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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE-Campus de Cascavel – Centro de Ciências Sociais Aplicadas
ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁCURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS
PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO QUANTO AO USO DE AGROTÓXICOS NO ESTADO DO PARANÁ
CEZAR AUGUSTO PIAN
CascavelMARÇO – 2008
CEZAR AUGUSTO PIAN
PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO QUANTO AO USO DE AGROTÓXICOS NO ESTADO DO PARANÁ
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em
Formulação e Gestão de Políticas
Públicas.
Orientador: Profª. Dra. Mariangela
Pieruccini Souza
UNIOESTECascavel
MARÇO – 2008
CEZAR AUGUSTO PIAN
PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO QUANTO AO USO DE AGROTÓXICOS NO ESTADO DO PARANÁ
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção
do título de Especialista em Formulação e Gestão de Políticas Públicas, da
UNIOESTE – Campus de Cascavel / Escola de Governo do Paraná.
Data da aprovação:
_14___/__03__/_2008____
Banca examinadora:
_________________________________Profª. Dra. Mariangela Pieruccini SouzaOrientadora
UNIOESTE – Campus de Cascavel
_________________________________Prof. Msc. Geysler R. F. Bertolini UNIOESTE – Campus de Cascavel
_________________________________Prof. Msc. Adir Otto SchimidtUNIOESTE – Campus de Cascavel
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................iv
ABSTRACT.................................................................................................................vi
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1. O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA .............................................................. 1
1.2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 2
1.2.1. Objetivo geral ................................................................................................. 2
1.2.2. Objetivos específicos ..................................................................................... 2
1.3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 3
1.4. METODOLOGIA ................................................................................................ 3
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 5
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 9
3.1. A DISCIPLINA LEGAL ...................................................................................... 9
3.1.1. As competências legislativas de Estados e Municípios ................................. 10
3.1.2. A competência para legislar sobre agrotóxicos .................................. ........... 11
3.1.3. A legislação sobre agrotóxicos no âmbito federal ......................................... 15
3.1.4. A legislação sobre agrotóxicos no âmbito estadual ........................................ 19
3.1.5. A legislação sobre agrotóxicos no âmbito municipal ...................................... 20
3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS SITUAÇÕES RELACIONADAS AO USO DE
AGROTÓXICOS – REGIÃO DE CASCAVEL, PARANÁ ................................... 26
3.3. PROPOSTAS PARA ATUALIZAÇÃO DAS NORMAS LEGAIS ........................ 42
3.3.1. No âmbito do Estado........................................................................................ 43
3.3.2. No âmbito dos Municípios................................................................................ 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ ...... 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 48
PROPOSTA DE REGULAMENTAÇÃO QUANTO AO USO DE AGROTÓXICOS NO ESTADO DO PARANÁ
Autor: Cezar Augusto Pian
Orientador: Profª. Dra Mariangela Pieruccini Souza
RESUMO: A agricultura praticada no Estado do Paraná, em particular na região
oeste, é intensiva em relação ao uso de agrotóxicos. Ao mesmo tempo em que se
mostra eficiente no controle das pragas, o seu uso em larga escala é acompanhado
por diversos problemas como contaminação de alimentos, intoxicação do ser
humano, poluição do meio ambiente, resistência das pragas etc, o que remete à
necessidade de estabelecimento de dispositivos legais para a sua regulação. As
legislações em vigor, especialmente a Lei Federal nº 7.802/89 e a Lei Estadual nº
7.827/83, bem como seus decretos regulamentadores, são sucintos nos aspectos
relacionados ao uso de agrotóxicos. Diversos municípios editaram leis para regular o
uso destes produtos, porém muitas foram consideradas inconstitucionais por
confrontarem a lei federal, especialmente aquelas que propunham a proibição dos
agrotóxicos cujo princípio ativo contenha 2,4-D. O objetivo geral deste trabalho é o
de propor a ampliação do marco legal referente à utilização de agrotóxicos. São
apresentadas as formulações atuais da legislação relacionada ao tema,
descrevendo as competências do Estado e dos Municípios para legislar sobre o uso
destes produtos. É apresentada em seguida a caracterização das ocorrências
atendidas pelo Departamento de Fiscalização da SEAB – Secretaria de Estado da
Agricultura e do Abastecimento, na área de abrangência do Núcleo Regional de
Cascavel. Entre outras, as ocorrências de deriva das pulverizações para áreas
vizinhas denotam o mau uso destes produtos. Por fim, são apresentadas propostas
para a atualização e complementação da legislação do uso de agrotóxicos tanto em
nível de Estado como de Municípios, entre elas o estabelecimento de requisitos
técnicos para os equipamentos de aplicação; de restrições de uso para os produtos
de maior toxicidade, periculosidade ou potencial de dano, bem como para as
culturas com maior risco de contaminação; de restrições de uso em zonas ou área
de especial interesse; e a necessidade de registro para a aplicação de agrotóxicos,
com treinamento do aplicador e adequação do equipamento de pulverização.
Palavras-chaves: agricultura, agrotóxicos, legislação.
PROPOSAL OF REGULATIONS ABOUT THE USE OF PESTICIDES IN THE STATE OF PARANÁ
Author: Cezar Augusto Pian Advisor: Prof ª. Dra. Mariângela Pieruccini Souza
ABSTRACT: The agriculture practise in the state of Parana, especially in the western
region, is intensive in relation to the use of pesticides. At the same time that it is
effective in the control of pests, its use on a large scale is accompanied of several
problems such as contamination of food, poisoning of the human being, pollution of
the environment, etc. resistance of pests, which refers to the need to establishment
of the legal provisions for its regulation. The laws in force, especially the Federal Law
7.802/89 and the State Law 7.827/83, and its decrees regulators are short about the
aspects related to the use of pesticides. Several counties published laws to regulate
the use of these products, but many were considered unconstitutional because they
confront the federal law, especially those which proposed the ban of pesticide whose
active principle containing 2,4-D. The general objective of this study is to propose the
expansion of the legal framework relating to the use of pesticides. The current
formulations of legislation related to the theme are presented, describing the powers
of the state and counties to legislate about the use of these products. Next, is
presented the characterization of the events attended for the Department of
Supervision of SEAB - Secretary of State for Agriculture and Supply, in the area of
coverage of the Regional Center of Cascavel. Among others, the occurrences of drift
from spraying to neighbouring areas denote the misuse of these products. Finally,
proposals are presented for the update and complement the legislation of the use of
pesticides in both state-level and of counties, including the establishment of technical
requirements for equipment of application; of restrictions of use for the products of
greater toxicity, dangerous or potential for damage, as well as crops with higher risk
of contamination; of restrictions on use areas of special interest, and the need of
register for the application of pesticides, with training of applicator and suitability of
the equipment for spraying.
Index terms: agriculture, pesticides, laws.
1 INTRODUÇÃO
1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA
A agricultura do oeste do Estado do Paraná passou por uma profunda
transformação nos últimos quarenta anos, assim como no restante do país.
Incorporação de novas áreas à agricultura, intensificação da mecanização,
desmatamento em excesso, inclusive em áreas de preservação, uso de sementes
melhoradas e de fertilizantes químicos e, extremamente importante, crescente uso
de agrotóxicos.
Consolidada a modernização da agricultura, num aspecto em particular,
em referência aos agrotóxicos, constata-se que o seu uso indiscriminado produz
reflexos indesejados, representados por contaminação de alimentos, intoxicação do
ser humano, poluição do meio ambiente, resistência de pragas etc.
Com o aumento do uso de agrotóxicos nas lavouras, cresceram também o
número de novos ingredientes ativos, a complexidade das moléculas químicas e a
freqüência de ocorrência dos efeitos adversos, levando à necessidade de
implementação de políticas de educação para o uso correto e o estabelecimento de
dispositivos legais para a sua regulação.
Os aspectos relacionados aos agrotóxicos, desde a fase de produção até
a de comercialização, estão presentes nas legislações federais, especialmente na
Lei nº 7.802, de 1989, bem como nas legislações estaduais, no Paraná representada
pela Lei nº 7827, de 1984. Nos aspectos relacionados ao uso de agrotóxicos, os
dispositivos legais, federais e estaduais, são bastante sucintos. Com o objetivo de
suplementar a legislação de uso de agrotóxicos, muitos municípios editaram leis
próprias, muitas consideradas inconstitucionais por confrontarem a lei federal.
Nesse sentido, ainda que estejam presentes as orientações sobre a
utilização dos agrotóxicos, é necessária a melhoria da regulamentação da lei no
Estado do Paraná, seja no âmbito estadual quanto municipal, para que sejam
respeitados o homem e o meio-ambiente, buscando-se reduzir os efeitos
provocados pelo mau uso destes produtos.
