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Apresentação

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Apresentação Ângela Maria Rocha

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o2º E N C O N T R O D E C U L T U R A E E X T E N S Ã O D A F A U U S P / 2 0 0 7 ANAIS

O segundo encontro de Cultura e Extensão Universitária da FAU foi realizado nos dias 28, 29 e 30 de maio de 2007 abarcando a ação efetuada no quadriênio 2003-2007 sob o tema “Universidade/cidade: ações e limites”, coincidindo com o lançamento dos Anais do primeiro desses en-contros. Esse primeiro encontro, realizado em 2003, resultou do processo de reconhecimento das atividades de Cultura e Extensão Universitária que vinham sendo realizadas pelos diversos Laboratórios vinculados aos Depar-tamentos da FAU, pelos seus setores técnicos, muitas delas desenvolvidas como extensão de atividades de pesquisa e ensino e algumas delas com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária através do Fundo de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão Universitária. Esse segundo encontro, que contou com a coordenação dos membros do Departamento de Projeto representantes na Comissão de Cultura e Ex-tensão da FAU: Profa. Dra.Cibele Haddad Taralli e Profa. Dra. Clice Sanjar Mazzilli, propôs o debate sobre as interferências, ações e questionamentos referentes à relação entre as iniciativas da comunidade da FAU/USP e a Cidade. Uma ação que, requerendo a união entre ensino e pesquisa, ob-jetive levar o melhor daquilo que vinha sendo produzido e avaliado pela comunidade da FAU/USP.

A comissão organizadora encaminhou convite aos professores coordena-dores dos projetos apresentados ao Fundo de Cultura e Extensão Universi-tária (hoje Fundo de Fomento às Iniciativas em Cultura e Extensão Universi-tária) em 2004, 2005 e 2006, convidando-os à participação nesse encontro, trazendo as experiências que vinham desenvolvendo nas relações UNIVER-CIDADE/CIDADE, considerando a temática proposta pelo encontro:

“Inúmeros professores individualmente e os departamentos institucio- nalmente têm atuado nessa direção, ao lado dos Laboratórios, interagindo com o Fundo de Cultura da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, ou obtendo recursos de outras fontes; igualmente o alunato se engaja em muitas das ações, dentro da própria Escola e de outros âmbitos; por outro lado os serviços de apoio didático têm mantido uma série de ações também dentro deste tema, sempre com a supervisão de um docente cuja pesquisa e o ensino se voltam para tais iniciativas, assim sendo tipicamente uma prática de extensão.

O que fazemos? Qual o público alvo? Como este se manifesta? Quais as ações continuadas? Por que algumas iniciativas tão significativas ficam episódicas? Estamos documentando ou divulgando para outro público dis-tante, por meio de inserção em Anais de Seminários, ou em mídia digital? Quem são os interlocutores? Quais os limites dessas atuações? Como isto tem retornado para aprimorar o ensino e a pesquisa da FAU/USP?

O processo de institucionalização extensionista na USP data de 26 de junho de 2002, embora a criação da Universidade de São Paulo seja de 1934.

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Como se constata a iniciativa é recente, demandando reflexões acerca das pos-sibilidades, perante os desafios e a própria ação, objeto de nosso encontro.”

A Comissão de Cultura e Extensão da FAUUSP convidou também os estu-dantes, funcionários e professores da faculdade para participarem do evento. A chamada para o envio dos trabalhos solicitou a entrega na data do semi-nário do texto integral para ser reproduzido nos Anais pretendendo-se tam-bém a gravação e transcrição dos debates para complementar a publicação.

Esse segundo encontro realizou-se na FAU em greve, sendo considerado como parte das atividades realizadas nesse momento na faculdade e que abordavam fundamentalmente as relações entre universidade e sociedade.

Os temas organizados em cinco mesas redondas para apresentação dos trabalhos e debates foram: 1.PROJETAR PARA QUE CIDADE? TROCAS E LIMITES; 2.CIDADE: ENSINO E APRENDIZAGEM; 3.CIDADE: MEMÓRIA E AÇÃO; 4. CIDADE: DOCUMENTO E REPRESENTAÇÃO e 5.CIDADE: POLÍTI-CA PÚBLICA e é desse modo que são apresentados aqui.

Somente agora tornou-se possível trazer a público os Anais desse segundo encontro, mesmo transcorrido algum tempo do evento. Não houve grava-ção passível de ser transcrita e, mesmo depois da entrega dos trabalhos apresentados para publicação, incidentes e perdas no processo de edição, muitas idas e vindas de textos e formatações, levaram a atrasos inusitados, ficando finalmente editados, à espera de uma última revisão. Como dito acima, as atividades extensionistas somente foram institucionalizadas em junho de 2002. Têm sido objeto de reformulações e debates na univer-sidade. Na FAU, além das inúmeras atividades existentes, também o pro-grama de bolsas para a graduação “Aprender com cultura e extensão” tem despertado interesse por esse campo de ação. Os projetos apresentados ao Fundo de Incentivo à Cultura e Extensão manifestam a participação de alunos e professores e há também outras possíveis atividades a serem re-alizadas, através dos departamentos, laboratórios e mesmo por alunos e professores interessados em coordenar essas atividades, entre elas a cria-ção de cursos de especialização, de difusão ou residência por exemplo. A necessidade de conhecer o que já vem sendo realizado é importante para caracterizar como a universidade tem entendido e construído as atividades extensionistas, valorizar institucionalmente tais atividades e abrir novos caminhos para o que tem por realizar. Os trabalhos apresentados nos dois encontros, através de seus exemplares impressos podem sempre oferecer referências compartilhadas sobre as atividades de Cultura e Extensão das quais a CCEUFAU tem sido testemunha desde a sua criação e sugerir a am-pliação dessas práticas que se integram na vida das comunidades.

O presente volume também poderá ser encontrado em versão digitali-zada no site da FAUUSP.

Profa Dra. Angela Maria RochaPresidente da Comissão de Cultura e Extensão Universitária da FAUUSP

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Indi

ce2º E N C O N T R O D E C U L T U R A E E X T E N S Ã O D A F A U U S P / 2 0 0 7 ANAIS

Apresentação ......................................................................................................................... 2

MESA 1

Projetar para qual cidade? Trocas e limites ................................................. 6Coordenação Profa. Cibele Taralli

DEPOIMENTOS

Plano diretor de Cajamar .................................................................................................. 8Profa. Heliana Comin Vargas

Profissionais da cidade ..................................................................................................... 12Profs. Maria Ruth Amaral de Sampaio e Paulo César Xavier Pereira

Ciclovias ..................................................................................................................................... 16Prof. Alexandre Delijaicov, Inês P. Bonduki, Juliana Silva, Maria João Figueiredo, Tatiana G. Ozzetti e Tatiana T. Barossi

MESA 2

Cidade ensino e aprendizagem ........................................................................... 24Coordenação Profa. Clice de Toledo Mazzilli

DEPOIMENTOS

História da paisagem ......................................................................................................... 26Prof. Euler Sandeville

Vídeo Roberto Burle Marx ............................................................................................. 38Profa. Klara Kaiser Mori

Objeto de ensino objeto de aprendizado Cesad ............................................ 44Prof. Jorge Dantas

MESA 3

Cidade, memória e ação ............................................................................................ 48Coordenação Profa. Ângela Maria Rocha

DEPOIMENTOS

Ruínas engenho São Jorge dos Erasmos .............................................................. 50Profa. Maria Cecília França Lourenço

Amantes de fotografia ..................................................................................................... 58Profa. Maria Lúcia Bresan e Cândida Maria Vuolo

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

MESA 4

Cidade documentação e representação ....................................................... 62Coordenação Profa. Maria Cecília Loschiavo

DEPOIMENTOS

Vídeo Lelé: design e responsabilidade social ..................................................... 64Fernanda Bonatti

Referências culturais e ambiente ............................................................................... 66Profa. Ângela Maria Rocha

Arquivo histórico municipal Washington Luís .................................................. 70Profa. Beatriz Piccolotto Bueno

Vídeo Olhar a FAU .............................................................................................................. 74Tatyane Bandeira

MESA 5

Cidade: política pública .............................................................................................. 80Coordenação Profa. Ana Lúcia Duarte Lanna

DEPOIMENTOS

Serviço de biblioteca e informação .......................................................................... 82Eliana de Azevedo Marques

Espaço cultural Cohab Raposo Tavares ................................................................ 86Prof. Antônio Carlos Barossi

Laboratório de Habitação .............................................................................................. 96Profa. Maria Lúcia Refinetti

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Mes

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PROJETAR PARA QUAL CIDADE? TROCAS E LIMITES

Coordenação dos debates

Professora Cibele Taralli

Depoimentos

Plano diretor de Cajamar

Professora Heliana Comin Vargas

Profissionais da cidade

Professora Maria Ruth Amaral de Sampaio

Professor Paulo César Xavier Pereira

Ciclovias

Professor Alexandre Delijaicov

Inês P. Bonduki

Juliana Silva

Maria João Figueiredo

Tatiana G. Ozzetti

Tatiana T. Barossi

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Depoimentos Heliana Comin Vargas

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s2º E N C O N T R O D E C U L T U R A E E X T E N S Ã O D A F A U U S P / 2 0 0 7 ANAIS

Plano diretor por quem e para quem: a experiência em curso no município de Cajamar

Este trabalho pretende refletir sobre a experiência que vem sendo de-senvolvida no município de Cajamar, no processo de acompanhamento à elaboração de seu Plano Diretor Municipal, originado a partir de uma demanda da sociedade civil cajamarense, já envolvida com um processo de conscientização da população para as questões urbanas e ambientais.

O que diferencia este trabalho é que a assessoria tem sido feita para a socie-dade civil, a partir da solicitação de lideranças locais, as quais têm buscado dialogar com o poder público e discutir as ações em curso.

Nesse sentido, a primeira discussão que se apresenta refere-se às mudan-ças de posicionamento do poder público, da sociedade civil organizada e das entidades detentoras do pretenso saber técnico, nos atuais processos de planejamento e gestão urbanos que este trabalho tem permitido iden-tificar.

Sempre acostumados a atuar como assessores ou como parte inte-grante de equipes técnicas de apoio ao poder público na elaboração de planos diretores, a experiência que vimos desenvolvendo no mu-nicípio de Cajamar, na qualidade de assessora técnica de empresa que compõe a sociedade civil no processo de elaboração de seu Plano Diretor, tem exigido uma reflexão sobre os papéis assumidos pelos diversos atores.

Tendo já, o município de Cajamar, uma experiência de participação da sociedade civil desde 19981, liderada pela empresa Natura Cosméticos S. A. e a ONG Mata Nativa, o envolvimento com o processo de elaboração do Plano Diretor foi uma conseqüência desse processo.

A demora da prefeitura em agir no sentido da elaboração do Plano Di-retor, com data certa para ser concluído (outubro de 2006) e o processo pouco democrático que se estabelecia, fez com que este mesmo grupo realizasse algumas ações no sentido da cobrança e questionamento dessa atuação, a qual passou a contar com assessores técnicos na área de economia e planejamento urbano.

O envolvimento nessa assessoria iniciou-se com a elaboração de pa-recer técnico sobre minuta de lei do Plano Diretor, elaborada pela pre-feitura, em março de 2006. Minuta essa que não apresentava nenhum suporte em estudos e diagnósticos técnicos sobre o município, ou em

PLANO DIRETOR DE

CAJAMAR

(1) A empresa Natura S. A. implantou,

em 1998, um programa de ação social em parceria

com a comunidade de Cajamar, para a identificação e

fortalecimento das lideranças locais,

abrindo um diálogo com o setor público.

Criou, então, o Programa Cidadão

em Movimento, entre 1998-2002; a área

de responsabilidade corporativa, em 2003;

a implementação da Agenda 21, formando uma

relação tripartite -Prefeitura – Mata

Nativa, Natura, entre 2003-2006; os fóruns

na comunidade, com lideranças em 2004; e a gerência de relações com a

comunidade em 2006. Informação

retirada da apresentação “ Natura e o

relacionamento com as comunidades do

entorno”, por Isabel Ferreira, 2006.

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Depoimentos Heliana Comin Vargas

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

qualquer participação da comunidade na definição de seus objetivos e diretrizes. Esse parecer, de certa forma, detonou um processo de ques-tionamento dos procedimentos do poder público local quanto à elabo-ração do plano diretor, e da urgência legal de sua finalização. Também foi realizada uma apresentação na Câmara de Vereadores, visando informá-los e conscientizá-los sobre a importância de um Plano Diretor.

Assim, a elaboração do plano que costuma ser uma iniciativa do poder público local, como exigência constitucional, acabou sendo decorrência de uma pressão da comunidade local.

As discussões na comunidade culminaram com a contratação de uma empresa, com escopo e valores contratuais, a nosso ver incompatíveis com a dimensão de um trabalho necessário à elaboração de um plano diretor de qualidade satisfatória.

Diante da forma como o processo estava sendo conduzido, a sinalizar para uma mera legitimação dos objetivos e diretrizes já estabelecidas, a interferência dos setores mais ativos da sociedade civil cajamarense, com a qual nos envolvemos, foi fundamental para promover uma mudança de rumo, contribuindo para a formação e atuação junto ao comitê gestor do Plano Diretor, e na participação nas plenárias públi-cas realizadas nos diversos distritos.

Esse processo de discussão acabou ignorando a data limite para a realiza-ção do Plano, permitindo avanços de conteúdo e de envolvimento com a comunidade. Uma série de reuniões públicas foram realizadas nos bairros, com conteúdos elaborados e discutidos pelo grupo gestor, composto por técnicos da prefeitura, representantes da sociedade civil, os assessores técnicos contratados pela empresa Natura, e dos técnicos da empresa contratada pela prefeitura.

Posteriormente, durante o processo de redação das diretrizes do Plano Diretor, pensado para o primeiro trimestre de 2007, a Câmara Municipal aprovou uma lei de ampliação do perímetro urbano que incorporou quase a totalidade do município, contrariando as discussões levadas adiante nas diversas reuniões públicas realizadas, e à revelia da consul-toria contratada pela prefeitura2.

No momento, a tarefa de interferir na elaboração da lei do Plano Diretor do Município de Cajamar continua sendo a de contribuir e subsidiar, tecnicamente, os diversos atores envolvidos com sua elaboração: a so-ciedade civil, a prefeitura e a empresa de consultoria por ela contratada.

(2) O que nos faz crer que foi à revelia da consultoria encarregada da revisão/ elaboração do Plano Diretor, é que a minuta da lei do plano diretor, elaborada em março de 2007, não contemplava o conteúdo da nova lei de ampliação do perímetro urbano de janeiro de 2007.

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Depoimentos Heliana Comin Vargas

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s2º E N C O N T R O D E C U L T U R A E E X T E N S Ã O D A F A U U S P / 2 0 0 7 ANAIS

Diante desse quadro é necessário tentar entender qual é o papel do poder público local nesse processo e para quem o plano diretor está sendo elaborado?

As indicações da primeira minuta de lei elaborada em março de 2006 e a lei de ampliação do perímetro urbano indicam a opção pela atua-ção de grupos imobiliários no sentido de uma rápida urbanização do território. Sem, no entanto, visualizar-se qualquer garantia de oferta de infra-estrutura e serviços na mesma proporção, o que agravaria a situa-ção do município o qual não tem conseguido absorver, minimamente, o crescimento urbano atual, e sem qualquer preocupação com as ques-tões de ordem ambiental.

A questão é por quem ele está sendo elaborado do ponto de vista da competência técnica e qual a submissão do saber técnico às exigências que emanam do poder público local e, conseqüentemente, dos interes-ses de grupos específicos.

O que podemos mais uma vez confirmar é que cada vez menos pre-parados estão os pretensos técnicos que adentram o setor público, remetendo-nos à má formação que estão recebendo. Essa situação tem levado, ainda, a uma menor capacidade de interferir no escopo dos trabalhos a serem terceirizados e na decisão das empresas a serem con-tratadas. Logicamente, possibilidades de contratação, sem licitação, de empresas de notória especialização, diminui as opções e tem conduzido a um privilégio a navegar contra o interesse de capacitação técnica e de excelência dos trabalhos. O que também merece outra reflexão.

Essa situação tem exigido menos competência dos setores privados cujo oportunismo na conquista de contratos se sobrepõe à excelência dos resultados. Nesse processo, explicitam-se a conivência do pseudo-saber técnico, regido pela incompetência e pela busca de oportunida-des imediatas e a qualquer custo, já que o erro técnico tem passado muito distante de qualquer possibilidade de punição.

Por outro lado, o desconhecimento das questões urbanas, em seu viés técnico e político e em seu caráter sistémico, pelos diversos agentes envolvidos na produção do espaço urbano, tem impedido a percepção de, com territórios bem administrados e planejados, as vantagens pode-rem ser absorvidas democraticamente, e até mesmo, ampliadas para as empresas por meio de dispositivos oferecidos pelos selos de responsa-bilidade social, dentre outros mecanismos.

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Depoimentos Heliana Comin Vargas

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A segunda questão se refere aos alcances e limites de nossa atuação como instrumento de mudança social, enquanto Universidade envolvi-da com os serviços de extensão à comunidade.

Nossa participação nessas reuniões públicas nas quais se discutiam questões locais exigia uma forma de envolvimento a ser descoberto, pois, não éramos munícipes nem técnicos contratados pelo poder pú-blico a quem se outorgava o saber técnico, tampouco representávamos um grupo expressivo da sociedade civil. Nossa presença foi, pouco a pouco, sendo absorvida e aceita pela comunidade mais presente e pelos técnicos da prefeitura, a partir das intervenções realizadas e dos textos de apoio elaborados que buscaram sempre uma linguagem de fácil compreensão, e foram incorporados, ainda que de forma precária, na redação das diretrizes encaminhadas pela empresa de consultoria contratada para a elaboração do Plano.

Essa experiência tem nos permitido refletir sobre:

– a importância: da transmissão do saber técnico para a população local, a partir do entendimento das questões locais, obtidas junto à população;

– a importância da aproximação da linguagem académica e técnica com a de uso cotidiano;

– a importância da transmissão do saber técnico como contribuição à formação de quadros do governo local;

– o papel atual do poder público e as formas de controle por parte da população local;

– o fato de o significado de competência técnica precisar ser constan-temente avaliado, mesmo que a atuação passada tenha fornecido essa notória especialização.

Finalmente, além de poder contribuir para uma conscientização e trans-missão de conhecimentos como extensão à comunidade, os pareceres, textos e aulas elaborados se rebatem, fortemente, como insumo à pesquisa e ao ensino, na medida em que incorporam e promovem uma reflexão sobre a prática.

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Depoimentos Maria Ruth Amaral de Sampaio e Paulo César Xavier Pereira

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sProjetar, para qual cidade?

O objetivo desse texto é assinalar questões recorrentes que envolvem a possibilidade e o limite de projetar cidades, e sugerir, a partir de experiências recentes, como a universidade pode contribuir com seu trabalho de produzir e difundir conhecimento sobre a cidade, ao es-tabelecer relações de troca que conduzem à construção da cidadania, para lá e para cá dos muros.

Há quem imagine que, se forem substituídos os muros da cidade da Idade Média pela periferia teremos a cidade contemporânea; ou, ao contrário, se colocarmos muros nas periferias modernas, teremos a cidade medieval. Realmente, não parece ser tão simples assim, princi-palmente, quando pensamos que hoje, apesar da aparência contrária, há maior vontade de justiça e conhecimento disponível para projetar a cidade. Mas, qual cidade?

Embora a palavra cidade seja muito imprecisa, no ensino da arquite-tura e urbanismo universitário, temos entendimentos consagrados, que, se bem garimpados, podem não obscurecer as ambigüidades de nossa sociedade e, além de revelar suas contradições, apontar suas possibilidades.

Por exemplo, o arquiteto italiano Marino Folin considera a cidade como espaço físico utilizado para o capital; de outro lado, o urbanis-ta Manuel Castells, a considerou como o lugar privilegiado da força de trabalho1. Certamente, encontraríamos muitas outras definições. Todavia, não se trata aqui de discutí-la de maneira acadêmica, até porque acreditamos que o uso constante da palavra cidade por plane-jadores e suas recentes adjetivações cientificas (cidade global, cidade ilegal, etc.) tem resultado sempre em interpretações insuficientes e reducionistas da realidade2.

Não bastasse essa indefinição do que é o objeto-cidade, há também sua abrangência ilimitada e o alcance de seus efeitos quase sem fron-teiras, quando lembramos a afirmação de Le Goff3 recorda: a “cidade construída para os vivos também mudou quanto ao lugar dos mortos”. Por isso pode parecer difícil responder à pergunta: projetar, para qual cidade? Mas, desde que, para respondê-la não nos percamos em suas trocas, em suas ruas e descaminhos que nada mais são do que os des-dobramentos das contradições e ambigüidades de um lugar de poder, do qual a cidade é a sede. É o centro de movimentos conhecidos e novos, que lhe dá a consistência, a persistência e também a capacidade de mudar.

(1) Ver: Castells (1972) em La question urbain

ou Marino Folin (1975, p. 31), “Por

ciiidad entendemos el resultado de Ia

utilización capitalista dei espacio físico: esto

es sin ninguna otra adjetivación ‘naturaleza histórica’. “ em Ciudad

dei capital.

(2) Ver: Bresciani, M. S. (Org.). Palavras da cidade. Porto Alegre:

Ed. UFRGS de Ia Universidad, 2001, p.

261a 284.

(3) Ver: LeGoff, Jacques (1998) Por

amor às cidades: São Paulo: ed. UNESP

p.11.

PROFISSIONAIS DA CIDADE

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Depoimentos Maria Ruth Amaral de Sampaio e Paulo César Xavier Pereira

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Por tanto é para conhecê-la e projetá-la que se coloca no epicentro desse furacão a necessidade de enfrentar a crise das cidades contemporâneas e, por amor à vida que nelas se realiza, devemos nos colocar em defesa do homem projetando cidade para a construção de uma sociedade demo-crática, saudável e mais justa. Nesse projeto há compreender-se as forças, as emoções e os motivos das trocas e dos limites humanos, construindo a paz e a justiça na cidade que queremos. O relato a seguir exemplifica e dá conta das trocas entre a universidade e cidade como forma de realizar esse projeto.

Favelados de Heliópolis visitam a FAU

Em 14 de abril deste ano, em um domingo de manhã, a FAUUSP foi visi-tada por moradores da favela de Heliópolis, a maior favela de São Paulo, que agendaram um encontro organizado pela Rádio Popular Heliópolis com um objetivo curioso: vieram visitar a USP para “ver o que é deles”.

