torres-hipnose pratica clinica
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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PSICOLOGIA
HELENO FELIX TORRES
A HIPNOSE NA PRTICA CLNICA
CRICIMA, JUNHO DE 2009
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HELENO FELIX TORRES
A HIPNOSE NA PRTICA CLNICA
Trabalho de Concluso de Curso, apresentado
para obteno do grau de bacharel no curso de
Psicologia da Universidade do Extremo Sul
Catarinense -UNESC.
Orientador: Prof. Jeverson Rogerio CostaReichow
CRICIMA, JUNHO DE 2009
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HELENO FELIX TORRES
A HIPNOSE NA PRTICA CLNICA
Trabalho de Concluso de Curso aprovado pelaBanca Examinadora para obteno do Grau deBacharel no Curso de Psicologia daUniversidade do Extremo Sul Catarinense -UNESC, com Linha de Pesquisa em NeuroPsicologia.
Cricima, 22 de Junho de 2009. (data da defesa)
BANCA EXAMINADORA
Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow Mestre - (UNESC) - Orientador
Dr. Antonio Carlos Althoff Especialista em Reumatologia
Prof. Elenice De Freitas Sais Especialista - (UNESC)
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Se voc quiser comer hoje, cultive arroz.
Se voc quiser comer amanh, cultive rvores frutferas.
Se voc quiser que seus filhos e netos comam, cultive homens.
ConfcioConfcioConfcioConfcio
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RESUMO
Rever conceitos to antigos e to atuais sobre a prtica hipntica implicanecessariamente em revisitar os nomes que figuram na sua histria. Das antigasprticas ritualsticas pags, do culto aos deuses, passando por Mesmer, Freud eErickson, apenas entre os mais expressivos, chega-se ao presente com osultramodernos exames de tomografia por emisso de psitrons e a ressonnciamagntica do fluxo sanguneo e seus proeminentes executores. luz de novos
achados cientficos, a hipnose se renova e refora uma posio que j conquistou nacomunidade mdica, a saber o expressivo relato de casos que do conta da suaeficcia na prtica clnica, indo mais pontualmente esclarecer o funcionamento docrebro humano quando ativado pelo estado hipntico. Especificamente na clnicapsicolgica, a hipnose vem sendo utilizada com grande sucesso nos casos em quetrata de ansiedade, fobias, traumas, drogadio, dependncia em seus vrios nveis,apenas para citar algumas desordens, razo pela qual o presente trabalho seinscreve, num esforo de resgatar a histria da hipnose no mundo desde aAntigidade at os dias atuais, os caminhos e descaminhos que percorreu para quehoje pudesse ocupar o lugar que ora ocupa: revestir-se da capa protetora da cinciae colocar-se a servio do homem enquanto possibilidade de reduzir sofrimentos.
Palavras-chave: Hipnose. Induo Hipntica. Psicologia. Prtica Clnica
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Diviso do Sistema Nervoso .................................................................... 36
Figura 2 Subdiviso do crtex cerebral .................................................................. 39
Figura 3 reas do crebro e suas respectivas funes .......................................... 40
Figura 4 Modelo utilizado nos experimentos de Kosslyn & Col. ............................. 42
Figura 5 Variao da atividade normal de um recm-nascido................................ 43Figura 6 Imagem de crebro estimulado pela Serotonina ...................................... 43
Figura 7 Imagem do crebro durante exame de IRMf ............................................ 44
Figura 8 - Estimulao do crebro sob efeito de sugestes ps-hipnticas .............. 82
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Aspectos da sugesto .......................................................................... 48
Tabela 02 - Fatores da relao especialista-paciente ..................................................... .... 49
Tabela 03 - Influncia do meio ambiente e a relao especialista-paciente ......................... 50
Tabela 04 - Classificao das sugestes ............................................................................. 51
Tabela 05 - Tipos de temperamento .................................................................................... 53
Tabela 06 - Caractersticas do paciente hipnotizado ........................................................... 54
Tabela 07 - Alteraes observveis durante a hipnose ........................................................ 55
Tabela 08 - Caractersticas psicolgicas do estado hipntico .............................................. 56
Tabela 09 - Alteraes em pacientes com ou sem sugesto hipntica ................................ 57
Tabela 10 - Escala De Torres Norry (mod. Por Moraes Passos) .......................................... 78
Tabela 11 - Caractersticas a observar no estado hipntico ................................................. 79
Tabela 12 - Atribuies do Odontlogo ................................................................................ 84
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFP Conselho Federal de Psicologia......................................................................32
SNA Sistema Nervoso Autnomo...........................................................................35
SNC - Sistema Nervoso Central.................................................................................36
SNP Sistema Nervoso Perifrico.............................................................................36
SNPS Sistema Nervoso Perifrico Somtico..........................................................36
SNPA Sistema Nervoso Perifrico Autnomo.........................................................36
SNAS Sistema Nervoso Autnomo Simptico........................................................37
SNAP Sistema Nervoso Autnomo Parassimptico...............................................37
PET Tomografia por emisso de psitrons ............................................................37
MAT/URFGS Matemtica Universidade Federal do Rio Grande do Su...............42
FSCr Fluxo sanguneo cerebral regional ................................................................44
IRMf Ressonncia Magntica Funcional.................................................................44
EEG Eletroencefalograma.......................................................................................44
SHCL- Stanford Hypnotic Clinical Scale.....................................................................79
SSTA - Sugestes para sintonizao, treinamento e aproveitamento......................79
AAC Crtex anterior cingulado................................................................................82
CFO Conselho Federal de Odontologia..................................................................83
CFM ConselhoFederal de Medicina........................................................................97
AMB Associao Mdica Brasileira.......................................................................100DOU Dirio Oficial da Unio..................................................................................110
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SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................................ 10
2 HISTRIA DA HIPNOSE ................................................................................................. 12
2.1 As Origens .................................................................................................................. .13
2.2 Hipnose na Era Moderna ........................................................................................... .23
2.3 Hipnose no Brasil ...................................................................................................... .28
2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil ..................................................................... .303 HIPNOSE E CINCIA ..................................................................................................... .33
3.1 Neurofisiologia da Hipnose ....................................................................................... .35
3.2 Conscincia, Transe e Hipnose ................................................................................ .45
3.3 Sugesto .................................................................................................................... .47
3.4 Mtodos/tcnicas de Hipnoterapia com Hipnose ..................................................... 58
3.5 Fenmenos Hipnticos ............................................................................................. .66
3.6 Tcnicas Hipnticas .................................................................................................. .70
3.7 Estgios da Hipnose .................................................................................................. .77
4 O USO DA HIPNOSE NA PRTICA CLNICA ............................................................... .80
4.1 Hipnose na Clnica Mdica ........................................................................................ .80
4.2 Hipnose na Clnica Odontolgica ............................................................................. .82
4.3 Hipnose na Clnica Psicolgica ................................................................................ .84
5 METODOLOGIA ............................................................................................................. .87
6 APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS ................................................................ .88
7 CONCLUSO ................................................................................................................. .90
REFERNCIAS ................................................................................................................. .91
ANEXOS ........................................................................................................................... .97
ANEXO I ............................................................................................................................ .97
ANEXOII...............................................................................................................................107
ANEXO III............ ........................................................................................................... ..108
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1 INTRODUO
Ao longo dos sculos, a hipnose foi sendo revelada por diferentes lentes,
de acordo com cada momento histrico, mas ainda hoje guarda ranos de antigas
concepes acerca de sua significao e efetiva contribuio para a prtica clnica,
tanto mdica quanto psicolgica.
A associao com espetculos de variedades, em que um convidado
realizava aes incomuns e surreais induzido supostamente por hipnose, faz com
que ainda nos tempos modernos ela sofra suas conseqncias.
Iniciada muito antes da existncia de relatos escritos da histria humana,a hipnose j podia ser encontrada nas cerimnias religiosas e de cura de muitos
povos primitivos, os quais se utilizavam dela para induzir seus participantes ao
transe hipntico. Sua importncia no est em chamar estas cerimnias de
religiosas, curandeirismo, ou alguma outra combinao que seja, mas sim que o
estado de transe com caractersticas hipnticas j existia, muito embora o termo
tenha sido cunhado apenas no sculo XIX, com James Braid.
No sem razo que o final do sculo passado e incio deste tambmtenha sido muito frtil quanto discusso da dimenso social da cincia, no sentido
de que a compreenso da prtica hipntica no poderia passar distanciada dos
processos comuns a uma comunidade cientfica que prima pelo conhecimento como
forma de dar ao homem o melhor dos dois mundos, buscando a teoria para aplicar a
prtica.
A preocupao com o bem-estar do homem num mundo cada vez mais
agitado, onde as pessoas se veem acossadas pela matria, faz a Psicologia voltaros olhos humanidade como forma de buscar outros recursos que a faa conseguir
um equilbrio entre as exigncias da vida moderna e o equilbrio emocional,
consequentemente procurando reduzir sofrimento.
Nesse sentido, a hipnose tem se mostrado uma valiosa ferramenta,
justificando o presente trabalho ao buscar responder por qual modo, como terapia
complementar, atua na mente humana mudando comportamentos e favorecendo a
remisso de patologias, fsicas e ou emocionais, como insnia, enxaqueca,
alcoolismo, no alvio da dor, para citar alguns, bem como sua importncia.
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Embora tenha sido apresentada sob diferentes conceitos ao longo de sua
evoluo, Barber a entende como um comportamento hipntico sugerido a partir de
atitudes positivas, motivaes ou expectativas que predispem o indivduo a pensar
e ou imaginar de boa vontade os temas sugeridos (FERREIRA, 2006).
Na viso do prprio Ferreira, hipnose mdica [...] essencialmente um
estado da mente no qual as sugestes so mais profundamente aceitas do que no
estado de viglia, mas tambm agem mais poderosamente do que seria possvel
durante o estado de viglia (2003, p. 155).
Para a Associao Americana de Psicologia, Diviso de Hipnose
Psicolgica, a hipnose consiste em
[...] um procedimento durante o qual um profissional de sade oupesquisador sugere que um cliente, paciente, ou um sujeito experimentemudanas de sensaes, percepes, pensamentos e comportamentos. Ocontexto hipntico geralmente estabelecido por um procedimento deinduo. Embora haja muitas indues hipnticas diferentes, a maioria incluisugestes de relaxamento, calma e bem-estar. Instrues para pensarsobre experincias agradveis so tambm comumente includas emindues hipnticas (TIBRIO; de MARCO & PETEAN, 2004).
