts (2001) apresentam a classificação dos estudos de value relevance em três subgrupos no que tange a sua operacionalização metodológica, quais sejam:

i) Estudos de Associação Relativa (Relative association studies): onde é analisado o coeficiente de determinação de uma ou de um conjunto de variáveis contábeis que serão consideradas mais relevantes à medida que este coeficiente seja maior;

ii) Estudos de Associação Incremental (Incremental Association Studies): onde são analisadas as significâncias estatísticas dos coeficientes angulares das variáveis utilizadas em um modelo de regressão;

iii) Estudos de Conteúdo de Informação Marginal (Marginal Information Content Studies): onde são utilizados estudos de eventos para relacionar o preço das ações às variáveis contábeis.

Dada essa classificação, cabe salientar que esse trabalho pode ser entendido como um estudo que busca ao mesmo tempo compreender tanto a associação relativa quanto a associação incremental, posto que foram realizadas análises para os coeficientes de determinação dos modelos de regressão, bem como para a significância estatística dos coeficientes angulares das variáveis utilizadas, conforme será visto adiante na seção que trata da metodologia de pesquisa.

2.2 CONFLITO ENTRE ACIONISTAS MAJORITÁRIOS E MINORITÁRIOS E A ESTRUTURA DE PROPRIEDADE

Comumente, os conflitos de agência são analisados sob a perspectiva dos proprietários (principal) em relação aos gestores (agente), onde, segundo Jensen e Meckling (1976), espera-se que estes últimos nem sempre atuem em função do interesse dos primeiros.

Como forma de minimizar o conflito de agência torna-se necessário que o principal incorra em gastos com estratégias de monitoramento e/ou incentivo na tentativa de fazer com

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que o agente não utilize os recursos da entidade de forma a satisfazer interesses particulares (JENSEN; MECKLING, 1976).

Contudo, Edmans (2013) salienta que nem sempre os gastos com tais estratégias são vantajosos para os proprietários. O autor argumenta que pequenos acionistas não têm incentivos suficientes para monitorar ou incentivar a gestão, posto que os benefícios que seriam supostamente auferidos através destas práticas seriam aproveitados por todos os demais proprietários, ao passo que os custos seriam incorridos de forma individual.

Diante desta perspectiva, a concentração da estrutura de propriedade pode ser entendida como um dos meios pelos quais os acionistas tem em monitorar e incentivar a gestão de forma mais eficaz, dado que uma maior concentração de propriedade confere aos blockholders maior parcela dos benefícios derivados de tais gastos (EDMANS, 2009).

Os benefícios da concentração da estrutura de propriedade foram inicialmente apontados por Jensen e Meckling (1976) como sendo um dos meios disponíveis aos acionistas para contribuir para uma maior criação de valor para as empresas, sendo esta contribuição dada a partir da implementação de estratégias de monitoramento e incentivo à gestão.

No entanto, apesar de a concentração de propriedade contribuir para o alinhamento de interesses entre gestores e proprietários, esta também pode dar margem para o surgimento de um conflito de agência entre proprietários majoritários e minoritários (BOEHMER; KELLEY, 2009), pois quando a concentração de propriedade se torna grande o suficiente, faz com que os acionistas majoritários passem a exercer o controle das companhias e com isso extrair benefícios para si através da expropriação dos demais acionistas (SHLEIFER; VISHNY, 1997).

Tal conflito de agência seria decorrente da assimetria de informações entre os proprietários, em que os blockholders, por possuírem maior influência sobre a gestão, tendem a possuir um maior grau de informações em relação aos minoritários (GALLAGHER et. al., 2008; BROCKMAN; YAN, 2009).

No que diz respeito ao contexto do mercado de capitais brasileiro, Sarlo Neto et. al. (2010) apontam para a predominância de estruturas de propriedade concentradas, contexto esse que pode ser decorrente do ambiente legal do país, e que, de acordo com La Porta et al. (1998), tem influência decisiva na formação e composição da estrutura de propriedade, bem como na prevenção de expropriação dos minoritários.

La Porta et al. (1998) argumentam ainda que em países com arcabouço jurídico common law (leis baseadas em costumes), como os Estados Unidos e o Reino Unido, há a predominância por mecanismos legais que dificultam a expropriação de minoritários, ao passo que países com leis code law (leis baseadas em normas), a exemplo do Brasil, da França e da Alemanha, há tendência de uma menor proteção legal aos acionistas minoritários, o que dá margem para a expropriação por parte dos majoritários.

Assim, em mercados onde há existência de mecanismos legais que dificultam a expropriação de minoritários, a concentração de propriedade tende a ser menor, postos os menores benefícios derivados do controle, como é o caso do mercado norte-americano, onde a concentração de propriedade não é apenas desnecessária como é indesejada, tendo em vista mecanismos legais que dificultam a expropriação dos minoritários (LA PORTA et. al., 1999).

Em contraposição a isso, mercados onde os mecanismos legais de proteção aos minoritários são menos eficientes, tendem a apresentar uma maior concentração de propriedade, o que, para La Porta et al. (1997), é um dos motivos para que os mercados de

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capitais em países code law sejam menos desenvolvidos, como é o caso do Brasil onde a proteção legal aos minoritários é fraca (SONZA; KLOENCKER, 2014).

3. ESTUDOS EMPÍRICOS

Nesta seção são apresentados estudos empíricos sendo dado foco aos principais objetivos e resultados observados acerca da relevância da informação contábil em circunstâncias de concentração de propriedade.

O primeiro trabalho apresentado é o de Fan e Wong (2002), que analisaram a relevância da informação contábil em sete países asiáticos, relacionando o retorno das ações à concentração de estrutura de propriedade, tendo como constatação inicial o alto grau de concentração acionária indireta na estrutura de propriedade das entidades dos países analisados. Os resultados observados indicaram uma grande probabilidade de surgimento de conflitos de agência entre blockholders e investidores minoritários, posto que a concentração de propriedade seria utilizada pelos blockholders como forma de alcançar seus objetivos particulares, e que em decorrência disso, maior seria a influência sobre a gestão para a divulgação de informações contábeis com menor grau de qualidade, resultando, assim, em uma menor relevância dos lucros na precificação das ações.

Velury e Jenkins (2006) relacionaram a informação contábil ao nível de concentração de propriedade por parte de investidores institucionais, assumindo a hipótese de que a concentração de propriedade por parte de investidores institucionais constitui uma das formas pelas quais o monitoramento da gestão pode ser realizado de forma mais eficiente, fato este que, segundo os autores, contribuiria para um maior grau de relevância das informações contábeis e consequentemente para um maior retorno das ações. Como resultados, observou-se uma relação positiva entre a qualidade das informações contábeis e a presença de investidores institucionais, confirmando a hipótese de que estes investidores são capazes de monitorar a gestão de forma mais eficiente. No entanto, também foi observado que esta hipótese só é confirmada quando os investidores institucionais não são caracterizados como blockholders, dada a observação de uma relação negativa entre a relevância da informação contábil e a concentração de propriedade por parte de investidores institucionais.

Já Bae e Jeong (2007) analisaram como a concentração da estrutura de propriedade em empresas coreanas afeta a relevância da informação contábil. Os autores observaram que informações relativas aos lucros e ao valor contábil do patrimônio líquido são menos relevantes em circunstâncias de concentração de propriedade e que a concentração de propriedade indireta (cross-equity ownership) está negativamente relacionada à relevância da informação contábil. Adicionalmente, os autores observaram que a concentração de estrutura de propriedade por parte de investidores estrangeiros está positivamente relacionada à relevância da informação contábil, sugerindo indícios de que investidores estrangeiros possuem maiores incentivos a monitorar o desempenho da gestão, reduzindo possíveis conflitos de agência entre os proprietários.

Boubaker e Sami (2011), por sua vez, analisaram como a coexistência de diversos proprietários blockholders influencia na relevância da informação contábil. Para os autores, a existência de vários blockholders na estrutura de propriedade tende a reduzir a expropriação dos proprietários minoritários, posto que haveria um equilíbrio entre os interesses dos proprietários majoritários que não deixariam outro proprietário em bloco influenciar diretamente na gestão, utilizando a estrutura organizacional para alcançar objetivos particulares. Como resultado, foi observado que a coexistência de diversos proprietários em bloco possivelmente minimiza a expropriação dos demais proprietários minoritários, posta a

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observação de uma maior relevância das informações contábeis, o que indica que as informações contábeis divulgadas ao mercado são de melhor qualidade.

Por fim, Lew e Wu (2013) analisaram como a separação entre os direitos de controle e de fluxos de caixa afetam a relevância das informações contábeis sobre o lucro divulgadas pelas empresas listadas na bolsa de Taiwan. Segun os autores, o mercado de capitais de Taiwan é caracterizado pela baixa proteção legal aos investidores minoritários o que motivou a pesquisa diante da hipótese de que os investidores majoritários com direitos a voto tendem a expropriar os direitos sobre os fluxos de caixa dos investidores minoritários, dando margem à possíveis conflitos de agência entre os proprietários. Assim, através da análise de regressão, foram analisadas 640 empresas listadas na bolsa taiwanesa com dados de 2000 a 2009, totalizando 4594 observações. Os resultados observados confirmaram a hipótese do estudo, indicando que os lucros possuem menor relevância quando existe separação entre os diretos de controle e os direitos sobre os fluxos de caixa e que no contexto da bolsa taiwanesa os direitos de controle são preferíveis em relação aos direitos sobre fluxos de caixa, dada tendência de expropriação dos minoritários devido à baixa proteção legal.

4 METODOLOGIA

4.1 AMOSTRA E COLETA DE DADOS

A amostra utilizada abrangeu as companhias listadas na BM&FBovespa que

negociaram suas ações ininterruptamente durante o período de 2005 a 2013, sendo a coleta de dados realizada através da base de dados Economática®, de onde foram extraídos os dados contábeis-financeiros anuais e da composição da estrutura de propriedade.

A delimitação da amostra partiu do universo de ações negociadas na BM&FBovespa durante o período analisado e consistiu na realização de quatro procedimentos, quais sejam: i) exclusão das empresas de natureza financeira; ii) exclusão das empresas que apresentaram patrimônio líquido negativo; iii) exclusão das empresas que apresentaram liquidez de ações igual a zero, e dentre as empresas que negociam mais de um tipo de ação foi escolhida aquela que apresenta maior liquidez, e; iv) foram excluídas as empresas com dados incompletos ou indisponíveis para o cálculo das variáveis que são expostas na próxima.

Assim, a amostra utilizada neste estudo consistiu em dezoito (18) empresas, as quais preencheram os requisitos acima descritos. O Quadro 1 apresenta as empresas constantes da amostra de pesquisa com as respectivas ações analisadas.

Quadro 1 - Empresas da Amostra de Pesquisa.

Empresa Ação Empresa Ação

Braskem PNA P.Acucar-

Cbd PN

CCR S.A. ON Petrobras PN

Cemig PN Randon Part PN

Eternit ON Sabesp ON

Gerdau PN Tim Part S/A ON

Gerdau Met.

PN Tractebel ON

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Klabin S/A

PN Unipar PNB

Marcopolo

PN Usiminas PNA

Oi PN Vale PNA

Fonte: Dados da Pesquisa.

Assim, com base no Quadro 1, foram analisadas dezoito (18) ações onde cinco (5) são ordinárias nominativas e treze (13) são preferenciais nominativas, totalizando, para o período de 2005 a 2013, 162 observações anuais.

4.2 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE PESQUISA E DO APRESENTAÇÃO DOS MODELOS ECONOMÉTRICOS

Segundo Brown et. al. (1999) e Beisland (2009) as pesquisas relativas à relevância da

informação contábil quase sempre são conduzidas através da análise de regressão, tendo como variável dependente o preço ou o retorno das ações e, como variáveis independentes, as informações contábeis, sendo mais comum o uso de proxies relacionadas ao lucro e ao patrimônio líquido.

Dentro dessa perspectiva, este estudo utilizou o modelo de Collins et. al. (1997) de forma adaptada onde foram introduzidas variáveis relativas à concentração da estrutura de propriedade, afim de analisar a relevância da informação contábil em circunstâncias de concentração de propriedade.

Abaixo, nas equações 1 e 2 são expostos os modelos de regressão, originalmente utilizados por Collins et. al. (1997) para análise da relevância da informação contábil, e posteriormente são apresentadas as variáveis representativas da concentração da estrutura de propriedade, que serão introduzidas nos modelos de regressão.

1)

Onde:

- representa o preço de fechamento da ação da empresa i no primeiro trimestre do ano seguinte;

- representa o intercepto da reta de regressão;

- representa o Lucro líquido por ação da empresa i no período t;

- representa o patrimônio líquido por ação da empresa i no período t; e,

- representa o termo de erro estocástico.

2)

Onde:

- representa o preço de fechamento da ação da empresa i no primeiro trimestre do ano seguinte;

- representa o intercepto da reta de regressão;

- representa o Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização por ação da empresa i no período t;

- representa o patrimônio líquido por ação da empresa i no período t; e,

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- representa o termo de erro estocástico.

Após expostos estes dois modelos, de acordo com a proposta anteriormente apontada para este trabalho, abaixo são apresentadas as variáveis representativas da concentração da estrutura de propriedade, bem como os modelos de regressão de forma adaptada:

1. Concentração Acionária (Conc): Esta variável representa o bloco controlador da companhia, sendo mensurada através da razão entre a quantidade de ações ordinárias em poder do bloco majoritário e o total de ações ordinárias da companhia (CLAESSENS et al., 2002; CAIXE; KRAUTER, 2013).

(3)

Para esta variável espera-se observar uma relação negativa para com o preço das ações, dado que a concentração da estrutura de propriedade proporciona incentivos suficientes aos acionistas majoritários a influenciar a gestão, de forma a expropriar os acionistas minoritários.

2. Liquidez das Ações (Liq): Quando se considera que os proprietários majoritários por monitorarem e influenciarem a gestão em razão de uma maior concentração da estrutura de propriedade, maior é a probabilidade de obter informações privilegiadas sobre a capacidade de criação de benefícios econômicos futuros das organizações em relação aos demais acionistas. Diante disso, uma maior liquidez das ações se torna desejável sob o ponto de vista dos proprietários minoritários, posto que uma maior liquidez pode ser utilizada como forma de proteção contra a expropriação por parte dos blockholders, possibilitando uma venda rápida no mercado afim de evitar perdas quando constatada a possibilidade de expropriação.

Espera-se observar, para esta variável, uma relação positiva para com o preço das ações, sendo a proxy utilizada para mensuração, de acordo com Caixe e Krauter (2013), representada pela seguinte fórmula:

4)

Onde:

p corresponde ao número de dias em que a ação foi negociada pelo menos uma vez;

P corresponde ao número total de dias de negociação;

n representa o número de negócios realizados;

N representa o número total de negócios com todas as ações;

v é o volume de dinheiro com as negociações realizadas, e;

V é ao volume total de dinheiro das negociações realizadas com todas as ações.

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3. Oportunidade de Crescimento (Cresc): Variável de controle, a qual espera-se que seja positivamente relacionada com o preço das ações, pois empresas com maior oportunidade de crecimento tendem a possuir melhor qualidade das informações contábeis, o que resultaria numa menor assimetria de informação e consequentemente na minimização de possíveis expropriações dos direitos de propriedade dos minotirários.

Para mensurar esta variável, utilizou-se, como proxy, o índice Market-to-Book, conforme Sarlo Neto et. al. (2011) e Lew e Wu (2013), obtido a partir da relação entre o valor de mercado e o valor contábil do patrimônio líquido da empresa i no período de tempo t.

5)

Apresentadas estas variáveis, abaixo são apresentados os modelos de regressão de Collins et. al. (1997) de forma adptada as variáveis de concentração da estrutura de propriedade, conforme as equações 6 e 7:

6)

Onde:

- representa o preço de fechamento da ação da empresa i no primeiro trimestre do ano seguinte;

- representa o intercepto da reta de regressão;

- representa o Lucro líquido por ação da empresa i no período t;

- representa o patrimônio líquido por ação da empresa i no período t;

- Corresponde a concentração acionária da empresa i no período t;

- corresponde a liquidez em bolsa da ação da empresa i no período t;

- é o tamanho da empresa i no período t, e,

- representa o termo de erro estocástico.

7)

Onde:

- representa o preço de fechamento da ação da empresa i no primeiro trimestre do ano seguinte;

- representa o intercepto da reta de regressão;

- representa o Lucro líquido por ação da empresa i no período t;

- representa o patrimônio líquido por ação da empresa i no período t;

- Corresponde a concentração acionária da empresa i no período t;

- corresponde a liquidez em bolsa da ação da empresa i no período t;

- é o tamanho da empresa i no período t, e,

- representa o termo de erro estocástico.

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Definidos os modelos de regressão utilizados, cabe ainda apontar que estes modelos possuem como principal limitação a não consideração na mensuração da variável Concentração Acionária possíveis participações indiretas do bloco controlador, implicando dizer que esta variável pode ser maior do que o apresentado neste estudo.

No entanto, esta limitação não invalida este estudo, dado que Carvalhal-da-Silva e Leal (2003), ao analisar a estrutura societária das companhias abertas brasileiras, observaram resultados bastante semelhantes para as duas formas de estrutura de propriedade, apontando como única diferença que as variáveis utilizadas para mensurar a estrutura de propriedade indireta apresentaram maior significância estatística do que as variáveis representativas da estrutura de propriedade direta.

4.3 TRATAMENTO ECONOMÉTRICO DOS DADOS O tratamento econométrico dos dados se deu através da análise de regressão com

dados em painel, os quais podem ser trabalhados através de três modelos: O modelo de dados empilhados (Pooled), o modelo de Efeitos Fixos e o modelo de Efeitos Aleatórios.

O primeiro modelo despreza a natureza de cortes transversais e de séries temporais dos dados (GUJARATI; PORTER, 2011), implicando que os coeficientes obtidos com a regressão sejam os mesmos para todas as empresas analisadas, levando a homogeneidade dos resultados.

O modelo de efeitos fixos, ao contrário do painel de dados empilhados, considera a heterogeneidade dos resultados, partindo do pressuposto que cada empresa possui seu próprio intercepto constante no tempo, permitindo apenas a variação dos coeficientes ao longo do tempo (GUJARATI; PORTER, 2011).

