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ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA SANÇÕES IMPOSTAS POR IMBROBIDADE ADMINISTRATIVA APLICADAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS E PELO JUDICIÁRIO E A NÃO INCIDÊNCIA DO “BIS IN IDEM” UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO UFMT FUNDAÇÃO UNISELVA CUIABÁ MT 2017

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ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA

SANÇÕES IMPOSTAS POR IMBROBIDADE ADMINISTRATIVA

APLICADAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS E PELO JUDICIÁRIO E A NÃO

INCIDÊNCIA DO “BIS IN IDEM”

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO – UFMT

FUNDAÇÃO UNISELVA

CUIABÁ – MT

2017

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ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA

SANÇÕES IMPOSTAS POR IMBROBIDADE ADMINISTRATIVA

APLICADAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS E PELO JUDICIÁRIO E A NÃO

INCIDÊNCIA DO “BIS IN IDEM”

Monografia apresentada ao curso de

Especialização em Direito

Administrativo e Administração Pública

da Universidade Federal do Mato

Grosso, como trabalho de conclusão do

curso para obtenção do título de

especialista.

Prof. Mestre Paulo Cosme de Freitas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO – UFMT

FUNDAÇÃO UNISELVA

CUIABÁ – MT

2017

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Dedico este trabalho aos meus filhos

Cauã, Catarina (em memória) e

Marcelo Filho (que está em meu

ventre), razão de toda a minha

vontade de crescimento profissional.

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Agradeço, em primeiro lugar, a Deus,

por me permitir chegar até aqui com

saúde e ser meu amparo nas horas

difíceis.

Agradeço aos meus pais, Braulino e

Milva, que sem o apoio dos quais esse

objetivo não teria sido alcançado.

Agradeço ao meu esposo, Marcelo

Costa, que vem me apoiando

grandemente para a minha conquista

profissional e tem sido o esteio do meu

caminhar.

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RESUMO

O Ordenamento Jurídico Pátrio brasileiro dispõe a imputabilidade de

responsabilização, civil, administrativa e penal, por ato de improbidade administrativa.

Com a criação da Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), ficou

estabelecido as sanções cominadas ao agente de improbidade, sem prejuízo das sanções

nas esferas administrativa e penal.

Por expressa determinação da Constituição Federal de 88, e, também, da Lei de

Improbidade Administrativa, as sanções estabelecidas podem ser cumuladas mesmo em

se tratando de ressarcimento ao erário ou cominação de multa, porém este é um assunto

muito discutido no meio jurídico, por se supor o ferimento ao princípio da proibição de

dupla condenação pelo mesmo ilícito.

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ABSTRACT

The Legal Paternal brasileiro offers the apportionment of liability, civil, administrative

and criminal law, by act of administrative improbity. With the creation of the Law No 8.429/92

(Law of Administrative Improbity), it was established the penalties stipulated to the agent of

misconduct, without prejudice to the penalties in the spheres of administrative and criminal law.

By expressed determination of the Federal Constitution of 88, and, also, of the Law of

Administrative Improbity, the penalties laid down can be cumulated even when it comes to

compensation to the national treasury or impose a fine, but this is a very debated in legal

means, for if believing the injury to the principle of prohibition of double condemnation by the

same unlawful.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7

2. NATUREZA JURÍDICA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS .................................. 9

2.1. CONTROLE DO ATO ADMINISTRATIVO ................................................... 10

2.2. CONTROLE EXTERNO DO ATO ADMINISTRATIVO ............................. 12

3. ATOS ADMINISTRATIVOS PREJUDICIAIS AO ERÁRIO – IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA ..................................................................................................... 13

3.1. ATOS QUE IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO ............................. 16

3.2. ATOS QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO .......................................... 23

3.3. ATOS QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................................. 27

3.4. DAS SANÇÕES IMPOSTAS POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 33

4. CONTROLE DO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ..................... 37

4.1. CONTROLE REALIZADO PELO TRIBUNAL DE CONTAS ..................... 37

4.1.1. PRESTAÇÃO DE CONTAS E TOMADA DE CONTAS COMO MEIO

DE CONTROLE DO TRIBUNAL DE CONTAS .................................................. 42

4.1.2. DECISÕES E SANÇÕES APLICÁVEIS PELO TRIBUNAL DE CONTAS

................................................................................................................................. 45

4.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO MEIO DE CONTROLE JUDICIAL À

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ..................................................................... 47

5. A RESPONSABILIZAÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E A

NÃO INCIDÊNCIA DO “BIS IN IDEM” ..................................................................... 50

6. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 56

ANEXO I – LEI n º 8.429/92..........................................................................................58

ANEXO II – LEI nº 8.433/92......................................................................................... 68

ANEXO III – ADI 3.715 - MC ...................................................................................... 96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 98

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1. INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho monográfico vislumbra acerca da possibilidade de

cumulação das sanções civis e administrativas aplicadas em casos de atos viciados por

improbidade administrativa.

A escolha deste tema surgiu em virtude de acompanhamento de casos

concretos, processos de contas julgados pelo Tribunal de Contas no Estado de

Rondônia, onde se houve a imputação de débitos, muitas vezes com imposição de

ressarcimento ao erário devido as contas serem consideradas irregulares, e,

posteriormente a propositura de demandas e condenações por improbidade

administrativa no judiciário, também, muitas vezes com o dever de ressarcimento ao

erário e imposição de multa.

O Tribunal de Contas tem o poder estabelecido pela Constituição Federal/88 de

apreciar e julgar as contas dos administradores da coisa pública, e, por isso, em sua Lei

Orgânica há dispositivo que permite a imposição de débito, inclusive com multa

conforme o julgamento das contas (no caso em tela utilizamos a Lei Orgânica do

Tribunal de Contas da União – Lei nº 8.433/92 - por ser de um aspecto geral, sem se

restringir a um Estado especificamente).

A explanação do tema, apesar de ser um tema bastante amplo cujo necessita de

um estudo bem aprofundado, se limita em quatro capítulos, começando com a

explicitação do ato administrativo em geral e seu controle, no Primeiro Capítulo.

No Capítulo 2, buscaremos a demonstração dos atos característicos de

improbidade administrativa juntamente com observância nas sanções aplicadas à

improbidade, impostas na Lei nº 8.429/92. Verificaremos que, embora os atos de

improbidade administrativo estejam listados na Lei nº 8.429/92, do art. 9º ao 12,

discriminados nas modalidades “Atos de improbidade que importam enriquecimento

ilícito”; “Atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário”; e, “Atos

de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração

pública”, este não é um rol exaustivo, posto que é apenas exemplificativo, podendo ser

atribuído a qualquer ato que de uma forma ou outra prejudique o erário mesmo que não

cause dano.

Por conseguinte, no Capítulo 3, explicitaremos o controle externo exercido

pelo Tribunal de Contas e Judiciário (por meio da ação civil pública), nos quais se

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atribui responsabilidade pelo ato de improbidade, quando ocorrer, com a imputação de

débito, multa e, possível ressarcimento ao erário.

Por fim, a explanação chega ao cerne da questão ora pretendida no Capítulo 4,

com esclarecimento quanto ao fato de cumulação das sanções administrativas e civis

afetar ou não o princípio do “non bis in idem” (proibição de dupla penalidade).

Para a confecção do presente trabalho monográfico utilizamo-nos como

metodologia a investigação bibliográfica, com o método para a coleta das informações,

a pesquisa bibliográfica, sites e revistas eletrônicas.

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2. NATUREZA JURÍDICA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

Para uma melhor explicitação acerca dos atos administrativos que trazem

prejuízo ao erário - aqueles atos praticados que tragam um prejuízo ao patrimônio

público -, seja ato que cause efetivamente um dano, ou, que tragam prejuízo por

desrespeitar princípios basilares que regem a administração pública, e, por conseguinte,

as sanções a eles aplicadas, necessário se faz entender o ato jurídico como um todo.

O ato administrativo é espécie, onde o gênero é “ato jurídico”, como nos

dizeres de Alexandrino e Paulo1. Para estes doutrinadores, no mundo jurídico, “todos

os eventos, naturais ou humanos” que geram uma consequência jurídica, integram aos

denominados fatos jurídicos em sentido amplo. Esses fatos jurídicos em sentido amplo

estão subdivididos em: fatos jurídico em sentido estrito (eventos da natureza) e atos

jurídicos (manifestação unilateral do homem).

O ato administrativo decorre de manifestação de vontade da administração

pública ou de um particular que esteja investido na função pública, atos estes que

produzem efeitos jurídicos imediatos, que devem ser abalizados na lei e, por

conseguinte, sujeito ao controle de legitimidade.2

Conforme bem salienta Alexandrino e Paulo, estes atos administrativos não

devem ser confundidos com os atos políticos ou de governo, que são aqueles atos, por

exemplo, de inciativa de leis, sanção ou veto de projeto de lei, decretação do estado de

sítio, dentre outros atos, os quais estão sujeitos à obediência diretamente à Constituição

Federal, sendo, portanto, que “não estão sujeitos à teoria geral dos atos

administrativos”.

A título de esclarecimento, como os renomados doutrinadores explicam, ato

administrativo é expressão completamente diferente de ato da administração, estes são

atos que a administração exerce sem estar vestida de suas prerrogativas de direito

público. Os atos administrativos estão sujeitos aos regramentos do direito

administrativo, já os atos da administração, estão sujeitos aos regramentos do direito

privado. Temos como exemplo de atos da administração, a emissão de cheques, por um

agente competente, para pagamento a um fornecedor, ou, um banco estatal (ex. Caixa

Econômica Federal) celebra um contrato de abertura de crédito.

1 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª edição. São

Paulo: Editora Método, 2012, pág. 427. 2 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, pág. 183.

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2.1. CONTROLE DO ATO ADMINISTRATIVO

Acerca do controle do ato administrativo, não há uma sistematização fácil, vez

que não há um diploma único que o discipline, nem tão quanto foi matéria tratada em

um único capítulo pela Constituição Federal.3 Desta feita, nos ateremos precipuamente

às doutrinas, consubstanciadas aos dispositivos pertinentes ao tema.

A Administração Pública, nos órgãos das três esferas de poderes (Poder

Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário), quando exerce função tipicamente

administrativa, está sujeita ao controle exercido pelo Legislativo e o Judiciário4.

A sujeição a um controle de seus atos é prevista porque, como nos leciona Hely

Lopes Meirelles5:

A Administração Pública, em todas as suas manifestações, deve

atuar com legitimidade, ou seja, segundo as normas pertinentes a

cada ato e de acordo com a finalidade e o interesse coletivo na

sua realização. Até mesmo nos atos discricionários a conduta de

quem os pratica há de ser legítima, isto é, conforme as opções

permitidas em lei e as exigências do bem comum. Infringindo

as normas legais, ou relegando os princípios básicos da

Administração, ou ultrapassando a competência, ou se

desviando da finalidade institucional, o agente público vicia o

ato de ilegitimidade e o expõe a anulação pela própria

Administração ou pelo Judiciário, em ação adequada.

Carvalho Filho6, conceitua o controle do ato administrativo como “o conjunto

de mecanismos jurídicos e administrativos por meio dos quais se exerce o poder de

fiscalização e de revisão da atividade administrativa em qualquer das esferas de

Poder”.

Alexandrino e Paulo, com louvor conceituam:

O conjunto de instrumentos que o ordenamento jurídico

estabelece a fim de que a própria administração pública, os

Poderes Judiciário e Legislativo, e ainda o povo, diretamente ou

por meio de órgãos especializados, possam exercer o poder de

fiscalização, orientação e revisão da atuação administrativa de

todos os órgãos, entidades e agentes públicos, em todas as

esferas de Poder.

3 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª edição. São

Paulo: Editora Método, 2012, pág. 811. 4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, pág. 598. 5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27ª ed. Atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2001,

pág. 631. 6 CARVALHO, Filho. Pág. 1021

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Para Di Pietro7, referido controle tem por finalidade assegurar que a

Administração sempre atue em observância aos princípios lhe impostos pela

Constituição Federal Brasileira de 88, e, embora seja um poder-dever atribuído ao

Estado, o administrado também pode exercê-lo “à medida que pode e deve provocar o

procedimento de controle, não apenas na defesa de seus interesses individuais, mas

também na proteção do interesse coletivo”, vez que tem caráter corretivo, e, constitui

responsabilização àquele que o retardou ou omitiu.

A ilustre doutrinadora esclarece que existem vários critérios para classificar as

modalidades de controle do ato administrativo.

Quanto ao órgão, o controle pode ser administrativo, legislativo ou judicial;

Quanto ao momento em que o controle é realizado, pode ser prévio (com caráter

preventivo), concomitante ou posterior; E, também, quanto ao órgão de onde decorra,

pode ser interno (onde cada Poder exerce o controle sobre seus próprios atos) ou

externo.

Segundo os dizeres da doutrinadora, “uma instituição que desempenha

importante papel no controle da Administração Pública é o Ministério Público, em

decorrência das funções que lhe foram atribuídas pelo artigo 129, da Constituição”.

Isso se dá porque, “além da tradicional função de denunciar autoridades públicas por

crimes no exercício de suas funções, ainda atua como autor na ação civil pública, seja

para defesa de interesses difusos e coletivos, seja para repressão à improbidade

administrativa”.

Hely Lopes Meirelles8 leciona que, por ser o controle exercitável “em todos e

por todos os Poderes de Estado, estendendo-se a toda a Administração e abrangendo

todas as suas atividades e agentes” existem variados tipos e formas de controle.

Porém, como o intuito deste trabalho monográfico é esclarecer acerca do

controle do ato eivado de improbidade administrativa exercido, pelo Judiciário e o

Legislativo, este, através do Tribunal de Contas, embora existam outros meios de

controle para o referido ato, nos ateremos apenas ao Controle Externo do ato

administrativo exercido pelo Tribunal de Contas e pelo Judiciário.

7 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, pág. 598/600.

8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27ª ed. Atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2001,

pág. 633.

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2.2. CONTROLE EXTERNO DO ATO ADMINISTRATIVO

“Diz-se externo o controle quando exercido por um Poder sobre os atos

administrativos praticados por outro Poder”.9

Conforme os dizeres de Radamero Apolinário Barbosa10

,

O controle externo pode ser definido como aquele

desempenhado por órgãos, entidades e instituições não

pertencentes ao Poder Executivo, e até mesmo por cidadãos,

associações, grupos e representações sindicais integrantes da

sociedade civil.

O Ilustre doutrinador Hely Lopes Meirelles lecionou a esse respeito:

É o que se realiza por órgão estranho à Administração

responsável pelo ato controlado, como, p. ex., a apreciação das

contas do Executivo e do Judiciário pelo Legislativo; a

auditoria do Tribunal de Contas sobre a efetivação de

determinada despesa do Executivo; a anulação de um ato do

Executivo por decisão do Judiciário; a sustação de ato

normativo do Executivo pelo Legislativo (CF, art. 49, V).

Como se vê, todo ato administrativo exercido por um Poder é passível de

controle realizado por outro Poder, conhecido, com isso, como controle externo.

Ao ato vestido de possível improbidade administrativa temos o controle

externo exercido pelo Tribunal de Contas, como auxiliar do Poder Legislativo

(conforme a Constituição Federal de 88) e do Poder Judiciário, controles estes que

veremos em capítulo próprio mais a frente.

9 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª edição. São

Paulo: Editora Método, 2012, pág. 814. 10

BARBOSA, Radamero Apolinário. Improbidade administrativa: O que vem a ser e como deve ser feito seu controle. Disponível em: http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7521. Acessado em: 25/06/2017.

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3. ATOS ADMINISTRATIVOS PREJUDICIAIS AO ERÁRIO –

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Estando o ato administrativo vestido de suas prerrogativas de direito público,

bem como sujeito às normas de direito público por gerarem um efeito jurídico, temos

estabelecido no Ordenamento Jurídico Brasileiro, primordialmente na Constituição

Federal de 88, no art. 37, a determinação de regras para que a administração pública

observe e respeito, sob pena de incorrer em responsabilização.

Especialmente na Lei nº 8.429/1992, temos elencado os atos que, de certa

forma, tragam prejuízo ao erário, seja por efetivamente gerarem um prejuízo ao bem

público, seja por trazer um enriquecimento ilícito ao agente, seja, tão somente, por

desrespeitar os princípios basilares da administração pública. São os chamados atos de

improbidade administrativa.

Para De Plácido e Silva apud Fazzio Júnior11

,

Improbidade deriva do latim „improbitas‟ (má qualidade,

imoralidade, malícia), juridicamente, liga-se ao sentido de

desonestidade, má fama, incorreção, má conduta, má índole,

mau caráter. Desse modo, improbidade revela a qualidade do

homem que não procede bem, por não ser honesto, que age

indignamente, por não ter caráter, que não atua com decência,

por ser amoral. Improbidade é a qualidade do ímprobo. E

ímprobo é o mau moralmente, é o incorreto, o transgressor das

regras da lei e da moral. Para os romanos, a improbidade

impunha a ausência de „existimatio‟, que atribui aos homens o

bom conceito. E sem a „existimatio‟, os homens se convertem

em „homines intestabiles‟, tornando-se inábeis, portanto, sem

capacidade ou idoneidade para a prática de certos atos.

Fazzio Júnior ressalva que:

Imoralidade e improbidade não são a mesma coisa, conquanto

possam advir do mesmo tronco. A imoralidade é o oposto de

um dos princípios constitucionais da Administração (o da

moralidade), ao passo que a improbidade surge, na Lei nº

8.429/92, como a antítese não de um princípio, mas do conjunto

coordenado dos princípios da legalidade, da impessoalidade, da

moralidade, da publicidade e da eficiência.

Conforme leciona Calil Simão12

, o ato de improbidade “engloba todos os atos

revestidos de má-fé e de desonestidade”. 11

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 71.

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Há, contudo, improbidade tanto no setor público, como no setor privado. Em

se tratando de improbidade “no setor público, podemos classificá-la como improbidade

eleitoral, político-administrativa e administrativa”, porém, para se configurar um ato de

improbidade administrativa, assunto que nos interessa no momento, necessário se faz o

ato estar revestido de certas características particulares de improbidade administrativa.

A Lei de Improbidade Administrativa (LIA nº 8.429/1992), em seus arts. 9º,

10º e 11º, nos traz as modalidades dos atos que configuram improbidade administrativa.

Nestes dispositivos temos a distinção, respectivamente, dos atos que importam

enriquecimento ilícito; dos atos que causam prejuízo ao erário; e, dos atos que atentam

contra os princípios da Administração Pública.

É importante destacar, que o ato de improbidade administrativa não se

configura tão-somente por ser um ato danoso ao erário, pois nele está inserido o ato

desonesto consumado em detrimento do exercício da função pública. Há que estar

presente a desonestidade, a corrupção. Veja-se, contudo, pelo que nos traz os caputs

dos referidos dispositivos da Lei nº 8.429/1992:

Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito qualquer tipo de vantagem patrimonial

indevida em razão do exercício do cargo, mandato, função,

emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta

Lei, e notadamente:

(...)

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa

lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,

que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,

malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das

entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

(...)

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, e

lealdade às instituições, e notadamente: (grifos nossos)

12

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 41/44.

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Ademais, como o art. 21 da Lei de Improbidade Administrativa determina, as

penalidades são aplicadas independentemente da ocorrência do dano ao erário, salvo

somente para a aplicação da pena de ressarcimento, senão vejamos:

Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta Lei independe:

I – da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo

quanto à pena de ressarcimento;

Por outro lado, não será todo ato danoso ao erário que se configurará

improbidade administrativa.13

Não basta o dano em si, há que se tratar de um ato

característico de improbidade administrativa, tipificado pela lei, vez que o que importa é

o modo como esse ato se forma, se com desonestidade ou não.

Assim, é como nos dizeres de Radamero Apolinário Barbosa14

:

O vocábulo improbidade administrativa pode ser utilizado para

designar corrupção, desonestidade, malversação administrativa,

ou ainda, o exercício da função pública de maneira ilegal ou

imoral, seja pela omissão indevida de atuação funcional, seja

pela não observância dolosa ou culposa das normas legais.

Destarte, ímprobo é aquele que age com deslealdade no

desempenho das atribuições funcionais, que transgride as

normas da lei e da moral. Como exemplo, cite-se a concessão

de favores e privilégios ilegais, a exigência de propinas, o

desvio ou a aplicação ilegal de verbas públicas, entre outras.

A improbidade administrativa se dará com toda conduta ilegal,

dolosa ou culposa do agente público no exercício de função,

cargo, mandato ou emprego público, com ou sem participação

de terceiro, que ofenda os princípios constitucionais da

Administração Pública. Assim, constitui-se na violação do

dever do agente público em atuar com probidade na gestão da

coisa pública.

