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Universidade Federal de Pernambuco VI Seminário UFPE de Ciências Contábeis, 25 e 26 de Outubro de 2012, CCSA/UFPE 1 ANAIS Volume 1 Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE

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Universidade Federal de Pernambuco VI Seminário UFPE de Ciências Contábeis, 25 e 26 de Outubro de 2012, CCSA/UFPE

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ANAIS Volume 1

Centro de Ciências Sociais Aplicadas / UFPE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Reitor: Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Vice-Reitor: Prof. Dr. Silvio Romero de Barros Marques CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Diretor: Prof. Dr. Jeronymo José Libonati DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS Chefe: Prof. Dr. Evaldo Santana de Souza MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS Coordenador: Prof. Dr. Aldemar de Araújo Santos Vice-Coordenador: Profª. Drª. Umbelina Cravo Teixeira Laióia Torres COMISSÃO ORGANIZADORA Coordenador: Prof. Dr. Marco Tullio de Castro Vasconcelos Vice-Coordenadora: Profª. Dra. Umbelina Cravo Teixeira Lagióia Torres COMISSÃO CIÊNTÍFICA Aldemar de Araújo Santos, Dr. Aldo Leonardo Cunha Callado, Dr. Aneide Oliveira araújo, Drª. Antônio André Cunha Callado, Dr. Carla Renata Silva Leitão, Drª. Carlos Alberto Pereira, Dr. Carlos Eduardo Facin Lavarda, Dr. Cláudio de Araújo Wanderley, Ph.D. Edilson Paulo, Dr. Evaldo Santana de Souza, Dr. Fernando de Almeida Santos, Dr. Gerlando A. S. Franco de Lima, Dr. Gilberto de Andrade Martins, Dr. Jeronymo José Libonati, Dr. Jorge Katsumi Niyama, Dr. José Luíz Munhós, Dr. Josenildo dos Santos, Ph.D. Juliana Matos de Meira, Ph.D. Luiz Carlos Miranda, Ph.D. Márcio André Veras Machado, Dr. Marco Tullio de Castro Vasconcelos, Dr. Paulo Arnaldo Olak, Dr. Márcia Reis Machado, Drª. Raimundo Nonato Rodrigues, Dr. Reinaldo Guerreiro, Dr. Umbelina Cravo Teixeira Laióia Torres, Drª. Welington Rocha, Dr.

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EQUIPE OPERACIONAL Sebastião Luciano da Silva (Secretário do Mestrado em Ciências Contábeis) Dinamérico L. Lopes (Secretário dos Cursos de Especialização em Ciências Contábeis) Juliana Moreira I. de Oliveira (Bolsista) Maria Rafaela G. de Araújo (Bolsista) Dayvson Bruno P. da Silva (Bolsista) Clayton de Mendonça Julião (Mestrando) Edna Maria de Melo Vieira (Mestranda) Francisco de Assis Carlos Filho (Mestrando) Ivo Alves de Freitas (Mestrando) Jardson Edson Guedes da Silva Almeida (Mestrando) José Augusto de Medeiros Monteiro (Mestrando) Karenn Patrícia Silva Siqueira (Mestranda) Lavoisiene Rodrigues de Lima (Mestranda) Leandro da Costa Lopes (Mestrando) Lucivaldo Lourenço da Silva Filho (Mestrando) Marco Antônio Granha (Mestrando) Márcio Alberto Balduchi (Mestrando) Paulo Cesar Cordeiro (Mestrando) Regiane Cunha da Silva (Mestranda) Valéria Regina Silva do Nascimento (Mestranda) APRESENTAÇÃO

O Seminário do Mestrado em Ciências Contábeis da UFPE constitui-se em um encontro científico anual, com objetivo de promover um espaço científico que estimule à discussão e à reflexão sobre temas atuais e as tendências mundiais da Contabilidade.

Em sua sexta edição traz como tema: “Contabilidade na Gestão Organizacional: desafios presentes e futuros”. Para um público de estudantes, professores, pesquisadores e profissionais da área de Ciências Contábeis e áreas afins, bem como, representantes de entidades de classe da Contabilidade.

O evento é realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – Mestrado Acadêmico de Ciências Contábeis (PPGCC/UFPE, Mestrado).

ÁREAS TEMÁTICAS:

Contabilidade e Controladoria Empresarial Contabilidade e Controladoria Gerencial Educação e Pesquisa em Contabilidade Informação Contábil para Usuários Externos Informação Contábil para Usuários Internos Mercados Financeiros, de Crédito e de Capitais Tema Livre

DATAS IMPORTANTES

Início da submissão de trabalhos – 01 de junho de 2012 Último dia de submissão dos trabalhos - 15 de outubro de 2012 Divulgação dos resultados – 20 de setembro de 2012 Último dia para inscrição dos trabalhos aprovados – 21 de setembro a 02 de outubro de 2012 Período do Seminário – 25 e 26 de outubro de 2012

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ÍNDICE

Detecção de Padrões em Retornos de Ações Utilizando a Teoria da Informação Algorítmica................................. 6

Orçamento Participativo em Paudalho/PE: Um Estudo de Caso............................................................................... 20

Especificação e Implementação de uma Variação do Algoritmo Genético de Holland no Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis para Fins de Tomada de Decisão.....................................................................................

33

Levantamento de Custos por Segmento para Orientação na Tomada de Decisão: Um Estudo de Caso em Empresa Prestadora de Serviços................................................................................................................................

46

Ética o Ativo mais Importante para a Execução da Profissão Contábil: um estudo acerca de sua utilização no mercado de trabalho...................................................................................................................................................

62

Um Estudo acerca da Aderência ao Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público em Instituições Federais de Ensino de Pernambuco............................................................................................................................

75

Índices de Fluxo de Caixa versus Índices Tradicionais de Análise de Balanços: Um Estudo Comparativo as Empresas listadas na BM&FBOVESPA....................................................................................................................

88

A Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade Ocasionou um Maior Reconhecimento dos Ativos Intangíveis no Brasil?.................................................................................................................................................

103

Uma Análise de Saberes da Prática de professores de um curso de Graduação em Ciência Contábeis baseada na Abordagem Freireana: Educação Problematizadora?................................................................................................

115

Um Estudo sobre as Informações Contábeis do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (Demonstrativo Simplificado) do Governo Federal: Quanto ao Cumprimento das Exigências Legais da Lei de Responsabilidade Fiscal..........................................................................................................................................................................

133

Um Estudo da Relação da Gestão de Custo, Volume e Lucro de Combustíveis Fósseis e Orgânicos em Revendedoras de Combustíveis da Cidade de Belo Jardim – PE, com Estudos de Impactos Ambientais................

145

Um Enfoque sobre o Conteúdo Informacional dos Parágrafos de Ênfases e de outros Assuntos no Relatório dos Auditores Independentes de Companhias Abertas.....................................................................................................

155

Divulgação Voluntária da Cadeia de Valor em Empresas Brasileiras: Um Estudo sobre a Evidenciação e possíveis Fatores Determinantes................................................................................................................................

172

Valho o Quanto não Pago: Um Estudo acerca do Impacto da Retenção de Lucros no Valor da Empresa................ 184

Modelo de Gordon com Fluxos de Caixa Estocástico: Um Estudo de Caso da Drogasil S/A................................... 194

Análise da Relação entre a Relevância dos Fluxos de Caixa da DFC e o Desenvolvimento do Mercado de Capitais: Um Estudo Comparativo entre Brasil e Estados Unidos............................................................................

206

Ferramentas Gerenciais: Um Estudo sobre a Utilidade percebida do Planejamento................................................. 221

Linguagem XBRL - EXTENSIBLE BUSINESS REPORTING LANGUAGE – Um Estudo de caso de Definição de Taxonomia e Implementação de Software de Transferência de dados do SUS de Procedimentos Médicos no Hospital das Clínicas da UFPE...............................................................................................................

234

Afinal, Trabalhar, Estudar ou Estagiar em Contabilidade influi no Desempenho Acadêmico? – Um Estudo com Alunos de Graduação em Ciências Contábeis............................................................................................................

251

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A necessidade do profissional de Contabilidade para a Tomada de Decisão do Administrador nas Microempresas do Sertão Pernambucano: realidade distante das últimas alterações CPCs-PME............................

264

Modelando a Previsibilidade de Receita na perspectiva da Contabilometria: Um Levantamento em uma Empresa do Ramo Têxtil...........................................................................................................................................................

273

Uma Análise sobre a Performance de Carteiras Representativas Selecionadas a partir de Fundos de Investimento em Ações através do Modelo de Markowitz..............................................................................................................

283

Reforma Tributária: Uma Abordagem Crítica sobre a Unificação na Tributação do IRPJ e CSLL para o Lucro Presumido...................................................................................................................................................................

300

Planejamento Tributário: Um Estudo Sobre a Redução Tributária em uma Prestadora de Serviços do Ramo de Retífica de Motores....................................................................................................................................................

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APRESENTAÇÃO ORAL

Detecção de Padrões em Retornos de Ações Utilizando a Teoria da Informação Algorítmica.

Detecting Patterns in Stock Returns Using Algorithmic Information Theory

AUTORES: Adhemar Ranciaro, Iram Marcelo, Luiz Carlos Marques, Daniel José.

Resumo

Com base na hipótese dos mercados eficientes criou-se a ideia de que não se pode prever o comportamento de preços futuros dos instrumentos negociados. Como as novas informações são imprevisíveis, os preços flutuariam de forma aleatória ao longo do tempo. Com isso, a possibilidade de lucro seria nula, o que desestimularia os agentes a participarem do mercado. Todavia, este fato não é verificado no mundo real. Empiricamente, observou-se que os preços não seguem passeios aleatórios isto é, há um grau de previsibilidade sobre seus valores, o que permite especulações sobre como encontrar tais padrões. O objetivo deste trabalho foi o de desenvolver uma regra temporal para a negociação de um ativo em bolsa de valores com base em um indicador de grau de aleatoriedade de uma sequência de caracteres. Foram aplicadas a medida de complexidade normalizada de Lempel e Ziv e uma medida de eficiência relativa de mercado, baseadas na teoria da informação algorítmica, em dados de alta frequência de retornos para diferentes períodos de negociação. Os resultados foram obtidos para um ativo, no qual foi possível determinar o conjunto de períodos em que pudesse haver maior chance de detectar previsibilidade nos retornos. Conseguiu-se descrever, em termos probabilísticos, em quais intervalos podem ocorrer padrões para um determinado ativo. A medida define um padrão, mas aquela sofre com flutuações estatísticas podendo, em algumas observações, mostrar-se errônea apesar de haver uma chance de 1% para sua ocorrência.

Palavras-chave: Eficiência de mercado. Teoria da informação algorítmica. Medidas de complexidade.

ABSTRACT

Based on the hypothesis of efficient markets it was created the idea that one can not predict the future behavior of prices of financial instruments. Since the new information is unpredictable, the prices randomly float over time. Thus, the possibility of profit would be zero, which would discourage agents to participate in the market. However, this is not observed in the real world. Empirically, it was observed that the prices do not follow random walks. There is a degree of predictability about their values, allowing speculation on how to find such patterns. The objective of this study was to develop a rule for the time of an active trading on a stock exchange based on an indicator of degree of randomness of a sequence of characters. It was applied the Lempel and Ziv standardized complexity measure and a measure of relative efficiency of the market, based on algorithmic information theory, to high frequency data of returns for different periods of negotiation. The results were obtained for an asset, in which it was possible to determine the set of periods in which there might be more likely to detect predictability in returns. We were able to describe, in probabilistic terms, in which intervals may occur standards for a particular asset. The measure defines a standard, but that suffers from statistical fluctuations can, in some observations, show to be wrong despite a 1% chance of its occurrence.

Key-words: Market efficiency. Algorithmic information theory. Complexity measures.

1. INTRODUÇÃO

Nos mercados financeiros existe a ideia, por parte de alguns teóricos, de que não é possível prever o comportamento de preços futuros dos instrumentos negociados, dado que toda a informação nova que chega ao mercado é rapidamente transmitida aos agentes e é refletida integralmente nos preços (hipótese dos mercados eficientes). Como as novas informações são imprevisíveis, os preços flutuariam de forma aleatória

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ao longo do tempo. Com isso, a possibilidade de lucro seria nula, o que desestimularia os agentes a participarem do mercado. Todavia, este fato não é verificado no mundo real.

Empiricamente, observou-se que os preços não seguem passeios aleatórios isto é, há um grau de previsibilidade sobre seus valores, o que permite especulações sobre como encontrar tais padrões. Por exemplo, estudiosos da análise técnica (popularmente conhecida como “grafista”) possuem métodos definidos para se observar padrões no comportamento dos preços, analisando formas e outras características nas séries temporais de preços.

Este trabalho teve por objetivo apresentar uma regra para auxiliar a busca por intervalos de tempo em que haja chance de se encontrar padrões nos retornos de ativos negociados naqueles mercados a partir do estudo do valor de uma estatística obtida com base na teoria da informação algorítmica, que mede o grau de desvio da aleatoriedade de uma sequência de caracteres.

Dentre os motivos que fundamentam este trabalho, pode-se expressar que este apresenta uma ferramenta de auxílio à tomada de decisão do negociador, tendo maior chance de alocar seus recursos de forma a se obter um resultado adequado às suas necessidades e que serve como mais um teste empírico a ser utilizado no debate sobre a eficiência de um mercado.

Este trabalho foi organizado da seguinte forma: na seção 2 foi apresentado o arcabouço teórico referente à discussão sobre a hipótese dos mercados eficientes, a introdução a uma ideia alternativa, denominada eficiência relativa de mercado e a uma medida deste conceito, baseada na teoria da informação algorítmica, na seção 3 foi apresentado o método utilizado para a determinação da regra temporal de observação que aumenta a chance de previsibilidade de retornos, na seção 4 foram apresentados os resultados e a discussão e na seção 5 foi apresentada a conclusão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Na literatura, o estudo da evolução dos preços dos ativos nos mercados financeiros teve como uma de suas bases teóricas, o exposto em Bachelier (1900) que, ao analisar preços de instrumentos financeiros negociados em bolsa, verificou que seu valor futuro não podia ser previsto, mas que haveria possibilidade de se conhecer sua distribuição de probabilidade. Tal autor definiu a distribuição futura de preços como sendo a gaussiana (normal). Após mais de seis décadas, Samuelson (1965) observou, por meio de modelos espaciais de distribuição de preços que, se os preços incorporassem as informações e as expectativas de todos os participantes do mercado, aqueles flutuariam aleatoriamente. Fama (1970), interessado pela análise empírica da evolução dos preços nos mercados, desenvolveu uma série de testes econométricos de precificação de ativos, observou regularidades e anomalias nos mercados de ações, de títulos, de câmbio e de commodities e realizou estudos de evento nestes mercados. Com tais contribuições, o autor formalizou a hipótese dos mercados eficientes (apresentada por Samuelson (1965) em sua análise teórica de preços), classificando um mercado como tal, se os preços conseguissem refletir integralmente toda a informação disponível.

Logo, se toda a informação disponível é refletida nos preços, então não é possível realizar previsões e, portanto é impossível “vencer o mercado”, ou seja, o lucro esperado ao se portar um ativo seria nulo em um mercado eficiente. Lucas (1978) afirmou que, em mercados onde os agentes possuíssem expectativas racionais, a eficiência informacional proposta por Fama (1970) e Samuelson (1965) seria verificada.

Dentre outros defensores da existência de mercados eficientes, Jensen (1978) afirmava que, em tais mercados, os preços refletem apenas as informações cujos custos de obtenção não excedam os benefícios de sua utilização. O mesmo autor verificou, por meio de testes de evento, a consistência da hipótese dos mercados eficientes em diversos casos.

Grossman e Stiglitz (1980) apontaram que, em um mercado eficiente, não haveria estímulos para que houvesse negociação, dado que o lucro esperado é nulo. Eles propuseram que os mercados não deveriam ser avaliados com eficiência absoluta, mas sim em relação a um padrão ideal (eficiência relativa). Quanto

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menos eficiente um mercado, maiores as possibilidades de ocorrência de resultado esperado diferente de zero, havendo, assim, estímulo para a negociação.

Outros autores também apontaram suas opiniões em favor da não eficiência de mercado. Malkiel (2003), por exemplo, ilustrou a incapacidade de um grande estrategista do mercado financeiro gerar resultados positivos de maneira persistente em um mercado eficiente, mostrando a equivalência de suas escolhas com as realizadas por chimpanzé vendado atirando dardos sobre os ativos que quisesse possuir em sua carteira. Algumas estratégias oriundas da análise técnica, evidenciando ganhos positivos enfatizam o posicionamento acima (BROCK, LAKONISHOK & LeBARON, 1992; MURPHY, 2009).

Campbell, Lo e MacKinlay (1997) não discutiram a eficiência de mercado em si, mas argumentaram que a hipótese, conforme a definição Fama não era possível de ser testada. Os mesmos autores, baseados no trabalho de Grossmann e Stiglitz (1980) ensinaram que a eficiência de um mercado deveria ser aferida em termos relativos, ou seja, com base na comparação daquele com um mercado que fosse considerado eficiente, de modo análogo ao que é feito com o estudo de rendimento de uma máquina térmica, sendo este determinado em termos relativos Por exemplo, um motor a combustão possui rendimento de 50%, ou seja, tal máquina realiza metade do trabalho de um motor ideal.

Observando a proposição de aleatoriedade de preços proposta inicialmente por Samuelson (1965) e sua relação com a eficiência de mercado, Fama (1991) propôs que a hipótese dos mercados eficientes poderia ser observada em mercados em que não houvesse fricções, como por exemplo, custos de transação, que as informações estariam disponíveis a todos os agentes do mercado e que os agentes deveriam ter a mesma opinião sobre os impactos da informação sobre os preços futuros (expectativas homogêneas). Lo e MacKinlay (1988) detectaram a partir de um teste de razão de variância, que os preços nos mercados reais não flutuavam aleatoriamente, explicando que o comportamento não randômico dos preços não significava ineficiência dos mercados, mas sim, efeitos relacionados às fricções existentes, o que foram chamados de efeitos da microestrutura de mercado (CAMPBELL, LO & MACKINLAY, 1997).

Inspirados na ideia de eficiência relativa proposta por Grossman e Stiglitz (1980), e no estudo de aleatoriedade das sequências de caracteres, Mantegna e Stanley (1999) propuseram um estudo de previsibilidade com base no uso da teoria da informação algorítmica proposta de forma independente por Kolmogorov (1965), por Solomonoff (1964) e por Chaitin (1966). Para tal teoria, uma sequência de símbolos era considerada aleatória quando o menor programa de computador utilizado para reproduzir a sequência tivesse um tamanho em bits (medida de unidade de informação) igual ou superior ao da mesma. Ou seja, uma sequência aleatória somente conseguiria ser reproduzida se for copiada integralmente. Logo, quanto menor fosse o tamanho do programa em relação ao tamanho da cadeia de caracteres, maior seria o desvio do objeto relativo à aleatoriedade.

Um dos instrumentos utilizados para medir o nível de aleatoriedade de um objeto baseado na teoria da informação algorítmica é a medida de Lempel e Ziv (1976) de complexidade. Tal medida foi empregada por Giglio, Matsushita e Silva (2008), utilizando a adaptação proposta por Kaspar e Schuster (1987) acoplando a ideia de região de estabilidade proposta por Shmilovici, Alon-Brimer e Hauser (2003) para determinar o grau de eficiência relativa em 36 índices de bolsas de valores e em 36 tipos diferentes de ações negociadas em diversos locais do mundo utilizando séries diárias de preços.

Ranciaro Neto (2010) estudou a medida em dados de alta frequência testando sua sensibilidade em relação a mudanças em parâmetros, dentre eles a região de estabilidade, identificando convergência da medida para a unidade em sequências de tamanho muito grande e diminuição de seu valor ao se aumentar o tamanho da região de estabilidade, na maioria das séries de tempo analisadas. Das 15 ações analisadas, apenas uma não apresentava comportamento monótono da medida de Lempel e Ziv (1976) para variações daquela grandeza.

Taufemback, Giglio e Silva (2011) verificaram a perda de eficiência relativa de mercado em ações após a crise de 2008 (falência do banco Lehman Brothers) com base nas variações da medida de Lempel e Ziv (1976).

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Outras medidas de previsibilidade dos mercados financeiros e de sequências numéricas foram apresentadas em Campbell, et al.(1997) e em Rukhin (2003),

Neste trabalho foi construída uma regra para a observação de padrões nos retornos de uma série temporal de preços de alta frequência de um ativo negociado em bolsa de valores utilizando a aplicação da medida de Lempel e Ziv (1976) encontrada em Giglio et al (2008) para um mesmo ativo, porém em intervalos de tempo distintos, desta forma, observando o comportamento da estatística ao longo das diferentes subséries de tempo analisadas para que se possa verificar, com elevada significância, sua previsibilidade em função do nível de desvio desejado de aleatoriedade.

3. METODOLOGIA

Nesta seção, apresenta-se a medida do desvio de aleatoriedade de uma sequência numérica proposto por Lempel e Ziv (1976), com extensão realizada por Kaspar e Schuster (1987) e com aplicação em mercado financeiro desenvolvida por Giglio, Matsushita e Silva (2008) e por Ranciaro Neto (2010). Em seguida, foi mostrada a aplicação do método nos dados financeiros das ações preferenciais da empresa Eletropaulo S/A negociadas na BM&F-BOVESPA. Na seção 3.3 foi definida uma regra para detecção de padrões de preços em intervalos de tempo diferentes.

3.1 A medida de Lempel e Ziv

Lempel e Ziv (1976) propuseram uma aferição da aleatoriedade de uma sequência finita de caracteres (tamanho finito e número finito de tipos de símbolos) baseada em uma máquina idealizada (máquina de Turing) que realiza duas operações: leitura e impressão. Para explicar o procedimento, os referidos autores propuseram algumas definições que foram detalhadas abaixo.

O número de termos em uma sequência é denominado comprimento desta. Por exemplo: a sequência S = 0010 tem comprimento .

Uma sequência sem caracteres (vazia) possui comprimento zero e é denotada por .

Uma subsequência de S é toda sequência gerada a partir dos termos de S, que obedeça a ordem estabelecida em S. A sequência vazia é uma subsequência de qualquer sequência.

O vocabulário de uma sequência de caracteres ( ) é o conjunto de todas as palavras

(subsequências) de S. Por exemplo: , 0, 1, 00, 01, 10, 001, 010, 0010}

Um prefixo próprio de S é uma subsequência que tenha o mesmo início de S, mas com comprimento inferior a S. Exemplo: . Os prefixos próprios de S são: , . Para representar

tais prefixos, definiu-se um operador que retira da sequência original os últimos termos. Exemplo:

. Logo, e .

Uma palavra é chamada autopalavra de S quando ela não pertencer a nenhum prefixo

próprio de . O autovocabulário é o conjunto das autopalavras de S. Por exemplo, para um

conjunto possível de autopalavras de S é:

Sejam duas sequências e . A extensão é dada pela concatenação de e de , isto é, o

termo imediatamente à direita do último termo de é o primeiro termo de e termina com o último

termo de .

Há dois processos de construção de uma sequência: por reprodução (cópia dos termos posteriores a partir de termos anteriores) e por produção (termos novos não existentes nos prefixos da sequência).

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Uma extensão é reprodutível a partir de S ( ) se .

Uma sequência é produtível a partir de seu prefixo , se e . A notação

utilizada é e é uma base de .

O processo de produção de é dado pela repetição dos passos de produção

consecutivamente iniciando com e acabando em . O resultado da produção do k-ésimo passo é chamado k-ésimo estado do processo.

A história de produção de uma sequência , é dada por:

, com i=1,2...,m.

Os componentes de são as palavras e

O componente e sua produção correspondente são chamados de

exaustivos se .

A história é chamada de exaustiva se todos os seus componentes forem exaustivos, com

exceção do último, que pode ou não ser exaustivo. Denota-se história exaustiva por . Por exemplo: a

sequência S = 0001101001000101 pode ser decomposta da seguinte forma: .

Os termos à esquerda de cada ponto são exaustivos. O último termo não é exaustivo (não possui ponto à direita).

A medida de complexidade de uma sequência finita proposta por Lempel e Ziv (1976) é

calculada da seguinte forma: , onde é o número de componentes de uma história

de . A minimização é dada sobre todas as histórias de S. A história que produz o menor valor de

complexidade, de acordo com os autores, é a história exaustiva de . Logo,

Dado que, para todo número positivo , onde n é o número

de elementos da sequência analisada, é possível que sequências não aleatórias possam assumir complexidades elevadas pelo fato de possuírem um número elevado de termos. Para corrigir o problema, foi necessário considerar a sequência como se tivesse sido emanada de uma fonte discreta e ergódica e

relacionar sua complexidade com a entropia da fonte. Com isso obteve-se o limite superior ,

onde h é a entropia normalizada da fonte.

De acordo com Shannon (1948), a entropia da fonte é dada por: , onde k é

apenas um fator de escala, é a proporção do caractere na sequência e o logaritmo é na base ( é o tamanho do alfabeto).

O valor é chamado de complexidade de Lempel e Ziv normalizada pela entropia (neste

trabalho tal valor foi denominado LZ)

Logo, quando o valor de LZ assume o valor de 1, a sequência analisada pode ser considerada aleatória. Tal fato foi comprovado pelos autores ao testarem a medida em uma família de sequências de 2 caracteres (binárias) construídas por De Bruijn (1975), consideradas como boas aproximações finitas de sequências complexas (LEMPEL & ZIV 1976). À medida que o valor de se afasta da unidade para baixo, a sequência começa a possuir padrões, o que torna previsível, assintoticamente, a determinação de seus termos posteriores.

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3.2 Procedimento computacional proposto por Kaspar e Schuster

Kaspar e Schuster (1987) propuseram um algoritmo eficiente, baseado em cópia e inserção, para o cálculo de . O procedimento foi proposto a seguir.

Seja uma sequência que foi reconstruída a partir de um programa até o dígito e que

este dígito foi inserido (ou seja, não foi copiado a partir de ). Seja , onde o

indica que foi inserido. Para determinar se o resto da sequência foi inserido ou copiado, procede-se da

seguinte forma: toma-se e verifica se . Em caso afirmativo, é obtida por meio de

cópia de uma palavra de . Então, concatena-se o próximo elemento a , obtendo e verifica se

até o momento em que não possa mais ser obtida por meio de cópia de um elemento de

sendo, então, inserida em e voltando ao início do procedimento O número de

inserções em (passos de produção) somado com 1 (um), caso a última cópia não seja seguida por uma

inserção, é a complexidade da sequência .

Segue o exemplo abaixo para a compreensão do procedimento para o cálculo de a partir da sequência 0010.

Passo 1: O primeiro dígito deve sempre ser inserido

Passo 2:

Passo 3:

Passo 4: (última cópia não seguida de inserção)

Então, para 0010.

O algoritmo foi descrito em linguagem de fluxograma na Figura 1 abaixo.

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Figura 1: Fluxograma do algoritmo proposto por Kaspar e Schuster.

3.3 Aplicação da medida aos dados para a definição da regra de observação de previsibilidade.

A medida foi aplicada em uma série temporal de preços de ações em alta frequência (tick by tick) obtida junto à BM&F BOVESPA. A categoria de preço analisada foi a que estava denominada por preço de negócio, que é o preço com que a transação foi efetivada.

O procedimento foi realizado para um só ativo, com o objetivo de demonstrar sua aplicação para a análise de sua sequência temporal de retornos, podendo ser aplicado da mesma forma para as demais ações.

A sequência de preços foi convertida em retornos dados pela expressão: , onde

é o preço do ativo no instante .

Em seguida, os foram codificados em caracteres pertencentes ao alfabeto {0,1,2} com base no critério proposto por Shmilovici, et al. (2003) que utiliza regiões de estabilidade.

Seja o valor a ser convertido, a região de estabilidade pré determinada e o valor codificado a

partir de . O critério de codificação é:

Após a codificação da série de retornos, todos os caracteres foram concatenados na ordem temporal formando, assim, uma sequência.

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A partir da sequência formada, partiu-se para o cálculo da complexidade normalizada pela entropia de Shannon ( ).

Baseado no trabalho de Giglio et. al. (2008) foi possível perceber que não era necessário utilizar todos os elementos da sequência de caracteres para calcular o , pois há probabilidade não nula de se obter

valores altos de para uma sequência não complexa devido à flutuação aleatória da medida (LEMPEL & ZIV, 1976). Aquele autor fez menção ao uso do método das janelas deslizantes.

O método consiste em utilizar subsequências de comprimento fixo chamadas de janelas, que fazem parte da sequência original, para o cálculo do .

Para a obtenção desta medida, deve-se seguir o procedimento abaixo:

a) Define-se o comprimento da janela (j) e o comprimento do salto (s), que consiste determinar em que posição iniciará a nova janela. Exemplo: Para uma janela de tamanho igual a 4 e salto de tamanho igual a 3, a sequência 0123456789 terá as seguintes subsequências: 0123, 3456, 6789;

b) Extrai-se o de cada janela; e

c) Calcula-se a média dos de todas as janelas. Esta estatística é representativa do da sequência toda.

Para o cálculo da entropia de Shannon ( ), foi feita a suposição, neste trabalho, de que cada janela teria sido gerada a partir de uma fonte ergódica. Com isso, as probabilidades de ocorrência dos caracteres “0”, “1” e “2” têm como estimativas as freqüências relativas em que aparecem em cada janela.

Após o cálculo de para a série temporal original, foram construídas outras séries temporais cujos dados possuíam intervalos a cada i ticks, com i variando de 1 a 200 negócios, mantendo-se sempre a primeira negociação de cada dia, para que se pudesse captar a chegada de informação durante o período de fechamento da bolsa. Para todas as séries foram calculados os valores de e estes foram comparados estatisticamente para a definição dos intervalos de tempo em que houvesse maior capacidade preditiva dos preços.

Também foi calculado o índice de eficiência relativa proposto por Giglio et. al. (2008), denotado por IG, que consiste no número de janelas em que o assume valor maior ou igual a 1, em relação ao número total de janelas analisadas.

Depois de realizados os cálculos, foi definida como regra de observação de previsibilidade de preços o conjunto de intervalos de tempo de negociação que satisfaz , onde c é dado pelo maior grau de eficiência relativa (aleatoriedade) admitido pelo agente para simplificar as regiões de observação dos retornos do ativo em estudo. A partir desta regra, o agente pode utilizar menos dados para poder verificar padrões em preços observando o comportamento dos retornos ao longo de um dos intervalos de tempo que pertence ao conjunto mencionado.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo realizado foi sobre as ações preferenciais da empresa Eletropaulo S.A. (Código: ELPL6) negociadas na bolsa de valores BM&F-BOVESPA. A base de dados utilizada foi uma série de preços de alta frequência. O período utilizado para análise foi de 1º de janeiro de 2007 a 31 de dezembro de 2008, O número de negociações realizadas (registros de preços) foi de 451.312.

Foram calculados os valores de LZ médio, seu desvio padrão e a medida IG (número de janelas com LZ médio maior que 1 em relação ao número total de janelas) para diferentes intervalos de negociação (de 1 a 200) utilizando janelas de tamanho 1000 caracteres, saltos de tamanho 1 caractere e regiões de estabilidade de tamanhos 0,05% e 0,25%.

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As figuras 2 e 3 mostram a evolução do LZ médio e do IG com a distância entre as negociações. Foi possível observar que, à medida que se aumenta a distância entre negociações consecutivas, o LZ médio aumenta de valor, indicando a presença de aleatoriedade para intervalos de negociação muito maiores que 1 tick. A diminuição do desvio padrão do LZ médio apresenta uniformidade para e apresenta

dispersão a partir do intervalo 100 para o caso .

Já para o IG, este apresentou aumento de valor com relação à evolução dos intervalos entre negociações e foi observado que seu desvio padrão possui uma diminuição dispersa após um curto aumento de valor. Tal aumento pára em 9 negócios para e em 26 negócios para .

0 50 100 150 2000.95

1

1.05

intervalo entre negócios

(a)

LZ

0 50 100 150 2000.01

0.02

0.03

0.04

intervalo entre negócios

(b)

Desvio LZ

0 50 100 150 2000

0.5

1

intervalo entre negócios

(c)

IG

0 50 100 150 2000

0.2

0.4

0.6

0.8

intervalo entre negócios

(d)

Desvio IG

Figura 2: Diagramas das estatísticas LZ médio (a) e IG (c) e de seus respectivos desvios padrão (b) e (d). A região de estabilidade utilizada foi de 0,05%.

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0 50 100 150 2000.9

0.95

1

1.05

1.1

intervalo entre negócios

(a)

LZ

0 50 100 150 2000

0.02

0.04

0.06

Desvio LZ

intervalo entre negócios

(b)

0 50 100 150 2000

0.5

1

intervalo entre negócios

(c)

IG

0 50 100 150 2000

0.2

0.4

0.6

0.8

intervalo entre negócios

(d)

Desvio IG

Figura 3: Diagramas das estatísticas LZ médio (a) e IG (c) e de seus respectivos desvios padrão (b) e (d). A região de estabilidade utilizada foi de 0,25%.

Na etapa seguinte, foi calculado o conjunto de intervalos de tempo (em números de negócios) em que os padrões entre retornos pudessem desviar da aleatoriedade em pelo menos (1-c)% das janelas, ou seja,

.

Como o IG é uma estatística obtida a partir de uma amostra, foi utilizado um teste de hipóteses para proporções, onde a hipótese a ser testada foi contra . Para um nível de significância de 1%, foram determinados os intervalos de tempo adequados para a observação dos retornos em diferentes valores de c e de região de estabilidade. A Tabela 1 mostra os resultados obtidos.

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Tabela 1: Intervalos de tempo que obedecem à regra de observação IG < c.

Região de estabilidade 0,05% Região de estabilidade 0,25%

c

Intervalos de tempo (em números de negócios) onde

C Intervalos de tempo (em números

de negócios) onde

10% NÃO HÁ 10% 1 a 6.

15% 1. 15% 1 a 10.

20% 1, 2. 20% 1 a 11.

25% 1, 2. 25% 1 a 12.

30% 1, 2, 3. 30% 1 a 17.

35% 1, 2, 3, 4. 35% 1 a 17.

40% 1, 2, 3, 4. 40% 1 a 22.

45% 1 a 6. 45% 1 a 26.

50% 1 a 7. 50% 1 a 27, 30 e 31.

55% 1 a 7. 55% 1 a 27, 30 a 32.

60% 1 a 11. 60% 1 a 38.

65% 1 a 12. 65% 1 a 42, 45 a 51,

70% 1 a 12, 16 e 17. 70% 1 a 51, 58 e 59, 62 a 64.

75% 1 a 17, 75% 1 a 51, 58 e 59, 62 a 64

80% 1 a 26, 93 e 94, 191 e 192 80% 1 a 68, 70 e 71.

85%

1 a 31, 35 e 36, 45 e 46, 50 a 52, 58 e 59, 62 e 63, 93 e 94, 191 e 192.

85% 1 a 81, 87 e 88, 141 e 142.

90%

1 a 68, 75 a 77, 86 e 87, 91 a 99, 105 a 107, 134 a 136, 154 a 155, 162 a 163, 169 a 170, 176 a

177, 191 e 192 90%

1 a 89, 100 e 101, 109 a 112, 121 e 122, 134 a 136, 140 a 143, 153 e

154, 184 e 185, 195 e 196.

95%

Todos os intervalos analisados, exceto 122 a 124, 126 e 127, 132 e 133, 140 e 141, 171 a 175, 178

a 181, 185 a 190, 193 a 195, 198 e 199. 95%

1 a 136, 140 a 146, 153 a 163, 184 a 186, 194 a 197.

Para que possa ser compreendida a regra de observação, foi tomado como exemplo um elemento do conjunto de intervalos de tempo que satisfaz IG < 10% para a região de estabilidade de 0,25% (intervalo igual a 5 ticks). Ou seja, ao se observar as variações de preços a cada 5 negócios (levando em consideração, também, o preço obtido na primeira negociação de cada dia), há uma chance alta de que sejam encontrados padrões na série temporal, dado que menos de 10% das janelas apresentam indícios de aleatoriedade neste caso.

O tamanho de janela utilizado, bem como o tamanho de salto não foram alterados na análise dos cenários, pois a ideia foi a de comparar padrões de retornos em sequências produzidas por uma mesma fonte e, de acordo com Ranciaro Neto (2010), não há alterações significativas no padrão de comparação do LZ médio de duas sequências ao se alterar o comprimento daquelas grandezas. Naquele trabalho foram utilizadas janelas de tamanhos 5000 a 30000 e saltos variando de 1000 a 10000. Giglio, Matsushita e Silva

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(2008) utilizou janelas de tamanho 1000 e saltos de comprimento igual a 1. Mas, ao se alterar a região de estabilidade, há evidência de alterações da medida LZ médio e IG em magnitudes variadas dependendo do tipo de configuração dos caracteres na série temporal analisada (RANCIARO NETO, 2010).

Foram adotadas sequências de tamanho 1000, pois de acordo com Kaspar e Schuster (1987), a probabilidade de convergência da estatística LZ é inferior a 5%. Ao adotar valores muito grandes de janela, poder-se-ia incorrer em medidas de LZ iguais ou superiores à unidade sem haver aleatoriedade na sequência.

A interpretação utilizada para as regiões de estabilidade é a de que elas seriam um tipo de grau de tolerância das variações dos retornos de um ativo. Por exemplo, em uma região de estabilidade de 0,05%, são desconsiderados os movimentos nos retornos que variem de 0,05% para baixo a 0,05% para cima. Valores que recaem sobre tal intervalo ficam codificados sob um mesmo tipo de caractere. Ao se aumentar a região de estabilidade, as mudanças são desconsideradas em um intervalo maior de valores, diminuindo, consequentemente, o valor de LZ e aumentando a ocorrência de padrões na sequência. Para o exemplo apresentado anteriormente, caso fosse utilizada a região de estabilidade 0,05%, não seria possível observar, para intervalos de 5 negócios, padrões nos retornos em que menos de 10% das janelas possuam aleatoriedade.

Observando os resultados da Tabela 1, verificou-se que o número de intervalos de tempo que , aumentava para crescimento no valor de c. Houve concentração do número de intervalos de menor

tamanho e, à medida que o tamanho do intervalo aumentava, um número menor e mais disperso destes satisfazia a regra de observação. Tal fato pode ser explicado pelos efeitos das fricções do mercado, que se tornam mais aparentes em séries de preços de alta frequência (CAMPBELL, et al. 1997).

A Tabela 2 apresenta os intervalos em que o LZ médio é estatisticamente menor que 1 ao nível de significância de 1% para os casos de região de estabilidade iguais a 0,05% e a 0,25%.

Tabela 2: Intervalos de tempo (em número de negócios) em que o LZ médio é inferior a 1.

Região de estabilidade 0,05% Região de estabilidade 0,25%

1 a 9 1 a 32

Tal resultado corrobora a presença de padrões na série de retornos para intervalos de tempo pequenos, dado que o valor da estatística ao longo das janelas tende a se afastar de 1, na média.

5. CONCLUSÃO

A partir do uso da medida e IG, não foi possível descrever o tipo de padrão existente entre retornos em um dado intervalo de tempo entre eles. O que se tornou viável, foi descrever, em termos probabilísticos, em quais intervalos podem ocorrer padrões para um determinado ativo. A medida define um padrão, mas aquela sofre com flutuações estatísticas podendo, em algumas observações, mostrar-se errônea apesar de haver uma chance pequena para sua ocorrência (1%).

Porém, o custo de se analisar um volume grande de informação em busca de padrões fica reduzido no curto prazo, e, consequentemente, os efeitos provocados pelas flutuações devido à transmissão de novas informações sobre os preços ficam reduzidos, facilitando tomada de decisão no sentido de se aumentar a precisão e de se diminuir o tempo, pois a aplicação de modelos que utilizam muitos dados elevam o custo computacional de sua implementação. Deve-se atentar para o fato que, para um prazo mais longo, poderá haver alterações na evolução das séries temporais, invalidando a análise em questão como, por exemplo, a ideia da imprevisibilidade dos efeitos de alterações na política econômica (LUCAS, 1976) ou, de acordo com Mises (2010), a evolução para o estágio avançado de um ciclo econômico gerado pela expansão exagerada da oferta monetária, onde os agentes não conseguem mais projetar seus resultados devido ao

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excesso de oferta induzido em alguns setores e à inflação de preços, o que agravaria a incerteza sobre os preços futuros.

Sugere-se aplicar as medidas com outras informações, como bid-ask spread, para auxiliar na determinação de padrões de liquidez de um ativo, o que em conjunto com a análise de preços poderia gerar mais informação para o negociante definir suas estratégias dentro de seu perfil de investimento.

Os intervalos de tempo foram considerados constantes (em números de negócios) na análise. Pode-se desenvolver outra medida com tempo físico (horas, minutos e segundos), com regras de mudança temporal ou em períodos definidos do dia a fim de se captar regularidades ou anomalias relativas aos preços dos ativos analisados.

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Orçamento Participativo em Paudalho/PE: Um Estudo de Caso.

AUTORES: Caio Eduardo Mulatinho, Maria Cruz, Bruno Cruz, Rodrigo Amaro.

Resumo

O objetivo geral desta pesquisa é de identificar as consequências que o município de Paudalho/PE está obtendo com a implementação do Orçamento Participativo, levando-se em consideração o atendimento aos cidadãos, através da percepção de agentes políticos e sociais participantes do processo de implantação deste no município. Para a realização do estudo foi utilizado quanto aos fins o método indutivo, caracterizada por uma pesquisa exploratória de caráter descritivo, proporcionado através de um levantamento bibliográfico e documental, e técnica padronizada de coleta de dados, envolvendo questionários com os participantes. Quanto aos meios utilizou-se a pesquisa de campo, com análise de questionários estruturados, mensurando a opinião da população local e dos membros do Orçamento Participativo na cidade. Observou-se que a implantação do Orçamento Participativo teve um resultado satisfatório, deixando uma mensagem de democracia transparente e com uma comunidade atuante em sua região, que só beneficiam o município estudado.

Palavras-Chave: Administração Pública. Orçamento Público. Orçamento Participativo

1 INTRODUÇÃO A desburocratização da gestão pública vem promover a democratização da sociedade, fazendo com

que agentes locais no contexto da sociedade manifestem suas necessidades através de ações políticas. Em razão disso, a gestão pública brasileira, caracterizada historicamente como impositiva, centralizadora quanto às decisões de como e onde intervir vem cedendo espaços por uma gestão mais participativa, voltada ao interesse da coletividade, no que diz respeito à formulação e implementação de políticas públicas. Nesse sentido, a participação popular no direcionamento de políticas públicas é reflexo de um clamor social em participar mais incisivamente no processo político, vez que ao longo do tempo essa sociedade fora relegada em muitos governos.

É nesse contexto que o orçamento, isto é, a quantificação em termos físicos e monetários de planos, objetivos e metas, são tidas como a peça-chave dessas políticas públicas e, no que se refere à legislação, consta um grande avanço no sentido de democratizar o processo de formulação do orçamento público. Em sua maioria são elaborados no gabinete do prefeito ou em escritórios de Contabilidade, onde são previstas as receitas e fixadas às despesas a partir da arrecadação e de gastos anteriores, possuindo assim uma formação técnica e uma linguagem pouco conhecida fazendo com que a população em geral não se interesse pelo mesmo, seja pela falta de entendimento ou pela falta de transparência no trato do bem público, torna um processo político muitas das vezes desacreditado.

No que tange à transparência, a Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000, também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), veio para tornar a gestão pública menos obscura, em especial ao contido no artigo 48, quando se garante, como instrumento de transparência da gestão, a ampla divulgação de orçamentos, prestação de contas e de diversos relatórios que sintetizem ações públicas, bem como, conforme a Lei Complementar nº 131/2009, do devido incentivo à participação popular durante a elaboração de planos e leis que condigam com o orçamento. Entende-se que, a partir deste artigo, a sociedade ganhe um aparato científico, fruto de uma investigação descritiva das consequências da implantação de uma modalidade de orçamento, conhecido como participativo, em um município pernambucano.

Este orçamento tem o intuito de buscar uma participação no processo decisório para grupos que, até então, não tinham o direito de fala, cidadãos historicamente excluídos no processo de cidadania. Antes do Orçamento Participativo (OP) a população não tinha a possibilidade de participar de forma direta de sua elaboração, ela apenas estavam presentes na hora de eleger seus representantes no legislativo e executivo, e após este momento apenas os eleitos seriam os responsáveis pela homologação das decisões. Com o

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orçamento participativo, o cidadão passa a interagir nos processos decisórios local de seu município, sendo conduzido e coordenado pelo governo, através de conselhos, tornando as contas públicas acessíveis à população.

Portanto, para a realização do presente estudo foi utilizado como fonte de informação o município de Paudalho, cidade situada no Estado de Pernambuco, cujo escopo tenderá a analisar o impacto que o orçamento participativo vem trazendo ao município. Eis que surge o problema norteador deste estudo: Qual a percepção dos agentes políticos e sociais quanto à implantação do Orçamento Participativo no município de Paudalho/PE, para o atendimento das necessidades dos cidadãos locais?

Nesse sentido, o objetivo geral se pautou em identificar a percepção dos agentes políticos, integrantes de conselhos municipais, e sociais a partir da implantação do OP na população em comento. Para tanto, foram estabelecidos como objetivos específicos: (a) discutir exploratoriamente a evolução da administração pública brasileira e o avanço do orçamento público; (b) discutir sobre o conceito e operacionalização do OP, descrevendo a forma como foi implantado no município estudado; e, (c) identificar quais os benefícios e as limitações trazidas ao município em questão ao adotar essa modalidade de orçamento como ferramenta de planejamento, a partir da percepção dos agentes políticos e sociais participantes do OP local.

A relevância deste estudo baseia-se na prerrogativa de que a busca pela participação no processo decisório da população local é de extrema importância para um crescimento econômico e social dos municípios. Apesar das implementações de alguns instrumentos legais, como a Lei Federal nº 4.320/64, na qual são instituídas as normas gerais de direito financeiro para executar as elaborações e controle dos orçamentos, pouco se avançou no que se refere ao planejamento governamental, sua elaboração e acompanhamento. Para isto, em termos de democratização no que envolve o processo orçamentário, surge a importância do OP que é empregado e adaptado às peculiaridades de cada região, e que resulta na maior possibilidade das políticas públicas atenderem à coletividade quanto a busca do bem-estar social.

Este mecanismo busca integrar grupos sociais, ate então excluídos dos processos decisórios, que por muitas vezes se caracterizam como seguidores de renda precária, que moram em áreas periféricas da cidade, que poderão decidir sobre prioridades de investimentos em seus bairros.

Destarte, o presente estudo é relevante no que se refere à importância da atuação da população no processo decisório sobre políticas públicas, buscando seus direitos e promovendo a transparência e a responsabilidade dos gestores de um governo. Sendo assim, este tema é de grande importância para que a administração pública dedique-se aos aspectos sociais, universalizando as ações e buscando sempre, o atendimento do interesse de uma coletividade.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 COMENTÁRIOS À EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O AVANÇO DO ORÇAMENTO PÚBLICO

2.1.1 A Evolução da Administração Pública

A evolução histórica político-social do Estado moderno estão associadas às grandes transformações, com seus respectivos fundamentos hierárquicas que vão sendo substituídos por uma formulação democrática. Diante disto, surge então à reforma do aparelho do Estado, evoluindo então através de três modelos: administração pública patrimonial, burocrática e gerencial.

Segundo Matias (2008) o nascimento do estado começa na segunda metade do século XV, sendo oportuno lembrar que a crise do sistema feudal surge no período final da Idade Média, contribuindo assim para que ocorresse a formação das monarquias nacionais e consolidação do rei. Logo no lugar da suserania feudal – apoiada na relação senhor-vassalo –, o Estado moderno desenvolve a noção de soberania, onde o soberano tinha o direito de valer suas decisões perante seus súditos que se instalavam no território do Estado.

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Originada do patriarcalismo, a gestão patrimonial possui um quadro administrativo constituído de dependentes pessoais do gestor (rei) parentes, amigos, ou até pessoas que detenham algum vinculo de fidelidade. Segundo Bresser (1998, p. 47) esta administração é do Estado, mas não é pública, pois não visa o interesse público, é a política das monarquias absolutistas, nela o patrimônio público é confundido com o patrimônio privado. Granjeiro (2008), afirma que neste período a escolha dos administradores ocorria de forma irracional. Fatores como, linhagem, prestígio social e relações sociais prevaleciam na escolha. O novo rei ou o senhor feudal é escolhido por que é filho primogênito do último soberano. O nepotismo e o filhotismo é um fator que prevalece esse sistema.

Surge, então, na época do liberalismo, a gestão burocrática, para combater este sistema patriarcal, surgindo um sistema de hierarquia das organizações, uma divisão de superiores e subordinados. Segundo Bresser (1998), o estado se encontrava desgastado com as políticas patrimonialistas, combatendo com a corrupção e o nepotismo, desenvolvendo assim profissionalização, carreira, hierarquia funcional, controles administrativos e entre outras iniciativas. Seu ponto positivo é o controle dos abusos, e seu ponto negativo é a incapacidade de prestar serviços aos cidadãos vistos como clientes. Segundo Bresser (1998), a administração patrimonialista seria incompatível com o capitalismo industrial e as democracias parlamentares. Para o capitalismo, a separação do Estado do mercado é notória, visto que a democracia só se torna real quando a sociedade formada por cidadãos distingue-se dele mesmo e o controla.

Ocorrem então às reformas burocráticas, Bresser, (1998, p.48) com muita propriedade lembra que: “[...] administração burocrática moderna, racional-legal, baseada na centralização das decisões, na hierarquia, no princípio da unidade de comando, na estrutura piramidal do poder, nas rotinas rígidas, no controle passo a passo dos procedimentos administrativos”. Surge a mudança na forma de administrar o aparelho público a serviços do público, trazendo ideais do setor privado, adaptando os mesmo e ao setor público (sistemas de cargos e promoções), incluindo um processo de efetividade.

Bresser (1998 p.49) afirma que as sociedades burocráticas procuram utilizar-se de meios mais eficientes para que se possa chegar uma meta, utilizando uma postura de seleção por competência técnica, garantindo assim a continuidade e combatendo ao nepotismo seria então o ponto positivo, mais o autor deixa claro que ela deixa a desejar diante deste autoritarismo, deixando de lado a participação da população nos processos decisórios.

Observa-se em primeira instância que este sistema deriva de um autoritarismo, regido de normas racionais e legais, sendo elas válidas, não por que a tradição as deixa legítimas, mais por que as leva para um fim visado, capaz de impor disciplina. A norma racional ela sofre variações de acordo com os fatores que vão surgindo, sendo caracterizada por normas escritas e exaustivas. A organização passa assim a ter uma forma de pirâmide, tendo cada superior um determinado número de subordinados.

Com o fim da II Guerra Mundial e o advento de avanços tecnológicos, o acesso às informações se torna transparentes, a sociedade vai se tornando cada vez mais diversificada, e exigente, no que se refere à gestão. Surge na metade do século XX, como respostas ao modelo burocrático a administração gerencial, considerada a segunda grande reforma administrativa do capitalismo, por consequências das funções econômicas e sociais se expandiram, com o desenvolvimento tecnológico e a globalização econômica mundial, a necessidade de diminuir os custos, modernizar os serviços, tendo em vista que o cidadão irá usufruir destes benefícios.

Na reforma do aparelho do estado passa a ser seguida por eficiência e qualidade na prestação dos serviços, para que com isto se obtenha resultados positivos. A administração pública gerencial não abstrai todos os princípios da burocrática, pelo contrario, conservasse alguns princípios como a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, carreiras, treinamentos sistemáticos e dentre outros.

Na reforma gerencial, segundo Bresser (1998), os administradores públicos passam a ter uma maior autonomia e responsabilidade, tornando assim a sociedade cliente do estado o chamado cidadão-cliente, buscando inspiração na administração privada, tendo uma distinção por não obter lucro em seus serviços e ter como alvo o interesse público, tendo em vista o critério político e ser presumida de critérios

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democráticos. Com isto Bresser afirma que a administração gerencial é voltada para o cidadão, que terá como objeto de compra os serviços públicos, na qual os servidores públicos serão responsabilizados pelos seus atos. A receita do estado deriva de impostos, taxas, contribuições e outras rendas, ou seja, as contribuições obrigatórias que o cidadão (contribuinte de imposto e cliente dos seus serviços), repassa.

A sociedade é vista como um campo de conflito, cooperação e incerteza, na qual cada um busca defender seus interesses. Parte do principio de combate ao nepotismo e a corrupção, não se utilizando de procedimentos rígidos, mais sim de indicadores de desempenho, controle nos resultados e etc. Ela preza por princípios de confiança e descentralização da decisão.

Observa-se redefinido seus usuários como clientes, descentralizando assim a autoridade, promovendo um gerenciamento com a participação. Uma gestão mais participativa, mais atuante, buscando-se resultados, atendimento ao cliente, descentralização, prevenção e atenuante ao mercado. A sociedade é quem controla a entidade pública por intermédio da votação, por isto a obtenção de um bom resultado no seu processo de atendimento ao cliente, visto que este resultado se engaja na ação do estado, que estão controlados e seguros, e as respectivas necessidades dos cidadãos estão sendo atendidas, tornando assim a reforma gerencial, uma reforma democrática, envolvendo assim um controle social por parte dos cidadãos.

Para tanto é necessário que se exista transparência na esfera governamental, passando assim a ganhar um destaque nesta nova forma de governar a esfera pública. A corrupção enfraquece a democracia perdendo assim o governo à moral pública.

2.1.2 O Avanço do Orçamento Público

Partindo do princípio que o orçamento público possibilita visualizar o controle dos gastos públicos e é tido como instrumento da moderna administração, sendo utilizado como ferramenta pelos cidadãos para limitar e controlar suas ações, na qual o mesmo em outras épocas foi utilizado de forma rudimentar controlando os gastos realizados pelo Estado ou pelo rei. Segundo Martins (2004) a idéia de controlar os gastos públicos vinha desde 1330 a.C. na legislação sancionada por Moisés, na qual as funções da justiça eram regularizadas e ocorria a arrecadação de dízimos.

Com muita propriedade Bezerra Filho (2006) afirma que, no período colonial já se aplicava a idéia de tributação, onde a Coroa Portuguesa intensificou o seu controle fiscal, proibindo as atividades fabris e artesanais e taxando os produtos vindos da metrópole. Isso ocorreu na época de 1789, no cenário da Inconfidência Mineira, onde a população tentava conquistar a soberania do país, suspendendo a derrama (cobrança de impostos atrasado). Já em 1808 com a vinda de D. João VI cria-se um Erário Régio como forma de administrar as finanças e o patrimônio público. Com a abertura dos portos surgiu à necessidade de policiar-se diante da cobrança destes tributos. Entre 1822 e 1824 surge então o processo de democracia com a criação do parlamento, que tem um controle nas finanças públicas. E por volta de 1824 surge a primeira exigência no que se refere à elaboração do orçamento com a criação da Lei Magna, segundo Giacomoni (2000, p. 52).

Bezerra Filho (2006) afirma que na fase republicana observa-se um maior controle no que diz respeito ao controle, do sistema orçamentário, com o surgimento do Tribunal de Contas da União. A partir de 1905, inicia a contabilidade pública no Brasil, com as reformas no sistema de contabilidade pública no Estado de São Paulo.

Ainda, segundo o mesmo autor, quando retrata esse período histórico, em 1914 surge à necessidade de concessão de empréstimo ao Brasil, diante disto seria necessário fazer um levantamento da situação econômico-financeira do Tesouro Nacional. Em 1919, a proposta de adotar o método de partidas dobradas publicadas por Frei Luca Pacioli passa a ser praticada no Brasil. Em 1922 acontece aprovação do código de contabilidade da União. Em 1939, os orçamentos e balanços estaduais e federais passaram a ser padronizados. Em 1940, o Decreto Presidencial nº 2.416/64 aparece para estabelecer consolidação das normas orçamentárias. Em 1964, a criação da Lei Federal nº. 4320/64 institui normas de direito financeiro e contabilidade pública para União, Estado e Município. Em 1988 vem a Constituição Federal, e logo em seguida, em 1998, a Emenda Constitucional nº 19. Em 2000, surge a Lei de Responsabilidade Fiscal, que

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veio para complementar a Lei Federal nº. 4320/64, estabelecendo normas de finanças públicas focando, assim, a responsabilidade na gestão fiscal.

2.2 CONCEITO E OPERACIONALIZAÇÃO DE ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E SUA IMPLANTAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PAUDALHO – PE

2.2.1 Conceito de Orçamento Participativo

A existência do Estado ocorre no momento em que o povo consciente da sua nacionalidade organiza-se politicamente para eleger seus representantes através do voto consciente. Bresser (1998 p.81), afirma que um dos objetivos principais da administração pública é defender a res publica contra interesses privados, essa proteção por sua vez acontece através da democracia, juntamente com a reforma gerencial, e com o direito a cidadania.

Com o surgimento da democracia, o povo passa a ter um poder de atuação, no que se refere à esfera da gestão pública, passa a atuar através do voto, ter consciência de que está elegendo, por que é através do seu representante que a comunidade pode reivindicar seus direitos apartir deste estado liberal.

Diante deste mecanismo de gestão democrática das políticas públicas para melhor alocar os recursos oriundos de receitas arrecadadas, uma prática que vem sendo adotada em muitos municípios é o OP. Uma gestão com transparência, com o dinheiro público, a decisão não é apenas exclusiva do governo e sim do povo também. Surge à descentralização do poder. Uma união entre agentes políticos e comunidade em busca de uma transformação local, ajustada a necessidade de cada região. A população é vista como parceira política ativa.

A sua existência permite uma sintonia entre cidadão (cliente) com a administração municipal, dando a população uma oportunidade de visualizar suas despesas e receitas. Os cidadãos passam assim a participar da alocação destes recursos, tendo o mesmo, o direito de opinar e decidir, onde, o dinheiro dos impostos pagos por eles deverão ser destinados, apontando assim as demandas mais urgentes a serem priorizadas.

Conforme Barreto (2007 p. 55) a excelência em gestão pública prioriza o cidadão e a sociedade como condição de usuário do próprio serviço público, sendo assim qualquer ação feita pelo estado destinada a sociedade e que os próprios são mantedores dele, ele depende de ações populares. Para tanto é necessário que os órgãos, as entidades e governos induzam à prática do controle social efetivo, e que este não seja apenas ativo no momento de eleição, mais sim no cotidiano, fazendo-se valer a democracia. Ninguém melhor do que a própria sociedade para indicar as diretrizes de formulação de politicas públicas, pois a realidade só é conhecida quando vivenciada. Para que isso seja efetivado, uma ferramenta de gestão é acoplada em alguns municípios. E, segundo Bezerra Filho (2006), o OP é um grande avanço na democratização da gestão pública, atendendo assim ao verdadeiro interesse social.

Esta forma de atuação da população, decorrente de reivindicação de movimentos postos aos limites da democracia representativa do país, fica transparente e aberto a qualquer cidadão, tendo consigo um ponto positivo, por possuir um valor pedagógico, quando apartir do momento orienta, educa exercita a cidadania de uma sociedade. Sendo o orçamento compatível com as características de sua sociedade, de acordo com sua política, cultura e etc.

Esse modelo de gestão participativa, conforme Barreto (2007 p.59) menciona, requer muito a participação, cooperação, compartilhamento de informações e confiança, para que atinja as metas almejadas. Sem o engajamento da liderança, as ações não progridem, os resultados não são satisfatórios e os problemas não são solucionados. Pressupõe então que uma gestão de qualidade tem que ter o envolvimento dos gerentes e gerenciados. Os servidores que integram a equipe de trabalho têm que se sentirem donos de suas tarefas, com um conhecimento superior a elas. Trabalhar em prol do resultado positivo.

Segundo Menezes (2005), este novo modelo de gestão, aproveita todas as potencialidades disponíveis no município, para que a comunidade em geral se sinta impulsionada a agir, buscar por resultados satisfatórios, para que se tenha uma melhoria de vida. Portanto é uma gestão em função do cidadão, e não o contrário disso. Para estas mudanças provocadas sobre o planejamento, a partir da sua

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implementação, surge como um apoio ao OP, às políticas públicas. O cenário atual necessita de maior transparência de gestão, maior participação de grupos no processo decisório.

Diante do exposto, vários fatores influenciam na consolidação do orçamento participativo, como a localidade de cada município, a organização política, a mobilização da sociedade, a capacidade técnica dos servidores envolvidos, o montante arrecadado, as disponibilidades orçamentárias e a ampliação do orçamento, e etc.

Sendo assim, o orçamento participativo funciona da seguinte forma: o poder Executivo cria uma metodologia para aplicar juntamente com a sociedade, para que com isto possam trabalhar em conjunto. A partir disto, eles irão elencar os objetivos principais, as metas a serem alcançadas, as capacitações a serem feitas, os recursos a serem aplicados, visando solucionar os problemas prioritários, elencados pela população, na qual irá eleger delegados para que sejam seus representantes.

2.2.2 Operacionalização do Orçamento Participativo

No que se refere à autoregulamentação e a legislação, Oliveira (2007) afirma que, a construção do formato do OP a princípio ocorre no primeiro ano internamente ao governo, sendo algumas vezes em consonância com a sociedade local. O Regimento Interno é a única legislação do OP, sendo o mesmo revisado anualmente.

Oliveira (2007) afirma também que são poucas as experiências em que o OP é transformado em Lei, tendo como desafio a flexibilidade de aprimoramento contínuo, após este ato.

Outro fator também contribuinte para o funcionamento do OP são as plenárias regionais, Oliveira (2007) expõe em sua tese que no início do OP determina-se a divisão das cidades em regiões, ocorrendo no mesmo as reuniões nas regiões, bairros, comunidades rurais ou micro-regiões. Onde irá ocorrer a seleção das prioridades locais, podendo os representantes então debater, e decidir as prioridades a serem atendidas. Nas plenárias serão escolhidos os conselheiros (as) e delegados (as), podendo ocorrer à atuação de um dos dois, dependendo da estrutura do OP. E ainda, conclui o ciclo do OP da seguinte forma: os delegados têm a função de atuar diretamente com a sociedade, repassando as informações necessárias aos moradores, decidindo junto a comunidade as necessidades primordiais de cada região. Já os conselheiros têm a função de propor e decidir sobre as prioridades elencadas por eles, sendo muitas vezes os representantes indicados pelo governo.

Diante do exposto, os delegados são apontados em plenárias regionais, ou seja, reuniões que acontecem periodicamente em arenas políticas de grande dimensão entre agentes públicos e os delegados, onde os mesmos irão discutir e definir a propostas orçamentárias, alargando a possibilidade de troca de informações e exigindo-se negociações complexas para as prioridades de cada bairro, que depois de discutida, será encaminhada ao legislativo.

Em suma, o ciclo do OP para Oliveira (2007) não se resume a isto, tendo visto que as plenárias temáticas atestam que no regimento interno do OP, encontra-se a definição dos temas mais relevantes para o município. Cada tema existe indicações ou deliberações de demandas nas reuniões. Sendo assim permitido um aprofundamento das políticas públicas em cada área, permitindo assim uma discussão temática, e um levantamento dos problemas elencados de cada região, possibilitando assim uma visão coletiva, uma democracia atuante.

Não bastando o conselho municipal do OP, para Oliveira (2007), atesta que o Orçamento Participativo será composto por conselheiros (as) e delegados (as), tendo em vista que as decisões tomadas no OP sobre as prioridades locais serão imposta por ele sendo efetiva a representação da sociedade através dos conselheiros, podendo alocar no orçamento anual as necessidades primordiais.

Oliveira (2007) declara então que as reuniões acontecendo diariamente e as ações sendo impreterivelmente definidas existem possibilidades de todos os conselheiros serem informados sobre a pauta estando assim resguardados para possíveis intervenções no debate com qualidade.

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Portanto, como afirma Torres (2003), os delegados eleitos assumem nas arenas diferentes responsabilidades, sendo assim representam uma política de interesse social, pela difusão de informações junto aos segmentos sociais que representavam, privilegiando as prioridades regionais. Os delegados assumem diversos papéis como, repassar informações do OP aos moradores, deliberar as prioridades, mobilizar os moradores para as reuniões, fiscalizar as prioridades escolhidas, eleger conselheiros deste, acompanhar a votação na câmara.

Como pode ser visto os delegados assumem funções indispensáveis na execução do OP, assumindo o papel de hierarquizar as necessidades coletivas, apoiando as necessidades finais, para que esses recursos sejam destinados as prioridades dos investimentos.

Logo em seguida o Projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA), é levado á Câmara Municipal de Vereadores, para que as prioridades dos investimentos sejam aprovadas. Na qual a própria Câmara é responsável pela fiscalização e aprovação da realização orçamentária. Segundo Oliveira (2007, p.78), em alguns casos a população ou os representantes do OP, fazem e entrega á Câmara uma proposta de acompanhamento de sua tramitação com visitas aos vereadores e participação nas seções de debate ou votação.

O acompanhamento das ações realizadas no município é feita pelos conselheiros, delegados e técnicos das prefeituras, fazendo com que o acompanhamento das obras fique limitado a eles, levando assim em consideração que a sociedade não seja tão atuante no que se referem as suas indicações.

Diante do que foi exposto falta um pouco de atuação da população no que se refere à prática com sistemas contábeis, e não apenas de sistema mais também um conhecimento técnico de como funciona a máquina pública. Conhecimentos estes sempre ligados a legislação, pois quando se fala em administração pública temos que estar totalmente inerentes a legislação, tudo que se pensar em fazer tem que primeiro saber se está obedecendo a princípios legais e constitucionais do nosso país.

O OP é um planejamento democrático, mais ele não só depende da atuação do povo para que funcione, é necessário um apoio de conhecimento estatístico do município, como por exemplo: quais as carências que o município está passando, como funciona o município em geral, quais os problemas primordiais, que jamais poderá deixar de ser atendido, que política pública será alocada destacando então a real necessidade local. Por isto é necessário que as decisões deixem de ser inerentes ao prefeito e sim seja reconhecida pela população, é a inversão da autoridade, é a decisão saindo do menor para o maior. É a democracia atuando no governo. Por isto é necessário clareza e objetividade nas informações passadas para a população para que se consiga um resultado satisfatório, fazendo assim um acompanhamento real da situação de todo processo de elaboração e resultado. Será necessária transparência, não só na gestão como também na divulgação, para que a população possa atuar de forma direta nas assembléias e das reuniões. Sedo assim o mesmo terá que ter divulgação através de rádio, carro de som, imprensa local, correspondências, panfletos, cartazes, faixas, outdoor e etc.

Este conhecimento é de extrema importância para que os representantes não tenham legitimidade diante de ações não executadas, se apoiando em respostas de escassez de recursos para os possíveis investimentos apontados pela sociedade. Porém vale fixar também que existe um limite orçamentário a ser gasto, não podendo ultrapassar os limites da Lei. Para tanto é imprescindível o conhecimento da população com relação ao Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e LOA, do seu município, conhecer bem o orçamento para saber a real situação do mesmo.

2.2.3 Como foi implantado o Orçamento Participativo no município de Paudalho - PE

O município de Paudalho localizado na microrregião da mata setentrional há 37 km do Recife, é caracterizada por um clima tropical úmido com verão seco, inserida na bacia hidrográfica do rio Capibaribe.

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A cidade ficou marcada historicamente, sendo suas terras exploradas no século XVI, com o corte do Pau-Brasil. O seu nome surge então com uma grande árvore secular que exalava cheiro completamente semelhante ao do alho, que existia na margem direita do rio Capibaribe.

Sua economia é baseada na monocultura da cana-de-açúcar, açúcar e etanol, e a grande construção de cerâmica para construção civil. Na cidade existe um grande centro de romaria do nordeste. Os romeiros vêm ao engenho do ramo, onde se situa a capela de nossa Senhora da Luz, cumprir promessa a São Severino do Ramo. Outro ponto turístico são as ruínas dos mosteiros de São Francisco, onde vários religiosos se refugiaram quando da ocupação holandesa em Pernambuco. Diversos prédios de interesses históricos são abertos para visitação.

O Prefeito da cidade Fernando Moreira, casado, 42 anos, formação técnica em administração de empresas, evidenciou na entrevista que antes de se tornar prefeito do município já atuava indiretamente em consonância com a sociedade, participou em associações na vila desterro, diretor de clube de futebol, grupo de igreja católica, quadrilha junina, foi presidente do clube carnavalesco. Então ele tinha uma isenção popular ativa antes mesmo de se tornar o gestor da cidade.

Surge então no município a idéia de consolidação da democracia participativa, fazendo com que a sociedade Paudalhense concretize seus anseios, surgindo então uma aproximação da população juntamente com o governo atual. A população passa a ser ouvida, a debater sobre suas reais necessidades através das plenárias na qual contou com a colaboração do Prefeito, vereadores, secretários, gerentes e demais gestores da gestão.

No que se refere à idéia de implantação do OP no município o Prefeito da cidade Fernando Moreira, afirma que, surge a partir do desejo de realizar um governo democrático e participativo, buscando um grande exemplo da cidade do Recife e Olinda. Fazendo com isto um governo mais transparente. Ele afirma também que o que é escolhido e decidido nas plenárias na sua presença ou não é acatado pela gestão.

A forma de planejamento do município se dá em (8) oito RPA’S (Região Político-Administrativa), como segue:

1. Primeira rodada de plenárias nas RPA’S: Iniciou-se a primeira rodada em julho, todas as terças e quintas, sendo realizadas sempre no primeiro semestre uma em cada RPA’S (Região Política administrativa), concretizando da seguinte maneira: cadastramento dos participantes e aplicação do questionário de pesquisa, prestação de contas do ano anterior, apresentação da programação anual, por RPA’S (Região Política administrativa), e eleição dos delegados (as) do OP.

2. Segunda rodada nas plenárias nas RPA’S (Região Política administrativa): realizam-se plenárias em todas as microrregiões, podendo a população eleger (3) três prioridades para RPA’S (Região Político administrativa), e elege também as demandas específicas da sua microrregião. Sendo então escolhidas as obras em cada região, de acordo com a necessidade local.

3. Plenárias Temáticas: Logo em seguida são realizadas plenárias de mulheres, juventude, negros e negras, idosos, portadores de deficiência, cultura e diversidade afetiva e sexual. Nelas são eleitos os delegados (as) na qual deverão em conjunto decidir as prioridades de cada região a serem incorporadas no Orçamento Municipal. Os critérios estabelecidos na primeira fase e segunda fase seguem o mesmo critério de eleição dos delegados, destarte uma única distinção, que na terceira fase as plenárias irão discutir sobre as políticas públicas de cada área específica.

4. Apuração dos votos da população: A ordem das prioridades ocorrerá da seguinte forma, serão apontadas três necessidades locais, feita por meio de votação em cada micro-região e por temática. Feito esta eleição, as prioridades irão compor o PIRT (Plano de Investimentos Regionalizado e Temático).

5. Fóruns Regionais de Delegados (em cada RPA): As prioridades regionais eleitas serão apresentadas em cada RPA pela própria população, e serão também eleitos os conselheiros (as) do OP.

6. Fórum Temático de Delegados: A população irá apresentar todas as temáticas eleitas na ordem de preferência. Vale salientar que os delegados (as) detêm um papel muito importante, pois os mesmo

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representam os interesses da sociedade em geral, sendo um fiscal da comunidade, sendo um elo entre Poder Municipal e população, tendo assim que defender o interesse da sua região local, reivindicando as necessidades da região com o governo.

7. O Fórum da Cidade: Todas as prioridades eleitas serão discutidas, para que seja feita possíveis alterações no funcionamento do OP. Os conselheiros serão empossados.

8. Atividades do conselho do OP: As atividades do OP de Paudalho – PE se divide da seguinte forma:

• Os delegados (as), conselheiros (as) serão capacitados continuamente;

• Instalação do Conselho do OP;

• Adequação das demandas eleitas pela população que estarão inclusas no (PIRT) Plano de Investimento Regionalizado e Temático;

• Incluir as proposta Orçamentárias para o próximo ano na LOA;

• Acompanhar o processo de votação na Câmara dos Vereadores;

• O acompanhamento das licitações e execução das obras escolhidas nas plenárias fica atribuído ao conselho;

• Fica aberto a qualquer morador da cidade com mais de 16 anos de idade participar das plenárias e ser eleito delegado (a) do OP, e com 14 anos na temática da juventude. Pra que isto ocorra será necessário que se faça um cadastro na plenária da sua RPA, ou na temática de sua escolha. Para que seja eleito é necessário obter no mínimo 10 votos de pessoas que estejam presentes na plenária.

• Não pode ser eleito (a) delegado (a) detentores de mandatos eletivos, ou cargo comissionado de qualquer esfera governamental.

A equipe técnica que acompanhou o OP do município de Paudalho – PE desde a sua implantação no município em estudo somaram diversas pessoas, distribuídas entre as seguintes instâncias deliberativas: Conselho do OP, Comissão de Licitação do OP, Conselho de Fiscalização de Obras, Comissão de Acompanhamento de Temática e demais membros da política e comunidade local.

3 METODOLOGIA

Este estudo foi feito a partir do método indutivo, no qual Silva (2006, p. 34) diz que “a indução parte de registros menos gerais para enunciados mais gerais”. Houve esta classificação, pois mostrou a importância do OP para o desenvolvimento do município de Paudalho – PE, através de aplicação de questionários junto aos participantes deste na cidade.

Quanto aos fins, este estudo terá um enfoque exploratório, uma vez que, “[...] tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41). Sendo assim, esta pesquisa é realizada em área de pouco conhecimento e possui uma natureza de sondagem.

De acordo com Selltiz et al. (1963 apud GIL, 2002 p. 41), as pesquisas exploratórias envolvem “(a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências prática com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que ‘estimulem a compreensão”.

Além disso, a pesquisa possuiu um caráter descritivo, que de acordo com Gil (2002, p. 42), significa dizer que “[...] o objetivo principal do estudo é a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Nesse sentido, vale ressaltar que há vários estudos com esta classificação e uma das peculiaridades mais importantes desse tipo de pesquisa são as técnicas padronizadas de coleta de dados que envolvem questionário, que foi estruturado e aplicado aos envolvidos.

Quanto aos meios, será realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica, que como qualquer outra modalidade desenvolve-se ao longo de uma série de etapas (GIL, 2002). O autor informa que, embora quase

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todos os estudos sejam desenvolvidos com algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas realizadas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

A investigação também se caracteriza como uma pesquisa de campo, que busca obter dados com maior profundidade, já que procura o encontrar maior embasamento das questões propostas, para tanto será realizado o mesmo questionário com uma parcela da população local, não sendo apenas realizado para os funcionários da prefeitura, e organizadores do OP.

Utilizou-se também a técnica de estudo de caso, que segundo Azevedo (2009, p. 50) afirma que “caracteriza-se pela análise em profundidade de um objeto ou um grupo de objetos, que pode ser indivíduos ou organizações”. A autora, completa que o estudo de caso como estratégia de pesquisa comporta planejamento, coleta de dados e abordagem de análise dos dados.

O presente estudo foi desenvolvido, através de uma pesquisa quantitativa, pois considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (média, percentuais, dentre outras medidas).

Para Oliveira (1999, p. 115) a pesquisa quantitativa consiste em “[...] quantificar opiniões, nas formas de coleta de informações assim como também o emprego de recursos e técnicas estatísticas desde a mais simples, como porcentagem até as de uso mais complexas”.

A amostragem usada foi aleatória por conveniência, composta de 31 pessoas, pertencente da população local do município. Foi usada à estatística para identificar e mensurar os dados coletados, os respondentes foram abordados em seus locais de trabalho.

4 APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS RESULTADOS

Dos trinta e um (31) questionários respondidos pelos líderes, delegados, coordenadores, funcionários públicos e comunidade em geral, percebe-se que a maioria dos participantes do OP encontrava-se no grupo dos coordenadores, somando-se 17 colaboradores, destacando em sua grande maioria funcionários públicos. No item líderes e delegados somaram-se 10 integrantes atuantes como delegados de região administrativa e líder comunitário. E no item comunidade somaram-se 4, sendo em sua maioria membro de comunidade.

4.1 PERFIL DOS RESPONDENTES

Identifica-se que a maioria dos participantes era do sexo feminino, com um total de dezesseis (16), representantes e participantes do sexo masculino totalizava em quinze (15), respondentes, num total geral de trinta e um (31), entrevistados.

Verificou-se que os participantes que integram o OP é bastante diverso, com participantes de todas as idades, havendo uma acentuada predominância de respondentes com menos de 40 anos de idade (em torno de 70% da amostra), sendo 55% representados por coordenadores, mostrando assim um maior interesse por um público mais novo na inserção no processo de democratização do município em destaque.

Ainda quanto ao perfil, demonstrou-se um universo bastante diversificado dos informantes quanto ao nível de escolaridade, que vai desde ensino fundamental incompleto ate o nível superior completo, ressaltando a predominância do ensino médio completos por todos os entrevistados, tanto no grupo dos líderes e delegados, como coordenadores e comunidade. Não houve nenhum pós-graduado, e apenas dois com ensino superior completo.

Identificou-se que não predominou nenhum cargo de funcionário público na opção de líderes e delegados, deixando claro que faz parte de uma das atividades do Conselho do OP, predominando assim outras profissões citadas acima. Com relação aos coordenadores prevaleceu o cargo de funcionário público sendo quase unânime esta ocupação. Em 30% da amostra são pessoas do lar ou profissionais liberais. E, com 80% da amostra percebendo até 3 salários mínimos, com ninguém ganhando acima de 10 salários mínimos vigentes, prevalecendo pessoas de menor renda no processo do OP.

Constatou-se que prevalece no tempo de moradia entre 11 a 20 anos no município, ressalvando também um grande índice nos níveis de 21 a 30 anos, 31 a 40 anos e acima de 40 anos, sendo este o segundo

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maior índice. E ainda, os líderes, delegados e coordenadores já tiveram algum envolvimento com trabalhos comunitários, podendo destacá-las: Associações, Organizações Não Governamentais (ONGs), conselhos e líder comunitário.

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2.1 Percepção dos informantes quanto à implantação do OP

Para ficar um pouco mais interligados ao OP do município em comento foram analisadas informações obtidas quanto à percepção dos agentes locais quanto à implantação do orçamento ao município em estudo.

Ao serem indagados sobre qual veículo de comunicação o OP foi divulgado, observou-se um grande impacto no item outros, por todos os agentes (lideres/delegados, coordenadores e comunidade). Em sua maioria o conhecimento sobre a nova gestão adotada ficou esclarecido por alguns partir do momento que começou a trabalhar com o mesmo, em sua implantação, quando foi apresentado o projeto ao município, no local de trabalho e etc.

Não obstante, os líderes e delegados em sua grande maioria ficaram sabendo do trabalho do OP através de folhetos. Já os coordenadores através de carro de som, folhetos, jornal, rádio e etc. Estes dados também podem ser visualizados no Gráfico 1, a seguir.

4.2.2 Análise quanto ao Reflexos do OP

Após análise, o meio de comunicação que a população paudalhense conheceu o novo sistema democrático, buscou-se identificar também a percepção que os mesmo tiveram com relação ao processo ter sido democrático ou não.

Para que o processo seja considerado democrático, quanto maior for o percentual de mais concorda que discorda que o OP alterou a visão dos participantes, irá influenciar num percentual positivo, de acordo com abordagem alguns itens: se havia um interesse da população, se isso não era apenas uma idéia imediata; se a sociedade estava realmente engajada com o novo sistema adotado pelo governo; possibilitou a participação e reivindicação popular; houve a divulgação de informação durante todo o processo; respeitou a vontade da maioria das pessoas presentes; aumentou a participação; houve controle e as pessoas foram capacitadas a participarem e a divulgação para a participação da comunidade foi satisfatória. De acordo com este levantamento foi analisado todo o processo de democratização popular.

De acordo os achados, pode-se observar que ocorreu uma predominância nas respostas no item concorda, em todos os questionários realizados, e em segundo plano, mais concorda que discorda. Destacaram-se: (a) Identifica-se que o processo do OP alterou a visão dos participantes quanto à inserção no novo sistema adotado, e havia um interesse pela participação, não sendo assim um interesse imediato; (b) No que diz respeito à automobilização da sociedade, constata-se que de acordo com o questionário levantado que predominou novamente a opção de concorda e mais concorda que discorda, identificou-se que a sociedade teve sua participação; (c) Com relação à divulgação, identifica-se um grande percentual de concorda, e mais concorda que discorda, existindo divulgação; (d) Observando os índices identifica-se um controle e participação por parte da população investigada sobre o processo.

Diante do exposto, o OP teve uma percepção quanto ao mesmo ter sido democrático um saldo positivo mais não pode deixar de destacar que houve um grande índice no que se refere ao não conhecimento geral das informações, não deixando de existir pessoas que não tinha nenhum envolvimento pelo mesmo, indivíduos que por ventura não tinham nenhuma relação com o processo.

4.2.3 Análise quanto à Familiaridade com a Linguagem dos Relatórios

Outro aspecto analisado foi à percepção dos respondentes quanto aos informes contábeis que foram disponibilizados aos agentes durante todo o processo de instalação e desenvolvimento. De acordo com o levantamento dos dados, constata-se que os informes contábeis disponibilizados durante o OP foram de forma significativa, mostrando assim certa familiaridade da população com os mesmo.

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Identificou-se que o conhecimento sobre os informes contábeis, visto que na pesquisa feita ocorreu um grande índice na opção mais concorda que discorda, e em segundo plano concorda, mas não se pode esquivar que houve um acentuado crescimento no que se refere ao item não sabe, observando-se que alguma parte da população está excludente desta informação.

Quanto ao conhecimento de Programas, Projetos e Atividades constata-se que ocorram fatos de grande conhecimento por parte dos respondentes com relação a este tema. Sem deixar de evidenciar também com relação à classificação funcional e programas do orçamento, uma das informações imprescindíveis para se alocar os recursos necessários, pois de fato é necessário saber o que se pode gastar e aonde. Referente à prestação de contas, e tomada de contas especiais, teve um índice elevado, sem deixar em segundo plano o PPA, LDO e a LOA, que de fato integra o conjunto de ferramentas de planejamento de um município. Teve seu índice positivamente bem elevado. Constatou-se também um grande índice referente ao conhecimento de balanço orçamentário, financeiro, patrimonial e demonstração das variações patrimoniais.

4.2.4 Análise da Percepção da Eficiência da Informação Contábil durante o OP

Outro aspecto de grande importância para analisar a situação em que se encontra o OP do município em destaque é avaliar a familiaridade que os respondentes têm com as informações disponibilizadas aos mesmos. Analisar então questões do tipo, confiabilidade, tempestividade (oportunidade), compreensibilidade e comparabilidade, sendo assim imprescindível a utilidade da informação para um processo decisório e de democracia ativa. Transparente.

Nas respostas avaliadas referentes aos respondentes verificou-se que em sua maioria mostrou-se concordar quanto à percepção do OP ter sido eficiente. Assim, em sua maioria, concordou e mais concorda que discorda que o processo foi transparente, não deixando de colocar em destaque que houve uma parcela significativa de não sabe, um índice pequeno, mais que não deixa de ser importante frisar.

Quanto à confiabilidade das informações divulgadas ocorreu um empate nos índices de concorda e mais concorda que discorda, destacando-se o índice não se sabe, pois ele possui um grau de respondentes considerável. Quanto à tempestividade, ou seja, ao momento oportuno que se evidencia uma informação, teve um grande índice quanto às respostas de mais concorda que discorda, com relação a concorda também teve seu grau elevado.

Quanto à informação ser compreensível, ocorreu um empate duvidoso, com a opção mais concorda que discorda com a opção não se sabe, deixando então a desejar, pois as opções possuem significados opostos. Quanto à questão de ter sido divulgado com terminologia, facilidade na compreensão, utilidade no controle, contata-se que ocorreu um índice avantajado com as opções concorda e mais concorda que discorda. Quanto à divulgação contatou-se que de acordo com o questionário feito, ocorreu um empate, nos itens, concorda, mais concorda que discorda e com o item não se sabe.

Com relação ao item de apresentação conforme expectativa da população ocorreu um desgaste, pois os índices de não se sabe, discorda, mais discorda que concorda, ganhou destaque. No que se refere aos demonstrativos contábeis terem sido adequados e de boa apresentação, ocorreu um empate com os índices, não se sabe, com concordo.

5 CONCLUSÃO

A administração Pública com esta nova fase de descentralização do poder do estado brasileiro, que foi ate então implantada a partir da nova Constituição, trás consigo uma nova cara, um novo modelo, uma gestão popular, uma construção de identidades coletivas. O município de Paudalho – PE adotou este novo modelo de gestão, sendo o mesmo orientado por forças sociais progressistas, um modelo de democratização, através da participação direta da sociedade.

Com relação à divulgação o OP de acordo com o levantamento feito foi considerado satisfatório, diante da visão dos usuários, tendo assim a população local conhecimento do mesmo, através de vários veículos de informação. Quanto à democratização, se havia um interesse da população, se isso não era apenas uma ideia imediata, se a sociedade estava realmente engajada com o novo sistema adotado pelo

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governo, possibilitou a participação e reivindicação popular, houve a divulgação de informação durante todo o processo, respeitou a vontade da maioria das pessoas presentes, aumentou a participação, houve controle e as pessoas foram capacitadas a participarem e a divulgação para a participação da comunidade foi satisfatória. Diante do levantamento existe grande indício de democratização.

Quanto à familiaridade do OP, a população local hoje tem um conhecimento sobre informes contábeis, ajudou no entendimento do que é informação contábil e sua divulgação, maior conhecimento do que são programas, projetos e atividades especiais do governo, familiarização com a classificação funcional e por programas do orçamento, o que é prestação de contas e tomada de contas, o que é PPA, LDO e LOA; Balanço Orçamentário, Financeiro, Patrimonial e Demonstração das Variações Patrimoniais, já tinha conhecimento dos itens acima antes do OP.

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Especificação e Implementação de uma Variação do Algoritmo Genético de Holland no Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis para Fins de Tomada de Decisão.

AUTORES: Cleo Maria Neves, Vitor Rafael Silva, Roberta Lopes, Marta Correia.

Resumo

O presente artigo descreve a especificação e a implementação de uma variação do algoritmo genético de Holland utilizada na criação de um sistema computacional, intitulado de Sistema Evolutivo de Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis – SEADC. O algoritmo possui uma população formada por cromossomos, que são vetores sobre um alfabeto ternário, com tamanho correspondente ao número de contas contábeis contidas no tipo de análise escolhida pelo usuário. O SEADC faz o diagnóstico da situação financeira e econômica de empresas comerciais, industriais ou prestadoras de serviço, sejam elas classificadas com micro, pequena, média, média-grande ou grande empresa. O diagnóstico realizado pelo SEADC foi baseado nas análises de liquidez, endividamento, rentabilidade, prazos médios, análises vertical e horizontal; e no diagnóstico da combinação das análises de liquidez, rentabilidade e endividamento com a análise vertical, justificando a influência de cada uma das contas ou grupo de contas contábeis no resultado obtido. O SEADC recebe como entrada um conjunto de índices, valores dos saldos das contas de demonstrações contábeis da empresa que será analisada, em um período composto por anos consecutivos, sendo considerado o mínimo de três anos. Os resultados alcançados indicam 100% de corretude e demonstram que o SEADC infere conhecimento à tomada de decisão, através dos relatórios de análise gerados.

Palavras-chave: Algoritmo Genético, Análise, Demonstrações Contábeis.

1. Introdução

As constantes exigências oriundas da competitividade estabelecida pelo mercado financeiro, fez com

que as empresas passassem a exigir uma maior quantidade de informações contábeis para controlar seu processo produtivo e ajudar o processo de tomada de decisões em nível estratégico e operacional, promovem um aumento da complexidade nas atividades contábeis, segundo Cruz (2011). Nesse contexto, os sistemas computacionais ganham espaço e fortalecem o mundo empresarial.

Como explica Assaf Neto (2007), analisar é um procedimento que consiste, basicamente, na divisão do todo em partes para serem verificadas isoladamente. Em seguida, juntá-las novamente e observar o comportamento do conjunto a fim de fornecer um diagnóstico através de um relatório das relações verificadas. A maioria dos relatórios de análise de demonstrações financeiras possui uma linguagem pouco acessível aos leigos, por ser elaborada por dados e não informações.

Dessa forma percebe-se que o produto da análise de demonstrações financeiras consiste em relatórios escritos numa linguagem clara, de tal forma que qualquer um de seus usuários consiga compreender a complexidade nela contida, segundo Assaf Neto (2007). Face ao exposto, tem-se que um bom relatório deve conter conhecimento, informações e dados.

O Sistema Evolutivo de Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis - SEADC parte do princípio de que a análise contábil é uma atividade complexa em virtude da existência de n fatores e multi-caminhos. Possui fatores determinísticos, ou seja, fatores internos e fatores não determinísticos, que consistem nos fatores externos à empresa, tais como: mudanças na economia e política do país, eventos sazonais ou eventos imprevistos, tais como: calamidade pública ou eminência de guerra, dentre outros. Em virtude dos fatos mencionados, optou-se pela utilização de algoritmos genéticos em sua implementação, mais precisamente de variações do algoritmo genético de Holland na comparação do resultado obtido com o padrão estabelecido para o setor da empresa em análise.

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Segundo Goldberg (1997), os algoritmos genéticos (GAs – Genetic Algorithms) são uma abordagem da computação evolutiva e consistem numa técnica de busca heurística paralela, que procuram a tratar problemas complexos. Foram criados com base em questões epistemológicas contidas na teoria da evolução das espécies, do ponto de vista de um biólogo naturalista e um geneticista.

O artigo encontra-se organizado em 6 seções. Incluindo esta primeira que consiste na introdução. Em seguida, tem-se a seção 2 na qual é apresentada uma explicação sobre as análises das demonstrações contábeis constantes no programa; a seção 3 apresenta o algoritmo genético utilizado no problema; a seção 4 mostra os resultados obtidos; a seção 5 descreve a conclusão do artigo e, por último, encontram-se as referências utilizadas.

2. Análise das Demonstrações Contábeis

Existe um vasto instrumental de análise à disposição e todos relutam basicamente em aplicação de

fórmulas sobre os dados das contas pertencentes aos demonstrativos contábeis e comparativos entre os quocientes obtidos com padrões pré-estabelecidos. Em seguida, ocorre a verificação de informes em notas explicativas que justifiquem possíveis anomalias encontradas seguindo de comparações com mudanças no mercado externo que possam ter ocasionado possíveis quedas ou melhorias no resultado de algum quociente.

O analista financeiro preocupa-se em transformar os dados contidos nas demonstrações contábeis em informações que possibilite concluir se a empresa está sendo bem ou mal administrada, se possui condições de quitar suas dívidas, se é lucrativa ou não, dentre outras informações sobre a evolução, eficiência e perspectivas futuras de crescimento da empresa.

Dessa forma, faz-se necessário seguir uma sequência para a finalização assertiva do processo, que consiste nos seguintes passos:

a. Retirar os dados das Demonstrações Contábeis

b. Calcular os quocientes de cada um dos índices;

c. Comparar índices com os padrões setoriais

d. Transformar os dados obtidos em informações e chegar a um diagnóstico ou conclusão.

e. Tomar decisões a partir do resultado do diagnóstico fornecido pelo SEADC

A análise financeira e econômica ficará prejudicada se a sequência descrita anteriormente não for seguida. A comparação com um referencial do setor de atividade da empresa precisa ser feito, podendo a ausência comprometer a qualidade da análise, porque impossibilita a elaboração de afirmativas sem a existência de elementos de referência

Para atender ao objetivo geral de especificar e implementar um sistema computacional que sirva de apoio à análise de demonstrações contábeis, através da realização de diagnósticos sobre a situação financeira e econômica de uma determinada empresa comercial, industrial ou prestadora de serviços, com a finalidade de inferir conhecimento à tomada de decisão, foram realizados os seguintes objetivos específicos:

I. Modelar o problema de diagnóstico:

a. Codificar informações presentes nas demonstrações contábeis de uma empresa em um cromossomo;

b. Descrever o comportamento dos operadores genéticos de cruzamento e mutação a serem usados;

c. Definir a função de adaptação que corresponda ao conhecimento existente sobre o diagnóstico contábil de uma empresa para cada análise considerada pelo sistema.

II. Implementar, numa linguagem de programação, um sistema que realize a modelagem criada:

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a. Carregar dados contábeis em uma base de dados da empresa para construir os cromossomos correspondentes;

b. Extrair do índice padrão das contas contábeis dados que justifiquem o diagnóstico gerado;

c. Fornecer uma descrição textual do diagnóstico contido no valor de adaptação e na decodificação do cromossomo.

III. Analisar o comportamento do sistema mediante dados de entrada fornecidos:

a. Confrontar os resultados obtidos com as expectativas esperadas em termos do diagnóstico fornecido manualmente.

b. Apresentar os resultados qualitativos e quantitativos da situação financeira e econômica obtidos pelo sistema computacional.

Dessa forma, adotou-se a técnica de indicadores financeiros e econômicos a fim de obter diagnósticos da liquidez, rentabilidade, endividamento e prazos médios. Essa técnica que consiste no cálculo de quocientes de alguns índices, os quais serão analisados em conjunto e fornecer dados que servirão de base para subsidiar os relatórios conclusivos. Como define Assaf Neto (2007, p. 40) “A boa situação econômica e financeira de uma empresa é determinada pela existência de equilíbrio entre a liquidez e rentabilidade dessa empresa”. Diante disso, procurou-se modelar sete tipos de análises para o sistema computacional proposto, a saber: de liquidez, rentabilidade, endividamento, prazos médios, valor adicionado, análise vertical, horizontal e uma análise que faz a comparação das análises de liquidez, rentabilidade e endividamento com a análise vertical, para fornecer uma conclusão sobre a situação financeira e econômica de uma organização comercial, industrial ou prestadora de serviços.

2.1. Análise da Liquidez, Rentabilidade e Endividamento

Em contabilidade os aspectos financeiros e econômicos diferem entre si, sendo o primeiro referente exclusivamente ao valor monetário, ou melhor, em sentido mais restrito ao caixa da empresa ou em sentido mais amplo o total do seu circulante líquido. Ao passo que o termo econômico refere-se ao lucro ou ao patrimônio líquido, conforme explica Castro (2011). Dessa forma, também os índices diferem entre os que possibilitam apurar a situação financeira e a situação econômica. Os índices utilizados para cálculo da liquidez e endividamento irão informar como se encontra a situação financeira, enquanto que os indicadores obtidos pelos índices de rentabilidade irão informar a situação econômica.

Quadro 2.1. Fórmulas dos índices de liquidez, rentabilidade e endividamento.

O

Programa, através das

fórmulas presentes no Quadro 2.1, realiza os cálculos com os valores extraídos das contas da demonstração padronizada, compara-os aos valores com os constantes na tabela de índice padrão, conforme mostrado no exemplo do Quadro 2.2 para fornecer o diagnóstico do tipo de análise escolhido: liquidez, rentabilidade, endividamento, prazos médios, análise vertical, análise horizontal ou da análise combinada (liquidez, rentabilidade, endividamento com análise vertical). Apresenta, também, quais as contas que contribuíram para o aumento ou redução do respectivo índice calculado. Sendo os valores atribuídos aos pesos (p) diferentes de zero {p ≠ 0}. O Quadro 2.2 mostra os índices padrões de liquidez dos anos de 2008 e 2009

LIQUIDEZ RENTABILIDADE ENDIVIDAMENTO

LC = AC/PC TRI =(LL/AT)x100 CE= {PC/(PC+PNC)}x100

LS = (AC-E)/PC LG=(AC+ANC-I)/(PC+PNC)

TRPL =( LL/PL)x100 MV = (LL / V)x100 GV = (V / AT)x100

PCT = {(PC + PNC)/PL}x100 IPL = (I / PL) x100

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para o setor de siderurgia e metalurgia, conforme dados extraídos da matéria intitulada Melhores e Maiores da Revista Exame.com.

Liquidez Corrente

2008 2009 Conceito Peso >=4,05 >= 6,9 Excelente 5 3,0<= a <4,05 4,55<= a <6,9 Muito bom 4 2,55<= a <3,0 3,15<= a <4,55 Bom 3 2,05>= a < 2,55 2,40<= a < 3,15 Regular 2 < 2,05 <2,40 Deficiente 1

Liquidez Seca e Liquidez Geral 2008 2009 Conceito Peso

> = 3,4 > = 4,9 Excelente 5 2,25<= a <3,4 3,3<= a <4,9 Muito bom 4 1,85<= a <2,25 2,05<= a <3,3 Bom 3 1,45<= a < 1,85 1,25<= a < 2,05 Regular 2 < 1,45 < 1,25 Deficiente 1 Quadro 2.2. Exemplo de índice-padrão de liquidez, para indústrias do setor de siderurgia.

O índice de Liquidez Corrente (LC), serve para identificar a capacidade de pagamento a curto prazo da empresa. Para calcular a Liquidez Corrente (LC) é necessário dividir o Ativo Circulante (AC) pelo Passivo Circulante (PC)

Liquidez Corrente (LC) q Ativo Circulante (AC)

Passivo Circulante (PC)

A fórmula utilizada para o cálculo da Liquidez Corrente mostra que resultado ou quociente dessa operação indica o quanto em ativo circulante, ou seja, o quanto em bens e direitos que podem ser transformados em dinheiro mais rapidamente, a empresa possui para cada R$ 1,00 de obrigações a quitar. Quanto maior for o resultado ou quociente obtido por esse índice melhor será o grau de liquidez corrente da organização.

O índice de Liquidez Seca (LS) apresenta a capacidade de pagamento da empresa em caso de queda nas vendas, ou seja, o comportamento mediante pagamento utilizando os valores do disponível e das duplicatas a receber sem efetuar vendas. Liquidez Seca (LS) é obtida através da diferença do Ativo Circulante (AC) pelo Estoque (E) dividido pelo Passivo Circulante (PC), como descrito na fórmula a seguir:

Liquidez Seca (LS) q Ativo Circulante (AC) – Estoque (E)

Passivo Circulante (PC)

Ao contrário do que ocorre nas contas do Ativo Circulante, onde há riscos de não recebimento, perda de estoque, etc., as do Passivo Circulante representam um montante líquido e certo, ou seja, as obrigações devem ser quitadas na data prevista e este fato remota a necessidade de se manter o índice de liquidez seca elevado em situações de conjuntura econômica desfavorável [30].

