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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL – PPGDR
O PAPEL DA CULTURA LOCAL NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM BLUMENAU – SC
IARA LÚCIA KLUG RISCHBIETER
BLUMENAU 2007
IARA LÚCIA KLUG RISCHBIETER
O PAPEL DA CULTURA LOCAL NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM BLUMENAU – SC
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Mestrado em Desenvolvimento Regional, oferecido pela Universidade Regional de Blumenau, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª. Dra. Marilda Rosa G. Checcucci Gonçalves da Silva
BLUMENAU 2007
La principal virtualidad de un símbolo es su capacidad para expresar de una forma sintética y emocionalmente efectiva una relación entre ideas y valores.
Llorenç Prats
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço às pessoas que participaram da construção do universo pesquisado e tornaram possível este trabalho, que contou com o apoio da CAPES.
Agradeço ao Udo e ao Felipe, por terem respeitado e me apoiado em minhas escolhas;
A amiga e Profa. Marilda, por ter me orientado nesse trabalho e, sobretudo, pelas importantes contribuições que fez; ao Prof. Roberto agradeço pelo carinho.
Agradeço aos professores: Ivo, por ter me aberto um espaço para novos aprendizados; Marialva, pelo empenho e comprometimento nos trabalhos que desenvolvemos juntas; Bia, por ter me dado a oportunidade de aprender um pouco mais durante essa jornada; Vini e Ale, por terem me aceito como estagiária em suas disciplinas, aprendi muito com vocês.
Aos colegas do NPDR e do PPGDR, agradeço pelas importantes discussões que fizemos em nossos encontros;
A amiga Margarita, por ter estado presente durante toda minha vida acadêmica;
As amigas, Luísa, Neusa, Leo e Márcia, pelo “ombro amigo”;
As amigas Débora e Jeanine, pelo carinho e pela parceria incondicional;
A historiadora Sueli Petry, por compartilhar seu conhecimento;
Ao Sr. Niels Deeke, por tantas contribuições;
Aos membros da banca, pela disposição em avaliar o meu trabalho.
E, finalmente, agradeço a todos os meus verdadeiros mestres e amigos que souberam, além de transmitir seu conhecimento, apoiar-me em minhas dificuldades
Para meus pais, Hildebrando e Rute (in memorian), exemplos de perseverança.
RESUMO
A relação cultura-turismo constitui-se em uma atividade possível de ser cultivada, motivando
benefícios que podem ser socialmente acumulados. O município de Blumenau-SC caracteriza-
se por sua colonização européia e sua população é identificada pela preservação dos usos e
costumes alemães, demonstrados principalmente através da música, dança, arquitetura e
gastronomia. Neste contexto, esta pesquisa se propôs a identificar e analisar a maneira como a
cultura está sendo utilizada no desenvolvimento do turismo em Blumenau-SC. Para atingir o
objetivo proposto, utilizou-se como metodologia a pesquisa qualitativa. Os procedimentos de
coleta de dados envolveram dados secundários e primários que sugerem a utilização de
técnicas de análise bibliográfica, análise documental e entrevista estruturada, direta e indireta,
com representantes do poder público, trade turístico e integrantes da comunidade. Os
resultados obtidos nos revelaram a presença de uma nova dinâmica da atividade turística em
Blumenau. Observa-se uma a preocupação por parte dos órgãos responsáveis pela gestão do
turismo em realizar um planejamento turístico que contemple a trajetória histórico-cultural da
cidade e os elementos que a representam, diferentemente de um momento anterior onde essa
preocupação não existia, embora houvesse o apelo à cultura. Evidencia-se um interesse em
melhorar e inovar as políticas de fomento ao turismo, num movimento conjunto em prol da
coletividade. No ordenamento do turismo em Blumenau, isto revela uma respeitável
transformação social.
Palavras-Chave: Cultura; Turismo; Desenvolvimento Regional.
ABSTRACT
The relation culture-tourism may be cultivated as an activity that can originate benefits able to
accumulate socially. The city of Blumenau (SC) is characterized for having an European
colonization and its population is noted for the preservation of German tradition, what can be
seen through the music, dance, architecture and gastronomy. In this context, this research
proposes to identify and analyze the way the culture has been taken into account to develop
tourism in Blumenau. Thus the methodology used in order to aim this goal, was the
qualitative research. The procedure of collecting information involved primary and secondary
data, which required the use of some techniques of bibliography and documentary analyses,
direct and indirect structured interview with representatives of the public administration, of
the tourism trade, as well as members of the community. According to the results obtained
with the research, a new dynamic of tourism activities can be observed in Blumenau. What
also can be noticed is that the tourism managers are more concerned to carry out a plan that
values the cultural and historical process of the city and the elements that it represents,
differently from the former ones, in spite of their appeal for culture.Also noticeable in the
current administration is the constant concern to complement, improve and innovate the local
tourism in order to benefit everyone involved in this area. In the organization of tourism in
Blumenau, such attitude reveals a considerable social transformation.
Key-words: Culture; Tourism; Regional Development.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Mapa das colônias no grande e no pequeno Itajaí e seus afluentes ........................12
Figura 2 – Alameda Duque de Caxias, outrora chamada de Stadtplatz....................................13
Figura 3 – Mapa de Blumenau/SC............................................................................................15
Figura 4 – Barracão dos imigrantes – Colônia Blumenau........................................................39
Figura 5 – Colonos alemães nos primeiros anos da Colônia Blumenau...................................40
Figura 6 – Índios no entorno da Colônia Blumenau. Final do século XIX..............................42
Figura 7 – Clube de Caça e Tiro Ribeirão Fidélis, fundado em 1894......................................44
Figura 8 – Imigrantes italianos. Década de 1880.....................................................................46
Figura 9 - “Castelinho da Moellmann” – “Castelinho do Turismo”........................................53
Figura 10 – Mausoléu Dr. Blumenau........................................................................................54
Figura 11 – Pequenos comércios de artesanato na Vila Germânica – Blumenau/SC...............55
Figura 12 – Desfile na Rua XV de Novembro – Oktoberfest/1984 – Blumenau/SC...............56
Figura 13 – Desfile na Rua XV de Novembro – Oktoberfest/2006 – Blumenau/SC...............57
Figura 14 – Traje típico alemão – Oktoberfest/2006 – Blumenau/SC......................................58
Figura 15 – Parque Vila Germânica – Oktoberfest/2006 – Blumenau/SC...............................65
Figura 16 – Parque Vila Germânica..........................................................................................66
Figura 17 – Desfile na Rua XV de Novembro – Oktoberfest/2006 – Blumenau/SC...............67
Figura 18 – Central de Atendimento ao Turista – CAT 1.........................................................68
Figura 19 – Encontro de Stammtisch – Blumenau, entre 1889 e 1890.....................................69
Figura 20 – Encontro de Stammtisch – Rua XV de Novembro – Blumenau/2006..................70
Figura 21 – Notte Italiana/2006................................................................................................72
Figura 22 – Festitália/2006.......................................................................................................73
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................12
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................................16
1.2 QUESTÃO DE PESQUISA...........................................................................................16
1.3 OBJETIVOS...................................................................................................................16
1.3.1 Geral.............................................................................................................................16
1.3.2 Específicos...................................................................................................................16
1.4 PRESSUPOSTOS...........................................................................................................17
1.5 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA............................................................17
1.6 RELEVÂNCIA PRÁTICA DA PESQUISA..................................................................17
1.7 RELEVÂNCIA TEÓRICA DA PESQUISA..................................................................18
1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO...................................................................................18
2 TURISMO, CULTURA E IDENTIDADE NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.............................................................................19
2.1 TURISMO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS............................................................19
2.2 TURISMO: VISÕES E DIVISÕES................................................................................21
2.3 CULTURA E IDENTIDADE.........................................................................................23
2.4 CULTURA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO..29
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO E A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ..............32
3 ATRAJETÓRIA DA AFIRMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE E SUA
IMPORTÂNCIA PARA A CONSOLIDAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM
BLUMENAU.......................................................................................................................38
3.1 A FORMAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL DE BLUMENAU................................38
3.2 ESTRATÉGIAS DE AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE BLUMENAUENSE............48
3.3 UM RETRATO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM BLUMENAU...........................58
3.3.1 A Italianidade em Blumenau: uma outra Vitrine.........................................................70
4 MÉTODOLOGIA DA PESQUISA...............................................................................74
4.1 ABORDAGEM TEÓRICA............................................................................................74
4.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.........................................................................74
4.2.1 Primeira Etapa..............................................................................................................75
4.2.2 Segunda Etapa..............................................................................................................75
4.2.3 Terceira Etapa..............................................................................................................76
4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA........................................................................................76
4.4 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DE DADOS............................................................76
4.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA.....................................................................................76
5 RESULTADO DA PESQUISA...................................................................................... 77
5.1 O PAPEL DA CULTURA LOCAL NO DESENVOVLIMENTO DO TURISMO EM
BLUMENAU-SC.................................................................................................................77
6 CONCLUSÕES.............................................................................................................. 84
REFERÊNCIAS.................................................................................................................87
ANEXOS.............................................................................................................................95
12
1 INTRODUÇÃO
O núcleo da Colônia Blumenau nasceu às margens do rio Itajaí-Açu no ano de 1850.
A 02 de setembro daquele ano chegaram ao local, onde hoje se ergue a cidade, os primeiros
colonos alemães, em número de 171.
Figura 1 – Mapa das colônias no grande e no pequeno Itajaí e seus afluentes, 1859, conforme as medições de Heinrich Kreplin Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
A princípio, a Colônia manteve-se como propriedade particular do fundador –
Hermann Otto Blumenau. Devido aos problemas financeiros pelos quais passava o mesmo,
em 1860, o Governo Imperial encampou o empreendimento. O Dr. Blumenau foi conservado
na direção da Colônia e nela se manteve até quando esta foi elevada à categoria de Município,
em 1880.
1 Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS), 2006.
13
A Lei n° 860 de 04 de fevereiro de 1880, elevou a colônia à categoria de Município,
mas sua instalação só ocorreu em 1883. Em 1886, o Município foi elevado a Comarca e, em
1928, sua sede passou à categoria de cidade. Em 1934, começaram os desmembramentos do
território municipal, sendo criados sucessivamente novos municípios. O antigo território do
Município de Blumenau, que em 1934 compreendia uma área de 10.610 km2, está hoje
reduzido a 519,8km2 apenas. Desses desmembramentos resultaram nada menos que 31 novos
Municípios.
Figura 2 – Alameda Duque de Caxias, outrora chamada de Stadtplatz Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
A cidade de Blumenau se localiza no Médio Vale do Itajaí, região pertencente ao
Vale do Itajaí, uma mesoregião do Estado de Santa Catarina, às margens do Rio Itajaí-Açu,
que a corta no sentido Oeste-Leste2.
Ao longo dos afluentes, a edificação urbana penetrou ascendendo pelos seus vales,
especialmente pelos seus ribeirões mais caudalosos, como os do Garcia, da Velha, os da
Itoupava, Fortaleza e Testo.
A cidade conta com uma população estimada em 301.000 habitantes. Situa-se aos
26º55’26” de latitude sul e aos 49º03’22” de longitude oeste, distanciando 89 km em linha
reta da capital do Estado, Florianópolis. Tem como limite os municípios de Luiz Alves e
2 Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau (PMB), 2006.
14
Gaspar a leste, Indaial e Pomerode a oeste, Jaraguá do Sul e Massaranduba ao norte e
Guabiruba, Botuverá e Indaial ao sul. A maior parte dos limites é de difícil definição, pois
passa por terrenos secos e acidentados, como as serras da Carolina (limite com Luís Alves) e
do Spitzkopf (limite com Indaial).
A topografia na região urbana é bastante acidentada, apresentando grandes diferenças
de altitude e declividade. De modo geral, a região se caracteriza pela passagem de cursos
d'água sinuosos em meio a uma área urbana bastante movimentada. Blumenau está inserida na
unidade denominada de escudo catarinense, que se caracteriza por encostas íngremes e vales
profundos. O clima é quente e chuvoso, não havendo uma estação caracterizada como seca.
Com respeito à vegetação, Blumenau está situada dentro da "Mata Pluvial da Encosta
Atlântica". Trata-se de uma formação vegetal muito exuberante e complexa, formada por
diversos agrupamentos distintos quanto à sua composição, estrutura e, sobretudo, quanto ao
aspecto fisionômico.
15
Figura 3 – Mapa de Blumenau/SC Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau (PMB) – Elaboração Iara Rischbieter
16
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
Como a cultura local (patrimônio material e imaterial) está sendo utilizada no
desenvolvimento do turismo em Blumenau?
1.2 QUESTÃO DE PESQUISA
As questões de pesquisa que norteiam este estudo são as seguintes:
Quais elementos da cultura local estão sendo apropriados pela atividade turística, e o
que tem justificado a sua inclusão?
• Como são identificados estes elementos, e por quem?
• Qual a relação destes elementos culturais com a identidade local?
1.3 OBJETIVOS
A seguir enunciam-se os objetivos, geral e específicos, de pesquisa.
1.3.1 Geral
Estudar a importância da cultura no desenvolvimento da atividade turística em
Blumenau-SC.
1.3.2 Específicos
• Realizar uma revisão bibliográfica;
• Identificar a formação histórico-cultural de Blumenau e as estratégias de afirmação da
identidade blumenauense;
• Pesquisar a maneira como o turismo tem se configurado em Blumenau;
• Identificar e analisar como a cultura tem sido apropriada pelo setor turístico em
Blumenau.
17
1.4 PRESSUPOSTOS
HIPÓTESE 1: O apelo à cultura germânica tem sido utilizado como elemento
fomentador do turismo em Blumenau, porque representa um diferencial no mercado turístico.
HIPÓTESE 2: A atividade turística em Blumenau, ao apropriar-se de alguns elementos
da cultura, não os relaciona com a abordagem do turismo cultural, pois não contempla a
diversidade cultural existente.
1.5 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA
O desenvolvimento da pesquisa fundamenta-se em duas ordens: a importância
acadêmica e a importância social. Ambas relacionadas com a importância da cultura para o
desenvolvimento do turismo em Blumenau-SC.
1.6 RELEVÂNCIA PRÁTICA DA PESQUISA
O turismo é um dos fenômenos sócio-culturais que mais tem crescido nos últimos
tempos e também alcançado um papel de destaque quanto aos seus aspectos econômicos,
sociais e culturais. O fenômeno da globalização, não só econômica como cultural, tem levado
as comunidades à recuperação e valorização do seu legado cultural, à busca de valores locais
e de elementos de identificação na história e nas tradições. Nesta perspectiva, as
manifestações culturais das grandes cidades ou de pequenas comunidades representam um
potencial de diferencial turístico. Para Gonçalves (2003), o turismo cultural tem sido
considerado como uma diversificação de oferta em relação ao turismo de “sol e praia” visto
que o turista está buscando o pitoresco, as características tradicionais, a história das
localidades, procurando conviver com a população e entender o seu cotidiano.
O conhecimento do papel da cultura no desenvolvimento do turismo em Blumenau é
de fundamental importância para a implantação de políticas públicas e culturais que possam
consolidar a cidade como um destino de turismo cultural. Caminho este que pode gerar
qualidade de vida, e conduzir à preservação e valorização da história e cultura através de suas
diversas manifestações.
18
1.7 RELEVÂNCIA TEÓRICA DA PESQUISA
Num momento em que se redescobre o valor do patrimônio como elemento de
identidade cultural, torna-se comum a discussão sobre as formas de sua utilização, tanto por
parte dos pesquisadores das áreas inter-relacionadas com o turismo, como dos órgãos
promotores dessa atividade.
Na literatura existente, podemos encontrar um volume considerável de informações
sobre a importância do patrimônio cultural como elemento de diferenciação para a
fomentação da atividade turística.
Nesta pesquisa busca-se identificar e analisar a relevância que tem sido dada à cultura
local na elaboração do planejamento turístico de Blumenau-SC. Sua importância acadêmica
reside na necessidade de preencher uma lacuna no conjunto das informações existentes,
através da reflexão teórica que irá gerar.
1.8 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho tem como linha condutora a cultura e o turismo e se inicia com uma
breve introdução que contextualiza o recorte espacial estudado. O segundo capítulo trata dos
antecedentes históricos do turismo e de sua conceituação. Neste capítulo também se faz uma
abordagem geral sobre cultura e identidade e sua importância no desenvolvimento do turismo,
além de um esboço conceitual das políticas publicas do turismo e a participação cidadã.
O terceiro capítulo apresenta a formação histórica e cultural de Blumenau e as
estratégias de afirmação de uma identidade; em seguida, aborda-se a história da atividade
turística em Blumenau e sua caracterização.
No quarto capítulo, é apresentada a metodologia usada neste trabalho de pesquisa.
No quinto capítulo, a partir dos dados levantados, é feita uma análise de como a cultura local
tem sido apropriada pelo setor turístico em Blumenau.
O sexto e último capítulo é destinado às considerações finais e às recomendações que
possam contribuir para a consolidação da cidade como um destino de turismo cultural.
19
2 TURISMO, CULTURA E IDENTIDADE NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TURISMO: BREVES NOTAS
Em termos históricos, as viagens tiveram início, principalmente, pela necessidade do
homem de estabelecer a troca de mercadorias com outros povos. Enquanto os antigos
impérios cresciam na África, Ásia e Oriente Médio, desenvolvia-se uma infra-estrutura para
as viagens com a abertura de estradas, canais de navegação, e transportes. Durante as dinastias
egípcias surgiram as viagens para realização de negócios e, nesse período foram construídos
centros de alojamentos ao longo das principais estradas e nas cidades. Durante o apogeu do
Império Assírio melhoraram as condições das viagens, sobretudo para uso militar (GEE;
OMT, 2003).
Ao fazer uma retrospectiva da história do turismo, De La Torre (1994) registra as
viagens feitas no século VIII a.C. na Grécia, cujo objetivo era participar ou apenas presenciar
os Jogos Olímpicos, que aconteciam a cada quatro anos.
Barretto (1995) afirma que foram os romanos os primeiros a viajar por prazer,
buscando divertimento nas praias e cura nos spas. A construção de muitas estradas pelo
Império Romano entre os séculos II a.C. e II d.C., foi determinante para que seus cidadãos
viajassem longas distâncias. De Roma saíam grandes contingentes para o campo, mar, águas
termais, templos e festivais.
Com o fim do Império Romano o comércio e as viagens sofreram um grande
declínio. As antigas estradas construídas pelos romanos foram se desgastando e acabaram
destruídas. Nesse panorama, viajar tornou-se uma grande aventura.
Entre os séculos II e III d.C. houve intensa peregrinação à Jerusalém, à igreja do
Santo Sepulcro, construída no ano de 326 pelo Imperador Constantino. Esses peregrinos eram
conhecidos como palmeiros. Por volta do século V, as invasões bárbaras consolidaram o
processo de desmantelamento que o Império Romano já vinha sofrendo. Deste período, não
há registros sobre viagens a não ser os deslocamentos dos povos bárbaros. A partir do século
VI começaram a ser registradas as peregrinações de cristãos, conhecidos como romeiros, para
Roma (BARRETTO, 1995).
Entre os séculos XI e XIII diversas foram as expedições militares-religiosas,
denominadas de Cruzadas, que tinham como objetivo a libertação do Santo Sepulcro do
domínio turco.
20
Com o fim da idade média e o advento do capitalismo comercial, verifica-se o
incremento das viagens. A necessidade de ampliação do comércio implicou também à
ampliação das rotas dos comerciantes, à melhora e diversificação dos meios de transporte.
A segunda metade do século XV e todo século XVI foram marcados pelo aumento
nas viagens particulares. Estas viagens supriam a falta de comunicação predominante na
época e, ao mesmo tempo, tinham como objetivo o acúmulo de conhecimento, cultura, línguas
e aventuras. Eram realizadas por jovens europeus de elite e não se constituíam em turismo,
mas sim em tours, viagens de ida e volta realizadas pela nobreza masculina e pelo clero
(BOYER apud BADARÓ, 2003)
Conforme Barretto (1995, p. 48), na Itália do século XVI, apareceram as primeiras
carruagens, cujo luxo era muito superior ao conforto, mas no século seguinte já se pode
observar uma melhora considerável nos transportes. Nesse período inventaram a Belina, um
meio de transporte mais rápido, e também a diligência, mas os serviços ainda eram
esporádicos, rudimentares e lentos. “As primeiras linhas regulares de diligências foram de
Frankfurt a Paris e de Londres a Oxford, levando, cada viagem, seis dias.”
O século XVIII foi marcado por um conjunto de transformações técnicas e
econômicas que permitiram o arranque da Revolução Industrial na Inglaterra. A
transformação dos modos de produção foi, de modo geral, atribuída à invenção da máquina a
vapor e a sua aplicação às manufaturas têxteis e aos transportes. Este processo teve ainda
profundas implicações sociais, políticas e culturais. Com o advento das ferrovias no século
XIX, grandes percursos passaram a ser feitos em períodos de tempo mais curtos. Esse foi um
fator determinante para impulsionar o turismo.
O turismo moderno tem início no século XIX com o aparecimento das primeiras
viagens organizadas. Em 1841, surge o primeiro agente de viagem, o inglês Thomas Cook.
Cook, um vendedor de bíblias, organizou uma viagem para 570 pessoas, alugou um trem,
comprou e revendeu os bilhetes, configurando assim a primeira viagem agenciada. Em 1846,
realizou uma viagem similar de Londres a Glasgow – Escócia, com 800 pessoas usando os
serviços de guias turísticos. Iniciava-se o turismo coletivo, a “excursão organizada” ou pacote
turístico (BARRETTO, 1995).
Cook trabalhou como operador, depois como agente de viagens. Uma de suas
maiores contribuições foi em oferecer um “pacote” único de férias. Para a Feira Industrial de
Londres de 1851 – trouxe 165 mil excursionistas de Yorkshire; em 1856, levou um grupo à
Europa Continental; em 1865, Cook editou um guia denominado: “Conselhos de Cook para
excursionistas e turistas”; em 1866, ele realizou o primeiro tour pelos Estados Unidos; em
21
1867 instituiu o voucher (recibo de importância paga) hoteleiro; em 1869 levou um grupo, ao
Egito e à Terra Santa; em 1872, deu a volta ao mundo, também em grupo, demorando 222
dias. As contribuições de Thomas Cook marcaram a entrada do turismo na era industrial, no
âmbito comercial (BARRETTO, 1995).
Verifica-se que antes da II Guerra Mundial (1939-1945) o turismo foi uma atividade
amplamente desenvolvida não só na Europa como também no continente Americano. Porém,
será somente depois da guerra que o turismo irá se transformar em um fenômeno de massa e
despertar o interesse da maioria dos países do mundo.
Barretto (1995, p. 54), destaca que durante a Segunda Guerra Mundial “mostrou-se a
eficiência do transporte aéreo e, a partir de 1945, com a criação da IATA (International Air of
Transport Association), que regula o direito aéreo, o turismo entrou na era do avião.”
A tecnologia da aviação deu impulso definitivo para o desenvolvimento do turismo no
que concerne a novas aeronaves, proporcionando maior rapidez, autonomia e conforto ao
longo das viagens. Na segunda metade do século XX, a atividade turística expandiu-se pelo
mundo inteiro. A partir de 1960 surgiram as operadoras turísticas, o número de agências de
viagem aumentou e a hotelaria passou por uma notável modificação.
No Brasil, o turismo como fenômeno social teve inicio depois de 1920. Seu marco
inicial foi a criação da Sociedade Brasileira de Turismo, posteriormente chamada de Touring
Clube. O turismo no Brasil surgiu como atividade de lazer sem cunho educativo ou de
aventura, diferentemente do que ocorreu na Europa3.
A partir da década de 1950, grandes contingentes passaram a viajar, mas apesar de se
caracterizar como turismo de massa, nunca atingiu o total da população. Acredita-se que
somente 30% da população brasileira pode fazer turismo (BARRETTO, 1995).
2.2 TURISMO: VISÕES E DIVISÕES
As inovações tecnológicas alteraram as estruturas econômicas, sociais e políticas,
mudando igualmente as condições de vida das pessoas. O aumento do tempo de lazer, a
complexidade das sociedades e o advento da urbanização, entre outros fatores, levaram à
procura global pelo turismo. Atualmente essa atividade pode ser encarada como um dos
3 O Grand Tour, expressão pela qual vieram a ser denominadas as viagens aristocráticas pelo continente europeu, começou em meados dos anos de 1600, atingindo o auge nas primeiras décadas do ano de 1800. Era restrito, principalmente, aos filhos de famílias ricas, com propósitos educacionais para completar os conhecimentos culturais em países com uma maior fonte cultural (GEE; OMT, 2003)
22
fenômenos mais significativos da contemporaneidade, tanto pela soma de setores da atividade
que abrange, como pelo número de pessoas sobre as quais atua.
Para a Organização Mundial de Turismo (OMT), “[...] o turismo compreende as
atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do
seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou
outros” (PEREZ; OMT, 2001, p. 3).
Segundo Beni (1998), o turismo é um conjunto de recursos naturais e culturais que,
em sua essência, constituem a matéria-prima dessa atividade, pois são esses recursos que
provocam a afluência de turistas. A esse conjunto incorporam-se os serviços produzidos para
dar suporte ao seu consumo.
Considerando-se apenas a funcionalidade do processo turístico é possível
compreender vários de seus aspectos. Porém, ao introduzir-se o elemento humano - que é o
sujeito do turismo - elaborar uma definição que contemple toda a extensão do fenômeno
torna-se um grande desafio.
Para De La Torre (1994, p. 19):
El turismo es um fenómeno social que consiste en el desplazamiento voluntario y temporal de individuos o grupos de personas que, fundamentalmente por motivos de recreación, descanso, cultura o salud, se trasladan de su lugar de residencia habitual a otro, en el que no ejercen ninguna actividad lucrativa ni remunerada, gerando múltiples interrelaciónes de importancia social, económica y cultural.
Um conceito mais técnico descreve o turismo como o conjunto de serviços que tem
por objetivo o planejamento, a promoção e a execução de viagens, além dos serviços de
recepção, hospedagem e atendimento a indivíduos ou grupos fora de suas residências
habituais (ANDRADE, 1995).
Uma definição adequada deve considerar o turismo como atividade econômica e
social, tanto pelas motivações que o originam e determinam, quanto pelas implicações e
efeitos que exerce nos sistemas econômico, social e ambiental dos lugares receptores, bem
como nos de origem dos viajantes.
Para Barretto (2003, p. 21):
Sendo o negócio apenas uma parte do fenômeno turístico, analisá-lo somente com os paradigmas econômicos que verificam os fluxos de dinheiro leva ao esquecimento da dimensão antropológica, a enxergar os turistas não como pessoas, mas como simples portadores de dinheiro. Ao mesmo tempo, tratar o turismo somente a partir da dimensão socioantropológica e ambiental leva ao esquecimento das suas derivações no plano econômico, o que pode constituir-se numa visão romântica deslocada das atuais condições históricas.
23
Moesch (2002, p. 31) propõe uma visão holística do fenômeno turístico, para ela: “O
real do turismo é uma amálgama na qual TEMPO, ESPAÇO, DIVERSÃO, ECONOMIA,
TECNOLOGIA, IMAGINÁRIO, COMUNICAÇÃO, DIVERSÃO e IDEOLOGIA são partes
de um fenômeno PÓS-MODERNO, em que o protagonista é o SUJEITO” (grifo do autor).
Os diversos tipos de turismo nascem a partir das experiências que os turistas desejam
viver, experimentar. Segundo Barretto (1995), quanto à motivação o turismo pode ser
classificado de diversas formas: descanso, lazer, desportivo, cura, religioso, gastronômico,
profissional ou de eventos, aventura, cultural, de interesse específico, entre outros. Em cada
tipo de turismo se comercializa uma experiência distinta, para tanto, seu planejamento deverá
ser específico.
Oliveira (2001), afirma que atualmente o turismo se apresenta como um fenômeno
econômico, político, social e cultural dos mais expressivos da contemporaneidade. Em suas
reflexões, Cunha (1997) observa a importância do fenômeno turístico em nossa época. Como
fenômeno econômico e social reflete as conquistas e avanços da humanidade e, como ato
voluntário do homem caracteriza o modo de vida nas sociedades modernas.
Neste trabalho adota-se o conceito de Barretto (2003), que trata o turismo como uma
atividade de múltiplas peças, cujo planejamento exige uma escolha criteriosa, de cujo encaixe
poderá surgir o equilíbrio necessário ao seu desenvolvimento. Inserindo-se neste contexto,
cabe aos planejadores da atividade turística, avaliar os anseios da comunidade apreciando suas
potencialidades para que a atividade possa ser desejada e alcançada com sucesso.
2.3 CULTURA E IDENTIDADE
Têm-se observado diversas iniciativas no sentido de identificar, defender e promover
os interesses comuns da humanidade. Entre esses interesses estão os relacionados com a
cultura e a identidade.
Segundo Cuche (1999), a noção de cultura é inerente à reflexão das ciências sociais.
Ela parece dar a resposta mais satisfatória à questão da diferença entre os povos, dado que a
sua consolidação enquanto conceito científico implicou no estudo de sua evolução histórica.
Ainda de acordo com Cuche (1999), a invenção do conceito científico de cultura trilhou um
longo caminho. Em linhas gerais, o seu percurso dentro das ciências sociais obedeceu a
sistematização inicial com Tylor.
