viabilidade econômica de usina de reciclagem de resíduos da construção civil
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7/21/2019 Viabilidade Econmica de Usina de Reciclagem de Resduos da Construo Civil
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA
CENTRO DE TECNOLOGIAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EMENGENHARIA URBANA E AMBIENTAL
Viabilidade Econmica de Usina de Reciclagemde Resduos da Construo Civil:
Estudo de Caso da USIBEN - Joo Pessoa/PB
Ricardo Franklin Cavalcanti Sobral
Joo Pessoa - Paraba 2012
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RICARDO FRANKLIN CAVALCANTI SOBRAL
Viabilidade Econmica de Usina de Reciclagemde Resduos da Construo Civil:
Estudo de Caso da USIBEN - Joo Pessoa/PB
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em
Engenharia Urbana e Ambiental
PPGEUA da Universidade Federal da
Paraba, como parte dos requisitos para
obteno do ttulo de Mestre.
rea de Concentrao: Saneamento
Ambiental
ORIENTADOR
Prof. Dr. Gilson Barbosa Athayde Jnior
Joo Pessoa - Paraba2012
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Ficha Catalogrfica
S677v Sobral, Ricardo Franklin Cavalcanti.Viabilidade econmica de usina de reciclagem de resduos
da construo civil: estudo de caso da USIBEN Joo Pessoa-PB/ Ricardo Franklin Cavalcanti Sobral.-- Joo Pessoa, 2012.
114f. : il.
Orientador: Gilson Barbosa Athayde JniorDissertao (Mestrado) UFPB/CT
1. Engenharia Urbana e Ambiental. 2. Saneamentoambiental. 3. Construo civil resduos slidos viabilidadeeconmica. 4.Usinas de reciclagem construo civil.
UFPB/BC CDU: 62:711(043)
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AGRADECIMENTOS
Inicialmente a DDeeuuss, razo maior de nossa existncia, sem o que nada disto poderia ter sidoalcanado.
minha esposa MMaarrcclliiaa, meus filhos LLaarriissssaa e RRaaffaaeell, sempre compreensivos quando das
minhas ausncias s atividades familiares, provocadas pela responsabilidade de cumprir as
obrigaes do Curso.
Ao Professor GGiillssoonn BBaarrbboossaa AAtthhaayyddee JJnniioorr, pela expressiva participao, efetivacolaborao e extrema dedicao, na qualidade de orientador deste trabalho.
Ao Professor JJoocciiooddeeAArraajjooMMoorraaiissJJnniioorr e Professora LLuucciiaannaaddeeFFiigguueeiirreeddooLLooppeess
LLuucceennaa, membros da Banca Examinadora, pelas valiosas sugestes oferecidas melhoria
deste trabalho.
Aos amigos e tambm Professores UUbbiirraattaannddeeOOlliivveeiirraaPPiimmeenntteell e EEnniillddooTTaalleessFFeerrrreeiirraa,pela colaborao nas diversas fases de elaborao deste estudo.
Ao amigo de todas as horas, colega de trabalho e de Curso, Professor MMaarrccuuss VViinncciiuuss
VVaarraannddaass, pelo importante apoio durante toda a trajetria deste Mestrado.
A todos os que fazem USIBEN e a EMLUR, especialmente ao Engenheiro EEddmmiillssoonn
FFoonnsseeccaa, pela importante contribuio prestada, disponibilizando os dados e as
informaes necessrias elaborao deste documento.
Por fim, a todos que contriburam, direta ou indiretamente, para a realizao deste trabalho.
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RESUMO
A indstria da construo civil o setor produtivo que mais gera resduos slidos. Oreaproveitamento dos resduos oriundos da construo e demolio pela prpria indstria
da construo civil provoca, direta e indiretamente, a reduo do uso de recursos naturaisno renovveis, da gerao de novos resduos slidos, do desperdcio de materiaisconstrutivos, do prprio consumo de energia eltrica, alm de contribuir para a reduoconsidervel do impacto ambiental, comumente decorrente da deposio irregular destesmateriais no solo urbano. Dentro destes princpios e em decorrncia da Resoluo N. 307do CONAMA, a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa PMJP, capital do estado daParaba, instituiu o Sistema de Gesto Sustentvel de Resduos da Construo Civil eDemolio e o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil,atravs da Lei Municipal No. 11.176/2007, possibilitando a implantao da Usina deBeneficiamento de Resduos da Construo Civil - USIBEN, no ano de 2007, comcapacidade para processar at 20 toneladas/hora de resduo. Todo agregado reciclado
produzido pela USIBEN utilizado pela prpria Prefeitura Municipal, mantenedora daUSIBEN. Neste trabalho foram desenvolvidos estudos mais detalhados do processoprodutivo da Usina, buscando avaliar o empreendimento quanto a sua viabilidadefinanceira. Foram empregados vrios mtodos de anlise econmica, utilizando, para tanto,dados obtidos diretamente junto Usina e EMLUR/PMJP. Foi possvel encontrar o custode produo do agregado reciclado, que ficou, no ano de 2008, em R$ 17,39 (dezessetereais e trinta e nove centavos) por m3, sendo este tambm denominado de ponto de lucro. OValor Presente Lquido - VPL encontrado, considerando um horizonte de planejamento de20 anos, foi de R$ 1.292.424,77 (hum milho duzentos e noventa e dois mil quatrocentos evinte e quatro reais e setenta e sete centavos), sendo um mtodo considerado eficiente noclculo de viabilidade econmica de empreendimentos desta natureza. Nesta mesma
situao, o Tempo de Retorno do Capital empregado ficou em 3,24 anos, considerando, noclculo, o Valor Presente Lquido do perodo projetado. O ndice Benefcio/Custo - IBCencontrado ficou em 2,61 enquanto que a Taxa Interna de Retorno - TIR foi calculada em26,24 %, tudo isto considerando um cenrio onde foi desprezada a contribuio, na receitabruta, dos custos referentes ao transporte do volume de resduos recebidos pela Usina. Emum segundo cenrio, foi levada em considerao a contribuio, Receita Bruta, do valorestimado dos custos evitados de transporte de todo o volume recebido de RCC pela Usina,sendo, neste caso, os ndices econmicos ainda mais animadores, comprovando aviabilidade econmica do empreendimento tambm nesta segunda simulao. Este estudoserve como elemento norteador ao Administrador Pblico nas tomadas de deciso emassuntos diretamente ligados USIBEN e, por conseguinte, prpria gesto dos resduosda construo na cidade de Joo Pessoa.
Palavras Chave: Viabilidade econmica de Usinas de Reciclagem de RCC, Resduos daConstruo Civil, Resduos Slidos.
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ABSTRACT
The civil construction industry is the productive sector which produces the largest amount
of solid waste. The reuse of waste generated from construction and destruction by the civilconstruction industry provokes, both directly and indirectly, a reduction on the use of non-renewable resources, the generation of new solid waste, the waste of constructionmaterials, the electric energy consumption itself, and also contributes for a considerablereduction on environmental impact, commonly a result of bad disposal of those materialson urban soil. Within these principles and because of the resolution #307 from CONAMA,Joo Pessoas prefecture also known as PMJP - located on the state of Paraba, createdthe System for the Sustainable Management of Civil Construction and Demolition Wasteand the Integrated Plan of Civil Construction Waste Management, through municipal law#11,176/2007, enabling the construction of the Civil Construction Waste Benefiting Plant,or USIBEN, in the year 2007. The plant is capable of processing up to 20 tons of waste per
hour. All the aggregate produced by USIBEN is used by the prefecture itself, which is theone in charge of the plant. In this project, more detailed research on the productive processof the plant was developed, trying to assess the enterprise on its financial viability. Manymethods of economic analysis were used, with the help of statistics given directly by theplant and by EMLUR/PMJP. It was possible to discover the cost of the recycled wasteaggregate, which reached, in 2008, R$17.39 (Seventeen reais and thirty nine centavos) persquare meter, being also called profit point. The Net Present Value (NPV) found,considering a planning horizon of 20 years, was R$1,292,424.77 (one million two hundredninety two thousand four hundred twenty four reais and seventy seven centavos), which isconsidered to be an effective method using the financial viability calculation for enterprisesfrom this nature. In the same situation, the time spent until the return of investment was
3.24 years, considering, in the calculations, the Net Present Value on the projected period.The Benefit-Cost Rate found resulted in 2.61, whereas the Internal Rate of Return (IRR)was 26.24%, considering a scenario where the contribution for transportation of wastevolumes received by the plant was ignored. On a second Scenario, was taken into accountthe contribution, to the gross income, of the entire avoided estimated costs oftransportation of all volume of CCW received by the plant, being, in this case, theeconomic rates even better, proving the financial viability of the enterprise in the secondsimulation as well. This study serves as a guiding element to be used by the publicmanager, helping him to take wise decisions on matters related to the USIBEN and,consequently, to the construction waste management itself, in the city of Joo Pessoa.
Key words: Economic Viability of CCW Recycling Plants, Civil Construction Waste,Solid Waste
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S U M R I O
PPAAGG..