O índice de Liquidez Geral (LG) irá identificar a capacidade de pagamento de uma determinada empresa a longo prazo, ou seja, irá levar em consideração todos os valores que serão transformados em dinheiro em curto e longo prazo [1]. É obtida através da soma do Ativo Circulante com o Ativo não Circulante (ANC) subtraindo o Imobilizado (I), sendo o resultado dessa operação dividido pela soma do Passivo Circulante (PC) pelo Passivo Não Circulante (PNC), conforme descrito na fórmula a seguir:

Liquidez Geral (LG) q Ativo Circulante (AC) + Ativo Não Circulante (ANC) – Imobilizado (I)

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Passivo Circulante (PC) + Passivo Não Circulante (PNC)

A fórmula que calcula a liquidez geral descrita anteriormente irá mostrar que o resultado ou quociente dessa operação indica quanto à empresa possui em seu ativo circulante e não circulante, excluindo dessa o total de imobilizado, que são os bens que provavelmente não serão transformados em dinheiro ou demoraram muito para se transformares em dinheiro, para cada R$ 1,00 de obrigações totais a quitar. Quanto maior for o resultado ou quociente obtido por esse índice maior será o grau de liquidez geral da organização.

Deve-se analisar a liquidez da empresa com pelos menos o resultado dos três índices descritos anteriormente.

Os indicadores de Endividamento mostram o quanto à empresa está sendo financiada por capitais de terceiros e por capitais próprios. Os índices utilizados no Sistema indicam a Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais (PCT); a Composição do Endividamento ou Endividamento a Curto Prazo (CE); e a Imobilização do Patrimônio Líquido ou Endividamento a Longo Prazo (IPL).

Em época inflacionária algumas vezes torna-se mais vantajoso para o empresário trabalhar com capital de terceiros não onerosos (sem juros, encargos sociais e impostos) do que com capital próprio. Porém essa medida promove uma maior vulnerabilidade à empresa, provocando uma situação desfavorável, caso o índice de endividamento permaneça muito elevado, podendo levar a empresa à solvência [1].

A Composição do Endividamento (CE) da empresa, indica o quanto de obrigação a entidade possui a curto prazo e será obtida através da divisão do passivo circulante (PC) pela soma do passivo circulante (PC) com o passivo não circulante (PNC), sendo o resultado multiplicado por cem (100). Conforme fórmula descrita a seguir:

Composição do Endividamento (CE) q Passivo Circulante (PC) x 100

Passivo Circulante (PC) + Passivo Não Circulante (PNC)

A interpretação dessa fórmula indica o montante de dívidas que a empresa possui com capitais de terceiros a curto prazo em relação às obrigações totais. Da mesma forma que o índice anterior, quanto maior for resultado ou quociente obtido pior será o grau de endividamento da empresa.

Já a Participação do Capital de Terceiros (PCT) indica o quanto a empresa contraiu de dívidas com terceiros e será obtida mediante a divisão da soma do passivo circulante (PC) com o passivo não circulante (PNC) dividido pelo patrimônio líquido (PL) e o resultado multiplicado por cem (100). Para exemplificar e facilitar a compreensão, tem-se:

Participação do Capital de Terceiros (PCT) q Passivo Circulante + Passivo Não Circulante x 100

Patrimônio Líquido (PL)

A interpretação dessa fórmula apresenta o montante de recursos que a empresa adquiriu através de capitais de terceiros para cada R$ 100,00 de capital próprio investido. Quanto maior for resultado ou quociente obtido pior será o grau de endividamento da organização. A fórmula utilizada como exemplo procura observar o montante de dívida adquirido com capital próprio, mas é sabido que há necessidade de serem analisados também outros pontos, como, por exemplo: A Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL), que representa o quanto de dinheiro a empresa aplicou em seu ativo imobilizado.

Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) q Imobilizado (I) x 100

Patrimônio Líquido (PL)

A junção dos resultados irá fornecer com um grau maior de acerto os subsídios necessários para gerar uma informação confiável. Por isso é que a análise através de indicadores deve ser feita através do uso de vários índices.

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Os indicadores de Rentabilidade procuram “comparar o lucro em valores absolutos com valores que guardam alguma relação com ele”, como explica Marion (2009) .

A Taxa de Retorno sobre os Investimentos (TRI) que indica o poder de ganho da empresa será obtida através da divisão do lucro líquido (LL) pelo ativo total da empresa (AT), sendo o resultado multiplicado por 100, como mostra a fórmula a seguir:

Taxa de Retorno sobre Investimento (TRI) q Lucro Líquido(LL) x 100

Ativo Total (AT)

Para conhecer o tempo em termos de quantidade de anos que a empresa levará para obter o ganho informado pelo quociente, é suficiente dividir 100% pelo resultado, por exemplo, considere que o resultado da taxa de retorno sobre investimento é de 20%, tem-se: 100% / 20% = 5. Portanto, a empresa levará 5 anos para obter retorno sobre o investimento realizado.

Taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (TRPL) mostra o poder de ganho dos proprietários (donos, sócios ou acionistas) e será obtido pela divisão do lucro líquido (LL) pelo patrimônio líquido (PL), sendo o resultado multiplicado por 100, como apresentado na fórmula a seguir:

Taxa de Retorno sobre Patrimônio Líquido (TRPL) q Lucro Líquido(LL) x 100

Patrimônio Líquido (PL)

Também para conhecer o tempo em termos de quantidade de anos em que os proprietários levarão para obter ganho, faz-se necessário dividir 100% pelo resultado, por exemplo, considere que o resultado da taxa de retorno sobre o patrimônio líquido é de 40%, tem-se: 100% / 50% = 2. Portanto, os proprietários da empresa terão ganhos em 2 anos.

A Margem de Vendas (MV) representa o montante referente a uma folga que pode ser disponibilizada aos acionistas obtida após a apuração do lucro líquido com as vendas realizadas. Será obtido mediante a divisão do lucro líquido (LL) pelas vendas (V), sendo o resultado multiplicado por 100. Como mostra a fórmula a seguir:

Margem de Vendas (MV) q Lucro Líquido(LL) x 100

Vendas (V)

O Giro das Vendas (GV) informa quantas vezes o ativo total foi renovado pelas vendas, como explica Iudícibus (2008), portanto quanto maior for o seu quociente melhor. Ele será obtido mediante a divisão das vendas (V) pelo ativo total (AT), conforme mostra a fórmula a seguir:

Giro de Vendas (GV) q Vendas (V)

Ativo Total (AT)

Porém caso o quociente de giro das vendas seja baixo é importante identificar se houve alguma conta que influenciou o resultado ou se este fato se deve ao ciclo operacional médio da entidade.

2.2. Análise dos Prazos Médios

As demonstrações financeiras também fornecem dados para realização de cálculos de prazos médios,

que representam a média dos dias que a empresa leva para receber alguma venda ou pagar suas dívidas, por exemplo. Esses dados são importantes à tomada de decisões, pois retratam o comportamento dos prazos no ciclo operacional e no exercício social da empresa e possibilita, dessa forma, a aplicação de estratégias de melhoria, com a finalidade de redução dos custos e melhorias na eficácia e eficiência operacional dos setores analisados.

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Dentre os índices de prazos médios existentes, dentam-se: Prazo Médio de Renovação do Estoque (PMRE); Prazo Médio de Fabricação (PMF); Prazo Médio de Pagamento de Pagamento a Fornecedores (PMPF) e Prazo Médio de Venda (PMV). O Prazo Médio de Renovação do Estoque (PMRE) mostra o tempo médio em dias que uma empresa passa estocando seus produtos ou mercadorias e é definido pela fórmula descrita a seguir:

PMRE q {(Estoque do ano x1 + Estoque do ano x2) / 2} x 360

Custo das Mercadorias Vendidas

O Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores (PMPF) como o próprio nome já diz ‘indica o tempo médio que a empresa leva para quitar suas dívidas. Já o Prazo Médio de Vendas (PMV) informa o período em dias que a empresa está gastando para realizar suas vendas, ou seja, de receber o pagamento das vendas realizadas no período analisado, conforme mostram as fórmulas descritas:

PMPF q {(Fornecedores do ano x1 + Fornecedores do ano x2) /2} x 360

Compras

PMV q {(Duplicatas a Receber do ano x1 + Duplicatas a Receber do ano x2) /2} x 360

Vendas

2.3. Análise Vertical e Horizontal

Segundo Matarazzo (2008), a análise vertical e a horizontal devem ser realizadas conjuntamente, porque a primeira mostra as ocorrências de cada uma das contas contábeis em relação ao valor-base, enquanto que a segunda apresenta a evolução das contas de um período a outro.

A análise horizontal consiste na verificação do crescimento ou redução nos valores de cada uma das contas contidas no balanço patrimonial e na Demonstração do resultado do Exercício de um ano em relação aos anos seguintes. A quantidade de contas e valores para observar e a dificuldade de identificar os motivos que justifiquem as ocorrências faz com que este tipo de análise possibilite alguns equívocos, por isso, torna-se necessário realizá-la conjuntamente com a análise vertical.

A análise vertical é obtida a partir da aplicação de uma regra de três simples sobre o valor de cada uma das contas isoladamente, tendo como um valor-base como referencial igualado a 100%. Dessa forma para analisar o percentual da análise vertical de uma determinada conta do ativo, basta igualar o valor total do ativo a 100% e o valor da respectiva conta a uma incógnita, que pode ser representada por uma letra, como x, por exemplo, sendo o resultado do cálculo a própria análise vertical da conta naquele período. Tem-se como objetivo dessa forma de análise a percepção da importância de cada uma das contas em relação ao conjunto de contas de uma demonstração, como explica Matarazzo (2008).

3. Uma Aplicação do Algoritmo Genético de Holland para o Problema

Os GAs iniciam suas operações a parir da definição de uma população inicial (P1), que é composta por indivíduos. Esses indivíduos irão sofrer ações dos operadores genéticos para gerar novas populações (P2, P3...PN), tal que os indivíduos com adaptação maior do que a adaptação média da população inicial (P1), irão formar uma população (P2) juntamente com os seus melhores descendentes, e assim sucessivamente até que os operadores genéticos encontrem uma população ótima local, ou melhor, a que

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possua o maior valor de adaptação média após um número de interações em que uma condição de parada seja satisfeita. Uma interação consiste no seguinte conjunto de operações: cálculo da adaptação dos indivíduos da população, cálculo da adaptação média da população, seleção dos indivíduos da população atual mais adaptada, mutação, cruzamento e construção da nova população, segundo Russel (2004) .

Para Holland o cromossomo consiste num vetor binário com tamanho n que armazena as soluções do problema. Porém, a adoção da representação do cromossomo por um vetor binário causa erros nos casos em que a quantidade de números binários a serem representadas por um vetor de tamanho n é maior do que a cardinalidade do domínio do problema. Como explica Vieira (2003), com o intuito de evitar a ocorrência desses erros surgem novos estudos: há os que procuram utilizar uma rotina de correção que descarta o cromossomo com erro e outros que mapeiam cromossomos com erro em cromossomos sem erros. Dessa forma são criadas variações para o algoritmo genético de Holland.

A condição de parada de um algoritmo genético poderá ser qualquer um dos seguintes critérios: encontrou um cromossomo com o maior valor de adaptação ou igual a um valor pré-determinado; chegou ao número de iterações determinado; ou uma combinação dessas condições citadas anteriormente, como explica Vieira (2003). Para o problema tratado, a condição de parada é satisfeita quando o algoritmo genético aplicado ao problema encontra o cromossomo mais adaptado por três gerações seguidas.

A variação do Algoritmo Genético de Holland utilizada no problema faz a alocação do conjunto de contas que compõem o cromossomo aos quocientes dos índices de Liquidez, Rentabilidade, Endividamento,Prazos Médios, Análises Vertical e Horizontal, através das operações de cruzamento e mutações entre os cromossomos da população inicial. No problema tratado pelo sistema proposto foi convencionado que o cromossomo é um vetor sobre o alfabeto ternário [-1,0,1] com dimensão igual ao número de contas correspondente a análise solicitada. A população inicial será formada mediante cópias do cromossomo inicial, totalizando 20. Na primeira geração será aplicada a operação de mutação por complemento, visto que, para o problema em questão a operação cruzamento não seria viável, porque formaria uma população de cromossomos iguais. Dessa forma, a mutação por complemento foi realizada da seguinte maneira: -1 => 0; 0 => 1 e 1 => -1. Cabe frisar que uma das principais chaves para o sucesso de um algoritmo genético encontra-se na representação dos seus cromossomos e operadores genéticos.

Considerando os dados constantes no Quadro 2.2 que representam as bases a serem utilizadas como referência do cálculo da função de adaptação do cromossomo. Tem-se que para obtenção do índice de liquidez corrente (LC), por exemplo, haverá cruzamento entre as contas do Ativo Circulante (AC) com as do Passivo Circulante (PC). O resultado será comparado com o quociente padrão estabelecido e alocado como alelo do locus do cromossomo para posteriormente ser comparado ao alelo do locus do próximo cromossomo da próxima população gerada e assim sucessivamente. Essas operações irão mostrar como se encontra a situação financeiro-econômica da empresa objeto de análise. Em seguida, serão mostradas ao usuário do sistema as terminologias indicativas dessa situação, as quais foram definidas em: excelente, muito bom, bom, regular e deficiente.

Os algoritmos genéticos utilizam uma função que é denominada de Função de Avaliação ou Função de Custo ou Função de Adaptação para determinar a qualidade de um indivíduo como solução do problema que está sendo abordado, ou melhor, ela deve conter todo o conhecimento que o programador possui sobre o problema, de maneira que possa refletir a solução a ser encontrada, com explica Linden (2006). Em virtude dos fatos mencionados, tem-se que a função de avaliação irá sempre busca da melhor solução, testando a cada momento o resultado obtido por cada cromossomo, de maneira tal que no caso, por exemplo, de uma solução alcançada por um cromossomo definido por C1 que representa uma solução melhor do que a que foi obtida pelo cromossomo C2, a função de avaliação irá, como o próprio nome já diz, avaliar e definir que a solução encontrada pelo cromossomo C1 foi melhor do que a encontrada pelo cromossomo C2 e assim sucessivamente até atingir a condição de parada definida pelo algoritmo. A função de avaliação ou função de adaptação ou função de custo deve ser definida em linguagem formal.

A função de adaptação, ilustrada no Quadro 2.3, verifica se houve melhora no quociente de cada um dos índices de liquidez, rentabilidade, endividamento de um ano em relação ao seguinte. Em seguida

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compara esse resultado ao padrão de índice previamente estabelecido, constante no Quadro 2.2 para identificar se houve melhora, se permaneceu estável ou houve redução em algum índice analisado. Segundo Neves (2011), os valores de cada uma das contas contábeis, assim como dos parâmetros para cálculo do índice padrão será inserido no sistema pelo usuário.

A função de adaptação será chamada cada vez que for realizado o cálculo de uma das análises separadamente, ou seja, caso o usuário solicite a análise de liquidez o Y1 assume o valor do índice de liquidez corrente, o Y2, o valor do índice de liquidez seca e o Y3 assumirá o resultado do índice de liquidez geral para que a função encontre a sequência de comportamento da análise naquele ano e em seguida fará a mesma operação para o ano seguinte, tendo como resultado a conclusão da análise.

Na fórmula da Função de Adaptação, descrita no Quadro 2.3, tem-se a adaptação representada por adapt; o cromossomo por C; os índices por Y e N pelo número primo em reais subsequente à quantidade de índices utilizados, partindo do número real primo 7, devido ao primeiro peso adotado no algoritmo ser de valor 5, com a finalidade de que sua fatoração recaia sobre o peso correspondente ao conceito adotado na tabela de índice-padrão.

adapt [P|C,i] = adapt [C,i] + 1, se {[P|C(i)] > {7*adpt[Y1|C (i)]+11*adapt[Y2|C (i)]+...+N*adapt[Yn|C (i)]} adapt [C,i] 0, se {[P|C(i)] = {7*adpt[Y1|C (i)]+11*adapt[Y2|C (i)]+..+N*adapt[Yn|C (i)]} adapt [C,i] - 1, se {[P|C(i) ] < {7*adpt[Y1|C (i)]+11*adapt[Y2|C (i)]+..+N*adapt[Yn|C (i)]} 1, Se {[P|C(i)] ∩ índice[i] ∩ conta[i] > 1} e i = nº de índices ∩ nº de contas 0, Se {[P|C(i)] ∩ índice[i] ∩ conta[i] < 1} e i = nº de índices ∩ nº de contas Quadro 2.3 – Função de Adaptação do Algoritmo Genético para o problema. Fonte: Autor

O Quadro 2.4 ilustra o fluxo do algoritmo genético implementado no programa. Trata-se de um AG simples que possui as descrições de entrada compostas por cadeias de bits de tamanho fixo. A população inicial será formada por cromossomos, de tamanho correspondente ao número de contas contábeis e a ela será inicialmente aplicada à função de adaptação definida no Quadro 2.3, para que seja encontrada a solução do problema. Em caso negativo, o algoritmo genético irá promover a seleção de novos cromossomos, sendo pais e descendentes e neles aplicadas as operações de mutação e cruzamento para formar uma nova população, eliminando os excessos, ou seja, excluindo os cromossomos menos adaptados. Adotou-se n pontos de corte nas operações de cruzamento e mutação.

Na nova população formada será aplicada a função de adaptação definida no Quadro 2.3 e verificado se a solução do problema foi satisfeita, em caso afirmativo passa ao módulo de geração do relatório da análise solicitada e em caso negativo volta ao processo novamente até que seja satisfeita a condição de parada, conforme mostra o Quadro 2.4.

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Quadro 2.4 – Fluxograma do Algoritmo Genético para o problema. Fonte: Autor

A implementação do código foi realizada em linguagem JAVA, que utilizou tipos numéricos, strings e arrays, na implementação do código do programa, elaborado no compilador eclipse. Sendo o cromossomo um vetor sobre o alfabeto ternário A= {-1,0,1}, onde o tamanho do vetor é igual ao número de contas contábeis da análise escolhida pelo usuário, considere o seguinte cromossomo C1 para exemplificar uma análise de liquidez:

C1

AC E I ANC PC PNC

0 1 -1 1 0 0

Onde:

AC : ativo circulante ; E : estoque;

ANC : ativo não circulante; PC : passivo circulante;

PNC : passivo não circulante; I : imobilizado.

A formação do cromossomo na população inicial é obtida através da comparação de cada uma das contas ou grupos de contas extraídos de demonstrações contábeis de um ano em relação ao ano anterior. Usando a análise de liquidez como exemplo, tem-se:

AC em X1 comparado a AC em X2;

E em X1 comparado a E em X2;

I em X1 comparado a I em X2;

ANC em X1 comparado a ANC em X2;

PC em X1 comparado a PC em X2;

PNC em X1 comparado a PNC em X2.

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Verificada a ocorrência de crescimento na conta contábil ou grupo de conta contábil será atribuído o valor = 1 do alfabeto ao cromossomo. Quando permanecer estável, o valor será = 0 e se houve redução = -1:

Cresceu = 1

Estável = 0

Reduziu = -1

Após formar a população inicial, que será composta por cópias do cromossomo inicial, será realizada a aplicação da função de adaptação. Considerando o exemplo anterior da análise de liquidez, tem-se:

Adapt(c)=7*adapt(LC)+11*adapt(LS)+13*adapt(LG) , onde:

� adapt(LC) = compara (valor contido no locus do AC e no PC, do cromossomo gerado com o anterior) soma (quando há crescimento) e multiplica pelo peso obtido (padrão setorial);

� adapt(LS) = compara (valor contido no locus do AC, do E e do PC, do cromossomo gerado com o anterior) soma (quando há crescimento) e multiplica pelo peso obtido (padrão setorial);

� adapt(LG) = compara (valor contido no locus do AC, do ANC, do I, do PC e do PNC, do cromossomo gerado com o anterior) soma (quando há crescimento) e multiplica pelo peso obtido (padrão setorial).

Logo após será verificada se foi satisfeita a condição de para, que consiste na repetição por três gerações do mesmo resultado da adaptação, indicando que àquele é o resultado para o problema. Esta condição de parada do SEADC indica que o algoritmo formará no mínimo três gerações antes de encontrar o resultado para o problema. A operação de mutação usada foi a por complemento, sendo realizada da seguinte forma: -1 => 0; 0 => 1; 1 => -1.

4. Resultados Obtidos

Adotou-se como critério de verificação a comparação da taxa de erro entre o valor que foi calculado manualmente com os valores calculados pelo Sistema Evolutivo de Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis e ANABAL, que corresponde a um sistema disponibilizado num arquivo digital anexado ao livro intitulado “Análise Financeira de Balanços” de Matarazzo (2008).

O Sistema ANABAL recebe como entrada as seguintes demonstrações padronizadas: balanço patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração de origens e aplicações de recursos (DOAR); além de alguns dados adicionais. Fornece como saída relatórios com os resultados em percentuais ou relatório em forma de gráfico.

Os relatórios fornecidos pelo sistema ANABAL são intitulados, conforme segue: índices econômicos / financeiros; avaliação histórica; perfil da empresa; análise vertical / horizontal do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exercício; prazos médios / ciclos; financiamento NCG (valores); fluxo líquido de caixa e resultados reclassificados. Um ponto crítico desse sistema são as suas demonstrações padronizadas, que possuem uma relação das contas contábeis reduzida, fato este que ocasiona uma análise mais distante da realidade.

Utilizaram-se percentuais para obtenção da Taxa de Erros comparativos entre os dois sistemas analisados em função do sistema manual adotado. Sendo o valor 0 (zero) atribuído à igualdade da taxa de erro encontrada e os demais valores referem-se às diferenças encontradas a maior ou a menor no resultado,

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conforme mostra o Quadro 2.5. Dessa forma, o sistema que possui em sua maioria resultados da taxa de erro iguais à zero (0) indica que a execução de suas operações encontra-se mais próxima dos 100% de acertos.

Taxa de Erro

ANABAL Sistema Evolutivo de Apoio à Análise de Demonstrações

Contábeis – SEADC Tipos de Análises

Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 1

Caso 2 Caso 3

Liquidez 33,33% 100% 66,67% 0% 0% 0% Endividamento 100% 100% 50,00% 0% 0% 0% Rentabilidade 100% 100% 100% 0% 0% 0% Prazos Médios 100% 100% 100% 0% 0% 0% Análise Vertical do BP 9,09% 28,57% 9,52% 0% 0% 0% Análise Horizontal do BP 13,89% 14,29% 21,21% 0% 0% 0% Análise Vertical do DRE 39,39% 22,22% 3,70% 0% 0% 0% Análise Horizontal do DRE 51,51% 7,40% 7,40% 0% 0% 0% Quadro 2.5 – Resultado da Taxa de Erro do Sistema Evolutivo de Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis.

Foram utilizados dados de três empresas para testes comparativos: A sociedade anônima intitulada

“Companhia de Ferro e Ligas da Bahia – FERBASA”, que pertencente ao setor de siderurgia e metalurgia, com dados extraídos do Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração do Valor Adicionado, dos exercícios financeiros de 2007, 2008, 2009 e 2010; sociedade anônima intitulada “Natura Cosméticos S.A”, pertencente ao setor de bens de consumo, com dados extraídos do Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração do Valor Adicionado, dos exercícios financeiros de 2007, 2008, 2009 e 2010; e a sociedade anônima intitulada Indústrias ROMI S.A, pertencente ao setor de siderurgia e metalurgia, com dados extraídos do Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração do Valor Adicionado, dos exercícios financeiros de 2007, 2008, 2009 e 2010. Os referidos dados encontram-se disponibilizados nos apêndices com os respectivos cálculos das análises descritas demonstrados manualmente.

Em todos os três casos testados, o Sistema Evolutivo de Apoio à Análise de Demonstrações Contábeis obteve um percentual de 100% de acertos, conforme mostra o Quadro 2.5, enquanto que o sistema ANABAL apresentou alguma margem de erro em todas as análises propostas, provavelmente em virtude do reduzido número de contas contábeis existentes em seus balanços padronizados. As diferenças de valores relativos a algum arredondamento não foram considerados como erro do sistema ANABAL, assim como foram abstraídos dos percentuais de erros no cálculo de análises verticais e horizontais de contas contábeis inexistentes no referido sistema, para tornar mais legítima à comparação.

5. Conclusão

O SEADC foi elaborado limitando-se ao uso de dados determinísticos, que compreendem os dados obtidos nas demonstrações contábeis, para realizar as análises propostas, contribuindo como um sistema de apoio ao analista contábil, por não acrescentar fatores classificados como não determinísticos, tais como: desempenho administrativo; eficiência operacional; pontos fortes e fracos; ocorrência de catástrofes; crises econômicas, dentre outros. Fatos estes que são de grande valia na elaboração do relatório de análise financeira e econômica de empresas, por influenciar, em alguns casos, de forma decisiva no desempenho das empresas, o que pode alterar a tomada de decisão.

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Os resultados alcançados no cálculo dos quocientes obtidos em todos os sete tipos de análises realizados, que foram: liquidez, endividamento, rentabilidade, prazos médios, vertical, horizontal e valor adicionado, obtiveram 100% de corretude e apresenta, como saída do sistema, um diagnóstico em formato textual numa linguagem técnica-contábil.

Para trabalhos futuros recomenda-se o desenvolvimento de aplicações similares utilizando outros modelos de algoritmos genéticos, ou abordagens diferentes de computação evolucionária, ou abordagens de inteligência artificial.

Pode-se ainda incluir outros tipos de análise contábil como, por exemplo, a análise do fluxo de caixa, que possui relevância para a situação financeira. Bem como uma combinação das diferentes análises trabalhadas nesta dissertação objetivando otimizar a situação financeira da empresa frente a duas percepções diferentes mais complementares.

Já para a saída do sistema recomenda-se melhoria no relatório para que se torne conclusivo e num formato textual explicativo, podendo ser utilizado por pessoas que não sejam profissionais da área.

Outra alternativa era trabalhar uma análise sensível ao contexto político, econômico e legislativo do país ao qual a empresa esta inserida.

Como outra possibilidade de trabalhos futuros tem-se, também, a criação de um módulo de importação dos dados financeiros de uma empresa que se encontram registrados em outro software para o sistema proposto.

6. Referências

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2. CASTRO, Leandro de, ZUBEN, Fernando Von – Algoritmo Genético – IA707 DCA/FEEC/Unicamp. Disponível em: ftp://ftp.dca.fee.unicamp.br/pub/docs/vonzuben/ia707_02/topico9_02.pdf. Acesso em 24 de março de 2011.

3. CRUZ, Naiana Vasconcelos Silva et. al. – O Impacto da Tecnologia da Informação no Profissional Contábil. Disponível em: http://www.intercostos.org/documentos/218.pdf. Acesso em 27 de junho de 2011.

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5. IUDÍCIBUS, Sérgio de – Análise de Balanços. 9ª edição , São Paulo: Editora Atlas, 2008. 6. LINDEN, Ricardo – Algoritmos Genéticos: Uma Importante Ferramenta da Inteligência Computacional.

Ed. Brasport, Rio de Janeiro, 2006. 7. MARION, José Carlos - Análise das Demonstrações Contábeis. 4ª edição, Editora Atlas, São Paulo

(2009). 8. MATARAZZO, Dante Carmine: Análise Financeira de Balanços: abordagem básica e gerencial. 6ª

Edição, Editora Atlas, São Paulo (2003). 9. NEVES, Cleonábula Maria M., LOPES, Roberta V. Vieira, SILVA, Vitor Rafael M., BARROS,

Gabriella A. B. - A Variation of the Genetic Algorithm of Holland for the Support to the Analysis of Balance Sheet and Income Statement of Exercise. Paper ID 149. The IEEE Joint International Information Technology and Artificial Intelligence Conference - ITAIC (2011).

10. VIEIRA, Roberta Vilhena - Um Algoritmo Genético baseado em Tipos Abstratos de Dados e sua especificação em Z, Tese de Doutorado apresentada no Programa de Pós-Graduação do Centro de Informática da UFPE, Recife-PE (2003).

11. Revista Exame.com - Disponível em : http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e-maiores. Acesso em 23 de março de 2011. Editora Abril.com.

12. Russel, Stuart; NORVIG, Peter: Inteligência Artificial. Editora Campus, São Paulo (2004).

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Levantamento de Custos por Segmento para Orientação na Tomada de Decisão: Um Estudo de Caso

em Empresa Prestadora de Serviços.

AUTORES: Cristiane Tomaz de Carvalho Ferreira.

Resumo

O objetivo desse estudo é evidenciar a importância do uso de relatórios segmentados em empresas prestadoras de serviços para obter-se controle dos custos, rentabilidade e desempenho individualizados em suas unidades operacionais e assim contribuir para tomadas de decisões gerenciais. Para tanto, foi analisado os dados dos sistemas financeiros, documentos contábeis, notas fiscais e relatórios de atendimentos de serviços fornecidos pela empresa estudada. Realizou-se um estudo de caso com entrevistas com o presidente da empresa, para se obter outras informações gerenciais que não puderam ser evidenciadas através dos relatórios criados. Ao final do estudo a empresa considerou o modelo de relatório apresentado, fator determinante para a tomada de decisão da não extinção da unidade operacional que não atingia o resultado esperado, pois apresentou os percentuais individualizados de cada unidade operacional e a sua contribuição sobre a receita total da empresa. A empresa conseguiu visualizar os gastos fixos e variáveis de cada unidade e assim traçar novas estratégicas para aumentar o resultado de cada unidade operacional. Neste estudo foram analisados e mostrados que a utilização dos custos individualizados por segmento são ferramentas para obtenção do controle de custos e acompanhamento do desempenho de unidades operacionais e saber quanto cada uma contribui para o resultado total da empresa, e que através da margem de contribuição pode-se tomar a decisão de se manter ou extinguir uma unidade operacional.

Palavras-chave: relatório segmentado, controle gerencial, margem de contribuição, tomada de decisão, custo por segmento.

1. INTRODUÇÃO Atualmente, relatórios segmentados são amplamente utilizados para tomada de decisões, uma vez

que esses relatórios apresentam a rentabilidade e o desempenho de cada unidade da empresa. Os relatórios podem determinar quais os serviços ou produtos que são mais rentáveis, identificar mercadorias ou serviços com maior ou menor significância para a empresa, identificar porque se mantêm um produto ou serviço com margem de contribuição negativa, projetar efeitos no resultado do período com a eliminação ou redução de mercadorias ou serviços, fornecer subsídios para escolhas de novas estratégias, analisar e adequar preços e custos praticados.

A empresa estudada possui atualmente controle de custos da organização como um todo, onde se sabe qual o resultado final que a mesma tem, mas não o resultado operacional de cada Estado em que presta seus serviços. Atua em vendas e prestação de serviços em manutenção eletrônica de equipamentos de segurança como portas giratórias, alarmes, circuito fechado de televisão (CFTV) e cofres; cujos principais clientes são empresas privadas e órgãos públicos que necessitem desses equipamentos, em especial bancos, agências dos correios, tribunais de justiça e assembléias legislativas. Também presta serviço no mercado privado atendendo clientes esporádicos que necessitem dos serviços e equipamentos eletrônicos de segurança.

Sua região de atuação são os nove Estados do Nordeste, e possui bases técnicas para prestação de seus serviços, em seis deles, Bahia (BA), Sergipe (SE), Pernambuco (PE), Paraíba (PB), Rio Grande do Norte (RN) e Ceará (CE) que serão o objeto do estudo dos relatórios segmentados. Toda a administração e gerência dos serviços são realizadas pela matriz situada em Recife, Pernambuco (PE).

Para essa discussão, se propõe a criação de relatórios individuais, para se saber a contribuição que cada unidade operacional faz ao resultado total da empresa e se a mesma é auto-suficiente para se manter sem auxílio de outras unidades. Para que esses relatórios fossem criados, foi efetuado o levantamento dos custos variáveis e fixos identificáveis de cada unidade operacional, para se elaborar uma demonstração de resultado por segmento pela abordagem de contribuição. Para este estudo, foi levantada a seguinte questão

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de pesquisa: Como o levantamento de custos por segmento pode contribuir e orientar a tomada de decisão nas empresas prestadoras de serviço?

A escolha do período dos dados analisados foi durante o ano de 2010, justifica-se pela atualidade dos dados e a facilidade no acesso para a realização da pesquisa.

2. REFERENCIAL TEÓRICO A avaliação de desempenho dos segmentos requer uma espécie diferente de demonstração de

resultado, uma avaliação que destaque o desempenho dos segmentos e não o desempenho da empresa como um todo (GARRISON e NOREEN, 2001). A melhor medida de rentabilidade de um segmento é a margem de contribuição, uma vez que ela abrange somente os custos incorridos causados pelo segmento. Se o segmento não puder cobrir seus próprios custos, provavelmente ele não deve ser mantido, a menos que exerça efeitos colaterais importantes sobre outros segmentos (GARRISON e NOREEN, 2001).

A margem de contribuição é útil ao informar o impacto no resultado das variações de curto prazo no volume da atividade (HORNGREN, SUNDEM e STRATTON, 2004), pois pode munir os administradores de informações para gerenciar os diversos segmentos.

Martins (2003, p. 179), considera que a margem de contribuição por unidade “é a diferença entre o preço de venda e o custo variável de cada produto; é o valor que cada unidade efetivamente traz à empresa de sobra entre a sua receita e o custo que de fato provocou e que pode lhe ser imputada sem erro”. Müller e Kriger (2002, p. 30), registram que

O estudo da margem de contribuição para cada nota fiscal, cliente, representante comercial e região permite uma série de avaliações que podem servir a decisões gerenciais e comerciais da empresa. Para alguns produtos, esta margem de contribuição é negativa devido a definições estratégicas comerciais da empresa, tais como: ofertas especiais, competição agressiva, lançamento de produtos. A margem de contribuição mínima de cada produto, para cobrir somente as deduções e os custos variáveis diretos de frete, cobrança, financeiro e comissões, pode ser calculada por região, facilitando a segmentação do mercado e a escolha de produtos a serem trabalhados.

Bornia (2002) refere-se à margem de contribuição como o montante das vendas diminuído dos custos variáveis. Já Lunkes (2004, p. 121) diz que a “margem de contribuição é a quantia de receita que permanece depois de deduzir os custos e despesas variáveis”.

Conforme os conceitos dos autores verificam-se várias definições para margem de contribuição, mas todas convergem para o significado no sentido amplo que a margem de contribuição é o quanto cada unidade contribui para o lucro da empresa. As empresas devem possuir um sistema de custo que forneça as informações necessárias à avaliação do custo e ao processo de tomada de decisões (BRIMSON, 1996).

As informações advindas do sistema de custo resultam na combinação de princípios e métodos de custeio. Os princípios se referem aos custos variáveis e custos fixos, que devem estar relacionados às necessidades da empresa enquanto os métodos de custeio se referem à forma como serão alocados os custos diretos e indiretos (BORNIA, 2002). A utilização do custeio variável permite identificar a margem de contribuição de cada produto, serviço ou segmento da empresa, uma vez que a principal vantagem do custeio variável é munir os gestores de informações para a tomada de decisão e para o controle dos custos (HENDRIKSEN e BREDA,1999).

Warren et al. (2001, p. 146) enfatizam que o custeio variável, através da margem de contribuição, “pode propiciar informações significativas para a tomada de decisões em relação aos diversos segmentos da empresa”.

Ainda Warren et al. (2001, p.147) afirmam que resultados que mostrem a margem de contribuição por unidade de serviço é sempre útil aos gestores na avaliação do desempenho passado e para direcionar esforços para o futuro. A análise da lucratividade de cada unidade pode levar os gestores a reduzir custos nas unidades com lucratividade baixa ou aumentar esforços nas unidades de maior lucratividade.

Analisando os relatórios de desempenho de cada unidade em uma empresa, podem-se avaliar os resultados e problemas criados pelas interações entre custo e receita (ATKINSON et al., 2000).

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3. DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO DE CASO Visando resguardar a identidade organizacional e principalmente dos atores envolvidos na pesquisa,

decidiu-se omitir o nome da empresa estudada. O corpo do trabalho teve o nome fictício de Griffe, quando tratar da empresa.

A pesquisa foi realizada nesta empresa devido ao conhecimento com o proprietário, que não se opôs em fornecer dados financeiros e administrativos para que a pesquisa fosse realizada. Os dados foram levantados através de consultas a documentos e sistemas de informações financeiros no ano de 2010, e entrevistas com o presidente da empresa estudada.

A Griffe Eletrônica é uma Empresa de Pequeno Porte (EPP) com sede em Recife, Pernambuco, com doze anos de mercado. O sócio fundador, presidente, foi funcionário e representante do seu principal fornecedor antes de fundar a Griffe. De acordo com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), EPP é toda empresa que possui faturamento bruto anual de até R$ 2,4 milhões.

A empresa possui contratos de manutenção de prestação de serviços em segurança eletrônica com órgãos públicos contratados através de processos licitatórios, que podem ter duração de até cinco anos, conforme a Lei 8.666/64. O faturamento anual da empresa gira em torno de R$ 2 milhões.

3.1. A Estrutura Administrativa da Empresa Estudada

A empresa é gerida pelos sócios administradores, Presidente e Diretor Financeiro, ambos com 49%

do valor total do Capital Social. O outro sócio, Engenheiro Eletricista, não tem poder administrativo e gerencia a empresa na ausência dos sócios majoritários. Além dessa responsabilidade, atua na área comercial/engenharia de projetos técnicos junto aos clientes contratados. A administração é centralizada nas mãos do presidente e diretor financeiro, onde detêm todas as informações econômicas financeiras do grupo, ou seja, todo poder para a tomada de decisão está nas mãos de uma única pessoa a direção.

Figura 4 - Organograma da Empresa - Griffe Eletrônica Ltda. EPP Fonte: Elaborado pelo Autor

A delegação de poderes na organização limita-se somente a área comercial e técnica, e mesmo assim,

para determinados casos, em especial, são decididas apenas pelo presidente. Por se tratar de uma empresa familiar, a descentralização não está presente, uma vez que não se tem centros de responsabilidade em cada unidade operacional. Somente se delega a nível operacional. A diretoria geral optou em não efetuar descentralização na empresa para que os gerentes de níveis abaixo ao dele, tomem decisões sem pleno

Presidente

Diretor Financeiro Diretor de Engenharia

Assistente Financeiro

Assistente Administrativo

Gerente Técnico

Auxiliar Depto Técnico

Técnicos de Vários Estados (total 11)

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conhecimento geral e informações detalhadas sobre as operações que estão sendo realizadas (GARRISON e NOREEN, 2001).

Atkinson et al. (2000, p. 613) esclarecem que as empresas centralizadas reservam o poder da tomada de decisão para os níveis de administração seniores. Também destacam que “muitas empresas centralizadas estão impossibilitadas de responder efetivamente ou rapidamente aos seus ambientes; então, a centralização é mais cabível nas empresas que se adaptam melhor em ambientes estáveis”. Conforme a empresa vai crescendo e diversificando seus negócios, surge a necessidade de mais pessoas para auxiliar a gerir seus negócios e ocorrer a descentralização da gestão e dar maior autonomia aos responsáveis pelas diversas divisões da empresa.

3.2. Análise dos Resultados Os dados utilizados e analisados para o estudo e criação dos relatórios segmentados são referentes

aos valores de contratos de prestação de serviços fixos, ganhos através de processos licitatórios nos Estados onde a empresa possui as bases técnicas. As receitas dos contratos fixos nos Estados são chamadas de unidades operacionais onde os serviços são executados.

A Tabela 1 apresenta a composição do preço elaborado pelo presidente, onde a mesma contém os valores e os itens utilizados para a composição do preço do serviço prestado. Essa é a planilha entregue e aceita pelo cliente como preço final de venda do serviço prestado. Os dados constantes nessa planilha é uma exigência do cliente, onde se deve seguir esse modelo, sem colocar ou tirar qualquer outro gasto. Os dados são utilizados pelo cliente para aplicação de repactuação dos valores contratados, caso seja necessário ocorrer o reequilíbrio econômico financeiro.

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Tabela 3 - COMPOSIÇÃO DO PREÇO

ORÇADO

O presidente da Griffe diz que não se baseia somente nesses itens para compor seu preço, mas por exigência do cliente, é necessário preencher desta forma. Ele se baseia em preços praticados no mercado, até porque o preço apresentado é em um processo licitatório de concorrência, onde se justifica a composição dos percentuais ser de baixo para cima, ou seja, após se ter o valor que será faturado se rateia os mesmos conforme o percentual exigido pelo cliente.

A receita orçada de cada unidade operacional é o valor anual dos contratos em cada Estado. Esse valor é o total faturado ao cliente. Para se chegar ao valor final do orçamento, existe uma planilha com quatro grupos para a apresentação dos custos.

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O grupo A é composto da soma dos cálculos percentuais de salários e reservas sobre o total faturado mais a soma dos percentuais do INSS, FGTS, Férias e Décimo Terceiro sobre o total extraído da soma dos salários e reservas. O grupo B é composto da soma dos cálculos percentuais dos itens listados sobre o total faturado. O GRUPO C é composto das despesas operacionais e administrativas e lucro sobre o total do faturamento. O GRUPO D é referente aos impostos sobre o faturamento total.

A Tabela 1 não representa a realidade que a empresa tem e necessita em termos operacionais e financeiros. A empresa precisa de um relatório que mostre realmente quanto ela gastou com cada item, e não apenas uma estimativa em cada Estado.

A nova proposta para a empresa é a criação de um relatório segmentado por unidade operacional discriminando os custos que cada uma teve no ano de 2010, para se saber se o resultado operacional individual está de acordo com as metas estipuladas pela diretoria e quanto cada unidade operacional está realmente contribuindo para o resultado global da empresa. Com os dados individualizados de cada unidade operacional a empresa poderá verificar onde é necessário se reduzir custos e decidir se deve manter ou não uma unidade em operação.

Para isso, foram levantados todos os gastos reais que cada unidade tem. De acordo com Garrison e Noreen (2001, p.389), “para elaborar um demonstrativo de resultado para um determinado segmento, deve-se deduzir as despesas variáveis das vendas, a fim de se obter a margem de contribuição”. Ou seja, para se obter a margem de contribuição, se deduz da receita bruta, os gastos e despesas variáveis. A margem encontrada representa o valor que cobrirá os gastos e despesas fixas da empresa e proporcionar, de preferência um resultado positivo. No estudo, foram deduzidos da receita bruta de cada unidade operacional, seus gastos variáveis e se obteve a primeira margem de contribuição.

Feito isso, foram relacionados todos os gastos fixos de cada unidade operacional e se obteve a segunda margem de contribuição, que refletiu o quanto cada unidade operacional realmente contribuiu no resultado total da empresa, conforme apresentando na Tabela 2.

Para se saber o resultado geral da empresa é necessário retirar os gastos fixos comuns à estrutura geral da empresa. Gasto fixo identificável de um segmento é um custo fixo decorrente da existência do segmento, se este nunca tivesse existido, esse gasto nunca teria ocorrido, se o segmento fosse extinto, esse gasto deixaria de existir (GARRISON e NOREEN, 2001). Na Tabela 2 cada unidade operacional possui uma receita bruta que contribui para o faturamento total da empresa. Os valores das receitas foram distribuídos e nomeados nos respectivos Estados onde o serviço é prestado. Criou-se a coluna de subtotal para se obter o valor que os contratos prestados representam dentro da organização.

Além dos contratos prestados nas unidades operacionais, a empresa fornece mão de obra para clientes não contratuais, que foram chamados de outras receitas de serviços não contratuais, onde a mesma também possui seus gastos variáveis. A empresa também comercializa produtos, chamados de Receitas de Vendas. A somatória das três receitas brutas da empresa que são o subtotal das unidades operacionais, as outras receitas não contratuais e as vendas, nos dá a receita bruta total da empresa.

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Tabela 4 - GASTOS REAIS POR SEGMENTO

Para se obter o resultado geral da empresa, subtraiu-se da receita total da empresa, o total dos gastos

variáveis nas unidades operacionais, o total dos gastos fixos nas unidades operacionais e os gastos fixos comuns da empresa como um todo.

Os valores e percentuais apresentados são os reais trabalhados pela empresa, que diferem dos apresentados na Tabela 1 de planilha de preço orçado. Observou-se também que o percentual do imposto Simples Nacional era diferente do apresentado atualmente, pois na época que a proposta foi gerada e apresentada ao cliente, a empresa estava em outra faixa de alíquota de arrecadação.

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Para se chegar aos salários das unidades operacionais, criou-se a Tabela 3, pois a Griffe possui funcionários alocados em uma determinada unidade, porém estes prestam serviços também para outras unidades. Realizou-se o levantamento do uso da mão de obra de cada funcionário utilizado em outra unidade operacional, que não a sua, para se ter qual o custo com salário em cada unidade. Por questão ética, os funcionários não tiveram seus nomes expostos, o que se fez necessário intitulá-los por códigos que vão de F1 a F16.

Tabela 5 - COMPOSIÇÃO DOS SALÁRIOS DAS UNIDADES OPERACIONAIS

Os salários de cada funcionário devem ser bem alocados em cada unidade operacional que se prestou

o serviço, pois influencia também no resultado do INSS, FGTS, férias e décimo terceiro. Os salários anuais apresentados de cada funcionário foram calculados multiplicando o seu valor mensal por doze meses.

Após isso, criaram-se colunas onde foi relacionado o percentual de utilização do serviço de cada funcionário em outras unidades operacionais que não a sua, e a ocorrência de alocação do valor da mão de obra conforme o percentual do serviço prestado em cada uma das unidades. O percentual de utilização dos serviços de cada funcionário foi extraído através de análise e levantamento dos relatórios de serviços prestados durante o ano de 2010, o que não necessariamente indica que esse percentual seja fixo, podendo variar nos demais anos ou períodos analisados, de acordo com a utilização do serviço de cada funcionário em cada unidade operacional.

Recomendou-se a empresa fazer um levantamento trimestral ou semestral de alocação de serviços nas unidades operacionais para se ter uma visão mais próxima da realidade do que está ocorrendo, para que se possa eventualmente tomar decisões que possam modificar os resultados das unidades operacionais.

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Na Tabela 4, foram dispostos os salários do setor administrativo, que compõem os gastos fixos comuns a estrutura. O gerente técnico e o diretor de engenharia possuem bonificações que são incorporadas aos seus salários de acordo com o desempenho obtido por eles. Essas bonificações são pré-estabelecidas pelo presidente da empresa. O gerente técnico recebe uma bonificação mensal de 0,7% sobre os valores contratuais das unidades operacionais, caso todos os serviços sejam prestados conforme as normas contratuais e não se tenha nenhuma penalidade do cliente. O diretor de engenharia recebe 3% sobre o faturamento total das receitas contratuais menos os impostos (Simples Nacional e Imposto Sobre Serviços).

Tabela 6 - COMPOSIÇÃO DE SALÁRIOS SETOR ADMINISTRATIVO

Erro! Vínculo não válido. A empresa justificou as diferenças salariais dos funcionários do setor operacional da empresa em

função do tempo de casa, experiência profissional, disponibilidade para viagens ou possuírem carteira de motorista e outros critérios definidos pela alta cúpula administrativa da empresa.

Na Tabela 5 (Anexo 1), apresentou-se uma análise vertical das unidades operacionais para verificar qual o percentual dos gastos variáveis e fixos sobre a receita de serviços de cada unidade operacional e o valor total de receitas obtidas nas unidades operacionais. Observou-se que os gastos variáveis representaram 41,36% do valor total dos contratos e os gastos fixos 27,39% do valor total dos contratos no ano de 2010. Após a extração das duas margens de contribuição, pode-se observar individualmente o que aconteceu com cada unidade operacional conforme o gráfico 1.

Dos gastos variáveis das unidades, o item de maior impacto foram as peças, com 11,53%, mas analisando fiscalmente, levou-se em consideração a somatória dos itens ISS e Simples, o que o identificou como o item de maior peso da composição dos gastos variáveis com 15,4%. Dos gastos fixos das unidades, verificou-se que o item de maior peso sobre o total faturado pelas unidades foram os salários com 17,57%. Na unidade operacional SE, observou-se após a extração da segunda margem de contribuição, que visualizou os gastos fixos das unidades operacionais, que a mesma não obteve um resultado positivo, devido aos seus percentuais de gastos fixos serem de 75,50% do seu total faturado.

Gráfico 1 - Análise Vertical das Unidades Operacionais

Fonte: Elaborado pelo autor

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A administração deve analisar outros dados para verificar se compensa manter essa unidade, pois seus gastos fixos são acima do esperado para que a mesma se mantenha.

A unidade operacional BA também tem uma segunda margem de contribuição delicada, pois só traz de retorno 7,83% do seu faturamento, também devido ao seu custo fixo ser acima do ideal.

Para a administração estudada, o presidente diz que o ideal é que cada unidade operacional retorne 15% do seu faturamento no mínimo, e diz estar ciente que a unidade SE dá resultado negativo em relação aos contratos fixos, porém na análise geral, a unidade é importante para a imagem da empresa de estar presente em todos os Estados do Nordeste, o que faz com que a empresa consiga serviços em outras áreas, fora as contratuais, e até porque, o funcionário alocado nesta unidade operacional, quando não está trabalhando para os contratos, é utilizado na unidade BA e também em serviços extras no Estado de Alagoas e esporadicamente em Pernambuco. A empresa também presta garantia aos fornecedores que comercializa e instala seus equipamentos, o que faz necessário ter o funcionário alocado no Estado, pois caso não o tivesse, o fornecedor não formaria parceira em outras regiões de atuação da empresa.

Na Tabela 6 (Anexo 2), foram analisadas as unidades operacionais horizontalmente, onde se verificou o percentual de cada uma sobre o faturamento contratual e os itens de maiores impactos nos gastos fixos e variáveis. Verificou-se através desta análise que a unidade operacional que mais contribuiu para o faturamento dos contratos foi a unidade PE com 49,05% de contribuição. A unidade operacional SE representou 4,09% sobre o total das unidades operacionais.

No gráfico 2, consegue-se visualizar com maior facilidade a contribuição de cada unidade operacional para os contratos firmados.

Gráfico 2 – Receita por unidade operacional sobre receitas contratuais

Fonte: Elaborado pelo autor

Na análise vertical feita anteriormente na Tabela 5 (Anexo 1), observou-se que a unidade SE não

obteve o resultado esperado. Na análise horizontal Tabela 6 (Anexo 2), verificou-se qual o item dos gastos fixos que contribuiu para que o resultado não tenha sido atingido. No caso estudado, o item aluguel da base com 37,74% e auxilio veículo com 23,67% foram os itens que fizeram a margem de contribuição subir e conseqüentemente baixando o resultado esperado.

A sugestão seria verificar a possibilidade de extinção de auxilio veículo e redução do aluguel da base, para que se possa ao menos atingir o ponto de equilíbrio operacional. Pode-se verificar que na unidade BA, que também possui uma margem de contribuição abaixo do esperado, o item aluguel da base foi o que influenciou para que o resultado fosse menor. Deve-se tentar uma redução nesse item para se aumentar a margem de contribuição.

Na Tabela 7 (Anexo 3), foram apresentados os dados das unidades operacionais se confrontando com a receita total da empresa. Verificou-se através da análise horizontal que a unidade operacional SE representa apenas 2,61% sobre o percentual total de receitas da empresa. Ao se extrair a segunda margem de contribuição verificou-se que sobre o total geral da empresa, a unidade SE teve um resultado negativo de

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0,77 pontos percentuais, o que não é relevante se comparado com o total das receitas da empresa, conforme se pode visualizar melhor através do gráfico 3.

Gráfico 3 – Receitas Contratuais Comparadas com a Receita Total da Empresa

Fonte: Elaborado pelo Autor

A Tabela 8 (Anexo 4) apresentou a análise geral de todas as receitas da empresa, e demonstrou que

os contratos fixos prestados pelas unidades operacionais representam 63,91% do faturamento da empresa, enquanto outros serviços não contratuais são 19,73% e as vendas representam 16,36%. Verificou-se que os gastos variáveis na empresa como um todo é de 42,62% do total do faturamento e os gastos fixos 17,50%. Os gastos comuns a estrutura organizacional são de 29,66%, o que traz um resultado positivo a organização de 10,22%, após a retirada do pró-labore dos sócios que é de 12,78% do total do faturamento anual. O resultado de 10,22% positivo anual, é reinvestido na empresa em modernização de equipamentos, veículos e aplicado para eventuais emergências.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a criação dos relatórios segmentados nas unidades operacionais da empresa estudada e análise

da estrutura existente de gastos, evidenciou-se a importância da utilização do modelo proposto para a obtenção do controle de custos, rentabilidade e desempenho, pois se chegou à conclusão que nem sempre um resultado negativo representa prejuízo para a organização. A abordagem por margem de contribuição pode ser considerada ferramenta de análise eficiente, pois fornece informações importantes para as tomadas de decisão na organização em relação aos gastos em cada unidade e subsidiar as escolhas de novas estratégias para alterações no resultado geral da empresa.

Em uma primeira análise, seria decidido fechar a unidade operacional SE, pois a mesma aparentemente trazia um resultado negativo de 11,73% (Tabela 5). Após a criação dos relatórios segmentados e identificando os gastos variáveis e fixos das unidades e efetuando-se a comparação da contribuição de cada unidade ao montante geral faturado pela empresa, verificou-se que o percentual de -0,77% não é relevante para a extinção da unidade, uma vez que a imagem da empresa e as parceiras com os fornecedores são primordiais para se manter os serviços existentes e buscar novos negócios e parcerias. O estudo evidenciou a importância da utilização da margem de contribuição por segmento e pode demonstrar que nem sempre um resultado negativo em um segmento da empresa representa prejuízo para a organização como um tudo.

Observou-se que os custos fixos das unidades operacionais SE e BA são os itens que influenciaram na redução do resultado abaixo do esperado pela administração. Verificou-se que a maior faixa de faturamento é oriunda dos serviços prestados nas unidades operacionais, que são os contratos existentes com órgãos públicos através de licitações. Como o tempo máximo dos contratos é de cinco anos, se faz necessário que a empresa esteja sempre atenta a novas licitações para que essa margem não caia e

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comprometa a estrutura geral da empresa. Faz-se necessário investimento em outras áreas, para que a empresa não dependa apenas dessa fatia de mercado.

A empresa informou que continuará utilizando-se do modelo criado para análises semestrais de suas unidades operacionais e assim poder tomar decisões sobre adequações de seus custos e obter melhores resultados. REFERÊNCIAS

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Tabela 7 – (Anexo 1) - Análise dos Dados Verticalmente das Unidades Operacionais

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Tabela 8 – (Anexo 2) - Análise dos Dados Horizontalmente das Unidades Operacionais

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Tabela 9 – (Anexo 3) - Análise Horizontalmente das Unidades pelo Total da Empresa

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Tabela 10 – (Anexo 4) - Análise Geral da Empresa

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Ética o Ativo mais Importante para a Execução da Profissão Contábil: um estudo acerca de sua utilização no mercado de trabalho

AUTORES: Daniele Vasconcelos, Fernanda Sergio, Luiz Antônio, Daniel Figueiredo.

Resumo

A ética é inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital à sociedade. É um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral que contribui nas relações sociais. A profissão contábil é vista algumas vezes como antiética por ter alguns profissionais que fazem o possível para maximizar seus lucros, em função da competitividade que existe no mercado de trabalho. Diante deste contexto, este trabalho objetiva demonstrar qual a percepção dos profissionais contábeis de Rio Tinto – PB e Mamanguape – PB acerca da ética profissional. O estudo utiliza-se do método indutivo, expõe uma abordagem quantitativa e qualitativa, classifica-se como uma pesquisa de campo e bibliográfica. Abrange 30 profissionais, entre bacharéis e técnicos, a coleta de dados deu-se através da aplicação de questionários e os mesmos foram tabulados através do software Microsoft Excel®. Como resultado obteve-se que os profissionais da região estudada têm um grau de conhecimento relevante sobre os princípios éticos e o Código de Ética da Profissão e, embora existam frequentes situações que possam comprometer sua conduta, há um empenho destes em manterem-se éticos e que o sucesso da profissão está ligado ao padrão de conduta adotado, sendo a ética um instrumento para se alcançar a credibilidade e o reconhecimento dos clientes.

Palavras-chave: Profissão contábil, Ética, Código de ética do contador.

1 INTRODUÇÃO A ética é um ramo da filosofia dedicado a assuntos morais. Segundo o dicionário eletrônico Houaiss,

a ética é definida como: “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade”.

Porém, devido ao descumprimento de sua definição a humanidade vem manifestando uma preocupação acerca da falta de valores éticos das pessoas e nas profissões, e a contabilidade talvez possa ser uma delas devido à existência de profissionais que buscam acima de tudo maximização de seus lucros e não seguem a regras, atropelam seus preceitos, seus colegas e acabam prejudicando toda a classe e também afetando a sociedade. Assim como afirma Kraemer (2001, p.39):

Dentre todas as profissões, a do contabilista talvez seja uma das que mais exija do profissional, a todo instante, um apelo ao comportamento ético, pois é a atividade contábil aquela que, através de seus relatórios, registros, demonstrativos e principalmente pela assinatura da responsabilidade técnica pelo serviço prestado, que expõe aos dependentes e usuários da contabilidade tais informações.

No que diz respeito ao profissional contábil é de sua competência a responsabilidade da geração de informações, logo o contador deve ter a consciência de seu papel, o qual não se restringe exclusivamente ao registro de fatos contábeis e documentos que atendam a exigências fiscais e legais. Desta forma, para que isso aconteça é necessário que o contabilista desempenhe suas funções com atitudes éticas que valorizem a classe e que o valorize.

Em complemento, é de importância esclarecer que a ética não dispõem de um ponto fixo que divide o que é correto do que é incorreto, porém é regulada pela cultura, pelas crenças e os costumes da sociedade, como também de suas legislações específicas no que tange a ética profissional com suas diversas normas de conduta.

Na atual sociedade, são comuns as relações que não cultivam a ética, o respeito a determinadas regras e pessoas. Estamos cercados de relações injustas, obsessão por riqueza que ultrapassa tudo e todos, em que o sucesso material passou a ser sinônimo de sucesso social e o êxito pessoal deve ser adquirido a qualquer custo.

Nesse contexto, o problema de pesquisa foi: Qual é a percepção dos profissionais contábeis de Rio Tinto – PB e Mamanguape – PB acerca da ética profissional?

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Assim, com o intuito de alcançar a resposta do problema acima citado, o presente trabalho tem como objetivo demonstrar a percepção dos profissionais contábeis de Rio Tinto – PB e Mamanguape – PB acerca da ética profissional.

O estudo se justifica pela relevância da ética, salientando que a ética se faz importante por ser um traço inerente a toda a ação humana e profissional, em especial, na vida dos profissionais da área contábil que lidam com grandes responsabilidades individuais e também sociais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO ESTUDADA

Localizados na Microrregião do Litoral Norte e na Mesorregião da Mata Paraibana, Mamanguape e Rio Tinto, encontram-se, respectivamente, a 50 e 55 km da capital do Estado, João Pessoa. O acesso a essas cidades é dado através da BR 101, estando unidas pela PB 041.

Conhecida como a Capital do Vale, Mamanguape, de toponímia indígena, tem seu nome advindo do tupi mamã-guaba-pe, que em português significa onde se reúne para beber, bebedouro. Esta chegou a ostentar o título de 2ª cidade mais importante da Paraiba, por sua economia consolidada, razão que mereceu a visita do Imperador D. Pedro II em 27 de dezembro de 1859. Como relata Costa (2005).

Suas terras a princípio compreenderam toda extensão do Rio Mamanguape, hoje, porém é dividida com outros municípios. Nos anos de 1800 alcançou sua ascensão econômica e plenitude política e social, o que surtiu na sua elevação como Sede do Povoado e posteriormente a legitimidade da criação da Vila de Mamanguape de São Pedro e São Paulo, nome que conservou até sua emancipação em 25 de Outubro de 1855 (COSTA e LINS, 1992).

Cita Mariano Neto (2003) que a Cidade teve importante papel na construção dos berços originais de ocupação urbana da Paraíba. E hoje conta com uma população de 42.303 habitantes, distribuída em uma área de 341 km2 (IBGE, 2010). Pela proximidade com o mar este município, antes pertencente às terras da Capitania de Itamaracá, teve sua economia sedimentada no comércio, atividade econômica que predomina na região até os dias atuais.

Por outra face, sua vizinha Rio Tinto é uma cidade pacata e ordeira, que apresenta uma população de 22.976 habitantes (IBGE 2010) e uma área de 464,90 km², correspondendo a uma densidade demográfica de 49,42. (A CIDADE, 2011). Esta fora construída entre os anos de 1918 e 1924 para abrigar as instalações do parque fabril da Companhia de Tecidos Rio Tinto - CTRT e em 06 de dezembro de 1956 fora elevado à condição de município, desmembrado de Mamanguape, descreve Fernandes (2000).

Seu nome é consequência de um curioso fato, Nova Descoberta seria o primeiro nome dado a fábrica têxtil, até que as águas do rio Vermelho despertassem o interesse do Sr. Frederico Lundgren, o então proprietário, que teve a idéia de chamá-la de Rio Tinto. (SILVA, s/d).

Foram aproximadamente quarenta e cinco anos de glórias, quando a cidade-fábrica alcançou seu apogeu industrial. Porém, a partir de 1980 a Companhia de Tecidos Rio Tinto entrou em decadência e passaram-se anos durante esse processo. A cidade vivia direta e indiretamente em função da Fábrica e a partir daquele momento teria que buscar novas fontes econômicas. Hoje, Rio Tinto não vive mais em função da indústria têxtil, a fábrica se encontra inativa, os antigos funcionários, que compreende boa parte da população, se encontra aposentada, enquanto o restante da população busca outras fontes geradoras de renda.

Atividades como comércio, turismos, estes impulsionados pela implantação do campus da UFPB na região, prestação de serviços nos setores público e privado e, até mesmo a própria indústria são responsáveis pela construção do novo cenário econômico da cidade.

Por serem cidades intimamente ligadas e demonstrarem um crescimento econômico relevante para região do Vale do Rio Mamanguape, com surgimento e amplitude de diversos setores econômicos,

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oferecendo assim, um cenário bastante atrativo para atuação de contadores, escolhemo-los como campo de pesquisa para o trabalho aqui apresentado.

2.2 COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL CONTÁBIL A história da contabilidade surgiu nos primórdios da civilização, na época em que os homens

primitivos representavam seus bens por meio de desenhos e gravações. Essas manifestações estão ligadas a necessidade de proteção às posses, de registro e interpretação dos fatos ocorridos, e à medida que o homem começava a possuir maior quantidade de valores, era de seu interesse saber quanto poderiam render e qual a melhor forma de aumentar as suas posses.

Em vista a necessidade advinda do desenvolvimento, a contabilidade evolui através de seus profissionais que tornam possível entre outras coisas mensurar os eventos acontecidos dando possibilidade de controle por parte dos usuários da ciência contábil, de acordo com Lima et. al. (2011, p.3):

Ao longo do tempo, as competências profissionais exigidas pelo mercado de trabalho mudam, adaptando-se ao novo contexto econômico, social, cultural e tecnológico. Por exemplo, um fato que provocou muita mudança nos últimos anos nas exigências de competências do profissional de contabilidade foi à globalização [...] Portanto, hoje em dia, por não restringir-se a cuidar apenas de contas, a profissão contábil desempenha um papel fundamental na modernização e internacionalização da economia. Sua área de atuação é muito ampla, o que oferece inúmeras alternativas de trabalho, logo, a presença do contabilista é cada vez mais imprescindível para a sociedade e para as organizações, sejam elas de finalidade lucrativa ou não.

Desta forma, o profissional da área contábil tem como uma de suas responsabilidades a geração de informações contendo todas as operações realizadas em uma empresa, em que estas informações possuem o poder de tomada de decisões, visando identificar e corrigir as dificuldades e adversidades que aparecem ao longo do caminho, através de ações pró-ativas. Sendo assim, o profissional precisa estar preparado para atender às necessidades atuais de uma economia globalizada, que vem trazendo grandes e diversificados desafios para a ciência contábil devido ao avanço tecnológico e o crescimento da informação, o que promoverá um redirecionamento no papel desempenhado pelos profissionais dessa área.

O contabilista necessita conhecer e utilizar as relações humanas, além de técnicas de administração, não podendo ficar alheio ao mundo que o cerca, precisando estar sempre atualizado. Logo, existem requisitos ao profissional como, ser ético, ter capacidade de criar e inovar, desenvolvendo também sua capacidade de adaptação, já que mudanças fazem parte do cenário empresarial e corporativo, pois apenas com condutas voltadas para a responsabilidade ética, moral e social é que o profissional poderá se desenvolver.

Sendo assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências Contábeis em seu Parecer CNE/CES nº 269, de 16 de setembro de 2004 estabelece competências e habilidades a profissão e em específico o item VIII estabelece que o profissional contábil deve exercer com ética e proficiência as atribuições e prerrogativas que lhe são prescritas através da legislação específica, revelando domínios adequados aos diferentes modelos organizacionais.

Portanto, é notável que os profissionais da área contábil devem exercer com ética as atribuições e prerrogativas que lhes são prescritas, salientando ainda a necessidade do uso do Código de Ética editado pelo CFC sendo esta sua legislação específica e instrumento ao alcance de tal objetivo, além de ter uma consciência voltada para o atendimento de responsabilidades para com a sociedade enquanto indivíduo.

2.3 ÉTICA E PROFISSÃO CONTÁBIL

Conforme Vasquez (1999, p. 23), ética “[...] é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é a ciência de uma forma específica do comportamento humano”. Assim, a ética volta-se para a racionalidade do homem, pois ele é quem vai determinar quais seus deveres e limites em sua relação com os outros.

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Partindo desta definição, verifica-se que a ética não dispõe de uma verdade absoluta entre o que é certo ou errado. Isto vai depender da cultura, das crenças e dos costumes da sociedade, seja em pequenos ou grandes grupos. No entanto, a ética ajuda a delimitar o que é bom ou ruim para esses grupos de acordo com seus valores morais e o fato de existir culturas muito distintas em todo o mundo faz com que não se possa criar uma verdade universal.

É importante ressaltar a diferença entre a ética e moral, já que estão sempre atreladas. A ética é vista como a norma que regulamenta o comportamento humano. Já a moral é a ação desses comportamentos. Contudo, ambas estão relacionadas aos valores e as decisões de ações que trazem consigo consequências para todos. Esses valores é que determinam a conduta moral da sociedade já que a partir deles definem-se os caminhos a serem percorridos.

No entanto, pode-se observar que a ética é a forma pela qual se averigua se as regras morais estão sendo executadas de maneira correta ou não. Desta forma, é relevante que cada um desenvolva uma consciência ética que lhe permita questionar tais regras e verificar se foram desenvolvidas para atender a determinados grupos sociais.

Assim, verifica-se que qualquer profissão necessita de normas que regulamentem a execução de serviços prestados como também a conduta seguida pelos seus executores, não sendo diferente com o profissional da contabilidade. O indivíduo ao optar por exercer determinada atividade se compromete a executá-la de acordo com os preceitos e valores éticos que cada profissão tem, independentemente de sua área de atuação.

O profissional através de atitudes competentes e honestas cria seu perfil perante seus clientes, adquirindo credibilidade no mercado em que atua. Para Lopes Sá (2000, p. 138) “A profissão, pois, que pode enobrecer pela ação correta e competente pode também ensejar a desmoralização, através da conduta inconveniente com a quebra de princípios éticos”. Desta forma, o profissional da contabilidade vai definir sua imagem por meio de sua conduta e ações, visto que se cometer atos negativos e ilícitos será mal visto pela sociedade e pelo mercado.

É essencial que os contabilistas tenham desde sua formação a presença da ética, pois viver nesse contexto social marcado por ações fraudulentas e escândalos a nível internacional que os envolvem não é nada satisfatório para sua imagem profissional. Portanto, deve-se promover a estes profissionais que uma formação ética é vital para o exercício de suas atividades.

Diante de tal fato, é fundamental que os contabilistas busquem cada vez mais conhecimentos, devido à grande concorrência que os fazem agir a qualquer custo para conseguir sobreviver no mercado de trabalho, atualizando-se continuamente e buscando sempre utilizar novas maneiras de exercer suas atividades de acordo com os princípios éticos que regulamentam sua profissão.

Logo, o valor profissional deve estar ao lado do valor ético, para que sua imagem seja íntegra e com qualidade. Por isso existem os códigos de ética, elencando os comportamentos que devem ser adotados ou não, visando o bem-estar social, de forma que sejam asseguradas ações honestas dentro ou fora das entidades.

2.4 CÓDIGO DE ÉTICA DO CONTADOR

Um Código de Ética é um documento textual com diversas normas de procedimento e conduta que orientam as pessoas quanto às suas posturas e atitudes, ele enquadra os participantes em uma conduta honrosa e em linha com a boa imagem que a entidade ou a profissão quer ocupar, normalmente é escrito, analisado e aprovado pela sua entidade de classe, organização ou governo competente, de acordo com as atribuições do exercício desempenhado, de forma que ele venha a se ajustar aos interesses, lutas ou anseios da comunidade que está sendo beneficiada pelos serviços que serão oferecidos pelo profissional sobre o qual o código tem efeito.

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Acerca do código de ética do contabilista, esse começou a ser codificado em 1950 no V Congresso Brasileiro de Contabilidade na cidade de Belo Horizonte – Minas Gerais, onde aconteceu importante estudo e debate sobre o código para orientação da conduta ética dos contabilistas. Mais adiante em 1970 o Conselho Federal de Contabilidade aprovou o Código de Ética Profissional do Contabilista – CEPC, mediante a Resolução nº 290, que orientou a conduta nas atividades dos profissionais contábeis por 26 anos. E em 1996, o Conselho Federal de Contabilidade aprovou o vigente Código de Ética editando a Resolução nº 803.

O Código de Ética do Contador em vigência já passou por inúmeras mudanças e a mais recente foi a Resolução CFC 1.307/2010 que alterou a denominação do Código que passou a ser chamado de Código de Ética Profissional do Contador – CEPC, além de alterar outros artigos.

O atual Código de Ética é constituído por seis capítulos que trata sobre o objetivo do código, os deveres e obrigações dos profissionais, o valor dos serviços profissionais, os deveres em relação aos colegas e à classe, as penalidades e disposições gerais.

Sobre o objetivo do Código de Ética o seu artigo 1º expressa: “Este Código de Ética Profissional tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no exercício profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe.” (Resolução CFC nº 803/96).

O artigo 2º trata dos deveres dos profissionais como:

I – exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observada toda a legislação vigente, em especial aos Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade, e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; II – guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional lícito, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Regionais de Contabilidade; [...]; X – cumprir os Programas Obrigatórios de Educação Continuada estabelecidos pelo CFC; [...]; XII – auxiliar a fiscalização do exercício profissional.(Resolução CFC nº 803/96).

O 3º artigo explana sobre as vedações no exercício da profissão: Art. 3º No desempenho de suas funções, é vedado ao Profissional da Contabilidade: I – anunciar, em qualquer modalidade ou veículo de comunicação, conteúdo que resulte na diminuição do colega, da Organização Contábil ou da classe, [...]; II – assumir, direta ou indiretamente, serviços de qualquer natureza, com prejuízo moral ou desprestígio para a classe; III – auferir qualquer provento em função do exercício profissional que não decorra exclusivamente de sua prática lícita; IV – assinar documentos ou peças contábeis elaborados por outrem, alheio à sua orientação, supervisão e fiscalização; [...]; VII – valer-se de agenciador de serviços, mediante participação desse nos honorários a receber; VIII – concorrer para a realização de ato contrário à legislação ou destinado a fraudá-la ou praticar, no exercício da profissão, ato definido como crime ou contravenção; IX – solicitar ou receber do cliente ou empregador qualquer vantagem que saiba para aplicação ilícita; [...]; XIV – exercer atividade ou ligar o seu nome a empreendimentos com finalidades ilícitas; [...]; XXIV – Exercer a profissão demonstrando comprovada incapacidade técnica; XXV – Deixar de apresentar documentos e informações quando solicitado pela fiscalização dos Conselhos Regionais.(Resolução CFC nº 803/96).

A respeito dos deveres em relação aos colegas de classe fica determinado que esses devem ser pautados nos princípios de consideração, respeito, apreço e solidariedade, em consonância com os postulados de harmonia da classe. No tocante a penalidade e julgamento ficam determinados que:

Art. 12 A transgressão de preceito deste Código constitui infração ética, sancionada, segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades: I – advertência reservada; II – censura reservada; III – censura pública. Art. 13 O julgamento das questões relacionadas à transgressão de preceitos do Código de Ética incumbe, originariamente, aos Conselhos Regionais de Contabilidade, que funcionarão como Tribunais Regionais de Ética e Disciplina, facultado recurso dotado de efeito suspensivo, interposto no prazo de quinze dias para o Conselho Federal de Contabilidade em sua condição de Tribunal Superior de Ética e Disciplina. (Resolução CFC nº 803/96).

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Vale ressaltar a importância do cumprimento do Código de Ética do Contador, esse deve ser entendido como relações comportamentais que devem ser seguidas para o bom exercício da profissão e para o bem social.

3 METODOLOGIA

Este estudo dá-se inicialmente por meio de uma pesquisa bibliográfica, visto que toda pesquisa necessita de um suporte teórico, conforme Gil (2006, p.44) essa pesquisa “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Sendo esse estudo definido também como uma pesquisa de campo que de acordo com Lopes et. al. (2010, p.141) é uma “pesquisa em que se realiza uma coleta de dados através de entrevistas, e/ou questionários, observação, in loco, para análise de resultados posteriores.”

Com a intenção de atender ao objetivo geral deste trabalho, foi utilizado um questionário como instrumento de coleta, com perguntas abertas e fechadas sobre o tema abordado, com predominância para as fechadas. De acordo com Beuren (2006, p.131) “as questões fechadas apresentam aos respondentes um conjunto de alternativas de respostas para que seja escolhida a que melhor evidencia a situação ou ponto de vista do respondente”. A tabulação dos dados obtidos através da aplicação dos questionários foi realizada no software Microsoft Excel®, onde também foi feito a montagem dos gráficos para ilustração dos resultados.

A amostra utilizada foi escolhida por conveniência, em função da agilidade para captação dos dados que este tipo de amostragem proporciona, com isso foi estudado os profissionais contábeis em exercício da cidade Rio Tinto e parte da cidade de Mamanguape, sendo entrevistados 30 profissionais entre bacharéis e técnicos.

No que diz respeito ao método foi utilizado o indutivo, partindo de concepções particulares para se chegar a uma conclusão geral. Segundo Marconi e Lakatos (2006, p.106) “Método indutivo cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares a leis e teorias (conexão ascendente)”.

Quanto à abordagem da pesquisa, foi dada de forma quantitativa, em que necessita da utilização de instrumentos estatísticos para analisar os dados que foram coletados, como também de maneira qualitativa, visando descrever a complexidade da situação em análise.

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES

O estudo contou com uma amostra de 30 profissionais da área contábil, de ambos os sexos pertencendo sua maioria de 63% ao universo masculino, de idades variando entre 24 e 82 anos estando 33% na faixa etária que compreende de 21 a 30 anos, 30% dos 31 a 40 anos e 37% na faixa etária acima de 41 anos. Distribuídos nas cidades de Mamanguape, 53% e Rio Tinto com 47 % dos entrevistados. Essa diversificação proporciona uma melhor análise dos dados, pois através deste é possível confrontar as ideias e assim procurar chegar a um senso comum a respeito do tema abordado.

4.2 ANÁLISE DOS DADOS DOS QUESTIONÁRIOS DE PESQUISA

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Fonte: Elaboração própria, 2011

O cenário dos entrevistados é dividido igualmente pelos títulos de técnico e bacharel em Ciências Contábeis – gráfico 1 , estando 47% destes exercendo o ofício a mais de 10 anos – gráfico 2, o que será de suma importância para uma análise mais elaborada sobre o tema.

Fonte: Elaboração própria, 2011

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Visto que é extremamente relevante o cumprimento do Código de Ética do Contador, já que o mesmo reflete sobre o bom exercício da profissão e para o bem social, observa-se, nos gráficos 3 e 4 que a maioria dos entrevistados se considera bom conhecedor do CEPC, mesmo que 7% destes tenham afirmado não conhecer suas normas. Embora, no gráfico 5, mostra que sua totalidade considera-o um importante elemento a ser usado em seu ofício.

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Sendo ética entendida como a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, apesar da postura antiética assumida por 27% dos profissionais avaliados, grande parte, 73% se considera um profissional ético – gráfico 6, e associa essa cultura a influência advinda da família – gráfico 7. No gráfico 8 observa-se que 57% nunca se encontrou em situações que o obrigasse a tomar decisões contraria a ética, enquanto, 30% relata já ter vivenciado esta experiência.

Como em qualquer profissão necessita de normas que regulamentem a execução de serviços prestados como também a conduta seguida pelos seus executores, não sendo diferente com o profissional da contabilidade todos concordam que o sucesso da profissão está ligado ao padrão de conduta adotado – gráfico 9, e para 83%, isso seria a principal ferramenta para combater os escândalos envolvendo a classe, alcançando assim a confiança e o respeito de seus clientes, mesmo que 17% sejam contrários a essa afirmativa .

O Código de Ética é um instrumento usado para orientar os profissionais quanto às sua postura e atitudes, levando os mesmos a adotar uma conduta honrosa e em linha com a boa imagem e com isso,

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consequentemente, adquirir credibilidade e reconhecimento perante seus clientes, sendo estes mostrados como os bens mais valiosos para o profissional que age com ética em seu ofício – gráfico 11. Mesmo assim, ainda que considerado instrumento tão importante no exercício da profissão contábil, há poucas observações a respeito de cursos sobre ética e pouco reconhecimento do uso dos princípios éticos por parte dos órgãos fiscalizadores. É o que se observa nos gráficos 12 e 13.

Estando ética e moral atreladas e relacionadas aos valores e as decisões de ações que trazem consigo consequências para todo profissional, este buscam criar, através de atitudes competentes e honestas, seu perfil diante o mercado em que atua.

Com isso, embora encontrando situações que possam comprometer sua conduta ética, 58% dos entrevistados alegaram que em momento algum agiria de forma antiética – gráfico 14, o que faz referência aos gráficos 6 e 8 já expostos, em que os mesmos afirmam que desempenham seus trabalhos seguindo sempre o CEPC.

A fim de construir um conceito do que seria ética a partir do conhecimento empírico, pedimos aos entrevistados que a definisse, e de acordo com as observações constatamos que para 42% a ética assume forma de um conjunto normas morais que rege vida profissional e que deve ser aplicado em seu cotidiano. Manteve-se então referência ao conceito segundo o dicionário eletrônico Houaiss já exposto. Visto que para muitos teria o mesmo sentido que para Vasquez (1999, p. 23) e estaria ligada a características como justiça, responsabilidade, honestidade, fidelidade, ao que é certo, legal e moral, sendo ainda uma ferramenta que valoriza a profissão. Exposto no gráfico15.

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Quando abordados em relação a qual seria o maior desafio em vivenciar os princípios do Código de Ética da Profissão Contábil, relataram que o mais intrigante seria o comportamento antiético dos colegas de profissão, seguido da pressão exercida pelos clientes que visam apenas o lucro e ainda concorrência desleal, uma vez que a criação do CEPC tivera o intuito de orientar a conduta nas atividades profissionais e inibir este tipo de ação – gráfico 16.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho buscou proporcionar uma reflexão a respeito do uso da ética no comportamento

do profissional contábil, através de investigação feita por meio de questionamentos que levassem os mesmos a expressar seu grau de conhecimento acerca do assunto abordado, como também os principais obstáculos encontrados para se manter uma postura ética no exercício de seu ofício. Observação esta que pode ser dirigida ao que diz Chaui:

Para que haja ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre o bem e o mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vicio. A consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética. (1997, p.337)

A fim de se fazer um estudo acerca da formação do que venha ser um caráter ético, fez-se um acompanhamento do surgimento dos princípios éticos e moral na sociedade, até a introdução do Código de Ética no meio profissional, e seu reflexo sobre o comportamento daquele que dele se utiliza.

Ao analisar as representações aqui expostas e relacioná-las ao referencial teórico estudado, constata-se que existe um grau de conhecimento relevante a respeito dos princípios éticos e do código de ética da profissão, porém para muitos a construção desse caráter sofre forte influência da família e do meio sócio-cultural em que está inserido, já que ética e moral estão intimamente ligadas.

Embora existindo frequentes situações que possam comprometer sua conduta, observa-se um empenho dos profissionais em manter-se ético na maioria de suas ações e decisões, contudo, um dos desafios encontrados para se conservar esse perfil é a necessidade de se manter no mercado atendendo as exigências de clientes que visam acima de tudo à lucratividade de seus negócios.

Tendo ainda que conviver com a postura exercida pelos colegas da classe, que adotam meios para conquistar o cliente, que são considerados contrários a ética e que tornam a concorrência desleal, uma vez que exista pouco incentivo e reconhecimento do uso dessa ferramenta tão importante para a prática profissional.

Por outro lado, mesmo estando em meio a um universo de fatos contrastante a ética e a moral, todos concordam que o sucesso da profissão está ligado ao padrão de conduta adotado, e que isso seria o principal

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instrumento para combater os escândalos envolvendo a classe, alcançando assim a credibilidade e o reconhecimento dos clientes.

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Um Estudo acerca da Aderência ao Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público em Instituições Federais de Ensino de Pernambuco.

AUTORES: Danilo Mikel Diniz, Marco Tullio Vasconcelos, Aldemar Santos.

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar o grau de aderência das Instituições Federais de Ensino (IFEs) do estado de Pernambuco ao Manual de Contabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional. Trata-se de um estudo exploratório descritivo que emprega abordagem quantitativa. Foi desenvolvido em IFEs de Pernambuco de janeiro a março de 2012. A coleta de dados foi realizada de forma presencial nos doze centros de ensino que compõem esse universo: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), este último constituído por 9 centros de ensino. A coleta de dados consistiu na aplicação de um questionário aos contadores representantes das instituições. Para análise dos dados foi realizada a estatística descritiva através do programa estatístico SPSS 13.0®, com apresentação dos resultados em quadros, gráficos e tabelas. Concluiu-se que houve pouco avanço na medida em que os ativos são valorados pelo valor original de entrada; as receitas e despesas são reconhecidas pelo enfoque orçamentário; e as provisões, na sua maioria, não são reconhecidas e estimadas.

Palavras-chave: Regime de Competência; Administração Pública; Contabilidade Governamental.

1. INTRODUÇÃO

Historicamente, a contabilidade aplicada ao setor público esteve sempre focada na execução orçamentária e priorizou o controle da legalidade. Entretanto, nas duas últimas décadas, ocorreram profundas mudanças no âmbito público a nível mundial, de modo a provocar um distanciamento do enfoque estritamente orçamentário.

Para aplicação dessas transformações nos modelos contábeis governamentais fez-se necessário o estabelecimento de quebra de paradigmas até então vigentes. Práticas contábeis até então características da contabilidade pública aos poucos vêm sendo abandonadas, como pode ser percebido através da adoção do regime de competência e da contabilidade patrimonial.

Este processo de transformação mundial na contabilidade influenciou o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) a publicar as dez primeiras Normas de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP). A publicação, por meio da Portaria nº 184/2008, trata da convergência aos padrões contábeis internacionais (BRASIL, 2008).

As Normas impulsionaram importantes inovações buscando estabelecer procedimentos unificados de registro de eventos que afetam o patrimônio, abrangendo desde o conceito do patrimônio, seus sistemas e as transações que o modificam até a mensuração e a avaliação adequada dos elementos que constituem o patrimônio. Destaca-se também o aspecto contábil do planejamento e o controle contábil, objetivando maior efetividade nas informações apresentadas. Percebe-se, que as NBCASP auxiliam na ampliação da qualidade da informação contábil, atribuindo ao patrimônio público o registro dos eventos que possam afetá-lo e ampliando assim o nível de transparência dos resultados na gestão pública, que criam convergência no sentido de valorizar a contabilidade patrimonial ou de competência (BRASIL, 2008).

Nesse cenário brasileiro, o processo de convergência das NBCASP originou o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. O Manual, entendido como a base norteadora para implementar as

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mudanças em curso na prática contábil governamental, teve a sua terceira edição publicada pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) em 2010 (BRASIL, 2010).

O Manual foi elaborado com o propósito de descrever as rotinas e procedimentos contábeis a serem seguidos pelas três esferas públicas brasileiras (Federal, Estadual e Municipal). Em seu conteúdo, há inovações de grande vulto que até então não eram realizadas no setor público. O entendimento adotado pelo Manual é de que as práticas contábeis devem ser norteadas pela resolução do CFC nº 750/1993 (Conselho Federal de Contabilidade, 1993), a qual consagra a observância do conjunto de princípios contábeis como obrigatórios para a profissão contábil.

Em termos de gestão, constantemente são promovidas mudanças objetivando aprimorar a máquina pública. Nesse sentido, os conceitos de governança corporativa auxiliam na compreensão e na avaliação do andamento de uma política pública. A governança coorporativa, inicialmente aplicada ao setor privado, traz para o setor público a possibilidade de dotar as entidades desta área de um comportamento mais transparente e com maior responsabilização na produção de resultados (MATIAS-PEREIRA, 2010).

Tendo em vista que as Instituições Federais de Ensino são importantes organizações da administração pública federal indireta, tendo como responsabilidade a disseminação do conhecimento junto à sociedade através do ensino, da pesquisa e da extensão, faz-se necessário a efetivação de uma administração moderna e inovadora por parte dos seus gestores, principalmente no que concerne às decisões que envolvem o manuseio de recursos públicos para produção de bens e serviços.

Para se fazer valer o conjunto de inovações da contabilidade, o Ministério da Fazenda delegou à Secretaria do Tesouro Nacional, o estabelecimento de prazo para implantação das mudanças. Os caminhos de transição ocorrem de diferentes formas de acordo com os tipos e tamanhos das instituições. Por isso, a conversão às NBCASP afeta diretamente o trabalho de gestores responsáveis por envolver planejamento e administração detalhada desse processo de reforma. Todo esse contexto denota a relevância na investigação da percepção dos gestores responsáveis pelo cumprimento de tais normas.

Dessa forma, estabeleceu-se a seguinte pergunta condutora para o desenvolvimento do presente estudo: Como está o processo de aderência das Instituições Federais de Ensino de Pernambuco às mudanças na contabilidade pública propostas pelo Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público?

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção apresenta as noções fundamentais relacionadas ao tema abordado neste artigo. Em um primeiro momento apresenta-se um resumo do processo de implantação das normas de contabilidade aplicadas ao setor público. Posteriormente, abordam-se as diferenças entre a contabilidade pública sob o enfoque orçamentário e sob o enfoque patrimonial.

2.1 Normas de contabilidade para o setor público

Após realização de debates entre os setores responsáveis pela regulação das normas em contabilidade e setores da sociedade civil, o cenário de convergência no Brasil colocou em curso os primeiros reflexos objetivos quanto à utilização de novos procedimentos contábeis. O CFC desenvolveu um programa com o intuito de debater a Contabilidade Pública Brasileira. Esse processo institui as NBCASP, que estão sendo trabalhados pelo CFC com a participação de doutores, mestres e profissionais com experiência em entidades como a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), Tribunais de Contas, Universidades, entidades paraestatais e Governos Federal, Estadual e Municipal (BUGARIM, 2008).

O processo de padronização incentivado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial fez avançar a necessidade de se ter um sistema de contabilidade que atendesse aos critérios de transparência e comparabilidade das informações. Nesse sentido, a contabilidade pública brasileira deu início ao movimento de convergência às normas internacionais de contabilidade através da publicação

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portaria nº 184 de 2008 do Ministério da Fazenda. A portaria trata das diretrizes desse processo de convergência e delega à Secretaria do Tesouro Nacional a criação de manuais, instruções de procedimentos e criação de um plano de contas nacional (BRASIL, 2008).

A mudança ocorrida possibilitou ajustar a contabilidade pública com a contabilidade aplicada no setor privado. A contabilidade pública caracterizava-se por um perfil de eficiência no registro da execução orçamentária e financeira, mas não na mensuração e evidenciação do patrimônio público. Slomski (2003) define a contabilidade pública brasileira como sendo essencialmente orçamentária, ou seja, o registro contábil da receita e da despesa estava ancorado apenas nas especificações constantes da lei nº 4320 de 17 de março de 1964 (BRASIL, 1964) e mais especificamente no controle orçamentário.

A fase inicial de necessidade de acompanhamento dos padrões internacionais de contabilidade foi superada no país com a criação do arcabouço legal mencionado acima. Assim, o Brasil segue o caminho de outros países, situando-se em um estágio mais avançado no processo de adoção da IPSAS. Países como Portugal e Espanha possuíam uma contabilidade pública estritamente voltada para o aspecto orçamentário. No caso de Portugal, por exemplo, a reforma da contabilidade pública iniciou objetivando o fornecimento de informação útil para a tomada de decisão. Quando superado o regime de caixa, o regime de competência permite adequada gestão e controle orçamentário (RUA, 2009).

A essência da reforma contábil foi exposta por meio da Portaria Conjunta n° 3 de 2008 do Ministério da Fazenda e do Ministério de Planejamento e Orçamento, que, com destaque ao artigo 6° define: “A despesa e a receita serão reconhecidas por critério de competência patrimonial, visando conduzir a contabilidade do setor público brasileiro aos padrões internacionais e ampliar a transparência sobre as contas públicas.”. Assim, o governo federal traz pra o sistema de contabilidade público a obrigatoriedade expressa de reconhecimento dos fatos contábeis no momento do fato gerador.

Ainda como parte do processo convergência das normas de contabilidade, o CFC publicou as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. A justificativa para essas 10 normas foi evidenciar a relevância dos princípios fundamentais da contabilidade. O Quadro 1 descreve as 10 Normas Técnicas:

Quadro 1 - Resumo das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público

NORMAS TÉCNICAS NBC TSP

Resolução CFC

Conteúdo

16.1 16.2 16.3 16.4 16.5 16.6 16.7 16.8 16.9 16.10

1.128/2008 1.129/2008 1.130/2008 1.131/2008 1.132/2008 1.133/2008 1.134/2008 1.135/2008 1.136/2008 1.137/2008

Conceituação, objeto e campo de aplicação Patrimônio e Sistemas Contábeis Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil Transações no Setor Público Registro Contábil Demonstrações Contábeis Consolidação das Demonstrações Contábeis Controle Interno Depreciação, Amortização e Exaustão. Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do Setor Público

Fonte: Silva (2011).

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2.2 A contabilidade governamental sob o enfoque patrimonial

A contabilidade pública do ponto de vista legal é regida por normas gerais de direito financeiro e por

normas de finanças públicas. Conforme está disposto no artigo 5° da carta magna brasileira, é competência da união legislar sobre o direito financeiro, cabendo aos outros entes legislar apenas de forma suplementar. Assim, foram instituídas como arcabouço legal as leis nº 4.320 de 17 de março de 1964 (BRASIL, 1964) e a lei complementar nº 101 de 2000 (a lei de responsabilidade fiscal) (BRASIL, 2000). Além das leis, outros dispositivos legais como instruções normativas, decretos e portarias foram publicados, cabendo às três esferas públicas seguir obrigatoriamente a legislação. Vale salientar que o processo de reforma contábil na esfera pública se deu exclusivamente por portaria e por decreto.

Tal reforma tem como ponto crucial a necessidade de migrar para o setor público o regime de competência comum na contabilidade empresarial. A adoção desse regime desencadeia diversas outras práticas contábeis alheias até então a contabilidade governamental.

Antes de adentrar nos conceitos específicos de cada regime contábil é importante delimitar o conceito de regime. Kohama (2003) afirma que os princípios são aqueles que se transformaram em uso perpetuo e até obrigatório, ou seja, que ultrapassaram a análise e estudos ao longo do processo evolutivo pode ser considerado regime.

De modo geral, a contabilidade utiliza dois regimes para registrar os fatos contábeis: o regime de caixa e o de competência. Porém, no Brasil é comum na contabilidade pública afirmar a existência de três regimes contábeis. Além dos dois acima mencionados, o terceiro regime seria um hibridismo entre o regime de caixa e o regime de competência, conhecido por regime misto. Uma vez que o regime misto adotado mais comumente pelas entidades de direito público pode ser sintetizado de forma que reconhece as receitas no momento da arrecadação e as despesas no momento da realização do fato gerador.

O regime misto por muito tempo foi sustentado como um regime contábil na administração pública em virtude de dispositivo legal conforme é verificado na lei nº 4.320 de 1964 (BRASIL, 1964):

Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas; II - as despesas nele legalmente empenhadas. Art. 36. Consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezembro distinguindo-se as processadas das não processadas.

Já na contabilidade empresarial, especificamente, a contabilidade a ser seguida pelas empresas de capital aberto fixa de acordo com a Lei n° 6.404 de 1976 que as empresas de capital aberto devem registrar as mutações patrimoniais através da utilização do regime de competência para as sociedades que a lei abrange, sendo:

Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência.

A pressão por reconhecimento das mutações patrimoniais seguindo os padrões do setor privado é uma tendência mundial e diversos países já praticam há algum tempo tais procedimentos. Segundo SÖTHE (2009), o IFAC, por meio do Public Sector Committee (PSC), Comitê do Setor Público, tem se posicionado a favor da substituição do regime contábil de caixa pelo regime de competência no setor público, uma vez que considera a mudança do regime contábil como uma melhora na qualidade da informação contábil a fim de beneficiar os usuários internos e externos.

A fim de reafirmar a necessidade do setor público, seguir os princípios que norteiam toda a contabilidade, independente do tipo de instituição, o CFC deixou expresso na NBC TSP 01 a definição de regime de competência como sendo o regime contábil segundo o qual transações e outros eventos são reconhecidos quando ocorrem (não necessariamente quando o caixa ou seus equivalentes são recebidos ou

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pagos) o fato gerador. Portanto, as transações e eventos são registrados contabilmente e reconhecidos nas demonstrações contábeis referentes aos respectivos períodos.

A existência do conflito entre seguir a legislação e os princípios contábeis é tratada com preocupação por Silva (2011). O autor afirma que a adoção do regime de competência traz o dilema quanto ao critério de reconhecimento, uma vez que o critério jurídico expresso na lei nº 4.320 de 1964 (BRASIL, 1964) ocasiona uma divergência entre o que está escrito na lei e o critério contábil.

A diferenciação entre conceito jurídico e contábil parece mais apropriada uma vez que afirmar a existência de um regime misto leva uma conclusão equivocada, deixando transparecer que as receitas são escrituradas pelo regime de caixa e as despesas pelo regime de competência.

Quanto à definição do regime de competência, Iudícibus (1997) observa que a realização das receitas é frequentemente tratada de forma isolada, mas o reconhecimento das receitas e as apropriações das despesas estão intimamente ligados. O autor ressalta que existe um grande esforço de confrontar as receitas e despesas em um mesmo exercício.

Além disso, Iudícibus (1997) também lembra a importância de se notar que a base de confronto das despesas e receitas não pode estar relacionada com os recursos entrados em caixa e dos pagamentos efetuados. Porém, quando se trata de contabilidade orçamentária e financeira aplicada ao setor público esse conceito é abandonado e substituído pelo conceito regulado pelo art. 35 da lei nº 4.320 de 1964 (BRASIL, 1964) que estabelece que devem ser reconhecidas no exercício financeiro as receitas nele arrecadadas e as despesas nele empenhadas.

Segundo Silva (2011), no setor público de modo geral não existe a relação de confronto entre a receita e a despesa. Isso porque a maioria das receitas dos entes governamentais tem origem em tributos arrecadados e não estão vinculadas diretamente ao fornecimento de serviços públicos. Mas para Iudícibus (1997), nem sempre existe uma relação direta entre as receitas de um período e os seus custos. Isso pelo fato de algumas despesas serem reconhecidas em um único período, mas que beneficiam diversos períodos, como o grupo dos intangíveis, que apesar de beneficiar vários exercícios são apropriados, em alguns casos, em um único período.

Este entendimento da legislação fez Kohama (2003) concluir que a administração pública deveria adotar um regime contábil de escrituração misto, isto é, as receitas deveriam ser reconhecidas pelo regime de caixa pelo fato do reconhecimento ocorrer no momento da arrecadação e as despesas pelo regime de competência no momento do empenho. Ainda a respeito do tema regime, Martinez (2001) afirma que:

O regime de competência (Accrual Basis) determina que o registro das transações contábeis da entidade seja efetuado no período em que estas são realizáveis. Segundo este princípio, reconhece-se a receita de acordo com a sua realização e no mesmo período confrontam-se as despesas necessárias para efetivação daquela receita. Este procedimento é diferente do registro baseado no regime de caixa (Cash Basis), em que se focalizam exclusivamente as entradas e saídas de disponibilidades.

Como foi possível observar, o regime de competência teve origem na atividade agrícola e se tornou parte da estrutura conceitual básica da contabilidade moderna. Mas há de se perguntar se é cabível a aplicação à administração pública. Borges et al. (2010) respondem que:

[...] é razoável supor que a principal fonte de financiamento de estados não seja, por exemplo, uma atividade agrícola, mas o recolhimento de tributos. Assim, quando uma prefeitura municipal calcula o valor do IPTU, identifica os contribuintes e emitem os boletos de cobrança (no jargão do direito tributário, a prefeitura “lança o tributo”), o patrimônio da prefeitura cresce (acrue, accrescere) — pois tem o direito de receber o tributo dos contribuintes — em razão do lançamento do IPTU. Naquele momento a prefeitura já teria condições de reconhecer a receita (pelo regime de competência) decorrente desse tributo, pois é capaz de individualizar o crédito e mensurar o valor que tem a receber.

Assim, entende-se que a administração pública pode reconhecer as receitas públicas, mesmo sem o contribuinte realizar o desembolso financeiro. A mesma lógica pode ser utilizada para o reconhecimento das despesas.

