umbanda de nego veio
Post on 03-Oct-2015
133 Views
Preview:
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
-
Umbanda de Nego Vio
Compndio de Estudos (Volume 1)
Gregorio Lucio
So Paulo (SP)
2014
-
1
UMBANDA DE
NEGO VIO
Compndio de
Estudos
(Volume 1)
Gregorio Lucio
2014
-
2
Lucio, Gregorio Fernandes
2014: Umbanda de Nego Vio. Compndio de Estudos (livro
eletrnico) / Gregorio Fernandes Lucio
So Paulo (SP), 2014
Spinosa, Mario (foto de capa): As mos, a cruz e o rosrio
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Il.; ePUB
Umbanda Religio Estudo
Contato pelo email:
gregorbital@gmail.com
Site:
www.umbandadenegoveio.blogspot.com
-
3
Apresentao
Caro Leitor,
A presente obra trata do primeiro volume de uma srie
de textos escritos como resultado de um trabalho de
estudos que vm sendo realizado por este que escreve.
Particularmente, o presente volume compreende o
perodo de estudos realizados entre julho de 2011 a
janeiro de 2013.
No pretende ser um cdice para a religio de
Umbanda. Jamais foi essa a inteno. Ao contrrio,
nosso sincero desejo o de compartilhar com o pblico
interessado, justamente, alguns traos e apontamentos
das nossas reflexes em torno do fenmeno religioso
umbandista, a partir do olhar de um simples adepto, livre
pensador e dedicado estudioso deste universo to plural
e magnfico de significados, possibilidades de vivncia e
experimentao do Sagrado.
O autor.
-
4
Dedicatria
Dedico a presente obra, primeiramente, aos Mentores de
Luz (cujos nomes no ousarei citar aqui, uma vez que
sempre preferiram manterem-se em anonimato, como
professores dedicados e humildes) que me assistem e
inspiram no estudo desta intrigante religio, a Umbanda,
a qual optei por abraar como minha f e de cujas
experincias recolho novos sentidos para meu existir.
Tambm cabe meno de gratido e reconhecimento a
Tenda de Umbanda Tamanaqua, templo umbandista
localizado na Zona Leste de So Paulo, onde desenvolvo
meu trabalho como simples integrante de sua corrente
medinica e colaborador de apagado destaque em suas
atividades semanais.
Por fim, no posso deixar de mencionar minha esposa,
Denise Beraldo, essa to agradvel e amorosssima
companheira de todos os momentos, a qual sempre
apoiou-me neste projeto pessoal. Gratido pela sua
compreenso e carinho.
Gregorio Lucio
So Paulo, 11 de novembro de 2014.
-
5
Sumrio
Introduo .............................................................................. 09
Umbanda Religio Brasileira .............................................. 11
Kardecismo e Umbanda so iguais? ................................... 14
Prticas Rito-Litrgicas na Umbanda .................................... 21
Das Entidades Espirituais da Umbanda .............................. 26
As Ervas............................................................................... 31
A Defumao ...................................................................... 35
Os Banhos de Ervas ............................................................ 41
A Pemba, a Lei de Pemba e o Ponto Riscado ..................... 45
As Roupas Litrgicas e as Fitas ........................................... 52
As Guias .............................................................................. 59
As Velas............................................................................... 64
Msica e Movimento na Umbanda ....................................... 69
A Curimba e o Ponto Cantado ............................................ 74
O Atabaque ......................................................................... 83
A Dana Ritualstica na Umbanda ...................................... 91
A Mstica Mistrica da Umbanda .......................................... 99
-
6
Simbolismo, Magia e Subjetividade na Umbanda (I) ....... 108
Simbolismo, Magia e Subjetividade na Umbanda (II) ...... 114
As Hierarquias na Umbanda ............................................. 122
A Prtica Oracular na Umbanda ....................................... 128
As Votividades e Oferendas na Umbanda ........................ 135
O Psquico e o Imaginrio: Relao entre Mundo Espiritual
e Materialidade ................................................................ 142
A Realidade Espiritual do Terreiro de Umbanda ............. 151
A Obsesso Espiritual .......................................................... 157
As Egrgoras (A Utilizao das Foras Naturais e Mentais no
Rito da Umbandista) ............................................................ 163
A Demanda........................................................................... 170
Sade e Cura na Umbanda .................................................. 188
Tratamento Espiritual ....................................................... 193
Vivncia Religiosa e Bem-Estar ......................................... 199
O Mediunismo de Umbanda ............................................... 205
Sensaes Medinicas Parte I (Fenomenologia Orgnica e
Psquica do Transe)............................................................... 211
-
7
Sensaes Medinicas Parte II (Fenomenologia Orgnica
e Psquica do Transe) ............................................................ 218
O Mdium de Umbanda .................................................... 232
A Espiritualidade Umbandista Manifesta no Estado Superior
de Conscincia ..................................................................... 240
Processos Mentais e o Transe Mediunista I ...................... 247
Processos Mentais e o Transe Mediunista II ..................... 255
Processos Mentais e o Transe Mediunista III .................... 263
A Incorporao ...........................................................................
A Manifestao ................................................................. 274
A Interpretao Psquica e Espiritual do Fenmeno ........ 283
A Relao Mdium-Guia na Umbanda ............................. 293
A Ascenso da Conscincia ............................................... 300
Vises do Transe de Possesso ......................................... 307
Desenvolvimento Medinico na Umbanda ........................ 314
Funo Anmica e Mecanismos Adaptativos .................... 321
A Construo dos Papis Estruturantes ............................ 328
-
8
O Comando da Funo Medinica .................................... 337
A Identificao do Supra Consciente e a Expresso Criativa
.............................................................................................. 343
Educao e Concincia Medinica.................................... 353
A Viso de um Adepto ...............................................................
O Processo de Ensino-Aprendizagem na Umbanda ......... 362
A Sustentao do Trabalho Espiritual ............................... 367
O Templo Religioso como Ambiente Educativo ............... 374
A tica do Filho-de-Santo .................................................. 387
Concluso ............................................................................. 394
Sobre o Autor ....................................................................... 399
Bibliografia ........................................................................... 401
-
9
Introduo
Umbanda. uma cultura religiosa popular. o resultado
emprico da f de um povo e no o produto do
desenvolvimento intelectual hegemnico de um missionrio,
telogo ou codificador. a expresso mais prxima do
Socialismo dentro da Religio.
Seus aspectos exteriores chamam a ateno, deslumbram
mesmo. O transe o seu maior elixir. As roupas, as liturgias,
as votividades, os orculos, as ofertas, as giras, os
desmanches de demandas (que neste contexto no se referem
a aspectos negativos, mas ao embate criativo e renovador que
interpreta e ressignifica as situaes de conflito na
experincia humana), os cnticos, as curimbas, os atabaques,
as velas, as ervas, as flores, os pontos...
Mas por trs de todo este universo polissmico, repleto de
smbolos com fora atrativa e expressividade incomum, h um
mundo de energias sutis que permeia a dimenso fsica,
revelando-se devagar e amide, para aqueles que possuem
olhos de ver e ouvidos de ouvir.
A Aruanda Infinita, por meio de seus representantes, os Guias
e Orixs, mostra-se no suceder das experincias dentro das
Leis de Umbanda. Nas realizaes do cotidiano pertinentes a
vida e a f de seu adepto.
A funo simblica e psicolgica deste viver religioso na
Umbanda est, inequivocamente, muito mais no sentir
(corao) do que no pensar (crebro).
-
10
Contudo, preciso estabelecer pontes e dilogos entre o
mundo subjetivo que contempla o sentido religioso, os
discursos pertinentes ao universo interno dos terreiros e da
Umbanda como um todo, com as outras formas de
interpretao e entendimento da individualidade humana,
para que esta bela cultura religiosa que emerge do mbito
social com sua rica produo simblica seja tambm colocada
como partcipe ativa na centralidade do campo religioso
brasileiro, uma vez que sempre esteve posta margem deste.
E no outra, seno esta mesma, a inteno deste trabalho.
Contribuir para que a Umbanda tenha seu lugar de mrito
dentro da cultura religiosa de nossa sociedade. Criar um
campo de pesquisa e entendimento - assim como outros
tambm j vm de h tempos realizando - que demonstre ser a
Umbanda tambm uma religio autntica (e no uma seita,
conforme ideologicamente alguns tentam classifica-la, com o
objetivo de diminuir-lhe e manter o status quo social), capaz
de dialogar com as mais diversas reas do saber humano e,
acima de tudo, fornecer propsitos e compreenso da Vida
que estejam totalmente integrados ao tempo histrico, social,
psicolgico e espiritual do homem moderno.
Sarav a Umbanda!
-
11
Umbanda - Religio Brasileira
Muito se tem discutido a respeito das origens da
Umbanda.
Alguns acreditam ser esta uma religio revelada no dia
15 de novembro de 1908, pelo mdium sr Zlio
Fernandino de Moraes, logo, teria seu incio a partir de
um escolhido e revelador (obedecendo, assim, a mesma
estrutura de "mito fundante" das demais religies
abramicas).
Outros, creem-na como uma religio csmica, detentora
dos mais altos nveis do conhecimento humano (em suas
esferas cientfica, religiosa, artstica e filosfica), o
Conhecimento Uno, provindo das mais antigas e mticas
raas humanas j existentes na Terra (Raa Vermelha e,
posteriormente, os Atlantes e Lemurianos), cujas chaves
de conhecimento teriam sido guardadas e veladas pelos
Antigos Egpcios e no decorrer da histria, haveria
chegado ao Brasil por intermdio dos povos africanos e
se conjugado aos conhecimentos j existentes dos
indgenas brasileiros.
Seria essa a chamada Aumbandan; outrem credita s
tradies originariamente africanas as chaves e
fundamentos para o surgimento da Umbanda no Brasil.
-
12
E, ainda, aqueles que reputam Umbanda a pecha de
uma simples seita, destituda de corpo doutrinrio, senso
racional e crtico, repleta de crenas e fetichismos, a qual
surgiu como um processo de degradao das religies
predominantes ao longo do processo de desenvolvimento
social, notadamente nos centros urbanos das grandes
cidades brasileiras.
