ana francisca de campos simão bettencourt rodrigues

253
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE FARMÁCIA Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues ESTUDOS DE ESTABILIDADE E BIOCOMPATIBILIDADE DO CIMENTO ACRÍLICO UTILIZADO EM CIRURGIA ORTOPÉDICA DOUTORAMENTO EM FARMÁCIA (Química Farmacêutica) 2006

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Page 1: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE FARMÁCIA

Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTUDOS DE ESTABILIDADE E BIOCOMPATIBILIDADE

DO CIMENTO ACRÍLICO

UTILIZADO EM CIRURGIA ORTOPÉDICA

DOUTORAMENTO EM FARMÁCIA

(Química Farmacêutica)

2006

Page 2: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE FARMÁCIA

Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTUDOS DE ESTABILIDADE E BIOCOMPATIBILIDADE

DO CIMENTO ACRÍLICO

UTILIZADO EM CIRURGIA ORTOPÉDICA

Dissertação orientada por:

Professor Doutor António Roque Taco Calado

Professora Doutora Matilde Fonseca e Castro

DOUTORAMENTO EM FARMÁCIA

(Química Farmacêutica)

2006

Page 3: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

i

ÍNDICE

Índice de Figuras vii

Índice de Tabelas xii

Glossário de Símbolos e Abreviaturas xv

Trabalhos publicados no Âmbito da Dissertação xix

Agradecimentos xxi

Resumo xxiii

Abstract xxiv

Objectivos e estrutura da Tese xxv

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 1

1.1. Biomateriais 3

1.1.1. Breve perspectiva histórica 3

1.1.2. Biomaterial e biocompatibilidade 4

1.2. Cimento acrílico 7

1.2.1. Características gerais 10

1.2.2. Problemas associados à utilização das artroplastias cimentadas 14

1.2.2.1. Efeitos locais 15

1.2.2.2. Complicações peri-operatórias 15

1.2.2.3. Complicações biomecânicas tardias 16

CAPÍTULO II - ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO 19

2.1. Introdução 21

2.1.1. Estudos de cinética de dissolução do metilmetacrilato 22

2.1.1.1. Metilmetacrilato 22

2.1.1.2. Validação do método analítico 25

2.1.1.2.1. Selectividade 26

2.1.1.2.2. Linearidade e gama de trabalho 26

2.1.1.2.3. Limiares analíticos 27

2.1.1.2.4. Precisão 28

2.1.1.2.5. Exactidão 29

2.1.1.3. Modelos de cinética 30

2.1.2. Propriedades de superfície do PMMA 31

2.1.2.1. Energia de superfície e ângulos de contacto 32

2.1.2.2. Espectroscopia de fotoelectrões X 38

2.1.3. Métodos de preparação do PMMA 40

2.1.4. Álcoois e hidrocarbonetos clorados 42

Page 4: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ii

2.2. Método de quantificação do metilmetacrilato

45

2.2.1. Materiais e métodos 45

2.2.1.1. Reagentes e soluções 45

2.2.1.2. Equipamento e material de laboratório 49

2.2.1.3. Metodologia experimental 51

2.2.1.3.1. Preparação das alíquotas do pó e placas de PMMA 51

2.2.1.3.2. Método analítico 52

2.2.1.3.3. Validação do método analítico 55

a) Selectividade 55

b) Linearidade e gama de trabalho 56

c) Ensaios de recuperação 56

d) Limiares analíticos 57

e) Precisão 57

f) Exactidão 58

2.2.2. Resultados e discussão 59

2.2.2.1. Validação do método analítico 59

2.2.2.1.1. Selectividade 59

2.2.2.1.2. Linearidade e gama de trabalho 62

2.2.2.1.3. Ensaios de recuperação 67

2.2.2.1.4. Limiares analíticos 68

2.2.2.1.5. Precisão 68

2.2.2.1.6. Exactidão 71

2.3. Efeito da composição do meio de incubação e condições de conservação do PMMA na cinética de dissolução do MMA

73

2.3.1. Materiais e métodos 73

2.3.1.1. Reagentes e soluções 73

2.3.1.2. Equipamento e material de laboratório 73

2.3.1.3. Metodologia experimental 73

2.3.1.3.1. Efeito da composição do meio de incubação na cinética de dissolução do MMA durante 24 h

75

a) Estudo em PBS

b) Estudo em D-MEM

75

75

2.3.1.3.2. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação do PMMA, em solução a diferentes temperaturas, na cinética de dissolução do MMA

76

a) Estudo em PBS

b) Estudo em D-MEM

76

76

Page 5: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

iii

2.3.1.3.3. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação do PMMA, em contacto com o ar, na cinética de dissolução do MMA

76

a) Estudo em PBS

b) Estudo em D-MEM

76

76

2.3.1.3.4. Quantificação do MMA 77

2.3.2. Resultados e discussão 77

2.3.2.1. Efeito da composição do meio de incubação na cinética de dissolução do MMA durante 24 h

77

2.3.2.2. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação do PMMA

83

2.3.2.2.1. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação do PMMA, em solução a diferentes temperaturas, na cinética de dissolução do MMA

83

2.3.2.2.2. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação do PMMA, em contacto com o ar, na cinética de dissolução do MMA

85

2.4. Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA e na alteração de propriedades de superfície

87

2.4.1. Materiais e métodos 88

2.4.1.1. Reagentes e soluções 88

2.4.1.2. Equipamento e material de laboratório 88

2.4.1.3. Metodologia experimental 89

2.4.1.3.1. Preparação das placas e cilindros 89

2.4.1.3.2. Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA 91

a) Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 24 horas 91

b) Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 22 dias 91

c) Quantificação do MMA 91

2.4.1.3.3. Efeito do envelhecimento do PMMA nas propriedades de superfície 91

a) Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície 91

b) Análise por XPS 93

2.4.2. Resultados e discussão 95

2.4.2.1. Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA 95

2.4.2.2. Efeito do envelhecimento do PMMA nas propriedades de superfície 98

2.4.2.2.1. Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície 99

2.4.2.2.2. Análise por XPS 103

2.5. Efeito da variação da pressão, no método de preparação do PMMA, na cinética de dissolução do MMA e nas propriedades de superfície

110

2.5.1. Materiais e métodos 110

2.5.1.1. Reagentes e soluções 110

2.5.1.2. Equipamento e material de laboratório 111

Page 6: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

iv

2.5.1.3. Metodologia experimental 111

2.5.1.3.1. Preparação do pó e placas do cimento acrílico 111

2.5.1.3.2. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, na cinética de dissolução do MMA

114

a) Estudo em pó 114

b) Estudo em placas 114

c) Quantificação do MMA 114

2.5.1.3.3. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, nas propriedades de superfície do cimento acrílico

115

a) Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície 115

2.5.2. Resultados e discussão 115

2.5.2.1. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, na cinética de dissolução do MMA

115

2.5.2.1.1. Estudo em pó 115

2.5.2.1.2. Estudo em placas 119

2.5.2.2. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, nas propriedades de superfície do cimento acrílico

122

2.5.2.2.1. Determinação dos ângulos de contacto e da energia de superfície 122

2.6. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na cinética de dissolução do MMA e propriedades de superfície do cimento acrílico

124

2.6.1. Materiais e métodos 124

2.6.1.1. Reagentes e soluções 124

2.6.1.2. Equipamento e material de laboratório 126

2.6.1.3. Metodologia experimental 127

2.6.1.3.1. Preparação das placas e cilindros de cimento acrílico 127

2.6.1.3.2. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na cinética de dissolução do MMA

128

a) Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 24 horas 128

b) Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 22 dias 128

c) Quantificação do MMA 128

2.6.1.3.3. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados nas propriedades de superfície do cimento acrílico

130

a) Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície 130

b) Análise por XPS 130

2.6.2. Resultados e discussão 130

2.6.2.1. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na cinética de dissolução do MMA 130

2.6.2.1.1. Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 24 horas 130

a) Estudo do efeito de álcoois 130

b) Estudo do efeito de hidrocarbonetos clorados 136

2.6.2.1.2. Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 22 dias 140

Page 7: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

v

a) Estudo do efeito de álcoois 140

b) Estudo do efeito de hidrocarbonetos clorados 142

2.6.2.2. Estudo do efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados nas propriedades de superfície do cimento acrílico

143

2.6.2.2.1. Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície 143

a) Estudo do efeito de álcoois 143

b) Estudo do efeito de hidrocarbonetos clorados 145

2.6.2.2.2. Análise por XPS 148

CAPÍTULO III - AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E

SOLUÇÕES DE MMA

151

3.1. Introdução 153

3.1.1. Culturas de células e macrófagos 154

3.1.2. Viabilidade celular e mediadores inflamatórios 155

3.2. Materiais e métodos 160

3.2.1. Reagentes e soluções 160

3.2.2. Equipamento e material de laboratório 166

3.2.2.1. Equipamento e material de laboratório utilizado na cultura de células 166

3.2.3. Condições de assépsia 167

3.2.4. Cultura celular 167

3.2.4.1. Linha celular e suas características 167

3.2.4.2. Início e manutenção da cultura celular 168

3.2.5. Metodologia experimental 168

3.2.5.1. Preparação dos extractos de PMMA e soluções de MMA 169

3.2.5.1.1. Preparação dos extractos de PMMA em D-MEM 169

3.2.5.1.2. Preparação das soluções de MMA 169

3.2.5.1.3. Preparação dos extractos de PMMA em soluções de álcoois 170

3.2.5.1.4. Preparação dos extractos de PMMA em soluções de hidrocarbonetos clorados

170

3.2.5.2. Exposição das culturas de macrófagos aos extractos de PMMA e soluções de MMA

171

3.2.5.2.1. Estudo em culturas de macrófagos estimuladas com LPS 172

3.2.5.2.2. Estudo em culturas de macrófagos não estimuladas com LPS 173

3.2.5.3. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na viabilidade celular, produção de espécies reactivas e de óxido nítrico

174

3.2.5.3.1. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na viabilidade celular

174

3.2.5.3.2. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na produção de espécies reactivas

175

Page 8: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

vi

3.2.5.3.3. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na produção de óxido nítrico

176

3.2.5.3.4. Análise estatística 177

3.3. Resultados e discussão 177

3.3.1. Quantificação do MMA 177

3.3.2. Exposição das culturas de macrófagos aos extractos de PMMA e soluções de MMA 179

3.3.3. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na viabilidade celular, produção de espécies reactivas e óxido nítrico

180

3.3.3.1. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na viabilidade celular

180

3.3.3.2. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na produção de espécies reactivas

183

3.3.3.3. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na produção de óxido nítrico

186

3.3.4. Efeito dos extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados na viabilidade celular, produção de espécies reactivas e óxido nítrico

191

3.3.4.1. Efeito de extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados na viabilidade celular

192

3.3.4.2. Efeito de extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados na produção de espécies reactivas

194

3.3.4.3. Efeito de extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados na produção de óxido nítrico

200

CAPÍTULO IV - CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

4.1. Conclusões

4.2. Perspectivas futuras

207

209

212

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 215

ANEXOS 233

Anexo I 235

Anexo II 236

Anexo III 238

Anexo IV 239

Anexo V 240

Anexo VI 241

Page 9: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

vii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1. Representação esquemática dos componentes de uma artroplastia total cimentada da anca.

8

Figura 1.2. Polimetilmetacrilato. 11

Figura 1.3. Formulações (pó e líquido) disponibilizadas para preparação do PMMA. 11

Figura 1.4. Peróxido de benzoílo. 12

Figura 1.5. Metilmetacrilato. 12

Figura 1.6. N,N-dimetil-p-toluidina. 12

Figura 1.7. Hidroquinona. 13

Figura 1.8. Reacção entre o peróxido de benzoílo e a N,N-dimetil-p-toluidina. 13

Figura 1.9. Estrutura geral de um radical formado durante a polimerização do PMMA. 14

Figura 2.1. Ácido metacrílico. 23

Figura 2.2. Representação do ângulo de contacto formado por uma gota de um líquido na superfície de um sólido e das energias interfase líquido-vapor, líquido-sólido e sólido-vapor.

32

Figura 2.3. Esquema do equipamento utilizado no método da placa de Wilhelmy. 34

Figura 2.4. Método da placa de Wilhelmy. 35

Figura 2.5. Representação da força (F) versus distância, numa experiência para determinação dos ângulos de contacto pela técnica de Wilhelmy.

36

Figura 2.6. Interacção dos raios X com um átomo. 39

Figura 2.7. Estabilidade físico-química do cimento acrílico. 44

Figura 2.8. Moldes de aço utilizados para preparação das placas de PMMA. 50

Figura 2.9. Etapas da preparação do PMMA. 51

Figura 2.10. a) Placas utilizadas nas experiências, b) Leitura das dimensões das placas com uma craveira.

52

Figura 2.11. Cromatograma (HPLC) de uma amostra de D-MEM após exposição durante 1 h ao pó de PMMA.

59

Figura 2.12. Cromatograma (HPLC) de uma amostra de D-MEM exposta durante 1 h ao pó de PMMA e após suplementação com MMA padrão.

60

Figura 2.13. Espectros GC-MS: a) do componente isolado a partir do HPLC, correspondente ao tempo de retenção do MMA, de uma solução de PBS após 4 h de exposição ao pó de cimento acrílico e b) de uma solução MMA padrão.

61

Figura 2.14. Cromatograma de uma injecção de fase móvel. 62

Figura 2.15. Cromatograma de uma solução padrão de MMA (3,2 µg 1mL− ). 62

Figura 2.16. Curva de calibração (área vs concentração) e respectiva equação da recta. 64

Figura 2.17. Distribuição dos valores normalizados para o intervalo de concentrações 0,4 a 10,4 µg 1mL− .

65

Figura 2.18. Curva de calibração (área vs concentração) e respectiva equação da recta. 66

Page 10: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

viii

Figura 2.19. Efeito da composição do meio de incubação e condições de conservação do PMMA na cinética de dissolução do MMA.

74

Figura 2.20. Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h. 78

Figura 2.21. Aplicação dos modelos de Wagner e de Higuchi a resultados experimentais correspondentes à 1ª hora de dissolução. 81

Figura 2.22. Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, após 48 h de conservação em solução.

84

Figura 2.23. Valor médio da concentração de MMA quantificado em PBS e D-MEM, durante 24 h de incubação a 37 ºC libertado do pó de PMMA após o 1º ou 3º dia de polimerização do cimento acrílico.

85

Figura 2.24. a) Preparação dos cilindros de PMMA nas seringas, b) Cilindros de PMMA utilizados nas experiências.

89

Figura 2.25. Metodologia experimental utilizada para o estudo do efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA e propriedades de superfície.

90

Figura 2.26. a) Esquema e b) Fotografia do equipamento utilizado no método da placa de Wilhelmy.

92

Figura 2.27. a) Esquema e b) Fotografias do equipamento de XPS. 94

Figura 2.28. Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h, em PBS.

95

Figura 2.29. Aplicação do modelo de Wagner e de Higuchi a resultados experimentais correspondentes à primeira hora de dissolução.

96

Figura. 2.30. Valor médio da concentração de MMA durante 22 dias de incubação em PBS, substituindo o meio diariamente.

98

Figura 2.31. Gráfico obtido para determinação do ângulo de contacto entre uma placa de PMMA, após 75 dias de incubação em PBS.

100

Figura 2.32. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total das placas de PMMA com o tempo.

101

Figura 2.33. Variação dos valores experimentais da energia de superfície polar e dispersa das placas de PMMA com o tempo.

102

Figura 2.34. a) Estrutura química do PMMA, b) Espectro de XPS (C 1s) relativo a t = 0 h e c) Espectro de XPS (C 1s) após 4 meses de envelhecimento.

104

Figura 2.35. a) Estrutura química do PMMA, b) Variação da % atómica das diferentes ligações relativas aos espectros C 1s com o tempo.

105

Figura 2.36. Esquema do mecanismo indicado para a hidrólise dos grupos éster do PMMA.

105

Figura 2.37. Sugestão de esquema para a formação de ligações de hidrogénio entre os grupos carbonilo e hidroxilo de cadeias adjacentes de PMMA.

106

Figura 2.38. a) Estrutura química do PMMA, b) Espectro de XPS (O 1s) relativo a t = 0 h e c) Espectro de XPS (O 1s) após 4 meses de envelhecimento.

107

Figura 2.39. Dispositivo de polipropileno acoplado a uma bomba de vácuo com um manómetro utilizado na preparação do PMMA sob vácuo.

111

Figura 2.40. Metodologia experimental utilizada para o estudo do efeito da variação de pressão, no método de preparação do cimento acrílico, na cinética de dissolução do MMA e nas propriedades de superfície.

113

Figura 2.41. Resultados experimentais da dissolução do MMA em PBS a partir de pó 116

Page 11: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ix

de PMMA.

Figura 2.42. Aplicação dos modelos matemáticos de Wagner e de Higuchi a valores experimentais de dissolução do MMA durante a primeira hora.

118

Figura 2.43. Resultados experimentais da dissolução do MMA em PBS a partir de placas de PMMA.

119

Figura 2.44. Aplicação dos modelos matemáticos de Wagner e de Higuchi aos valores experimentais de dissolução do MMA durante a 1ª hora.

120

Figura 2.45. Valores experimentais da energia de superfície total das placas de PMMA preparadas à pressão atmosférica ou sob vácuo a 0,154 bar.

123

Figura 2.46. Valores experimentais da energia de superfície polar e dispersa das placas de PMMA preparadas à pressão atmosférica e sob vácuo a 0,154 bar.

123

Figura 2.47. Metodologia experimental seguida no estudo do efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na cinética de dissolução do MMA e propriedades de superfície do cimento acrílico.

129

Figura 2.48. Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h, em PBS e soluções de etanol.

131

Figura 2.49. Modelo de Higuchi (etanol). 133

Figura 2.50 Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h, em PBS e soluções de metanol.

134

Figura 2.51 Modelo de Higuchi (metanol). 136

Figura 2.52 Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h, em PBS e soluções de de diclorometano.

137

Figura 2.53 Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h, em PBS e soluções de clorofórmio.

138

Figura 2.54. Modelo de Higuchi (diclorometano). 139

Figura 2.55 Modelo de Higuchi (clorofórmio). 140

Figura 2.56. Valor médio da concentração de MMA durante 22 dias de incubação em PBS e soluções de etanol.

141

Figura 2.57 Valor médio da concentração de MMA durante 22 dias de incubação em PBS e soluções de metanol.

142

Figura 2.58. Valor médio da concentração de MMA durante 22 dias de incubação em PBS e soluções de diclorometano.

142

Figura 2.59. Valor médio da concentração de MMA durante 22 dias de incubação em PBS e soluções de clorofórmio.

143

Figura 2.60. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total, polar e dispersa das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios (controlo e soluções de etanol).

144

Figura 2.61. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total, polar e dispersa das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios (controlo e soluções de metanol).

145

Figura 2.62. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total, polar e dispersa das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios (controlo e soluções de diclorometano).

146

Page 12: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

x

Figura 2.63. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total, polar e dispersa das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios (controlo e soluções de clorofórmio).

147

Figura 2.64. Espectros de XPS (C 1s) relativos a: a) t = 0 h, b) após 22 dias de envelhecimento em PBS e c) em solução Et3 de etanol

.

148

Figura 2.65 Espectros de XPS (O 1s) relativos a: a) t = 0 h, b) após 22 dias de envelhecimento em PBS, e c) em solução Et3

de etanol.

149

Figura 2.66. a) Estrutura química do PMMA, b) % atómica das diferentes ligações relativas aos expectros C 1s correspondentes aos cilindros analisados imediatamente após a polimerização do PMMA (t = 0 h) e após 22 dias de envelhecimento nos meios controlo e soluções de etanol.

150

Figura 3.1. Ensaio do MTT. 156

Figura 3.2. Reacção entre o INT e espécies reactivas. 157

Figura 3.3. Reacção de formação do óxido nítrico. 158

Figura 3.4. Determinação do nitrito através da reacção de Griess. 159

Figura 3.5. Estrutura química do MTT. 163

Figura 3.6. Estrutura química do INT. 163

Figura 3.7. Sulfanilamida. 164

Figura 3.8. Dihidrocloreto de N-[(1-naftil)etilenodiamina]. 165

Figura 3.9. Metodologia experimental dos estudos realizados nas culturas celulares de macrófagos com e sem estimulação com LPS.

171

Figura 3.10. Representação gráfica da variação da absorvância em função da concentração de H2O2

.

183

Figura 3.11. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em D-MEM.

184

Figura 3.12. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição às soluções de MMA.

185

Figura 3.13. Representação gráfica da variação da absorvância em função da concentração de NO2

. 187

Figura 3.14. Quantificação de nitritos correspondente à produção basal de óxido nítrico pelas culturas de macrófagos, estimuladas ou não com LPS, após exposição aos meios controlo.

188

Figura 3.15. Quantificação de nitritos nos meios após exposição durante 24 horas aos extractos de PMMA em D-MEM.

188

Figura 3.16. Quantificação de nitritos nos meios após exposição durante 24 horas às soluções de MMA.

189

Figura 3.17. Reacção entre os radicais óxido nítrico (•NO) e superóxido (O2•−)

formando-se o anião peroxinitrito (−

ONOO). 190

Figura 3.18. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de etanol e meios controlo.

195

Figura 3.19. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de metanol e meios controlo.

196

Figura 3.20. Formação do radical hidroxietilo. 197

Page 13: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xi

Figura 3.21. Formação do radical hidroximetilo. 197

Figura 3.22. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de diclorometano e meios controlo.

198

Figura 3.23. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de clorofórmio e meios controlo.

199

Figura 3.24. Radicais formados pela cisão homolítica do clorofórmio. 200

Figura 3.25. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de etanol e meios controlo.

201

Figura 3.26. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de metanol e meios controlo.

202

Figura 3.27. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de diclorometano e meios controlo.

203

Figura 3.28. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de clorofórmio e meios controlo.

204

Page 14: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1. Biomateriais no organismo. 5

Tabela 1.2. Exemplos de aplicações clínicas das várias classes de biomateriais. 6

Tabela 2.1. Algumas propriedades físico-químicas do MMA. 23

Tabela 2.2. Descrição da composição em % (m/m) do CMW 1. 45

Tabela 2.3. Composição do meio PBS. 47

Tabela 2.4. Composição do meio D-MEM. 48

Tabela 2.5. Variância ( )2S calculada para as dez réplicas independentes das soluções padrão 0,4; 10,4 e 11,6 µg mL−1

.

63

Tabela 2.6. Valor teste (PG) das diferentes soluções padrão de MMA e valor F (valor tabelado de Fisher/Snedecor).

63

Tabela 2.7. Parâmetros da regressão linear para o intervalo de linearidade 0,4 a 10,4 µg 1mL− .

65

Tabela 2.8. Valor teste (PG) das soluções padrão de MMA testadas (1,2 e 10,4 µg 1mL− ) e valor F (valor tabelado de Fisher/Snedecor).

66

Tabela 2.9. Parâmetros da regressão linear para o intervalo de linearidade 1,2 a 10,4 µg 1mL− .

66

Tabela 2.10. Percentagens médias de recuperação do MMA. 67

Tabela 2.11. Resultados experimentais do teste de repetibilidade (Teste A) realizado a partir de diferentes amostras de PBS e D-MEM, expostas durante 24 h ao pó de cimento acrílico.

69

Tabela 2.12. Resultados experimentais do teste de repetibilidade (Teste A) realizado a partir de diferentes amostras de PBS e D-MEM, expostas durante 24 h a placas de cimento acrílico.

69

Tabela 2.13. Resultados experimentais do teste de repetibilidade (Teste B), realizado a partir de uma mesma alíquota diluída de uma mesma amostra de PBS ou D-MEM incubada durante 24 h com pó de PMMA.

70

Tabela 2.14. Resultados experimentais: x i, [MMA] inicial na amostra; xp, [MMA] padrão adicionada; xr, [MMA] a recuperar; xf, [MMA] encontrada; (xf/xr

) × 100, percentagem de

recuperação e xd, viés experimental para os ensaios de recuperação realizados nos níveis de concentração de 0,009, 0,1 e 2,0 % em PBS.

71

Tabela 2.15. Resultados experimentais: x i, [MMA] inicial na amostra; xp, [MMA] padrão adicionada; xr, [MMA] a recuperar; xf, [MMA] encontrada; (xf/xr) × 100, percentagem de recuperação exd

, viés experimental para os ensaios de recuperação realizados nos níveis de concentração de 0,009, 0,1 e 2,0 % em D-MEM.

71

Tabela 2.16. Parâmetros de ajuste do modelo exponencial aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e D-MEM.

79

Tabela 2.17. Parâmetros de ajuste dos modelos de Wagner e de Higuchi aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e D-MEM.

82

Tabela 2.18. Valores de energia de superfície para os líquidos utilizados na determinação dos ângulos de contacto.

88

Tabela 2.19. Parâmetros de ajuste das equações matemáticas aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS a partir de placas de PMMA.

97

Page 15: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xiii

Tabela 2.20. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água ou 1,2-propanodiol.

101

Tabela 2.21. Valores da espessura, comprimento e largura das placas de PMMA preparadas a diferentes pressões.

112

Tabela 2.22. Parâmetros resultantes da aplicação dos modelos matemáticos aos resultados experimentais da dissolução do MMA em PBS a partir de pó de cimento acrílico.

117

Tabela 2.23. Parâmetros resultantes da aplicação dos modelos matemáticos aos resultados experimentais da dissolução do MMA em PBS a partir de placas de PMMA.

121

Tabela 2.24. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água ou 1,2-propanodiol preparadas à pressão atmosférica ou sob vácuo.

122

Tabela 2.25. Valores da espessura, comprimento e largura das placas de PMMA expostas ao meio controlo e às soluções de etanol, metanol diclorometano e clorofórmio.

127

Tabela 2.26 Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e soluções de etanol a partir de placas de PMMA.

132

Tabela 2.27 Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e soluções de metanol a partir de placas de PMMA.

135

Tabela 2.28. Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e soluções de diclorometano a partir de placas de PMMA.

137

Tabela 2.29. Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e soluções de clorofórmio a partir de placas de PMMA.

139

Tabela 2.30. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água ou 1,2-propanodiol incubadas em PBS e em soluções de etanol.

144

Tabela 2.31. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água ou 1,2-propanodiol incubadas em PBS e em soluções de metanol.

145

Tabela 2.32. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água ou 1,2-propanodiol incubadas em PBS e em soluções de diclorometano.

146

Tabela 2.33. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água ou 1,2-propanodiol incubadas em PBS e em soluções de clorofórmio.

147

Tabela 3.1. Resultados experimentais de [MMA] nos extractos de PMMA em D-MEM após 72 h de incubação.

177

Tabela 3.2. Resultados experimentais de [MMA] nos extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados após 72 h de incubação.

178

Tabela 3.3. Valores médios de viabilidade celular das culturas de macrófagos, estimuladas ou não com LPS, após exposição aos extractos de PMMA em D-MEM e aos meios controlo.

180

Tabela 3.4. Valores médios de viabilidade celular das culturas de macrófagos, estimuladas ou não com LPS, após exposição às soluções de MMA e aos meios controlo.

181

Tabela 3.5. Valores médios de viabilidade celular após exposição aos meios controlo do efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na ausência de PMMA e meio controlo positivo.

193

Tabela 3.6. Valores médios de viabilidade celular, após exposição aos extractos de PMMA em soluções de álcoois.

193

Tabela 3.7. Valores médios de viabilidade celular, após exposição aos extractos de PMMA em soluções de hidrocarbonetos clorados.

194

Page 16: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xv

GLOSSÁRIO DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ANOVA Análise de variância de factor único a Quantidade máxima de monómero dissolvido (modelo exponencial) a Ordenada na origem (equação da recta) A Quantidade de MMA presente na matriz polimérica por unidade de

volume a Área da amostra (placa) de PMMA a b Declive da curva de calibração (equação da recta) C Meio D-MEM controlo CV Coeficiente de variação C Solubilidade do monómero no meio (modelo de Higuchi) s Cl Clorofórmio C Soluções de clorofórmio controlo Cl C Soluções de diclorometano controlo Di C Soluções de etanol controlo Et C Soluções de metanol controlo Me Cl1, Cl2, Cl Soluções de clorofórmio a 1,0 × 3 710− ; 1,0 × 510− ; 1,0 × 310− mol 1L− Cplacap≅1,015 Placa de PMMA preparada à pressão atmosférica C Extractos PMMA controlo PMMA Cpó Amostra de pó preparada à pressão atmosférica p≅1,015 CR, CA, C Concentração de analito na amostra fortificada, não fortificada e na

solução de fortificação (Validação) P

CAE “Constant analyser energy” (XPS) Counts/a.u. Contagens/unidades arbitrárias (XPS) C Coeficiente de variação do método (Validação) Vm D Coeficiente de difusão do monómero no meio de dissolução (modelo de

Higuchi) d Densidade Di Diclorometano Di1, Di2, Di Soluções de diclorometano a 1,0 × 3 410− ; 1,0 × 310− ; 1,0 × 210− mol 1L− D-MEM “Dulbecco´s Modified Eagle Medium” DMSO Dimetilsulfóxido DS Diferença de variâncias 2 E.R. Espécies reactivas E Energia cinética dos electrões cin E Extracto de PMMA i E Energia de ligação do electrão ao átomo lig EPA “Environmental Protection Agency” EPR Ressonância paramagnética electrónica ESCA Espectroscopia de fotoelectrões para análise química Et Etanol et al. “et alli” que significa “e outros” Et1, Et2, Et Soluções de etanol a 6,0 × 3 310− ; 2,0 × 210− ; 5,0 × 210− mol 1L− ε Porosidade (modelo de Higuchi) F Teste de Fisher/Snedecor F Força registada na balança (técnica de Wilhelmy) f Factor de diluição (método analítico) d Fi Força de impulsão (técnica de Wilhelmy) g Aceleração da gravidade

LVγ Energia de superfície do líquido/tensão superficial do líquido

SLγ Energia entre as fases sólido e líquido

SVγ Energia da superfície do sólido após adsorção do vapor

Sγ , pSγ , d

Sγ Energia de superfície total do sólido, componente polar, componente disperso

Page 17: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xvi

γ , 1γ , 2γ Energia entre duas quaisquer fases 1 e 2, energia de superfície da fase 1, energia de superfície da fase 2

iγ , piγ , d

iγ Energia de superfície total de um composto no estado i, componente polar, componente disperso

Lγ , pLγ , d

Lγ Energia de superfície total do líquido, componente polar, componente disperso

GC-MS Cromatografia de fase gasosa hifenada a espectroscopia de massa h Constante de Planck HPLC “High Performance Liquid Cromatography”, Cromatografia Líquida de

Alta Eficiência ICH “Tripartite International Conference on Harmonization” INT p-Iodonitrotetrazólio ISO “International Organization for Standardization” IUPAC “International Union of Pure and Applied Chemistry” ϕ Função de trabalho do espectrómetro (XPS) esp kE Constante da velocidade de dissolução (modelo exponencial) k Constante da velocidade de dissolução (modelo de Higuchi) H k Constante da velocidade de dissolução (modelo de Wagner) w λ Comprimento de onda L.D. Limite de detecção L.Q. Limite de quantificação m Quantidade de monómero não dissolvido no tempo t

m

(modelo de Wagner) Massa da placa (método de Wilhelmy)

m Declive da recta m Massa da amostra (pó ou placa) de PMMA (HPLC) a m Quantidade inicial de monómero na matriz polimérica (modelo de

Wagner) 0

M Massa molecular relativa r Me1, Me2, Me Soluções de metanol a 1,0 × 3 510− ; 1,0 × 410− ; 1,0 × 310− 1L−mol Mg kα Radiação alfa emitida por ânodo de magnésio MMA Metilmetacrilato [ ] 1fMMA Quantidade de MMA libertado nos meios por 100 g de PMMA

[ ] 2fMMA Quantidade de MMA libertado nos meios (µg) por mm2

[ ]iMMA

de PMMA

Concentração de MMA nas amostras analisadas por HPLC

MTT Brometo de [3-(4,5-dimetiltiazol-2-ilo)-2,5 difenil-2H-tetrazólio] N Número de valores experimentais NF VXIII Formulário Nacional Americano 18 ª edição ν Frequência da radiação incidente P Probabilidade p Perímetro da placa (técnica de Wilhelmy) p Pressão p.a. Pró-análise PBS Solução polielectrolítica tamponada PG Valor teste para o estudo das funções lineares (Validação) pH -log (H+) PMMA Polimetilmetacrilato π Variação de energia na superfície do sólido devido à adsorção de vapor

do líquido e

Q Quantidade de monómero dissolvida no tempo t (modelo de Higuchi) θ Ângulo de contacto calculado em água a θ Ângulo de contacto calculado em 1,2-propanodiol p θ , θ a , θ Ângulo de contacto, ângulo de contacto de avanço, ângulo de contacto

de retrocesso r

Page 18: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xvii

dφ , pφ Termos que reflectem as interacções não polares e polares R Percentagem de recuperação r Coeficiente de correlação r.p.m. Rotações por minuto RNS Espécies reactivas de azoto ROS Espécies reactivas de oxigénio Relacre Associação de Laboratórios Acreditados de Portugal S Variância 2 S Desvio padrão residual de uma função y/x t Tempo t Estatística de “Student” τ Tortuosidade da matriz (modelo de Higuchi) USP “The United States Pharmacopeia”, Farmacopeia Americana V Volume de amostra não fortificada utilizada no ensaio (Validação) A V Volume da solução de fortificação utilizada no ensaio (Validação) P Vplaca Placa preparada à pressão igual a 0,154 bar p=0,154 Vplaca Placa preparada à pressão igual a 0,330 bar p=0,330 Vpó Amostra de pó preparada à pressão igual a 0,154 bar p=0,154 Vpó Amostra de pó preparada à pressão igual a 0,330 bar p=0,330 V Volume total da amostra utilizada no ensaio R x Concentrações dos padrões (Validação) x Concentração de MMA nas amostras analisadas por HPLC o x Concentração de monómero após se terem reforçado as amostras com

MMA padrão f

x Concentração inicial de monómero (Validação) i x Concentração de MMA padrão necessária para perfazer a concentração

de MMA em estudo (Validação) p

xd Viés experimental (Validação) XPS “X ray photoelectron spectroscopy”, Espectroscopia de fotoelectrões X y Resposta instrumental do equipamento (HPLC) o y Quantidade de composto dissolvido no tempo t (modelo exponencial) Nota: Algumas das abreviaturas usadas resultam de estrangeirismos. A inclusão destas abreviaturas, ou das próprias expressões que as originaram, na sua língua original (o inglês), deve-se a serem expressões técnicas amplamente utilizadas como tal pela comunidade científica internacional.

Page 19: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xix

TRABALHOS PUBLICADOS NO ÂMBITO DA DISSERTAÇÃO

A partir do conjunto de resultados apresentados nesta dissertação foram publicados em

revistas internacionais os seguintes artigos:

1. “In vitro release studies of methylmethacrylate liberation from acrylic cement powder”, A.

Bettencourt, A. Calado, J. Amaral, F.M. Vale, J.M.T. Rico, J. Monteiro, A. Lopes, L.

Pereira

2. “The influence of vacuum mixing on methylmethacrylate liberation from acrylic cement

powder”,

, M. Castro, Int. J. Pharm., 197, 161-168, 2000.

A. Bettencourt,

3. “The effect of ethanol on acrylic bone cement”,

A. Calado, J. Amaral, F.M. Vale, J.M.T. Rico, J. Monteiro, M.

Castro, Int. J. Pharm., 219, 89-93, 2001.

A. Bettencourt

4. “Surface studies on acrylic bone cement”,

, A. Calado, J. Amaral, F.M.

Vale, J.M.T. Rico, J. Monteiro, M.F. Montemor, M.G.S. Ferreira, M. Castro, Int. J.

Pharm., 241,:97-102, 2002.

A. Bettencourt

, A. Calado, J. Amaral, A. Alfaia,

F.M. Vale, J. Monteiro, M.Castro, Int. J. Pharm., 278, 181-186, 2004.

No mesmo âmbito foram igualmente apresentadas várias comunicações em reuniões

científicas das quais se destaca:

1. “Study of methylmethacrylate liberation from the acrylic bone cement powder”, A.

Bettencourt, A. Calado, J. Amaral,

2. “Methylmethacrylate concentration in acrylic cement powder”,

J.M.T. Rico, J. Monteiro, M. Castro, Internacional

Conference on Advances in biomaterials and tissue engineering, realizada em Capri

(Itália), Junho de 1998 (Comunicação em painel).

A. Bettencourt,

3. “The Nitric Oxide involvement in acrylic bone cement biocompatibility”, F.M. Vale,

A. Calado,

J. Amaral, A. Lopes, J. Monteiro, J.M.T. Rico, F.M. Vale, M. Castro, XXIX Reunião da

Sociedade Portuguesa de Farmacologia, realizada no Estoril, Dezembro de 1998

(Comunicação oral).

A.

Bettencourt

4. “Agging effect on methylmethacrylate liberation from acrylic cement powder”,

, J. Calado, J. Amaral, J.M.T. Rico, J. Monteiro, A. Lopes, M. Castro, Bone

Cement: Practice & Progress, realizado em Londres, Janeiro de 1999 (Comunicação oral).

A.

Bettencourt, A. Calado, J. Amaral, F.M. Vale, J.M.T. Rico, J. Monteiro, A. Lopes, L.

Pereira, M. Castro, XVII Encontro Nacional da Sociedade Portuguesa de Química:

Química nas Interfaces, realizado em Lisboa, Março de 2000 (Comunicação em painel).

Page 20: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xx

5. “Citotoxicidade do pó de cimento acrílico”, A. Bettencourt

6. “Influence of different media composition on methylmethacrylate release from acrylic

cement powder”,

, A. Calado, J. Amaral, F.M.

Vale, J.M.T. Rico, J. Monteiro, M. Castro, XIV Encontro Luso-Galego de Química,

realizado na Universidade do Minho (Braga), Novembro de 2000 (Comunicação em

painel).

A. Bettencourt, A. Calado, J. Amaral, F.M. Vale, J.M.T. Rico, J.

Monteiro, A. Lopes, L. Pereira

7. “The effect of ethanol on bone cement biocompatibility”,

, M. Castro, 5th Portuguese Conference on Biomedical

Engineering, realizado em Coimbra, Maio de 2000 (Comunicação oral).

A. Bettencourt

8. “The effect of vacuum mixing on the properties of bone cement”,

, A. Calado, J.

Amaral, F.M. Vale, J.M.T. Rico, J. Monteiro, M.F. Montemor, M.G.S. Ferreira, M. Castro,

XXXII Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Farmacologia e XX Reunião de

Farmacologia Clínica, realizado em Coimbra, Dezembro de 2001 (Comunicação oral).

A. Bettencourt

9. “Aging effect on acrylic bone cement surface properties”, A. Bettencourt, A. Calado, J.

Amaral, A. Alfaia, F.M. Vale, J. Monteiro, M.Castro,

, A.

Calado, J. Amaral, F.M. Vale, M. Castro, 1º Congresso da Sociedade Portuguesa de

Ciências Farmacêuticas, realizado em Lisboa, Abril de 2003 (Comunicação oral).

.

10. “Acrylic bone cement induced cytotoxicity on macrophages”,

II Iberian Congress on Biomaterials,

organizado por “Biomaterials Laboratory of INEB” e Faculdade de Engenharia da

Universidade do Porto, realizado em Évora, Setembro de 2004 (Comunicação oral).

A. Bettencourt

11. “Biocompatibily of acrylic bone cement”,

, A. Calado, J.

Amaral, F.M. Vale, J. Monteiro, M. Castro, 5th Advanced Course in Cell-Materials

Interactions, realizado no Instituto de Engenharia Biomédica (Porto), Julho de 2004

(Comunicação em painel).

A. Bettencourt

, A. Calado, A. Alfaia, M.F.

Montemor, M.G.S. Ferreira, F.M.Vale, J. Monteiro, M. Castro, 2º Congresso da Sociedade

Portuguesa de Ciências Farmacêuticas, realizado em Coimbra, Março de 2005

(Comunicação em painel).

Page 21: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xxi

AGRADECIMENTOS

Expresso os meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas e instituições que, de

uma forma ou de outra, permitiram a realização deste trabalho. E, em especial, refiro os

seguintes:

O Professor Doutor António Roque Taco Calado, a quem devo o estímulo para o

ingresso na carreira docente e a oportunidade de iniciar a minha actividade científica. Meu

orientador, transmitiu-me ao longo dos anos conhecimentos pedagógicos e científicos da

maior valia. A confiança em mim depositada, a sua disponibilidade, compreensão e

amizade constituíram um valioso incentivo para a realização deste trabalho.

A Professora Doutora Matilde Castro, co-orientadora deste trabalho de

investigação, pelos seus conselhos que muito contribuiram para a minha formação. A

permanente disponibilidade manifestada em todas as fases do trabalho, bem como a sua

sensibilidade e grande amizade fizeram-me acreditar, apesar de todas as dificuldades, na

concretização deste trabalho. Devo-lhe a expressão do mais profundo reconhecimento.

O Professor Doutor Joaquim Cotta do Amaral, pelo auxílio na concretização de

grande parte do trabalho experimental, bem como pelos conselhos e pelos conhecimentos

teóricos e práticos que me transmitiu nos longos almoços partilhados.

O Professor Doutor Jacinto Monteiro, pelo seu contributo para a escolha do tema

do assunto a investigar e pela disponibilidade e entusiasmo sempre manifestados.

O Professor Doutor Fernando Vale, pelas valiosas opiniões, forte incentivo e

precioso auxílio para a melhor compreensão das questões abordadas sob o ponto de vista

clínico.

Os Professores Doutores Mário Ferreira e Maria de Fátima Montemor, pela boa

vontade com que me receberam no Instituto Superior Técnico, bem como pelo apoio,

prático e teórico, relativo às análises por XPS.

O Professor Doutor José Manuel Toscano Rico, pelas facilidades concedidas no

Centro de Farmacologia Experimental e Clínica da Faculdade de Medicina da

Universidade de Lisboa.

O Professor Doutor Luís Marcelo e o Doutor Humberto Ferreira, pelo valioso

auxílio no tratamento matemático e estatístico dos resultados.

O Professor Doutor Álvaro Lopes, pela realização das análises por GC-MS.

Page 22: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xxii

A Professora Doutora Cristina Almeida, pelo precioso auxílio na tarefa de

“descomplicar” a validação do método analítico.

A Professora Doutora Maria Eduardo Figueira, Dra Lucília Vales, Sras D. Isabel

Barroso, Inês Martins e Adriana Costa, pelo apoio técnico e pela amizade que ajudaram a

suavizar as longas horas passadas “no HPLC”.

As Sras D. Felicidade, Orquídea e Suzi, pela cordialidade e pelo apoio laboratorial

na execução prática deste trabalho.

O Professor Doutor Hélder Mota Filipe e Dr. Bruno Sepodes pela disponibilidade

na utilização do equipamento do Laboratório de Farmacologia.

A Professora Doutora Aida Duarte, pela facilidade concedida disponibilizando um

“cantinho” da sua arca para armazenamento das amostras utilizadas nos estudos das

células.

A Professora Doutora Maria Henriques Ribeiro, pelo apoio pessoal e incentivo para

realização deste trabalho.

O Nuno Oliveira, pelo estímulo recolhido dos diálogos científicos mantidos, pelas

adequadas sugestões formuladas e pelo auxílio nos estudos nas culturas celulares.

A Quirina Santos-Costa pela eterna disponibilidade.

Os meus colegas de docência António Alfaia, Lídia Pinheiro, Célia Lopes, Isabel

Ribeiro e Rita Guedes, pelo bom ambiente de trabalho vivido, que se revelou da maior

importância para a inexistência de problemas intransponíveis ou de tarefas irrealizáveis.

A minha família, por todo o carinho e pela profunda partilha de cada etapa do

Caminho.

Page 23: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xxiii

RESUMO O cimento acrílico ou polimetilmetacrilato (PMMA) é um biomaterial utilizado em

próteses cimentadas da anca. A perda asséptica dos componentes das artroplastias

cimentadas é considerada uma das complicações determinantes do insucesso dos implantes

a longo prazo.

Com o objectivo de clarificar os factores desencadeantes da intolerância ao PMMA

realizaram-se estudos in vitro de estabilidade físico-química do cimento acrílico e de

avaliação biológica de extractos de PMMA e soluções de metilmetacrilato (MMA).

A cinética de dissolução do monómero, metilmetacrilato, foi analisada recorrendo-

-se à cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para a sua quantificação. Optimizou-

-se e validou-se a técnica cromatográfica utilizada.

As propriedades de superfície do cimento acrílico, energia e composição química, foram

igualmente avaliadas. A energia de superfície foi calculada pelo método de Wu, utilizando-

-se a técnica da placa de Wilhelmy para determinação dos ângulos de contacto. Recorreu-

-se à espectroscopia de fotoelectrões X (XPS) para caracterização da composição química.

O estudo do efeito da composição do meio e das condições de conservação do PMMA

evidenciou que a libertação do MMA a partir do polímero corresponde a um fenómeno

superficial com uma libertação inicial rápida do monómero residual.

O envelhecimento do cimento acrílico em solução induziu um aumento de hidrofilia e

alteração da composição química da superfície do PMMA. A diminuição da pressão no

método de preparação do polímero provocou uma diminuição na libertação do monómero

quando a mistura dos constituintes é feita sob vácuo a 0,154 bar e não influenciou a

evolução da variação da energia de superfície do PMMA.

O etanol aumentou a libertação do MMA a partir da matriz do polímero, mas não

influenciou a variação das propriedades de superfície do PMMA. O metanol, o

diclorometano e o clorofórmio não influenciaram a libertação do monómero nem alteraram

a variação da molhabilidade da superfície do polímero.

A avaliação do efeito biológico realizada em culturas de macrófagos, indicou que os

extractos de PMMA desencadeiam um aumento da produção de espécies reactivas e uma

diminuição da produção de óxido nítrico, em parte devido à acção do MMA.

PALAVRAS-CHAVE: polimetilmetacrilato (cimento acrílico), estabilidade físico-

-química, propriedades de superfície, macrófagos, espécies reactivas, óxido nítrico.

Page 24: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xxiv

ABSTRACT Acrylic bone cement or polymethylmethacrylate (PMMA) is a biomaterial commonly used

for anchoring cemented prosthesis to the bone. Aseptic loosening is a major problem,

limiting the long-term success of these implants.

The present work is a contribution for the understanding of biocompatibility problems

associated with acrylic cement application. In vitro physical-chemical stability studies and

biological evaluation of PMMA extracts and methylmethacrylate (MMA) solutions were

performed.

Kinetic dissolution studies on methylmethacrylate monomer were conducted. High-

-performance liquid chromatography was used for MMA quantification and validation of

the analytical method was performed.

Surface properties, such as surface energy and surface composition, were also evaluated.

Surface energy was estimated by Wu´s method and contact angle determination was

performed by the Wilhelmy Plate technique. X-ray photoelectron spectroscopy (XPS) was

used for surface composition characterization.

The effect of different media composition and storage conditions on MMA dissolution

profile was also studied. The results showed that monomer dissolution rate decreases with

time. MMA release from the polymer matrix seems to be a simple diffusion process.

PMMA aging in solution increased bone cement hydrophilicity and changed surface

chemical composition.

Monomer release was significantly reduced in bone cement obtained at 0,154 bar vacuum

pressure. Cement mixing under partial vacuum did not change the wettability properties of

the cement surface.

Ethanol enhanced the leaching of the monomer from the polymer matrix and did not

influence PMMA surface properties. Methanol, dichloromethane and chloroform did not

affect monomer release from PMMA, nor bone cement wettability.

The biological evaluation performed on cultured macrophages showed that PMMA

extracts increased reactive species and decreased nitric oxide production partly due to the

MMA effect.

KEY WORDS: polymethylmethacrylate (acrylic cement), physical-chemical stability,

surface properties, macrophages, reactive species, nitric oxide.

Page 25: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xxv

OBJECTIVOS E ESTRUTURA DA TESE

A presente dissertação tem por objectivo o estudo de parâmetros de estabilidade

físico-química e de interacção biológica do biomaterial polimetilmetacrilato, visando uma

melhor compreensão da etiologia associada ao problema da perda asséptica, considerada

actualmente a principal causa de insucesso das artroplastias cimentadas da anca.

O trabalho de investigação desenvolvido é apresentado em quatro capítulos.

No Capítulo I aborda-se o tema da dissertação com uma breve introdução histórica

e a definição de alguns conceitos utilizados na área dos biomateriais. Referem-se ainda

características gerais do polimetilmetacrilato (PMMA) e problemas associados à utilização

das artroplastias cimentadas.

