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Post on 04-Jul-2020
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TEMA: HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO ENSINO
DE HISTÓRIA
Lucas José Penna Dupré Rabello – UNITOLEDO1
Angela Liberatti - UNITOLEDO2
RESUMO
O artigo tem como objetivo desvincular as histórias em quadrinhos do gênero literário,
repensando-as como uma forma de arte independente que possui características autônomas.
Sendo uma manifestação artística, as histórias em quadrinhos seriam então um hipergênero
que engloba subgêneros. Compreendido este ponto, o trabalho vem demonstrar como
educadores podem trabalhar as histórias em quadrinhos em sala de aula de maneira mais
relevante, transformando o quadrinho em uma ferramenta pedagógica que traz para a sala
de aula uma melhor compreensão do aluno jovem, através de linguagem pictórica e textual
e ao professor uma ferramenta que pode auxiliar nos debates em sala de aula despertando
os educandos a analisar outras fontes além dos livros didáticos.
Palavras-chave: ensino da história, história em quadrinhos, arte independente, sala de aula
ABSTRACT
The article’s objective is to detach graphic novels from a literaly genre, rethinking it as a
form of independent art with its own characteristics. As an artistic manifestation, graphic
novels would be an hyper genre with its sub genres. It being understood, the study
demonstrates how educators can use graphic novels in the classroom in a more relevant
manner, turning it into a pedagogical tool which provides a better understanding for young
students, through textual and pictorial languages. It’s a tool that can help the teacher in
classroom debates, awakening the students’ interest in analysing other sources besides
didactic books.
Keywords: history class, graphic novels, independent art, classroom
Introdução
As histórias em quadrinhos no século XXI atingem um público cada vez maior
tornando-se um meio de comunicação em massa. Por possuir diferentes estruturas de
produção e entendimento, e ainda carregar em si um valor histórico devemos diferenciar
sua leitura da tradicional literatura.
A intenção do trabalho é mostrar os elementos que são considerados
quadrinhisticos ou seja exclusivo dessa forma de arte, fazendo assim sua desmembração da
literatura, que muitas vezes atrelamos para criar um valor acadêmico mais aceito pelos
olhares conservadores dos educadores que ao mesmo tempo tentam trabalhar os gibis em
1 Licencianda em História pelo Centro Universitário Toledo, Araçatuba/SP. E-mail:
lucasjpenna@hotmail.com 2Historiadora, Doutora em Ciência Política, coordenadora do curso de História do Centro Universitário
Toledo de Araçatuba, professora de História do Brasil. E-mail: angelaliberatti@gmail.com
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sala de aula mas ainda tropeçam na ideia tradicional de aplica-los sem realizar uma
abordagem mais séria e atraente, tendo como uma leitura defasada , de nível muito fácil,
esquecendo o real valor que esta forma de arte carrega em suas páginas , sua leitura deve
ser profunda igualmente a uma obra de relevância para literatura pois em seu amago
exprime ideias de pessoas que possuem em seus desenhos e discursos ideais que servem de
reflexão e estudo para uma sociedade multicultural, os quadrinhos desempenham papel
importante para a transmissão de conteúdo .
Por isso alguns exemplos de histórias em quadrinhos serão elucidados no trabalho
servindo de exemplo a relevância que a obra pode ter em sala de aula e como pode ser
abordada , não para orientar o educador, nem servir de milagre do sistema educacional, mas
sim para abrir portas para reflexão do debate em sala de aula sobre os quadrinhos e como
deve ser repensado como abordamos em sala de aula, algo além das famosas tirinhas nas
provas , ou charges , trazendo uma ideia de leitura mais profunda e de conteúdos históricos
que podem ser compreendidos através de outras fontes .
1. Características da História em Quadrinhos
As histórias em quadrinhos são comumente relacionadas à literatura. Tal fato faz
com que o valor artístico do quadrinho seja desvalorizado, afastando-o do que de fato ele é:
uma linguagem especifica.