RREESSUUMMOOAABBSSTTRRAACCTTLLIISSTTAADDEEIILLUUSSTTRRAAEESS
LLIISSTTAADDEEQQUUAADDRROOSSLLIISSTTAADDEETTAABBEELLAASS
LLIISSTTAASSDDEEEEQQUUAAEESS
11..IINNTTRROODDUUOO 13
1.1.OBJETIVOS 161.1.1.Objetivo Geral 16
1.1.2.Objetivos Especficos 16
1.2.JUSTIFICATIVA 17
22..RREEVVIISSOODDAALLIITTEERRAATTUURRAA 182.1.RESDUOS PRODUZIDOS PELA CONSTRUO CIVIL 20
2.1.1. Definio de Resduos da Construo Civil 23
2.1.2. Classificao e Gerao de Resduos da Construo Civil 27
2.1.3. Impacto dos Resduos da Construo Civil ao Meio Ambiente 33
2.2.USINA DE BENEFICIAMENTO DOS RESDUOS DA CONSTRUOCIVIL
36
2.2.1.Tipos de Planta de Usina de Beneficiamento dos Resduos da ConstruoCivil
39
2.2.2.Modelos de Equipamentos Destinados Usina de Beneficiamento dosResduos da Construo Civil
39
2.2.3.Classificao dos Processos de Beneficiamento dos Resduos da ConstruoCivil
45
2.2.4.Descrio do Fluxo Produtivo de uma Usina de Beneficiamento dos Resduosda Construo Civil
46
2.2.5.Localizao de Usina de Beneficiamento de Resduos da Construo Civil 50
2.3.MTODOS PARA ESTUDOS DE VIABILIDADE ECONMICA DEPROJETOS AMBIENTAIS
52
2.3.1. Custos e Benefcios do Projeto 53
2.3.1.1. Custos de Investimentos e Implantao 532.3.1.2. Custos de Operacionalizao 54
2.3.2. Mtodos de Avaliao Econmica do Projeto 55
2.3.2.1. Mtodo do Valor Presente Lquido 56
2.3.2.2. Mtodo do Valor Anual Lquido 57
2.3.2.3. Mtodo do ndice Benefcio/Custo 58
2.3.2.4. Mtodo da Taxa Interna de Retorno 58
2.3.2.5. Mtodo do Tempo de Retorno do Capital 59
2.4.ANLISE ECONMICA DE USINAS DE RECICLAGEM DE
RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL
61
2.4.1. Custos de Implantao 62
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2.4.2. Custos de Operao 632.4.3. Custos de Manuteno 632.4.4. Relao Benefcio/Custo 64
33..MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA 67
3.1.LOCALIZAO, IDENTIFICAO E CARACTERSTICAS DO
OBJETO DE ESTUDO
67
3.1.1.Usina de Beneficiamento de Resduos da Construo Civil da Cidade de JooPessoa - PB
71
3.1.1.1.Implantao, Tipo de Planta e Equipamentos 713.1.1.2.Processo Produtivo 743.1.1.3.Volume de Produo 803.1.1.4.Recursos Humanos 83
3.2.METODOLOGIA DE ANLISE ECONMICA DO OBJETO DEESTUDO
83
3.2.1.Visitas Tcnicas 84
3.2.2.Forma de Obteno dos Dados 84
3.2.2.Mtodo de Anlise de Viabilidade Econmica 85
44..RREESSUULLTTAADDOOSS 89
4.1.DESEMPENHO OPERACIONAL 89
4.2.VIABILIDADE ECONMICA 904.2.1.Custo de Implantao 91
4.2.2.Custos de Operao 92
4.2.2.1.Custos com Pessoal 924.2.2.2.Custos de Operacionalizao 93
4.2.3.Receita Bruta Anual 94
4.2.4.Receita Lquida Anual 96
4.2.5.Valor Presente Lquido - VPL 97
4.2.6.Tempo de Retorno do Capital - Payback 99
4.2.7.Relao Benefcio/Custo 100
4.2.8.Taxa Interna de Retorno 101
4.2.9.Viabilidade Econmica de Usinas de RCC 1024.2.10.Benefcios Diretos Para o Meio Ambiente 105
55..CCOONNSSIIDDEERRAAEESSFFIINNAAIISS 107
RREEFFEERRNNCCIIAASS 109
AANNEEXXOO 113
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LLIISSTTAADDEEQQUUAADDRROOSS
PPAAGG..
QQuuaaddrroo0011::EEqquuiippaammeennttoossAAddqquuiirriiddooss--LLiinnhhaaddeePPrroodduuoo 7733
QQuuaaddrroo0022::VVoolluummeeddeeRRCCCCrreecceebbiiddoossppeellaaUUSSIIBBEENN 8800
QQuuaaddrroo0033::VVoolluummeeddeeaaggrreeggaaddoorreecciiccllaaddoopprroodduuzziiddooppeellaaUUSSIIBBEENN 8822
QQuuaaddrroo0044::QQuuaannttiiddaaddeeddeeFFuunncciioonnrriioossddaaUUSSIIBBEENN 8833
QQuuaaddrroo0055::RReessuummooddoossCCuussttoossddeeOOppeerraaoo 9933
QQuuaaddrroo0066::RReecceeiittaaBBrruuttaaAAnnuuaall 9966
QQuuaaddrroo0077::RReecceeiittaaLLqquuiiddaaAAnnuuaall 9977
QQuuaaddrroo0088::DDeemmoonnssttrraattiivvooddooVVaalloorrddaaPPrreesseenntteeLLqquuiiddoo 9988
QQuuaaddrroo0099::DDeemmoonnssttrraattiivvooddooFFlluuxxooddeeCCaaiixxaaAAccuummuullaaddoo--PPaayybbaacckk 9999
QQuuaaddrroo1100::MMttooddoossddeeAAnnlliisseeEEccoonnmmiiccaa((CCeennrriioo11))--RReessuullttaaddoossOObbttiiddooss 110022
QQuuaaddrroo1111::MMttooddoossddeeAAnnlliisseeEEccoonnmmiiccaa((CCeennrriioo22))--RReessuullttaaddoossOObbttiiddooss 110044
QQuuaaddrroo1122::MMttooddoossddeeAAnnlliisseeEEccoonnmmiiccaa((CCeennrriioo22AA))--RReessuullttaaddoossOObbttiiddooss 110055
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LLIISSTTAADDEETTAABBEELLAASS
PAG.
TTaabbeellaa0011::PPeerrddaassddeeMMaatteerriiaaiissddeeCCoonnssttrruuoo 2233
TTaabbeellaa0022::CCoommppoonneenntteessddoossrreessdduuoosseemmffuunnooddoottiippooddeeoobbrraa 2255
TTaabbeellaa0033::CCllaassssiiffiiccaaooddoossrreessdduuoossddaaccoonnssttrruuoocciivviill 2277
TTaabbeellaa0044::GGeerraaooddeerreessdduuoosseemmppaasseessddaaUUnniiooEEuurrooppiiaa 3300
TTaabbeellaa0055::GGeerraaooeessttiimmaaddaaddeerreessdduuoosssslliiddoossuurrbbaannoossppoorrmmuunniiccppiioo 3311
TTaabbeellaa0066::GGeerraaooddeerreessdduuoossddaaccoonnssttrruuoocciivviillppoorrppaass 3322
TTaabbeellaa0077::CCoottaaooddeePPrreeooddeeMMaatteerriiaaiissddeeCCoonnssttrruuoo 9944
TTaabbeellaa0088::CCoottaaooddeePPrreeooddeeTTeerrrreennoosseemmJJooooPPeessssooaa--PPBB 110044
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LLIISSTTAADDEEEEQQUUAAEESS
PPAAGG..
EEqquuaaoo0011::CCllccuullooddaaEEffiicciinncciiaa(%) 4488
EEqquuaaoo0022::CCllccuullooddeeEEffiicciinncciiaaeemmFFuunnooddooTTiippooddeeAAggrreeggaaddooPPrroodduuzziiddoo 4499
EEqquuaaoo0033::CCllccuullooddooVVaalloorrPPrreesseenntteeLLqquuiiddoo--VVPPLL 5566
EEqquuaaoo0044::CCllccuullooddooVVaalloorrPPrreesseenntteeLLqquuiiddooAAnnuuaalliizzaaddoo--VVPPLLAA 5577
EEqquuaaoo0055::CCllccuullooddoonnddiicceeBBeenneeffcciioo//CCuussttoo--IIBBCC 5588
EEqquuaaoo0066::CCllccuullooddooTTaaxxaaIInntteerrnnaaddeeRReettoorrnnoo--TTIIRR 5599
EEqquuaaoo0077::CCllccuullooddooTTeemmppooddeeRReettoorrnnooddooCCaappiittaall--TTRRCC 6600
EEqquuaaoo0088::CCllccuullooddeeVViiaabbiilliiddaaddeeEEccoonnmmiiccaaddeeUUssiinnaassddeeRRCCCC 6655
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LLIISSTTAADDEESSIIGGLLAASS
AABBNNTT-- AAssssoocciiaaooBBrraassiilleeiirraaddeeNNoorrmmaassTTccnniiccaass
CCOONNAAMMAA--CCoonnsseellhhooNNaacciioonnaallddeeMMeeiiooAAmmbbiieennttee
FFGGVV--FFuunnddaaooGGeettlliiooVVaarrggaassFFVVPP--FFaattoorrddooVVaalloorrPPrreesseennttee
IIBBCC--nnddiicceeBBeenneeffcciioo//CCuussttoo
IIBBGGEE--IInnssttiittuuttooBBrraassiilleeiirrooddeeGGeeooggrraaffiiaaeeEEssttaattssttiiccaa
IINNCCCC--IInnddssttrriiaaNNaacciioonnaallddaaCCoonnssttrruuooCCiivviill
PPMMJJPP--PPrreeffeeiittuurraaMMuunniicciippaallddeeJJooooPPeessssooaa
RRCCCC--RReessdduuoossddaaCCoonnssttrruuooCCiivviill
RRCCDD--RReessdduuoossddaaCCoonnssttrruuooeeDDeemmoolliiooSSNNIICC--SSiinnddiiccaattooNNaacciioonnaallddaaIInnddssttrriiaaddeeCCiimmeennttoo
TTIIRR--TTaaxxaaIInntteerrnnaaddeeRReettoorrnnoo
TTMMAA--TTaaxxaaMMnniimmaaddeeAAttrraattiivviiddaaddee
TTRRCC--TTeemmppooddeeRReettoorrnnooddooCCaappiittaall
UUSSIIBBEENN--UUssiinnaaddeeBBeenneeffiicciiaammeennttooddeeRReessdduuoossddaaCCoonnssttrruuooCCiivviillddeeJJooooPPeessssooaa//PPBB
VVAALL--VVaalloorrAAnnuuaallLLqquuiiddoo
VVAAUUEE--VVaalloorrAAnnuuaallUUnniiffoorrmmeeEEqquuiivvaalleennttee
VVPPLL--VVaalloorrPPrreesseenntteeLLqquuiiddoo
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13
11..IInnttrroodduuoo
Desde os primrdios do processo de industrializao que a demanda por energia e
recursos naturais tem apresentado crescimento acelerado, contribuindo, como
consequncia, para a gerao de resduos que so quase sempre indesejveis. Nos mais
diversos processos produtivos, estes resduos gerados nem sempre so adequadamente
tratados, sendo lanados diretamente no solo, em corpos aquticos ou na atmosfera, de
maneira irregular, causando poluio desses meios.
Por outro lado, a explorao, indiscriminada e desmedida, dos recursos naturais
destinados alimentao dos diversos processos produtivos, tem levado ao esgotamento
progressivo destes recursos, quase sempre no renovveis, visto que somente podem ser
gerados por fenmenos naturais que fogem capacidade humana de reproduzi-los.
A disponibilidade de matrias primas naturais dentro ou em torno dos grandes
aglomerados urbanos vem declinando em virtude de planejamento inadequado, problemas
ambientais, zoneamento restritivo e uso competitivo do solo, sendo a possibilidade de
utilizao destes materiais cada vez mais limitada.
A busca pelos recursos naturais em locais cada vez mais distantes dos centros
produtivos vem tornando os processos industriais mais onerosos, podendo-se dizer quesomente a adoo de polticas que incentivem o reaproveitamento dos bens minerais
descartveis poder evitar a escassez destes recursos e propiciar ainda, pela reutilizao e
reciclagem dos resduos gerados, uma reduo no impacto ambiental.
O setor da construo civil est classificado, entre os diversos segmentos da
economia, como aquele que consome o maior volume de recursos naturais, sendo tambm
um dos maiores geradores de resduos slidos. No caso deste segmento produtivo, a
situao tem-se agravado, provocada pelo crescimento acentuado na edificao de novasmoradias e na construo de novos prdios comerciais e empresariais, resultante da
expanso dos centros urbanos, decorrente de fatores como o aumento populacional, o
dficit habitacional e o prprio crescimento da economia.