Pela conscincia dos inmeros benefcios que a hipnose capaz de
apresentar, o objetivo geral deste trabalho est em destacar a importncia da
hipnose como terapia complementar em processos teraputicos fsicos e
psicolgicos. Comeando por uma reviso bibliogrfica sobre o assunto, passa a
investigar e descrever a histria da hipnose no Brasil e no mundo, alm de
esclarecer seu uso eficaz na prtica clnica, bem como o estado legal em que se
encontra atualmente junto aos profissionais na rea das cincias da sade ehumanas.
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2 HISTRIA DA HIPNOSE
Etimologicamente, a palavra hipnose tem uma origem grega, cujo termo
Hypnos significa sono, significado esse que provocou uma ligao com o ato de
dormir e que perdura at os tempos atuais. Entretanto, pertinente esclarecer que o
estado hipntico muito mais do que isso, pois libera o paciente para a induo do
transe, conduzindo-o a um estado de relaxamento semiconsciente, mas com
manuteno do contato sensorial deste com o ambiente.
Pelos conceitos desenvolvidos por Milton Erickson, um dos maiores
expoentes em hipnose no mundo, o ser humano tem como caracterstica a
habilidade de responder s sugestes e aceit-las. Com a utilizao de tcnicas de
hipnose, o terapeuta d ao paciente a chance de escutar realmente os conceitos
mentais, de modo que este se torna receptivo aos padres, s associaes e aos
modelos de funcionamento que conduzem soluo de problemas (ERICKSON,
HERSHMAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006). Na viso dos autores, [...] transe
um estado psicolgico determinado da conscincia [...] e que ele difere do estado
comum da conscincia (p. 53).
No entanto, embora aponte para a inexistncia de estudos que
comprovem a existncia do transe, Ferreira (2006) considera um desservio
induo hipntica no reconhecer tal estado. Segundo ele, [...] no havendo um
estado para o paciente entrar, por que fazer o processo de induo? (p. 54).
Segundo Stark (apudFERREIRA, 2006), a influncia da hipnose se liga
alterao do autocontrole na medida em que, ao prestar ateno a um determinado
aspecto ou senti-lo, este se configura como estado alterado, e o fato de se esperar
modificaes a partir do que se pretenda que acontea, produz alteraes nos
pensamentos, atos e sentimentos do indivduo.
Para William Edmonston Jr, o termo para descrever hipnose seria anesis,
uma vez que o autor considera que o relaxamento condio essencial para que o
indivduo responda melhor s sugestes (apudFERREIRA, 2006).
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2.1 As Origens
Embora a palavra hipnose tenha sido revelada ao homem apenas no
sculo XVI, desde a Antiguidade esta se achava representada atravs de desenhos
em cavernas, nas cermicas, por assrios e egpcios. Pincherle & Colaboradores
(1985 apud ANDRADE FARIA, 1961) referem que em Tebas foi encontrado um
baixo-relevo num sarcfago, cujo desenho denota um sacerdote induzindo um
paciente. Conforme sustenta Bauer (2002), os homens primitivos registravam
situaes de sua vida cotidiana atravs de desenhos e outras simbolizaes que
tinham por objetivo representar seu modo de comunicao. No Talmude se fazaluso ao encantamento de serpentes, enquanto que os gregos antigos usavam o
sono hipntico para a cura de diversos males nos chamados templos do sono.
O mais antigo relato de transmisso de fluidos atravs de passes foi
registrado entre os sacerdotes caldeus h cerca de 2400 a.C. Entre os gregos e
indianos, a hipnose apresentava-se sob a face de milagres operados por
sacerdotes, bruxos ou feiticeiros, os quais se designavam mensageiros de Deus
(AKSTEIN,1973, apudFERREIRA, 2006).Entre os egpcios, h registros de curas atravs da hipnose nos Papiros
de Ebers (datado aproximadamente entre 1536-1534 a.C., nono ano do reinado de
Amenophis I na XVIII Dinastia e publicado em 1875, em Leipzig, pelo egiptlogo
George Ebers, segundo BAPTISTA e colaboradores, 2003, os quais do uma idia a
respeito da teoria e prtica da medicina egpcia antes de 1552 a.C., cujas culturas,
regidas por um pensamento mgico-religioso, do conta de que a atividade mdica e
seus mdicos se encontravam sob a proteo divina (GARCIA-ALBEA, 1999).Considerado um dos precursores da hipnose, Franz Anton Mesmer,
discpulo do padre Maximiliano Hehl - professor de astronomia na Universidade de
Viena, ajudava seu mestre a aplicar magnetos que tinham as formas de vrios
rgos humanos, utilizando-os de acordo com o local onde se alojava a doena do
paciente.
Sobre o assunto, Shrout (1985) comenta que padre Hehl sabia que suas
curas tinham muito mais um cunho psicolgico do que fsico, pois se o poder de cura
estivesse realmente nos magnetos, seriam indiferentes as formas, de onde se infere
que a crena em talisms ou amuletos sempre esteve presente entre os homens.
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Como Hehl, Padre Gassner (SHROUT, 1985) tambm usava os
magnetos, cujo ritual comeava por deixar seus pacientes no centro de uma sala a
sua espera, momento em que Gassner chegava at eles portando nas mos
estendidas ao alto um crucifixo negro. Seus pacientes eram antecipadamente
avisados que de quando fossem por ele tocados com o crucifixo, deveriam cair
imediatamente ao cho, numa espcie de morte, enquanto o padre expulsaria os
demnios para devolver-lhes a sade (BRYAN, 2009). Shrout (1985) tambm
comenta sobre a dramaticidade que envolvia as sesses de cura de Padre Gassner,
a qual envolvia o uso de mantos esvoaantes, expressando-se em latim e com um
crucifixo enfeitado com pedrarias. Entretanto, isso no impediu que o padre
obtivesse uma mdia de cura de cerca de setenta e cinco por cento dos casos queatendeu (idem).
Se Mesmer j se encontrava fascinado com os trabalhos de Hehl, depois
de assistir vrias performances do Padre Gassner, por volta de 1775, decidiu-se a
estudar o assunto. Embora mais tarde se tenha comprovado a puerilidade de seu
mtodo, Mesmer conseguiu um sucesso considervel numa poca em que sangrias
e amputaes eram as prticas mdicas mais usadas, cujo caso de cura mais
notvel foi o de Maria Theresa Paradis, uma jovem pianista curada de cegueira em1777(FERREIRA, 2006).
Aprimorando esta linha de trabalho, os apontamentos de Erickson,
Hershman & Secter, (2003) referem os postulados de Mesmer, em que [...] um certo
fluido que circulava no corpo era influenciado por foras magnticas originadas a
partir dos corpos astrais (p. 20). Os dados disponveis na poca davam
credibilidade cientfica a sua teoria, coincidindo com o descobrimento da eletricidade
e mais alguns avanos na astronomia.Dado o sucesso do mtodo por ele empregado, Mesmer passou a
acreditar que o poder de cura estava antes na pessoa do magnetizador do que no
prprio instrumento, passando ento a aplicar seu tratamento a vrias pessoas ao
mesmo tempo. Para tanto, idealizou uma grande tina (baquet em francs),
distribuindo dentro dela garrafas de vidro com as bocas voltadas para o centro,
cobertas com limalha de ferro e vidro modo, completando o restante do espao com
gua. A sance (reunio) tinha incio ento com as pessoas alinhadas ao redor
desta tina (comportava 130 pessoas de cada vez) segurando as garrafas de vidro,
onde deveriam tocar a pessoa mais prxima. Entrando de modo impactante no
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recinto, Mesmer ia de um em um aplicando passes at que eles caiam num transe
catalptico (SHROUT, 1985; FERREIRA, 2006).
O alcance de suas curas deu-lhe uma reputao memorvel, espalhando
o Mesmerismo rapidamente pela Europa, ao mesmo tempo em que fez provocar em
seus colegas uma grande animosidade, fazendo com que a Academia Francesa
designasse uma comisso especial para investig-lo, a qual foi composta por
Benjamin Franklin, Lavoisier e Dr. Guillotin (o inventor da guilhotina), entre outros
(ERICKSON, HERSHAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006; SAURET, 2008).
Una de las comisiones de investigacin - la encabezada por BenjaminFranklin- estaba formada por miembros de la Facultad de Medicina -Borie,Sallin, DArcet y Guillotin -, y de la Academia de Ciencias - Le Roy, Bailly,Lavoisier-, mientras que la segunda estaba formada slo por miembrosnotables de la Sociedad Real de Medicina - Possonier, Caille, Mauduyt,Audry y Laurent de Jussieu. Sus frutos fueron dos amplios informes(Commissaires de lAcadmiee de Sciences et la Facult de Mdecine,1784; Commissaires de la Socit Royale de Mdecine, 1784),reproducidos en forma amplia en la documentada obra editada por Burdin yDubois (1841) (TORTOSA, GONZLEZ-ORDI e MIGUEL-TOBAL, 1999,p.8)
As concluses da comisso apontaram Mesmer como uma fraude, ao
verificar que algumas pessoas eram sensveis ao magnetismo animal e
experimentavam uma reao convulsiva quando tocadas pelos objetos, porm sem
conseguir identificar quais objetos tinham sido magnetizados, a menos que os
vissem no momento do acontecido: A imaginao sem magnetismo provoca
convulses, o magnetismo sem imaginao no provoca nada (SAURET, 2008, p.
27).
Estas concluses, seus acertos e desacertos foram brilhantementetratados por Chertok & Stengers (1990), no livro O corao e a razo, a hipnose de
Lavoisier Lacan.
Pincherle & Colaboradores (1985) sustentam que desde a Antiguidade o
fenmeno mesmrico j era utilizado por sacerdotes egpcios, nos templos hindus,
por gregos, por Paracelso no sculo XV, Van Helmont e Valentin no sculo XVI,
Greatrakes no sculo XVII, Cagliostro no sculo XVIII, porm circunscritos religio.
O que Mesmer postulava com seus achados era uma explicao cientfica para taisocorrncias.
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Entretanto, a originalidade do trabalho de Mesmer e que no teve o
reconhecimento devido na poca estava em que os pacientes eram capazes de
alterar comportamentos mediante a sugesto dada por ele. por esta razo que
Erickson, Hershman & Secter (2003) apontam como base da psiquiatria dinmica
moderna o trabalho de Mesmer e sua teoria do magnetismo animal, alm de que tais
trabalhos permitiram que se aperfeioasse a percepo existente entre sugesto
hipntica e psicoterapia.