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O impacto da escolha de regime afeta diretamente os resultados apresentados nos demonstrativos contábeis. Anthony (1985) relata que a cidade de Nova Iorque começou a publicar suas demonstrações contábeis pelo regime de competência em 1983. Porém, continuou contabilizando pelo regime de caixa com o objetivo de comparar o impacto da mudança no sistema de contabilização. Isso permitiu observar que pelo regime de caixa foi informado um pequeno superávit de US$ 50 milhões. Pelo regime de competência foi evidenciado um déficit de US$ 345 milhões. Tal estudo permite observar como a informação contábil pode ser distorcida.

Segundo Herbest (2010), na administração pública o regime de caixa incide sobre o orçamento por meio do controle da legalidade, garantindo a conformidade com as autorizações das despesas. Já o regime de competência tem como objetivo ser útil para a tomada de decisões. É importante esclarecer que não houve no Brasil uma mudança total para o regime de competência. Assim, a NBC T 16.5 apresenta que:

a) As transações no setor público devem ser reconhecidas e registradas integralmente no momento em que ocorrerem (item 19);

b) Os registros da entidade, desde que estimáveis tecnicamente, devem ser efetuados, mesmo na hipótese de existir razoável certeza de sua ocorrência (item 20);

c) Os registros contábeis devem ser realizados e os seus efeitos evidenciados nas demonstrações contábeis do período com os quais se relacionam, reconhecidos, portanto, pelos respectivos fatos geradores, independentemente do momento da execução orçamentária.

A contabilidade governamental é organizada por sistemas de informação, possuindo subsistemas que atendem as especificidades, mas que convergem para um produto final, que no caso é a informação sobre o patrimônio público. Para isso, o sistema contábil é formado pelos subsistemas orçamentário, patrimonial, de custos e compensação (SILVA, 2011). No caso da reforma contábil, continua existindo o sistema orçamentário, porém o sistema patrimonial segue os procedimentos contábeis.

3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo exploratório descritivo de delineamento multicaso, com abordagem dos métodos quantitativo e qualitativo. Seu objetivo geral foi verificar o grau de aderência das Instituições Federais de Ensino de Pernambuco ao Manual de Contabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional.

O universo de trabalho foram as Instituições Federais de Ensino do estado de Pernambuco. O universo é composto por quatro instituições, sendo uma destas formada por 9 unidades de ensino, totalizando 12 centros. As quatro instituições são: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE).

O estudo estabeleceu como critério de inclusão a participação de profissionais que ocupam cargo de contador em diretorias de finanças e contabilidade das IFEs de Pernambuco no período de realização deste trabalho. Como critério de exclusão, estabeleceu-se a não participação de profissionais representantes das instituições que não responderam positivamente a 3 tentativas de contato estabelecidas pelo autor, seja ela por meio telefônico, eletrônico ou presencial.

A coleta de dados, constituída por dois momentos, foi realizada de forma presencial no período de 07/01/12 a 07/03/12 nos municípios do estado de Pernambuco onde as instituições estão localizadas.

No primeiro momento, a coleta consistiu na aplicação de um questionário fechado elaborado pelo autor. No processo inicial de elaboração do questionário, o mesmo foi submetido a um pré-teste. Isto foi realizado com o objetivo de verificar possíveis falhas existentes no questionário como a utilização de vocabulário inadequado, erros de digitação ou existência de perguntas que ocasionassem dificuldade de interpretação. Para a realização do pré-teste foi solicitada a participação voluntária de contadores funcionários da UFPE não participantes do estudo. Esta opção foi feita com o objetivo de não induzir os

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participantes do estudo a qualquer tipo de resposta em função de haverem previamente conhecido o questionário.

O questionário é composto por perguntas fechadas, preponderantemente, e um espaço opcional para apresentação de comentários por parte dos participantes, situado no fim do questionário. O instrumento foi estruturado em 4 partes: perfil do entrevistado, utilização de práticas orçamentária e contábil nas Instituições Federais de Ensino, percepções sobre as contingências da reforma contábil e grau de conformidade com a contabilidade patrimonial.

Para a maioria das questões fechadas, as possíveis respostas a serem selecionadas pelo entrevistado acerca do tema tiveram como embasamento a Escala de Likert. Esta escala de classificação somatória exige que os entrevistados indiquem um grau de concordância ou discordância com cada uma das afirmações. Os pontos extremos de uma escala de Likert são em geral “discordo muito” e “concordo muito”. (COOPER; SCHINDLER, 2003; MALHOTRA, 2005).

As coletas foram realizadas pelo autor com participação de profissionais especializados pertencentes a quatro IFEs do Estado de Pernambuco. Buscou-se privilegiar os sujeitos sociais com experiências em relação ao objeto da pesquisa e que formassem um grupo diversificado, permitindo captar semelhanças e diferenças (MINAYO, 1993).

Todos os participantes receberam uma explanação sobre o estudo e puderam livremente escolher participar ou não da pesquisa. Conforme o procedimento de coleta de dados foi constituído por dois momentos, o processo de análise de dados segue a mesma estratégia de organização. Constituí-se em análise de dados quantitativos e na análise de dados qualitativos.

Os dados coletados foram processados no programa estatístico SPSS 13.0®. Antes da realização da análise, o banco de dados passou por um processo de limpeza no qual os dados digitados foram confrontados com as informações presentes nos questionários. No caso de serem encontradas divergências, o banco de dados foi corrigido. Para análise dos dados foi realizada a estatística descritiva através do programa estatístico SPSS 13.0®, com a distribuição de frequências.

4. ANÁLISE DOS DADOS

Foram aplicados 12 questionários com contadores responsáveis pela contabilidade em Instituições de Ensino Federal em Pernambuco, ou seja, na UFPE, UFRPE, UNIVASF e o IFPE - que englobou oito campi espalhados pelo estado de Pernambuco e a Reitoria localizada em Recife. Os resultados e a análise de dados da abordagem quantitativa estão apresentados de acordo com os 4 eixos que constituem o questionário: perfil do entrevistado; utilização das práticas orçamentária e contábil nas Instituições Federais de Ensino; percepção sobre as contingências da reforma contábil; grau de conformidade com a contabilidade patrimonial.

Foi possível identificar que o perfil dos contadores caracteriza-se por uma maioria do sexo masculino (75,0%), com idade entre 25 e 35 anos (66,7%), formação lato sensu (75,0%) e menos de 5 anos de trabalho nas autarquias (58,3%) e na função atual (66,7%).

As características individuais dos profissionais não podem ser desprezadas como um fator facilitador ou dificultador do processo de implantação das normas. Segundo o estudo 14 do IFAC (INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS, 2003) um dos pontos facilitadores é a compreensão dos profissionais sobre o tema e a experiência contábil. No perfil dos contadores participantes do presente estudo, esses fatores apresentam-se como dificultadores, uma vez que os resultados mostraram que esses profissionais possuem pouco tempo de trabalho nas instituições e nos cargos.

Sobre o cargo ocupado pelos contadores, através do Quadro 2 nota-se que o cargo de contador geral foi mais comum entre os entrevistados. Após aplicação do questionário, as informações fornecidas foram verificadas no portal de transparência, verificando-se que a maioria possui apenas função gratificada e apenas dois entrevistados tem como função o cargo de diretor.

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Quadro 2 - Perfil dos contadores gerais das IFEs segundo o cargo ocupado.

Instituição Federal de Ensino Cargo UFPE Diretor de contabilidade e finanças UFRPE Contador geral

UNIVASF Contador geral IFPE VITÓRIA Contador geral

IFPE BARREIROS Contador geral IFPE RECIFE Coordenador de contabilidade

IFPE AFOGADOS DA Coordenador de contabilidade IFPE REITORIA Coordenador geral

IFPE BELO JARDIM Coordenador geral de administração e IFPE PESQUEIRA Contador geral IFPE GARANHUNS Contador

IFPE IPOJUCA Coordenador de contabilidade Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

No eixo utilizações das práticas orçamentária e contábil nas IFEs, buscou-se investigar o tempo utilizado para as atividades orçamentária e contábil. Os respondentes atribuíram ordens de 1 a 6 para o tempo dedicado para cada atividade do seu trabalho. Sendo: 1 (um) para atividade que consome mais tempo e até 6 (seis) para as menos utilizadas.

Os resultados são apresentados através do Gráfico 1, sendo possível observar que as atividades com maior tempo dedicado são: promover a prestação, acertos e conciliação de contas (41,7%) e elaboração e acompanhamento da execução do orçamento (33,3%). No rol das atividades que recebem menos tempo para sua realização está a operacionalização do sistema de custo (75,0%), junto com outras atividades que não foram contempladas no questionário.

Assim, compreende-se que a utilização do tempo para produção de informações gerenciais não é prioridade na maioria das instituições estudadas, revelando que a maior parte do tempo ainda é direcionada para o controle orçamentário.

O terceiro eixo do questionário abordou a percepção dos contadores sobre as contingências da reforma contábil, de modo a investigar os motivos de dificuldade na implantação das novas regras contábeis aplicadas ao setor público. Foram sugeridos 11 motivos de dificuldade sobre esse processo de mudança. Para cada um dos motivos foi atribuída uma escala tipo Likert onde cada profissional optava por influência de fraca a forte no processo de implantação das normas, ou marcava a opção de desconhecimento da informação. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 1.

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Gráfico 1 - Utilizações das práticas orçamentária e contábil nas IFEs.

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

Observa-se que as percepções dos respondentes quanto aos motivos que dificultam a implantação da reforma contábil são na maioria devido à qualificação do corpo administrativo, bem como falta de suporte técnico pelas setoriais contábeis. As dificuldades também se apresentam relacionadas às mudanças operacionais, descritas como ajustes no sistema patrimonial e formação de equipe especializada para elaboração de parecer técnico, reavaliação, mensuração e contabilização dos bens. Faz-se importante destacar que o sucesso das mudanças na contabilidade depende não apenas da capacidade técnica do contador, mas essencialmente da superação das dificuldades operacionais.

Tabela 1 - Motivos de dificuldade na implantação das novas regras contábeis aplicadas ao setor público.

Variável Frequência Relativa (%)

Classificação

Insuficiência de RH com qualificação adequada 58,3% Razão forte Sistema de informação inadequado 33,3% Razão forte Restrições financeiras para promover as 75,0% Razão fraca Resistência à mudança pelos dirigentes 41,7% Razão forte Resistência à mudança pelo pessoal técnico 41,7% Razão fraca

25,0% Razão fraca Estrutura organizativa inadequada

25,0% Razão entre média e Dificuldades na interpretação de conceitos contábeis pelo pessoal técnico

33,3% Razão média

Dificuldades no processo de execução do 75,0% Razão fraca Insuficiência dos manuais técnicos de orientação 50,0% Razão fraca Dificuldades na mensuração e contabilização dos bens

41,7% Razão forte

Dificuldades de inventariar os bens patrimoniais 41,7% Razão fraca Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

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No eixo grau de conformidade com contabilidade patrimonial buscou-se saber como são reconhecidos e mensurados os fatos contábeis que o MBCASP sugere para se aplicar uma contabilidade com enfoque patrimonial. Na questão, foram sugeridas 14 variáveis, no qual cada respondente marca as assertivas de acordo com o nível de discordância ou concordância das práticas em sua instituição. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 2. É possível notar que os ativos são valorados pelo valor original de entrada, as receitas e despesas são reconhecidas pelo enfoque orçamentário e as provisões, na sua maioria, não são reconhecidas e estimadas. Assim os resultados apresentados mostra especificamente que ainda não é uma prática reconhecer os fatos contábeis pelo regime de competência e demais princípios contábeis, uma vez que as receitas arrecadadas ainda são reconhecidas pelo regime de caixa, bem como os bens públicos não são valorados conforme as práticas contábeis, deixando de reconhecer as despesas com depreciação,alocando despesas que afetam diversos exercício em apenas um exercício financeiro, como também pouca aderência ao principio da oportunidade já que as despesas é apenas reconhecida quando empenhadas.

Tabela 2 - Variáveis em conformidade com contabilidade patrimonial.

Variável Frequência Relativa (%)

Classificação

Reconhecimento das receitas arrecadadas pelas entidades através do regime de competência

75,0% Discordam totalmente

Provisões de devedores duvidosos são atualmente registrados pela contabilidade

83,3% Discordam totalmente

Os ativos intangíveis são registrados em conta específica 41,7% 41,7%

Discordam totalmente Concordam totalmente

Despesas com amortização do intangível são reconhecidas pela contabilidade

58,3% Discordam totalmente

Reconhecimento da variação patrimonial decorrente de depreciação dos bens móveis adquiridos de 2010

83,3% Discordam totalmente

Obrigações incorridas e não empenhadas são reconhecidas pela contabilidade 50,0% Discordam totalmente

Contabilidade reconhece os passivos contingenciais 33,3% Concordam totalmente

Despesas antecipadas (assinaturas de periódicos, seguros, etc.) são apropriadas conforme realização do fato gerador

58,3% Discordam totalmente

Provisão - Férias e 13º Salário estão sendo constituídos pela contabilidade

66,7% São indiferentes

Bens imóveis em andamento estão sendo reconhecidos pela contabilidade

41,7% Concordam totalmente

Bens de uso comum do povo estão sendo reconhecidos pela contabilidade

75,0% São indiferentes

A instituição realiza teste de imparidade (redução ao valor recuperável)

58,3% Discordam totalmente

A instituição utiliza a prática de reavaliação dos ativos 25,0% 25,0% 25,0%

São indiferentes Discordam totalmente

Concordam totalmente Os critérios de mensuração dos ativos e passivos são

evidenciados em notas explicativas 50,0%

Concordam totalmente

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

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5. CONCLUSÃO

Os resultados da pesquisa permitiram verificar um baixo nível de aderência ao manual de contabilidade aplicada ao setor público por parte das Instituições Federais de Ensino de Pernambuco. Isso implica em afirmar que o objetivo geral da pesquisa em verificar o grau de aderência das Instituições ao Manual de Contabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional foi atingido.

Quanto à escolha das autarquias federais de ensino, essas se apresentaram como instituições propícias à realização da pesquisa pelo fato de possuírem autonomia financeira e serem ecléticas em suas atividades, o que permite verificar diversos aspectos quanto à aderência à nova contabilidade governamental.

Os objetivos específicos visaram: conhecer o perfil dos contadores responsáveis pela implantação das Normas de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público nas IFEs; investigar a utilização das práticas orçamentária e contábil pelos contadores; observar possíveis contingências na implantação da nova contabilidade governamental; verificar a conformidade ou não das instituições com relação às normas contábeis, mediante critérios relacionados ao reconhecimento, mensuração e evidenciação dos seus ativos.

O cumprimento ao primeiro objetivo específico permitiu identificar que o perfil dos contadores caracteriza-se por uma maioria do sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos, formação lato sensu e menos de 5 anos de trabalho nas autarquias e na função atual. As características individuais dos profissionais não podem ser desprezadas como um fator facilitador ou dificultador do processo de implantação das normas. No perfil dos contadores participantes do presente estudo esses fatores apresentam-se como dificultadores, uma vez que os resultados mostraram que esses profissionais possuem pouco tempo nos cargos, como também reivindicam capacitações como forma de dirimir as dificuldades de implantação.

Verificou-se também que o tempo utilizado para as práticas orçamentárias e as rotinas operacionais está acima do tempo utilizado para aplicação da informação na gestão e operacionalização da contabilidade de custos. Isso mostra que as atividades contábeis pouco se dedicam à evidenciação do patrimônio da entidade e geração de informações gerenciais.

Com relação ao último objetivo específico de verificação da conformidade ou não das instituições com relação às normas contábeis, percebeu-se que os ativos são valorados pelo valor original de entrada, as receitas e despesas são reconhecidas pelo enfoque orçamentário e as provisões na sua maioria não são reconhecidas e estimadas.

Por fim, ressalta-se a relevância das informações geradas pelo enfoque patrimonial como medida importante ao processo decisório e sua transparência, permitindo aos usuários da informação a real mutação no patrimônio público em cada exercício financeiro.

Como sugestão para pesquisas futuras, recomenda-se: identificar como os órgãos de controle externo e interno estão se preparando para fiscalizar o nível de aderência das entidades públicas; mensurar o impacto dos resultados contábeis causados pelo regime de competência em entidades públicas; verificar as melhorias na transparência dos relatórios fiscais a partir das mudanças na contabilidade aplicada ao setor público.

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Índices de Fluxo de Caixa versus Índices Tradicionais de Análise de Balanços:

Um Estudo Comparativo as Empresas listadas na BM&FBOVESPA

AUTORES: Edna Maria, Karenn Patrícia, Gilberto Fernandes, Umbelina Lagióia, Aldemar Santos

Resumo

A obrigatoriedade da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) entre as demais demonstrações financeiras revela sua importância como complemento de informações necessárias à tomada de decisão. Nesse sentido, esse artigo objetivou comparar as informações financeiras obtidas por meio dos índices extraídos da DFC, com as extraídas do Balanço Patrimonial (BP) e da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) a fim de verificar sua capacidade informacional na predição da performance financeira das empresas. Para coleta de dados e cálculo dos índices financeiros, utilizou-se o banco de dados Economática. A amostra foi composta por 188 empresas listadas na BM&FBOVESPA, das quais foram calculados 10 índices com base no BP & DRE e 10 índices com base na DFC no período de 2008 a 2011. Após, com auxílio do SPSS, aplicou-se a análise fatorial para identificação de fatores, e em seguida, procedeu-se com a análise discriminante. Os resultados apontaram que as informações extraídas de ambas as análises oferecem subsídio bastante similar na avaliação do desempenho de uma empresa. Embora a análise baseada nos índices do BP & DRE tenha atingido um nível mais satisfatório do que a análise baseada nos índices da DFC, ambas são capazes de prever o estado classificatório de uma empresa.

Palavras-Chave: Índice de Fluxo de Caixa, Índices Financeiros, Análise de Balanços.

1. INTRODUÇÃO

A busca incessante por novos conhecimentos sempre exerceu influência significativa no desenvolvimento da contabilidade dada sua aplicação como uma ciência social. Em linhas gerais, aspectos culturais, econômicos e políticos inevitavelmente também acabam refletindo em práticas contábeis distintas e peculiares à cada região.

Essas diferenças oriundas dos aspectos anteriormente citados, gerou uma divergência na linguagem contábil dificultando os processos de negócios, a qual culminou na necessidade da padronização dos procedimentos contábeis com o intuito de diminuir as diferenças e facilitar a comparabilidade das informações contábeis.

Segundo Peleias e Bacci (2004), a padronização e a harmonização contábeis são preocupações mundiais, que buscam dentro do contexto da economia global uma linguagem única dos princípios, normas e formas de apresentação das Demonstrações Contábeis, para que os diversos usuários possam realmente entendê-las e interpretá-las, em um contexto de transparência, mensuração e “disclosure” comum a todos.

Assim, seguindo uma tendência internacional, em especial aos padrões do International Accounting Standars Board (IASB), o Brasil instituiu a Lei 11.638/07, que dentre outras alterações, substituiu a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos(DOAR), pela Demonstração dos Fluxos de Caixa(DFC), tornando-a um demonstrativo obrigatório.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa não é um demonstrativo novo, visto que sua utilização já era praticada em outros países e inclusive no Brasil, por algumas empresas que publicavam esse demonstrativo de forma facultativa para fins gerenciais.

No Brasil, a Demonstração do Fluxo de Caixa, é regulamentada também pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), através do Pronunciamento Técnico CPC 03 que trata especificamente de sua definição, elaboração e apresentação.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa, é um demonstrativo que permite a empresa ter controle das entradas e saídas de dinheiro, possibilitando assim que importantes decisões sejam tomadas no exato momento em que se tornem necessárias. (QUINTANA, MUNHOZ E AZEVEDO, 2007). Seu objetivo é

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fornecer informações relevantes sobre toda movimentação financeira da empresa, a fim de subsidiar o processo de tomada de decisão em um determinado período.

Nessa mesma linha de raciocínio, Lagioia (2012), ressalta que as informações históricas dos fluxos de caixa também são úteis para examinar a relação existente entre o lucro, o fluxo de caixa líquido da empresa e o impacto das mudanças de preços na estrutura de pagamentos e recebimentos da entidade.

A analise da DFC constitui-se em uma ferramenta fundamental de auxilio a tomada de decisão, já que permite identificar a capacidade da empresa em gerar e utilizar seus meios monetários de forma adequada. A partir dessa análise é possível verificar a liquidez de uma empresa e prever futuros problemas de caixa. (BORGES, NUNES E ALVES, 2012).

Tendo em vista os motivos expostos no decorrer desta breve seção introdutória, esta pesquisa apresenta o objetivo precípuo de comparar a informação obtida através da análise dos índices extraídos da DFC, com as do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício.

O artigo apresenta a seguinte estrutura: na seção relacionada ao referencial teórico apresentam-se os aspectos legais e conceituais que envolvem a Demonstração do Fluxo de Caixa, a utilização dos índices na tomada de decisão, bem como estudos empíricos realizados anteriormente. Na seção seguinte realizou-se a escolha do método utilizado para a coleta e análise dos dados. Posteriormente apresenta-se a análise e discussão dos resultados. Por último, segue as conclusões, bem como sugestões para pesquisas futuras.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Aspectos Legais e Conceituais

No Brasil, o processo de convergência às normas internacionais de contabilidade estabelecidas pelo IASB, ocorreu de maneira efetiva com a edição da Lei nº 11.638/07 que alterou de forma significativa a Lei nº 6.404/76. Dentre as várias modificações existentes aponta-se uma considerada significativa: a substituição da Demonstração das Origens e Aplicação de Recursos pela Demonstração dos Fluxos de Caixa.Tornando-a obrigatória para as sociedades anônimas e para as companhias de capital fechado com patrimônio líquido superior a dois milhões de reais.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa já era uma prática internacional iniciada na Europa e em seguida exigida também nos Estados Unidos, por meio do pronunciamento Statement of Financial Accounting Standards (SFAS nº 95) do Financial Accounting Standars Board (FASB). Atualmente o órgão normatizador das práticas contábeis, a nível mundial, o (IASB), por meio do IAS 7 expõe especificamente as diretrizes para elaboração da DFC. A partir de então, vários países passaram a exigir a publicação da Demonstração dos Fluxos de Caixa.

Em nível nacional, além da Lei 11.638/07, a Demonstração dos Fluxos de Caixa, é exigida também, pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), através dos Pronunciamentos Técnicos, CPC 26 que define a base para apresentação das demonstrações contábeis, e do CPC 03 que estabelece o objetivo, estrutura e a forma de utilização da Demonstração dos Fluxos de Caixa.

A obrigatoriedade da DFC entre as demais demonstrações financeiras revela sua importância como complemento de informações necessárias a tomada de decisão, tendo em vista que tal demonstrativo apresenta não só informações sobre as entradas e saídas de caixa e seus equivalentes, mas também a capacidade da entidade cumprir suas obrigações, bem como avaliar a posição financeira da empresa a longo prazo.

De acordo com Kousenidis, Negakis e Floropoulos (2006,p.692-693), as informações da DFC são úteis para os usuários das demonstrações financeiras, que buscam avaliar:

a) Mudanças nos ativos e os passivos de uma empresa específica. b) Alterações em sua estrutura financeira. c) A capacidade da empresa para absorver as mudanças do ambiente econômico. d) A capacidade da empresa para gerar caixa ou seus equivalentes. e) A capacidade da empresa para enfrentar com sucesso os problemas de liquidez no futuro. f) A capacidade da empresa para criar fluxos de caixa futuros.

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Segundo Friedrich e Brondani (2005), o fluxo de caixa possui um importante papel no planejamento financeiro das empresas. De acordo com os autores, compreende-se como Fluxo de Caixa:

os registro e os controles existentes da movimentação do caixa, compreendendo assim as entradas e saídas dos recursos financeiros que tenham ocorrido em um determinado intervalo de tempo. O fluxo de caixa é uma prática dinâmica, que deverá ser revista e atualizada constantemente, com vistas a ser útil na tomada de decisões.

A Demonstração do Fluxo de Caixa é um relatório contábil que tem por objetivo apresentar todo o movimento do caixa, e as disponibilidades financeiras da empresa durante determinado período. O CPC 03 destaca que as informações sobre o fluxo de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa.

Para Kousenidis, Negakis e Floropoulos (2006), a DFC, combinada com o resto das demonstrações econômicas de uma empresa, proporciona informações incrementais para avaliar as variações nos ativos líquidos, sua estrutura financeira, e sua capacidade de influenciar o valor e o período que ocorre fluxo de caixa. Além disso, aumenta a capacidade do usuário comparar diferentes empresas e chegar a conclusões úteis.

De acordo com o CPC 03, no item 10, a Demonstração dos fluxos de caixa é dividida em: atividades operacionais, de investimento e de financiamento. Os fluxos de caixa advindos das atividades operacionais são basicamente derivados das principais atividades geradoras de receita da entidade. Portanto, eles geralmente resultam de transações e de outros eventos que entram na apuração do lucro líquido ou prejuízo.Os fluxos de caixa advindos das atividades de investimento é importante em função de tais fluxos de caixa representarem a extensão em que os dispêndios de recursos são feitos pela entidade com a finalidade de gerar lucros e fluxos de caixa no futuro. Os fluxos de caixa advindos das atividades de financiamento é importante por ser útil na predição de exigências de fluxos futuros de caixa por parte de fornecedores de capital à entidade.

Neste sentido, a Demonstração do fluxo de caixa constitui-se em “uma valiosa ferramenta para analisar os efeitos das atividades operacionais, de investimento e de financiamento no fluxo de caixa de um determinado período”. (SALOTTI E YAMAMOTO, 2004, p. 7).

De acordo com o IASB, em seu pronunciamento IAS 7, a DFC pode ser elaborada pelos métodos direto e indireto. O primeiro apresenta os recebimentos e pagamentos de caixa pelos seus valores brutos. No segundo, o lucro líquido é ajustado pelos efeitos de transações cuja natureza não afeta o caixa, de variações operacionais, recebimentos e pagamentos, e itens de receita ou despesa associados com investimento ou financiamento. Em relação à utilização dos métodos direto e indireto, o FASB e o IASB facultam o uso de ambos, porém recomendam o modelo direto.

De modo geral, a inclusão da Demonstração do Fluxo de caixa, entre os demais demonstrativos obrigatórios, revela sua importância e utilidade como ferramenta de auxílio à tomada de decisão. A DFC é, portanto, um valioso instrumento de gestão financeira, pois evidencia informações relevantes para o controle do fluxo de caixa. De maneira secundária permite aos usuários conhecer a real situação financeira da empresa.

2.2 A Utilização dos Índices Financeiros na Tomada de Decisão

No ambiente empresarial, os gestores a todo instante, precisam tomar decisões. Tais decisões podem ser demasiadamente simples ou muito complexas como: decidir a melhor forma de pagamento para a empresa, ou controlar seu fluxo de caixa, qual investimento deve ser feito. (QUINTANA E SAURIN, 2008). Para isso, o gestor pode contar com o auxílio da análise financeira de seus demonstrativos contábeis, e com base nessas informações definir de forma mais segura o futuro da empresa.

As demonstrações contábeis apresentam informações econômica, financeira e patrimonial das entidades, cujo objetivo é atender às necessidades dos diversos usuários da informação contábil. É a partir das informações contidas nesses demonstrativos que a análise financeira é realizada.

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Usualmente o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício são as peças contábeis mais utilizadas para fins de análise e avaliação da gestão financeira. Contudo, a DFC, da mesma forma que as demais demonstrações contábeis, também podem ser analisadas com base em indicadores financeiros, e como base neles, auxiliar a tomada de decisão. (BORGES, ALVES E NUNES ,2012). A técnica de análise das demonstrações contábeis por meio de índices consiste em relacionar contas e gruos de contas. Segundo Vieira e Santos (2005, p.51) comentam que:

a análise financeira através da utilização de índices financeiros compreende uma técnica que possibilita uma visão global da real situação financeira da empresa, uma vez que os índices podem ser utilizados com o objetivo de perquirir, perscrutar as mais diversas potencialidades de desempenho econômico-financeiro, tais como: liquidez do patrimônio líquido, grau de endividamento, estrutura de capital, dentre outras.

Jooste (2006, p.569), afirma que “com a introdução da demonstração dos fluxos de caixa como parte integrante das demonstrações financeiras, novas informações tornaram-se disponíveis para serem incluídas na avaliação financeira”, informações como liquidez, solvência, rentabilidade e outras. Uma das formas de se extrair tais informações é por meio da análise de índices financeiros.

Braga e Marques (2001), destacam que a DFC, serve de base para o cálculo de vários indicadores de desempenho. Por meio deles, é possível avaliar a situação financeira do negócio, bem como sua liquidez e rentabilidade. Cada indicador financeiro possui suas especificidades e o seu conjunto torna-se mais uteis à medida que proporciona uma visão do cenário geral da empresa.

A DFC é uma importante ferramenta para análise financeira, por meio dela, pode-se acompanhar a tendência das variações ocorridas no caixa e seus equivalentes, com relação às entradas (recebimentos) e as saídas (pagamentos) de recursos da entidade num determinado período. Além disso, a DFC contribui para o planejamento e controle financeiro da empresa.

Com base na revisão da literatura pesquisada, conclui-se que, a análise da Demonstração do fluxo de caixa, através dos indicadores financeiros, proporciona aos gestores informações de cunho gerencial úteis ao processo de tomada de decisão.

2.3 Estudos Empíricos Realizados Anteriormente

Muitos são os estudos que abordam o tema fluxo de caixa. Entretanto, ainda são poucas as pesquisas empíricas que tratam da importância da Demonstração do Fluxo de Caixa como instrumento relevante no processo de gestão financeira. Dentre os quais podemos destacar: Beaver (1968); Largay e Stickney (1980); Braga e Marques (2001); Barac (2010); Barbosa, Soares, Leal e Oliveira (2010); Macedo et al (2011) e Borges, Alves e Nunes (2012).

Beaver (1968), em sua pesquisa sobre medidas alternativas de previsão de falência, analisou 158 empresas, das quais foram divididas em 79 empresas falidas e 79 não falidas, no período de 1954 a 1964. Foram utilizados quatorze indicadores financeiros. O estudo revelou que os indicadores tomados com base nos fluxos de caixa avaliam melhor a posição financeira das empresas, sendo mais eficazes para prever falências, se comparados com os índices relacionados ao do capital circulante líquido, revelando que a relação entre o fluxo de caixa e o total da dívida consegue prever insolvência com cinco anos de antecedência. Observou-se que, a análise do indicador do fluxo de caixa operacional sobre as dívidas totais teve relevância por sua capacidade de prever falências.

Largay e Stickney (1980) analisaram o famoso caso da falência, em 1975, da maior empresa do setor de varejo dos EUA, a W. T. Grant Company. O estudo apontou que uma análise de índices tradicionais das demonstrações financeiras da Grant não teria revelado a existência de muitos dos problemas da empresa até 1970 ou 1971. Os índices de rentabilidade, rotatividade, liquidez e solvabilidade da Grant não refletiram qualquer dificuldade financeira da empresa. Ademais, observou-se que por volta de 1973 as ações da empresa possuíam um valor de venda cerca de vinte vezes o lucro. Entretanto, nos dez anos que precederam sua falência, a empresa enfrentava o problema de não gerar caixa internamente, apesar de o capital de giro fornecido pelas operações ter permanecido relativamente estável em 1973. A incapacidade contínua de Grant para a geração de caixa através de suas operações levou à necessidade de financiamento externo o que

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gerou dívidas crescentes levando a empresa a um caminho sem volta. Os autores concluíram que uma análise cuidadosa dos fluxos de caixa da empresa teria revelado o fato iminente, em mais ou menos uma década antes do colapso.

Braga e Marques (2001) em seu trabalho referente à avaliação da liquidez das empresas através da análise da Demonstração de Fluxos de Caixa, procuraram demonstrar a viabilidade da análise financeira com base na DFC. Para alcançar seus objetivos calcularam e interpretaram os quocientes extraídos dos relatórios publicados pelas empresas – Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e Centrais Elétricas de Minas Gerais S/A (CEMIG), no período de 1997 a 1999 consecutivos. Esses índices foram classificados em quatro categorias distintas, cujos propósitos variaram da avaliação da capacidade de pagamento do negócio até a determinação das taxas de recuperação (retorno) de caixa. Como resultado constatou-se que a utilização de quocientes extraídos de relações entre valores da DFC facilita a interpretação da situação financeira da empresa, sendo o fluxo de caixa operacional a medida absoluta mais relevante mostrada no relatório.

Barac (2010), buscou fornecer evidências empíricas sobre o conteúdo de informação incremental de índices de fluxo de caixa e índices de acréscimo como medida de desempenho da empresa. Neste estudo a autora apresenta que a avaliação de desempenho empresarial baseado em relações de fluxo de caixa fornece informações mais precisas e confiáveis do que o baseado em relações de exercício. Sua amostra incluiu as empresas listadas na Croácia, no período 2000 a 2006. O estudo revelou que existe uma maior relevância nas informações obtidas através do fluxo de caixa e das taxas de fluxo de caixa, em comparação com o balanço e com as informações da demonstração de resultados.

Barbosa, Soares, Leal e Oliveira (2010), em sua pesquisa, demonstraram a relevância da analise das Demonstrações do Fluxo de Caixa na tomada de decisões dos gestores. Para atingir seu propósito aplicaram o cálculo de índices econômico-financeiros nas DFCs da empresa Sadia S.A seguidos da análise dos mesmos. O estudo delimitou-se na análise das demonstrações contábeis publicadas no período de 2007 e 2008. Os resultados obtidos apontaram a relevância da Demonstração do Fluxo de Caixa na gestão de recursos da empresa, e principalmente, para a tomada de decisão dos gestores.

Macedo et al (2011), verificaram, por meio de análise de regressão, o impacto da substituição da DOAR (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos) pela DFC (Demonstração dos Fluxos de Caixa), implementado pelas mudanças nas normas contábeis brasileiras vigentes para o exercício de 2008. Para isso, analisaram a questão do value relevance das origens de recursos das operações provenientes da DOAR e do fluxo de caixa operacional proveniente da DFC, no período de 2005 a 2007, das empresas não financeiras de capital aberto listadas na base de dados Melhores e Maiores da FIPECAFI-EXAME. As evidências empíricas encontradas apontaram que o Fluxo de Caixa Operacional é mais relevante que as Origens de Recursos das Operações para o mercado de capitais, confirmando, portanto que a substituição da DOAR pela DFC foi benéfica para os usuários da informação contábil no Brasil, pois conforme os resultados apresentados, acrescentou relevância às informações.

Borges, Nunes e Alves (2012), no intuito de apresentar a importância desta demonstração financeira como instrumento de apoio à tomada de decisão nas organizações, semelhantemente a Barac (2010), procuraram comparar a informação financeira obtida através dos índices calculados a partir da contabilidade de caixa e da contabilidade do acréscimo, no período de 2005 a 2009. Os dados foram extraídos dos Relatórios e Contas de 82 empresas que integram a amostra de empresas que têm os títulos cotados na Bolsa de Lisboa e os Relatórios e Contas individuais disponíveis no site da Comissão de Mercados de Valores Mobiliários.

Por meio da análise fatorial e da análise discriminante, as autoras constataram que, tanto o modelo baseado nos índices de acréscimo, quanto o modelo baseado nos índices dos fluxos de caixa, são úteis para prever a situação futura de uma empresa, já que ambos alcançaram uma eficácia classificatória. Os resultados demonstraram a importância da utilização da Demonstração dos Fluxos de Caixa em conjunto com as demais demonstrações financeiras, para uma melhor tomada de decisão.

De modo geral, pode-se ressaltar que a Demonstração dos Fluxos de Caixa é um importante instrumento de apoio à tomada de decisão, e quando analisada em conjunto com outras demonstrações contábeis, fornece informações relevantes à gestão empresarial.

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3 METODOLOGIA

À semelhança de Borges, Nunes e Alves (2012), este artigo tem por objetivo relacionar de forma comparativa as informações financeiras obtidas através dos índices extraídos da Demonstração do Fluxo de Caixa(regime de caixa) com as extraídas do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício(regime de competência), não recomendando nenhum dos modelos apresentados em detrimento do outro, sob boas razões conceituais e práticas.

Para o desenvolvimento deste trabalho, aplicamos a análise fatorial para identificação de fatores ou associações entre as variáveis analisadas, e em seguida, procedemos com a análise discriminante para identificar ou propor uma função linear que consiga explicar a performance das empresas com base nos agrupamentos obtidos na análise fatorial para cada grupo de índices: índices com base no BP & DRE e índices com base na DFC. E a partir daí, avaliar qual desses grupos de índices oferece maior informação sobre o desempenho das empresas. Nesta ótica, definimos, assim como Borges, Nunes e Alves (2012), as seguintes hipóteses estatísticas:

H0: Não existe diferença expressiva na avaliação do desempenho de uma empresa se usados os índices financeiros de fluxos de caixa em substituição ao modelo baseado nos índices do Balanço Patrimonial e DRE.

H1: Existe diferença expressiva na avaliação do desempenho de uma empresa se usados os índices financeiros de fluxos de caixa em substituição ao modelo baseado nos índices do Balanço Patrimonial e DRE.

Seguindo os mesmos procedimentos usados por Borges, Nunes e Alves (2012), a amostra foi definida mediante o atendimento dos seguintes requisitos:

a) Empresas que têm seus títulos negociados na BM&FBovespa Bolsa de Valores S.A; b) Empresas que possuíam as informações financeiras no período de 2008 a 2011; c) Empresas do setor de finanças, seguros e fundos foram excluídas da amostra. Inicialmente, utilizou-se como recurso auxiliar para a coleta de dados e cálculo dos índices

financeiros o banco de dados do Economática. Após o cumprimento das condições acima mencionadas, alcançamos uma amostra composta de 188 empresas.

A amostra foi dividida em dois grupos tendo como base o resultado do período (lucro ou prejuízo) nos anos de 2008 a 2011, do mesmo modo que Borges, Nunes e Alves (2012). Se a soma algébrica dos resultados do período de cada ano for maior do que zero, a empresa será classificada como “Boa”; e se a soma algébrica dos resultados de cada ano for negativa, a empresa será classificada como “Má”. Assim, das 188 empresas componentes da amostra, 39 foram classificadas como “Más”, formando o grupo 1, e 149 foram classificadas como “Boas”, formando o grupo 2.

A fim de obtermos o resultado das empresas em cada ano, foram calculados, para cada empresa, 10 índices com base no BP & DRE e 10 índices com base na DFC, conforme ilustra o Quadro 1.

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Índices de Liquidez Índices de Endividamento Índices de Rentabilidade

Regime de Competência

Current Ratio Ativo corrente Passivo corrente

Índice de Endividament

o

Passivo Total Ativo Total

Rentabilidade do Ativo

EBIT Ativo Total

Quick Ratio (Ativo corrente –

Estoques) Passivo Corrente

Índice de Cobertura de

Juros

EBIT/ Despesas Financeiras

Rentabilidade do Capital Próprio

Lucro Líquido

Patrimônio Líquido

Racio FM vs. Activo

(Ativo corrente – Passivo corrente)

Ativo Total

Coeficiente Estabilidade Financeira

Cap. Social + Passivo não Circulante. Ativo não

Circulante. + Estoques

Rentabilidade das Vendas

Lucro Líquido Receita Líquida

Ativo Corrente vs. Ativo Total

Ativo corrente Ativo Total

Regime de Caixa

Índice do Fluxo de Caixa

FCO /Passivo Corrente

Fluxo Operacional para Dívida Total

FCO /Passivo Total

Cash Return on Assets

FCO/Ativo Total

Índice Cobertura Necessidades Críticas

FCO/ (Emprést. e Financ. a curto e LP + Dividendo a CP)

Índice Cobertura de

Juros

FCO Desp.Finan.

Cash Return on Equity

FCO/ Patrimônio Líquido

Fluxo de Caixa Livre

FCO – Capex FCO

Solidez Financeira

(Lucro Líq.+ Depr, Amort, Exaustão) x4/ Passivo Total

Cash Return on Sales

FCO/EBIT

Qualidade

dos resultados

FCO/EBIT

Quadro 1 – Índices Financeiros Fonte: Adaptado de Borges, Nunes e Alves (2012).

Calculados estes índices para cada ano, ao longo de quatro anos, tomamos a média dos quatro valores

obtidos para cada empresa e lançamos estas médias no software SPSS (Statistical Package for the Social Science) versão 15.0, para executarmos as análises estatísticas supracitadas: análise fatorial e análise discriminante.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A fim de encontrarmos um número menor de variáveis que expliquem a maior parte da variância das variáveis originais, utilizamos o método de Análise de Componentes Principais, juntamente com o critério do autovalor ou critério Kaiser que considera apenas os fatores (variáveis latentes, que não são correlacionadas entre si) com autovalores maiores do que 1 e descarta todos os fatores com valores próprios menores que 1, pois são menos significativos do que uma variável original, a qual possui autovalor igual a 1. Com o objetivo de aumentar o poder explicativo dos fatores, empregamos o método de rotação ortogonal varimax. O Quadro 2 apresenta as estatísticas associadas à análise fatorial aplicadas no estudo.

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Determinação Consideração

Análise em componentes principais Técnica de estimação de extração de fatores Critério Kaiser Determinação do número de fatores Rotação Varimax Melhora a capacidade de análise dos fatores Percentagem da variância 60% será o limite mínimo de explicação da variância dos fatores

Quadro 2 – Estatísticas associadas à análise fatorial Fonte: Adaptado de Borges, Nunes e Alves (2012).

Antes disso, porém, verificamos a adequação das variáveis da amostra à análise fatorial através da matriz de correlação, da matriz de anti-imagens, do teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) e esfericidade de Bartlett, e das comunalidades. Todos estes testes foram favoráveis para que a análise fatorial pudesse ser aplicada no tratamento dos dados para o caso do grupo de índices do BP & DRE (Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício). Neste caso, o modelo de análise fatorial processado no SPSS extraiu quatro fatores para o grupo de índices do BP & DRE, que explicam 78,7% da variância das variáveis originais, conforme destacado no Quadro 3.

Total Variance Explained

Component Initial Eigenvalues

Extraction Sums of Squared Loadings

Rotation Sums of Squared Loadings

Total % of

Variance Cumulative % Total

% of Variance

Cumula tive % Total

% of Variance

Cumula tive %

1 3,668 36,677 36,677 3,668 36,677 36,677 2,429 24,293 24,293 2 1,780 17,805 54,482 1,780 17,805 54,482 2,382 23,817 48,110 3 1,378 13,776 68,258 1,378 13,776 68,258 1,594 15,936 64,047 4 1,044 10,435 78,693 1,044 10,435 78,693 1,465 14,647 78,693 5 ,800 7,995 86,688 6 ,611 6,113 92,802 7 ,319 3,185 95,987 8 ,255 2,548 98,534 9 ,111 1,111 99,645 10 ,035 ,355 100,000

Quadro 3 – Variância total explicada para os índices do BP & DRE Extraction Method: Principal Component Analysis. Fonte: SPSS.

Por outro lado, para o grupo de índices da DFC, obtivemos três fatores, utilizando o critério Kaiser.

Entretanto, observando as comunalidades, nem todos os índices possuíram boa relação com esses fatores. Por esta razão, e tendo em vista que o autovalor inicial (0,991) de um quarto fator é bem próximo de 1, conforme o Quadro 4 abaixo, impomos a condição de quatro fatores, desprezando o critério Kaiser. Isto foi muito bom, uma vez que a nova matriz de comunalidades revelou que os fatores explicariam muito bem as variáveis originais.

Conforme está destacado no Quadro 4 acima, os quatro fatores conseguiram explicar 74,4% da variância dos índices da DFC, superando a explicação no caso de apenas três fatores, que explicariam apenas 64,4% da variância das variáveis originais. Observamos que o autovalor do quarto fator obtido ficou superior a 1 (1,004) após a rotação, como se vê em destaque no Quadro 4 acima. Notamos ainda que o teste KMO permaneceu o mesmo em ambos os casos, isto é, com três ou quatro fatores.

Os Quadros 5 e 6 a seguir apresentam, para o grupo de índices do BP & DRE e para o grupo de índices da DFC, respectivamente, a matriz de componentes após a rotação, permitindo uma identificação mais precisa das variáveis que compõem cada fator. Além de aumentar o poder explicativo dos fatores (conforme se observa comparando as colunas 6 e 9 nos Quadros 3 e 4), a rotação varimax minimiza a ocorrência de uma variável possuir altas cargas fatoriais (loadings) para diferentes fatores, possibilitando

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que se perceba claramente em qual dos fatores a carga da variável é mais elevada. Além disso, também impomos que os fatores respondam no mínimo a 60% da variância.

Total Variance Explained

Initial Eigenvalues Extraction Sums of Squared

Loadings Rotation Sums of Squared

Loadings Component

Total

% of Variance

Cumulative % Total

% of Variance

Cumulative % Total

% of Variance

Cumulative %

1 3,849 38,491 38,491 3,849 38,491 38,491 2,893 28,927 28,927 2 1,493 14,932 53,424 1,493 14,932 53,424 2,261 22,607 51,534 3 1,103 11,027 64,451 1,103 11,027 64,451 1,278 12,784 64,317 4 ,991 9,909 74,360 ,991 9,909 74,360 1,004 10,042 74,360 5 ,849 8,491 82,851 6 ,688 6,884 89,735 7 ,458 4,580 94,315 8 ,329 3,291 97,606 9 ,138 1,380 98,987 10 ,101 1,013 100,000

Quadro 4 – Variância total explicada para os índices da DFC Extraction Method: Principal Component Analysis. Fonte: SPSS.

Rotated Component Matrixa

Fator 1 2 3 4 Cobertura de Juros ,863 -,040 ,289 ,201 Ind Estab Financeira ,776 ,145 -,325 -,248 Liquidez seca ,744 ,535 ,095 ,032 Liquidez corrente ,677 ,635 ,093 -,014 Ind FM vs Ativo ,111 ,879 ,357 -,023

Ativo corrente vs Ativo total ,212 ,714 -,280 ,020 Rentabilidade Vendas ,091 -,011 ,819 ,009 Ind. Endividamento ,032 -,614 -,688 -,083 Rentabilidade Ativo ,052 -,060 ,162 ,827 Rentabilidade Capitais próprios -,041 ,080 -,104 ,819

Quadro 5 – Matriz de components dos indices do BP & DRE Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization. a Rotation converged in 9 iterations. Fonte: SPSS.

As partes destacadas nestes dois quadros (5 e 6) apresentam as variáveis originais formando 4 fatores em cada grupo, pelos loadings mais altos. Esta organização foi possível por se usar o método de rotação varimax, o qual eleva os loadings altos e diminui os baixos, minimizando a ocorrência de loadings altos em mais de um fator, para uma mesma variável original. Isto facilita a identificação dos fatores (CORRAR, 2007).

Note que na matriz de componentes dos índices do BP & DRE (Quadro 5), os loadings associados às variáveis originais são, todos, superiores, em valor absoluto, ao limite 0,6 = 60%, fato que não ocorre na matriz de componentes dos índices da DFC (Quadro 6). Porém, neste último quadro, a maioria das variáveis originais apresenta esta propriedade, exceto duas delas que ajudam a compor o primeiro fator. Estas duas variáveis apresentam valores de pesos (loadings) inferiores, mas bem próximos do limite 0,6, o que não compromete esta seleção de fatores.

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Rotated Component Matrixa

Fator 1 2 3 4 Solidez Financeira ,823 -,046 ,070 ,028 Ind FLX cobertura de juros ,819 ,035 -,089 -,015 Fluxo Op. para o total da dívida ,815 ,321 ,323 -,042 Ind Cobertura nec Críticas ,597 ,428 -,294 -,004 Retorno de caixa sobre Ativos ,566 ,384 ,565 -,044 Qualidade dos Resultados -,097 ,888 -,101 -,001 Indice Fluxo de Caixa ,422 ,798 ,246 -,037 Retorno de caixa sobre Vendas ,120 ,628 ,173 -,002 Retorno de caixa sobre Capital Próprio -,040 ,058 ,810 -,004 Indice Flx. Cx. Livre -,007 -,013 -,014 ,999

Quadro 6 – Matriz de components dos indices da DFC Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization. a Rotation converged in 5 iterations. Fonte: SPSS.

De acordo com estes quadros, os fatores relativos aos índices do BP & DRE podem ser organizados e interpretados (Quadro 7).

Fator Variáveis Originais Representa

Fator 1

Cobertura de Juros Ind Estab Financeira Liquidez seca Liquidez corrente

A capacidade da empresa em satisfazer suas obrigações totais.

Fator 2 Ind FM vs Ativo Ativo corrente vs Ativo total

A disponibilidades dos recursos financeiros perante o ativo total.

Fator 3

Rentabilidade Vendas Ind. Endividamento

A rentabilidade das vendas e a proporção dos ativos totais financiada pelos credores.

Fator 4

Rentabilidade Ativo Rentabilidade de Capitais próprios.

A rentabilidade dos ativos e patrimônio líquido.

Quadro 7 – Agrupamento dos índices do BP & DRE Fonte: Elaboração própria.

E os fatores relativos aos índices da DFC são agrupados e interpretados conforme quadro 8.

Fator Variáveis Originais Representa Fator 1 Solidez Financeira

Ind FLX cobertura de juros Fluxo Op. para o total da dívida Ind Cobertura nec Críticas Retorno de caixa sobre Ativos

A capacidade da empresa em satisfazer suas obrigações totais e a rentabilidade do ativo.

Fator 2 Qualidade dos Resultados Indice Fluxo de Caixa Retorno de caixa sobre Vendas

A capacidade da empresa em saldar suas obrigações de curto prazo e o retorno do caixa sobre as vendas.

Fator 3 Retorno de caixa sobre Capital Próprio O retorno do caixa sobre o capital próprio

Fator 4 Indice Flx. Cx. Livre O fluxo de caixa livre da empresa.

Quadro 8 – Agrupamento dos índices da DFC Fonte: Elaboração própria.

Os fatores obtidos, conforme apresentados nos Quadros 7 e 8, agruparam índices financeiros (variáveis originais) diferentemente dos encontrados pelo estudo de Borges, Nunes e Alves (2012). Talvez

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isto tenha ocorrido por conta de diferenças na escolha e no tamanho da amostra. A fim de avaliar a performance e classificar as empresas em “Boas” ou “Más”, a partir da influência dos índices selecionados, ou melhor, dos fatores obtidos pela análise fatorial, aplicamos a análise discriminante, técnica esta apropriada para este propósito.

O Quadro 9 apresenta as estatísticas associadas à análise discriminante aplicadas neste estudo. Determinação Considerações

Correlação Canônica Valor varia entre 0 e 1. Seu quadrado mede o poder explicativo da função discriminante.

Centróide Média dos scores discriminantes do grupo.

Scores discriminantes Os coeficientes são multiplicadores das variáveis.

Lambda de Wilks Valor varia entre 0 e 1. Está relacionado com a diferença entre as médias dos grupos. Quanto menor o seu valor, maior a diferença entre as médias.

Quadro 9 – Estatísticas associadas à análise discriminante Fonte: adaptado de Borges, Nunes e Alves (2012).

O modelo para a análise discriminante é uma função que assume a seguinte forma:

onde: escore discriminante da função discriminante (performance da empresa, no nosso caso);

constante;

= variáveis independentes (fatores, no nosso caso);

pesos discriminantes para as variáveis independentes (coeficientes associados aos fatores, no nosso caso).

Tendo em vista a inclusão de todos os fatores obtidos pela análise fatorial (variáveis independentes para a análise discriminante) na análise discriminante, empregamos o método standard de estimação simultânea (Enter independents together). Assim, processando a análise discriminante no SPSS, obtemos as seguintes funções discriminantes, para os modelos baseados nos índices do BP & DRE e nos índices da DFC, respectivamente.

PerfBP&DRE = 0,029F1 + 0,408F2 + 0,754F3 + 0,872F4 PerfDFC = 0,998f1 + 0,305f2 + 0,314f3 + 0,121f4

Nas duas funções discriminantes acima, todos os fatores têm pesos positivos, traduzindo em um impacto positivo sobre a performance da empresa, ou seja, sempre que os valores dos fatores aumentam, a performance da empresa também aumenta. Em relação à função discriminante obtida com base nos índices do BP & DRE (primeira função), os fatores 3 e 4 têm um peso relativamente grande em comparação com os fatores 1 e 2. Já na função obtida com base nos índices da DFC (segunda função), apenas o fator 1 possui peso diferenciado, sendo bem superior ao peso dos demais fatores. Isto significa que estes fatores possuem grande influência na melhoria da performance da empresa. Interpretação contrária para o fator 1 na primeira função e para o fator 4 na segunda função, que por possuírem pesos baixos, pouco afetam na melhoria da performance da empresa, comparados aos outros fatores; isto é, a capacidade da empresa em satisfazer suas obrigações totais e o fluxo de caixa livre da empresa são os fatores que menos refletem na melhoria da performance da empresa.

Diferentemente do estudo de Borges, Nunes e Alves (2012), o impacto dos fatores sobre o valor da performance da empresa são todos positivos, fato este já esperado, tendo em vista a natureza das variáveis. Esta diferença talvez se deva às características da amostra, especialmente ao número de seus elementos, que foi mais do que o dobro do número de empresas analisadas pelas autoras supracitadas.

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A adequação do modelo para este estudo pode ser verificada a partir do coeficiente de correlação canônica e, também, pelo valor do lambda de Wilks, cujos significados podem ser visualizados no Quadro 9 acima.

O Quadro 10 expõe os coeficientes de correlação canônica que estão em associação direta com a relação entre os scores discriminantes e os grupos; enquanto mais próximo de 1 estiver este valor, melhor será esta associação.

Coeficiente PerfBP&DRE PerfDFC

Correlação Canônica 0,579 0,416

Quadro 10 – Performance – Correlação Canônica. Fonte: adaptado de Borges, Nunes e Alves (2012).

Observamos que a função discriminante PerfBP&DRE está relacionada a um melhor coeficiente de correlação canônica em comparação com a função PerfDFC. Assim, 33,5% = 0,5792 do seu comportamento (da variável dependente discriminante) é explicado pelos fatores encontrados na análise fatorial. Por outro lado, apenas 17,3% = 0,4162 da variável dependente discriminante da função PerfDFC é explicada pela análise discriminante. Portanto, utilizando o coeficiente de correlação canônica percebemos que o modelo possui um baixo poder explicativo. No entanto, é estatisticamente aceitável, como se percebe pelos p-values no Quadro 11 abaixo, que apresenta os valores dos Lambdas de Wilks.

Coeficiente PerfPB&DRE PerfDFC

Lambda de Wilks 0,665 0,827

p-value 0,000 0,000

Quadro 11 – Performance – Lambda de Wilks. Fonte: adaptado de Borges, Nunes e Alves (2012).

Apesar dos valores dos Lambdas de Wilks não serem bem próximos de zero, o modelo é estatisticamente significativo, pois possui um nível de significância satisfatório, bem inferior a 5%, conforme se observa nos p-values do Quadro 11.

É oportuno observarmos aqui que os valores de correlação canônica e Lambdas de Wilks apresentaram, em ambos os modelos, valores mais satisfatórios do que aqueles alcançados por Borges, Nunes e Alves (2012). Isto pode ter ocorrido porque a nossa amostra foi maior do que a delas, proporcionando medidas de dispersão menores, como, por exemplo, o desvio padrão e a variância.

Seguindo uma rotina padrão da análise discriminante, para cada uma das funções acima, calculamos o ponto de corte ou Z crítico ( ) segundo a fórmula:

Onde:

é o centroide do grupo 1: RLE < 0; e é o centroide do grupo 2: RLE > 0;

é o número de observações do grupo 1; e é o número de observações do grupo 2. Com isto, podemos classificar uma empresa como “Má” se o valor da função discriminante for maior

que Zc e como “Boa” se o valor da função for menor do que Zc. O SPSS calculou os centróides Z1 e Z2, os quais apresentamos no Quadro 12.

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Centróides para o Modelo dos índices do BP &

DRE Centróides para o Modelo dos índices da

DFC Functions at Group Centroids

Function Classificação da Empresa 1 Resultado do Período < 0

-1,381

Resultado do Período > 0

,361

Unstandardized canonical discriminant functions evaluated at group means

Functions at Group Centroids Function Classificação da

Empresa 1 Resultado do Período < 0 -,888 Resultado do Período > 0 ,232 Unstandardized canonical discriminant functions evaluated at group means

Quadro 11 – Centróides para os modelos dos índices do BP & DRE e da DFC. Fonte: Adaptado de Borges, Nunes e Alves (2012).

Então, podemos calcular os valores de Zc para cada função, pois já temos que N1 = 39 e N2 = 149. Para a função relativa aos índices do BP & DRE, temos:

Dessa forma, uma empresa será classificada como “Má” se PerfBP & DRE < –1,02 e como “Boa” se PerfBP & DRE > –1,02. Do mesmo modo, para o modelo com base nos índices da DFC, obtemos Zc = –0,66 e uma empresa será classificada como “Má” se PerfDFC < –0,66 e como “Boa” se PerfDFC > –0,66.

Com o auxílio do SPSS obtemos facilmente a porcentagem de empresas classificadas corretamente quando observamos a classificação original. Extraindo esses dados do programa, sintetizamos no Quadro 13.

Total de Empresas “Más” Empresas “Boas” Empresas

Modelo baseado nos índices do BP &

DRE 91,5% 71,8% 96,6%

Modelo baseado nos índices da DFC

79,8% 82,1% 79,2%

Quadro 13 – Nível de acertos de classificação das empresas Fonte: Elaboração própria.

Observamos que em ambos os modelos, obtivemos uma eficácia classificatória muito boa. No modelo baseado nos índices do BP & DRE, 91,5% das empresas foram classificadas corretamente, sendo que os casos do grupo 1 atingiram 71,8% de acertos e os casos do grupo 2, 96,6% de acertos. Isto significa que a função discriminante PerfBP&DRE acertou 91,5% da classificação original para todas 188 empresas da amostra; agora, considerando apenas as 39 empresas “Más”, a função discriminante obteve um nível de acerto de 71,8% e tomando somente as 149 empresas “Boas”, a função discriminante conseguiu acertar 96,6% da classificação inicial. No modelo baseado nos índices da DFC, 79,8% de todas as empresas foram classificadas corretamente. Das 39 empresas “Más”, 82,1% foram classificadas corretamente; e dos 149 casos de empresas “Boas”, 79,2% foram classificados corretamente.

Portanto, nos dois modelos tem-se um bom nível classificatório, traduzindo em uma grande capacidade em predizer a situação futura de classificação de uma determinada empresa que está, a princípio, presente na amostra e fez parte do desenvolvimento do modelo.

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5 CONCLUSÃO

Esse trabalho teve como objetivo principal comparar as informações financeiras obtidas por meio dos

índices extraídos da Demonstração dos Fluxos de Caixa, com as extraídas do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício, a fim de verificar se as informações advindas desses dois tipos de análise possuem a mesma capacidade informacional na predição da performance financeira das empresas.

A partir da revisão da literatura consultada que deu embasamento teórico à pesquisa, pôde-se constatar que a análise da Demonstração do fluxo de caixa, por meio de indicadores financeiros, proporciona aos gestores informações de cunho gerencial úteis ao processo de tomada de decisão.

Com base nos resultados encontrados, constatou-se a confirmação da hipótese nula, visto que as informações extraídas de ambas as análises oferecem subsídio bastante similar na avaliação do desempenho de uma empresa. Embora a análise baseada nos índices do BP & DRE tenha atingido uma eficácia classificatória melhor do que a análise baseada nos índices da DFC, ambas são úteis para prever o estado classificatório futuro de uma empresa.

Vale ressaltar que nenhuma demonstração financeira por si só é capaz de atender ou mesmo oferecer todas as informações solicitadas pelos diversos usuários das informações contábeis. Entretanto, apesar de sua limitação, a Demonstração dos Fluxos de Caixa revela-se como um importante instrumento de apoio à tomada de decisão que deve ser analisado conjuntamente com as demais demonstrações contábeis, para um fornecimento mais completo de informações que sejam relevantes à gestão empresarial.

É oportuno destacar que, além de nossa amostra possuir uma dimensão maior do que a utilizada na pesquisa de Borges, Nunes e Alves (2012), este estudo também buscou seguir a recomendação dessas autoras em utilizar o método “Stepwise” na análise discriminante após a análise fatorial. No entanto, os resultados obtidos não foram tão satisfatórios quanto os obtidos pelo método “Enter independents together” apresentados neste trabalho.

Salientamos que dentre as limitações desse estudo destacamos a escolha da amostra que não abrangeu as empresas de todos os setores do mercado. Por isso, como recomendação para pesquisas futuras apresenta-se a possibilidade de estender a amostra a todos os tipos de empresas.

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A Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade Ocasionou um Maior Reconhecimento dos Ativos Intangíveis no Brasil?

AUTORES: Francisco de Assis, Lucivaldo Lourenço, Edyanne Pereira, Igor Ézio, Umbelina Lagióia.

Resumo

O objetivo desse trabalho foi analisar se a transição das normas contábeis locais para IAS/IFRS, acarretou em um maior reconhecimento dos ativos intangíveis e se há alguma correlação entre o preço das ações e a informação do intangível publicado nas demonstrações contábeis. Para fins deste trabalho, dividiu-se os intangíveis em dois grupos: os intangíveis identificáveis e os não identificáveis (goodwill). Para a verificação do reconhecimento dos ativos identificáveis e do goodwill utilizou-se uma análise descritiva dos dados, e posteriormente, foram realizados dois testes comparativos de média (t-student e wilcoxon). A análise da correlação entre preço das ações e a informação do intangível foi realizada por meio da aplicação de um modelo de regressão multivariada. A amostra utilizada foi de 213 empresas listadas na BM&FBOVESPA em um período de 6 anos, compreendidos entre 2005 a 2007, antes da adoção das IAS/IFRS, e de 2009 a 2011, pós adoção as IAS/IFRS. Os resultados encontrados utilizando o teste t-student indicaram que houve um maior reconhecimento por parte das empresas no que se refere às variáveis ativos intangíveis identificáveis e do ativo intangível total, não acontecendo o mesmo em relação à variável goodwill. Já com relação ao valor do preço das ações e o intangível publicado, diante dos dados, foi constatado que há uma relação entre o valor das ações e o total dos intangíveis.

Palavras-chaves: Ativos intangíveis, goodwill, Reconhecimento.

1 - Introdução

Nos últimos anos o Brasil está buscando a adequação das suas normas contábeis com as normas internacionais de contabilidade. Segundo Santos et al (2011) pode-se considerar que o marco regulatório deste processo de convergência foi à lei 11.638/07, a qual estabeleceu à convergência do Brasil às normas internacionais de contabilidade. Também se ressalta neste processo a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) que é uma entidade do direito privado criada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) através da resolução CFC nº 1.055/05. Esta entidade tem como objetivo o estudo, o preparo e a emissão de pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade em consonância com as IFRS ou IAS emitidas pelo IASB. Estes pronunciamentos serão aceitos pelos órgãos reguladores no intuito do alcance da efetiva convergência das normas brasileiras com as normas internacionais de contabilidade. Vale salientar que a escolha da adoção das normas emitidas pelo Comitê Internacional de Padrões de Contábeis (International Accounting Standards Board - IASB) não é uma iniciativa particular, e sim uma tendência mundial, Souza (2009) relata que mais de 100 países já aplicam normas harmonizadas com as International Financial Reporting Standards (IFRS), seja nas demonstrações individuais das companhias, seja nas demonstrações consolidadas.

Esta iniciativa da adoção não pode ser interpretada no sentido de que as normas locais não eram boas, mas que, a adoção das normas internacionais faz com que as grandes diferenças entre normas sejam dirimidas e que haja um maior grau de comparabilidade e entendimento das informações contábeis geradas pelas organizações do país. De acordo (BOWRIN 2008; GJERD et al, 2008.) apesar do dissenso entre pesquisadores, pelo menos em parte, as normas e procedimentos emitidas pelo IASB, às denominadas IAS ou IFRS, são padrões contábeis de maior qualidade, uma vez que a adoção dessas normas pode melhorar a qualidade das informações financeiras publicadas pelas empresas. Neste sentido de harmonização e busca de uma melhor apresentação da informação contábil, houve diversas alterações na lei das sociedades por ações (6.404/76). Dentre as alterações destacamos para este estudo a nova redação do art. 178 da Lei 6.404/1976, alínea c. Sobre esta alteração Crisóstomo (2009, p. 56) afirma que:

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Independente da questão conceitual, a Lei 11.638/2007 separou definitivamente os bens materiais (ativo Imobilizado) dos bens intangíveis, ou imateriais (ativo Intangível) [...] Isto representa um avanço no tratamento de ativos intangíveis. No entanto, se deve observar que a Deliberação CVM 488/2005 já regulava o subgrupo “intangível” para as empresas de capital aberto como um subgrupo do grupo Ativo Não-Circulante.

Também destaca-se para este estudo, a emissão de normas e procedimentos contábeis por intermédio do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Neste sentido, destaca-se o pronunciamento técnico CPC 04 (correlação a IAS 38) o qual trata dos Intangíveis e a CPC 15 (correlação IFRS 3) que trata das combinações de negócios, e dos princípios e exigências para o reconhecimento, mensuração e evidenciação dos ativos identificáveis adquiridos, dos passivos assumidos e das participações societárias de não controladores na adquirida e do ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill adquirido).

Assim, este estudo tem o objetivo de analisar se a transição das normas contábeis locais para IAS/IFRS, em particular aquelas que tratam dos ativos intangíveis (CPC 04) e da combinação dos negócios (CPC 15) acarretou em um maior reconhecimento do goodwill e dos ativos intangíveis pelas empresas brasileiras. Segundo Lhaopadchan (2010), os ativos intangíveis e o goodwill em especial a partir da combinação de negócios, são elementos que cada vez são mais importantes nos balanços consolidados publicados.

Os estudos empíricos sobre os ativos intangíveis nos mercados avançados indicaram que eles são importantes ativos estratégicos (HALL, 1992; NAKAMURA, 2003). Em estudos realizados por Schultze e Weiler (2010) foi identificado que a informação contábil do ágio pode ser usada para medir e para gestão do desempenho gratificante, a fim de atender os objetivos da aquisição e preservar os interesses dos acionistas. Segundo Chareonsuk, Chansa-ngavej, (2010), os ativos intangíveis são a chave estratégica de longo prazo perspectiva de lucro e sustentável vantagem competitiva.

De forma complementar, nesta pesquisa também será verificado se os valores reconhecidos nas demonstrações contábeis pertinentes ao Goodwill e o aos ativos intangíveis impactam no preço das ações e com o retorno das empresas. De acordo com Fama (1992), o preço da ação no mercado de capitais eficiente é ajustado no exato momento em que informações relevantes (que afetam o fluxo de caixa futuro da empresa) tornam-se publicamente disponíveis. Assim, quando os dirigentes comunicam suas decisões [...] ao mercado, o preço da ação ajusta-se automaticamente, capitalizando o valor associado ao conteúdo na nova informação. Haugen (2001), relata que os preços dos ativos devem responder rapidamente e acuradamente a chegada de nova informação relevante para a valoração, as mudanças e retornos esperados dos ativos de um período para o outro devem estar relacionados somente a mudança de nível da taxa de juros livre de risco e a mudanças no nível do risco prêmio associadas ao ativo. 2 Referencial Teórico

2.1 Ativos Intangíveis e Goodwill

Hendriksen e Van Breda (1999) conceituam ativos intangíveis como ativos que carecem de substância. Como tais, esses ativos devem ser reconhecidos sempre que preenchem os requisitos de reconhecimento de todo e qualquer ativo, ou seja, devem atender à definição de um ativo, devem ser mensuráveis e devem ser relevantes e precisos. Outros autores, como Perez e Famá (2004), caracterizam os ativos intangíveis como ativos de natureza permanente, sem existência física e que, à disposição e controlados pela entidade, sejam capazes de produzir benefícios futuros. Já o CPC 04 define ativo intangível simplesmente como ativo não monetário identificável sem substância física.

Enquanto o Goodwill, segundo Iudícibus e Marion (2000), é a diferença entre o valor da empresa e o valor de mercado dos Ativos e Passivos. Por sua vez, Monobe (1986) define o para ele o Goodwill como sendo a diferença entre o valor atual da empresa como um todo, em termos de geração de lucros futuros, e o valor econômico de seus ativos apresentando, portanto, uma característica residual. Já para Johnson e Petrone (1999) o goodwill pode ser visto a partir de duas perspectivas gerais: uma "perspectiva top-dow" que vê o goodwill como sendo um componente ou subconjunto de algo maior, ou uma "perspectiva bottom-up", que o vê como sendo a soma dos componentes que os compõem. Ambas as perspectivas são úteis para

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avaliar o que é goodwill ou o que ela representa no contexto de combinações de negócios. Entretanto, para muitos, a definição do goodwill ainda não é clara. Neste sentido Giuliani e Brannstrom (2011) realizaram um estudo nas demonstrações contábeis de companhias listadas nas bolsas de valores da Itália e da Suécia para identificação da definição do ágio relativo à forma como as empresas descrevem o seu goodwill adquirido de acordo com a IFRS 3 (combinação de negócios), a primeira descoberta que emergiu a partir do estudo foi que parece que a abordagem top-down é ainda predominante, ou seja, o ágio é ainda visto como um resíduo e, conseqüentemente, continua a ser um " caixa " negro.

Deste ponto de vista segundo os autores, é possível notar uma inércia da contabilidade, que provavelmente surge por causa da relutância dos contabilistas para adotar novas práticas e idéias (ou seja, IFRS 3). Isto é combinado com sua hesitação para descartar velhas práticas e idéias, ou seja, considerando o ágio a uma mera diferença. O segundo resultado foi que, em casos quando a composição do ágio é divulgada, três interpretações diferentes são encontradas. A primeira é quando goodwill é considerado como um item de contabilidade útil para representar sinergias, a segunda é quando o goodwill é usado para representar um conjunto de intangíveis que ou não correspondem aos critérios da IAS / IFRS ou as empresas estão relutantes em considerá-los como ativos, apesar de eles serem assim, enquanto o terceiro é uma posição intermediária na qual o ágio inclui sinergias e intangíveis.

2.2 Reconhecimento de Intangíveis

Os critérios para reconhecimento e mensuração de ativos intangíveis estão estabelecidos dentre os itens 18 ao 67 do CPC 04 (R1), mas de forma resumida para que o intangível seja reconhecido como Ativo Intangível deve atender: a) à definição de Ativo Intangível descrita no pronunciamento, e b) aos critérios de reconhecimento. Onde, um ativo intangível deve ser reconhecido apenas se:

(a) for provável que os benefícios econômicos futuros esperados atribuíveis ao ativo

serão gerados em favor da entidade; e (b) o custo do ativo possa ser mensurado com confiabilidade.

Perez e Famá (2006, p. 14) relatam que o Ativo Intangível só deve ser reconhecido como ativo, se ele preencher todos os requisitos de ativo tais como: “a) corresponder à definição apropriada, b) ser mensurável (existência de um atributo de mensuração confiável), c) ser relevante e d) ser preciso (a informação é verificável e neutra)”.

Deste modo para que haja o reconhecimento do ativo intangível, estes devem atender aos pré-requisitos estabelecidos. Entretanto, seguindo apenas o CPC 04 (R1), os ativos gerados internamente não poderiam ser reconhecidos. No entanto segundo Lagioia (2012), por intermédio de uma combinação de negócios (CPC 15 (R1)) estes podem ser reconhecidos, pela entidade adquirente desde que ela possa identificar, controlar e ter uma razoável segurança sobre a geração de benefícios econômicos futuros. Caso contrário, o ativo não poderá ser classificado como intangível e será contabilizado como ágio (goodwill).

2.3 Divulgação de Intangíveis

Antes da introdução das normas internacionais de contabilidade no país, as divulgações sobre ativos intangíveis não seguiam nenhuma norma de divulgação. No entanto, atualmente os ativos intangíveis devem ser divulgados conforme os itens 118 a 123 do CPC 04 (R1), onde podemos destacar resumidamente a necessidade de divulgação de detalhes dos ativos intangíveis, como a vida útil, taxas e métodos de amortização, valor contábil bruto e eventual amortização acumulada, conciliação do valor contábil no início e no final do período, assim como, informações sobre ativos intangíveis que perderam o seu valor de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Deste modo, percebe-se que há uma maior preocupação na divulgação dos itens intangíveis das entidades. No entanto, esta preocupação não é recente. A evidenciação obrigatória do ativo intangível figura dentre as pesquisas mais recentes ocorridas na contabilidade. Como previu Glautier e Underdown (1995), a contabilidade está em um momento de rápida transição. Seu ambiente passou por grandes mudanças nas últimas duas décadas, e um ritmo acelerado de mudanças ainda está na perspectiva para o futuro. Assim, o

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ato da divulgação vem sendo fruto de diversos estudos. A exemplo podemos citar Gerpott, Thomas e Hoffmann (2008), que em estudo na área de telecomunicações, revela que no relatório anual, os níveis da qualidade de divulgação dos intangíveis eram relativamente baixos. Divulgações do intangível foram muitas vezes limitados a pequenas peças de informação qualitativa. Ainda segundo os autores, a qualidade de divulgação dos intangíveis varia significativamente com a região de origem. Os europeus exibem níveis mais elevados de qualidade do que suas contrapartes americanas. O estudo conclui que medidas de divulgação dos intangíveis não foram significativamente relacionadas com critérios financeiros de desempenho. Em outro estudo realizado por Sriram (2008), com duas amostras distintas de empresas, uma com empresas tradicionais (o ativo é composto principalmente por ativo fixo) e outra por empresas de tecnologia (o ativo é composto principalmente por intangível). Os resultados mostraram que ao avaliar empresas com ativos intangíveis, essas empresas usam as informações sobre ativos intangíveis para melhorar a avaliação da saúde financeira. No entanto, variáveis financeiras fundamentais vão continuar a ser importante na sinalização da saúde financeira, independentemente da composição do ativo. Como uma implicação prática desse estudo os autores alertaram que os resultados ajudam aos gestores e aos mercados na utilização com maior cautela ao avaliar as empresas com ativos intangíveis. Desta forma, percebe-se não apenas a necessidade da divulgação, mas também a sua importância sobre os usuários da informação.

2.4 Estudos Anteriores Relacionados ao Intangível

Na década de 1980, o mercado dos EUA foi dominado por ativos tangíveis que compõem cerca de 80 por cento do valor das empresas no mercado. À medida que a economia do conhecimento ganhou dominância, o valor dos ativos tangíveis encolheu substancialmente e os ativos intangíveis tornaram-se cada vez mais importante, refletindo 80% do valor de mercado até o ano 2000 (LEV, 2001; SULLIVAN e SULLIVAN, 2000). A significativa diferença entre valor de mercado das empresas e o valor contábil convida a realização de amplas pesquisas sobre o valor inexplicável ou a reserva oculta ignorada nas demonstrações contábeis. E nesta linha, Lhaopadchan (2010) relata que os ativos intangíveis e o goodwill em especial a partir da combinação de negócios, são elementos que cada vez são mais importantes nos balanços consolidados publicados. Nesta perspectiva, Moeller, (2009) realizou ume estudo com 100 redes de negócios alemães, a partir de dados coletados com chefes dos departamentos de contabilidade gerencial, os resultados evidenciaram o fato de que a evidenciação dos intangíveis está relacionada com o desempenho financeiro da empresa.

Chareonsuk e Chansa-ngavej (2010) em um estudo realizado na Tailândia com 304 gestores, constatou que os ativos intangíveis são a chave estratégica no longo prazo, perspectiva de lucro e uma sustentável vantagem competitiva. E que o lucro financeiro por si só não pode garantir a longo prazo sobrevivência das empresas. Para ser sustentável, as empresas precisam entender e ser capaz de gerenciar os seus ativos intangíveis, incluindo a aprendizagem e crescimento organizacional, processo interno e estrutura externa. Onde, o elemento do processo interno tem efeito sobre a estrutura externa, e o elemento de estrutura externa, por sua vez, tem efeito no desempenho da empresa.

Sahut, Boulerne e Teulon (2011), realizaram uma pesquisa com os ativos intangíveis de 1.855 empresas européias, sendo que o objetivo deste estudo foi analisar o grau de relevância das informações contábeis evidenciadas pelo ágio e demais ativos intangíveis, durante a transição para padrões internacionais. Os resultados desta pesquisa foram:

• Várias empresas têm reclassificado como goodwill os seus ativos intangíveis que não se encaixam com a definição dada pela IAS 38, bem como realizaram reavaliação de ativos intangíveis, a fim de cumprir com esta norma bem como a IFRS 3. Testes empíricos demonstram a confiabilidade da informação transmitida através dos dados contábeis de ativos intangíveis mensurados de acordo com as IFRS, para a maioria dos investidores europeus em nossa amostra, com exceção de investidores italianos e finlandeses.

• Segundo as IFRS, ativos intangíveis são mais reveladores nos preços das bolsas de valores e

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produção do que o goodwill, possuindo critérios mais rígidos para o registro de ativos sob o IAS 38. Consequentemente, investidores – exceto os italianos e finlandeses – parecem dar menos atenção a este ágio do que a outros ativos intangíveis, os quais são percebidos como ativos geradores de benefícios.

• Pequenas diferenças entre os países persistem apesar do uso de normas contábeis habituais e características legais e regulatórias próprias, assim como forças de mercado poderiam ainda influenciar na relevância de valor dos dados contábeis.

Deste modo, percebe-se a importância dos intangíveis para os usuários e organizações. Entretanto deve-

se atentar para o fato de haver possíveis gerenciamento destas informações na influencia na tomada de decisão. Martinez (2001) relata que se caracteriza o gerenciamento de resultados fundamentalmente como alteração proposital dos resultados contábeis (intencional), visando alcançar, atender motivação particular. A gestão “maneja” artificialmente os resultados com propósitos bem definidos, que não são os de expressar a realidade latente no negócio. Como conclusão de sua pesquisa Martinez (2001), constatou que as empresas que manejam “artificialmente” os resultados conseguem no curto prazo seduzir os investidores; entretanto, no longo prazo, o mercado identifica o procedimento e essas ações são penalizadas com os piores desempenhos acumulados.

Estudo realizado por Carlin e Finchem (2010) em 124 grandes companhias da Austrália e Nova Zelândia listadas em bolsas de valores, onde foi constatado que há evidências consistentes do oportunismo na escolha das taxas de desconto na realização de testes de imparidade no goodwill de acordo com as IFRS. Os resultados sugerem a existência de um viés entre empresas australianas e da Nova Zelândia em direção a aplicação de taxas de desconto mais baixas do que o esperado. Isso é interpretado como evidência oportunista do exercício do poder discricionário para evitar perdas por imparidade indesejadas.

3 Hipóteses

A adoção das normas internacionais de contabilidade fez com que as empresas tivessem que utilizar os pronunciamentos contábeis emitidos pelo CPC para reconhecimento dos seus itens patrimoniais.

Deste modo, para que haja o reconhecimento de ativos intangíveis identificáveis, deve-se atender aos ditames do CPC 04 (Ativos Intangíveis): identificação, controle e geração de benefícios futuros. Por outro lado, para os ativos intangíveis não identificáveis (goodwill), devem-se buscar os preceitos do CPC 15 (combinação de negócios). Vale ressaltar que em uma combinação de negócios, reconhecem-se também os ativos identificáveis gerados internamente pela empresa adquirida.

Diante do exposto, infere-se que se tornaram mais rigorosos os critérios para contabilização de ativos intangíveis. De forma inversa, os valores do goodwill tenderiam a aumentar, principalmente quando diante de uma combinação de negócios.

Então, tendo vista os objetivos propostos e para configurar a intenção da investigação foram formuladas as seguintes hipóteses.

H1 – A adoção das normas internacionais provocou uma redução dos valores reconhecidos como intangíveis (INT), que não seja o goodwill.

H2 - A adoção das normas internacionais provocou um aumento dos valores reconhecidos como Goodwill (GW).

H3 - A adoção das normas internacionais provocou um aumento do grupo dos valores totais dos intangíveis (INTTOT), que é representado pela soma dos intangíveis identificáveis (INT) mais o goodwill (GW).

Além disso, a adoção as normas internacionais propostas pelo IASB faz com que as informações patrimoniais das demonstrações contábeis sejam mais detalhadas, e os intangíveis são frequentemente usados por investidores e analistas financeiros como indicadores de previsão do valor da empresa e do

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desempenho da entidade. Assim, será formulada a seguinte hipótese no intuito de analisar se há a correlação entre as informações do intangível reconhecido no balanço patrimonial e o retorno dos investidores no mercado de ações:

H4 – O intangível e o goodwill estão positivamente relacionados com os preços de negociação das ações das empresas.

4 Metodologia

4.1 Coleta de Dados e Seleção de Grupo de Amostra para Teste das Hipóteses H1, H2 e H3.

A nossa amostra foi composta pelas empresas de capital aberto do Brasil cujo tiveram as suas ações negociadas na BM&FBOVESPA, no período de 2005 a 2011. No entanto, para que a empresa fosse objeto de estudo ela teve que atender cumulativamente os seguintes pré-requisitos:

1. Ter publicado as suas demonstrações contábeis na BM&F BOVESPA durante os anos de 2005 a 2011 de forma ininterrupta;

2. Ter algum intangível reconhecido no balanço patrimonial publicado ao menos em um dos anos do período selecionado.

Com relação ao ponto 1, foi considerado apenas as empresas que publicaram suas demonstrações uniformemente, ou seja, durante todos os anos de modo consolidado ou durante todos os anos de forma individual. As exceções foram relacionadas às empresas que durante o período estudado realizaram alguma combinação de negócios, adquirindo o controle de outra entidade e que, por este motivo, passaram a publicar as suas demonstrações de forma consolidada. Por este mesmo motivo, as empresas que perderam o controle de alguma entidade durante o período estudado, e que por isso publicaram as suas demonstrações contábeis de forma individual, também foram excluídas da amostra.

Assim, das 523 empresas que atualmente tem as suas ações negociadas na BMFBOVESPA, apenas 213 foram selecionadas para o estudo.

4.1.1 Definição de Período do Estudo

A adoção das normas internacionais de contabilidade foi iniciada por intermédio da Lei 11.638 de 2007, e com a adoção inicial prevista para o ano de 2008 para as empresas de capital aberto. Deste modo para comprovação destas hipóteses foram estudados os anos de 2005 à 2007 e 2009 à 2011. A escolha destes períodos deve-se ao fato de que nos anos de 2005 à 2007 a contabilidade no Brasil ainda não tinha seguido os padrões internacionais de contabilidade, enquanto durante o período de 2009 à 2011, as empresas já estavam obrigadas a seguir as normas de contabilidade advindas do International Accounting Standards Board – IASB. O ano de 2008 foi retirado do estudo devido o fato deste ter sido o primeiro ano após a adoção das normas internacionais, e muitas das empresas ainda não estavam totalmente adaptadas ao novo padrão proposto. A exemplo, nos balanços publicados pelas empresas no site da BM&F Bovespa no ano de 2008, os balanços patrimoniais não tinham o grupo do intangível apresentado de forma analítica, o que fazia com que as empresas não segregassem os intangíveis identificáveis do goodwill, o que por si só já impossibilitaria testarmos as hipóteses. 4.1.2 Metodologia de Análise dos Dados

Para comprovação das hipóteses foi realizada inicialmente uma análise descritiva dos dados, posteriormente foram realizados dois testes de média. O primeiro foi o teste de estatística t-student e em seguida foi realizado o teste de Wilcoxon.

4.2 Coleta de Dados e Seleção de Grupo de Amostra para Teste da Hipótese H4.

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Para realização do teste da hipótese H4 foram utilizadas as empresas que atenderam aos seguintes pré-requisitos:

• Participar da amostra da análise anterior;

• Estar disponível os preços das ações da empresa 4 meses após ao encerramento do ano fiscal do período selecionado para estudo.

A utilização do preço das ações 4 meses após o final do ano fiscal, deve-se ao fato das empresas publicarem os seus balanços 3 meses após o encerramento do ano fiscal, portanto, os apenas a partir do quarto mês é que o preço destas ações poderiam ser influenciados pelas informações dos intangíveis publicados. Deste modo, das 213 empresas previamente selecionadas, restaram 67 para análise.

4.2.1 Metodologia de Análise dos Dados

Para comprovação da hipótese H4, que associa os intangíveis ao preço das ações, foi utilizado o método proposto por Sahut, Boulerne, Teulon (2011), onde para estabelecer a relevância das informações contábeis relacionadas ao intangível foram utilizados 2 modelos, os quais podem ser evidenciados a seguir:

Px,t = β0 + β1LLPAx,t + β2PLAJPAx,t + β3INTTOTPAx,t + β4ADTIx,t + εx,t (modelo 1) Px,t = β0 + β1LLPAx,t + β2PLAJPAx,t + β3GWPAx,t + β4INTPAx,t + β5ADTIx,t + εx,t (modelo 2)

Px,t = o preço da ação para a empresa x quatro meses após o final do ano fiscal t. LLPAx,t = o lucro líquido por ação para empresa x no tempo t. PLAJPAx,t = o valor contábil do patrimônio líquido por ação, menos o total dos ativos intangíveis, pela empresa x no tempo t. INTTOTPAx,t = o valor contábil dos ativos intangíveis totais por ação da empresa x no tempo t. GWPAx,t = o valor contábil do goodwill por ação da empresa x no tempo t. INTPAx,t = o valor contábil de outros ativos intangíveis por ação para a empresa x no tempo t. ADTIx,t = alta densidade do total de ativos intangíveis para a empresa x no tempo t: média variável igual a 1 se a empresa x tem um total de ativos intangíveis acima da média da amostra, e 0 se não for.

O modelo 1, estuda a relação entre o preço das ações (Px,t), o lucro líquido por ação (LLPAx,t), o valor contábil do patrimônio líquido menos os ativos intangíveis, dividido pela quantidade das ações (PLAJPA), o valor patrimonial do total dos ativos intangíveis por ação (INTTOTPA), e a densidade do total dos intangíveis (ADTIx,t). As empresas cujo total de ativos intangíveis são maiores do que a média da amostra, são consideradas como empresas que tem alta densidade de total de ativos intangíveis (ADTI).

O modelo 2 busca isolar a relevância do valor contábil do goodwill e dos outros intangíveis, para correlacioná-los com o preço da ação. Desta forma, este modelo trabalha com as mesmas variáveis do modelo 1, sendo que, a variável total de ativos intangíveis por ação (INTTOTPA) foi substituída pelas variáveis: valor do goodwill por ação (GWPAx,t), e valor contábil dos outros intangíveis por ação (INTPAx,t).

5 Análise dos Resultados

5.1 Análise Descritiva e Teste de Médias

Na primeira parte da análise, foi utilizada a estatística descritiva e testes de médias no sentido de verificar se da adoção das IFRS provocou uma redução do reconhecimento do ativo intangível identificável e um aumento do goodwill. A análise foi realizada considerando um nível de significância de 5%. Os resultados estão evidenciados na tabela 1.

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Variável Média Mediana Desvio-Padrão Média Mediana Desvio-Padrão teste t p-valor teste-Z p-valor

INT 135.480,83 0,00 775.719,57 1.299.269,39 28.286,00 5.152.836,75 -5,646 0,000 91.924,500 0,000GW 138.074,01 0,00 1.158.336,14 268.581,75 0,00 1.649.541,53 -1,637 0,102 209.151,500 0,242INTTOT 273.554,85 172,00 1.411.877,40 1.567.851,15 40.713,00 5.539.572,83 -5,723 0,000 109.727,000 0,000LL 466.787,59 36.389,00 2.058.383,44 699.086,49 69.752,00 3.193.610,29 -1,546 0,123 185.271,500 0,004PL 3.716.798,36 431.630,00 14.626.935,90 6.798.492,33 729.744,00 29.674.487,28 -2,355 0,019 174.431,000 0,000

BR GAAP - Perído de 2005 à 2007 IFRS - Período de 2009 à 2011 Teste t-student Teste WilcoxonTabela 1 – Estatística descritiva

Fonte: Dados da pesquisa, (2012).

Foi observado através da mediana, que das 213 empresas que fizeram parte da amostra, a maioria delas não tinham nenhum tipo de reconhecimento de ativo intangível identificável e de goodwill no período antes da adoção das IFRS, sendo que esta situação que se modificou no período após a adoção das IFRS.

A análise dos dados nos leva a rejeitar a Hipótese 1, pois como pode se perceber, a adoção das normas internacionais provocou um aumento do reconhecimento dos intangíveis identificáveis. A rejeição da Hipótese 1 vai de encontro ao anteriormente concebido, pois esperava-se que após a adoção das normas internacionais, tornar-se-iam mais rigorosos os fatores que levariam ao reconhecimento destes intangíveis, sendo que tal fato não se comprovou na prática. Este achado, contudo, assemelha-se ao encontrado no estudo de Sahut, Boulerne e Teulon (2011). Em seus estudos, com uma amostra formada por empresas listadas nas Bolsas de Valores da Europa, os autores concluíram que também houve um aumento no reconhecimento dos ativos intangíveis identificados.

Com relação à hipótese 2, apesar de ter havido um aumento de valores reconhecidos como goodwill, não podemos afirmar que foi um aumento estatisticamente significativo (p-valor = 0,102 e 0,242). Dessa forma, rejeitamos essa hipótese ao afirmar que após a adoção das normas internacionais não houve um aumento do reconhecimento do goodwill. Este achado também vai de encontro ao concebido inicialmente, haja vista que se esperava que as normas internacionais provocariam um maior reconhecimento deste ativo, fato este não comprovado nos dados analisados. Nossos achados, neste caso, vão de encontro as comprovações de Sahut, Boulerne e Teulon (2011), os quais comprovaram um aumento significativo do reconhecimento do goodwill.

Em relação a hipótese 3, de acordo com os testes t-student e o teste de wilcoxon, foi verificado um maior reconhecimento dos ativos intangíveis totais, e por este motivo, aceitamos a referida hipótese. Desta forma, podemos afirmar que após a adoção das normas internacionais houve um incremento de reconhecimento dos valores relacionados aos ativos intangíveis. Esta afirmação, todavia, deve ser analisada com certos critérios, haja vista que o fator que provocou este aumento de reconhecimento foi os intangíveis identificáveis, e não o goodwill. Nossos achados corroboram as comprovações de Sahut, Boulerne e Teulon (2011), os quais verificaram um aumento significativo do reconhecimento dos intangíveis totais.

5.2 Análise de Regressão: Modelos (1) e (2)

A tabela 2 apresenta os resultados estatísticos das regressões lineares dos modelos 1 e 2. As estimações do modelo 1 para o período 2005-2007 indicam que o preço das ações é positivamente relacionado à ADTI (5% de significância) e negativamente relacionado ao Lucro Líquido (10% de significância).

Para o período 2009-2011, os coeficientes de ADTI e Lucro Líquido foram estatisticamente significativos (a 10% e 5%, respectivamente) e o coeficiente relacionado ao lucro líquido passa a ser positivo (como seria esperado).

Ainda em relação ao modelo 1, verificou-se que o R2 ajustado mostrou-se mais forte no período compreendido entre 2009-2011 (0,1300) que entre 2005-2007 (0,0411). Este achado pode ser explicado pelo aumento dos intangíveis contabilizados neste período. Contudo, outras variáveis não contidas no modelo podem ter influenciado este valor. Estudos posteriores são necessários para se afirmar com mais precisão esta evidência.

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Resultados equivalentes são encontrados para o modelo 2. Para o período 2005-2007, foram estatisticamente significativos os coeficientes das variáveis Lucro Líquido (10% de significância) e ADTI (5% de significância), sendo o coeficiente negativo para a primeira e positivo para a segunda. No período 2009-2011, os coeficientes dessas variáveis foram estatisticamente significativos, (a 5% e 10%, respectivamente), sendo ambos positivos.

Contudo, observou-se neste modelo 2, que as variáveis Intangíveis Identificáveis e Goodwill não se mostraram estatisticamente correlacionadas ao preço das ações. Isto nos possibilita afirmar que, tudo indica que os investidores não atribuem importância a divulgação relacionada aos ativos intangíveis identificáveis e ao goodwill de forma analítica, ou seja, um com mais importância que outro. Os dados nos mostram que a informação relacionada aos intangíveis é assimilada pelos investidores de forma sintética.

Ainda em relação ao modelo 2, verificou-se que o R2 ajustado também se mostrou-se mais forte no período compreendido entre 2009-2011 (0,1282) que entre 2005-2007 (0,0385). Da mesma forma que explicado anteriormente, este achado também pode ser explicado pelo aumento dos intangíveis contabilizados neste período. Contudo, outras variáveis não contidas no modelo podem ter influenciado este valor.

Tabela 2 – Análise de Regressão (estatística t entre parênteses)

Modelo 1 Modelo 2 2005-2007 2009-2011 2005-2007 2009-2011 Intercepto 2894,71** 16,89** 2883,00** 16,91** (4,95) (10,81) (4,92) (10,81) Lucro Líquido -594,02* 3,45** -567,10* 3,43** (-1,95) (5,13) (-1,85) (5,10) Patrimônio Líquido 0,12 0,001 0,001 0,001 (0,56) (-0,71) (0,004) (-0,71) Intangível Total -566,85 -0,13 (-0,85) (-0,71) Intangíveis Identificáveis -92,53 -0,10 (-0,10) (-0,55) Goodwill -1201,00 -0,58 (-1,05) (-0,94) ADTI 4867,16** 6,14* 5105,00** 6,48* (2,74) (1,75) (2,81) (1,83) N 201 201 201 201

R2 Ajustado 0,0411 0,1300 0,0385 0,1282 Teste F 3,1450** 8,4720** 2,6010** 6,8800**

Fonte: Dados da pesquisa (2012). OBS: Significante a 5% n.s. (**) e 10% (*).

Essa análise nos permite concluir que empresas com elevado nível de ativos intangíveis possuem

ações mais valorizadas no mercado. Além disso, o tipo do ativo intangível (Goodwill ou Outros Intangíveis) não parece ser importante.

Diante do exposto, rejeitamos a Hipótese 4, ao afirmarmos que o ativo intangível identificável e o goodwill não estão positivamente relacionados com os preços de negociação das ações das empresas.

Nossos achados coadunam com os verificados por Sahut, Boulerne e Teulon (2011) no que se refere ao modelo 1. Estes autores verificaram que existe correlação entre os intangíveis totais e o preço das ações. Contudo em suas pesquisas, o R2 ajustado mostrou-se mais expressivo (0,741 para o período anterior a adoção; e 0,815 para o período posterior).

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No que se refere ao modelo 2, os nossos achados divergem em parte dos encontrados por Sahut, Boulerne e Teulon (2011). Estes autores verificaram que em alguns países da Europa, os investidores dão importância diferenciada aos Ativos Identificáveis e ao Goodwill. Contudo isto não foi encontrado em todos os países por eles pesquisados. O R2 ajustado de suas pesquisas também se mostrou mais expressivo que o nosso (0,745 para o período anterior a adoção; e 0,816 para o período posterior). 6 Conclusão

O objetivo deste estudo foi analisar se a adoção das normas contábeis internacionais de contabilidade, em particular aquelas que tratam dos ativos intangíveis (CPC 04) e da combinação dos negócios (CPC 15) acarretou em um maior reconhecimento dos ativos intangíveis. De forma complementar foi verificado se havia alguma correlação entre as informações dos ativos intangíveis reconhecidos nas entidades e os preços das ações.

Os principais achados nos mostram que a adoção das normas Internacionais de Contabilidade advindas do (International Accounting Standards Board - IASB), acarretou em um maior reconhecimento dos ativos intangíveis identificáveis e por conseqüência também houve um aumento no reconhecimento dos ativos totais.

Por outro lado, em relação ao goodwill houve um aumento de reconhecimento, contudo o mesmo pode ser entendido como não estatisticamente significativo. O intangível total apresenta uma correlação com os preços das ações, entretanto, diante dos dados, os usuários da informação não correlacionam o preço das ações com as informações separadas do goodwill ou outros intangíveis de forma particular.

7 Sugestões para pesquisas futuras

Como sugestões para pesquisas futuras, entendemos que o modelo de explicação utilizado para correlacionar o preço das ações com os intangíveis precisaria ser incrementado, com a adição de outras variáveis que reforçassem o R2 ajustado.

REFERÊNCIAS

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Uma Análise de Saberes da Prática de professores de um curso de Graduação em Ciência Contábeis baseada na Abordagem Freireana: Educação Problematizadora?

AUTORES: Izabel de Barros Ribeiro, José Francisco Ribeiro Filho (In Memoriam), Marco Túlio José, Marcelo Victor José.

Resumo

A base conceitual fundamental deste estudo aponta para o legado teórico do professor Paulo Freire, especialmente sua discussão sobre o dilema da educação bancária ou problematizadora. A presente pesquisa objetiva analisar saberes de professores, por meio de dados que serão analisados através da aplicação de um questionário, em um curso de graduação em Ciências Contábeis na perspectiva “freireana” da educação problematizadora. Intenta-se contribuir para uma discussão crítica da atuação de professores de Ciências Contábeis no seu cotidiano de formadores de pessoas e construtores de conhecimento na área. O viés, portanto, não pretende explorar questões mais específicas no âmbito do processo de internacionalização das normas de contabilidade no Brasil, ou mesmo tratar da questão da qualidade ou não de uma instituição de ensino superior ou curso; mas, primordialmente, discutir posturas docentes no contexto de um ambiente educacional criativo e problematizador.

Palavras-chave: Ensino Superior. Educação Bancária. Educação Problematizadora.

1. Introdução

O desafio da educação continua sendo o desafio do próprio homem. O enfrentamento do desconhecido, a conquista civilizatória e a convivência social perpassam como temas permanentes de um projeto social para a educação. Por sua vez, a educação superior incorpora os dilemas do desenvolvimento científico e das novas tecnologias no contexto de um ser humano que se desumaniza no seu esforço por humanizar-se.

Os Bacharéis em Ciências Contábeis estão inseridos no mundo das corporações financeiras, do reconhecimento, mensuração e evidenciação de fenômenos patrimoniais que afetam a vida de empresas, organizações e em última instância, famílias e pessoas. O impacto das Normas Internacionais de Contabilidade e Auditoria que chegam ao Brasil, impõe um tipo de abordagem educacional para as ciências contábeis, que amplia o espaço de tomada de decisão de contadoras e contadores, no que diz respeito ao julgamento dos eventos que direcionam grandes volumes de recursos públicos e privados.