Por fim, o modelo de efeitos aleatórios consiste em presumir que o comportamento dos indivíduos é não observado (WOOLDRIDGE, 2011) assumindo que tanto o comportamento específico das empresas inclusas na análise quanto o período de tempo são desconhecidos, fazendo com que tanto o intercepto quanto os coeficientes variem, assumindo assim que os efeitos do modelo são não correlacionados com os regressores (GUJARATI; PORTER, 2011).

Por conseguinte, para que os resultados da análise de regressão com dados em painel fossem considerados consistentes, foram inicialmente verificados os pressupostos de validação da análise de regressão (colinearidade, ausência de heterocedasticidade, ausência de autocorrelação e normalidade de resíduos), para somente depois se definir qual o modelo de painel mais adequado para o estudo.

A colinearidade foi testada através da matriz de correlação das variáveis independentes, que segundo Wooldridge (2006), pode vir a desestabilizar a estimação caso o coeficiente de correlação ultrapasse 0,60. As Tabelas 1 e 2 apresentam as matrizes de correlação das variáveis independentes para os modelos de regressão dispostos nas equações 6 e 7, onde não foram constatadas as presenças de coeficientes de correlação acima de 0,60.

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Tabela 1 - Matriz de Correlação das Variáveis Independentes (Equação 6)

Variáveis Lpa Pl

pa C

onc Liqui

dez Cresc

Lpa 1 0.1

829 -

0.0088 0.126

5 -0.0751

Plpa 0.18

29 1

0.1249

0.3236

-0.2591

Conc -

0.0088 0.1

249 1

0.0249

-0.0288

Liquidez 0.12

65 0.3

236 0

.0249 1 -0.0024

Cresc -

0.0751 -

0.2591 -

0.0288 -

0.0024 1

Fonte: Dados da Pesquisa Como resultados da Tabela 1, pode-se verificar que o primeiro modelo utilizado

(Equação 6) não apresentou problemas de colinearidade entre as variáveis independentes, sendo o maior coeficiente de correlação obtido o de 0.3236 entre as variáveis Liquidez e Plpa.

Tabela 2 - Matriz de Correlação das Variáveis Independentes (Equação 7)

Variáveis Ebit

dapa Plp

a C

onc Li

quidez Cresc

Ebitdapa 1 0.05

37 -

0.0266 -

0.0032 -0.1493

Plpa 0.053

7 1

0.1249

0.3236

-0.2591

Conc -

0.0266 0.12

49 1

0.0249

-0.0288

Liquidez -

0.0032 0.32

36 0.

0249 1 -0.0024

Cresc -

0.1493 -

0.2591 -

0.0288 -

0.0024 1

Fonte: Dados da Pesquisa No que diz respeito à correlação entre as variáveis independentes do segundo modelo

(Equação 7), também não foi constatada a presença de colinearidade entre as variáveis, sendo novamente o maior coeficiente observado o de 0.3236 entre as variáveis Liquidez e Plpa.

Posteriormente, foram realizadas regressões com dados empilhados no intuito de verificar possíveis problemas de heterocedasticidade, de autocorrelação e da normalidade de resíduos sendo estes pressupostos testados respectivamente através dos testes de Breusch-Pagan-Godfrey, Breusch-Pagan e da estatística de Jarque-Bera, sendo considerado um nível de 5% para aceitação das hipóteses nulas destes testes. A Tabela 3 expõe os resultados destes testes para as variáveis dependentes.

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Tabela 3 - Resultados dos Testes de Heterocedasticidade, Autocorrelação e Normalidade de Resíduos

Equação

Heterocedasticidade

p-valor

Autocorrelação

p-valor

Normalidade de Resíduos

p-valor

Equação 6

Aceita Hipótese Nula

0.1604

Rejeita Hipótese Nula

0.0024

Rejeita Hipótese Nula

0.0000

Equação 7

Aceita Hipótese Nula

0.1719

Rejeita Hipótese Nula

0.0018

Rejeita Hipótese Nula

0.0000

Fonte: Dados da Pesquisa.

Como resultados, a hipótese nula para a ausência de heterocedasticidade foi aceita

para ambos os modelos de regressão, ao passo que as hipóteses nulas para a ausência de autocorrelação e de normalidade de resíduos foram rejeitadas, indicando a presença de autocorrelação e de uma distribuição de probabilidade não normal.

A partir destas constatações, tornou-se necessária a correção da autocorrelação para que os estimadores dos mínimos quadrados venham ser mais precisos. Os resultados foram estimados a partir do método dos Mínimos Quadrados Generalizados (MQG), que segundo Wooldridge (2011) consiste em uma das formas de corrigir a autocorrelação, sendo para tanto utilizada a matriz robusta de White.

No que diz respeito à normalidade de resíduos, Gujarati e Porter (2011) afirmam que a hipótese da normalidade é restrita para pequenas amostras, onde o número de observações é menor que 100. No mesmo sentido, Wooldridge (2011, pag. 158) aponta que mesmo sem a hipótese da normalidade, as estatísticas t e F têm distribuições "aproximadamente" t e F, pelo menos em amostras grandes.

Assim, tomando-se por base o teorema do limite central, pressupõe-se que grandes amostras tendam a apresentar uma distribuição normal. Dessa forma, para este trabalho, na estimação dos modelos de regressão foram utilizadas 162 observações, e devido a isto, a hipótese da normalidade de resíduos foi relaxada.

Posteriormente à análise dos pressupostos validadores dos modelos de regressão, foram estimadas novas regressões afim de decidir pelo modelo de dados em painel mais adequado para proceder a estimação dos coeficientes estatísticos.

Nesse sentido, foram realizados os testes de Chow e de Hausman considerando-se um nível de significância de 5% para estes testes. O primeiro consiste em detectar a ausência de falha estrutural, que segundo Gujarati e Porter (2011, p.266) ocorre quando "os valores dos parâmetros do modelo não se mantêm iguais durante todo o período de tempo", sendo a hipótese nula para este teste a aceitação de ausência de falha estrutural, o que pressupõe a utilização de dados em painel com dados empilhados (Pooled).

Como resultado do teste de Chow, a hipótese nula foi rejeitada para as regressões, indicando falha estrutural, o que implica na não consideração dos parâmetros das regressões como únicos, invalidando a utilização de dados em painel com dados empilhados (Pooled).

Dada a rejeição pelo painel com dados empilhados, procedeu-se o teste de Hausman (Tabela 4) para decidir entre dados em painel com efeitos fixos ou aleatórios. Segundo Gujarati e Porter (2011, p.600) a hipótese nula do teste de Hausman indica a utilização de dados em painel com efeitos aleatórios e que caso rejeitada, "a conclusão é de que o modelo de componentes de erro não é adequado, porque os efeitos aleatórios provavelmente estão correlacionados com um ou mais regressores".

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Tabela 4 - Resultados dos testes de Chow e Hausman

Equação Teste de Chow

p-valor Teste de Hausman

p-valor

Equação 6 Rejeita Hipótese

Nula 0

.0016 Rejeita Hipótese Nula

0.0008

Equação 7 Rejeita Hipótese

Nula 0

.0023 Rejeita Hipótese Nula

0.0016

Fonte: Dados da Pesquisa

Como resultados do teste de Hausman, os p-valores indicaram a rejeição da hipótese nula para ambas as equações, apontando o modelo de efeitos aleatórios como não adequado, ao demonstrar que os componentes de erro são correlacionados com um ou mais regressores, e em virtude disso, aceitou-se a hipótese alternativa de que o modelo de dados em painel de efeitos fixos é o adequado.

Sendo assim, este trabalho apresenta e analisa os resultados a partir da estimação de regressões com dados em painel de efeitos fixos, sendo esta estimação realizada através dos MQG, corrigindo a presença de autocorrelação através da matriz robusta de White.

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Após apresentados os procedimentos econométricos, nesta seção estão apresentadas as

os resultados observados a partir da estimação dos modelos de regressão apresentados na metodologia (equações 6 e 7), os quais estão dispostos na Tabela 5 abaixo.

Como resultados do primeiro modelo de regressão, exposto na equação 6, foi observado que o poder explicativo das variáveis independentes sobre a variável dependente através do coeficiente de determinação ( apontou um poder de explicação de 49.39%, das variáveis contábeis e de concentração da estrutura de propriedade sobre o preço das ações, sendo este percentual significativo a 1%, dado o p-valor da estatística F na ordem de 0.0000.

Já os resultados do modelo de regressão disposto na equação 7 apresentou um coeficiente de determinação ( bastante semelhante ao observado na equação 6, sendo este na ordem de 49.55%, apontando também que o conjunto de variáveis utilizado é significativo a um nível 1%, dada a observação de p-valor de 0.0000 para a estatística F.

Tabela 5 - Resultados das Regressões

Resultados - Equação 6

Variável Coeficiente

Estatística t

p-valor

Lpa -0.0058 -0.0406 0.

9676

Plpa 0.19 2.343 0.

0205

Concentração Acionária 0.0154 0.7104 0.

4786

Liquidez 1.6596 3.1137 0.

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0022

Cresc 0.1663 0.3942 0.

694

R2 0.4939

R2 Ajustado 0.4138

Estatística F (p-valor) 0.0000

Resultados - Equação 7

Variável Coeficiente

Estatística t

p-valor

Ebitdapa 0.0299 0.3589 0.

7202

Plpa 0.1875 2.3012 0.

0229

Concentração Acionária 0.0161 0.7661 0.

4449

Liquidez 1.6506 3.1368 0.

0021

Cresc 0.2078 0.4471 0.

6555

R2 0.4955

R2 Ajustado 0.4157

Estatística F (p-valor) 0.0000

Fonte: Dados da Pesquisa.

No que diz respeito a análise das variáveis independentes, os resultados da Tabela 5 são analisados abaixo:

LUCRO POR AÇÃO E EBITDA POR AÇÃO

Os resultados observados para estas variáveis sugerem indícios de que, com a caracterizada concentração da estrutura de propriedade no mercado de capitais brasileiro (Sarlo Neto et. al., 2010), as informações contábeis relativas ao Lucro e ao Ebitda podem não ser consideradas relevantes. Este resultado converge, em parte, com os resultados observados por Fan e Wong (2002), Bae e Jeong (2007) e Velury e Jenkins (2006).

O fato de as informações contábeis que mensuram a criação de benefícios econômicos não ter se mostrado significativa, demonstra que a concentração de propriedade no mercado brasileiro limita a relevância deste tipo de informação para a precificação das ações, podendo ser inferido que, em circunstâncias de concentração de propriedade, as informações divulgadas ao mercado são menos relevantes, apontando para a existência de um possível conflito de agência entre majoritários e minoritários, onde os primeiros, teóricamente, estariam influenciando a gestão à divulgar informações de menor qualidade ao mercado, de acordo com o exposto por Gallagher et. al. (2008) e Brockman e Yan (2009).

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CONCENTRAÇÃO ACIONÁRIA

A variável Concentração Acionária, não se mostrou significante em nenhuma das equações analisadas, não sendo possível verificar o efeito da concentração de propriedade sobre o preço das ações, o que sugere que o contexto de concentração de propriedade no mercado brasileiro (Sarlo Neto et. al., 2010) não se mostra significante para a precificação das ações analisadas. Tais resultados são bastante divergentes da literatura relacionada, como pode ser visto em Fan e Wong (2002), Bae e Jeong (2007) e Velury e Jenkins (2006) que apontam para observação de uma relação negativa entre a concentração acionária e o preço das ações.

PATRIMÔNIO LÍQUIDO POR AÇÃO

O Patrimônio Líquido por Ação se mostrou significativo a 5% e positivamente relacionada ao preço das ações em ambas as equações, dados coeficientes angulares de 0.1900 e 0.1875, respectivamente. Este resultado indica a relevância do patrimônio líquido na precificação de ações, convergindo com o observado por Bae e Jeong (2007) que informações sobre o patrimônio líquido se apresentam mais relevantes que informações sobre o lucro.

Adicionalmente, em uma análise conjunta das variáveis Lpa, Ebitidapa e Plpa, cabe citar os achados de Collins et. al. (1997) que observaram um decréscimo da relevância de informações sobre a geração de benefícios econômicos e um ganho de relevância de informações sobre o patrimônio líquido ao longo do tempo. Este estudo, considerando um contexto de concentração de propriedade, converge com esses achados.

LIQUIDEZ DAS AÇÕES

A variável Liquidez, confirmando a predição teórica de que a liquidez é positivamente relacionada ao preço das ações, se mostrou significante a 1% para ambas as equações, demonstrando coeficientes angulares de 1.6596 e 1.6506 respectivamente. Estes resultados indicam que em circunstâncias de concentração da estrutura de propriedade, a alta liquidez das ações em bolsa é mais relevante que informações contábeis relativas à geração de benefícios econômicos (Lpa e Ebitdapa), sugerindo que os investidores, em um contexto de concentração de propriedade (Sarlo Neto et. al., 2010) e de fraco ambiente de proteção legal aos investidores minoritários (Sonza e Kloencker, 2014), preferem ações de alta liquidez como forma de se proteger de possíveis expropriações por parte dos investidores majoritários.

OPORTUNIDADES DE CRESCIMENTO

A variável oportunidades de crescimento não se mostrou significativa em nenhuma das equações analisadas. Em divergência à predição teórica de que a relação entre as oportunidades de crescimento e o preço das ações seria positiva, verificou-se que em circunstâncias de concentração da estrutura de propriedade esta variável não possui poder explicativo sobre o preço das ações.

Tais resultados permitem inferir que empresas com boas oportunidades de crescimento tendem a possuir boas expectativas de geração futura de benefícios econômicos, o que deveria impactar positivamente no preço das ações, fato este não verificado empiricamente neste estudo, indo de encontro ao constatado por Sarlo Neto et. al. (2011) que observaram uma relação positiva das oportunidades de crescimento na informatividade dos lucros, o que teoricamente pressupõe uma maior relevância dos lucros no preço ou retorno das ações.

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Diante disso, o observado neste estudo sugere então que os investidores em um contexto de concentração de propriedade e de baixa proteção legal aos investidores, tendem a almejar ganhos de curto prazo, não atribuindo tanta importância para medidas que reflitam a expectativa de ganhos futuros, o que de determinada forma reforça a relevância de informações relativas ao patrimônio líquido e à liquidez.

6 CONCLUSÃO

Este trabalho teve por objetivo examinar a relevância da informação contábil em circunstâncias de concentração de propriedade, tendo em vista que a contabilidade consiste em uma das ferramentas utilizadas pelos investidores para precificação das ações.

A condução metodológica deste trabalho, deu-se por meio da realização da análise de regressão múltipla com dados em painel de efeitos fixos, onde foram analisadas dezoito (18) companhias abertas listadas na BM&FBovespa que negociaram ações ininterruptamente no período que compreende os anos de 2005 a 2013, totalizando 162 observações, sendo a coleta realizada através da base de dados Economática®, de onde foram extraídos os dados contábeis-financeiros anuais e da composição da estrutura de propriedade.

Para tanto, foi utilizada a modelagem de Collins et. al. (1997) que relaciona o preço das ações às informações contábeis de forma adaptada às variáveis representativas da concentração da estrutura de propriedade

Como resultados observou-se que em circunstâncias de concentração da estrututra de propriedade, apenas as variáveis Patrimônio Líquido por Ação e Liquidez das Ações se apresentaram significantes e positivamente relacionadas ao preço das açoes em um nível de significância de 5% e 1%, respectivamente.

Por outro lado as variáveis representativas da geração de benefícios econômicos como o Lucro por Ação e Ebitda por Ação, bem como a Concentração Acionária e Crescimento não se mostraram significativas, implicando dizer que no caracterizado contexto de concentração de estrutura de propriedade e de fraca proteção legal aos investidores minoritários como é o mercado brasileiro (Sarlo Neto et. al., 2010; Sonza e Kloencker, 2014), estas variáveis não podem ser consideradas relevantes para a precificação das ações.

Diante desses resultados, é possível concluir que das informações contábeis utilizadas de acordo com a modelagem de Collins et. al. (1997) apenas as informações relativas ao Patrimônio Líquido podem ser consideradas relevantes para a determinação do preço das ações, ao passo que o Lucro e o Ebitda não podem ser consideradas relevantes. No que concerne às demais variáveis introduzidas no modelo, apenas a Liquidez das Ações se apresenta relevante, indicando que os investidores, em função dos possíveis problemas de agência derivados da concentração de propriedade, tendem a se proteger através da negociação com ações de alta liquidez.

Como direcionamentos para pesquisas futuras, sugere-se a análise da presença de diferentes tipos de Blockholers na estrutura de propriedade, a exemplo do governo, investidores estrangeiros, familiares e institucionais, afim de compreender qual a influência destes investidores em bloco na relevância da informação contábil utilizada na determinação do preço das ações das companhias listadas na BM&FBovespa.

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15. EXISTE DIFERENÇA NO RISCO SISTEMÁTICO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E NÃO FINANCEIRAS? QUAIS OS SEUS DETERMINANTES?

Autores: Raquel Souza, Ricardo Medeiros, Joséte Florencio dos Santos e Rodrigo Vicente dos Prazeres Resumo

O objetivo primário deste trabalho foi o de verificar se existe diferença no risco sistemático das empresas financeiras e não financeiras, e concluir se de fato as diferentes características destes dois grupos impossibilita uma análise conjunta do risco e de seus determinantes. Buscou-se também avaliar quais os possíveis fatores determinantes do risco sistemático destes dois grupos, assumindo como premissa para esta pesquisa que as variáveis acima citadas são determinantes do risco sistemático das empresas financeiras e não financeiras. Para tanto utilizou-se a análise de médias e a análise de regressão múltipla com dados em painel de efeitos aleatórios para o período que compreende os anos de 2006 a 2013, sendo para tanto relacionadas variáveis características das empresas e do ambiente macroeconômico. Como resultados ficou evidenciada a diferença entre o risco sistemático das instituições financeiras e não financeiras, e no que tange à análise das variáveis, para as empresas financeiras a liquidez corrente se mostrou negativamente relacionada ao risco sistemático ao passo que a variável tamanho se apresentou positivamente relacionada. Para as empresas não financeiras, observou-se uma relação positiva da liquidez corrente e do endividamento para com o risco sistemático, ao passo que o tamanho se mostrou negativamente relacionado. Já as variáveis macroeconômicas, apenas a taxa básica de juros se mostrou positivamente relacionada para com o risco sistemático das instituições financeiras, ao passo que apenas a inflação se mostrou negativamente relacionada ao risco sistemático das instituições não financeiras.

