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Post on 17-Dec-2018
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TH 2
AS CIDADES MUÇULMANAS
Profª. Ana Paula Zimmermann
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Escola de Artes e Arquitetura
Curso de Arquitetura e Urbanismo
CIDADES EM PORTUGAL
São as características da ocupação espacial e da
organização de cidades desenvolvidas em Portugal
que vão definir o traçado dos primeiros núcleos
urbanos no Brasil.
As influencias da dominação árabe vão deixar
profundos sinais em todos os segmentos da cultura
lusitana, da culinaria às tecnicas construtivas.
O URBANISMO ISLÂMICO
As cidades desenvolvidas pelos árabes ao longo do tempo apresentam-se de forma bem mais simplificada do que aquelas edificadas sob influência das culturas helenística e romana.
Ao incorporarem uma nova região ao seu império, os muçulmanos utilizavam uma política de tolerância, respeitando os usos, os costumes, a cultura, as línguas regionais, os métodos administrativos e até mesmo a estrutura religiosa, de onde tiravam o conhecimento necessário à sua própria organização.
Somente em um segundo momento preocupavam-se em transmitir seus conhecimentos, tanto de idioma como religiosos, que passaram a ser a grande característica unificadora do império.
Samarra: Capital do
Império Abássida
(883 d.C)
O URBANISMO ISLÂMICO
As cidades fundadas (Bagdá 762; Tunísia 670; Cairo 969) ou transformadas pelos árabes (Alexandria, Damasco, Jerusalém) são muito semelhantes entre si e conservaram sua estrutura original até a idade moderna.
As casas, palácios e edifícios públicos formam recintos e as partes internas da construção se debruçam sobre eles. As praças são recintos maiores (ágoras, foros, mercados) e não se confundem com as ruas, corredores estreitos para a passagem de pedestres e carros.
O modelo de cidade implantado pelos muçulmanos
na Península Ibérica representa o traçado
característico desenvolvido por esse povo ao longo
do tempo, baseado principalmente em sua
orientação religiosa, associada a conhecimentos
adquiridos no contato com civilizações de
organização cultural estabelecida e que foram
dominados e incorporados ao Império Islâmico.
A simplicidade do modo de vida prescrito no
Alcorão produz uma redução nas relações sociais.
Por isso, as cidades helenísticas conquistadas
perdem complexidade: não há foros, basílicas,
teatros, anfiteatros, estádios, ginásio; apenas
casas e dois tipos de edifícios públicos: banhos e
mesquitas.
A forma como os povos islâmicos encaravam os núcleos urbanos tinha por base três parâmetros fundamentais: a defesa, o clima e a religião.
A cidade se apresenta com suas características ruas estreitas, que não obedecem a um sentido regular de direção, provocando o surgimento de um emaranhado de ruas, que no mais das vezes termina em becos sem saída.
Este tipo de planta urbana, de traçado irregular, é uma característica comum a praticamente todas as cidades e vilas desenvolvidas no período medieval, com ênfase especial às mediterrânicas, onde a tradição muçulmana acentua tal tendência, dando à cidade de fundação islâmica um traçado peculiar.
Tunísia: Kairouan (Grande Mesquita - 670 d.C)
A cidade islâmica
Possuía núcleo
central amuralhado
(medina), em cujo
interior se situavam
os edifícios
religiosos, as ruas
comercias e o souk
(mercado)
Ao redor da medina se
distribuíam os bairros em que
a população se concentrava
em função de sua profissão ou
crença religiosa, nos quais se
misturavam as casas, as
mesquitas, os mercados e os
banhos, separados entre si por
ruas muito estreitas e de
traçado irregular.
Na medina se encontravam
os principais edifícios públicos,
tanto políticos como religiosos,
entre os quais a aljama –
mesquita principal da cidade.
A cidade, ou o núcleo urbano, não tinha para o
muçulmano o mesmo sentido que aí encontravam os
grupos ocidentais. Para eles, a cidade significava o
local onde era possível cumprir, em toda a sua
plenitude, os deveres religiosos, morais e sociais, um
local onde se pudesse adorar o Deus Supremo, onde,
cumprindo todas as exigências, se pudesse ler em
paz o seu livro sagrado e, principalmente, onde as
ordens de Alá pudessem ser cumpridas.
Objetivo único a que se restringe o programa da
cidade islâmica, motivo pelo qual elementos urbanos
como teatros, auditórios, estádios, praças (no sentido
da ágora), fundamentais nas cidades europeias, aí
praticamente inexistem.
Tunísia: KalaaSghriaA
A regularidade hipodâmica da cidade helenística e romana é quebrada e não existe uma administração municipal para impô-la. O islã (submissão) acentua o caráter reservado e secreto da vida familiar.