As fontes dos recursos naturais utilizadas na indstria da construo civil tornam-se
cada vez mais escassas e mais distantes dos centros urbanos, provocando aumento do custo
final da construo e dificuldades na utilizao destes materiais. Por outro lado, os resduos
gerados pela construo civil, quando no tratados adequadamente, podem provocar srios
-
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prejuzos ao meio ambiente, principalmente quando depositados de maneira irregular, em
reas inadequadas, muitas vezes inseridas no prprio ambiente urbano.
Estas questes que envolvem a construo civil vm sendo tratadas com mais
responsabilidade, sensibilidade e com certo nvel de conscientizao, no s pelo Poder
Pblico, mas tambm pela prpria classe empresarial, que entendem ser imprescindvel aexistncia de aes que busquem criar um ambiente sustentvel, aplicando-se conceitos de
reciclagem e reaproveitamento de rejeitos da construo civil. Tais aes trazem como
consequncia imediata a reduo do uso dos recursos naturais e do impacto ambiental, com
decrscimo direto no custo final das edificaes. Para o setor da construo civil
importante e indispensvel que seja criada uma capacidade de reciclar os resduos gerados
pela sua prpria atividade, cujo volume e maneira de deposio ainda vm causando
grandes consequncias ambientais (JOHN, 2000).Tambm cabe destacar que o reaproveitamento destes resduos possibilita a
disponibilizao no mercado consumidor de materiais de construo, de baixo custo,
facilitando, inclusive, o acesso s classes menos favorecidas, colaborando tambm para o
incremento dos postos de trabalho na rea de construo civil. Ainda no comum
encontrar, com facilidade, no mercado, esses materiais de construo alternativos, fruto de
um processo de reaproveitamento de resduos da construo. Porm, observa-se certa
tendncia adoo de medidas que buscam uma construo sustentvel, que visam, acima
de tudo, a preservao do meio ambiente atravs da utilizao macia de materiais
reaproveitados e reciclados.
A Resoluo No. 307, editada em 05/07/2002 pelo Conselho Nacional de Meio
Ambiente CONAMA, estabeleceu diretrizes, critrios e procedimentos a serem adotados
com vista a implementar uma poltica de gesto de resduos da construo civil - RCC nos
centros urbanos, buscando reduzir o impacto ambiental provocado pela deposio irregular
dos resduos gerados.
Esta norma legal prev a elaborao e implantao, por parte dos municpios
brasileiros, dos Planos Integrados de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil,
voltados, neste caso, aos pequenos geradores de resduos. No caso dos grandes geradores
de resduos da construo civil, as construtoras e incorporadoras, por exemplo, a referida
Resoluo imps a necessidade de incluso de Projetos de Gerenciamento de Resduos de
Construo Civil nos projetos de grandes obras a serem submetidas aprovao ou
licenciamento por rgos estatais, proibindo no s a deposio irregular dos resduos
gerados, mas tambm, transferindo ao gerador destes resduos a obrigao de transport-lo
da obra at o ponto de coleta determinado pelo Poder Pblico.
-
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Normas complementares tambm veiram melhor definir o assunto, regulamentando
os processos de reaproveitamento destes resduos, como no caso das Normas ABNT
NBR 10.004/2002, ABNT NBR 12.980/2004, ABNT NBR 15.112/2004, ABNT
NBR 15.113/2004 e ABNT NBR 15.114/2004, esta ltima regulamentando o tratamento
dos RCC em funo da prpria Resoluo CONAMA No. 307/2002, tratando demecanismos de controle e triagem de resduos, rea de armazenamento, controle de
registro de operaes, controle de transporte, localizao dos aterros e a prpria
classificao dos resduos.
Diante deste cenrio, no bastava apenas Edilidade disponibilizar uma rea
especial ou aterro sanitrio para a deposio controlada dos RCC. Esta soluo simplria
apresenta srias limitaes em relao ao custo de manuteno e a possibilidade de
ocorrncias de riscos ambientais, levando-se em considerao que a crescente produodeste tipo de resduo leva a uma rpida saturao da rea destinada deposio, com
necessidade de criao de novos espaos, comprometendo, assim, a paisagem urbana e
trazendo srios riscos ao meio ambiente. A linha adotada pelos ambientalistas a que
fomenta a reciclagem e reutilizao de resduos, em contraposio com o sistema de
descarte ou acomodao em reas do solo, que apenas protela a soluo do problema.
A soluo mais adequada, portanto, o reaproveitamento do entulho, atravs da
usina de beneficiamento, que pode produzir um agregado, reutilizado pela prpria
construo civil. Este tipo de usina tem sido implantada no pas nos ltimos anos,
objetivando otimizar o processo de reutilizao dos resduos da construo civil, reduzindo
a necessidade de criao de novos aterros sanitrios e, por conseguinte, reduzindo tambm
o impacto ambiental (MIRANDA et al. 2009).
Dentro destes princpios, a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa PMJP, capital do
estado da Paraba, instituiu o Sistemas de Gesto Sustentvel de Resduos da Construo
Civil e Demolio e o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil,
atravs da Lei Municipal No. 11.176/2007, criando tambm as condies legais para
implantao da Usina de Beneficiamento de Resduos da Construo Civil do municpio.
Criada no ano de 2007, com inicio de operao em 2008, a Usina de
Beneficiamento de Resduos da Construo USIBEN tem capacidade de processamento
de 20 toneladas/hora de RCC, considerada uma usina de porte mdio, tipo fixa, de primeira
gerao, localizada no bairro residencial de Jos Amrico. Todo material reciclado
(agregado) utilizado pela prpria Prefeitura Municipal, mantenedora da Usina,
produzindo, entre outros, os seguintes produtos reciclados: bica corrida, pedrisco, brita e
pedra racho.
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importante esclarecer que, desde sua criao, no foi encontrado estudos mais
apurados objetivando avaliar a viabilidade econmica deste empreendimento, o tempo de
retorno do investimento aplicado e at a possibilidade de, melhorando a qualidade do
agregado produzido, aumentar o valor final deste produto, com incremento das margens de
um possvel lucro.O estudo aqui proposto j se justifica, inicialmente, pelo fato de que, no Brasil,
algumas usinas, principalmente mantidas pelo Poder Pblico, esto sendo desativadas, por
m administrao, provocada por mudana de gesto e dificuldades na manuteno e
operao da usina, isto por falta de pessoal tecnicamente preparado ou retardo na obteno
de verbas para a compra de peas de reposio (MIRANDA et al. 2009). Portanto,
conhecendo-se a realidade econmico-financeira da USIBEN podem ser envidados
esforos no sentido de torn-la cada vez mais produtiva e, por conseguinte, comfuncionamento permanente, evitando que, pelo sucateamento dos seus equipamentos,
chegue-se desativao da Usina, com prejuzos inestimveis ao meio ambiente.
11..11..OOBBJJEETTIIVVOOSS
11..11..11..OOBBJJEETTIIVVOOGGEERRAALL
Estudar o desempenho operacional e a viabilidade econmica da Usina de
Beneficiamento de Resduos da Construo Civil USIBEN, localizada na cidade
de Joo Pessoa, estado da Paraba.
11..11..22..OOBBJJEETTIIVVOOSSEESSPPEECCFFIICCOOSS
Levantar o volume mdio produzido de RCC, destinado USIBEN, em um
determinado perodo, na cidade de Joo Pessoa, estado da Paraba; Analisar o desempenho operacional da USIBEN, verificando seu dimensionamento
s necessidades de uma cidade de porte mdio;
Levantar todos os custos de produo da USIBEN, encontrando o custo final de
produo do agregado produzido;
Determinar a viabilidade econmica do processo de reciclagem de RCC
operacionalizado pela USIBEN.
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11..22..JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA
No se pode defender a reciclagem apenas amparando-se em aspectos referentes
preservao ambiental, enaltecendo os ganhos ambientais e educacionais que proporciona.
preciso justificar a reciclagem como uma atividade produtiva, que gera emprego e renda,
e que deve ser lucrativa economicamente. Sobre este ltimo aspecto, a reciclagem tende a
ser mais aceita e os projetos, cingindo-se nesta direo, tornam-se mais atrativos classe
empresarial.
Existem estudos nesta linha, mostrando a plena viabilidade econmica da
reciclagem do lixo domiciliar (LUCENA, 2004;CALDERONI, 2003) e, havendo usinas,
hoje j implantadas e em funcionamento em muitas cidades brasileira, que so
empreendimentos plenamente lucrativos do ponto de vista econmico-financeiro. A mesma
situao tambm deve acontecer com os RCC, onde a reciclagem possvel, como j
acontece, desde que o resduo seja processado e gere um produto final, fruto desta
reciclagem, que deve ser competitivo, em preo e qualidade, com o seu concorrente
natural, produzido a partir da extrao do insumo.
Assim, a existncia de uma Usina de Reciclagem de Resduos da Construo Civil
na capital do Estado deve tambm ter como justificativa o carter economicamente
lucrativo do empreendimento, aliado, evidentemente, aos benefcios ambientais
decorrentes da sua existncia.
Atravs deste estudo tornar-se- possvel determinar se o empreendimento vivel
do ponto de vista econmico-financeiro. Destaca-se esta condio como quase
fundamental para sua permanncia, pois sendo o empreendimento vivel financeiramente,
seus custos de operao e, principalmente, manuteno, podem ser cobertos com recursos
financeiros gerados pela comercializao, de alguma forma, do agregado produzido. Ainda
que todo seu agregado produzido seja consumido pela prpria Edilidade, a determinaoda viabilidade financeira do empreendimento se justifica pela economia de recursos
pblicos advindo da substituio dos insumos naturais, normalmente adquiridos no
mercado interno, pelo agregado produzido pela prpria Usina.
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22..RReevviissooddaaLLiitteerraattuurraa
Desde os primrdios da civilizao o homem, vivendo em pequenos aglomerados,
j gerava lixo. Neste caso, os resduos slidos produzidos no agrediam o meio ambiente,
pois eram produzidos em pequenas quantidades e tratava-se de material de origem orgnica
biodegradvel, proveniente principalmente de restos de alimentao e de dejetos humanos.
Com o passar do tempo, surgiu a formao de pequenos ncleos urbanos,
provocando a elevao da quantidade de resduos slidos, constituindo-se j em uma
preocupao a forma de destinao destes resduos, normalmente transportados para locais
afastados dos povoados, sem qualquer tratamento. Iniciava-se, ainda de maneira
desordenada e incipiente, um processo de gesto do lixo urbano, naturalmente semqualquer preocupao com o meio ambiente. O procedimento de coleta do lixo urbano se
constitua unicamente na deposio destes resduos da atividade humana em depsitos a
cu aberto chamados de lixes, forma esta que persiste, ainda em muitos lugares, at os
dias de hoje.
Assim, inexistindo legislao especfica sobre o assunto at antes da promulgao
da Lei n. 12.305 de 2 de agosto de 2010, os lixes passaram a ser depsitos de lixo
urbano, sem qualquer separao prvia dos materiais recolhidos e sem qualquer tratamentodevido, constituindo-se em foco de proliferao de vetores transmissores de doenas e
fonte de poluio ambiental.