O Capítulo II, dedicado aos estudos de estabilidade físico-química do cimento

acrílico divide-se em seis secções. A primeira corresponde à Introdução e as cinco

restantes à descrição dos Materiais e Métodos e à Apresentação e Discussão dos

Resultados Experimentais, incluindo este capítulo os seguintes objectivos:

- Estudo do método de quantificação do metilmetacrilato (MMA);

- Efeito da composição do meio de incubação e condições de conservação do

PMMA na cinética de dissolução do MMA;

- Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA e na

alteração de propriedades de superfície;

- Efeito da variação da pressão, no método de preparação do PMMA, na cinética de

dissolução do MMA e alteração de propriedades de superfície;

- Efeito de álcoois (etanol, metanol) e de hidrocarbonetos clorados (diclorometano,

clorofórmio) na cinética de dissolução do MMA e na alteração de propriedades de

superfície.

O Capítulo III, refere-se à avaliação biológica de extractos de PMMA e soluções

de MMA. Está organizado em três secções - Introdução, Materiais e Métodos, Resultados

e Discussão - e tem em vista o estudo relativo aos seguintes objectivos:

- Efeito in vitro de extractos de PMMA na viabilidade celular, produção de espécies

reactivas e de óxido nítrico;

Page 26: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

xxvi

- Efeito in vitro de soluções de MMA na viabilidade celular, produção de espécies

reactivas e de óxido nítrico;

- Efeito in vitro de extractos de PMMA em soluções de álcoois e de

hidrocarbonetos clorados na viabilidade celular, produção de espécies reactivas e de óxido

nítrico.

No Capítulo IV é apresentada a conclusão final de todo o trabalho, sintetizando as

conclusões parcelares que foram sendo retiradas ao longo da apresentação e discussão dos

diversos resultados perspectivando-se, ainda, ulteriores áreas de investigação.

Page 27: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE FARMÁCIA

Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTUDOS DE ESTABILIDADE E BIOCOMPATIBILIDADE

DO CIMENTO ACRÍLICO

UTILIZADO EM CIRURGIA ORTOPÉDICA

DOUTORAMENTO EM FARMÁCIA

(Química Farmacêutica)

2006

Page 28: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE FARMÁCIA

Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTUDOS DE ESTABILIDADE E BIOCOMPATIBILIDADE

DO CIMENTO ACRÍLICO

UTILIZADO EM CIRURGIA ORTOPÉDICA

Dissertação orientada por:

Professor Doutor António Roque Taco Calado

Professora Doutora Matilde Fonseca e Castro

DOUTORAMENTO EM FARMÁCIA

(Química Farmacêutica)

2006

Page 29: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

3

1. INTRODUÇÃO

1.1. Biomateriais

1.1.1. Breve perspectiva histórica

O termo biomaterial, bem como o conceito que lhe está associado, são

relativamente recentes. No entanto, a utilização de diversos materiais para substituir

tecidos, órgãos ou funções do corpo ocorre desde há muito, tendo evoluído com o

desenvolvimento da própria Medicina.

Alguns historiadores referem a utilização de suturas há 32 000 anos (Ratner e

Bryant, 2004). Se recuarmos até à Antiguidade Clássica (3000 anos A.C.) encontramos

descrita a utilização de placas de ouro na civilização egípcia para corrigir lesões no crânio.

Pela mesma altura, os chineses usavam bolas de cristal de rocha como lentes artificiais

(Monteiro, 1993). Olhos, ouvidos, dentes e narizes artificiais foram encontrados em

múmias egípcias (Ramakrishna et al., 2001).

Até ao século XVIII, os materiais fundamentais para a realização de implantes

foram o ouro e a prata. A partir do início do século XX os biomateriais começaram a ser

frequentemente usados na reconstrução de dentes (Hanker e Giammara, 1988). Na década

de 30 do século XX os biomateriais mais utilizados foram a madeira, o vidro e os metais,

utilizados principalmente em instrumentos cirúrgicos e dispositivos extracorporais

(Szycher, 1994).

Contudo, o uso generalizado de biomateriais em cirurgia reconstrutiva só se iniciou

a partir da 2.ª Grande Guerra, para o que muito contribuiu o aparecimento dos polímeros

sintéticos. Inicialmente sintetizados para aplicações comerciais, foram adaptados a

próteses, “pacemaker”, enxertos vasculares e compressas. Um exemplo é o “dacron”,

utilizado para enxertos vasculares, que foi aproveitado da indústria têxtil.

Desde então, a investigação e aplicação destes materiais tem aumentado

exponencialmente, acompanhando o extraordinário avanço científico e tecnológico que se

tem vindo a verificar.

Page 30: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

4

Actualmente, os biomateriais são amplamente utilizados para substituir e/ou

restaurar a função de um tecido ou órgão traumatizado ou lesado, para melhorar uma

função fisiológica ou corrigir defeitos, melhorando a qualidade de vida de milhões de

pacientes em todo o Mundo (Ramakrishna et al., 2001).

O estudo da interacção destes materiais com o organismo humano também tem sido

muito significativo, abrindo-se hoje inúmeras perspectivas de utilização de novos

materiais. Pode mesmo falar-se em materiais desenvolvidos especificamente para

aplicações biomédicas, passado que foi o período de utilização de materiais em Medicina

que haviam sido desenvolvidos para outros fins (Amaral et al., 2003).

Tendo em conta a diversidade de conceitos que surgem na área dos biomateriais,

considera-se importante definir, no contexto deste trabalho, os termos biomaterial,

biofuncionalidade e biocompatibilidade.

1.1.2. Biomaterial e biocompatibilidade

Biomaterial, sinónimo de material biocompatível, material biomédico ou material

para Medicina, é um termo bastante lato, podendo encontrar-se na literatura várias

definições para o mesmo. Por exemplo, segundo Hench (1980), os biomateriais são

substâncias, que não alimentos ou fármacos, destinadas a contactar com tecidos ou fluidos

biológicos, substituindo ou ampliando as suas funções. Refira-se ainda que são usados em

muitas preparações farmacêuticas (revestimento de comprimidos e cápsulas, sistemas de

libertação prolongada) e como materiais de diagnóstico (marcadores de tecidos).

Biomaterial, é definido, por Amaral et al. (2003), como todo o material destinado a

possuir uma interface com sistemas biológicos para avaliar, tratar, aumentar ou substituir

qualquer tecido, órgão ou função do corpo. Cabem neste conceito materiais utilizados de

forma permanente ou temporária, de composição química distinta.

Na Tabela 1.1 apresentam-se alguns exemplos de utilização de biomateriais no

organismo.

Page 31: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

5

Tabela 1.1. Biomateriais no organismo (Amaral et al., 2003).

Local Tipo de aplicação

Pele Suturas, compressas, pele artificial.

Ossos Próteses, placas de osteossíntese, parafusos, cimentos ósseos.

Olhos Lentes de contacto, lentes intraoculares.

Ouvidos Implantes da cóclea, estribos artificiais.

Músculos Suturas, estimuladores da função muscular.

Sistema cardiovascular

“Pacemaker”, válvulas cardíacas artificiais, cateteres, vasos sanguíneos.

Sistema urinário Cateteres, aparelhos de diálise.

Sistema nervoso Drenos hidrocefálicos, estimuladores da função nervosa.

Sistema endócrino Microcápsulas contendo células pancreáticas.

Por conveniência, os biomateriais são normalmente divididos em três classes:

polímeros, metais e cerâmicos (Tabela 1.2). Os materiais compósitos são constituídos por

combinações entre os materiais das três classes anteriores (Amaral et al., 2003). De acordo

com a sua origem podem ainda ser classificados em materiais naturais ou de síntese.

Os polímeros são constituídos por longas cadeias de unidades que se repetem (os

monómeros), utilizados quando os tecidos necessitam da presença de um implante para

suportar, aumentar ou substituir tecidos, sendo vastíssima a sua aplicação como

biomateriais (Tabela 1.2).

Os metais e ligas (Tabela 1.2) são utilizados quando é necessária resistência

mecânica ou condutividade eléctrica. Por exemplo, o componente femoral de uma prótese

da anca é obrigatoriamente um metal, o mesmo sucedendo com os elementos condutores

de um “pacemaker” cardíaco.

Page 32: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

6

Os compostos cerâmicos incluem um elevado número de sólidos inorgânicos

(Tabela 1.2), mono ou policristalinos, formados por elementos metálicos e não metálicos,

ligados entre si por ligações iónicas e/ou covalentes.

Tabela 1.2. Exemplos de aplicações clínicas das várias classes de biomateriais (adaptada de Szycher, 1994; Thompson e Hench, 1998; Kawachi et al., 2000; Amaral et al., 2003).

Biomaterial Aplicações

Polímeros: polietileno, polipropileno, poliéster, poliuretano, celulose, policarbonato, polimetilmetacrilato, ácido poliglicólico, polidimetilsiloxano, policianoacrilatos.

Suturas, cateteres, tubos de diálise, adesivos tecidulares, artérias, veias, válvulas cardíacas, “pacemaker”, componente acetabular da prótese da anca, prótese mamária, tendão artificial, cimento acrílico, lentes de contacto, implantes dentários.

Metais e ligas: aço inoxidável, ligas de titânio, ligas de cobalto-crómio, ligas de níquel, platina, titânio.

Fixação de fracturas (parafusos, placas, fios, hastes), implantes dentários, eléctrodos.

Cerâmicos: alumina, zircónia, carbono, fosfato de cálcio, hidroxiapatite, bio-vidros.

Implantes dentários, próteses ósseas, válvulas cardíacas, tendões, vasos sanguíneos e traqueias artificiais.

Compósitos: fibra de carbono-resina, fibra de carbono-termoplástico, carbono- -carbono, fosfato de cálcio-colagénio.

Válvulas cardíacas artificiais, implantes de juntas de joelhos.

Os biomateriais compósitos (Tabela 1.2), são o resultado da investigação da

associação de diversos materiais, com aproveitamento das características mais

convenientes de cada um. Por exemplo, vários compósitos na forma de hidrogel, têm sido

investigados como implantes para substituição de ligamentos, tendões e discos

intervertebrais; matrizes reabsorvíveis de colagéneo misturadas com glutaraldeído têm

vindo a ser utilizadas no tratamento da incontinência urinária feminina (Ambrosio et al.,

1998); matrizes não-reabsorvíveis de polipropileno misturadas com hidroxiapatite têm sido

investigadas como possíveis substitutos do tecido ósseo (Tormala et al., 1998).

Page 33: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

7

Os biomateriais, inicialmente produzidos a partir de materiais existentes, são hoje

objecto de intensa investigação, desenvolvida por equipas multidisciplinares, que incluem

engenheiros de materiais, biólogos moleculares, químicos e físicos de superfícies em

associação com médicos e farmacêuticos, com o objectivo de criarem materiais que

mimetizem os tecidos e órgãos naturais (Szycher, 1994).

Mas, apesar de todos os desenvolvimentos já verificados, está-se ainda muito longe

do biomaterial ideal.

Diz-se, a propósito da maior ou menor tolerância do organismo para com os

materiais com os quais contacta, que essas reacções são função da sua biocompatibilidade

(Amaral et al., 2003).

Tendo o termo biocompatibilidade um sentido bastante vasto importa, por isso,

delimitar-se o contexto em que a mesma é avaliada. Considera-se que a biocompatibilidade

abrange duas áreas fundamentais (Kirkpatrick e Bittinger, 1998):

- biosegurança, que envolve o estudo dos efeitos tóxicos do biomaterial no

organismo e das interacções que ocorrem com os tecidos envolventes;

- biofuncionalidade, definida como a capacidade de adaptação do biomaterial à

função a desempenhar durante a sua presença no organismo (Nicholson, 1998).

A biocompatibilidade pode então ser definida como a capacidade do material para

desempenhar uma função específica, com uma resposta do organismo adequada

(Ramakrishna et al., 2001).

Seguidamente, aborda-se um tipo particular de biomaterial - o cimento acrílico -

objecto da investigação experimental desenvolvida.

1.2. Cimento acrílico

O polimetilmetacrilato (PMMA), ou cimento acrílico, ocupa um lugar de destaque

na hierarquia dos biomateriais sintéticos, porque é um material utilizado frequentemente

desde há décadas nas artroplastias cimentadas da anca e do joelho (He et al., 2003;

Sundfeldt et al., 2006).

A função principal do cimento acrílico é a estabilização da prótese, preenchendo o

espaço entre a mesma e os tecidos envolventes.

Page 34: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

8

O PMMA, que não tem propriedades adesivas, estabelece uma ligação mecânica

entre a superfície irregular do osso e a prótese, o que permite uma distribuição uniforme de

peso e de outras forças entre os diferentes elementos da artroplastia e o osso.

A artroplastia cimentada total da anca (Figura 1.1), é constituída essencialmente

por um implante metálico (liga de crómio-cobalto, liga de titânio ou aço inoxidável)

inserido no canal femoral e fixado através do cimento acrílico. A cabeça femoral metálica

articula com um componente acetabular de polietileno de elevada densidade.

Figura 1.1. Representação esquemática dos componentes de uma artroplastia total cimentada da anca: (1) osso cortical, (2) e (2a) osso trabecular, (3) e (3a) cimento acrílico, (4) prótese metálica femoral, (5) componente acetabular em polietileno (Williams, 1992).

Actualmente, o conjunto de patologias que afectam o sistema músculo-esquelético,

constitui a principal causa de dor crónica e de incapacidade funcional, atingindo centenas

de milhões de indivíduos em todo o Mundo. Cerca de metade das doenças crónicas em

pessoas com mais de 65 anos são devidas a patologia osteo-articular. Os traumatismos

decorrentes dos acidentes de viação ou de situações de guerra continuam a aumentar

(Cantista, 1999).

Page 35: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

9

Em Portugal, estas doenças atingem um terço da população, constituindo uma das

principais causas de incapacidade transitória e permanente para o trabalho, o que

representa um número significativo de hospitalizações, sendo consideradas um dos

problemas de saúde mais frequentes na população.

No caso da osteoporose, as fracturas quase duplicaram na última década e estima-se

que venham a atingir 40 % das mulheres que ultrapassem os 50 anos (SPOT, 2006).

Na tentativa de solucionar muitas das patologias do sistema músculo-esquelético,

são utilizadas próteses ou implantes ortopédicos, aplicados mediante acto cirúrgico com o

objectivo de restabelecer ou substituir a capacidade funcional de um dado osso ou

articulação. Uma das operações mais frequentes em cirurgia ortopédica é a da artroplastia

total da anca, existindo a possibilidade de realização de artroplastias cimentadas, ou não,

dependendo do mecanismo de fixação da prótese ao osso. Nas artroplastias cimentadas o

implante é estabilizado com material agregante, enquanto que nas não cimentadas os

tecidos contactam directamente com a superfície do implante (Williams, 1992). O alívio da

dor e o restabelecimento da capacidade de movimento através da utilização deste tipo de

biomateriais permite aos pacientes regressarem à vida activa, sendo efectuadas anualmente

milhares de artroplastias em todo o Mundo.

As primeiras tentativas para reconstituir a anca (articulação do corpo com uma

função primordial na locomoção) foram efectuadas por Theophilus Gluck, em Berlim, em

1880. Porém, a prótese, fabricada em marfim, não se mostrou adequada. Mais tarde, em

1890, em Paris, o cirurgião francês Jules Pean, utilizou uma prótese feita de platina que

também não teve sucesso (Pospula, 2004).

Quase cinco décadas depois, Smith (1939) publicou os resultados das suas

experiências em artroplastias da anca, utilizando materiais tão diversos como o vidro e a

celulose. Embora sem grande sucesso, uma importante observação feita na altura foi a de

que a artroplastia poderia resultar se a área de contacto real entre a prótese e o osso fosse

aumentada (Monteiro, 1993).

Só no ano de 1960, marco na história das artroplastias totais, Sir John Charlney, no

“Wrightington Hospital” (Reino Unido), conseguiu aumentar a área de contacto entre a

prótese e o osso, usando um material agregante para estabilização da prótese (Harper,

1998).

Page 36: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

10

Charnley apercebeu-se que o polimetilmetacrilato, utilizado na área da Medicina

dentária, poderia ser utilizado para preencher o espaço entre a prótese e o osso permitindo

a transferência de tensões entre esses elementos (Wright et al., 1997).

A aplicação do cimento acrílico noutras articulações foi rapidamente seguida. O

desenvolvimento da substituição da articulação do joelho começou no início da década de

70 do século passado e, tal como a prótese da anca, é actualmente um procedimento

estabelecido (Bentley, 1999).

Hoje, o cimento acrílico é usado para fixação de próteses ao osso vivo em técnicas

de artroplastia de articulações. A sua utilização está indicada quando é necessária a

reconstrução da articulação devido a osteoartrite, artrite reumatóide, artrite traumática,

necrose avascular, não união de fracturas do colo do fémur, osteoporose, destruição

secundária grave de articulações após traumatismo ou outras condições (incluindo a

fixação de algumas fracturas instáveis em doenças neoplásicas) e revisão de técnicas

anteriores de artroplastia (DePuy, 1997), bem como em implantes definitivos no crânio.

Outras aplicações clínicas deste material incluem o tratamento de tumores do osso

(Wada et al., 2002) e injecção percutânea em lesões metásticas vertebrais (Hardouin,

1996).

É também utilizado em oftalmologia (lentes de contacto ou lentes intra-oculares),

nefrologia (membranas para diálise), cirurgia dentária (próteses dentárias) e tecnologia

farmacêutica, nomeadamente para microencapsulação de vacinas em nanopartículas e

revestimento de comprimidos e cápsulas (Donbrow, 1992; Moreau et al., 1998).

1.2.1. Características gerais

O PMMA (Figura 1.2) é um polímero de estrutura macromolecular composto por

pequenas unidades (monómeros). A unidade básica do PMMA é o monómero,

metilmetacrilato.

Page 37: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

11

Figura 1.2. Polimetilmetacrilato.

A composição básica do cimento acrílico tem sido pouco alterada desde o seu uso

original.

Os cimentos comerciais são disponibilizados como um sistema composto por duas

formulações esterilizadas, uma na forma de pó e outra líquida (Figura 1.3).

O principal componente do pó (de cor branca, finamente dividido) é o PMMA,

homopolímero de polimetilmetacrilato pré-polimerizado, caracterizado pelo seu peso

molecular e granulometria.

Figura 1.3. Formulações (pó e líquido) disponibilizadas para preparação do PMMA.

Os outros constituintes do pó são o peróxido de benzoílo (Figura 1.4), que inicia a

polimerização do monómero quando o líquido e o pó são misturados e os agentes

opacificantes (sulfato de bário ou dióxido de zircónio).

)(CH3

CCH2

C

O

O

CH3

n)(CH3

CCH2

C

O

O

CH3

n

líquido

líquido

Page 38: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

12

Os agentes opacificantes, permitem tornar radiopaco o produto final. A sua

inclusão facilita a remoção da camada de cimento durante a revisão das artroplastias.

Figura 1.4. Peróxido de benzoílo.

O componente maioritário do líquido é o metilmetacrilato (Figura 1.5).

CH2 C

CH3

COOCH3

Figura 1.5. Metilmetacrilato.

Os outros compostos do líquido são a N,N-dimetil-p-toluidina, a hidroquinona, o

etanol e o ácido ascórbico.

A N,N-dimetil-p-toluidina (Figura 1.6) é uma amina aromática terciária que actua

como activador, promovendo a polimerização quando o líquido e o pó são misturados.

NCH3

CH3

H3C

Figura 1.6. N,N-dimetil-p-toluidina.

A hidroquinona (Figura 1.7) e o ácido ascórbico actuam como estabilizadores,

prevenindo a polimerização prematura, que pode ocorrer quando o líquido é sujeito a calor

ou luz excessiva.

C OO

O CO

Page 39: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

13

OH

OH

Figura 1.7. Hidroquinona.

O etanol está presente como um veículo para facilitar a solubilização do ácido

ascórbico.

Para obtenção do cimento acrílico dissolvem-se os compostos na forma de pó no

líquido, resultando uma reacção de polimerização em cadeia envolvendo a formação de

radicais livres.

A polimerização entre as cadeias de PMMA pré-formadas e o metilmetacrilato

(MMA) é desencadeada pela reacção entre o peróxido de benzoílo e a N,N-dimetil-p-

-toluidina, (Figura 1.8) obtendo-se no final um fluido pseudoplástico não newtoniano (a

viscosidade aumenta com o aumento da tensão de corte), pronto para ser inserido na

cavidade óssea (Williams, 1992).

Figura 1.8. Reacção entre o peróxido de benzoílo e a N,N-dimetil-p-toluidina (adaptado de

Moreau et al., 1998).

N,N–dimetil-p-toluidinaperóxido de benzoílo

(radical que inicia a polimerização)

N,N–dimetil-p-toluidinaperóxido de benzoílo

(radical que inicia a polimerização)

peróxido de benzoílo N,N–dimetil-p-toluidina

(radical que inicia a polimerização)

N,N–dimetil-p-toluidinaperóxido de benzoílo

(radical que inicia a polimerização)

N,N–dimetil-p-toluidinaperóxido de benzoílo

(radical que inicia a polimerização)

peróxido de benzoílo N,N–dimetil-p-toluidina

(radical que inicia a polimerização)

Page 40: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

14

O cirurgião tem aproximadamente sete minutos para misturar e introduzir o

cimento acrílico na forma de pasta no organismo, manualmente ou através de uma seringa,

completando-se a polimerização in vivo. O PMMA adapta-se às irregularidades da

superfície óssea, penetra nos interstícios do osso trabecular e estabelece uma interacção

mecânica com a superfície óssea.

No decurso da reacção de polimerização, que é muito exotérmica (temperaturas de

polimerização descritas entre 40 e 110 ºC, Dunne e Orr, 2001), produzem-se diversos

radicais (Figura 1.9) e compostos ainda não completamente identificados. Por ressonância

magnética nuclear já se identificaram os fenolatos como produtos secundários desta

reacção (Moreau et al., 1998).

Figura 1.9. Estrutura geral de um radical formado durante a polimerização do PMMA (Gallez e Beghein, 2002).

Para inserção do PMMA in vivo, a técnica inicial consiste na aplicação digital da

massa de cimento acrílico no canal femoral. Num esforço para aumentar a longevidade das

próteses, novos métodos de cimentação foram introduzidos, tais como a injecção por

pressurização, após centrifugação do cimento acrílico (Wright et al., 1998).

1.2.2. Problemas associados à utilização das artroplastias cimentadas

Actualmente, o PMMA continua a ser o biomaterial mais frequentemente

seleccionado para as artroplastias totais cimentadas. O biomaterial apresenta inúmeras

vantagens, das quais se destacam: aumento da estabilidade biomecânica da artroplastia ao

diminuir a tensão no implante metálico, reacção de polimerização rápida (15 a 20

minutos), facilidade de manuseamento e de colocação in vivo, possibilidade de veicular

antibióticos e, ainda, o facto de ser pouco dispendioso (Goodman, 2005).

C CH3

CH2

COOCH3

R

Page 41: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

15

No entanto, apesar da sua utilização frequente e sucesso clínico documentado, o

PMMA apresenta problemas de biocompatibilidade (Ries et al., 2006; Sundfeldt et al.,

2006), nomeadamente devido às características do próprio material (pequena resistência à

flexão e torção, composição química diferente do osso e não ser osteoindutivo), aos efeitos

locais, às complicações peri-operatórias e biomecânicas tardias originados aquando da sua

implantação no organismo.

1.2.2.1. Efeitos locais

Localmente, no decurso do acto cirúrgico, a inserção do cimento acrílico vai

provocar um traumatismo no osso receptor, reflectindo-se numa zona de necrose óssea

devido à supressão da vascularização medular, à toxicidade do monómero e à lesão térmica

associada à reacção de polimerização do PMMA (Lortat, 1986).

1.2.2.2. Complicações peri-operatórias

Durante a inserção do cimento acrílico podem ocorrer complicações peri-

-operatórias cardiopulmonares que incluem desde pequenos episódios de hipotensão

arterial e bradicárdia, a acidente vascular cerebral, embolismo pulmonar, paragem cardíaca

(Brendan et al., 1991; Brandser et al., 1995; Pospula, 2004) e, mesmo, alguns casos fatais

(Pahuja e Chand, 1976; Duncan, 1989; Logan, 1998; Fallon et al., 2001). A patofisiologia

destas reacções ainda não está completamente elucidada parecendo estar associada a uma

pressão arterial pulmonar elevada e embolismo gordo pulmonar (Elmaraghy et al., 1998).

Há autores que referem que o monómero residual pode exacerbar este tipo de

reacções (Pinto, 1993; Dahl et al., 1994; Karlsson et al., 1995; Dahl, 1997; Gough e

Downes, 2001), enquanto que para outros o seu efeito é controverso (López-Duran et al.,

1997; Elmaraghy et al., 1998; Fallon et al., 2001; Kaufmann et al., 2002).

A profilaxia com terapêutica anticoagulante (Pospula, 2004) e uma monotorização

cuidadosa da função hemodinâmica tem permitido uma redução significativa das referidas

complicações.

Page 42: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

INTRODUÇÃO

16

1.2.2.3. Complicações biomecânicas tardias

Cerca de 90 % das artroplastias cimentadas da anca têm uma durabilidade de dez

anos, sendo o PMMA um material biomecanicamente bastante satisfatório para doentes

idosos (mais de 60 anos) e sedentários (Ries et al., 2006). Com a utilização deste material

em pacientes mais novos e activos tem-se assistido nas últimas décadas a um número

crescente de falência das próteses, referenciando-se taxas de insucesso em 57 % de casos,

após 5 anos de implantação em pacientes com idade inferior a 30 anos (Williams, 1992).

O insucesso das artroplastias deve-se sobretudo à deterioração da junção

prótese/osso na zona de interface, com descelamento - designação adoptada para a

separação entre a prótese e o osso, bem como à possível degradação de um componente da

prótese devido, por exemplo, a fenómenos de desgaste ou de corrosão ou, ainda, a

problemas associados a possíveis infecções (Amaral et al., 2003). Nestes casos, torna-se

necessário que os pacientes sejam submetidos a novas intervenções cirúrgicas, ditas de

revisão da prótese, o que obriga à sua substituição por um novo componente, sendo o

processo cirúrgico em geral mais invasivo que o precedente (Amaral et al., 2003).

O problema das infecções foi resolvido, em parte, com o uso de antibióticos e com

uma melhoria das técnicas cirúrgicas. Contudo, o problema da falência tardia das próteses,

após um processo de perda asséptica, frequentemente sem uma causa clara é, actualmente,

considerado a principal complicação pós-operatória tardia das próteses cimentadas

(Goodman, 2005; Sundfeldt et al., 2006).

Clinicamente, a falência é vista como o resultado da reabsorção e/ou inibição do

crescimento do tecido ósseo, ocorrendo geralmente na interface PMMA/osso, como

resultado da fractura do cimento acrílico (Jayabalan, 1993). Uma membrana fibrosa tem

sido regularmente observada em contacto directo com o PMMA, associada às alterações

osteolíticas adjacentes (Moreau et al., 1998).

A “doença do cimento” tem sido estudada por diversos autores e várias têm sido as

causas propostas para a explicar, embora a etiologia ainda não esteja completamente

compreendida (Sundfeldt et al., 2006).

Entre os factores mecânicos que podem afectar o desempenho do PMMA incluem-

-se, por exemplo, o incorrecto “design” da prótese, a técnica cirúrgica de implantação do

cimento acrílico, a fragilidade mecânica na interface cimento/osso, o método de mistura e

de esterilização, o incorrecto alinhamento do metal na camada de PMMA e a produção de

Page 43: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO I

17

partículas de desgaste de polietileno, metais ou PMMA (Takagi, 1996; Lewis, 1997;

Hughes et al., 2003).

Outros autores defendem que o tecido fibroso, que invariavelmente aparece na

interface cimento/osso, resulta sobretudo de reacções biológicas a materiais estranhos e

que estes acontecimentos conduzem à perda das próteses (Moreau et al., 1998).

Entre os factores biológicos contribuintes incluem-se a necrose química do tecido

ósseo por compostos tóxicos lixiviados, a necrose térmica devido ao calor libertado

durante a polimerização in situ (Mohanty, 1996), a formação de radicais livres durante o

processo de polimerização (Ciapetti et al., 1995), a produção de mediadores inflamatórios

(citocinas) e proteinases (Takagi, 1996) por células existentes na zona peri-implante

(macrófagos, fibroblastos, osteoclastos, células endoteliais, etc.), a osteólise secundária à

fragmentação do PMMA e, por último, a reacção de corpo estranho às partículas de

desgaste dos componentes da prótese (Goodman, 2005).

A controvérsia é grande e, não estando ainda completamente esclarecidos os

factores desencadeantes da intolerância a este biomaterial (Caywood e Scheider, 1996;

Hughes et al., 2003; Sundfeldt et al., 2006), o presente trabalho pretende contribuir para a

compreensão de parâmetros físico-químicos e biológicos críticos na avaliação da

biocompatibilidade do cimento acrílico.

Page 44: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA

DO

CIMENTO ACRÍLICO

Page 45: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

101

Tabela 2.20. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água (θa) ou 1,2-propanodiol (θp

).

tem

po

á

gua

1,2-

propanodiol

/dia θ

a

θ

/[º] p

0

/[º]

8

5,9 ± 2,2 40,2 ± 2,4

15 8

1,5 ± 0,5 42,7 ± 1,4

30 7

1,4 ± 1,7 34,6 ± 6,5

45 6

5,7 ± 0,4 30,4 ± 4,5

60 6

7,5 ± 2,2 29,6 ± 3,4

75 6

8,3 ± 2,0 32,7 ± 4,1

90 6

9,2 ± 3,5 32,0 ± 3,3

105 6

9,5 ± 1,7 34,5 ± 3,1

120 6

9,6 ± 0,9 36,1 ± 1,8

Page 46: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

102

2022242628303234363840424446

0 15 30 45 60 75 90 105 120

t/dias

γs/m

N m

−1

Figura 2.32. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total ( sγ ) das

placas de PMMA com o tempo.

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

0 15 30 45 60 75 90 105 120

t /dias

γsp,

d /mN

m−1

polardisperso

Figura 2.33. Variação dos valores experimentais da energia de superfície polar ( psγ ) e

dispersa ( dsγ ) das placas de PMMA com o tempo.

Page 47: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

103

Inicialmente, a contribuição mais significativa para a energia de superfície total

deve-se a forças de dispersão, quantificadas através do parâmetro dsγ encontrando-se os

valores obtidos de energia de superfície de acordo com os resultados descritos na literatura

relativamente ao PMMA (Luner, 2000). Com o envelhecimento observa-se, em particular,

que é a componente polar ( psγ ) que se altera com o tempo (Figura 2.33). O aumento da

componente polar corresponde a um aumento da hidrofilia da superfície do cimento

acrílico.

O aumento da hidrofilia da superfície do biomaterial com o envelhecimento pode

traduzir a formação de ligações de hidrogénio, uma vez que se assume que a componente

polar reflecte, principalmente, este tipo de ligações (2.1.2.1.). Outra possível explicação

será a adsorção, na superfície das placas de PMMA, de grupos hidrofílicos existentes no

PBS, nomeadamente iões fosfato (2.2.1.1.).

2.4.2.2.2. Análise por XPS

Para complementar a informação obtida pela análise da variação da energia de

superfície foi necessário utilizar outra técnica de análise de superfície, a espectroscopia de

fotoelectrões X (XPS), de modo a avaliar as alterações na composição química das placas

de PMMA com o envelhecimento.

A análise por XPS é uma técnica muito utilizada na caracterização das superfícies

dos polímeros (2.1.2.2.), revelando-se muito útil na monotorização de modificações da

superfície e na correlação da composição com a resposta biológica (Brash e

Wojciechowski, 1996).

Esta técnica analítica não destrutiva possibilita a análise do material sem

necessidade de tratamento prévio. Devido à sua elevada sensibilidade fornece informação

sobre a vizinhança atómica de um átomo da superfície, permitindo uma análise detalhada

dos picos de ionização, viabilizando a identificação e quantificação de diferentes valências

atómicas (Briggs e Seah, 1990).

Page 48: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

104

Os estudos foram iniciados com as amostras de cimento acrílico obtidas

imediatamente após a polimerização do PMMA e antes de se iniciar a sua incubação em

PBS (t = 0 h).

Em relação a estas amostras (Figura 2.34.b) observaram-se 4 picos, característicos do

composto em estudo (Bettencourt et al., 2004a):

- o pico mais intenso, observado a 285 eV, corresponde às ligações C-H (Figura

2.34.a), carbono nº 1);

- o pico a 285,6 eV corresponde a C-C=O (Figura 2.34.a), carbono nº 2);

- o pico a 286,7 é característico de C-O-C (Figura 2.34.a), carbono nº 3);

- o pico relativo à maior energia de ligação (288,7 eV) corresponde a C=O (Figura

2.34.a), carbono nº 4).

Page 49: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

105

Figura 2.34. a) Estrutura química do PMMA, b) Espectro de XPS (C 1s) relativo a t = 0 h e c) Espectro de XPS (C 1s) após 4 meses de envelhecimento.

O espectro obtido para as amostras no tempo t = 0 h corresponde ao esperado para o

composto em estudo (Briggs e Beamson, 1992), indicando que possíveis alterações dos

grupos da superfície do PMMA, devidos à própria técnica experimental, são

negligenciáveis.

Pelo contrário, o envelhecimento em solução induziu grandes alterações na superfície

do polímero (Figura 2.34.c).

Na Figura 2.35.b), que representa a evolução da % atómica de cada ligação C 1s com

o envelhecimento, nota-se uma diminuição dos grupos C=O (carbono nº 4) e C-O-C

(carbono nº 3) e um aumento do grupo C-C=O (carbono nº 2). A proporção de grupos C-H

(carbono nº 1) permanece praticamente constante sugerindo que a cadeia saturada do

polímero não sofre alterações (Bettencourt et al., 2004a).

Figura 2.35. a) Estrutura química do PMMA, b) Variação da % atómica das diferentes ligações relativas aos espectros C 1s com o tempo.

A alteração na proporção dos grupos C=O e C-O-C implica modificações

significativas nos grupos éster do polímero, possivelmente devido à hidrólise dos grupos

Page 50: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

106

referidos durante o processo de envelhecimento. De facto, tendo-se exposto o polímero a

uma solução a pH igual a 7,4 e a 37 ºC, ocorre alguma hidrólise pela reacção com a água

(Euranto, 1969). Esta hidrólise afecta o grupo éster conforme mecanismo indicado na

Figura 2.36.

Figura 2.36. Esquema do mecanismo indicado para a hidrólise dos grupos éster do

PMMA.

n

CH3

CCH2

C

O

O

CH3

( ) )(CH3

CCH2

C O

OH

npH = , H2O7 4. , 37 ºC

( CH3OH)_7,4

Page 51: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

106

Um mecanismo de degradação semelhante, ocorrendo in vivo, foi proposto por

Coury et al. (1996), mas a um valor de pH ácido e associando enzimas hidrolíticas.

Hughes et al. (2003) examinou o efeito do envelhecimento na massa molecular

média do PMMA, mostrando que esta diminui com o tempo, num ambiente simulado com

características oxidativas e acídicas. Os seus resultados mostraram a ocorrência de um

mecanismo de degradação in vivo durante o qual o meio fisiológico se torna oxidativo e

existe uma diminuição do pH devido às partículas formadas durante a osteólise.

A hidrólise pode explicar a diminuição observada em C-O-C, característica do

grupo éster. Contudo, uma diminuição em C=O não seria de esperar uma vez que este

grupo funcional permanece na estrutura do polímero após a hidrólise. Este facto, associado

ao aumento do grupo C-C=O (carbono nº 2, Figura 2.35), parece sugerir que existe a

formação de uma nova ligação envolvendo o grupo carboxílico.

Este novo tipo de ligação pode ser correlacionado com a formação de ligações de

hidrogénio entre os grupos carbonilo e hidroxilo de cadeias de PMMA adjacentes (Figura

2.37).

O

OHH3C

H2C

O

OH CH3

CH2

__(

(

)

)

n

n

Figura 2.37. Sugestão de esquema para a formação de ligações de hidrogénio entre os grupos carbonilo e hidroxilo de cadeias adjacentes de PMMA.

O efeito previamente descrito é claramente identificado através da observação dos

espectros do oxigénio (O 1s) apresentados na Figura 2.38 (Bettencourt el al., 2004a).

Page 52: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

107

Figura 2.38. a) Estrutura química do PMMA, b) Espectro de XPS (O 1s) relativo a t = 0 h e c) Espectro de XPS (O 1s) após 4 meses de envelhecimento.

No espectro correspondente à amostra de PMMA analisada imediatamente após a

polimerização do cimento acrílico (Figura 2.38.b), observam-se duas contribuições

relativas ao oxigénio: uma a 531,9 eV esperada para o grupo O=C (Figura 2.38.a),

oxigénio nº 1) e outra a 533,4 eV relativa ao grupo O-C (Figura 2.38.a), oxigénio nº 2).

Após 4 meses de envelhecimento (Figura 2.38.c) o espectro O 1s é completamente

diferente. A intensidade do pico a 533,4 eV (grupo O-C) diminui, sendo consistente com a

diminuição observada para a ligação C-O-C (carbono nº 3, Figura 2.35). O pico relativo à

ligação O=C (531,9 eV) desaparece surgindo outro pico a 532,6 eV correspondente a um

novo tipo de oxigénio. A energia desta nova ligação é característica dos grupos O-H

(Briggs e Beamson, 1992).

A hidrólise e a formação de pontes de hidrogénio pode, assim, explicar as

alterações ocorridas em ambos os espectros (C 1s e O 1s). A formação da ligação C-OH

explica a diminuição das ligações C-O-C (Figura 2.34, carbono nº 3) e O-C (Figura 2.38,

oxigénio nº 2) durante o processo de envelhecimento do polímero.

Cou

nts/

a.u. b)

538 536 534 532 530 528

Energia de ligação/eV

2O

1O

2O

1Oc)

Cou

nts/

a.u.

538 536 534 532 530 528

Energia de ligação/eV

a)

)(CH3

CCH2

C

O

O

CH3

1

1

1

2

2

3

4n

Cou

nts/

a.u. b)

538 536 534 532 530 528

Energia de ligação/eV

2O

1O

2O

1Oc)

Cou

nts/

a.u.

2O

1Oc)

2O

1Oc)

Cou

nts/

a.u.

538 536 534 532 530 528

Energia de ligação/eV

a)

)(CH3

CCH2

C

O

O

CH3

1

1

1

2

2

3

4n

Page 53: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

108

A diminuição da ligação C=O (Figura 2.34, carbono nº 4), pode ser explicada pelo

seu envolvimento nas ligações de hidrogénio, facto que é claramente confirmado no

espectro do oxigénio.

A hidrólise do cimento acrílico, provocando uma redução na massa molecular

média do PMMA, pode contribuir para alterar as propriedades mecânicas do PMMA (Ries

et al., 2006). A degradação in vivo associada a outros factores, como por exemplo o

método de mistura do cimento acrílico, parecem ser determinantes na integridade do

biomaterial a longo termo.

Os estudos de XPS realizados sugerem que o aumento de hidrofilia da superfície do

PMMA é o resultado da substituição, durante o envelhecimento, de grupos éster por

ligações mais polares (as ligações de hidrogénio) entre os grupos carboxílicos. A hipótese

de ocorrer adsorção dos iões fosfato, anteriormente indicada (2.4.2.2.1.) não é, contudo,

confirmada pelos estudos de XPS.

Os estudos por XPS revelaram a formação de novas ligações e a ruptura de outras,

principalmente as que envolveram o grupo éster. As novas ligações foram claramente

identificadas no espectro do oxigénio (Figura 2.38) que mostra uma resposta característica

da presença de grupos hidroxilo. Os estudos de energia de superfície mostraram um

aumento significativo na componente polar da energia de superfície (Figura 2.33),

correspondente a um aumento da hidrofilia com o envelhecimento.

O efeito de um aumento da hidrofilia da superfície de um biomaterial na resposta

biológica é controverso, não existindo estudos conclusivos sobre a forma como a energia

de superfície influi na adesão de proteínas e na resposta celular.

Em geral, as superfícies hidrofílicas apresentam maior afinidade para as células

mas menor afinidade para as proteínas do que as superfícies hidrofóbicas (Lapim et al.,

1997).

No estudo realizado por Lopes et al. (1999), a adesão da vitronectina, uma proteína

plasmática que interage com receptores de adesão celular localizados na superfície celular,

como as integrinas, foi predominante nas superfícies hidrofóbicas, sugerindo que um

aumento de hidrofilia pode diminuir a adesão das proteínas. Lim et al. (2004) observaram

uma correlação entre parâmetros quantitativos de adesão e energia de superfície,

verificando que a ligação de osteoblastos fetais humanos era mais lenta nas superfícies

hidrofóbicas do que nas hidrofílicas.

Page 54: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

109

Diversos estudos têm sido realizados com o objectivo de identificar o efeito de cada

componente da energia de superfície na resposta de diferentes tipos de células. É o caso do

trabalho apresentado por Valk et al. (1983), o qual concluiu que a proliferação de

fibroblastos na superfície de um polímero é influenciada pela componente polar e é

independente da componente dispersa.

Outros estudos (Redey et al., 2000), referem que o aumento da componente polar

da energia de superfície dos biomateriais favorece a adesão dos osteoblastos (células que

formam o tecido ósseo). Esta conclusão é, porém, contrariada noutros trabalhos (Redey et

al., 1999; Zanchetta e Guezennec, 2001), nos quais se sugere que a adesão dos osteoclastos

(células que absorvem o tecido ósseo) é favorecida por materiais que apresentem uma

componente polar elevada e que os osteoblastos, devido ao seu carácter hidrofóbico,

aderem especificamente a superfícies hidrofóbicas.

Murray e Rushton (1989) verificaram nos seus trabalhos que a migração e

proliferação de macrófagos é influenciada pela energia de superfície do material sobre o

qual as células eram cultivadas. Daí o terem concluído que as superfícies hidrofílicas

estimulam uma produção superior de prostaglandina E2 comparativamente às hidrofóbicas.

Tem sido referido que a prostaglandina E2

Embora não seja possível estabelecer uma correlação directa entre as propriedades

de superfície estudadas e a biocompatibilidade do cimento acrílico, torna-se necessário

avaliar o efeito in vivo de um aumento de hidrofilia da superfície do PMMA com o

envelhecimento, para a compreensão dos mecanismos subjacentes à perda asséptica do

implante, condicionantes da resposta celular na interface osso/biomaterial.

é um potente estimulador da reabsorção óssea

(Lader e Flanagan, 1998; Grottkau et al., 2002), podendo o aumento de hidrofilia

observado no biomaterial contribuir para um aumento da sua produção pelos macrófagos

contribuindo para a osteólise e consequente desestabilização da prótese.

Em síntese:

- o estudo do efeito do envelhecimento na cinética de dissolução do monómero

permitiu concluir que a libertação do MMA diminui com o tempo de incubação, não se

detectando monómero 22 dias após incubação do PMMA em PBS. Os resultados sugerem

ainda não existir despolimerização do cimento acrílico após exposição ao PBS durante 22

dias a 37 ºC;

Page 55: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

110

- o estudo do efeito do envelhecimento nas propriedades de superfície (energia de

superfície e composição química) sugere que existe um aumento de hidrofilia da superfície

do PMMA devido à substituição de grupos éster por ligações mais polares, nomeadamente

as ligações de hidrogénio;

- os estudos de energia de superfície e de XPS realizados permitiram concluir que,

nas condições avaliadas, o envelhecimento do PMMA influenciou significativamente a

composição e molhabilidade da superfície do cimento acrílico.

2.5. Efeito da variação da pressão, no método de preparação do PMMA,

na cinética de dissolução do MMA e nas propriedades de superfície

No estudo em epígrafe foram utilizados pó e placas de PMMA, sendo o PBS o

meio de incubação.

O pó e as placas de PMMA foram preparados à pressão atmosférica e sob vácuo às

pressões de 0,330 e 0,154 bar. Os valores de pressão de vácuo seleccionados correspondem

aos descritos na literatura (Lewis, 1997) para os numerosos tipos de dispositivos

susceptíveis de serem utilizados no bloco operatório.

Apesar do pó, como já anteriormente mencionado (2.2.2.1.5.), não ser o melhor

modelo para mimetizar a situação in vivo, foi de novo considerado o seu estudo, uma vez

que o mesmo apresenta uma área de exposição ao meio superior à das placas, garantindo a

quantificação de MMA, qualquer que seja a pressão de vácuo utilizada na preparação do

PMMA.

2.5.1. Materiais e métodos

2.5.1.1. Reagentes e soluções

As características e origem do cimento acrílico, do meio PBS e dos reagentes

utilizados em HPLC são as referidas em 2.2.1.1.

A água desionizada, o 1,2-propanodiol, a mistura cromosulfúrica e a acetona

utilizados na técnica de determinação dos ângulos de contacto são descritos em 2.4.1.1.

Page 56: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

111

2.5.1.2. Equipamento e material de laboratório

As especificações da balança analítica, centrífuga, estufa de calor seco, moinho de

pulverização, molde de aço, sistema para filtração dos solventes, aparelho de ultra-sons,

aparelho de pH, equipamento de HPLC são as descritas em 2.2.1.2.

Para a determinação dos ângulos de contacto utilizou-se o tensiómetro descrito em

2.4.1.2.

A preparação do PMMA sob vácuo foi efectuada num dispositivo de polipropileno

adquirido na Depuy CMW (DePuy International Ltd.), acoplado a uma bomba de vácuo

(modelo ME 2C) com um manómetro (modelo CVC 24), ambos da Vacuubrand.

2.5.1.3. Metodologia experimental

2.5.1.3.1. Preparação do pó e placas do cimento acrílico

A massa moldável de cimento acrílico foi obtida misturando o componente pó com

o componente líquido no dispositivo de polipropileno adequado (Figura 2.39). Prepararam-

-se três amostras de cimento acrílico.

Figura 2.39. Dispositivo de polipropileno acoplado a uma bomba de vácuo com um manómetro utilizado na preparação do PMMA sob vácuo.

Page 57: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

112

Uma das amostras de PMMA foi obtida misturando os componentes à pressão

atmosférica (p ≅ 1,015 bar). As outras duas amostras de cimento acrílico foram obtidas

efectuando a mistura dos componentes sob vácuo. Uma das amostras foi preparada a 0,330

bar e a outra a 0,154 bar (Figura 2.40).

O pó e as placas de PMMA obtidos a partir das três amostras referidas foram

preparados conforme descrito em 2.2.1.3.1. Cada amostra de pó de cimento acrílico

(Cpóp≅1,015, Vpóp=0,330 e Vpóp=0,154

Das amostras de PMMA preparadas à pressão atmosférica e sob vácuo a 0,154 bar

obtiveram-se nove placas. Da amostra de PMMA preparada sob vácuo a 0,330 bar foram

obtidas seis placas (Figura 2.40).

) foi dividida em seis alíquotas pesando cada uma

aproximadamente 1,75 g (Figura 2.40).

As dimensões médias das placas obtidas a partir da amostra preparada à pressão

atmosférica (Cplacap≅1,015), da amostra preparada sob vácuo a 0,330 bar (Vplacap=0,330) e

sob vácuo a 0,154 bar (Vplacap=0,154

) são apresentadas na Tabela 2.21.

Tabela 2.21. Valores da espessura (d), comprimento (l) e largura (b) das placas de PMMA preparadas a diferentes pressões.

P

lacas

d/

mm

l/m

m

b/m

m

C 1,3

8 ± 0,02 p≅1,015

23,5

0 ± 0,02

19,5

8 ± 0,02

V

p=0,330

1,3

8 ± 0,04

23,3

0 ± 0,04

19,5

6 ± 0,02

V 1,3

6 ± 0,02 p=0,154

23,3

0 ± 0,02

19,5

8 ± 0,04

A metodologia experimental utilizada no estudo do efeito da variação de pressão,

no método de preparação do PMMA, na cinética de dissolução do MMA e propriedades de

superfície encontra-se esquematizada na Figura 2.40.

