tese estadual insurgência - psol ceará
Post on 25-Jan-2016
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UM PARTIDO RADICAL, COERENTE E DAS LUTAS:
POR UM PSOL ANTICAPITALISTA, ECOSSOCIALISTA E DEMOCRÁTICO!
Uma contribuição da Insurgência, LSR e militantes independentes
Construindo o Bloco de Esquerda do PSOL
1. Vivemos um momento de profundos impasses para a humanidade. Em todo o mundo,
trabalhadorxs e oprimidxs sofrem com o agravamento da situação econômica e com os
efeitos cada vez mais visíveis do desequilíbrio ecológico, resultados da lógica
capitalista. Em seu movimento cego pelo lucro, o capitalismo contemporâneo põe em
risco as conquistas dos povos e as próprias bases da vida no planeta. Essa crise
manifesta um profundo impasse civilizacional, onde até mesmo as promessas básicas
engendradas pelas revoluções burguesas (liberdades civis, direitos humanos, democracia
representativa, laicidade) são postas de lado, ultrapassadas pela acelerada barbarização
do sistema capitalista.
2. No Brasil, a crise assume variadas formas: crise das cidades, cada vez mais
excludentes e militarizadas, dominadas pela especulação de grandes corporações em
aliança com o Estado; crise econômica, com fortes indícios de que a estagnação avance
para uma recessão aberta; crise ambiental, cujo sintoma mais agudo é o colapso hídrico;
e crise política, com a perda vertiginosa de popularidade e de força do governo da
presidenta Dilma. Percebe-se, nesse esteio, o acirramento do desgaste das instituições
do regime democrático burguês (principalmente pela via do questionamento “aos
políticos”) e nos diversos ataques à maioria pauperizada e trabalhadora, tais como as
mais recentes manobras na Câmara dos Deputados para impor a redução da maioridade
penal e o financiamento empresarial de campanha, as alterações na legislação
previdenciária e trabalhista (Mps 664/665 ambas baixadas no apagar das luzes de 2014,
bem como PL n. 4330 da terceirização), cortes no orçamento, etc.
3. O pano de fundo para a convergência dessas várias crises é o esgotamento do
“modelo de desenvolvimento” defendido e implementado a fundo pelo lulo-petismo em
seus quase quatorze anos a frente do governo federal. Esse modelo, fortemente atado
aos interesses do capital financeiro, buscou combinar uma limitada redistribuição de
renda, baseada em programas sociais assistencialistas para as camadas mais
empobrecidas da classe, reajustes salariais nos setores urbanos ligeiramente superiores à
inflação, com o crescimento econômico pela ampliação do consumo, facilitado de um
lado pelo crédito farto às famílias e, de outro, pela grande expansão dos setores da
construção civil (megaprojetos) e do agronegócio, principalmente ligados ao setor
agropecuário e ao extrativismo minerador, ambos exportadores e altamente predatórios
dos meio ambiente.
4. A pressão da crise duradoura da economia capitalista internacional, com queda nos
preços de commodities como o petróleo, alimentos e minérios; a fronteira da expansão
do crédito, com o endividamento das famílias batendo no seu teto; os limites da
expansão do modelo predatório das mega-obras e dos projetos amparados nas parcerias
público-privadas; tudo isso está fazendo encerrar o período de “mágicas” do lulismo.
5. O diagnóstico de esgotamento do modelo nos permite caracterizar que estamos diante
de uma crise no país que promete ser também de longa duração. Nem o PT no governo,
nem a oposição de direita, com o PSDB à frente, tem saídas e soluções estratégicas
inovadoras para esta crise, pois o horizonte de ambos os blocos são os ajustes
neoliberais baseados nas velhas receitas do que foi o Consenso de Washington: redução
dos investimentos sociais e dos gastos públicos para garantir os pagamentos dos juros
da dívida; privatizações e cortes brutais de direitos trabalhistas para maximização dos
lucros dos setores industrial e comercial; arrocho salarial e alta dos juros para atração de
capitais e controle dos preços internos.