Pois bem, os atos administrativos tipificados como atos de improbidade

administrativa, conforme já aludido, estão descritos nos arts. 9º, 10º e 11º, da Lei nº

8.429/1992.

Embora o intuito deste trabalho monográfico não seja especificamente os atos

de improbidade em si, não nos aprofundaremos nas espécies tipificadas como atos de

13 SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de

dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 104/105. 14

BARBOSA, Radamero Apolinário. Improbidade administrativa: O que vem a ser e como deve ser feito seu controle. Disponível em: http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7521. Acessado em: 25/06/2017

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improbidade administrativa elencadas pela Lei nº 8.429/92, não obstante, necessário se

faz ao menos elencar quais os atos que a lei determina caracterizar atos ensejadores de

improbidade administrativa.

3.1. ATOS QUE IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

Como o próprio termo sugere, o ato administrativo que importa enriquecimento

ilícito é aquele que traz um enriquecimento ao agente público em total desrespeito ao

Ordenamento Jurídico Brasileiro, porém, conforme o art. 9º, da Lei nº 8.429/1992, este

enriquecimento não necessariamente deve ser para o agente público, podendo ser

auferido por outra pessoa – a vantagem patrimonial poderá ser auferida por outrem.

Nos dizeres de Calil Simão15

, “por enriquecimento ilícito devemos entender

um ato praticado em desrespeito à lei”, que traga um benefício patrimonial ao agente ou

a terceiro.

Nesse contexto, não há que se confundir o enriquecimento ilícito preceituado

pela Lei de Improbidade Administrativa com o enriquecimento ilícito do Direito Civil,

vez que neste demanda uma lesão patrimonial, o que naquele é dispensável, conforme

leciona o referido doutrinador (2011:201), vejamos:

O instituto do Direito Civil pressupõe uma lesão patrimonial da

vítima, cuja sanção respectiva é a sua reparação. O

enriquecimento ilícito previsto na LIA não pressupõe qualquer

lesão patrimonial, seja ela de natureza particular ou pública. O

bem jurídico tutelado são os valores administrativos

relacionados com a função pública e a presença do Estado. Na

maioria das vezes, quem tem a diminuição patrimonial em favor

do enriquecimento ilícito do agente público ou de terceiro é o

beneficiário direto do ato de improbidade administrativa, pois

nem sempre o ato ímprobo causará lesão ao patrimônio público.

(grifos nossos)

Veja-se que para a configuração desta modalidade de improbidade

administrativa, não se faz necessário a diminuição patrimonial do erário, tendo em vista

que nesta, a diminuição patrimonial se dará no patrimônio do beneficiário direto pelo

ato de improbidade praticado pelo agente público. “Há enriquecimento ilícito do agente

público com ou sem prejuízo ao erário”, vez que a “conduta-padrão gravada no art. 9º,

15

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 200.

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17

caput, nessa espécie de ato de improbidade, não reclama que ocorra efetivo prejuízo ao

erário”.16

Todavia, como nos leciona Fazzio Júnior, não quer se auferir que por não

causar um dano ao erário, não tenha a sua relevância, “mas que, para o aperfeiçoamento

de alguns incisos do art. 9º, o prejuízo público não é imprescindível”. Assim, ressalva o

Ilustre Doutrinador:

Em contrapartida, há outros dispositivos que não se tipificam

sem lesão ao patrimônio público econômico. (...)

Todavia, sempre deverá ocorrer dano patrimonial nos casos

tratados nos incisos II, III, IV, XI e XII, do art. 9º, mas a

punição de seu autor não está condicionada a esse resultado;

atém-se ao enriquecimento ilícito, se este ocorre.

Vejamos, contudo, o que nos estabelece o art. 9, da Lei nº 8.429/1992:

Art. 9°. Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem

patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato,

função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art.

1° desta Lei, e notadamente:

I – receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou

imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou

indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou

presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa

ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das

atribuições do agente público;

II – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para

facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou

imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no

art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para

facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o

fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao

valor do mercado;

IV – utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,

equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade

ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art.

1° desta Lei, bem como o trabalho de servidores públicos,

empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta

ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de

azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou

16

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 89.

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18

de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal

vantagem;

VI – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta

ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou

avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre

quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de

mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades

mencionadas no art. 1° desta Lei;

VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato,

cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza

cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à

renda do agente público;

VIII – aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de

consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que

tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação

ou omissão decorrente das atribuições do agente público,

durante a atividade;

IX – perceber vantagem econômica para intermediar a liberação

ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;

X – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta

ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou

declaração a que esteja obrigado;

XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no art. 1° desta Lei;

XII – usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores

integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no

art. 1° desta Lei. (grifo nosso)

Conforme os dizeres de Pazzaglini Filho, Rosa e Fazzio Júnior17

,

Todos os incisos do art. 9º guardam entre si uma característica:

o agente público aufere vantagem econômica indevida, para si

ou para outrem, em razão do exercício ímprobo de cargo,

mandato, função, emprego ou atividade pública. É o trafico da

função pública.

É importante destacar, que são doze incisos elencados no referido dispositivo,

porém, que não se esgota apenas em tais verbetes, podendo ser caracterizado qualquer

outro tipo de ato que traga beneficiamento patrimonial para o próprio agente ou para

outrem.

Não se trata, no entanto, de um rol taxativo de atos de improbidade

administrativa que tragam enriquecimento ilícito. Vejamos o que nos diz Di Pietro18

:

17

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 55.

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19

Embora a lei, nos três dispositivos, tenha elencado um rol de

atos de improbidade, não se trata de enumeração taxativa, mas

meramente exemplificativa. Ainda que o ato não se enquadre

em uma das hipóteses previstas expressamente nos vários

incisos dos três dispositivos, poderá ocorrer improbidade

sancionada pela lei, desde que enquadrada no caput dos artigos

9°, 10 ou 11.

O mesmo nos leciona Pazzaglini Filho, Rosa e Fazzio Júnior19

: “Não é rol

taxativo ou exaustivo, o que fica claro pela utilização, no caput, do advérbio

notadamente para enunciar a dúzia de incisos exemplificativos do enunciado”.

Observados, pois, os termos do dispositivo de que trata dos atos de

improbidade que tragam enriquecimento ilícito, temos que necessário se faz a

observância de alguns requisitos para a sua configuração.

Conforme os dizeres de Simão20

acerca dos requisitos para a configuração do

ato de improbidade por enriquecimento ilícito, devemos entender como os elementos

necessários para a sua configuração, que para este autor são:

- Auferir vantagem econômica vedada por norma jurídica;

- Vantagem econômica ilícita decorrente ou relacionada com

exercício de função estatal;

- Posse da vantagem ilícita;

- Comportamento doloso.

E este basicamente também é o ensinamento de Pazzaglini Filho, Rosa e

Fazzio Junior, que explicitam:

Sintetizando, o art. 9º reclama, para seu aperfeiçoamento, de três

requisitos mínimos:

- A obtenção de vantagem patrimonial pelo agente público;

- Que esta vantagem não tenha causa lícita;

- Que haja nexo etiológico entre o exercício funcional em

qualquer das entidades elencadas no art. 1ºe a vantagem

patrimonial indevida.

18

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, pág. 686. 19

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 95. 20

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 201.

Page 21: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

20

Porém, a nosso ver, a rigor do caput do art. 9º, da LIA, os requisitos

necessários são:

- Ser o ato praticado por agente público, vez que, conforme o dispositivo em comento, o

enriquecimento ilícito provém de um ato na administração pública que beneficie alguém

em troca de uma vantagem patrimonial àquele que praticou ou a terceiro. O ato, como

se vê, somente pode ser praticado por alguém da administração pública, mesmo não

sendo este o beneficiário direto da vantagem patrimonial;

- Auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial em virtude do cargo (ou mandato, ou

função, ou emprego, ou atividade) de agente público; e,

- Benefício patrimonial para si ou para outrem.

Importante destacar, que com o cometimento do ato trazendo soma ao

patrimônio do agente público, ou de outrem, ocorrerá sempre o elemento subjetivo, o

dolo, vez que “pressupõe a consciência da antijuridicidade do resultado pretendido”21

.

Assim, conforme entendimento Jurisprudencial, para a configuração

do ato de improbidade administrativa que importe enriquecimento ilícito, necessário se

faz, também, a existência do dolo, sendo, inclusive, entendimento já pacificado pelo

STJ. Vejamos:

DECISÃO: ACORDAM os integrantes da Quinta Câmara Cível

do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, por

unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao Apelo e

negar provimento ao Agravo Retido.

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. TÉCNICA JUDICIÁRIA.

SOLICITAÇÕES NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE

VANTAGENS INDEVIDAS SOB O PRETEXTO DE

NECESSIDADE PARA ADQUIRIR DOCUMENTOS EM

PROCESSOS DE ADOÇÕES (ART. 9º DA LEI 8.429/92).

CONDUTA DOLOSA. INDIVIDUALIZAÇÃO DAS

SANÇÕES. a) Vale frisar, primeiramente, que o Inquérito Civil,

com os depoimentos e documentos produzidos nele, apenas

serve como indícios para a acusação da prática de improbidade

administrativa, ou seja, não possui o valor de "prova", uma vez

que foi produzido sem qualquer respeito ao contraditório e à

ampla defesa. b) Todavia, pelos depoimentos prestados em

juízo, sob o crivo do contraditório e ampla defesa, foi provado

que a Apelante, no exercício da função de assistente social,

21

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 56.

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21

solicitou, por diversas vezes, vantagens indevidas, sob o

pretexto de que os valores seriam para documentos necessários

aos processos de adoções ou compra de fralda e leite para

crianças. c) Nessas condições, no caso, foi comprovada a

obtenção de vantagens indevidas no exercício da função pública,

caracterizando improbidade administrativa por enriquecimento

ilícito, nos termos do artigo 9º da Lei nº 8.429/92. d) Cumpre

ressaltar, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça entende que

a configuração do ato de improbidade exige a presença do

elemento subjetivo (dolo). e) E, no caso, restou caracterizado o

dolo na conduta da Apelante, já que consciente e

voluntariamente solicitou vantagens indevidas no exercício de

função pública, caracterizando, assim, enriquecimento ilícito. f)

Assim, comprovada a obtenção de vantagens indevidas

(recebimento de valores em dinheiro de particulares para

suposta aquisição de documentos em processo de adoção),

mesmo não existindo prova de dano ao Erário, deve-se tipificar

a conduta no artigo 9º da Lei de Improbidade Administrativa. g)

Nesse caso, somente podem ser aplicadas as penas previstas pela

Lei de Improbidade Administrativa, sob pena de ofensa ao

princípio da legalidade, quais sejam: "Art. 12.

Independentemente das sanções penais, civis e administrativas

previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de

improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser

aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a

gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009). I

- na hipótese do art. 9º, perda dos bens ou valores acrescidos

ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano,

quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três

vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais

ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de

dez anos." h) Todavia, a sentença, de maneira teratológica,

condenou a Apelante em sanções não previstas no referido

dispositivo legal. i) Segundo a legislação, somente é possível a

condenação ao ressarcimento integral do dano se houver

prejuízo concreto ao erário, devidamente provado, não sendo

cabível a presunção de dano. j) É bem de ver, ademais, que não

se pode presumir prejuízo ao erário, e, por consequência,

presumir o valor do dano causado ao erário, fixando o valor do

ressarcimento por mera suposição, ou seja, sem prova do efetivo

dano, o que ofende os princípios da fundamentação e da

individualização da pena. k) No caso, não houve dano concreto

ao erário na obtenção de vantagens indevidas, até porque os

valores recebidos são oriundos de vítimas determinadas

(patrimônio privado), razão pela qual não é cabível a sanção de

ressarcimento ao erário. l) É bem de ver, ainda, que a acusada

cometeu improbidade administrativa no exercício do cargo de

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22

Técnico Judiciário, que é cargo efetivo e não cargo político.

Assim, não se justifica a aplicação da penalidade de suspensão

dos direitos políticos, porque não foi praticada improbidade

administrativa no exercício de função política e sim na função

pública efetiva. m) As sanções legais por atos de improbidade

devem ser dosadas diante do grau da culpa do agente e guardar

correlação lógica com a conduta praticada, observando-se os

princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, a fim de que

sejam adequadamente individualizadas. n) Nesse contexto,

considerando a gravidade da conduta da Apelante, que, utilizou

a função pública para solicitar valores pecuniários, aproveitando

da inocência das vítimas, que não possuem conhecimento sobre

processo de adoção, é proporcional a aplicação de multa civil de

três vezes o valor do acréscimo patrimonial. 4) APELAÇÃO

CÍVEL A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. AGRAVO

RETIDO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJPR - 5ª

C.Cível - AC - 1232110-3 - Toledo - Rel.: Leonel Cunha -

Unânime - - J. 14.10.2014)

(TJ-PR - APL: 12321103 PR 1232110-3 (Acórdão), Relator:

Leonel Cunha, Data de Julgamento: 14/10/2014, 5ª Câmara

Cível, Data de Publicação: DJ: 1446 03/11/2014)

(grifos nossos)

A propósito, conforme os dizeres de Fazzio Júnior (2007:81):

A Lei nº 8.429/92 só cogita da improbidade administrativa

culposa nos casos em que se produz lesão aos cofres públicos.

Só no art. 10 contempla a espécie. Nos casos dos art.s 9º e 11, o

dolo é inafastável. Portanto, se esta é a regras, nas condutas

previstas na Lei nº 8.429/92, a culpa, no art. 10, é a exceção.

Isso se dá porque já que o intuito é a proteção do patrimônio público, necessita-

se tornar um caráter mais amplo na responsabilização do agente, acreditando-se que, por

causar um dano ao erário não é prescindível que haja tão somente a vontade do agente; a

má-fé, sendo, pois, aceitável que, para a responsabilização, o ato seja culposo, por dever

o agente ter maior observância nas consequências dos seus atos.

Demais disso, o legislador, ao aludir à culpa, certamente não se

refere à culpa grave, uma vez que esta é equiparada ao dolo,

sendo, portanto, prescindível, porque a conduta dolosa é a regra

entre os atos de improbidade administrativa.22

22

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 89.

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23

3.2. ATOS QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO

Quanto aos atos que causam prejuízo ao erário, encontramos tipificação

prevista no art. 10, da Lei nº 8.429/1992.

Assim como nos ensina Fazzio Júnior23

, “aqui, não importa a eventual

vantagem obtida pelo agente público, mas o prejuízo causado ao patrimônio público

econômico”.

Conforme os ensinamentos de Pazzaglini Filho, Rosa e Fazzio Júnior24

, os atos

que atentem contra o erário, trazendo, consequentemente, lesão a este, não deve ser

confundido com prejuízo ao patrimônio público, vez que, este é tido como “o complexo

de bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico e turístico” de toda a

administração, “é noção de espectro muito mais abrangente”, “não se restringe aos

bens e direitos de valor econômico”.

Devido a isso, necessário que os termos sejam observados com cautela, ainda

mais quando, no art. 21, da Lei nº 8.429/1992, o legislador estabeleceu que para a

aplicação das sanções, independerá de “efetiva ocorrência de dano ao patrimônio

público”, continuam Pazzaglini Filho, Rosa e Fazzio Júnior.

Observa-se, pois, como nos ensinamentos destes ilustres doutrinadores, que se

erário e patrimônio público são termos diferentes, sendo que erário compreende “ao

econômico-financeiro, ao tesouro, ao fisco”, o estabelecido no art. 10, da Lei nº

8.429/1992, visa a proteção do erário, o tesouro, englobando, desta feita, “o conjunto de

órgãos administrativos encarregados da movimentação econômico-financeira do

Estado”.

Já de acordo com os ensinamentos de Simão25

, acompanhando basicamente os

ensinamentos dos Ilustres Doutrinadores mencionados acima, erário é uma espécie,

onde o gênero é patrimônio público. Vejamos:

O termo “erário” é derivado do latim, aerarium; é o vocábulo

utilizado para designar o tesouro ou patrimônio público, ou seja,

o conjunto de bens ou valores pertencentes ao Estado.

23

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 119. 24

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 67. 25

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 249/250.

Page 25: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

24

(...)

Nos dias atuais a expressão erário é considerada espécie do

gênero patrimônio público, que passou a englobar outros bens

além dos materiais, como por exemplo o meio ambiente. O

fisco passou a representar apenas uma espécie de bens, os

decorrentes da arrecadação de tributos, abrangidos pelo conceito

de erário.

A expressão patrimônio público veio a ser definida, pelo § 1º do

art. 1º da Lei nº 4.717/65, como sendo não só bens e direitos de

valor econômico, mas também de valor artístico, estético,

histórico ou turístico.

E finaliza o Ilustre Doutrinador a esse respeito:

O art. 10 da LIA, desse modo, não tutela o patrimônio artístico,

estético, histórico ou turístico, muito embora estejam abrangidos

pelo conceito legal de patrimônio público. Daí o emprego do

vocábulo erário para definir os bens e direitos de natureza

econômica, incluído o crédito fiscal.

Em suma, erário é expressão mais restrita que patrimônio

público, que engloba, além dos valores econômicos, valores de

natureza não econômica. Para fins de aplicação do art. 10 é

necessária a presença de lesão patrimonial, entendida como

diminuição econômica do patrimônio público.

Ultrapassados, pois, estes argumentos preliminares, vejamos o que dispõe o art.

10 da Lei de Improbidade Administrativa:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa

lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,

que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, mal

baratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades

referidas no art. 1° desta Lei, e notadamente:

I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação

a patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no art. 1° desta Lei;

II – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica

privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do

acervo patrimonial das entidades mencionadas no art.1° desta

Lei, sem observância das formalidades legais ou regulamentares

aplicáveis à espécie;

III – doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente

despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistenciais,

bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das

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25

entidades mencionadas no art. 1° desta Lei, sem observância das

formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV – permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de

bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades

referidas no art. 1° desta Lei, ou ainda a prestação de serviço por

parte delas, por preço inferior ao de mercado;

V – permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem

ou serviço por preço superior ao de mercado;

VI – realizar operação financeira sem observância das normas

legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou

inidônea;

VII – conceder benefício administrativo ou fiscal sem a

observância das formalidades legais ou regulamentares

aplicáveis à espécie;

VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo

indevidamente;

IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não

autorizadas em lei ou regulamento;

X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda,

bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio

público;

XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas

pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação

irregular;

XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se

enriqueça ilicitamente;

XIII – permitir que se utilize, em obra ou serviço particular,

veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer

natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das

entidades mencionadas no art. 1° desta Lei, bem como o

trabalho de servidor público, empregados ou terceiros

contratados por essas entidades;

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por

objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão

associada sem observar as formalidades previstas na lei;

XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem

suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as

formalidades previstas na lei. (grifo nosso)

Veja-se que, pelo que dispõe o caput do dispositivo em comento, qualquer

conduta, mesmo que por omissão, dolosa ou culposa, que traga perda ao erário,

constituirá em improbidade administrativa.26

26

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 69.

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26

Porém, não é qualquer ação ou omissão que será suscetível de reprimenda da

Lei de Improbidade Administrativa. Assim como nos dizeres de Pazzaglini Filho, Rosa

e Fazzio Júnior27

:

A interpretação há de ser sistemática. O que a lei visa reprimir,

neste dispositivo, é a conduta ilegal. Não intenta punir quem,

agindo legalmente, por culpa, cause prejuízo ao patrimônio

público. Apenas a perda patrimonial decorrente de ilicitude,

ainda que culposa, ensejará a punição do agente público nas

sanções do art. 12, inciso II.

(...)

O ato de improbidade administrativa supõe que a conduta lesiva

ao erário, dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva, seja ilegal.

Assim também corrobora Simão28

, quando leciona que o dano interessado pela

Lei de Improbidade Administrativa é aquele que seja fruto da desonestidade do agente

público, “impregnado de vícios de comportamento, que, reunidos, dão origem ao

conceito de corrupção”.

Não é qualquer ato danoso que submete o agente público ao art.

10 da LIA. Tal dano deve corresponder a uma ilegalidade

gravíssima, definida pela Constituição Federal e pela própria

LIA como uma conduta ímproba.

A conduta ímproba, portanto, não é formada simplesmente pelo

dano ao erário, mas pela forma com que esse dano ocorre.

Nesse norte deve-se destacar a ressalva demonstrada por Pazzaglini Filho,

Elias Rosa e Fazzio Junior:

Lembre-se o caso de inesperada alteração da conjuntura

econômica, dos planos e pacotes corretivos da política

econômica, cujos reflexos imediatos na atividade mercantil são

às vezes desastrosos. Em tais circunstâncias, em regra, não se

poderá atribuir ao agente público a eiva de negligência ou

imprudência, taxando sua conduta de ímproba.