A Radio Popular Heliópolis existe desde maio de 1992 e pertence à UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Heliópolis e São João Clímaco), representando, hoje, os interesses de 125.000 pessoas, isto é, cerca de 30.000 famílias que vivem na área.

Entre os muitos programas realizados pela Rádio da Cidade do Sol está sendo iniciado o curso “Correspondentes de cidadania”, destinado à capacitação de 30 alunos para escrever bem uma notícia e realizar uma entrevista. Durante os estudos destinados a esse curso, descobriram que existe um imposto ICMS, embutido, escondido em todas as coisas - que a população compra.

Descobriram também que quase 5% desse tributo vem para a USP, e, fazendo cálculos, chegaram a conclusão que só a Cidade do Sol (Helió-polis) contribui com quase um milhão de dólares por ano para a Cidade Universitária. Daí a vontade de conhecer a USP, a TV USP. Criaram, então, vinhetas contra a sonegação fiscal, para doar à Rádio USP, em uma Cam-panha Contra a Sonegação Fiscal, para ser colocada no ar com a Rádio Heliópolis, no dia 1º de maio:

Quanto menos sonegação e corrupção, mais recursos para nossa Uni-versidade de São Paulo!

A comissão aproveitou a visita para solicitar auxílio da FAU, a fim de solucionar uma série de problemas ligados principalmente à questão habitacional, envolvendo questões de ventilação, insolação das moradias,

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Depoimentos Maria Ruth Amaral de Sampaio e Paulo César Xavier Pereira

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sque ocasionam uma série de enfermidades infantis as quais poderiam ser evitadas com auxílio dos projetos dos estudantes de arquitetura. Esses e outros problemas apontados pelos visitantes mostram as várias formas de como a Universidade pode estender seus serviços a essa comunida-de, em uma troca de saberes que poderá ser mais ou menos eficiente e abrangente, dependendo do apoio político a receber dos órgãos habita-cionais oficiais para implementá-la.

O caso do São Vito

Em 2003, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy, os moradores do Edifício São Vito foram despejados de suas moradias pelo poder público municipal, sob a alegação de que seria implantado, na área, um projeto habitacional, de interesse social. Uma das justificativas para essa ação foi as condições precárias de habitabilidade dos moradores enfrentando graves situações de risco, como perigo de incêndio, insalubridade, etc.

Nessa ocasião foram cadastrados 948 moradores, pertencentes a 380 famílias, sendo 159 proprietários, todos sumariamente expulsos do imó-vel. Enquanto esperavam uma solução oficial, os moradores receberam bolsa-aluguel, atualmente cancelada, que durou três anos. Recentemen-te foram atendidas apenas dez famílias, alojadas em imóvel na rua Ana Cintra. As promessas da administração anterior, não-cumpridas, de solu-cionar a questão de abrigo dos moradores, foi totalmente esquecida.

Nesse ano, 2007, a atual administração municipal está divulgando no-vos planos para a área, envolvendo não somente a demolição do São Vito como também do Mercúrio, edifício vizinho, ligado pelas fundações ao São Vito, que permanece vazio até hoje. A justificativa da demolição seria a construção de uma grande praça, ligando o Mercado Municipal ao Palácio das Indústrias. Os moradores do São Vito estão enfrentando situações difíceis e anseiam por uma solução definitiva desse processo de expropriação que sofreram. As lideranças do São Vito solicitaram auxílio da FAU para avaliar as condições atuais de habitação dos novos sem teto, e aventou-se a hipótese de realização de um projeto de requa-lificação do São Vito, a ser desenvolvido pela FAU, que atenda às condi-ções socioeconômicas dos antigos moradores.

Essas duas situações em que a FAU é solicitada a colaborar e intervir, não só respondem à pergunta: qual cidade temos de projetar? como exemplificam a força do padrão de segregação centro/periferia que

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Depoimentos Maria Ruth Amaral de Sampaio e Paulo César Xavier Pereira

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

caracteriza nossa metrópole, além de mostrar ainda a permanência de antigas práticas de embelezamento da área central, comuns na virada do século 19/20.

Os dois exemplos ilustram também o papel que a FAU tem desempe-nhado, de produzir e trocar conhecimentos com a população, trazendo soluções adequadas aos injustos desafios do desenvolvimento urbano.

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Depoimentos Alexandre Delijaicov, Inês P. Bonduki, Juliana Silva, Maria João Fiqueiredo, Tatiana G. Ozzetti e Tatiana T. Barossi

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Ciclovias urbanas: A possibilidade da bicicleta como meio de transporte na cidade

O Projeto Ciclovias Urbanas, que se desenrolou durante o ano de 2005, tem sua origem em um grupo de estudantes da FAU que se interessou por discutir a questão da circulação nas grandes cidades, centrada na compreensão do papel da bicicleta como uma alternativa para o trans-porte. A idéia inicial era a formação de um grupo interdisciplinar que conseguisse reunir estudantes e professores de diferentes unidades da Universidade ao redor da questão da mobilidade pela bicicleta, projetos que se desenrolariam em paralelo a uma discussão interdisciplinar mais ampla.

A pesquisa por meio do Fundo de Cultura e Extensão realizou-se, então, como um projeto ainda limitado a estudantes e professores de arquite-tura. O grupo trabalhou, essencialmente, com a idéia da cidade dese-jada, com um futuro possível de vislumbrar-se. Nesse sentido, grande parte de nossas discussões deteve sobre as possibilidades e potencia-lidades presentes no espaço urbano no qual convivemos. Desenvolve-mos reflexões e proposições acerca da metrópole e da bicicleta como importante elemento de transformação da forma de construir a cidade.

A escolha da Cidade Universitária como objeto de estudo foi estimulada pela expectativa inicial que o projeto pudesse ser incorporado e concre-tizado pela prefeitura do Campus; além disso, a proximidade do grupo com a USP e com sua região próxima, permitiria um melhor convívio com os problemas levantados e um maior aprofundamento das ques-tões.

A preocupação com a divulgação das discussões nos fez pensar na forma de apresentá-las ao público e também a que público estariam destinadas. Inicialmente, pensamos em grandes painéis gráficos que pudessem ser fixados em escolas públicas ou locais estratégicos, com o intuito de suscitar, entre as crianças e a população, reflexões sobre a ci-dade. Por fim, chegamos à forma do caderno, que reúne tanto os textos como os desenhos de maneira organizada, palpável, apresentável, mas, por outro lado, de acesso restrito àqueles que tomam conhecimento de sua existência, pelo contato com um de nós ou do sistema Dedalus, que o disponibiliza na biblioteca da FAU.

A conclusão do trabalho, denominada Continuidade, deixa a questão em aberto, mostrando que há ainda muito para ser pensado, discutido

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e realizado, tanto com relação à bicicleta e sua inserção na metrópole, como com relação às políticas urbanas de construção da cidade de São Paulo. São lançadas algumas propostas de desenvolvimento para futu-ros projetos

– acadêmicos ou não - principalmente com relação ao trabalho de educação e informação da população. Entendemos que, enquanto a construção de uma cidade mais humana e coletiva não for uma vontade daqueles que a habitam, não haverá projeto arquitetônico-urbanístico capaz de transformar o espaço em que vivemos.

Essas propostas de continuidade não se realizaram por falta de uma mobilização do grupo após a pesquisa e também pela ausência de uma estrutura de apoio da própria faculdade, que poderia ajudar no sentido do espaço para divulgação dos trabalhos, organizando seminários inter-nos ou mantendo um site em que os trabalhos estariam disponíveis.

Universidade e poder público

Dentre as experiências externas pelas quais o grupo passou, anteriores à pesquisa aprovada pelo FCEx, está a elaboração de um Plano Ciclo-viário para a área da sub-prefeitura de Santo Amaro do município de São Paulo. A partir do anteprojeto de uma malha cicloviária, o objetivo era incrementar a intermodalidade nos transportes, além de elaborar projeto de conscientização e educação da população para a utilização da ciclo-rede.

Para realização desse projeto, a questão do estabelecimento de um vín-culo formal da universidade com a subprefeitura foi bastante discutida. Foram verificados os meios possíveis de isso ocorrer, mas, por diversas razões, nenhum vínculo foi estabelecido e o projeto, apesar de ter sido apresentado ao subprefeito, não teve continuidade. Ficou evidente, com esse trabalho, as divergências temporais entre a instância acadêmi-ca e política. Enquanto estávamos interessados em desenvolver concei-tos de urbanização e circulação, a gestão municipal priorizava projetos que combinassem alta visibilidade, baixo custo e rápida execução. Essa experiência foi importante, no entanto, para exercitarmos e esboçarmos conceitos que, mais tarde, seriam desenvolvidos na pesquisa do FCEx.

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A bicicleta como transporte hoje

Estima-se que haja, no Brasil1, apenas 350 km de ciclovias e ciclofaixas implantadas e um índice de 3% de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte. Apesar de esse índice ser maior em algumas regiões, principalmente nas cidades menores, e de já existir muita demanda por infra-estrutura para esse tipo de transporte, a discussão a esse respeito no Brasil ainda é pouco realizada. Transformar a con-solidada cultura de uso do automóvel por todo o país parece ser uma das grandes prioridades para ser possível a adoção de alternativas de transporte ou mesmo a incorporação efetiva do transporte coletivo por toda a população. É possível perceber que, lentamente, o poder público e alguns grupos da sociedade começam a perceber a importância dessa questão.

Em todo o mundo, podem-se encontrar exemplos bem-sucedidos, nos quais a infra-estrutura para bicicleta veio acompanhada de transfor-mações no espaço urbano. Em países como a Holanda, a Alemanha, a Dinamarca e o Japão, que incorporaram a bicicleta há várias décadas, fica claro que o uso da bicicleta é parte de uma opção de modelo urba-nístico. Em países como a Colômbia, cujo processo de desenvolvimento se assemelha muito mais ao brasileiro, as obras cicloviárias - que já existiam, mas sofreram significativo aumento a partir de 1998 - vieram acompanhadas de uma ampla reforma do transporte e uma reestru-turação dos espaços públicos, determinando o fim da priorização do automóvel na cidade.

Esses exemplos internacionais, apesar de fazerem parte de contex-tos político-econômico muito específicos, demonstram que o uso da bicicleta como transporte nas grandes cidades é uma solução viável e eficiente, e representa uma transformação do espaço da cidade. O exemplo de Bogotá comprova ser possível uma inversão das priorida-des urbanísticas e políticas, mesmo em contextos como o da América Latina. Trata-se, claramente, de um jogo de interesses que fazem com que, no Brasil, a construção de cidades mais coletivas fique em segundo plano.

A intermodalidade dos transportes

Por ser eficiente e barata, a bicicleta pode ser vista como solução para o problema do transporte. Sabe-se que 35% dos deslocamentos diários brasileiros são realizados a pé2, casos em que o uso da bicicleta poderia

(1) Segundo a publicação do

GEIPOT, Planejamento cicloviário - Diagnóstico

nacional.

(2) 15º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, 2005, p. 12.

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se difundir amplamente, se as condições de infra-estrutura para circu-lação dos ciclistas fossem qualificadas. Nas periferias da cidade de São Paulo, no entanto, onde o transporte público é precário e a bicicleta é utilizada para percorrer longos trajetos diariamente, a implementação de projetos cicloviários, que tentam justificar a falta de abrangência do metrô e do trem e consolidam essa forma de circular, agrava seriamente o estado de segregação socioespacial. A rede cicloviária não substitui um sistema de transporte de massa metropolitano, mas seu papel deve ser compreendido atrelado a outros transportes por meio de sistemas de integração intermodal, criando uma rede de circulação pela cidade.

A principal infra-estrutura necessária para que se realize a integração -além dos eixos cicloviários e do transporte público de qualidade – são os bicicletários nas estações de trem e metrô e nos terminais de ônibus e os vagões adaptados à entrada de bicicletas. Sistemas mais sofistica-dos de integração utilizam um porta-bicicleta adaptado na frente dos ônibus, que permite ao usuário levar a bicicleta consigo.

Com o sistema de integração, a bicicleta, apesar de ser um transporte para curtas e médias distâncias, consegue incorporar-se integralmente no cotidiano de circulação das metrópoles. No entanto, os projetos de implantação da integração só se efetivarão se forem pensados como uma rede em todo o município – com ligações para os municípios vi-zinhos – garantindo sua efetividade e, assim, a apropriação desse uso pela população.

A apreensão do espaço no cotidiano da metrópole

Construindo a cidade, construindo o olhar

Discutir a bicicleta na metrópole envolve repensar a relação entre o homem e o ambiente urbano hoje. A forma como a cidade de São Paulo foi construída e seu cotidiano acelerado, característico das grandes cida-des, geram uma situação em que já não se apreende o espaço por onde se circula. A compreensão do homem como protagonista do espaço urbano busca a construção de cidades mais humanas e democráticas e de cidadãos mais conscientes do espaço em que vivem.

O relevo e os rios de São Paulo foram e ainda são tratados como empe-cilhos para o desenvolvimento da cidade, sendo ignorados e descarac-terizados. As margens dos rios Tietê e Pinheiros, os dois principais rios

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da cidade de São Paulo, limitam-se – em quase toda a sua extensão – a alguns metros de largura. Projetos de utilização e ocupação desses espaços tornam-se impossíveis devido à proximidade das avenidas mar-ginais, que são ligações viárias, locais e intermunicipais, com um intenso fluxo de veículos a transitarem em alta velocidade.

São Paulo possui 3.500 km de rede fluvial. Seus rios e córregos são ele-mentos centrais para a transformação da forma de construir a cidade. Eles determinam um sistema de eixos de baixa declividade por todo o município, criando percursos ideais para implantação de parques lineares e ciclovias. Além disso, abrem horizontes importantes na apre-ensão visual da cidade. A qualidade e riqueza espacial das várzeas dos rios podem proporcionar projetos de transposição, circulação e ocu-pação das margens. A proximidade com a água, o olhar que apreende o espaço, o caminhar: possibilidades perdidas nessa cidade em que os córregos se transformaram em avenidas de fundo de vale e os rios estão cercados por marginais expressas. O pedalar e caminhar ao longo da orla fluvial urbana, as possibilidades que surgem da proximidade com a água e os horizontes que se abrem tornam inaceitável a situação dos rios paulistanos hoje. É necessário retomar seu valor urbanístico e humano, transformando-os em espaço acessível, transponível, qualificado, e parte, novamente, da malha urbana. É construída uma sociedade desumana, pouco sensível ao espaço ou às sensações suscitadas pelo ruído, pela luz, pelas cores ou pelos cheiros. E incapaz de reconhecer a própria cidade em que vive.

Circular como forma de apreender

A dificuldade de locomoção na cidade de São Paulo fica evidente quando analisamos os enormes deslocamentos populacionais diários da periferia para o centro. A dificuldade de proporcionar transporte público de qualidade para a população - em um país onde 37 milhões de pessoas não têm acesso ao transporte devido à sua renda - parece impedir qualquer reflexão mais aprofundada sobre mobilidade. No entanto, cabe pensar se essa questão envolve única e exclusivamente a possibilidade de deslocar-se ou se deve discutir a forma como se reali-zam esses deslocamentos.

Compreender o deslocamento envolve entender a relação estabelecida com os espaços percorridos. O conceito de percurso parece já não exis-tir. A ação de realizar um percurso determina uma atitude investigativa;

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isso significa observar e apreender o espaço e os elementos desse es-paço percorrido, quando se vai de um ponto a outro. Essa displicência e falta de sensibilidade na atitude de circular é praticamente uma respos-ta à agressão que significa transitar pela cidade hoje.

O tempo do caminhar e do pedalar induz a uma atitude de reflexão e contemplação: há uma maior proximidade para com os espaços públi-cos.

No caminhar ou no pedalar torna-se possível surpreender-se com pe-quenos acontecimentos urbanos, que aparecem inesperadamente no percurso e transformam-no, ainda que por alguns instantes. Nessas situações urbanas, situações cotidianas no espaço público, é que se exerce a cidadania.

A defesa da bicicleta e do pedestre como modalidades de transporte não se opõe, de maneira alguma, às outras modalidades. Ao contrário, busca-se o convívio harmônico das diferentes formas de circular na ci-dade: uma rua compartilhada entre os que caminham, os que pedalam, os que usam o transporte público e os veículos particulares. A bicicleta utilizada como transporte aparece como um elemento de retomada da construção de uma cidade em que todos os espaços sejam pensados para o homem; uma tentativa de humanização ou re-humanização dos espaços públicos pela interação com o espaço urbano e da valorização das relações públicas cotidianas.

A implementação de um percurso cicloviário exige uma mudança na escala de análise urbanística, já que a bicicleta - de velocidade compatí-vel com o tempo de observação, de percepção, e seu tamanho compa-tível com os pedestres - apresenta questões de pequeno porte, como, por exemplo, o tamanho e a qualidade das calçadas. A compreensão de o pedestre ser o protagonista do espaço urbano deve ser o principal parâmetro de projeto.

Para uma rua compartilhada é necessária a drástica diminuição do uso do automóvel privado na cidade e a inversão da hierarquia de tráfego que rege a construção de São Paulo. A proposta de uma rua compar-tilhada, a longo prazo, seria o fim da necessidade de regras e infra-es-trutura de segurança tão rígidas nas vias. Uma rua compartilhada entre os que caminham, os que pedalam, os que usam o transporte público e os veículos particulares. Dessa forma, garantir mobilidade significa não apenas possibilitar qualidade dos transportes públicos para toda a

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população, mas a qualidade dos espaços por onde se circula - ou seja, todos os espaços públicos da cidade - possibilitando, assim, uma trans-formação da atitude de circular pelo espaço urbano.

Um foco: o eixo do rio pirajussara – projetos-conceito

Na perspectiva de lançar um olhar diferente para São Paulo escolhemos o eixo de um rio: o córrego Pirajussara. Esse eixo contém exemplos de situações urbanas consideradas de grande potencial para intervenções projetuais, que refletem os conceitos urbanísticos e sociais discutidos nos capítulos anteriores. Os projetos desenvolvidos são projetos-concei-to, ou seja, projetos pouco aprofundados no âmbito do desenho, mas que lançam princípios e novas formas de entender e propor a organi-zação da cidade. Assim como ocorre com o rio Pirajussara, existe uma série de rios na cidade de São Paulo que também foram canalizados e correm sob avenidas de fundo-de-vale; existem outros espaços públicos murados ou gradeados como a Cidade Universitária e ruas em que o espaço para o pedestre não é projetado.

Em cada uma dessas situações, os conceitos desses projetos são passí-veis de reprodução pela cidade: intermodalidade; a inserção do rio na malha urbana, sua possibilidade como eixo de circulação e sua relação com o homem; e a rua compartilhada.

Continuidade

Ciclovias urbanas é apenas uma infra-estrutura de segurança aos ci-clistas. O nome do grupo perde o sentido já que, na cidade desejada, a existência de ciclovias torna-se desnecessária. A contestação do nome Ciclovias urbanas representa a mudança de um projeto que aceita as condições da realidade impostas para um projeto que tenta pensar a transformação do viver na cidade.

Essa pesquisa gerou um resultado que não se propõe a ser fechado: são projetos os quais não chegam a um nível de detalhamento executivo, croquis que sugerem a vulnerabilidade a que o projeto arquitetônico está sujeito na cidade. Esses projetos demonstram que acreditamos em uma cidade em que o projeto arquitetônico e urbanístico tem o papel de gerar transformações, somente se estiverem atrelados a um projeto político de cidade. Os projetos aparecem como modo de defender a cidade que queremos, ao mostrar à sociedade o modo como a cidade é

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pensada e construída, e, ao mesmo tempo, estimular a crítica e o surgi-mento de práticas que combatam a forma de cidade que temos hoje. A cidade coletiva que queremos só será possível quando seus habitantes tiverem uma atitude coletiva, quando houver consciência da importân-cia de ser cidadão como forma de transformar a vida na metrópole.

Bibliografia

Ciclovias Urbanas: A possibilidade da bicicleta como meio de transporte na cidade. Projeto Piloto: Cidade Universitária e entorno. São Paulo: Fundo de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, 2006.

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CIDADE ENSINO E APRENDIZADO

Coordenação dos debates

Professora Clice de Toledo Mazzilli

Depoimentos

História da paisagem

Professor Euler Sandeville

Vídeo Roberto Burle Marx

Professora Klara Kaiser Mori

Objeto de ensino – objeto de apreendizado Cesad

Professor Jorge Dantas

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Paisagem, natureza, cidade

Perspectivas do grupo

1. Projeto interdisciplinar em graduação, pós-graduação e extensão.

2. Criação de disciplinas em graduação e pós-graduação

3. Publicação de pesquisa

4. Formação de pesquisadores em iniciação científica, mestrado, douto-rado e pós-doutorado.

5. Desenvolvimento de site

6. Intercêmbios e convênios nacionais e internacionais

7. Seminários e colóquios

Histórico, com indicação das principais Pesquisas realizadas, resultados, eventos realizados e publicações

Embora estudos sobre natureza e paisagem, sob múltiplas abordagens, tenham grande desenvolvimento fora do Brasil, esse tema conhece pouco tratamento sistemático entre nós – quadro que pode ser ava-liado pela escassa bibliografia produzida no país. O amadurecimento da pesquisa e a afirmação de um grupo de disciplinas em Paisagem e Ambiente no Departamento de Projeto da FAUUSP, bem como iniciati-vas isoladas no Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU USP, vêm caracterizando a constituição de uma massa crítica interessada no desenvolvimento de pesquisas dentro desse âmbito, reconhecendo a necessidade de melhor regular os procedi-mentos, tanto para decantar o conhecimento sobre o tema de maneira sistemática, como para buscar e preparar contingentes de universitários para se dedicarem ao campo de pesquisa. Do mesmo modo, temáticas convergentes, embora isoladas, observam-se na FFLCH-USP, sobretudo no Departamento de História e no Museu Paulista. A percepção de um esforço fragmentado, mas essencialmente convergente do ponto de vista da problematização, recomenda a estruturação de um campo temático comum. O grupo de pesquisa - organizado em 2005 - é parte de um esforço de agregarações e interesses e estabelecer uma neces-sária interlocução entre pesquisadores em arquitetura e paisagismo e história. A preocupação do grupo abarca conteúdos considerados bási-

HISTÓRIA DA PAISAGEM

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cos na bibliografia internacional (arte, natureza e paisagem na Europa dos séculos 16 ao 18) e pretende organizar, gradualmente, uma revisão crítica desse repertório como um esforço de equiparação ao estado-da-arte sobre o tema. As abordagens inovadoras contemplam as pesquisas desenvolvidas entre nós, em especial aquelas que se ocupam dos fenô-menos e manifestações situados no universo ibérico e ibero-americano. O grupo pretende organizar uma experiência de discussão crítica das visões sobre a história da paisagem, a partir do conhecimento atualiza-do sobre o tema, e buscará estabelecer um referencial bibliográfico e historiográfico para pesquisas sobre natureza e paisagem.

