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REVISTA DE MANGUINHOS | SETEMBRO DE 2007 12 Conhecimento tipo exportação Fiocruz se consolida como instituição de saúde pública com padrão internacional Catarina Chagas e Fernanda Marques ó no primeiro semestre de 2007, a Fiocruz estabele- ceu sete novos convênios com outros países. Ao todo, a Fundação mantém atualmente quase 70 acordos de coo- peração com universidades, institutos de pesquisa, órgãos governamentais e empresas dos cinco continentes. Uma das mais recentes parcerias fir- madas foi com a Genzyme, multinaci- onal da área de biotecnologia, com sede em Boston, nos Estados Unidos. O objetivo é unir o conhecimento acu- mulado da Fiocruz com a capacidade tecnológica da empresa para desen- S volver novos tratamentos contra do- enças negligenciadas – como Chagas, leishmaniose, malária e outras molés- tias que, embora acometam milhões de pessoas no mundo, não despertam o interesse da indústria farmacêutica porque atingem majoritariamente as populações de baixo poder aquisitivo. Este é mais um indicador de que a Fiocruz vem consolidando seu papel de exportadora de conhecimentos. Em 2006, a Fundação foi eleita a melhor instituição de saúde pública do mun- do pela Federação Mundial das Asso- ciações de Saúde Pública. O título é um reconhecimento da importante participação da Fiocruz em ações como o congresso da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Rede Mundial Pasteur, a Iniciativa Internacional pe- las Doenças Negligenciadas (DNDi) e o fórum Ibas, que reúne Índia, Brasil e África do Sul. Além disso, a Fundação tem assumido papel de liderança nas reuniões dos Institutos Nacionais de Saúde Pública da América Latina e da Comissão Global sobre Determinantes Sociais de Saúde. Também na gestão do conhecimen- to, a Fiocruz mantém uma postura ativa na cooperação internacional: a Funda- ção está à frente do primeiro curso de mestrado em saúde pública brasileiro fora do país, lançado em Luanda em maio deste ano. O objetivo é formar professores para a futura Escola Nacio- PARCERIAS Paulo Buss, presidente da Fiocruz, e Philippe Blazy, ministro da Saúde da França, assinam convênio de parceria Kit de diagnóstico do HIV: cooperação com os norte-americanos Arquivo CCS/ Fiocruz Ana Limp / Fiocruz

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Page 1: Ana Limp / Fiocruz Arquivo CCS/ Fiocruz · pão (Jica, na sigla em inglês) e outros organismos”, explica o médico Luiz Eduardo Fonseca, da Assessoria de Co-operação Internacional

REVISTA DE MANGUINHOS | SETEMBRO DE 20071 2

Conhecimento tipo exportaçãoFiocruz se consolida como instituição desaúde pública com padrão internacional

Catarina Chagas e Fernanda Marques

ó no primeiro semestre de2007, a Fiocruz estabele-ceu sete novos convênioscom outros países. Aotodo, a Fundação mantém

atualmente quase 70 acordos de coo-peração com universidades, institutosde pesquisa, órgãos governamentaise empresas dos cinco continentes.Uma das mais recentes parcerias fir-madas foi com a Genzyme, multinaci-onal da área de biotecnologia, comsede em Boston, nos Estados Unidos.O objetivo é unir o conhecimento acu-mulado da Fiocruz com a capacidadetecnológica da empresa para desen-

Svolver novos tratamentos contra do-enças negligenciadas – como Chagas,leishmaniose, malária e outras molés-tias que, embora acometam milhõesde pessoas no mundo, não despertamo interesse da indústria farmacêuticaporque atingem majoritariamente aspopulações de baixo poder aquisitivo.

Este é mais um indicador de quea Fiocruz vem consolidando seu papelde exportadora de conhecimentos. Em2006, a Fundação foi eleita a melhorinstituição de saúde pública do mun-do pela Federação Mundial das Asso-ciações de Saúde Pública. O título éum reconhecimento da importanteparticipação da Fiocruz em ações comoo congresso da Organização Mundial

da Saúde (OMS), a Rede MundialPasteur, a Iniciativa Internacional pe-las Doenças Negligenciadas (DNDi) eo fórum Ibas, que reúne Índia, Brasil eÁfrica do Sul. Além disso, a Fundaçãotem assumido papel de liderança nasreuniões dos Institutos Nacionais deSaúde Pública da América Latina e daComissão Global sobre DeterminantesSociais de Saúde.