27

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 60. 28

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 252.

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27

Importante esclarecer, que o sujeito ativo, neste caso, também será o agente

público, vez que somente este poderá exercer as atividades tipificadoras descritas nos

incisos descritos no dispositivo legal.

Diferentemente do que estabelece o art. 9º, que a conduta ímproba do agente

público traz um benefício pra si ou pra outrem, porém, não acarreta dano ao erário, no

que temos estabelecido pelo art. 10, é a conduta que beneficiará a outrem, porém com

lesão ao erário. Porem, “não é preocupação do legislador, neste dispositivo, o eventual

proveito obtido pelo agente público, direta ou indiretamente, mas tão-somente seu agir

ou não agir em benefício de outrem, contra o erário”.29

3.3. ATOS QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Constituição Federal de 1988, quando reservou um capítulo para dispor

sobre a Administração Pública (Capítulo VII, do Título III – Da Organização do

Estado), dentre outras determinações a serem seguidas, estabeleceu os princípios que a

nortearão, os quais servem como base da sua estrutura. Assim dispõe o art. 37, caput,

da Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,

ao seguinte:

(grifo nosso)

Como se vê no dispositivo em comento, os princípios basilares que a

Administração Pública deve obedecer são: legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência. Tais princípios, como nos dizeres de Fazzio Júnior30

,

estabelecem a extensão dos atos de improbidade administrativa.

Porém, não são somente esses princípios estabelecidos no art. 37, da

Constituição Federal, que norteiam a estrutura da administração pública, estes “servem

de referencial à atividade administrativa”, mas, como nos dizeres de Fazzio Júnior

(2007:1):

29

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 70. 30

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 1.

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28

Não são só esses princípio expressos que balizam a atividade

administrativa. Há princípios administrativos disseminados ao

longo da Constituição Federal e da legislação ordinária,

explicitamente derivados desses princípios maiores

(subprincípios) e, ainda, há outro implícitos, como inferências

lógicas do Estado de Direito, democrático e republicano,

anunciado nos primeiros artigos da Carta Magna.

Em observância disso, a Lei de Improbidade Administrativa, em respeito ao

ordenamento da Lei Maior Brasileira, trouxe, em seu art. 4º, a determinação de

observância pelo agente público dos referidos princípios. Vejamos:

Art. 4º. Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são

obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato

dos assuntos que lhes são afetos.

Assim, a Lei nº 8.429/1992, em seu art. 11, traz o rol de atos considerados

improbidade administrativa, que atentam contra os princípios da administração pública,

cujos, por sua natureza, são característicos de lesão aos princípios estabelecidos pela

Constituição Federal, expressamente no caput do art. 37, ou não.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,

legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou

diverso daquele previsto na regra de competência;

II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão

das atribuições e que deva permanecer em segredo;

IV – negar publicidade aos atos oficiais;

V – frustrar a licitude de concurso público;

VI – deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII – revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de

terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida

política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria,

bem ou serviço. (grifo nosso)

Verifica-se, entretanto, assim também como leciona Fazzio Júnior31

, que todos

os atos ilícitos arrolados pela Lei de Improbidade Administrativa (arts. 9º, 10 e 11)

31

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 4.

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29

nascem da inobservância de algum, ou alguns, princípios constitucionais que a

administração pública deve respeitar. Vejamos nos dizeres do Ilustre Doutrinador:

O art. 37, caput, da Constituição Federal, sugere que a

abordagem dos atos de improbidade administrativa deve

começar pelo enfoque dos princípios constitucionais da

Administração Pública, como introito ao exame dos deveres

impostos aos agentes públicos, no sentido de preservar sua

integridade material e moral.

As razões que nos aconselham a adotar essa metodologia são

plausíveis. Todos os atos ilícitos arrolados nos arts. 9º, 10 e 11

da Lei nº 8.429/92 (LIA) não passam de disfunções

determinadas pela inobservância, em maior ou menor grau, dos

princípios constitucionais, que o art. 4ºda Lei nº 8.429/92 manda

preservar. (grifo nosso)

Para este doutrinador,

Dos dispositivos pertinentes aos atos de improbidade

administrativa em espécie, que competem no certame de

tipificação, o do art. 11 é o eleito, como ponto de partida

exegético, porque não se preocupa apenas com um dos aspectos

ou efeitos da improbidade, mas com a improbidade

administrativa em sim mesma.

Pela abrangência de seu texto e dos princípios que tutela, o art.

11 será sempre objeto de consideração, em presença de qualquer

ato de improbidade administrativa.

Realmente, qualquer que seja a conduta subsumível ao art. 9º, se

o agente público incorpora bens públicos ao seu patrimônio

particular, não fica dúvida que, efetivamente, ofende o conjunto

coordenado de princípios constitucionais da Administração, ou

seja, a probidade administrativa.

Por outro lado, nas condutas do art. 10, em que o agente público

facilita o aproveitamento de terceiro, em prejuízo do patrimônio

público econômico, ocorrerá, também, violação aos princípios

da Administração Pública, declinados no art. 11.

Então, se as condutas catalogadas nos arts. 9º e 10 coexistem,

sempre, com o caput do art. 11, para a correta adequação típica

da conduta ímproba não se poderá cogitar de aglutinação

daquelas normas, quer dizer, de sua incidência simultânea.

Com efeito, se o agente público pretende enriquecer

indevidamente, o fim específico de sua ação ou omissão não é

simplesmente atentar contra a honestidade e a legalidade

administrativas. Também assim, se mira favorecer terceiro, p.

ex., dispensando indevidamente concorrência pública, sua meta

é o enriquecimento de outrem e não, apenas, a subersão do dever

de impessoalidade.

Page 31: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

30

Presente a coexistência do art. 11, seja com o art. 9º, seja com o

art. 10, será por qualquer deles absorvido, dado que qualificados

pela maior extensão material, isto é, pela projeção de seus

efeitos, para além do mero confronto conduta/dever. Não há,

pois, concorrência, mas absorção, para fins sancionatórios.

Exemplificando, em presença de ato que acarreta

enriquecimento ilícito do agente público, está embutida a

violação dos princípios constitucionais da Administração, mas a

extensão do enriquecimento ilícito absorve a tão-só

inobservância daqueles postulados.

É bom atentar para o fato de que tanto o enriquecimento ilícito

(art. 9º) como a lesão ao erário (10) não são, rigorosamente, atos

de improbidade administrativa. São efeitos produzidos por atos

de improbidade administrativa. A letra da lei é clara.

“Constitui ato de improbidade administrativa”, no art. 9º,

“importando enriquecimento ilícito”; no art. 10, “que causam

lesão ao erário”.

Isso quer dizer que os atos tipificados na Lei nº 8.429/1992, como atos de

improbidade administrativa, independentemente de qual seja, viola os princípios

basilares da Administração Pública, tendo em vista que referidos atos se esbarram no

dever de observância aos princípios.

Ao que o ilustre Fazzio Júnior32

nos ensina, é que esses atos administrativos

são típicos de improbidade administrativa, por atentar contra os princípios que a

administração pública deve seguir, “independem de efeitos subjetivos (agente público

que se avantaja) e objetivos (lesão ao erário), para sua caracterização”.

A exemplo de ato de improbidade administrativa que atente contra os

princípios da Administração Pública, vejamos alguns julgados em casos concretos:

E M E N T A: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL POR ATO

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRELIMINAR.

ERRO NA NUMERAÇÃO DAS PÁGINAS. AUSÊNCIA DE

PREJUÍZO. ALEGAÇÃO DE PERSEGUIÇÃO POLÍTICA E

AUSÊNCIA DE PROVAS DE DESVIO DE RECURSOS

PARA PROVEITO PRÓPRIO. DESNECESSIDADE DE

DANO PARA CONFIGURAÇÃO DO ILÍCITO PREVISTO

NO ART. 11 DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES DO STJ. DOLO

CONFIGURADO. - A ação foi julgada com base em provas

robustas e técnicas, oriundas do Tribunal de Contas do Estado

do Amazonas, e cumpria ao Apelante apresentar provas

contrárias às evidências dos autos, na forma prevista no art. 333,

II do Código de Processo Civil, ônus do qual não se 32

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Atos de improbidade administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: Editora Atlas, 2007, pág. 159.

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31

desincumbiu. - A configuração da conduta ímproba violadora

dos princípios da administração pública (art. 11 da LIA), não

exige a demonstração de dano ao erário ou de enriquecimento

ilícito, não prescindindo, em contrapartida, da demonstração de

dolo, ainda que genérico. - No caso, restou configurado o dolo

do Apelante, não merecendo reparo a sentença a quo. - Recurso

desprovido.

(TJ-AM - APL: 00031834020138040000 AM 0003183-

40.2013.8.04.0000, Relator: Paulo Cesar Caminha e Lima, Data

de Julgamento: 01/06/2015, Primeira Câmara Cível, Data de

Publicação: 02/06/2015)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ATO DE

IMPROBIDADE TIPIFICADO PELO ART. 11 DA LEI

8.429/92. PREFEITO MUNICIPAL. IRREGULARIDADES

NO REPASSE DAS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS AO

INSTITUTO MUNICIPAL DE SEGURIDADE SOCIAL -

IMSS. CONDUTA QUE ATENTA CONTRA OS PRINCÍPIOS

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. VIOLAÇÃO DO ART.

535 CPC NÃO OCORRENTE. DOLO GENÉRICO

RECONHECIDO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.

REEXAME FÁTICO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.

1. Trata-se de Recurso Especial em que o demandado, então

Prefeito do Município de Congonhas/SP, insurge-se contra sua

responsabilização pela prática de conduta tipificada no art. 11 da

Lei de Improbidade Administrativa por ter deixado de repassar

mensalmente ao Instituto Municipal de Seguridade Social -

IMSS as verbas recolhidas dos servidores públicos municipais e

haver descumprido empréstimo ilegalmente obtido junto à

autarquia municipal. 2. No específico caso dos autos, o Tribunal

local expressamente reconheceu a presença do elemento

subjetivo "dolo", assentando que ficou provada a ausência de

repasse das verbas públicas no valor de R$ 1.123.098,76, assim

como a ilegalidade do empréstimo obtido pelo Executivo

Municipal no IMSS, no valor de R$ 1.500.000,00, avença

também não cumprida pelo demandado. 3. Segundo o acórdão

recorrido, "(...) Configura ato de improbidade administrativa que

atenta contra os princípios da administração pública, em

especial, a legalidade e moralidade, o parcelamento de

contribuições previdenciárias recebida e não repassadas, e que

foram objeto de renegociação não cumprida, e empréstimos

tomados e não pagos, pois praticado ato visando a fim diverso

do previsto em lei (art. 11, I, da Lei 8.429/92). Na aplicação das

sanções previstas no art. 12 da Lei 8.429/92, o Julgador deverá

levar em conta a extensão do dano causado, assim como o

proveito patrimonial obtido pelo agente, em respeito aos

princípios da razoabilidade, proporcionalidade e adequação na

interpretação e aplicação do dispositivo". 4. Precisamente sobre

o dolo, o julgamento impugnado afirma que, "consoante a

análise minuciosa dos documentos e provas produzidas,

Page 33: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

32

vislumbra-se existência de atos de improbidade administrativa,

vez que presentes a má-fé e o dolo do réu/apelante, nos moldes a

justificar a procedência do pedido, ainda que em parte". 5. Não

há ofensa ao art. 535 do CPC quando o Tribunal a quo exara

fundamentação suficiente à exteriorização do seu entendimento

sobre a questão em julgamento e quando a pretensão integrativa

vincula-se ao mérito da decisão, e não às hipóteses que

habilitam o manejo dos aclaratórios, que por esse motivo foram

desacolhidos na origem. Jurisprudência corrente que desobriga o

julgador a responder a questionamentos ou a teses das partes. 6.

O Superior Tribunal de Justiça firmou orientação quanto à

necessidade de ser comprovado o dolo genérico para a

tipificação da conduta prevista no art. 11 da Lei de Improbidade

Administrativa. Tendo a Corte estadual expressamente

consignado a presença desse elemento subjetivo, não há como

acolher o pleito recursal que busca afastar a responsabilização

do demandado pela demonstração de inexistência de

materialidade da conduta que lhe é imputada, tendo em vista que

o exame das premissas fáticas sobre as quais se pautou a decisão

atacada encontra vedação no enunciado da Súmula 7/STJ. 7.

Recurso Especial não provido.

(STJ - REsp: 1285160 MG 2011/0233239-6, Relator: Ministro

HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 04/06/2013, T2 -

SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJE 12/06/2013)

Por outro lado, encontramos na Jurisprudência posicionamentos que divergem

com os ensinamentos partilhados neste trabalho monográfico, asseverando os julgados

de que quando o ato intentar contra os princípios constitucionais da administração

pública, mas, que não trouxer um prejuízo ao erário não se configurará a improbidade

administrativa. Vejamos alguns julgados:

APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO PÚBLICO NÃO

ESPECIFICADO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

MUNICÍPIO DE RIO GRANDE. PROPAGANDA PESSOAL

E INSTITUCIONAL EM DESACORDO COM LEGISLAÇÃO

ELEITORAL. REALIZAÇÃO DE CARREATA PELA

CIDADE COM VEÍCULOS ADQUIRIDOS PELA

ADMINISTRAÇÃO. ART. 11 DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS QUE

REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. NÃO

OCORRÊNCIA. À UNANIMIDADE, NEGARAM

PROVIMENTO AO APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E

DERAM PROVIMENTO AO APELO DE ARI MOSSI FERIS.

(Apelação Cível Nº 70056831415, Vigésima Primeira Câmara

Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francisco José

Moesch, Julgado em 29/01/2014)

(TJ-RS - AC: 70056831415 RS, Relator: Francisco José

Moesch, Data de Julgamento: 29/01/2014, Vigésima Primeira

Page 34: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

33

Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia

18/02/2014)

(Grifo nosso)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO

ESPECIFICADO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

SAMAE. CAXIAS DO SUL. REALIZAÇÃO DE TERMO DE

ADITIVO EM CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS. CONTRATAÇÃO DE EMPRESA SEM

LICITAÇÃO. ILEGALIDADE. ART. 11 DA LEI DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AUSÊNCIA DE

DANO AO ERÁRIO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS QUE

REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INOCORRÊNCIA.

DOLO NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA DE

IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. MANUTENÇÃO. Não restou

comprovado que a conduta de qualquer dos demandados tenha

causado lesão ao erário. O Ministério Público não trouxe aos

autos qualquer elemento que demonstrasse prejuízo aos cofres

públicos por ser excessivo o valor pago ou por não ter ocorrido a

devida prestação dos serviços contratados. Houve dispensa

indevida da licitação; porém, não se tem qualquer prova de

prejuízo ao erário. Ademais, a responsabilização com base no

art. 11 da Lei nº 8.429/92 exige dolo, não configurado no caso

sub judice. À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO

AO APELO. (Apelação Cível Nº 70051303287, Vigésima

Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Francisco José Moesch, Julgado em 11/12/2013)

(TJ-RS - AC: 70051303287 RS, Relator: Francisco José

Moesch, Data de Julgamento: 11/12/2013, Vigésima Primeira

Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia

13/12/2013)

3.4. DAS SANÇÕES IMPOSTAS POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Conforme os dizeres de Simão33

, “sanção é uma medida coercitiva que

consiste em privar o indivíduo de suas posses, como a vida, a liberdade ou seu

patrimônio”.

A Constituição Federal de 1988 reservou no art. 37, § 4º, as regras pertinentes

para a sanção da conduta ímproba. Nesse dispositivo temos a descrição de todas as

sanções aplicáveis no caso de improbidade administrativa, que são:

Art. 37. (...)

§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a

33

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 607.

Page 35: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

34

indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma

e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Na Lei nº 8.429/92, encontramos no art. 12, capítulo próprio que trata das

penalidades decorrentes dos atos do agente ímprobo, o qual traz separadamente, em seus

incisos, para cada modalidade de improbidade a sua penalidade específica. Vejamos,

pois, o referido dispositivo:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e

administrativas previstas na legislação específica, está o

responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações, que podem ser aplicadas isolada ou

cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

I – na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos

ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano,

quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de 8 (oito) a 10 (dez) anos, pagamento de multa civil

de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de

contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de 10 (dez) anos;

II – na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda

dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se

concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão

dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos, pagamento de

multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de

contratar com o Poder Público ou receber benefício ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de 5 (cinco) anos;

III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se

houver, perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos, pagamento de multa civil

de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente

e proibição de contratar com o Poder Público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da

qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz

levará em conta a extensão do dano causado, assim como o

proveito patrimonial obtido pelo agente.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta Lei o

juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o

proveito patrimonial obtido pelo agente.

Page 36: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

35

Veja-se, contudo, que o parágrafo único determina que, para a fixação das

penas previstas, deverá o julgador levar em conta a extensão do dano e também o

proveito patrimonial que o agente obteve com o ato.

A esse respeito Simão34

nos leciona que houve um estabelecimento, pelo

legislador infraconstitucional, de que o magistrado deve “considerar, na aplicação das

penas, a gravidade do ato, a extensão do dano causado, assim como proveito

patrimonial obtido pelo agente”.

Alexandrino e Paulo35

, ao se manifestarem a esse respeito, invocam o princípio

da proporcionalidade, vejamos o que nos ensinam:

O postulado da proporcionalidade é importante, sobretudo, no

controle dos atos sancionatórios, especialmente nos atos de

polícia administrativa. Com efeito, a intensidade e a extensão

do ato sancionatório deve corresponder, deve guardar relação de

proporcionalidade com a lesividade e gravidade da conduta que

se tenciona reprimir ou prevenir. A noção é intuitiva: uma

infração leve deve receber uma sanção branda; a uma falta

grave deve corresponder uma sanção severa. (grifo nosso)

Assim também é o posicionamento de Pazzaglini Filho36

, vejamos:

Pois bem, os princípios constitucionais interligados da

razoabilidade e proporcionalidade, de natureza implícita, que

esclarecem e instruem o princípio constitucional maior e

primário da legalidade, são de observância obrigatória na

aplicação das medidas punitivas em geral.

(...)

Deduz-se desses princípios que a imposição das sanções

elencadas para os atos de improbidade administrativa deve ser

razoável, isto é, adequada, sensata, coerente em relação ao ato

ímprobo cometido pelo agente público e suas circunstâncias, e

proporcional, ou seja, compatível, apropriada, pertinente com a

gravidade e a extensão do dano (material e moral) causado por

ele. (grifo nosso)

Veja-se, contudo, que a observância da razoabilidade e proporcionalidade se

faz necessária tendo em vista a extensão da possibilidade de aplicação da pena, como

34

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 607. 35

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 15ª ed., São paulo: Editora Impetus, 2010, pág. 155. 36

PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de improbidade administrativa comentada. São Paulo: Editora Atlas, 2002, pág. 123/124.

Page 37: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

36

por exemplo, no caso do inciso III, do art. 12, da Lei de Improbidade Administrativa,

onde nos deparamos com penalidades imputáveis àquele que agir atentando contra os

princípios da Administração Pública. Dentre as possíveis penalidades existentes, temos

a cominação de “pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da

remuneração percebida pelo agente”.

Ora, como vimos anteriormente, há casos em que há atuação do agente em

desrespeito aos princípios elencados na Constituição Federal/88, mas que não geram um

dano propriamente dito ao erário. Ou seja, a extensão do mal à Administração Pública

não justifica tanto a proporção da pena.

O que é importante destacar, neste momento, é que, como o caput do art. 12, da

Lei nº 8.429/92, estabelece as sanções não serão aplicadas somente no aspecto civil,

mas, também, no administrativo e penal.

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37

4. CONTROLE DO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Como vimos anteriormente, dentre as formas de controle do ato administrativo,

temos o controle interno e o externo, os quais são os exercidos para verificação e

atribuição de responsabilidade em caso de ato de improbidade administrativa.

O controle externo fica a cargo do Poder Judiciário, por meio de um processo

judicial, e, também, a cargo do Tribunal de Contas que tem permissão da Constituição

Federal de 88, sendo estes os responsáveis primordiais no controle do ato de possível

improbidade administrativa.

4.1. CONTROLE REALIZADO PELO TRIBUNAL DE CONTAS

O poder de controle dado ao Tribunal de Contas vem de determinação

constitucional expressa no art. 70 e 71, da Constituição Federal de 1988, o qual

auxiliará o Congresso Nacional no controle externo para “aferir a probidade da

atuação da administração pública e a regularidade na utilização de recursos públicos

(em acepção abrangente), sendo um controle contábil e financeiro de legalidade e

legitimidade”37

.