De nossa parte, cremos que a Umbanda surge como um
processo natural de ressignificao de prticas religiosas
pertinentes ao imaginrio coletivo da cultura popular
brasileira (catolicismo popular, pajelana, espiritismo
"kardecista" e as prticas africanistas). Em conjunto a
este processo, no plano espiritual, h um mecanismo de
adaptao e direcionamento dos Espritos afins faixa
vibratria brasileira, os quais colocam-se em contato com
o "mundo terreno" para contribuir com as necessidades
espirituais, psicolgicas e sociais daqueles que, a pouco e
pouco, tornaram-se adeptos da Umbanda e seu universo
espiritual.
Cremos, particularmente, ser a Umbanda uma religio
essencialmente brasileira, contando com o amparo e
assistncia de Grandes Numes, os quais orientam e
direcionam a coletividade umbandista no processo de sua
jornada espiritual, atravs da prtica da caridade, do amor
ao prximo, da tica e da cada vez maior conscincia
crtica e reflexiva de seu corpo de adeptos, fazendo com
que saiamos de uma zona de marginalidade e sub-cultura,
e passemos a ocupar e partilhar de um plano mais central
na produo cultural e religiosa no cenrio brasileiro.
-
13
Ademais, em seu aspecto espiritual, tambm
particularmente, no cremos que a Umbanda disponha de
uma "misso" especfica, como as religies crists
predominantes (por exemplo, o Catolicismo, por meio de
sua Igreja procura arrebanhar fiis e balizar sua conduta
religiosa para uma salvao; o protestantismo por sua
vez, busca a converso do indivduo f crist para
tambm desta forma conseguir sua salvao; o
espiritismo "kardecista" pretende ser a Terceira
Revelao das religies Abramicas, o Consolador
Prometido por Jesus Cristo). Sinceramente, no
cremos que a Umbanda disponha desta premissa na
constituio de sua prxis religiosa, bem como em seus
ensinamentos.
Cremos que a singeleza , a doura e fora da Umbanda
esto justamente na naturalidade em que ela se prope a
oferecer abrigo queles que buscam uma vivncia
religiosa em contato direto com o Sagrado atravs do
Transe (no necessariamente mediunista), na qual o
indivduo pode ser partcipe da comunidade religiosa,
exercitar a solidariedade, a to falada caridade, e
experienciar em si mesmo os efeitos salutares da conduta
direcionada para a tica e a responsabilidade, para o
contato com a natureza e a ligao direta com a
Divindade (Zambi, Olorum, Deus, etc) nas mais diversas
formas em que se apresente.
-
14
Kardecismo e Umbanda so
iguais?
certo que existem semelhanas entre a prtica do
espiritismo dito "kardecista" com determinadas prticas
da Umbanda. No entanto, impera entre adeptos dessas
duas correntes religiosas uma certa confuso no que se
refere distino entre ambas, e em idias errneas que
implicam numa viso "kardequisada" da umbanda, como
seja o entendimento de que esta seria uma corrente
paralela ao Espiritismo (popularmente conhecido como
Kardecismo), ou mesmo a de que a Umbanda seria uma
espcie de sub-cultura religiosa produzida a partir de um
processo de degenerao e miscigenao das prticas
espritas (da o termo pejorativo "Baixo Espiritismo").
Bem, a questo fundamental para podermos distinguir a
Umbanda do Kardecismo (permita-me o leitor a
utilizao do termo popular quando referir-me ao
Espiritismo), primeiro a de encontrarmos quais so os
aspectos que poderamos relacionar como sendo
semelhantes entre ambos e aps isso chegarmos a sua
distino.
Sendo assim, podemos a priori relacionar como
semelhanas:
1 Crena em Deus;
-
15
2 Crena na Imortalidade do Indivduo;
3 Crena na Reencarnao;
4 Crena na existncia de Espritos;
5 Crena na possibilidade da Comunicao dos Espritos
por meio do fenmeno medinico.
Acreditamos serem estes 5 aspectos que encontram-se,
em termos de similaridade, entre a viso "kardecista" e
umbandista. Obviamente, no elencaremos aqui os
princpios ticos e morais (amar a Deus sobre todas as
coisas e ao prximo como a si mesmo, a caridade, o
respeito pelo prximo, a conscincia do dever e da
responsabilidade, a conduta de vida que busca a
absteno de vcios e prticas mundanas, etc), pois estes
constituem o corolrio de todas as religies do mundo,
mesmo que ensinados e transmitidos de maneira
culturalmente diversa.
Partindo agora para as diferenas entre Kardecismo e
Umbanda, iremos direto a uma questo central e para isso
nos utilizaremos de trs questes da obra intitulada O
Livro dos Espritos, do respeitvel e eminente prof.
Hippolyte Lon Denizard Rivail, mais conhecido como
Allan Kardec, codificador da Doutrina dos Espritos,
vinda de Frana para o Brasil. Lembramos que esta obra
constitui a pedra angular do pensamento esprita. Vamos
as questes:
-
16
Questo 553: Qual pode ser o efeito de frmulas e
prticas com ajuda das quais certas pessoas pretendem
dispor da vontade dos Espritos?
Resp: O efeito de torn-las ridculas se so de boa-f;
caso contrrio, so patifes que merecem um castigo.
Todas as frmulas so enganosas; no h nenhuma
palavra sacramental, nenhum sinal cabalstico, nenhum
talism que tenha uma ao sobre os Espritos, porque
estes so atrados pelo pensamento e no pelas coisas
materiais.
- Certos Espritos no tm, eles mesmos, algumas vezes,
ditado frmulas cabalsticas?
Resp: Sim, tendes Espritos que vos indicam sinais,
palavras bizarras ou que vos prescrevem certos atos com
a ajuda dos quais fazeis o que chamais de conjurao.
Mas estejais bem seguros que so Espritos que zombam
de vs e abusam da vossa credulidade.
Questo 554: Aquele que, errado ou certo, tem confiana
no que chama virtude de um talism, no pode por essa
confiana mesma atrair um Esprito, porque, ento, o
pensamento que age? O talism no seno um sinal que
ajuda a dirigir o pensamento?
Resp: verdade, mas a natureza do Esprito atrado
depende da pureza da inteno e da elevao dos
sentimentos. Ora, raro que aquele que to simples
para crer na virtude de um talism no tenha objetivo
mais material que moral. Em todos os casos isso
-
17
denuncia uma baixeza e uma fraqueza de idias, que o
expe aos Espritos imperfeitos e zombeteiros.
Questo 555: Que sentido se deve dar qualificao de
feiticeiro?
Resp: Aqueles a quem chamais feiticeiros so pessoas,
quando de boa-f, dotadas de certas faculdades, como a
fora magntica ou a segunda vista. Ento, como eles
fazem coisas que no compreendeis, os acreditais dotadas
de uma fora sobrenatural. Vossos sbios,
frequentemente, no passam por feiticeiros aos olhos das
pessoas ignorantes?
(Captulo IX do Livro Segundo - Interveno dos
Espritos no Mundo Corporal)
Diante das questes expostas acima, vemos claramente o
posicionamento do Espiritismo no que se refere a sua
maneira de entender a relao com o mundo espiritual, a
qual confronta diretamente as prticas ritualsticas e
magsticas da Umbanda (obviamente a inteno de
Kardec e dos Espritos no era criticar a Umbanda, at
porque nem creio que eles soubessem da existncia de
prticas espirituais que viriam a se constituir na
Umbanda..sim, eles...no creio que os "Espritos do
Espiritismo" sabem e conhecem tudo e a todos).
Comeando pelo fato de que na Umbanda nos utilizamos
de rituais (as giras esto fundamentadas em rito-
liturgias), de signos cabalsticos (pontos riscados, cruzes,
tringulos, estrelas, etc), de talisms (patus, guias, etc),
-
18
assim como utilizamo-nos da palavra e do som para
congregarmos foras espirituais (a curimba, constituda
de pontos cantados, toque de atabaques, etc), vemos que
ai j esto as caractersticas fundamentais da prtica
umbandista, as quais a distinguem drasticamente do
"Kardecismo".
H aqueles, mesmo adeptos da Umbanda, que admitem a
utilizao das prticas ritualsticas, bem como os recursos
simblicos e mgicos utilizados nas giras, como sendo
meros pontos de apoio e direcionamento da
inteno...corroborando, dessa forma, com a concepo
de que estes seriam somente "muletas psicolgicas" para
a produo de determinado efeito.
No entanto, segundo nosso parecer, no consideramos
como simples recursos de apoio, as simbologias e
ritualsticas umbandistas, embora uma anlise superficial
a respeito destes aspectos possa levar a crer nisso. Ao
contrrio, as prticas umbandistas preconizam sempre
uma inter-relao direta e no bipartida da realidade
espiritual.
O mundo dito material ou corpreo manifestao da
realidade espiritual, e, por conseguinte, pela simbologia
mgica e ritualstica podemos influenciar e movimentar
foras (as quais no so enquadradas dentro daquelas
conhecidas pela cincia) que desencadeiam reaes na
realidade "material", como o caso da cura de
determinadas doenas que ocorrem num trabalho de
terreiro, quebrando o paradigma da cincia, o qual ainda
no encontra explicaes conclusivas a respeito (de como
-
19
foras ou aspectos no-fisicos interferem em processos
fsicos).
Ademais, sempre importante lembrar que as prticas
ritualsticas da Umbanda, as firmezas que existem numa
tenda de umbanda, as prticas recomendadas para o
corpo de mdiuns, suas protees, benzimentos, banhos,
defumaes, cruzamentos, pontos cantados, riscados,
etc...so essencialmente trazidos e transmitidos pelas
Entidades Espirituais responsveis pela coletividade de
cada templo em particular, e pela faixa espiritual da
Umbanda como um todo. Admitir que esses recursos so
meros apoios de menor importncia, tambm admitir
que nossos Guias e Mentores so Espritos Ignorantes ou
Zombeteiros, bem como seus adeptos tambm o seriam.
E isso tambm um outro aspecto errneo, o qual
podemos verificar na vivncia da prtica religiosa, no
"dia-a-dia de terreiro", em cujo meio, no contato com as
entidades espirituais, reconhecemo-las como Espritos de
grande sabedoria, conhecimento e simplicidade.
