tese estadual insurgência - psol ceará

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UM PARTIDO RADICAL, COERENTE E DAS LUTAS: POR UM PSOL ANTICAPITALISTA, ECOSSOCIALISTA E DEMOCRÁTICO! Uma contribuição da Insurgência, LSR e militantes independentes Construindo o Bloco de Esquerda do PSOL 1. Vivemos um momento de profundos impasses para a humanidade. Em todo o mundo, trabalhadorxs e oprimidxs sofrem com o agravamento da situação econômica e com os efeitos cada vez mais visíveis do desequilíbrio ecológico, resultados da lógica capitalista. Em seu movimento cego pelo lucro, o capitalismo contemporâneo põe em risco as conquistas dos povos e as próprias bases da vida no planeta. Essa crise manifesta um profundo impasse civilizacional, onde até mesmo as promessas básicas engendradas pelas revoluções burguesas (liberdades civis, direitos humanos, democracia representativa, laicidade) são postas de lado, ultrapassadas pela acelerada barbarização do sistema capitalista. 2. No Brasil, a crise assume variadas formas: crise das cidades, cada vez mais excludentes e militarizadas, dominadas pela especulação de grandes corporações em aliança com o Estado; crise econômica, com fortes indícios de que a estagnação avance para uma recessão aberta; crise ambiental, cujo sintoma mais agudo é o colapso hídrico; e crise política, com a perda vertiginosa de popularidade e de força do governo da presidenta Dilma. Percebe-se, nesse esteio, o acirramento do desgaste das instituições do regime democrático burguês (principalmente pela via do questionamento “aos políticos”) e nos diversos ataques à maioria pauperizada e trabalhadora, tais como as mais recentes manobras na Câmara dos Deputados para impor a redução da maioridade penal e o financiamento empresarial de campanha, as alterações na legislação previdenciária e trabalhista (Mps 664/665 ambas baixadas no apagar das luzes de 2014, bem como PL n. 4330 da terceirização), cortes no orçamento, etc. 3. O pano de fundo para a convergência dessas várias crises é o esgotamento do “modelo de desenvolvimento” defendido e implementado a fundo pelo lulo-petismo em seus quase quatorze anos a frente do governo federal. Esse modelo, fortemente atado aos interesses do capital financeiro, buscou combinar uma limitada redistribuição de renda, baseada em programas sociais assistencialistas para as camadas mais empobrecidas da classe, reajustes salariais nos setores urbanos ligeiramente superiores à inflação, com o crescimento econômico pela ampliação do consumo, facilitado de um lado pelo crédito farto às famílias e, de outro, pela grande expansão dos setores da construção civil (megaprojetos) e do agronegócio, principalmente ligados ao setor agropecuário e ao extrativismo minerador, ambos exportadores e altamente predatórios dos meio ambiente. 4. A pressão da crise duradoura da economia capitalista internacional, com queda nos preços de commodities como o petróleo, alimentos e minérios; a fronteira da expansão do crédito, com o endividamento das famílias batendo no seu teto; os limites da

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Tese da Insurgência, LSR e independentes para o Congresso Estadual do PSOL-CE

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UM PARTIDO RADICAL, COERENTE E DAS LUTAS:

POR UM PSOL ANTICAPITALISTA, ECOSSOCIALISTA E DEMOCRÁTICO!

Uma contribuição da Insurgência, LSR e militantes independentes

Construindo o Bloco de Esquerda do PSOL

1. Vivemos um momento de profundos impasses para a humanidade. Em todo o mundo,

trabalhadorxs e oprimidxs sofrem com o agravamento da situação econômica e com os

efeitos cada vez mais visíveis do desequilíbrio ecológico, resultados da lógica

capitalista. Em seu movimento cego pelo lucro, o capitalismo contemporâneo põe em

risco as conquistas dos povos e as próprias bases da vida no planeta. Essa crise

manifesta um profundo impasse civilizacional, onde até mesmo as promessas básicas

engendradas pelas revoluções burguesas (liberdades civis, direitos humanos, democracia

representativa, laicidade) são postas de lado, ultrapassadas pela acelerada barbarização

do sistema capitalista.