Assim, surge um importante questionamento: de que forma uma possível
ampliação do marco legal contribuiria para a minimização dos riscos relacionados à
utilização de agrotóxicos?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Propor a ampliação do marco legal referente à utilização de agrotóxicos.
1.2.2 Objetivos específicos
Apresentar as formulações atuais quanto ao uso de agrotóxicos, descrevendo
as competências do Estado e dos Municípios para legislar sobre o tema;
Apresentar a caracterização das ocorrências de uso de agrotóxicos na área
de abrangência do Núcleo Regional de Cascavel da SEAB;
Apresentar proposta para a atualização e complementação da legislação do
uso de agrotóxicos.
1.3 JUSTIFICATIVA
No Paraná, nas ocorrências em que se verifica o uso inadequado de
agrotóxicos e que acabam gerando danos a culturas agrícolas atingidas por deriva,
os prejudicados recorrem ao serviço de fiscalização da Secretaria de Estado da
Agricultura e do Abastecimento. Portanto, se faz necessário ampliar a capacidade
de atuação dos profissionais envolvidos, assim como a incorporação de profissionais
ligados a outros órgãos, inclusive municipais, para atuarem na solução dos
problemas.
1.4 METODOLOGIA
Para a construção da pesquisa foram utilizados procedimentos
metodológicos específicos. Primeiramente, para a discussão das formulações atuais
quanto ao uso de agrotóxicos, foi realizado levantamento bibliográfico considerando,
principalmente, os textos da Lei Federal de Agrotóxicos de nº 7.802/89 e da Lei de
Crimes Ambientais de nº 9.605/98, da Lei Estadual de Agrotóxicos de nº 7.827/83 e
seus decretos regulamentadores, assim como leis municipais diversas, em especial
de Municípios situados no Paraná. Com base nesta legislação, com o acréscimo do
texto da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, foram estudadas
as competências de Estados e Municípios para legislar sobre o tema.
Num segundo momento procurou-se relatar casos representativos no
âmbito do Núcleo Regional de Cascavel da SEAB para ilustrar parte das dificuldades
da atuação sobre o uso inadequado de agrotóxicos. Procurou-se apresentar dados e
informações referentes aos tipos de ocorrências que usualmente recebem
atendimento da SEAB, para um possível estabelecimento de percentuais relativos,
sendo que os dados configuram uma amostragem por acessibilidade, não
probabilística.
Os resultados do estudo bibliográfico e dos estudos de casos
possibilitaram num terceiro momento o encaminhamento de propostas e sugestões
para a ampliação do marco legal relativo à utilização de agrotóxicos, tanto a nível de
Estado, mediante alteração da lei e do decreto, como a implantação de leis
municipais específicas.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Praticamente sob todos os aspectos que se queira analisar, o século vinte
foi palco de grandes transformações. Inclusive na forma de fazer agricultura.
Segundo Penteado (2001), com o surgimento dos fertilizantes agrícolas, do
melhoramento genético das plantas e das máquinas e implementos, já no começo
do século, o que contribuiu para a exploração de novas áreas, de forma extensiva.
Após a Segunda Guerra Mundial, esta nova fase da agricultura, apoiada ainda na
utilização de compostos químicos para o controle de pragas, expandiu-se na maioria
dos países, consolidando-se a partir dos anos 1970. Este movimento ficou
conhecido como Revolução Verde.
Segundo Penteado (2001), acompanhando a evolução da agricultura, o
controle de pragas passou também por uma grande transformação. Anteriormente
utilizavam-se como “defensivos”: sabão, óleos, cinzas, cal, sulfato de cobre e
extratos de plantas (alho, tabaco). A estes foram incorporados, com o passar do
tempo, compostos contendo enxofre, arsenicais, extratos de piretro e rotenona, entre
outros. Com o desenvolvimento da indústria química, em especial a do petróleo,
compostos químicos de usos diversos tiveram descoberta sua ação contra insetos,
passando a ser utilizados em saúde pública, no controle de pragas de grãos
armazenados e nas culturas implantadas no campo. Surgiram, desse modo, os
pesticidas modernos, representados pelos organoclorados, organofosforados,
carbamatos e piretróides. A estes se sucederam outros, num processo contínuo.
Segundo Costa (2007), a agricultura que até então era de subsistência,
passa a ser industrial, com a utilização de adubos minerais, mecanização e novas
variedades de sementes, promovendo, desta forma, a produção em larga escala. O
modelo agrícola causou êxodo rural, rios foram assoreados, fontes d’água
contaminadas, solos erodidos.
A euforia pelo emprego de pesticidas, representada pela eficiência no
controle das pragas, minimizaram por longo tempo os diversos problemas que o seu
uso em larga escala podem trazer, quais sejam, contaminação de alimentos,
intoxicação do ser humano, poluição do meio ambiente, resistência de pragas etc
A exposição de pessoas aos agrotóxicos pode ser atribuída, num primeiro
caso, ao consumo de alimentos oriundos da produção agropecuária onde são
utilizados. Os dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos – PARA revelam que é freqüente a identificação de resíduos e, em muitos
casos, se detectam concentrações acima dos limites máximos permitidos, além da
identificação de resíduo de agrotóxicos de uso não autorizado para a cultura
(ANVISA, 2007).
Entre 2001 e 2006 o PARA analisou no Brasil 6.123 amostras de
alimentos in natura, cujos resultados permitem concluir que o maior problema não
está na forma de aplicação do produto na cultura além dos limites permitidos mas,
sim, no uso indiscriminado de agrotóxicos de uso não autorizados para as culturas.
Os resultados chegaram aos seguintes percentuais de amostras com resultados
insatisfatórios neste período: alface 46 %, banana 6%, batata 22%, cenoura 19%,
laranja 4%, maçã 5%, mamão 37%, morango 54% e tomate 26% (ANVISA, 2007).
A exposição de pessoas aos agrotóxicos pode se dar ainda de forma
direta, causando intoxicações, especialmente em aplicadores e manipuladores.
Segundo relatório do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas –
Sinitox, coordenado pela Fundação Osvaldo Cruz, foram registrados, em 2005,
84.456 casos de intoxicação humana no Brasil. Os animais peçonhentos
responderam por 28 % dos casos, seguidos por medicamentos, com 26 %, produtos
domissanitários (8%) e agrotóxicos (7%). A principal circunstância de intoxicação é o
acidente (59%), seguido de tentativa de suicídio (19%) e a circunstância ocupacional
(8%). Houve aumento no número de mortes por intoxicação em relação aos anos
anteriores. Foram registrados 456 óbitos, constituindo-se os agrotóxicos nos
principais agentes envolvidos. Estima-se, no entanto, que as intoxicações por
agrotóxicos sejam maiores do que os números notificados, uma vez que os dados só
registram os casos agudos. Muitos casos crônicos não são notificados, assim como
casos agudos menos intensos (FIOCRUZ, 2007).
De acordo com Garcia (apud Polastro, 2005), apesar do consumo de
pesticidas ser maior em países desenvolvidos, é nos países em desenvolvimento
que ocorrem o maior número de intoxicações.
Segundo Garcia, Bussacos e Fischer (2005), a restrição da
comercialização, o uso controlado dos agrotóxicos mais perigosos sob determinadas
condições e sob responsabilidade profissional, medidas normativas que restrinjam o
registro de produtos de alta periculosidade e priorizem o registro de produtos menos
tóxicos, são medidas que podem reduzir as intoxicações das populações expostas.
Outro importante reflexo indesejado, relacionado ao uso indiscriminado de
agrotóxicos, refere-se ao desenvolvimento de muitos casos de resistência a tais
compostos por diversas espécies de insetos e plantas daninhas. Segundo Vargas et
al (1999) a resistência pode ocorrer naturalmente, devido à capacidade das pragas
evoluírem e se adaptarem às mudanças do ambiente e ao uso de práticas agrícolas,
ou em resposta às aplicações continuadas de agrotóxicos com o mesmo mecanismo
de ação, favorecendo a sobrevivência de biótipos resistentes na população. A
resistência de pragas, doenças e plantas daninhas aos agrotóxicos é um problema
de dimensões globais, inclusive no Brasil.
Avaliação realizada por Gandolfo & Antuniassi (apud Polastro, 2005) em
cerca de 200 pulverizadores tratorizados, mostrou que 80% dos aparelhos com mais
de dois anos de uso apresentaram bicos desgastados, 70% operam com erros de
dosagem e 100% apresentaram problemas nos manômetros. A manutenção dos
equipamentos de pulverização, portanto, não é prática rotineira, implicando em
aplicação incorreta de agrotóxicos.
