universidade candido mendes pós-graduação “lato sensu ... roberta adamo frederico.pdf · ser...
Post on 10-Dec-2018
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
1
Universidade Candido MendesPós-Graduação “Lato Sensu”
Projeto vez do MestreCurso de Psicopedagogia
Desenvolvimento Moral da criança na educação infantil
Por
Maria Roberta Adamo Frederico
Rio de Janeiro
Março de 2004
2
Universidade Candido MendesPós Graduação “Lato Sensu”
Projeto vez do MestreCurso de Psicopedagogia
Desenvolvimento moral da criança na educação infantil
Por
Maria Roberta Adamo Frederico
Monografia apresentada àUniversidade Candido Mendes
OrientadorMaria Esther Araujo
Rio de JaneiroMarço de 2004
3
AGRADECIMENTOS
À minha família por acreditar em mim e pelo amor que me dedica.
Aos meus amigos pelo carinho e ajuda nas horas difíceis.
A Deus por todas as oportunidades de crescimento que tem me
oferecido.
4
DEDICATÓRIA
À todas as crianças que tanto me encantam,e me fazem acreditar no ser humano.
“Devemos deixar a criança livre desde a primeira infância,mas com a
condição de que não se torne,ela mesma,obstáculo á liberdade dos
outros,como,por exemplo,quando ela grita ou que sua alegria se
manifesta de maneira demasiadamente ruidosa e que incomoda os
outros.Devemos lhe mostrar que pode chegar a seus objetivos,mas
apenas se deixar os outros chegarem aos deles.”
Kant
5
RESUMO
Este estudo tem como ponto central o desenvolvimento moral
infantil,sob a luz da teoria cognitiva, focalizando a importância do professor
como modelo e agente relevante nesse processo.
A pesquisa procura responder questões norteadoras sobre formação de
valores, o estabelecimento de regras e limites.
A metodologia utilizada foi a observação nas salas de
aula,questionários e entrevistas informais para professoras da escola onde
realizei meu estágio.
Através desses instrumentos e revisão de literatura constatou-se que os
professores tem pouco conhecimento sobre o aspecto moral no
desenvolvimento infantil,o que desencadeia um desinteresse e falta de
propostas práticas.O que em parte,(explica) as dificuldades que as crianças
manifestam nas sua “decisões morais”.
Com base na referência teórica cognitiva de Piaget e Kohlberg,o estudo
mostra como o valor da solidariedade ,da cooperação,do respeito mútuo,são
essenciais na educação moral.E dentro desse quadro tanto a escola como a
família devem ter consciência e responsabilidade do seu papel.A criança é
uma testemunha atenta da moralidade dos adultos ou de sua ausência.Esse
aprendizado moral ocorre dia a dia,quando os pais e professores fazem
opções,mostrando na prática,seus valores,suas opiniões e atitudes.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................07
I – DEFINIÇÕES SOBRE “MORAL” ..............................................09
1.1 – DESENVOLVIMENTO MORAL ........................................10
II – REVISÃO DE LITERATURA ........................................................11
2.1 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O TEMA -DESENVOLVIMENTO MORAL ...........................................................11
2.2 – DESENVOLVIMENTO MORAL,SEGUNDO O ENFOQUE COGNITIVO..........................................................................................12
2.3 – O PENSAMENTO DE LAWRENCE KOHLBERG ...............16
2.3.1 – Nível Pré-Convencional .........................................18
2.3.2 – Nível Convencional .................................................19
2.3.3 – Nível Pós-Convencional .........................................20
2.4 – PONTOS CONTROVERTIDOS NO TRABALHO DE KOHLBERG ................................................................................................................21
III – METODOLOGIA ..................................................................................25
3.1 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS OBTIDO..................27
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................30
ANEXO .........................................................................................................34REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................40
7
INTRODUÇÃO
A partir da minha vivência, e também de observações feitas no meu
trabalho como professora de educação infantil em escola particular,o
aspecto moral do desenvolvimento humano me instigou,por ser tratado por
muitas pessoas,principalmente pelos professores,como tabu.Vivemos numa
sociedade onde ouvem-se constantemente queixas relacionadas à
violência,ausência de limites,regras,valores,etc...,ou seja à moralidade
quase sempre é atribuído um aspecto negativo,como castigo,proibições,ou
de forma legal,como normas que vigem culturalmente o homem.Porém uma
dúvida maior me levou a esse estudo;quem carece de disciplina,,retidão
moral são sempre as crianças e adolescentes nunca adultos?!
Pais e professores costumam se preocupar muito com o
desenvolvimento psicológico e intelectual de suas crianças, e esquecem a
esfera moral da personalidade,que pode ser considerado um dos aspectos
chave da formação humana.Portanto o desenvolvimento moral tem
contribuição oportuna neste mundo de frieza,hostilidade e violência em que
estamos vivendo.
“A moralidade ou consciência moral pode ser
definida como um conjunto de regras culturais que
foram internalizadas pelo indivíduo.A intermalização
eficaz destas regras é constatada quando o indivíduo
as obedece mesmo na ausência de incentivos ou de sanções sociais” (Biaggio,1980,P.124).
O desenvolvimento moral tem sido estudado através de vários
enfoques teóricos,que focalizam diferentes conteúdos ou objetos de estudo
e utilizam metodologias diversas.Através deste trabalho objetiva-se conhecer
8
melhor as relações entre a escola como constituição socializadora e a
formação moral do indivíduo,isto é,até que ponto há influências externas
como cultura,ambiente,instituições no desenvolvimento do indivíduo e
quando ele passa a exercer seu próprio controle,ou seja,a internalização de
padrões morais.Outro ponto é de que outro modo ocorre a formação e os
principais estágios do processo de moralidade segundo a teoria cognitiva,da
qual a característica principal é o uso da noção de estágios,ou seja, a teoria
evolutiva – cognitiva defende que o desenvolvimento das atitudes morais
pressupõe uma reorganização seqüencial relacionada à faixa etária.Os
autores acreditam que mais do que ser moldado passivamente pelo meio
social, o indivíduo desenvolve sistemas conceituais que lhe permite
compreender e transformar.Portanto, essa construção das noções sociais
ocorre através das interações com o meio,onde a criança vai construindo
suas próprias crenças.Nessa linha, Kohlberg ( citado por Rest, 1974 a)
afirma que “a educação moral deve preocupar-se com o desenvolvimento de
estruturas organizacionais que permitam a análise,a interpretação e a
decisão sobre problemas sociais “(p.242).