Page 58: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

113

Figura 2.40. Metodologia experimental utilizada para o estudo do efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, na cinética de dissolução do MMA e nas

Preparação do pó e placas de PMMA

Determinação ângulos de contacto(8, 15 e 22 dias)

Quantificação MMA(0; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8 e 24 h)

3 Cplaca p≅1,015

3 Vplaca p=0,154

3 Cpó p≅1,015

3 Vpó p=0,330

3 Vpó p=0,154

6 alíquotas de pó

Estudos de estabilidade físico-química

3 Cplaca p≅1,015

3 Vplaca p=0,330

3 Vplaca p=0,154

Quantificação MMA(0, 10, 20, 30, 40, 50, 60 min)

3 Cpó p≅1,015

3 Vpó p=0,330

3 Vpó p=0,154

* PBS substituído diariamente

3 Cplaca p≅1,015

3 Vplaca p=0,330

3 Vplaca p=0,154

9 placas

Amostra PMMAp = 0,154 bar

6 alíquotas de pó 6 alíquotas de pó 6 placas 9 placas

Amostra PMMAp = 0,330 bar

Amostra PMMAp≅1,015 bar

6 Cpó p≅1,015

6 Vpó p=0,330

6 Vpó p=0,154

Cinética de dissolução do MMA (pó) Determinação de ângulos de contacto

6 Cplaca p≅1,015

6 Vplaca p=0,330

6 Vplaca p=0,154

Cinética de dissolução do MMA (placa)

Cpó p≅1,015 Cplaca p≅1,015 Vplaca p=0,330Vpó p=0,330 Vpó p=0,154 Vplacap=0,154

PBS37 ºC

1 h

PBS37 ºC

24 h

PBS37 ºC

24 h

PBS37 ºC

24 h

PBS*37 ºC

21 dias

PBS37 ºC

1 h

I

II

III

IV

V

VI

VII

Determinação ângulos de contacto

(24 h)

Determinação ângulos de contacto

(0 h)

Preparação do pó e placas de PMMA

Determinação ângulos de contacto(8, 15 e 22 dias)

Quantificação MMA(0; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8 e 24 h)

3 Cplaca p≅1,015

3 Vplaca p=0,154

3 Cpó p≅1,015

3 Vpó p=0,330

3 Vpó p=0,154

6 alíquotas de pó

Estudos de estabilidade físico-química

3 Cplaca p≅1,015

3 Vplaca p=0,330

3 Vplaca p=0,154

Quantificação MMA(0, 10, 20, 30, 40, 50, 60 min)

3 Cpó p≅1,015

3 Vpó p=0,330

3 Vpó p=0,154

* PBS substituído diariamente

3 Cplaca p≅1,015

3 Vplaca p=0,330

3 Vplaca p=0,154

9 placas

Amostra PMMAp = 0,154 bar

6 alíquotas de pó 6 alíquotas de pó 6 placas 9 placas

Amostra PMMAp = 0,330 bar

Amostra PMMAp≅1,015 bar

6 Cpó p≅1,015

6 Vpó p=0,330

6 Vpó p=0,154

Cinética de dissolução do MMA (pó) Determinação de ângulos de contacto

6 Cplaca p≅1,015

6 Vplaca p=0,330

6 Vplaca p=0,154

Cinética de dissolução do MMA (placa)

Cpó p≅1,015 Cplaca p≅1,015 Vplaca p=0,330Vpó p=0,330 Vpó p=0,154 Vplacap=0,154

PBS37 ºC

1 h

PBS37 ºC

24 h

PBS37 ºC

24 h

PBS37 ºC

24 h

PBS*37 ºC

21 dias

PBS37 ºC

1 h

I

II

III

IV

V

VI

VII

Determinação ângulos de contacto

(24 h)

Determinação ângulos de contacto

(0 h)

Page 59: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

114

propriedades de superfície: I, 3 grupos de 6 alíquotas de pó obtidos a diferentes pressões; II, incubação das alíquotas de pó durante 1 hora; III, incubação das alíquotas de pó durante 24 horas; IV, 3 grupos de 6 placas obtidos a diferentes pressões; V, incubação das placas durante 1 hora; VI, incubação das placas durante 24 horas; VII, determinação dos ângulos de contacto.

2.5.1.3.2. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, na

cinética de dissolução do MMA

a) Estudo em pó Para o estudo do efeito da variação de pressão na cinética de dissolução do MMA a

partir de pó de PMMA, utilizaram-se três grupos de seis alíquotas de pó (Figura 2.40, I).

Cada grupo de seis alíquotas de pó (Cpóp≅1,015, Vpóp=0,330 e Vpóp=0,154) foi dividido em dois

grupos de três alíquotas cada.

Num dos grupos as alíquotas foram expostas (em frascos de plástico fechados) a 25

mL de PBS e incubadas durante uma hora a 37 ºC (Figura 2.40, II). Recolheram-se

alíquotas dos sobrenadantes, para doseamento do MMA, de dez em dez minutos.

As alíquotas do outro grupo (Figura 2.40, III) foram incubadas em PBS, durante

vinte e quatro horas a 37 ºC, recolhendo-se alíquotas dos sobrenadantes às 0; 0,5; 1; 2; 4; 6;

8 e 24 horas para doseamento do MMA. Cada alíquota de pó correspondeu a uma

experiência independente.

b) Estudo em placas Para o estudo do efeito da variação de pressão, na cinética de dissolução do MMA a

partir de placas de PMMA, utilizaram-se três grupos de seis placas (Figura 2.40, IV). Cada

grupo de seis placas (Cplacap≅1,015, Vplacap=0,330, Vplacap=0,154) foi dividido em dois grupos

de três placas cada. Num dos grupos, as placas foram expostas a 25 mL de PBS, durante

uma hora (Figura 2.40, V), retirando-se alíquotas dos sobrenadantes, para doseamento do

MMA, de dez em dez minutos.

As três placas do outro grupo foram incubadas em PBS, durante vinte e quatro

horas a 37 ºC (Figura 2.40, VI), retirando-se alíquotas dos sobrenadantes às 0; 0,5; 1; 2; 4,

6; 8 e 24 horas para doseamento do MMA. Cada placa de PMMA correspondeu a uma

experiência independente.

c) Quantificação do MMA

Page 60: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

115

Todas as alíquotas recolhidas em 2.5.1.3.2.a) e b) foram centrifugadas e o

sobrenadante, após diluição adequada, analisado por HPLC para quantificação do MMA,

conforme procedimento descrito em 2.2.1.3.2.

2.5.1.3.3. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, nas

propriedades de superfície do cimento acrílico

a) Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície

Para o estudo das propriedades de superfície do cimento acrílico partiu-se de dois

grupos (Cplacap≅1,015 e Vplacap=0,154) de três placas cada (Figura 2.40, VII). O meio de

incubação foi substituído todos os dias e cada placa foi exposta, durante vinte e dois dias, a

25 mL de PBS a 37 ºC.

Aos dias 0, 1, 8, 15 e 22 de incubação das placas de PMMA em PBS

determinaram-se os ângulos de contacto, em água e 1,2-propanodiol, a partir dos quais se

calculou a energia de superfície das placas. A determinação dos ângulos de contacto e o

cálculo da energia de superfície foi realizado de acordo com o procedimento descrito em

2.4.1.3.3.a).

2.5.2. Resultados e discussão

2.5.2.1. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA, na

cinética de dissolução do MMA

2.5.2.1.1. Estudo em pó

Os perfis de dissolução do MMA a partir das três amostras de pó de cimento

acrílico (Cpóp≅1,015; Vpó p=0,330 e Vpóp=0,154), preparadas a diferentes pressões, são

apresentados na Figura 2.41 (Bettencourt et al., 2001).

Em todas as experiências realizadas houve um aumento rápido, durante a primeira

hora de incubação, na concentração de MMA seguido de uma diminuição significativa na

velocidade da sua dissolução.

Page 61: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

116

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t /min

[MM

A]/%

0

1

2

3

14

Figura 2.41. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) em PBS a partir de pó de PMMA; ο, resultados experimentais relativos a Cpóp≅1,015; �, resultados experimentais relativos a Vpó p=0,330 e ∆, resultados experimentais relativos a Vpóp=0,154

.

A quantidade máxima de MMA libertado em PBS a partir das três amostras

corresponde aos diferentes valores de a, apresentados na Tabela 2.22.

Os valores de a foram obtidos através do ajuste dos valores experimentais da

concentração de MMA durante as vinte e quatro horas de incubação à equação [3]:

−= − tkeay E1 descrita em 2.1.1.3. A quantidade máxima de monómero (a) foi

comparada pelo teste “t de student” para amostras não emparelhadas.

Os resultados sugerem que não existe diferença estatisticamente significativa

(P< 0,05) na quantidade máxima de MMA libertado do pó de cimento acrílico preparado à

pressão atmosférica ou sob vácuo a 0,330 bar.

Page 62: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

117

Tabela 2.22. Parâmetros resultantes da aplicação dos modelos matemáticos aos resultados experimentais da dissolução do MMA em PBS a partir de pó de cimento acrílico (Bettencourt et al., 2001).

Cpó

(p ≅ 1,015 bar)

Vpó

(p = 0,330 bar)

Vpó

(p = 0,154 bar)

−= − tkeay E1 /min−1(24 h)

a)

Ek /min 0,028±0,004 −1

0,036 ± 0,004 0,020 ± 0,003 a/% 2,59 ± 0,22 2,22 ± 0,04 0,70 ± 0,08

r 0,98 0,98 0,98

tkmm w0lnln −= (modelo Wagner, 1ª hora)

b)

wk /min 0,018 0,001 −1

0,024 ± 0,01 0,016 ± 0,003

m0 2,22 ± 0,05 /% 2,11 ± 0,2 0,74 ± 0,2

r 0,98 0,98 0,98

2/1HtkQ =

(modelo Higuchi, 1ª hora)

c)

Hk /%min 0,22 ± 0,008 −1/2 0,22 ± 0,01 0,058 ± 0,01

r 0,99 0,98 0,98

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante de velocidade de dissolução. b)m , quantidade de monómero não dissolvido no tempo t ; m0

wk, quantidade inicial de monómero na matriz

polimérica (valor estimado); , constante da velocidade de dissolução de 1ª ordem. c)Q Hk, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

A libertação de MMA foi significativamente diminuída para a amostra de pó

preparada a 0,154 bar (P< 0,001) em comparação com as outras duas formulações.

A diminuição de pressão aumenta a volatilidade do monómero e diminui a

temperatura de ebulição do MMA (Wijn et al., 1975).

Page 63: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

118

Contudo, é provável que um aumento significativo na volatilidade do MMA

residual ocorra apenas quando o PMMA é preparado sob vácuo próximo de 0,154 bar,

justificação para que só a este valor de pressão se observe uma diminuição na sua

libertação.

Os valores correspondentes aos resultados da primeira hora de dissolução foram

ajustados aos modelos de Wagner (equação [5], 2.1.1.3.) e de Higuchi (equação [7],

2.1.1.3.), tal como se observa na Figura 2.42.

Modelo de Wagner

-2,0-1,5-1,0-0,50,00,51,01,5

0 10 20 30 40 50 60

t/min

ln m

Modelo de Higuchi

0,0

1,0

2,0

3,0

0 2 4 6 8

(t /min)1/2

[MM

A]/%

Figura 2.42. Aplicação dos modelos matemáticos de Wagner e de Higuchi a valores experimentais de dissolução do MMA durante a primeira hora: ο, resultados experimentais, —, ajuste linear relativo a Cpóp≅1,015; �, resultados experimentais, --- ajuste linear relativos a Vpó p=0,330; ∆, resultados experimentais, – – –, ajuste linear relativos a Vpóp=0,154

.

A aplicação dos modelos de Wagner e de Higuchi a estes valores particulares deve-

-se ao facto de, como já mencionado (2.3.2.1.), a maior parte do MMA ser libertado

durante a primeira hora de incubação do PMMA.

Page 64: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

119

Os parâmetros resultantes da aplicação destes modelos matemáticos (Tabela 2.22)

mostram, mais uma vez, que as constantes de dissolução ( wk e Hk ) e a quantidade máxima

de MMA (m0

Concluiu-se ainda que a preparação do PMMA sob vácuo não alterou o mecanismo

de libertação do monómero, estando de acordo com um processo de difusão simples a

partir da superfície do polímero, como referido em Bettencourt et al. (2000).

) só são afectados quando a preparação sob vácuo é feita a 0,154 bar.

2.5.2.1.2. Estudo em placas

Os perfis de dissolução do MMA, durante vinte e quatro horas, a partir de placas de

PMMA preparadas a diferentes pressões (Cplacap≅1,015; Vplaca p=0,330 e Vplacap=0,154

) são

apresentados na Figura 2.43.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t/ h

[MM

A] /

%

CplacaVplaca(0,330)Vplaca(0,154)

Figura 2.43. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) em PBS a partir de placas de PMMA; ο, resultados experimentais relativos a Cplacap≅1,015; �, resultados experimentais relativos a Vplaca p=0,330 e ∆, resultados experimentais relativos a Vplacap=0,154

.

Page 65: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

120

Na Figura 2.44 representa-se o ajuste dos valores correspondentes aos resultados da

primeira hora de dissolução do MMA aos modelos de Wagner (equação [5]) e de Higuchi

(equação [7]).

Modelo de Wagner

-4,1

-3,9

-3,7

-3,5

-3,3

-3,1

-2,9

-2,7

-2,50 10 20 30 40 50 60

t /min

ln m

Figura 2.44. Aplicação dos modelos matemáticos de Wagner e de Higuchi aos valores experimentais de dissolução do MMA durante a 1ª hora: ο, resultados experimentais, — ajuste linear relativo a Cplacap≅1,015; �, resultados experimentais, --- ajuste linear relativos a Vplaca

p=0,330; ∆, resultados experimentais, – – –, ajuste linear relativos a Vplacap=0,154

.

Os parâmetros de ajuste dos valores experimentais de dissolução do MMA aos

modelos exponencial, de Wagner e de Higuchi, anteriormente referidos, são apresentados

na Tabela 2.23.

Page 66: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

121

Tabela 2.23. Parâmetros resultantes da aplicação dos modelos matemáticos aos resultados experimentais da dissolução do MMA em PBS a partir de placas de PMMA.

Cplaca

(p ≅ 1,015 bar)

Vplaca

(p = 0,330 bar)

Vplaca

(p = 0,154 bar)

−= − tkeay E1 (24 h)

Ek

a)

/mina/%

−1

r

tkmm w0lnln −= (modelo Wagner)

(1ª hora)

b)

wk /min m

−1

0 r

/%

2/1

HtkQ = (modelo Higuchi) (1ª hora)

c)

Hk / µg mm−2minr

−1/2

0,024 ± 0,004 0,080 ± 0,009 0,91

0,015 ± 0,0003 0,061 ± 0,008 0,99 0,042 ± 0,007 0,98

0,027 ± 0,001 0,080 ± 0,009 0,92

0,016 ± 0,0003 0,063 ± 0,006 0,99 0,049 ± 0,005 0,99

0,024 ± 0,004 0,080 ± 0,009 0,91

0,018 ± 0,0006 0,047 ± 0,002 0,99 0,042 ± 0,007 0,99

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante de velocidade de dissolução. b)m, quantidade de monómero não dissolvido no tempo t; m0

wk, quantidade inicial de monómero na matriz

polimérica (valor estimado); , constante de dissolução de 1ª ordem. c)

HkQ, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante de dissolução.

Não existe diferença estatisticamente significativa (P< 0,05) na quantidade máxima

de MMA libertado das placas de cimento acrílico preparadas à pressão atmosférica ou sob

vácuo a 0,330 bar.

Pelo contrário, a preparação sob vácuo a 0,154 bar diminuiu significativamente

(P< 0,001) a libertação do MMA, tal como observado em relação ao pó (Figuras 2.41 e

2.43).

O estudo realizado sugere que deve ser feita a medição exacta da pressão de vácuo

utilizada no método de preparação do PMMA, de modo a assegurar um mínimo de

libertação de MMA diminuindo, assim, a absorção do monómero pelos doentes.

Page 67: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

122

2.5.2.2. Efeito da variação de pressão, no método de preparação do PMMA,

nas propriedades de superfície do cimento acrílico

2.5.2.2.1. Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície

Por último, avaliou-se o efeito da mistura dos componentes, a diferentes pressões,

na variação da energia de superfície das placas de PMMA.

Utilizando os valores experimentais dos ângulos de contacto obtidos com água e

1,2-propanodiol (Tabela 2.24) calculou-se, pelo método da média harmónica de Wu, a

energia de superfície ( sγ ) das placas de PMMA e dos seus componentes polar ( dsγ ) e

disperso ( dsγ ).

Como só a preparação das placas sob vácuo a 0,154 bar pareceu afectar

significativamente a libertação do MMA (2.5.2.1.2.), optou-se por só se realizar estudos de

energia de superfície nestas placas e nas placas preparadas à pressão atmosférica

correspondendo, estas últimas, a um grupo controlo.

Tabela 2.24. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água (θa) ou 1,2-propanodiol (θp

) preparadas à pressão atmosférica (Cplaca) ou sob vácuo a 0,154 bar (Vplaca), N = 3.

Cplaca Vplaca

tempo/dia (θa (θ)/[º] p (θ)/[º] a (θ)/[º] p

0

)/[º]

84,6 ± 3,8 40,0 ± 3,7 88,3 ± 4,7 45,1 ± 3,6

6 76,9 ± 3,8 32,4 ± 2,7 74,2 ± 4,5 34,0 ± 4,3

13 77,3 ± 7,4 38,9 ± 5,7 72,9 ± 5,7 34,0 ± 3,2

22 69,1 ± 4,7 33,0 ± 5,7 71,3 ± 6,3 33,5 ± 2,5

Observou-se um aumento da energia de superfície com o tempo (Figura 2.45),

devido essencialmente ao aumento da sua componente polar (Figura 2.46), quer nas placas

preparadas à pressão atmosférica, quer nas placas preparadas sob vácuo a 0,154 bar.

Concluiu-se, por isso, que a técnica de preparação sob vácuo não modificou a evolução

observada na variação da energia de superfície das placas de PMMA.

Page 68: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

123

25

30

35

40

45

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

t /dias

γs/m

N m

−1

CplacaVplaca

Figura 2.45. Valores experimentais da energia de superfície total ( sγ ) das placas de PMMA preparadas à pressão atmosférica (Cplaca) ou sob vácuo a 0,154 bar (Vplaca).

10

12

14

16

18

20

22

24

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

t /dias

γ sd /m

N m

−1

CplacaVplaca

68

1012141618202224

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

t /dias

γ sp /m

N m

−1

CplacaVplaca

Figura 2.46. Valores experimentais da energia de superfície polar ( psγ ) e dispersa ( d

sγ ) das placas de PMMA preparadas à pressão atmosférica (Cplaca) e sob vácuo a 0,154 bar (Vplaca).

Como não se observou alteração na evolução da energia de superfície pelo efeito da

pressão na mistura dos constituintes do PMMA, considerou-se não haver justificação para

a realização de estudos por XPS nestas placas.

Page 69: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

124

Dos resultados apresentados conclui-se que:

- a mistura dos constituintes sob vácuo a 0,154 bar diminuiu significativamente a

libertação de MMA a partir do pó e das placas de PMMA;

- não existiu diferença estatisticamente significativa na quantidade máxima de

MMA libertado do pó e das placas de PMMA preparados à pressão atmosférica ou sob

vácuo a 0,330 bar;

- a mistura dos constituintes sob vácuo, a 0,154 bar, não influenciou a evolução na

variação da energia de superfície das placas de PMMA;

- não se verificou variação no mecanismo de libertação do MMA pela variação do

modelo de estudo (pó ou placa).

2.6. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na cinética de dissolução

do MMA e propriedades de superfície do cimento acrílico

O estudo do efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na cinética de dissolução

do MMA e na variação das propriedades de superfície foi realizado incubando placas ou

cilindros de PMMA em meios contendo diferentes concentrações (correspondentes a

exposições agudas e/ou crónicas) de etanol, metanol, diclorometano ou clorofórmio.

2.6.1. Materiais e métodos

2.6.1.1. Reagentes e soluções As características e origem do cimento acrílico, do meio PBS utilizado para

incubação do PMMA e preparação das soluções de álcoois e de hidrocarbonetos clorados e

dos reagentes utilizados em HPLC são as indicadas em 2.2.1.1.

A água desionizada, o 1,2-propanodiol, a mistura cromosulfúrica e a acetona

utilizados na técnica de determinação dos ângulos de contacto são descritos em 2.4.1.1.

Page 70: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

131

É geralmente aceite que sintomas ligeiros de embriagues (aumento do tempo de

resposta, diminuição do controlo motor fino e diminuição da capacidade crítica) surgem

quando a concentração de etanol no sangue varia entre 0,2 e 0,3 g L−1. Quando a

concentração sanguínea de etanol é igual a 1,5 g L−1

Uma concentração de etanol no sangue igual a 4,0 g L

, 50 % dos indivíduos apresentam

sintomas de elevada intoxicação (Rall, 1992).

−1

As concentrações estudadas foram: 6,0 ×

é, em geral, fatal (Rall,

1992). Assim, para o estudo do efeito do etanol na cinética de dissolução do MMA,

incubaram-se placas de PMMA em meios contendo três concentrações de etanol,

relacionadas com os diferentes níveis de etanol observados nos diferentes graus de

intoxicação atrás descritos.

310− ( 1Et ); 2,0 × 210− ( 2Et ) e 5,0 × 210− ( 3Et ) mol 1L− , equivalentes às concentrações 0,28 g L−1

1Et ( ), 0,92 g L−12Et ( ) e 2,3

g L−13Et ( ). A comparação dos perfis de dissolução do MMA em PBS e nas soluções 1Et ,

2Et e 3Et de etanol (Figura 2.48) sugere que o etanol provocou um aumento significativo

na lixiviação do monómero a partir das placas de PMMA (Bettencourt et al., 2002).

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t /min

[MM

A]/%

CEt1Et2Et3

Figura 2.48. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) vs tempo, durante

24 h, em PBS (C), soluções 1Et (6,0 × 10−3 mol L−12Et), (2,0 × 10−2 mol L−1

3Et) e (5,0 × 10−2 mol L−1) de etanol.

Page 71: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

132

Observou-se que a concentração média de MMA se relaciona linearmente com a

concentração de etanol, durante as 24 h de incubação, através da equação: [MMA] = 0,0663

+ 0,000948 × [etanol] (N = 12, r

A quantidade máxima de MMA libertado em C,

= 0,976, P< 0,01).

1Et , 2Et e 3Et corresponde aos

diferentes valores de a, apresentados na Tabela 2.26, obtidos pelo ajuste dos valores

experimentais de dissolução do MMA à equação [3]:

−= − tkeay E1 referida em 2.1.1.3.

Tabela 2.26 Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticas aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS (C) e soluções 1Et (6,0 × 10−3 mol L−1

2Et), (2,0 × 10−2 mol L−1

3Et) e

(5,0 × 10−2 mol L−1

) de etanol a partir de placas de PMMA (Bettencourt et al., 2002).

C 1Et 2Et 3Et

−= − tkeay E1 (24 h)

a)

Ek /min 0,024 ± 0,004 −1 0,023 ± 0,007 0,024 ± 0,003 0,023 ± 0,005

a/% 0,080 ± 0,009 0,090 ± 0,002 0,107 ± 0,02 0,212 ± 0,06

r 0,904 0,900 0,901 0,903 2/1

HtkQ = (modelo Higuchi)

(1ª hora)

b)

Hk /µg mm−2 min 0,042 ± 0,009 −1/2 0,052 ± 0,008 0,056 ± 0,009 0,064 ± 0,006

r 0,974 0,981 0,980 0,982

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante da velocidade de dissolução. b)

HkQ, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

Os valores de a, correspondendo à quantidade máxima de monómero lixiviado a

partir do PMMA, reflectem o efeito de extracção do monómero pelo etanol. Observou-se

efectivamente que quanto maior for a concentração de etanol maior é o valor de a, ou seja,

maior é a quantidade de monómero residual lixiviado e, consequentemente, dissolvido no

meio. Do ponto de vista clínico o aumento da lixiviação do MMA pelo efeito do etanol

pode ser relevante na medida em que pode aumentar os efeitos tóxicos devidos ao

monómero.

Page 72: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

133

A igualdade estatística (P< 0,05) nos valores das constantes Ek resulta

possivelmente do facto do etanol, apesar de aumentar a lixiviação do MMA, não alterar

consideravelmente o seu padrão de libertação. Em todos os perfis avaliados (Figura 2.48)

observa-se um aumento rápido na concentração média de MMA, durante a primeira hora

de incubação, seguida por uma libertação mais lenta e com tendência a cessar.

Os valores experimentais da concentração média de MMA nos meios

correspondentes à primeira hora de incubação foram também ajustados ao modelo de

Higuchi (equação [7], 2.1.1.3.). As diferenças observadas nas constantes Hk (Tabela 2.26)

podem ser justificadas pela maior quantidade de monómero libertada, pelo efeito do etanol,

não sendoconsequência de um diferente mecanismo de libertação do MMA.

O facto dos valores experimentais da concentração de MMA se ajustarem ao

modelo de Higuchi, independentemente da concentração de etanol avaliada (Figura 2.49),

sugere que este composto não altera o mecanismo de libertação do monómero, estando de

acordo com um mecanismo de difusão simples do MMA a partir do polímero (Bettencourt

et al., 2000).

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0 2 4 6 8 10

(t /min)1/2

[MM

A]/

µgm

m−2

Figura 2.49. Modelo de Higuchi: ◊, valores experimentais relativos a C (PBS); —, ajuste linear em PBS; �, valores experimentais relativos a 1Et ; —, ajuste linear em 1Et ; ∆, valores experimentais relativos a 2Et ; —, ajuste linear em 2Et ; ×, valores experimentais relativos a 3Et ; —, ajuste linear em 3Et .

Page 73: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

134

O efeito do metanol, composto do grupo dos álcoois, sobre a cinética de dissolução

do MMA, foi também avaliado durante 24 h.

A concentração sanguínea fisiológica do metanol, que resulta da respectiva

produção endógena e da dieta alimentar, é igual ou inferior a 1,5 mg L−1. Randall (1982)

refere que durante um período de 10 a 15 dias de consumo crónico de “bourbon” a

concentração média encontrada foi igual a 27 mg dL−1

Consideraram-se as concentrações de metanol doseadas no sangue, anteriormente

mencionadas, para o estudo do seu efeito na cinética de dissolução do MMA, incubando-se

placas de PMMA em meios contendo três concentrações de metanol iguais a 1,0 ×

.

510− ( 1Me ); 1,0 × 410− ( 2Me ) e 1,0 × 310− ( 3Me ) mol L−1, equivalentes às concentrações

0,32 mg L−11Me ( ), 3,2 mg L−1

2Me ( ) e 32 mg L−13Me ( ).

Os perfis de dissolução do MMA, durante 24 horas, em PBS e nas soluções 1Me ,

2Me e 3Me de metanol são apresentados na Figura 2.50.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t /min

[MM

A]/%

CMe1Me2Me3

Figura 2.50. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) vs tempo, durante

24 h, em PBS (C) e soluções 1Me (1,0 × 10−5 mol L−12Me), (1,0 × 10−4 mol L−1

3Me) e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de metanol.

Page 74: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

135

Comparando a Figura 2.50 com a Figura 2.48, observa-se que o metanol, ao

contrário do etanol, não influenciou significativamente a libertação do monómero.

A igualdade estatística (P< 0,05) entre os diferentes valores de a apresentados na

Tabela 2.27 e obtidos pelo ajuste dos valores experimentais da concentração média de

MMA em PBS e nas soluções 1Me , 2Me e 3Me de metanol, durante 24 horas de

incubação (Figura 2.50), sugere que o metanol, nas concentrações estudadas, não

influenciou significativamente a extracção do MMA a partir do PMMA.

O ajuste dos valores experimentais ao modelo de Higuchi, relativos ao estudo do

efeito do metanol durante a primeira hora de incubação do PMMA (Figura 2.51 e Tabela

2.27), sugere que o metanol também não alterou o mecanismo de libertação por difusão

simples do monómero a partir da matriz polimérica.

Tabela 2.27. Parâmetros de ajuste das modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS (C) e soluções 1Me (1,0 × 10−5 mol L−1

2Me), (1,0 × 10−4 mol L−1

3Me)

e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de metanol a partir de placas de PMMA.

C 1Me 2Me 3Me

−= − tkeay E1 (24 h)

a)

Ek /min 0,013 ± 0,001 −1 0,014 ± 0,0008 0,014 ± 0,0008 0,013± 0,001

a/% 0,059 ± 0,004 0,058± 0,002 0,060 ± 0,003 0,059 ± 0,001

r 0,930 0,901 0,916 0,919

2/1

HtkQ = (modelo Higuchi)

(1ª hora)

b)

Hk /µg mm−2min 0,012 ± 0,003 −1/2 0,011 ± 0,0006 0,011 ± 0,0007 0,010 ± 0,001

r 0,974 0,967 0,980 0,976

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante da velocidade de dissolução. b)

HkQ, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

Page 75: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

136

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0 2 4 6 8 10

(t /min)1/2

[MM

A]/

µgm

m−2

Figura 2.51. Modelo de Higuchi: ◊, valores experimentais relativos a C (PBS); —, ajuste

linear em PBS; �, valores experimentais relativos a 1Me 1Me; —, ajuste linear em ; ∆, valores experimentais relativos a 2Me ; —, ajuste linear em 2Me ; ×, valores experimentais relativos a

3Me ; —, ajuste linear em 3Me .

b) Estudo do efeito de hidrocarbonetos clorados

Os hidrocarbonetos clorados têm uma ampla gama de aplicações como solventes,

agentes para limpeza a seco, desengordurantes, intermediários na produção de outros

químicos, têxteis e plásticos (Fishbein, 1979).

Os hidrocarbonetos clorados avaliados neste estudo foram o diclorometano e o

clorofórmio. Para o estudo do efeito do diclorometano na cinética de dissolução do MMA

incubaram-se placas de PMMA em meios contendo três concentrações de diclorometano

iguais a 1,0 × 410− ( 1Di ); 1,0 × 310− ( 2Di ) e 1,0 × 210− ( 3Di ) mol 1L− , equivalentes às

concentrações 8,5 ( 1Di ), 85 ( 2Di ) e 850 mg 1L− ( 3Di ).

A concentração mais baixa avaliada de diclorometano ( 1Di ) encontra-se

relacionada com os níveis sanguíneos descritos na literatura. Brown-Woodman et al.

(1998) refere que foram observadas concentrações sanguíneas médias no intervalo 5,5 a

14,8 mg 1L− , em indivíduos expostos a 500 ppm de diclorometano, em repouso e durante a

realização de exercício físico, respectivamente.

Atendendo a que a exposição ao diclorometano é frequentemente superior aos

níveis recomendados (Brown-Woodman et al., 1998) estudaram-se também as

concentrações mais elevadas, 2Di e 3Di . Estas soluções de diclorometano ainda eram,

contudo, muito inferiores ao limite de solubilidade do diclorometano em água (20 g 1L− ,

20 ºC).

Page 76: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

137

O diclorometano (Figura 2.52 e Tabela 2.28) nas concentrações estudadas não

influenciou (P< 0,05) a libertação de MMA a partir do PMMA.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t /min

[MM

A]/%

CDi1Di2Di3

Figura 2.52. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) vs tempo, durante 24 h, em PBS (C) e soluções 1Di (1,0 × 10−4 mol L−1

2Di), (1,0 × 10−3 mol L−13Di) e (1,0 × 10−2

mol L−1

) de diclorometano.

Tabela 2.28. Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS (C) e soluções 1Di (1,0 × 10−4 mol L−1

2Di), (1,0 × 10−3 mol L−1

3Di) e

(1,0 × 10−2 mol L−1

) de diclorometano a partir de placas de PMMA.

C 1Di 2Di 3Di

−= − tkeay E1 (24 h)

a)

Ek /min 0,014 ± 0,001 −1 0,014 ± 0,001 0,015 ± 0,002 0,015± 0,001

a/% 0,061 ± 0,005 0,060± 0,002 0,058 ± 0,003 0,064 ± 0,002

r 0,904 0,900 0,901 0,903 2/1

HtkQ = (modelo Higuchi)

(1ª hora)

b)

Hk /µg mm−2min 0,012 ± 0,002 −1/2 0,011 ± 0,001 0,014 ± 0,004 0,013 ± 0,001

r 0,977 0,978 0,979 0,974

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante da velocidade de dissolução. b)

HkQ, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

Page 77: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

138

Para o estudo do efeito do clorofórmio na cinética de dissolução do MMA,

incubaram-se placas de PMMA em meios contendo três concentrações de clorofórmio

iguais a 1,0 × 710− ( 1Cl ); 1,0 × 510− ( 2Cl ) e 1,0 × 310− ( 3Cl ) mol 1L− , equivalentes às

concentrações 11,9 µg 1L− ( 1Cl ), 1,19 mg 1L− ( 2Cl ) e 0,119 g 1L− ( 3Cl ).

Existem poucos estudos de exposição crónica ao clorofórmio apesar da sua longa

utilização como anestésico (Torkelson e Rowe, 1981). Tomam-se como referência os

valores descritos em situações de exposição aguda de anestesia, nas quais se observaram

concentrações entre 20 e 232 mg 1L− (Harte et al., 1991) e nos estudos indicados por

Brown-Woodman et al. (1998) em que se observou uma concentração sérica para o

clorofórmio, após inalação controlada durante 7 segundos, igual a 4 mg 1L− .

A solução avaliada mais diluída (11,9 µg 1L− ), embora inferior às concentrações

séricas de clorofórmio atrás indicadas, foi investigada tendo por objectivo procurar avaliar

o resultado de uma exposição crónica ao clorofórmio.

O clorofórmio (Figura 2.53 e Tabela 2.29) nas concentrações estudadas não

influenciou (P< 0,05) a libertação de MMA a partir do PMMA.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t /min

[MM

A]/%

C

Cl 1

Cl 2

Cl 3

Figura 2.53. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) vs tempo, durante

24 h, em PBS (C) e soluções 1Cl (1,0 × 10−7 mol L−12Cl), (1,0 × 10−5 mol L−1

3Cl) e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de clorofórmio.

Page 78: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

139

Tabela 2.29. Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS (C) e soluções 1Cl (1,0 × 10−7 mol L−1

2Cl), (1,0 × 10−5 mol L−1

3Cl) e

(1,0 × 10−3 mol L−1

) de clorofórmio a partir de placas de PMMA.

C 1Cl 2Cl 3Cl

−= − tkeay E1 (24 h)

a)

Ek /min 0,0091 ± 0,0005 −1 0,0096 ± 0,001 0,009 ± 0,001 0,009± 0,0005

a/% 0,066 ± 0,006 0,067± 0,002 0,065 ± 0,004 0,068 ± 0,004

r 0,940 0,960 0,957 0,962

2/1

HtkQ =

(modelo Higuchi)

(1ª hora)

b)

Hk /µg mm−2min 0,016 ± 0,002 −1/2 0,016 ± 0,001 0,016 ± 0.004 0,015 ± 0,001

r 0,972 0,971 0,975 0,968

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante da velocidade de dissolução. b)

HkQ, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

Os valores correspondentes aos resultados da primeira hora de incubação em

soluções de diclorometano foram ajustados ao modelo de Higuchi (Figura 2.54).

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0 2 4 6 8 10

(t /min)1/2

[MM

A]/

µgm

m−2

Figura 2.54. Modelo de Higuchi: ◊, valores experimentais relativos a C (PBS); —, ajuste

linear em PBS; �, valores experimentais relativos a 1Di ; —, ajuste linear em 1Di ; ∆, valores experimentais relativos a 2Di ; —, ajuste linear em 2Di ; ×, valores experimentais relativos a 3Di ; —, ajuste linear em 3Di .

Page 79: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

140

Os valores correspondentes aos resultados da primeira hora de incubação em

soluções de clorofórmio foram ajustados ao modelo de Higuchi (Figura 2.55).

Figura 2.55. Modelo de Higuchi: ◊, valores experimentais relativos a C (PBS); —, ajuste linear em PBS; �, valores experimentais relativos a 1Cl ; —, ajuste linear em 1Cl ; ∆, valores experimentais relativos a 2Cl ; —, ajuste linear em 2Cl ; ×, valores experimentais relativos a 3Cl ; —, ajuste linear em 3Cl .

Da aplicação do modelo de Higuchi aos resultados experimentais correspondentes à

primeira hora de incubação das placas de PMMA nos meios contendo diclorometano

(Tabela 2.28 e Figura 2.54) ou clorofórmio (Tabela 2.29 e Figura 2.55) conclui-se que

nenhum destes compostos alterou o mecanismo de libertação do MMA a partir do PMMA.

2.6.2.1.2. Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 22 dias

a) Estudo do efeito de álcoois

A quantidade média de MMA libertado nos meios controlo e soluções de etanol

avaliadas é apresentada na Figura 2.56.

Page 80: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

141

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

1 2 3 4 6 13 22

t /dias

[MM

A]/%

CEt 1Et 2Et 3

*

(*) não detectável ([MMA] ≤ 0,34 µg mL−1

Figura 2.56. Valor médio da concentração de MMA (N = 3) durante 22 dias de incubação em PBS (C), soluções

).

1Et (6,0 × 10−3 mol L−12Et), (2,0 × 10−2 mol L−1

3Et) e (5,0 × 10−2 mol L−1

) de etanol, substituindo os meios diariamente (Bettencourt et al., 2002).

Os resultados, comparados através da análise estatística de variância (ANOVA),

sugerem que a libertação do MMA foi influenciada pelo etanol. De facto, a quantidade de

MMA libertado diferiu significativamente do controlo para as três concentrações de etanol

estudadas desde o dia 1 ao dia 6 (Bettencourt et al., 2002).

Durante o primeiro dia de incubação, inclusivamente, a concentração média de

MMA relacionou-se linearmente com a concentração de etanol como anteriormente

mencionado (2.6.2.1.1.a).

A libertação de MMA em todos os meios de incubação avaliados diminuiu com o

tempo, não tendo sido detectado monómero após 22 dias de incubação (Figura 2.56). Este

facto sugere que o etanol não teve um efeito de despolimerização do PMMA.

Pelo contrário, o metanol, o outro composto avaliado do grupo dos álcoois nas

concentrações analisadas, não revelou qualquer efeito na libertação de MMA ou na

despolimerização do PMMA (Figura 2.57).

Page 81: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

142

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

1 2 3 4 6 13 22

t /dias

[MM

A]/%

CMe 1Me 2Me 3

*

(*) não detectável ([MMA] ≤ 0,34 µg mL−1

Figura 2.57 Valor médio da concentração de MMA (N = 3) durante 22 dias de incubação em PBS (C), soluções

).

1Me (1,0 × 10−5 mol L−12Me), (1,0 × 10−4 mol L−1

3Me) e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de metanol, substituindo os meios diariamente.

b) Estudo do efeito de hidrocarbonetos clorados

O diclorometano (Figura 2.58) e o clorofórmio (Figura 2.59), nas concentrações

estudadas, não influenciaram a libertação de MMA durante o tempo de exposição avaliado.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

1 2 3 4 6 13 22

t /dias

[MM

A]/%

CDi 1Di 2Di 3

*

(*) não detectável ([MMA] ≤ 0,34 µg mL−1

Figura 2.58. Valor médio da concentração de MMA (N = 3) durante 22 dias de incubação em PBS (C), soluções

).

1Di (1,0 × 10−4 mol L−12Di), (1,0 × 10−3 mol L−1

3Di) e (1,0 × 10−2 mol L−1) de diclorometano, substituindo os meios diariamente.

Page 82: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

143

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

1 2 3 4 6 13 22t /dias

[MM

A]/%

CCl 1Cl 2Cl 3

*

(*) não detectável ([MMA] ≤ 0,34 µg mL−1

Figura 2.59. Valor médio da concentração de MMA (N = 3) durante 22 dias de incubação em PBS (C), soluções

).

1Cl (1,0 × 10−7 mol L−12Cl), (1,0 × 10−5 mol L−1) e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de clorofórmio, substituindo os meios diariamente.

2.6.2.2. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados nas propriedades de

superfície do cimento acrílico

2.6.2.2.1. Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície

a) Estudo do efeito de álcoois

Para o estudo do efeito do etanol na molhabilidade das placas de PMMA

utilizaram-se os valores experimentais dos ângulos de contacto (Tabela 2.30) para

determinar a energia de superfície total ( sγ ) e dos seus componentes polar ( psγ ) e disperso

( dsγ ).

Observa-se (Figura 2.60) que a variação da energia de superfície total, polar e

dispersa não diferiu significativamente entre as placas incubadas em PBS e nas soluções

1Et , 2Et e 3Et de etanol. Conclui-se, assim, que o etanol, nas concentrações avaliadas, não

teve qualquer efeito na variação da energia de superfície das placas de PMMA analisadas.

Page 83: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

144

Tabela 2.30. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água (θa) ou 1,2-propanodiol (θp ) incubadas em PBS (C) e em soluções Et1 (6,0 × 10−3 mol L−1

2Et), (2,0 × 10−2 mol L−1) e Et3 (5,0 × 10−2 mol L−1

) de etanol.

tempo dia 1 dia 8 dia 15 dia 22

θa θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p

C

/[º]

85,4 ± 3,2 39,4 ± 4,2 76,9 ± 3,8 36,8 ± 3,0 67,8 ± 5,8 30,3 ± 3,2 68,2 ± 0,7 32,2 ± 2,4

1Et 83,8 ± 4,0 36,9 ± 5,7 77,4 ± 2,6 35,1 ± 1,5 69,0 ± 1,9 29,8 ± 2,2 69,6 ± 2,3 31,8 ± 1,9

2Et 83,0 ± 4,6 36,3 ± 5,8 79,1 ± 1,6 36,6 ± 1,5 69,3 ± 2,4 31,6 ± 1,8 68,6 ± 2,6 34,2 ± 3,0

3Et 82,8 ± 4,7 39,9 ± 5,7 78,0 ± 1,8 35,7 ± 1,4 69,4 ± 1,9 32,5 ± 2,4 69,3 ± 3,3 32,0 ± 2,8

30

32

34

36

38

40

1 7 13 19 25t /dias

γ s/m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25

t /dias

γ sp /m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25

t /dias

γ sd /m

Nm

−1

Figura 2.60. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total ( sγ ), polar

( psγ ) e dispersa ( d

sγ ) das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios: ◊, valores experimentais relativos a C; �, valores experimentais relativos a 1Et ; ∆, valores experimen-tais relativos a 2Et ; ×, valores experimentais relativos a 3Et .

O metanol, nas concentrações analisadas, também não teve qualquer efeito na

variação dos ângulos de contacto calculados, quer em água quer em 1,2-propanodiol

(Tabela 2.31) e, consequentemente, não influenciou a variação dos parâmetros da energia

de superfície total, dispersa e polar das placas de PMMA incubadas nas soluções 1Me ,

2Me e 3Me de metanol comparativamente às placas incubadas apenas em PBS (Figura

2.61).

Page 84: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

145

Tabela 2.31. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água (θa) ou 1,2-propanodiol (θp 1Me) incubadas em PBS (C) e em soluções (1,0 × 10−5 mol L−1

2Me), (1,0 × 10−4 mol L−13Me) e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de metanol.

tempo dia 1 dia 8 dia 15 dia 22

θa θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p

C

/[º]

85,4 ± 3,6 39,4 ± 4,2 76,7 ± 3,8 39,8 ± 1,5 77,3 ± 7,4 38,9 ± 6,4 69,1 ± 4,7 32,9 ± 5,7

1Me 80,3 ± 3,4 39,2 ± 0,6 76,5 ± 2,1 38,7 ± 0,9 76,0 ± 1,8 37,2 ± 2,4 68,9 ± 0,8 34,6 ± 1,4

2Me 80,0 ± 7,1 38,2 ± 0,9 76,2 ± 2,0 38,8 ± 2,0 77,3 ± 2,5 37,7 ± 1,9 69,2 ± 0,9 35,2 ± 2,5

3Me 81,1 ± 6,4 39,2 ± 0,5 75,3 ± 1,7 40,2 ± 1,0 77,5 ± 2,0 38,2 ± 1,1 67,7 ± 2,2 34,1 ± 3,0

30

32

34

36

38

40

1 7 13 19 25t /dias

γ s/m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25

t /dias

γ sp /m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25

t /dias

γ sd /m

N m

−1

Figura 2.61. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total ( sγ ), polar

( psγ ) e dispersa ( d

sγ ) das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios: ◊, valores experimentais relativos a C; �, valores experimentais relativos a 1Me ; ∆, valores experimentais relativos a 2Me ; ×, valores experimentais relativos a 3Me .

b) Estudo do efeito de hidrocarbonetos clorados

Para o estudo do efeito do diclorometano e do clorofórmio na molhabilidade das

placas de PMMA utilizaram-se os valores experimentais dos ângulos de contacto

apresentados, respectivamente, nas Tabelas 2.32 e 2.33.

Page 85: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

146

A energia de superfície total aumentou com o tempo, nas placas incubadas em

soluções de diclorometano (Figura 2.62) e em soluções de clorofórmio (Figura 2.63).

Tabela 2.32. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água (θa) ou 1,2-propanodiol (θp

1Di) incubadas em PBS (C) e em soluções soluções

(1,0 × 10−4 mol L−12Di), (1,0 × 10−3 mol L−1

3Di) e (1,0 × 10−2 mol L−1

) de diclorometano.

tempo dia 1 dia 8 dia 15 dia 22

θa θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p

C

/[º]

85,9 ± 4,4 40,6 ± 1,5 75,8 ± 4,0 38,1 ± 1,6 72,3 ± 3,0 37,1 ± 3,5 69,2 ± 3,1 32,7 ± 1,4

1Di 81,3 ± 2,7 38,5 ± 5,2 74,6 ± 3,3 37,8 ± 0,9 71,4 ± 4,1 37,2 ± 2,0 69,9 ± 2,0 32,6 ± 3,5

2Di 82,4 ± 2,2 39,5 ± 2,9 75,5 ± 3,0 37,3 ± 2,6 71,4 ± 3,0 37,7 ± 2,8 69,2 ± 2,9 35,4 ± 3,2

3Di 82,4 ± 2,5 39,2 ± 2,3 74,1 ± 3,2 37,2 ± 2,4 72,1 ± 2,4 37,3 ± 3,2 68,1 ± 3,1 32,0 ± 1,3

30

32

34

36

38

40

1 7 13 19 25

t /dias

γ s/m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25t /dias

γ sp /m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25t /dias

γ sd /m

N m

−1

Figura 2.62. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total ( sγ ), polar

( psγ ) e dispersa ( d

sγ ) das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios: ◊, valores experimentais relativos a C; �, valores experimentais relativos a 1Di ; ∆, valores experimentais relativos a 2Di ; ×, valores experimentais relativos a 3Di .

Page 86: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

147

Tabela 2.33. Valores experimentais dos ângulos de contacto calculados entre as placas de PMMA e a água (θa) ou 1,2-propanodiol (θp 1Cl) incubadas em PBS (C) e em soluções (1,0 × 10−7 mol L−1

2Cl), (1,0 × 10−5 mol L−13Cl) e (1,0 × 10−3 mol L−1

) de clorofórmio.

tempo dia 1 dia 8 dia 15 dia 22

θa θ /[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p θ/[º] a θ/[º] p

C

/[º]

85,9 ± 4,4 40,2 ± 2,8 81,5 ± 1,9 42,7 ± 2,1 71,4 ± 3,3 39,8 ± 1,5 68,4 ± 3,7 34,6 ± 5,7

1Cl 83,7 ± 2,9 39,8 ± 2,5 81,0 ± 2,0 38,7 ± 5,5 71,8 ± 4,4 38,6 ± 6,1 67,5 ± 2,5 32,6 ± 4,2

2Cl 84,0 ± 3,7 38,3 ± 5,2 78,7 ± 6,2 41,2 ± 1,7 69,5 ± 4,8 40,8 ± 5,0 68,0 ± 3,8 32,9 ± 4,6

3Cl 85,6 ± 3,7 41,9 ± 3,4 80,9 ± 4,4 42,5 ± 2,4 71,3 ± 4,6 37,8 ± 5,1 72,1 ± 4,4 35,6 ± 4,1

30

32

34

36

38

40

1 7 13 19 25t /dias

γ s/m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25

t /dias

γ s p /m

N m

−1

8

10

12

14

16

18

20

22

24

1 7 13 19 25

t /dias

γ sd /m

N m

−1

Figura 2.63. Variação dos valores experimentais da energia de superfície total ( sγ ), polar

( psγ ) e dispersa ( d

sγ ) das placas de PMMA com o tempo, após exposição a diferentes meios: ◊, valores experimentais relativos a C; �, valores experimentais relativos a 1Cl ; ∆, valores experimentais relativos a Cl2 3Cl; ×, valores experimentais relativos a .

A variação da energia de superfície total, polar e dispersa não diferiu

significativamente entre as placas incubadas em meio controlo, soluções de diclorometano

(Figura 2.62) ou clorofórmio avaliadas (Figura 2.63), donde se conclui que os compostos

estudados não influenciaram a alteração da molhabilidade das placas de PMMA.

Page 87: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

148

2.6.2.2.2. Análise por XPS

Como só o etanol parecia afectar a libertação do MMA e, mesmo assim, não

influenciando a variação da energia de superfície, foram também efectuadas análises por

XPS em cilindros de PMMA incubados durante 22 dias nas soluções 1Et , 2Et e 3Et de

etanol, para avaliar se haveria alguma reacção química entre o etanol e o polímero.