Os efeitos da contaminação do meio ambiente pelos agrotóxicos são
inúmeros, especialmente graves quando o seu uso ocorre dentro de um sistema de
produção que desrespeita os princípios conservacionistas fundamentais, como
controle de erosão de solo, presença de matas ciliares, adequada tecnologia de
aplicação. O caso do DDT, inseticida organoclorado, é clássico. Seu uso foi banido a
partir das evidências de ser altamente persistente no ambiente, com acúmulo e
aumento de seus resíduos passo a passo de um nível trófico para outro. Mesmo
anos após a proibição de uso deste e de outros produtos organoclorados no Brasil,
são ainda encontrados estoques de produtos já vencidos nos imóveis rurais,
especialmente nos que se dedicavam ao cultivo de cafeeiros, demandando
investimentos para a destinação para incineração (Foto1).
Segundo Werneck (2005), pesquisa do IBGE (2005) mostra que, das
cidades que registraram poluição freqüente da água, 75% apontaram o despejo de
esgoto doméstico como principal causa da poluição, 43% disseram que o problema
se deve ao uso de agrotóxicos e 39% à disposição inadequada de resíduos sólidos e
criação de animais.
Foto 1. Acondicionamento de agrotóxicos organoclorados (BHC) para incineração. Propriedade Rural em Cascavel, 2004.Fonte: SEAB – Núcleo Regional de Cascavel.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 A DISCIPLINA LEGAL
No âmbito federal o marco legal sobre agrotóxicos é representado pela Lei
nº 7.802/89, alterada pela Lei nº 9974/2000, que dispõe sobre a pesquisa, a
experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins. Encontra-se regulamentada pelo Decreto nº 4.074/2002, que
define agrotóxicos e afins:
“produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.” 1
1 Não é foco do presente trabalho o estudo dos agrotóxicos destinados ao uso em ambientes urbanos, hídricos e industriais.
No Estado do Paraná vigora a Lei nº 7827/83, que dispõe que a
distribuição e comercialização de produtos agrotóxicos e outros biocidas ficam
condicionados ao prévio cadastramento perante a Secretaria de Agricultura e
Secretaria do Interior. Esta lei foi regulamentada pelo Decreto nº 3.876/84.
Diversos Municípios editaram leis com o objetivo de proibir ou regular o
uso e o armazenamento de agrotóxicos no espaço de seus territórios, muitas delas
consideradas posteriormente como inconstitucionais.
3.1.1 As competências legislativas de Estados e Municípios
Segundo Borges Netto (1999), o regime federativo, adotado pela
Constituição Brasileira, como forma de descentralizar efetivamente o exercício do
poder, conferiu maior somatório de competências legislativas, administrativas e
tributárias às entidades federadas. Apesar da União continuar a deter a maior
parcela de competências, principalmente legislativas, os Estados e Municípios foram
aquinhoados com parcela considerável de competências legislativas.
“Competência legislativa é o poder que se confere a uma instituição, para
que possa elaborar leis sobre determinados assuntos” (SILVA, 1980 apud BORGES
NETTO, 1999, p.75).
Segundo Borges Netto (1999), a divisão das competências legislativas
está vinculada ao princípio do peculiar interesse ou do interesse predominante, após
a indagação e separação dos assuntos de interesse nacional (que são entregues à
União), dos assuntos de interesse regional (que são entregues aos Estados) e dos
assuntos de interesse local (que cabem aos Municípios). Adotou-se, como regra
geral, a técnica de distribuição das competências legislativas em que as
competências da União são expressas ou enumeradas e as competências dos
Estados são residuais ou remanescentes. Tudo o que remanesce, extraída a
competências da União e a dos Municípios, é de competência dos Estados. O
Estado também recebeu o poder jurídico de legislar concorrentemente, ou seja,
conjuntamente com a União, sobre a mesma matéria legislativa. A União deverá se
limitar a editar preceitos gerais (diretrizes nacionais e uniformes, sem descer a
pormenores) que alcançarão a conduta de todas as pessoas no território federal,
restando aos Estados legislarem supletivamente (suprindo a ausência de legislação
nacional) e complementarmente (adicionando pormenores à legislação nacional),
sendo que o advento de lei nacional sobre normas gerais suspenderá a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.
3.1.2 A competência para legislar sobre agrotóxicos.
São descritos abaixo os artigos da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, nos aspectos relacionados às competências legislativas,
referentes ao tema meio ambiente:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
...
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
...
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
...
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
...
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
...
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
...
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
...
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
...
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
...
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
...
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
...
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
...
Segundo Vaz (2006) em assuntos relacionados à conservação da
natureza, defesa do solo e recursos naturais, proteção do meio ambiente, controle
da poluição, responsabilidade por dano ao meio ambiente e proteção e defesa da
saúde, compete à União e aos Estados legislar concorrentemente. Neste âmbito, a
União estabelece as normas gerais, sem excluir a competência suplementar dos
Estados, que exercerão a competência legislativa plena, para atender suas
peculiaridades, quando não existir lei federal sobre normas gerais. A existência de
legislação federal sobre normas gerais predomina sobre a estadual, cujo caráter
complementar a restringe ao preenchimento de lacuna deixada pela legislação
federal, sobretudo quanto às condições regionais. A competência dos Estados, no
que concerne à edição de normas gerais, é atuar em caráter complementar. O
Município, por sua vez, tendo em vista a norma geral da União e a norma
complementar do estado, se nelas verificar a presença de omissões ou dúvidas
quanto à aplicação a situações de interesse local, emite a necessária normatização
de sentido suplementar.
A competência legislativa em relação ao tema “agrotóxicos” encontra-se
definida nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei Federal nº 7.802/89:
Art. 9º . No exercício de sua competência, a União adotará as seguintes providências:
I – legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação, importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico;
II – controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação;
III – analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais e importados;
IV – controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.
Art. 10. Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos artigos 23 e 24 da Constituição Federal, legislar sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento de
agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno.
Art. 11. Cabe ao Município legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins.
Assim, conforme estes dispositivos, a União, tem sua competência
legislativa para dispor sobre produção, registro, comércio interestadual, exportação,
importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico.
Segundo Vaz (2006), os Estados podem legislar sobre produção,
comércio, uso e armazenamento de agrotóxicos, dispondo sobre aspectos de
peculiaridade regional, podendo impor estudos mais detalhados do que os exigidos
pela legislação federal e inclusive, vedar a comercialização, o uso e o
armazenamento de agrotóxicos considerados nocivos no âmbito de seu território.
Segundo Delgado (apud Vianna, 2002), em matéria ambiental, os
municípios são competentes:
para legislar privativamente sobre assuntos de interesse local (artigo
30, I, CF);
para suplementar a legislação federal e estadual no que couber (artigo
30, II, CF);
para o dever imposto ao poder público e à coletividade de defender e
preservar para as presentes e futuras gerações o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida (artigo 225, caput, CF);
para a incumbência de preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas
(artigo 225, §1º, I, CF);
para controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que importem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente (artigo 225, §1º, V, CF);
Segundo Vianna (2002), insere-se na atribuição legislativa dos Municípios,
desde que se trate de interesse (predominantemente) local, a possibilidade de
legislar sobre o tema meio ambiente. E acrescenta, em relação aos agrotóxicos:
para legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos
agrotóxicos, seus componentes e afins (artigo 11, Lei Federal
7802/89).
É certo que Estados e Municípios não podem abolir, no âmbito de seus
territórios, no exercício de suas competências legislativas, exigências contidas na lei
geral federal, tampouco redefinir institutos e conceitos de que se tenha se ocupado a
lei federal (VAZ, 2006).
3.1.3 A legislação sobre agrotóxicos no âmbito federal
Em 1989 foi sancionada a Lei Federal nº 7.802, marco legal ainda em
vigor, complementada pela Lei nº 9.974, de 2000, e que dispõe sobre a pesquisa, a
experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins. Assim como seu decreto regulamentador – nº 98.816, de
1990, substituído em 2002 pelo Decreto nº 4.074, a lei federal é sucinta em relação
ao uso de agrotóxicos, contendo artigos que atribuem competência aos Estados
para legislar e fiscalizar sobre este aspecto (Art. 10), bem como ao Município legislar
supletivamente sobre o uso de agrotóxicos (Art.11).
O texto-lei determina, ainda, em seu artigo 13, que a venda de agrotóxicos
aos usuários será feita através de receita agronômica, prescrita por profissionais
legalmente habilitados, com base nas recomendações de uso aprovadas em rótulo
ou bula. Atribui a responsabilidade pelos danos causados à saúde das pessoas e ao
meio ambiente quando da aplicação de agrotóxicos ao usuário ou ao prestador de
serviço, quando proceder em desacordo com o receituário ou com as
recomendações do fabricante ou dos órgãos sanitário-ambientais.
