ana paula augusta de oliveira santana -...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
ANA PAULA AUGUSTA DE OLIVEIRA SANTANA
A Migração e suas Consequências para a Expansão Urbana do Distrito
Federal
Brasília – DF
2012
i
ANA PAULA AUGUSTA DE OLIVEIRA SANTANA
A Migração e suas Consequências para a Expansão Urbana do Distrito
Federal
Monografia de Graduação em Ensino de
Geografia apresentada ao Departamento
de Geografia da Universidade de Brasília,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Licenciada em Geografia.
Professor Orientador(a): Dra.Ruth Elias de Paula Laranja
Brasília-DF
2012
ii
ANA PAULA AUGUSTA DE OLIVEIRA SANTANA
A Migração e suas Consequências para a Expansão Urbana do Distrito
Federal
MONOGRAFIA DE TRABALHO FINAL EM GEOGRAFIA II SUBMETIDA AO
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DO INSTITUO DE CIÊNICAS HUMANAS
DA UNIVESIDADE DE BRASÍLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIADO EM
GEOGRAFIA.
Data da Aprovação: _____ de ______ de _______
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
_____
Professora DoutoraRuth Elias de Paula Laranja - Orientadora
Universidade de Brasília – UnB – Departamento de Geografia
______________________________________________________________________
_____
Professor (a) Doutor Marília Peluso- Examinador
Universidade de Brasília – UnB – Departamento de Geografia
______________________________________________________________________
_____
Professor (a) Doutor Ana Claúdia Rodrigues - Examinador
Universidade de Brasília – UnB – Departamento de Geografia
iii
Brasília-DF
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
SANTANA, Ana Paula Augusta de Oliveira. A Migração e as Consequências para a
Expansão Urbana do Distrito Federal. 40 p. (GEA – IH – UnB, Licenciado. Geografia,
2012). Monografia de Trabalho Final em Geografia II. Universidade de Brasília.
Instituto de Ciências. Departamento de Geografia.
1- Contexto Histórico
2- Motivação para a Construção
3-Fluxos Migratórios
4-Desigualdades
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SANTANA, Ana Paula Augusta de Oliveira.A Migração e as Consequências para a
Expansão Urbana no Distrito Federal. Monografia (Licenciatura) – Universidade de
Brasília. Instituto de Ciências. Departamento de Geografia, 2012, 40 p.
AUTORIA: Ana Paula Augusta de Oliveira Santana
TÍTULO:A Migração e as Consequências para a Expansão Urbana do Distrito Federal
GRAU – ANO: Licenciado em Geografia – 2012.
iv
Qualquer parte dessa monografia pode ser reproduzida, desde que citada à fonte.
RESUMO
O imenso processo de ocupação urbana do Distrito Federal foi iniciado
há pouco mais de quarenta anos. A cidade é relativamente nova, mas enfrenta
problemas com a mesma dimensão de qualquer outra metrópole brasileira.
Compreender este e outros fatos ocorridos no contexto nacional e relacionar ao processo
de urbanização da Capital Federal,é o principalobjetivo dessa pesquisa. Brasília foi
imaginada para abrigar uma população de aproximadamente quinhentas mil pessoas,
hoje podemos dizer que já ultrapassa os dois milhões de habitantes.No início, para
garantir que tudo isso ocorresse em Brasília, surgiram às cidades-satélites, distantes do
grande centro administrativo e com a finalidade de abrigar os trabalhadores pioneiros no
processo de construção da nova capital federal. Nesse processo, um de seus principais
objetivos não se realizou que era o de reduzir as desigualdades sócio espaciais. A
transferência da população para locais distantes do Plano-Piloto, centro defensor das
oportunidades de trabalho, configurou uma contínua exclusão sócio
espacial.Acreditava-se que Brasília, no ano 2000, teria menos de meio milhão de
habitantes. Não existiriam cidades-satélites, nem “entornos”, e proporcionaria a
integração social dos seus moradores nas famosas superquadras, onde diretores e
contínuos, funcionários e motoristas, ministros e ascensoristas conviveriam
harmonicamente. Entre a utopia que norteou a sua construção e os dias de hoje, em que
Brasília já mostra sinais evidentes de caos urbano, a distância se explica pelas próprias
características do processo social brasileiro.
Palavras-Chave:Contexto Histórico, Motivação para a Construção, Fluxos
Migratórios, Desigualdades.
v
ABSTRACT
Theimmense process ofurban occupationof the Federal Districtwas starteda little
overforty years. The city is relatively new, but faces problems with the same size as any
other Brazilian metropolis. Understand this and other occurring in the national context
andreportto theprocessofurbanizationof theFederalCapital, is the main objective of this
research. Brasília was designed to house a population of approximately half a million
people. Earlier, ensuring that everythingthat happenedin Brasilia,satellite citiesemerged,
distant fromlargeadministrative center andin order toaccommodateworkerspioneered in
the process ofbuilding the newfederal capital. In this process, one of his main goals was
not realized, which was toreducesocialinequalitiesspace. The change in
thepopulation,set up anongoingsocio-spatialexclusion. Believed toBrasília, in 2000,
there would be lessthan half a millioninhabitants. There would be nosatellite
citiesor"environments", andwould besociallyinclusive, the
famoussuperblocks,wheredirectors, employeesand drivers,ministersand elevatorwould
liveharmoniously.Amongtheutopiathat guidedits constructionandtoday,
Brasíliaalreadyshowssigns ofurban chaos, notedclearlyexclusionaryformsof Brazilian
society.
Keywords:Historical Context, Motivationfor Construction, Migration Flows, Inequalities.