No estamos aqui dizendo que devamos aceitar tudo o
que os Espritos nos trazem, de maneira indiscriminada e
tola. Isso porque inegvel que existem em determinados
ncleos dito "umbandistas" prticas exageradas
e esdrxulas, as quais suscitam estranheza at mesmo
entre o prprio meio umbandista. No entanto, devemos
avaliar a atitude e a mensagem daqueles que buscam
trazer seus conselhos, suas mirongas, suas
firmezas...Somente assim podemos avaliar a natureza e a
inteno de determinados Espritos. Da mesma maneira
como faramos com qualquer pessoa que chegasse at
-
20
ns a fim de nos trazer uma mensagem ou um conselho.
Usar sempre o bom senso.
Importa ainda considerar que no devemos nos pautar na
viso "kardecista" para lastrear ou basear nossa prtica
religiosa como umbandistas. Isso porque o "kardecismo"
no dispe de uma viso adequada (no dispe de uma
viso mica) para entender o universo espiritual
pertinente a Umbanda. Por uma razo bvia: o
Espiritismo foi concebido na Frana, em uma cultura
extremamente diversa, num meio intelectual e
"cientificista", sendo toda a sua proposta filosfica e
metodolgica assentada sobre os discursos e a viso de
mundo pertinente quela poca, naquele pas.
Para finalizar, gostaramos de ressaltar aqui que as
opinies grassadas no texto so particulares, no
representam a idia de nenhuma coletividade ou
instituio em especfico, to pouco tem a inteno de
outorgar-se a Verdade. Da mesma forma, nosso respeito
incondicional a todas as correntes religiosas, e em
especfico ao prprio Espiritismo (do qual fomos, somos
e seremos sempre admiradores e estudiosos, apesar de
nossa crena estar situada nas lides da Umbanda).
-
21
Prticas Rito-Litrgicas na
Umbanda
Iremos agora explanar, de maneira simples e resumida, a
respeito das prticas rito-litrgicas no templo de
Umbanda.
Adiantamos que no iremos tratar aqui de modelos de
rituais, estabelecer cronogramas e procedimentos, pois
isso dado e cabe a cada templo umbandista e aos seus
dirigentes, os quais certamente dispem de amplos
conhecimentos e vivncia para estabelec-los.
Nosso objetivo ser o de tratar reflexivamente a questo
ritualstica e da liturgia na prtica Umbandista,
ressaltando seus objetivos, suas consequncias espirituais
e social-coletiva. Para isso, iremos pautar-nos nos "ditos
e escritos" de proeminentes umbandistas e pesquisadores,
cujas obras esto citadas ao fim deste post.
Primeiramente gostaramos de considerar o ritual como
sendo a prxis fundamental para agregar, em torno de um
objetivo especfico, as idias, pensamentos e o
comportamento da coletividade presente no rito. Por sua
vez, a liturgia (fechando assim o binmio rito-liturgia)
implica em todo o proceder por parte dos adeptos, o qual
viabiliza o cumprimento e a eficcia do rito. A liturgia
seria constituda por determinados gestos, palavras,
-
22
rezas, roupas, aparatos e posturas corporais, e at mesmo
o comportamento subjetivo (indicando concentrao,
mentalizao, silncio, respeito, reciprocidade, etc)
realizados dentro do ritual.
Pois bem, toda a prtica rito-litrgica na Umbanda possui
3 aspectos sobre os quais esta se fundamenta, quais
sejam:
1 Preparatria;
2 Atrao de Foras;
3 Movimentao destas Foras segundo o objetivo
visado.
Para que possamos cumprir um dado objetivo faz-se
necessrio cumprir uma srie de prticas e um
cronograma pr-estabelecido, a fim de sairmos de uma
condio inicial e realizemos o que nos propomos a
fazer. Em cima desta premissa que se assentam os
vrios ritos presentes e verificveis no universo
Umbandista.
Dito isso, focamos a necessidade da prtica rito-liturgica
como fundamental para o estabelecimento e a propagao
da tradio umbandista. As tradies umbandistas,
dentro de sua respeitvel diversidade, esto ligadas
diretamente ao processo rito-liturgico. A tradio a
consequencia imediata da vivncia e da prtica do rito ao
longo do tempo, por meio do qual so ressignificados e
transmitidos os princpios velados pelas Leis de
-
23
Umbanda, de gerao a gerao, de sacerdote/sacerdotisa
ao iniciado, do mestre ao aluno.
Como afirmaria mile Durkheim, um dos baluartes da
sociologia moderna: "O culto no simplesmente um
sistema de smbolos pelos quais a f se traduz
exteriormente; o meio pelo qual ela se cria e se recria
periodicamente. Consistindo em operaes materiais ou
mentais, ele sempre eficaz".
Ainda considerando a vivncia do rito, no seu aspecto
social/coletivo devemos considerar o indivduo como
portador de uma identidade divina, a qual no se
caracterizaria por um individualismo exclusivista; mas
uma identidade vivida e integrada ao contexto coletivo
religioso. No rito religioso, o indivduo assume o
"divino" interior, estabelecendo um contato prximo com
a Divindade. Na Umbanda, essa
experincia "mstica" dar-se- pelo transe mediunista, no
qual o sujeito-mdium comunga com seu orix (aspecto
manifesto da Divindade) por intermdio de seu Guia,
sua "entidade de frente", seu "pai-de-cabea", o
qual funciona como um mediador, manifestador e
regulador dos aspectos mais profundos e pulsantes da
inter-relao homem/Orix e mdium/Esprito Guia.
Chegamos agora no aspecto espiritual da vivncia rito-
litrgica. A importncia da conscincia religiosa por
parte do adepto umbandista deve comportar esse ngulo
de viso e compreenso da realidade espiritual, pois
somente assim este poder ampliar e aprofundar sua
vivncia e sabedoria dentro das Leis de Umbanda, e
-
24
obviamente colher melhores e mais frutos abenoados
ao longo de sua jornada espiritual.
Considerando que nos dias de rito, notadamente, as
irradiaes do Orix comeam a se estreitar e entrelaar
com as do mdium de maneira mais profunda pelo menos
7 horas antes dos trabalhos, as prticas de preparao do
mdium antes das giras, como sejam os "banhos de
defesa", a introspeco, o cultivo da orao, a absteno
de determinados hbitos e vcios, so fundamentais para
que o adepto possa romper as barreiras
interiores, inconscientes, de maneira a emergir a
fora arquetpica e espiritual de seu Orix regente, e essa
confluncia de foras possa resultar em processos de
sade, de prosperidade, de maturidade emocional e
vitalidade perante a vida. assim tambm que o mdium
pode, de maneira prtica e patente, aprofundar seus
estados de transe e assim aos poucos eliminar a dvida
do "eu ou no-eu" durante a prtica mediunista.
Adicionalmente, todos os templos umbandistas srios e
com compromissos fundamentados na relao com os
Mentores e Guias Luminares da Umbanda, possui toda
uma estrutura espiritual, localizada obviamente na
dimenso extrafsica, a qual comporta e atinge uma
esfera exterior muito maior do que os limites fsicos do
templo. Dentro desta dimenso esto inseridas uma srie
de energias polivalentes e poderosas, as quais sero
movimentadas no momento do rito a benefcio de todos
os presentes e de tantos outros distantes, seja espacial ou
dimensionalmente. A quantidade de Espritos associados
ao rito, seja na condio de orientadores e amparadores,
-
25
seja na condio de doentes em tratamento supera em
muito a quantidade de encarnados presentes no dia de
trabalho.
Sendo assim, toda a dedicao e carinho, alm do
respeito e da seriedade, com os quais os mdiuns possam
revestir-se, sero sempre fatores fundamentais para o
bom andamento e para a eficcia dos trabalhos
espirituais, em benefcios de todos!
-
26
Das Entidades Espirituais da
Umbanda
Muito se tem dito e escrito a respeito das entidades
espirituais vinculadas ao universo espiritual da Umbanda.
de conhecimento de todos, inclusive popularmente, as
representaes simblicas sob as quais estas entidades se
apresentam nos ritos dos templos umbandistas. So os
nossos caboclos, pretos-velhos, crianas, baianos,
boiadeiros, marinheiros...
No entraremos aqui no estabelecimento de linhas de
trabalho, ou na caracterstica particular de cada tipo de
entidade, as quais cabem para cada templo, de acordo
com sua tradio.
Faremos sim, uma incurso direcionada ao conhecimento
de quem so os Espritos que se manifestam como Guias
e Protetores na Corrente Astral da Umbanda, bem como
qual a sua relao com o universo "material", com a
conscincia medinica e como estes Numes transitam
entre a dimenso humana e a dimenso divina (expressa
pelo Orix).
Para iniciarmos, precisamos compreender em essncia a
atuao do(s) Orix(s) como sendo a de um ser
estruturador da Realidade. Tudo o que existe no
-
27
Universo, seja de natureza concreta ou abstrata, fsica ou
no-fsica, realiza-se e sustenta-se por meio do(s)
Orix(s). O(s) Orix(s) quem manifesta a "vontade
Divina" no tempo e no espao, estruturando as vrias
dimenses da Vida e abarcando em si as esferas
pertencentes a estas dimenses (Natureza, Humanidade,
Espiritualidade e Divindade).
Por ser o agente manifestador da Divindade Maior
(Olorum, Deus, Zambi, etc.), o Orix manifesta-se
no universo como um todo, tornando-se regente de uma
determinada faixa vibratria, a qual alberga em si todos
os seres portadores de conscincia (independente de seus
nveis) e, por consequncia, todas as coisas existentes.
Lembremos que o "mundo material"
(Natureza/Humanidade), segundo nossa conceituao,
manifestao do "mundo espiritual"
(Espiritualidade/Divindade), por isso o universo
material existe na medida em que manifestado pela
Conscincia, a qual est situada na dimenso
Espiritualidade/Divindade.
Obviamente, existe um contnuo "fluxo e refluxo" neste
trnsito entre a Realidade Divina/Espiritual e a realidade
Natural/Humana.