Machado (apud Vaz, 2006) destaca que um aspecto extremamente
relevante é a ausência de obrigação legal e regulamentar de o profissional que
prescreve a receita agronômica acompanhar a aplicação do agrotóxico, o que
poderia ser complementado pela legislação.
O Decreto Federal acima citado, de nº 4074/2000 descreve o
entendimento de venda-aplicada, modalidade de operação de comercialização
vinculada à prestação de serviços de aplicação de agrotóxicos, indicadas em rótulo
e bula. Como exemplo, tem-se os produtos para tratamento de semente, de várias
marcas comerciais, contendo o princípio ativo carbofuran. Tendo em vista o elevado
risco de causar graves intoxicações ao aplicador no momento que este realiza o
tratamento de sementes, nos dados de registro do produto no órgão federal está
contida a determinação de que a operação de tratamento de sementes deve ser
realizada por empresa prestadora de serviços fitossanitários, regularmente
registrada para tal, contendo funcionários especialmente treinados para realizar esta
operação, sob a responsabilidade técnica de profissional habilitado, normalmente
engenheiro agrônomo. É proibida a venda direta ao agricultor bem como que este
realize a operação de tratamento de sementes utilizando-se deste princípio ativo.
Ainda no plano federal, a Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde
no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aqüicultura
– NR 31, de 2005, orientada para disciplinar as relações de trabalho no meio rural,
tem como objetivo estabelecer os preceitos a serem observados na organização e
no ambiente de trabalho, de forma a compatibilizar o trabalho rural com segurança,
saúde e meio ambiente, e, em relação aos agrotóxicos, reduzir os danos da
exposição do trabalhador e de sua família a estes produtos. Entre outros pontos,
institui que o empregador rural deve proporcionar capacitação sobre prevenção de
acidentes com agrotóxicos aos trabalhadores expostos diretamente, assim como
institui normas sobre os equipamentos de aplicação:
“31.8.8.1 A capacitação prevista nesta norma deve ser proporcionada aos trabalhadores em exposição direta mediante programa, com carga horária mínima de vinte horas, distribuídas em
no máximo oito horas diárias, durante o expediente normal de trabalho, com o seguinte conteúdo mínimo:
a) conhecimento das formas de exposição direta e indireta aos agrotóxicos; b) conhecimento dos sinais e sintomas de intoxicação e medidas de primeiro socorros; c) rotulagem e sinalização de segurança; d) medidas higiênicas durante e após o trabalho; e) uso de vestimentas e equipamentos de proteção pessoal; f) limpeza e manutenção de roupas, vestimentas e equipamentos de proteção pessoal.
...
31.8.10 O empregador rural ou equiparado deve disponibilizar a todos os trabalhadores informações sobre o uso de agrotóxicos no estabelecimento, abordando os seguintes aspectos:
a) área tratada: descrição das características gerais da área, da localização e do tipo de aplicação a ser feita, incluindo o equipamento a ser utilizado ;b) nome comercial do produto utilizado; c) classificação toxicológica; d) data e hora da aplicação; e) intervalo de reentrada; f) intervalo de segurança/período de carência; g) medidas de proteção necessárias aos trabalhadores em exposição direta e indireta; h) medidas a serem adotadas em caso de intoxicação.
...
31.8.12 Os equipamentos de aplicação dos agrotóxicos, adjuvantes a produtos afins devem ser:
a) mantidos em perfeito estado de conservação e funcionamento; b) inspecionados antes de cada aplicação; c) utilizados para a finalidade indicada; d) operados dentro dos limites, especificações e orientações técnicas.
31.8.13 A conservação, manutenção, limpeza e utilização dos equipamentos só poderão realizadas por pessoas previamente treinadas e protegidas.“
A lei Federal nº 9.605, de 1998, conhecida como lei de Crimes Ambientais,
dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. A seção III do
Capítulo V contém artigos relacionados à poluição e outros crimes ambientais:
“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o crime:
I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou substâncias referidos no caput, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança.
§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço.
§ 3º Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.”
Em seu Capítulo VI, referente às infrações administrativas, estabelece que
são autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do
Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, designados para as atividades de
fiscalização.
3.1.4 A legislação sobre agrotóxicos no âmbito estadual
Mesmo anterior à lei federal, dada a ausência de um marco legal
abrangente e considerando a importância e a necessidade de regular a questão dos
agrotóxicos, o Estado do Paraná editou a Lei Estadual nº 7827, de 1983,
regulamentada pelo Decreto 3.876, de 1984. Dispõem que a distribuição e
comercialização no território do Estado do Paraná, de produtos agrotóxicos e outros
biocidas, ficam condicionados ao prévio cadastramento perante a Secretaria da
Agricultura e Secretaria do Interior, o que passou a exigir a realização de pesquisas
e estudos nas condições agrícolas paranaenses. Especificamente em relação ao
uso de agrotóxicos, consta:
Os produtos agrotóxicos só poderão ser comercializados diretamente
aos usuários através da apresentação da Receita Agronômica (art. 10
da Lei);
Todo proprietário que utilizar agrotóxicos ou biocidas fica obrigado a:
1. se utilizar ou fornecer, conforme normas técnicas de segurança
recomendada para o produto, equipamento de proteção
àqueles que sob sua ordem transportem, manuseiem ou
apliquem agrotóxicos (art. 20 da Lei);
2. utilizar ou aplicar somente produtos ou combinações de
produtos autorizados no Estado (art 24 do Decreto).
Com o objetivo de regular a poluição do meio ambiente por agrotóxicos,
considerando as necessidades reais de aperfeiçoamento das normas vigentes sobre
este tema, a Secretaria de Estado do Interior - SEIN (atual Secretaria de Meio
Ambiente) editou a Resolução 22/85-SEIN, de 1985, contendo, entre outros itens:
Os tratamentos fitossanitários deverão ser feitos com rigorosa observância dos cuidados e das recomendações técnicas, no sentido
de garantir a eficiência do tratamento, e não ocasionar danos à saúde pública, ao meio ambiente e às explorações agropecuárias circunvizinhas, bem como, à qualidade dos produtos obtidos.
Não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância mínima de 500 metros adjacente a mananciais de captação de água para abastecimento de populações, núcleos populacionais, escolas, habitações e locais de recreação, e de 250 metros adjacentes a mananciais de água, moradias isoladas e agrupamento de animais e culturas susceptíveis a danos.
Será permitida, porém, a aplicação de agrotóxicos nas lavouras, se efetuada por atomizadores ou canhões, numa distância mínima de 250 metros, e, por aparelhos costais ou tratorizados de barra, numa distância mínima de 50 metros, dos locais referidos no item anterior
É proibida a captação de água diretamente de cursos d’água pelos aparelhos pulverizadores ou por outros mecanismos que venham a causar contaminação das coleções d’água
É proibido o despejo nos cursos d’água dos excedentes das caldas, assim como a lavagem dos pulverizadores e das próprias embalagens e o arremesso destas embalagens nas coleções de água.
A aplicação aérea de agrotóxicos somente é permitida às empresas registradas no Ministério da Agricultura.
3.1.5 A legislação sobre agrotóxicos no âmbito municipal.
No plano municipal, as iniciativas em legislar vão da simples proibição de
uso de determinados produtos, especialmente os que contêm o princípio ativo 2,4-D
(ácido diclorofenoxiacético) ao estabelecimento de obrigatoriedade de treinamento
para aplicadores de agrotóxicos.
Em referência às leis que proíbem o uso de agrotóxicos contendo 2,4-D,
os legisladores municipais utilizam-se do argumento de que este herbicida, por ser
altamente tóxico, pode oferecer riscos à saúde humana. Mas, principalmente, por
tratar-se de herbicida muito eficiente no controle de plantas daninhas dicotiledôneas,
conhecidas como de “folha larga”, provoca grandes prejuízos aos agricultores locais
quando a pulverização atinge as culturas sensíveis a este herbicida, especialmente
lavouras de uva, algodão, feijão, tomate, fumo e mandioca, que são normalmente
associadas à agricultura familiar e de subsistência. É o efeito da deriva do produto
que, ao atingir culturas suscetíveis quando levado pelo vento, expressa claramente
os sintomas da presença do produto na cultura por provocar sintomas de
fitotoxidade de clara visualização em diversas plantas (as de “folha larga”),
diferentemente de outros produtos cujos efeitos fitotóxicos não são tão facilmente
observados. Em suma, os danos causados pela deriva do produto expressam a má
qualidade da aplicação do agrotóxico.