Neubern (2008) aponta duas grandes consequncias histricas para que
o Mesmerismo fosse desqualificado enquanto cincia como foi. Primeiramente, o
esquecimento de grandes nomes do magnetismo, no obstante [...] suas
contribuies para a construo da psicologia (p. 444). Num segundo plano,embora a hipnose [...] fosse herdeira histrica do mesmerismo, seus promotores
buscaram conceb-la como um mtodo legitimamente cientfico, desvencilhado de
noes msticas, como fluidos e imaginao, para se fundamentar nas estruturas
nervosas do crebro (CARROY, 1991; MHEUST, 1999 apudNEUBERN, 2008, p.
445).
Armand Marie Jacques Chastenet de Puysgur, Marqus de Puysgur, foi
seu discpulo mais aplicado, descobrindo o sonambulismo artificial em 1784,segundo Ferreira (2006) e Sauret (2008), professor titular da Universidade de
Tolouse, que esteve no Brasil a convite de Universidades do Rio de Janeiro em
2005.
Sobre o assunto, Woznyak (2009) comenta que Puysgur tratou Victor
Race, um trabalhador de sua fazenda. Abaixo a traduo em espanhol da verso
original inglesa:
Cuando Victor, quien en condiciones normales nunca se habra atrevido aconfiar sus problemas personales al seor de la casa, admiti en eltranscurso del sueo magntico que estaba disgustado por una pelea quehaba tenido con su hermana, Puysgur le sugiri que hiciera algo pararesolver la querella y, despus de despertar, sin recordar las palabras dePuysgur, Victor obr de acuerdo con la sugestin del marqus (trad.VIVES, 2009).
O sono lcido apontado pelo Abade Faria, um sacerdote portugus, nada
mais era do que [...] a vontade do paciente, afirmando que os determinantes de
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cura eram a perfeita sintonia entre paciente e hipnotizador e a vontade de curar-se
(FERREIRA, 2006, p.11).
Em Londres, o Mesmerismo renovou-se com os estudos de um professor
de Medicina da Universidade de Londres, o mdico e professor Elliotson, o qual
publicou suas descobertas no jornal intitulado Zoist (ERICSON, HERSHMAN &
SECTER, 200; FERREIRA, 2006), com edio trimestral destinada a expor temas
referentes ao Mesmerismo em1855.
Os fenmenos hipnticos foram investigados pela Associao Mdica
Britnica em 1891, cujo relatrio apresentado no ano seguinte pode ser assim
resumido:
Pleno convencimento quanto ao fenmeno; O termo hipnose no representativo do que ela seja, uma vez que o sono
fisiolgico e a hipnose no so a mesma coisa;
Eficaz no alvio das dores, embriaguez, na realizao de atos cirrgicos;
Deve ser usada exclusivamente por mdicos para fins teraputicos, apenas
em homens. Quando em mulheres, diante de familiares ou pessoas do
mesmo sexo;
Condenao para fins recreativos (FERREIRA, 2006).Simultaneamente aos estudos de Elliotson, James Braid usou o termo
Hipnose e mesmo depois de arrepender-se do nome, este j se encontrava de tal
modo associado prtica que no foi mais possvel mud-lo (ERICSON,
HERSHMAN & SECTER, 2003). Contudo, o prefixo hypn-j havia sido grafado 20
anos antes pelo francs Etienne Felix dHenin de Cuvillers (FERREIRA, 2006).
A concepo de Braid acerca da hipnose e dos mitos que j naquela
poca a circundavam ficam bastante explcitas a partir da traduo de um excertoretirado do seu livro Neurypnology Or The rationale of nervous sleep considered in
relation with animal magnetism(FERREIRA, 2006):
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Estou ciente do grande prejuzo que foi levantado contra o Mesmerismo apartir da idia que poderia estar voltado para fins imorais. No que respeitaao estado Neuro-hipntico, induzido pelo mtodo explicado no presentetratado, estou certo de que tal no merece censura. Eu tenho provado porexperincias, tanto em pblico como privado que, durante o estado de
excitao, o julgamento suficientemente ativo para os pacientes, sepossvel, ainda mais fastidioso no que diz respeito sobriedade de conduta,do que na condio de viglia; [...] E, finalmente, o estado no pode serinduzido, em qualquer fase, a no ser com o conhecimento e consentimentodo paciente. Isto mais do que se pode dizer a respeito de uma grandeparte dos nossos mais valiosos medicamentos, [...] Ela nunca deveria serperdido de vista, pois que existe o uso e abuso de qualquer coisa nanatureza. Trata-se do uso, e apenas da utilizao judiciosa do Hypnotismo,que eu defendo. (BRAID, 1843,pp.10-11 )
Shrout (1985) sustenta que a descoberta de que algumas pessoas tinham
a capacidade de entrar em transe hipntico ao fixar o olhar em um ponto de luz fez
Braid ir mais adiante, testando sugestes para apressar o processo. Em seus
estudos, percebeu que a concentrao do prprio paciente em um objetivo
determinava o processo hipntico, sendo que em 1847 relatou fenmenos de
catalepsia, anestesia e amnsia, os quais eram possveis mesmo sem o paciente
dormir (FERREIRA, 2006).
Embora seus estudos pouco tenham influenciado os ingleses, estes foram
retomados [...] como tcnica anestsica, pelos mdicos franceses como Azam,
Broca, Cloquet, Velpeau, (SAURET, 2008, p. 28), cuja prtica anestsica a partir da
hipnose se mantm at o uso do clorofrmio.
Na ndia, o Mesmerismo chegou atravs de James Esdaile, um cirurgio
escocs que fez inmeras cirurgias utilizando anestesia mesmrica, inclusive com a
publicao em 1850 do livro Mesmerism in Indian and its Practical Aplication In
Surgery and Medicinee em 1918 pela Harvard College Library. Abaixo, a traduo
de um pequeno trecho prefaciado pelo autor e retirado do livro no original:
O que eu agora ofereo ao pblico o resultado de apenas oito meses deprtica do Mesmerismo em um hospital de caridade, mas foi suficiente parademonstrar a singular mais benfica influncia que o Mesmerismo exercesobre a constituio do povo de Bengala, e que interveno mdico-cirrgica indolor, entre outras vantagens, so um direito natural; [...].Hooghly, Fevereiro, 1 , 1846. (ESDAILE, 1847, p.7)
No entanto, mais detalhadamente pode se analisar sua prtica pela
descrio feita a partir de alguns atendimentos que realizou:
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13 de julho 4 homens e 1 mulher deram entrada hoje:N 1 lumbagoN 2 citicoN 3 dor ao longo do nervo crural (parte da frente da coxa nos quadrceps,tendo por origem uma agresso do nervo entre a 3 e a 4 vrtebra lombar)
N 4 - reumatismo sifilticoN 5 - ditto (sem traduo grifo meu)Todos foram usualmente manipulados, observando-se a respirao. Depoisdo primeiro dia, todos foram induzidos a beber gua mesmerizadadiariamente, at o 17 dia, [...] no caso do sifiltico, os benefcios no foramos esperados; aqueles que constituam uma doena especfica continuaramem tratamento; as dores locais foram atenuadas [...] (ESDAILE, 1847, p.7)
A valiosa contribuio de James Esdaile ao estudo da hipnose faz desse
livro um importante documento cientfico, pois tal como os atuais pesquisadores, ele
observou [...] que havia uma sensvel diminuio do trauma cirrgico em seus
pacientes hipnotizados. Ele ou seus auxiliares nativos mesmerizavam pacientes pela
manh e os deixavam em estado catalptico (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER,
2003, p. 21). As cirurgias eram realizadas mais tarde, cujos casos eram
documentados e observados por mdicos e autoridades do local.
Em Nancy, na Frana, Ambroise-Auguste Liebeault foi quem levou a
termo os estudos sobre o tema, afirmando que os fenmenos do hipnotismo eram
subjetivos em sua origem, pois era a sugesto verbal que representava o fator
hipnotizante (SAURET, 2008). Lendo sobre os trabalhos de Braid, foi aplicando a
hipnose por mais de vinte anos de forma quase gratuita para evitar a pecha de
charlato; porm, seu trabalho s foi reconhecido quando tratou de um caso enviado
por um colega neurologista e professor da faculdade de Medicina, Bernheim.
Em tratamento h seis anos sem lograr xito, nas mos de Liebeault o
paciente curou-se aps algumas sesses de hipnose. Da em diante, os dois,
Libeault e Bernheim, trataram cerca de dez mil pacientes (ERICKSON,HERSHMAN & SECTER, 2003), o que permitiu Bernheim elaborar o primeiro
tratado sobre hipnose Suggestive therapeutics em 1886, publicando tambm o
livro De la suggestion et de ss applications a la therapeutique (FERREIRA, 2006).
Seus trabalhos criaram um referencial em hipnose, ficando conhecido como Escola
de Nancy e chamando a ateno de especialistas no mundo inteiro.
Sua obra, Confesiones de un medico hipnotizador, contm uma descrio
de como sua tcnica evoluiu:
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Hice uso del mtodo mas empleado para producir el sueno artificial, el deDupotet y La Fontaine [...] De este procedimiento clsico, al que encontrinconvenientes, pas a ensayar el de Braid [...] al procedimiento esconocido por los magnetizadores durante largo tiempo, aadimos lasugestin del sueno, ya utilizada por el abate Faria [...] A partir de esta
reforma capital em mi manera de hipnotizar mis enfermos si durmierontranquilamente y con mucha ms rapidez.(In Libeault 1891, 290-293 apudTORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZLEZ-ORDI, 1999, p. 14)
Enquanto Liebeault s teve seu trabalho reconhecido aps a associao
com Bernheim, este publicou diversos trabalhos sobre hipnose. Em 1891 publicou
Hipnose, sugesto e psicoterapia (SAURET, 2008). Bernheim (apud TRIPICHIO,
2009) afirmava que o sono hipntico ou provocado era uma condio fisiolgica
possvel de ser alcanada por qualquer pessoa, alguns mais facilmente que outros e
que o estado hipntico no era uma condio inerente histeria.
Ferreira (2006, p. 13; TRIPICHIO, 2009) comenta que Bernhein
acreditava que a capacidade [...] do crebro de receber ou evocar idias e sua
tendncia a realiz-las ou transform-las em atos era dada pela sugesto.