Vejamos o que dispõe os referidos dispositivos:

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial da União e das entidades da

administração direta e indireta, quanto à legalidade,

legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e

renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional,

mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de

cada Poder.

Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou

jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde,

gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou

pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma

obrigações de natureza pecuniária.

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional,

será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao

qual compete:

I – apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da

República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em

sessenta dias a contar de seu recebimento;

37

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 859.

Page 39: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

38

II – julgar as contas dos administradores e demais responsáveis

por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e

indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e

mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que

derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que

resulte prejuízo ao erário público;

III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de

admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e

indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo

Poder Público, excetuadas as nomeações para carto de

provimento em comissão, bem como a das concessões de

aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias

posteriores que não alterem o fundamento legal do ato

concessório;

IV – realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados,

do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito,

inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,

orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades

administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,

e demais entidades referidos no inciso II;

V – fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais

de cujo capital social a União participe, de forma direta ou

indireta, nos termos do tratado constitutivo;

VI – fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela

União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos

congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;

VII – prestar as informações solicitadas pelo Congresso

Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das

respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,

orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de

auditorias e inspeções realizadas;

VIII – aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de

despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei,

que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional

ao dano causado ao erário;

IX – assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as

providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se

verificada ilegalidade;

X – sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado,

comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado

Federal;

XI – representar ao Poder competente sobre irregularidades ou

abusos apurados.

§ 1º. No caso de contrato, o ato de sustação será adotado

diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de

imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.

§ 2º. Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo

de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo

anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

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39

§ 3º. As decisões do Tribunal de que resulte imputação de

débito ou multa terão eficácia de título executivo.

§ 4º. O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral

e anualmente, relatório de suas atividades.

(Grifos nossos)

Veja-se, contudo, que a competência de fiscalizar, determinada pelo art. 70 da

CF, é do Congresso Nacional, mas que cabe ao Tribunal de Contas auxiliar no referido

controle, no entanto, esse auxílio não importa dizer que o Tribunal de Contas é

subordinado ao Congresso Nacional, conforme os ensinamentos de Alexandrino e

Paulo38

.

Os tribunais de contas são órgãos vinculados ao Poder

Legislativo, que o auxiliam no exercício do controle externo da

administração pública, sobretudo o controle financeiro. Não

existe hierarquia entre as cortes de contas e o Poder Legislativo.

Os tribunais de contas não praticam atos de natureza legislativa,

mas tão somente atos de fiscalização e controle, de natureza

administrativa.

(grifo nosso)

Importante abrir um parêntese que, embora os dispositivos transcritos acima

refiram-se ao Tribunal de Contas da União, e, à fiscalização, julgamento e apreciação de

contas de patrimônio da União, a Constituição Federal de 88, preservou as mesmas

regras atribuídas ao Tribunal de Contas da União, aos Tribunais de Contas dos Estados,

do Distrito Federal, e Municípios, conforme se vê do art. 75, da CF:

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no

que couber, à organização, composição e fiscalização dos

Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem

como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.

Cabe aqui assinalar que, quanto aos Municípios, há disposições específicas

estabelecidas pela Constituição Federal Brasileira de 88, em seu art. 31, senão vejamos:

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder

Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos

sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na

forma da Lei.

§ 1º. O controle externo da Câmara Municipal será exercido

com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do

38

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 863.

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40

Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos

Municípios, onde houver.

§ 2º. O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as

contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de

prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara

Municipal.

§ 3º. As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,

anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e

apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos

termos da lei.

§ 4º. É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de

Contas Municipais.

Pois bem, o controle realizado pelo Tribunal de Contas “sobre os atos ou

contratos da administração pública é um controle posterior ou subsequente” ao ato. E

somente tratará de julgamento de contas dos administradores públicos, por força do

inciso II, do art. 71 da CF, mas, não das contas do Presidente da República, que ficará a

cargo do Congresso Nacional, conforme o inciso I, do mesmo dispositivo, combinado

com o art. 49, IX, da CF.

Como já dito anteriormente, as regras dispostas na Constituição Federal acerca

das análises e julgamento de contas dos administradores públicos, por força do art. 75,

da Constituição Federal também será aplicada no âmbito dos Tribunais de Contas

Estaduais, do Distrito Federal e Municípios.

Alexandrino e Paulo39

com louvor nos esclarecem:

Assim, no âmbito estadual, a competência para julgar as contas

do governador será da assembleia legislativa, após a apreciação,

mediante parecer prévio, do tribunal de contas do estado; e a

competência para o julgamento das contas dos demais

administradores públicos estaduais será do tribunal de contas do

estado. No âmbito municipal, a competência para julgar as

contas do prefeito será da câmara municipal, após a apreciação,

mediante parecer prévio, do tribunal de contas do estado (ou do

município, onde houver); e a competência para julgamento das

contas dos demais administradores municipais será da corte de

contas do estado (ou do município, onde houver).

Contudo, “as regras sobre os Tribunais de Contas Estaduais deverão estar

previstas na Constituição Estadual”40

.

39

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 865/866. 40

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 18ª ed. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2014, pág.708.

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41

Importante esclarecer que, conforme o § 1º, do art. 31, transcrito acima, a

Constituição Federal veda a criação de Tribunais de Contas municipais, o que, de certa

forma, se contrasta com a regra estabelecida no caput do art. 75. Tal conflito nos é

desvencilhado por Pedro Lenza, que nos leciona:

Daí a única conclusão a que podemos chegar é que, após a

promulgação da CF/88, veda-se a criação de Tribunais de

Contas Municipais. No entanto, os que existiam à época

deverão permanecer em funcionamento. Foi o que aconteceu,

por exemplo, com os Tribunais de Contas dos Municípios do

Rio de Janeiro (constituído em 23.10.1980) e de São Paulo

(TCM/SP, criado pela Lei n. 7.213, de 20.11.1968, composto, a

título de curiosidade, por 5 conselheiros).

Pois bem, a atuação de julgamento de contas atribuída ao Tribunal de Contas

nasce “na medida em que os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem

conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela deverão dar ciência ao

TCU, sob pena de responsabilidade solidária”41

(art. 74, § 1º, da CF/88 e art. 15, da Lei

nº 8.429/92), assim também como, nasce de denúncia feita por qualquer cidadão,

partido político, associação ou sindicato (§ 2º, art. 74, CF; e, art. 14, da Lei nº 8.429/92),

e, também, da prestação de contas feitas pelas pessoas físicas ou jurídicas elencadas no

Parágrafo único, do art. 70, da CF.

Embora o art. 73, da Constituição Federal, tenha falado em jurisdição a ser

exercida pelo Tribunal de Contas, o entendimento predominante é o de que “inexiste a

definitividade jurisdicional”, e por isso, a denominação “jurisdição” encontra-se no

referido dispositivo de maneira equivocada. Assim esclarece o ilustre doutrinador:

No caso de auxílio no controle externo, os atos praticados são de

natureza meramente administrativa, podem ser acatados ou não

pelo Legislativo. Em relação às outras atribuições, o Tribunal

de Contas também decide administrativamente, não produzindo

nenhum ato marcado pela definitividade ou fixação do direito no

caso concreto, no sentido de afastamento da pretensão resistida.

O Tribunal de contas, portanto, não é órgão do Poder Judiciário

(não está elencado no art. 92), nem mesmo do Legislativo.

Não obstante, conforme entendimento pacificado pelo STF na ADI 3.715-MC

(Acórdão constante no anexo III deste trabalho monográfico), o Tribunal de Contas tem 41

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 18ª ed. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2014, pág. 694.

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42

total autonomia no exercício do julgamento das contas, não sendo sua decisão

subordinada à apreciação pelo Poder Legislativo. Porém, “por se tratar de decisão

administrativa, naturalmente, o entendimento a ser firmado pelo TCU poderá ser

discutido no Judiciário (art. 5º, XXXV)”, conforme os dizeres do referido doutrinador,

exatamente pela falta de caráter definitivo nas decisões proferidas pelo Tribunal de

Contas.

Desta feita, da análise do que restou exposto, verifica-se que, mesmo por se

tratar de decisão proferida pelo Tribunal de Contas, e, por suas decisões não terem força

judicante definitiva, mas, que constituem coisa julgada na esfera administrativa, a

apreciação pode ser rediscutida no Judiciário.

Por outro lado, a decisão condenatória pelo Tribunal de Contas, por disposição

expressa da Constituição Federal de 88, tem eficácia de título executivo, assim como

estabelece o art. 71, §3º, da CF (acima transcrito). “Isso significa que a multa aplicada,

ou o débito imputado, pode ser levada diretamente ao Poder Judiciário para cobrança,

em ação de execução, sem necessidade de discussão prévia”42

.

4.1.1. PRESTAÇÃO DE CONTAS E TOMADA DE CONTAS COMO MEIO

DE CONTROLE DO TRIBUNAL DE CONTAS

Conforme os ensinamentos de Alexandrino e Paulo, a tomada de contas

ordinária e a prestação de contas ordinária, são atividades exercidas pelo Tribunal de

Contas, de contas prestadas “exigidas anualmente de toda a administração pública,

direta e indireta, independentemente de suspeita de prejuízo aos cofres públicos”,

ambas “têm base na parte inicial do inciso II do art. 71 da Constituição”.

Além da tomada de contas ordinária, temos ainda a tomada de contas especial,

que “é um procedimento destinado a apurar fato específico em que haja suspeita de

lesão ao erário”, que tem como fundamento a parte final do inciso II, do art. 71 da

Constituição Federal de 88. Vejamos a transcrição do dispositivo em comento:

Art. 71. (...)

II – julgar as contas dos administradores e demais responsáveis

por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e

indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e

mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que

42

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª ed. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 868.

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43

derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que

resulte prejuízo ao erário público; (grifo nosso)

A Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União, Lei nº 8.443/1992, assim

estabelece a respeito da Tomada e Prestação de Contas Ordinárias:

Art. 7°. As contas dos administradores e responsáveis a que se

refere o artigo anterior serão anualmente submetidas a

julgamento do Tribunal, sob forma de tomada ou prestação de

contas, organizadas de acordo com normas estabelecidas em

instrução normativa.

Parágrafo único. Nas tomadas ou prestações de contas a que

alude este artigo devem ser incluídos todos os recursos,

orçamentários e extra-orçamentários, geridos ou não pela

unidade ou entidade.

Já quanto à Tomada de Contas Especial, em consonância com o disposto na

Constituição Federal, temos:

Art. 8°. Diante da omissão no dever de prestar contas, da não

comprovação da aplicação dos recursos repassados pela União,

na forma prevista no inciso VII do art. 5° desta Lei, da

ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores

públicos, ou, ainda, da prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo

ou antieconômico de que resulte dano ao Erário, a autoridade

administrativa competente, sob pena de responsabilidade

solidária, deverá imediatamente adotar providências com vistas

à instauração da tomada de contas especial para apuração dos

fatos, identificação dos responsáveis e quantificação do dano.

§ 1° Não atendido o disposto no caput deste artigo, o Tribunal

determinará a instauração da tomada de contas especial, fixando

prazo para cumprimento dessa decisão.

§ 2° A tomada de contas especial prevista no caput deste artigo e

em seu § 1° será, desde logo, encaminhada ao Tribunal de

Contas da União para julgamento, se o dano causado ao Erário

for de valor igual ou superior à quantia para esse efeito fixada

pelo Tribunal em cada ano civil, na forma estabelecida no seu

Regimento Interno.

§ 3° Se o dano for de valor inferior à quantia referida no

parágrafo anterior, a tomada de contas especial será anexada ao

processo da respectiva tomada ou prestação de contas anual do

administrador ou ordenador de despesa, para julgamento em

conjunto.

(grifo nosso)

Page 45: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

44

Esses processos de análises e julgamentos de contas, conforme os dizeres de

Laís Primo43

são hábeis a viabilizar o controle do uso regular das verbas

pública e, se for o caso, por meio deles, após assegurado o

exercício do contraditório e da ampla defesa, é possível

determinar a responsabilização do gestor pelos danos causados

ao Erário e impor-lhe o ressarcimento.

A tomada de contas especial, conforme estabelece o art. 8º da Lei Orgânica do

Tribunal de Contas da União, é instaurada após a Corte de Contas observar a existência

de algum indício que leve a crer a existência de dano ao erário. Assim estabelece o art.

8º, da referida Lei:

Art. 8º. Diante da omissão no dever de prestar contas, da não

comprovação da aplicação dos recursos repassados pela União,

na forma prevista no inciso VII do art. 5º desta Lei, da

ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores

públicos, ou, ainda, da prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo

ou antieconômico de que resulte dano ao Erário, a autoridade

administrativa competente, sob pena de responsabilidade

solidária, deverá imediatamente adotar providências com vistas

à instauração da tomada de contas especial para apuração dos

fatos, identificação dos responsáveis e quantificação do dano.

Conforme denominação da Controladoria Geral da União44

:

A Tomada de Contas Especial é um instrumento de que dispõe a

Administração Pública para buscar o ressarcimento de eventuais

prejuízos que lhe forem causados, sendo o processo revestido de

rito próprio e instaurado somente depois de esgotadas as

medidas administrativas para reparação do dano.

Após a análise dos processos das contas, constata-se a lesão, ou não, ao erário,

e sendo constatada, concluirá a Corte de Contas, como já visto, em uma decisão

condenatória administrativa configurando título executivo, conforme o §3º, art. 71, da

CF/88.

43

PRIMO, Laís de Araújo. Da possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento do erário no âmbito do tribunal de contas e da ação de improbidade administrativa. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13537. Acessado em: 07/07/2017. 44

____. Tomada de contas especial – perguntas e respostas. Controladoria Geral da União. Disponível em: www.cgu.gov.br/publicacoes/auditoria-e-fiscalização/arquivos/tomadadecontasespecial.pd. Acessado em: 01/08/2017.

Page 46: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

45

Conforme dispõe o art. 6º, da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do Tribunal de

Contas da União), há um rol de pessoas da administração pública, administradores e

responsáveis, que estão sujeitas à tomada de contas, que estão dispostas no art. 5º da

referida Lei. São elas:

Art. 5°. A jurisdição do Tribunal abrange:

I - qualquer pessoa física, órgão ou entidade a que se refere o

inciso I do art. 1° desta Lei, que utilize, arrecade, guarde,

gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou

pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma

obrigações de natureza pecuniária;

II - aqueles que derem causa a perda, extravio ou outra

irregularidade de que resulte dano ao Erário;

III - os dirigentes ou liquidantes das empresas encampadas ou

sob intervenção ou que de qualquer modo venham a integrar,

provisória ou permanentemente, o patrimônio da União ou de

outra entidade pública federal;

IV - os responsáveis pelas contas nacionais das empresas

supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma

direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo.

V - os responsáveis por entidades dotadas de personalidade

jurídica de direito privado que recebam contribuições parafiscais

e prestem serviço de interesse público ou social;

VI - todos aqueles que lhe devam prestar contas ou cujos atos

estejam sujeitos à sua fiscalização por expressa disposição de

Lei;

VII - os responsáveis pela aplicação de quaisquer recursos

repassados pela União, mediante convênio, acordo, ajuste ou

outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou

a Município;

VIII - os sucessores dos administradores e responsáveis a que se

refere este artigo, até o limite do valor do patrimônio

transferido, nos termos do inciso XLV do art. 5° da Constituição

Federal;

IX - os representantes da União ou do Poder Público na

Assembleia Geral das empresas estatais e sociedades anônimas

de cujo capital a União ou o Poder Público participem,

solidariamente, com os membros do Conselho Fiscal e de

Administração, pela prática de atos de gestão ruinosa ou

liberalidade à custa das respectivas sociedades.

4.1.2. DECISÕES E SANÇÕES APLICÁVEIS PELO TRIBUNAL DE CONTAS

Conforme o art. 10, da Lei nº 8.433/92, a decisão proferida pelo Tribunal de

Contas, pode ser de três espécies:

Page 47: ANA CLAUDIA SABINO DA ROCHA COSTA - bdm.ufmt.br

46

- Preliminar, onde o Relator ordena a citação ou audiência do responsável, ou,

diligências necessárias ao saneamento do processo;

- Definitiva, decisão pela qual as contas são julgadas regulares, regulares com ressalva,

ou irregulares; e, por fim,

- Terminativa, ocorre quando o Tribunal de Contas determina o trancamento das contas

por serem consideradas iliquidáveis.

Vejamos transcrição do referido dispositivo:

Art. 10. A decisão em processo de tomada ou prestação de

contas poder ser preliminar, definitiva ou terminativa.

§ 1º. Preliminar é a decisão pela qual o Relator ou o Tribunal,

antes de pronunciar-se quanto ao mérito das contas, resolve,

sobrestar o julgamento, ordenar a citação ou a audiência dos

responsáveis ou, ainda, determinar outras diligências necessárias

ao saneamento do processo.

§ 2º. Definitiva é a decisão pela qual o Tribunal julga as contas

regulares, regulares com ressalva, ou irregulares.

§ 3º. Terminativa é a decisão pela qual o Tribunal ordena o

trancamento das contas que forem consideradas iliquidáveis, nos

termos dos arts. 20 e 21 desta Lei.

Em se tratando de decisão definitiva, com julgamento das contas irregulares,

dever-se-á observar o disposto nos arts. 12 e 19, da Lei nº 8.433/92. Vejamos:

Art. 12. Verificada irregularidade nas contas, o Relator ou o

Tribunal:

I - definirá a responsabilidade individual ou solidária pelo ato de

gestão inquinado;

II - se houver débito, ordenará a citação do responsável para, no

prazo estabelecido no Regimento Interno, apresentar defesa ou

recolher a quantia devida;

III - se não houver débito, determinará a audiência do

responsável para, no prazo estabelecido no Regimento Interno,

apresentar razões de justificativa;

IV - adotará outras medidas cabíveis.

§ 1° O responsável cuja defesa for rejeitada pelo Tribunal será

cientificado para, em novo e improrrogável prazo estabelecido

no Regimento Interno, recolher a importância devida.

§ 2° Reconhecida pelo Tribunal a boa-fé, a liquidação

tempestiva do débito atualizado monetariamente sanará o

processo, se não houver sido observada outra irregularidade nas

contas.

§ 3° O responsável que não atender à citação ou à audiência será

considerado revel pelo Tribunal, para todos os efeitos, dando-se

prosseguimento ao processo.

(grifo nosso)

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47

Art. 19. Quando julgar as contas irregulares, havendo débito, o

Tribunal condenará o responsável ao pagamento da dívida

atualizada monetariamente, acrescida dos juros de mora devidos,

podendo, ainda, aplicar-lhe a multa prevista no art. 57 desta Lei,

sendo o instrumento da decisão considerado título executivo

para fundamentar a respectiva ação de execução.

Parágrafo único. Não havendo débito, mas comprovada

qualquer das ocorrências previstas nas alíneas a, b e c do inciso

III, do art. 16, o Tribunal aplicará ao responsável a multa

prevista no inciso I do art. 58, desta Lei.

Veja-se, contudo, que o julgamento de contas irregulares pelo Tribunal de

Contas visa sempre à punição do ato que, de alguma forma, traga prejuízo ao erário.

4.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO MEIO DE CONTROLE JUDICIAL À

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Encontramos disposto no art. 17, da Lei nº 8.429/92, as principais regras para a

propositura da ação pertinente para os atos de possível improbidade administrativa.

O controle judicial da improbidade administrativa não acontece

espontaneamente, mesmo porque necessita ser provocado (necessita de iniciativa da

parte interessada), conforme o art. 2º, do Novo Código de Processo Civil Brasileiro.

Portanto, depende da parte interessada para ter início, “move-se impelido pela iniciativa

popular (ação popular) ou pela iniciativa ministerial (ação civil pública), conquanto se

confira também legitimidade às pessoas jurídicas imediatamente atingidas pelas

condutas ímprobas”.45

Destarte, o povo tem o poder soberano de fiscalizar a Administração Pública, e

pode exercer seu poder por meio da Ação Popular, ocorre, que nem sempre essa prática

é possível. Vejamos o posicionamento de Pazzaglini Filho, Rosa e Fazzio Júnior a esse

respeito:

Primeiro porque, a acessibilidade ao Poder Judiciário, não é tão

ampla vez que a Ação Popular tem sua legitimação ativa restrita

ao “cidadão”. Depois, porque o processo não é simples,

demandando aptidão técnica e recursos que, efetivamente, não

estão ao alcance de pessoas e entidades desprovidas de uma

estruturação adequada e advogados especializados. As ações

populares quase sempre redundam em insucesso pela escassez

45

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 17.

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48

de comprovação técnica das irregularidades que intentam

debelar ou por assistência jurídica deficiente.