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – População Rural e População Urbana no Brasil – Período 1940 a 2000
Figura 02 – Taxa de Urbanização Brasileira
Figura 03 –Fluxos Migratórios no Brasil entre as décadas de 1950 a 1980
Figura 04 – O Traçado de Brasília
Figura 05 – O Surgimento das Cidades- Satélites
Figura 06 – As Regiões Administrativas de Brasília
Figura 07 – O Plano- Piloto em uma visão via satélite
Figura 08 -O Aumento Populacional do Centro- Oeste Brasileiro
Figura 09 – O Início da Capital Federal
Figura 10 – Os Trabalhadores da Nova Capital
Figura 11 –Brasília no Espaço das Grandes Metrópoles Brasileiras
Figura 12 - Naturalidade
vii
SUMÁRIO
Apresentação-------------------------------------------------------------------------------------01
Capítulo I
1.1 A Urbanização e o Processo Migratório no Brasil-----------------------------------11
1.2 Principais Fluxos Migratórios Internos no Brasil Durante o Século XX--------13
Capítulo II
2.1 Os contrastes da urbanização no Distrito Federal-----------------------------------15
2.2 Os sonhos dos idealizadores da Nova Capital e a força da migração-------17
2. 3 Brasília: Atração e repulsão, tendência das grandes Capitais-------------------22
Capítulo III –Metodologia--------------------------------------------------------------------25
Capítulo IV- Resultados e Discussão
4.1. A Contribuição do processo migratório no crescimento urbano de Brasília no
período de 1950 a 1980--------------------------------------------------------------------------26
4.2. O Futuro do Distrito Federal------------------------------------------------------------28
Capítulo V- Considerações Finais------------------------------------------------------------30
Referência Bibliográfica------------------------------------------------------------------------3
1
Apresentação
Brasília é hoje uma grande metrópole nacional. Sua construção fundamentou-se,
nos idos de sua idealização, em quatro objetivos principais: assegurar a soberania
nacional, manter o status quo, estabelecer maior distribuição de renda e principalmente
reduzir as desigualdades sócio espaciais.
Os célebres idealizadores da nova capital não suspeitavam que Brasília e seus
arredores, passados cinquenta e dois anos de sua inauguração, se transformaria em uma
metrópole em tão pouco tempo, condição hoje de sua estrutura, complexidade funcional
e sua massa populacional.
Segundo Marcos de Carvalho:
[...] Assim até mesmo Brasília, se vista em conjunto com as cidades- satélites,
acaba apresentando uma lógica de funcionamento e construção de paisagens
semelhantes à que orienta qualquer um dos importantes e grandes núcleos
urbanos do país. Na verdade, essa lógica está presente em cidades de qualquer
porte, e não só nas grandes, pois em todas elas os habitantes exercem diferentes
funções e trabalhos e submetem a vários processos de segregação territorial e
social. Esse fenômeno é percebido de maneira mais nítida nas paisagens dos
grandes aglomerados urbanos, devido à quantidade de serviços que oferecem,
aos vários setores produtivos que abrigam e às grandes populações que neles
concentram.
Brasília foi imaginada para abrigar uma população de aproximadamente
quinhentas mil pessoas, hoje podemos dizer que já ultrapassa os dois milhões de
habitantes.
No início, para garantir que tudo isso ocorresse em Brasília, surgiram às cidades-
satélites, distantes do grande centro administrativo e com a finalidade de abrigar os
trabalhadores pioneiros no processo de construção da nova capital federal. Nesse
processo, um de seus principais objetivos não se realizou que era o de reduzir as
desigualdades sócio espaciais. A transferência da população para locais distantes do
Plano-Piloto, centro defensor das oportunidades de trabalho, configurou uma contínua
exclusão sócio espacial.
2
Mesmo antes da construção de Brasília já existiam alguns pequenos núcleos de
povoamento na área que atualmente corresponde ao Distrito Federal. Porém, as obras de
construção da capital atraíram milhares de trabalhadores de todas as partes do país,
principalmente do Nordeste, e também de outros estados, como Minas Gerais, São
Paulo e Rio de Janeiro. Dessa forma, o Distrito Federal teve um crescimento
demográfico muito intenso, sendo que muitos desses migrantes tiveram que se
estabelecer em áreas periféricas ou nos antigos núcleos de povoamento Essas
aglomerações deram origem às chamadas cidades-satélites, isto é, centros urbanos que
se localizam no Distrito Federal, mas não fazem parte do Plano – Piloto. O grande
aumento das cidades-satélites gerou um crescimento urbano desordenado, com o
surgimento de favelas e bairros carentes de infraestrutura.
Essa pesquisa analisa a transformação do espaço geográfico de Brasília desde
sua construção até os dias de hoje, ressaltando relevantes problemas sociais,
ocasionados pela forte migração e que é objeto de estudo da geografia juntamente com
os processos que apontam para as desigualdades sócio espaciais, amplamente discutidas
e analisadas em um contexto globalizado.
Para Inez Costa (2007):
Os objetos que estão no espaço são espaciais porque têm extensão,
ocupam lugar, são também sociais porque guardam uma energia que os
sustenta naquele lugar e com uma determinada função. Não estão por acaso
nesse lugar.
Para tanto esta pesquisa pretende discutir algumas categorias como o espaço
urbano e as transformações decorridas ao longo dos anos e a composição do objeto de
estudo da geografia que é o espaço e suas transformações no contexto que envolve o
desenvolvimento de Brasília. Ressaltamos que as categorias, embora teóricas e de base
científica, têm uma função importante na produção e na transmissão do conhecimento.
Elas têm o papel de ordenar os fatos que observamos na realidade e nos permitem tornar
a realidade compreensível. FERREIRA (2007).
Nesse sentido cabe questionarmos como a migração contribuiu para o
crescimento urbano e a transformação de Brasília em uma metrópole.
3
Objetivos
Objetivo geral: Analisar a contribuição do processo migratório na formação do espaço
urbano de Brasília.
Objetivos Específicos:
Pesquisar de que forma a construção de Brasília influenciou a
delimitação do espaço geográfico de seu entorno.
Analisar a produção do espaço urbano de Brasília dentro do contexto
histórico no período de 1950 a 1980.
Compreender a dinâmica dos fluxos migratórios no desenvolvimento
regional.
4
Referencial Teórico
Capítulo I
1.1A Urbanização e o Processo Migratório no Brasil
O espaço geográfico pode ser tomado como principal objeto de análise associado
à transformação ou não, para interação ou não do homem com o meio em que vive e a
sociedade.