À parte deste fato, muitas das leis municipais que proibiam o comércio e o
uso de produtos contendo 2,4-D em seus territórios foram consideradas
inconstitucionais pelos tribunais de justiça. Em relação ao comércio, porque
contrariam a própria Lei Federal de Agrotóxicos de nº 7.802/89, pois esta delega
competência aos Estados, e não aos Municípios, para legislar sobre este assunto.
Em relação ao uso, porque simplesmente estabelecem a proibição sem demonstrar
tratar-se de assunto de predominante interesse local. Ao examinarmos alguns
casos, veremos que os julgamentos a cerca das leis municipais que proíbem ou
restringem o uso de agrotóxicos à base de 2,4-D não são consensuais.
O Município de Marilândia do Sul – PR editou a lei n. 028/97 que, no seu
artigo 2, estabelece a proibição do uso do herbicida 2,4-D nos limites da extensão
territorial do Município. Em sua fundamentação a respeito da constitucionalidade da
lei, o juiz de Direito José Ricardo Alvarez Vianna (2002) afirma: que o simples fato
de tratar-se de matéria ambiental não importa em inconstitucionalidade; que é
atribuição dos municípios legislar sobre este tema, desde que se trate de interesse
predominantemente local; e que este fato ficou demonstrado neste caso, visto o
Município ser conhecido como “Capital da Cenoura”, fama que advém das culturas
locais – além de cenouras, hortaliças, tomates e leguminosas, que são denominadas
“dicotiledôneas” ou “folhas largas”, vulneráveis portanto ao herbicida.
Em decisão semelhante, a Quarta Câmara Civil do Tribunal de Justiça do
Paraná, que julgou mandado de segurança contra lei municipal da Comarca de
Marialva (Processo 0308487-5) que restringe o uso de herbicida à base de 2,4-D:
”Não há de se cogitar a hipótese de incompetência do Município para legislar sobre
matéria ambiental. Isso porque, nos termos da Constituição Federal, o Município
pode legislar de forma suplementar, adequando as legislações Federal e Estadual
às peculiaridades locais, regulamentando e disciplinando as regras de utilização e
armazenamento do agrotóxico, não podendo, apenas, proibir o seu uso.”
No Município de Anahy – PR está em vigor lei que restringe o uso de
herbicidas à base de 2,4-D nos seguintes termos: “I – Fica vedada a utilização do
herbicida sem prévia comunicação do usuário à Prefeitura Municipal, registrando-se
em livro próprio, firmando autorização; II – Fica proibida a utilização até 3.000
metros do perímetro urbano, dos demais aglomerados habitacionais e das culturas
comerciais sensíveis”.
Em entendimento contrário, várias decisões dos Tribunais têm adotado o
argumento de que, tendo sido o agrotóxico considerado apto pelos órgãos federais
registrantes, não é legítimo aos Municípios proibir o seu uso. Entendem, ainda, que
a competência para legislar sobre matéria ambiental (agrotóxicos inclusive) é da
União, dos Estados e do Distrito Federal – Art. 24 da Constituição Federal; que os
Municípios podem adotar medidas para a proteção do meio ambiente mas não
podem legislar sobre a matéria, especialmente quando a questão já está
regulamentada por leis federal ou estadual. Assim, foram reconhecidas como
inconstitucionais as leis que proibiam ou restringiam o uso do agrotóxico nos
municípios de Victor Graeff, Não-Me-Toque, Horizontina e Três de Maio, no Rio
Grande do Sul, e de Mamborê, Iracema do Oeste e Nova Aurora, no Paraná, entre
outros municípios.
Sem entrar na discussão sobre competência legal, a fim de esclarecer a
sociedade e contribuir para o equilíbrio ambiental do Paraná, a AEAPR –
Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná (1997), divulgou um
posicionamento sobre o uso de herbicidas à base de 2,4-D na agricultura, de onde
retiramos alguns trechos:
“Os problemas causados por ele (2,4-D) são devido à deriva o que é caracterizada por tecnologia de aplicação inadequada;”
“A tecnologia de aplicação de agrotóxicos disponível é suficientemente adequada para a correta utilização dos produtos;”
“A restrição ou proibição do uso de 2,4-D em nada contribui para diminuir a contaminação do meio ambiente pois as demais alternativas técnicas existentes continuarão a ser utilizadas de forma inadequada e indiscriminada.”
E finalizam propondo a implementação da obrigatoriedade da existência
de profissional habilitado e responsável para recomendar, orientar e acompanhar de
forma mais efetiva a aplicação de agrotóxico, bem como a instituição pelo Estado
ou Municípios da figura do “aplicador de agrotóxicos habilitado”.
Outros temas relacionados ao uso de agrotóxicos também vêm sendo
tratados por leis municipais, não só as que se referem ao princípio ativo 2,4-D.
Resumimos a seguir o teor de algumas delas:
Somente poderão ser utilizados agrotóxicos de acordo com o receituário
agronômico (Quinze de Maio – RS, Tapes – RS, Umuarama – PR,
Amparo – SP, Toledo – PR, Maringá – PR);
Fica proibido o despejo dos excedentes das caldas de agrotóxicos nos
cursos d’água (Amparo – SP);
Fica proibido efetuar a lavagem dos aparelhos utilizados em sua
aplicação nos cursos d’água (Amparo – SP, Toledo – PR);
Ficam proibidos a lavagem de embalagens de agrotóxicos, e o
arremesso das mesmas em cursos d’água (Amparo – SP);
Somente poderão ser utilizados agrotóxicos cadastrados na Secretaria
de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Umuarama – PR, Amparo
– SP, Toledo – PR, Maringá – PR);
As pessoas físicas ou jurídicas que utilizam agrotóxicos em suas
atividades deverão fornecer a seus empregados equipamentos de
proteção individual e equipamentos de aplicação em boas condições
(Umuarama – PR, Toledo – PR, Maringá – PR);
Fica proibida a captação de água diretamente dos rios e lagos através de
equipamentos de aplicação de agrotóxicos (Umuarama – PR, Amparo –
SP, Toledo – PR, Maringá – PR);
Não será permitida a aplicação de agrotóxicos no perímetro urbano em
área de 50 metros adjacentes a escolas, habitações e locais de
recreação (Umuarama – PR, Toledo – PR, Maringá – PR);
No perímetro urbano a aplicação de agrotóxicos será permitida apenas
por equipamento costal manual (Umuarama-PR, Toledo – PR, Maringá –
PR);
Fica proibida a aplicação de agrotóxicos numa distância mínima das
concentrações urbanas de 100 metros quando utilizado equipamento
costal ou tratorizado com barra, e de 250 metros quando utilizado
atomizador (Campo Mourão – PR).
O controle da aplicação de agrotóxicos por aeronave foi regulamentado no
município de Corbélia – PR, nos seguintes termos:
“Art. 2 – Não é permitida a aplicação de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância mínima de 500 metros adjacentes a mananciais de captação de água para abastecimento de população e rios, núcleos populacionais, escolas, habitações e locais de recreação e de 250 metros de moradias isoladas e agrupamentos de animais e culturas suscetíveis a danos.
Art.3 – A empresa que realizar aplicação aérea deverá retirar uma autorização junto ao Município.”
As aplicações de agrotóxicos nos Municípios de Assis Chateaubriand e de
Campo Mourão, ambos no Paraná, somente serão permitidas quando realizada por
pessoa habilitada que tenha passado por curso de tecnologia de aplicação de
agrotóxicos, determinação expressa em leis municipais e seus regulamentos.
Segundo Reichenbach (2003), a intenção dos legisladores municipais
merece aplausos, uma vez que os objetivos vão ao encontro do disposto nas NRRs
– Normas Regulamentadoras Rurais. Porém, há que se ter um cuidado, a fim de não
criar regras condicionando o exercício profissional, cuja competência em legislar é
da União: “-é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer (CF, art. 5º, inciso XIII)”; e “Compete
privativamente à União legislar sobre: ... organização nacional de emprego e
condições para o exercício das profissões (CF, art. 22, inciso XVI)”. Assim, apesar
da existência de interesse local e da capacidade de suplementar a legislação federal
e estadual (CF, art 30, I e II), não é aconselhável o Município expedir lei impondo
condição que somente aquele que participe de um curso de aplicador de agrotóxico
possa aplicar estes produtos em seu território. Embora a diferença se mostre sutil, o
caminho mais seguro é mudar o enfoque: em vez de determinar condição ao
exercício profissional, regulamentar a atividade de aplicação de agrotóxicos. Por
exemplo, criar um registro municipal de aplicadores de agrotóxicos, como condição
para a legítima aplicação desses produtos em território municipal. Ao registro impõe-
se a apresentação de um certificado de conclusão e de aproveitamento em curso de
aplicação de agrotóxicos. Para agrônomos e técnicos agrícolas seria suficiente a
apresentação do diploma. Dentro do enfoque de regulamentar a aplicação de
agrotóxicos, deveriam ser acrescidos ainda dispositivos que tratem dos
equipamentos de aplicação.
