templo de hedonismo para uns, cárcere para outros- a gestão do tempo dos trabalhadores de centros...
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8/6/2019 Templo de hedonismo para uns, Crcere para outros- A gesto do tempo dos trabalhadores de centros comerciais
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ndice
Agradecimentos ................................ ................................ ................................ ............. 4
Introduo ................................ ................................ ................................ ...................... 51.Problemtica ................................ ................................ ................................ ............... 8
1.1 Descrio do conceito de Shopping................................ ................................ ...... 8
1.2.Tempo e espao................................ ................................ ................................ .. 10
2.2.O tempo de trabalho e o tempo de no-trabalho ................................ ................ 13
2.3.Tempo ocupado, tempo livre e tempo de lazer ................................ ................... 16
2.4.Conciliao da vida profissional com a vida pessoal/familiar ............................... 17
2.5.Questes de gnero e o papel social da mulher ................................ .................. 19
2.6. A relao entre as habilitaes literrias e a herana cultural e as influencias nospercursos profissionais ................................ ................................ ............................. 22
2.7.Modelo de anlise ................................ ................................ .............................. 24
3.Metodologia ................................ ................................ ................................ .............. 25
3.1.Descrio do espao de anlise ................................ ................................ ........... 26
3.2. Definio da amostra ................................ ................................ ......................... 27
3.3. Caracterizao dos entrevistados ................................ ................................ ....... 28
3.4.Breve descrio dos entrevistados ................................ ................................ ........... 30
3.5.Caracterizao da situao profissional dos indivduos ............. ............. ...... ............ 32
3.6. A estruturao da entrevista ................................ ................................ .............. 32
3.7.Obstculos encontrados ................................ ................................ ..................... 34
4.Anlise de dados................................ ................................ ................................ ........ 35
4.1.Conciliao da vida profissional com a vida familiar ................................ ............ 35
4.1.1.Tempo de trabalho ................................ ................................ ...................... 43
4.1.2.Os horrios atpicos e o trabalho ao fim de semana ................................ ..... 45
4.1.3.Tempo de no trabalho e de lazer ................................ ................................ 46
4.2.Nvel de satisfao no trabalho ................................ ................................ ........... 49
4.3.Percursos profissionais e expectativas futuras ................................ .................... 55
3.4.Tipologias de trabalhadores ................................ ................................ ................ 65
Concluso ................................ ................................ ................................ .................... 70
Referncias bibliogrficas ................................ ................................ ............................ 78
ANEXOS................................ ................................ ................................ ..................... 84
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Operacionalizao dos conceitos 1................................ ................................ ................ 88
Operacionalizao dos conceitos 2................................ ................................ ................ 89
Guio de entrevista ................................ ................................ ................................ ....... 90
Grelha de anlise de contedo ................................ ................................ ...................... 95
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Agradecimentos
Um trabalho de investigao algo que exige uma elevada concentrao e
uma grande fora de vontade. No inicio existe a sensao que estamos perdidos ede seguida sente-se o tempo a escassear, Para alm de ser um trabalho individual,
existe sempre o contributo de outros elementos indispensveis e merecedores da
nossa gratido.
Quero agradecer em primeiro lugar, minha orientadora Dra. Emlia
Arajo, que foi a pessoa que mais me fez acreditar em mim e nas minhas
capacidades. Sou inteiramente grata pela partilha da sua imensa sabedoria e
experiencia em investigao, sem dvida que aprendi bastante. Agradeo todas as
suas palavras de fora, nos momentos em que me senti mais desanimada, maiscansada. Ao longo deste trabalho mostrou-se sempre disponvel e com sugestes.
Quero agradecer a todos os entrevistados, que gentilmente cederam o seu
tempo e prestaram o seu depoimento. Sem estas pessoas este trabalho no teria
sido possvel. Quero tambm agradecer secretria de administrao do centro
comercial em estudo que prestou esclarecimentos sobre as questes logsticas do
centro.
Por ltimo, quero agradecer minha me que teve a pacincia de me ver
sempre colada a este computador durante meses e sempre me apoio. minha tia
que mesmo a 365km de distancia nunca deixou de me dar palavras de incentivo e
conforto. Agradeo tambm aos meus verdadeiros amigos dos quais me afastei de
h uns meses para c, e mesmo assim compreendem as razes e continuam a
torcer por mim.
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Introduo
O acto de fazer compras transformou-se numa actividade bastante
importante nas sociedades actuais. Um dos marcos que transformou a histria do
comrcio e do consumo foi o aparecimento das grandes superfcies comerciais.
Trata-se de espaos planeados ao pormenor, para, no mesmo local, concentrarem
todos os servios necessrios ao consumidor. Funcionam, tambm, como local de
lazer, cultura, convivialidade e entretenimento. Independentemente da dimenso
ou do lugar onde se localizam, estes espaos so considerados as catedrais dos
novos tempos modernos (Cachinho, 2000).
O facto de os Shoppings Center constiturem um fenmeno relativamente
recente e pouco abordado no nosso pas, constituiu o motivo fundamental para a
escolha deste objecto de estudo. Podemos considerar este tipo de espao como um
dos efeitos da modernidade que se tornou possvel graas ao aparecimento de
inovaes tecnolgicas, como o aparecimento da luz artificial que possibilita que
estes espaos se mantenham abertos durante a noite. Os espaos dos centros
comerciais podem ser considerados como catedrais de hedonismo e
convivialidade. Podemos caracteriz-los como um pequeno mundo, em que nos
abstramos da rotina do dia-a-dia, e nos dedicamos a ns prprios. Este tipo de
empreendimentos, para alm de contriburem para o lazer da populao,
relevante pelo facto de serem tambm locais onde podem ser observadas relaes
sociais.
Os centros comerciais, bem como o trabalho no sector dos servios, como
o comrcio, no tm sido alvos de reflexo por parte dos socilogos no nosso pas.
Existem apenas alguns estudos sobre centros comerciais das zonas metropolitanas
do Porto e Lisboa, embora no direccionadas para o mbito da sociologia. Uma
investigadora que teve um grande contributo no estudo dos aspectos relacionados
com estes espaos, e mais especificamente com o contexto laboral, Sofia
Alexandra Cruz. Esta sociloga realizou alguns trabalhos no sentido de retratar os
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principais traos identitrios dos trabalhadores de superfcies comerciais, dando
nfase precariedade laboral e s experincias vividas.
Os Shoppings Centers podem ser considerados como um marco
inovador no comrcio a retalho. Torna-se particularmente importante dar relevo
aos trabalhadores destes locais, pois so eles que do tudo de si para tornar
possvel a grandiosidade deste local. Este tipo de empreendimento comporta
horrios bastante alargados, para permitir uma maior oferta e comodidade ao
cliente, da obrigando os que trabalham neste espao a um modelo de vida
assncrono. Os horrios nocturnos, fins-de-semana, feriados e turnos rotativos
tornaram-se a realidade destes indivduos. Por isso, importante identificar que
estratgias utilizam para gerir o tempo atpico no quotidiano. certo que todos os
indivduos que trabalham em horrios ditos normais efectuam um grande esforono sentido de conciliar a vida pessoal com a vida profissional. Mas, e um
indivduo que trabalha num Shopping? Trabalhando noites, fins-de-semana,
feriados, como organiza a sua vida? Que tempo tem para dedicar aos seus entes
mais prximos? Se, enquanto todos se divertem no Shopping, ele tem de
trabalhar, sentir-se- satisfeito? Ser que a sua remunerao compensa os
sacrifcios que faz? Quem so estes indivduos? O que esperam para o seu o seu
futuro? Estas so algumas questes que surgiram ao longo deste trabalho.Assim,
o presente trabalho de investigao centrado na vida dos trabalhadores decentros comerciais, focando sobretudo a atipicidade dos horrios e a gesto do
tempo destes indivduos. Inerente gesto do tempo, encontra-se tambm a
conciliao da esfera profissional com a familiar. das dimenses fulcrais neste
trabalho, pois implica compreender de que forma os indivduos trabalhadores de
Shopping gerem a atipicidade do tempo e do espao a que esto sujeitos no seu
quotidiano.
Considerou-se necessrio conhecer um pouco mais acerca da vida destes
trabalhadores, para que fosse possvel analisar mais profundamente. Deste modo,foram explorados aspectos como os contextos socioeconmicos, os percursos
profissionais e as respectivas expectativas futuras, condies de trabalho e nvel
de satisfao com o mesmo, passando tambm pelas implicaes na sade.
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O presente trabalho de investigao realizou-se num Shopping Center na
cidade de Guimares. Foram realizadas 21 entrevistas a trabalhadores deste local,
19 mulheres e 2 homens, sendo que desse total de mulheres 4 so casadas, 5
vivem em unio de facto, 8 so solteiras e 2 so divorciadas. Em relao aos
homens, foram apenas entrevistados 2: 1 casado e 1 solteiro, para evidenciar a
questo das diferenas de gnero, que se consideram importantes, visto que uma
profisso essencialmente dominada pelas mulheres.
Aps a realizao das entrevistas, foi elaborada uma anlise de contedo
aos depoimentos dos entrevistados, possibilitando conhecer os contextos laborais
e sociais onde se inserem, bem como outros aspectos essenciais, com vista a
concluir os objectivos a que me propus.
Fazendo uma breve apresentao deste trabalho, podemos ento dividi-loem trs captulos: o primeiro captulo relativo problemtica, contendo um
pequeno enquadramento terico, onde so apresentados os conceitos e as
dimenses fundamentais desta investigao: em primeiro lugar, feita a
abordagem do conceito de centro comercial, procedendo-se a um enquadramento
histrico sobre o seu surgimento e evoluo, bem como as suas definies. De
seguida, so apresentados os conceitos de tempo e de espao. Ao falar-se em
tempo torna-se necessrio fazer a diviso do mesmo em tempo de trabalho e
tempo de no-trabalho, onde so descritos os tipos de tempo e de lazer. Neste ponto, tambm referida a rotina e a relao do tempo com a produtividade,
dando o exemplo da diviso do trabalho. Outro dos pontos referidos a
importncia da conciliao da vida familiar e profissional e considerando sempre
as diferenas de gnero, finalmente outra dimenso importante ser abordar a
importncia da herana cultural e relacionar com os percursos profissionais.