Sendo assim, Orix torna-se ento manifestao da
Divindade (sendo Seu preposto na Hierarquia Divina), na
Espiritualidade (manifestando-se como fora viva atravs
dos Numes Espirituais), na Natureza (por meio dos 4
elementos: ar, fogo, agua e terra) e, por fim, na
Humanidade (emergindo como fora
-
28
arquetpica pertinente ao inconsciente pessoal e coletivo
do indivduo).
Dito isso, entendemos agora que dentro de cada faixa
vibratria, a qual denominamos Linha dentro das Leis de
Umbanda, esto contidos aspectos divinos, entidades
espirituais, elementos da natureza e seres humanos cujas
conscincias "vibram originalmente" em sintonia com
esta ou aquela faixa, representante deste ou daquele
Orix. por isso que temos ento pessoas filhas de tal
Orix, espritos representantes de Orix tal, elementos da
natureza relacionados com Orix tal, assim como
atributos divinos ligados a determinado Orix.
Diante dessa questo, entenderemos que as entidades
tidas como Guias e Protetores em nossa Lei de Umbanda,
so aquelas que passando pelo ciclo nascimento - morte -
reencarnao (ciclo reencarnatrio), a pouco e pouco,
vivenciam e vivenciaram a experincia do contato
homem/Orix, seja na vida do mundo espiritual, seja na
vida "humana" (encarnao), seja na sua passagem
evolutiva pelos reinos da natureza, adquirindo
conscincia do Orix, daquilo chamado de "Deus
interno", passando a ser manifestadores da fora e
irradiao do Orix.
Assim que podemos ter, dentro de uma mesma Linha,
entidades diversas. Ex: Preto-Velho, Caboclo, e
Boiadeiro manifestando a irradiao de Ogum;
Marinheiro, Criana, Caboclo e Preto-Velho,
manifestando a irradiao de Yemanj, e assim por
diante.
-
29
Importante considerarmos tambm que os termos
"Caboclo", "Preto-Velho", "Criana", "Baiano", etc.,
mais do que a forma de apresentao destes Espritos,
remetem ao grau espiritual concernente a cada um. Esse
grau espiritual no traduz uma relao vertical entre as
Entidades (por exemplo, Preto-Velho seria "mais
evoludo" que o Caboclo, e vice-versa). Ao contrrio, as
relaes do plano espiritual revelam-se horizontalmente
entre os Guias e Protetores, sendo dada a ascendncia de
determinado Esprito sobre o mdium pelo fato deste
guardar maior afinidade vibratria e krmica sobre o seu
tutelado. Embora seja verdade que muitos espritos
tiveram pelo menos sua ltima encarnao como ndios,
negros, nordestinos e sertanejos, isso no se torna uma
regra na qual possamos enquadrar todos as Entidades que
"baixam" nos templos de Umbanda.
Tratando agora a respeito da relao mdium/Guia,
podemos tambm citar um aspecto interessante, segundo
o qual sendo o mdium filho de determinado Orix, esse
receber um Guia manifestador deste mesmo Orix,
conhecido como "pai de cabea" ou "guia de frente". Ser
sempre sob a cobertura dessa entidade "principal" que
iro ocorrer as manifestaes mediunistas das demais
entidades que compem a "coroa medinica" do mdium.
A abertura da sintonia medinica ser sempre realizada
pelo guia de frente (no necessariamente incorporando-se
no mdium antes das demais, mas sim efetivando uma
influenciao mais subjetiva e sutil), resguardando o
mdium e sua identidade.
-
30
Finalmente, e ainda sobre a atuao do Guia de frente,
na experincia do transe, ao longo da vivncia
tempo/rito, podero emergir os contedos
numinosos presentes no inconsciente do mdium
proporcionando experincias msticas profundas e
alteraes marcantes no seu comportamento e percepo
da vida, compreendo-se como Ser existente tanto na
realidade material (natureza/humanidade) quanto
espiritual (espiritualidade/divindade), como sujeito eterno
e constitudo pelo Divino/Orix.
-
31
As Ervas
Na Umbanda tudo tem um fundamento e uma razo de
ser.
No importa se essa "razo de ser" seja diretamente
concordante com a cincia moderna, pois nem sempre a
viso metafsica preconizada pela compreenso
Espiritualista da realidade comporta mtodos de
mensurao quantitativa e qualitativa, exigncias bsicas
para a comprovao do mtodo cientfico acadmico.
Importa sim, que a metafsica caracterstica de um
segmento religioso comporte em seus princpios e
fundamentos um discurso e uma prtica coerentes entre
si, e esteja embuda de crtica da realidade de si mesma e
da sociedade na qual est inserida. Assim, ambas as
formas de compreender a realidade, no seu aspecto
religioso e cientfico, podem se interfacear, no
fundindo-se, mas convivendo num mesmo ambiente
cultural, sendo comportadas pela f e pela razo humana,
cada uma respeitando a esfera de ao a que lhe pertence.
Dizemos isso para podermos abrir nosso estudo reflexivo
a respeito das Ervas na Umbanda.
Deixaremos claro mais uma vez que no iremos aqui
passar receitas de banhos ritualsticos, defumaes,
simpatias, amacis, etc. no que tenhamos nada contra,
-
32
muito pelo contrrio, uma vez que somos umbandista,
mas como sempre nossa inteno ser a de refletirmos a
respeito do porqu do uso e da importncia das ervas no
universo religioso umbandista e como essas esto ligadas
aos aspectos fsicos e espirituais, segundo o sistema de
crena da Umbanda. Como sabemos que em nosso meio
existem vrias tradies, procuraremos tratar o assunto
da maneira mais ampla possvel para que tenhamos uma
viso satisfatria e adaptvel ao mximo nmero de
adeptos.
A Umbanda, por ser essencialmente um credo
Espiritualista, compreende a Realidade como sendo
portadora de uma poro material e outra poro
espiritual. No entanto, como j tratado em textos
anteriores, no entendemos estas duas "polaridades" do
Universo como estando separadas uma da outra.
Entendemos inclusive que o "mundo material"
manifestao do "mundo espiritual", seus aspectos
essenciais coexistem dentro de um sistema maior em que
foras sutis transitam entre ambos, carreando os influxos
de origem divina/espiritual para o universo material, bem
como a experincia dos efeitos materiais em essncia
repercutem vibratoriamente em determinados nveis mais
prximo-imediatos do plano espiritual.
Uma vez compreendida essa questo, passamos a
entender como, segundo nosso sistema de crena e
experincia religiosa, tudo no planeta dotado de uma
dimenso corpreo-fsica e outra mais
essencial/espiritual. As ervas, utilizadas em nossa prtica
-
33
religiosa com as mais diversas finalidades, possuem
ento uma dimenso corprea e vital (so seres vivos)
assim como uma dimenso espiritual/divina (esto
associadas s conscincias espirituais ainda em estgio de
evoluo neste reino anterior ao hominal, assim como
est contida nelas a manifestao direta dos Orixs).
Diante de tudo isso, entendemos agora que as ervas
podem influenciar o mundo material, quando utilizadas
como medicamentos, alimentos, etc...assim como podem
influenciar a dimenso espiritual, quando empregadas na
rito-liturgia umbandista, em forma de banhos de defesa,
defumaes, amacis, etc.
Para concluir, abordaremos mais um aspecto de
fundamental importncia para nossa compreenso. Como
dissemos anteriormente, entendemos que tudo que h em
nosso planeta, e neste caso, especificamente na natureza,
dotado de uma constituio sutil e espiritual. Dessa
forma, necessrio que haja, quando da utilizao da
erva nas prticas do rito umbandista, uma ligao entre
o(s) indivduo(s)/mdium(ns) operador(es) do rito com a
erva ou as ervas que sero utilizadas.
a mente do sensitivo que "dispara" o comando para que
sejam movimentadas as foras sutis que esto contidas na
erva e no ambiente que ser atingido por tal ao
magstica. Devemos lembrar que para um trabalho
espiritual, no qual as ervas sero utilizadas como
poderoso recurso, a vontade e o pensamento do operador
que iro subordinar e comandar o processo.
-
34
Evidentemente existem prticas de fundamento
especficas dentro de cada terreiro que destinam-se
justamente a promover esse "despertar" das propriedades
espirituais das ervas. Para citar um exemplo, quando o
corpo de mdiuns canta e dana para os Orixs junto ou
prximo s folhas que posteriormente sero utilizadas
nos trabalhos ritualsticos da casa, mesmo que muitos dos
presentes no o saibam, podemos estar certos de que
neste instante est ocorrendo uma verdadeira "agitao"
nos planos etricos/espirituais em cujas dimenses
movimentam-se os aspectos curativos/espirituais de
nossas folhas sagradas, com as quais sempre poderemos
contar como abenoados remdios para o corpo e para as
questes espirituais, levando toda a negatividade, os
acmulos nocivos de energias densas, afastando seres
espirituais de baixa frequncia e nos colocando
vibratoriamente em contato com os Guias e Orixs de
nossa amada Umbanda!
-
35
A Defumao
Em continuidade ao assunto iniciado e tratado no post
anterior, trataremos agora de outra questo extremamente
presente no dia-a-dia da prtica umbandista: a
defumao. A defumao como verdadeira magia para a
correo e harmonia das estruturas espirituais do templo
e principalmente do indivduo.
sabido por parte de todos os adeptos da nossa
Umbanda como se preparar uma boa defumao. Os
templos umbandistas fornecem essa orientao, alm de
contarmos com uma considervel bibliografia no meio
umbandista que trata, pelo menos de maneira bsica, a
respeito deste fundamento.
Entretanto, gostaramos neste momento de aprofundar o
olhar a respeito e reflexionar sobre como uma prtica,
vista como um mero "exotismo" ou prtica primitiva ao
olhar do leigo, est revestida de tanta sabedoria e
conhecimento a respeito das dimenses do ser humano e
da vida.
A difuso cada vez maior de idias a respeito da
realidade quntica do universo em nossa cultura ocidental
- a qual caracterizada pelo cientificismo e pelo
racionalismo filosfico -, tem suscitado muitas
discusses em nosso meio social e tambm nos meios
acadmicos.