Projetos de pesquisa em andamento

Paisagem, arte e conhecimento da natureza na época moderna

1. Jardins públicos ibero-americanos do século 16 ao 19 – Hugo Segawa

2. Cidades e jardins portugueses e brasileiros do século 16 ao 19 – Bea-triz Picolo S. Bueno

3. Conhecimento e colecionismo na península ibérica do século 16 ao 17 – Ana Paula Torres Megiani

4. Natureza, paisagem e cultura. Estudos das representações da nature-za e das afeições nas artes e nos jardins do século 12 ao século 17. Euler Sandeville Jr.

5. Tramas de cidades: a política portuguesa para a fundação de núcleos urbanos no Brasil de 1750 a 1808 – Maria Fernanda Derntl

Paisagem, arte e apropriação do espaço na época contemporânea

6.Paisagem e cidade no Brasil no século 19 – Paulo César Marins

7.A obra de Roberto Burle Marx no exterior – Gilherme Mazza Dourado

8. Arte, natureza e cultura. Estudos das sensibilidades e do projeto na paisagem contemporânea – Euller Sandeville Jr.

Disciplinas de pós-graduação

As disciplinas vêm sendo ministradas a partir de 2004 pelos professores Euler Sandeville e Hugo Segawa com a participação de professores e pesquisadores convidados. Essa experiência abriu a possibilidade de

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cooperação com professores de outras unidades - Prof. Dr. Carlos Ro-berto Monteiro de Andrade (EESC-USP) Profa. Dra. Ana Paula Megiani (FFLCH USP) e Prof. Dr. Paulo César Garcez Martins (Museu Paulista-DSP), dando origem ao grupo de pesquisa e ao oferecimento da disciplina também no Departamento de História da FFLCH USP, passando a ter como responsáveis os professores Ana Paula Megiani, Euler Sandeville e Hugo Segawa. Igualmente se pretende introduzir a partir de 2007 uma disciplina no programa de graduação da FAUUSP, mediante a reativação da disciplina História da Paisagem Brasileira, que terá como responsável os professores José Pedro de Oliveira Costa, Euler Sandeville e Hugo Se-gawa e outros colaboradores. O oferecimento dessa disciplina procurará estabelecer uma relação entre os conteúdos das disciplinas de pós-gra-duação e de graduação. A disciplina ministrada em 2005 está gerando um projeto editorial em andamento organizado pelos professores Euler Sandeville, Hugo Segawa e Ana Paula Megiani.

A problematização das relações entre as sociedades humanas e a natureza é o fundamento das abordagens nas disciplinas. Em espe-cial, tratar da dimensão paisagem na consciência humana, e, mais particularmente, a construção de paisagens ao longo da história ocidental entre os séculos 15 e 20. Imaginários e universos simbóli-cos diversos consubstanciaram o substrato das ações humanas so-bre a natureza. Campos e cidades constituíram os territórios dessas ações. Identificar, observar, descrever, e compreender as interven-ções humanas nesses espaços constituem esforço de caracterizar as diferentes visões e atitudes das sociedades enquanto percepção, contemplação, enfrentamento e transformação dos ambientes no tempo. As bases dessa proposta são:

a) Estudar as concepções de natureza relacionadas à paisagem que se constituíram ao longo da Época Moderna e Contemporânea na cultura ocidental

b) Problematizar a relação entre arte, sociedade e ambiente.

c) Aprofundar o conhecimento das especificidades das visões da natu-reza e relacionar essas visões na constituição e apropriação dos espaços urbanos e no processo de transformação territorial.

d) Discutir a natureza da paisagem urbana e de seus elementos. Des-tacar nessa paisagem a constituição de espaços como praças, largos, jardins, ruas e outros lugares abertos e buscar compreender, mediante o reconhecimento das práticas sociais aí desenvolvidas, seus significados.

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e) Oferecer uma contribuição ao debate sobre a produção teórica e historiográfica que trata da relação entre cultura, natureza e paisagem.

f) Desenvolver procedimentos de leitura e interpretação de paisagens e ambientes a partir de representações visuais: cartografias, estampas, gravuras, desenhos, pinturas, fotografias; valorizar a iconografia como documento histórico.

g) Aprimorar a aproximação multi e transdisciplinar sobre a memória da natureza e paisagem na cultura ocidental, estabelecendo ligações entre estudos urbanísticos, históricos e paisagísticos.

Disciplinas oferecidas

Disciplina AUP 5810 -Paisagismo, ministrada no 1º semestre de 2004 na FAUUSP. Professores responsáveis: Euler Sandeville Jr. Hugo Segawa. Professores convidados: Mário Henrique D’Agostino, Ricardo Marques Azevedo, Nestor Goulart Reis Filho e Catharina Cordeiro Lima.

Disciplina AUP 5810 - Paisagismo, ministrada no 1º semestre de,2005 na FAUUSP. Professores responsáveis: Euler Sandeville Jr. Hugo Segawa. Professores convidados: Mário Henrique D’Agostino, Vladimir Bartalini, Carlos Roberto Monteiro de Andrade, Ana Paula Megiani, Beatriz Pico-lotto Siqueira Bueno, Guilherme Mazza Dourado e Catharina Cordeiro Lima.

Disciplina AUP 5871 – Viagens pela Paisagem: Percepção da Natureza e da Cultura no Brasil, ministrada no 1º semestre de 2006 na FAUUSP.

Professores responsáveis: Euler Sandeville Jr. Hugo Segawa. Professores e palestrantes convidados: Carlos Roberto Monteiro de Andrade, Nina Jamra Tsukumo, Salde Kahtouni, Cássia Mariano, Guilherme Mazza Dou-rado, Miranda Martinelli Magnoli, Paulo Chiesa, Emmanuel dos Santos, Catharina Cordeiro Lima, Sidney Linhares, Rosa Grena Kliass Flavia Vivac-qua e André Mesquita.

Disciplina AUH 5837 -História da Paisagem Brasileira, ministrada no 2º semestre de 2006 na FAUUSP. Professores responsáveis: José Pedro de Oliveira Costa, Euler Sandeville Jr. Hugo Segawa. Professores e pales-trantes convidados: Miguel Pereira, Maria José Feitosa, Mirthes Baffi, Paulo Pellegrino e Paulo Nogueira Neto.

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Disciplina FLH 5166 - Paisagem, Cidade e História, ministrada no 2° se-mestre de 2006 na FFLCHUSP. Professores responsáveis: Ana Paula Me-giani, Euler Sandeville Jr., Hugo Segawa. Professores convidados: Mário Henrique D’Agostino e Carlos Roberto Monteiro de Andrade.

Disciplina AUH 119 - História da Paisagem Brasileira, a ser ministrada no 2º semestre de 2006 na FAUUSP, graduação, como disciplina optativa. Professores responsáveis: José Pedro de Oliveira Costa, Euler Sandeville Jr. e Hugo Segawa.

Eventos

Fórum da Paisagem (maio de 2005): Arte e Paisagem. Organização: Prof. Dr. Euler Sandeville e Prof. Dr. Hugo Segawa. Palestrantes: Euler Sande-ville; Christian Tschumi (fellow 2004-2005, Dum-barton Oaks, Washing-ton DC)

Fórum da Paisagem (2005): Paisagens da Resistência (zapatistas, tupa-maros, MST). Organização: Prof. Dr. Euler Sandeville. Debatedores: Prof. Dr. Philip Gunn, arquiteto Raul Pereira e artista Vidreiro Roberto Bonino.

VIII Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquite-tura e Urbanismo – ENEPEA, 2007. Mesa-redonda: História da Paisagem. Moderação: Euler Sandeville Jr. Apresentação: Hugo Segawa.

Projeto editorial

Projeto de livro sobre estudos de história da paisagem e do paisagismo entre 1500 e 1900, com verba parcial da Comissão de Extensão e Cultu-ra da USP.

Publicações

DERNTL, Fernanda; SANDEVILLE JR., Euler. Representações da cidade e do poder na cartografia: Paris entre os séculos XVI e XVIII. (no prelo)

DOURADO, Guilherme Mazza. Fazenda Marambaia. In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

DOURADO, Guilherme Mazza. Parque do Flamengo, In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

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Depoimentos Euler Sandeville

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DOURADO, Guilherme Mazza. Sitio Burle Marx. In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

MEGIANI, Ana Paula Torres. “Cidades, aldeias e colônias: a forma urbana na Colónia e no Império IX SH-CU – Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. 2006, São Paulo.Anais... São Paulo: FAUUSP, 2006.

SANDEVILLE JR., Euler. Arte, projeto e paisagem. Potencialidade e ambi-guidades. In: KAHTOUNI, Saide; MAGNOLI, Miranda; TOMINAGA, Yasuko (Orgs.). Discutindo a paisagem. São Paulo: RiMa, 2006.

SANDEVILLE JR., Euler; DERNTL, Fernanda. Paisagismo e modernidade na Europa na década de 1920. In: VIII ENEPEA, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: FAUUSP, 2006.

SEGAWA, Hugo; ALVES PARK, Rodrigues In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

SEGAWA, Hugo. Brazil In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

SEGAWA, Hugo. Pedro II, Dom, Parque. In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

SEGAWA, Hugo. Botanical Garden of Rio de Janeiro. In: TAYLOR, Patrick (E.). The Oxford Companion to the Garden. Oxford: Oxford University Press, 2006.

Questões propostas para discussão

Trata-se de temática emergente, que vem se constituindo como grupo de pesquisa a partir da convergência de estudos na área da história da paisagem. Paralelamente, ocorre o surgimento de outros grupos de pes-quisa, com temática semelhante no Rio de Janeiro e Recife e um esforço de criar intercâmbio entre esses grupos e pesquisadores ainda isolados em diversas instituições do país, que se encontram ainda em estado muito embrionário. No entanto, o aumento de pesquisas nessa temática e a organização desses primeiros núcleos mostram um paralelo com a organização de pesquisas em instituições internacionais que vem apre-sentando um aprofundamento de questões e uma produção crescente nas duas últimas décadas, confirmando uma tendência relativamente recente de investigações históricas, questões propostas:

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– estruturação de grupos de pesquisa e acesso a recursos

– interdisciplinariedade nos estudos históricos

– interfaces institucionais entre grupos de pesquisa nacionais e no exterior

Temas desenvolvidos nas disciplinas e eventos (as repetições dentro de um mesmo assunto expressam a evolução da abordagem ou a contri-buição de estudiosos diferentes sobre aquele tema)

Sobre história

1. História e historiografia do Paisagismo e da Paisagem.

2. História da idéia de natureza.

3. Conceituação de paisagem.

4. Problemas de história: estilo.

5. Fontes iconográficas na pesquisa histórica em paisagismo.

6. Problemas de história e de utilizar histórias.

7. Problemas de história: organização e investigação. Uma introdução aos jardins.

Séculos 15 ao 18

8. Amor e natureza (arte, séculos 13 e 14).

9. A Cidade Italiana e a Tratadística Renascentista.

10. Idéias sobre cidade – séculos 15 ao 17.

11. Conceito de arte e natureza na Renascença Italiana: séculos 15 ao 17.

12. A sociabilidade nas cortes mediterrâneas so século 15 ao 17.

13. Paisagem e natureza (arte, nos séculos 15 e 16).

14. Colecionismo e conhecimento da natureza – séculos 16 a 17.

15. A arte dos jardins: séculos 15 e 16 na Itália.

16. Paisagem, arte, jardins e sociedade: do recinto à paisagem (qual paisagem?).

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Depoimentos Euler Sandeville

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

17. Renascença e Barroco: Fantasia e Sedução – Itália

18. A incorporação da vegetação no espaço público urbano europeu: séculos 16 ao 18.

19. Da praça ao jardim público: a praça como lugar público e o jardim como lugar de privilégios: séculos 17 e 18.

20. espaço público e jardins públicos na Europa: século 16 ao 18.

21. Espaço Público na Península Ibérica: séculos 16 ao 18.

22. Plazas mayores e plazas de arma: o espaço público da cidade colo-nial hispano-americana: séculos 16 ao 19.

23. Alamedas e passeios – o surgimento do jardim público na américa latina: precedência e contemporaneidade ao fenômeno europeu: sécu-los 16 ao 19.

24. A cidade colonial no Brasil.

25. Representações do velho e novo mundos: arte, ciência, paisagem.

26. Vegetação e quintais da casa colonial brasileira.

27. Arte e território no século 17 (Itália e França).

28. Renascença e Barroco: Fantasia e Sedução – França

29. Ações e usos nos espaços das cortes bourbônicas dos séculos 17 e 18.

30. O paisagismo pinturesco na Inglaterra: origens e aspectos sociais do seu desenvolvimento.

31. Espaço, natureza e arte: contribuições para um debate na Cultura Ocidental

Séculos 19 e 20

32. O Sistema de Espaços Livres Urbanas de Haussmann e Alphand

33. Paisagismo do Movimento de Cidades Jardins na Inglaterra: Unwin, Parker, Jetkyll, Lutyens, Jellicoe

34. Estados Unidos: Olmsted e o Movimento City Beautiful

35. Estados Unidos: O Paisagismo de Jens Jensen e de Jean Forestier

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36. Arte e paisagismo: vanguardas européias

37. Paisagismo moderno nos Estados Unidos

38. Cidades-jardins no Brasil

39. Paisagismo moderno no Japão: Mirei Shigemori

40. Arte e paisagismo em São Paulo: Mina Warchavchick

41. Paisagismo de Otavio Augusto Teixeira Mendes

42. Paisagismo de Roberto Burle Marx

43. Arte e paisagismo em São Paulo: Waldemar Cordeiro

44. Paisagismo de Luis Barragán

45. Cidades universitárias latino-americanas: Rio de Janeiro, México, Venezuela.

46. Paisagismo de hidrelétricas: a experiência da CESP

47. Arte e paisagem contemporânea

48. Paisagem urbana e o movimento Tupamaro no Uruguai nas décadas de 60 e 70

49. A paisagem rural dos assentamento zapatistas no México

50. Paisagem e movimento social: o projeto e implementação da Escola Rural do Movimento dos sem-terra(MST) em Guararema-SP

Sistemas de conservação da natureza

51. Dinâmica natural dos ecossistemas

52. Ecossistemas brasileiros

53. Sistemas de conservação da natureza

54. Sistema internacional de conservação da natureza no Brasil

55. Sistema nacional de unidades de conservação

Paisagem metropolitana de São Paulo

56. Um percurso por São Paulo do século 16 ao 20

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Depoimentos Euler Sandeville

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

57. São Paulo; a cidade das águas

58. Arte, projeto e paisagem

59. Paisagem paulista

60. Arquitetura, paisagem e patrimônio

61. Paisagismo e participação popular na metrópole

62. Paisagem metropolitana

63. Conservação da paisagem paulistana

64. Metrópole paulistana e natureza

65. Rios urbanos

66. A cidade, as matas e as águas – poéticas

Quantidades

5 disciplinas oferecidas/em oferecimento,

11 trabalhos decorrentes das pesquisas no grupo e um projeto editoria em andamento,

8 pesquisas em 2 linhas,

66 temas abordados em disciplinas e eventos,

2 eventos organizados

24 colaboradores externos participam desses eventos e disciplinas, além da participação dos integrantes do Grupo.

Coordenador

Professor Hugo Segawa (FAU–DSP)

Pesquisadores

Professor Euler Sandeviller (FAU–USP)

Professora Ana Paula Megiani (FFLCH–USP)

Professora Beatriz Picolotto Siqueira Bueno (FAU–USP)

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Professor Paulo César Garcez Marins (Museu Paulista–USP)

Professor Carlos Roberto Monteiro de Andrade (EESC–USP)

Fernanda Derntl (doutoranda, FAU–USP)

Guilherme Mazza Dourado (doutorando, EESC–USP)

Camila Souza Lima (graduanda, FFLCH–USP)

Professores e Palestrantes Externos ao Grupo que Participam das Atividades

1. André Mesquita

2. Cássia Mariano

3. Catharina Cordeiro Lima

4. Christian Tschumi

5. Emmanuel dos Santos

6. Flavia Vivacqua

7. Maria José Feitosa

8. Mário Henrique D´Agostino

9. Miguel Pereira

10. Miranda Martinelli Magnoli

11. Mirthes Baffi

12. Nestor Goulart Reis Filho

13. Nina Jamra Tsukumo

14. Paulo Chiesa

15. Paulo Nogueira Neto

16. Paulo Pellegrino

17. Philip Gunn

18. Raul Pererira

19. Ricardo Marques Azevedo

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Depoimentos Euler Sandeville

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

20. Roberto Bonino

21. Rosa Grená Kliass

22. Saide Kahtouni

23. Sidney Linhares

24. Vladimir Bartalini

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Depoimentos Klara Kaiser Mori

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Cidade: Ensino e Aprendizagem

Agradeço a oportunidade de participar do II Encontro de Cultura e Extensão da FAUUSP: universidade/cidade – Ações e Limites, e, particularmente, desta mesa-redonda. Ela representa uma oportunidade de conversar com os colegas sobre a riqueza do tema proposto e sobre seu sentido próprio neste momento específico da vida da Universidade, como atividade integrante da Agenda da greve da Faculdade. Em outras palavras, gostaria de interpretar essas nossas reflexões como uma mediação possível com o processo real, núcleo do trabalho de ensino e da aprendizagem.

Minha participação neste Seminário tem como base de referência o movimento de urbanização, tal qual se deu e vem se dando no Brasil. Em primeiro lugar, porque são as tensões que cercam o referido pro-cesso que são o cerne de nosso material didático na Faculdade. Reco-locando continuamente a necessidade de sua interpretação e de seu enfrentamento, pelo trabalho de identificação e superação de seus fatores condicionantes.

Falo da cidade, em segundo lugar, porque foi dentro das restrições e constrangimentos históricos desse mesmo movimento de urbaniza-ção –nosso objeto de estudo cotidiano – que se impôs o projeto do movimento moderno brasileiro e, em particular, a obra de Burle Marx. E foi o projeto de transformação desse padrão de urbanização que norteou seus trabalhos e impôs, como uma necessidade incontorná-vel, a renovação da própria linguagem que serviria de veículo a suas proposições.

O pequeno vídeo-documentário sobre a obra de Roberto Burle Marx, com cuja execução colaborei no ano passado, e foi o mote de minha participação nesta mesa-redonda, procurou falar um pouco dessa questão. Objetivamente, por meio das palavras do próprio artista. E, indiretamente, pelo trabalho coletivo de realização do vídeo, com seus desafios e gratificações, e do aprendizado que representaram os acertos, erros, dúvidas, limitações. Falo do trabalho de transcrição da gravação original, de sua interpretação e das dificuldades de organiza-ção do roteiro. Dos desafios de usar uma linguagem nova. Do acompa-nhamento do trabalho de laboratório, das filmagens e gravações. Falo, por último, da generosidade dos que se responsabilizam pelos cuida-

VÍDEO ROBERTO

BURLE MARX

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Depoimentos Klara Kaiser Mori

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

dos e pela preservação de um acervo de referência sobre os artistas brasileiros, e - em contraponto - dos obstáculos e impasses no acesso ao material documental, e de tudo que se perde cotidianamente por incúria. Ou do que não chegou sequer a realizar-se, que se inviabilizou porque o projeto de transformação subentendido ainda não pôde se impor. Estou falando do processo urbano brasileiro.

O vídeo-documentário

A origem do material para o vídeo foi uma gravação de depoimento do paisagista Roberto Burle Marx, realizada pela equipe do Laborató-rio de Vídeo da Faculdade de Arquitetura, em 1990, por iniciativa do professor Sílvio Soares Macedo.

Explorando as virtualidades próprias com que as atividades de ensino, pesquisa e extensão se colocam no espaço cultural da FAU, o projeto se delineou com duplo objetivo. O primeiro deles, mais abrangente, mas também mais imediato, foi o de tornar público o referido depoi-mento que, integrante do acervo da Escola, permanecia em estado bruto desde sua realização. Aqui, a edição do material teria por meta ilustrar (e, conseqüentemente, enfatizar) os principais posicionamen-tos do artista a respeito de seu fazer, explorando os recursos próprios do vídeo.

O segundo objetivo foi mais específico, e, em sua primeira formu-lação, propôs utilizar-se do vídeo para registrar e apresentar, a um público mais amplo, os projetos de jardins realizados pelo artista em São Paulo. Após levantamento preliminar e uma primeira avaliação do material a ser trabalhado, esse escopo se mostrou excessivo para os contornos estabelecidos (prazos, verbas, condições técnicas) e foi abandonado. Optou-se, então, pelo enfoque de um único projeto, a constituir a espinha dorsal do documentário. A escolha recaiu no Parque do Anhembi, projeto de espaço público realizado por Burle Marx na década de 1960 do século passado, só fragmentariamente implantado, e hoje quase esquecido quanto a seus propósitos ori-ginais. Em torno dele seriam articuladas as principais passagens do documentário.

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Depoimentos Klara Kaiser Mori

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Os trabalhos para a realização do vídeo ocorreram em três frentes principais: a) a transcrição e interpretação do material gravado e o processo de elaboração de um roteiro que melhor abarcasse os temas que se queria destacar; b) os estudos sobre a inserção do artista no movimento modernista brasileiro; e c) o trabalho de levantamento da documentação acerca do Parque Anhembi.

O vídeo-documentário foi publicado com título que evoca uma inten-ção sempre presente no trabalho de Burle Marx: Jardins para a cidade. Não alcançou plenamente seus objetivos, mas, por isso mesmo, esta-beleceu um desafio para a retomada dos mesmos. A vontade de par-tilhar as lembranças pessoais do convívio com o artista e a memória dos projetos para São Paulo – sejam os realizados, os não-implantados e mesmo os perdidos – recolocam, continuamente, a necessidade de reflexão sobre o tema.