Mesmo que não tenham editado leis específicas sobre o uso de
agrotóxicos, diversos municípios têm discriminado em outras normas legais a
previsão de legislar sobre o tema, como observado em Itaperuna – RJ, no art. 22 da
Lei Orgânica do Município:
“Cabe à Câmara Municipal, com a sanção do Prefeito, dispor de matérias de competência do Município, especialmente:
I – sobre os assuntos de interesse local, inclusive suplementando a legislação federal e estadual, notadamente no que diz respeito:
...
o) ao uso e armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins.”
No Plano Diretor do Município de Corbélia – PR, em elaboração,
encontramos a previsão para legislar sobre agrotóxicos:
“A aplicação de agrotóxicos nas áreas periurbanas, correspondente a uma faixa lateral de 500 metros no entorno das áreas urbanas do Município de Corbélia deverá ser efetuado com rigorosa observância dos cuidados e das recomendações técnicas, afim de não causar danos à saúde humana e ao meio ambiente, sujeitando-se às restrições impostas pelo poder público.”
No Município de Cascavel, o Código de Posturas do Município dedica um
capítulo ao uso de agrotóxicos:
“Art. 207 - Fica vedado o uso de agrotóxicos dentro do perímetro urbano da sede e distritos do Município de Cascavel.
Art. 208 – Fica criada uma faixa de 250 metros de largura, adjacente à linha limítrofe do perímetro urbano, onde não será permitido o uso de agrotóxicos.
Art. 209 – Os horticultores só poderão fazer uso de agrotóxicos dentro do perímetro urbano com devida orientação técnica e parecer do Órgão Estadual de controle do meio ambiente.”
3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS SITUAÇÕES RELACIONADAS AO USO DE AGROTÓXICOS – REGIÃO DE CASCAVEL, PARANÁ.
O Estado do Paraná, por força da edição da Lei Estadual de Agrotóxicos
de nº 7827, de 1983, mantém junto à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento
(SEAB) um departamento de fiscalização do comércio e do uso de agrotóxicos, com
quadros funcionais descentralizados em vinte núcleos regionais. O Núcleo de
Cascavel atende 29 municípios em sua área de abrangência. Além das fiscalizações
rotineiras às empresas cadastradas para realizar o comércio de agrotóxicos, são
realizadas visitas às propriedades rurais para a fiscalização do uso destes produtos.
Normalmente, nas ocorrências em que é verificado o uso inadequado de
agrotóxicos, gerando danos a culturas agrícolas atingidas por deriva, ou mesmo
quando gera incômodo à saúde da população residente próximo às áreas de cultivo,
os prejudicados recorrem ao departamento de fiscalização da Secretaria de Estado
da Agricultura e do Abastecimento. Todos os anos, inúmeras ocorrências são
registradas, mas há casos recorrentes. No quadro 1, apresentamos um universo
parcial, mas representativo, das ocorrências que exigiram a realização de
fiscalizações a campo, no período 1999 a 2007, na área de abrangência do Núcleo
de Cascavel, retirada de amostragem não probabilística, por acessibilidade.
Em referência aos agrotóxicos ilegais, originários de operações de
contrabando do Paraguai, a proximidade e a grande extensão de fronteira com este
país, aliado ao menor custo de aquisição dos produtos, tem levado muitos
agricultores à sua utilização. Vários órgãos governamentais trabalham para coibir
esta prática, cada qual dentro de suas competências. São produtos sem registro nos
órgãos federais e sem autorização de uso no Estado, portanto em desacordo com as
leis federal e estadual de agrotóxicos, assim como com a lei federal de crimes
ambientais.
Quadro 1. Ocorrências relacionadas ao uso de agrotóxico na região de Cascavel - Paraná, no período 1999 – 2007.
TIPO DE OCORRÊNCIA
Nº
OCOR-
RÊNCIAS
Nº
FISCALI
ZAÇÒES
Nº
ORIENT./
NOTIFIC.
Nº
PROCESSOS
ADMINISTR.
USO DE AGROTÓXICOS ILEGAIS 11 12 02 10
EM DESACORDO COM REGISTRO/ RECEITA 47 47 42 05
COM DERIVA EM CULTURAS SENSÍVEIS 19 39 37 02
COM DERIVA DE 2,4-D 13 24 17 07
COM DERIVA EM ÁREA PERIURBANA 15 21 20 01
POR EMPRESA DE AVIAÇÃO AGRÍCOLA 05 10 05 05
OUTRAS OCORRÊNCIAS 16 17 16 01
TOTAL 136 170 139 31
Fonte: SEAB – Núcleo Regional de Cascavel – PR, 2007.
O Departamento de Fiscalização da SEAB tem rotineiramente visitado
comerciantes e propriedades rurais para verificar a presença de agrotóxicos ilegais.
Para exemplificar, em uma visita a imóvel rural em Catanduvas no ano de 2003, a
pedido do agricultor, pessoa simples de pouca escolaridade, a fim de verificar a
ocorrência de fitotoxidade em sua lavoura de soja (Foto 2), constatou-se que o
comerciante vendeu a ele, sem receita agronômica, além do agrotóxico que causou
o problema em sua lavoura, também um outro produto ilegal, oriundo de
contrabando. Em fiscalização no comerciante, constatou-se a presença de vários
agrotóxicos ilegais armazenados. Além de agricultor e comerciante responderem por
processo administrativo na SEAB, por infração à lei de agrotóxicos, com respectivas
penas de advertência e multa, foram abertos processos criminais na justiça, com
base na lei de crimes ambientais.
Foto 2. Lavoura de soja com sintomas de fitotoxidade causada por aplicação inadequada de agrotóxico. Catanduvas, 2003.
A SEAB, além das fiscalizações acima relatadas, tem participado de
operações conjuntas com outros órgãos de fiscalização, como MAPA, IBAMA e IAP.
Em maio de 2006, foram fiscalizadas propriedades rurais da região oeste do Paraná,
a fim de alertar os agricultores dos problemas do uso de agrotóxicos ilegais, com a
distribuição de folder (Figura 1) sobre o tema, bem como reprimir o comércio e o uso.
O resultado foi a visita a 207 propriedades, lavratura de 32 autuações, apreensão de
412 embalagens (Foto 3) e imposição de multas no valor de R$ 245.500,00.
Figura 1. Folder distribuído durante ação de fiscalização conjunta contra o uso de agrotóxicos ilegais em 2006. IBAMA.
Foto 3. Agrotóxico ilegal apreendido em operação fiscalizatória conjunta. Cascavel, 2006.
O segundo grupo de ocorrências caracteriza-se pelo uso irregular de
agrotóxicos que estão registrados para comércio e uso no país, porém não
autorizados para as culturas, alvos biológicos (pragas, doenças ou plantas daninhas)
ou formas de aplicação (dessecação de cultura) em que o agricultor realizou a
aplicação.
Como exemplo, ocorre a aplicação do agrotóxico glifosato para a
dessecação da cultura de feijão ou soja, visando a antecipação e uniformização da
colheita. Este agrotóxico não está registrado para uso nesta modalidade, uma vez
que pode resultar em contaminação do produto colhido com resíduo do agrotóxico.
Em 2002, foi lavrado em Cascavel auto de infração com a seguinte ocorrência:
“Utilizou agrotóxico, princípio ativo glifosato, para a dessecação de pré-colheita das
lavouras de feijão nas propriedades arrendadas, princípio ativo que não possui
registro no MAPA e cadastro na SEAB e nem recomendação do fabricante para uso
nesta modalidade de aplicação.” Após julgamento, o infrator recebeu pena de multa
no valor de R$ 10.000,00 e destruição de 400 sacas do produto colhido.
Em 2003, em São Miguel do Iguaçu foi lavrado semelhante auto de
infração: “Por aplicar agrotóxico glifosato em 19 ha de lavoura de soja em fase de
pré-colheita, para dessecação com objetivo de antecipação da colheita, em
desacordo com as recomendações técnicas, já que não está autorizado para uso
nesta modalidade.” O resultado da sentença do processo administrativo foi pena de
advertência e destruição de 800 sacas de soja, o que foi feito somente em 2007,
após encerramento de demanda judicial (Foto 4).
Foto 4. Destruição de soja que recebeu aplicação indevida de agrotóxico. São Miguel do Iguaçu, 2007.