-
36
A compreenso quntica do universo (preconizada pelo
eminente professor de Fsica da Universidade de Oregon,
Amit Goswami) postula que a Realidade criada pela
Conscincia, a qual escolhe, entre vrias possibilidades
provveis, quais os contextos que iro surgir como
realidades. Isso implica em dizer, sumariamente, que
nossa conscincia objetiva ou de corpo (as sensaes
corporais como calor, frio, dor, leveza, presso sobre a
pele) e nossa conscincia subjetiva ou psquica
(percepo de individualidade, assim como sentimentos,
emoes, ideias, pensamentos), seriam causadas pela
ao da Conscincia. A este princpio foi dado o nome de
causao descendente (a Conscincia cria a realidade, o
crebro e o corpo), implicando numa posio contrria ao
paradigma cientfico materialista, tido como causao
ascendente, o qual define o crebro como criador da
conscincia e do sentido de individualidade.
A Conscincia seria, portanto, Causal.
Obviamente, essa Conscincia, a qual essencialmente
ns mesmos, opera essas "escolhas" num nvel
inconsciente, por isso no temos a percepo objetiva e
consciente de que estamos produzindo a realidade em
que vivemos, sentimos, pensamos e nos movimentamos.
Talvez ai more a chave central para a compreenso da
Lei Krmica. Em outra oportunidade, voltaremos a este
aspecto para refletirmos a respeito da Lei do Karma e do
Livre-Arbtrio.
importante fixarmos, deste conceito acima explicitado,
que a partir do momento em que a Conscincia cria a
-
37
Individualidade, a qual est localizada em vrios nveis
dimensionais (natural - espiritual - divino, por exemplo),
Ela (a Conscincia) manifesta estruturas paralelas que
interagem dinamicamente e regulam-se umas as outras,
num movimento de equilbrio. Essas estruturas, fazendo
uma ponte com os conhecimentos espiritualistas,
podemos cham-las, didaticamente, de: corpo fsico
(material), corpo vital ("semi-material" ou etreo), corpo
psquico (sutil) e corpo mental (sutilssimo).
Uma vez que o movimento harmnico entre essas
estruturas dinmicas implica na sade, consequentemente
a desarmonia entre esses movimentos equivaleria
doena (seja ela fsica, psquica ou espiritual).
Cremos que o princpio espiritual (conhecido nos cultos
de nao, nos Candombls, como Ax) est manifesto em
cada ser humano, cada Esprito, e em cada elemento da
Natureza (por conta da prpria ao dos Orixs), e este
pode ser transmitido, assimilado, compartilhado e
renovado dentro deste Sistema abarcado pela
Conscincia.
As ervas, na dimenso natural (Natureza), pelos
processos de seu desenvolvimento, recolhem do solo os
nutrientes necessrios para sua subsistncia e
perpetuao da espcie, alm da influncia da luz solar e
da lua, as quais tambm contribuem nos fenmenos da
fotossntese e no seu crescimento.
J na sua dimenso espiritual, as ervas esto carreadas de
grande acmulo etrico, por conta da absoro das
-
38
energias sutis provindas dos 4 elementos (ar, fogo, gua e
terra).
Adicionalmente, na sua dimenso divina, as ervas
carregam o princpio espiritual do(s) Orix(s).
As ervas tambm so, portanto, manifestao da
Conscincia Causal.
Por carregarem em si substncias qumicas (seu princpio
ativo), no momento de sua queima essas so liberadas no
ambiente. Como muitas das ervas utilizadas na
defumao possuem propriedades antisspticas e
curativas (por exemplo, alecrim, eucalipto, arruda e
guin), sua fumaa age primariamente sobre o corpo e o
ambiente contribuindo para o saneamento destes.
Em relao s estruturas etrica/espiritual, quando
utilizamo-nos da defumao em nossas giras, os
princpios espirituais liberados pelas ervas no momento
de sua queima e potencializados na fumaa, influenciam
estas estruturas de cada indivduo (encarnado ou
desencarnado), estabilizando-as e contribuindo para que a
Individualidade possa recuperar-se ou fortalecer-se.
No entanto, na prtica litrgica, este processo manifestar-
se- sempre pelo comando do mdium/operador, cuja
conscincia e o poder da vontade "dispara" o gatilho que
ir promover sua movimentao no plano espiritual.
No podemos nos furtar a dizer da importncia de nossos
Guias e Mentores neste processo, os quais dinamizam, no
-
39
momento da defumao, seus prprios "princpios
espirituais", verdadeiros "mananciais de luz",
direcionando-os para todos, formando uma verdadeira
"aura coletiva" da qual cada um retirar o que lhe seja
necessrio.
Finalizemos colocando um ponto de destaque. No
cremos, particularmente, que essa influncia nas
estruturas sutis da Individualidade, efetivada no ato da
defumao, processe-se obedecendo s Leis Fsicas
conhecidas e aceitas atualmente. Nossa proposta aqui, ao
citarmos conceitos da Fsica Quntica, a de
contemporizar nossa viso do universo espiritual,
estabelecendo uma relao com assuntos atuais,
provindos de um meio oposto ao religioso, qual seja o
meio cientfico acadmico.
Pretendemos assim situar o conhecimento humano como
sendo o contemplador de ngulos de entendimento da
realidade diversos mas ao mesmo tempo
complementares, dos quais podemos dispor para darmos
significados nossa existncia e realidade.
Lembremos que somos a Conscincia e escolhemos a
nossa realidade!
Deixamos isso claro para no parecer que estamos
tentando dar explicaes cientficas para um processo
essencialmente mgico e subjetivo, segundo nosso
entendimento, embora totalmente eficaz e real.
-
40
O amigo leitor deve estar se perguntando agora: U... A
que tipos de Leis ento essa prtica de "transmisso de
foras" obedecer?
Respondemos: Temos uma linha de estudo que versa a
respeito dos fundamentos de transmisso de foras
espirituais dentro da prtica umbandista.
Isso por que a explicao do processo implica no
tratamento de alguns conceitos que tornariam o presente
texto muito extenso. Ento, no captulo
"Simbolismo , Magia e Subjetividade na Prtica
Umbandista", trataremos do assunto.
Sarav!
Defuma com as Ervas da Jurema,
Defuma com Arruda e Guin,
Benjoim, Alecrim e Alfazema
Vamos defumar Filhos de F!
-
41
O Banho de Ervas
O corpo instrumento da alma. Estamos manifestos no
plano material e instrumentalizados por um complexo
orgnico responsvel por arquivar nossas experincias
sensoriais e extra-sensoriais, mediante cujo mecanismo
acrescemos ao nosso patrimnio interior, por via do
inconsciente, os registros dos quais nos valeremos ao
longo de nossa caminhada espiritual, obedecendo ao
imperativo da reencarnao.
Como j salientamos em nossos textos anteriores,
segundo nossa concepo, a Umbanda no v o mundo
espiritual e o mundo material como expresses
dissociadas e independentes. Cremos numa Unidade que
se manifesta em dimenses diversas.
Voltamos a essa premissa para que possamos entender o
porque das prticas espirituais da Umbanda estarem
intimamente ligadas a utilizao de elementos da
natureza, smbolos e at mesmo com expresses
corporais caractersticas.
Ao contrrio do que alguns seguidores de outras
correntes espiritualistas vem na Umbanda, no
nos utilizamos de recursos "materiais" como apoio para
conseguir "efeitos espirituais" que poderiam ser atingidos
somente com faculdades subjetivas, supostamente de
"nveis superiores". Para ns, a noo de corporeidade
-
42
est diretamente associada significao do mundo, no
qual, como Espritos encarnados, nos manifestamos.
Por exemplo, diferentemente do Espiritismo (vide:
"Kardecismo" e Umbanda so iguais?), no qual a relao
com o mundo espiritual expressa, notadamente, pela
fala do mdium (por isso a utilizao do termo
psicofonia, para designar o fenmeno pelo qual o esprito
se comunica, nas sesses medinicas espiritistas), na
Umbanda possumos duas formas de expresso do
fenmeno espiritual: a linguagem corporal e a fala,
sendo a primeira mais significativa e rica dentro da
simbologia e fenomenologia do transe (por conta de suas
gestualidades, danas, expresses faciais, atos litrgicos,
etc.).
"A linguagem da umbanda no referencial, no
etiqueta objetos, metafsicos ou no, o que lhe permite
uma grande liberdade de composio. Pode conceber-
se como processos de enunciao que envolvem a
integralidade dos sentidos"(Bairro, 2004).
Como manifestao do Esprito, na Umbanda o corpo
expressa memrias coletivas e pessoais, sendo essas para
ns, o conjunto das vivncias da humanidade ao longo do
tempo (em suas dimenses natural, social, espiritual e
divina).
Assim, os banhos de ervas compem dentro das prticas
religiosas na Umbanda, mais um significativo
procedimento para estabelecer-se a relao do seu adepto
com o mundo espiritual.
http://umbandadenegoveio.blogspot.com/2011/07/kardecismo-e-umbanda-sao-iguais.html
-
43
O banho de erva, assim como a magia das fumaas (vide:
A Defumao), compe a preparao fundamental de seu
adepto para o contato com o Sagrado, com os Numes da
Umbanda, os quais no somente valem-se do psiquismo
como tambm utilizam-se do corpo do mdium, num
autntico processo de incorporao.
Dessa forma, importante que no s o subjetivo (os
pensamentos e as emoes) esteja em harmonia,
refletindo um estado de serenidade. tambm
sumamente imprescindvel que o corpo tambm esteja
em estado propcio para a prtica espiritual.
A prtica de banhar-se com as ervas ritualsticas serve
como instrumento de fixao das irradiaes espirituais
em torno do Aura do indivduo, restabelecendo o
equilbrio de suas estruturas dimensionais mais sutis. O
banho de ervas tambm pode ser utilizado como
descarregador de "energias negativas" e como elo
sintonizador com a vibrao de seu Orix.
O "filho de f" umbandista precisa estar com seu corpo
"vibratoriamente" adequado para que suas energias
espirituais possam fluir de si, influenciando a realidade e
produzindo estados de bem-estar, de equilbrio emocional
e prosperidade.