2. No Brasil, a crise assume variadas formas: crise das cidades, cada vez mais

excludentes e militarizadas, dominadas pela especulação de grandes corporações em

aliança com o Estado; crise econômica, com fortes indícios de que a estagnação avance

para uma recessão aberta; crise ambiental, cujo sintoma mais agudo é o colapso hídrico;

e crise política, com a perda vertiginosa de popularidade e de força do governo da

presidenta Dilma. Percebe-se, nesse esteio, o acirramento do desgaste das instituições

do regime democrático burguês (principalmente pela via do questionamento “aos

políticos”) e nos diversos ataques à maioria pauperizada e trabalhadora, tais como as

mais recentes manobras na Câmara dos Deputados para impor a redução da maioridade

penal e o financiamento empresarial de campanha, as alterações na legislação

previdenciária e trabalhista (Mps 664/665 ambas baixadas no apagar das luzes de 2014,

bem como PL n. 4330 da terceirização), cortes no orçamento, etc.

3. O pano de fundo para a convergência dessas várias crises é o esgotamento do

“modelo de desenvolvimento” defendido e implementado a fundo pelo lulo-petismo em

seus quase quatorze anos a frente do governo federal. Esse modelo, fortemente atado

aos interesses do capital financeiro, buscou combinar uma limitada redistribuição de

renda, baseada em programas sociais assistencialistas para as camadas mais

empobrecidas da classe, reajustes salariais nos setores urbanos ligeiramente superiores à

inflação, com o crescimento econômico pela ampliação do consumo, facilitado de um

lado pelo crédito farto às famílias e, de outro, pela grande expansão dos setores da

construção civil (megaprojetos) e do agronegócio, principalmente ligados ao setor

agropecuário e ao extrativismo minerador, ambos exportadores e altamente predatórios

dos meio ambiente.

4. A pressão da crise duradoura da economia capitalista internacional, com queda nos

preços de commodities como o petróleo, alimentos e minérios; a fronteira da expansão

do crédito, com o endividamento das famílias batendo no seu teto; os limites da

expansão do modelo predatório das mega-obras e dos projetos amparados nas parcerias

público-privadas; tudo isso está fazendo encerrar o período de “mágicas” do lulismo.

5. O diagnóstico de esgotamento do modelo nos permite caracterizar que estamos diante

de uma crise no país que promete ser também de longa duração. Nem o PT no governo,

nem a oposição de direita, com o PSDB à frente, tem saídas e soluções estratégicas

inovadoras para esta crise, pois o horizonte de ambos os blocos são os ajustes

neoliberais baseados nas velhas receitas do que foi o Consenso de Washington: redução

dos investimentos sociais e dos gastos públicos para garantir os pagamentos dos juros

da dívida; privatizações e cortes brutais de direitos trabalhistas para maximização dos

lucros dos setores industrial e comercial; arrocho salarial e alta dos juros para atração de

capitais e controle dos preços internos.

6. Esse mesmo modelo - hostil para com a maioria da população, benevolente com as

grandes corporações representadas na política institucional – é replicado em nosso

Estado. Desde a segunda metade dos anos 1980, a fórmula adotada pelos sucessivos

governos estaduais persegue o desenvolvimento urbano-industrial a qualquer custo

como estratégia de crescimento econômico. Por essa via, o Estado passou a incentivar,

com benefícios e isenções, a implantação de empreendimentos industriais, sob a

promessa da criação de milhares de empregos e fortalecimento da economia do Ceará.

Os resultados dessa opção modernizante, entretanto, foram outros: mais exclusão e

desigualdades, estagnação do desenvolvimento, endividamento público, explosão da

violência urbana, destruição ambiental.