O desenvolvimento da moral tem sido preocupação constante das
pessoas envolvidas no processo de formação do indivíduo.Portanto o papel
do professor e de um meio rico em estímulos no desenvolvimento de
estruturas de pensamento merece atenção.A propósito, Kohlberg(1971 a)
afirma que pesquisas tem evidenciado a responsabilidade do aluno no
desenvolvimento de seu próprio nível de pensamento.Uma educação para o
desenvolvimento estimularia a participação do aluno, mais do que um ensino
onde a informação fosse dada diretamente pelo professor.
E se, como diz Piaget (1977),o desenvolvimento moral resulta de
interações do meio ambiente,seria importante que a escola fornecesse
estímulos capazes de impulsionar os alunos a galgarem níveis superiores de
julgamento moral.
A importância da educação moral é reconhecida mundialmente.No
Brasil a despeito da obrigatoriedade da disciplina educação moral e cívica
9
em todos os níveis de ensino,ignora-se a existência de linha sistemática de
pesquisa sobre o desenvolvimento moral.No entanto,os resultados de tais
estudos poderiam,quando comparados a outros,realizados em culturas
diferentes,lançar luz sobre a natureza do desenvolvimento
moral,esclarecendo possíveis interferências culturais em sua evolução.
10
I - DEFINIÇÕES SOBRE ‘MORAL’.
Baseada em informações de dicionários de filosofia e
psicologia,pode-se entender que a noção de moralidade está ligada a dois
outros termos,que são a moral e a ética.A palavra moral deriva-se do radical
mos,costume, o mesmo que ética,por esta razão ética e moral são
empregadas indistintamente.No entanto,o termo moral tem usualmente uma
significação mais ampla que o vocábulo ética.
A Ética ou Filosofia Moral tem por objetivo o exame filosófico e a
explicação dos chamados fatos morais.Entre estes,temos as apreciações
éticas,os preceitos,as normas,as atitudes virtuosas,as manifestações da
consciência. Dentro da Ética, distinguem-se duas correntes principais: a
hedonista e a relativista.A hedonista afirma serem legítimos(morais) os atos
que contribuem para a felicidade ou prazer da pessoa,ilegítimos (imorais) os
que concordam para o seu sofrimento e infelicidade; e a relativista,diz ser o
bem e o mal (atos morais e imorais) uma função das atitudes das pessoas
que julgam os atos.
Dessa forma a Ética pode ser entendida como a ciência que estuda
os atos dos indivíduos,não como fatos,mas sim julgados por seus valores e
preceitos morais.
A moral distingui-se da Ética por ser um conjunto de normas e
padrões pessoais ou sociais de conduta do indíviduo,que referem-se a
bondade ou maldade dos atos desta conduta do indivíduo medida de acordo
com as normas acerca do bom e do mal,no grupo em que vive.Abrange da
mesma forma,uma atitude individual ou mais geral do grupo,com respeito à
confiança,perseverança e fidelidade aos ideais.
A moralidade é o caráter abstrato do comportamento por esses
padrões de conduta,consiste no cumprimento do dever por ato da vontade,e
a obediência à lei moral enquanto fixada por normas,leis e costumes da
11
sociedade.Acredita-se com freqüência,funda-se em uma autoridade o mais
absoluta as meras convenções, ou seja,a consciência moral.Esta
desenvolve-se mediante o estímulo dos sentimentos morais,como o respeito,
a dedicação.O indivíduo cumpre a obediência a lei moral e,
paralelamente,adquire o conhecimento do valor moral.
1.1 – Desenvolvimento Moral
Segundo Helen Bee (1984.cap13), a maioria das pessoas deparam-
se com problemas morais e éticos que aparecem em seu dia a dia.Tanta as
crianças quanto os adultos necessitam distinguir o “certo” do
“errado”,comportar-se de forma correta e saber como julgar moralmente as
ações dos outros.Foi buscando uma maior compreensão da questão que a
moralidade foi objeto de estudo de várias teorias,que propuseram várias
explicações.O processo central consiste no desenvolvimento de um conjunto
de regras internalizadas e culturalmente definidas que governam o
comportamento.
Inicialmente,há o desenvolvimento do comportamento moral.A
criança aprende determinado comportamento através dos mais velhos ou
alguma autoridade.
Um segundo elemento é o sentimento moral.São as reações afetivas
que se manifestam quando transgredimos norma morais.A culpa é o
sentimento mais comum nessas situações,sendo considerada por muitos
teóricos como um sinal de que a criança desenvolveu regras internalizadas.
E finalmente,o elemento cognitivo,quando a criança ou o adulto
sabem determinar-se ema dada ação é particularmente certa ou errada.
12
II- REVISÃO DE LITERATURA
2.1 – Considerações Teóricas Sobre o Tema – “Desenvolvimento Moral Infantil”
Ao longo dos anos foram estudados e instituídos diversos enfoques
teóricos relacionados à moralidade.Cada qual elaborou tendências concretas
quanto ao caminho que o sujeito percorre até atingir a maturidade moral,
alguns dando continuidade ou através das contribuições anteriores.Esse
estudo limita-se ao enfoque mais atualizado e corrente com minhas
premissas,a teoria cognitiva de Kohlberg.
Porém, antes de aprofundar a pesquisa, citaremos brevemente os
pressupostos da teoria psicanalítica e da aprendizagem social.
A teoria psicanalítica enfoca o processo de identificação.Freud,
percussor da teoria, considerava que, para superar a crise de Édipo, a
criança incorpora as idéias e comportamentos dos pais.Portanto, a criança
internaliza o que é bom ou mau de acordo com os modelos dos pais.Quando
a criança se atreve a transgredir alguma regra, norma, valor..., esses pais
aplicam castigos e punições,gerando nos filhos o sentimento de culpa, ou
seja, o motivo pelo qual a criança aceita a orientação moral dos pais é o
medo da perda do amor.
A teoria psicanalítica sobre o comportamento moral, fornece valiosas
contribuições à compreensão do comportamento moral, como as noções de
identificação, retirada de amor,culpa,e importância dos primeiros anos de
vida,que se refletem nas outras teorias e são indispensáveis ao estudo do
desenvolvimento moral.
Por outro lado a teoria da aprendizagem social baseia-se no
entendimento de que todo comportamento é aprendido, e de que a conexão
entre estímulo e resposta é fortalecida ou enfraquecida devido ao
reforçamento.
13
“As teorias da aprendizagem social,cujos estudos
são realizados fundamentalmente em situações experimentais
de laboratório, consideram que o desenvolvimento da
moralidade realiza-se mediante mecanismos de
condicionamentos e através da aprendizagem de regras
e valores.Concebe-se a moralidade como um conjunto de
hábitos de conduta e representações mentais diretas de
valores e das regras morais.”(González,1995,p.175)
Há uma grande variedade de estímulos,inicialmente sem valor
de reforço,e que podem vir a ser um reforçador positivo ou
negativo,dependendo da experiência do indivíduo.Os pais é que
determinam,quais as respostas que serão recompensadas ou punidas
e quais os comportamentos sociais que constituem recompensas e
punições para a criança.
“Muito do que a criança aprende na infância
assemelha-se ao que seus pais fazem e acreditam,
tomando-os por modelos e imitando-os.a criança
aprende vários comportamentos imitativos,mediante
a recompens a outras respostas”(González,1995,p.176)
2.2- Desenvolvimento Moral, Segundo o Enfoque Cognitivo
A teoria do desenvolvimento cognitivo procura explicar como o
conhecimento do mundo desenvolve-se a criança.Esta adquire um modelo
interno preciso da realidade em estágios sucessivos,que são conseqüência
da interação da criança com a realidade.
14
Ao desenvolver a capacidade intelectual, a criança desenvolve a
habilidade de compreender a realidade social e de julgar a retidão das
declarações morais.Portanto, o estudo do julgamento moral é o estudo do
aspecto intelectual da moralidade e não do aspecto emocional (psicanalítico)
ou comportamental (aprendizagem social). A teoria do desenvolvimento
cognitivo enfatiza o raciocínio moral da criança: as razões que estão por trás
dos julgamentos sobre certo e o errado.
O estudo do desenvolvimento do julgamento moral tem sido
preocupação constante das pessoas envolvidas no processo de formação do
indivíduo.Segundo a teoria do desenvolvimento cognitivo, o indivíduo se
desenvolve moralmente através de estágios progressivos. Parte de
julgamento morais simplistas para formas mais complexas.
Deve-se ficar claro que não há apenas um acréscimo do termo
“moral” ao “cognitivo”, o desenvolvimento moral possui características
próprias,mas está vinculado ao nível do desenvolvimento cognitivo atingido
pelo indivíduo.
Kohlberg (1971 b;1975 a; 1975 b ) encontra em Dewey indicações
que apóiam sua abordagem em relação à evolução do raciocínio
moral.Segundo Dewey, o indivíduo, no início de sua vida, demonstra um
comportamento moral determinado por impulsos biológicos e sociais, mais
tarde,prende-se aos padrões morais do grupo a que pertence e , finalmente,
atinge um nível de autonomia moral.Embora Dewey tenha se preocupado
com o desenvolvimento moral, não chegou a formular uma teoria sobre
como se processa esse desenvolvimento no indivíduo.
Esse estudo pretende mostrar como há relações evidentes entre o
desenvolvimento moral e o desenvolvimento cognitivo.Como ponto de
partida, temos os estudos de Jean Piaget, só então nos aprofundamos nos
trabalhos de Lawrence Kolberg.
15
Jean Piaget (1932), estudou a formação das regras morais na
criança através de jogos infantis e da influência do meio para a prática e
consciência destas regras.A observação de jogos infantis e o diálogo que a
seu respeito se estabelece entre adultos e os participantes da brincadeira,
são os outros caminhos que levaram Piaget à descoberta do modo pelo qual
as crianças constroem ou reconstroem as regras e normas sociais e morais
da sociedade em que vivem.
Para Piaget (1977), a criança demonstra,a princípio,uma moral
resultante da coação adulta, característica pela concepção de dever como
valor em si, e pelo exame da atuação das pessoas, tendo em vista sua
conformidade com as regras existentes.Posteriormente, a criança age com
autonomia,fazendo julgamentos morais baseados numa concepção de
justiça igualitária e recíproca.
“Á medida que a criança cresce, a submissão de sua
consciência à consciência adulta parece-lhe menos legítima
e, salvo os casos de desvios morais propriamente ditos, que
são constituídos pela submissão interior definitiva(os adultos
que continuam crianças toda sua vida) ou pela revolta dura-
vel, o respeito unilateral tende,por si mesmo, ao respeito mú-
tuo e á relação de cooperação, a qual constitui o equilíbrio
normal”(Piaget, 1977,p.280)
O que recebemos nessa teoria é que o conhecimento não
acontece na simples cópia de objetos externos nem numa exposição de
estruturas formadas dentro do sujeito cognoscente e, sim,por um conjunto
de estruturas elaboradas ao longo do tempo,por contínuas interações entre o
indivíduo e o mundo externo.Essas inter-relações originam-se das
ações,pois são construídas a partir de uma troca entre os organismo
biológico e o ambiente.
16
O indivíduo se desenvolve mediante um desenvolvimento dialético
com o seu meio.Ou seja desenvolve-se à medida que é bem sucedido na
relação de inúmeros problemas com que se depara.Tais problemas são
resolvidos mediante a construção de um sistema complexo de esquemas de
ações e pela organização da realidade.Esta é organizada em termos de
estruturas espaço – temporais e causais e de estruturas lógicas,expressas
pelos raciocínios que envolvem as relações contidas nas idéias de grupo.
Resumindo,a teoria piagetiana do desenvolvimento cognitivo tem
dois pontos básicos para o conceito de desenvolvimento intelectual,que é o
resultado de uma elaboração ativa por parte do indivíduo que se encontra
em interação dialética com o seu meio; outro ponto é a concepção de qual
desenvolvimento pode ser conceitualmente dividido em estágios, os quais
são todos estruturados, e que o desenvolvimento intelectual ocorre numa
seqüência invariante,cujos estágios subseqüentes incorporam os iniciais ao
elaborá-los num todo mais organizado.
“Toda interação social aparece assim com
se manifestando sob a forma de regras, de valores,
de sistema de interações,começando com as relações
dos indivíduos dois a dois e si estendendo até às intera-
cões entre cada um deles e o conjunto dos outros,e até
às ações de todos os indivíduos anteriores,quer dizer de
todas as interações históricas,sobre os indivíduos atuais.”
(Piaget,1977 a(1932), p.256)
Em suma,segundo Piaget primeiro vem a coação moral do adulto
sobre a criança,coação que resulta na heteronomia e, conseqüentemente,no
realismo moral.O segundo é a cooperação que resulta na autonomia.Entre
os dois podemos distinguir uma fase de interiorização e de generalização
das regras e das ordens.
17
3.3 – O Pensamento de Lawrence Kohlberg
Este autor é um psicólogo americano da teoria cognitiva que
enfatiza a importância da maturação das estruturas cognitivas, e também
dos estágios no desenvolvimento do julgamento moral.Ao contrário de outros
teóricos, defende a universalidade dos princípios morais.Pois para muitos
não há princípios morais universais, e cada indivíduo adquire os valores
morais da cultura em que é socializado.
Seu ponto de vista era de que os princípios éticos são distintos de
regras e crenças convencionais e arbitrárias,havendo uma seqüência
evolutiva invariante, confirmada através de estudos em várias culturas e
subculturas distintas.
Esse modo de ver o desenvolvimento moral coloca de lado duas
premissas, uma que acredita que a educação moral se reduz ao ensino de
virtudes,e a que Kohlberg costuma dizer,”ensino de um feixe de virtudes”
consideradas válidas,pela sociedade e pelos educadores.Essas idéias levam
a uma doutrinação e de reflexão das suas crenças,valores,segundo
raciocínios coerentes e consistentes.
Kohlberg (citado por Aron, 1977 )explica:
“A suposição desenvolvimentista – cognitiva é de que
a estrutura mental básica resulta de uma interção entre ten-
dências estruturais organísmicas e a estrutura do mundo
exterior, e não o seu reflexo direto. Esta interação conduz
a estágios que representam transformações de estruturas
cognitivas simples no início,quando são aplicadas (ou assi-
miladas) ao mundo externo e quando são acomodadas ou
reestruturadas por ele”
18
O enfoque de L. Kohlberg é cognitivo porque reconhece que o
desenvolvimento moral,da mesma forma que o intelectual possui suas bases
no estímulo do pensamento ativo da criança sobre as decisões e questões
morais.Fala em desenvolvimento porque vê o movimento do crescimento
moral, como transcorrendo através de estágios .Ele divide conceitualmente o
desenvolvimento moral em três níveis de raciocínio moral,os quais são
subdivididos em dois estados cada um.Estas estruturas do desenvolvimento
moral de cada estágio são distinguidas pelo próprio conteúdo do julgamento;
o conteúdo refere-se a escolha assumida pelo indivíduo numa situação
moral específica e o raciocínio realizado para a escolha,define a estrutura do
julgamento moral.
Piaget também possui um trabalho sobre o julgamento moral da
criança.Kohlberg se utiliza dos estudos aí procedidos,mas apóia-se mais na
teoria do desenvolvimento cognitivo como um todo do que no próprio
trabalho da Piaget, sobre o julgamento.Este trabalho foi publicado em 1932 e
Kohlberg desenvolveu o seu na década de 50.
“O objeto da educação moral é a estimulação
gradual do desenvolvimento em direção a julgamento e
raciocínios morais mais maduros que culminem num
entendimento claro dos princípios universais de justiça
e não em direção ao desenvolvimento intelectual e moral
precoce da criança pela mera aceleração.”(Kohlberg,1971
a,p.41)
Piaget desenvolve seus estudos baseados nos métodos de
procedimentos clínicos,com que costuma pesquisar os problemas do campo
cognitivo: não dá um tratamento estatístico à sua pesquisa. Kohlberg
procura sanar este ponto,seus resultados são baseados em dados
estatísticos.Esta porém,não é a única diferença entre trabalho de
19
ambos.Piaget não chega,na realidade, a definir os estágios morais de forma
clara,alegando ser duvidoso afirmar que todas crianças passam pelas
atitudes que definimos.Kohlberg o faz.N a realidade,parece que ele elabora
exaustivamente as noções contidas no desenvolvimento intelectual,
aplicando-os ao moral.
Pesquisas de Kohlberg(1971 b; 1975 a) e Turiel (1973) tem
evidenciado que os estágios de desenvolvimento moral se caracterizam por
:(a) serem um todo organizado,(b) se diferenciarem uns dos outros
qualitativamente, (c) apresentarem uma seqüência invariável e uma
integração hierárquica, e (d) serem processos ativos.O estímulo para o
progresso através dos estágios advém da interação dos esquemas
conceituais do indivíduo com aspectos de seu ambiente social.Como
conseqüência,as estruturas cognitivas que determinam os raciocínios morais
são modificadas,tornando-se cada vez mais complexas.
Dessa forma,Kohlberg e os demais pesquisadores do
desenvolvimento moral aceitam a idéia de que tal desenvolvimento possa
ser conceitualmente dividido em estágios e trabalham com os seis estágios
“Kohlberguianos” que serão expostos.Na realidade os estágios morais são
seis(três níveis de raciocínio moral,cada um dividido em dois estágios).Os
níveis são: pré- convencional,convencional e pós-convencional.Porém ser
considerados como visões separadas de mundo ou como filosofias morais
distintas.Sua descrição se encontra no quadro abaixo.
2.3.1-Nível Pré-Convencional
Susceptibilidade a regras culturais e rótulos de bom e mau,certo e
errado,interpretações em termos das conseqüências ou hedonistas da
ação(punição,prêmio,troca de favores) ou em termos do poder físico da
autoridade.
Estágio 1 – Orientação para obediência e punição
20
As conseqüências físicas da ação determinam o julgamento de bom
e mau,independente do significado humano ou valor dessas
conseqüências.Prevenção da punição e respeito inquestionável á autoridade
são valores em si.
Estágio 2 – Orientação para o relativismo instrumental
Ações corretas são aquelas que satisfazem instrumentalmente ás
necessidades da própria pessoa e, ocasionalmente,ás necessidades dos
outros.Justiça,reciprocidade e igualdade são interpretadas de maneiras
pragmática.
2.3.2 – Nível Convencional
Manter as expectativas da família,grupo ou nação é considerado
valioso em si mesmo,independente das conseqüências óbvias e imediatas.A
atitude não só revela conformismo a expectativa individuais e à ordem
social,mas também um engajamento ativo na manutenção e justificação
dessa ordem social.
Estágio 3 – Moralidade do “bom moço”,de manutenção de boas relações de
aprovação dos outros
Bom comportamento é aquele que agrada ou ajuda os outros e
recebe aprovação.Há muito conformismo em relação a noções
estereotipadas do que é “natural” ou “de se esperar”.O comportamento é
freqüentemente julgado de acordo com intenção.
Estágio 4 – Orientação para a lei e a ordem
21
Grande respeito á autoridade ,a regra físicas e a manutenção da
ordem social.O comportamento moralmente correto consiste no
cumprimento do dever, respeito á autoridade e manutenção da ordem social
vigente.
2.3.3 – Nível Pós -Convencional
Esforço para definir valores morais e princípios que tenham validade
e a aplicação independentemente de autoridade.
Estágios 5 – Moralidade de contrato social e lei
As noções corretas tendem a ser definidas em termos de direitos
individuais gerais e de padrões criticamente examinados e aprovados pela
sociedade como um todo.Há consciência do relativismo de valores pessoais
e opiniões e uma ênfase correspondente aos métodos para obter esse
consenso.
Estágio 6 – Moralidade de princípios éticos universais
O “certo” é definido por uma decisão da consciência individual, de
acordo com princípios éticos escolhidos pela própria pessoa,princípios esses
que recorrem á compreensão lógica, á universalidade e á consistência.Estes
princípios são abstratos e éticos como os princípios de justiça,igualdade de
direitos humanos e respeito pela dignidade dos seres humanos como
pessoas individuais.
Examinando as características de cada estágio,percebe-se que estes
se sucedem numa complexidade crescente.O estágio mais alto é o mais
adequado,uma vez que representa o ápice do desenvolvimento
(Kohlberg,1971 a;1971 b;1971 c)
22
A cada estágio,os raciocínios diferem estruturalmente,implicando
concepções diferentes de bem e de mal e, portanto implicando outros tipos
de raciocínio moral.Cada estágio é melhor do que o precedente porque ele
representa uma melhor organização de conceitos.Quando a pessoa se
desenvolve na direção do estágio seguinte ao seu próprio,ela pode fazer
novas distinções em seus esquemas e organizá-los numa estrutura mais
compreensiva e mais equilibrada.De acordo com Kohlberg,cada estágio é
mais adiantado do que o anterior num dos seguintes aspectos,bem-estar
próprio,bem-estar dos outros, senso de dever e de
motivos,consciência,regras,justiça punitiva,justiva positiva e desempenho de
papel.Cada estágio pode ser descrito de tal modo que forme um todo.
A questão concernente á passagem de um estágio a outro
é,essencialmente de desenvolvimento.Encontra-se as idéias de equilíbrio e
de equilibração que, como se viu,são aspectos básicos do desenvolvimento
intelectual de acordo com a abordagem da teoria do desenvolvimento
cognitivo.
Vê-se que o desenvolvimento moral ocorre mediante processos de
equilíbrio-desquilíbrio e novo equilíbrio num estágio superior em relação ao
inicial.A fase de desequilíbrio se apresenta como plena de forças geradoras
que levam o indivíduo a movimentar-se no sentido de procurar novas
soluções.A questão que se coloca para a educação moral,então,é se há
possibilidade de auxiliar-se o indivíduo a avançar no seu desenvolvimento
moral.Esta é uma pergunta que concerne à indução do desenvolvimento
moral.É possível realizar-se tal indução? Que implicações éticas ela
envolve?
2.4 – Pontos Controvertidos no Trabalho de Kohlberg
A maior parte das críticas ao trabalho de Kohlberg se refere à
adequação dos últimos estágios de julgamento moral. Diversos
autores(Alston,1971;Aron,1977;Pters,1971) questionam se o estágio 6
23
representaria,efetivamente, uma moral mais adequada que o estágio 5,
acrescentando que não são dados maiores esclarecimentos que sustem tal
afirmação.
Com referência à maior adequação dos estágios mais
altos,Klhlberg(1971 a;1971 b;1975 a ) argumenta que estes representam
uma concepção de moralidade diferenciada e integrada em termos
estruturais e não em relação a valores de verdade e eficiência.Ambos os
processos,integração e diferenciação,são tendências estruturas biológicas
inerentes ao homem.
Aron(1977) pondera,entretanto,que é difícil perceber nas
colocações de Kohlberg explicações claras desses processos e que, na
maioria das vezes,ele se limita a fornecer exemplos do que considera ser
diferenciações e integrações progressivas através dos estágios. Esclarece
ainda que a interpretação dada à diferenciação(é muito
específica),considerando diferenças entre valor da vida e propriedade,entre
obrigação e sentimento e virtude,e entre funções persuasivas e restritivas da
punição das funções retributivas.Este comentário se estende à
integração,vista em termos de correlação de direitos e deveres, e à presença
de considerações de bem estar social no pensamento moral.
Kohlberg (1971 b ;1971 c;1975 a;1975 b) tenta responder às
críticas,explicando que sua concepção de moralidade se baseia numa visão
,há atos intrinsecamente certos ou errados,independente de suas
conseqüências,como, por exemplo,o tratamento igualitário dos seres
humanos perante a justiça,que é um ato ,intrinsecamente,certo.E a
moralidade é determinada por esses atos .
Quanto a esta questão,Aron(1977) adverte que a justificativa para
a seqüência de estágios baseada numa visão de moralidade limitada à área
da obrigação só satisfaz àqueles que concordam com os
deontologistas.Especificamente,em relação á educação moral lembra:
24
A aplicação e utilidade dessa teoria para a educação moral
depende da extensão em que o desenvolvimento do raciocínio moral
deontológico se correlacione com o desenvolvimento de alguns outros
fatores de pensamento que são importantes para a moralidade,tais como
virtudes,hábitos e a habilidade de projetar as conseqüências de uma
ação(p.207)
Alston(1977) é mais radical em suas ponderações.A seu ver,as
justificativas apresentadas referem-se a um aspecto distinto da
moralidade,sendo a sua escolha baseada em conveniências e predileções
próprias.
Além dstes pontos,questiona –se também,na teoria de
Kohlberg(1971 c;1975 a;1975 b) explica que a maturidade do julgamento
moral é uma condição para a maturidade da ação moral,mas não o
suficiente para produzi-la.Um indivíduo não necessita entender ou acreditar
em princípios morais para colocá-los em prática;no entanto.pode raciocinar
em termos de princípios e não agir neste nível.
Aron(1977) e Craig(1974) esclarecem que os estudos realizados
até então não apresentam evidências capazes de fundamentar o
posicionamento de Kohlberg.
Com referência ao aspecto afetivo ,Kohlberg(1971 c) rejeita a
dicotomia entre este e o cognitivo.Em sua concepção,os julgamentos morais
envolvem os dois componentes,sendo que o afetivo é determinado pelo
desenvolvimento estrutural cognitivo.
Em resumo,são criticados os posicionamentos de Khlberg no que
se refere a complexidade do julgamento moral como características dos
estágios mais altos,o relacionamento entre a ação moral e o nível de
desenvolvimento moral,como também, o aspecto afetivo.As críticas
25
enfatizam,principalmente,a falta de clareza,unilateralidade e pouco
aprofundamento destes pontos.
26
III - METODOLOGIA : uma abordagem qualitativa e
etnográfica
A pesquisa adotou a abordagem qualitativa não pretendíamos
generalizar os dados obtidos e sim entender o papel do professor frente ao
aspecto moral do desenvolvimento infantil,sob a luz da teoria evolutiva –
cognitiva.
Para a presente pesquisa utilizamos como caminho
metodológico,além da consulta à literatura sobre o assunto,o estudo
etnográfico.Segundo André e Ludke (1995) este estudo tem como
característica fundamental o contato direto do pesquisador com a situação
pesquisada e o fato de o pesquisador ser o instrumento principal na coleta
de dados.A observação participativa é um dos instrumentos mais usados
neste tipo de estudo.
“A observação é um dos instrumentos de pesquisa
que fornece uma visão geral do tema em estudo ou
cenário estudado,servindo de complemento aos
diversos outros tipos de levantamento de dados.”
(André & Ludke,1995 p.93)
Hipótese:O desenvolvimento moral da criança na educação
infantil,precisa de um professor com clareza de objetos,flexibilidade e
sensibilidade.
A observação participativa foi feita durante seis meses de estágio
em uma turma de vinte e dois alunos, com idade entre cinco e seis anos,de
uma escola particular no bairro de Botafogo,zona sul do Estado do Rio de
Janeiro.
27
O instrumento de coleta de dados foi, um questionário entregue à
quatro professoras dessa mesma escola,e recebido de volta uma semana
depois.
O questionário começa levantando dados pessoais sobre a
professora,(formação profissional,idade..), e sobre a turma que
seleciona(número de alunos,faixa etária..).Para termos uma noção do perfil
das professoras e seus alunos.Em seguida foram elaboradas quatro
perguntas:
1.Quais são as funções da educação infantil na sua opinião?
2.Que você entende por desenvolvimento moral?
3.Como é possível educar do ponto de vista moral?
4.Qual o maior obstáculo que a professora enfrenta nesta tarefa?
As perguntas aparentemente são amplas e pouco objetivas, com o
propósito de permitir que a professora não se sinta limitada, e possa
escrever realmente o que sabe,e o que estiver disposta sobre o assunto.
Os sujeitos envolvidos no estudo foram identificados através das
iniciais,como códigos,a fim de manter o anonimato dos participantes.
Todos questionários entregues fazem parte do anexo dessa
pesquisa,sem qualquer tipo de alteração.
A análise e interpretação dos dados obtidos serão discutidos no
próximo capítulo.
3.1 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS
Ao me dirigir a coordenativa da escola onde realizei meu estágio e
observações de campo,solicitei autorização para entrevistar pessoalmente
quatro professoras.Para meu espanto e indignação,só obtive autorização
para entregar o questionário às professoras e recolhe-los na semana
28
seguinte,alegando que as professoras não teriam tempo livre para responder
calmamente.
Aceitei a proposta,porém ao retornar na semana seguinte para
recolher os questionários,percebi que mesmo com sete dias para
responder,as professoras haviam escrito sucintamente,sem citar e/ou
aprofundar as outras tantas funções da educação à escola.
A escola é um ambiente social privilegiado no qual ocorrem vários
tipos de relações sociais.Dependendo da idade da criança, a relação social
irá também modificar-se,uma vez que as solicitações da criança serão
diferentes.Os professores devem ter conhecimento dessas variações para
poderem ajudar as crianças a desenvolver em sua autonomia.
Para Piaget(1976):
“...educar é adaptar a criança ao meio social adulto,
isto é ,transformar a constituição psicobiológica do indivíduo
em função do conjunto de realidades coletivas às quais a
consciência comum atribui algum valor”(Piaget,1976,p.139)
Com essa concepção de educar,Piaget distingue dois termos na
relação que constitui a educação :primeiro, a natureza biológica da criança
e, segundo, o que o educador pensa sobre os valores sociais morais e
intelectuais.Por isso. É muito importante que o educador conheça as etapas
do desenvolvimento e a psicologia da criança.
A partir das respostas referentes a segunda pergunta (O que você
entende por desenvolvimento moral) e a terceira (Como é possível educar
do ponto de vista moral),percebe-se que na verdade elas se sentem à
vontade em escrever,principalmente sobre um assunto que, durante a
maioria dos cursos de formação,não é dada ênfase nem a importância
merecida.A educação moral é vista pelas professoras como área entregue a
normas e regras de caráter disciplinar,sem que se preocupe saber como a
29
criança constrói ou reconstrói as suas exigências morais e quais os
obstáculos que se encontra para tanto.
A impressão que se tem ao ler os questionários, em anexo,é que a
formação moral na opinião das professoras,acontece por determinação de
limites e regras,ou seja, o papel do adulto,nesse sentido,é como um exemplo
que a criança deve assimilar e aceitar como “verdade absoluta”,ignorando
inclusive as relações dessas determinações adultas,com a inteligência e o
sentimento da criança.
A interação entre a criança e adulto é marcada pelas relações de
coação.Nesse tipo de relação, o que prevalece é o respeito unilateral, ou
seja, o respeito da criança pela autoridade,representada na escola pelo
professor.
“ A coação,alia-se constantemente ao egocentrismo
infantil: é por isso que a criança não pode estabelecer um
contato verdadeiramente recíproco com o adulto,porque
fica fechada no seu eu...” .(Piaget,1977,p.53)
O professor pensa que o aluno não tem autonomia em
determinadas áreas do saber e que portanto,cabe a ele, professor, dirigir o
processo de ensino e aprendizagem.Esta avaliação, no entanto,é falha,
tornando o exercício da autoridade um abuso do poder, um ato de
autoritarismo.A própria psicologia já demonstrou que os alunos têm mais
autonomia intelectual e moral do que antes se pensava.É um desrespeito,
portanto monitorar as condutas de alguém, quando este alguém é
perfeitamente capaz de tomar decisões e assumir as responsabilidades
decorrentes.
30
Kohlberg entende que as chamadas virtudes morais, como a
veracidade, a solidariedade e a responsabilidade, dentre outras, não são
ensinadas por transmissão verbal, mas construídas ativamente no decurso
da infância e adolescência. Para que se pudesse conhecer como se dá essa
construção, como facilitá-la e afastar delas os obstáculos, havia todo um
mundo desconhecido e camuflado de comportamento moral aparente,que
deve ser desvendado pelo educador que pretende formar do ponto de vista
moral.
Nas respostas dadas à última pergunta, as professoras declaram a
dificuldade de lidarem a diversidade social e cultural dos seus alunos. As
relações entre o professor e aluno e entre o professor e a turma
estabelecem como sendo o professor a figura principal, pois ele é a
referência adulta; é nela que as criança se apóiam para resolver seus
conflitos e experimentar novas situações.O professor não deve esquecer
que cada criança possui singularidade e que ela merece ser respeitada,pois
com o convívio entre as diferenças,é possível que o professor ajude a
promover um ambiente socializador. E, segundo Kohlberg, o comportamento
moral do aluno é afetado pelo clima social da escola; a posição do professor
com relação aos fins de uma educação moral deve ser o de formar
personalidades tão livres quanto responsáveis.
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão moral do desenvolvimento, como vimos, passa por
estágios sucessivos, e a escola querendo ou não atua na formação moral de
seus alunos, no entanto, Kohlberg e outros autores têm mostrado que
tradicionalmente, a fim de “disciplinar” seus alunos, as mesmas têm
contribuído para a perpetuação da – moral da obediência ao outro,do dever
imposto de fora.
Na verdade sem se dar conta, a escola (como um todo) trabalha
com regras demais e princípios de menos, o que só contribui para dificultar
as relações no ambiente escolar e para,muitas vezes,deformar o
comportamento dos alunos.Para trabalhar com moral a escola precisa se dar
conta primeiro;que o próprio ambiente escolar é dos mais propícios a se
realizarem mudanças na sociedade;segundo,é fundamental que ela dê o
exemplo.
Segundo La Taille (1994), inúmeras regras aplicam-se apenas
aos alunos, ficando professores e direção acima da lei.Normalmente as
relações entre professora e seus alunos,como foi verificado nas respostas
do questionário aplicado,são de coação,pois esta impõe regras prontas e
pune a desobediência ou premia a obediência de seus alunos.
Com esse estudo compreende-se que aprender a moral depende
de descobri-la nas relações com outros;que não aprendemos solidariedade
ouvindo a respeito dela, nem honestidade,nem correção de ações, nem
justiça em nosso julgamento.Só sendo solidário com, honesto com agindo
sobre, julgando alguém,é que aprendemos a fazer bem tais coisas;isso só se
aprende fazendo.A moralidade é algo maior do que saber as “boas regras”
ou as “leis constituídas” sobre como agir; ela implica em refletir no porquê
seguir certas regras ou leis,mais do que em obedecê-las cegamente.
32
“ Nada é mais letal para a moralidade que interpretá-la
como exclusiva imposição de limites para si e para outros.
Deve-se viver a moralidade como parte integrante da
Personalidade, dar –lhe uma dimensão existencial na
Qual o homem pode contemplar-se com sereno orgulho.”
(La Taille,1996,p.34)
Por tudo isso toma-se necessário que o educador reflita sobre sua
prática pedagógica, especialmente quando trabalha com crianças, pois essa
é a etapa da vida,em que todas as estruturas mentais estão em formação e
a personalidade está sendo constituída.A escola exerce o papel de uma mini
sociedade,sendo um produto da sociedade, ela reforça basicamente tudo
que é aceito socialmente,logo a educação que a escola propõe é uma
reprodução da concepção, que a sociedade tem do homem que quer formar.
Nem sempre estas relações são harmoniosas; nem sempre
“cooperar” quer dizer concordar.Muitas vezes há
discordância,conflitos,discussões,mas elas podem acontecer e por isso
podem ser encontradas soluções dentro do próprio grupo, de um poder
maior,de uma autoridade mais poderosa.
Assim,propiciar relações grupais evitando sempre que possível a
interferência de uma autoridade exterior é propiciar a possibilidade do
exercício da cooperação e, conseqüentemente, da construção das regras
pelo grupo.
Na escola isso pode ser feito com o incremento de atividades
grupais, diminuindo-se a ênfase nas individuais.
Centrar-se em atividades individuais intermeadas de regras do tipo
“cada um faz o seu”,”cada um com suas coisas” fortalece o individualismo e
a competição.As crianças aprendem a valorizar o “ganhar” do outro, o “fazer
33
primeiro”, e a cooperação,que de qualquer jeito ocorre,acontece de forma
velada, escondida da professora,como se fosse algo errado.
Observa-se que apesar de todas as regras em contrário, as
crianças trocam informações e materiais entre si o tempo todo na
escola,embora,quando pequenas,façam o discurso de que isso é errado.
Muitas vezes as regras que surgem do grupo são as mesmas que
seriam colocadas por qualquer professor de bom senso.Mas quando
emergem do próprio grupo ela adquirem uma legitimidade,uma
respeitabilidade maior entre os alunos do que se fossem conselhos ou
ordens do professor.
Evidentemente cabe ao professor saber atividades na escola-
pedagógicas, esportivas ou recreativas onde atuação em grupo seja
necessária.
Vimos com Kohlberg que,primeiro,as crianças começam a discutir
e construir novas regras na convivência entre si no grupo para, depois,
compreenderem que as regras não são coisas sagradas,
imutáveis,absolutas e certas em si mesmas.
Concluímos que primeiro é preciso fazer regras para então
compreendê-las como algo que tem motivos racionais e sociais para existir.
Através dos estudos apresentados apresentados de Piaget e
Kohlberg vimos que a moral não é uma matéria, a parte que se pode
transmitir verbalmente (tipo Educação Moral e Cívica). A moral é construção
de práticas – trocas entre pessoas, de consciência sobre regras e leis, de
julgamentos.
A prática de construção de regras pode e deve ocorrer no dia a dia
da rotina escolar desde as salas de aula da educação infantil; e este será um
34
trabalho diário,pois não se deve ter a ilusão que uma vez combinadas as
regras todos as seguirão fielmente.Construir regras e respeitá-las é coisa
que se aprende gradualmente e que exige tanta freqüência de exercícios
como qualquer outro conhecimento a ser aprendido.
35
ANEXOS
QUESTIONÁRIO
DADOS DA PROFESSORA;
NOME:
IDADE:
BAIRRO ONDE MORA:
QUANTOS FILHOS:
PROFISSÃO DOS PAIS:
GRAU DE INSTRUÇÃO:
TEMPO DE ATUAÇÃO NA ÁREA PRÉ-ESCOLAR:
DADOS DA TURMA;
NÚMEROS DE ALUNOS:
FAIXA ETÁRIA:
BAIRRO ONDE RESIDEM:
PERGUNTAS;
1-Quais são as funções da educação infantil na sua opinião?
2-O que você entende por desenvolvimento moral?
3-Como é possível educar do ponto de vista moral?
4-Qual o maior obstáculo que a professora enfrenta nesta tarefa?
ENTREVISTA Nº 01
36
PROFESSORA:D.B(31 anos)
BAIRRO ONDE MORA:Glória
QUANTOS FILHOS:uma menina de sete anos
PROFISSÃO DOS PAIS:mãe é professora, e o pai é engenheiro civil
GRAU DE INSTRUÇÃO:curso normal e pedagogia na Santa Úrsula
TEMPO DE ATUAÇÃO NA PRÉ ESCOLA:seis anos nessa mesma escola
DADOS DA TURMA;
NÚMEROS DE ALUNOS:21 alunos
FAIXA ETÁRIA:4 á 5 anos
BAIRRO ONDE RESIDEM:Humaitá,Botafogo,Flamengo
RESPOSTAS;
1-As funções são inúmeras e complexas,para se descrever assim...Mas
basicamente é a de socializar,conhecer outras crianças,vivenciar uma rotina
que estimula a criatividade, e preparar para a alfabetização de fato.
2- Desenvolvimento moral diz respeito a valores que a criança adquire desde
pequena e vai concretizando ao longo da vida de acordo com sua
criação,crenças...
3-Educação do ponto de vista moral é delinear limites e regras para que a
criança perceba que para se conviver em coletivo precisamos respeitar o
espaço do outro.
4-O maior obstáculo é fazer a criança agitada,mandona,entender que não se
deve bater,brigar com os outros.Que se deve respeitar os mais velhos.
ENTREVISTA N°02
PROFESSORA:J.N(26 anos)
BAIRRO ONDE MORA:Lagoa
QUANTOS FILHOS:não
PROFISSÃO DOS PAIS:médicos
GRAU DE INSTRUÇÃO:curso de pedagogia
TEMPO DE ATUAÇÃO:4 anos
37
DADOS DA TURMA;
NÚMERO DE ALUNOS:20
FAIXA ETÁRIA:4 á 5 anos
BAIRRO ONDE RESIDEM:Botafogo
RESPOSTAS;
1-A educação infantil tem a função de desenvolver as habilidades das
crianças para que ela alcance todos estágios necessários.Lógico que para
maioria dos pais a pré escola serve como depósito, para que eles tenham
“tempo livre”.
2-O desenvolvimento moral para criança serve como um aprendizado do que
é certo e o que é errado.Ela tem aprender a obedecer, a seguir
determinadas regras.
3-Educá-la com regras claras e objetivas de com se deve agir.Faze-la
perceber como os adultos se respeitam, como os pais lidam um com
outro,etc.
4-Com certeza é a criança mimada, que pode fazer o que quer em casa,que
os pais ainda acham engraçado,bonitinho.Essa dificilmente obedece as
regras morais na escola.
ENTREVISTA Nº03
PROFESSORA:A.B(45 anos)
BAIRRO ONDE MORA:Copacabana
QUANTOS FILHOS TÊM:menino de 14 anos,meninos de 12 anos
PROFISSÃO DOS PAIS:pai mecânico,mãe é dona de casa
GRAU DE INSTRUÇÃÕ:curso norma e adicional,está no quinto período de
pedagogia
TEMPO DE ATUAÇÃO NA PRÉ ESCOLA:20 anos
38
DADOS DA TURMA;
NÚMERO DE ALUNOS:23 anos
FAIXA ETÁRIA:5 á 6 anos
BAIRRO ONDE RESIDEM:Botafogo,J.D Botânico,Lagoa
RESPOSTAS;
1-A educação infantil tem funções diversas como:introduzir a criança no
convívio social,estimular suas possibilidades de criação, trabalhar suas
dificuldades,prepará-la para a alfabetização e ingresso na escola
propriamente dita.
2-O desenvolvimento moral quer dizer as regras,valores,hábitos que a
criança aprende em casa e na escola.Mas hoje em dia esses valores andam
sem sentido.As pessoas transgridem as regras sem pensar nas
conseqüências , apenas no benefício próprio.
3-Para educarmos moralmente precisamos estar conscientes que o nosso
exemplo é fundamental,não adianta pregarmos um conceito e agirmos
completamente contrário à esse conceito.
4-Um dos obstáculos é estarmos em sintonia com a família .Lembrando que
as crianças são diferentes,devemos perceber qual o melhor meio para que
cada uma incorpore a moralidade.
ENTREVISTA Nº04
PROFESSORA:M.T(42 anos)
BAIRRO ONDE MORA:Leme
QUANTOS FILHOS:um menino de 13 anos
PROFISSÃO DOS PAIS: mãe é funcionária pública e o pai é arquiteto
GRAU DE INSTRUÇÃO:cursou pedagogia
TEMPO DE ATUAÇÃO NA PRÉ ESCOLA:15 anos
DADOS DA TURMA;
NÚMEROS DE ALUNOS:24 anos
39
FAIXA ETÁRIA:6 á 7 anos
BAIRRO ONDE RESIDEM:Glória,Flamengo,Botafogo
RESPOSTAS:
1-A função principal é educar e preparar para a longa vida escolar.Isso inclui
a parte social,afetiva e cognitiva da criança.Devemos ter conhecimento para
proporcionarmos o desenvolvimento efetivo da criança.
2-O desenvolvimento moral é extremamente importante para a formação da
personalidade do indivíduo.A criança exposta a vários tipos de
comportamentos e aos poucos vai se identificando com certas atitudes e vai
assimilando princípios que ela acredita ou que são “impostos” pelos outros.
3-Educar moralmente engloba todas atitudes que assumimos frente as
crianças e tudo que exigimos que elas devem entender como certo e errado.
4-A diversidade cultural e social das crianças é o mais complicado de se
lidar, na hora de mostrar o que é legal e o que não é.Muitas vezes a nossa
vivência,nossas crenças não chegam nem perto da família da criança.Ai fica
difícil!
40
BIBLIOGRAFIA
André,M. & Ludke,M.:A pesquisa em educação:Abordagens Qualitativas.SP. Ed.Pedagógica e Universidade,1986
Bee,H;A criança em desenvolvimento,3ª edição,SP,Editora Hamburg,1984.
Biaggio,A.M.B. (1998)Introdução à teoria do julgamento moral de Kohlberg,in:Nunes,M.L.T.(org),Moral & Tv.Porto Alegre;Evangraf.
Brugges,W;Dicionário de Filosofia.Trad.Antônio P. de Carvalho.SP.Ed.Herde,1962
Cabral,A;Dicionário de Psicologia e Psicanálise.2ª edição,RJ,Ed.Expressão e Cultura,1971
Costa,J.F.;A ética e o espelho da cultura.RJ,Ed.Rocco,1994
Frankena,W.K.;Ética.RJ,Zahar editores;1975
Freitag,B.;O indivíduo em formação.SP,Ed.Cortez;1994.
Kohlberg,L. & Turiel,E;”Moral development and moral education” in Lesser,G.S.(ed);Pshychology and Educational Practice,Glenview Scott,Foresman and Company;1971
“The cognitive-developmental approach to moral education”,in Phi-Delta-Kappan;1975.
La Taille,Y;Limites:três dimensões educacionais.1ª edição,SP,Ed.Ática,1994.
Oliveira,M.K.,Dantas,H.;Piaget,Vigotsk.Wallon-Teorias psicogenéticas em discussão.SP,Summs Editoral Ltda,1992
Piaget,J.,Estudos sociológicos.1ª edição,RJ,Ed. Forense,1973.
O julgamento moral na criança.SP,Ed.Mestre Jou,1977,1ªedição:Trad.Elzon.L.
O julgamento moral na criança.SP,Summus Editorial ,1994(1932)
Para onde vai a educação?.RJ,Ed.José Olympio,1978.
Psicologia e pedagogia.RJ,Ed. Forenc,1982.
Puig,J.M.;A construção da personalidade moral.SP,Ed. Ática,1998.
41
top related