Para Santos(1996) uma definição de espaço para a geografia:
O espaço é formado, de um lado, pelo resultado material acumulado
das ações humanas através do tempo, e de outro lado, animado pelas ações
atuais que hoje lhe atribuem um dinamismo e uma funcionalidade.
No espaço geográfico está o homem e a produção de todos os elementos sociais
abrigando ainda todos os elementos naturais.
Assim a Geografia preocupa-se em compreender de que maneira e por quais
motivos a sociedade transforma o espaço terrestre em espaço geográfico. Da mesma
forma, procura entender como os diversos processos e fenômenos naturais modificam as
paisagens e de que maneira podem interferir nas atividades humanas. BOLIGIAN
(2001:18).
Assim para uma melhor compreensão do contexto que envolveu a criação, no
Centro do Planalto Central do Brasil, da capital federal precisamos analisar as raízes da
urbanização brasileira.
Nesse sentido a urbanização ganhou impulso somente após a década de 1930,
quando se acelerou o processo de industrialização no Brasil. O desenvolvimento da
atividade industrial passou a atrair milhares de trabalhadores do campo para as cidades,
onde foram ocupar os postos de trabalho gerados pelas fábricas e pelo setor terciário.
A partir das décadas de 1940 e 1950, quando começaram a serem instaladas as
indústrias de base no país, como as siderúrgicas e petroquímicas, a industrialização
5
tornou-se mais intensa, sobretudo na região Sudeste. Tal fato aumentou ainda mais a
oferta de trabalho nas fábricas, atraindo um número cada vez maior de migrantes.
Além da influência da industrialização, a migração do campo para as cidades
também ocorreu devido à mecanização das lavouras e o aumento da concentração
fundiária, o que eliminou milhares de postos de trabalho na área rural. Esses fatores
intensificaram o processo de urbanização no Brasil, levando a população urbana a
crescer em um ritmo maior que o da população rural, tanto em decorrência da migração
campo-cidade como pelo próprio crescimento natural da população urbana. Atualmente
a maioria da população brasileira, cerca de 80%, vive em cidades. Assim demonstra o
gráfico do IBGE:
Figura: 01
Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1998. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro, IBGE, 2001.
6
Figura: 02
Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1998. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro, IBGE, 2001.
1.2Principais Fluxos Migratórios Internos no Brasil Durante o Século XX
As migrações internas ocorrem quando os deslocamentos populacionais se
realizam dentro de um mesmo país. Esse tipo de migração não altera o total da
população, ou seja, não aumenta nem diminui o número de habitantes do país. Contudo,
de acordo com estatísticas do IBGE (1998), cerca de 40% dos brasileiros residem fora
dos municípios em que nasceram. Esse número indica a ocorrência de grandes fluxos
migratórios no país, sobretudo a partir da década de 1950.
Assim Regina define esses fluxos;
Fluxos migratórios do Nordeste para os grandes centros urbanos do Sudeste,
mais intensamente após a década de 1950, sobretudo em direção ao estado de
São Paulo.
Fluxos migratórios do Nordeste para a Amazônia em direção à novas áreas
agrícolas e aos garimpos, após a década de 1960.
Fluxos migratórios do Nordeste para o Centro-Oeste, entre as décadas de 1960
e 1970, principalmente devido à construção de Brasília.
Fluxos migratórios dos estados do Sul, além de São Paulo e Minas Gerais, para
o Centro-Oeste e o Norte, especialmente a partir da década de 1970, com a
expansão das áreas de colonização agrícola na Amazônia.
7
Figura: 03- Fluxos Migratórios no Brasil entre as décadas de 1950 a 1980
De maneira generalizada, as migrações no Brasil ocorreram devido a fatores
econômicos, isto é, os migrantes direcionam-se para lugares onde almejam encontrar
melhores condições de trabalho e de vida.
8
Capítulo II
2.1Os contrastes da urbanização no Distrito Federal
O imenso processo de ocupação urbana do Distrito Federal foi iniciado há pouco
mais de quarenta anos. A cidade é relativamente nova, mas enfrenta problemas com a
mesma dimensão de qualquer outra metrópole brasileira. Compreender este e outros
fatos ocorridos no contexto nacional e relacionar ao processo de urbanização da Capital
Federal,é o objetivo deste subitem.
Nesse sentido, é imperativa a demarcação dos anos 1930, como importantes na
expansão e no desenvolvimento industrial do País e, as décadas seguintes, com a
implantação de infraestrutura que lançou as bases do processo de urbanização no Brasil.
Houve grande preocupação em integrar o país e desenvolver um mercado interno
nacional, menos regionalizado. MARCOS (2006:54).
Entre as muitas consequências do modelo de urbanização brasileiro, a mais
expressiva foi o crescimento rápido das regiões metropolitanas. Essas cidades, em face
de sua importância econômica nacional e regional, passam a concentrar a geração de
postos de trabalho e, consequentemente, constituem-se em áreas receptoras de intensos
movimentos migratórios. Esse crescimento populacional demandava espaços para
reprodução, sobretudo para a moradia desses contingentes. Assim, as metrópoles
acabaram, pelo processo de conurbação, incorporando suas áreas rurais, expandindo
suas manchas urbanas em direção aos municípios limítrofes; estava colocado de pé o
espaço periférico metropolitano. DIAMANTINO (2006:5).
No Brasil pós-industrialização, as migrações internas reproduzem processos
complexos, com mudanças sucessivas das áreas de atração e da natureza dos fluxos, que
vão se transformando de rural-urbano para urbano-urbano. Os movimentos migratórios
internos tomaram para si características diferenciadas, relacionadas às diversas fases do
processo de desenvolvimento brasileiro. No período 1940-1980, eles foram fomentados
por fortes desequilíbrios regionais e estruturaram-se para atender às necessidades de
transferência regional do excedente de força de trabalho, cumprindo importante papel
9
como mecanismo de integração social e cultural do território nacional (PACHECO;
PATARRA, 1997).