6. Esse mesmo modelo - hostil para com a maioria da população, benevolente com as
grandes corporações representadas na política institucional – é replicado em nosso
Estado. Desde a segunda metade dos anos 1980, a fórmula adotada pelos sucessivos
governos estaduais persegue o desenvolvimento urbano-industrial a qualquer custo
como estratégia de crescimento econômico. Por essa via, o Estado passou a incentivar,
com benefícios e isenções, a implantação de empreendimentos industriais, sob a
promessa da criação de milhares de empregos e fortalecimento da economia do Ceará.
Os resultados dessa opção modernizante, entretanto, foram outros: mais exclusão e
desigualdades, estagnação do desenvolvimento, endividamento público, explosão da
violência urbana, destruição ambiental.
7. A crise hídrica, que afeta praticamente a totalidade do território cearense, talvez seja
o principal exemplo. Assolado por condições extremas de convivência com a seca
devido, entre outros fatores, à má gestão dos recursos hídricos em escala local e o
impacto das mudanças climáticas em nível global, o Ceará sofre com a multifacetada
crise de abastecimento de água e a escassez de seus reservatórios. Longe de privilegiar a
distribuição da água para quem mais precisa, vê-se aqui os subsídios do governo para o
agronegócio e as indústrias pesadas, a exemplo das siderúrgicas e refinarias, que
chegam a consumir até 1000 litros de água por segundo (cada uma!) enquanto em todo
o seu entorno famílias de trabalhadores e trabalhadoras sofrem com os dramáticos
efeitos da escassez. Essa mesma degradação socioambiental tem transformado os povos
tradicionais – indígenas, quilombolas, pescadores, ribeirinhos, etc. – do Estado em
refugiados nos seus próprios territórios. Como se não bastasse, temos ainda a
contaminação de aquíferos pela utilização intensiva de agrotóxicos pela fruticultura
irrigada, a exemplo do Aquífero Jandaíra, explorado e contaminado pelas atividades
predatórias na Bacia do Jaguaribe. É preciso que nos perguntemos que interesses
econômicos e políticos são esses, que se impõem sobre um direito e uma necessidade
tão elementar e essencial como é o acesso à água, tratando-a como mais um recurso a
ser gerido na lógica do Mercado. Nesse rumo, também está calcada as matrizes
energéticas brasileiras adotadas pelo Governo Federal e seguidas verticalmente pelos
governos locais! São exemplos dessa lógica nefasta: 1) o devaneio da prospecção de
petróleo em camadas de pré-sal, que mobilizará uma elevada concentração de CO2 para
a atmosfera e agravará ainda mais a situação caótica do clima e seus efeitos correlatos;
2) A violência sofrida pelos povos originários no Xingu em razão das obras da
Hidrelétrica de Belo Monte; 3) a metodologia predatória de implatação de usinas eólicas
no litoral brasileiro, desmontando ecossistemas dunares e segregando comunidades de
seus territórios; 4) a insana exploração de urânio e fosfato, bem como outros materiais
radioativos e contaminantes, a exemplo do que ocorre em Caetités-BA e cujos planos
são de implementá-lo em Itataia (Santa Quitéria-CE), por meio da qual comunidades
são expostas a radiotividades, o meio ambiente é degradado sem os mecanismos de
controle, proteção, prevenção, ou seja, sem níveis razoáveis de segurança e saúde
sobretudo sobre os trabalhadores. Repudiamos, pois, tal lógica de gestão dos recursos
naturais, subserviente ao grande capital, geradora de desigualdades e promotora de
injustiças e racismos ambientais!