7. A crise hídrica, que afeta praticamente a totalidade do território cearense, talvez seja

o principal exemplo. Assolado por condições extremas de convivência com a seca

devido, entre outros fatores, à má gestão dos recursos hídricos em escala local e o

impacto das mudanças climáticas em nível global, o Ceará sofre com a multifacetada

crise de abastecimento de água e a escassez de seus reservatórios. Longe de privilegiar a

distribuição da água para quem mais precisa, vê-se aqui os subsídios do governo para o

agronegócio e as indústrias pesadas, a exemplo das siderúrgicas e refinarias, que

chegam a consumir até 1000 litros de água por segundo (cada uma!) enquanto em todo

o seu entorno famílias de trabalhadores e trabalhadoras sofrem com os dramáticos

efeitos da escassez. Essa mesma degradação socioambiental tem transformado os povos

tradicionais – indígenas, quilombolas, pescadores, ribeirinhos, etc. – do Estado em

refugiados nos seus próprios territórios. Como se não bastasse, temos ainda a

contaminação de aquíferos pela utilização intensiva de agrotóxicos pela fruticultura

irrigada, a exemplo do Aquífero Jandaíra, explorado e contaminado pelas atividades

predatórias na Bacia do Jaguaribe. É preciso que nos perguntemos que interesses

econômicos e políticos são esses, que se impõem sobre um direito e uma necessidade

tão elementar e essencial como é o acesso à água, tratando-a como mais um recurso a

ser gerido na lógica do Mercado. Nesse rumo, também está calcada as matrizes

energéticas brasileiras adotadas pelo Governo Federal e seguidas verticalmente pelos

governos locais! São exemplos dessa lógica nefasta: 1) o devaneio da prospecção de

petróleo em camadas de pré-sal, que mobilizará uma elevada concentração de CO2 para

a atmosfera e agravará ainda mais a situação caótica do clima e seus efeitos correlatos;

2) A violência sofrida pelos povos originários no Xingu em razão das obras da

Hidrelétrica de Belo Monte; 3) a metodologia predatória de implatação de usinas eólicas

no litoral brasileiro, desmontando ecossistemas dunares e segregando comunidades de

seus territórios; 4) a insana exploração de urânio e fosfato, bem como outros materiais

radioativos e contaminantes, a exemplo do que ocorre em Caetités-BA e cujos planos

são de implementá-lo em Itataia (Santa Quitéria-CE), por meio da qual comunidades

são expostas a radiotividades, o meio ambiente é degradado sem os mecanismos de

controle, proteção, prevenção, ou seja, sem níveis razoáveis de segurança e saúde

sobretudo sobre os trabalhadores. Repudiamos, pois, tal lógica de gestão dos recursos

naturais, subserviente ao grande capital, geradora de desigualdades e promotora de

injustiças e racismos ambientais!

8. Nessa conjuntura, acirram-se também as lutas sociais. Um setor de direita se

fortalece, ocupando as ruas, onde capitaliza o desgaste do governo Dilma e avança

sobre pautas relacionadas ao enfrentamento das opressões. Os discursos de ódio,

voltados sobretudo contra negrxs e LGBTs, ganham fôlego com medidas parlamentares

que não apenas retrocedem no campo dos direitos humanos e da defesa da dignidade e

da igualdade, mas também estimulam o preconceito que incentiva a violência física e

psicológica conta xs oprimidxs. Exemplo dramático, o Estatuto da Família, que limita a

entidade familiar a um “núcleo formado a partir da união entre um homem e uma

mulher”, avança na Câmara e já recebeu um adendo que pode dificultar a adoção de

crianças por casais homoafetivos. Os planos municipais e estaduais de educação

também são alvo do conservadorismo e da intolerância: por pressão das bancadas

fundamentalistas, os acúmulos feitos pela comunidade escolar nas conferências que dão

origem aos Planos são desrespeitados através do veto às metas de combate à

discriminação racial, de orientação sexual ou à identidade de gênero. A “bancada mais

conservadora desde 1964” veta projetos que abordam a saúde das mulheres e a

descriminalização do aborto, mas apressa a tramitação do “Estatuto do Nascituro” (que

dificulta a interrupção assistida da gestação nos casos já permitidos no país, como as

concepções decorrentes de estupro ou gravidez que coloque em risco a vida da mulher);

debate a criação do Dia do Orgulho Hétero, mas naturaliza a violência por

discriminação de gênero e de orientação sexual. Esse viés intransigente e

fundamentalista, apenas exemplificados acima, tem igualmente afrontado a laicidade do