No segundo captulo descrita a metodologia utilizada. O mtodo
escolhido foi o indutivo e a tcnica utilizada a da entrevista semi-estruturada.
Desse captulo consta uma caracterizao da amostra, bem como a explicao detodos os passos realizados para a concepo desta investigao, no descurando os
obstculos encontrados.
No terceiro captulo, feita a anlise dos resultados das entrevistas. Esta
anlise foi tambm dividida trs dimenses, que se consideram as mais
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importantes deste trabalho: em primeiro lugar, a conciliao da vida familiar com
a profissional, onde o tema dos horrios fortemente abordado; em segundo
lugar, o nvel de satisfao no trabalho, que implica as condies de trabalho
subjacentes e em terceiro lugar, outra dimenso fulcral, que ser a dos percursos
profissionais e expectativas futuras, onde um dos temas mais fortemente
abordados ser a relao da profisso com as habilitaes literrias.
Aps a anlise das dimenses encontradas nas entrevistas, so
apresentadas a descrio e explicao das tipologias encontradas. A concluir o
trabalho, so apresentadas as concluses obtidas, onde so relembrados os
objectivos que conduziram esta investigao, deixando inclusivamente algumas
sugestes de aspectos que poderiam ser melhorados, no mbito nesta profisso.
1.Problemtica
Este trabalho incide sobre a organizao do tempo e do espao atpico a
que esto sujeitos os trabalhadores de centros comerciais. Neste sentido
importante para compreender esta problemtica determinar os conceitos
fundamentais e so eles: compreender antes de mais o que so centros comerciais,
os conceitos de tempo e de espao, o conceito de famlia e a conciliao com a
profisso, a questo das diferenas de gnero e finalmente a herana cultural.
1.1 Descrio do conceito de Shopping
O termo centro comercial comeou por ser usado para descrever as ruas e
zonas urbanas onde se concentravam grande nmero de estabelecimentos
dedicados ao comrcio. A expresso centro comercial uma traduo de um
termo que surgiu nos Estados Unidos Shopping Center (Cachinho, 2000).
Cachinho num estudo sobre centros comerciais em Portugal, publicado no
Observatrio do Comrcio, descreve assim este conceito: Empreendimentos
comerciais planeados, constitudos por um conjunto diversificado de lojas de
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venda a retalho e servios, localizados num ou mais edifcios contguos,
promovidos pela iniciativa privada ou pblica e associados s novas formas de
urbanismo comercial (Cachinho, 2000:8).
Os centros comerciais distinguem-se dos centros de comrcio
tradicional do ponto de vista gentico, fisionmico, cartogrfico e funcional. Do
ponto de vista gentico, pois so concentraes de estabelecimentos concebidos
enquanto uma unidade. Do ponto de vista fisionmico, porque todos os
estabelecimentos tm traos uniformes de imagem que diferem do comrcio
tradicional e topolgico porque enquanto o comrcio de rua se encontra no rs-do-
cho e se alinha ao longo de uma rua ou avenida. Nos centros comerciais as lojas
so instaladas em edifcios construdos para o efeito. Do ponto de vista funcional,
os centros comerciais tm a vantagem de, no mesmo local, ofereceram umagrande variedade de servios, alm das facilidades de estacionamento (Cachinho,
2000).
Nesta linha de pensamento, consideramos que a maior vantagem dos
Shoppings realmente o facto de neles podermos usufruir de um grande nmero
de servios, ou seja, podemos encontrar lojas de vesturio, bijutarias, sapatarias,
lingerie, ourivesarias, lojas de malas de viagens, livraria, lojas de
electrodomsticos, de desporto, de brinquedos, para alm da oferta de servios
como um sapateiro, lavandaria, florista, servios de costura, agncia de viagens,cabeleireiro, farmcia, hipermercado, quiosque, loja de animais, salas de cinema,
para alm de uma grande variedade de restaurantes e at um local onde os pais
podem deixar os seus filhos enquanto fazem as suas compras comodamente.
Existem tambm alguns centros que dispem de ginsios e parques de diverses
no seu interior. Resumindo, no Shopping podemos encontrar e fazer de tudo,
desde comprar um cordo at marcar uma grande viagem, comprar um
medicamento para um filho doente, deixar a roupa na lavandaria enquanto se
arranja o cabelo ou as unhas, ou fazer um programa recreativo, como jantar emfamlia e terminar numa sesso de cinema.
Contextualizando historicamente o conceito de centro comercial, alguns
autores defendem que nasceram na Europa, enquanto outros atribuem a sua
origem aos Estados Unidos. No entanto, provavelmente, ser uma criao norte
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americana, que se expande especialmente a partir dos anos cinquenta, e comea a
evidenciar-se na Europa, na dcada seguinte. Depois da segunda guerra mundial, a
Europa ficou bastante destruda, vivendo uma fase de reconstruo que no
favorecia o investimento na venda a retalho. Nesta fase, a prioridade foi
reconstruir as fontes produtivas, criar emprego, resolver problemas das famlias
desalojadas e reabilitar sectores da cidade afectados pelos bombardeamentos. Face
conjuntura econmica, o mercado consumidor ficou em graves dificuldades de
desenvolvimento, e uma vez que a populao no tinha poder de compra, seria
difcil os centros comerciais atingirem sucesso.
Os Estados Unidos foram pouco afectados pela guerra, quer em danos
fsicos ou econmicos. O aumento do consumismo, que atingiu este pas,
propiciou ento o sucesso destes empreendimentos. (Cachinho, 2000)Embora os centros comerciais, da forma como os conhecemos hoje em dia,
tenha sido difundida nos Estados Unidos, a ideia de concentrar no mesmo espao
o conjunto diversificado de estabelecimentos vem do sculo passado. Exemplos
vivos disso so as galerias Vittorio Emanuelle em Milo , a Royal Opera Arcade
de Pall Mall em Londres ou as galerias Vivieenne em Paris. Podemos ento
afirmar que, apesar de o conceito de centro comercial se ter expandido nos
Estados Unidos, nas arcadas e antigas galerias comerciais europeias do sculo
passado que remontam as suas origens (Cachinho, 2000).Em Portugal, os centros comerciais surgem um pouco mais tarde do que
no resto da Europa devido instabilidade social, econmica e politica. O baixo
poder de compra das famlias e a pouca abertura do pas a alargar horizontes para
o exterior, por influncia da ditadura, conduziram a que o surgimento destas
superfcies s se desse no nosso pas nos anos oitenta. Aps o perodo conturbado
da revoluo do 25 de Abril, a economia tornou-se mais estvel, o que
proporcionou o desenvolvimento do comrcio retalhista e um aumento do
consumo (Cachinho, 2000).
1.2.Tempo e espao
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A noo de tempo e de espao fulcral no mbito deste trabalho, pois
o tempo revela-se objecto de apropriaes contextualizadas de prticas,
trajectrias, representaes individuais e colectivas (Cruz, 2003:75).
O espao e tempo so dois eixos responsveis pela estruturao das
identidades individuais e colectivas, ou seja, cada indivduo existe num
determinado espao e num determinado tempo, e a sua funo conceb-lo e
administr-lo. (Arajo, 2007)
Podemos associar o incio da era moderna a vrios factores. Mas, sem
dvida, um dos que marca o ponto de viragem a emancipao do tempo sobre o
espao, pois o tempo, ao contrrio do espao, pode ser mais facilmente
manipulado e modificado (Bauman, 2000).
Na era pr-moderna, o tempo e o espao estavam ligados pelo lugar.Algumas invenes, como o relgio e o calendrio, proporcionaram um dos
marcos mais importantes que separou o tempo do espao. Este tipo de utenslios
de medio do tempo provocaram mudanas estruturais na vida quotidiana,
mudanas essas universais (Giddens, 1997). O tempo moderno o tempo
mecnico, ou seja, medido pelo relgio e separado dos ritmos circassianos. No
mundo moderno no s o ritmo da mudana social muito mais rpido, como
tambm o o seu mbito ou a profundidade com que afecta as prticas sociais e
os modos de comportamento preexistentes (Giddens, 1997:14). Com estaafirmao, Giddens procura referir-se s mudanas inerentes que a modernidade
provocou nos estilos de vida da populao em geral, a industrializao, a mudana
nos espaos de consumo, inovaes tecnolgicas e o surgimento do emprego
atpico.
O tempo uma realidade complexa e susceptvel de mutaes.
portanto um conjunto de conceitos, fenmenos e ritmos. Podemos considerar
existirem vrios tipos de tempo, por exemplo, o tempo biolgico e o tempo do
relgio. Entre estes dois tipos de tempo usualmente encontramos os maioresconflitos. Um exemplo disso quando efectuamos uma viagem para outro pas,
onde o fuso horrio diferente, pois os nossos ritmos biolgicos alteram-se
completamente (Hall, 1996). Se quisermos dar um exemplo que se adapte a esta
investigao, podemos referir o facto de grande parte dos indivduos que
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trabalham em centros comerciais no terem a possibilidades de fazer as refeies
em horrios regulares. Segundo informaes facultadas pelos lojistas, os horrios
permitidos por lei so: das 10h s 19h, sendo que neste caso o horrio de intervalo
das 14h s 15h; para quem trabalha o turno da noite, o horrio estipulado das
13h s 22h, sendo o intervalo entre as 18h e as 19h- Se bem que nem todos
cumpram este horrio, porque ainda existem muitas lojas onde o funcionrio
privado do seu momento de pausa. Alguns comem na loja e, caso surjam clientes,
param a refeio, e o mais provvel comer a comida fria ou ser obrigado a dar
por terminada a refeio. Muitas das lojas viram-se obrigadas a alterar os horrios
para o exigido por lei, em resultado de fiscalizaes da Autoridade para as
Condies do Trabalho. Os horrios praticados impendem o indivduo de fazer as
refeies a horas certas, o que origina o conflito de sistemas de tempo.Segundo Einstein, referido por Edward Hall, o tempo aquilo que o
relgio nos indica, e esse relgio pode ser qualquer coisa, desde um cronmetro,
um calendrio, um programa de produo e at mesmo um estmago pelo meio-
dia. Isto significa que o nosso organismo tem mecanismos internos que nos
permitem medir o tempo, e pedir que necessidades como comer, dormir e acasalar
sejam satisfeitas (Hall, 1996).