A repercusso dos estudos realizados sobre hipnose estimulou outro
francs, um fisiologista, a percorrer os caminhos do hipnotismo: Charles Richet, que
por sua vez, levou Jean Martin Charcot, neurologista em Salptrire, a focalizar a
hipnose, afirmando que [...] a hipnose era apenas uma outra forma de histeria
(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 22; FERREIRA, 2006). Acreditava
Charcot que somente as pessoas histricas poderiam ser hipnotizadas (SHROUT,
1985).
Segundo ele, o entendimento clnico para ocorrncias de traumas
psquicos, comportamentos hipnides, sugesto e representao inconsciente
divergia daquelas at ento aceitas pelos estudiosos da poca, os quaisacreditavam que tais problemas localizavam-se no crebro ou eram provocados por
alteraes em seu funcionamento (FULGNCIO, 2006).
Esta oposio de idias entre as duas escolas deu incio a uma longa luta
(ANDERSSON, 2000 apudFULGNCIO, 2006), durando cerca de dez anos, mesmo
aps a morte de Charcot.
Jean Martin Charcot ficou muito bem conhecido pelos profissionais de
medicina por tantas e variadas realizaes, como o banho de Charcot, pela doenade Charcot, pela junta de Charcot, pela sndrome de Charcot, microaneurisma de
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Charcot-Bouchard, esclerose lateral, entre muitos outros, alm de seu trabalho com
a atrofia muscular neuroptica progressiva, de conhecimento de todos os estudantes
de medicina, conforme aponta Teixeira (2001). A neurologia se colocou como uma
especialidade mdica na segunda metade do sculo XIX em decorrncia de seus
estudos e de seus discpulos em Salptrire.
Em 1878, Charcot apresentou a teoria de trs estgios hipnticos:
catalepsia fixao do olhar do paciente num determinado objeto luminoso,
produo de um som abruptamente; letargia - paciente de olhos fechados ou cessar
o objeto luminoso; sonambulismo presso ou frico no alto da cabea
(FERREIRA, 2006).
No entanto, mesmo sua fama no o poupou de ver enfraquecida suareputao quando defendeu, contra as teorias da Escola de Nancy, que a hipnose
seria um estado patolgico capaz de enfraquecer a mente humana, situao que
muito se agravou aps sua morte quando um colaborador direto, Babinski, deu
declaraes sobre falsas curas sustentadas por Charcot. Alm disso, Janet, seu
aluno e Dubois, aluno de Bernheim, viriam mais tarde a concordar com os preceitos
da Escola de Nancy (SAURET, 2008).
Um dos colaboradores de Charcot, Pierre Janet, publicou sua tese dedoutorado sob o ttulo L'Automatisme psychologique em 1889 na Sorbonne, a
primeira de uma srie de tratados sobre as manifestaes do inconsciente, estudos
que serviram de base para reput-lo como o fundador da moderna psicologia
dinmica (THEPHILO ROQUE, 2009).
Neste tratado, Janet reorganizou a conscincia sob trs aspectos:
catalepsia (conscincia puramente afetiva, reduzida s sensaes e s imagens), a
sugesto (conscincia desprovida de controle, orientao e percepo) e osonambulismo, como um campo de conscincia comparvel ao estado vgil
(CHERTOK & STENGERS, 1990).
Muito natural ento que a ampla divulgao na comunidade cientfica
sobre a hipnose chamasse a ateno daquele que considerado o fundador da
psicanlise. Junto com Breuer, Freud havia usado a hipnose para ajudar pessoas
com distrbios emocionais (ERICKSON, HERSHAMN & SECTER, 2003). No
entanto, como quisesse desenvolver tcnicas prprias, em 1890 Freud foi para
Nancy, atravs de uma bolsa de estudos do governo, passar algumas semanas na
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Salptrire, em Paris, estudar com Jean-Martin Charcot, o qual realizava
experincias com doentes mentais, principalmente a histeria, utilizando a hipnose.
Para Breuer, as doenas mentais provinham de conflitos que estavam
localizados na mente da pessoa, e no necessariamente biolgicos. Breuer
acreditava que atravs da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a
impediriam de lembrar certos fatos (os traumas) e assim livrar-se dos males que as
incomodavam. Freud depois descreveu esse estado como catarse.
Seu caso mais famoso e para o qual contou com a ajuda de Freud foi a
paciente cujo pseudnimo era Anna O, uma moa de 21 anos, depressiva e
hipocondraca (quadro na poca denominado "histeria"); ela se acreditava paraltica
em algumas ocasies, ou no conseguia beber gua mesmo estando com sede, ese sentia incapaz de falar seu prprio idioma, o alemo, recorrendo ao francs ou
ingls para se comunicar. Breuer submeteu-a hipnose e ela relatou casos de sua
infncia, o que lhe causava enorme bem-estar aps o transe hipntico.
Freud (1888 apudGOMES, 2005, p. 149) refere, ao prefaciar a traduo
do livro de Bernheim, De la suggestion, que a questo a colocar seria [...] saber se
todos fenmenos da hipnose devem passar em algum lugar atravs da esfera
psquica [...] se as mudanas de excitabilidade que ocorrem na hipnose afetaminvariavelmente apenas a regio do crtex cerebral. Aqui se encontram as primeiras
indicaes de uma preocupao bastante atual, que a de investigar as bases
neurais da hipnose.
Embora a hipnose fosse o tema em voga no meio cientfico, Freud a
descartou como tcnica de cura, passando a usar a tcnica desenvolvida por ele de
associao de idias, convencido que estava de que ao induzir o paciente a um
estado de total relaxamento, este recordava emoes recalcadas e que eram acausa de seus distrbios. Esta convico, conforme sustenta Cobra (2009) fez Freud
formular a teoria
[...] de que os sintomas histricos teriam origem na energia dos processosmentais os quais, impedidos de influenciar a conscincia, so desviadas[sic] para a inervao do corpo e convertidos nesses sintomas. Devido natureza das experincias traumticas recordadas pelos pacientes, ficouconvencido de que o sexo tinha parte dominante na etiologia das neuroses.
Logo passou a considerar o desejo sexual como motivao praticamentenica do comportamento humano, quer direta, quer indiretamente. Essanfase foi a principal causa do afastamento de Breuer, e do rompimento queocorreria no futuro com vrios de seus colegas. (COBRA, 2009)
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Nos anos subsequentes, especialistas de vrias partes do mundo, entre
eles Bramwell e Moll da Gr-Bretanha (apud BRYAN, 2008), Morton Prince (apud
PINCHERLE & COLABORADORES, 1985), McDougall (apud ERICKSON,
HERSHMAN & SECTER, 2003) dos Estados Unidos e Pavlov na Rssia
(FERREIRA, 2006), continuaram a fazer uso do hipnotismo, especialmente os
neurologistas, uma vez que a maior parte das doenas mentais era estudada luz
da neurologia, os quais foram influenciados diretamente pelos trabalhos de Freud.
2.2 Hipnose na Era Moderna
Outro nome referenciado em hipnose, Pavlov (Escola de Reflexologia)
teceu suas teorias sobre o tema quando comeou a trabalhar com reflexo
condicionado, as quais originaram Sobre a fisiologia no estado hipntico do co.
Suas anotaes o levaram a afirmar que os reflexos condicionados respondem pela
adaptao do homem ao meio, cujos estmulos podem vir do ambiente ou do prprio
organismo.Ferreira (2006) considera que durante a ocorrncia da hipnose, segundo
a teoria de Pavlov, a partir de um estmulo inicial no crtex cerebral atuando
repetidamente (que pode ser visual, ttil, auditivo, cinestsico), este provoca uma
ao inibidora reflexa em todos os estmulos iniciais, embora o paciente continue em
estado de viglia. A seguir, assertivas quanto ao cansao das plpebras produz o
fechamento dos olhos. Neste exemplo, o estmulo auditivo, uma vez que pela
fala que o hipnotizador mantm o hipnotizado em estado hipntico.Em estudos conduzidos por Fernandes-Guardiola (2005), os
experimentos de Pavlov mostraram novos caminhos para tratar os fenmenos
psquicos ao considerar os reflexos do meio sobre o organismo humano:
? caractersticas diferenciales hay entre estos nuevos fenmenos encomparacin com l os fisiolgicos? [...] la diferencia consiste em que,mientras em La forma fisiolgica la sustncia entra em contacto directo con
el organismo, em la psquica acta a distancia [..]; cuantos reflejosfisiolgicos desencadenan la nariz, los ojos y los odos, reflejos que son,por consiguiente, reflejos a distancia! (PAVLOV 1903/1968 apudFERNANDES-GUARDIOLA: 2005, p. 57).
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Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o grande nmero de
pessoas com traumatismos, tanto fsicos quanto psicolgicos, o assunto voltou
tona com o psicanalista alemo Ernst Simmel, que desenvolveu a tcnica chamada
hipnoanlise. Durante a Segunda Guerra, Grinker e Spiegel utilizaram barbitricos
para induzir a hipnose atravs de medicamentos (ERICKSON, HERSHMAN &
SECTER, 2003).
O interesse dos americanos foi despertado por Clark L. Hull, com suas
observaes registradas no livro Hypnosis and suggestibility, em que o autor, em
comentrios de Horton & Crawford no Jornal Americano de Hipnose (2009) conclui
que [...] a nica coisa que parece caracterizar a hipnose como tal e que d qualquer
justificativa para a prtica de chamar-lhe um "estado" a suahipersugestionabilidade generalizada.
A guerra da Coria entre os anos de 1950 a 1953 foi mais um dos
momentos em que se fez ressurgir a prtica da hipnose nos Estados Unidos e na
Inglaterra, o que fez a British Medical Associatione a American Medical Association
decidirem pela incluso da hipnose nos currculos dos cursos de medicina
(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), tendo em vista sua reconhecida
eficcia no tratamento de vrias patologias, tanto fsicas quanto psicossomticas.Estas aprovaram tambm oficialmente o uso do mtodo hipntico como tratamento
auxiliar em 1955 e 1958, respectivamente, segundo os apontamentos de Horton &
Crawford (2009).
Apontado como uma das maiores autoridades em hipnoterapia e
psicoterapia breve, Milton Erickson considerado dentro dos estudos em hipnose o
que foi Freud para a psicanlise.
A hipnoterapia Ericksoniana, assim chamada em razo de ter sidoelaborada por Milton Hyland Erickson (1901 - 1980), psiquiatra americano do incio
do sculo XX, passou a ser considerada uma divisora de guas entre a hipnoterapia
clssica, estabelecida poca da experimentao cientfica, e o modelo vigente na
atualidade. Coautor de cinco livros sobre o assunto, Erickson publicou mais 130
artigos, a maioria deles versando sobre as aplicaes da hipnose, buscando
expandir e reformular a forma pela qual se compreendia a hipnose e a forma de
trabalhar os fenmenos a ela associados.
No prefcio de Hipnose Mdica e Odontolgica, Aplicaes Prticas,
Jeffrey Zeig afirma que Erickson criou um modelo de tratamento em que procurou
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utilizar recursos do prprio paciente, mudando com isso o curso da hipnose, pois at
ento esta era praticada a partir de sugestes dadas ao paciente pelo hipnotizador,
mas sem considerar suas motivaes intrnsecas. As anotaes de Erickson,
Hershman & Secter (2003, p. 9) do conta de que O trabalho de Erickson parte de
dentro para fora (inside out) e mtodos indiretos eram utilizados para despertar
foras do paciente, ao invs da aplicao de sugestes poderosas dirigidas contra
um paciente passivo.
Pelas palavras de Zeig (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) se
depreende o quanto o trabalho de Milton Erickson influenciou a comunidade
cientfica, ao elaborar uma teoria que prometia desvelar os meandros da mente
humana, ajudando o indivduo a encontrar dentro de si mesmo a resposta para osseus males.
Zeig (2003) considera que uma razo bastante plausvel para o sucesso
dos estudos de Erickson tenha sido o fato de ter usado em sua prpria vida seus
ensinamentos, uma vez que usava a hipnose para controlar a dor praticamente
todos os dias. Pela citao abaixo, possvel entrever uma frao de sua tcnica:
Quando Erickson realizava auto-hipnose [sic] para controlar o sofrimento,ele no se programava; ao invs disso, deixava seu inconsciente trabalhar aidia de conforto e ento seguia as sugestes que recebia. [...] prestavaateno na posio do polegar entre seus dedos, logo que levantava dacama. Se estivesse entre seus dedos mnimo e anular, isto significava quetinha controlado bastante a dor durante a noite. Caso estivesse entre oanular e o mdio, tinha controlado menos dor; e se estivesse entre o mdioe o indicador, ainda menos. Dessa forma, ele tinha uma idia de quantaenergia disponvel teria para o trabalho daquele dia e ento sabia que oinconsciente pode funcionar de forma autnoma e benigna (ZEIG, 2003, p.52)
Um outro ponto que o autor considera essencial ao sucesso de Erickson
era o seu lado humano, capaz de dedicar uma preocupao e uma generosidade
genuna a quem viesse em busca de auxlio, sem poupar tempo ou esforo.
Embora no fosse um intelectual no sentido acadmico, sua fala era
extremamente clara e correta, com uma ateno especial linguagem,
preocupando-se em se fazer entender de forma cristalina a quem quer que o ouvisse
(ZEIG, 2003). No raro utilizava seus conhecimentos em literatura, agricultura eantropologia para lidar com os pacientes.
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A comunicao de mltiplos nveis idealizada por Erickson se estabelece
a partir de contedos verbais e comportamentos no-verbais e as implicaes
decorrentes de ambos os processos (ZEIG, 2003).
Erickson estudou profundamente a hipnose e seus fenmenos durante
toda sua vida, demonstrando-a como um fenmeno natural da mente humana, bem
como sua existncia e efeitos no cotidiano. Utilizou a hipnose em praticamente todos
os problemas psicolgicos, sendo autor de inmeros artigos, livros e pesquisas
cientficas na rea. Dentre as diversas contribuies de Erickson para o campo da
Psicologia pode-se citar o conceito de utilizao da realidade individual do paciente,
a Terapia Naturalista, as diferentes formas de comunicao indireta, a tcnica de
confuso e de entremear. considerado o maior hipnoterapeuta do sculo XXdevido a sua abordagem breve, estratgica e voltada para a soluo de problemas
(ZEIG, 2003).
Em 1941, White exps sua teoria do comportamento dirigido, onde o autor
teorizou que o objetivo principal conduzir a ao do paciente a um comportamento
previamente determinado pelo hipnotizador, mas que tambm ele, paciente, entenda
o objetivo do trabalho (FERREIRA, 2006).
A complexidade do transe hipntico levou Wolberg a afirmar que o transese refere tanto a elementos psicolgicos quanto fisiolgicos e por esse motivo no
pode ser explicado de uma forma excludente (FERREIRA, 2006).
Australiano, mas que estabeleceu sua prtica clnica na Inglaterra,
Sydney J. Van Pelt foi outro mdico a utilizar largamente a hipnose em seus
pacientes, alm de difundir o conhecimento cientfico adquirido por meio do seu
trabalho. Sobre o assunto, Ferreira (2006, p.16-17) tem a comentar que Van Pelt
considerava que hipnose seria uma [...] superconcentrao da mente [...], umavez que durante o processo hipntico, [...] as unidades de poder mental [...]
convergem para um foco especfico, quando ento seriam afetadas pela sugesto.
A teoria da excluso psquica relativa da mente sustenta a premissa de
que o indivduo tem duas mentes: a mente objetiva, que age indutiva e
dedutivamente e a subjetiva, que s raciocina dedutivamente. Quando a pessoa
entra em estado hipntico, d lugar mente subjetiva (FERREIRA, 2006).
A entrada definitiva da hipnose nos laboratrios experimentais inicia no
perodo denominado Hipnose Cientfica, cujos fundamentos se assentam sobre os
trabalhos de trs grandes laboratrios, cada um com vises particulares. O de
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Hilgard, fundado em 1957, na Universidade de Stanford, estuda as relaes da
hipnose com variveis como idade, sexo, caractersticas da personalidade, etc.
(Idem, 2006).
Kihlstron (2004) aponta que Stanford Hipntico Susceptibility Scales, o
mtodo de escala de suscetibilidade hipntica, concebido por Hilgard e
Weitzenhoffer no final dos anos 1950 e incio dos anos 1960, comea com um
procedimento padronizado de induo hipntica seguido por uma srie de sugestes
para experincias imaginativas. O tema da resposta a cada uma dessas sugestes
classificada ento de acordo com um critrio objetivo-comportamental.
O referencial de Barber, na Fundao Medfiels do Hospital de
Massachusets, tinha por objetivo estudar o papel e os efeitos da imaginao,expectativas, crenas, motivaes e da emoo sobre a capacidade de
hipnotizao. Segundo Chaves (2006), nos ltimos anos Barber teria se empenhado
em encontrar um terreno comum entre as perspectivas tericas da hipnose. Em seus
estudos, aponta trs tipos diferentes de classificao hipntica: um tipo seria
constitudo por indivduo com alta taxa de motivao, com atitude positiva em
relao hipnose. Outro tipo seria o indivduo mais propenso fantasia. O terceiro
tipo incluiu o virtualmente propenso sugesto hipntica, o qual exibe vrias formasde amnsia infantil.
Por ltimo, fundado em 1960 na Universidade de Harvard, o laboratrio
de Orne, dedica-se a estudar os fatores motivacionais da hipnose e os diferentes
fenmenos hipnticos como regresso hipntica, produo de amnsia e
hipermnsia. De seus primeiros trabalhos sobre hipnose, a grande maioria versa
sobre tcnicas de autorregulao hipntica, de modo a reduzir estresse e fadiga
(KIHLSTRON & FRANKEL, 2000).
2.3 Hipnose no Brasil
Do mesmo modo que a hipnose foi introduzida nos crculos mdicos
mundiais, no Brasil no foi diferente. Na poca em que Freud e a Escola de Nancy
estudavam-na cientificamente, em solo brasileiro estes estudos receberam o nome
de mtodo hipntico-sugestivo, tal como preconizado por Bernheim. Um dos
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primeiros a documentar e publicar um livro sobre o assunto em terras brasileiras foi
Francisco Fajardo (CMARA, 2009), onde este afirma que quem trouxe a hipnose
corte brasileira foi o mdico rico Coelho, apresentando Academia Imperial de
Medicina em 1887 estudos sobre a cura do beribri. Esta foi a primeira vez a se
demonstrar o uso da hipnose como ato mdico, obtendo aprovao da Academia.
A procura pelas publicaes estrangeiras sobre hipnose e suas
aplicaes prticas despertou um crescente interesse no apenas na classe mdica,
mas tambm entre os intelectuais da poca, alm de provocar inmeras polmicas,
inclusive com a igreja. O mdico rico Coelho foi injuriado pelo jornal catlico O
Apstolo, que contestava a prtica hipntica. Em sua defesa saiu um artigo no
jornal leigo da poca, O Paiz, ao qual rico Coelho dirigiu uma carta deagradecimento, citada abaixo por Cmara (2009):
Amigo Sr. Redator Acabo de saber, lendo O Paiz, numero [sic] de hoje,que tomastes o trabalho de referir-vos aos improprios que O Apostolo [sic]se dignou despejar ontem contra mim, a pretexto de vos contestar asvirtudes da medicina sugestiva. Relevai, prezado Sr. redator, que eu vosno gabe o gosto e a pacincia [...] Entretanto devo dizer que vos fico muitograto, e de mais a mais obrigado me fareis, se acaso conseguirdes indagar
da Santa Madre Igreja por que regra a psicoterapia ofende a moral de OApostolo [sic], quando certo que o prprio Padre Eterno (no tempo em quefoi moo) praticou o hipnotismo; haja exemplo a clebre ablao de costelaque Ado sofreu durante o sono, tudo segundo reza o versculo, [...] que,apoiado em autor de to boa nota, acalmeis as iracundas susceptibilidadesde O Apostolo. [sic] Caso, porm, no possais ainda assim chama-lo [sic] razo, o melhor ser deixa-lo [sic] em liberdade. (CMARA, 2009)
Na atualidade, a produo cientfica elaborada por estudiosos do tema
aqui no Brasil vem crescendo, os quais, embora amparados em estudos por
especialistas do mundo inteiro, esto aplicando a hipnose em pacientes e criando
um referencial terico para servir de guia a quem deseja se aprofundar no tema e
buscar subsdios para novos trabalhos. Nomes como Antonio Carlos de Moraes
Passos, Marlus Vinicius Costa Ferreira, Maurcio Neubern, Clia Martins Cortez,
Carlos Roberto Oliveira so alguns dos pesquisadores sobre a hipnose em diversas
reas do conhecimento.