A Lei anteriormente referenciada previu a desativao dos lixes em todos os
municpios brasileiros no prazo mximo de quatro anos, condicionando a existncia de um
Plano Municipal de Gesto Integrada de Resduos Slidos, sem o qual a Edilidade no tem
acesso a qualquer tipo de financiamento pblico.
Nos tempos atuais, o aumento populacional aliado mudana de hbito dapopulao e ao surgimento de novos materiais no mercado levaram a uma alterao
significativa na quantidade e composio dos resduos slidos urbanos. Ocorre que esta
variao vem, crescentemente, substituindo a participao orgnica na composio destes
resduos por materiais no biodegradveis, que causam grande impacto ao meio ambiente.
Os resduos slidos urbanos tem grande variao na sua composio em funo da
sua fonte produtora, sendo classificado em relao a sua origem ou natureza, entre outras,
como: domiciliar, comercial, industrial, rea de sade, agrcola, limpeza pblica,
matadouros de animais, estbulos e construo civil.
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No Brasil, a classificao dos resduos slidos foi elaborada em 1987, revisada em
2004, sendo a reviso baseada no Regulamento Tcnico Federal dos Estados Unidos da
Amrica, denominado Code of Federal Regulation, atualizando a Norma Brasileira que
tratava do assunto. Assim, a NBR 10.004/2004 definiu Resduos Slidos como sendo
aqueles resduos nos estados slido e semi-slido que resultam de atividades dacomunidade de origem: industrial, domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de servios e
de varrio. Incluiu, tambm, nesta definio os lodos provenientes de sistemas de
tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de
poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu
lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos de gua ou exijam para isso solues
tcnica e economicamente inviveis, em face melhor tecnologia disponvel.
Ainda a NBR 10.004/2004 caracterizou e classificou os resduos slidos em classes,em funo do nvel de risco que podem oferecer ao ser humano e natureza (GADELHA,
2010):
o CCllaassssee II ((PPeerriiggoossooss)): levando-se em considerao suas caractersticas de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem
apresentar riscos sade pblica e ao meio ambiente, quando manuseados ou
dispostos de forma inadequada;
o CCllaassssee IIII ((NNoo IInneerrtteess)): so resduos no classificados como perigosos ou
inertes, incluindo-se nesta classificao os resduos orgnicos em geral, como
restos de alimentos;
o CCllaasssseeIIIIII((IInneerrtteess)): so aqueles resduos que no apresentam periculosidade ao
homem e ao meio ambiente, inserindo-se neste grupo, os minerais e minrios
como, areia, pedra e ferro, entre outros.
A mesma Norma ainda apresenta, em forma de listas, relao dos resduos slidos
perigosos e das substncias que podem conferir periculosidade a estes resduos, estando
relacionadas e classificadas em Anexos que so partes integrantes da NBR 10.004/2004.
O crescimento demogrfico, a carncia de habitao e a urbanizao dos grandes
centros urbanos tm modificado a composio dos resduos slidos urbanos, trazendo uma
participao cada vez maior do RCC na composio geral destes resduos.
A participao do entulho da construo e demolio no resduo slido urbano
depende de uma srie de fatores, destacando-se o nvel de desenvolvimento da indstria da
construo civil e o volume de obras em andamento. Em alguns pases, estes ndices tm
certa variao, destacando-se a Holanda (26%), a Austrlia (30%), os Estados Unidos
(29%) e a Alemanha (19%), que possuem ndices relativamente baixos quando comparados
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com algumas capitais brasileiras, onde este percentual chega a ser superior a 50% (PINTO,
1999).
Diante deste cenrio, muitos pases, tomando conscincia da necessidade de
mudana no tratamento dos resduos slidos gerados principalmente pela populao
urbana, resolveram mudar sua legislao determinando responsabilidades prpriasociedade quanto forma de manuseio e tratamento do lixo gerado, transferindo
responsabilidades ao produtor dos resduos slidos, principalmente em se tratando de
resduos slidos oriundo da construo civil.
O Brasil tambm procurou se adequar nova realidade, tendo como marco a edio
da Resoluo CONAMA N. 307/02, de 05 de julho de 2002, a qual estabeleceu diretrizes,
critrios e procedimentos para a gesto dos resduos da construo civil. A partir da edio
desta norma, os municpios brasileiros tiveram que adequar seus procedimentos quanto gesto dos resduos slidos urbanos, objetivando reduzir o impacto sobre a natureza.
Assim, pode-se afirmar que os resduos slidos constituem um campo de ao do
saneamento ambiental com interfaces com a sade, o meio ambiente e demais
componentes do saneamento. Tudo isto deve ser compreendido como uma rede de
interaes que envolve aspectos sociais, tcnicos, administrativos, operacionais, jurdicos,
econmicos e financeiros. Para o xito destas atividades extremamente importante o
entendimento da co-responsabilidade na cadeia de resduos (ZANTA et. al., 2008).
Poder Pblico, iniciativa privada, populao esclarecida, geradores de resduos
urbanos, principalmente da construo civil devem ser partcipes de aes que objetivem
minimizar o desperdcio, fomentar a reciclagem e incentivar o reaproveitamento de
resduos, reduzindo, por conseguinte, o impacto ambiental.
22..11..RREESSDDUUOOSSPPRROODDUUZZIIDDOOSSPPEELLAACCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILL
Em geral, os processos produtivos geram perdas, que podem englobar ocorrncias
consideradas estveis e instveis. Tambm, durante um processo, podem ocorrer
desperdcios, que, conceitualmente, diferem de perdas por ter existido em funo de causas
ou fatores plenamente evitveis. Os desperdcios podem ser eliminados; as perdas podem
ser apenas minimizadas, pois fazem parte integrante do processo produtivo.
Quando as perdas so geradas por materiais que acabam permanecendo no produto
acabado diz-se que estas so de natureza oculta. Porm, quando as perdas se caracterizam
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pela gerao de resduos, como o caso da construo civil, diz-se que estas tm natureza
aparente (SOILBELMAN, 1993 apudJADOVSKI, 2005).
Na indstria da construo civil ocorre uma elevada perda de material, de natureza
aparente, chamada de Resduos da Construo Civil RCC, Resduos da Construo e
Demolio RCD ou mais comumente de Entulho. A gerao deste material estrelacionada a diversas fases do processo produtivo, ou seja, na concepo, na execuo e
na prpria utilizao. Durante a etapa de execuo da edificao as perdas tornam-se mais
evidentes, pelo fato de que o planejado ganha dimenses fsicas, implicando em aes que
resultam em construes e, no raramente, demolies, sendo a fase que mais gera
entulhos durante a obra (JOHN, 2000).
Conforme KARPINSKY (2009), de acordo com a natureza, perdas e desperdcios,
na indstria da construo civil, podem ocorrer pelos seguintes fatores:o SSuuppeerrpprroodduuoo: decorrentes da produo de quantidades superiores s
necessrias execuo do servio, como, por exemplo, produo excessiva de
argamassa, superior necessria para um dia de trabalho e excesso de espessura
dos rebocos das paredes;
o EEssppeerraa: relacionadas com a m sincronizao do fluxo de materiais e as
atividades dos trabalhadores, tendo como exemplo, constantes interrupes dos
servios provocadas pela falta de material ou equipamentos disponveis naquele
momento, necessrios execuo do servio;
o TTrraannssppoorrttee: provocadas pelo manuseio inadequado dos materiais e dificuldade
de deslocamento destes da origem ao local da obra, como por exemplo, tempo
excessivo despendido no transporte em virtude de grandes distncias entre os
estoques a obra, alm da quebra de materiais pelo manuseio inadequado;
o PPrroocceessssaammeennttoo: inerentes s atividades do processo ou da sua execuo
inadequada, normalmente decorrentes da falta de utilizao de procedimentos
padronizados e adequados, mtodos de trabalho e carncia de mo de obra
especializada;
o EEssttooqquueess: associadas existncia de estoques excessivos, em virtude da
programao inadequada na entrega e condicionamento dos materiais, gerando
situaes de falta de espaos adequados para a deposio, como tambm, so
provocadas pela falta de cuidados no prprio armazenamento dos materiais,
resultando em custo financeiro elevado e deteriorao de produtos, muitas vezes
com prazo de validade reduzidos;
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o MMoovviimmeennttaaoo: decorrem da realizao de movimentao excessivas e
desnecessrias, por parte dos trabalhadores, durante a execuo das atividades
laborativas, sendo normalmente causadas por frentes de trabalho afastadas e de
difcil acesso e falta de estudo mais adequado do layout do canteiro de obras e
dos postos de trabalho;o PPrroodduuttooss ddeeffeeiittuuoossooss: provocadas pela fabricao de produtos, a serem
utilizados na obra, que no atendem aos requisitos de qualidade especificados
ou originalmente produzidos com defeito, provocando retrabalho e reduo da
qualidade final da obra, tendo como exemplos, falhas de impermeabilizao e
pinturas e descolamento de azulejos e cermicas.
Entre os fatores relacionados anteriormente, estoque, processamento transporte e
produtos defeituosos contribuem para a gerao de resduos de construo civil. A formade conduo da obra pode influenciar na quantidade de entulho gerado. LLATAS (2011)
destaca que, entre os fatores de gerao de RCC em uma obra, a qualidade do projeto o
que tem maior influncia na quantidade de entulho gerada. Nesta mesma linha de
pensamento, LIMA et al. (2009) esclarece que os problemas de projetos esto relacionados
com a falta de definies e de detalhamentos satisfatrios, falta de preciso nos memoriais
descritivos, baixa qualidade dos materiais adotados, baixa qualificao da mo de obra,
manejo, transporte e armazenamento inadequados dos materiais, falta ou ineficincia dos
mecanismos de controle durante a execuo da obra, escolha inadequada da tcnica de
demolio, alm da falta de processos de reutilizao e reciclagem no canteiro da obra.
A TTaabbeellaa0011, a seguir, mostra as perdas medianas de alguns materiais utilizados na
construo civil, relatados por diversos pesquisadores.
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TTaabbeellaa0011::PPeerrddaassddeeMMaatteerriiaaiissddeeCCoonnssttrruuoo
MATERIAS DE
CONSTRUO
PERDAS DE MATERIAIS CONSTRUTIVOS (%)
AGOPYAN(1) ESPINELLI(2) PINTO(3) SOILBELMAN(4) SOUZA(5)
AAoo 11 11 26 19 11
AArreeiiaa -- -- 39 44 44
AArrggaammaassssaaIInntteerrnnaa 102 -- -- -- --AArrggaammaassssaaEExxtteerrnnaa 53 -- -- -- --
BBllooccoosseeTTiijjoollooss 13 13 13 32 13
CCaall -- -- 102 -- 36
CCiimmeennttoo -- -- 33 83 56
CCoonndduuttoorreess -- 27 -- -- --
CCoonnccrreettoo 9 9 1 13 9
EElleettrroodduuttooss -- 15 -- -- --
GGeessssoo -- 30 -- -- --
PPllaaccaassCCeerrmmiiccaass -- 14 -- -- --
RReevveessttiimmeennttooTTxxttiill -- 14 -- -- --TTiinnttaass -- 17 -- -- --
TTuubboossPPrreeddiiaaiiss -- 15 -- -- --
(1) AGOPYAN, 2003. (2) ESPINELLI, 2005. (3) PINTO, 1989. (4) SOILBELMAN, 1993 apudPINTO, 1999.