Os espectros C 1s e O 1s para os cilindros incubados nas soluções de etanol não

diferiram em relação aos espectros dos cilindros incubados apenas em PBS, como se pode

observar nas Figuras 2.64 e 2.65.

Figura 2.64. Espectros de XPS (C 1s) relativos a: a) t = 0 h, b) após 22 dias de envelhecimento em PBS e c) em solução 3Et de etanol.

Page 88: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

149

Figura 2.65 Espectros de XPS (O 1s) relativos a: a) t = 0 h, b) após 22 dias de envelhecimento em PBS e c) em solução 3Et de etanol.

A representação da percentagem atómica relativa de cada ligação C 1s (Figura

2.66) permitiu confirmar que o etanol, nas concentrações estudadas, não provocou

qualquer efeito na alteração da composição da superfície das placas de PMMA

comparativamente ao efeito provocado pelo meio controlo (PBS).

Page 89: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

150

)(CH3

CCH2

C

O

O

CH3

1

1

1

2

2

3

4n

Figura 2.66. a) Estrutura química do PMMA, b) % atómica das diferentes ligações relativas aos espectros C 1s correspondentes aos cilindros analisados imediatamente após a polimerização do PMMA (t = 0 h) e após 22 dias de envelhecimento nos meios C, 1Et , 2Et e 3Et .

Em síntese:

- o etanol, ao contrário do metanol, do diclorometano e do clorofórmio influenciou

significativamente a libertação de MMA a partir das placas de PMMA. De facto, o etanol,

mesmo na concentração mais baixa (6,0 × 310− mol 1L− ), aumentou a extracção do

monómero até ao sexto dia de incubação do cimento acrílico;

- a libertação de MMA nos meios contendo etanol, metanol, diclorometano ou

clorofórmio, em concentrações correspondentes a níveis de exposição aguda e/ou crónica,

diminuiu com o tempo, não se detectando monómero após 22 dias de incubação do

PMMA;

- os compostos estudados não tiveram uma acção de despolimerização, nem

alteraram o mecanismo de libertação do monómero a partir da matriz polimérica;

- o etanol, metanol, diclorometano e clorofórmio, nas concentrações avaliadas, não

alteraram a variação da molhabilidade das placas de PMMA ao longo dos 22 dias de

incubação das mesmas;

- os estudos por XPS, realizados só para o etanol, revelaram que este composto não

alterou a variação da composição química dos cilindros de PMMA comparativamente ao

envelhecimento em meio controlo.

a) b)

0

10

20

30

40

50

% a

tóm

ica

1C

2C

3C

4C

Dia 0 Dia 22 (C)

Dia 22 (Et1)

Dia 22 (Et2)

Dia 22 (Et3)

0

10

20

30

40

50

% a

tóm

ica

1C

2C

3C

4C

Dia 0 Dia 22 (C)

Dia 22 (Et1)

Dia 22 (Et2)

Dia 22 (Et3)

Page 90: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

21

2. ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

2.1. Introdução

A perda asséptica dos componentes das artroplastias cimentadas, associada à

osteólise periprostética, continua a ser considerada uma das principais complicações

determinante do insucesso dos implantes a longo prazo (Abbas et al., 2003; Puskas et al.,

2003; Goodman, 2005).

A interface entre o cimento acrílico e o osso é considerada a zona frágil (Dalby et

al., 2002; Tsukeoka et al., 2006). Uma das causas prováveis para o fenómeno de falência

na interface cimento/osso aponta para que tenha origem na estimulação da reabsorção

óssea e/ou inibição de crescimento do tecido ósseo, reflexo de uma reacção inflamatória

e/ou citotóxica induzida pelo cimento acrílico (Murali et al., 1991).

Nos estudos realizados por Vale et al. (1997) demonstrou-se que os meios de

cultura, solução polielectrolítica tamponada (PBS) e “Dulbecco´s Modified Eagle

Medium” (D-MEM) previamente expostos a pó de PMMA, tinham uma acção citotóxica

sobre culturas de fibroblastos humanos.

Estas culturas de fibroblastos apresentavam uma produção significativamente maior

de radicais livres e uma menor viabilidade celular sugerindo, assim, que um ou mais dos

constituintes do PMMA solúvel nos meios era responsável pela mencionada acção

citotóxica.

Considerando que o PMMA, apesar de pouco reactivo, pode degradar-se in vivo por

mecanismos não totalmente esclarecidos (Sutherland et al., 1993), desenvolveram-se

estudos de cinética seleccionando, entre os prováveis componentes citotóxicos do

biomaterial susceptíveis de serem lixiviados para o meio, aquele que também reflectisse

possíveis mecanismos de degradação do cimento acrílico, nomeadamente reacções de

despolimerização.

Page 91: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

22

O cimento ósseo é o produto de uma reacção complexa de polimerização entre uma

mistura em pó constituída por partículas de PMMA, sulfato de bário e peróxido de

benzoílo e um líquido composto por MMA, N,N-dimetil-p-toluidina e hidroquinona

(1.2.1.).

Como nem todas as formulações comerciais do PMMA incluem na sua composição

o sulfato de bário, excluiu-se à partida o estudo deste composto. A função da hidroquinona

é a de estabilizar o MMA no líquido até ao momento de utilização e, por não participar

directamente na reacção, não foi também considerado o seu estudo.

O peróxido de benzoílo e a N,N-dimetil-p-toluidina são compostos pouco estáveis

em solução, que existem na formulação em quantidades vestigiais (2.2.1.1.), o que torna

estes compostos difíceis de utilizar como parâmetros de estabilidade do PMMA.

O monómero foi o composto escolhido pois, para além de ser um dos reagentes

principais da reacção de polimerização que conduz à formação do PMMA, é relativamente

estável em solução e poderá estar implicado na falência das próteses (Williams, 1992;

Lewis, 1997; Dalby et al., 2002).

Apesar de existirem referências na literatura a estudos de dissolução do MMA em

água e soluções salinas (Haas et al., 1975; Linder et al., 1976; Brauer et al., 1977;

Schoenfeld et al., 1979; Davy e Braden, 1991), os resultados destes trabalhos não são

suficientemente completos e detalhados justificando-se, por isso, um estudo mais completo

da cinética de dissolução do monómero in vitro, a qual se revela essencial para o estudo

das respectivas manifestações biológicas.

2.1.1. Estudos de cinética de dissolução do metilmetacrilato

2.1.1.1. Metilmetacrilato

O metilmetacrilato é um éster do ácido metacrílico (Figura 2.1) sendo o

componente maioritário do líquido utilizado na preparação do cimento acrílico (1.2.1.).

Page 92: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

23

Figura 2.1. Ácido metacrílico.

É um líquido incolor, inflamável, com um odor característico, polimerizando

facilmente pela exposição à luz, calor, oxigénio, radiação ionizante ou catalisadores (EPA,

1998). Algumas das suas propriedades físico-químicas são apresentadas na Tabela 2.1.

Tabela 2.1. Algumas propriedades físico-químicas do MMA (Petty, 1980; EPA, 1998).

Massa molecular 100,11

Temperatura de fusão/ºC −48

Temperatura de ebulição/ºC (1 atm)

100−101

Pressão de vapor/mmHg (25 ºC) 40

Índice de refracção 1,4142

Solubilidade solúvel em etanol, éter, acetona,

metiletilcetona, tetrahidrofurano,

hidrofurano, ésteres aromáticos,

hidrocarbonetos clorados,

solubilidade em água = 16 g L−1 (20 ºC)

CH2 C

C O

OH

CH3

Page 93: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

24

No organismo, o MMA é rapidamente absorvido através dos pulmões, do tracto

gastrointestinal e da pele. Tem um tempo de semi-vida curto (Gentil et al., 1993), sendo

hidrolizado a ácido metacrílico (Figura 2.1) por enzimas não específicas do soro, as

carboximetilesterases (Gentil et al., 1993; Bereznowski, 1995).

Existem vários estudos que referem que o monómero líquido é citotóxico (Linder,

1976; Welch, 1978; Jones e Hungerford, 1987; Williams, 1992; Dahl et al., 1994; Moreau

et al., 1998; Gough e Downes, 2001; Lu et al., 2002; Goodman, 2005) para vários tipos de

células.

Por exemplo, no estudo realizado por Welch (1978), uma concentração de

monómero igual a 5 × 10−2 mol L−1, diminuiu a capacidade dos macrófagos de fagocitar in

vitro bactérias. Dahl et al. (1994) observaram que concentrações de MMA no intervalo

entre 0,5 e 1,0 mol L−1

A determinação directa do MMA no organismo é difícil. As manifestações in vivo

do cimento acrílico envolvem necessariamente a dissolução do monómero nos fluidos

intersticiais que rodeiam a massa do polímero, com a subsequente passagem para o sangue

e outros tecidos.

tiveram uma acção citotóxica em monócitos, granulócitos e células

endoteliais.

Por esta razão, a libertação do monómero a partir da matriz polimérica ou resultante

da despolimerização do PMMA foi simulada realizando estudos in vitro. Utilizaram-se o

PBS e o D-MEM como meios de incubação.

Escolheram-se estes meios, não só por terem sido os utilizados nos estudos

celulares já referidos (Vale et al., 1997), mas também pela sua composição apresentar

algumas características dos meios biológicos. O PBS, sendo uma solução aquosa

polielectrolítica, proporcionou o meio aquoso existente no organismo, o pH fisiológico

(7,4) e uma composição qualitativa em sais inorgânicos próxima da composição dos

fluidos extracelulares que envolvem o implante (2.2.1.1.). O D-MEM, suplementado com o

soro de vitela fetal, permitiu ainda estudar o possível efeito das proteínas e lípidos na

dissolução do monómero, aproximando o modelo em estudo à situação in vivo.

Page 94: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

25

As experiências relativas à cinética de dissolução do MMA a partir do PMMA

foram realizadas a 37 ºC, temperatura a que o biomaterial está exposto no organismo.

Existem várias metodologias de doseamento descritas para o MMA, desde técnicas

que recorrem à cromatografia gasosa (Brauer et al., 1977; Schoenfeld et al., 1979; Benoit

et al., 1993; Vallitu et al., 1998) e cromatografia líquida (Petty, 1980; Larroque e Brun,

1990; Davy e Braden, 1991; Vallitu, 1996; Miettinen e Vallitu, 1997; Shim e Watts, 1999),

a técnicas mais complexas, como a espectroscopia por ressonância magnética protónica

(Sheinin et al., 1976) e a espectroscopia de infravermelho (Duray et al., 1997).

Por ser considerado um método quantitativo de eleição e existir disponibilidade do

equipamento, optou-se pela cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).

2.1.1.2. Validação do método analítico

A etapa inicial do trabalho experimental consistiu na validação do método analítico

que serviu de suporte aos estudos de cinética de dissolução do MMA a partir do PMMA.

A validação de um método analítico é um processo através do qual é estabelecido,

mediante estudos laboratoriais, que os resultados obtidos são credíveis e permitem

conclusões adequadas (USP, 2005).

Na validação de métodos analíticos tem havido a preocupação de uniformizar os

procedimentos, embora a total harmonização ainda não seja possível. Por exemplo, na

versão 28 da USP (2005) procura-se integrar, sempre que possível, as recomendações

referidas no documento “Validation of Analytical Procedures and Methodology” elaborado

pela “Tripartite International Conference on Harmonization” (ICH) em 1998, que visa

uniformizar os procedimentos analíticos aquando do registo de medicamentos na União

Europeia, Estados Unidos e Japão.

A validação de um método analítico deve ser adaptada a cada situação. É

necessário, por exemplo, ter em conta o tipo de análise (qualitativa ou quantitativa), a

gama de concentrações em estudo e se é um método de rotina ou inovador (Relacre, 2000).

Page 95: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

26

No presente trabalho, para se poder interpretar satisfatoriamente os resultados

experimentais da dissolução do MMA em PBS e D-MEM, considerou-se essencial a

avaliação dos parâmetros selectividade, linearidade e gama de trabalho, limiares analíticos

(limite de detecção e de quantificação), precisão e exactidão.

2.1.1.2.1. Selectividade

A selectividade define-se como a capacidade de um método para identificar e

distinguir um analito, em particular numa mistura complexa, sem interferência dos outros

componentes. Esta característica é essencialmente função do princípio de medida utilizado,

dependendo do tipo de compostos a analisar (Relacre, 2000).

A ICH (1998) e a Guia Relacre (2000) referem como sinónimo de selectividade o

termo especificidade. No entanto, outros organismos internacionais, como a IUPAC

(“International Union of Pure and Applied Chemistry”), recomendam que se reserve a

designação de especificidade para métodos 100 % selectivos (USP, 2005).

A selectividade é geralmente um parâmetro de difícil avaliação, recorrendo-se na

prática a diferentes métodos como, por exemplo, análise de possíveis interferentes, análise

de padrões puros, realização de testes de recuperação ou recurso a diferentes técnicas

analíticas (Snyder et al., 1997).

2.1.1.2.2. Linearidade e gama de trabalho

O intervalo de linearidade de um método indica o intervalo de concentrações para

o qual os resultados são directamente, ou através de uma transformação matemática bem

definida, proporcionais à concentração do analito nas amostras (USP, 2005).

A gama de trabalho de um método analítico corresponde ao intervalo entre o valor

máximo e mínimo do analito (incluindo estes valores) que demonstraram ser determinados

com precisão, exactidão e linearidade utilizando o referido método analítico. A gama de

trabalho pode ser avaliada pelo teste de homogeneidade de variâncias (Anexo I).

A linearidade de um método analítico pode ser avaliada através da representação

gráfica dos resultados experimentais, do cálculo da equação de regressão pelo método dos

mínimos quadrados e da análise do coeficiente de correlação (Anexo II).

Page 96: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

27

Quando se utiliza o método dos mínimos quadrados o eixo vertical (eixo y)

representa sempre a resposta instrumental do equipamento e o eixo horizontal (eixo x) as

concentrações dos padrões, uma vez que se assume que os erros associados aos valores de

x são desprezíveis face aos de y.

O valor do coeficiente de correlação, pode tomar valores entre −1 e +1 (−1 ≤ r ≤

+1). Em análise química, as curvas de calibração devem ter valores de coeficientes de

correlação superiores a 0,995 (Relacre, 2000).

Este teste de linearidade deve ser bem interpretado, pois os coeficientes de

correlação são bons indicadores de correlação, mas não necessariamente de linearidade

(Relacre, 2000).

Assim, em paralelo com o coeficiente de correlação, calculou-se a distribuição dos

valores normalizados (Anexo III), tendo como critério de aceitação em cromatografia

valores normalizados iguais ou inferiores a 25 % do valor experimental com melhor

correlação (Almeida, 2001).

A linearidade pode igualmente ser avaliada através de um modelo estatístico, de

acordo com a norma ISO 8466-1 (1994), o teste de Fisher/Snedecor (F) ou teste de

Mandel (Anexo IV).

2.1.1.2.3. Limiares analíticos

Existem vários métodos para calcular os limiares analíticos (limite de detecção e

de quantificação) de um método de ensaio.

O limite de detecção é definido como o teor mínimo medido, a partir do qual é

possível detectar, mas não necessariamente quantificar, a presença do analito com uma

certeza estatística razoável nas condições experimentais observadas (USP, 2005).

Este limiar analítico corresponde à mais pequena quantidade de substância a

analisar que pode ser detectada numa amostra, mas não necessariamente quantificada

como valor exacto (Relacre, 2000).

A determinação do limite de detecção de um método analítico está dependente do

método utilizado ser instrumental ou não.

Page 97: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

28

Quando o método analítico envolve a utilização de uma calibração linear o limite

de detecção (L.D.) pode ser calculado através do desvio padrão residual ( xyS / ) da curva

de calibração:

( )b

3,3.D.L y/xS×=

equação [1]

sendo b o declive da curva de calibração (Anexo II).

Uma leitura inferior ao limite de detecção não significa a ausência do analito a

medir. Apenas se pode afirmar, com uma probabilidade definida, que a concentração do

componente em causa será inferior a um determinado valor.

O limite de quantificação corresponde à menor concentração medida a partir da

qual é possível a quantificação do analito, com uma determinada precisão e exactidão.

Tal como referido para o limite de detecção, quando o método envolve a utilização

de uma calibração linear, o limite de quantificação (L.Q.) pode também ser calculado

utilizando-se a seguinte equação:

( )b

10.Q.L y/xS×=

equação [2]

tendo xyS / e b o significado indicado para a equação [1].

2.1.1.2.4. Precisão

A precisão de um método analítico expressa o grau de concordância entre os

resultados de testes individuais cujo procedimento é aplicado repetidamente a amostras

múltiplas de uma amostra homogénea.

A precisão pode referir-se a repetibilidade, precisão intermédia ou reprodutibilidade

(USP, 2005).

Page 98: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

29

A repetibilidade exprime a precisão de um método analítico efectuado em

condições idênticas, isto é, refere-se a ensaios efectuados sobre uma mesma amostra, em

condições operatórias tão estáveis quanto possível (mesmo laboratório, analista,

equipamento, tipo de reagentes) num curto intervalo de tempo.

A repetibilidade é geralmente expressa através do desvio padrão ou coeficiente de

variação (Anexo VI).

A precisão intermédia é avaliada sobre a mesma amostra, amostras idênticas ou

padrões, utilizando o mesmo método, no mesmo laboratório ou em laboratórios diferentes,

mas definindo exactamente quais as condições a modificar, como, por exemplo, diferentes

analistas, equipamentos e com ou sem verificação da calibração.

A reprodutibilidade refere-se à precisão de um método efectuado em condições de

ensaio diferentes, utilizando o mesmo método de ensaio e a mesma amostra, mas variando

as condições de medição tais como: diferentes laboratórios, operadores, equipamentos e/ou

épocas diferentes.

2.1.1.2.5. Exactidão

A exactidão de um método analítico é definida como uma medida da proximidade

entre o valor obtido e o valor real (USP, 2005). Pode ser expressa como uma percentagem

de recuperação de quantidades conhecidas de analito.

Os processos normalmente utilizados para avaliar a exactidão de uma metodologia

são, entre outros, a análise de um material de referência adequado, adição de um reagente

conhecido a uma amostra teste (testes de recuperação) e ensaios interlaboratoriais.

Quando se aplica o método a amostras às quais se adicionam quantidades

conhecidas de padrão, em concentrações superiores e inferiores aos níveis esperados na

amostra, a exactidão é então calculada a partir das percentagens de recuperação do analito

determinadas no ensaio.

O documento da ICH (1998) recomenda que a exactidão seja avaliada com um

mínimo de nove determinações de três níveis de concentração do intervalo estudado (isto é,

três replicados de três concentrações).

Page 99: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

30

2.1.1.3. Modelos de cinética

Após validação do método analítico iniciaram-se os estudos de cinética de

dissolução do monómero a partir de amostras de pó de PMMA, avaliando-se o efeito da

composição do meio e condições de conservação (solução a diferentes temperaturas e ao

ar) do cimento acrílico. Entre as várias formulações comerciais de PMMA disponíveis

seleccionou-se o CMW 1, por ser um dos cimentos ósseos mais frequentemente utilizados

nas artroplastias cimentadas.

Para interpretação dos resultados da cinética de dissolução do monómero

representou-se graficamente a variação da concentração média de MMA nos meios com o

tempo de incubação ajustando-se, sempre que se justificou, modelos cinéticos aos

resultados experimentais.

Os resultados experimentais da dissolução do monómero, após 24 horas de

incubação do PMMA, foram ajustados a uma função exponencial expressa por uma

equação do tipo:

−= − tkeay E1 equação [3]

onde y

Ek

representa a quantidade de composto dissolvido (%) no tempo t, a refere-se à

quantidade máxima de monómero dissolvido (%) e representa uma constante da

velocidade de dissolução.

Os modelos de Wagner (1959) e de Higuchi (1963), geralmente usados para

descrever a dissolução de solutos a partir de matrizes poliméricas, foram aplicados aos

resultados experimentais relativos à dissolução do monómero, durante a primeira hora de

incubação do PMMA.

O modelo de Wagner (1959), introduzido inicialmente por Wiegand e Taylor

(1959) relativamente a sistemas de libertação controlada, é expresso pela equação:

tkmm We0−= equação [4]

sendo m a quantidade de monómero (%) não dissolvido no tempo t, m0

wk

a quantidade inicial

de monómero na matriz polimérica (valor estimado) e uma constante da velocidade de

dissolução de primeira ordem.

Page 100: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

31

A equação [4] é equivalente à expressão:

tkmm w0lnln −= equação [5]

O modelo de Wagner (1959), sem ser muito específico, permite caracterizar um

processo de dissolução de primeira ordem.

O modelo de Higuchi (1963), desenvolvido inicialmente para descrever a libertação

de princípios activos a partir de matrizes insolúveis e de pomadas homogéneas, é expresso

pela seguinte equação:

tQ ss C)εC-A2(D/τ= equação [6]

sendo Q a quantidade de monómero dissolvida por unidade de área no tempo t, D o

coeficiente de difusão do monómero no meio de dissolução, A a quantidade de MMA

presente na matriz polimérica por unidade de volume, Cs

A equação [6] pode ser escrita duma forma mais simplificada através da expressão:

a solubilidade do monómero no

meio, ε a porosidade e τ a tortuosidade da matriz.

2/1HtkQ = equação [7]

sendo Hk a constante da velocidade de dissolução relacionada com os parâmetros D, A Cs

Atendendo a que a aplicação do PMMA deverá desejavelmente apresentar um

carácter definitivo, considerou-se relevante prosseguir o estudo da sua estabilidade físico-

-química em solução, por um período de tempo mais alargado, avaliando-se, para além da

cinética de dissolução do MMA, a variação de pârametros que reflectissem alterações das

propriedades da superfície do cimento acrílico.

,

ε e τ através da relação evidenciada na equação [6].

2.1.2. Propriedades de superfície do PMMA

A inserção de um biomaterial no corpo humano faz com que se estabeleça de

imediato uma interface entre o material e os fluidos extracelulares e/ou tecidos

envolventes.

A primeira etapa na complexa sequência de fenómenos biofísicos e bioquímicos

relacionados com a interacção do biomaterial com o tecido biológico consiste na formação

espontânea de uma camada proteica sobre a sua superfície, a qual condicionará a

subsequente resposta celular e tecidular.

Page 101: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

32

A adesão, proliferação e resposta celular são, assim, muito influenciadas pela

adsorção de proteínas a qual depende, em última análise, das características da superfície

(Lopes et al., 1999; Dalby et al., 1999).

A diferença no comportamento das células poderá, por isso, reflectir diferenças nas

características da superfície. Além das reacções químicas que sobrevêm entre o cimento

acrílico e o meio, considerou-se igualmente importante estudar a variação de propriedades

da sua superfície, como a energia e a composição química, críticas na avaliação da

biocompatibilidade, uma vez que poderão condicionar a resposta biológica do hospedeiro.

2.1.2.1. Energia de superfície e ângulos de contacto

A energia de superfície de um biomaterial ao influenciar a adsorção de proteínas

(Vogler, 1998), a adesão e a proliferação de células na sua superfície como, por exemplo,

de osteoblastos (Anselme, 2000; Redey et al., 2000; Lim et al., 2004), monócitos (Murray

e Rushton, 1989; Young et al., 2000), fibroblastos e células endoteliais (Lapim et al.,

1997), foi um dos parâmetros considerados na avaliação das reacções entre os fluidos

biológicos e a superfície do PMMA.

A energia de superfície de um sólido é uma função termodinâmica de excesso que

não é susceptível de ser calculada directamente.

Um dos métodos mais frequentemente utilizados para calcular este parâmetro é

através da determinação do ângulo de contacto (θ ) definido pela tangente à interface

líquido/vapor e à superfície sólida (Figura 2.2).

Figura 2.2. Representação do ângulo de contacto (θ ) formado por uma gota de um líquido na superfície de um sólido e das energias interfase líquido-vapor (γLV), líquido- -sólido (γSL) e sólido-vapor (γSV

Sólido

L

Líquido

Sólido

L

Líquido

), (adaptado de Buckton, 1995).

Page 102: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

33

A utilização do valor do ângulo de contacto para estimar a energia de superfície de

um sólido baseia-se na relação existente entre o ângulo de contacto (θ ) e a energia da

superfície de um sólido, Sγ , expressa através da equação estabelecida por Thomas Young

em 1805:

ecosLVSLS πθγγγ +=− equação [8]

sendo LVγ a energia de superfície do líquido, SLγ a energia entre as fases sólido e líquido e

eπ a variação de energia na superfície do sólido devida à adsorção de vapor.

A variação na energia de superfície do sólido devido à adsorção de vapor do líquido

( eπ ) é expressa através da seguinte expressão:

SVSe γγπ −= equação [9]

correspondendo SVγ à energia da superfície do sólido após adsorção do vapor.

No presente estudo, considerou-se que o molhamento das placas de PMMA podia

ser considerado nulo, à temperatura de 25 ºC e, consequentemente, assumiu-se que eπ era

igual a zero (Zografi e Tam, 1976), donde resulta que SVγ é igual a Sγ .

Só os parâmetros ( LVγ ) e (θ ) descritos na equação de Young (equação [8]) podem

ser determinados experimentalmente. Assim, calculou-se o valor do ângulo de contacto

entre as placas de PMMA e dois líquidos (água e 1,2-propanodiol) para os quais já existem

descritos na literatura valores da energia de superfície ( LVγ ).

A determinação dos ângulos de contacto permite obter informação sobre as

camadas mais externas (3 a 20 Å) das superfícies dos sólidos, recorrendo a equipamento

pouco dispendioso e relativamente simples (Andrade et al., 1985; Ratner e Porter, 1996).

Apesar da interpretação dos resultados ser por vezes controversa, continua a ser uma

técnica frequentemente utilizada para caracterizar as propriedades de molhamento de um

sólido e para estimar a respectiva energia de superfície.

Diversas metodologias têm sido desenvolvidas para a determinação dos ângulos de

contacto, dependendo a escolha do método do tipo de material a utilizar e, frequentemente,

da disponibilidade de equipamento (Neuman e Spelt, 1996).

Page 103: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

34

O método escolhido para determinação dos ângulos de contacto entre as placas de

PMMA e os dois líquidos estudados foi o da placa de Wilhelmy.

O método de Wilhelmy é uma das técnicas mais frequentemente utilizadas para

determinação de ângulos de contacto (Garbassi et al.,1994; Neumann e Spelt, 1996), a que

acresce existir no laboratório disponibilidade do equipamento necessário à sua realização.

A técnica foi inicialmente desenvolvida por Ludwig F. Wilhelmy (1812-1864),

baseando-se na quantificação da intensidade de uma força, através de uma balança, medida

quando uma placa é imersa ou emersa num líquido contido numa tina (Figura 2.3).

A força registada na balança (F) relaciona-se com o ângulo de contacto (θ ) através

da expressão (Serro et al., 1997):

iLV cos FpmgF −θ+= γ equação [10]

sendo m a massa da placa, g a aceleração da gravidade, p o perímetro da placa, LVγ a tensão

superficial do líquido e F i

a força de impulsão.

Figura 2.3. Esquema do equipamento utilizado no método da placa de Wilhelmy: a)

balança, b) placa para análise, c) tina contendo o líquido, d) plataforma elevatória onde é colocada a tina com o líquido, e) computador que controla a velocidade de subida e descida da plataforma (adaptado de Garbassi et al., 1994).

a) balança

b) placa

c) tina

d) plataformaelevatória

e) computador

a) balança

b) placa

c) tina

d) plataformaelevatória

e) computador

Page 104: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

35

Para a determinação dos ângulos de contacto, enche-se a tina (Figura 2.3.c) com um

líquido cuja tensão superficial é conhecida. Antes de a placa entrar em contacto com o

líquido o seu peso será igual ao produto da massa pela aceleração da gravidade (Figura 2.4.

a).

Figura 2.4. Método da placa de Wilhelmy: a) antes da placa contactar com o líquido,

mgF = ; b) a placa toca a superfície do líquido na interfase líquido/ar, θpmgF cosLVγ+= ; c) a placa está imersa no líquido, iLV

cos FθpmgF −+= γ (adaptado de Andrade et al., 1985).

Quando o líquido toca na extremidade da placa a força lida na balança aumenta

devido à acção da tensão superficial do líquido (Figura 2.4.b). À medida que ocorre a

imersão no líquido, a força registada na balança diminui devido ao aumento da força de

impulsão exercida sobre a placa (Figura 2.4.c).

O ângulo de contacto é calculado indirectamente através da medida da força

registada na balança (F) à medida que uma placa é imersa (ângulo de contacto de avanço)

ou emersa do líquido (ângulo de contacto de retrocesso).

FF

F

a)

b)

c)

Fi

γ LV γ LV

FF

F

a)

b)

c)

Fi

γ LV γ LV

Page 105: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

36

Na Figura 2.5 observa-se um diagrama típico de uma experiência para

determinação dos ângulos de contacto de avanço e retrocesso pelo método da placa de

Wilhelmy.

Figura 2.5. Representação da força (F) versus distância, numa experiência para determinação dos ângulos de contacto pela técnica de Wilhelmy (adaptado de Buckton, 1995).

O segmento A-B (Figura 2.5), corresponde ao movimento do líquido em direcção à

placa antes de entrarem em contacto. Não se regista peso na balança (F = 0) antes do

contacto entre a placa e o líquido.

O contacto entre a placa e o líquido ocorre no ponto B (Figura 2.5), observando-

-se um aumento da força de impulsão e consequente diminuição de F (segmento C-D).

Da extrapolação da recta C-D até à perpendicular traçada no ponto B resulta a força

F a partir da qual é calculado o ângulo de contacto de avanço. No ponto D, a plataforma

inicia o movimento de descida e a placa é retirada do líquido (segmento G-J). O

cruzamento desta linha com a perpendicular no ponto H corresponde ao valor de F, a partir

do qual se calcula o correspondente ângulo de contacto de retrocesso.

Tendo-se calculado os ângulos de contacto entre as placas de PMMA e a água ou o

1,2-propanodiol, foi necessário utilizar um método de cálculo para obter a energia de

superfície do PMMA que não é susceptível de ser determinado experimentalmente.

Distância (ou tempo)

Forç

a (F

)

Distância (ou tempo)

Forç

a (F

)

Page 106: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

37

Para calcular a energia de superfície das placas de PMMA ( sγ ) considerou-se o

método da média harmónica proposto por Wu (1971), habitualmente utilizado para calcular

a energia de superfície entre dois polímeros ou entre um polímero e um líquido (Esposito

et al., 1994; Daw et al., 1998), cujos pressupostos são descritos sumariamente em seguida.

A energia entre duas quaisquer fases ( 12γ ) pode ser estimada conhecendo-se as

energias de superfície de cada uma das fases (1

γ e 2

γ ) e as energias associadas às

interacções que ocorrem na interfase (Wu, 1971):

pd2112 22 φφ −−+= γγγ equação [11]

representando dφ e pφ os termos que reflectem, respectivamente, as interacções não polares

e polares.

Considera-se, ainda, que a energia de superfície de um sólido resulta da interacção

de forças intermoleculares cuja contribuição para a energia de superfície total ( iγ ) é

aditiva, apresentando duas componentes ( diγ e p

iγ ) que se relacionam através da seguinte

expressão (Fowkes, 1964):

p

i

d

ii γγγ += equação [12]

Embora diferentes tipos de forças possam contribuir para diγ e p

iγ , assume-se que diγ corresponde principalmente a forças de dispersão de London e que p

Para calcular

resulta de

ligações de hidrogénio.

dφ e pφ Wu (1971) sugeriu usar o método da média harmónica.

Assim:

d2

d1

d2

d1d 2

γγγγφ

+=

equação [13]

p2

p1

p2

p1p 2

γγ

γγφ

+=

equação [14]

Page 107: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

38

Substituindo dφ e pφ na equação [11] e considerando as interfases sólida (S) e

líquida (L) obtém-se:

+−

+−+=

pS

pL

pS

pL

dS

dL

dS

dL

SLLS

44

γγ

γγ

γγ

γγγγγ

equação [15]

O cálculo de dSγ e p

Sγ é obtido combinando a equação de Young (equação [8]) com

a equação [15] na forma descrita por Zografi e Tam (1976):

( ) ( ) ( ) 0abcacbabcacb p

S

d

S

p

S

d

S =−−−+−+ + γγγγ equação [16]

sendo ( )φγ cos14

a L +

= ; d

Lb γ= e pLc γ=

Como existem duas incógnitas dSγ e p

Sγ na equação [16], torna-se necessário obter

ângulos de contacto com dois líquidos em relação aos quais se conheçam os valores da

energia de superfície total ( Lγ ) e os dos seus componentes polar ( pLγ ) e disperso ( d

Lγ ).

Ao determinarem-se ângulos de contacto pela técnica de Wilhelmy entre placas de

PMMA e dois líquidos, um de natureza polar (água) e outro apolar (1,2-propanodiol), em

relação aos quais se conhecem os valores da energia de superfície total e das suas

componentes (polar e dispersa), torna-se possível estimar a energia de superfície do sólido,

resolvendo a equação [16] iterativamente, com recurso a um programa informático

adequado.

2.1.2.2. Espectroscopia de fotoelectrões X

Para melhor caracterização do efeito do envelhecimento nas propriedades de

superfície do PMMA complementaram-se os estudos de energia de superfície,

anteriormente descritos, com outra técnica analítica muito utilizada na caracterização da

superfície de sólidos - a espectroscopia de fotoelectrões X (“X ray photoelectron

spectroscopy” - XPS).

Page 108: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

39

É frequente o recurso a diferentes técnicas analíticas, de modo a obter-se uma

melhor compreensão das interacções químicas que ocorrem entre as camadas mais externas

do implante e o meio biológico.

A espectroscopia de fotoelectrões X (Figura 2.6), também designada por

espectroscopia de fotoelectrões para análise química (ESCA), é uma técnica

espectroscópica que envolve a análise da energia cinética dos electrões emitidos por um

material em consequência do bombardeamento com raios X (Watchman e Kalman, 1993).

Figura 2.6. Interacção dos raios X com um átomo. Há transferência de energia dos raios X para o átomo com a consequente emissão de um electrão (adaptado de Ratner e Porter, 1996).

A energia cinética ( cinE ) dos electrões emitidos por um material em consequência

da absorção dos raios X pode ser expressa, simplificadamente, por:

espligEhE ϕ+−ν=cin

equação [17]

representando h a constante de Planck, ν a frequência da radiação incidente, ligE a energia

de ligação do electrão ao átomo e espϕ uma função de trabalho do espectrómetro. O

produto νh corresponde à energia da radiação monocromática dos raios X incidentes.

Esta técnica analítica permite obter informação sobre a composição química

elementar da superfície do biomaterial, a qual influencia, designadamente, a adesão e a

proliferação celular (Redey et al., 2000).

Raios XRaios X

Page 109: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

40

A partir da determinação experimental da energia cinética dos electrões emitidos

por um material é possível calcular, recorrendo-se à equação [17], a energia de ligação dos

electrões aos átomos, a qual depende da vizinhança atómica e do estado de oxidação do

átomo.

A diferença entre a energia cinética de um electrão emitido por um átomo livre e a

emitida pelo mesmo átomo inserido num composto é utilizada na espectroscopia de

fotoelectrões X, para obter informação sobre a composição elementar e o estado de

oxidação dos diferentes elementos presentes numa amostra.

A fraca capacidade dos electrões emitidos para penetrar a matéria assegura que os

electrões detectados, através da análise por XPS, são originários de átomos das camadas

mais externas (1 a 25 nm) da superfície do sólido (Ratner e Porter, 1996).

A espectroscopia de fotoelectrões X tem tido ampla aplicação nas ciências

biomédicas, nomeadamente na análise de biomateriais, em estudos de adsorção de

proteínas e de adesão de células.

A sensibilidade da técnica (0,1 a 1 % atómica, Muster et al., 1990), a área de

material analisado e o facto de permitir a análise das amostras sem que estas sejam

destruídas, tem contribuído para a frequência com que esta técnica é utilizada (Ratner e

Porter, 1996).

2.1.3. Métodos de preparação do PMMA

Se a composição do cimento acrílico pouco mudou desde a sua introdução para

aplicação como biomaterial, já o mesmo não sucede com as técnicas usadas para a sua

preparação que evoluíram ao longo do tempo (Lewis, 1997).

Podem considerar-se diferentes métodos, simples e combinados, para misturar os

componentes líquidos e em pó do PMMA (Lewis, 2003).

Os métodos simples incluem, por exemplo, o método por mistura manual, com

utilização de ultra-sons, por centrifugação e por vácuo.

Page 110: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

41

O método por mistura manual, em sistema aberto, caracteriza-se pela adição dos

componentes ocorrer num recipiente de polipropileno ou de vidro.

No método com utilização de ultra-sons, após a mistura manual, a pasta é

submetida a ultra-sons durante cerca de 150 segundos.

O método por centrifugação caracteriza-se por a pasta obtida ser centrifugada numa

seringa, a uma velocidade entre 2300 a 4000 r.p.m., durante 30 a 180 segundos.

Os métodos de preparação por vácuo, variam muito consoante o dispositivo

utilizado, apresentando em comum a criação de vácuo (10 a 90 kPa) aquando da mistura do

pó e do líquido.

Um método combinado envolve, por exemplo, a mistura sob vácuo dos

constituintes e posterior utilização do aparelho de ultra-sons para obtenção da massa antes

do PMMA ser inserido na cavidade óssea.

As diferentes técnicas utilizadas na realização da mistura influenciam a

biocompatibilidade do biomaterial ao condicionarem as suas propriedades, designadamente

as mecânicas (Lewis, 2000; He et al., 2003; Jeffers et al., 2005).

Actualmente, a preparação sob vácuo é muito utilizada por ser muito eficaz na

eliminação de bolhas de ar do PMMA e consequente diminuição da porosidade

comparativamente a um cimento preparado à pressão atmosférica (Wixson, 1992; Smeds et

al., 1997; Horas et al., 2002; Ries, et al., 2006; Nedungayil, et al., 2006).

A diminuição da porosidade do cimento acrílico melhora determinadas

propriedades mecânicas do PMMA, nomeadamente a resistência à compressão e à fadiga.

Adicionalmente, a mistura sob vácuo diminui a exposição do pessoal de saúde ao MMA no

bloco operatório (Muller-Wille et al., 1997).

Apesar de existirem diferentes estudos (Lewis, 1999; Graham et al., 2000; Lewis,

2000; Dunne e Orr, 2001), nos quais são descritas as implicações da mistura sob vácuo nas

propriedades mecânicas do PMMA, não se encontrou na literatura consultada referência à

influência do método de mistura dos componentes sob vácuo na cinética de dissolução do

monómero e nas propriedades de superfície do cimento acrílico.

Page 111: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

42

Considerou-se, por isso, importante incluir igualmente a avaliação do efeito da

variação da pressão no método de preparação nos estudos de estabilidade físico-química.

2.1.4. Álcoois e hidrocarbonetos clorados

Actualmente, as artroplastias cimentadas do joelho e da anca podem permanecer no

organismo por períodos de tempo superiores a quinze anos (Hughes et al., 2003). Por isto,

os indivíduos portadores de próteses ficam expostos, pontual ou permanentemente, a uma

variedade de substâncias presentes quer no meio ambiente, quer no próprio local de

trabalho, que irão interagir com o biomaterial.

Sendo o MMA solúvel em alguns compostos utilizados habitualmente como

solventes e com expressão toxicológica, tais como álcoois e hidrocarbonetos clorados

(Tabela 2.1), colocou-se a questão de investigar o efeito na cinética de dissolução do MMA

e nas propriedades de superfície do PMMA da interacção in vitro dos referidos compostos

com o cimento acrílico.

No grupo dos álcoois considerou-se desde logo relevante a análise do efeito do

etanol. A exposição a este composto é relativamente frequente como resultado da ingestão

de bebidas alcoólicas e da sua inalação em produtos de consumo corrente, nomeadamente,

perfumes, cosméticos, produtos de limpeza e fármacos (Spiker e Morris, 2001).

Acresce, ainda, que o alcoolismo é considerado um factor de risco no

desenvolvimento da necrose do tecido ósseo (Gold e Cangemi, 1979; Matsuo et al., 1988;

Ritter et al., 1997; Dai et al., 2000; Maran et al., 2001; Yao et al., 2001). O consumo

crónico de etanol parece diminuir a quantidade de tecido ósseo, contribuindo para o

aumento da incidência de fracturas, em parte devido a uma inibição da função dos

osteoblastos (Chakkalakal et al., 2002).

O outro composto do grupo dos álcoois que pareceu interessante avaliar foi o

metanol que tem uma extensa aplicação como solvente na indústria.

O metanol é um composto frequentemente utilizado como solvente industrial de

tintas, lacas, vernizes e plásticos, como líquido anticongelante, combustível e desnaturante

do etanol.

Page 112: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

43

A absorção ocasional de metanol, por via inalatória, por indivíduos que aplicam

vernizes dissolvidos neste composto em ambientes fechados, é considerado um problema

toxicológico grave (Garrett e Osswald, 1986).

Os hidrocarbonetos clorados avaliados no presente trabalho foram o diclorometano

e o clorofórmio. São compostos muito utilizados a nível industrial, laboratorial e doméstico

(Woodman et al., 1998).

O diclorometano é muito utilizado como solvente para remoção de tintas, como

desengordurante (Randall, 1982) e na produção de plásticos, entre outras aplicações

(Snyder e Andrews, 1996).

A exposição ao diclorometano pode ocorrer nas áreas de trabalho que envolvam a

sua produção, bem como em indústrias em que é utilizado como solvente e como matéria

prima para a produção de outros produtos químicos (Klaassen, 1992; Stocker et al., 1997).

O clorofórmio foi dos primeiros anestésicos a ser utilizado nos humanos. Contudo,

a sua toxicidade hepática e renal, bem como as arritmias cardíacas que induzia, tornaram a

sua administração como anestésico inadequada (Snyder e Andrews, 1996). Continua, no

entanto, a ser muito utilizado como solvente, como agente de extracção e como produto

intermediário na manufactura de tintas e fármacos.

Alguns produtos de consumo corrente também contêm clorofórmio como é o caso

de algumas pastas de dentes, xaropes, colas e pesticidas (Harte et al., 1991).

A exposição ao clorofórmio ocorre ainda com a ingestão de água e nas piscinas

com água clorada. O cloro usado como desinfectante reage com compostos orgânicos

existentes na água formando-se o clorofórmio (Harte et al., 1991).

A exposição ao clorofórmio surge igualmente em áreas industriais e urbanas como

resultado da manufactura de papel, fumo do tabaco, combustão de plásticos e ainda pela

sua evaporação de rios poluídos e lagos.

No contexto que antecede desenvolveram-se os estudos experimentais de

estabilidade físico-química, realizados em diferentes etapas e recorrendo-se a diferentes

amostras de cimento acrílico e meios de incubação (Figura 2.7), cujos resultados são

apresentados ao longo das próximas secções.

Page 113: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

44

Figura 2.7. Estabilidade físico-química do cimento acrílico.

2.4. Efeito do envelhecimento do PMMA:- Cinética de dissolução do MMA (HPLC);- Propriedades de superfície (energia de superfície, XPS).

Amostras: placas e cilindros de PMMAMeio: PBS

2.3. Efeito da composição do meio de incubação e condições de conservação do PMMA: - Cinética de dissolução do MMA (HPLC).

Amostra: pó de PMMAMeios: PBS e D-MEM

2.5. Efeito da variação da pressão no método de preparação do PMMA:- Cinética de dissolução do MMA (HPLC);- Propriedades de superfície (energia de superfície).

Amostras: pó e placas de PMMAMeio: PBS

2.6. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados:- Cinética de dissolução do MMA (HPLC);- Propriedades de superfície (energia de superfície, XPS).

Amostras: placas e cilindros de PMMAMeios: PBS, soluções de álcoois (etanol , metanol) e hidrocarbonetos clorados (diclorometano, clorofórmio).

2.2. Método de quantificação do metilmetacrilato: - Validação do método analítico (HPLC).

Amostras: pó e placas de PMMAMeios: PBS e D-MEM

Capítulo IIEstabilidade Físico-Química do Cimento Acrílico

2.4. Efeito do envelhecimento do PMMA:- Cinética de dissolução do MMA (HPLC);- Propriedades de superfície (energia de superfície, XPS).

Amostras: placas e cilindros de PMMAMeio: PBS

2.3. Efeito da composição do meio de incubação e condições de conservação do PMMA: - Cinética de dissolução do MMA (HPLC).

Amostra: pó de PMMAMeios: PBS e D-MEM

2.5. Efeito da variação da pressão no método de preparação do PMMA:- Cinética de dissolução do MMA (HPLC);- Propriedades de superfície (energia de superfície).

Amostras: pó e placas de PMMAMeio: PBS

2.6. Efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados:- Cinética de dissolução do MMA (HPLC);- Propriedades de superfície (energia de superfície, XPS).

Amostras: placas e cilindros de PMMAMeios: PBS, soluções de álcoois (etanol , metanol) e hidrocarbonetos clorados (diclorometano, clorofórmio).

2.2. Método de quantificação do metilmetacrilato: - Validação do método analítico (HPLC).

Amostras: pó e placas de PMMAMeios: PBS e D-MEM

Capítulo IIEstabilidade Físico-Química do Cimento Acrílico

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CAPÍTULO II

45

aaa2.2. Método de quantificação do metilmetacrilato

A quantificação do monómero nas diferentes amostras analisadas ao longo de todo

o trabalho foi realizada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), baseando-se

num método descrito na USP 23/NF 18 (1995).

Tendo em conta que um método analítico envolve manipulações susceptíveis de

acumularem erros sistemáticos e/ou aleatórios foi necessário, para avaliar e interpretar com

confiança os resultados obtidos, validar o referido método de análise (Relacre, 2000).

2.2.1. Materiais e métodos

2.2.1.1. Reagentes e soluções

• Cimento acrílico (PMMA)

O cimento acrílico analisado foi o CMW 1 radiopaco obtido na Depuy CMW

(DePuy International Ltd.).

Cada embalagem de CMW 1 é constituída por um conjunto de dois componentes

(1.2.1.), um saco de polipropileno contendo os constituintes em pó (polimetilmetacrilato,

peróxido de benzoílo e sulfato de bário) e uma ampola contendo os componentes líquidos

(metilmetacrilato; N,N-dimetil-p-toluidina e hidroquinona).

A composição do CMW 1, expressa em percentagem massa por massa (m/m), é

apresentada na Tabela 2.2.

Tabela 2.2. Descrição da composição em % (m/m) do CMW 1.

Pó Líquido

PMMA 88,85

Peróxido de benzoílo 2,05

Sulfato de bário 9,10

Metilmetacrilato 98,215

N,N-dimetil-p-toluidina ≤ 0,816

Hidroquinona 0,002

Etanol 0,945

Ácido ascórbico 0,022

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

46

• Metilmetacrilato (MMA)

O monómero MMA p.a. (> 99 %; Mr1L− = 100,12; solubilidade = 16 g , a 20 ºC; d =

= 0,94 a 20 ºC) foi obtido na Merck.

• Soluções padrão de MMA

Solução-mãe padrão de calibração

A solução-mãe padrão de MMA foi preparada pesando correctamente 0,050 g de

MMA p.a. e diluindo com fase móvel (2.2.1.3.2.) para 50 mL (1 mL corresponde

aproximadamente a 1 mg de MMA padrão).

Soluções de calibração para o estudo da linearidade e gama de trabalho

As soluções padrão de MMA a 0,4; 0,8; 1,2; 1,6; 2,0; 3,2; 4,4; 5,6; 6,8; 8,0; 9,2; 10,4 e

11,6 µg 1mL− foram preparadas por diluição de 10, 20, 30, 40, 50, 80, 110, 140, 170, 200,

230, 260 e 290 µL de solução-mãe do padrão de calibração (1 mg 1mL− ) em 25 mL de

fase móvel.

Soluções padrão para os ensaios de recuperação

As soluções a 2,6; 6,6; 8,6; 12,6 e 16,6 µg 1mL− utilizadas nos ensaios de

recuperação foram preparadas por diluição de 120, 212, 332 e 452 µL da solução-mãe do

padrão de calibração (1 mg 1mL− ) em 20 mL de fase móvel.

• Reagentes utilizados em cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC)

Solução tampão fosfato monopotássico e fosfato dissódico

A solução tampão, fosfato monopotássico e fosfato dissódico, foi obtida pela

dissolução de 3,5 g de hidrogenofosfato de sódio p.a. (Na2HPO4) e 3,4 g de

dihidrogenofosfato de potássio p.a. (KH2PO4) em 1 L de água isenta de dióxido de carbono.

O pH da solução tampão foi ajustado ao valor de 3 utilizando-se ácido fosfórico p.a.

(H3PO4) a 85 %.

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CAPÍTULO II

47

Os compostos hidrogenofosfato de sódio, dihidrogenofosfato de potássio e ácido

fosfórico foram adquiridos na Merck.