8. Nessa conjuntura, acirram-se também as lutas sociais. Um setor de direita se
fortalece, ocupando as ruas, onde capitaliza o desgaste do governo Dilma e avança
sobre pautas relacionadas ao enfrentamento das opressões. Os discursos de ódio,
voltados sobretudo contra negrxs e LGBTs, ganham fôlego com medidas parlamentares
que não apenas retrocedem no campo dos direitos humanos e da defesa da dignidade e
da igualdade, mas também estimulam o preconceito que incentiva a violência física e
psicológica conta xs oprimidxs. Exemplo dramático, o Estatuto da Família, que limita a
entidade familiar a um “núcleo formado a partir da união entre um homem e uma
mulher”, avança na Câmara e já recebeu um adendo que pode dificultar a adoção de
crianças por casais homoafetivos. Os planos municipais e estaduais de educação
também são alvo do conservadorismo e da intolerância: por pressão das bancadas
fundamentalistas, os acúmulos feitos pela comunidade escolar nas conferências que dão
origem aos Planos são desrespeitados através do veto às metas de combate à
discriminação racial, de orientação sexual ou à identidade de gênero. A “bancada mais
conservadora desde 1964” veta projetos que abordam a saúde das mulheres e a
descriminalização do aborto, mas apressa a tramitação do “Estatuto do Nascituro” (que
dificulta a interrupção assistida da gestação nos casos já permitidos no país, como as
concepções decorrentes de estupro ou gravidez que coloque em risco a vida da mulher);
debate a criação do Dia do Orgulho Hétero, mas naturaliza a violência por
discriminação de gênero e de orientação sexual. Esse viés intransigente e
fundamentalista, apenas exemplificados acima, tem igualmente afrontado a laicidade do
Estado, retirando-lhe, na prática, o respeito a toda e qualquer religião; assim como tem
reforçado um ambiente cultural extremamente hostil à diversidade. Corolário das
medidas conservadoras, a redução da maioridade penal avança a passos largos e de
forma inconstitucional. A opção pela gestão penal da desigualdade em detrimento à
proteção integral da criança e do adolescente consiste num dos maiores retrocessos dos
tempos atuais, de consequências ainda imprevisíveis. Adolescentes já são
responsabilizados a partir dos doze anos de idade, inclusive com privação de liberdade;
temos a terceira maior população carcerária do planeta; a juventude é exterminada nas
periferias – com mortes só comparáveis a situações de guerra declarada; a violência
policial é epidêmica e, ainda assim, a “impunidade” aparece como a bandeira preferida
de uma direita que prefere pedir mais prisões do que encarar os principais motores da
violência. Sabe-se que nenhum país que tenha apostado na resposta criminal à
conflitualidade social conseguiu reduzir de forma significativa a violência. É uma falsa
solução, de apelo eleitoreiro e manipulador, que reforça a violência de Estado e facilita
a simbiose entre o Mercado da segurança e a segurança do Mercado.
9. Diante desse cenário, é fundamental afirmar o PSOL como uma alternativa de
esquerda de massas para o país, aliado aos movimentos sociais independentes das mais
diversas lutas (sindicais, populares, estudantis, juvenis, ambientais), para que seja capaz
de disputar a hegemonia de um projeto socialista e de ruptura. Nosso desafio estratégico
é contribuir com a construção de um projeto para o país que supere a polarização entre a
proposta neoliberal, de um lado, e a defesa do desenvolvimentismo produtivista,
extrativista e predador, de outro.
10. Com a mudança de conjuntura verificada depois junho de 2013 e com as campanhas
e eleições de 2014, a imagem do PSOL se consolida, ao público, como partido coerente,
da esquerda alternativa e de um socialismo renovado, das lutas LGBT´s, antimachistas,
antirracistas e em defesa dos direitos humanos. Assim, entendemos que o PSOL tem
capacidade de ser um dos principais pólos de aglutinação e organização de novos
deslocamentos políticos e sociais de setores explorados e oprimidos, sendo necessário
fortalecer seus espaços de auto-organização como setoriais e núcleos, entendendo-os
como espaços prioritários de construção para crescer a influência partidária e a sua
inserção social. Para tanto, é preciso que empunhemos firmemente nossas bandeiras de
luta, sem recuos programáticos, fazendo o enfrentamento direto à ofensiva
conservadora, de forma orgânica e em unidade na ação, credenciando-se junto aos
setores em luta e contribuindo efetivamente na disputa de hegemonia na sociedade.
11. Momento importante dessa disputa, expressão do acúmulo do Psol, foram as
campanhas eleitorais de 2014 de Ailton Lopes para governador do Ceará e Luciana
Genro para presidência da República. Com suas destacadas participações nos debates
pré-eleitorais e, principalmente, pela defesa firme das bandeiras de luta da classe
trabalhadora e dos direitos das minorias oprimidas, essas campanhas contribuíram
inegavelmente para fortalecer o campo da oposição de esquerda e socialista.
12. Apresentando-se como instrumentos importantes de luta e resistência e não como
fim em si mesmos, os mandatos de João Alfredo e de Renato Roseno são expressões
sínteses de uma atuação comprometida com as maiorias sociais e as populações mais
oprimidas. Na Câmara Municipal de Fortaleza, o mandato Ecos da Cidade esteve à
frente das ações para a proteção dos parques, praças e áreas verdes da Cidade, da luta
por moradia, por educação pública de qualidade e da defesa intransigente dos direitos
humanos, produzindo relevantes documentos e intervenções no combate à violência
institucional, saúde mental, sistema prisional e combate às opressões. Na Assembléia
Legislativa, o mandato É Tempo de Resistência mostra a que veio: em apenas 5 meses,
dentre outras ações, impulsionou a campanha pela Água como direito humano;
denunciou irregularidades do Governo Estadual, a exemplo da obra do Acquário;
interveio na valorização da cultura e no reconhecimento das comunidades tradicionais e
povos originários; denunciou e busca coibir o uso intensivo de agrotóxicos; atuou na
promoção da dignidade de crianças e adolescentes, sobretudo com relação ao Sistema
Socioeducativo e demonstrou forte apoio à diversas categorias em luta por seus direitos.
Temos orgulho e confiança nesses instrumentos e reafirmamos sua importância para o
Partido e para além dele, como instâncias à serviço dos movimentos sociais e da classe
trabalhadora.
13. Esses êxitos, entretanto, não bastam. Para a disputa neste contexto social, é
fundamental o nosso esforço para a construção de um bloco de lutas, inarredavelmente
socialista, convictos dos limites intransponíveis das eleições institucionais, a fim de se
ampliar para além do período eleitoral a nossa vitoriosa Frente de Esquerda editada aqui
no Ceará, somando com movimentos e ativistas em luta contra o avanço do
conservadorismo e do capital a partir de uma agenda comum de lutas.
14. Importantes passos nesse sentido, a presença da militância de base, da juventude e
dos mandatos parlamentares do Psol nas principais lutas travadas em nosso estado no
último período tem sido fundamental para impulsionar a mobilização popular em
diversas frentes de combate às políticas das classes dominantes e seus governos.
Momentos emblemáticos dessa presença concreta, destacamos nossa participação na
luta contra a redução da maioridade penal; contra o extermínio das juventudes; por
moradia; pelos direitos de indígenas e quilombolas; pelo direito à água para as
comunidades e contra seu uso intensivo pelo agronegócio e indústria; pela reforma
agrária e contra a violência do latifúndio; contra o envenenamento de alimentos, solo e
água por agrotóxicos; por uma cidade ecossocialista: com a defesa da mobilidade
humana, das unidades de conservação e áreas verdes, como o Parque do Cocó; pela
educação pública e gratuita em todos os níveis; pelo atendimento das reivindicações do
funcionalismo público (estadual e municipais) e seus movimentos grevistas; contra os
cortes de direitos e ajustes; contra a criminalização de lutadoras e lutadores sociais; pela
desmilitarização da polícia e da política; no movimento estudantil, nos movimentos de
mulheres e de negras e negros, nas lutas LGBT's, ambientais, dentre tantas outras. A
participação direta do Psol-Ce nessas lutas por todo o estado tem sido fundamental na
organização da resistência popular e precisa ser aprofundada para dar maior peso social
e contribuir para a reorganização da classe trababalhadora, especialmente através do
chamado à unidade, inclusive no campo sindical, superando a atual lógica divisionista
predominante, que faz prevalecer os aparatos e direções burocráticas das centrais em
oposição aos interesses dxs trabalhadorxs.
15. Da mesma forma, nossa participação nas eleições de 2016, tanto no âmbito
executivo como no legislativo, assim como nossa disputa cotidiana, devem dar-se na
perspectiva do fortalecimento de nossa localização na oposição de esquerda, como
importante porta-voz das demandas e lutas populares e da denúncia do Capital e seus
governos. Nesse sentido, é indispensável que a política de alianças a ser adotada nesse
processo reflita essa localização, colocando-se como uma alternativa tanto à direita
tradicional como ao PT e ao campo governista. Devemos continuar combatendo a
reprodução da lógica do “vale-tudo” eleitoral, restringindo nosso arco de alianças ao
PCB e PSTU.
16. Diante da caracterização acima, o PSOL precisa definir qual caminho pretende
seguir: o da sua consolidação enquanto organização anticapitalista de influência e
organização da classe trabalhadora e setores oprimidos ou da ampliação de sua
intervenção institucional a partir de flexibilizações táticas e rebaixamento programático.
Entendemos que ao fazer a opção pelo primeiro caminho, não renegamos a nossa
intervenção na institucionalidade, mas afirmamos que esta deve ser direcionada,
prioritariamente, para a reverberação e afirmação das lutas populares e não para
autossustentabilidade de burocracias partidárias. Já o segundo caminho é o que hoje é
traçado pelo setor que atualmente ocupa a direção majoritária do partido nacionalmente
(o bloco “Unidade Socialista” - US), materializando esta opção na utilização de alianças
espúrias nas disputas eleitorais (como a aliança do PSOL com o PTdoB em Macapá), no
desrespeito das posições programáticas do partido (a exemplo do caso recente da greve
dos professores em Macapá, reprimida por uma gestão municipal do PSOL), na
tentativa de cercear a auto-organização dos setoriais do partido (caso da intervenção no
setorial de mulheres) e na utilização de métodos escusos para a manutenção da maioria
partidária (com filiações em massa, sem o devido debate programático, e fraudes, como
as constatadas no último congresso). Esta política precisa ser derrotada no interior do
PSOL, sob pena do partido repetir os erros históricos que resultaram na derrocada do
PT.
17. No Ceará, podemos observar um crescimento da intervenção partidária, seja nos
espaços institucionais com a ampliação dos mandatos municipais e a conquista do
mandato estadual, na construção dos setoriais do partido (hoje são pelo menos seis
setoriais ativos, com atividades periódicas), no alargamento da capacidade de
convocatória para as iniciativas do PSOL em atos públicos e debates sobre temas
diversos, ou no aumento do número de filiados, sobretudo junto aos municípios no
interior do estado. Apesar de constatarmos um avanço em nossa organização, o partido
ainda carece de maior organicidade para o fortalecimento da auto-organização e
autofinanciamento militante. Em todo Estado, são apenas 37 pessoas a cotizarem
regularmente com o Partido. A independência de classe deve se mostrar também na
capacidade de auto-organização política e financeira, garantindo recursos para as
atividades cotidianas da luta.
18. A defesa do Psol como ferramenta anticapitalista exige coerência entre princípios e
práticas. Não se pode avançar na construção coerente do Psol com filiações feitas de
forma apressada e sem o devido convencimento programático. É inaceitável existir
“filiados” que não não reivindiquem o socialismo (na perspectiva de qualquer de suas
tradições) e reproduzam práticas de direita, uma vez que carregamos o Socialismo em
nossos nome, bandeiras, princípios, programa; assim como é inadmissível termos
filiados que não tenham qualquer compromisso com a vida partidária a não ser aparecer
e votar nos dias de congresso. Todo filiado que mereça esse nome deve ser presente nas
reuniões e encontros, cotizar financeiramente, e contribuir para o êxito das atividades
partidárias, ser orgânico. A filiação ao Psol deve ser uma opção consciente pelo
socialismo, um gesto de compromisso com a transformação radical da sociedade,
respeitando as bases programáticas construídas coletivamente e não uma corrida pelo
controle burocrático do partido, onde vale filiar parentes, amigos e funcionários
exclusivamente para “contar garrafinhas”.
19. Da mesma forma, não podemos nos calar diante do ataque feito à auto-organização
do setorial nacional de mulheres, perpetrado pela maioria da direção nacional e
respaldada localmente pelas que compareceram ao encontro nacional de mulheres
convocado pela US, apesar de ter sido rechaçada pela ampla maioria das tendências
internas (Insurgência, MES, LSR, CST, 1º. de Maio, APS Nova Era, Rosa Zumbi e
TLS) e das militantes independentes do PSOL que reivindicam o feminismo. A política
da maioria da direção nacional desrespeita 10 anos de construção do setorial nacional de
mulheres, pautado na democracia interna, na auto-organização e na não reprodução da
disputa entre correntes, num esforço para que o combate à opressão histórica às
mulheres estivesse acima de qualquer uma dessas disputas. Entendemos a auto-
organização, não só das mulheres, mas também dos militantes da diversidade sexual e
de negros e negras, como princípio importante no processo de superação das opressões
historicamente construídas. A auto-organização permite que o protagonismo possa ser
exercido por aquelxs que historicamente foram subalternizados, além de criar um
ambiente seguro e de confiança para que os históricos de opressões sofridas sejam
compartilhados. Lamentavelmente, algumas filiadas sem qualquer mandato concedido
pelo Setorial Rosa Luxemburgo do Psol-Ce, fizeram-se presentes ao encontro
antidemocrático que sacramentou esse ataque, sendo inclusive uma delas “eleita”,
mesmo sem ter nenhum histórico de construção da auto-organização de mulheres do
Psol. Em resposta a isso, realizamos, no mês de julho de 2015, o Seminário Nacional de
Mulheres do PSOL em Defesa da Auto-organização, convocado por todos os outros
setores que constroem o setorial, como estratégia de fortalecimento dos marcos nos
quais acreditamos dever ser construído o feminismo no partido.
20. Outro grande problema em que precisamos superar é na defesa do caráter coletivo
dos mandatos parlamentares. Numa época em que a legitimidade do exercício da
política é posta em questão pelo predomínio da corrupção e pelo desgaste das
instituições da democracia representativa, é inadiável o esforço para fazer dos mandatos
conquistados pelo Psol exemplos de um novo fazer político. Essa nova política passa
pela ética e transparência no uso dos recursos parlamentares (assessorias e verbas), mas
passa também pelo respeito às instâncias e à base social do partido que deve ser
exercido pelos parlamentares. Nesse sentido, o afastamento do PSOL do deputado
federal Daciolo representa uma sinalização positiva, que reforça os vínculos
programáticos e ataca a autonomização dos mandatos parlamentares. Infelizmente, essa
situação desconfortável, em que a posição pública de um parlamentar do Psol bate de
frente com o acúmulo político-programático da organização partidária e com a opinião
da maioria de filiados e apoiadores, encontrou eco em nosso estado na conduta da nossa
vereadora em Fortaleza. Não se trata de uma vereadora de direita ou que deva ser
considerada inimiga, mas que por meio de seus elogios ao governo do prefeito de
Fortaleza (PROS), do seu descumprimento da decisão partidária durante a eleição da
mesa diretora da Câmara Municipal de Fortaleza, e da postura autoritária adotada
durante o debate com a base partidária, expressou uma autonomização do mandato
parlamentar incompatível com a nova cultura política que perseguimos, ainda que na
maioria das vezes a vereadora tenha votado de acordo com o partido. A fratura entre a
vereadora e o restante do partido desgastou nosso organismo político perante a opinião
pública e levou água ao moinho dos nossos inimigos de classe. Nosso V Congresso
deve fazer o balanço desses fatos e apontar as medidas que reforcem o respeito às
instâncias e a democracia interna sobre os parlamentares eleitos sob a legenda do Psol.
21. Acreditamos que a construção do Psol como alternativa política é uma tarefa
coletiva de toda a militância, sendo papel das correntes organizadas reforçar essa
construção e não atentar contra ela. Todxs estamos cientes das dificuldades de
construção desse projeto, mas é preciso cobrar daqueles a quem foram confiadas
responsabilidades de direção política e organizativa o cumprimento de suas tarefas.
Como instrumento de síntese da esquerda socialista brasileira, o Psol somente pode dar
conta de seu papel histórico na medida em que suas instâncias de direção funcionem de
forma regular, democrática, coletiva e solidária. Ao invés disso, predominou na direção
eleita em nosso IV Congresso um espírito nocivo, de desresponsabilização da minoria
para com suas tarefas partidárias. Apesar dos esforços e apelos repetidos, os cargos de
Tesouraria e Secretaria de Formação, de indicação adquirida democraticamente pela
chapa minoritária em nosso último congresso, estiveram paralisados durante todo o
mandato da atual direção, sacrificando e sobrecarregando os demais membros do
diretório e executiva estadual. A próxima direção deve recuperar o sentido coletivo e
solidário de seu funcionamento, cabendo as chapas que conquistarem representação na
instância respeitarem o mandato conferido pela base partidária.