Para Vergueiro (2015, p 36) um dos pioneiros no estudo dos quadrinhos a
associação entre as ilustrações em quadrinhos e a literatura evidencia duas coisas, “a busca
de um rotulo social e academicamente prestigiando-o literário- e outra seria um
desconhecimento sobre a área”.
Apontar a História em Quadrinho como literatura só enfraquece esta forma de arte
denominada como arte sequencial e que, muitas vezes, não utiliza o texto escrito para
ganhar sentido ou significado.
1.1 Dicotomia entre História em Quadrinhos e Literatura
Seriam os quadrinhos, então, uma manifestação cultural singular, autônoma com
seus códigos específicos podendo assim se diferenciar de outras mídias narrativas? A
correlação entre tipos de linguagens de artes diferentes também ocorre como por exemplo
no teatro e no cinema e também na música, mas, mesmo assim, estas formas de
manifestações artística não perdem suas características autônomas pois ninguém espera
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encontrar um balão no meio de um diálogo de um romance ou de uma poesia, pois o uso do
balão é exclusivamente quadrinhistíco.
Para evidenciar o afastamento ente os quadrinhos e a literatura serão apontados
alguns recursos próprios e específica da linguagem dos História em Quadrinhos e como
suas estruturas são elaboradas.
Ao elaborar uma sintaxe dos quadrinhos, encontram-se alguns elementos que tem
uma função expressiva na narrativa quadrinhográfica e que, por sua utilização
constante, converteram-se, aos olhos dos quadrinhistas e leitores, em códigos
facilmente reconhecíveis e necessários para a integração dos signos gráficos (a
imagem e a linguagem escrita) características dos quadrinhos e para o
desenvolvimento das narrativas. Essa gama de elementos entendidos
universalmente, é formada por requadro, balão, recordatario, onomatopeia,
metáforas visuais e linhas cinéticas. (SANTOS; NETO, 2015, p..16)
Alguns destes elementos como o requadro e o balão, possuem funções que cabem
uma explicação mais adequada pois caracterizam os quadrinhos como uma forma de arte
autônoma e a compreensão de sua utilização nos mostram o porquê.
O requadro ou calha são as linhas que delimitam as histórias em quadrinhos,
muitos artistas extrapolam do seu uso para gerar outro sentido a página, o de
movimentação.
Figura 1- Movimentação através do requadro
Fonte: Gideon Falls (2018).
Conforme mostra as imagens a personagem se movimentam através de vários
requadros na horizontal, percebe a construção do movimento de pegar, abrir a torneira, sem
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precisar que o artista desenhe esta movimentação passo a passo, somente feita através de
requadros com foco nas ações.
Outro tipo de requadro que podemos encontrar é o ondulado que normalmente,
cria um sentido de sonho ou de situação ilusória como podemos observar em sonho da
personagem do quadrinho Black Hole:
Figura 2: Situação Ilusória
Figura: Black Hole (2017).
A ausência dessas linhas cria a impressão de amplitude ou espaço infinito.
Também há situações em que a personagem ultrapassa o requadro, tornando-se um
elemento cômico da própria história onde os personagens interagem diretamente com estas
linhas. Calvin amarra a bexiga fazendo uma armadilha com a linha do requadro. Outra
característica dos História em Quadrinhos a utilização de balões para elucidar o diálogo
entre personagens ou seus pensamentos e, assim como o requadro, os balões possuem
formas diferentes conforme a emoção da fala, Santos (2015, p.29) aponta alguns tipos:
● Balão cochicho- suas linhas interrompidas denotam que os
personagens falam em voz baixa, em segredo. ● Balão splash- com linhas pontiagudas, indicam que o personagem
está nervoso, bravo ou gritando. ● Balão pensamento- ondulado, com rabicho formando por
bolinhas voltadas para a cabeça do personagem, contém seu
pensamento. ● Balão tremido – representa o medo que o personagem sente; ● Balão em off – o rabicho e direcionado para um personagem que
não se encontra no interior do requado, que está fora de cena; ● Balão uníssono - possuí vários rabichos, mostrando que vários
actantes estão falando a mesma coisa simultaneamente;
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● Balão de fala intercalado – diz respeito ao dialogo travado entre
dois ou mais personagens, ou a pausas no discurso emitido por
alguém.
Figura 3 – exemplos de Balões
Fonte: Vários Gibis.
Esses elementos exclusivamente quadrinhisticos tornam mais efetivo o discurso de
que História em Quadrinhos não devem ser rotuladas como literatura. Mas sim como uma
forma de arte autônoma, arte sequencial, que tem suas derivações e características literárias,
mas não podem ser classificadas como literatura.
Para Vergueiro (2015, p.37) os diálogos entre as linguagens ocorrem. Também
acontecem com o cinema, teatro, a ilustração e nem por isso deixam de manter suas
características autônomas.
Outro elemento que possui a função de abrigar os textos na história em
quadrinhos, são os recordatórios, um pequeno retângulo postado nas beiradas superiores
dos quadrinhos. Ganhou esse nome no Brasil pois continham as sínteses de histórias
passadas fazendo com o que o leitor recorde-se. Com o tempo passou a ter nova função e os
recordatórios, hoje em dia são utilizado para indicar passagem de tempo, fornecer dados
sobre a narrativa e expor pensamentos de personagens. Santos (2015, p.30) discorre que “o
recordatório contém informações necessárias para que o leitor compreenda a história e
possa prosseguir com a leitura”. Recurso bastante utilizado nas História em Quadrinhos do
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Homem Aranha como na imagem a seguir aonde um de seus inimigos é apresentado como
estivesse tendo uma conversa com ele mesmo, realizando algumas reflexões.
Figura 4- Utilização do Recordatório
Fonte: Homem Aranha (2018)
Utilizando ainda o código verbal temos as onomatopeias que servem para gerar os
sons nos quadrinhos. Esse recurso também utilizado na literatura muitas vezes tem a
diversas funções, mas a diferença é a que nas histórias em quadrinhos a onomatopeia ganha
um tratamento visual muito especial para gerar mais impacto, podendo ser considerado até
um elemento pictórico que complementa a ação de algum personagem. Santos (2015, p.31)
aponta que “mais do que elemento verbal ou reprodução gráfica de sons, a onomatopeia
converte-se em um componente pictórica que complementa, ou em várias ocasiões,
desprende-se e se destaca dos desenhos”.
Figura 5- Onomatopeia
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Fonte: Mulher Maravilha (2017).
A percepção desses elementos que compõem a história em quadrinhos e suas
particularidades deixa mais nítida que a mesma é uma forma independente de arte e que
profissionais da educação quando utilizarem a história em quadrinhos em aula, como
recurso didático, devem dar o tratamento exato a não podendo simplesmente agrega-lo a
literatura.
Deve-se tomar cuidado com a conexão entre a literatura e a história em quadrinhos
pois, ao associarmos essas duas formas de manifestação artística perde-se o real valor
artístico que os quadrinhos possuem e, quando omitimos ou damos pouca importância para
o autor ou desenhista de uma História em Quadrinhos, ignora-se a relevância da obra.
Assim como na literatura, os quadrinhos possuem nomes importantes que muitas
vezes são desconhecidos pelo público em geral e pelos professores, porém a história em
quadrinho vem carregada de informações que podem ser de extrema utilidade para os
educandos, e o que se perde em discurso escrito se ganha em imagens além disso, os
quadrinhos, são uma manifestação cultural, um produto que tem origem na criatividade
e do talento de artistas.
Interpretar uma narrativa gráfica requer habilidades que podem ser aprendidas e
para tal é preciso conhecimento de que é uma arte com linguagem própria cuja proposta
é contar histórias e retratar as experiências humanas. As História em Quadrinhos são
excelentes fontes para o ensino da história nas escolas.
Compreendendo os elementos que compõem os quadrinhos cria-se então um
hipergênero em que os quadrinhos englobariam as mais diversas formas de
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manifestações que utilizam de algum tipo de seu elemento como exemplo das famosas
charges de jornais em que é exposto uma ideia através de um único quadro consegui
transmitir a mensagem em que um grupo identifica seu código e o interpreta criando um
sentido , outro exemplo são as tirinhas cômicas criadas por artistas como Jim
Davis(1978-1994),que foram publicadas em mais de 2000 jornais , e consagrou o gato
mais preguiçoso de todos o Garfield, todos esses subgêneros podem ser englobados aos
quadrinhos pois suas estruturas básicas possuem elementos quadrinhisticos.
Pensando agora em diferentes gêneros que são abrigados dentro dos quadrinhos, os
educadores podem iniciar o que alguns estudiosos apontam, Vergueiro e Ramos, como
uma alfabetização na área de modo a melhor compreende-la assim como se fala em
alfabetização digital é necessário estimular a leitura e pesquisa em quadrinhos para que
não torne-se uma ferramenta obsoleta , o professor deve compreender esta linguagem
para extrair o máximo que o quadrinho pode oferecer em sala de aula , afinal das contas
não pintamos uma casa usando um martelo ou um serrote e sim um pincel , assim as
histórias em quadrinhos devem ser minuciosamente escolhida e estudada pelo educando
para que possa extrair dessa ferramenta todo seu potencial , a postura deve ser igual
quando escolhe um livro ou um filme para ser trabalhado em sala de aula , a relevância
da obra, a época que foi realizada , o diretor os autores tudo deve ser considerado para
que o objeto de estudo seja realmente efetivo para atingir o objetivo sugerido.
2. História em Quadrinho na Educação
A utilização de história em quadrinhos no ensino não é nenhuma novidade porque
muitos docentes utilizam as tirinhas ou as charges para o conhecimento de algumas
questões. Para Santos e Neto (2015, p.21) “as histórias em quadrinhos, com sua força
verbal e pictórica, podem ser uma forma de expressão filosófica, pois apresentam condições
para provocar o espirito critico, a imaginação e o pensar próprio”. Como podemos perceber
há um enorme potencial pedagógico na utilização das HQs em aula.
História em quadrinhos são formas artísticas que trazem experiências humanas e
têm um papel importante para o desenvolvimento de ideias de forma criativa. Porém, o que
percebemos é que, na maior parte das vezes, as Histórias em Quadrinhos são utilizadas em
situações de avaliação e não como recurso pedagógico e estratégia para o desenvolvimento
de competências e habilidades. Evidentemente que trabalhar história em quadrinhos em sala
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de aula não é algo milagroso para a educação, mas pode ser encarado como mais um
artificio, que agrega valor às aulas e pode ser usada inclusive como facilitador na criação do
hábito da leitura. Bari discorre que:
As histórias em quadrinhos, além da facilidade da veiculação de conteúdos
complexos aos leitores novatos, amadurecem também a relação emocional entre
leitor e sua leitura[...]forma leitores que gostam de toda a natureza de obras, com
a vantagem de gerar uma cultura leitora infanto-juvenil (2015, p.50-1).
Os educadores podem estimular o hábito de leitura nas escolas por meio da
história em quadrinhos e, assim, despertar o interesse de alunos dos vários níveis de
escolaridade desde o ensino fundamental, criando laços emocionais com personagens que
podem, ou não, acompanha-los até o fim do seu ciclo acadêmico e pessoal. Há também um
significativo aumento de produções quadrinhistica que abordam situações reais, certa vezes
autobiográficas, relatam grandes acontecimentos pessoas que fizeram algo significativo em
algum contexto histórico.
Para a aula de história serve muito bem para explorar o ambiente na Segunda
Guerra Mundial como elucida Maria Tereza Nidelcoff sobre a didática no ensino de
história:
A interpretação de testemunho e uma atividade que não pode faltar numa didática
ativa de história, entendendo-se por testemunho tudo o que restou do passado do
Homem, tanto objetos, documentos escritos, bem como tudo aquilo que nos
chega gravado, pintado, desenhado, filmado, fotografado, etc. Quanto menores
forem os alunos mais conveniente será que os testemunhos utilizados sejam
visuais ou os próprios objetos, já que os texto oferecem às crianças dificuldades
que são para elas menos atrativos. (1995, p.47)
A obras como Maus escrito Art Spiegelman, primeiro quadrinho a ganhar o
prêmio Pullitzer, que retrata os horrores vividos pelo seus pais, de origem judia e polonesa,
para conseguir sobreviver em meio ao caos da guerra que assolou toda a Europa. Este autor
é filho da personagem principal, e pode-se dizer que é uma história biográfica ou um relato
de um sobrevivente da guerra.
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Figura 6
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Fonte: Maus (2017)
O uso dessa obra pode despertar no aluno uma criticidade sobre a guerra, a história
contada por outro ângulo permite fugir daquele conteúdo mais tradicional que busca visar
as causas, consequências e resultados destes fatos históricos. Vilela elucida:
Uma história em quadrinho pode mostrar o mesmo fato narrado do ponto de vista
de diferentes personagens o que pode contribuir para que os alunos compreendam
mais facilmente a existência de diferentes versões da História, assim como a
subjetividade presente nelas (2018, p.107).
Para criar um contra-ponto de visões pode-se utilizar obras que narram situações
parecidas, como a escrita por um judeu nascido nos Estados Unidos da América após seus
pais fugirem da Europa. A história se passa durante a Primeira Grande Guerra e narra a
experiência da família ao viver em um país estrangeiro durante um período de intensa crise.
Will Eisner escritor de Ao Coração da Tempestade, relembra a fuga dos pais a América os
problemas e preconceito vividos por ele e sua família em solo americano até sua chegada,
como americano, à base militar recrutado para combater na segunda guerra mundial.
Figura 7
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Fonte: Ao Coração da Tempestade (2017)
Tanto Eisner como Spiegelman contam em seus quadrinhos singularidades vividas
pelas suas famílias. A observação das imagens e a leitura do texto permitem o
entendimento do posicionamento das personagens e dos fatos que mudaram a estrutura
mundial. Muitos detalhes percebidos por meio das Histórias em Quadrinhos não seriam
possíveis por meio apenas dos livros didáticos. Vilela propõe:
Podem servir como rico ponto de partida para discutir temas, conceitos e aspectos
importantes, sempre atuais: o eixo dominação-resistência, o direito de autonomia
dos povos, o conceito de entnocentrismo, o julgamento de outras culturas pelos
valores e ótica da cultura do observador os ideais de convivência pacifica entre os
povos, o respeito à diversidade cultural, o respeito à diferença (2018, p. 112).
Para trabalhar história em quadrinhos em sala de aula, como um documento
histórico, é necessário reunir informações sobre diferentes aspectos das obras. Como por
exemplo o fato de Will Eisner ser judeu e lutar contra as ideias do antissemitismo e
nazismo ou Art Spiegelman, sueco erradicado nos Estados Unidos cujo o pai é sobrevivente
do holocausto e em sua obra os judeus ganham forma de ratos e os nazistas são os gatos.
Sentimentos e particularidades que os autores das histórias em quadrinhos conseguem
transmitir e com isso ganhar a simpatia dos pequenos leitores por meio da empatia que se
desenvolve entre os personagens e suas histórias e os alunos que vivenciam outras
realidades: conhecer e pesquisar sobre quem escreve para que o autor se torne um
personagem mais próximo do leitor.
Outra característica que deve ser compreendida é quando e em que lugar a obra foi
produzida, há diferenças de linguagens, de estilos e até no veículo de publicação se
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comparadas as histórias em quadrinhos americanas, europeias, japonesas. Os elementos
pictóricos, verbais e até o modo de leitura, no caso do Mangá são diferentes. Vilela (2018,
p.114) indica “que inconscientemente toda história em quadrinho reflete valores e visão de
mundo e ideologia, como qualquer manifestação artística/cultural”.
Outro fator que também merece a atenção é o da finalidade da obra que, por fazer
parte do mercado do entretenimento, possuem um fim comercial, porém esta finalidade não
impede a obra de possuir um valor intelectual. Um exemplo disso indicado por Vilela é o
fato de que as tiras da Mafalda estão carregadas de mensagens importantes para o mundo
contemporâneo, pois a “criação do cartunista argentino que apesar da ingenuidade da
personagem fazia serias críticas a ditadura militar. (2017, p.115).
Considerações Finais
Por meio da apresentação de elementos quadrinhistico, requadro, balão,
recordatório onomatopeia, dentre outros, é possível visualizar as histórias em quadrinhos
como um movimento artístico que possui suas figuras próprias de construção e que a
abordagem com os quadrinhos deve ser de hipergenero poeque o mesmo engloba
subgêneros. O quadrinho possui suas especificidades e é uma arte que mistura elementos
pictóricos com narrativos para contar uma história na qual pode ocorrer, em um ou mais
quadrinhos, e ter personagens fixos ou não. A História em Quadrinho deve ser
compreendida como algo singular, um tipo de manifestação cultural, que por si só, tem
valor cultural sem a necessidade de agregar outras modalidades de arte, tais quais a
literatura ou as artes plásticas. A quadrinhofobia, ou o desprezo por essa forma de
manifestação artística e fonte histórica, ainda existe nos meios acadêmicos que ainda aliam
os quadrinhos à literatura ou os desconsidera no que eles têm de específico.
Com os exemplos citados na pesquisa é possível compreender como educadores
podem utilizar a leitura dos quadrinhos em sala de aula. Sua utilização pode, e deve
extrapolar o habitual uso apenas em provas para configurar um objeto e uma fonte para
estimular o ensino-aprendizagem de História, pode ser trabalhado como uma leitura
complementar e, no ensino de história, serve de objeto investigativo. Uma porta de entrada
para um debate de questões que despertam a criticidade do aluno para compreender a
História não só por meio de grandes fatos, números e personagens, mas também como meio
de buscar a história concreta dos esquecidos, daquele que não fazem parte das famosas
apostilas e que nos fazem questionar os objetivos do ensino da História. A história em
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quadrinho trata esta questão com muita igualdade por ser uma forma de arte acessível e de
fácil entendimento e por ser construído através de imagens.
Os quadrinhos são assim uma manifestação cultural e artística onde há um
pensamento a ser propagado assim como nos filmes, livros, teatros e música o quadrinho
possui relevância. Educadores podem trabalhar histórias em quadrinhos em sala de aula
inovando em questão de fonte e possibilitando a pesquisa aprofundada sobre o conteúdo a
ser abordado, trazendo novas ideias e provocando debates em sala de aula. Auxilia o
professor de história a elucidar outros pontos de vista sobre fatos e é uma ferramenta que
pode auxiliar a criticidade e desenvolvimento reflexivo do educando, pois por possuir
caráter pictórico tende a ser melhor absorvido e compreendido pelo discente.
Referências
NIDELCOFF, María Tereza. As ciências sociais na escola. São Paulo. Brasiliense. 6 Ed.
2004.
SANTOS NETO, Elydio dos; SILVA, Marta Regina Paulo (Orgs.). História em quadrinhos
e práticas educativas: os gibis estão na escola, e agora? São Paulo: Criativo Editora, 2015.
RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro (orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos
na sala de aula. 4 ed. São Paulo: Contexto, São Paulo, 2018.
VERGUEIRO, Waldomiro; RAMOS, Paulo (orgs). Quadrinhos na educação- da rejeição à
prática. São Paulo: Contexto Editora, 2018.
VERGUEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto Elisio (orgs.). A linguagem dos
quadrinhos: estudos de estética, linguística e semiótica. São Paulo: Criativo Editora, São
Paulo, 2015.
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