Palavras-Chave: Risco Sistemático. Empresas Não Financeira. Empresas Financeiras.

1. INTRODUÇÃO

O conjunto das instituições que integram os segmentos do Sistema Financeiro Nacional é tema recorrente na literatura financeira, por envolver interesses de diversos agentes econômicos tanto em um contexto micro quanto macroeconômico. Assaf Neto (2007) relata que as Instituições financeiras, em geral, possuem especificidades e características próprias que as diferenciam das demais, exigindo critérios específicos que considerem suas peculiaridades.

Esse diferencial entre instituições financeiras e não financeiras é latente na literatura acadêmica dado que uma considerável parte das pesquisas realizadas na área de contabilidade e finanças excluem as instituições financeiras de suas análises, a exemplo dos estudos de Cooper, Jackson e Patterson (2003), Urzúa I (2009), Lel (2012) e Kreuzberg et al. (2014), os quais apresentam a justificativa de que as instituições financeiras possuem características que as distinguem das demais organizações (ADAMS; MEHRAN, 2003; LEVINE, 2004).

Dentre as características observadas na literatura, o risco sistemático é apontado como uma das variáveis que possibilitam a observação da diferenciação entre empresas financeiras e não financeiras, posto que segundo Bowman (1979) e Amorin et al. (2012) esta variável

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relaciona-se tanto com as características internas das empresas quanto com características do ambiente macroeconômico.

O conhecimento dos fatores que o determinam o risco sistemático é tema central na teoria de finanças, posto que eventuais análises de retorno para ativos para a composição de portfólios, depende fundamentalmente possíveis fatores de determinação do risco.

Assim, variáveis econômico-financeiras representativas das características empresariais e macroeconômicas podem ser utilizadas como possíveis fatores capazes de explicar o nível de risco dos ativos. Com base em estudos anteriores, foram identificadas as seguintes variáveis: Liquidez Corrente, Alavancagem Financeira, Tamanho, Rentabilidade, Nível de Governança Corporativa, PIB, Taxa de Juros, Taxa de Câmbio e Inflação.

O objetivo primário deste trabalho é o de verificar se existe diferença no risco sistemático das empresas financeiras e não financeiras, e concluir se de fato as diferentes características destes dois grupos impossibilita uma análise conjunta do risco e de seus determinantes.

Adicionalmente, buscou-se também avaliar quais os possíveis fatores determinantes do risco sistemático destes dois grupos de empresas, assumindo como premissa subjacente desta pesquisa que as variáveis acima citadas são determinantes do risco sistemático das empresas financeiras e não financeiras.

Diante disso, o presente trabalho apresenta a seguinte questão de pesquisa: Há diferença entre as empresas brasileiras financeiras e as não financeiras no tocante ao seu risco sistemático? Quais os seus determinantes?

A relevância desse trabalho reside na verificação empírica da uma possível diferença do risco sistemático entre as empresas financeiras e não financeiras, bem como nos possíveis fatores aos quais o risco sistemático dos grupos em questão é sensível. Assim, com os resultados desta pesquisa busca-se contribuir para uma melhor compreensão sobre possíveis variações do risco para a construção e manutenção de portifólios diante do conhecimento de seus fatores determinantes.

Após esta introdução, o presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: o referencial teórico subdividido em tópicos relativos às instituições financeiras e às características empresariais e macroeconômicas determinantes do risco sistemático. Na sequência é apresentada a metodolodia de pesquisa que descreve a estratégia utilizada na condução da pesquisa. A quarta seção refere-se à apresentação e análise dos resultados. Por fim, encerra-se com a conclusão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

O Sistema Financeiro Nacional é composto por um conjunto de instituições financeiras que têm como função manter o fluxo de recursos entre poupadores e tomadores, constituindo assim o mercado financeiro. O mesmo é disciplinado pela Lei n° 4.595/64, Lei da Reforma Bancária, que apesar das modificações promovidas, o arcabouço geral continua o mesmo.

A Lei n° 4.595/1964 define as instituições financeiras como “as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenha como atividade principal ou acessória, a coleta, intermediação

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ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros”. (NEWLANDS JUNIOR, 2007). O artigo 18 da referida lei fundamenta que as instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante prévia autorização do Banco Central do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangeiras.

Todas as instituições financeiras são supervisionadas pelo Banco Central e seguem regras robustas de governança, inclusive com responsabilização de diretores (MEIRELLES, 2010). Isso acontece porque se o sistema financeiro parar de funcionar, o custo em termos de bem-estar social pode ser substancial, dado que o setor bancário consiste em um agente intermediador nas operações financeiras, fazendo com que a circulação da riqueza seja operada entre os diversos segmentos da economia. O sistema financeiro tem especificidades operacionais que o diferenciam dos demais setores e está sujeito especialmente aos riscos de crédito, de mercado e de liquidez. Além desses, de forma generalizada, há o risco sistêmico que afeta indistintamente todas instituições financeiras. (CAPELLETTO, MERTINS; CORRAR, 2008).

As características que diferem as Instituições financeiras das demais empresas é esclarecida por Lundberg (1999) como sendo, empresas que trabalham com uma mercadoria singular: dinheiro, e a credibilidade necessária para a existência destas. Evidentemente, todas as empresas precisam de algum grau de credibilidade junto aos seus clientes e fornecedores para operar. Entretanto, para as instituições financeiras, este atributo é essencial. Ninguém confia seu dinheiro a um banco se não houver a segurança de que ele será devolvido nas condições pactuadas.

Além desse fato Lundberg (1999) esclarece que outros fatores justificam a regulamentação governamental, a liquidez e solvência das instituições financeiras é básica para a confiança do público e tem sido historicamente umas das motivações básicas da regulação; a liberdade de ingresso de novas firmas no mercado não é desejável, pois a natureza fiduciária dos ativos financeiros permite oportunidades de fraude e especulação por parte de intermediários financeiros não regulados.

2.2 RISCO SISTEMÁTICO E NÃO SISTEMÁTICO

Os ativos são expostos ao risco total, que é definido pelo somatório do risco sistemático (não diversificável) e o não sistemático (diversificável). Segundo Ross et al. (2002) e Assaf Neto (2007), o risco sistemático é inerente a todos os ativos negociados no mercado, sendo determinado por eventos de natureza política, econômica e social Já o não sistemático é identificado nas características do próprio ativo, e é a parcela do risco que depende apenas da empresa.

O risco não sistemático pode ser total ou parcialmente eliminado pela diversificação da carteira (ASSAF NETO, 2005; DAMODARAN, 2005). Isso é possível atualmente, devido a contribuição de Markowitz (1952), que propôs a teoria de carteiras, mostrando como um investidor poderia reduzir o seu risco através da diversificação de seus investimentos, ou seja, a união de dois ou mais ativos financeiros que não fossem fortemente correlacionados ou apresentassem uma correlação negativa entre eles. O risco sistemático não é passível de redução através da diversificação.

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Já o risco sistemático não pode ser eliminado por meio da diversificação, mas pode ser mensurado através de um dos modelos mais utilizados nas finanças modernas, o Capital Assets Pricing Model (CAPM), desenvolvido Sharpe (1964), Lintner (1965) e Mossin (1966) (BREALEY et al., 2008; FIORDELISI; MARQUÉS-IBAÑEZ, 2013). A medida do risco sistemático é dada por um coeficiente chamado Beta, definido por Gitman (2004) e Brealey et al, (2008) como sendo um indicador que mede a sensibilidade de um ativo a variações da carteira de mercado e esta carteira apresenta um coeficiente beta igual a 1.O coeficiente beta de um ativo pode ser encontrado examinando-se os retornos históricos dos ativos, relativos aos retornos de mercado, indica o "incremento necessário no retorno de um ativo de forma a remunerar adequadamente seu risco sistemático" (ASSAF NETO, 2008, p. 230). Conforme Wang, Liu e Liu (2013), o beta não é diretamente observado, sendo a estimação de regressões lineares a forma tradicional de contornar esse problema, normalmente baseando-se em dados passados de 5 anos em relação a data mensal.

A medida de risco conhecida como beta (β) pode ser descrito através da seguinte equação:

3)

Onde:

βa = Beta

ra = Retorno do Ativo

rm = Retorno do Portfólio (Também pode ser usado como rm = Retorno do Mercado)

Se o valor do beta for, ß=1, significa que o ativo possui os mesmos níveis de rentabilidade do mercado (ou seja se o mercado apresenta uma oscilação de 10%, as cotações do ativo também oscilam 10%). Se o valor encontrado for, ß >1, o ativo possui oscilações superiores ao do mercado e caso o valor seja, ß <1, o ativo possui oscilações inferiores a do mercado.

2.2 CARACTERÍSTICAS EMPRESARIAIS DETERMINANTES DO RISCO SISTEMATICO

2.2.1 LIQUIDEZ

A Liquidez é definida como a razão entre os direitos correntes e as obrigações da empresa e é utilizada como uma medida de observação da capacidade de pagamento das empresas no curto prazo (DING, GUARIGLIA, KNIGHT, 2012).

Conforme Baños-Caballero, Garcíal-Teruel e Martínez-Solano (2013) o alto nível de liquidez permite que as empresas incrementem as vendas e obtenham descontos em pagamentos antecipados, mas por outro lado, um alto nível de liquidez requer um aumento nas despesas de financiamento, aumentando os custos de falência.

Para esta variável, Deloof (2003) e Kieschnick, LaPlante e Moussawi (2011) apresentam perspectivas opostas, em que o primeiro observou que a liquidez ajuda contribuindo para uma maior capacidade de pagamento, reduzindo o risco das organizações.

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Já o segundo identificou que o aumento da liquidez aumentaria o risco, dado que uma maior liquidez demandaria maiores despesas de financiamento, resultando em maiores custos de falência.

Para este estudo, foi adotado o posicionamento de que a liquidez é negativamente associada ao risco, ou seja, que quanto maior a liquidez de um empreendimento, menor será o seu risco sistemático.

2.2.2 ALAVANCAGEM FINANCEIRA

As decisões de endividamento são consideradas das mais importantes a ser tomads pelos executivos das empresa (CORICELLI et al., 2012) e tem sido foco de discursão desde Durand (2952) e Modigliani e Miller (1958), que apresentam a teoria clássica e a teoria da irrelevância do endividamento para a geração de valor de uma empresa, bem como suas possíveis relações com o risco.

Para esta variável, espera-se que seja positivamente relacionada ao risco, dada a observação dos resultados obtidos por Beaver (1966), Hamada (1971), Marston e Perry (1996) e Faff, Brooks e Kee (2002) que apontam para uma associação positiva entre o endividamento e o risco, evidenciando que um alto nível de endividamento gera aumentos no risco das organizações. Adicionalmente, é aceito, de acordo com os princípios da teoria financeira, que o endividamento também aumenta o risco enfrentado pelos acionistas (KARMA, SANDER, 2006).

2.2.3 RENTABILIDADE

Quando as empresas são lucrativas, elas aumentam seu fluxo de caixa livre, além de diminuir o custo de falência da empresa, as empresas mais lucrativas têm melhor capacidade para honrarem os seus compromissos (ALMEIDA, 2014), reduzindo o risco da empresa.

A pesquisa realizada por Ball e Brown (1969) identificou uma relação negativa entre o risco sistemático e a rentabilidade, concluindo que um pouco mais de um terço do beta poderia ser explicada pela rentabilidade expressa nos registros contábeis. Entretanto, Saghi-Zedek e Tarazi (2014), explica que há divergência entre a rentabilidade e o seu efeito no comportamento dos acionistas e mais precisamente no risco em tempo sem crises.

Assim, para esta variável, espera-se que seja negativamente relacionada ao risco, dado que empresas mais rentáveis possuem menores custos de falência.

2.2.4 TAMANHO

Acredita-se que empresas maiores possuam maiores probabilidade de alcançar uma

economia de escala e com isso serem mais diversificadas, o que resultaria em uma menor volatilidade de seus lucros e consequentemente em um menor risco do empreendimento (JONGHE, DIEPSTRATEN, SCHEPENS, 2015). Além do mais, Baek e Bilson (2014) afirmam que o tamanho é uma importante proxy dos retornos financeiros da empresa, e que não há diferenças significantes entre empresas financeiras e não financeiras.

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De acordo com Barber e Lyon (1997), DeLong (2001) e Laeven e Levine (2007) o tamanho de instituições financeiras e não financeiras estão inversamente relacionada com o risco. Entretanto, após a crise de 2007-09 identificou-se um ponto negativo em relação tamanho e diversificação de instituições financeiras, o que vem causando problemas para pesquisadores em identificar o parâmetro mais adequado para mensuração do tamanho deste tipo de instituição (JONGHE, DIEPSTRATEN, SCHEPENS, 2015).

2.2.5 NÍVEL DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) define governança corporativa como sendo o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas. A sua boa prática converte os princípios em recomendações objetivas, preservando e otimizando o valor da empresa, e possui como princípios básicos a transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.

As empresas com governança corporativa mais ativas possuem uma maior resistência a crises, que consequentemente reduz o risco da empresa (AEBI, SABATO e SCHIMID, 2012), além disso, a pesquisa feita por Juriporn (2015), encontrou que empresas com uma governança mais efetiva possui um menor grau de risco.

Lameira e Ness (2011) corroboram, pois constataram que indicadores de risco estão relacionados com a qualidade da Governança corporativa. Já Gupta, Krishnamurti e Tourani-Rad (2013) não encontraram resultados significativos entre a governança e o risco, apresentando resultado diferente dos anteriores.

2.3 VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS DETERMINANTES DO RISCO SISTEMÁTICO

Vários trabalhos apresentam a relação entre o preço dos ativos e as variáveis Macroeconômicas, mostrando que há uma associação entre estas variáveis e o retorno de um investimento como por exemplo as pesquisas de Nelson (1976), Darrat & Mukherjee (1986), Naka et al. (1998), Know & Shin (1999), Nunes et al. (2002), Grôppo (2004) e Callado et al. (2010) sendo os três últimos referente ao mercado brasileiro.

2.3.1 TAXA DE JUROS

Para esta variável, espera-se que quanto maior a Taxa de Juros maior será o risco das organizações. Esta predição baseia-se nos achados de Darrat e Mukherjee (1986), Achsani e Strohe (2002) que ao associar o retorno acionário e as taxas de juros (curto e longo prazo) observaram uma relação negativa, indicando que um aumento na taxa de juros de longo prazo implica em um aumento na taxa de desconto utilizada na avaliação das ações assim um aumento no risco das organizações.

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2.3.2 INFLAÇÃO

Para a variável inflação, espera-se observar uma relação positiva para com o risco das organizações. De acordo com Geske e Roll (1983), Darrat e Mukherjee (1986) e Naka et al. (1998), os retornos acionários em um ambiente de alta inflação são menores, o que leva a uma maior expectativa mínima de retorno exigida pelos investidores, gerando como consequência um maior risco na avaliação das organizações.

2.3.3 TAXA DE CÂMBIO

Espera-se que quanto maior a taxa de cambio maior será seu beta, dado que alterações na taxa de câmbio podem afetar os preços das ações em qualquer direção e consequentemente afetar o seu risco e retorno (GOSWAMI; JUNG, 1997).

2.4.4 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)

O aumento do PIB proporciona um acréscimo no valor adicionado de bens e serviços realizados pelas empresas indicando um possível aumento dos lucros e do preços das ações, (ROGERS, RIBEIRO e SECURATO, 2006).

Por outro lado, Caselani e Edi Jr (2008) apontam que a redução do PIB tende a desencadear maior volatilidade no mercado de ações, gerando assim maior insegurança no que diz respeito ao risco das organizações.

Diante disso, espera-se que esta variável apresente uma relação negativa para com o risco sistemático das organizações.

3. METODOLOGIA

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Esta pesquisa é de cunho quantitativo, posto que seu principal objetivo é o de verificar se existe diferença estatisticamente significante entre o risco sistemático das instituições financeiras e não financeiras.

Em adição a isso, foram verificados também através de procedimentos econométricos qual a relação entre as características das empresas e as variáveis macroeconômicas na determinação de um maior ou menor grau de risco sistemático.

Todos os procedimentos quantitativos levaram em conta observações anuais para o período que compreende os anos de 2006 a 2013.

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3.2 AMOSTRA DO ESTUDO E COLETA DE DADOS.

A amostra do estudo foi composta por dois grupos. O primeiro foi formado pelas empresas que pertencem ao Índice IBRX 100 que é composto pelas 100 (cem) ações mais líquidas da BM&FBovespa. Selecionou-se para cada empresa apenas as que possuíam três ou mais observações do beta de risco, sendo eliminadas 11 (onze) empresas. Além disso, foram excluídas deste grupo todas as empresas pertencentes ao setor financeiro (10 ao total).

Após estes procedimentos, o número de empresas do primeiro grupo ficou reduzido a 78 (setenta e oito) empresas, totalizando 519 observações para o período analisado.

O segundo grupo consistiu de todas as 35 empresas financeiras listadas na BM&FBovespa. Deste total, foram excluídas 18 (dezoito) empresas que apresentavam menos que duas observações referente ao beta, o que fez com que fossem analisadas apenas 17 (dezessete) empresas, totalizando 104 observações.

Já a coleta de dados foi procedida junto a base de dados Economática® no que diz respeito aos dados referentes às variáveis financeiras das empresas. Os relativos às variáveis macroeconômicas foram extraídos no site do Banco Central do Brasil (BACEN) onde encontram-se todas as séries históricas dos indicadores macroeconômicos do Brasil. Por fim, as informações referentes ao nível de governança corporativa foram coletados diretamente no sítio eletrônico da BM&FBovespa.

3.3 APRESENTAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Como variável dependente, utilizou-se o risco sistemático da ação de uma empresa calculado por meio do coeficiente Beta (β), conforme discutido no referencial teórico. Os dados relativos a essa variável foram coletados diretamente do software Economática®, o qual apresenta os Betas calculados de acordo com os dados históricos mensais dos últimos cinco anos.