O terceiro grupo de ocorrência representa uma grande porção das
denúncias de uso irregular de agrotóxicos que chegam ao departamento de
fiscalização da SEAB, normalmente por meio das pessoas que tiveram suas
lavouras prejudicadas, atingidas que foram pelo desvio da trajetória das gotas
produzidas na pulverização, para fora da área onde estava sendo aplicada, o que
recebe a denominação de deriva. Os problemas ocorrem quando o deslocamento do
produto para fora da área de aplicação atinge uma lavoura sensível ao produto
aplicado. Para exemplificar, coincidente à época de maior aplicação de herbicidas
para a implantação das culturas de verão, no período compreendido entre 09 de
outubro a 13 de novembro deste ano foram denunciadas cinco ocorrências de
problemas em função de deriva de agrotóxicos na SEAB, Núcleo de Cascavel.
Foram visitadas treze propriedades rurais, percorridos aproximadamente 1.300 km e
consumidos cinco dias de serviços profissionais. Os danos mostraram-se leves, sem
maiores prejuízos para as culturas atingidas – videira, tomate, pepino e amora. Em
um caso, após análise fitopatológica, constatou-se que o que ocasionava sintoma
era a presença de pragas. Em suma, muitos recursos despendidos. De modo geral,
a deriva é causada pela aplicação do produto em condições climáticas impróprias,
como presença de ventos fortes, muito calor e baixa umidade, ou equipamentos
inadequados ou desregulados. Neste ponto, a ampliação da legislação poderia
contribuir, ao exigir o treinamento do aplicador, por exemplo.
Um exemplo representativo na região oeste do Paraná envolve o mau uso
de herbicidas dessecantes. Como a maioria das lavouras está sob o sistema de
plantio direto, há o uso em larga escala destes herbicidas, antes do plantio das
culturas. Estes produtos são eficientes no controle da maioria das ervas daninhas,
porém causam danos também sobre as lavouras vizinhas já instaladas, quando
atingidas pela deriva do produto (Foto 5).
Foto 5. Lavoura de soja atingida por deriva de herbicida utilizado pelo vizinho. Cascavel, 2002.
Em 2005, no Município de Capitão Leônidas Marques, houve a seguinte
ocorrência: “Por aplicar os herbicidas Roundup Transorb e Aminol, em dessecação
de ervas daninhas, em desacordo com as recomendações constantes em rótulo e
bula, havendo deriva para a área vizinha, provocando sintomas de fitotoxidade em
plantas de mandioca, amora e em ervas daninhas, numa faixa de aprox. 300x10 m.”
Como penalidade, o causador recebeu multa de R$ 1.500,00, restando o prejuízo do
vizinho para ser negociado entre as partes.
A criação de bicho-da-seda é altamente sensível a danos por deriva de
inseticidas na cultura de amoreira, cujas folhas são utilizadas como alimento do
inseto. O grande número de problemas envolvendo a cultura, em todo o Estado,
levou o DEFIS – Departamento de Fiscalização da SEAB a editar a Instrução de
serviço nº 001/01-DEFIS com o objetivo de estabelecer os procedimentos a serem
executados pelos técnicos no atendimento aos casos suspeitos de contaminação de
amoreiras por agrotóxicos e intoxicações de larvas e lagartas do Bicho da Seda,
decorrentes do consumo de amoreiras contaminadas. A fim de orientação, foi
confeccionado um “folder” contendo recomendações aos criadores do Bicho da
Seda (Figura 2).
Figura 2. Folder contendo informações sobre intoxicações de lagartas do bicho-da-seda por agrotóxicos. SEAB.
Em um quarto grupo, similar ao anterior, estão as ocorrências de deriva de
agrotóxicos que atingem culturas sensíveis, quando o produto utilizado contém o
princípio ativo 2,4-D. Este herbicida é utilizado em pastagem, em lavouras de
gramíneas (trigo, aveia) e, em áreas de plantio direto, associado ao glifosato para o
manejo das ervas daninhas antes do plantio. O número expressivo de casos decorre
da clara expressão visual da fitotoxidade que o produto causa ao atingir a cultura
sensível, que são muitas – feijão, amora, mandioca, fumo, tomate, algodão, uva –
enfim, as de “folha larga”. (Fotos 6 e 7).
Foto 6. Lavoura de algodoeiro atingida por deriva de herbicida 2,4-D.
Vários municípios, dado a extensão dos danos, viram-se impelidos a
editarem leis específicas que proíbem ou limitam o uso de 2,4-D em seus territórios,
muitas consideradas posteriormente inconstitucionais. Independentemente do
aspecto legal, tecnicamente está consolidado o entendimento de que o problema
não está no uso do produto em si, produto este devidamente registrado no Ministério
da Agricultura, mas, sim, na qualidade da aplicação. Melhor dizendo, na má
qualidade da aplicação que causa deriva do agrotóxico para as áreas e culturas
vizinhas.
Foto 7. Lavoura de amoreira atingida por herbicida a base de 2,4-D.
As ocorrências de deriva nas aplicações de agrotóxicos demandam
inúmeras fiscalizações às propriedades rurais atingidas e aos seus causadores,
gerando serviços de orientação e de punição, com instauração de processos
administrativos no âmbito da SEAB, que acabam resultando em advertências e
multas aos responsáveis pelas más aplicações. Em 2005, por exemplo, em
Cascavel, foi lavrado o auto de infração contendo a ocorrência: “Por aplicar o
agrotóxico DMA-806 (2,4-D), em mistura com Glifosato, em desacordo com o
receituário agronômico, uma vez que houve deriva da calda de pulverização até a
área vizinha, cultivada com feijão, causando prejuízos à cultura.” O autuado foi
penalizado com multa de R$ 1.450,00 e alertado para a observância das normas.
Entre os serviços de orientação destaca-se a realização de reuniões com
os técnicos das principais cooperativas e comerciantes, para orientações sobre o
comércio, o uso e a prescrição de receita agronômica (Foto 8).
Foto 8. Reunião com técnicos e agricultores. São Miguel do Iguaçu, 2001.
Em 2003 foi promovido em Cascavel, em conjunto com a Emater, o evento
“Impactos Ambientais da Produção Agropecuária: Como Enfrentá-los?”, em que
foram tratados assuntos relacionados ao uso de agrotóxicos: deriva, contaminação
de mananciais, produtos ilegais, descarte de embalagens, aplicação aérea,
aplicação em áreas urbanas e periurbanas.
Com o objetivo de eliminar em dois anos os problemas da deriva nas
pulverizações de agrotóxicos, em 2004 os profissionais do Sistema Estadual da
Agricultura da região de Londrina, em parceria com entidades privadas, formaram a
Rede de Prevenção e o programa conhecido como “Acerte o Alvo” (Figuras 3 e 4).
Segundo Félix e Consalter (2007), os resultados obtidos pelo programa,
no período de agosto de 2004 a julho de 2006, podem ser assim resumidos:
• 19 comissões da Rede de Prevenção de Deriva criadas;
• 286 profissionais treinados;
• 932 agricultores certificados em 30 treinamentos;
• 38 multiplicadores treinados (02 por município);
• participação em 09 eventos (dias de campo, feiras, exposições);
• 19 Kits para treinamento distribuídos;
• 25 mil cartilhas, 5 mil calendários e 8 mil folders distribuídos;
• 02 premiações nacionais obtidas;
• realização do 1º Levantamento Nacional sobre Perdas por Deriva; e
• 70 % de redução no número de reclamações de deriva de agrotóxicos
no Núcleo Regional da SEAB de Londrina.
Figura 3. Frente do folder do Programa “Acerte o Alvo”. Londrina, 2004.
Figura 4. Verso do folder do Programa “Acerte o Alvo”. Londrina, 2004.
Os resultados do programa “Acerte o Alvo” permitem concluir que, de
modo geral, os prejuízos causados pela deriva não decorrem do uso de um produto
específico, mas, sim, da pulverização incorreta realizada pelo aplicador. Uma das
boas maneiras para corrigir este problema é através da orientação, do treinamento,
e da capacitação do aplicador, assim como a manutenção periódica do
equipamento de pulverização. Neste rumo poderia caminhar a ampliação da
legislação, em consonância com o disposto na Norma Regulamentadora NR-31,
citada anteriormente.
Além das ocorrências verificadas na área rural, as aplicações realizadas
dentro das áreas urbanizadas e no seu entorno (áreas periurbanas) apresentam um
enorme risco de danos à comunidade, sendo comum o pedido de apoio por parte
dos moradores incomodados ou intoxicados por agrotóxicos aplicados nestas áreas
(Foto 9 e 10).