Jardins para a cidade

Em seu embate com a realidade nacional, o modernismo brasileiro tocou em temas cuja enunciação exigia o enfrentamento crítico do referencial cultural e estético em que até então se apoiara o país au-tônomo. A enunciação de suas questões exigia linguagem própria: novas formas, novas sintaxes, nova concepção espacial.

A renovação demandada não poderia se resumir, no entanto, à mera superação da herança formal do neoclassicismo. Velada pela questão estilística, tratava-se, de fato, da necessidade de uma mudança mais profunda, do próprio sentido do fazer. Flávio Motta apontou isso com muita clareza, em seu estudo sobre a obra de Burle Marx. Referindo-se a um dos determinantes históricos mais significativos da condição cul-tural brasileira, escreveu: “O Novo Mundo serviu às velhas estruturas. Só encontrará o Moderno pelos processos de emancipação.”

Foram as transformações econômicas em curso, mais precisamente a urbanização e a industrialização as quais vinham se impondo desde o início da década de 1920, que concederam atualidade nova à questão da representação do espaço brasileiro. Ao insinuarem a possibilidade de engendrar-se, finalmente, uma política nacional, desestabilizaram o sentido do território herdado da Colônia, preso à pura geografia, e que tomava a natureza como dado imediato, como recurso natu-

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Depoimentos Klara Kaiser Mori

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ral: base da sempiterna atividade agroexportadora do país. E seria a necessidade intuída de elaboração de formas válidas de tratamento desse espaço novo que tornaria atual a revisão crítica do neoclassicis-mo - recurso estilístico adotado pelo país independente para afiançar uma transformação que, de fato, não ocorrera até então. Resumindo: foi a exigência de dupla re-interpretação - do objeto e da lingua-gem - que moveu os modernistas em seu trabalho de reflexão sobre a realidade brasileira, envolvendo da poesia e do romance à pintura, música, e arquitetura. Também, o projeto do jardim, tema ao qual, por suas relações peculiares com o espaço arquitetônico e com a cidade, o modernismo se volta com grande interesse.

Motivado por vivências pessoais, cuja memória cultivaria, ao longo de toda, sua vida como contribuições fundamentais para sua forma-ção, no início dos anos 30, o jovem artista Roberto Burle Marx elege o paisagismo como um dos campos privilegiados de seu trabalho de criação. Atento ao que vem se realizando à sua volta, participa, a partir de então, com intensidade crescente no movimento moderno, conver-tendo-se em um dos protagonistas destacados daquele fazer coletivo. Como mestres, companheiros e amigos contou, entre outros, com Lúcio Costa, Warchavchik, Reidy, Oscar Niemeyer, e com Di Cavalcanti, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Tarsila, Villa-Lobos, Portinari e Anita Malfatti.

A vegetação e o desenho dos jardins urbanos

Detalhando um pouco mais o que se sugeriu acima: qualquer aborda-gem dos jardins urbanos, ou das práticas sociais em que assenta sua constante reconfiguração, respalda-se em um entendimento específi-co do processo de apropriação social da natureza. O trabalho de inter-pretação desse material pode se organizar, no Brasil, em torno de dois temas principais, com seus focos próprios.

O primeiro deles tem a atenção no próprio país, buscando entender, em sua história, as particularidades com que a vegetação comparece no espaço urbano nacional.

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Estendendo o mundo “conhecido” tal como percebido pelos europeus, os portugueses também serviram como agentes para a mudança que converteu não só Portugal e a Europa, mas também a África, a Ásia e a América em partes do sistema global de trocas.

As viagens portuguesas partilham, ao longo dos séculos 16 a 19, do processo de expansão do Ocidente. No curso de um movimento de disputa internacional, movido pela multiplicidade de tensões geradas pelo paulatino esgotamento do modo de produção feudal nos reinos dinásticos europeus, a referida expansão de fronteiras resultaria no ordenamento político-econômico dos diversos territórios envolvidos. Vinculando-os, ao azar do processo histórico, seja aos futuros centros de acumulação do capital, seja às suas periferias. Em particular, como se sabe, as colónias portuguesas viriam a constituir um dos principais suportes externos do desenvolvimento capitalista inglês, ao se cana-lizar, por meio de uma seqüência de tratados comerciais, os despojos das colônias lusitanas para o financiamento de seus empreendimen-tos econômicos. Do lado de Portugal, o quadro de seu próprio empo-brecimento progressivo e a perda de domínios conduzia-o a enrijecer mais e mais os níveis de exploração de sua colônia ultramarina.

Assim, a questão que se colocou ao Brasil no processo de construção de sua vida autônoma foi a superação de todo um condicionamento multissecular, que sempre reduziu seu espaço a um mero território de predação e de exploração, em prol da produção do excedente deman-dado pela metrópole, e indiferente aos resultados locais desse proces-so: seus despojos, suas sobras. Dentro dos propósitos do urbanismo moderno, o projeto de jardins de Burle Marx propõe a superação dessa herança. Seu projeto é a instauração, com cuidados implicados em suas materializações, de um novo padrão de urbanização.

O segundo olhar possível na interpretação dos jardins dirige-se, sobretudo, aos critérios concretos que instruem seu desenho e a própria composição vegetal. Entre seus focos o sítio, a localiza-ção urbana, as propostas de uso, e as condições de adaptação às práticas de cultivo e de manutenção. Evidentemente vinculado ao anterior, o desenho tem, no cerne, uma questão de linguagem: a busca da formaque permitaenunciar,comomaterialpossível, e na localização específica de cada projeto, o que ainda não foi enforma-do, o que está em processo de elaboração. Ou, em oposição, por desistência ou desistência, a forma que reitera e cristaliza significa-dos sabidos.

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Depoimentos Klara Kaiser Mori

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

O traçado do Parque Anhembi, infelizmente não-realizado, parecia reinventar, por meio seu desenho sinuoso, de um rico mosaico terra-água, à margem do Tietê. O rio paulistano por excelência, mas cuja retificação e tratamento, nos moldes em que foi concebido, retirou-lhe qualquer sentido de urbanidade.

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Cidade e Universidade: objeto de ensino e objeto de aprendizado

A cidade tem sido objeto de estudo em universidades, como tema de disciplinas e de trabalhos, teses, dissertações. O objetivo do estudo é o conhecimento da cidade. O conhecimento compreende um juízo sem o qual tem-se apenas um entendimento de significados.

A palavra, o mapa , a foto têm, de per si, um significado semântico. Somente com a associação de palavras podemos construir uma infor-mação, a expressão de um juízo, a formulação de uma análise, a consoli-dação de um conhecimento.

Quando vemos, em uma tabela de dados, a expressão “120” habitantes por hectare, podemos inferir seu significado, pois, isoladamente, en-tendemos o que é 120 habitantes e o que é hectare. Quando, em uma tabela, identificamos várias áreas com distintas densidades, podemos formular a informação de a área A ser mais densa que a área B. Se tiver a média da densidade de todas as áreas de uma cidade, podemos ajui-zar que a área A tem uma densidade maior que a média, enquanto a B é menor. Quando relacionamos essa tabela de dados como o mapa da cidade, podemos constatar que a densidade maior está no centro e a menor mais afastada, ou vice versa. Começamos, então, a obter um conhecimento, a elaborar um juízo.

O Centro de Sistematização Armazenamento de Dados – Cesad – foi criado em 1976 na FAU Maranhão. Em 1980 foi para a Cidade Universitá-ria; em 2002 implantou o Consulta Online em intranet (rede local inter-na à FAU) e, em 2004, colocou os dados disponibilizados na Internet sob o domínio www.cesad.usp.br.

Em decorrência de distintas mudanças no organograma da FAU, tornou-se a Seção de Produção de Dados para Arquitetura e Urbanismo.

Sua função básica não é elaborar estudos próprios, como os laborató-rios, os professores/pesquisadores, os alunos, mas viabilizar insumos informatizados para aquelas atividades. O repertório desses insumos vem sento construído ao longo desses últimos 31 (trinta e um) anos com base nas solicitações de dados de seus usuários. Assim, desde o início se mantêm arquivos de consultas com registro da categoria do usuário (aluno de graduação, de pós, professor, visitante) e do assunto, tema consultado.

OBJETO DE ENSINO E

OBJETO DE APRENDIZADO

CESAD

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Depoimentos Jorge de Rezende Dantas

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Não visando produzir seus próprios dados, o Cesad obtém, de terceiros, os dados que sistematiza, armazena e fornece, como, por exemplo, dados da FIBGE (censos demográficos, por setores, por exemplo) ou do Metro (pesquisa OD), fotos de satélite, notícias da imprensa. Nesse último caso, as notícias são georeferenciadas, isto é, a cada notícia está associado um assunto/tema e uma área geograficamente identificável. Essa sistematização permite por exemplo, ao usuário, monitorar, desde 1991 até hoje os fatos associados a uma área, uma zona, um bairro, um logradouro da cidade se São Paulo.

A sistematização, sobretudo a de dados associados a mapas, envolve o estabelecimento de escala homogênea e o georeferenciamento comum. Assim, torna-se possível comparar o significado de diferentes mapas, sistematizados e comparáveis e melhor visualizar as informa-ções que podem disso resultar.

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Depoimentos Jorge de Rezende Dantas

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Os dados do Censo Demográfico, em tabelas, uma vez associados aos mapas correspondentes, gera fonte de uma informação espacializada; metaforicamente, são duas palavras distintas, cada uma com seu signifi-cado, mas associadas, resultam em uma frase, uma sentença. Como em uma linguagem falada ou escrita, o sujeito deve concordar com o verbo, assim como com seu complemento. A zona A tem uma densidade X e está localizada na área y da cidade. Essa concordância é objeto da sis-tematização realizada. Por exemplo, em algumas fontes a densidade é expressa referente à área em metro quadrado, em outras por hectare e ainda em kilômetro quadrado.

O Consulta Online do Cesad não é fonte de ensino, função esta própria de Professores, seja via aulas presenciais ou aulas por internet, cursos on line identificados, na área da educação a distância como e-teaching. O Cesad fornece a seus usuários dados-informações que permitem a eles construir um conhecimento; portanto, um e-learning. Não se quer dizer com isso que na aula não ocorrerá a produção de conhecimento, mas, sim, no Consulta Online do Cesad, não há nenhuma intenção de ensinar.

O Consulta Online do Cesad registra, em dois anos (2004-2006), um total de 8.273 consultas registradas em seu Banco de Dados. Tecnica-mente, observa-se que as consultas feitas registram nome do usuário, categoria, identificação do computador utilizado para a consulta (pelo número IP), dia e hora da consulta, assunto consultado e arquivo copia-do (download).

Isso assegura à comunidade uma avaliação do significado do Consulta Online na relação Cidade-Universidade e faculta ao Cesad uma avalia-ção da importância do material disponibilizado pela internet. Assim, se indagarmos sobre os critérios para escolha de dados a serem disponibi-lizados, a resposta é:

– 31 (trinta e um) anos de verificação de dados mais procurados seus usuários;

– viabilidade de obtenção de dados junto às fontes;

– possibilidade dos recursos de informática, disponíveis, para sistemati-zar e armazenar dados já coletados;

– recursos financeiros, e administrativos, para adquirir de terceiros da-dos existente.

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Depoimentos Jorge de Rezende Dantas

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A título de caracterização do Consulta Online do CESAD segue uma estatística:

– tamanho do “site” 7,65 Gbytes (8.217.968.640 bytes em 9/05/2007) não incluindo o banco de dados (tabela de cadastro de usuários, tabelas de número de visitas, tabela de registro de consultas, tabelas dos arquivos referenciais de imprensa);

– 40.051 (quarenta mil e cinqüenta e um arquivos) distribuídos em 77 (setenta e sete) pastas, não incluindo o banco de dados.

(*) Professor Titular do Departamento de Projeto da FAU/USP (aposentado), Assessor Especial de Informática da atual Diretoria (maio de 2007)

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Cidade, memória e ação

A memória é de difícil entendimento quando se é jovem: desde que nos damos conta do mundo, tudo já foi dado e nada do que encontramos teve a nossa participação. Um mundo homogêneo enquanto presença temporal de coisas existentes.

E é aqui, justamente nesse momento, que se introduz a questão da ação. É por meio da ação que começamos a dar sentido e significado às coisas com as quais nos deparamos. Na medida em que nos relaciona-mos com o mundo circundante e nele nos referenciamos, começamos a entender a memória como provedora de sentidos. Ainda assim é difícil designar a importância da memória, cuja percepção fica obscurecida hoje, em um mundo de produção de mercadorias que devem ser sem-pre renovadas.

É por intermédio da memória que se exerce a possibilidade de tornar-mo-nos universais e não seres restritos às nossas particularidades iden-titárias, para nos identificarmos com as forças e a fragilidade daqueles que tiveram e têm em comum com cada um de nós a circunstância de pertencerem à mesma espécie humana. E assim também poderemos aprender a ter uma perspectiva de mundo e ambiente para aqueles que virão depois de nós.

Sabendo como é difícil para os jovens a percepção imediata desse fenômeno nas coisas que atravessam do passado para o presente e, pressentindo ser isso o que importa para sermos humanos, precisa-mos pensar e propor ações educativas que presentifiquem memórias. Esse é o caráter dos trabalhos a serem apresentados.

Professora Angela Maria Rocha

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

CIDADE MEMÓRIA E AÇÃO

Coordenação dos debates

Professora Ângela Maria Rocha

Depoimentos

Ruínas – Engenho São Jorge dos Erasmos

Professora Maria Cecília França Lourenço

Amantes de fotografia

Professora Maria Lúcia Bressan

Cândida Maria Vuolo

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Contra a memória e o esquecimento – Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos

“Servem ao senhor de engenho além dos escravos de enxada e foice que têm na fazenda e na moenda e fora os mulatos e mulatos, negros e negros da casa, ou ocupados em grandes partes, barqueiros, ca-noeiros, calafetes, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores (...). Os escravos são as mãos e os pés do senhor do enge-nho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer,conservar e au-mentar fazenda, nem ter engenho Corrente.” (Antonil, 1997, p. 75-89)

O Monumento Nacional Ruínas Engenho dos Erasmos constitui-se em foco interessante para se entender como a memória e o esqueci-mento, ao lado de funções tão distintas, também podem se transfor-mar em instrumento lesivo. Especialmente quando são colocados de um lado, para erigir, fracionar partes da realidade e, de outro, para promover o esquecimento de aspectos indesejados para determina-dos interesses.

O bem cultural possui remanescentes preservados do que teria sido um dos três engenhos de cana de açúcar mandado implantar por Martim Afonso de Sousa, em sua estada, entre 1532-1534. Hoje se encontra na zona noroeste de Santos, embora até o século 19 a região pertencesse a São Vicente, sendo um órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo.

O negócio da expedição portuguesa para captar recursos para a Co-roa, particularmente ouro, parece ter sido frustrado. Martim Afonso de Sousa propõe, em sociedade com outros companheiros, a ativi-dade açucareira, ficando à testa sua mulher, Anna Pimentel, quando parte daqui, conforme Frei Gaspar da Madre de Deus (DEUS, 1975, p. 87). Os lusitanos já realizavam atividades nessa área e trazem da Ilha da Madeira para São Vicente, de acordo com notícias relatadas, entre outros, por Gabriel Soares de Sousa, que aqui aporta em 1569 (SOARES, 1989, p. 63).

Inúmeros relatos foram fixados por memorialistas sobre vários as-pectos, como os de Pedro Taques de Almeida Paes Leme na obra enciclopédica: Nobiliarquia paulistana histórica e genealógica, que esclarece aspectos acerca das plantações de cana. Afirma que Pedro Leme e seu genro Braz Esteves fizeram fortuna com a atividade açu-careira no Engenho de São Jorge, podendo indicar que a plantação também se faria em suas terras (Leme, 1980, p. 11, v.III).

RUÍNAS DO ENGENHO

SÃO JORGE DOS

ERASMOS

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Na atualidade, o Monumento se encontra no Morro da Nova Cintra, à margem do rio São Jorge, próximo do estádio do Jabaquara Futebol Clube, o popular Jabuca, também de favelas, sendo vizinho de uma escola estadual e de um bairro densamente povoado. Doado em 1958 para a USP pelo último proprietário e por muito trabalho de uma série de professores e pesquisadores, estava esquecido, com o conjunto de conflitos a que esteve submetido por saques de piratas como Thomas Cavendish, em 1591, e chacinas que não podem ser esquecidas.

Cabe lembrar que a iniciativa para tombamento federal se deve por ação da USP, encaminhada em 1962, efetivada após um ano e meio sendo acompanhado pelo Estado após dez anos (1973) e pelo próprio município após 27, em 1990, em função da criação do órgão preservacionista local. Reitere-se a existência de inúmeras vozes isoladas de historiadores locais para chamar a atenção das autorida-des no sentido de transformá-lo em bem com acesso público, antes mesmo da doação.

Diante de tal quadro, primeira pergunta para se ampliar o enorme esforço de tantos seria, então – quem são os interlocutores para se iniciar um diálogo em programas projetados para diferentes segmentos de público? Qual a hierarquia para se pleitear um corpo estável de trabalhadores e iniciativas? Bastaria, assim, abrir as portas e deixar entrar, ou, pior, restaurar como se nada de fatídico se en-contrasse jacente sobre a terra, de modo a instalar-se mais um des-ses empreendimentos que funcionam como uma espécie memória lúdica, ou parque de diversões do passado para deleite do presente?

Como ignorar que se tornara invisível diante de tão significativo passado ali ocorrido, em experiência próxima ao que se denominará, posteriormente, capitalismo à distância? Isso não só ao ser doado; porém, mesmo desde a chegada dos portugueses pouco se conside-ra sobre o encontrado e atuante no território. Assim, o próprio irmão de Martim, Pero Lopes de Sousa, alude, em seu diário, para a instala-ção de povoados no litoral de forma nulificante, como se o mesmo fosse um território vazio, a ser povoado, ignorando a existência do povo, há muito lá instalado:

“A todos nos pareceu tão bem esta terra que o capitão Irmão de-terminou de a povoar e deu a todos os homens terras para fazerem fazendas e fez uma vila na ilha de São Vicente e outra 9 léguas a

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dentro pelo sertão, a bordo de um rio que se chama Piratininga e repartiu a gente nestas duas vilas (...).” (SOUSA, 1989, p. 126)

Como, então, recuperar contornos alargados de sua história, por intermédio de pesquisa em fontes primárias? Desde o início do século 20 parte dos documentos da Família Schetz, atualmente em Ursel, vem sendo traduzida com a publicação, em 1914, por Alce-bíades Furtado, seguido por Carl Laga em 1963, e, por Eddy Stols, cinco anos depois. A USP promoveu a duplicação de outra parcela do arquivo, traduzida por Paul Meurs (1990), em face de iniciativa da então denominada Comissão de Patrimônio Cultural (CPC), seguida de outra atualização, mais recente, datada de 2004, empreendida por Sander Troots, em etapa de intercâmbio na FAUUSP, sob os aus-pícios da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária-USP.

Com todo esse cabedal cultural, sabe-se que os Schetz, inicialmente, mantiveram sociedade em negócios bancários e de minas, antes de adquirirem o estabelecimento. Já em 1550, Erasmus morre, tendo os filhos como sucessores. Mantêm os negócios por ligações a dis-tância, com colaboração e trocas recíprocas com os padres jesuítas, especialmente José de Anchieta. Quando falece um dos herdeiros, Melchior, o padre redige uma carta em 7 de junho de 1578, para Gas-par, bastante ilustrativa sobre a proximidade e como esses colabo-raram para que os feitores “vivessem conformes”, assim defendendo os interesses da família.

Surgem, também, o nome de vários feitores, como Pedro Roesel, João Batista Malio, Paulo Werner e Jerônimo Maya, porém pouco se fala de negros e índios escravizados. Aparecem de forma discutível, como em 10 de abril de 1585, em que um conjunto de moradores efetua uma representação contra Jerônimo Leitão, capitão-mor do donatário Pedro Lopes de Sousa. Amigo dos jesuítas e proprietário de um número significativo de escravos, cedeu terreno para a cons-trução do Colégio Jesuítico. Os habitantes o acusavam de não tomar medidas mais cabais ante as insurreições do povo local e, dessa forma, Leitão, os convoca para encetar uma ação mais incisiva, justa-mente na capela de São Jorge do Engenho (FRANCO, 1940, p. 39).

Toda pesquisa mantém aspectos lacunares e cabem sempre novas interpretações críticas para trazer vieses ainda desconhecidos, sendo fundamental incentivar novas investigações e disponibilização irres-trita do pesquisado. Contudo, nesse caso, não resta dúvida sobre as

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vozes silenciadas, os trabalhos operados e as vidas ali sacrificadas, fatores decisivos, inadiáveis e iminentes para as escolhas atuais, partindo-se de conceitos humanistas e plurais, para não sepultar memórias sacrificadas.

O Plano Gestor leva em conta tais demandas e parte de conceitos nucleadores de ações, que podem ser assim sintetizados: Resistên-cia, Eternização, Proteção e Germinação:

Resistência: Esforço sistemático e continuado para suspensão e cons-cientização sobre silenciamentos, relativos aos caminhos vividos na longa história das Ruínas – Engenho São Jorge dos Erasmos. Entre esses se incluem o aprofundamento sobre a origem, a história, espaço geo-gráfico, cultura ambiental, vegetal e zoológica existente, mudanças de local, inventário de contribuições anteriores, de trabalhos, de saberes e de quereres. A conscientização de novos envolvidos, portadores de dife-rentes características etárias, geográficas, entre outras, permitirá eviden-ciar e valorizar a resistência, como uma ação humana significativa (...).

Eternização: Apreender e ressaltar a humanidade expressa no conjunto formado pelas ruínas. Para tanto se faz necessário relacioná-lo ao cená-rio local, trabalhando diferentes tempos, formas e concomitância, seja de povos, seja ante o ambiente, vegetação e vida animal, pela criação de focos de interesse, solicitados, de um lado, para a própria USP e as áreas correlatas, e, de outro lado, da comunidade local (...).

Proteção: Prática sistemática na questão material, visando prevenir, alertar e lutar contra deslizamentos, em especial sobre a população escolar próxima e as demais circundantes e instaladas na área; garantir proteção para as ruínas a campo envoltório, consolidando-a de deterio-ração, seja por ações do tempo, seja por demais fatores; propiciar uma Base Avançada de Cultura e Extensão com auditório, local para pesquisa, reunião de bibliografia e arquivos, abrigo e exposição dos testemunhos materiais recolhidos, promovendo-se visitas, encontros científicos e comunitários, intercâmbios, projeção multimídia e estudos de toda a USP (..)