Também na gestão do conhecimen-to, a Fiocruz mantém uma postura ativana cooperação internacional: a Funda-ção está à frente do primeiro curso demestrado em saúde pública brasileirofora do país, lançado em Luanda emmaio deste ano. O objetivo é formarprofessores para a futura Escola Nacio-

PARCERIAS

Paulo Buss, presidente da Fiocruz, e Philippe Blazy, ministro daSaúde da França, assinam convênio de parceria

Kit de diagnóstico do HIV: cooperaçãocom os norte-americanos

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nal de Saúde Pública de Angola e paraescolas técnicas em saúde daquele país.

Há vagas não só para angolanos,mas também para profissionais de ou-tros países africanos de língua portugue-sa – o que reforça uma postura da Fio-cruz de apoiar o Governo Federal emsua política de priorizar os países da Áfri-ca e da América Latina. “Para isso, usa-mos duas estratégias principais: formarrecursos humanos em saúde e auxiliara criação dos institutos nacionais de saú-de desses países. Nesse sentido, tem sidoimportante a colaboração do Ministé-rio das Relações Exteriores, que buscaapoio junto à Comunidade dos Paísesde Língua Portuguesa (CPLP), à Agên-cia de Cooperação Internacional do Ja-

pão (Jica, na sigla em inglês) e outrosorganismos”, explica o médico LuizEduardo Fonseca, da Assessoria de Co-operação Internacional (ACI) da Fiocruz.

Três unidades da Fundação par-ticipam do mestrado em Angola: a Es-cola Nacional de Saúde Pública (Ensp),a Escola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio (EPSJV) e o Instituto de Co-municação e Informação Científica eTecnológica em Saúde (Icit). Mas essaé apenas uma pequena amostra decomo as trocas internacionais fazemparte do cotidiano da Fiocruz – que,recentemente, recebeu as visitas dosministros dos Estados Unidos, França,Moçambique, São Tomé e Príncipe eTailândia. A cada ano, enquanto pes-

quisadores da Fiocruz integram deze-nas de missões enviadas ao exterior,vêm à Fundação outras tantas deze-nas de comitivas internacionais.

Educação semfronteiras

Faz pouco tempo que a Funda-ção começou a ministrar aulas fora dopaís, mas ela já é veterana na recep-ção a alunos estrangeiros que vêm fa-zer intercâmbio no Brasil. Anualmen-te, cerca de 70 estudantes de outrospaíses cursam na Fiocruz doutorado,mestrado ou outros cursos de menorduração. Entre as novidades nessa área,está um curso que o Programa de Pós-graduação em História das Ciências e

O Globo divulga pesquisa de consórcio internacionalque teve a participação de cientistas da Fiocruz

Campanha contra a pólio na República do Congo

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Médico atende a paciente na Nigéria: Fiocruz treina profissionais de vários países

Folha de S.Paulo aborda cooperação Fiocruz-Japão na transferência de tecnologia

Arquivo Instituto Pasteur

da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz(COC) oferecerá a mestrandos doErasmus Mundus, programa de inter-câmbio que inclui universidades de pa-íses como França, Suécia e Espanha.

Oferecer apoio à formação de re-cursos humanos em diferentes partesdo mundo também é uma preocupa-ção de diversas unidades da Fiocruz.A Escola Politécnica, por exemplo, écoordenadora da Rede Internacional deEducação de Técnicos em Saúde (Rets)e tem projetos em andamento comEtiópia, Cabo Verde, Guiné Bissau, Bo-lívia e Paraguai, entre outros.