O mdium umbandista precisa estar com seu corpo
"purificado" e sintonizado com as faixas espirituais de
onde provm os Guias e Protetores da Corrente Astral de
Umbanda, para que seu trabalho possa ser feito a
contento.
-
44
No caso de uma influncia espiritual negativa, as
emanaes etricas propiciadas pelo banho impactam
sobre o corpo astral da entidade obsessora, alijando-a da
ligao com seu "hospedeiro", favorecendo que este se
reestabelea.
Como vemos, nossas prticas esto repletas de
significado e sabedoria, das quais nos dispomos dentro de
nossa cultura religiosa, buscando sempre a sade, a
felicidade e a relao com o Divino.
-
45
A Pemba, a Lei de Pemba e o
Ponto Riscado
A Pemba um elemento ritual muito caracterstico e
presente nos terreiros de Umbanda.
Como mostra a figura ao lado, trata-se de um giz rstico,
constitudo de calcrio.
Esse elemento amplamente utilizado nos rituais
africanos, e obviamente, herdamos desta cultura religiosa
tal prtica.
A Pemba geralmente utilizada de duas formas
especficas nos ritos: em p ou em forma de pedra.
A origem do nome, Pemba, vem da lenda africana
referente ao monte Kabanda e as guas do rio Usil (tidos
como sagrados pelas tribos Bacongo e Congo). A lenda
conta a histria da donzela M.Pemba, virgem filha do
poderoso lder de sua tribo, Soba Li-u-Thab. M.Pemba
seria conservada virgem para que fosse oferecida s
divindades cultuadas por aquela tribo, no entanto, a
jovem conhece um estrangeiro, e ambos entregam-se a
uma aventura amorosa, tomados pela paixo.
O pai de M.Pemba, quando toma conhecimento de tal
aventura amorosa, manda degolar o rapaz para que em
-
46
seguida fosse lanado ao rio USIL, de maneira que fosse
devorado pelos crocodilos. M.Pemba, consternada com
tal tragdia e desiluso amorosa, para atestar sua dor e
pesar, cobria todo o seu corpo com o p branco retirado
do monte Kabanda e noite, para que seu pai no
soubesse desse ato de dor perante a morte de seu amor,
lavava-se nas margens do rio.
Um dia, pessoas da tribo que observavam M.Pemba
banhar-se, viram que a jovem elevava-se aos cus,
deixando em seu lugar um monte de massa branca s
margens do rio. Ao informarem o pai, Soba, enfurecido,
mandou que tambm degolassem aos membros da tribo.
No entanto, como estes haviam passado em seu corpo
aquela massa branca deixada pela jovem "divinizada",
perceberam que o tirano lder acalmava-se e tornava-se
bom, desculpando os seus servos.
A partir da, a Pemba vem sendo utilizada dentro dos
ritos africanos.
A Lei de Pemba.
O termo refere-se ao domnio da mstica
simblica, realizada e transmitida pelos guias de
Umbanda, cujos seus maiores conhecedores e guardies
de seu segredo so os nossos Pretos-Velhos.
A Lei de Pemba expressa pela utilizao de smbolos
cabalsticos de origem universal, presentes em todas as
culturas ao longo da histria da Humanidade, os quais
-
47
ganham re-significao prpria dentro da rito-liturgia
umbandista.
A Lei de Pemba contm em si aspectos fundamentais do
conhecimento transcendente a respeito das Leis
Espirituais que regem os movimentos das conscincias
viventes no planeta Terra, bem como as vinculaes de
ordem krmica entre estas e os mecanismos pelos quais a
vontade humana pode subordinar foras sutis e naturais,
movimentando-as, com a inteno de produzir efeitos
que impactem nas dimenses material e espiritual.
Sendo assim, a Lei de Pemba manifesta as chaves para o
conhecimento dos atributos e vinculaes das Entidades
Espirituais dentro das Leis de Umbanda, assim como
guarda para si aspectos mais profundos que no podem
ser acessados diretamente por pessoas (encarnadas) e
mesmo entidades espirituais que ainda no possuam
nveis de conhecimento e de conscincia prprios para
tal.
Como dissemos, as Entidades Espirituais ligadas
Corrente Umbandista, trazem os conhecimentos, em
maior ou menor grau, referentes Lei de Pemba e para
que possam graf-los, "abrindo-os" para a dimenso
material, utilizam-se de smbolos prprios da cultura
humana, os quais encontram-se gravados no inconsciente
do mdium e em si prprios. Para isso, dentro da cultura
umbandista, damos significados prprios a tais
simbologias, contextualizando-os de acordo com nosso
universo simblico-espiritual.
-
48
De acordo com Evans-Pritchard (2004), conforme consta
em Etiene Sales (2005), o smbolo religioso uma
representao analgica do mundo invisvel, sendo a
cultura a matriz geradora das formas simblicas que
trazem existncia (mundo imanente) foras do mundo
espiritual.
Pelo exposto acima, vemos que a Espiritualidade ir
utilizar-se daqueles smbolos subjacentes no inconsciente
do indivduo, portanto dotados de grande fora
emocional e transcendente, para imprimir as "ordens" e
"movimentos" que facultaro a obteno de determinados
efeitos sobre o ambiente, sobre a coletividade presente ao
rito, sobre o mdium ou o consulente, sobre um esprito
desencarnado ou um doente necessitado de ajuda, etc...
Depreendemos ento que a Lei de Pemba, num nvel
mais fundamental, utilizada para a criao de
concentraes de foras que sero postas em movimento
para beneficiar os presentes ao rito.
Assim, a Lei de Pemba consubstancia-se, dentro da
prtica rito-litrgica umbandista, por meio do Ponto
Riscado.
Ponto Riscado
Segundo as Hierarquias Espirituais regentes das Leis de
Umbanda, os espritos ligados Corrente Astral afim
nossa faixa espiritual religiosa, esto agrupados em 3
categorias distintas, quais sejam:
-
49
Orixs, Guias e Protetores (trataremos em artigos
futuros de maneira mais detalhada a respeito das
Hierarquias Espirituais da Umbanda).
Essa categorizao evidencia uma qualificao em
termos de evoluo espiritual para os espritos
trabalhadores da Umbanda.
Pela Lei de Afinidade, estes espritos iro utilizar-se de
mdiuns compatveis com seus propsitos e alcances de
trabalho. De maneira geral, os espritos identificados com
o trabalho medinico esto entre aqueles na condio de
Guias e Protetores.
Conforme havamos dito, a Lei de Pemba contm em si
uma srie de aspectos profundos da realidade espiritual, e
por conta disso, seu acesso no dado de maneira
integral a todos os Espritos e mdiuns. O patamar de
conhecimento e possibilidades de compreenso a respeito
da utilizao da grafia cabalstica umbandista, est
diretamente relacionado ao grau de conscincia
manifestados pelo Esprito atuante e o seu respectivo
mdium.
Dessa forma que veremos Pontos Riscados que
meramente trazem informaes a respeito da Entidade
manifestada naquele momento, qual a sua pertena
espiritual e ordens de trabalho. Ou seja, pelos smbolos
contidos no Ponto Riscado, podemos identificar qual a
Linha, Falange e Cruzamento (se for o caso) do Guia ou
Protetor. Alis, justamente, o que ir categorizar um
-
50
esprito na condio de Guia ou Protetor exatamente a
simbologia e interpretao expressa no Ponto Riscado.
Resumindo, pelo Ponto Riscado a entidade poder dizer
quem , qual a sua linha e, qual seu grau dentro da
hierarquia espiritual. O Ponto Riscado a assinatura da
Entidade Espiritual.
Adicionalmente, o Ponto Riscado utilizado no
somente para identificao dos Espritos como tambm
para beneficiar determinadas pessoas (fsica ou
espiritualmente) e para a consagrao de guias, patus,
elementos rituais (pembas, instrumentos da curimba,
fitas, velas, imagens, etc).
No podemos deixar de considerar, quanto
interpretao e significado dos smbolos usados nos
Pontos Riscados, ser imprescindvel levar em conta o
contexto cultural e tradicional do templo umbandista
onde sero expressos e manifestos. Isso por que, segundo
Sales (2005): "O significado de um smbolo no
intrnseco, mas depende do discurso em que encontra
inserido em sua prpria estrutura. Fora do contexto onde
foram gerados, os significados dos smbolos se alteram
[...]. preciso perceber a dinmica prpria da cultura
religiosa do local e sua influncia nas simbologias e
representaes".
Compreendemos ento que os Pontos Riscados no so
smbolos universais (embora os elementos contidos neles
sejam) e sua linguagem expressa um padro dinmico
-
51
que carece ser interpretado dentro do contexto religioso
de cada casa de Umbanda.
Sendo assim, esperamos ter contribudo um pouco com o
esclarecimento a respeito destes aspectos to presentes na
nossa vivncia umbandista.
Que Oxal abenoe-nos!
-
52
As Roupas Litrgicas e as Fitas
A questo dos aparatos litrgicos na Umbanda sempre
notada por parte daqueles que frequentam ou tomam o
primeiro contato com nossa religio. Em meio a essa rica
estrutura semitica presente nos ritos umbandistas,
encontramos os elementos que serviro como pontos de
atribuio de significados de nossa cosmoviso, quais
sejam os elementos rituais.
Neste post, traremos consideraes a respeito de
dois elementos rituais especficos: As Roupas Litrgicas
e as Fitas.
Antes disso, devemos lembrar que em posts anteriores,
havamos j situado a interao Esprito-corpo, sob cujos
mecanismos a corporeidade fundamental para o
entendimento de sua ao sobre a espiritualidade. O
corpo, por caracterizar-se como manifestao do Esprito,
tambm esprito, situado na dimenso material. Os
elementos corpreos (ditos materiais) tambm possuem
estruturas sutis e irradiaes espirituais que os compem.
O trabalho com o corpo e o corpreo torna-se o vnculo
principal para influenciarmos a realidade espiritual,
pois pela experincia do contato com a realidade fsica
(material) que o Esprito agrega os valores
imprescindveis para o seu aprimoramento e evoluo.
-
53
Assim, a composio de sentidos estticos para as
prticas espirituais no so fetichismos, mas so atos de
reconhecimento do espiritual naquilo que em sua
essncia j o . A matria-prima utilizada na confeco
de todo o aparato litrgico, contm essencialmente a
fora espiritual por provir da Natureza, na qual esto
impressas, de forma latente, as irradiaes dos Orixs.
No "corpo fsico" esto situados os elos de vrias
dimenses do Ser e da Vida. No corpo, encontramos a
ligao entre o indivduo e o coletivo, a cultura e a
natureza, o sagrado e o humano (Silva, 2008).
O corpo do adepto deve ser preparado para receber os
Guias, manifestadores dos Orixs, e para isso deve estar
interiormente e exteriormente adequado para tal ato,
havendo um entrelaamento dos planos sagrado e
humano, permeados por um sentido esttico.
Cultura e natureza, assim como sagrado e humano, so
aspectos interpretados dentro da cultura Umbandista,
assim como nas demais religies afro-brasileiras, como
sendo no-opostos. Antes, so aspectos que fluem para
um mesmo princpio e fim.
As roupas litrgicas - roupas de santo, como so
conhecidas -, obedecem a uma composio bsica e
homognea, de maneira que todos os integrantes
do cazu estejam apresentando-se uniformemente.
Nessa prtica, entendemos que no momento do rito,
quando o mdium veste sua roupa de santo, ele deixa de
lado a sua individualidade - seus atributos sociais,
-
54
seu status econmico, seu grau de intelecto, etc. -, para
inserir-se em um contexto religioso que o conduzir a
uma vivncia na qual a persona individual deve ser
deixada de lado para que haja a passagem para a persona
social, o sujeito integrante de um sistema maior, no qual
ele compe um elo. Um dos vrios elos da corrente
medinica.
Assim, nossas circunstncias particulares devem ser
deixadas, momentaneamente, de lado para que possamos
integrar-nos aos trabalhos espirituais, porquanto neste
trnsito entre persona individual - persona social
anularemos os aspectos centrais de nossa conscincia
para abrirmos campo a persona-espiritual que ir acessar
a persona-divina, a depender de cada um, habitante do
interior de cada ser humano.
A roupa litrgica, por caracterizar um aparato especfico
e importante para o mdium, deve ser tratada como tal.
Recomenda-se, portanto, que esta seja lavada em
separado das demais roupas de uso do mdium, assim
como seja guardada em local especfico e, de preferncia,
em separado das demais roupas.
Nunca demais lembrar que a utilizao das roupas de
santo deve limitar-se aos dias de rito, bem como
s devem ser vestidas dentro do templo religioso, salvo
excees preditas pelo dirigente da casa.
Outra caracterstica das roupas de santo refere-se sua
aparncia. bem sabido de todos os umbandistas que as
vestimentas tm a cor branca como fundamental. Os
-
55
modelos das roupas litrgicas so estabelecidos pela casa
e devem ser utilizados por todos os seus mdiuns, no
permitindo-se variaes. Isso por que bvio que, no
aspecto coletivo, a roupa de santo visa dar uniformidade
ao grupo frequentador do templo.
A utilizao de roupas brancas, como smbolo religioso,
milenar e podemos encontr-las ao longo da histria
dentro das culturas egpcia, tibetana, hind, chinesa e
rabe. No Brasil, o costume da utilizao da cor branca
dentro dos ritos nas religies afro-brasileiras, deu-se por
influncia dos negros mals. O termo mal originou-se
da palavra em iorub imal, sob a qual identifica-se os
negros mulumanos.
Estes, trazidos tambm como escravos ao Brasil, eram
islamizados e trouxeram o hbito da utilizao da roupa
branca, bem como do turbante (tambm conhecido como
toro), entre outros elementos prprios de sua cultura j
sincretizada entre a cultura iorub e o islamismo.
Com isso dizemos que, ao contrrio do que muitos
pensam, o uso da roupa branca na Umbanda no advm
de uma influncia kardecista, pois como j deixamos
claro em um texto anterior (ver: Kardecismo e Umbanda
so iguais?), o Kardecismo no prev nenhuma espcie
de roupa caracterstica, to pouco a utilizao de
qualquer objeto ritual ou simblico.
Continuaremos agora dando enfoque para a utilizao das
Fitas na prtica umbandista.
http://umbandadenegoveio.blogspot.com/2011/07/kardecismo-e-umbanda-sao-iguais.htmlhttp://umbandadenegoveio.blogspot.com/2011/07/kardecismo-e-umbanda-sao-iguais.html
-
56
Para refletirmos a respeito da utilizao de um objeto to
singelo e aparentemente de menor importncia, um
adereo, na prtica ritual, precisamos compreender a
natureza e a finalidade do smbolo dentro da vida humana
e, especialmente, das prticas religiosas.
Segundo Heinz-Mohr:
"Todos, quer tenham ou no conscincia, servem-se de
smbolos, de dia e de noite, na linguagem, nas aes e
nos sonhos. O smbolo escapa, porm, definio exata.
Forma parte de seu ser no se deixar reduzir a quadro
fixo, uma vez que une extremos, o incomponvel,
concretude e abstrao, servindo finalidade de aludir,
com sinal perceptvel ao sentidos, a algo que no
perceptvel aos sentidos".
O termo smbolo, vem do grego symbolon, cujo
significado "lanar com, pr junto com, juntar".
Compreendemos ser a funo do smbolo a de juntar
aspectos de uma mesma realidade, os quais encontram-se
aparentemente dissociados, devido nossa limitao
perceptiva em relao a essa mesma realidade. Logo, o
smbolo servir como instrumento que intui ou restitui,
mesmo que de maneira momentnea, a unio entre dois
ou mais planos e sentidos diferentes de uma totalidade
que nos est inacessvel razo discursiva e aos sentidos
externos (Malandrino, 2006).
As Fitas, ento, iro simbolizar aspectos transcendentes
das foras espirituais, mais especificamente das faixas
-
57
vibratrias sob regncia dos Orixs, servindo-se para isso
de seu formato caracterstico e suas cores, intuindo os
planos de energias espirituais bem como sua irradiao
especfica, simbolizada na colorao prpria a cada
Orix.
Os smbolos, na prtica
religiosa, exprimem vivncias espirituais e psicolgicas
de uma individualidade ou coletividade, advindos das
profundezas do inconsciente, e por isso devem ser
objetos de uma experincia mais profunda do que a do
simples conhecimento (Malandrino, 2006).
A Umbanda, por ter constitudo-se de uma formao
sincrtica entre as culturas indgena, africana e europeia,
herdou em seu imaginrio, integrando ao seu universo
espiritual, o simbolismo das prticas caractersticas de
cada uma destas, reelaborando-as e dando-lhes
significados prprios.
Notadamente em relao ao uso das Fitas, herdamo-las
do Catolicismo Popular, difundido pelos portugueses, o
qual era repleto de prticas mgicas, visando o benefcio
e a cobertura espiritual para os seus fiis. Conforme
lemos em Silva:
"Assim, fitas cortadas pelos padres na altura das
imagens dos santos e amarradas na cintura eram usadas
para removerem dores, doenas e realizarem o pedido de
seus portadores" (Silva, 2000).
-
58
Na prtica umbandista, as Fitas destinam-se ento a
propiciar um campo de proteo e descarga de energias
em relao ao corpo do mdium, desde que utilizadas
sobre os ombros ou envoltas na cintura. Colocadas sobre
uma oferta ou atadas a algum elemento ritual, tm a
finalidade de manifestar, espacialmente, a vibrao de
determinado Orix.
Finalmente, interessante notar que as prticas
umbandistas surgem de um mecanismo de significao
de prticas populares e tradicionais das culturas
formadoras de nossa sociedade, conciliando-as com a
dimenso espiritual, traduzindo os aspectos ocultos de
uma Realidade transcendente (sagrada) que evidencia-se
no mundo corpreo por meio da cultura, da natureza e do
humano.
Essa a sabedoria dos nossos Guias e Mentores e dos
nossos ancestrais, babalorixs e yalorixs, que a despeito
de no possurem formao intelectual dos bancos
universitrios, e por isso foram muitas vezes vistos como
ignorantes e primitivos, possuam e possuem ainda, pois
que so Espritos eternos, grande poder de sensibilidade
espiritual e intuio a respeito dos altiplanos da Vida.
-
59
As Guias
Orix - homem - guia.
Esse o fluxo mstico das foras sutis que sero
impregnadas neste elemento ritual de tanta valia e
significado dentro da prxis umbandista. O Orix
estende e deposita sua irradiao sobre o colar
ritualstico (guia) por intermdio do ser humano
(mdium), portador do divino e da corporeidade, o qual
a ponte vinculadora para a passagem da fora
espiritual dos planos invisveis para o mundo corpreo.
Vimos reforando que os smbolos, dentro do rito
religioso, tm a funo precpua de ligar aspectos de uma
Realidade total, para dar ao homem a viso e o contato
do mundo invisvel pelo mundo visvel, pois somente por
meio do smbolo que podemos entender e experienciar
o mundo espiritual, o qual constitudo de aspectos de
realidade que no podem ser abarcados
integralmente pela nossa capacidade intelectiva e pelos
nossos sentidos corporais.
As guias, especificamente, encerram em si mesmas a
transio contnua do mundo invisvel (espiritual) para o
mundo visvel (material), pois que nelas encontra-se a
elaborao das foras espirituais conjugadas com o
trabalho artesanal do humano, infundindo o princpio da
http://umbandadenegoveio.blogspot.com.br/2011/09/simbolismo-magia-e-subjetividade-na.html
-
60
fluncia de dois aspectos da realidade humana (esprito e
matria) num ponto em comum.
Cada guia destina-se a envolver o mdium na vibrao de
seu Orix ou de seus Guias e Protetores, portanto, esta
deve ser concebida pelo prprio indivduo seu portador,
ou pelo dirigente da casa a que esteja vinculado.
Obviamente, a confeco da guia obedecer s ordens
das Entidades Espirituais, as quais traro ao mdium as
instrues de como devero ser feitas, bem como os seus
elementos constitutivos.
Alm disso, dever passar por um processo de preparao
para ser utilizada (ser cruzada, por exemplo), bem como
o mdium deve ser autorizado pelo dirigente da casa para
que possa valer-se deste elemento.