A configuração sócio espacial resultante deste processo de estruturação espacial,
marcada pela formação de extensas periferias desassistidas social e economicamente,
evidencia de forma indiscutível as desigualdades sociais entre segmentos populacionais
do espaço intra-urbano presentes no processo de desenvolvimento nacional. Essas
desigualdades são agravadas pela intensificação dos deslocamentos populacionais intra-
urbanos, representados pelos fluxos migratórios intrametropolitanos em direção à
periferia regional. Além disso, elas revelam a existência de uma relação de causalidade
entre esses fluxos e a intensificação dos movimentos pendulares.CAIADO(2005).
Assim Paviani (1989) considera que:
Mesmo antes de o governo JK ter iniciado as obras de Brasília, havia
um ideário para o Centro-Oeste no bojo da “Marcha para o Oeste” do governo
Vargas. Nesse sentido, Brasília demarcou um tempo inicial para a efetiva
“marcha para o Oeste”, pois no Plano de Metas de JK diversos projetos
dinamizaram a região, possibilitando a efetiva implantação da Capital. Entre
estes projetos citam-se: ampliação da malha rodoviária, implantação de
hidrelétricas, novos aeroportos, indústria naval e, logicamente, construção e
transferência da Capital em pouco mais de três anos.
No caso da metrópole formada por Brasília e municípios goianos e mineiros
localizados no entorno, os efeitos dessa configuração socioespacial foram definidos no
âmbito do processo de exclusão e segregação espacial da população que marcou a
ocupação territorial. No período de construção e implantação, como também no período
de consolidação urbana da nova capital, o Estado foi o grande promotor da ocupação do
solo, atuando como planejador, construtor e financiador da ocupação, e também como
grande proprietário de terras. Tornou-se, assim, o principal agente do processo de
urbanização da região, o que diferencia a ocupação em relação às demais cidades
brasileiras em alguns aspectos da gestão do solo urbano. CAIADO (2005).
Marcos Carvalho (2006) ressalta que:
Brasília é um dos raros exemplos. Fundada em 1960, a partir de um
plano elaborado pelo arquiteto Lúcio Costa e dos projetos de edificações de
10
Oscar Niemeyer, até hoje mantém basicamente a mesma estrutura que foi
pensada e proposta originalmente. Mas isso só tem sido possível graças a um
rígido esquema de zoneamento urbano, que controla os locais para a instalação
de atividades produtivas e quaisquer outros empreendimentos, associado a um
processo de segregação de boa parte da população trabalhadora nas chamadas
cidades- satélites, que cresceram ao redor de Brasília.
2.2Os sonhos dos idealizadores da Nova Capital e a Força da
Migração
Figura: 04- O Traçado de Brasília
Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal
Desde o início do governo do presidente Juscelino KubitscheK (1956) até a
sua inauguração(1960), Brasília, recebeu milhares de brasileiros, principalmente
nordestinos, chegaram para trabalhar nas obras da grande capital federal. A
transferência da sede do governo também deslocou milhares de funcionários
públicos federais, até então, instalados na cidade do Rio de Janeiro. Além dos
migrantes do nordeste e do Rio de Janeiro, pessoas de todo o Brasil foram atraídas
para o novo Distrito Federal, no centro do estado de Goiás e suas imediações
produzindo consequentemente novos espaços geográficos.
11
Figura: 05 – O Surgimento das Cidades- Satélites
Fonte: doc.brazilia.jor.br
Em Brasília, surgiram às cidades-satélites, distantes do grande centro
administrativo e com a finalidade de abrigar os trabalhadores pioneiros no processo de
construção da Nova Capital Federal. Nesse processo um de seus principais objetivos
não se realizou que era de reduzir as desigualdades sócio espaciais. A transferência da
população para locais distantes do Plano-Piloto, centro defensor das oportunidades de
trabalho, configurou uma contínua exclusão sócio espacial.
12
Figura: 06 – As Regiões Administrativas de Brasília
Foi Milton Santos quem melhor reconheceu o trinômio que envolvia
Brasília: sua construção, por “vontade criadora”; a “dualidade” sócio espacial e o
“subdesenvolvimento” que discorre sobre a Capital. Essas análises foram assim
desenvolvidas por Milton Santos:
(...) O subdesenvolvimento comparece como um elemento de oposição,
diante daquela “vontade criadora”, modificando os resultados esperados.
Reduz as possibilidades de uma rápida construção da cidade; refletindo-se
sobre as atividades principais, explica as demais funções, o quadro, a
fisionomia atual, a estrutura e os problemas; e é o responsável pela
“dualidade” de Brasília, que tanto a aproxima das demais capitais latino-
americanas. Vontade criadora e subdesenvolvimento do país são, pois, os
termos que se afrontam na realização efetiva de Brasília. É da sua
confrontação que a cidade retira os elementos de sua definição atual”.
Os célebres idealizadores da nova capital não suspeitavam que Brasília e
seus arredores passados cinquenta e dois anos de sua inauguração se
transformariam em uma metrópole em tão pouco tempo, condição hoje de sua
estrutura, complexidade funcional e sua massa populacional. Brasília foi imaginada
para abrigar uma população de aproximadamente quinhentas mil pessoas.
13
Os trabalhadores que participaram de sua construção em fins de 1956 vieram
atraídos para os canteiros de obras por salários dobrados. Em 1957 houve um
recenseamento feito pelo IBGE que já registrava uma população de 12.700 pessoas.
Antes de sua inauguração em 1960, a Capital Federal teve sua população
multiplicada por 10, já eram 141.742 habitantes. Toda essa população que a
princípio voltaria para seu estado de origem foi se acomodando nos arredores do
Plano Piloto formando as chamadas “invasões”. Os estudos e as observações feitas
em geografia demonstram que as populações com menores condições de renda se
aglomeram em torno dos grandes centros pela proximidade do local de trabalho sem
maiores custos.
Segundo Aldo Paviani (1999):
O fracasso do planejamento urbano se materializa nas dezenas de
núcleos esparsos no território, denotando apartação e exclusão sócio-espacial.