As casas são quase sempre de um só andar e a cidade é um agregado de casas que não revelam do exterior sua forma e importância.
As ruas são estreitas (sete pés, como diz uma regra de Maomé) e formam um labirinto de passagens tortuosas e às vezes cobertas, que não permitem uma orientação e visão do conjunto.
As lojas não são agrupadas em uma praça, mas alinhadas em uma ou mais ruas, cobertas ou descobertas, formando o bazar.
Suas raízes estão nas ancestrais cidades da
Mesopotâmia e da Pérsia, com suas ruas estreitas
e seus edifícios, construídos em terra (taipa e
adobe), desenvolvidos em torno de pátios internos
que suavizam os exageros do clima dessa região.
A cidade é um organismo compacto, fechado por
uma ou mais voltas de muros, que a diferenciam
em vários recintos. Cada grupo étnico religioso tem
seu bairro e o príncipe reside na periferia
(maghzen), longe do tumulto.
O islão interrompe o processo de aculturação
greco-romana no Oriente Médio e Mediterrâneo e
retoma valores da antiguidade.
MODELOS DE CIDADE ISLÂMICA
A cidade islâmica subdivide-se em vários modelos, dependendo da região de influência onde se estabelece.
Os principais modelos seriam o árabe-aramaico, no qual prevalecem as influências originárias da Arábia, do Egito e da Ásia Menor;
o pérsico-índico, desenvolvido a partir das influências originárias da Pérsia e da Índia muçulmana;
o modelo turco-mongol com influências da Turquia, do Turquestão e da Ásia Central;
e finalmente o modelo hamita, que é o tipo de cidade encontrado no norte da África e na Península Ibérica.
A cidade que segue a topografia.
Entre as principais características da cidade hamita
(modelo pensínsula ibérica) está o fato de sua
localização ser, sempre que possível, junto a um
monte, próximo do litoral ou às margens de um rio,
o que torna possível sua organização em cidade
alta (a qasbah), amuralhada e situada na parte
mais alta do terreno, destinada à população mais
aristocrática,
A cidade que segue a topografia.
e cidade baixa, que é a parte espraiada pela encosta,
destinada basicamente à população de baixa renda,
além de servir de apoio ao comércio marítimo ou fluvial,
quando é o caso. Outra característica da cidade hamita
é a forma que o
núcleo assume,
geralmente
triangular ou
trapezoidal, com
a muralha
incorporando a
parte baixa ao
topo da cidade
alta.
O URBANISMO ISLÂMICO
Um dos principais elementos diferenciadores da
cidade islâmica em relação à cidade ocidental é o fato
de que essa é organizada de fora para dentro, ou
seja, da rua, do espaço coletivo, para o doméstico, no
caso a habitação, enquanto aquela (islâmica) se
organiza de dentro para fora, fazendo com que a rua
perca por completo seu valor estrutural.
Em alguns casos, chegam mesmo, os muçulmanos, a
privatizar grande parte do espaço público, com a
criação de adarves (é um caminho no topo dos muros
de uma fortificação), o que, no geral, contribui para
dar um aspecto intimista à rua, o que se harmoniza
grandemente com o caráter secreto que este povo dá
à cidade como um todo.
Ruas estreitas protegendo contra o sol
A cidade muçulmana se
organiza a partir da
implantação de ruas estreitas,
irregulares, no mais das vezes
criando curvas e cotovelos que
impedem a visão de
perspectiva e de continuidade
encontradas em cidades de
traçado regular.
Essa forma de estruturação
proporciona o surgimento de
um sentido intimista que,
associado a uma série de
questões tanto culturais
quanto religiosas, confere ao
traçado urbano um caráter
secreto.
No geral, essa introspecção representa também uma resposta à situação climática, tendo em vista estar o Império Muçulmano incrustado, em toda a sua extensão, dentro de uma mesma faixa de clima, situada logo acima da Linha do Equador.
Calor e luz solar intensas requerem ruas estreitas e tortuosas, e estas também representam uma orientação de Maomé, e são características das cidades pré-islãmicas da Pérsia e da Mesopotâmia.
Bagdad, reconstrução da cidade
original construída por Al-Mansur
em 762.
Bagdad, fundada segundo um ambicioso plano
urbanístico circular, com mais de dois quilômetros e
meio de diâmetro, destruída pelos mongois em
1258 e reconstruída no mesmo lugar sem
reproduzir a originária regularidade , teve mais de
um milhão de habitantes.
O núcleo da cidade de
Bagdá tem uma forma
circular, com uma
muralha dupla de
adobe que protegia as
edificações distribuídas
concentricamente e
quatro portas abertas
que correspondem aos
pontos cardeais.
No centro da praça
estão o palácio do califa
e a mesquita. Esta
estrutura recorda
vagamente o modelo de
cidade proposto por
Vitruvio.
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