Germinação: Encadear programas para intercâmbio, com distintos segmentos etários, profissionais e da comunidade em geral, capazes de germinar posturas distintas, já no presente e, portanto, no futuro, em face da responsabilidade de todos na preservação de lugares de memó-ria como as Ruínas – Engenho São Jorge dos Erasmos (...).

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O fundamento e as hierarquias originaram escolhas e direcionaram para uma ação educacional diuturna, de janeiro a janeiro, com pessoal especializado, na comunidade escolar; criação de site para manter atua-lizadas as diferentes comunidades sobre conceitos, intervenções e pro-gramas; relação continuada com os diferentes segmentos populacionais a partir do entorno; elaboração de programas específicos, propiciadores de amplo espectro e áreas de pesquisa e atuação; construção de uma Base Avançada de Cultura e Extensão; disponibilização de pesquisas e fontes por diferentes mídias e luta com as autoridades para preservação do anfiteatro de Mata Atlântica ao fundo, transformando-o em uma área de preservação ambiental.

Como tenho defendido: O grande desafio no Engenho São Jorge dos Erasmos reside no povoar os vazios, gerados por confrontos violentos, ocorridos no lugar, antes mesmo de ser incorporado pela Universidade, demandando implementar uma cadeia operatória preservacionista, que não se limita a ver, admirar, extasiar-se e conservar. Os fragmentos, sal-vos pela USP, para serem vivificados, necessariamente exigem a reunião de ensino e pesquisa, sempre em intercâmbios e trocas permanentes com a comunidade, via extensão cultural.

Construção e trocas

A premissa da ação extensionista parte de uma gestão participativa entre os envolvidos, englobando os educadores, o colegiado, o pes-soal competente e dedicado da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, a quem também sou grata na pessoa de Marilena Pires, e a comuni-dade USP em geral; acrescento também os parceiros educadores em convênios, as Prefeituras de Santos e de São Vicente, as secretarias, os órgãos de preservação e a Universidade Católica de Santos, e outros grupos. Dialoga-se, sistematicamente, com a ampliação de in-terlocutores na sociedade, abarcando o poder constituído, órgãos de preservação e as organizações de bairro e de interesses específicos.

O segundo aspecto abarca o processo preservacionista de memó-rias coletivas, no plural, privilegiando as formas ativas e centradas no lugar. Pretende-se manter canais extensionistas, que partem da importância em se estender a memória para dados grupos, nesse caso daqueles escravizados, espoliados e aviltados, em permanente intercâmbio, avaliação e fomento. O conceito de memória advém das formulações de Maurice Halbwachs (1877-1945), que em sua

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Depoimentos Maria Cecília França Lourenço

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célebre obra, A memória coletiva, diferencia-a da individual. Esta se constitui por palavras e idéias, “que o indivíduo não inventou e que emprestou de seu meio” (HALBWACHS, 2004, p. 58).

O autor distingue, assim, duas memórias: autobiográfica e a his-tórica, sendo uma interior e outra exterior e de natureza coletiva. Contudo, não entende a história como mero alinhar de fatos, datas e nomes, mas sim “tudo aquilo que faz com que um período se dis-tinga dos outros e cujos livros e narrativas não nos apresentam em geral senão um quadro bem esquemático e incompleto” (HALBWA-CHS, 2004, p. 64).

A ação empreendida no campo da memória, no referido bem cultu-ral, firma-se, portanto, na evidência de as relações se desenvolverem entre sujeitos-atores e com diferentes características a serem consi-deradas. O primeiro desses sujeitos-atores se constitui na vizinhança, pois o bairro pouco oferece para os moradores, existindo favelas, população de classe média baixa e poucas áreas dedicadas para atividades preservacionistas do público.

Criou-se o Programa Vou Volto, antes mesmo da chegada dos edu-cadores concursados (agosto de 2004), André Müller de Mello e Rodrigo Christofoletti, para escolares, com prioridade para escolas públicas. Esse pressupõe uma série de fatores para promover diálo-gos, entre os quais: conteúdo da visita dentro da grade curricular; encontro prévio dos professores para elaboração conjunta de ativi-dades próprias para seus alunos; aula na classe sobre o que será efe-tuado; a visita em várias etapas, os jogos, o lanche; e, finalmente, a volta dos alunos, em finais de semana e nas férias, trazendo amigos, vizinhos e familiares, em uma visita por eles próprios conduzida.

Alguns grupos de escolas públicas sentiram dificuldade em efetuar a visita Prévia, e estamos em fase conclusiva na formulação de um programa que usa o correio digital como mídia e trabalha sempre por contraste, ou seja, se uma vez se dialoga sobre o perto, na outra visita será o distante. Na sala de aula efetuarão outras atividades e elegerão qual dos produtos os representará no site do Monumento. Como uma gincana, procuraremos doações para a biblioteca das escolas que mais vezes comparecerem, sendo sempre recebidas com novo programa. Denomina-se I-Papo – Imaginário e Práticas Apro-ximativas do Patrimônio; com muita satisfação assinalo que fizemos conjuntamente, assim como os demais.

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Outro conjunto de sujeitos-atores reside no próprio bem cultural e, acreditando-se que este pode receber planos de ação em várias áreas, foi criada a Plataforma Sophia, uma base para acolher distin-tos grupos. Para a comunidade USP, nos diferentes campi, projeta-mos o Programa Território e Transformação no qual se comparam as condições de ocupação do espaço em diferentes locais e segundo a origem dos mesmos. Durante a época de férias estamos realizando o Projeto Portas Abertas, um verdadeiro experimento para as ativi-dades durante o ano. Outro, o Programa Laboratório de Memória foi pensado a partir dos alunos que compõem o Vou Volto, estendendo aos familiares e alargando o debate sobre a memória, em face do Monumento Nacional, com os professores e alunos da UniSantos.

Terceiro fator, não menos admirável, procura valorizar os saberes e trabalho, sem, no entanto, reificar as marcas materiais, os dados, as datas, os fatos e as intervenções, tanto a construção significativa projetada por Luis Saia quanto a atual Base Avançada de Cultura e Extensão, também respeitável, de lavra do professor e arquiteto Júlio Roberto Katinsky. Evita-se, também, adocicar a história ou dia-bolizar parcela desta, tendo o cuidado de não museificar fragmentos ou a tragédia ali ocorrida, pois já se encontra lá um museu a céu aberto.

Defendo que o espaço demanda um uso qualificado, com pesquisa, ensino e extensão continuada e bipolar entre comunidade e Univer-sidade.

Colabora-se, assim, para configurá-lo como lugar, dentro de um pro-cesso preservacionista e não meramente em eventuais situações, de modo interpretar-se os vários passados e criar condições para que haver, no futuro, uma história sem a barbárie de que foi objeto, por agentes em confronto.

Entre os desastres se encontram incêndios, saques e chacina hu-mana, sendo importante manter-se como ruína para relembrar tais descaminhos deploráveis do humano. Considero um alerta oportuno para este momento da humanidade, tanto sob a ótica ambiental quanto humana e social. Afinal, negros africanos e índios ali sacrifi-cados não podem ser silenciados ou dissimulados em um passado cenarizado e suavizado, como se fosse possível esquecê-lo diante desses graves conflitos. Outono 2007.

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Depoimentos Maria Cecília França Lourenço

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Bibliografia

ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.

DEUS, Frei Gaspar Madre de. Memórias para a história da Capitania de São Vicente. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975.

FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Os capitães-mores vicentinos. Revista do Arquivo Municipal (LXV), São Paulo, 1940.

FURTADO, Alcebiades. Os Schetz da Capitania de São Vicente. Publica-ções do Arquivo Nacional, vol. 14, p. 5-31, 1914.

LAGA, Carl. O Engenho dos Erasmos em São Vicente: resultado de pes-quisas em arquivos belgas. Revista de Estudos Históricos, Marilia, p. 13-43, jun. 1963.

LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia paulistana histórica e genealógica. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980.

SOUSA, Gabriel Soares de. Notícias do Brasil. Lisboa: Alfa, 1989.

SOUSA, Pero Lopes de. Relação da navegação de Pero Lopes de Sousa (1530-1532). In: Martim Afonso de Sousa. Lisboa: Alfa, 1989.

STOLS, Eddy. Um dos primeiros documentos sobre o Engenho dos Schetz em São Vicente. Revista de História, São Paulo, v. 37, p. 407-419, 1968.

Bibliografia produzida

ENGENHO São Jorge dos Erasmos. Revista USP, n. 41, março a maio 1989.

RUÍNAS Engenho São Jorge dos Erasmos. Catálogo para visitante em inglês e em português, 1999.

RUÍNAS Engenho São Jorge dos Erasmos. Imaginário dos primeiros anos. Catálogo para público escolar e visitante, 2001.

RUÍNAS Engenho São Jorge dos Erasmos. Plataforma Sophia, 2006. VouVolto: Projeto educacional para o Ensino Fundamental, 2005, 2006 e 2007.

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Exposição Amantes da Fotografia

O Projeto Amantes da Fotografia, idealizado por Cândida Maria Vuo-lo e Roberto Bogo, fotógrafos e funcionários do Laboratório de Foto-grafia, foi criado como parte das comemorações do cinqüentenário da FAUUSP, em 1998, buscando aglutinar tendências e caminhos da fotografia. Em todos esses anos contou com o apoio do Fundo de Cultura e Extensão Universitária, configurando seu caráter exten-sionista. Entretanto, por sua própria natureza, exposição fotográfica aberta à participação, “Amantes da Fotografia” enseja uma reflexão sobre os dilemas envolvidos na realização de atividades de extensão, de forma geral, em um país de grandes carências e recursos limita-dos, como é o caso do Brasil.

Com efeito, as atividades extensionistas costumam ser enquadradas em algumas grandes categorias, a saber: assistencialistas – quando suprem atividades básicas cujo fornecimento pela esfera pública é insuficiente, como serviços de saúde, assistência jurídica, etc.; modernas – quando desenvolvem atividades de pesquisa que pos-sibilitam avanços tecnológicos, incorporados às empresas privadas, geralmente na área de engenharia genética, farmacologia, infor-mática, etc.; e emancipatórias – quando voltadas para os excluídos, incentivando o protagonismo da comunidade e o fortalecimento da cidadania; encaixam-se aí as atividades ligadas à educação, identida-de, expressão artística, etc.

Ainda que não seja possível estabelecer uma hierarquia de valores entre elas, é evidente que, por seu caráter mais imediato, as ativida-des assistencialistas revestem-se, por vezes, de um caráter emergen-cial, ganhando, nesse sentido, prioridade sobre as demais. Por outro lado, as atividades ditas modernas estimulam núcleos de pesquisa e podem constituir, também, significativa fonte de renda para os sem-pre escassos orçamentos universitários, favorecendo indiretamente, dessa forma, todo o conjunto de atividades extensionistas aí reali-zados. Já as atividades voltadas à emancipação social e individual – caso da Amantes da Fotografia, cujo foco está na linguagem foto-gráfica como expressão artística e de resignificação de conhecimen-to – enfrentam maiores dificuldades para sua sustentabilidade, na ausência do caráter emergencial ou de geração de renda verificados nas demais.

AMANTES DA FOTOGRAFIA

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É dentro desse quadro que se pode entender as condições de preca-riedade que o Laboratório de Fotografia da FAUUSP tem enfrentado na realização da mostra Amantes da Fotografia, a começar pelas dificuldades de manter a periodicidade anual do evento.

A seguir, apresenta-se um breve histórico do evento, seus objetivos, público-alvo, temas abordados e atividades correlatas realizadas

O Laboratório de Fotografia da FAU mantém cursos regulares aber-tos à comunidade da escola desde 1976. Como núcleo de produção de imagens, tem formado várias gerações de fotógrafos profissionais e amadores que abordam temas da vida urbana: suas luzes, sua arquitetura e seus grafismos.

A vontade de reunir essa produção surgiu em 1998, quando foi ide-alizada a primeira edição da mostra como parte das comemorações do cinqüentenário da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Surge aí a Amantes da Fotografia, exposição anual que passou a acontecer no Salão Caramelo da FAUUSP, voltada, inicialmente, à divulgação dos trabalhos de ex e atuais alunos, professores e fun-cionários. Realizada em 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2006.

Em 2001 a mostra teve como tema “A cara do Brasil”, na qual foram apresentadas fotos em grande formato com nuances de um Brasil em constante ebulição em suas mais variadas caras e problemas.

A partir dessa mostra fez-se necessário abrir à participação do públi-co em geral. Fomos procurados por alunos de outras unidades e por pessoas fora da USP que procuravam espaço para mostrarem seus trabalhos. Notamos que e a exposição abria caminhos para o pensar e o fazer fotográficos. Daí a abertura veio quase como uma impo-sição. O fotógrafo e ex-funcionário do laboratório, Juvenal Pereira, tem colaborado, trazendo para a exposição fotógrafos do meio jor-nalístico e artístico.

Em 2004 abordamos o tema “A cidade de São Paulo”, como parte das comemorações oficiais dos 450 anos da cidade.

Em sua oitava edição, 2006, enfocou-se o “Patrimônio cultural nacional: Patrimônio tombado, patrimônio ignorado e patrimônio em ruínas.” Essa mostra foi acompanhada pela realização de oficinas paralelas:

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Depoimentos Maria Lúcia Bresan e Cândida Maria Vuolo

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

“Fotografia e arquitetura”, ministrada por Nelson Kon, e “Cidades reve-ladas”, por Cristiano Mascaro, ambos fotógrafos e arquitetos formados pela FAUUSP. Tal complementação da exposição por eventos paralelos é objetivo sempre perseguido, mas raramente concretizado, devido à escassez de recursos.

Todas as edições são registradas em catálogos, cartazes e postais, im-pressos no Laboratório de Programação Gráfica da FAU.

Criamos um calendário em 2006, realizado com ajuda financeira dos participantes que arcam com o custo das ampliações fotográficas, já que não temos conseguido recursos para montagem da exposição. Nessa ocasião, o Fundo de Cultura e Extensão concedeu duas bolsas-trabalho para alunos da graduação, auxílio imprescindível para a cons-trução do site do evento, que pode ser visto no endereço http://www.amantesdafotografia.usp.br.

Em 2007, na nona mostra trabalharmos com o tema “A lira dos vinte anos”, aberto à comunidade universitária, na qual os amantes da foto-grafia mostraram fotos realizadas entre os seus 20 e 29 anos de vida, promovendo o encontro de várias gerações em várias décadas de foto-grafia. Também foi cogitada a realização de um concurso para o melhor projeto de estrutura expositiva autoportante para receber essa mostra, idéia a qual congrega outros setores da FAUUSP ao evento, contando com o apoio da Diretoria, do Departamento de Desenho Industrial e da Comissão de Cultura e Extensão Universitária da Unidade. Tal concurso teve ser adiado para 2008, por falta de tempo hábil para os preparativos necessários.

E já estamos pensando na comemoração dos 60 anos da FAUUSP e dos 10 anos da Amantes da Fotografia, em 2008. Pretendemos festejar com a publicação de um livro.... o que dependerá das condições de trabalho e de recursos, no quadro de dificuldades apontado anteriormente.

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

CIDADE DOCUMENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO

Coordenação dos debates

Professora Maria Cecília Loschiavo

Depoimentos

Vídeo Lelé: design e responsabilidade social

Fernanda Bonatti

Referências culturais e ambiente

Professora Ângela Maria Rocha

Arquivo histórico municipal Washington Luís

Professora Beatriz Piccolotto Bueno

Vídeo: Olhar a FAU

Tatyane Bandeira

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Depoimentos Fernanda Bonatti

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Documentário - Design e Responsabilidade Social: os projetos para a saúde do arquiteto João Filgueiras Lima Lelé

Síntese das ênfases do trabalho em relação ao termário geral da mesa SOCIAL

Argan (1998), afirma que a sociedade se reconhece na cidade como o indivíduo no objeto; a cidade, portanto, é um objeto de uso coletivo. Ao comentar o processo deformado e vicioso de projeto que tem como única finalidade o lucro máximo, conclui: “a espiral do consumismo conduzirá, em um tempo relativamente breve, ao empobrecimento até mesmo dos recursos biológicos.” Atenta para uma nova maneira de projetar a existência, por meio de um design que não estará mais em função do bem-estar, mas das necessidades.

A responsabilidade social deriva, em parte, dos valores éticos indivi-duais dos designers, mas é também uma resposta às necessidades da população. O tema “Design social” começou a ganhar espaço a partir da década de 1960, quando críticos de design passaram a abordar assun-tos como o consumismo, o design “verde”, o ecodesign, a sustentabili-dade e o design direcionado às mulheres. A acessibilidade e a inclusão passaram a fazer parte do interesse desse tipo de abordagem do design, tornando-se campos de trabalho e de negócios. Papanek, 1977, enfati-zou a necessidade de o designer adquirir uma nova responsabilidade moral diante da sociedade, pois os produtos que desenvolvem podem interferir seriamente na maneira de viver das pessoas.

O documentário Design e responsabilidade social: Os projetos para a saúde do arquiteto João Filgueiras Lima-Lelé tem por objetivo docu-mentar, minuciosamente, a contribuição brasileira desse arquiteto em relação ao design social direcionado à área da saúde.

O Hospital Sarah Kubitschek, Brasília, para doenças do aparelho locomo-tor, cujo projeto se iniciou em 1976, foi inaugurado em 1980, naquela cidade, para funcionar como um hospital de referência a um subsistema de medicina especializada. Nessa cidade, a rede Sarah surgiu em 1974, originária da atuação da Fundação das Pioneiras Sociais, organização fundada, inicialmente em Minas Gerais, por Sarah Kubitschek. A própria conceituação física do edifício tornou-se necessária no sentido de criar condições para que as atividades dos médicos e dos pacientes ocorres-sem da maneira mais adequada possível. Foram introduzidas técnicas

VÍDEO LELÉ: DESIGN E

RESPONSA-BILIDADE

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Depoimentos Fernanda Bonatti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

inovadoras visando ao aumento do rendimento e melhor qualidade dos serviços, como, por exemplo, um melhor atendimento ao conforto tér-mico, à iluminação natural e criação de espaços verdes; também foram incluídos, no projeto, alguns equipamentos a serem utilizados pelos médicos e pacientes do hospital. Assim se decidiu pela ampliação das oficinas para a elaboração de protótipos e fabricação dos equipamentos exigidos.

Na construção do Hospital do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek Salvador/ Associação das Pioneiras Sociais em Salvador-BA, 1991, foram utilizados os mesmos princípios. O modelo das camas-macas foi aperfei-çoado: atualmente, os hospitais da rede Sarah beneficiam anualmente mais de um milhão de pessoas nas unidades hospitalares de Brasília, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, São Luís, Natal, Recife, Curitiba, Macapá e, recentemente, Rio de Janeiro.

Bibliografia

ARGAN, Giulio Cario. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

João Filgueiras Lima/ Lelé [organizador/ Editor Giancarlo Latorraca] Lisboa, Editorial Blau, 1999.

MOURA, Éride. Entrevista com João Filgueiras Lima. Projeto Design, 280, 2003.

PAPANEK, Victor. Disenar para el mundo real-ecologia humana y cambio social. Madri: H. Blume Ediciones, 1977.

PAPANEK, Victor. Arquitectura e design. Lisboa: Edições 70, 1995.

SANTOS, M.C.L. Por um design para a vida. Revista Design & Interiores, v. 6, n. 1, 1988.

Sites

Arco Web: -www.arcoweb.com.br/arquitetura/arquitetura246.asp

Inventa Brasil: www.inventabrasilnet.t5.com.br/saracad.htm

Rede Sarah: www.sarah.br.

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Depoimentos Ângela Maria Rocha

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A produção e o ensino da arquitetura navegam há muito pelo campo da virtualidade. Os ambientes do passado, ou mesmo de lugares distantes, podem encontrar, nos meios de comunicação eletrônicos contempo-râneos, um lugar, presentificando, virtualmente, aquelas referências culturais habitualmente apenas compartilhadas no vivido, no espaço e no tempo. Essas atuais possibilidades se apresentam de imediato como perspectiva de difusão do conhecimento e preservação da memória, como é o caso da documentação da arquitetura em vídeo.

O relato e as conclusões sobre uma experiência de ensino por meio de disciplina voltada para o estudo comparativo entre as diversas formas de representação, propondo a realização de documentação em vídeo das obras construídas estudadas, é o objetivo dessa apresentação. Mos-traremos uma parte do material produzido, pontuando novas dimen-sões para o entendimento da virtualidade e do vivido verificadas nesse processo de confronto entre essas experiências.

A produção e o ensino da arquitetura estão fundamentados há muito tempo no campo das representações e têm sido compreendidas como meios de acesso à realidade para a organização do pensamento cons-trutivo, para a compreensão, transmissão e documentação do espaço construído. Traduzem a virtualidade, a potencialidade de tornarem-se espaço construído e vivido e, para o processo de aprendizagem, signi-ficam a possibilidade de acesso a diversas obras, contemporâneas ou não, espalhadas pelo mundo.

Com a reestruturação do Departamento de Tecnologia da Arquitetura realizada em 2002 e 2003, foram implementadas, em 2004, as disci-plinas obrigatórias e optativas organizadas, criadas e voltadas para a representação. Isso significou o efetivo reconhecimento de sua impor-tância para o ensino e para a prática da arquitetura. O advento da infor-mática delineou claramente o que está implicado nas representações: enquanto instrumental para a produção e transmissão do projeto não é intuitivo ou evidente, qualquer que seja o meio empregado, mas é complexo e envolve muitos processos cognitivos, podendo também delimitar ou ampliar os recursos, tanto para o projeto como para a aprendizagem.

As diversas representações para a arquitetura se constituem como linguagens provenientes da geometria (como as projeções), das re-presentações técnicas (fundadas na fotografia), do desenho livre e de maquetes.

REFERÊNCIAS CULTURAIS E

AMBIENTE

1 ZEVI, Bruno. Saber ver a

arquitetura. São Paulo:

Martins Fontes, 1992

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Depoimentos Ângela Maria Rocha

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Os capítulos iniciais do livro de Bruno Zevi, Saber ver a arquitetura1, abordam as possibilidades e os limites das diversas formas de represen-tação conhecidas até à época para a apreensão e acesso às obras ar-quitetônicas. Foram também o ponto de partida para a criação de uma disciplina optativa voltada para os processos de representação, entre os quais se incluiu, também, o cinema que, segundo o autor, possibilita a introdução do tempo e do movimento, a atender à expressão do caráter espacial da arquitetura que não é possibilitado pelos outros meios.