Profissionais de contabilidade devem atuar, agora, orientados muito mais por conceitos e princípios do que por regras muito específicas sobre os eventos contábeis. Uma educação, portanto, que leve ao debate crítico, à problematização de casos, e ao desenvolvimento de habilidades de comunicação oral e escrita. 2. Definição do Problema e Objetivos

A base conceitual fundamental do estudo aponta para o legado teórico do professor Paulo Freire, especialmente sua discussão sobre o dilema educação bancária ou problematizadora. É válido ressaltar que o educador Paulo Freire foi um dos precursores da educação problematizadora, cuja maior contribuição foi a obra “Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa”, na qual o autor discorre sobre a questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativa-progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos.

Os professores, quando chegam à docência na universidade, trazem consigo inúmeras e variadas experiências que adquiriram como alunos de diferentes professores ao longo de sua vida escolar. Experiência que lhes possibilita dizer quais eram bons professores, quais eram bons em conteúdo, mas não em didática, isto é, não sabiam ensinar. (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005). Então, o desafio é o de

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construir a sua identidade de professor universitário, pois os saberes da experiência não bastam. É preciso um trabalho de reflexibilidade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente da identidade pessoal.

Este estudo intenta contribuir para uma discussão crítica da atuação de professores de ciências contábeis no seu cotidiano de formadores de pessoas e construtores de conhecimento na área. O viés, portanto, não pretende explorar questões mais específicas no âmbito do processo de internacionalização das normas contábeis no Brasil, ou mesmo tratar da questão da qualidade ou não de uma instituição de ensino superior ou curso; mas, primordialmente, discutir posturas docentes no contexto de um ambiente educacional criativo e problematizador.

Sob a égide dessas considerações, o presente artigo se orientará pela seguinte questão: estariam os professores de um curso de graduação em Ciências Contábeis fundamentando sua prática docente na perspectiva “freireana” da educação problematizadora? Assim, se busca sugerir saberes necessários à prática educativa como forma de aprimorar ou subsidiar, contribuindo para o desempenho de ensino e aprendizagem, os que trabalham ou que desejam trabalhar sob a perspectiva da educação problematizadora de Paulo Freire. 3. Fundamentação Teórica

A virada do milênio trouxe certo receio para a sociedade em virtude dos avanços da ciência serem produzidos em um ritmo ainda maior do que o século XX, como diz (IMBERNÓN, 2000), “um século com um futuro desconhecido”. (p.18). Segundo o mesmo autor, o século XXI é o mais incerto do que o século XX, em decorrência de “grande parte da humanidade não estar preparada para enfrentá-lo, diante de uma nova forma de ver o tempo, o poder, o trabalho, a comunicação, a relação entre as pessoas, a informação, as instituições, a velhice, a solidariedade.” (op. cit, p.19). Diante dessa desorientação coletiva e das grandes interrogações decorrentes de um futuro desconhecido, que função a educação exercerá neste contexto? A conscientização, processo libertador do homem oprimido, encara educação como problematização. O homem tem que estar consciente para assumir seu papel de sujeito que faz e refaz o mundo; E não apenas o papel de objetos, sem nenhuma participação. (CANDAU, 1988). A práxis humana, ação-reflexão, muito contribuirá para a discussão técnica, através de uma postura crítica face ao momento histórico. Outra ideia importante sobre a nova função do educador é a sua competência técnica aliada a uma metodologia de práxis em seu aspecto crítico e conscientizador. (FREIRE, 2006). Além da reflexão da tarefa de ensinar, há a proposição de estruturação em quatro perguntas fundamentais: a) Por que eu ensino?; b) O que eu ensino?; c) Como eu ensino?; d) A quem eu ensino? Sob esta visão, Tardif (2007, p. 266) orienta: “O objetivo do trabalho docente são seres humanos e, por conseguinte, os saberes dos professores carregam as marcas de seu objeto de trabalho.” O foco de preocupação do objeto de trabalho do professor deve ser o aluno. Por conseguinte, o professor, por ele carregar as marcas do ser humano, suas atitudes deverão ser humanizadas, enfocando a sua responsabilidade para com o aluno. Ainda com (TARDIF, 2007, p. 31):

Se chamados de “saberes sociais” o conjunto de saberes de que dispõe uma sociedade e de educação o conjunto dos processos de formação e de aprendizagem elaborados socialmente e destinados a instruir os membros da sociedade com base nesses saberes, então é evidente que os grupos de educadores, os corpos docentes que realizam efetivamente esses processos educativos no âmbito do sistema de formação em vigor, são chamados de uma maneira ou de outra, a definir sua prática em relação aos saberes que possuem e transmitem.

O professor é, antes de tudo, alguém que detém conhecimentos e que transmite ao outro. Então, que saber é este? Quais os saberes de sua prática pedagógica? Como identificar os saberes da prática docente? Como afirma (TARDIF, 2007, p. 301):

Estas diversas interrogações mostram muito bem que a questão do saber profissional os professores está no centro das reformar atuais e suscita muitos problemas que estão longe de serem resolvidos. O que está em jogo com essa questão é a identidade

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profissional tanto dos professores quanto dos formadores universitários! A concepção do saber profissional tem repercussões diretas na identidade dos profissionais.

São diversas questões que implicam o professor em uma permanente reflexão crítica sobre sua prática docente. Na verdade, o ambiente torna-se sempre complexo, em razão da presença de variáveis que extrapolam o palmilhar mais aproximado do professor e remetem para desafios mais amplos a exemplo da influência institucional das reformas na educação superior. Outro ponto a considerar é a questão da relação entre teoria-prática que contribui para uma análise da problemática de formação dos profissionais de educação. (CANDAU, 1988). Por outro lado tais interações de muitas variáveis, por serem naturalmente complexas, ensejam a oportunidade de um fazer docente mais comprometido, engajado mesmo, permitindo que o docente seja também protagonista ativo neste processo. Conforme ressalta (FÁVERO, 1981, p. 13), quando afirma:

Não é simplesmente freqüentando um curso de pedagogia, fazendo um mestrado ou doutorado em educação que alguém se torna educador. É, sobretudo, comprometer-se como construtor, organizador e pensador permanente do trabalho educativo que o educador se educa. Em particular, a partir de sua prática, cabe-lhe construir uma teoria, a qual, coincidindo e identificando-se com elementos decisivos da própria prática, acelera o processo em ator, tornando a prática mais homogênea e coerente em todos os seus elementos.

Esta perspectiva de um tipo ideal de educador, sob o ponto de vista do redimensionamento da sua formação, não tem sentido definir sua competência técnica em detrimento de um conjunto de atitudes e habilidades estabelecidas. Na verdade, o seu fazer pedagógico (o qual abrange “o que ensinar” e “como ensinar”) deve se fazer articulado “a quem eu ensino” e “por que eu ensino”, expressando a unidade entre os conteúdos teóricos e instrumentais. Afirma (FÁVERO, 1981, p. 19):

[...] a formação do educador não se concretiza de uma vez. É um processo. Não se produz apenas no interior de um grupo, nem se faz através de um curso. É o resultado de condições históricas. Faz-se parte necessária e intrínseca de uma realidade concreta determinada. Realidade esta que não pode ser tomada como alguma coisa pronta, acabada ou que se repete indefinidamente. É uma realidade que se faz no cotidiano. É um processo e, como tal, precisa ser pensado.

Como aspecto fundamental a ser evidenciado, não se forma de uma só vez o educador. É um processo cotidiano e, como tal, exige reflexão. Segundo (SLOMSKI, 2008, p. 2): “A grande maioria dos professores universitários, com exceção dos docentes provenientes das licenciaturas, não contou com a formação sistemática, necessária à construção de uma identidade profissional para a docência.” A ausência de uma formação propedêutica para o magistério superior poderá resultar que os professores apenas exercitem saberes repetitivos, adquiridos historicamente, muito mais condizentes como uma prática docente bancária do que problematizadora. Para Freire, o ensinar não é transferir conhecimento. É preciso que haja uma interação entre o professor e o aluno, para que juntos possam criar possibilidades para a construção do conhecimento. Deste modo, a seguir são apresentadas algumas características das educações bancária e problematizadora discutidas por Paulo Freire:

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CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO

BANCÁRIA NÃO-BANCÁRIA (PROBLEMATIZADORA)

Opressora Libertadora Cultura do silêncio Cultura da reflexão Intelectualismo alienante Senso crítico Monólogo Diálogo Educador e educando: sujeito e objeto do processo Educador e educando: sujeitos do processo Processo "educador-educando" Processo "educador-educando" com "educando-educador" Necrófila Biófila Transferência de conteúdos Produção de conhecimento Quadro 1: Características da Educação Bancária e Não-bancária Fonte: Elaboração própria baseada em Freire (2008)

A concepção bancária na educação, também chamada de “concepção antidialógica” distingue a ação do educador, como àquele que adquire conhecimentos; dos educandos como àqueles que recebem o conhecimento “memorizando-o mecanicamente” de forma passiva e acrítica. O educador “o depositante”, o que educa, pensa, disciplina é o sujeito do processo, enquanto que os educandos ao contrário tem papel passivo que se adéquam a sua autoridade funcional, sendo meros objetos. Quanto mais os educandos serem tratados como “depositários”, menos serão capazes de libertarem-se dessa situação de opressão, sem questionar o próprio que ocupa na sociedade. Dessa forma, a “educação bancária” como prática da dominação, mantém o educando na ingenuidade condicionando-o a adaptarem-se ao mundo de opressão, negando-se como sujeito de suas ações e de conquistar a própria autonomia. (FREIRE, 2008). No que tange à educação problematizadora, não seria possível a sua prática fora do diálogo e, sobretudo, sem o rompimento característico da educação bancária. Enfatiza o educador Paulo Freire, que evitar o diálogo é temer a liberdade e não crer no povo, pelo que chama a atenção para que não se deixem arrastar para posturas características das classes dominadoras, como a absolutização da ignorância, a descrença no homem e a impossibilidade do diálogo. Há uma participação ativa no processo de ensino-aprendizagem. Há diálogo constante entre professores e alunos, no sentido de encontrarem, juntos, soluções para determinados problemas, gerando, dessa forma, discussões e debates. A aprendizagem é concebida como a resposta natural do aluno ao desafio de uma situação-problema. Enfim, no método bancário, o professor só ensina e o aluno só aprende. Na educação problematizadora há troca de conhecimentos, tanto o aluno quanto o professor aprendem e ensinam respectivamente, pois essa troca de conhecimentos é bilateral; enquanto que na educação bancária o conhecimento é unilateral.

A pedagogia da autonomia de Paulo Freire, em seu poder de síntese, apesar de ser um livro de poucas páginas, mas de uma densidade de ideias jamais vista em nenhuma de suas obras, vem abordar algumas das questões fundamentais para a formação de educadores/as de forma objetiva. Freire (2010), portanto, sugere práticas e mostra a possibilidade dos educadores/as estabelecerem novas relações e condições de educabilidade deles/as entre si, dentro de cada um deles/as e com os seus educandos/as.

Sua linguagem além de ser calma e tranquila, ao mesmo tempo é inquieta e problematizadora a serviço do pensar, do decidir e do optar para a ação transformadora. Neste livro, Paulo Freire faz um chamamento aos educadores para ensinarem aos seus educandos a serem Seres mais. O seu bem querer pelos seres humanos, a sua fé na educação está vivamente presente, evidenciando-lhe um apaixonado pelo mundo e pela vida. Pedagogia da Autonomia é o livro que sintetiza a sua pedagogia do oprimido e o engrandece como gente.

Segundo Freire (2010), “adverte-nos para a necessidade de assumirmos uma postura vigilante contra todas as práticas de desumanização”. Ele anuncia a solidariedade enquanto compromisso histórico de homens e mulheres, como uma das formas de luta capazes de promover e instaurar a ética universal do ser

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humano. Dessa forma, a “Pedagogia da Autonomia” apresenta vinte e sete saberes necessários à prática educativa que serão elucidados em seguida.

3.1 NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA

Primeiro conjunto de saberes necessários à prática educativa que é àquele baseado na relação entre o educador e o educando, em que o docente e o discente interagem entre si na construção do conhecimento. Para Freire (2010, p. 23) não há docência sem discência; as duas se explicam e seus sujeitos, “apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro.” “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, conforme apresenta o Quadro 2 à seguir:

SABERES SÍNTESE

1. Ensinar exige rigorosidade metódica.

Nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.

2. Ensinar exige pesquisa.

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.

3. Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos.

O dever de não só respeitar os saberes socialmente construídos na prática comunitária, mas também discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos.

4. Ensinar exige criticidade.

A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital.

5. Ensinar exige estética e ética.

Não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza de mãos dadas.

6. Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo.

O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que mando e não o que eu faço”.

7. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação.

A disponibilidade ao risco é própria do pensar certo, a aceitação do novo que não que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo. O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo. Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação.

8. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática.

Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.

9. Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.

Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo.

Quadro 2: Primeiro Conjunto de Saberes Necessários à Prática Educativa. Fonte: Elaboração adaptada baseada em Freire (2010)

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No que tange ao ensino universitário, Freire (2010) discorre sobre a importância da pesquisa na atitude de ensinar, onde justifica o nome “educação problematizadora”, àquilo que nunca está construído, mas sempre em construção; e, também, sobre o reconhecimento e assunção da identidade cultural do educando, sobre o cuidado do mesmo que tem acesso a universidade cada vez mais jovem e sem experiência de vida e profissional para justificar a sua escolha por um curso universitário sobre o qual edificará sua vida profissional.

Dessa forma, Freire (2010) entende que aquilo que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. Assim, como há uma relação entre o ensino, a pesquisa e a extensão; há àquela ligação entre o professor e pesquisador, não há uma separação entre ambos, a natureza de um é intrínseca à do outro. 3.2 ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONHECIMENTO

Segundo conjunto de saberes necessários à prática educativa, onde Freire (2010) retoma várias vezes ao afirmar que é preciso que haja uma interação no ensino-aprendizagem entre o professor e o aluno, na qual ambos possam criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção do conhecimento pois ensinar não é transferir conhecimento.

SABERES SÍNTESE

1. Ensinar exige consciência do inacabado.

O ser inacabado ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há algo inacabado.

2. Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado.

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente de ser inacabado, sei que posso ir mais além dele. A minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere.

3. Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.

4. Ensinar exige bom senso.

A vigilância do meu bom senso tem uma importância enorme na avaliação que, a todo instante, devo fazer de minha prática. O exercício do bom senso, com o qual só temos o que ganhar, se faz o “corpo” da curiosidade.

5. Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores.

A luta dos professores em defesa de seus direitos e da sua dignidade deve ser entendida como um momento importante da sua prática docente, enquanto prática ética. O meu respeito de professor à pessoa do educando, à sua curiosidade, à sua timidez, que não devo agravar com procedimentos inibidores exige de mim o cultivo da humildade e da tolerância.

6. Ensinar exige apreensão da realidade.

O melhor ponto de partida para estas reflexões é a inconclusão do ser humano de que se tornou consciente. Aí radica a nossa educabilidade, bem como a nossa inserção num permanente movimento de busca em que, curiosos e indagadores, não apenas nos damos conta das coisas, mas também delas podemos ter um conhecimento cabal. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito.

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7. Ensinar exige alegria e esperança.

Enquanto clima ou atmosfera do espaço pedagógico, nunca deixei de estar alegre. Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que o professor e os alunos podem aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria.

8. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível.

Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. É a partir deste saber fundamental que mudar é difícil, mas é possível.

9. Ensinar exige curiosidade.

O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve.

Quadro 3: Segundo Conjunto de Saberes Necessários à Prática Educativa. Fonte: Elaboração adaptada baseada em Freire (2010)

Além do mais, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando, sendo um dos principais

saberes apresentados por Freire (2010, p. 59 e 86), “quando o professor respeita o educando em todos os seus aspectos dá a liberdade necessária para que ele seja curioso e não temeroso, para que haja o diálogo entre as partes, havendo assim espaço para a construção mútua do conhecimento entre docente e discente.” 3.3 ENSINAR É UMA ESPECIFICIDADE HUMANA

Terceiro conjunto de saberes necessários à prática educativa, que, conforme Freire (2010) o professor deve ter em seu perfil: segurança, competência profissional, generosidade dentre outros saberes; e que ensinar exige uma especificidade humana, conforme Quadro 4 abaixo:

SABERES SÍNTESE

1. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade.

A segurança com que a autoridade docente se move implica uma outra, a que se funda na sua competência profissional. O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico.

2. Ensinar exige comprometimento.

Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.

3. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.

Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica é de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.

4. Ensinar exige liberdade e autoridade.

O grande problema que se coloca ao educador ou à educadora de opção democrática é como trabalhar no sentido de fazer possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente pela liberdade. Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade a tem, eticamente falando.

5. Ensinar exige tomada consciente

Há uma necessidade de criarmos, em nossa prática docente, entre outras, a virtude da coerência. Não há nada talvez que desgaste

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de decisões. mais um professor que se diz progressista do que sua prática racista, por exemplo.

6. Ensinar exige saber escutar.

É necessário saber escutar. É escutando que aprendemos a falar com os outros. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar a ele. Quem aprende a escutar para poder falar não fala impositivamente. O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele.

7. Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica.

No exercício crítico de minha resistência ao poder manhoso da ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando sabedoria indispensável a minha prática docente.

8. Ensinar exige disponibilidade para o diálogo.

Testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são saberes necessários à prática educativa.

9. Ensinar exige querer bem aos educandos.

É preciso estar aberto ao gosto de querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano.

Quadro 4: Terceiro Conjunto de Saberes Necessários à Prática Educativa Fonte: Elaboração adaptada baseada em Freire (2010)

Ao descrever sobre os saberes expostos no quadro anterior, Freire (2010) retoma várias vezes à questão de ser contra o autoritarismo docente que não respeita a autonomia dos educandos, do professor arrogante que nega a generosidade, a humildade e o querer bem ao educando.

Freire (2010, p. 117) afirma, ainda, que “é intolerável o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário de comportar-se como o proprietário da verdade de que se apossa e do tempo para discorrer sobre ela”. O autor afirma ainda que o clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, o caráter formador do espaço pedagógico, portanto, é autenticado por este clima de respeito, sem a descaracterização do exercício da autoridade docente no cumprimento ético de seu dever. 4. Metodologia

Foi elaborado um questionário estruturado em duas partes, sendo a primeira com questões abertas, e múltipla escolha; e a segunda com perguntas, utilizando-se uma escala gradativa tipo Likert, com variações desde discordo totalmente até concordo totalmente. Este instrumento de pesquisa foi aplicado em uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada, sem fins lucrativos, com doze anos de experiência em ensino superior e sede na cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco. A escolha foi não-probabilística pelo fato da aproximação e acesso facilitado a tal IES. Em seguida, as respostas foram analisadas no contexto da educação problematizadora proposta por Paulo Freire. Para fins de confecção de gráficos, lançou-se mão do software Microsoft® Excel, integrante do pacote Microsoft® Office, em sua versão 2003. Assim, tal pesquisa se caracteriza como indutiva/dedutiva e qualitativa/quantitativa quanto exploratória.

5. Análise e Discussão

Na Instituição de Ensino Superior, onde o questionário foi aplicado, o curso de graduação em Ciências Contábeis possui em sua equipe de professores o seguinte quantitativo com as respectivas formações acadêmicas: seis especialistas, onze mestres e dois doutores, totalizando dezenove docentes. Por

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problemas externos fora do controle da Coordenação do Curso e empecilhos advindos dos desencontros com os docentes, apenas sete professores responderam ao questionário, sendo três especialistas e quatro mestres (Gráfico 1). Dessa maneira, o estudo será conduzido por meio da análise e discussão dos instrumentos coletados.

Formação Acadêmica dos Docentes

43%

57%

Especialização Mestrado

Gráfico 1: Formação Acadêmica dos Docentes Fonte: Elaboração própria

No Gráfico 2, se evidencia a atuação profissional em docência do ensino superior numa proporção de 57% com referência ao período compreendido entre 6 à 11 anos; 29% de 0 à 5 anos; e, finalmente, um patamar de 14% referente ao intervalo de 12 à 17 anos.

Atuação Profissional em Docência do Ensino Superior

29%

57%

14%

0 à 5 anos 6 à 11 anos 12 à 17 anos

Gráfico 2: Atuação Profissional em Docência do Ensino Superior Fonte: Elaboração própria

Quantos aos docentes respondentes, os instrumentos foram identificados pelas seguintes

nomenclaturas: professor A; professor B; professor C; professor D; professor E; professor F; e professor G. Na pergunta “1.1 – Por que eu ensino?” os professores A, B, C, D, E, F e G responderam as

questões da seguinte forma, respectivamente: “Influência da família materna”; “Oportunidade de passar conhecimentos”; “Opção e crença na educação”; “Oportunidade de repassar experiências”; “Para educar

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através do conhecimento”; “A profissão que escolhi”; “Porque gosto de sentir que contribuo para o crescimento pessoal e profissional de um indivíduo”.

Na pergunta “1.2- O que eu ensino?” os professores A, B, C, D, E, F e G responderam as questões da seguinte forma, respectivamente: “Disciplinas da área de economia”; “Prática, vivência”; “Contabilidade, finanças”; “Prática, dia-a-dia, estudos de casos”; “A técnica para que a prática seja concisa”; “O conhecimento social e historicamente produzido pela humanidade”; “Administração, finanças e matemática financeira”.

Na pergunta “1.3 - Como eu ensino?” os professores A, B, C, D, E, F e G responderam as questões da seguinte forma, respectivamente: “Através de aulas expositivas e com a participação dos discentes”; “Baseado em procedimentos metodológicos vem natureza reflexiva”; “O modo para aprendizagem ser eficaz”; “Com exercícios do cotidiano”; “Aulas expositivas, buscando o estímulo ao pensamento crítico”; “Buscando repassar o conhecimento”; “Tento conciliar o tradicional com o inovador”.

Na pergunta “1.4 - A quem eu ensino?” os professores A, B, C, D, E, F e G responderam as questões da seguinte forma, respectivamente: “Alunos de instrução de ensino superior privadas”; “Aos parceiros de sala de aula”; “Alunos do curso de ciência contábeis”; “Aos colegas de sala de aula”; “A quem quer aprender e a quem não tem consciência do que o aprendizado representará em sua vida”; “A quem se dispõe a ler criticamente as relações humanas”; “Ensino a pessoas adultas que estão no ensino superior”.

No que diz respeito à práxis humana, ação-reflexão em seu aspecto crítico e conscientizador, e as considerações da educação bancária e problematizadora citadas por Freire anteriormente, observamos no Gráfico 3 abaixo, portanto, que seis professores responderam a questão 1.1, sendo identificados como de característica bancária; por outro lado, apenas um aponta como característica problematizadora. Quanto a questão 1.2, dois professores responderam, sendo identificados como de característica problematizadora; e cinco docentes responderam na mesma questão, sendo identificados como característica bancária. Na questão 1.3, apenas três das respostas foram identificadas como característica problematizadora; e quatro das respostas como sendo de característica bancária. E, finalmente, na questão 1.4, quatro das respostas foram identificadas como característica bancária; e três sendo identificadas como característica problematizadora.

6

1

5

2

4

3

4

3

0

1

2

3

4

5

6

Docentes

1.1 1.2 1.3 1.4

1ª Questão - Proposições

Caracterização da Práxis Humana Segundo Paulo Freire

Bancária Problematizadora

Gráfico 3: Caracterização da Práxis Humana Segundo Paulo Freire Fonte: Elaboração própria Na segunda questão (Gráfico 4), onde mostra a caracterização do processo de construção do

conhecimento, resultado da descrição da interação entre o professor e o aluno nas aulas da graduação, sabendo que o processo de construção do conhecimento se dá, podemos assim dizer, por meio de uma “via dupla”, ou seja, o processo educador-educando, com educando-educador, visando à produção do conhecimento e não apenas transferência de conteúdos (FREIRE, 2008, p. 71), se obteve que seis das

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respostas foram identificadas como característica bancária; e apenas uma das respostas foram identificadas como sendo de característica problematizadora.

6

1

0

1

2

3

4

5

6

Docentes

2ª Questão

Caracterização do Processo de Construção de Conhecimento

Bancária Problematizadora

Gráfico 4: Caracterização do Processo de Construção de Conhecimento Fonte: Elaboração própria

Assim, no que se refere à terceira questão (Gráfico 5), a atuação do docente em sala de aula, as

atitudes que devem ser permanentemente humanistas, respeitando às relações interpessoais discente/discente e docente/discente, frutos de uma caracterização do perfil profissional; cinco das respostas foram identificadas como sendo de característica bancária; e duas identificadas como sendo de característica problematizadora.

5

2

0

1

2

3

4

5

Docentes

3ª Questão

Caracterização do Perfil Profissional

Bancária Problematizadora

Gráfico 5: Caracterização do Perfil Profissional Fonte: Elaboração própria

E dentre os vários procedimentos metodológicos que são aplicados em sala de aula pelos professores que responderam ao questionário, foram elencados os mais utilizados, por ordem de preferência, à saber:

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Proporção Percentual dos Procedimentos Metodológicos

Mais Aplicados em Sala de Aula

21%

7%

14%

30%

14%

7%

7%

Part. Ativa nas Disc. Quadro Branco e Pincel Seminários

Leitura em Grupo Estudo de Caso Pesquisa em Laboratório

Reflexão e Disc. de Artigos

Gráfico 6: Proporção Percentual dos Procedimentos Metodológicos mais Aplicados em Sala de Aula Fonte: Elaboração própria

Tendo em vista as análises realizadas até aqui, a pesquisa aponta, em face das limitações no que se

refere à formação profissional para o magistério superior, uma predominância da concepção bancária em detrimento da concepção problematizadora, observados nos Gráficos 3 à 5, evidenciados anteriormente. Entretanto, se pode concluir, ainda, à partir do Gráfico 6, que as respostas dos docentes, apesar de serem identificadas numa perspectiva de educação bancária, vista anteriormente, quanto aos procedimentos metodológicos aplicados em sala de aula, evidenciou-se uma prática de ensino com características tanto bancárias como problematizadoras.

No que diz respeito à última questão, as proposições foram segregadas por variáveis denominadas V01 à V17 onde se estimula a exposição de opiniões quanto as aulas de graduação em ciências contábeis, no tocante de um contexto educacional criativo e problematizador, variando entre duas zonas de discordância até duas zonas de concordância.

Dentro do contexto de um ambiente educacional criativo e problematizador, as opiniões dos docentes defendem em sua grande maioria uma concordância parcial muito relevante, sem muita certeza desse ambiente educacional problematizador enfatizado. Por outro lado, há uma variação pequena de certeza total para esse mesmo ambiente educacional criativo. (Gráfico 7)

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Consulta de Opinião Quanto ao Contexto de um Ambiente

Educacional Criativo e Problematizador - Perspectiva Geral

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

V01

V02

V03

V04

V05

V06

V07

V08

V09

V10

V11

V12

V13

V14

V15

V16

V17

Variáveis

Proporção Percentu

al dos

Níveis de Concordância

Discordo Totalmente 1 Discordo Parcialmente 2

Concordo Parcialmente 3 Concordo Totalmente 4

Gráfico 7: Consulta de Opinião Quanto ao Contexto de um Ambiente Educacional Criativo e Problematizador – Perspectiva Geral Fonte: Elaboração própria

Ainda no Gráfico 7, levando-se em consideração, também, as variações das zonas de discordância

(parcial e total), aponta novamente para uma não certeza quanto a esse ambiente educacional problematizador. Portanto, se deduz que há uma prática docente mista, ou seja, um ensino tanto tradicional, bancário e problematizador ao mesmo tempo, levando-se em consideração que há uma tendência muito relevante para uma prática de ensino bancário, tecnicista. 6. Considerações Finais

Ao analisarmos as respostas abertas e fechadas, constatamos percepções pedagógicas bem diferenciadas entre um grupo de docentes de um curso de graduação em ciências contábeis, e que suas práticas não se fundamentam num contexto de um ambiente educacional criativo e problematizador, pois obtivemos, desta maneira, um resultado de ensino misto, tanto o ensino tecnicista, bancário como o ensino problematizador, já que a variação de frequência dos seus níveis de concordância apontaram para a zona maior de concordância parcial; e, discordância parcial e total relevante, não estando bem certos de que é esta a sua visão de prática de ensino. Todavia, poderíamos deduzir, que há uma tendência, por assim dizer, de acordo com as respostas do questionário, que aquele grupo de professores fundamenta sua prática docente na perspectiva bancária, tecnicista.

Finalmente, como proposta para futuros trabalhos, novas pesquisas deverão ser realizadas, no sentido de investigar e quantificar, com um público maior de respondentes, visando aprofundar o assunto que já foi abordado, determinando, quanto às práticas docentes, se as suas posturas de educador estão sendo fundamentadas dentro de uma perspectiva de educação bancária ou problematizadora.

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7. Referências ALMEIDA, Fernando José de. Folha Explica Paulo Freire. São Paulo: Publifolha, 2009. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2011. CANDAU , Vera Maria. (org.) Rumo a uma nova didática. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 1988. FÁVERO, M. de L. A formação do educador: desafios e perspectivas. Série Estudos, Rio de Janeiro: PUC/RJ, 1981. FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3ª ed. São Paulo: Centauro, 2006. ______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2010. ______. Pedagogia do Oprimido. 47ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. IMBERNÓN, Francisco (Org.). A educação do século XXI: os desafios do futuro imediato. 2ª ed. Porto Alegre: 2000. PIMENTA, Selma G.; ANASTASIOU, Léa das Graças C. Docência no ensino Superior. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. SLOMSKI, Vilma G. Saberes que Fundamentam a Prática Pedagógica do Professor de Ciências Contábeis. In: 8º Congresso USP de Controladoria e Contabilidade da FEA USP, Anais do 8º congresso USP Controladoria e contabilidade: padrões de qualidade na Pesquisa Contábil. São Paulo: FEA/USP, 2008. Disponível em: <www.congressousp.fipecafi.org/artigos82008/633.pdf-Similares>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2011. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 8ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

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8. Apêndice Questionário aplicado aos docentes

QUESTIONÁRIO AOS DOCENTES

Observações: Não é necessário se identificar. A aplicação do questionário está estruturado em duas partes, sendo a primeira com questões abertas e múltipla escolha; e a segunda estruturada com perguntas utilizando-se uma escala gradativa tipo “Likert”, com variações desde discordo totalmente até concordo totalmente. Em seguida, as respostas serão analisadas no contexto da educação problematizadora proposta por Paulo Freire. O nome da Instituição de Ensino Superior será preservado (não será publicado).

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1) A práxis humana, ação-reflexão, muito contribuirá para essa nossa discussão técnica, através de uma postura face ao momento histórico. Outra ideia importante sobre a nova função do educador é a sua competência técnica aliada a uma metodologia de práxis em seu aspecto crítico e conscientizador. (FREIRE, 2006). A tarefa de ensinar faz-nos não apenas refletir, mas também estruturar quatro perguntas fundamentais. Explique: 1.1) POR QUE EU ENSINO? __________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 1.2) O QUE EU ENSINO? __________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 1.3) COMO EU ENSINO? __________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 1.4) A QUEM EU ENSINO? __________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 2) O processo de construção do conhecimento se dá, podemos assim dizer, por meio de uma “via dupla”, ou seja, o processo educador-educando, com educando-educador, visando a produção do conhecimento e não apenas transferência de conteúdos. (FREIRE, 2008, p.71). Como você descreve essa interação entre o professor e o aluno nas aulas da graduação? __________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3) No que diz respeito a atuação do docente em sala de aula, as atitudes devem ser permanentemente humanistas, respeitando às relações interpessoais discente/discente e docente/discente. Faça seu comentário. __________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4) Indique nos parênteses abaixo, por ordem de sua preferência (1, 2, 3, ...), quais os seus procedimentos metodológicos que são aplicados em sala de aula: ( ) aula expositiva dialogada com recurso de data-show; ( ) leitura em grupo e debate do texto indicado; ( ) estudo de casos com debates; ( ) pesquisa em laboratório de informática; ( ) reflexão e discussão de artigos científicos; ( ) No seu dia-a-dia em sala de aula, a maioria dos alunos participam ativamente nas discussões; ( ) aula expositiva;

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( ) visita a empresas; ( ) palestras; ( ) seminários; ( ) vídeo conferências; ( ) quadro branco e pincel; ( ) retroprojetor para transparências; ( ) Outros. Especifique:_________________________________________________________________ 5) Indique nos parênteses abaixo, sua formação superior: ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado 6) Quantos anos de atuação profissional em docência do ensino superior? Indique com um “X”: a) 0 à 5 anos b) 6 à 11 anos c) 12 à 17 anos d) 18 à 23 anos e) 24 anos em diante 7) Em sua opinião, no tocante ao contexto de um ambiente educacional criativo e problematizador, as aulas da graduação em ciências contábeis, de um modo geral:

Discordo Totalment

e

Discordo Parcialment

e

Concordo Parcialment

e

Concordo Totalment

e 1 2 3 4 intentam reunir informações sugestivas com o intuito de lançar espaços discursivos objetivando reflexões críticas.

apontam atitudes e estratégias presentes numa metodologia de ensino construtivista.

cultivam o incentivo à novas ideias e o gosto pela descoberta e busca de novos conhecimentos.

fazem perguntas desafiadoras que motivam os alunos a pensar e raciocinar.

promovem a autoconfiança e o debate com estímulo à participação de todos os alunos.

valorizam atividades de caráter investigativo.

limitam-se à transmissão de conhecimentos teóricos.

são como espaço de ação e reflexão, fruto do diálogo.

respeitam os saberes do educando. exigem uma prática docente crítica. exigem consciência do inacabado. exigem o respeito à autonomia e à dignidade de cada um e é um

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imperativo ético. exigem segurança, competência profissional e generosidade.

exigem comprometimento e saber escutar.

sugerem práticas docentes que favorecem a criatividade.

adotam uma postura consciente de valorização da vida, do que é humano.

valorizam a transmissão de informações técnicas.

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Um Estudo sobre as Informações Contábeis do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (Demonstrativo Simplificado) do Governo Federal: Quanto ao Cumprimento das Exigências Legais

da Lei de Responsabilidade Fiscal.

AUTORES: João Marcelo Batista, Marcelo Jota Gomes, Ana Lúcia Fontes, Marco Tullio.

Resumo

O presente trabalho aborda o estudo do conteúdo das informações contábeis do Relatório Resumido de Execução Orçamentária, em seu demonstrativo simplificado, do Poder Executivo Federal (Governo Federal), nos exercícios de 2008 a 2010, respondendo a problemática: As informações contábeis contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) do Governo Federal, em sua forma simplificada, atendem aos requisitos de legalidade exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal? Com o objetivo de Analisar as informações contábeis contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), em sua forma simplificada, quanto ao atendimento aos requisitos de legalidade exigidos pelos artigos 52 e 53 da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) Sendo discutidos tópicos como: Reforma administrativa do estado, contribuição da Lei de Responsabilidade Fiscal no controle dos recursos públicos, a contribuição da contabilidade e suas implicações (características informacionais, processo de comunicação e as mudanças na aplicação do setor público). O método abordado na pesquisa foi o método dedutivo, permitindo chegar a dados gerais a partir de dados particulares, com auxílio de planilhas elaboradas para melhor análise dos dados, os resultados da pesquisa apresentaram o cumprimento da maioria das obrigatoriedades para elaboração e divulgação do Relatório Resumido de Execução Orçamentária, sendo, portanto, um verdadeiro instrumento de transparência e controle social.

Palavras chave: Contabilidade Governamental; Informação Contábil; Lei de Responsabilidade Fiscal.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo busca a discussão das informações contábeis contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) quanto ao cumprimento dos requisitos legais exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mais precisamente os artigos 52 e 53, que exigem que o conteúdo do referido relatório deva conter determinadas informações elaboradas e divulgadas através de demonstrativos. Além de verificar o atendimento quanto às características qualitativas da informação contábil, expressas na Resolução CFC 785/1995, que apresentam atributos que regem as informações contábeis contidas no RREO.

Antes dos resultados da pesquisa realizada segundo os requisitos acima, será feito um breve referencial quanto a tópicos importantes ao tema, como: A reforma administrativa do estado, as contribuições da legislação pertinente, a contribuição da contabilidade (sua fincão social, o processo de comunicação contábil e ainda mudanças importantes ocorridas no setor público) e a relação da accountability com a administração pública brasileira.

Serão discutidos ainda tópicos sobre o Relatório Resumido de Execução Orçamentária e sobre as Características Qualitativas da Informação Contábil, nesse tópico serão discutidas as exigências quanto à legislação pertinente no Brasil e ainda cada característica da informação contábil aplicada através da Resolução CFC 785/95 e outra contribuição da literatura e legislação complementar.

Por fim, serão apresentados os resultados da pesquisa documental orientada pelo método que permite chegar a conclusões particulares a partir de dados gerais, os dados serão comparados e será feita uma análise de conteúdo quanto ao atendimento a legislação já citada, quanto a legalidade e qualidade da informação contábil. Esses dados serão analisados através das informações contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária do governo federal (União), em sua forma simplificada, nos exercícios de 2008, 2009 e 2010, disponíveis no site da Secretaria do Tesouro Nacional.

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1. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVO

Desde a Reforma Gerencial de 1995, definida no Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado (PDRAE), que tem um escopo orientado para tornar a administração pública mais eficiente e mais voltado para a cidadania, busca-se romper com uma administração pública burocrática com estrutura ineficiente, vem sendo substituída por outra que toma por princípio uma nova gestão pública, que flexibiliza os processos e os regulamentos burocráticos, principalmente no seu modelo de administração.

Até o final da década de 1990, a administração pública estava pautada no objetivo do cumprimento da obrigatoriedade exigida pela legislação, principalmente a legislação que regia os orçamentos e a estrutura financeira do estado, ou seja, a lei 4.320/1964, que assegurada pela Constituição Federal de 1988, no art. 5º, inciso XV, letra b, deixa claro a sua função que é estatuir normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

Nesse contexto de transformações esse novo modelo de administração preocupa-se não só com o cumprimento das obrigatoriedades legais, mas, também com a gestão por resultados, adotando assim um sistema mais gerencial e não puramente burocrático, um modelo que priorizava o cumprimento do orçamento com eficiência e eficácia e esse processo ficou conhecido como reforma administrativa do estado brasileiro.

Um marco para o processo de mudanças na forma de gerir o estado é a edição da lei complementar 101/2000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que trouxe contribuições na responsabilização do estado, mais precisamente de seus governantes no mau uso do dinheiro público, causado por desvio de verbas, crimes na gestão fiscal e demais abusos de gestores que desequilibram as contas públicas.

Mas, não foi só atribuindo responsabilidades aos governos que a LRF contribuiu, outro enfoque foi a atenção dada a questão da transparência na gestão dos recursos públicos e na execução orçamentária, através da criação do Relatório de Gestão Fiscal (RGF) e Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO). Esses relatórios representam de informações sobre como o dinheiro público está sendo arrecadado e como está sendo utilizado e a partir desses fatores saber quais as verdadeiras prioridades do governo.

Nesse processo de mudanças trazidas pela reforma gerencial do estado e pela edição da LRF, trazendo a transparência na gestão pública como conseqüência do acesso da população as informações sobre os recursos que dela provém, é necessário enfatizar a discussão da transparência a partir do entendimento da Accountability, que apesar de não ter uma tradução literal, tem-se a colaboração de Fêu (2003) definindo como:

A accountability requer o acesso do cidadão à informação e a documentações relativas aos atos públicos, as formas pelas quais seus governantes estão decidindo em seu nome ou gastando o dinheiro que lhes foi entregue sob forma de tributos, portanto, a qualidade da democracia praticada na sociedade depende o grau de transparência das ações governamentais.

Esse entendimento reforça a idéia da contribuição desses relatórios e das informações contidas

neles. Uma das inovações da LRF foi o Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), que já era exigido pela C.F. em seu artigo 165, §3º, que estabelece que o Poder Executivo publique até trinta dias após cada bimestre o referido relatório, com objetivo de permitir que cada vez mais a sociedade conheça e analise o desempenho da gestão dos recursos públicos.

Mas, para que esses relatórios sejam realmente utilizados pela sociedade é necessário o empenho, por parte de quem os produz, em melhorar cada vez mais a qualidade das informações contábeis contidas nesse relatório. Para isso é necessário entender que a contabilidade tem um papel fundamental nesse exercício, que é gerar informações com qualidade para que seus diversos usuários as utilizem para o atendimento de suas necessidades.

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Considerando os fatos apresentados, com o objetivo de ampliar a discussão sobre os efeitos das informações contábeis na compreensão dos seus usuários e a utilização dessas informações no conhecimento e análise da gestão pública foi alcançado o seguinte questionamento: As informações contábeis contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) do Governo Federal, em sua forma simplificada, atendem aos requisitos de legalidade exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal?

O objetivo desta pesquisa foi analisar as informações contábeis contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), em sua forma simplificada, quanto ao atendimento aos requisitos de legalidade exigidos pelos artigos 52 e 53 da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), para responder ao objetivo geral estabeleceram-se como objetivos específicos: Relatar a reforma gerencial do estado brasileiro a partir de 1995 culminando com a edição da LRF em 2000, bem como as conseqüências dessas transformações para a administração pública brasileira; evidenciar os processos da exigência de elaboração e divulgação do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), pelo poder executivo a partir da LRF; relacionar os princípios da teoria accountability aos princípios da administração pública contidas no plano diretor; relacionar a função social da contabilidade e o processo de comunicação contábil na produção e divulgação de informações no setor público e analisar o conteúdo do RREO, do Governo Federal, a fim de verificar o atendimento aos requisitos exigidos pela LRF.

2. METODOLOGIA DE PESQUISA

O método utilizado nesse estudo permite chegar a conclusões particulares, partindo-se de dados gerais, o qual se denomina abordagem dedutiva, segundo Lakatos e Marconi, 2001. Desta forma, a partir da pesquisa realizada a respeito das informações contábeis contidas no Relatório Resumido de Execução Orçamentária será realizada uma análise quanto ao atendimento aos requisitos de legalidade exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Quanto ao tipo de pesquisa que norteia este trabalho é a pesquisa documental, pois, caracteriza-se pela coleta de dados, realizada através do site da STN (SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL), que monitora e publica esse tipo relatório, e a técnica utilizada é a documentação indireta, pois, foram consultados livros, publicações científicas, artigos de internet, papers, revistas, jornais e monografias (LAKATOS & MARCONI, 2001), que auxiliam na contextualização do trabalho.

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3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1 A REFORMA ADMINISTRATIVA DO ESTADO

O estado brasileiro passou por profundas modificações em sua estrutura administrativa, pois, através do PDRAE - Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado trouxe um novo perfil de gestão pública para o Brasil.

Vejamos a conceituação de Matias Pereira (2005): Assim, com a determinação de reformar o Estado brasileiro, procurou-

se criar novas instituições legais e organizacionais que permitissem a uma burocracia profissional e moderna ter condições de gerir o Estado. Inicialmente sob a responsabilidade do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), foram estabelecidas inúmeras condições para que o governo federal pudesse aumentar sua governança. Com esse propósito, elaborou-se o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, como um instrumento balizador da reforma e modernização do Estado (PDRAE/MARE, 1995).

Quando adotou um modelo de gestão por resultados buscando cada vez mais a eficiência na administração dos recursos públicos diante de um modelo que se tornou ultrapassado por ser puramente burocrático e conseqüentemente ineficiente.

Para melhor entendermos, Bresser Pereira (2000), esclarece o objetivo do plano:

Através do documento básico da reforma – o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado – documento cujos princípios continuam orientando a ação reformadora do governo, procurou-se definir as instituições e estabelecer as diretrizes para a implantação de uma administração pública gerencial no país.

É importante ressaltar que uma das grandes contribuições dessa reforma gerencial do estado brasileiro foi a mudança de postura do estado em assumir o seu papel de gestor por completo, que busca a eficiência da gestão e presta contas dos resultados obtidos de acordo com as metas traçadas para o cumprimento dos objetivos, ou seja, o cumprimento de informar a sociedade como está sendo gasto o dinheiro público. 3.2 CONTRIBUIÇÕES DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

A LRF representa a preocupação do estado brasileiro em tornar questões como: Ética, prestação de

contas e responsabilidade na gestão fiscal e dos recursos públicos nos principais fundamentos da administração pública brasileira, fazendo da transparência de gestão uma obrigatoriedade. Permitindo que sociedade e estado não estejam mais tão distantes um do outro, permitindo a esta uma avaliação de governança de maneira mais eficiente, nessa mesma idéia Culau e Fortis (2006), trazem a argumentação:

A transparência, entendida como produção e divulgação sistemática de informações, é um dos pilares em que se assenta a LRF. Conferir transparência, além de se constituir em um dos requisitos fundamentais da boa governança cumpre a função de aproximar o Estado da sociedade, ampliando o nível de acesso do cidadão às informações sobre a gestão pública. Os governantes, ao estarem

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obrigados a prestar contas de sua gestão, submetem o seu desempenho à avaliação da sociedade.

A sociedade necessitava de instrumentos que facilitassem o acesso a informações sobre a utilização do dinheiro público, já que sempre foi a principal financiadora dos serviços públicos, devido à alta carga tributária que tem que desprender. Esses instrumentos são os relatórios divulgados, que permitem que a população os resultados da gestão governamental em determinado período. A LRF trouxe um importante instrumento de acompanhamento e avaliação de gestão, principalmente na área orçamentária, o Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO).

Esse relatório já era exigido pela constituição para publicação por cada chefe do poder executivo, em até trinta dias após o término de cada bimestre, mas a Lei de Responsabilidade fiscal o tornou obrigatório e estabelece normas para publicação e elaboração desse relatório. O Manual de Demonstrativos Fiscais sintetiza:

O Relatório Resumido da Execução Orçamentária – RREO é exigido pela Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, que estabelece em seu artigo 165, parágrafo 3º, que o Poder Executivo o publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre. A União já o divulga, há vários anos, mensalmente. O objetivo dessa periodicidade é permitir que, cada vez mais, a sociedade, por meio dos diversos órgãos de controle, conheça, acompanhe e analise o desempenho da execução orçamentária do Governo Federal. A Lei Complementar nº 101, de quatro de maio de 2000, que se refere às normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, estabelece as normas para elaboração e publicação do RREO. (Manual de Demonstrativos Fiscais, 2ª ed., 2009, pag. 6).

Com isso, o grande papel da Lei de Responsabilidade Fiscal, foi, além de atribuir responsabilidade

aos governantes, é fornecer instrumentos para a população exercer sua função de principal órgão fiscalizador da gestão dos recursos públicos, a cidadania ativa e finalmente o exercício do controle social.

3.3 ACCOUNTABILITY NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Quando se discute transparência e ética na gestão pública, não podemos esquecer-nos de trazer à questão da accountability, que, apesar de não ter uma tradução literal, está relacionada com a responsabilização da organização em prestar contas dos resultados da gestão dos recursos, no caso do setor público, a prestação de contas da gestão dos recursos públicos.

Fêu (2003) conceitua accountability: Accountability representa a obrigação que a organização tem de prestar contas dos resultados obtidos, em função das responsabilidades que decorrem de uma delegação de poder.

Existem instrumentos de controle que auxiliam na aplicação da accountability, como instrumentos de controle interno, que auxiliam na fiscalização dos atos das próprias entidades aplicando punições quando cabidas e instrumentos de controle externo, que auxiliam na fiscalização das entidades, por parte de órgãos fiscalizadores independentes da organização.

Mas, a principal preocupação da accountability não é meramente a fiscalização da gestão e sim que a sociedade consiga estabelecer uma relação de confiança para com o serviço público.

3.4 FUNÇÃO SOCIAL DA CONTABILIDADE

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A função social da contabilidade é fornecer informações sobre as variações que afetam seu objeto de estudo, o patrimônio, para que seus usuários as utilizem para satisfação de seus objetivos e em suas tomadas de decisões.

Nessa mesma linha de pensamento temos a argumentação de Cochrane (2005): O principal objetivo da Contabilidade é o seu usuário, interno e externo, quer sejam acionista, sócio, proprietários, credores, financiadores, investidores, fornecedores, governos, empregados quer seja a sociedade. Pouca importância terá uma informação contábil se a utilidade a que se destina é nula. A informação contábil é um instrumento para a tomada de decisões, portanto, deve atender a todos os objetivos a que se destina.

Não há diferença no objetivo da contabilidade aplicada ao setor público, conforme a Resolução CFC 1.128/08, item quatro:

O objetivo da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é fornecer aos usuários informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, financeira e física do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para a instrumentalização do controle social.

Mas, tratando de função social, no setor público, a contabilidade ganha um espaço mais amplo, atingindo a administração pública como um todo e alcançando a prestação de contas e a instrumentalização do controle social, conforme a Resolução CFC 1.128/08, item 6 :

A função social da Contabilidade Aplicada ao Setor Público deve refletir, sistematicamente, o ciclo da administração pública para evidenciar informações necessárias à tomada de decisões, à prestação de contas e à instrumentalização do controle social.

Essas informações precisam seguir ditames legais, princípios e normas da própria classe contábil, no entendimento de que essas informações cheguem aos usuários de forma segura com documentação que as justifique. 3.5 CAPACIDADE INFORMACIONAL E PROCESSO DE COMUNICAÇÃO CONTÁBIL

Este entendimento da função social da contabilidade, de fornecer informações para tomada de

decisões, podendo ser mais bem embasado, após a discussão sobre a capacidade informacional e o processo de comunicação contábil.

Entendamos primeiro o conceito de informação defendido por Dias ET AL (2004): A informação pode ser considerada como um conjunto de dados úteis e organizados com isenção de viés. A ausência de viés retira o caráter tendencioso e subjetivo da informação e corrobora a idéia de que poderá ou não servir como instrumento modificador de opinião.

Dias ET AL (2004), também argumentam quanto à capacidade da informação em alterar a realidade de entidades em ambiente de competição e negócios:

A informação exerce um poder segregativo e modificador de realidades bastante significantes, pois a capacidade de obtê-la com tempestividade, clareza e confiabilidade pode fortalecer e gerar oportunidades para as organizações em um ambiente competitivo.

Quando se aplica o conceito de informação a ciência contábil, mais precisamente as informações contidas nos relatórios e demonstrações, têm como principal objetivo o atendimento das necessidades diversas dos usuários, através desses relatórios e demonstrações. Por isso Hendriksen e Van Breda (2009, p. 511):

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A divulgação financeira deve fornecer informação útil à tomada de decisões racionais de investimento, concessão de crédito etc. por investidores e credores atuais e futuros, bem como outros usuários.

Visando o usuário, a contabilidade deve focar em como as informações contidas nos relatórios

devem ser elaboradas e divulgadas, pois sendo uma Ciência Social Aplicada, tem o poder de influenciar no cotidiano das pessoas e das entidades, nas decisões mais simples até as mais complexas. Por isso, os profissionais de contabilidade devem ficar atentos a elaboração desses relatórios.

3.6 INFORMAÇÃO CONTÁBIL NO SETOR PÚBLICO

Relacionadas à informação contábil gerada e publicada por órgãos que monitoram a contabilidade aplicada ao setor público temos questões que servem como embasamento para essas discussões, como por exemplo: As transações no setor público, registro contábil e as demonstrações contábeis.

Para alcançar a discussão da qualidade das informações produzidas e divulgadas é preciso entender as transações no setor público. A Resolução CFC 1138/08 define-as como:

Transações no setor público: os atos e os fatos que promovem alterações qualitativas ou quantitativas, efetivas ou potenciais, no patrimônio das entidades do setor público, as quais são objetos de registro contábeis em estrita observância aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público.

Dentre essas transações cabe destacar que a própria resolução CFC 1138/08, em seus itens 08 e 09 divide-as em transações que afetam o patrimônio e transações que não afetam o patrimônio, nomeando-as de quantitativas e qualitativas respectivamente:

8. Entendem-se como variações quantitativas àquelas decorrentes de transações no setor público que aumentam ou diminuem o patrimônio líquido.

9. Entendem-se como variações qualitativas àquelas decorrentes de transações no setor público que alteram a composição dos elementos patrimoniais sem afetar o patrimônio líquido.

Essas transações geram registros que com certeza serão contabilizados referentes aos efeitos no patrimônio, esses registros devem obedecer à ordem cronológica, sendo registrados por especializados sistemas de informação. Assim a resolução CFC 1132/08, item três:

A entidade do setor público deve manter procedimentos uniformes de registros contábeis, por meio de processo manual, mecanizado ou eletrônico, em rigorosa ordem cronológica, como suporte às informações.

Como conseqüência dessa resolução foi emitida a norma NBC T 16.5, que em sua redação dá ao setor público as características necessárias ao registro de informações contábeis, como a seguir:

São características da informação contábil no Setor Público: (a) objetividade; (b) confiabilidade; (c) comparabilidade;

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(d) compreensibilidade; (e) uniformidade; (f) verificabilidade; (g) visibilidade; (h) tempestividade; (i) utilidade; (j) imparcialidade (k) fidedignidade; e (l) representatividade.

A norma ainda preocupa-se em responsabilizar a contabilidade pelos procedimentos de segurança

mantidos para a escrituração contábil: “As entidades públicas devem desenvolver procedimentos que garantam a segurança, a preservação e a disponibilidade da escrituração contábil mantida em sistemas eletrônicos”.

3.7 RELATÓRIO RESUMIDO DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA (RREO)

O Relatório Resumido de Execução Orçamentária é um demonstrativo que permite a análise da

evolução do orçamento. É elaborado pelo Poder Executivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sendo divulgado até trinta dias após o fim de cada bimestre.

O referido relatório já era exigido pela Constituição Federal em seu artigo 165, § 3º - O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária. Obedecendo a legislação a União já divulgava esse relatório no período recomendado, ou seja, ao final de cada bimestre.

Porém, com a edição da Lei Complementar de maio de 2000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal, houve uma preocupação maior com esse relatório, ou seja, estabelecimento de normas para elaboração e publicação do RREO.

O Manual de Demonstrativos Fiscais denota: O Relatório Resumido da Execução Orçamentária – RREO é exigido pela Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, que estabelece em seu artigo 165, parágrafo 3º, que o Poder Executivo o publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre. A União já o divulga, há vários anos, mensalmente. O objetivo dessa periodicidade é permitir que, cada vez mais, a sociedade, por meio dos diversos órgãos de controle, conheça, acompanhe e analise o desempenho da execução orçamentária do Governo Federal. A Lei Complementar nº 101, de quatro de maio de 2000, que se refere às normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, estabelece as normas para elaboração e publicação do RREO. (Manual de Demonstrativos Fiscais, 2ª ed., 2009, pag. 6).

O RREO compreende vários órgãos da administração direta e entidades da administração indireta,

sendo essas informações elaboradas a partir dos dados contábeis consolidados dessas instituições, assim regra o Manual de Demonstrativos Fiscais:

O RREO e seus demonstrativos abrangerão os órgãos da Administração Direta e entidades da Administração Indireta, de todos os Poderes, constituídos pelas autarquias, fundações, fundos especiais, empresas públicas e sociedades de economia mista que recebem recursos dos Orçamentos: Fiscal e da Seguridade Social, inclusive sob a forma de subvenções para pagamento de pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária.

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... As informações deverão ser elaboradas a partir dos dados contábeis consolidados de todas as unidades gestoras, no âmbito da Administração Direta, autarquias, fundações, fundos especiais, empresas públicas e sociedades de economia mista. (Manual de Demonstrativos Fiscais, 2ª ed., 2009, pág. 6).

A própria fonte dos procedimentos ainda disponibiliza o desdobramento de cada informação para

melhor esclarecimento aos usuários, para que essas informações se apresentem sem nenhuma dúvida quanto ao seu significado facilitando o exercício da transparência.

4. RESULTADOS DA PESQUISA

No artigo 52, a Lei de Responsabilidade Fiscal, exige a divulgação do Balanço Orçamentário, esta demonstração contém todas as despesas empenhadas assim como contém todas as receitas previstas. Também fazem parte dessa composição, o inciso I e as alíneas a, que exige a divulgação das receitas que foram realmente realizadas e as que ainda irão se realizar, bem como a previsão atualizada de realização dessas receitas, e a alínea b exigem a divulgação da despesa por sua natureza, especificando a que se referem ao exercício, as liquidadas e o saldo remanescente.

No inciso II é exigida a divulgação dos demonstrativos referentes à execução das despesas e receitas, especificadas nas alíneas a, b e c. Na alínea a, é exigida a divulgação da execução das receitas especificando as fontes, as previsões de cada período e a previsão a realizar, na línea b é exigida a divulgação das despesas comparando as dotações com as que foram de fato liquidadas e na alínea c são divulgadas todas as despesas liquidadas por função e subfunção.

No artigo 53, é exigida a divulgação dos demonstrativos que acompanharão o Relatório Resumido de Execução Orçamentária. Em seus incisos I, II, III E IV, exige respectivamente, a apuração, a evolução e

DO RELATÓRIO RESUMIDO DE EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA EXERCÍCIO Art. 52. O relatório a que se refere o § 3o do art. 165 da Constituição abrangerá

2008 2009

Poderes e o Ministério Público, serão publicados até trinta dias após o encerramento de cada

e composto de: balanço orçamentário, que especificará, por categoria econômica, as:

a) receitas por fonte, informando as realizadas e a realizar, bem como a previsão atualizada; ATENDE ATENDE ATENDEb) despesas por grupo de natureza, discriminando a dotação para o exercício, a despesa

ATENDE ATENDE ATENDE

demonstrativos da execução das:

a) receitas, por categoria econômica e fonte, especificando a previsão inicial, a previsão

a o exercício, a receita realizada no bimestre, a realizada no exercício e a

ATENDE ATENDE ATENDE

b) despesas, por categoria econômica e grupo de natureza da despesa, discriminando dotação

inicial, dotação para o exercício, despesas empenhada e liquidada, no bimestre e no exercício; ATENDE ATENDE ATENDE

c) despesas, por função e subfunção. ATENDE ATENDE ATENDE

§ 1º Os valores referentes ao refinanciamento da dívida mobiliária constarão destacadamente

nas receitas de operações de crédito e nas despesas com amortização da dívida. NÃO ATENDE NÃO ATENDE NÃO

ATENDE

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desempenho das receitas correntes líquidas; as receitas e despesas previdenciárias; o resultado nominal e primário e as despesas com juros. Já no inciso V é exigida a divulgação dos restos a pagar, que são despesas empenhadas no exercício anterior e ainda não liquidadas.

Fonte: elaboração do autor Fonte: Elaboração do Autor

5. CONCLUSÃO

O Relatório Resumido de Execução Orçamentária, em sua forma simplificada, cumprindo a maioria

das exigências gerais e específicas dos artigos 52 e 53 da lei de responsabilidade fiscal (LRF). As exigências do artigo 52 são referentes ao relatório em sua forma completa, que, nesta tabela

encontram-se divulgadas na sua forma simplificada, com exceção do § 1º que divulga essas informações no relatório em sua forma completa.

No artigo 53, o relatório também cumpre a maioria das informações, mas algumas informações precisam ser mais bem esclarecidas. Por exemplo, no §1° quando ressalta a exigência ao cumprimento do artigo 167 da Constituição Federal, inciso III, conforme o § 3o do art. 32, essa informação, embora seja justificada pela legislação, deve ser mais bem explicada.

Essa informação trata justamente das operações de créditos, que ultrapassem o valor das despesas de capital autorizadas pelo poder legislativo, com exceção das despesas que foram autorizadas mediante créditos suplementares.

Ainda no artigo 53, pode-se notar que no §1º em todos os seus dispositivos exige o cumprimento das obrigações para com a divulgação das informações em seu último bimestre. Esse trabalho tem como foco o relatório resumido anual (dos exercícios de 2008, 2009 e 2010), portanto acumulado, contendo também as informações do último bimestre de cada ano. Quanto às informações do §2º, não foram apresentadas, pois, a Secretaria do Tesouro Nacional, órgão competente para elaboração e divulgação do relatório, julgou não sendo necessária a divulgação.

Um importante fator a ser ressaltado é que, mesmo não sendo exigido, em sua forma simplificada, o relatório divulga a informação dos gastos de serviço com saúde.

Art. 53. Acompanharão o Relatório Resumido demonstrativos relativos a: EXERCÍCIO da receita corrente líquida, na forma definida no inciso IV do art. 2o, sua evolução, 2008 2009

assim como a previsão de seu desempenho até o final do exercício; ATENDE ATENDE receitas e despesas previdenciárias a que se refere o inciso IV do art. 50; ATENDE ATENDE resultados nominal e primário; ATENDE ATENDE despesas com juros, na forma do inciso II do art. 4o; Restos a Pagar, detalhando, por Poder e órgão referido no art. 20, os valores inscritos, os

pagamentos realizados e o montante a pagar. ATENDE ATENDE § 1º O relatório referente ao último bimestre do exercício será acompanhado também de

do atendimento do disposto no inciso III do art. 167 da Constituição, conforme o § 3o do art.

ATENDE ATENDE das projeções atuariais dos regimes de previdência social, geral e próprio dos servidores

ATENDE ATENDE da variação patrimonial, evidenciando a alienação de ativos e a aplicação dos recursos

ATENDE ATENDE § 2º Quando for o caso, serão apresentadas justificativas: da limitação de empenho; NÃO APRESENTA NÃO APRESENTA NÃO APRESENTA da frustração de receitas, especificando as medidas de combate à sonegação e à evasão

fiscal, adotadas e a adotar, e as ações de fiscalização e cobrança. NÃO APRESENTA NÃO APRESENTA NÃO APRESENTA

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Com os resultados obtidos em relação ao Relatório Resumido de Execução Orçamentária, do governo federal, em sua forma simplificada, sendo objeto de estudo os exercícios de 2008, 2009 e 2010, pelo atendimento da maioria das informações às exigências aos artigos 52 e 53 da Lei de Responsabilidade Fiscal, pode-se concluir que este relatório atende aos requisitos de legalidade e conseqüentemente representa instrumento de transparência e controle dos gastos públicos. 6. REFERÊNCIAS

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Um Estudo da Relação da Gestão de Custo, Volume e Lucro de Combustíveis Fósseis e Orgânicos em Revendedoras de Combustíveis da Cidade de Belo Jardim – PE, com Estudos de Impactos

Ambientais.

AUTORES: José Gilberto, Andresson Fernandes, Josimar Cordeiro.

Resumo

O trabalho teve como objetivo evidenciar a relação entre a rentabilidade dos combustíveis fósseis e orgânicos em revendedoras de combustíveis da cidade de Belo Jardim - PE aos impactos ambientais destes mesmos produtos. Para isso utilizou-se de análises documentais das vendas, custos e despesas relacionados aos produtos, sendo as análises dos impactos ambientais elaborados a partir das pesquisas de Ferreira, Pino e Kruger (1996). Em termos de metodologia, utilizou-se a do tipo descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa e quantitativa. Observou-se que muitas vezes os produtos mais rentáveis para as empresas, como é o caso da gasolina e do diesel, com percentuais de participação na margem total de 51,86% e 44,65% respectivamente, são também os que possuem os maiores índices de emissão de poluentes com percentuais de 33,07% para a gasolina e 38,44% para o diesel. Já os que causam os menores impactos ambientais, como o etanol com percentual de emissão de poluentes de 20,44% e o gás natural com 8,05%, possuem uma participação muito pequena nas vendas ou muitas vezes não são comercializados. Portanto, conclui-se que a contabilidade frente à gestão dos recursos financeiros deve ter como objetivo aplicações que gerem sustentabilidade econômica, social e ambiental para a entidade.

Palavras-chave: Gestão de custos, combustíveis, sustentabilidade.

1. INTRODUÇÂO

Segundo Ferreira, Pino e Kruger (1996) a sociedade tem padecido em decorrência dos problemas ambientais causados por produtos ou componentes que afetam o meio ambiente e acabam se refletindo em tragédias contra a fauna e flora, como também em agressões diretas a saúde da população, como é o caso dos combustíveis fósseis e orgânicos, que pela sua combustão geram impactos sócios ambientais.

Desta forma, estudar a gestão empresarial versus a gestão ambiental torna-se um fator determinante para o cumprimento do postulado ambiental da continuidade da organização, continuidade esta, que está atrelada a sustentabilidade econômica e ambiental da entidade, tendo em vista que alguns recursos são escassos e precisam ser utilizados de forma a não comprometer a capacidade de geração de recursos futuros, necessários a sua sobrevivência, (TINOCO e KRAEMER, 2006). Observando-se tal fato surge à necessidade de empresas responsáveis e determinadas não apenas em aumentar as riquezas do acionista, mas também em proporcionar o bem estar social e a sustentabilidade ambiental.

A análise da relação custo/volume/lucro em meio à complexidade dos processos e da necessidade de entendimento do negócio torna-se indispensável, tendo em vista que fornecem informações relevantes quanto aos impactos causados por alterações nos custos dos produtos, nos preços de vendas e no volume produzido/vendido na rentabilidade do investimento feito pelos acionistas, (WERNKE, LEMBECK e MENDES, 2011). Sendo tais avaliações fundamentais para se ter uma melhor performance no ambiente a qual a empresa está inserida.

Nessa direção esse estudo teve objetivo principal evidenciar a relação existente entre a rentabilidade dos combustíveis fósseis e orgânicos com estudos de impactos ambientais destes mesmos produtos no contexto de duas revendedoras de combustíveis da cidade de Belo Jardim – PE.

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Nesse sentido, buscou-se responder à seguinte questão de pesquisa: Qual a relação entre a rentabilidade dos combustíveis fósseis e orgânicos em revendedoras de combustíveis da cidade de Belo Jardim - PE com estudos de impactos ambientais destes mesmos produtos? Para tanto, fez-se necessário implementar a análise CVL nas entidades, coletar estudos sobre os impactos ambientais causados por estes produtos e analisar a relação existente entre a rentabilidade dos produtos e os impactos causados pelos mesmos. 2. Revisão da Literatura

2.1 Relação Custo, Volume e Lucro

A análise da relação custo, volume e lucro, conforme expõem Garrison e Noreen (2001, p.164) “é considerada um instrumento vital em muitas decisões empresariais, como, por exemplo, quais produtos fabricar ou vender, qual política de preços seguir, qual estratégia de mercado adotar e que tipo de instalações produtivas adquirir”. Tais análises se tornam fundamentais para a empresa se manter competitiva, tendo em vistas os grandes avanços tecnológicos e a grande oferta de alguns produtos.

O entendimento e aplicabilidade da relação custo, volume e lucro (CVL), como expõe Martins (2003) não tem como finalidade apenas o fornecimento do preço de venda, mas uma serie de outras aplicabilidades. A partir da contabilidade de custos e das possíveis alternativas de aplicação da mesma sobre as decisões empresariais, torna-se possível analisar o negócio de forma a maximizar os resultados sobre o investimento.

Uma das ferramentas da análise CVL, conforme mencionam Garrison e Norren (2001) é a margem de contribuição, que é o que resta da receita de vendas depois da dedução dos custos e despesas variáveis. Ainda, segundo o mesmo autor pode ser considerado o montante responsável por cobrir os custos e as despesas fixas e posteriormente o lucro do período. Desta forma caso a margem de contribuição não seja suficiente para cobrir as despesas fixas o resultado do período será prejuízo.

Para Horngren, Datar e Foster (2004, p.57) a margem de contribuição “representa a receita menos os custos variáveis que contribuem para a recuperação de custos fixos”. A margem de contribuição como especificado é a diferença entre a receita e os custos variáveis, sendo que a contribuição total de cada produto varia em função da quantidade vendida, contribuição esta, responsável por gerar recursos para pagamento dos custos fixos e lucro para os sócios.

Para o calculo da margem de contribuição deduz-se da receita bruta de vendas apenas os custos variáveis, sendo os custos fixos lançados contra o resultado, já que mesmo caso o produto venha a ser cortado os custos fixos não deixarão de existir (MARTINS, 2000). Sendo este um instrumento importante para as tomadas de decisões pela empresa, tendo em vista que para o calculo da mesma são utilizados apenas os custos variáveis, ou seja, os que variam de acordo com a produção.

Para Garrison e Noreen (2001) a análise da margem de contribuição unitária, se torna mais eficaz ao ser combinado com o mix de vendas de cada produto, já que é possível obter maior retorno em produtos que tenham uma menor margem de contribuição, mas que possuem um mix de vendas maior. Portanto, ao se analisar a margem de contribuição de cada produto não se deve apenas levar em consideração sua contribuição unitária, mas a contribuição total de cada produto, procurando entender à relação entre a margem unitária e volume vendido.

Quanto à contribuição gerencial da margem de contribuição podem-se elencar alguns benefícios de acordo com Santos (2000, apud WERNKE, LEMBECK E MENDES 2011), já que a mesma proporciona a administração decidir, quais produtos merecem maior atenção, quais devem ser tratados como secundários, ajudando a avaliar ainda quais devem ser mantidos apenas pelos benefícios que trazem a outros.

Conforme mencionam Garrison e Noreen (2001) a separação entre custos fixos e variáveis facilita o planejamento, o controle e a tomada de decisões. Sendo possível segundo os mesmos com base na abordagem da contribuição elaborar uma nova demonstração do resultado, primeiramente deduzindo-se os

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custos variáveis das vendas para obter a margem de contribuição e em seguida deduzindo-se os custos fixos para se obter o resultado do período.

Portanto, a elaboração de um modelo de demonstração com base na margem de contribuição torna-se muito útil aos gestores ajudando aos mesmos em diversas análises gerenciais e setoriais como “[...] na avaliação do desempenho gerencial, no relatório setorial dos dados dos lucros e na elaboração do orçamento e, além disso, ajuda os gerentes a organizar os dados referentes a todas as decisões especificas” Garrison e Noreen (2001, p.144).

2.2 Sustentabilidade

Devido ao grande crescimento demográfico da população que vem ocorrendo mundialmente desde

meados do século XIX, com a Revolução Industrial, o uso dos recursos naturais tornou-se cada vez mais necessário, implicando principalmente na degradação destes, pela utilização de forma inadequada, Braga et al (2005).

Para a gestão da qualidade empresarial tem-se a necessidade de que sejam implantados sistemas organizacionais e de produção que valorizem os bens naturais, as fontes de matérias- primas e os grupos sociais de forma a gerar um processo sustentável de produção e desenvolvimento (TINOCO e KRAEMER, 2006). Portanto o processo de gestão empresarial precisa começar a ser analisado não apenas considerando a rentabilidade de cada produto, mais mensurando sua influência e impacto causado, seja ele ambiental ou social.

Segundo Tinoco e Kraemer (2006) a sustentabilidade ambiental pode ser definida como aquela que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de geração de recursos futuros. Visto o que foi abordado anteriormente, a utilização de combustíveis fósseis e de outros tipos de produtos que são facilmente esgotáveis deve ser conduzida de forma equilibrada tendo em vista que os recursos muitas vezes são escassos e comprometem a sua utilização futura.

Conforme se observa, a continuidade da entidade depende das operações realizadas pela mesma, onde as interferências do ambiente e qualquer decisão tomada pelos responsáveis influenciarão diretamente seus ativos e passivos, de forma que, decisões mal pensadas ou influências negativas poderão provocar sérios danos, sejam eles de composição qualitativa ou quantitativa no patrimônio da entidade, e levar a sua extinção.

De acordo com Massa, Novak e Souza (2008, p.2) “a forma de relacionamento das organizações com o meio-ambiente e os seus diversos públicos vai determinar se suas práticas são sustentáveis ou não”. Considerando esta afirmativa a entidade deve estar revendo constantemente seus processos e analisando os impactos causados sobre o ambiente interno e externo, de forma a manter uma sustentabilidade social, econômica e ambiental.

Para Catelli (2001) a responsabilidade social da entidade em relação ao uso dos recursos de forma adequada, reflete diretamente nos resultados da mesma. Desta forma a relação da entidade com seu ambiente externo geram impactos diretos em seu desempenho econômico. 2.2.1 Combustíveis Fósseis e Orgânicos e o Impacto Ambiental

De acordo com Ferreira, Pino e Kruger (1996) a utilização dos combustíveis é um dos principais

fatores que acarretam na poluição do ar, pois os automóveis, usinas termoelétricas, e fábricas espalhadas pelo mundo os utilizam como fonte de energia, os quais são responsáveis pela emissão de diversos compostos tóxicos que agridem tanto ao meio ambiente quanto a saúde da população.

A poluição atmosférica causada pela emissão de poluentes, causam efeitos globais conforme aborda Braga et al (2005), sendo detectado recentemente o efeito estufa e a redução da camada de ozônio, que podem trazer consequências no clima e no equilíbrio global do planeta. Sendo os combustíveis fósseis um dos responsáveis pelo aquecimento do planeta de acordo com Houghton et al (2001) apud Spittlehouse e

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Stewart (2003). Desta forma torna-se necessário uma conscientização da sociedade sobre as questões ambientais, procurando formas de desenvolvimento ecologicamente corretos.

Desde algum tempo atrás a utilização de combustíveis derivados de petróleo tem sido a principal fonte de energia, porém devido à grande preocupação ambiental e por ser um recurso esgotável tem-se buscado novas fontes renováveis de energia, Ghassan et al, (2003) apud Ramos et al (2003). Onde de acordo com o mesmo autor a utilização do biodiesel, representa avanço na utilização de combustíveis derivados de fontes renováveis, fabricado a partir de óleos vegetais, gorduras animais e óleos utilizados para fritura de alimentos. De acordo Messineo et al (2012) a utilização de fontes renováveis de energia é uma solução potencial para a sustentabilidade global.

O álcool conforme aborda Braga et al (2005), tem sido muito utilizado pelos veículos brasileiros, sendo o mesmo também adicionado a um percentual de 20% a gasolina como forma de diminuir a emissão de monóxido de carbono. O etanol torna-se, portanto um combustível economicamente viável, tendo em vista ser um combustível renovável, além de ser menos agressivo ao meio ambiente.

O gás natural é segundo o CEETA (2011), é o combustível fóssil que pela sua combustão causa o menor impacto ambiental, emitindo cerca de 40% menos de emissão de dióxido de carbono, quase nenhum oxido de enxofre e nenhuma cinza. Desta forma o mesmo torna-se o combustível fóssil de menor impacto sócio ambiental.

De acordo com Braga et al (2005, p.59) “o gás natural é uma mistura de gás metano com pequenas quantidades de hidrocarbonetos gasosos mais pesados, como propano e butano”. Segundo o mesmo autor, de acordo com a taxa de consumo do combustível, suas reservas são suficientes para os próximos 60 anos. Apesar do gás natural, conforme citado acima, ser o combustível de menor impacto ambiental, não é renovável e sua utilização tem duração limitada.

Com os grandes problemas ambientais e a grande quantidade de poluentes emitidos pelos automóveis, o ministério nacional do meio ambiente instituiu o PROCONVE, que visa a regulamentar a emissão de poluentes emitidos pelos automóveis, já na fabricação, Scholl et al (2010). Onde segundo o mesmo autor a forma de contornar a situação seria a utilização de combustíveis provenientes de fontes mais limpas de energia como o álcool, energia elétrica e solar.

No consumo de toda energia produzida no Brasil o setor de transportes é o segundo maior consumidor com 27,3% perdendo apenas para o setor de indústrias com 36,7% do consumo MME (2003, apud BRAGA et al 2005). Além disso, conforme estudo de Joseph Junior (2009) a maior parte dos veículos brasileiros são movidos a gasolina e a diesel, evidenciando assim o alto consumo pelo setor de transportes e sua grande influência na emissão de poluentes. 2.2.2 Contabilidade e o Papel Ambiental nas Organizações

A contabilidade ambiental tem sido muito útil no momento dos gestores analisarem e tomarem decisões de caráter ambiental, proporcionando aos mesmos, análises de qual o impacto ambiental causado pelas decisões, desenvolvendo uma gestão fundamentada nos demonstrativos e análises contábeis, conforme aborda Tinoco e Kraemer (2006).

Catelli, (2001) defende que as considerações ambientais devem ser levadas em conta no momento de se elaborar os planejamentos e as metas empresariais, já que a empresa está constantemente interagindo com outras organizações e com os indivíduos onde a mesma está inserida e cada decisão impacta diretamente nas expectativas dos seus stakeholders.

Relvas (1998, apud CARVALHO JUNIOR e ROCHA, 2008, p.7) ressaltam a importância de que os “profissionais de controladoria deveriam adaptar e capacitar as estruturas de controle e de gestão de custos em aspectos de mensuração, alocação e análise de custos para ajudar a empresa a identificar vantagens competitivas sustentáveis”.

Portanto para se obter uma melhor gestão empresarial, as empresas não devem analisar os seus custos sociais e ambientais apenas como dispêndios necessários a sua atividade, mas de forma a tratá-los

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previamente, proporcionando uma gestão mais eficaz e completa do patrimônio e dos recursos a ele alocados

3. METODOLOGIA

O método de pesquisa empregado neste estudo foi o indutivo no qual a “aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias” Marina e Lakatos (2001, p. 106). Desta forma o enunciado particular foi a análise do custo, volume e lucro de empresas revendedoras de combustíveis fósseis e orgânicos e o universo geral o estudo dos impactos ambientais causados pela combustão dos mesmos, no qual foi abordada a gestão empresarial versus impacto ambiental.

Esta pesquisa teve seu caráter exploratório, explicativo, assim como se observou a utilização de pesquisa descritiva a fim de expor a contribuição da analise CVL nas tomadas de decisões empresariais e como forma de manter um melhor relacionamento da empresa com o seu meio externo. Além disso, foram abordados os impactos ambientais e sociais causados pelos produtos em estudo, tendo por base os estudos Ferreira, Pino e Kruger (1996), a fim de demonstrar a relação entre os índices de emissão de poluentes dos combustíveis e a rentabilidade de cada produto.

Quanto à elaboração e condução desta pesquisa foram realizadas as seguintes tipologias quanto aos procedimentos: Pesquisa bibliográfica, utilizada na verificação dos conhecimentos teóricos para a elaboração do estudo; Pesquisa documental, através da análise dos documentos necessários para identificar a CVL.

Esta pesquisa através do estudo da relação da gestão de custo, volume e lucro em empresas revendedoras de combustíveis fósseis e orgânicos, buscou-se fazer um comparativo entre rentabilidade de cada produto, através de sua margem de contribuição, com os impactos ambientais e sociais causados pelos mesmos, sendo que para demonstração deste último foi utilizada a pesquisa de Ferreira, Pino e Kruger (1996), que dispunham sobre os percentuais de poluição destes produtos, após a combustão pelos veículos automotores.

A população do estudo são as empresas revendedoras de combustíveis fósseis e orgânicos da cidade de Belo Jardim PE, as quais totalizam oito empresas, inserindo-se na amostra três delas, sendo que em uma delas analisou-se apenas a margem de contribuição unitária e percentual do gás natural, produto não comercializado pelas demais.

A amostra da pesquisa contemplou apenas estas empresas citadas anteriormente, tendo em vista que se tornou possível à coleta e análise de dados apenas destas.

4. ANALISE E RESULTADO DOS DADOS

4.1 Emissão de poluentes versus Impacto Ambiental Conforme exposto no referencial teórico, os combustíveis fósseis e orgânicos, quando entram em

combustão emitem poluentes que causam danos ao meio ambiente e a população, como também foram observados os veículos são um dos principais poluidores, já que os mesmos utilizam-se dos combustíveis como fonte de energia. No quadro abaixo, estão sendo expostos, os poluentes que são emitidos pelos veículos, conforme tipo de combustível (Quadro 1).

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Quadro 1: Emissão de poluentes por combustível Fonte: Ferreira, Pino e Kruger (1996), (Adaptado pelo autor).

A fim de melhor resumir as informações anteiores elaborou-se o grafico 1.

Gráfico 1: Emissão de poluentes por tipo de combustível Fonte: Ferreira, Pino e Kruger (1996), (Adaptado pelo autor).

Do total de poluentes emitidos pelos combustíveis observa-se que 38% do total de emissões são causados pelo diesel, 33% pela gasolina, 21% pelo álcool e 8% pelo gás natural. Comparando a gasolina ao diesel, observa-se que a gasolina supera o diesel quando comparado os níveis de emissão de monóxido de carbono, porém não em percentuais totais.

Desta forma, optou-se por analisar unitáriamente a rentabilidade de cada produto através da margem de contribuição percentual, sendo utilizado para análise dos impactos ambientais de cada produto os percentuais utilizados no gráfico 01. Segue abaixo o comparativo entre os indices de rentabilidade e emissões de poluentes:

Gráfico 2: Margem de contribuição percentual versus níveis de emissões de poluentes – Empresa X Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do quadro 2, Ferreira, Pino e Kruger (1996).

Empresa X:

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Analisando a margem de contribuição percentual de cada produto da empresa X e os percentuais de emissão de poluentes de cada um, observa-se que o produto mais rentável para a empresa é a gasolina, porém é o segundo que mais polui com um percentual de 33,07%, em seguida temos o álcool que oferece uma margem percentual de 11,42%, sendo este um dos combustíveis que menos poluem, com um percentual de 20,44%. O diesel é o combustível comercializado que gera menos retorno, possuindo uma margem de 10,52%, porém é o combustível que causa o maior impacto ambiental com um percentual de 38,44%.

Quanto ao gás natural, as empresas em análise não comercializam este produto, porém buscou-se analisar em outra empresa a rentabilidade do mesmo, e verificou-se que os custos variáveis do mesmo totalizam R$ 1,8155, sendo vendido por 1,9300, o que nos dar uma margem de contribuição de R$ 0,1145, representando uma margem de contribuição percentual de 5,93%. Desta forma verifica-se que o gás natural é o combustível que oferece a menor margem percentual para a empresa, no entanto é também o que causa o menor impacto ambiental.

Analisando com base na margem de contribuição total gerada por cada produto, optou-se por não separar por tipo de gasolina ou de diesel, tendo em vista que o tipo da gasolina ou do diesel não influência no indice de emissão de poluentes, apenas melhora o desempenho do motor. Desta forma as margem de contribuição do diesel aditivado foram somados ao do diesel comum, assim como a margem gerada pela gasolina supra foi adicionda ao da gasolina comum. Desta forma foram elencados (Gráfico 3).

Gráfico 3: Margem total versus níveis de emissões de poluentes – Empresa X Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do quadro 2 e a partir de estudos de Ferreira, Pino e Kruger (1996).

Com base na margem de cotribuição total de cada produto elencados no quadro acima, tem-se que o produto mais rentável para empresa, continua sendo a gasolina, seguida do diesel, o qual quando analisado por unidade era o menos rentável, e por ultimo o álcool, tendo em vista o volume de vendas ser inferior aos demais produtos, apesar de possuir um dos menores índices de emissão de poluentes.

Ao se verificar os percentuais de participação no volume vendido e nas vendas, tem-se que a gasolina e o diesel são os que possuem o maior percentual de participação, mesmo sendo os que causam um maior impacto ambiental.

Quanto ao gás natural, não foi possível abordar os percentuais de participação nas vendas, porém de acordo com costamilam (2011) o consumo de gás natural no Brasil corresponde a 9% do consumo de energia, sendo o consumo automotivo o que apresentou o maior crescimento, com 26% a.a., passando de 1,8 para 7 milhões de metros cubicos por dia.

Tendo por base a informação que o mesmo gera uma margem percentual de 5,93%, conclui-se que seria necessário um grande volume vendido para gerar as mesmas margens dos outros produtos.

Rentabilidade versus impacto ambiental - Empresa X

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Quando analisado a margem de contribuição percentual de cada produto da empresa Y e comparando-os aos níveis de emissão de poluentes tem-se os seguintes dados:

Empresa Y:

Gráfico 4: Margem de contribuição percentual versus níveis de emissões de poluentes – Empresa Y Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do quadro 3 e a partir de estudos de Ferreira, Pino e Kruger (1996).

Observou-se com base nos dados coletados da empresa Y, que o combustível mais rentável, assim como na empresa X, é a gasolina, sendo a mesma o segundo maior poluente. O álcool é o combustível de menor impacto ambiental comercializado pela empresa, o qual gera uma margem percentual de 9,92%, sendo esta superior ao diesel aditivado, porém inferior ao diesel comum que é o combustível de maior impacto ambiental.

Assim como na empresa X, o gás natural não faz parte de seu mix de produtos, sendo o mesmo o combustível que gera o menor impacto ambiental.

Ao se analisar a margem total dos produtos da empresa Y, observa-se a seguinte correlação entre a rentabilidade dos produtos e os níveis de poluição emitidos pela queima dos combustíveis:

Gráfico 5: Margem total versus níveis de emissões de poluentes – Empresa Y Fonte: Elaborado pelo autor, com dados do quadro 3 e a partir de estudos de Ferreira, Pino e Kruger (1996).

Conforme acima os combustíveis de maior impacto ambiental são também os mais rentáveis para a empresa, lembrando que optou-se por não separar por tipo de gasolina ou de diesel.

Rentabilidade versus impacto ambiental – Empresa Y:

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A gasolina apesar de ter um mix de vendas menor que o diesel, proporciona a empresa uma maior margem de contribuição tendo em vista a margem de contribuição unitária do diesel ser menor que a da gasolina.

Portanto, o etanol assim como na empresa X, é o combustível menos rentável, quando analisada a margem total, gerada a partir do volume vendido, apesar de ser o que menos causa danos ao meio ambiente e a população.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os grandes impactos ambientais causados pela utilização e exploração de recursos

de forma desordenada pelas empresas, cabe a contabilidade atuar de forma a proporcionar informações que satisfaçam todas estas necessidades de forma a adequar a realidade existente a uma realidade sustentável e promissora, não apenas a empresa, mas a todos aqueles que fazem parte do seu ambiente externo e interno.

O desenvolvimento de produtos e ou utilização de recursos sustentáveis ou que reduzam significativamente os índices de poluição é um fator essencial para a continuidade da entidade, dado o impacto ambiental e social causado pela mesma, em frente às necessidades e exigências atuais.

Conforme se observa, o estudo e análise dos processos empresariais e sua relação com o meio ambiente tornam-se importantes para se alcançar resultados que possibilitem não só a redução dos custos ou a maximização do lucro dos sócios e ou acionistas, mas também um menor impacto ambiental.

Pode-se constatar a partir do estudo que os combustíveis mais rentáveis para empresa quando analisados unitariamente são a gasolina e o álcool, sendo o diesel o menos rentável, porém tendo em vista o volume vendido de cada produto, os mais rentáveis se tornam a gasolina e o diesel, sendo estes os combustíveis de maior impacto ambiental, de acordo com estudos de Ferreira, Pino e Kruger (1996), com uma representação nos índices de emissões de poluentes de 33,07% e 38,44%, respectivamente.

De acordo com as análises elaboradas a partir do estudo de Ferreira, Pino e Kruger (1996), pode-se observar que os combustíveis de origem fóssil são os que causam os maiores impactos ambientais, exceto pelo gás natural que tem seu percentual de emissão de poluentes inferior até mesmo aos de origem orgânica, como é o caso do álcool, porém o mesmo é um combustível não renovável e sua utilização tem duração estimada.

Os combustíveis de origem orgânica, como o álcool, quando analisado unitariamente possuem uma margem de contribuição percentual significante, sendo que por seu volume de vendas ser baixo, o mesmo não gera retornos altos. Porém, o etanol é um dos combustíveis de menor impacto ambiental, com um percentual na emissão de poluentes de 20,44%, além disso, o mesmo é produzido a partir de fontes renováveis de recursos, diferentemente dos combustíveis fósseis que são esgotáveis, o que faz com que sua utilização seja economicamente sustentável.

Como dificuldades e limitações encontradas no estudo, destacam-se a impossibilidade de se verificar a rentabilidade do gás natural em todas as empresas inseridas na amostra da pesquisa, assim como da participação do mesmo nas vendas.

O estudo não se limita apenas a esta pesquisa, tendo em vista que o desempenho da entidade depende da relação que a mesma mantém com o ambiente em que está inserida. Portanto, estudos que visem não apenas a sustentabilidade econômica da empresa, mas também ambiental, devem ser desenvolvidos com intuito de aprimorar as práticas contábeis, tendo em vista à dinamicidade em que a organização está inserida.

Cabe as entidades investir em pesquisas e desenvolvimento de novas fontes de energia renováveis, que proporcionem não apenas sua sustentabilidade econômica, mas também social e ambiental, de forma a proporcionar maior rentabilidade e competitividade para a mesma.

Conclui-se, portanto, que a contabilidade enquanto responsável por controlar o patrimônio da entidade, deve auxiliar a tomadas de decisões que possibilitem aplicações de recursos financeiros que gerem sustentabilidade econômica, social e ambiental para a entidade.

REFERÊNCIAS

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Um Enfoque sobre o Conteúdo Informacional dos Parágrafos de Ênfases e de outros Assuntos no Relatório dos Auditores Independentes de Companhias Abertas.

AUTORES: Karla Katiuscia, Edilane Cristina, Manoel Victor.

Resumo

O relatório do auditor independente possui conteúdo informacional disciplinado pelas Normas Brasileiras de Contabilidade – Técnicas de Auditoria Independente - NBC Ta’s, série 700, de observância obrigatória a partir de 2010. Seu conteúdo está disposto em várias seções, dentre as quais se encontram os parágrafos de ênfases e os parágrafos de outros assuntos, disciplinados, especialmente, pela NBC TA 706. Nesta perspectiva, esta pesquisa objetiva identificar os fatos abordados nos parágrafos de ênfase e nos parágrafos de outros assuntos dos relatórios de auditoria emitidos para as companhias abertas pertencentes aos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA e analisar o tratamento destes, quanto às orientações estabelecidas nas NBC TA’s que regulam o assunto. Para tanto, realizou-se pesquisa descritiva, bibliográfica e documental, sobressaindo-se o aspecto de estudo qualitativo. Coletou-se os relatórios dos auditores independentes para os exercícios sociais de 2010 e 2011 de 31 sociedades. Os resultados encontrados permitiram identificar o assunto “critérios contábeis divergentes” inserido em todos os relatórios analisados que fizeram uso do parágrafo de ênfase, tanto em 2010, com em 2011. No parágrafo de outros assuntos, identificou-se a menção sobre “informação suplementar” e “auditoria dos valores correspondentes do exercício anterior” nos dois anos. Concluiu-se que o assunto “reapresentação das demonstrações contábeis” é tratado pelas NBC TA’s e nos relatórios dos auditores independentes analisados, de forma ambígua, quando se relaciona a seção/parágrafo destinado a sua menção.

Palavras-chave: Auditoria Independente. Relatório. Ênfase.

1 Introdução

O cenário contábil brasileiro dos últimos anos tem experimentado mudanças normativas que alcançam inclusive a atividade de auditoria independente e, no esforço de adequação aos padrões internacionais, observa-se a adesão brasileira as International Standard on Auditing - ISA´s, através das Normas Brasileiras de Contabilidade – Técnica de Auditoria Independente (NBC TA’s), dentre outras.

De observância obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2010, as NBC TA’s abordam diversos aspectos técnicos relacionados com a atividade de auditoria independente das demonstrações contábeis, tais como as modificações no formato do relatório do Auditor Independente, assunto abordado na presente pesquisa.

Regulamentado pelo conjunto das NBC Ta’s 700, o relatório do auditor independente possui conteúdo informacional disposto em várias seções, dentre as quais se encontra os parágrafos de ênfases e os parágrafos de outros assuntos, disciplinados, especialmente, pela NBC TA 706. A inserção dos referidos parágrafos acontece logo após o parágrafo de opinião do auditor, e seu conteúdo expõe informação que, no julgamento do auditor, é relevante para chamar a atenção do leitor do relatório, na tentativa de aumentar o poder informativo deste.

O parágrafo de ênfase trata de assunto que está apresentado no conjunto das demonstrações financeiras, mas que o auditor considera vital para o entendimento das demonstrações, conforme explica Longo (2011). Entretanto, esta inserção pode aumentar a percepção de risco do usuário, uma vez que uma mesma informação está contida, por exemplo, nas notas explicativas às demonstrações contábeis auditadas e, novamente, é mencionada, pelo auditor, em seu relatório, como aquela referente à incertezas de continuidade. Contudo, tal menção também pode derivar de atitude conservadora do auditor, na intenção de melhorar o conteúdo informacional do seu relatório.

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No parágrafo de outros assuntos, de acordo com a NBC TA 706, não estão inclusos assuntos divulgados nas demonstrações financeiras, mas aqueles relacionados com trabalho do auditor. Apesar da menção a esses assuntos no relatório ser bastante comum, só a partir de 2010, com a referida norma, este parágrafo passou a ganhar uma secção exclusiva.

Nesta perspectiva, o presente estudo procura atingir dois objetivos, que são: identificar os fatos abordados nos parágrafos de ênfase e nos parágrafos de outros assuntos dos relatórios de auditoria emitidos para as companhias abertas pertencentes aos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA e analisar o tratamento destes, quanto às orientações estabelecidas nas NBC TA’s que regulam o assunto.

O período temporal delimitado para o estudo se refere aos exercícios sociais de 2010 e 2011, que representam os anos iniciais de aplicação dos normativos relacionados à auditoria independente, o que torna oportuna a realização dessa pesquisa, cujas constatações podem colaborar para identificação da adaptação brasileira às normas internacionais de auditoria e a necessidade ou não de ajustes destas ao contexto nacional. Nisto reside a sua importância.

Este estudo está apresentado da seguinte forma: uma seção introdutória, na qual é contextualizado o tema e definido os objetivos da pesquisa; três seções destinadas a discutir o conteúdo e estrutura do relatório do auditor independente estabelecido nas normas de auditoria vigentes, sua capacidade informativa como informação contábil e a diferenciação entre os parágrafos de ênfase e o de outros assuntos; as seções seguintes apresentam os procedimentos metodológicos, a análise dos resultados e as considerações finais.

2 Estrutura e Conteúdo do Relatório do Auditor Independente segundo as Normas de Auditoria

Visando uma adequação das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aprovou, em 27 de novembro de 2009, através da Resolução CFC nº 1231/09, dentre outras, a NBC TA 700 – “Formação da Opinião e Emissão do Relatório do Auditor Independente sobre as Demonstrações Contábeis”. Esta norma foi elaborada de acordo com a sua equivalente internacional ISA 700, e passou a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2010.

Anterior a essa mudança, as normas de auditoria vigentes no Brasil eram representadas pela Norma Brasileira de Contabilidade Técnica 11 (NBC T 11), na qual se observa algumas diferenças em relação às NBC TAs, em específico a 700, no que se refere a estrutura do relatório de auditoria. Como exemplo, Longo (2011) cita a mudança na nomenclatura no documento final da auditoria independente que do denominado “parecer do auditor independente” passou a ser chamado de “relatório do auditor independente”.

Conforme esclarece Damascena (2011), pode-se citar os tipos de relatório de auditoria como outra mudança:

[...] este documento expressando a opinião do auditor, antes classificado em quatro tipos, agora é alocado em dois grupos, podendo ser não modificada (anteriormente conhecida como parecer sem ressalva) ou modificada (compreendendo o parecer com ressalva, parecer adverso e parecer com abstenção de opinião).

O primeiro tipo de relatório de auditoria, o não modificado, é tratado na NBC TA 700. Citado por Longo (2011) como “relatório limpo”, esse parecer é aquele sem nenhum tipo de modificação na opinião do auditor. Para isso, as demonstrações contábeis precisam atender a requisitos, como por exemplo, terem sidas elaboradas de acordo com a estrutura de relatório financeiro aplicável sem apresentar distorções relevantes, causadas por fraude ou erro, entre outros.

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A NBC TA 705 – “Modificações na Opinião do Auditor Independente”, trata do relatório com opinião modificada que pode ser com ressalva, adversa ou abstenção de opinião.

A opinião com ressalva deve ser aplicada quando:

(a) ele [o auditor], tendo obtido evidência de auditoria apropriada e suficiente, conclui que as distorções, individualmente ou em conjunto, são relevantes, mas não generalizadas nas demonstrações contábeis; ou (b) ele não consegue obter evidência apropriada e suficiente de auditoria para suportar sua opinião, mas ele conclui que os possíveis efeitos de distorções não detectadas, se houver, sobre as demonstrações contábeis poderiam ser relevantes, mas não generalizados. (NBC TA 705)

A opinião adversa, é utilizada quando o auditor conclui que as distorções, individualmente ou em conjunto, são relevantes e generalizadas para as demonstrações contábeis. Ainda, a NBC TA 705 traz outro tipo de opinião modificada – a abstenção de opinião, e orienta que o auditor deve abster-se de expressar uma opinião quando não se consegue obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para suportar opinião, e se houver efeitos de distorções não detectadas nas demonstrações contábeis poderiam ter efeitos relevantes e generalizados.

Com a nova norma em vigor, a estrutura do relatório de auditoria também passou por modificações. O modelo do documento normatizado pela NBC T 11 era composto basicamente por três parágrafos contendo: identificação da entidade e demonstrações contábeis auditadas, extensão dos exames e opinião do auditor. Já a NBC TA 700 exige um modelo mais detalhado, com cinco parágrafos e os demais itens da NBC T 11, como se pode observar no quadro 1, referente ao modelo de relatório com opinião não modificada.

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Quadro 1: Estrutura do parecer/relatório de auditoria independente, segundo normatizações do CFC.

Estrutura do parecer do auditor independente de acordo com a

NBC T 11

Estrutura do relatório de auditoria de acordo com a NBC TA 700

Título; Destinatário; Parágrafo introdutório; Parágrafo de extensão; Parágrafo de opinião do auditor; Data do parecer do auditor independente; Assinatura do auditor; Nome da empresa de auditoria.

Título; Destinatário; Parágrafo introdutório; Responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis; Responsabilidade do auditor; Opinião do auditor; Outras responsabilidades do relatório de auditoria; Assinatura do auditor; Data do relatório do auditor independente; Endereço do auditor independente.

Fonte: elaboração própria, baseada na NBC T 11 e na NBC TA.

Com uma nova estrutura mais detalhada, devido à padronização com as normas internacionais de auditoria, o relatório passa a ter maior conteúdo informacional, principalmente para os investidores que são os principais interessados no relatório de auditoria.