Foto 9. Aplicação de agrotóxico em área periurbana, incomodando os moradores. Cascavel, 2005.
Foto 10. Aplicação de agrotóxico em área periurbana, incomodando os moradores. Corbélia, 2006.
Em Corbélia, este fato levou o Conselho Municipal de Desenvolvimento
Rural, contando com a participação da Emater, da SEAB e do IAP, a firmar, em
2003, um acordo entre técnicos, usuários, entidades e órgãos públicos a fim de
disciplinar o uso de agrotóxicos em lavouras próximas ao perímetro urbano da
cidade, contendo recomendações e restrições de uso:
• não usar agrotóxico em áreas urbanas loteadas;
• prescrever receita agronômica específica para as áreas periurbanas;
• deixar uma faixa de 50 metros sem aplicação de agrotóxico;
• nas áreas próximas às escolas, não passar em dias de aulas;
• usar produtos de classe toxicológica IV, produtos biológicos, iscas e
outras formas de controles alternativos;
• não usar dessecantes para colheita;
• isolar as áreas com barreiras vegetais;
• buscar cultivos que não necessitam do uso de agrotóxicos e a
produção orgânica;
• usar os agrotóxicos conforme recomendações técnicas, reduzindo ao
máximo a deriva: sem vento e nas horas mais frescas do dia.
Regularmente a SEAB reforça as orientações sobre os cuidados especiais
a serem tomados quando da aplicação em áreas periurbanas, além das
fiscalizações pontuais quando solicitadas. Em um caso, na cidade de São Miguel do
Iguaçu, em 2003, Houve a seguinte ocorrência: “Por aplicar agrotóxico em uma área
de 2 alqueires para dessecação em plantio direto na cultura do trigo, no dia
06/05/2003, às 10:50 horas, em desacordo com o receituário agronômico, que não
indica esta cultura, e sem respeitar a distância mínima de 50 metros das residências
do conjunto da Cohapar, em que não pode haver aplicação de agrotóxicos.” Como
resultado do processo administrativo, o agricultor foi multado em R$ 660,00.
Eventualmente os produtores rurais adiantam-se na adoção de medidas
preventivas a fim de não causar danos à saúde dos moradores, como a instalação
de barreira vegetal (Foto 11).
É comum também o IAP – Instituto Ambiental do Paraná realizar
fiscalizações nestes casos, com base na lei de crimes ambientais. Nesta matéria,
aplicações de agrotóxicos em áreas periurbanas, como envolve questões ligadas à
especificidade de cada área urbana e o seu entorno, os municípios poderiam ampliar
o seu aparato legal, de acordo com a realidade local, para auxiliar a resolver este
problema.
Foto 11. Barreira vegetal na faixa lateral a núcleo residencial. Cascavel. 2005.
3.3 PROPOSTAS PARA ATUALIZAÇÃO DAS NORMAS LEGAIS
Considerando o que foi exposto, em especial os seguintes tópicos:
A crescente utilização de agrotóxicos nas lavouras, acompanhados
dos reflexos indesejados provocados pelo seu uso indiscriminado;
A expansão das áreas urbanas, criando interfaces com áreas rurais
de cultivo em que são utilizados agrotóxicos;
A necessidade de proteção da agricultura familiar, cujos cultivos
diversificados são mais atingidos pela deriva de agrotóxicos e as
perdas são proporcionalmente mais sentidas;
A necessidade de incorporação da temática sócio-ambiental ao
sistema produtivo;
Que, mesmo autorizados para uso, alguns agrotóxicos requerem
especial atenção em relação ao uso a fim de reduzir os problemas
comumente verificados.
A competência de Estados e Municípios legislarem sobre o uso de
agrotóxicos;
A incorporação de aplicadores não treinados na atividade;
São a seguir relacionadas algumas propostas para a complementação da
legislação do uso de agrotóxicos.
3.3.1 No âmbito do Estado
Em relação à Lei 7.827, de 1983, que dispõe sobre a distribuição e
comercialização de agrotóxicos no território do Estado do Paraná, acrescentar
dispositivos sobre o uso destes produtos, assim como em seu regulamento, o
Decreto 3.876, de 1984. Entre os dispositivos, são citadas:
Somente poderão ser utilizados agrotóxicos cadastrados no Estado.
Os agrotóxicos devem ser utilizados em acordo com as
recomendações da receita agronômica, do fabricante e dos órgãos
regulamentadores;
Os equipamentos de aplicação devem atender a requisitos técnicos
previamente estabelecidos;
Os agrotóxicos devem ser utilizados com o cuidado necessário para
não ocasionar danos à saúde humana e animal, às explorações e ao
meio ambiente;
A previsão de que se estabeleçam restrições de uso para produtos de
maior toxicidade, periculosidade ou potencial de dano (por exemplo:
carbofuran, aldicarb, 2,4-D) e cultivos com maior risco de
contaminação (por exemplo: morango, tomate, batatinha) sob as
formas:
o Aplicação por empresa prestadora de serviços
fitossanitários;
o Aplicação supervisionada por profissional qualificado como
responsável técnico;
o Aplicação realizada por aplicador registrado, após
treinamento específico;
O uso de equipamento de proteção é obrigatório, de acordo com as
informações constantes em rótulo e bula do produto aplicado.
3.3.2 No âmbito dos Municípios
Os Municípios podem e devem editar leis que suplementem a legislação
do uso de agrotóxicos, de acordo com os interesse locais. De acordo, também, com
a sua capacidade de manter um serviço de fiscalização, com quadros técnicos,
administrativos e jurídicos, para dar cabo à demanda gerada. A edição de leis, assim
como de normas e regulamentos, deve ser necessariamente acompanhada da
criação de uma estrutura municipal para fiscalizar o seu cumprimento, sob pena de
transformá-los em artigos “que não saem do papel”. Precisa estar acompanhada
também da ampliação da participação popular através dos conselhos municipais,
inclusive com a formação de câmaras técnicas de assessoramento.
Entre as alternativas, são citadas:
A simples previsão de que o município vai legislar e fiscalizar sobre o
uso de agrotóxicos, com base nos dispositivos das legislações federal
e estadual, entre eles:
Somente será permitido o uso de produtos registrados no país e
cadastrados no Estado;
O uso deverá ser feito em acordo com o receituário agronômico e
com as recomendações constantes em rótulo e bula;
O estabelecimento de zonas ou áreas de especial interesse em que
fique restrito o uso de agrotóxicos:
o Em chácaras dentro do perímetro urbano;
o Em determinadas distâncias ao redor do perímetro urbano;
o Em bacias de captação de água para o consumo humano;
o Em regiões de concentração de cultivos sensíveis;
o Em áreas de proteção ambiental;
O estabelecimento de restrições de uso em relação à modalidade de
aplicação:
o Pulverização aérea por aeronave: por exemplo, a exigência
de registro no órgão municipal, sob critérios específicos;
o Permitir somente o uso de equipamento costal manual em
áreas situado dentro do perímetro urbano ou próximo dele;
o Pulverização tratorizada de barras, mediante adequação do
equipamento;
O estabelecimento de restrições de uso em relação a distâncias de
locais sensíveis, como moradias, agrupamento de animais,
nascentes, cursos d’água, culturas suscetíveis etc;
O estabelecimento de registro municipal para a aplicação de
agrotóxicos, exigindo o treinamento do aplicador e a adequação do
equipamento de pulverização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando ainda, em consonância com os temas anteriormente
tratados neste trabalho, os seguintes pontos:
A incapacidade da assistência técnica, representada pelo sistema de
receituário agronômico, em acompanhar efetivamente a aplicação de
agrotóxicos;
A falta de manutenção de quadros profissionais suficientes pelo serviço
estadual de fiscalização de agrotóxicos para enfrentar adequadamente
os problemas;
Que os Municípios vêm constituindo quadros profissionais para o
atendimento dos assuntos ligados à agricultura e ao meio ambiente,
bem como vêm incentivando a participação popular nestes assuntos,
através dos conselhos municipais;
A necessidade de enfrentamento pelos próprios municípios dos
problemas locais;
Que o conhecimento, a capacitação e o treinamento estão entre as
melhores alternativas para a solução dos problemas;
É possível e necessário, em relação ao uso de agrotóxicos:
a complementação das leis, decretos, normas e regulamentos
existentes no âmbito do Estado; e
a criação e implementação de novas leis a nível municipal, de acordo
com as especificidades locais.
O estabelecimento de novos dispositivos para a regulação do uso de
agrotóxicos mostrar-se-á mais eficiente na medida em que vir acompanhado de
programas de orientação e treinamento do aplicador, quando não a própria norma
assim o exija.
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