Em outras palavras, o intenso trabalho de mais de quatro décadas dos
construtores urbanos não resultou em uma democrática apropriação social dos
bens e serviços socialmente produzidos. As tensões sociais geram urbanização
em constante conflito e crise. Não se trata o espaço em um contexto de
totalidade, compreensivamente6. Ao contrário, a gestão incrementalista, ao
atender uma dada clientela, paternalisticamente, exclui e desatende outros
grupos, gerando contradições e controvérsias não esperadas para uma cidade
que nasceu como modelo do urbanismo racionalista, depositária das esperanças
do planejamento urbano. Ressalte-se ser esse não apenas um fracasso local ou
regional, mas uma falência nos programas e projetos não levados a cabo com
êxito no espaço nacional.
No processo de ocupação periférica surgem em princípio as Regiões
Administrativas - RA de Taguatinga (1958), Sobradinho (1960), Gama (1960), Guará
(1966) e Ceilândia (1970), gerando inicialmente núcleos específicos da estrutura urbana
inicial da região. Esses núcleos, denominados cidades-satélites, foram previstos no
projeto urbanístico para serem colocados em prática a partir da saturação do limite
populacional estabelecido para o Plano Piloto. A antecipação de sua implantação em
áreas distantes do núcleo principal gerou grandes vazios urbanos e deu início ao
processo de ocupação gerenciado pela atuação pública com clara divisão social do
espaço urbano.A característicasoco espacial resultante desse processo concentra a
14
população de renda mais elevada e maior poder político em áreas mais centrais e
privilegiadas em termos de empregos,infraestrutura básica e serviços sociais. Ao mesmo
tempo, redistribui a população menos favorecida quanto a esses aspectos, constituindo
uma ocupação periférica que se estende até os municípios limítrofes. Neles, as
condições de acesso às áreas mais centrais são agravadas pelas grandes distâncias e
pelas dificuldades relacionadas à eficiência do sistema de transporte (grandes vazios
urbanos), implicando em intensos deslocamentos diários. CAIADO (2005).
Assim, mais do que o distância física, a reprodução do crescimento periférico
gera o distanciamento social entre os segmentos populacionais que habitam os
diferentes segmentos espaciais da estrutura intra-urbana.
Exclusão sentida e vista na Capital Federal, Plano- Piloto possui uma das
maiores rendas per capita do país, se não a maior, e em seus arredores, cidades -
satélites e “entorno”1, sobrevivendo ás margens de toda essa riqueza.
Segundo Aldo Paviani (1999):
O fracasso do planejamento urbano se materializa nas dezenas de
núcleos esparsos no território, denotando apartação e exclusão sócio-espacial.
Em outras palavras, o intenso trabalho de mais de quatro décadas dos
construtores urbanos não resultou em uma democrática apropriação social dos
bens e serviços socialmente produzidos. As tensões sociais geram urbanização
em constante conflito e crise. Não se trata o espaço em um contexto de
totalidade, compreensivamente. Ao contrário, a gestão incrementalista, ao
atender uma dada clientela, paternalisticamente, exclui e desatende outros
grupos, gerando contradições e controvérsias não esperadas para uma cidade
que nasceu como modelo do urbanismo racionalista, depositária das esperanças
do planejamento urbano. Ressalte-se ser esse nãoapenas um fracasso localou
regional, mas uma falência nos programas e projetos não levados a cabo com
êxito no espaço nacional.
1Entorno, municípios dos estados de Goiás e Minas Gerais, que fazem divisa com o DF. No centro do território está a área mais
densa, composta pelo Distrito Federal, detentor de 69% da população e seus municípios litrofes. Há uma grande área conurbada na direção sul BR-040, incluindo-se nessa região os municípios de Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental, Novo Gama e Luziânia que
representam 12,3% da população da RIDE-DF e Entorno. Outros municípios que podem-se também considerar como área
metropolitana de Brasília são: Águas Lindas de Goiás (margens da BR-070), Formosa(margens da BR-020), Planaltina (BR-010), Santo Antônio do Descoberto (BR-060). Esses municípios somam uma população de aproximadamente 3,7 milhões de
pessoas.http://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Integrada_de_Desenvolvimento_do_Distrito_Federal_e_Entorno
15
Figura: 07 – O Plano- Piloto em uma visão via Satélite
Fonte: http://planetadoalan.blogspot.com.br/2010/08/mapas-vs-fotografias-aereas.html
Ari Cunha2 assinala em seu artigo que:
Brasília começa a protestar e não entender as razões da expansão
urbana. Até fazendas ligadas ao Distrito Federal estão na mira das invasões
antes mesmo de terem produzido frutos. Há preocupação do governo do
Distrito Federal em aumentar a área de construções, até mesmo às vizinhas dos
lugares sagrados onde a água é abundante e deve ser conservada. Tanto no
setor próximo à Água Mineral como em outros lugares. A criação de novos
núcleos residenciais sem as obras de urbanismo vão sufocar a cidade.
2.3BRASÍLIA: Atração e repulsão, tendência das grandes capitais
2http://www.dzai.com.br/aricunha/blog/aricunha?tv_pos_id=29076, publicado em 22 de dezembro de 2008. O jornalista cearense é
responsável por uma das mais antigas colunas da imprensa brasileira, a Visto, lido e ouvido, publicada desde 1960. “Tinha feito reforma em outro jornal dos Diários Associados e vim para cá organizar a equipe da TV Brasília e do jornal daqui. Quando vim
assistir ao lançamento da pedra fundamental, logo vi que era um lugar para se morar, não somente para visitar”, conta. Ari mudou-se
para o DF em 1959 com a família e, desde então, acompanha toda a trajetória do Correio.
16
Ao se distribuírem no espaço, as cidades formam uma rede urbana, ou seja, um
conjunto de cidades que mantêm entre si relações comerciais, financeiras, industriais,
culturais, políticas, mas sob o comando de uma cidadeque possui o setor de prestação de
serviços mais desenvolvido. À medida que uma cidade desenvolve e amplia a oferta de
bens e serviços para atender às necessidades da população, cresce sua importância e sua
influência sobre a região ou o espaço geográfico.