A pesquisadora, professora, doutora e psicloga Yedda Costa dos Reis
lanou em 2008 o livro Construindo Caminhos com a Hipnose Teraputica:Hipnobiodramaturgia. Segundo nota da autora no site da Universidade Federal do
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Rio de Janeiro, Hipnobiodramaturgia refere-se a uma nova abordagem
psicoterpica, cujo campo de conhecimento foi aprovado e considerado um
precursor, no apenas no Brasil como tambm no exterior:
A Hipnobiodramaturgia nasceu da integrao ou fuso das tcnicas depsicodramaturgia, tcnicas da hipnose e do programa Stressless. Osbenefcios imediatos trazidos pela nova tcnica so uma psicoterapia aoalcance de todos que necessitam de tratamento em curto prazo (REIS, 2009 apudNOGUCHI, 2009).
Em artigo publicado no site da Associao de Hipnose do Estado de SoPaulo, o Dr. Joel Priori Maia (2009) considera como melhor denominao para a
hipnose hoje praticada a que chama de Hipnose Contempornea. Segundo ele, a
extensa variedade de teorias e procedimentos que tiveram como foco esclarecer
mais pontualmente questes relativas prtica hipntica fez com que a hipnose
aplicada hoje ao campo da cincia apresentasse diferenas em relao ao que ele
chama de Hipnose Clssica.
Apresentada no IV Seminrio So Paulo - Rio de Janeiro de Hipnose e
Medicina Psicossomtica, que se realizou em novembro de 1990 na cidade de So
Paulo, o tema Hipnose Contempornea foi debatido em mesa redonda pelos Drs.
lvaro Badra, Antonio Rezende de Castro Monteiro, David Akstein, Joel Priori Maia e
Jos Monteiro. A mesa foi coordenada pelo Prof. Dr. Antonio Carlos de Moraes
Passos.
Uma outra abordagem em hipnose praticada sob a denominao de
Hipnose Condicionativa, cujo autor, Luiz Carlos Crozera, defende que esta no se
trata de uma juno de outras tcnicas, mas sim uma nova elaborao, em que o
paciente passivamente tratado atravs da hipnose clnica, para tanto se utilizando
de um mecanismo de ordens e comandos diretos mente humana. Nesta nova
proposta, no existe a escuta teraputica, mas apenas a voz do hipnlogo
(CROZERA, 2009).
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2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil
Conforme estudos apontados por Fernando Portela Cmara (2009), a
hipnose encontrou em solo brasileiro um terreno frtil onde aplicar tais estudos.
Abaixo, um resumo cronolgico:
1823 O mdico pernambucano Joo Lopes Cardoso Machado publica Dicionrio
Mdico-Prtico Para Uso dos que Tratam da Sade pblica, Onde No H
Professores de Medicina.1853 Traduo portuguesa do livro de Du Potet, Prtica Elementar do
Magnetismo.
1857 O Dr. Jos Maurcio Nunes Garcia, professor da Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro, edita Estudos Sobre a Fotografia Fisiolgica.
1861 Fundada a Sociedade Propaganda do Magnetismo e o Jri Magntico do Rio
de Janeiro por D. Pedro II, com pesquisa e tratamento pelo magnetismo animal.
1876 Publicao do trabalho "Memria Sobre o Fluido Universal ou ter", onde,
entre outras coisas, prefigura a idia de bioeletrognese, de autoria de Melo Moraes.
Dias da Cruz. Ferreira de Abreu, Gama Lobo e Gonzaga Filho pesquisavam o
magnetismo animal e o seu potencial teraputico, ainda desconhecendo os
trabalhos de Braid sobre hipnotismo.
1887 O Dr. rico Coelho apresenta um caso de cura de beribri pela hipnoterapia
sugestiva Academia Imperial de Medicina. Ainda segundo o autor, a primeira
apresentao da psicoterapia medicina brasileira.
1888 Francisco de Paula Fajardo Jnior doutorado em medicina com a
dissertao "Hipnotismo" (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), Cunha Cruz
com a tese "Hipnotismo e Sugesto Sua Aplicao Tocologia", e Peixoto de
Moura, com a dissertao Fisiologia Patolgica dos Fenmenos Hipnticos". Na
Bahia, Affonso Alves doutorado com a dissertao "Das Sugestes no Tratamento
das Molstias Psquicas".
1889 Publicao do livro de Fajardo baseado na sua tese de doutoramento. Neste
mesmo ano apresentado, juntamente com Alfredo Barcellos, Aureliano Portugal e
rico Coelho, trabalhos sobre hipnose psicoterpica no II Congresso Brasileiro de
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Medicina e Cirurgia, alm de tambm representarem o Brasil os doutores Joaquim
Correia de Figueiredo e Siqueira Ramos no I Congresso Internacional de Hipnose
Clnica e Teraputica (8-12 de outubro) em Paris, presidido por Charcot.
1891 Doutorado Alfredo F. de Magalhes pela Faculdade de Medicina da Bahia
com a dissertao "O Hipnotismo e a Sugesto Aplicaes Clnicas".
1892 Jos Alves Pereira doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da
Bahia com a dissertao "Das Sugestes no Tratamento das Molstias Psquicas".
1895 Apresentao da dissertao do Dr. Jos Alcntara Machado sobre
hipnotismo ("Ensino Mdico-Legal") para a vaga de lente substituto na cadeira de
Medicina Legal e Higiene Pblica da Faculdade de Direito de So Paulo.
1896 Publicao em segunda edio do livro de Fajardo, ampliado e atualizadocom o ttulo Tratado de Hipnotismo. A excelncia da obra digna de nota de
especialistas na Europa como Charles Richet, Hack Tuke, Azam, Delbouef,
Brouardel, Fr, Dujardin-Beaumetz, Babinski, entre outros.
1916 A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro premia Carlos de Negreiros
Guimares com a dissertao "Do Conceito Moderno do Hipnotismo em Medicina".
1919 Medeiros e Albuquerque publica no Brasil o livro O Hipnotismo, prefaciado
pelos eminentes mdicos Miguel Couto e Juliano Moreira.1957 - Fundada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Hipnose Mdica.
Das informaes relacionadas a seguir, algumas foram obtidas de artigos
cientficos e esto relacionadas nas referncias. As demais foram obtidas a partir do
site da Sociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria (2009), o qual tambm se
encontra devidamente referenciado ao final deste trabalho.
1961 I Congresso Brasileiro de Hipnologia, I Congresso PAN AMERICANO DE
HIPNOLOGIA e a II Reunio da Sociedade Internacional de Hipnose Clnica
Experimental, no Rio de Janeiro, na Faculdade Nacional de Medicina (ALAKIJA,
1992). Regulamentao da hipnose atravs do decreto presidencial n 51.009 de
22/07/1961, proibindo seu uso em espetculos, clubes, auditrios, palcos, ou
estdios de rdio ou tev.
1964 Regulamentao da profisso de Psiclogo e permisso para uso da hipnose
atravs do decreto 53.464, de 21/10/1964.
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1966 Regulamentao da hipnose em Odontologia pela lei n 5.081 de 24/08/1966.
Conselho Federal de Medicina inclui o emprego da Hipnose no "Cdigo de tica
Mdica" no captulo VI, art. 62, 63 e 64.
1971 II Congresso Brasileiro de Hipnologia em Joo Pessoa, PB.
1991 - Fernando Collor revoga o uso teraputico da hipnose atravs do decreto 11
de 19/01/1991.
1999 - Sociedade de Hipnose Mdica de So Paulo obtm parecer de aprovao do
Conselho Federal de Medicina quanto ao uso do termo Hipniatria.
2000 CFP (Conselho Federal de Psicologia) aprova e regulamenta o uso da
Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psiclogo atravs da resoluo n
013/00 em 20 de dezembro.2004 1 Congresso Brasileiro de Psicoterapia Breve e Hipnoterapia realizado em
So Paulo.
2008 XI Congresso Brasileiro de Hipnologia no Rio de Janeiro. 27 Congresso
Internacional de Odontologia de So Paulo discute prticas complementares e
integrativas; entre elas a hipnose.*
Atravs destes esclarecimentos, em que no se teve a pretenso de
nomear todos os eventos relacionados hipnose, buscou-se delinear como estachegou at o Brasil e os caminhos que seguiu at a atualidade.
* Esta ltima informao retirada da pgina da internet do CIOSP Congresso Internacional deOdontologia de So Paulo.
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3 HIPNOSE E CINCIA
Muito embora o termo hipnose j venha sendo grandemente utilizado na
poca atual, ainda h quem no consiga traduzir em palavras o que ela realmente
significa, seu significado variando conforme seus idealizadores.
Para Sofia Bauer (2002), a hipnose um estado de conscincia diferente
do estado de viglia e pode ocorrer no dia-a-dia, quando se est acordado, diferindo,
no entanto, de estar simplesmente em viglia, haja vista que nesse processo o foco
de ateno se volta para a realidade interna criada pela pessoa.
Sydney J.Van Pelt (1949 apud FERREIRA, 2006) considera que ahipnose nada mais do que uma superconcentrao da mente.
J para Sarbin (1950 apud PINCHERLE & COL., 1985), o hipnotizado
representa um papel, em que este to-somente obedece s ordens do
hipnoterapeuta.
Embora se apresentem diferentes posies quanto hipnose, Ferreira
(2006) pontua que este estado que alguns autores reportam como alterado de
difcil preciso, uma vez que a percepo humana varia de pessoa para pessoa.Ento, a definio preferida pelo autor para o que seja estado alterado de
conscincia aquele onde h [...] uma modificao temporria no padro total da
experincia subjetiva, tal que o indivduo acredita que o seu funcionamento mental
distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de
conscincia de viglia (TART, 1972; NEWMAN, 1997; LUDWIG, 1966 apud por
FERREIRA, 2006, p.55).
Sobre este estado de ateno concentrada, Vale (2006) argumenta que precisamente este fato que permite pessoa a reao ao trabalho do
hipnoterapeuta ou auto-hipnose, defendendo, entretanto, a idia de que
O desconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituao eexplicao dos mecanismos atravs dos quais a hipnose produz seusefeitos. Ao contrrio do que parece, durante a sesso hipntica o encfaloest em plena atividade. (VALE, 2006, p. 539)
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O estado de viglia, por sua vez, o oposto do sono, em que a atividade
de despertar corresponde propagao cortical da excitao. Para Pavlov, pela
palavra que os estmulos dos reflexos condicionados so criados, sendo que estas
apresentam dois conjuntos de estmulos diferentes: um sonoro, que o primeiro
sistema de sinalizao, e um outro conjunto de idias e imagens, que o segundo
sistema de sinalizao, conforme refere Ferreira (2006).