Referência mundial

Assessorar a implantação e ca-pacitar profissionais para a manuten-ção de Bancos de Leite Humano (BLH)está entre as cooperações internacio-nais oferecidas pelo Instituto FernandesFigueira (IFF). Com tecnologia eficaz,segura, de menor custo e 100% naci-onal, o BLH desenvolvido e em funcio-namento no IFF há mais de seis déca-das é referência para a criação de de-zenas de bancos similares dentro e forado Brasil, em países como Venezuela,Equador, Argentina, Colômbia, Repú-blica Dominicana, Costa Rica e Belize.

A Rede Brasileira de BLH alcançouvisibilidade internacional, sobretudo, apartir de 2001, quando foi reconhecidapela Organização Mundial da Saúde(OMS) como o trabalho que mais con-tribuiu para a redução da mortalidadeinfantil e a promoção do aleitamentomaterno. “O grande elo que mantémnossa Rede em pé é o conhecimento”,garante o engenheiro de alimentos JoãoAprigio Guerra de Almeida, coordena-dor do BLH do IFF e da Rede, que já pres-tou consultorias também para países daEuropa, América do Norte e Oceania.

Vacinas emedicamentos

As atividades de cooperação in-ternacional da Fiocruz incluem a ofertade medicamentos e vacinas, bem comoa transferência de tecnologias para a pro-dução desses insumos. Recentemente,o Instituto de Tecnologia em Imuno-

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Vacinação de pigmeus na Repúblicado Congo: apoio à produção deimunobiológicos na África

Doente de malária na África: as doenças negligenciadas são foco de atenção da Fundação

Oswaldo Cruz fez um curso de microbiologia no Instituto Pasteur em 1876.O sanitarista buscou especialização no exterior

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biológicos (Biomanguinhos) atendeu auma solicitação emergencial da OMS:junto ao Instituto Finlay, de Cuba, pro-duzirá, até 2008, 20 milhões de dosesda vacina meningocócica A+C destina-das ao sub-Saara africano, região conhe-cida como Cinturão da Meningite.

Já o Instituto de Tecnologia emFármacos (Farmanguinhos) está trans-ferindo para a Nigéria tecnologia paraconstrução de fábrica de antiretrovirais.A experiência do Instituto na produ-ção de medicamentos contra Aids tam-bém está sendo ofertada à Ucrânia,que, em contrapartida, repassará à Fi-ocruz a tecnologia para produção deinsulina humana recombinante.

Pesquisa cooperativa

Por meio do Instituto de Pesqui-sa Clínica Evandro Chagas (Ipec), aFiocruz integra duas grandes inicia-tivas internacionais sobre HIV/Aids:o Grupo de Ensaios Clínicos de Aids(ACTG), que visa definir padrões detratamento da infecção pelo HIV ede doenças oportunistas, e a Redede Ensaios de Prevenção do HIV(HPTN), que estuda segurança e efi-cácia de intervenções para impedir atransmissão do HIV.

Em outra unidade da Fundação,o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), testesde um microbicida contra o vírus daAids são alvo de uma parceria com oReino Unido aprovada pela FundaçãoBill e Melinda Gates. Hanseníase, gri-pe aviária e doença de Chagas tam-bém são temas de parcerias internaci-onais do IOC. A mesma unidade parti-

cipa de estudos sobre o timo, órgãoenvolvido em processos imunológicos,que reúnem pesquisadores brasileirose franceses há mais de 25 anos.

Antigas parcerias

As cooperações internacionais fa-zem parte da rotina da Fiocruz há mui-to tempo. “A Fundação vem renovan-do seus laços com o Instituto Pasteurda França desde os primórdios de suahistória. Os acordos com Argentina,Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile tam-bém são antigos”, lembra o médico Luiz

Eduardo Fonseca, da Assessoria de Co-operação Internacional da Fiocruz.

Entre os acordos mais recentes,pode-se citar a transferência de tec-nologia na produção de vacinas ebiofármacos com Estados Unidos, Ja-pão e Cuba. “A Fiocruz tem assumi-do a política de se colocar na posi-ção de parceiro que compartilha oscustos das pesquisas e dos progra-mas. Isso coloca a Fundação em umnovo patamar no intercâmbio de co-nhecimento, tecnologia e produçãode bens em saúde”, conclui.