Segundo Adas (2002);
Com o avanço científico e tecnológico da Terceira Revolução
Científica e Tecnológica, a articulação entre as cidades se estreitou de tal forma
que hoje não existem mais lugares distantes. As cidades estão conectadas não
só pelos meios de transporte rápidos, como os aviões, mas, sobretudo pelo que
a evolução eletrônica permite, ou seja, telefonia, televisão a cabo, internet etc.,
criando, em consequência, o que o geógrafo Milton Santos chama de meio
técnico-científico-informacional, que permite a unificação de todas as regiões e
espaços geográficos mundiais.
Paviani (1989) analisa da seguinte forma, a partir do ano de 1985, imprimimos
para Brasília o codinome de “Metrópole Terciária”, sob a verificação da sua posição de
grande cidade, que possui uma rede de serviços diversificada e desenvolvida, exercendo
influência sobre outras.
A base para que a denominássemos de metrópole estava no fato de que ela
possuía: a) Significativa massa populacional. Em 1985, estimava-se que havia atingido
a casa dos 1.500.000 habitantes, o que lhe conferia porte metropolitano, equiparando-se
às demais metrópoles brasileiras; b) Complexidade funcional por ser sede do governo
federal e por ter atraído considerável número de empresas comerciais, de serviços e
algumas indústrias; c) Capacidade de interagir com cidades de um largo território à sua
volta, delas atraindo populações em movimentos de commuting isto é, trabalhadores que
se deslocam diariamente da periferia para a Capital e vice-versa. Adas (2002).
Famoso por ser o berço dos cargos públicos, o Distrito Federal atraiu durante
anos, pessoas que vinham de outras unidades da Federação em busca de melhores
condições de vida. Porém ao longo das décadas, o fluxo de migração dos brasileiros
mudou e a capital, que antes acolhia moradores passou a ser apenas o local de trabalho
dos que escolheram viver em cidades próximas, preferencialmente na divisa com a
capital. Entre as pessoas que migraram para as cidades goianas entre 2000 e 2010, 23%
17
residiam no Distrito Federal, conforme levantamento do último Censo Demográfico,
divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme os índices 417.332 pessoas naturais do Distrito Federal saíram do
local de nascimento e residem em outra unidade da Federação. Ao mesmo tempo, o
número de pessoas que chegou à capital do país atingiu a marca de 190.422 pessoas e
colaborou para a consolidação do índice de 2.570.160 habitantes no Distrito Federal em
2010.
Segundo Paviani, a Região Metropolitana é composta, por pessoas, em sua
maioria, com pouco poder aquisitivo que, pelo alto custo de vida da Capital, não
conseguem viver em um padrão razoável de vida e acabam, momentaneamente,
residindo em regiões periféricas do Distrito Federal. Em sua visão, houve um
crescimento desordenado a cidade se alargou sem respeitar limites geopolíticos. Numa
metrópole, como neste caso, tem um gigantismo que faz com que as pessoas morem
cada vez mais longe dos locais de emprego. Aqui, por exemplo, o Plano Piloto detém
48% dos postos de trabalho e só 9% da população3. Para ele, é preciso mais
investimentos e planejamentos de forma comum entre os governos das duas unidades da
Federação. Tem-se que pensar nas pessoas e integrar os serviços. Assim ganha o Goiás
e ganha o Distrito Federal.
3 Aldo Paviani, geógrafo e especialista em planejamento urbano. Entrevista ao Jornal de Brasília dia 21 de outubro de 2012, em
matéria publicada sobre a migração. O D.F antes acolhedor, passou a ser só local de trabalho de quem vive em municípios vizinhos.
18
Capítulo III
Metodologia
Para essa pesquisa, optamos por construí-la sob um caráter qualitativo, visto que a
transformação do espaço geográfico (urbano) de Brasília desde sua construção até os
dias de hoje é um tema bastante complexo e necessita de uma abordagem, no contexto
que queremos desenvolver, bastante dinâmica.
Como instrumento de pesquisa, utilizaremos a observação participante, análises
de protocolos, dados específicos dos anos de 1950 para uma comparação concreta com
os dias atuais, assim como fotos, com o intuito de compreender todas as transformações
ocorridas no espaço de Brasília, em pelo menos dois eixos, os fatores que aceleraram
sua metropolização como a atração exercida em sua construção a milhares de
trabalhadores de todo o país, para compreendermos se os ideais de seus fundadores
foram alcançados.
Pesquisa bibliográfica em livros, artigos, periódicos, materiais disponíveis na
internet e biblioteca, para o referencial teórico da pesquisa em questão;
Como instrumento de análise, utilizaremos a observação participante, análises de
protocolos;
Coleta de dados específicos dos anos de 1950 para uma comparação concreta
com os dias atuais;
Análise e exposição de fotos que demonstram o crescimento urbano acelerado de
Brasília e seus arredores.
19
Capítulo IV- Resultados e Discussão
4.1A Contribuição do processo migratório no crescimento urbano de
Brasília no período de 1950 aos dias atuais
Segundo Vesentini (2007) a geografia é uma ciência humana, que estuda o
homem, a sociedade e o espaço com as dimensões que o homem consegue alcançar.
Outra importante percepção com relação à Geografia é que ela nos auxilia a
desvendar as relações existentes entre os seres humanos, que se apresentam, nas formas
de trabalho, nas desigualdades sociais ou nos costumes diferentes entre os povos.
Nesse sentido podemos ressaltar que o maior índice de urbanização do Centro-
Oeste encontra-se no Distrito Federal, onde, de cada 100 habitantes, cerca de 96 vivem
em áreas urbanas. Criado para abrigar a cidade de Brasília, a capital do país, o Distrito
Federal possui uma área de 5.801,9 quilômetros quadrados. Sua população total
encontra-se em torno de dois milhões de habitantes e sua densidade demográfica média
é de 353 habitantes por quilômetro quadrado, a mais elevada da região4.
Figura: 08 - O Aumento Populacional do Centro- Oeste Brasileiro
Percebemos que a urbanização do Distrito Federal se caracteriza pela existência
de um imenso contraste: de um lado, a imponência arquitetônica dos edifícios
4 Fonte IBGE.
20
administrativos e residências oficiais de Brasília e, de outro, a precariedade das
moradias que se localizam na periferia das cidades-satélites.