A guia fornece a identidade ritual do adepto, vinculando-
o a um Orix e a um Guia espiritual, responsveis por sua
guarda e orientao.
Ao colocar a guia no pescoo, o indivduo adentra o
espao mstico e sagrado que envolve neste instante o seu
complexo fsico e espiritual, ligando-o s correntes
espirituais sustentadoras de seu templo. Entendemos que
no espao que se forma dentro da guia, circular,
vinculam-se irradiaes que estaro destinadas a
projetarem-se para fora do campo de foras do mdium,
influenciando o ambiente (fsico e etrico) a sua volta,
para trazer-lhe de volta a somatria das energias afins
geradas ao longo do trabalho espiritual.
-
61
Da mesma forma, as guias tambm serviro para criar um
movimento inverso, dinamizando suas foras (e as do
mdium) para tornarem-se escudo e pontos de descarga
de vibraes negativas, oriundas do plano astral inferior,
e de formas-pensamento (idias plasmadas no plano
astral) de teor perturbador desencadeadas pelos maus
sentimentos e pensamentos daqueles presentes aos
trabalhos (encarnados ou desencarnados) em condio de
desequilbrio.
A guia, dentro da linguagem ritual, possui
aspectos identificadores, os quais variam em sentido de
acordo com cada templo umbandista, no entanto, de
maneira geral podemos consider-las:
a) quanto s cores: as cores representam os Orixs. A
combinao de cores pode representar o tipo ou
qualidade do Orix, assim como tambm podem indicar a
qual Orix determinado Guia Espiritual est subordinado;
uma cor especfica, a depender da orientao da casa,
tambm pode simbolizar o grau de determinado mdium
dentro da hierarquia da casa. Ou seja, se ele iniciante,
se j mdium formado, se babalorix/yalorix, etc.
b) quanto ao nmero de fios: geralmente, as guias
traadas com mais de 1 fio, podem representar o nvel de
aprofundamento que o mdium obteve dentro da
tradio. Ou seja, se ele possui 1 ou mais preparaes
(obrigaes);
c) quanto a sua utilizao: existem guias que no iro
representar um Orix ou Guia Espiritual ligados quele
-
62
mdium. Podem, entretanto, ser de utilidade ritual ou
espiritual. Em outras palavras, essas guias podem ser
destinadas a representar aquele templo de maneira
especfica, ou servir de proteo ou defesa
para um adepto, num caso especfico, a depender de sua
situao e necessidade naquele momento.
Est estabelecido que a guia s possui valor e significado
se estiver vinculada pessoa/mdium, destinada a ser sua
proprietria. No h, portanto, sentido na utilizao de
guias adquiridas j prontas, penduradas nas lojas de
artigos religiosos. To pouco deve-se emprestar a outrem
ou tomar-lhe emprestado a guia, por qualquer motivo que
seja.
Lembramos, novamente, de um ensino contido num post
publicado anteriormente: a fora do Guia reside na mente
do mdium.
pela mente enobrecida e sria que vincularemos as
energias transcendentes que sero irradiadas de ns, e
atradas a ns, ao longo do anos de contato espiritual. O
mdium disciplinado e habituado prtica do transe, bem
como reflexo em torno de si mesmo, faz de sua mente
um lago de guas calmas, que pode refletir a beleza do
luar. Luar este que representa a irradiao positiva dos
Guias e Protetores de Aruanda. Assim que podero fluir
de si e chegarem onde forem necessrias as foras
espirituais emanadas dos planos etreos para o campo
material, beneficiando a todos que necessitem, pelo
esclarecimento, pela palavra orientadora e consoladora,
ou pela orao silenciosa em favor da Humanidade.
-
63
Queremos com isso colocar que no pela quantidade e
nem pela beleza das guias que possamos ter em nossos
pescoos que iremos ter maiores ou melhores retornos e
gratificaes em nossa vida espiritual, especificamente
no mediunismo umbandista.
O nmero de guias tambm representar a experincia do
mdium ao longo de sua vivncia medinica. A
utilizao da guia sinal de responsabilidade e dever de
conscincia por parte daquele que a possua.
-
64
As Velas
"[..]a vela acesa, por exemplo, tanto um sinal
sensvel, como um importante transmutador
energtico visto que nela esto contidas as quatro
foras sutis (cera: telrica; cera derretida: hdrica;
chama: gnea; fumaa: elica). Nota-se que nessa
explicao a vela no representa as foras sutis, ela as
foras sutis, logo ela um veculo condensador de
energias dos sete raios sagrados no plano material. A
vela, nesse sentido, um smbolo do sagrado ao mesmo
tempo em que o sagrado. No s a vela, mas todos os
objetos presentes no cong (altar) ou utilizados numa
oferenda ou num banho pedras, ervas, alimentos etc.
apresentam esse duplo carter, metafrico e metonmico,
de representar e presentificar o sagrado" (Chiesa,
2010).
As velas tambm so conhecidas dentro
de algumas casas umbandistas e candomblecistas
como murilas.
Lembraremos sempre que a utilizao de smbolos, os
mais diversos, na prtica umbandista, so atos concretos
carregados de sentido espiritual, presentificando as foras
espirituais provenientes do mundo imanente, invisvel.
Assim como o uso das Fitas, tratado em artigo anterior,
herdamos tambm das prticas do Catolicismo Popular a
utilizao das velas como meios de inter-relao entre o
-
65
sagrado e o humano. A vela um dos smbolos religiosos
mais tradicionais, e por meio destas que o homem
tentou estabelecer um primeiro contato com o divino.
O princpio foi o fogo, quando os homens primitivos
danavam em volta da fogueira, aps terem aprendido a
manipul-lo (uma vez que representava grande ameaa
ao homem daquela poca), como uma forma de se
relacionarem com uma fora dominante e arrebatadora,
identificada como a prpria divindade.
Nas culturas da Antiguidade Clssica, encontraremos o
significado das velas como representantes da sabedoria e
da iluminao, bem como da luz da alma imortal. Assim,
so utilizadas por diversas religies, e a relao da
Divindade simbolizada pela ideia da chama viva que
nunca apaga, consta, por exemplo, na orao no
cannica do Senhor, citada nas Homlias de Orgenes,
conforme lemos em Jung (1978): "Ait autem ipsi
Salvator: qui iuxta me est, iuxta ignem est, qui longe est a
me, longe est a regno" (Quem est perto de mim, est
perto do fogo; quem est longe de mim, est longe do
reino).
No inconsciente coletivo ficou, portanto, enraizada a
simbologia do rito executado em torno da
chama, pelo qual o homem buscava harmonizar-se com
as foras da natureza, que at ento o subjugavam e
amedrontavam.
Nas prticas rito-litrgicas da Umbanda, a utilizao da
vela efetiva iluminar determinado espao, fazendo a
-
66
ligao do aspecto mgico ao religioso, invocando certas
vibraes do plano astral para aquele ambiente, naquele
instante. Por isso, comum os congs, os cruzeiros, as
ofertas, etc, serem acompanhados de velas acesas, as
quais iluminam aqueles elementos, sustentando os
pedidos, louvores e agradecimentos.
Quando dispostas no cong, obedecendo
distribuio das cores referentes a cada Orix, as velas
remetem ao significado do Setenrio Divino, ou as Sete
Linhas de Umbanda e sua mstica direcionada a
representao dos aspectos manifestos da Divindade Una,
o Deus Criador.
Segundo algumas tradies umbandistas, a quantidade
numrica de velas a serem utilizadas criam o campo
propcio para pedidos de ordem espiritual ou material.
Sendo assim, sequencias de velas acesas em nmero par,
criam campo propiciatrio para tratamento de questes
de ordem material (doena fsica, problemas na justia,
dificuldades financeiras, desemprego, etc.); enquanto
velas acesas em nmero mpar criam campos
propiciatrios para tratamento de questes espirituais
(sentimentos conturbados, influncias espirituais
negativas, falta de clareza e sentido na vida, sensao de
angstia, etc.).
Num ritual de Umbanda podemos encontrar estmulos
visuais (cores, smbolos, imagens, velas), auditivos
(cnticos, toques de atabaque), proprioceptivos (danas),
olfativos (defumaes, gua-de-cheiro, ervas, tabaco) e
gustativos (alimentos, bebidas). No encontramos,
-
67
apenas, os estmulos tteis no ritual, excetuando-se,
talvez, as palmas (Morini, 2007).
No rito umbandista, encontramos uma srie de
simbologias que, por meio de um sentido esttico,
desencadeiam estmulos a
serem assimilados psicologicamente e organicamente
pelos presentes. Evidentemente, as velas esto entre
aqueles smbolos de natureza visual.
O contato com a imagem simbolizada na vela remete-nos
a significaes especficas de suas partes, como o seu
corpo, com sua colorao especfica
simbolizando determinado Orix, e o pavio, sustentando
a chama ao longo da queima, simbolizando a energia
espiritual, presentificando no espao a presena
da Divindade, em uma corrente de luz que se expande em
direo aos cus, como se retornasse, aps ter sido
evocada, levando consigo as mentalizaes que foram
geradas no momento do rito.
Portanto, quando acendemos uma vela com determinada
inteno, estejamos certos de que neste instante abre-se
um portal para o plano astral, por onde ocorrer,
enquanto perdurarem a queima de seus elementos e a
sustentao dada pelo pensamento de quem ora ou
pede, a passagem de irradiaes que iro impactar,
mesmo que de maneira limitada, sobre o ambiente e
tambm sobre ns mesmos, promovendo o
entrelaamento do indivduo com tais irradiaes. Por
isso, o profundo respeito e a sinceridade de inteno so
posturas interiores imprescindveis para aquele que
-
68
pretende fazer luzir uma vela, em benefcio de algum ou
de si prprio.
-
69
Msica e Movimento na
Umbanda
Msica e movimento so aspectos fundamentais das
prticas umbandistas e constituem o corolrio da sua
rito-liturgia, como expresses veiculadoras e
presentificadoras do xtase religioso.
A gira de Umbanda, de uma maneira geral, caracteriza-se
pela musicalidade, a qual direciona e regula os
seus diversos "momentos". A exp
top related