Comparando com a norma anterior, observam-se algumas novas exigências, dentre as quais, cita-se a inserção, no parágrafo introdutório, das notas explicativas.

Outro incremento informacional ao novo modelo de relatório se visualiza, principalmente, quanto à diferenciação da responsabilidade da administração e do auditor, quando se refere às demonstrações contábeis auditadas. Enquanto no modelo antigo essa diferença era resumida no primeiro parágrafo do parecer, na modelagem vigente se estende por três parágrafos, para detalhar, em aderência ao estabelecido na NBC TA 700, a responsabilidade do auditor, no contexto da auditoria das demonstrações contábeis, e quanto à administração, ficou mais claro o fato de além da elaboração e apresentação adequada das demonstrações contábeis, compete-lhe a determinação de controles internos necessários para tanto.

Após a seção de responsabilidades vem o parágrafo de opinião, no qual o auditor expressa sua opinião sobre as demonstrações contábeis e referencia à estrutura de relatório financeiro aplicável, utilizada para elaborar as demonstrações contábeis (item 43 da NBC TA 700). Na última parte do relatório, conforme a NBC TA 700, encontram-se a assinatura do auditor independente, a data e a localidade em que a o relatório foi emitido.

3 Capacidade Informativa do Relatório dos Auditores Independentes

A auditoria externa surgiu da necessidade de gerar informação para os usuários – os stakeholders – de caráter patrimonial, financeira e de geração de lucro, através das demonstrações contábeis, com maior credibilidade, como afirma Almeida, M. (2010, p.2), “como medida de segurança contra a possibilidade de manipulação de informações, os futuros investidores passaram a exigir que as demonstrações fossem examinadas por um profissional independente da empresa e de reconhecida capacidade técnica”.

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É mediante o relatório que o auditor expressa sua opinião a respeito das demonstrações contábeis, como destaca Araújo (2006), através do parecer que o auditor assegura as informações que estão à disposição dos usuários, trazendo mais fidedignidade às demonstrações auditadas.

E ainda é salientado como objetivos gerais do auditor, segundo a NBC TA 200, item 11 (a) e (b):

(a) obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis como um todo estão livres de distorção relevante, independentemente se causadas por fraude ou erro, possibilitando assim que o auditor expresse sua opinião sobre se as demonstrações contábeis foram elaboradas, em todos os aspectos relevantes, em conformidade com a estrutura de relatório financeiro aplicável; e

(b) apresentar relatório sobre as demonstrações contábeis e comunicar-se como exigido pelas NBC TAs, em conformidade com as constatações do auditor.

Neste contexto ainda Almeida, K. e Vasconscelo (2007) destacam que além de um relátorio anual de obrigação das companhias abertas, o parecer dos auditores é um instrumento formalizador de comunicação entre o auditor e o usuários.

No entanto, para que o relátorio seja otimizado, Sá (2002, p.196), adverte: “A integridade exige que o profissional não se esconda atrás de palavras de sentido duplo, de frases evasivas, de abusos de tecnicismo ou de neologismos que possam ofuscar a clareza de um parecer ou opinião”, fatores que podem comprometer o grau de informação transmitida aos usuários como também a eficiência do relatório dos Auditores.

Ainda nesta perspectiva, Oliveira e Bispo (2009) evidenciam a importância do auditor neste tipo de informação, “[...] frente à relevância das informações financeiras, o auditor é decisivo para certificar a qualidade dos dados registrados e sua consequente divulgação aos usuários dos relatórios”.

Por outro lado, Jacques e Macagnan (2011) lembram que as empresas também têm direcionado esforços na divulgação das suas informações, através dos relatórios anuais para incentivar a captação de novos investidores, garantindo a continuidade das empresas e o desenvolvimento econômico. A qualidade e a transparência destas informações contribuem para redução da assimetria de informações entre os agentes e auxilia na tomada de decisão dos investidores.

Conforme explica Healy e Palepu (apud Jacques; Macagnan 2011), “[...] a assimetria informacional ocorre quando, em um modelo de informação financeira ou econômica, algum agente possui informação sobre certa empresa ou ativo superior a outro agente”. Colocando assim os agentes em desequilíbrio no acesso à informações, ocasionando vantagens ao que tivesse maior informação e em detrimento a isto desvantagens ao que tivesse menor informação.

A base da decisão dos usuários é tomada sob as informações transmitidas e auditas, surgindo aí a importância do auditor mediante os usuários, como mostra Niyama et al.(2011) quando explica que ao assegurar as informações fornecidas pela empresa, o auditor está dando credibilidade a esta informação e reduzindo a assimetria existente na relação do controlador, protegendo assim o investidor.

Algo que vem a contribuir com a redução da assimetria informacional no Brasil é o processo de convergência das normas de auditorias com intuito de uma padronização o que pode gerar maior uniformidade. Ao adotar uma linguagem contábil padrão e sobre os mesmos princípios contábeis fornece a informação maior comparabilidade e contribui para os usuários de diferentes países a analise e tomada de decisão (MAIA; FORMIGONI 2011)

Conforme discutido na seção anterior, o relatório dos auditores independentes passou por mudanças que segundo Longo (2011, p.322):

[...] ajuda a promover o entendimento pelos usuários e propicia credibilidade no mercado global. Esse melhor entendimento e credibilidade facilitam a atuação das

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entidades no mercado global, seja na obtenção de crédito, no relacionamento com fornecedores e clientes, barateando de forma geral, os custos das entidades.

Apesar das mudanças referentes ao conteúdo informacional do relatório, ao qual foi aumentando o número de parágrafo, como anteriormente discutido, o parágrafo de ênfase, objeto da presente pesquisa, continuou a ser previsto.

Estabelecido por norma própria, a NBC TA 706, o parágrafo de ênfase possui a função de chamar a atenção dos usuários para informações consideradas relevantes para adequada interpretação das demonstrações contábeis e não contempladas nos demais parágrafos do relatório. Independente do tipo de relatório expresso pelo auditor – relatório sem ressalva, com ressalva, opinião adversa ou com abstenção de opinião – o parágrafo de ênfase pode ser utilizado para trazer informação relevante aos usuários, lembrando-se, ainda, que o assunto enfatizado pela ênfase não configura e nem modifica a opinião do auditor.

Para os propósitos deste estudo, torna-se necessário discorrer mais aprofundadamente sobre ênfases nos relatórios de auditoria externa, cujos comentários estão na seção seguinte.

4 Informações adicionais no Relatório dos Auditores Independentes: parágrafo de ênfase e parágrafo de outros assuntos

A Resolução CFC nº 1.233, de 27 de dezembro de 2009, aprovou a NBC TA 706 que trata do parágrafo de Ênfase e do parágrafo de Outros Assuntos, no novo formato do relatório dos auditores independentes.

A ênfase se enquadra na secção Outras Responsabilidades do Relatório, apesar desse título ser pouco usual no Brasil, de acordo com a NBC TA 700 item A34, sua inserção dependerá do julgamento e análise do auditor para o seu devido uso.

Em certas jurisdições fora do Brasil, o auditor pode ter responsabilidades adicionais de emitir relatório de auditoria sobre outros assuntos que são complementares à responsabilidade do auditor segundo as normas de auditoria de emitir relatório de auditoria sobre as demonstrações contábeis. Por exemplo, o auditor pode ser solicitado a relatar determinados assuntos que chamaram sua atenção no decurso da auditoria das demonstrações contábeis. Alternativamente, o auditor pode ser solicitado a emitir relatório de auditoria sobre procedimentos adicionais especificados ou expressar uma opinião sobre assuntos específicos, como a adequação de livros e registros contábeis. As normas de auditoria na jurisdição específica frequentemente fornecem orientação sobre a responsabilidade do auditor com relação a responsabilidades relativas à emissão de relatório de auditoria adicionais específicas na referida jurisdição. Tais responsabilidades adicionais não existem no Brasil. (NBC TA 700 item A34)

A ênfase se revela como comunicação adicional do auditor com os usuários do seu relatório que, de acordo com o item 1 (a) e item 4 (a) da NBC TA 706, é a inclusão de um parágrafo referente a assunto que está apropriadamente apresentado no corpo das demonstrações financeiras ou adequadamente divulgado nas notas explicativas, mas o auditor o considera vital para a compreensão das demonstrações e decide chamar atenção do usuário para esse assunto, logo após a secção contendo sua opinião.

De acordo com o item 7 da NBC TA 706, o parágrafo de ênfase deve ser incluído no relatório imediatamente após o parágrafo de opinião e fazer uso do título “Ênfase” ou outro título apropriado, como também indicar que o assunto abordado não modifica a opinião do auditor.

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Ainda como exigências normativas, a ênfase deve ter sempre a menção da nota explicativa a que se refere e fazer referência clara ao assunto, de tal forma que não se utilize de assuntos que não tenham sido abordados pelo conjunto completo das demonstrações contábeis, sugerindo assim que as informações não foram devidamente apresentadas, como adverte Longo (2011, p.348):

O parágrafo de Ênfase deve se limitar a chamar a atenção do usuário para aquilo que está divulgado nas demonstrações financeiras com o cuidado dele não apresentar mais informações do que a própria nota explicativa da administração, pois isso sugere que essas notas não apresentam as divulgações necessárias, o que na prática requereria uma ressalva e não ênfase.

Como visto, poderia ocasionar numa distorção porque o que a priori seria fato para uma ressalva, se transforma numa ênfase e a norma enfatiza que o parágrafo de ênfase não deve substituir uma opinião com ressalva, adversa ou abstenção de opinião (NBC-TA-706 item A3(a)).

Os assuntos apresentados no parágrafo de ênfase são geralmente relacionados com incertezas (litígio, contingência, problemas de continuidade), aplicação antecipada de nova norma contábil introduzida pelo CFC com efeito disseminado nas demonstrações contábeis de forma generalizada, antes da sua data da vigência, grande catástrofe que tenha efeito, ou que ainda continue fazendo efeito sobre a posição patrimonial e financeira da entidade, mudança na legislação que afetem a entidade, transações relevantes com partes relacionadas. (LONGO, p.348; NBC TA 706 item A1)

O quadro 2 mostra as normas de auditoria que contém casos que exigem a inclusão do parágrafo de ênfase:

Quadro 2 – NBC TA’s que exigem inclusão do parágrafo de ênfase

Normas Casos que devem ser utilizados o Parágrafo de Ênfase

NBC TA 210 – item 19 Chamar a atenção dos usuários para divulgação adicional

NBC TA 560 – item 12(b) e 16 Eventos Subsequentes - Existência de mudanças nas demonstrações contábeis

NBC TA 570– item 19 Existência de incerteza de continuidade

NBC TA 800 – item 14 Alertar os usuários que as demonstrações foram elaboradas de acordo com uma estrutura de relatório financeiro para propósitos especiais

Fonte: Elaboração própria, baseado no apêndice 1 da NBC TA 706

Anteriormente, a NBC T 11.3.7.1 definia parágrafo de ênfase como aquele incluído no relatório dos auditores quando ocorresse incerteza sobre algum fato relevante, cujo desfecho poderia afetar significantemente a posição patrimonial e financeira da empresa; Já as novas normas de auditoria versam sobre algumas exigências para inclusão de parágrafo de ênfase fora da sua norma própria, como mostrado no Quadro 2.

Alguns estudos contêm discussões sobre a eficácia do parágrafo de Ênfase, como exemplo, o trabalho de Damascena et al. (2011) ao observou que fatos relacionados com continuidade da empresa tem se mostrado continuamente repetido, ano após ano, sugerindo a ideia de possíveis problemas que deveriam ser corrigidos, mas que não o foram, podendo revelar a presença de resquícios de descontinuidade, por vários anos, o que justificaria emissão de relatórios com ressalva, abstenção de opinião ou opinião adversa e não assunto de ênfase. Além do que, ao se utilizar de forma generalizada do parágrafo de ênfase, o auditor diminui a eficácia da sua comunicação (NBC TA 706 A6).

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Já as informações adicionais relacionadas com o trabalho do Auditor, comumente mencionadas na época de vigência do antigo modelo de parecer, passam a ganhar uma seção especifica, como consequência das modificações no formato do relatório do Auditor Independente. Disciplinado também pela norma NBC TA 706, o denominado parágrafo de outros assuntos deve ser incluído logo após a seção de opinião – ou ênfase, se for o caso. Longo (2011, p.348) diferencia a função desse parágrafo como sendo:

Diferentemente do parágrafo de ênfase, o assunto abordado nesse parágrafo de outros assuntos não está divulgado nas demonstrações financeiras, pois está relacionado com o trabalho (do auditor) e não com as demonstrações financeiras (da entidade).

A norma ainda trata das circunstâncias em que pode ser necessário o uso do parágrafo de outros assuntos (NBC TA 706 item 8, A5 a A9): sendo para casos nos quais se tornam relevantes para o entendimento pelos usuários sobre a auditoria, caso relevante para o entendimento pelos usuários da responsabilidade do auditor ou do seu relatório, emissão de relatório de mais de um conjunto de demonstrações contábeis, restrição a distribuição (ou uso) do relatório de auditoria.

O quadro 3 mostra as normas de auditoria que contém casos que exigem a inclusão do parágrafo de outros assuntos.

Quadro 3 – NBC TA’s que exigem inclusão do parágrafo de outros assuntos

Normas Casos que devem ser utilizados o Parágrafo de Outros

Assuntos NBC TA 560 – item 12(b) e 16

Eventos Subsequentes - Existência de mudanças nas demonstrações contábeis

NBC TA 710 Informações Comparativas – Valores Correspondentes e Demonstrações Contábeis Comparativas, itens 13, 14, 16, 17 e 19;

NBC TA720 Responsabilidade do Auditor em Relação a Outras Informações Incluídas em Documentos que Contenham Demonstrações Contábeis Auditadas, item 10(a).

Fonte: Elaboração própria, baseado no apêndice 2 da NBC TA 706

Comparando o quadro 3 com o 2 (anterior), observa-se que o assunto referente a eventos

subsequentes que provocam mudanças nas demonstrações contábeis que foram auditadas (reapresentação das demonstrações contábeis) tratado pela NBC TA 560, tanto está listado no apêndice 1 como no 2 da NBC TA 706 que contêm, respectivamente, exigências para parágrafos de ênfase e para parágrafos de outros assuntos.

No entanto, a leitura da NBC TA 560, especialmente no item 16, permite observar menção exclusiva no parágrafo de ênfase, não prevendo, portanto, o tratamento como parágrafo de outros assuntos. Entendemos existir ambiguidade de tratamento normativo deste item, necessitando, portanto, maiores orientações normativas a respeito.

4 METODOLOGIA

Para realização deste estudo, fez-se uso da tipologia de delineamentos proposta por Beuren (2006) que classifica a pesquisa em três categorias: quanto aos objetivos, quanto aos procedimentos e quanto à abordagem do problema.

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O estudo realizado se classifica como descritivo quanto ao objetivo, logo que busca descrever os fatores que originaram relatórios com parágrafo de ênfase e parágrafos de outros assuntos. De acordo com Marion et. al. (2002) a pesquisa descritiva não busca manipular informação, mas tem como objetivo a descrição de características de determinado fenômeno ou população.

Foram analisados livros, artigos científicos, revistas e normas especificas que tratavam sobre o assunto abordado, constituindo-se, portanto, na pesquisa bibliográfica. Também se fez uso de Internet (sítio da Bovespa) no qual se teve acesso aos relatórios dos auditores independentes, itens utilizados para coleta dos dados necessários ao atingimento dos objetivos desta pesquisa, valendo-se de pesquisa documental. Assim, quanto aos procedimentos, a pesquisa se classifica como bibliográfica e documental.

Já no aspecto da abordagem do problema, a presente pesquisa se enquadra predominantemente como qualitativa, pois segundo Beuren (2006, p.92) “Na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. A abordagem qualitativa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo”.

Quanto ao universo da pesquisa, optou-se por estudar as sociedades anônimas que iniciaram a negociação de suas ações e estão inseridas nos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA, nos últimos 4 anos, totalizando 32 empresas.

Deste universo, 87,5% pertencem ao novo mercado e 25% participam do segmento “Consumo Cíclico”. Os demais segmentos representados no universo pesquisado foram: Financeiros e Outros, com 21,9% do total; Consumo não cíclico, perfazem 15,7%; Petróleo, gás e biocombustível e Construção e Transporte representam cada, um percentual de cerca de 12,5%; e, por fim, Bens Industriais, Utilidade Pública, Telecomunicações e Materiais básico, correspondem a cerca de 3,1% cada.

Vale salientar ainda que das 32 empresas, 01 foi excluída da amostra por ter ocorrido seu o cancelamento voluntario em janeiro de 2011, se desligando da Bovespa. Assim, obteve-se como amostra final 31 empresas.

Assim, foram coletados os relatórios dos auditores independentes relativos aos exercícios sociais de 2010 e 2011, para cada uma das empresas componentes da população. Entretanto, apenas 25 empresas apresentaram relatório de auditoria independente com parágrafos de ênfases, o que corresponde a 80,64% do universo. Já os relatórios com parágrafos de outros assuntos totalizam 30, que representa 96,77% da população estudada no ano de 2010. No ano de 2011 foram 26 relatórios com parágrafos de ênfase representando cerca 83,87% e o parágrafo de outros assuntos foi utilizado por 100% das empresas analisadas.

Os dados obtidos foram analisados com apoio da estatística descritiva, procurando caracterizar o que é típico sobre este grupo de empresas, como Crespo aponta (2002) através da coleta, organização dos dados e as descrições dos fatos, se enquadrando assim na estatística descritiva, uma vez procurou-se identificar os conteúdos mais frequentes nos parágrafos em análise.

5 Análise dos Resultados

Primeiramente, procurou-se identificar o perfil das empresas componentes do estudo e algumas características dos relatórios analisados, iniciando-se pelo segmento no qual estão inseridas. Para tanto, elaborou-se a Tabela 1 que mostra a distribuição das empresas listadas na BM&FBOVESPA de acordo com o segmento.

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Tabela 1 – Segmento das empresas listadas na BM&FBOVESPA

Segmento de listagem Frequência (%)

Novo Mercado 27 87,1

Nível 2 3 9,7

Bovespa Mais 1 3,2

Total de relatórios 31 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Observa-se que é majoritária a participação das empresas no Novo Mercado, com 87,1%, sugerindo ser este segmento mais comum para as empresas que decidiram abrir seu capital, nos últimos 4 anos. Considera-se tratar de um padrão de governança corporativo mais elevado, no qual só pode haver emissão de ações com direito de voto, dentre outras características.

A tabela 2 expõe o período de tempo compreendido entre o encerramento do exercício social de 2010 e 2011 da empresa auditada e a data de emissão do relatório do auditor independente. Salienta-se que em todas as empresas analisadas o exercício social foi encerrado em 31 de dezembro de cada ano.

Tabela 2 – Período de publicação dos relatórios de auditoria independente referente ao exercício de 2010 e 2011

2010 2011 Período de publicação

Freq. (%) Freq. (%) 1º mês subsequente ao exercício social

1 3,2 0 0,0

2º mês subsequente ao exercício social

10 32,3 11 35,5

3º mês subsequente ao exercício social

16 51,6 19 61,3

4º mês subsequente ao exercício social

3 9,7 1 3,2

7º mês subsequente ao exercício social

1 3,2 0 0,0

Total de relatórios 31 100,0 31 100,0 Fonte: Dados da pesquisa.

Na tabela 2, observa-se que mais da metade das empresas apresentaram o seu relatório no mês de março de 2011, 3º mês subsequente ao encerramento do exercício social de 2010, sendo 87,10% desses documentos emitidos nos três primeiros meses posteriores ao final do exercício social de 2010. Da mesma forma, os relatórios de 2011 foram datados, predominantemente, dentro do primeiro trimestre de 2012, melhorando o percentual para 96,77%. A importância dessa lacuna de tempo conduz a reflexão sobre a tempestividade do relatório do auditor, como informação contábil.

A tabela 3 apresenta a quantidade de empresas de auditoria que emitiram os relatórios estudados. Observa-se que 96,8% desse relatórios foram emitidos pelas Big Four (Deloitte Touche Tohmatsu, Ernst & Young Terco, KPMG e Pricewaterhousecoopers).

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Tabela 3 – Quantidade de empresas de auditoria que emitiram os relatórios estudados

2010 2011 Empresas de auditoria

Freq. (%) Freq. (%)

Deloitte Touche Tohmatsu 10 32,3 10 32,3

Ernst & Young Terco 9 29,0 9 29,0

KPMG 6 19,4 6 19,4

Pricewaterhousecoopers 5 16,1 5 16,1

BDO Auditores Independentes

1 3,2 1 3,2

Total de relatórios 31 100,0 31 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Dentre as empresas de auditoria, destaca-se a Deloitte, por concentrar o maior número de auditagens representando quase 1/3 dos relatórios analisados. Foi possível verificar também que, apesar do predomínio das Big Four, encontra-se a BDO, mesmo com modesta participação.

Este resultado corrobora com o verificado em Oliveira et al. (2010) quando realizou a análise de 50 pareceres de auditoria de companhias, no qual 80% deles foram emitidos pela quatros maiores empresas de auditoria do mundo.

Todos os 31 relatórios analisados, de ambos os exercícios sociais, são do tipo sem ressalvas, ou seja, não possuem modificação na opinião do auditor.

Em relação à extensão dos relatórios analisados, tem-se a tabela 4 que informa a quantidade de parágrafos por cada relatório de auditoria.

Tabela 4 – Quantidade de parágrafos nos relatórios de auditoria independente

2010 2011 Quantidade de Parágrafos Freq. (%) Freq. (%)

4 parágrafos 1 3,2 0 0,0

5 parágrafos 3 9,7 2 6,5

6 parágrafos 4 12,9 3 9,7

7 parágrafos 13 41,9 21 67,7

8 parágrafos 8 25,8 5 16,1

9 parágrafos 2 6,5 0 0,0

Total de relatórios 31 100,0 31 100,0 Fonte: Dados da pesquisa.

Considerando o universo de relatórios que apresentaram número superior ao estabelecido na NBC TA 700 para aqueles relatórios sem ressalvas, ou seja, 06 ou mais parágrafos por relatório, anos de 2010 e 2011, tem-se 87,1% e 93,5% respectivamente deles contemplando informações adicionais, além dos parágrafos padrões exigidos. Este dado estimula a identificação e análise dos assuntos abordados pelos auditores nos parágrafos adicionais, denominados de parágrafos de ênfase e de parágrafos de outros assuntos. Quanto ao conteúdo de cada um desses parágrafos adicionais, elaborou-se os comentários que se seguem.

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A tabela 5 expõe os assuntos abordados nos parágrafos de ênfases e possibilita constatar que, em 2010, 78,1% dos relatórios analisados abordam ênfase referente a critérios contábeis divergentes, segundo o qual as práticas de elaboração das demonstrações contábeis adotadas no Brasil, para o exercício social anterior (2009), diferem das práticas adotadas pelo IFRS, em observância ao disposto, por exemplo, nos itens 12(b) e 16 da NBC TA 56. Essa divergência foi causada, segundo os relatórios analisados, pela diferença de avaliação nos investimentos societários, entre as normas adotadas no Brasil e as internacionais.

Tabela 5 – Motivos da criação dos parágrafos de ênfase

2010 2011 Assuntos Abordados

Freq. (%) Freq. (%) Critérios contábeis divergentes 25 78,1 26 86,7 Reapresentação das demonstrações contábeis

2 6,3 0 0,0

Incertezas de continuidade 2 6,3 0 0,0

Assuntos diversos 3 9,4 4 13,3

Total geral de parágrafos de ênfase 32 100,0 30 100,0 Fonte: Dados da pesquisa.

Para 2011, a menção em parágrafo de ênfase sobre divergências de critérios contábeis é acentuada, elevando o percentual de relatórios com essa informação para 86,7%.

Tal predominância de ênfase, relativa à assunto devidamente tratados nas notas explicativas, instiga reflexão sobre a eficácia da mesma, ao reforçar o questionamento proposto por Almeida e Vasconcelos (2007) segundo o qual até que ponto o parágrafo de ênfase traz informação adicional ao leitor do parecer/relatório?

Conforme discutido em seções anteriores, os assuntos abordados em parágrafos de ênfases dos relatórios de auditoria podem também estarem contidos em notas explicativas integrantes das demonstrações contábeis auditadas. Nesta perspectiva, elaborou-se a tabela 6 que mostra a quantidade de assuntos apresentados no parágrafo de ênfase que já haviam sido tratados em nota explicativa às demonstrações contábeis auditadas.

Tabela 6 – Parágrafos de ênfases abordando o mesmo assunto em notas explicativas.

Pela leitura da tabela 6, observa-se que mais de 90% em 2010 e 100 % em 2011 dos parágrafos de ênfase tratam de assuntos já apresentados em notas explicativas, podendo sugerir alto grau de aderência aos itens 1 (a) e 4 (a) da NBC TA 706, segundo os quais a ênfase trata de assunto que está apropriadamente apresentado no corpo das demonstrações financeiras ou adequadamente divulgado nas notas explicativas.

2010 2011 Parágrafos de ênfase

Freq. (%) Freq. (%) Assuntos abordados em notas explicativas

29 90,6 30 100,0

Assuntos não abordados em notas explicativas

3 9,4 0 0,0

Total geral de parágrafos de ênfase 32 100,0 30 100,0

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Por outro lado, reflete-se sobre a redundância da informação e se questiona: o parágrafo de ênfase no relatório de auditoria transmite novas informações ao leitor?

Outro aspecto a observar diz respeito ao fato de que a inserção de parágrafos de ênfases nos relatórios de auditoria independente não encontra limitações, cabendo ao auditor o julgamento do quanto abordar. Assim, a tabela 7 e o quadro 4 descrevem a quantidade e os assuntos descritos em cada relatório analisado. 64,5% dos relatórios de 2010 abordaram exclusivamente o assunto de critérios contábeis divergentes, tal comentário só não está presente em 19,4% deles. Da mesma forma, 71% dos relatórios de 2011 abordou um único assunto, também relacionado à ênfase sobre critérios contábeis divergentes.

Tabela 7 – Quantidade de assuntos abordados por cada relatório estudado

Quadro 4 – Quantidade de assuntos abordados por cada relatório estudado

Quantidade Assuntos abordados nos parágrafos de ênfase

2010 2011 Critérios contábeis divergentes 20 22 Critérios contábeis divergentes e Reapresentação das demonstrações contábeis

1 0

Critérios contábeis divergentes e Incertezas de continuidade 1 0 Critérios contábeis divergentes e Assuntos diversos 1 4 Critérios contábeis divergentes, Reapresentação das demonstrações contábeis e Assuntos diversos

1 0

Critérios contábeis divergentes, Incertezas de continuidade e Assuntos diversos

1 0

Fonte: Dados da pesquisa.

A leitura conjunta da tabela 7 e do quadro 4 permite constatar que o assunto “critérios contábeis divergentes” está contido em todos os relatórios de auditoria independente que inseriram parágrafos de ênfase.

Além dos parágrafos de ênfases, a NBC TA 706 prevê a utilização de parágrafos de outros assuntos, cuja diferenciação reside no tipo de assunto abordado que não deve está divulgado pelo conjunto de demonstrações financeiras, pois se relaciona, conforme visto, com assunto relevante para os usuários entenderem a auditoria, a responsabilidade do auditor ou o relatório de auditoria, ou seja, relacionada com o trabalho do auditor.

A tabela 8 mostra que os 31 relatórios analisados, apresentaram 37 parágrafos de outros assuntos em 2010 e 35 em 2011, número superior aos respectivos parágrafos de ênfases do ano de 2010 e 2011, que foram 32 e 30 respectivamente.

2010 2011 Assuntos Abordados

Freq. (%) Freq. (%) Nenhum assunto 6 19,4 5 16,1

Um assunto 20 64,5 22 71,0

Dois assuntos 3 9,7 4 12,9

Três assuntos 2 6,5 0 0,0

Total de relatórios 31 100,0 31 100,0

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Tabela 8 – Parágrafos de outros assuntos

2010 2011 Assuntos abordados

Freq. (%) Freq. (%) Informação Suplementar - Demonstração do valor adicionado

30 81,1 31 88,6

Auditoria dos valores correspondentes do exercício anterior

5 13,5 3 8,6

Reapresentação das demonstrações contábeis

2 5,4 0 0,0

Operações com partes relacionadas 0 0,0 1 2,9 Total geral de parágrafos de outros assuntos

37 100,0 35 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Na tabela 8, observa-se que, em 2010, 81,1% e, em 2011, 88,6% dos parágrafos de outros assuntos se reportam a divulgação de informação suplementar, a demonstração do valor adicionado, que, pelas normas internacionais não é obrigatória, sendo que em 2010 62,2% e em 2011 80% dos parágrafos de outros assuntos abordaram apenas esse assunto.

No entanto, o item 19 da NBC TA 210, recomenda, nesta circunstância, chamar atenção do leitor através de parágrafo de ênfase. Apesar disto, nos relatórios analisados a comunicação é feita para chamar a atenção do leitor sobre a extensão do exame de auditoria que alcançou também a informação suplementar, caracterizando, portanto, o parágrafo de outros assuntos.

Por fim, no ano de 2010, 5,4% dos parágrafos de outros assuntos abordaram a reapresentação das demonstrações contábeis (tabela 8). Este fato, conforme tabela 5, foi tratado como ênfase em 6,3% das ênfases analisadas. Já no ano de 2011, até a data da coleta de dados, não houve reapresentação das demonstrações contábeis.

Esta falta de uniformidade nos relatórios de auditoria analisados, quanto ao tratamento do assunto “reapresentação das demonstrações contábeis”, pode derivar da ambiguidade presente nas NBC TA´s que tratam do tema. Conforme já discutido, os apêndices 1 e 2 da NBC TA 706, consideram ênfase ou parágrafo de outros assuntos aquele relacionado com a NBC TA 560 – Eventos Subsequentes, itens 12(b) e 16. Porém, o item 16 da NBC TA 560, considera textualmente como ênfase.

Do exposto, observa-se que não há uniformidade nos relatórios de auditoria independente analisados, quanto ao tratamento do assunto “reapresentação das demonstrações contábeis”, uma vez que em alguns relatórios foi apresentado como ênfase, e em outros como parágrafo de outros assuntos, demonstrando existência de conflitos nas NBC TA´s que tentam padronizar esse tratamento, bem como na escolha do auditor sobre em qual seção/parágrafo abordá-los.

6 Conclusão

Os resultados encontrados com a pesquisa realizada permitiram identificar o assunto “critérios contábeis divergentes” inserido em todos os relatórios analisados que fizeram uso do parágrafo de ênfase, tanto em 2010, com em 2011. Além deste, a “reapresentação das demonstrações contábeis” e “incertezas de continuidade” também foram citados como ênfases nos relatórios de 2010.

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Quanto ao parágrafo de outros assuntos, identificou-se a menção sobre “informação suplementar”, “auditoria dos valores correspondentes do exercício anterior”e “operações com partes relacionadas”, nos dois anos e “reapresentação das demonstrações contábeis”, adicionalmente em 2010.

Na análise realizada após a identificação dos assuntos abordados nos parágrafos de ênfase e de outros assuntos, confrontadas com as orientações estabelecidas nas NBC TA’s 706, 560 e 210, observou-se a existência de tratamento ambíguo do assunto “reapresentação das demonstrações contábeis” que foram considerados nas referidas normas e nos relatórios analisados ora como ênfase, ora como parágrafo de outros assuntos.

Do exposto, concluiu-se que o assunto “reapresentação das demonstrações contábeis” é tratado pelas NBC TA’s e nos relatórios dos auditores independentes analisados, de forma ambígua, quando se relaciona a seção/parágrafo destinado a sua menção. Tal conclusão sinalizar a necessidade de maiores orientações normativas a respeito.

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Divulgação Voluntária da Cadeia de Valor em Empresas Brasileiras: Um Estudo sobre a Evidenciação e possíveis Fatores Determinantes.

AUTORES: Leandro Lopes, Juliana Matos, Luiz Miranda, Marco Tullio.

Resumo

As empresas cada vez mais tem buscado realizar o gerenciamento da cadeia de valor com o objetivo de alcançar vantagem competitiva junto aos seus concorrentes e reduzir seus custos de produção. O objetivo da presente pesquisa foi o de verificar se as empresas brasileiras, listadas na Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa, divulgam informações sobre o gerenciamento da cadeia de valor em seus relatórios financeiros e se existe relação entre a divulgação e a margem bruta obtida. Para tanto, foi aplicada a técnica de Análise de Conteúdo aos relatórios da administração e notas explicativas correspondentes ao exercício de 2011, orientada por uma adaptação do instrumento de análise da gestão estratégica de custos elaborado por Wrubel et al (2010). A amostra selecionada contou com as dez maiores empresas brasileiras, não-financeiras, adotando-se o critério de maior ativo total registrado. Embora a divulgação desse tipo de informação não seja de natureza obrigatória, constatamos que as empresas analisadas apresentam, em média, 30 sentenças relacionadas ao tema em seus relatórios. A subcategoria de atividades desenvolvidas na cadeia de valor interna e externa representaram 54,58% do total de sentenças identificadas. Verificamos ainda que não existe correlação significativa entre a quantidade de sentenças divulgas e a margem bruta, não sendo possível afirmar que uma maior margem bruta incentivaria um volume maior de divulgação de informações da cadeia de valor.

Palavras-chave: Cadeia de Valor; Divulgação Voluntária; Vantagem Competitiva.

1. INTRODUÇÃO

Para que um produto chegue às mãos do cliente final ele atravessa várias etapas que compõem o processo produtivo e geram valor para esse (SHANK e GOVINDARAJAN, 1997). Na confecção de um único produto existem várias etapas que seguem uma ordem até a sua conclusão e que na maioria das vezes não será desenvolvida por uma única empresa, mas, em uma visão ampla, em conjunto com outras que são responsáveis por cada parte do processo.

Com o tempo, os gestores passaram a observar que para as empresas obterem melhores vantagens competitivas eles precisariam fazer o gerenciamento não apenas de suas atividades e processos internos (geração de valor horizontal), mas de todo o processo de confecção (geração de valor horizontal e vertical), denominada cadeia de valor.

O gerenciamento da cadeia de valor vem ganhando espaço nas discussões, tanto nas empresas como na academia, sendo um tema recorrente na prática de gestão adotada por grandes empresas e tema recorrente nas pesquisas (ROCHA e BORINELLI, 2007). Porém, há poucas pesquisas que visam identificar se as empresas divulgam em seus relatórios externos as ações e medidas adotadas na cadeia e os fatores que determinam essa divulgação.

Hendriksen e Van Breda (1999) em relação a divulgação de informações, afirmam que embora haja um julgamento intuitivo do que seja apropriado divulgar, não há evidencias sólidas que permitam determinar o que seja apropriado divulgar nos relatórios financeiros das empresas. Dessa forma, torna-se mais prático e menos trabalhoso para as empresas divulgar apenas o que é determinado em normas.

Contudo, a prática de divulgação de informações financeiras e gerenciais que visem proporcionar um melhor entendimento das ações da empresa ao investidor, além das que já são obrigatórias por força de

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normatização, é estimulada pelos órgãos que emitem as normas brasileiras de contabilidade, pelos órgãos reguladores e profissionais de auditoria.

Um ponto relevante levantado por Elmuti (2002) questiona quais fatores estão associados com o sucesso ou fracasso dos programas de gerenciamento de cadeia de valor. A partir desse entendimento, considerando a problemática destacada e após a observação de diversas pesquisas relacionadas ao tema, mas que não abordam sua divulgação voluntária e suas explicações, tomou-se por objetivo verificar se as empresas divulgam informações sobre o gerenciamento da cadeia de valor em seus relatórios e se existe relação com a margem bruta obtida.

Considerando que o gerenciamento da cadeia de valor proporciona diferencial para a empresa, pois pode gerar a redução de custos e diferenciais ao produto final para seus clientes que podem alavancar suas vendas, acredita-se que as empresas que fazem o seu gerenciamento podem obter maior margem bruta que aquelas que não adotam essa prática e que a empresa pode julgar importante demonstrar as ações que está implementando para melhorar seus resultados. Por outro lado, acredita-se que quanto mais informações forem disponibilizadas para os usuários dos relatórios maior será o interesse desses pela empresa.

O presente trabalho seguirá apresentando uma revisão da literatura abordando o gerenciamento da cadeia de valor, a prática de divulgação voluntária de informações em relatórios financeiros e estudos anteriores relacionados ao tema proposto neste. Na sequência será abordada a construção da metodologia proposta para a consecução dos objetivos propostos. A seção seguinte trará a análise dos dados obtidos, realizando uma análise descritiva. A última seção deste trabalho apresentará a conclusão do estudo com base nos resultados encontrados, sua limitação de interpretação e sugestões para pesquisas futuras.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Gestão da Cadeia de Valor

De acordo com Rocha e Borinelli (2007), partindo-se do pressuposto de que as atividades devem ser o foco da gestão para se conquistar e conservar vantagens competitivas, e sabendo-se que elas são executadas em sequência lógica, formando uma cadeia, chega-se à ideia de Cadeia de Valor.

A cadeia de valor é constituída de processos e atividades estratégicas distintas de um mesmo setor, que podem ser identificadas como geradoras de valores e a essas possam ser atribuídos custos, receitas e ativos necessários ao processo (SHANK e GOVINDARAJAN, 1997). Portanto, no processo que compreende desde a extração da matéria-prima para a produção de um item até a sua entrega ao consumidor final, representa a cadeia de valor e cada atividade relevante desenvolvida precisa ser gerenciada.

Para Porter (1980) uma empresa pode obter, dentro de sua cadeia de valor, vantagem competitiva com base na redução de custos ou na diferenciação do produto que é ofertado ao consumidor, como pode também conseguir vantagens de ambas as formas. Para que essas vantagens possam ser obtidas, segundo Shank e Govindarajan (1997), dependerá fundamentalmente da maneira como a empresa fará o gerenciamento de sua cadeia de valor em comparação com as cadeias de valor de seus concorrentes.

Para Mentzer et al (2001) as empresas que praticam a gestão da cadeia de valor buscam vantagens competitivas no mercado, redução de custos e melhoria na satisfação do cliente. O que diferencia essa prática das demais é que as empresas não buscam alcançar redução de custos ou melhoria de lucro às custas de seus parceiros da cadeia de valor, mas sim procuram tornar a cadeia mais competitiva e a maximização dos resultados ao longo da cadeia (LI e CHEN, 2001; COOPER et al, 1997).

Tendo em vista as vantagens proporcionadas pelo gerenciamento da cadeia de valor para as empresas, Shank e Govindarajan (1997) afirma que os gestores que tomam por objetivos de sua gestão não apenas reduzir os custos e otimizar a eficiência mas também desejam agregar valor aos seus produtos e

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serviços oferecidos aos clientes necessitam realizar a análise da cadeia de valor para que possam identificar as oportunidades de melhoria.

2.2 Divulgação nos relatórios financeiros

Segundo Bravo, Abad e Trombetta (2008) os relatórios financeiros emitidos pela contabilidade são a principal forma de disclosure das informações corporativas. Tomando por base esta afirmativa dos autores podemos considerar que os relatórios financeiros publicados pelas empresas devem trazer informações que permitam aos seus usuários o conhecimento das ações desenvolvidas e fatores relacionados aos resultados alcançados.

Como forma de orientar as empresas quanto ao que se deve divulgar nos relatórios financeiros os órgãos reguladores profissionais e das empresas destacam alguns pontos que necessitam de informações adicionais e estabelece que sejam divulgados em notas. Porém, a empresa também é incentivada a trazer informações voluntárias que visem permitir melhor esclarecimento do que está divulgando e dos resultados obtidos, de forma que seja considerada mais completa.

Para Hendriksen e Van Breda (1997) para que uma divulgação financeira seja considerada completa pressupõe-se que esteja sendo apresentada toda informação relevante ao destinatário da informação, que segundo normatização contábil brasileira emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis são os investidores e credores.

As empresas ainda têm muito que evoluir no sentido da transparência e qualidade da divulgação voluntária de informação (COLARES e PONTES, 2003). Por não haver direcionadores de atenção para o que se deve informar aos investidores, cabe ao gestor da empresa realizar o julgamento do que deve ou não divulgar e quais benefícios serão proporcionados pelo maior grau de disclosure.

A divulgação de informações não obrigatórias nos relatórios de informações financeiras pode ser explicada por diversas características da própria empresa e por sua expectativa de interpretação dos usuários da informação (CUNHA e RIBEIRO, 2006). Nessa perspectiva podemos considerar que, embora o julgamento dos gestores do que se deve divulgar voluntariamente dependa de questões internas, podem ocorrer em diversas empresas.

Para Healy e Palepu (2000) a divulgação de informações é um fator fundamental para o correto funcionamento do mercado de capitais e por isso merece a atenção dos pesquisadores e das empresas. Portanto, pode-se acreditar que as informações que são divulgadas pelas empresas abertas que negociam suas ações em mercado tendem a evidenciar informações que julguem importantes para atrair investidores.

2.3 Estudos da cadeia de valor nos relatórios financeiros

Um estudo realizado por Wrubel, Diehl e Ott (2010) verificou a divulgação sobre a gestão estratégica de custos por companhias abertas brasileiras, analisando 30 relatórios divulgados entre os anos de 2005 e 2007, selecionados aleatoriamente. Para a coleta dos dados os autores elaboraram um instrumento que categorizou termos relacionados à temática a partir do método Delphi, que incluiu análise da cadeia de valor, análise de direcionadores de custos e análise do posicionamento estratégico.

Dentre os resultados da pesquisa, ficou constatado que 47,2% dos relatórios analisados divulgavam informações relacionadas às categorias associadas à Análise da Cadeia de Valor, recebendo destaque a identificação da cadeia de valor à qual pertenciam, seus principais clientes e fornecedores e informações sobre contratos de fornecimento de produtos ou serviços. Os autores constataram também que não havia relação significativa entre a divulgação e o tamanho da empresa ou seu nível de governança corporativa registrado na Bovespa.

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Rocha e Borinelli (2007) realizaram um estudo exploratório da lucratividade de 10 grandes empresas que compõem a Cadeia de Valor da indústria de bens de consumo e das grandes redes de supermercados que atuam no Brasil. Através do qual foi possível constatar que não houve um aumento na margem bruta das empresas que atuam no varejo em detrimento do crescimento da mesma margem nas industrias de bens de consumo.

Os autores destacaram ainda que a margem bruta das indústrias de bens de consumo manteve-se estável ou aumentou em proporção mais elevada que as empresas do varejo, comparando-se os exercícios encerrados em 2000 e 2004 observados nesse estudo.

A presente pesquisa torna-se relevante e destaca-se dentre as apresentadas por buscar verificar se existe relação significativa que permita afirmar se variações positivas na margem bruta das empresas analisadas podem influenciar na divulgação de informações relacionadas ao gerenciamento da cadeia de valor a qual pertence.

Dando continuidade ao estudo, apresenta-se a metodologia adotada para a consecução dos objetivos propostos.

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

O universo desta pesquisa são as empresas brasileiras de capital aberto que negociam seus títulos na Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa e que publicaram suas demonstrações contábeis referentes ao exercício encerrado em 2011. A amostra foi selecionada por julgamento dos autores, considerando o porte e a relevância das empresas para a economia de mercado, composta pelas 10 empresas que possuem os maiores valores de ativo total registrados em seus balanços.

As empresas selecionadas tem suas atividades principais concentradas nos seguintes setores: Petróleo e Gás, Mineração, Energia elétrica, Alimentos e bebidas, Siderurgia e Metalurgia, Telecomunicações e Química. Devido à especificidade da pesquisa, foram excluídas da amostra empresas que atuam no setor financeiro. A seguir são apresentadas as empresas, por ordem decrescente de tamanho de ativo total, que compõem a amostra deste estudo:

Quadro 1 – Amostra da pesquisa

1. Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás 2. Vale S.A. 3. Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobrás 4. Telefônica Brasil S.A. 5. Gerdau S.A. 6. JBS S.A. 7. Companhia Siderúrgica Nacional 8. Companhia de Bebidas das Américas - Ambev 9. Companhia Energética de Minas Gerais -

Cemig 10. Braskem S.A.

Fonte: Bovespa (2012).

Os documentos considerados na análise dos dados foram os que compõem o sentido mais estrito de divulgação financeira destacado por Hendriksen e Van Breda (1997) que inclui o Relatório Anual da Administração, as Notas Explicativas das Demonstração Financeiras Padronizadas – DFP, quadros e demonstrativos complementares que tenham sido publicados no sítio eletrônico da Bovespa ou das próprias empresas estudadas.

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O instrumento utilizado para a coleta de dados nos relatórios de divulgação financeira foi elaborado a partir de uma adaptação do elaborado por Wrubel, Diehl e Ott (2010), que categorizou e subcategorizou termos relacionados a gestão estratégica de custos. Como o foco desta pesquisa é a Cadeia de Valor, foram descartados do instrumento os termos relacionados aos direcionadores de custos e ao posicionamento estratégico, restringindo ao foco deste estudo e ficando estruturado como segue:

Quadro 2 – Categorias da Análise da Cadeia de Valor

ANÁLISE DA CADEIA DE VALOR • Elos/Etapas/Atividades da cadeia de valor interna e externa

• Poder de negociação dos fornecedores (cadeia de suprimento)

• Identificação da cadeia de valor • Atividades dos clientes (cadeia de distribuição)

• Integração vertical • Visão de todo o negócio ou visão sistêmica

• Atividades, compromissos ou exigências aos fornecedores (cadeia de suprimento)

• Ciclo de vida útil do produto/serviço

Fonte: Adaptado de Wrubel, Diehl e Ott (2010).

A técnica utilizada foi a de Análise de Conteúdo, que segundo Bardin (2011) utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos para análise das comunicações em texto, visando descrever e classificar o conteúdo das mensagens analisadas. A adoção deste método justifica-se em razão das informações relacionadas a cada subcategoria estarem dispostas em formato de texto nos relatórios financeiros, sendo em seguida tratados de forma quantitativa, tendo em vista que o foco da pesquisa em tela é destacar e buscar correlações entre o volume de informações da cadeia de valor divulgadas por cada empresas analisadas e a variável Margem Bruta.

Para a obtenção da variável que se pretendeu relacionar neste estudo foi utilizado o software Economática com o objetivo de obter informações mais precisas quanto a Margem Bruta obtida por cada empresa analisada no ano de 2011. Para cálculo das correlações entre as variáveis e criação dos gráficos que compõem a análise dos dados foi utilizado o software Excel (versão 2007).

Após o tratamento dos dados de forma quantitativa e observadas suas possíveis correlações com cada variável procedemos com a Análise Descritiva na seção seguinte.

ANÁLISE DOS DADOS

Foram consultados o Relatório da Administração/Comentário de Desempenho e as Notas Explicativas disponíveis no sítio eletrônico da Bovespa referentes ao exercício de 2011. Neste primeiro momento da pesquisa observou-se que não há um padrão quanto à estrutura de apresentação do relatório da administração, diferentemente do que acontece com as notas explicativas que seguem estrutura bastante semelhante em todas as empresas consultadas.

Na realização desta pesquisa foi possível observar que os relatórios divulgados trazem informações relacionadas a cadeia de valor a qual cada empresa analisada pertence, desta forma, transmitindo ao usuário das informações financeiras divulgadas conhecimento de importantes fatores relacionados às atividades que desenvolvem. O que permite afirmar que embora essas informações não sejam obrigatórias, há uma tendência em publicá-las.

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Nesta pesquisa não se buscou avaliar a qualidade das informações divulgadas, mas apenas se essas informações eram transmitidas por meio dos relatórios financeiros e a frequência com a qual são apresentadas, independentemente do conteúdo trazer informações positivas, negativas ou perspectivas futuras.

Após a realização da análise de conteúdo foram quantificadas as sentenças divulgadas que apresentam informações ligadas a cadeia de valor a qual pertence cada uma das empresas estudadas. A seguir são apresentadas as empresas e suas respectivas quantidades de citações, por ordem decrescente, encontradas nos relatórios analisados:

Quadro 3 – Quantidades de sentenças por empresas

1. Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig 58

2. JBS S.A. 50 3. Braskem S.A. 40 4. Telefônica Brasil S.A. 37 5. Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás 33 6. Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás 29 7. Companhia Siderúrgica Nacional 20 8. Companhia de Bebidas das Américas – Ambev 17 9. Gerdau S.A. 13 10. Vale S.A. 9

Observa-se que a empresa que mais trouxe informações foi a Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, que representou 18,95% das sentenças identificadas na análise, demonstrando uma preocupação em fornecer informações amplas aos investidores e credores, destinatários principais das informações financeiras divulgadas pelas empresas. E a que menos trouxe informações relacionadas à cadeia de valor foi a Vale S.A. com apenas 9 sentenças, representando apenas 2,94% do total.

Calculando-se a média de sentenças identificadas nos relatórios, chega-se ao resultado de 30 ocorrências por empresa, o que permite afirmar que 50% das empresas analisadas foram ordenadas abaixo desse volume. Muito embora, seja importante destacar também que todas as empresas que compõem a amostra deste estudo apresentaram sentenças que se relacionam a cadeia de valor.

O volume de sentenças identificados neste estudo é um pouco inferior ao encontrado por Wrubel, Diehl e Ott (2010), considerando-se uma proporção para o número de empresas analisados na presente pesquisa. Contudo, essa diferença encontrada não permite afirmar que as empresas vêm reduzindo a divulgação das informações da cadeia de valor, tendo em vista que, pela metodologia deste estudo estar concentrada na análise de conteúdo, pode apresentar resultados diferentes por considerar o julgamento dos autores na etapa da coleta dos dados.

Em seguida fizemos uma análise mais detalhada das sentenças identificadas por empresa, apresentando quais são as subcategorias mais recorrentes nos relatórios. A seguir é apresentado um quadro resumo que será em seguida discutido:

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Quadro 4 – Quantidades de sentenças por subcategorias

Subcategoria Quantidade de Sentenças

Elos/Etapas/Atividades da cadeia de valor interna e externa 167 Identificação de membros da cadeia de valor 73 Integração vertical 33 Atividades, compromissos ou exigências aos fornecedores 7 Poder de negociação dos fornecedores 1 Atividades dos clientes 20 Visão de todo o negócio ou visão sistêmica 3 Ciclo de vida do produto/serviço 2

Percebe-se que há uma atenção maior por parte das empresas em divulgar as atividades da cadeia de valor, principalmente relacionadas às atividades internas. Essa divulgação representa 54,58% de todas as sentenças observadas neste estudo, demonstrando que as empresas sentem a necessidade de tornar público aos usuários da informação as atividades que desenvolve dentro da cadeia que está inserida. A empresa que mais divulgou suas atividades desenvolvidas dentro da cadeia de valor foi a Companhia Energética de Minas Gerais - Cemig.

A identificação da cadeia de valor foi a segunda categoria com maior número de sentenças relacionadas, representando 23,85% do total observado. Na maior parte das informações encontradas identificadas as empresas citam quem são seus fornecedores, clientes e apresentam características da cadeia de valor a qual pertencem.

A integralização vertical da cadeia de valor também teve destaque na divulgação das informações nos relatórios financeiros analisados. Algumas empresas afirmam em seus relatórios que atuam em todo o processo de produção, venda e distribuição dos seus produtos aos consumidores finais, abrangendo quase toda a cadeia de valor. Além disso, a JBS S.A. foi a empresa que mais apresentou informações de seu processo de confecção e venda entre empresas do seu grupo, afirmando inclusive que algumas empresas tem sua produção voltado a outras empresas do mesmo grupo que atuam em etapas seguintes do processo produtivo dos alimentos que comercializa.

Para as subcategorias Poder de negociação dos fornecedores, Visão de todo o negócio ou visão sistêmica e Ciclo de vida do produto/serviços representaram juntas apenas 1,96% das sentenças identificadas.

Foram identificadas 306 sentenças nos 20 relatórios analisados (Relatório da Administração e Notas Explicativas), das quais 58% foram observadas nos relatórios da administração e o restante, 42%, nas notas explicativas das empresas. A seguir é apresentado um quadro com o volume encontrado por empresa em cada tipo de documento:

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Quadro 5 – Sentenças encontradas por relatórios

Empresa Relatório da Administração

Notas Explicativas

Total

Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig 17 41 58 JBS S.A. 8 42 50 Braskem S.A. 31 9 40 Telefônica Brasil S.A. 35 2 37 Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás 29 4 33 Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás 18 11 29 Companhia Siderúrgica Nacional 15 5 20 Companhia de Bebidas das Américas – Ambev 12 5 17 Gerdau S.A. 12 1 13 Vale S.A. 2 7 9

A maior parte das empresas analisadas apresentavam um maior volume de sentenças nos relatórios da administração, provavelmente pela estrutura do documento ser mais livre de padrões e permitir que a empresa explane em suas palavras o desempenho e ações das empresas. Apenas a Companhia Energética de Minas Gerais - Cemig, JBS S.A. e Vale S.A. apresentaram volume maior de sentenças em suas notas explicativas.

Verificando se haveria correlação significativa entre o volume de páginas dos relatórios e o volume de sentenças relacionadas à cadeia de valor, encontramos um correlação de apenas 31,1%. Da mesma forma como o coeficiente de determinação (r²) foi de apenas 0,097. Ambos influenciados principalmente pela empresa JBS S.A. ter sido a segunda empresa a trazer o maior número de sentenças e, ao mesmo tempo, ter o menor volume de páginas no conjunto dos relatórios analisados.

Portanto, realizamos uma nova análise de correlação retirando a JBS S.A. da amostra. Na segunda observação do comportamento das variáveis encontramos uma correlação positiva de 64,71% e o coeficiente de determinação (r²) subiu para 0,4188. Sendo possível afirmar que há uma moderada crescente entre as variáveis observadas. Esse achado vem corroborar o resultado obtido por Wrubel, Diehl, Ott (2010) quando constataram que havia uma correlação forte de 77,7% entre as informações voluntárias e o tamanho dos relatórios.

A empresa que divulgou os relatórios mais extensos em números de páginas foi a Centrais Energéticas Brasileiras S.A. – Eletrobrás, com 233 páginas. Contudo, a empresa foi a quinta empresa que mais divulgou informações da cadeia de valor. Enquanto que a JBS S.A. em seu conjunto de relatórios possui apenas 67 páginas, foi a segunda empresa a trazer maior número de sentenças. Contudo, considerando todas as empresas analisadas podemos afirmar que quanto maior os relatórios de informações financeiras maior será o número de divulgação de sentenças relacionadas à Cadeia de Valor.

O gráfico a seguir apresenta como se comportou a dispersão entre o número de páginas nos relatórios e as sentenças identificadas neste estudo:

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Gráfico 1 – Dispersão entre o número de páginas x quantidade de sentenças

Por último, verificamos se haveria correlação entre a margem bruta obtida e as informações divulgadas nos relatórios da administração e notas explicativas, considerando que as empresas que possuíssem maior margem bruta poderiam se sentir mais incentivas a divulgar informações aos usuários dos relatórios financeiros divulgados, demonstrando sua preocupação com a cadeia de valor e seus reflexos em sua margem bruta.

As empresas que compõem a amostra desta pesquisa possuem, respectivamente as seguintes margens brutas no mesmo ano de análise dos relatórios financeiros consultados neste estudo:

Quadro 6 – Margem bruta das empresas analisadas

Empresas Margem Bruta Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobrás 85,74 Companhia de Bebidas das Américas – Ambev 67,58 Telefônica Brasil S.A. 50,63 Companhia Siderúrgica Nacional 40,67 Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig

37,04

Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás 31,63 Gerdau S.A. 14,43 Braskem S.A. 11,63 JBS S.A. 10,84

Fonte: Economática (2012)

A empresa que obteve maior margem bruta no período foi a Eletrobrás, com 85,74%, que obteve uma diferença de quase 20% entre a segunda colocada. A JBS S.A. embora tenha sido a segunda empresa a divulgar o maior número de informações relacionadas a sua cadeia de valor, é a que obteve a menor margem bruta no período. A seguir é demonstrado um gráfico com a dispersão observada:

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Gráfico 2 – Margem bruta x sentenças identificadas

O valor encontrado para verificar correlação entre as duas variáveis propostas no objetivo deste estudo, -30%, indica uma correlação fraca entre elas. O coeficiente de determinação possui baixo poder de explicação quando se busca correlacionar as empresas que possuem margem bruta maior com o volume de sentenças identificadas como divulgação da cadeia de valor. O r² calculado foi de apenas 0,90, o que pode indicar que estatisticamente a margem bruta maior influencia apenas em 9% a decisão em divulgar mais informações. Portanto, é possível afirmar que existem outras variáveis capazes de explicar também essa tendência que representam 91% dessa influência.

CONCLUSÃO

A divulgação de informações nos relatórios financeiros contribui para que os seus usuários conheçam os negócios e saibam as características de cada empresa que se pretende investir ou que já possua algum tipo de participação. Por isso, bastante atenção precisa ser dada no que se divulgar, principalmente quando se trata de empresas de capital aberto que negociam seus títulos no mercado de ações que precisam atrair investidores e obter valorização de seu patrimônio.

No presente estudo foram selecionadas as dez empresas brasileiras, não-financeiras, com maior ativo total, listadas na Bovespa e verificado em seus principais documentos de divulgação de informações financeiras (relatório da administração e notas explicativas) se traziam sentenças relacionadas com a cadeia de valor nas quais estão inseridas e atuam no mercado.

A análise de conteúdo possibilitou constatar que há interesse das empresas em trazer informações de sua cadeia, principalmente porque esse tipo de divulgação não ser de natureza obrigatória, o que permite a empresa fazer o julgamento sobre o volume de informações que deve apresentar, bem como o que deve trazer nos seus relatórios.

As empresas selecionadas na amostra obtiveram uma média de 30 sentenças identificadas em seus relatórios analisados. Sendo que a empresa que mais trouxe informações foi a Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, que representou 18,95% do total com 58 sentenças. Enquanto que a empresa Vale S.A. foi a que menos trouxe essas informações.

As atividades desenvolvidas na cadeia de valor interna e externa foram as mais destacadas nos relatórios financeiros das empresas. Enquanto que as subcategorias Poder de negociação dos fornecedores, Visão de todo o negócio ou visão sistêmica e Ciclo de vida do produto/serviços obtiveram percentual

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bastante pequeno por só ter sido possível identificar um pequeno volume de sentenças que puderam ser relacionadas com os conceitos de cada uma dessas.

De forma complementar, testamos se havia correlação significativa entre o volume da divulgação da cadeia de valor e o tamanho da empresa, bem como correlação significativa com o tamanho dos relatórios. Diferentemente do estudo realizado por Wrubel, Diehl e Ott (2010) não encontramos um percentual significativo que permitisse essa conclusão.

Concluindo o objetivo deste estudo, verificamos se havia correlação significativa entre o volume de divulgação de sentenças da cadeia de valor com uma maior margem bruta obtida pela empresa no mesmo período. Concluímos que não havia correlação significativa que pudesse considerar essa possibilidade como verdadeira. Portanto, pode-se dizer que outras variáveis podem melhor explicar a tendência em divulgar essas informações.

Os resultados deste estudo podem apenas atribuir as conclusões encontradas para as empresas que compuseram a amostra, não podendo ser generalizadas às demais empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa, uma vez que o número de empresas analisadas ser insuficiente.

Como sugestões para pesquisas futuras sugerimos a ampliação da amostra e ainda do período analisado, de forma que seja possível verificar quais setores trazem mais informações e ainda observar se há uma tendência em aumentar o destaque dado a divulgação das informações da cadeia de valor com o passar dos anos, melhorando assim a comunicação entre a empresa e os seus investidores, credores e outros interessados.

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Valho o Quanto não Pago: Um Estudo acerca do Impacto da Retenção de Lucros no Valor da Empresa.

AUTORES: Luiz Carlos Marques dos Anjos, Paulo Aguiar do Monte.

Resumo

Estudos acerca da relevância da distribuição de dividendos para o valor da empresa têm surgido nas últimas décadas de forma controversa. Apesar dos autores reconhecerem a relevância do tema, de utilizarem corretamente métodos algébricos ou estatísticos, ainda não se chegou a um consenso. Este estudo parte do pressuposto que a retenção do lucro pode ter relação com o valor de mercado das empresas e tem como objetivo investigar a relação entre estas variáveis. A amostra foi composta por ações PN de empresas que fazem parte do IBOVESPA – em junho de 2012 –, nos anos de 2009 a 2011. O período foi restringido pelo fato de algumas empresas só começarem a apresentar dados a partir de 2009. A análise foi feita através de dados em painel, utilizando o modelo de estimadores aleatórios. Identificou-se que os lucros retidos estão diretamente relacionados com o valor da empresa, enquanto que os dividendos por ação não apresentaram relação estatisticamente significativa. Parte dos resultados é explicada na teoria da irrelevância dos dividendos, e outra parte contraria as teorias levantadas nesta pesquisa. A significância da retenção dos lucros pode atender a uma característica específica do mercado brasileiro que autores como Assaf Neto e Lima (2011) apontam:o fato que algumas empresas se tornaram viáveis no Brasil pela forma que se financiavam.

Palavras-chave: Dividendo. Valor da Empresa. Lucro Retido.

1 INTRODUÇÃO

Estudos sobre a distribuição de lucros têm surgido constantemente ao longo das últimas cinco décadas, no intuito de se entender a relação entre a política de dividendos e o valor das ações. Apesar da quantidade de pesquisas, com elevado rigor metodológico, ainda não se alcançou um consenso acerca desta relação. (DURAND, 1952; MILLER; MODIGLIANI, 1961; BLACK; SCHOLES, 1974; BRIGHAM; GORDON, 1968)

As discussões acerca do pagamento de dividendos sempre foram foco de muita atenção pela percepção geral de que a não distribuição do lucro geraria reinvestimentos operacionais, que influenciariam o nível de atividades, consequentemente o valor da empresa. Por outro lado a hipótese da preferência pela liquidez (ou hipótese da preferência pelo pássaro na mão) mostra que para o investidor um fator relevante de sua tomada de decisão seria o recebimento de fluxo de caixa, que poderia ocorrer pelo recebimento de dividendos, ou pela venda das ações (LINTNER, 1962; GORDON, 1963).

A venda de ações só geraria fluxo de caixa para os investidores caso seu preço de venda fosse superior ao de compra no momento em a transação é realizada. Isto por si só já gera um conflito para a política de dividendos, pois deve-se decidir entre não distribuir lucros e reinvestir na operação (o que, espera-se, aumentaria o valor da empresa e geraria a possibilidade do investidor auferir lucro na venda dos títulos), ou pagar dividendos e gerar fluxo de caixa para os acionistas, no intuito de manter seus investimentos. No Brasil a legislação societária exige a distribuição de 25% do lucro auferido em determinado exercício, logo a discussão vai abranger o que fazer com os 75% restantes.

De acordo com Bueno (2002) um dos primeiros trabalhos a discutirem o fluxo de dividendos como critério para definição do portfólio foi o de Graham e Dodd no início da década de 30.Segundo o mesmo autor uma das técnicas para análise do investimento,desenvolvidas a partir de então, deu-se através da seleção do portfólio por meio das taxas de retorno em dividendos de uma ação.

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Como falado anteriormente, além da distribuição de lucro o ganho de capital também se constitui como uma forma de fluxo de caixa para os investidores, entretanto a diferença na tributação sobre estas formas de rendimento fazem com que as organizações busquem otimizar sua política de dividendos de forma que as ações sejam valorizadas, conforme é explicado na teoria da preferência tributária. Percebe-se que a discussão acerca da distribuição de dividendos permeia a estrutura de capital da entidade.

Corroborando com esta lógica, Miller e Modigliani (1961) escreveram a teoria da irrelevância dos dividendos, afirmando que o valor de uma empresa é determinado pela sua capacidade em gerar benefícios futuros, e não pela forma como financia seus ativos. Entretanto ao final do seu trabalho os autores reconhecem que determinados grupos de acionistas demonstram preferência por diferentes políticas de dividendos, o que ficou conhecido como efeito clientela.

Como contraponto ao que foi defendido por Miller e Modigliani (1961), outros autores afirmam que o preço da ação é função da capacidade da empresa pagar dividendos (GORDON, 1963; MILLER; SCHOLES, 1982). O ponto central desta discussão é que os investidores percebem que os dividendos pagos hoje são menos arriscados que os futuros, logo a empresa que pagar maiores valores de dividendos hoje terá suas ações – quase sempre – negociadas por um preço maior.

A relevância desta pesquisa dá-se no momento em que tenta contribuir com esta discussão, partindo da observação de Assaf Neto e Lima (2011) que no Brasil muitas empresas se tornaram viáveis por conta de incentivos e subsídios constantes em seus financiamentos e não pelo bom uso de seus ativos. Por outro lado, estes autores também perceberam que algumas destas empresas acabaram descontinuando no futuro quando tais benefícios foram cessados, o que leva à uma conclusão de que a continuidade da organização parece aproximar-se mais à suas estruturas de capital do que nas decisões operacionais de investimento.

Para o investidor importa que a entidade permaneça em continuidade e gerando fluxos de caixa para si, logo esta pesquisa traz a discussão da distribuição de dividendos como uma forma de entender – pelo menos em parte – como a retenção dos lucros se relaciona com o valor da empresa.Loss e Sarlo Neto (2003) afirmam que a política de dividendos não trata apenas de quanto pagar ao acionista, mas de quanto ficará retido e porque assim será. Miller e Modigliani (1961) também reconhecem a relevância da discussão do efeito que a política de dividendos tem no valor das ações, destacando a contribuição que estes estudos podem trazer para os investidores ao planejarem suas carteiras e para pesquisadores que tentam entender cada vez mais o funcionamento do mercado de capitais.

Diante do exposto elaborou-se a seguinte questão problema:como poderia ser descrita a relação entre a retenção dos lucros e o valor da empresa?

2 REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção serão abordadas as principais teorias, conceitos e estudos que abordam o tema.

2.1 Decisão de Dividendos

Autores como Ross, Westerfield, Jaffe (2002) e Assaf Neto (2007) conceituam dividendos como uma distribuição parcial ou total – na forma de dinheiro – do resultado de determinado exercício. É uma forma de remunerar o acionista pelo investimento realizado, ou mantido. Seu valor é definido a partir do desempenho operacional atingido no período, ou a partir de expectativas de fluxos de caixa futuros. No Brasil a Lei 6.404/76 determina que deve ser distribuído, pelo menos, 25% do lucro obtido no exercício, como forma de garantia para os investidores.

A relevância do planejamento da quantidade de lucro que será retida e o que será distribuído a título de dividendos é destacada por Scherer e Martins (2003) que afirmam que se dimensionado indevidamente,

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pode gerar descapitalização e até mesmo comprometer a continuidade da firma. Estes mesmos autores afirmam que a retenção do lucro torna-se importante quando necessária para manutenção do capital físico.

Iudícibuset al (2010) classificam os dividendos em três categorias: quanto à ordem, quanto à apropriação dos lucros, e quanto ao recebimento. Quanto à ordem se dividem em preferenciais e ordinárias. No Brasil a prioridade para recebimento dos dividendos é dos acionistas preferencialistas, enquanto que os demais tem o direito a voto nas assembleias de gestão (FONTELES; et al, 2012). Quanto à apropriação dos lucros os dividendos se classificam como mínimos, fixos, ou obrigatórios. Quanto ao recebimento podem ser cumulativos, ou não cumulativos. Ao contrário destes, os primeiros permitem que o acionista receba dividendos do período atual em exercícios posteriores, caso o lucro auferido não seja suficiente para distribuição.

De acordo com Assaf Neto (2007) os acionistas recebem fluxos de caixas quando a empresa paga dividendos, ou quando vendem seus títulos no mercado por um valor superior ao adquirido. O autor continua sua reflexão afirmando que o lucro da empresa deve cobrir as despesas incorridas e o custo de oportunidade dos acionistas, logo o objetivo da criação de uma política de dividendos é o de maximizar o valor para o acionista. Desta forma, a política de dividendos estaria se aproximando da teoria residual de dividendos que afirma que só serão distribuídos dividendos se todas as oportunidades aceitáveis de investimento tiverem sido contempladas.

Fonteleset al (2012) afirmam que os dividendos possuem conteúdo informacional ao comentar que a política de dividendos pode servir ao investidor como um parâmetro de geração de lucros, ou como uma sinalização da empresa de que tem boas expectativas futuras de fluxo de caixa. Estas discussões estão inseridas em diversas pesquisas que apontam tanto para a relevância, como para a irrelevância dos dividendos, como será apresentado a seguir.

2.2 Teoria da Irrelevância dos Dividendos e Efeito Clientela

Um dos primeiros estudos em finanças que impulsionou a discussão acerca da política de dividendos foi o de Durand (1952) que afirmava que mudanças no risco financeiro impactavam apenas a forma de distribuição de resultados operacionais entre acionistas e credores. Logo, a estrutura de capital não teria relação com o valor da empresa. Com base nestes conceitos, Miller e Modigliani (1961) desenvolveram um estudo buscando compreender a relação entre a política de dividendos e o valor das ações de uma empresa. Os autores propõem que o valor da empresa é função das expectativas futuras de fluxo de caixa decorrentes de seus investimentos. Eles afirmam que isto independe da forma que a empresa financia suas atividades, logo os investidores também deveriam ser indiferentes à política de dividendos, pois estes não interferem no valor da empresa.

A teoria da irrelevância dos dividendos admite que o valor da empresa é função da obtenção dos lucros e não da forma como estes são distribuídos. Para chegar a esta conclusão Miller e Modigliani (1961) formularam um ambientecom base em quatro premissas:

1. O mercado é perfeito, logo nenhum agente tem força bastante para impactá-lo. Não há custos de transação ou de corretagem, não há diferenças entre os efeitos tributários que incorrem sobre dividendos ou ganhos de capital, e não há assimetria de informação;

2. Os investidores são racionais e são indiferentes se recebem dividendos, ou se o valor da ação aumenta;

3. O ambiente é de certeza perfeita o que implica que os investidores têm segurança acerca dos investimentos e resultados futuros das empresas, o que – segundo os autores – expurga a necessidade de diferenciação entre ações e títulos de dívida.

Os estudos de Black e Scholes (1974) e de Miller e Scholes (1982) inserem outras variáveis, mas chegam a conclusões semelhantes. Miller e Modigliani (1961) reconhecem a limitação de seu modelo

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necessitar de um mercado perfeito, entretanto ponderam que as imperfeições de mercado são inúmeras e de difícil previsibilidade, logo seria necessário uma nova discussão para cada imperfeição, o que tornaria a definição de um modelo geral inviável. Duas das imperfeições que os autores destacam são o efeito clientela e o conteúdo informacional dos dividendos.

Miller e Modigliani (1961),Alen, Bernardo e Welch (2000) e Assaf Neto e Lima (2011) conceituam o efeito clientela como a preferência de determinados investidores por diferentes políticas de dividendos. Essa preferência pode ser dada por fatores distintos, como a influência tributária. No mercado norte-americano seria mais fácil de identificar este efeito, pois as empresas não são obrigadas a distribuir dividendos e podem criar políticas para alcançar um determinado grupo de acionistas. Alen, Bernardo e Welch (2000) concluem que os investidores estão mais propensos a adquirir ações de empresas que distribuem dividendos, o que fere uma das premissas de Miller e Modigliani (1961). Assaf Neto e Lima (2011) afirmam que no Brasil existem exemplos de empresas que se viabilizaram através de subsídios e incentivos governamentais, e que quando estes deixaram de existir, ou quando seus concorrentes também tiveram acesso a eles, essas empresas não mantiveram sua continuidade, o que prova que o passivo – ou a forma de financiamento – é relevante para a continuidade da entidade.

2.3 A Relevância dos Dividendos / Teoria do Pássaro na Mão

O contraponto do que foi discutido anteriormente foi inicialmente pesquisado por Lintner (1962) e Gordon (1959; 1962; 1963). Gordon (1959; 1962) já havia afirmado que os dividendos são relevantes para o valor da empresa e em 1963 – em decorrência da publicação do estudo de Miller e Modigliani (1961) – o autor revisita seus estudos afim de criticá-los com base nas conclusões de Miller e Modigliani (1961). O autor afirma que não identificou nenhum erro no estudo daqueles autores, por se basearem na premissa que o futuro é certo, entretanto esta seria a principal restrição do modelo deles. Gordon (1963) apresenta através do método de fluxo de caixa contínuo que a política de dividendos tem impacto no valor da empresa em decorrência da variação do risco. O autor mostra que os investidores preferem receber hoje o dividendo – cujo valor é certo, do que aguardar um ganho de capital futuro cujo valor é incerto. Logo, o estudo de Gordon (1963) é baseado na aversão ao risco e aumento da incerteza para períodos mais distantes.

Lintner (1962) por sua vez, ao fazer um estudo abordando as duas linhas de pensamento, conclui que os valores de empresas não alavancadas só são independentes dos dividendos se, e apenas se, não houver incerteza, não existir custos de transação, nem diferenças tributárias. O autor afirma ainda que em modelos teóricos gerais abundam a ausência de linearidades, a existência de relações complexas e desigualdades que levam a preferências de mercado. Logo ele não consegue concluir se a linha de pensamento da irrelevância dos dividendos teria alguma representatividade empírica. Ross, Westerfiled e Jafef (2002) creditam este impasse à uma relação não-linear entre os dividendos e o valor da empresa. Lintner (1962) demonstra algebricamente que os dividendos são relevantes para o valor das empresas e recomenda estudos empíricos.

3 METODOLOGIA

De acordo com Cervo, Bervian e Da Silva (2007) o método é a ordem que deve ser imposta nos diversos procedimentos necessários para se atingir um resultado. Matias-Pereira (2010, p. 27) diz que o método “é o conjunto de procedimentos utilizados de forma regular, passível de ser repetido, para alcançar um objetivo material ou conceitual e compreender o processo de investigação”. Este estudo caracteriza-se como teórico-empírico e de raciocínio indutivo. Quanto aos objetivos este estudo classifica-se como descritivo, pois visa identificar se as variáveis independentes levantadas a partir da revisão da literatura influenciam significativamente o valor de mercado das empresas.

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A amostra da pesquisa constitui-se por empresas que compõem o índice IBOVESPA e cujos títulos componentes desta carteira são do tipo preferencial (PN). A escolha por estas empresas deu-se pelo fato que a carteira que compõe este índice representa os títulos de maior liquidez no mercado brasileiro, de acordo com o próprio sítio da BOVESPA as ações integrantes deste índice “respondem por mais de 80% do número de negócios e do volume financeiro do mercado à vista na BM&FBOVESPA” (BM&FBOVESPA, 2012). Por outro lado as ações PN representam interesses em ganhos sem gerar compromissos com a administração, pois têm preferência na distribuição de resultados sem dar direito a voto. Este tipo de ações atende à teoria da preferência pelo pássaro na mão.

A amostra foi restringida, também, pelo tempo de existência de cada título. Isto se deve ao fato de que a técnica de análise utilizada foi a de dados em painel, que exige que todos os indivíduos apresentem dados para todos os períodos analisados. Desta forma a amostra abrange o período de 2009 – 2011.

O Quadro 1 apresenta as empresas / títulos que compuseram a pesquisa.

EMPRESA TÍTULO

Lojas Americanas LAME4

Petrobrás PETR4

Vivo VIVT4

Pão de Açúcar PCAR4

Bradespar BRAP4

Itausa ITSA4

Klabin KLBN4

Gerdau GGBR4

Gerdau Met GOAU4

CMIG CMIG4

Eletropaulo ELPL4

Itaú-Unibanco ITUB4

Ambev AMBV4

CTEEP TRPL4

Bradesco BBDC4

Quadro 1 – Amostra da Pesquisa

De acordo com Brooks (2008) a análise de dados em painel permite incorporar informações através de tempo e espaço. Esta técnica de regressão por abranger uma maior quantidade de dados aumenta a quantidade de graus de liberdade o que aumenta a robustez do modelo. Entretanto tem como restrição a necessidade de cada indivíduo apresentar dados em todos os períodos analisados. A análise foi desenvolvida através do software Gretl.

Os dados para análise foram coletados no banco de dados da Economática. As variáveis utilizadas seguem as discussões apresentadas na revisão da literatura. Desta forma desenvolveu-se o seguinte modelo teórico:

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Onde:

= valor de mercado da empresa i no período t;

= coeficiente de interseção

= Quantidade de dividendos pagos dividido pelo total de ações da empresa i no período t;

= Parcela do lucro que foi retida pela empresa i no período t;

= termo de erro estocástico da regressão.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Inicialmente buscou-se desenvolver um diagnóstico para confirmar o modelo estatístico que seria mais apropriado. Conforme pode ser visto abaixo:

Diagnósticos: assumindo um painel equilibrado com 15 cortes transversais observados durante 3 períodos.

Estimador de efeitos fixos permite diferenciar os interceptos por unidade de corte transversal (erros padrão das inclinações entre parênteses, p-valores em chaves):

const: 2,4112e+010 (1,6587e+010) [0,15717]

Div_A: -4,1803e+009 (3,4878e+009) [0,24075]

LRet: 6248,5 (2200,7) [0,00832]

15 médias de grupo foram subtraídas dos dados

Variância dos resíduos: 7,02735e+021/(45 - 17) = 2,50977e+020

Significância conjunta da diferenciação das médias de grupo:F(14, 28) = 3,86156 com p-valor 0,00114378 (Um p-valor baixo contraria a hipótese nula de que o modelo MQO agrupado (pooled) é adequado, validando a hipótese alternativa da existência de efeitos fixos.)

Estatística de teste Breusch-Pagan:

LM = 9,8678 com p-valor = prob(qui-quadrado(1) > 9,8678) = 0,00168196

(Um p-valor baixo contraria a hipótese nula de que o modelo MQO agrupado (pooled) é adequado, validando a hipótese alternativa da existência de efeitos aleatórios).

Variance estimators:

between = 3,68769e+020

within = 2,50977e+020

theta used for quasi-demeaning = 0,523702

A partir de então pôde ser confirmado que o modelo de dados em painel seria o mais apropriado. Buscou-se, em seguida, identificar o problema de multicolinearidade perfeita. O r2 entre os regressores foi de 0,019098 o que, de acordo com Gujarati e Porter (2011), seria um valor aceitável para utilizar o modelo. O teste Durbin-Watson apresentou p-valor = 0,000210125, evidenciando não haver autocorrelação entre os

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resíduos. O uso do teste de White permitiu verificar a não ocorrência de heteroscedasticidade, conforme apresentado no Quadro 2.

coeficiente erro padrão razão-t p-valor -------------------------------------------------------------------------------

- const -7,94078e+019 2,57861e+020 -0,3079 0,7598 Div_A -1,03755e+020 2,22539e+020 -0,4662 0,6436 LRet 1,00889e+014 4,81777e+013 2,094 0,0428 ** sq_Div_A 8,71977e+017 3,01372e+019 0,02893

0,9771 X2_X3 3,10611e+013 1,62715e+013 1,909 0,0637

* sq_LRet -1,62808e+06 1,04728e+06 -1,555

0,1281 R-quadrado não-ajustado = 0,357960 Estatística de teste: TR^2 = 16,108189 p-valor = P(Qui-quadrado(5) > 16,108189) = 0,006542

Quadro 2 – Teste de White para a heteroscedasticidade

Conforme pode ser visto no Quadro 3, o teste de Hausman indica que há diferença entre os estimadores dos modelos de efeito fixo e de efeito aleatório, restando utilizar o modelo de efeitos aleatórios.

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor Const 1,04208e+01

0 6,71513e+09 1,5518 0,12821

Div_A -2,48823e+09

2,00056e+09 -1,2438 0,22048

LRet 7792,26 443,529 17,5688 <0,00001 *** Média var. dependente 6,33e+10 D.P. var. dependente 9,02e+10 Soma resíd. quadrados 2,07e+22 E.P. da regressão 2,19e+10 Log da verossimilhança -1134,362 Critério de Akaike 2274,724 Critério de Schwarz 2280,144 Critério Hannan-Quinn 2276,744 Teste de Hausman - Hipótese nula: As estimativas GLS são consistentes Estatística de teste assintótica: Qui-quadrado(2) = 1,09193 com p-valor = 0,579283

Quadro 3 – Modelo 1: Efeitos-aleatórios (GLS), Variável dependente: Vmerc

Logo o modelo poderia ser assim descrito (com erros padrão entre parênteses):

vmerc = 1,04e+010 - 2,49e+09*Div_A + 7,79e+03*LRet

(6,72e+09) (2,00e+09) (444)

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Inicialmente pode-se perceber que a variável ‘Dividendos por Ação’ (DivA) apresentou sinal oposto ao esperado. Esta variável seria uma proxy da política de dividendos das companhias, pois representa o quanto cada uma têm distribuído dos seus lucros, na forma de dividendos. O fato de apresentar sinal negativo indica que se relaciona inversamente com o valor da empresa, logo contraria a teoria do pássaro na mão conforme foi apresentada por Gordon (1959; 1962) e Lintner (1962). Por outro lado a teoria da irrelevância dos dividendos de Miller e Modigliani (1961) também não responderia esta questão. Como esta variável não foi estatisticamente significante, a teoria da irrelevância dos dividendos atende ao resultado obtido nesta pesquisa, no que tange a esta variável. Se DivA fosse significante no modelo, implicaria que o valor dos dividendos distribuídos diminuiria o valor da empresa.

Os ‘Lucros Retidos’ (LRet) foram significantes à 1% e o sinal positivo indica que o fato da empresa reter seus resultados implica no aumento de seu valor de mercado. Miller e Modigliani (1961) afirmam que o valor da empresa não seria função de como a empresa se financia, mas de como aplica os recursos obtidos, o que parece não atender a este achado. Já Assaf Neto e Lima (2011) mostram que, no Brasil, a forma de financiamento se relaciona com a continuidade da empresa. O estudo destes autores mostra uma relação com dívida, ao invés de capital próprio. Por outro lado o fato de não distribuir lucros, indica que a empresa se mantém, ou busca estar, capitalizada o que pode ser bem visto pelos investidores e contribuir para este resultado. Outra explicação para os achados desta investigação pode ser identificada através do conteúdo informacional dos dividendos como exposto por Miller e Modigliani (1961).

5 CONCLUSÕES

Este trabalho teve como objetivo investigar a relação entre a retenção dos lucros e o valor da empresa. Considerando como base as teorias descritas por autores estudiosos da política de dividendos.

A técnica estatística utilizada para análise é denominada dados em painel, a qual demonstrou que o valor de mercado da empresa (vmerc) está diretamente relacionado com a retenção dos lucros (RLuc). Por outro lado verificou-se que os dividendos por ação (DivA) não apresentaram relação estatisticamente significante com a variável dependente, o que atende à teoria da irrelevância dos dividendos exposta por Miller e Modigliani (1961).

O fato de RLuc ter sido significante é uma oposição às duas principais teorias que nortearam este trabalho: irrelevância dos dividendos e teoria do pássaro na mão. Enquanto a primeira afirma que esta variável deveria ser irrelevante, a segunda afirma que deveria estar inversamente relacionada com a variável dependente. Partindo dos resultados obtidos neste estudo, a distribuição de dividendos seria ruim para o valor da empresa, pois reduziria a quantidade de lucros retidos. O estudo de Assaf Neto e Lima (2011) parecem já mostrar indícios disto, mesmo não sendo este o foco da discussão dos autores.

Por outro lado este resultado traz à reflexão de que o valor da empresa estaria aumentando através de uma fonte de financiamento mais cara, que seria o capital próprio. Logo surge outro questionamento – já na forma de sugestão para pesquisas futuras – se a busca por uma estrutura ótima de capital aumenta o valor da empresa. A alavancagem teria algum impacto para esta variável? Empresas alavancadas poderiam ter seus valores maximizados?

Antes disto cabe-se ressalvar que esta pesquisa se limita à sua amostra. Desta forma o primeiro passo seria ampliar a amostra tanto na quantidade de cortes transversais, como de séries temporais. Outra limitação da pesquisa foi utilizar apenas ações do tipo PN.

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Modelo de Gordon com Fluxos de Caixa Estocástico: Um Estudo de Caso da Drogasil S/A.

AUTORES: Luiz Medeiros, Yuri Sampaio, Eduardo Bona Safe.

RESUMO

Diversos são os modos para se avaliar empresas. Tais formas podem tomar como informação valores constantes em diferentes demonstrações contábeis, como por exemplo, os dividendos distribuídos. Os modelos de avaliação, em sua maioria, trazem soluções com formas determinísticas, porém sabe-se do carácter incerto do mercado. O estudo da valoração das empresas se justifica frente ao grande número de transações baseadas nos modelos de valuation. O objetivo do trabalho é aplicar o consagrado modelo de Gordon, no entanto diferentemente da abordagem tradicional a avaliação do valor da ação foi feita de forma dinâmica, ou seja, incluída o caráter estocástico da série de pagamentos. Para isso foi escolhido a empresa Drogasil S/A, pois trata-se de uma empresa tradicional.A análise, portanto, seguiu-se a partir deste contexto, sendo estimado o crescimento dos proventos e dois estágios,o primeiro, baseado na fase de expansão de sua rede e uma segunda, de estacionariedade, com a taxa de crescimento da economia.Tambémfoi avaliada suas oscilações, o que sugere o grau de risco inerente a suas atividades. O processo foi realizado por meio de simulações nas quais remeteram a distribuição de probabilidades do valor da ação em determinado período focal. Através da simulação, infere-seuma probabilidade associada baixa do ativo valer mais do que sua cotação no momento da análise. De acordo com a teoria do mercado eficiente, isso indica uma alta propensão de pressões corretivas no sentido do valor fundamental.

Palavras-Chave: Modelo de Gordon, Fluxo de Caixa Descontado,Simulação.

1. INTRODUÇÃO

O estudo de avaliação de empresas tem sido realizado com diferentes finalidades, dentre elas valorar

empresas, comparar setores e desempenhos e comparar o crescimento dos valores, tanto de mercado como calculados através de metodologias e teorias predeterminadas.

Para a avaliação e cálculo do valor da empresa, diferentes técnicas podem ser utilizadas com base em diferentes informações. Dentre algumas das informações que podem ser úteis estão as informações contábeis como Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração do Fluxo de Caixa, entre outras. (FERNANDEZ, 2009). O trabalho trata-se de um estudo de caso, sendo feita a análise em apenas uma empresa, a Drogasil S/A.

A Drogasil é uma sociedade anônima de capital aberto que atua no mercado de medicamento e cosméticos há mais de 70 anos. Atualmente a Drogasil assume uma posição dentre as cinco maiores redes de farmácia no âmbito nacional. Sua rede detém hoje um amplo raio de atuação, no qual engloba os estados brasileiros: Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Distrito Federal.

Dois anos após sua fundação em 1935,e com a fusão de duas outras farmácias, a Drogasil em poucos anos de existência cria a rede Drogasil Ltda. Em 1973 a rede Drogasil abre capital na bolsa de Valores de São Paulo, sendo pioneira no seu setor. Foi, também, uma das primeiras farmácias a desenvolverem o conceito de Drugstore no Brasil, seguida do inicio de um novo ciclo econômico em 1995, com a entrada do plano Real. Após o surgimento desse conceito a Drogasil desenvolveu a identificação e a valorização de sua marca, atravésde iniciativas com entrega delivery, Drogasil on-line, programa de fidelidade, áreas voltadas para cosméticos, lojas 24 horas.

Atualmente, a Drogasil apresenta em seus relatórios a missão, “Buscar permanentemente o Bem Estar dos Nossos Clientes, através do aperfeiçoamento contínuo de nossas ações comerciais, estimulando a criatividade de cada funcionário”. E tem como visão, “Ser a melhor Rede de Farmácias, com os melhores resultados e atendimento diferenciado, através de pessoas e produtos”.Diante de boas qualidades resta a

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dúvida quanto ao investidor do real apreçamento das ações, dado que as políticas de gestão teoricamente apresentam congruência com as boas práticas defendidas no mercado.

Tomando como suporte tais possibilidades, o presente estudo objetiva valorar a empresa Drogasil e comparar com o valor de mercado, obtidos através dos valores de negociação ativa das ações. O valor contábil, sendo ele o espelhado nos balanços das empresas é o valor da empresa calculado através do desconto a partir do custo de capital sobre o valor do Fluxo de Caixa Livre ou ainda por meio de fluxos de caixa estocástico. Com tal comparação, pode-se entender e verificar se as empresas estão sendo super ou sub avaliadas em relação ao mercado.

Dessa forma, o problema de pesquisa se consuma na seguinte pergunta: Qual o valor da empresa Drogasil, negociada na BMF&BOVESPA,a partir de valores calculados por meio do método clássico de dividendos descontados de Gordon usando fluxos de caixa estocástico?

Como resultados, é encontrado que as ações no ano de 2010 estão sobre avaliadas. E tomando como base o exposto, encontra-se como limitação do artigoo proceder metodológico baseado emapenas um modelo de avaliação.

O trabalho está dividido da seguinte maneira. A primeira seção é a presente introdução. A segunda e a terceiratratam do referencial teórico, no qual se busca descrever o mercado de fármacos e trazer para discussão as teorias de avaliação de empresas, tendo como foco o Modelo de Gordon.A quartaseção, nomeada de procedimentos metodológicos, descreve a metodologia utilizada e os passos realizados para a elaboração da pesquisa. Na quinta são demonstrados os resultados encontrados com base na aplicação da metodologia. Por fim, na sexta parte são relatadas as considerações finais do estudo e possíveis pesquisas futuras a serem realizadas.

5. O MERCADO DE FÁRMACOS

A estrutura do mercado farmacêutico mundial é conhecido por ser estruturado em um oligopólio, isso por haver a presença de algumas multinacionais de grande porte com capacidade de influenciar o setor, o que não é diferente no Brasil (FARDELONE e BRANCHI, 2006). O Brasil é o nono maior mercado de fármacos e medicamentos do mundo e conta com importantes indústrias do setor em seu território. A indústria nacional lidera as vendas no mercado interno e reforça os investimentos em pesquisa, respaldada pela força dos genéricos. Há mais de 15 mil produtos farmacêuticos em comercialização no Brasil; sendo que mais de uma centena deles representam medicamentos de inovações, com patente protegida.Segundo dados do Ministério da Saúde, o mercado farmacêutico movimenta anualmente 28 bilhões de reais e a tendência é de expansão. Entre as seis maiores empresas farmacêuticas do mundo, quatro são brasileiras e apresentam crescimento acelerado na produção de genéricos. Atualmente, existem cerca de 540 indústrias farmacêuticas cadastradas no Brasil, sendo 90 produtoras do medicamento similar. As empresas com capital nacional, responsáveis por cerca de 20% do faturamento do setor, têm suas atividades centradas principalmente na produção e desenvolvimento de processos, com produtos obtidos por analogia enquanto não havia uma lei de patentes no país, ou com tecnologia transferida por parcerias internacionais mediante participação financeira ou pagamento de royalties para as empresas detentoras das patentes.

As indústrias nacionais têm maior produção de medicamentos similares, que possuem as mesmas características e qualidade do produto de referência, mas não são intercambiáveis. Os genéricos correspondem a 20,6% das vendas em unidades no conjunto do mercado farmacêutico brasileiro.

Em relação à comercialização de medicamentos genéricos, podemos dizer que uma das grandes vantagens desses produtos, além do preço atrativo – pelo menos 35% mais barato do que os medicamentos de referência, está no fortalecimento e desenvolvimento da indústria nacional, com significante crescimento do mercado.

A política de incentivo ao medicamento genérico resulta em um aumento das vendas e crescimento de registro de novos produtos. Em 2009, os remédios similares representavam 19,20% do mercado de

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medicamentos nacionais. Entre 2002 e 2009, o total de vendas saltou de R$ 588 milhões para R$ 4,8 bilhões. Neste mesmo período, o número de registro de medicamentos passou de 213 para 2.972.

As empresas interessadas em fabricar e importar medicamentos genéricos no mercado brasileiro deve atender aos requisitos básicos. A documentação necessária para solicitar o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) está prevista na Resolução nº 135, de 29 de maio de 2003.

6. AVALIAÇÃO DE EMPRESAS E MODELO DE GORDON

As finanças corporativas, base para o estudo de avaliação de empresas, é para Damodaran (2004) uma importante fonte para a aplicação das teorias de finanças, dado que sejam estudadas e entendidas no meio de atuação das empresas.

Asmetodologias deavaliação de empresas vêm sendo estudadas em diferentes âmbitos acadêmicos, e oportunidades nos projetos de avaliação continuam crescendo, tanto em números quanto no escopo (SEIGNEUR, 1999). A grande heterogeneidade de pensamento em parte são resultadosde que os modelos são apenas visões temporalmente diferentes do patrimônio (MARTINS, 2000). Martins (2000) acredita que todosos modelos em uma perspectiva são visões do caixa, os quais são convertidos no montante da empresa a partir de alguma taxa de desconto. Segundo Ohlson e Lopes (2007) há três abordagens para avaliação, o descontode dividendos, fluxos de caixa ou ainda lucros residuais.

Copeland, Koller e Murrin (2000, p. 3) dizem que “avaliar empresas é utilizar informações sobre o valor para tomar melhores decisões gerenciais”. Além disso, entendem que “se os administradores se concentrarem na construção de valor para o acionista criarão empresas mais saudáveis do que os que não fizerem”. Hoover (2005, p. 18) afirma que não há checklist de coisas que devem ser levadas em consideração para se avaliar uma empresa e que, se houver, saiba que algo de importante não está sendo percebido, pois existem peculiaridades referentes a cada processo de avaliação, portanto, em um mundo real, nas palavras de Hoover (2005, p.18), “não há como se escrever uma receita a ser seguida”. Apesar disso, Damodaran (2010, p. 1) afirma que “o processo de avaliação é simples e que os práticos escolhem torna-lo complicado”.

Fernandez (2008) destaca, dentre as diferentes classes de informações que podem ser tomadas como base para a avaliação de empresa, os Fluxos de Caixa. Para o autor, os métodos baseados na análise e construção dos Fluxos de Caixa “visam determinar o valor da companhia através do fluxo de caixa futuro e, depois disso, descontar através de uma taxa de desconto que seja compatível com o risco”. Dentre tais métodos, citam-se os métodos do Fluxo de Caixa Livre, Fluxo de Caixa dos Acionistas, Fluxo de Caixa da Dívida, Dividendos, Fluxo de Caixa do Capital e APV (AdjustedPresentValue).

Uma das principais formas de avaliação de empresas, conforme Damodaran (1999, p. 439), é o fluxo de caixa descontado. Nele, “o valor de qualquer ativo é estimado através do valor presente dos fluxos de caixa futuros esperados, descontado por uma taxa que representa o risco de tal ativo. De certo modo, mensura o valor intrínseco do ativo”.

O fluxo de caixa descontado é uma das metodologias utilizadas na avaliação de uma empresa. Cumpre ressaltar que a escolha do fluxo de caixa está intimamente ligada a taxa de desconto empregada nessa avaliação.Brealey e Myers (2000, p. 28) justificam de maneira didática que o procedimento de desconto das entradas e saídas esperadas de recursos financeiros ao valor presente da DCF, dizendo que:

Os fluxos de caixa são atualizados por duas simples razões: a primeira, porque um dólar disponível hoje vale mais que um dólar disponível amanhã, e, a segunda, porque um dólar com risco vale menos que um dólar sem risco. As fórmulas do PV (valor presente) e do VPL (valor presente líquido) são expressões numéricas que quantificam essas

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idéias. Damos atenção às taxas de remuneração prevalecentes nos mercados de capitais para determinar a influência do tempo e do risco sobre a taxa de atualização. Com o cálculo do valor presente de um ativo estamos, de fato, a estimar quanto as pessoas pagarão por ele, se tiverem como alternativa um investimento no mercado de capitais.

O método que se baseia no desconto dos dividendos futuros é o Modelo de Gordon, trata-se de uma metodologia de avaliação que supõe crescimento constante dos dividendos distribuídos. Trata-se de uma metodologia que foca no acionista, ou seja no fluxo de caixa do acionista, é recomendado para empresas que estejam com taxas crescente de seus dividendos. Gordon (1962) propõe que o retorno esperado de uma ação é igual à taxa de desconto que torna igual o preço da ação ao seu fluxo futuro de dividendos, como a fórmula (1).

01 (1 )

tt

t cp

DivP

k

=

=+

(1)

Onde P0 é o preço da ação no momento atual, DIVt representa o provento pago no tempo t e Kcp o custo de capital.

No entanto, para o modelo de fluxos de caixa descontados, tendo como caixa os dividendos, é recomendado, a premissa de crescimento constante. Gordon (1993) sugere que esta abordagem fosse feita substituindo-se o crescimento dos dividendos pelo crescimento esperado dos lucros, o qual é adequado quando a relação dividendos-preço da ação é constante. No entanto, tal premissa costuma ser violada. O principal problema dessa abordagem é a hipótese de crescimento constante dos dividendos e acorrelação entre o crescimento dos dividendos e do lucro. Gordon e Gordon (1997) melhoram esseproblema desenvolvendo uma abordagem com horizonte finito do modelo de Gordon. Martins et. al (2006) suaviza essa hipótese com o crescimento em dois estágio, assim o crescimento de longo prazo seria determinado pelo crescimento da economia.

7. MÉTODOS

A metodologia do fluxo de caixa descontado tem como base o conceito de que o dinheiro tem valor diferente no tempo. Ela diz que o valor de um ativo é o somatório dos valores presentes dos seus fluxos de caixa futuros. No caso de empresas, as quais podem ser consideradas geradoras de caixa, pode-se aplicar essa metodologia de forma consistente (COPELAND, KOLLER e MURRIN, 2000). A presente pesquisa utiliza o caixa a partir da visão do investidor e utiliza como proxy de caixa os dividendos.

No Brasil, outra forma é através dos juros sobre o capital próprio, no entanto, diferentemente do dividendo, ele é taxado pelo imposto de renda. Tendo em mente que as organizações, em geral, não terem tempo determinado para encerrar suas atividades, a aquisição de uma ação pode vista como um ativo que oferece uma serie perpétua de pagamentos. O objetivo do fluxo de caixa é trazer o valor de benefícios futuros esperados a um valor presente por uma taxa de desconto apropriada. É importante enfatizar que a escolha de uma taxa de desconto está diretamente ligada à metodologia de fluxo de caixa obtida (DAMODARAN, 2010).