Acetonitrilo

O acetonitrilo, de grau de pureza para cromatografia líquida (Lichrosolv), foi obtido

na Merck.

Água

A água desionizada foi obtida num desionizador Millipore (sistema Mili-Q., Water

purification System, Millipore).

• Meios utilizados para incubação do PMMA

PBS (Phosphate buffer saline)

O PBS é uma solução polielectrolítica tamponada a pH igual a 7,4. O PBS utilizado

(Tabela 2.3), sem cloretos de cálcio e magnésio, foi obtido na Gibco Invitrogen

Corporation.

Tabela 2.3. Composição do meio PBS.

Componen

te g 1L−

KCl 0,20

KH2PO 0,20 4

NaCl 8,00

Na2HPO 1,15 4

D-MEM (Dulbecco´s Modified Eagle Medium)

O D-MEM é um meio sintético em cuja formulação se incluem constituintes

básicos como a água, sais inorgânicos, hidratos de carbono (D-glucose), aminoácidos

essenciais e vitaminas. Contém ainda um indicador de pH (vermelho de fenol). A

composição detalhada do meio é apresentada na Tabela 2.4.

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

48

Tabela 2.4. Composição do meio D-MEM.

Aminoácidos mg 1L− Vitaminas mg 1L−

Cloreto de L-

arginina

84,00 D-pantotenato de cálcio 4,00

L-cistina 48,00 Cloreto de colina 4,00

L-glutamina 580,00 Ácido fólico 4,00

Glicina 30,00 I-inositol 7,20

Cloreto de L-

histidina

42,00 Nicotinamida 4,00

L-isoleucina 105,00 Cloreto de piridoxal 4,00

L-leucina 105,00 Riboflavina 0,40

Cloreto de

lisina.H2

146,00

O

Cloreto de tiamina 4,00

L-metionina 30,00

L-fenilalanina 66,00

L-serina 42,00

L-treonina 95,00

L-triptofano 16,00

L-tirosina 72,00

L-valina 94,00

Sais inorgânicos mg 1L− Outros compostos mg 1L−

CaCl2.2 H2 264,00 O D-glucose 4500,00

Fe(NO)3.9 H2 0,10 O Vermelho de fenol 15,00

KCl 400,00

MgSO4.7 H2 200,00 O

NaCl 6400,00

NaHCO 3700,00 3

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CAPÍTULO II

49

NaH2PO4.H2 141,00 O

O meio de cultura D-MEM foi suplementado no laboratório com uma mistura de

antibióticos de largo espectro, penicilina G (10000 U/mL) e estreptomicina (10000

µg/mL), L-glutamina a 2 × 110− mol 1L− e soro fetal de vitela estéril. O meio de cultura

assim preparado tinha uma concentração final, expressa em percentagem volume por

volume (V/V), de 1 % na mistura de antibióticos, 1 % em L-glutamina e 10 % em soro fetal

de vitela. A expressão das concentrações em % refere-se a volume por volume (V/V).

O meio de cultura D-MEM, a mistura de antibióticos, a L-glutamina e o soro fetal

de vitela foram adquiridos na Gibco Invitrogen Corporation.

2.2.1.2. Equipamento e material de laboratório

As pesagens foram executadas na balança analítica modelo Precisa 180 A

(sensibilidade igual a 410− g).

A filtração dos solventes, utilizados em HPLC, foi efectuada por um sistema de

vácuo, modelo DOA-V130-BN (Waters Millipore Corporation). Para a sua desgaseificação,

utilizou-se um aparelho de ultra-sons modelo Branson 5200 (Branson Ultrasonics Co).

A correcção do pH da solução tampão fosfato foi efectuada com auxílio de um

aparelho de pH, modelo GLP 22 (Crison).

A centrifugação das alíquotas das amostras analisadas foi efectuada numa

centrífuga modelo Eba II (Sotel).

O controlo da temperatura nas diversas experiências foi efectuado em estufa de

calor seco termostatizada (± 0,1 ºC), modelo AGITORB 160 E (Abalab), com agitação

orbital.

Os moldes de aço (Figura 2.8) utilizados na preparação do pó e placas de PMMA

foram construídos propositadamente nas Oficinas de Mecânica da Faculdade de Ciências

da Universidade de Lisboa. As faces do molde que contactam com o PMMA apresentam

superfícies lisas de modo a minimizarem a rugosidade da superfície das placas.

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

50

Figura 2.8. Moldes de aço utilizados para preparação das placas de PMMA.

Para obtenção das amostras em pó utilizou-se ainda um moinho de pulverização,

modelo Molinex 980.

Os estudos de cromatografia líquida de alta eficiência foram realizados num

cromatógrafo modelo Shimadzu (Shimadzu Corporation), composto por:

- bomba, modelo LC-6A;

- sistema controlador de bomba, modelo SCL-6A;

- detector de ultravioleta, modelo SPD-6A;

- unidade de processamento de dados (integrador), modelo C-R4A, acoplada a um

registador;

- injector automático, modelo SIL-6A;

- écran de raios catódicos.

Utilizou-se uma coluna de HPLC LiCrospher 100 RP-18, 125 × 4 cm, com

partículas de 5 µm e um sistema LiChroCart 250-4, ambos adquiridos na Merck.

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CAPÍTULO II

51

As análises por cromatografia gasosa-espectrometria de massa (GC-MS) foram

realizadas num cromatógrafo gasoso Hewlett-Packard 6890 com detector de massa

Hewlett-Packard 5973.

Utilizou-se uma coluna cromatográfica Hewlett-Packard, 5-fenilmetilsiloxano,

(referência: HP-5MS, comprimento igual a 30 m; diâmetro interno igual a 0,25 mm).

2.2.1.3. Metodologia experimental

2.2.1.3.1. Preparação das alíquotas do pó e placas de PMMA

Para obter o pó e placas de cimento acrílico, utilizaram-se diferentes lotes de CMW

1 radiopaco.

Para cada lote, todo o componente líquido foi misturado com a totalidade do pó

num almofariz de vidro (Figura 2.9.a), à temperatura ambiente (24-25 ºC), até se obter uma

massa moldável (Figura 2.9.b). A mistura dos componentes, realizada com cuidado para

minimizar a incorporação de ar na massa, demorou cerca de dois minutos. Utilizaram-se

moldes de aço para moldar a mistura de PMMA (Figura 2.9.c). Após polimerização do

cimento acrílico, destacaram-se as placas dos moldes (Figura 2.9.d).

a) b)

c) d)

a) b)

c) d)

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

52

Figura 2.9. Etapas da preparação do PMMA: a) mistura dos componentes líquidos com os componentes em pó, b) obtenção da massa moldável, c) a pasta é colocada nos moldes, d) após a polimerização do PMMA as placas são destacadas dos moldes.

Algumas das placas obtidas foram mecanicamente moídas e tamisadas (tamis, 500

µm). O pó de PMMA assim obtido foi dividido em alíquotas pesando cada uma

aproximadamente 1,75 g.

As restantes placas foram subdivididas em placas de menores dimensões (Figura

2.10.a). As placas de PMMA assim obtidas tinham uma espessura média igual a 1,14 ±

0,05 mm, um comprimento médio igual a 24,68 ± 0,24 mm e uma largura média igual a

19,55 ± 0,03 mm. Para determinar as dimensões das placas de cimento acrílico utilizou-se

uma craveira com uma sensibilidade igual a 2,0 × 210− mm (Figura 2.10.b).

Figura 2.10. a) Placas utilizadas nas experiências, b) Leitura das dimensões das placas com uma craveira.

2.2.1.3.2. Método analítico

O método de doseamento do monómero utilizado no decurso deste trabalho foi

adaptado da monografia “Methacrylic acid copolymer” (USP, 1995) recorrendo-se à

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência como técnica analítica.

a) b)a) b)

Page 122: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

53

Aos tempos pré-determinados retiraram-se alíquotas de 20 µL com auxílio de uma

micropipeta.

Após centrifugação e diluição apropriada, as amostras foram quantificadas por

HPLC, tendo sido observadas as seguintes condições experimentais:

- fase móvel: tampão fosfato (pH igual a 3) e acetonitrilo na proporção de 70 para

30, respectivamente. Os solventes foram filtrados através de membrana filtrante com poro

de diâmetro igual a 45 µm;

- fluxo da fase móvel igual a 1mL min−1

- detector de ultravioleta (comprimento de onda igual a 205 nm);

;

- volume de injecção igual a 20 µL.

O método analítico utilizado nos diferentes ensaios baseou-se numa cromatografia

de fase reversa, a qual consiste numa fase estacionária de natureza apolar e numa fase

móvel de natureza polar. A composição da fase móvel, manteve-se constante ao longo do

tempo (método isocrático).

Para quantificação do monómero, nas soluções em análise, recorreu-se ao método

de calibração com padrão externo (Snyder et al., 1997). Em análise quantitativa, a

calibração indica um processo pelo qual a resposta dum sistema de medida se relaciona

com uma concentração ou com uma quantidade de substância conhecida (Relacre, 2000).

O método referido baseou-se na construção de curvas de calibração (área de

integração em função da concentração), utilizando-se soluções padrão de MMA.

As soluções padrão foram preparadas com concentrações conhecidas de MMA.

Após injectar um volume fixo (20 µL) de uma solução padrão as áreas dos picos foram

representadas em função da concentração da solução. Os padrões são designados por

externos uma vez que foram preparados e analisados em cromatogramas diferentes dos

das amostras.

As amostras com concentrações desconhecidas de monómero foram injectadas e

analisadas do mesmo modo determinando-se a concentração do MMA nas amostras por

interpolação no gráfico de calibração.

Page 123: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

54

Por rotina, utilizaram-se seis soluções padrão de concentração adequada e

rigorosamente conhecida de MMA em fase móvel. Os padrões seleccionados para fazerem

parte das curvas de calibração foram 1,2; 2,0; 4,4; 6,8; 8,0 e 10,4 µg de MMA por mililitro

de fase móvel.

A linearidade das curvas foi avaliada através da sua representação gráfica e da

análise do coeficiente de correlação (Anexo II).

A concentração de MMA nas amostras analisadas por HPLC ( 0x ), expressa em µg

1mL− , foi calculada através da seguinte equação:

b

a00

−=

yx equação [18]

sendo a e b, respectivamente, os coeficientes ordenada na origem e declive da recta de

regressão de y em x, calculados pelo método dos mínimos quadrados (Anexo II), 0y

representa o valor do sinal instrumental, ou seja, as áreas dos picos.

O integrador do aparelho de HPLC apresenta as áreas dos picos em microvolts

segundo (µV s), correspondendo a área de cada pico ao integral da curva de variação do

sinal integrado do detector com o tempo.

A quantidade de MMA libertada em PBS ou em D-MEM, expressa em

percentagem (quantidade de MMA libertado nos meios por 100 g de PMMA), foi

calculada através da seguinte equação:

[ ] [ ]

a

di

1f

MMA100MMA

mf××

= equação [19]

representando [ ]1fMMA a quantidade de MMA libertado nos meios por 100 g de PMMA,

[ ]iMMA a concentração de MMA nas amostras analisadas por HPLC, expressa em µg

1mL− , d

f o factor de diluição e am a massa da amostra (pó ou placa) de PMMA.

A quantidade de MMA libertada em PBS, expressa em µg mm−2 (quantidade de

MMA libertado nos meios por mm2

de área de PMMA), foi calculada através da seguinte

equação:

[ ] [ ]a

di

2f

MMA100MMA

af××

= equação [20]

Page 124: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

55

representando [ ] 2fMMA a quantidade de MMA libertado nos meios (µg) por mm2

[ ]iMMA

de

PMMA, a concentração de MMA nas amostras analisadas por HPLC, expressa

em µg 1mL− , d

f o factor de diluição e aa a área da amostra (placa) de PMMA.

2.2.1.3.3. Validação do método analítico

A validação do método de análise do metilmetacrilato baseou-se nas normas ISO

8466-1 e 8466-2 (1994), Guia Relacre 13 (2000) e USP 28 (2005).

Os parâmetros analíticos considerados neste estudo foram: selectividade,

linearidade e gama de trabalho, limiares analíticos (limite de detecção e quantificação),

precisão e exactidão.

a) Selectividade

A selectividade foi avaliada através de dois testes.

Um dos testes baseou-se na interpretação e comparação de cromatogramas obtidos

por HPLC. Primeiro realizou-se a análise de uma amostra de D-MEM incubada durante 1

hora, a 37 ºC, com pó de PMMA e depois analisou-se a mesma amostra, mas reforçada

com uma alíquota de 60 µL da solução-mãe padrão do monómero (1 mg 1mL− ) correspondente

a uma concentração de MMA no meio igual a 2,4 µg 1mL− .

O segundo teste envolveu o recurso a outra técnica analítica, a cromatografia de

fase gasosa - espectrometria de massa (GC-MS).

Analisou-se uma solução padrão do monómero e uma fracção do eluente recolhido

do aparelho de HPLC no período de tempo correspondente ao tempo de retenção do MMA.

O eluente analisado foi obtido a partir de uma amostra de PBS exposta durante 4 horas ao

pó de PMMA. As análises foram efectuadas no Laboratório da Polícia Científica (Lisboa).

A análise por GC-MS baseou-se num método de doseamento do MMA, descrito

por Willert e Frech (1973), tendo-se observado as seguintes condições experimentais:

- fluxo do gás de arraste (hélio) igual a 1,1 mL min 1− ; método isocrático;

temperatura igual a 60 ºC;

- volume de injecção igual a 1 µL;

- temperatura do injector igual a 280 ºC;

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

56

- detector de massa (temperatura igual a 300 ºC); impacto electrónico (EI).

b) Linearidade e gama de trabalho

O estudo da linearidade e gama de trabalho, realizado durante a fase de validação

do método, envolveu a análise de 13 soluções padrão de MMA (0,4; 0,8; 1,2; 1,6; 2,0; 3,2;

4,4; 5,6; 6,8; 8,0; 9,2; 10,4 e 11,6 µg 1mL− ).

Analisaram-se igualmente 3 soluções constituídas unicamente pela fase móvel

(2.2.1.3.2.) que correspondiam ao branco das soluções padrão.

Num primeiro ensaio analisaram-se as soluções 0,4 e 11,6 µg 1mL− em dez

réplicas independentes, para avaliar a gama de trabalho do método (Anexo I).

Como a diferença entre as variâncias foi significativa no intervalo de

concentrações referido (0,4 - 11,6 µg 1mL− ), num segundo ensaio analisou-se a solução

padrão 10,4 µg 1mL− em dez réplicas independentes.

Após se estabelecer o intervalo de linearidade (0,4 - 10,4 µg 1mL− ), calculou-se a

distribuição dos valores normalizados (Anexo III). Como os padrões 0,4 e 0,8 µg 1mL− ,

apresentavam valores normalizados inferiores a 25 % analisou-se a solução 1,2 µg 1mL−

em dez réplicas independentes para testar novamente a homogeneidade de variâncias entre

os padrões 1,2 e 10,4 µg 1mL− .

As restantes soluções padrão de monómero (0,8; 1,6; 2,0; 3,2; 4,4; 5,6; 6,8; 8,0 e

9,2 µg 1mL− ) foram injectadas uma única vez.

c) Ensaios de recuperação

Para estudar a influência dos constituintes do PMMA ou dos meios de incubação

(PBS e D-MEM) na determinação do MMA realizaram-se ensaios de recuperação em

amostras de PBS ou D-MEM expostas a placas de PMMA.

Duas placas de PMMA, em ensaios independentes, foram expostas durante 1 hora,

a 37 ºC, a 25 mL de meio de incubação. Uma das placas de PMMA foi incubada em PBS e

a outra em D-MEM.

Page 126: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

57

Cada uma das amostras, após incubação, foi analisada em triplicado para

quantificação do monómero.

Após diluição adequada, 1 mL de cada amostra foi misturado com 1 mL das

soluções padrão 2,6; 6,6; 8,6; 12,6 e 16,6 µg 1mL− correspondendo, após mistura, às

concentrações 1,3; 3,3; 4,3; 6,3 e 8,3 µg 1mL− .

As amostras suplementadas com MMA foram analisadas (em triplicado) por HPLC

calculando-se a percentagem de recuperação (R) através da seguinte equação:

PP

AARR

VCVCVCR −

= equação [21]

representando CR a concentração de analito na amostra fortificada, CA a concentração de

analito na amostra não fortificada, CP a concentração de analito na solução de fortificação,

VR o volume total da amostra utilizada no ensaio (mL), VA o volume de amostra não

fortificada utilizada no ensaio (mL) e VP

o volume da solução de fortificação utilizada no

ensaio (mL).

d) Limiares analíticos

Determinaram-se os limites de detecção e quantificação do método analítico

através dos valores dos parâmetros da equação da recta obtida após o estudo da

linearidade e da gama de trabalho do método (2.1.1.2.3.).

e) Precisão

A precisão envolveu a avaliação da repetibilidade do método, tendo-se realizado

dois tipos de testes:

Teste A - Este teste corresponde à análise de três amostras de PBS e de três

amostras de D-MEM expostas a 1,75 g de pó de PMMA cada uma e à análise de três

amostras de PBS e de três amostras de D-MEM expostas cada uma a uma placa de PMMA.

Todas as amostras referidas foram incubadas a 37 ºC, durante 24 horas, tendo-se

retirado uma alíquota de 20 µL aos tempos 0, 1 e 24 horas para doseamento do MMA por

HPLC, após diluição apropriada.

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

58

Teste B - Este teste corresponde a dez injecções de uma mesma alíquota de 20 µL

recolhida de uma amostra de 25 mL de PBS e de outra amostra de D-MEM expostas

durante 24 h (a 37 ºC) a 1,75 g de pó de PMMA.

f) Exactidão

Para avaliar a exactidão do método estudaram-se as concentrações 0,009; 0,5 e 2 g

de monómero libertado em PBS ou D-MEM por 100 g de PMMA, representativas de toda

a gama de valores experimentais.

O estudo de cada concentração envolveu a determinação da concentração inicial de

monómero (xi) nas diferentes amostras de PBS ou D-MEM expostas ao pó ou às placas de

cimento acrílico e a determinação da concentração de monómero (xf), após se terem

reforçado as mesmas amostras com a quantidade de MMA padrão (xp

Para estudar a concentração mais baixa (0,009 %), partiu-se de 3 amostras de PBS e

de 3 amostras de D-MEM, nas quais não se detectou a libertação de MMA, após exposição

a placas de PMMA. Cada amostra foi reforçada com uma quantidade de MMA padrão

adequada (x

) necessária para

perfazer a concentração de MMA em estudo.

p) de modo a obterem-se no final amostras com uma concentração em MMA

próxima de 0,009 % repetindo-se então, nessas amostras, a determinação do teor de MMA

(xf

Para estudar a concentração de MMA 0,1 % utilizaram-se três amostras de PBS e

três amostras de D-MEM expostas durante uma hora a placas de PMMA, enquanto que

para estudar a concentração de MMA igual a 2 % utilizaram-se três amostras de PBS e três

de D-MEM expostas durante trinta minutos a pó de PMMA.

).

Após a quantificação do teor em MMA presente nas mesmas (xi), reforçou-se cada

amostra com uma quantidade de MMA padrão adequada (xp), de modo a obterem-se

amostras de PBS ou D-MEM com uma concentração em MMA próxima de 0,1 % ou de

2 %. Repetiu-se em todas as amostras a determinação do teor em MMA (xf

).

Page 128: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

59

2.2.2. Resultados e discussão

2.2.2.1. Validação do método analítico

A metodologia de validação do método analítico implicou a avaliação dos

parâmetros selectividade, linearidade e gama de trabalho, limiares analíticos (limite de

detecção e quantificação), precisão e exactidão. Utilizaram-se amostras em pó e placas de

PMMA e os meios de incubação PBS e D-MEM.

2.2.2.1.1. Selectividade

Para avaliação da selectividade do método analítico realizaram-se dois tipos de

testes. O procedimento descrito é frequentemente recomendado, para assegurar a

selectividade de um método, que é um parâmetro de muito difícil avaliação (Snyder et al.,

1997).

Um dos testes baseou-se na análise de uma amostra de D-MEM, exposta a pó de

PMMA, durante 1 hora, a 37 ºC (Figura 2.11) e na avaliação posterior (Figura 2.12) da

mesma amostra reforçada com uma alíquota da solução-mãe padrão de MMA

(correspondente a uma concentração de monómero no meio igual a 2,4 µg 1mL− ). Ambas

as análises foram realizadas por HPLC.

Figura 2.11. Cromatograma (HPLC) de uma amostra de D-MEM após exposição durante 1 h

ao pó de PMMA.

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ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

60

Figura 2.12. Cromatograma (HPLC) de uma amostra de D-MEM exposta durante 1 h ao pó de PMMA e após suplementação com MMA padrão.

A suplementação da amostra de D-MEM com o monómero provocou um

incremento da área do pico de absorção do composto não se observando o aparecimento de

qualquer pico noutro tempo de retenção (Figura 2.12) concluindo-se, por isso, que se

doseou o MMA nas amostras de D-MEM.

O segundo teste envolveu uma análise por GC-MS, com o objectivo de demonstrar

que os resultados obtidos foram provenientes do monómero dissolvido e não devido a

outro componente do PMMA ou constituinte do PBS ou D-MEM.

Analisou-se uma fracção do eluente recolhido do aparelho de HPLC no período de

tempo correspondente ao tempo de retenção do MMA e uma solução padrão do

monómero.

Os espectros de massa obtidos (Figura 2.13) permitiram verificar que o espectro de

massa do padrão, correspondia ao do componente detectado na amostra não existindo outro

composto co-eluente com o MMA (Bettencourt et al., 2000).

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CAPÍTULO II

61

Figura 2.13. Espectros GC-MS: a) do componente isolado a partir do HPLC, correspondente ao tempo de retenção do MMA, de uma solução de PBS após 4 h de exposição ao pó de cimento acrílico e b) de uma solução MMA padrão.

Os ensaios realizados sugerem que o método analítico é selectivo para o

doseamento do monómero nos meios PBS e D-MEM.

a)

b)

a)

b)

Page 131: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

62

2.2.2.1.2. Linearidade e gama de trabalho

Para avaliar o intervalo de linearidade da curva de calibração e a gama de trabalho

do método prepararam-se 13 soluções padrão de MMA em fase móvel com concentrações

iguais a 0,4; 0,8, 1,2, 1,6; 2,0; 3,2; 4,4; 5,6; 6,8; 8,0; 9,2; 10,4 e 11,6 µg 1mL− .

Os padrões foram preparados após realização de ensaios preliminares nos quais se

quantificaram diferentes concentrações de MMA obtidas com várias amostras de PMMA,

de modo a abranger as concentrações do monómero esperadas nos ensaios de dissolução.

Analisaram-se igualmente três soluções constituídas apenas por fase móvel, nas

quais não se detectou o aparecimento de qualquer pico após injecção no HPLC (Figura

2.14).

Figura 2.14. Cromatograma de uma injecção de fase móvel.

Na Figura 2.15 apresenta-se um cromatograma típico obtido com uma solução

padrão de MMA (3,2 µg 1mL− ) onde se observa que o monómero é eluído a um tempo de

retenção aproximadamente igual a dez minutos.

Figura 2.15. Cromatograma de uma solução padrão de MMA (3,2 µg 1mL− ).

MMAMMA

Page 132: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

63

A gama de trabalho foi avaliada pelo teste de homogeneidade de variâncias (Anexo

I).

Num primeiro ensaio utilizaram-se 13 pontos de calibração, tendo-se analisado os

padrões correspondentes à solução mais diluída (0,4 µg 1mL− ) e à solução padrão mais

concentrada (11,6 µg 1mL− ) em dez réplicas independentes.

Calcularam-se as variâncias ( 2S ) associadas a cada solução padrão (Tabela 2.5)

para examinar se existiam diferenças significativas entre elas.

Tabela 2.5. Variância ( )2S calculada para as dez réplicas independentes das soluções padrão 0,4; 10,4 e 11,6 µg mL−1

.

[MMA] / µg mL 2S−1 , (N = 10)

0,4 1,22 × 610

10,4 5,62 × 610

11,6 5,49 × 710

Observou-se que o valor teste (PG) relativo às soluções padrão 0,4 e 11,6 µg 1mL−

1mL−

foi superior ao valor de F tabelado (Tabela 2.6), donde se concluiu que as diferenças entre

as variâncias foram significativas, analisando-se, por isso, a solução padrão 10,4 µg

em dez réplicas independentes (Tabela 2.5).

Tabela 2.6. Valor teste (PG) das diferentes soluções padrão de MMA e valor F (valor tabelado de Fisher/Snedecor).

PG F (0,01; 9; 9)

24,0/4,10S 4,62 5,4

24,0/6,11S 45,1 5,4

Page 133: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

64

Como o valor teste (PG) para os padrões 0,4 e 10,4 µg 1mL− foi inferior ao valor

de F tabelado, (Tabela 2.6) concluiu-se que a diferença de variância entre os padrões

referidos não era significativa para um intervalo de confiança de 99 % e que a gama de

trabalho do método podia estar compreendida entre 0,4 e 10,4 µg 1mL− .

Após ter sido estudada a gama de trabalho do método, iniciou-se a avaliação do

intervalo de linearidade, compreendido entre os valores 0,4 a 10,4 µg 1mL− , através da

representação gráfica dos resultados experimentais, do cálculo do coeficiente de correlação

(Anexo II) e da determinação dos valores normalizados (Anexo III).

Da representação gráfica da curva de calibração (área de pico versus concentração),

apresentada na Figura 2.16, resulta a previsão de que os resultados se correlacionam

através de uma função polinomial do primeiro grau (y = a + bx).

y = (7,93x - 1,55) × 104

r = 0,9996

0,01,02,03,04,05,06,07,08,09,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0

[MMA]/µg mL−1

(áre

a) ×

10−5

Figura 2.16. Curva de calibração (área vs concentração) e respectiva equação da recta (y = = bx + a) para o intervalo de linearidade 0,4 a 10,4 µg 1mL− .

Os parâmetros de regressão linear dos resultados (Tabela 2.7) - declive (b), desvio

padrão do declive, ordenada na origem (a), desvio padrão da ordenada na origem,

coeficiente de correlação (r) e desvio padrão residual da recta ( xyS / ) - foram determinados

a partir do método dos mínimos quadrados (Anexo II).

Page 134: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

65

Tabela 2.7. Parâmetros da regressão linear para o intervalo de linearidade 0,4 a 10,4 µg 1mL− .

Intervalo de linearidade

(N = 12) a b r xyS /

(0,4 - 10,4 µg 1mL− )

-1,19 × 410

± 3,52 × 310

7,85 × 410

± 6,58 × 210

0,999

8,11 × 310

Embora no intervalo de linearidade estudado o coeficiente de correlação (r) fosse

superior a 0,995, indicando existir uma elevada correlação entre as variáveis, observou-se,

para os níveis de concentração 0,4 e 0,8 µg 1mL− , valores normalizados inferiores a 25 %

(Figura 2.17) do valor experimental com melhor correlação. Por esta razão, o intervalo de

linearidade foi reduzido para os valores compreendidos entre 1,2 e 10,4 µg 1mL− .

40

50

60

70

80

90

100

110

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

[MMA]/µg mL−1

valo

r nor

mal

izad

o/%

Figura 2.17. Distribuição dos valores normalizados para o intervalo de concentrações 0,4 a

10,4 µg 1mL− .

Testou-se novamente a homogeneidade de variâncias entre os padrões 1,2 e 10,4 µg 1mL− . Observou-se que o valor teste (PG) relativo às soluções referidas foi inferior ao

valor F tabelado (Tabela 2.8) concluindo-se, assim, que a diferença de variâncias entre os

padrões referidos não era significativa para um intervalo de confiança igual a 99 %.

Page 135: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

66

Tabela 2.8. Valor teste (PG) das soluções padrão de MMA testadas (1,2 e 10,4 µg 1mL− ) e valor F (valor tabelado de Fisher/Snedecor).

PG F (0,01; 9; 9)

22,1/4,10S 4,56 5,4

Na Figura 2.18 são representados os resultados para o intervalo 1,2 a 10,4 µg 1mL−

e na Tabela 2.9 os parâmetros de regressão linear correspondentes ao intervalo de

concentrações referido.

y = (7,89x - 1,25) × 104

r = 0,9995

0,01,02,03,04,05,06,07,08,09,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0

[MMA]/µg mL−1

(áre

a) ×

10−5

Figura 2.18. Curva de calibração (área vs concentração) e respectiva equação da recta (y = = bx + a) para o intervalo de linearidade 1,2 a 10,4 µg 1mL− .

Tabela 2.9. Parâmetros da regressão linear para o intervalo de linearidade 1,2 a 10,4 µg 1mL− .

Intervalo de linearidade (N = 10)

a

b

r

xyS /

CVm /

% PG

F

Valor

normalizado /%

1,2 -10,4 µg mL

−1 −1,25 × 10

± 4,98 × 10

4

3 7,98 × 10

± 8,16 × 10

4

2 0,999

8,06

× 10

3

2,0

3,5

5,6

90,8 - 101,7

Page 136: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

67

A linearidade do método foi também avaliada através de um modelo estatístico, o

teste de Fisher-Snedcor (Anexo IV). Verificou-se (Tabela 2.9) que o valor teste (PG)

calculado (3,5) foi inferior ao valor F tabelado (5,6), permitindo confirmar que a função de

calibração era linear, no intervalo de concentrações estudado, para um intervalo de

confiança igual a 95 %.

A partir do desvio padrão residual ( xyS / ), que expressa a dispersão dos valores do

sinal instrumental em torno da curva de calibração, calculou-se o coeficiente de variação

do método (CVm

) que foi inferior a 5 % (Tabela 2.9).

2.2.2.1.3. Ensaios de recuperação

Para verificar se os diversos compostos existentes na matriz do cimento acrílico, ou

que entram na constituição dos meios de incubação, interferiam na determinação do MMA,

calculou-se a percentagem de recuperação do referido composto em amostras de PBS ou

D-MEM expostas durante 1 hora a placas de PMMA. Os resultados apresentados na Tabela

2.10 referem-se a três injecções de cada amostra de PBS ou D-MEM expostas durante 1

hora a uma placa de PMMA suplementadas com diferentes soluções padrão de MMA.

Tabela 2.10. Percentagens médias de recuperação do MMA.

(% de recuperação)

[MMA]/µg mL PBS −1 D-MEM

1,3 93,5 ± 0,9 92,2 ± 0,4

3,3 92,9 ± 0,4 92,1 ± 0,1

4,3 94,4 ± 6,2 92,8 ± 2,9

6,3 100,6 ± 3,5 99,2 ± 3,5

8,3 94,0 ± 0,1 93,1 ± 0,1

Verificou-se que as percentagens de recuperação em PBS variaram entre 92,9 ± 0,4

e 100,6 ± 3,5 e que em D-MEM variaram entre 92,1 ± 0,1 e 99,2 ± 3,5. Os valores

referidos, não diferindo mais de 10 % em relação ao valor teórico, sugerem que nem os

constituintes da matriz do PMMA, nem os dos meios de incubação, interferiam

Page 137: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

68

significativamente no doseamento do monómero não se justificando, por isso, a realização

do estudo da linearidade em PBS ou D-MEM.

2.2.2.1.4. Limiares analíticos

Os limites de detecção e de quantificação, calculados a partir da razão entre o

desvio padrão residual da curva de calibração e o declive da mesma (equações [1] e [2],

2.1.1.2.3.) foram iguais a 0,34 e 1,02 µg 1mL− , respectivamente.

Num trabalho realizado por Gentil et al. (1993) é referido que a concentração de

monómero no plasma, dois minutos após a inserção do PMMA, é igual a 5,0 ± 1,3 µg 1mL− no acetábulo e igual a 1,9 ± 0,6 µg 1mL− no fémur. Assim, os valores dos limites de

detecção e de quantificação calculados sugerem que o método analítico poderá,

eventualmente, ser utilizado para doseamento do MMA no plasma.

2.2.2.1.5. Precisão

A precisão de um método analítico é um termo geral que pretende avaliar a dispersão

dos resultados entre ensaios independentes, repetidos sobre uma mesma amostra, amostras

semelhantes ou padrões, em condições definidas.

No decurso da investigação, considerou-se de maior relevância avaliar a

repetibilidade a qual, segundo a USP (2005), para grande número de aplicações, é o

critério mais significativo de avaliação.

Para determinar a repetibilidade do método, efectuaram-se dois tipos de ensaios, em

PBS e em D-MEM com pó e placas de PMMA, dado ser mais realista estudar a precisão

sobre amostras para minimizar efeitos de matriz (Relacre, 2000).

Num dos ensaios (Teste A), avaliou-se a repetibilidade através da análise de três

amostras de pó e de três placas, incubadas separadamente, visando reflectir a dispersão

entre as diferentes amostras de PMMA.

No outro ensaio (Teste B), avaliou-se a repetibilidade das injecções nos dois tipos de

meios de incubação avaliados.

A repetibilidade foi expressa através da média, desvio padrão e coeficiente de

variação (Anexo VI).

Page 138: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

69

Os resultados da repetibilidade referentes às diferentes amostras de PBS e D-MEM

expostas durante 24 h, ao pó e a placas de cimento acrílico (Teste A), são apresentados nas

Tabelas 2.11 e 2.12, respectivamente

Tabela 2.11. Resultados experimentais do teste de repetibilidade (Teste A) realizado a partir de diferentes amostras de PBS e D-MEM, expostas durante 24 h ao pó de cimento acrílico.

TESTE A

Pó (N = 3)

PBS D-MEM

t/h [MMA]/% CV/% [MMA]/% CV/%

0 (9,5 ± 1,4) × 210− 14,4 (9,2 ± 1,4) × 210− 15,6

1 1,91 ± 0,29 15,4 1,96 ± 0,29 14,9 24 2,77 ± 0,35 12,7 2,66 ± 0,34 12,8

Tabela 2.12. Resultados experimentais do teste de repetibilidade (Teste A) realizado a partir de diferentes amostras de PBS e D-MEM, expostas durante 24 h a placas de cimento acrílico.

TESTE A

Placa (N = 3)

PBS D-MEM

t/h [MMA]/% CV/% [MMA]/% CV/%

0 (8,3 ± 0,29) × 310− 3,5 (8,4 ± 0,21) × 310− 2,5

1 (4,9 ± 0,30) × 210− 6,9 (4,9 ± 0,28) × 210− 5,8

24 (9,0 ± 0,68) × 210− 7,6 (9,3 ± 0,33) × 210− 3,6

Não existe diferença significativa na precisão comparando os resultados entre as

amostras incubadas em PBS e em D-MEM. Pelo contrário, observa-se que os resultados

são menos precisos para as amostras incubadas com pó (valores de coeficiente de variação

compreendidos entre 12,7 e 15,6 %, Tabela 2.11) do que para as amostras incubadas com

placas (valores de coeficiente de variação compreendidos entre 7,6 e 2,5 %, Tabela 2.12).

Page 139: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

70

Os factores que podem contribuir para a má precisão dos resultados incluem a

técnica de preparação das amostras, a reprodutibilidade instrumental, a má resolução do

pico e o método de calibração (Snyder et al., 1997).

Após ter sido demonstrada a linearidade e selectividade do método, correlacionou-

-se a dispersão, em particular com o modelo de estudo utilizado.

Referindo Shah et al. (1992) que o limite máximo a considerar para este tipo de

estudos é um valor de coeficiente de variação igual ou inferior a 15 %, utilizou-se o pó nos

estudos iniciais de estabilidade físico-química do PMMA, atendendo a que este era o

modelo que mimetizava as condições utilizadas nos estudos celulares já referidos (Vale et

al., 1997) e que estiveram na génese do presente trabalho.

Sendo o pó um factor de dispersão, devido à dificuldade em obter amostras com

uma área superficial idêntica, preferiram-se as placas, numa fase posterior do trabalho, por

constituírem um modelo de mais fácil caracterização.

Relativamente à repetibilidade da técnica de injecção, avaliada através do Teste B,

o método demonstrou ser preciso, quer em PBS, quer em D-MEM, para qualquer um dos

modelos estudados (pó ou placa), conforme ilustrado na Tabela 2.13.

Tabela 2.13. Resultados experimentais do teste de repetibilidade (Teste B), realizado a partir de uma mesma alíquota diluída de uma mesma amostra de PBS ou D-MEM incubada durante 24 h com pó de PMMA.

TESTE B

Pó (N = 10)

PBS D-MEM

[MMA]/% CV/% [MMA]/% CV/%

2,75 ± 0,14 4,9 2,67 ± 0,12 4,6 TESTE B

Placa (N = 10)

PBS D-MEM

[MMA]/% CV/% [MMA]/% CV/%

0,097 ± 0,005 5,5 0,093 ± 0,0054 2,5

Page 140: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

71

2.2.2.1.6. Exactidão

A exactidão de um método, definida como uma medida da proximidade entre o

valor obtido e o valor real (USP, 2005), é geralmente expressa através do viés experimental

e do viés estatístico global (Anexo V). Os resultados obtidos em PBS e D-MEM são

apresentados nas Tabelas 2.14 e 2.15, respectivamente.

A percentagem de recuperação do monómero em PBS (Tabela 2.14) estava

compreendida entre 88,75 e 97,58 % e em D-MEM (Tabela 2.15) entre 88,04 e 101,20 %.

Tabela 2.14. Resultados experimentais: x i, [MMA] inicial na amostra; xp, [MMA] padrão adicionada; xr, [MMA] a recuperar; xf, [MMA] encontrada; (xf/xr

) × 100, percentagem de recuperação e xd, viés experimental para os ensaios de recuperação realizados nos níveis de concentração de 0,009; 0,1 e 2,0 % em PBS.

([MMA] × 102 x)/% i × 102 x/% p × 102 x/%

r × 102 x/% f × 102 (x/%

f/xr x) × 100/% d/%

0,90

0 0 0

0,92 0,92 0,92

0,92 0,92 0,92

0,82 0,85 0,89

89,13 92,39 96,74

10,87 7,61 3,26

10

5,35 5,39 5,34

5,01 5,01 5,01

10,36 10,40 10,35

9,47 9,23 9,64

91,40 88,75 93,14

8,60 11,25 6,86

200

49,7 49,7 49,4

148 148 148

197,7 197,7 197,4

189,2 202,6 178,1

95,70 97,58 90,22

4,30 2,42 9,78

Tabela 2.15. Resultados experimentais: x i, [MMA] inicial na amostra; xp, [MMA] padrão adicionada; xr, [MMA] a recuperar; xf, [MMA] encontrada; (xf/xr) × 100, percentagem de recuperação exd

, viés experimental para os ensaios de recuperação realizados nos níveis de concentração de 0,009; 0,1 e 2,0 % em D-MEM.

([MMA] × 102 x)/% i × 102 x/% p × 102 x/%

r × 102 x/% f × 102 (x/%

f/xr x) × 100/% d/%

0,90

0 0 0

0,92 0,92 0,92

0,92 0,92 0,92

0,93 0,81 0,85

101,20 88,04 92,39

2,20 11,96 7,61

10

5,24 5,32 5,28

5,01 5,01 5,01

10,20 10,31 10,34

9,44 9,19 9,60

92,55 89,14 92,84

7,45 10,86 7,16

200 49,7 49,5 48,2

148 148 148

197,7 197,5 196,2

184,2 189,1 191,0

93,17 95,75 97,35

6,83 4,25 2,65

Page 141: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

72

Não houve diferença estatisticamente significativa (P< 0,05) entre os viés

experimentais (xd

Como foram observados valores semelhantes de recuperação entre os três grupos

de diferentes concentrações e entre os dois tipos de meios, os resultados das dezoito

análises foram tratadas estatisticamente na totalidade. Assim, a exactidão do método teve

um distanciamento médio em relação ao valor esperado igual a 6,74 ± 2,08 %, o que se

traduziu num viés estatístico global (nível de confiança de 95 %) igual a 6,59 %.

) calculados para as análises realizadas em PBS (Tabela 2.14) e em D-

-MEM (Tabela 2.15).

Para o doseamento do teor de princípio activo numa forma farmacêutica,

estabelece-se que o viés experimental para cada concentração analisada não deverá

apresentar um valor superior a 5 %. O limite é alargado para 15 % para métodos analíticos

utilizados para quantificação de fármacos e metabolitos em matrizes biológicas (Shah et

al., 1992). Como todas as concentrações estudadas apresentaram um viés experimental

inferior a 15 % e sendo o valor do viés estatístico global relativamente baixo, concluiu-se

que a exactidão do método era satisfatória para avaliar o teor de MMA dissolvido em PBS

e em D-MEM.

Em síntese, a validação do método de quantificação do metilmetacrilato nas

condições avaliadas permite concluir que:

- o método foi selectivo para o doseamento do monómero nos meios PBS e D-

-MEM;

- o método mostrou ser linear para o intervalo de concentrações compreendido

entre os valores 1,2 e 10,4 µg 1mL− ;

- não foi necessária a realização do estudo da linearidade em PBS ou D-MEM, uma

vez que os ensaios de recuperação mostraram que nem os constituintes da matriz do

PMMA, nem os dos meios de incubação, interferiram significativamente no doseamento

do monómero;

- o limite de detecção e de quantificação foram iguais a 0,34 e 1,02 µg 1mL− ,

respectivamente;

- o método foi menos preciso para as amostras incubadas com pó do que para as

amostras incubadas com placas, não se tendo observado diferença na precisão dos

resultados com a diferente composição do meio de incubação;

Page 142: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

73

- a exactidão do método foi satisfatória para avaliar a concentração de MMA nas

amostras analisadas.

2.3. Efeito da composição do meio de incubação e condições de

conservação do PMMA na cinética de dissolução do MMA

Os estudos de cinética de dissolução do monómero iniciaram-se pela avaliação do

efeito da composição do meio e condições de conservação do PMMA.

O estudo foi realizado com pó de PMMA, utilizando-se os meios PBS e D-MEM

como meios de incubação.

2.3.1. Materiais e métodos

2.3.1.1. Reagentes e soluções As características e origem do cimento acrílico, dos meios PBS e D-MEM e dos

reagentes utilizados em HPLC são as referidas em 2.2.1.1.

2.3.1.2. Equipamento e material de laboratório

As especificações da balança analítica, centrífuga, estufa de calor seco, moinho de

pulverização, molde de aço, sistema para filtração dos solventes, aparelho de ultra-sons,

aparelho de pH e equipamento de HPLC são as descritas em 2.2.1.2.

2.3.1.3. Metodologia experimental O pó de cimento acrílico preparado conforme indicado em 2.2.1.3.1., foi dividido

em vinte e quatro alíquotas, pesando cada uma aproximadamente 1,75 g. A metodologia

experimental que em seguida se descreve, encontra-se esquematizada na Figura 2.19.

Page 143: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

74

Figura 2.19. Efeito da composição do meio de incubação e condições de conservação do

PMMA na cinética de dissolução do MMA: I, em contacto com o ar; II, 2 grupos de 9 alíquotas de pó; III, perfil de dissolução do MMA (24 h) e efeito da composição e das condições de conservação do PMMA em solução; IV, perfil de dissolução do MMA (1 h).

6so

luçõ

es

24al

íquo

tas

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ondi

ções

de

cons

erva

ção

�C

ondi

ções

de

incu

baçã

o

6 al

íquo

tasp

ó

37ºC

48 h

18

alíq

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6 al

íquo

tas p

ó

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0, 1

0, 2

0, 3

0,40

,50,

60

min

3so

luçõ

es

3so

luçõ

es

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0; 0

,5; 1

; 2; 4

; 6; 8

; 24

h

Apó

s

24h

PBS

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0; 0

,5; 1

; 2; 4

; 6; 8

; 24

h

37ºC

24h

PBS

72 h

6so

luçõ

es

3so

luçõ

es

3so

luçõ

es

37ºC

24h

3al

íquo

tas p

ó

4ºC

72h

D-M

EM

D-M

EM

37ºC

24h

4ºC

48 h

37ºC

24h

PBS

4ºC

48 h

37ºC

48 h

D-M

EM D-M

EM

PBS

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

72; 7

2,5;

73;

74;

76;

78;

80;

96

h

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

72; 7

2,5;

73;

74;

76;

78;

80;

96

h

9 al

íquo

tas p

ó(G

rupo

nº 2

)

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

72; 7

2,5;

73;

74;

76;

78;

80;

96

h

3al

íquo

tas p

ó

I

II

III

II

III

IV IV

37ºC

24h

37ºC

1 h

37ºC

1 h

9 al

íquo

tas p

ó(G

rupo

nº 1

)

3 al

íquo

tas p

ó

6 al

íquo

tas p

ó

3 al

íquo

tas p

ó

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0, 1

0, 2

0, 3

0,40

,50,

60

min

6so

luçõ

es

24al

íquo

tas

�C

ondi

ções

de

cons

erva

ção

�C

ondi

ções

de

incu

baçã

o

6 al

íquo

tasp

ó

37ºC

48 h

18

alíq

uota

s pó

6 al

íquo

tas p

ó

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0, 1

0, 2

0, 3

0,40

,50,

60

min

3so

luçõ

es

3so

luçõ

es

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0; 0

,5; 1

; 2; 4

; 6; 8

; 24

h

Apó

s

24h

PBS

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0; 0

,5; 1

; 2; 4

; 6; 8

; 24

h

37ºC

24h

PBS

72 h

6so

luçõ

es

3so

luçõ

es

3so

luçõ

es

37ºC

24h

3al

íquo

tas p

ó

4ºC

72h

D-M

EM

D-M

EM

37ºC

24h

4ºC

48 h

37ºC

24h

PBS

4ºC

48 h

37ºC

48 h

D-M

EM D-M

EM

PBS

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

72; 7

2,5;

73;

74;

76;

78;

80;

96

h

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

72; 7

2,5;

73;

74;

76;

78;

80;

96

h

9 al

íquo

tas p

ó(G

rupo

nº 2

)

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

72; 7

2,5;

73;

74;

76;

78;

80;

96

h

3al

íquo

tas p

ó

I

II

III

II

III

IV IV

37ºC

24h

37ºC

1 h

37ºC

1 h

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ó(G

rupo

nº 1

)

3 al

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ó

6 al

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ó

3 al

íquo

tas p

ó

Qua

ntifi

caçã

o M

MA

0, 1

0, 2

0, 3

0,40

,50,

60

min

Page 144: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

75

Das vinte e quatro alíquotas de pó, seis foram armazenadas em frascos de plástico

fechados, a 4 ºC, durante 72 horas, para estudo do efeito da composição do meio e das

condições de conservação em contacto com o ar (Figura 2.19, I).

As restantes dezoito alíquotas do pó foram divididas em dois grupos de nove

alíquotas cada (Figura 2.19, II) para os estudos em PBS (Grupo nº 1) e para os estudos em

D-MEM (Grupo nº 2).

Em cada um dos grupos contendo nove alíquotas, seis foram utilizadas para o

estudo do perfil de dissolução do MMA em PBS e D-MEM, durante 24 horas e para o

estudo do efeito da composição e das condições de conservação do cimento acrílico em

solução (Figura 2.19, III). As restantes três alíquotas foram utilizadas para o estudo do

perfil de dissolução do MMA em PBS e D-MEM durante uma hora (Figura 2.19, IV).

2.3.1.3.1. Efeito da composição do meio de incubação na cinética de dissolução do

MMA durante 24 h

a) Estudo em PBS

As nove alíquotas do pó de cimento acrílico (Grupo nº 1) foram expostas a 25 mL

de PBS (em frascos de plástico fechados). Deste grupo, seis foram expostas durante 24 h a 37 ºC,

recolhendo-se alíquotas dos sobrenadantes às: 0; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8 e 24 horas para

quantificação do monómero. As restantes três alíquotas de pó, foram expostas apenas

durante 1 hora a 37 ºC, recolhendo-se alíquotas dos sobrenadantes de 10 em 10 minutos

para quantificação do MMA.

b) Estudo em D-MEM

Para as amostras do Grupo nº 2, o procedimento experimental foi o mesmo que

para as amostras do Grupo nº 1 (2.3.1.3.1.a), apenas diferindo a composição do meio de

incubação (o PBS foi substituído por D-MEM).

Page 145: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

76

2.3.1.3.2. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação

do PMMA, em solução a diferentes temperaturas, na cinética de dissolução do MMA

a) Estudo em PBS

As seis soluções de PBS, após incubação durante 24 horas a 37 ºC (2.3.1.3.1.a),

foram conservadas, a diferentes temperaturas, durante 48 horas. Um grupo, constituído por

três das soluções referidas, foi conservado a 4 ºC e o outro grupo, constituído pelas

restantes três soluções, foi conservado a 37 ºC.