Laraia (1986) explica-nos que a origem etimológica da palavra cultura remonta ao
final do século XVIII e princípio do seguinte, do termo germânico Kultur, utilizado para
24
simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa
Civilization, referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos
foram resumidos por Edward Tylor no vocábulo inglês Culture que “[...] tomado em seu
sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis,
costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de
uma sociedade” (TYLOR apud LARAIA, 1986, p. 25).
Ainda Laraia (1986), destaca que os diferentes comportamentos sociais são produtos
de uma herança cultural, sendo transmitidos de uma geração a outra.
Para Geertz (1989, p. 103), é através da relação dialética entre cultura e natureza, que
o homem se define como homem, uma vez que no seu processo evolutivo ela teve um papel
fundamental. No seu entendimento, a cultura pode ser compreendida como “Um sistema de
concepções herdadas, expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens
comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à
vida.” O autor afirma ainda, que a cultura não é estática, ela evolui com as práticas sociais e
está em constante tensão com o contexto em que se insere.
Da Matta (2003, p. 123), entende que a cultura:
É um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas. É justamente porque compartilham de parcelas importantes deste código (a cultura) que um conjunto de indivíduos com interesses e capacidades distintas e até mesmo opostas, transformam-se num grupo e podem viver juntos sentindo-se parte de uma mesma totalidade. Podem, assim, desenvolver relações entre si porque a cultura lhes forneceu normas que dizem respeito aos modos, mais (ou menos) apropriados de comportamento diante de certas situações.
Passador (2000) concorda com Da Matta, ao considerar a cultura um conjunto de
formas coletivas e ordenadas de pensamento, práticas, comportamento, convivência e
sobrevivência de um grupo.
Gallicchio (2001, p. 58) nos lembra que:
A noção antropológica de cultura ressalta a diversidade e diversificação das manifestações locais, destacando suas especificidades e peculiaridades consideradas originais. Com isso, as tradições, os costumes, as religiões, as festas, os jogos, os rituais, todas as manifestações cotidianas que configuram a identidade cultural de um grupo, tribo, etnia ou povo, bem como as relações e as formas de organizações e de sobrevivência são focos de investigação da Antropologia. (grifo do autor)
Gallicchio (2001) considera a cultura um indicativo, um reflexo da sociedade que ora
evolui, ora se transforma. Para a autora, ela atua como uma espécie de espelho ou imagem
25
pela qual é possível detectar o modo de organização política, econômica e social de uma
comunidade. Dessa forma, para apreender a dinâmica da mudança cultural é fundamental
conhecer o passado, as tradições e as transformações que construíram a cultura particular de
uma comunidade ou sociedade.
Assim, parece adequado utilizar a definição de cultura como construção histórica,
cujo valor não se limita ao patrimônio construído, mas aparece nas relações sociais como
resultado da história coletiva da vida humana; que teria gerado especificidades que
acompanhariam e identificariam esta coletividade no seu fazer social, no seu pensar, no seu
agir, no seu organizar-se e, sobretudo, na sua maneira de projetar-se no mundo (FONTOURA
e BECKER, 1999).
A cultura é um mecanismo dinâmico e adaptativo do indivíduo ou grupo, garantindo
a sobrevivência de seus portadores – os membros de um grupo social específico. Uma de suas
funções básicas pode ser considerada a manutenção e coesão do grupo, resistindo às
mudanças trazidas por processos econômicos e políticos, internos e externos. Entretanto,
como ela é dinâmica, pode sofrer modificações através do comportamento e atitudes de
indivíduos ou grupos humanos, movidos por necessidades, podendo dessa maneira, introduzir
novas regras, costumes e valores (KEMP, 2000).
Apesar de muitas definições, existe um consenso entre os estudiosos, verificado na
essência dos conceitos apresentados, que cultura refere-se a tudo aquilo que é produzido pelo
homem e por ele transmitido de uma geração a outra no contínuo processo de adaptação e
transformação da sociedade e dos indivíduos.
Cuche (1999) afirma que não se pode simplesmente confundir as noções de cultura e
identidade cultural, ainda que ambas tenham uma grande ligação. Em última instância, a
cultura pode existir sem consciência de identidade, enquanto a identidade não. A cultura
depende em grande parte de processos inconscientes. A identidade remete a uma norma de
vinculação, baseada em oposições simbólicas.
A identidade ao mesmo tempo em que vincula os membros de um grupo sob
determinado ponto de vista também os distingue de outros grupos sociais, ou seja, é ao
mesmo tempo um processo de inclusão e exclusão. “A identidade permite que o indivíduo se
localize em um sistema social e seja localizado socialmente. [...] Todo grupo é dotado de uma
identidade que corresponde a sua definição social, definição que permite situá-lo no conjunto
social” (CUCHE, 1999, p. 177).
Barth (apud Cuche, 1999, p. 182), esclarece que:
26
[...] para definir a identidade de um grupo, o importante não é inventariar seus traços culturais distintivos, mas localizar aqueles que são utilizados pelos membros do grupo para afirmar e manter uma distinção cultural. Uma cultura particular não produz por si só uma identidade diferenciada, esta identidade resulta unicamente das interações entre os grupos e os procedimentos de diferenciação que eles utilizam em suas relações.
Cunha (1986) assinala que a cultura original de um grupo étnico, seja na dispersão
como nas situações de intenso contato, não se perde ou simplesmente se funde, mas adquire
uma nova função, se torna a cultura do contraste, permitindo que um grupo se afirme
etnocentricamente do outro através de uma identidade contrastiva.
Nesse sentido, entende-se que um grupo étnico só existe quando existem outros grupos
com os quais interagem e marcam suas distinções. Pode-se dizer que a cultura do contraste é a
afirmação do “nós” diante dos “outros”. A autora chama atenção para o fato de que “a cultura
não é algo dado, posto, algo dilapidável também, mas algo constantemente reinventado,
recomposto, investido de novos significados; é preciso perceber a dinâmica, a produção
cultural” (CUNHA, 1986, p. 101).
A dificuldade de delimitar e definir a identidade reside em seu caráter
multidimensional e dinâmico. É isto o que lhe confere complexidade, mas também o que lhe
dá flexibilidade. “A identidade conhece variações, presta-se a reformulações e até a
manipulações” (CUCHE, 1999, p. 196).
Segundo Cuche (1999), a identidade se constrói e reconstrói constantemente nas
trocas sociais, ela não é original nem permanente, é dinâmica e faz parte da complexidade do
social. Nesse sentido, querer reduzir cada identidade cultural em uma definição simples,
“pura”, seria não considerar a heterogeneidade do grupo social. O autor afirma ainda, que a
priori, nenhum grupo, nenhum indivíduo, está fechado em uma identidade unidimensional.
O empréstimo cultural não é algo recente, e sempre esteve presente no desenvolver
histórico das relações humanas. Contudo, nunca houve tamanha freqüência nestes
empréstimos. O ambiente cotidiano das comunidades, de um modo geral, está cada vez mais
sendo pressionado a ser padronizado, principalmente frente ao processo de globalização em
curso. Apesar disso, o que se tem observado é que a cada dia se acentuam as diferenças
culturais diante da necessidade que os grupos humanos vêem sentindo de afirmarem sua
identidade frente a esse processo. Não apenas antigas questões de identidade se mantêm vivas
como se multiplicam diferentes bolsões de identidades locais, seja de inspiração étnica ou
comportamental, reanimadas e fomentadas como maneira de resistir à introdução de modos
culturais padronizantes.
27
Castells (2000) observa o surgimento de uma onda poderosa de identidade coletiva
que desafia a globalização e o cosmopolitismo em função da singularidade cultural. Reichert
(2001, p. 41), aponta que, “[...] se por um lado se coloca um processo imenso de perda de
raízes e referências culturais, por outro, percebe-se a ampliação dos debates em torno do
assunto da preservação das identidades locais e de sua memória.”
Özbudun e Keyman (2004, p. 336) asseguram que:
A globalização cultural produz tanto a universalização dos valores e padrões culturais ocidentais quanto, ao mesmo tempo, a revitalização de valores e tradições locais. Se ela gera o McMundo, no sentido da padronização geral de padrões de consumo e estilos na vida econômica, a globalização cultural também oferece uma plataforma para a revitalização da tradição, o surgimento de identidades locais e a popularização do discurso da autenticidade.
O processo de globalização estabelece uma nova relação entre as culturas locais e a
cultura global. A disseminação da cultura mundializada influencia os padrões de
comportamento, podendo provocar uma valorização da tradição e um fortalecimento dos
regionalismos manifestos na identidade cultural. Nesse sentido, a imposição de influências
globais também pode levar a uma revitalização de formas culturais nativas. Por exemplo, a
invasão de redes de fast food de origem ocidental na Índia e no Japão levou ao
desenvolvimento de lanchonetes de comidas tradicionais. Esses casos deixam muito claro que
a idéia de uma homogeneização global, subestima a capacidade dos seres humanos em serem
criativos e inovadores quando enfrentam desafios culturais (BERGER, 2004).
Nesse contexto, pode-se dizer que o processo de revalorização das particularidades e
dos localismos culturais é inegável no atual momento histórico social. Ao mesmo tempo em
que são incorporados costumes e valores de outras culturas aos hábitos do cotidiano, os
localismos voltam a ser valorizados.
Para Barth (apud Cuche, 1999, p. 201), a etnicidade, que corresponde ao conteúdo
político da identidade étnica, pode ser definida como:
[...] a organização social da diferença cultural. Para explicar a etnicidade o importante não é estudar o conteúdo cultural da identidade, mas os mecanismos de interação que, utilizando a cultura de maneira estratégica e seletiva mantêm ou questionam as “fronteira” coletivas. (grifo do autor)
Dessa forma, o conteúdo cultural destes grupos se expressa, principalmente, por
sinais, traços, com os quais as pessoas procuram exibir sua identidade (roupas, língua,
28
hábitos, etc), por padrões de comportamento e procedimento julgados corretos pelos
integrantes do grupo. Como os grupos étnicos apresentam expressões coletivas, é válido dizer
que é possível a coexistência, no mesmo ambiente, de vários grupos étnicos cuja integração
realça e mantém as diferenças.
Uma identidade local é um discurso, um modo de construir sentidos, que influencia e
organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. Esses sentidos são
construídos, em grande parte, pelas imagens e símbolos que são socializados, através de
inúmeros mecanismos de produção e difusão, públicos ou não, através das mais variadas
memórias e histórias.
Os símbolos são representações da identidade e podem ser um veículo privilegiado de
transmissão cultural. É através desta identidade que nos reconhecemos como iguais e que nos
identificamos com os restantes elementos do nosso grupo e que nos diferenciamos dos
demais.
Preservar a identidade de uma comunidade é garantir que esta tenha maiores
oportunidades de perceber-se a si própria.
Barretto (2000, p. 46), salienta que:
Manter algum tipo de identidade étnica, local ou regional, parece ser essencial para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos aos seus antepassados, a um local, a uma terra, a costumes e hábitos que lhe dão segurança, que lhes informam quem são e de onde vêm.
Para Cunha (1986, p. 101-102):
A construção da identidade étnica extrai da chamada tradição, elementos culturais que, sob a aparência de serem idênticos a si mesmos, ocultam o fato essencial de que, fora do todo em que foram criados, seu sentido se alterou. Em outras palavras, a etnicidade faz da tradição ideologia, ao fazer passar o outro pelo mesmo; e faz da tradição um mito na medida em que os elementos culturais que se tornaram “outros”, pelo arranjo e simplificação a que foram submetidos, precisamente para se tornarem diacríticos, se encontram por isso mesmo sobrecarregados de sentido. (grifo do autor)
O caráter instrumental da etnicidade é um dado muito destacado nos trabalhos sobre
o tema, apontando sua presença nos movimentos pela conquista de espaços mais abrangentes
na sociedade. O que se verifica como importante, é o fato da identidade étnica retirar sua
força política de uma história passada, singular, específica do grupo, sem que isso signifique
29
uma história integralmente verdadeira. De fato, é uma história reconstruída e idealizada pelos
membros do grupo com a finalidade de defesa e de conquista de espaços políticos.
2.4 CULTURA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
Nos últimos anos o turismo cultural tem sido apontado como uma das possibilidades
de desenvolvimento para diversas localidades. De acordo com Llorenç Prats (1997), a relação
entre patrimônio e turismo não é um fato recente, pois o patrimônio foi um dos primeiros
motivos das viagens, antes até de se falar em turismo como o entendemos atualmente. Não
somente quadros e monumentos, também festas e tradições, processos produtivos e culturas
inteiras tem se convertido em artigos de consumo turístico. Para muitas comunidades o
turismo cultural se converteu no principal ou até mesmo, único modus vivendi.
Barretto (2000); Gonçalves (2003) concordam com Prats que o turismo sempre teve
um aspecto cultural. Grande parte das viagens realizadas ao longo da história, e que hoje
podem ser vinculadas com o início da atividade turística, eram motivadas por visitas a lugares
distantes; com fins educativos, onde o viajante conhecia locais históricos, artísticos e naturais.
Além de grupos de indivíduos pertencentes a outras culturas, muitas vezes consideradas
exóticas, cujo exotismo se encontrava na diferença em relação à própria.
A Carta Internacional sobre Turismo Cultural – ICOMOS (Comitê Científico
Internacional de Turismo Cultural) define Turismo Cultural da seguinte forma:
O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos. Exerce um efeito realmente positivo sobre estes tanto quanto contribui para satisfazer seus próprios fins - a sua manutenção e proteção. Esta forma de turismo justifica, de fato, os esforços que tal manutenção e proteção exigem da comunidade humana, devido aos benefícios sócio-culturais e econômicos que comporta para toda a população implicada (ICOMOS, 1976).
Patrimônio Cultural é o conjunto de bens constituídos, que são reconhecidos por uma
sociedade como representativos da sua história e da sua produção. Esses bens, por sua vez,
são todas as manifestações de expressão produzidas pelo homem, às quais são atribuídos
significados, funções e valores que identificam, personalizam determinada comunidade.
Para Pellegrini (1993, p. 92):
A noção moderna de patrimônio cultural não se restringe à arquitetura, a despeito da indiscutível presença das edificações como um ponto alto da realização humana. De
30
modo que o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humanos.
O legado histórico-cultural de um povo é responsável pela continuidade histórica de
uma comunidade que se reconhece como tal e corporifica seus ideais e valores, transcendendo
as gerações.
Barretto (2000, p. 11) nos lembra que o legado cultural “[...] inclui não apenas os bens
tangíveis como também os intangíveis, não só as manifestações artísticas, mas todo o fazer
humano, e não só aquilo que representa a cultura das classes mais abastadas, mas também o
que representa a cultura dos menos favorecidos.”
Segundo Campos (2006), patrimônio cultural é o conjunto de bens de natureza
material e imaterial que expressam e revelam a identidade das comunidades.
Llorenç Prats (1997, p. 19-20) afirma que:
[...] el patrimonio es uma construcción social [...] quiere decir, que en primer lugar, no existe en la naturaleza, que no es algo dado, ni siquiera un fenómeno social universal, ya que no se produce en todas las sociedades humanas ni en todos los períodos históricos; también significa, correlativamente, que es un artificio, ideado por alguien (o en el decurso de algún proceso colectivo), en algún lugar y momento, para unos determinados fines, e implica, finalmente, que es o puede ser históricamente cambiante, de acuerdo con nuevos criterios o intereses que determinen nuevos fines en nuevas circunstancias.
Nesse sentido, o patrimônio expressa uma representação simbólica de uma dada
versão da identidade, um processo simbólico de legitimação social e cultural, baseado na
seleção e ativação de determinados referentes culturais, retirados de um conjunto mais amplo,
que permite representar uma determinada identidade.
Falar de patrimônio pressupõe, falar de identidades, na medida em que pode ser
definido como uma expressão simbólica de valores identitários, que contribuem para um
sentimento de pertença e de identificação do coletivo social (PRATS, 1997).
Na atualidade, quando o processo de globalização atinge quase todas as comunidades
e atividades humanas, a valorização da cultura local surge como uma forma de diferenciação,
aspecto importante para o desenvolvimento do turismo cultural. É o diferencial em relação a
outros locais, que irá atrair ou não os turistas para uma determinada localidade ou região.
Gallicchio (2001, p. 61) afirma que “Ao turismo cultural com perspectiva
antropológica importa a identidade e o cotidiano local, promovendo o intercâmbio e a
experiência como uma espécie de estranhamento, de aventura exótica.” viabilizando uma
interação cultural.
31
Nesse caso, quando falamos de turismo cultural, nos referimos aos interesses
concretos que determinados turistas tem ao visitar e conhecer certos lugares e adentrar no
patrimônio humano e cultural de outros países e regiões. O turismo cultural deve se relacionar
intimamente com a vida cotidiana do destino turístico que se quer conhecer.
Na opinião de Campos (2006), o turismo cultural compreende as atividades turísticas
relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e
cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais de
uma comunidade.
De acordo com Gonçalves (2003, p. 36), em diversos países já houve um despertar
para o potencial do patrimônio cultural como fator de desenvolvimento, que pode ser
transformado em produto turístico para atender à demanda existente, a qual procura os fazeres
e saberes cotidianos, o modo de ser, o linguajar, a gastronomia que formam, entre outros, a
cultura de uma sociedade. A autora afirma, ainda, que “[...] o Património pode ser analisado
como um bem económico gerador de riqueza e que seus efeitos directos e indirectos são
quantificáveis”.
O turista atual mostra um encantamento maior por produtos de dimensão cultural dos
destinos que seleciona para seu tempo de lazer. Autenticidade, tradição, são valores que
caracterizam e diferenciam os destinos turísticos, indo ao encontro dos interesses de uma
clientela cada vez mais diversificada e exigente. Por isso, novas discussões apontam para a
necessidade da utilização do patrimônio cultural, não para ser simplesmente consumido pelo
turista, mas para servir-lhe de elemento de reflexão e de interação com a comunidade visitada
(FUNARI e PINSKY, 2001).
Em estudos feitos sobre o turismo cultural, Andrade (1995) assinala que as
características básicas deste tipo de turismo não se expressam pela viagem em si, mas por
suas motivações, cujos alicerces se situam na disposição e no esforço de conhecer, pesquisar e
analisar dados, obras ou fatos, em suas variadas manifestações.
Na medida em que o turismo funciona como fomentador dos processos de recuperação
da identidade de um lugar, passa a ter uma função social importante, pois permite que a
comunidade reconstrua para si própria o papel e a importância que possui a sua cidade e a
história das pessoas que nela viveram e vivem (REICHERT, 2001).
Portanto, ao se realizar um inventário turístico, devemos estar atentos para detectar
quais saberes foram e são gerados numa determinada comunidade e como eles se manifestam.
Cabe, também, lembrar que o patrimônio cultural por si não é um produto turístico. Para se
transformar em um produto, ele necessita ser trabalhado para atender à demanda real e efetiva
32
que já aflua ao destino, ou à demanda potencial da atividade turística, deixando de ser um
mero recurso para se tornar um fator de atratividade, por sua autenticidade, por sua
importância histórica, por seu contexto e, sobretudo, pelo valor que representa para uma
determinada comunidade.
Nesse sentido, a referência aos fatos históricos, tanto oficiais quanto da memória
coletiva, a recuperação das histórias da vida cotidiana, a compreensão dos nexos entre os
grandes feitos e a petite histoire, são condições necessárias para se trabalhar adequadamente o
recurso cultural do ponto de vista de sua aplicação ao turismo (BARRETTO, 2000).
Numa tal perspectiva o turismo é investido de uma dimensão humana, cultural,
significativa, extrapolando-se a sua visão utilitária, econômica e sob esse aspecto podendo
contribuir com mudanças sociais, que tragam bem-estar para a coletividade (SILVA, 2006).
O turismo cultural e a valorização do patrimônio de uma localidade devem estar
vinculados a definições estratégicas e políticas públicas que privilegiem os bens culturais,
cujo uso turístico seja compatível com as demandas dos consumidores, os interesses das
comunidades e o ordenamento do espaço. Integrando-se os diferentes componentes culturais e
ambientais, e a complementaridade da oferta de serviços turísticos, através de uma infra-
estrutura adequada às peculiaridades de cada localidade.
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO E A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ.
O Estado tem no controle do turismo uma de suas atribuições e para ele dirige sua
atenção setorial. Segundo a Organização Mundial do Turismo4 (Sancho Perez; OMT, 2001), o
Estado deve cumprir uma série de obrigações a favor de um desenvolvimento ordenado da
atividade turística, a fim de evitar impactos negativos nas comunidades e no meio natural.
Deve conceder ao turismo o lugar e a prioridade que merece no conjunto das atividades
4A Organização Mundial de Turismo, é uma organização internacional de caráter intergovernamental resultante da transformação da União Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo (UIOOT). Sua origem remonta ao Congresso Internacional de Associações Oficiais de Tráfego Turístico, realizado em 1925, na cidade de Haia, Holanda. Após a Segunda Guerra Mundial, foi rebatizada como União Internacional de Organizações Oficiais de Viagens (IUOTO) e transferida para Genebra. Em 1974, seguindo uma resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, foi transformada em um órgão intergovernamental. Em 2003, tornou-se uma agência especializada das Nações Unidas. Sua sede fica em Madri, Espanha. A OMT conta com membros de 150 países, 7 territórios e mais de 300 membros afiliados, representando o setor privado, instituições educacionais, associações e autoridades locais de turismo.O objetivo principal da Organização é o de promover e desenvolver o turismo com vista a contribuir para a expansão econômica, a compreensão internacional, a paz, a prosperidade, bem como para o respeito universal e a observância dos direitos e liberdades humanas fundamentais, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. A Organização tomará todas as medidas necessárias para atingir este objetivo. Disponível em: < http://www.world-tourism.org > Acesso em: 15/de dezembro/2006.
33
econômicas e sociais e, além de promulgar leis, deve elaborar previsões para as estruturas
locais, regionais e nacionais de turismo, facilitando um desenvolvimento ordenado.
A função dos órgãos institucionais públicos de turismo deve ser o fomento à
atividade. De acordo com Salvati (2004, p. 21):
Fomentar o turismo significa dispor de um conjunto de regras claras que instrumentalize o poder público com regras facilitadoras para o financiamento dos negócios, estímulo aos investimentos, defesa da concorrência, apoio à capacitação dos agentes do mercado, disponibilização de dados sobre o setor, ações em promoção turística, investimentos em infra-estrutura básica, entre outras.
Segundo Cruz (2000), as políticas públicas de turismo constituem um conjunto de
estratégias estabelecidas ou ações deliberadas cujo objetivo é o de alcançar o
desenvolvimento da atividade turística em um território. A autora assinala que às políticas
públicas de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que norteiem o
desenvolvimento sócio-espacial dessa atividade.
A consolidação de políticas públicas de turismo representa uma conscientização do
governo para a importância do turismo como instrumento de desenvolvimento.
Conforme o Portal Brasileiro do Turismo5: O Turismo é a atividade do setor terciário
que mais cresce no Brasil e no mundo. Portanto, é fundamental para a economia do Brasil,
país reconhecidamente de enorme potencial na atividade. Segundo dados fornecidos pelo
Ministério do Turismo, o ano de 2006 pode ser considerado o melhor da história do turismo
brasileiro no que diz respeito ao ingresso de divisas com a vinda de visitantes estrangeiros ao
País.
A fim de melhor situarmos essa questão é importante conceituarmos o que se entende
por desenvolvimento.
A emergência de novas abordagens a questão da mudança social tem permitido rever
as concepções de desenvolvimento. O antigo modelo baseado unicamente na busca de
crescimento econômico sofreu um abalo com a emergência de um novo paradigma que
contempla outras dimensões: social, ambiental, institucional e cultural da vida humana
associada. Essa perspectiva, além de estar centrada na qualidade de vida e na preservação do
nosso patrimônio comum, destaca os aspectos institucionais das transformações econômicas e
os elementos históricos e culturais que caracterizam o território, como aspectos que
5 Disponível em: <http://institucional.turismo.gov.br>. Acesso em 02/janeiro/2007.
34
constituem o processo de desenvolvimento. Dessa forma, ganham relevância os elementos
relativos à identidade local, considerados fatores de agregação social.
A cultura não pode em última instância, ser reduzida à posição subsidiária de
promotora ou de freio do crescimento econômico. “O papel da cultura não se esgota no de
servir a certas finalidades [...] constitui, de forma mais ampla, o fundamento social das
próprias finalidades. O desenvolvimento e a economia são, pois, aspectos da cultura de um
povo." (PÉREZ DE CUÉLLAR, 1997, p. 21-22).
Pensar as relações entre cultura e desenvolvimento e tomar essa reflexão como ponto
de partida para definir estratégias de intervenção coordenada entre os diversos agentes
públicos, privados e comunitários, torna-se um desafio.
Na opinião de Mello e Silva (2003, p. 22), o desenvolvimento deve ser concebido em
seu sentido amplo, “[...] valorizando o crescimento com efetiva distribuição de renda, com
superação significativa dos problemas sociais e sem comprometimento ambiental”. Segundo o
autor, isso somente ocorre se houver profundas mudanças nas estruturas e processos
econômicos, sociais, políticos e culturais de uma comunidade.
Nesse sentido, entende-se que o desenvolvimento deve resultar do crescimento
econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida das comunidades. Para tanto,
precisa ser encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem
econômica, política e, principalmente, humana e social.
Kuhn (1997) destaca que se presencia um momento de transição paradigmática dentro de muitas
dimensões da vida em sociedade, incluindo-se aí as dimensões da ciência, do direito e da política. Na
dimensão política, destaca-se a busca por caminhos para o desenvolvimento onde o que se deseja, é uma
emancipação social onde se inclua a democracia participativa.
A nova sociedade pressuporia também o aprendizado da ação política, de uma
disponibilidade para ajudar e ser ajudada, bem como da capacidade de fruir coletiva e
igualitariamente a vida. Isto tudo, entretanto, só pode ser alcançado no contexto de uma
sociedade anti-autoritária. Para Sen (2000), o exercício das liberdades políticas, através da
participação desimpedida nas escolhas sociais e na tomada das decisões públicas, conduz ao
êxito econômico. Contudo, devemos ter claro que não é isso que vem ocorrendo na nossa
sociedade, onde os interesses econômicos e a ganância de muitos, impede que isso ocorra.
A consciência política das pessoas que formam a sociedade civil passou a exigir um
maior controle sobre as ações estatais. Neste contexto, aparece um novo estilo de gestão, a
gestão participativa, pautada na participação efetiva da sociedade civil e na constituição de
redes de serviço e gestão pública.
35
Jacobi (2000) entende que a constituição de cidadãos, enquanto sujeitos sociais ativos,
consubstancia-se a partir da transformação das práticas sociais existentes e na sua substituição
pela construção de novas formas de relação, que tem na participação um componente
essencial. A participação da sociedade civil na gestão pública introduz uma mudança
qualitativa na medida em que incorpora outros níveis de poder além do Estado. O processo de
gestão através do ingresso da cidadania organizada na máquina estatal possibilita conhecer
seu funcionamento e seus limites e, ainda, estimula a construção de uma relação de co-
responsabilização.
No entanto, a temática da participação representa, ainda, um mito em planejamento.
Para Cordioli (2001), quando falamos em um processo participativo, necessitamos ter
presente uma visão do conjunto de elementos que irão fundamentar e orientar o seu
desenvolvimento. Ele deverá ser dinâmico, flexível e ajustado a cada contexto social e
cultural envolvido, tendo em vista que cada organização, cada indivíduo possui suas próprias
características, que deverão ser consideradas. Um planejamento participativo deve estar
baseado no princípio da descentralização com o desenvolvimento de ações conjuntas,
necessitando para isto, do envolvimento voluntário e livre das pessoas.
Ao analisar a questão da participação como garantia de sustentabilidade em projetos
de desenvolvimento, Irving e Azevedo (2002) salientam que pensar transversalmente
universos de referência individuais e sociais, implica em optar por novas construções da
realidade ancoradas na experiência coletiva e no poder da participação.
Cordioli (2001, p. 27) afirma que um processo participativo implica em aprendizagem
mútua, envolve todos os que desejam contribuir, seja conceitualmente, seja pela experiência,
assim como os que irão estar à frente da execução das idéias geradas. O autor considera que
“a participação não é somente um instrumento para a solução dos problemas, mas também
uma necessidade do homem auto-afirmar-se, de interagir em sociedade, criar, realizar,
contribuir, sentir-se útil”.
O turismo é reconhecido como uma das atividades mais dinâmicas e prósperas do
mundo6. No contexto das novas formas de internacionalização das relações de produção e
consumo, o turismo se mundializou e ganhou a qualificação de fenômeno de massa. Nesse
6 As chegadas (fluxo) de turistas internacionais chegaram a 806 milhões em 2005, e as despesas feitas totalizaram US$ 682 bilhões. A demanda do turismo continua a exceder as expectativas. Para 2007, o crescimento previsto é de 4%. Disponível em: <http://institucional.turismo.gov.br> . Acesso em 02/janeiro/2007.
36
sentido, torna-se importante discutir as repercussões sócio-espaciais desta atividade e levantar
questões sobre a viabilidade da mesma contribuir para desenvolvimento de uma região.