Estado, retirando-lhe, na prática, o respeito a toda e qualquer religião; assim como tem

reforçado um ambiente cultural extremamente hostil à diversidade. Corolário das

medidas conservadoras, a redução da maioridade penal avança a passos largos e de

forma inconstitucional. A opção pela gestão penal da desigualdade em detrimento à

proteção integral da criança e do adolescente consiste num dos maiores retrocessos dos

tempos atuais, de consequências ainda imprevisíveis. Adolescentes já são

responsabilizados a partir dos doze anos de idade, inclusive com privação de liberdade;

temos a terceira maior população carcerária do planeta; a juventude é exterminada nas

periferias – com mortes só comparáveis a situações de guerra declarada; a violência

policial é epidêmica e, ainda assim, a “impunidade” aparece como a bandeira preferida

de uma direita que prefere pedir mais prisões do que encarar os principais motores da

violência. Sabe-se que nenhum país que tenha apostado na resposta criminal à

conflitualidade social conseguiu reduzir de forma significativa a violência. É uma falsa

solução, de apelo eleitoreiro e manipulador, que reforça a violência de Estado e facilita

a simbiose entre o Mercado da segurança e a segurança do Mercado.

9. Diante desse cenário, é fundamental afirmar o PSOL como uma alternativa de

esquerda de massas para o país, aliado aos movimentos sociais independentes das mais

diversas lutas (sindicais, populares, estudantis, juvenis, ambientais), para que seja capaz

de disputar a hegemonia de um projeto socialista e de ruptura. Nosso desafio estratégico

é contribuir com a construção de um projeto para o país que supere a polarização entre a

proposta neoliberal, de um lado, e a defesa do desenvolvimentismo produtivista,

extrativista e predador, de outro.

10. Com a mudança de conjuntura verificada depois junho de 2013 e com as campanhas

e eleições de 2014, a imagem do PSOL se consolida, ao público, como partido coerente,

da esquerda alternativa e de um socialismo renovado, das lutas LGBT´s, antimachistas,

antirracistas e em defesa dos direitos humanos. Assim, entendemos que o PSOL tem

capacidade de ser um dos principais pólos de aglutinação e organização de novos

deslocamentos políticos e sociais de setores explorados e oprimidos, sendo necessário

fortalecer seus espaços de auto-organização como setoriais e núcleos, entendendo-os

como espaços prioritários de construção para crescer a influência partidária e a sua

inserção social. Para tanto, é preciso que empunhemos firmemente nossas bandeiras de

luta, sem recuos programáticos, fazendo o enfrentamento direto à ofensiva

conservadora, de forma orgânica e em unidade na ação, credenciando-se junto aos

setores em luta e contribuindo efetivamente na disputa de hegemonia na sociedade.

11. Momento importante dessa disputa, expressão do acúmulo do Psol, foram as

campanhas eleitorais de 2014 de Ailton Lopes para governador do Ceará e Luciana

Genro para presidência da República. Com suas destacadas participações nos debates

pré-eleitorais e, principalmente, pela defesa firme das bandeiras de luta da classe

trabalhadora e dos direitos das minorias oprimidas, essas campanhas contribuíram

inegavelmente para fortalecer o campo da oposição de esquerda e socialista.

12. Apresentando-se como instrumentos importantes de luta e resistência e não como

fim em si mesmos, os mandatos de João Alfredo e de Renato Roseno são expressões

sínteses de uma atuação comprometida com as maiorias sociais e as populações mais

oprimidas. Na Câmara Municipal de Fortaleza, o mandato Ecos da Cidade esteve à

frente das ações para a proteção dos parques, praças e áreas verdes da Cidade, da luta

por moradia, por educação pública de qualidade e da defesa intransigente dos direitos

humanos, produzindo relevantes documentos e intervenções no combate à violência

institucional, saúde mental, sistema prisional e combate às opressões. Na Assembléia

Legislativa, o mandato É Tempo de Resistência mostra a que veio: em apenas 5 meses,

dentre outras ações, impulsionou a campanha pela Água como direito humano;

denunciou irregularidades do Governo Estadual, a exemplo da obra do Acquário;

interveio na valorização da cultura e no reconhecimento das comunidades tradicionais e

povos originários; denunciou e busca coibir o uso intensivo de agrotóxicos; atuou na

promoção da dignidade de crianças e adolescentes, sobretudo com relação ao Sistema

Socioeducativo e demonstrou forte apoio à diversas categorias em luta por seus direitos.

Temos orgulho e confiança nesses instrumentos e reafirmamos sua importância para o

Partido e para além dele, como instâncias à serviço dos movimentos sociais e da classe

trabalhadora.

13. Esses êxitos, entretanto, não bastam. Para a disputa neste contexto social, é

fundamental o nosso esforço para a construção de um bloco de lutas, inarredavelmente

socialista, convictos dos limites intransponíveis das eleições institucionais, a fim de se

ampliar para além do período eleitoral a nossa vitoriosa Frente de Esquerda editada aqui

no Ceará, somando com movimentos e ativistas em luta contra o avanço do

conservadorismo e do capital a partir de uma agenda comum de lutas.

14. Importantes passos nesse sentido, a presença da militância de base, da juventude e

dos mandatos parlamentares do Psol nas principais lutas travadas em nosso estado no

último período tem sido fundamental para impulsionar a mobilização popular em

diversas frentes de combate às políticas das classes dominantes e seus governos.

Momentos emblemáticos dessa presença concreta, destacamos nossa participação na

luta contra a redução da maioridade penal; contra o extermínio das juventudes; por

moradia; pelos direitos de indígenas e quilombolas; pelo direito à água para as

comunidades e contra seu uso intensivo pelo agronegócio e indústria; pela reforma

agrária e contra a violência do latifúndio; contra o envenenamento de alimentos, solo e

água por agrotóxicos; por uma cidade ecossocialista: com a defesa da mobilidade

humana, das unidades de conservação e áreas verdes, como o Parque do Cocó; pela

educação pública e gratuita em todos os níveis; pelo atendimento das reivindicações do

funcionalismo público (estadual e municipais) e seus movimentos grevistas; contra os

cortes de direitos e ajustes; contra a criminalização de lutadoras e lutadores sociais; pela

desmilitarização da polícia e da política; no movimento estudantil, nos movimentos de

mulheres e de negras e negros, nas lutas LGBT's, ambientais, dentre tantas outras. A

participação direta do Psol-Ce nessas lutas por todo o estado tem sido fundamental na

organização da resistência popular e precisa ser aprofundada para dar maior peso social

e contribuir para a reorganização da classe trababalhadora, especialmente através do

chamado à unidade, inclusive no campo sindical, superando a atual lógica divisionista

predominante, que faz prevalecer os aparatos e direções burocráticas das centrais em

oposição aos interesses dxs trabalhadorxs.

15. Da mesma forma, nossa participação nas eleições de 2016, tanto no âmbito

executivo como no legislativo, assim como nossa disputa cotidiana, devem dar-se na

perspectiva do fortalecimento de nossa localização na oposição de esquerda, como

importante porta-voz das demandas e lutas populares e da denúncia do Capital e seus

governos. Nesse sentido, é indispensável que a política de alianças a ser adotada nesse

processo reflita essa localização, colocando-se como uma alternativa tanto à direita

tradicional como ao PT e ao campo governista. Devemos continuar combatendo a

reprodução da lógica do “vale-tudo” eleitoral, restringindo nosso arco de alianças ao

PCB e PSTU.

16. Diante da caracterização acima, o PSOL precisa definir qual caminho pretende

seguir: o da sua consolidação enquanto organização anticapitalista de influência e

organização da classe trabalhadora e setores oprimidos ou da ampliação de sua

intervenção institucional a partir de flexibilizações táticas e rebaixamento programático.

Entendemos que ao fazer a opção pelo primeiro caminho, não renegamos a nossa

intervenção na institucionalidade, mas afirmamos que esta deve ser direcionada,

prioritariamente, para a reverberação e afirmação das lutas populares e não para

autossustentabilidade de burocracias partidárias. Já o segundo caminho é o que hoje é

traçado pelo setor que atualmente ocupa a direção majoritária do partido nacionalmente

(o bloco “Unidade Socialista” - US), materializando esta opção na utilização de alianças

espúrias nas disputas eleitorais (como a aliança do PSOL com o PTdoB em Macapá), no

desrespeito das posições programáticas do partido (a exemplo do caso recente da greve

dos professores em Macapá, reprimida por uma gestão municipal do PSOL), na

tentativa de cercear a auto-organização dos setoriais do partido (caso da intervenção no

setorial de mulheres) e na utilização de métodos escusos para a manutenção da maioria

partidária (com filiações em massa, sem o devido debate programático, e fraudes, como

as constatadas no último congresso). Esta política precisa ser derrotada no interior do

PSOL, sob pena do partido repetir os erros históricos que resultaram na derrocada do

PT.

17. No Ceará, podemos observar um crescimento da intervenção partidária, seja nos

espaços institucionais com a ampliação dos mandatos municipais e a conquista do

mandato estadual, na construção dos setoriais do partido (hoje são pelo menos seis

setoriais ativos, com atividades periódicas), no alargamento da capacidade de

convocatória para as iniciativas do PSOL em atos públicos e debates sobre temas

diversos, ou no aumento do número de filiados, sobretudo junto aos municípios no

interior do estado. Apesar de constatarmos um avanço em nossa organização, o partido

ainda carece de maior organicidade para o fortalecimento da auto-organização e

autofinanciamento militante. Em todo Estado, são apenas 37 pessoas a cotizarem

regularmente com o Partido. A independência de classe deve se mostrar também na

capacidade de auto-organização política e financeira, garantindo recursos para as

atividades cotidianas da luta.

18. A defesa do Psol como ferramenta anticapitalista exige coerência entre princípios e

práticas. Não se pode avançar na construção coerente do Psol com filiações feitas de

forma apressada e sem o devido convencimento programático. É inaceitável existir

“filiados” que não não reivindiquem o socialismo (na perspectiva de qualquer de suas

tradições) e reproduzam práticas de direita, uma vez que carregamos o Socialismo em

nossos nome, bandeiras, princípios, programa; assim como é inadmissível termos

filiados que não tenham qualquer compromisso com a vida partidária a não ser aparecer

e votar nos dias de congresso. Todo filiado que mereça esse nome deve ser presente nas

reuniões e encontros, cotizar financeiramente, e contribuir para o êxito das atividades

partidárias, ser orgânico. A filiação ao Psol deve ser uma opção consciente pelo

socialismo, um gesto de compromisso com a transformação radical da sociedade,

respeitando as bases programáticas construídas coletivamente e não uma corrida pelo

controle burocrático do partido, onde vale filiar parentes, amigos e funcionários

exclusivamente para “contar garrafinhas”.

19. Da mesma forma, não podemos nos calar diante do ataque feito à auto-organização

do setorial nacional de mulheres, perpetrado pela maioria da direção nacional e

respaldada localmente pelas que compareceram ao encontro nacional de mulheres

convocado pela US, apesar de ter sido rechaçada pela ampla maioria das tendências

internas (Insurgência, MES, LSR, CST, 1º. de Maio, APS Nova Era, Rosa Zumbi e

TLS) e das militantes independentes do PSOL que reivindicam o feminismo. A política

da maioria da direção nacional desrespeita 10 anos de construção do setorial nacional de

mulheres, pautado na democracia interna, na auto-organização e na não reprodução da

disputa entre correntes, num esforço para que o combate à opressão histórica às

mulheres estivesse acima de qualquer uma dessas disputas. Entendemos a auto-

organização, não só das mulheres, mas também dos militantes da diversidade sexual e

de negros e negras, como princípio importante no processo de superação das opressões

historicamente construídas. A auto-organização permite que o protagonismo possa ser

exercido por aquelxs que historicamente foram subalternizados, além de criar um

ambiente seguro e de confiança para que os históricos de opressões sofridas sejam

compartilhados. Lamentavelmente, algumas filiadas sem qualquer mandato concedido

pelo Setorial Rosa Luxemburgo do Psol-Ce, fizeram-se presentes ao encontro

antidemocrático que sacramentou esse ataque, sendo inclusive uma delas “eleita”,

mesmo sem ter nenhum histórico de construção da auto-organização de mulheres do

Psol. Em resposta a isso, realizamos, no mês de julho de 2015, o Seminário Nacional de

Mulheres do PSOL em Defesa da Auto-organização, convocado por todos os outros

setores que constroem o setorial, como estratégia de fortalecimento dos marcos nos

quais acreditamos dever ser construído o feminismo no partido.

20. Outro grande problema em que precisamos superar é na defesa do caráter coletivo

dos mandatos parlamentares. Numa época em que a legitimidade do exercício da

política é posta em questão pelo predomínio da corrupção e pelo desgaste das

instituições da democracia representativa, é inadiável o esforço para fazer dos mandatos

conquistados pelo Psol exemplos de um novo fazer político. Essa nova política passa

pela ética e transparência no uso dos recursos parlamentares (assessorias e verbas), mas

passa também pelo respeito às instâncias e à base social do partido que deve ser

exercido pelos parlamentares. Nesse sentido, o afastamento do PSOL do deputado

federal Daciolo representa uma sinalização positiva, que reforça os vínculos

programáticos e ataca a autonomização dos mandatos parlamentares. Infelizmente, essa

situação desconfortável, em que a posição pública de um parlamentar do Psol bate de

frente com o acúmulo político-programático da organização partidária e com a opinião

da maioria de filiados e apoiadores, encontrou eco em nosso estado na conduta da nossa

vereadora em Fortaleza. Não se trata de uma vereadora de direita ou que deva ser

considerada inimiga, mas que por meio de seus elogios ao governo do prefeito de

Fortaleza (PROS), do seu descumprimento da decisão partidária durante a eleição da

mesa diretora da Câmara Municipal de Fortaleza, e da postura autoritária adotada

durante o debate com a base partidária, expressou uma autonomização do mandato

parlamentar incompatível com a nova cultura política que perseguimos, ainda que na

maioria das vezes a vereadora tenha votado de acordo com o partido. A fratura entre a

vereadora e o restante do partido desgastou nosso organismo político perante a opinião

pública e levou água ao moinho dos nossos inimigos de classe. Nosso V Congresso

deve fazer o balanço desses fatos e apontar as medidas que reforcem o respeito às

instâncias e a democracia interna sobre os parlamentares eleitos sob a legenda do Psol.

21. Acreditamos que a construção do Psol como alternativa política é uma tarefa

coletiva de toda a militância, sendo papel das correntes organizadas reforçar essa

construção e não atentar contra ela. Todxs estamos cientes das dificuldades de

construção desse projeto, mas é preciso cobrar daqueles a quem foram confiadas

responsabilidades de direção política e organizativa o cumprimento de suas tarefas.

Como instrumento de síntese da esquerda socialista brasileira, o Psol somente pode dar

conta de seu papel histórico na medida em que suas instâncias de direção funcionem de

forma regular, democrática, coletiva e solidária. Ao invés disso, predominou na direção

eleita em nosso IV Congresso um espírito nocivo, de desresponsabilização da minoria

para com suas tarefas partidárias. Apesar dos esforços e apelos repetidos, os cargos de

Tesouraria e Secretaria de Formação, de indicação adquirida democraticamente pela

chapa minoritária em nosso último congresso, estiveram paralisados durante todo o

mandato da atual direção, sacrificando e sobrecarregando os demais membros do

diretório e executiva estadual. A próxima direção deve recuperar o sentido coletivo e

solidário de seu funcionamento, cabendo as chapas que conquistarem representação na

instância respeitarem o mandato conferido pela base partidária.

22. O V Congresso do Psol-Ce tem ainda em suas mãos uma tarefa fundamental: o de

restabelecer a fraternidade nas relações internas entre os grupos e correntes. Os debates

e polêmicas são bem-vindos e necessários, mas é insuportável o envenenamento

produzido pelo denuncismo sem provas e pela perpetuação das diferenças, alimentadas

de forma permanente e fora de toda razoabilidade. Nesse sentido, propomos que o

congresso delibere sobre a constituição de uma Comissão de Ética, conforme minuta de

resolução elaborada por comissão e apreciado na Executiva e Direção Estadual.

Somente através da Comissão de Ética e de normas evidentes que expressem nossos

valores e princípios como militantes socialistas, sem caráter punitivo ou hostil,

poderemos superar o clima de revanchismo e desconfiança que tomou conta do Psol-Ce

e avançar no sentido do restabelecimento de uma vida partidária a altura dos nossos

objetivos programáticos.

23. É preciso mudar o mundo velho construindo um mundo novo! A barbárie não pode

triunfar! Vamos fazer do V Congresso do Psol-Ce um degrau a mais na árdua escada da

humanidade rumo à libertação integral da humanidade de todas as formas de exploração

e opressão e da defesa das bases ambientais de sobrevivência do nosso planeta! A hora é

essa!

"Esse é o desafio que está posto para nós. Nós

ainda acreditamos que é possível fazer uma

sociedade de iguais. Nós acreditamos que é

possível fazer uma sociedade de homens livres (...).

Por caminhos e descaminhos, com tentativas e

tentativas, eu estou há cinqüenta e oito anos atrás

dessa vida. Já servi e vou servir mais, se para

tanto não fosse tão curta a vida. Nós que amamos

a revolução".

Plínio de Arruda Sampaio, Presente!

Assinam esta tese:

Fortaleza Cecília Feitoza – Presidente do PSOL Ceará

Renato Roseno – Deputado Estadual

João Alfredo – Vereador de Fortaleza e Diretório Estadual

Ailton Lopes – Setorial de Diversidade Sexual

Alexandre Araújo Costa – Diretório Nacional/Coordenação Nacional do Setorial

Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL

Soraya Tupinambá – Diretório Estadual/ Coordenação Nacional do Setorial

Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL

Moésio Mota – Executiva Estadual - Secretário de Organização e Interior

Cleidelene Oliveira – Executiva Estadual - Secretária Geral

Livino Neto – Executiva Estadual - Secretário de Comunicação

Ana Vládia Holanda Cruz – Executiva Estadual - Secretária Intersetorial e Movimentos

Sociais

Martinho Olavo – Executiva Estadual/ Setorial de Direitos Humanos

Carlos Alberto Ribeiro – Setorial de Educação/Diretório Estadual

Rebeca Veloso – Setorial de Educação/Diretório Estadual

Joana Vidal – Setorial de Mulheres Rosa Luxemburgo/Diretório Estadual

Natasha Cruz – Diretório Estadual

Angeline Carolino – Diretório Estadual

Jocide Benício – Setorial de Pessoas com Deficiência e Diretório Estadual

Margarida Marques – Diretório Estadual

Marcelo Maia – Setorial de Diversidade Sexual

Márcio Renato – Setorial de Direitos Humanos

Isabel Carneiro – Setorial de Mulheres Rosa Luxemburgo

Marília Cardoso – Setorial de Mulheres Rosa Luxemburgo

Téssie Reis – Setorial de Negros e Negras

Érica Pontes – Setorial Ecossocialista Zé Maria do Tomé

Nilo Sérgio Aragão

Antônio Afrânio Castelo

Sobral Francisco Osvaldo Aguiar – Diretório Estadual/Setorial Ecossocialista Zé Maria do

Tomé

Diego Aragão

Aline Sabino

Rodrigo Ferreira

Crateús Gilzâgela Sales – Diretório Estadual

Canindé Vânia Vasconcelos –Diretório Estadual

Bela Cruz Marcos Rubens

Camocim Nagel Cunha

Caucaia Júnior Alves Freitas

Iguatu Francilene Cândido – Diretório Estadual

Alex Lima

Juazeiro do Norte

Victor Emmanuel

Antônio Rodrigues

Maracanaú Ciro Augusto – Diretório Estadual

Quixadá Eronilton Buriti

Quixeramobim Neto Camorim

Santa Quitéria

Arilson Lopes

Tabuleiro do Norte

Gutemberg

Uruoca Simone Carlos

Moacir Oliveira

Francisco Cardoso

Marcelo Ferreira

Antônia Portela

Ribamar Júnior

Joaquim Farias

Luis Neto

Janielia Ricardo