Após 48 horas de incubação (e 72 horas desde a polimerização do PMMA) foram

recolhidas alíquotas dos sobrenadantes às: 72; 72,5; 73; 74; 76; 78; 80 e 96 h para a

quantificação do MMA.

b) Estudo em D-MEM

Para as seis soluções do Grupo nº 2 (2.3.1.3.1.b), seguiu-se o procedimento

experimental descrito em 2.3.1.3.2.a).

2.3.1.3.3. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação

do PMMA, em contacto com o ar, na cinética de dissolução do MMA

a) Estudo em PBS

Três amostras do pó de cimento acrílico mantidas durante três dias (72 horas) em

contacto com o ar (2.3.1.3) foram, após aquele tempo, expostas a 25 mL

de PBS (em

frascos de plástico fechados) e incubadas, durante 24 horas, a 37 ºC. Após 24 horas de

incubação (e 72 horas desde a polimerização do PMMA) foram recolhidas alíquotas dos

sobrenadantes às: 72; 72,5; 73; 74; 76; 78; 80 e 96 horas para a quantificação do MMA.

b) Estudo em D-MEM

Para outras três amostras de pó de cimento acrílico seguiu-se o procedimento

experimental descrito em 2.3.1.3.3.a), tendo-se substituído o PBS por D-MEM.

Page 146: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

77

2.3.1.3.4. Quantificação do MMA

Todas as alíquotas recolhidas (2.3.1.3.1., 2.3.1.3.2. e 2.3.1.3.3.) foram

centrifugadas e o sobrenadante, após diluição adequada, analisado por HPLC para

quantificação do MMA conforme procedimento descrito em 2.2.1.3.2.

2.3.2. Resultados e discussão

2.3.2.1. Efeito da composição do meio de incubação na cinética de dissolução do

MMA durante 24 h

Para o estudo do efeito da composição do meio na cinética de dissolução do

PMMA incubaram-se amostras de pó de PMMA em PBS e D-MEM, durante 24 h,

recolhendo-se alíquotas dos sobrenadantes às: 0; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8 e 24 horas para

quantificação do monómero (2.3.1.3.1.).

Os perfis de dissolução do monómero em PBS e em D-MEM ilustrados na Figura

2.20 (Bettencourt et al., 2000), foram obtidos pela representação gráfica da variação da

concentração média de MMA nos meios com o tempo de incubação. As diferentes

concentrações médias de MMA determinadas corresponderam à quantidade total de

monómero dissolvido nos meios até ao período de tempo considerado (24 horas).

Analisando os perfis de dissolução (Figura 2.20), observa-se que a libertação do

monómero ocorre predominantemente durante a primeira hora de incubação do pó de

PMMA, em ambos os meios avaliados. No tempo t = 1 h a concentração de MMA em PBS

correspondeu a 78,9 % (± 5,6) e em D-MEM a 75,9 % (± 1,4). Os valores foram calculados

considerando que a concentração de MMA libertado, após 24 horas de incubação nos

meios, correspondia a um valor igual a 100 %.

Após a primeira hora de incubação, a velocidade de dissolução diminui com o

tempo, devido provavelmente ao decréscimo gradual da libertação do MMA. Perfis de

dissolução semelhantes foram observados nos estudos realizados por Dowes (1991)

relativos à libertação de antibióticos, albumina e hormona de crescimento a partir do

PMMA.

Page 147: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

78

O comportamento observado é também concordante com os resultados obtidos por

Brauer et al. (1977) na dissolução do monómero em água a partir de discos de PMMA, os

quais indicam que a velocidade de dissolução do MMA é muito baixa após 6 h de

polimerização do cimento acrílico.

PBS

0,00,51,01,52,02,53,0

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

t /h

[MM

A]/%

D-MEM

0,00,51,01,52,02,53,0

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

t /h

[MM

A]/%

Figura 2.20. Resultados experimentais da dissolução do MMA vs tempo, durante 24 h, em

PBS (x) e D-MEM (-); N = 3.

Page 148: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

79

A cinética de dissolução observada está igualmente de acordo com os resultados

obtidos por Schoenfeld et al. (1979), os quais demonstram que a maior parte do MMA não

polimerizado se liberta para a água durante a primeira hora, após a polimerização do

cimento acrílico.

Como a análise do perfil de dissolução (Figura 2.20) sugeria que a libertação do

monómero diminuía exponencialmente com o tempo, considerou-se que os resultados

experimentais da quantidade (em gramas) de monómero dissolvido, em PBS e D-MEM, a

partir de 100 gramas de PMMA (y) versus tempo (t), poderiam ser correlacionados através

de uma função exponencial expressa pela equação [3]:

−= − tkeay E1 descrita em

2.1.1.3.

O ajuste não linear da equação [3] ao conjunto de pares de valores experimentais

correspondentes às experiências realizadas, permitiu calcular os seguintes parâmetros:

quantidade máxima de monómero dissolvido (a) e constante de velocidade de dissolução

( Ek ) descritos na Tabela 2.16 (Bettencourt et al., 2000).

Tabela 2.16. Parâmetros de ajuste do modelo exponencial aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e D-MEM.

PBS D-

MEM

−= − tkeay E1

a)

Ek /min 0,028

± 0,004

−1 0,027

± 0,004

a/% 2,59

± 0,22

2,66

± 0,22

r 0,98 0,99

a)Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; ,

constante da velocidade de dissolução.

Page 149: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

80

Não se observou diferença estatisticamente significativa entre os valores de Ek e a

calculados em PBS e em D-MEM. Para comparação dos parâmetros descritos recorreu-se

ao teste “t de Student” para amostras não emparelhadas.

Conclui-se, assim, que a diferente composição do meio não afectou nem a

quantidade máxima de monómero libertado (a), nem a velocidade de dissolução do MMA

quantificada através do parâmetro Ek .

Este facto está de acordo com o trabalho apresentado por Linder et al. (1976),

segundo o qual a composição do meio que rodeia o cimento acrílico não é relevante para a

solubilização do MMA, desde que o monómero lixiviado seja solubilizado a uma

velocidade superior à do seu transporte do interior para a superfície do PMMA.

As quantidades máximas de monómero calculadas, quer em PBS (2,59 ± 0,22 %),

quer em D-MEM (2,66 ± 0,22 %), são concordantes com os estudos já referidos realizados

por Schoenfeld et al. (1979), os quais mostram que a quantidade de monómero libertada a

partir de discos de PMMA, após uma hora de incubação em água, é inferior a 3 %. Refira-

-se, ainda, que a concentração de MMA sanguínea durante a inserção do PMMA referida

na literatura (Schoenfeld et al., 1979) é de 1 a 3 %.

A quantidade de monómero calculada parece corresponder ao monómero residual,

considerando-se que o monómero representa 2 a 4 % da massa do cimento acrílico

aquando do momento de aplicação (Haas et al., 1975; Larroque e Brun, 1990).

Como referido, os valores de dissolução do MMA durante a primeira hora de

exposição ao PBS e D-MEM são os que mais influenciam todo o perfil de dissolução,

sendo este um período com importante significado clínico. Considerou-se, por isso,

relevante estudar a cinética de dissolução durante a primeira hora, pelo que se incubaram

outras amostras de pó de PMMA, durante 60 minutos, recolhendo-se alíquotas dos

sobrenadantes de 10 em 10 minutos para quantificação do MMA (2.3.1.3.1.).

Os modelos de Wagner (equação [5], 2.1.1.3.) e de Higuchi (equação [7], 2.1.1.3.),

foram ajustados aos valores correspondentes aos resultados da primeira hora de incubação

do PMMA (Figura 2.21).

Page 150: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

81

Os parâmetros de ajuste dos valores experimentais às equações [5] e [7] estão

descritos na Tabela 2.17 (Bettencourt et al., 2000).

-0,8-0,6-0,4-0,20,00,20,40,60,81,01,2

0 10 20 30 40 50 60

t /min

lnm

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

0 1 2 3 4 5 6 7 8

(t /min)1/2

[MM

A]/%

Figura 2.21. Aplicação dos modelos de Wagner (a) e de Higuchi (b) a resultados experimentais correspondentes à 1ª hora de dissolução: �, resultados experimentais em PBS; —, ajuste linear em PBS; ο, resultados experimentais em D-MEM; ----, ajuste linear em D-MEM.

A igualdade estatística entre as constantes wk e Hk calculadas para os dois meios

(PBS e D-MEM), indica que a velocidade de dissolução não foi afectada pela diferente

composição do meio de incubação. A comparação entre os parâmetros descritos foi

efectuada através do teste “t de Student” para amostras não emparelhadas.

(a)

(b)

Page 151: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

82

O facto de a concentração de MMA nos meios ser proporcional à raiz quadrada do

tempo (equação [7]) sugere que o MMA é libertado a partir da matriz polimérica por um

mecanismo de difusão simples, exibindo um clássico “efeito de rebentamento” (“burst

effect”) (Knepp et al., 1987).

Tabela 2.17. Parâmetros de ajuste dos modelos de Wagner e de Higuchi aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS e D-MEM.

PBS

D-MEM

tkmm w0lnln −= (modelo Wagner) a)

wk /min 0,018 ± 0,001 −1 0,025 ± 0,002

m0 2,22 ± 0,05 /% 2,56 ± 0,06

r 2/1

HtkQ = (modelo Higuchi)

0,98 b)

0,99

Hk /% min 0,22 ± 0,008 −1/2 0,27 ± 0,03

r 0,99 0,98

a)m, quantidade de monómero não dissolvido no tempo t; m0

wk, quantidade inicial de monómero na matriz

polimérica (valor estimado); , constante da velocidade de dissolução de 1ª ordem. b)

HkQ, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

Outro aspecto relevante é o facto de as equações [3] e [5], apesar de serem

formalmente idênticas e descreverem um processo de primeira ordem, terem sido aplicadas

com perspectivas diferentes. Assim, a equação [3] ao ser ajustada a todos os valores

experimentais correspondentes ao período de 24 h permitiu estimar a quantidade máxima

de monómero dissolvida (a). Ao assumirmos que a correspondia à quantidade inicial de

monómero residual existente na matriz polimérica, foi então possível efectuar o cálculo

dos valores de m ajustados ao modelo de Wagner (equação [5]).

O estudo realizado sugere que a libertação do monómero para os meios é

independente da composição dos mesmos, que ocorre maioritariamente durante a primeira

hora de incubação, parecendo reflectir, no período avaliado, uma lixiviação do monómero

residual e não uma reacção de despolimerização do próprio polímero.

Page 152: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

83

2.3.2.2. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de

conservação do PMMA

Os resultados anteriormente descritos permitiram retirar algumas conclusões

relativas ao período de inserção do cimento acrílico no organismo. Na tentativa de melhor

se compreenderem os parâmetros que influenciam a estabilidade físico-química do PMMA

prosseguiram-se os estudos cinéticos, variando o tempo de exposição aos meios, as

próprias condições de armazenamento do polímero (em solução ou em contacto com o ar),

bem como a temperatura de conservação das soluções (4 e 37 ºC), visando encontrar, pela

exposição do cimento acrílico a diferentes condições ambientais, possíveis mecanismos de

degradação do polímero.

2.3.2.2.1. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação,

do PMMA, em solução a diferentes temperaturas, na cinética de dissolução do MMA

Numa primeira fase, verificou-se se haveria alguma tendência para a

despolimerização subsequente do polímero comparando amostras mantidas em solução a 37 ºC

com amostras mantidas em solução a 4 ºC, correspondendo estas últimas a um controlo,

dado que a essa temperatura a velocidade de um grande número de reacções químicas

tende a diminuir.

Os resultados experimentais da dissolução do MMA, após 48 h de conservação em

solução (Figura 2.22), sugerem que não houve diferença estatisticamente significativa (P< 0,05)

na libertação do monómero com as temperaturas de conservação estudadas (4 ºC e 37 ºC).

Os resultados indicam, ainda, que após três dias de incubação, não ocorreu

despolimerização significativa do polímero, sendo o monómero existente resultado da

libertação do MMA residual.

Os valores de concentração de MMA calculados, sendo muito inferiores (na ordem

de 1/10 ou menos) ao limite de solubilidade do monómero em meio aquoso (16 g L−1

Após três dias de incubação, existe uma ligeira diminuição da concentração do

MMA em solução, com possível origem na volatilização do MMA dos meios durante a

colheita das alíquotas.

, 20 ºC;

2.1.1.1.), garantem que todo o monómero do polímero se dissolve, não reflectindo um

fenómeno de saturação dos meios durante a incubação do cimento acrílico.

Page 153: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

84

Os resultados mostram que não houve diferença na libertação do MMA pelo efeito

da temperatura ou da composição do meio sugerindo que, após 96 horas de incubação, não

houve despolimerização do PMMA, mesmo num meio com um teor lipídico elevado (D-

-MEM) e a 37 ºC.

PBS

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96

t /h

[MM

A]/%

D-MEM

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96t /h

[MM

A]/%

Figura 2.22. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) vs tempo, após 48 h

de conservação em solução; �, resultados experimentais em PBS após conservação em solução a 37 ºC; ∆, resultados experimentais em PBS após conservação em solução a 4 ºC; ο, resultados experimentais em D-MEM após conservação em solução a 37 ºC; ◊, resultados experimentais em D-MEM após conservação em solução a 4 ºC.

Page 154: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

85

2.3.2.2.2. Efeito da composição do meio de incubação e das condições de conservação

do PMMA, em contacto com o ar, na cinética de dissolução do MMA

Por último, comparou-se a estabilidade relativamente à libertação do monómero,

entre uma amostra de cimento acrílico recentemente polimerizada (t = 0 h) com outra

envelhecida durante três dias em contacto com o ar (Figura 2.23). Como se pretendia

verificar o que acontecia ao monómero residual com o tempo, conservou-se a amostra a

uma temperatura baixa (4 ºC), de forma a minimizar a volatilização do MMA para o ar.

PBS

0,0

1,0

2,0

3,0

0,0 0,5 1,0 2,0 4,0 6,0 8,0 24,0t /h

[MM

A]/%

Dia 1Dia 3

D-MEM

0,0

1,0

2,0

3,0

0,0 0,5 1,0 2,0 4,0 6,0 8,0 24,0

t /h

[MM

A]/%

Dia 1Dia 3

Figura 2.23. Valor médio da concentração de MMA (N = 3) quantificado em PBS e D- -MEM, durante 24 h de incubação a 37 ºC, libertado do pó de PMMA após o 1º ou 3º dia de polimerização do cimento acrílico. Não houve diferença estatisticamente significativa (P< 0,05), entre o monómero libertado no 1º ou 3º dia após polimerização do PMMA.

Page 155: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

86

Os valores médios da concentração de MMA (%) versus tempo para o pó de

PMMA, após armazenamento em contacto com o ar, revelaram o mesmo padrão de

comportamento que os do primeiro dia após a polimerização (Figura 2.23). Não houve

diferença estatisticamente significativa entre a quantidade de monómero libertado do

cimento acrílico acabado de preparar e após três dias de armazenamento em contacto com

o ar, em ambos os meios de incubação testados.

O estudo do efeito da conservação do PMMA em contacto com o ar embora não

seja relevante do ponto de vista clínico, contribuiu para elucidar o mecanismo de libertação

do MMA a partir da matriz do polímero. Os resultados obtidos neste estudo sugeriram que

o monómero não é o reagente limitativo da reacção de polimerização, pois mesmo três dias

após a preparação do PMMA ainda existia uma libertação significativa de MMA.

O monómero que não foi consumido durante a polimerização terá ficado

aprisionado na matriz do polímero só sendo lixiviado, pela solubilização nos meios,

aquando da incubação do cimento acrílico.

Dos resultados anteriormente apresentados conclui-se que:

- as variáveis estudadas, composição do meio e condições de conservação, não

influenciaram significativamente a cinética de dissolução do MMA. Este facto sugere que

o MMA doseado nos meios corresponde ao MMA residual que não é totalmente

consumido na reacção de polimerização não ocorrendo, nas condições analisadas,

despolimerização do PMMA;

- a libertação do MMA a partir do polímero corresponde a um fenómeno superficial

com uma libertação inicial rápida do monómero residual. Provavelmente, in vivo, onde o

cimento acrílico não existe como pó mas formando uma camada entre a prótese metálica e

o osso, o MMA fica retido demorando mais tempo a ser libertado;

- a análise do PMMA sob a forma de pó, embora não sendo o melhor modelo para

mimetizar a situação in vivo, permitiu confirmar que o MMA é de facto um dos possíveis

componentes do cimento acrílico libertado nos meios de incubação utilizados nos estudos

realizados em culturas de fibroblastos anteriormente referidos (Vale et al., 1997) e que

estiveram na génese de todo o trabalho.

Page 156: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

87

2.4. Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do

MMA e na alteração de propriedades de superfície

Com o desenvolvimento dos estudos de estabilidade físico-química do PMMA

constatou-se a conveniência de escolher outros modelos que traduzissem com maior

exactidão, comparativamente com o pó, a forma que o cimento acrílico apresenta in vivo.

Considerou-se igualmente importante que os modelos seleccionados permitissem a

execução das técnicas utilizadas nos estudos da variação das propriedades de superfície,

energia de superfície e composição química do PMMA tendo, por isso, sido utilizados

como modelos de estudo placas e cilindros do polímero.

As placas foram o modelo escolhido para o estudo da variação da energia de

superfície através da determinação dos ângulos de contacto pelo método da placa de

Wilhelmy (2.1.2.1.).

Para o estudo da variação da composição química por XPS utilizou-se o PMMA na

forma de cilindro, por ser o modelo que melhor se adapta ao porta-amostra do equipamento

de XPS.

As placas foram também utilizadas nos estudos de libertação do MMA a partir do

PMMA, uma vez que as suas dimensões são rigorosamente determinadas, ao contrário do

que sucedia com os cilindros, em relação aos quais não houve necessidade de definir

perfeitamente as suas dimensões.

Tendo o estudo do efeito da composição do meio e condições de conservação do

PMMA na cinética de dissolução do MMA demonstrado que a composição do meio não

influenciava a libertação do MMA (2.3.2.), optou-se por não prosseguir os estudos de

estabilidade físico-química em D-MEM.

Assim, o estudo do efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução

do MMA e propriedades de superfície do cimento acrílico foi realizado em placas e

cilindros de PMMA, utilizando-se apenas o PBS como meio de incubação.

Page 157: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

88

2.4.1. Materiais e métodos

2.4.1.1. Reagentes e soluções

As características e origem do cimento acrílico, do meio PBS e dos reagentes

utilizados em HPLC são as mencionadas em 2.2.1.1.

Os dois líquidos utilizados para a determinação dos ângulos de contacto foram a

água desionizada (2.2.1.1.) e o 1,2-propanodiol p.a. (Mr

Os valores de energia de superfície total (

= 76,1; solúvel em água a 20 ºC,

d = 1,04 a 20 ºC) adquirido na Merck.

Lγ ) e das componentes dispersa e polar

( dLγ , p

Lγ ) utilizados nos cálculos da energia de superfície, relativamente à água e ao 1,2-

-propanodiol, são apresentados na Tabela 2.18.

Tabela 2.18. Valores de energia de superfície para os líquidos utilizados na determinação dos ângulos de contacto (Pinto, 1994).

Líquido Lγ /

mN 1m−

dLγ / m

N 1m−

pLγ /

mN 1m−

água 72,0 21,7 50,3

1,2-

propanodiol

38,0 28,6 9,4

A mistura cromosulfúrica e a acetona, utilizados na lavagem da tina de vidro do

tensiómetro foram adquiridos na Merck.

2.4.1.2. Equipamento e material de laboratório

As especificações da balança analítica, centrífuga, estufa de calor seco, molde de

aço, sistema para filtração dos solventes, aparelho de ultra-sons, aparelho de pH e

equipamento de HPLC são as descritas em 2.2.1.2.

Para a determinação dos ângulos de contacto utilizou-se um tensiómetro modelo

K121 (Kruss).

Page 158: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

89

As análises de espectroscopia de fotoelectrões X (XPS) foram realizadas utilizando

o sistema 310 F Microlab (VG Scientific) equipado com uma fonte de raios X (Risca Mg K

α) não monocromada.

2.4.1.3. Metodologia experimental

2.4.1.3.1. Preparação das placas e cilindros

Para obtenção das placas de PMMA seguiu-se a metodologia descrita em 2.2.1.3.1.

Para obtenção dos cilindros de cimento acrílico moldou-se uma mistura homogénea

de PMMA, obtida conforme indicado em 2.2.1.3.1., em seringas de polietileno com um

diâmetro interno de 0,90 mm. (Figura 2.24.a). Após polimerização os cilindros foram

destacados do plástico e seccionados em amostras de menores dimensões (Figura 2.24.b).

Figura 2.24. a) Preparação dos cilindros de PMMA nas seringas, b) Cilindros de PMMA utilizados nas experiências.

As doze placas de PMMA utilizadas no estudo do efeito do envelhecimento na

cinética de dissolução do MMA e propriedades de superfície tinham uma espessura média

igual a (1,14 ± 0,06) mm, um comprimento médio igual a (24,69 ± 0,25) mm e uma largura

média igual a (19,56 ± 0,02) mm.

Na Figura 2.25 encontra-se esquematizada a metodologia experimental seguida no

estudo do efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA e

propriedades de superfície.

a)a) b)b)a)a) b)b)b) a)

Page 159: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

90

Figura 2.25. Metodologia experimental utilizada para o estudo do efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA e propriedades de superfície: I, incubação das placas durante 1 hora; II, incubação das placas durante 24 horas; III, incubação das placas durante 22 dias; IV, determinação de ângulos de contacto; V, análise por XPS.

12 placas de PMMA

Início da experiência (Início da experiência (t t = 0 h)= 0 h)

3 cilindros de PMMA

XPS(0 h)

Determinação ângulos de contacto (0 h)

Determinação ângulos de contacto

(de 15 em 15 dias)

XPS(1, 2, 3, 4 mês)

Quantificação MMA

(24 h = dia 1)

3 placas

Quantificação MMA(2, 3, 4, 6, 13 e 22 dias)

3 placas 3 placas

*O PBS foi substituído de 24 em 24 h

Quantificação MMA

(0, 10, 20, 30, 40, 50, 60 min)

Quantificação MMA(0; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8 e 24 h)

PBS37 ºC

1 h

3 placas

PBS37 ºC

24 h

PBS37 ºC

24 h

PBS*37 ºC

21 dias

PBS*37 ºC

4 meses

PBS*37 ºC

4 meses

I II III

IV V

12 placas de PMMA

Início da experiência (Início da experiência (t t = 0 h)= 0 h)

3 cilindros de PMMA

XPS(0 h)

Determinação ângulos de contacto (0 h)

Determinação ângulos de contacto

(de 15 em 15 dias)

XPS(1, 2, 3, 4 mês)

Quantificação MMA

(24 h = dia 1)

3 placas

Quantificação MMA(2, 3, 4, 6, 13 e 22 dias)

3 placas 3 placas

*O PBS foi substituído de 24 em 24 h

Quantificação MMA

(0, 10, 20, 30, 40, 50, 60 min)

Quantificação MMA(0; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8 e 24 h)

PBS37 ºC

1 h

3 placas

PBS37 ºC

24 h

PBS37 ºC

24 h

PBS*37 ºC

21 dias

PBS*37 ºC

4 meses

PBS*37 ºC

4 meses

I II III

IV V

Page 160: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

91

2.4.1.3.2. Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA

a) Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 24 horas

Seis placas de PMMA foram expostas a 25 mL de PBS em frascos de plástico

fechados (Figura 2.25, I e II). Três placas foram incubadas na estufa durante uma hora a 37 ºC

(Figura 2.25, I), recolhendo-se alíquotas dos sobrenadantes de dez em dez minutos para

quantificação do MMA. As restantes três placas de PMMA foram expostas durante vinte e

quatro horas a 37 ºC (Figura 2.25, II), recolhendo-se alíquotas dos sobrenadantes às: 0; 0,5;

1; 2; 4; 6; 8 e 24 horas de incubação das placas para quantificação do MMA.

b) Estudo da cinética de dissolução do MMA durante 22 dias

Três placas de PMMA foram incubadas, em condições idênticas às mencionadas

em 2.4.1.3.2.a), durante vinte e dois dias a 37 ºC (Figura 2.25, III). O meio de incubação

foi substituído de 24 em 24 horas, evitando-se atingir uma situação de equilíbrio. Alíquotas

dos sobrenadantes foram recolhidas após 1, 2, 3, 4, 6, 13 e 22 dias de incubação das placas

em PBS para quantificação do MMA.

c) Quantificação do MMA

Todas as alíquotas recolhidas em 2.4.1.3.2. foram centrifugadas e o sobrenadante,

após diluição adequada, analisado por HPLC para quantificação do MMA conforme

procedimento descrito em 2.2.1.3.2.

2.4.1.3.3. Efeito do envelhecimento do PMMA nas propriedades de superfície

a) Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície

Três placas de PMMA foram incubadas na estufa durante quatro meses a 37 ºC

(Figura 2.25, IV). O meio de incubação (25 mL de PBS) foi substituído todos os dias. A

determinação dos ângulos de contacto e o cálculo das energias de superfície foram

realizados imediatamente, após a polimerização do PMMA, antes das placas serem

incubadas (t = 0 h) e de quinze em quinze dias após exposição ao PBS.

Page 161: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

92

A determinação do ângulo de contacto foi realizada no tensiómetro de Kruss, a

(25,0 ± 0,1) ºC, utilizando-se o método da placa de Wilhelmy (2.1.2.1.).

Na Figura 2.26.a) pode observar-se um esquema e em 2.26.b) uma fotografia do

equipamento utilizado.

Figura 2.26. a) Esquema (Buckton, 1995) e b) Fotografia do equipamento utilizado no método da placa de Wilhelmy.

No início de cada experiência suspendeu-se uma placa de PMMA na balança

(sensibilidade igual a 410− g) do equipamento (Figura 2.26.a). O sistema estava inserido

numa caixa de “perspex” para evitar correntes de ar e garantir um ambiente parcialmente

controlado.

b)

a)

balança

computador

plataforma motorizada

placa

tina de vidro

água termostatizada L

reservatóriode aço

balança

computador

plataforma motorizada

placa

tina de vidro

água termostatizada L

reservatóriode aço

Page 162: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

93

Uma tina de vidro, contendo os líquidos em estudo (água e 1,2-propanodiol), foi

colocada no reservatório de aço onde circulava água termostatizada (25,0 ± 0,1) ºC.

Antes de cada utilização, a tina de vidro foi cuidadosamente lavada com mistura

cromosulfúrica, água e acetona, tendo sido ainda passada na chama de um bico de Bunsen

para diminuir a probabilidade de contaminação da superfície com resíduos interferentes

nas determinações.

Uma plataforma motorizada permitiu a imersão das placas até 4 mm de

profundidade, a uma velocidade de 20 µm s−1

Realizaram-se três determinações dos ângulos de contacto entre cada placa de

PMMA e cada um dos líquidos atrás mencionados.

, nos líquidos em estudo (água e 1,2-

-propanodiol).

A partir dos ângulos de contacto de avanço calculados em água e 1,2-propanodiol

determinou-se, pelo método de Wu (1971), a energia de superfície das placas de PMMA e

das suas componentes polar e dispersa (2.1.2.1.).

O sistema estava automatizado e o tratamento dos resultados, cálculo dos ângulos

de contacto e energia de superfície, foi efectuado com auxílio do programa da Kruss:

“contact angle measuring system K121 (versão 2.049)”.

b) Análise por XPS Três cilindros de PMMA foram incubados em 25 mL de PBS, durante quatro meses

a 37 ºC (Figura 2.25, V), na estufa. O meio de incubação foi substituído diariamente. Os

cilindros foram analisados por XPS imediatamente após polimerização do cimento acrílico,

antes de serem incubados (t = 0 h) e 1, 2, 3 e 4 meses após exposição dos cilindros ao meio

de incubação. Os espectros de XPS foram obtidos no Departamento de Engenharia de

Materiais e Superfícies do Instituto Superior Técnico, da Universidade Técnica de Lisboa.

Na Figura 2.27 mostram-se um esquema e duas fotografias do equipamento

utilizado. Os constituintes básicos do equipamento são uma fonte de raios X (Risca Mg K

α não monocromada), um porta-amostras e um analisador de energia electrónica. Os dois

últimos componentes indicados encontram-se inseridos num sistema de vácuo.

Page 163: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

94

Os espectros foram obtidos em modo “CAE” (“constant analyser energy”) a 30 eV.

A resolução energética foi de 0,9 eV. A calibração do analisador foi feita de acordo com os

seguintes picos energéticos: Cu LMM a 918,62 eV, Ag MNN a 357,8 eV e Au NVV a 70,1 eV.

Os espectros de XPS referem-se ao C 1s a 285 eV. Assume-se um erro de 0,1 eV

nas posições dos picos.

Figura 2.27. a) Esquema (Ratner e Porter, 1996) e b) Fotografias do equipamento de XPS.

bombas de vácuo

analisador de energia electrónica

Raios X

amostra

computador

introduçãoamostra

detector

a)

b)

b)bombas de vácuo

analisador de energia electrónica

Raios X

amostra

computador

introduçãoamostra

detector

a)

b)

b)

Page 164: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

95

2.4.2. Resultados e discussão

2.4.2.1. Efeito do envelhecimento do PMMA na cinética de dissolução do MMA

O efeito do envelhecimento na cinética de dissolução do MMA foi avaliado durante

um período de 24 horas imediatamente após a polimerização do cimento acrílico e durante

22 dias.

O perfil de dissolução do monómero, em PBS, a partir das placas de PMMA,

durante 24 horas, é ilustrado na Figura 2.28. Observa-se um perfil de dissolução idêntico

ao do anteriormente descrito para o pó de PMMA (2.3.2.1.). O ajuste dos valores

experimentais à equação [3]

−= − tkeay E1 , descrita em 2.1.1.3., permite o cálculo de a

(Tabela 2.19). Verifica-se que o valor de a, calculado para as placas [(0,081 ± 0,009)/%)],

foi inferior ao valor da constante obtido para o pó [(2,59 ± 0,22)/%; Tabela 2.16; 2.3.2.1.].

Este facto resulta provavelmente da menor área de exposição das placas ao meio de

incubação comparativamente com o pó.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 1320 1440

t /h

[MM

A]/%

Figura 2.28. Resultados experimentais da dissolução do MMA (N = 3) vs tempo (t), durante 24 h, em PBS.

Page 165: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

96

A maior parte do monómero foi lixiviado durante a primeira hora de incubação do

cimento acrílico em PBS tendo-se, por isso, aplicado os modelos de Wagner (equação [5],

2.1.1.3.) e de Higuchi (equação [7], 2.1.1.3.) a estes valores particulares (Figura 2.29).

Modelo de Higuchi

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0 2 4 6 8

(t /min)1/2

[MM

A]/ µ

gmm−2

Modelo de Wagner

-4,0

-3,5

-3,0

-2,5

-2,00 10 20 30 40 50 60

t /min

ln m

Figura 2.29. Aplicação do modelo de Wagner e de Higuchi a resultados experimentais

correspondentes à primeira hora de dissolução: �, resultados experimentais; —, ajuste linear.

Os parâmetros de ajuste dos valores experimentais a este modelo são apresentados

na Tabela 2.19 (Bettencourt et al., 2002).

O facto de a maior parte do monómero ser lixiviado durante a primeira hora de

incubação do PMMA é clinicamente relevante e está de acordo com Petty (1980) e Davy e

Braden (1991), sugerindo que os possíveis efeitos tóxicos do monómero são importantes

na primeira hora após a inserção do cimento acrílico, podendo contudo a repercussão dessa

toxicidade prolongar-se no tempo.

Page 166: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

97

Tabela 2.19. Parâmetros de ajuste dos modelos matemáticos aos resultados experimentais de dissolução do MMA em PBS a partir de placas de PMMA (N = 3).

Modelos

−= − tkeay E1 (24 h)

a)

Ek /min 0,024 ± 0,003 −1

a/% 0,081 ± 0,008 r 0,91

tkmm w0lnln −= (modelo Wagner)

(1ª hora)

b)

wk /min 0,015 ± 0,0002 −1

m0 0,066 ± 0,007 /% r 0,99

2/1HtkQ = (modelo Higuchi) (1ª hora)

c)

Hk /µg mm−2 min 0,042 ± 0,007 −1/2

r 0,98 a)

Eky, quantidade de MMA dissolvido no tempo t; a, quantidade máxima de monómero dissolvido; , constante da velocidade de dissolução; b)m, quantidade de monómero não dissolvido no tempo t; m0

wk, quantidade inicial de monómero na matriz

polimérica (valor estimado); , constante da velocidade de dissolução de 1ª ordem; c)Q Hk, quantidade de monómero dissolvido no tempo t; , constante da velocidade de dissolução.

No organismo, o PMMA está em contacto com um meio biológico que é

permanentemente renovado. A simulação experimental ao sistema aberto que se observa in

vivo correspondeu a substituir o meio de incubação diariamente. Observou-se que a

quantidade de MMA diminuía com o tempo, não se detectando (limite de detecção do

método igual a 0,34 µg 1mL− ) monómero 22 dias após incubação do PMMA (Figura 2.30).

Os resultados sugerem que não se verificou despolimerização do polímero,

existindo uma quantidade apreciável de monómero residual que, pelo menos, até ao

décimo terceiro dia de incubação, foi libertado das malhas do polímero.

Page 167: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

98

0

0,02

0,04

0,06

0,08

1 2 3 4 6 13 22

t /dias

[MM

A]/%

*

(*) não detectável ([MMA] ≤ 0,34 µg mL−1

).

Figura. 2.30. Valor médio da concentração de MMA (N = 3) durante 22 dias de incubação em PBS, substituindo o meio diariamente.

Originalmente, considerou-se a hipótese de realizar os estudos de cinética durante o

mesmo período de tempo em que se iria avaliar as alterações da superfície do cimento

acrílico, ou seja, durante 4 meses. No entanto, tendo a libertação de MMA cessado após 22

dias de incubação, não se justificaria prolongar até aos 4 meses a avaliação da cinética de

dissolução.

2.4.2.2. Efeito do envelhecimento do PMMA nas propriedades de superfície

Paralelamente ao estudo da cinética de dissolução do MMA considerou-se muito

relevante a investigação das propriedades da superfície dos biomateriais, energia de

superfície e composição química, frequentemente tidas em conta nos estudos de interacção

das superfícies com os sistemas biológicos (Brash e Wojciechowski, 1996).

Page 168: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO II

99

2.4.2.2.1. Determinação dos ângulos de contacto e energia de superfície

A energia de superfície é um parâmetro importante em processos de adesão e

adsorção como os que ocorrem na interacção entre as proteínas, as células e a superfície

dos biomateriais. Permite identificar alterações mínimas na composição e morfologia das

superfícies, as quais são dificilmente detectáveis por métodos microscópicos ou

espectrofotométricos mais sofisticados (Serro e Saramago, 2003).

A análise da energia de superfície é uma técnica relativamente pouco dispendiosa,

rápida, sensível e de ampla aplicação nos estudos de caracterização das superfícies dos

sólidos (Buckton, 1995; Brash e Wojciechowski, 1996) embora seja, por vezes, de difícil

interpretação.

Não sendo possível determinar directamente a energia de superfície de um sólido,

foi necessário recorrer à determinação dos ângulos de contacto entre as placas de PMMA e

dois líquidos, um de natureza polar (água) e outro de natureza apolar (1,2-propanodiol).

A determinação dos ângulos de contacto foi efectuada através do Método de

Wilhelmy (2.1.2.1.). É uma técnica muito precisa, que não depende da subjectividade do

operador, possibilitando a análise de uma área considerável da superfície (Neuman e Spelt,

1996).

Na Figura 2.31 apresenta-se um dos gráficos obtidos para determinação do ângulo

de contacto entre uma placa de PMMA e a água, após 75 dias de incubação em PBS.

O método utilizado permitiu calcular o ângulo de contacto de avanço (θa),

determinado quando a placa entra no líquido e o ângulo de contacto de retrocesso (θr

Embora ambos os valores do ângulo de contacto pudessem ser considerados no

cálculo da energia de superfície, demonstra-se que os ângulos de retrocesso reflectem as

impurezas da superfície, sendo menos reprodutíveis que os ângulos de contacto de avanço.

Este facto justifica, por isso, que se utilizem os ângulos de avanço representativos da

energia de superfície total do sólido para os cálculos da energia de superfície (Neuman e

Spelt, 1996).

),

calculado quando a placa sai do líquido (Figura 2.31).

Page 169: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DO CIMENTO ACRÍLICO

100

Figura 2.31. Gráfico obtido para determinação do ângulo de contacto entre uma placa de PMMA, após 75 dias de incubação em PBS.

A partir dos diferentes ângulos de contacto de avanço, determinados em água e 1,2-

-propanodiol (Tabela 2.20), foi possível calcular, através do método da média harmónica

proposto por Wu (1971), a energia de superfície das placas de PMMA ( sγ ) e das suas

componentes polar ( psγ ) e dispersa ( d

sγ ) conforme antes mencionado (2.1.2.1).

A evolução com o tempo destes parâmetros é representada, respectivamente, nas

Figuras 2.32 e 2.33.

m/g

posição/mm

θr = 33,9º

θa = 68,8º

m/g

posição/mm

θr = 33,9º

θa = 68,8º

Page 170: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA

DE EXTRACTOS DE PMMA

E SOLUÇÕES DE MMA

Page 171: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

153

3. AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E

SOLUÇÕES DE MMA

3.1. Introdução

Ao considerarem-se as causas de intolerância a um biomaterial é relevante atender-

-se quer aos parâmetros de estabilidade físico-química, quer à interacção biológica com o

biomaterial.

Para uma melhor compreensão da etiologia da perda asséptica das próteses

cimentadas, importa analisar não só os parâmetros de estabilidade físico-química já

avaliados mas investigar igualmente mecanismos envolvidos na resposta biológica.

A patofisiologia da perda asséptica não é ainda completamente compreendida,

razão pela qual é muito activa a investigação nesta área a nível clínico e fundamental. É

genericamente aceite que a patogénese desta doença envolve duas componentes, a

inflamação e a osteólise (Abbas, 2003), colocando-se a hipótese de a perda asséptica ser

desencadeada por uma reacção inflamatória e/ou citotóxica iniciada na interface entre o

osso e o cimento acrílico (Vale et al., 1997).

Numerosos estudos relacionam a inflamação e a destruição do tecido ósseo com

partículas formadas pelo desgaste dos diferentes materiais PMMA, titânio ou polietileno

que constituem o implante (Haynes et al., 1993; Horowitz et al., 1993; Trindade et al.,

2000; Trindade et al., 2001; Yaszay et al., 2001; Grottkau et al., 2002; Lohmann et al.,

2002; Clohisy et al., 2002; Ren et al., 2002; Abbas et al., 2003; Puskas et al., 2003;

Shardlow et al., 2003; Goodman, 2005; Ingram et al., 2005; Ries et al., 2006). As

diferentes partículas, ao activarem a cascata pró-inflamatória, provocariam a produção de

citocinas, metaloproteinases e outros factores associados à destruição do tecido ósseo

(osteólise), com poucos sintomas e reduzidos sinais nos estadios iniciais (Goodman, 2005).

Outros estudos mostram que não só as partículas, como também os produtos

lixiviados do PMMA (Ciapetti et al., 1995; Vale et al., 1997; Moreau et al., 1998; Stea et

al., 1997; Ciapetti et al., 2000; Granchi et al., 2000; Cenni et al., 2001; Cenni et al., 2002;

Granchi et al., 2002) podem ser responsáveis pela activação de mediadores inflamatórios e

de osteólise.

Page 172: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

154

No âmbito dos estudos até agora apresentados teve-se por mais relevante para a

avaliação biológica a análise de extractos do cimento acrílico e soluções de MMA, não

tendo sido consideradas as partículas de PMMA.

3.1.1. Culturas de células e macrófagos

Os biomateriais estão sujeitos a condições biológicas muito complexas. A

simulação do seu comportamento in vivo não é fácil de recriar devido à dificuldade de

reproduzir todos os parâmetros biológicos, bem como a respectiva interdependência. Uma

estratégia para obviar esta dificuldade tem consistido na realização de estudos in vitro

utilizando culturas de células.

Os ensaios in vitro são testes conduzidos em condições que simulam o meio com o

qual o material vai estar em contacto quando implantado, pelo que permitem avaliar

possíveis mecanismos de reacções na interface entre o implante e o tecido (Amaral et al.,

2003).

Estes ensaios, incluem a incubação dos biomateriais em soluções salinas,

normalmente com uma composição semelhante à fisiológica e a cultura de células

relevantes para a função do biomaterial, conduzidos sempre a 37 ºC. As culturas celulares,

por serem relativamente fáceis de obter e por os resultados obtidos serem altamente

reprodutíveis, são um instrumento útil na verificação dos efeitos tóxicos dos biomateriais

(Ciapetti et al., 1995).

Uma célula fundamental da resposta inflamatória é o macrófago. Os macrófagos

podem ser determinantes na duração e intensidade da inflamação e, como tal, células

fundamentais no desencadear do mecanismo que conduz à falênca das artroplastias totais

causadas pela perda asséptica (Curran et al., 2005).

Os macrófagos aparecem nos tecidos periprostéticos de próteses onde se verifica

reacção granulotomatosa (Goodman, 2005) sendo importantes na regulação do

metabolismo e na destruição do tecido ósseo.

Existem numerosos trabalhos em que se refere que os macrófagos estão envolvidos

na osteólise (Kossovsky et al., 1991; Amstutz et al., 1992; Horowitz e Purdon, 1995;

Shandhag et al., 1998; Takei et al., 2000; Saffar e Revell, 2000; Heineman et al., 2000; Lu

et al., 2002; Abbas et al., 2003; Curran et al., 2005; Goodman, 2005; Ries et al., 2006).

Page 173: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

155

As células da linha mononuclear fagocítica (monócitos e macrófagos) são

percursoras dos osteoclastos. Produtos solúveis produzidos por macrófagos activados

regulam a proliferação dos percursores celulares, o recrutamento, a diferenciação, bem

como a actividade dos osteoblastos e osteoclastos. Contudo, o mecanismo exacto,

incluindo a activação dos osteoclastos, é controverso (Lassus et al., 1998).

Pelo papel fundamental que os macrófagos parecem desempenhar na regulação da

inflamação e da osteólise considerou-se relevante estudar o efeito in vitro dos extractos de

PMMA e soluções de MMA na viabilidade celular e na produção de mediadores

inflamatórios neste tipo de célula.

3.1.2. Viabilidade celular e mediadores inflamatórios

Tendo os estudos realizados por Vale et al. (1997) demonstrado que os extractos de

PMMA induziam a produção de espécies reactivas em culturas de fibroblastos humanos,

pareceu útil avaliar a produção dos mencionados compostos nos macrófagos.

Espécies reactivas de oxigénio (ROS), nomeadamente o radical superóxido (O2• −),

oxigénio singleto (1O2), peróxido de hidrogénio (H2O2), radical hidroxilo (HO•), ácido

hipocloroso (HOCl) e espécies reactivas de azoto (RNS), designadamente o óxido nítrico

(•NO) e o anião peroxinitrito (ONOO−

A nível celular estes compostos actuam como mensageiros em vários sinais de

transdução, influenciando a proliferação, crescimento, diferenciação, senescência e morte

celular. Estão envolvidos em processos inflamatórios (Fernandes et al., 2004; Dicicco et

al., 2005; Costa et al., 2005), de acordo com evidências recentes, podendo também

influenciar a patógenese da necrose óssea ao estimularem a diferenciação dos osteoclastos

(Kennedy et al., 2000; Reddy, 2004; Lee et al., 2005; Bai et al., 2005).

), têm sido implicadas na patogénese de numerosas

doenças (Moreau et al., 1998; Fernandes et al., 2003). São continuamente produzidos

devido à exposição diária a radiação ionizante, fumo de cigarro, aditivos alimentares e

actividade celular fisiológica e patológica (Claycombe e Meydani, 2001).

Os mecanismos envolvidos na estimulação dos osteoclastos e na reabsorção óssea

por estes compostos permanecem, no entanto, por esclarecer.

Page 174: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

156

A produção de espécies reactivas durante os processos inflamatórios é uma reacção

complexa envolvendo diferentes etapas no processo de defesa do organismo, ocorrendo

designadamente em macrófagos, leucócitos polimorfonucleares e linfócitos (Aruoma,

1994; Fang et al., 2002).

Como os macrófagos só são capazes de produzir mediadores inflamatórios se as

células forem viáveis, visando seleccionar os extractos de PMMA e soluções de MMA

onde se iria avaliar a produção de espécies reactivas, foi necessária a prévia realização de

um estudo de viabilidade celular.

O ensaio do MTT - brometo de [3-(4,5-dimetiltiazol-2-ilo)-2,5 difenil-2H-

tetrazólio] - foi utilizado para determinar a viabilidade celular das culturas de macrófagos,

após exposição aos diferentes extractos de PMMA, soluções de MMA e meios controlo em

estudo.

Figura 3.1. Ensaio do MTT.

MTT (solúvel)

ruptura do anel tetrazólio

cristais de formazam (insolúvel)

desidrogenasemitocondrial

(mitocôndria)

brometo de [3-(4,5-dimetiltiazol-2-ilo)-2,5 difenil-2H-tetrazólio] = MTT

dissolução dos cristais em solvente orgânicoe determinação da absorvância (λ = 550 nm)

N

N

S CH3

CH3

N

NN

Br

+MTT (solúvel)

ruptura do anel tetrazólio

cristais de formazam (insolúvel)

desidrogenasemitocondrial

(mitocôndria)

brometo de [3-(4,5-dimetiltiazol-2-ilo)-2,5 difenil-2H-tetrazólio] = MTT

dissolução dos cristais em solvente orgânicoe determinação da absorvância (λ = 550 nm)

N

N

S CH3

CH3

N

NN

Br

+

Page 175: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

157

Este teste avalia a função metabólica da célula (Figura 3.1), uma vez que as células

viáveis possuem desidrogenases mitocondriais capazes de converterem o MTT solúvel

num composto insolúvel de cor púrpura, por ruptura do anel tetrazólico (Mosman, 1983;

Vale et al., 1997). Nas células em que a função mitocondrial está comprometida não ocorre

esta conversão. É um teste simples que tem sido utilizado com sucesso para quantificar a

citotoxicidade induzida em macrófagos (Ferrari et al., 1990; Shardlow et al., 2003).

Para quantificação de espécies reactivas, têm sido descritos vários métodos

designadamente por quimioluminescência, fluorescência, espectroscopia de electrão

paramagnético (EPR) e espectroscopia do visível (Kutala et al., 2004). Devido à

simplicidade do método e à existência de equipamento, optou-se por quantificar as

espécies reactivas nos meios após incubação das células com os extractos de PMMA e

soluções de MMA por análise espectrofotométrica, recorrendo-se a um indicador de

redução, o composto p-iodonitrotetrazólio (INT).

O método baseia-se na formação de um radical tetrazonilo (cor rosa) por redução

do INT com espécies reactivas presentes nos sobrenadantes celulares (Figura 3.2). O

radical é estável a valores de pH compreendidos entre 9 e 11.

p-iodonitrotetrazólioamarelo claro

radical tetrazonilorosa

I

N

N

NO2N+

N

Cl

R

I

N N

NN

NO2

+ ..

.

...

.

p-iodonitrotetrazólioamarelo claro

radical tetrazonilorosa

I

N

N

NO2N+

N

Cl

R

I

N N

NN

NO2

+ ..

.

...

.

Figura 3.2. Reacção entre o INT e espécies reactivas (Moreau et al., 1998).

Page 176: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

158

O INT não reduzido apresenta pouca absorção na região do visível (400 a 800 nm)

formando-se, após redução, um composto azo estável de cor púrpura susceptível de ser

quantificado (Moreau et al., 1998).

Após quantificação das espécies reactivas nos sobrenadantes das células expostas

aos extractos de PMMA e soluções de MMA não citotóxicas considerou-se relevante a

avaliação de um radical, em particular o óxido nítrico, por ser um composto possivelmente

implicado na reacção inflamatória peri-implante e osteólise (Van’t Hof e Ralston, 2001).

O óxido nítrico é um radical multifuncional envolvido em diversos processos

fisiológicos (vasodilatação, neurotransmissão, agregação plaquetária, regulação imunitária)

e patológicos, designadamente arterioesclerose, hipotensão, choque séptico e artrite

reumatóide (Feelisch e Stamler 1996; Van’t Hof e Ralston, 2001).

O óxido nítrico é sintetizado in vivo a partir do aminoácido L-arginina e do

oxigénio (Figura 3.3), por enzimas denominadas sintetases do óxido nítrico formando-se

ainda como co-produto a L-citrulina.

Figura 3.3. Reacção de formação do óxido nítrico (adaptado de Feelish e Stamler, 1996).

O óxido nítrico pode ser quantificado por quimioluminiscência e pela utilização de

eléctrodos sensíveis, mas como o seu tempo de semi-vida é da ordem dos segundos,

raramente é determinado directamente (Van’t Hof e Ralston, 2001).