(5) SOUZA, 1998 apudPINTO, 1999.
A gesto moderna de obra de construo civil tem buscado reduzir estes ndices de
perdas, como forma de contribuir para a reduo do custo final do empreendimento e,
como decorrncia, reduzir tambm o impacto ambiental. Este desiderato somente
conseguido atravs da melhoria da qualidade das construes associada elaborao deprojetos flexveis que permitem adequaes no decorrer do processo sem causar maiores
perdas ou desperdcios.
22..11..11..DDEEFFIINNIIOODDEERREESSDDUUOOSSDDAACCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILL
Os resduos da construo so materiais oriundos de obras de construo civil.Neste contexto, incluem-se os entulhos produzidos pelas novas edificaes, demolies e
reformas de prdios existentes, alm dos materiais provenientes de servios de
terraplenagem e escavaes de terrenos.
A Resoluo CONAMA N. 307/02, editada em 05/07/2002, definiu resduos da
construo civil como sendo aqueles provenientes de construes, reformas, reparos e
demolies de obras de construo civil, e os resultantes da preparao e da escavao de
terrenos, tais como: tijolos, blocos cermicos, concreto em geral, solos, rochas, metais,
resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento
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asfltico, vidros, plsticos, tubulaes, fiao eltrica etc., comumente chamados de
entulhos de obras, calia ou metralha (BRASIL, 2002).
Trata-se de um dispositivo legal que definiu de maneira bastante completa os RCC,
sendo, portanto, esta definio a adotada neste trabalho. Alguns autores tambm costumam
utilizar, como sinnimos, Resduos da Construo e Demolio RCD e, menoscomumente, Entulho.
Os RCC tem sua composio extremamente heterognea, dependente da fonte que
os originou. Aqueles originrios de reforma ou ampliao, em geral tm uma
predominncia de frao mineral, pela elevada presena de blocos de concreto frutos do
processo de demolio (PINTO, 1999).
A heterogeneidade caracterstica deste tipo de resduo leva a uma composio de
um material normalmente com excelente potencial de reciclagem e reaproveitamento. Soencontrados, dentre outros, os seguintes materiais construtivos compondo os resduos da
construo civil (CARNEIRO et al., 2001):
o ccoonnccrreettoo,,aarrggaammaassssaaeerroocchhaass - apresentam elevado potencial de reciclagem;
o bbllooccooss,, ttiijjoollooss ee cceerrmmiiccaass - possuem potencial de utilizao, sem necessitar de
processo sofisticado de tratamento;
o aarreeiiaaeeaarrggiillaa - podem ser separados dos demais materiais atravs de um processo
de peneiramento;
o aassffaallttoo - material com elevado potencial de reutilizao em obras virias;
o mmeettaaiissffeerrrroossooss possibilidade de reciclagem pelo setor de metalurgia;
o mmaaddeeiirraa - material parcialmente reciclvel;
o ppllssttiiccoo,,bboorrrraacchhaa,,ppaappeell,,ppaappeelloo,,ggeessssooeeoouuttrroossmmaatteerriiaaiisssseemmeellhhaanntteess quando
separados, podem ser encaminhados a processos de reciclagem e
reaproveitamento, dependo, naturalmente, do seu estado.
Os resduos da construo civil apresentam-se compostos por muitos fragmentos de
materiais diferentes e com certa diversidade de tamanho, sendo considerados pela NBR
10.004/2002 como resduos inertes, prprio para reciclagem. Porm, dependendo da
origem, este tipo de entulho pode ser classificado diferentemente, desde que seja
constatada, por exemplo, na amostra, a presena de materiais periculosos ou de alta
toxidade.
A quantidade e composio dos resduos da construo civil afetada por fatores os
mais diversos, tais como (CARNEIRO et al. 2001):
o nvel de desenvolvimento da indstria de construo, que, atravs do uso de
tcnicas mais adequadas de construo e demolio, da adoo de programas de
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qualidade e de processos de reciclagem e reutilizao de materiais construtivos
na prpria obra, consegue reduzir consideravelmente o entulho gerado;
o utilizao de materiais predominantes disponveis na regio;
o realizao de obras especiais de engenharia, que provocam a gerao de
resduos com caractersticas diferentes do comumente existentes na regio.Pelo exposto, pode-se concluir que os resduos oriundos da indstria da construo
civil apresentam-se com caractersticas muito especiais e peculiares, existindo certa
diversidade de matrias-primas, tcnicas e metodologias, comumente empregadas na
construo civil, que influem, de maneira bastante significativa, as caractersticas dos
resduos gerados, notadamente no tocante composio e quantidade gerada.
Estes resduos, normalmente oriundos de construes de novas edificaes e
demolies de prdios existentes, tambm podem ser gerados por lamentveis desastresnaturais, como terremotos, furaces, enchentes, por falhas tecnolgicas indesejveis, como
incndios prediais, ou ainda, por falhas estruturais inconcebveis, como no caso de fissuras
de estrutura de concreto com consequente queda da edificao.
Alm dos diversos fatores abordados anteriormente, responsveis pelas diferenasna composio dos RCC em uma determinada regio, o tipo de obra tem grande influnciaem sua composio, como pode ser observado nos dados mostrados na TTaabbeellaa0022 (LEVY,2001).
TTaabbeellaa0022::CCoommppoonneenntteessddoossrreessdduuoosseemmffuunnooddoottiippooddeeoobbrraa((%%))
COMPONENTES
PRESENTES (*)
TIPO DE OBRA GERADORA DOS RESDUOS
TRABALHOS
RODOVIRIOSESCAVAES DEMOLIES
OBRAS
DIVERSAS
SOBRAS DE
LIMPEZA
AAssffaallttoo 23,47 0,00 1,61 0,00 0,13
CCoonnccrreettooSSiimmpplleess 46,38 3,16 20,00 8,03 9,26
CCoonnccrreettooAArrmmaaddoo 1,61 2,96 33,10 8,31 8,25
PPooeeiirraa,,SSoollooeeLLaammaa 16,75 48,91 11,91 16,09 30,54
PPeeddrraaBBrriittaaddaa 7,07 31,10 6,82 7,76 9,73
CCaassccaallhhoo 0,00 1,43 4,60 15,25 14,13
MMaaddeeiirraa 0,10 1,07 7,14 18,22 10,53
BBaammbbuu 0,00 0,03 0,30 0,05 0,29
BBllooccoossddeeCCoonnccrreettoo 0,00 0,00 1,16 1,12 0,90
TTiijjoolloossMMaacciiooss 0,00 0,31 6,33 11,94 5,00
VViiddrrooss 0,00 0,00 0,20 0,35 0,56
TTuubboossPPllssttiiccooss 0,00 0,00 0,60 0,35 1,13
AArreeiiaa 4,62 9,58 1,43 3,24 1,69
rrvvoorreess 0,00 0,00 0,00 0,01 0,12
CCoonndduuttoorreess 0,00 0,00 0,04 0,01 0,03
RReettaallhhoossddeeTTeecciiddooss 0,00 0,00 0,07 0,13 0,23
MMeettaaiiss 0,00 0,47 3,40 6,08 4,36
(Fonte: Hong Kong Polytechnic, 1993 apudLEVY, 2001)
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Alm do tipo de obra, a localizao tem fundamental importncia na composio
dos resduos gerados, em funo dos materiais usados nas construes prediais situadas nas
regies geradoras. Dentro deste aspecto, a madeira um elemento bastante presente nas
edificaes americanas e japonesas, enquanto que no Brasil este material construtivo no
frequentemente utilizado (PINTO, 1999). Na Holanda, a participao de restos de alvenariae concreto na composio dos resduos da construo civil chega a quase 90%, sendo o
restante composto por materiais heterogneos como madeira, plstico e metais comuns
(HENDRICKS et al. 2001).
Os RCC no Brasil apresentam uma composio heterognea, composta
predominantemente de argamassa, concreto armado, alvenaria, cermica, ao e plsticos,
tendo crescido a presena do gesso nesta composio. Os entulhos gerados nos Estados
Unidos e em parte da Europa tm semelhana com o brasileiro, tendo sido constatadotambm o acrscimo considervel da presena do gesso (PINTO, 1999).
A anlise da composio dos resduos slidos oriundos da construo civil no
Brasil, em Hong Kong e na Blgica resulta na constatao da presena elevada de
materiais de origem mineral, como argamassa, concreto e cermica (PINTO, 1999),
levando-se concluso que tais entulhos so adequados a serem reciclados ou
reaproveitados, atravs da produo de agregados que podem ser utilizados na prpria
indstria da construo civil.
A indstria de materiais de construo, como fbricas de cimento, olarias, fbricas
de cermicas e porcelanatos, por exemplo, tambm gera desperdcios, fruto da
manipulao inadequada do produto final. Este tipo de material inservvel
comercializao, como pedaos de cermica e de tijolos alm de cimento provenientes de
sacos rasgados na rea de estocagem, no so considerados como entulhos ou resduos da
construo civil, mas sim, como resduos industriais.
Assim, so considerados resduos da construo civil apenas entulhos gerados na
edificao de obras e servios de engenharia e na demolio de edificaes existentes,
gerando entulhos sempre constitudos de materiais similares, porm, diversificados, no tipo
e no tamanho, constituindo-se, majoritariamente, por parcelas ou fraes plenamente
reciclveis.
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22..11..22..CCLLAASSSSIIFFIICCAAOO EE GGEERRAAOO DDEE RREESSDDUUOOSS DDAA CCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILL
A composio dos RCC apresenta uma dependncia direta das caractersticas e
peculiaridades de cada localidade ou regio. Esta variao na composio ocorre em
funo da geologia, morfologia, disponibilidade dos materiais de construo e dodesenvolvimento tecnolgico, alm de outros elementos de influncia na composio
destes resduos. Esta grande heterogeneidade na composio dos resduos fez com que o
CONAMA editasse a Resoluo n. 307/2002, que, entre outras determinaes, estabeleceu
uma classificao especfica para este tipo de resduo urbano. Posteriormente, a
Resolues CONAMA n. 348/2004 e 431/2011 alteraram algumas definies utilizadas na
Resoluo CONAMA n. 307/2002.
Basicamente, os RCC esto, assim, classificados em quatro classes (A D), onde altima ficou reservada aos materiais que oferecem risco sade humana e so mais
agressivos ao meio ambiente. A Tabela 03, a seguir, contem as definies utilizadas nas
citadas Resolues, alm de apresentar exemplos de materiais para cada Classe definida.