Considerando a evoluo da hipnose at os dias atuais, Tortosa, Miguel-
Tobal & Gonzlez-Ordi (1999) referem a existncia de uma dicotomia entre os
tericos, embora apontem que os caminhos seguem em direo a um consenso. De
um lado os tericos del estadoe os tericos del no estado, ede outro, a hipnose
clnica e a hipnose experimental. Na viso dos autores, a divergncia entre asescolas provoca a incongruncia e a no-uniformidade entre os dados apresentados
pelos diferentes aportes, no obstante a produo cientfica recente venha aparando
arestas rumo a uma convergncia entre estas teorias, referindo que a sugesto
direta ou indireta se encontra circunscrita aos fenmenos hipnticos.
Parece existir una tendencia hacia la superacin de la clsica controversiaentre tericos del estado y tericos del no estado, aproximando estasposturas bajo la concepcin de La hipnosis como un conjunto deprocedimientos que potencian certas capacidades preexistentes em losindivduos(TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZLEZ-ORDI,1999, p. 20).
De expresso pouco comum e bastante controversa, a hipnose forense
tem sido utilizada para resgatar memrias adormecidas, de modo a intervir na
soluo de casos legais. Com esta prtica, o hipnoterapeuta acessa a mente
inconsciente do indivduo com vistas a recuperar informaes importantes acerca decrimes ou criminosos (TIBRIO, de MARCO & PETEAN, 2004).
Seguindo por esse vis, cumpre destacar o trabalho elaborado por Sousa
(2000) em sua dissertao de mestrado sobre a persuaso, em que o autor no
menciona a factibilidade do processo hipntico. Nele, Sousa dispe sobre os
caminhos que a mente humana elabora para tomar decises, a certo ponto
relacionando a arte da persuaso com a hipnose. Toma ele por base a definio de
hipnose aceita pela Comisso da British Medical Association, que em 1959estabeleceu hipnose como sendo
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[...] um estado passageiro de ateno modificada no sujeito, estado quepode ser produzido por uma outra pessoa e no qual diversos fenmenospodem aparecer espontaneamente ou em resposta a estmulos verbais ououtros. Estes fenmenos [sic] compreendem uma modificao daconscincia e da memria, uma susceptibilidade acrescida sugesto e o
aparecimento no sujeito de respostas e ideias que no lhe so familiares noseu estado de esprito habitual (CHERTOK, 1989, apud SOUSA, 2000, p.140).
Partindo desta premissa, Sousa (2000) pontua a grande semelhana que
existe entre os dois processos, pois exemplo da hipnose, a persuaso tambm
trata de modificar pensamentos e atitudes de outra pessoa a partir de um contedo
verbalizado, variando em intensidade quanto aos contextos, tipos de relao
estabelecida e os efeitos que se deseja produzir. Frisa o autor:
A relao orador/auditrio no pode pois [sic] deixar de ser igualmentecompreendida luz da modificao do estado de conscincia que nela e porela se opera, ainda que sem a profundidade que caracteriza a relaohipnotizador/hipnotizado (SOUSA: 2000, p. 141).
No tpico que se segue, contudo, o que se pretende discutir a hipnose
sob o ponto de vista de seus mecanismos fisiolgicos, cuja eficcia pode ser
explicada a partir de algumas reaes fsicas observveis no corpo, quando
metabolismos complexos so ativados atravs do Sistema Nervoso Simptico e
Parassimptico (FERREIRA, 2009).
3.1 Neurofisiologia da Hipnose
O corpo humano um complexo sistema interligado que detm o perfeito
controle de suas funes, mantendo o delicado equilbrio entre todas as suas partes
e o meio ambiente. A esse equilbrio, denominado homeostasia, o fisiologista Walter
Cannon chamou de a sabedoria do corpo (LENT, 2005), o qual assim permanece
por meio do funcionamento do sistema nervoso autnomo (SNA), um conjunto de
neurnios localizados na medula e no tronco enceflico, cuja comunicao com orestante dos rgos e tecidos acontece por meio dos axnios. Segundo o autor, o
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SNA no um rgo totalmente autnomo, pois suas aes so orientadas atravs
de regies superiores do SNC - Sistema Nervoso Central.
Ferreira (2006) sustenta que o SNA o rgo responsvel em regular o
metabolismo, a temperatura do corpo, os sistemas circulatrio, respiratrio,
endcrino, urinrio, genital, cujas funes [...] no so necessariamente
conscientes (p. 264).
Numa explicao mais resumida e simplificada, Esperidio-Antnio et al
(2007) propem:
Diferentes estmulos (aferncias) trmicos, tteis, visuais, auditivos,
olfatrios e de natureza visceral (como alteraes da presso arterial) chegam a diferentes partes do SNC por vias neuronais envolvendoreceptores e nervos perifricos. Respostas (eferncias) adequadas a essesmesmos estmulos so programadas em determinadas reas corticais, asquais incluem desde circuitos simples envolvendo poucos segmentos at complexos, exigindo refinamento funcional por parte de cada uma.(ESPERIDIO-ANTNIO et al, 2007, p.64)
Bastante pertinente, portanto, a analogia de Lent (2006) ao comparar o
SNA ao maestro dos rgos, em que estes, embora saibam tocar sozinhos,
precisam de um regente que lhes dem [...] o ritmo certo, a afinao adequada, a
sincronia de pausas e entradas, a emoo (p. 475).
Na figura abaixo est representado o modo pelo qual o sistema nervoso
se divide:
Fig. 1Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp
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Classicamente, o Sistema Nervoso Autnomo divide-se em Sistema
Nervoso Simptico (SNAS) e Sistema Nervoso Parassimptico (SNAP), os quais
agem de modo antagnico. Em situaes de luta ou fuga, o SNS ativado e gera
um aumento do hormnio adrenalina no organismo. Esta substncia um
neurotransmissor excitatrio que aumenta a frequncia cardaca pelo aumento do
fluxo sanguneo muscular. Assim, estimulando-se a cauda do hipotlamo, aumenta-
se a atividade simptica, que por sua vez produz aumento do neurotransmissor
adrenalina, que atua sobre rgos como corao, pulmes, vasos sanguneos,
rgos genitais, etc. A adrenalina liberada como fator responsivo ao stress fsico
ou mental, ligando-se um grupo especial de protenas - os receptores adrenrgicos
(QMCWEB, 2009).A estimulao do Sistema Parassimptico, por sua vez, que se d atravs
da estimulao da parte anterior do hipotlamo, tem como consequncia
[...] a diminuio da presso arterial, da freqncia [sic] cardaca, dometabolismo basal, da secreo de adrenalina, do volume respiratrio,dilatao dos vasos sangneos [sic], sudorese, salivao, contrao dabexiga, contrao das pupilas (miose) (FERREIRA, 2006, p. 265).
Tanto Machado (1993) quanto Serratrice et al(1995 apudARAJO, 1997)
consideram que os dois centros suprassegmentares mais importantes para o
controle do SNA so o hipotlamo e o sistema lmbico, ambos com extensas
projees para a formao reticular.
Ferreira (2006) aponta estudos de Szechtman et al (1998), em que
pessoas altamente suscetveis hipnose e alucinao ativam durante estes
processos uma regio na rea chamada Broadman (parte anterior do giro docngulo), a qual foi detectada por exame de PET (tomografia por emisso de
psitrons). Este exame permite mapear a atividade cerebral determinando o fluxo
sanguneo. Os pacientes submetidos a este exame recebem uma injeo com
substncia radioativa que vo ajudar a produzir as imagens cerebrais, marcando as
reas ativadas em vermelho.
Situando especialmente as vias de estimulao visual, Ferreira (2006)
sustenta que primeiramente o indivduo percebe o objeto, sua forma, movimento e
cor atravs do crtex primrio visual (rea de Broadman), informao que segue at
o crtex parietal posterior. A integrao entre a representao do objeto com as
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informaes gravadas na memria faz o autor afirmar, sobre a conexo existente
entre estes dois processos, que [...] envolve uma complexa rede relacionando o
crtex peririnal, entorinal e o hipocampo (p. 190). Segundo ele, os componentes
emocionais decorrentes do estmulo so avaliados pela amgdala.
Em outro estudo realizado por Machado (1993), o autor sustenta que a
estimulao eltrica em determinadas reas do hipotlamo responsvel por
respostas tpicas dos sistemas simptico e/ou parassimptico, sendo que o
hipotlamo anterior o responsvel pelo controle principalmente do sistema
parassimptico, e o hipotlamo posterior coordena principalmente o sistema
simptico.
A neurobiologia da motivao, desde os mais incipientes estudos,apontou o hipotlamo como um centro integrador fundamental, sendo este tambm
o receptor das informaes vindas do sistema lmbico, definido por Lent (2006) como
[...] o conjunto de regies neurais dedicadas a interpretar e responder aos estmulos
externos e internos de carter emocional (p. 491).
Sabe-se que o corpo humano tem diferentes necessidades e age por
diferentes motivaes ou estados motivacionais, e seus comportamentos motivados
(LENT, 2005) esto dispostos em trs classes. Na primeira, esto aqueles exigidospor foras fisiolgicas definidas, como a fome, a regulao corporal, entre outros.
Uma segunda classe aquela que tem como guia um fisiologismo no to bem
definido como o primeiro, e cujo melhor exemplo o autor aponta o sexo, pois a
procura pela satisfao sexual no se d unicamente pelo desejo de perpetuao da
espcie, mas tambm pelo puro prazer. No terceiro grupo e mais complexo, e que
interessa especificamente ao presente trabalho, esto aqueles realizados sem uma
deciso biolgica clara, motivados pela subjetividade inerente ao ser humano.Para a consecuo dos comportamentos motivados, Lent (Idem) sustenta
que duas foras fundamentais agem, que so a homeostasia e a busca do prazer,
sendo o hipotlamo o centro que integra fundamentalmente estes estudos, uma vez
que se comunica com inmeras regies do SNC e com diversos rgos perifricos
por meio do SNA e sistema endcrino, alm de receber informaes de todos os
demais rgos por ele controlados, inclusive o sistema imunolgico, embora
indiretamente.