Uma das principais formas de avaliação de empresas, conforme Damodaran (1999, p. 439), é o fluxo de caixa descontado. Nele, “o valor de qualquer ativo é estimado através do valor presente dos fluxos

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de caixa futuros esperados, descontado por uma taxa que representa o risco de tal ativo. De certo modo, mensura o valor intrínseco do ativo”.

Além das classificações anteriores, Fernandez (2008) procura ainda demonstrar qual a melhor taxa de desconto a ser utilizada para cada tipo de Fluxo de Caixa, conforme demonstrado no quadro 1.

Quadro 1 – Fluxos de Caixa e Taxas e desconto apropriadas Fluxos de Caixa Taxas de Desconto Apropriadas

FCac. Fluxo de Caixa dos Acionistas Ke. Retorno Requerido do Patrimônio FCd. Fluxo de Caixa da Dívida Kd. Retorno exigido da Dívida FCL. Fluxo de Caixa Livre WACC. Custo Ponderado do Capital

(Dívida e Capital) FCC. Fluxo de Caixa do Capital WACC antes dos impostos

Fonte: Adaptado de Fernandez (2008)

Foi feita a opção pelo modelo de Gordon, também conhecido como “crescimento perpétuo” e tem como objetivo mensurar o valor de uma empresa. Segundo Nogueira (2004, p. 34) Esse modelo admite que há uma relação entre o valor da empresa e o volume de dividendos que são pagos aos acionistas.

Em se tratando de uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada, pode-se adotar o mesmo raciocínio, substituindo dividendos pela parcela dos lucros distribuídos aos sócios. Trata-se de uma variação do modelo de análise de fluxos de caixa descontados que pressupõe o crescimento de dividendos a uma taxa crescente. Sendo assim o modelo é adequado somente para empresas com crescimento constante ao longo do tempo, ou seja, empresas consideradas estáveis e cujos dividendos estejam a crescer a uma taxa g constante ao longo prazo.

Gordon também pressupôs que a taxa de retorno desejada permaneça constante, e que o custo do capital próprio, isto é, expectativa de retorno sobre o patrimônio líquidok seja tal que k>g. O modelo envolve o somatório de infinitas séries na qual o resultado é o preço corrente Po. Podemos dizer quesua principal vantagem é o fato de requerer a estimativa de apenas três variáveis: valor corrente dos dividendos do próximo ano (D1), o custo do capital próprio (k) e a taxa de crescimento dos dividendos (g).

As avaliações por meio dos modelos apresentados a cima inferem sobre estimativas pontuais para o valor da ação. As incertezas ligadas ao crescimento das empresas e os dados relevantes do sistema econômico inviabiliza a aplicação de uma metodologia que associa o preço de ativos a um único valor. Isto ocorre porque, as técnicas de avaliação de fluxos de caixadescontados não incorporem as oscilações do mercado atribuindo probabilidade um ao valor estimado. Desta maneira, esta técnica está passiva de incorrer em constantes erros de desvio em relação ao valor justo.

Uma solução ao problema de estimativas pontuais é criar faixas de confiança em que o preço da ação está associado a uma determinada probabilidade. Assim, é possível verificar quão certo uma estimativa está e qual a probabilidade dos valores praticados no mercadoestarem sobre o valor justo. Entretanto, não há uma distribuição teórica, a priori, para os valores estimados, o que implica problemas em suas avaliações. Todavia, é possível lançar mão de distribuições empíricas como estimativa destas distribuições. Uma alternativa é por meio de simulações de Monte Carlo.

A técnica de simulação ilustra um processo reiterado de experimentos. Ela permite evidenciar a distribuição empírica, quando as teóricas são árduas de se obter (FREUND, 2007). O processo, portanto, gera um vetor de dimensão n,

(1) (2) ( )( , ..., )n

n θ θ θΘ = .

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Cada valor de ( )iθ é o i-ésimo experimento.Assim, a partir de determinado número de repetições do experimento é possível construir um histograma no qual sugere o formato da distribuição.

Atravésde dados históricos, foram estimadas as variações nas taxas de crescimento dos dividendos, g,e nos fluxos de caixa da Drogasil S/A. Estas oscilações implicam em valores distintos do valor da ação para cada g. Após determinado período de crescimento, g, impulsionados pelo plano de expansão da empresa a taxa sofre forte redução. O processo, portanto, simula inúmeros cenários, no qual irá indicar os valores mais prováveis do preço das ações da Drogasil S/A, ou seja, um vetor nΘ , de possíveis valores da

ação. A estimativa da probabilidade associado ao valor da ação é feito por,

10

( )

( )

f DivP

k h gθ = =

Onde F(DIV) e H(g) são funções de distribuição de probabilidade estimada de forma empírica.Dessa forma P0também é uma variável aleatório com sua distribuição de probabilidade.

( )#( )

( ).i c

P cn

θθ

≤→ <

Neste processo é possível também informar outras estatísticas da distribuição como a esperança e variância dado respectivamente por meio da seguinte forma,

( )

1 [ ],

ni

i En

θ

θ θ== →∑

( ) 2

2 1

( )[ ].

1

ni

is Varn

θ θ

θ=

= →−

Desta forma, o processo de simulação permite estimar várias características da distribuição dos valores justos da ação DROG3.

8. ANÁLISE DE RESULTADOS

O período de análise do ativo compreendeu os anos de 2004 a 2010, sobre o código DROG3 e inseridos no ultimo nível de governança corporativa, conhecido como novo mercado. Os dados acerca dos proventos foram provenientes do próprio site da empresa. Ao analisar o plano expansionista da rede Drogasil, foi possível projetar o crescimento de sua estrutura e dos futuros proventos. O quadro a baixo ilustra a evolução das unidades da rede no período de 2004 a 2009.

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Tabela 1 – Número de Filiais

Regiões 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Capital 88 88 90 94 99 105

Gde. São Paulo 15 16 19 20 21 22

Interior São Paulo 33 41 46 56 63 69

Minas Gerais 15 19 22 23 27 27

Goias 2 18 19 22

Brasilia (DF) 27 26

Espirito Santo 12

Total 151 164 179 211 256 283

Fonte: Dados da pesquisa

O crescimento se mostrou extremamente acentuado, tendo uma expansão de 87% de sua rede em apenas 6 anos. Naturalmente, este aumento de unidades deve refletir em algum momento em sua capacidade de remuneração aos seus acionistas. Todavia, esta expectativa será apenas concretizada se o plano de ganhos de Market-sharee se sua estrutura de custo permitir.

O aumento verificado nos proventos da rede foi exponencial, estimado 34% ao ano, como pode ser visto nos gráficos a baixo. Entretanto, não se espera a continuidade desse movimento por um longo período. Após o plano de expansão se concluir a empresa deve ter um crescimento de 4% ao ano em seus proventos e se ajustando ao crescimento natural da economia brasileira.

Figura 1: Dividendos e Juros Sobre Capital Próprio

Fonte: Dados da Pesquisa

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Figura 2: Proventos pelo Tempo

Fonte: Dados da Pesquisa

As demonstrações financeiras mostraram que a Drogasil se utilizou de alavancagem financeira para financiar sua expansão, ou seja, seu nível de endividamento com relação ao seu patrimônio líquido elevou-se. Por consequência há aumentos em seu risco, pois seus passivos financeiros aumentam, e adicionalmente deve-se refletir em ganhos aos seus acionistas. De fato, este movimento foi verificado e refletido nos preços de mercado das ações, no período em questão, como pode ser visto no gráfico de candle-stick.

Figura 3: Comportamento do Preço

Fonte: Dados da Pesquisa

Contudo o mercado na qual a Drogasil esta inserida é de baixo risco Esta avaliação se confirma quando estimado o custo de capital próprio da empresa através do tradicional modelo CAPM. Esta modelo

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avalia o grau de risco em que a empresa esta exposta frente ao mercado, esse nível de exposição pode ser quantificado por meio do coeficiente beta β. Como pode ser verificado a seguir, o beta da empresa apresenta um valor abaixo de um, aproximadamente 0,513, o que significa que sofre menos oscilações quanto ao risco sistemático de mercado, o que corrobora para a hipótese de um segmento mais seguro.

Figura 4: Mensuração do Beta

Fonte: Dados da Pesquisa

Após o diagnóstico de avaliação do risco da empresa, outra questão relevante a ser mencionada é o custo de capital próprio da Drogasil exigido pelo mercado para este tipo de segmento. Através do modelo CAPM foi estimado um custo de capital equivalente a 1, 81% ao mês o que representa retornos anuais da ordem de 24,38%.

Como exposto anteriormente a serie temporal dos fluxos de proventos sofrerem flutuações. O processo estocástico gerador dos dados de proventos, são detentoras de algumas propriedades como seus momentos e sua tendência principal. Desta forma, os modelos que atribuem um valor determinístico a sua causa estão passíveis de incorrer em avaliações errôneas, pois são feitas de forma pontual. Além disto, quando se incorpora na avaliação suas oscilações é possível atribuir o preço das ações a regiões mais e menos prováveis. Esta característica permite aos analistas de mercado dispor suas avaliações em faixas de confiança e alocarem em estratégias de investimento.

A simulação deste processo mostra a distribuição de probabilidade empírica que o preço da ação DROG3 está associado. A forma de sua distribuição fica evidenciada nos histogramas a seguir.

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Figura 5: Histograma da Simulação

Fonte: Dados da Pesquisa Figura 6: Histograma daFrequência Acumulada da Simulação

Fonte: Dados da Pesquisa

Assim sendo, é possível calcular o valor justo da ação (DROG3). De acordo com o modelo de Gordon, o valor presente da serie perpétua de pagamentos, ou seja, o valor real do ativo é R$ 13,74, bem à baixo do preço praticado pelo mercado que é de R$ 37,00 (cotação do dia 25 de agosto de 2010). No entanto, este é o valor justo médio para a ação uma vez que os valores dos dividendos futuros sofrem flutuações. A simulação empregada compreendeu um total de 1000 amostras geradas.

Segundo o histograma, a probabilidade do ativo valer mais do que o valor cotado na bolsa de valores de São Paulo é de 4,70%, representado pela cor azul. Assim sendo, de acordo com essa metodologia o valor da ação está sob avaliado.

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Este comportamento aponta para algumas questões. Dentre elas, há a possibilidade dos agentes do mercado terem inserido outras informações não publicamente disponíveis em suas avaliações, o que direcionou os preços a tais patamares. Um segundo ponto é a ocorrência de um efeito manada, no qual os retornos precedentes estão totalmente autocorrelacionados com os presentes, de maneira que há uma retro alimentação no processo o que poderia levar a este tipo de comportamento. Outro ponto, ainda não colocado, é a avaliação das opções reais da rede Drogasil,que dependendo de sua estrutura perante o mercado pode oferecer algumas vantagens não diretamente observáveis.

9. CONCLUSÃO

Avaliar empresas pode ser útil em diversas situações, tanto para os usuários internos quanto os

externos da informação, gerando sólido suporte para a tomada de decisão. Com a necessidade de valoração da empresa e a existência de diferentes métodos de se mensurar

tais valores, o presente estudo buscou aplicar um modelo consagrado, adicionado de fatores probabilísticos. Trata-se do Modelo de Gordon, porém com os fluxos de caixa estocásticos. Os Fluxos de Caixa foram calculados em relação ao acionista, e por isso foi considerado os proventos distribuídos, mais especificamente os dividendos. A taxa de desconto usada foi o retorno esperado dos títulos, encontrada a partir do modelo CAPM.

A inserção do caráter aleatório aos fluxos de caixa conduziu a um avanço metodológico, pois permitiu aproximar a metodologia ao ambiente real de mercado.

Para a amostra selecionada, observou-se que a Drogasil se apresenta sobre avaliada. Sendo assim, o mercado pode estar pagando mais pela empresa do que ela realmente vale de acordo com a metodologia.

Porém um fator importante é o mercado no qual a Drogasil está inserida, pois apresenta ótimo potencial de crescimento. Além disso, fatores externos a entidade podem influenciar, sendo um desses fatores, o retorno esperado do mercado.

Tomando como base a hipótese do mercado eficiente, os valores de mercado tendem a se aproximar dos valores fundamentais dos ativos. Como possibilidade de pesquisa futura, sugere-se que sejam realizadas pesquisas com amostras mais amplas e comparação por setores e entre os setores. É notado como limitação, a comparação ter sido feito com base em apenas um modelo de valiação. Fica como sugestão para novas pesquisas aplicar outros modelos e então comparar os resultados entre os modelos aplicados. Também, testar o Modelo de Gordon com múltiplos estágios de crescimento, permitindo assim, conclusões mais fortes sobre o tema.

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Análise da Relação entre a Relevância dos Fluxos de Caixa da DFC e o Desenvolvimento do Mercado de Capitais: Um Estudo Comparativo entre Brasil e Estados Unidos.

AUTORES: Vinícius Gomes Martins, Alan Santos de Oliveira.

Resumo

A presente pesquisa tem por objetivo analisar a relevância (value relevance) dos fluxos de caixa da DFC em mercados com características distintas, desenvolvido, representado pelos Estados Unidos, e emergente, representado pelo Brasil. Mais especificamente, avaliar qual das atividades apresenta-se como melhor Proxy e se o desenvolvimento dos mercados interfere na eficiência dos mesmos em absorver tais informações. Para isso, utilizou-se uma amostra de 2.338 companhias não financeiras listadas na BM&FBovespa e6.107 companhias não financeiras listadas na NYSE. Em seguida, fez-se o uso de regressão linear múltipla, onde utilizou-se como variável dependente o valor de mercado das companhias (VME) e como variáveis explicativas o saldo dos fluxos de caixa operacional (FCO), de investimento (FCI) e de financiamento (FCF), aplicando-se para ambas as amostras.Os resultados evidenciaram que para ambos os mercados, o FCO apresentou-se como a única variável significativa, ou seja, com value relevance, portanto, apresentou-se como melhor Proxy para a DFC. As evidências sugerem que a DFC apresentou um menor conteúdo informativo ao mercado norte-americano (R² Aj. de 64,1) ao comparar com o brasileiro (R² Aj. de 66,8), sugerindo que o desenvolvimento do mercado não influenciou na eficiência do mesmo.

Palavras-chave: DFC; Eficiência de Mercado; Value Relevance.

1. INTRODUÇÃO O conteúdo informativo das demonstrações contábeis para o mercado de capitais vem sendo tema

de muitas pesquisas internacionais. Esses estudos, como abordagem da teoria positiva, verificam a relevância de informações contábeis para explicar e predizer o valor de mercado das empresas (BARTH; BEAVER; LANDSAMAN, 2001). No entanto, acrescentamque uma informação contábil só é considerada value relevance, quando estiver minimamente associada ao preço das ações.

Nesse sentido, baseado nas obras de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968), os fluxos de caixa são muito utilizados nos estudos de value relevance, uma vez que podem fornecer conteúdo de informação incremental e poder explicativo nos preços das ações (GEE-JUNG, 2009). Segundo Borges, Nunes e Alves (2012) a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) por promover uma visão direta dos fluxos de caixa ocorridos no período, segregados em atividades operacionais, de investimento e financiamento, apoiam os investidores no processo de tomada de decisão.

As evidências empíricas dos estudos de value relevance da DFC demonstraram, em sua maioria, que os fluxos de caixas foram value relevance (WILSON, 1986; RAYBURN, 1986; BOWEN; BURGSTAHLER; DALEY, 1986; ALI, 1994; DECHOW, 1994; SLOAN, 1996; BARTOV; GOLDBERG; KIM, 2001; CHARITOU; CLUBB; ANDREOU, 2000; CHENG; YANG, 2003; CUNHA, 2006; MACEDO et al, 2011). Entretanto, percebeu-se uma possível limitação dos estudos internacionais, tão quanto os nacionais,na medida em que ambos utilizaramexclusivamente a Proxy da DFC, fluxo de caixa das atividades operacionais e que a maioria das evidências são de mercados de capitais desenvolvidos.

Lopes (2002) destaca que pesquisas em mercados emergentes vem recebendo pouca atenção da academia internacional porque o resultado contábil perde relevância quando os mesmos são menos desenvolvidos, justificando-se, principalmente, por condições gerais de funcionamento do mercado e o nível de eficiência deste. Contudo, salienta que evidências advindas de mercados emergentes podem contribuir para o entendimento de eventos ocorridos nos mercados mais desenvolvidos.

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Diante disso, é oportuno um estudo que compare a relevância (value relevance) de empresas de um mercado desenvolvido com as de empresas de um mercado emergente, empregando os três fluxos de caixa (operacional, de investimento e financiamento), sustentando-se em estudos que revelaram a importância dos outros componentes da DFC (LIVNAT; ZAROWIN, 1990, FRANCIS, 2010; KARUNARATHNE; HUBEI; RAJAPAKSE, 2010; MARTINS; MACHADO; CALLADO, 2012).

Nesse contexto, o problema que norteia a presente pesquisa é: Qual a relevância das informações relativas aos fluxos de caixa operacional, de investimento e de financiamento frente duas estruturas de mercados diferentes, desenvolvido e emergente?

A compreensão das diferenças entre mercadosnas relações de rendimentos, fluxos de caixas e preços das ações é fundamental para as decisões de investimento internacionais e alocação eficiente dos recursos globais (BARTOV; GOLDBERG; KIM, 2001). De modo que, um melhor conhecimento do funcionamento e das relações entre os mercados emergentes e desenvolvidos podem minimizar as perdas dos investidores ou maximizar o retorno esperadopelos acionistas (NOGUEIRA; LAMOUNIER, 2008).

Assim, este estudo objetiva analisar a relevância (value relevance) dos fluxos de caixa das atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos em mercados com características distintas, desenvolvido, representado pelos Estados Unidos, e emergente, representado pelo Brasil. Mais especificamente, avaliar qual das atividades apresenta-se como melhor Proxy para a Demonstração de Fluxos de Caixa e se o desenvolvimento dos mercados interfere na eficiência dos mesmos em absorver tais informações.

2. TEORIA POSITIVA DA CONTABILIDADE: A Abordagem do Value Relevance A década de 60, com os trabalhos de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968), foi palco de uma

verdadeira quebra de paradigma para a contabilidade, pois a pesquisa contábil, por meio da abordagem positiva, passou a migrar da tradição normativa para uma perspectiva baseada na informação (GONÇALVES, 2008). Segundo Sarlo Neto (2004) “no ambiente de desenvolvimento da pesquisa em contabilidade, a inserção da abordagem positiva veio a fortalecer e fundamentar os estudos que procuram verificar a utilidade das práticas utilizadas pela contabilidade”.

Watts e Zimmermann (1986) salientam que os estudos normativos limitavam-se por realizar apenas prescrições de comportamento e não em testes empíricos das hipóteses que suportavam previsões. Verificando, que o advento da teoria positiva, proporcionou aos usuários das informações contábeis, predições e explicações para as consequências de suas decisões.

Segundo Dias Filho e Machado (2004) a teoria positiva tem por objetivo fornecer bases para explicar e predizer determinados fenômenos. Diferenciado da teoria normativa, que visa recomendar como os dados contábeis devem ser comunicados e apresentados, procurando explicar o que dever ser, em lugar do que é (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999).

Para Yamamoto e Salotti (2006) a abordagem positiva em estudos de contabilidade aplicada no mercado de capitais, utilizam os conceitos da pesquisa empírica em finanças, trazendo para a contabilidade o paradigma da eficiência de mercado. Acrescentando, que a pesquisa positiva começa a utilizar a variação nos preços dos títulos, para inferir se as informações das demonstrações contábeis são úteis para os participantes do mercado.

Dentro da teoria positiva da contabilidade, uma abordagem de pesquisas vem se destacando pelo número de trabalhos em todo o mundo, o value relevancedas informações contábeis.Nesse contexto, as pesquisas que buscam testar empiricamente a relevância das informações contábeis para o mercado de capitais, consideram que a informação contábil é value relevance quando a mesma é capaz de afetar o preço das ações, pelo menos a certo nível de significância (BARTH; BEAVER; LANDSMAN, 2001).

Ainda para Barth, Beaver e Landsman (2001), os estudos de value relevancepossuem objetivos específicos e hipóteses alternativas sobre relevância e confiabilidade das informações contábeis. De modo

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que, os testes são conduzidos pela aplicação de análises de regressão, tendo como variável dependente uma proxy relacionada ao valor de um título imobiliário, geralmente o preço das ações, e como variáveis independentes as informações contábeis (BROWN; LO; LYS, 1999).

Holthausen e Watts (2001) classificam os estudos de value relevance em três categorias:

(a) Estudos de Associação Relativa: comparam a associação entre o preço das ações (ou retornos) e valores contábeis calculados por novos padrões propostos em relação aos valores de padrões existentes. Em geral, concluem que a prática contábil com maior R2 é mais value relevant;

(b) Estudos de Associação Incremental: verificam se determinadas práticas contábeis são úteis em explicar o valor (ou retorno) das ações (coeficientes diferentes de zero). As diferenças entre valores estimados e previstos são geralmente interpretadas como evidências de erro de mensuração nos números contábeis (nível de confiabilidade); e

(c) Estudos de Conteúdo Informacional Marginal: verificam se um valor contábil específico adiciona informação para um grupo de investidores (short windowstudies).

A presente pesquisa pode ser enquadrada nos estudos de conteúdo informacional incremental, uma vez que busca analisar o conteúdo informacional dos fluxos de caixas paraum mercado de capitais desenvolvido, Estados Unidos, em comparação com um mercado emergente, Brasil.

3. EFICIÊNCIA DE MERCADO A teoria dos mercados eficientes, desenvolvida e apresentada por Eugene Fama justificouo avanço significativo nas pesquisas empíricas de finanças com relação ao mercado de capitais, principalmente a partir da década de 60. Essa teoria possibilitou à contabilidade verificar o relacionamento dos números contábeis com a precificação dos ativos financeiros (LOPES; IUDÍCIBUS, 2012).

Fama (1970) condicionou o termo mercado eficiente a um mercado no qual os preços sempre refletem prontamente a informação disponível. Hendriksen e Van Breda (1999) adicionam que num mercado eficiente as mudanças de preços no mercado de capitais não são correlacionadas porque os mercados são eficientes no sentido de que os preços dos títulos refletem integralmente as informações disponíveis de forma não viesada. Isto é, nenhuma informação relevante é ignorada pelo mercado, e se são relevantes são refletidas no preço em equilíbrio dos títulos (LOPES; IUDÍCIBUS, 2012).

Fama (1970) estabeleceu ainda que, para o mercado ser eficiente deveria possuir três condições teóricas específicas: (1) não há custos de transação na negociação de títulos; (2) toda informação disponível está igualmente disponível a todos os participantes do mercado, sem qualquer custo e (3) todos os participantes do mercado possuem expectativas homogêneas em relação às implicações da informação disponível.

No entanto, segundo Hendriksen e Van Breda (1999) essas condições são suficientes para o modelo teórico, identificando que a condição prática de um mercado eficiente, é que toda informação disponível se incorpore aos preços dos títulos imediatamente, ou com uma demora mínima, de forma não viesada.

A teoria de Eugene Fama passou a ser conhecida como Hipótese do Mercado Eficiente (HME). Para Kothari (1987) as pesquisas sobre HME, objetivam identificar e mensurar o impacto da informação contábil na formação do preço dos ativos financeiros no mercado, porque auxilia na explicação dos efeitos das informações relevantes sobre os preços dos títulos.

Fama (1970) afirma que o mercado eficiente é classificado de acordo como o nível dos conjuntos de informações disponíveis. Para tanto, classificam-se em três níveis de eficiência, conforme Quadro 1.

Quadro 1 Formas de Eficiência do Mercado FORMA INFORMAÇÃO DESCRIÇÃO

Fraca Preços do Passado Os preços dos títulos refletem completamente as

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informações implícitas na sequência passada dos próprios preços.

Semiforte Informações Públicas Os preços dos títulos refletem toda informação publicamente disponível.

Forte Informações Privadas Os preços refletem integralmente tanto a informação privilegiada (ou privada) quanto toda informação publicamente disponível.

Fonte: Adaptado deHendriksen e Van Breda (1999). Barth, Beaver e Landsman (2001) ressaltam que a premissa de eficiência de mercado pode ser necessária em abordagens de value relevance. Nesse sentido, Lopes, Sant’Anna e Costa (2007) destacam que a maior parte da literatura referente à relevância das informações contábeis desenvolvida nos últimos 40 anos foram aplicadas em países desenvolvidos, acreditando-se que os mercados emergentes seriam pouco eficientes em termos de informações contábeis e que estas teriam pouca ou nenhuma relevância para seus mercados de capitais.

No Brasil, como afirmam Nogueira e Lamounier (2008) o mercado de capitais pode ser considerado emergente, diferente de países como EUA e Reino Unido. O que representa para autores como Burgstahler e Dichev (1997), Beaver (1998) e Barth, Beaver e Landsman (2001) uma tendência de diminuição na significância das informações contábeis devido à eficiência do mercado brasileiro.

4. DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA - DFC A Demonstração dos Fluxos de Caixa - DFC como parte integrante do conjunto das demonstrações

contábeis exerce um papel relevante, na medida em que é considerada um forte instrumento de apoio à tomada de decisão num contexto de incerteza (BORGES; NUNES; ALVES, 2012). Atualmente, diversas escolas da contabilidade mundial, por perceberem a relevância do conhecimento dos fluxos de caixa, estão substituindo as Demonstrações de Fluxos do CCL (Demonstrações de Origens e Aplicações de Recursos - DOAR) por outras que retratam as movimentações ocorridas no caixa das entidades (IUDÍCIBUS; MARION; FARIA, 2009).

No Brasil, com a criação da lei 11.638/07, que altera a lei das sociedades por ações (Lei 6.404/76), incorporou a DFC ao conjunto de demonstrações contábeis obrigatórias em substituição da DOAR. No entanto, devido à falta de bases para elaboração e divulgação da DFC, em 2008, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 03 (revisado em 2010), alinhado como o InternationalAccounting Standards - IAS 7 e Financial Accounting Standards - FAS 95.

Para Iudícibuset al (2010) a DFC, principalmente, quando analisada em conjunto com as demais demonstrações, apresenta benefícios para informação contábil, poispermiti que investidores, credores e outros usuários avaliem: (1) a capacidade de a empresa gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa; (2) a capacidade de a empresa honrar seus compromissos, pagar dividendos e retornar empréstimos obtidos; (3) a liquidez, a solvência e flexibilidade financeira da empresa; (4) a taxa de conversão de lucro em caixa; (5) a performance operacional de diferentes empresas, por eliminar os efeitos de distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos; (6) o grau de precisão das estimativas passadas de fluxos futuros de caixa e (7) os efeitos sobre a posição financeira da empresa, das transações de investimento e de financiamento, etc.

De acordo com o CPC 03 (R2) a estrutura da DFC está segregada em atividades operacionais, de investimento e de financiamento. A classificação por atividade proporciona informações que permitem aos usuários avaliarem o impacto de tais atividades sobre a posição financeira da entidade e o montante de seu caixa e equivalentes de caixa.

ParaIudícibusetal (2010) o montante dos fluxos de caixas decorrentes das atividades operacionais é um indicador de como a operação da empresa tem gerado suficientes fluxos de caixa para amortizar

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empréstimos, manter a capacidade operacional da entidade, pagar dividendos e juros sobre o capital próprio e fazer novos investimentos sem recorrer a fontes externas de financiamento.

Com relação aos fluxos de investimento, esse também tem papel importante, porque tais fluxos de caixa representam a extensão em que os dispêndios de recursos são feitos pela entidade com a finalidade de gerar resultados e fluxos de caixa no futuro (NORMAS TÉCNICAS – NBCT-T-3.8).

Por fim, Iudícibusetal(2010) descrevemque os fluxos de financiamento são úteis para prever as exigências sobre futuros fluxos de caixa pelos fornecedores de capital à entidade, bem como da capacidade que a empresa tem, utilizando recursos externos, para financiar as atividades operacionais e de financiamento.

Segundo Cunha (2006) investidores para tomar decisões, possuem interesse de explicar e predizer o desempenho da empresa, caracterizado pelo preço e retorno de suas ações. De modo que, utilizam o fluxo de caixa para determinado objetivo. Todavia, a maioria dos estudos que avaliaram o conteúdo informacionalda DFC, limitaram-se na utilização exclusiva da Proxy fluxo de caixa das atividades operacionais (WILSON, 1986; RAYBURN, 1986; BOWEN; BURGSTAHLER; DALEY, 1986; ALI, 1994; DECHOW, 1994; SLOAN, 1996; CHARITOU; CLUBB; ANDREOU, 2000;BARTOV; GOLDBERG; KIM, 2001; CHENG; YANG, 2003; CUNHA, 2006; MALACRIDA, 2009; DARAGHMA, 2010; SAEEDI; EBRAHIMI, 2010; MOSTAFA, 2011; MACEDO et al, 2011).

Dessa maneira, este estudo se diferencia por utilizar os três componentes da DFC, baseado em resultados empíricos que destacaram a importância de outros componentes da DFC para o investidor (LIVNAT; ZAROWIN, 1990, FRANCIS, 2010; KARUNARATHNE; HUBEI; RAJAPAKSE, 2010; MARTINS; MACHADO; CALLADO, 2012).

5.EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS Na perspectivado presente estudo, foramencontrados na literatura variados resultadosdovalue relevanceda DFC, conforme o desenvolvimento dos mercados.Assim, a DFC apresentava value relevance, principalmente, nos países que possuem mercado de capitais desenvolvidos, enquanto nos países emergentes as evidênciasdemonstraram que as informações dos fluxos de caixa não apresentaram value relevance.

Nos estudosrealizadosem mercadosde capitais desenvolvidos, destacam-se Rayburn (1986), Bowen, Burgstahler e Daley(1987), Ali (1994), Dechow (1994), Sloan (1996), Barth et al (1999), Charitou, Clubb e Andreou (2000), Barth, Cram e Nelson (2001), Bartov, Goldberg e Kim (2001) eHabib e Azim (2008).

Rayburn (1986) identificou uma associação entre fluxo de caixa operacional e accrualsagregados com os retornos anormais das ações. Bowen, Burgstahler e Daley (1987) encontraram evidências de que o lucro e fluxo de caixa são significativos para explicar o retorno anormal e que fluxo de caixa possui conteúdo informacional incremental àquele fornecido pelo lucro. Para Dechow (1994) o lucro possui maior poder explicativo do retorno das ações do que medidas de fluxos de caixa, entretanto existe um aumento no poder explicativo das medidas de fluxo de caixa quando o período de mensuração aumenta.

Em relação aos estudos realizados no mercado de capitais dos países emergentes, destacam-se as obras de Vishnani e Shah (2008), Saeedie Ebrahimi(2010), Daraghma (2010) e Mostafa (2011).

Vishnani e Shah (2008) realizaram um estudo no mercado de capitais da Índia, os seus resultados demonstraram que a DFC inserida no conjunto das demonstrações contábeis não apresentava value relevance. Saeedi e Ebrahimi (2010) analisaram o papel de lucros, fluxos de caixa e fatores específicos no mercado iraniano,os resultados revelaram que lucros e fluxos de caixa têm conteúdo de informação não incremental para o retorno das ações.Por fim, Daraghma (2010) e Mostafa (2011) em seus estudos no mercado de capitais da Palestina e no Egito respectivamente apresentaram resultados concomitantes aos

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dos autores supracitados, ambos revelaram que a DFC não possui conteúdo de informação relevante para o mercado de capitais.

No Brasil, ao comparar com os estudos internacionais, as evidências ainda são preliminares, porém, alguns estudos foram realizados com o foco na relevância da DFC para o mercado de capitais, tais como Salloti (2005), Yamamoto (2005), Souza (2006), Malacrida (2009), Macedo et al (2011) e Martins, Machado e Callado (2012).

Macedo et al (2011) objetivaram analisar o impacto da substituição da DOAR pela DFC. Os autores apontaram que o Fluxo de Caixa Operacional é mais relevante que as Origens de Recursos das Operações para o mercado de capitais, sugerindo que a substituição da DOAR pela DFC foi benéfica para os usuários da informação contábil no Brasil. Entretanto, Martins, Machado e Callado (2012), embora verificando a relevância da DFC, testaram como Proxy da DFC, além do fluxo operacional, o de investimento e de financiamento, onde, diferentemente dos resultados apontado por Macedo etal (2011), o fluxo de financiamento possuiu maior conteúdo informacional.

6. METODOLOGIA 6.1. Caracterização da Pesquisa

Quanto à caracterização da pesquisa, pode-se enquadrar o presente estudo como empírico-analítico. Segundo Martins (2002), esse tipo de pesquisa são abordagens que apresentam em comum a utilização de técnicas de coleta, tratamento e análise de dados marcadamente quantitativos. Esse tipo de pesquisa também tem forte preocupação com a relação causal entre variáveis, em que a validação da prova científica ocorre através de testes dos instrumentos, graus de significância e sistematização das definições operacionais.

6.2. Descrição da Amostra da Pesquisa Para analisar a relevância dos fluxos da DFC em mercados com características distintas, ou seja,

emergente e desenvolvido, utilizou-se de empresas de capital aberto norte-americanas, representando o mercado desenvolvido, e de empresas de capital aberto brasileiras, representando o mercado emergente. Optou-se pelo mercado norte-americano por seu estágio de desenvolvimento e pelo fato das principais pesquisas da abordagem positiva da contabilidade e do value relevanceterem sido realizadas nesse mercado (BARTH; BEAVER; LANDSMAN, 2001; BALL; BROWN, 1968; BEAVER, 1968). Optou-se pelo mercado brasileiro por ser uma realidade local, pelas características de mercado emergente e pelo fato da DFC ter se tornado obrigatória recentemente.

A amostra do estudo é não probabilística, pois, partiu-se do total de empresas de capital aberto listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) e das companhias de capital aberto listadas na New York Stock Exchange (NYSE), que é um universo naturalmente limitado. Para a composição da amostra, buscou-se identificar a maior quantidade de empresas possível, onde, por necessidades metodológicas, exigiram-se os seguintes critérios: a) apresentasse as informações necessárias com relação aos fluxos da DFC no banco de dados da Economática, para todos os trimestres de 2010 e 2011; e b) não estivesse classificada como empresa financeira em ambas as bases de dados.

O período analisado, 2010 a 2011, justifica-se no sentido de que só a partir de 2010 é que as empresas brasileiras passaram a adotar o padrão IFRS de forma integral e que os períodos anteriores poderiam distorcer os resultados. A exclusão das companhias classificadas como financeira justifica-se no sentido destas possuírem regulação específica e possuírem atividade operacional distinta das demais, podendo, portanto, distorcer os números com relação aos fluxos de caixa.

O Quadro 2 apresenta o total de observações obtidas para cada trimestre, após o cumprimento dos critérios acima elencados.

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Quadro 2 – Amostra da Pesquisa 2010 2011

Nº de Observações 1

trim 2 trim

3 trim

4 trim

1 trim

2 trim 3 trim 4 trim Total

Brasileiras 289 284 287 295 302 303 299 279 2338 Norte-Americanas

777 772 771 770 764 761 753 739 6107

Fonte: Dados da pesquisa.

Para a presente pesquisa, considerou-se cada companhia, para cada trimestre, como uma unidade de análise, portanto, a amostra final foi de 2.338 observações, com relação ao mercado brasileiro, e 6.107 para o mercado norte-americano, conforme Quadro 2. 6.3. Modelo Econométrico

Para analisar a relevância (value relevance) dos fluxos de caixa das atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos, adotou-se a metodologia empregada por Vishnani e Shah (2008), onde se fez o uso da regressão linear múltipla, conforme Equação 1.

VMEi,t+1 =α1 + β1 FCO i,t+ β2 FCIi,t + β3 FCFi,t +εit (1)

Onde,

VMEi,t+1 = valor de mercado da empresa i um mês após o período de publicação t; α1 = constante; β1, β2, β3 = coeficientes de inclinação das variáveis explicativas; FCOi,t= fluxo de caixa das atividades operacionais para a empresa i no período t; FCIi,t= fluxo de caixa das atividades de investimento para a empresa i no período t; FCFi,t= fluxo de caixa das atividades de financiamento para a empresa i no período t;

A utilização do valor de mercado das empresas um mês após a data da publicação justifica-se, no sentido de garantir que as informações já estejam refletidas no preço das ações (VISHNANI; SHAH, 2008).

A Equação 1 será estima para as amostras, brasileira e norte-americana. Assim, será possível analisar o value relevance dos fluxos de caixa das atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos e avaliar qual das atividades apresenta-se como melhor Proxy para a Demonstração de Fluxos de Caixa e se o estágio de desenvolvimento dos mercados interfere na eficiência dos mesmos em absorver tais informações.

7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A Tabela 1 evidencia as estatísticas descritivas das empresas do mercado acionário brasileiro. Analisando o valor médio da variável dependente (VME) foi encontrado em todo o período um total de 6.398.240, no entanto esse valor não foi representativo, pois com um valor mínimo de 1.398, máximo de 367.842.512 e desvio padrão de 26.105.567 a variável apresentou-se bastante dispersa. Entretanto, esse resultado já era esperado porque mesmo excluindo instituições financeiras, a amostra continuou sendo heterogênea, uma vez que é composta por companhias de variados setores.

No que se refere às variáveis independentes (FCO, FCI, FCF), verifica-se que o FCO apresentou um valor médio de 403.741, demonstrando que as empresas obtiveram fluxos de caixas suficientes para comportar suas atividades operacionais. Dessa forma, o FCO positivo, supostamente indicará conteúdo informacional para o investidor, como confirmado em alguns estudos (CHARITOU; CLUBB; ANDREOU, 2000; CUNHA, 2006; MALACRIDA, 2009; FRANCIS, 2010; KARUNARATHNE; HUBEI;

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RAJAPAKSE, 2010). Em relação ao FCI, o valor médio foi negativo -450.082, indicando que as entidades tem investido dispêndios representativos, com a finalidade de gerar resultados e fluxos de caixa no futuro. Ressalta-se, que FCI negativo, tende a não representar relevância para os investidores, como observado nos estudos de Karunarathne, Hubei e Rajapakse (2010) e Martins, Machado e Callado (2012).

Por fim, o valor médio do FCF, totalizou 87.005, sugerindo que em volume elevado as empresas integralizaram capitais, realizaram empréstimos, receberam contribuições, dentre outros. O resultado positivo no FCF, a exemplo do FCI, tende a não representar significância informacional para os investidores, como desmontaram Francis (2010); Karunarathne, Hubei e Rajapakse (2010) e Martins, Machado e Callado (2012).

Contudo, salienta-se que o desvio padrão das variáveis FCO, FCI e FCF, mais uma vez, indica que os dados apresentam-se dispersos em relação à média, o que poderia afetar as decisões dos investidores com base nas tendências discutidas.

Tabela 1 - Estatísticas Descritivas das Empresas Brasileiras

Máximo Mínimo Média Desvio Padrão

VME 367.842.512 1.398 6.398.240 26.105.567 FCO 56.322.101 -9.939.000 403.741 2.732.153 FCI 3.032.871 -105.567.086 -450.082 3.400.837 FCF 53.858.176 -23.604.775 87.005 1.833.610

Partindo para análise das empresas norte-americanas, pontua-se que os resultados positivos ou

negativos dos fluxos, também devem seguir as suposições de significância informacional apresentadas anteriormente. Nesse sentido, analisando a variável dependente (VME), verificou-se um valor médio de 12.034.481, contudo com um desvio padrão de 26.919.966, devido aos múltiplos setores analisados, a média não é representativa.

No que diz respeito à variável independente FCO, o valor médio totalizou 805.175, indicando que as empresas americanas também estão gerando fluxos de caixa suficientes para manter as atividades operacionais. Em contrapartida, o FCI apresentou valor médio negativo de -506.391, assim como as empresas brasileiras, tal resultado relaciona-se com a utilização elevada de ativos para produção de bens ou serviços, ou seja, investimentos (IUDÍCIBUS et al, 2010). Concluindo, o FCF diferenciou-se das empresas brasileiras, apresentando um valor médio de -296.315, esse montante interessa supostamente aos investidores, pois é composto, dentre outras fontes, por pagamentos em caixa a investidores para adquirir ou resgatar ações da entidade (CPC 03 (R2)).

Tabela 2 - Estatísticas Descritivas das Empresas Norte-Americanas

Máximo Mínimo Média Desvio Padrão

VME 433.397.021 2.399 12.034.481 26.919.966 FCO 55.345.000 -6.360.000 805.175 2.584.246

FCI 34.481.000 -

27.489.000 -506.391 1.917.077

FCF 24.210.291 -

61.470.000 -296.315 2.133.834 Em se tratando da relevância (value relevance) dos fluxos de caixa das atividades operacionais, de investimento e de financiamento foram estimadas as regressões referente à Equação 1. A Tabela 3 apresenta os resultados da regressão para a amostra composta pelas companhias listadas na Bovespa, na qual representa o mercado emergente.

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Verifica-se que a regressão estimada apresentou significância estatística ao nível de 1%, uma vez que o p-value da estatística do teste F foi inferior a 0,01. No que se refere às variáveis explicativas, nota-se que apenas as informações referentes aos fluxos de caixa das atividades operacionais (FCO) apresentaram significância estatística na determinação do valor de mercado das companhias com o sinal esperado, como pode ser verificado pelo p-value da estatística t, inferior a 0,01 e pelo sinal positivo do coeficiente da variável, respectivamente.

Logo, pode-se afirmar que apenas FCO apresentou value relevanceno contexto do mercado de capitais brasileiro, sendo esta, a melhor Proxyna representação da DFC. Apesar de o mercado brasileiro ser considerado como emergente, as evidências corroboram com os estudos realizados em mercado desenvolvidos (BARTOV; GOLDBERG; KIM, 2001; HABIB; AZIM, 2008). Isto é, a DFC possui conteúdo informacional e, com um R² Ajustado de 0,668, explicou 66,8% da variação do valor de mercado das companhias, portanto, o mercado é eficiente.

De posse de tais resultados, o FCO confirmou a tendência de que resultados positivos podem acarretar value relevance para o investidor. No que se refere ao FCI, não apresentou significância estatística, confirmando a suposição de que o mercado não reage a FCI negativo. Nessa perspectiva, o FCF por apresentar resultado positivo, não representou conteúdo informativo para os investidores, também legitimando as tendências discutidas.

Tabela 3 – Resultados da Regressão Estimada com as Empresas Brasileiras

Painel A

Variável Explicativa Coeficiente Erro

padrão* Estatística t p-valor

C 3268256 283760,3 11,518 0,000 FCO 9,240 3,396 2,720 0,007 FCI 1,817 3,523 0,516 0,606 FCF 2,498 3,001 0,833 0,405

Painel B Descrição Valor Descrição Valor

R2 0,669 Teste F (Estatística) 1573,869 R2 ajustado 0,668 Teste F (p-value) 0,000

Schwarz 35,900

Teste de White (Estatística) 260,4721

Akaike 35,890

Teste de White (p-value)*

0,000

Jarque-Bera (estatística)

1061650 Durbin-Watson*** 1,996

Jarque-Bera (p-value)**

0,000 Número de Observações 2.338

* erros-padrão estimados com correção para heterocedasticidade de White, uma vez que a hipótese nula de variâncias homocedásticas foi rejeitada, ao nível de 5%. **De acordo com o teorema do limite central e considerando que foram utilizadas 2.338 observações, o pressuposto da normalidade pode ser relaxado (BROOKS, 2002). Adicionalmente, a correção de White aumenta o erro padrão, diminuindo a estatística t, tornando sua estimativa mais robusta. *** Rejeita-se a hipótese de autorrelação nos resíduos. Para detectar a presença de multicolinearidade, fez-se uso dos testes FIV (varianceinflationfactor). Obteve-se um FIV de 3,154, 2,374, 2,839, para as variáveis FCO, FCI e FCF, concluindo-se pela inexistência de colinearidade.

A Tabela 4 evidencia os resultados da regressão estimada com a amostra de empresas listadas na NYSE, em que representa o mercado desenvolvido. Verifica-se que a regressão estimada possui significância estatística ao nível de 1%, uma vez que o p-value da estatística F foi inferior a 0,01. Com

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relação às variáveis explicativas, assim como no Brasil, apenas o FCO apresentou-se relevante para o mercado norte-americano com o sinal esperado, uma vez que o p-value da estatística t foi inferior a 0,01.

Dessa forma, assim como no mercado brasileiro, pode-se afirmar que apenas o FCO possui value relevance no contexto do mercado norte-americano. As evidências indicam ainda, que o FCO também é a melhor Proxyna representação da DFC, que por sua vez, apresentou conteúdo informacional, onde, com o R² Ajustado de 0,641, explicou 64,1% das variações do valor de mercado das companhias listadas na NYSE.

Com relação aos FCI e FCF, verificou-se que os resultados não foram estatisticamente significativos. Dessa forma, para o FCI as evidências sustentam-se nas tendências que FCI negativo, indica um sinal para ausência de significância estatística, como confirmado nos resultados brasileiros. Por sua vez, o resultado do FCF divergiu dos estudos de Francis (2010); Karunarathne, Hubei e Rajapakse (2010) e Martins, Machado e Callado (2012), uma vez que nesses estudos a Proxy FCF quando negativa, apresentou conteúdo informacional e, ainda, representou a melhor Proxy da DFC.

Sugere-se que os investidores norte-americanos não se interessam exclusivamente nos pagamentos de retorno sobre investimentos, evidenciado no FCF, mas na capacidade das atividades operacionais em gerar fluxos de caixas futuros.

Tabela 4 – Resultados da Regressão Estimada com as Empresas Norte-Americanas Painel A

Variável Explicativa Coeficiente Erro

padrão* Estatística t p-valor

C 5319551 284038,8 18,728 0,000 FCO 7,11 1,106 6,430 0,000 FCI -0,945 1,035 -0,913 0,361 FCF -1,571 1,122 -1,400 0,162

Painel B Descrição Valor Descrição Valor

R2 0,642 Teste F (Estatística) 3643,009 R2 ajustado 0,641 Teste F (p-value) 0,000

Schwarz 36.032

Teste de White (Estatística) 134.353

Akaike 36.028

Teste de White (p-value)*

0,000

Jarque-Bera (estatística)

867962,9 Durbin-Watson*** 1,962

Jarque-Bera (p-value)**

0,000 Número de Observações 6.107

* erros-padrão estimados com correção para heterocedasticidade de White, uma vez que a hipótese nula de variâncias homocedásticas foi rejeitada, ao nível de 5%. **De acordo com o teorema do limite central e considerando que foram utilizadas 6.107 observações, o pressuposto da normalidade pode ser relaxado (BROOKS, 2002). Adicionalmente, a correção de White aumenta o erro padrão, diminuindo a estatística t, tornando sua estimativa mais robusta. *** Rejeita-se a hipótese de autorrelação nos resíduos. Para detectar a presença de multicolinearidade, fez-se uso dos testes FIV (varianceinflationfactor). Obteve-se um FIV de 3,845, 2,874, 4,745, para as variáveis FCO, FCI e FCF, concluindo-se pela inexistência de colinearidade.

Ao comparar os resultados das regressões, verifica-se que os resultados obtidos para ambos os mercados são, em sua maioria, idênticos. Entretanto, no mercado brasileiro, com o R² Ajustado de 0,668, a DFC apresentou-se mais relevante ao comparar com o R² Ajustado de 0,641, obtido para o mercado norte-americano.

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Frente a isso, as evidências sugerem que o desenvolvimento dos mercados, se emergente ou desenvolvido, não interferem na eficiência do mesmo em absorver as informações relevantes e disponíveis aos usuários, pelo menos entre Brasil e Estados Unidos. Como se observou, ao contrário do que se esperava, para o mercado de capitais brasileiro, representando o mercado emergente, a DFC apresentou-se mais relevante do que para o mercado norte-americano, representado o mercado desenvolvido.

Tais evidências podem ser justificadas no sentido de que o mercado de capitais brasileiro apresenta-se em um estágio evolutivo, sejam pelo número de ofertas públicas de ações vivenciadas nos últimos três anos, seja pela a inserção de empresas com a abertura de seu capital ou pela entrada de estreantes no mercado, tal como investidores nacionais e estrangeiros que têm contribuído para a descentralização do capital das companhias.

Além disso, a adoção do padrão IFRS tem contribuído para a melhoria da qualidade das informações contábeis, fazendo com que as mesmas tornem-se cada vez mais relevantes para o mercado e contribua para o seu desenvolvimento.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo geral analisar o value relevance dos fluxos de caixa das atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos em mercados com características distintas, desenvolvido, representado pelos Estados Unidos, e emergente, representado pelo Brasil. Mais especificamente, avaliar qual das atividades apresenta-se como melhor Proxy para a Demonstração de Fluxos de Caixa e se o desenvolvimento dos mercados interferem na eficiência dos mesmos em absorver as informações.

Para tanto, o estudo foi realizado no período de 2010 a 2011, analisando a relação entre o valor de mercado (VME) com os componentes da DFC (FCO, FCI, FCF) das empresas do mercado acionário brasileiro, em seguida, reaplicando a análise com as empresas do mercado acionário americano.

Diante do exposto, os resultados das empresas brasileiras evidenciaram que o FCO foi à única variável que se mostrou value relevance, onde, o R² Ajustado explicou 66,8% da variação do valor de mercado das companhias listadas na BM&FBovespa, concordando com a maioria dos estudos que analisaram o value relevanceda DFC (BARTOV; GOLDBERG; KIM, 2001; CHARITOU; CLUBB; ANDREOU, 2000; CHENG; YANG, 2003; MALACRIDA, 2009; MACEDO et al, 2011).

Não obstante, os resultados brasileiros divergiram das suposições de Burgstahler e Dichev (1997), Beaver (1998) e Barth, Beaver e Landsman (2001), pois esses autores acreditavam que pesquisas realizadas em mercados emergentes, como o brasileiro, proporcionaria a diminuição na significância das informações contábeis, devido a sua ineficiência em absorver as informações relevantes.

No que se refere às empresas norte-americanas, o resultados elucidaram que o FCO também é a melhor Proxy na representação da DFC, onde, o R² Ajustado explicou 64,1% das variações do valor de mercado das companhias listadas na NYSE.

Contrariando as expectativas, destaca-se que a DFC, frente ao mercado norte-americano, considerado desenvolvido, apresentou um menor conteúdo informativo ao comparar com o mercado brasileiro, sugerindo-se que o desenvolvimento do mercado, pelo menos para o presente estudo, não influencia na eficiência do mesmo em absorver as informações, discordando de alguns estudos realizados em mercados emergentes (VISHNANI; SHAH, 2008; SAEEDI; EBRAHIMI, 2010; DARAGHMA, 2010; MOSTAFA, 2011).

Finalizando, recomenda-se que futuras pesquisas sejam realizadas envolvendo outros países com mercado de capitais desenvolvidos e emergentes, para que se amplie o campo de conhecimento da relevância das informações contábeis contidas na DFC e de outras demonstrações.

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REFERÊNCIAS

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Ferramentas Gerenciais: Um Estudo sobre a Utilidade percebida do Planejamento.

AUTORES: Vinícius Martins.

Resumo

Este artigo tem por objetivo elencar os principais aspectos do planejamento orçamentário encontrados em empresas do setor varejista de materiais de construção que possam contribuir com o crescimento e desenvolvimento empresariais. O estudo é formado por cinco empresas da grande Florianópolis que realizaram e aplicaram o planejamento orçamentário. Essa avaliação baseia-se em uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa por meio da aplicação de questionário junto ao responsável gerencial de cada empresa. Os resultados demonstram que: a) diversos aspectos do planejamento que são abordados na teoria também são aplicados nas empresas, tais como: projeção dos resultados e do fluxo de caixa, análise contábil financeira, desenvolvimento de potencialidade de lucros, entre outros; e b) esses aspectos provêem contribuições como: informações com antecedência em relação às necessidades de fundos de maneira que as negociações sejam eficientes, aumento das possibilidades de rendimentos através de previsão de vendas e investimentos, reflexão de objetivos e fixação de metas. Desta maneira, é possível verificar a forma de incidência do planejamento orçamentário nas empresas e o seu auxilio na busca pelo desenvolvimento e crescimento empresariais.

Palavras-chave: Planejamento orçamentário, crescimento empresarial e gestão orçamentária.

1. INTRODUÇÃO

A busca pelo controle orçamentário eficaz e um concreto desenvolvimento econômico é uma constante na realidade das organizações. Para tanto, a existência de um consistente e adequado processo de suporte informacional é crucial para que os gestores tomem decisões embasadas e que proporcionem os melhores resultados para a entidade. Isso requer constante vigilância do ambiente organizacional interno e externo. Neste sentido, Teló (2001) alerta que o gerenciamento correto das capacidades da empresa é vital para o seu sucesso.

Nessa dinâmica do meio empresarial, a contabilidade tem potencial de oferecer importantes contribuições para melhoria do processo informacional de suporte à tomada de decisões. Dentre as contribuições podem-se destacar as que se mostram capazes de organizar e antecipar os resultados com base nas premissas decorrentes da leitura do mercado e das expectativas da organização. Trata-se do planejamento organizacional alinhado ao planejamento estratégico. Klann et al. (2011) lembram que nas tentativas de antecipar resultados, dificuldades e circunstâncias inesperadas podem aparecer. Porém, se a organização dispuser de planejamento adequado, orçamento confiável e controle eficaz, mesmo assim ela poderá alcançar o desempenho desejado.

Uma das utilidades do planejamento reside na sua capacidade de “obrigar” os gestores a refletirem sobre os objetivos e fixar as metas empresariais, determinando suas preferências. Adicionalmente, são esperadas ampliações das percepções e perspectivas de atuação que possibilitem alavancar a organização ao patamar desejado.

Naturalmente, um dos principais pilares do sucesso organizacional é a sua “saúde” financeira. Caso esta entre em situação precária, indícios de um futuro temerário serão perceptíveis. Dessa maneira, a ela deve-se direcionar muita atenção e cuidados especiais. Essa também é a opinião de Pimentel, Braga e Casa Nova (2005), ao afirmarem que a administração econômico-financeira é um dos aspectos mais importantes numa organização.

Na literatura, a importância deste tema no auxilio a gestão organizacional e, consequentemente no seu sucesso, é amplamente reconhecida. Porém, será que este consenso da literatura encontra eco na realidade das empresas? Por isso, investigar sobre a utilidade e contribuições percebidas do planejamento

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orçamentário na gestão de empresas constitui-se no foco deste trabalho. Nesse contexto, surge a pergunta de pesquisa que orienta a construção deste trabalho: Como o planejamento orçamentário é percebido pelos gestores de empresas do setor varejista de materiais de construção?

Na intenção de responder à pergunta de pesquisa, apresenta-se, como objetivo geral do trabalho: elencar os principais aspectos do planejamento orçamentário encontrados em empresas do setor varejista de materiais de construção e que possam contribuir com o crescimento e desenvolvimento empresarial.

Para atender ao objetivo geral, constituem-se os objetivos específicos: (i) Identificar os aspectos do planejamento orçamentário que são utilizados pelas empresas; (ii) Analisar as contribuições do planejamento orçamentário utilizado atualmente pelas empresas; e (iii) Averiguar outras ações relacionadas ao planejamento orçamentário que poderiam ser implantadas segundo a percepção do gestor.

O trabalho está dividido nas seguintes seções: Primeiro realiza-se uma investigação sobre o entendimento da literatura especializada sobre o tema. Logo depois, apresenta-se a metodologia utilizada para o desenvolvimento do estudo seguida da apresentação e discussão dos resultados. Após, são apresentadas as considerações finais que proporcionam uma visão geral do estudo realizado, mencionando limitações e recomendações para futuras pesquisas. E finalmente, listam-se as referências bibliográficas utilizadas ao longo do trabalho científico.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 PANORAMA SOBRE O TEMA

Essa seção tem por objetivo mostrar um panorama geral sobre o planejamento orçamentário, identificando e quantificando trabalhos científicos que exploram tal assunto. A sua importância está ligada em verificar se há muitos estudos na área e em quais anos esse assunto foi abordado, baseado no período de análise entre os anos de 2000 e 2011.

Para a coleta dos artigos foram utilizados no total 52 periódicos, sendo que desses, 13 periódicos estão vinculados ao programa de pós-graduação recomendados pela CAPES. Além disso, a pesquisa também foi baseada em 4 eventos – Congresso USP, ANPCONT, ENAMPAD e de Custos.

Foram encontrados 54 artigos envolvidos com o tema. Desses, 18 foram selecionados de acordo com as similaridades existentes para compor o referencial teórico do presente estudo. Complementar a isso, em relação aos autores, foram relacionados 87 durante toda a busca. Diante desse fato, foi possível identificar que o mais prolífico em publicações foi Juliano Franco e Silva Amaral.

2.2 EIXOS TEÓRICOS

2.2.1 PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO

Com o advento da Revolução Industrial no século XVIII, ocorreram diversas evoluções significativas nas estruturas econômicas e financeiras das empresas. Segundo Kilmann (1997) apud Rosseti et al. (p. 05, 2008), “as organizações contemporâneas se defrontam com ambientes progressivamente dinâmicos, que trazem problemas cada vez mais complexos e indefinidos.”. Para que elas estejam em constante alinhamento, definindo estratégias eficazes, são necessárias ferramentas capazes de orientá-las. Dessa maneira, diversos reflexos poderão ser percebidos na concretização dos objetivos dessas organizações.

Uma dessas ferramentas que orientam as estruturas de uma organização é o planejamento. Segundo Garcia, Bedoya e Ríos (p. 187, 2010), “o planejamento financeiro é uma ferramenta importante na gestão dos negócios, pois permite a integração harmoniosa de cada um dos componentes”. Isso é conseqüência da capacidade de nortear um caminho a ser seguido, resultando em reflexos importantes nas ações e atividades a serem praticadas pelos colaboradores, além de proporcionar aos gestores maior segurança e confiabilidade na tomada de decisão. O ato de planejar está presente em uma esfera ainda mais complexa chamada orçamento. Segundo Bornia e Lunkes (p.39, 2007), “O orçamento tem como princípio fundamental o planejamento e o controle do resultado, através do planejamento formal, da coordenação efetiva e do controle dinâmico das operações da empresa.”. Percebe-se que as operações empresariais, além

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de serem planejadas, devem ser coordenadas efetiva e dinamicamente, a fim de obter o controle do resultado.

O planejamento é um recurso contábil-administrativo capaz de indicar, racionalmente, as melhores formas e direções para chegar ao propósito final. Para Panegalli, “[o]s orçamentos e os projetos sãos os instrumentos de interligação entre o prescritivo e o quantitativo do processo de planejamento da organização.” Leite et al (p. 57, 2008) reforçam que “[o] orçamento empresarial não deve ser entendido como instrumento limitador e controlador de gastos, mas como forma de focalizar a atenção nas operações e finanças da empresa...”. Toda empresa que pretende realizar suas ações de forma planejada e sem sustos, poderá recorrer aos artefatos de um bom planejamento. Para Boas e Jones (2005), o planejamento orçamentário possibilita a identificação de aspectos que precisam ser melhor trabalhados, além de permitir a previsão de resultados futuros. Além disso, o planejamento é uma ferramenta flexível que tem como princípio básico formar futuras ações para o uso dos recursos, de modo que, ao final de um período, possa-se promover o alcance dos resultados esperados. Contudo, o controle orçamentário também coopera com esse alcance. Segundo Frezatti et al. (2010), ele visa alinhar as ações operacionais de curto prazo aos objetivos de longo prazo, proporcionando condições de feedback aos gestores sobre suas atitudes, e auxilia na reorientação das atividades e prioridades, alimentando o controle do planejamento.

A presença do planejamento na organização se torna útil e importante pelo fato de colaborar na administração dos recursos e, consequentemente, facilitar o alcance dos objetivos empresariais. No entanto, essa importância depende da cultura organizacional, ou seja, do comportamento coletivo e social dos membros. Para Barthorpe, Duncan e Miller (2000) apud Heinzmann e Lavarda (p. 6, 2011), “... a cultura nas organizações se reflete na maneira como as pessoas executam as tarefas, definem os objetivos e administram os recursos necessários para atingir os mesmos.”. O comportamento dos colaboradores possui grande importância para a eficácia dos planos elaborados, bem como, na obtenção dos resultados desejados.

O planejamento se torna interessante diante da capacidade de “obrigar” os gestores a refletirem sobre os objetivos e fixar as metas empresariais, pois de acordo com Cavalcanti e Gomes (2001) nenhuma organização pode existir sem que ela saiba onde está nem aonde quer chegar, o que significa ter uma visão do seu posicionamento no mercado. Consoante a isto, são esperadas mudanças que possibilitem melhorar a situação da organização, abrangendo seu escopo de atuação e buscando caminhos alternativos de lucratividade e desenvolvimento. Além disso, essa ferramenta é considerada importante para que os objetivos e planos possam alcançar desempenhos positivos e, ao mesmo tempo, manter o funcionamento e prosperidade da organização. Sem falar na vantagem competitiva que é percebida no ambiente no qual o orçamento e o planejamento desempenham papéis interativos (ALMEIDA et al. 2009). Com isso, a empresa se torna mais segura e estável, possibilitando maiores solvências nas operações e, conseqüentemente, podendo obter bons conceitos junto ao público alvo.

A importância do planejamento é ainda mais notável quando a questão é sobre capital de giro. A empresa que não possui um capital de giro bem estruturado, possivelmente terá dificuldades. Segundo Pimentel, Braga e Casa Nova (p. 84, 2005), “[a] administração do capital de giro é um dos aspectos mais importantes da administração financeira, considerada globalmente”. Planejar as destinações do capital envolve estabelecer as ações que terão consequências em curto prazo. Portanto, nada melhor do que o planejamento para evitar situações de aperto e dificuldade, que podem se tornar irreversíveis.

Porém, é importante salientar que essa ferramenta só será bem vista a partir do momento em que houver uma interação entre os planos desenvolvidos e a participação efetiva de todos os colaboradores no exercício de suas funções. Segundo Almeida et al. (p. 74, 2009),”... de nada adianta planejar se não houver um efetivo acompanhamento.” O planejamento não irá fazer milagres. Ele trará benefícios a quem estiver disposto a cooperar para o seu bom funcionamento.

2.2.2 POTENCIAIS BENEFÍCIOS DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO

Elaborar e implementar um planejamento constitui-se num misto de arte e técnica pois requer profissionais capazes de fazer uma adequada leitura do ambiente, bem como um conjunto confiável de

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dados para embasar suas premissas e projeções. De acordo com Monteiro e Barbosa (p. 48, 2011), “[o] adequado planejamento é uma das condições preponderantes para que a gestão das empresas tenha resultados eficientes e eficazes.” Assim, de maneira geral, o processo de planejamento orçamentário busca identificar oportunidades para aprimorar o desempenho da organização e, consequentemente, seus resultados. Ou seja, o uso do orçamento possibilita enxergar a existência de problemas e servir como ferramenta para encontrar as respectivas soluções (LEITE, p. 58, 2008). Assim, percebe-se o potencial de facilitar o processo decisório do gestor em diversas maneiras.

Em função de sua natureza de tentativas de antecipação do futuro, ele minimiza o impacto de eventuais surpresas e possibilita criar planos alternativos que poderão ser implantados caso haja algum imprevisto. Para tanto, “[a] geração de informações gerenciais precisa estar apta a atender as demandas informacionais...” (SOUZA, FONTANA e BOFF, p. 3, 2010). Outro benefício que o planejamento pode proporcionar é o fornecimento de informações que poderão ser usadas no processo decisório. Ou seja, o sistema de informações é determinante no processo de gestão orçamentária, ao permitir que um conjunto de dados seja organizado criando um importante veículo de informações e um poderoso instrumento para o processo decisório (BOAS E JONES, 2005). Mesmo não gerando números exatos, sua utilidade é significativa ao quantificar idéias e aspectos que auxiliarão nas decisões dos gestores. Ou seja, para Teló (p. 22, 2001), “[o] objetivo precípuo perseguido numa projeção financeira não é acertar com precisão o valor futuro da variável projetada; antes, o verdadeiro propósito dos instrumentos de análise prospectiva é fornecer elementos válidos de convicção para a tomada de decisão, no momento em que se tem que decidir.” Além das mencionadas até aqui, pode-se listar outro benefício: a comparabilidade. Para Oyadomari et al. (p. 306, 2011), “...em ambientes turbulentos, torna-se difícil a obediência estrita às metas orçamentárias...”. Em ocasiões desse tipo, o planejamento evidencia as diferenças entre o planejado e o realizado, mostrando aos gestores os aspectos nos quais o desempenho foi adequado e aqueles que devem ser melhorados. Dessa forma, o planejamento possibilita aos gestores atuarem como médicos das organizações, com intervenções que potencializam os resultados e minimizam os riscos. O resultado deste processo é a melhoria do desempenho da organização como um todo e não apenas de algumas áreas.

2.2.3 A ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO

Depois de identificar os benefícios e contribuições do planejamento, é possível entender com ele é desenvolvido. Pereira, Lima e Costa (p. 40, 2008) afirmam que “[a] elaboração do planejamento pode ser uma tarefa árdua, pois temos envolvidos diretamente diversos setores operacionais, táticos e estratégicos da organização.”. Dessa maneira, o planejamento tende a ser feito por meio de projeções e estimativas setoriais que poderão ocorrer no período planejado. Ou seja, “[a] atividade planejamento envolve fixar objetivos e elaborar orçamentos para atingi-los.” (ALMEIDA et al. p. 74, 2009). Mas não são estimativas quaisquer. O responsável pelos planos orçamentários deve possuir informações periódicas das ações de todos os setores da organização. Boas e Jones (p. 27, 2005) afirmam que “[q]uando a empresa trabalha com periodicidade mensal de acompanhamento orçamentário e de relatórios contábil-gerenciais ela cria mecanismos de controle que garantem o alcance dos resultados...”. No entanto, é relevante relatar que os objetivos setoriais e globais da organização devem estar em sintonia, evitando assim, desvios de atividades. Assim, as projeções terão um embasamento concreto e realizável. Na mesma linha, Teló (p. 21, 2001) menciona que o planejamento “compreende a programação avançada de todos os planos da administração financeira e a integração e coordenação desses planos com os planos operacionais de todas as áreas da empresa”.

Outra circunstância que influencia na hora de elaborar o planejamento das aplicações dos recursos é a composição acionária da empresa. Isso está ligado à cultura organizacional. Anthony e Govindarajan (2001) apud Heinzmann e Lavarda (p. 7, 2011) afirmam que “a cultura organizacional é o fator interno mais importante que influencia a congruência de objetivos”. Caso não haja um alinhamento entre o planejamento e a cultura da organização, aparecerá uma barreira chamada assimetria da informação. Segundo Faria et al. (p. 48, 2011), “[a] assimetria da informação ocorre basicamente quando há diferenças

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de níveis de informação entre dois ou mais atores de um contrato.” Há diferentes níveis de acesso a informação, os quais acabam gerando conflitos e prejuízos a tomada de decisão e ao alcance dos objetivos.

Na etapa do planejamento, os gestores devem estar atentos às informações que são extraídas da análise contábil-financeira e examinar quais situações merecem maior ou menor atenção. Para Macedo e Cavalcante (p. 68, 2011), “[a] análise contábil-financeira é importante e quase imprescindível para determinar quais são os pontos críticos, positivos e negativos, e para esboçar um plano de ação para a organização”.

Paralelamente a análise interna da empresa, é necessário desenhar a atmosfera externa em que os empresários esperam viver futuramente, como menciona Teló (p.21, 2001): “[no] desenvolvimento de um plano, dever-se-á enunciar explicitamente o ambiente econômico em que a empresa espera viver durante o período por ele coberto.” Se for um ambiente turbulento, o planejamento deverá ser mais cauteloso e composto por ações de prevenção. Caso seja considerado um período tranqüilo, sem nenhuma grande mudança, a ideia estaria voltada para expansão de mercado e investimentos. Ou seja, o ambiente exterior controla as ações internas de uma organização, devendo assim, estar atenta a qualquer notícia que possa provocar inúmeros impactos a sociedade como um todo.

Outro fator que deve ser levado em conta no momento da elaboração do planejamento é a visão de futuro. Segundo Pereira, Lima e Costa (p. 40, 2008), “[n]o planejamento, é primordial que os condutores do empreendimento utilizem a maior parte de seu tempo pensando no futuro da empresa...”. Os gestores, para realizarem qualquer plano, devem elencar, na medida do possível, os acontecimentos que um dia poderão ser vistos na organização. Todos os desembolsos, despesas, custos e recebimentos possíveis devem estar presentes no planejamento, ou seja, é comum e importante a utilização de todas as informações orçamentárias para o processo, disponibilizando assim, diversos parâmetros para a futura situação política, econômica e financeira da entidade (BOAS, JONES, 2005).

O planejamento deve ser elaborado com base em observações dos componentes patrimoniais e de resultado financeiro e econômico. Ou seja, deve ser observado como um todo, dando sequência a previsões estabelecidas periodicamente.

2.2.4 EFICIÊNCIA E EFICÁCIA DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO

Na busca do correto uso do planejamento pela administração empresarial, é preciso verificar sua eficiência e eficácia, ou seja, averiguar se as ações foram feitas como deveriam e no momento adequado. Segundo Cunha e Soares (2010), é importante afirmar que a eficiência e eficácia estão entre as principais medidas para avaliar uma boa administração, pois normalmente os recursos com que os gestores trabalham são escassos. A eficiência das decisões tomadas pode ser avaliada através da comparação entre os recursos utilizados e os resultados obtidos. E a eficácia, por sua vez, pode ser verificada através de observações sobre os resultados obtidos em relação ao que foi planejado para determinado período.

Após o desenvolvimento do planejamento, ações que viabilizem o alcance dos propósitos da organização devem ser identificadas e implementadas. Neste ponto, deve-se buscar aquelas que apresentem a melhor relação custo x benefício para a organização.

KLANN et al. (2011) mencionam que o processo orçamentário requer ajustes e vigilância permanentes. Sua implementação requer também um processo estruturado e alinhado em todas as etapas e áreas da organização visando a estrutura e alocação mais apropriada dos recursos na busca da otimização dos resultados. Quanto mais eficiente for este processo, menor o número de ações corretivas necessárias. O uso eficiente de um planejamento está ligado à maneira correta de realizar as ações, dando suporte informacional ao gestor. Com ele, a empresa ganha efetividade e capacidade de alinhar seus esforços em busca dos propósitos maiores (CUNHA E SOARES, 2010). Processos decisórios eficientes começam com ações planejadas corretamente, além de definirem quais os caminhos direcionam as empresas à conquista dos seus objetivos (MONTEIRO e BARBOSA, 2011). Ou seja, enquanto a eficiência busca ênfase nos meios, procura resolver problemas e cumprir tarefas, a eficácia enfatiza a obtenção de resultados e o alcance dos objetivos.

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Outra maneira, que é bastante utilizada na ciência da contabilidade, é a utilização de indicadores de desempenho como espelho das tomadas de decisões estipuladas pelos gestores. Para Leite et al (p. 59, 2008), “... o orçamento coopera para a avaliação do desempenho empresarial...”. Eles poderão mostrar de forma quantitativa como foi o exercício econômico-financeiro. Com isso, é possível comparar esses números com os resultados de outros períodos. Temos como exemplo de indicador o de qualidade, que busca mencionar a eficácia e os de produtividade e capacidade, que alcança o escopo da eficiência.

Um exemplo que não atende a eficiência do planejamento são as dificuldades com fluxo de caixa e equivalentes de caixa. Elas são resultados de planejamentos mal elaborados ou mal implantados. Com isso, é possível comentar que “[a] ausência de planejamento financeiro eficaz em longo prazo é uma razão frequentemente citada para a ocorrência de dificuldades financeiras e a falência de empresas” (TELÓ, p. 21, 2001).

2.3 ESTUDOS SIMILARES

Além das informações envolvendo os periódicos e os autores, também procurou-se identificar estudos similares ao tema proposto. Para tanto, analisou-se esses artigos buscando aqueles que mais se aproximavam com o escopo deste estudo.

Foram encontrados alguns artigos que abordam o mesmo tema, como o de Boas e Jones (2005), Pereira, Lima e Costa (2008), Souza, Fontana e Boff (2010), Leite et al (2008) e Teló (2001). No entanto, vale ressaltar que os artigos aqui citados possuem o mesmo tema, porém com enfoques diferentes, impossibilitando realizar um cotejamento entre os resultados.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

A metodologia da pesquisa, com relação à natureza, caracteriza-se como descritiva (GIL, 2007), pois busca-se identificar como é percebida a contribuição do processo orçamentário na melhoria da gestão de empresas do setor varejista de materiais de construção. Quanto à lógica, pode ser considerada como indutiva (IUDÍCIBUS, 2004), pois busca, pelo encadeamento das percepções, identificar as potencialidades contributivas desta ferramenta em apoio à melhoria da gestão. Para tanto, trabalha com dados primários (RICHARDSON, 1999), coletados diretamente com o responsável pelo setor gerencial da empresa. Na abordagem do problema utilizaram-se os enfoques qualitativos e quantitativos (RICHARDSON, 1999).

O procedimento técnico utilizado constitui-se numa pesquisa de campo (RICHARDSON, 1999), por haver uma aplicação de questionário diretamente com o responsável gerencial e por obter informações e dados de características gerenciais utilizados no momento e local da realização do planejamento.

3.2. PROCEDIMENTOS PARA COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A população da pesquisa é composta pelas empresas do ramo varejista de materiais de construção da Grande Florianópolis, representando um total de 6 empresas de médio a grande porte. Destas, uma se negou a participar, restando uma amostra final de 5 empresas. A coleta dos dados ocorreu com aplicação, aos gestores dessas empresas, de um questionário com 13 questões – nove objetivas, três descritivas e uma objetiva/descritiva.

Para atender ao primeiro objetivo específico – identificar os aspectos do planejamento orçamentário que são utilizados pelas empresas do setor varejista de materiais de construção - foram elaboradas as 6 primeiras questões. As questões 7 a 11 buscavam responder o segundo objetivo específico – analisar as contribuições do planejamento orçamentário utilizado atualmente pela empresa no processo de tomada de decisão. O último objetivo específico – averiguar outras ações relacionadas ao planejamento orçamentário que poderiam ser implantadas segundo a percepção do gestor – foi buscado por meio das questões 12, do tipo objetiva, e 13 do tipo descritiva.

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3.3. PROCEDIMENTO DE SELEÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO

A revisão de literatura para construção do referencial teórico deste estudo foi realizada utilizando 13 periódicos vinculados aos Programas de Pós-Graduação recomendados pela Capes em Ciências Contábeis no nível de Mestrado ou Doutorado. A escolha desses periódicos deveu-se a contribuição dos Programas de Pós-Graduação no incentivo e disseminação da pesquisa científica da área contábil no Brasil. Os periódicos escolhidos foram: Brazilian Business Review; Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos; Revista Contabilidade e Organizações; Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis; Revista Universo Contábil; Contabilidade Vista & Revista; Contabilidade & Finanças; Revista Brasileira de Gestão e Negócios; Revista de Informação Contábil; Revista de Contabilidade da UFBA; Revista Contabilidade & Controladoria; Revista Contemporânea de Contabilidade; Contabilidade, Gestão e Governança. Por fim, foi utilizada a base scielo para complementar a procura do embasamento teórico.

A pesquisa dos artigos deu-se através dos sites dos periódicos, no horizonte temporal de 2000 à 2011. Foram utilizadas quatro palavras-chave para efetuar a procura dos artigos: planejamento, gestão orçamentária, planejamento orçamentário e orçamento. Dessa maneira, foram encontrados 54 artigos, nos periódicos vinculados e não vinculados ao Programa de Pós-graduação. Após a leitura, foram selecionados 18 para compor o referencial teórico em função do seu alinhamento com o tema abordado.

Também foram analisados Congressos reconhecidos pela Capes com nível E1, diretamente vinculados à área contábil e disponibilizados on-line nos sites dos eventos. Os congressos considerados foram: Congresso Anpcont, Congresso USP de Controladoria e Contabilidade e Iniciação Científica, Congresso Enampad e de Custos.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção serão apresentados e discutidos os resultados encontrados visando responder à pergunta de pesquisa e alcançar o objetivo do estudo. Desta maneira, serão apresentados agrupados de acordo com os objetivos específicos estabelecidos.

4.1. Aspectos utilizados do planejamento orçamentário

Neste item, com base nas respostas às seis primeiras questões do questionário, buscou-se identificar os aspectos do planejamento orçamentário utilizados pelas empresas.

Em linhas gerais, a teoria aponta que as projeções e estimativas devem ser feitas com base nos objetivos gerais da empresa, do setor e dos próprios acionistas. Porém, quando questionados sobre os aspectos que consideram para elaborar seus planejamentos orçamentários, 80% responderam que o fazem com base nos objetivos gerais da organização e 20%, com base nos objetivos e parâmetros dos setores. Os objetivos dos acionistas, aparentemente, não são considerados, representando uma não sintonia com a literatura.

A análise contábil financeira e a leitura do ambiente em que atuam foram citadas por 40%, cada uma, como as principais fontes de coleta de dados para pautarem suas análises. As políticas de investimento foram apontadas em 20% dos casos. Isso denota que as empresas do setor elaboram seu planejamento com um olhar no futuro sem, no entanto, esquecer dos desempenhos realizados. Isso mostrando certo alinhamento com o que a literatura ensina.

Quando questionados sobre as peças orçamentárias que eles elaboram, os resultados foram os que se encontram em destaque na Figura 1.

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Figura 5: Frequência de projeção das peças orçamentárias

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Novamente, os resultados encontrados estão alinhados com o que prega a teoria pois as peças orçamentárias mais elaboradas pelas empresas são também as salientadas no referencial teórico. Destaque para as projeções dos resultados, do fluxo de caixa e da política de investimentos, elaborados por todas as empresas. Logo em seguida, vem a projeção das vendas, utilizada por 80% das empresas. Questionados sobre os motivos pelos quais elaboravam seus planejamentos orçamentários, os gestores responderam que o faziam para melhor conhecerem seu negócio e o ambiente em que atuam. Com isso, suas decisões sobre compras, vendas, políticas de vendas, investimentos e de financiamentos seriam melhor embasadas, possibilitando assim, o alcance dos propósitos da organização. Neste ponto, destaque para a preocupação dos gestores com os aspectos econômicos nacionais e internacionais, como, por exemplo, política cambial e inflação. Isso denota o olhar e a atenção para além dos seus pátios na hora de gerirem suas empresas, algo que é bastante saudável para um negócio.

Além da busca pelos elementos já destacados, os gestores manifestaram que fazem uso desta ferramenta para outras finalidades, conforme destacado na Figura 2.

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Figura 2: Utilidade do planejamento orçamentário

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Observando a figura acima, pode-se notar que as empresas estão buscando alcançar os objetivos

estabelecidos no planejamento através da implantação de uma boa liderança, onde os colaboradores são motivados a cada vez mais aumentar as vendas e, consequentemente, aumentar a receita e os resultados. Dessa maneira, observam-se contribuições para a melhoria do reconhecimento da empresa e a ampliação do seu mercado.

Com isso, pode-se inferir que o hábito de elaborar o planejamento orçamentário nestas organizações tem-se mostrado um importante aliado no processo de gestão. Isso se confirma quando 100% das empresas afirmaram que esta ferramenta tem contribuído para a melhoria de suas decisões e da gestão de seus empreendimentos.

4.2. Contribuições do planejamento orçamentário

Nas respostas às questões 7 a 11, buscou-se identificar as contribuições do planejamento orçamentário que foram percebidas dentro das empresas. A teoria, que aborda o planejamento orçamentário, destaca como umas das contribuições da sua utilização a ausência de surpresas. Para isso, são elaborados planos para minimizá-las. Neste aspecto, 60% dos entrevistados afirmaram não ser este o propósito e a razão maior para o uso desta ferramenta. Os 40% restantes responderam que esta é uma das utilidades, especialmente para situações ou setores críticos como o orçamentário e o de compras.

Para justificar a preocupação com estes setores, eles afirmam que os impactos negativos de demandas não atendidas em função de erros na definição do volume de compras pode ser grande. Não se trata apenas de vendas não realizadas, e sim do estímulo à instalação de novos potenciais concorrentes. Estes dois fatores associados podem trazer resultados devastadores para a saúde econômico-financeira da organização. Por isso, estas empresas tanto se preocupam com eles.

Outras vantagens decorrentes do uso do planejamento orçamentário foram percebidas, como por exemplo: os ganhos de escala decorrentes de compras planejadas, as melhores condições de negociação das vendas decorrentes do adequado equacionamento do fluxo de recursos, dentre outras. Partindo da premissa preconizada na literatura de que o planejamento é uma ferramenta valiosa no auxílio à gestão e alinhamento dos esforços, pode-se dizer que ações bem estruturadas, pensadas e modeladas provavelmente trarão bons frutos à empresa como um todo. Esta também é a opinião de 80% das empresas pesquisadas. Para ilustrar isso, uma delas trouxe um exemplo sobre o planejamento dos serviços de publicidade. Se

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houver uma boa pesquisa de mercado, será encontrada uma empresa que realize um bom serviço por um preço justo. Consequentemente, essa ação resultará em ganhos nas vendas e no caixa.

Observando os resultados encontrados, foi possível estabelecer outra contribuição do planejamento orçamentário que é a obrigação de refletir sobre os objetivos e a fixação de metas. Essas premissas são realizadas nas empresas entrevistadas, envolvendo principalmente as áreas de vendas. É importante a constante modelação das ações deste setor devido a fatores como as ações de concorrentes, a oferta e a demanda. Sobre a importância e utilidade do estabelecimento de metas, os gestores afirmaram tratar-se de um ponto crítico para o sucesso da empresa. Esta também é a visão da literatura que defende que se trata de um aspecto crítico e por isso devem ser fixadas com parcimônia, pois sem elas a empresa perde seu parâmetro de comparabilidade.

Outra colaboração que o planejamento oferece é a melhoria no desempenho, funcionamento e prosperidade da organização. Porém, isso depende de muitos aspectos, como por exemplo: aplicação do planejamento, acompanhamento, revisões de atitudes, mercado externo, criação de preços de vendas, situação econômico-financeira dos consumidores entre outros. Qualquer empresa, independente de seu porte, sofre consequências desses aspectos. Na figura 4 é possível verificar os resultados percebidos pelos gestores em termos de grau das contribuições trazidas pelo planejamento orçamentário de suas atividades.

Figura 4: Melhoria proporcionada pelo uso do planejamento

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Pelo gráfico pode-se perceber que 40% das empresas entendem que o planejamento lhes traz grandes benefícios na gestão de suas empresas. Igual percentual está ligado aos ganhos que foram considerados moderados e apenas 20% não conseguiram perceber melhorias efetivas.

Apesar de 20% das empresas não terem percebido melhoras no seu processo decisório em função do uso do planejamento orçamentário, todos eles afirmaram recorrer a esta ferramenta para fundamentar e aperfeiçoar seu processo decisório.

Importante destacar que, grande parte das contribuições percebidas pelos gestores, na verdade, também são méritos deles próprios, pois por melhor que seja a ferramenta para suporte a gestão, ela não passa disso. Ou seja, para efetivamente materializar os ganhos potenciais é preciso usufruir da ação voluntária e efetiva dos gestores.

4.3. Outras ações relacionadas ao planejamento orçamentário

Nesta seção busca-se identificar outras ações relacionadas ao planejamento que poderiam ser aplicadas segundo a visão dos gestores. Para isso, utilizaram-se duas questões.

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Quando questionados sobre a utilidade do planejamento para o alcance dos objetivos da organização, todos afirmaram estar convictos disso. Porém, 20% deles acrescentaram que, esta contribuição poderia ser potencializada caso esse planejamento fosse desenvolvido de maneira sintonizada com todas as áreas da empresa.

Esse efetivamente é o sonho de consumo de todas as organizações e o mundo ideal da literatura. Porém, isso requer muito empenho, esforço e, em algumas situações, sacrifícios dos conceitos concebidos e moldados em laboratórios para se adequar a realidade das organizações. De qualquer forma, mesmo as mais longas jornadas iniciam com um primeiro passo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve por objetivo elencar os principais aspectos do planejamento orçamentário encontrados em empresas do setor varejista de materiais de construção que possam contribuir com o crescimento e desenvolvimento empresarial.

Assim surgiram três objetivos intermediários que nortearam o presente estudo: i) Identificar os aspectos do planejamento orçamentário que são utilizados pelas empresas; (ii) Analisar as contribuições do planejamento orçamentário utilizado atualmente pelas empresas; e (iii) Averiguar outras ações relacionadas ao planejamento orçamentário que poderiam ser implantadas segundo a percepção do gestor.

Através da utilização de um questionário como instrumento de coleta de informações, verificou-se que os aspectos mais utilizados do planejamento foram: decisões ponderadas sobre os objetivos gerais da organização; análise contábil-financeira; a leitura do ambiente que atuam; projeções dos resultados, do fluxo de caixa e da política de investimentos; projeção de vendas; conhecimento dos seus negócios e o mercado em que atuam; comparabilidade. Outras utilidades também foram percebidas nas empresas entrevistadas, tais como: desenvolvimento de potencialidade de lucros para melhorar as atividades já existentes; organização das tarefas para alcançar os objetivos, e principalmente, exercer a liderança, a fim de implementar os planos, desenvolvendo condições que motivem seus colaboradores.

As contribuições do planejamento orçamentário, para minimizar surpresas, não foram muito percebidas. Mesmo assim, foi observada a presença de melhores condições de negociações com consumidores, obrigação de parar para refletir sobre os objetivos e fixação de metas e melhoria no desempenho, funcionamento e prosperidade da organização.

Foi elencada pelos gestores uma contribuição potencial que é pouco discutido na literatura. Trata-se de desenvolver um planejamento setorial onde todas as organizações compartilhariam determinadas informações e angustias comum a todas elas.

Em linhas gerais, conclui-se que nem todos os aspectos que a literatura demonstra são utilizados e focados pelas empresas pesquisadas e que proporcionam a ampliação do crescimento. Muitos deles nem recebem a devida atenção.

Constatou-se que não há um modelo único de planejamento orçamentário para o setor. Cada empresa molda seu modelo de acordo com suas necessidades, expectativas e demandas. Porém isso nem sempre é o suficiente. Elas precisam estar sempre atentas aos acontecimentos do seu mercado. Algumas possuem esse controle, outras não.

Para ampliar o nível de entendimento sobre o potencial contributivo desta ferramenta de gestão, recomenda-se que sejam desenvolvidos estudos em outras frentes como: verificar se há relação entre o planejamento e a lucratividade da organização; investigar sobre a importância percebida do planejamento entre diferentes setores da economia e ampliar a gama de empresas, desmembrando nos ramo industrial e de serviços.

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Linguagem XBRL - EXTENSIBLE BUSINESS REPORTING LANGUAGE – Um Estudo de caso de Definição de Taxonomia e Implementação de Software de Transferência de dados do SUS de

Procedimentos Médicos no Hospital das Clínicas da UFPE.

XBRL Language - EXTENSIBLE BUSINESS REPORTING LANGUAGE - A Case Study of Taxonomy Definition and Implementation of Software of Data SUS Transference of Medical

Procedures at UFPE Clinical Hospital.

AUTORES: Aldemar de Araújo Santos, Lucas Lira Gomes, Raony Benjamim de Assis Alves

RESUMO

Criada para facilitar o intercâmbio de dados contábeis e financeiros, a linguagem XBRL (eXtensible Business Reporting Language) ainda não é amplamente utilizada no Brasil. Já que não há uma jurisdição brasileira que fomente a adoção e que explane as suas vantagens, muitas instituições desconhecem esta tecnologia. Sendo está característica ainda mais marcante nas instituições públicas que não costumam ter que trocar dados contábeis com o exterior. O objetivo deste artigo é mostrar os impactos de sua adoção e como a mesma pode ser feita no cenário das instituições públicas do Brasil, mais especificamente no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE). A adoção do padrão XBRL no processo de construção de relatórios financeiros do HC se deu com a implementação de um software que utiliza a linguagem XBRL para tratar os dados financeiros do hospital e produzir o relatório mensal de prévia de faturamento dos registros de autorização de internação hospitalar, antes feito pelos funcionários de forma manual e demorado. A necessidade da automação dessa tarefa se mostrou uma oportunidade para mostrar como a linguagem XBRL pode aumentar a produtividade de empresas. São mostradas as etapas de análise de requisitos, desenvolvimento do software e, por fim, um exemplo da sua operacionalização no HC/UFPE.

Palavras-chave: XML, XBRL, Taxonomia, Dados de Saúde, Informações Financeiras, Sistema Único de Saúde, Hospital das Clínicas, SUS, UFPE.

ABSTRACT

Created to facilitate the exchange of financial and accountancy data, the XBRL language (eXtensible Business Reporting Language) still broadly is not utilized in Brazil. Since there is no a Brazilian jurisdiction that increase the adoption and that explains its advantages, many institutions do not know this technology. Being is characteristic still more outstanding in the public institutions that are not going to have that change accountancy data with the outside. The objective of this paper is going to show the impacts of it adoption and as to same can be deed in the setting of the Brazil public institutions, more specifically in the Clinics Hospital of the Federal University of Pernambuco (HC/UFPE). The adoption of the standard language XBRL in the financial reports construction trial of the HC encountered the implementation of a software that utilizes the language XBRL for treat the financial data of the hospital and produce the monthly report of opinion poll of invoicing of the hospital admission authorization records, before deed by the members of staff of lengthy and manual form. The need of the automation of that task was shown an opportunity for show like the language XBRL can increase the productivity of companies. They are shown the requirements analysis phases, development of the software and, finally, an example of their application in the HC/UFPE.

Keywords: XML, XBRL, Taxonomy, Health Data, Financial Information, Health System Attendance, Clinics Hospital, SUS, UFPE.

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1. INTRODUÇÃO

Os dados gerados por programas de computadores podem ser armazenados em diversos suportes, desde os mais rudimentares como arquivos de texto, aos mais sofisticados como os Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD). Para preservarem as características dos dados e das informações geradas, é preciso que esses dados sejam convertidos de forma a não perderem suas representações semânticas quando suportes diferentes de tratamento de tais dados mudam. Entretanto, nem sempre é possível automatizar a conversão entre diversos formatos, pois as regras de conversão podem não serem acessíveis, não definidas ou inexistentes.

Muitas vezes o significado do dado no documento é conhecido entre as pessoas que compartilham determinado ambiente comum, mas não é esse o caso quando o intercâmbio da informação se faz necessário para além do ambiente da empresa/instituição de origem de tal documento de registro do dado/informação. A necessidade de se extrair a informação desejada pode, nos moldes tradicionais, requerer intervenção humana, sendo este um momento bastante propício para inserção de erros na análise dos dados.

Visando contribuir na solução de problemas inerentes de intercâmbios de dados financeiros e contábeis de instituições diferentes, foi criada a linguagem XBRL (eXtensible Business Reporting Language), que requer definições de taxonomias próprias para cada “família de dados” e suas representações por meio de formatos padronizados para os dados.

Esta linguagem segue um padrão internacional, onde cada país isoladamente ou confederados (exemplo, a comunidade de países europeus) definem regras e taxonomias correspondentes para processos de tratamento e transferências, obedecendo as mesmas semânticas de formatos, que sejam amplamente conhecidas, independente de interesses particulares.

Com base neste aspecto, ou seja, em estudo, implementação e utilização da linguagem XBRL, este artigo explora como a adoção deste padrão pode contribuir para o intercâmbio de dados financeiros de forma mais fácil e eficiente entre as instituições públicas da área de Saúde. Especificamente, é mostrado estudo de caso do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde foi criado taxonomia específica da área da Saúde, para transferência de dados de procedimentos médicos do HC e para o Banco de dados do SUS (DATASUS, www.datasus.gov.br) do Sistema Único de Saúde (SUS, Brasília).

Este estudo tomou como base a questão de pesquisa: Pode-se definir taxonomia XBRL específica e implementar software para registro, transformação e transferências de dados financeiros do Hospital das Clínicas da UFPE para os bancos de dados do SUS (DATASUS).

1.1 Objetivo

O objetivo deste estudo foi definir taxonomia XBRL e implementar software para transferência de dados financeiros de Autorizações de Internamentos Médicos (AIH) de procedimentos médicos realizados no HC para o Bancos de Dados do SUS. Objetivos específicos:

9. Analisar a literatura internacional do assunto e experiências de países em definições de taxonomias e desenvolvimento da tecnologia XBRL;

10. Definir taxonomia XBRL para a área da Saúde, tomando como base unidade de prestação de serviços de Saúde do sistema SUS;

11. Avaliar ambiente e processos administrativos de setor de Saúde para definição de taxonomia XBRL de ambiente do SUS, de tratamento e transferências de dados.

12. Comparar e evidenciar resultados de transferências dados de Saúde por meio de software implementado com tecnologia XBRL, para unidade (HC) e ambiente de saúde (SUS).

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1.2 Justificativa

Em um mundo globalizado onde as informações precisam ser adquiridas com agilidade e eficiência, a automatização de tarefas manuais é cada vez mais valorizada. Entre as propostas para implementar a uniformização do formato de representação de dados, a utilização de linguagens de marcação derivadas de XML (eXtensible Markup Language) se apresenta como uma solução cada vez mais expressiva. Mais especificamente, para a área financeira, a linguagem XBRL (eXtensible Business Reporting Language) está atualmente em um avançado estágio de adoção em diversas organizações, públicas e privadas, em vários países do mundo[ALDEMAR01]. Tal expansão da linguagem XBRL como padrão mundial de relato financeiro sugere que novas aplicações dessa tecnologia devam ser desenvolvidas nos próximos anos [ALDEMAR02]. Com base nisso este estudo tomou um estudo de caso no HC/UFPE, que se apresentava como um nicho para a aplicação dos conceitos da tecnologia XBRL. O HC gerar relatórios de prévia do faturamento mensal de forma manual, por conseguinte, observou-se que seria oportuno a implementação de um software baseado em XBRL que gerasse esse relatório de dados de saúde de forma automática.

1.3 Metodologia

Trata-se de estudo de caso. Primeiramente, foram levantadas as necessidades dos usuários e os requisitos do software. Foram realizadas visitas e entrevistas no setor de contas médicas do HC/UFPE. Realizou-se uma pesquisa sobre as características técnicas da linguagem XBRL com o intuito de aplicar apenas os conceitos necessários ao contexto vigente. A pesquisa consistiu na leitura de textos e artigos da linguagem e no estudo do texto: “Understanding XBRL: A techinical guide to working with XBRL 2.0 and XLink” [UXBRL2.0]. Nesta fase, se constatou inexistências e limitações de elementos definidos em outras taxonomias, quando então foi necessário se fazer implementações específicas de tais elementos para o contexto da Saúde.

Agregados os recursos necessários a serem usados na produção do software, foram definidos globalmente os recursos para o software, tais como: plataforma da implementação, recursos da linguagem, elementos para concessão de licença de uso, por ser um software livre.

Realizado todo o planejamento, o software foi implementado, em seguida os testes de operação, bem como, apresentações para o setor de contas médicas do HC, para as correções e os aperfeiçoamentos necessários.

1.4 Limitação

A solução apresentada no presente artigo soluciona o problema da criação de relatórios da prévia de faturamento mensal para hospitais da rede pública de saúde que sejam conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), exemplo, n HC/UFPE. Sua função é gerar os relatórios com base em um conjunto específico de arquivos de dados de procedimentos médicos realizados por essas instituições de saúde. Qualquer alteração de formatos de arquivos vai requerer modificações em regras da taxonomia definida que deve ser padrão, e alterações correspondentes dos códigos do software para refletir tais mudanças.

2 CONCEITUAÇÃO DA LINGUAGEM E DA TECNOLOGIA XBRL

Originária da linguagem XML (eXtensible Marking Language), XBRL é apontada como um importante recurso de padronização do intercâmbio de informações financeiras [HOFFMAN], pois permite que seja possível automatizar o processo de geração de demonstrativos contábeis a partir de diferentes fontes de dados, atendendo assim as necessidades de negócios e informações financeiras, de organizações e países diferentes. A Figura 1 mostra um esquema da versatilidade da linguagem XBRL. Possui três componentes

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XBRL básicos: Instância, Taxonomia e Folhas de Estilo (SILVA, et al., 2008). A relação entre Instância e Taxonomia pode ser conferida na Figura 1.

Figura 1 – Esquema de criação de Instância XBRL. (adaptado de [ALDEMAR02]).

A Taxonomia define o vocabulário da informação financeira (demonstrativo), as relações entre os seus componentes, e como os valores devem ser calculados. Uma Taxonomia é definida por um ou mais esquemas de dados, baseados em XML-Schema, e um conjunto de links estendidos agrupados em linkbases, diretamente referenciados pela Instância ou pelo XML-Schema. A terminologia de XBRL descreve que um conceito consiste na definição de um fato reportado. Conceitos são criados através da definição de elementos de XML-Schema. No esquema de uma Taxonomia, um conceito recebe um Nome e um Tipo que informa qual o tipo de dado reportado no conceito [ALDEMAR02].

Figura 2 – Esquema da produção de um relatório financeiro utilizando XBRL. A partir da Instância, que contém o conteúdo propriamente dito, é possível produzir relatórios demonstrativos com diferentes formatações (Figura 2). Para tanto, basta-se aplicar uma Folha de Estilo, que permite formatar a informação contida na Instância XBRL de modo a deixar o relatório com a aparência e layout desejado. É importante notar que uma mesma Folha de Estilo pode ser aplicada indiscriminadamente em diferentes Instâncias de uma mesma Taxonomia. Essa característica de separar a estrutura dos dados, do seu conteúdo e da sua aparência permite que futuros relatórios possam ser criados com menos esforço.

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Por outro lado, a não utilização da linguagem XBRL exigiria que cada fonte de dados necessitaria da definição de novo demonstrativo. Além de impedir com que o processo de análise dos dados de um demonstrativo seja automatizado, pois não há como fazer com que computadores extraiam conteúdos de texto puro sem que sua estrutura seja previamente conhecida. Este tipo de situação dificulta a comunicação e o entendimento entre diferentes empresas/instituições, principalmente, no cenário de muitas empresas de uma economia globalizada.

Como mostra a Figura 3, cada fonte de dados tem que produzir a sua versão do relatório em diferentes formados. Essa falta de padronização e a criação de vários formatos de relatórios repetidas vezes também é um problema, pois a intervenção humana permite que erros de interpretação sejam criados e/ou propagados.