22. O V Congresso do Psol-Ce tem ainda em suas mãos uma tarefa fundamental: o de
restabelecer a fraternidade nas relações internas entre os grupos e correntes. Os debates
e polêmicas são bem-vindos e necessários, mas é insuportável o envenenamento
produzido pelo denuncismo sem provas e pela perpetuação das diferenças, alimentadas
de forma permanente e fora de toda razoabilidade. Nesse sentido, propomos que o
congresso delibere sobre a constituição de uma Comissão de Ética, conforme minuta de
resolução elaborada por comissão e apreciado na Executiva e Direção Estadual.
Somente através da Comissão de Ética e de normas evidentes que expressem nossos
valores e princípios como militantes socialistas, sem caráter punitivo ou hostil,
poderemos superar o clima de revanchismo e desconfiança que tomou conta do Psol-Ce
e avançar no sentido do restabelecimento de uma vida partidária a altura dos nossos
objetivos programáticos.
23. É preciso mudar o mundo velho construindo um mundo novo! A barbárie não pode
triunfar! Vamos fazer do V Congresso do Psol-Ce um degrau a mais na árdua escada da
humanidade rumo à libertação integral da humanidade de todas as formas de exploração
e opressão e da defesa das bases ambientais de sobrevivência do nosso planeta! A hora é
essa!
"Esse é o desafio que está posto para nós. Nós
ainda acreditamos que é possível fazer uma
sociedade de iguais. Nós acreditamos que é
possível fazer uma sociedade de homens livres (...).
Por caminhos e descaminhos, com tentativas e
tentativas, eu estou há cinqüenta e oito anos atrás
dessa vida. Já servi e vou servir mais, se para
tanto não fosse tão curta a vida. Nós que amamos
a revolução".
Plínio de Arruda Sampaio, Presente!
Assinam esta tese:
Fortaleza Cecília Feitoza – Presidente do PSOL Ceará
Renato Roseno – Deputado Estadual
João Alfredo – Vereador de Fortaleza e Diretório Estadual
Ailton Lopes – Setorial de Diversidade Sexual
Alexandre Araújo Costa – Diretório Nacional/Coordenação Nacional do Setorial
Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL
Soraya Tupinambá – Diretório Estadual/ Coordenação Nacional do Setorial
Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL
Moésio Mota – Executiva Estadual - Secretário de Organização e Interior
Cleidelene Oliveira – Executiva Estadual - Secretária Geral
Livino Neto – Executiva Estadual - Secretário de Comunicação
Ana Vládia Holanda Cruz – Executiva Estadual - Secretária Intersetorial e Movimentos
Sociais
Martinho Olavo – Executiva Estadual/ Setorial de Direitos Humanos
Carlos Alberto Ribeiro – Setorial de Educação/Diretório Estadual
Rebeca Veloso – Setorial de Educação/Diretório Estadual
Joana Vidal – Setorial de Mulheres Rosa Luxemburgo/Diretório Estadual
Natasha Cruz – Diretório Estadual
Angeline Carolino – Diretório Estadual
Jocide Benício – Setorial de Pessoas com Deficiência e Diretório Estadual
Margarida Marques – Diretório Estadual
Marcelo Maia – Setorial de Diversidade Sexual
Márcio Renato – Setorial de Direitos Humanos
Isabel Carneiro – Setorial de Mulheres Rosa Luxemburgo
Marília Cardoso – Setorial de Mulheres Rosa Luxemburgo
Téssie Reis – Setorial de Negros e Negras
Érica Pontes – Setorial Ecossocialista Zé Maria do Tomé
Nilo Sérgio Aragão
Antônio Afrânio Castelo
Sobral Francisco Osvaldo Aguiar – Diretório Estadual/Setorial Ecossocialista Zé Maria do
Tomé
Diego Aragão
Aline Sabino
Rodrigo Ferreira
Crateús Gilzâgela Sales – Diretório Estadual
Canindé Vânia Vasconcelos –Diretório Estadual
Bela Cruz Marcos Rubens
Camocim Nagel Cunha
Caucaia Júnior Alves Freitas
Iguatu Francilene Cândido – Diretório Estadual
Alex Lima
Juazeiro do Norte
Victor Emmanuel
Antônio Rodrigues
Maracanaú Ciro Augusto – Diretório Estadual
Quixadá Eronilton Buriti
Quixeramobim Neto Camorim
Santa Quitéria
Arilson Lopes
Tabuleiro do Norte
Gutemberg
Uruoca Simone Carlos
Moacir Oliveira
Francisco Cardoso
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