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Trajetória da desigualdade econômica no

Brasil contemporâneo e possibilidades de

superação

Marta Arretche

Unisinos, abril de 2018

Duas estórias diferentes

• Duas diferentes interpretações sobre a trajetória da desigualdade no Brasil sob a democracia

• Interpretação 1:

- Desigualdade de renda permaneceu estável

- o 1% mais rico se apropria de uma parcela exceptionalmente grande da renda total

- Nem a democracia nem a esquerda no poder afetou a desigualdade de renda

• Interpretação 2:

- Desigualdade de renda caiu a partir do início dos anos 90

- A desigualdade de renda caiu a taxas superiores à de países no mesmo estágio da trajetória

- A desigualdade de renda caiu mais aceleradamente nos governos do PT

Ambas estão corretas!

• Na interpretação 1, desigualdade de renda e concentração dariqueza são tomados como equivalentes

– Ignora o que aconteceu com os demais 99%

• A interpretação 2 subestima a concentração da riqueza notopo

– Ignora os mecanismos pelos quais os mais ricos preservam suariqueza

– Mas revela que o Brazil é um caso de uma sociedade altamentedesigual no qual a democratização não apenas foi bemsucedida como produziu mecanismos de redução dasdesigualdades

Ganhos relativos de renda por vintis – 1984-2015

Ganhos relativos de renda por Presidente1984-2015

Crescimento do Valor Real do Salário Mínimo (R$ 1)

250

270

290

310

330

350

370

390

410

430

450

470

490

510

530

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590

610

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710

730

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770

790

1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015

5a. Plano de Saúde 5b. Atendimento nas últimas 2 semanas

5c. Atendimento nas 2 últimas semanas foi SUS? 5d. Consulta ao dentista nos últimos 12

meses

0

10

20

30

40

50

60

70

1998 2003 2008 2013

1o. quintil 2o. quintil 3o. quintil

4o. quintil 5o. quintil Total

10

11

12

13

14

15

16

17

1998 2003 2008 2013

1o. quintil 2o. quintil 3o. quintil

4o. quintil 5o. quintil Total

0

2

4

6

8

10

12

14

1998 2003 2008 2013

1o. quintil 2o. quintil 3o. quintil

4o. quintil 5o. quintil Total

30

40

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1998 2003 2008 2013

1o. quintil 2o. quintil 3o. quintil

4o. quintil 5o. quintil Total

Desempenho da Educação(http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/1160)

Desempenho da Saúde(http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/1160)

Acesso à energia elétrica por vintil da renda domiciliar per capita 1981-2015

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

1,10

2nd vintile 6th vintile 11st vintile 19th vintile

Acesso a saneamento por vintil da renda

domiciliar per capita - 1981-2015

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

198

1

198

2

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3

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4

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5

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6

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9

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0

199

2

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3

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5

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1

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201

1

201

2

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3

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4

201

5

2nd vintile 6th vintile 11st vintile 19th vintile

Mecanismo de inclusão dos outsiders

- Modelo de política social de 1930 a 1988 produziu grande divisão entre

insiders e outsiders

- Mecanismo 1: mudanças exógenas ao sistema de políticas sociais

mudanças paradigmáticas nas políticas sociais

esquerda era minoritária na Assembleia Constituinte

PT: 16 constituintes

PDT: 26 constituintes

PSB: 1 constituinte

PC do B: 5 constituintes

• uso estratégico das regras do Regimento Interno

• conservadores avaliavam que a democracia não sobreviveria sem redução da pobreza

• mobilização (moral) dos setores progressistas na transição democrática

Mecanismo de inclusão dos outsiders

Mecanismo 2:

-Inclusão incremental de amplas categorias de beneficiários

• Esquerda eleitoralmente competitiva

• Convergência da centro-direita e da esquerda em torno das preferências dos mais pobres

• Perfil da distribuição de renda cria incentivos para que todos os partidos se alinhem em torno das preferência dos mais pobres

• Altas taxas de participação eleitoral criam incentivos para que todos os partidos se alinhem em torno das preferências dos mais pobres

Tramitação de matérias sobre Saúde, Educação e Salário Mínimo - Congresso Brasileiro - 1990-2015

Câmara dos Deputados Senado Federal

1 2 3 4 Total 1 2 3 4 Total

Votação

Nominal

20

15

11

0

46

3

2

1

0

6

% 0,14 0,17 0,57 0 0,18 0,02 0,02 0,05 0 0,02

Total 136 86 19 9 250 136 86 19 9 250

Fonte: Banco de Dados Legislativo do CEBRAP

Notas: (1) Educação; (2) Saúde; (3) Salário Mínimo; (4) Saúde e educação

Apoio à intervenção social do Estado em queda

80

85

90

95

2008 2010 2013 2014

Ano

%

SM

< 1 SM

> 10 SM

1-2 SM

2-5 SM

5-10 SM

Apoio à taxação para fins redistributivos em queda

0

20

40

60

2008 2010 2013 2014

Ano

%

SM

<1 SM

> 10 SM

1-2 SM

2-5 SM

5-10 SM

Para concluir:

• A despeito da elevada inclusão, estamos em rota de colisão com uma trajetória rumo a um modelo social-democrata

– expansão da inclusão não afeta apenas o gasto público

– afeta também a economia das famílias

– Inclusão pode ter imposto pesados sacrifícios à classe média

– Classe média se volta contra o modelo

• Redistribuição sem taxação é uma preferência universal

– Mas escândalos de corrupção podem reduzir substancialmente o apoio à expansão da taxação, mesmo entre os mais pobres

• Perfil da distribuição favorece a emergência de partidos de esquerda, mas esquerda não será eleitoralmente competitiva no curto prazo

Obrigada!

Marta Arretche arretche@usp.br

Professora Titular do Departamento de Ciência Política da USP

Centro de Estudos da Metrópole http://www.fflch.usp.br/centrodametropole

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