Segundo o autor, estas informaes provm tambm do sistema lmbico,
conjunto de regies neurais localizadas nas regies corticais e subcorticais do
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crebro (Ibidem). Este sistema em grande parte o responsvel pelas emoes,
que embora sejam muitas e de difcil classificao, Lent (Ibidem) considera que trs
aspectos so constantes: um sentimento (positivo ou negativo), um comportamento
(atos motores especficos das emoes) e ajustes fisiolgicos de acordo com o
sentimento e o comportamento.
Para o autor, uma das estruturas que apresenta extrema importncia no
tocante s experincias emocionais a amgdala, a que ele refere como [...] boto
de disparo [...] (LENT, 2006, p.659) das situaes que envolvem a emoo,
recebendo estmulos atravs do tlamo, e outras mais complexas por meio do
crtex.
O crtex a parte mais desenvolvida do crebro humano, alm de sertambm o rgo responsvel pelos pensamentos, percepo, produo e
compreenso da linguagem, entre outras, cada uma de suas partes respondendo
por funes especficas. O crtex se subdivide em lobo frontal, parietal, temporal e
occipital (VILELA, 2009).
Fig. 2Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp
Sobre a complexidade que permeia as emoes do ser humano, observe-
se que no incio do sculo XX, William James e Karl Lange (BARRA et al, 2008;
LENT, 2005, LEDOUX, 1999), j propunham que Ficamos tristes porque choramos,
zangados porque agredimos, e com medo porque trememos, e no choramos,
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agredimos ou trememos porque estamos tristes, agressivos ou com medo, conforme
o caso (LEDOUX, 1999, p.40)."
Na atualidade, o termo sistema lmbico designa o [...] circuito neuronal
que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais (LENT, 2005,
p. 657). Em suas experincias, o autor foi levado a crer que s aps o crtex ser
informado de que o organismo produziu alteraes fisiolgicas que se d a
experincia consciente da emoo.
Contudo, foi com o anatomista americano James Papez que a
neurocincia mudou novamente os modelos aceitos at ento. Foi ele a apresentar
a teoria de que havia na verdade um circuito ou sistema de regies que juntas
disparavam o sentimento, as reaes e por consequncia o retorno situao deequilbrio. Esta rede neural ficou conhecida depois como Circuito de Papez e s
mais tarde que o conceito Sistema lmbico, criado pelo fisiologista francs Paul
Broca, passou a ser utilizado (idem, 2005).
Sobre Broca, este descobriu que a incapacidade para a fala no exclui a
compreenso da linguagem, fato que o fez anunciar em 1864 que o ser humano fala
atravs do hemisfrio esquerdo e razo pela qual h no crebro humano uma
poro denominada rea de Broca (KANDEL, 1985, trad. MARIA CAROLINADORETTO).
Na figura abaixo, possvel visualizar as reas do crebro e as
respectivas funes referentes linguagem.
Fig.3Fonte: Postner and Raichle, Scientific American 1994
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Embora haja um claro entendimento por parte da comunidade cientfica
acerca do que seja a hipnose, a trajetria realizada por este fenmeno no crebro
ainda pouco conhecida. Estudos feitos por Cmara (apud RODRIGUES, 1998)
apontam para a formao de uma rede chamada formao reticular, a qual
funcionaria como elemento aglutinador entre a voz do hipnoterapeuta e o crebro.
Segundo o autor, [...] A formao reticular controla a viglia e o sono e ainda
seleciona em que informaes devemos nos concentrar (p.43).
Especialmente quanto estimulao sonora, Ferreira (2006) coloca que
existe um sistema que ativa e desativa o crtex, permitindo dessa forma o sono ou a
viglia. Assim, quando as palavras, via ordenamento verbal, [...] so enviadas do
crtex cerebral, via sistema desativador descendente, at a formao reticular comfuno de desativ-la [...] (p. 189), h em consequncia uma reduo do estado de
alerta do crtex, o qual libera no sistema lmbico os comandos pertinentes
expresso emocional respectiva.
Ferreira (2006) considera que a formao reticular condio sine qua
nonpara a vida, alm de que constantemente suprida por estmulos, regulando as
informaes que recebe conforme seu interesse. Segundo o autor, a formao
reticular [...] recebe as informaes do meio ambiente, as filtra e permite que oindivduo focalize a ateno num objeto que seja do seu interesse (p.287).
Com base nisso, Ferreira (Idem) aponta para estudos feitos por Terman et
al (1984), Teixeira (1995) e Pimenta et al (1997), em que os autores referem, por
exemplo, que existem componentes emocionais, culturais e religiosos que podem
produzir diferentes sensaes quanto modulao da dor nos indivduos, capazes
de sensibilizar ou diminuir a dor.
Experimentos conduzidos na Universidade de Harvard por Kosslyn &Colaboradores (2000), analisaram oito indivduos selecionados como altamente
hipnotizveis, que se submeteram a um exame de PET. Cada indivduo submeteu-
se a quatro tarefas sem induo hipntica e depois a mais quatro com induo.
Primeiramente, os sujeitos deveriam indicar a cor que verdadeiramente estavam
enxergando; num segundo momento, foi pedido aos indivduos que vissem o objeto,
mas em escalas de cinza. Por ltimo, vista do objeto em escala de cinza, os
sujeitos deveriam adicionar cor ao objeto. Os estudos concluram que quando
induzidos a perceber a cor, os sujeitos tinham maior alterao no fluxo sanguneo do
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hemisfrio direito do crebro. A figura abaixo mostra o modelo usado no trabalho em
questo.
Fig. 4Fonte: Kossly & Colaboradores, 2000
Pouco tempo depois, em estudos conduzidos com um grupo de dez
indivduos, proposto por Rainville et al(2002), estes sustentam, com base em exame
de PET (tomografia por emisso de psitrons), que a induo hipntica provoca
alteraes significativas na experincia subjetiva, cujos resultados indicaram que a
hipnose gera modificaes nas estruturas essenciais regulao dos estados deconscincia, autorregulao e autocontrole, como tambm foi relatada uma
diminuio quanto capacidade avaliativa, acompanhamento e censura, alm de
interromper a orientao temporal, de localizao e da conscincia de si mesmo no
grupo estudado.
Sobre o PET, julga-se pertinente alguns esclarecimentos adicionais a
respeito de como se processa este exame. A imagem cerebral por meio do PET tem
incio a partir de uma injeo contendo alguns tomos radioativos com a tendncia afixarem-se no crebro. Com a emisso de psitrons, estes tomos decompem-se
em mais ou menos vinte minutos, e ao estimularem o crebro durante o exame, as
zonas cerebrais mais estimuladas produzem mais raios gama, tendendo a
concentrarem-se em reas especficas, de acordo com a estimulao dada. Estes
dados, por sua vez, recebem um sofisticado tratamento matemtico e estatstico,
permitindo assim a produo de imagens semelhantes a fatias planas do crebro
do paciente (MAT.URFGS, 2009).
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A figura abaixo mostra a atividade cerebral de um recm-nascido em seus
primeiros meses de vida, cujas partes em vermelho apontam as reas mais
estimuladas.
Fig. 5 Fonte: http://www.mat.ufrgs.br
Exames mais acurados como o PET possibilitam estudar mais
detalhadamente as alteraes produzidas no crebro sob efeitos controlados em
laboratrio ou mesmo para diagnsticos mais precisos. A figura abaixo mostra a
ao do receptor serotonina atravs das reas coloridas.
Fig.6 -Fonte
:http://images.google.com.br
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Os dados obtidos nestes experimentos so consistentes com a
verificao de que as atividades relacionadas com o tronco cerebral, o giro do
cngulo anterior, com o giro frontal inferior direito e o lbulo parietal inferior direito
desempenham um papel decisivo na produo dos estados hipnticos.
Ressalte-se tambm o aspecto destacado por Ferreira (2006) de que
durante o processo hipntico se observa uma reduo do fluxo sanguneo cerebral
regional (FSCr) no crtex parietal, assim como h tambm um acrscimo do FSCr
[...] na parte caudal anterior do giro do cngulo direito e no crtex frontal de ambos
os lados (p. 216). Este exame se obtm com a ressonncia magntica funcional
(IRMf), a qual detecta minsculas variaes do fluxo sanguneo. O exame feito
medindo-se o nvel de oxigenao no sangue nas reas mais ativas, gerandoimagens de alta resoluo, muito mais ntidas e precisas do que o PET.
A figura abaixo mostra, nas reas em vermelho, as reas do crebro
estimuladas durante o exame de ressonncia magntica funcional.
Fig. 7 Fonte: http://www.mat.ufrgs.br
Estudos realizados com eletroencefalograma (EEG) do indicativo de que
estando com a ateno focalizada no processo hipntico, ao ouvir sugestes de
plpebras pesadas, cansadas, por exemplo, h nos indivduos suscetveis uma
baixa de atividade em alguns circuitos cerebrais nos lobos frontais responsveis pelo
planejamento e comportamento (idem).
Pincherle & Colaboradores (1985) referem estudos de Kupper em
veteranos de guerra, os quais apresentaram alteraes verificveis nos padres de
EEG quando em regresso hipntica. Em estudos conduzidos pelos prprios
autores, estes sustentam uma reduo no nmero de crises e ausncias em
paciente com histrico de epilepsia quando submetido a tratamento pela hipnose.
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No infundada, portanto, a comparao que Caprio & Berger (1999)
fazem entre o inconsciente e um computador. No livro Curando-se com a auto-
hipnose, os autores fazem uma analogia entre a mente humana e um
servomecanismo, salientando que tal como este, que pode ser programado e
reprogramado, o subconsciente tambm pode ser alterado a partir de novas
sugestes.
Um servomecanismo uma mquina construda de maneira a se orientarautomaticamente para uma meta, um alvo ou uma soluo. A mentesubconsciente no tem emoo nem opinio. Ela s responde a partir dasinformaes que tem armazenadas em sua memria, retirando-as dali de
maneira semelhante a que se retira uma carta de um arquivo (CAPRIO &BERGER, 1999, p.60).
Com estes esclarecimentos, pretendeu-se dar suporte explicao de
como a hipnose est vinculada ao sistema lmbico e ao hipotlamo (centros
cerebrais que regulam as emoes bsicas e a memria), interagindo com todas as
funes do organismo atravs do sistema simptico e parassimptico.
Conclu
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