TTaabbeellaa0033::CCllaassssiiffiiccaaooddoossrreessdduuoossddaaccoonnssttrruuoocciivviill((**))
CLASSE DEFINIO EXEMPLOS DESTINAES
CCllaasssseeAAResduos reutilizveis oureciclveis como agregados
- Resduos de pavimentao e deoutras obras de infra-estrutura,inclusive solos provenientes deterraplanagem;- Resduos de componentescermicos (tijolos, blocos, telhas,placas de revestimento etc),argamassa e concreto;- Resduos oriundos de processode fabricao e/ou demolio depeas pr-moldadas em concreto(blocos, tubos, meios-fios etc)produzidos nos canteiros de obras.
Reutilizao ou reciclagem naforma de agregados, ouencaminhada s reas de aterro deresduos da construo civil, sendodisposto de modo a permitir a suautilizao ou reciclagem futura.
CCllaasssseeBBResduos reciclveis para outrasdestinaes
- Plsticos, papel/papelo, metais,vidros, madeiras e gesso.
Reutilizao/reciclagem ouencaminhamento s reas dearmazenamento temporrio,sendo dispostos a permitir sua
utilizao ou reciclagem futura.
CCllaasssseeCC
Resduos sem tecnologiasdesenvolvidas ou aplicaeseconomicamente viveis quepermitam a reciclagem ourecuperao
- Produtos sem tecnologiadisponvel para reciclagem ourecuperao
Armazenamento, transporte edestinao final conforme normastcnicas especficas.
CCllaasssseeDDResduos perigosos oriundos doprocesso de construo
- Tintas, solventes, leos e outrosou aqueles contaminados ouprejudiciais sade oriundos dedemolies, reformas e reparos declnicas radiolgicas, instalaesindustriais e outros, bem comotelhas e demais objetos e materiaisque contenham amianto ou outros
produtos nocivos a sade..
Armazenamento, transporte,reutilizao e destinao finalconforme normas tcnicasespecficas.
(*) Resolues CONAMA n. 307/2002, 348/2004 e 431/2011.
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Como j mencionado, so muitos os fatores, classificados como perdas e
desperdcios, responsveis pela gerao dos resduos da construo, que oneram o custo
final da obra. A quantidade gerada destes resduos varia em funo do tipo de obra em
execuo, diferenciando quando se trata de reformas, novas residncias e novos prdios.
A FFIIGG--0011, mostrada a seguir, foi utilizada por PINTO (2004) para ilustrar aparticipao de cada tipo de obra na gerao de resduos slidos oriundos da construo e
da demolio de edificaes prediais, tendo tomado como base para estudos trs
municpios do estado de So Paulo.
FIG-01: Origem dos Resduos da Construo Civil Por Tipo de Servio
O percentual de maior destaque apresentado na FIG-01 confirma que as reformas
em edificaes existentes constituem-se no maior gerador de RCC, estando tal fato
diretamente associado necessidade de execuo de demolies neste tipo de servio.
Neste contexto em que a demolio rpida e a remoo dos escombros so os principais
objetivos, gera-se uma quantidade elevada de entulho composto por diversos materiais
misturados, uma vez que fatores como tempo e as tcnicas rudimentares utilizadas no
processo no permitem a separao adequada do material gerado (CARNEIRO et. al.
2001).
Considerando todos os tipos de obras da rea de construo civil, em algumascidades brasileiras atividades de canteiro de obras so responsveis pela gerao de 50%
dos resduos da construo, enquanto que as atividades de demolio e manuteno so
responsveis pela outra metade da fatia de entulhos gerados (PINTO, 1999).
Em pases da Europa Ocidental, cerca de dois teros dos resduos da construo
civil gerados so oriundos das atividades de manuteno e demolio dos edifcios (PERA,
1996 apud JADOVSKI, 2005), atribuindo-se este fato idade mdia elevada das
edificaes comuns nos pases europeus.
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Nos Estados Unidos, 48% dos resduos so oriundos das atividades de demolio,
44% so provenientes de reforma e manuteno, sendo apenas 8% provenientes de novas
edificaes, sendo que, de todo o montante de resduo gerado, 33% so provenientes de
demolies e reformas de prdios no residenciais (US-EPA, 1998).
Estes nmeros refletem a predominncia dos resduos oriundos de demolies ereformas sobre a totalidade de entulhos gerados, com diferenas de percentual em funo
principalmente do tipo de material utilizado nas construes e a idade mdia dos prdios
existentes.
Somente com a adoo de medidas que alterem os tradicionais e, de certa forma,
arcaicos mtodos utilizados na reforma de edificaes, como por exemplo, utilizando-se a
demolio seletiva, tornar-se- possvel a separao e a seleo, ainda no canteiro de obras,
dos entulhos gerados, reaproveitando parte do que foi produzido na prpria obra,reduzindo-se, assim, o volume de RCC total gerado.
Segundo PERA (1996) apud JADOVSKI(2005), igualmente como a composio
dos resduos est diretamente relacionada com a localizao da obra, tambm o volume de
entulhos gerados sofre influncia direta do local onde est situada a fonte geradora. Nos
pases localizados na Europa Ocidental, a gerao de resduos da construo civil
correspondia, em 1996, a uma quantidade que variava entre 0,7 a 1,0 tonelada por
habitante/ano, equivalente a aproximadamente duas vezes a quantidade de resduos slidos
urbanos gerados na regio.
Sidney, Melbourne e Camberra, na Austrlia, possuam uma estimativa de gerao
de resduos da construo civil, no ano de 1997, da ordem de 1,56 milhes de toneladas,
correspondendo a aproximadamente 6.000 toneladas dirias. Sem considerar os entulhos
gerados pela construo e demolio de pontes e pavimentao, os Estados Unidos
produziram, em 1996, 136 milhes de toneladas de resduos, correspondendo a
aproximadamente 1,27 kg de material gerado por habitante/dia (US-EPA, 1998).
A TTaabbeellaa 0044 mostra a gerao de resduos em pases da Unio Europia,
apresentando tambm a quantidadeper capita, por ano. No caso da Frana, Itlia, Espanha,
Portugal e Grcia, os volumes de resduos apresentados na referida Tabela no levaram em
considerao geraes de entulhos oriundas de obras de pavimentao, escavao,
tubulao de gua, gs e drenagem.
Mesmo assim, possvel constatar que pases como Alemanha, Blgica, ustria e
Dinamarca apresentam uma quantidade anual per capita de resduos consideravelmente
elevada quando comparada com outros pases, a exemplo da Sucia, Irlanda e Frana.
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TTaabbeellaa0044::GGeerraaooddeerreessdduuoosseemmppaasseessddaaUUnniiooEEuurrooppiiaa
PAISPOPULAO
APROXIMADA(x 103Habitantes)
GERAO DOSRESDUOS(x 103ton/dia)
GERAO DOSRESDUOS
(Per Capita-Kg/Ano)
AAlleemmaannhhaa 82.012 961,5 3.658
BBllggiiccaa 10.170 111,1 3.408
uussttrriiaa 8.060 84,6 3.272DDiinnaammaarrccaa 5.275 34,3 2.030
FFiinnllnnddiiaa 5.132 30,3 1.841
HHoollaannddaa 15.567 64,4 1.291
RReeiinnooUUnniiddoo 58.902 214,7 1.137
SSuucciiaa 8.844 18,9 666
IIrrllaannddaa 3.652 6,1 518
FFrraannaa 58.492 75,6 403
IIttlliiaa 57.461 64,1 348
EEssppaannhhaa 39.299 41,7 331PPoorrttuuggaall 9.934 9,6 302
GGrrcciiaa 10.487 6,4 191
[Fonte: EC. 1999 apud SANTOS, 2007]
Muitos pesquisadores tem-se debruado no estudo da quantificao dos resduos
slidos urbanos gerados nas grandes cidades brasileiras, buscando tambm quantificar a
participao dos resduos da construo civil no total de resduos produzidos.
Nesta linha de pesquisa, LEITE (2001) conseguiu reunir informaes compiladas
de diversos pesquisadores, no intuito de determinar a quantidade estimada de resduos da
construo civil gerados por habitante durante um ano, estimando, tambm a faixa de
variao deste ndice nas principais cidades brasileiras.
Aproveitando este estudo, a TTaabbeellaa 0055 apresenta uma atualizao dos dados
compilados por LEITE (2001) para o ano de 2010, inserindo-se informaes
complementares quanto participao dos resduos da construo civil no montante de
resduos slidos urbanos gerados em cada municpio estudado, tendo sido considerados
duzentos e quarentas dias teis por ano, para efeito dos clculos apresentados.
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TTaabbeellaa0055::GGeerraaooeessttiimmaaddaaddeerreessdduuoosssslliiddoossuurrbbaannoossppoorrmmuunniiccppiioo
MUNICPIOPOPULAO
APROXIMADA(*)(Habitantes)
RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL
QUANTIDADEGERADA
(ton/dia)
QUANTIDADEPER CAPITA
(kg/hab/ano)
RESDUOSSLIDOSURBANOS
(%)
SSooPPaauulloo(1) 11.316.149 13.202 280 55
SSaallvvaaddoorr 2.676.606 3.234 290 41BBeellooHHoorriizzoonnttee(3) 2.375.444 445 450 51
PPoorrttooAAlleeggrree 1.409.939 1.639 281 ----
SSaannttooAAnnddrr 673.914 1.013 361 54
SSooJJoossddoossCCaammppooss 629.921 733 281 67
RRiibbeeiirrooPPrreettoo(1) 612.339 1.812 710 70
FFlloorriiaannppoolliiss(4) 421.203 1.325 755 ----
SSooJJoossddooRRiiooPPrreettoo(1) 412.075 1.133 660 58
JJuunnddiiaa(2) 370.251 760 760 62
VViittrriiaaddaaCCoonnqquuiissttaa(2) 310.129 517 400 61
(*) IBGE, Brasil. 2010. (Fonte: Adaptao de LEITE, 2001).1-Baseado em PINTO (2005) 2-Baseado em BRITO (1999)3-Baseado em SINDUSCON-MG (2005) 4-Baseado em BERNADES (2006).
A gerao anual de resduos da construo civil nos municpios pesquisados por
outros autores, mostrada na Tabela 05, tambm muito se aproximou dos valores
encontrados por PINTO (1999), que variavam entre 230 a 760 kg/hab/ano, ficando a mdia
da Tabela igual a aproximadamente 475 kg/hab/ano.
O fato do municpio de So Paulo apresentar a menor quantidade de resduos per
capita, da ordem de 280 kg/hab/ano, deve-se ao fato de que a metodologia utilizada nesta
pesquisa levou em considerao apenas os resduos da construo que efetivamente so
gerenciados pelo Poder Pblico, correspondendo a menos de 40% do montante total gerado
(BRITO, 2004 apudKARPINSKI 2009).
A gerao de resduos da construo tambm varia de municpio para municpio,
dependendo do volume de obras existentes e de outros fatores, como o desenvolvimento
econmico e social do prprio municpio, sua localizao e a renda per capita doshabitantes. Alguns autores (SCHNEIDER, 2003 e PINTO, 1999) tendem a estimar a
gerao mdia de resduos da construo civil por habitante em torno de 500 kg/hab/ano, o
que muito tambm se aproxima da mediana encontrada na Tabela 05, com dados mais
atualizados. Municpios com maior grau de desenvolvimento e concentrao de habitantes,
incluindo as capitais dos estados, podem apresentar uma quantidade de resduos gerados
per capitaum pouco superior mdia encontrada.
Outro aspecto a considerar que os dados apresentados na Tabela 05 mostram umaelevada participao da gerao de RCC no montante total de resduos slidos urbanos,
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incluindo lixo domiciliar e industrial. Esta constatao somente confirma a estimativa
apresentada por JOHN (2000) que considera a participao do entulho da construo civil
como sendo da ordem de 70% do montante total de resduos slidos urbano. Tal situao,
portanto, contribui ainda mais para o aumento dos impactos ambientais causados por este
tipo de resduo slido, muitas vezes deixado em locais inadequados, dentro da rea urbana,em deposio irregular, com prejuzo ao meio ambiente.
As estimativas internacionais apresentadas por diversos autores mostram uma
gerao de resduos da construo civil variando entre 130 a 2.010 kg/hab/ano. A TTaabbeellaa
0066 apresenta a estimativa de gerao de resduos da construo civil em alguns pases,
destacando que estes quantitativos so frutos de diferentes metodologias adotadas,
tornando o resultado algumas vezes objeto de questionamentos quanto a sua
representatividade. Mesmo assim, este conjunto de informaes serve com parmetro decomparao com os dados, tambm estimados, existentes sobre a realidade brasileira. A
introduo da coluna designada como Estimativa Mdia objetivou facilitar a comparao
entre a gerao de cada pas, tomando-se a mdia da quantidadeper capitaanual.
TTaabbeellaa0066::GGeerraaooddeerreessdduuoossddaaccoonnssttrruuoocciivviillppoorrppaass
PAS
QUANTIDADEPER CAPITAANUALESTIMATIVA
MNIMA(kg/Hab/Ano)
ESTIMATIVAMXIMA
(kg/Hab/Ano)
ESTIMATIVAMDIA
(kg/Hab/Ano)AAlleemmaannhhaa 963 3.658 2.311
BBllggiiccaa 735 3.359 2.047
BBrraassiill 280 760 520
DDiinnaammaarrccaa 440 2.010 1.225
EEssttaaddoossUUnniiddooss 463 584 524
HHoollaannddaa 820 1.300 1.060
IIttlliiaa 600 690 645
JJaappoo 785 ---- 785
PPoorrttuuggaall 325 ---- 325
RReeiinnooUUnniiddoo 880 1.120 1.000SSuucciiaa 130 680 405
(Fonte: Adaptao de JOHN, 2000).
Considerando que a gerao mdia estimada de resduos da construo civil para o
Brasil de aproximadamente 0,5 toneladas por habitante por ano (JOHN, 2000), pode-se
tambm estimar que a quantidade gerada deste tipo de resduos slido deve estar prxima
de 90 milhes de toneladas por ano. Mais da metade deste entulho disposta
irregularmente, na grande maioria das cidades brasileiras, sendo estimado um gasto
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superior a dois milhes de reais por ms para remover parte deste entulho disposto
clandestinamente (BLUMENSCHEIN, 2007 apudEVANGELISTA et al., 2010 ).
Portanto, por ser um problema de mbito nacional, urge a adoo de medidas mais
efetivas, oriundas do Poder Pblico, com vistas promover uma melhor gesto dos resduos
slidos urbanos, principalmente nas grandes e mdias cidades, buscando a reduo dosimpactos causados ao meio ambiente e dos custos sociais, direta e indiretamente,
envolvidos neste processo.
22..11..33..IIMMPPAACCTTOODDOOSSRREESSDDUUOOSSDDAACCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILLAAOOMMEEIIOOAAMMBBIIEENNTTEE
O impacto ambiental pode ser definido como sendo qualquer alterao no meio
ambiente ou em qualquer dos seus componentes, causada por uma atividade ou ao,
normalmente produzida pelo homem. As alteraes causadas ao meio ambiente devem ser
quantificadas, pois podem apresentar aspectos diferentes: positivas ou negativas, grandes
ou pequenas, entre outros. Podem atingir a segurana e a sade dos habitantes de uma
regio, interferir nas atividades sociais e econmicas de uma populao, alterar as
condies estticas e sanitrias do meio ambiente.
A Resoluo CONAMA n. 01, de 23.01.1986, considera impacto ambientalqualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetem (BRASIL, 1986):
I a sade, a segurana e o bem-estar da populao;
II as atividades sociais e econmicas;
III a biota;
IV as condies estticas e sanitrias do meio ambiente;V a qualidade dos recursos ambientais.
Como impactos ambientais tambm so consideradas as alteraes benficas ou
malficas ao ambiente, resultantes de aes das atividades, dos produtos ou servios de
uma determinada organizao. Impacto ambiental, pois, o resultado de uma ao sobre o
ambiente, tendo como caracterstica principal um choque na operao do sistema e que, em
funo do tempo de durao, da intensidade e da abrangncia com que afeta os elementos,
pode por em risco a prpria vida do sistema (ABNT-ISO 14001, 1996).
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A construo civil contribui com uma parcela elevada no processo de agresso ao
meio ambiente. uma das poucas atividades que est presente em todas as regies do
planeta ocupadas pelo homem, seja nos centros urbanos, no campo ou at mesmo,
rudimentarmente, nos povos que habitam as florestas, sendo seu impacto ambiental
diretamente proporcional a sua tarefa social (JOHN, 2000).O impacto ambiental oriundo da indstria da construo civil advm do consumo
de energia para a produo de materiais construtivos, da matria-prima utilizada e, por fim,
da prpria gerao de resduos da construo.
A produo de materiais consome elevada quantidade de energia, devendo-se levar
em considerao alguns aspectos como volume de produo, distncia do plo gerador ao
plo consumidor e o meio de transporte. Em muitos pases, como na Inglaterra, o
transporte e a produo de materiais destinados indstria da construo civil consomemaproximadamente 10% do toda a energia disponvel no pas. Estima-se que toda a cadeia
produtiva da indstria da construo civil chegue a consumir de 20 a 50% de todos os
recursos naturais disponveis, renovveis ou no renovveis (JOHN, 2000).
A extrao da matria-prima para uso direto ou processado na construo civil
causa srio impacto ao meio ambiente. A produo anual mundial de cimento j
ultrapassou a marca de 1,5 bilhes de toneladas enquanto que, no Brasil, o consumo de
agregado para a construo civil j ultrapassou, em 2010, a marca de 350 milhes de
metros cbicos (SNIC, 2011). A extrao de minrios e o respectivo processamento deste
material natural, na produo de agregados para a construo civil, constituem-se em
elementos de destaque na deteriorao do meio ambiente, resultando em desmatamento,
eroso do solo e a poluio do ar e da gua.
A quantidade de entulho gerado em uma obra, fruto do desperdcio e das perdas,
est muito diretamente ligada forma como as edificaes so administradas, havendo
obras que geram mais entulhos e outras que geram bem menos. Estima-se que, em mdia,
10% de todo o material adquirido para uma obra transforme-se em resduo da construo
(ZANTA et al. 2008). Este volume torna-se mais significativo em servios de reformas,
onde a demolio gera quantidade expressiva de resduos.
O incremento do processo de urbanizao tem contribudo para o aumento na
produo de resduos da construo civil nos centros urbanos, deixando-os mostra,
normalmente em reas abertas, sem qualquer controle, provocando uma deposio
irregular destes resduos. Tais depsitos a cu aberto, em terrenos baldios, proliferam-se na
maioria das cidades brasileiras, ocasionados principalmente pela deposio de entulhos
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oriundos de pequenos geradores, fruto de reformas e pequenas construes, muitas vezes
informais.
Os depsitos irregulares tem incio com a deposio de resduos da construo
aparentemente inertes, sem qualquer odor, em pequeno volume, at com aquiescncia, na
maioria das vezes, da vizinhana, que logo vem a rea transformar-se no s em umgrande sorvedouro de resduos da construo civil, mas tambm, passa a atrair a captao
de outros tipos de resduos urbanos (PINTO, 2001).
A partir do surgimento destes depsitos irregulares, a populao circunvizinha
aciona o rgo pblico responsvel pela limpeza urbana, reivindicando a retirada dos
materiais depositados indevidamente na rea. Como a populao volta a utilizar o mesmo
espao como depsito de resduos, acaba transformando o local em um depsito de
resduos urbanos extra-oficial, causando incalculveis danos ao meio ambiente. Cria-se, apartir desta situao, o que PINTO (2001) denominou de ggeessttoo ccoorrrreettiivvaa, que, sem
qualquer planejamento adequado, provoca a proliferao destes espaos no ambiente
urbano, sendo comum em muitos municpios brasileiros, predominando em bairros
habitados por populao de mais baixa renda.
So muitos os problemas relevantes, ambientais e sociais, causados pela deposio
irregular destes resduos da construo, destacando-se a contaminao de rios, lagos e
riachos, inclusive lenis freticos, entupimento de galerias pluviais, favorecimento
proliferao de vetores e de doenas, prejuzo ao trfego de veculos e pedestres, incentivo
ao indisciplinada de coletores de resduos urbanos, mudana da paisagem urbana e
gastos pblicos com remoo dos detritos e limpeza das reas afetadas (CASSA, 2001).
Para pequenos geradores, tem-se como mais adequada a disponibilizao, pelo
Poder Pblico, de rea de deposio temporria, chamadas de ecopontos, localizadas
estrategicamente nos bairros. No caso dos grandes geradores, a soluo passa pela
instalao de usina de reciclagem de resduos da construo, que, alm de receber os
resduos trazidos por estes grandes geradores, tambm processa os entulhos depositados
nos ecopontos, transportados para a usina pelo Poder Pblico, resolvendo, assim, o
problema da deposio irregular, to indesejada.
As aes que buscam o desenvolvimento sustentvel tem como ponto principal a
reduo do consumo de matrias-primas no renovveis, conseguida atravs da gerao de
novos produtos a partir do processamento de resduos oriundos dos diversos setores
produtivos. No caso da construo civil, as usinas de beneficiamento dos RCC constituem-
se no elemento fundamental e indispensvel para o fechamento do ciclo produtivo, gerando
novos produtos, que devem ter uso economicamente interessante prpria indstria da
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construo, provocando, com sua utilizao, no somente uma reduo no custo total da
edificao, mas, principalmente, reduzindo a agresso ao meio ambiente provocada pela
deposio irregular de entulhos na rea urbana das cidades brasileiras.
22..22..UUSSIINNAA DDEE BBEENNEEFFIICCIIAAMMEENNTTOO DDOOSS RREESSDDUUOOSS DDAA CCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILL
A existncia de uma maior conscientizao de boa parte da populao mundial,
principalmente dos formadores de opinio e governantes, no sentido de que as aes de
preservao do meio ambiente devam ser mais eficazes levou a edio de normas e leis que
regulamentam a vida urbana, preservando reas verdes e determinando procedimentos de
preservao ambiental a serem adotados por entidades pblicas e pela prpria iniciativa
privada. Foram definidas responsabilidades, estabeleceram-se padres a serem adotados e
determinaram-se metas a serem alcanadas, tudo com objetivo de reduzir o impacto
ambiental provocado pelo crescimento dos aglomerados urbanos.
Nesta linha de ao, a legislao atinente ao tratamento dos resduos slidos
oriundos da construo civil recente, pelo menos no Brasil. Historicamente, a partir
Resoluo CONAMA N. 307, editada em 5 de julho de 2002, aparece explicitamente a
constatao da viabilidade tcnica e econmica de produo e uso de materiaisprovenientes da reciclagem de RCC. Passa a existir a obrigatoriedade, por parte dos
Municpios e do Distrito Federal, de elaborar um Plano Integrado de Gerenciamento de
Resduos da Construo Civil, obrigando-os, tambm, em um prazo determinado, envidar
todos os esforos no sentido de cessar a deposio de resduos de construo civil em
aterros de resduos domiciliares e em reas de bota fora (Art. 13).
Diante desta nova perspectiva, a preocupao da Indstria da Construo Civil
concentrou-se no apenas na necessidade de contratar um simples caambeiro pararemoo de um entulho, mas sim, preocupou-se com todo o desenvolvimento de uma
logstica na gerao, gesto e transporte desses resduos, desde o local da sua gerao, que
so os canteiros de obras, at seu destino final, que certamente dever ser uma usina de
reciclagem de resduos da construo.
Algumas outras normas complementares tambm contriburam para melhor definir
conceitos relacionados com resduos da construo civil, alm de definir padres a serem
adotados na elaborao de projeto, instalao e utilizao de aterros, reas de transbordos e
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triagem, destacando-se as Normas NBR 15.112/2004 e NBR 15.113/2004, ambas da
ABNT.
A edio da Norma ABNT NBR 15.114, em 2004, constitui-se em um marco
histrico, por ser a primeira norma tcnica, em todo o hemisfrio sul, a tratar das diretrizes,
implantao e operacionalizao de usinas de reciclagem de resduos da construo civil.Anteriormente edio desta norma tcnica, existiam no Brasil algumas poucas usinas de
reciclagem de RCC, destacando-se a primeira delas, localizada no municpio de So Paulo,
construda no ano de 1991. Seu funcionamento precrio, pela distncia dos pontos
geradores de RCC, levaria ao encerramento das suas atividades em muito pouco tempo,
sendo, depois reinstalada em outra rea, mais prxima do centro produtivo deste tipo de
resduo. Posteriormente a esta pioneira iniciativa de So Paulo, outras duas usinas foram
implantadas, em Londrina - PR, no ano de 1993 e em Belo Horizonte - MG, em 1994(MIRANDA et. al. 2009).
O primeiro Programa de Correo Ambiental e Reciclagem de RCC, implantado
com sucesso no Brasil, ocorreu em Belo Horizonte, no final de 1995, com a instalao da
usina de reciclagem de resduos da construo civil da capital mineira. Esta usina merece
destaque por ser um elemento componente do Programa referenciado anteriormente e j
existir previamente planejada, para seu melhor funcionamento, uma sistemtica
descentralizada que ligava a iniciativa de reciclagem captao ordenada de resduos,
garantindo, assim, a viabilidade do empreendimento (CUNHA, 2007).
O Brasil contava, at 2002, com apenas 16 usinas de reciclagem de RCC instaladas
e em funcionamento, com uma taxa de crescimento de 3 usinas inauguradas por ano. No
final de 2008, j existiam 47 usinas, sendo 24 pblicas (51%) e 23 privadas (49%),
havendo projetos de implantao aprovados de mais 36 novos empreendimentos
(MIRANDA et al., 2009). Muitas outras usinas foram, ao longo dos anos, sendo instaladas
no Brasil, principalmente nos maiores centros urbanos que tambm so os maiores
produtores de RCC.
Nesta mesma linha de procedimento, a cidade de Joo Pessoa, capital do estado da
Paraba, tambm buscou adequar sua legislao municipal, com vistas a promover a
adequao das aes do municpio, relacionadas com RCC, promulgando, no ano de 2007,
a Lei Municipal N. 11.176/07, que teve, entre outros, os seguintes objetivos:
o Instituir o Sistema de Gesto Sustentvel de Resduos da Construo
Civil e Demolio e o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos
da Construo Civil;
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o Criar a necessidade da existncia de um Projeto de Gerenciamento de
RCD para grandes produtores, condio indispensvel para a liberao
do alvar de construo (Art. 9);
o Estabelecer critrios de transporte dos resduos da construo civil at
os pontos de coleta e at a Usina de Reciclagem;o Estabelecer a destinao de cada tipo de resduo da construo civil em
funo da classificao contida na Resoluo CONAMA N. 307/02;
o Instituir valores de multa para as possveis infraes cometidas pelos
geradores e transportadores de resduos da construo civil;
o Criar condies legais para implantao da Usina de Reciclagem de
Resduos da Construo e Demolio da cidade de Joo Pessoa - PB.
Assim, a lei anteriormente citada na prtica possibilitou a elaborao de um PlanoIntegrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil para o municpio,
viabilizando, por conseguinte, tambm a instalao de uma Usina de Reciclagem de
Resduos da Construo Civil, objetivando receber o entulho da construo civil gerado,
transformando em elemento reciclado, servindo, inicialmente, de insumo para uso nas
obras da prpria Edilidade.
Alm dos benefcios ao meio ambiente advindos da reciclagem, muitos outros
aspectos devem ser considerados durante a fase de elaborao do projeto de instalao de
uma usina desta natureza, destacando-se o volume de RCC gerado no municpio, distncia
entre a usina e o centro produtivo de RCC, alm do valor do investimento inicial referente
aquisio dos equipamentos e da rea fsica. Com todos os dados levantados, busca-se
verificar a viabilidade operacional e econmica do empreendimento, evitando que, aps
seu funcionamento, condies adversas, plenamente previsveis na fase de planejamento,
provoquem a inviabilidade do funcionamento da usina, com o consequente agravamento da
poluio ambiental provocada pela deposio de resduos da construo civil em lugares
no apropriados.
Assim, uma usina de reciclagem de resduos da construo civil o instrumento
adequado para a transformao do RCC gerado em agregado reciclado, comumente
utilizado novamente na prpria construo civil.
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22..22..11..TTIIPPOOSSDDEEPPLLAANNTTAADDEEUUSSIINNAADDEEBBEENNEEFFIICCIIAAMMEENNTTOODDOOSSRREESSDDUUOOSS
DDAACCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILL
Basicamente existem trs tipos de plantas para usinas de beneficiamento de RCC,
com diferentes caractersticas quanto forma de instalao: Plantas Mveis, Plantas Semi-
Mveis e Plantas Fixas.
As usinas com Plantas Mveis so muito utilizadas quando o empreendimento
requer mobilizao constante, como o caso da construo de estradas. Como no
necessitam obras civis, este tipo de planta possibilita a remoo da usina com muita
facilidade, relocando-a em outro ponto de maneira rpida e eficiente. Em geral, tais usinas
j so montadas sobre bases mveis (pneus) que permitem o transporte atravs de reboque
especial. O material produzido, fruto da reciclagem, tem, em geral, uma qualidade inferior
aquele produzido pelas usinas com Plantas Fixas, apresentando tambm pouca diversidade
de agregados.
As usinas com Plantas Semi-Mveis possuem facilidade de instalao, rapidez e
economia na montagem, sendo recomendadas em caso de empreendimentos de curto ou
mdio prazo, onde j previamente tem-se previso do tempo mximo de permanncia. So
comuns quando da construo de grandes hidroeltricas e nas pedreiras para construo de
estradas. Normalmente so construdas sobre bases metlicas, objetivando facilitar a
remoo.As usinas de Plantas Fixas so comumente utilizadas em empreendimentos de
localizao definitiva. Neste caso, possvel obter-se produtos reciclados bem mais
diversificados e de melhor qualidade, decorrente da possibilidade de utilizao de
equipamentos maiores e mais especializados, permitindo a realizao da britagem, da
retirada de impurezas e do prprio peneiramento de maneira mais rpida e precisa,
imprimindo um carter mais produtivo e industrial ao processo de reciclagem. A
desvantagem deste tipo de planta est no valor elevado do investimento inicial,necessitando de melhores equipamentos e de uma rea para instalao com dimenses mais
avantajadas.
22..22..22..MMOODDEELLOOSS DDEE EEQQUUIIPPAAMMEENNTTOOSS DDEESSTTIINNAADDOOSS UUSSIINNAA DDEEBBEENNEEFFIICCIIAAMMEENNTTOODDOOSSRREESSDDUUOOSSDDAACCOONNSSTTRRUUOOCCIIVVIILL
Alguns equipamentos so essenciais no processo produtivo, destacando-se o
alimentador vibratrio, o britador de impacto, a peneira vibratria, o im permanente e ostransportadores de correia. Estes componentes constituem a parte fixa da Usina.
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O alimentador vibratrio, em geral, tem capacidade de alimentao de 15 a 250
m/h, com uma potncia instalada que varia de 5 a 30 CV. Sua finalidade alimentar os
britadores primrios e os transportadores de correia. Basicamente constitudo por uma
mesa vibratria e grelhas de trilhos com abertura regulvel na parte final da mesa para que
possa ocorrer a separao prvia dos fragmentos menores.Como vantagem do alimentador vibratrio pode-se destacar a estabilidade e
constncia de funcionamento, robustez, promovendo a separao prvia de agregados
menores, alm de apresentar um manuseio fcil e uma manuteno relativamente barata.
O alimentador vibratrio possui, alm dos componentes j descritos, uma tremonha
de carga que facilita a deposio do material a ser trabalhado. O acionamento feito por
dois motores eltricos e correia em V, com cardanmontado sob medida. A FFIIGG--0022, a
seguir, mostra um modelo de alimentador vibratrio dotado de uma tremonha de carga,apresentando, na mesma ilustrao, os detalhes internos deste equipamento.
(Fonte: MAQBRIT - 2010)FIG-02: Alimentador Vibratrio e Detalhe da Tremonha
O britador de impacto o equipamento mais importante da usina, sendo
responsvel pela fase de cominuio dos resduos. este equipamento responsvel, de
certa forma, pela qualidade do agregado produzido, sendo, normalmente, concentrado nomesmo equipamento o britador e o rebritador.
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Os britadores podem ser do tipo mandbulas ou giratrios, de cones ou de rolos. Os
britadores de mandbulas reduzem o tamanho do material pelo processo de esmagamento.
Neste modelo, a cmara de britagem provoca o mastigam
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