Vale ressaltar que a promoção do desenvolvimento na atividade turística implica,
fundamentalmente, no envolvimento e na participação cidadã no processo de gestão e
planejamento da localidade. Pois, é justamente a comunidade quem conhece e vivencia a
realidade local sendo capaz de identificar problemas e necessidades, avaliar alternativas,
defender o meio ambiente e buscar soluções, sugerindo caminhos que levem à melhoria da
qualidade de vida, ao fortalecimento da cultura e ao bem-estar social da comunidade. Além
disso, favorece o comprometimento da comunidade, o que é garantia de um turismo
sustentável. Ruschmann (1997) nos lembra que os conceitos de desenvolvimento sustentável e
de turismo sustentável estão intimamente ligados a sustentabilidade do meio ambiente. Isso
porque o desenvolvimento do turismo em particular, depende da preservação e da viabilidade
de seus recursos de base.
Como exemplo de participação cidadã, podem ser citadas as associações Pro Loco.
Conforme Ferreira (2001), estas entidades são encontradas em pequenas cidades da Itália e
formam a Unione Nazionale Pro Loco d’Italia, que conta com aproximadamente 5.500
agências espalhadas por todo o país. As Pro Loco são associações de moradores formadas por
comerciantes, políticos, intelectuais, artesãos, operários, donas de casa e não tem fins
lucrativos. São democráticas e populares, formadas pela vontade política dos cidadãos, para
benefício de seu local de moradia. Podem tratar de diversos assuntos operacionais, mas a
princípio sua função é cultural e recreativa. Organizam a memória histórica de suas cidades e
realizam seus calendários de festas. Prestam grande assistência aos visitantes funcionando
como entidades de turismo nestas cidades.
Silveira (2002, p. 96-97) ressalta que a participação da população é um pressuposto
decisivo para o planejamento da atividade. Nesse sentido, o autor evidencia ainda, que:
[...] há distinção entre participação ampla em todos os estágios do processo de planejamento, implementação e controle de ações de desenvolvimento, e a simples manipulação de recursos humanos para implementação de projetos, programas ou planos turísticos concebidos de fora e impostos à população de forma mais ou menos autoritária.
O modelo excludente de desenvolvimento turístico é apenas uma das criações do
arquétipo de sociedade dominante, que tem de um lado uma minoria usufruindo os benefícios
e, de outro, grande parte da população vivendo na miséria ou tendo suas estratégias de
sobrevivência ameaçadas.
37
O desenvolvimento da atividade turística não acontece de forma satisfatória sem que
haja comprometimento e participação da comunidade diretamente envolvida.
A exclusão da população local no processo de planejamento e desenvolvimento do
turismo é uma realidade freqüente no cenário nacional e, ainda, em muitos destinos turísticos
do cenário internacional, sendo um fator comprometedor dos seus resultados. Somente uma
população local envolvida com os propósitos e metas turísticas, pode garantir o bom
andamento do seu processo de desenvolvimento.
Tem-se visto diversos trabalhos que partem de boas idéias e propósitos promissores,
naufragarem em descrédito por negligenciarem a comunidade para a qual ou na qual o projeto
foi implementado.
O caso do Pelourinho, em Salvador/BA, foi estudado e analisado por diversos autores,
com diferentes enfoques que vão desde a questão arquitetônica relacionada à revitalização do
patrimônio, ao turismo, passando pela questão cultural relacionada à mercantilização da
cultura. Reformado e revitalizado por uma intervenção que começou em 1993, e que teve
como objetivo explícito transformá-lo em pólo de atração turística, o Pelourinho, em Salvador
(BA), é um dos casos mais notórios de conflito entre população pobre e o poder público.
Salvati (2004) explica que o turismo deve respeitar as culturas locais e prover
benefícios e oportunidades para a mesma. Entretanto, para que isso ocorra é indispensável
investir no capital humano e cultural em longo prazo, e em políticas que priorizem a
população local e a participação cidadã.
A participação dos diversos atores locais no planejamento e gestão de
desenvolvimento do turismo exige uma significativa descentralização política. O
comprometimento de todos os atores sociais na consecução, implementação e avaliação dos
projetos de desenvolvimento turístico regional aparece como garantia de sustentabilidade,
pois dessa forma, torna possível alcançar efetivamente as principais carências da localidade e
avaliar com mais clareza o grau de importância das ações a serem executadas, assegurando
assim, o êxito e a continuidade dos projetos propostos, independentemente de mudanças
políticas que possam vir a acontecer.
38
3 A TRAJETÓRIA DA AFIRMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE E SUA
IMPORTÂNCIA PARA A CONSOLIDAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM
BLUMENAU
3.1 A FORMAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL DE BLUMENAU
Em meados do século XIX a Europa passava por um período de conflitos e mudanças
em decorrência das guerras napoleônicas. Na Alemanha havia um cenário de instabilidade
econômica, social, disputas políticas e, a chegada tardia da Revolução Industrial afetou
também a vida no campo. O sistema agrário feudal existente dava sinais de exaustão e os
camponeses, insatisfeitos com sua condição de pobreza, começavam a migrar para as cidades
aumentando a urbanização, além de competir com a mão-de-obra dos artesãos (SANTIAGO,
2001).
Configurava-se nesse momento um quadro ideal para a emigração e, nesse contexto, a
América, com disponibilidade de terras e oportunidades econômicas, apresentava-se como o
lugar ideal para melhorar de vida. Todavia, a decisão de deixar a pátria era carregada de
medos e incertezas. Além dos riscos que a travessia do Atlântico podia trazer, a esperança de
construir uma vida melhor confrontava-se com a realidade incerta que esperava os imigrantes.
Seyferth (1990, p. 10) destaca que “Excluindo os açorianos e portugueses que
entraram no Brasil como imigrantes após a independência, sabe-se que o primeiro contingente
imigratório mais ou menos constante foi de alemães [...]”. Segundo autora (1999a), a primeira
colônia alemã de Santa Catarina foi fundada em 1829, em área relativamente próxima à
capital Desterro – hoje Florianópolis – com a denominação de São Pedro de Alcântara; nesse
mesmo período colonos alemães instalaram-se em Mafra, região próxima com o Paraná. Essas
e outras iniciativas de colonização na primeira metade do século XIX não surtiram os
resultados esperados, pois nem todos os imigrantes assentados permaneceram nas colônias.
Em 1835, o governo provincial promoveu o reassentamento de algumas famílias alemãs
egressas de São Pedro de Alcântara em dois núcleos – Pocinho e Belchior – localizados no
baixo rio Itajaí-Açu – hoje área do município de Gaspar. Essa foi a primeira tentativa de
colonização no Vale do Itajaí.
A intensificação da imigração passa a acontecer após 1850. É nesse período que se
abrem as oportunidades para a iniciativa privada, estimulando a atuação das companhias de
colonização, apoio e financiamento à migração. Entre elas, cabe registrar a Sociedade de
39
Proteção aos Imigrantes Alemães do Sul do Brasil em Hamburgo, que futuramente financiaria
a primeira viagem de Hermann Bruno Otto Blumenau ao Brasil. (SANTIAGO, 2001)
Sobre isso, Renaux (1995, p. 39) nos dá mais detalhes:
Os empresários hamburgueses, vendo possibilidades de negócios com a imigração, e em apoio aos interesses brasileiros, fundaram a “Sociedade de Fomento à Emigração Alemã para o Brasil”. Depois essa denominação foi mudada para “Sociedade de Proteção ao Imigrante Alemão no sul do Brasil”. É em nome dessa sociedade que em 1948 que o Dr. Blumenau, como passou a ser chamado o prático de química que defendeu tese sobre alcalóides, chegou ao Brasil, financiado por grupo hamburguês que lhe garantiu a devolução de suas despesas de viagem e o pagamento de bom ordenado mensal. No sul do Brasil deveria ele fazer o levantamento de tudo o que dizia respeito à colonização e transferência de imigrantes europeus, preços dos gêneros e sistema de comércio locais.
A fundação de colônias de origem alemã no Sul do Brasil conciliou os interesses dos
empresários hamburgueses (importadores atacadistas e empresas de navegação)7, com os
interesses do Governo Imperial - pois a imigração possibilitaria a ocupação das áreas
descobertas do sul do país -, e com os dos imigrantes, que vinham em busca de oportunidades
na nova terra.
Segundo Seyferth (1999ª, p. 62), depois de longa negociação com os governos
provincial e imperial, Hermann Blumenau8 formou uma empresa colonizadora que recebeu
uma concessão de terras devolutas cujo destino era “à ocupação com imigrantes alemães em
regime de pequena propriedade familiar”.
Em junho de 1850, 16 imigrantes alemães acompanhados do sobrinho do Dr.
Blumenau, Reinoldo Gaertner, embarcaram com destino a Santa Catarina e ao Itajaí. Em 02
de setembro de 1850, chegaram à barra do Ribeirão da Velha (SILVA, 1988).
Conforme Siebert (2000), o local escolhido para a implantação da Colônia foi o último
trecho navegável do Rio Itajaí-Açu. Os primeiros imigrantes se instalaram na confluência do
Ribeirão da Velha com o Rio Itajaí-Açu e, posteriormente, construíram o galpão para abrigo
provisório na desembocadura do Ribeirão Garcia que, de acordo com Renaux (1995), foi o
local escolhido pelo Dr. Blumenau para levantar a sede da Colônia e em torno dela distribuir
7Estes desejavam incrementar as trocas comerciais com o país e viam na imigração a possibilidade de negócios, pois os veleiros que partiam dos portos hanseáticos, na falta de carga para o Brasil, vinham lastreados com sacos de areia (RENAUX, 1995). 8Devido a dificuldades financeiras, em 30 de janeiro de 1860, a Colônia Blumenau deixou de ser um empreendimento particular passando a competência do Governo Imperial. Dr. Blumenau continuou como diretor. Em janeiro de 1882, foi dissolvida a direção da Colônia. Dispensado de suas funções, Hermann Bruno Otto Blumenau parte em agosto de 1884 para a Alemanha. (DEEKE, 1995)
40
os primeiros lotes de terra aos imigrantes. Renaux (1995, p. 67) nos lembra que neste local “já
se encontravam estabelecidas algumas pessoas vindas de Camboriú e Porto Belo”.
Figura 4– Barracão dos imigrantes - Colônia Blumenau Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
As dificuldades da vida colonial aparecem constantemente em relatos e histórias de
vida dos imigrantes, como também em documentos oficiais. Os procedimentos iniciais para a
implantação da Colônia são assim descritos por Deeke (1995, p. 44):
A primeira clareira foi aberta na desembocadura do Ribeirão da Velha, na beira da selva (boca da mata), onde foi erguida a primeira casa. Na seqüência dos trabalhos de implantação da Colônia, fizeram derrubadas em grandes áreas de florestas nas margens do Ribeirão Garcia e, nas clareiras abertas, plantaram tanto grama para pastagem, como milho, aipim, batata e feijão preto para consumo dos colonos.
As condições de vida dos primeiros colonizadores eram muito precárias. Os problemas
iam desde a adaptação ao clima tropical até às dificuldades para conseguir alimentos e
mantimentos. Os colonos não encontraram os lotes demarcados, dificultando ainda mais os
assentamentos. Sobre isso, Seyferth (1999a, p. 63), explica que:
A espera pela concessão de um lote podia variar de seis meses a um ano, deixando os imigrantes dependentes dos subsídios oficiais (depois incorporados à dívida colonial) e do crédito dos comerciantes locais (que forneciam mantimentos e equipamentos). Estes fatos mostram a precariedade com que a ocupação foi realizada e dimensionam uma realidade que, mais tarde, seria acionada como símbolo étnico, o pioneirismo dos alemães, os primeiros ocupantes da região, e a eficácia do seu trabalho. (grifo nosso)
41
Figura 5 – Colonos alemães nos primeiros anos da Colônia Blumenau Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
As doenças tropicais, os animais selvagens e insetos também afligiam os colonos, no
entanto, o que lhes causava grande temor eram os índios.
Segundo Goulart e Fraga (2000), a região escolhida para instalação da Colônia
Blumenau era povoada pelos índios Xokleng. Quando as frentes colonizadoras foram se
estabelecendo na região, passaram a ocupar espaços que abrigavam um grande número de
indígenas, fato que gerou uma competição pelos recursos naturais existentes (caça e espécies
vegetais).
Conforme explicam Arend e Wittmann (2002):
Ao longo do tempo mais e mais cocolés instalavam-se em terras próximas aos rios e derrubavam as matas. A comida dos Xokleng então começava a rarear. Os indígenas alteraram suas rotas migratórias e dirigiram-se cada vez mais para as terras onde o rio Itajaí nascia, isto é, para oeste. Os cocolés acabaram alcançando-os. (p. 64, grifo do autor)
Os confrontos entre os Xokleng e os cocolés9, foram inevitáveis nas terras do Vale do
Itajaí. O historiador José Ferreira da Silva (1988) comenta que o primeiro ataque10 dos índios
foi registrado em dezembro de 1852 e o último conflito data de junho de 1914. Para Arend e
9 Os Xokleng chamavam de cocolés as pessoas que não pertenciam ao seu grupo social e que não eram amigas. 10 Os índios atacaram o rancho de recepção de imigrantes, que aos domingos transformava-se num local de culto religioso dos colonos.
42
Wittmann (2002, p. 72), “[...] uma parcela significativa dos habitantes da cidade almejavam o
progresso [...] e a “luta contra os índios que recuam diante da cultura” era parte construtiva
deste movimento intitulado de progresso” (grifo do autor).
A “paz passou a reinar no Vale do Itajaí quando se iniciou a atração e o posterior
confinamento dos Xokleng no Vale do Itajaí do Norte” (GOULART; FRAGA, 2000, p. 30)
Figura 6 – Índios no entorno da Colônia Blumenau. Final do século XIX Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
Silva (2003, p. 68) considera que no processo de adaptação dos imigrantes a nova
terra, é imprescindível mencionar o importante papel desempenhado pelo caboclo no
enfrentamento dos imigrantes europeus com o ambiente desconhecido. Estes lhes ensinaram
“[...] a construir as choupanas, a defender-se das intempéries, a conhecer os animais, as
estações, as plantas, as épocas certas para as várias plantações, os tipos de plantações [...]”.
Com a chegada dos alemães e a instalação da Colônia Blumenau (1850), os caboclos
que viviam da caça e da lavoura passaram a viver na periferia da colônia, da qual não se
afastariam (SILVA, 2001).
Segundo Peluso Jr. (apud Silva, 2001, p. 45):
[...] essa atração devia ser exercida pelas possibilidades de comércio e de aquisição de produtos de que necessitavam. Não eram absorvidos pelos novos elementos,
43
porque, além da barreira da língua, o sertanejo, criado na liberdade ampla das selvas, não podia viver dentro do acanhado limite de um lote colonial. As casas que os sertanejos edificavam, os terrenos em que plantavam, não eram de sua propriedade. Constituíam ‘posses’ que pretendiam ter o mesmo valor que as propriedades legais. Na terra sedenta de braços a ‘posse’ representava o trabalho.
Apesar das dificuldades dos primeiros anos, o isolamento e as adversidades reforçaram
a solidariedade entre os colonos, resultando numa sociedade com fortes laços culturais.
O crescimento da população aflorou novas necessidades de vida, como a social e de
lazer na colônia. Entre os primeiros colonos alemães vindos com o Dr. Blumenau, já se
formava aos domingos, pequenos grupos dedicados à dramaturgia e ao canto como expressão
cultural de sua terra natal, como também à prática do tiro ao alvo.
Petry (1979) assinala que os colonos acostumados ao manejo de armas de fogo perante
a convivência e o confronto com índios e animais selvagens, optaram por formar uma
sociedade de tiro, herança trazida da Alemanha. O tiro ao alvo foi a modalidade de recreação
e interação entre os imigrantes que melhor se adaptou ao meio. Em 02 de dezembro de 1859,
foi criada a primeira sociedade recreativa, o Schützenverein (Sociedade de tiro) Blumenau,
com 47 sócios. A partir de 1875, começaram a surgir outras associações de tiro, seguindo o
modelo do Schützenverein Blumenau. Para a historiadora, o Schützenverein, foi um “agente
catalisador da vida social, cultural e recreativa da colônia nas suas primeiras décadas”
(PETRY, 1979, p. 46).
Nesse sentido, Flores (1997, p. 40) acrescenta que:
O papel dos Clubes, dentro da comunidade, compreendia não só o caráter cultural e esportivo, mas exercia, ainda, influência nas relações econômicas e sociais dos colonos teuto-brasilerios, ultrapassando a simples relação de vizinhança. As sociedades reuniam boa parte da população, que fora desta oportunidade, passavam a maior parte do seu tempo isoladas nas suas propriedades rurais particulares.
Mais tarde, os grupos de teatro e canto se desmembraram do Schützenverein para
formar a Sociedade Teatral de Blumenau, em 1860 – que em 1895 adotou o nome de
Sociedade Teatral Frohsinn e, em 1863, a Sociedade dos Cantores da Colônia de Blumenau –
Gesangverein, dirigido pelo pastor Osvaldo Hesse, posteriormente denominada Sociedade de
Canto Germânia11.
11 Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS).
44
Figura 7 – Clube de Caça e Tiro Ribeirão Fidélis, fundado em 1894. Foto registrada em 1926. Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
Hering (1987) considera que uma vez fixados em sua nova terra, os imigrantes
desenvolveram praticas sociais características das colônias alemãs. Para a historiadora, a
“Expressão mais forte do cooperativismo original foram as sociedades de apoio, em que se
revela a capacidade de organização e o espírito de solidariedade dos colonos alemães. Delas
fazia parte o Kulturverein, ou sociedade Cultural [...]”, cuja finalidade era melhorar os
resultados na agricultura e na pecuária “[...] aproveitando informações especializadas e a
própria experiência já desenvolvida localmente, além de cuidar da importação de sementes
selecionadas e de matrizes de gado de raça da Europa” (HERING, 1987, p. 27).
Com passar dos anos, o Kulturverein configurou-se na entidade mais forte de
Blumenau.
Os imigrantes alemães que aqui chegaram, enfrentaram a mata cerrada, um clima e
solo até então desconhecidos e desenvolveram atividades que não estavam habituados. Da
terra tiraram a subsistência e com suas habilidades técnicas, foram eles artesões, oleiros,
carpinteiros, pequenos trabalhadores da indústria doméstica, e também responsáveis pelo
surgimento das incipientes indústrias familiares, embrionárias de grandes empreendimentos
que se projetaram nos diversos segmentos da economia.
O Vale do Itajaí aparece sempre como região de colonização "alemã", mas a
exclusividade dessa etnia restringiu-se apenas as primeiras décadas de ocupação. Além da
população indígena e cabocla que habitava a região, os documentos coloniais registram a
45
chegada de imigrantes de outras etnias, uma heterogeneidade provocada, em parte pelas
dificuldades de aliciar imigrantes alemães, “mas também relacionada às preocupações das
autoridades brasileiras com possíveis enquistamentos étnicos, o que recomendava colônias
mistas” (SEYFERTH, 1999a, p. 65, grifo do autor)
A imigração de italianos em Santa Catarina se dá a partir do Contrato entre o
Governo Imperial e o Comendador Joaquim Caetano Pinto Júnior, titular de uma companhia
de transportes particular, assinado em 30 de junho de 1874, cujos resultados serão percebidos
a partir de 1875 (SACCON, 2000).
De acordo com Silva (2001), foram duas as correntes migratórias de origem italiana
que no século XIX se deslocaram para o Estado de Santa Catarina: a primeira se estabeleceu a
nordeste do Estado, vinda diretamente da Itália das regiões do Vêneto, Lombardia e Tirol
meridional (1875), na época, sob a dominação austríaca; a segunda, que ocupou o oeste
catarinense (1910), era formada por italianos que transmigraram das colônias do Rio Grande
do Sul.
A imigração italiana no Vale do Itajaí, era composta em sua maioria de agricultores
que vieram em busca de uma “vida” melhor, atraídos principalmente pela possibilidade de se
tornarem donos de uma pequena propriedade rural. Conforme afirma Seyferth (1990), no Vale
do Itajaí os italianos foram estabelecidos em linhas coloniais que ainda não haviam sido
ocupadas pelos alemães. O contato e a convivência entre esses grupos aconteceram somente
muito depois.
Para Saccon (2000), os imigrantes de origem germânica que haviam se estabelecido
antes em terrenos mais férteis e próximos às vias de comunicação, detinham os poderes
político, social e econômico da região. Ainda, segundo a autora, a opinião pública alemã no
Vale do Itajaí, não recebeu de bom grado a notícia de que milhares de colonos italianos
estavam chegando às províncias do Sul do Brasil.
Em 1875, o Deutsche Zeitung (apud Saccon, 2000, p. 246), escrevia: “De nosso
ponto de vista específico, só poderia ser positivo se evitasse a imigração de elementos
franceses e italianos. A ordem pública e a segurança da propriedade, dessa maneira, teriam
somente a ganhar.” Ainda nesse artigo, o jornal caracterizava os italianos como “vagabundos”
e em outras edições como: vagabundos, preguiçosos e aposentados pelo Estado.
Saccon (2000, p. 247), acredita que poderiam ser duas as razões da aversão alemã
com relação aos imigrantes italianos:
Uma pode ser identificada na “concorrência ecológica” dos colonos italianos frente aos colonos alemães, na luta entre as duas etnias pela conquista do novo ambiente. A
46
Segunda pode ser relacionada com a cultura alemã e que poderia ser analisada a partir do conceito de “etnocentrismo” (grifo do autor).
Umas das principais características do sistema de colonização até o final do século
XIX foi seu isolamento e sua homogeneidade étnica. As colônias alemãs e italianas ficaram
isoladas por um longo período, favorecendo nesse sentido a formação de núcleos etnicamente
homogêneos, onde a presença do elemento brasileiro era mínima.
A homogeneidade e o isolamento inicial das colônias italianas favorecem a permanência, por um período bastante longo, não só de atitudes tradicionais com respeito à procriação, à escolha endogâmica do parceiro, mas também à conservação da bagagem cultural, do credo religioso, da propensão a solidariedade. A integração na sociedade brasileira foi um fenômeno gradual e só em mínima parte desagregante das diferentes identidades dos sujeitos, os quais tem sempre sabido pôr-se como elementos de inovação técnica e cultural (SACCON, 2000, p. 261-262).
Apoiados em tradições do país de origem, os italianos constituíram suas colônias
com características próprias que as diferenciaram dos outros grupos étnicos aqui assentados, e
que representaram para eles questões sérias relacionadas ao convívio social e a estabilidade
econômica.
Figura 8 – Imigrantes italianos. Década de 1880 Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
47
Historicamente, as festas tiveram papel essencial na comunidade italiana do Vale do
Itajaí. Desde o período colonial, juntamente com a religiosidade, as festas foram um
importante elemento na integração social, pois nelas todos se juntavam para desfrutar a
alegria, a música e a comida.
A imigração para Blumenau constituiu-se, majoritariamente, de italianos e alemães;
entretanto outros grupos étnicos compõem o quadro de povoamento, como por exemplo, os
poloneses.
Segundo Decol (2000), no final do século XVIII a Polônia deixou de existir como
estado independente e soberano, sendo seu território dividido entre as três grandes potências
expansionistas da época: os impérios da Prússia, Áustria e Rússia. Além dos problemas
econômicos, as freqüentes mudanças de fronteiras e de territórios, expulsaram milhões de
Poloneses para o exterior. A�� primeira fase da imigração polonesa para o Brasil constituiu-se
predominantemente de elementos provenientes das regiões ocupadas pela Prússia, com pouca
participação de minorias étnicas.
Conforme os autores Krieger (1984), Rodycz (2002), o início da imigração polonesa
em Santa Catarina data de agosto de 1869. Foi nesse ano que os primeiros imigrantes polacos
- provenientes da aldeia de Siolkowice, região da Silésia Meridional - naquele tempo sob
domínio da Prússia - chegaram ao Porto de Itajaí. Estabeleceram-se nas colônias Príncipe
Dom Pedro e Itajahy, nas proximidades da Colônia Blumenau.
Para Rodycz (2002), o aumento da população, a má distribuição da propriedade da
terra, frustrações com as safras, a falta de emprego nas cidades e as epidemias motivaram os
poloneses a emigrar. Faltavam-lhes em sua pátria, condições para a uma vida segura e digna.
“Embora tivesse havido exceções, quem emigrou foi a gente pobre, os campesinos e os
proletários urbanos, atingidos pelas crises” (RODYCZ, 2002, p. 47).
A segunda fase da imigração polonesa para região ocorreu a partir de 1875. Entre
1888 e 1890, verifica-se a chegada de imigrantes originários da região de Lódz, importante
centro têxtil da Polônia (KOLLROSS, 2002).
Santos (1996) destaca que muitos imigrantes poloneses instalaram-se na região das
Itoupavas em Blumenau e em outras localidades próximas. Conforme o Censo do IBGE
(1980), habitava na região da Vila Itoupava um grupo formado por 23 famílias polonesas.
A chegada desses novos imigrantes contribuiu para diversificar a economia, fazendo
surgir novas atividades comerciais e artesanais (pequena produção).
48
Além de fornecer um excedente de mão-de-obra altamente capacitada para o povoamento do Vale do Itajaí-Mirim, a Polônia contribuiu de modo decisivo no aparecimento das tecelagens, pois os operários especializados – obrigados a emigrarem pelas condições reinantes em Lódz – seriam aproveitados de modo decisivo [...] (KRIEGER, 1984, p. 51)
Embora se reconheça a importância da imigração polonesa, a quase inexistência de
pesquisas sobre o tema, particularmente para o município de Blumenau, alia-se ao fato do
grupo dispor de pouca visibilidade na região.
Petry (2000) aponta para a importância de lembrar os muitos atores que fizeram parte
da história de Blumenau: indígenas, luso-brasileiros, imigrantes, migrantes e todos que aqui
viveram, venceram as dificuldades e realizaram conquistas, deixando suas marcas na trajetória
econômica e cultural da cidade.
A construção de uma imagem homogênea faz parecer que Blumenau, a partir de sua
colonização, constituiu-se um espaço monolítico, porém, qualquer um que percorra esse
espaço, pode perceber sua heterogeneidade. Na definição da identidade blumenauense, há que
se incluir todas as etnias e culturas, não como uma coleção de grupos que se mantêm
separados e justapostos, mas sim como grupos que se organizam etnicamente uns face aos
outros. Uma confluência para um único grupo, com variadas raízes.
3.2 ESTRATÉGIAS DE AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE BLUMENAUENSE
Vivemos em uma época caracterizada por um intercâmbio de valores e
representações. Nesse contexto, se observa a tentativa de afirmação das identidades locais
baseadas em um passado comum com características próprias. Entretanto, antes de falar em
um possível reavivamento de uma identidade é necessário discutir que identidade é essa?
A presença marcante e o papel exercido pelos alemães entre a população que
colonizou o Vale do Itajaí vêm sendo apontados como responsáveis pela significativa
construção cultural da comunidade local, e pela constituição de sua identidade, desde o início
desta colonização em meados do século XIX, até a presente data.
Segundo Seyferth (2004), nas pequenas cidades de colonização germânica, e mais
intensivamente em Blumenau, as elites e classes médias locais, formadas por industriais,
comerciantes, políticos, funcionários públicos, educadores, pastores, profissionais liberais,
jornalistas, etc., criaram condições para o surgimento de associações que valorizassem a
cultura dos imigrantes alemães, inclusive no seu aspecto mais erudito. As primeiras
49
associações, destinadas a práticas esportivas, reuniões sociais e atividades culturais surgiram
logo no início da colonização. Eram as Schützenvereine, destinadas à prática de tiro, mas seus
salões serviam também para apresentações musicais e teatrais, portanto algo mais do que
festas e bailes igualmente vinculados ao caráter alemão.
Além das sociedades recreativas, educativas e culturais, surgiu em 1899, sob
liderança de Eugen Fouquet, a Volksverein – Associação Popular, uma sociedade de cunho
político e natureza étnica, voltada para a congregação da população colonial, cujo objetivo era
a defesa de seus direitos civis, políticos e econômicos.
A identidade étnica alemã constituiu-se e manteve-se com base na manutenção do
germanismo – Deutschtum12 – uma prática da defesa da germanidade – através das diversas
atividades promovidas pelas associações culturais, recreativas e esportivas; dos jornais em
alemão, da literatura alemã, do rádio com programas em idioma alemão, da religião luterana,
das escolas alemãs, da arquitetura com características germânicas e, principalmente, na
manutenção da língua falada. Todos estes elementos se traduziam de forma prática e eram
vinculados a valores que enalteciam o trabalho árduo, o progresso, a superioridade da raça e a
manutenção da pureza étnica através da política da não miscigenação. Pois, era preciso
“desenvolver mecanismos tendentes a corroborar para a manutenção de sua identidade,
evitando ou ao menos retardando a assimilação” (KLUG apud FERREIRA, 2000, p. 79)
Em sua tese de doutoramento, Méri Frotscher (2003) analisa alguns textos escritos
durante os festejos do Centenário de Imigração Alemã em Santa Catarina. Seu objetivo é
perceber como Blumenau era vista em relação a outras regiões de ocupação alemã no Estado.