Na verdade, muito difícil é ouvir-se falar em Ação Popular promovida por

algum cidadão em detrimento de algum ato eivado de improbidade administrativa.

Mas, quando o povo não exerce esse poder, fica a cargo do Ministério Público

promover a devida ação para responsabilizar o agente de improbidade administrativa.

A respeito da Ação Civil Pública de improbidade administrativa, segundo os

ensinamentos de Pazzaglini Filho, Rosa e Fazzio Júnior46

, temos:

Ação civil é a que tem por objeto uma lide civil. É ação não

penal. Pública por seu conteúdo, porque objetiva proteger

interesses difusos ou coletivos. Se toda a ação civil,

mediatamente, persegue a consecução do interesse público, na

órbita processual civil, seu objetivo imediato é, em geral, a

dedução de uma pretensão menor, isto é, particular. Quando, no

entanto, a própria pretensão geradora da lide deflui de interesses

difusos ou coletivos, estamos em face da ação civil pública.

Ação civil pública, no caso da improbidade administrativa, é a

ação civil de interesse público imediato, ou seja, a utilização do

processo civil como um instrumento para a proteção de um bem,

cuja preservação interessa a toda coletividade.

Alexandrino e Paulo47

nos lecionam que há expressa previsão constitucional de

que o Ministério Público é o detentor do poder de promover a ação civil pública para a

proteção do patrimônio público, porém, não é exclusivamente de titularidade desse

órgão a legitimidade de propor referida ação, conforme denota-se do art. 129, III e §1º,

vejamos:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de

outros interesses difusos e coletivos;

(...)

§ 1º. A legitimação do Ministério Público para as ações civis

previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas

hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.

46

PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 197. 47

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª ed. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 908.

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49

A legitimação para a causa é atribuída, portanto, ao Ministério Público, à

Defensoria Pública, aos entes federados, às entidades da administração indireta e a

associações que atuem na defesa dos bens jurídicos tutelados pela ação civil pública.48

Em observância do art. 17, da Lei nº 8.429/92, os legitimados serão: o

Ministério Público; e, a pessoa jurídica interessada.

Conforme os dizeres de Alexandrino e Paulo, “a ação civil pública visa a

apurar responsabilidade por danos morais ou patrimoniais causados aos bens jurídicos

por ela tutelados”.

Além da previsão constitucional, a Ação Civil Pública encontra-se disciplinada

na Lei nº 7.347/85, que será utilizada se seus preceitos não forem incompatíveis com a

Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92).

48

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª ed. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 916.

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50

5. A RESPONSABILIZAÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E A

NÃO INCIDÊNCIA DO “BIS IN IDEM”

Na doutrina e jurisprudência, há vasta discussão acerca da aplicação das

sanções a atos de improbidade administrativa, vez que, segundo a Lei nº 8.429/92, ao

agente ímprobo é possível ser aplicada sanção na esfera civil, administrativa e penal.

Insurgem-se os doutrinadores, para melhor explicitar quanto à Lei de

Improbidade administrativa, pelo fato de estar o agente obrigado a reparar o dano que

causar à administração. Assim é pelos dizeres de Meirelles49

:

A responsabilidade civil é a obrigação que se impõe ao servidor

de reparar o dano causado à Administração por culpa ou dolo no

desempenho de suas funções.

(...)

A sua responsabilidade nasce com o ato culposo e lesivo e se

exaure com a indenização. Essa responsabilidade (civil) é

independente das demais (administrativa e criminal) e se apura

na forma do Direito Privado, perante a justiça comum.

A Administração não pode isentar de responsabilidade civil seus

servidores, porque não possui disponibilidade sobre o

patrimônio público. Muito ao contrário, é seu dever zelar pela

integridade desse patrimônio, adotando todas as providências

legais cabíveis para a reparação dos danos a ele causados,

qualquer que seja o autor.

Como afirma Simão50

, “devemos reiterar que as sanções aplicáveis à conduta

ímproba já se encontravam previstas pelo constituinte. Ao legislador ordinário foi

facultado instituí-las conforme já assentado na norma”. Isso se deu, como já

demonstrado em outro momento, no que dispõe o § 4°, do art. 37, da Constituição

Federal.

Insta, contudo, mencionar novamente quais são as espécies de sanções,

resumidamente: perda dos bens ou valores, ressarcimento integral do dano, perda da

função pública, suspensão dos direitos políticos, multa civil e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

Ocorre, que quando proferidas decisões pelo Tribunal de Contas, ao serem

consideradas as contas irregulares, há condenação com imposição de débito

49

MEIRELLES, MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27ª ed. Atualizada. São Paulo: Malheiros

Editores, 2001, pág. 633. 50

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011, pág. 745.

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51

(ressarcimento e multa), o mesmo que ocorre quando de ações civis públicas por

improbidade administrativa, onde se apura a responsabilidade e condenação em multa e

ressarcimento, conforme o caso, haja vista que as decisões proferidas pela Corte de

Contas não faz coisa julgada no âmbito judicial.

Como se viu anteriormente, o art. 12 da Lei de Improbidade administrativa traz

a possibilidade de responsabilização no civil, no administrativo e no penal. Trata-se, de

“três classes de normas sancionadoras, que, por consequência, buscam três espécies de

responsabilidade”.51

Observando esses aspectos, dúvidas pairavam, até o ano de 2009, quanto à

aplicação correta das sanções para os atos de improbidade, ainda mais em se tratando de

responsabilização na esfera administrativa e judicial. Isso ocorreu porque, segundo a Lei

de Improbidade Administrativa anterior ao ano de 2009, não havia no caput do art. 12

da Lei nº 84.29/92, a regulamentação de como deveriam ser aplicadas as sanções quanto

à cumulação, como ressalta Negro52

, vejamos:

Uma das polêmicas que se instaurou dizia respeito à

obrigatoriedade, ou não, de cumulação das sanções previstas no

art. 12 da LIA, quando o agente praticava um único ato de

improbidade. Isto é, seria obrigatória a aplicação das seis

espécies de sanção?

Após grandes divergências doutrinárias e jurisprudenciais, a Lei

nº 12.120, de 15 de dezembro de 2009, sepultou este problema,

ao adotar a corrente defensora da não-obrigatoriedade,

capitaneada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A nova

redação do caput do art. 12 da LIA afasta qualquer dúvida

outrora existente.

Indubitavelmente, a Lei 12.120/2009 colocou fim à dúvida e divergências

quanto à cumulação das sanções aplicadas ao agente da improbidade administrativa,

inserindo no art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa os termos: isolada ou

cumulativamente. Vejamos como era o caput do referido dispositivo da lei:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e

administrativas, previstas na legislação específica, está o

51

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática. São Paulo: Editora Mizuno, 2011, pág. 650. 52

NEGRO, Eduardo Ferreira da Costa. Aspectos polêmicos na aplicação das sanções por ato de improbidade administrativa. Disponível em: http://www.capitalpublico.com.br/conteudo/ha_controversias/. Acessado em: 02/07/2017

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52

responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações:

Vejamos, contudo, o referido dispositivo da LIA, com o acréscimo dos termos

dado pela Lei n° 12.120/2009:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e

administrativas previstas na legislação específica, está o

responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações, que podem ser aplicadas isolada ou

cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

(grifo nosso)

Veja-se que o caput do dispositivo transcrito acima estabelece que as sanções

deverão ser aplicadas “isolada ou cumulativamente”, de acordo com a gravidade do

fato, que, conforme os dizeres do renomado Hely Lopes Meirelles53

, caberá “ao

judiciário aplicá-las, levando em conta a extensão do dano e o proveito patrimonial

obtido pelo agente”.

Alexandrino e Paulo54

seguem a mesma linha de pensamento, invocando,

contudo, o princípio da proporcionalidade, vejamos:

O postulado da proporcionalidade é importante, sobretudo, no

controle dos atos sancionatórios, especialmente nos atos de

polícia administrativa. Com efeito, a intensidade e a extensão

do ato sancionatório deve corresponder, deve guardar relação de

proporcionalidade com a lesividade e gravidade da conduta que

se tenciona reprimir ou prevenir. A noção é intuitiva: uma

infração leve deve receber uma sanção branda; a uma falta

grave deve corresponder uma sanção severa. (grifo nosso)

Assim também é o posicionamento de Pazzaglini Filho55

, vejamos:

Pois bem, os princípios constitucionais interligados da

razoabilidade e proporcionalidade, de natureza implícita, que

esclarecem e instruem o princípio constitucional maior e

primário da legalidade, são de observância obrigatória na

aplicação das medidas punitivas em geral.

53

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27ª ed. Atualizada. São Paulo: Malheiros Editores,

2001, pág. 623. 54

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 20ª ed. São Paulo: Editora Método, 2012, pág. 155. 55

PAZZAGLINI, PAZZAGLINI FILHO, Marino; ROSA, Márcio Fernando Elias; FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público. São Paulo: Editora Atlas, 1996, pág. 123/124.

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53

(...)

Deduz-se desses princípios que a imposição das sanções

elencadas para os atos de improbidade administrativa deve ser

razoável, isto é, adequada, sensata, coerente em relação ao ato

ímprobo cometido pelo agente público e suas circunstâncias, e

proporcional, ou seja, compatível, apropriada, pertinente com a

gravidade e a extensão do dano (material e moral) causado por

ele. (grifo nosso)

Desta feita, como entende a maioria dos doutrinadores, e o que vem

confirmando a jurisprudência, mesmo porque lei posterior trouxe ao art. 12 da LIA a

complementação que faltava, o magistrado, no exercício de suas atribuições deve

analisar cuidadosamente os atos do agente considerados improbidade administrativa, de

forma que julgue utilizando-se dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,

e, ainda, levando em conta a extensão do dano causado ao erário, bem como, o proveito

patrimonial que o agente obteve com sua conduta.

Vejamos, contudo, como vem se posicionando a jurisprudência brasileira:

DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSIBILIDADE DE

DUPLA CONDENAÇÃO AO RESSARCIMENTO AO

ERÁRIO PELO MESMO FATO.

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo

extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação

civil pública de improbidade administrativa que determinam o

ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que

seja observada a dedução do valor da obrigação que

primeiramente foi executada no momento da execução do título

remanescente. Conforme sedimentada jurisprudência do STJ,

nos casos em que fica demonstrada a existência de prejuízo ao

erário, a sanção de ressarcimento, prevista no art. 12 da Lei n.

8.429/92, é imperiosa, constituindo consequência necessária do

reconhecimento da improbidade administrativa (AgRg no

AREsp 606.352-SP, Segunda Turma, DJe 10/2/2016; REsp

1.376.481-RN, Segunda Turma, DJe 22/10/2015). Ademais, as

instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela

qual a fiscalização do TCU não inibe a propositura da ação civil

pública. Assim, é possível a formação de dois títulos executivos,

devendo ser observada a devida dedução do valor da obrigação

que primeiramente foi executada no momento da execução do

título remanescente. Precedente citado do STJ: REsp 1.135.858-

TO, Segunda Turma, DJe 5/10/2009. Precedente citado do STF:

MS 26.969-DF, Primeira Turma, DJe 12/12/2014. REsp

1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador

Convocado do TRF 1ª Região), Rel. para o acórdão Min.

Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016, DJe 31/5/2016.

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54

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MUNICÍPIO DE

PARAPUÃ. DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS,

PRATICADOS POR EX-PRESIDENTE DA COMISSÃO

MUNICIPAL DE ESPORTES E POR FUNCIONÁRIO DO

DEPARTAMENTO DE ESPORTES. ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ARTIGO 10 DA LEI

N° 8.429/92. INEXISTÊNCIA DE EXCESSO QUANTO ÀS

PENAS APLICADAS CUMULATIVAMENTE. CABIMENTO

DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS

NO CASO DE BENEFICIÁRIOS DA GRATUIDADE DA

JUSTIÇA, SUSPENSA A EXIGIBILIDADE DA VERBA DE

ACORDO COM A LEI DE REGÊNCIA. SENTENÇA DE

PROCEDÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO. (APL

1648690520088260000 SP 0164869-05.2008.8.26.0000 - 10ª

Câmara de Direito Público; Des. Relator: Antonio Carlos

Villen).

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

APROPRIAÇÃO INDEVIDA DE DIÁRIAS. ART. 10,

CAPUT, DA LEI 8.429/92. AUSÊNCIA DE DANO AO

ERÁRIO. MÁ-FÉ. ELEMENTO SUBJETIVO. ESSENCIAL À

CARACTERIZAÇÃO DO ATO DE IMPROBIDADE.

SANÇÕES. DOSIMETRIA. CUMULATIVIDADE.

PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA

RAZOABILIDADE (ART. 12, PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI

8429/83). VIOLAÇÃO AO ART. 535. INOCORRÊNCIA.

(REsp 980706, RS 2007/0210742-0; Relator: Ministro LUIZ

FUX; Julgamento: 03/02/2011)

O caráter sancionador da Lei 8.429/92 é aplicável aos agentes

públicos que, por ação ou omissão, violem os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, lealdade às instituições

e notadamente: (a) importem em enriquecimento ilícito (art. 9º);

(b) causem prejuízo ao erário público (art. 10); (c) atentem

contra os princípios da Administração Pública (art. 11)

compreendida nesse tópico a lesão à moralidade administrativa.

(...)

Ademais, a exegese das regras insertas no art. 11 da Lei

8.429/92, considerada a gravidade das sanções e restrições

impostas ao agente público, deve se realizada com ponderação,

máxime porque uma interpretação ampliativa poderá acoimar de

ímprobas condutas meramente irregulares, suscetíveis de

correção administrativa, posto ausente a má-fé do administrador

público e preservada a moralidade administrativa e, a fortiori, ir

além do que o legislador pretendeu.

(grifos nossos)

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55

Observando-se, contudo, os julgados colacionados acima, verifica-se a

imposição de responsabilização em mais de uma esfera, sem que, com isso, fira o

princípio do “non bis in idem”, porém, em caso de aplicação de responsabilização o

magistrado tem se utilizado da ponderação para a aplicação das sanções, de acordo com

o caso, muitas vezes até optando por não incidência de nova condenação quando já

existente uma na esfera administrativa.

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56

6. CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho monográfico foi realizar um estudo acerca da

cumulação de responsabilização (civil e administrativa) ao agente por improbidade

administrativa.

Com base no material coletado, vimos que o patrimônio público tem proteção

da Constituição Federal de 1988, no art. 37, onde se trouxe ao Ordenamento Jurídico

Brasileiro previsão de responsabilização a atos que desrespeitem a coisa pública.

Diante da necessidade de proteger o erário, o constituinte estabeleceu os princípios

basilares que a administração pública deveria respeitar, e, consequentemente, já

especificou a responsabilização daqueles que ajam com improbidade administrativa.

Em consonância com a Carta Maior, entrou em vigor, no ano de 1992, a Lei n°

8.429, conhecida como Lei de Improbidade Administrativa, trazendo consigo alguns

questionamentos entre juristas e doutrinadores acerca da real possibilidade da

cumulação das sanções, haja vista que em seu contexto não trazia tal regulamentação, e,

contudo, se tal medida não estaria incorrendo em dupla condenação ferindo o “non bis

in idem”.

Vimos que o ato de improbidade administrativa pode seguir em três

modalidades, os atos que tragam enriquecimento ilícito para o agente ou para outrem, os

atos que causam dano ao erário e os atos que atentem contra os princípios da

administração pública.

O fato é que, no judiciário surgiram diversos recursos em que se buscava a

revisão de sentenças onde havia a cumulação de sanções, aduzindo-se que a

responsabilização civil e administrativa estariam incorrendo em dupla condenação,

afrontando o “non bis in idem”.

A discussão sobre o assunto diminuiu, porém não cessou, somente com o

advento de outra lei (sancionada apenas no ano de 2009), a Lei nº 12.120/2009, a qual

acrescentou ao art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa, a possibilidade de

cumulação das sanções.

Ocorre que tal questionamento até os dias atuais ainda é objeto de bastante

discussão, vez que, alguns entendem que se o agente foi considerado ímprobo e com

isso condenado nos moldes da Lei de Improbidade Administrativa, deverá ser-lhe

aplicada as sanções cumulativamente, eis que deveria ter zelo com a coisa pública; ter

agido com probidade ao tratar de patrimônio público. Já outros entendem que a

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57

cumulação fere princípios que norteiam o Ordenamento Jurídico Brasileiro, como a

razoabilidade e proporcionalidade.

Ao que se vê na prática, são casos onde o agente tem seu julgamento em sede

administrativa, pelo Tribunal de Contas, com a apreciação das contas, onde

possivelmente se imputou o débito em decorrência do ato ímprobo, e, por conseguinte,

o ajuizamento da ação pertinente, pelo Ministério Público.

Contudo, segundo a corrente majoritária, fica a cargo do judiciário aplicar a

pena de acordo com seu livre convencimento, e baseado no fundamento de que o ato

tenha sido de tamanha monta que deva ter uma penalidade maior que a outra, fundando,

assim, na razoabilidade e proporcionalidade.

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ANEXO I

LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992.

Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos

agentes públicos nos casos de

enriquecimento ilícito no exercício de

mandato, cargo, emprego ou função na

administração pública direta, indireta ou

fundacional e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I

Das Disposições Gerais

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou

não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa

incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário

haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da

receita anual, serão punidos na forma desta lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de

improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,

benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para

cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinqüenta

por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção

patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce,

ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,

contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,

emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo

não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou

dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar

pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e

publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.

Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou

culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente público ou terceiro

beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.

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59

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar

enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito

representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá

sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo

patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer

ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da herança.

CAPÍTULO II

Dos Atos de Improbidade Administrativa

Seção I

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de

cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1°

desta lei, e notadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer

outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,

gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser

atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente

público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,

permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas

entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,

permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por

preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou

material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades

mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos,

empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para

tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de

contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal

vantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para

fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro

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60

serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias

ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do

patrimônio ou à renda do agente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou

assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser

atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente

público, durante a atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de

verba pública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,

para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou

valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do

acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Seção II

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas

no art. 1º desta lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio

particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do

acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas

no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares

aplicáveis à espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que

de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de

qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das

formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do

patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação

de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

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61

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por

preço superior ao de mercado;

VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e

regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das

formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para

celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los

indevidamente; (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou

regulamento;

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz

respeito à conservação do patrimônio público;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou

influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,

equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de

qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de

servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de

serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas

na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia

dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Incluído

pela Lei nº 11.107, de 2005)

XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao

patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores

públicos transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante

celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares

aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize

bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a

entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades

legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de

2014) (Vigência)

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62

XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a

observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à

espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de parcerias da

administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo

indevidamente; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades

privadas; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com

entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de

qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de

2014) (Vigência)

Seção II-A

Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou Aplicação

Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário

Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão

para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que

dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de

2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) (Produção de efeito)

Seção III

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios da

Administração Pública

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios

da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que

deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

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63

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da

respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o

preço de mercadoria, bem ou serviço.

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades

privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na

legislação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

CAPÍTULO III

Das Penas

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na

legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a

gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao

patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três

vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou

receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez

anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores

acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função

pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil

de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou

receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco

anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função

pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil

de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos.

IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do

benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Complementar nº 157,

de 2016)

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a

extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

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64

CAPÍTULO IV

Da Declaração de Bens

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de

declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser

arquivada no serviço de pessoal competente.(Regulamento) (Regulamento)

§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações,

e qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no

exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou

companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do

declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.

§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o agente público

deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de

outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar declaração dos bens,

dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.

§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração anual de bens

apresentada à Delegacia da Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto

sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as necessárias atualizações, para

suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo .

CAPÍTULO V

Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial

Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente

para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.

§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a

qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação

das provas de que tenha conhecimento.

§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho

fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas no § 1º deste artigo. A

rejeição não impede a representação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta

lei.

§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata

apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na forma

prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se

tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.

Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao

Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para

apurar a prática de ato de improbidade.

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65

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá,

a requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento administrativo.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará

ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente

a decretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido

ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

§ 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts.

822 e 825 do Código de Processo Civil.

§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de

bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos

termos da lei e dos tratados internacionais.

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério

Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da

medida cautelar.

§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.

§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à

complementação do ressarcimento do patrimônio público.