Os relgios foram uma inveno da Europa no sculo XIV. Mas, s as
famlias com maior poder financeiro os possuam. A sua difuso em mercados emaior acesso maioria dos cidados ocorreu s no sculo XVI.
Na Idade Mdia, o tempo era medido em unidades religiosas: atravs dos
sinos das igrejas marcavam-se os tempos de comer, de trabalhar e at de rezar. No
entanto, com a inveno do relgio mecnico, foi possvel saber as horas com
preciso, quer se estivesse perto de uma igreja ou no e assim o tempo deixa de
depender do espao (Sennett, 2000). atravs do relgio que temos uma maior
noo de que o tempo passa, foge ou se arrasta. Por vezes, os relgios no esto
em sincronia, isto , o relgio interno com o externo. Isto significa, segundoEdward Hall (1996), que quando estamos ocupados e satisfeito o tempo passa
depressa ou no nos apercebemos de ele passar. Em contrapartida, quando
estamos aborrecidos, contamos os minutos e esses mesmos minutos parecem uma
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eternidade. Este autor refere tambm que o facto desse aborrecimento do tempo
parece que no passa poder conduzir a estados depressivos.
Nesta investigao os tipos de tempo que so mais importantes so o
tempo a que chamamos de tempo de trabalho e o tempo de no-trabalho, e a
interaco deles resultantes.
2.2.O tempo de trabalho e o tempo de no -trabalho
Segundo uma perspectiva histrico-dialctica, o trabalho fonte de toda a
riqueza, no s material, mas tambm um dos motivos de realizao de um
indivduo, integrando a sua identidade pessoal. (Oliveira, 2004)
Com a emergncia das sociedades industriais a estandardizao do tempo,
a sua mensurabilidade em horas minutos e segundos e o consequente
assalariamento de muitos trabalhadores, separam o tempo de trabalho do tempo de
no-trabalho (Cruz, 2003: 77).
Nas sociedades modernas, o tempo traduz-se em intervalos de almoo,
feriados, fins-de-semana e frias, licenas (Oliveira, 2004). Mas, para atingir estes
direitos, no passado grandes lutas se travaram entre o assalariado e o capitalista.
Ao ser institucionalizado o tempo de trabalho tambm institucionalizado
o tempo de no-trabalho. Este no mais do que o tempo no qual o trabalhador
estaria disponvel para outras actividades que no o trabalho. deste modo que se
traduzem as organizaes sociais da era moderna, na qual o trabalho a principal
referncia de tempo usada pelo individuo na ordenao da sua vida, isto , tudo
gira em volta do trabalho e dos intervalos de tempo entre o exerccio do mesmo
(Oliveira, 2004). No seguimento desta linha de pensamento, E.P. Thompson,
referido por Cruz, postula que as sociedades industriais apresentam um tempo
estruturado pelas relaes sociais, fundado numa economia de tempo e naimportante separao do tempo de trabalho dos demais tempos sociais. Assim, o
tempo de uns no ser o mesmo que o de outros (Cruz, 2003).
Ao falarmos de tempo de trabalho e de no-trabalho, podemos associar
facilmente a palavra rotina. Sennett diz-nos que a sociedade moderna est
revoltada contra a rotina, o tempo burocrtico que pode paralisar o trabalho ou o
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governo ou outras instituies. (Sennett, 2000:51). Nas sociedades modernas, os
indivduos queixam-se da rotina, de ter de se levantar todos os dias mesma hora,
fazer diariamente o mesmo trabalho, ir buscar filhos escola, fazer o jantar, fazer
os preparativos para o dia seguinte. nossa convico conceptual que o tempo
dos indivduos trabalhadores est sujeito a este modo de vida, o que pode suscitar
uma necessidade de quebrar essa mesma rotina, compreensvel pois vivemos
numa poca onde o fenmeno do lazer cada vez mais seduz os consumidores
(Oliveira, 2004). Podemos referir que Marx defendeu na sua obra o Capital
(1973) e tambm referido por Borges (2004), que o trabalho encarado como
causador de sofrimento e desprazer pois baseia-se na explorao do tempo de
trabalho do trabalhador. Marx refere que o tempo que o operrio trabalha, o
tempo durante o qual o capitalista consome a fora de trabalho que comprou. Se oassalariado consumir para si prprio o tempo que tem disponvel estar a roubar o
capitalista. (Marx, 1973). Alis, o homem, nesta perspectiva Marxista, apenas
fora de trabalho e, por isso, todo o seu tempo disponvel , por direito, tempo de
trabalho que pertence ao capital e capitalizao (Marx, 1973). mediante o
tempo dedicado ao trabalho que se organizam as restantes esferas da vida, pois
atravs do trabalho que se garante a subsistncia. O trabalho deixa, assim de valer
por si mesmo e passa a valer pelo salrio que permite auferir (Cruz, 2003). Marx
refere que para os capitalistas o tempo dedicados instruo, ao desenvolvimentointelectual, realizao de funes sociais, familiares e de amizade, uma mera
patetice, ou seja, no importante. O importante trabalhar o mais possvel e
aumentar a produo para satisfazer o desejo do capitalista ao qual chega a
comparar com um vampiro sanguinrio que s se anima quanto mais sangue
chupar esta uma ideia bastante forte que pretende demonstrar a superioridade
do trabalho. Mas este tempo explorado considerado por Marx como roubado
pois poderia ser aproveitado a desfrutar da luz do sol e a respirar ar livre. At o
tempo das refeies contabilizado ao minuto e, por vezes incorporado noprocesso de produo e at o tempo de sono reduzido ao mnimo (Marx, 1973).
Com o surgimento do capitalismo industrial, tal como j aludimos, no
era to evidente que a rotina fosse um mal. Contudo, no sculo XVIII, comea a
compreender-se que o trabalho rotineiro, para alm de ter um aspecto positivo e
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para o lazer. Tal como Marx e Smith referem, o Homem vale como instrumento
de trabalho (Marx, 1973). Por isso, o principal objectivo produzir o mximo
possvel, sendo neste caso concreto o essencial o volume de vendas. Enquanto nas
linhas de produo do passado a criatura estpida e ignorante de Smith se
tornava ignorante por realizar horas e horas seguidas a mesma tarefa, sem
acrescentar nada de novo sua histria pessoal e tornando-se assim depressiva e
consequentemente diminuindo a sua produtividade (Sennett, 2000), podemos
assumir que os trabalhadores do Shopping experimentavam estes sentimentos,
embora por motivos diferentes: tm bastantes horas mortas, passam muitas horas
sozinhos e a rotina elevada. Esta actividade, s em raros casos permite uma
ascenso profissional, no acrescentando nada de novo histria pessoal. Tal
como se afirmou antes, no passado sculo XVIII, com a Revoluo Industrial, ohorrio de trabalho era mais alargado. Era comum a existncia de cargas horrias
de 12,14 e 16 horas por dia e vrias lutas se travaram em busca da diminuio do
horrio de trabalho. No entanto, podemos assumir que existem vrias
semelhanas, pois de facto tambm no Shopping existe uma inequvoca
dependncia do tempo de vida face ao tempo de trabalho.
2.3.Tempo ocupado, tempo livre e tempo de lazer
No perodo ps-anos 70 constatou-se uma alterao de valores, sobretudo
no que diz respeito crescente valorizao dos tempos familiares e dos tempos
individuais, ou seja, acredita-se que o tempo de trabalho perde a sua centralidade,
face a um aumento do valor do tempo livre e do tempo de lazer (Arajo, 2007).
Arajo, na sua obra Introduo Sociologia dos Estilos de Vida, refere alguns
autores como Rojek, Dumazedier e Rifkin os quais postulam que os indivduos
estariam cada vez mais dispostos a trocar tempo de trabalho por mais tempo livre
(Arajo, 2007:34). Ora, claro est que isso no ser assim to linear, pois as
condies econmicas so algo importante nesta escolha de tempo livre e tempo
de trabalho.Com efeito, aqueles que detm maior poder financeiro tm a
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capacidade de guardar para si mais tempo de lazer e mais tempo livre do que
aqueles mais carenciados economicamente (Arajo, 2007).
O tempo pode ser dividido em tempo ocupado e em tempo livre, sendo
que, este ltimo pode ainda ser subdividido em tempo de lazer. O tempo de lazer
pode ser considerado em relao ao tempo livre como dono de uma maior
autonomia. no tempo livre que inclumos sobretudo as nossas rotinas
fisiolgicas, os cuidados com a casa e a famlia e o trabalho desenvolvido para si
mesmo ou para os que o rodeiam. J o tempo de lazer relacionado com tudo
aquilo que feito para romper com a rotina (Arajo, 2007). Segundo Dumazedier,
referido por Arajo (Arajo, 2007:36), h trs definies de lazer: a primeira diz-
nos ser possvel existir lazer em todas as actividades. Refere os exemplos de
estudar, trabalhar e ouvir msica ao mesmo tempo. No Shopping, podemos dar oexemplo dos funcionrios que enquanto trabalham, navegam na Internet ou tm
conversas pessoais com as colegas de trabalho e at mesmo lem livros e revistas.