Dentre os textos analisados pela historiadora, estão alguns escritos por Gustav Koehler -
proprietário do jornal Der Urwaldsbote. Segundo Frotscher, em seus textos, Koehler investe
na defesa de manutenção de “fronteiras étnicas” entre o Vale do Itajaí e o resto do Estado, 12 A palavra Deutschtum tem dois sentidos que convergem para compor a etnicidade teuto-brasileira: expressa o sentimento de superioridade do “trabalho alemão” — e, neste caso, remete ao progresso trazido pelos pioneiros à “selva” brasileira — e define o pertencimento à etnia alemã, estabelecendo seus critérios — língua, raça, usos, costumes, instituições, cultura alemães. O primeiro sentido tem relação com o processo histórico de colonização associado à idéia de Heimat: o trabalho “pioneiro” de construção de uma sociedade nova e progressista, literalmente a edificação de uma nova pátria no Brasil ou, mais restritamente, no Vale do Itajaí. Daí o emprego da palavra Heimat (pátria), derivada de Heim (lar) — no seu sentido mais particularista a pátria deve coincidir com o lugar onde o indivíduo tem o seu lar. Ou pode ser, simplesmente, a comunidade étnica que, para ser alemã, deve expressar Deutschtum — e aí está o segundo sentido, englobando a idéia de raça, língua, cultura e espírito. Desse modo, define- se o pertencimento à etnia/nação alemã pelo jus sanguinis, instituindo uma germanidade materializada por intermédio da “colônia alemã”. Ao mesmo tempo, cria-se uma categoria de identificação com hífen (teuto-brasileiro), para traduzir uma germanidade brasileira (Deutschbrasilianertum) — modo de afirmação da cidadania mediante a integração econômica, política e patriótica, ancorada no pressuposto de que não existe, propriamente, uma nação brasileira. A definição da categoria teutobrasileiro (Deutschbrasilianer) combina jus sanguinis e jus soli: origem alemã e cidadania brasileira, pertencimento à nação alemã e ao Estado brasileiro visualizado como multirracial ou multiétnico. (SEYFERTH, 1999a, p. 74)
50
como também no interior do próprio Vale do Itajaí. Conforme a autora, ao escrever sobre a
presença de alemães no Estado, Koehler relaciona o conceito de desenvolvimento com o de
raça. Em seu artigo intitulado Die vor uns waren – Os que estavam antes de nós –, Koehler
não escreve, como indica o título, a respeito das populações indígenas, mas sobre os
imigrantes alemães que chegaram em Santa Catarina em 1829 – São Pedro de Alcântara,
fazendo uma relação entre essa fase da colonização alemã no Estado, com a seguinte, 1850 –
Blumenau. O autor enfatiza que as cidades que originaram do segundo período da colonização
prosperaram economicamente por duas razões principais: a habilidade de Hermann Blumenau
na condução da colônia e, principalmente, pelo fato destes imigrantes não terem se
miscigenado.
Nesse sentido, Frotscher (2003, p. 75, grifo do autor), explica que, para Koehler, “Os
bravos pioneiros, portanto, não teriam sido os que tinham chegado antes, como os de São
Pedro de Alcântara, mas os que preservaram a pureza racial”. Ou seja, aqueles que haviam
permanecido conscientes de sua identidade e mantido-a pura. Frotscher observa ainda que,
para Koehler, existia uma hierarquia racial, determinada pela crença na suposta superioridade
do trabalho alemão, na qual os descendentes de alemães aparecem em primeiro lugar, em
seguida os descendentes de italianos e, por fim, os descendentes de portugueses. “O indígena,
como visto, não é incluído nesta escala, uma vez que lhe é negado o direito da própria
existência” (FROTSCHER, 2003, p. 95).
A crítica a miscigenação étnica em Santa Catarina e, sobretudo, em Blumenau, é
recorrente em muitos artigos escritos por ocasião dos festejos do centenário da imigração
alemã no Estado13.
De acordo com Seyferth (1999a, p. 75), jornais locais usavam uma linguagem
racista, cujo objetivo era:
[...] afirmar a superioridade do trabalho alemão e defender a endogamia e, legitimar a existência do grupo étnico pela assertiva de que o Brasil não era uma nação porque seus cidadãos não formavam uma raça ou povo homogêneo, reivindicando para cada grupo imigrado o direito à singularidade.
13 A política da não miscigenação e da hegemonia alemã é apresentada por diversos autores. No entanto, cabe registrar algumas exceções. Um exemplo a ser citado é a união da filha de Guilherme Friedenreich, um dos imigrados, fundadores da Colônia e assíduo cooperador do Dr. Blumenau, com o Dr. Joaquim Rodrigues Antunes, chefe da comissão de engenheiros que veio à Blumenau com o objetivo de reparar os danos causados pela enchente de 1880 nas estradas, pontes e outros bens públicos do município (SILVA, 1977; 1988).
51
Seyferth (1999, p. 300) assinala ainda, que:
Os textos produzidos por teuto-brasileiros sobre o papel da colonização, veiculados na imprensa, em almanaques, nas publicações comemorativas e na historiografia local, falam do pioneirismo e, principalmente da superioridade do trabalho derivada da condição germânica – evidenciados no desenvolvimento econômico, no progresso e na civilização da selva brasileira. Essa imagem idealiza e glorifica o papel do civilizador dos colonos, numa concepção etnocêntrica onde progresso e civilização são subjacentes` a preservação da condição germânica, supondo a construção de uma Heimat (pátria) no Brasil.
É preciso estar atento ao fato de que Blumenau se constitui num espaço marcado por
diversas culturas, nativas ou de correntes migratórias, que além de contribuírem para o
desenvolvimento econômico da região, como é o caso dos italianos que introduziram novas
técnicas de plantio, como a cultura do arroz irrigado que veio substituir com sucesso o cultivo
do arroz plantado em locais secos, prática utilizada pelos caboclos e alemães; também criaram
um verdadeiro cadinho cultural. Isso resultou que Blumenau se tornasse uma sociedade multi-
cultural (SILVA, 2003).
O censo de 1927, mostra com detalhes a naturalidade, a cidadania e a língua materna
dos habitantes que compunham o Município de Blumenau. Do total de 98.663 habitantes,
53% declararam como língua materna, a alemã, 28% a língua portuguesa, 16% a língua
italiana, 2% as línguas polonesa e russa, e os restantes, 1%, tinham como língua materna o
francês, holandês e sueco, entre outras (FROTSCHER, 2003).
No entanto, a identidade blumenauense é sempre referenciada por elementos da
cultura germânica, tais como as festas, danças, trajes, gastronomia, arquitetura, aparecendo
revestida de uma atemporalidade que esconde tanto a real história de seu desenvolvimento,
como a existência de outras possibilidades de sua expressão que foram preteridas ou
esquecidas ao longo desta história.
No processo de formação e constituição da cidade de Blumenau, podemos observar
algumas fases. Uma delas tem a ver com a Campanha de Nacionalização que iniciou no final
da década de 1930, no advento do Estado Novo de Getúlio Vargas, promoveu grandes
transformações na sociedade local. Em 1942, o Decreto assinado pelo prefeito Afonso Rabe
altera o nome de 44 ruas de Blumenau. Desapareceram os nomes alemães e de imigrantes
ilustres, inclusive o do fundador da cidade, que foi trocado pelo de Duque de Caxias. Clubes e
associações mudaram de nome, a técnica construtiva enxaimel14 foi camuflada pelo
14 O Fachwerk, dito aqui enxaimel, consistia de uma construção quadrada ou retangular cuja fundação de madeira tinha mais ou menos 10 metros de profundidade dependendo da composição do solo. O corpo da
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rebocamento, escolas foram fechadas, o Teatro Frohsinn15 passou a chamar-se Carlos Gomes
e a língua alemã foi proibida.
Conforme Caresia (2000), a partir da década de 1940, além da mudança dos hábitos e
costumes dos cidadãos, a cidade também se modificou. O discurso da modernidade e da
“americanização” do comportamento social, então predominante, integrava as pessoas a
realidade nacional e a cidade aos grandes centros urbanos. A construção de pontes, estradas,
ferrovias, aeroportos e a expansão da telefonia, integravam Blumenau a realidade do país.
Nesse período, são muitos os discursos que fomentam a modernidade. Após quase um
século, o rio Itajaí-Açu deixava de ser a principal porta de entrada e saída de mercadorias e
passageiros em Blumenau. O movimento de cargas e pessoas no porto da Praça Hercílio Luz,
na foz do Ribeirão Garcia, era cada vez menor. As estradas e a ferrovia passaram a concentrar
a maior parte do tráfego. As constantes e concorridas viagens dos vapores começavam a fazer
parte do passado. Os casarões localizados na rua XV de Novembro - centro da cidade -
representavam o antigo, o passado, devendo ser substituídos pelo novo, pelo moderno, pelo
“discurso que procurava abafar, esconder, o passado germânico da cidade do pré-guerra”
(CARESIA, 2000, p. 180).
A germanidade, nesse momento, aparece como sinônimo de retrocesso e atraso
cultural. Isto pôde ser constatado em algumas entrevistas concedidas à Profa. Dra. Margarita
Barretto, por ocasião da realização de um trabalho de pesquisa na cidade de Blumenau. As
palavras da entrevista com M.M., revelam-nos uma certa “vergonha” de sua ascendência:
Quando criança e adolescente, eu não gostava de ser descendente de alemães. Eu me preocupava até em pronunciar meu sobrenome alemão de forma brasileira, o que não era fácil. Eu não tinha interesse em conhecer a Alemanha e detestava ter que falar alemão em casa. Hoje eu atribuo esta aversão a fama que tinham (tem) os alemães
construção, cubo ou prisma tem nas suas arestas pilares de madeira, encaixados nos vértices. A cobertura, em alguns casos com ramos vegetais, muito comumente com placas de madeira, posteriormente com telhas planas de argila ou ardósia. A estrutura da construção é autoportante e com isso as paredes de vedação podiam ser de filetes de bambu ou similar, preenchidos com argila, ou ainda com tijolos sobrepostos no sentido longitudinal dos barrotes do piso. O enxaimel não é originalmente da Alemanha, mas tem sua base neste país segundo estudos do professor de arquitetura, Vilmar Vidor. No documento ele afirma que o enxaimel do Vale do Itajaí não é inteiramente original, mas foi adaptado de acordo com o novo modo de vida dos imigrantes. O enxaimel trazido pelos alemães no fim do século XIX remonta ao período renascentista. Disponível em: <http://www.jornalmetas.com.br>. Acesso em: 04/05/06. 15 A Sociedade Teatral de Blumenau foi instituída em 24 de junho de 1860, mas só passou a configurar-se como sociedade em 18 de abril de 1895, quando adotou o nome de Sociedade Teatral Frohsinn. Para a inauguração do Teatro Frohsinn, em abril de 1896, foi encenada a peça "Uma Idéia Maluca", de Karl Laufs, escolhida justamente pelo seu título - usado como resposta àqueles que consideravam "loucura" a idéia de construir um teatro em Blumenau. Em 10 de dezembro 1935 a Sociedade Teatral Frohsinn lançou a pedra fundamental da construção do novo teatro. Em 1937 uma lei obrigando o uso do idioma nacional alterou definitivamente seu nome para Sociedade Dramático Musical Carlos Gomes. O novo teatro foi inaugurado dia 1º de julho de 1939. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS).
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de serem militaristas, desajeitados e sem jogo de cintura. Mesmo depois de conhecer a Alemanha, de ter casado com um alemão e de ter vivido (e me sentido bem) lá por muitos anos, faço questão de ser brasileira e não gosto de passar por alemã16.
Na década de 1970, percebe-se uma nova reconfiguração dos aspectos urbanos da
cidade. Com a política de expansão do turismo que despontava como opção para o
revigoramento da economia, o discurso agora visava realçar os aspectos germânicos da
cidade, recriando uma memória romantizada acerca do passado, “diluindo-se os conflitos e
descontinuidades existentes, dando um caráter homogeneizante à cultura e a construção étnica
da cidade” (FROTSCHER, 2000, p. 187)
Em 1972, o Prefeito Municipal Evelásio Vieira, sancionou a Lei n° 1.909, concedendo
favores fiscais as chamadas “casas típicas blumenauenses”, para residências construídas
dentro do perímetro urbano da cidade. Esta lei, que gerou muitas controvérsias, foi
reformulada em 1977, pelo Prefeito Municipal Renato Vianna. Nesse período, foi criada a Lei
Municipal de Incentivo Fiscal nº. 2.262, que concedia isenção do imposto predial para
construção e reforma de edificações em estilo germânico. A febre do “enxaimelóide”
transformou a área central da cidade imprimindo-lhe um forte apelo turístico.
16 Em entrevista concedida à Profa. Dra. Margarita Barretto em junho de 2001 (com a qual trabalhei como auxiliar de pesquisa). Artigo disponível em: <http://www.pasosonline.org/Publicados/1103/PS050103.pdf>
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Figura 9 - “Castelinho da Moellmann”17 Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau (PMB)
Em 1974, os restos mortais do Dr. Blumenau e de seus familiares chegam à cidade
para serem depositados no Mausoléu construído com o intuito de preservar sua memória.
Essa reverência à figura do fundador da cidade vem consolidar as estratégias de afirmação da
“identidade blumenauense”.
17 Idealizado pelo empresário Udo Schadrack e projetado por Heinrich Herwig, sua construção teve início na década de 1970. O edifício é uma réplica da Prefeitura da cidade alemã de Michelstadt (Odenwald), cuja construção data de 1486. Até 1999 abrigou uma importante casa comercial da cidade. Posteriormente, foi cedido ao Instituto Blumenau 150 Anos para ser utilizado até fins do ano de 2000. A partir de junho de 2002 passou abrigar a Secretaria de Turismo de Blumenau. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
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Figura 10 – Mausoléu Dr. Blumenau18 Fonte: Arquivo pessoal – Iara Rischbieter
O poder público e o trade turístico passam a se empenhar cada dia mais para conferir à
cidade uma identidade cujo objetivo era atrair mais turistas.
Para Flores (1997, p. 98), a cidade foi recriada com a imagem do povo alemão:
[...] ordeiro, trabalhador, limpo, progressista, mulheres e crianças louras, saudáveis, bem coradas. É a germanidade do povo que é prometida ao turista, com seu casario enxaimel, os gerâneos nas sacadas, os jardins bem cuidados, as ruas e os sanitários muito limpos e, especialmente, moradores que preservam o ethos germânico: o trabalho, a limpeza, o capricho dos bordados, um gosto especial pela culinária e pelos quitutes, uma tradição musical e cultural.
Esse movimento intensificou-se ainda mais, logo após as enchentes de 1983 e 1984,
quando o lema da reconstrução era: “cidade do trabalhador, herdeiro das qualidades dos
imigrantes alemães”. A idéia acerca da germanidade incluía “cultura do trabalho”. Nesse
período Blumenau passa ao rememorar o passado, extraindo dele elementos de apelo ao
voluntarismo. Esse discurso, também aproxima Blumenau da Alemanha, mãe-pátria dos
primeiros imigrantes que aqui chegaram (FROTSCHER, 2000, grifo do autor).
As décadas de 1960, 1970 e 1980, conheceram uma espécie de revanche do
germanismo exacerbado, ou seja, veio à tona o "retorno do oprimido". 18Obra do governo municipal na gestão do Prefeito Municipal Félix Christiano Theiss, o Mausoléu foi inaugurado em 02 de setembro de 1974, ano do Sesquicentenário da Imigração Alemã no Brasil. A construção deste monumento surgiu da inspiração do professor e historiador José Ferreira da Silva que também idealizou seu estilo arquitetônico. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
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Figura 11 – Pequenos comércios de artesanato na Vila Germânica19 – Blumenau/SC. Imitação da técnica construtiva enxaimel
Fonte: Arquivo pessoal – Iara Rischbieter
A cidade preparada para a atividade turística e realimentada pelo mito da bravura do
povo alemão, tornou-se um modelo a ser admirado.
Nesse contexto, surge em 1984, a Oktoberfest. Criada como evento turístico-cultural, a
festa consolidou-se num dos mais importantes produtos turísticos do calendário nacional,
projetando a cidade de Blumenau e suas características alemãs, como: a gastronomia, a
música, as danças e o folclore.
19 Em 03 de outubro de 1983, o Sr. Harald Letzow, idealizador da Vila Germânica, foi empossado como Diretor Administrativo da PROEB – Fundação Promotora de Exposições de Blumenau, hoje Fundação Parque Vila Germânica. A idéia da construção de uma Vila Germânica na PROEB surgiu na primeira edição da Oktoberfest realizada em 1984. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
57
Figura 12 – Desfile na Rua XV de Novembro - Oktoberfest /1984 – Blumenau/SC Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
Segundo Ferreira (2001), a festa deve ser vista como um conjunto de atos cerimoniais
de caráter coletivo pela sua colocação dentro de um tempo delimitado, tido como distinto do
cotidiano. No fenômeno festa, é possível extrair os elementos de identidade mais
significativos de uma determinada cultura, bem como entender estes elementos como um
canal de comunicação, que permite ao observador avaliar como o passado e o presente se
articulam no interior desta cultura e as várias formas de identidades que são ao mesmo tempo
re-significadas, assumindo novos aspectos.
Com o advento da festa, a germanidade passa a fazer parte do senso comum e a
Oktoberfest é identificada como o símbolo maior da cultura local. Os desfiles na rua central
da cidade – que acontecem no período da festa, são permeados de saudosismo e magia, onde
as diversas etnias se transvestem e desfilam cheias de orgulho de sua identidade “alemã”.
58
Figura 13 – Desfile na Rua XV de Novembro - Oktoberfest /2006 – Blumenau/SC Fonte: Fundação Parque Vila Germânica
Flores (1997, p. 23-25) nos explica como se configura esse cenário, onde a cultura é
mostrada e consumida como espetáculo e atores e expectadores, muitas vezes, se confundem
nesta festa-espetáculo.
Vestindo personagens, seu corpo torna-se um discurso também a ser lido no conjunto dos signos. O espetáculo da cultura se revela ao turista, portanto, como “autêntico”. [...] O passado é presentificado nos símbolos que compõe o desfile. Mulheres e homens, idosos, adultos, jovens, adolescentes, crianças e bebês transformam seus corpos em “manequins”, vestidos não só com a indumentária típica da cultura, mas também com os papéis dos sujeitos da história local [...] (grifo do autor)
59
Figura 14 – Traje típico alemão - Oktoberfest /2006 – Blumenau/SC Fonte: Fundação Parque Vila Germânica
Entretanto, a aposta em uma identidade única, em contraposição a diversidade de
culturas que construíram Blumenau e lhe atribuíram uma identidade plural, acentua a
diferença que existe entre a realidade e a imagem do produto turístico. Percebe-se que a
diversidade cultural não é contemplada na aparente reinvenção da festa promovida pelo setor
turístico. O que se evidencia em Blumenau é uma homogeneização cultural pautada,
principalmente, nas possibilidades de “mercado”.
3.3 UM RETRATO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM BLUMENAU
Na década de 1950, começa a ser escrita a história do turismo em Blumenau. Alguns
marcos importantes merecem ser registrados, como os festejos do centenário da cidade, tanto
pela forma que foi organizado, como pelo número de visitantes que atraiu. Entre os dias 2 e
10 de setembro de 1950 a cidade vira uma grande festa recebendo cerca de 100 mil visitantes.
A Comissão dos Festejos do Centenário de Blumenau, que tinha como Presidente o
Sr. Hercílio Deeke, elaborou uma extensa programação que incluía: a Exposição Industrial de
Blumenau, a Exposição Agro-Pecuária, a Exposição Museu, a Exposição de Artes, a
60
Exposição Filatélica e Numismática. Para este evento a comissão organizadora dos festejos,
colocou a disposição dos visitantes um escritório de informações para atender aos pedidos de
reservas de hospedagem e acomodações. Cabe registrar que em 1950, Blumenau dispunha de
19 hotéis para atender aos viajantes e visitantes que aqui chegavam (ERN FILHO, 2006).
Niels Deeke20 nos recorda que por ocasião dos festejos do centenário da cidade,
identificou-se a necessidade de construir um empreendimento que dispusesse de mais
conforto para receber os visitantes, com unidades habitacionais dotadas de banheiro privativo
– tipo apartamento. Nesse período surge o Hotel Rex, cuja infra-estrutura e qualidade na
prestação dos serviços se tornaria um referencial para os demais meios de hospedagem que
viram posteriormente. Para Deeke, a construção do Hotel Rex, representou a “alavanca” da
atividade turística em Blumenau. No entanto, essa atividade começa a desenvolver-se
efetivamente a partir da década de 1960.
Ainda na década de 1950, Blumenau viu desaparecer um de seus maiores referenciais
urbanos, o Hotel Holetz, que durante toda a primeira metade do século XX dominou a cena do
centro da cidade. Em 1959, foi posto abaixo para dar lugar ao moderno Grande Hotel
Blumenau.
Em 16 de dezembro de 1962, no discurso proferido por Hercílio Deeke21 por ocasião
da inauguração do Grande Hotel Blumenau, se evidenciava uma preocupação com a
profissionalização do turismo na cidade.
[...] Do antigo Hotel Holetz, de tantas tradições, procurado por aqueles que visitavam Blumenau, surge, agora, altaneiro e impressionante pela sua estrutura e acabamento, o Grande Hotel Blumenau, no qual o funcional e o social entrosam-se harmoniosamente com o plástico, e que, como realidade magnífica, será procurado por aqueles que visitarem Blumenau. Contém 76 apartamentos, dotados, cada um, de um banheiro próprio, telefone, sistema sonoro e renovação de ar. Possui 152 leitos. Dispõe de um jardim terraço, salão de mármore no andar social, terraço panorâmico, escritório de turismo, restaurante e confeitaria, bar-boate, salão para reuniões e banquetes, garagem no subsolo, além das dependências da Agência do Banco Inco e, uma farmácia. [...] O Grande Hotel Blumenau dará nova e melhor projeção à nossa comuna, por ser obra que exprime, em sua beleza e arrojo, o denodo, o vigor de nossa gente. Incrementará o turismo, trazendo, consigo, à nossa pujante indústria e diligente comércio, à nossa cultura e saber, novas fontes de riqueza e conhecimentos.
Em 27 de junho de 1963, na gestão do Prefeito Hercílio Deeke, foi criado através do
Decreto Lei n° 1.169, o Departamento Municipal de Turismo (DMT)22 em Blumenau, com
20 Advogado e memorialista, em entrevista concedida em outubro/2006. 21 Conforme ANEXO A.
61
autonomia administrativa subordinada ao Prefeito Municipal. Em 06 de setembro do mesmo
ano, Hercílio Deeke, através de Decreto, designou José Ferreira da Silva para exercer as
funções de Diretor-Geral de Depto. Municipal de Turismo.
Segundo entrevista concedida pelo Sr. Niels Deeke23, em setembro de 1963, o
Prefeito Hercílio Deeke mandou editar o 1º Guia Turístico de Blumenau. Tratava-se de um
fascículo em 64 páginas impresso pelo Departamento Municipal de Turismo.
Em 25 de maio de 1964, Hercílio Deeke criou através do Decreto nº 504, o Conselho
Municipal de Turismo24, órgão consultivo composto por 15 membros escolhidos dentre os
representantes de diversas entidades do município, cuja função era a de assessorar o
Departamento Municipal de Turismo – D.M.T.
Conforme relato do Sr. Niels Deeke25, na continuidade dos registros nos anais de
Hercílio Deeke, relativo ao ano de 1964, mês de abril, consta26:
O número de turistas que, diariamente, transita, ou se demora, em nossa cidade, tem sido impressionante. Agora mesmo, quando já estamos fora da época das férias escolares, em que mais se acentua o movimento turístico, ainda contam-se por centenas os que visitam a cidade, solicitando lugares nos vários hotéis. Esses turistas, pertencentes às mais variadas condições de fortuna e às diversas classes sociais, levam, daqui, da imponente natureza blumenauense, da sua gente acolhedora e amável, as mais gratas impressões, manifestando-se com simpatia, sobre tudo quanto lhes é dado ver e sentir entre nós. Muitos desses visitantes não se contentam em expressar, pelas estações de rádio, ou em entrevistas à imprensa, a satisfação de que se sentem possuídos ao entrarem em contato com uma região de que têm ouvido falar seguidamente e da qual é feita intensa e espontânea propaganda.
Deeke27 assinala que em 25.6.1964, o Prefeito Hercílio Deeke, determinou ao
Departamento Municipal de Turismo que fosse procedida a 1ª impressão do Cartão Postal da
série “Biblioteca Municipal”, trazendo o retrato e biografia do Dr. Fritz Mueller. O
memorialista, em seus “escólios”28, apresenta algumas considerações feitas pela mídia acerca
do turismo em Blumenau e, faz também referência as impressões de um visitante uruguaio -
22Vide Relatório dos Negócios Administrativos do Município de Blumenau referente ao ano de 1963, apresentado a Câmara Municipal de Blumenau pelo Prefeito Hercílio Deeke – pág. 33. Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke. 23 Op. Cit. 24 Conforme ANEXO B 25 Op. Cit. 26 Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke – enviado por correio eletrônico com permissão para divulgação. 27 Op. Cit. 28 Conforme ANEXO C
62
Sr. José Petraglia, residente em Montevidéu – a respeito do Departamento Municipal de
Turismo. O teor da carta é o seguinte29:
Tive a oportunidade de permanecer algumas horas em Blumenau, e ali, no Hotel Rex e também o Sr. Klemz do Hotel Rodoviário, me informaram da existência do Departamento Municipal de Turismo e da elevada missão que ele cumpre na orientação do turismo na região, sob a segura e eficaz direção do Sr. Prefeito Municipal. É por esse motivo que me dirijo a V.S. para solicitar-lhe a fineza de remeter-me todo o material de propaganda de que dispõe com referência à beleza da cidade de Blumenau e planos para visitas excursões por todo o Vale do Itajaí e demais cidades dessa próspera e pitoresca região. Muito agradeço à sua gentileza de atender o meu pedido e aqui, em Montevidéu, penso publicar em jornais e revistas algumas coisas sobre a breve visita que realizei há alguns dias por essa rota do litoral atlântico, a qual é praticamente desconhecida do turista uruguaio, assim como sobre a grata impressão que recolhi da beleza, organização, trabalho e prosperidade, que caracterizam essas cidades. Fico à sua disposição para que possa ser útil a V.S. na delicada missão que cumpre e aproveito a oportunidade para saudá-lo com a minha respeitosa consideração. Ass. José Petraglia – Montevidéu – Uruguai. Nota: Sugiro a possibilidade de canalizar correntes de turistas uruguaios pela rota do litoral atlântico, isto é : Montevidéu – Porto Alegre – Florianópolis- Itajaí- Blumenau- Joinville- Curitiba , etc. Indubitavelmente seria necessário propaganda, pois essa rota é desconhecida no Uruguai.
Na década de 1960, a cidade foi sede da “Primeira Convenção Hoteleira do Sul”30,
evento importante para o turismo da cidade. Blumenau recebeu entre os dias 15 e 22 de
novembro de 1964, hoteleiros do sul do Brasil e autoridades do turismo nacional.
O Prefeito Hercilio Deeke destacou-se pela intensa atividade nos setores culturais do
município. Na sua gestão, recuperou o vapor Blumenau como monumento público. Foi
também construído o prédio para a Biblioteca Municipal Dr. Fritz Mueller. Em 1964, já em
seu segundo mandato, adquiriu vasta área para conter o Pavilhão da COEB – Comissão
Organizadora de Exposições de Blumenau, que tinha como objetivo a realização de
exposições industriais, comerciais, rurais entre outras (NIELS DEEKE31)
Conforme Santiago (2001), em 1967, o Prefeito Carlos Curt Zadrozny levou a
experiência adquirida na iniciativa privada para a prefeitura e criou, através do Decreto n° 757
de 27 de julho de 1967, a Comissão Municipal de Turismo de Blumenau, cujo objetivo era o
fomento da atividade turística com planejamento e incentivos municipais.
Apoiada numa vasta publicidade, Blumenau começava a ser vista pelos turistas como
um lugar bucólico, com gastronomia e arquitetura que lembravam as cidades germânicas, e
com boas opções para compras de artigos de cama, mesa, banho, confecções e cristais.
29 Extraído de “O Executivo em Foco” – Resenha dos Atos Administrativos do Prefeito Hercílio Deeke, datado de 29.10.1964. Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke. 30 Conforme ANEXO D 31 Op. Cit.
63
Em 1968, a Comissão municipal de Turismo criou uma campanha publicitária para
divulgar a imagem da “Blumenau germânica”, imagem que será explorada pelo turismo a
partir de então. Organizou e publicou um encarte na Revista Seleções, de circulação nacional,
intitulado “Adivinhe que país é este”, trazendo como ilustração imagens de Blumenau
(SANTIAGO, 2001).
Um outro folheto dizia: “Você pode conhecer um outro país sem deixar sua terra,
sem dólares, sem passaporte, é só tomar o caminho de Blumenau.” (SANTIAGO, 2001, p.
142). Ainda de acordo com o autor, em 1969, a Lei Ordinária n° 1.625 instituía a PROEB –
Fundação Promotora de Exposições de Blumenau, em substituição a COEB - Comissão
Organizadora de Exposições de Blumenau32.
Dentro da política de incentivos da prefeitura, em 1971, uma parceria entre o
Executivo Municipal e a iniciativa privada fez surgir um novo empreendimento turístico, o
restaurante Moinho do Vale, localizado no Bairro Ponta Aguda, no local denominado
“Prainha”. No mesmo ano, os industriais Ingo Hering e Ernesto Schmidt, motivados pelo
crescimento do setor, decidiram investir no turismo anunciando a construção do Hotel Plaza
Hering.
Em 24 de setembro do ano seguinte os blumenauenses acompanharam a viagem
inaugural do Vapor “Blumenau II” pelas águas do rio Itajaí-Açu. Esta embarcação que surgiu
como “futuro do turismo em Blumenau” e que por muitos anos navegou rio abaixo repleto de
turistas, depois da aposentadoria, amargou anos de abandono e degradação, chegou a afundar
e, depois de impasse jurídico, teve que ser rebocado por ordem judicial, rumo a um
atracadouro no Município de Ilhota 33.