Dos diversos métodos de doseamento possíveis, recorreu-se a uma técnica muito

utilizada que envolve a quantificação espectrofotométrica do ião nitrito (NO2−

).

L-arginina N-hidroxi L-arginina L-citrulina

óxido nítrico

R N C

H

NH2

NH2O2 OH2

NADPH

R N C

H

NH2

NOHR N C

H

NH2

OO2OH2

NO

NADP+

+ .

0,5 NNADPH

0,5 NNADP+

+L-arginina N-hidroxi L-arginina L-citrulina

óxido nítrico

R N C

H

NH2

NH2O2 OH2

NADPH

R N C

H

NH2

NOHR N C

H

NH2

OO2OH2

NO

NADP+

+ .

0,5 NNADPH

0,5 NNADP+

+

Page 177: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

159

O nitrito é o principal produto resultante da oxidação do óxido nítrico nos sistemas

aquosos, fornecendo um meio de avaliar a actividade das enzimas sintetases do óxido

nítrico, através da reacção de Griess.

No método de Griess (Figura 3.4), o nitrito reage com a sulfanilamida numa

solução acidificada de dihidrocloreto de N-(1-naftil)etilenodiamida, formando-se um

derivado azo corado que pode ser detectado por espectrometria. A possibilidade de se

realizar um grande número de ensaios de forma não dispendiosa, a simplicidade e a

sensibilidade do método, são algumas das vantagens que justificam a extensa aplicação do

mesmo (Franco e Pereira, 1995; Feelish e Stamler, 1996).

Figura 3.4. Determinação do nitrito através da reacção de Griess (adaptado de Feelisch e

Stamler, 1996).

ião nitrito sulfanilamida

diazotação(meio ácido)

dihidrocloreto de N-[(1-naftil)etilenodiamina]

derivado azo corado

NO2 SO2NH2NH2

H+

N N SO2NH2

NHNH2

NHNH2 N SO2NH2N

+

+

+

+

2HCl

−ião nitrito sulfanilamida

diazotação(meio ácido)

dihidrocloreto de N-[(1-naftil)etilenodiamina]

derivado azo corado

NO2 SO2NH2NH2

H+

N N SO2NH2

NHNH2

NHNH2 N SO2NH2N

+

+

+

+

2HCl

Page 178: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

160

3.2. Materiais e métodos

3.2.1. Reagentes e soluções

• Cimento acrílico (PMMA)

As características e origem do cimento acrílico são as referidas em 2.2.1.1.

• D-MEM (Dulbecco´s Modified Eagle Medium) sem indicador de pH

O meio de cultura D-MEM sem indicador de pH, foi adquirido na Gibco Invitrogen

Corporation. Apresenta uma composição idêntica ao D-MEM com indicador de pH

(2.2.1.1.), excluindo-se apenas da sua composição o indicador vermelho de fenol. No

laboratório foi adicionada a mistura de antibióticos penicilina G e estreptomicina, cuja

origem e características se encontram descritas em 2.2.1.1. A concentração final do meio

de cultura na mistura de antibióticos foi de 1 % (V/V).

Sempre que, ao longo deste trabalho, é mencionada a preparação de uma solução

em D-MEM, a mesma refere-se à utilização deste meio de cultura (sem indicador de pH e

sem soro) como solvente.

• Soluções de MMA

As soluções a (1,00; 2,50; 12,5; 17,5; 22,5) × 310− 1L mol −

110−

de MMA foram obtidas

por diluição em D-MEM de uma solução de MMA a 2,5 × 1L mol − .

A solução a 2,5 × 110− 1L mol − de MMA foi obtida pela dissolução de 80 µL de

MMA p.a. (2.2.1.1.) em 3 mL

de D-MEM.

• Soluções de álcoois (etanol e metanol)

A solução de etanol a 5,0 × 210− 1L mol − foi preparada por dissolução de 60 µL de

etanol p.a. a 96 % (2.6.1.1.) em 20 mL de D-MEM.

Page 179: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

161

A solução de metanol a 1,0 × 310− 1L mol − foi preparada a partir de uma solução de

metanol a 1,0 × 110− 1L mol − , a qual foi obtida pela dissolução de 101 µL de metanol p.a.

(2.6.1.1.) em 25 mL de D-MEM.

• Solução de hidrocarbonetos clorados (diclorometano e clorofórmio)

A solução de diclorometano a 1,0 × 210− 1L mol − foi preparada a partir de uma

solução de diclorometano a 1,0 × 110− 1L mol − , a qual foi obtida pela dissolução de 160

µL de diclorometano p.a. (2.6.1.1.) em 25 mL de D-MEM.

A solução de clorofórmio a 1,0 × 310− 1L mol − foi preparada a partir de uma

solução de clorofórmio a 5,0 × 210− 1L mol − , a qual foi obtida pela dissolução de 100 µL de

clorofórmio p.a. (2.6.1.1.) em 25 mL de D-MEM.

• Solução de lipopolissacárido (LPS) a 25 µg 1mL−

A solução de LPS a 25 µg 1mL− , correspondente a uma concentração igual a 1 µg 1mL− nos poços das placas de cultura, foi preparada por diluição de uma solução de LPS a

100 µg 1mL− .

A solução de LPS a 100 µg 1mL− foi obtida por dissolução de 1 mg de liofilizado

estéril de lipopolissacárido de E. coli, serotipo 0111:B4 (Sigma-Aldrich) em 10 mL de D-

-MEM, durante 5 minutos, no aparelho de ultra-sons.

A concentração da solução de LPS não é expressa em molaridade porque a

molécula do lipopolissacárido não tem uma composição química perfeitamente definida.

• Solução de H2O2 1L−em D-MEM a 1,0 mol

Para preparar a solução de H2O21L mol − a 1,00 , solubilizou-se 1,5 mL de H2O2

p.a. a 30 % (m/m), adquirido na Merck, em 11,0 mL de D-MEM, imediatamente antes da

sua utilização.

Page 180: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

162

• Reagentes utilizados em cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC)

As características e origem dos reagentes utilizados em HPLC, solução tampão

fosfato, acetonitrilo e água desionizada, foram as enunciadas previamente (2.2.1.1.).

• Reagentes e soluções utilizados no crescimento e manutenção das culturas

celulares

Solução polielectrolítica estéril tamponada a pH igual a 7,4 (PBS)

A origem e características do PBS são as mencionadas em 2.2.1.1.

D-MEM com indicador de pH

O meio de cultura base para crescimento e cultura das células foi o D-MEM com

indicador de pH. Este meio foi suplementado, no laboratório, com uma mistura de

antibióticos penicilina G e estreptomicina, L-glutamina e soro fetal de vitela inactivo. A

origem e características do meio D-MEM, da mistura de antibióticos, da L-glutamina e do

soro fetal de vitela são iguais às descritas em 2.2.1.1.

A concentração final do meio de cultura, expressa em percentagem volume por

volume (V/V), foi de 1 % na mistura de antibióticos, 1 % em L-glutamina e 10 % em soro

fetal de vitela inactivo. Esta mistura, correspondente ao meio de cultura D-MEM com

indicador de pH, suplementado com a mistura de antibióticos (a L-glutamina e o soro

fetal de vitela) será referida ao longo deste trabalho como meio de cultura completo.

●Reagentes e soluções utilizados no estudo da viabilidade celular (teste do

MTT)

Solução de brometo de [3-(4,5-dimetiltiazol-2-ilo)-2,5 difenil-2H-tetrazólio] (MTT)

A solução de MTT (Figura 3.5) a 4,8 × 410− 1L mol − foi obtida pela dissolução de

10 mg de cristais de MTT (Sigma-Aldrich) em 50 mL de D-MEM.

Page 181: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

163

N

N

S CH3

CH3

N

NN

Br

+

Figura 3.5. Estrutura química do MTT.

Dimetilsulfóxido (DMSO)

O DMSO p.a. foi adquirido na Duchefa Biochemie.

●Reagentes e soluções utilizados no ensaio de produção de espécies reactivas

Solução de cloreto de [2-(4-iodofenil)-3-(4-nitrofenil)-5-fenil-2H-tetrazolio] (INT)

A solução de INT (Figura 3.6) a 6,0 × 310− 1L mol − foi obtida pela dissolução de 3

mg

de INT p.a. (Sigma-Aldrich) em 1 mL de água desionizada. Agitada durante 2 horas,

armazenou-se a solução a uma temperatura de 4 ºC. A solução foi utilizada num período

inferior a 15 dias.

I

N

N

NO2N+

N

Cl

Figura 3.6. Estrutura química do INT.

Page 182: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

164

Solução de carbonato de sódio (Na2CO3

A solução de Na

)

2CO3210− a 5,0 × 1L mol − foi obtida pela dissolução de 265 mg de

Na2CO3

p.a. (Merck) em 50 mL de água desionizada.

Soluções padrão de peróxido de hidrogénio (H2O2

As soluções padrão a (0,50; 1,00; 2,00; 4,00; 8,00; 12,0) ×

)

210− 1L mol − de H2O2

foram obtidas por diluição apropriada em água de uma solução de H2O2 a 1L mol −1,00 .

Prepararam-se três soluções padrão para cada uma das concentrações avaliadas.

Para preparar a solução de H2O21L mol − a 1,00 , solubilizou-se 1,5 mL de H2O2

p.a. a 30 % (m/m), adquirido na Merck, em 11,0 mL de água, imediatamente antes da sua

utilização.

●Reagentes e soluções utilizadas no ensaio de quantificação dos nitritos

Solução de ácido fosfórico (H3PO4

A solução de H

)

3PO4

a 2 % (V/V) foi obtida pela dissolução de 1 mL de ácido orto-

-fosfórico p.a. a 85 % (m/m), adquirido na Merck, em 49 mL de água desionizada.

Solução de 4-aminobenzenosulfonamida (sulfanilamida)

A solução de sulfanilamida (Figura 3.7) a 2 % (m/V) foi obtida pela dissolução de

0,4 g sulfanilamida p.a. (Sigma-Aldrich) em 20 mL de solução de H3PO4

(2 %).

SO2NH2NH2

Figura 3.7. Sulfanilamida.

Page 183: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

165

Solução de dihidrocloreto de N-[(1-naftil)etilenodiamina]

A solução de dihidrocloreto de N-[(1-naftil)etilenodiamina] (Figura 3.8) a 0,2 %

(m/V) foi obtida pela dissolução de 0,04 g do composto (Sigma-Aldrich) em 20 mL de

solução de H3PO4

(2 %).

NHCH2CH2NH2

2HCl

Figura 3.8. Dihidrocloreto de N-[(1-naftil)etilenodiamina].

Reagente de Griess

O reagente de Griess foi preparado, imediatamente antes da sua utilização, por

adição de volumes iguais das soluções de sulfanilamida (2 %) e de dihidrocloreto de N-[(1-

-naftil)etilenodiamina] (0,2 %), preparadas conforme descrito anteriormente.

Soluções padrão de nitrito (NO2−

As soluções padrão a (0,89; 2,23; 4,46; 8,92; 17,85; 44,60) ×

)

610− 1L mol − de NO2−

foram obtidas, por diluição com D-MEM, de uma solução de nitrito de sódio (NaNO2

210−

) a

1,78 × 1L mol − . Prepararam-se três soluções padrão para cada uma das concentrações

avaliadas.

A solução de NaNO2210− a 1,78 × 1L mol − foi preparada através da dissolução de

1,232 g de NaNO2 p.a

(Merck) em 1 L de água desionizada. A água foi obtida num

desionizador, conforme referido em 2.2.1.1.

Page 184: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

166

3.2.2. Equipamento e material de laboratório

A incubação dos diferentes extractos de PMMA, das soluções de MMA e meios

controlo foi realizada na estufa de calor seco termostatizada descrita em 2.2.1.2.

As medidas de absorvância foram realizadas utilizando um espectrofotómetro,

modelo Milenia Kinetic Analyser (Diagnostic Products Corporation) com filtros a 405,

450, 490, 550 e 650 nm.

Recorreu-se a uma centrífuga, modelo 2K15 (Sigma Laborzentrifugen) para

centrifugação das amostras.

As pesagens foram executadas em balança analítica, modelo PB303-S (Mettler

Toledo), com uma precisão de 410− g.

Utilizou-se um vórtex, modelo REAX 2000 (Heidolph), para homogenização das

amostras.

O aparelho de ultra-sons utilizado na preparação de algumas soluções foi o

previamente descrito em 2.2.1.2.

As amostras foram armazenadas, a uma temperatura de −80 ºC, numa arca

frigorífica Sanyo.

Os frascos de vidro Schott de 50 mL foram adquiridos na Schott-Duran.

A quantificação do MMA, por HPLC, foi realizada no equipamento descrito em

2.2.1.2.

3.2.2.1. Equipamento e material de laboratório utilizado na cultura de células

Os procedimentos que exigiam manipulação asséptica foram realizados numa

câmara de fluxo laminar horizontal, modelo Miniflo E1 (Pbinternational).

A cultura das células foi efectuada em estufa de incubação, modelo Unitherm

21231/TC (UniEquip), a qual possui um termómetro para o controlo da temperatura e um

dispositivo de controlo do teor de dióxido de carbono (CO2

A contagem das células foi efectuada num hematímetro de “Neubauer”, modelo

Neubauer Improved (Hirschmann Techcolor).

).

Page 185: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

167

A observação das células foi realizada através de um microscópio invertido,

modelo CK 30 da Olympus.

Os frascos para cultura de células de 25 e 175 cm2

As placas estéreis para cultura de células de 12 poços e as placas de 96 poços, para

leitura da absorvância no espectrofotómetro, foram adquiridas na Costar.

de área, os raspadores de plástico

(“cell scrappers”), os tubos “eppendorfs”, as pontas para micropipeta e as pipetas

volumétricas foram adquiridos na Starstedt.

3.2.3. Condições de assépsia

Observaram-se as regras básicas de segurança nas culturas celulares de modo evitar

ou minimizar os riscos de contaminação bacteriana e/ou micológica. Assim, sempre que

possível os procedimentos laboratoriais foram executados dentro da câmara de fluxo

laminar horizontal (3.2.2.1.).

Antes e após cada utilização a câmara foi desinfectada com álcool a 70 % (V/V).

Recorreu-se ainda a uma lâmpada de luz ultravioleta como adjuvante na esterilização da

câmara.

O operador utilizou material técnico protector (luvas, bata e máscara).

O material de laboratório utilizado na cultura celular, como frascos e placas de

cultura, pipetas, tubos e pontas para micropipetas, foi adquirido comercialmente estéril.

3.2.4. Cultura celular

3.2.4.1. Linha celular e suas características

Nos estudos celulares in vitro utilizou-se a linha celular de macrófagos de rato

(Musculus mus) “RAW 264.7”. A linha celular foi obtida a partir de um repositório de

células: ATCC (American Type Culture Collection), através da LGC Promochem.

É uma linha celular imortalizada (contínua), obtida a partir de um tumor induzido

pelo vírus Abelson murine leukemia virus, de morfologia monócito/macrófago e de

crescimento aderente em monocamada.

Page 186: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

168

3.2.4.2. Início e manutenção da cultura celular

As células, após a sua chegada ao laboratório, foram imediatamente descongeladas

e lançadas em cultura, em frascos de cultura celular estéreis de 175 cm2

A incubação das células foi efectuada na estufa de incubação (3.2.2.1.), a uma

temperatura igual a 37,0 ± 0,1 ºC, numa atmosfera húmida contendo 5,0 ± 0,1 % de CO

.

2

As subculturas celulares foram preparadas por raspagem. A raspagem é um método

de passagem de células que se baseia no destacamento mecânico do tapete celular aderente

ao suporte sólido. Para tal, após lavagem das células com 10 a 12 mL de PBS, pré-

-aquecido a 37 ºC, raspou-se o tapete celular com o “cell scrapper”, com cuidado e de

modo a que todas as células se descolassem. Homogeneizou-se bem a suspensão obtida e

transferiram-se as células para um tubo estéril. Contaram-se então as células num

hematímetro de “Neubauer” (Dacie e Lewis, 1991).

.

Após 5 minutos de centrifugação (200 × g), rejeitaram-se os sobrenadantes e

reconstituíram-se os precipitados celulares (“pellets”) num volume variável de meio de

cultura completo. A suspensão celular foi homogeneizada e distribuída por frascos de

cultura (25 ou 175 cm2) contendo respectivamente 5 ou 15 mL de meio de cultura

completo, conforme a quantidade de células necessária. Em seguida, as células foram

incubadas a 37 ºC, numa atmosfera húmida com 5 % de CO2

Os meios de cultura foram renovados a cada três dias, ou sempre que a acidez do

meio assim o justificou. O meio de cultura completo utilizado para o crescimento e cultura

das células continha, tal como referido (3.2.1.), um indicador de pH (vermelho de fenol).

No decurso do tempo ocorreu uma diminuição de pH do meio, devida à acumulação do

dióxido de carbono e produção de ácido láctico, em resultado do metabolismo celular. A

indicação de que se verificou uma acidificação irreversível do meio, nociva para as células,

é dada pelo indicador de pH.

.

3.2.5. Metodologia experimental

O protocolo experimental que a seguir se descreve considera que a avaliação da

viabilidade celular, produção de espécies reactivas e óxido nítrico, foi realizada com

culturas de macrófagos expostas aos diferentes extractos de PMMA e soluções de MMA.

Page 187: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

169

3.2.5.1. Preparação dos extractos de PMMA e soluções de MMA

3.2.5.1.1. Preparação dos extractos de PMMA em D-MEM

Os extractos de PMMA em D-MEM foram obtidos a partir da incubação de placas

de cimento acrílico (CMW 1) no meio de incubação.

As placas de PMMA, obtidas conforme descrito em 2.2.1.3.1., foram expostas

durante 5 minutos a radiação ultravioleta, para diminuir a possibilidade de contaminação

microbiana.

As placas foram então expostas a D-MEM, em frascos de vidro Schott, previamente

esterilizados por calor húmido em autoclave.

A incubação foi feita em estufa de calor seco, de acordo com a norma para testes de

citotoxicidade in vitro - “ISO 10993”, 1996 - que recomenda a incubação de 1 g de

biomaterial a testar por 5 mL de meio de cultura, durante 72 horas, a 37 ºC.

Após as 72 horas de incubação, recolheram-se alíquotas dos extractos, para

doseamento do MMA, conforme método analítico descrito em 2.2.1.3.2.

Preparou-se então por diluição com D-MEM, também incubado durante 72 h a 37 ºC,

soluções a 5, 10, 25, 50, 60 e 75 % (V/V) em relação ao extracto não diluído (extracto 100

%).

As diferentes diluições dos extractos em D-MEM são identificados pela letra E e

por um índice numérico correspondente à percentagem (V/V) de extracto, não diluído, na

solução final. Assim, por exemplo, E5 corresponde ao extracto obtido pela diluição de 5

partes de extracto não diluído em 95 partes de D-MEM. O extracto que não foi diluído é

identificado por E100

.

3.2.5.1.2. Preparação das soluções de MMA

As soluções de MMA, preparadas conforme mencionado em 3.2.1. permaneceram

na estufa de calor seco 72 h a 37ºC.

Page 188: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

170

3.2.5.1.3. Preparação dos extractos de PMMA em soluções de álcoois

Os extractos de PMMA em soluções de álcoois foram obtidos a partir da incubação

de placas de cimento acrílico nas soluções de etanol (5,0 × 210− 1L mol − ) e metanol (1,0 × 310− 1L mol − ) referidas em 3.2.1.

A obtenção, esterilização e exposição das placas às soluções de etanol e metanol,

foi efectuada de modo semelhante ao descrito para a preparação dos extractos de PMMA

em D-MEM (3.2.5.1.1.).

Após 72 horas de incubação, recolheram-se alíquotas dos extractos, para

doseamento do MMA (2.2.1.3.2.)

A nomenclatura dos diferentes extractos segue a metodologia descrita em 3.2.5.1.1.

e preparou-se por diluição com D-MEM, também

incubado durante 72 h a 37 ºC, soluções a 5, 10, 25, 50 e 60 % (V/V) em relação ao

extracto não diluído (extracto 100 %).

3.2.5.1.4. Preparação dos extractos de PMMA em soluções de hidrocarbonetos

clorados

Os extractos de PMMA em soluções de hidrocarbonetos clorados foram obtidos a

partir da incubação de placas de cimento acrílico nas soluções de diclorometano (1,0 × 210− 1L mol − ) e de clorofórmio (1,0 × 310− 1L mol − ) indicadas em 3.2.1.

A obtenção, esterilização e exposição das placas de PMMA às soluções de

diclorometano e de clorofórmio, foi efectuada de modo semelhante ao descrito para a

preparação dos extractos de PMMA em D-MEM (3.2.5.1.1.).

Recolheram-se alíquotas dos extractos, após 72 horas de incubação, para

doseamento do MMA (2.2.1.3.2.)

A nomenclatura dos diferentes extractos segue a metodologia descrita em 3.2.5.1.1.

e preparou-se por diluição com D-MEM, incubado

durante 72 h a 37 ºC, soluções a 5, 10, 25, 50 e 60 % (V/V) em relação ao extracto não

diluído (extracto 100 %).

Page 189: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

171

3.2.5.2. Exposição das culturas de macrófagos aos extractos de PMMA e soluções de

MMA

A avaliação do efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na viabilidade

celular, produção de espécies reactivas e de óxido nítrico foi obtida em culturas de células

de macrófagos com e sem estimulação com LPS (Figura 3.9).

Figura 3.9. Metodologia experimental dos estudos realizados nas culturas celulares de macrófagos com e sem estimulação com LPS.

As culturas celulares foram obtidas por passagem de células de frascos de cultura

de 25 cm2

610

pela técnica de raspagem (3.2.4.2.), para placas de cultura de 12 poços. Para que

fosse distribuído sempre o mesmo número de células por poço das placas de cultura (0,5 ×

/0,5 mL/poço), as células foram contadas no hematímetro de “Neubauer” (3.2.4.2.).

D-MEM sem indicador e sem soro24 h, 37 ºC, 5 % CO2

Extractos de PMMA

em D-MEM

Culturas celulares de macrófagos

(+)

LPS

(+)

LPS

(+) e (−)

LPS

(+) e (−)

LPS

(+) e (−)

LPS

Soluções de MMA

Extractos de PMMA

em soluções deetanol emetanol

Extractos de PMMA

em soluções de diclorometano e clorofórmio

Meios controlo

D-MEM sem indicador e sem soro24 h, 37 ºC, 5 % CO2

Extractos de PMMA

em D-MEM

Culturas celulares de macrófagos

(+)

LPS

(+)

LPS

(+) e (−)

LPS

(+) e (−)

LPS

(+) e (−)

LPS

Soluções de MMA

Extractos de PMMA

em soluções deetanol emetanol

Extractos de PMMA

em soluções de diclorometano e clorofórmio

Meios controlo

Page 190: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

172

As culturas foram então expostas aos extractos de PMMA e soluções de MMA no

momento em que foram distribuídas pelos poços das placas de cultura. Estas experiências

foram realizadas com e sem estimulação com LPS.

3.2.5.2.1. Estudo em culturas de macrófagos estimuladas com LPS

Em cada poço das placas de doze orifícios foram colocadas 0,5 × 610 células

suspensas em 0,5 mL de D-MEM.

A esse volume celular foi adicionado 0,1 mL de solução de LPS a 25 µg 1mL− e

1,9 mL de D-MEM contendo os meios controlo, extractos de PMMA em D-

-MEM, soluções de MMA e extractos de PMMA em soluções de álcoois ou

hidrocarbonetos clorados:

a) Meio controlo da incubação com D-MEM e da estimulação com LPS

A cada poço das placas de cultura foram adicionados 0,1 mL de LPS e 1,9 mL

b) Meio controlo do efeito dos álcoois e hidrocarbonetos clorados na ausência de

PMMA

de

D-MEM previamente incubado, a 37 ºC, durante 72 horas.

Para estudar o comportamento celular apenas em presença dos álcoois e

hidrocarbonetos clorados, substituiu-se o D-MEM por 1,9 mL das soluções de álcoois

(3.2.1.) ou de hidrocarbonetos clorados (3.2.1.) incubadas, a 37 ºC, durante 72 horas.

c) Meio controlo dos extractos de PMMA na ausência de álcoois e de

hidrocarbonetos clorados

Para controlo do efeito dos extractos do PMMA, na ausência dos álcoois ou dos

hidrocarbonetos clorados, substituiu-se o D-MEM por 1,9 mL dos extractos E5, E10, E25,

E50, E60 de PMMA em D-MEM, referidos em 3.2.5.1.1. Este grupo de meios controlo é

identificado no texto por extractos PMMA controlo (CPMMA

d) Meio controlo positivo

).

Como meio controlo positivo, indutor da morte celular nas culturas de macrófagos,

utilizou-se uma solução de H2O2

610

em D-MEM. Aos 0,5 mL de suspensão celular (contendo

0,5 × células), foram adicionados 0,1 mL de solução de LPS, 1,8 mL de D-MEM,

previamente incubado a 37 ºC durante 72 horas e 0,1 mL de solução de H2O2 em D-MEM

Page 191: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

173

a 1,0 1L mol − , correspondente a uma concentração de peróxido de hidrogénio de 4,0 × 210− 1L mol − nos poços das placas de cultura.

e) Extractos de PMMA em D-MEM

Foram utilizados 1,9 mL dos diferentes extractos E5, E10, E25, E50, E60, E75 e E100

f) Soluções de MMA

,

resultantes da exposição de placas de PMMA a D-MEM, preparados conforme descrito em

3.2.5.1.1.

Utilizaram-se 1,9 mL das soluções de MMA obtidas conforme indicado em

3.2.5.1.2.

g) Extractos de PMMA em soluções de álcoois

Às culturas celulares foram adicionados 1,9 mL dos diferentes extractos E5, E10,

E25, E50, E60

h) Extractos de PMMA em soluções de hidrocarbonetos clorados

, obtidos por exposição das placas de PMMA às diferentes soluções de etanol

e metanol em D-MEM, preparados conforme referido em 3.2.5.1.3.

Foram adicionados às culturas celulares 1,9 mL dos diferentes extractos E5, E10,

E25, E50, E60

Os 2,5 mL de meio celular foram incubados, durante 24 horas, na estufa de

incubação (37 ºC, 5 % de CO

, obtidos por exposição das placas de PMMA às diferentes soluções de

diclorometano e clorofórmio em D-MEM, preparados conforme mencionado em 3.2.5.1.4.

2

).

3.2.5.2.2. Estudo em culturas de macrófagos não estimuladas com LPS

Todas as experiências efectuadas com ausência do estímulo LPS envolveram a

incubação durante 24 horas (37 ºC, 5 % de CO2

610

) de 0,5 mL de suspensão celular (0,5 ×

células), 1,9 mL de D-MEM contendo os meios controlo, os extractos de PMMA ou

soluções de MMA em estudo e 0,1 mL de D-MEM previamente incubado a 37 ºC, durante

72 horas.

Page 192: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

174

Os meios controlo utilizados foram os seguintes:

a) Meio controlo da incubação com D-MEM

Para o controlo da incubação apenas com o meio de cultura foram adicionados às

culturas celulares 2,0 mL de D-MEM previamente incubado, a 37 ºC, durante 72 horas.

b) Meio controlo positivo

Aos 0,5 mL de suspensão celular (contendo 0,5 × 610 células) foram adicionados

1,9 mL de D-MEM, previamente incubado a 37 ºC durante 72 horas, e 0,1 mL de solução

de H2O2 1L mol −em D-MEM a 1,0 .

Os extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA avaliados foram iguais

aos referidos em 3.2.5.1.1. e 3.2.5.1.2., respectivamente.

3.2.5.3. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na viabilidade celular,

produção de espécies reactivas e de óxido nítrico

Após 24 horas de exposição das células aos meios controlo e aos meios contendo os

compostos em estudo indicados em 3.2.5.2., retiraram-se alíquotas dos sobrenadantes

celulares para a quantificação das espécies reactivas e dos nitritos. As diversas alíquotas,

após centrifugação durante 5 minutos (200 × g), para eliminar resíduos e restos celulares,

foram armazenadas a uma temperatura de −80 ºC até ao momento de utilização. As

amostras foram analisadas num prazo inferior a uma semana.

O estudo da viabilidade celular foi efectuado no próprio dia, segundo o ensaio do

MTT.

O estudo da viabilidade celular, produção de espécies reactivas e de óxido nítrico

nas culturas de macrófagos, foi realizado em triplicado para os diferentes meios controlo,

extractos do PMMA e soluções de MMA. Para cada variável estudada, realizaram-se duas

experiências independentes.

3.2.5.3.1. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na viabilidade celular

O ensaio do MTT (3.1.2.) foi utilizado para determinar a viabilidade celular das

culturas de macrófagos, após exposição aos diferentes meios controlo, extractos de PMMA

e soluções de MMA em estudo.

Page 193: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

175

Os restos dos sobrenadantes celulares foram aspirados com cuidado e as células

lavadas com PBS, previamente aquecido a 37 ºC. A cada poço das placas foi adicionado 1

mL de solução de MTT a 4,8 × 14 L mol10 −− . As placas de cultura de células foram então

novamente incubadas, durante 3 horas, na estufa de incubação (37 ºC, 5 % de CO2

No final deste período, aspiraram-se os sobrenadantes com cuidado para não tocar

na monocamada celular, nem retirar nenhum dos cristais azuis resultantes da redução do

MTT.

).

Adicionou-se a cada poço das placas de cultura 1 mL de DMSO para lisar as

células. As amostras foram lidas no espectrofotómetro, a 550 nm, num período inferior a

15 minutos. Todas as leituras de absorvância foram efectuadas em duplicado.

A viabilidade celular das culturas de células incubadas apenas com D-MEM e não

estimuladas com LPS correspondeu a 100 %. A viabilidade correspondente às restantes

culturas foi normalizada face a este valor.

3.2.5.3.2. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na produção de espécies

reactivas

A quantificação das espécies reactivas produzidas nos sobrenadantes celulares,

pelos diferentes grupos de células, foi efectuada por técnica espectrofotométrica (3.1.2.),

utilizando-se um indicador de redução, o composto p-iodonitrotetrazólio (INT).

O procedimento experimental, adaptado de Moreau et al. (1998), foi o seguinte: às

alíquotas de 0,5 mL, recolhidas como descrito em 3.2.5.3. e descongeladas à temperatura

ambiente, foram adicionados em tubos de ensaio 0,5 mL de água desionizada, 0,9 mL de

solução Na2CO312 L mol10 −− (5,0 × )

13 L mol10 −−

e 0,1 mL de solução do indicador INT a 6,0 ×

. Após agitação das amostras, no vórtex, adicionou-se 1 mL de solução padrão

de peróxido de hidrogénio (0,5 × 12 L mol10 −− ), elevando a concentração de espécies

reactivas nas amostras analisadas.

O método de adição do padrão utilizado é recomendado quando a matriz das

soluções é complexa e a concentração do elemento em estudo é baixa, visto que, ao elevar-

-se a concentração do analito pela adição do padrão, diminuem-se as possíveis

interferências da matriz, permitindo assim que os valores de absorvância lidos caiam

dentro dos limites de linearidade do método (Gonçalves, 1983).

Page 194: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

176

Após 2 horas de incubação, à temperatura ambiente e ao abrigo da luz, foi lida a

absorvância de cada uma das amostras a 490 nm. A determinação da absorvância para cada

amostra foi realizada em duplicado.

A quantificação do teor em espécies reactivas nas diferentes amostras foi efectuada

através de uma curva de calibração construída com soluções de peróxido de hidrogénio de

concentrações adequadas e rigorosamente conhecidas (3.2.1.).

A produção de espécies reactivas foi expressa em % (média ± desvio padrão)

relativamente à produção pelo grupo controlo, a qual correspondeu a um valor igual a 100

%.

3.2.5.3.3. Efeito dos extractos de PMMA e soluções de MMA na produção de óxido

nítrico

A quantificação do óxido nítrico

A reacção de Griess baseia-se na formação de um cromóforo azo, de coloração

vermelho-rosada, que resulta da ligação do ião diazónio com o dihidrocloreto de N-[(1-

naftil)enodiamina]. O ião diazónio, forma-se a pH entre 2 e 2,5, através da reacção de

diazotação entre o ião nitrito e a sulfanilamida (3.1.2.).

produzido pelos vários grupos de células foi

realizada pelo doseamento espectrofotométrico dos nitritos presentes nos sobrenadantes

celulares através da reacção de Griess.

O procedimento experimental utilizado foi o seguinte: às alíquotas de 0,2 mL

obtidas conforme descrito em 3.2.5.3. e descongeladas à temperatura ambiente, adicionou-

-se 0,2 mL de solução padrão de NO2− 16 L mol10 −−(0,89 × ) aumentando a concentração de

nitrito nas amostras analisadas e 0,4 mL de reagente de Griess, lendo-se a absorvância de

cada uma das amostras, em duplicado, a 550 nm.

Para a quantificação do teor de nitritos nos sobrenadantes celulares foi utilizada

uma curva de calibração com concentrações conhecidas de nitrito de sódio preparadas em

D-MEM.

A produção de nitritos foi expressa em (× 16 L mol )10 −− de NO2−

(média ± desvio

padrão).

Page 195: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

177

3.2.5.3.4. Análise estatística

A análise estatística relativa à comparação das médias dos resultados de viabilidade

celular, quantificação de espécies reactivas e de nitritos, foi obtida através da análise de

variância de factor único (ANOVA). O teste foi realizado utilizando o pacote estatístico do

Microsoft ® Excel 2000. Os resultados foram considerados diferentes sempre que P< 0,05.

3.3. Resultados e discussão

3.3.1. Quantificação do MMA

Os resultados experimentais relativos à quantificação do monómero por HPLC nos

extractos obtidos pela incubação de placas de PMMA em D-MEM e em soluções de

álcoois e de hidrocarbonetos clorados são apresentados nas Tabelas 3.1 e 3.2,

respectivamente.

Tabela 3.1. Resultados experimentais de [MMA] × 310 / 1L mol − nos extractos de PMMA em D-MEM após 72 h de incubação.

E [MMA] i 13 L /mol10 −× , (N = 6)

E 0,49 ± 0,003 5

E 1,10 ± 0,08 10

E 2,47 ± 0,07 25

E 4,78 ± 0,09 50

E 5,85 ± 0,28 60

E 7,57 ± 0,13 75

E 9,97 ± 0,23 100

Page 196: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

178

Tabela 3.2. Resultados experimentais de [MMA] × 310 / 1L mol − nos extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados após 72 h de incubação.

([MMA]) 13 L /mol10 −× , (N = 6)

E Etanol i

(5,0 × 12 L mol10 −− )

Metanol

(1,0 × 13 L mol10 −− )

Diclorometano

(1,0 × 12 L mol10 −− )

Clorofórmio

(1,0 × 13 L mol10 −− )

E 0,51 ± 0,008 5 0,48 ± 0,002 0,47 ± 0,003 0,45 ± 0,004

E 1,14 ± 0,009 10 1,11 ± 0,009 1,10 ± 0,01 1,10 ± 0,08

E 2,56 ± 0,26 25 2,42 ± 0,70 2,44 ± 0,78 2,42 ± 0,66

E 5,26 ± 0,11 50 4,71 ± 0,58 4,64 ± 0,19 4,74 ± 0,15

E 6,39 ± 0,12 60 5,81 ± 0,16 5,85 ± 0,17 5,81 ± 0,20

Da análise das Tabelas 3.1 e 3.2 verifica-se existir uma concentração média de

MMA superior nos extractos de PMMA em soluções de etanol comparativamente à

concentração do monómero em qualquer um dos outros extractos avaliados. Este facto

sugere, tal como referido em Bettencourt et al. (2002), que o etanol aumenta a extracção do

monómero a partir do PMMA.

A obtenção dos extractos seguiu a norma “ISO 10993” (1996), na qual se indicam

métodos de preparação dos materiais para ensaios de biocompatibilidade, referindo-se que

a extracção é uma técnica apropriada para grande número de estudos nos quais se pretende

determinar a reactividade biológica de lixiviados químicos.

Os extractos de PMMA foram obtidos à temperatura a que o cimento acrílico é

exposto no organismo (37 ºC), durante 72 horas, período sugerido na norma “ISO 10993”

(1996), após o qual já se terá libertado para o meio a maior parte do MMA residual

(Bettencourt et al., 2002).

O meio utilizado na obtenção dos extractos não continha indicador de pH, por ser

um composto corado que interfere nas reacções espectrofotométricas, nem soro fetal de

vitela.

Page 197: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

179

A utilização de meio sem soro é mencionado em vários estudos, nomeadamente em

osteoblastos (Méndez et al., 2002), macrófagos (Trindade et al., 2001; Wimhurst et al.,

2001), fibroblastos (Trindade et al., 2000; Yaszay et al., 2001) e mesmo na linha celular

utilizada, “RAW 264.7” (Habara et al., 2002; Ren et al., 2002).

Não sendo possível conhecer a composição química exacta do soro, não é

recomendável a sua utilização em técnicas que requerem um meio sintético de composição

bem definida, nomeadamente em estudos de produção de mediadores da resposta celular.

3.3.2. Exposição das culturas de macrófagos aos extractos de PMMA e soluções

de MMA

Seleccionou-se para os ensaios in vitro uma linha celular de macrófagos

imortalizada (“Raw 264.7”) frequentemente utilizada. Estas células são capazes de

produzir espécies reactivas de oxigénio (Loegering e Lennartz, 2004) e óxido nítrico

(Denlinger et al., 1996; Feelisch e Stamler, 1996; Guastadisegni et al., 2002; Chi et al.,

2003), mediadores inflamatórios sobre os quais incidia o interesse da investigação. A sua

utilização também é referida em artigos onde se investigam as causas de perda asséptica de

próteses cimentadas (Shanbhag et al., 1998; Ren et al., 2002).

Em todas as experiências os extractos e soluções de MMA permaneceram em

contacto com as células durante 24 horas, tempo de incubação considerado padrão para

verificar a citotoxicidade dos materiais (Ciapetti et al., 2000).

Expuseram-se células, estimuladas ou não com LPS, no momento em que foram

distribuídas nos poços das placas de cultura aos diferentes extractos de PMMA e soluções

de MMA. Simulou-se, assim, uma situação em que as células se dividem e aderem a uma

superfície quando entram em contacto com o tóxico.

Os macrófagos foram estimulados com LPS de modo a assegurar a sua activação,

uma vez que a endotoxina bacteriana é capaz de induzir in vitro a síntese de óxido nítrico e

outros mediadores inflamatórios (Chi et al., 2003; An et al., 2004), mimetizando um

sistema inflamatório in vivo.

Page 198: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

180

3.3.3. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na

viabilidade celular, produção de espécies reactivas e óxido nítrico

3.3.3.1. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na

viabilidade celular

O estudo da viabilidade celular após incubação das células com os diferentes

extractos de PMMA e soluções de MMA foi realizado através do ensaio do MTT

(3.2.5.3.1.). Os resultados apresentados na Tabela 3.3, mostram que os extractos do

PMMA E5, E10, E25, E50 e E60, não foram citotóxicos para as culturas de macrófagos. No

entanto, foi observada uma diminuição significativa na viabilidade celular após exposição

aos extractos E75 e E100

.

Tabela 3.3. Valores médios de viabilidade celular das culturas de macrófagos, estimuladas (+) ou não (−) com LPS, após exposição aos extractos de PMMA em D-MEM e aos meios controlo.

(Viabilidade celular)/%, (N = 6)

E (−) LPS i (+) LPS

E 105,6 ± 3,95 100,9 ± 7,6(a)* (a)*

E 99,1 ± 2,910 102,1 ± 5,4(a)*

E

(a)*

109,6 ± 4,325 103,7 ± 3,9(a)*

E

(a)*

107,0 ± 3,050 101,3 ± 5,4(a)*

E

(a)*

104,4 ± 4,960 96,3 ± 7,8(a)*

E

(a)*

68,1 ± 5,275 69,8 ± 4,1(b)*

E

(b)*

26,1 ± 2,0100 25,0 ± 2,5(c)*

C(D-MEM)

(c)*

** 100,1 ± 2,3(a)*

H2O212 L mol10 −− (4,0 × ) 1,0 ± 0,5 0,0 ± 2,1(d)* (d)*

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a viabilidade celular estatisticamente igual e diferente, P< 0,05. (**) A viabilidade celular dos macrófagos incubados apenas em D-MEM e não estimulados com LPS correspondeu a 100 %. Os restantes valores de viabilidade celular apresentados foram normalizados face a esse valor.

Page 199: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

181

Conclui-se, ainda, da análise da Tabela 3.3 que a estimulação das culturas celulares

com LPS não influenciou significativamente os resultados apresentados. Para a mesma

diluição dos extractos de PMMA não houve diferença estatisticamente significativa (P< 0,05)

nos valores de viabilidade celular entre as culturas celulares estimuladas com LPS e as

células não estimuladas.

Os resultados de viabilidade celular apresentados na Tabela 3.4 permitem concluir

que a adição do monómero MMA não se mostrou citotóxico para nenhuma das

concentrações estudadas, em qualquer das situações analisadas. Assim, não se observou

diferença estatisticamente significativa na viabilidade dos macrófagos previamente

estimulados ou não com LPS, após exposição às diferentes soluções de MMA.

Tabela 3.4. Valores médios de viabilidade celular das culturas de macrófagos, estimuladas (+) ou não (−) com LPS, após exposição às soluções de MMA e aos meios controlo.

(Viabilidade celular)/%, (N = 6)

[MMA] × 13 L mol10 / − (−) LPS (+) LPS

1,0 110,9 ± 13,1 101,2 ± 13,9(a)* (a)*

2,5 100,1 ± 2,3 104,0 ± 7,6(a)*

12,5

(a)*

109,2 ± 7,2 103,2 ± 5,2(a)*

17,5

(a)*

101,5 ± 13,9 99,9 ± 2,3(a)*

22,5

(a)*

101,8 ± 6,7 98,5 ± 3,6(a)*

C(D-MEM)

(a)*

** 100,1 ± 2,3(a)*

H2O212 L mol10 −− (4,0 × ) 1,0 ± 0,5 0,0 ± 2,1(b)* (b)*

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a viabilidade celular estatisticamente igual e diferente, P< 0,05. (**) Viabilidade celular dos macrófagos incubados apenas em D-MEM e não estimulados com LPS correspondeu a 100 %.

O facto de o monómero, nas condições ensaiadas, não se ter revelado citotóxico

não pode ser generalizado para qualquer tipo de célula. Por exemplo, no estudo realizado

por Dahl et al. (1994), verificou-se que concentrações de MMA superiores a 410− × 1L mol −

eram citotóxicas para culturas de monócitos, granulócitos e células endoteliais humanas.

Page 200: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

182

É necessário atender também ao tipo de ensaio utilizado porque, enquanto que no

do MTT se avalia a função metabólica mitocondrial, no estudo referido (Dahl et al., 1994)

realizaram-se outros ensaios de viabilidade celular, nomeadamente o da incorporação de

azul de tripano relacionado com a integridade da membrana.

O ensaio do MTT, que é um teste extensamente utilizado, tem como principal

inconveniente a possibilidade de ocorrerem falsos resultados positivos, devido à

interferência não específica de diferentes substâncias com o MTT, como o ascorbato

(Méndez et al., 2002), proteínas do soro (imunoglobulinas, albumina humana) e soro fetal

(Rollino et al., 1995). Julga-se, contudo, ser relativamente pequena a probabilidade de

terem ocorrido falsos resultados positivos, por ter sido utilizado meio de cultura sem soro

para obtenção dos extractos e soluções de MMA.

Concluindo, verificou-se que a estimulação com LPS não influenciou

significativamente a viabilidade celular nos macrófagos, quer pela exposição aos diferentes

extractos de PMMA (Tabela 3.3), quer pela exposição às soluções de MMA analisadas

(Tabela 3.4).

A citotoxicidade da solução de peróxido de hidrogénio garantiu o controlo positivo

da viabilidade celular nas diversas experiências realizadas.

As soluções de MMA revelaram-se muito menos citotóxicas nas culturas de

macrófagos (Tabela 3.4) do que os extractos de PMMA (Tabela 3.3) com concentrações

correspondentes do monómero. De facto, os extractos E75 e E100

310−

, correspondentes a uma

concentração em MMA igual a (7,57 e 9,97) × 1L mol − , respectivamente, foram

citotóxicos para as culturas celulares estudadas, ao contrário de qualquer das soluções de

MMA avaliadas (1,0 a 22,5 × 310− 1L mol − ). Este facto poderá significar que a viabilidade

celular, avaliada pelo ensaio do MTT, foi influenciada não pelo efeito exclusivo do MMA,

mas por outros compostos libertados do cimento acrílico, como a N,N-dimetil-p-toluidina,

ou eventualmente por produtos secundários formados durante a polimerização do PMMA.

O estudo de viabilidade celular teve por objectivo principal seleccionar os

sobrenadantes celulares onde iria ser quantificada a concentração de espécies reactivas e

nitritos. As amostras correspondentes aos extractos E75 e E100 foram excluídas dos estudos

referidos porque sendo citotóxicas, após exposição das culturas celulares a estes extractos,

não resultaria o mesmo número de células viáveis que nos grupos de células expostas aos

extractos de PMMA e soluções de MMA não citotóxicas.

Page 201: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

183

3.3.3.2. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na

produção de espécies reactivas

Os macrófagos, sob o efeito de determinados estímulos, podem produzir espécies

reactivas de oxigénio (ROS), nomeadamente o peróxido de hidrogénio e os radicais

superóxido e hidroxilo e espécies reactivas de azoto (RNS), como o radical óxido nítrico.

A quantificação das espécies reactivas é difícil devido a muitos destes compostos

terem tempo de semi-vida curto e serem reactivos de um modo não específico (Halliwell e

Gutteridge, 1999).

No estudo apresentado, a quantificação da produção de espécies reactivas foi

realizada por método espectrofotométrico (3.2.5.3.2.) recorrendo-se a um indicador de

redução, o composto p-iodonitrotetrazólio (INT).

A linearidade do método foi avaliada através de uma curva de calibração (Figura

3.10) construída com as soluções padrão de peróxido de hidrogénio referidas em 3.2.1.

A recta de regressão linear foi definida pela equação y = 1,55 × 110− x + 2,08 × 110−

(r = 0,9998; Sy/x

= 0,014; teste F = P< 0,001). A redução do INT pelo peróxido de

hidrogénio é devida à formação do radical hidroxilo (Moreau et al., 1998).

0,0000,2000,4000,6000,8001,0001,2001,4001,6001,800

0 0,02 0,04 0,06 0,08[H2O2]/mol L−1

a

Figura 3.10. Representação gráfica da variação da absorvância (a) em função da

concentração de H2O2

.

Page 202: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

184

Nos sobrenadantes dos macrófagos não estimulados (meio controlo sem LPS) não

se detectaram espécies reactivas. Assim, a produção de espécies reactivas nestas culturas

celulares constituiu o controlo negativo da resposta celular em relação à sua produção.

A produção de espécies reactivas nas culturas celulares estimuladas com LPS (meio

controlo com LPS) correspondeu ao controlo positivo da resposta celular. Todos os

resultados foram expressos como uma percentagem da resposta das células controlo, a qual

foi considerada igual a 100 %.

Os resultados apresentados na Figura 3.11, referem-se à quantificação de espécies

reactivas (E.R.) nos sobrenadantes das culturas celulares estimuladas com LPS, após

exposição aos extractos E5, E10, E25, E50 e E60

90

100

110

120

130

E5 E10 E25 E50 E60

meios

[E.R

.]/ % * *

*

de PMMA em D-MEM (Bettencourt et al.,

2004b).

(*) [E.R.] estatisticamente diferente do controlo e igual entre si, P< 0,05.

Figura 3.11. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em D-MEM.

A produção de espécies reactivas após exposição aos extractos de PMMA E5 e E10

foi estatisticamente igual à produção de espécies reactivas nas culturas de células expostas

ao meio controlo (Figura 3.11). Observou-se ainda um aumento estatisticamente

significativo na produção de espécies reactivas pelas células após exposição aos extractos

E25, E50 e E60.

Page 203: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

185

Nas amostras avaliadas, além das diferentes espécies reactivas produzidas pela

resposta dos macrófagos, podiam ainda existir radicais resultantes da reacção de

polimerização do PMMA.

Para verificar a validade da hipótese, doseou-se a concentração de espécies

reactivas no extracto E60

Moreau et al. (1998) utilizando o mesmo método de quantificação (redução do

INT), concluiu que a libertação de radicais do PMMA diminuía com o tempo, ajustando-se

a uma cinética de primeira ordem. A libertação máxima ocorria nos primeiros três dias

após a polimerização do PMMA. No estudo mencionado, as espécies reactivas foram

doseadas directamente no cimento acrílico com diferentes tempos de polimerização e não

em extractos diluídos onde, após 72 horas a 37 ºC, é provável que a maior parte dos

radicais libertados da reacção de polimerização do PMMA já tenham reagido entre si.

de PMMA em D-MEM. Como não se detectaram espécies

reactivas no referido extracto, concluiu-se que as espécies reactivas quantificadas nos

diferentes extractos foram produzidas pelos macrófagos.