A estratégia da disciplina foi abordar e estudar comparativamente diversos processos de representação, inclusive a linguagem cinemato-gráfica e, posteriormente, analisar algumas obras construídas em São Paulo por meio de publicações, fotos, desenhos e plantas no acervo da biblioteca, procurando apreender os objetos representados. As obras analisadas tinham como objetivo a realização de vídeos, de três minutos cada um, procurando expressar sem narrativas, mas por imagens e de modo inteligível a um espectador que não tivesse conhecimento da obra, procurando criar um modo de emprego dessa linguagem mais adequado às especificidades da arquitetura.

Essa proposta se explicitou também como produção de documentação em vídeo, uma necessidade reconhecida quando se pensa, por exem-plo, nas residências modernas construídas em São Paulo que, diferen-temente de outras, de livre acesso pelo público, dificilmente podem ser visitadas por uma turma de alunos como as nossas, sem provocar gran-de incômodo aos moradores. Muitas dessas obras ainda permanecem, mas correm risco de descaracterizarem-se ou desaparecerem. Os vídeos tiveram também o propósito de investigar e criar possibilidades de documentação para a arquitetura na expectativa de produzir material didático para consulta na biblioteca, considerando, ainda, a perspectiva de difusão desse material pela internet que se anunciava na época. Não houve a pretensão de os alunos tomarem para si os aspectos técnicos que envolveram as filmagens, os quais requerem um tempo de expe-riência e aprendizado com a aparelhagem para gravação e programas mais sofisticados para edição, para se ter um bom resultado como do-cumentação, o que está fora do escopo da disciplina. Aqui os préstimos do pessoal técnico do laboratório de vídeo foram importantes. Houve alunos que, já contando com alguma familiaridade e experiência, pre-feriram desenvolver o trabalho por sua própria conta. A aluna Tatyane Bandeira de Souza editou, junto dos demais alunos, os vídeos realizados em 2004, por ocasião do desenvolvimento de seu trabalho como bolsis-

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Depoimentos Ângela Maria Rocha

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ta de iniciação científica e, em 2006, a funcionária Clara os editou para os demais alunos, depois que se constatou essa necessidade. Os vídeos realizados pelos alunos apresentam a perspectiva de desenvolvimento de um importante trabalho de documentação no âmbito da cultura e extensão universitária, cujas possibilidades já estão dadas hoje pelas condições técnicas.

Foram realizados nove vídeos sobre residências, uma sobre uma loja e cinco sobre espaços culturais por três turmas inscritas na disciplina, oferecida em semestres alternados em 2004, 2005 e 2006. Cada vídeo foi realizado por equipes de três a cinco alunos, mas todos acompanha-ram, por meio de seminários, as diversas etapas: análise e apresentação dos desenhos, plantas, cortes e fotografias já existentes das obras es-colhidas, filmagem bruta, finalmente, o vídeo já editado. Paralelamente a todo o processo, as visitas às obras, o contato direto com o objeto conhecido por meio de representações e também apresentado pelo vídeo, possibilitou, o tempo todo, a avaliação, justamente, das possibili-dades e limites de cada representação.

A minha constatação, quanto a todo esse processo, foi a de estarmos tão imersos em processos de representação e em suas linguagens, principalmente aqueles processos provenientes da fotografia, como o cinema e o vídeo, que quase nos habituamos a entendê-los como fiéis transmissores da realidade e esquecemo-nos de que são repre-sentações. A disciplina, voltada para a comparação entre formas de representação, trouxe à tona o confronto de todas as representações com a concretude da experiência proveniente do contato atento com o espaço construído, averiguando-se que, dificilmente, noções básicas como dimensão e cor, sombra e luz poderiam ser convenientemente apreciadas pelas representações.

Nos últimos três anos, as possibilidades da transmissão de imagens se potencializaram e, pela internet é possível acessar diversas obras. O mundo da virtualidade tem procurado cada vez mais a proximidade e a adequação ao real com a tecnologia. Nossas referências culturais, que até então eram habitualmente compartilhadas no vivido, no espaço e no tempo, podem estar se tornando uma outra coisa.

Lembro de uma passagem em que Marshal Berman2 se refere aos bu-levares de Paris do Barão Haussmann, considerando-os como emble-máticos do mundo moderno, descritos por Baudelaire em um poema intitulado “Os olhos dos pobres”. Nesse espaço urbano, um casal apaixo-

2 BERMAN, Marshal. Tudo que é sólido

desmancha no ar. São Paulo: Companhia

das Letras, 1998.

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Depoimentos Ângela Maria Rocha

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

nado está instalado em um terraço em um novo café. Uma família em andrajos, um casal com uma criança se postam em frente a eles e olham maravilhados as luzes lá dentro. Ele se enternece com esses olhares fas-cinados e ela se volta para ele dizendo estar incomodada com aquelas pessoas de olhos esbugalhados pedindo para ele solicitar que o gerente os afaste. Berman prossegue, dizendo de um novo mundo que se anun-cia aqui: o privado e o público, os pobres tendo contato com um outro tipo de vida, o casal apaixonado dividido e separado politicamente perante a presença dos pobres.

Na imagem poética de Baudelaire, a proximidade física e espacial entre as classes sociais manifesta a emergência do público e do privado como posicionamento político: quem é igual e em quê se é igual ou diferente, compõe identidades que ultrapassam a concretude material da posição socioeconômica, podendo abrir-se para decisões. É a esfera do mun-do público, o debate, a opinião e visibilidade como parâmetro para o mundo democrático e para uma nova concepção identitária múltipla e volátil.

Ora se é espetáculo, ora se é público nesse espaço metropolitano, ma-terialmente diferente do espaço virtual possibilitado pela diversidade atual das representações técnicas. Os ambientes do passado ou mesmo de lugares distantes podem encontrar, nos meios eletrônicos contem-porâneos, um lugar que os presentifique. Apresentam-se de imediato como perspectiva de difusão do conhecimento e preservação da me-mória. Instaura também o exame comparativo entre a virtualidade e o vivido sob novas dimensões.

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Depoimentos Beatriz Piccolotto Bueno

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A Cidade de São Paulo e sua Arquitetura

Apoiados pela Fapesp, em parceria, a Faculdade de Arquitetura e Ur-banismo da Universidade de São Paulo e o Arquivo Histórico Municipal “Washington Luís” irão informatizar parte da Série das Obras Particulares (1906-1920) e o Fundo Particular Severo e Villares, pertencentes ao acer-vo do Arquivo Municipal. Nos próximos dois anos e meio, cerca de 70.000 documentos merecerão tratamento arquivístico adequado – descrição documental em catálogo informatizado, reprodução fotográfica e digital dos desenhos – com o intuito de facilitar – sua consulta e preservação. Informatizar o acervo, agilizar a pesquisa e divulgá-la em larga escala são as metas fundamentais desse projeto de pesquisa. A agilização da pes-quisa será feita por meio de banco de dados informatizado, relacionado a um banco de imagens, a ser consultado via internet (com imagens de baixa resolução). Para segurança e divulgação da coleção, o projeto propõe a duplicação dos originais (em cromos e DVDs – imagens TIF 300 dpis) e uma série de publicações e exposições com o intuito de despertar a atenção da comunidade para a riqueza desse acervo sobre a cidade de São Paulo e sua arquitetura. Uma cópia das plantas – em DVDs – e respec-tivo banco de dados será entregue à biblioteca da FAUUSP, garantindo a segurança da coleção e facilitando a consulta dos desenhos.

Arquitetos, historiadores, arquivistas, fotógrafos, bolsistas de apoio téc-nico, iniciação científica, mestrado e doutorado estão sendo envolvidos no projeto, com intuito de desenvolver trabalhos temáticos mais teóri-cos sobre a documentação em processo de informatização, com apoio conceitual dos pesquisadores principais do projeto. Acreditamos que a informatização desse precioso acervo permitirá o desenvolvimento de novas linhas de pesquisa em história da arquitetura, da urbanização e do urbanismo da Cidade de São Paulo. A agilização da pesquisa poderá gerar correlações jamais feitas pela historiografia. Espera-se que tais iniciativas, além de beneficiarem pesquisadores e contribuírem para a formação dos universitários, deverão repercutir para além das fronteiras da comunidade científica, contribuindo para a preservação do acervo, bem como para a divulgação de seus conteúdos e conseqüente valori-zação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural da cidade de São Paulo. Trata-se, portanto, de políticas públicas da área de cultura, pró-prias de uma Secretaria de Cultura, com apoio da Universidade de São Paulo no âmbito de programas de cultura e extensão.

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL

WASHINGTON LUÍS

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Depoimentos Beatriz Piccolotto Bueno

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Propomos para discussão, na mesa-redonda “Cidade: Documento e Rep-resentação”, as seguintes questões:

– Dificuldades inerentes à formulação e gestão de projetos e parcerias dessa natureza;

– Informatização de acervos de arquitetura: opções e limites;

– Diagnóstico e metodologia de trabalho;

– A natureza específica dessa série documental; arquitetura, representa-ção e cidade.

– A riqueza do acervo: novas linhas de pesquisa em Arquitetura, Urbani-zação e Urbanismo.

– Estratégias de divulgação: exposições e publicações.

Algumas pesquisas sobre arquitetura e urbanismo utilizando a documentação em questão:

BARBUY, Heloísa. A cidade-exposição. Comércio e cosmopolitismo em São Paulo, 1860-1914. São Paulo: Edusp, 2006.

BUENO, Beatriz P. S. Tecido urbano e mercado imobiliário em São Paulo; metodologia de estudo com base na décima urbana de 1809, n. 13, 2005. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material n. 13, p. 49-99 2005.

CAMPOS, Eudes. São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império. In: PORTAS, Paula (Org.). História dacidade de São Paulo; a cidade do Império 1823-1889. São Paulo: Paz e Terra, v. 2, 2004.

CAMPOS, Eudes. Arquitetura paulistana sob o Império. 1997.

Tese (Doutorado) – Faculdade de Aqruitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1997. 4 v.

CAMPOS, Eudes. Nos caminhos da Luz, antigos palacetes, n. 1, 2005. Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 13, n. l, pp. 11-58, jan-jun. 2005.

CARVALHO, Maria Cristina Wolf de. Ramos de Azevedo. São Paulo: Edusp, 2000.

LEFEVRE, José Eduardo de Assis. De beco a avenida. a história da rua São Luiz. São Paulo: Edusp, 2006.

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Depoimentos Beatriz Piccolotto Bueno

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LEMOS, Carlos. Alvenaria burguesa. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1989.

___. Ramos de Azevedo e seu escritório. São Paulo: Pini, 1993.

___. A república ensina a morar (melhor). São Paulo: Hucitec, 1999.

REIS FILHO, Nestor G. 100 anos de ensino de Arquitetura e urbanismo em São Paulo - Coordenação e texto. São Paulo:FAUUSP/Fupam, 1996.

REIS FILHO, Nestor G. Racionalismo e Proto-Modernismo na obra de Victor Dubugras. São Paulo: Fundação Bienal/ABCP, 1997.

REIS FILHO, Nestor G. Restauração do Palácio Campos Eliseos. São Paulo: SCTDE/Via das Artes, 2003.

___. São Paulo: Vila, cidade, metrópole. São Paulo: Via das Artes, 2004.

___. Victor Dubugras -Precursor da arquitetura moderna na América Latina. São Paulo: Edusp, 2005.

___. Dois séculos de projetos em São Paulo - Grandes obras, urbanização e urbanismo 1800-2000. (prelo).

TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: Três cidades em um século. São Paulo: Duas Cidades, 1983.

___. Álbum da avenida Paulista. São Paulo: Ex- Libris/ João Fortes Enge-nharia, 1987.

___. Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo. São Paulo: Empresa dasArtes, 1996.

Bibliografia sobre arquivos digitais

ARELLANO, Miguel Angel. Preservação de documentos digitais. Ci. Inf., Brasília, v. 33, n. 2, p. 15-27. 2004.

KENNEY, Anne; CHAPMAN, Stephen. Requisitos de resolução digital para textos: métodos para o estabelecimento de critérios de qualidade de imagem. 2a. ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Biblio-tecas e Arquivos, 2001.

MARTINS, Neire; REINEY, Alice; PIRES, Reinaldo. Digitalização de docu-mentos. Campinas: SIARQ/UNICAMP, 2001.

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Depoimentos Beatriz Piccolotto Bueno

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

RIBEIRO, F. Tecnologia digital para bibliotecas, museus e arquivos. Porto: Universidade Fernando Pessoa/Centro deEstudos e Recursos Multimediá-ticos/ Pós-Graduação em Ciências da Informação e da Documentação.

SUDERMAN, Jim. Soportes y formatos de conservación y transferencia: Hacer elecciones responsables. In: Conferência SARBICA, 2004.

THOMAZ, Kátia; SANTOS, Wilma. Metadados para o gerenciamento eletrônico de documentos de caráter arquivístico - GED/A: estudo com-parativo de modelos e formulação de uma proposta preliminar. DataGra-maZero - Revista de Ciência da Informação, v. 4, n. 4, 2003.

THOMAZ, Kátia. Gestão e Preservação de Documentos Eletrônicos de Arquivo: Revisão de Literatura - Parte 1. Arquivistica.net. Rio de Janeiro, v. l, n. 2: 8-30, 2005.

___. Gestão e Preservação de Documentos Eletrônicos de Arquivo: Re-visão de Literatura - Parte 2. Arquivistica.net. Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 114-131, 2006.

___. Estratégias para a preservação (de longo prazo) de documentos digi-tais: uma abordagem arquivística. Revista OS.qxd., Rio de Janeiro,2007.

www.nara.gov/era

Coordenador

Professor Nestor Goulart Reis Filho

Pesquisadores

Profa. Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno, Prof. José Eduardo de Assis Léfèvre, Profa. Maria Lúcia Bressan Pinheiro

Pesquisadores do AHMWL

Celina Yoshimoto, Guido Gustavo Venturini Flud Alvarenga, Eudes de Mello Campos Júnior, Solange Souza, Jorge Lody, Maria Sampaio Bonafé e Breno Berezovsky.

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Depoimentos Tatyane Bandeira

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Objetivos

A pesquisa investigou a relação entre o meio audiovisual enquanto docu-mentação e representação para a arquitetura, considerando a linguagem do vídeo como maneira adequada de mostrar a arquitetura e suas possíveis transformações no tempo. Foram estudados os vídeos que abordam a arquitetura sob os seguintes aspectos: análise dos edifícios, entrevistas com arquitetos, vídeos técnicos de sistemas construtivos e documentação de intervenções urbanas.

Esse meio é uma linguagem que expressa, de maneira adequada, a arquitetura e suas possíveis transformações no tempo, privilegiando a multiplicidade de imagens no tempo, aumentando os pontos de vista e possibilitando tanto a visão global quanto a parcial do objeto estudado, o que faz com que não se perca a identidade essencialmente espacial, que caracteriza a arquitetura. Essa é uma maneira dinâmica de tratar-se o espaço.

O estudo do vídeo na arquitetura é um método poderoso como ferra-menta educacional, principalmente para o ensino a distância. Mas o que se percebe é a ausência ou mesmo a inexistência de pesquisas nesse sentido. O trabalho da pesquisa tem caráter interdisciplinar, pois pro-cura interligar diferentes áreas como cinema, arquitetura, desenho, etc, apresentando-se como uma forma importante para o ensino e docu-mentação da arquitetura.

Material e/ou métodos

Com esse objetivo foi realizado um levantamento do material existen-te na FAUUSP, inicialmente nos vídeos realizados pelo Laboratório de Vídeo da FAUUSP Setor de vídeo destinado ao apoio didático -VIDEO-FAU e, a seguir, nos vídeos, no acervo da biblioteca e disponíveis para consulta.

Levantamento dos vídeos

O acervo de vídeos da Biblioteca da FAUUSP faz parte do conjunto de multimídia e conta com mais de 640 vídeos em 557 fitas. O VIDEOFAU é a seção de Vídeo FAUUSP, e trabalha com a produção de documentários com temas relativos à arquitetura, urbanismo, arte e meio ambiente. Observando os dois acervos, foi constatado a ausência da duração, data e dados da produção dos vídeos. Em ambos os locais não existe classifi-cação ou discriminação por assuntos para uma identificação e consulta do acervo.

VÍDEO OLHAR A

FAU

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Depoimentos Tatyane Bandeira

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A partir do universo de 123 fitas existentes na produção VIDEOFAU, efe-tuamos um agrupamento dos vídeos segundo os assuntos e imagens que passaram a orientar o trabalho:

Análise dos vídeos do videofau

O que pode ser observado nessa classificação foi o maior número de fitas do grupo Entrevista. Esse conjunto abrange todo tipo de produção audiovisual que apresenta gravações de entrevistas e palestras, em que é somente a fala (áudio) o que mais interessa, pois a imagem assume aspecto secundário.

O segundo grupo, quanto ao número de fitas, foi o Documentário. Esse conjunto abrange todos os vídeos que procuram tratar os conteúdos de maneira objetiva e didática e privilegiam as informações veiculadas pe-las imagens. A produção desses vídeos tem, em geral, caráter educativo. Sua expressão é dada pela diversidade de imagens e o modo como são tratados, pois procuram apresentar imagens, desenhos e entrevistas, como um modo de explicação do tema.

O terceiro é o grupo Materiais, relata direta e claramente os processos técnicos e construtivos dos edifícios, descrevendo as etapas das obras arquitetônicas. Fazem uso das imagens como meio de documentar as diferentes fases de uma construção, de maneira realística e completa.

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Depoimentos Tatyane Bandeira

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O penúltimo é o grupo Institucional, – gravações de palestras e eventos na própria FAUUSP e tem caráter documental. O último grupo é o Ou-tros, compreendendo vídeos que não entraram em nenhuma classifica-ção anteriormente proposta por estarem fora dos parâmetros descritos.

Utilização dos vídeos da biblioteca FAUUSP

O levantamento ocorreu com a consulta e catalogação de todas as 557 fichas, em papel, que registram a saída do material, o que contabilizou 3.552 saídas, no período de 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005.

Categorias de utilização

A partir da catalogação por grupos proposta nesta pesquisa, foi realiza-da a organização dos números de fitas e uso.

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Depoimentos Tatyane Bandeira

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Resultados

Por observar todos os números apresentados é possível ver que o gê-nero documentário foi o mais assistido, pois apresenta as características que mais expressam as informações a serem transmitidas de uma forma lógica e clara. O que interessa à arquitetura: a utilização das imagens como forma de atingir o espectador.

Conclusões

Durante a análise das produções confirmou-se a importância do fator imagem, pois, por meio dela foi possível reconhecer as categorias e classificá-las. O tipo documentário apresenta o maior número de fitas e empréstimos, manifestando o maior interesse para o conhecimento e o ensino da arquitetura. O seu predomínio se deu no tratamento dos

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Depoimentos Tatyane Bandeira

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assuntos de maneira clara e direta, exigindo uma lógica na exposição. Isso torna o processo de produção mais rigoroso, porque é baseado no controle das ordens das imagens no filme. O objeto arquitetônico tem sua forma edificada no espaço real, seguindo uma ordem dos processos construtivos e históricos.

Para que o documentário de arquitetura seja realizado é necessário a redação de um roteiro com boa argumentação, para que toda mensagem seja transmitida corretamente. No campo arquitetônico, o roteiro deve ser tratado como algo mais além de um percurso a ser realizado no edifí-cio, pois o que se quer comunicar não é uma visita a uma construção, mas todas as características arquitetônicas desse objeto, e especialmente, a combinação de tudo.

Com o intuito de transmitir todas as informações ao observador, faz-se necessária a utilização de uma linguagem além da simples filmagem, pois a construção totalmente edificada não é capaz de mostrar todos os processos envolvidos, já que foram incorporados ao objeto à medida em que foram finalizados. O uso de artifícios gráficos torna-se um im-portante elemento para as pessoas compreenderem o que está além da visualização direta do objeto.

Essas são as diretrizes para a produção de vídeos voltados para a docu-mentação da arquitetura e do urbanismo, que orientam sua produção e procuram mostrar uma forma de apresentar os objetos em sua maior concretude.

Produto

Olhar a FAU

Com base nessas conclusões foi realizado um vídeo considerando todas as suas etapas, desde a escolha da obra até a realização do filme. Apresenta a produção de um vídeo sobre o edifício da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP) – Cidade Universitária, projeto do arquite-to e professor Vilanova Artigas.

Apresenta todas as fases necessárias para a realização de um vídeo de arquitetura, demonstrando os procedimentos para esse tipo de repre-sentação. Mostra as etapas do processo, pela criação do roteiro e a ne-cessidade de uma forma visual para seu esclarecimento, o storyboard, enfatizando seu caráter educacional pela inserção de artifícios gráficos,

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Depoimentos Tatyane Bandeira

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

como animações, um importante recurso para a compreensão do que está além da visualização imediata do objeto.

Fundamentado no questionamento das produções existentes sobre o tema, oferece coerência e consistência aos argumentos que pretendem fornecer as bases para a produção e realização do vídeo, tornando a documentação de arquitetura mais concreta e coerente.

Bibliografia

ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: Uma psicologia da visão cria-dora: nova versão; São Paulo: Pioneira/Edusp, 1980.

AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 1993.

AUMONT, Jacques. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.

COMPARATO, Doe. Roteiro: Arte e técnica de escrever para cinema e televisão. 2. ed., Rio de Janeiro: Nórdica. 2001.

FIELD, Syd. Manual do roteiro: Os fundamentos do texto cinematográfico. 13. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

HOCKNEY, David. O conhecimento secreto. Redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres. São Paulo. Cosac & Naify, 2001.

LEÃO, Lúcia (Org.). In/; MACHADO, Arlindo. Repensando Flusser e as ima-gens técnicas. São Paulo: Fapesp-Iluminuras, 2002. Interlab – Labirintos do Pensamento Contemporâneo.

MEHRING, Margaret. The screenplay: A blend of fllm form and content Boston: Focal Press, 1990.

MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1997.

MORAES, Roselene. Uma representação videográfica na arquitetura.

Dissertação (Mestrado) – Escola de Comunicação e Artes, São Paulo, 2001.

REISZ, Karel; Millar, GAVIN. A técnica da montagem cinematográfica. São Paulo: Civilização Brasileira, 1978.