A segunda definio mostra o lazer no sentido oposto do trabalho profissional.
Neste caso, o lazer diz respeito a todas as actividades que no estejam
relacionadas com o trabalho. Para este mesmo autor, o lazer dotado de trs
funes: o repouso, o divertimento e o desenvolvimento da personalidade. Alis,
Num primeiro tempo, o repouso liberta-nos da fadiga que acumulamos durante
um dia (Arajo, 2007:36).
2.4.Conciliao da vida profissional com a vida
pessoal/familiar
Tal como percebemos, o trabalho e famlia constituem-se como
componentes da vida. Saber como conciliar estas duas esferas torna-sefundamental numa sociedade onde todos se esforam para ser realmente bons, e
para ser verdadeiramente bom necessrio que todos os papis sociais
desempenhados no quotidiano sejam executados no seu devido tempo. Com
efeito, isso algo que exige estratgias de conciliao para gerir o tempo da
melhor forma. Apesar do nmero de horas semanais na Europa ter vindo a
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diminuir, para muitos, o equilbrio entre trabalho e vida familiar constitui um
grande dilema. O aumento da esperana de vida, que origina um aumento de
idosos dependentes necessitados de cuidados, a diminuio da taxa de natalidade e
consequentemente uma diminuio do agregado familiar so factores que fazem
com que as redes de solidariedade primrias se tornem menores dificultando a
entreajuda (Guerreiro te Al., 2006). O surgimento de novas formas familiares,
como o divrcio ou os nascimentos fora do casamento, so outras das
consequncias da modernidade e que dificultam tambm a conciliao entre a
esfera familiar e profissional (Guerreiro te al, 2006).
O trabalho est no centro da satisfao das necessidades essenciais e ocupa
mais de metade do tempo de cada indivduo, podendo ser uma fonte de realizao
pessoal e de alegria ou, pelo contrrio, de tenso e stress (Oliveira, 2006). ARevoluo Industrial criou um novo conceito de trabalho, alterando a sua natureza
e organizao. O crescimento tecnolgico conduziu a um aumento excessivo do
ritmo de trabalho provocado pela presso do tempo, que advm da elevada
competitividade no mercado de trabalho, resultado no s das inovaes
tecnolgicas, mas tambm de alteraes nos padres de vida da populao em
geral. Com efeito, esta evoluo conduziu ao aparecimento de novos servios
como Shoppings, portagens, linhas de atendimento 24 horas, estaes de servio e
empresas que, com o objectivo de aumentar a produo, trabalham 24 horas.Surgem assim, no s novas profisses, mas tambm novos formatos de horrios,
os quais podemos considerar atpicos. Neste sentido, devido ao aumento
substancial da oferta de emprego com esta atipicidade de horrios, surgem novas
exigncias no que toca articulao do tempo para as suas necessidades
familiares, pessoais e profissionais. Pressupomos que os indivduos que trabalham
por turnos ou em horrios alternados sentem mais dificuldades em conciliar a vida
profissional com os compromissos familiares. Por conseguinte, uma vez que a
conceptualizao de tempo primordial na nossa investigao, torna-seimportante abordar o tema dos horrios de trabalho regulares e irregulares,
nocturnos e diurnos, pois atravs do horrio de trabalho que se organiza todo o
quotidiano. O aspecto que nos interessa realar ao formular esta assuno diz
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respeito s consequncias produzidas na vida familiar, isto , forma como os
indivduos organizam a vida domstica e as relaes conjugais e parentais.
2.5.Questes de gnero e o papel social da mulher
Todos os indivduos dentro de uma sociedade so actores sociais e
desempenham um papel, ao qual chamamos papel social. Os papis
desempenhados dentro da famlia so denominados de papis familiares, sendo
estes definidos atravs das seguintes caractersticas: sexo, idade e grau de
parentesco (Amaro, 2006). De entre os papis familiares, tm-se destacado os
papis conjugais relacionados com a diviso sexual do trabalho, tendo os homens
e as mulheres tarefas diferentes dentro do seio da famlia. As principais diferenas
nos papis femininos e masculinos esto directamente ligadas com aspectos de
natureza cultural, pois ambos tm a capacidade de realizar todas as tarefas
(Amaro, 2006). Porm, os homens esto tendencialmente mais ligados ao espao
pblico. Geralmente no desempenham tarefas no espao domstico de cariz
rotineiro, nem de carcter dirio. J s mulheres, cabem tarefas mais rotineiras,
como cuidar da casa. Estas actividades, em virtude do seu carcter dirio, ocupam
muito tempo. Alm disso, devido necessidade de aumentar os seus rendimentos
e sua realizao pessoal, muitas mulheres trabalham fora de casa, resultando
assim numa grande sobrecarga. (Silva, 2001)
Ao observarmos os resultados obtidos pelo Inqurito ocupao do tempo do
I NE sobre a diviso das tarefas domsticas, constatamos que a mulher que se
encarrega da maioria do trabalho domstico.
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As mulheres esto mais condicionadas na organizao e gesto do tempo,
comparativamente com os homens, uma vez que tm a maior parte das tarefas que um
agregado familiar necessita. Devemos perceber que, nas sociedades ocidentais, a
mulher estereotipada como me, esposa e dona de casa. A sua identidade sempre
vista como a cuidadora. Neste seguimento, podemos referir que Freud e Parsons,
defendiam que mulher compete cuidar da famlia, realizar as tarefas domsticas e
manter o clima afectivo integrador dos seus membros. Ao homem, por seu turno,
compete sair do lar para ganhar o sustento, e assim estabelecer a ligao da famlia
com a sociedade exterior, sociedade que ele representa no seio da famlia atravs do
exerccio da autoridade racional (oposta ao papel afectivo da me) (Silva, 2001).
Durante vrias dcadas, devido a toda uma corrente histrica subordinada
a determinismos conservadores, a sociedade portuguesa incutiu certos princpios,valores, prticas e representaes nos seus indivduos, que se registaram como uns
dos principais entraves ao desenvolvimento e progresso do pas. Contudo,
possvel traar um ponto de viragem nesta matria, recorrendo ao que
considerado o maior e mais importante marco histrico da sociedade portuguesa
o 25 de Abril de 1974 ao qual se seguiu, em 1976, a aprovao da Constituio
da Repblica Portuguesa, em que a igualdade entre homem e mulher foi
oficialmente estabelecida no seio do casal, anulando-se o, at ento, modelo
vigente (em que o homem se apresentava como o chefe de famlia, responsvel pelo sustento dos membros do ncleo familiar, e a mulher, tal como os filhos,
subordinada autoridade masculina, qual cabia as responsabilidade da esfera
domstica). Neste modelo, quer o homem, quer a mulher, eram agora pensados
como indivduos que, no respeito pela sua liberdade, se queriam igualmente
activos, autnomos, contribuintes e interessados em ter e cuidar dos seus
descendentes.
Em Portugal, o fenmeno da entrada das mulheres na esfera profissional
aconteceu num perodo mais tardio, quando comparado ao de outros pasesindustrializados. Todavia, as vrias transformaes ocorridas no aconteceram de
forma linear: se em pases de crescente modernidade, as elevadas taxas de
actividade feminina acompanham um progressivo equilbrio dos estatutos e papis
atribudos mulher e ao homem no seio do grupo familiar, por outro lado, na
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sociedade portuguesa, apesar de alguns avanos, verifica-se ainda
comportamentos bastante tradicionais. (Guerreiro, 2006: 6). No mesmo mbito, a
proporo de casais com filhos que trabalham a tempo inteiro, o prolongamento
da escolaridade nas geraes mais novas, com forte evoluo nos nveis atingidos
pelas mulheres, a imergncia de novas formas familiares decorrentes de divrcios
ou de nascimentos fora da conjugalidade, bem como a, ainda reduzida,
participao efectiva dos homens na esfera familiar, reflectem a dificuldade que as
actuais famlias tm em gerir o tempo entre a vida familiar e profissional. Na tese
de doutoramento de Biehl, a autora faz referncia a uma investigao realizada no
sector dos servios Projecto Qualidade de Vida numa Europa em Mudana
cujos resultados indicam que para uma mdia europeia de trabalho semanal
efectivo de 41h para o sexo masculino e de 34h para o feminino, em Portugal seregistam, respectivamente, perto de 45h nos homens e de 44h nas mulheres.
Dados deste mesmo estudo revelam, tambm, que as mulheres ocupam o dobro do
tempo dos homens com a vida domstica (14h para 7h semanais ) e quase metade
dos homens declaram sentir que fazem menos trabalho domstico do que deviam,
enquanto apenas umas em cada 10 mulheres expressam idnticos sentimentos.
De acordo com a autora, estas formas de viver o quotidiano profissional tm
implicaes no modo como se organiza a esfera domstica e na desigual situao
profissional e familiar de mulheres e homens.Relativamente ao papel do homem nos cuidados afectivos da famlia,
constata-se que se encontra, ainda, bastante estereotipado devido a um preconceito
incutido na socializao, dominados por diferenciaes de gnero. Para alm
disso, as entidades empregadoras acabam por demonstrar algumas dificuldades no
que diz respeito ao reconhecimento da importncia do papel do pai na prestao
de cuidados aos filhos. Toda esta conjuntura resulta, por um lado, do facto de as
mulheres ainda desempenharem uma espcie de jornada de trabalho e, por
outro, no dos homens estarem afastados da participao nas tarefas familiares,resultado de um receio de estigmatizao social. Tal situao, leva a que homens e
mulheres se vejam obrigados a tomarem opes entre a famlia e a carreira
profissional, tendo, por vezes, de abdicar de direitos que lhes so legalmente
definidos, para evitarem alguma excluso e descriminao no emprego ou em
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outros contextos sociais. Segundo um estudo, realizado sobre a temtica da
paternidade, publicado na Revista de Sade Pblica (2009), ()os homens/pais
entrevistados apresentaram posies sociais reveladoras de algumas
transformaes ocorridas no mbito das responsabilidades masculinas. Contudo
mantm-se a hegemonia do modelo patriarcal. O homem continua a entender seu
papel de pai predominantemente como provedor material e moral da famlia,
contrapondo-se necessidade da diviso de responsabilidades emergentes das
mulheres e ao princpio de que a educao dos filhos deve ser permeada pela
proximidade fsica e afectiva de pai e me. Sendo assim, entre os papis sociais
de gnero, que acompanham mulheres e homens em todas as fases do seu ciclo
vital, persistem os do modelo tradicional orientando o trabalho masculino para a
produo e o feminino para a reproduo biolgica. ()Deste modo, as necessidades de conciliao entre trabalho e famlia
tendem a reflectir-se com maior dificuldade de progresso profissional por parte
das mulheres, j que o modelo ideal-tpico do profissional competente,
prevalecente na maioria das culturas organizacionais, continua a ser o do
indivduo do sexo masculino, sem responsabilidades familiares que faam perigar
a sua disponibilidade (quase total) para o exerccio de uma profisso. Os homens
tm dificuldades em ver reconhecidos os seus direitos nas responsabilidades
familiares, tanto a nvel legislativo como a nvel profissional, e mesmo no seio doncleo familiar, onde a importncia dos seus contributos ou da ausncia deles
ainda minimizada. Neste sentido, uma das assunes decorrentes de que as
mulheres tm mais dificuldades em gerir o tempo entre a vida familiar e
profissional, resultado das tarefas que lhes so impostas, profissional e
familiarmente.
2.6. A relao entre as habilitaes literrias e aherana cultural e as influencias nos percursos profissionais
Um dos socilogos que se interessou pelas questes da educao foi Pierre
Bourdieu, que criou uma teoria para explicar as desigualdades escolares. Nos anos
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60, teve o mrito de revolucionar, no apenas a Sociologia da Educao, mas
tambm o pensamento e prtica educacional em todo o mundo (Nogueira, 2002).
At aos anos 50, considerava-se que a escolarizao teria um papel primordial no
que diz respeito melhoria das condies de vida, mais precisamente no aspecto
da evoluo econmica. Considerava-se que, sendo a escola de acesso gratuito a
todos, esses problemas seriam resolvidos ou minimizados, pois todos os cidados
teriam as mesmas oportunidades de ascenso social. Esperava-se que os
indivduos fossem tratados de igual forma dentro do estabelecimento de ensino e
fossem distinguidos pela sua inteligncia e esforo. Seriam estes dons que
permitiriam ao indivduo construir a sua escalada escolar e profissional,
(Nogueira, 2002). Consequentemente, isto definiria a sua posio na hierarquia
social. A escola seria uma instituio imparcial, com a funo de disseminarconhecimentos, seleccionando os alunos com base em critrios racionais
(Nogueira, 2002).
No final dos anos 50, alguns estudos mostraram que o sucesso ou
insucesso escolar tinha alguma relao com a classe social. No entanto, estas
concluses foram consideradas como lacunas do sistema de educao transitrio.
Porm, abalou a confiana dos cidados, na perspectiva da escola como
instituio igualitria (Nogueira, 2002). Com o passar do tempo, tornou-se crucial
admitir que, inerentes ao desempenho escolar, factores como classe, etnia, sexo,local de moradia, entre outros ligados ao contexto socioeconmico, contribuiriam
para o sucesso ou insucesso no percurso acadmico (Nogueira, 2002).
Uma afirmao constante a de que a verdadeira base para uma boa
educao comea em casa, ou seja, junto dos agentes de socializao primria que
so os pais e tambm os avs. nesta fase que so transmitidos valores, que
determinam os comportamentos sociais, a linguagem, gostos, aquilo a que
podemos chamar um habitus familiar.
Para Bourdieu, o indivduo no um ser isolado, nem dotado deautonomia para agir individualmente. Os indivduos so caracterizados pela sua
bagagem cultural, em que a escola ter um papel imperativo no sentido de definir
o seu curriculum (Nogueira, 2002). Essa preparao cultural inclui categorias
como o capital econmico, pois o factor econmico propicia mais facilidades a
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bens e servios. Outra das categorias igualmente importantes o capital social,
que se refere aos relacionamentos influentes na sociedade, e por ltimo, o capital
cultural conquistado basicamente por ttulos escolares (Nogueira, 2002).
Segundo indicadores do Observatrio das Desigualdades do Centro de
Investigao e Estudos de Sociologia, o abandono escolar precoce apresenta
nveis bastante elevados comparativamente ao resto da Unio Europeia. nas
classes mais desfavorecidas que essa situao acontece com mais frequncia,
embora nos ltimos anos o nmero de casos tem vindo a diminuir.
Neste trabalho de investigao pertinente considerar as habilitaes
literrias dos intervenientes, pois um dos factores que define largamente o seu
percurso profissional. Os trabalhadores de centros comerciais tm, em grande
maioria, origens sociais humildes, em que os pais tm nveis de escolaridade baixos. Segundo a teoria de Bourdieu, o facto de os pais possurem baixas
habilitaes e serem carenciados economicamente influencia bastante o insucesso
escolar e, consequentemente, o abandono escolar precoce (Nogueira, 2002). Este
tema ser abordado mais detalhadamente mais adiante, na anlise dos resultados,
no ponto sobre os percursos profissionais e expectativas futuras.
2.7.M
odelo de anlise
Aps uma explicitao da problemtica referente ao que propomos
analisar, construmos um modelo de anlise, em que atravs do cruzamento de
algumas variveis importantes, construmos algumas hipteses.
Podemos considerar que existem duas ideias fundamentais que atravessam
esta investigao: em primeiro lugar, a conciliao da esfera familiar com a esfera
profissional e, em segundo lugar, a relao existente entre a profisso exercida,
conformismo no trabalho, habilitaes literrias e origens sociais. Ou seja, podemos assumir como hiptese principal que as mulheres trabalhadoras de
centros comerciais casadas tm uma maior dificuldade em conciliar a vida
profissional com a pessoal do que as solteiras. Como segunda hiptese, considera-
se que o conformismo existente com a profisso exercida depende das
habilitaes literrias e origens sociais.
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3.Metodologia
A organizao do tempo dos trabalhadores de centros
comerciais um tema no muito abordado no mbito da Sociologia, de
forma que a base terica para este tema era praticamente inexistente.
organizao
do tempo
existe
cia
efil s
esta civil sex
existe
cia
e
c
lab
ra
p
rparte
e
familiares
c
f
rmism
c m a
pr
fiss
pr fiss
spais
abilita
es
literrias
i
a
e
perc
rs
pr
fissi
al
abilita es
literrias
spais
-
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Optamos por uma abordagem qualitativa, em virtude do universo em
estudo ser algo que no pode ser quantificado e que necessita encontrar
respostas especficas, que esto centradas no quotidiano e no processo
social. Na pesquisa qualitativa, o mais importante encontrar o
significado dos fenmenos e no propriamente a frequncia com que
ocorrem, como acontece na metodologia quantitativa, embora no
negligenciando de todo a frequncia. Outro dos aspectos que teve por
base a escolha deste tipo de metodologia est relacionado com a
flexibilidade na recolha de dados que esta nos permite. Com efeito, o
mtodo utilizado o indutivo, no sentido em que ser atravs da
anlise de contedo dos testemunhos encontrados e tambm na
observao participante, que se formularo as principais concluses eteorias a respeito do que nos propomos a investigar. Neste captulo
sero apresentados os procedimentos para a realizao deste trabalho,
descrio do espao da investigao, caracterizao da amostra,
tcnicas utilizadas, bem como alguns dos obstculos que surgiram.
3.1.Descrio do espao de anlise
O centro comercial eleito para esta investigao encontra-se localizado na
cidade de Guimares. O concelho de Guimares pertencente ao distrito de Braga,
tem de 162592 habitantes, segundo dados do site do Instituto Nacional de
Estatstica do ano 2009.
Podemos ento descrever o supracitado espao como sendo um centro
comercial pequeno, comparativamente com outros j existentes, sendo constitudo
por 113 lojas, 1800 lugares de estacionamento e aproximadamente 1300
trabalhadores. Um dos maiores trunfos para o seu sucesso deve-se sua boa
localizao, no centro da cidade, junto central de camionagem e em frente ao
Hospital. Isto para alm da Repartio de Finanas, bem como inmeros bancos
circundantes e outras infra-estruturas de relevo. Por todas estas razes, um
Shopping que, diariamente, tem uma grande afluncia de clientes. Mesmo com a
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responsabilidades conjugais, tendo tambm em linha de conta a existncia ou no
de filhos, j que um factor bastante importante. O objectivo inicial seria o
entrevistar 5 homens, ao invs dos 2 aos quais foram efectivamente feitas
entrevistas. Pretendia-se que desses 5 pelo menos 2 fossem casados, com filhos e
os restantes solteiros. No entanto, em virtude seu reduzido nmero a trabalhar
neste local, tive dificuldade em encontrar, indivduos com estas caractersticas.
Esta situao considerada uma das desvantagens da amostragem por quotas, e
denominada como afunilamento, ou seja a dificuldade em preencher determinada
quota.
Aps entrevistar os homens, no se verificaram grandes diferenas no seu
discurso, apesar de um ser solteiro e o outro casado. As opinies convergiam, as
rotinas tinham algumas semelhanas, de forma que as duas entrevistas realizadasforam de encontro aos objectivos deste trabalho, que neste caso seria percepcionar
as diferenas de gnero, existentes na organizao do tempo dos trabalhadores
deste tipo de rea comercial.
3.3. Caracterizao dos entrevistados
Caracterizao socioeconmica, estado civil, estrutura etria e filhos
Para este trabalho foram realizadas no total 21 entrevistas, das quais 19 a
mulheres e 2 a homens. Tinha-se previsto inicialmente entrevistar 20 mulheres e 5
homens, no entanto, aps as 19 entrevistas, os dados atingiram a saturao. Neste
local, os trabalhadores so essencialmente do sexo feminino. Por essa razo, os
entrevistados so maioritariamente mulheres, uma vez que se procura uma
aproximao realidade na representatividade da amostra dos trabalhadores deste
centro comercial. Baseado em diversos estudos, bem como inquritos realizados
pelo Instituto Nacional de Estatstica, assume-se que as mulheres tm uma maior
carga de trabalho devido ao facto de acumularem com a sua profisso as tarefas
domsticas. Como o tema central a organizao do tempo, considera-se pertinente
a focalizao no gnero feminino. Uma vez que a questo das diferenas de gnero
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pertinente neste trabalho, apenas foram entrevistados 2 homens, no sentido de
contrastar as vises respectivamente profisso que executam.
Podemos caracterizar a amostra como sendo por convenincia, no sentido
em que o investigador ao mesmo tempo um informador privilegiado, visto que
trabalha neste local h 8 anos, tendo a oportunidade de, todas as semanas, observar
lojas e trabalhadores diferentes.
Caracterizao geral dos entrevistados por sexo e idade
Fonte: entrevistas realizadas
Estrutura etria dos entrevistados
Idade Nmero
De indivduos
20-25 Anos 2
25-30 Anos 9
30-35 Anos 6
40-45 Anos 3
Mais de 50 anos a 1
Fonte: entrevistas realizadas
Total deentrevistas
Sexofeminino
SexoMasculino
MdiaDas
idades
IdadeMnima
IdadeMxima
21 19 2 32 Anos 21
Anos
54
Anos
-
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Caracterizao do estado civil dos entrevistados
Estado
Civil
Numero
De indivduos
Casados 5
Solteiros 9
Unio de facto 5
Divorciados 2
Fonte: entrevistas realizadas
Existncia de filhos
Fonte: entrevistas realizadas
3.4.Breve descrio dos entrevistados
Filhos Nmero de
indivduos
Sim 8
No 13
Nome Idade
EstadoCivil
NFilh
os
Habilitaes
Literrias
Tipo deloja
ProfissoDa me
Profissodo
Pai
Habilitaes
Pai
Habilitaes
Da
Me
Catarina 32 Solteira 0 12ano Sapataria Operria
Fabril
reformada
Picheleir
o
4 Classe 4 Classe
Paula 31 Divorcia
da
1 9 Ano Sapataria Comerciant
e
Comercia
nte
4 Classe 4 Classe
Slvia 33 Solteira 0 9 ano Sapataria Operria
txtil
reformada
Auxiliar
numa
escola
4 classe 4 classes
Ftima 41 Casada 2 9 Ano Puericultur
a
Domstica/
ama
Mecnico 4 Classe 4 Classe
Odete 51 Unio 1 12ano Loja Domstica Camareir 4 Classe 4 Classe
-
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de facto Doces o
Deolind
a
45 Divorcia
da
2 6 Ano Pronto-a-
vestir
Operria
txtil
reformada
Bancrio
reformad
o
6 Ano 4 Classe
Sandra 34 casada 2 12 ano ptica Domstica Agente
da Gnr
4 Classe 4 Classe
Vanessa 21 Solteira 0 12ano Loja de
unhas de
gel
Costureira Emprega
do de
armazm
4 Classe 4 Classe
Idalina 25 Solteira 0 12 Ano Loja
acessrios
Operria
txtil
Operria
txtil
4 Classe 4 Classe
Maria 41 Casada 1 9 Ano Pronto-a-
vestir
Domstica Comercia
nte
4 Classe 4 Classe
Susana 30 Solteira 0 Finalista
de
licenciatur
a
caf Limpezas
reformada
Trolha 4classe 4classe
Lusa 27 Solteira 0 11 ano culos de
sol
Operria
txtil
Operrio
txtil
4 Classe 4 Classe
Nome Idad
e
Estado
Civil
N
Filh
os
Habilita
es
Literrias
Tipo de
loja
Profisso
Da me
Profisso
do
Pai
Habilita
es
Pai
Habilita
es
Da
Me
Rosa 33 Unio
de facto
0 Licenciad
a
Interiores Domstica Empresr
io
6ano 4 Classe
Elsa 29 Solteira 0 11ano Cosmtica Costureira
desemprega
da
Artes
grficas
6ano 6 Ano
Marta 27 Unio
de facto
0 12ano Malas Empresria Empresr
io
4 Classe 4 Classe
Leonor 24 Solteira 0 Licenciad
a
Pronto-a-
vestir
Hotelaria Operrio
txtil
4 Classe 12ano
Alexand
ra
30 Unio
de facto
0 12ano Pronto-a-
vestir
Operria
txtil
Serralheir
o
9ano 4 Classe
Cludia 33 Casada 1 12ano Pronto-a-
vestir
Auxiliar
educao
reformada
Comercia
nte
4 Classe 4 Classe
Olvia 28 Unio
de facto
1 9ano Malas Dona de
um caf
Vendedor 4 Classe 4 Classe
Pedro 26 Solteiro 0 9ano Relgios Costureira
desempregada
Talhante 4 Classe 9 Ano
Joaquim 27 Casado 0 12ano Pronto-a-
vestir
Auxiliar de
aco
educativa
Porteiro 9ano 9ano
-
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Aps esta descrio, esto apresentados os nossos entrevistados. As
habilitaes literrias dos prprios e dos pais, tal como as profisses dos pais,
funcionam como indicadores de classe social.
3.5.Caracterizao da situao profissional dos
indivduos
Antiguidade no emprego dos entrevistados
Fonte: entrevistas realizadas
3.6. A estruturao da entrevista
Na fase exploratria foi necessria uma exaustiva pesquisa
bibliogrfica, que incidiu especialmente em artigos no mbito das
condies do trabalho, sobre noo de tempo e espao, estudos
relacionados com o stress, conciliao da profisso com a vida familiar
e artigos sobre centros comerciais. Atravs desta reviso de literatura,
conclumos tambm que, uma vez que este projecto engloba mltiplos
Antiguidade no
emprego
N
1 a 2 anos 4
2 a 5 anos 5
5 a 8 anos 5
8 a 10 anos 3
10 a 15 anos 2
15 a 20 anos 1
Mais de 20 anos 1
Total 21
-
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conceitos mediante os quais novas dimenses podero surgir, a
entrevista a tcnica mais adequada, sendo que o tipo de entrevista
utilizado a semi-estruturada, no sentido em que previamente foi
estruturado um guio. As questes podero ser adaptadas a cada caso
concreto, j algo estruturado, mas no rgido. O guio de entrevista
foi elaborado com base nas leituras exploratrias e nas assunes que
foram surgindo ao longo do projecto.
O guio da entrevista foi estruturado por categorias, ou seja, foi
dividido mediante as dimenses que nos propomos a analisar. A
primeira parte um questionrio de identificao, onde se pretende
conhecer os dados bsicos e indicadores do contexto socioeconmico:
estado civil, n de filhos, habilitaes literrias, profisso e habilitaoliterria dos pais, antiguidade no emprego, funes exercidas na loja,
tempo dispendido em deslocaes casa/trabalho, tipo de habitao. A
segunda parte consiste numa caracterizao sobre ambies
profissionais iniciais. A terceira parte onde se pretende que se faa
uma descrio da actividade profissional, em relao aos horrios e
tipo de contrato. De seguida abordado o tema dos percursos
profissionais. Outro dos temas abordados, e bastante relevante no
mbito de trabalho, a descrio das rotinas destes trabalhadores.Seguidamente, outro tema abordado no guio diz respeito ao nvel de
satisfao do entrevistado com o trabalho. Mais adiante ainda feita a
abordagem do tema da conciliao do trabalho com a famlia. Outro
aspecto levado em considerao o das implicaes do trabalho na
sade, sendo a fase final direccionada para as expectativas
profissionais.
Uma vez que o tema a conciliao entre a vida familiar e
profissional, foram elaboradas questes abertas, que possibilitem aoentrevistado uma maior liberdade de resposta, evitando assim possveis
constrangimentos. O papel como entrevistadora incidir na conduo
do entrevistado para o tema fulcral, com o objectivo de compreender
melhor a gesto do tempo que por eles feita.
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A tcnica da entrevista proporciona a possibilidade de
encontrar novas dimenses no estudo. Por isso, para alm de uma srie
de questes-chave abertas, esta entrevista ser uma conversa que fluir
naturalmente. Estas entrevistas foram gravadas e posteriormente
transcritas para uma anlise de contedo.
Todas as entrevistas foram posteriormente sujeitas a uma
anlise de contedo, tendo como principal propsito encontrar pontos
concordantes e discordantes entre os vrios testemunhos, para numa
fase posterior, ser possvel efectuar comparaes e relaes mediante o
contexto do seu discurso. Esta anlise consistiu na identificao,
segundo elementos do discurso, de categorias temticas possivelmente
explicativas do fenmeno que nos propomos analisar. de salientarque tambm podem ser utilizadas como tcnicas para este caso as
histrias de vida, que nos permitiam ainda um melhor conhecimento da
vida dos indivduos em estudo.
3.7.Obstculos encontrados
Todas as investigaes tm os seus obstculos, mas o
importante reconhec-los, para numa fase posterior, em que se deseje
aprofundar a investigao, seja possvel contornar melhor essas
mesmas dificuldades.
Inicialmente, uma das dificuldades foi ter acesso ao nmero de
funcionrios existente naquele Shopping, visto que no existe nenhuma
base de dados actualizada, ou seja, no havia acesso a uma listagem
com caractersticas bsicas, facto que dificultou que a amostra fosse
seleccionada com a devida preciso. O afunilamento devido escolha
da amostragem por quotas constituiu outra das desvantagens, visto que
nem sempre conseguimos preencher determinada quota, como o caso
dos homens, j referido no ponto anterior.
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Durante as entrevistas, os obstculos encontrados estiveram
relacionados com o tempo que os indivduos so obrigados a
despender para a entrevista, pois todas foram realizadas no local de
trabalho, o que limita o tempo. Como as entrevistas abordavam temas
que implicam entrar na esfera ntima do indivduo, nem sempre as
pessoas se encontram vontade para aprofundar certos assuntos.
Apesar do grande esforo do investigador em manter-se neutro e tentar
abstrair-se, torna-se difcil porque, ao mesmo tempo que conduz esta
investigao, funcionrio no mesmo Shopping h muitos anos e,
como tal, encontra-se familiarizado com ele. O facto de se encontrar
inserido no meio pode ser uma vantagem, no sentido de ter grande
conhecimento acerca do tema estudado, mas por outro lado, leva a que possa ser influenciado e certos aspectos importantes possam ser
descurados.
4.Anlise de dados
Neste captulo sero apresentados os resultados das entrevistas, aps
recorrer ao SPSS, para tratar os dados quantitativos, procedemos tambm a uma
anlise de contedo. Estes resultados foram divididos em trs dimenses:
conciliao profisso/vida familiar, nvel de satisfao no trabalho, percursos e
expectativas e finalmente as tipologias de trabalhadores encontrados.
4.1.Conciliao da vida profissional com a vida familiar
Todos os indivduos em sociedade tm um papel social e um papelfamiliar. Na comunidade onde o indivduo se insere desempenha vrios papis,
como por exemplo trabalhador, pai, marido, amigo, filho, irmo, entre outros.
Para cada papel exigido tempo para que seja desempenhado. O que por vezes
acontece a coliso destes mesmos papis, originando um conflito (Amaro,
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2006). Nesta parte do trabalho pretende-se compreender como os trabalhadores do
Shopping conciliam os horrios atpicos com as exigncias da esfera familiar e
pessoal. evidente que estes indivduos tm dificuldades em conciliar as duas
esferas trabalho/famlia devido aos horrios pouco convencionais. Registamos
diferenas na organizao do tempo entre casados e indivduos com filhos e
solteiros, que vivem com os pais, As mulheres mostram uma maior dificuldade e
encontram-se mais sobrecarregadas do que os homens.
Independentemente daqueles que tm melhores ou piores condies a
nvel de horrios, o importante nesta investigao perceber os efeitos da
atipicidade dos horrios. Este Shopping, tal como outros existentes no resto do
pas, pratica um horrio alargado, estando aberto ao publico desde as 9 da manh
e encerrando s 23 horas, e aos fins-de-semana s 24 horas. O horrio das lojas das 10 horas s 22 horas, durante os dias teis e s 23 horas ao fim-de-semana.
Este horrio obriga os indivduos a praticar turnos rotativos e fora do usual do
resto do universo laboral, pelo que tem horrios em que trabalha aos fins-de-
semana, feriados e noites. Assim, o seu tempo disponvel para as actividades
extra-laborais tem de ser adaptado aos seus horrios. Alis, uma das queixas mais
comuns neste trabalho mesmo o facto de os horrios condicionarem alguns
elementos da vida privada.
A forma como percepcionam e aceitam estes horrios varia segundoalguns factores, como por exemplo a existncia de filhos, o estado civil, a idade, a
antiguidade na loja e mesmo a prpria personalidade do indivduo.
Os horrios de trabalho so um dos factores que afectam a sade mental do
trabalhador. Segundo Amaro (2006), situaes como perodos longos de trabalho,
a iseno de horrio fixo, situaes em que o trabalhador est sempre contactvel
por telemvel ou correio electrnico, so propcias ao stress. Amaro acrescenta
ainda que o trabalho por turnos pode causar alteraes no metabolismo e afectar a
eficincia mental e criar relacionamentos problemticos com a famlia (Amaro,2006). Outro aspecto referido neste artigo a sobrecarga de trabalho. Segundo o
autor, a sobrecarga de trabalho tem origem por vezes na m gesto que o
indivduo faz do tempo. A sensao de que o tempo voa no se sendo capaz de
realizar todas as tarefas que nos esto distribudas uma importante fonte de
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stress no trabalho, acontecendo o mesmo com as nossas tarefas familiares.
(Amaro,2006:65).
A gesto do tempo e a organizao espacial uma tarefa rdua.
Comecemos por destacar a coordenao a nvel de itinerrios: trabalho-casa, casa-
trabalho, trabalho-escola dos filhos, isto, para alm do tempo que um individuo
tem de despender para a organizao do seu prprio trabalho (Cruz, 2003).
Os horrios so maioritariamente rotativos, ou seja, o trabalho ocorre das
10 s 19h com hora de pausa entre as 14h e as 15h e, na semana seguinte das 13h
s 22h com hora de pausa das 18h s 19h. Outras lojas praticam horrios mais
repartidos, ou seja, das 10h s 16h, sem hora de intervalo, ou das 16h s 22h, sem
hora de intervalo. Quase todos trabalham 40 horas semanais e com duas folgas,
porm nem sempre isso acontece. Observamos alguns casos em que nem sempre aintegridade e os direitos dos trabalhadores so respeitados. Como o caso de
Deolinda, responsvel de uma loja de pronto-a-vestir: divorciada, tem 45 anos e
trabalha naquela empresa h 23 anos, primeiro numa loja do grupo no comrcio
tradicional e h 15 anos no Shopping. Deolinda trabalha 40 horas semanais e s
tem uma folga por semana e a hora de pausa para almoar ou jantar inexistente,
considerando que, devido a redues de pessoal na loja se encontra sozinha, desde
as 10h at s 15h30, hora que chega a colega que faz o turno seguinte. Neste
regime, actos biologicamente necessrias a um ser humano, como ir casa debanho ou comer tornam-se muito complicadas. Geralmente tem de contar com a
colaborao das colegas da loja ao lado, para vigiarem, caso entre algum cliente
na loja enquanto vai casa de banho. Assim se comprova que, mais uma vez, a
integridade do trabalhador no respeitada. Deolinda explica-nos quais os
horrios que faz e como funcionam as horas de pausa:
() rotativo, das 10 s 16h30 ou das 15h30 s 22h. Excepto ao
sbado que das 10 s 17h30 ou das 15h30 s 23h. () Um dia por semana, rotativo, nunca calha um fim-de-semana. Sbado nunca temos, s calha ao
domingo () dependendo da vaga que tenho a hora que eu como. ()
Como hoje tava a esbichar a minha asinha de frango, tive de parar, lavar as
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mozinhas para atender o cliente, depois que fui aquecer outra vez o que
tava a comer, para continuar a almoar ()
(entrevista de Deolinda responsvel de loja de pronto a vestir,
entrevista n 6)
Felizmente nem todos os casos so assim to graves. Com excepo
dos estes exemplos referidos anteriormente, as situaes mais usuais so
casos como o de Slvia, solteira, de 33 anos, funcionria de uma sapataria h
6 anos. Quando questionada sobre os horrios praticados na loja onde
trabalha responde que:
() os horrios so rotativos, quando venho de manh das 10 s 7 equando venho de tarde da 1 s 10. Com duas folgas semanais ()
(entrevista de Slvia funcionria de sapataria, entrevista n 3)
Ao observarmos o contedo do discurso perceptvel que as rotinas e as
estratgias de gesto do tempo de quem solteiro e quem tem obrigaes
conjugais e familiares so muito distintas. Assim sendo, para exemplificar
escolhemos dois testemunhos para descrever esse contraste. Pediu-se aos
entrevistados que descrevessem um dia normal seu, com o objectivo de conheceras suas rotinas. Podemos dar o exemplo de Ftima, funcionria da loja de
puericultura, que casada tem dois filhos, um deles com 9 anos e outro com 17
anos. Esta mulher encontra-se sobre grande sobrecarga, resultantes das tarefas que
so exigidas mediante o seu papel de me e de trabalhadora. Ela refere que se no
fosse a sua me, que apelida de fadinha do lar, nunca poderia ter este emprego.
Ftima relata ento como para ela um dia normal:
() Levanto-me s 7.30 da manh para mandar os midos para aescola, vou lev-los escola. Quando venho trabalhar de manh entro na
loja s 10 da manh, saio s 4, vou buscar o mais novo escola, pego nele e
vou leva-lo ao andebol quando dia de andebol, acaba o treino vou busca-
lo, dou-lhe banho, fao o jantar, arrumo a cozinha, passo a ferro, e tipo meia
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noite deito-me. E depois no dia a seguir a rotina sempre a mesma. (): Eu.
Sempre eu. Eu no divido nada com o meu marido porque ele no nada
jeitoso, muito bom rapaz, mas no muito jeitoso. Qualquer coisa que lhe
pea diz no sei fazer, e portanto neste contexto eu fao.() O que gosto
menos neste trabalho dos horrios, porque aborrecido para mim e para
todas as mes, fazer horrios depois da 10 noite! aborrecido,
complicado, mas pronto o que tenho. No posso reclamar muito ()
(entrevista de Ftima funcionria de loja de puericultura, entrevista
n4)
Elsa de 29 anos, solteira a viver em casa dos pais, tem a sua vida
bastante mais calma, mesmo a nvel das tarefas domsticas. Confessa que a
sua me que faz tudo, tendo assim mais tempo para uma vida social. Quandose pediu Elsa para descrever um dia normal esta foi a sua resposta:
() Depende do meu horrio na loja. Levanto-me, venho directa para
o Shopping. Tomo o pequeno-almoo, venho trabalhar saio daqui s 18h ou
s 19h dependendo da hora que eu entrei, e vou para casa e janto e depois
vou tomar um caf. Se entrar 13h levanto-me mais tarde e depois saio s 22
e tomo mais um caf e venho (): tudo a minha me, eu no fao nada.,
Arrumo o meu quarto e j muito. No que seja muito para mim, porque aminha me est em casa e ocupa-se dessas coisas, e eu no tenho que me
preocupar. ()
(Entrevista de Elsa, funcionria de loja de cosmticos, entrevista n14)
Mesmo tendo uma vida mais relaxada a nvel de tarefas domsticas, os
indivduos solteiros queixam-se de falta de tempo. Por exemplo, continuando
no caso da Elsa e tambm a Catarina da sapataria, estas referem que existem
actividades que so condicionadas pelos horrios que fazem no Smoking,como por exemplo apostar na sua formao. H formaes modulares que
apenas so leccionadas noite e que, por isso, no podem frequentar. Quando
se perguntou Elsa o que teve de mudar na sua vida por trabalhar no
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Shopping, no sentido de actividades que se encontra impedida de fazer devido
aos horrios, respondeu o seguinte:
() Por exemplo acabar os estudos, ter horrios certos para ir ao
ginsio aquele horrio certinho todas as semanas, se quiser tirar cursos
porque noite uma pessoa estando a trabalhar impossvel ()
(Entrevista de Elsa, funcionria de loja de cosmticos, entrevista n14)
As solteiras sem filhos tm a percepo das dificuldades que as suas
colegas de trabalho, casadas, com filhos, atravessam na gesto do tempo.
Pois, se j consideram complicado gerir o seu tempo, tendo menos
responsabilidades, depreendem facilmente que para aqueles que tm filhosser bastante mais difcil. Confessam que algo que lhes faz bastante
confuso, como o caso da manicura Vanessa, de 21 anos, que se prepara
para casar este ano. Ela diz que no querer ser me e trabalhar no Shopping.
Quando questionada sobre a sua maior preocupao no dia-a-dia Vanessa
responde:
() O que me preocupa vou casar, e pensar como vou conseguir
gerir estes horrios e depois com os filhos, como vou conseguir gerir a minhavida. Agora j no vou ter a minha me em casa e as coisas tenho de faze-las
eu. () Sinceramente no acredito que consiga conciliar este trabalho no
Shopping quando tiver filhos (): eu questiono-me muitas vezes sobre isso,
como que possvel, e tem de se ter muitas ajudas. ()
(entrevista de Vanessa, manicura na loja de unhas de gel, entrevista
n8)
Mas nem todas tm essa posio. Lusa, solteira, diz por exemplo que
existe sempre forma de conciliar, mas claro, desde que exista o apoio ediviso das tarefas por parte do futuro marido. Lusa foi interrogada sobre
como pensava conciliar o papel de me e a sua profisso no Smoking, tendo
esta sido a sua resposta:
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(), e aquilo que penso que h uma me mas tambm h um pai,
quando h, mas partida se pensas em ter um filho porque ests bem a
nvel de relao, se houver alguns momentos que eu no possa o pai tem de
estar ali, vai-se tentar conciliar na vida de duas pessoas()
(entrevista de Lusa funcionria de loja de culos de sol, entrevista
n12)
Isto so apenas vises de quem nem sequer tem filhos, ou tem
compromissos conjugais. Aqueles que j constituram a sua famlia j referem
as dificuldades devido aos horrios, pouco tempo passado com a famlia e os
filhos, afastamento dos amigos e h tambm quem refira que existe um maior
afastamento do cnjuge, como o caso de Odete, funcionria da loja de
doces, que vive em unio de facto e que tem um filho j tem 30 anos. Amesma refere que acaba por haver um afastamento entre si e o seu parceiro,
porque ao fim-de-semana, quando ele se encontra de folga, ela est a
trabalhar, ou seja, raramente as folgas coincidem. A Odete foi questionada
sobre as mudanas a que foi obrigada a fazer na sua vida por trabalhar no
Shopping esta foi a resposta:
() Muitas vezes no podemos tar juntos aos fins-de-semana.
Durante a semana quando eu tenho folga est ele a trabalhar, em filhos no falo porque tenho um filho que j criado e no vive comigo. A nvel
conjugal s vezes difcil conciliar as folgas, h quem esteja pior at me
posso dar por contente, temos um fim-de-semana ou dois por ms j no
muito mau, mas que prejudica um bocadinho a vida conjugal prejudica, as
pessoas afastam-se muito mais do que se tivessem um horrio normal de
entrar s 9 ou 10 e sair s 7 da tarde com os fins de semana livres. ()
(entrevista de Odete, funcionria da loja de doces, entrevista n 5)
Cludia diz que se perde muito da infncia dos filhos trabalhando no
Shopping. Diz que todos os seus momentos livres procura aproveit-los na
companhia do marido e da filha de 5 anos. Neste momento, a sua
preocupao no prximo ano lectiva a filha ir para a escola primria e,
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devido aos horrios, receia no lhe prestar o devido acompanhamento. Outro
aspecto pelo qual culpa o seu trabalho pela diminuio das suas relaes
sociais com amigos e familiares. Devido aos horrios acabou por se afastar da
rede de amigos. Leonor, ao contrrio de Catarina, solteira e tambm refere
que se afastou mais dos amigos. Foi perguntado Catarina qual a sua maior
preocupao no dia-a-dia e o que teve de mudar na sua vida devido a este
trabalho, tendo-se registado a seguinte resposta:
() O futuro dela (filha), por exemplo ela agora vai para a escola
primria, como que vou acompanha-la? Ir busca-la, ver se to os deveres
feitos, e na semana que vier fazer noite nem isso vou conseguir acompanhar.
Aqui no Shopping com estes turnos rotativos perdemos muito a infncia dosnossos filhos. Perder os melhores anos deles, quando ds por ela a criana j
no tem piada, a partir dos 8 acaba por ser uma menina normal, j perdeu
aquela piada das brincadeiras () As amizades foram-se diluindo, falamos
mas no a mesma coisa que antigamente, tinha o domingo livre ou tinha as
noites livres dava para ir tomar caf, agora muito difcil ou tem que ser dito
com muita antecedncia para poder marcar, seno s vezes muito
complicado. ()
(entrevista de Catarina sub-gerente de loja de pronto a vestir,entrevista n18)
Acaba por ser primordial para estas mulheres existir na famlia um
elemento que as apoie com os filhos, ou um marido que divida as tarefas.
Segundo os resultados do inqurito ocupao do tempo, do Instituto
Nacional de Estatstica, so as mulheres que se encontram mais
sobrecarregadas, pois em grande maioria as tarefas domsticas esto a seu
cargo, podendo-se no ndice de quadros nos anexos constatar esses dados. Osrelatos das entrevistadas servem para, uma vez mais, confirmar essa ideia.
Conta-se muito pouco com o apoio do cnjuge, o qual s acontece em raros
casos. Normalmente so as mes ou sogras a funcionar como pilar da gesto
familiar. So estas que muitas das vezes tomam conta das crianas, as vo
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buscar escola, prepararam refeies para o marido e as crianas, entre outras
funes, que normalmente esto a cargo das mes, mas que este contexto
profissional especfico a impede de fazer, devido ao trabalho durante a noite e
fins de semanas. Ftima refere que tem a me que colabora bastante com ela.
Quando lhe foi perguntado quem fazia as refeies para os filhos, quando
tinha de trabalhar noite, respondeu que:
() A entra a minha fadinha do lar que a minha me, porque sem
ela, eu no podia ter este tipo de emprego, porque o meu marido trabalha
das 10 da manh s 10 da noite () Tinha de trabalhar numa outra rea
qualquer, no sei muito bem o qu, mas tinha de arranjar outra coisa
qualquer, porque no podia trabalhar aqui no Shopping, era impossvel, nopodia abandonar os meus filhos o dia inteiro, porque no posso contar com o
apoio do pai ()
(entrevista de Ftima funcionria de loja de puericultura, entrevista
n4)
4.1.1.Tempo de trabalho
Outro aspecto que se procurou compreender como estas
trabalhadoras encaram o tempo de trabalho no seu quotidiano. Considera-se
pertinente conhecer quais os momentos que custam mais a passar, se existe
diferena entre os dias da semana e as diferenas entre jornadas de trabalho.
Com base nos depoimentos dos entrevistados, apurou-se que os
momentos considerados mais entediantes so aqueles em se encontram
sozinhas na loja e no entram clientes. Torna-se montono e desmotivante
no ter o que fazer, em primeiro lugar porque a pessoa sente-se intil e em
segundo lugar porque gera uma certa tenso. O baixo volume de vendas pode
colocar o posto de trabalho em risco. Estes indivduos sofrem presses por
parte das suas entidades patronais em relao s vendas, pois isso que
permite a sobrevivncia do negcio. Maria, responsvel de uma loja de
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pronto-a-vestir, refere esta questo quando questionada sobre como se sente
no final de um dia de trabalho:
(): vou lhe dar o exemplo de dois dias de trabalho: um dia de
trabalho em que se vende muito eu saio daqui satisfeitssima, agora num dia
de trabalho em que eu estou aqui sentadinha espera que entre algum que
no entra! Saio daqui ESTOURADA! ()
(Maria responsvel de loja de roupa, entrevista n10)
Como Edward Hall refere, quando estamos ocupados e satisfeito, o
tempo passa depressa ou no nos apercebemos de ele passar. Em
contrapartida, quando estamos aborrecidos, contamos os minutos e essesmesmos minutos parecem uma eternidade. Este autor refere, tambm, que o
facto desse aborrecimento do tempo parece que no passa pode conduzir a
estados depressivos (Hall, 1996).
Outro aspecto com que nos confrontamos em relao s percepes do
tempo pelos entrevistados o facto de considerarem os dias da semana tod
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