Da análise da Figura 3.12, pode observar-se que a solução de MMA de menor

concentração (1,0 × 310− 1L mol − ) não influenciou (P< 0,05) a produção de espécies

reactivas pelas culturas celulares.

90

100

110

120

130

1,0 2,5 12,5 17,5 22,5

[MMA] × 103/mol L−1

[E.R

.]/ %

* *

* *

(*) [E.R.] estatisticamente diferente do controlo e igual entre si, P< 0,05.

Figura 3.12. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição às soluções de MMA.

Page 204: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

186

Pelo contrário, as soluções de MMA de concentração igual ou superior a 2,5 × 310− 1L mol − provocaram um aumento, estatisticamente significativo, na produção de

espécies reactivas. O efeito observado foi porém independente do aumento da

concentração de MMA.

Comparando as Figuras 3.11 e 3.12, verifica-se que os extractos de PMMA E25, E50

e E60

310−

, cuja concentração de MMA se encontra compreendida entre (2,47 e 5,85) × 1L mol − (Tabela 3.1), produziram espécies reactivas em quantidade estatisticamente

igual à observada para as soluções de MMA de concentração igual ou superior a 2,5 × 310− 1L mol − . Este facto, sugere que a produção de espécies reactivas pelos macrófagos,

após exposição aos extractos de PMMA, poderá em parte ser devido à acção do monómero

e, ainda, que uma pequena quantidade de MMA é suficiente para desencadear um aumento

na produção de espécies reactivas, embora a resposta não seja dependente da concentração

de MMA.

Os resultados apresentados não excluem, no entanto, a possibilidade de in vivo

outros constituintes do cimento acrílico como a N,N-dimetil-p-toluidina ou radicais

formados a partir da polimerização do PMMA (Vale et al., 1997; Moreau et al., 1998;

Méndez et al., 2002), nomeadamente o radical hidroxilo (Kennedy et al., 2000) estarem

igualmente envolvidos na activação de macrófagos. É possível que o efeito dos referidos

compostos, presentes nos extractos em pequenas quantidades comparativamente com o

MMA, não tenha sido visível nos ensaios apresentados, devido a terem sido utilizadas nas

experiências amostras diluídas e obtidas 72 horas após a polimerização do PMMA.

3.3.3.3. Efeito dos extractos de PMMA em D-MEM e soluções de MMA na

produção de óxido nítrico

O método de quantificação utilizado para estudar a produção de espécies reactivas

pelos macrófagos, sendo pouco selectivo, não permitiu perceber qual ou quais das espécies

reactivas foram produzidas preferencialmente pelos macrófagos. Considerou-se, por isso,

relevante a avaliação de um radical, em particular o óxido nítrico.

Page 205: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

187

O óxido nítrico é produzido por vários tipos de células, nomeadamente pelos

macrófagos estando descrita a sua produção in vitro em “RAW 264.7” após estimulação

com LPS (Feelish e Stamler, 1996; Gaustadisegni et al., 2002; Habara et al., 2002; Chi et

al., 2003).

A produção do radical óxido nítrico pelos macrófagos foi avaliada pela

determinação da concentração de ião nitrito nos sobrenadantes celulares, através da

reacção de Griess (3.2.5.3.3.).

Para quantificação dos nitritos recorreu-se a uma curva de calibração (Figura 3.13)

construída com uma gama de concentrações conhecidas de soluções padrão de nitrito de

sódio (3.2.1.).

Os valores experimentais correlacionam-se através de uma relação linear, tendo-se

calculado os seguintes parâmetros de ajuste: y = 1,87 × 210− x + 7,11 × 210− (r = 0,9999;

Sy/x

0,000

0,200

0,400

0,600

0,800

1,000

0 10 20 30 40 50

[NO2− ] × 106/mol L−1

a

= 0,004; teste F = P< 0,001).

Figura 3.13. Representação gráfica da variação da absorvância (a) em função da

concentração de NO2−

.

Nas culturas de macrófagos não estimuladas com LPS, não se detectou produção de

nitritos (Figura 3.14). O limite de detecção determinado foi igual a 0,6 × 710− 1L mol − .

Considerou-se, por isso, que a produção de nitritos nas culturas celulares referidas

corresponde ao controlo negativo da resposta celular.

Page 206: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

188

O controlo positivo da resposta celular, corresponde ao teor de nitritos quantificado

nos sobrenadantes celulares recolhidos das células incubadas em meio controlo com LPS

(Figura 3.14).

0,02,04,06,08,0

10,0

(-) LPS (+) LPS

meios controlo

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1

*

1

(*) não detectável ([NO2−] ≤ 0,6 × 10−7 mol L−1

).

Figura 3.14. Quantificação de nitritos correspondente à produção basal de óxido nítrico pelas culturas de macrófagos, estimuladas (+) ou não (−) com LPS, após exposição aos meios controlo.

A concentração de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos

extractos de PMMA E5 e E10

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1

a* a* a*

c*

b*b*

foi estatisticamente igual (P< 0,05) à concentração de nitritos

obtida nos sobrenadantes celulares, após exposição ao meio controlo (Figura 3.15).

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de NO2

Figura 3.15. Quantificação de nitritos nos meios após exposição durante 24 horas aos extractos de PMMA em D-MEM.

estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Page 207: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

189

Pelo contrário, nos sobrenadantes obtidos pela exposição das células aos extractos

E25, E50 e E60 houve uma diminuição significativa da concentração de nitritos. Salienta-se,

ainda, que a concentração de nitritos nos sobrenadantes celulares, após exposição ao

extracto E60, foi estatisticamente inferior (P< 0,05) à concentração de nitritos obtida nos

sobrenadantes celulares pela exposição aos extractos E25 e E50

Nas amostras recolhidas após exposição das células às soluções de MMA de

concentração igual ou superior a 2,5 ×

.

310− 1L mol − houve uma diminuição, ou mesmo

ausência de iões nitrito (Figura 3.16). Nos sobrenadantes celulares obtidos por exposição

das células às soluções (17,5 e 22,5) × 310− 1L mol − de MMA não se detectaram nitritos em

solução.

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

C 1,0 2,5 12,5 17,5 22,5

[MMA] × 103/mol L−1

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1 a*

b*

** **

b*

a*

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de NO2

(**) não detectável ([NO

estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

2−] ≤ 0,6 × 10−7 mol L−1

).

Figura 3.16. Quantificação de nitritos nos meios após exposição durante 24 horas às soluções de MMA.

Tendo-se constatado que os extractos E25, E50 e E60

310−

de PMMA e as soluções de

MMA de concentração igual ou superior a 2,5 × 1L mol − aumentaram significativamente

a produção de espécies reactivas nos macrófagos estimulados com LPS (Figuras 3.11 e

3.12) e, sendo o óxido nítrico um mediador geralmente produzido em grandes quantidades

em condições inflamatórias (Puskas et al., 2003), previa-se que a concentração de nitritos

também estaria aumentada para as amostras obtidas após exposição das células aos

extractos de PMMA e soluções de monómero mencionadas.

Page 208: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

190

Mas o que se observou foi que a concentração de nitritos nos sobrenadantes

recolhidos dos macrófagos estimulados com LPS após exposição aos extractos E25, E50 e

E60310− de PMMA e soluções de MMA de concentração igual a 2,5 e 12,5 × 1L mol − foi

inferior à concentração do ião no meio controlo (Figuras 3.15 e 3.16), não se tendo mesmo

detectado nitritos nas soluções de monómero de concentração igual a (17,5 e 22,5) × 310− 1L mol − . No entanto, os resultados não traduzem necessariamente uma diminuição na

produção do radical óxido nítrico.

O método de Griess, apesar das diversas vantagens indicadas, é uma técnica de

quantificação indirecta, não medindo directamente a expressão das enzimas responsáveis

pela síntese do óxido nítrico. A produção do radical pode ter aumentado significativamente

devido à activação dos macrófagos pelos extractos de PMMA e soluções de monómero

mencionadas mas, por ser muito reactivo, pode ter ocorrido uma reacção subsequente à sua

formação com outro composto presente nos sobrenadantes celulares.

Uma das hipóteses explicativas é a da reacção (Figura 3.17) entre o óxido nítrico e

o radical superóxido, muito frequente em meios biológicos, da qual resulta a formação do

anião peroxinitrito (Feelish e Stamler, 1996; Packer et al., 1998).

•NO + O2• − → ONOO− k = 4 a 7 × 109 mol−1 L s

−1

Figura 3.17. Reacção entre os radicais óxido nítrico (•NO) e superóxido (O2• −) formando-

-se o anião peroxinitrito (−

ONOO).

A reacção é muito rápida só sendo limitada pela velocidade de difusão das

moléculas. O anião peroxinitrito é muito mais reactivo e lesivo do que os seus percursores

podendo intervir numa variedade de reacções destrutivas, incluindo a peroxidação proteica

e lipídica, quebra de cadeias e nitração de resíduos de tirosina e cisteína nas proteínas

(Fernandes et al., 2003).

Page 209: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

191

A toxicidade do peroxinitrito advém ainda do facto de poder exercer o seu efeito

longe do local onde foi sintetizado devido à sua capacidade de atravessar membranas

lipídicas (Packer et al., 1998).

O radical superóxido é uma espécie reactiva de oxigénio produzida em elevada

quantidade quando os macrófagos são activados (Loegering e Lennartz, 2004).

Nos extractos E25, E50 e E60

310−

e nas soluções de monómero de concentração igual ou

superior a 2,5 × 1L mol − foi observado um incremento na produção de espécies

reactivas, relacionada em parte com a existência do radical superóxido.

A diminuição do teor de nitritos quantificados nas referidas amostras é provável

que seja directamente proporcional ao aumento da produção do radical superóxido. Assim,

o nitrito doseado nos sobrenadantes resulta apenas da oxidação do óxido nítrico que não

reagiu com o superóxido.

Da activação dos macrófagos produzem-se muitas espécies reactivas diferentes

pelo que, mesmo que tenha ocorrido consumo do radical superóxido, é provável que ainda

permanecessem nos sobrenadantes compostos susceptíveis de serem detectados pela

redução do INT, nomeadamente o peróxido de hidrogénio e o radical hidroxilo.

3.3.4. Efeito dos extractos de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos

clorados na viabilidade celular, produção de espécies reactivas e óxido nítrico

A avaliação do efeito dos extractos de PMMA em soluções de etanol, metanol,

diclorometano e clorofórmio, nas culturas de macrófagos estimuladas com LPS, foi

realizada para as concentrações mais elevadas destes compostos previamente estudadas

(2.6.1.1.) relativamente à cinética de dissolução do MMA.

Na avaliação dos parâmetros físico-químicos concluiu-se que apenas o etanol

aumentou a extracção do monómero a partir da matriz do biomaterial. Tal facto não exclui

a possibilidade de ocorrer a formação de produtos em quantidades muito pequenas

resultantes da reacção entre o etanol, o metanol, o diclorometano ou o clorofórmio e

produtos secundários à reacção de polimerização do cimento acrílico.

Page 210: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

192

Na reacção de polimerização do PMMA formam-se radicais não totalmente

caracterizados (Moreau et al., 1998). Apesar de após o período de obtenção dos extractos,

72 horas a 37 ºC, ser provável que a maioria dos radicais tenha reagido, basta existir algum

composto, mesmo em quantidades vestigiais, para desencadear um efeito em cadeia com

consequências imprevisíveis a nível celular.

3.3.4.1. Efeito dos extractos de PMMA em soluções de álcoois e

hidrocarbonetos clorados na viabilidade celular

O objectivo principal do estudo de viabilidade celular foi o de confirmar a ausência

de citotoxicidade dos sobrenadantes celulares nos quais se iria avaliar a produção de

espécies reactivas e de óxido nítrico.

Tendo os estudos anteriormente realizados (3.3.3.1.) demonstrado que a ausência

de estimulação das culturas com LPS não influenciava os resultados de viabilidade celular

e que os extractos E75 e E100 de PMMA em D-MEM foram citotóxicos para as culturas de

células, optou-se por só estudar a viabilidade celular para os extractos E5, E10, E25, E50,

E60

Os valores de viabilidade celular relacionados com as soluções de etanol (C

de PMMA em soluções de álcoois e de hidrocarbonetos clorados nas culturas de

células não estimuladas com LPS.

Et),

metanol (CMe), diclorometano (CDi) e clorofórmio (CCl

Na Tabela 3.5 constata-se ainda que a solução de peróxido de hidrogénio (meio

controlo positivo) foi muito citotóxica para as células.

), referidos na Tabela 3.5,

correspondem aos resultados de viabilidade das culturas celulares expostas ao grupo

controlo do efeito dos álcoois e hidrocarbonetos clorados na ausência de PMMA (3.2.5.2.1.b).

Não se observou diferença estatisticamente significativa (P< 0,05) na viabilidade celular

entre as culturas celulares expostas aos meios controlo atrás referidos e as células expostas

só a D-MEM.

Na Tabela 3.6 mostram-se os resultados experimentais relativos à viabilidade das

culturas celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de etanol (5,0 × 210− 1L mol − ) e metanol (1,0 × 310− 1L mol − ).

Page 211: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

193

Tabela 3.5. Valores médios de viabilidade celular após exposição aos meios controlo do efeito de álcoois e hidrocarbonetos clorados na ausência de PMMA e meio controlo positivo.

Meios controlo (soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados)

(Viabilidade celular)/%, (N = 6)

Etanol (5,0 × 12 L mol10 −− ) 104,9 ± 6,7(a)*

Metanol (1,0 × 13 L mol10 −− ) 101,0 ± 9,2

Clorofórmio (1,0 ×

(a)* 13 L mol10 −− ) 101,4 ± 3,1

Diclorometano (1,0 × 10

(a)* −2 mol L−1 100,2 ± 4,6)

C(D-MEM)

(a)*

**

H2O212 L mol10 −− (4,0 × ) 0,8 ± 2,0(b)*

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a viabilidade celular estatisticamente igual e diferente, P< 0,05. (**) Os valores de viabilidade celular foram normalizados em relação ao valor da viabilidade celular dos macrófagos incubados apenas em D-MEM e estimulados com LPS, o qual correspondeu a 100 %.

Tabela 3.6. Valores médios de viabilidade celular, após exposição aos extractos de PMMA em soluções de álcoois.

(Viabilidade celular)/%, (N = 6)

E Etanol i

(5 × 12 L mol10 −− )

Metanol

(1 × 13 L mol10 −− )

E 107,3 ± 13,05 102,0 ± 8,4(a)* (a)*

E 103,6 ± 10,910 99,9 ± 8,6(a)*

E

(a)*

104,8 ± 12,325 98,5 ± 11,6(a)*

E

(a)*

100,0 ± 13,550 98,2 ± 5,2(a)*

E

(a)*

98,0 ± 9,960 107,3 ± 13,9(a)*

C(D-MEM)

(a)*

** **

H2O2 12 L mol10 −−(4,0 × ) 0,8 ± 0,02 0,9 ± 0,01(b)* (b)*

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a viabilidade celular estatisticamente igual e diferente, P< 0,05. (**) Os valores de viabilidade celular foram normalizados em relação ao valor da viabilidade celular dos macrófagos incubadas apenas em D-MEM, o qual correspondeu a 100 %.

Page 212: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

194

A Tabela 3.7 apresenta os resultados experimentais relativos ao estudo da

viabilidade celular após exposição a extractos de PMMA em soluções de diclorometano

(1,0 × 210− 1L mol − ) e clorofórmio (1,0 × 310− 1L mol − ).

O estudo de viabilidade celular realizado permitiu, assim, concluir que os extractos

E5, E10, E25, E50, E60

de PMMA em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados não

apresentavam citotoxicidade para as culturas de células estimuladas com LPS.

Tabela 3.7. Valores médios de viabilidade celular, após exposição aos extractos de PMMA em soluções de hidrocarbonetos clorados.

(Viabilidade celular)/%, (N = 6) E Diclorometano i

(1 × 12 L mol10 −− ) Clorofórmio

(1 × 13 L mol10 −− )

E 101,6 ± 5,25 100,6 ± 4,0(a)* (a)*

E 100,1 ± 5,110 99,5 ± 4,0(a)* E

(a)* 101,2 ± 4,125 97,6 ± 4,0(a)*

E

(a)*

101,1 ± 9,250 100,6 ± 7,2(a)*

E

(a)*

99,2 ± 9,160 97,7 ± 2,8(a)*

C(D-MEM)

(a)*

** **

H2O2 12 L mol10 −−(4,0 × ) 0,7 ± 0,01 0,7 ± 0,02(b)* (b)*

(*) Letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a viabilidade celular estatisticamente igual e diferente, P< 0,05. (**) Os valores de viabilidade celular foram normalizados em relação ao valor da viabilidade celular dos macrófagos incubados apenas em D-MEM, o qual correspondeu a 100 %.

3.3.4.2. Efeito dos extractos de PMMA em soluções de álcoois e

hidrocarbonetos clorados na produção de espécies reactivas

Os resultados experimentais relativos à produção de espécies reactivas nos

sobrenadantes celulares após exposição aos extractos E5, E10, E25, E50, E60

210−

de PMMA em

soluções de etanol (5,0 × 1L mol − ) encontram-se representados no gráfico apresentado

na Figura 3.18.

Page 213: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

195

Grupos controlo (Espécies reactivas)/%

Extractos (Espécies reactivas)/%

CEt 101,2 ± 4,7 (Etanol) E E5 E10 E25 E50 60 Extracto

C(PMMA) 102,8 ± 2,7

102,3 ± 4,3

109,7 ± 5,0

110,2 ± 6,8

114,5 ± 9,2

Extracto (PMMA + Et)

102,6 ± 5,0

104,6 ± 7,3

109,0 ± 8,3

112,1 ± 5,0

113,5 ± 8,4

90

100

110

120

130

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[E.R

.]/%

C(PMMA)PMMA+Et

a*

a*a* a*

a*

b*b*

b*

b*

b*

b*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de espécies reactivas estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.18. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de etanol e meios controlo.

A Figura 3.19 apresenta os resultados relativos à produção de espécies reactivas

pelas células após exposição aos extractos E5, E10, E25, E50, E60

310−

de PMMA em soluções de

metanol (1,0 × 1L mol − ).

Page 214: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

196

Grupos controlo (Espécies reactivas)/%

Extractos (Espécies reactivas)/%

CMe 99,7 ± 4,0 (Metanol) E E5 E10 E25 E50 60 Extracto

C(PMMA) 102,8 ± 2,7

102,3 ± 4,3

109,7 ± 5,0

110,2 ± 6,8

114,5 ± 9,2

Extracto (PMMA + Me)

100,5 ± 5,6

100,3 ± 6,5

109,0 ± 6,7

111,3 ± 7,2

115,6 ± 14,4

90

100

110

120

130

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[E.R

.]/%

C(PMMA)PMMA+Me

a*a* a*

b*

a*a*

b*b*

b*

b*

b*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de espécies reactivas estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.19. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de metanol e meios controlo.

Os resultados obtidos mostram que os meios controlo do etanol (CEt) - Figura 3.18

- e do metanol (CMe) - Figura 3.19 - não

O radical hidroxilo pode ser formado durante a polimerização do PMMA, pela

reacção entre a N,N-dimetil-p-toluidina e o peróxido de benzoílo (Kennedy et al., 2000).

tiveram qualquer efeito na produção de espécies

reactivas comparativamente ao meio controlo D-MEM.

Page 215: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

197

Este composto é dos radicais intracelulares mais tóxicos para as células (Halliwell e

Gutteridge, 1999; Claycombe e Meydani, 2001), sendo-lhe atribuído um efeito osteolítico

(Kennedy et al., 2000) devido a provocarem a necrose de culturas de osteoblastos.

O etanol e o metanol são susceptíveis de diminuir a quantidade do radical hidroxilo

nos extractos de PMMA através de reacções nas quais se formam compostos menos

reactivos, nomeadamente os radicais hidroxietilo (Figura 3.20) e hidroximetilo (Figura

3.21), respectivamente (Halliwell e Gutteridge, 1999).

CH3CH2OH + HO• → CH3CHOH• + H2

Figura 3.20. Formação do radical hidroxietilo.

O

CH3OH + HO• → CH2OH• + H2

Figura 3.21. Formação do radical hidroximetilo.

O

Como não se observou uma diferença estatisticamente significativa na produção de

espécies reactivas entre os extractos PMMA controlo (CPMMA

Na Figura 3.22 apresenta-se o gráfico relativo aos resultados experimentais da

produção de espécies reactivas após exposição das células aos extractos E

) e os extractos

correspondentes em etanol (Figura 3.18) ou metanol (Figura 3.19), concluiu-se que,

embora os álcoois possam reagir com alguma quantidade de radical hidroxilo formado, tal

parece não ter significado na resposta avaliada nos macrófagos.

5, E10, E25, E50,

E60 210−de PMMA nas soluções de diclorometano (1,0 × 1L mol − ).

Comparando a produção de espécies reactivas pelas células após exposição ao meio

controlo D-MEM com o meio controlo do diclorometano (CDi

Tal como observado em relação aos extractos de PMMA em soluções de álcoois

(Figuras 3.18 e 3.19) não houve diferença, estatisticamente significativa, em relação à

produção de espécies reactivas nos correspondentes extractos PMMA controlo (C

) concluiu-se que não houve

qualquer efeito devido apenas ao diclorometano (Figura 3.22).

PMMA

).

Page 216: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

198

Grupos controlo (Espécies reactivas)/%

Extractos (Espécies reactivas)/%

CDi 102,6 ± 5,4 (Diclorom.) E E5 E10 E25 E50 60 Extracto

C(PMMA) 102,8 ± 2,7

102,3 ± 4,3

109,7 ± 5,0

110,2 ± 6,8

114,5 ± 9,2

Extracto (PMMA + Di)

98,6 ± 13,7

104,9 ± 8,1

108,0 ± 5,4

109,4 ± 9,1

111,4 ± 5,7

90

100

110

120

130

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[E.R

.] /%

C(PMMA)PMMA+Di

a*a*

a*b*

a*

a*

b*

b*b*

b*

b*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de espécies reactivas estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.22. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após

exposição aos extractos de PMMA em soluções de diclorometano e meios controlo.

Os resultados experimentais relativos à produção de espécies reactivas pelas células

após exposição aos extractos E5, E10, E25, E50, E60

310−

de PMMA em soluções de clorofórmio

(1,0 × 1L mol − ) são apresentados na Figura 3.23.

Page 217: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

199

Grupos controlo (Espécies reactivas)/%

Extractos (Espécies reactivas)/%

CCl 101,3 ± 8,4 (Clorofórmio) E E5 E10 E25 E50 60 Extracto

C(PMMA) 102,8 ± 2,7

102,3 ± 4,3

109,7 ± 5,0

110,2 ± 6,8

114,5 ± 9,2

Extracto (PMMA + Cl)

99,8 ± 6,7

104,1 ± 7,3

108,2 ± 6,2

110,9 ± 12,2

111,8 ± 13,2

90

100

110

120

130

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[E.R

.]/%

C(PMMA)PMMA+Cl

a*

a* a*

b*

a*

a*

b*b*

b*b* b*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de espécies reactivas estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.23. Quantificação de espécies reactivas nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de clorofórmio e meios controlo.

O clorofórmio pode induzir a peroxidação lipídica (reacção radicalar de oxidação

dos lípidos polinsaturados da membrana celular) no fígado, devido aos radicais formados

pela cisão homolítica do clorofórmio (Figura 3.24), (Halliwell e Gutteridge, 1999).

Page 218: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

200

CHCl3 → H• + CCl3

Figura 3.24. Radicais formados pela cisão homolítica do clorofórmio.

A formação dos referidos radicais a partir do clorofórmio não é muito frequente,

requerendo considerável energia para a sua formação (376,2 kJ mol-1

O meio controlo do clorofórmio (C

). Por esta razão é

pouco provável a sua existência nos extractos.

Cl

A avaliação global dos resultados mostra que os meios controlo do etanol, metanol,

diclorometano e clorofórmio não influenciaram significativamente a produção de espécies

reactivas pelas células comparativamente ao meio D-MEM controlo.

) não influenciou a produção de espécies

reactivas comparativamente ao meio D-MEM controlo. O clorofórmio também não

influenciou a resposta celular provocada pela exposição ao cimento acrílico como se

conclui da comparação dos resultados entre os diferentes extractos de PMMA (Figura

3.23).

Verifica-se que nenhum dos extractos de PMMA, em soluções de álcoois (Figuras

3.18 e 3.19) ou hidrocarbonetos clorados (Figuras 3.22 e 3.23), produziu um efeito

estatisticamente diferente na produção de espécies reactivas relativamente aos extractos

PMMA controlo.

No estudo apresentado não se pretendia estudar o efeito directo do etanol, metanol,

diclorometano ou clorofórmio na produção de espécies reactivas pelos macrófagos, mas

sim se algum destes compostos conduzia à formação de produtos por reacção com

compostos lixiviados do cimento acrílico que potenciassem o efeito dos extractos do

PMMA, o que não se veio a verificar.

3.3.4.3. Efeito dos extractos de PMMA em soluções de álcoois e

hidrocarbonetos clorados na produção de óxido nítrico

A quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos

extractos E5, E10, E25, E50, E60 210−de PMMA em soluções de etanol (5,0 × 1L mol − ) é

apresentada na Figura 3.25.

Page 219: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

201

Os resultados mostram que a quantidade de nitritos nos sobrenadantes celulares,

obtidos após exposição das células ao meio controlo do etanol (CEt

), é estatisticamente

igual à quantidade de nitritos obtida após exposição ao meio D-MEM controlo (C).

Grupos controlo [NO2

− 610] × / 1L mol −

C(D-MEM) 8,02 ± 0,304 Extractos [NO2

− 610] × / 1L mol − CEt 8,04 ± 0,715 (Etanol) E E5 E10 E25 E50 60

Extracto C(PMMA)

8,10 ± 0,320

8,04 ± 0,384

7,53 ± 0,546

7,25 ± 0,354

6,56 ± 0,322

Extracto (PMMA + Et)

8,10 ± 0,069

8,02 ± 0,343

7,65 ± 0,361

7,01 ± 0,260

6,52 ± 0,122

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1

C(PMMA)PMMA+Et

a*a*

a*a*

a* a*b* b*

b*

c*

b*

c*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de NO2

estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.25. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de etanol e meios controlo.

Os extractos de PMMA em soluções de etanol produziram um padrão de resposta

semelhante aos extractos PMMA controlo (Figura 3.25).

Page 220: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

202

Apesar dos extractos obtidos na solução de etanol terem um teor de monómero

superior ao correspondente extracto controlo, a quantidade máxima de MMA existente

(6,39 × 310− 1L mol − ) não foi suficiente para bloquear a síntese de óxido nítrico, como se

verificou para as soluções de MMA de concentração igual ou superior a 17,5 × 310− 1L mol − .

Os resultados experimentais relativos à produção de nitritos nos sobrenadantes

celulares após exposição aos extractos E5, E10, E25, E50, E60

310−

de PMMA em soluções de

metanol (1,0 × 1L mol − ) são apresentados na Figura 3.26.

Grupos controlo

[NO2− 610] × / 1L mol −

C(D-MEM) 8,02 ± 0,304 Extractos [NO2

− 610] × / 1L mol − CMe 8,03 ± 0,573 (Metanol) E E5 E10 E25 E50 60

Extracto C(PMMA)

8,10 ± 0,320

8,04 ± 0,384

7,53 ± 0,546

7,25 ± 0,354

6,56 ± 0,322

Extracto (PMMA + Me)

8,04 ± 0,307

7,99 ± 0,262

7,62 ± 0,293

7,14 ± 0,382

6,54 ± 0,398

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1

C(PMMA)PMMA + Me

a* a* a* a* a* a*b*b*

c*

b*b*

c*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de NO2

estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.26. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de metanol e meios controlo.

Page 221: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

203

A análise destes resultados permite concluir que os extractos E25, E50 e E60 de

PMMA, obtidos em soluções metanólicas, diminuíram a produção de nitritos pelas células.

Não se observou, contudo, diferença estatisticamente significativa (P< 0,05) em relação

aos correspondentes extractos PMMA controlo (CPMMA

Na Figura 3.27 são apresentados os resultados experimentais relativos à produção

de nitritos após exposição das células aos extractos E

).

5, E10, E25, E50, E60

210−

de PMMA em

soluções de diclorometano (1,0 × 1L mol − ).

Grupos controlo [NO2

− 610] × / 1L mol −

C(D-MEM) 8,02 ± 0,304 Extractos [NO2

− 610] × / 1L mol − CDi 7,99 ± 0,150 (Diclorom.) E E5 E10 E25 E50 60

Extracto C(PMMA)

8,10 ± 0,320

8,04 ± 0,384

7,53 ± 0,546

7,25 ± 0,354

6,56 ± 0,322

Extracto (PMMA + Di)

8,08 ± 0,453

7,93 ± 0,106

7,64 ± 0,143

7,26 ± 0,137

6,80 ± 0,277

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1

C(PMMA)PMMA + Di

a*a*

a* a*a* a* b*

b*b* b*

c*c*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de NO2

estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.27. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de diclorometano e meios controlo.

Page 222: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE EXTRACTOS DE PMMA E SOLUÇÕES DE MMA

204

Na Figura 3.28 são apresentados os resultados experimentais relativos à produção

de nitritos após exposição das células aos extractos E5, E10, E25, E50, E60

310−

de PMMA em

soluções de clorofórmio (1,0 × 1L mol − ).

Grupos controlo [NO2

− 610] × / 1L mol −

C(D-MEM) 8,02 ± 0,304

Extractos [NO2

− 610] × / 1L mol − CCl 8,06 ±

0,291 (Clorofórmio) E E5 E10 E25 E50 60

Extracto C(PMMA)

8,10 ±

0,320

8,04 ±

0,384

7,53 ±

0,546

7,25 ±

0,354

6,56 ± 0,322

Extracto (PMMA + Cl)

8,14 ±

0,959

7,93 ±

0,125

7,63 ±

0,123

7,26 ±

0,212

6,76 ± 0,128

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

C E5 E10 E25 E50 E60

meios

[NO

2− ] × 1

06 /mol

L−1

C(PMMA)PMMA + Cl

a*

a*a*

a*a* b*

b*b* b*

c* c*

a*

(*) letras iguais e letras diferentes correspondem, respectivamente, a concentração de NO2

estatisticamente igual e diferente, P< 0,05.

Figura 3.28. Quantificação de nitritos nos sobrenadantes celulares após exposição aos extractos de PMMA em soluções de clorofórmio e meios controlo.

Comparativamente ao meio controlo (C) os resultados, apresentados nas Figuras

3.27 e 3.28, mostram que os meios controlo do diclorometano (CDi) e clorofórmio (CCl)

não influenciaram significativamente a produção de nitritos.

Page 223: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO III

205

Da interpretação dos resultados, conclui-se que os extractos de PMMA, obtidos nas

soluções de diclorometano (Figura 3.27) e de clorofórmio (Figura 3.28), face aos extractos

PMMA controlo, não afectaram a concentração de nitritos nos sobrenadantes celulares.

Em síntese:

- os ensaios de viabilidade celular sugerem que há um efeito, avaliado pela

integridade da função mitocondrial, dos extractos de PMMA na viabilidade celular, que

não se relacionou directamente com o MMA;

- o aumento da concentração de espécies reactivas e a diminuição da concentração

de nitritos nos sobrenadantes celulares, após exposição aos extractos E25, E50 e E60

- a produção de óxido nítrico por macrófagos e a subsequente conversão deste

radical em peroxinitrito nos tecidos periprostéticos foi sugerido por Puskas et al. (2003)

como podendo contribuir para a resposta inflamatória dos tecidos às partículas de PMMA

com a consequente reabsorção óssea e perda asséptica das próteses. Os resultados

apresentados sugerem que, também compostos lixiviados do cimento acrílico e, em

particular o monómero, podem potenciar este efeito do PMMA;

de

PMMA, parece estar directamente associado ao MMA. Embora o estudo não seja

conclusivo, conduz à hipótese da formação do anião peroxinitrito pela reacção entre os

radicais superóxido e óxido nítrico sintetizados pelos macrófagos;

- nenhum dos extractos de PMMA, em soluções de álcoois ou hidrocarbonetos

clorados, produziu um efeito estatisticamente diferente na viabilidade celular, produção de

espécies reactivas e óxido nítrico, relativamente aos extractos PMMA controlo.

Page 224: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO IV

CONCLUSÕES

E

PERSPECTIVAS FUTURAS

Page 225: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO IV

209

4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

4.1. Conclusões

O principal objectivo deste trabalho consistiu no estudo de parâmetros de

estabilidade físico-química e biológica do biomaterial polimetilmetacrilato, tendo em vista

uma melhor compreensão dos problemas de biocompatibilidade associados à aplicação do

cimento acrílico.

Os estudos de estabilidade físico-química realizados in vitro permitem concluir

que:

- o MMA é um dos possíveis componentes citotóxicos libertados a partir do

cimento acrílico;

- o método de quantificação do metilmetacrilato, por HPLC, possibilita uma

quantificação selectiva e exacta do monómero nas amostras analisadas sem necessidade de

prévia extracção do meio;

- o método analítico é linear para o intervalo de concentrações compreendido entre

os valores 1,2 e 10,4 µg 1mL− e os limites de detecção e de quantificação são iguais a 0,34

e 1,02 µg 1mL− , respectivamente. O método é menos preciso para as amostras incubadas

com pó de PMMA do que para as amostras incubadas com placas, não se observando

diferença na precisão dos resultados com a diferente composição do meio de incubação;

- a libertação do MMA ocorre predominantemente durante a primeira hora de

incubação do PMMA nos meios de incubação, diminuindo exponencialmente a velocidade

de dissolução com o tempo justificando-se, por isto, correlacionar os resultados

experimentais de dissolução, durante 24 h, através de uma função exponencial;

- os modelos cinéticos aplicados aos valores experimentais correspondentes à

primeira hora de incubação do PMMA nos meios são coerentes com uma libertação inicial

rápida do MMA a partir do cimento acrílico, sugerindo que o monómero é libertado a

partir da matriz polimérica por um mecanismo de difusão simples, exibindo um clássico

“efeito de rebentamento” (“burst effect”);

Page 226: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

210

- não existe variação no mecanismo de libertação do MMA pela variação do

modelo de estudo (pó ou placa). O pó, embora não mimetizando as condições in vivo, pode

ser considerado como uma situação extrema (“upper limit situation”) que permite prever

não ser de esperar clinicamente uma despolimerização do polímero. A placa é um modelo

de estudo preferível ao pó ao traduzir mais realisticamente a situação in vivo;

- a composição do meio (teor proteico e lipídico) e as condições de conservação do

PMMA (em solução a diferentes temperaturas e ao ar), não influenciam significativamente

a cinética de dissolução do MMA, sugerindo que o monómero doseado nos meios

corresponde ao MMA residual não tendo ocorrido, nas condições analisadas,

despolimerização do cimento acrílico;

- ocorre uma diminuição na libertação do MMA com o tempo de incubação não se

detectando monómero 22 dias após incubação do PMMA em PBS, a 37 ºC, sugerindo estes

resultados não existir despolimerização do cimento acrílico com o envelhecimento em

solução;

- o envelhecimento do PMMA em PBS influencia significativamente a

molhabilidade e a composição química da superfície do cimento acrílico. Verifica-se com

o decorrer do tempo de incubação um aumento na hidrofilia da superfície do PMMA

devido à substituição de grupos éster por ligações mais polares (as ligações de hidrogénio);

- não existe diferença estatisticamente significativa na máxima quantidade de

MMA libertado do pó e das placas de cimento acrílico preparado à pressão atmosférica ou

sob vácuo a 0,330 bar. Pelo contrário, a mistura dos constituintes sob vácuo a 0,154 bar

diminui significativamente a libertação de MMA a partir do pó e das placas de PMMA;

- a mistura dos constituintes do PMMA sob vácuo (a 0,154 bar) não influencia a

evolução na variação da energia de superfície das placas de PMMA;

- o etanol, ao contrário do metanol, do diclorometano e do clorofórmio, influencia

significativamente a libertação de MMA a partir das placas de PMMA. O etanol mesmo na

concentração mais baixa (6,0 × 310− 1L mol − ), aumenta a extracção do monómero até ao

sexto dia de incubação das placas de PMMA em PBS;

- nenhum dos álcoois ou hidrocarbonetos clorados avaliados tem uma acção de

despolimerização, nem alteram o mecanismo de libertação do monómero a partir da matriz

polimérica;

Page 227: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CAPÍTULO IV

211

- o etanol não altera a variação da composição química dos cilindros de PMMA

comparativamente ao envelhecimento em meio controlo.

O efeito biológico de extractos de PMMA e soluções de MMA em macrófagos,

evidencia que:

- as soluções de MMA são menos citotóxicas nas culturas de macrófagos do que os

extractos de PMMA com concentrações correspondentes do monómero, sugerindo este

resultado que a viabilidade celular é influenciada não pelo efeito exclusivo do monómero,

mas por outros compostos libertados do PMMA, como a N,N-dimetil-p-toluidina ou,

eventualmente, por produtos secundários formados durante a polimerização do PMMA;

- há um aumento na concentração de espécies reactivas e uma diminuição na

concentração de nitritos nos sobrenadantes celulares, após exposição aos extractos E25, E50

e E60

310−

de PMMA e soluções de MMA com concentração igual ou superior a 2,5 × 1L mol − . Este facto pode ser justificado pela formação do anião peroxinitrito,

composto muito lesivo a nível celular, resultante da reacção entre os radicais superóxido e

óxido nítrico sintetizados pelos macrófagos;

- não há diferença estatisticamente significativa nos resultados relativos à

viabilidade celular, produção de espécies reactivas e de óxido nítrico, entre os extractos de

PMMA obtidos em soluções de álcoois e hidrocarbonetos clorados e os correspondentes

extractos PMMA controlo.

Embora não seja possível estabelecer uma correlação directa entre os estudos

realizados in vitro com a situação in vivo, das conclusões que antecedem é possível

retirarem-se algumas ilações, com relevância clínica:

- o método analítico pode eventualmente ser utilizado para doseamento do MMA

no plasma devido ao pequeno valor do limite de detecção calculado (0,34 µg 1mL− );

- um dos compostos possivelmente libertados do PMMA com actividade biológica

é o MMA, sendo significativa a sua libertação durante a primeira hora de inserção do

cimento acrílico na cavidade óssea;

- durante a inserção do PMMA in vivo é necessário ter em atenção o facto do MMA

nunca ser totalmente consumido na reacção de polimerização do biomaterial;

Page 228: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

212

- a libertação do MMA a partir da matriz polimérica ocorre por um mecanismo de

difusão simples, sendo que possíveis acções fisiológicas do monómero se devem à

libertação do MMA residual e não à subsequente despolimerização do PMMA;

- alterações na molhabilidade e composição química da superfície do cimento

acrílico com o tempo podem modular a resposta do hospedeiro, contribuindo para a perda

asséptica das próteses;

- a mistura dos constituintes sob vácuo, para permitir uma aplicação mais segura do

cimento acrílico, deve ser feita a valores próximos de 0,150 bar; o conhecimento exacto

dos valores de pressão utilizados na mistura dos constituintes do PMMA ajuda o cirurgião

a preparar um cimento menos agressivo para o doente;

- o consumo de etanol em doentes com este tipo de implante pode potenciar a

libertação do monómero a partir do cimento acrílico. In vivo, onde o PMMA forma uma

camada mais espessa, menos exposta ao meio, o MMA fica aprisionado demorando mais

tempo a ser libertado. A ingestão de etanol pode potenciar uma libertação do monómero

algum tempo após a cirurgia, contribuindo para desencadear ou exacerbar as reacções

inflamatórias associadas à utilização deste biomaterial;

- os extractos do PMMA, parecem desencadear um efeito inflamatório nos

macrófagos devido em parte à acção do MMA. Uma intervenção terapêutica adequada

pode, eventualmente, prevenir, retardar ou reverter o processo de perda asséptica.

4.2. Perspectivas futuras

Concluida a investigação objecto da presente dissertação, subsistem diversas

questões que merecem ser estudadas ulteriormente, designadamente as seguintes:

- avaliação da estabilidade físico-química e biológica noutras formulações, como

por exemplo em cimentos que incluam na respectiva composição antibióticos

(gentamicina, tobramicina, cefuroxima e outros). A utilização de cimentos com

antibióticos para prevenir as infecções é muito utilizada (Van de Belt et al., 2001; Neut et

al., 2006), sendo interessante estudar como o antibiótico influencia a cinética de dissolução

do MMA e a variação das propriedades de superfície;

- caracterização das propriedades de superfície por um período de tempo mais

alargado, utilizando outras técnicas de análise de superfície. Por exemplo, espectroscopia

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CAPÍTULO IV

213

de absorção de infravermelho, a qual fornece informação relativa às vibrações e rotações

moleculares relacionadas com a estrutura das moléculas (Ratner e Porter, 1996) e

“scanning electron microscopy” (SEM), que se baseia na incidência de um feixe de

electrões fornecendo informação sobre a topografia de superfície (Muster, 1990). A análise

das propriedades de superfície de amostras de cimento acrílico recolhidas de pacientes

submetidos a revisão das próteses mostra-se igualmente com interesse;

- estudo do efeito do método de preparação e envelhecimento do PMMA na adesão

celular de osteoblastos, através de testes que avaliam a expressão de factores associados à

diferenciação celular como, por exemplo, a enzima fosfatase alcalina;

- avaliação da produção de outros mediadores envolvidos na osteólise,

nomeadamente das citocinas: factor de necrose tumoral (TNFα), interleucina-6 (IL-6) e

prostaglandina E2

(Dai et al., 2000; Clohisy et al., 2002, Grottkau et al., 2002; Schmidt et

al., 2003; Curran et al., 2005) em macrófagos, osteoblastos e osteoclastos.

Um grupo de médicos da Universidade de Lund, Suécia, lançou em Julho de 1996,

a ideia de dedicar a década 2000-2010 ao osso e à articulação, numa tentativa de melhoria

da qualidade de vida dos pacientes que em todo o mundo padecem de doenças do sistema

músculo-esquelético (Cantista, 1999). Este trabalho insere-se neste âmbito, podendo

contribuir para uma melhor compreensão dos problemas de biocompatibilidade das

artroplastias cimentadas.

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Zanchetta, P., Guezennec, J. (2001). “Surface thermodynamics of osteoblasts: relation between hydrophobicity and bone active biomaterials”. Colloids Surf. B: Biointerf. 22, 301-307.

Zografi, G., Tam, S.S. (1976). “Wettability of Pharmaceutical Solids: Estimates of Solid Surface Polarity”. J. Pharm Sci. 65(8), 1145-1149.

Page 246: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ANEXOS

Page 247: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ANEXOS

235

Anexo I

Teste de homogeneidade de variâncias (ISO 8466-1, 1994) De acordo com a norma ISO 8466-1 para testar a homogeneidade de variâncias,

determinam-se as variâncias associadas ao padrão mais diluído ( 21S ) e ao mais concentrado

( 210S ) através das expressões:

1

)( 210

12

−=∑=

i

jiji,

i N

yyS

sendo i

jji,

i N

yy

∑==

10

1

sendo i o número do padrão e j o número de repetições efectuadas para cada padrão.

As variâncias são testadas para examinar se existem diferenças significativas entre

elas, nos limites da gama de trabalho efectuando o cálculo do valor teste PG:

a) 21

210

SS

PG =

b) 210

21

SSPG =

sendo que:

a) quando 210S > 2

1S b) quando 2

1S > 210S

Compara-se este valor de PG com o valor tabelado da distribuição F de

Fisher/Snedecor, para N - 1 graus de liberdade:

Se PG ≤ F: as diferenças de variâncias não são significativas e a gama de trabalho

está bem ajustada.

Se PG > F: as diferenças de variâncias são significativas e a gama de trabalho deve

ser reduzida até que a diferença entre as variâncias relativas ao primeiro e último padrão

permitam obter PG ≤ F.

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ANEXOS

236

Anexo II

Método dos mínimos quadrados (Relacre, 2000)

Por este método demonstra-se que os coeficientes a (ordenada na origem) e b

(declive) da recta de regressão de y em x, y = a + bx, são dados por:

xy ba −=

( )( )[ ]( )∑ −

∑ −−=

=

=N

ii

N

iii

xx

yyxx

1

21b

sendo ix , valores individuais de concentração; iy valores individuais do sinal instrumental;

x , média de valores de x (concentração dos padrões utilizados); y , média dos valores de

y (sinal instrumental).

Os coeficientes a e b dão uma estimativa da verdadeira função que é limitada pela

dispersão inevitável do método. A precisão da estimativa é quantificada pelo desvio padrão

residual ( xyS / ) da recta de regressão:

[ ]2

)ba(1

2

∑ +−= =

N

xyS

N

iii

y/x

Este desvio exprime a dispersão dos valores do sinal instrumental em torno da

curva de calibração.

Os desvios padrão da ordenada na origem a (Sa) e do declive b (Sb

) são dados por:

( )∑ −

∑=

=

=N

ii

N

ii

y/xxxN

xSS

1

21

2

a

( )∑ −=

=

N

ii

y/x

xx

SS

1

2b

Page 249: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ANEXOS

237

O cálculo do coeficiente de correlação r pode ser usado como um dos parâmetros

para avaliar uma calibração analítica:

( )( ){ }

( ) ( )

−−

−−=

∑ ∑

= =

=

N

i

N

iii

N

iii

yyxx

yyxxr

1 1

22

1

Page 250: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ANEXOS

238

Anexo III

Distribuição dos valores normalizados (Almeida, 2001)

A determinação dos valores normalizados foi efectuada através da seguinte

equação:

Valor instrumental normalizado (área) = [ ] [ ]

100

100100)(/(A

A ii

sendo iA , a área correspondente a cada nível de concentração; [ ]i , a concentração

correspondente à área iA ; [ ]100 a concentração correspondente ao ponto experimental

com melhor correlação, isto é, o quociente entre a área experimental e a área de regressão

é próximo da unidade; 100A , a área correspondente à [ ]100 .

Page 251: Ana Francisca de Campos Simão Bettencourt Rodrigues

ANEXOS

239

Anexo IV

Teste de Fisher/Snedecor (F) ou teste de Mandel (Relacre, 2000)

A linearidade pode ser avaliada através de um modelo estatístico, de acordo com a

norma ISO 8466-1 (1994).

A partir de um conjunto de pares ordenados, calcula-se a função de calibração

linear (ISO 8466-1, 1994) e a função de calibração não linear (ISO 8466-2, 1994), bem

como os respectivos desvios padrão residuais, xyS / e 2yS .

A diferença de variâncias ( 2DS ) é calculada pela equação seguinte:

22

2/

2 )3()2( yxy SNSNDS −−−=

em que N é o número de padrões de calibração.

Calcula-se o valor teste, PG:

22

2

ySDSPG =

Compara-se este valor de PG com o valor F de Fisher/Snedecor:

- se PG ≤ F: a função de calibração é linear;

- se PG > F: a função de calibração é não linear.

No caso de PG ser superior a F, deve-se avaliar a possibilidade de reduzir a gama

de trabalho. Caso se justifique recorrer à ISO 8466-2 ou a uma função susceptível de bom

ajuste.

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ANEXOS

240

Anexo V

Viés experimental e viés estatístico global (Caporal et al., 1990)

Viés experimental

Um viés experimental (xd) resulta da comparação entre uma concentração

obtida experimentalmente (xa), por comparação a um valor teórico (xf

), sendo calculado

através da seguinte expressão:

afd xxx −=

Viés estatístico global

O viés estatístico global foi obtido através da expressão:

×−

×

Ntrsd

Lx 100d

sendo L, o valor teórico correspondente a 100 %; rsd, o desvio padrão relativo; t o valor

retirado da tabela da distribuição “t de Student”, correspondendo a N - 1 graus de liberdade

e a um nível de confiança igual a 95 % e N o número de valores experimentais.

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ANEXOS

241

Anexo VI

Para cálculo da média das amostras recorreu-se à fórmula:

1i

N

xx

N

i∑

= =

sendo xi

os valores que a variável assume e N a dimensão da amostra.

O desvio padrão (DP) calculado refere-se a:

1

)(=DP 1i

2i

∑ −=

N

xxN

sendo xi x os valores que a variável assume, N a dimensão da amostra e a média.

O coeficiente de variação (CV) ou desvio padrão relativo foi calculado através da

expressão:

1 DP 00CV

=

x

sendo DP o desvio padrão e x a média.