RODRIGUES, Chris. O cinema e a produção. Rio de Janeiro: Faperj/Dp & A, 2002.

ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

WATTS, Harris. On comera. São Paulo: Summus, 1990.

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

CIDADE: POLÍTICA PÚBLICA

Coordenação dos debates

Professora Ana Lúcia Duarte Lanna

Depoimentos

Serviço de biblioteca e informação

Eliana de Azevedo Marques

Espaço cultural Cohab Raposo Tavares

Professor Antônio Carlos Barossi

Laboratório de Habitação

Professora Maria Lúcia Refinetti

Ações do laboratório LUME

Professora Regina Meyer

Professora Marta Dora Grostein

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Depoimentos Eliana de Azevedo Marques

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Depoimentos Eliana de Azevedo Marques

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

O serviço de biblioteca e informação da FAUUSP

A FAUUSP foi criada em 21 de junho de 1948 e a Biblioteca nasce como parte integrante da faculdade, tendo como objetivo o auxílio ao estu-do, pesquisa e extensão universitária. Até o ano de 1968 a biblioteca funcionava no prédio da “Vila Penteado”, tendo sido depois transferida com o curso de graduação para o edifício “Vilanova Artigas”,Cidade Universitária,no bairro do Butantã. Entre os serviços que a Biblioteca oferece, um dos mais importantes é o Índice de Arquitetura Brasileira – indexação de artigos de revistas brasileiras de arquitetura - criado em 1950, único no país e fonte imprescindível para pesquisas em arquite-tura e urbanismo. Essa base de dados, com quase 42 mil registros, pode ser acessada no site da biblioteca pelo link consulta online.

Além da coleção de mais de 40 mil livros e mais de 1.000 títulos de periódicos, a Biblioteca possui também acervos significativos de diapositivos, fotos, cds, vídeos, dvds, projetos de arquitetura. As ativi-dades de processamento, conservação e divulgação dessa documen-tação são feitas por diferentes setores, a saber: Setor de Referência e Circulação é responsável pelo atendimento ao público tanto local como remoto. Atua na divulgação do acervo por meio do Sistema COMUT e também no atendimento a pedidos de cópias feitos di-retamente para a Biblioteca. O setor Audiovisual possui mais de 80 mil diapositivos, além de outros materiais como negativos em vidro, CD-ROM e vídeos, entre outras mídias. Desde o ano 2000, os diapo-sitivos vêm sendo digitalizados, visando à preservação do acervo com a formação de uma reserva técnica. Para a reprodução de imagens, a Biblioteca oferece o serviço de digitalização de imagens de seu acervo de fotos, o qual atende a solicitações para exposições e publicações de livros. O setor de Projetos de Arquitetura, criado em 1970, iniciou o processo de estruturação para a organização, guarda e disponibi-lização dos desenhos originais de arquitetura. Conta com um acervo de 400.000 desenhos de arquitetura. Inovando seus serviços com recursos tecnológicos, atende o público pesquisador, órgãos gover-namentais, faculdades privadas de arquitetura e urbanismo, Con-dephaat, editores nacionais e estrangeiros, engenheiros, arquitetos, expositores de obras históricas e museológicas e mídias em geral. A partir de 2005, esse setor colocou à disposição do público o catálogo do acervo online no site da Biblioteca, por meio de um programa de-

SERVIÇO DE BIBLIOTECA E INFORMAÇÃODA FAUUSP

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Depoimentos Eliana de Azevedo Marques

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senvolvido pelos funcionários da mesma. O setor de Conservação foi criado em 1993, no qual funcionários com o conhecimento adquirido sobre conservação passaram a assumir a responsabilidade pelo desen-volvimento de projetos, com o auxílio dos órgãos de fomento para pesquisa (Fapesp, CNPq, VITAE), visando à preservação do acervo de desenhos, em sua maioria em papel vegetal. Também é responsável pelo desenvolvimento de trabalhos educacionais junto aos usuários, voltados ao correto manuseio dos diversos materiais do acervo, assim como pela organização de seminários e workshops sobre conservação de desenhos originais de arquitetura.

O setor de Processamento Técnico da Biblioteca é responsável pelo desenvolvimento de suas coleções. A partir de 2006 passou a desenvol-ver um estudo de uso do acervo de livros, visando ao desenvolvimento da coleção com qualidade, para atender às necessidades dos alunos, professores e pesquisadores dos cursos de arquitetura e urbanismo e design.

MUSEU DE ARQUITETURA

Diante desse panorama, é desejo da FAUUSP constituir, com o acervo de desenhos originais de arquitetura e com as futuras doações, o Museu de Arquitetura Brasileira. O objetivo é a criação de uma instituição que tenha como missão específica a ampliação e preservação dessa preciosa documentação. A escala do acervo e suas características apontam na direção da configuração de uma instituição que, mesmo ligada à sua célula-mãe, o SBI/FAUUSP, tenha estrutura própria para a conservação e divulgação à altura da riqueza de sua coleção.

O Serviço de Biblioteca e Informação da FAUUSP, ciente de sua res-ponsabilidade pela guarda e disponibilização de acervo documental tão diverso e especializado, desenvolveu projetos visando à obtenção de verba com órgãos de fomento para pesquisa, objetivando o me-lhor atendimento aos pesquisadores da área. Nos últimos anos, foram apresentados e aprovados 11 projetos com apoio de instituições como VITAE, Fapesp, BNDES entre outras.

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Depoimentos Eliana de Azevedo Marques

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Bibliografia

MARQUES, E. A; PINTO, L. S. de C. Preservação de desenhos originais de arquitetura. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 14., Salvador, 2006. Anais... Salvador: UFBA, 2006.

MARQUES, E. A. Serviço de Biblioteca e Informação tia FAUUSP. Revista PÓS – da FAUUSP, São Paulo, n. 20, p. 226.

CRÉDITOS

Eliana de Azevedo Marques Diretora

Diná Uliana – Bibliotecária

Letícia de Almeida Sampaio – Bibliotecária

Mônica de Arruda Nascimento – Bibliotecária

Neusa Kazue Habe – Bibliotecária

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

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Projeto Espaço Cultural Cohab Raposo Tavares

O projeto de um Espaço Cultural na Cohab Raposos Tavares surgiu devido à ação de alguns moradores do conjunto, que: em determinado momento, entraram em contato com um grupo de estudantes da FAU, ligados ao Laboratório de Habitação do Grémio da FAUUSP - Labha-bgfau para o projeto do espaço físico.

Nosso envolvimento com esse projeto ultrapassou, em muito, a simples assistência técnica e passou a um engajamento em atividades culturais e nas discussões políticas relacionadas ao espaço cultural.

Começamos a participar e organizar atividades junto da comunidade, como a oficina do Kinoforum em 2001, oficinas com as crianças, itine-rarte, oficina de circo com estudantes da FAU, entre outras. O intuito era colaboração na consolidação de um espaço de cultura, promovendo atividades relacionadas às demandas da comunidade.

Esse envolvimento, que se iniciou em 2001, segue até hoje, com gran-des transformações ao longo de seu percurso. Vale destacar alguns aspectos desse percurso:

Envolvimento com a comunidade

A discussão sobre o caráter de nosso envolvimento com a causa da comunidade esteve sempre presente - qual o foco de nossa atuação dentro do Movimento pelo Espaço Cultural? Se, no início, estávamos engajados em atividades culturais e em discussões com o poder públi-co, esse engajamento oscilou bastante, de acordo com as variações de ritmo de trabalho da comunidade. Tínhamos consciência que não cabia a nós a liderança do movimento, que era da comunidade em torno de suas demandas; e, por outro lado, que nosso envolvimento enquanto estudantes era temporário.

Andamento dos trabalhos e poder público

O andamento dos trabalhos do Movimento pelo Espaço Cultural, como é denominado, foi fortemente influenciado por um tempo político-eleitoral. As principais lideranças do movimento, por serem também muito ativas no PT, a cada eleição havia uma interrupção quase total das atividades do movimento para campanha eleitoral. Portanto, de cada

ESPAÇO CULTURAL

COHAB RAPOSO

TAVARES

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

dois anos, um ano e três meses de trabalho no movimento, nove meses em campanha.

Na esfera do poder público também se manifestava o tempo político-eleitoral de maneira drástica - a cada eleição se trocavam os secretários, mudava a articulação política no Legislativo; a cada troca de gestão do Executivo, um recomeço do projeto. Apresentar o projeto para um monte de gente que não o conhecia, discutir novamente, articular no-vamente.

É impressionante como o funcionamento do poder público está atre-lado ao tempo político-eleitoral e à disputa partidária, a tal ponto de o cumprimento de suas funções básicas também ficar amarrado a isso.

Por outro lado, a disponibilidade de tempo de envolvimento das pes-soas da comunidade no movimento também era bastante irregular. Em um momento em que estava desempregado, o morador podia dedicar-se mais ao movimento. Mas, claramente, isso não poderia durar - conseguindo emprego para garantir sua subsistência, a dedicação ao movimento ficava bastante comprometida, alongando os tempos de trabalho.

Poder público

Dar soco em ponta de faca. Essa expressão resume anos de tentativas de fazer o poder público cumprir suas funções, especialmente quando se trata de cultura. Desde a inauguração da Cohab Raposo Tavares, os moradores conseguiram a instalação de diversos equipamentos, ine-xistentes no início. Vejamos: o poder público constrói um bairro para, aproximadamente, oito mil moradores, e não provê quase nenhum equipamento público (à exceção foi uma pequena escola de Ensino Fundamental). Os moradores, ao longo de anos de disputa com a prefei-tura e com o Estado, e de negociatas eleitorais, conseguem a instalação de escolas e creches.

Ainda não possuem atendimento adequado de saúde. E a área desti-nada desde o projeto original do bairro a um equipamento de cultura contínua vazia.

Quando Marta Suplicy subiu à prefeitura, a liderança do movimento ficou bastante esperançosa com a possibilidade de, finalmente, conse-guir a construção do espaço - tanto por ser um governo do PT quanto

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

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por eles terem ligação com o partido e diretamente com alguns políti-cos do partido. O governo do PT tratou de desconstruir as esperanças de seus militantes ao longo desses anos. E provou também àquele mo-vimento que o poder público continuaria operando dentro da mesma lógica - entraves burocráticos, incomunicabilidade e inacessibilidade do cidadão, rearranjos políticos constantes, tempos eleitorais e negociatas eleitorais.

Um processo demonstra isso bastante bem. O vice-prefeito de Genebra havia doado recursos para a construção da segunda creche da Cohab. Em visita a essa creche, já pronta, a comunidade solicitou sua ajuda para equipar e reformar uma praça ao lado da creche. O vice-prefeito cedeu os recursos, aproximadamente 20 mil reais, encaminhados à prefeitura e depositados em uma conta conjunta de duas lideranças da comuni-dade - uma do Espaço Cultural e outra da creche. A comunidade usou os recursos para equipar a creche que a prefeitura havia inaugurado sem brinquedos e sem equipamentos externos; e, ao invés de reformar aquela praça, construiu uma quadra de esportes em área contígua à do Espaço Cultural.

No ano seguinte, o vice-prefeito, em nova visita a São Paulo, voltou à Cohab para ver o resultado de sua doação. Ficou muito impressionado com a eficiência no uso de recursos tão escassos. Dessa vez, a comu-nidade apresentou o projeto do Espaço Cultural, em folder traduzido ao francês, solicitando ajuda para a consecução do projeto. Em face da solicitação de recursos da ordem de 300 mil dólares, o vice-prefeito novamente prometeu ajudar.

Meses depois, chegou até a comunidade a notícia que o dinheiro havia sido repassado à prefeitura de São Paulo. Não conseguiu-se saber qual valor. Porém, logo em seguida entrou-se em campanha para eleições municipais. Mudou o governo, mudaram os secretários e alguns técnicos, extinguiu-se a Secretaria de Relações Internacio-nais, que cuidava da parceira com Genebra, e esse suposto recurso desapareceu.

Transformações

Ao longo dos anos que vimos envolvidos com esse projeto, a comu-nidade sofreu diversas transformações. O conjunto, que havia sido inaugurado em terreno apartado da cidade, nos limites do município,

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

hoje está completamente inserido dentro de uma periferia urbanizada que ocupou seus arredores. A dinâmica populacional, econômica, a demanda por equipamentos públicos mudou.

O setor de casas teve sensível aumento da área construída, mas não da população. Um dos taludes que delimita o conjunto, amplamente arborizado, foi ocupado por uma favela, em processo extremamente conflituoso, envolvendo traficantes, as comunidades da Cohab e dos bairros vizinhos. Pois bem, essa favela foi recentemente removida, sob pressão de ação do Ministério Público contra a prefeitura de São Paulo (um dado importante em relação a isso: a prefeitura gastou, aproxima-damente, três milhões de reais nesse processo de remoção da favela, entre aluguel social, demolições, indenizações, remoção de entulho).

As crianças que antes freqüentavam as oficinas do circo instalado na comunidade hoje são jovens de 18 a 20 anos, inseridos no mercado de trabalho ou não, alguns envolvidos com tráfico, outros são pais, muitos foram embora da comunidade.

As lideranças que iniciaram o movimento pelo Espaço Cultural com o projeto Cohab Limpa, em 1997, hoje são dez anos mais velhas.

Os estudantes da FAU passaram da dimensão do edifício à dimensão do bairro, tendo realizado estudos para todos os equipamentos públicos da Cohab e para o sistema de áreas livres da comunidade. Desses estudos resultou o projeto apresentado na 5a Bienal de Arquitetura de São Paulo, representando os estudantes da FAUUSP.

Estudantes e Universidade

O projeto teve dois grupos de estudantes envolvidos. Da primeira equi-pe, de 2001 a 2004, a quase totalidade dos estudantes já está formada. Apenas um estudante faz parte da segunda equipe do projeto, que assumiu em 2004, com a perspectiva do financiamento por Genebra.

Contamos com o auxílio de duas bolsas do Fundo de Cultura e Extensão da CCEx USP. A primeira entre 2002 e 2003, e a segunda em 2005. Foi um auxílio importante no sentido de cobrar organização dos produtos e das reflexões sobre o projeto.

O projeto foi orientado desde o início pelo professor António Carlos Barossi, cuja contribuição no processo de projetação e no aprendizado de projeto foi fundamental para ambas as equipes.

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

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Não vamos aqui aprofundar a abordagem do projeto a partir do angulo do aprendizado. Cada estudante envolvido, assim como para o pro-fessor, e cada uma pessoas da comunidade envolvidas com o projeto tem uma apreensão diferente do processo. No caso dos estudantes, os aspectos mais significativos poderiam ser resumidos em algumas ques-tões.

De início, com relação ao aprendizado do projetar, do desenho de arqui-tetura, dos aspectos próprios do domínio espacial, construtivo e instru-mental do projeto de edifício.

Também o fato de trabalhar um projeto na escala real, inserido em uma dinâmica social concreta, condicionado por inúmeros fatores fora de nossos domínios e de nosso conhecimento. Trazer esse projeto para dentro da faculdade gera tensionamentos com relação a nossa prática projetual, ao nosso descolamento da realidade, forçando uma definição clara dos objetivos e das características próprias de ambos os momentos - dentro e fora da escola, com maior ou menor liberdade de proposição, com maior ou menor domínio de condicionantes externas, e com maior ou menor responsabilidade social. Isso foi extremamente saudável para o processo de aprendizado de arquitetura, em buscar parâmetros e experiências que definem, com alguma clareza, os limites de nosso aprendizado acadêmico, simultaneamente redefinindo-os criticamente.

Outra questão está no campo da construção da cidade. As diversas for-mas pelas quais a cidade se estrutura, a cultura construtiva, os tempos, o papel do poder público, as dinâmicas sociais.

Uma última questão, talvez a mais subjetiva, diz respeito ao envolvi-mento pessoal de cada um de nós com as pessoas daquela comunida-de. Com um grupo e uma dinâmica social muito diferente das nossas de até então.

São demandas, formas de organização e aspectos culturais muitas vezes novos, mas que ampliam bastante as perspectivas e o entendimento das dinâmicas sociais e culturais da metrópole e influenciam em nosso trabalho enquanto arquitetos e urbanistas.

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Projetos e perspectiva atual

Foram diversos estudos de projeto para o Espaço Cultural. Vamos desta-car três deles.

O primeiro estudo

Ainda estava bastante ligado à presença do circo na área de projeto, e partiu da demanda de um espaço de apoio às atividades do circo. O programa foi-se transformando e aumentando, e resultou em um de-senho que buscava articular uma praça, o circo, um galpão e algumas áreas de apoio.

Monovolume

A possibilidade de convênio com Genebra fez-nos revisar o primeiro estudo preliminar do Espaço Cultural. Reuniões na Edif e na Secretaria de Cultura nos fizeram acrescentar diversos programas ao projeto: ao lugar onde antes era o apoio para um circo, com salas de aula e um gal-pão, adicionou-se programas mais institucionais: biblioteca e telecentro. Esses novos programas foram uma reviravolta no desenho – fazendo-nos recomeçar do zero.

Um monovolume foi pensado, com uma entrada contando com ram-pas amplas que distribuíssem os usuários por três andares: um térreo em pavilhão, com lanchonete e administração, contíguo a uma praça que poderia abrigar qualquer estrutura provisória (outros circos, etc.). No subsolo, temos a biblioteca e seu telecentro, e, no piso superior do prédio, salas de aula e de uso múltiplo. Sem elevadores, e erguido com alvenaria armada, o edifício, apesar de maior em área, tornou-se mais econômico em sua construção. O projeto foi francamente aprovado pela comunidade e sua viabilização só não foi realizada por cancela-mento do convênio.

Bienal

Em Concurso Internacional de Estudantes de Arquitetura, concorremos representando a FAUUSP, com um projeto de reurbanização integral da Cohab Raposo Tavares. O trabalho se tornou, então, mais abrangente; à problemática do Espaço Cultural somou-se uma abordagem mais ur-banística: propusemo-nos a pensar as rotas de acesso e saída do bairro,

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suas possibilidades paisagísticas – explorando, principalmente, sua condição de vale, com encostas íngremes abraçando todo seu períme-tro - sua posição de fronteira entre São Paulo e Osasco, sua relação com o Rodoanel e os bairros vizinhos.

Tomamos como partido intervir nos terrenos reservados a usos públicos na Cohab: desenhamos novas escolas, creches, clubes de lazer (quadra poliesportiva, balneário) e um parque ao longo da encosta. Todos os projetos de edificação procuraram reforçar a relação com a topografia de vale do bairro, sua conexão com a rodovia Raposo Tavares e os bair-ros habitacionais de Osasco - inserindo-a na cidade e contrastando com os herméticos projetos-padrão de unidade habitacional da Cohab, que ignoram as especificidades desse lugar.

Nosso interesse pelos terrenos públicos não é fortuito. A Cohab Raposo Tavares é o caso típico de bairro habitacional da periferia de São Paulo, oferecendo uma vida urbana resumida em ruas que liguem com maior rapidez as residências com a rodovia que leva à cidade. Nesse cenário, optamos por enriquecer a vida urbana do bairro a partir de edifícios públicos - desenhamos todos os prédios com as mesmas premissas que viemos resolvendo o Espaço Cultural - generosos pavilhões para múltiplas atividades, articulando seus arredores, permitindo usos varia-dos - sem perder de vista sua funcionalidade. Desse modo, o balneário poderia ser palco de uma festa de bairro, a escola pode abrigar cursos noturnos ou recreação de final de semana, a escola profissionalizante, com elevador aberto, serve como transposição suave do vale para o parque da encosta ou para chegar ao bairro vizinho.

Apresentamos esse projeto como representante da USP na Bienal - e fo-mos coerentes aos ensinamentos da faculdade: privilégio de programas públicos, com acento na possibilidade urbanística que eles carregam. Mesmo se tratando de uma simulação, não perdemos mão da responsa-bilidade orçamentaria - todos os projetos possuem sistema construtivo otimizado (eminentemente pré-fabricados) e materiais elementares.

Atualmente, a perspectiva é de uma intervenção da prefeitura na área verde, que teve, recentemente, a favela removida. A comunidade pro-pôs junto ao poder público a construção de uma parque e de equipa-mentos esportivos. Simultaneamente, estão mobilizados em conseguir uma UBS para o bairro, diante da distância e dificuldade em utilizar a UBS do Jd. Boa Vista, dificuldade compartilhada por um outro conjunto habitacional vizinho, Vila Munck.

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A desocupação da área verde liberou uma área institucional relati-vamente plana, um talvegue, – alvo de estudos para implantação de desdobramentos dos programas que vimos discutindo junto da comu-nidade durante anos de trabalho.

Histórico - Uma breve cronologia

1985-1991 - A prefeitura do município de São Paulo entrega à popula-ção o conjunto habitacional Raposo Tavares, por meio de sua autarquia destinada à produção de habitação social, a Companhia Metropolitana de Habitação - Cohab.

O conjunto se situa no km 19,5 da rodovia Raposo Tavares, zona oeste de São Paulo, na divisa com Osasco, região desprovida de equipamen-tos públicos de educação, lazer e cultura, em um terreno brutalmente modificado por movimentos de terra. A maior parte dos moradores é proveniente de favelas removidas de diversas partes da cidade – 1.152 apartamentos e 422 casas abrigam cerca de oito mil cidadãos. Entre os habitantes das casas e dos edifícios cria-se uma animosidade, uma espécie de divisão social, reforçada pela situação topográfica, que situa os blocos de habitação em patamares elevados em relação às casas.

1997 - Inicia-se o projeto Cohab Limpa. Remove-se 45 caminhões de lixo de um terreno baldio, área institucional localizada no coração do conjunto. Revela-se, então, um espaço marcante, que em breve seria ocupado por um circo.

A presença do circo dinamiza a vida cultural local. Ou melhor, inaugu-ra-a.

O primeiro circo, como todo circo, logo vai embora. Um segundo se instala e seus integrantes iniciam atividades circenses com as crianças e adolescentes da comunidade. Sob a lona do circo surge o único espaço de lazer e cultura até então. A necessidade de um espaço adequado para complementar as atividades do circo torna-se, assim, urgente.

1999 - Uma comissão de moradores da Cohab entra em contato com a USP, iniciando a parceria com a faculdade de Arquitetura e Urbanismo. O objetivo é desenvolver um projeto para um centro cultural na comu-nidade, complementando as atividades do circo. O terreno, de 2.400 m2, pertencente à Secretaria de Cultura, comporta, confortavelmente, os dois programas.

