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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDESPÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA SUPERIOR
NOVA PERSPECTIVA DA REALIDADE EDUCACIONALBRASILEIRA O ARTIGO 52 INCISO II, DA LEI 9394/96 -
SUA FINALIDADE E EFETIVIDADE
Por: Giselle Maria Gomes Lopes de Siqueira
Orientador:Prof. Ms. Marco A. Larosa
Rio de Janeiro, 2001
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDESPÓS-GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA SUPERIOR
NOVA PERSPECTIVA DA REALIDADE EDUCACIONALBRASILEIRA O ARTIGO 52 INCISO II, DA LEI 9394/96 -
SUA FINALIDADE E EFETIVIDADE
Monografia final apresentadano Curso de Especialização emDocência Superior daUniversidade Cândido Mendessob orientação do ProfessorMarco Larosa, orientador.
Por:Giselle Maria Gomes Lopes deSiqueira
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AGRADECIMENTOS
Ao meu PAI do Céu , que me concedeu um grande pai na terra,Amado e idolatrado,Amigo, confidente, orientador e também professor,Cardiologista de profissão,Professor de coração,Com amor e dedicação,A vida inteira se doou,À família, aos pacientes e aos discentes.
Aos professores: Dr. Luiz de Gonzaga de Britto Nobre e à professora (futuradoutora) Elizabeth da Silva Gomes de Almeida.
Ao primeiro por ser responsável pela minha maturidade acadêmica desde aminha adolescência. Meu padrasto por imposição e mais um pai porconvicção. Militar, professor, e sobretudo educador. Sempre orientou-me paraexercer o pensamento crítico/reflexivo, defendendo a ideologia de umasociedade justa, igualitária, participativa em oportunidades e condições.
À professora Elizabeth que me ensinou a aprender. Profissional que fazdiferencial no ensino público fundamental, honrando e enobrecendo adocência brasileira.
À William OliveiraO homem que escolhi amar.
Aos meus filhos Brenno e Bernardo, que me ensinam a difícil arte de educaramando.
À Rosa Maria Nobre, minha mãe, exemplo de dedicação, amor e entrega.
Ao meu professor e orientador Marco A. Larosa, pela paciência orientandosobre os novos caminhos do aprendizado.
- III -
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DEDICATÓRIA
À minha avó, Maria Luíza do Santos,noventa anos,nove décadas de amor e dedicação,à todos nós doando-se em coração,dedico essa monografia e Pós-graduação,e com alegria e emoção,meu eterno amor e gratidão.
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PENSAMENTO
Quem são esses filhos do mundo?
Quem são esses filhos do mundo, muitas vezes , imundos, sem identidade, nem
personalidade?
Quem são esse filhos do mundo esquecidos por muitos, amparados por poucos?
Quem são esses filhos do mundo, falsos cidadãos, eis que excluídos de quase tudo!
E quem são essas filhas do mundo, que diante de tantas mazelas, muitas, nem mais
donzelas?
Quem são elas?
Filhas da mãe ou mães de ninguém também?
Quem são realmente esses tais filhos do mundo?
Estigmatizados, posto que marginalizados,
Sem educação por carência de instrução,
Sem nenhuma opção.
Esses filhos do mundo são os excluídos; os esquecidos que vivem, não convivem,
E quem são os outros filhos do mundo?
Os filhos do futuro, do progresso, que têm nome de pai e de mãe..
Os filhos da oportunidade, boa qualidade, com igualdade,
São lembrados,
Esses são realmente amados .
Pretensos personagem reais ou virtuais dessa realidade,
Feita de desigualdades, injustiças e falsas ideologias,
Engodo da vida, dor da maioria,
Quantas realidades distintas! Quanta verdade nessa diversidade!
Tal disparidade poderia ser minimizada.
E quem sabe, com mais igualdade haja mais nacionalidade?
Apreciaria, quem sabe, em um futuro , um dia,
Aos excluídos, pelo menos um pouco mais de cidadania.
Giselle Siqueira
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RESUMO
A presente monografia pretende tratar de um tema atual de grande relevância para a
estrutura educacional em nível superior. Trata-se da exigência inserida no art. 52 inciso II
da atual Lei de Diretrizes e Bases, que determina que: “um terço do corpo docente, pelo
menos, com titulação acadêmica de Mestrado ou Doutorado”, a partir de oito anos a
contar da data da publicação da Lei, segundo exigência do art. 88 § 2º. Exige ainda o artigo
52 no seu inciso III , que um terço do corpo docente trabalhe e se dedique à instituição em
tempo integral. Esse prazo expira-se portanto em dezembro de 2004.
Pretende-se analisar e questionar a exigência da norma, em confronto com a
realidade sócio-educacional brasileira. A nova Lei de Diretrizes e Bases foi formulada sob a
égide de uma Constituição qualificada como Democrática e Liberal, instaurando um
verdadeiro Estado de Direito. O trabalho vai tentar subsumir o desiderato da lei à realidade
brasileira com todos os seus contornos, paradoxos e complexidades.
- VI –
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METODOLOGIA
O tema proposto possui como referencial análise de livros, jornais, revistas,artigos, sites na internet e pesquisa de campo através de questionáriosrespondidos por docentes, visitas à universidades, bem como os estágiosrealizados em duas instituições superiores de ensino privado e uma instituiçãopública de nível fundamental, que serviram como metodologia para aelaboração dos problemas apontados. A discussão tem como ponto de partidaa praxis educacional do ensino na sua totalidade, mormente no ensinosuperior.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA
ANEXOS
ÍNDICE
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o art. 52 inc.II da Leide Diretrizes e Bases; sua prática e efetividade. Entender se a aspiraçãoproposta pela lei está realmente sendo implantada na rede educacional. Istoporque uma lei possui legitimidade e legalidade no plano jurídico uma vezpromulgada, sancionada e publicada, mas nem sempre alcança eficácia noplano social. No contexto sócio-político-econômico os interesses da sociedademuitas vezes não são satisfeitos. A consequência é que a sociedade torna-seorfã das suas necessidades e aspirações. A nova LDB foi criada como leiinfra-constitucional respaldada e amparada por uma Constituição Federalprogressista . A lei quando é criada se propõe a regularizar e estabilizar aordem social de um país no plano jurídico. A sua elaboração pelo PoderLegislativo (nesse cado federal), através do Congresso Nacional, baseia-se emlongos estudos dos fatos sociais. Estes, quando elevados em nível jurídico,propõem-se a produzir equilíbrio nas relações sociais.
A proposta da monografia é saber através de pesquisas de jornais,revistas, sites na internet, entrevistas, literaturas específicas, se a norma doart. 52,inc.II da LDB no que tange à preparação do corpo docente superiorestá sendo cumprida e implementada pelas instituições superiores. A questãoa ser respondida é se a exigência legal do artigo supra está em vigência naprática educacional .
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CAPITULO IHISTÓRICO DO ENSINO NO BRASIL
A questão educacional brasileira remonta desde o início da colonização. Como
marco histórico podemos citar a chegada dos primeiros jesuítas em 1549, chefiados pelo
Padre Manoel de Nóbrega. Eles cumpriram mandato do Rei de Portugal D. João III, onde
formularam o chamado “ Regimentos”, que pode ser considerado a nossa primeira política
educacional. O ensino jesuíta tinha apoio e subsídio da coroa portuguesa. Esse tipo de
educação ficou conhecida como “educação pública religiosa” e preponderou até 1759,
quando os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal.
Pombal instalou uma nova concepção educacional, que ficou conhecida como “as
reformas pombalinas da instrução pública”. Uma característica muito importante dessa
reforma foi que se contrapôs à idéia de educação religiosa. Com influência do Iluminismo
implantou uma educação laica, bem como, transferiu a educação para responsabilidade do
Estado. A educação continuou a ser pública mas agora estatal e não mais religiosa.
Importante destacar, que em um primeiro momento, houve isolamento cultural da
Colônia. Havia o receio de idéias novas implantadas dentro da Colônia, que obviamente
não era do interesse da Metrópole. No entanto, em meados do sec. XVIII foi inexorável a
influência do Iluminismo e seus pensamentos liberais.
Oficialmente com a proclamação da República houve a separação entre a Igreja e o
Estado em relação à Educação. Durante os primeiros anos da República a educação
permaneceu desorganizada e descentralizada. O ensino primário estava sob a
responsabilidade das antigas províncias transformadas em estados federados com a
República.
Apenas no início do século passado, na década de 20, o analfabetismo é visto como
uma “vergonha nacional”. Esse quadro deu-se em razão da industrialização e urbanização,
onde ocorreram pressões sociais em torno da educação pública. O quadro histórico
educacional começa a se efetivar, quando em 1930 (após a vitória da Revolução) é criado
o Ministério da Educação e Saúde. A partir desse momento, a educação passa a ser
considerada de ordem nacional. Senão vejamos:
- 1931 – as reformas do Ministro Francisco Campos;
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- 1932 – o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova;
- 1934 – a Constituição exigia a fixação das diretrizes da educação nacional de
competência da União, segundo o que dispunha o art. 5º incisoXIV;
- 1942/1946 – foram criadas várias leis orgânicas do ensino pelo Ministro da Educação
Gustavo Capanema. Exemplificando, foi nesse período que foram criados o SENAI e o
SENAC;
- 1946 – A Constituição de 18 de setembro foi considerada liberalista e nesse contexto
foi definido no bojo das suas leis, que a educação era um direito de todos. Foi a partir
do que a Constituição de 46 dispunha sobre educação, que em 1947 inicia-se a
elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que no entanto, só foi
aprovada treze anos depois em 1961 com a Lei 4024/61.
As primeiras universidades no Brasil:
- Durante o período Colonial e depois no Império, o Brasil não teve universidade. Em
1592 os jesuítas tiveram uma iniciativa nesse sentido, mas receberam a desaprovação
do Papa e em 1669 a Coroa portuguesa proibiu que o Colégio da Bahia fosse elevado a
categoria de Universidade. O marco histórico para o início da implantação do ensino
superior no Brasil foi a transferência da Corte portuguesa em 1808. Nesse primeiro
momento não tivemos efetivamente instauração do ensino superior. O que ocorreu é
que foram estabelecidas no país as primeiras instituições isoladas de ensino superior
nos moldes de Faculdades, para atender às profissões de oficiais militares, médicos e
engenheiros. D. João VI criou as seguintes Faculdades dos cursos acimas descritos:
- 1808 – Escola de Cirurgia no Hospital Real na Bahia e instituiu a Real Academia de
Guardas Marinhas;
- 1809 – Escola de Medicina e Cirurgia no Hospital Militar também na Bahia e em
Pernambuco criou uma Cadeira de Cálculo Integral, Mecânica e Hidrodinâmica;
- 1810 – Real Academia Militar que foi convertida em 1857 em Escola Politécnica;
- 1812 – Laboratório Químico-Prático na Corte do Rio de Janeiro.
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- 1827 - Faculdade de Direito em Olinda . O ensino jurídico teve grande relevância
nessa época pela formação de profissionais como magistrados, promotores públicos,
advogados, professores, administradores, jornalistas e políticos.
- A primeira Universidade brasileira foi criada em 1912 no Paraná. A segunda
Universidade foi instalada no Rio de Janeiro em 1920 e em 1927 e 1934 as
Universidades de Minas Gerais e São Paulo, respectivamente;
- 1940 – Surge a primeira universidade particular brasileira, a Pontifícia Universidade
Católica (PUC), no Rio de Janeiro.
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CAPÍTULO IIRESUMO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DA DÉCADA DESESSENTA AOS DIAS DE HOJE
A primeira LDB (Lei 4024/61) foi criada na década de sessenta antes do Golpe
Militar e consequência de um trabalho que tramitou treze anos até finalmente ter sido
promulgada. A idéia da implantação de uma lei educacional que tratasse não somente das
diretrizes, mas também das bases da educação brasileira nasceu sob o império da
Constituição Federal de 1946, que tinha na sua essência idéias liberais, resultado do
momento político e econômico que o país atravessava. Só para efeito de referência, com a
crise do café, o país precisava começar a produzir seus produtos manufaturados para sair da
sua base econômica que era essencialmente monoculturista.
Com a industrialização e consequentemente menos importações, o país passa a
adotar uma ideologia nacionalista. Industrialização e nacionalismo praticamente tornaram-
se sinôminos. Quanto a questão econômica a riqueza concentrou-se nas mãos de poucos;
os detentores dos meios de produção capitalista. Os assalariados continuaram a ter
participação ínfima no processo de distribuição da riqueza; as desigualdades acentuaram-se
na medida que os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres. A migração para os
centros urbanos aumentou significativamente na medida que a propriedade da terra foi
negada àqueles que nela trabalhavam. Portanto, sem terra, sem saneamento, saúde e
condições básicas no campo, o homem rural migra em direção a cidade . A consequência é
que aumentaram os problemas urbanos, pois as cidades ficaram “inchadas” repentinamente
sem infra-estrutura para abarcar o intenso fluxo populacional. O que se deu foi que esse
contingente de migrantes foi viver em cortiços, favelas, ruas ou sob viadutos.
Concomitantemente ao empobrecimento e a marginalização do povo brasileiro, as
multinacionais se apoderaram de vários setores da economia nacional. O processo de
industrialização foi uma atividade bastante lucrativa pra os empresários internacionais. A
dívida externa brasileira crescia vertiginosamente. O momento que antecedeu ao Golpe era
de instabilidade política e social o que propiciou a tomada do poder pelas Forças Armadas.
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O Golpe de l964 provocou uma ruptura política. Na década de sessenta já não
dependíamos tanto da importação de manufatura dos países estrangeiros, pois a meta da
industrialização estava sendo atingida. Essa ruptura aconteceria ou no nível político ou
econômico, pois havia uma contradição entre ambos. A ruptura política se deu para
preservar a ordem sócio-econômica. Foi nessa contradição entre modelo econômico e
político que a educação encontra uma brecha para novas perspectivas . Exemplos dessas
novas possibilidades encontram-se elencados abaixo:
- Movimento de Educação de Base;
- Campanhas de alfabetização de adultos;
- MOBRAL criado com a tentaiva de erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos.
Nesse momento o índice de analfabetos era de 32,05%. Mas apesar de ser criado na
década de sessenta, só se efetiva a partir da década de setenta;
- Decreto 68.908 que tenta resolver a crise dos chamados “excedentes” com a criação
do vestibular classificatório.
Mas em 1968 houve uma reforma no ensino superior através da Lei nº 5540/68 e
em 1971 tivemos a reforma do 1º e 2º grau com a Lei nº 5692/71.
A lei 4024/61 embora tivesse a pretensão de tratar das diretrizes e das bases
educacionais na verdade limitou-se a tratar da organização escolar. A afirmação se
depreende da interpretação de seus artigos. Os verdadeiros problemas educacionais
permaneceram intocados e a educação desejada pelos interessados na mudança sequer foi
considerada. A educação foi usada como aparelho reprodutor das relações sociais vigentes.
Infelizmente os objetivos educacionais não foram realmente efetivados e trazer para a
presente monografia todas as questões sociais, políticas e ideológicas, que culminaram
com o Golpe Militar em 31 de março de 1964 demandaria um trabalho mais acurado e
complexo. A contextualidade do momento político serve apenas para não deixar o trabalho
sem referência histórica.
Como a Lei 4024/61 não preencheu as necessidades educacionais da época
tivemos duas reformas posteriormente. Vale ressaltar rapidamente que a reforma do
ensino superior em 1968 foi realizada “de cima para baixo”. O governo como que
raciocinando: “ Façamos a reforma antes que outros o façam” apressou-se em desencadeá-
la. Os principais agentes representantes dos anseios populares: docentes, discentes e demais
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membros da sociedade, não tiveram participação, que portanto foi realizada pela camada
dominante; a elite. Como exemplo, podemos constatar o que disse Marilena Chauí a um
jornal: “ Abrir vagas, ampliar o corpo docente, aumentar verbas e recursos, criar cursos
básicos para a integração de toda a universidade, pôr um fim na tirania da cátedra, instaurar
os departamentos com seus colegiados. Fora com a universidade elitista e de classe/
Universidade crítica. Livre, aberta”. (CHAUI, Marilena. Folha de São Paulo, 22-01-84).
Após o Golpe de 64 a Universidade passa a ser o lugar das reivindicações
reformistas, verdadeiro foco de resistência ao regime instaurado em 1964. Com a
implementação do modelo econômico capitalista a escolarização caracteriza-se como a
principal via de ascensão social. A classe média pressiona para que haja mais
“democratização” do ensino superior.
A reforma do ensino superior ocorrida no ano de 1968 foi feita pelo Governo, ante
pressões dos estudantes que nesse período ocuparam as Universidades, criaram a União
Nacional dos Estudantes (UNE), fizeram passeatas, manifestações de atos públicos e
instalaram cursos pilotos. Os principais articuladores do movimento de reforma
universitária, estudantes, professores universitários e intelectuais propuseram programas de
reestruturação da universidade. Importante destacar ,por exemplo, que havia aspirações da
universidade tornar-se efetivamente centro de pesquisa e ensino. Uma das lutas dos
estudantes universitários foi em relação ao aumento do número de vagas nas universidades
públicas. Passava-se no vestibular ao atingir-se a nota mínima, mas não havia oferta de
vagas para todos. Eram os chamados “excedentes”. O Decreto 68.908 supra-citado foi
criado justamente para tentar resolver a questão.
Vale destacar no presente trabalho a diferença na essência da Lei 4024/61 que
possuía um ideal liberalista e as reformas do ensino nas Leis 5540/68 e 5692/71, que eram
tecnicistas. Deixa-se de primar tanto pela qualidade e passa-se a valorizar mais a
quantidade. A grande mudança operada pelas reformas nas leis 5540/68 e 5692/71 foram de
ordem política com o objetivo de garantir a continuidade sócio-econômico do país. A
reforma universitária só garantiu e ratificou o domínio da classe dominante e de uma
estrutura educacional superior voltada para a minoria . Em 1969 a Reforma Universitária
começou a ser posta em prática. Lembremos a criação do vestibular classificatório, onde só
seriam aprovados tantos candidatos quantas fossem as vagas. Deixa de existir os
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“excedentes”. Aumenta-se o número de escolas superiores particulares, pois até então o
ensino superior possuía a hegemonia do setor público.
II . 1 - RESUMO CRONOLÓGICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL (PERÍODOS DE 1937 A 1955 E 1955 A 1968)
1937 : Constituição (Estado Novo)
1942/3 : Reforma Capanema
- Decreto 4073 - Lei Orgânica do Ensino Industrial
- Decreto 4048 – Criação do SENAI
- Decreto 4244 - Lei Orgânica do Ensino Secundário
- Decreto 6141 – Lei Orgância do Ensino Comercial
1945: Queda de Getúlio Vargas - Governo Provisório
1946 :
-Decreto 8529 – Lei Orgânica do Ensino Primário
-Decreto 8530 – Lei Orgânica do Ensino Normal
-Decreto 8621 – Criação do SENAC
-Decreto 9613 – Lei Orgânica do Ensino Agrícola
-Constituição em 18 de setembro
1947: Surgimento do Ensino Supletivo
1961: Lei 4024 – “Carta de Libertação da Educação Nacional”
1962: Instalação do Conselho Federal de Educação e Aprovação do Plano Nacional de
Educação (1962 – 1970)
1964:
-Decreto 53465 – Programa Nacional de Alfabetização
-Acordo MEC-USAID
-Instituição do Salário Educação
-Lei 4464 – Lei Suplicy » Determinação da ilegalidade das instituições estudantis.
1966:
-Decreto-Lei nº 53 » Determina mudança na organização das Universidades e cria
um órgão central com atribuições deliberativas para supervisão.
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- Decreto – Lei 252 – Reestruturação das Universidades Brasileiras.
1968: Lei 5537 - Criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Complementada pelo Decreto-lei nº 872.
- Decreto 63341 – Estabelece critérios para a expansão do Ensino Superior.
- Decreto-lei nº 405 – Fixa normas para um incremento das matrículas do Curso
Superior.
- Lei 5540 – Institui princípios para organização e funcionamento do Ensino Superior e a
sua articulação com a escola média.
1968 (13 de dezembro) – Ato institucional nº 5 (AI 5)
1969 « Decreto-lei 477- 26/02/69 – Reflexo do AI 5 no Sistema Educacional,
impedindo a organização dos estudantes.
II . 2 - BREVE COMENTÁRIO DO ENSINO DE 1º E 2º
GRAUS E A REFORMA - LEI Nº 5692/71
O governo tornou o 2º grau obrigatoriamente profissionalizante, por isso, escrevemos
que a reforma possuía na sua essência um aporte tecnicista procurando desviar os alunos
do ensino universitário através da expedição de um diploma técnico. A proposta era a
formação rápida de profissionais para o mercado de trabalho. Necessitava-se da
profissionalização rápida , com mão-de-obra especializada para um mercado nacional em
expansão. Havia preocupação com a quantidade como já escrevemos, relegando a
qualidade da formação profissional da maioria. A ideologia era integrar o sistema de ensino
técnico à realidade social do país. Marilena Chauí foi entrevistada pela Folha de São Paulo
e entre outras coisas disse: “ ...escola-comunidade propunha transformar a escola em
empresa encarregada de reproduzir com sucesso o capital.” ( Chauí, Marilena. Folha de São
Paulo,6 de julho de 1977). Importante ressaltar que essa reforma também foi realizada
sem a participação popular. O projeto de lei teve que ser submetido ao Congresso para
apreciação da matéria no prazo de quarenta dias, sob pena de ser considerado
automaticamente aprovado pelo decurso de prazo. É irônico quando comparado ao prazo de
tramitação da Lei 4024/61 que durou treze anos!
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Duas considerações a respeito da lei reformadora: primeiro quanto aos objetivos
gerais da educação nacional foram mantidos os mesmos estabelecidos pela Lei nº 4024/61 ,
em relação ao ensino de 1º e 2º graus, vale transcrever o que prescrevia o artigo 1º da
5692/71: “ O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a
formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-
realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania”. O ensino
do 1º grau destinava-se á formação geral, já o de 2º grau era obrigatoriamente
profissionalizante sendo posteriormente reformado pela Lei nº7044/82. No entanto, a partir
de 1983, por força da Lei nº 7044/82 os estabelecimentos de ensino ficaram com direito a
escolher se ministrariam ensino de 2ºgrau profissionalizante ou educação geral.
II . 3 - RESUMO GERAL DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA DÉCADA DE SESSENTA AOS DIAS ATUAIS
- Lei nº 4024/61- Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;
- Lei nº 5540/68 - Lei da Reforma Universitária;
- Lei nº 5692/71 - Lei da Reforma do 1º e 2º graus;
- Lei nº7044/82 - Determina que o 2º grau pode ser direcionado para a educação geral ou
para o ensino profissionalizante;
- Estrutura do ensino:
- 1º grau – educação geral (mínimo de 8 anos);
- 2º grau – profissionalizante ( ¾ anos) » auxiliar técnico em 3 anos e técnico em 4 anos
ou formação geral;
- Ensino superior – requisitos : conclusão do 2º grau e aprovação no vestibular.
- Lei nº 9394/96 – Atual Lei de Diretrizes e Bases ( LDB);
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CAPÍTULO III :A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEI Nº 9394/96 (LDB)
III . 1 – CONSIDERAÇÕES RELEVANTES SOBRE A EDUCAÇÃO NA ESSÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de
1988, inicia-se com os fundamentos do Estado Brasileiro elencando os direitos civis,
políticos e sociais dos cidadãos. A LDB, nasceu sob a égide da atual Constituição com a
proposta de um novo modelo educacional no Estado Democrático de Direito, cujos
fundamentos constitucionais dispostos no artigo 1º são:
I) soberania;
II) cidadania;
III) dignidade da pessoa humana;
IV) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V) pluralismo politico;
Constituem objetivos fundamentais: “construir uma sociedade livre, justa e
solidária; garantir o desenvolvimento nacional; irradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos
de origem raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” (art. 3º da CF/88).
Tudo com base em uma sociedade democrática e o reconhecimento dos sujeitos de direito.
A conquista desses direitos sociais constitui um longo e árduo processo
político/democrático. A Educação faz parte do projeto nação está disposta no Título VIII -
Da Ordem Social - Capítulo III que trata: social da “DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E
DO DESPORTO”. Na seção I encontramos dez artigos dispondo sobre os novos caminhos
ambicionados para a educação brasileira permeados pelos mesmos objetivos, nobres e
altruístas, que nortearam toda a essência da Carta Magna.
“Nós representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos
direitos sociais e individuais , liberdade, segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
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preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos sob a proteção de
Deus , a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”.
O texto acima foi extraído do preâmbulo que inaugura o novo estado brasileiro,
posto que, juridicamente, a cada nova Carta Magna, tem-se início um novo Estado
jurídico. As palavras em negrito foram destacadas propositadamente, pois a educação
brasileira está inserida juridicamente no corpo da Ordem Social em nível constitucional.
Hodiernamente encontramos os objetivos educacionais brasileiro, dispostos nos dez
artigos constitucionais, amplamente contemplados na Lei 9394/96 distribuídos em noventa
e dois artigos. Trataremos novamente do assunto no capítulo IV, item IV. 2 . No mesmo
ano em que houve a promulgação da atual Constituição surgiu o primeiro projeto completo
de uma nova LDB. Um breve resumo da tramitação do projeto de Lei nas duas casas:
1ª etapa na Câmara dos Deputados:
- em 1988 « projeto Otávio Eliseo;
- em 1989 « substitutivo Jorge Hage;
- em 1990 « projeto substitutivo Sandra Cavalcante;
- em 1991 « projeto substitutivo Angela Amin;
- em 1993 « aprovação do Projeto pela Câmara.
2ª etapa no Senado Federal:
- 1993 « projeto substitutivo Cid Sabóia;
- 1996 « projeto substitutivo Darcy Ribeiro – aprovado no Senado no mesmo ano.
Da Lei nº 9394/96:
A lei está estruturada em nove títulos:
- Título I Da Educação art1º
- Título II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional art.2º e 3º
- Título III Do Direito à Educação e do Dever de Educar art.4º a 7º
- Título IV Da Organização da Educação Nacional art.8º a 20º
- Título V Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino art. 21º a 60º
- Título VI Dos Profissionais da Educação art. 61º a 67º
- Título VII Dos Recursos Financeiros art. 68º a 77º
- Título VIII Das Disposições Gerais art. 78º a 86º
24
- Título IX Das Disposições Transitórias art. 87º a 92º
Normalmente os projetos que envolviam o tema educacional nasciam da iniciativa do
Poder Executivo. A atual LDB, ao contrário, teve iniciativa do Poder Legislativo.
III . 2 -DA EDUCAÇÃO SUPERIOR: ARTIGOS 43 A 57 DA LDB
Artigo 43 « Trata das finalidades da educação superior. O legislador preferiu tratar das
finalidades da educação superior à tratar dos objetivos. Importante também ressaltar que a
educação superior entrou para o corpo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Artigo 44 « Preceitua a respeito da organização da educação superior. São quatro
categorias de cursos:
a) seqüenciais;
b) graduação;
c) pós-graduação;
d) extensão.
Em relação ao ítem “a” ou seja cursos seqüenciais constitui uma inovação da lei. Esses
cursos seqüenciais foram regulamentados pelo Parecer CES 672/98 do CNE transformado
na Resolução nº 1 de 27 de janeiro de 1999. Os alunos devem preencher as exigências que
a instituição que oferecer os cursos determinar. Há necessidade de conclusão do ensino
médio. Esses cursos conferem qualificação acadêmica, técnica ou profissional. Os alunos
que finalizarem o curso com aproveitamento receberão um diploma ou um certificado
dependendo do curso seqüencial : de formação específica ou complementar de estudos cuja
destinação pode ser coletiva ou individual.
Artigo 45 « São instituições de ensino superior:
a) Universidades;
b) Centros Universitários;
c) Faculdades Integradas;
d) Institutos Superiores ou Escolas Superiores.
A educação na sua essência é pública. Quando ministrada por instituições privadas estão
permissionárias de um serviço público. No capítulo VI trataremos com mais profundidade
25
dos critérios de avaliação. O Ministério da Educação editou, através do Decreto nº 2.026
de 10 de outubro de 1996, o Exame Nacional de Cursos (O Provão), que estabelece os
processo de avaliação dos cursos das instituições de ensino superior. Para avaliação dos
cursos de Pós-Graduação em sentido estrito a responsabilidade cabe ao CAPES. Há ainda
uma portaria editada pelo MEC de nº 878 de 30/07/97 fixando o prazo de até 30 de
setembro de cada ano para as Instituições de Ensino Superior tornarem públicas as
informações sobe as condições do seu ensino.
Artigo 46 « A instituição de ensino superior deverá passar por três critérios para poder ter
autorização e reconhecimento para se estabelecer:
1º) autorização para seu funcionamento;
2º) reconhecimento;
3º) credenciamento.
Podemos citar como exemplo de instituições de nível superior que estão utilizando formas
avançadas de critérios de avaliações as Universidades como a UnB, UNICAMP e USP.
Artigo 47 « O ano letivo do ensino superior terá duração mínima de 200 dias letivos.
Artigo 48 « Uma inovação da lei no § 1º determina que a própria instituição pode registrar
seus diplomas.
Artigo 49 « Em relação à tranferência só é possível em cursos regulares, ou seja, nos cursos
de graduação e pós-graduação, já nos cursos seqüenciais não é possível.
Artigo 50 « Neste artigo encontra-se uma aspiração social do papel que a universidade
pode e deve ocupar no seio da sociedade. Trata-se da possibilidade de qualquer pessoa,
mediante processo seletivo, que não necessariamente o vestibular, estando apto, poderá
matricular-se em disciplina isolada. Seria um aluno “eventual” que busca novos
conhecimentos beneficiando-se profissionalmente sem ter que parar de trabalhar.
Artigo 51 « Importante questão educacional tratada neste artigo, cuja proposta espera-se
que seja realmente alcançada. O artigo prescreve a necessidade de articulação entre os
diferentes níveis de ensino: fundamental, médio e superior. Principalmente do ensino médio
com o superior, onde as universidades informar-se-ão sobre as diretrizes adotadas pelo
sistema de ensino médio. Existem críticas no sentido de que o ensino superior vem se
distanciando do ensino médio. Atualmente o ensino médio com formação geral para quem
pretende cursar o nível superior tem que ser feito em cursinhos especializados em macetes
26
para admissão no vestibular. Prioriza-se assim o acesso ao ensino superior em detrimento à
construção do conhecimento. Uma proposta progressista seria o diálogo entre os
professores de ensino superior com professores de ensino médio freqüente, não apenas para
tratar de vestibular, mas da educação como um todo (escreveremos novamente no cap. IV).
Artigo 52 « Este artigo é o tema principal da presente monografia e trata de três ítens
muito importantes:
a) A universidade como instituição pluridisciplinar = no inciso I a universidade
desempenha função social na medida que trata de temas e problemas relevantes
(lembrar a finalidade proposta pelo artigo 43 inciso VI).
b) Aqui desempenha um grande avanço no quadro de corpo docente das instituições
superiores quando determina que, pelo menos um terço, do corpo docente tenha
titulação em Mestrado ou Doutorado.
c) Tempo integral = representa quarenta horas semanais de trabalho dedicados à
instituição de ensino através do ensino, pesquisa e extensão.
d) O único parágrafo do artigo trata de outra grande inovação na sistemática do ensino
superior. Representa a possibilidade da criação de universidades centradas em um
determinado campo do saber específico, quer dizer, universidades especializadas.
O prazo para implantação das normas dos incisos II e III supra é de oito anos, segundo
disposição legal do artigo 88§2º.
Artigo 53 « Neste artigo é tratado uma das questões mais debatidas pelas universidades;
sua autonomia. O assunto encontra amparo constitucional no artigo 207 da CF/88. Essa
autonomia é uma necessidade e uma conquista principalmente no que se refere à gestão
financeira e autogestão das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Vale uma resssalva ;
que os dez incisos do artigo dispondo sobre autonomia não diferencia instituição pública
ou privada.
Artigo 54 « Aqui se tratou propriamente do ensino superior público cujos recursos
financeiros são provenientes dos entes públicos. Para tal, a lei prevê a criação de um
estatuto jurídico especial. O estatuto será o documento jurídico da conduta institucional e
regulará os recursos humanos e financeiros da instituição.
Artigo 55 « Trata do financiamento para a manutenção das instituições federais de ensino
que é responsabilidade da União na forma do § 1º do artigo 211 da CF/88 e artigo 9º inciso
27
II da LDB, cabendo à União a obrigação de organizar e financiar o sistema federal de
ensino.
Artigo 56 « O disposto no artigo encontra-se elencado constitucionalmente no artigo 206,
inc.VI da CF/88. Dispõe a lei a respeito da gestão democrática no ensino público. O
parágrafo único trata da ocupação no percentual de setenta por cento do docentes nos
órgãos colegiados de cada instituição, inclusive das comissões. Essa posição de hegemonia
se deve ao fato de que é o corpo docente o responsável pela qualidade do ensino ministrado
na instituição da qual faz parte .
Artigo 57 « Dispõem sobre a carga horária mínima do professor em sala de aula. Não
esquecer que o artigo 52 no seu inciso III determina que 1/3 do corpo docente trabalhe em
regime integral.
29
CAPÍTULO IVENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO
Não podemos tratar da Educação no ensino superior que está no ápice da pirâmide
educacional sem uma breve análise da base desta estrutura do ensino que é a educação
básica.
A nova Lei não poderá oferecer nível mais elevado de ensino enquanto os níveis
inferiores não forem atendidos plenamente. Seus princípios políticos e filosóficos estão
voltados para uma aprendizagem que não vise somente o aluno, mas também o professor;
que como educador deverá ter um compromisso político, ético, profissional. Uma grande
preocupação da LDB é desafiar o seu corpo docente e discente a encontrar seu próprio
caminho através da conscientização de se fazer cidadão. Isto porque é a primeira vez, que
uma lei estabelece as obrigações do professor, definindo as atividades inerentes à docência.
A educação escolar pela atual LDB está dividida em educação básica e educação
superior. A educação básica, por sua vez, se subdivide em educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio. A Educação infantil é a primeira etapa da educação básica e
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, sendo
oferecida em creches (crianças até 3 anos de idade) e pré-escolas (crianças de 4 a 6 anos).
O ensino fundamental terá por objetivo a formação básica do cidadão. O artigo 32
possui quatro incisos e quatro parágrafos estabelecendo os critérios a serem adotados para
essa fase da educação básica. . O ensino fundamental, dever do Estado, é público, gratuito
e obrigatório, com duração mínima de oito anos. Seu objetivo é a formação básica do
cidadão.
O ensino médio finaliza a etapa da educação básica e a princípio habilita o
educando a ter capacidade para atuar inicialmente no mercado de trabalho. Portanto deve se
empreender uma relação intensa de diálogo entre professores do ensino médio e superior
como forma de possibilitar concretamente o ingresso cada vez maior de estudantes nos
bancos universitários. Há necessidade de uma relação efetiva em prol do conhecimento
científico como prioridade da educação, pois atualmente ensino médio é sinônimo de
vestibular. Esse diálogo deve passar por questões como: conteúdos das disciplinas,
metodologias, avaliação dos materiais didáticos do ensino médio. Não existem simpósios,
30
reuniões, congressos, seminários, entre o corpo docente de ensino médio e superior para
tratar destas questões. Os encontros que acontecem são apenas para tratar do vestibular. O
papel fundamental do ensino médio deve ser o estabelecimento concreto entre o
conhecimento teórico e a prática do exercício profissional, pois sua finalidade é preparar o
educando para a competição no mercado de trabalho. Os art. 35 e 36 estabelecem a
finalidade e o currículo do ensino médio. A metodologia adotada e as avaliações devem
estimular a iniciativa do estudante levando-o a ter cada vez mais vontade de aprender e
evoluir.
Infelizmente vamos abordar por vezes no presente trabalho que a educação
brasileira é altamente seletiva e excludente em todos os seus níveis. Conforme o grau do
ensino a seletividade e exclusão tornam-se maiores principalmente no nível superior, mas
ainda no ensino fundamental percebemos essas características. Os princípios elencados nos
artigos 3º da LDB e 206 da CF/88 teoricamente conferem a todos igualdade no ingresso na
escola. O inciso I do art. 3º da LDB dispõe: “ igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola”. Ainda como princípio constitucional podemos lembrar o artigo 5º
da CF/88 caput que determina: “ todos são iguais perante a lei...”. Apesar de percebermos
um avanço gradativo do sistema educacional que conta com parceria da sociedade, a teoria
do ensino brasileiro ainda não alcançou plenamente as metas e objetivos reais. Em anexo à
presente monografia colhemos material retirado de jornais e revistas como exemplos dessa
prática social que está sendo aos poucos implantadas.
Quando se fala em igualdade estamos relacionando camadas populacionais de todas
as regiões do país. Não apenas a parcela social do perímetro urbano. Um país de grandes
proporções geográficas como o Brasil possui várias realidades distintas e
consequentemente várias sub-culturas. Bem verdade, que nem sempre em perfeita
harmonia, portanto igualdade para todos não é necessariamente, em termos educacionais,
sinônimo de uma política pedagógica hegemônica. Há que se adaptar a realidade
educacional à situação social de cada região, desde as populações rurais às periferias
urbanas.
Na década de 90 as estimativas indicavam que 25,03% da população brasileira
vivia em zonas rurais enquanto 74,97% em zonas urbanas. Tratar da educação somente, é
esquecer que a questão social passa por outros valores tais como saneamento, saúde,
31
transporte, alimentação. Oferecer ensino é possibilitar o estudante a exercitar sua cidadania
através de meios efetivos tais como: locomoção até a escola, material didático, alimentação
adequada, eis que na maioria das vezes o alimento escolar é a única ou a principal refeição
que ele tem para receber, permitir que se dedique somente aos estudos sem ter que
contribuir para a renda familiar e apoiá-lo e orientá-lo nas tarefas escolares. Enfim,
percebemos que a educação que se busca nos preceitos legais ainda está distante da
realidade.
Outra questão importante a ressaltar é quanto a dotação orçamentária dos entes
públicos destinados ao sistema de ensino. Municípios, Estados e o DF têm que aplicar pelo
menos 25% da arrecadação proveniente dos seus impostos, enquanto que cabe à União o
percentual mínimo de 18% (CF/88, art. 212). Apesar disso, em 1990 apenas 2,4% do total
dos gastos da União foram destinados à Educação e em 1991 apenas 4,2%.
Educar é também garantir a permanência do aluno na escola, pois historicamente
2/5 dos alunos não permanecem na mesma. O Censo Escolar 2000 e o Censo de Educação
Superior 1999 realizado pelo Inep/MEC apontam estatisticamente a seguinte situação
escolar brasileira: 4.421.332 alunos na Pré-escola, 35.717.948 no Ensino Fundamental,
8.192.948 no Ensino Médio e 2.369.945 no Ensino Superior totalizando cerca de
50.702.173 estudantes, ou seja, pouco menos de 1/3 da população brasileira.
Em relação ao ano letivo a lei inovou ao aumentar o ciclo anual. Atualmente a lei
determina o mínimo de 200 dias e 800 horas (e não apenas 800 aulas). A freqüência é
requisito para a aprovação do aluno no percentual de 75%.
A Lei no artigo 87 instituiu a Década da Educação. Importante ressaltar os
objetivos que os legisladores esperaram alcançar no prazo de dez com a Década da
Educação. Em 1993 vários órgãos como MEC, CONSED, UNDIME, entre outras entidades
governamentais e não-governamentais, sob a égide do Ministério da Educação também
elaboraram um Plano Decenal de Educação para Todos para o período de 1993/2003. Esse
plano foi conseqüência da Conferência de Jombien na Tailândia. Nessa Conferência o
Brasil ficou posicionado entre os nove maiores países com baixos índices de produtividade
do seu sistema educacional. Só para efeito de referência para o trabalho elencamos:
Bangladesh, Brasil, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria e Paquistão. Só que o
32
compromisso não se efetivou. A esperança se renova com a Década da Educação que
iniciou-se em dezembro de 1997 e terminará em 2007.
“ A nova Lei, infelizmente, confirma: o nosso maior atraso histórico não está na
economia, reconhecida como já importante no mundo, mas na educação. Ou
resolvemos isso, ou ficaremos para trás. O resgate completo do professor básico é a
premissa primeira”
(Pedro Demo)
IV . 1 – ALGUNS ACONTECIMENTOS NA ÁREA EDUCACIONAL NA DÉCADA DE NOVENTA :
- 55% do total de estudantes universitários estavam concentrados no eixo RJ-SP-MG.
- Nas regiões Norte-Nordeste do Brasil ainda era muito freqüente a figura do professor
leigo, algumas vezes sem o 1º grau completo.
- Segundo relatório do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica cerca de 59%
dos professores não prestaram concurso público. Foram indicados por políticos ou
técnicos.
- Em 1992, Carlos Chiarelli, Ministro da Educação declarou que no Brasil “ os
professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e o governo finge que
controla”.
- Nos últimos 45 dias do ministro Murilo Hingel no MEC foram aprovados 172 novos
cursos superiores e quatro novas universidades.
- Segundo a OAB dos 89 cursos de direito apenas sete formam bons advogados.
- Paulo Renato de Souza foi indicado ministro da Educação.
- Entrou no ar a TV Escola para promover a atualização dos professores.
- O MEC criou um sistema de avaliação de alunos formados nos cursos superiores, o “
PROVÃO”.
- Em 1997 as escolas de 2º grau também passaram a ser avaliadas.
- Em 1996 o Presidente da República sancionou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
( LDB).
- Morrem: Paulo Freire e Darcy Ribeiro.
33
- O país contava com 894 instituições de ensino superior das quais 222 são públicas, 127
universidades sendo 68 públicas.
IV . 2 - ENSINO BÁSICO PELA LDB:
O art. 1º define o que é educação, diz que juridicamente o conceito de educação é limitado.
A educação que se deseja alcançar com o seu novo conceito (na legislação anterior o
conceito de educação era comumente confundido com o conceito de ensino) é muito mais
abrangente. Ela é extensiva a todas as formas de aprendizado nos diversos ambientes
sociais desde o lar, até a escola, passando pelo trabalho e as diversas organizações sociais.
Com ênfase a grupos culturais como museus, bibliotecas, teatros, acervos, tombamentos.
Como forma de incentivo à cultura essas entidades culturais promovem exposições,
amostras e ensaios gratuitos para os alunos de ensino público. Importante destacar o §1º
que especifica que a educação escolar deve ser desenvolvida preferencialmente nas
Creches, Escolas, Colégios, Faculdades, Institutos, Universidades, etc.
O art. 2º preceitua as finalidades que se deseja obter com a educação. Determina que a
educação é dever da família e do Estado, diferente do art. 205 da CF/88 que inverte a
ordem do dever. Primeiro prescreve que é dever do Estado e depois da família. É tão
importante o estabelecimento desse dever de amparo legal a criança e ao adolescente que
além de encontrarmos vários dispositivos na Constituição tratando do assunto (art.203 inc.I,
205, 227, 229), ele aparece em outros dispositivos legais, como por exemplo, no Código
Penal no seu art. 246 e no Estatuto da Criança e do Adolescente no art. 53.
Quanto a finalidade constituem:
a) desenvolvimento do educando;
b) exercício de sua cidadania;
c) qualificação para o trabalho.
O artigo 3º trata dos princípios da educação os quais são tão importantes que foram
elencados à ordem de preceitos constitucionais estando dispostos no artigo 206 da CF/88.
Esse artigo é extenso e dividido em onze incisos. Resumidamente de uma forma muito
simples poderíamos fazer algumas considerações:
34
• A igualdade de condições de acesso e permanência do aluno na escola conforme já
escrevemos começa com suporte dentro do lar, acesso de transporte e oferecimento gratuito
do material escolar. No município do Rio de Janeiro o transporte nos ônibus municipais é
gratuito para estudantes uniformizados e com a apresentação da caderneta. Atualmente para
se evitar o êxodo escolar o ensino público, também do Município do Rio de Janeiro, está
oferecendo a matrícula dos alunos através de ligação telefônica para 0800 (gratuito) ou pela
Internet evitando as desumanas e humilhantes filas de pais para garantirem vagas para seus
filhos. Tão importante quanto oferecer condições para o ingresso à rede escolar é
possibilitar a permanência do aluno. Já colocamos acima as diferentes realidades brasileira
nas diversas regiões e o reflexo que isso apresenta para o sistema educacional. São essas
realidades sociais gravíssimas que o Governo deve equacionar para diminuir tamanha
desigualdade de oportunidades e consequentemente educacionais.
• A formação profissional do corpo docente para lecionar na educação básica está disposta
no art. 62 da Lei.
• Quanto ao inciso II podemos destacar a escola-social que forma o indivíduo para ser um
verdadeiro cidadão: Educação com autonomia de ser, pensar, refletir, expressar. O diálogo,
senão o único, é o primeiro passo para a implantação desse novo modelo educacional. Em
relação ao inciso VII que trata da valorização do profissional da educação escolar
trataremos no próximo capítulo.
• No inciso VIII ressaltemos a questão da gestão democrática do ensino público que requer
que se considere o conceito da verdadeira cidadania, ou seja, a escola-cidadã*1. Aqui há
construção da vontade comum com a participação de vários interessados como diretores,
coordenadores, professores, profissionais administrativos e comunidade. O projeto político-
pedagógico, além de contar com os participantes diretos e indiretos do processo
educacional, determina que há necessidade de competência profissional/técnica. E ainda a
vontade e consciência da implantação de um novo modelo distante do antigo modelo
tradicional . Defendem seus articuladores que somente através de uma gestão democrática
do ensino público as diferenças sociais serão diminuídas.
*1 Expressão cunhada por BORDIGNON, Genuíno e OLIVEIRA, Luís S. Macedo de, “A escolacidadã: uma utopia municipalista”. Revista Educação Municipal. São Paulo, Cortez/Undime/Cead,nº4,
,mai.-1989,p. 5-13.
35
O artigo 4º trata do direito e do dever de educar. O Poder Público tem o dever de oferecer
ensino fundamental gratuito às crianças de 7 a 14 anos e todas àquelas que não puderam
freqüentar na idade própria. Apenas para registro estatístico em 1998 o Brasil atingiu uma
taxa de escolarização líquida de 95%. Ressaltando-se para esse percentual que grande parte
desses estudantes estão concentrados nas cidades das regiões Sul e Sudeste, comprovando
os desníveis regionais concentrados principalmente nos municípios localizados nas regiões
Norte e Nordeste. Mesmo com o percentual supra citado, que corresponde a uma média
nacional, ainda em 1998, havia 1,3 milhão de crianças na faixa etária escolar obrigatória
fora da escola. Deste número 84% eram crianças da região Nordeste. No mesmo ano, em
relação ao ensino médio a oferta de matrículas gratuitas era limitada. Foram 6.967.905
vagas, com 1,8% na esfera federal, 76,1% estadual e 4,6% municipal (dados fornecidos
pelo MEC/INEP/SEEC).
Situação muito mais complexa ocorre com a discriminação e o sectarismo racial.
Sem escolaridade e qualificação profissional que atenda ao mercado de trabalho, 45,3% da
população negra trabalha desempenhando funções subalternas, 75 milhões de brasileiros
negros não conseguem concluir nem o ensino fundamental. Dados estatísticos do IBGE
mostram que dos 29,4% dos analfabetos, 80% são negros. Cristovam Buarque, professor da
UnB e um dos responsáveis pela criação do projeto Bolsa-Escola escreveu no Jornal “O
Globo” em 10 de setembro último sobre o título de “Discriminação Decente”. Critica o fato
de que há discriminação e diferença social no país em razão da condição de pobreza e do
racismo. Escreve que há ausência de negros nos bancos das universidades. Hoje são
somente 2,2% e há um projeto em que o governo pretende criar cotas raciais. O Frei Davi
Raimundo dos Santos é um dos responsáveis pela implantação do projeto. Ele criou
cursinhos comunitários que oferecem oportunidades aos alunos carentes de ingressarem
nas universidades. Atualmente são cerca de 800 cursinhos de pré-vestibulares que atendem
quase 60 mil alunos de classe baixa. Muitos têm conseguido ingressar em universidades
públicas. Parte das reportagens encontram-se no anexo da monografia. As reportagens
informam também que enquanto as instituições privadas contribuem e mostram disposição
para ajudar, as universidades públicas resistem em facilitar o acesso de alunos carentes às
instituições defendendo a idéia de que o nível de qualidade cairiam de conceito. Só para
referência, em São Paulo, de cada 20 alunos de cursos comunitários que entram para a
36
universidade apenas, um vai para instituição pública. No Rio de Janeiro de 20 alunos que se
preparam em cursos comunitários, 16 ingressam nas instituições públicas. Segundo o MEC
59,5% dos universitários possuem renda familiar de pelo menos vinte salários mínimos.
Diferente do ensino fundamental, o ensino médio embora gratuito não é obrigatório.
Sem esquecermos que suas ofertas são mais reduzidas em relação ao ensino fundamental.
Na década de 90 também observou-se aumento no acesso ao ensino médio, mas ainda
assim, abaixo do nível esperado.
Estimativa brasileira de matrículas na Educação Básica desde 1995 a 2010:
Ano total(em mil) 1ª a 4ª 5ª a 8ª(%) Ensino médio(%)
1995 37.857 52,9 33,0 14,0
1998 42.451 49,9 33,7 16,4
2002 44.968 42,9 34,8 22,3
2006 43.936 40,9 35,3 23,7
2010 42.594 40,5 35,2 24,3
Um rápido registro para duas questões contempladas pela Lei:
- Educação especial: portadores de deficiência (mental, física, auditiva, visual, múltipla);
portadores de condutas típicas; crianças de alto risco (apresentam desenvolvimento
fragilizado em decorrência de fatores como: gestação inadequada, alimentação
imprópria, nascimento prematuro, etc.); portadores de altas habilidades (superdotados).
- Creches e pré-escolas que constituem a 1ª etapa da educação básica.
A família constitui o primeiro círculo social do indivíduo. Aonde ele vai vivenciar
suas primeiras experiências de vida em todos os seus níveis, seja social, afetivo,
educacional, sendo a principal responsável pelo interesse da criança pelo seu
desenvolvimento. Quanto mais cedo o indivíduo é estimulado e orientado; maior será seu
interesse pelo saber. Várias são as maneiras com que a criança precocemente pode ser
estimulada: programas de televisão adequados através dos canais internos de TV a cabo:
37
Futura, Senai, Cultura, Discovery, National Geografic, programas educativos como visitas
a museus, monumentos históricos, bibliotecas, estímulo à leitura, brincadeiras lúdicas,
atividades extra-classe implantada como parte efetiva do projeto pedagógico escolar. As
atividades extra-classe seriam, por exemplo, visitação à fábricas, empresas, passeios
turísticos ensinando na prática como vivenciar o mundo. Abaixo alguns exemplos
concretos que já estão sendo implantados no Brasil como tentativa de elevar o nível
educacional do país através da participação ativa da família e da comunidade.
O Governo implantou o Bolsa-Escola e em julho o programa contou com a parceria
de 1.974 municípios e a expectativa foi de que até o final do mês de setembro passado
mais de 3 mil municípios estivessem recebendo o Bolsa-Escola. Para que o município
possa aderir ao projeto, o Prefeito precisa enviar a documentação para a Secretaria em
Brasília e entregar os cadastros na Caixa Econômica Federal mais próxima da região.
Depois que o processo chega, é encaminhado à equipe técnica, a qual analisa a Lei
Municipal que institui o Programa, que segue a aplicação de 25% (mínimo) na Educação de
acordo com a Lei de Diretrizes e Bases e o comprovante do cadastramento das famílias na
CEF. Após a publicação no Diário Oficial, a Caixa Econômica Federal é responsável pela
inclusão das famílias que entram na folha de pagamento do município no mês seguinte.
Criado no governo de Cristovam Buarque o projeto ganhou destaque internacional sendo
exportado para vários países, como o México, Bolívia, Chile, Equador. Ganhou prêmio da
Unesco e até a ONU adotou o nome original. Cristovam Buarque concedeu uma entrevista
a revista “Isto é”, nº pg. 79, onde falou que um dos homens mais ricos do mundo,
George Soros deseja implantar o Bolsa-Escola na Guatemala, Zimbábue , na África do Sul
e em Moçambique, por haver muita exclusão social e trabalho infantil.
Outro programa educacional que tem alcançado papel de destaque no cenário
internacional é o programa de Alfabetização Solidária. Esse programa foi lançado há
quatro anos pela primeira-dama D. Ruth Cardoso. O Alfabetização Solidária possui 2,4
milhões de pessoas matriculadas e conta com a participação de universidades. A
expectativa é a implantação no Timor Leste, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
O Geração 21 é o projeto que conta com a parceria do Banco de Boston, a
Fundação Palmares e o Geledés (uma ONG). Esse projeto, também referência na área da
Educação, investe em 21 adolescentes negros que foram escolhidos para serem
38
acompanhados até o curso superior. O projeto iniciou-se em 1999 e dos 116 jovens somente
21 foram aprovados. Atualmente o Geração 21 virou uma referência a ser copiada. Os
alunos selecionados são de escolas públicas e os critérios são raciais, faixa etária,
escolaridade e renda per capita (um ou dois salários mínimos). A família também recebe
apoio.
Resultado obtido pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saesb),
comprovou que alunos cujos pais acompanham o desenvolvimento escolar, conhecem os
professores dos seus filhos e participam frequentemente das reuniões, tiveram suas notas
em português e matemática elevadas.
O MEC resolveu criar o Dia Nacional da Família na Escola. O objetivo é
universalizar a prática e estimulá-la, aproximando pais, alunos e professores. Exemplos
concretos de pais que atuam como voluntários acontece no Colégio Estadual Brasílio
Vicente de Castro, em Curitiba. A diretora da escola admite que a participação da
comunidade é imprescindível para melhorar a qualidade do ensino. Na Escola Municipal
Pedro de Oliveira, em Jundiaí (SP), mães em parceria promovem vários eventos sociais
além de acompanharem a rotina escolar dos filhos.
Relatos como esses fizeram com que o Ministro da Justiça Paulo Renato venha
convocando pais e professores para participarem do Dia da Família na Escola.
Estudantes da sexta série do Colégio Salesiano em São Gonçalo, Cuiabá (MT),
inspirados em reportagens sobre o pantanal realizado pela revista “Isto É” enviaram à
revista postais feitos pelos estudantes do colégio. Eles destacam a beleza do pantanal e
alertam para a preservação do mesmo. Enviaram postais até para o Presidente da República.
Esses postais fazem parte do Projeto Pantanal criado há três anos com a finalidade de
conscientizar os estudantes. Duas vezes por mês eles deixam a escola para atividade extra-
classe e com os professores, biólogos e guias turísticos têm aulas práticas sobre o meio
ambiente. De barcos pelos rios vão identificando peixes, animais, plantas aquáticas e
vegetações típicas da região. Segundo a psicopedagoga Elenir Proença essas atividades
estimulam o interesse dos alunos: “Muitos sentem dificuldades em algumas disciplinas
mas, nessas viagens, eles se mostram muito interessados e participam com entusiasmo. Há
uma interação total entre o meio ambiente e os estudantes”.
39
No Rio de Janeiro a comunidade da Mangueira recebeu o título de menor índice de
criminalidade infantil e o de maior índice de escolaridade de todas as comunidades carentes
da cidade. Em 1999 os 35 mil moradores do morro iniciaram um projeto que possui hoje 22
oficinas profissionalizantes do Centro Cultural da Mangueira, que mantém 5.800 alunos e
188 funcionários. Eles recebem patrocínios e fizeram parceria com a Universidade Federal
do Rio de Janeiro para ampliar a oferta de oficinas na área hospitalar. O Centro Cultural
mantém cursos de inglês, francês e espanhol. O projeto permite que os estudantes
continuem sua educação nos bancos escolares e oferecem uma cesta básica para as famílias.
Os jovens são acompanhados até que ingressem no mercado de trabalho, segundo
informação da coordenadora-geral das oficinas Célia Regina Domingues.
Em anexo à monografia também apontamos profissionais altamente gabaritados que
optaram em exercer suas profissões voltadas para a ação social e cidadania por absoluta
convicção pessoal e como projeto de vida. Podemos citar um professor de História formado
pela UFRJ, com Mestrado que optou por “fazer história” no lugar de ensiná-la.
Em setembro de 1990 em Nova York ocorreu um encontro: “Cúpula Mundial pela
Criança” e vinte e sete metas assumidas pelos 157 países participantes deveriam ter sido
cumpridas. Infelizmente muitos não o fizeram. O Brasil consegui cumprir dez das metas,
mas em relação a taxa de analfabetismo adulto foi reprovado. A meta era baixar a taxa de
20,11% de 1991 para a metade. O último dado de 1999 informou que conseguimos um
percentual de 13,3%. Quanto a colocar toda criança na escola também ficou devendo
alguns pontos.
O economista Sergei Soares do Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea)
realizou uma simulação matemática em que demonstra a importância da universalização do
ensino. Utilizando dados do IBGE, o trabalho do economista demonstra como o baixo
índice de escolaridade da população gera as desigualdades sociais. Pelas equações, se todos
os brasileiros tivessem no mínimo oito anos de ensino básico, nada menos que 13,1 milhões
de brasileiros, que se encontram abaixo da linha de pobreza, seriam resgatados. Brasileiros
mais pobres são os que possuem renda familiar igual ou menor que R$63,00. Hoje apenas
68% das crianças matriculadas no ensino básico conseguirão concluir o curso. Para o
Ministro da Educação, Paulo Renato os resultados da simulação mostram o peso de uma
triste herança do nosso sistema educacional. “Estamos pagando o preço da falta de
40
investimentos em educação ao longo de décadas”. Pois como reiteradamente já escrevemos
tão importante quanto possibilitar o acesso à educação básica é permitir meios de mantê-la.
Não é possível que se ofereça nada pela metade: amor, respeito, dignidade,
oportunidade, educação. Quando se promete algo que não se pode cumprir pratica-se uma
violência e os que perdem suas possibilidades tornam-se órfãos do seu próprio sistema. O
país poderá tornar-se uma nação de verdade quando parar de prometer o que não consegue
cumprir e assumir verdadeiramente as suas responsabilidades. Várias considerações a
respeito da educação básica brasileira poderiam ser aqui tratadas, pois muitas são as
questões; maiores ainda poderiam ser as soluções. Mas sairíamos muito da abordagem
principal da monografia centrada em questões do nível superior.
FORA AUSÊNCIA DE INSTRUÇÃO, ABAIXO A FALTA DE OPÇÃO,
ADEUS Á EVASÃO,VIVA A EDUCAÇÃO,
CUMPRA-SE A CONSTITUIÇÃO!
IV . 3 - ALGUNS CONCEITOS SOBRE EDUCAÇÃO:
“... MAS O QUE SE PODE ENTENDER COMO EDUCAÇÃO”?
Educação – conceito:
- Proveniente do latim educatione, substantivo feminino. Processo de desenvolvimento
da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando
à sua melhor integração individual e social. O conceito de Educação não possui
somente o sentido estrito de ação de ensinar ou de instruir. Consiste em ministrar ou
fazer ministrar lições, que possam influir na formação do indivíduo a fim de prepará-lo
para ser útil à sociedade. No artigo 1º da Lei o termo educação possui uma conceituação
abrangente, onde a educação escolar significa a forma principal e dominante de
educação, bem como, deve estar vinculada ao mundo do trabalho e sua prática.
Cidadania – conceito:
41
- substantivo feminino, qualidade ou estado de cidadão. É a qualidade da pessoa que,
estando na posse de plena capacidade civil, também se encontra investida no uso e gozo
de seus direitos políticos, que se indicam, pois, o gozo dessa cidadania.
Cidadão – conceito:
- substantivo masculino, indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado,
ou no desempenho de seus deveres para com este.
Paulo Freire escreveu em sua obra “ Pedagogia do Oprimido” que a palavra ajuda o
homem a tornar-se homem. A linguagem passa a ser cultura, uma vez que, com a
decodificação da palavra o alfabetizando vai se descobrindo como homem e
consequentemente sujeito do processo histórico. Paulo Freire diz que alfabetizar é ensinar o
aluno a utilizar a palavra, pensar o mundo e ser apto a julgá-lo. Nessa obra o autor escreve
que a pedagogia liberta tanto o opressor, quanto o oprimido. Defende a idéia de que não há
possibilidade de desenvolvimento econômico que não caminhe no campo da questão
educacional. Vale destacar a crítica que o autor faz ao que ele qualificou como “ Educação
bancária”, na qual o professor apenas deposita o conteúdo do conhecimento aos alunos.
Nesse tipo de educação o discente participa passivamente como receptor e depositário do
conhecimento alheio sem participar ativamente desse processo utilizando sua própria
autonomia e consciência crítica. Diz que tem-se então uma relação de sujeito (educador) e
objeto (educando). A educação que Paulo Freire defende é por ele qualificada como
prática da liberdade em oposição à educação bancária que seria a prática da dominação.
Vale transcrever o que diz o autor: “Mas ninguém se conscientiza separadamente dos
demais. A consciência se constitui como consciência do mundo. Se cada consciência
tivesse o seu mundo, as consciências se desencontrariam em mundos diferentes e separados
– seriam mônadas incomunicáveis”. (Paulo Freire).
Não podemos também deixar de trazer para a presente monografia o pensamento de
Edgar Morin, que em 1999 foi solicitado a sistematizar um conjunto de reflexões para
servirem como ponto de partida para repensar-se a educação do atual milênio. O convite foi
iniciativa da UNESCO . Edgar Morin escreveu a obra que chamou “ Os Sete Saberes
Necessários à Educação do Futuro”. Abaixo transcrevemos:
1º) As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão;
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2º) Os princípios do conhecimento pertinente;
3º) Ensinar a condição humana;
4º) Ensinar a identidade terrena;
5º) Enfrentar as incertezas;
6º) Ensinar a compreensão;
7º) A ética do gênero humano.
É uma obra que vale apena ler pois repensa as práticas pedagógicas ao mesmo tempo que
propõe novas perspectivas. Morin trata do paradigma certeza/incerteza fazendo parte do
processo cognitivo o que ele chamou de “princípio da incerteza racional”. Edgar Morin
ensina ainda que a educação será sempre o espaço da “ordem-desordem”.
44
CAPÍTULO VOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
“ Hei de vencer mesmo sendo professor!”
Os artigos 61 a 67 tratam dos Profissionais da Educação, mas o artigo 13 estabelece
as incumbências do corpo de docentes.
O artigo 61 traz os fundamentos que nortearão o exercício dos profissionais da
educação. O professor que é o mediador e orientador do conhecimento e demais
profissionais que oferecerão apoio no processo educacional. A lei determina que a
formação de docente ministrando na educação básica será feita em nível superior, em curso
de licenciatura, de graduação plena nas universidades ou institutos superiores de educação,
objetivando melhorar a qualidade da formação dos profissionais em todos os níveis. Mas
admite também para a educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental, a formação de nível médio na modalidade Normal (art.62 da Lei).
Instituições Superiores vêm a ser uma nova concepção e estão contemplados no
artigo 63. Esses institutos têm por finalidade oferecer maior organização no processo de
formação de educadores, visando uma modalidade específica de curso para o magistério
que trabalhará com a educação infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental. Esse
tipo de organização do magistério foi criado anteriormente na Alemanha: ”Pädagogische
Hochschule” e na Itália chamados de “Institutos de Magistério”. Importante ressaltar a
relevância dessa inovação na lei desde que não se transformem em cursos de segunda
categoria em relação às universidades como ocorreu nos exemplos alemão e italiano.
Demerval Saviani (A nova Lei de Educação: Trajetória, limites e perspectivas pg.219)
escreve que é preciso considerar a criação dos Institutos Superiores de Educação com
cautela. Escreve ainda que: “...podem vir a ser um espaço apropriado para a implantação de
propostas”.
O artigo 64 dispõem sobre os profissionais que atuam na área de educação e
preceitua que sua formação acadêmica far-se-á na graduação em pedagogia e nos cursos de
pós-graduação. Os profissionais de educação que a lei contempla possuem maior incidência
basicamente na formação do Administrador Escolar, Supervisor e Orientador Educacional.
45
Esses profissionais apóiam todo o processo educacional e juntamente com o corpo docente
são eles que farão a diferença educacional e a preparação eficiente do discente. Apenas
para efeitos estatísticos, pelo Censo Escolar e Censo da Educação Superior 1999 –
Inep/MEC, o número de professores na Educação Infantil apontou 228.335 profissionais,
enquanto que no Ensino Fundamental mostrou o nº de 1.538.011, 430.467 professores no
Ensino Médio e 173.836 encontravam-se no Ensino Superior.
O que a lei obriga é um avanço cada vez maior no grau de qualificação profissional
do corpo docente. Não podemos esquecer as pedras e percalços pelos quais passam esses
profissionais no decorrer do seu desempenho profissional. Desafios tais como: acumulação
de empregos, dificuldade de obtenção de recursos para as pesquisa, desinteresse dos
discentes, deficiência de instalações adequadas que permitam uma boa estrutura e suporte
técnico, necessidade de reciclagem e aperfeiçoamento profissional e distanciamento entre
teoria e prática. O verdadeiro professor não é aquele que transmite, ainda que muito bem o
conhecimento, mas aquele que cria um diálogo entre o saber e o aluno e se interpõe entre
ambos como mediador e orientador. O bom professor é o que convida os alunos para
conhecerem, descobrirem e pesquisarem juntos. Merleau-Ponty escreve que o bom
professor não é aquele que diz “ faça como eu” e sim, “ faça comigo”. É o que trataremos
no capítulo seguinte ao analisarmos os cursos de pós-graduação estrito senso.
46
“Vejo vocês professores,
Correndo alegres nos corredores,
Cheios de cores, odores,
O relógio bate e marca,
O tempo, o dia , a hora,
Mais um dia, mais uma jornada,
Por vezes amada, também odiada,
Diária,
Percebo vocês professores,
Nas salas frequentes,
Luzes incandescentes,
Alunos displicentes, discentes obedientes,
Discentes e docentes até ausentes,
O ensino está doente, dói, corrói, destrói,
Sadio; constrói,
E quem educa decente; um discente,
Forma até mais um docente,
Caminhando à frente, no tempo presente,
Plantando um futuro,
Incerto, por certo,
Com a ânsia da esperança que não cansa,
Refletida no rosto de uma criança,
Saúde, saneamento, alimento, educação
Indiscutivelmente ,
A solução para qualquer naçãoª
Giselle Siqueira
48
CAPÍTULO VIO ENSINO SUPERIOR NA ATUALIDADE
Em 2000 houve um debate em torno do Ensino Superior na América Latina.
Representando o Brasil participaram do encontro representantes da Universidade de
Brasília composto por uma casta de cientistas e intelectuais brasileiros. A intenção foi
discutir e entender as novas perspectivas da educação mundial e criar novos paradigmas
para a educação na atualidade. A globalização propõem e impõe uma nova visão social do
mundo e obviamente novos valores. As mudanças sociais ocorridas no mundo século
passado, foram intensas principalmente pela era tecnológica com a robótica, a informática,
a telefonia...As instituições educacionais fazem parte desse complexo contexto.
Quais serão as propostas para o futuro?
O novo milênio iniciou-se com iniciativas sociais, econômicas e políticas que
precisam ser concretizadas na prática social. Não existe realidade social sem a prática das
normas e objetivos desejados. Mas não adianta criar valores utópicos e inalcansáveis. Os
novos rumos devem ocorrer de acordo com a realidade de cada sociedade e as diversidades
devem ser entendidas e respeitadas. À estrutura educacional cabe a responsabilidade de
repensar seu retrato, analisando suas estruturas, seus objetivos e funções. O Estado-Nação
precisa dialogar em bases concretas com o ensino brasileiro para cumprir sua função
social no que pertine à educação. Deve estar ciente da sua parcela de responsabilidade nas
bases do que dispõem o Título VIII – DA ORDEM SOCIAL – Cap. III, seção I na forma
dos artigos 205 a 214 da Constituição Federal.
Existem vários participantes nesse jogo sócio/educacional, Governo Federal,
Governos Estaduais e Municipais, Ministério da Educação, representantes políticos, a
própria sociedade; na essência, a maior interessada.
Desde o seu surgimento no século XIII europeu, a universidade conquistou o status
de uma instituição social. No exercício dessa prática está inserida na questão democrática e
nas lutas sociais através de reivindicações e questões próprias pertinentes à educação. A
sociedade a fundamenta e justifica por sua autonomia e legitimidade.
Marilena Chauí apresentou um trabalho na conferência de encerramento do
“Colóquio Antonio Candido; Pensamento e Militância”, na USP, em agosto de 1998. No
49
entanto as questões levantadas pela socióloga permanecem atuais, porquanto justificada
trazer as questões levantadas na presente monografia. A autora depois de tecer o papel
social da universidade e qualificá-la como instituição social afirma que as mesmas estão se
distanciando (desfigurando) desse papel para transformarem-se em organização social .
Questiona o que significa passar de uma instituição social para uma organização social ?
Tentando responder à questão trava uma diferenciação entre ambas: uma organização difere
de uma instituição porque sua prática social é distinta, se caracterizando pela obtenção de
meios para atingir seus objetivos particulares. Não está preocupada nem articulada para
questionar seu papel social, sua função no seio da sociedade, nem ingressar em lutas de
classes, mas tão somente em discutir suas idéias de planejamento, gestão, controle e êxito.
Já a instituição social tem a sociedade como sua referência institucional, seu princípio e seu
fim, discute, questiona e se preocupa com seu papel social e sua possibilidade e
responsabilidade nas transformações. Uma tem si mesma como referencial, a organização
social, já a outra possui a sociedade como seu referencial. Marilena Chauí analisa como foi
possível à universidade passar de instituição social para organização social prestadora de
serviços. Responde a autora que a passagem da universidade de instituição para
organização está inserida na mudança geral da sociedade sob os efeitos da nova forma do
capital. Afirma que a forma atual do capitalismo tem como característica a fragmentação de
todas as esferas da vida social. A transformação ocorreu em dois momentos sucessivos:
primeiro a Universidade funcional e depois a Universidade operacional. A universidade
funcional é voltada para a formação rápida de profissionais e para tal adaptou seu currículo
às exigências do mercado de trabalho. A universidade operacional, por sua vez, está voltada
para si mesma como estrutura de gestão e de arbitragem de contratos, eis que é regida por
contratos de gestão. Suas características estão definidas e estruturadas alheia ao
conhecimento e à formação intelectual, possui uma quantidade grande na grade curricular
de horas-aula, diminuição no tempo dos cursos de mestrado e doutorado, baseia sua
avaliação na qualidade de publicações, colóquios e congressos. A universidade operacional
opera, não age. Conseqüência é sua desmoralização pública e seu descrédito social. Quanto
à docência nestas instituições é entendida como a rápida transmissão de conhecimentos
para formar graduados que precisam ingressar logo no mercado de trabalho.
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Ainda da professora e socióloga, a seguir publicamos parte da entrevista concedida
ao Jornal “ O Liberal” (Belém/Pará, 18/06/2001).
OL: Você diz que a Universidade brasileira é uma prestadora de serviços, administrada
como uma montadora de automóveis ou uma rede de supermercados. Mas ninguém está
satisfeito. As empresas se queixam da formação deficitária dos profissionais; os alunos
estão insatisfeitos com o pouco prestígio dos diplomas e as incertezas do mercado. A quem
agrada o modelo universitário atual, afinal de contas?
MC: A ninguém. Esse modelo é um equívoco porque a Universidade não tem essa função e
por isso não pode agradar a ninguém. A universidade não é uma escola técnica profissional
voltada para os interesses imediatos do mercado. Essa não é a natureza da universidade. A
universidade tem uma destinação no conhecimento e a realização de pesquisa a longo
prazo. Então ela não satisfaz às empresas e não realiza expectativa nenhuma. É um grande
colegial avançado. Um modelo operacional que é sobretudo um processo destruidor.
OL: O modelo das universidades brasileiras pode ser comparado a algum outro no mundo
que tenha semelhantes características?
MC: Ele é, na verdade, uma mescla de modelos europeus como o francês e o alemão.
Depois a partir da ditadura, houve a superposição do modelo norte americano, sobretudo
nas grandes universidade públicas, criando com isso um perfil híbrido e não definido. A
tradição formadora que a universidade tinha se inverteu ao se acoplar ao modelo americano,
não houve como efetuar o ajuste. Isso no que se refere às grandes universidades federais.
Por outro lado há uma ausência de modelo e de perfil para a enorme maioria das
universidades públicas brasileiras e, em particular, às universidades privadas, que não têm
nenhuma vocação para a formação. Elas não formam professores e nem pesquisadores,
lançando às toneladas no mercado de trabalho pessoas totalmente despreparadas.
OL: Qual a principal característica das universidades na Europa e nos Estados Unidos ?
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MC: Na França e na Alemanha, são as universidades de formação. Inserem-se em um
contexto histórico-cultural amplo no qual não há uma separação rígida entre as
humanidades e as ciências duras e são voltadas à graduação e à pós-graduação. Enquanto
isso, o modelo americano não se preocupa com formação e sim com a preparação para um
estágio superior do trabalho universitário. Então, a graduação é altamente escolarizada.
OL: Existe algum modelo universitário que poderia ser copiado pelo Brasil?
MC: Não. Cada universidade está ligada ao seu contexto histórico-cultural e deve criar seu
próprio modelo.
OL: Mas existe um modelo a ser privilegiado?
MC: Eu privilegio as universidade formadoras que não escolarizam a educação, nas quais a
formação deve trazer o conhecimento crítico e a pesquisa não é fragmentada e dissolvida
em minúsculas questões que fazem com que o pesquisador não venha a produzir
conhecimento e saber novo.
OL: Você citou os modelos da França e Alemanha. E lá, os modelos são bem sucedidos?
MC: Não. O neo-liberalismo não deixam nada intacto. As universidades lá também estão
sendo destruídas pelas determinações do mercado. Nada escapa à essa marca de barbárie.
OL: Você escreve que o diálogo dos estudantes não é com o professor mas com o saber. Os
professores devem ser mediadores desse diálogo e não seu obstáculo. De que forma eles
emperram essa comunicação?
MS: O diálogo principal não deve ser com o professor, que apenas deve assegurar a
mediação do diálogo. Isso porque o professor não é proprietário do saber, que é sempre um
lugar vazio. Os alunos, então, sentem-se capazes de ocupar esse lugar. Isso é o saber
democrático. O mesmo acontece nas eleições. O poder pertence à sociedade e deve estar,
52
como o saber, sempre vazio. A sociedade escolhe alguém para a mediação. Ninguém é
senhor, rei, príncipe do poder. Com o saber é a mesma coisa, e por isso o diálogo deve ser
estabelecido com o conhecimento e não com o professor.
OL: Afirma-se que o governo vem distribuindo concessões para a abertura de faculdades
particulares da mesma forma como se distribuía canais há algum tempo canais de televisão.
Quais são as conseqüências a longo prazo dessa política?
MC: São basicamente duas. De um lado o descrédito da universidade. A sociedade não vai
distinguir as universidades, não vai pensar nelas como um espaço crítico e formador. Não
vai valorizá-la, se em cada esquina tem uma; por outro lado, haverá um rebaixamento da
cultura nacional e um empobrecimento do pensamento crítico, além de um conseqüente
enfraquecimento da pesquisa, com a dependência da pesquisa estrangeira. Além, é claro, de
um número enorme de mão-de-obra despreparada e desempregada. Não se pode confundir
democratização com massificação.
“ A docência é formadora quando aceita que seu ponto de partida é a assimetria entre
professor e aluno e seu ponto de chegada, a simetria entre ambos”
Marilena Chauí
(Professora do Departamento de Filosofia da USP e Socióloga).
53
VI . 1 - UNIVERSIDADES BRASILEIRAS:
Já fizemos um breve resumo histórico da educação brasileira, os anos sessenta
apresentaram-se como uma década de grande expansão das matrículas no ensino
universitário. O que ocorre em situações como essa é que o ensino cresceu
indiscriminadamente sem maiores critérios e controle.
O ensino privado inicia-se em 1940 com a Pontifícia Universidade Católica (PUC).
Aumenta-se a quantidade e de algum modo, despreza-se a qualidade. Depreendemos essa
afirmação a partir da entrevista acima narrada e pelas questões discutidas que a seguir serão
abordadas.
Existem vários autores que analisam e explicam o processo acelerado e crescente
das Universidades e o que se constata é que a universidade deixa de ser um espaço
formador de conhecimento e da construção do saber para passar a fazer frente à questão
econômica /política do mercado de trabalho.
Uma questão é inegável; a educação brasileira está sendo difundida, propagada,
discutida, criticada e analisada, já é um avanço, mas ainda precisamos de uma participação
mais ativa da atuação governamental.
Questão extremamente delicada e relevante é quanto ao ensino superior público e
privado. Não podemos negar que há um divisor de águas profundas à separar as duas
instituições. Sobre alguns aspectos é difícil saber qual das duas é mais elitista. Em verdade
ambas o são, apenas sob enfoques e características diferentes. A notoriedade do ensino
público é de per si seu status quo, já enraizado pela sociedade. Por sua vez é inegável que a
parcela da sociedade que possui condições de ingressar em uma instituição privada e poder
arcar com os custos do ensino privado, também constitui um privilégio de poucos. O
problema é que a maior parte da sociedade brasileira está excluída de ambas as instituições.
O Brasil possui 47 milhões de estudantes de nível médio e cerca de 85% estão
concentrados em escolas públicas. A maioria não tem preparo para competir com alunos
que estudam em cursinhos particulares. Um estudo estatístico levantado por legisladores da
Câmara dos Deputados constatou os seguintes dados: as chances de um estudante da rede
54
pública ingressar nas universidades públicas é de 1 em 104 candidatos, enquanto que para
os alunos da rede privada a proporção é apenas de 1 em 9 candidatos. Esses são
preparados basicamente para o ingresso em uma universidade pública. Estatisticamente
portanto é inegável que o grande número de vagas ocupadas nas universidades públicas
são provenientes de alunos que estudaram , pelo menos no nível médio, em escolas
particulares. A competição é ingrata.
A conclusão que se chega é que a educação brasileira encontra-se em um grande
paradoxo: constitui status estudar no ensino fundamental e médio em uma escola particular,
pois possivelmente é a melhor oportunidade de ingressar em uma universidade pública. De
outro parte, a maior parcela dos estudantes oriundos do ensino no mesmo nível, ou seja
fundamental e médio, realizado em escolas públicas estatisticamente possuem menos
chances de ingresso às universidades públicas eis que não foram suficientemente
preparados. Quer dizer estudam-se anos em escolas particulares aspirando cursar
Graduação e Pós-Graduação nas universidades públicas e os que estudaram quase toda uma
vida em escolas públicas vêm suas possibilidades da seguinte forma: uma parcela muito
pequena estatisticamente consegue ingressar na instituição pública, outra parcela poderá
estudar ,se puder pagar, em uma universidade privada, ou terminar sua escolaridade no
ensino médio. Conseqüência; vai ser locado no mercado de trabalho em subempregos. O
país deve implementar mudanças estruturais na base da pirâmide educacional para que no
ensino médio, público ou privado, haja efetivamente possibilidade de igualdade de
condições.
Algumas universidades superiores especializam-se na formação de licenciatura ou
graduação, enquanto que outras rumam para a formação de pós-graduação. Nesse tipo de
instituição o enfoque é centrado no conhecimento científico e na pesquisa. Observa-se uma
predominância pelas instituições privadas quanto ao primeiro modelo. Já escrevemos a
respeito de que há uma linha divisória entre o ensino superior público e privado, ou seja, o
sistema educacional superior não é homogêneo.
Existem instituições privadas que oferecem graduação com Teste de Acesso Direto
com teste gratuito. Atualmente oferecem cursos de especialização em quase tudo, como
dança, teatro, moda. A Anhembi-Morumbi é uma faculdade que oferece a graduação em
quiropraxia e aguarda habilitação no MEC. O curso iniciou-se em fevereiro de 2000 e tem
55
duração de cinco anos. A PUC-SP oferece o curso de artes do corpo com duração de quatro
anos e o de comunicação em multimeios. Isto porque as instituições privadas concentram
sua área de atuação em cursos, na maioria das vezes, voltados para atender as
necessidades de qualificação profissional para o mercado de trabalho.
São perfis da mesma realidade social. É importante e fundamental analisar os papéis
das instituições e saber que colocação no meio educacional e profissional elas possuem.
Principalmente avaliar se esse papel está efetivado e funcionando eficazmente na proposta
que assumem.
Tão importante quanto as instituições públicas voltadas para o campo do
conhecimento científico e pesquisa é a importância dos cursos de graduação e pós-
graduação que as universidades privadas oferecem . Muitas instituições podem até realizar
cursos enusitados como demonstramos, mas não significa que todas possuem o mesmo
perfil educacional.
A produção acadêmica pode ser distinta nas duas instituições. As públicas estão
concentradas predominantemente nas pesquisas. Não negam com isso a docência, muito
pelo contrário, apenas parte do tempo semanal dos doutores é priorizada em pesquisas. Os
professores da rede privada possuem sua área de concentração na docência. Observamos
que os profissionais de instituições pública dão ênfase tanto a pesquisa quanto a docência.
Normalmente não exercem atividades extra-acadêmica. Enquanto que os docentes das
instituições privadas acumulam a atividade da docência com o exercício de atividades
extra-acadêmicas. Atividades que muitas vezes é complementar à atividade de docência em
por questões econômicas.
É inegável que as mudanças estão ocorrendo dentro das universidades e alteram o
quadro geral da realidade da educação superior brasileira e que as instituições de ensino
superior enfrentam uma realidade mais dinâmica, competitiva e exigente em relação à
qualidade oferecida. A Universidade se caracteriza pela indissociabilidade do ensino, da
pesquisa e da extensão. Espera-se que a Lei inovadora imponha um novo padrão
profissional com docentes altamente qualificados que tenham comprometimento tanto
interno do país, quanto no cenário mundial.
A globalização assim determina. Um país que tenha o conhecimento como
ferramenta da informação terá ingresso no mercado global.
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Maria Zélia Borba Rocha, Historiadora, Mestre em Sociologia pela UnB e
professora assistente da Universidade de Brasília na Faculdade de Educação, defende a
tese de que a unidade de valor da sociedade moderna com a globalização é a informação .
Diz ainda que as economias que forem capazes de gerar e divulgar novos conhecimentos e
depois transformá-los em tecnologia e em informação farão diferencial no mercado.
Defende que não é qualquer tipo de informação, mas o que ela chama de informação
especializada oriunda do conhecimento científico. A profissão acadêmica será muito
valorizada, pois o conhecimento é seu valor intrínseco. Diz ainda a autora, que as
estatísticas demostram que não existe desemprego nas atividades de ensino e de pesquisa.
O que há é carência de profissional qualificado.
Maria Zélia estabelece distinção entre titulares como categoria funcional e doutores
como titulação. Adjetiva de alto clero da universidade tanto um quanto outro. E justifica
afirmando que tanto os titulares quanto os doutores compõem a Excelência do ensino
formando a casta intelectual . Tanto pela alta qualificação profissional, quanto pela
dedicação em tempo integral.
No anexo da presente monografia encontra-se a íntegra do e-mail respondido pela
professora, bem como, da Dr.ª Elizabeth Balbachevsky, Doutora em Ciência Política pelo
Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (1995), professora do
Departamento de Ciência Política da USP; pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em
Relações Internacionais – NUPRI/USP e do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior
NUPES/USP.
Solicitamos a opinião de ambas sobre o tema da monografia . Abaixo transcrevemos parte
das respostas.
Resposta da Mestre Maria Zélia Borba Rocha:
...” Trata-se de uma clara reivindicação dos grupos sociais organizados oriundos da
sociedade civil do setor educacional, mobilizados quando da elaboração da Constituição
Federal e da LDB. O objetivo é o fortalecimento da Universidade...”
...” O art. 52 estabelece o conceito de Universidade. Os parlamentares de 1986 a 1993 (2
legislaturas) que deram o “martelo final” na redação do artigo estabeleceram uma redução
do conceito humboldtiano de Universidade – assim, o que “passou” , foi o que os grupos
organizados conseguiram salvar”...
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...” Se se estabelece o cruzamento com os artigos 54 e 55, observa-se que a qualificação do
quadro docente nas instituições pública é concerne ao Poder Público; o artigo 66 reafirma o
inciso citado por você..
...” Manule Castells em “A Rede” e outros autores em outras obras, demonstram que o
contexto social globalizante requer cada vez mais escolaridade. “
...” Trabalho de Ricardo Paes de Barros, Ricardo Henriques e Rosane Mendonça ...
demonstra como a desigualdade social só será superada com a democratização do acesso à
escolaridade. “
...” Pesquisas recentes de Carlos Benedito Martins-UnB e outros demonstram dados do
aumento da Pós-Graduação no Brasil”. Finaliza a professora: “Assim, o estabelecido no
artigo é desejável e o Estado e a sociedade devem se empenhar para operacioná-lo, em prol
do fortalecimento da Universidade Brasileira, o que redundará em benefício à sociedade
brasileira”.
Acrescentando igualmente conteúdo ao presente trabalho abaixo transcrevemos a resposta
da Dr.ª Elizabeth Balbachevsky:
“ A aplicabilidade é controvertida. Afinal, por grande que seja o nosso sistema de
Pós-Graduação, ele ainda está longe de responder às necessidades de formação de todo o
sistema de ensino superior. Isso é particularmente verdade quando se considera o caso de
áreas específicas, como, por notícias que tenho, é o caso da contabilidade por exemplo.
Com relação à eficácia eu também tenho dúvidas, se o que se está almejando é a
qualidade do ensino. Sem dúvida, soluções cartoriais são péssimas alternativas para esse
problema que é mais substantivo. Mas a alternativa, que seria deixar aflorar e reconhecer
as diferenças e alternativas, não parece ser da parte de nossos hábitos culturais”.
Ambas as contribuições foram de muita valia para elucidar e auxiliar na conclusão
da monografia
Extremamente delicada é a análise da estrutura interna das instituições públicas e
privadas. Mesmo no contexto público federal e estadual percebe-se uma certa diferença
entre as instituições federais em relação às estaduais. No que tange ao funcionamento
interno das instituições existe uma certa “vaidade” no meio acadêmico federal
principalmente porque elas têm apresentado as melhores notas nos cursos da Graduação e
Pós-Graduação na avaliação realizada pelo Ministério da Educação.
58
A respeito das particulares no cenário comparativo em relação às públicas, o
critério de avaliação é muito mais crítico. Professores, principalmente do sistema público,
ao se reportarem às instituições particulares genericamente falando, são tendenciosamente
preconceituosos em suas análises ao conceituar essas instituições como “fabriquetas de
diplomas” e que ministram “cursos de fins de semana”. É a opinião de alguns autores. Mas
a análise não pode ser tão simplista assim. Não se pode negar que esse tipo de instituição
tem crescido desde o início dos anos oitenta. Elas têm atendido as demandas do mercado de
trabalho, oferecendo diferentes tipos de cursos e em vários níveis de qualificação
profissional e as mais tradicionais também possuem centros formadores de pesquisadores e
acadêmicos, muitos dos quais reconhecidos e respeitados no cenário educacional.
A partir da LDB e o que determina o artigo 52 inc. II as instituições privadas, para
fazer frente competitiva com as instituições públicas, bem como, para se adequar ao que
determina a nova Lei tem exigido a qualificação de Mestres e Doutores para seu quadro de
docentes.
Existe também o outro lado da moeda e a análise deve ser feita sob óticas e
observações diversas. Tivemos a oportunidade de pesquisar em universidades privadas e
infelizmente alguns cursos em nível de Mestrado de instituições conceituadas ainda não
tiveram seu reconhecimento pelo MEC/CAPES. Em relação aos cursos de Pós-Graduação
lato senso, pela autonomia constitucional, as instituições podem criar os cursos livremente.
Nem por isso deve haver ausência de critérios para tais cursos.
Selecionamos no anexo diversas informações sobre a educação no país.
Infelizmente lamenta-se quando se depara com matérias cujo título é “ Sacoleiros do
Ensino”, reportando-se à Universidade Iguaçu (Unig). Essa instituição sofreu denúncias de
que oferece cursos de fim de semana, onde vêm pessoas de vários estados pois só há aula
uma vez ao mês. Na reportagem um ex-integrante do esquema revelou que os cursos
rendem mensalmente R$ 3 milhões. Parte iria para a Fundação e o Centro de Ensino
Ulysses Guimarães e a Unig ficaria com 20 a 30 %. O Ministro da Educação determinou
que a Unig passe por processo de recredenciamento.
É a primeira vez, segundo a reportagem, que o MEC determina o recredenciamento
de uma universidade. O MEC suspendeu os cursos de formação pedagógica e obrigou a
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universidade a recredenciar todos os seus outros cursos. Alunos do curso de fisioterapia
reclamaram que depois de formados descobriram que o curso não foi reconhecido.
Casos como esse, são exemplos isolados, não representando a realidade de todas as
instituições privadas. Nesse caso o estigma de “fábrica de diplomas” parece ser merecido.
Os cursos de Pós-Gaduação estrito senso precisam obter o reconhecimento do
MEC/CAPES. Esse tipo de controle necessita de ser realizado com acurada cautela pois
desse modo correm o risco de descrédito no meio acadêmico. O ensino precisa achar um
ponto de equilíbrio a fim de que possa equacionar duas variáveis: qualidade X quantidade.
Ambas são importantes. Quanto à qualidade dispensa-se maiores considerações, eis que o
adjetivo de ,per si, já possui conteúdo próprio. Em relação à quantidade faz-se necessário o
aumento de cursos de Pós-Graduação estrito senso, uma vez que, o mercado profissional e
acadêmico exigem um perfil profissional cada mais mais diferenciado e elitizado.
A educação brasileira sempre foi usada no Brasil como sectarismo social, fazendo
assim, distinção de pessoas e grupos sociais. Apesar do aumento estatísticos de alunos no
campo educacional ainda existem problemas ligados à educação, especialmente na superior
pública.
Não haverá democracia eficiente e concreta, tão pouco crescimento econômico e
político que ingresse o país na era globalizante, sem que haja um sistema nacional de
educação melhor preparado capaz de equilibrar as diferenças e as desigualdades sociais.
Uma Nação para ingressar na era da globalização necessita de avanços tecnológicos e
científicos, portanto o conhecimento científico deve ser reconhecido e valorizado como a
possibilidade de entender, explicar e transformar a realidade. A globalização possui suas
bases ancoradas no conhecimento científico e na informação, então é inviável pensar no
ingresso do país nesse contexto econômico se persistirem as condições do nosso sistema de
ensino básico e médio. Nesse cenário o ensino superior tem o encargo e o relevante papel
de modificar os padrões educacionais e para tanto, deve ser menos hierarquizado, mais
diversificado e inclusivo.
A avaliação estatística indica que apenas 11% dos jovens entre 19 e 24 anos estão
ingressos no ensino superior, onde 37,9% encontram-se no setor público e 62,1% no setor
privado. Com tudo isso o Brasil tem realizado um enorme desempenho para ampliar sua
oferta de ensino superior. Apenas como referência estatística podemos apontar que em
60
1994 o sistema público e privado ofereceu 574 mil vagas e em 1998 a oferta aumentou
para 766 mil. A taxa de aumento no setor público foi de 16% e no setor privado 44%.
Apesar da estatística apontada em 2000 houve um déficit de cerca de dois milhões de
vagas! Em um dos anexos destacamos duas entrevistas concedidas pelo Ministro Paulo
Renato; uma para a revista “Isto é” e outra para o jornal “O Globo”. Na entrevista
concedida ao jornal o Ministro afirma que houve crescimento no ensino público brasileiro
em todos os seus níveis. Informa que o aumento deu-se principalmente na camada pobre da
população. Dados realizados pelas Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) mostram
o avanço ocorrido nos últimos anos na universidade pública.
Na Pós-Graduação houve aumento no número de conclusão nos cursos de Mestrado
e Doutorado. O dado mais significativo se deu na qualidade em nível profissional do corpo
docente das instituições. As avaliações que atualmente são aferidas as instituições
superiores também vêm contribuindo significativamente para a melhora na qualificação do
ensino.
VI . 2 - AVALIAÇÕES:
Desde 1996 que o Sistema Federal de Educação é supervisionado pelo Ministério da
Educação. As avaliações são realizadas nas instituições públicas e privadas. São dois os
critérios de avaliação utilizados:
a) Exame Nacional de Cursos (O Provão);
b) Avaliação das Condições de Oferta.
A) EXAME NACIONAL DE CURSOS - avalia os cursos de graduação através dos
formandos no seu último ano. Criado em 1995 pela Lei nº9.131, possui por objetivo
melhorar os cursos de graduação avaliando as instituições e seus cursos de nível superior.
Analisam os fatores determinantes da qualidade e da eficiência das atividades de ensino,
pesquisa e extensão. O “Provão”, como ficou conhecido é realizado anualmente e constitui
condição obrigatória para a obtenção do registro do diploma. São avaliados três critérios:
61
a) Qualificação do Corpo Docente – essa avaliação leva em conta qualificar as atividades
de ensino, pesquisa e extensão e o desempenho dos professores. A qualificação do corpo
docente constitui um dos pilares para o aperfeiçoamento do ensino.
b) Organização Didático-Pedagógica – esse item analisa a estrutura curricular, as atividades
permanentes de extensão, a pesquisa e a produção científica, bem como, a execução do
currículo e estágios desenvolvidos.
c) Instalações – essa avaliação é pertinente à infra-estrutura das instalações tais como:
bibliotecas, laboratórios, oficinas, salas de aula e equipamentos.
Cada curso avaliado será considerado renovado através do reconhecimento de seus
cursos revalidados a cada ano. O Exame, na realidade, avalia o discente formando, o
docente formador e a própria instituição. Em 2001 tivemos a 6ª edição do Provão. Esse ano
além dos dezoito cursos que foram avaliados em 2000 entraram Pedagogia e Farmácia. A
saber:
« Administração (1996,1997,1998,1999,2000,2001);
« Agronomia (2000 e 2001);
« Biologia (2000 e 2001);
« Comunicação Social – habilitação em jornalismo (1998,1999,2000 e 2001);
« Direito (1996,1997,1998,1999,2000 e 2001);
« Economia (1999,2000 e 2001);
« Engenharia Civil (1996,1997,1998,1999,2000,2001);
« Engenharia Elétrica (1998,1999,2000 e 2001);
« Engenharia Mecânica (1999,2000 e 2001 );
« Engenharia Química (1997,1998,1999,2000 e 2001);
« Farmácia (2001);
« Física (2000 e 2001);
« Letras (1998,1999,2000 e 2001);
« Matemática (1998,1999,2000 e 2001);
« Medicina ( 1999,2000 e 2001);
« Medicina Veterinária (1997,1998,1999,2000,2001);
« Odontologia (1997,1998,1999,2000 e 2001);
« Pedagogia (2001);
62
« Psicologia (2000 e 2001);
« Química (2000 e 2001).
“ O Provão” revolucionou o sistema de ensino, sacudiu a universidade por dentro,
acabou com o marasmo e aumentou o nível de exigência de alunos e professores” –
declaração do Ministro da Educação Paulo Renato de Souza em entrevista para a Revista do
Provão, Brasília, 2000 – nº5 pg.7. Defendeu o Provão como “... um dos meios que vão nos
levar nessa passagem de um sistema de ensino, por vezes simples reprodutor de
conhecimentos, para uma Universidade criativa e geradora de novos saberes e dos quadros
profissionais indispensáveis à transformação do Brasil e à melhoria da qualidade de vida
dos brasileiros” – idem pg.53.
Com a quantidade de cursos que existem, por vezes, fica difícil saber o tipo de
profissionais que ingressam no mercado. As grandes faculdades particulares têm
mensalidades caras e, nas mais baratas, o ensino é “sofrível” como demonstra o Provão. A
avaliação também demostrou que as instituições públicas não ficam inócuas às baixas
notas. Vide anexo, além da entrevista do Ministro Paulo Renato (revista “Isto é”, nº 1658
de 11/07/2001) informando as novas mudanças feitas no Conselho Nacional de Educação,
há dois quadros demonstrativos das melhores e piores instituições de nível superior
avaliadas e as notas dos cursos. Em ambos os quadros encontramos instituições públicas e
privadas. Portanto, algumas universidades públicas do país também necessitam de
reavaliação dos seus cursos para serem recredenciados. A Universidade Gama Filho, por
exemplo, recebeu quatro notas E como conceito em um dos seus cursos (a matéria não
informa o nome do curso) na Graduação, mas ao mesmo tempo, obteve boa avaliação do
CAPES/MEC nos cursos de Pós-Graduação stricto sensu: Direito, Educação Física,
Filosofia e Psicologia e Sexologia em relação à produção científica e a infra-estrutura.
Crítica feita pelo Presidente do Conselho Regional de Odontologia do Distrito
Federal, Orlando Ayrton de Toledo, arrisca uma denúncia: “Algumas das instituições que
oferecem os cursos não têm o objetivo de educar, mas apenas de ganhar dinheiro”.
Independente do ensino ser oferecido por instituição pública ou privada, todas
devem exigir qualificação do seu corpo docente e investir na infra-estrutura. Desde a
63
primeira avaliação realizada em 1996 até 1999, o número de professores com doutorado
aumentou em 29,58% e o de professores com mestrado ficou em torno de 23,30%.
O Provão além de possuir uma função avaliadora também mostra a complexa
realidade do ensino universitário no país, nos seus diversos segmentos. Melhorar a
qualidade de ensino exige uma postura crítica de discentes e docentes.
B) AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE OFERTA – consiste no tipo de avaliação
realizada por: especialistas, mestres e doutores, que através de visitas técnicas, avaliam a
qualidade acadêmica dos cursos a partir de um conjunto de indicadores: corpo docente,
organização didático-pedagógica e instalações, em especial os laboratórios e as bibliotecas.
Esse tipo de avaliação existe desde 1998 iniciada pela SESu/MEC. Foram analisados 2.729
cursos das 18 áreas de conhecimento submetidas ao Provão. A SESu realiza relatórios com
as avaliações e apresenta às instituições analisadas com as recomendações dos técnicos para
adequar seus cursos aos padrões de qualidade exigidos pelo MEC. Ela também se encarrega
de acompanhar o cumprimento das recomendações.
No dia oito de outubro último, o Ministro da Educação divulgou em uma entrevista
coletiva para a imprensa em São Paulo, o resultado da Avaliação das Condições de Oferta
de mais seis cursos de graduação, feita no ano passado. Foram avaliados 1.122 cursos da
área de Agronomia, Biologia, Física, Letras, Psicologia e Química, em todo o país e
incluindo as instituições públicas e as privadas: o corpo docente das instituições federais
está melhor conceituado no campo das pesquisas. Já as instalações das instituições privadas
são mais modernas.
O MEC criou o Programa de Modernização e Consolidação da Infra-estrutura
Acadêmica das Ifes, desenvolvido pela Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC) para
superar as deficiências em relação a infra-estrutura das instalações federais.
A partir de julho desse ano o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep/MEC) substituiu a SESu na Avaliação das Condições de Oferta.
Apenas para referendarmos a efetividade da prática das avaliações no sistema
educacional e seus reflexos que já estão sendo sentidos, podemos exemplificar a
recomendação feita pelo MEC para fechamento de dois cursos deficitários. São os cursos
de Direito da Faculdade de Direito de Sete Lagoas em Minas Gerais e da Faculdade
64
Brasileira de Ciências Jurídicas no Rio de Janeiro. Os cursos poderão ser desativados se o
Conselho Nacional de Educação (CNE) acatar a recomendação do MEC. Seus alunos serão
transferidos para outras instituições caso ocorra o fechamento. Por sua vez o Ministro Paulo
Renato recomendou a renovação do reconhecimento dos seguintes cursos de Administração
e Direito que conseguiram sanar as deficiências avaliadas pela comissões de professores
especialistas:
Administração:
« Faculdade Matogrossense de Ciências Contábeis e Administrativas – Cuiabá/MT;
« Faculdades Integradas do Tapajós – Santarém/PA;
« Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro/RJ;
« Centro de Ensino Superior de Catalão – Catalão/GO;
« Faculdades de Ciências Humanas do Vale do Rio Grande – Olímpia/SP;
« Faculdade de Ciências Contábeis e Administração – Avaré/SP;
Direito:
« Universidade Santa Úrsula – Rio de Janeiro/RJ;
« Universidade Católica de Petrópolis – Petrópolis/RJ;
« Faculdade Anhanguera de Ciências Humanas – Goiânia/GO;
« Faculdades Integradas de Tapajós – Santarém/PA.
O MEC recomenda o fechamento dos cursos que não passaram nas avaliações
realizadas, o Conselho Nacional de Educação delibera e o Ministro da Educação homologa.
O MEC também coordena a transferência dos alunos para outras instituições.
66
CAPÍTULO VIIPÓS-GRADUAÇÃO
Conceito – Grau de ensino superior, para aqueles que já obtiveram a conclusão do curso degraduação. A Pós-Graduação stricto sensu tem por objetivo formar e aperfeiçoar pessoaldocente para o ensino de nível superior , estimular o desenvolvimento da pesquisacientífica e tecnológica e proporcionar o treinamento de técnicos de alto padrão. Os cursosde pós-graduação lato sensu são direcionados para o aperfeiçoamento e reciclagemobjetivando melhor qualificação para o mercado de trabalho.
Pós-Graduação:
Espécies:
a) LATO SENSU « especialização.
- Esses cursos não oferecem titulação.
b) STRICTO SENSU « mestrado
« doutorado
- Oferecem titulação.
Extensão – são cursos de curta duração, voltados para áreas que privilegiam a abordagem
de um único tema. Esses cursos são ideais para quem quer direcionar a carreira para uma
disciplina da graduação.
Especialização – esses cursos possuem objetivo técnico específico, voltado para o
aprimoramento profissional de curta duração e para o mercado de trabalho. Seu público
alvo são os profissionais que desejam atingir o domínio científico em uma determinada área
de conhecimento.
Mestrado – dirigido para o profissional que deseja se dedicar ao meio acadêmico, ou seja,
produção de pesquisas e salas de aulas. Somente as universidades aprovadas pelo MEC
podem oferecer os cursos de Mestrado. O Mestrando é obrigado a formular uma tese e
defendê-la ao final do curso e aprovado, recebe o título de Mestre.
Doutorado – assim como o Mestrado o Doutorado é direcionado para os que optam para a
carreira acadêmica e aqui também somente as universidades autorizadas pelo MEC podem
oferecer o Doutorado. A diferença em relação ao Mestrado é que o Doutorado exige maior
dedicação e aprofundamento no tema estudado. Como o Mestrado, para a obtenção do
título é necessário a defesa de uma tese.
67
VII . 1 - OS PAPÉIS DO CAPES E DO CNPq:
A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) é uma entidade pública vinculada ao Ministério da Educação. Seu principal
objetivo é subsidiar o MEC na formulação das políticas de Pós-Graduação stricto sensu
coordenando e estimulando a formação de recursos humanos altamente qualificados para a
docência em grau superior e pesquisa. A CAPES é a única agência de formento à Pós-
Graduação, no Brasil, a manter um sistema de avaliação de cursos que são reconhecidos e
utilizados por outras instituições nacionais.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
também é uma fundação de formento a pesquisa, possuindo personalidade jurídica de
direito privado e vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O objetivo do CNPq é
promover e formentar o desenvolvimento científico e tecnológico do país, bem como,
contribuir na formulação das políticas nacionais de ciência e tecnologia. A função formento
é a principal ação realizada pelo CNPq. É dirigido para a formação de recursos humanos e
para o apoio à realização de pesquisas, formando pesquisadores altamente capacitados.
VII.2 – ANALISANDO O QUESTIONÁRIO:
O presente trabalho contou como material metodológico questionários respondidos
por professores em todos os níveis educacionais. Ao todo foram entrevistados vinte e cinco
profissionais, mas um dos entrevistados não leciona. Fizemos uma divisão para podermos
analisarmos os resultados:
1º) Foram entrevistados doze mulheres e treze homens;
2º) Quanto à faixa etária obtivemos os seguintes números:
- 20/30 anos = 5 entrevistados.
- 30/40 anos = 8 entrevistados.
- 40/50 anos = 7 entrevistados.
- 50/60 anos = 5 entrevistados.
3º) Em relação a educação dos entrevistados nos níveis: fundamental, médio e superior a
pesquisa conseguiu os seguintes dados:
68
Ensino fundamental : *
« público = 19 entrevistados
« privado = 5 entrevistados
Ensino médio: *
« público = 12 entrevistados.
« privado = 12 entrevistados.
* Um entrevistado não informou sua formação nos níveis fundamental e médio.
Ensino superior:
« público = 12 entrevistados.
« privado = 13 entrevistados.
4º) Na pergunta nº5 perguntamos sobre o nível de Pós-Graduação que é o tema central da
presente monografia.
- Pós-Graduação:
- Lato sensu = 22 dos entrevistados
- Estrito sensu :
Mestrado – 6 entrevistado
Doutorado – 1 entrevistado
5º) Quando perguntamos sobre o motivo que levou o entrevistado a fazer Pós-Graduação
17 entrevistados responderam que foi para atender ao mercado de trabalho e reciclagem
profissional e 8 responderam para cumprir a exigência do artigo 52, II da LDB, uma vez
que pretendem lecionar em nível superior.
6º) Na pergunta número 7 foi perguntado se o entrevistado é professor e em que nível.
Obtivemos os dados abaixo:
- Um entrevistado não é professor;
- Três lecionam no ensino fundamental;
- Dois lecionam no ensino fundamental e médio;
- Nove exercem o magistério no nível médio/técnico;
- Dez são professores universitários.
7º) Apesar de 24 dos entrevistados serem professores, 4 responderam que não conhecem a
exigência da LDB, para lecionar no ensino superior, 1 respondeu que conhece parcialmente
69
apesar de ser professor universitário e 20 conhecem a Lei. Os que pretendem lecionar em
instituições superiores pretendem fazer o Mestrado, a fim de cumprir a Lei.
8º) A pergunta nº11 foi unânime ou seja, todos atuam profissionalmente na área em que se
graduaram.
9º) Quanto as respostas da pergunta número 12 vale a pena ler cada uma individualmente.
Servirá de referência para a conclusão do trabalho. A maioria respondeu que não está
satisfeito com o ensino superior no país. Basicamente as críticas foram em relação à
formação do corpo docente e deficiência na infra-estrutura.
10º) Por último foi perguntado a opinião do entrevistado quanto a educação brasileira na
sua totalidade. Quase todos responderam que a educação brasileira, em todos os níveis, é
seletista e excludente.
11º) Quatro dos entrevistados que não conhecem a Lei lecionam no ensino fundamental e
médio e não pretendem lecionar no nível superior, nem fazer Mestrado. Um dos que
respondeu que não conhece a LDB é professor universitário com especialização e formado
há nove anos. Outro professor respondeu que conhece parcialmente a Lei, leciona no nível
superior é formado há vinte e seis anos com especialização. Ambos são formados por
instituições públicas.
12º) Analisamos a relação entre o ensino médio e superior e o questionário apontou o
seguinte resultado:
- Seis profissionais formados no ensino superior privado fizeram o ensino médio em
instituição pública;
- Seis profissionais se formaram no ensino superior público tendo realizado o ensino
médio na rede pública;
- Sete profissionais formados em instituição superior privada fizeram seu ensino médio
também na rede privada. Vale destacar que quatro desses professores são da faixa etária
de 50/60 anos;
- Seis profissionais que cursaram o ensino médio na rede privada, ingressaram em
instituições superiores públicas. As considerações sobre a pesquisa encontram-se na
conclusão da monografia.
70
VII.3 - O ARTGO 52 INCISO II
A nova Lei de Diretrizes e Bases obriga o sistema educacional brasileiro a se
repensar e reestruturar nos moldes legais. Isso significa maior exigência na formação do
quadro docente das instituições, indistintamente, públicas ou privadas. Observa-se na letra
fria da lei o preceituado no inciso II do artigo 52. Apesar da Lei exigir titulação de Pós-
Graduação estrito senso para um terço do corpo docente o que se tem observado na prática
das universidades é que a Lei está sendo aplicada como se abarcasse todo o corpo docente.
Inclusive o prazo jurídico determinado pela Lei ainda está em curso até dezembro de 2004.
A Lei deverá ser cumprida oito anos a contar da sua publicação, que se deu em 23 de
dezembro de 1996, segundo inteligência do artigo 88 § 2º.
Podemos fazer duas considerações em relação à exigência jurídica do art. 52, II da
Lei de Educação: primeiro que as instituições já estão se empenhando em efetivar o
determinado pela Lei, independente do prazo legal para cumprimento do preceito; segundo
indagar se as universidades conseguirão cumprir o dispositivo integralmente em todo o
território nacional, ou seja, o cumprimento legal é possível como realidade educacional em
qualquer Estado do país? Em relação à segunda consideração talvez ainda não tenhamos
uma resposta imediata. Os primeiros resultados como conseqüência do determinado pela
lei no interior do setor privado é melhoria de seu quadro de formação e na qualidade de seu
ensino. Para que haja realmente oferecimento de um ensino de qualidade faz-se necessário
que à médio prazo haja institucionalização do potencial de pesquisa através de
recrutamento de doutores. As instituições privadas devem buscar um novo modelo de
organização da pesquisa.
Graduados tanto da rede pública, quanto privada encontram sérias dificuldades para
ingressar em um curso de Pós-Graduação estrito senso. As instituições públicas possuem
critérios rígidos e o número de vagas não é o suficiente para abarcar toda a comunidade
académica e nas instituições privadas o alto preço cobrado impossibilita a maior parte da
população que não possui recursos para arcar com os custos.
Dados divulgados pelo MEC informam que a formação de mestres e doutores no
país tem crescido significativamente desde 1994. O número de mestres aumentou 25% e os
doutorados mais de 50%. No início da década de noventa o número de alunos no curso de
71
mestrado formando-se por ano era menor que nove mil e no final da mesma década já
contabilizavam o índice de quatorze mil. Quanto ao doutorado o número inicial era de 2,5
mil e aumentou para 4,7 mil por ano.
No anexo do trabalho apresentamos um mapa que mostra o perfil da pós-graduação
estrito sensu no Brasil por cada região. Pode parecer um contra-senso, mas diante de todas
as reais dificuldades pelas quais o ensino brasileiro vem atravessando ao longo de sua
evolução histórica, o Brasil contabiliza o reconhecimento de ser o país mais avançado em
Pós-Graduação da América Latina. Não há como negar que a expansão da pós-graduação
no país vem crescendo anualmente.
As instituições superiores públicas ainda fazem diferença no cenário educacional.
Têm um implemento e direcionamento voltado para os cursos de Pós-Graduação estrito
sensu, sendo esses cursos altamente seletistas, criteriosos e valorizados. Um exemplo dessa
afirmativa é o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead), da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, que foi escolhido pelo jornal inglês Financial
Times como uma das 100 melhores do mundo na área de negócios. É a primeira vez que
uma faculdade latino-americana aparece no renomado ranking. O principal diferencial do
Coppead é o corpo docente formado por professores altamente qualificados e com
dedicação exclusiva. Só consegue ingressar na instituição 5% dos alunos mais bem
colocados no exame da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Administração (Anpad).
Muitas instituições privadas concentram sua área de atuação em nível de pós-
graduação latu-senso, cujos cursos, na maioria das vezes são voltados para atender as
necessidades de qualificação profissional e do mercado de trabalho, no entanto, várias
instituições privadas têm feito diferencial na vida acadêmica em nível de pós-graduação
stricto sensu.
Um dos nossos maiores desafios será a reforma estrutural do sistema de ensino
brasileiro como um todo. Por mais que já estejamos fazendo e de certo já obtivemos
avanços, principalmente no ensino superior, as mudanças devem partir das iniciativas que
comecem principalmente na base estrutural do sistema , na educação fundamental e média.
Não se modifica uma estrutura superior sem alterar suas bases e alicerces, sob pena de todo
o sistema desmoronar.
72
“Portanto, incentivemos a pesquisa e a produção intelectual, condições do progresso
do conhecimento, mas restauremos o “ser docente”, no sentido ontológico e ético,
configurando profissionais que queiram ser professores e não se acanhem disso”
Antônio Cândido
73
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO :CONSIDERAÇÕES FINAIS
Questiona-se na monografia a aplicabilidade e efetividade prática da exigência
curricular na superestrutura da educação brasileira nos cursos de Pós-Graduação.
Nossa sociedade ainda vive os resíduos do seu colonialismo, escravismo e
coronelismo. O sistema educacional é reflexo da realidade social brasileira. Somos
sectaristas e inegavelmente elitistas; separamos, selecionamos e por isso, excluímos.
Vivemos realidades distantes e diferentes em um mesmo Brasil.
Impossível imaginarmos um país democrático e desenvolvido sem um sistema
nacional de educação reformado e consolidado em bases de igualdade de oportunidades.
Mas essas mudanças não ocorrerão em pouco tempo, possivelmente precisaremos de mais
alguns anos para a implantação de uma efetiva mudança educacional.
Maior participação política do Governo, em todos os seus níveis, e o seu
comprometimento com o nosso sistema de ensino é desiderato mais que almejado. A
parcela de contribuição estatal nos diversos níveis públicos de educação poderá ser feita
incentivando pesquisas, implementando subsídios, dividindo responsabilidades, criando
parcerias e investimentos.
A pirâmide educacional no Brasil é invertida: melhor em cima, no nível
universitário e ainda insatisfatória nos níveis fundamental e médio.
Quanto ao papel que as universidades vêm desempenhando podemos perceber
gradativamente que o ensino superior, apesar dos descaminhos de muitos anos, começa a
definir novos rumos.
A globalização possui suas bases ancoradas no conhecimento científico e na
informação. Uma nação, para ingressar na era da globalização, necessita de avanços
tecnológicos; portanto, o conhecimento científico deve ser reconhecido e valorizado como a
possibilidade de entender, explicar e transformar o mundo. É necessário que haja um
sistema nacional de educação mais bem preparado, equilibrando as diferenças e as
desigualdades sociais. Somente assim haverá democracia eficiente e concreta,
74
desenvolvimento econômico, social e político, ingressando o país na era da globalização. É
inviável pensar no ingresso do nosso país nesse contexto, se persistirem as condições do
nosso sistema de ensino básico e médio.
Nesse cenário, o ensino superior tem o encargo e o relevante papel de modificar os
padrões educacionais, para tanto, deve ser menos hierarquizado, diversificado e mais
inclusivo.
Uma realidade é até questionável: a educação superior não é para todos. A maioria
é e continuará sendo colocada à margem sem participar ativamente desse papel.
Pelo material colhido no trabalho, podemos considerar, que em relação ao tema
principal da monografia: o artigo 52 inciso II da LDB, já começou a ser aplicado e
efetivado nos ensinos superiores, ainda que com alguns percalços e arestas a serem
aparadas. Provavelmente os oito anos preceituados não serão suficiente para a efetivação
ampla da Lei em todas as instituições públicas e privadas do país. Nas grandes capitais é
comprovado o aumento da qualidade profissional dos docentes. Espera-se que, da mesma
forma, haja um efetivo implemento nos demais estados brasileiros.
Alguns entrevistados criticaram o ensino superior brasileiro e o despreparo dos
profissionais que anualmente se graduam e ingressam no mercado de trabalho. Mas é
inegável que a qualidade do profissional acadêmico tem melhorado. Alguns desses
entrevistados não vivenciam a experiência da docência superior. Os que escolhem a
profissão acadêmica superior possuem a oportunidade de experimentar uma rica
experiência: a possibilidade de mudar a realidade através da transformação, ação e
mobilização.
A Drª Elizabeth Balbachevsky, cujo artigo serviu de referencial para o presente
trabalho, contribuiu também através de e-mail respondendo a pergunta que é tema da nossa
abordagem. Não se pode discutir que uma boa alternativa para os problemas brasileiros,
seria interpretar para entender as suas diversidades. Reconhecendo as diferenças e
conduzindo caminhos em sua direção, respeitaríamos as peculiaridades regionais. Pondera
a Drª, que algumas áreas ainda apresentam problemas na formação acadêmica. É verdade,
mas leva-se tempo para transformações sociais como as aspiradas pela Lei. Afinal, trata-se
de uma exigência curricular que até bem pouco tempo era privilégio de uma parcela ínfima
da população acadêmica e dos profissionais de um modo geral.
75
Há alguns anos, possuir especialização já era exceção para poucos, Mestrado e
Doutorado, só para profissões específica tais como Medicina, Engenharia, Biologia.
Tornar mais aplicável e efetivo o que, até bem pouco tempo, constituía uma exceção
na educação brasileira, demanda certo lapso temporal . Muitas críticas ainda hão de ser
feitas, muitos vão se rebelar, criticar, banalizar.
A Mestre Maria Zélia Borba Rocha coloca em sua resposta questões relevantes que
já consideramos no trabalho. Trata-se das desigualdades sociais e a democratização do
ensino, bem como, a necessidade de escolaridade para ingresso na globalização. Finaliza
opinando que os objetivos da Lei são realidades alcançáveis e que depende do implemento
do Estado e da sociedade para que haja maior crescimento da Universidade Brasileira.
Uma questão é inegável; a educação brasileira está sendo difundida, propagada,
discutida, criticada e analisada; já é um avanço.
Escolher uma profissão é antes de tudo definir um projeto de vida. Que os docentes
possam contribuir com o papel que lhes é reservado no meio social, desenvolvendo o
potencial dos discentes para serem formadores de opinião e profissionais com aptidão.
A luta é árdua, mas os profissionais da educação hão de vencer o bom combate.
A sociedade agradecerá.
76
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA
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América Latina/ Benício Viero Schmidt, Renato de Oliveira, Virgílio Alvarez Aragon.
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3 - MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro/ tradução deCatarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de AssisCarvalho. São Paulo: Editora Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2ª ed., 2000.
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77
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1-3 p.,2001.
15 – http://www.mec.gov.br/sesu Secretaria de Educação Superior / Ministério da
Educação – MEC – 1-1 p.,2001.
16 – http://www.cnpq.br/ CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – 1-1.,2001.
17 – SAVIANI, Demerval. Análise Crítica da Organização Escolar Brasileira Através das
LEIS 5.540/68 e 5.692/71 /Cap. IX, pg – 175/194 – (Educação Brasileira
Contemporânea) Mimeo.
18 – FILHO, Casemiro dos Reis. Reforma Universitária e Ciclo Básico: Modelo Viável/
Cap. X, pg – 195/223 – (Educação Brasileira Contemporânea) Mimeo.
78
ÍNDICE
AGRADECIMENTO III
DEDICATÓRIA IV
PENSAMENTO V
RESUMO VI
METODOLOGIA VII
SUMÁRIO VIII
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I - HISTÓRICO DO ENSINO NO BRASIL 10
CAPÍTULO II - RESUMO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DA 14 DÉCADA DE SESSENTA AOS DIAS DE HOJE
II . 1 – Resumo cronológico da Educação no Brasil 18 II . 2 – Breve comentário do ensino de 1º e 2º graus 19 e a reforma – Lei 5692/71 II . 3 - Resumo geral da educação brasileira na década 20 de sessenta aos dias atuais
CAPÍTULO III - A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEI 21 DE DIRETRIZES E BASES
III . 1 - Considerações relevantes sobre a educação na 22 essência da Constituição Federal III . 2 - Considerações da educação superior: 24 Artigos 43 a 57
79
CAPÍTULO IV -ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO 28
IV . 1 – Alguns acontecimentos na área educacional 32 na década de noventa IV . 2 – Ensino básico pela LDB 33 IV . 3 - Alguns conceitos sobre Educação 40
CAPÍTULO V - OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO 43
CAPÍTULO VI - O ENSINO SUPERIOR NA ATUALIDADE 47
VI . 1 – Universidades Brasileiras 53 VI . 2 - Avaliações 60 VI . 2.a ) Exame Nacional de Cursos (O Provão) 60 VI . 2.b ) Avaliação das Condições de Oferta 63
CAPÍTULO VII - PÓS-GRADUAÇÃO 65
VII . 1 – Os papéis do CAPES e do CNPq 67 VII . 2 - Analisando o questionário 67 VII . 3 - O artigo 52 Inciso II 70
CONCLUSÃO 73
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA 77
ÍNDICE 79
ANEXOS
FOLHA DE AVALIAÇÃO
86
ÍNDICE
AGRADECIMENTO III
DEDICATÓRIA IV
PENSAMENTO V
RESUMO VI
METODOLOGIA VII
SUMÁRIO VIII
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - HISTÓRICO DO ENSINO NO BRASIL
CAPÍTULO II - RESUMO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DA DÉCADA DE SESSENTA AOS DIAS DE HOJE
II . 1 – Resumo cronológico da Educação no Brasil II . 2 – Breve comentário do ensino de 1º e 2º graus e a reforma – Lei 5692/71 II . 3 - Resumo geral da educação brasileira na década de sessenta aos dias atuais
CAPÍTULO III - A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEI DE DIRETRIZES E BASES
III . 1 - Considerações relevantes sobre a educação na essência da Constituição Federal III . 2 - Considerações da educação superior: Artigos 43 a 57
87
CAPÍTULO IV -ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO
IV . 1 – Alguns acontecimentos na área educacional na década de noventa IV . 2 – Ensino básico pela LDB IV . 3 - Alguns conceitos sobre Educação
CAPÍTULO V - OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
CAPÍTULO VI - O ENSINO SUPERIOR NA ATUALIDADE
VI . 1 – Universidades Brasileiras VI . 2 - Avaliações VI . 2.a ) Exame Nacional de Cursos (O Provão) VI . 2.b ) Avaliação das Condições de Oferta
CAPÍTULO VI - PÓS-GRADUAÇÃO
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA
ANEXOS
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