Como variáveis independentes, foram selecionadas nove variáveis como possíveis fatores explicativos do risco sistemático, de acordo com os determinantes citados na seção do referencial teórico, sendo cinco variáveis representativas das características empresariais e quatro representativas das características do ambiente macroeconômico. Abaixo a Tabela 1 apresenta estas variáveis, bem como os parâmetros utilizados em sua mensuração.

Tabela 1: Variáveis da Pesquisa

Sigla

Descrição Operacionalização

LC Liquidez Corrente Ativo Circulante / Passivo

Circulante

Alav. Fin.

Grau de Endividamento Passivo Circulante + Exigível LP /

Ativo Total

Rent

Rentabilidade Lucro Líquido / Patrimônio

Líquido

Lo Tamanho da Empresa Logaritmo do Valor de Mercado

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gVM na Base 10

N1/N2/NM

Níveis de Governança Corporativa da Empresa

Dummies – 0 (Zero) para as empresas não inseridas no índice de GC e

1(Um) para as inseridas

SELIC

Taxa de Juros Utilizada para a Emissão de Titulos do Governo

Taxa média praticada durante o ano

Infl-IGPM

Índice Geral de Preços do Mercado 0,6 x IPA + 0,3 x IPC + 0,1 x

INCC

TXC

Relação entre o Dollar Americano e o Real

Valor em Real necessário para comprar um Dolar US$

PIB

Produto Interno Bruto Soma de toda a produção Nacional

Fonte: Elaborado pelos autores (2015).

Após apresentadas as variáveis com as respectivas nomenclaturas e parâmetros utilizados para suas mensurações, a Tabela 2 abaixo apresenta para as variáveis de pesquisa, as relações teóricas esperadas para com o risco sistemático das empresas que compõem a análise deste estudo.

Tabela 2 - Relações Esperadas

Variáveis Relação

Esperada Referências

Liquidez Negativa Kieschnick, LaPlante e Moussawi (2011); Baños-

Caballero, Garcíal-Teruel e Martínez-Solano (2013)

Alavancagem Financeira Positiva

Beaver (1966); Hamada (1971); Karma e Sander (2006)

Rentabilidade Negativa Ball e Brown (1969); Saghi-Zedek e Tarazi (2014)

Tamanho Negativa Laeven e Levine (2007); Jonghe, Diepstraten e

Schepens (2015)

Nível de Governança Corporativa Negativa

Aebi, Sabato e Schimid (2012); Juriporn (2015)

Taxa de Juros Positiva Darrat e Mukherjee (1986); Achsani e Strohe (2002)

Inflação Positiva Geske e Roll (1983); Darrat e Mukherjee (1986);

Naka et al. (1998)

Taxa de Câmbio Positiva Caselani e Edi Jr (2008)

Produto Interno Bruto (PIB) Positiva Campbell et al. (2001); Caselani e Edi Jr. (2008)

Fonte: Elaborado pelos Autores (2015).

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3.4 PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS E ECONOMÉTRICOS

Para a realização da pesquisa foram levantadas as relações esperadas entre as variáveis independentes e o risco sistemático. Posteriormente, foi realizado o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para a variável dependente risco sistemático ( ), e em seguida utilizou-se o teste paramétrico "t" de Student para médias de amostras independentes, buscando a comparação entre os grupos de instituições financeiras e não financeiras dado o propósito deste estudp de verificar se há diferença entre o risco sistemático para estes grupos.

Por fim, buscou-se analisar as relações entre as variáveis identificadas na literatura e o risco sistemático através da técnica de análise de regressão múltipla com dados em painel. A escolha pela utilização dessa técnica deu-se pela possibilidade de combinação de séries temporais com cortes transversais, sendo para tanto utilizado o software Stata 12®.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para a realização dos testes de hipóteses foi necessário inicialmente verificar se os dados referentes a variável dependente Beta (β) obedenciam ao pressuposto da normalidade, sendo para tanto realizado o teste de Shapiro-Wilk, o qual apresenta como hipótese nula a normalidade de resíduos.

A Tabela 3 abaixo expõe o resultado obtido com o teste de Shapiro-Wilk para a variável dependente Beta (β):

Tabela 3: Teste Shapito-Wilk de Normalidade

Variável OBS Estatística z p-valor

BETA 96 -0,418 0,66194

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Como é possível visualizar na Tabela 3, verifica-se a confirmação da hipótese nula, ou seja, a variável dependente ( ) apresenta uma distribuição normal, posto que o p-valor observado foi na ordem de 0,66194.

Diante da aceitação da hipótese nula em que a distribuição dos dados se mostrou normal, foi possível a realização do teste paramétrico "t" de student, afim de verificar se existe diferença entre o risco sistemático das instituições financeiras e das instituições não financeiras, onde a hipótese nula é a de que não existe diferença entre o risco sistemático das instituições financeiras e não financeiras.

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O resultado do teste "t" de Student é apresentado abaixo na Tabela4.

Tabela 4 Teste T de Student

Teste p-valor Hipótese Nula

"t" de Student 0,0236 Rejeita

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Como resultado do teste "t" de student (Tabela 4) ficou evidenciado para o conjunto de dados analisados que existe diferença entre as instituições financeiras e não financeiras no que tange ao seu risco sistemático (β), dada a rejeição da hipótese nula diante da observação do p-valor de 0,0236.

Nesse sentido, aceita-se a hipótese alternativa de que existe diferença entre os grupos, o que ratifica a exclusão das instituições financeiras ou a análise em separado, conforme os trabalhos de Cooper, Jackson e Patterson (2003), Urzúa I (2009), Lel (2012), Correa et al. (2012) e Kreuzberg et al. (2014).

Após a verificação da diferença do risco sistemático entre as instituições financeiras e não financeiras, buscou-se identificar o modelo de regressão com dados em painel mais adequado para relacionar as características empresariais e do ambiente macroeconômico ao risco sistemático das insituições financeiras e não fianceiras.

Para tanto foi realizado inicialmente o teste de Breusch-Pagan que permitiu verificar que o modelo dados em painel com efeitos aleatórios é o mais adequado, dada a observação do p-valor na ordem de 0,000 (Tabela 5), rejeitando assim a hipótese nula de utilização de dados em painel empilhados (pooled).

Já para o conjunto de dados de instituições financeiras o teste de Breusch-Pagan não rejeitou a hipótese nula, apresentando um p-valor de 1,000 (Tabela 5), indicando a possibilidade de utilização de dados em painel empilhados (pooled).

Tabela 5: Breusch-Pagan Teste de Efeito Aleatório e Wooldridge de Autocerrelação.

Empresas Não Financeiras Empreas Financeiras

Testes p-valor Hipótese

Nula p-valor

Hipótese Nula

Breusch-Pagan

0,0000 Rejeita 1,0000 Não rejeita

Wooldridge 0,2403 Não

rejeita 0,5341 Não rejeita

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Posteriormente a verificação dos modelos de dados em painel, procedeu-se à realização do teste de Wooldridge afim de verificar a existência de auto correlação entre as variáveis.

O teste apontou para a não rejeição da hipótese nula de que há auto correlação de primeiro grau entre as variáveis para os dois grupos da amostra, dados os p-valores de 0,2403

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e 0,5341(Tabela 5), respectivamente para empresas financeiras e não financeiras. Assim, as regressões não possuem efeitos de auto correlação, sendo a satisfação desse pressupoto um dos requesitos para a utilização de dados em painel de efeitos aleatórios.

Após a identificação do modelo de dados em painel de efeitos aleatórios como adequado, a Tabela 6 abaixo apresenta os resultados obtidos para os possíveis determinantes do risco sismetárico para as empresas financeiras e não financeiras.

Os resultados indicaram que o modelo se apresenta estatisticamente significante a 1% para ambas regressões dada a observação das estatísticas F de 0.0000.

Já no que diz respeito ao poder explicativo do conjunto de variáveis independentes sobre a variável dependente, mensurado através do coeficiente de determinação ( ), observou-se um baixo poder de explicação para ambos os modelos de regressão, dada a observação dos coeficientes de determinação na ordem de 0,2249 e 0,1060 concernente as financeiras e empresas não financeiras respectivamente.

A seguir, são apresentadas as análises para cada variável contemplada no estudo com base nos resultados da Tabela 6. Também são apresentadas comparações com outros estudos, na tentativa de contribuir para um melhor posicionamento de acordo com outros achados de estudos anteriores.

Tabela 6: Regressão com dados em Painel

Empresas Financeiras

Variável Coeficiente Estatística t p-valor

LC -0,0371 -2,41 0,018

LogVM 0,1807 2,57 0,012

Rent 0,0042 0,49 0,625

GE -0,0065 -1,40 0,164

PIB 0,0074 0,18 0,861

SELIC 0,0358 1,69 0,095

TXC 0,0772 0,29 0,771

IGPM 0,0036 0,31 0,760

N2 0,028 0,17 0,863

NM 0,034 0,22 0,826

R2 0,2249

Estatística F (p-valor) 0,0000

Empresas Não Financeiras

Variável Coeficiente Estatística z p-valor

LC 0,0358 4,00 0,000

LogVM -0,3470 -3,32 0,001

Rent -0,0013 -0,75 0,454

GE 0,0050 1,66 0,097

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PIB -0,0120 -0,54 0,592

SELIC 0,0089 0,61 0,541

TXC 0,0101 0,06 0,954

IGPM -0,0224 -2,77 0,006

N1 0,0396 0,32 0,747

N2 -0,1520 -0,88 0,381

NM -0,0044 -0,05 0,964

R2 0,1060

Estatística F (p-valor) 0,0000

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

A variável liquidez corrente refuta a hipótese levantada para o grupo de empresas não financeiras, pois a liquidez apresentou uma relação positiva com o risco sistemático dado um coeficiente angular de 0,0358, ou seja, a medida que a liquidez cresce o risco sistemático vai na mesma direção. O trabalho de Kieschnick, LaPlante e Moussawi (2011) identificou que o aumento da liquidez também aumenta o custo de falência, por consequência, também aumentaria o risco, podendo ser uma explicação para o resultado encontrado.

Diferentemente do resultado das empresas não financeiras da amostra, as empresas financeiras apresentaram um resultado contrário para a variável liquidez, confirmando a hipótese levantada, pois o aumento da liquidez causa a diminuição do risco sistemático, mesmo que o impacto seja pequeno, porque em média a cada unidade de aumento da variável liquidez o risco sistemático sofre uma diminuição de 0,03713.

Já a variável tamanho confirma a hipótese para as empresas não financeiras, demostrando que quanto maior a empresa menor será o seu risco sistemático, o impacto da variável sobre o risco sistemático foi de 0,3471, conforme as pesquisas de Barber e Lyon (1997), DeLong (2001) e Laeven e Levine (2007) que evidenciaram essa mesma relação.

Já para as empresas financeiras, essa relação não se evidenciou, pois a hipótese de que quanto maior o tamanho de mercado da empresa menor seria o risco sistemático foi refutada, e a sua variação foi de 0,1808 sobre o risco. Esse fato pode se fundamentar na pesquisa de Jonghe, Diespstraten e Schepens (2015) que identificaram que a partir da crise de 2007-09 os pesquisadores estão enfrentando dificuldades na identificação do tamanho mais adequado para essas instituições. Portanto isso pode ser um indicio de que não necessariamente o aumento da empresa provoque a diminuição do seu risco sistemático, pois os autores identificaram um ponto negativo em relação ao tamanho e diversificação de instituições financeiras.

A variável grau de endividamento se mostrou significativa a 10% para as instituições não financeiras apenas e sua relação com o risco sistemático foi positiva, confirmando a hipótese levantada de que quanto maior o endividamento maior o risco, apesar do baixo impacto evidenciado com o coeficiente angular de 0,0050.

No que tange às variáveis macroeconômicas, a única que se mostrou significativa para as empresas não financeiras foi a inflação, que ao contrário do esperado apresentou uma relação negativa indicando que o aumento da inflação causaria uma diminuição do risco sistemático. Este resultado é divergente do observado por Geske e Roll (1983), Darrat e Mukherjee (1986) e Naka et al. (1998).

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Já no que diz respeito às empresas financeiras, apenas a variável macroeconômica SELIC se mostrou significativa a 10% e positivamente relacionada com o risco sistemático dada a observação de um coeficiente angular na ordem de 0,0358. Tal resultado confirma a hipótese da pesquisa de que maior será o risco sistemático à medida que a taxa básica de juros da economia cresça. Esse resultado corrobora com os estudos de Darrat e Mukherjee (1986), Achsani e Strohe (2002) que também observaram uma relação positiva entre a taxa básica de juros da economia e o risco sistemático.

As demais variáveis contempladas na pesquisa não se mostraram significativas. A Tabela 7 apresenta de forma resumida as relações esperadas em comparação as relações observadas pela pesquisa para as variáveis que se mostraram significativas nos modelos de regressão estimados.

Tabela 7: Relação entre as variáveis significativas estatisticamente e o risco

Variável Regressão (Abrev.)

Não financeiras

Financeiras

Liquidez Liq Positivo Negativa

Tamanho da Empresa Logvm Negativa Positivo

Grau de endividamento GE Positivo Não sig.

Taxa de Inflação IGPM Negativa Não sig.

Taxa SELIC SELIC Não sig. Positiva

Fonte: Elaborado pelos autores (2015).

5. CONCLUSÃO

Este trabalho buscou verificar empiricamente se há diferença entre as empresas brasileiras financeiras e as não financeiras no tocante a seu risco sistemático, bem como em analisar as possíveis características empresariais e macroeconômicas que o determinam.

De fato, é possível concluir em favor da diferenciação do risco sistemático entre empresas financeiras e não financeiras, fato esse que converge com as pesquisas que excluem da sua amostra as empresas financeiras como Urzúa I (2009), Lel (2012), Kreuzberg et al. (2014).

Para que esta pesquisa fosse realizada, foi utilizada a análise de regressão múltipla com dados em painel de efeitos aleatórios, no período que compreende os anos de 2006 a 2013, sendo para tanto relacionadas variáveis características das empresas e do ambiente macroeconômico afim de se conhecer quais seriam os possíveis determinantes do risco sistemático das empresas financeiras e não financeiras.

Como resultados observou-se que para as empresas financeiras que a liquidez corrente se mostrou negativamente relacionada ao risco sistemático ao passo que a variável tamanho se apresentou positivamente relacionada ao risco.

Para as empresas não financeiras, observou-se uma relação positiva entre a liquidez corrente e o grau de endividamento para com o risco sistemático, ao passo que o tamanho se mostrou negativamente relacionado.

Já no que tange às variáveis macroeconômicas, apenas a taxa básica de juros se mostrou positivamente relacionada para com o risco sistemático das instituições financeiras,

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ao passo que apenas a inflação se mostrou negativamente relacionada ao risco sistemático das instituições não financeiras.

Em suma, este trabalho buscou alimentar o debate sobre a diferenciação entre instituições financeiras e não financeiras, verificando empiricamente que existe diferença no que diz respeito ao risco sistemático destes dois grupos, bem como nas variáveis características internas das empresas e do ambiente macroeconômico que o determinam.

Como limitações encontradas para esta pesquisa, cita-se a indisponibilidade de dados anteriores ao ano de 2006, bem como a existencia poucas instituições financeiras, o que impossibilita uma análise econométrica mais abrangente com um maior número de observações.

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16. MERCADO IMOBILIÁRIO NA CIDADE DE RECIFE: UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE BOLHA PARA A ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO MERCADO

IMOBILIÁRIO DE RECIFE

Autores: Vanessa Janiszewski, Aldemar Araújo dos Santos

Resumo

O estudo tem por objetivo avaliar o mercado imobiliário de Recife, identificando a possibilidade de bolha neste mercado. A preocupação com a volatilidade do mercado imobiliário é uma inquietação de grandeza mundial pois desencadeia não só uma crise imobiliária, mas coloca em risco também todo o sistema financeiro do mercado. Como metodologia A abordagem adotada para a execução do estudo foi de natureza quantitativa e a estratégia de pesquisa situou-se em uma pesquisa exploratória. Para o delineamento do trabalho, foram aplicadas técnicas utilizadas em levantamento de dados. Os dados coletados e trabalhados foram os de imóveis de Recife, fornecidos pela Fipe Zap, compreendidos entre o ano de 2010 e 2014. Estes foram analisados por meio do Índice Bolha.O Índice Bolha é um método de avaliar se há ou não possíveis evidência de 'bolha imobiliária' em um mercado, que nada mais é do que analisar a 'rentabilidade' do imóvel em relação ao seu valor de aluguel. No entanto, os resultados indicam a ausência de bolha imobiliária em Recife, quando considerando-se os parâmetros de análise indicador pelo Índice Bolha. Mas, foi identificado que, quando comparado com o rendimento de outros investimentos no mercado, a rentabilidade imobiliária em Recife se encontra em patamares muito baixos, perdendo até mesmo para os rendimentos da poupança. E, sem ser nem ao menos capaz de se sobrepor a inflação. PALAVRAS-CHAVE: Índice Bolha, Bolha Imobiliária, Valorização de Imóveis.

1. INTRODUÇÃO

Notícia, publicada no Diário de Pernambuco, aponta: "É fato: os preços dos imóveis em Pernambuco vêm crescendo em disparada há pelo menos cinco anos.". Consiste em apenas uma dentre várias evidências da preocupação vigente com a especulação imobiliária de Pernambuco. Em seguida, segue o texto: "Não é por menos que, hoje, o Recife ocupa o quinto lugar no ranking das cidades brasileiras com o metro quadrado mais caro do país" (Diário de Pernambuco, 2013).

Tal crescimento no valor imobiliário de Pernambuco continua ativo. De acordo com o índice FipeZap, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), dados apontam que o valor médio dos imóveis em Recife quase dobraram entre julho de 2010 e junho de 2014 (Fipe Zap, 2014).

A preocupação com a volatilidade do mercado imobiliário é uma inquietação de grandeza mundial pois desencadeia não só uma crise imobiliária, mas coloca em risco também todo o sistema financeiro do mercado. Cenário que já foi causa de grandes crises financeiras e bancárias - como é o recente caso dos EUA e Lehman Brothers em 2009. Assim como também se trata de matéria de inúmeras publicações científicas internacionais.(Pérez, 2010; Malpezzi & Wachter, 2002; Zhoua & Sornette, 2009).