O interesse da iniciativa privada pelo turismo continuou aquecido durante toda a
década. Em 1978, foi construído o novo prédio da Comercial Moellmann, denominado pela
população como “Castelinho da Moellmann”34, devido a sua arquitetura com torres laterais
que lembram um pequeno castelo. Esta construção tornou-se um dos locais mais conhecidos e
fotografados do sul do país (MUELLER; SALDANHA, 2000). Provavelmente pela sua
imponência e exotismo, além de ratificar a imagem da germanidade que a cidade carrega.
Apesar de seu desenvolvimento, a atividade turística necessitava de um órgão que
executasse a política municipal do setor. Assim, em 09 de março de 1981, através da Lei
32 A COEB – Comissão Organizadora de Exposições de Blumenau, a princípio, teve como finalidade organizar a IV Feira de Amostras de Santa Catarina (Famosc) - uma grande feira das indústrias do Estado - que seria realizada em Blumenau no ano seguinte. Fonte: Fundação Parque Vila Germânica. 33 Fonte: Jornal de Santa Catarina, Blumenau, v. 3, p 36, set. 2000. 34 O edifício é uma réplica da Prefeitura da cidade alemã de Michelstadt, cuja construção data de 1486.
64
2.646, o então Prefeito Municipal de Blumenau, Renato Vianna, cria a primeira secretaria
municipal de turismo de Santa Catarina (ERN FILHO, 2006).
Após as grandes cheias de 1983/8435, as autoridades locais decidiram mostrar ao
Brasil que a cidade havia se recuperado dos danos sofridos. Nesse contexto, irrompe o
discurso acerca da memória da colonização, produzido no momento da reconstrução de
Blumenau, fazendo dele uma arma para enfrentar o momento.
Frotscher (2000) assinala que a ênfase na afirmação do potencial de reconstrução da
cidade tomou uma força expressiva em razão do momento singular em que se encontrava a
economia local, em que o poder público buscava novas opções para revitalizar o mercado.
Petry (2000) nos lembra que a atividade turística, até então, representava a terceira fonte de
arrecadação do município. Por isso, a Secretaria de Turismo de Blumenau em conjunto com
alguns líderes da iniciativa privada, buscou estabelecer políticas para reorganizar essa
atividade.
Nesse sentido, a realização de uma festa com apelo a cultura local, foi oportuna. Em
outubro de 1984, surge a primeira edição da Oktoberfest (festa de outubro), que é assim
descrita por Petry (2000, p. 114):
Projetada como forte apelo na herança cultural dos seus colonizadores, a representação da festa foi elaborada com elementos que faziam parte das tradições da cidade. Para atrair o público providenciou-se a organização de desfiles que passaram a contar com apoio e participação dos Clubes de Caça e Tiro, dos grupos folclóricos que na época eram poucos, sendo que em função desta festa e pela invocação das raízes históricas, motivaram as entidades culturais para a criação de novos grupos. Juntaram-se ao evento outros elementos das manifestações sócio culturais que também desfilaram na rua XV de Novembro, ao som das tradicionais bandas e bandinhas musicais responsáveis pela animação do alegre cortejo. Outro requinte incorporado foram os pratos típicos, cujas receitas em alguns casos foram adaptadas ao gosto da festa. Tudo regado com muito chope, os atores desta festa inventada, impressionaram o público que veio assisti-los e participar durante os 18 dias da Oktoberfest. O evento ganhou corpo, os pavilhões da PROEB aumentaram em número para atender os festeiros.
Ainda, no que diz respeito ao surgimento da festa cabe lembrar que, de acordo com a
professora e historiadora Sueli Petry36, já existia um esboço desse projeto antes mesmo de
ocorrerem as enchentes. Flores (1997) concorda com Petry e explica que as enchentes de
1983 e 1984 permanecem até os dias de hoje para explicar a origem da Oktoberfest de
35 Conforme o Comitê do Itajaí, a partir de 1850 até o ano 2000, foram registradas 67 enchentes em Blumenau. 36 Em palestra proferida na FURB, dia 21 de outubro de 2004 em seminário promovido pelo CCHC e coordenado pela profa. Dra. Marilda Checcucci Gonçalves da Silva: Patrimônio, Cultura e Turismo: Memória Coletiva ou Negócio Promissor?
65
Blumenau, mas desde 1981, muito antes das enchentes, já se discutia a montagem de uma
“Oktober-fest” (grifo do autor)
Já o Sr. Niels Deeke37 nos dá outras informações:
Certa questão que tem sido tratada repetidas vezes em comentários através da imprensa local, é a relativa à “Paternidade da Idéia da Implantação da Primeira Oktobefest em Blumenau”. Há quem atribua a idealização ao Secretário de Turismo de então- Antônio Pedro Nunes, já outros apontam Hans Schadrack, então empresário da “Loja Moellmann” como o “pai da criança”. Necessário se faz repor a verdade histórica, pois a “paternidade” do ideário do festival, é exclusiva dos empresários da “Ouro Promoções”, ou seja os Srs. Laércio Cunha e Silva e seu associado Geovah Amarante. A empresa “Ouro Promoções” realizou no “Pavilhão A” da Proeb - seis ( 06) “Festivais do Chopp”- entenda-se em seis exercícios - com desfiles, trajes típicos - chapeuzinhos à “Tirol”, iguarias e especialidades em pratos típicos alemães (que então eram uma delícia e já agora deixam muito a desejar), múltiplos conjuntos de música germânica inclusive bandeirolas, danças com um tablado central elevado e “canecos decorativos” (fabricados pela “Ceramarte”), chopp de baixa e alta fermentação saído de mangueirões à guisa de mangueiras para abastecimento de gasolina, e tudo mais, nos anos de 1966, 1967, 1968, 1969, 1970 e 1971 (DEEKE, 2006, grifo do autor).
Deeke38 enfatiza que:
A única diferença coube ao mês da realização, quando geralmente acontecia durante o verão [...] Os eventos perduravam durante uma semana, e eram realmente animados com enorme afluxo de visitantes. Portanto a propalada “paternidade da idéia”, cabe unicamente ao empresário “Laércio Cunha e Silva” de Itajaí, que promoveu os festivais associado a Geovah Amarante. Tudo quanto puseram em prática, anos após, nada mais foi que uma repetição com duas diferenças, o nome “Oktoberfest” e o “mês” da realização. (2006, grifo do autor).
A Oktoberfest39 aparece como um redimensionador do potencial turístico de
Blumenau e passa a ser seu cartão de visita, atraindo pessoas de vários lugares. Em sua
primeira edição, a festa recebeu mais de 102 mil visitantes surpreendendo seus organizadores,
cujas expectativas eram de 40 mil pessoas. Isso motivou sua reedição.
37 Op. Cit 38 Op. Cit. 39 A Oktoberfest de Blumenau, que se tornou uma das festas mais populares do Brasil, foi inspirada na festa homônima alemã, que teve origem em Munique. Tudo começou em 12 de outubro de 1810, quando o Rei Luis I, mais tarde Rei da Baviera, casou-se com a Princesa Tereza da Saxônia e para festejar o enlace organizou uma corrida de cavalos. O sucesso foi tanto, que a festa passou a ser realizada todos os anos com a participação do povo da região. Em 1840, a festa ganhou uma nova dimensão. Passaram a ser montadas barracas e promovidas várias atrações. A cerveja, proibida desde os primeiros anos, só começaria a ser servida em 1918. Realizada ininterruptamente desde 1945, a Oktoberfest de Munique recebe anualmente um público aproximado de 10 milhões de pessoas. Fonte: Fundação Parque Vila Germânica, 2006.
66
A festa cresceu, dinamizou o turismo no município e o projetou nacionalmente40. Em
sua segunda edição, atraiu mais de 360 mil turistas. No ano seguinte, 1986, reuniu
aproximadamente 800 mil pessoas. Em sua quarta edição recebeu quase 900 mil visitantes.
Em 1988, a Oktoberfest registrou a marca de um milhão de visitantes e entrou para o
calendário turístico nacional como a segunda maior festa popular do país e a segunda maior
festa da cerveja do mundo. O evento se consagrou e fez de Blumenau o principal destino
turístico da Santa Catarina durante o mês de outubro (SANTIAGO, 2001).
No entanto, o turismo centralizado na Oktoberfest passou a ser questionado quando
se constatou a incompatibilidade da infra-estrutura turística existente na cidade com as
proporções que a festa havia tomado. Foram, então, organizadas reuniões para promover a
reengenharia da festa41 com vistas a torná-la compatível com a infra-estrutura local, além de
garantir um público que movimentasse os diversos setores da economia da cidade.
Figura 15 – Parque Vila Germânica – Oktoberfest/2006 – Blumenau/SC Fonte: Arquivo pessoal – Iara Rischbieter
O turismo passou a ser cada dia mais importante para a economia de Blumenau,
apenas os 17 dias de Oktoberfest e as rápidas visitas de veranistas do litoral catarinense já não
são mais suficientes para o mercado da cidade. Assim, através de mecanismos como o
40 Em 1996, o Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR conferiu à cidade de Blumenau o primeiro selo de “Município com Potencial Turístico”. No ano de 2002, este mesmo órgão, através do PNT - Programa Nacional de Turismo concedeu à cidade o selo “Ouro do Turismo”, que representa o título de maior importância no Turismo. Fonte: Secretaria de Turismo de Blumenau – SECTUR, 2005. 41 Reunião de Reengenharia das Festas de Outubro – Etapa Blumenau – da qual participei - realizada em 03 de agosto de 2001, em Blumenau – SC.
67
Blumenau Convention & Visitors Bureau, o trade turístico tem se concentrado na captação de
feiras, eventos, congressos que incrementem o turismo na cidade durante todo o ano. Para
atender a essa demanda, o poder público investiu na reestruturação dos pavilhões da
Fundação Promotora de Exposições de Blumenau (PROEB), transformando no maior centro
de eventos de Santa Catarina. A PROEB agora dá lugar ao Parque Vila Germânica42, que se
constitui não somente em um centro de eventos e sede da Oktoberfest, mas também em um
ponto para o encontro da comunidade.
Figura 16 – Parque Vila Germânica – Blumenau/SC Fonte: Fundação Parque Vila Germânica
Também a Oktoberfest de Blumenau iniciou um processo de revitalização de suas
atrações e serviços. Com o objetivo de fortalecer a característica cultural do evento, se
estabeleceu que a temática da festa deveria estar voltada à Colonização do Vale do Itajaí –
iniciada pelos imigrantes alemães a partir de 1850 – como ocorreu em suas primeiras edições.
42 A obra entregue no dia 30 de abril de 2006, possui uma área total de 39.000 metros quadrados. O Parque Vila Germânica é composto de duas áreas: A Vila Germânica, um conjunto de lojas de souvenirs, restaurantes, choperias, casa de lanches e café colonial, museu, serviços entre outros, e o Centro de Eventos, com 26.000 m2 de área construída, sendo 18.360 m2 especificamente para eventos, num único pavilhão subdividido em 3 setores e um mezanino. A construção do Centro de Eventos Parque Vila Germânica é a primeira etapa de um projeto que modificará a antiga Proeb, que também inclui o Ginásio Galegão, Feira Livre, Parque Ramiro Ruediger e também as vias públicas – transformando toda a área em espaço de interesse turístico. Fonte: Fundação Parque Vila Germânica, 2006.
68
Figura 17 – Desfile na Rua XV de Novembro – Oktoberfest/2006 – Blumenau/SC Fonte: Fundação Parque Vila Germânica
Nos últimos anos, a Secretaria de Turismo de Blumenau (SECTUR), tem contribuído
com diversas ações voltadas para o incremento da atividade turística, privilegiando alguns
elementos que compõem o patrimônio natural e cultural da cidade. Entre elas podem ser
apontadas: a formatação e divulgação de três roteiros turísticos: Roteiro Turístico Centro
Histórico43; Roteiro Turístico de Natureza Fritz Müller44; Roteiro Turismo Industrial45;
inauguração das Centrais de Atendimento ao Turista – CAT (1 e 2), sediadas em casas de
técnica construtiva enxaimel construídas no inicio do século passado, relocadas e reformadas
para atender ao turista.
43 O Roteiro Turístico Centro Histórico contempla a história e a cultura estampada em quarenta e um atrativos turísticos que inicia na Ponte Aldo Pereira de Andrade (Ponte de Ferro), passando por todos os prédios antigos e contemporâneos da Rua XV de Novembro, terminando na curva do Rio Itajaí Açu, Porto Fluvial. Este roteiro pode ser percorrido a pé. Conforme ANEXO E. Fonte: Secretaria de Turismo de Blumenau – SECTUR, 2006. 44 O Roteiro Turístico de Natureza Fritz Müller, contempla nove atrativos (entre parques e museus) e treze trilhas, com intensidade e dificuldade diferenciadas. Conforme ANEXO F. Fonte: Secretaria de Turismo de Blumenau – SECTUR, 2006. 45 O Roteiro de Turismo Industrial oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer, além da história, o processo produtivo de cada empresa envolvida neste projeto. São empresas têxteis, cervejarias, fábricas de chocolates, de fornos elétricos, cristais, indústria eletroeletrônica, alimentos, etiquetas e reciclagem, abertas à visitação. Conforme ANEXO G. Fonte: Secretaria de Turismo de Blumenau – SECTUR, 2006.
69
Figura 18 – Central de Atendimento ao Turista – CAT 1 Fonte: Arquivo pessoal – Iara Rischbieter
Entre outros projetos implantados para o fomento da atividade turística em Blumenau
está a Sommerfest46 (festa de verão), promovida pelo Parque Vila Germânica durante os
meses de janeiro e fevereiro. A Sommerfest integra uma diversidade de atrações para a
comunidade e visitantes como: bandas típicas alemãs, apresentações de grupos folclóricos,
gastronomia típica e Festival Catarinense de Cervejas, além de edições semanais da
“Oktoberfest fora de época”.
Cabe ainda lembrar outras atividades promovidas pela iniciativa privada e apoiadas
pelo poder público como é o caso da Strassenfest mit Stammtischtreffen (festa de rua com
encontro de Stammtisch), uma tradição re-inventada em Blumenau no ano 2000 e hoje levada
a efeito em aproximadamente 40 cidades catarinenses. Trata-se de uma Strassenfest (festa de
rua), aonde os grupos de Stammtisch (confrarias) trazem para a Rua XV de Novembro –
centro da cidade - toda a sua estrutura: mesas, copos, bebidas e alimentação, procurando re-
editar em plena rua, suas reuniões diárias, semanais, quinzenais ou mensais47. Durante o
evento, inúmeras bandas típicas alemãs, com acordeões, gaitas de boca, instrumentos de sopro
animam a festa, que não se caracteriza pela espetacularização. A alegria é a tônica e prevalece
um clima de muita amizade e irreverência. Seus integrantes passam o tempo comendo,
brindando, cantando, conversando, além das rodadas de dominó, cartas, skat e outros.
46 Fonte: Fundação Parque Vila Germânica, 2006. 47 Disponível em: <http://www.stmt.com.br/>. Acesso em: 15/12/2006
70
Na 1ª edição da Strassenfest mit Stammtischtreffen, 17 grupos participaram, número
contrastante com o do 14º encontro, em novembro de 2006, onde mais de 215 grupos se
inscreveram48.
Constatou-se que desde sua 1ª edição, o evento sofreu diversas modificações,
evidenciando uma adesão cada vez maior de outros grupos que não sejam os tradicionais
grupos de Stammtisch, caracterizando o encontro como uma grande confraternização das
diversas etnias que conformam à cultura local. 49
Devidamente consolidada, a Strassenfest mit Stammtischtreffen de Blumenau passa a
ter, agora, um novo desafio: torná-la um foco de atração turística da cidade.
Figura 19 – Encontro de Stammtisch - Blumenau, entre 1889 e 1890. Ao fundo Sede da Schützengesellschaftverein Blumenau (hoje Tabajara Tênis Clube). Grupo composto por: Hermann Hering, Bruno Hering, Heinrich Brandes, Wilhelm Scheefer, Emílio Odebrecht, Bernhard Scheidemantel, Franz Lungerhausen, Friederich Blohm, Paulo Schwartzer Lehrer, G. Arthur Koehler, Gustavo Salinger e dois convidados. Fonte: Arquivo histórico José Ferreira da Silva (AHJFS)
48 Fonte: Blumenau Convention & Visitors Bureau, 2006. 49 Conforme ANEXO H.
71
Figura 20 – Encontro de Stammtisch – Rua XV de Novembro – Blumenau/2006 Fonte: Blumenau Convention & Visitors Bureau.
Observamos nesse pequeno histórico, que o turismo em Blumenau, como atividade de
negócios, nasceu e se desenvolveu sob a égide da germanidade, além do conceito de um
destino turístico tranqüilo, de belas paisagens, arquitetura típica, um povo ordeiro e
trabalhador, onde a qualidade de seus produtos sempre foi uma garantia.
Porém, muitas podem ser as fontes de referência para o turismo em Blumenau quando
se pensa no aspecto cultural. Na formação da região e na história da cidade, outros grupos
contribuíram e hoje se fazem presente de forma significativa, com sua cultura e história, como
é o caso da população de origem italiana, que representa uma parte significativa dos
habitantes blumenauenses.
3.3.1 A ITALIANIDADE EM BLUMENAU: UMA OUTRA VITRINE
A atividade turística em Blumenau tem sido coroada e visualizada somente através da
cultura germânica, seu grande atrativo. Diante da necessidade de preservar e divulgar suas
tradições, surgiram em Blumenau outras manifestações étnicas.
Foi nesse contexto que em 30 de maio de 1989, foi fundado o Circolo Italiano di
Blumenau pelos Srs. Alfredo Rotermel, Carlinho Bogo, Cláudio Antoniazzi, Décio Moser,
Elmo Bogo, João e Oto Tomellin. De acordo com Vollmer (2004), o clube nasceu com um
objetivo principal: a preservação e divulgação da cultura italiana na comunidade e, para seus
72
fundadores, esse fato constituiu-se numa vitória dos descendentes de italianos radicados na
cidade de Blumenau.
Em entrevistas realizadas junto à comunidade italiana de Blumenau, diversas foram as
razões apontadas para surgimento do clube: “Surgiu pela necessidade de agrupar descendentes
de italianos para praticar a língua e promover eventos culturais.”; “Não havia em Blumenau
um lugar apenas de Italianos, onde pudéssemos nos reunir, cantar, brincar, recordar.”; “Havia
as associações alemãs, no entanto, não havia um local para os italianos”.
De acordo com D.M.50:
A italianidade começou a manifestar-se em 1989. Muito recente, portanto. Nos primeiros anos do movimento, a nossa intenção foi dizer que existiam italianos em Blumenau. Deixar bem claro e alto (isto não foi problema...) do orgulho de nossa origem. Depois veio o período de consolidação e de busca de espaço físico.
O Lira Circolo Italiano di Blumenau51 possui um grupo de danças folclóricas, o Belli
Balli, formado em 1989 apenas por meninas, filhas de associados. Atualmente o grupo tem
participantes de ambos os sexos, com idade até 16 anos e não restringe mais a participação de
jovens e adolescentes a seus associados; um grupo de canto, o Fratelli del Circolo, que teve
inicio também em 1989, juntamente com a fundação do Clube; um coral, o Eco d’ Itália, que
iniciou suas atividades em 1994; a Scuola d’Italiano Giuseppe Garibaldi, cujo objetivo é
ensinar a língua e a cultura italiana não só aos seus associados, mas a toda a comunidade.
O clube mantém ainda, duas canchas de bocha, grupos de jogos de truco, canastra,
dominó e tênis de mesa. No entanto, suas ações mais expressivas de divulgação da cultura
italiana são a Notte Italiana, a Festitália e a Settimana Italiana.
Pode-se dizer que o evento mais tradicional do Lira Circolo Italiano di Blumenau é a
Notte Italiana, realizada anualmente. Trata-se de um jantar dançante, tradicionalmente
italiano, animado com apresentações de corais, grupos teatrais e dança que culmina com um
baile animado exclusivamente por canções italianas.
50 Em entrevista concedida em novembro/2006. 51 Disponível em: <http://www.festitalia.com.br>. Acesso em 29/outubro/2006.
73
Figura 21 – Notte Italiana/2006 Fonte: Lira Circolo Italiano di Blumenau.
A Settimana Italiana se configura em um grande evento cultural da comunidade
italiana do Vale do Itajaí e Santa Catarina. Durante sete dias o Lira Circolo Italiano di
Blumenau transforma-se em palco de uma série de apresentações relacionadas à cultura
italiana, tais como: apresentações de peças teatrais, de grupos de danças folclóricas e grupos
de canto, exposições de artistas plásticos, trajes típicos da Itália e vestimentas usadas pelos
primeiros imigrantes.
A Festitália acontece no Parque Vila Germânica e reúne uma série de atrações que
variam desde a gastronomia, concursos, torneios de truco, apresentações folclóricas, à
exposições de artistas plásticos da comunidade italiana blumenauense.
As negociações para a realização da primeira festa levaram aproximadamente três
anos. Em 1994, com o apoio do então Prefeito Municipal Renato de Mello Viana, acontece a
primeira Festitália, realizada nos dias 29/30 e 31 de julho, que recebeu apoio integral da
Secretaria de Turismo de Blumenau e de grande parte dos empresários da cidade. Houve uma
mobilização no sentido de trazer inúmeras atrações internacionais (VOLLMER, 2004).
Segundo D.M.52, a Festitália é a maior manifestação da cultura italiana na região e, o
apoio recebido dos órgãos que representam o turismo em Blumenau, é incontestavelmente
grande. Por isto, pode-se continuar a fazer a festa, cujos resultados financeiros são aplicados
na preservação da cultura italiana. A Festitália, embora de pequenas proporções se comparada
a Oktoberfest, já é suficientemente expressiva e consta do calendário turístico da cidade.
52 Op. Cit.
74
Figura 22 – Festitália/2006 Fonte: Lira Circolo Italiano di Blumenau.
75
4 METODOLOGIA DA PESQUISA
4.1 ABORDAGEM TEÓRICA
Este trabalho tem como linha condutora a cultura e o turismo e, para sua realização,
foi feita uma contextualização da colonização do município dentro de uma perspectiva
histórica.
O projeto foi abordado através de uma perspectiva cultural, que tem como centro o
conceito antropológico de cultura e de patrimônio cultural. Diferente do senso comum para o
qual cultura é sinônimo de erudição, cultura é conceituada aqui no seu sentido amplo. “Um
sistema de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas por meio das quais os
homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em
relação à vida” (GEERTZ, 1989, p. 103).
Para patrimônio cultural, adotou-se a definição dada por Barretto (2000, p. 11), para a
qual o legado cultural “[...] inclui não apenas os bens tangíveis, como também os intangíveis,
não só as manifestações artísticas, mas todo o fazer humano, e não só aquilo que representa a
cultura das classes mais abastadas, mas também o que representa a cultura dos menos
favorecidos.”.
Rodrigues (2001) assinala que a atividade turística se desenvolveu sob o impulso de
diversas motivações, que podem incluir o “consumo dos bens culturais”. O turismo cultural,
como é concebido atualmente, implica a oferta de espetáculos, eventos e também a existência
e preservação de um patrimônio cultural. Não podemos negar que o relacionamento entre
patrimônio cultural e turismo se instalou de forma definitiva. Porém há que se estabelecer
regras de convivência entre ambos numa perspectiva de rentabilização econômica,
desenvolvimento social e valorização da cultura local. O desafio que se coloca ao turismo é o
de utilizar os recursos culturais e patrimoniais numa perspectiva de desenvolvimento
permanente, baseado em critérios de qualidade, para que os benefícios resultem numa efetiva
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, tanto daqueles que o praticam como daqueles que
o acolhem.
4.2 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
A metodologia adotada foi a pesquisa qualitativa que, de acordo com Dencker (2002),
exige a participação intensiva do pesquisador na observação dos fenômenos sociais no
76
universo da pesquisa. Para a coleta de dados adotou-se um formulário – com roteiro de
perguntas enunciadas pelo pesquisador no decorrer da entrevista.
Na pesquisa qualitativa, o pesquisador não prioriza a representatividade numérica do
grupo pesquisado, mas sim o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma
organização, de uma instituição, de uma trajetória. (GOLDENBERG, 1997)
Ainda, conforme Goldenberg (1997, p. 49):
Os dados da pesquisa qualitativa objetivam uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social. Contrapõe-se, assim, à incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e da singularidade dos fenômenos que não podem ser identificados através de questionários padronizados.
A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, documental e de campo. Seu
desenvolvimento operacional foi efetuado segundo os procedimentos abaixo:
4.2.1 Primeira etapa
A primeira etapa da pesquisa compreendeu uma revisão bibliográfica que permitiu
reconstruir as contribuições teóricas sobre cultura, turismo, o papel da cultura no
desenvolvimento da atividade turística, bem como a importância da participação cidadã no
processo de planejamento dessa atividade.
4.2.2 Segunda etapa
Com o objetivo de identificar a formação cultural de Blumenau; as estratégias de
afirmação da identidade blumenauense; e como a cultura tem sido apropriada pelo setor
turístico local, a segunda etapa implicou: revisão bibliográfica, levantamento historiográfico e
documental; b) entrevistas estruturadas diretas e indiretas com representantes do poder
público (secretários e ex-secretários municipais, ex-prefeitos), trade turístico (representantes
de empresas ligadas a atividade turística) e da comunidade (memorialistas, professores,
representantes de clubes de caça e tiro e de outras sociedades culturais, estudantes). Foram
ainda, observadas festas da comunidade local.
77
4.2.3 Terceira etapa
Compreendeu a organização e análise dos dados levantados na fase anterior.
4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Na realização de qualquer estudo quase nunca é possível examinar todos os elementos
da população de interesse. Portanto, para realização deste trabalho a preocupação central foi
que a amostra fosse representativa, para tanto adotamos uma amostragem intencional.
No entanto, a preocupação maior deste trabalho, de natureza qualitativa, não se refere
à generalização dos resultados obtidos em uma amostra, mas sim com a descrição,
compreensão e interpretação dos resultados observados dentro do universo pesquisado.
4.4 PROCEDIMENTOS E ANÁLISE DE DADOS
Para permitir uma análise mais acurada dos dados, decidiu-se salvaguardar a
identidade das instituições e dos respondentes. Nesta pesquisa, o entrevistado é identificado
pelas iniciais de seu nome. As respostas foram agrupadas, resumidas e analisadas através do
método de análise do discurso - muito bem aceito quando da transcrição de entrevistas em
profundidade, pois contempla a prática social em um contexto interpretativo de mensagens
explícitas e implícitas. Cruzaram-se também os dados obtidos através de entrevistas com os
de arquivo e da literatura utilizada.
4.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Um fator importante que merece destaque é a quase inexistência de bibliografia
referente a imigração polonesa na região, bem como a respeito da participação dos caboclos e
a contribuição do índios na conformação da cultura local.
Identificou-se ainda, em pesquisa junto ao Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
(AHJFS), a inexistência de fotografias de imigrantes poloneses e de caboclos habitantes da
região no período da Colônia Blumenau.
O reconhecimento da multiplicidade intercultural de Blumenau se mostra um campo
pouco explorado e amplamente aberto a pesquisas de natureza científica.
78
5 RESULTADO DA PESQUISA
5.1 O PAPEL DA CULTURA LOCAL NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM
BLUMENAU
Conforme a Secretaria de Turismo de Blumenau – SECTUR (2005), os visitantes que
chegam à cidade vêm motivados pela imagem da “Blumenau germânica“ e pelo conjunto de
atrativos existentes, estimulados por reportagens ou folders, parentes ou amigos que já
visitaram a cidade, ou por outras motivações, quer sejam eventos ou negócios. Com base
nestes dados observa-se que a atividade turística em Blumenau foi construída, principalmente,
sobre um legado cultural existente. Mas quando se menciona Blumenau como um destino de
turismo cultural, surge uma questão: como se caracteriza essa tipologia do turismo em
Blumenau?
A análise dos dados reunidos evidenciou que a cultura local é essencial à atividade
turística em Blumenau, muito embora só recentemente se tenha dado verdadeira importância
ao patrimônio cultural – material e imaterial – que representa a trajetória histórica e cultural
do município. As festas, a gastronomia e a arquitetura, além de alguns monumentos, são
elementos que foram lançados na mídia e que até hoje compõem a “marca Blumenau”, no
entanto, sem o planejamento necessário para consolidação da cidade como um destino de
turismo cultural.
É importante salientar que o processo de planejamento em turismo apresenta diversas
etapas como: a determinação dos objetivos, o inventário de todos os recursos turísticos,
análise e síntese da situação encontrada, recomendações de viabilidade e a formulação de
políticas de turismo, além da implementação e gestão do processo total. Exige, ainda, planos
de longo prazo e projetos estratégicos que devem refletir a vontade da população, seu
envolvimento e participação. Um planejamento participativo deve estar baseado no princípio
da descentralização, com o desenvolvimento de ações conjuntas, necessitando para isto do
envolvimento voluntário e livre das pessoas (CORDIOLI, 2001).