§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-

se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6

o da Lei n

o 4.717, de 29 de junho de

1965. (Redação dada pela Lei nº 9.366, de 1996)

§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará

obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações

posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo

objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

§ 6o A ação será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios

suficientes da existência do ato de improbidade ou com razões fundamentadas da

impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação

vigente, inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo

Civil. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a

notificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser

instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze

dias. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão

fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do ato de improbidade, da

improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. (Incluído pela Medida

Provisória nº 2.225-45, de 2001)

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§ 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar

contestação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de

instrumento. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de

improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito. (Incluído

pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos regidos

por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código de Processo

Penal. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 13. Para os efeitos deste artigo, também se considera pessoa jurídica interessada

o ente tributante que figurar no polo ativo da obrigação tributária de que tratam o § 4º

do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído

pela Lei Complementar nº 157, de 2016)

Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou

decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão

dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.

CAPÍTULO VI

Das Disposições Penais

Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente

público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.

Pena: detenção de seis a dez meses e multa.

Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o

denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver provocado.

Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se

efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá

determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função,

sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução

processual.

Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:

I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de

ressarcimento; (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo

Tribunal ou Conselho de Contas.

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67

Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Ministério Público, de

ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação

formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração de

inquérito policial ou procedimento administrativo.

CAPÍTULO VII

Da Prescrição

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem

ser propostas:

I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão

ou de função de confiança;

II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares

puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo

efetivo ou emprego.

III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação

de contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o desta

Lei. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

CAPÍTULO VIII

Das Disposições Finais

Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de 1957, e 3.502, de 21

de dezembro de 1958 e demais disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR

Célio Borja

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ANEXO II

Lei Nº 8.443, DE 16 DE JULHO DE 1992.

Dispõe sobre a Lei Orgânica do

Tribunal de Contas da União e dá

outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

NATUREZA, COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO

Capítulo I

Natureza e Competência

Art. 1° Ao Tribunal de Contas da União, órgão de controle externo, compete, nos

termos da Constituição Federal e na forma estabelecida nesta Lei:

I - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e

valores públicos das unidades dos poderes da União e das entidades da administração

indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo poder público

federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade

de que resulte dano ao Erário;

II - proceder, por iniciativa própria ou por solicitação do Congresso Nacional, de suas

Casas ou das respectivas Comissões, à fiscalização contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial das unidades dos poderes da União e das demais entidades

referidas no inciso anterior;

III - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, nos termos

do art. 36 desta Lei;

IV - acompanhar a arrecadação da receita a cargo da União e das entidades referidas no

inciso I deste artigo, mediante inspeções e auditorias, ou por meio de demonstrativos

próprios, na forma estabelecida no Regimento Interno;

V - apreciar, para fins de registro, na forma estabelecida no Regimento Interno, a

legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e

indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo poder público federal,

excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das

concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores

que não alterem o fundamento legal do ato concessório;

VI - efetuar, observada a legislação pertinente, o cálculo das quotas referentes aos

fundos de participação a que alude o parágrafo único do art. 161 da Constituição

Federal, fiscalizando a entrega dos respectivos recursos;

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VII - emitir, nos termos do § 2º do art. 33 da Constituição Federal, parecer prévio sobre

as contas do Governo de Território Federal, no prazo de sessenta dias, a contar de seu

recebimento, na forma estabelecida no Regimento Interno;

VIII - representar ao poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados,

indicando o ato inquinado e definindo responsabilidades, inclusive as de Ministro de

Estado ou autoridade de nível hierárquico equivalente;

IX - aplicar aos responsáveis as sanções previstas nos arts. 57 a 61 desta Lei;

X - elaborar e alterar seu Regimento Interno;

XI - eleger seu Presidente e seu Vice-Presidente, e dar-lhes posse;

XII - conceder licença, férias e outros afastamentos aos ministros, auditores e membros

do Ministério Público junto ao Tribunal, dependendo de inspeção por junta médica a

licença para tratamento de saúde por prazo superior a seis meses;

XIII - propor ao Congresso Nacional a fixação de vencimentos dos ministros, auditores

e membros do Ministério Público junto ao Tribunal;

XIV - organizar sua Secretaria, na forma estabelecida no Regimento Interno, e prover-

lhe os cargos e empregos, observada a legislação pertinente;

XV - propor ao Congresso Nacional a criação, transformação e extinção de cargos,

empregos e funções do Quadro de Pessoal de sua Secretaria, bem como a fixação da

respectiva remuneração;

XVI - decidir sobre denúncia que lhe seja encaminhada por qualquer cidadão, partido

político, associação ou sindicato, na forma prevista nos arts. 53 a 55 desta Lei;

XVII - decidir sobre consulta que lhe seja formulada por autoridade competente, a

respeito de dúvida suscitada na aplicação de dispositivos legais e regulamentares

concernentes a matéria de sua competência, na forma estabelecida no Regimento

Interno.

§ 1° No julgamento de contas e na fiscalização que lhe compete, o Tribunal decidirá

sobre a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gestão e das despesas

deles decorrentes, bem como sobre a aplicação de subvenções e a renúncia de receitas.

§ 2° A resposta à consulta a que se refere o inciso XVII deste artigo tem caráter

normativo e constitui prejulgamento da tese, mas não do fato ou caso concreto.

§ 3° Será parte essencial das decisões do Tribunal ou de suas Câmaras:

I - o relatório do Ministro-Relator, de que constarão as conclusões da instrução (do

Relatório da equipe de auditoria ou do técnico responsável pela análise do processo,

bem como do parecer das chefias imediatas, da Unidade Técnica), e do Ministério

Público junto ao Tribunal;

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II - fundamentação com que o Ministro-Relator analisará as questões de fato e de

direito;

III - dispositivo com que o Ministro-Relator decidirá sobre o mérito do processo.

Art. 2° Para o desempenho de sua competência o Tribunal receberá, em cada exercício,

o rol de responsáveis e suas alterações, e outros documentos ou informações que

considerar necessários, na forma estabelecida no Regimento Interno.

Parágrafo único. O Tribunal poderá solicitar ao Ministro de Estado supervisor da área,

ou à autoridade de nível hierárquico equivalente outros elementos indispensáveis ao

exercício de sua competência.

Art. 3° Ao Tribunal de Contas da União, no âmbito de sua competência e jurisdição,

assiste o poder regulamentar, podendo, em conseqüência, expedir atos e instruções

normativas sobre matéria de suas atribuições e sobre a organização dos processos que

lhe devam ser submetidos, obrigando ao seu cumprimento, sob pena de

responsabilidade.

Capítulo II

Jurisdição

Art. 4° O Tribunal de Contas da União tem jurisdição própria e privativa, em todo o

território nacional, sobre as pessoas e matérias sujeitas à sua competência.

Art. 5° A jurisdição do Tribunal abrange:

I - qualquer pessoa física, órgão ou entidade a que se refere o inciso I do art. 1° desta

Lei, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores

públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações

de natureza pecuniária;

II - aqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte

dano ao Erário;

III - os dirigentes ou liquidantes das empresas encampadas ou sob intervenção ou que

de qualquer modo venham a integrar, provisória ou permanentemente, o patrimônio da

União ou de outra entidade pública federal;

IV - os responsáveis pelas contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital

social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo.

V - os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado

que recebam contribuições parafiscais e prestem serviço de interesse público ou social;

VI - todos aqueles que lhe devam prestar contas ou cujos atos estejam sujeitos à sua

fiscalização por expressa disposição de Lei;

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VII - os responsáveis pela aplicação de quaisquer recursos repassados pela União,

mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao

Distrito Federal ou a Município;

VIII - os sucessores dos administradores e responsáveis a que se refere este artigo, até o

limite do valor do patrimônio transferido, nos termos do inciso XLV do art. 5° da

Constituição Federal;

IX - os representantes da União ou do Poder Público na Assembléia Geral das empresas

estatais e sociedades anônimas de cujo capital a União ou o Poder Público participem,

solidariamente, com os membros dos Conselhos Fiscal e de Administração, pela prática

de atos de gestão ruinosa ou liberalidade à custa das respectivas sociedades.

TÍTULO II

JULGAMENTO E FISCALIZAÇÃO

Capítulo I

Julgamento de Contas

Seção I

Tomada e Prestação de Contas

Art. 6° Estão sujeitas à tomada de contas e, ressalvado o disposto no inciso XXXV do

art. 5° da Constituição Federal, só por decisão do Tribunal de Contas da União podem

ser liberadas dessa responsabilidade as pessoas indicadas nos incisos I a VI do art. 5°

desta Lei.

Art. 7° As contas dos administradores e responsáveis a que se refere o artigo anterior

serão anualmente submetidas a julgamento do Tribunal, sob forma de tomada ou

prestação de contas, organizadas de acordo com normas estabelecidas em instrução

normativa.

Parágrafo único. Nas tomadas ou prestações de contas a que alude este artigo devem ser

incluídos todos os recursos, orçamentários e extra-orçamentários, geridos ou não pela

unidade ou entidade.

Art. 8° Diante da omissão no dever de prestar contas, da não comprovação da aplicação

dos recursos repassados pela União, na forma prevista no inciso VII do art. 5° desta Lei,

da ocorrência de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos, ou, ainda,

da prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico de que resulte dano ao

Erário, a autoridade administrativa competente, sob pena de responsabilidade solidária,

deverá imediatamente adotar providências com vistas à instauração da tomada de contas

especial para apuração dos fatos, identificação dos responsáveis e quantificação do

dano.

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§ 1° Não atendido o disposto no caput deste artigo, o Tribunal determinará a

instauração da tomada de contas especial, fixando prazo para cumprimento dessa

decisão.

§ 2° A tomada de contas especial prevista no caput deste artigo e em seu § 1° será,

desde logo, encaminhada ao Tribunal de Contas da União para julgamento, se o dano

causado ao Erário for de valor igual ou superior à quantia para esse efeito fixada pelo

Tribunal em cada ano civil, na forma estabelecida no seu Regimento Interno.

§ 3° Se o dano for de valor inferior à quantia referida no parágrafo anterior, a tomada de

contas especial será anexada ao processo da respectiva tomada ou prestação de contas

anual do administrador ou ordenador de despesa, para julgamento em conjunto.

Art. 9° Integrarão a tomada ou prestação de contas, inclusive a tomada de contas

especial, dentre outros elementos estabelecidos no Regimento Interno, os seguintes:

I - relatório de gestão;

II - relatório do tomador de contas, quando couber;

III - relatório e certificado de auditoria, com o parecer do dirigente do órgão de controle

interno, que consignará qualquer irregularidade ou ilegalidade constatada, indicando as

medidas adotadas para corrigir as faltas encontradas;

IV - pronunciamento do Ministro de Estado supervisor da área ou da autoridade de nível

hierárquico equivalente, na forma do art. 52 desta Lei.

Seção II

Decisões em Processo de Tomada ou Prestação de Contas

Art. 10. A decisão em processo de tomada ou prestação de contas pode ser preliminar,

definitiva ou terminativa.

§ 1° Preliminar é a decisão pela qual o Relator ou o Tribunal, antes de pronunciar-se

quanto ao mérito das contas, resolve sobrestar o julgamento, ordenar a citação ou a

audiência dos responsáveis ou, ainda, determinar outras diligências necessárias ao

saneamento do processo.

§ 2° Definitiva é a decisão pela qual o Tribunal julga as contas regulares, regulares com

ressalva, ou irregulares.

§ 3° Terminativa é a decisão pela qual o Tribunal ordena o trancamento das contas que

forem consideradas iliquidáveis, nos termos dos arts. 20 e 21 desta Lei.

Art. 11. O Relator presidirá a instrução do processo, determinando, mediante despacho

singular, de ofício ou por provocação do órgão de instrução ou do Ministério Público

junto ao Tribunal, o sobrestamento do julgamento, a citação ou a audiência dos

responsáveis, ou outras providências consideradas necessárias ao saneamento dos autos,

fixando prazo, na forma estabelecida no Regimento Interno, para o atendimento das

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73

diligências, após o que submeterá o feito ao Plenário ou à Câmara respectiva para

decisão de mérito.

Art. 12. Verificada irregularidade nas contas, o Relator ou o Tribunal:

I - definirá a responsabilidade individual ou solidária pelo ato de gestão inquinado;

II - se houver débito, ordenará a citação do responsável para, no prazo estabelecido no

Regimento Interno, apresentar defesa ou recolher a quantia devida;

III - se não houver débito, determinará a audiência do responsável para, no prazo

estabelecido no Regimento Interno, apresentar razões de justificativa;

IV - adotará outras medidas cabíveis.

§ 1° O responsável cuja defesa for rejeitada pelo Tribunal será cientificado para, em

novo e improrrogável prazo estabelecido no Regimento Interno, recolher a importância

devida.

§ 2° Reconhecida pelo Tribunal a boa-fé, a liquidação tempestiva do débito atualizado

monetariamente sanará o processo, se não houver sido observada outra irregularidade

nas contas.

§ 3° O responsável que não atender à citação ou à audiência será considerado revel pelo

Tribunal, para todos os efeitos, dando-se prosseguimento ao processo.

Art. 13. A decisão preliminar a que se refere ao art. 11 desta Lei poderá, a critério do

Relator, ser publicada no Diário Oficial da União.

Art. 14. O Tribunal julgará as tomadas ou prestações de contas até o término do

exercício seguinte àquele em que estas lhes tiverem sido apresentadas.

Art. 15. Ao julgar as contas, o Tribunal decidirá se estas são regulares, regulares com

ressalva, ou irregulares.

Art. 16. As contas serão julgadas:

I - regulares, quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos

demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de

gestão do responsável;

II - regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou qualquer outra falta

de natureza formal de que não resulte dano ao Erário;

III - irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências:

a) omissão no dever de prestar contas;

b) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma legal ou

regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial;

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c) dano ao Erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ao antieconômico;

d) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.

§ 1° O Tribunal poderá julgar irregulares as contas no caso de reincidência no

descumprimento de determinação de que o responsável tenha tido ciência, feita em

processo de tomada ou prestarão de contas.

§ 2° Nas hipóteses do inciso III, alíneas c e d deste artigo, o Tribunal, ao julgar

irregulares as contas, fixará a responsabilidade solidária:

a) do agente público que praticou o ato irregular, e

b) do terceiro que, como contratante ou parte interessada na prática do mesmo ato, de

qualquer modo haja concorrido para o cometimento do dano apurado.

§ 3° Verificada a ocorrência prevista no parágrafo anterior deste artigo, o Tribunal

providenciará a imediata remessa de cópia da documentação pertinente ao Ministério

Público da União, para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis.

Subseção I

Contas Regulares

Art. 17. Quando julgar as contas regulares, o Tribunal dará quitação plena ao

responsável.

Subseção II

Contas Regulares com Ressalva

Art. 18. Quando julgar as contas regulares com ressalva, o Tribunal dará quitação ao

responsável e lhe determinará, ou a quem lhe haja sucedido, a adoção de medidas

necessárias à correção das impropriedades ou faltas identificadas, de modo a prevenir a

ocorrência de outras semelhantes.

Subseção III

Contas Irregulares

Art. 19. Quando julgar as contas irregulares, havendo débito, o Tribunal condenará o

responsável ao pagamento da dívida atualizada monetariamente, acrescida dos juros de

mora devidos, podendo, ainda, aplicar-lhe a multa prevista no art. 57 desta Lei, sendo o

instrumento da decisão considerado título executivo para fundamentar a respectiva ação

de execução.

Parágrafo único. Não havendo débito, mas comprovada qualquer das ocorrências

previstas nas alíneas a, b e c do inciso III, do art. 16, o Tribunal aplicará ao responsável

a multa prevista no inciso I do art. 58, desta Lei.

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Subseção IV

Contas Iliquidáveis

Art. 20. As contas serão consideradas iliquidáveis quando caso fortuito ou de força

maior, comprovadamente alheio à vontade do responsável, tornar materialmente

impossível o julgamento de mérito a que se refere o art. 16 desta Lei.

Art. 21. O Tribunal ordenará o trancamento das contas que forem consideradas

iliquidáveis e o conseqüente arquivamento do processo.

§ 1° Dentro do prazo de cinco anos contados da publicação da decisão terminativa no

Diário Oficial da União, o Tribunal poderá, à vista de novos elementos que considere

suficientes, autorizar o desarquivamento do processo e determinar que se ultime a

respectiva tomada ou prestação de contas.

§ 2º Transcorrido o prazo referido no parágrafo anterior sem que tenha havido nova

decisão, as contas serão consideradas encerradas, com baixa na responsabilidade do

administrador.

Seção III

Execução das Decisões

Art. 22. A citação, a audiência, a comunicação de diligência ou a notificação far-se-á:

I - mediante ciência do responsável ou do interessado, na forma estabelecida no

Regimento Interno;

II - pelo correio, mediante carta registrada, com aviso de recebimento;

III - por edital publicado no Diário Oficial da União quando o seu destinatário não for

localizado.

Parágrafo único. A comunicação de rejeição dos fundamentos da defesa ou das razões

de justificativa será transmitida ao responsável ou interessado, na forma prevista neste

artigo.

Art. 23. A decisão definitiva será formalizada nos termos estabelecidos no Regimento

Interno, por acórdão, cuja publicação no Diário Oficial da União constituirá:

I - no caso de contas regulares, certificado de quitação plena do responsável para com o

Erário;

II - no caso de contas regulares com ressalva, certificado de quitação com determinação,

nos termos do art. 18 desta Lei;

III - no caso de contas irregulares:

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a) obrigação de o responsável, no prazo estabelecido no Regimento Interno, comprovar

perante o Tribunal que recolheu aos cofres públicos a quantia correspondente ao débito

que lhe tiver sido imputado ou da multa cominada, na forma prevista nos arts. 19 e 57

desta Lei;

b) título executivo bastante para cobrança judicial da dívida decorrente do débito ou da

multa, se não recolhida no prazo pelo responsável;

c) fundamento para que a autoridade competente proceda à efetivação das sanções

previstas nos arts. 60 e 61 desta Lei.

Art. 24. A decisão do Tribunal, de que resulte imputação de débito ou cominação de

multa, torna a dívida líquida e certa e tem eficácia de título executivo, nos termos da

alínea b do inciso III do art. 23 desta Lei.

Art. 25. O responsável será notificado para, no prazo estabelecido no Regimento

Interno, efetuar e comprovar o recolhimento da dívida a que se refere o art. 19 e seu

parágrafo único desta Lei.

Parágrafo único. A notificação será feita na forma prevista no art. 22 desta Lei.

Art. 26. Em qualquer fase do processo, o Tribunal poderá autorizar o recolhimento

parcelado da importância devida, na forma estabelecida no Regimento Interno,

incidindo sobre cada parcela os correspondentes acréscimos legais.

Parágrafo único. A falta de recolhimento de qualquer parcela importará no vencimento

antecipado do saldo devedor.

Art. 27. Comprovado o recolhimento integral, o Tribunal expedirá quitação do débito ou

da multa.

Art. 28. Expirado o prazo a que se refere o caput do art. 25 desta Lei, sem manifestação

do responsável, o Tribunal poderá:

I - determinar o desconto integral ou parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou

proventos do responsável, observados os limites previstos na legislação pertinente; ou

II - autorizar a cobrança judicial da dívida por intermédio do Ministério Público junto

ao Tribunal, na forma prevista no inciso III do art. 81 desta Lei.

Art. 29. A decisão terminativa, acompanhada de seus fundamentos, será publicada no

Diário Oficial da União.

Art. 30. Os prazos referidos nesta Lei contam-se da data:

I - do recebimento pelo responsável ou interessado:

a) da citação ou da comunicação de audiência;

b) da comunicação de rejeição dos fundamentos da defesa ou das razões de justificativa;

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c) da comunicação de diligência;

d) da notificação;

II - da publicação de edital no Diário Oficial da União, quando, nos casos indicados no

inciso anterior, o responsável ou interessado não for localizado;

III - nos demais casos, salvo disposição legal expressa em contrário, da publicação da

decisão ou do acórdão no Diário Oficial da União.

Seção IV

Recursos

Art. 31. Em todas as etapas do processo de julgamento de contas será assegurado ao

responsável ou interessado ampla defesa.

Art. 32. De decisão proferida em processo de tomada ou prestação de contas cabem

recursos de:

I - reconsideração;

II - embargos de declaração;

III - revisão.

Parágrafo único. Não se conhecerá de recurso interposto fora do prazo, salvo em razão

da superveniência de fatos novos na forma prevista no Regimento Interno.

Art. 33. O recurso de reconsideração, que terá efeito suspensivo, será apreciado por

quem houver proferido a decisão recorrida, na forma estabelecida no Regimento

Interno, e poderá ser formulado por escrito uma só vez, pelo responsável ou interessado,

ou pelo Ministério Público junto ao Tribunal, dentro do prazo de quinze dias, contados

na forma prevista no art. 30 desta Lei.

Art. 34. Cabem embargos de declaração para corrigir obscuridade, omissão ou

contradição da decisão recorrida.