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Como fonte de crises financeiras devastadoras que afetam a economia como um todo, a especulação imobiliária é também uma preocupação do Estado. Por este motivo se torna relevante a avaliação e monitoramente constante desse mercado.

A definição de 'Bolha Imobiliária' é vasta e pode ser interpretada e calculada de diversas formas. Não existindo, portanto, uma diretriz única capaz de identificar um mercado que sofre de supervalorização.

Contudo, dentre os diversos conceitos de Bolha de um Ativo, o que permanece de comum é a noção de que uma possível forma de visualizar esse efeito é comparar o crescimento desse Ativo com os demais indicadores econômicos do mesmo mercado. Se, o primeiro estiver crescendo a uma taxa maior que os demais pode indicar uma super valorização.

Buscar meios de se evidenciar 'bolhas imobiliárias' é um tema que vem sendo debatido e analisado por toda a parte do mundo.

A descrição metodológica do cálculo do índice FipeZap traz argumentos interessantes sobre a importância e carência de indicadores e informações a respeito do mercado imobiliário no Brasil, os quais ressaltam a importância do problema em questão. (Fipe, Índice FipeZAP de Preços de Imóveis Anunciados - Notas Metodológicas, 2011). Segue:

A criação de um índice de preços de imóveis residenciais permanece um desafio para economistas e estatísticos. Não há consenso internacional em relação ao desenho metodológico devido principalmente à complexidade que envolve o processo de formação dos preços e às limitações na disponibilidade de informações. Por esse motivo, é comum encontrar países que têm um conjunto de índices de imóveis calculados regularmente, normalmente utilizando diferentes metodologias (Eurostat, 2010).

O Brasil ainda não possui um índice de preços de imóveis residenciais. Com o Índice FipeZap de Preços de Imóveis Anunciados (Índice FipeZap) a Fipe e o ZAP pretendem contribuir para o preenchimento dessa lacuna oferecendo um índice ágil e amplo para o acompanhamento dos preços dos imóveis em diferentes regiões do país, utilizando uma fonte de dados confiável e robusta.

Em meio a esta preocupação foi criado o Índice Bolha. O Índice Bolha é um método de avaliar se há ou não possíveis evidência de 'bolha imobiliária' em um mercado, que nada mais é do que analisar a 'rentabilidade' do imóvel em relação ao seu valor de aluguel. Desta forma é possível comparar essa rentabilidade com a rentabilidade de outros investimentos no mercado, ou até mesmo com a própria inflação.

Neste trabalho, utilizaremos o Índice Bolha para analisar o mercado imobiliário de Recife.

Desta forma, a presente pesquisa busca a seguinte questão de pesquisa: de acordo com o Índice Bolha, qual é o cenário em que se encontra o mercado imobiliário de Recife?

A presente pesquisa é relevante por tratar de um tema de um problema atual (supervalorização imobiliária) e de interesse global. Crises derivadas de especulação de ativos já ocorreram em diversas partes do mundo. Um dos casos mais antigos, que ficou conhecido como a tulipmania, reflete como a especulação descontrolada pode afetar um mercado. Seus efeitos podem realmente trazer malefícios à uma economia, como a atual crise financeira em 2008 dos EUA.

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2. METODOLOGIA

A abordagem adotada para a execução do estudo é de natureza quantitativa e a estratégia de pesquisa situa-se em uma pesquisa exploratória.

Sobre as pesquisas exploratórias, Martins (2000, p. 30) destaca que, trata-se de abordagem adotada para a busca de maiores informações sobre determinado assunto. Possui um planejamento flexível, e é indicada quando se tem pouco conhecimento do assunto.

Para o delineamento do trabalho, serão aplicadas as técnicas utilizadas em levantamento de dados. Os dados coletados serão analisados, utilizando-se, em particular, o método estatístico, especificamente a estatística descritiva e aplicação do Índice Bolha, estabelecendo, dessa forma, uma pesquisa de natureza quantitativa.

Os dados analisados serão de corte longitudinal, onde serão trabalhados com dados de imóveis de Recife, fornecidos pela Fipe Zap, compreendidos entre o ano de 2010 e 2014 - limitação do banco de dados em questão. Todos os dados foram coletados no final do mês de maio de 2015.

Procedeu-se também a realização de pesquisa bibliográfica em livros, normas, teses, dissertações, artigos técnicos e pesquisa na Internet, com o objetivo de estabelecer uma fundamentação teórica referente à problemática do estudo.

3. Análise dos Dados e Resultados

3.1. O MERCADO IMOBILIÁRIO NO MUNICÍPIO DE RECIFE

Quanto à variação dos preços de imóveis, nota-se no Figura 2 que, de acordo com os dados do ZAP, os imóveis de apenas um dormitório variam um pouco mais de preço do que os demais imóveis - dois, três, quatro ou mais dormitórios, no período de 2008 a 2012. Este fato pode indicar que imóveis de apenas um quarto são mais comumente alvo de investimento. Ainda assim, como houve uma variação visível em todos os tipos de imóveis, permanece pertinente a análise de todos os tipos de imóveis.

Optou-se pela utilização dos dados da ZAP, pois, assim como colocado na divulgação da metodologia do Fipe ZAP, existe um desafio grande no Brasil de obter dados confiáveis. Os registros e os cartórios de imóveis, por exemplo, não têm um banco de dados público de fácil acesso; mesmo se tivessem, sabe-se que muitas das escrituras por vezes não refletem os valores de fato transacionados. O ZAP (portal de classificados na internet), por sua vez, possui uma grande massa de anúncios; no caso dos imóveis, são quase 200.000 a cada mês.

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O crescimento geral, de todos os imóveis, de Recife é descrito na Figura 3.

O crescimento na variação dos preços de imóveis mostrados na Figura 3, no entanto, não estão corrigidos por nenhum indicador de preço ou inflação. Para analisar se o crescimento desses valores derivam apenas da valorização dos preços em geral, ou do crescimento da economia em geral, as Figuras 4, 5 e 6 trazem a comparação desse crescimento imobiliário de recife com os indicadores do IPCA, Bovespa e INCC, respectivamente.

FIGURA 2. : Variação dos Preços de Imóveis no Município de Recife, de 2008 a 2012. (Separação por número de dormitório: um; dois; três, e; quatro ou mais)

FIGURA 3. : Crescimento Geral dos Preços de Imóveis no Município de Recife, de Junho de 2010 a Junho de 2015.

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FIGURA 4. : Comparação entre o Crescimento Geral dos Preços de Imóveis de Recife e o Crescimento do IPCA, de Junho de 2010 a Junho de 2015.

FIGURA 5. : Comparação entre o Crescimento Geral dos Preços de Imóveis de Recife e o Crescimento do IBOVESPA, de Junho de 2010 a Junho de 2015.

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Ao analisar visualmente a comparação dos três indicadores de mercado com o crescimento no valor dos imóveis de Recife, é possível observar que o INCC é o que mais se aproxima do crescimento imobiliário, acompanhando seu crescimento (ainda que de forma mais branda). Isso pode indicar que os custos da construção de imóveis vêm crescendo e pode ser um aliado dos motivos/causas da crescente valorização nos preços de imóveis.

Ainda assim, o crescimento dos preços de imóveis de Recife vêm superando todos os indicadores analisados - IPCA, IBOVESPA e INCC, o que indica que está ocorrendo sim uma valorização acima da inflação, acima de investimentos ordinários ou do próprio custo de construção. Tal conclusão indica a necessidade de um estudo mais aprofundado a respeito da valorização desse ativo.

3. ÍNDICE BOLHA NO MERCADO IMOBILIÁRIO DE RECIFE

Para determinar se existe um cenário de especulação imobiliária ou não, será utilizado o Índice Bolha. De acordo com George Henrique, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UCB, o Índice Bolha é um indicador econômico desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília (UCB). E, foi assim batizado, porque foi criado para medir o risco da especulação imobiliária local.

Na verdade, o retorno sobre um investimento é uma medida de senso comum de avaliação de qualquer investimento, da empresa como um todo, ou de um ativo em particular. No mercado imobiliário é utilizado o valor do aluguel como parâmetro de rendimento sobre o valor de mercado do imóvel. Desta forma é possível comparar o rendimento dos imóveis de diferentes bairros, cidades e estados. É possível, ainda, analisar quais são as localidades onde existe uma menor rentabilidade - e, neste caso, pode indicar que o valor do m² da área está superfaturada.

Neste sentido a UCB criou uma tabela de parâmetros do Índice Bolha onde é possível observar em quais condições de rendimento se encontram os imóveis. Acima de 5% de rendimento é considerado um alto rendimento; entre 5% e 2,5%, medianos; e, abaixo de 2,5% são considerados cenários de baixo rendimentos - e, consequentemente, preocupantes.

FIGURA 6. : Comparação entre o Crescimento Geral dos Preços de Imóveis de Recife e o Crescimento do INCC, de Junho de 2010 a Junho de 2015.

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Desta forma, o valor de mercado dos imóveis de Recife foram confrontados com seu valor de aluguel. Diante dos resultados foi possível visualizar as condições de rentabilidade dos imóveis de Recife e se existe ou não evidências de especulações imobiliárias preocupantes. Seguem os resultados obtidos:

Bairros: VM

do m² de aluguel

VM do m² de

venda

Rentabilidade Mensal

Rentabilidade Anual

Aflitos 25 7139 0,350% 4,20%

Boa Viagem 30

8306 0,361% 4,33%

Boa Vista 22 4833 0,455% 5,46%

Campo Grande 21

6900 0,304% 3,65%

Casa Forte 26

7011 0,371% 4,45%

Espinheiro 26

7740 0,336% 4,03%

Graças 29 7677 0,378% 4,53%

Imbiribeira 23

9577 0,240% 2,88%

Jaqueira 39 8405 0,464% 5,57%

Madalena 27 6556 0,412% 4,94%

Pina 31 13

421 0,231% 2,77%

Rosarinho 27

8883 0,304% 3,65%

Setubal 29 6316 0,459% 5,51%

Tamarineira 25

7620 0,328% 3,94%

Na tabela anterior, encontram-se quatorze bairros de Recife: Aflitos, Boa Viagem, Boa Vista, Campo Grande, Casa Forte, Espinheiro, Graças, Imbiribeira, Jaqueira, Madalena, Pina, Rosarinho, Setpubal e Tamarineira. Este foram todos os bairros os quais a rentabilidade do imóvel foi possível de ser calculada. Os demais bairros de Recife foram omitidos por falta de uma quantidade significativa de dados.

TABELA 1. : Rentabilidade dos Imóveis de Recife, segmentados por bairros. Dados referentes a média do valor de venda e aluguel nos anos de 2010 a 2014.

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Note que o bairro de rentabilidade superior encontrado foi o da Jaqueira, com rentabilidade anual de 5,57%. Já o de rentabilidade menor foi o bairro do Pina com 2,77% de rendimento. Note ainda que apenas três, dentro os quatorze bairros analisados, tiveram rentabilidade superior à 5% anual. Os demais possuem rentabilidades inferiores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Críticas aos limites determinados pelo índice bolha devem ser aqui argumentado. Tais limites são ultrapassados, uma vez que quando estabelecidos a inflação da economia brasileira não estava tão elevada. Devido aos novos fatores econômicos existentes, onde a inflação acumulada já ultrapassa os 8% (tendo como referência o mês de maio de 2015), não se faz mais sentido alegar que um investimento que tenha rentabilidade anual entre 2,5% e 5% possa ser considerado como normal ou mediano, e sim se trata de um investimento de rentabilidade muito baixa.

Desta forma, diante do Índice Bolha, o mercado imobiliário de Recife não apresenta nenhuma anomalia, e, portanto, foi considerado como de rentabilidade e crescimento normal. No entanto, quando comparado com outro investimentos, como por exemplo a poupança que em maio de 2015 estava com rendimentos superior aos 6%, pode-se notar que a rentabilidade imobiliária recifense está muito baixa. Evidencia-se, assim, uma incompatibilidade entre o valor do preço do imóvel com o valor de aluguel do mesmo - indicando assim algum tipo de supervalorização do valor desses imóveis.

Algumas limitações da presente pesquisa devem ser ressaltadas: os dados do Zap Imóveis são recentes, começaram a coleta em 2010, e, portanto, não é possível acompanhar o crescimento dos valores de imóveis ao longo de muitos anos.

Outro ponto é que Recife é uma cidade onde houve poucos dados de anúncios de aluguel, por este motivo a rentabilidade de muitos bairros se tornou inviável, limitando os resultados.

Vale ainda ressaltar que em três meses da data de levantamento dos dados da presente pesquisa, do final de maio de 2015 a agosto do mesmo ano, pode-se notar uma notável queda no valor médio dos imóveis de Recife. Motivo este que pode ser causado por falta de liquidez do mercado, crise econômica que enfrenta o país ou outro motivo. Tais fatores não foram investigados e servem como diretrizes para novas e futuras pesquisas.

Desta forma, como alvo de futuras pesquisas, torna-se necessário e relevante acompanhar o crescimento do valor dos imóveis da cidade de Recife ao longo de um período de tempo maior, para ficar mais evidente a tendência do comportamento imobiliário de Recife. Assim como, evidenciar o comportamento do mercado imobiliário frente as novas condições econômicas que o país brasileiro enfrenta no momento atual.

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17. O PANORAMA DAS EMPRESAS DE SANEAMENTO DO NORDESTE NO QUE SE REFERE À ADEQUAÇÃO À CPC 37 - ADOÇÃO INICIAL DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Autores: Marina Fidelis Jerônimo de Oliveira, Umbelina Cravo Teixeira Lagioia,

Mayke Douglas Xavier

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar qual o estágio de adequação das empresas de saneamento do Nordeste relativo às especificidades presentes na CPC 37 analisando assim, o processo de convergência às normas internacionais de contabilidade. Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo multicaso ao contemplar várias unidades de análise, as quais foram as empresas de saneamento básico Nordestinas vinculadas a AESBE. A coleta de informações necessárias à elaboração do estudo foi realizada por algumas fontes de evidência comumente utilizadas em estudos de casos como aplicação de questionários e coletas de registros em arquivos. Respondendo a pergunta de pesquisa inicialmente formulada, observou-se como panorama que, através dos 09 questionários analisados das empresas de saneamento do Nordeste, 03 empresas concluíram seu processo de adesão às normas internacionais de contabilidade, 01 empresas ainda estão neste processo de convergência às normas internacionais e 03 empresas nem sequer iniciaram os procedimentos requeridos pela CPC 37 como iniciais para a adesão aos padrões internacionais. Além disso, verificou-se também 01 empresa que, apesar de afirmar já ter aderido 100% às normas internacionais, não cumpre o que preconiza a CPC 37 , assim como as demais normas técnicas que o CPC 37 faz referencia, como por exemplo a ICPC 01, a CPC 32, a CPC 27. Adicionalmente, ressalta-se que apesar de ser um processo obrigatório desde 2010, apenas 33% das empresas cumpriram com os itens obrigatórios da CPC 37 e podem ser consideradas como convergidas aos padrões internacionais de contabilidade, uma porcentagem pequena quando leva-se em consideração a margem de 5 a 7 anos concedidos para sua adoção.

INTRODUÇÃO

O processo de convergência da contabilidade aos padrões internacionais tem motivado uma grande interação entre os países, concernente àadoção, interpretação e aplicação dos normativos contábeis. De acordo com Niyama (2010, p. 30), “a busca de uma harmonização contábil internacional tem envolvido iniciativas de diversos organismos em nível mundial, bem como esforços de algumas entidades profissionais de classe, de âmbito regional”.

No Brasil, o processo de convergência às normas internacionais iniciou-se em 1990 com a criação de três comissões de especialistas para rever e recomendar possíveis alterações nas Leis nos 6.385/76 e 6.404/76. Com o resultado desse esforço surgiu, em 7 de outubro de 2005, o Comitêde Pronunciamentos Contábeis (CPC). Este órgão possui como objetivo o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de contabilidade e a divulgação desta natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora, visando a centralização e uniformização de seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais (RES. CFC nº1055/05).

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Após a criação do CPC foi sancionada a Lei no 11.638/07, posteriormente alterada pela Lei no 11.941/09, fruto de mais de uma década de debates na academia e nos órgãos reguladores. Motivado por esta lei, o Comitêde Pronunciamentos Contábeis iniciou, em 2008, a elaboração dos primeiros Pronunciamentos Contábeis, rumo àpadronização contábil brasileira às normas internacionais.

A Lei n°11.638/07 representou o marco legal para a Convergência das Normas Internacionais no Brasil. Esta Lei estabelece que as normas contábeis devem ser elaboradas em consonância aos padrões internacionais de contabilidade, e segundo o disposto nos diversos Pronunciamentos Contábeis emitidos pelo CPC.

Atéo exercício findo em 2014, o CPC havia emitido 46 Pronunciamentos Contábeis, além do Pronunciamento aplicado especificamente as Pequenas e Médias Empresas, e atémaio de 2014 além da emissão dos referidos Pronunciamentos, jáforam emitidas 20 Interpretações Técnicas (ICPC), e 8 Orientações (OCPC).

Dentre os pronunciamentos técnicos emitidos pelo CPC, tem-se especial atenção ao CPC 37 - Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade - que, segundo o próprio CPC 37, tem por objetivo garantir que as primeiras demonstrações contábeis de uma entidade de acordo com as Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pelo IASB –International Accounting Standards Board, doravante referenciadas como IFRSs - International Financial Reporting Standards, e as demonstrações contábeis intermediárias para os períodos parciais cobertos por essas demonstrações contábeis contenham informações de alta qualidade que:

(a) sejam transparentes para os usuários e comparáveis em relação a todos os

períodos apresentados;

(b) proporcionem um ponto de partida adequado para as contabilizações de

acordo com as IFRSs; e

(c) possam ser geradas a um custo que não supere os benefícios.

Os serviços públicos –como as redes de distribuição de água–foram historicamente operado e mantido pelo setor público e financiada através de dotações orçamentárias. Porém, após o Decreto nº7.217/2010, os governos obtiveram a possibilidade de transferir esta responsabilidade ao setor privado,por meio de contratos de prestação de serviços.