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2000 - 2002 - Inicia-se o projeto à medida em que a iniciativa de cons-truir-se um centro cultural ganha a adesão de movimentos sociais da região. Alunos da FAU, pertencentes ao Laboratório de Habitação do Grémio (Labhab) desenvolvem os primeiros desenhos do centro. O circo vai embora.

Alunos intensificam o envolvimento com a comunidade, realizando vídeos, participando de eventos e auxiliando nas articulações políticas fundamentais.

2004 - Surge a possibilidade de o projeto receber verba estrangeira para sua construção.

A prefeitura de Genebra, por meio de parceria com a prefeitura de São Paulo, promete financiar a iniciativa.

Forma-se um novo grupo de alunos, com o objetivo de elaborar dese-nhos executivos. A perspectiva agora é materializar o projeto.

Ao programa inicial do edifício são acrescentados biblioteca e telecen-tro. Essa mudança se deve ao início da relação com a EDIF (Departamen-to de Edificações da Prefeitura) e a uma visão de o programa do centro cultural precisar servir também aos bairros vizinhos.

Elabora-se um novo projeto.

Muda a gestão municipal.

A comunidade da Cohab Raposo Tavares perde sua verba.

Elabora-se um terceiro projeto.

2005 - Alunos e comunidade mantêm a esperança e continuam traba-lhando no projeto.

A intenção de estender os temas em discussão no projeto ao maior número de pessoas possível e a necessidade de aprofundar algumas propostas conduz o grupo de alunos a inscrever o projeto na mostra competitiva de estudantes da VI Bienal de Arquitetura de São Paulo. Escolhido para representar a FAUUSP, o projeto passa por uma reelabo-ração e estende seu escopo a toda a região da Cohab Raposo Tavares.

O fruto dessa reflexão é exposto ao público na Bienal nos meses de outubro e novembro.

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Depoimentos Antônio Carlos Barossi

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

2006 - A equipe participante do projeto de extensão Cohab Raposo Tavares segue cultivando a intenção de concretizar o projeto. Mesmo com a visibilidade promovida pela Bienal de Arquitetura, a possibilidade de construção torna-se menos palpável.

2007 - Reuniões com a Subprefeitura do Butantã e a Secretaria do Verde Reativam, as esperanças de erguer, na Cohab Raposo Tavares, os equi-pamentos necessários.

Professor Orientador António Carlos Barossi

Pesquisadores

Andrea Boller Andrea Bandoni Daniel Nobre Lucimeire Pessoa de Lima Maria Cristina Martini Mariana Vilela Marilía Buoniconti Camargo Moreno Zaidan Garcia Tarsila Kato Oliveira Vanessa Grossman

2004 - 2007 e Projeto VI Bienal 2005

André Sant’anna Daniel Nobre Gabriel Manzi Ivo Magaldi Lucas Girard Luís Pompeo Martins

Luiz Florence Rafael Urano Frajndlich Rodrigo Mendes de Souza Tiago Oakley

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

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Extensão universitária e políticas públicas

Para abordar o tema da Extensão Universitária e Políticas Públicas, diver-sas práticas podem ser incluídas. Dentre aquelas em que estou envolvi-da contam-se: o Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos, a representação no Conselho Municipal de Habitação, os pareceres ad hoc para concursos e instituições de pesquisa, a orientação de estudan-tes em atividades de extensão.

Laboratório de habitação e assentamentos humanos da FAUUSP

O Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos é um laborató-rio de pesquisa e extensão do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foi criado em 1996 e iniciou suas atividades em março de 1997, com a intenção de interligar as atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária em um mesmo espaço, dando prioridade à formulação de alternativas para as demandas habi-tacionais, urbanas e ambientais que visem à inclusão social. Assim, os trabalhos que desenvolve - planos, projetos e assessoria a municípios, ONGs e comunidade, objetivam desenvolver a produção e a reprodução do conhecimento, dando ênfase à formação e à capacitação para análi-se crítica e a ação propositiva.

Diversas atividades têm sido desenvolvidas com o apoio financeiro de linhas da própria USP (Extensão Universitária e Pró-Reitoria de Pesquisa) e de entidades nacionais e internacionais: Fapesp, Finep, CNPq, CEF, Lincoln Instituto of Land Policy. Outras ainda são de assessoria ao poder público no desenvolvimento de pesquisas e propostas, várias delas financiadas por programas de Cooperação Internacional, como Cities Alliance e Programa URB-AL (do Escritório de Cooperação da Comuni-dade Européia).

O Laboratório conta com uma equipe regular de professores da FAUUSP e de estudantes de seus cursos de graduação e de pós-graduação, à qual se incorporam outros participantes - estudantes, pesquisadores e profissionais, à medida que tenham interesse para o desenvolvimento de suas pesquisas (Iniciação Científica, TFG, Aperfei-çoamento, Pós-Graduação e Pós-Doutorado) ou que projetos e pes-quisas em desenvolvimento pelo Laboratório requeiram. Além disso, conta com um grupo mais amplo de pesquisadores associados, que

LABORATÓRIODE

HABITAÇÃO

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

participam de debates e seminários temáticos. Desse grupo amplo fazem parte arquitetos e urbanistas, engenheiros, economistas, soció-logos, advogados, geógrafos e estudantes dessas áreas.

O Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos constitui Grupo de Pesquisa na base CNPq, com as seguintes linhas de pesquisa:

Estado, mercado e sociedade na produção do espaço urbano

• Políticas institucionais: planejamento urbano, políticas públicas, políti-cas setoriais, indicadores urbanos, infra-estrutura urbana, serviços urba-nos, legislação urbana, arranjos institucionais -regiões metropolitanas, bacias hidrográficas, consórcios;

• Mercado imobiliário: legislação urbana, capital imobiliário, produtos e abrangência do mercado privado, evolução e estratégias do mercado imobiliário

• Produção do espaço e participação social: movimentos sociais urbanos gestão participativa, lutas sociais

Terra urbana para assentamentos humanos: renda da terra, mercado de terras, política fundiária, instrumentos fiscais e jurídicos, regularização fundiária, terra e segregação urbana, urbanização dispersa, loteamentos fechados, mudança de uso rural – urbano.

Meio ambiente e habitação: habitação de interesse social e susten-tabilidade Ambiental, recuperação da habitação precária, de áreas degradadas e de risco, legislação, assentamentos humanos e conflitos ambientais.

Provisão da habitação: como se articulam capitais (financiamento, cons-trução, incorporação), fundos públicos, terra, trabalho, legislação, nos diferentes modos de provisão da habitação: promoção privada e pú-blica de apartamentos, lotes ou casas, autoconstrução, autopromoção, favelas, loteamentos ilegais e outros. Projeto, produto final e a quem se destina (faixa social). Indústria da construção, produtividade/tecnologia, índices de preço da construção, divisão social do trabalho, processo de trabalho, canteiro, movimentos sindicais. Cooperativas habitacionais.

Economia regional e as cidades: dinâmica regional e rede de cidades; regiões metropolitanas; impacto da globalização no território e nas cidades.

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

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Pesquisas e projetos realizados e em andamento (2006)

Pesquisa e análise de aplicação de instrumentos de planejamento ambiental no município de São Paulo

Professor coordenador: Nabil Bonduki e João Whitaker

Observatório do uso do solo e da gestão fundiária do centro de São Paulo

Professor coordenador: Maria Lúcia Refinetti Martins e Helena Menna Barreto Silva

O acesso ao solo e à habitação social em cidades grandes de regiões metropolitanas da América Latina e Europa

Professor coordenador: Maria Lúcia Refinetti Martins

Reparação de danos e ajustamento de conduta em matéria urbanística

Professor coordenador: Maria Lúcia Refinetti Martins

Gestão integrada de bacias hidrográficas: recuperação ambiental e regularização de assentamentos habitacionais - experiência dos TACs

Professor Ricardo Toledo Silva

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (2005)

Avaliação do trecho oeste do Rodoanel

Coordenador: João Whitaker

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (2004)

Curso de capacitação em desenvolvimento de projetos urbanos de interesse social

Professor coordenador: Maria Lúcia Refinetti Martins

Perímetros de Reabilitação Integrada do Hábitat

Professor coordenador: João Whitaker

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (2003)

Plano de ação habitacional e urbana para áreas em situação de risco pela exclusão socioespacial e a violência

Professor coordenador: Ermínia Maricato e João Whitaker

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de WTBoi Mirim

Professor Coordenador: Maria Lúcia Refinetti Martins

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (2002)

Terra urbana para políticas sociais: Aquisição e desapropriação

Coordenador: Ermínia Maricato

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (2000)

Preço de desapropriação de terras: limites às políticas públicas nas áreas de habitação, meioambiente e vias públicas em São Paulo

Professor coordenador: Ermínia Maricato

Áreas de habitação, meio ambiente e vias públicas em São Paulo

Professor coordenador: Ermínia Maricato

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

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Gestão de programas de reabilitação

Professor coordenador: Ermínia Maricato

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (1999)

Parâmetros técnicos para urbanização de favelas

Coordenador: Ermínia Maricato

Assessoria técnica à prefeitura de Santo André

Professor coordenador: Ermínia Maricato

Pesquisas e projetos realizados e em andamento (1998)

O mercado e o acesso à habitação em São Paulo

Professor coordenador: Ermínia Maricato

Escopo das pesquisas e projetos recentes

Pesquisa e análise de aplicação de instrumentos de planejamento ambiental no município de São Paulo

Pesquisa contratada pela Secretaria de Verde e Meio Ambiente do Mu-nicípio de São Paulo. Parceria (em proposta): Labparc FAUUSP. Período: setembro 2005 a novembro de 2006.

A pesquisa tem como objetivos a identificação, sistematização e análise das diretrizes, estratégias e instrumentos relacionados com a questão ambiental contidas no Sistema Municipal de Planejamento do Muni-cípio de São Paulo (Plano Diretor Estratégico, Lei de Uso e Ocupação do Solo e Planos Regionais Estratégicos), reflexão e aprofundamento teórico do Zoneamento Ambiental e Sistema de Áreas Verdes, elabora-ção de diretrizes e estudo de viabilidade de aplicação dos instrumentos urbanísticos previstos no plano diretor e planos regionais para a implan-tação de parques lineares.

Essas análises e estudos deverão subsidiar a proposta da SVMA na revi-são do plano diretor e a aplicação dos instrumentos urbanísticos volta-

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

dos para o planejamento e gestão urbano-ambiental. A proposta inclui a realização de reuniões técnicas e oficinas de capacitação de técnicos da SVMA e das subprefeituras e realização de seminário na temática do planejamento urbano-ambiental.

Equipe: Coordenação: Nabil Bonduki e João Whitaker. Equipe: Giselle Tanaka, Lara Figueiredo e Márcia Itani. Estagiários: Andréa Quintanilha, Bruno Villela, Helena Galrão Rios e Vanessa Prado Barroso.

Observatório do uso do solo e da gestão fundiária do centro de São Paulo

Pesquisa financiada pelo Lincoln Instituto of Land Policy. Parcerias: FE-AUSP, Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie. Período: setem-bro 2005 a junho de 2006.

Trata-se de um conjunto de atividades voltadas para a construção de um Observatório do Solo e da Gestão Fundiária do Centro de São Paulo, que visa desenvolver atividades de: monitoramento das ações voltadas para a reabilitação da área central de São Paulo e de seus efeitos no uso e ocupação do solo, reflexão sobre os efeitos que esse processo de rea-bilitação traz para a sociedade, proposição de políticas e projetos para garantia de justiça e inclusão social. Além disso, apesar de sua atualida-de, a discussão sobre o tema proposto é ainda incipiente no ambiente acadêmico. Com a constituição do Observatório objetiva-se fomentar o debate sobre as políticas de reabilitação de áreas centrais, bem como envolver, além do segmento acadêmico, outros atores sociais no âmbito do poder público (gestores públicos, juristas e legisladores) e da socie-dade civil organizada, no controle dos processos de produção da cidade com garantia de justiça social.

Coordenação: Maria Lúcia Refinetti Martins, Helena Menna Barreto Silva, João Sette Whitaker

Equipe: Beatriz Kara José, Letizia Vitale, Daniela Motisuke, Tatiana Nobre, Letícia Sigolo e Andréa Castro e Isabel Falleiros. Consultores: sociólogo doutor Nelson Baltrusis, economista Profa. Dra. Leda Paulani e econo-mista Profa. Dra. Silvia Schor.

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

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O acesso ao solo e à habitação social em cidades grandes de regiões metropolitanas da América Latina e Europa

Pesquisa contratada pela Secretaria de Habitação do Município de São Paulo, no âmbito do Programa URB-AL do Escritório de Cooperação da Comunidade Européia. Período: agosto de 2004 a março de 2007.

Trata-se de atividade junto do Departamento de Regularização e Par-celamento do Solo - RESOLO, da Secretaria de Habitação do Município de São Paulo, financiada pelo Escritório de Cooperação da Comunidade Europeia - no âmbito do Programa URB-AL. Abrange a produção de pes-quisa e diagnóstico sobre as condições intervenientes no acesso ao solo e à habitação social em São Paulo e em cidades de grandes de regiões metropolitanas da América Latina e Europa, participantes da Rede 7 do Programa URB-AL. O trabalho envolve tanto o desenvolvimento de estudos, pesquisas e levantamentos quanto a organização e realização conjunta de seminários, incluindo técnicos representantes dessas cida-des, setores envolvidos no tema do acesso ao solo e à habitação social em São Paulo, docentes, pesquisadores e estudantes da FAUUSP.

Equipe: Coordenação: Maria Lúcia Refinetti Martins. Equipe: Karina Leitão, Roberta Menezes Rodrigues, Luciana Ferrara (estudantes de pós-graduação), Gustavo Pires de Andrade Neto, Ana Paula Guimarães Pereira e Andréa Vilella (estudantes de graduação).

Reparação de danos e ajustamento de conduta em matéria urbanística

Pesquisa em políticas públicas, desenvolvida em parceria com o Minis-tério Público - promotorias de habitação e urbanismo, municípios da região metropolitana de São Paulo e Caixa Econômica Federal, visando a elaboração de padrões de regularização da ocupação do solo urbano, particularmente em loteamentos (áreas de habitações de interesse so-cial) que permitam melhor adequação do empreendimento à legislação vigente, com melhoria da qualidade de vida da coletividade e reparação dos danos causados a interesses difusos e coletivos. A pesquisa nasceu em 2000, da parceria informal entre o Ministério Público e a FAUUSP. Visando discutir a natureza do conflito - ocupação existente nas áreas de proteção ambiental e a necessidade de garantir condições de con-sumo da água dos mananciais de São Paulo, deu-se início a uma série de atividades em colaboração entre pesquisadores do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos, professores do Departamento de Projeto da FAUUSP e integrantes do Ministério Público do Estado de

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

São Paulo - Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Habitação e Urbanismo (CAOURB), atualmente operando de forma conjunta com Meio Ambiente: Centro de Apoio Operacional das Pro-motorias de Justiça de Urbanismo e Meio Ambiente (CAOUMA). Dessa forma, em 2001 foi elaborada e desenvolvida disciplina optativa na gra-duação, além de exposição e seminários. Em 2002 foi formulado projeto de pesquisa em políticas públicas, aprovado pela Fapesp. Atualmente, a pesquisa já concluída está em fase de preparação da publicação de seu relatório final.

Equipe: Coordenação: Maria Lúcia Refinetti Martins. A pesquisa se de-senvolveu com extensa equipe e contou em sua finalização com Lucia-na Ferrara e Isadora Tsukumo; Iniciação Científica: Ana Paula Guimarães Pereira.

Capacitação em desenvolvimento de projetos urbanos de interesse social

Programa de 60 horas desenvolvido no primeiro semestre de 2004 na região de M’Boi Mirim para agentes da Sehab que atuam nesses distri-tos, funcionários da subprefeitura responsáveis pela política urbana, agentes de saúde do Programa Saúde da Família, professores da rede municipal de ensino, agentes vistores e lideranças comunitárias.

A proposta combina o conteúdo de trabalhos de assessoria anteriores: Plano de Ação Habitacional e Urbana para o Jardim Angela, Plano Re-gional de M’Boi Mirim, whorkshop Descentralização da Ação Municipal em Habitação, com metodologia de elaboração de projetos transversais.

Consiste em formação e prática, com base em exercício de projetos concretos: desenvolvimento de planos de implementação de projeto, dentre os vários existentes para a região, escolhidos pelo conjunto de alunos, com base nos orçamentos e programas de atividades das unida-des administrativas. O produto tem as características de projeto piloto, promovendo formação de equipe para ações descentralizadas em Habi-tação e Desenvolvimento Urbano.Curso e resultados estão disponíveis em relatórios.

Equipe: Coordenação: Maria Lúcia Refinetti Martins, Giselle Megumi M. T. Toshimitsu (coordenação executiva) e Daniela Motisuke (estudantes pós-graduação); Tatiana Morita Nobre, Ana Carolina Loubak Lopes e Daniel Nobre (estudantes graduação). Responsáveis pelas aulas: Pro-

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fessores doutores da FAUUSP e pesquisadores do Labhab-FAUUSP, estudantes de pós-graduação, com apoio às aulas por estudantes de graduação.

Representação em conselhos

São diversos os conselhos em que a FAU está presente, representando a academia. Dentre eles está o Conselho Municipal de Habitação.

Criado por lei, no âmbito da Secretaria Municipal de Habitação e Desen-volvimento Urbano da PMSP, o Conselho Municipal de Habitação de São Paulo tem caráter deliberativo, fiscalizador e consultivo.

A lei que o criou estabelece que o Conselho tem por objetivo o estabe-lecimento, acompanhamento, controle e avaliação da política municipal de habitação, inclusive quanto à gestão econômica, social e financeira dos recursos afetos ao Fundo Municipal de Habitação, bem como crité-rios de atendimento e prioridades.

Visa também estimular a participação e o controle popular sobre a im-plementação das políticas públicas habitacionais e de desenvolvimento urbano e sua articulação com as demais instâncias de participação popular no município.

Os membros do Conselho Municipal de Habitação não são remunera-dos, e têm mandato de dois anos, podendo ter uma recondução. O Con-selho tem a seguinte composição, cabendo, a cada titular, um suplente: 16 representantes do poder público, 16 representantes de entidades comunitárias e de organizações populares ligadas à habitação, eleitos de forma direta e 16 representantes da sociedade, eleitos por seus res-pectivos segmentos.

Representantes da FAU

Gestão 2003-2005: Maria Lúcia Refinetti Martins (titular) e Reginaldo Ronconi (suplente)

Gestão 2005-2007: Maria Lúcia Refinetti Martins (titular) e Minoru Naru-to (suplente)

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Disciplina “atividades de cultura e extensão”

Com início em janeiro e conclusão em dezembro de 2006, a atividade inicialmente proposta envolvia o acompanhamento das atividades do Conselho Municipal de Habitação, procedendo ao estudo e debate das questões postas em pauta e, inclusive, propondo novas pautas. Dessa forma, os alunos atuariam como interface entre um organismo de gestão participativa da administração pública e a Universidade, tanto no auxílio aos seus representantes no Conselho - professora Maria Lúcia Refinetti Martins e professor Minoru Naruto (suplente) – quanto na divulgação das questões tratadas no Conselho dentro da Universidade. As atividades então propostas eram as seguintes:

1. Estudar a política habitacional com o objetivo de subsidiar a participação da representação desta Faculdade junto ao Conselho Municipal de Habitação;

2. participar de reuniões e eventos do CMH

3. Dialogar com outros segmentos do CMH identificando necessidades e questões

4. Alimentar o site da FAUUSP com tópicos relacionados ao CMH, permitindo acesso aos principais debates ali em curso;

5. Promover seminários e debates na FAUUSP.

Em seu desenvolvimento, as atividades cobriram muito satisfatoriamente os três primeiros itens, mas tiveram dificuldades em relação aos dois últimos, que dependem de variáveis e condições externas ao grupo, de equacionamento muito mais complexo, avaliados no relatório final.

Os trabalhos se iniciaram com reuniões semanais de orientação e, ao longo do período o grupo foi adquirindo autonomia e dinâmica própria, responsabilizando-se pelo andamento dos trabalhos, que passaram a ter acompanhamento regular quinzenal. Certamente, foi uma

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

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experiência relevante e uma possibilidade excepcional de conhecer “por dentro” o funcionamento de um Conselho de Política Pública e de verificar os papéis e o relacionamento entre os diversos agentes - gestores públicos e sociedade civil envolvidos na questão habitacional.

A experiência evidencia o interesse e relevância desse tipo de atividade, demonstrando, no entanto, a necessidade de maior incorporação no âmago das atividades didáticas formais. Representa enorme contribuição para a formação dos estudantes, bem como para a consolidação de conhecimentos e densidade crítica na Faculdade. É pena que acabe restrita aos envolvidos diretamente. Seria extremamente benéfico se esse tipo de atividade, em lugar de “paralela”, competindo com o tempo das atividades formais, pudesse ser incorporada no “núcleo duro” do processo didático, como uma das possibilidades dentre as atividades regulares do currículo do curso de graduação.

Avaliação dos estudantes: por meio de acompanhamento regular da orientadora, produtos trimestrais e relatório final.

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Depoimentos Maria Lúcia Refinetti

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Laboratório de Programação GráficaProf. Coordenador: Minoru Naruto

Supervisão GeralJosé Tadeu de Azevedo Maia

Supervisão de Projeto GráficoAndré Luis Ferreira

Supervisão de Produção GráficaNarciso Antonio dos Santos Oliveira C

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Preparação e RevisãoMargareth Artur

EmendasEliane Aparecida Pontes

AcabamentoCarlos Cesar SantosEduardo Antonio CardosoErcio Antonio SoaresJosé Tadeu FerreiraMario Duarte da SilvaRoseli Aparecida Alves DuarteValdinei Antonio Conceição

SecretáriaEliane de Fátima Fermoselle Previde

Encontro de Cultura e Extensão da FAUUSP(2: 2007: São Paulo)

Anais do 2o. Encontro de Cultura e Extensão da FAUUSP -- São Paulo : FAU/USP, 2013. 106p.

1.Arquitetura (Estudo e Ensino) 2. Planejamento Territorial Urbano (Estudo e Ensino) 3. Arquitetura (Pesquisa) 4. Planejamento Territorial Urbano (Pesquisa)

CDD 720.63

Serviço de Biblioteca e Informação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP