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UNIOESTE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ
LUCIANE MONTES FERREIRA
O ENSINO DA ARTE NA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE CASCAVEL
CASCAVEL 2006
UNIOESTE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE CASCAVEL
LUCIANE MONTES FERREIRA
O ENSINO DA ARTE NA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE CASCAVEL
Monografia apresentada à UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná Centro de Educação Comunicação e Artes, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em História da Educação brasileira. Orientador: Deonir Luís Kurek
CASCAVEL 2006
LUCIANE MONTES FERREIRA
O ENSINO DA ARTE NA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE CASCAVEL
Monografia apresentada no curso de especialização de História da Educação brasileira Lato Senso como requisito parcial à obtenção do grau de especialista, sob a orientação do professor Deonir. Luís Kurek.
Examinadores(as)
__________________________ Deonir Luís Kurek Professor orientador
______________________ _________________________ Ms. Andréa Cristina Martelli Ms. Ivete Janice de Oliveira Brotto Professor(a) examinador(a) Professor(a) examinador(a)
Cascavel 2006
AGRADECIMENTOS
O sonho que sonhei nos últimos anos finalmente está se tornado realidade...
E esse sonho não foi só meu...
Por isso, preciso agradecer as pessoas queridas que fizeram parte dessa conquista...
Agradeço a Deus por ser presença constante em minha vida, nos momentos que mais
precisei de coragem, entusiasmo, força, saúde e sabedoria para seguir nessa caminhada
e atingir meu maior objetivo - a conclusão desta especialização.
Aos meus pais e familiares que me incentivaram, confiaram e acreditaram no meu
potencial e me deram força nos momentos difíceis.
Agradeço ainda, a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente para a
realização deste trabalho, em especial a todos os professores que muito contribuíram
para isto.
“Usando da sua imaginação que dá sentido às coisas do mundo e torna a vida algo mais profundo o homem dá à arte uma função que pode servir à educação e emociona qualquer um que a ver uma mensagem política pode ter assim como servir à religiosidade é que enquanto existir humanidade o fenômeno estético não irá morrer. (Carlos Henrique Cipriano)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................02
1. A ARTE COMO INTEGRANTE DOI CONTEXTO HISTÓRICO.......................04
1.1 Breve contextualização da Arte na produção cultural..............................................04
1.2 Panorama geral sobre a Arte na cultura ocidental....................................................06
1.3 Brasil: modelos estéticos importados.......................................................................10
2. A ARTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL DO PARANÁ................................15
3 A NECESSIDADE DA ARTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL E SOCIAL..19
4 A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NA CIDADE DE CASCAVEL...............................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................34
ANEXO 01.....................................................................................................................36
ANEXO 02.....................................................................................................................43
ANEXO 03.....................................................................................................................44
INTRODUÇÃO
O ensino da Arte é reconhecido pela atual legislação educacional brasileira como
componente curricular obrigatório no ensino. Mas, assim como as outras disciplinas
reconhecidas, esta área também é permeada de conflitos.
Dessa forma, este trabalho pretende dar sua contribuição às diversas questões que
são debatidas por educadores da área, contextualizando como se encontra o Ensino de
Artes na Rede Pública Estadual de Cascavel / PR.
Para chegar a este resultado, o trabalho traz, primeiramente, uma reflexão sobre a
arte ligada à história da humanidade, mostrando subsídios para entender a arte em sua
dimensão cultural, ou seja, como uma produção do homem relacionada com o meio no
qual ele está inserido.
Desse modo, este estudo tem o objetivo de fazer uma reflexão, sintética acerca da
história da Arte, pois nosso objetivo maior é analisar a situação em que se encontra a
disciplina de Educação Artística, atualmente, nos colégios da cidade de Cascavel. Para isso
pretendemos abordar a Arte-Educação dentro do contexto histórico. Explorando assim o
contexto histórico, podemos notar que o homem, por ser dotado de raciocínio, se apropria
dos elementos existentes no meio em que vive e passa, assim, a aperfeiçoá-los
gradativamente.
Desse ponto de vista, falaremos da Arte relacionando-a com o mundo vivido pelo
homem, uma vez que este vive e pensa de acordo com os diferentes momentos da história.
Acerca deste aspecto, este tema percorre alguns escritos de autores que se dedicam a tal
assunto e assim destacamos Graça Proença, procurando mostrar a relação entre homem e
mundo, ou seja, sua relação cultural dentro do processo histórico.
Trataremos, também, de abordar a Arte brasileira dentro do contexto educacional,
mencionando alguns dos momentos que retratam a Arte no contexto escolar, para
refletirmos acerca da cultura brasileira fazendo uma relação de nossa cultura com a
formação de nossos professores vinculada à herança européia.
No segundo capítulo referente ao contexto educacional do Paraná, apresentaremos a
questão da Reformulação Curricular a qual está em andamento desde 2003 e será concluída
somente em 2006. Nosso objetivo é relatar o contexto educacional da Arte com o intuito de
analisar como vem acontecendo esse processo. Com isso, nosso objetivo é analisar como
estão sendo tratadas as questões que envolvem a Disciplina de Educação Artística, na rede
pública estadual, uma vez que a preocupação acerca desta questão está sendo voltada para
a reflexão referente ao que necessita ser alterado, complementado, substituído ou mantido.
Sendo assim, temos como pretensão analisar as reflexões que estão acontecendo, sendo que
estas têm como finalidade contribuir para a organização das mesmas.
No terceiro capítulo, abordaremos os PCNs1 no intuito de analisarmos como os
mesmos estão considerando a Arte dentro do contexto educacional, com seus
posicionamentos de forma a descrever tanto suas propostas quanto suas implicações. Sendo
os PCNs documentos importantes, no contexto educacional, faremos, neste capitulo,
relações entre os posicionamentos dos PCNs e depoimentos2 de professores da área,
visando uma descrição da realidade regional sobre a temática em questão.
No capítulo 04, demonstraremos um quadro quantificativo, por meio de dados
obtidos em pesquisa com levantamento de fontes referentes à distribuição de aulas e o
número de professores de Educação Artística na rede pública da cidade de Cascavel. E, por
fim, também apresentaremos entrevistas realizadas com a coordenadora de Artes do NRE
(Núcleo Regional de Educação) desta mesma cidade, em que ela relata alguns pontos
importantes referentes à disciplina citada e também com professores da mesma área que
expõem suas opiniões sobre a atual situação da Disciplina mencionada.
Nas considerações finais procuramos retomar alguns pontos da reflexão
apresentada e apontar possíveis caminhos para uma organização que propicie um espaço
relevante à disciplina de Educação Artística.
1 Parâmetros Curriculares Nacionais. 2 Os documentos (entrevistas, transcrições, etc.) referentes a esta pesquisa serão encaminhados à coordenação do curso para que sejam arquivados e disponibilizados para consulta de outros pesquisadores.
1. A ARTE COMO INTEGRANTE DO CONTEXTO HISTÓRICO
1.1 Breve contextualização da Arte na produção cultural
O homem, essencialmente, é um ser social. Ao analisarmos a história da
humanidade podemos dizer que o homem desde que surgiu sobre a terra, vem se utilizando
do meio em que vive para assim poder facilitar e até mesmo criar sua subsistência. Através
da transformação do meio natural, constantemente criando e aperfeiçoando instrumentos,
ele não apenas buscou meios para se servir utilitariamente, mas, dentro de um movimento
histórico observado por nós, notamos a evolução que o homem teve e, também, sua ação
diante da vida no tocante à sua necessidade de expressar seus sentimentos e ações de
acordo com o momento histórico vivido. Nesse sentido, a produção material do homem
determina a forma de expressão daquilo que hoje se reconhece como objeto artístico.
Assim estamos de acordo com Marx (1985, p. 301): “O modo de produção da vida material
condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do
homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua
consciência”.
Desse modo o homem vem passando por processos de grande transformação
cultural, onde podemos notar seu desenvolvimento desde a Pré-história até nossos dias.
Através de registros encontrados por pesquisadores, onde a arte tem o papel fundamental
de retratar e expressar cada momento histórico vivido é que se pode ter acesso ao processo
cultural que ocorreu durante a história. Desse modo Proença (2000 p. 06) nos diz que:
Os antropólogos culturais sabem muito bem disso e são capazes de
reconstruir a organização social de um grupo humano a partir dos
objetos que se preservaram. Assim, observando potes, urnas
mortuárias e instrumentos rudimentares para tecer, caçar ou pescar,
pode-se ficar sabendo como os homens de antigamente viviam seu
dia-a-dia.
Podemos dizer também, que a Arte tem uma expressão fundamental e podemos
notar que em todos os momentos da existência humana, desde os primórdios, em tudo que
sabemos acerca da humanidade a arte se faz presente, e com seus registros nos são
transmitidos os saberes de outras épocas. Desse modo, compreendemos que a relação que o
homem tem com o mundo é expressa através da Arte. Notamos assim, que é através dela
que o homem demonstra sua interpretação sobre a plenitude da vida e seu cotidiano. Mas, a
arte não é objeto das necessidades utilitárias da vida, no entanto, podemos dizer que o
homem acabou por introduzir aos objetos utilitários, certos adornos que necessitaram de
um tempo e um trabalho mesmo não sendo necessário às suas funções de uso. Nesse
sentido, o homem ao “decorar” objetos, não o fez simplesmente por necessidade utilitária.
Segundo Proença (2000, p. 07):
(...) as obras de arte não devem ser encaradas como algo extraordinário
dentro da cultura humana. Ao contrário, devem ser vistas como
profundamente integradas na cultura de um povo, pois ora retratam
elementos do meio natural, como é o caso das pinturas nas cavernas(...)
ora expressam os sentimentos religiosos do homem.
Assim, vivemos em um mundo envolvido por uma linguagem de significados e
também carregado de expressões herdadas de um contexto histórico que ao longo do
tempo, entre as diversas culturas existentes, foi gradativamente evoluindo e se
transformando juntamente com o homem, pois, este é ator principal no palco da existência
artística. No entanto, não podemos confundir a arte e considerá-la como uma moral,
religião, ideologia ou uma ciência. Podemos dizer ainda, que a arte é sobrevivente a tantos
acontecimentos e transformações do homem no qual se encontra inserido dentro de um
contexto social.
Sendo assim, a obra de arte mesmo sendo participante de um momento específico
onde foi criada, continua possuindo, em qualquer tempo, um vínculo com quem a faz e
produzindo novos significados a partir da observação de outras pessoas. Então, podemos
afirmar que por mais que uma obra de arte tenha sido feita em um determinado contexto
temporal, a experiência que cada um tem com ela é individual e única, independentemente
do momento que cada um se coloca diante de uma experiência com a mesma. Assim, ainda
que a arte seja feita pelos humanos e para os humanos, dentro de um espaço temporal,
sendo diferente em cada momento histórico, ela permanece eterna, pois o que muda é o
objeto artístico, a arte não acaba, ela apenas retrata os momentos vividos dentro de cada
período da história. Com isso, cada um que analisar uma obra de arte vai analisá-la a partir
de seu contexto histórico vivido. Por mais que a obra de arte tenha sido realizada há
séculos atrás, quem a observar de um ponto de vista atual colocará nela significações que
talvez não existissem no momento de sua realização.
Dessa forma, a Arte acaba sendo uma afirmação da realidade uma vez que ela tem o
potencial de revelar acontecimentos sociais e até mesmo as contradições existentes em uma
sociedade. Dependendo do ponto de vista de quem a trata, ela pode chegar a revelar
ideologias, éticas, políticas, religiões ou pode também ser tratada meramente como uma
mercadoria ou, ainda, simplesmente servir de objeto de prazer sem que haja um interesse
social, econômico, ideológico, etc.
Em concordância com o exposto até aqui, considera-se que a Arte necessita ser
tratada com grande importância, pois ela está ligada diretamente ao homem numa relação
de importante significação representando o mundo vivido e seus percalços. Assim, quando
nos detemos a fazer uma retrospectiva na tentativa de obtermos conhecimento acerca dos
diferentes momentos históricos da Arte, notamos que cada período sofreu influências que
foram marcadas por diferentes manifestações: política, econômica, religiosa, enfim, cada
momento foi marcado por elementos peculiares a cada contexto histórico. Sendo assim,
podemos considerar que: “Se a arte não fosse importante não existiria desde o tempo das
cavernas, resistindo a todas as tentativas de menosprezo”. (MAE, 2001, p. 27).
Contudo, nos limites deste trabalho, não cabe a nós, fazermos uma análise crítica e
minuciosa de cada período. No entanto, se faz necessário destacarmos aqui, alguns
períodos e acontecimentos para assim podermos ter uma noção, mínima que seja, de como
o homem passou por diferentes momentos, os quais o impulsionaram a agir de determinada
forma no contexto artístico e pedagógico.
1.2 Panorama geral sobre a Arte na cultura ocidental
Quando analisamos a Arte da pré-história, percebemos que, num primeiro
momento, o homem ao fazer seus desenhos nas paredes das cavernas não tinha ainda o
conceito de Arte, ou seja, ele a fazia num sentido de retratar seu cotidiano mostrando
apenas aquilo que via, sendo esse período chamado de naturalismo3. Notamos a
preocupação com sua subsistência desde seus primeiros registros deixados. Esse fato é tão
importante e nos faz pensar acerca da diferença do homem em relação aos demais animais,
uma vez que este, desde os primeiros tempos deixou registros demonstrando sua
preocupação com a própria existência e, desse modo, podemos observar que sua evolução
possibilitou transformações dentro do processo histórico e também o desenvolvimento de
3 Estilo de fazer artístico fundamentado na perspectiva de reprodução exata da natureza.
técnicas para facilitar sua vida. Não podemos nos esquecer ainda que foi depois disso que
ele iniciou seu processo artístico, de tal maneira possibilitando-o criar e recriar elementos
para progresso tanto de sua vida cultural quanto social. Sobre este aspecto Proença (2000,
p. 07) registra:
(...) o homem cria objetos não apenas para se servir utilitariamente
deles, mas também para expressar seus sentimentos diante da vida e,
mais ainda, para expressar sua visão do momento histórico em que
vive. Essas criações constituem as obras de arte e também contam -
talvez de forma muito mais fiel – a história dos homens ao longo dos
séculos.
Portanto, podemos observar que o desenvolvimento cultural do homem não foi
feito de um salto, mas sim de um lento processo cultural durante a história. Percebemos
que o homem também atribuiu uma valorização acerca de sua própria razão, ou seja, ele se
colocou como centro do universo e teve presente o ideal de beleza como destaque na Arte.
É o que podemos observar no período entre os séculos VI a C. e IV a.C. em específico na
Grécia antiga onde a Arte não tinha apenas uma função representativa da realidade, mas
ela, necessariamente, além de passar uma imagem realista tinha que demonstrar um ideal
de beleza e isso em geral com figuras humanas. Como afirma Proença (2000, p. 28)
referente a esse período que: “(...) o escultor grego acreditava que uma estátua que
representasse um homem não deveria ser apenas semelhante a um homem, mas também
um objeto belo em si mesmo”.
Mas, como dissemos inicialmente, a Arte sofreu, e sofre ainda hoje, muitas
transformações devido à própria transformação humana. Com base nisso, observamos
ainda o surgimento da arte cristã que se deu durante a transição entre a arte antiga e a arte
moderna. Esse período foi marcado pela influência da igreja, pois, ela detinha fortes
influências no controle do poder e da sociedade e, conseqüentemente, de como era
conduzida a vida social através da doutrina cristã. Desse modo, a Arte desse período sofreu
forte influência do cristianismo, uma vez que esta expressava poder e riqueza. Assim,
podemos tomar como exemplo a Arte bizantina, pois, é através dela que notamos o apogeu
político e cultural a que o cristianismo assumia, uma vez que o imperador era considerado
representante de Deus e quem detinha o poder. Assim nos diz Proença (2000, p. 47):
A afirmação do cristianismo coincidiu historicamente com o momento de
esplendor da capital do Império Bizantino. Por isso, ao contrário da arte
cristã primitiva, que era popular e simples, a arte cristã depois da
oficialização do cristianismo assume um caráter majestoso que exprime
poder e riqueza.
Assim, observamos ainda hoje, principalmente em igrejas, traços que
caracterizam esse período como no caso dos mosaicos. Sendo assim, a autoridade do
imperador ficava expressamente marcada de modo que,
“As personalidades oficiais e os personagens sagrados passaram
também a ser retratados de forma a trocar entre si seus elementos
caracterizadores”. (...) Para que a arte atingisse melhor esse
objetivo, uma série de convenções foram estabelecidas, tal como na
arte egípcia. Uma delas foi a frontalidade, pois a postura rígida da
figura leva o observador a uma atitude de respeito e veneração pelo
personagem representado” (PROENÇA, 2000, p. 48).
Em oposição ao período Medieval, tivemos o Renascimento, que foi um
movimento da história, muito amplo e carregado de grandes transformações culturais e
artísticas. Nesse período tivemos o reconhecimento do valor do homem em sua
totalidade, ou seja, compreender o homem inserido na natureza, ocupando assim um
lugar central na mesma e também na história num momento de expansão no qual ele
procurava maior liberdade de expressão. A prioridade nesse momento era de libertar a
razão das concepções teológicas e assim ver o homem como totalidade alma/corpo,
reconhecendo que este ser que é concreto, vive num mundo e pode dominá-lo. Nesse
período o artista se tornava um cientista natural, como que um “físico” que tinha uma
preocupação centrada na teoria do movimento mecânico do mundo.
Ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no
campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança
clássica. O ideal do humanismo foi sem dúvida o móvel desse progresso e
tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Num sentido amplo, esse
ideal pode ser entendido como a valorização do homem e da natureza, em
oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a
cultura da Idade Média (Proença, 2000, p. 78).
No entanto essa transformação não aconteceu repentinamente e tampouco
livre de impedimentos, pois, o fato de trazer descobertas em vários campos do
conhecimento era motivo de preocupação por parte do clero. Na verdade as descobertas
feitas, por exemplo, no campo da medicina, eram proibidas rigorosamente, pois nesse
período o corpo não podia ser desvelado. Desse modo, quando analisamos a história e
tomamos o exemplo de Leonardo da Vinci, notamos sua ousadia em demonstrar através
de suas obras suas descobertas anatômicas. Assim nos diz Mota (2002, p. 132):
A extraordinária versatilidade de Leonardo Da Vinci não foi um caso
isolado. Movimento característico de uma era de inquietude, o
Renascimento abriu espaço para a manifestação de indivíduos
intelectualmente curiosos, interessados a um só tempo nas artes, nas
ciências e na política, capazes de conduzir seu próprio destino. Esses
indivíduos tornaram-se conhecidos como humanistas.
Portanto, o Renascimento foi um período de grande importância no sentido de
desvelar o mundo e obter liberdade crítica em oposição à autoridade imposta pela igreja.
Era com essa visão que Leonardo da Vinci e muitos outros nomes realizavam suas
pesquisas e demonstravam suas descobertas através da Arte. Ao passo que nesse
período de transição da Idade Medieval para a Idade Moderna ainda encontravam-se
obstáculos no desvelamento de descobertas como no caso da anatomia, em que
Leonardo Da Vinci se dedicava. No entanto, essa forma de “revelar”, nesse momento,
não atingia todas as camadas da sociedade, mas, somente quem entendia as relações de
proporção constituidoras da base dos fenômenos naturais, podia entender o que ele
queria demonstrar através de suas obras. Dessa forma, para Proença (2000, p. 79): “(...)
Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização do homem e da
natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a
cultura da Idade Média”.
E nos dias de hoje, podemos dizer ainda que o acesso ao conhecimento ainda está
limitado a uma classe privilegiada? Com os estudos referentes ao período do
Renascimento podemos entender que o conhecimento era velado por causa dos dogmas
da igreja. Então, qual será o motivo de não termos acesso a todos os tipos de
conhecimento na atualidade? Podemos dizer que a Arte feita atualmente também é uma
maneira de expressarmos nossas descobertas de mundo?
Cabe-nos ainda observarmos outro período de grande importância
na história, a Idade Moderna. Observamos nesse período que, o interesse pelo
conhecimento também tem um considerável aumento, uma vez que já mencionamos
anteriormente com a descrição feita no período do Renascimento, onde o homem já
opunha aos critérios da fé a capacidade de discernir, distinguir e comparar, sendo estas
características próprias da razão. Ou seja, através do desenvolvimento da mentalidade
crítica o homem substitui o dogmatismo pela possibilidade da dúvida, rejeitando assim
os princípios da autoridade carregada de preconceitos, e intolerância, acerca do
conhecimento. Esse processo visa o resgate da dimensão humana sobre todos os
aspectos. Sendo na Idade Moderna o aspecto fundamental, o resgate do conhecimento,
em que se busca compreender o sujeito do conhecimento. A esse respeito Proença
(2000, p. 105) nos diz:
Desde o Renascimento, o homem começa a opor, ao critério da fé e da
revelação, a capacidade de discernir, distinguir e comparar, própria da
razão. Desenvolvendo a mentalidade crítica, substitui o dogmatismo pela
possibilidade da dúvida, questiona a igreja e a filosofia aristotélica, rejeita
o princípio da autoridade. Assume uma atitude polêmica com a tradição,
busca a laicização do saber e luta contra os preconceitos e a intolerância
(...) Esse processo representa a tendência antropocêntrica, ou seja, o
resgate da dimensão humana sob todos os aspectos. Um deles é
compreender o sujeito do conhecimento, questão dominante na Idade
Moderna.
Entende-se que nesse período, o homem ao buscar a autonomia da razão o faz de
modo que abandona as explicações religiosas como acontecia anteriormente. Ou seja,
trata-se da crença numa razão que, sendo bem dirigida, possuiria um pensamento
autônomo ficando livre, dessa forma, dos dogmas visando assim a um saber para
transformar a vida. Tal pensamento influenciará no processo de colonização de novos
continentes e atinge o Brasil. Nesse sentido, Schlichta afirma (1998, p. 105):
Contudo, as idéias novas que passaram a correr o mundo, a partir da
ilustrada Europa, chegam ao Brasil. Na esteira da Revolução Industrial
espalham-se as idéias liberais e nascem as democracias modernas nos
Estados Unidos da América e na França (...) No Brasil, estas idéias
influenciaram também os movimentos artísticos e literários que, se por
um lado chegavam ao conhecimento apenas de uma minoria, por outro
lado, abriam novas perspectivas de criação no terreno estético, embora a
expressão cultural da nossa elite manifestasse em sua produção artística,
pouca originalidade.
Diante disso, cabe-nos lembrar ainda que o Brasil possui uma cultura européia e
segundo os registros históricos compreende-se nossa formação sendo ela marcada pela
européia, uma vez que nossa nação também é formada pela mesma e permanecendo
mantida ainda hoje por seus descendentes os quais aqui estão formando essa nação.
Como podemos notar, basta observarmos nosso dia-a-dia e constatar nossos costumes,
os quais, muitas vezes nem nos damos conta, pois se observarmos veremos muitos
elementos em nosso meio desde nossa educação até nosso modo de nos vestir ou em
nossa culinária, os quais são características trazidas principalmente da Europa.
1.3 - Brasil: modelos estéticos importados
O Brasil enquanto colônia tinha uma função de fornecedor de produtos tropicais e
também metais preciosos, no sentido de aumentar a ampliação comercial da burguesia
européia. Para isso, a educação formal não se fez necessária de imediato, uma vez que a
necessidade de momento era de mão-de-obra para a extração dos produtos já citados
acima. Nesse contexto, a chegada dos jesuítas ao Brasil se deu, não pelo fato de uma
necessidade de se educar um povo gentio, mas, de catequizar em função de dominar
aqueles que estavam sendo colonizados. Os jesuítas, já tinham recebido formação
pedagógica antes de chegarem aqui, por volta de 1549, acompanhando o primeiro
governador geral, Tomé de Souza. Desse modo, tanto os índios quanto os colonos, como
eram chamadas as pessoas muito rudes e aventureiras que para cá vieram sem suas
famílias, foram recebendo uma educação religiosa direcionada pelos jesuítas que estavam
sob as ordens de Manuel da Nóbrega. O trabalho “civilizatório” realizado pelos jesuítas se
deu com o auxílio de ensinamentos de Artes e ofícios, desenvolvido através da retórica,
literatura, escultura, pintura, música e artes manuais. Sobre a chegada dos jesuítas no
Brasil, Aranha (2002 p.102) nos diz que:
Apenas 15 dias depois, os missionários já fazem funcionar, na
recém fundada cidade de Salvador, uma escola ‘de ler e escrever’.
É o início do processo de criação de escolas elementares,
secundárias, seminários e missões, espalhadas pelo Brasil até o ano
de 1759, quando os jesuítas são expulsos pelo marquês de Pombal.
Com a expulsão destes, o que ocorreu então foi o fim do que se tinha como
educação formal, pois ARANHA (2002, p. 125) considera que: “Com esse acontecimento,
o sistema escolar sofre uma desestabilização porque os jesuítas possuíam muitas escolas,
além de terem sido capazes de, por longo tempo, formar professores e disciplinar alunos”
Nesse contexto, o Marquês de Pombal apresenta a primeira Reforma Educacional
Brasileira – Reforma Pombalina – com o objetivo de desenvolver o Brasil, reforçando o
ensino da ciência. Já o ensino da Arte se torna irrelevante, sendo apenas o desenho
geométrico considerado importante. Nesse período, Pombal torna obrigatória a freqüência
de todos os alunos a escola, porém, apenas os homens tinham a oportunidade de freqüentá-
la, uma vez que a mulher era educada para os afazeres domésticos.
A partir daí, em 1808 com a chegada da família real, houve um desenvolvimento
das atividades culturais, até então inexistentes ou proibidas, como no caso de publicações
da imprensa. Nesse sentido, tivemos a criação da Imprensa Régia (1808), da biblioteca
Nacional (1810), Jardim Botânico do Rio (1810), Museu Real (1818), depois Museu
Nacional e também com a Missão cultural Francesa (1816), grupo que teve influência na
fundação da Academia de Belas Artes em 1826. Esse grupo seguia o estilo neoclássico4. A
respeito disso nos diz Schilichta (1998, p. 21).
Os primeiros documentos que nos permitem vislumbrar um quadro desta
história se reportam a presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro em
1808. Até então, nossas atividades artísticas, limitavam-se aos centros
coloniais de maior riqueza – Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro – onde
as irmandades religiosas representavam o único mercado consumidor de
arte. Nossos primeiros pintores, autodidatas, inspiravam-se em gravuras
religiosas estrangeiras, as quais reproduziam composições barrocas,
produzindo uma arte influenciada pelo Barroco europeu que vem 4 Imitação da arte antiga. Proposta voltada para os padrões da Arte Clássica.
contrastar fortemente com a arte acadêmica, fruto da Missão Francesa,
chegada ao Brasil em 1816, (...) O que temos de registro em relação a
produção artística até esse período, pertence predominantemente à área
de literatura.
Em contraposição a todas as “formas anteriores”5 de ensino, que impõem modelos
que não correspondem à nossa cultura, inicia-se um movimento de valorização da
cultura nacional, expressada pela Escola Nova na educação. Desse modo, em 1920, a
Educação pedagógica da escola nova inicia o movimento modernista que vai de
encontro a todas as formas anteriores de ensino. Essas formas anteriores impuseram
modelos que não condiziam a cultura dos alunos, no sentido de que até então a arte-
educação fora a serviço dos ideais da aristocracia e do sistema monárquico. Assim, a
Semana de Arte Moderna que ocorreu em 1922, foi considerada o marco para a
valorização da arte brasileira. Contrapondo-se às influências européias e criticando
desse modo a velha ordem social e política. A Semana de 22 foi marcante com uma
visão de crescimento cultural dentro e fora das escolas. É importante lembrar que essa
semana foi resultado de um movimento que já estava em andamento e que nesse período
teve seu apogeu no que se refere às diversas modalidades artísticas. Sobre isso Schlichta
(1998, p. 39) nos diz:
Os modernistas rompem com a lógica do belo e da harmonia clássicos,
separando do romantismo e do realismo, para superar a expressão
idealista das relações humanas. Desta forma, ataca o bom gosto da época
ao relatar cenas e figuras que não obedecem aos padrões dos temas
tradicionais, rompendo com os ideais de beleza estabelecidos.
Representam a realidade humano-social, nas cenas de trabalho no
cotidiano da sociedade capitalista, o que até então era considerado um
assunto vulgar para arte. Nesta perspectiva, os modernistas refletem nas
suas obras, a verdadeira vida, ao mostrá-la através das mudanças sociais
que são vividas, mantendo o princípio da imagem como testemunha de
um determinado tempo.
5 Bem como, arte medieval e renascentista dos jesuítas sobre a arte indígena, ou da cultura neoclássica da Missão Francesa sobre uma arte Barroca com características brasileiras e uma arte popular em formação.
Não queremos dizer aqui que a Arte possua a função limitada de instrumento de
representação e testemunho da realidade. Ela não se restringe ou se compara a um
espelho da realidade, mas se justifica ao afirmar que qualquer das modalidades6 deve
instigar o público à crítica e não reduzi-la a veículo de uma moral. Esse período que foi
conturbado com a insatisfação geral e o desejo de mudanças nos permite admitir a
importância dos movimentos modernistas, não somente no âmbito político, econômico e
cultural, mas, também no ensino da Arte, por estar buscando retratar e valorizar nossa
cultura. Assim, uma vez que nesse período a educação foi colocada como principal
forma de mudança social, foi expressada desse modo pelo movimento direcionado pela
Escola Nova.
No entanto, o processo que segue nossa Arte-Educação é demasiado lento e
somente em 1971 com a Lei nº. 5.692/71, no seu artigo 7, que foi concebida a
obrigatoriedade do ensino da Arte nos currículos do Ensino fundamental (5ª a 8ª séries)
e médio. Sendo esse um momento de repressão política e cultural, mesmo assim o
ensino da Arte é caracterizado como disciplina obrigatória dentro do espaço escolar.
Entretanto, este se apresenta com uma concepção tecnicista, centrada nas habilidades e
técnicas.
A orientação tecnicista da lei não resolve o problema do acesso à Arte.
Por um lado, se na Escola Nova se privilegia as estratégias, os processos
em detrimento do conteúdo; no tecnicismo, se confunde o conteúdo com
habilidade, entendendo que naturalmente os alunos, na experimentação
de materiais, conseguirão se expressar artisticamente. (SCHLICHTA,
1998, p. 48).
Desse modo, ao que se refere à Lei nº. 9.394/96 – Lei de
Diretrizes e Bases – manteve-se a obrigatoriedade referente ao ensino de Arte nas
escolas. Em oposição à formação específica (Lei nº 5692/71), essa lei propõe então a
formação geral. Cabe lembrar que esse acontecimento se deu com a união de forças
entre: pedagogos, professores, pesquisadores e alunos junto a autoridades. Assim:
É com esse cenário que se chega ao final dos anos 90, mobilizando
diferentes tendências curriculares em arte. Nas décadas de 80 e 90,
desenvolveram-se muitas pesquisas entre as quais se ressaltam as que
6 Artes plásticas, Teatro, Música e Dança.
investigam o modo de aprender dos artistas, das crianças e dos jovens.
Tais trabalhos trouxeram dados importantes para as propostas
pedagógicas. Que consideram tanto os conteúdos a serem ensinados
quanto os processos de aprendizagem dos alunos. (Idem, p. 28).
Com isso, por mais que a LDB de 1996 tenha dado suporte institucional para o
desenvolvimento da arte, mesmo que de forma obrigatória, é comum que a Arte mesmo
sendo reconhecida como uma área de conhecimento, ainda hoje se encontre ministrada
por profissionais despreparados, ou seja, que não receberam formação específica para
atuarem na área. Além dessa agravante podemos notar, através das entrevistas que
fazem parte desse trabalho, que na maioria das vezes os professores encontram também
dificuldade na estrutura do contexto escolar, para desenvolverem seu trabalho com os
alunos. O que notamos ainda hoje, é que as mudanças ocorreram sim, pois a Arte
passou a fazer parte do currículo escolar, no entanto, cabe a nós salientarmos que ela
necessita de suporte para ser desenvolvida coerentemente como componente
socializador e contextualizador.
Desse modo, as reflexões feitas no estado do Paraná, referente à disciplina de
Educação Artística, iniciam em 2003 um processo coletivo entre componentes do
ensino referido, no intuito de contribuir para uma nova orientação curricular para o
mesmo. É com base nesses pressupostos que iniciaremos o capítulo seguinte, no qual
trataremos de discutir a atual situação do ensino de Educação Artística, por ser este o
objetivo do presente trabalho de pesquisa.
2. A ARTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL DO PARANÁ
Desde 2003 iniciou, em todo estado do Paraná, a
Reformulação Curricular em todas as áreas, inclusive Educação Artística, a qual nos
propomos a analisar neste trabalho. Quando nos voltamos para a década de 90, notamos
que a educação brasileira foi marcada pela aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), tendo também sido elaboradas pelo Conselho Nacional de
Educação as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), isso, juntamente com a proposta
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que foram indicados pelo MEC no
período de duas gestões consecutivas do governo federal (Fernando Henrique Cardoso).
Desse modo, a concepção Neoliberal passou a marcar fortemente a política educacional,
(...) “trata-se de uma velha ideologia que desempenha uma função política nova e, em
parte, paradoxal: a de exaltar o mercado em benefício dos monopólios e contra os
direitos sociais” 7 de modo que propôs para as escolas um desenvolvimento de
competências e habilidades em suas ações pedagógicas. No entanto, por não estarem
preparadas para definirem um currículo adequado para a formação dos alunos, as
escolas sofrem com inúmeras propostas diferenciadas as quais tornam a ação
pedagógica indefinida.
Percebe-se assim, que a partir da década de 90 as escolas
públicas tiveram dificuldades na atuação pedagógica. Observamos que adquiriram uma
atuação autônoma, no entanto, sofreram um verdadeiro bombardeio de concepções e
propostas diversificadas, pois, além da inserção da Arte na LDB houve também a
preocupação com a interdisciplinaridade, relacionada a multiculturalidade, no sentido de
se pensar no aluno possibilitando este de ter o mínimo de condições, ao concluir o
ensino fundamental, para refletir criticamente a imagem a qual está sendo exposto.
Com isso, o Currículo Básico de 1990, por sofrer
inadequações ao não ter sido alterado durante os últimos tempos está sendo
reformulado, desde 2003. Ao analisarmos esta questão percebemos que até 2002 a
proposta do Currículo Básico da década de 90 foi desconfigurada. Esta constatação
realizada pela Secretaria de Estado da Educação (SEED) mediante a um diagnóstico
acerca das propostas curriculares das escolas públicas do Paraná, onde a própria
Secretaria de Estado da Educação, junto com alguns encaminhamentos considerados
importantes na matriz curricular, reconhece a inadequação de propostas feitas pela
mesma Secretaria. O documento preliminar das Diretrizes Curriculares da Educação
Fundamental da rede Estadual de Educação Básica do estado do Paraná, revela que:
7 DEBATE-IMPERIALISMO E GLOBALIZAÇÃO. Fernandes, Florestan; Benoit, Heitor.1996, p. 80-81.
Um recente diagnóstico das propostas curriculares das escolas públicas
do Paraná, realizado pela Superintendência da Educação da SEED, revela
que a situação abordada, aliada a uma indefinição de propostas
pedagógicas da própria Secretaria de Estado da Educação e alguns
encaminhamentos pontuais na matriz curricular até 2002 foi
desconfigurando e disformando a proposta do Currículo Básico de 1990.
O Currículo Básico, ou seja, a proposta estadual oficializada, também
sofria de inadequações por ter ficado inalterado durante todos estes anos,
contrariando sua característica intrínseca de necessitar de constante
atualização em todas áreas do conhecimento. (Diretrizes Curriculares,
2005).
Desse modo, com a necessidade evidente de uma constante
atualização em todas as áreas do conhecimento, a SEED retornou à discussão acerca do
Currículo Básico no início de 2003, gestão que tem como prazo de conclusão o ano de
2006. Essa retomada está sendo realizada de forma coletiva dentro da compreensão de
que o currículo é uma produção social e assim necessita ser construído por pessoas que
participam dessa ação, por serem elas que mantêm contato direto com o que está sendo
vivido, pensado e realizado pelas e nas escolas. Essa proposta de reformulação conta
com 6 fases, estando ainda, como observamos acima, em fase de andamento.
A 1ª fase, que aconteceu em 2003 em Faxinal dom Céu com
o GP (Grupo Permanente), a partir de seminários realizados pela SEED, discutiu e fez
um levantamento da situação concreta das Diretrizes Curriculares que norteiam a Rede
Estadual de Ensino do Paraná.
No ano de 2003 até 2004, ocorreu a 2ª fase que se deu com o
coletivo dos professores, tendo um representante de cada município, e sendo realizada
de acordo com cada núcleo do estado. O núcleo de Cascavel contou com mais de um
professor e tendo também com um representante de cada município. Essa fase visou
analisar os desafios curriculares de todas as áreas de ensino, inclusive Educação
Artística. Para melhor explicar a respeito disso podemos observar a entrevista realizada
com a coordenadora de Artes do NRE (Núcleo Regional) de Cascavel, Telma Serafini
Boschirolli em 10 de novembro de 2006:
A Secretaria de Estado da Educação, SEED, vem desde 2004
promovendo a construção coletiva das diretrizes curriculares
estaduais em todas as áreas do conhecimento. Esse processo
privilegiou a participação do coletivo dos educadores do Paraná,
que puderam analisar as propostas e contribuir com suas
sugestões. O texto final das diretrizes encontra-se em publicação e
deve ser apresentado no início do ano letivo de 2006. Nas
Diretrizes Curriculares de Educação Artística a disciplina é
apresentada como área do conhecimento, com suas especificidades
e conteúdos próprios8.
Para a realização dessa construção teórica e para a reflexão
em relação à prática docente referente à diversidade de conteúdos trabalhados nas
diversas áreas do conhecimento, os educadores que compõem a Rede Pública Estadual
de Ensino do Paraná dispuseram do “Portal Dia a Dia Educação” 9. Cabe-nos aqui uma
pergunta: será que todos os estabelecimentos da rede pública e seus professores
possuem acesso à Internet?
Nesse caso, observamos ao questionarmos os professores
sobre a atual situação em que se encontram em suas práticas pedagógicas, notamos que
a maioria não tem à disposição internet no local em que atuam, e somente uma minoria
tem acesso a recursos de informática fora do contexto escolar. Com estes dados
percebemos as dificuldades que os mesmos encontram não somente para a elaboração
de seus planejamentos, mas também para ter o acesso à sua participação na
reformulação do curricular.
A 3ª fase ocorreu ainda em 2004 tendo continuidade em
2005, e sua realização aconteceu coletivamente para a reformulação curricular, partindo
das bases escolares, onde o próprio professor da rede estadual foi quem encaminhou
suas reflexões. Os educadores participaram de grupos de estudos e encontros
descentralizados realizados desta vez dentro de cada escola, e não mais por área,
mobilizando todos os professores de cada município. Seguiu-se assim, com leitura de
textos e síntese das reflexões realizadas sobre os mesmos e também atividade com fita
8 Entrevista cedida pela Coordenadora de Artes do NRE, Telma Serafini Boschirolli em 10 de novembro de 2005. 9 O Portal Dia-a-Dia é um portal do órgão do governo de acesso pela internet, que pode ser acessado através do site: www.diadiaeducação.pr.gov.br,
de vídeo sobre a Conferência, proferida no Simpósio do Ensino Fundamental, da
professora Maria das Mercês Ferreira Sampaio, referente ao Currículo Básico nas
escolas10.
Assim, na Reestruturação referente ao Currículo, a SEED
propôs ao grupo acima citado que o fizesse de acordo com o conteúdo dos textos de
apoio que receberam e das questões que lhe foram colocadas para responder. Em
decorrência disso, algumas questões são suscitadas: de que maneira estes docentes
tiveram a possibilidade de construir uma “nova proposta” para o ensino Fundamental, já
que os mesmos foram direcionados com o encaminhamento feito pela Secretaria de
Estado da Educação do Paraná? Sabemos de antemão que é necessário, sim, que haja
um questionamento acerca do Currículo Básico. Entretanto, até que ponto isso ocorre de
maneira a melhorar o que já temos? Se, por um lado, é de grande valor que haja uma
preocupação com o referido assunto, por outro, nos questionamos acerca de como será
na prática toda essa mudança. Observando a teoria notamos que tudo pode apresentar
um caráter de “Ideal”. No entanto, ao observarmos a pesquisa realizada a qual se
encontra neste trabalho, percebemos o primeiro e talvez mais importante passo a ser
tomado ainda, ou seja, a atenção à formação de professores, pois, a demanda nessa
disciplina, como podemos observar, é grande. Será que isso não vem ao encontrode
todos objetivos aos quais a proposta Curricular se destina?
Entende-se, enfim, que o professor, não tendo formação e
também sem estrutura material, não poderá realizar de maneira coerente essa proposta.
Essa é uma das preocupações que Proença (2001, p. 05) nos relata acerca da formação
de professores, pois para ela: “A carência de pessoal, capaz de uma ação cultural
estimuladora da curiosidade pela arte, da compreensão e do fazer artístico, é quase
absoluta”. Desse modo, podemos observar também a preocupação que a coordenadora
de Arte do NRE (Núcleo Regional) de Cascavel demonstra a este respeito:
A região não conta com profissionais habilitados em Artes em
número suficiente para suprir a demanda. Apenas cerca de 40% dos
professores atuantes em Educação Artística tem habilitação
específica na área. Esse deslocamento de professores de outras
áreas que lecionam Educação Artística na maioria dos casos
10 Estes dados estão explicitados no documento que a SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANA, enviou para os professores do ensino Fundamental no III Encontro Descentralizado das escolas de Ensino Fundamental.
prejudica o ensino artístico adequado, pois mesmo havendo boa
vontade falta o estudo aprofundado nas especificidades das
linguagens artísticas, ficando muitas vezes as aulas resumidas a um
fazer artístico sem contextualidade.
Podemos dizer com isso que a arte ainda passa por
dificuldades para ser tratada com o devido merecimento. Mas isso não a impede de
possuir uma função de contribuição na formação do ser humano.
3. A NECESSIDADE DA ARTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL
E SOCIAL
Para analisar a situação vivenciada no contexto escolar buscamos apoio em
investigação com levantamento de fontes, entrevistas e dados atuais que permitissem
demonstrar o processo de ensino de educação Artística nos colégios públicos (Estaduais) da
cidade de Cascavel. Para essa investigação, é importante que façamos uma breve análise no
processo histórico e social, para melhor podermos entender como chegamos até aqui e
também como o ensino de Arte está sendo visto e tratado dentro das escolas. Faremos um
breve levantamento acerca da disciplina de Educação Artística, uma vez que não
pretendemos fazer aqui uma análise minuciosa sobre toda “História da Educação”. Desse
modo, buscaremos subsídios nos PCNs11 Arte, uma vez que é através dele(s) que nossa
prática pedagógica tem sofrido influências e inquietações. Assim nos PCNs Arte (1997, p.
11 Parâmetros Curriculares Nacionais
19) : “Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Nacionais, Arte tem uma função tão
importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A
área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades”.
Os PCNs Arte foram elaborados com a intenção de aprofundar e ampliar um debate
educacional, num sentido de se fazer uma transformação positiva no campo da educação
brasileira. Desse modo, foram estes concluídos em 1997 pela Universidade Federal da
Paraíba e tendo as concepções de Arte-Educação como ponto principal referente ao ensino
de Arte no ciclo fundamental. Dessa forma, esse trabalho apresenta a proposta para Arte dos
PCNs, enquanto faz uma reflexão acerca da atuação de professores.
Ao analisarmos os PCNs, notamos que estes demonstram uma tentativa de auxiliar os
professores no seu trabalho, possibilitando que estes atuem de modo que levem
conhecimentos de que os alunos necessitam ter domínio para crescerem conscientes de seu
papel em nossa sociedade.
Dessa forma, parece, à primeira vista, que os PCNs nos trazem uma proposta
pedagógica para melhor encaminhar o ensino de arte nas escolas, contudo, temos observado
que a realidade em que estamos inseridos no contexto escolar referente ao ensino da Arte,
não atende a essas propostas. Assim, uma das principais dificuldades que os colégios se
deparam é a indisponibilidade de formação de professores nesta área. Observamos ainda
que, devido à falta de profissionais formados na área, ocorrem dificuldades no
encaminhamento do ensino de Arte, e isso podemos observar com a pesquisa realizada no
NRE (Núcleo Regional de Educação) de Cascavel (ANEXO 1).sendo que a cidade de
Cascavel possui 1.014 aulas de Educação Artística distribuídas entre 90 professores que
atuam nesta área, nos colégios estaduais da cidade. Assim, verificamos que apenas 22 são
formados na área especificada, sendo que entre estes ainda existe uma variação entre a
formação que se direciona para uma das 04 linguagens artísticas, sendo elas: Artes Plásticas,
Teatro, Música e Dança. Entre outros fatores que comprometem a aplicação dos conteúdos
de Arte, notamos, ainda através das entrevistas realizadas com os professores, que os
mesmos apontam unanimemente dificuldade devido à pequena quantia de materiais didáticos
disponíveis, tanto aos professores quanto aos alunos. Mas, conforme os PCNs (1997, p. 31):
A questão central do ensino de Arte no Brasil diz respeito a um enorme
descompasso entre a produção teórica, que tem um trajeto de constantes
perguntas e formulações, e o acesso dos professores a essa produção, que é
dificultado pela fragilidade de sua formação, pela pequena quantidade de
livros editados sobre o assunto, sem falar nas inúmeras visões
preconcebidas que reduzem a atividade artística na escola a um verniz de
superfície, que visa às comemorações de datas cívicas e enfeitar o cotidiano
escolar.
A contradição se torna explícita, pois por mais que os PCNs já estejam influenciando
na prática dos professores dentro das escolas, no sentido de apresentarem uma proposta para
a disciplina referida, observamos que estes estão trazendo inquietações uma vez que
envolvem complexas questões acerca das diversas linguagens artísticas. A proposta dos
PCNs é consolidar uma nova postura pedagógica colocando a arte numa posição de área do
conhecimento específico, pois, entende-se que o aluno necessita compreender a Arte com
sentido. Desse modo, uma vez que o aluno captar as informações históricas e sociais que
envolvem a arte e também tiver liberdade de imaginação, ele estará interagindo
culturalmente tanto com propostas artísticas individuais ou coletivas. De maneira geral,
podemos dizer que a aprendizagem tanto em Arte quanto nas demais disciplinas tem de ter
sentido para o aluno, e uma maneira de fornecer a participação e o interesse de cada um é
fornecer-lhe conhecimentos desde a história em que cada conteúdo se encontra inserido.
Sendo assim, é necessário que o professor de Artes tenha formação para poder orientar os
alunos de maneira que estes recebam orientações acerca dos conteúdos específicos de Arte.
Assim é o que nos diz os PCNs: “O ensino de Arte é área de conhecimento com
conteúdos específicos e deve ser consolidado como parte constitutiva dos currículos
escolares, requerendo, portanto, capacitação dos professores para orientar a formação do
aluno” (1997, p. 51).
Os PCNs nos mostram ainda que o aluno necessita percorrer um processo de
aprendizagem que lhe possibilite contemplar os aspectos construtivos e expressivos da Arte,
pois, ao adquirir o conhecimento da produção artística dentro de um contexto histórico, ele
passa a perceber a existência de códigos e as habilidades que lhe possibilitam trilhar seu
próprio caminho projetado com originalidade e domínio. Diante de tais perspectivas
compreendemos que, ao adquirir informações sobre o contexto integral da Arte, o aluno
passa a fazer sua própria produção individual sem se submeter aos padrões, mas
desenvolvendo suas criações a partir das diversas formas artísticas com individualidade e
intencionalidade. Assim para os PCNs (1997, p. 48): “No que se refere à Arte, o aluno pode
tornar-se consciente da existência de uma produção social concreta e observar que essa
produção tem história”.
As manifestações artísticas, no contexto histórico e social, possuem funções
importantes a serem cumpridas no ensino da Arte. Nesse caso, notamos que o aluno ao
tomar conhecimento do processo histórico e social, terá maior chance de entender a
diversidade de valores que estão presentes nos modos de pensar e agir de cada cultura e
inclusive a que ele se encontra inserido. Contudo, a fundamentação dos PCNs Arte é
marcada e permeada por noções românticas as quais Schlichta esboça em sua discertação
de mestrado por meio de uma análise crítica dos conteúdos dos PCNs. Conforme a autora
ocorre uma disformidade conceitual, no sentido de serem confundidos procedimentos
metodológicos com conteúdos. Assim, podemos observar nas Diretrizes Curriculares:
(BRASIL, 1997,p. 64-65) que.
Os alunos são conduzidos a ‘passarem por um conjunto amplo de “experiências” mas, afastados da atividade real de domínio da produção artística. Nesse documento, não se aprende a real finalidade da arte – meio de afirmação, interação e humanização – uma vez que os pressupostos teórico, ali presentes, versam a respeito de procedimentos metodológicos, substituindo o conteúdo por situações artificiais de assimilação da produção artística, enquanto um conjunto de objetos considerados arte e que isto ocorre através do simples contato sensível. Tudo se passa como se o domínio do conteúdo se reduzisse à assimilação mecânica e que este processo se desse naturalmente, a partir da “observação e análise das formas que produz (o aluno) e do processo pessoas”, ou do “contato e reconhecimento das propriedades expressivas e construtivas dos materiais”. Enfim, tudo se passa como se simplesmente, na “convivência com produções visuais” e no “contato sensível”, o aluno efetivamente pudesse apreender o conteúdo
Nesse mesmo sentido, podemos observar esse assunto também na afirmação de Schlichta (1998, p. 59-60):
Esta visão equivocada de conteúdo, estratégia e objetivo se explicam no documento como um todo. Mesmo acompanhando o raciocínio presente ali, quando diz que no ensino da arte temos como um dos objetivos, que o aluno “reconheça a importância das artes visuais”, entendemos que esta questão não é tratada de forma objetiva. Ou seja, para que alguém reconheça a importância das artes, é fundamental trabalhar com o próprio conceito de arte, as diferentes funções da atividade artística ao longo da história, as origens desta atividade na vida do homem, porque esta atividade, quando se desprende das outras atividades é entendida como criação, mas não como trabalho, isto se dá como um fato natural, mas num processo cultural, etc”.
Notamos, que a imagem do ensino da arte segue seu percurso sendo vista no sentido
de disciplina com importância inferior às demais, por mais que esteja presente uma tentativa
textual nos PCNs de confirmá-la como campo de conhecimento, pois, acaba assumindo uma
posição de matéria indefinida e incerta. Nesse contexto, os PCNs relatam de forma esparsa e
fragmentada uma sucessão de conteúdos que contribuem minimamente nesse sentido, uma
vez que o ideal seria evidenciar suas especificidades de forma descritiva exata contendo
conteúdos e procedimentos indispensáveis à apropriação do(a) aluno(a).
4. A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NA CIDADE DE CASCAVEL
Uma das contribuições deste trabalho é demonstrar, através de registros pesquisados
no NRE Núcleo Regional de Educação de Cascavel, a distribuição de aulas de Educação
artística nessa mesma cidade. Através de pesquisas com levantamento de fontes e também
entrevistas com professores de Educação Artística, da rede pública de nossa cidade,
seguimos numa discussão, na qual tentamos apontar as principais dificuldades encontradas
na atuação dos professores da disciplina mencionada. O que se pretende é refletir acerca das
dificuldades abordadas pelos professores entrevistados, para tentarmos entendera atual
situação a qual se encontra a Disciplina de Educação Artística.
Num primeiro momento, deparamo-nos com a atual situação referente à formação
dos profissionais desta área, uma vez que nossa região é carente de formação para
professores de Arte. Não queremos aqui dizer que esta deficiência na formação destes
profissionais seja um problema exclusivo de nossa região, assim como também não
queremos dizer que apenas essa área do conhecimento sofre por falta de aprimoramento ou
condições materiais. Porém, nosso objetivo é destacarmos aqui questões consideradas por
aqueles que estão atuando no dia a dia dentro do contexto escolar convivendo assim com os
resultados dessa carência entre outros fatores abordados no mesmo trabalho.
Quando dizemos que existe uma falta de profissionais com formação na área de Arte,
afirmamos isso com base em levantamento de fontes extraídas do NRE (Núcleo Regional de
Educação) de Cascavel, onde constatamos que nossa cidade possui uma demanda de 90
professores atuando nessa área, no ano letivo de 2005, dos quais somente 22 professores
possuem a formação em Arte. Com essa evidente falta de formação específica, podemos
observar também que os professores que atuam na área tendo formação em outras áreas entre
elas Pedagogia, Letras etc..., acabam por assumirem aulas de Arte no intuito de preencherem
sua carga horária, ou seja, muitas vezes um professor que teria 40 aulas semanais de uma
determinada disciplina acaba completando sua carga horária com aulas de Arte por ser uma
área que possui defasagem de profissional formado para tal. Exemplo disso é o que se
observa na distribuição de aulas de arte, sendo que muitos professores possuem um número
de aulas bem reduzido até mesmo alguns com apenas 02 aulas de Arte, como forma de
complemento de carga horária. Para melhor observarmos, demonstramos abaixo um
exemplo.
COLÉGIO FRANCISCO LIMA DA SILVA PERÍODO Nº AULAS Nº PROFESSORES TOTAL
AULAS/PROF TARDE 18 04 PROF. A= 06
PROF. B= 02 PROF. C= 04 PROF. D= 06
Notamos que neste colégio, existem 18 aulas semanais de arte distribuídas para 04
professores de em um único período. Diante desse fato, poderíamos dizer que este é um dos
fatores que dificulta o desenvolvimento da disciplina. Em resposta a uma das perguntas
feitas durante as entrevistas ao que se refere aos conteúdos, se os objetivos da disciplina de
arte são alcançados, um dos entrevistados nos respondeu da seguinte maneira: Acredito que
normalmente não são alcançados integralmente pela falta de formação específica da
área(...). (Prof. D).
Observamos ainda, que a falta de formação por mais necessária que seja no
desenvolvimento da disciplina, não é o único fator que dificulta o desenvolvimento da
mesma, no sentido de que mesmo os professores formados na área, também apontaram
dificuldades em sua atuação. Com isso, chamamos a atenção para um ponto importantíssimo
que inicia a questão referente à formação do profissional a que estamos nos atendo. Se
analisarmos as Diretrizes, notamos que a Lei nº 9.394/96 além de manter a obrigatoriedade
já existente com a Lei anterior 5692/71, propõe ainda ser tratada como área de conhecimento
compondo quatro linguagens sendo estas relacionadas à Música, Teatro, Dança e Artes
Visuais. A partir daí, notamos que os PCNs (1997, p. 57), também trazem em seu texto que:
(...)é preciso variar as formas artísticas propostas ao longo da escolaridade, quando serão
trabalhadas Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro.
Desse modo, cabe a nós questionarmos quanto à primeira dificuldade encontrada por
estes profissionais, no que se refere aos cursos de Artes ofertarem aos graduados a escolha
de apenas uma das modalidades citadas. De acordo com as entrevistas realizadas, enquanto
temos professores que são formados em Artes Plásticas, no caso de duas professoras, temos
também o caso de um professor formado em Música. Não será esse o motivo pelo qual se
torna difícil o desenvolvimento do trabalho de acordo com o que a lei propõe? Afinal todos
demonstraram dificuldades para trabalharem todas as linguagens no sentido de que cada qual
possui mais afinidade com a linguagem que optou como requisito de sua graduação. Desse
modo, segundo uma professora entrevistada: A disciplina de Educação Artística é
constituída de 04 áreas que são: teatro, dança, música e Artes visuais. É difícil para o
professor trabalhar as 04 linguagens em sua totalidade. (Prof. A)
Considerando as dificuldades encontradas por professores de Artes, formados na área
ou não, encontramos, ainda, a falta de estrutura material, sendo esta uma preocupação de
todos os professores no momento de planejarem as aulas. Nesse caso, ao abordarmos uma
questão específica em nossas entrevistas referente à existência de material didático tanto
para alunos quanto para os professores. Pudemos observar que a situação não se restringe
apenas a alguns colégios, sendo que as respostas foram unânimes em afirmar carências.
Os(as) professores(as) nos responderam da seguinte forma:
Quanto ao material didático para o professor, ainda não são grandes as
aquisições e para o aluno também não há, pois o governo não manda
nada, mas a escola dispõe-se a ajudar nos nossos eventos, exposições etc...
(Prof. A)
O material didático é escasso, praticamente inexistente. (Prof. B) Não. Nas escolas públicas nada se cria tudo se transforma na base da sucata. (Prof. C) Tanto professores quanto alunos não recebem materiais para trabalhar. (Prof. D) Não é fornecido material didático nem para alunos e nem para professores Prof. E) Não. (Prof. F)
Perguntamos ainda sobre interesse e disponibilidade dos alunos a visitações a
museus, palestras, exposições, gincanas etc. Nesse caso, as respostas dos professores
demonstraram, de modo geral, que há interesse. Porém, afirmou um professor em uma das
entrevistas que: “Há uma certa dificuldade, ainda precisamos desmistificar esse conceito de
que museu é coisa antiga, passado”(Prof. A). Descreveram ainda o interesse dos alunos em
fazer atividades extra-classe. No entanto, a maioria deles não possui disponibilidade
financeira para tal, pois os colégios em que os professores atuam encontram-se localizados
em bairros distantes dos locais onde se encontram tais atividades. Sobre este aspecto,
destacamos os seguintes fragmentos das entrevistas:
Temos também o problema da locomoção, principalmente nas escolas de bairro. Quanto a gincanas e exposições, as mesmas já fazem parte do calendário escolar. Os alunos demonstram interesse, entusiasmo e isso os motiva muito. (Prof. A ) Os alunos têm interesse, mas o fato de ter que alugar ônibus e custear as despesas acaba por gerar uma insatisfação geral. (Prof. B) Muito interesse em ir mas o entendimento deles é pouco pois não costumam fazer isso, porque como coloquei antes há pouco recurso nas escolas. (Prof. C) Os alunos se interessam, no entanto não há disponibilidade de locomoção (financeira). (Prof. D) Há interesse por parte dos alunos, no entanto, não disponibilidade para fazê-lo. (Prof. E) Há interesse, mas não há disponibilidade para isso. (Prof. E)
Ao perguntarmos se seus objetivos são alcançados, alguns destacam dificuldades
materiais, como já foi dito, e afirmam sobre a disponibilidade de recursos que:
Nem sempre. Às vezes faltam recursos pedagógicos que prejudicam o processo de ensino-aprendizagem. (Prof. B) Nem todos os objetivos são alcançados por falta de material da escola e também por parte dos alunos que não trazem o material pedido. Prof. E).
Além disso, o que também contribui para dificultar o desenvolvimento da disciplina
é o fato de que a maioria dos colégios não possui sala ambiente (sala especial de Educação
Artística) para trabalhar os conteúdos. As respostas referentes a essa questão, apontam para
os mais variados motivos, em que, no atual sistema de educação da rede pública de nossa
cidade encontram-se colégios que dividem espaço físico com turmas pertencentes à rede
municipal de educação. Ou seja, na maioria dos casos onde isso ocorre, as turmas
pertencentes ao Estado ocupam o colégio em um período do dia e as turmas pertencentes ao
município em outro período. Com isso torna-se difícil a viabilização de salas ambiente para
a rede estadual de ensino. Sobre esta dificuldade um dos professores assim se manifestou:
Não, a escola não possui sala ambiente, estamos trabalhando para isso, mas não há disponibilidade
de salas, pois o município também usa as nossas salas. (Prof. A)
Além de não possuir espaço físico disponível, outro motivo que foi destacado em
uma das entrevistas foi a desvalorização da disciplina conforme afirma um dos professores:
Não, ainda não é muito valorizada a disciplina. (Prof. C)
Os PCNs abordam a questão da interdisciplinaridade no contexto escolar, de maneira
que haja uma relação entre os vários campos do conhecimento a fim de proporcionar aos
alunos mais oportunidades de desenvolver o aprendizado. Assim para os PCNs (1997, p.
119): “O ensino fundamental permite que as áreas se incorporem umas às outras e o aluno
possa ser o principal agente das relações entre as diversas disciplinas, se os educadores
estiverem abertos para as relações que eles fazem por si”.
Desse modo, enquanto os PCNs apontam uma maneira de possibilitar a ampliação do
conhecimento através da interdisciplinaridade, notamos que alguns dos entrevistados
apontam a existência de interação entre as demais disciplinas, como se pode observar nos
fragmentos abaixo:
Sim, trabalho em parceria com as disciplinas de Literatura, Educação Física, História e até esmo Geografia. Ex: Projetos relacionados como: de compreender o mundo/ Candido Portinari. Literatura/Xilogravura. Estamos preparando o espetáculo “Consciência Negra” ─ Literatura/ História/ Arte/ Geografia. (Prof. A) Sim, principalmente com Português, Ed. Física e Ens. Religioso.”; “Há interação com Português, Ed. Física e História”; “Com a Língua portuguesa e Ed. Física. (Prof. D)
No entanto, essa não é a realidade de todos os entrevistados, pois, alguns não tem
muita interação com as demais disciplinas de acordo com as respostas de dois professores:
Quase nenhuma (Prof. B) e Poucas(Prof. C).
Outro foco de análise foi o de saber qual a disponibilidade de aperfeiçoamento
profissional do educador em relação à disciplina de Educação Artística, uma vez que ao se
questionar sobre a atuação pedagógica, temos que levar em conta as possibilidades que o
professor encontra para se aperfeiçoar. No caso de dois professores que possuem formação
específica, as respostas foram positivas:
Os professores estão sempre solicitando cursos de capacitação. Ocorreram em Faxinal do Céu e Curitiba e aqui mesmo alguns encontros, cursos e seminários, eu participei de todos com incentivo da escola e dos professores (Prof. A). Seminários da Secretaria de Educação e grupos de estudo acontecem ao longo do ano e a Escola possibilita a participação. A participação do professor em cursos, congressos, simpósios, etc. ligados a outras instâncias até pode ser negociada, desde que o professor reponha as aulas. (Prof. B)
Neste caso entrevistamos também a coordenadora de Arte do NRE de Cascavel e o
que ela nos disse foi o seguinte:
Para os profissionais da rede estadual, a SEED tem procurado propiciar um programa de formação continuada que atinja, senão a totalidade, a maioria dos professores. Nesse ano de 2005 foi ofertado Seminários em todas as áreas do conhecimento, grupos de estudo descentralizados, construção de estudo individual através dos projetos Folhas e APC (Ambiente Participativo Colaborativo) e oficinas no projeto Fera (Festival de Arte da Rede Estudantil). O Núcleo de Educação tem procurado promover encontros entre os professores para troca de experiências e oficinas. Neste ano foi ofertado Oficina de Xilogravura e Encontro sobre Diversidade Étnico Racial.
Porém, um professor que possui habilitação em Arte, respondeu de forma contrária
aos anteriores: Na rede pública poucos, e nem todos os professores têm acesso (Prof. C). No
caso dos professores que possuem formação em outras áreas apenas um respondeu que tem
possibilidade de participação em cursos de aperfeiçoamento: A escola faz questão de que
seus professores participem de cursos, no entanto não há oferta dos mesmos nesta área
(Prof. D). Já dois professores responderam que: Não (Prof(s) E e F).
Desse modo, ao analisarmos a possibilidade de se ter um ensino de Arte que vise
orientar os alunos de maneira a proporcionar-lhes o conhecimento, Ana Mae (2001, p. 02)
considera que: “A arte na educação afeta a invenção, inovação e difusão de novas idéias e
tecnologias, encorajando um meio ambiente institucional inovado e inovador”. Essa questão
foi abordada na entrevista que fizemos com a coordenadora de Artes do NRE (Núcleo
Regional de Educação) de Cascavel, onde ela especificou a área de Arte como:
(...) uma área do conhecimento, tendo uma linguagem específica e conteúdos próprios. Durante muito tempo ela foi vista como fonte de lazer, recreação, socialização, disciplinadora (Ex: as canções para formar fila, lanchar, entre outras) e/ou recurso metodológico para outra disciplina. Porém a principal função da disciplina de Educação Artística na escola é possibilitar a educação estética de nossos educandos, é fornecer a eles instrumentos para que possam compreender as linguagens artísticas, seja como apreciador ou produtor de arte. A Educação Artística contribui na formação do educando, possibilitando-o a novas formas de expressão e comunicação. Ao interagir com as diferentes linguagens artísticas o aluno amplia sua compreensão de homem e mundo. O convívio com a arte estimula a uma maior percepção (visual, auditiva, etc), possibilita desenvolver o raciocínio frente a situações problemas, pois como na arte é possível romper com barreiras e paradigmas, isso auxilia em outros momentos da vida do educando em que ele tenha de encontrar soluções diversas.
No entanto, percebemos a dificuldade encontrada pelos professores e o descaso dos
governantes a respeito desse assunto. Dessa maneira observamos aqui uma difícil barreira a
ser transposta. Como afirma Ana Mae (2001, P. 02), em relação ao interesse de educar o
povo: “Poucos governantes o estão. Em geral a idéia é que o povo educado atrapalha porque
aprende a pensar, a analisar, a julgar. Fica mais difícil manipular um povo pensante”.
Com isso, a falta de formação de professores na área de Arte é tão visível que
constatamos que isso é um dos motivos que acabam prejudicando o seu ensino de Arte.
Isso é um problema constatado e relatado na entrevista que realizamos com a coordenadora
de artes do NRE (Núcleo Regional de Educação) de Cascavel, em que ela diz o seguinte:
A região não conta com profissionais habilitados em Artes em número suficiente para suprir a demanda. Apenas cerca de 40% dos professores atuantes em Educação Artística tem habilitação específica na área. Esse deslocamento de professores de outras áreas lecionando Educação Artística na maioria dos casos prejudica o ensino artístico adequado, pois mesmo havendo boa vontade falta o estudo aprofundado nas especificidades das linguagens artísticas, ficando muitas vezes as aulas resumidas a um fazer artístico sem contextualidade.