Figura 3 – Processo de criação de relatórios financeiros sem o uso da linguagem XBRL.

3 IMPLEMENTAÇÃO E USO DE SOFTWARE XBRL PARA TRANSFERÊNCIA DE INFORMAÇÕES DE SAÚDE ENTRE HC/UFPE E O SUS: ESTUDO DE CASO

Com o intuito de demonstrar as vantagens de se utilizar a linguagem XBRL no HC/UFPE, foi desenvolvido um programa computacional (software XRBLAIH) sobre práticas de transferência de dados de procedimentos médicos realizados no Hospital, para o Banco de Dados do SUS (DATASUS). Este programa produz benefícios significativos de agilização de processos administrativos e operacionais entre o HC e o SUS.

Para implementar o software foram realizadas entrevistas com funcionários e gestores do setor de contas médicas (Departamento de Contas Médicas – DCM), visando o entendimento dos processos e conhecimento das características das informações financeiras dos relatórios produzidos costumeiramente no HC/UFPE para o SUS. Durante as entrevistas, percebeu-se que não havia ferramenta de software em uso no DCM para se gerar o Relatório da Prévia do Faturamento dos registros das AIH (Autorização de Internação Hospitalar) de cada mês.

Essa necessidade era, portanto, uma oportunidade para se mostrar de forma prática a utilização das ferramentas e dos recursos linguagem XBRL de transferência de dados de procedimentos médicos do HC para o SUS. O software foi implementado e apresenta vantagens de racionalização de processos e ganhos significativos para os as atividades dos funcionários e dos gestores do DCM/HC.

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3.1 Funcionalidades do Programa XBRLAIH do HC/UFPE

Inicialmente, foram analisados alguns relatórios da prévia de faturamento antigos que foram gerados pela Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, instituição gestora do SUS no estado de Pernambuco. Esses relatórios serviram de guia para a criação do relatório que o XBRLAIH [XA01], pois as informações dos procedimentos médicos precisariam, posteriormente, ser formatados para serem remetidos para a Secretaria de Saúde de Pernambuco (Recife) e para o SUS (Brasília).

Outras duas decisões importantes do projeto foram que o programa XBRLAIH deveria ser um Software Livre e para Multiplataforma, para atendimento de diferentes requisitos de bases computacionais, e licenciado sob normas da General Public License (GPL), versão 2 [GPL2], para permitir que outrem tivesse a oportunidade de contribuir, utilizar e modificar o programa, de acordo com suas necessidades e a tecnologia local. A elaboração para Multiplataforma foi motivada pelo fato de que não seria interessante forçar o usuário a utilizar determinado sistema operacional para hospedar o sofware XBRLAIH implementado para o HC/UFPE.

3.1.1 Desenvolvimento do Programa XBRLAIH na Tecnologia XBRL

Utilizando os relatórios financeiros do DCM/HC como modelo, criou-se uma taxonomia XBRL para a área da Saúde. A taxonomia foi gerada utilizando o software XmlSpy© [XMLSPY] da Altova® [ALTOVA]. Conforme a Figura 4, a estrutura da Taxonomia segue as regras e normas padrões do XBRL. A versão completa da Taxonomia utilizada para a implementação pode ser vista no Anexo 1. Em seguida foi desenvolvida uma Folha de Estilo HTML, produzida sem a ajuda de software de terceiros, para gerar uma página HTML semelhante aos relatórios da prévia de faturamento dos registros de autorização de internação (AIH) de cada mês. As AIH são documentos que contém os procedimentos médicos realizados em pacientes: exames, cirurgias, fármacos, etc.

Figura 4 - Trecho de código contendo as definições iniciais da Taxonomia utilizada.

No passo seguinte, utilizou-se um dos arquivos de exportação do software para o Sistema Gerador do Movimento das Unidades Hospitalares [SISAIH], fornecidos pelo DCM/HC, para analisar como os dados dos registros de autorização de internação (AIH) poderiam ser extraídos para gerar o relatório com as informações financeiras pretendidas. Os arquivos de exportação possui layout bem definido e disponível online [LAYOUT_SISAIH].

No entanto, o arquivo de exportação não foi suficiente, pois não possui informação de custo dos procedimentos médicos das AIH à época em que foi gerado cada procedimento. Entretanto, isto não foi problema, pois o SUS libera mensalmente novas competências com valores atualizados dos procedimentos

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médicos, portanto, seria necessário se fazer relações de equivalências de procedimentos versus valores correspondentes.

A competência também possui layout padronizado, que é disponibilizado no site do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS [SIGTAP], Figura 6. Cruzando, então, ambas as bases de dados foi possível determinar os valores da prévia de faturamento para cada uma das categorias de financiamentos, ou seja: Atenção Básica, Média e Alta Complexidade, Fundo de Ações Estratégicas e Compensação.

De posse dos dados desejados, o software XBRLAIH cria então uma instância XBRL [1], conforme mostrado a Figura 5, e aplica a Folha de Estilo que transforma a Instância em um arquivo HTML contendo o relatório desejado. O Anexo 2 mostra exemplos da Instância.

Figura 5: Exemplo de Instância XBRL criada pelo software XBRLAIH.

Após isso a Folha de Estilo HTML é utilizada para dar forma final ao relatório. A Folha de Estilo é um documento que contém regras de organização visual a serem aplicadas a uma instância XBRL, sua aplicação é de responsabilidade do software que trata da Instância XBRL. Após a aplicação da Instância o código contido na Figura 5 ganha a forma final de um relatório financeiro (Figura 10).

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Figura 6: Tela de download das competências do sistema SIGTAP.

Antes de utilizar o software XBRLAIH é necessário baixar a competência referente ao mês/ano do arquivo de exportação do SISAIH que será utilizado. As competências se encontram no site do SIGTAP e podem ser baixadas gratuitamente. Um exemplo do site do SIGTAP pode ser encontrado na figura 6 na qual é mostrada a página na qual pode-se encontrar as competência para download. .Após baixar a competência, deve-se extraí-la em nova pasta criada para esse propósito. O local escolhido não faz diferença, desde que o usuário saiba de onde extraiu a pasta.

Figura 7: Tela inicial do software XBRLAIH.

É necessário utilizar a competência referente ao mês/ano do arquivo de exportação do SISAIH, já que os valores de cada procedimento hospitalar pode ter mudado de um mês para o outro. O programa XBRLAIH irá impedir se as competências não corresponderem ao período do lote do arquivo de exportação, ou seja, se o mês/ano não estiver correto.

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Levando em conta que o arquivo de exportação desejado já foi gerado utilizando o sistema SISAIH, então o programa XBRLAIH já está apto a gerar a prévia do faturamento. A Figura 7 mostra a tela inicial do programa XBRLAIH.

Figura 8: Primeira etapa: Escolha do arquivo de exportação do software SISAIH.

A Figura 8 mostra a tela onde o usuário pode selecionar o arquivo de exportação que será utilizado na produção do relatório. Constata-se que o programa XBRLAIH não vai deixar que a operação prossiga caso não seja selecionado um arquivo de exportação do período correto.

Figura 9: Segunda etapa: Escolha do diretório contendo a competência do mês escolhido.

A Figura 9 é a etapa de adição da competência baixada no site do SIGTAP. É feita por meio da seleção do diretório que contém os arquivos de competência. Apesar do conteúdo fornecido pelo sistema SIGTAP ser dividido em vários arquivos menores, o software se encarrega de pesquisar a data no diretório e acrescentar os parâmetros à base de dados. O XBRLAIH não irá prosseguir enquanto o diretório da competência não for selecionado corretamente. A Figura 11 mostra a última tela de configuração onde o usuário tem apenas

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a opção de voltar ou de iniciar o processo que irá gerar o relatório da prévia de faturamento dos procedimentos médicos.

Figura 10: Terceira etapa: execução do programa XBRLAIH.

Além de visualizar o relatório diretamente na tela do programa XBRLAIH (Figura 11), também é possível imprimir ou até abrir este relatório no navegador Web. Para gerar mais relatórios, basta voltar às telas de configuração e reiniciar o processo e o programa.

Figura 11: Última etapa: Exibição do relatório de prévia do faturamento (valores omitidos).

Além de puder visualizar o relatório diretamente no programa XBRLAIH, também é possível imprimir ou até abrí-lo externamente no navegador Web. Para gerar mais relatórios, basta voltar às telas de configuração e reiniciar o processo.

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Figura 12: Log de funcionamento do programa SBRLAIH.

A qualquer momento é possível acompanhar o funcionamento do software clicando no botão “Ver log de funcionamento” (Figura 12). Este provê uma descrição detalhada do processo de produção do relatório, bem como, dos possíveis erros ocorridos. A inclusão dessa funcionalidade foi motivada para tornar o funcionamento do software o mais transparente possível. Facilita a identificação e correção de erros, além de tornar mais fácil para o usuário, reportá-los.

5 CONCLUSÃO

Como mostrado neste estudo, à padronização do intercâmbio de dados contábeis e financeiros provê vantagens e eficiências com a utilização da tecnologia XBRL. Por meio de definição e implementação de uma Taxonomia e do software XBRLAIH no Hospital das Clínicas (HC/UFPE), foi possível automatizar o processo de geração do relatório da prévia do faturamento de procedimentos médicos realizados no HC, bastando agora apenas fornecer os arquivos criação deste relatório de forma automática, que antes precisaria ser analisado e preparado manualmente com recursos de software mais pobres.

O estudo serviu para definição, implementação e teste da Taxonomia e do Programa na nova tecnologia XBRL orientada para a área de saúde. Antes estudos similares haviam realizado estudos análogos em cenários de empresas, principalmente na área bancária. No entanto, para tratamento de dados de saúde, pelo que se sabe esta é uma experiência pioneira, que deve ser replicada doravante em outros hospitais do sistema SUS.

Constatou-se neste estudo que é possível criar Folhas de Estilos de apresentação de dados para tornar relatórios com visualização mais interessantes, bem como, pode-se expandir funcionalidades de programas, exemplo do software XBRLAIH para fazer comparação entre Instâncias de dados diferentes em prévias do relatório apresentado.

Sugestão para futuros estudos:

As limitações do programa XBRLAIH não são estáticas. Para trabalhos futuros estudos é possível estabelecer função que produza a Taxonomia no próprio software sem a necessidade de recursos de outros programas, o que permite automatizar a criação das regras internas de Taxonomia. Com o aprimoramento da Taxonomia pode-se criar relatórios mais completos, com mais dados e informações mais detalhadas.

Finalmente, constata-se que a adoção do programa XBRLAIH no HC/UFPE foi benéfica para os usuários e mostrou de maneira satisfatória a aplicabilidade da linguagem XBRL em ambientes das instituições de Saúde. Assim, na próxima fase deste estudo pretende-se disponibilizar esta ferramenta para outros hospitais

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do SUS, pois apresenta uma Taxonomia padrão e foi implementado em plataforma de software livre que permite fácil adoção e evolução por terceiros.

6 REFERÊNCIAS

[ALDEMAR01] Taxonomia XBRL para o COSIF. SANTOS, Aldemar A. 6th CONTECSI, FEA/USP, São Paulo, 2009.

[ALDEMAR02] Taxonomia XBRL para Índice de Análise Financeira. SANTOS Aldemar A. 7th CONTECSI, FEA/USP: São Paulo, 2010.

[HOFFMAN] HOFFMAN, Charles; STRAND, Carolyn. XBRL Essentials. American Institute of Certified Public Accountants, 2000.

[SILVA] A Gestão Eletrônica da Informação Financeira no Banco Central do Brasil Apoiada por XBRL e Regras de Inferência (SILVA, et al., 2008).

[UXBRL 2.0] KPMG – LLP, 2003.

[XMLSPY] http://www.altova.com/simpledownload2c.html?gclid=CK_p2Z7KqbECFQtU7Aodzg8AQw

[ALTOVA] http://www.altova.com/

[XA01] https://github.com/x8lucas8x/XBRLAIH

[XBRL] http://www.xbrl.org/

[GPL2] http://www.gnu.org/licenses/old-licenses/gpl-2.0-standalone.html

[SUS] http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/345/entenda-o-sus.html

[SIGTAP] http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-unificada/app/download.jsp

[SISAIH] http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=040507

[LAYOUT_SISAIH] http://www2.datasus.gov.br/SIHD/manuais

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Anexo 1: Código da Taxonomia utilizada na implementação do software XBRLAIH: <xs:schema xmlns:n1="http://www.hc.com" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns:xs="http://www.w3.org/2001/XMLSchema"xmlns:xsi="http://www.w3.org/2001/XMLSchema-instance" xmlns:xl="http://www.xbrl.org/2003/XLink" xmlns:xbrli="http://www.xbrl.org/2003/instance"xmlns:link="http://www.xbrl.org/2003/linkbase" xmlns:ref="http://www.xbrl.org/2004/ref" xmlns:xbrldt="http://xbrl.org/2005/xbrldt" elementFormDefault="qualified"targetNamespace="http://www.hc.com"> <xs:annotation> <xs:appinfo> <link:roleType id="totalGeral" roleURI="http://www.hc.com.br/schema/role/totalGeral"> <link:definition>totalGeral</link:definition> <link:usedOn>link:calculationLink</link:usedOn> <link:usedOn>link:definitionLink</link:usedOn> <link:usedOn>link:presentationLink</link:usedOn>

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Afinal, Trabalhar, Estudar ou Estagiar em Contabilidade influi no Desempenho Acadêmico? – Um Estudo com Alunos de Graduação em Ciências Contábeis.

AUTORES: Daniel José Cardoso da Silva, Adhemar Ranciaro Neto, Luiz Carlos Marques, Luiz Carlos Miranda.

Resumo

Uma realidade, asseverada por dados do Ministério do Trabalho e Emprego (2011) é que os jovens entre os 16 e 17 anos estão ingressando em um percentual acima da média das outras faixas etárias no mercado de trabalho o que fatalmente irá provocar um período de coincidência entre os seus estudos na universidade e sua atividade laboral. Servindo-se da (self-efficacy) teoria social cognitiva de Bandura (1989), além da teoria do “Capital humano”, bastante difundida no Brasil a partir dos anos 60 do século XX (HILSDORT, 2007),associada a autores como Jean Piagete Lev Vygotskyque teorizam sobre a aprendizagem, o presente estudo objetivou evidenciar se: Trabalhar ou estagiar em funções ligadas ou não à Contabilidade pode influenciar significativamente o desempenho acadêmico de estudantes universitários de Ciências Contábeis?. Os dados foram coletados entre 173 discentes de graduação em ciências contábeis da Universidade Federal de Alagoas. Através de modelos foram realizadas regressões quantílicas que mediram interativamente a influência da experiência acumulada em contabilidade, o gênero do aluno, o turno e a combinação de ambos com a mesma.Verificou-se influência positiva do tempo de experiência profissional em atividade relacionada à contabilidade sobre o desempenho acadêmico da amostra analisada.

Palavras Chave: Desempenho acadêmico; Mercado de trabalho; Experiência em Contabilidade.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo foi inspirado a partir do trabalho de Cunha. et al (2010) e a exemplo daquele também se serve, da (self-efficacy) teoria social cognitiva de Bandura (1989) , além da teoria do “Capital humano”, bastante difundida no Brasil a partir dos anos 60 do século XX (HILSDORT, 2007),associada a autores como Jean Piagete Lev Vygotskyque teorizam sobre a aprendizagem,e contemporaneamente aparecem com destaque. No entanto, diferente daquele estudo que avaliava a modéstia dos alunos de contabilidade este, por sua vez tem o seu cerne na investigação de se o fato de estagiar ou trabalhar em funções ligadas ou não à contabilidade (ambiente externo) pode ser um fator relevante no tocante ao desempenho acadêmico dos alunos daquele curso.

Uma realidade, asseverada por dados do Ministério do Trabalho e Emprego (2011) é que os jovens entre os 16 e 17 anos estão ingressando em um percentual acima da média das outras faixas etárias no mercado de trabalho o que fatalmente irá provocar um período de coincidência entre os seus estudos na universidade e sua atividade laboral. Nasce então a questão problema que norteará esta pesquisa: Trabalhar ou estagiar em funções ligadas ou não à Contabilidade pode influenciar significativamente o desempenho acadêmico de estudantes universitários de Ciências Contábeis? Sendo assim, este estudo exploratório quantitativo, segundo a classificação de Raupp e Beuren (2009) tem como objetivo geral evidenciar se a experiência gerada por trabalhar ou estagiar , mesmo que não em atividades afins à contabilidade, guarda relação entre o desempenho acadêmico de alunos dos cursos de graduação em Ciências Contábeis. Além desse objetivo geral, constitui objetivo específico, subsidiariamente, tentar identificar se há relação entre o gênero e o turno em que o aluno assiste majoritariamente as suas aulas A escolha desta temática: o desempenho escolar, justifica-se por suscitar investigações em várias áreas do conhecimento. Segundo Cunha. et al (2010) esse tema tem motivado diversas pesquisas visando identificar as causas do insatisfatório desempenho dos alunos, além de buscar ações alternativas eficazes que constituam elementos multiplicadoresde competentes práticas de ensino-aprendizagem.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

Segundo informa o Ministério do Trabalho e Emprego (2011), considerando-se a idade da

população brasileira,dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais 2010) revelam que houve elevação do nível de emprego em todas as faixas etárias, sendo que entre jovens e pessoas idosas essa elevação foi mais significativa.

Na faixa etária entre 16 a 17 anos, a expansão do nível de emprego foi de 19,06%, quase o triplo do crescimento médio registrado no período: 6,94%. Esses desempenhos são bastante favoráveis quando comparados com os observados nas demais faixas etárias, que oscilaram entre 5,38% a 7,08%. Na faixa etária entre 18 a 24 anos foram registrados 471.091 postos, crescimento relativo de 6,66% em relação a 2009; entre 25 a 29 anos foram registrados 398.485 empregos, crescimento de 5,56% em relação a 2009. Em outras palavras o jovem brasileiro está começando a ingressar mais cedo no mercado de trabalho e, pode-se inferir também que também na atuação em estágios, curriculares, ou não, o que fatalmente o levará a trabalhar e a cursar sua graduação em paralelo. Tal fenômeno acaba por alinhar com a “Teoria do Capital Humano”, importada dos E.U.A. por volta dos anos 60 do século XX a qual acabaria se tornando uma diretriz de politica social para países em desenvolvimento. Na opinião de Hilsdort (2007): “Basicamente essa teoria propõe que o processo de educação escolar seja considerado como um investimento que redunda em maior produtividade e, consequentemente, em melhores condições de vida para os trabalhadores e a sociedade em geral.”. Acrescenta aquela autora que as habilidades e os conhecimentos obtidos com a escolarização formal representam o “capital humano” de que cada trabalhador se apropria e que: “a teoria propõe que basta investir nesse capital para que o desenvolvimento pessoal e social aconteça.”. Posteriormente, em meados da década de 70 do mesmo século essa concepção, conforme afirma aquela própria historiadora da educação brasileira, passa a ser criticada como uma ideologia pré-capitalista, pois sendo adotada, não seria necessário pensar em mudanças estruturais mais radicais , atribuindo-se ao trabalhador assalariado –sem propriedades, sem controle dos meios de produção e do seu produto- a capacidade de capitalizar-se. Sem entrar no mérito das polêmicas geradas pelos defensores e críticos da referida teoria, o que importa a este estudo é, em se verificando o aumento já mencionado de jovens na massa de trabalho da nação, se desvelar se há ou não impacto relevante neste fato com relação ao desempenho dos alunos de graduação e em especial nos de contabilidade.

Segundo Velásquez (2001), denominam-se teorias da aprendizagem, em Psicologia e em Educação, os diversos modelos que objetivam definir, descrever o processo de aprendizagem pelos indivíduos. Obviamente não é pretensão desta investigação, fazer uma exposição completa desses modelos tão somente buscar minimamente amparo teórico para embasar as conclusões a serem atingidas.

Apesar de se teorizar desde a Grécia antiga sobre a aprendizagem, alcançam maior destaque na educação contemporânea as teorias formuladas por Jean Piaget e Lev Vygotsky.

A Epistemologia Genética, segundo Ana e Medina (2000) seria a teoria desenvolvida por Jean Piaget, e consistiria numa síntese das teorias então existentes, notadamente, o apriorismo e o empirismo. Piaget não acredita queoconhecimentoseja inerente ao próprio sujeito, como defende o apriorismo, nem que o conhecimento advenha totalmente das observações do meio que o cerca, como postula o empirismo.

Conforme Montoya (2008) para Piaget, o conhecimento é gerado através de uma interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes no sujeito. Assim sendo, a aquisição de conhecimentos depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com os objetos. Durante sessenta anos, Jean Piaget coordenou projetos de pesquisas, que embasam a compreensão contemporânea do desenvolvimento infantil (PIAGET, 1996). Piaget estava interessado em investigar como o conhecimento se desenvolvia nos humanos. Sua formação inicial em Biologia certamente influenciou aquele teórico e suas descobertas sobre o desenvolvimento infantil.

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Sob outra ótica Lev Vygotsky (1993) propõe uma dialética das interações do outro e com o meio, como desencadeador do desenvolvimento sócio cognitivo. Para Vygotsky e seus colaboradores, o desenvolvimento é impulsionado pelalinguagem. Eles acreditam que a estrutura dos estágios descrita por Piaget seja correta, porém diferem na concepção de sua dinâmica evolutiva. Enquanto Piaget defende que a estruturação do organismo precede o desenvolvimento, para Vygotsky é o próprio processo de aprendizagem que gera e promove o desenvolvimento das estruturas mentais superiores.

Um ponto importante nessa concepção da teoria de Vygotsky, conforme Garcia (2010) é o de que as interações têm um papel crucial e determinante. Para definir o conhecimento real, Vygotsky sugere que se avalie o que o sujeito é capaz de fazer sozinho, e o potencial aquilo que ele consegue fazer com ajuda de outro sujeito. Assim, determina-se a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que afirma que a aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial e dessa forma o nível de riqueza e diversidade das interações determinará o potencial atingido. Quanto mais ricas as interações, maior e mais sofisticado será o desenvolvimento.

Pode-se inferir que seria neste campo que a educação atuaria, estimulando a aquisição do potencial, partindo do conhecimento da ZDP do aprendiz, e então intervir. O conhecimento potencial, ao ser alcançado, passa a ser o conhecimento real e a ZDP redefinida a partir do que seria o novo potencial.

Resumidamente apresenta-se a seguir alguns fatores que podem ser influenciadores dos processos de aprendizagem: A motivação, Os conhecimentos anteriores, A diversidade das atividades, além dos próprios: Estilos de aprendizagem.

Segundo Alvarez (1995) a aprendizagem é influenciada pela inteligência, motivação, e, segundo alguns teóricos, pela hereditariedade (existem controvérsias), onde o estímulo, o impulso, o reforço e a resposta são os elementos básicos para o processo de fixação das novas informações absorvidas e processadas pelo indivíduo. Para Henning e Shulruf (2011) aprende-se melhor e mais depressa se houver interesse pelo assunto que se está a estudar. Motivado, um indivíduo possui uma atitude ativa e empenhada no processo de aprendizagem e, por isso, aprende melhor. A relação entre a aprendizagem e a motivação é dinâmica: é frequente o Homem interessar-se por um assunto, empenhar-se, quando começa a aprender. A motivação pode ocorrer durante o processo de aprendizagem.

Os conhecimentos anteriores, segundo León (1995), que um indivíduo possui sobre um assunto podem condicionar a aprendizagem. Há conhecimentos, aprendizagens prévias, que, se não tiverem sido concretizadas, não permitem a possibilidade de se aprender. Uma nova aprendizagem só se concretiza quando o material novo se incorpora, se relaciona, com os conhecimentos e saberes que se possui. Este fato pode figurar como um argumento favorável ao trabalho ou ao estágio em paralelo ao estudo universitário, pois dessa forma haveria uma exposição prévia e prática do aluno a conhecimentos que lhes serão apresentados posteriormente de forma teórica.

Para Bravo (1995) quanto mais diversificadas forem as abordagens a um tema, quanto mais diferenciadas as tarefas, maior é a motivação e a concentração e melhor decorre a aprendizagem.A forma como cada ser humano encara um problema e a forma como o soluciona é diferente. Por isso, defende Ortega (1995), determinados tipos de problemas são mais bem resolvidos e a aprendizagem é mais eficaz se existir trabalho de forma cooperativa com os outros. A aprendizagem cooperativa, ao implicar a interação e a ajuda mútua, possibilita a resolução de problemas complexos de forma mais eficaz e elaborada.

Conforme afirmam Cabanach (1995) e Llera (1995) e SHI (2011), cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias cognitivas que mobilizam o processo de aprendizagem. Em outras palavras, cada pessoa aprende a seu modo, estilo e ritmo. Embora haja discordâncias entre os estudiosos, estas seriam quatro categorias representativas dosestilos de aprendizagem:Visual: aprendizagem centrada na visualização; Auditiva: centrada na audição; Leitura/escrita: aprendizagem através de textos e finalmente:

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Ativa: aprendizagem através do fazer. É justamente na estratégia ativa que se poderia argumentar favoravelmente no sentidode se estimular o trabalho ou o estágio em áreas afins ao aprendizado.

Essa ultima estratégia também encontra guarida no trabalho de Bandura (1989); Soria e Martinez, (2006) que elencam três elementos: o comportamento, os fatores pessoais internos (eventos cognitivos, afetivos e biológicos) e o ambiente externo, atuando entre si como determinantes interativos e recíprocos De acordo com Bandura (1997), as crenças ou julgamentos de auto-eficácia são alimentados por vários fatores dos quais, destaca-se nesta pesquisa: a experiência: considerada a mais importante fonte de auto-eficácia, pois refere-se às realizações anteriores dos indivíduos, possibilitando a interpretação dos resultados obtidos, aumentando ou diminuindo a auto-eficácia. Coadunando com Cunha et al (2010) cabe ressaltar que ainda são incipientes os estudos sobre a teoria da auto-eficácia relacionados ao desempenho acadêmico, apesar da relevância atribuída ao tema na literatura desde a década de 1970, sendo raras as referências na literatura a estudos voltados para a auto-eficácia e o desempenho do aluno do Ensino Superior.

3. PROCEDER METODOLÓGICO

Para que fosse possível analisar os efeitos da experiência em atividade profissional relacionada à contabilidade sobre o desempenho acadêmico dos sujeitos observados, tomou-se a providência de coletar os dados para medir as variáveis de interesse. A coleta de dados foi feita por meio de questionário aplicado durante os meses de Abril a Junho de 2011 a discentes do curso de graduação em ciências contábeis da Universidade Federal de Alagoas de todos os períodos e nos dois turnos em que o curso é oferecido na instituição. O total de participantes foi de 173 estudantes. A amostra foi extraída de uma população finita (N=486) e pode ser aceita com um erro de 7%, conforme equação descrita por Megliorini (2007, p. 57). As variáveis aferidas foram separadas em quatro conjuntos denominados A, B, C e D. As variáveis consideradas neste texto foram separadas em quatro conjuntos denominados A, B, C e D sendo descritas abaixo:

a) Sexo do participante (variável binária: 0 (zero) para sexo masculino). Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: SEX;

b) Turno do curso (variável binária -diurno valor 1(um) ou noturno valor 0 (zero)). Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: DIA;

c) Nota da avaliação de entrada, formada pela média aritmética do desempenho dos alunos nas disciplinas Português e Matemática, o pressuposto assumido é que conhecimentos prévios de contabilidade não teriam influência sobre esse desempenho dos alunos.Variável numérica com valor entre zero e dez. Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: NE;

d) Número de meses de experiência em atividade profissional diversa à da contabilidade antes da avaliação de entrada. Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: ENA;

e) Número de meses de experiência em atividade profissional relacionada à contabilidade antes da avaliação de entrada. Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: ECA;

f) Número de meses de experiência em atividade profissional relacionada à contabilidade após a avaliação de entrada e antes da avaliação de saída. Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: ECD;

g) Número de meses de experiência em atividade profissional diversa à da contabilidade após a avaliação de entrada e antes da avaliação de saída. Foi utilizada nos quatro conjuntos. Sigla: END;

h) Número de meses cursando ciências contábeis até a data da avaliação de saída. Foi utilizada no conjunto D somente. Sigla: MCC;

i) Nota da avaliação de saída sendo a média aritmética das disciplinas de Teoria da Contabilidade, Planejamento Tributário e Contabilidade Comercial 2. Variável numérica com valor entre zero e dez. Foi utilizada no conjunto A somente. Sigla: NmTPC;

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j) Nota da avaliação de saída sendo a mediana das disciplinas de Teoria da Contabilidade, Planejamento Tributário e Contabilidade Comercial 2. Variável numérica com valor entre zero e dez.Foi utilizada no conjunto B somente. Sigla: NMTPC;

k) Nota da avaliação de saída sendo o grau obtido em Teoria da Contabilidade. Variável numérica com valor entre zero e dez.Foi utilizada no conjunto C somente. Sigla: NTC; e

l) Nota da avaliação de saída sendo medida pelo coeficiente de desempenho acadêmico até a data da coleta de dados. Variável numérica com valor entre zero e dez. Foi utilizada no conjunto D somente. Sigla: NCOEF.

3.1. Critérios de Entrada e Saída

A fim de afastar o máximo de subjetividade deste estudo, optou-se pelo uso das notas como medidor de desempenho acadêmico. Dessa forma, como se fazia necessário medir a variação no desempenho dos alunos de contábeis ao entrar na UFAL e no momento da mensuração da pesquisa, foram criados os Critérios de Entrada (Média aritmética das disciplinas: Português e Matemática, conforme mencionado anteriormente) e os de Saída. Ressalte-se que, os critérios de saída foram 4:

a) A média aritmética das disciplinas de Teoria da contabilidade, Planejamento tributário e Contabilidade Comercial 2

b) Mediana das disciplinas de Teoria da contabilidade, Planejamento tributário e Contabilidade Comercial 2

c) Grau obtido em Teoria da contabilidade, problemas com o tamanho da amostra levaram a escolher essa medida, pois uma parte significativa dos alunos só teria em comum nos estágios mais avançados do curso essa disciplina.

d) Nota da avaliação de saída sendo medida pelo coeficiente de desempenho acadêmico até a data da coleta de dados sendo a medida de oficial da Ufal calculando semestre a semestre e o acumulado global do rendimento acadêmico do aluno.

3.2. Experiência profissional

Conforme argumentado na revisão de literatura, entendeu-se como relevante medir a experiência profissional dos alunos, assim como o seu impacto no desempenho acadêmico. A ferramenta utilizada para aferir o impacto da experiência profissional em contabilidade sobre o desempenho acadêmico foi a regressão linear múltipla. Nesses modelos, utilizou-se como variável dependente um critério de saída e as demais variáveis não pertencentes a este conjunto foram utilizadas como variáveis independentes.O número de modelos desenvolvidos foram também quatro. Os conjuntos de dados descritos (A, B, C e D) foram utilizados em cada um dos quatro modelos. Os modelos de regressão linear multivariada podem ter seus parâmetros estimados por meio de diferentes estimadores matemáticos. De acordo com Wooldridge (2010), pp. 152 a 167, o método de estimação por mínimos quadrados ordinários (MQO) produz estatísticas t e F adequadas para os parâmetros sob a hipótese de normalidade dos erros. Tal hipótese implica que a distribuição de probabilidade da variável dependente seja normal. Mas, o mesmo autor alerta que é possível, mesmo em caso de não normalidade da variável dependente garantir que, para uma amostra grande, os estimadores de MQO dos parâmetros possuam distribuição assintótica normal. Porém, ao se analisar a distribuição estimada e o teste de normalidade de Jarque e Bera (JARQUE E BERA, 1987), verificou-se que os valores das variáveis candidatas a variável dependente na regressão (NmTPC, NMTPC, NTC, NCOEF) propiciaram a rejeição da hipótese nula de distribuição normal. O valor p do teste cada uma das variáveis foi menor que 10-6. Uma forma alternativa de verificar o impacto da experiência em atividade profissional relacionada à contabilidade por meio de uma regressão é a de utilizar a regressão quantílica. Esta, ao invés de apresentar apenas um parâmetro estimado, uma média condicional, apresenta um grupo de parâmetros a serem estimados em cada quantil, refletindo um comportamento diferente em cada parte da distribuição

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condicional. Esta variabilidade dos parâmetros gera um número maior de informações para serem analisadas, o que, de certa forma, enriquecem a análise. Para o estudo deste trabalho, é possível estimar o impacto da experiência em contabilidade sobre cada quantil da distribuição condicional das notas de saída dos alunos. A regressão quantílica também apresenta solução para um problema comum na análise de regressão envolvendo o desempenho de estudantes após a submissão a um tratamento: a Falácia de Galton (SILVEIRA, 2011). Pois, diferentemente do método de MQO a regressão quantílica não representa a média da distribuição das observações, porque permite estimar os parâmetros em um intervalo contínuo entre zero e um. Além disso, a regressão quantílica permite lidar melhor com observações discrepantes, problemas de heteroscedastidade e distribuições distintas da normal devido a robustez e baixa sensibilidade de suas estimativas. Por sua vez, a estimação por MQO pode ser ineficiente sob tais circunstâncias. Outras vantagens da regressão quantílica são destacadas por Koenker e Bassett (1978). Segundo esses autores a técnica nos permite caracterizar toda distribuição condicional de uma variável resposta a partir de um conjunto de regressores. Como se utiliza a distribuição condicional da variável resposta é possível estimar os intervalos de confiança dos parâmetros regressando diretamente nos quantis condicionais desejados, assim, como os erros não possuem uma distribuição normal definida a priori, os estimadores provenientes da regressão podem ser mais eficientes que os estimadores de MQO. Estes são obtidos através de programação linear. O modelo estimado neste artigo segue um modelo de regressão linear com dados cross-section do tipo:

, para i=1,...,n e τ [0,1] (1) Onde é a variável dependente, é uma matriz nxk de variáveis covariadas, é o vetor kx1 de parâmetros a serem estimados, é o erro com uma distribuição que não necessariamente é conhecida e τ é o coeficiente do τ-ésimoquantil condicional de y dado x. Assim, a estimação do vetor de parâmetros pela regressão quantílica no intervalo 0<τ<1 podem ser obtidos fazendo a minimização da seguinte função:

{ }( )

{ }[ ]∑∑ <∈≥∈ℜ∈

−−+−βββ

βτβτiiii

K xyii iixyii ii xyxy::

1min . (2)

Esta função objetivoi é a soma ponderada dos desvios absolutos, que pode ser interpretada como uma função de penalidade linear assimétrica. Os parâmetros estimados neste problema de minimização são consistentes e assintoticamente normais sob hipóteses adicionais de regularidade (Buchinsky, 1998). A interpretação dos parâmetros estimados em cada quantil pode ser feita da seguinte maneira: representam o impacto marginal no τ-ésimoquantil condicional devido a uma mudança no i-ésimo elemento de x. Neste trabalho, foram estimados quatro modelos para cada critério de saída (quatro critérios), mostrados em seguida. Convém lembrar que o conjunto D possui uma variável independente a mais que é o número de meses que o estudante está na faculdade. Esta variável foi colocada para poder extrair parte do viés existente no coeficiente de desempenho global do aluno, medida oficial da UFAL,por ser uma média simples de todas as notas das disciplinas cursadas na faculdade. Os modelos apresentados a seguir referem-se ao conjunto de dados D. Para os outros conjuntos, os modelos foram escritos de forma análoga somente alterando a variável dependente e suprimindo a variável independente MCC. MODELO 1: O modelo 1 foi elaborado para avaliar o impacto da experiência em contabilidade acumulada antes e após a avaliação de entrada e da experiência em contabilidade após a entrada, levando em conta somente deslocamentos lineares na reta de regressão devido ao sexo do participante e ao turno (diurno ou noturno) em que este realiza o curso. A equação geral deste modelo foi dada por:

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Onde os termos C(i); i=1,2,...,n representam os coeficientes (parâmetros) da regressão. MODELO 2: O modelo 2 foi utilizado para verificar os efeitos da experiência em contabilidade sobre o desempenho acadêmico para cada sexo. Agora, as variáveis que relacionam a experiência profissional acumulada em contabilidade e a experiência profissional em contabilidade após a avaliação de entrada, possuem termos de interação com a variável categórica, sexo. A importância de se analisar tal fato reside em verificar se as variações de desempenho acadêmico correlacionadas àquelas variáveis se manifestam de forma diferente para pessoas pertencentes a sexo diferente. A equação geral deste modelo foi dada por:

Onde os termos K(i); i=1,2,...,n representam os coeficientes (parâmetros) da regressão. MODELO 3: O modelo 3 foi utilizado para verificar os efeitos da experiência em contabilidade sobre o desempenho acadêmico para cada turno. Agora, as variáveis que relacionam a experiência profissional acumulada em contabilidade e a experiência profissional em contabilidade após a avaliação de entrada, possuem termos de interação com a variável categórica, dia. A importância de se analisar tal fato reside em verificar se as variações de desempenho acadêmico correlacionadas àquelas variáveis se manifestam de forma diferente para alunos que estudam em turnos diferentes. A equação geral deste modelo foi dada por:

Onde os termos T(i); i=1,2,...,n representam os coeficientes (parâmetros) da regressão. MODELO 4: O modelo 4 é uma combinação do modelo 3 com o modelo 2. Este foi utilizado para captar os efeitos da experiência em contabilidade sobre o desempenho acadêmico para cada turno e para cada sexo. Os termos de interação são os do modelo 2 e do modelo 3 conjuntamente. A equação geral deste modelo foi dada por:

Onde os termos W(i); i=1,2,...,n representam os coeficientes (parâmetros) da regressão.

4. ANÁLISE DOS DADOS

Foram realizadas regressões utilizando a regressão quantílica e o MQO nos modelos 1 a 4. Para os conjuntos de dados A, B e C, em nenhum dos modelos estimados, seja por regressão quantílica ou por MQO, foram produzidas estimativas de parâmetros estatisticamente significativas. Para o conjunto de dados D, foram estimados os modelos 1 a 4 estimados por MQO e por meio da regressão quantílica. No modelo 1, a análise foi feita sobre os coeficientes C(6) e C(7) que representam a correlação entre as variáveis relacionadas à experiência profissional em contabilidade e o grau obtido no critério de saída extraídos os efeitos das demais variáveis explicativas sobre a variável dependente.

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Para os modelos 2, 3 e 4 os coeficientes verificados foram, respectivamente: K(6), K(7), K(8) e K(9); T(6), T(7), T(8) e T(9); W(6), W(7), W(8), W(9), W(10) e W(11). O motivo para sua escolha é o mesmo do parágrafo anterior. Os resultados dos parâmetros (coeficientes) das regressões estimadas por meio de MQO foram explicitados na Tabela 111. Tabela 11: Parâmetros dos modelos estimados por MQO.

MOD.1 MOD. 2. MOD. 3. MOD. 4. Variável Coef. E.P. Coef. E.P. Coef. E.P. Coef. E.P.

C 4.4567 0.3702 4.5000 0.3648 4.4107 0.3709 4.4750 0.3688 SEX 0.1358* 0.1261 0.3684 0.1500 0.1626* 0.1278 0.3686 0.1509 DIA 0.3730 0.1302 0.4425 0.1306 0.4592 0.1541 0.4408 0.1532 NE 0.4043 0.0454 0.3839 0.0452 0.4030 0.0456 0.3873 0.0455 MCC -0.0092 0.0045 -0.0111 0.0045 -0.0093 0.0045 -0.0110 0.0045 ECA+ECD -0.0200 0.0107 -0.0309 0.0114 -0.0294 0.0132 -0.0373 0.0134 (ECA+ECD)*DIA - - - - 0.0248* 0.0217 0.0204* 0.0222 (ECA+ECD)*SEX - - 0.0074* 0.0581 - - -0.0067* 0.0606 ECD 0.0261 0.0150 0.0550 0.0182 0.0423 0.0184 0.0623 0.0199 ECD*DIA - - - - -0.0430* 0.0286 -0.0240* 0.0304 ECD*SEX - - -0.0441* 0.0593 - - -0.0289* 0.0629 ENA+END 0.0101* 0.0064 0.0095* 0.0063 0.0099* 0.0064 0.0094* 0.0063 END -0.0208 0.0105 -0.0164* 0.0105 -0.0198 0.0105 -0.0163* 0.0105 R-Q.(a) 0.4884 - 0.5125 - 0.4960 - 0.5151 - R-Q.A.(b) 0.4634 - 0.4825 - 0.4649 - 0.4787 -

(*) Não significante estatisticamente a 10%. (a) R-Quadrado. (b) R-Quadrado ajustado. Com base na análise de MQO, foi possível observar, que os alunos do período diurno apresentaram um desempenho melhor que os discentes do período noturno. A diferença de gênero também foi um fator que gerou um impacto positivo maior sobre o desempenho acadêmico por parte do sexo feminino. A experiência profissional em atividade relacionada à contabilidade durante o curso de graduação teve uma correlação positiva com o desempenho acadêmico. (Modelo 1: 0,0261; Modelo 2: 0,0550; Modelo 3: 0,0423; e Modelo 4: 0,0623). Todos os valores foram significantes estatisticamente. Já a experiência profissional acumulada apresentou uma correlação negativa com o desempenho acadêmico, com todos os valores estatisticamente significativos (Modelo 1: -0,0200; Modelo 2: -0,0309; Modelo 3: -0,0294; e Modelo 4: -0,0373) evidenciando que a experiência profissional em contabilidade dos participantes adquirida antes do curso de graduação em contabilidade apresentou impacto negativosobre o desempenho acadêmico. Não houve correlação estatisticamente significante entre grupos de determinado gênero ou turno de aula que tinham experiência em contabilidade e o desempenho acadêmico. Portanto, dentro do grupo que teve experiência profissional em contabilidade, não foi possível distinguir contribuição diferente em relação a gênero ou a turno de estudo. A experiência profissional em atividade não relacionada à contabilidade está correlacionada de forma negativa com o desempenho acadêmico. Isto pode ser explicado pela redução no tempo médio de estudo do grupo de participantes que apresentaram valores positivos para aquela variável. Tais resultados obtidos por MQO foram comparados com a regressão quantílica. Os resultados para esta regressão relativos aos coeficientes de interesse, apresentados sob diagramas com intervalos de confiança são descritos a seguir. Para o modelo 1, verificou-se que a experiência acumulada em contabilidade antes e após a entrada na universidade (C(6)) está correlacionada de forma negativa e estatisticamente significativa com o desempenho de saída nos quantis mais baixos (até próximo ao 15º percentil) r nos quantis mais altos (acima

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do 95º percentil). Ou seja, o impacto da variável foi negativo sobre o desempenho para os estudantes com níveis muito baixos e com níveis muito altos em relação aos demais participantes. A variável (C(7)) apresentou correlação positiva e estatisticamente significativa antes do 15º percentil e após o 85º percentil. Logo, o impacto da variável foi positivo sobre o desempenho para os estudantes com níveis muito baixos e com níveis muito altos em relação aos demais participantes. Para o modelo 2, foi verificado que a experiência profissional em contabilidade obtida antes da entrada do participante do sexo masculino na universidade (K(6)) contribuiu com correlação negativa no desempenho acadêmico e foi estatisticamente significante abaixo do 15º percentil e acima do 80º percentil. Os elementos do sexo feminino (até o 15º percentil) na amostra que possuíam a referida experiência anteriormente à entrada na universidade (K(7)) apresentaram correlação com o desempenho maior que os membros do sexo oposto. Em relação à experiência profissional em contabilidade adquirida após a entrada na universidade, os participantes do sexo masculino (K(8)) apresentaram correlação positiva e estatisticamente significante com o desempenho acadêmico na maioria dos quantis analisados . Já os elementos do sexo feminino apresentaram uma pior contribuição no desempenho até o 30º percentil. Para o modelo 3 foi verificado que a experiência profissional em contabilidade obtida antes do critério de entrada do participante do turno noturno (T(6)) contribuiu com correlação negativa no desempenho acadêmico e foi estatisticamente significante abaixo do 65º percentil. Os elementos do turno diurno(T(7)) na amostra apresentaram correlação positiva e estatisticamente significante (até o 65º percentil), fazendo com que os estudantes deste turno tivessem uma melhor contribuição no desempenho final. Em relação à experiência profissional em contabilidade adquirida após o critério de entrada, os participantes do turno noturno (T(8)) apresentaram correlação positiva e estatisticamente significante com o desempenho acadêmico até o 65º percentil e a partir do 90º percentil, Já os elementos do turno diurno apresentaram uma pior contribuição no desempenhoaté o 65º percentil em comparação com os alunos do turno noturno. Os resultados do modelo 4 (diagramas com intervalos de confiança) são apresentados a seguir.

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(a) (b)

(c) (d)

(e) (f) Figura 1: Gráficos dos valores assumidos por (a) T(6), (b) T(7), (c) T(8), (d) T(9), (e) K(10) e (f) K(11) do modelo 4 e de suas extremidades de intervalo de confiança a 10% em função dos quantis. O modelo 4 resultou em correlações aproximadas dos modelos 2 e 3. Foi possível verificar que a experiência anterior em contabilidade indicou correlação negativa para os grupos de homens do período noturno até o 65º percentil, o que alinha com a afirmação de Siqueira (2011, p.103): “evidencia-se que os jovens trabalhadores estudantes universitários trabalham pela sobrevivência e que ao mesmo tempo buscam realizar alguns sonhos, como o de estudar, mesmo que com grande dificuldade de tempo para conciliar os dois tipos de atividade”. Para as mulheres, a correlação não foi estatisticamente significativa e para os participantes que estudaram no período da manhã, o impacto no desempenho acadêmico foi positivo até o 50º percentil. Esse resultado pode estar confirmando o que defende Rosemberg (2001, p.521): “Com efeito, a progressão escolar das mulheres é um pouco mais regular que a dos homens, compondo uma pirâmide educacional ligeiramente mais achatada, portanto, um pouco menos seletiva, tendência que se acentuou na década de 1990”. Neste

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mesmo sentido está a afirmação de Barros et al (2001,p.29 ):”Os controles por gênero e cor mostram que o desempenho educacional das mulheres tende a ser superior ao dos homens da mesma forma que o desempenho dos brancos supera o dos não-brancos” Em relação à experiência profissional em contabilidade obtida após o critério de entrada, observou-se correlação positiva entre os grupos de homens do período noturno até o 65º percentil. Para as mulheres, a correlação não foi estatisticamente significativa e para os participantes que estudaram no período da manhã, o impacto no desempenho acadêmico foi negativo até o 20º percentil. Essa observação parece ser explicada pelo estudo de Souza (2004, p.100) que verificou problemas de memorização no trabalho de enfermeiros nos turno da manhã, tarde e noite: “A freqüência de desempenho abaixo do ponto de corte em diversos testes foi maior no turno da noite. Déficit de atenção/memória foi observado em 51% dos profissionais do turno da noite, 21% do turno da manhã, e 22% do rotativo”. Não foi possível verificar o impacto de grupos com mais de uma categoria (p. ex. mulher que estuda à noite) devido à existência de singularidades na matriz de regressão por causa do tamanho da amostra. Os modelos 1, 2 e 3, são aninhados com o modelo 4, ou seja: são derivações deste. Observando um dos critérios de escolha para modelos aninhados, que é o uso do teste F para restrições de exclusão (WOOLDRIDGE, 2010 pp. 136 a 141), foi possível verificar que, a um nível de 10%, as variáveis no modelo 4 que não estão listadas nos modelos 1 e 3, são significantes em conjunto, ou seja, o modelo 4 possui maior significância estatística que os modelos 1 e 3. O mesmo não pôde ser afirmado para o modelo 2. Dentre os modelos 1 a 3, que são não aninhados, o mesmo autor (pp. 191 e 192) sugere a observação do R-Quadrado ajustado como critério para realizar a distinção daqueles. Em ordem decrescente da estatística sugerida, seguem os modelos 2, 3 e 1 sendo então, considerado o modelo 2 como o mais significativo do rol apresentado neste parágrafo. Para avaliar a heteroscedasticidade foi realizado o teste de White (WOOLDRIDGE, 2010 p. 258 a 260) sobre os quatro modelos e, a um nível de significância de 10%, aquela não foi detectada.

5. CONCLUSÕES

De modo geral, foi possível perceber que houve influência positiva do tempo de experiência profissional em atividade relacionada à contabilidade sobre o desempenho acadêmico da amostra analisada, o que alinha com os achados de León (1995). Foram percebidas diferenças estatisticamente significantes no desempenho entre participantes de gêneros diferentes em uma pequena região da amostra e entre turnos de aulas diferentes, estes com uma região maior em que os resultados fossem estatisticamente significantes. Os sujeitos do sexo feminino e os que assistem às aulas pela manhã possuem melhor correlação com o desempenho que os do sexo masculino e os que estudam à noite respectivamente. Os grupos pertencentes aos quantis mais altos de desempenho acadêmico apresentaram pouca ou nenhuma significância estatística nos impactos que suas características próprias provocariam sobre aquele. Estes resultados podem levar a uma reflexão sobre como lidar e até melhor adequar os conteúdos ministrados no turno da noite, de modo que sejam percebidas as limitações físicas (cansaço, stress, dificuldade de memorização) do aluno noturno, notadamente do sexo masculino, uma vez que a entrada precoce no mercado de trabalho é algo conjuntural e pelo que se percebeu no estudo, se for em atividade contábil pode trazer um diferencial positivo para a formação do aluno. A experiência profissional anterior ao critério de entrada mostrou-se com associação negativa relativo ao desempenho acadêmico. Possíveis desdobramentos deste trabalho poderiam ser: uma melhor aferição do desempenho por meio da elaboração e da aplicação de testes periódicos sobre os participantes para que aquela seja verificada de forma mais acurada; analisar o efeito da participação do corpo docente de instituições distintas sobre o aproveitamento do conhecimento prático de contabilidade na formação do conhecimento, investigar mais a fundo quais os fatores como motivação, e a auto-eficácia entre outros,que fazem com que a experiência anterior em contabilidade esteja correlacionada negativamente com o desempenho acadêmico dos estudantes.

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A necessidade do profissional de Contabilidade para a Tomada de Decisão do Administrador nas Microempresas do Sertão Pernambucano: realidade distante das últimas alterações CPCs-PME.

AUTORES: Flávia Andreza de Souza, Eliane Barboza, José Jefferson, Francineide Borges.

Resumo

A contabilidade tem como função principal o fornecimento de informações seguras aos usuários para que sejam tomadas decisões corretas no momento exato. As informações contábeis servem como ferramenta de gestão e dão suporte à tomada de decisão nas empresas. O presente trabalho discorre sobre a necessidade do Contador, através das informações contábeis nas micro e pequenas empresas, com enfoque nas empresas da cidade de São José do Belmonte-PE e a importância destas informações para os gestores administrarem seus negócios de maneira eficiente. Diante das alterações que vem ocorrendo na Contabilidade nos últimos anos, sabe-se que muitas empresas não conseguem identificar os serviços contábeis, através das informações financeiras um elemento essencial para auxiliar o administrador em suas decisões no dia-a-dia. Uma vez que um país como o Brasil que faz parte dos BRICs, ainda há empresas que usar informação contábil em sua gestão é fator novo. Este trabalho apresenta essa realidade através de uma pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José do Belmonte-PE, com uma amostra de 65 empresas (dados captados do total de associados da Câmara de Dirigentes Lojistas -CDL), onde concluiu-se que a maioria dos empresários da cidade enfrentam diversas dificuldades na gestão da sua empresa devido a falta de informações contábeis.

Palavras-chave: Microempresas. Contador. Decisão.

1 Introdução

As micro e pequenas empresas representam a maioria dos negócios em funcionamento no Brasil, o que contribui de maneira significativa para o crescimento da economia do país. Entretanto, grande parte dessas empresas são extintas logo nos primeiros anos de existência, levando-nos a crer que um dos fatores relevantes dessa mortalidade venha a ser o despreparo dos seus gestores, que tomam decisões baseadas na experiência que acreditam ter sem o auxílio de profissional capacitado e habilitado para o repasse de informações, o contador. De acordo com a pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas Empresas -SEBRAE em 2004, constatou-se que 49,4% das empresas encerraram suas atividades com até dois anos de existência, 56,4% com até três anos e 59,9% com até quatro anos, o que pode ser considerada uma taxa muito elevada.

A contabilidade tem como função principal o fornecimento de informações seguras aos usuários para que sejam tomadas decisões corretas no momento exato. As informações contábeis servem como ferramenta de gestão e dão suporte á tomada de decisão nas empresas. Uma das maiores causas de insucesso nas organizações é a falta de acompanhamento por profissional, capaz de detectar problemas no momento em que estes surgem e desenvolver estratégias para resolvê-los a tempo de não prejudicar o andamento das operações. Mas há contadores ainda muito focados em seus escritórios, mantendo uma relação distante com seus clientes, atuando apenas no recolhimento dos tributos, deixando o microempresário entregue a própria sorte sem saber qual rumo tomar nos momentos de dificuldades.

O microempresário não necessita somente de relatórios e de demonstrações contábeis, ele busca auxilio para planejar, criar estratégias, investir e tomar decisões. E o contador deve estar preparado e qualificado para auxiliar o seu cliente, o que não acontece em alguns casos. Alguns contadores se eximem da sua própria capacidade de fornecer essas informações imprescindíveis à tomada de decisões e ainda utiliza o conhecimento contábil apenas como instrumento de apuração de impostos. A contabilidade que atende aos microempresários é feita em escritórios contábeis distantes, onde o contador não visita a

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empresa, não presencia a realidade e as dificuldades que os gestores enfrentam. Para além deste fator nos ultimos anos isso alterações contábeis ocorreram, como os CPCs-PME, onde um de seus objetivos é deixar a informação contábil, tempestiva, clara e objetiva, mais gerencial que financeira. Realidade ainda distante para alguns locais onde contador se limita em seus escritórios sem atualização.

O presente estudo trará contribuições para a profissão e para a sociedade. Para a profissão este contribuirá, conscientizando o profissional a buscar qualificação e novas formas de atuação, saindo um pouco de seus escritórios, e atuando mais dentro da empresa a qual presta serviços. Para a sociedade este contribuirá, incentivando aos usuários a procurar o contador, pedir maiores esclarecimentos, buscar a informação.

2 O papel do Contador

Pode-se afirmar que nem todos os profissionais contábeis atuam de acordo com as exigências da contabilidade moderna, muitos ainda trabalham apenas na formalização da empresa e no recolhimento de impostos. Uma realidade muito frequente nas microempresas do nosso país.

Conforme, Marion (2007, p.25)

A função básica do contador é produzir informações úteis aos usuários da contabilidade para a tomada de decisões. Entretanto, em nosso país, em alguns segmentos de nossa economia, principalmente na pequena empresa, a função do contador foi distorcida (infelizmente), estando voltada exclusivamente para satisfazer ás exigências do fisco.

Isto implica dizer que o microempresário está desprotegido. Sem informação e sem conhecimento, aumentam-se as dificuldades, principalmente na tomada de decisões importantes, vitais para a sustentabilidade dos negócios.

As decisões precisam ser tomadas de forma correta para garantir o sucesso dos negócios. Freqüentemente, os administradores estão tomando decisões importantes e na maioria dos casos é necessária uma análise da situação atual da empresa, quais as conseqüências e contribuições que essa decisão acarretará.

De acordo com, Marion (2007, p.23), “... decisões mais importantes requerem cuidado maior, análise mais profunda sobre os elementos (dados) disponíveis, sobre os critérios racionais, pois uma decisão importante mal tomada pode prejudicar toda uma vida”.

A longevidade da empresa depende de uma boa administração. Decisões mal tomadas acarretarão problemas futuros, que prejudicam o bom andamento da empresa. Grande parte dos empresários e dirigentes das entidades não possui conhecimento em administração, e enfrentam diversas dificuldades nos processos decisórios. Nesse momento, deve-se buscar o auxilio do profissional contábil que deverá orientá-lo, analisando a situação e determinando qual o melhor caminho e as melhores estratégias pra se alcançar os resultados desejados.

O que tem sido observado na cidade de São José do Belmonte é uma significativa distancia entre contador e microempresa, contribuindo para a falta de informações contábeis. O microempresário enfrenta diversas dificuldades, tais como: formação do preço de venda, recolhimento dos impostos, quando e como fazer investimentos, como lidar com a concorrência, entre outras. Evidentemente essas são dificuldades que poderão ser sanadas com a assistência do contador.

3 Atualização do Profissional Contábil

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O profissional contábil precisa ter amplos conhecimentos e habilidades na sua área de atuação, por isso faz-se necessário a atualização constante dos seus conhecimentos. Na Revista Trajetória Contábil PE (2007, p.38), os autores mostram a necessidade de atualização do profissional contábil na era da contabilidade moderna, onde mudanças ocorrem á todo momento.

Em meio a tantas mudanças, os contabilistas precisam manter-se atualizados e conhecer questões que vão além dos aspectos contábeis e fiscais. É necessário manter uma postura comprometida não apenas com as exigências do mercado, mas também com a sociedade, caso contrário ficará perdido entre as eras da contabilidade antiga e a era da contabilidade moderna.

A profissão contábil tem evoluído bastante nos últimos tempos. Essa evolução tem também enfatizado a necessidade de alteração na Educação Contábil. Para isso tem se discutido muito os currículos dos cursos de ciências contábeis, o profissional que os centros universitários estão formando, as necessidades do mercado. A atualização do profissional contábil na realidade estar inserida na globalização da educação contábil, o profissional contábil necessita repensar a Contabilidade com essas mudanças.

4 A importância da informação contábil para o processo de tomada de decisão

A continuidade da empresa depende das decisões tomadas por seus gestores e para auxiliar nesse processo, as informações contábeis se tornam imprescindíveis. As informações contábeis são úteis e necessárias nas empresas, mas sua utilidade só será destacada se os seus usuários souberem como e quando utilizá-las. Sabe-se que muitos administradores não buscam a informação, outros buscam mais não sabem transformá-la em ferramenta que lhe trará benefícios.

Conforme Padoveze, (2009, p.45),

Para que a informação contábil seja usada no processo de administração, é necessário que essa informação contábil seja desejável e útil para as pessoas responsáveis pela administração da entidade. Para os administradores que buscam a excelência empresarial, uma informação mesmo que útil, só é desejável se conseguida a um custo adequado e interessante para a entidade. A informação não pode custar mais do que ela pode valer para a administração da entidade.

A partir das informações geradas pela contabilidade poderão ser tomadas decisões que envolvam os diversos níveis organizacionais, as informações envolvem desde a formação de preço de venda ao empreendimento de estratégias que desencadeiem o crescimento das operações e consequentemente o aumento dos lucros, fazendo com que a empresa cresça em proporções bem maiores.

A visão de Holmes e Nicholls (1988), diverge de uma informação positivista, conforme foi exposto, para eles existe uma divergência entre a informação realizada pelo o contabilista e a informação solicitada pelo empresario na micro e pequena empresa. A visão dos empresários é voltada para áreas específicas onde eles podem identificar para onde caminha seu dinheiro e isso é visto nas informações tributárias e em orçamentos estabelecidos pelo o gestor. De um ponto de vista mais filosófico, ambos tem a seguinte necessidade, “o que importa não é aquela satisfação que para os homens se chama, verdade, mas a operação e o procedimento eficaz”. ( Bolzan, 2005 apud Adorno e Horkheimer (1986, p.20). Diante desse contexto existe um interesse em uma razão técnica, onde a necessidade é quem dita as normas. Uma informação contábil que atende a necessidade de um mercado.

5 Principais problemas enfrentados pelas Microempresas diante da falta de informações contábeis

Todo gestor encontra dificuldades para gerir sua empresa, principalmente os microempresários por possuírem um conhecimento mais limitado. Grande parte desses microempresários possui um nível de

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escolaridade baixa, uma pequena minoria possui nível superior. Apesar dos esforços dos administradores dessas pequenas empresas em mantê-la em plena atividade, diversos fatores negativos surgem com o passar dos tempos. Esses fatores envolvem a falta de capital de giro para investir em novas mercadorias ou produtos, a falta de experiência para lidar com a concorrência e o difícil acesso as informações contábeis. Percebe-se também, que muitas empresas não possuem um controle adequado sobre os gastos, os custos, as despesas o que contribui para o surgimento de outros fatores que dificultam a gestão dessas empresas. Veremos abaixo alguns desses fatores que sempre estiveram sendo discutidos em artigos, dissertações e teses e que ainda continuam sendo alguns dos principais fatores.

• Carga tributária elevada: o grande número de impostos e contribuições, existentes no país;

• Falta de experiência anterior no ramo dos negócios: o empresário nunca trabalhou em outras empresas antes de abrir seu próprio negócio;

• Falta de mão-de-obra qualificada: funcionários sem experiências anteriores, com nível de escolaridade reduzida e que não participaram ou participam de cursos de aprimoramento;

• Forte concorrência: diversas empresas que exploram o mesmo ramo de atividade;

• Clientes mal pagadores: alto índice de inadimplência;

• Falta de planejamento financeiro, gerencial e tributário: não são planejados os gastos, as despesas, os investimentos, tudo acontece ao acaso;

• Dificuldades na obtenção de capital de giro diante das instituições financeiras: os bancos cobram garantias para liberação de capital de giro.

Diante desse leque de dificuldades, muitas empresas não conseguem resistir e acabam sendo extintas. Nesse instante vê-se a necessidade de um profissional para auxiliar na condução dos negócios e na criação de estratégias que evitem o insucesso das operações, esse profissional é o contador com visão geral de negócios que possa auxiliar o cliente na formação de preço de venda, no cálculo dos lucros auferidos no período, qual o melhor momento para investir e como investir. Todas essas informações são vitais á empresa e asseguram a permanência desta no mercado.

6 Metodologia

Quanto aos objetivos, a estratégia escolhida a ser utilizada neste estudo foi o método descritivo, isso porque tal estratégia observa, analisa, registra e correlaciona fatos ou fenômenos, sem interferências do pesquisador; por meio do uso de técnicas padronizadas de coleta de dados, questionário e observação sistemática. Assumindo, em geral, a forma de levantamento.

Quanto aos procedimentos, será utilizado um estudo exploratório atrelado da pesquisa a fim de familiarizar-se com o fenômeno e obter uma nova percepção á seu respeito, descobrindo assim novas idéias em relação ao objetivo de estudo que possibilite a identificação da importância do sistema de informação no setor comercial, na cidade de São José do Belmonte – PE. De maneira geral a pesquisa foi dividida em quatro etapas: levantamento de dados de fontes secundárias, realização da validação do instrumento, levantamento de dados primários mediante a aplicação de questionários estruturados, e análise dos dados estudados. Por fim essas análises permitiram adquirir um melhor condicionamento de informações que foram estudadas para gerar conhecimentos e hipóteses, além de buscar um entendimento mais complexo, tendo como base informações cedidas pelas microempresas do comércio local.

Quanto à abordagem, Será realizada uma pesquisa quantitativa não probabilística, onde os dados foram coletados, pelo menos em parte, por meio que não envolvem o acaso, baseado na amostra por conveniência, no qual a mesma será realizada no comércio local.

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Quanto ao embasamento, para o embasamento teórico foram utilizados livros, revistas, resoluções, sites que produzem temas acerca da contabilidade e das informações contábeis.

Quanto ao instrumento de coleta de dados, foram aplicados 65 questionários estruturados, distribuídos em proporções iguais, com questões de múltipla escolha, a serem respondido pelos proprietários ou gerentes responsáveis pelo empreendimento.

Quanto á forma de análise de dados: finalizando o estudo com eficácia todos os dados coletados foram interpretados e analisados pelo Excel a fim de que possa elaborar uma crítica a respeito dos mesmos. Espera-se que através de tal procedimento o presente trabalho consiga demonstrar de forma clara e simples a importância de adotar um sistema de informação contábil, desde que esteja adequado com as diversas variáveis presentes na tomada de decisões futuras.

7 Resultados e Discussão

A análise detalhada dos dados alcançados, através da pesquisa de campo, teve como foco as Microempresas do Município de São José de Belmonte – PE.

O Gráfico 1 apresenta a satisfação dos empresários em relação na forma de atuação do contador.

Gráfico 1: Grau de satisfação quanto a forma de atuação do contador Fonte: Pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José de Belmonte-PE/2011

De acordo com as análises feitas mediante ao grau de satisfação da atuação do contador, segundo os empresários, considerando os trabalhos prestados para a empresa, 65% dos entrevistados encontram-se ‘pouco satisfeitos’. Cerca de 18% posicionaram-se como ‘insatisfeitos’. Enquanto que 17% estão ‘totalmente satisfeitos’.

O Gráfico 2 demostra o fornecimento de informações que auxiliem na tomada de decisões na empresa.

Gráfico 2: Fornecimento de informações

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Fonte: Pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José de Belmonte-PE/2011

De acordo com o questionamento “o contador fornece informações necessárias ao processo de tomada de decisões futuras?”, 64% dos empresários entrevistados informaram que raramente o contador fornece essas informações. Quase 28% informou que o contador nunca fornece essas informações. Enquanto que uma minoria (8%) disse que o contador frequentemente fornece essas informações.

No entanto de acordo com o grau de satisfação, a informação contábil para a tomada de decisão também não é identificável pelo empresário. É observado que a empresa não utiliza informações contábeis em suas decisões, assim a mesma não sabe a operacionalidade da informação, não sabe identificar os serviços contábeis como necessário. Uma vez que a informação contábil é a linguagem de comunicação das entidades, Harbermas propõe em sua teoria da comunicação, como tarefa básica, identificar o que impede a comunicação. A linguagem financeira é a comunicação, o agir comunicativo entre empresa e mundo.

O Gráfico 3 apresenta a área em que o empresário encontra maior dificuldade de gestão de sua organização.

Gráfico 3: Área em que o empresário encontra maior dificuldade Fonte: Pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José de Belmonte-PE/2011

O resultado apresentado é reflexo do resultado anterior, ou seja, uma vez que não há comunicação entre profissional contábil e gestor, identificar as informações para a empresa é difícil, pois esse último precisa entendê-la e utilizá-la. A única informação de fácil compreensão é a informação tributária, essa eles entendem na seguinte linguagem: quanto pagou. Ao que se refere a linguagem financeira, em entrevista, muitos entendem como a informação bancária. Ficando, assim, o uso da informação contábil distante da realidade vivida pela empresa.

O Gráfico 4 mostra a procura do contador pelo empresário para tirar dúvidas sobre a contabilidade da empresa.

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Gráfico 4: O empresário procura o contador? Fonte: Pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José de Belmonte-PE/2011

Mediante a pesquisa realizada entre as Microempresas do Município de São José de Belmonte – PE, foi detectado que 55% dos empresários sempre procuram o contador para tirar dúvidas sobre a contabilidade. Já 45%, às vezes, procuram o contador para tirar suas dúvidas. Diante do exposto, que se refere à procura pelo contador em tirar dúvidas, entende-se que se eles entendem mais de informação tributária. As dúvidas são tributárias, ficando para trás a informação financeira. Quanto às decisões são, na verdade, tributárias.

O Gráfico 5 apresenta as áreas nas quais o contador precisar dar mais subsídios para a gestão.

Gráfico 5: Área que o contador deveria dar mais auxilio ao empresário Fonte: Pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José de Belmonte-PE/2011

De acordo com a pesquisa realizada em questão sobre a área em que o contador deveria lhe dar mais auxílio ao empresário, 60% desses optaram pela área fiscal. Enquanto que 40% optaram pela a área fiscal/gerencial. É notória a busca do empresário pela a informação fiscal. A visão e a necessidade do empresário identificar a informação fiscal como única necessária já vem se discutindo por vários pesquisadores. Pode-se destacar no Gráfico 5 que a realidade dos acontecimentos estão distante dos caminhos que a Contabilidade vem seguindo. Com os CPCs PME a empresa que já deveria estar se preparando, encontra-se em plena disparidade, ainda tributarista, sem utilizar as informações contábeis para tomada de decisão.

O Gráfico 6 demonstra o acesso as informações contábeis da empresa.

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Gráfico 5: Acesso as demonstrações contábeis da empresa Fonte: Pesquisa realizada nas microempresas da cidade de São José de Belmonte-PE/2011

No questionamento em relação ao acesso as demonstrações contábeis, 37% dos empresários desconhecem tais demonstrações. Já 32% raramente tem acesso. Cerca de 19% nunca tem acesso as demonstrações. Enquanto que 12% sempre têm acesso ás demonstrações contábeis. Os CPCs PME, ao que se refere a característica da informação contábil, é tempestiva, compreensível. De acordo com o Gráfico 5, essas características estão distantes de serem utilizadas pelos empresários pesquisados. A informação pouco procurada, não será tempestiva, não será também conhecida.

8 Considerações Finais

O Brasil caminha para a adoção dos CPCs PME. Contudo as localidades mais distantes dos grandes centros, ou até mesmo de população menor, ainda encontram-se distante de tal adoção. Conhecer e administrar as informações contábeis já deveria ser uma prática contínua, tendo em vista o estudo realizado é situação ainda desafiadora para os pequenos empresários de São José do Belmonte.

Após a coleta dos dados, procedeu-se à análise e interpretação. Na análise, sumarizaram-se os dados para transformá-los em informações que esclarecessem o problema proposto. O tratamento dos dados consistiu na análise descritiva, pois eles foram analisados com o objetivo de se descobrir as características do fenômeno estudado. Os dados obtidos na presente pesquisa de campo foram selecionados e copilados no Excel.

Concluiu-se que os escritórios de contabilidade são responsáveis pela contabilidade da empresa de acordo com a pesquisa realizada no Município de São José de Belmonte – PE. Mesmo assim a maioria dos contadores não visitam as empresas pelas quais são responsáveis pela parte contábil. Mediante a essa atitude dos contadores, os empresários locais encontram-se pouco satisfeitos com esse tipo de prestação de serviços. Os mesmos atribuíram notas em relação a esse tipo de prestação de serviço e no ponto de vista do gestor ficaram com notas entre 5,0 e 7,5 e a minoria entre 7,5 e 10,0.

Sabemos que toda contabilidade gera um agrupamento de informações que serão utilizadas para a tomada de decisão futura. Conclui-se que estas informações raramente são fornecidas pelos contadores do Município de São José de Belmonte, mostrando com isso que as informação úteis, passíveis de serem utilizadas para o aperfeiçoamento da empresa, são desconhecidas.

Por falta dessas informações os empresários sentem grande dificuldade na área tributária e financeira. Por sentir falta das informações a maioria dos empresários sempre procura o contador para tirar dúvidas sobre a contabilidade da empresa e a maioria não são atendidos sempre que procuram. Apenas pequena minoria consegue ter um feedback com seu contador. Os empresários gostariam que seus contadores lhe dessem mais auxílio no setor fiscal.

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Em relação às Demonstrações Contábeis (Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultado do Exercício), a maioria das empresas desconhece tais demonstrações e outras raramente têm acesso a tais Demonstrações, evidenciando assim que grande parte dos empresários não conhece as Demonstrações que evidenciam as riquezas da empresa e o seu crescimento no período.

Este trabalho evidencia esta disparidade entre o que acontece nas micro e pequenas empresas, em particular no interior de Pernambuco, uma região conhecida como Sertão Pernambucano. A informação contábil não é reconhecida, apenas a informação fiscal, ou seja, o contador é reconhecido como um apurador de impostos. Deixa-se a seguinte consideração para trabalhos futuros, talvez a atualização contábil se tornando obrigatória, os profissionais estariam mais perto das realidades que vêm ocorrendo na Contabilidade. Os CPCs PME é uma realidade só para algumas empresas e as micro e pequenas não fazem parte deste grupo.

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Modelando a Previsibilidade de Receita na perspectiva da Contabilometria: Um Levantamento em

uma Empresa do Ramo Têxtil.

AUTORES: Ismael Gomes, Ricardo Galvão, Thiago da Costa, Diego Martins.

Resumo

As necessidades de utilização de novos meios de gerenciar as organizações com vistas ao aumento da produtividade tornam o processamento das informações contábil mais importante, sendo a contabilometria um meio para tal fim. O profissional contábil deve submeter informações precisas e úteis aos gestores para tentar diminuir as condições de incerteza encontradas no mercado. A presente pesquisa propõe modelos contabilométricos aplicados sobre dados diários de vendas, oferecendo ao gestor uma maior completude nas informações contábeis, objetivando possíveis ajustes nos direcionamentos tomados. Neste contexto, o objetivo dessa pesquisa consiste em identificar de que forma a contabilometria pode auxiliar no processo de previsibilidade de receita numa empresa têxtil localizada na cidade de Santa Cruz do Capibaribe. A pesquisa obtém cárter bibliográfico, com objetivo quantitativo descritivo. Dentro das técnicas contabilométricas verificou-se modelos de Box & Jenkins e metodologia de série temporal ARIMA. Conclui-se, que os modelos contabilométricos são significativos, que as alterações positivas no faturamento em determinado dia são seguidas de valores acima da media no dia seguinte e abaixo da media no dia posterior. Com esses resultados a empresa poderá optar pelo seu uso para o planejamento e controle.

Palavras-chave: Contabilometria, Previsibilidade e Series Temporais.

1 INTRODUÇÃO A busca pela produtividade traz a necessidade de utilização de novas formas de gerenciar as

organizações, sendo a contabilometria uma vertente viável para isto porque envolve testes e formulação de modelos que contribuem com o aumento da eficiência dos processos da organização.

A contabilometria é uma abordagem metodológica de caráter quantitativo a ser aplicada como auxiliar ao processo de tomada de decisão, cuja utilidade corresponde às necessidades dos usuários da contabilidade por conter informações consistentes para projetar modelo de precisão eficaz, que permitem planejar ações viáveis.

O surgimento do termo contabilometria ocorreu no inicio de 1982, quando o artigo do Prof. Iudícibus foi divulgado na Revista Brasileira de Contabilidade. Neste artigo “Existirá a contabilometria?”, Iudícibus relaciona a contabilometria com a econometria tendo em vista que ela aplica métodos quantitativos e matemáticos à contabilidade. Trata-se, evidentemente, de uma terminologia nova ainda em processo de implantação nas escolas superiores, a contabilometria como ferramenta de análise estatística possibilita a investigação que envolva séries temporais, nas observações do passado da variável, fornecendo informações necessárias para a realização da previsão.

O modelo de serie temporal reduz incertezas em relação ao conjunto de determinada variável feita em períodos de tempo constituindo um modelo eficaz, em curto intervalo de tempo, para identificar quais os melhores e mais adequados procedimentos para administrar uma organização. Serie temporal aplica-se na previsão de valores futuros. Segundo Watson (2004, p. 303)

“dados de series temporais necessariamente utilizam informações dados do passado para quantificar relações históricas. Se o futuro é igual ao passado, então essas relações históricas podem ser utilizadas para prever o futuro. Mas se o futuro difere fundamentalmente do passado, essas relações históricas podem não ser guias confiáveis para o futuro”. O resultado do comportamento dos dados consiste na

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variação, as séries como referência da observação são fatores de tempo, fatores esses que permitem alterar e até mesmo mudar as informações.

Diante disto questiona-se: Como a contabilometria pode auxiliar no processo de previsibilidade de receita por meio do uso de série temporal de uma empresa do ramo têxtil? Para responder à questão deste trabalho pretende-se como principal objetivo, evidenciar como a contabilometria pode auxiliar na previsão de alteração no faturamento por meio da observação da persistência dos choques como determinante deste processo.

Neste sentido são indicados como objetivos específicos, que auxiliarão na resposta ao problema de pesquisa: (a) coletar e organizar dados do faturamento diário do ano de 2011; (b) aplicar a metodologia de serie temporal ARIMA, com base nos dados de receita no ano de 2011; e (c) observar se as alterações pontuais no faturamento persistem, em intervalos de tempo determinado.

O termo contabilometria desperta a curiosidade e o interesse de investigar seu significado e uso no contexto das ciências contábeis, conduzindo á pesquisa que resulta nas informações apresentadas como objeto de estudo.

A relevância deste trabalho é expor à utilização da contabilometria, permitindo que informações resultantes do seu uso auxiliem aos gestores na percepção de cenários futuros, projetando o volume de vendas previsto, prevendo o atendimento as necessidades dos usuários.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CONTABILOMETRIA

2.1.1 Definição e Importância

A partir da publicação de autoria do Prof. Sérgio de Iudícibus (RBC, 1982 p.41) Contabilometria seria: “A análise quantitativa de “fenômenos contábeis” reais baseada no desenvolvimento concomitante da teoria e da observação, relacionados através de métodos apropriados de inferência”.

Sendo assim, pode-se observar a importância de considerar na contabilidade os estudos dos métodos quantitativos por meio da metodologia estatística.

Para Marion e Silva (1986, p. 59) apud MATSUMOTO et al (2007) definem contabilometria como:“A análise quantitativa de fenômenos contábeis reais baseadas no desenvolvimento da teoria e da observação, relacionados através de métodos apropriados de inferência”. Percebe-se na citação a identidade do conceito expresso por Iudícibus.

Verifica-se que a contabilidade fornece informações relevantes no desenvolvimento das atividades possibilitando aos usuários retornos satisfatórios, quanto à previsibilidade na interrupção dos problemas empresariais. Os autores citadas (Marion e Silva) demonstram o seu pensamento no quadro abaixo:

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Os autores ainda consideram que, a contabilometria poderia ser caracterizada, mesmo que a

contabilidade não fosse ciência, com o interesse, a viabilidade e a necessidade de realizarmos inferências, principalmente no campo da contabilidade gerencial. Marion e Silva (1986).

Iudícibus (2000, p.332) afirma que “É preciso entender que a Contabilidade e o contador se utilizam rudimentarmente de raciocínios puramente aritméticos quando poderiam ganhar maior operacionalidade se os colocassem e generalizassem em modelos”. As idéias de Iudícibus foram ganhando, no decorrer das ultimas décadas do século passado e no inicio deste, maior visibilidade á medida em que os especialistas em ciências contábeis e as empresas de contabilidade iniciaram pesquisas sobre a adoção dos métodos quantitativos e estatísticos, por meio de modelos adaptados a cada realidade. A utilização desses recursos tem favorecido consideravelmente as organizações no que diz respeito à avaliação, diagnósticos, planejamento de ações dos desenvolvimentos mais acentuados notados na gestão moderna no emprego cada vez mais consiste.

Nossa (1999, p. 6) sugere que o profissional contábil adquira:

“O conhecimento básico de economia, administração e ciências afins; firme inclinação para métodos quantitativos em geral, estatísticas e processamento de dados; desenvolvimento da habilidade de criar simulações que reflitam os resultados das várias alternativas em ação; ter um bom nível cultural em humanidades, e saber mais de uma língua estrangeira, principalmente o inglês”.

Desta forma, nota-se a complexidade de informações que o profissional contábil necessita dominar

quando pretende contribuir no processo de tomada de decisão, fornecendo a empresa demonstrativos contábeis que facilitem a projeção de ações e favoreçam o crescimento da empresa.

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2.2 SÉRIES TEMPORAIS

2.2.1 Estacionaridade

Para Corrar (2014, p. 194) “As series temporais constituem-se num conjunto de observações

quantitativas de variáveis coletadas ao longo do tempo”. O estudo de serie temporal engloba cálculos estatísticos, métodos quantitativos, cuja média mantém

constante. Madalla (2003, p. 273) descreve “uma série temporal é uma seqüência de dados numéricos no qual

cada item é associado há um instante particular no tempo”. Essa definição explica que as séries temporais são, na verdade, um grupo de dados coletados de

uma ou mais variáveis ao longo do tempo. Essas informações podem conter os dados pluviométricos (chuva) de uma cidade ao longo dos dias, podem ser os dados de venda de um determinado automóvel ao longo dos meses, podem ser os dados de venda de imóveis mês a mês, etc. Trata-se de algo bem simples. A dificuldade está em fazer previsões a esse respeito.

Diante do exposto Gujarati (2011, p.734) descreve que:

“um processo estocástico será chamado de estacionário se sua media e variância forem constantes ao longo do tempo e o valor da covariância entre os dois períodos de tempo depender apenas as distancia, do intervalo ou da defasagem entre os dois períodos e não o tempo real ao qual a covariância é computada”.

2.2.2 Abordagem Box Jenkins TEIXEIRA E FLOGLIATTO (2004, p.17) demonstram que:

“a analise de Box-Jenkins refere-se ao método sistemático de identificação, ajuste, checagem e uso de modelos auto regressivos integrados a media moveis ou, simplesmente, modelos ARIMA. O uso de modelos ARIMA oferece uma abordagem poderosa na solução de muitos problemas de previsão, pois pode propiciar previsões extremamente acuradas de series temporais”.

Devido ao exposto, a utilização de tal abordagem é dita estacionaria que se torna válida, pois, ajuda na previsão do comportamento do faturamento.

3. PROCEDER METODOLÓGICO Para este trabalho foi adotado o paradigma pós-positivista que faz uso dos métodos quantitativos para solucionar um problema por meio de uma serie temporal. Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica seguida por um levantamento com uso de técnicas contabilométricas, mais precisamente pelo uso de series temporal. A pesquisa bibliográfica, segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 166), “[...] abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc.[...]”. O alvo desta pesquisa é uma empresa atacadista de tecidos de médio porte localizada na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, as informações coletadas resultaram da disponibilidade do contador, juntamente com o apoio da gestora da empresa, que contribuíram de modo significativo para execução deste trabalho. Deve-se ressaltar que a escolha desta empresa foi motivada pela abertura de inovação da gestora e pela

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clareza e veracidade dos dados contábeis que garantem a confiabilidade das informações, constatadas por meio do confronto dos resultados que configuram a realidade descrita. Pretendendo alcançar os objetivos propostos utilizou-se a pesquisa descritiva que tem como característica principal descrever fenômenos estudados estabelecendo relações entre eles e segundo Cervo, Bervian (2007, p. 61),“observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”.

Em relação à abordagem do problema utilizou-se a pesquisa quantitativa em razão da utilização dos instrumentos estatísticos e das técnicas contabilométricas empregadas no tratamento dos dados. Segundo Kerling (1980) apud. BEUREN (2008, p. 95) a abordagem quantitativa,

“caracteriza-se pelo emprego de quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas, desde a mais simples como percentual, média, desvio padrão, ás mais complexas como coeficiente de correlação, analise de regressão etc.”.

Amostra

A amostra utilizada no desenvolvimento da pesquisa foi composta pelas observações diárias de faturamento durante o ano de 2012, observadas no livro razão de uma empresa de distribuição de tecidos do agreste pernambucano.

Séries temporais

Uma série temporal é composta pela observação de variáveis coletadas ao longo do tempo. Estas são submetidas a testes estatísticos (quantitativos) que objetivam a estimação de valores futuros. (STOCK eWATSON, 2004, p. 290).

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

Foram obtidas do banco de dados da empresa as receitas diárias, conforme mencionado na metodologia. Iniciou-se a execução do modelo contabilométrico com o teste de raiz unitária. Observou-se, nos resultados abaixo, que houve a rejeição do Hq que indicaria a presença de raiz unitária, conforme pode ser observado no p-valor inferior a 0,05. Tabela 1 - Teste de Raiz Unitária

Teste de Raiz Unitária Teste Aumentado de Dickey-Fuller para v4 Incluindo 9 defasagens de (1-L)v4 (o máximo foi 14) Dimensão de amostragem 198 Hipótese nula de raiz unitária: a = 1

Fonte: própria do autor

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Tabela 2 – Teste sem constante

Teste sem constante Modelo: (1-L)y = (a-1) *y(-1) +... + e Coeficiente de 1ª ordem para e: -0,001 Diferenças defasadas: F(9, 188) = 8,933 [0,0000] Valor estimado de (a - 1): -6,94073 Estatística de teste: tau_nc (1) = -8,76372 P-valor assintótico 4,369e-16

Fonte: própria do autor Em seguida, foi adotado o modelo Box-Jenkins que consiste na elaboração de dois correlogramas, sendo um o ACF, que analisa a auto correlação entre a receita do dia e a receita defasada eo PACF, que corresponde à auto correlação entre os termos de erro da regressão. O intuito da técnica é verificar a existência de uma media móvel ou de um modelo auto regressivo. Na regressão elaborada neste estudo, observou-se que ACF possui um ponto fora do limite e 8 pontos fora do limite no PACF, indicando, segundo Gujarati e Porter (2011, p. 775), a existência de uma media móvel (MA). Figura 2 - Correlograma ACF e PACF

Fonte: Própria do autor O quadro (1) a seguir mostra o resultado da regressão realizado por meio do Software econométrico gretl.1

1O quadro (1) a seguir mostra o resultado da regressão realizado por meio do Software econométrico gretl.

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Tabela 3 - Regressão

Regressão Funções calculadas: 301 Cálculos de gradientes: 81 Modelo 31: ARMAX, usando as observações 2011/01/04-2011/12/28 (T = 208). Estimado usando o filtro de Kalman (Máxima Verossimilhança exata) Variável dependente: Primeira diferenciação do log da receita

Erros padrão baseados na Hessiana Coeficiente Erro Padrão Z P-Valor

Phi_1 −0,947991 0,0702682 −13,49 1,77e−41***

Theta_1 −0,0821457 0,0865716 −0,9489 0,3427

Theta_2 −0,917854 0,0863891 −10,62 2,29e−26***

Dv1_1 0,948674 0,537896 1,764 0,0778 *

Dv1_1_1 −0,954767 0,545075 −1,752 0,0798 *

Dv1_2 0,949058 0,538078 1,764 0, 0778 *

Dv1_2_1 −0,826924 0,543370 −1,522 0, 1280

Dv1_3 0,967732 0,545281 1,775 0, 0759 *

Dv1_3_1 −1,09539 0,548788 −1,996 0,0459 **

Dv1_4 0,888277 0,548031 1,621 0,1050

Dv1_4_1 −0,787293 0,539099 −1,460 0,1442

Dv1_5 0,885993 0,539010 1,644 0,1002

Dv1_5_1 −0,981011 0,533831 −1,838 0,0661 *

Média variável dependente0,002722D.P. variável. Dependente 1,075439. Média de inovações −0,016494D.P. das inovações 0,743584 Log da verossimilhança −236,2288Critério de Akaike 500,4576 Critério de Schwarz 547,1831Critério Hannan-Quinn519, 3510.

Fonte: Própria do autor Tabela 4 - ARMA

Real Imaginário Módulo Frequência AR Raiz1 -1,0549 0,0000 1,0549 0,5000 MA Raiz1 -1,0895 0,0000 1,0895 0,5000 Raiz2 1,0000 0,0000 1,0000 0,000

Fonte: Própria do autor

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Com base nas informações obtidas, pode ser observado, que foi significativa a primeira defasagem de phi e a segunda defasagem de theta, indicando que alterações positivas no faturamento em determinado dia são seguidas de valores acima da media no dia seguinte e abaixo da media no dia posterior. Quanto aos dias da semana, a segunda-feira, terça-feira e quarta-feira foram marginalmente significativas. Apenas a diferença de faturamento entre a terça-feira e a quarta-feira foi significativa. Não foi encontrado efeito ARCH, o que diz respeito à tabela a seguir: Tabela 5 – Teste para ARCH de ordem 6

Teste para ARCH de ordem 6 Hipótese nula: efeito ARCH não está presente Estatística de teste: LM = 11,3833 Com p-valor = P(Qui-quadrado (6) > 11,3833) = 0,0772289

Fonte: Própria do autor

O correlograma dos resíduos, conforme a figura abaixo indica a existência de ruído branco, confirmando que a regressão foi capaz de extrair os efeitos presentes nas variações diárias no faturamento.

Figura 3 – Correlograma ACF Residual e Resíduo PACF

Fonte: Própria do autor O estudo foi capaz de identificar os efeitos de variações acima da média ocorridas no faturamento da empresa.

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5. CONCLUSÃO

Esse trabalho teve como objetivo investigar como a contabilometria pode auxiliar na previsão de alteração no faturamento por meio da observação da persistência dos choques como determinante deste processo por meio de modelos que possam identificar o que ocorrerá no futuro.

Sendo assim, foram coletados e organizados dados do faturamento diário do ano de 2011, possibilitando alternativas de análise, observou se as alterações pontuais no faturamento persistem, em intervalos de tempo determinado, podendo ser avaliado pela metodologia de serie temporal ARIMA.

O modelo Box & Jenkins apresentou bons resultados. Dessa forma, os resultados obtidos mostram que as metodologias utilizadas podem ser aplicadas com confiabilidade.

Recomenda-se para pesquisas futuras, a utilização de modelos ARIMA de Box & Jenkins e quais tipos de informações o mesmo deseja obter, a fim de auxiliá-lo no processo de gestão.

A importância deste trabalho expõe à utilização da contabilometria, permitindo que informações resultantes do seu uso auxiliem aos gestores na percepção de cenários futuros, projetando o volume de vendas previsto, prevendo o atendimento as necessidades dos usuários.

O estudo foi capaz de identificar os efeitos de variações ACF- residual e resíduo- PACF da media ocorridas no faturamento da empresa. Determinou-se que os modelos contabilométricos são adequados e significativos, que as alterações positivas no faturamento em determinado dia são seguidas de valores acima da media no dia seguinte e abaixo da media no dia posterior.

6. REFERENCIAS

BEUREN, Ilse Maria et al. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade-teoria e pratica. São Paulo: Atlas, 2008. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da Metodologia científica. 6. ed São Paulo: Prentice Hall, 2007. CORRAR, Luiz J; THEÓPHILO, Carlos Renato. Pesquisa Operacional para decisão emcontabilidade e Administração – Contabilometria. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2004. GUJARATI, Damodar N.; PORTER, Dawn C.; Econometria Básica. Tradução Denise Durante; Mônica Rosemberg; Maria Lúcia G. L. Rosa. 5. ed. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda., 2011. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Existirá a contabilometria?Revista Brasileira de Contabilidade, Rio de Janeiro, n.41, p. 44-60, 1982. _______. Teoria da Contabilidade. 6ª. ed. São Paulo: Atlas, 2000. _______. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Atlas, 1998. MADDALA, Kameswari. Introdução à Econometria. Tradução Leonardo Weller. 3. ed. Rio de Janeiro; LTC, 2003. MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 7 ed. Atlas, 2010. MARION, José Carlos; SILVA, Laércio Baptista. Contabilometria: Novo Campo de Estudos para a Contabilidade. Revista Brasileira de Contabilidade, Rio de Janeiro, ano 16, n. 59, p.34-41, out./dez. 1986.

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MATSUMOTO, Alberto Shigueru, et al. A utilização da Contabililometria e a agregação de valor à formação contábil. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezembro2004/ju275>. Acesso em: 23 de maio. 2012. NOSSA Valcemiro. A necessidade de professores qualificados e atualizados para o ensino da Contabilidade. Revista de Contabilidade do CRC-SP, n. 9, set. 1999. STOCK, James H.; WATSON, Mark W;Econometria. Tradução Monica Rosemberg. São Paulo: Addison Wesley, 2004. TEXEIRA, João Antônio Junqueira; FOGLIATTO, Flavio Sanson. Modelos de Box-Jenkins: procedimento para identificação domelhor modelo segundo sua complexidade crescente. Revista Pesquisa Naval, Brasília, n. 17, p. 17-23, nov. 2004.

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Uma Análise sobre a Performance de Carteiras Representativas Selecionadas a partir de Fundos de Investimento em Ações através do Modelo de Markowitz.

AUTORES: Umbelina Lagióia, Rhoger Fellipe, Raimundo Nonato, Josete Florêncio, Juliana Gonçalves.

Resumo

O objetivo deste trabalho foi analisar a possibilidade de se utilizar o modelo de diversificação proposto por Markowitz, para selecionar carteiras representativas a partir de Fundos de Investimentos em Ações, que superem seus respectivos fundos no âmbito do binômio risco/retorno. Para efeito de análise e tratamento dos dados, foram considerados na amostra, os 15 fundos de investimento em ações IBOVESPA, ativo ou indexado, listados pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Os testes empíricos foram realizados com base na composição das carteiras dos Fundos de Investimento em Ações selecionados e da proporção relativa ao capital investido em cada ativo. Com o auxílio da planilha eletrônica Excel, utilizando-se do modelo de Markowitz (1952) e da metodologia desenvolvida por Gonçalves Júnior, Pamplona e Montevechi (2002), procedeu-se o levantamento de carteiras representativas. Para verificar a performance dessas carteiras representativas, foram utilizados os índices de Jensen, Sharpe e Treynor. Como proxies da taxa livre de risco e da carteira de mercado foram utilizadas a SELIC e o IBOVESPA, respectivamente. Concluiu-se que há uma evidência da superioridade das carteiras representativas em relação a seus respectivos Fundos de Investimento em Ações que utilizam como Índice de Referência o IBOVESPA e em relação ao próprio IBOVESPA.

Palavras-Chave: Fundos de Investimento, Teoria dos Portfólios, Otimização de Carteiras, Investidor Individual.

1 INTRODUÇÃO

No Mercado de Capitais, os mercados acionários se constituem como uma importante opção de investimento para pessoas e instituições. Podendo-se investir neste mercado, tanto individualmente ou de forma coletiva (clubes e fundos de investimento). No tocante aos fundos, se constituem como importante modalidade de investimento no mercado e possuem uma diversidade de tipos que permitem contemplar diferentes metas de investimento, cabe aos investidores escolher os fundos de acordo com suas expectativas. Os Fundos de Investimento em Ações representam uma opção mais arriscada, contudo garantem um bom retorno no longo prazo (PINHEIRO, 2008; BM&FBOVESPA, 2011).

Já no que tange o investidor individual, qualquer pessoa pode se tornar um investidor, desde que possua uma disponibilidade financeira, por menor que seja seu valor, visto que não existe um mínimo para se investir na Bolsa, no entanto, faz-se necessário que este procure uma corretora que atenda suas expectativas e melhor se encaixe com os seus objetivos (PINHEIRO, 2008; BM&FBOVESPA, 2011). No entanto, para Pereira (2007), o investidor individual, que considera como opção de investimento a constituição de uma carteira de ações, depara-se com o problema da distribuição de determinada importância entre os diversos títulos existentes no mercado.

Segundo Markowitz (1952), para compor sua carteira, o investidor deveria levar em consideração duas variáveis principais: o retorno desejado e o risco. Portanto, defende que a carteira de ações recomendada para um investidor é aquela que maximiza o retorno esperado e minimiza a variância (risco). Dessa forma, em seu trabalho intitulado Portfolio Selection, publicado em 1952 no Journal of Finance, criou um modelo que indica como obter a máxima eficiência da diversificação.

A Teoria dos Portfólios consiste em selecionar carteiras eficientes de ativos que melhor atendam aos objetivos do investidor em termos de retorno esperado e risco. Nesse sentido, Markowitz (1952) defende que, enquanto o retorno esperado de um portfólio é encontrado extraindo-se à média ponderada

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dos retornos dos ativos, o risco é quantificado pela variância dos mesmos, devendo-se levar em consideração a covariância entre os pares de ativos.

Carmona (2009) afirma que, apesar de o risco de uma carteira depender da forma como seus componentes se relacionam entre si, esse não pode ser eliminado, apenas reduzido, devendo-se levar em consideração se os custos para reduzir o risco valem à pena. Ao que Sanvicente e Bellato (2004) verificaram que, as carteiras dos fundos no Brasil possuem um número de ações excessivo, o que as leva a incorrer em custos que não são compensados pelos benefícios desse aumento da diversificação.

1.1 Caracterização do Problema

Os Fundos de Ações proporcionam a seus investidores uma carteira diversificada de ações com o objetivo de minimizar o risco e maximizar a rentabilidade. Geralmente indexados ao Ibovespa, disponibilizam carteiras com aproximadamente 50 ações, visto que procuram replicar a carteira teórica do índice. No entanto, tais fundos proporcionam a seus investidores retornos menores que os do Ibovespa devido aos custos de transação e despesas administrativas (SANVICENTE e BELLATO, 2004).

Os administradores dos Fundos de Investimento tomam suas decisões segundo os princípios de análise denominada fundamentalista. Contudo, segundo Varga (2001), a proporção de investimento se dá através de procedimentos simples de seleção de carteira que contrariam alguns fundamentos de finanças, sem levar em consideração a correlação entre os ativos.

Sanvicente e Bellato (2004) procederam a um estudo, tomando-se como base o artigo de Statman (1987), em que se buscou determinar o número de ações necessário para que uma carteira fosse suficientemente diversificada no mercado brasileiro de ações. Tal estudo baseia-se na idéia de que a diversificação deve ser realizada enquanto os benefícios marginais excederem os custos administrativos e de transação (compra, venda e manutenção das carteiras). Nesse sentido, devido à sensibilidade do número adequado de ações aos custos de transação, o ideal seria a realização de pequena diversificação de carteiras. Assim, o limite de diversificação encontrado para o mercado de capitais brasileiro é de seis ações, diferente do ocorrido no caso dos Estados Unidos, que esse número gira em torno de 20 a 25 ações na carteira (SANVICENTE e BELLATO, 2004).

Gonçalves Júnior, Pamplona e Montevechi (2002) desenvolveram uma metodologia para seleção de carteiras que pode ser realizada de maneira relativamente fácil, através da utilização de planilha eletrônica ou algum outro software com recursos de otimização. A referida metodologia possibilita que mesmo os investidores com poucos conhecimentos do mercado de capitais possam selecionar carteiras que atendam suas exigências.

A performance de carteiras pode ser avaliada sob diversas formas pelos pesquisadores, dependendo do modelo selecionado para o cálculo. Conforme afirma Oliveira Filho (2008), diversos modelos de avaliação vêm sendo propostos no decorrer dos anos em busca de aferir o impacto de alterações no grau de risco ao longo do tempo. No entanto, quando a carteira a ser avaliada utiliza a carteira de mercado para comparação, os modelos mais indicados são os derivados do CAPM (Capital Asset Pricing Model) como os índices de Treynor (1965), Sharpe (1966) e Jensen (1968) (Barros, Amaral e Melo, 2008).

Nesse contexto, e tendo por objetivo analisar a possibilidade de se utilizar o modelo de diversificação proposto por Markowitz, para selecionar carteiras representativas, a partir de Fundos de Investimentos em Ações, que superem seus respectivos fundos no âmbito do binômio risco/retorno, a pergunta norteadora deste trabalho e que será respondida ao final do estudo, é a seguinte: Qual a possibilidade de se utilizar o modelo de diversificação proposto por Markowitz, para selecionar carteiras representativas, a partir de Fundos de Investimentos em Ações, que superem seus respectivos fundos no âmbito do binômio risco/retorno?