No Brasil atualmente existem 27 empresas prestadoras de serviços regionais (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013). Destas prestadoras, 4 são sociedades anônimas de capital aberto, e as 23 restantes são de capital fechado, entretanto, duas empresas, Daleth Participações e a Sanesalto (Municipal), são de capital aberto mas não estão inclusas como prestadoras de serviços regionais. Todas as empresas precisam seguir o disposto na CPC 37 - Adoção Inicial das Normas internacionais de Contabilidade, na Lei 11.445/07 e no Decreto 7.217/10. Contudo, tendo em vista a quantidade de empresas de saneamento existentes no Brasil, e as complexidades inerentes aos normativos societários e legais que precisam ser atendidos, se estabelece como foco da pesquisa apenas as empresas de saneamento do Nordeste, são elas: Casal, Embasa, Cagece, Caema, Cagepa, Compesa, Agespisa, Caern e Deso.

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Portanto, visando a importância do processo de convergência e necessidade a de seguir o que obrigam os órgãos competentes, cria-se o seguinte problema de pesquisa a ser respondido: Como está o panorama das empresas de saneamento do Nordeste no se refere a adequação às Normas Internacionais de Contabilidade?

Além dessa introdução,o seguintetrabalho possui os objetivos gerais e específicos, referencial teórico sobre os principais assuntos que permeiamo tema, além da metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa. Ao final, são apresentados os resultados e as conclusões da pesquisa.

OBJETIVOS

OBJETIVOS GERAIS

Verificar como está o panorama das empresas de saneamento do Nordesteno que se refere à adequação à Normas Internacionais de Contabilidade CPC 37 - Adoção Inicial às Normas Contábeis Internacionais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar junto aos contadores das empresas de saneamento do Nordestea situação em que se encontram baseado no processo de convergência;

• Verificar se o tratamento contábil adotado pelas empresas está de acordo com o preconizado pelo Pronunciamento Técnico CPC 37, que trata da Adoção Inicial às Normas Contábeis Internacionais;

• Traçar o panorama das empresas de saneamento do Nordeste no que se refere a adequação às normas internacionais de contabilidade

RERENCIAL TEÓRICO

1. PROCESSO DE CONVERGÊNCIA AS NORMAS INTERNACIONAIS

O interesse em tentar padronizar as informações contábeis começou-se a ser idealizado a partir década de 1950 após o advento da segunda guerra mundial, onde os países sentiram a necessidade de se reerguer e fortalecer suas economias. No processo de fortalecimento, as empresas buscaram financiamento através da venda de títulos, quer por sua vez poderiam ser compradas por investidores de qualquer parte do mundo. Somado a isso, surgiu também à necessidade dos países em desenvolvimento captarem empréstimos para realizar os investimentos necessários. Ou seja, os países em desenvolvimento ficaram dependentes dos países desenvolvidos, que por sua vez, sentiam a necessidade de saber qual era a situação financeira, econômica e patrimonial de seus devedores. Nesse período começou

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também a se intensificar os processos de fusões e incorporações, crescendo a força das grandes multinacionais. (NYAMA, 2010)

Como cada país tinha a sua maneira de contabilizar suas operações, surgiu uma grande dificuldade entre os investidores e credores em interpretar de forma correta as demonstrações contábeis das entidades de países diferentes. Onde era necessário traduzir as demonstrações contábeis dos países investidos para o país sede, gerando assim custos adicionais.

Conforme Oliveira e Lemes (2011) foi criado em 1973, pelos organismos profissionais de contabilidade de 10 países (Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, França, Irlanda, Japão, México, Países Baixos e Reino Unido), o comitê de pronunciamentos contábeis internacionais chamado de IASC (International Accounting Standards Committee) com o objetivo de formular e publicar de forma independente um novo padrão de normas internacionais que possam ser mundialmente aceitos. Em 2001 foi criado o IASB (International Accounting Standards Board) na estrutura do IASC no qual assumiu as suas responsabilidades. Segundo Freire et. al. (2012) a criação do IASB teve objetivo de melhorar a estrutura técnica de formulação e validação dos novos pronunciamentos internacionais chamados de IFRS (International Financial Reporting Standards) que estão em vigor até o presente momento.

Segundo Reis, Nogueira e Bim (2010) o processo de convergência as normas internacionais no Brasil teve início em 1990 quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) criou três comissões de especialistas para rever e recomendar possíveis alterações nas Leis nos 6.385/76 e 6.404/76. O estudo apontou a necessidade de o Brasil modificar a estrutura das normas contábeis vigentes. Formulou-se então um projeto de lei tentando reformular a Lei 6.404/76 que regulamenta as sociedades por ações. Após várias discussões no legislativo o projeto de lei não obteve sucesso, então os órgãos reguladores e iniciaram o processo de convergência com as ferramentas que possuíam.

O Primeiro Passo que foi dado foi a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) através da Resolução CFC nº 1.055/2005 que tem por objetivo estudar, preparar e emitir pronunciamentos técnicos baseados nas normas internacionais de contabilidade emitidas pelo o IASB, visando a padronização da contabilidade local aos procedimentos internacionais. Este órgão foi constituído mediante a associação de seis instituições: Associação Brasileira de Companhias Aberta (ABRASCA), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valores de São Paulo (BMFBOVESPA), Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) e o Instituto de Auditores Independentes do Brasil (IBRACON).

Posteriormente a Lei 11.638/07 e a 11.941/09 modificaram a estrutura da Lei das Sociedade Anônimas evoluindo no processo de convergência e trazendo alguns aspectos fiscais do processo de adoção inicial as normas. De acordo com Almeida e Braga (2008) a lei 11.638/2007 introduziu importantes modificações nas regras contábeis brasileiras, sendo o seu principal objetivo a convergência aos pronunciamentos internacionais de contabilidade. Conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2009), a mudança mais relevante no processo da internacionalização dos padrões contábeis foi a primazia da essencia sobre a forma.

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O CPC baseado na IFRS 1 emitiu o pronunciamento técnico 37 no qual

direciona os procedimentos a serem adotados no momento da adoção inicial às normas internacionais de contabilidade. Segundo Iudícibus et. al. (2010) a função do CPC 37 é definir regras que possam garantir com que a informações contábeis tenham alta qualidade, podendo, ao mesmo tempo ser: transparentes e comparáveis; proporcionar um ponto de partida adequado para a adoção das IFRSs; e ser geradas a um custo que não supere os benefícios. Vale salientar que o CPC 37 aplicar-se-á apenas nas primeiras demonstrações contábeis definidas expressamente em conformidade com as IFRSs.

2. EMPRESAS DE SANEAMENTO

Segundo o art. 2 do Decreto nº7.217/2010, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, serviços públicos de saneamento básicoéo conjunto dos serviços públicos de manejo de resíduos sólidos, de limpeza urbana, de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e de drenagem e manejo de águas pluviais, bem como infraestruturas destinadas exclusivamente a cada um destes serviços.

A infraestrutura de serviços públicos –tais como estradas, pontes, túneis, prisões, hospitais, aeroportos, redes de distribuição de água, redes de distribuição de energia e de telecomunicações –historicamente foi construída, operada e mantida pelo setor público e financiada por meio de dotações orçamentárias.Contudo, ao longo do tempo, os governos introduziram contratos de prestação de serviços para atrair a participação do setor privado no desenvolvimento, financiamento, operação e manutenção dessa infraestrutura.

Desta forma, com base na leitura do art. 38 do Decreto nº7.217/2010, infere-se que o ente municipal pode prestar os serviços de saneamento básico de forma direta ou através de contratos (grifo nosso). Estes contratos, por sua vez, podem ser celebrados de duas formas:

a) indiretamente, mediante (contrato de) concessão ou permissão, sempre precedida de licitação na modalidade concorrência pública, no regime da Lei nº8.987, de 13 de fevereiro de 1995;

b) no âmbito de gestão associada de serviços públicos, mediante contrato de programa autorizado por contrato de consórcio público ou por convênio de cooperação entre entes federados, no regime da Lei nº11.107, de 6 de abril de 2005.

Os contratos geralmente envolvem duas partes:

• O concedente, que éum órgão público, uma entidade pública, ou uma entidade privada para a qual foi delegado o serviço.

• O concessionário, que éuma entidade privada que constrói (ou incrementa) a infraestrutura usada para prestar os serviços públicos.

O contrato éregido por documento formal que estabelece níveis de desempenho, mecanismos ajuste de preços e resolução de conflitos por via arbitral. Uma característica desses contratos de prestação de serviços ésua natureza de serviço público, que fica sob a responsabilidade do concessionário.Outra característica deste tipo de contrato éque o concessionário fica obrigado a entregar a infraestrutura ao concedente, em determinadas

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condições especificadas, e ao final do tempo especificado, por um pequeno ou nenhum valor adicional, independente de quem tenha sido o seu financiador.

METODOLOGIA DO TRABALHO

A abordagem adotada para a execução do estudo foiqualitativa e a estratégia de pesquisa se situouem um estudo multicasos. Esta abordagem, de acordo com Creswell (2010), éuma forma de investigação interpretativa que se consolida a partir da observação dos pesquisadores, não devendo tal interpretação estar dissociada das origens, história, contextos e entendimentos anteriores acerca do caso a ser estudado.

Tendo em vista o exposto, o caso proposto éo estudo de como se encontra a adequação das empresas de saneamento Nordestinas vinculadas a Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (AESBE) às Normas Internacionais de Contabilidade.

Estas entidades estão subordinadas àlegislação (normativos contábeis e dispositivos legais) e, portanto, necessitam atender às exigências legais. Esta adequação normativa promove mudança de padrões organizacionais relativos às práticas contábeis. Para o entendimento destas mudanças nas empresas, optou-se pelo estudo de caso, visto que de acordo com Yin (2010) esta tipologia de pesquisa pode ser aplicada para estudos que se referem a implantações de projetos que representem mudanças organizacionais. Assim, a tipologia de pesquisa escolhida se justifica, quanto aos aspectos intrínsecos ao caso proposto, em virtude do seu objetivo geral.

O ESTUDO DE CASO

UNIDADES DE ANÁLISE E OBJETO DE ESTUDO

Esta pesquisa caracterizou-se como um estudo multicaso ao contemplar várias unidades de análise, as quais foram as empresas de saneamento básico vinculadas a AESBE.

O objeto de estudo em cada unidade de análise foi a prática contábil exercida por estas entidades quanto ao reconhecimento, mensuração e evidenciação da concessão pública.

As empresas que compõem as Unidades de Análise da pesquisa estão expostas no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1: Relação das Empresas Associadas à AESB

Estado SIGLA

da Empresa Nome da Empresa

Alagoas CASAL Companhia de Saneamento de Alagoas

Bahia EMBAS

A Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A

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Ceará CAGEC

E Companhia de Água e Esgoto do Ceará

Maranhão CAEMA Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão

Paraíba CAGEP

A Companhia de Água e Esgoto da Paraíba

Pernambuco COMPE

SA Companhia Pernambucana de Saneamento

Piauí AGESPI

SA Águas e Esgotos do Piauí S.A.

Rio Grande do Norte

CAERN Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte

Sergipe DESO Companhia de Saneamento de Sergipe

Total de Empresas 9

Observa-se no Quadro 1 a listagem das nove (09) empresas de saneamento dos Estados do Nordeste, sendo estes: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Portanto as entidades destes Estados fizeram parte da amostra, sendo esta formada por 09 entidades.

1.1.1. FONTES DE EVIDÊNCIA

A coleta de informações necessárias à elaboração do estudo foirealizada por algumas fontes de evidência comumente utilizadas em estudos de casos. Segundo Yin (2010), as fontes de evidências utilizadas na pesquisa estão descritas a seguir:

1.1.1.1. APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS

Foram aplicados questionários junto aos contadores das empresas de saneamento com o objetivo de identificar informações distintas, mas complementares, sobre a adequação das companhias aos padrões internacionais de contabilidade.

A seguir tem-se o detalhamento do objetivo a ser alcançado com a aplicação dos questionários:

• Etapa 1 (aplicação de questionário) – CPC 37 Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade: Nesta etapa, o objetivo foi identificar as ações executadas pelas empresas de saneamento para adequar a companhia ao processo de convergência de acordo com o preconizado pelo Pronunciamento Técnico CPC 37, que trata da Adoção Inicial às Normas Contábeis Internacionais (Apêndice 1)

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1.1.2. PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO

PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada por meio de dois instrumentos distintos: aplicação de questionários e coleta de registro em arquivos.

A aplicação dos questionários das etapas 1 e 2 foi feita de forma on line pela plataforma do Google Form, e seus resultados enviados automaticamente, quando na finalização da resposta do mesmo, para o pesquisador.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo de convergência às normas internacionais de contabilidade iniciou em 2008, tornando-se obrigatória sua adoção para a maioria das sociedades brasileiras a partir de 2010 (OLIVEIRA & LEME, 2011). Não diferente disto, o item 34 da CPC 37 - Adoção Inicial das Normas de Contabilidade - define o dia 1º de janeiro de 2010 como data para aplicação do Pronunciamento. Visto isso, verificou-se através das respostas do questionário aplicado às 09 (nove) Empresas de Saneamento do Nordeste, no qual se pergunta qual o ano de adesão ao padrão contábil internacional, que apenas 3 empresas de saneamento do Nordeste declaram sua adesão a este processo de convergência, outras 3 empresas ainda estão neste processo de convergência e as 3 empresas restantes não indicaram sequer o início deste processo.

O item 06 da CPC 37 - Adoção Inicial das Normas de Contabilidade - define como marco inicial de conformidade com as IFRSs, o Balanço Patrimonial de abertura na data de transição às Normas Internacionais. Além disso, este Balanço também deve conter informações comparativas do ano anterior ao da transição. Assim, a partir das respostas obtidas, observou-se que 3 empresas publicaram o Balanço de abertura assim como pedido na CPC 37. Porém, 6 empresas não apresentaram este Balanço, corroborando com a minoria de Empresas de Saneamento que aderiram as praticas contábeis internacionais, como visto na questão anterior.

De acordo com o item 23 do CPC 37, a entidade deve deixar claro em Notas Explicativas como as mudanças ocasionadas pelo processo de convergência às IFRSs afetaram suas Demonstrações Contábeis - Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado e Demonstração do Fluxo de Caixa - .Desta forma, perguntou-se as empresas de saneamento do Nordeste se tal explicação foi feita em Nota Explicativa, das 9 empresas entrevistadas, 56% explicou como a transação afetou suas demonstrações, ao contrario dos outros 44%.

O CPC 37 define que, empresas que possuem contratos de arrendamento mercantil, devem seguir o requerido pela IFRS 04 - ICPC 03 - IAS 17 - CPC 06. Porém, este tipo de contrato não se aplicaa todas as empresas analisadas, obtendo-se um total de 100% de “não se aplica” quando perguntado no questionário.

O CPC 37, no seu item IG7 remete ao Pronunciamento Técnico que trata de ativo imobilizado (CPC 27), quando do tratamento adequado para os métodos de depreciação utilizados pelas entidade. No item 50 do referido CPC 27, é definido que a entidade deve apropriar o valor da depreciação ao longo da vida útil estimada do bem. Baseado nisso,

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verificou-se que 67% das empresas de saneamento do Nordeste cumprem com o previsto na Norma Técnica, já os outros 33% não se utilizam da vida útil do bem para o cálculo de sua depreciação.

A entidade deve reconhecer os custos de desativação dos ativos imobilizados, no caso de possuir tais custos.Isto de acordo com o item D21 da CPC 37 que, referindo-se a ICPC 12 - Mudanças em Passivos por Desativação, restauração e outros passivos similares -, exige o reconhecimento destes possíveis custos do ativo ao qual está relacionado. Dentre as 9 empresas de saneamento do Nordeste, 2 não possuem tais custos e por isso, não reconhecem. Outras 4 empresas declaram não reconhecer estes passivos por desativação, restauração ou outro similiar deduzidos do custo do ativo. E apenas 3 empresas alegaram utilizarem tal técnica em suas práticas contábeis.

No processo de adesão aos padrões contábeis internacionais as entidades podem optar pelo custo atribuído como reconhecimento dos seus ativos imobilizados, como descrito no item D5 da CPC 37. Baseada nesta norma técnica, verificou-se que 67% das empresas de saneamento do nordeste, totalizando 06 empresas das 09 estudadas, não optaram por esta prática, e em 1 empresa tal conceito não se aplica. Apenas 02 empresas efetuaram o custo atribuído em seus ativos imobilizados, um total de 22%.

O item IG17 da CPC 37 afirma que as receitas devem ser reconhecidas de acordo com o CPC 30 - Receitas -. O pronunciamento técnico CPC 30, por sua vez, estabelece que a receita deve ser mensurada pelo valor justo. Este valor deve ser o preço recebido pela venda de um ativo acordado entre os participantes do mercado, na data de transição (CPC 30, 2012). Dentre as 09 empresas de saneamento do nordeste, apenas 01 não se utiliza de tal conceito quando no reconhecimento de suas receitas, as demais empresas adotam a prática, que é comum no mercado, mesmo antes do conhecido processo de convergência às normas intencionais.

A CPC 37 ressalta a possibilidade da entidade que está no processo de convergência às normas internacionais adotar norma técnica específica para os Contratos de Concessão, ICPC 01 - Contratos de Concessão. Como visto anteriormente, as empresas de saneamento do nordeste possuem contratos de concessão, no qual o Estado é o poder concedente, e a própria empresa de saneamento é a concessionária. Desta forma, ao serem questionadas se reconhecem seus ativos financeiros e intangíveis de acordo com o preconizado na ICPC 01, apenas 04 empresas responderam que sim, e as outras 5 empresas de saneamento restantes não reconhecem seus ativos de tal maneira.

Segundo o guia de implementação da CPC 37, no seu item IG5, a entidade que está no processo de convergência às normas internacionais é obrigada a seguir uma outra norma técnica, fazendo referência ao CPC 32 - Tributos sobre Lucro. Por sua vez, o CPC 32 ressalta a possibilidade de existir uma diferença temporária, quando no reconhecimento, dos ativos e passivos. Esta diferença temporária deve ser contabilizada reconhecendo os impostos diferidos que por ventura apareçam neste momento do balanço patrimonial de abertura. Visto isso, verificou-se que 05 empresas reconheceram de acordo com a norma técnica e 04 empresas declararam não possuírem tais tributos decorrentes das diferenças temporárias dos ativos e passivos.

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CONCLUSÕES

O presente trabalho teve por objetivo Verificar o panorama das empresas de saneamento do Nordesteno que se refere à adequação à Norma Internacional de Contabilidade CPC 37 - Adoção Inicial às Normas Contábeis Internacionais, construindo a seguinte pergunta de pesquisa: Como está o panorama das empresas de saneamento do Nordeste no que se refere a adequação às Normas Internacionais de Contabilidade?

De acordo com o que foi visto ao longo do trabalho, a partir do Decreto nº 7.217/2010, o ente municipal teve a possibilidade de prestar os serviços de saneamento básico de forma direta ou através de contratos. Estes contratos, por sua vez, poderiam ser realizados pela forma de contrato de concessão ou contrato de programa. As 25 empresas prestadoras de serviço regionais de esgotamento e saneamento do Brasil estão configuradas na forma de contratos de concessão, cumprindo o papel de concessionárias, e cabendo ao Estado o papel de concedente. Estas empresas precisam atender a demandas particulares tanto do ponto vista legal, como societário.

Do ponto de vista legal, O marco regulatório deste setor deu-se com a entrada da Lei nº 11.445/2007 que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico e, posteriormente, do Decreto nº 7.217/2010, que a regulamentou. Já do ponto de vista Societário, destaca-se para o presente estudo a CPC 37- Adoção Inicial das Normas internacionais de Contabilidade.

Respondendo a pergunta de pesquisa inicialmente formulada, observou-se como panorama que, através dos 09 questionários analisados das empresas de saneamento do Nordeste, 03 empresas concluíram seu processo de adesão às normas internacionais de contabilidade, 02 empresas ainda estão neste processo de convergência às normas internacionais e 03 empresas nem sequer iniciaram os procedimentos requeridos pela CPC 37 como iniciais para a adesão aos padrões internacionais. Além disso, verificou-se também que 01 empresa, apesar de afirmar já ter aderido 100% às normas internacionais, não cumpre o que preconiza a CPC 37, assim como as demais normas técnicas que o CPC 37 faz referência, como por exemplo a ICPC 01, a CPC 32 ou a CPC 27.

Adicionalmente, ressalta-se que o processo de convergência vem sendo aplicado gradualmente desde 2008, tendoo seu ápice no exercício de 2010, quando as companhias abertas foram obrigadas aadotar as normas internacionais de contabilidade em sua forma completa (FREIRE et. all, 2012). Visto isso, apesar de ser um processo obrigatório desde 2010, apenas 03, totalizando 33% das empresas de saneamento do nordeste, cumpriram com os itens obrigatórios da CPC 37 e podem ser consideradas como convergidas aos padrões internacionais de contabilidade. Esta porcentagem é considerada inferior ao esperado, especialmente devido aos 7 anos após o inicio do processo de convergência, e consequentemente, aos 5 anos concedidos como obrigatório para sua adoção.

Como sugestão para pesquisas futuras, poderia ser desenvolvido o panorama de adoção às normas internacionais de contabilidade em diferentes setores, assim como a utilização de outros pronunciamentos técnicos como referência para tal estudo.

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18 . CONTRADIÇÃO INSTITUCIONAL E MUDANÇA NA ALTA ADMINISTRAÇÃO: O CASO DE UMA EMPRESA DE TECNOLOGIA DE

INFORMAÇÃO NORDESTINA.

Autores: Tiago de Moura Soeiro, Luiz Carlos Miranda e João Gabriel Nascimento de Araújo Resumo Este artigo teve por objetivo estudar quais conceitos dialéticos de contradições institucionais (SEO E CREED, 2002), podem ser utilizados para explicar a decisão de mudança na alta administração de uma empresa de tecnologia de informação nordestina, chamada neste trabalho pelo nome fictício “TECNA”, mais especificamente, as motivações para a contratação de um Cheff of Executive Office (CEO). Para obter as informações necessárias, foram realizadas entrevistas com os sócios-administradores, controller, ex-controller e o próprio CEO da organização em estudo. As evidências colhidas mostram que a empresa passava por um período de resultados desfavoráveis devido a algumas pressões de mercado e a falta de adaptação ao novo contexto. Desta forma, foram identificadas três fontes de contradições institucionais que motivaram a mudança: a ineficiência técnica, a não-adaptabilidade e a conformidade institucional. Palavras-chave: Mudança Organizacional; Introdução de CEO; Contradições Institucionais; Lógica Institucional.

INTRODUÇÃO

Muito se estuda o processo de mudança em contabilidade gerencial. Alguns estudos se baseiam em duas correntes de teoria institucional: a Velha Economia Institucional (OIE) e Nova Sociologia Institucional (NIS) para explicar o processo de mudança na contabilidade (TSAMENYI ET AL., 2006; HOPPER E MAJOR, 2007; KHOLEIF ET AL., 2007). Contudo, alguns autores argumentam que as teorias institucionais oferecem mais detalhes sobre os processos que explicam a estabilidade institucional do que aqueles que explicam a mudança institucional (SEO E CREED, 2002; BURNS E BALDVINSDOTTIR, 2005; BURNS E NIELSEN, 2006). Burns e Baldvinsdottir (2005) destacam que um problema que tem sido levantado com pertinência por alguns estudiosos é que os quadros institucionais existentes sobre mudança em contabilidade gerencial (notavelmente Burns e Scapens, 2000) carecem de conceituação detalhada de mudança institucional.

Não obstante, esta pesquisa é desenhada sobre a perspectiva da teoria neo-institucional, mais especificamente o modelo de mudança de Seo e Creed (2002), que usa a perspectiva dialética baseada no trabalho de Benson (1977) para explicar a mudança institucional, baseado em que a visão de que a mudança institucional deve ser entendida como um resultado das interações dinâmicas entre as contradições institucionais e práxis humana. Este modelo possibilita explicar os motivos da mudança institucional. Na literatura sobre mudança em contabilidade diversos estudiosos utilizam este modelo como base para entender ou explicar os motivos da mudança, em diversas áreas principalmente contabilidade gerencial (CRUZ, MAJOR E SCAPENS, 2009; SHARMA, LAWRENCE E LOWE, 2010; WANDERLEY E CULLEN, 2012; COOPER, PARKES E BLEWITT, 2014).

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Porém, este estudo difere-se dos demais por ter como objetivo os motivos da contratação de um Cheff of Executive Office (CEO), que com suas ações na organização afetou o papel do Controller da empresa caso e promoveu mudanças operacionais e estratégicas na organização (turnaround2). Desta forma, este artigo visa identificar as razões da contratação do CEO e as mudanças ocorridas após a contratação em uma empresa pernambucana do segmento de tecnologia de informação sob a lente teórica das Contradições Institucionais, que levaram a empresa a adotar novos direcionamentos.

Assim, esta pesquisa visou explicar quais fatores da decisão de contratação de um CEO e os reflexos dessa contratação para a modificação da cultura organizacional, pelo arcabouço da teoria institucional sobre as contradições institucionais de Seo e Creed (2002). Sendo assim, a questão que norteou este trabalho foi: Quais razões levaram a empresa a mudar de estratégia e contratar um CEO? Esta pergunta nos leva a fazer outras perguntas mais específicas: (1) Quais motivos levaram a contratação do CEO? (2) quais reflexos da contratação do CEO e suas principais ações? E (3) que conceitos dialéticos de contradições institucionais e práxis podem ser usados para explicar o caso de mudança na empresa?

Desta forma, esta pesquisa contribui para a literatura com a identificação das contradições institucionais que motivaram a mudança na empresa caso, que culminaram na mudança das lógicas institucionais de modo coercitivo com a introdução de um novo agente organizacional. Tais lógicas concorrentes, foram implementadas visando uma melhoria significativa da organização em termos de desempenho financeiro.

Esta pesquisa é constituída de quatro seções: a primeira dedica-se a explicar a metodologia e os procedimentos adotados no desenvolvimento desta pesquisa; a segunda refere-se a revisão da literatura abraçando os estudos prévios e contexto do setor; a terceira dedica-se ao caso da empresa estudada e os principais pontos observados, e por fim é apresentada as conclusões.

METODOLOGIA O primeiro contato com a empresa foi realizado informalmente com o Controller da

organização, para captar a realidade da empresa e saber o que se poderia explorar. Após este primeiro contato, as possibilidades de pesquisas e o contexto da empresa foram discutidos entre os autores de modo a identificar quais as peculiaridades poderiam ser ressaltadas e exploradas em maior profundidade. Diante das informações postas, foi decidido estudar qual a razão da contratação de um CEO, e explicar o caso de mudança com base em contradições institucionais (SEO E CREED; 2002).

Nesta pesquisa, foram realizadas técnicas de triangulação para coletar dados empíricos. Desta forma, foram realizadas entrevistas, observações diretas, observações de documentos e demonstrativos. Foi utilizada uma coleta de dados baseada nas técnicas da Grounded Theory, que permite a ida a campo mais de uma vez para explorar e coletar dados em maior profundidade, consistindo na ida e volta para melhor analisar o material coletado. (PALERMO; 2014)

2 Turnaround é um processo complexo de adaptar-se a mudanças que causam variações no desempenho da organização. (SERRA ET AL., 2010) Este é um processo complexo e arriscado, que exige soluções e percursos idiossincráticos porque leva em conta as condições culturais, financeiras e tecnológicas da organização e do contexto ambiental em que está inserida (MCKIERNAN, 2003).

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Os dados foram coletados ao longo de 12 meses, contudo as visitas não tiveram periodicidade, pois foi necessário aguardar disponibilidade nas agendas da alta gestão e permissão para contato com os demais funcionários. As fonte dos dados de investigação consistiram em 3 partes: (i) entrevistas não estruturadas com os sócios proprietários, controller, ex-controller e o CEO da empresa em estudo; (ii) um estudo de material documental, fornecido pela empresa, que consistiu em atas, minutas, organogramas, orçamentos, e (iii) a observação direta do processo de trabalho.

Os entrevistados foram selecionados a partir de diferentes níveis hierárquicos da Organização. Foram entrevistados Sócios Dirigentes, CEO, Controller e ex-Controller. Os temas escolhidos para discussão foram baseados no papel desempenhado por cada indivíduo na organização. Desta forma buscou-se conhecer: a estruturação da organização; processo de planejamento e tomada de decisão; medição/avaliação de desempenho, e atitudes gerenciais em relação aos seus controles e ambiente de trabalho, percepções sobre mudanças no ambiente de trabalho, clima organizacional, mudanças introduzidas, entro outros. As entrevistas duraram cerca de 40 minutos a uma hora, realizadas tanto em ambiente formal quanto informal, quando possível. As perguntas foram feitas de forma aberta para permitir que os entrevistados respondem livremente.

MODELO TEÓRICO DA PESQUISA Para desenvolver o modelo teórico deste trabalho, buscou-se algumas ideias do

pensamento complexo3, adaptados ao entendimento da organização (como o conceito de memória e aprendizagem organizacional), interligados com a teoria institucional nos arcabouços da Lógica Institucional e Contradições Institucionais. O conceito de instituição faz relevante para a interligação desses conceitos. Friedland e Alford (1991) definiram as instituições como: (i) padrões supra-organizacionais da atividade pela qual indivíduos e organizações produzem e reproduzem sua subsistência material e organiza o tempo e espaço. E (ii) como sistemas simbólicos, modos de ordenar a realidade, tornando significativo a experiência no tempo e espaço. Desta forma, estes sistemas simbólicos que moldam o comportamento dos atores no tempo e espaço, interliga-se com o conceito de lógica institucional. A lógica Institucional é um núcleo conceitual na teoria sociológica e nos estudos organizacionais. Ela é focada em como os sistemas de valores moldam a cognição e comportamento dos atores. (FRIEDLAND E ALFORD, 1991; THORNTON, 2004; LOUNSBURY, 2007) Segundo Thornton e Ocasio (1999) é “the socially constructed, historical patterns of material practices, assumptions, values, beliefs, and rules by which individuals produce and reproduce their material subsistence, organize time and space, and provide meaning to their social reality.”

Assim, nesta pesquisa, entende-se que uma organização possui uma lógica institucional composta de crenças, valores, práticas, etc. que constituem sua memória. A memória organizacional é uma informação/mensagem que orienta a conduta dos atores inseridos na empresa, que é transmitida por meio da comunicação. A Memória Organizacional de Morin (2005) assemelha-se com a Lógica Institucional. Logo, em períodos de mudança, as respostas da empresa, para promover mudanças e adaptações, dependem das pressões institucionais e do foco da lógica institucional (RAUTIAINEN E JARVENPAA, 2012). Contudo, os estudos em lógica institucional concentram-se em explicar o sucesso ou insucesso da implementação/adoção de novas práticas, normas ou padrões (ROCHA E GUERREIRO, 2010; GUERREIRO, RODRIGUES E CRAIG, 2012). Contudo, nesta

3 Para melhor entendimento ver a obra “Introdução ao Pensamento Complexo” de Edgar Morin (2005).

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pesquisa, entende-se que as respostas da organização (OLIVER, 1991) frente às mudanças dependem da lógica institucional institucionalizada e das contradições institucionais acumuladas.

O outro aspecto para o modelo deste trabalho, concentra-se nas contradições institucionais identificadas por Seo e Creed (2002). O conceito de contradições permite explicar como, quando e porque os agentes embutidos institucionalmente podem desafiar e/ou tentar mudar suas crenças e modos e as crenças e modos dos outros tidas como certas (BURNS E BALDVINSDOTTIR, 2005). As contradições institucionais podem conter as sementes da mudança institucional, pois, as contradições que geram conflitos entre os atores organizacionais criam as condições para a mudança institucional. Isso justifica-se porque os grupos ou indivíduos reconhecem a necessidade de mudança e, posteriormente, colocam as ideias na prática através da práxis humana (BURNS E NIELSEN, 2006). Desta forma, Seo e Creed (2002) identificaram quatro fontes de contradição: a ineficiência técnica, não-adaptabilidade, incompatibilidades institucionais e interesses desalinhados.

Em primeiro lugar, a ineficiência técnica mostra que a conformidade isomórfica com as disposições institucionais vigentes para obter legitimidade pode ser à custa da eficiência técnica. Vários autores destacam que a conformidade com os arranjos institucionais podem entrar em conflito com as atividades técnicas e exigências de eficiência (MEYER E ROWAN, 1977; POWELL E DIMAGGIO, 1991). A possibilidade de Loose Coupling pode levar a uma discrepância entre os requisitos técnico-funcionais da empresa e os requisitos institucionais.

Em segundo lugar, as contradições pode surgir a partir da não-adaptabilidade ao meio ambiente externo. De acordo com Burns e Baldvinsdottir (2005) uma vez que as instituições estão no lugar, elas tendem a ser auto-impositivas e tomadas como certas. Como resultado, há pouca ou nenhuma resposta às mudanças nos fatores externos, devido ao bloqueio pisicológico e econômico (internos) para arranjos institucionais.

A terceira fonte de contradição, incompatibilidade institucional, está relacionada à conformidade intra-institucional que cria incompatibilidades inter-institucionais. Em outras palavras, a conformidade com as disposições institucionais específicas muitas vezes leva a entrar em conflito com instituições alternativas.

Finalmente, a quarta fonte de contradição, interesses desalinhados, é devido a lutas políticas entre os vários participantes que têm interesses divergentes e potência assimétrica. Os atores cujas idéias e interesses não são adequadamente servidos por arranjos sociais existentes podem atuar como agentes de mudança em potencial que, em algumas circunstâncias, tornam-se conscientes das condições institucionais. (SEO E CREED, 2002).

Vale ressaltar que as contradições institucionais são as forças motrizes da mudança institucional, contudo elas não levam à mudança institucional. Seo e Creed (2002) afirmam que a práxis humana é um mecanismo de mediação necessária entre contradições institucionais e mudança institucional. Praxis define a ação humana de natureza política que embora incorporada em instituições existentes, tentam influenciar e mudar a configuração institucional (BURNS E NIELSEN, 2006).

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Na mesma linha, Benson (1977, p. 5-6) enfatiza que as pessoas em algumas circunstâncias podem se tornar agentes ativos em reconstruir suas próprias relações sociais e, finalmente, a si mesmos. Praxis pode ser definida como um tipo particular de ação humana coletiva, situado em um determinado contexto sócio-histórico, mas impulsionado pelos subprodutos inevitáveis da contradição desse contexto social (SEO E CREED, 2002, p. 230). Além disso, Benson (1977) afirmam que o objetivo da práxis é a reconstrução livre e criativa dos arranjos sociais na base ou uma análise fundamentada dos limites e as potencialidades das atuais formas sociais.

CASO EM ESTUDO: TECNA A empresa TECNA, atua no setor de Tecnologia da Informação há mais de 40 anos e

possuí sede em uma capital nordestina. Ela atua no desenvolvimento e Manutenção de Sistemas Aplicativos, na Implantação de ERP, na comercialização de ERP, e na oferta de soluções de tecnologia e gestão para os seus segmentos de atuação. O que abrange serviços e ferramentas de gestão para organizações públicas e privadas, incluindo soluções de apoio à decisão gerenciais.

De acordo com o material fornecido pela empresa ela é presente em todo o mercado nacional através de mais de 600 empresas clientes, em todos os estados do Brasil. Para atuar nacionalmente e operacionalizar o negócio, a TECNA conta com mais de 300 postos de trabalho e parceiros. A empresa possui mais de 300 funcionários em sua matriz e possui duas filiais, uma no nordeste e outra no centro-sul. O Faturamento mensal da empresa ultrapassa os R$2.400.000, o que a classifica como uma empresa de médio porte de acordo com o BNDES (2010; 2011).

Por se encontrar em um setor bastante dinâmico, a empresa “ao longo da sua história, tem buscado constantemente renovação e inovação, absorvendo as mudanças tecnológicas e mercadológicas que ocorrem no seu ambiente.” (Controller) Desta forma, este perfil permitiu que os produtos fossem firmados no mercado, e atrelado a isso receitas recorrentes de licença e manutenção, além de contratos de longo prazo com clientes. O principal produto é um ERP de Gestão Empresarial, o qual se complementa com outros produtos de penetração vertical da própria empresa e de parceiros.

A Estrutura Organizacional da empresa é constituída por um Conselho de Sócios que desenvolve as estratégias empresariais e fazem o controle do capital da empresa. Estes mesmos sócios assumem individualmente as diretorias de Mercado, Relações Institucionais e Administrativa Financeira, havendo ainda mais três diretores executivos responsáveis pelas áreas de Unidades de Negócios, Operações e Inovação e Serviços.

O modelo de Governança Corporativa da empresa conta com um Conselho de Sócios que trata das decisões estratégicas da empresa. Um Grupo Gestor, formado pelos três sócios diretores, pelos demais três diretores e por mais dois gerentes de áreas estratégicas. Esse colegiado acompanha e analisa os resultados, tomando decisões no dia-a-dia da empresa, seguindo as definições estratégicas do Conselho de Sócios.

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O DECLÍNIO DOS NEGÓCIOS E A NECESSIDADE DE MUDAR

Para entender os motivos que levaram TECNA a adotar uma nova posição, deve-se entender os desafios enfrentados pela empresa nos últimos anos. Segundo os relatórios fornecidos pelo Controller e os relatos dos sócios, a empresa vinha passando por uma queda nos rendimentos e aumento nas dívidas. Atrelado a isso fatores externos como a entrada de novos concorrentes no mercado e dinâmica do setor, foram apontados como possíveis causas para a diminuição da receita. Desta forma, identifica-se que a empresa sofreu pressões intra e extra organizacionais como a concorrência, limitações pessoais da administração, queda nos rendimentos, entre outras pressões de mercado, que incentivaram mudanças na organização para que pudessem atingir seus objetivos. Contudo, pressões institucionais como de órgãos reguladores e pressões de expectativas sociais gerais e as ações de principais organizações (GREENWOOD E HININGS, 1996), não foram identificadas.

Contudo, medidas em relação ao custo dos projetos foram tomadas para tentar melhorar a situação da empresa, mas em virtude do tipo do serviço pouco surtiu efeito. Na tabela 1, é apresentada causas secundárias para o declínio de empresas, baseadas em Slatter e Lovett (1999), Grinyer, Mayes e McKiernan (1988), Argenti (1976), Robbins e Pearce (1994) apud Mckiernan (2003).

Tabela 1: Principais causas secundárias de declínio Financeiro Demanda Administrativo

Controle financeiro pobre Política financeira ineficiente Capital de giro insuficiente Estrutura com altos custos

Mudanças de mercado Elevação da competição Inovação tecnológica Políticas de governo

Administração ineficiente Problemas administrativos Formulação estratégica pobre

Fonte: Mckiernan (2003). As causas do declínio, geralmente descritas na literatura sobre processos de mudança,

são apresentadas como: comuns, semelhantes e facilmente identificáveis. Essas causas incluem fatores como: fraco controle financeiro, administração ineficiente e colapso de mercados fundamentais. Mckiernan (2003) propõe que essas são causas secundárias de declínio, pois em sua visão as razões fundamentais do declínio estão ligadas à aprendizagem organizacional.

Desta forma, pode-se destacar que no caso TECNA, diversos desses itens listados estavam presentes na companhia. Tais como: falta de controle, inexistência de um sistema de avaliação de desempenho efetiva, estrutura com custos elevados, mudanças de mercado, entrada de novos competidores, administração ineficiente para solução dos problemas.

Segundo o Controller da organização o meio de avaliação de desempenho da empresa é um orçamento o qual foi implementado há mais de dois anos, contudo, jamais foi usado como uma ferramenta de controle, recaindo no conceito do loose copled ou decopled, ou seja a prática foi dissociada das dia-a-dia da organização, não chegando nem a ser utilizada para tomar decisões, devido a um resultado da passividade dos atores e pela resistência proativa (ANSARI E EUSKE, 1987; MODELL, 2003). Esse fato, se dá quando a mudança é motivada por fracas contradições institucionais.

Em virtude deste cenário, os sócios dirigentes4 se viram limitados em gerir seus negócios, ou seja a capacidade técnico-racional encontrou entraves que não conseguiram superar. Desta forma, decidiram contratar alguém capacitado para direcionar a empresa a cumprir os objetivos e voltar a trazer lucros, ou seja, perceberam a necessidade de mudar o 4 Os sócios dirigentes da empresa são os fundadores da companhia e os responsáveis pela administração executiva, o que recai no conceito de Founder-CEO.

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rumo da organização (turnaround). Sendo assim surgiu o interesse de contratar um CEO. No caso, fica configurado a situação de abandono do cargo de gestão. Similar a pesquisa de Adams, Ferreira e Almeida (2008), onde mostram que em longos períodos de baixo desempenho operacional os gestores tendem a abandonar seus cargos.

Para explicar a necessidade de mudanças, utilizou-se por base as fontes de contradições identificadas por Seo e Creed (2002): a ineficiência técnica, não-adaptabilidade, incompatibilidades institucionais e interesses desalinhados. Contradições, que geram conflitos entre os atores organizacionais, criam as condições para a mudança institucional porque os grupos ou indivíduos reconhecem a necessidade de mudança e, posteriormente, colocam as ideias na prática através da práxis humana (BURNS E NIELSEN, 2006).

Desta forma, a necessidade de contratação do CEO pode ser analisada segundo a ineficiência técnica e da não adaptabilidade. No primeiro caso, Vários autores destacam que a conformidade com os arranjos institucionais podem entrar em conflito com as atividades técnicas e exigências de eficiência (MEYER E ROWAN, 1977; POWELL E DIMAGGIO, 1991). Já no segundo caso, as contradições podem surgir a partir de não-adaptabilidade ao meio ambiente externo. De acordo com Burns e Baldvinsdottir (2005) uma vez que as instituições estão no lugar, elas tendem a ser auto-impositivas e tomadas como certas. Como resultado, há pouca ou nenhuma resposta às mudanças nos fatores externos, devido ao bloqueio pisicológico e econômico (internos) para arranjos institucionais. Seguindo as fontes das contradições institucionais listadas em Seo e Creed (2002), apresenta-se na Tabela 2, os resultados encontrados em TECNA.

Tabela 2: Contradições acumuladas em TECNA.

Ineficiência Técnica

Forte contradição institucinal motivada adoção de práticas por razões de legitimidade, que levaram à dissociação do orçamento do dia-a-dia das tomadas de decisão.

Não adaptabilidade

Forte contradição institucional motivada pela entrada de novos concorrentes no mercado e pela falta de capacidade de gestão dos socio-administradores em gerir os negócios frente às mudanças externas. Esta foi a principal causa direta da decisão de contratação do CEO

Conformidade Institucional

Divergências entre a lógica institucional do CEO com as da organização.

Desalinhamento de Interesses

Fraca ou sem contradição intitucional identificada.

Fonte: dados da pesquisa.

Desta forma, nota-se que os conceitos dialéticos de contradição institucional que explicam a mudança em TECNA foram a não-adaptabilidade e a ineficiência técnica. Uma vez que houve uma mudança no ambiente externo da organização, com a inserção de novos concorrentes, somados a má gestão financeira da organização e falta controle, os gestores se viram incapazes de gerir os negócios. Diante deste cenário, a solução apresentada foi a contratação de alguém capacitado para lidar com tais situações e alavancar os resultados da empresa.

CHEGADA DE UM CEO: MUDANÇAS E AMADURECIMENTO

Segundo Mckiernan (2003) as razões fundamentais do declínio de uma empresa estão ligadas à aprendizagem organizacional. O aprendizado organizacional está diretamente relacionada ao amadurecimento, que para Morin (2005) se dá com o aumento da ordem e melhorias da informação. Desta forma, o acúmulo de contradições institucionais faz com que os atores percebam a necessidade de mudança. Essa mudança pode provocar alterações em toda a organização. Espera-se que a mudança promova a melhoria da organização: melhores

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fluxos de informação; melhoria nos sistemas de controle; e melhorias no resultado, em outras palavras, promovam o amadurecimento da organização.

Conforme exposto na seção anterior, os motivos pelos quais a empresa resolveu contratar um CEO foi a complexidade dos negócios e a falta de capacidade técnica de gerir em prol da melhoria dos resultados. Desta forma, com a chegada do CEO, uma nova corrente ideológica foi introduzida na empresa. Assim foram reformuladas as estratégias para que a empresa pudesse voltar a gerar resultados positivos. Como resultado, os agentes de mudança não podem emancipar-se totalmente das restrições institucionais e trazer a mudança intencional (LOUNSBURY, 2008; MODELL, 2009; PALERMO, 2014).

Desta forma, o modelo de “governança” de TECNA foi redefinido para ampliar sua eficiência. Como consequência o CEO coordenou a ação da Diretoria Estatutária e fez conexão tanto com o Conselho de Sócios, quanto com o Conselho de Administração (o qual foi criado no primeiro semestre de 2014, composto por conselheiros de fora do círculo de sócios).

Para potencializar o resultado da ação do CEO, houve uma reestruturação dos papeis das unidades negócio fizeram com que a organização descentralizasse o processo de tomada de decisão parcialmente, conforme pode ser observado no trecho destacado do discurso do CEO:

As Unidades de Negócio (...) têm o papel de especializar o atendimento aos segmentos de mercado que consideramos estratégicos, como é o caso de Saneamento&Gás, Saúde Suplementar e Sucroalcooleiro, e investir em P&D para criar produtos e serviços inovadores nesses segmentos, de modo que sejamos cada vez mais diferenciados. (...) Reforço que os gerentes têm autonomia para tomar decisões assumindo o bônus e ônus delas. Embora toda gestão se dá de forma muito compartilhada com os diretores e sócios. Visto que ainda estão dentro da operação da empresa.

O Turnaround É natural que as organizações passem por períodos de altos e baixos, porém nem todas

sobrevivem a essa variação no desempenho. Por isso uma liderança consciente e sensível, capaz de adaptar-se a mudanças, pode conduzir um processo de turnaround de sucesso. (SERRA ET AL., 2010). Segundo Mckiernan (2003), turnaround é um processo complexo e arriscado, que exige soluções e percursos idiossincráticos porque leva em conta as condições culturais, financeiras e tecnológicas da organização e do contexto ambiental em que está inserida.

As ações de Turnaround podem ser categorizadas muitas vezes como “estratégica” ou “operacional”, Nesta dicotomia, as ações do turnaround estratégico as ações na maioria das vezes são iniciativas de longo-prazo como a diversificação, integração vertical, novas investidas para aumento na participação de mercado e remoção de investimentos ineficazes. Já as ações de turnaround operacional são táticas de curto prazo voltadas para a geração imediata de receita como redução de custos e de ativos. Na literatura, a partir da observação de grandes empresas, os problemas estratégicos e operacionais, que levam ao declínio do desempenho, são melhor resolvidos pelas ações de turnaround estratégicos e operacionais respectivamente. (BIBEAULT, 1982; HAMBRICK, 1985; HOFER, 1980; SCHENDEL; PATTON; RIGGS, 1976).

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No caso de TECNA, inicialmente foram primadas as ações de turnaround operacional, focadas na melhoria do desempenho financeiro de curto prazo. Nisto uma das ações do CEO foi a redução do quadro de profissionais e redesenhando os papeis das unidades administrativas. Por exemplo a função do Controller passou a ser responsável não só pela contabilidade gerencial. Antes o papel do controller da organização estava concentrado em trabalhar informações para tomada de decisão, como o chefe da contabilidade gerencial, com a mudança no seu papel, foi acrescido responsabilidades do departamento financeiro, logo houve um acumulo de funções no trabalho do controller.

Bibeault (1982) aponta quatro fatores-chave para um turnaround bem-sucedido: um core business estável, financeiramente sólido e competitivo tem de ser identificado e atingido (reduzindo-se, se necessário, o escopo dos outros negócios ou mesmo desinvestindo agressivamente); trabalhadores motivados; acesso aos recursos financeiros necessários para inovar e reforçar a posição no seu negócio central; e uma nova equipe de gestão competente e apoiada. Esses são fatores interdependentes. Em relação à nova equipe de gestão, Schendel, Patton e Riggs (1976) também a elegeram como um componente essencial ao sucesso do turnaround.

No caso de TECNA a dificuldade financeira advinda com a sucessão de desempenhos abaixo do esperado, fez com que houvesse a contratação do CEO, que tomou medidas agressivas para que pudessem ter recursos para investir em inovações e reforçar a posição da empresa com seus clientes. Contudo, as medidas agressivas não foram bem percebida pelos trabalhadores, como foi o caso da ex-Controller, que devido às mudanças e acumulo de trabalho pediu demissão da organização, este caso de descontentamento mostra que os trabalhadores não estavam motivados, positivamente, a continuar a trabalhar sobre forte pressão em busca de melhorias no desempenho.

Na literatura sobre mudança encontra-se duas abordagens distintas: (i) voluntarista, que é uma ação autônoma da organização, e (ii) determinista, que reflete uma imposição ambiental da mudança. No caso de TECNA a mudança veio fortemente pela necessidade de adequação ao ambiente.

Nos casos de turnaround, apesar de as mudanças serem desenvolvidas por uma necessidade imposta por uma crise/sucessão de resultados ruins, são pensadas estrategicamente. (HREBINIAK E JOYCE, 1985). O Quadro 1 apresenta algumas Estratégias Genéricas de Turnarounds, baseadas em McKiernan (2003).

Quadro 1: Estratégias de Turnarounds

Eco

nom

ia

Estratégia Tipos de Ações Condições Satisfatórias Redução de Custos Redução de despesas Causas internas de declínio

Reorganização de Recursos

Vendas de ativos; Fechamento ou Realocação de Unidades; Redução de Dívidas.

Entrada de Novos Competidores; Insuficiência na redução de custos; Estágio de Declínio

Ger

al

Reestruturação das Lideranças e gerências

Substituição/Contratação do CEO; Mudanças na Alta Administração.

Causas Internas

Cultura Organizacional

Mudanças na estrutura; Descentralização.

Mudança de Cultura

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Fonte: McKiernan (2003) com adaptação aos dados da pesquisa.

Nos processos de turnarounds, pesquisadores identificaram dois estágios principais: o estágio da redução e o estágio da recuperação. O primeiro compreende o corte de gastos e/ou a redução das operações a um ambiente controlável, a fim de conter o declínio; os executivos são chamados a entrar em ação e a concentrar seus esforços naquilo que melhor sabem fazer. Em certos casos, é possível que a medida de redução de custos e aumento da eficiência operacional seja suficiente. Contudo, no segundo caso, quando o risco é elevado e iminente, ações mais drásticas são necessárias, tais como a redução dos ativos e a consolidação das operações pelo desinvestimento de atividades menos rentáveis, para ganhar recursos financeiros e aumentar a eficiência (ROBBINS E PEARCE, 1993). Desta forma, identificou-se que a TECNA estava passando pelo primeiro estágio, o estágio de cortes e reduções para conter o declínio.

CONCLUSÕES

A empresa TECNA sofreu enormes pressões intra e extra organizacionais como: a concorrência, limitações pessoais da administração, queda nos rendimentos, entre outros, que incentivaram mudanças na organização para que pudessem atingir seus objetivos. A utilização de uma variedade de perspectivas em um estudo traz certo perigo devido ao uso de teorias com possíveis divergências em seus pressupostos o que pode levar ao oportunismo e incoerência teórica. Entretanto, esta estratégia permite aprendizagem individual e tem a vantagem de teorizar a situação existente. (ANSARI E EUSKE, 1987; BERRY ET AL., 1991; HOQUE E HOPPER, 1994) Nesta pesquisa as abordagens teóricas, isoladamente são insuficientes para explicar a situação vivenciada na empresa, sendo desta forma abordagens complementares.

Ao buscar as respostas para a problemática em estudo identificou-se, também, que as razões levaram a empresa a mudar de estratégia e contratar um CEO estão relacionadas com os conceitos dialéticos das contradições institucionais da não adaptabilidade e ineficiência técnica, pois, a decisão de contratação foi motivada pela incapacidade de gestão dos sócios-diretores, não sendo motivados por pressões institucionais como padrões de adequação, mas sim, pressões de mercado. Desta forma, está contratação trouxe medidas idiossincráticas e radicais que de moto coercitivo usurpou a lógica institucional vigente causando descontentamento de funcionários subordinados, pelas mudanças nos seus papeis e imposição do seu modelo de gestão e controle.

Inter-relacionando o modelo teórico com os achados do estudo de caso, encontra-se que as diferenças entre a lógica institucionalizada (da organização) com a lógica concorrente (do CEO) geram contradições institucionais de incompatibilidade institucional. Essas novas lógicas, inseridas com a contratação do CEO, foram introduzidas para realizar o turnaround de TECNA, e foram introduzidas coercitivamente. Como resultado, os agentes de mudança não podem emancipar-se totalmente das restrições institucionais e trazer a mudança intencional (LOUNSBURY, 2008; MODELL, 2009; PALERMO, 2014). Discussões mais profundas podem ser traçadas a respeito da introdução da mudança coercitiva no arcabouço das contradições institucionais.

Como sugestão para pesquisas futuras, recomenda-se analisar outras situações de mudança na alta administração da empresa, para identificar quais contradições institucionais

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motivaram a mudança posta pelos novos gestores. Em casos de turnaround, como o vivenciado em TECNA, mudanças drásticas podem ser adotadas para melhorar a situação da empresa. Como consequência, a mudança adotada nesse caso é imposta de cima para baixo, ou seja, a mudança é coercitiva. Esta pesquisa se limitou a estudar a razão pela contratação do CEO e não as mudanças adotadas por ele. Essas mudanças podem ser estudadas pela modelo da contradição institucional desenvolvida por Seo e Creed (2002), e aprimoradas por Wanderley e Cullen (2011).

Uma indagação de pesquisa surge na inter-relação entre as teorias utilizadas. Desta forma estudos futuros também podem buscar responder a seguinte pergunta: como as contradições institucionais acumuladas influenciam as lógicas concorrentes para a modificação da memória organizacional? E analisar se de fato, identificar se as contradições intitucionais acumuladas influenciam nas lógicas concorrentes.

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