Podemos notar também que a atuação do professor é fundamental na aprendizagem
do aluno. Ou seja, quando o professor detém o conhecimento daquilo que ele está ensinando
aos alunos, certamente o resultado será melhor. Então, quando mencionamos acima a
necessidade de se ter formação de professores na área de Artes, estamos nos referindo às
dificuldades de se fazer um trabalho educacional que possibilite a compreensão dos alunos
acerca do conhecimento artístico. Entendemos assim que quando o conhecimento artístico é
passado ao aluno este consegue entender e também valorizar a arte. Partindo desse ponto,
podemos observar as respostas dos professores, referente à posição que a escola, os alunos,
pais e sociedade em geral tomam em relação à educação artística:
De um modo geral, ainda não se da à devida importância e valor, pois há precariedade de profissionais na habilitação de Educação Artística (não há cursos na região), alguns professores que estão atuando são despreparados (fora da área), passam conteúdos de forma inadequada, passando assim uma visão distorcida, trazendo conseqüências desastrosas para a disciplina(Prof. B). A visão da Escola é bastante ambígua: alguns coordenadores apóiam, outros não; alguns defendem a importância da disciplina na formação do sujeito, outros a consideram um mero entretenimento. Quanto aos pais, praticamente não tenho contato, não posso afirmar o que os mesmos pensam em relação à disciplina. Acredito que devam reproduzir a visão estereotipada de que Educação Artística é desenho, dobradura e colagem. Quanto aos alunos, conforme respondido na questão oito, há diferentes níveis de compreensão; uns gostam e acham importante, outros a subestimam. A sociedade, de uma forma geral, dá maior valor às disciplinas de Português e Matemática. A Educação Artística assume algum valor quando se pensa na sua possibilidade de envolver as crianças e jovens na aprendizagem artística de maneira que possa, por meio dessa atividade, afastá-los do mundo das drogas. Mas, pelo fato de não ser vista como requisito importante na inserção no mercado de
trabalho, a mesma recebe menor atenção, pois é compreendida muito mais como entretenimento do que como uma área de conhecimento imprescindível para a formação das pessoas (Prof. B). Sem valor algum. Poucos são os que vivenciam e valorizam (Prof. C) Há incentivo e valorização por parte da escola. No entanto, ainda se percebe que não há a devida valorização tanto por parte de alguns alunos, pais e sociedade em geral (Prof. D). Os pais e alguns alunos não dão a devida importância merecida e dada a devida importância necessária, pois traz conhecimento para a formação e para a vida do aluno (Prof. E) Pais, alguns alunos, sociedade acham que esta disciplina não tem importância, que são apenas desenhos e não um despertar para desenvolver a cultura. Como apreciar uma obra de arte, seja ela uma escultura, pintura, música, teatro, dança e outros (Prof F).
Ao analisar as entrevistas observamos que a Arte se encontra desvalorizada tanto no
contexto escolar, ao que se refere aos alunos e pais, como também de modo geral na
sociedade. Destacamos aqui uma observação feita por uma professora referente ao Colégio
que esta professora trabalha: Na escola que trabalho (C. Olinda) há um reconhecimento e a
valorização por parte dos professores, alunos, pais e comunidade em geral. (Prof. A).
Sendo assim, poderíamos dizer, com isso, que o fato da disciplina de Arte ser
reconhecida e valorizada se deve ao fato da mesma ser trabalhada por um profissional
portador da graduação em Artes? Destacamos esta questão ao se constatar que a professora
que nos respondeu acerca da valorização e reconhecimento da disciplina (tanto dos alunos e
pais do colégio), possui formação na área de Arte. Desse modo, essa pode ser mais uma
prova de nossas afirmações quando destacamos a necessidade de se ter formação de
professores na área. Uma vez que nossa sociedade não possui uma formação que lhe
proporcione um entendimento referente à Arte, torna-se difícil valorizá-la. Podemos dizer
que, quando não se é educado para entender o sentido que a Arte possui, consequentemente,
ela não é tida como disciplina de valor igual as demais disciplinas como foi mencionado por
uma professora ao se referir à visão dos pais dos alunos sobre Arte:
(...) Acredito que devam reproduzir a visão estereotipada de que educação artística é desenho, dobradura e colagem. Quanto aos alunos, conforme respondido na questão oito, há diferentes níveis de compreensão; uns gostam e acham importante, outros a subestimam. A sociedade, de uma forma geral, dá maior valor às disciplinas de Português e Matemática. A educação artística assume algum valor quanto se pensa na sua possibilidade de envolver as crianças e jovens na aprendizagem artística de maneira que possa, por meio dessa atividade, afastá-los do mundo das drogas. Mas, pelo fato de não ser vista como requisito importante na inserção no mercado de trabalho, a mesma recebe menor atenção, pois é compreendida muito mais como
entretenimento do que como uma área de conhecimento imprescindível para a formação das pessoas (Prof. A).
Notamos ainda, na resposta citada acima que a preocupação maior da sociedade é
suprir o mercado de trabalho e assim a Arte acaba deixada de lado como se não fizesse
parte do contexto de vida do ser humano. Se a preocupação de todos é suprir o mercado de
trabalho, por qual motivo não se tem em nossa região nenhuma Faculdade que oferte a
disciplina de Arte? Essa é uma questão a ser pensada, pois, uma vez que não se fornece
formação específica na área de Artes aos professores a Arte continua sendo vista sem
importância na vida do ser humano. Assim, podemos dizer que a Arte é tão fundamental
que existem muitos questionamentos que envolvem seu ensino. Podemos apontar aqui,
mais uma vez, a entrevista realizada com a coordenadora de Artes do NRE de Cascavel,
sobre a questão da polivalência existente nessa área, sendo que para ela:
Essa é uma questão que gera bastante polêmica entre os profissionais de Artes. A formação acadêmica antiga (algumas faculdades estão com suas últimas turmas) era de Educação Artística, onde o currículo do curso apresentava as quatro linguagens e no ano final o aluno escolhia uma das linguagens para se habilitar. Mesmo havendo as quatro linguagens apenas na linguagem escolhida como habilitação havia um aprofundamento adequado. Hoje os atuais cursos autorizados pelo MEC na área de Artes não levam mais a nomenclatura de Educação Artística e devem ser sempre (licenciatura ou bacharelado) numa das áreas artísticas. Essa nova visão é um ganho na área, pois tem a possibilidade de formar profissionais com um profundo conhecimento em determinada linguagem artística. Porém, na prática, o professor de Educação Artística ainda tem que dar conta das quatro linguagens, o que pode gerar equívocos conceituais ou um ensino superficial das linguagens para as quais não foi habilitado. O ideal seria propiciar, aos educandos, ensino artístico com profissionais das quatro áreas, o que ainda é uma realidade distante, seja por questões administrativas-financeiras, seja por questões de demanda de profissionais .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo realizado, após o exame referente ao contexto histórico-cultural do
homem e também o processo educacional ao qual destacamos como foco a Disciplina de
Educação Artística, podemos notar que a Arte é uma dimensão humana sendo ela uma
possibilidade de afirmação e interação com a realidade. Sabemos também que o homem vem
realizando tentativas de superar preconceitos em busca do conhecimento acerca de si e de
sua vida.
Desse modo, notamos a partir da análise do processo histórico, que o homem vem
passando por processos de grande transformação cultural onde podemos notar seu
desenvolvimento desde a Pré-história até nossos dias. Podemos dizer ainda, que o
desenvolvimento artístico, não se deu de forma apenas decorativa, pois como nos explica
Schlichta, (1998, p. 65):
A Arte é uma dimensão humana, uma possibilidade de afirmação e interação do homem com a realidade, mas sabemos também que a sensibilidade estética depende sobremaneira do processo de construção dos sentidos estéticos. Estes não surgiram somente como resultado do desenvolvimento natural, mas antes de mais nada, como fruto do desenvolvimento histórico-social do homem.
Visto que nosso objetivo ao fazer esta investigação, foi o de compreender como a
atividade artística vem sendo tratada e desenvolvida. Assim de acordo com as possibilidades
estruturais as quais este ensino se encontra inserido dentro do contexto escolar, tentamos
demonstrar isso através de fontes cedidas pelo Núcleo Regional de Educação e também
através de entrevistas com profissionais que atuam nessa área. Desse modo, cabe ressaltar
também que esta investigação não tem seu ponto final, uma vez que todo conhecimento não
tem limites. Assim as questões levantadas neste trabalho possuem raízes históricas e não
cessam diante do que se tem até aqui.
Acreditamos, contudo, que a Educação Artística enquanto disciplina escolar pode ser
como uma alternativa para o indivíduo se integrar no contexto social por ele vivido, de
forma que a disciplina citada, de acordo com a maneira que for tratada pode possibilitar o
desenvolvimento da criatividade do aluno. Assim nos diz Schlichta (1998, p. 35):
A Arte é um conhecimento que permite a aproximação entre indivíduos, mesmo os de culturas distintas, pois favorece a percepção de semelhanças e diferenças entre as culturas, expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, em um plano diferenciado da informação discursiva (...) Nessa perspectiva, a arte na escola tem uma função importante a cumprir. Ela situa o fazer artístico dos alunos como fato humanizador, cultural e histórico, no qual as características da arte podem ser percebidas nos pontos de interação entre o fazer artístico dos alunos e o fazer dos artistas
de todos os tempos, que sempre inauguram formas de tornar presente o inexistente. Não se trata de copiar a realidade ou a obra de arte, mas sim de gerar e construir sentidos.
É desse modo que levantamos questões referentes ao ensino da Arte no contexto
escolar público, com o intuito de mostrar por meio deste trabalho como vem sendo tratada a
arte nas escolas da rede pública. Sendo assim, percebemos que apesar de ser ofertada a
disciplina na Rede Pública de ensino, ela não possibilita a formação de profissionais para
suprir as necessidades existentes no currículo escolar. Com isso, a disciplina torna-se uma
forma de completar o quadro de aulas daqueles professores que pertencem a outras
disciplinas. É desse modo, que percebemos, durante essa pesquisa, que a disciplina não
consegue transmitir a arte enquanto expressão da materialidade do homem. E assim,
observamos no decorrer deste estudo, que a falta de formação específica para os decentes
desta área é um dos fatores que impossibilita propiciar ao aluno a compreensão da Arte
como um elemento que traduz a forma como as pessoas vivem a realidade de seu tempo. Se
por um lado observamos a deficiência de profissionais nesta área, conforme estatísticas
levantadas através de pesquisa no NRE percebemos também que mesmo os professores que
possuem formação sentem dificuldades, uma vez que sua formação está delimitada em uma
das 4 linguagens artísticas12 .
12 Artes visuais,Teatro, Música ou Dança.
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