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2 PLATAFORMA TEÓRICA

2.1 Mercado de Capitais e Fundos de Investimento

Os mercados de capitais têm se tornado um relevante mecanismo de financiamento das empresas nas últimas décadas. Como subdivisão dos mercados de capitais, os mercados acionários vêm adquirindo uma crescente importância no cenário financeiro internacional (BM&FBOVESPA, 2010). Essa ascensão se deu devido a fatores como as mudanças de natureza regulatória, a revolução nas telecomunicações, o aumento da liquidez global, as baixas taxas de juros internacionais, a redução das margens de risco (spread) e a busca de ativos mais rentáveis pelos investidores (AGLIETTA, 1995).

De acordo com a ANBID os fundos de investimentos existem desde o século XIX, e são constituídos mediante reunião de recursos de um conjunto de investidores, com o objetivo de obter ganhos financeiros a partir da aquisição de uma carteira de títulos ou valores mobiliários. A necessidade de analisar a performance dos fundos de investimentos surge de sua representatividade no mercado de capitais brasileiro. O Patrimônio Líquido dos fundos brasileiros em abril de 2011, segundo dados da ANBID, somou R$ 1.595.396,90. Nessa data, os Fundos de Investimento em ações representavam o 5° no ranking de participação, com 10,49% do total do PL. Os Fundos IBOVESPA (ativo e indexado), juntos, somavam 1,2% dessa participação, após os Fundos Fechados e de Ações Livres, com 3,83% e 2,46%, respectivamente.

Gráfico 1. Aplicações Financeiras no Brasil (em milhões) Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL (2010)

Os fundos de investimento funcionam sob regulamentação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão responsável pela sua autorização, regulação e fiscalização. A Instrução nº 409 do referido órgão dispõe sobre as normas gerais que regem a constituição, a administração, o funcionamento e a divulgação de informações dos fundos. Os fundos de investimento, de acordo com a mesma instrução no seu artigo 92, são classificados conforme a composição do seu patrimônio, em:

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TIPO DO FUNDO

CARACTERÍSTICAS

Fundo de Curto Prazo

Prazo médio da carteira inferior a 60 (sessenta dias)

Fundo Referenciado

Devem identificar em sua denominação o seu indicador de desempenho

Fundo de Renda Fixa

Deverá possuir, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da carteira em ativos relacionados ao fator de risco que dá nome a classe

Fundo de Ações Deverá possuir, no mínimo, 67% (sessenta e sete por cento) da carteira em ações admitidas à negociação no mercado à vista de bolsa de valores

ou entidade do mercado de balcão organizado

Fundo Cambial Deverá possuir, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da carteira em ativos

relacionados ao fator de risco que dá nome a classe

Fundo de Dívida Externa

Deverá aplicar, no mínimo, 80% (oitenta por cento) de seu patrimônio líquido em títulos representativos da dívida externa de responsabilidade

da União Fundo

Multimercado Devem possuir políticas de investimento que envolvam vários fatores de risco, sem o compromisso de concentração em nenhum fator em especial.

Quadro 1. Classificação dos Fundos Fonte: Adaptado ANBID (2010)

Quanto aos Fundos de Investimento em ações, destacaram-se para o estudo, os fundos de ações IBOVESPA, indexado e ativo. Nos fundos de ações IBOVESPA indexados, o gestor do fundo busca replicar a rentabilidade obtida por determinado índice de ações, no caso o índice IBOVESPA. São fundos não alavancados e regulamentados pelo Banco Central do Brasil (BACEN) ou pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Já os fundos de ações IBOVESPA ativos, também regulamentados pelos mesmos órgãos, possuem como objetivo superar a rentabilidade IBOVESPA, para tanto utilizam um perfil mais agressivo de investimento e alavancagem. Conforme Leal, Silva e Ribeiro (2002) “Um fundo é considerado ‘alavancado’ sempre que existir possibilidade (diferente de zero) de perda superior ao patrimônio do fundo, desconsiderando-se casos de default nos ativos do fundo”.

2.2 Teoria dos Portfólios

Harry Markowitz em seu trabalho Portfolio Selection (1952) foi o pioneiro na formulação e desenvolvimento da teoria de diversificação de investimentos visando obter a máxima eficiência. A Teoria dos Portfólios auxilia na construção de uma carteira “ótima” de títulos baseada na minimização do risco, sendo este quantificado pela variância dos retornos dos mesmos. Assaf Neto (2010) destaca que esta carteira de variância mínima também é conhecida por carteira de mercado, podendo ser representada no Brasil pela carteira de ações Bovespa. Para Markowitz (1952) a composição de uma carteira possui dois elementos de incertezas que seriam as principais variáveis consideradas; o retorno esperado (fator desejável pelo investidor) e o risco, que seria a variância deste retorno (fator indesejável) (CASTRO JR e FAMÁ, 2002).

Markowitz (1952), no desenvolvimento de sua teoria, preconizou o risco como sendo a variância ou o desvio em relação a uma média dos possíveis resultados. Dessa forma, Damodaran (2004) define risco como a probabilidade de recebermos como retorno sobre um investimento algo inesperado, não incluindo apenas os resultados ruins, mas também os retornos mais altos. Conforme Assaf Neto (2010), uma situação de risco ocorre quando a incerteza pode ser quantificada através de uma distribuição de probabilidades dos diversos resultados previstos.

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Damodaran (2004) ainda classifica o risco como diversificável e não diversificável. O risco não diversificável, também chamado de risco sistemático, está relacionado a todos os investimentos negociados no mercado, são de natureza política, econômica e social, não podendo ser eliminado de uma carteira, devido ao fato de que todos ativos são afetados, embora alguns com mais intensidade e outros menos (MINETO, 2005; MACEDO JR, 2003). O risco não sistemático, também conhecido como risco diversificável, corresponde à parcela do risco que depende exclusivamente de cada empresa e atinge um ou um pequeno grupo especifico de ativos. Esse risco pode ser reduzido com a diversificação, compondo uma carteira que contenha a menor correlação possível entre si (MINETO, 2005; MACEDO JR, 2003).

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta sessão tratará do método, bem como dos instrumentos de pesquisa a serem utilizados para a coleta e análise de dados, a fim de se atingir o objetivo proposto.

3.1 População e Amostra

Foram delimitados como população alvo do estudo os Fundos de Investimento em Ações que utilizam como Índice de Referência o IBOVESPA. Assim, para efeito de análise e tratamento dos dados, serão considerados como população, os 15 fundos de investimento em ações IBOVESPA, ativo ou indexado, listados pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Após análise das carteiras dos fundos, três foram excluídos, conforme tabela abaixo, por manterem ativos insuficientes para o objetivo da pesquisa. Dessa forma, a amostra foi composta por 12 fundos.

1 ALFA SPECIAL - FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES Analisado 2 FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES CAIXA IBOVESPA ATIVO Analisado 3 FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES CAIXA IBOVESPA Analisado 4 CREDIT SUISSE "FIG" PREMIUM FUNDO DE INVESTIMENTO DE AÇÕES Analisado 5 FUNDO DE INVESTIMENTO FATOR JAGUAR AÇÕES Analisado 6 UNIBANCO STRATEGY FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇOES Analisado 7 ITAÚ CARTEIRA LIVRE AÇÕES - FUNDO DE INVESTIMENTO Analisado 8 UNIBANCO BLUE FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES Analisado 9 PERFIN INFINITY EQUITY BRAZIL FUNDO DE INVESTIMENTO DE AÇÕES Poucos Títulos 10 RVI FUTURA FUNDO DE INVESTIMENTO DE AÇÕES Poucos Títulos 11 SAFRA ACOES FUNDO DE INVESTIMENTO EM ACOES Analisado 12 SAFRA INDICIAL FUNDO DE INVESTIMENTO EM ACOES Analisado 13 SANTANDER FUNDO DE INVESTIMENTO AÇÕES Analisado 14 BTG PACTUAL ANDRÔMEDA FUNDO DE INVESTIMENTO DE AÇÕES Analisado 15 XP INVESTOR FUNDO DE INVESTIMENTO DE AÇÕES Poucos Títulos

Quadro 2: Lista dos Fundos de Investimento em Ações IBOVESPA analisados Fonte: Dados extraídos de VOCÊ S/A (2010) e dados da pesquisa.

3.2 Procedimentos Técnicos e Coleta de Dados

Os testes empíricos foram realizados com base na composição das carteiras dos Fundos de Investimento selecionados e da proporção relativa ao capital investido em cada ativo. Dessa forma, procedeu-se ao levantamento, no site da CVM, dos ativos que compunham as carteiras de janeiro e dezembro de 2009, bem como de suas respectivas participações, para cada fundo. De posse dessas informações, foram montadas as carteiras dos Fundos de Investimento com as ações que se mantiveram no portfólio para ambos os períodos em análise, considerando-se suas respectivas participações iguais as do período final.

Com o auxílio da planilha eletrônica Excel, utilizando-se do modelo de Markowitz (1952) e da metodologia desenvolvida por Gonçalves Júnior, Pamplona e Montevechi (2002), procedeu-se ao cálculo

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dos retornos diários de cada ativo da amostra, utilizando-se da equação (1), a partir da matriz de retornos históricos. Para tanto, foram coletadas as cotações diárias das ações que compunham as carteiras de cada fundo de investimento, no período de 30 de dezembro de 2008 a 30 de dezembro de 2009, no banco de dados da Economática S.A.

Retorno diário = Cotação do dia – Cotação do dia anterior (1)

Cotação do dia anterior

Calcularam-se a matriz de covariâncias de cada fundo, utilizando-se da ferramenta análise de dados, através do histórico de retorno de todos os ativos que compunham as carteiras. Além de calcular o retorno médio de cada ativo através da utilização da função [MÉDIA]. Assim, com a proporção do capital total dos fundos investido em cada ativo, foram calculadas a contribuição do retorno e da variância de cada ativo à carteira do fundo, de acordo com as equações do modelo de Markowitz. Calcularam-se, ainda, a variância, o desvio-padrão e o retorno médio de cada fundo (para calcular a variância e o desvio-padrão através do histórico de retornos, utilizaram-se a função [VARP] e [DESVPAD], respectivamente).

Utilizando-se do estudo de Sanvicente e Bellato (2004), considerou-se como limite para uma carteira ser considerada suficientemente diversificada no mercado de capitais brasileiro, seis ações. Portanto, serão selecionadas as seis ações com menor grau de correlação entre si para compor cada portfólio alternativo dos Fundos de Investimento a serem estudados. Para selecionar os ativos através da correlação, calcularam-se a matriz de correlação das ações que compunham a carteira para cada fundo (com o auxílio da ferramenta de análise de dados).

A fim de analisar as carteiras alternativas, foram calculadas as matrizes de covariâncias de cada carteira, além do retorno médio de cada ativo. Assim, de posse das variáveis de decisão básicas, partiu-se para o cálculo da porcentagem de participação de cada ativo nessas carteiras. Inicialmente foram montadas carteiras com suas composições distribuídas igualmente entre todos os ativos que a compõem. Através dessas proporções, calculou-se a contribuição do retorno e da variância de cada ativo à carteira. Calculou-se, ainda, a variância, o desvio-padrão e o retorno médio desta carteira não otimizada.

Para encontrar a participação de cada ativo que otimizaria a carteira, utilizou-se do SOLVER (ferramenta do Excel que possui recurso de otimização a partir da aplicação da programação linear), a fim de maximizar seu retorno. Portanto, determinaram-se como restrições para o cálculo da participação:

• Variância semelhante a do Índice de Referência (IBOVESPA); • Participação individual de cada ativo maior ou igual a 1%; e • Soma das participações igual a 100%.

Tem-se que as variáveis controladas foram o Retorno da carteira, o Risco ou Variância da carteira e as Participações individuais.

3.3 Tratamento dos Dados Coletados

A análise dos dados foi feita através da aplicação de três modelos quantitativos largamente utilizados na avaliação de desempenho de portfólios, os índices de Jensen, Sharpe e Treynor, para verificar a performance dessas carteiras representativas propostas a partir dos Fundos de Investimento em Ações, através do modelo de Markowitz, em comparação com seus respectivos Fundos. Como proxies da taxa livre de risco e da carteira de mercado foram utilizadas a SELIC e o IBOVESPA, respectivamente.

3.3.1 Índice de Treynor (1965)

Jack Treynor (1965) utilizou o conceito de risco sistemático para medir a performance de fundos e formulou o primeiro índice capaz de medir a performance da carteira que inclui o seu risco. Por assumir que a carteira de um fundo era bem diversificada, não se preocupou muito com o conceito de diversificação. Contudo, partiu da Hipótese de Mercados Eficientes (HME). O Índice de Treynor seria o

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prêmio de risco ganho por unidade de risco assumido, onde o risco da carteira é medido pelo beta. (OLIVEIRA FILHO, 2008; BARROS, AMARAL e MELO, 2008; LIMA, 2008). Pode-se definir matematicamente o Índice de Treynor da seguinte forma:

Treynor = Rp - RF (2)

βp

onde RP é o retorno médio do portfólio, RF é o retorno médio do ativo livre de risco e βP é o beta do portfólio (risco diversificável do portfólio).

3.3.2 Índice de Sharpe (1966)

Desenvolvido por William F. Sharpe (1966), o Índice de Sharpe mede a relação entre o retorno da carteira acima da taxa livre de risco e o seu desvio-padrão (σp), que mede o risco total incorrido. Constituído como uma das mais conhecidas metodologias de análise, é uma razão de eficiência, linear, que considera retorno e risco simultaneamente (FONSECA et al. 2007; CALDEIRA e ODA, 2007; MACHADO, 2008). Por utilizar o desvio-padrão dos retornos como medida de risco, avalia os fundamentos da gerencia da carteira, tanto na performance da taxa de retorno quanto na diversificação. Por este motivo, também, torna-se mais apropriado aos investidores individuais, uma vez que mede a remuneração para uma determinada carteira por cada unidade de risco total a que se expõe a empresa (BARROS, AMARAL e MELO, 2008; CARMONA, 2008). Pode-se definir matematicamente o Índice de Sharpe da seguinte forma:

Sharpe = Rp – RF (3)

σp

onde Rp é o retorno médio do portfólio, RF é o retorno médio do ativo livre de risco e σp é o desvio-padrão do portfólio (risco total do portfólio).

3.3.3 Índice de Jensen (1968)

De acordo com Barros, Amaral e Melo (2008), a atenção de Jensen (1968) está direcionada para a avaliação da habilidade preditiva dos administradores de carteira. O referido autor pondera que, se um administrador de carteira é capaz de predizer preços de ativos então ele será capaz de auferir retornos maiores do que o proposto pela equação do CAPM. Assim, baseado no CAPM, o α da equação no Índice de Jensen, mede o excesso de retorno obtido pelo fundo após ajuste pelo risco sistemático. Tal medida é conhecida como o “alfa de Jensen” (OLIVEIRA FILHO, 2008; MACHADO, 2008). Pode-se definir matematicamente o Índice de Sharpe da seguinte forma:

Jensen = (Rp – RF ) – βp x (RM – RF) (4)

onde Rp é o retorno médio do portfólio, RF é o retorno médio do ativo livre de risco, βp é o beta do portfólio (risco diversificável do portfólio) e RM é o retorno de mercado.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Tomando-se por base a literatura consultada, a análise dos resultados se dará sob duas égides: a primeira, avaliação de portfólios; que envolve a análise dos títulos individualmente, a análise de carteiras e a seleção de carteiras (CARMONA, 2009; ASSAF NETO, 2010) e a segunda, escolha do fundo (carteira); que compreende a análise da capacidade do gestor e a adequação da carteira aos objetivos do investidor (SANTOS et al, 2004).

Análise dos títulos: Hand e Green (2011) atestam a importância econômica da inclusão da informação contábil na otimização de carteiras, no entanto, esta análise requer certo conhecimento, além de um processo de avaliação contínua. A estratégia seguida nesse estudo visa garantir que os melhores ativos sejam mantidos, sem que seja imprescindível ao investidor (que geralmente não possui conhecimento

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necessário, ou tempo disponível, para analisar todos os ativos e cenários disponíveis) realizar a análise contábil para compor sua carteira. Assim, este trabalho selecionou os ativos pela carteira teórica de cada fundo.

Através da análise dos prospectos dos fundos, observou-se que os gestores dos fundos comumente baseiam sua estratégia de investimento em análises econômico-financeiras e sobre o cenário macroeconômico (nacional e internacional). Dessa forma, buscou-se filtrar os ativos tidos como “melhores”, através da seleção dos ativos que se repetiam em ambos os períodos para compor as carteiras dos fundos. De posse das carteiras finais dos fundos, procedeu-se o levantamento das cotações de todas as ações que constavam nas suas carteiras. As carteiras finais dos fundos continham de 8 a 52 ativos, em um total de 57 diferentes ativos (conforme quadro abaixo) que se alternaram na composição dessas carteiras.

AMBV BBAS3 BBDC BRAP4 BRKM BRTO4 BTOW BVMF3 CCRO CESP6 CMIG3 CMIG4 CNFB4 CPFE3 CPLE6 CRUZ3 CSAN3 CSNA3 CYRE3 ELET3 ELET6 ELPL6 EMBR GFSA3 GGBR4 GOAU4 GOLL ITSA4 JBSS3 KLBN4 LAME4 LIGT3 LREN MMXM MRFG NATUNETC4 PDGR3 PETR3 PETR4 RDCD3 RSID3 SBSP3 TAMM TCSL3 TCSL4 TLPP4 TMARTNLP3 TNLP4 TRPL4 UGPA4 USIM3 USIM5 VALE3 VALE5 VIVO4

Quadro 3: Ativos utilizados pelos Fundos na Composição de suas Carteiras Fonte: Dados da pesquisa.

Em seguida calcularam-se o retorno diário de todos os ativos, carteira a carteira, para posteriormente calcular suas matrizes de correlação. Pelo critério de menor grau de correlação entre si, segundo explicitado na Teoria dos Portfólios, foram selecionadas seis títulos – conforme os achados de Sanvicente e Bellato (2004) – para compor os portfólios a serem analisados comparativamente com os fundos, consultando suas respectivas matrizes. Contudo, independente das correlações, não foram admitidas ações em que se observou um retorno médio negativo no período. Dessa forma, as 12 carteiras extraídas dos fundos ficaram como segue:

Carteira 1

Carteira 2

Carteiras 3, 12 e 14

Carteiras 4

Carteira 5

Carteira 6

Carteira 7

Carteira 8

Carteira 11

Carteira 13

CESP6 CMIG4 ELET3 GOLL4 USIM5 BBAS3 AMBV4

CMIG4 AMBV4 AMBV4

CMIG4 CPFE3 GOLL4 PETR3 CYRE3

BBDC4

CSAN3

ELET3 GOLL4 CMIG4

NETC4 ELET3 TAMM4 PETR4 ELET3 BVMF3

CYRE3

ELPL6 MMXM3

GOLL4

RDCD3

KLBN4

TCSL3 TAMM4 GOLL4

CSAN3

ELET3 MRFG3

PDGR3 RDCD3

RSID3 RDCD3

TLPP4 TCSL4 ITSA4 GOAU4

GFSA3 TAMM4

PETR3 TAMM4

TLPP4 TNLP4 TNLP4 TNLP4 TAMM4

VALE3

TCSL3 TCSL3 TAMM4 TNLP3

Tabela 1: Composição das Carteiras Extraídas dos Fundos Fonte: Dados da pesquisa.

Como se pôde observar, encontrou-se uma carteira semelhante para os fundos 3, 12 e 14, dessa forma, no decorrer desta análise tal carteira servirá de base para comparação com esses respectivos fundos. Portanto, encontraram-se, para os 12 fundos analisados, 10 possíveis carteiras alternativas para os investidores. Tal achado pode ser diferente em outros períodos, devendo-se proceder ao levantamento dos dados de todos os fundos.

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Análise de carteiras: Passando a avaliação do retorno esperado e do risco do conjunto de ativos selecionados, primeiramente calcularam-se as matrizes de covariância dos respectivos ativos, para cada carteira (tanto as dos fundos quanto as extraídas destes).

De acordo com o modelo de Markowitz, o cálculo da contribuição de cada ativo ao retorno da carteira se deu ponderando-se os retornos individuais por suas respectivas participações na carteira. Já a variância, aconteceu através do somatório da variância de cada ativo e das covariâncias entre os pares de ativos distintos, multiplicados pelas participações de cada ação na carteira. A partir do cálculo da contribuição de cada ativo a carteira e utilizando-se da função [SOMARPRODUTO], calcularam-se o retorno e a variância da carteira. Já o desvio-padrão, que corresponde a raiz quadrada da variância da carteira, foi calculado utilizando-se a função [RAIZ].

No que diz respeito às carteiras dos fundos, a partir de suas respectivas participações proporcionais devidamente encontradas, conforme explicitado acima, foi possível calcular a participação individual de cada ativo no retorno e na variância das carteiras. Já para as carteiras extraídas dos fundos, utilizou-se, a princípio, uma participação não otimizada, através da participação total (100%) dividida igualmente entre os ativos. Os retornos, variâncias e desvios-padrões das carteiras supracitadas podem ser observados no quadro a seguir:

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Fundos Fundo Original Carteira Extraída

Retorno Carteira 0,27% Retorno Carteira 0,22%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,02% 1

Desv. Pad. Carteira 1,82% Desv. Pad. Carteira 1,32%

Retorno Carteira 0,26% Retorno Carteira 0,14%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,01% 2

Desv. Pad. Carteira 1,83% Desv. Pad. Carteira 1,20%

Retorno Carteira 0,27% Retorno Carteira 0,22%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,02% 3

Desv. Pad. Carteira 1,70% Desv. Pad. Carteira 1,32%

Retorno Carteira 0,26% Retorno Carteira 0,26%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,02% 4

Desv. Pad. Carteira 1,77% Desv. Pad. Carteira 1,57%

Retorno Carteira 0,27% Retorno Carteira 0,32%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,03% 5

Desv. Pad. Carteira 1,70% Desv. Pad. Carteira 1,84%

Retorno Carteira 0,27% Retorno Carteira 0,32%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,03% 6

Desv. Pad. Carteira 1,76% Desv. Pad. Carteira 1,82%

Retorno Carteira 0,27% Retorno Carteira 0,32%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,03% 7

Desv. Pad. Carteira 1,76% Desv. Pad. Carteira 1,82%

Retorno Carteira 0,28% Retorno Carteira 0,25%

Variância Carteira 0,02% Variância Carteira 0,02% 8

Desv. Pad. Carteira 1,33% Desv. Pad. Carteira 1,30%

Retorno Carteira 0,32% Retorno Carteira 0,40%

Variância Carteira 0,02% Variância Carteira 0,04% 11

Desv. Pad. Carteira 1,46% Desv. Pad. Carteira 1,90%

Retorno Carteira 0,27% Retorno Carteira 0,22%

Variância Carteira 0,03% Variância Carteira 0,02% 12

Desv. Pad. Carteira 1,69% Desv. Pad. Carteira 1,32%

Retorno médio 0,30% Retorno médio 0,23%

Variância 0,03% Variância 0,02% 13

Desvio Padrão 1,82% Desvio Padrão 1,31%

Retorno médio 0,28% Retorno médio 0,22%

Variância 0,03% Variância 0,02% 14

Desvio Padrão 1,77% Desvio Padrão 1,32%

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Quadro 4: Retorno, Variância e Desvio-Padrão das Carteiras não Otimizadas e seus respectivos Fundos Fonte: Dados da pesquisa.

Seleção de Carteiras: A partir dos portfólios extraídos dos fundos e não otimizadas, com o auxílio da ferramenta SOLVER do Excel e tendo como referência o risco do IBOVESPA, buscou-se identificar a melhor proporção a se investir, entre as inúmeras possibilidades que podiam ser formadas com os ativos disponíveis. Dessa forma, buscaram-se encontrar as carteiras otimizadas, sendo determinadas as restrições para o cálculo e todas as variáveis de decisão básicas.

Como o objetivo é encontrar o maior retorno possível para essas carteiras otimizadas, no campo [Definir célula de destino] deve constar a célula do retorno calculado para a carteira não otimizada, selecionando-se no campo [Igual a] a opção [Max.]. Para o campo das células variáveis, devem-se selecionar as que contêm a participação individual de cada ativo na carteira total. Na parte destinada as restrições [Submeter às restrições], devem-se adicioná-las uma a uma: Participação individual ≥ 0,01; Variância da carteira = Variância do Ibovespa; e, Soma das participações = 1. É necessário, ainda, selecionar [Presumir não negativos] no sub-menu [Opções]. Abaixo pode-se observar a tela do Solver no Excel:

Figura 1: Tela do Solver Fonte: Dados da pesquisa.

Ao mandar o SOLVER [Resolver], deverá aparecer uma janela informando que se encontrou uma solução e que todas as restrições e condições otimizadas foram atendidas. Ao selecionar a opção [Manter solução do Solver], serão calculadas, automaticamente, as participações e contribuições de cada ativo às carteiras, bem como o retorno, variância e desvio-padrão de cada portfólio otimizado. O resultado pode ser conferido nos quadros abaixo.

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Ativo CMIG4 RDCD3 TLPP4 RSID3 NETC4 CESP6 Participação 20% 1% 8% 33% 14% 24% Retorno 0,0235% 0,0010% 0,0012% 0,2154% 0,0350% 0,0523%

Carteira 1

Variância 0,0023% 0,0001% 0,0003% 0,0185% 0,0030% 0,0045%

Ativo RDCD3 CMIG4 KLBN4 ELET3 CPFE3 TNLP4 Participação 1% 1% 67% 29% 1% 1% Retorno 0,0010% 0,0012% 0,1502% 0,0513% 0,0010% 0,0014%

Carteira 2

Variância 0,0001% 0,0001% 0,0237% 0,0045% 0,0001% 0,0001%

Ativo GOLL4 TCSL3 TLPP4 TNLP4 ELET3 TAMM4 Participação 48% 12% 1% 12% 26% 1% Retorno 0,2065% 0,0251% 0,0002% 0,0161% 0,0452% 0,0034%

Carteiras 3, 12 e 14

Variância 0,0217% 0,0021% 0,0000% 0,0011% 0,0035% 0,0003%

Ativo PETR4 GOLL4 TNLP4 TAMM4 TCSL4 PETR3 Participação 21% 39% 8% 1% 29% 1% Retorno 0,0464% 0,1694% 0,0115% 0,0033% 0,0756% 0,0020%

Carteira 4

Variância 0,0041% 0,0165% 0,0009% 0,0003% 0,0067% 0,0002%

Ativo USIM5 ELET3 CYRE3 GOLL4 TAMM4 ITSA4 Participação 9% 33% 11% 30% 2% 16% Retorno 0,0278% 0,0569% 0,0505% 0,1292% 0,0057% 0,0379%

Carteira 5

Variância 0,0026% 0,0061% 0,0044% 0,0114% 0,0005% 0,0037%

Ativo BVMF3 VALE3 BBAS3 CSAN3 GOAU4 BBDC4 Participação 4% 1% 39% 7% 1% 48% Retorno 0,0132% 0,0029% 0,1325% 0,0263% 0,0027% 0,1063%

Carteira 6

Variância 0,0012% 0,0003% 0,0123% 0,0022% 0,0004% 0,0149%

Ativo TCSL3 AMBV4 ELET3 CSAN3 GFSA3 CYRE3 Participação 10% 36% 8% 21% 18% 7% Retorno 0,0208% 0,0879% 0,0141% 0,0792% 0,0864% 0,0323%

Carteira 7

Variância 0,0019% 0,0058% 0,0010% 0,0079% 0,0089% 0,0033%

Ativo TCSL3 TAMM4 ELPL6 MRFG3 ELET3 CMIG4 Participação 3% 21% 33% 42% 1% 1% Retorno 0,0061% 0,0689% 0,0684% 0,1928% 0,0017% 0,0012%

Carteira 8

Variância 0,0003% 0,0058% 0,0034% 0,0191% 0,0001% 0,0001%

Ativo GOLL4 PETR3 PDGR3 MMXM3 AMBV4 TAMM4 Participação 23% 1% 13% 16% 45% 1% Retorno 0,0997% 0,0020% 0,0702% 0,1130% 0,1108% 0,0033%

Carteira 11

Variância 0,0072% 0,0002% 0,0052% 0,0085% 0,0074% 0,0002%

Ativo GOLL4 TNLP3 RDCD3 TAMM4 CMIG4 AMBV4 Participação 49% 1% 1% 1% 1% 47% Retorno 0,2098% 0,0013% 0,0010% 0,0033% 0,0012% 0,1164%

Carteira 13

Variância 0,0224% 0,0001% 0,0001% 0,0003% 0,0000% 0,0058%

Quadro 5: Participação Otimizada dos Ativos nas Carteiras Extraídas dos Fundos Fonte: Dados da pesquisa.

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A carteira extraída do Fundo 6, ao ser submetida as restrições da otimização, foi a única que o Solver não conseguiu encontrar uma solução viável que atendesse a todas as condições, no entanto, ao manter a solução, obteve-se a melhor opção que mantinha um nível de risco o mais próximo possível do risco do Ibovespa e maximizava o retorno da carteira. Os resultados das carteiras otimizadas podem ser conferidos abaixo:

Retorno 0,3284% Variância Carteira

0,0288% Carteira 1 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,2061% Variância Carteira

0,0287% Carteira 2 Desv. Pad. Carteira

1,6944%

Retorno 0,2964% Variância Carteira

0,0288% Carteiras 3, 12 e

14 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,3083% Variância Carteira

0,0288% Carteira 4 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,3079% Variância Carteira

0,0288% Carteira 5 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,2839% Variância Carteira

0,0313% Carteira 6 Desv. Pad. Carteira

1,7691%

Retorno 0,3207% Variância Carteira

0,0288% Carteira 7 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,3391% Variância Carteira

0,0288% Carteira 8 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,3991% Variância Carteira

0,0288% Carteira 11 Desv. Pad. Carteira

1,6963%

Retorno 0,3331% Variância Carteira

0,0287% Carteira 13 Desv. Pad. Carteira

1,6934%

Quadro 6: Retorno, Variância e Desvio-Padrão das Carteiras Otimizadas Fonte: Dados da pesquisa.

Encontrados os retornos, variâncias e desvios-padrões dos fundos e das carteiras extraídas destes, prosseguiu-se com a segunda parte da análise, visando verificar se as carteiras representativas superam seus respectivos fundos, utilizando-se dos índices de Treynor (1965), Sharpe (1966) e Jensen (1968).

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Capacidade do gestor – Nessa etapa analisaram-se os resultados encontrados nos cálculos dos Índices Baseados na Teoria do Mercado de Capitais, a fim de avaliar a performance das carteiras a partir do retorno ajustado ao risco incorrido para obtê-lo.

Primeiramente analisou-se o Índice de Treynor. O referido índice não leva em consideração o conceito de diversificação, por considerar que a carteira de um fundo é bem diversificada, no entanto, as carteiras extraídas dos fundos, analisadas nesse estudo, levando-se em consideração os estudos de Sanvicente e Bellato (2004), também são consideradas suficientemente diversificadas no mercado de capitais brasileiro. Treynor considera superior a performance do portfólio quanto maior seja o resultado encontrado.

Carteira Índice de

Carteira 13 0,8073% Fundo 12 0,2269% Carteiras 3, 12 e

14 0,6700% Carteira 2 0,2246%

Carteira 8 0,4479% Fundo 3 0,2246%

Carteira 4 0,3785% Ibovespa 0,2219%

Carteira 5 0,3746% Fundo 7 0,2212%

Carteira 11 0,3037% Fundo 14 0,2204%

Fundo 5 0,2854% Fundo 6 0,2200%

Fundo 4 0,2722% Fundo 13 0,2174%

Carteira 7 0,2556% Fundo 2 0,2141%

Carteira 6 0,2446% Fundo 1 0,2124%

Fundo 8 0,2342% Carteira 1 0,1940%

Fundo 11 0,2329%

Tabela 2: Índice de Treynor calculado a partir das carteiras analisadas Fonte: Dados da pesquisa.

Observou-se que, com exceção da carteira 1, todas as carteiras apresentaram retornos médios excedentes em relação à taxa livre de risco por unidade de risco sistemático, ainda, apresentaram retornos excedentes em relação aos fundos dos quais foram extraídas. Portanto, tais carteiras superaram o índice IBOVESPA e seus respectivos fundos, em questões de performance, de acordo com o Índice de Treynor. Em relação aos Fundos, 50% localizaram-se abaixo dessa Proxy, no entanto, 60% das carteiras superaram todos os fundos, conforme tabela 2.

Na sequência levou-se em consideração o Índice de Sharpe. Diferente do Índice de Treynor, este avalia a diversificação do risco da carteira, portanto torna-se mais apropriado aos investidores individuais.

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Carteira Índice de

Carteira 11 21,4317% Fundo 5 13,9432% Fundo 11 19,7247% Fundo 12 13,7134%

Fundo 8 18,1271% Fundo 14 13,6761%

Carteira 8 17,8928% Fundo 3 13,5754%

Carteira 13 17,5694% Fundo 7 13,1675%

Carteira 1 17,2635% Ibovespa 13,0781%

Carteira 7 16,8082% Fundo 1 12,8043%

Carteira 4 16,0778% Fundo 4 12,7032%

Carteira 5 16,0567% Fundo 6 12,5983% Carteiras 3, 12 e

14 15,3774% Fundo 2 12,5146%

Fundo 13 14,7887% Carteira 2 10,0617%

Carteira 6 14,0374%

Tabela 3: Índice de Sharpe calculado a partir das carteiras analisadas Fonte: Dados da pesquisa.

No que tange a performance da carteira quanto à diversificação, percebe-se que todas as carteiras extraídas dos fundos possuem rentabilidade positiva por cada unidade de risco assumido, pois, tal resultado não faria sentido, visto que o investidor sempre tem a opção de investir na taxa sem risco. Ademais, como pode ser observado na tabela 3 acima, ao analisar comparativamente os Índices das carteiras, observa-se que, exceto pela carteira 2, todas as carteiras extraídas superam o Ibovespa, evidenciando o desempenho relativo favorável destas. Apesar de quatro fundos apresentarem uma performance abaixo da do mercado (Ibovespa), o 2 e o 8 superaram suas respectivas carteiras alternativas. No entanto, no geral, os portfólios alternativos sobrepujaram seus fundos de origem.

Por fim, analisou-se o Índice de Jensen, que busca um desempenho em termos absolutos. Avalia a habilidade de o administrador prognosticar o retorno a ser obtido pelo CAPM e assim superá-lo, portanto, quanto maior o resultado obtido pressupõe-se melhor desempenho do gestor. Contudo, tal índice não busca medir, nem leva em consideração, a eficiência das carteiras de Markowitz.

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Carteira Índice de Jensen

Carteira 13 0,2157% Fundo 12 0,0051%

Carteiras 3, 12 e 14 0,1745% Fundo 3 0,0028%

Carteira 8 0,1531% Carteira 2 0,0021%

Carteira 4 0,1128% Ibovespa 0,0000%

Carteira 5 0,1110% Fundo 7 -0,0007%

Carteira 11 0,0979% Fundo 14 -0,0017%

Fundo 5 0,0527% Fundo 6 -0,0021%

Fundo 4 0,0415% Fundo 13 -0,0056%

Carteira 7 0,0375% Fundo 2 -0,0083%

Carteira 6 0,0230% Fundo 1 -0,0104%

Fundo 11 0,0135% Carteira 1 -0,0422%

Fundo 8 0,0126%

Tabela 4: Índice de Jensen calculado a partir das carteiras analisadas Fonte: Dados da pesquisa.

Semelhante ao resultado encontrado com o Índice de Treynor, exceto para a carteira 1, todas as carteiras conseguiram auferir uma rentabilidade superior a do CAPM, além de apresentarem retornos acima dos auferidos pelos fundos dos quais foram extraídas. Sendo o alfa do IBOVESPA igual a zero (carteira neutra), por se tratar da carteira de mercado, observou-se que 50% dos fundos não apresentaram boa performance no período estudado, enquanto que 60% das carteiras alternativas apresentaram desempenho superior a todos os fundos, conforme ilustrado na tabela 4. Dessa forma, confirmaram-se os achados do Índice de Treynor.

Em um âmbito geral, tomando-se o risco diversificável na análise, a maioria das carteiras superaram o IBOVESPA e seus respectivos fundos, nesse caso, apenas a carteira 1 encontrou-se abaixo da Carteira de Mercado. Ademais, levando-se em consideração o risco de mercado, confirmou-se os achados anteriores, tendo, apenas, que os fundos 2 e 8 superaram suas respectivas carteiras e que a carteira 2 encontrou-se abaixo do IBOVESPA.

Adequação dos objetivos – Deve-se levar em consideração a função utilidade de cada investidor. Portanto, por variar de acordo com os objetivos de cada investidor, não será levada em consideração nesta análise. Dado seu caráter subjetivo, cabe ao investidor analisar o risco que está disposto a se expor em busca de um determinado nível de retorno esperado.

5 CONCLUSÃO

A partir da análise dos resultados, concluiu-se que, para os modelos de Treynor e Jensen, as carteiras alternativas conseguiram superar a Carteira de Mercado e seus respectivos fundos, apenas a carteira 1 não consegue superar o IBOVESPA. Através da análise do índice de Sharpe, evidenciou-se que, tais achados também confirmaram a superioridade das carteiras extraídas em relação aos fundos de ações brasileiros e ao índice IBOVESPA. Apenas a carteira 2 não supera a Carteira de Mercado, ademais, os

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fundos 2 e 8 superaram suas respectivas carteiras. Ao que se pode conjeturar que, com as carteiras extraídas dos fundos obtém-se a capacidade de prever ativos subavaliados e habilidade de auferir retornos por meio de uma predição de ativos com preços altos, a um determinado nível de risco - apenas 50% dos gestores dos fundos obtiveram esta capacidade. Ademais, confirmou-se ainda a importância da aplicação da eficiência de carteiras de Markowitz, uma vez que tais carteiras encontraram-se acima de seus respectivos fundos e do IBOVESPA.

Em uma avaliação geral dos resultados, observou-se que as carteiras representativas, selecionadas a partir dos Fundos de Investimentos em Ações, superam seus respectivos fundos no âmbito do binômio risco/retorno, de acordo com os indicadores de Treynor, Sharpe e Jensen. Deste modo, concluiu-se que há uma evidência da superioridade das carteiras alternativas em relação a seus respectivos Fundos de Investimento em Ações que utilizam como Índice de Referência o IBOVESPA e em relação ao próprio IBOVESPA. Ao que se pode elucubrar que os investidores, portanto, seriam capazes de obter melhores resultados utilizando-se da metodologia proposta neste estudo.

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Reforma Tributária: Uma Abordagem Crítica sobre a Unificação na Tributação do IRPJ e CSLL para o Lucro Presumido.

AUTORES: Vagner Melo, Rhoger Fellipe, Otávio José.

RESUMO

O presente estudo buscou analisar as alterações sugeridas pela PEC 233/2008 no que tange a unificação do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido no regime de tributação Lucro Presumido. Para tanto, partiu do método dedutivo, utilizando-se do proceder metodológico de pesquisa bibliográfico-documental, através do enfoque o fiscal abordados pela Teoria da Contabilidade. A fim de atingir o objetivo específico, analisaram-se as alterações sugeridas pela PEC 233/2008 no que diz respeito à unificação do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido no regime de tributação Lucro Presumido e elaborou-se uma tabela de adoção de alíquotas aplicáveis as diversas atividades. Conclui-se que não há como adotar uma alíquota já existente em detrimento de outra na presunção do lucro, dessa forma, faz-se necessário então, adotar mecanismos que minimizem iniquidades para o contribuinte, aumentando a carga tributária ou que acarretem em uma diminuição da arrecadação. Assim, a tabela proposta neste trabalho buscou não diminuir a arrecadação do Estado, no entanto, sem lesar o contribuinte.

Palavras-chave: Reforma Tributária; Imposto de Renda de Pessoa Jurídica; Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

1. INTRODUÇÃO

A Reforma Tributária enviada ao Congresso Nacional pelo Governo Federal através de uma PEC (Proposta de Emenda a Constituição) em fevereiro de 2008 propõe uma série de modificações para a arrecadação de tributos no Brasil. Medidas para desoneração da folha de pagamento - como o fim do salário-educação -, a unificação de impostos federais e da alíquota do ICMS são amplamente elencados no texto.

A unificação de três impostos federais - Cide, PIS e Cofins - em apenas uma tributação, o Imposto sobre Valor Adicional (IVA) Federal é tratada como uma forma de simplificar o sistema tributário do país. Ainda na linha da simplificação do sistema, o governo pretende unificar a cobrança da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ). A justificativa seria que os dois impostos incidem sobre um mesmo elemento: o lucro das empresas.

Tendo em vista a alta carga do sistema tributário brasileiro, com mais de cinquenta impostos, taxas e contribuições, e a complexidade existente neste, há uma necessidade em simplificar esse sistema, necessidade evidenciada através da proposta de Reforma Tributária do Governo Federal. Desse modo, fica evidenciada a importância em se realizar um estudo, que permita garantir que a empresa com fins lucrativos tenha uma tributação mais simplificada de maneira não exageradamente onerosa, no entanto, deve-se observar que, com isso, o Estado não perca receitas.

O foco do estudo está na análise da tributação com base no Lucro presumido frente à unificação do Imposto de Renda com a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Diante do exposto e com a proposição da reforma tributária de unificação de IRPJ e CSLL, cabe o questionamento: Como a Reforma Tributária poderia abordar as alíquotas das empresas optantes pelo regime Lucro Presumido para o cálculo do IRPJ e CSLL?

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1.2. Objetivos

1.2.1 Geral

Analisar as alterações sugeridas pela PEC 233/2008 no que tange a unificação do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido no regime de tributação Lucro Presumido.

1.2.2 Específicos

• Estudar os conceitos e definições relacionados aos procedimentos existentes de apuração do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido através do Lucro Presumido;

• Destacar as diferenças entre a tributação antes e depois das alterações sugeridas pela PEC 233/2008;

• Sugerir uma tabela de adoção de alíquotas aplicáveis as diversas atividades que venha contribuir para o cálculo simplificado do IRPJ e CSLL das empresas, para o regime Lucro Presumido.

1.3. Metodologia

Para o desenvolvimento deste estudo foi empregado o método dedutivo, que partindo do estudo geral para o específico defende que uma premissa verdadeira gera uma conclusão verdadeira, utilizando-se, para tanto, do proceder metodológico de pesquisa bibliográfico-documental, quais sejam localização, seleção, organização, processamento e utilização de livros, teses e artigos relacionados à matéria, assim como, consultas por meio de portais de pesquisa na internet.

O enfoque deste estudo foi o fiscal - uma vez que o fisco tem papel relevante na sociedade - bem como o estrutural - guiando-se pela analogia, visando a minimização dos gastos tributários sob uma ótica gerencial - ambos abordados pela Teoria da Contabilidade.

A fim de atingir o objetivo específico, analisaram-se as alterações sugeridas pela PEC 233/2008 no que diz respeito à unificação do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido no regime de tributação Lucro Presumido e elaborou-se uma tabela de adoção de alíquotas aplicáveis as diversas atividades.

2. IMPOSTO DE RENDA - PESSOA JURÍDICA

2.1. Conceito

O imposto de renda é a dedução obrigatória de determinada percentagem da renda média anual das Pessoas Jurídicas para o governo, com regulamentação constitucional prevista na Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, que deve ser recolhido trimestralmente, nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário, até o primeiro dia últil do mês subsequente. O valor das parcelas trimestrais não podem ser inferior a R$ 1.000,00 e o imposto cujo valor for inferior a R$ 2.000,00 deverá ser pago em cota única.

Segundo Oliveira, Chieregato, Perez Junior e Gomes (2011, pág. 168), “Imposto de Renda é um imposto adotado universalmente que obriga cada pessoa ou empresa destinar um determinado percentual de sua média anual para o governo. Essa porcentagem pode variar de acordo com a renda média ou pode ser fixa”.

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2.2. Fato Gerador

O fato gerador do imposto sobre a renda é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda e proventos de qualquer natureza, como define a Lei nº 5.172/66, em seu art. 43.

2.3. Base de Cálculo

Segundo a legislação, a base de cálculo deve ser determinada na data da ocorrência do fato gerador, é o lucro real, presumido ou arbitrado, correspondente ao período de apuração, que deverá ser expressa em moeda nacional.

2.4. Alíquotas e Adicional

A partir de 1º de janeiro de 1997 a alíquota do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas é de 15%, aplicada sobre a base de cálculos. Além desta alíquota há incidência de um adicional de 10% sobre a parcela do lucro real, presumido ou arbitrado que ultrapassar o múltiplo de R$ 20.000,00 mensais.

2.5. Contribuintes

São contribuintes do Imposto de Renda as Pessoas Jurídicas e as empresas individuais, de acordo com a RIR/99 (Decreto 3.000/99) art. 146:

“Art. 146. São contribuintes do imposto e terão seus lucros apurados de acordo com este Decreto (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27):

I - as pessoas jurídicas (Capítulo I);

II - as empresas individuais (Capítulo II).

§ 1º As disposições deste artigo aplicam-se a todas as firmas e sociedades, registradas ou não (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27, § 2º).

§ 2º As entidades submetidas aos regimes de liquidação extrajudicial e de falência sujeitam-se às normas de incidência do imposto aplicáveis às pessoas jurídicas, em relação às operações praticadas durante o período em que perdurarem os procedimentos para a realização de seu ativo e o pagamento do passivo (Lei nº 9.430, de 1996, art. 60).

§ 3º As sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada são tributadas pelo imposto de conformidade com as normas aplicáveis às demais pessoas jurídicas (Lei nº 9.430, de 1996, art. 55).

§ 4º As empresas públicas e as sociedades de economia mista, bem como suas subsidiárias, são contribuintes nas mesmas condições das demais pessoas jurídicas (CF, art. 173, § 1º, e Lei nº 6.264, de 18 de novembro de 1975, arts. 1º a 3º).

§ 5º As sociedades cooperativas de consumo, que tenham por objeto a compra e fornecimento de bens aos consumidores, sujeitam-se às mesmas normas de incidência dos impostos e contribuições de competência da União, aplicáveis às demais pessoas jurídicas (Lei nº 9.532, de 1997, art. 69).

§ 6º Sujeita-se à tributação aplicável às pessoas jurídicas o Fundo de Investimento Imobiliário nas condições previstas no § 2º do art. 752 (Lei nº 9.779, de 1999, art. 2º).

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§ 7º Salvo disposição em contrário, a expressão pessoa jurídica, quando empregada neste Decreto, compreende todos os contribuintes a que se refere este artigo.”

3. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL

3.1. Conceito

Segundo Oliveira (2011, pág. 189), “a contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) foi instituída pela Lei n°7689, de 15-12-88; é uma contribuição de competência da União. É uma das fontes de recursos previstas no Art. 195 da Constituição Federal de 1988”. O referido autor destaca ainda que, “são contribuintes as pessoas jurídicas domiciliadas no país e as que lhes são equiparadas pela legislação do imposto de renda”.

Destinada ao financiamento da seguridade social, a Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) foi instituída pela Lei nº 7.689, de 15 de dezembro de 1988. Conforme esta mesma legislação, deverá ser aplicada à contribuição social as mesmas normas de apuração e pagamento e, no que couber, as disposições da legislação do imposto de renda referente à administração, ao lançamento, à consulta, à cobrança, às penalidades, às garantias e ao processo administrativo.

3.2. Fato Gerador

A CSLL tem como fato gerador o auferimento de lucro pela pessoa jurídica. Este deverá ser apurado conforme rege a legislação em seu art. 274, §1 º.:

“Art. 274. Ao fim de cada período de incidência do imposto, o contribuinte deverá apurar o lucro líquido mediante a elaboração, com observância das disposições da lei comercial, do balanço patrimonial, da demonstração de lucros ou prejuízos acumulados. (Decreto-lei nº 1.598, de 1977, art. 7º, § 4º, e Lei nº 7.450, de 1985, art. 18).

§1º. O lucro líquido do período deverá ser apurado com observância das disposições da Lei nº 6.404, de 1976 (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 67, inciso XI, Lei nº 7.450, de 1985, art. 18, e Lei nº 9.249, de 1995, art. 5º).”

3.3. Alíquotas

Conforme a Lei n° 10.637/02, art.37, a alíquota da Contribuição Social é de 9% sobre a base de cálculo definida pela empresa conforme a legislação (Lucro Real, Presumido ou Arbitrado). Ressalta-se que as pessoas jurídicas adimplentes têm direito a um bônus dedutível do valor da contribuição.

3.4. Contribuintes

Para Neves e Viceconti (2009), os contribuintes são as pessoas jurídicas que exercem seus direitos e cumpre suas obrigações no país, além das pessoas que a legislação do imposto de renda equiparar a estes.

Também ficam sujeitas à Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido as entidades sem fins lucrativos que não estão enquadradas na isenção do art. 15 da Lei nº 9.532/97, as associações de poupança e empréstimo e a bolsa de mercadorias e valores, embora sejam isentas do Imposto de Renda e os Fundos de Investimento Imobiliário, conforme Lei nº 8.668/93. Ficam isentas do imposto as entidades fechadas de previdência complementar.

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4. LUCRO PRESUMIDO

4.1. Conceito

O Lucro Presumido é aquele que se presume através da Receita Bruta de vendas de mercadorias, produtos e da prestação de serviços, aplicado as pessoas jurídicas que não estiverem obrigadas a tributação pelo lucro real e optarem por esta forma de tributação, obedecendo a legislação específica.

Segundo Fabretti (2009, pag. 202), o lucro presumido “é uma alternativa para as pequenas empresas, até o limite da receita bruta total estabelecido em lei”. Já para Oliveira et al (2011, pág. 180), “Lucro Presumido é uma forma simplificada de apuração da base de cálculo dos tributos com o Imposto de Renda e da Contribuição Social, restrita aos contribuintes que não estão obrigados ao regime de apuração de tributação com base no Lucro Real”.

Corroborando com os autores, Neves e Viceconti (2012, pág.13) discorrem que o Lucro Presumido “é a modalidade optativa de apurar o lucro e, consequentemente, o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas e a Contribuição Social sobre o Lucro das empresas que não estiverem obrigadas à apuração do lucro real”.

Contudo, Oliveira (2011, pág. 180) afirma que, “Lucro Presumido é uma forma simplificada de apuração da base de cálculo dos tributos com o Imposto de Renda e da Contribuição Social, restrita aos contribuintes que não estão obrigados ao regime de apuração de tributação com base no Lucro Real”.

4.2. Pessoas Jurídicas Autorizadas a Optar

De acordo com o RIR/99 (Decreto 3.000/99) em seu art. 516, toda pessoa jurídica que obtiver no ano-calendário anterior receita total inferior ao valor de R$ 24.000.000,00 pode optar pelo regime de lucro presumido. No entanto, com a Lei nº 10.637/02, art. 46 e 68, III, esse limite passou a ser de R$ 48.000.000,00. As demais empresas que não forem obrigadas a tributação pelo lucro real também podem optar pelo presumido, inclusive:

� As sociedades civis de profissão regulamentada;

� As pessoas jurídicas que exploram atividade rural;

� As sociedades por ações, de capital aberto;

� As empresas que se dediquem à compra e à venda, ao loteamento, à incorporação ou à construção de imóveis e à execução de obras da construção civil;

� As empresas que tenham sócio ou acionista residente ou domiciliado no exterior;

� As empresas constituídas sob qualquer forma societária, de cujo capital participem entidades da administração pública, direta ou indireta, federal, estadual ou municipal;

� As que sejam filiais, sucursais, agências ou representações, no país, de pessoas jurídicas com sede no exterior;

� As empresas que vendam bens importados, qualquer que seja o valor da receita auferida com a venda desses produtos;

� As corretoras de seguro, por serem consideradas empresas de intermediação de negócios.

4.3. Percentuais de Apuração do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica

A apuração do lucro presumido será mediante aplicação de percentuais específicos de acordo com a atividade exercida pela pessoa jurídica, conforme tabela abaixo:

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TABELA 1: ALÍQUOTAS DE IRPJ

Percentuais (%)

1992

1993 e

1994 1995

A partir

de 1996

Revenda de combustíveis 3,5 3,0 1,0 1,6

Fabricação própria 3,5 3,5 5,0 8,0

Revenda de mercadorias 3,5 3,5 5,0 8,0

Industrialização p/ encomenda 3,5 3,5 5,0 8,0

Transporte de cargas 3,5 3,5 10,0 8,0

Serviços hospitalares 30,0 3,5 10,0 8,0

Atividade rural 3,5 3,5 5,0 8,0

Serv. Transporte/ exceto cargas 30,0 8,0 10,0 16,0

Administração de consórcios 30,0 8,0 10,0 32,0

Hotelaria e estacionamento 30,0 8,0 10,0 32,0

Serv. Profissionais habilitados 30,0 20,0 30,0 32,0

Representante comercial 30,0 20,0 30,0 32,0

Adm. e locação de imóveis 30,0 20,0 30,0 32,0

Corretagem em geral 30,0 20,0 30,0 32,0

Serviços da construção civil 30,0 8,0 10,0 32,0

Factoring 30,0 8,0 - -

Fonte: Receita Federal

Conforme art. 519 do RIR/99 (Decreto 3.000/99):

“§ 4o A base de cálculo trimestral das pessoas jurídicas prestadoras de serviços em geral cuja receita bruta anual seja de até cento e vinte mil reais, será determinada mediante a aplicação do percentual de dezesseis por cento sobre a receita bruta auferida no período de apuração (Lei no 9.250, de 1995, art. 40, e Lei no 9.430, de 1996, art. 1o).

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§ 5o O disposto no parágrafo anterior não se aplica às pessoas jurídicas que prestam serviços hospitalares e de transporte, bem como às sociedades prestadoras de serviços de profissões legalmente regulamentadas (Lei no 9.250, de 1995, art. 40, parágrafo único).

§ 6o A pessoa jurídica que houver utilizado o percentual de que trata o § 5o, para apuração da base de cálculo do imposto trimestral, cuja receita bruta acumulada até determinado mês do ano-calendário exceder o limite de cento e vinte mil reais, ficará sujeita ao pagamento da diferença do imposto postergado, apurado em relação a cada trimestre transcorrido.

§ 7o Para efeito do disposto no parágrafo anterior, a diferença deverá ser paga até o último dia útil do mês subseqüente ao trimestre em que ocorreu o excesso.”

4.4. Percentuais de Apuração da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

Conforme Lei nº 10.684/2003, a partir de 01/09/2003, a base de cálculo da Contribuição Social corresponde à:

“12% da receita bruta nas atividades comerciais, industriais, serviços hospitalares e de transporte;

32% para:

a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares e transporte;

b) intermediação de negócios;

c) administração, locação ou cessão de bens imóveis, móveis e direitos de qualquer natureza.”

Segundo Neves & Viceconti (2009), formará a base de cálculo, juntamente com a alíquota incidente sobre o Lucro Presumido, o somatório dos:

� Ganhos líquidos e rendimentos nominais em aplicações financeiras de renda fixa e variável;

� Ganhos de capital na venda de bens de direitos;

� Demais receitas e resultados positivos.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1. Percentuais de Apuração do IR e CSLL

Para atender às necessidades exigidas com a implantação da Reforma Tributária, convém propor um modelo de adaptação centrado na unificação das alíquotas da presunção do IRPJ e CSLL. O problema encontrado no tocante ao regime do lucro presumido é a adoção de uma alíquota de base de cálculo de cada tributo, uma vez que a base da CSLL é 12% ou 32% e posteriormente é aplicado um percentual de 9% para encontrar o imposto a recolher. Já para o IRPJ a base varia entre 1,6 a 32% para encontrar a base de cálculo, sendo aplicado em cima do valor encontrado um percentual de 15% para se encontrar o imposto devido.

Com isso, seria injusta para o contribuinte a aplicação do percentual de 15% num montante encontrado que fosse aplicado uma alíquota superior a anterior, aumentando a carga tributária. Do mesmo modo que seria inviável para arrecadação que se aplicasse o percentual de 9% em um montante inferior ao anterior, o que acarretaria uma diminuição da arrecadação.

Com a intenção de arbitrar esse impasse, propõe-se a tabela a seguir:

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TABELA 2: PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DE ALÍQUOTAS IRPJ/CSLL

Ramo de atividade

Alíq. anterior utilizada para

presunção para IRPJ

(em %)

Percentual do IRPJ

(em %)

Alíq. atual aplicada sobre a Receita Bruta

(em %)

Alíq. anterior utilizada para a

presunção da CSLL

(em %)

Percentual da CSLL

(em %)

Alíq. atual aplicada sobre a Receita Bruta

(em %)

Alíq. da unificação IRPJ e CSLL aplicada sobre a Receita Bruta (%)

Revenda de combustíveis

1,60 15,00 0,24 12,00 9,00 1,08 1,32

Fabricação própria 8,00 15,00 1,20 12,00 9,00 1,08 2,28

Revenda de mercadorias

8,00 15,00 1,20 12,00 9,00 1,08 2,28

Industrialização p/ encomenda

8,00 15,00 1,2% 12,00 9,00 1,08 2,28

Transporte cargas 8,00 15,00 1,2% 12,00 9,00 1,08 2,28

Serviços hospitalares

8,00 15,00 1,2% 12,00 9,00 1,08 2,28

Atividade rural 8,00 15,00 1,2% 12,00 9,00 1,08 2,28

Serv. Transporte/ exceto cargas

16,00 15,00 2,4% 12,00 9,00 1,08 3,48

Administração de consórcios

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Hotelaria e estacionamento

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Serv. Profissionais habilitados

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Representante comercial

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Adm. e locação de imóveis

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Corretagem em geral

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Serviços da construção civil

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Serviços gerais com receita bruta até 120.000,00

16,00 15,00 2,40 32,00 9,00 2,88 5,28

Serviços gerais com receita bruta superior120.000,00

32,00 15,00 4,80 32,00 9,00 2,88 7,68

Factoring - - - - - - -

Fonte: Elaborada pelos autores

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6. CONCLUSÃO

Com base no exposto, é perceptível que há necessidade de se adaptar as alíquotas no cálculo da presunção do lucro, tendo em vista que com a possível aprovação do texto da PEC 233/2008, o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido se fundirão. Tal procedimento é de suma importância, já que as bases para cálculo ficariam totalmente desproporcionais, podendo causar prejuízo às empresas ou ao erário público, no caso específico do Lucro Presumido, como foi evidenciado.

Foi aqui apresentada uma proposta para solucionar a lacuna das alíquotas a serem adotadas para a presunção do lucro, onde a base de cálculo para o IRPJ e CSLL é a mesma, mas com alíquotas diferenciadas por cada setor da economia, sendo necessário para a unificação de tais tributos uma uniformidade também por setor.

Conclui-se que não há como adotar uma alíquota já existente em detrimento de outra na presunção do lucro. Faz-se necessário então, adotar mecanismos que minimizem iniquidades para o contribuinte, através da aplicação do percentual de 15% num montante encontrado que fosse aplicado uma alíquota superior a anterior, aumentando a carga tributária. Do mesmo modo, também seria inviável para arrecadação que se aplicasse o percentual de 9% em um montante inferior ao anterior, o que acarretaria uma diminuição da arrecadação. Assim, a tabela proposta neste trabalho buscou não diminuir a arrecadação do Estado, no entanto, sem lesar o contribuinte.

7. REFERÊNCIAS

ARAUJO, Ricardo de Menezes.; PESSOA, Severino.; Universidade Federal de Pernambuco. Imposto de renda das pessoas jurídicas: a opção pelo regime de tributação. Recife, 2002. 92 f. Monografia – Ciências Contábeis, UFPE.

BRASIL. Código Tributário Nacional. 17 ed., São Paulo: Saraiva, 2011.

________ Constituição Federal. 17 ed., São Paulo: Saraiva, 2011.

HIGUCHI, Hiromi.; HIGUCHI, Celso Hiroyuki. Imposto de renda das empresas: interpretação e prática: atualizado até 10-01-2011. 36.ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 6 ed. Rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2011.

LIMA, Manolita Correia. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

LOPES, Jorge. Apostila metodologia da pesquisa aplicada às ciências contábeis. Recife: UFPE, 2004.

________. O Fazer do Trabalho Científico em Ciências Sociais Aplicadas. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2006.

MINISTÉRIO DA FAZENDA – Projeto de Emenda Constitucional. Disponível em:

<http://www.fazenda.gov.br/portugues/documentos/2008/fevereiro/EM-16-2008-PEC-Reforma-Tributaria-Anexo.pdf>. Acesso em: 26/01/2012

NEVES, Silvério das; VICECONTI, Paulo Eduardo V.. Curso prático de imposto de renda pessoa jurídica e tributos conexos: csll, pis e cofins. 14.ed., rev. e atual. São Paulo: Frase Editora, 2009.

PORTAL TRIBUTÁRIO. CSLL – Contribuição social sobre o lucro líquido. Disponível em: <http://www.portaltributario.com.br/tributos/csl.html>. Acesso em: 26/01/2012.

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RECEITA FEDERAL. Alíquotas do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas Tributadas pelo Lucro Real, Presumido ou Arbitrado. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Aliquotas/ContribPj.htm>. Acesso em: 26/01/2012.

RIR/99 - Regulamento do Imposto de Renda (Decreto 3.000/99). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/decreto/D3000.htm>. Acesso em: 26/01/2012.

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Planejamento Tributário: Um Estudo Sobre a Redução Tributária em uma Prestadora de Serviços do Ramo de Retífica de Motores.

AUTORES: Vladênia Letieri, Cândida Karissa, Alexandre César, Karina Simões.

RESUMO

O estudo em tela teve como objetivo identificar o melhor regime de tributação a ser adota por uma empresa prestadora de serviços do ramo de retifica de motores sob a ótica do planejamento tributário. Para o desenvolvimento da pesquisa foi adotado o método dedutivo, por meio de um estudo de caso que procurou focar na importância do planejamento tributário como meio para a minimização dos tributos e maximização dos lucros. Utilizou-se também de uma revisão bibliográfica sobre os temas abordados, além de uma pesquisa documental com a observância dos dados do ano de 2011 da empresa objeto de estudo. Desse modo, conclui-se que é de grande relevância proceder-se à realização de um planejamento, uma vez que há a possibilidade de analisar o melhor regime de tributação para a empresa, como ficou evidenciado no estudo de caso feito na organização foco do estudo, onde a mesma se encontrava em um regime que aumentava substancialmente o valor de tributos a ser pago, podendo reduzir esse valor em cerca de 33% caso optasse pela mudança de regime, podendo desta forma ter uma maior competitividade perante a concorrência e aumentar os seus resultados.

Palavras-chave: Carga tributária.Regime tributário. Planejamento tributário.

1 INTRODUÇÃO

O Brasil vem apresentando um crescimento econômico significativo nos últimos anos, em 2010, segundo estudo apresentado pela Receita Federal do Brasil (RFB), a economia cresceu robustamente em todos os setores, indústria, comércio e prestação de serviços. Desse modo houve um aumento na arrecadação de tributos, com isso,no referido ano, a carga tributária brasileira atingiu 33,56% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados da RFB.

O ramo da contabilidade que estuda os tributos incidentes nos setores da economia, de forma a direcionar o cotidiano empresarial ao ambiente fiscal, através das normas de contabilidade e da própria legislação fiscal, para desse modo evitar penalidades à entidade é chamado de contabilidade tributária. Oliveira (2003) diz que a contabilidade tributária pode ser entendida como o ramo da contabilidade que é responsável pelo gerenciamento dos tributos incidentes nas diversas atividades de uma empresa, ou grupo de empresas, adaptando-se ao dia-a-dia empresarial às obrigações tributárias, de forma a não expor a entidade a possíveis sanções fiscais e legais.

É sabido que a carga tributária brasileira e seu crescimento tornam a operacionalização de alguns negócios muito difícil, uma vez que os tributos representam parcelas consideráveis dos custos das organizações empresariais. Desse modo, entende-se que cabe a contabilidade tributária, juntamente com os contribuintes, buscarem meios legais para reduzir esses custos. Um método lícito utilizado pela contabilidade e que auxilia as entidades a diminuírem seus custos com tributos é denominado de planejamento tributário.

Domingues (2000, apud OLIVEIRA, 2009, p.201), diz que “O Planejamento Tributário consiste em um conjunto de medidas contínuas que visam à economia de tributos, de forma legal, levando-se em conta as possíveis mudanças rápidas e eficazes, na hipótese do Fisco alterar as regras fiscais”.

O planejamento tributário apresenta-se como importante elemento para as empresas que decidem buscar uma alternativa para economizar os tributos, uma vez que o mesmo pode abranger qualquer tipo de

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empresa, independente da atividade ou porte, até mesmo micro e pequenas empresas já optantes por um regime de tributação simplificado.

Diante do exposto, a problemática norteadora do presente estudo é: Qual o melhor regime de tributação a ser adotado por uma empresa prestadora de serviços do ramo de retífica de motores à luz do planejamento tributário?

Para responder ao questionamento proposto,tem-se como objetivo geral da pesquisa evidenciar o melhor regime de tributação a ser adotado por uma prestadora de serviços do ramo de retífica de motores sob a ótica do planejamento tributário.

A fim de atingir o objetivo geral foram traçados os seguintes objetivos específicos: apresentar os elementos conceituais que tratam da contabilidade tributária, do planejamento tributário e das empresas prestadoras de serviços; demonstrar os passos necessários a serem seguidos para a realização do planejamento tributário em uma empresa prestadora de serviços do ramo de retífica de motores; e analisar, por meio de comparação entre os regimes de tributação, qual a melhor opção para a empresa estudada.

A relevância de uma pesquisa desta natureza pode ser observada quando pretende-seabordar o planejamento tributário como instrumento de grande importância na gestão financeira de retíficas de motores, de forma a contribuir para a minimização do impacto tributário nas operações deste tipo de empresa e consequentementemaximizar os seus lucros.

Desse modo, o presente estudo justifica-se ao procurar ressaltar a importância do planejamento tributário para as empresas e, especificamente neste estudo, à empresa objeto de análise neste estudo, além de procurar trazer melhores esclarecimentos sobre a temática estudada com intuito de aprimoramento profissional na área fiscal. É um estudo que torna-se relevante para profissionais da área contábil que se interessam pela reciclagem profissional e também para empresários interessados em adotar o planejamento tributário como instrumento de sua gestão financeira, além de servir como reflexão para que outros trabalhos dessa natureza sejam desenvolvidos.

A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2012 e se deu através de estudo de caso realizado numa empresa prestadora de serviços do ramo de retífica de motores situada na cidade de Caruaru-PE.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

Segundo Chaves e Muniz (2010, p.3), “A contabilidade registra os fatos geradores de tributos na pessoa jurídica, como também fatos econômicos que não geram tributos e outros que têm reflexos indiretos na carga tributária da empresa.”De acordo com o conceito dos autores, entende-se que a contabilidade tributária é uma ramificação da contabilidade que gerencia os tributos e os meios para a economicidade dos mesmos.

Neste particular Fabretti (2009, p.5) registrou que a contabilidade tributária,

Como ramo da contabilidade, deve demonstrar a situação do patrimônio e o resultado do exercício, de forma clara e precisa, rigorosamente de acordo com conceitos, princípios e normas básicas de contabilidade. O resultado apurado deve ser economicamente exato.

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A contabilidade tributária além de apurar o lucro da empresa, também registra suas mutações patrimoniais, sendo essa uma de suas principais funções, obedecendo sempre à legislação em vigor em harmonia com as normas brasileiras de contabilidade, para que a empresa não sofra possíveis sanções.

2.2 REGIMES DE TRIBUTAÇÃO

No Brasil são quatro as modalidades de tributação cabíveis para as pessoas jurídicas: Lucro Presumido, Lucro Real e Lucro arbitrado e o Simples Nacional.

2.2.1 Simples Nacional

O Simples Nacional foi instituído através da Lei Complementar 123, de 14 de Dezembro de 2006e passou a vigorar a partir de 1º de julho de 2007, tratando-se de um regime especial unificado de arrecadação de tributos e contribuições devidas pelas micro e pequenas empresas.

Todos os estados da união deverão optar pelo Simples Nacional, que estabelece normas relativas à legislação tributária em todos os âmbitos da esfera do governo: federal, estadual e municipal, no que se referem às micros e pequenas empresas.

Segundo o art.13 da Lei complementar 123, de 14 de dezembro de 2006, o Simples Nacional implica o recolhimento mensal, mediante documento único de arrecadação dos seguintes impostos e contribuições:

• Imposto sobre a renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); • Imposto sobre produtos Industrializados (IPI), observando o disposto no inciso XII do § 1º da

referida lei; • Contribuição Social sobre o lucro líquido (CSLL); • Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), observando o disposto no

inciso XII do § 1º da referida lei; • Contribuição para o PIS/PASEP, observando o disposto no inciso XII do § 1º da referida lei; • Contribuição para a Seguridade Social, a cargo da pessoa jurídica, de que trata o art. 22 da Lei nº

8.212, de 24 de julho de 1991, exceto no caso das pessoas jurídicas que se dediquem as atividades de prestação de serviços previstas nos incisos XIII a XXVIII do § 1º e no § 2º do art.17 desta Lei Complementar;

• Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); e

• Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

Em 10 de Novembro de 2011 foi publicada a Lei Complementar 139, que veio alterar dispositivos da Lei Complementar 123/2006, dando novos direcionamentos para as micros e pequenas empresas optantes pelo Simples Nacional, sobretudo no que concerne ao aumento do limite da receita bruta anual para enquadramento das empresas e possibilidade de adesão ao regime simplificado. No art.2º da referida Lei está exposto, com relação aos limites de receita para enquadramento no Simples Nacional, que:

I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e

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II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

Importante destacar que houve um aumento de 50% nas faixas de faturamento para que as empresas se enquadrassem às exigências do regime, porém, as alíquotas incidentes sobre o faturamento não sofreram nenhum tipo de alteração, continuando nos mesmos percentuais e faixas constantes na Lei Complementar 123/2006.

2.2.2 Lucro Presumido

Trata-se de uma presunção por parte do fisco do que seria o lucro das organizações, antes mesmo de apurar o resultado na DRE. O lucro presumido pode ser entendido como uma forma simplificada de apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o lucro (CSLL).

A sistemática de tributação pelo Lucro Presumido é regulamentada pelos artigos 516 a 528 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR – Decreto 3.000/99). Segundo o RIR/99 art. 516, parágrafo 1º, “a opção pela tributação com base no lucro presumido será definitiva em relação a todo o ano-calendário.”

Poderá optar pelo Lucro Presumido a pessoa jurídica cuja receita bruta total, no ano-calendário anterior, tenha sido igual ou inferior a vinte e quatro milhões de reais, ou a dois milhões de reais multiplicados pelo número de meses de atividade, se as operações da empresa não começaram no início do ano. Com base RIR/99 art.516, § 3º,

A pessoa jurídica que não esteja obrigada à tributação pelo lucro real (art.246), poderá optar pela tributação com base no lucro presumido. A opção será manifesta com o pagamento da primeira ou única quota do imposto devido correspondente ao período de apuração de cada ano-calendário (Lei 9.430/1996, art. 26, parágrafo 1º).

Pelo exposto observa-se que é uma sistemática simplificada de recolhimento dos tributos e adotada por um grande número de empresas, uma vez que não se tem, nesse regime, muitas das obrigatoriedades que o regime de tributação pelo lucro real apresenta.

2.2.3 Lucro Real

Lucro real, como sua própria expressão diz, é o lucro líquido apurado pelas empresas, este mesmo lucro servirá de base para o cálculo do imposto sobre a renda das pessoas jurídicas (IRPJ) e para a contribuição social sobre o lucro íquido (CSLL), ajustados pelas adições, exclusões e compensações autorizadas pela legislação do imposto de renda.

No §1º do art. 247 do RIR/99 está descrito que para devida apuração do lucro real é necessário que estejam registrados todas as operações da empresa e que se apure o lucro líquido de cada período de apuração.Batista (2011, p.15) esclarece que:

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Estão obrigadas a ter sua apuração com base no Lucro Real as empresas que no ano-calendário anterior seu faturamento tenha sido superior a R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais), ou ao limite proporcional de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) multiplicados pelo numero de meses quando inferior a 12 (doze) meses; que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam de benefícios fiscais relativos a isenção ou redução do imposto, que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundo do exterior, entre outras considerações (RIR/99, art.246).

A tributação feita pelo lucro real exige um controle permanente da empresa com relação as suas operações, uma vez que há a necessidade de comprovação de todos os elementos que incidiram para o seu resultado, a fim de que a apuração ocorra de acordo com os ditames da lei e que a organização possa usufruir dos benefícios que o regime oferece.

2.2.4 Lucro Arbitrado

É um regime de caráter punitivo por parte do fisco, onde ocorre o arbitramento do lucro que servirá de base para o cálculo do IRPJ e da CSLL, uma vez que ocorreram omissões por parte das pessoas jurídicas que, segundo Alves (2009), deixaram de cumprir obrigações acessórias relativas à determinação do lucro real ou presumido.Fabretti (2009, p.261) esclarece as hipóteses de arbitramento:

a) Se o contribuinte, obrigado a tributação com base no lucro real, não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, ou deixar de elaborar as demonstrações financeiras exigidas pela legislação fiscal (NR); b) Se a escrituração a que estiver obrigado o contribuinte revelar evidentes indícios de fraude ou contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para: 1. Identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive a bancária; 2. Determinar o lucro real; c) Se o contribuinte deixar de apresentar à autoridade tributária os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal, ou o livro Caixa, no caso de opção pelo lucro presumido; d) Se o contribuinte optar indevidamente pela tributação com base no lucro presumido; e) Se o comissário ou o representante de pessoa jurídica estrangeira deixar de escriturar e apurar o lucro de sua atividade separadamente do lucro do comitente, residente ou domiciliado no exterior; f) Se o contribuinte não mantiver, em boa ordem e segundo as normas contábeis recomendadas, livro Razão ou fichas utilizadas para resumo e totalizar, por conta ou subconta, os lançamentos efetuados no Diário.

Observa-se que este regime de tributação é oriundo de problemas encontrados pelo fisco nas informações prestadas pelas empresas e que impossibilitam a apuração através do lucro presumido ou do lucro real, ensejando um arbitramento do lucro pela autoridade tributária.

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2.3 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

O estudo feito previamente, antes do fato gerador do tributo, com a intenção de reduzir o ônus tributário da empresa e escolher o melhor regime de tributação de forma simples elícita, entende-se como planejamento tributário, corroborado por Batista (2011, p.16), que diz que o “Planejamento Tributário é o estudo detalhado das alternativas jurídicas, que resultem na redução de custos e tributos, a fim de obter uma maior economia fiscal para a empresa.”

Oliveira (2009) diz que planejamento tributário é o conjunto de condutas da pessoa física ou jurídica destinadas a reduzir, transferir ou postergar legalmente os ônus dos tributos.

Diante dos conceitos expostos, é importante ressaltar a importância desse instrumento nas empresas, haja vista que o mesmo caracteriza-se como um meio legal de reduzir a carga tributária através da aplicação do regime tributário que melhor se adeque à situação da organização.

Melo (2009, p.13), ressalva a importância do planejamento tributário nas empresas, enfatizando que o mesmoé de grande relevância, a partir do momento que se faz uma análise, buscando o melhor regime tributário ou uma forma lícita para diminuir a carga tributária.

Verifica-se a importância da elaboração do planejamento tributário nas organizações, com o intuito de analisar qual o regime tributário que melhor se enquadra na realidade da empresa. É necessário salientar que o planejamento tributário exige certo conhecimento por parte do profissional contábil que estará encarregado de realizá-lo, pois se feito erroneamente pode tornar-se um meio para a evasão fiscal, ou seja, uma forma de redução tributária não lícita e passível de sanção.

2.3.1 Elisão e evasão fiscal

Elisão e evasão fiscal são formas de reduzir a carga tributária das empresas, sendo que a elisão fiscal utiliza-se de métodos legais, como o planejamento tributário. Já a evasão opõe-se aos meios legais e caracteriza-se como a sonegação fiscal, considerada ilícita.Neste particular Mendonça (2003,apud OLIVEIRA, 2009, p. 200) relata que,

[...] Elisão é um expediente utilizado pelo contribuinte para atingir um impacto tributário menor, em que se recorre a um ato ou a um negócio jurídico real, verdadeiro, sem vício no suporte fático nem na manifestação de vontade, que é lícito e admitido pelo sistema jurídico brasileiro.

Em contrapartida da elisão fiscal observa-se a evasão fiscal que, ainda de acordo com Oliveira (2009, p.200), apresenta-se como uma forma que “[...] o contribuinte busca, antes ou depois da submissão a uma hipótese tributária desfavorável, um modo de mascarar seu comportamento de forma fraudulenta [...].”A evasão fiscal é um meio ilegal de driblar a obrigação principal do contribuinte, que é o recolhimento do tributo, através da utilização de artifícios contrários a legislação.

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2.4 EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS

Jouclas (1998, p.15, apud LAS CASAS, 2001, p.157), indica que serviço “É um valor econômico, quase sempre acrescido de valores humanos, que visa atender à necessidade de consumidores, oferecido por meio da utilização de instalações e equipamentos destinados a atender às necessidades do usuário”.

O código civil brasileiro, instituído pela Lei 10.406/2002, em seus artigos 594 a 599, dispõe sobre prestação de serviço, evidenciando que:

Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição. Art. 595. No contrato de prestação de serviço, quando qualquer das partes não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas. Art. 596. Não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramento a retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade. Art. 597. A retribuição pagar-se-á depois de prestado o serviço, se, por convenção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou paga em prestações. Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra. Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver o contrato.

Diante do exposto, pode-se entender que as empresas prestadoras de serviços são aquelas que oferecem uma terceirização de determinada mão de obra ou serviço intelectual, tanto para pessoas físicas como pessoas jurídicas.

2.5 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

Para entender-se o processo de planejamento tributário em uma retífica de motores é preciso que sejam feitos certos esclarecimentos sobre os tributos devidos nesse tipo de prestação de serviço.

2.5.1 Tributos incidentes sobre o faturamento

2.5.1.1 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)

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O ISSQN, ou simplesmente, o Imposto sobre Serviços (ISS), é um imposto de competência dos municípios e do Distrito Federal que incide sobre o valor final do preço dos serviços. Segundo Machado (2010) o ISS tem função predominantemente fiscal e seu contribuinte é denominado prestador de serviços.

Sobre a alíquota do ISS os municípios possuem autonomia para fixá-las, desde que até 5,0% do valor do serviço. “As alíquotas do imposto são fixadas pelos municípios e podem variar, na prática atual, entre um valor fixo anual até o equivalente a 5,0% do valor dos serviços prestados” (OLIVEIRA, 2009, p.165).

Como o ISS é de competência municipal e a análise do trabalho tem como foco uma empresa situada no município de Caruaru-PE, as análises sobre este imposto têm como base a Lei Complementar 015, de 05 de janeiro de 2009, do referido município. Em seu art. 237 a LC 015 evidencia que o ISS tem como fato gerador a prática de qualquer das atividades econômicas previstas no anexo desta Lei e com relação a base de cálculo do imposto devido, a legislação diz que:

Art. 250. A base de cálculo do imposto é o preço do serviço. Art. 251. Considera-se preço do serviço tudo o que for devido, recebido ou não, em conseqüência de sua prestação, seja em moeda, bens, serviços ou direitos, inclusive a título de reembolso, reajustamento ou dispêndio de qualquer natureza, ainda que de responsabilidade de terceiros.

No município de Caruaru-PEa alíquota fixada pela LC 015/2009 é de 5% incidente sobre os serviços prestados.

2.5.1.2 Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Programa de Integração Social (PIS)

A COFINS e o PIS são tributos de competência da união, ambas incidem sobre o faturamento. A contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) foi instituída pela Lei complementar 7/70 e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) pela Lei Complementar 70/91.

Fabretti (2009, p.298) exalta que tanto o PIS como a COFINS tornaram-se tributos não cumulativos pelas Leis nº. 10.637/02 e 10.833/03. As pessoas jurídicas podem optar pela sistemática do regime cumulativo ou pelo regime não cumulativo.

O fato gerador bem como a Base de cálculo dessas contribuições federais é o faturamento mensal das pessoas jurídicas, ou seja, a receita total auferida pelas empresas.As alíquotas do PIS e da COFINS são respectivamente de 0,65% e 3,00% no regime cumulativo e de 1,65% e 7,6% no regime não cumulativo.

2.5.2 Tributos incidentes sobre o valor agregado

A retífica de motores em estudo tem como atividade secundária o comércio no varejo e atacado de autopeças, por isso devem ser levados em conta os tributos que incidem sobre o valor agregado dessas mercadorias e no caso da empresa foco desta pesquisa cita-se o imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços (ICMS).

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2.5.2.1 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

O ICMS é um imposto de competência estadual e do Distrito Federal, sendo sua arrecadação bem expressiva, é um imposto não cumulativo, ou seja, pode ser recuperado, o mesmo é regido pela Constituição Federal (CF), seus contribuintes são pessoas físicas ou jurídicas, desde que os mesmos sejam os consumidores finais da mercadoria em circulação, uma vez que as empresas quando pagam este tributo podem recuperá-lo na próxima circularização da mercadoria.

Sobre o cálculo do ICMS descreve Oliveira (2009, p.131) que o mesmo é “[...] calculado por dentro, ou seja, no preço de venda ou compra; o ICMS está inserido no valor total da nota fiscal, integrando, dessa forma, a sua própria base de cálculo.” Daí o entendimento que o ICMS é um tributo sobre o valor agregado.

A base de cálculo desse imposto será determinada pelo fato gerador, no caso de autopeças essa mercadoria está regida pela sistemática de substituição tributária, por ser comércio e não indústria, a retífica de motores caracteriza-se como o contribuinte substituído,onde um contribuinte substituto já cobra o tributo na ocasião da venda, ficando liberado o estabelecimento de novo pagamento do imposto por este já estar retido na fonte.

2.5.3 Tributos incidentes sobre o resultado

2.5.3.1 Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)

O IRPJ é um imposto de competência da União, sua principal função é a redistribuição da renda. Segundo o Art.43 do Código Tributário Nacional o fato gerador desse imposto é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou proventos de qualquer natureza, no caso o acréscimo ao patrimônio.

Corroborando com o conceito legal, Machado (2010, p.338) dizque “Em se tratando da pessoa jurídica, a base de cálculo do imposto é o lucro, que pode ser, conforme o critério de determinação, real, arbitrado e presumido”.

A alíquota do IRPJ é de 15% e o mesmo deve ser apurado mensalmente por estimativa, trimestralmente ou anualmente, de acordo com o regime de tributação seguido. Quando o lucro líquido ultrapassa a vinte mil reais o RIR/99, em seu art.228, parágrafo único, diz que o excedente a esse valor está sujeito a um adicional cuja alíquota é de 10%, esse cálculo deve ser demonstrado no livro de apuração do lucro real (LALUR).

2.5.3.2 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)

Bem como o IRPJ a CSLL também é um imposto de competência da União, tem como objetivo financiar a seguridade social através dos lucros alcançados pelas empresas equiparadas pela legislação do imposto de renda.

Ainda sobre a CSLL, Oliveira (2009, p.118) diz que,

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Para as empresas tributadas pelo lucro real, a CSLL deverá ser apurada trimestralmente, encerrada nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário, com base no resultado do exercício, antes da Provisão para IRPJ, ajustado pelas adições, exclusões e compensações estabelecidas na legislação.

A alíquota aplicada à CSLL é de 9% sobre a base de cálculo e diferentemente do IRPJ, esta contribuição não terá qualquer tipo de adicional, não importando o valor do lucro apurado no período.

3 PROCEDER METODOLÓGICO

A presente pesquisa utilizou-se do método dedutivo, uma vez que teve como base textos que tratam da temática abordada a fim de ter uma fundamentação na literatura produzida por autores que tratam da contabilidade tributária e do planejamento tributário.

Quanto aos objetivos a pesquisa teve um enfoque descritivo, haja vista que se pretendeu descrever o passo a passo de um planejamento tributário aplicado a uma empresa prestadora de serviços do município de Caruaru-PE, Beuren (2006) ressalta a importância deste tipo de pesquisa em Contabilidade, pois esclarece determinadas características ou aspectos inerentes a ela.

Quanto aos procedimentos, foi realizado um estudo de caso, por estar baseado em dados reais de uma empresa prestadora de serviços. Beuren (2006, p.84) expõe: “A pesquisa estudo de caso caracteriza-se principalmente pelo estudo concentrado de um único caso. Esse estudo é preferido pelos pesquisadores que desejam aprofundar seus conhecimentos a respeito de determinado caso específico”. Também foram utilizadas como técnicas a revisão na literatura concernente ao tema e a pesquisa documental.

Quanto à abordagem do problema a pesquisa caracterizou-se como qualitativa. Neste particular Beuren (2006, p.92) diz que “Na pesquisa qualitativa concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. [...]” Por isso as conclusões tiradas através da aplicação do planejamento tributário nesta empresa buscaram destacar características da mesma.

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

O processo de planejamento tributário em uma retífica de motores inicia-se com o levantamento de informações relevantes para a aplicação dos tributos com o intuito de observar qual regime de tributação é mais vantajoso para a empresa. De posse das informações do exercício de 2011, foi possível dar início ao planejamento tributário na empresa em estudo e de acordo com os dados coletados, foram produzidas as seguintes informações:

Tabela 1 - Faturamento do exercício de 2011

Mês Faturamento de Peças

Faturamento de Serviços Total

Janeiro/2011 R$74.185,00 R$51.198,81 R$

125.383,81

Fevereiro/2011 R$85.373,54 R$71.504,86 R$

156.878,40 Março/2011 R$81.191,04 R$72.683,46 R$

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Universidade Federal de Pernambuco VI Seminário UFPE de Ciências Contábeis, 25 e 26 de Outubro de 2012, CCSA/UFPE

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153.874,50

Abril/2011 R$93.415,49 R$70.053,61 R$

163.469,10

Maio/2011 R$ 101.862,52 R$76.454,18 R$

178.316,70

Junho/2011 R$ 129.183,92 R$71.470,70 R$

200.654,62

Julho/2011 R$ 137.128,34 R$70.431,70 R$

207.560,04

Agosto/2011 R$ 137.394,76 R$97.400,55 R$

234.795,31

Setembro/2011 R$ 114.504,63 R$90.730,25 R$

205.234,88

Outubro/2011 R$ 109.317,50 R$81.819,65 R$

191.137,15

Novembro/2011 R$ 104.968,83 R$78.020,70 R$

182.989,53

Dezembro/2011 R$ 108.099,93 R$74.022,39 R$

182.122,32

Total

R$1.276.625,50 R$905.790,86 R$2.182.416,36 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A tabela 1 evidencia um dos principais pontos necessários para o processo de planejamento tributário, que é o faturamento anual da empresa no exercício analisado (2011).

Tabela 2 - Despesas operacionais de 2011 Despesas Valores

Custos R$

758.682,71

Despesas com pessoal R$

210.702,96 Despesas Administrativas

R$ 272.480,29

Despesas Financeiras R$

9.194,73

Despesas Tributárias R$

5.310,84

Total R$ 1.306.371,53

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A tabela 2 demonstra as despesas operacionais do exercício de 2011, esses dados são de grande relevância, pois serão utilizados na DRE onde será apurado o lucro real, para que assim seja possível obter a base de cálculo para o IRPJ e a CSLL.

Tabela 3 - Cálculo do Simples Nacional a pagar

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Mês Receita Peças Alíquota

Simples a pagar

Receita de Serviços Alíquota

Simples a pagar

Total a pagar

Janeiro/2011 R$74.185,00 5,58%

R$4.139,52

R$51.198,81 12,68% R$6.492,01 R$

10.631,53

Fevereiro/2011 R$85.373,54 9,03%

R$7.709,23

R$71.504,86 13,55% R$9.688,91 R$

17.398,14

Março/2011 R$81.191,04 6,02%

R$4.887,70

R$72.683,46 13,68% R$9.943,10 R$

14.830,80

Abril/2011 R$93.415,49 9,95%

R$9.294,84

R$70.053,61 14,93% R$

10.459,00 R$

19.753,84

Maio/2011 R$ 101.862,52 6,57%

R$6.692,37

R$76.454,18 14,93% R$

11.414,81 R$

18.107,18

Junho/2011 R$ 129.183,92 6,63%

R$8.564,89

R$71.470,70 15,06% R$

10.763,49 R$

19.328,38

Julho/2011 R$ 137.128,34 6,68%

R$9.160,17

R$70.431,70 15,20% R$

10.705,62 R$

19.865,79

Agosto/2011 R$ 137.394,76 6,81%

R$9.356,58

R$97.400,55 15,48% R$

15.077,61 R$

24.434,19

Setembro/2011 R$ 114.504,63 7,41%

R$8.484,79

R$90.730,25 16,85% R$

15.288,05 R$

23.772,84

Outubro/2011 R$ 109.317,50 7,47%

R$8.166,02

R$81.819,65 16,98% R$

13.892,98 R$

22.059,00

Novembro/2011 R$ 104.968,83 7,54%

R$7.914,65

R$78.020,70 17,13% R$

13.364,95 R$

21.279,60

Dezembro/2011 R$ 108.099,93 7,54%

R$8.150,73

R$74.022,39 17,13% R$

12.680,04 R$

20.830,77

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Na tabela 3 está expresso o cálculo para fins de apuração do Simples Nacional, onde se aplica a alíquota determinada pelo anexo I para o comércio e anexo III para operações de prestação de serviços (ambos os anexos regidos pela Lei Complementar 123/2006), na receita auferida no mês. No ano de 2011 foi possível observar uma variação nas alíquotas, porém, o cálculo é automático e feito pelo sítio do Simples Nacional, consequentemente as alíquotas variam de acordo com a faixa do faturamento dos anexos da LC 123/2006.

Tabela 4 - Cálculo do Lucro Presumido

Tributos Faturamento Alíquota Imposto a pagar

PIS R$ 2.182.416,36 0,65%

R$ 14.185,71

COFINS R$ 2.182.416,36 3,00%

R$ 65.472,49

IRPJ R$ 2.182.417,36 1,20%

R$ 26.189,01

CSLL R$ 2.182.417,36 1,08%

R$ 23.570,11

ISS R$905.790,86 5,00% R$ 45.289,54

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Para cálculo dos tributos apurados pelo lucro presumido, quanto ao PIS e a COFINS aplica-se a alíquota na receita bruta auferida. O IRPJ e CSLL são calculados pela presunção, que corresponde à

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aplicação de 8% sobre o faturamento e no resultado dessa operação aplica-se a alíquota do imposto, 15% para o IRPJ e 9% para a CSLL. O ISS aplica-se a alíquota correspondente sobre o valor do faturamento de serviços.

Tabela 5 - Apuração do Lucro Real DRE - Demonstração do Resultado do

Exercício Receita Bruta R$ 2.182.416,36 (-) Deduções da Receita R$247.163,04

PIS S/ Vendas R$

36.009,86 COFINS S/ Vendas R$165.863,64 ISS R$ 45.289,54 (=) Receita Líquida R$ 2.429.579,40 (-) CMV R$758.682,71 (=) Lucro Bruto R$ 1.670.896,69 (-) Despesas Operacionais R$547.688,82 (=) Lucro antes do IR R$ 1.123.207,87

(=) Lucro Líquido R$

1.123.207,87 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Para fins de apurar o lucro líquido para cálculo do IRPJ e CSLL tributados pelo Lucro Real deve-se utilizar a DRE, conforme a tabela 5.

Tabela 6 - Recuperação dos Tributos Tributos Valores

PIS S/ vendas R$36.009,87 PIS a Recuperar R$12.301,64 PIS A RECOLHER R$23.708,23

COFINS S/ vendas

R$165.863,64 COFINS a Recuperar R$56.662,11 COFINS A RECOLHER

R$109.201,53

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A tabela 6 evidencia a apuração dos tributos recuperáveis nas compras, o ICMS não foi considerado como recuperávelpois a atividade de autopeças está regulamentada pela Substituição Tributária com liberação, neste caso o ICMS para a empresa em estudo já está recolhido. No ano de 2011 a empresa objeto de estudo fez compras a empresas tributadas pelo lucro real que totalizaram R$ 745.554,07, sobre esse valor aplica-se a alíquota do PIS e COFINS e abate-se do valor a pagar pelas vendas.

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Tabela 7 - Tributos a pagar pelo Lucro Real

Tributos Alíquota Imposto a pagar

PIS 1,65% R$23.708,23

COFINS 7,60% R$

109.201,53 ISS 5,00% R$45.289,54

IRPJ 15,00% R$

168.481,18

CSLL 9,00% R$

101.088,71 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Na tabela 7 constam os impostos a pagar pelo Lucro Real, onde o IRPJ e CSLL são calculados através da aplicação das alíquotas no lucro líquido encontrado na Tabela 5. PIS e COFINS são aplicadas às alíquotas no valor das vendas e deduzidas os créditos demonstrados na Tabela 6. O ISS corresponde a 5% do valor do faturamento dos serviços.

Tabela 8 –Análise comparativa entre os regimes COMPARATIVO REGIMES DE TRIBUTAÇÃO

TRIBUTOS SIMPLES NACIONAL

LUCRO PRESUMIDO

LUCRO REAL

PIS - R$14.185,71 R$23.708,23 COFINS - R$65.472,49 R$109.201,53 IRPJ - R$26.189,01 R$168.481,18 CSLL - R$23.570,11 R$101.088,71 ISS - R$45.289,54 R$45.289,54 ICMS R$30.555,68 - - SIMPLES R$232.292,06 - -

TOTAL R$262.847,74 R$

174.706,85 R$447.769,19 Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Os dados constantes na Tabela 8 expressam o comparativo entre as cargas tributárias de cada um dos regimes possíveis de serem optados pela empresa em estudo. O ICMS na coluna do Simples Nacional trata do diferencial da alíquota que é cobrada na fronteira, nos demais regimes a empresa não recolhe o ICMS devido à substituição tributária.

5 CONCLUSÃO

A carga tributária paga pelas empresas brasileiras é muito alta e para minimizar os seus efeitos sobre o resultado das empresas uma alternativa é realizar um planejamento tributário, ou seja, realizar um estudo e, de forma lícita, verificar as melhores alternativas de redução dos tributos pagos pela organização.

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Ressalta-se quão importante é um planejamento tributário para as empresas, pois se estas não estiverem enquadradas no regime que melhor se adeque à sua realidade, podem pagar mais tributos do que deveriam e, consequentemente, terem um redução nos seus lucros.

De acordo com o estudo feito em uma empresa prestadora de serviços de retífica de motores, optante pelo Simples Nacional, observou-se que haveria uma redução da carga tributária se a mesma optasse pelo lucro presumido, pois seu faturamento se enquadra em uma alíquota alta para o Simples Nacional, o que redunda em um valor de tributos a pagar de R$ 262.847,74 considerando o desembolso do ICMS Fronteira. Já se optasse pelo regime do Lucro Presumido, o valor dos tributos a serem pagos seria de R$ 174.706,85, ou seja, umaredução tributária, no período analisado, de R$ 88.140,89.

Quanto aopção pelo Lucro Real, face ao nível de compras realizadas pela empresa ser bem menor que as vendas, além de não terem sido verificadas muitas despesas, o que torna o lucro líquido alto, esse regime torna-se uma opção inviável no que concerne à redução da carga tributária.

De acordo com o exposto, conclui-se que é de grande relevância proceder-se à realização de um planejamento, uma vez que há a possibilidade de analisar o melhor regime de tributação para a empresa, como ficou evidenciado no estudo de caso feito na organização foco do estudo, onde a mesma se encontrava em um regime que aumentava substancialmente o valor de tributos a ser pago, podendo reduzir esse valor em cerca de 33% caso optasse pela mudança de regime, podendo desta forma ter uma maior competitividade perante a concorrência e aumentar os seus resultados.

É importante ressaltar que deve ser feita uma análise criteriosa empresa a empresa para que seja verificado o melhor regime de tributação, uma vez que é um conjunto de elementos que permitem que o estudo seja feito e a realidade observada numa empresa pode ser bem distinta da verificada em outra, o que demanda do profissional contábil uma prestação de serviço de qualidade, com controle de todos os fatos que ocorrem nas organizações, a fim de que possam evidenciar aos gestores os elementos que lhes permitirá administrar da melhor forma, auferindo bons resultados.

REFERÊNCIAS

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_______. Lei Complementar 015, de 05 de janeiro de 2009. Regula os direitos e obrigações que emanam das relações jurídicas referentes a tributos e demais rendas que constituem receita do Município de Caruaru. _______, Lei complementar 139, de 10 de Novembro de 2011. Altera dispositivos da Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de 2006, e dá outras providências. Acesso eletrônico. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br >. Acesso em 15.05.2012. _______, Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. Acesso eletrônico. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br >. Acesso em 16.05.2012. ________, Lei Nº. 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Acesso eletrônico. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br> . Acesso em 17.05.2012. CHAVES, Francisco Coutinho; MUNIZ, Érika Gadêlha. Contabilidade tributária na prática. São Paulo: Atlas, 2010. FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade tributária. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2009. LAS CASAS, Alexandre Luzzi (Org.). Novos rumos do marketing. São Paulo: Atlas, 2001. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 31. ed.rev.atu.eamp. São Paulo: Malheiros, 2010. MELO,Clebiane Maria Magalhães de. Um estudo sobre o auxílio dos escritórios contábeis na escolha do regime tributário para micro e pequenas empresas através do planejamento tributário no município de Caruaru-PE.Trabalho de conclusão do curso de Ciências Contábeis da FAFICA, Caruaru, 2009. OLIVEIRA, Gustavo Pedro de. Contabilidade tributária. 3. ed.rev. e atu. São Paulo:Saraiva, 2009. OLIVEIRA, Luís Martins. Manual de contabilidade tributária. São Paulo: Atlas, 2003. SANTANA, Irailson Calado. Carga tributária no Brasil – 2010. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudoTributarios/estatisticas/CTB2010.pdf>. Acesso em 20.03.2012.