Em 1968, a Comissão Municipal de Turismo promoveu uma campanha publicitária
para divulgar a imagem da “Blumenau germânica”, imagem que foi explorada pelo turismo a
partir de então. A publicação da peça publicitária mencionada teve grande repercussão, pela
qualidade, pelo conteúdo, pelo veículo de divulgação que à época tinha grande circulação,
mas principalmente pelo ineditismo da proposta. Ingredientes como o conceito reconhecido
dos produtos aqui fabricados, a qualidade de vida em Blumenau, suas belezas naturais e a
79
cultura marcante, contribuíram fortemente para a aceitação do anunciado. Os visitantes que
vinham a Blumenau para efetuarem comércio, levavam consigo e propalavam em suas terras
as características da cidade. Características da germanidade. Identificou-se também que a
intenção principal dessa campanha foi o fomento ao turismo como atividade de negócios53,
mas que em seu conteúdo carregou a imagem que se queria da cidade, contribuindo para sua
divulgação.
Verificou-se, portanto, um forte apelo à cultura local. Entretanto, um olhar mais
aprofundado, viabilizado pela leitura dos dados coletados, permite afirmar que apesar do forte
apelo à cultura, o turismo cultural em Blumenau ainda encontra-se em fase de estruturação.
Entende-se que o turismo cultural apresenta características que estão ausentes nesse tipo de
turismo em Blumenau. Um aspecto a considerar diz respeito ao desconhecimento da
população sobre sua cultura e história, o que faz com que ela não se sinta responsável pela sua
preservação, e que os diferentes elementos da cultura local tenham um significado importante
para ela. Isso denota a falta de um trabalho de sensibilização junto à comunidade sobre como
se configura sua cultura e quais os elementos que a representam, ou seja, de educação
patrimonial. Dessa forma, a população ainda permanece à mercê da mídia e da orientação
turística.
Para Horta (1999, p.6), “A Educação Patrimonial é um instrumento de alfabetização
cultural que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o a
compreensão do universo sócio-cultural e da trajetória histórico-temporal em que está
inserido.” O patrimônio cultural de uma comunidade, por si só não se constitui em um
produto turístico. Para que isso aconteça, ele necessita ser trabalhado para deixar de ser um
recurso e se tornar um atrativo. Deve, também, estar alicerçado na importância histórica e no
valor que têm para a comunidade. Nesse sentido, a educação patrimonial tem um papel
fundamental, pois enriquece a relação da comunidade com seus bens culturais.
A atividade turística em Blumenau tem tido como foco as festas, a dança, os trajes
típicos, a gastronomia e a música alemã. A arquitetura, típica ou não, também é utilizada na
53 Para Gonçalves (2003), o turismo tem um papel fundamental nas estratégias de planejamento urbano, e especialmente na política urbana, em domínios tão relevantes como a regeneração e reconversão econômica, a imagem e a promoção, a revalorização espacial e patrimonial. O que custa todavia, é avaliar qual é a real contribuição das ações desenvolvidas, ainda que se estabeleça com o principal objetivo aumentar a qualidade de vida dos habitantes locais.
80
promoção do destino e muitas construções são alvos de flashes diários. De acordo com
Seyferth (1994), das danças tradicionais com dançarinos tipicamente paramentados às receitas
de pratos que remetem à culinária alemã, o folclore, como manifestações de uma cultura
específica, exibe para os estranhos as diferenças de natureza étnica, reafirmando uma
identidade própria.
Como considera Oliven (1992, p. 26), “identidades são construções sociais
formuladas a partir de diferenças reais ou inventadas que operam como sinais diacríticos, isto
é, sinais que conferem uma marca de distinção”. Desse modo, as identidades são construídas
de acordo com a marca de distinção que o grupo social que a constrói pretende sinalizar a
cada novo momento de sua história54.
Entretanto, pensando a partir da perspectiva do turismo cultural, cabe considerar, que
a expressão cultural de outras etnias presentes em Blumenau e formadoras da sua história,
podem e devem ser também objeto do empreendimento turístico. Isso porque o turismo
cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos
do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais de uma comunidade. Assim os fatos
históricos, sejam eles oficiais ou fragmentos da vida cotidiana, são condições importantes
para trabalhar adequadamente o recurso cultural do ponto de vista de sua aplicação à atividade
turística.
O turismo cultural deve estar comprometido e ser compatível com a identidade local,
com a preservação da memória e do patrimônio cultural. Deve envolver desde a formatação
dos produtos turísticos até às suas implicações sociais em termos de identidade e memória,
pois nos mostra os laços históricos que une o passado ao presente, permitindo que o
conhecimento deste passado sirva para a melhor compreensão do presente auxiliando no
entendimento das transformações econômicas, políticas, sociais e culturais.
De acordo com Gastal (2000, p. 127), "A cultura passará a ser veículo de
socialização entre visitantes e visitados, quando ela for um processo vivo de um fazer de uma
determinada comunidade”.
54 Em seu artigo “Narrativas e Imagens do Turismo no Rio de Janeiro” (1999), Celso Castro nos relata seu estranhamento ao abrir um mapa turístico da cidade – de 1937. Para ele, a cidade parecia “errada”. Atualmente, nos mapas turísticos, se visualiza a cidade a partir da Zona Sul e, é recorrente a associação do Rio de Janeiro com elementos como, praia e carnaval. Já em 1937, o centro da cidade é que aparecia em destaque e os pontos turísticos ali relacionados eram muito diversos dos atuais: monumentos, estátuas, a suntuosidade dos edifícios, a beleza das praças e a vivacidade dos cafés ao ar livre. Utilizando os guias turísticos, Celso Castro percebe que a natureza turística de um local é fruto de uma construção cultural que se modifica com o tempo, valendo ressaltar que há uma constante negociação das imagens que são produzidas.
81
Observou-se que a relação cultura – turismo em Blumenau, não contempla a
diversidade cultural existente. A germanidade hegemônica é o que ocorre. Com raras
exceções, como a Festitália – que acontece anualmente, mas que não gera um fluxo turístico
expressivo. Essa prática difere da noção de turismo cultural cujo objetivo deve ser o de
contemplar na localidade a sua diversidade, os aspectos culturais que a caracterizam.
Bitencourt (1999) nos lembra que a memória é seletiva, joga com lembranças e
esquecimentos e, no caso de memórias coletivas55 que endossam as identidades das cidades
cujo interesse combina com intenções mercadológicas, essas tradições podem resultar de um
trabalho de construção, invenção, manufatura a partir de uma seleção do passado para adequá-
lo ao interesse presente. Nesse caso, a idéia de revitalização das tradições é transfigurada por
efeito das pretensões turísticas. Não há somente um retorno ingênuo e desinteressado às
raízes, esta intenção está ligada, principalmente, à atividade “comercial”. É a produção de
algo que parece único, um bem ímpar para um mercado que busca o “diferente”. Pode-se
perceber esta orquestração em sintonizar a identidade com os projetos turísticos de
cristalização da identidade, que envolvem: museus, arquitetura, praças, festas, e que
promovem um enquadramento da população ao conjunto de valores divulgados como genuíno
da tradição local. Certamente podemos dizer, assim como o autor, que existe uma certa
ficcionalidade nessas criações ou construções identitárias, ainda que elas guardem um forte
elo com o que se poderia chamar de “veracidade histórica”. O passado tem sido acionado
como uma rica fonte de orientações e de representações simbólicas que podem ser
selecionadas, interpretadas para reviver, revisitar e inventar tradições modernas. Isso é o que
mostra Hobsbawm (1997), ao assinalar que as tradições são dinâmicas, estão sempre em
atualização sendo (re)inventadas. As tradições são um conjunto de práticas, normalmente
reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas, de natureza ritual e simbólica que visam
inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica uma
continuidade em relação ao passado.
A formação histórica e cultural de Blumenau e as estratégias de afirmação da
identidade blumenauense reforçam um mesmo discurso: a do colonizador alemão – Dr.
Blumenau – e seu “pioneirismo”. O discurso veiculado socialmente pelo grupo “mais forte”
desde o início da colonização é recorrente em muitas ocasiões, sobretudo nas festas, e 55 Para Halbwachs (1990), a memória coletiva é um conjunto de lembranças construídas socialmente e referenciadas a um conjunto que transcende o indivíduo. “É uma corrente do pensamento contínuo, de uma continuidade que nada tem de artificial, já que retém do passado somente aquilo que está vivo ou capaz de viver na consciência do grupo que a mantém.” (p. 83-84).
82
incorporado pelos “mais fracos” ou menos expressivos, prevalecendo assim a expressão de
uma única tradição cultural e a visibilidade das manifestações da identidade de um único
grupo étnico. Para Seyferth (1994, p. 25), grupo étnico se constitui num grupo cujos membros
têm uma identidade distintiva baseada numa cultura e numa história comuns. Esse caráter
étnico é dado pela identidade étnica e fundamentado na noção de etnicidade – que oferece um
“conjunto de identificadores culturais e sociais que relacionam pessoas a um grupo específico
através de critérios de inclusão e exclusão que podem mudar no curso da história”.
Blumenau tem se destacado no cenário nacional como um locus cultural, um lugar de
cultura singular. A imagem da localidade está alicerçada na germanidade, independentemente
do modo como foi forjada. Isso pode ser observado nos roteiros turísticos oferecidos à
comunidade e ao visitante. Tanto o roteiro histórico, o de natureza, como o industrial, além
das festas como a Oktoberfest, a Sommerfest e os encontros de Stammtisch, estão atrelados à
colonização alemã na região.
Evidenciada pela história e fomentada pelo poder público através dos projetos
turísticos, a identidade alemã faz parte do imaginário coletivo da comunidade e de seus
visitantes. Sua materialização se observa em eventos como os desfiles da Oktoberfest, onde a
germanidade aparece como uma identidade partilhada, consensual e incorporada pela
população.
Não raro, a história, a memória e, em razão disso, as políticas do turismo buscam
garantir uma unanimidade identitária, como se todas as etnias estivessem sob o signo da
germanidade, numa tentativa de construção de uma memória única e de um passado
homogêneo, sem conflitos ou contradições, desconsiderando a diversidade étnica, que poderia
ameaçar a homogeneidade que garante a diferenciação do produto turístico.
Identificou-se que em Blumenau, o espaço para a expressão das diferentes etnias
presentes é pequeno. São tênues as manifestações de grupos étnicos que formam a população
de Blumenau. Trata-se de ações isoladas que partem da iniciativa privada e, embora tenham
certo apoio do poder público, se constituem em eventos locais e regionais – ao contrário da
germanidade que foi reavivada, fomentada e assegurada pelo poder público com apoio do
trade turístico. Os símbolos que a representam são realçados e utilizados pelos atores como
sinais emblemáticos da cultura local e ratificam determinadas camadas sociais, ou versões
históricas que mostram uma única faceta, produzindo os chamados “esquecidos da história56”.
56 Citamos como exemplo de como o turismo pode incorporar a expressão dos esquecidos da história, o trabalho que vem sendo desenvolvido pela população indígena no Oeste catarinense. Trata-se de um projeto de revitalização cultural onde os protagonistas selecionaram algumas tradições e estão experimentando essas
83
Percebe-se aqui que a expressão de classe sobrepõe-se à identitária, conferindo uma
certa invisibilidade aos outros grupos étnicos. Talvez isso tenha ocorrido, pelas diferenças que
marcaram os diversos grupos de colonizadores, pois enquanto os alemães trouxeram consigo
uma pequena burguesia e seus intelectuais, etc., entre as outras etnias a população era formada
na sua maioria por camponeses, o que irá configurar diferentes trajetórias. O grupo étnico
mais poderoso, principalmente pelo poder econômico, nesse caso o teuto-brasileiro irá ter
maior espaço e poder de expressão, no próprio registro de sua memória.
Veja-se como exemplo os monumentos e museus, todos eles homenageando o Dr.
Blumenau e a cultura alemã: O Mausóleu do Dr. Blumenau, a Fundação Casa Dr. Blumenau,
etc.
Os descendentes de italianos, nos últimos anos, têm manifestado um reviver étnico
verificado principalmente no aprendizado do idioma italiano, na formação de grupos de dança
e corais, na gastronomia e nas festas. O mesmo ocorre com outros grupos mais recentemente
presentes no cenário de Blumenau, cujos eventos são ainda mais modestos, como as festas
promovidas pela Associação dos Nordestinos de Blumenau (ANB), criadas para manter vivas
as tradições dos estados onde nasceram os migrantes.
Por sua vez, os clubes de caça e tiro, os Schützenvereine, como eram chamadas as
sociedades de atiradores de Blumenau, instituições muito antigas trazidas para o Vale do Itajaí
com a imigração alemã – que tiveram um papel relevante na vida social, cultural e recreativa
dos imigrantes –; hoje têm uma participação inexpressiva nos eventos culturais ou como parte
do conjunto das representações identitárias que compõem o “pacote cultural” oferecido ao
visitante.
Vale ressaltar que Blumenau é o município que reúne o maior número de sociedades
de atiradores no mundo, aproximadamente 34. Existe um consenso que os clubes de caça e
tiro têm como objetivo preservar e divulgar suas tradições, mas seja pelo seu alto custo, seja
pelo atual desinteresse dos jovens, esses clubes têm se mantido à margem da atividade
turística. Esse fato demandaria uma pesquisa em si, tal a sua complexidade e por isso mesmo
será abordado de maneira superficial nesse trabalho.
A Oktoberfest, principal atrativo turístico da cidade, foi pensada em conseqüência da
identidade germânica, e é, mercadologicamente, um sucesso. Para Seyferth (1994), a
práticas no cotidiano. Essa experiência tem inspirado visitas de turistas para conhecer a Terra Indígena Xapecó. SAVOLDI, A. Olhares sobre a terra indígena Xapecó: municípios de Ipuaçu e Entre Rios/SC Artigo disponível em:< http://www.furb.br/patrimoniocultural >
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Oktoberfest tem caráter de símbolo étnico, marca a diferença em relação aos demais
brasileiros reafirma uma tradição cultural.
Nesse sentido, a imagem de germanidade é um componente diferenciador do destino
turístico. A construção de expectativas para grande parte dos consumidores é baseada em
estereótipos, no caso de Blumenau: a beleza loira, a cerveja, a comida típica, a arquitetura e o
folclore. A ocorrência de um processo de espetacularização da identidade parece inevitável
para a comercialização dos destinos turísticos. Entretanto, acredita-se que as expressões
culturais de outros grupos étnicos locais, desde que bem trabalhadas poderão ser bem
sucedidas do ponto de vista turístico. São mais aspectos interessantes da identidade local a
serem conhecidos, dentro da perspectiva do turismo cultural. Isso por sua vez levará ao
envolvimento de outros atores da comunidade com sua própria tradição cultural. Num espaço
onde a paisagem rural se apresenta com especificidades próprias da cultura local, porque não
incorporá-la como objeto de turismo, podendo trazer um retorno inclusive econômico à
população rural?
Faz-se necessária a criação de novos espaços de representação, que atendam às
expectativas dos diversos grupos que compõem a comunidade blumenauense. Desta forma, o
turismo cultural aparecerá não somente como uma força de mercado, mas também, como um
instrumento social que pode contribuir para a preservação, interpretação e divulgação da
diversidade cultural da comunidade. A diversidade e a pluralidade de culturas apresentam
vantagens comparáveis às da biodiversidade. “O pluralismo tem o mérito de valorizar o
tesouro acumulado da experiência, da sabedoria e da conduta humanas” (PÉREZ DE
CUÉLLAR, p. 64, 1997).
85
6 CONCLUSÕES
A atividade turística vem ganhando destaque nos últimos anos, seja pela sua
dimensão econômica como pela problemática social que enseja. Apesar disto, muitos ainda
insistem em pensar o turismo simplesmente como prática, deixando de percebê-lo como um
fenômeno social amplo, complexo, que atinge toda uma comunidade e que por essa razão
precisa estar fundamentado numa reflexão teórica que considere as suas implicações sócio-
culturais.
Uma visão exclusivamente econômica entende o turismo como produto elaborado a
partir de recursos naturais e culturais associados a uma infra-estrutura turística, colocado no
mercado para ser consumido. Todavia, o turismo não pode deixar de considerar as dimensões
sócio-culturais sob pena de causar impactos negativos à sociedade e às vezes irreversíveis
que, a longo prazo, irão de encontro à própria atividade turística. Por isso ele deve ser pensado
na sua totalidade, incluindo-se aí a economia, as políticas públicas e os aspectos sociais que o
cercam, como a história e a cultura de uma dada comunidade, foco deste estudo.
O objetivo dessa pesquisa foi preencher uma lacuna no conjunto das informações
existentes, na medida em que nela se propôs a identificação e análise da maneira como a
cultura local estava sendo utilizada na prática do turismo e seu planejamento em Blumenau.
Os resultados deste trabalho nos revelaram que, embora tenham sido utilizados
muitos elementos da cultura local na promoção da cidade como destino turístico, Blumenau
ainda não apresenta uma relação amadurecida entre a organização do turismo e a sua relação
com a cultura local. Até o início do ano de 2005, a Secretaria de Turismo de Blumenau
(SECTUR), não tinha em seu banco de dados, registros de projetos para fomentar essa
atividade de maneira ordenada, evidenciando uma experiência de improvisação desse
segmento do turismo. Neste caso, sendo essa cultura tão importante para o desenvolvimento
do turismo em Blumenau, estranhava-se a maneira amadora como vinha sendo utilizada.
Baseada nestas informações e ancorada no expressivo patrimônio existente, a
SECTUR em parceria com o trade turístico e a comunidade local, a partir do ano de 2005,
iniciou um trabalho de investigação, levantamento de dados e implantação de ações para a
efetivação do turismo cultural planejado e consensual, em Blumenau. Por turismo consensual,
entende-se aqui, um conjunto de práticas que envolvem os diversos segmentos da comunidade
no processo de planejamento turístico.
Evidencia-se a presença de uma nova dinâmica da atividade turística em Blumenau.
Observa-se uma a preocupação por parte dos órgãos responsáveis pela gestão do turismo em
86
realizar um planejamento turístico que contemple a trajetória histórico-cultural da cidade e os
elementos que a representam, diferentemente de um momento anterior onde essa preocupação
não existia, embora houvesse o apelo à cultura. Nota-se um interesse em melhorar e inovar as
políticas de fomento ao turismo, num movimento conjunto em prol da coletividade. No
ordenamento do turismo em Blumenau, isto revela uma respeitável transformação social.
Constatou-se, porém, que a cultura germânica tem sido utilizada como único
elemento fomentador do turismo local, entretanto muitas podem ser as fontes de referência
para o turismo em Blumenau quando se pensa no aspecto cultural. A passagem do tempo
imprimiu no corpo da cidade um mundo de imagens que falam de várias histórias do passado.
Os vários tempos vividos estão encenados nas imagens de seu espaço físico e nos
significantes de seus núcleos históricos. É sempre possível a partir de imagens de outros
tempos, como a arquitetura, ruas, praças e monumentos, além das festas, música e dança,
saberes e fazeres locais, encontrar a história da cidade.
A recorrência à cultura como referência para o desenvolvimento do turismo em
Blumenau, se bem planejada, poderá estimular a comunidade a conhecer, valorizar e preservar
seu patrimônio cultural, e proporcionar aos visitantes o conhecimento de valores, costumes,
história, dados e elementos que possibilitarão o alargamento de sua vivência e experiência,
um dos objetivos do turismo cultural.
O planejamento adequado e participação efetiva da comunidade local durante o
processo de preparação da região para o desenvolvimento da atividade turística poderão trazer
resultados positivos e os efeitos sócio-culturais sobre a comunidade receptora podem se
manifestar em melhores condições de vida. O comprometimento de todos os atores sociais na
consecução, implementação e avaliação dos projetos de desenvolvimento turístico regional
aparece como uma garantia de sustentabilidade, podendo assegurar o êxito e a continuidade
dos projetos propostos, independentemente de mudanças políticas que possam vir a acontecer.
No entanto, para que se inicie um processo de informação da população residente sobre a
importância do patrimônio histórico-cultural faz-se necessário, primeiramente, conhecer o patrimônio
material e imaterial da comunidade. Apreender a história desses bens é uma tarefa à ser cumprida pela
comunidade local, através do aprendizado nas escolas, atividades sócio-culturais e, também através da
transmissão dessa história, de geração a geração, dentro da própria família.
A implementação de políticas públicas, especialmente de educação patrimonial e de turismo
cultural, para a sensibilização da sociedade e dos turistas sobre significação cultural desse patrimônio,
poderá propiciar uma maior valorização da cultura e uma contribuição mais efetiva dentro dos limites
87
possíveis a uma atuação setorial, para o redirecionamento do desenvolvimento regional, assentado em
bases sustentáveis.
88
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_________. A idéia de cultura teuto-brasileira: literatura, identidade e os significados da etnicidade. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 10, n. 22, p. 149-197, jul./dez. 2004.
SIEBERT, C. A evolução urbana de Blumenau: a cidade se forma (1850-1938). In: THEIS, I. M.; MATTEDI, M. A.; TOMIO, F. R. de L. Nosso passado (in) comum: contribuições para o debate sobre a historia e a historiografia em Blumenau. Blumenau: FURB; Cultura em Movimento, 2000, p. 181-213.
SILVA, J. F. A imprensa em Blumenau. Florianópolis: Governo do Estado de Santa Catarina, 1977.
_____. História de Blumenau. 2. ed. Blumenau: Fundação "Casa Dr. Blumenau", 1988.
SILVA, M. R. G. C. G. da. Imigração italiana e vocações religiosas no Vale do Itajaí. Campinas: UNICAMP; Blumenau: Edifurb, 2001.
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______. Cultura, identidade e desenvolvimento regional. 2006 (mimeo).
SILVEIRA, M. A. T. da. Planejamento Territorial de Dinâmica Local. In: RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo e desenvolvimento local. São Paulo: Hucitec, 2002.
95
VOLLMER, M. S. O renascer da cultura italiana em Blumenau. 2004. TCC (Graduação em Turismo e Lazer) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenau, 2004.
Arquivos consultados:
FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Blumenau, 2005/2006.
NIELS DEEKE – Arquivo particular, 2006. PMB - Prefeitura Municipal de Blumenau, 2006.
SECTUR – Secretaria de Turismo de Blumenau. Blumenau, 2005/2006.
96
ANEXOS
ANEXO A – DISCURSO PROFERIDO PELO PREFEITO HERCÍLIO DEEKE57
Discurso proferido por Hercílio Deeke
Qualificação: Diretor Presidente da Companhia Melhoramentos de Blumenau.
Local : Saguão de recepção do edifício no “Grande Hotel Blumenau”
Tema : Inauguração do Edifício da Companhia Melhoramentos de Blumenau, que na mesma
data inaugurava as instalações nele contidas do “Banco Indústria e Comércio de Santa
Catarina S.A. – INCO, do “Grande Hotel Blumenau”, e “Bar Restaurante Aquarium”
Data: 16 de dezembro de 1962
—As cidades crescem, desenvolvem-se vivificadas pelo amor e trabalho de seus
cidadãos.
O espírito pioneiro, semente generosa em terra fértil, não limitou-se somente à pessoa
do Dr. Hermann Otto Blumenau, pois que este soube inspirar e difundir, às fartas, o seu
desvelo, o seu esforço benemérito, denunciado em exemplo diuturno, em favor do progresso
da sua colônia, atualmente, de direito e de fato, a capital econômica de Santa Catarina.
Certamente ele haveria de orgulhar-se tanto quanto hoje nos orgulhamos de Blumenau.
A grandeza desta obra arquitetônica é a continuidade daquele ideal que nos foi legado
pelos primeiros blumenauenses.
Na história de Blumenau haverá uma página narrando os acontecimentos agora
vividos, para perpetuar, às gerações vindouras, a inspiração perene na busca da realização
do nosso destino de grande metrópole interiorana, como coroamento de nossa ambição de
progresso.
Este edifício, primeiro com mais de dez andares, há muitos meses já está modelando a
fisionomia urbana da cidade.
Finalmente, após dias de tarefas extraordinárias, apresenta-se majestoso em todos os
seus detalhes e, humanizado pelo labor daqueles que, de uma forma ou de outra,
contribuíram para a execução de uma realidade feliz, trazendo satisfação especial aos
57 Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke
97
Diretores da Companhia Melhoramentos de Blumenau, cuja Presidência foi-me concedida,
desde a sua fundação, homenagem grande para quem desejou ser um batalhador anônimo.
O objetivo, meta ideal das nossas promessas, foi concretizado.
Tivemos momentos de árduas dificuldades, de sacrifícios infindáveis. Todavia nunca
perdemos o nosso entusiasmo inicial. Nunca esmorecemos. Na proporção em que nos
deparávamos com obstáculos, crescia mais ainda a nossa vontade em vencê-los. E fomos
vitoriosos.
A Companhia Melhoramentos de Blumenau foi fundada em 1958, com o capital de Cr$
37 milhões de cruzeiros, subscrito em grande parte por blumenauenses e por outros cidadãos
de várias localidades do Estado e mesmo fora deste.
O projeto do edifício, elaborado pelo arquiteto Hans Broos, patenteou-se, após o início
da obra, inexeqüível, face ao capital subscrito. O plano foi, então, alterado, frente à
realidade dos recursos disponíveis, mediante a diminuição do prédio às suas atuais
dimensões. Apesar dessas restrições, mal saído dos alicerces, esgotou-se o capital.
Compreendemos, então, que caso não conseguíssemos financiamento, estaríamos a
mercê do imprevisível.
As boas idéias, entretanto, não ficam estagnadas quando expostas às pessoas de
discernimento, de compreensão, possuídas da mesma ambição de progresso coletivo.
Estes homens foram identificados nas pessoas que compõem a Diretoria do Banco
Indústria e Comércio de Santa Catarina S.A. – Inco, dirigidos por autêntico gênio em
finanças , espírito irrequieto e realizador, de visão para além do horizonte. Os sentimentos de
justiça impelem-me a denunciar seu nome já por todos sabido. É a Genésio Miranda Lins que
me refiro.
De imediato recebemos auxílio financeiro do “Inco”, a ser resgatado oportunamente,
por meio de um aumento de capital. Lançado este, na importância de 55 milhões de
cruzeiros, verificou-se verdadeira retração por parte dos subscritores- já acionistas.
Constatou-se, melancolicamente, a impossibilidade da colocação das novas ações, pelas
motivantes expostas.
Conhecendo, de perto, a nossa luta, as nossas preocupações e canseiras, o INCO,
novamente, nos valeu, socorrendo-nos através da proposta feita pelo Senhor Genésio
Miranda Lins, previamente aprovada pelos demais Diretores do Inco, à Cia Melhoramentos
de Blumenau.
Prontificou-se o Banco Indústria e Comércio de Santa Catarina S.A., em subscrever a
totalidade do aumento de capital, condicionando, tão somente, fosse procedida alteração no
98
projeto, a fim de possibilitar a instalação da Agência local do Banco, no andar térreo e
sobreloja do edifício.
Garantido estava o término da obra.
Contudo o avanço inflacionário tornava a construção, dia a dia, mais dispendiosa.
Novamente viu-se o Banco defrontado com a contingência de fornecer novos financiamentos.
Na etapa final tais empréstimos ultrapassaram o próprio capital realizado de 92 milhões de
cruzeiros.
Do antigo Hotel Holetz, de tantas tradições, procurado por aqueles que visitavam
Blumenau, surge, agora, altaneiro e impressionante pela sua estrutura e acabamento, o
Grande Hotel Blumenau, no qual o funcional e o social entrosam-se harmoniosamente com o
plástico , e que, como realidade magnífica, será procurado por aqueles que visitarem
Blumenau.
Contém 76 apartamentos, dotados, cada um, de um banheiro próprio, telefone, sistema
sonoro e renovação de ar. Possui 152 leitos. Dispõe de um jardim terraço, salão de mármore
no andar social, terraço panorâmico, escritório de turismo, restaurante e confeitaria, bar-
boate, salão para reuniões e banquetes, garagem no subsolo, além das dependências da
Agência do Banco Inco e, uma farmácia.
São mais de 10.000 metros quadrados de área construída, em 14 pavimentos.
Permitam-me senhores, como dever e gratidão, sentimentos que não posso silenciar,
prestar homenagem autêntica ao grande banqueiro Sr. Genésio Miranda Lins, notável amigo
de nossa cidade. Como Presidente da Cia. Melhoramentos de Blumenau, responsável direto
pela aplicação dos capitais nela investidos, senti toda a pujante nobreza do seu gesto, em,
contribuindo para que a nossa meta – ideal que também abraçou com o seu reconhecido
espírito de homem público, fazer com que se tornasse material a realidade de hoje.
Este edifício foi executado, sob a administração da própria Cia. Melhoramentos, pela
firma Koester & Almeida Ltda, através das esforçadas pessoas como o mestre Henrique
Herkenhoff, Antônio Heuer, o mestre Chico, Herbert Wollinger, Harry Dirschnabel, Otto
Hahne, Sebastião de Oliveira, Horst von der Heyde ( Brandão), Emílio Rossmark, Hans
Oerding, Alumetal, Peter Silberberger, Heinz Groh, Serralheria Padaratz, Erich Kielwagen,
Vidraçaria Engel, Carpinteiros Krueger & Siebert, Marcenaria Meinecke, Cia. Salinger,
Gustavo Henning, Metalinder, Gema e Wallig, Móveis Ideal, Sidema, merecendo especial
destaque o nosso fiscal de obras Henrique Herweg e o decorador Moacyr Coelho.