§ 1° Os embargos de declaração podem ser opostos por escrito pelo responsável ou

interessado, ou pelo Ministério Público junto ao Tribunal, dentro do prazo de dez dias,

contados na forma prevista no art. 30 desta Lei.

§ 2° Os embargos de declaração suspendem os prazos para cumprimento da decisão

embargada e para interposição dos recursos previstos nos incisos I e III do art. 32 desta

Lei.

Art. 35. De decisão definitiva caberá recurso de revisão ao Plenário, sem efeito

suspensivo, interposto por escrito, uma só vez, pelo responsável, seus sucessores, ou

pelo Ministério Público junto ao Tribunal, dentro do prazo de cinco anos, contados na

forma prevista no inciso III do art. 30 desta Lei, e fundar-se-á:

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I - em erro de cálculo nas contas;

II - em falsidade ou insuficiência de documentos em que se tenha fundamentado a

decisão recorrida;

III - na superveniência de documentos novos com eficácia sobre a prova produzida.

Parágrafo único. A decisão que der provimento a recurso de revisão ensejará a correção

de todo e qualquer erro ou engano apurado.

Capítulo II

Fiscalização a Cargo do Tribunal

Seção I

Contas do Presidente da República

Art. 36. Ao Tribunal de Contas da União compete, na forma estabelecida no Regimento

Interno, apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante

parecer prévio a ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento.

Parágrafo único. As contas consistirão nos balanços gerais da União e no relatório do

órgão central do sistema de controle interno do Poder Executivo sobre a execução dos

orçamentos de que trata o § 5° do art. 165 da Constituição Federal.

Seção II

Fiscalização exercida por iniciativa do Congresso Nacional

Art. 37. (Vetado)

Parágrafo único. (Vetado)

Art. 38. Compete, ainda, ao Tribunal:

I - realizar por iniciativa da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de comissão

técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,

orçamentária, operacional e patrimonial nas unidades administrativas dos Poderes

Legislativo, Executivo e Judiciário e nas entidades da administração indireta, incluídas

as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo poder público federal;

II - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas

Casas, ou por suas comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial e sobre resultados de inspeções e auditorias realizadas;

III - emitir, no prazo de trinta dias contados do recebimento da solicitação,

pronunciamento conclusivo sobre matéria que seja submetida a sua apreciação pela

comissão mista permanente de Senadores e Deputados, nos termos dos §§ 1° e 2° do art.

72 da Constituição Federal.

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IV - auditar, por solicitação da comissão a que se refere o art. 166, § 1°, da Constituição

Federal, ou comissão técnica de qualquer das Casas do Congresso Nacional, projetos e

programas autorizados na Lei orçamentária anual, avaliando os seus resultados quanto à

eficácia, eficiência e economicidade.

Seção III

Atos Sujeitos a Registro

Art. 39. De conformidade com o preceituado nos arts. 5°, inciso XXIV, 71, incisos II e

III, 73 in fine, 74, § 2°, 96, inciso I, alínea a, 97, 39, §§ 1° e 2° e 40, § 4°, da

Constituição Federal, o Tribunal apreciará, para fins de registro ou reexame, os atos de:

I - admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as

fundações instituídas e mantidas pelo poder público, executadas as nomeações para

cargo de provimento em comissão;

II - concessão inicial de aposentadoria, reformas e pensões, bem como de melhorias

posteriores que tenham alterado o fundamento legal do respectivo concessório inicial.

Parágrafo único. Os atos a que se refere este artigo serão apreciados pelo Tribunal na

forma estabelecida no Regimento Interno.

Art. 40. O Relator presidirá a instrução do processo, determinando, mediante despacho

singular, por sua ação própria e direta, ou por provocação do órgão de instrução ou do

Ministério Público junto ao Tribunal, a adoção das providências consideradas

necessárias ao saneamento dos autos, fixando prazo, na forma estabelecida no

Regimento Interno, para o atendimento das diligências, após o que submeterá o feito ao

Plenário ou à Câmara respectiva para decisão de mérito.

Seção IV

Fiscalização de Atos e Contratos

Art. 41. Para assegurar a eficácia do controle e para instruir o julgamento das contas, o

Tribunal efetuará a fiscalização dos atos de que resulte receita ou despesa, praticados

pelos responsáveis sujeitos à sua jurisdição, competindo-lhe, para tanto, em especial:

I - acompanhar, pela publicação no Diário Oficial da União, ou por outro meio

estabelecido no Regimento Interno:

a) a lei relativa ao plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentárias, a lei orçamentária

anual e a abertura de créditos adicionais;

b) os editais de licitação, os contratos, inclusive administrativos, e os convênios,

acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres, bem como os atos referidos no art.

38 desta Lei;

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II - realizar, por iniciativa própria, na forma estabelecida no Regimento Interno,

inspeções e auditorias de mesma natureza que as previstas no inciso I do art. 38 desta

Lei;

III - fiscalizar, na forma estabelecida no Regimento Interno, as contas nacionais das

empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou

indireta, nos termos do tratado constitutivo;

IV - fiscalizar, na forma estabelecida no Regimento Interno, a aplicação de quaisquer

recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros

instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município.

§ 1° As inspeções e auditorias de que trata esta seção serão regulamentadas no

Regimento Interno e realizadas por servidores da Secretaria do Tribunal.

§ 2° O Tribunal comunicará às autoridades competentes dos poderes da União o

resultado das inspeções e auditorias que realizar, para as medidas saneadoras das

impropriedades e faltas identificadas.

Art. 42. Nenhum processo, documento ou informação poderá ser sonegado ao Tribunal

em suas inspeções ou auditorias, sob qualquer pretexto.

§ 1° No caso de sonegação, o Tribunal assinará prazo para apresentação dos

documentos, informações e esclarecimentos julgados necessários, comunicando o fato

ao Ministro de Estado supervisor da área ou à autoridade de nível hierárquico

equivalente, para as medidas cabíveis.

§ 2° Vencido o prazo e não cumprida a exigência, o Tribunal aplicará as sanções

previstas no inciso IV do art. 58 desta Lei.

Art. 43. Ao proceder à fiscalização de que trata este capítulo, o Relator ou o Tribunal:

I - determinará as providências estabelecidas no Regimento Interno, quando não

apurada transgressão a norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira,

orçamentária, operacional e patrimonial, ou for constatada, tão-somente, falta ou

impropriedade de caráter formal;

II - se verificar a ocorrência de irregularidade quanto à legitimidade ou economicidade,

determinará a audiência do responsável para, no prazo estabelecido no Regimento

Interno, apresentar razões de justificativa.

Parágrafo único. Não elidido o fundamento da impugnação, o Tribunal aplicará ao

responsável a multa prevista no inciso III do art. 58 desta Lei.

Art. 44. No início ou no curso de qualquer apuração, o Tribunal, de ofício ou a

requerimento do Ministério Público, determinará, cautelarmente, o afastamento

temporário do responsável, se existirem indícios suficientes de que, prosseguindo no

exercício de suas funções, possa retardar ou dificultar a realização de auditoria ou

inspeção, causar novos danos ao Erário ou inviabilizar o seu ressarcimento.

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§ 1° Estará solidariamente responsável a autoridade superior competente que, no prazo

determinado pelo Tribunal, deixar de atender à determinação prevista no caput deste

artigo.

§ 2° Nas mesmas circunstâncias do caput deste artigo e do parágrafo anterior, poderá o

Tribunal, sem prejuízo das medidas previstas nos arts. 60 e 61 desta Lei, decretar, por

prazo não superior a um ano, a indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos

considerados bastantes para garantir o ressarcimento dos danos em apuração.

Art. 45. Verificada a ilegalidade de ato ou contrato, o Tribunal, na forma estabelecida

no Regimento Interno, assinará prazo para que o responsável adote as providências

necessárias ao exato cumprimento da lei, fazendo indicação expressa dos dispositivos a

serem observados.

§ 1° No caso de ato administrativo, o Tribunal, se não atendido:

I - sustará a execução do ato impugnado;

II - comunicará a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

III - aplicará ao responsável a multa prevista no inciso II do art. 58 desta Lei.

§ 2° No caso de contrato, o Tribunal, se não atendido, comunicará o fato ao Congresso

Nacional, a quem compete adotar o ato de sustação e solicitar, de imediato, ao Poder

Executivo, as medidas cabíveis.

§ 3° Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não

efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito da

sustação do contrato.

Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará

a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na

Administração Pública Federal.

Art. 47. Ao exercer a fiscalização, se configurada a ocorrência de desfalque, desvio de

bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao Erário, o Tribunal ordenará, desde

logo, a conversão do processo em tomada de contas especial, salvo a hipótese prevista

no art. 93 desta Lei.

Parágrafo único. O processo de tomada de contas especial a que se refere este artigo

tramitará em separado das respectivas contas anuais.

Seção V

Pedido de Reexame

Art. 48. De decisão proferida em processos concernentes às matérias de que tratam as

Seções III e IV deste capítulo caberá pedido de reexame, que terá efeito suspensivo.

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Parágrafo único. O pedido de reexame reger-se-á pelo disposto no parágrafo único do

art. 32 e no art. 33 desta Lei.

Capítulo III

Controle Interno

Art. 49. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada,

sistema de controle interno, com a finalidade de:

I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos

programas de governo e dos orçamentos da União;

II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto à eficácia e à eficiência da

gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração

federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;

III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos

direitos e haveres da União;

IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional .

Art. 50. No apoio ao controle externo, os órgãos integrantes do sistema de controle

interno deverão exercer, dentre outras, as seguintes atividades:

I - (Vetado)

II - realizar auditorias nas contas dos responsáveis sob seu controle, emitindo relatório,

certificado de auditoria e parecer;

III - alertar formalmente a autoridade administrativa competente para que instaure

tomada de contas especial, sempre que tiver conhecimento de qualquer das ocorrências

referidas no caput do art. 8° desta Lei.

Art. 51. Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer

irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência de imediato ao Tribunal de Contas da

União, sob pena de responsabilidade solidária.

§ 1° Na comunicação ao Tribunal, o dirigente do órgão competente indicará as

providências adotadas para evitar ocorrências semelhantes.

§ 2º Verificada em inspeção ou auditoria, ou no julgamento de contas, irregularidade ou

ilegalidade que não tenha sido comunicada tempestivamente ao Tribunal, e provada a

omissão, o dirigente do órgão de controle interno, na qualidade de responsável solidário,

ficará sujeito às sanções previstas para a espécie nesta Lei.

Art. 52. O Ministro de Estado supervisor da área ou a autoridade de nível hierárquico

equivalente emitirá, sobre as contas e o parecer do controle interno, expresso e

indelegável pronunciamento, no qual atestará haver tomado conhecimento das

conclusões nele contidas.

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Capítulo IV

Denúncia

Art. 53. Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para

denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.

§ 3º A denúncia será apurada em caráter sigiloso, até que se comprove a sua

procedência, e somente poderá ser arquivada após efetuadas as diligências pertinentes,

mediante despacho fundamentado do responsável.

§ 4º Reunidas as provas que indiquem a existência de irregularidade ou ilegalidade,

serão públicos os demais atos do processo, assegurando-se aos acusados a oportunidade

de ampla defesa.

Art. 54. O denunciante poderá requerer ao Tribunal de Contas da União certidão dos

despachos e dos fatos apurados, a qual deverá ser fornecida no prazo máximo de quinze

dias, a contar do recebimento do pedido, desde que o respectivo processo de apuração

tenha sido concluído ou arquivado.

Parágrafo único. Decorrido o prazo de noventa dias, a contar do recebimento da

denúncia, será obrigatoriamente fornecida a certidão de que trata este artigo, ainda que

não estejam concluídas as investigações.

Art. 55. No resguardo dos direitos e garantias individuais, o Tribunal dará tratamento

sigiloso às denúncias formuladas, até decisão definitiva sobre a matéria.

§ 1° Ao decidir, caberá ao Tribunal manter ou não o sigilo quanto ao objeto e à autoria

da denúncia. (Expressão suspensa pela Resolução SF nº 16, de 2006)

§ 2° O denunciante não se sujeitará a qualquer sanção administrativa, cível ou penal, em

decorrência da denúncia, salvo em caso de comprovada má-fé.

Capítulo V

Sanções

Seção I

Disposição Geral

Art. 56. O Tribunal de Contas da União poderá aplicar aos administradores ou

responsáveis, na forma prevista nesta Lei e no seu Regimento Interno, as sanções

previstas neste capítulo.

Seção II

Multas

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Art. 57. Quando o responsável for julgado em débito, poderá ainda o Tribunal aplicar-

lhe multa de até cem por cento do valor atualizado do dano causado ao Erário.

Art. 58. O Tribunal poderá aplicar multa de Cr$ 42.000.000,00 (quarenta e dois milhões

de cruzeiros), ou valor equivalente em outra moeda que venha a ser adotada como

moeda nacional, aos responsáveis por:

I - contas julgadas irregulares de que não resulte débito, nos termos do parágrafo único

do art. 19 desta Lei;

II - ato praticado com grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza

contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

III - ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte injustificado dano ao

Erário;

IV - não atendimento, no prazo fixado, sem causa justificada, a diligência do Relator ou

a decisão do Tribunal;

V - obstrução ao livre exercício das inspeções e auditorias determinadas;

VI - sonegação de processo, documento ou informação, em inspeções ou auditorias

realizadas pelo Tribunal;

VII - reincidência no descumprimento de determinação do Tribunal.

§ 1° Ficará sujeito à multa prevista no caput deste artigo aquele que deixar de dar

cumprimento à decisão do Tribunal, salvo motivo justificado.

§ 2° O valor estabelecido no caput deste artigo será atualizado, periodicamente, por

portaria da Presidência do Tribunal, com base na variação acumulada, no período, pelo

índice utilizado para atualização dos créditos tributários da União.

§ 3° O Regimento Interno disporá sobre a gradação da multa prevista no caput deste

artigo, em função da gravidade da infração.

Art. 59. O débito decorrente de multa aplicada pelo Tribunal de Contas da União nos do

art. 57 desta Lei, quando pago após o seu vencimento, será atualizado monetariamente

na data do efetivo pagamento.

Art. 60. Sem prejuízo das sanções previstas na seção anterior e das penalidades

administrativas, aplicáveis pelas autoridades competentes, por irregularidades

constatadas pelo Tribunal de Contas da União, sempre que este, por maioria absoluta de

seus membros, considerar grave a infração cometida, o responsável ficará inabilitado,

por um período que variará de cinco a oito anos, para o exercício de cargo em comissão

ou função de confiança no âmbito da Administração Pública.

Art. 61. O Tribunal poderá, por intermédio do Ministério Público, solicitar à Advocacia-

Geral da União ou, conforme o caso, aos dirigentes das entidades que lhe sejam

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jurisdicionadas, as medidas necessárias ao arresto dos bens dos responsáveis julgados

em débito, devendo ser ouvido quanto à liberação dos bens arrestados e sua restituição.

TÍTULO III

ORGANIZAÇÃO DO TRIBUNAL

Capítulo I

Sede e Composição

Art. 62. O Tribunal de Contas da União tem sede no Distrito Federal e compõe-se de

nove ministros.

Art. 63. Os ministros, em suas ausências e impedimentos por motivo de licença, férias

ou outro afastamento legal, serão substituídos, mediante convocação do Presidente do

Tribunal, pelos auditores, observada a ordem de antigüidade no cargo, ou a maior idade,

no caso de idêntica antigüidade.

§ 1° Os auditores serão também convocados para substituir ministros, para efeito de

quorum, sempre que os titulares comunicarem, ao Presidente do Tribunal ou da Câmara

respectiva, a impossibilidade de comparecimento à sessão.

§ 2° Em caso de vacância de cargo de ministro, o Presidente do Tribunal convocará

auditor para exercer as funções inerentes ao cargo vago, até novo provimento,

observado o critério estabelecido no caput deste artigo.

Art. 64. Funciona junto ao Tribunal de Contas da União o Ministério Público, na forma

estabelecida nos arts. 80 a 84 desta Lei.

Art. 65. O Tribunal de Contas da União disporá de secretaria para atender às atividades

de apoio técnico e administrativo necessárias ao exercício de sua competência.

Capítulo II

Plenário e Câmaras

Art. 66. O Plenário do Tribunal de Contas da União, dirigido por seu Presidente, terá a

competência e o funcionamento regulados nesta Lei e no seu Regimento Interno.

Art. 67. O Tribunal de Contas da União poderá dividir-se em Câmaras, mediante

deliberação da maioria absoluta de seus ministros titulares.

§ 1° Não será objeto de deliberação das Câmaras matéria da competência privativa do

Plenário, a ser definida no Regimento Interno.

§ 2° A competência, o número, a composição, a presidência e o funcionamento das

Câmaras serão regulados no Regimento Interno.

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Art. 68. O Tribunal fixará, no Regimento Interno, os períodos de funcionamento das

sessões do Plenário e das Câmaras e o recesso que entender conveniente, sem ocasionar

a interrupção de seus trabalhos.

Capítulo III

Presidente e Vice-Presidente

Art. 69. Os ministros elegerão o Presidente e o Vice-Presidente do Tribunal para

mandato correspondente a um ano civil, permitida a reeleição apenas por um período de

igual duração.

§ 1° A eleição realizar-se-á em escrutínio secreto, na última sessão ordinária do mês de

dezembro, ou, em caso de vaga eventual, na primeira sessão ordinária após sua

ocorrência, exigida a presença de, pelo menos, cinco ministros titulares, inclusive o que

presidir o ato.

§ 2° O Vice-Presidente substituirá o Presidente em suas ausências ou impedimentos e

exercerá as funções de corregedor, cujas atribuições serão as estabelecidas no

Regimento Interno.

§ 3° Na ausência ou impedimento do Vice-Presidente, o Presidente será substituído pelo

ministro mais antigo em exercício no cargo.

§ 4° O eleito para a vaga que ocorrer antes do término do mandato exercerá o cargo no

período restante.

§ 5° Não se procederá a nova eleição se a vaga ocorrer dentro dos sessenta dias

anteriores ao término do mandato.

§ 6° A eleição do Presidente precederá à do Vice-Presidente .

§ 7° Considerar-se-á eleito o ministro que obtiver a maioria dos votos. Não alcançada

esta, proceder-se-á a novo escrutínio entre os dois mais votados, decidindo-se afinal,

entre esses, pela antigüidade no cargo de ministro do Tribunal, caso nenhum consiga a

maioria dos votos.

§ 8° Somente os ministros titulares, ainda que em gozo de licença, férias, ou ausentes

com causa justificada, poderão tomar parte nas eleições, na forma estabelecida no

Regimento Interno.

Art. 70. Compete ao Presidente, dentre outras atribuições estabelecidas no Regimento

Interno:

I - dirigir o Tribunal;

II - dar posse aos ministros, auditores, membros do Ministério Público junto ao Tribunal

e dirigentes das unidades da secretaria, na forma estabelecida no Regimento Interno;

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III - expedir atos de nomeação, admissão, exoneração, remoção, dispensa, aposentadoria

e outros atos relativos aos servidores do quadro de pessoal da secretaria, os quais serão

publicados no Diário Oficial da União e no Boletim do Tribunal;

IV - diretamente ou por delegação, movimentar as dotações e os créditos orçamentários

próprios e praticar os atos de administração financeira, orçamentária e patrimonial

necessários ao funcionamento do Tribunal.

Capítulo IV

Ministros

Art. 71. Os ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros

que satisfaçam os seguintes requisitos:

I - ter mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;

II - idoneidade moral e reputação ilibada;

III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de

administração pública;

IV - contar mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional

que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior.

Art. 72. Os ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:

I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo

dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao

Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Plenário, segundo os critérios de antigüidade e

merecimento;

II - dois terços pelo Congresso Nacional.

Art. 73. Os ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias,

prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos ministros do Superior

Tribunal de Justiça e somente poderão aposentar-se com as vantagens do cargo quando

o tiverem exercido efetivamente por mais de cinco anos.

Parágrafo único. Os ministros do Tribunal gozarão das seguintes garantias e

prerrogativas:

I - vitaliciedade, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em

julgado;

II - inamovibilidade;

III - irredutibilidade de vencimentos, observado, quanto à remuneração, o disposto

nos arts. 37, XI, 150, II, 153, III e 153, § 2°, I, da Constituição Federal;

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IV - aposentadoria, com proventos integrais, compulsoriamente aos setenta anos de

idade ou por invalidez comprovada, e facultativa após trinta anos de serviço, contados

na forma da lei, observada a ressalva prevista no caput, in fine, deste artigo.