Foi Milton Santos quem melhor reconheceu o trinômio que envolvia Brasília:
sua construção, por “vontade criadora”; a “dualidade” sócio espacial e o
“subdesenvolvimento” que discorre sobre a Capital. Essas análises foram assim
desenvolvidas por Milton Santos:
(...) O subdesenvolvimento comparece como um elemento de oposição, diante
daquela “vontade criadora”, modificando os resultados esperados. Reduz as
possibilidades de uma rápida construção da cidade; refletindo-se sobre as
atividades principais, explica as demais funções, o quadro, a fisionomia atual, a
estrutura e os problemas; e é o responsável pela “dualidade” de Brasília, que
tanto a aproxima das demais capitais latino-americanas. Vontade criadora e
subdesenvolvimento do país são, pois, os termos que se afrontam na realização
efetiva de Brasília. É da sua confrontação que a cidade retira os elementos de
sua definição atual”.
Seus idealizadores não imaginavam que o Plano-Piloto e seus arredores se
transformariam em uma metrópole em tão pouco tempo, condição hoje de sua estrutura,
complexidade funcional e sua massa populacional.
Figura: 09 – O Início da Capital Federal
Fonte: Arquivo Público do Distrito
Federal
Os trabalhadores que participaram de sua construção em fins de 1956 vieram
atraídos para os canteiros de obras por salários dobrados. Em 1957 houve um
recenseamento feito pelo IBGE que já registrava uma população de 12.700 pessoas.
Antes de sua inauguração em 1960, a Capital Federal teve sua população multiplicada
por 10, já eram 141.742 habitantes. Toda essa população que a princípio voltaria para
21
seu estado de origem foi se acomodando nos arredores do Plano Piloto formando as
chamadas “invasões”. Os estudos e as observações feitas em geografia demonstram que
aspopulações com menores condições de renda se aglomeram em torno dos grandes
centros pela proximidade do local de trabalho sem maiores custos.
Figura 10- Os Trabalhadores da Nova Capital
Fonte: Arquivo Público
do Distrito Federal
Esses aglomerados, que na maioria das vezes, são excluídos do poder público,
não possuem condições mínimas favoráveis à sobrevivência humana.
Milton Santos escreve:
Com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras
exibem problemáticas parecidas [...] Em todas elas problemas como emprego,
habitação, transportes, lazer, água, esgotos, educação e saúde, são genéricos e
revelam enormes carências. Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam as
mazelas.
4.1O Futuro do Distrito Federal
Famoso por ser o berço dos cargos públicos, o Distrito Federal atraiu, durante
anos, pessoas que vinham de outras unidades da Federação em busca de melhores
condições de vida.
22
Porém ao longo de décadas, o fluxo de migração dos brasileiros mudou e a
capital, que antes acolhia moradores, passou a ser apenas o local de trabalho dos que
escolheram viver em cidades próximas, na região metropolitana, de preferência na
divisa com a capital federal. Entre as pessoas que migram para as cidades goianas entre
2000 e 2010, 23% residiam noDistrito Federal, conforme levantamento do últimoCenso
Demográfico, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (
IBGE ).
Sobre região metropolitana Sampaio descreve:
As regiões metropolitanas são aquelas nas quais uma cidade central
está interligada a várias outras que dependem dela em transportes e serviços.
Normalmente nas áreas metropolitanas ocorre o fenômeno de conturbação, ou
seja, as áreas mesclam-se e não é perceptível a separação entre uma cidade e
outra. Os limites entre elas não são identificáveis, pois não há zona rural
separando-as.
Figura: 11 - Brasília no Espaço das Grandes Metrópoles Brasileiras
A busca por melhores condições de vida e a grande oferta de moradias têm
atraído muitos brasilienses para a região metropolitana, tendência das grandes capitais.
23
Assim Paviani, geógrafo e especialista em planejamento urbano, reconhece que
a região metropolitana é composta, em sua maioria por pessoas com pouco poder
aquisitivo que, pelo alto custo de vida da capital federal, não consegue se manter em um
padrão razoável de vida e acabam, momentaneamente, residindo em regiões periféricas
do Distrito Federal. Em sua visão houve um crescimento desordenado. A cidade se
alargou sem respeitar os limites geopolíticos. Numa metrópole, como neste caso, tem
um gigantismo que faz com que as pessoas morem cada vez mais longe dos locais de
emprego. Aqui, por exemplo, o Plano Piloto detém 48% dos postos de trabalho e só 9%
da população.
Na opinião da professora do Departamento de Estatística da Universidade de
Brasília (UnB), Claudete Ruas5, embora não se tenha a comprovação oficial dos
motivos da migração, ao longo de anos de estudos observa-se que as pessoas têm a
tendência de mudar de estado em busca de novas oportunidades que, ás vezes, formam
uma rede de migração.
De acordo com a especialista, o processo migratório deve ser enfrentado como
um ponto sensível nas políticas das duas unidades da federação envolvidas,
principalmente quando a questão são os limites geográficos. Conforme explica, o
Distrito Federal e o Goiás possuem questões de ordem política e de desenvolvimento
que precisam ser resolvidas para melhorar a qualidade de vida dos migrantes. Seguindo
as oportunidades oferecidas em outras localidades, os brasilienses estão seguindo a
tendência nacional em que 14,5% da população resideem uma unidade da federação
diferente daquela em que nasceu e não migrando, cada vez mais, para as cidades que
formam a região metropolitana do Distrito Federal.
5 Claudete Ruas; Professora do Departamento de Estatística da UnB, desde 1988.Disciplinas Ministradas: Estatística Exploratória,
Estatística Não-Paramétrica, Estatística para Ciências Humanas, Demografia.Doutorado: Demografia, Universidade Estadual de Campinas, em conclusão.Mestrado: Estatística, Universidade de Brasília, 1984.Graduação: Bacharelado em Estatística,
Universidade Estadual de Campinas, 1978.
24
Considerações Finais:
Escolas sucateadas, hospitais que não comportam as demandas de uma
população de 2.557.158 de pessoas, segundo dados do IBGE em 2008, não computados
os habitantes da área externa ao DF, o chamado entorno com nove municípios e uma
população de 862.000 pessoas.
Os governos que se sucederam na condução do Distrito Federal estiveram quase
sempre envoltos com a necessidade de resolver questões pontuais. As sucessivas crises
políticas contribuíram para isso. Diversos planos foram elaborados como foco nas
próximas eleições e não no futuro da capital. Poucos conseguiram deixar um legado de
programas capazes de garantir a preservação da qualidade de vida do brasiliense. Não
podemos mais dizer que não temos mais engarrafamentos, pouca violência e uma
educação de excelência e que o transporte público e a saúde funcionam com qualidade.
Longe dos pensamentos de seus idealizadores e muito próxima dos grandes
centros metropolitanos mundiais, com suas terríveis desigualdades sociais e graves
problemas estruturais.
Para Mendes:
A cidadania se torna menor do que sua percepção. O cidadão pretende
transcender o seu espaço primitivo. Todavia, o mundo, expresso desigualmente
não tem como regular os lugares em suas diversidades e, por consequência, a
cidadania se faz menor.
Acreditava-se que Brasília, no ano 2000, teria menos de meio milhão de
habitantes. Não teria cidades-satélites, nem “entornos”, e proporcionaria a integração
social dos seus moradores nas famosas superquadras, onde diretores e contínuos,
funcionários e motoristas, ministros e ascensoristas conviveriam harmonicamente. Entre
a utopia que norteou a sua construção e os dias de hoje, em que Brasília já mostra sinais
25
evidentes de caos urbano, a distância se explica pelas próprias características do
processo social brasileiro.
O Distrito Federal tem hoje quase três milhões de habitantes. A economia se
transformou, temos um comércio pujante e um setor de serviços consolidado, e uma
indústria mais avançada. Isso é muito positivo, mas também o desenvolvimento
econômico necessita ser sustentável, com geração contínua de emprego e renda.
Nesse sentido observamos que, mesmo aos cinquenta e dois anos, o Plano Piloto,
ainda tem sua identidade associada a migrantes. Prova disso é que o avião traçado por
Lúcio Costa é a região com menor porcentagem de nascidos no Distrito Federal.
Somente 35,4% dos 209.926 habitantes têm em seus documentos o Distrito Federal
como naturalidade. Em outras cidades como Brazlândia e Gama, a quantidade de
brasilienses ultrapassa 55% da população. A média do Distrito Federal é de 48,1% dos
habitantes nascidos aqui. Os dados são da Pesquisa Distrital por Amostras de Domicílio
(Pdad), feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).
A explicação está no fato de o Plano Piloto ser uma das regiões mais antigas do
Distrito Federal. Os novos habitantes chegaram à capital e se instalaram nesse local nos
primeiros anos da cidade.
Paviani6 analisa que os migrantes chegaram e se instalaram. Segundo a
Codeplan, mais de 44% dos moradores do Plano Piloto vieram antes da década de 1990.
Isso explicaria o alto índice de idosos no Plano- 21,9% da população, quase o triplo da
média do Distrito Federal, de 7,4%- e a pequena quantidade de crianças e adolescentes,
que somam apenas 12,4% dos habitantes, contra 25,5% da média do Distrito Federal.
Em outros locais, como a Estrutural, esse número chega a 35,2%. Conforme figura 11
em anexo.
Segundo os especialistas, o Plano tem menos crianças porque os filhos dos
pioneiros, devido ao alto valor dos imóveis e da pouca oferta na região central, acabam
formando as famílias em outros locais, como, por exemplo, Águas Claras. Nesta região
o aumento populacional chega a 20,8%, o maior do Distrito Federal nos últimos anos.
Os filhos e netos dos pioneiros de Brasília vão morar nos lugares com infraestrutura
nova a preços acessíveis, analisa Paviani.
6 Reportagem concedida ao Correio Brasiliense de 26 de novembro de 2012.
26
Enquanto Águas Claras não para de crescer, o Cruzeiro apresentou leve queda
no número de moradores 1,7%. Nesse caso, dois fenômenos distintos podem explicar
essa retração: pessoas com maior poder aquisitivo indo para outras regiões ou
moradores antigos que estão saindo porque não conseguem pagar os preços altos do
centro de Brasília.
Longe de garantir a integração social dos seus moradores, como sonhavam os
fundadores, Brasília apresenta, cinco décadas depois da sua inauguração, os piores
índices de concentração de renda do país. Contínuos, motoristas e ascensoristas foram
devidamente tocados para as cidades-satélites ou para o Entorno, conjunto de cidades
goianas paupérrimas que cercam o Distrito Federal.
A especulação imobiliária, as invasões e os loteamentos clandestinos campeiam,
com o beneplácito das autoridades. Nas famosas superquadras moram as classes médias
brasilienses e uma pequena parte das elites, estas, sobretudo, nas superquadras mais
nobres. A maior parte das elites vive nos palacetes e mansões dos Lagos Sule Norte. A
divisão de classes de Brasília encontrou na distribuição do espaço urbano a sua mais
completa tradução.
27
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do pensamento único à consciência universal; Revista Política Democrática; Brasília;
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Brasília. NEUR/CEAM. 2007
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Editora FTD. São Paulo. 2006. p.64.
28
BOLIGIAN, Levon;Geografia Espaço e Vivência. A organização do Espaço
Brasileiro. 1ª edição. Editora Atual. São Paulo. 2001. p. 77
PACHECO, C.A.; PATARRA, N.L; Movimentos migratórios nos anos 80: novos
padrões? Migração, condição de vida e dinâmica urbana:São Paulo 1980-1993.
Campinas: Unicamp, 1997
SAMPAIO, Fernando dos Santos e MEDEIROS, Marlon Clóvis; GEOGRAFIA: Para
viver Juntos. 1ª edição. Editora SM. São Paulo. 2009. p. 161.