99
O momento é oportuno para externar, em nome da Diretoria, a estas empresas e
pessoas, os nossos agradecimentos pela dedicação e pelos esforços despendidos, extensivos a
todos os operários que aqui trabalharam.
Como Prefeito Municipal congratulo-me com Blumenau pela inauguração deste
edifício que incorpora-se ao patrimônio urbanístico de nossa cidade.
Aos meus colegas da Diretoria da Cia. Melhoramentos, destacando o Sr. Victor von
Rogoschin, incansável batalhador desde a fundação da sociedade, o meu sincero
reconhecimento, que estendo ao Senhor Lothário Stueber, ex- diretor secretário, que até
poucos meses passados nos deu a sua eficiente e prestimosa cooperação.
Faço menção especial ao ilustre senador Irineu Bornhausen, um dos principais
fundadores da Companhia, incorporador que desde o primeiro momento nos deu a sua
assistência e animou-nos com o seu entusiasmo para concretizarmos o projeto que hoje
inauguramos.
O nosso reconhecimento profundo aos senhores acionistas, que souberam depositar em
nós a certeza da conclusão do empreendimento e a boa e garantida aplicação dos recursos
que nos confiaram.
Em placa de bronze ficarão perpetuados os nomes de todos que nos deram a sua
colaboração direta na administração da Companhia.
O Grande Hotel Blumenau dará nova e melhor projeção à nossa comuna, por ser obra
que exprime, em sua beleza e arrojo, o denodo, o vigor de nossa gente. Incrementará o
turismo, trazendo, consigo, à nossa pujante indústria e diligente comércio, à nossa cultura e
saber, novas fontes de riqueza e conhecimentos.
(Consta ainda do punho de Hercílio Deeke : Agradecer as presenças )
ΨΨΨΨ
Documento : Original datilografado manualmente corrigido por Hercílio Deeke. Seis
folhas em papel cuchê estampadas com o brasão e o timbre municipalidade. Colecionadas por
Niels Deeke, integrando o espicilégio de Discursos de Hercílio Deeke.
100
ANEXO B – CRIAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE TURISMO58
Abaixo transcrição da integra do texto constante da Resenha dos Atos Administrativos do
Prefeito Hercílio Deeke, intitulada “O Executivo em Foco” – editada na data de 04.6.1964:
Criado o Conselho Municipal de Turismo em Nossa Cidade .
ARTIGO 1º - Fica criado o Conselho Municipal de Turismo (CMT), que se constituirá de até
15 membros, escolhidos dentre representantes das seguintes entidades:
a) Associação Comercial e Industrial de Blumenau (ACIB);
b) Associação de Imprensa e Rádio do Vale do Itajaí (AIRVI);
c) Agências locais de turismo;
d) Rotary Clube;
e) Lions Clube;
f) Câmara Júnior;
g) Empresas de Transporte Coletivo interestaduais e intermunicipais (Sindicato das empresas
de Transporte Rodoviário);
h) Sindicato do Comércio Hoteleiro;
i) Sindicato do Comércio Varejista;
j) Sindicato dos Lojistas;
k) Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem;
l) Paróquia de São Paulo Apóstolo;
m) Um representante do Departamento de Obras Públicas do Município.
Parágrafo 1º - O Diretor de Departamento Municipal de Turismo é o presidente nato do
Conselho Municipal de Turismo, CMT, e, em suas faltas e impedimentos, será substituído
pelo seu Assistente, na forma do artigo 6 da Lei nº 1.169 de 27.6.1963) Lei que criou o
Departamento Municipal de Turismo)
Parágrafo 2º - Os membros do Conselho Municipal de Turismo (CMT) serão designados pelo
Prefeito Municipal, mediante indicação das entidades representadas.
Parágrafo 3º - O mandato de conselheiro será gratuito, considerando-se o seu exercício
como o de serviço público municipal de relevância.
58 Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke
101
Parágrafo 4º - O Conselho Municipal de Turismo (CMT) será assessorado nas questões
técnicas pelos vários de departamentos da Administração Municipal.
Parágrafo 5º- O Prefeito Municipal designará um funcionário municipal para, sem ônus os
cofres públicos, servir de Secretário Executivo ao Conselho.
ARTIGO 2º - São atribuições do Conselho Municipal de Turismo :
1º) Assessorar, na qualificação de órgão consultivo, o, planejamento e a execução das
atividades do Departamento Municipal de Turismo, de modo a facilitar a prática do turismo;
2º) Opinar sobre contratos, convênios ou acordos vinculados às atividades do Departamento
Municipal de Turismo;
3º) Colaborar efetivamente e por todos os meios na divulgação de atrações turísticas do
Município e do Vale do Itajaí;
4º) Colaborar na difusão de conhecimentos teóricos e práticos sobre a execução e utilização
das diferentes modalidades de turismo;
5º) Colaborar na adoção de medidas que proporcionem melhores condições ao
desenvolvimento do turismo e na fiscalização dos próprios municipais, arrendados a
terceiros, para exploração do turismo;
6º) Colaborar ativamente na proteção do patrimônio natural e cultural do Município,
especialmente no que tenha conexão com os centros e objetivos turísticos;
7º) Colaborar na publicidade de propaganda dos objetivos turísticos do Estado, elaborada
pelo Departamento Municipal de Turismo;
8º) Sugerir ao Governo Municipal providências que julgar oportunas para a comodidade e o
bem estar dos turistas, bem como para a preservação e embelezamento dos pontos de atração
turística, das vias e monumentos públicos;
9º) Sugerir ao Governo Municipal, por intermédio do Departamento Municipal de Turismo
(DMT) , as providências para a execução de processos administrativos e judiciais que se
tornarem, necessários para a proteção dos objetivos turísticos.
ARTIGO 3º - O Conselho Municipal de Turismo reunir-se-á mensalmente na sede do
Departamento Municipal de Turismo ( DMT) em dia previamente designado, com a presença,
no mínimo, de sete ( 07) membros ; quando necessárias, serão convocadas pelo presidente
reuniões extraordinárias.
Parágrafo 1º - O Conselheiro que, sem causa justificada, falta 50% das reuniões no decorrer
de um ano, será substituído por outro representante da entidade que fará nova indicação;
Parágrafo 2º - Qualquer decisão do Conselho Municipal de Turismo (CMT) somente será
válida se tomada com a presença da maioria simples de seus membros;
102
Parágrafo 3º - Todas as atividades, propostas e sugestões do Conselho Municipal de Turismo
(CMT) serão devidamente consignadas em livro próprio, bem como as atas das suas
reuniões;
Parágrafo 4º- Os casos relacionados ao funcionamento e as atribuições do Conselho
Municipal de Turismo (CMT), omissos neste decreto, serão resolvidos por maioria do
Conselho dentro dos limites da sua competência.
ARTIGO 4º - O Presente Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Blumenau, em 20 de maio de 1964.
Assinado HERCILIO DEEKE – Prefeito Municipal.
103
ANEXO C – MANCHETES - BLUMENAU E O TURISMO59
ESCÓLIOS DE NIELS DEEKE
Ultimamente a nossa cidade vem sendo objeto de constantes reportagens e
comentários por parte da imprensa brasileira. Ainda está bem viva na lembrança de todos a
reportagem publicada no dia 28 de fevereiro passado (1964) no “O Estado de São Paulo”,
um dos maiores diários da América latina e na qual a jornalista Clycie Mendes Carneiro,
num tópico do seu magnífico trabalho, assim se refere à nossa cidade: « Onde o Turismo faz
sentido : - Debruçada sobre as águas calmas e barrentas do Itajaí Açu, Blumenau possui –
na sua fisionomia urbana, na sobriedade dos costumes, na operosidade do seu povo, nos
diversos ramos de atividade industrial, comercial, cultural e recreativa, nas construções
originais e nos blocos graníticos modernos entre remanescentes da arquitetura colonial, nas
flores de seus jardins e na impressionante limpeza de ruas e praças públicas, no nível de seus
estabelecimentos hoteleiros e, sobretudo, na imponência de sua Igreja-monumento –
características suficientes para atrair e fixar o visitante por longos dias. E para induzi-lo a
voltar muitas vezes. É uma cidade que sabe receber, que sabe conquistar, que conhece a arte
de cativar o turista. Do moço do hotel, do garção do restaurante, do balconista das grandes e
pequenas lojas, do guarda de trânsito, do diretor de empresa, do motorista ou do transeunte
anônimo, recebe-se sempre uma resposta cortês, uma palavra amiga, uma tenção especial.”
E é também de autoria de Clycie Mendes Carneiro, do jornal “O Estado de São Paulo”, o
trecho que passamos a reproduzir e que faz menção ao nosso “Departamento Municipal de
Turismo”: “Departamento que funciona: — Embora esteja longe de atingir o ideal e
preencher totalmente a sua finalidade, o Departamento Municipal de Turismo de Blumenau
não é fantasma, como tantos outros que encontramos pelo Brasil afora. Órgão recentemente
criado, demonstra bastante dinamismo e vontade de acertar, por parte de seus diretores.
Coloca-se à disposição do turista para a solução de qualquer problema, para
esclarecimentos sobre assuntos locais de todo o Vale do Itajaí, para indicação e reserva de
hotéis, para proporcionar-lhe acesso às fábricas, para sugerir-lhe roteiros e para quaisquer
informações pessoais ou por correspondência que tenham relação com o município. No setor
de divulgação já fez imprimir folhetos e guias elucidativos. O seu endereço é Alameda Duque
59 Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke
104
de Caxias, 68. Caixa Postal 425, Blumenau , Santa Catarina.”
Outro jornal de grande tiragem, o “Correio do Paraná”, de Curitiba, sob o título
“Blumenau, cidade de Turismo”, de autoria do jornalista Brasilino de Carvalho, em sua
edição de 18 de março findo (1964), após tecer diversas considerações sobre a nossa urbe,
diz o seguinte : “Blumenau é cidade de turismo porque é linda e original, persuasiva, rica e
aberta a todas as inquietudes. Animados de idêntico grau de entusiasmo, os itinerantes das
mais variadas condições sociais, têm ao primeiro contato com o seu perfil urbano, fotogênico
e imprevisto, a mesma exclamação de admiração e surpresa : “Que bela cidade! Diferente,
de lindas mulheres e de povo bom!”Esse é o traço característico predominante da “city”
moderna do dr. Blumenau, hospitaleira e tranqüila, tradicional e acadêmica, servida de
grandes hotéis, restaurantes, bares e churrascarias bem montados e de atendimentos
perfeitos; dotada de rápidos meios de comunicação e transportes, imprensa, rádio-emissoras,
cinemas, teatros, colégios e institutos de cursos técnicos, monumentos, comércio igual ao das
grandes metrópoles e cerca de quinhentas fábricas, produzindo de tudo e da melhor
qualidade para a exigência, cada vez maior, dos mercados de consumo.”
E mais adiante publica o Correio do Paraná :
“Do ponto de vista internacional, Blumenau se enquadra entre as cidades abertas à
compreensão de todos os forasteiros; escritores ou milionários, Diferente das cidades
privilegiadas – Rio, Santos, Recife, Salvador, Fortaleza, Guaratuba, Florianópolis – dotadas
de praias e barras, e de Paris, com a tradição de dois mil anos de história, a capital do Vale
do Itajaí é assim mesmo das mais interessantes e das mais indicadas à curiosidade dos
viajantes do Brasil e do mundo”.
E Prosseguindo, escreve Brasilino de Carvalho: “As belezas de Blumenau estão à flor da
pele, na superfície da terra fecunda e generosa. Para descobri-las, em toda plenitude, o
homem não necessita possuir o dom sobrenatural da adivinhação nem de instrumentos de
pesquisa. Em Blumenau há beleza espontânea para o espírito e alimentação sadia para o
corpo. Há motivos de meditação para a alma e ar puro, oxigenado, revitalizante para os
organismos necessitados de recuperação. A tranqüilidade, a ordem, o conforto, a beleza em
tudo, na paisagem e na formação acadêmica de sua gente – as pontes, os edifícios suntuosos,
jardins bem tratados, o Teatro Carlos Gomes, a Igreja católica, de torre empolgante,
diferente na arquitetura arrojada e das mais bonitas do Brasil, são motivos de distração,
105
raramente encontrados em outros lugares, para repouso do corpo e bálsamo tranqüilizante
para a saúde do espírito.
Amo Blumenau, diria Cassiano Ricardo- “que não tem baía nem paisagem para os olhos
meus...Que não é um presente de Deus para os olhos do Homem, mas um presente do homem
para os olhos de Deus!.....”
Vão mais longe:
De volta aos seus rincões, publicam artigos sobre a nossa cidade em revistas e jornais,
quando não lhe dedicam capítulos inteiros de livros e recordações de viagens. Vem-nos
agora, do interior de Minas Gerais, em várias páginas de uma interessante publicação, mais
um feliz pronunciamento sobre Blumenau.
A professora Dona Maria da Glória de Lima Torres, do Grupo Escolar “José Brás”, de São
João Nepomuceno, naquele Estado, publicou, recentemente, um belo livro a que deu o título
de “Rabiscos sobre os Joelhos” e no qual enfeixou notas apanhadas na viagem de turismo
que empreendeu ao sul do país, numa caravana organizada pela empresa “Camilo Kahn”.
Em estilo bem original e agradável, a autora registra as impressões que lhe iam ficando da
sua passagem pela Guanabara, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. A nossa cidade
mereceu de Dona Maria da Glória conceitos que muito nos envaidecem. No capítulo
relacionado com Blumenau, a distinta educadora registra passagens como estas, que
transcrevemos por inteiro, para os nossos munícipes não apenas tomem conhecimento da
lisonjeira apreciação que a autora faz, mas também para que avaliem da beleza e correção
do estilo em que todo o livro é vazado :
“Blumenau”, diz Dona Maria da Glória, “amanheceu sorridente e catita na luz de um sol
acariciador. Intensa luz a refletir-se no recôncavo da nossa alma. Alma, muitas vezes,
inclinada a fechar-se na semi- obscuridade. Quanta emoção me trouxe a linda cidade
catarinense ! Faz-me lembrar Petrópolis (Y) da minha idade de menina-moça. Sua
graciosidade e beleza, a meu ver, muito superam a cidade serrana. Serrana e fluminense,
predileta do Imperador. A linda princesa do Sul, banha-se, gentilmente, nas tranqüilas águas
do Itajaí, esse rio que tanto me impressionou, Blumenau é a cidade perfumada pela essência
leve de seus eternos jardins. Seu nome bem o indica : Blumen – flores; Au – prado, ou seja
cidade ou prado em flores. Quanto carinho mereceu do imortal e grande Pedro II. Foi ele
que, apesar de ser brasileiro, amigo da Pátria, incrementou a colonização germânica no sul
106
do Brasil. Justamente por muito amar seu berço natal, tudo procurou para erguê-la na
comunidade das nações”.
Nesse tom a autora se estende por várias páginas do seu bonito livro, referindo-se a
Blumenau com muita simpatia e carinho. A ilustrada professora de São João Nepomuceno,
enviou um exemplar de “Rabiscos” ao senhor Prefeito Municipal com esta expressiva
dedicatória.
“Ao ilustre e dinâmico Senhor Prefeito Municipal de Blumenau, a linda princesa debruçada
sobre as tranqüilas águas do formoso Itajaí, tenho o grato prazer e a subida honra de
oferecer um volume de “ Rabiscos”, onde deixei toda a impressão encantadora que me
causou a cidade estupenda de graça e beleza. Aos irmãos do Sul, o apreço e a admiração de
nós, irmãos do leste. Respeitosamente, Maria da Glória de Lima Torres”.
Manifestações como esta nos são muito preciosas porque partidas, espontaneamente, de
espíritos bem formados, capazes de julgar inteligência e coração.Externamos nosso
reconhecimento pessoal e de Blumenau à Dona Maria da Glória.
Hercílio Deeke – Prefeito Municipal.
107
ANEXO D - DISCURSO PROFERIDO PELO PREFEITO HERCÍLIO DEEKE60
Discurso proferido por Hercílio Deeke
Qualificação: Diretor Presidente da Companhia Melhoramentos de Blumenau.
Local : Teatro Carlos Gomes
Tema : Instalação da “Primeira Convenção Hoteleira do Sul”
Data : 18 de novembro de 1964
Senhores Convencionais
Damo-nos por sumamente honrados com a oportunidade, que se nos oferece, de
saudar, em nome de Blumenau, os dignos representantes da classe hoteleira reunidos nesta
Convenção.
Isto o fazemos com toda a efusão dos nossos melhores sentimentos de cordialidade, não
somente pela colaboração que nos prestais no estudo de problemas que nos são comuns, mas,
também, e de um modo todo especial, pelo respeito e pela estima de que vos fizestes credores
através vossas virtudes, pela nobreza de trato e pela elevação dos propósitos que presidem a
este certame.
Sentimo-nos verdadeiramente empolgados com os objetivos desta Convenção. Eles vêm
ao encontro de planos que há muito alimentamos e que, graças à boa vontade, ao critério e
inteligência dos senhores convencionais, poderão identificar, neste encontro, o impulso que
os levará à sua magnífica e acertada concretização. Hotel e Turismo não podem andar
dissociados. E se o axioma, mesmo assim abruptamente lançado, é insuscetível de
contestações, não é menos verdadeira a afirmativa de que são, principalmente, os bons hotéis
os mais eficientes dinamizadores da verdadeira indústria do Turismo.
De longa data o governo municipal estava interessado na criação de um departamento
que disciplinasse, que coordenasse as contínuas e crescentes caravanas de turistas, que para
cá dirigem-se atraídas pelo nosso parque industrial, pela natureza de empolgante bucolismo
a emoldurar a nossa cidade, enfim, pelas peculiaridades que nos fizeram conquistar um lugar
de proeminência entre os motivos de atração turística no nosso país.
Infelizmente não reuníamos, ainda, algumas das condições indispensáveis à exata
equação do problema. E entre essas condições sobressaia a falta de hotéis. Surgidos, porém,
60 Fonte: Arquivo Particular Niels Deeke.
108
o “Hotel Rex” sob a orientação competente do Sr. Gustavo Franke (2), e o “Grande Hotel
Blumenau”, dirigido por esse admirável profissional que é o sr. Viktor von Rogoschin, este
portentoso edifício que é motivo de justo orgulho para esta cidade e que honra a indústria
hoteleira nacional, foi então possível criar o Departamento Municipal de Turismo (3). Já
então estávamos, em grande parte, habilitados a dar aos nossos visitantes condições
condignas de hospedagem e de conforto em ambientes compatíveis com o nosso grande
adiantamento.
É bem verdade que outros entraves se antepõem a uma mais eficiente atuação do órgão
criado. Isso porque se os bons hotéis representam um importante fator no desenvolvimento do
turismo, não é, entretanto, o único. Outros de não menor consideração ainda aí estão à
espera de soluções adequadas, soluções que, infelizmente, não dependem da nossa vontade
nem estão sujeitos à nossa alçada.
Assim como não se pode falar em turismo sem resolver-se a questão do alojamento, é
escusado tentar providências nesse particular, sem que as vias de acesso ao Município e os
seus meios de transporte, correspondam a um mínimo de conforto e de comodidade.
E, nessa questão, lamentavelmente, estamos à margem e, muito abaixo, de qualquer
crítica. Não precisaremos apontar-vos as deficiências das nossas estradas. Os senhores
convencionais de outras parcelas da Federação, devem tê-las sentido na própria carne. E,
malgrado toda a nossa boa vontade, todos os nossos esforços, quer da Prefeitura, quer das
Associações de Classe, deste e de outros municípios, não temos podido obviar esse grande
entrave ao desenvolvimento da indústria turística.
E está aí, senhores convencionais, um tema que certamente não escapou a vossa
observação e, que seria de grande interesse ocupasse lugar de destaque na agenda dos
trabalhos desta Convenção. Precisamos fazer algo de positivo, de urgente, que elimine, de
uma vez por todas, essa e outras causas, que obrigam o turismo a marcar passo, perdendo
terreno ao invés de alcançar os desejados níveis.
Os senhores convencionais, não só individualmente, como de modo especial nas
conclusões a que chegaram nas várias comissões, poderão alcançar resultados os mais
auspiciosos nesse terreno, atuando, através de seus órgãos representativos, junto aos poderes
competentes para que, pelo menos a BR-59, seja terminada o quanto antes, afastando, assim,
sem bem em só em parte, um dos maiores percalços postos nos caminhos de um maior
desenvolvimento turístico.
Lutando em prol desse desígnio, tanto o governo municipal, quanto esta seleta
Convenção, estaremos trabalhando por uma só e mesma finalidade, eminentemente elevada e
109
patriótica, porque, em última análise, visar-se-á o engrandecimento desta comuna e o maior
progresso da nossa Pátria gloriosa.
Ao iniciar-se, com tanto brilho e sob tão magníficos auspícios, esta Convenção,
queremos, ao dá-la por instalada, em nome do governo de Blumenau, congratular-nos com os
senhores convencionais e dizer-lhes da confiança que nutrimos de que, esta assembléia não
constituirá, apenas, uma simples e alegre reunião de profissionais de uma mesma indústria,
mas, consciente das suas responsabilidades no bem estar da nação e do seu povo,
concorrerá, com o esforço e a inteligência dos seus dignos participantes, para a solução dos
atuais e angustiantes problemas.
Sei que interpreto o sentir de toda a população blumenauense se, ao agradecer a
escolha desta cidade para sede desta Primeira Convenção Hoteleira do Sul, eu vos manifeste
a nossa satisfação pela presença, aqui, de tantos e tão respeitáveis e dignos componentes de
uma classe das mais eficientes e laboriosas e lhes apresente as nossas mais cordiais e
sinceras boas-vindas.
Sintam-se em Blumenau, senhores Convencionais, como em suas próprias casas, como
em suas próprias cidades.
Aqui tereis a estima e a amizade de um povo leal e bom, que sabe reconhecer o vosso
esforço e a vossa dedicação em prol dos superiores interesses da coletividade nacional.
Está instalada a Primeira Convenção Hoteleira do Sul. Que das suas atividades
advenham frutos que concorram para o progresso de Blumenau e de Santa Catarina e para a
grandeza e a gloria da Pátria Brasileira.
ΨΨΨΨ
Cópia decalcada do “Original” datilografado, mediante papel-carbono, contendo correções
do punho de Hercílio Deeke. Três folhas estampadas com o brasão e o timbre
municipalidade. Colecionadas por Niels Deeke, integrando o espicilégio de Discursos de
Hercílio Deeke.
110
ANEXO E - ROTEIRO TURÍSTICO CENTRO HISTÓRICO 61
O Roteiro Turístico Centro Histórico contempla a história e a cultura estampada em quarenta
e um atrativos turísticos que inicia na Ponte Aldo Pereira de Andrade (Ponte de Ferro),
passando por todos os prédios antigos e contemporâneos da Rua XV de Novembro,
terminando na curva do Rio Itajaí Açu, Porto Fluvial, onde o visitante poderá desfrutar de um
lindo visual no Biergarten (Jardim da Cerveja). Este roteiro pode ser desfrutado num belo
passeio a pé.
Ponte Aldo Pereira Andrade
Construída com material importado da Alemanha e inaugurada em 1.931. Possui extensão de
315 metros e altura de 18 metros. Até meados de 1.970, serviu de passagem para o trem que ia
de Blumenau a Itajaí, transportando alimentos e produtos industrializados, por isso ficou
conhecida como Ponte da Estrada de Ferro. Hoje, serve de ligação entre o centro da cidade e o
bairro Ponta Aguda.
Marco Rotário
Inaugurado em 2.006. Comemorativo ao centenário do Rotary Club de Blumenau.
Monumento artesanal, em aço inox, com 2 metros de diâmetro. O Globo com as mãos abertas
é um convite à paz, simbolizando a união com todos os povos da Terra . As cinco colunas
simbolizam os continentes. Além das bandeiras do Brasil, de Santa Catarina, de Blumenau e
do Rotary, há uma branca, símbolo da paz.
Curiosidade: O Globo pode ser aberto para a colocação de terra de outras regiões.
Mirante dos primeiros imigrantes – Beira Rio
Construído em comemoração aos 150 anos da cidade. Marca o local de chegada dos 17
primeiros imigrantes, entre eles, Reinhold Gaertner, sobrinho do Dr. Blumenau.
Local privilegiado para aqueles que querem captar belas imagens.
61 Disponível em: < http://www.turismoblumenau.com.br> Acesso em: 17/03/2006
111
Praça Victor Konder
Inaugurada em 1.928, era conhecida como Praça da Estação e contempla:
Marco Comemorativo à Independência do Brasil: inaugurado em 1.972, em comemoração ao
sesquicentenário de Blumenau;
Monumento da Poesia: Blumenau na Antiga Manhã, inaugurado em 1.998, em homenagem ao
Poeta Haicadista Martinho Bruning;
Busto Victor Konder: Inaugurado em 1928, em homenagem ao Ministro da Viação no
Governo do Presidente Washington Luis.
Curiosidade: Em 1.930, o busto foi arrancado do pedestal e atirado ao Ribeirão da Velha,
pelos revolucionários getulistas. A recolocação só aconteceu em 1.947, dezessete anos depois.
Prefeitura Municipal de Blumenau
Prédio inaugurado em 1.982, no local onde funcionava a sede da antiga Estação Ferroviária.
A construção é uma imitação da técnica construtiva enxaimel, inspirada nas edificações do
período colonial.
Curiosidade: É uma das maiores prefeituras do Estado e um dos prédios mais fotografados.
Macuca
Primeira locomotiva de Blumenau. Importada da Alemanha em 1.908, chegou ao Brasil a
bordo do Vapor Klobenz que também trazia oitocentas toneladas de material para a Estrada de
Ferro Santa Catarina.
Curiosidade: O apelido “Macuca” foi dado carinhosamente pela comunidade devido a
semelhança com o macuco (Tinamus Solitárius – Ave da família Tinamidae). Além da
anatomia, o seu apito lembrava o piu do macuco e o ruído da descarga de sua caldeira
recordava o som produzido pelas asas da referida ave.
Monumento 150 Anos de Blumenau
Inaugurado no ano 2.000. Mapa da cidade com duas pegadas humanas, simbolizando a
chegada dos imigrantes. Composição de ferro e concreto do artista Evaldo Freygang.
112
Figueira
Plantada em 1.903 pelo engenheiro Heinrich Kroehberger. Palco da democracia, que acolhe a
população em suas manifestações.
Curiosidade: A preservação total da figueira e harmonia com o novo ambiente foi
preocupação do poder público, durante a elaboração do projeto de construção da Prefeitura.
Relógio das Flores
Inaugurado no ano de 2.000, em comemoração aos 150 anos de Blumenau. Funciona à
energia elétrica.
Curiosidade: Único no Estado. No Brasil existem apenas cinco relógios de flores: Poços de
Caldas- MG (1.972), Petrópolis-RJ (1.972), Curitiba-PR (1.972), Garanhuns- PE (1.979) e
Blumenau.
Rua XV de Novembro – Conjunto Arquitetônico
No início, era conhecida por “Wurstrasse” (Rua da Lingüiça), por ser estreita e cheia de
curvas. Com a expansão da colônia, passou a denominar-se Rua do Comércio. O nome atual
veio com a Proclamação da República.
Curiosidade: Foi a primeira rua calçada em Santa Catarina, no ano de 1929. Palco de
momentos históricos como o desfile dos Integralistas; passarela de personalidades notórias
como o Marechal Castelo Branco, Getúlio Vargas, Ernesto Geisel, Helmuth Kohl e outros; da
expressão da beleza local, representada pelas misses Ingrid Budag e Vera Fischer e da alegria,
como os desfiles de carnaval. Hoje, palco dos desfiles da Oktoberfest, das comemorações do
aniversário de Blumenau, das datas cívicas e do Stammtisch. Apresenta vários imóveis
cadastrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN-SC. Destes,
10 têm a fachada rebatida (desenhada) nas lajotas da via e contempladas no roteiro. A Europa
é pioneira na arte de rebater a fachada das casas sobre o piso da rua. No Brasil, este recurso é
empregado apenas no Rio de Janeiro e em Blumenau. Ao longo dos 1.590 metros de extensão
da rua XV de Novembro, compõe um elemento de beleza incontestável. As edificações
maiores, com dois pavimentos e estrutura de alvenaria auto portante, representam uma
arquitetura mais refinada, mais confortável, que reflete o sucesso da colônia e os anseios da
época pelo progresso.No ano de 2.002, a rua XV de Novembro foi completamente
113
reurbanizada.
Casa da Família Sievert, nº. 1526
O piso superior era utilizado como moradia e, em seu andar térreo, funcionava um comércio.
A Loja Willy Sievert vendia de tudo: alimentos, louças, brinquedos, tecidos em metro e
aviamentos. Construída entre 1.930-1.935, a arquitetura possui detalhes de influência Art
Deco.
Casa da Família Benthein, nº. 1404
Atualmente pertence aos Herdeiros Siervert. O piso superior servia de residência para a
família e no térreo estava o Café Benthein, ponto de encontro dos blumenauenses. Construída
entre 1.920-1.925. Detalhes de influência Art Deco. Tombada pelo IPHAN-SC.
Teatro Carlos Gomes
Com a música fazendo parte de sua vida e cultura, os primeiros imigrantes em Blumenau,
criaram um pequeno grupo de canto e artes teatrais em 1860, na Alameda Duque de Caxias.
Para acolher todos os grandes acontecimentos culturais da cidade, foi construída uma nova
sede, inaugurada em 1.939. Possui um dos quatro palcos giratórios do Brasil com platéia
para 1.170 pessoas, ambiente climatizado e oferece também: escola de balé, teatro, dança,
orquestra de câmara e Centro de Convenções.
Curiosidade: Em 1.948, foi realizado o 1º Baile de Debutantes do Estado. Local em que, mais
tarde, também debutou a atriz blumenauense Vera Fischer.
Casa da Família Rabe, nº. 1116 e 1122
Edificação de propriedade da família Rabe, construída em estilo Art Deco. O andar superior
era utilizado como residência e, o térreo, como comércio de tecidos e aviamentos. Construída
entre 1.920 e 1.930. Tombada pelo IPHAN-SC.
114
Casa da Moellmann , nº. 1050
O prédio é anterior a 1.915. Foi de propriedade de Carl e Lisete Moellmann que vieram para o
Brasil em 1.861. O ramo de negócios da família possibilitou que o casal viajasse muito pelo
estado e assim, com uma visão empreendedora, resolveu investir em uma filial em
Blumenau. A Comercial Moellmann vendia principalmente ferragens, utensílios e tintas. Em
1.978, foi construída ao lado, a nova Loja Moellmann, o Castelinho.
Castelinho da Moellmann
Construído em 1.978, pelo empresário Udo Schadrack, de família tradicional blumenauense, é
uma réplica da prefeitura de Michelstadt, cidade localizada ao sul da Alemanha. Até o ano de
1.999, foi a sede da Comercial Moellmann, uma das mais importantes empresas do Estado. A
partir de 2.002, o prédio passou a abrigar a Secretaria Municipal de Turismo. Tombado pelo
IPHAN-SC.
Curiosidade: É o segundo atrativo mais fotografado do sul do Brasil.
Feira de Artesanato, nº. 1091
Construída no início da década de 1.940, em estilo Art Deco. No local, funcionava o
departamento de ferragens da Comercial Moellmann. Desde 1.998, é sede da Associação da
Feira de Artes e Artesanatos – AFEART, onde são comercializados os trabalhos de mais de
40 artesãos. Tombado pelo IPHAN – SC.
Praça João Mosimann
Inaugurada em 1.981, em homenagem ao professor João Maria Mosimannn que fez do
magistério uma profissão de fé, e de sua vida, uma lição permanente de amor ao próximo.
Catedral São Paulo Apóstolo
Inaugurado em 1.958, o moderno templo católico foi projetado por Gottfried Boehm. Contém
em seu interior vitrais com belos efeitos de luminosidade e coloração. Possui uma imponente
torre com 45 metros de altura, com três sinos eletrônicos, sendo que o maior representa Jesus,
115
o segundo, Maria e o menor, José. As imagens de Nossa Senhora, Cristo Crucificado, São
José e o Cordeiro Pascal, esculpidos em cedro, incorporam a fachada da entrada principal. O
relógio foi trazido da Alemanha em 1.930 e pesa 484 quilos. Em seu interior, a catedral
possuí uma gigantesca rosácea com 8 metros de diâmetro, rodeada de outras vinte menores,
com 60 centímetros de diâmetro cada. É um trabalho de cantaria verdadeiramente admirável,
como que a dizer que a força da fé pode até retorcer o granito.
Curiosidade: A pedra fundamental da então Igreja Matriz, foi lançada 1.953 e o mentor e
executor foi o Frei Brás Reuter. Substituiu a primeira igreja construída em estilo gótico, em
1.876, pelo arquiteto Henrique Krohberger. No ano 2.000, ganhou o status de Catedral, com a
chegada do Bispo Dom Angélico Sândalo Bernardino.
Casa da Família Borba, nº. 895
Como em outras casas da época, o piso superior servia como residência e o térreo, como área
comercial. Edificada entre 1.930 e 1.940, no estilo Art Deco, pertence ao Cadastro Histórico
Municipal.
Casa da Família Husadel, nº. 801
Paul Husadel foi um dos primeiros comerciantes a se instalar na rua XV de Novembro que, na
época, possuía 1,5 Km de extensão. Desde o início, atuou no ramo da joalheria e ótica. A
casa é um exemplar com forte influência da arquitetura dos Alpes Suíços. É um importante
cartão de visita da cidade, de grande valor para o patrimônio histórico e arquitetônico de
Santa Catarina. Sua construção data do final do século XIX.Tombada pelo IPHAN-SC.
Item 21 – Casa da Família Brande, nº. 789
Construída na primeira metade do século XX, era um estabelecimento comercial muito
conhecido: Lojas Brandes e Reinert. É propriedade da família Hauer. Casa tombada pelo
IPHAN –SC.
Casa da Família Kleine, nº. 667
Edificada aproximadamente em 1.900. Durante muitos anos, foi uma tradicional loja de
louças e outros artigos domésticos. Atualmente, pertence à família Freitag. Um detalhe
interessante da construção é o forro do beiral em madeira que forma um arco na fachada
116
central. E na varanda, mãos francesas que sustentam o balanço.Casa tombada pelo IPHAN –
SC.
Casa da Família Vetterle, nº. 605
Edificada no início do século XX em estilo Art Deco. No térreo funcionava um comércio de
calçados e no andar superior era a residência da família Vetterle. Casa tombada pelo IPHAN –
SC.
Praça Dr. Blumenau
Inaugurada em agosto de 1.949, em homenagem ao fundador da cidade. Palco de grandes
eventos políticos e culturais, construída em terreno doado pela família Werner. A partir de
2.001, um mosaico composto de cacos de piso e azulejos, de autoria do artista Antônio
Rozicki, retrata o fundador da cidade.
Casa da Família Busch, nº. 459
Construção da década de 1.950, de propriedade de Frederico Guilherme Busch, político
influente, eleito Prefeito de Blumenau em duas gestões. O andar térreo da edificação era
conhecido como Galeria Busch, utilizado para fins comerciais, enquanto que no andar
superior, era a residência da família. A casa pertence ao Cadastro Histórico Municipal.
Primeira Agência dos Correios de Blumenau - Alameda Rio Branco, 40
Prédio projetado pelo industrial e ex-prefeito Curt Hering para abrigar a sede da Agência dos
Correios de Blumenau, de 1.927 até a década 60. Em seu andar superior, residia o
administrador da agência. Edificação de arquitetura eclética em linhas clássicas. Propriedade
privada tombada pelo IPHAN-SC.
Prédio do Antigo Cine Busch
Na década de 20, era um moderno prédio onde funcionava o Cine Busch, empreendimento
que marcou o início d a apresentação cinematográfica no Estado. Foi um dos primeiros
117
cinemas do Brasil. O prédio pertenceu aos herdeiros de Frederico Guilherme Busch Jr., ex-
prefeito de Blumenau. Hoje, é de propriedade da família Gaertner. Edificação que pertence ao
Cadastro Histórico Municipal.
Curiosidade: Na década de 60, foi produzido e ganhou grande repercussão o filme “Férias no
Sul”,em que atrizes blumenauenses participam do elenco.
Mausoléu Dr. Blumenau
Inaugurado em setembro de 1.974, ano do sesquicentenário da Imigração Alemã no Brasil,
abriga os restos mortais do Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, fundador da cidade, e seus
familiares. A construção deste monumento surgiu da inspiração do professor e historiador
José Ferreira da Silva.
Monumento Dr. Blumenau
Estátua de bronze, erguida em 1.940, em homenagem ao fundador da cidade. Foi modelada
pelo escultor Francisco Andrade, professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. O Dr.
Hermann Bruno Otto Blumenau, nasceu na cidade alemã de Hassenfelde.
Curiosidade: Na década de 40, com o fechamento do Canal do Bom Retiro, criou-se um
espaço privilegiado para a instalação da Praça Dr. Blumenau. Em 1.950, em comemoração ao
centenário de fundação da cidade, a estátua foi integrada ao local. Em 1967, a estátua foi
transferida para o início da Alameda Duque de Caxias, considerada uma área eminentemente
histórica e marco da colonização da cidade. Em 1999, no ano do centenário de morte do
fundador da cidade, atendendo a solicitação da comunidade, a estátua passou a ocupar um
novo local, o mais nobre espaço em destaque, em frente ao Mausoléu Dr. Blumenau.
Fundação Cultural de Blumenau
Sede da Colônia de Blumenau (1.875). A partir de 1.939, com a remodelação e ampliação do
prédio, passou a abrigar além da Prefeitura Municipal, o Fórum e as repartições Judiciais e
Policiais. Foi parcialmente destruído pelo incêndio em 1.958, junto com os arquivos históricos
do município. O prédio foi reconstruído e inaugurado no ano de 2.001. Hoje é sede da
Fundação Cultural de Blumenau. Prédio tombado pelo IPHAN-SC.
118
Alameda Duque de Caxias (Rua das Palmeiras)
Foi a primeira rua planejada da colônia. Denominada pelo imigrantes “Boulevard
Wendenburg”. As primeiras palmeiras imperiais da colônia foram plantadas em 1.876, no
centro da via.
Biblioteca Pública Dr. Fritz Muller
O nome homenageia o Dr. Fritz Muller, nascido em 1.822 na cidade de Windischolzhausen,
na Alemanha e falecido em Blumenau, em 1.897. Foi um dos primeiros cientistas a
comprovar a teoria de Darwin, sobre a seleção natural das espécies.
A biblioteca foi instituída em 1.952. Até o ano de 1.968, contava com um acervo de 25 mil
volumes. Em fins de 1.982, possuía aproximadamente 85 mil volumes, resultado de
campanhas e doações. Com as enchentes de 1.983 e 1.984 o acervo foi reduzido em 60%,
quando as águas atingiram a altura de um metro e meio, nas dependências do prédio. Hoje
conta com 67 mil volumes de materiais de pesquisa e literatura em geral, abertos à
comunidade.
Curiosidade: O acervo bibliográfico contém um exemplar do Juramento Olímpico, menor
livro do mundo, editado em 7 idiomas. A publicação mede 5 milímetros altura por 5
milímetros de comprimento. Também possui um exemplar editado em fibra de cebola
reciclada, com o título: Fio da Esperança, de autoria do poeta Lindolf Bell.
Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva (Alameda Duque de Caxias, 64)
Concentra informações histórico-culturais da cidade e da região. O nome é em homenagem ao
historiador e professor que dedicou grande parte de sua vida à preservação da memória da
cidade. José Ferreira da Silva foi prefeito de Blumenau de 1.938 a 1.941.
Curiosidades: No acervo existem, além de diversos documentos das primeiras terras
adquiridas pelo Dr. Blumenau, cartas de imigrantes e entre elas, declarações de amor
acompanhadas de mechas de cabelos dos apaixonados.
119
Museu da Família Colonial (Alameda Duque de Caxias, 78)
Complexo museológico aberto ao público em 1.967. Formado por três casas-museu. A
primeira, edificada em 1.864, pertenceu ao vice-diretor da Colônia, Hermann Wendenburg; a
segunda, também em 1.864 era de Victor Gaertner (sobrinho do Dr. Blumenau) e, a terceira,
de meados de 1.920 pertenceu a família Gaertner. No seu interior estão expostos móveis,
utensílios domésticos, maquinário e peças do cotidiano dos imigrantes. Tombado pelo
IPHAN-SC.
Curiosidade: Blumenau foi a primeira e única cidade do Estado, entre as 27 em âmbito
nacional, beneficiada pelo projeto Natal Luz da Eletrobrás/Celesc. O projeto contempla bens
do Patrimônio Histórico com a iluminação de Natal.
Parque Horto-Botânico Edith Gaertner
Área do complexo do Museu da Família Colonial. Neste espaço o visitante conhece o
laboratório de experiências botânicas, com várias espécies plantadas pelo Dr. Blumenau.
Cemitério dos Gatos
Edith Gaertner, sobrinha-neta do Dr. Blumenau, tinha grande afeto pelos gatos. Ao morrerem,
os felinos eram enterrados com direito a funeral e cortejo fúnebre. Estão enterrados nove
gatos: Pepito, Mirko, Bum, Peterle, Musch, Schnurr, Sittah, Putze e Mirl.
Curiosidade: Em 2.000, o Cemitério dos Gatos foi apresentado em rede nacional, no programa
Fantástico da Rede Globo, pelo jornalista Maurício Kubrusly e também faz parte do livro Me
Leva Brasil.
Igreja Evangélica Luterana do Espírito Santo - (Rua Amazonas, 119)
Foi inaugurada em 1.877. Pertence à Comunidade Luterana de Blumenau. Construída em
estilo gótico, projetada por Heinrich Krohberger e fundada pelo Pastor Rudolph Oswald
Hesse. Anexo à Igreja está o cemitério, onde estão sepultados vários imigrantes colonizadores
e seus descendentes de confissão Luterana. Tombada pelo IPHAN-SC.
Curiosidades: Os primeiros imigrantes da Colônia em Blumenau eram de Confissão Luterana.
Somente após 25 anos é que vieram as grandes levas de Católicos de nacionalidade italiana.
120
Antigo Hotel Oliveira (Prédio Pedro Lingüiça) Alameda Duque de Caxias, 109.
Construção do século XIX, segue o estilo eclético com inspiração neoclássica, ocupando uma
área de 422 metros quadrados.O prédio abrigou um dos primeiros hotéis da cidade. Tombada
pelo IPHAN-SC.
Curiosidade: O apelido de Pedro Lingüiça originou-se pela mais famosa iguaria oferecida no
bar: a lingüiça schiken, cortada em rodelas.
Antigo Comércio de Importação
Típica construção do final do século XIX e ponto referencial de chegada na cidade. O
primeiro proprietário foi Gustav Salinger, Cônsul Alemão em Blumenau, que representou
uma das forças vivas do comércio de exportação e importação. O pavimento superior era
destinado ao uso residencial e o térreo era área comecial. Atualmente pertence ao grupo
empresarial Coteminas.Tombado pelo IPHAN-SC
Praça Hercílio Luz
Nos tempos da colônia, o local era o principal ponto de reuniões da cidade que não parava de
crescer. A pedra fundamental da praça foi lançada em 1.900, por ocasião do cinqüentenário da
cidade. Foi urbanizada em 1.903. No ano de 1.919, recebeu a denominação de Praça Hercílio
Pedro da Luz, em homenagem ao primeiro governador republicano eleito em Santa Catarina.
Tombada pelo IPHAN-SC.
Marco dos Primeiros Imigrantes: Inaugurado em setembro de 1.900, por ocasião do
cinqüentenário de fundação de Blumenau, talhado em pedra da região e esculpido pelo
colono Ermínio Stingner.
Monumento Voluntários da Pátria: Inaugurado em 1.965, em homenagem aos setenta e sete
colonos que participaram em 1.800, na Guerra do Paraguai.
Biergarten (Jardim da Cerveja) - Inaugurado em setembro de 1.986. Neste espaço foi
construída uma cervejaria, com característica de uma fábrica da época da colonização. Ao
121
entardecer, enquanto degusta a cerveja artesanal, o visitante pode contemplar o por-do-sol e as
belezas do rio Itajaí-Açu.
Monumento com Poema de Lindolf Bell - Inaugurado em 1.986, escultura abstrata em bronze,
granito e mármore com o poema “Menor que meu sonho não posso ser”.
Museu da Cerveja - Inaugurado em setembro de 1.996. Expõe equipamentos utilizados na
fabricação de cerveja, peças, objetos, fotografias, documentos e textos históricos relacionados
ao precioso “pão líquido”. Conta com uma coleção de peças que pertenceram à antiga
Cervejaria Feldmann de Blumenau e a cervejaria Brahma.
Porto Fluvial
Instalado na curva do rio Itajaí-Açú, foi o local escolhido pelo Dr. Blumenau para iniciar a
colônia. Considerado um marco de grande importância para desenvolvimento de Blumenau e
região rumo ao litoral com embarque e desembarque de pessoas e mercadorias.
Curiosidade: Durante aproximadamente um século e meio, foi a única via de comunicação de
Blumenau. O trajeto fluvial de Blumenau a Itajaí pelo vapor durava 8 horas, dependendo da
correnteza do rio.
O primeiro vapor a atracar foi o São Lourenço, sem horário fixo. Este fato levou um grupo
de comerciantes de Blumenau e Itajaí a fundar uma cooperativa para adquirir um navio a
vapor que fizesse o trajeto entre as duas cidades em viagens regulares. Em 1.878 foi
comprado o Vapor Progresso.
Com o crescimento da Colônia e das transações comerciais, o Progresso, já não atendia à
demanda do transporte de cargas e passageiros.
Em 1.893, a Companhia de Navegação Gustav Ferdinand encomendou um navio maior e mais
possante, na mesma fábrica alemã construtora do Vapor Progresso, a Damfschiffs und
Machinen Bauanstalt.
O novo vapor viria a se chamar Vapor Blumenau. Sua construção foi concluída em 1.894.
Tinha 28 metros de comprimento, 4,40 metros de largura e 2,10 metros de altura. Em sua
primeira viagem esteve presente o ilustre Governador do Estado, Hercílio Pedro da Luz.
Em 1.949, o porto recebeu seus últimos barcos.
122
ANEXO F - ROTEIRO TURÍSTICO DE NATUREZA FRITZ MÜLLER62
A cidade de Blumenau também oferece um passeio encantador em seus parques ecológicos e
trilhas, locais onde o famoso cientista e naturalista, amigo de Charles Darwin, viveu e estudou
a fauna e flora do município. O Roteiro Turístico de Natureza Fritz Müller, contempla nove
atrativos (entre parques e museus) e treze trilhas, com intensidade e dificuldade diferenciadas.
Você vai precisar de pelo menos quatro dias para visitar todos os parques. As visitas precisam
ser agendadas na Central de Atendimento ao Turista, da rótula do Sesi entrada sul da cidade,
ou pelo telefone (47) 3222-3176.
Quem foi Fritz Muller?
Johann Friedrich Theodor Müller, nasceu na aldeia de Windschholzhausen, na Alemanha, em
31 de março de 1822. Fritz Müller como era chamado, estudou matemática e ciências
naturais, em Berlim, foi doutor em Filosofia e concluiu a faculdade de medicina aos 27 anos.
Mas foi um livreto escrito por Dr. Blumenau, que falava da colônia no Brasil, que o
convenceu a embarcar para o nosso país, em 19 de maio de 1852. Suas habilidades de
cientista e sábio da vida contribuíram na formação de opiniões e influenciaram
comportamentos. Sem deixar de manter contato com grandes pesquisadores na Europa,
manteve grande amizade com o cientista Charles Darwin que o chamou “Príncipe dos
Observadores”. Fritz Müller escreveu o livro Pró-Darwin, defendendo a teoria de Darwin
sobre a seleção natural das espécies.
Museu de Ecologia Fritz Müller
Este é o primeiro local onde se tem contato com a obra e vida de Fritz Muller. Após a morte
do naturalista em 1897, alguns de seus parentes residiram nesta casa. O Museu de Ecologia
Fritz Müller foi fundado em 17 de junho de 1936, na época denominado “Casa de Fritz
Müller”. Em 1.996, a Fundação Municipal do Meio Ambiente (FAEMA) passou a cuidar do
local, reestruturando as exposições em seis salas, dando um caráter educativo às questões
ambientais. A biblioteca, aberta ao público, conta com um acervo de aproximadamente 10 mil
itens.
62 Disponível em: < http://www.turismoblumenau.com.br> Acesso em: 30/07/2006.
123
Visitação: aberto diariamente das 8 às 11:30 e das 13:30 às 17:30.
Localização: R. Itajaí, nº 2.195 – Vorstadt
Depois de conhecer um pouco da vida e história do grande naturalista, você pode escolher o
roteiro que vai fazer. Mas lembre-se: um dia não é suficiente para conhecer as belezas
naturais de Blumenau. Vamos nos aventurar?
Museu da Água
Inaugurado em 1999, o Museu da Água funciona na primeira estação de tratamento construída
em Blumenau, o que o torna único no Brasil. Lá, o visitante pode ver todo o processo de
purificação da água, retirada do rio Itajaí-Açu, até a sua distribuição na rede pública de
abastecimento. O museu conta com peças antigas, painéis históricos e de caráter educacional.
Sua localização oferece uma das mais belas vistas da área central de Blumenau.
Visitação: diariamente das 9h às 20h
Localização: Rua Lages – Boa Vista.
Parque Ecológico Spitzkopf
Por que “Spitzkopf” ?
A palavra Spitzkopf é, na verdade, formada pela junção de duas palavras alemãs: Spitz e Kopf
que significam pontuda e cabeça, respectivamente. Portanto, Spitzkopf significa cabeça
pontuda. Esse nome foi dado, pelos habitantes da região, no final do século XIX, em função
do formato do morro. Desde 1907, pertence à família Schadrack.
O Parque Ecológico Spitzkopf oferece três tipos de trilhas, onde podem ser observados vários
exemplares da fauna e da flora.
Trilha do Ribeirão Caeté:
Extensão: relativamente curta
Tempo de percurso: menos de 1 hora
124
Trilha da Represa:
Extensão: curta, aprox. 3 km
Passa por uma represa e termina na Cascata do Ouro, com 20 metros de altura.
Trilha Edson Antônio Ferretti (ao Pico):
Extensão: longa – aproximadamente 6 Km
Tempo de percurso: 5 horas entre ida e volta.
Todo esse esforço vale a pena, isto porque, dali pode se avistar, em dias ensolarados, parte do
centro de Blumenau, alguns municípios vizinhos e o litoral.
Para poder usufruir com segurança do passeio, é aconselhável que crianças e adolescentes
façam o percurso acompanhados dos responsáveis. Recomendamos também tomar o máximo
cuidado ao caminhar sobre as pedras escorregadias das trilhas.
Extensão total do Parque: Aproximadamente 500 hectares
Localização: Rua Bruno Schreiber, 3.777 - Progresso
Parque Natural Municipal São Franciso de Assis
O Parque Natural Municipal São Francisco de Assis pertenceu à antiga Congregação dos
Padres Franciscanos e foi doada à Prefeitura Municipal de Blumenau. Possui 23 hectares de
Floresta Ombrófila Densa, contendo diversas espécies da flora e da fauna. Aqui podem ser
encontradas mais de 100 espécies de aves, mais de 40 de insetos, além de mamíferos como
bugios, tatus, cutias e morcegos. A flora, igualmente rica, possui aproximadamente 150
espécies catalogadas.
Suas trilhas foram construídas para que seus visitantes possam conhecer este belo
remanescente de floresta, no centro da cidade de Blumenau.
O Parque oferece quatro trilhas: Caminho das Águas, Caminho do Tucano, da Cutia e do
Tatu.
Trilha do tatu. Para conhecê-las o visitante pode realizar dois percursos:
Percurso 1: Acesso fácil, com uma escada suave de 53 degraus. Ideal para crianças e idosos.
O trajeto é feito pelo Caminho das Águas, Trilha da Cutia e Trilha do Tucano.
Extensão: 830 metros
Tempo de percurso: l hora
125
Percurso 2: Acesso de dificuldade média, com escada íngreme de 55 degraus. Trajeto feito
pela Trilha do Caminho das Águas, Trilha do Tucano e Trilha do Tatu, com acompanhamento
de um monitor.
Extensão: 1.500 metros
Tempo de percurso: 1 hora e meia.
Localização: Rua Ingo Hering, s/n. – Centro
Parque das Nascentes
O Parque Natural Municipal das Nascentes do Garcia situa-se a 23 Km ao Sul de Blumenau.
Está inserido no Parque da Serra do Itajaí e possui uma área de 5.300 hectares, com uma
exuberante floresta e centenas de nascentes dos rios Garcia (Blumenau) e Espingarda
(Indaial). A fauna contempla 240 espécies de aves, 65 de mamíferos, 39 de anfíbios, 10 de
répteis e 10 de peixes. A floresta igualmente rica é formada por 360 espécies de árvores e
arbustos.
Trilha do Oito - Ideal para observação de pássaros. Desenvolve-se em parte na estrada
interna.
Extensão: 4 km
Tempo de percurso: 3 horas de contemplação.
Trilha do Morro do Sapo
Leva a dois mirantes construídos a 760 m de altitude, de onde de tem uma magnífica visão de
360 graus da floresta. Ao sul, avista-se o Morro de Santo Antônio com 360 metros e ao norte,
o morro do Spitzkopf, com 936 metros.
Extensão: 4 km
Tempo de percurso: 4 horas.
Trilha da Terceira Vargem
Leva à terceira Vargem, onde há vestígios de uma antiga serraria. Há um trecho estreito que
exige bastante atenção. Pode-se chegar ao mesmo local pela estrada interna do parque.
Extensão: 12 km
Tempo de percurso: 5 horas.
126
Trilha da Chuva
Área representativa com remanescentes de canela preta (Ocothea Catarinenses). Com seis
travessias do Rio Garcia Pequeno e subidas íngremes.
Extensão: 2,7 km
Tempo de percurso: 3 horas.
Trilha das Lagoas
Circunda em conjunto de lagoas, onde pode ser observada a fauna.
Extensão: 430 m de percurso
Tempo de percurso: 30 minutos.
Trilha da Garganta
Conduz a um dos mais belos cenários do Rio Garcia. Trilha curta, porém difícil. Exige
bastante atenção.
Extensão: 180m
Tempo de percurso: 15 minutos
Localização: Rua Santa Maria (final) - Progresso
Roteiro Ecológico Nova Rússia
A Nova Rússia localiza-se ao sul do município de Blumenau, no entorno do Parque Municipal
Nascentes do Ribeirão Garcia. Esta área, pertencente à Mata Atlântica, apresenta uma
diversidade de espécies animais e vegetais, oferecendo aos visitantes a oportunidade do
contato com a natureza e a prática de várias atividades de lazer: caminhadas, observação da
natureza, passeios a cavalo, banhos de rio, mountain bike e visita aos túneis das Minas da
Prata. Além disso, existem restaurantes que oferecem comida caseira. O roteiro inclui
recantos naturais, pousada, restaurante e produtos artesanais.
Minas da Prata
Acesso fácil, ideal para crianças a partir de 6 anos, acompanhadas de um responsável. Túneis
e histórias interessantes das antigas minas de prata.
Meio de Transporte: a pé ou de bicicleta.
Distancia: até as minas da prata é de 2,7 km.
127
Tempo de percurso: no mínimo 2 horas.
Trilha Fria
Acesso fácil, pode ser feito por crianças a partir de 6 anos, acompanhadas de um responsável.
Trajeto agradável às margens do rio Garcia com suas águas cristalinas e geladas.
Depois de conhecer a fauna e flora de Blumenau tão amada e pesquisada por Fritz Muller,
você não pode deixar de visitar o cemitério da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, onde
estão depositados os restos mortais do cientista.
Local: Rua Amazonas, 119 – Ribeirão Fresco
Importante: Todas as visitas aos parques deverão ser agendadas no Centro de Atendimento
ao Turista (CAT), pelo telefone (47) 3222-3139
128
ANEXO G - ROTEIRO TURÍSTICO INDUSTRIAL63
As empresas que fazem parte deste roteiro oferecem a oportunidade aos visitantes de
conhecer o processo produtivo de cada artefato fabricado em Blumenau. Demonstrando toda
tecnologia, inovação, carinho e o cuidado, além da força empreendedora do blumenauense
que gera emprego, renda e qualidade de vida. O Roteiro de Turismo Industrial oferece
encantadoras visitas cheias de cultura e história em empresas têxteis, cervejarias, fábricas de
chocolates, de fornos elétricos, cristais, indústria eletro-eletrônica, alimentos, etiquetas e
reciclagem. As visitas podem ser agendadas na Central de Atendimento ao Turista (CAT)
pelo telefone (47) 3222-3176, variando conforme a disponibilidade das empresas em receber
os grupos.
As nossas empresas o esperam de portas abertas!
Conheça as empresas do Turismo Industrial
-Glaspark - Museu do Cristal
-Cervejaria Bierland
-Cervejaria Eisenbahn
-Cristais Hering
-Cia. Hering
-Sulfabril
-Altenburg
-Momento Engenharia Ambiental
63 Disponível em: < http://www.turismoblumenau.com.br> Acesso em: 23/11/2006.
129
ANEXO H – DADOS SOBRE OS ENCONTROS DE STAMMTISCH EM
BLUMENAU/SC64
Edição� Data� Grupos Inscritos� Participantes*� Público Total**��
�
1ª� 26.08.2000� 17� 433� 1.200�
2ª� 25.11.2000� 26� 550� 2.300�
3ª� 21.04.2001� 34� 900� 3.000�
4ª� 01.09.2001� 72� 1.700� 5.000�
5ª� 02.03.2002� 95� 2.200� 10.000�
6ª� 21.09.2002� 160� 3.700� 15.000�
7ª� 22.03.2003� 270� 6.750� 22.000�
8ª� 20.09.2003� 263� 6.575� 25.000�
9ª� 20.03.2004� 275� 6.500� 27.000�
10ª� 20.11.2004� 257� 7.080� 23.000�
11ª� 19.03.2005� 245� 6.700� 25.000�
12ª� 17.09.2005� 240� 6.600� 15.000 ***�
13ª� 25.03.2006� 264� 6.400� 15.000***�
* Número total de membros dos grupos participantes.
** cálculo estimado pela Organização e pela Corporação da Polícia Militar.
*** nesta edição o número de participantes (visitantes) diminuiu em função das chuvas.�
Fontes: Blumenau Convention & Visitors Bureau; IBES – Instituto Blumenauense de Ensino
Superior; Jornal de Santa Catarina e TV Galega.
64 Disponível em: <http://www.blumenau.com.br> Acesso em: 14/08/2006.
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