Art. 74. É vedado ao ministro do Tribunal de Contas da União:

I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de

magistério;

II - exercer cargo técnico ou de direção de sociedade civil, associação ou fundação, de

qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, sem remuneração;

III - exercer comissão remunerada ou não, inclusive em órgãos de controle da

administração direta ou indireta, ou em concessionárias de serviço público;

IV - exercer profissão liberal, emprego particular, comércio, ou participar de sociedade

comercial, exceto como acionista ou cotista sem ingerência;

V - celebrar contrato com pessoa jurídica de direito público, empresa pública, sociedade

de economia mista, fundação, sociedade instituída e mantida pelo poder público ou

empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a normas

uniformes para todo e qualquer contratante;

VI - dedicar-se à atividade político-partidária.

Art. 75. (Vetado)

Parágrafo único. (Vetado)

Art. 76. Não podem ocupar, simultaneamente, cargos de ministro parentes

consangüíneos ou afins, na linha reta ou na colateral, até o segundo grau.

Parágrafo único. A incompatibilidade decorrente da restrição imposta no caput deste

artigo resolve-se:

I - antes da posse, contra o último nomeado ou contra o mais moço, se nomeados na

mesma data;

II - depois da posse, contra o que lhe deu causa;

III - se a ambos imputável, contra o que tiver menos tempo de exercício no Tribunal.

Capítulo V

Auditores

Art. 77. Os auditores, em número de três, serão nomeados pelo Presidente da República,

dentre os cidadãos que satisfaçam os requisitos exigidos para o cargo de ministro do

Tribunal de Contas da União, mediante concurso público de provas e títulos, observada

a ordem de classificação.

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Parágrafo único. A comprovação do efetivo exercício por mais de dez anos de cargo da

carreira de controle externo do quadro de pessoal da secretaria do Tribunal constitui

título computável para efeito do concurso a que se refere o caput deste artigo .

Art. 78. (Vetado)

Parágrafo único. O auditor, quando não convocado para substituir ministro, presidirá à

instrução dos processos que lhe forem distribuídos, relatando-os com proposta de

decisão a ser votada pelos integrantes do Plenário ou da Câmara para a qual estiver

designado.

Art. 79. O auditor, depois de empossado, só perderá o cargo por sentença judicial

transitada em julgado.

Parágrafo único. Aplicam-se ao auditor as vedações e restrições previstas nos arts. 74 e

76 desta Lei.

Capítulo VI

Ministério Público Junto ao Tribunal

Art. 80. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, ao qual se aplicam

os princípios institucionais da unidade, da indivisibilidade e da independência

funcional, compõe-se de um procurador-geral, três subprocuradores-gerais e quatro

procuradores, nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros, bacharéis em

direito.

§ 1° (Vetado)

§ 2° A carreira do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União é

constituída pelos cargos de subprocurador-geral e procurador, este inicial e aquele

representando o último nível da carreira, não excedendo a dez por cento a diferença de

vencimentos de uma classe para outra, respeitada igual diferença entre os cargos de

subprocurador-geral e procurador-geral.

§ 3° O ingresso na carreira far-se-á no cargo de procurador, mediante concurso público

de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em

sua realização e observada, nas nomeações, a ordem de classificação, enquanto a

promoção ao cargo de subprocurador-geral far-se-á, alternadamente, por antigüidade e

merecimento.

Art. 81. Competem ao procurador-geral junto ao Tribunal de Contas da União, em sua

missão de guarda da lei e fiscal de sua execução, além de outras estabelecidas no

Regimento Interno, as seguintes atribuições:

I - promover a defesa da ordem jurídica, requerendo, perante o Tribunal de Contas da

União as medidas de interesse da justiça, da administração e do Erário;

II - comparecer às sessões do Tribunal e dizer de direito, verbalmente ou por escrito, em

todos os assuntos sujeitos à decisão do Tribunal, sendo obrigatória sua audiência nos

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processos de tomada ou prestação de contas e nos concernentes aos atos de admissão de

pessoal e de concessão de aposentadorias, reformas e pensões;

III - promover junto à Advocacia-Geral da União ou, conforme o caso, perante os

dirigentes das entidades jurisdicionadas do Tribunal de Contas da União, as medidas

previstas no inciso II do art. 28 e no art. 61 desta Lei, remetendo-lhes a documentação e

instruções necessárias;

IV - interpor os recursos permitidos em lei.

Art. 82. Aos subprocuradores-gerais e procuradores compete, por delegação do

procurador-geral, exercer as funções previstas no artigo anterior.

Parágrafo único. Em caso de vacância e em suas ausências e impedimentos por motivo

de licença, férias ou outro afastamento legal, o procurador-geral será substituído pelos

subprocuradores-gerais e, na ausência destes, pelos procuradores, observada, em ambos

os casos, a ordem de antigüidade no cargo, ou a maior idade, no caso de idêntica

antigüidade, fazendo jus, nessas substituições, aos vencimentos do cargo exercido.

Art. 83. O Ministério Público contará com o apoio administrativo e de pessoal da

secretaria do Tribunal, conforme organização estabelecida no Regimento Interno.

Art. 84. Aos membros do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União

aplicam-se, subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei orgânica do

Ministério Público da União, pertinentes a direitos, garantias, prerrogativas, vedações,

regime disciplinar e forma de investidura no cargo inicial da carreira.

Capítulo VII

Secretaria do Tribunal

Seção I

Objetivo e Estrutura

Art. 85. A secretaria incumbe a prestação de apoio técnico e a execução dos serviços

administrativos do Tribunal de Contas da União.

§ 1° A organização, atribuições e normas de funcionamento da secretaria são as

estabelecidas no Regimento Interno.

§ 2º O Tribunal poderá manter unidades integrantes de sua secretaria nos estados

federados.

Art. 86. São obrigações do servidor que exerce funções específicas de controle externo

no Tribunal de Contas da União:

I - manter, no desempenho de suas tarefas, atitude de independência, serenidade e

imparcialidade;

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II - representar à chefia imediata contra os responsáveis pelos órgãos e entidades sob

sua fiscalização, em casos de falhas e/ou irregularidades;

III - propor a aplicação de multas, nos casos previstos no Regimento Interno;

IV - guardar sigilo sobre dados e informações obtidos em decorrência do exercício de

suas funções e pertinentes aos assuntos sob sua fiscalização, utilizando-os,

exclusivamente, para a elaboração de pareceres e relatórios destinados à chefia

imediata.

Art. 87. Ao servidor a que se refere o artigo anterior, quando credenciado pelo

Presidente do Tribunal ou, por delegação deste, pelos dirigentes das unidades técnicas

da secretaria do Tribunal, para desempenhar funções de auditoria, de inspeções e

diligências expressamente determinadas pelo Tribunal ou por sua Presidência, são

asseguradas as seguintes prerrogativas:

I - livre ingresso em órgãos e entidades sujeitos à jurisdição do Tribunal de Contas da

União;

II - acesso a todos os documentos e informações necessários à realização de seu

trabalho;

III - competência para requerer, nos termos do Regimento Interno, aos responsáveis

pelos órgãos e entidades objeto de inspeções, auditorias e diligências, as informações e

documentos necessários para instrução de processos e relatórios de cujo exame esteja

expressamente encarregado por sua chefia imediata.

Art. 88. Fica criado, na secretaria, diretamente subordinado à Presidência, um instituto

que terá a seu cargo:

I - a realização periódica de concursos públicos de provas ou de provas e títulos, para

seleção dos candidatos a matrícula nos cursos de formação requeridos para ingresso nas

carreiras do quadro de pessoal do Tribunal;

II - a organização e a administração de cursos de níveis superior e médio, para formação

e aprovação final dos candidatos selecionados nos concursos referidos no inciso

anterior;

III - a organização e a administração de cursos de treinamento e de aperfeiçoamento

para os servidores do quadro de pessoal;

IV - a promoção e a organização de simpósios, seminários, trabalhos e pesquisas sobre

questões relacionadas com as técnicas de controle da administração pública;

V - a organização e administração de biblioteca e de centro de documentação, nacional

e internacional, sobre doutrina, técnicas e legislação pertinentes ao controle e questões

correlatas.

Parágrafo único. O Tribunal regulamentará em resolução a organização, as atribuições e

as normas de funcionamento do instituto referido neste artigo.

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Seção II

Orçamentos

Art. 89. (Vetado)

TÍTULO IV

DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 90. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do

Tribunal de Contas da União será exercida pelo Congresso Nacional, na forma definida

no seu regimento comum.

§ 1° O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório

de suas atividades.

§ 2° No relatório anual, o Tribunal apresentará análise da evolução dos custos de

controle e de sua eficiência, eficácia e economicidade.

Art. 91 . Para a finalidade prevista no art. 1°, inciso I, alínea g e no art. 3°, ambos da Lei

Complementar n° 64, de 18 de maio de 1990, o Tribunal enviará ao Ministério Público

Eleitoral, em tempo hábil, o nome dos responsáveis cujas contas houverem sido

julgadas irregulares nos cinco anos imediatamente anteriores à realização de cada

eleição.

Art. 92. Os atos relativos a despesa de natureza reservada serão, com esse caráter,

examinados pelo Tribunal, que poderá, à vista das demonstrações recebidas, ordenar a

verificação in loco dos correspondentes comprobatórios, na forma estabelecida no

Regimento Interno.

Art. 93. A título de racionalização administrativa e economia processual, e com o

objetivo de evitar que o custo da cobrança seja superior ao valor do ressarcimento, o

Tribunal poderá determinar, desde logo, o arquivamento do processo, sem cancelamento

do débito, a cujo pagamento continuará obrigado o devedor, para que lhe possa ser dada

quitação.

Art. 94. É vedado a ministro, auditor e membro do Ministério Público junto ao Tribunal

intervir em processo de interesse próprio, de cônjuge ou de parente consangüíneo ou

afim, na linha reta ou na colateral, até o segundo grau.

Art. 95. Os ministros, auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal têm

prazo de trinta dias, a partir da publicação do ato de nomeação no Diário Oficial da

União, prorrogável por mais sessenta dias, no máximo, mediante solicitação escrita,

para posse e exercício no cargo.

Art. 96. As atas das sessões do Tribunal serão publicadas, na íntegra, sem ônus, no

Diário Oficial da União.

Art. 97. As publicações editadas pelo Tribunal são as definidas no Regimento Interno.

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Art. 98. O Boletim do Tribunal de Contas da União é considerado órgão oficial.

Art. 99. O Regimento Interno do Tribunal somente poderá ser aprovado e alterado pela

maioria absoluta de seus ministros titulares.

Art. 100. O Tribunal de Contas da União poderá firmar acordo de cooperação com os

Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, ou dos Conselhos

ou Tribunais de Contas dos Municípios, na forma estabelecida pelo Regimento Interno.

Art. 101. O Tribunal de Contas da União, para o exercício de sua competência

institucional, poderá requisitar aos órgãos e entidades federais, sem quaisquer ônus, a

prestação de serviços técnicos especializados, a serem executados em prazo

previamente estabelecido, sob pena de aplicação da sanção prevista no art. 58 desta Lei.

Art. 102. Entidade competente do Poder Executivo federal fará publicar no Diário

Oficial da União, para os fins previstos no inciso VI do art. 1o desta Lei, a relação das

populações: (Redação dada pela Lei Complementar nº 143, de 2013) (Produção de

efeito)

I - até 31 de dezembro de cada ano, no caso dos Estados e do Distrito

Federal; (Incluído pela Lei Complementar nº 143, de 2013) (Produção de efeito)

II - até 31 de agosto de cada ano, no caso dos Municípios. (Incluído pela Lei

Complementar nº 143, de 2013) (Produção de efeito)

§ 3o Far-se-á nova comunicação sempre que houver, transcorrido o prazo fixado nos

incisos I e II do caput, a criação de novo Estado ou Município a ser implantado no

exercício subsequente. (Incluído pela Lei Complementar nº 143, de

2013) (Produção de efeito)

Art. 103. O Tribunal de Contas da União prestará auxílio à comissão mista do

Congresso Nacional incumbida do exame do endividamento externo brasileiro, nos

termos do art. 26 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Art. 104. Os ordenadores de despesas dos órgãos da administração direta, bem assim os

dirigentes das entidades da administração indireta e fundações e quaisquer servidores

responsáveis por atos de que resulte despesa pública, remeterão ao Tribunal de Contas

da União por solicitação do Plenário ou de suas Câmaras, cópia das suas declarações de

rendimentos e de bens.

§ 1° O descumprimento da obrigação estabelecida neste artigo ensejará a aplicação da

multa estabelecida no art. 58 desta Lei, pelo Tribunal, que manterá em sigilo o conteúdo

das declarações apresentadas e poderá solicitar os esclarecimentos que entender

convenientes sobre a variação patrimonial dos declarantes.

§ 2° O sigilo assegurado no parágrafo anterior poderá ser quebrado por decisão do

Plenário, em processo no qual fique comprovado enriquecimento ilícito por exercício

irregular da função pública.

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§ 3° A quebra de sigilo sem autorização do Plenário constitui infração funcional punível

na forma do art. 132, inciso IX da Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990.

§ 4° O disposto neste artigo aplica-se à autoridade a que se refere o art. 52 desta Lei.

Art. 105. O processo de escolha de ministro do Tribunal de Contas da União, em caso

de vaga ocorrida ou que venha a ocorrer após a promulgação da Constituição de 1988,

obedecerá ao seguinte critério:

I - na primeira, quarta e sétima vagas, a escolha caberá ao Presidente da República,

devendo recair as duas últimas, respectivamente, em auditor e membro do Ministério

Público junto ao Tribunal.

II - na segunda, terceira, quinta, sexta, oitava e nona vagas, a escolha será da

competência do Congresso Nacional;

III - a partir da décima vaga, reinicia-se o processo previsto nos incisos anteriores,

observada a alternância quanto à escolha de auditor e membro do Ministério Público

junto ao Tribunal, nos termos do inciso I do § 2° do art. 73 da Constituição Federal.

Art. 106. Aos ministros do Tribunal de Contas da União que, na data da promulgação da

Constituição Federal de 1988, preenchiam os requisitos necessários à aposentadoria

com as vantagens do cargo, não se aplica a ressalva prevista no art. 73, caput, in fine,

desta Lei.

Art. 107. - A distribuição dos processos observará os princípios da publicidade, da

alternatividade e do sorteio.

Art. 108. Serão públicas as sessões ordinárias do Tribunal de Contas da União.

§ 1° O Tribunal poderá realizar sessões extraordinárias de caráter reservado, para tratar

de assuntos de natureza administrativa interna ou quando a preservação de direitos

individuais e o interesse público o exigirem.

§ 2° Na hipótese do parágrafo anterior, os atos processuais terão o concurso das partes

envolvidas, se assim desejarem seus advogados, podendo consultar os autos e pedir

cópia de peças e certidões dos mesmos.

§ 3° Nenhuma sessão extraordinária de caráter reservado poderá ser realizada sem a

presença obrigatória de representante do Ministério Público.

Art. 109. O Tribunal de Contas da União ajustará o exame dos processos em curso às

disposições desta Lei.

Art. 110. No prazo de noventa dias a contar da entrada em vigor desta Lei, o Tribunal

encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre o quadro próprio de

pessoal de sua secretaria, com observância dos princípios constitucionais pertinentes e,

especialmente, das seguintes diretrizes:

I - regime jurídico único;

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II - previsão das respectivas estrutura orgânica e atribuições;

III - condicionamento, como indispensável a investidura em cargo ou emprego, à prévia

aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos, bem como em cursos

organizados na forma preconizada no inciso II do art. 88 desta Lei;

IV - provimento dos cargos em comissão e funções de confiança por servidores do

quadro de pessoal, exceto quanto aos Gabinetes de Ministro, do Procurador-Geral e de

Auditor em relação a um Oficial de Gabinete e a um Assistente, que serão de livre

escolha da autoridade, obedecidos os requisitos legais e regimentais; (Redação dada

pela Lei nº 9.165, de 1995)

V - competência do Tribunal, para em relação aos cargos em comissão e funções de

confiança:

a ) estabelecer-lhes o escalonamento, segundo a legislação pertinente;

b) transformá-los e reclassificá-los em consonância com os parâmetros previstos na Lei

de Diretrizes Orçamentárias;

VI - fixação da respectiva remuneração, observados os limites orçamentários, fixados,

os níveis de remuneração adotados para os servidores do Poder Legislativo e, no que

couber, os princípios reguladores do sistema de pessoal da União.

Parágrafo único. É vedada a nomeação, para cargos em comissão, e a designação, para

funções de confiança, de cônjuge, companheiro ou parentes, consangüíneos ou afins, em

linha reta ou colateral, até o terceiro grau, de ministro, auditor ou membro do Ministério

Público junto ao Tribunal, em atividade ou aposentados há menos de cinco anos, exceto

se admitidos no quadro próprio de pessoal mediante concurso público. (Incluído pela

Lei nº 9.165, de 1995)

Art. 111. Os atuais cargos de subprocurador-geral junto ao Tribunal de Contas da União

integrarão quadro em extinção, assegurados os direitos e observadas as vedações

aplicáveis a seus titulares.

Art. 112. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 113. Revogam-se as disposições em contrário, em especial o Decreto-Lei n° 199,

de 25 de fevereiro de 1967.

Brasília, 16 de julho de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR

Célio Borja

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ANEXO III

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.715 TOCANTINS

21/08/2014 PLENÁRIO

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES

REQTE.(S) : ASSOCIAÇÃO DOS MEMBROS DOS TRIBUNAIS DE CONTAS

DO BRASIL

ADV.(A/S) : JOÃO COSTA RIBEIRO FILHO

INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS

Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Constituição do Estado do Tocantins.

Emenda Constitucional nº 16/2006, que criou a possibilidade de recurso, dotado de

efeito suspensivo, para o Plenário da Assembleia Legislativa, das decisões tomadas

pelo Tribunal de Contas do Estado com base em sua competência de julgamento de

contas (§ 5º do art. 33) e atribuiu à Assembleia Legislativa a competência para sustar

não apenas os contratos, mas também as licitações e eventuais casos de dispensa e

inexigibilidade de licitação (art. 19, inciso XXVIII, e art. 33, inciso IX e § 1º). 3.

A Constituição Federal é clara ao determinar, em seu art. 75, que as normas

constitucionais que conformam o modelo federal de organização do Tribunal de

Contas da União são de observância compulsória pelas Constituições dos Estados-

membros. Precedentes. 4. No âmbito das competências institucionais do Tribunal de

Contas, o Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a clara distinção entre: 1) a

competência para apreciar e emitir parecer prévio sobre as contas prestadas

anualmente pelo Chefe do Poder Executivo, especificada no art. 71, inciso I, CF/88; 2)

e a competência para julgar as contas dos demais administradores e responsáveis,

definida no art. 71, inciso II, CF/88. Precedentes. 5. Na segunda hipótese, o exercício

da competência de julgamento pelo Tribunal de Contas não fica subordinado ao crivo

posterior do Poder Legislativo. Precedentes. 6. A Constituição Federal dispõe que

apenas no caso de contratos o ato de sustação será adotado diretamente pelo

Congresso Nacional (art. 71, § 1º, CF/88). 7. Ação julgada procedente.

A C Ó R D Ã O

Supremo Tribunal Federal

EmentaeAcórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 15

ADI 3715 / TO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal

Federal, em Sessão Plenária, sob a presidência do Senhor Ministro Ricardo

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Lewandowski, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por

unanimidade de votos, julgar procedente a ação direta, nos termos do voto do relator,

ministro Gilmar Mendes.

Brasília, 21 de agosto de 2014.

Ministro GILMAR MENDES

Relator

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PARANÁ. Tribunal de Justiça – TJ. Apelação Cível: 12321103 PR 1232110-3

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RIO GRANDE DO SUL. TJ-RS - AC: 70056831415 RS, Relator: Francisco José

Moesch, Data de Julgamento: 29/01/2014, Vigésima Primeira Câmara Cível.

RIO GRANDE DO SUL. TJ-RS - AC: 70051303287 RS, Relator: Francisco José

Moesch, Data de Julgamento: 11/12/2013, Vigésima Primeira Câmara Cível.

SÃO PAULO. Tribunal de Justiça - TJ. APL 1648690520088260000 SP 0164869-

05.2008.8.26.0000 - 10ª Câmara de Direito Público; Des. Relator: Antonio Carlos

Villen.

SIMÃO, Calil. Improbidade administrativa: teoria e prática: de acordo com a Lei

n° 12.120, de 15 de dezembro de 2009, com a Lei Complementar n° 135, de junho

de 2010. São Paulo: JH Mizuno, 2011.

______. Supremo Tribunal Federal - STF. REsp 980706, RS 2007/0210742-0; Relator:

Ministro Luiz Fux; Julgamento: 03/02/2011.

______. Superior Tribunal de Justiça - STJ - REsp: 1285160 MG 2011/0233239-6,

Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA.