telemóveis portugueses terão 5g próximo · entrevista luÍs correia vice-presidente do instituto...
Post on 17-Jul-2020
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ENTREVISTA LUÍS CORREIA Vice-presidente do Instituto Superior Técnico
"Telemóveisportugueses terão rede5G no próximo ano"
Luís Correia, especialista em telecomunicações do Instituto Superior Técnico, diz que o futuroestá a chegar. A rede de telemóveis está quase a dar o salto para uma nova dimensão.
JOÃO PALMA FERREIRAE JOSÉ VARELA RODRIGUESjferreira@jomaleconomico.pt
A tecnologia 5G é irreversível.Veio para ficar e terá os primeiroslançamentos comerciais já no pró-ximo ano. Em 2022, será a vez de
chegar a grande vaga da "virtuali-zação", que atualmente ainda não é
utilizada de forma verdadeiramen-te massificada. Quem o diz é Luís
Correia, vice-presidente do Insti-tuto Superior Técnico (IST), res-
ponsável pela gestão do campus do
Taguspark. Professor de engenha-ria de sistemas e computadores, es-
pecialista em comunicações mó-veis e telecomunicações, é um dos
portugueses que melhor conhece o
mundo dos telemóveis e a evoluçãodas suas redes. Em entrevista ao
Jornal Económico explicou o pró-ximo passo que todo o mercadonacional dará em direção ao SG.
"Logo a seguir, será uma questão dedécada e meia, virá o 6G", diz.
Fará sentido falarmos daevolução do 4G para o SG, emvez de Portugal consolidar o4G e tornar os sistemas dearmazenamento mais estáveise os aparelhos mais baratos?
Tipicamente cada geração de evo-lução das telecomunicações temuma visão muito técnica e que temmuito a ver com as tecnologias queos operadores vão poder colocar
nas suas redes - e tipicamente essas
tecnologias têm um impacto eco-nómico óbvio. O 5G vai trazermuito rapidamente um grande im-pacto nas redes que ajuda a resol-
ver um pouco o problema dos in-vestimentos económicos. Um dos
impactos será causado pelas tecno-logias como a cloud [a nuvem], queé basicamente estar tudo colocado
nos servidores localizados algures e
aquilo que acontece é que o 5G vai
permitir mudar a arquitetura das
redes, ou seja, mudar o local onde
os dados são colocados e onde as
nossas chamadas são geridas.A nuvem terá impactonos preços?Do ponto de vista das redes, vai
permitir baixar imenso os preços.Porque baseia-se tudo em compu-tadores e os computadores estão
ao preço da chuva. Isso não vai terum impacto muito direto nos utili-zadores, que não se vão aperceberdisso, mas tem um impacto muitodireto e grande nos operadores.
Como assim?
Porque vai fazer com que eles pos-sam expandir as redes a custosmais baixos e, inclusive, poupardinheiro nalgumas arquiteturas e
implementações da rede que têmatualmente. Um outro aspeto quetambém é muito importante - e
esse os utilizadores vão poder ver
de uma maneira indireta -, é aquiloa que se chama a virtualização das
redes. A virtualização das redes é
basicamente nós podermos usar a
mesma infraestrutura física paracolocar vários operadores nessainfraestrutura. Dizendo de outramaneira, são serviços completa-mente diferentes na mesma in-fraestrutura física.E assim, em que pé fica o SG?
O 5G está a abrir dois novos cami-nhos que no final têm um impactonos utilizadores, mas também teráum impacto indirecto que nãoserá sentido pelo utilizador co-mum. Um deles é trazer a Internetdas Coisas [loT, sigla inglesa], o
que está a ser feito com um au-mento de capacidade do númerode dispositivos que se pode ligar à
rede. Daqui a uns anos, podemosimaginar que os botões do meucasaco têm um sensor de comuni-cação e que o meu cinto tem outrosensor de comunicação, que vailer o meu batimento cardíaco e
outros aspetos de saúde - e esta
tecnologia também se utilizará noentretenimento. A loT permitegerar a integração destes disposi-tivos todos e, por isso, será precisoaumentar bastante a capacidadedas redes.
O mercado tem maturidadesuficiente para o SG?
Quando as operadoras começarama comprar 4G, um amigo que tra-balhava numa operadora dizia-me
que esse era um cenário a que eles
chamavam de lose-lose situation(em que todos perdem) em vez de
ser uma win-win situation (emque todos ganham).
Porquê?Porque ainda não tinham pago a
rede 3G e já estavam a gastar di-nheiro na rede 4G, sem ter retorno
algum da rede.
Mas também há esse riscocom o SG?
É uma questão económica e finan-ceira. A questão aqui é que a indús-tria de telecomunicações, com es-tes ciclos de dez anos de evoluçãodas gerações, tornou-se quasenuma indústria de capital intensi-vo. Já não se trata de investir e dei-xar o rendimento evoluir, porquea tecnologia evolui tão rapidamen-te que não permite aos operadoresdescansarem muito sobre os in-
vestimentos que fazem. Mas do
ponto de vista tecnológico, a tec-nologia está madura. Do ponto devista do utilizador também estámadura - é uma questão de entrarem produção, uma vez que já há
protótipos. A parte das redes, de
facto, ainda não está madura. Em2020 espera-se que ocorram lança-mentos comerciais dessa tecnolo-
gia SG. Do lado das tecnologias do
operador, da virtualização e da nu-vem, provavelmente levará mais
tempos, talvez para 2022.
Num mercado da dimensão do
nosso, dois anos significa o quêem matéria de investimento?Não sei dizer. Mas as operadoras in-vestem centenas de milhões de eu-ros nesta matéria. Talvez ninguémsaiba, ainda, exatamente quanto é
que será necessário investir.
Há o risco de com o 5G
passarmos a ter uma coberturade antenas por todo o lado,prejudicial talvez até para asaúde?Essa é uma noção errada. Os riscos
para a saúde, das radiações e das on-das magnéticas vêm de as potenciaisserem elevadas. Mas os operadoresnão têm interesse em usar poten-ciais elevadas. Ao contrário do quese pensa, os operadores têm interes-se em usar potências o mais baixo
possíveis, para que a exposição a in-terferências seja menor. E os opera-dores não têm interesse em radiarem potências mais elevadas para nãointerferir com as bandas de frequên-cias de outros operadores. Quandose colocam mais antenas para cobrirestas frequências mais altas e áreas
próximas, tem de se baixar as potên-cias de emissão, porque quando se
quer cobrir uma área mais pequena,tem de se radiar menos. E se radiarmuito há interferência com as ante-nas mais próximas.
E a estratégia que Portugalseguiu para estabelecer o SG,com acordos preferenciaisde desenvolvimento comos chineses, nomeadamentecom a Huawei? É acertada?Neste momento há três fabricantesa nível mundial que fornecem tec-
nologia de telecomunicações deforma alargada [para as redes emgeral] em Portugal. São eles a Hua-wei, a Nokia e a Ericsson. Nós fi-zemos um acordo com o Estadochinês. Para a Huawei é um acordo
que não obriga os operadores. Ou
seja, o Estado português não temvoto na matéria de poder obrigaros operadores de telecomunica-ções a escolher este ou aquele fa-bricante.Mas uma coisa é Portugalrecorrer aos especialistasportugueses, por exemplo, aquido Instituto Superior Técnico,outra- coisa é ir ter coma Huawei que pode trazerengenheiros asiáticos
para Portugal...Portugal é um país pequeno, o quesignifica que as empresas, sobretu-
do, as tecnológicas, podem vir paracá apenas com um escritório de
apoio a clientes. Na área da tecnolo-
gia, a Nokia é a que está melhor es-tabelecida. A Huawei e a Ericsson,tanto quanto sei, têm um departa-mento de vendas e apoio ao cliente,sem outra atividade. Caso algumatenha intenção de se estabelecer e
abrir um centro de desenvolvimen-to tecnológico, isso seria muitobom para o país, como é óbvio.
Qual é o estado da arte das
telecomunicações e da
qualidade das nossas redes,comparativamente com o restoda União Europeia.Qual é a sua perceção?
Portugal já esteve, claramente, nafrente das telecomunicações. Nóstemos uma rede de fibra ótica a
nível nacional que é uma maravi-
lha. Uma percentagem significa-tiva da população, em áreas urba-nas e não só, têm fibra ótica atécasa - uma coisa que muitos paí-ses desenvolvidas na EuropaCentral e do Norte não têm. Istodeve-se também ao facto da PTMultimedia se ter separado daPT. A PT Multimedia, que era a
TV Cabo, foi concorrente da PT,que tinha deixado ter a TV Cabo,e, por isso, houve uma concor-rência muito forte da PT na altu-ra em que teve de fornecer servi-
ços que concorressem com a PTMultimedia, que hoje em dia é a
NOS. Isso fez que houvesse gran-des investimentos por parte da
PT, originalmente, para poderfornecer os serviços de televisão
por cabo e Internet. •
De dez em dez anostudo muda nas
telecomunicações.Para acompanharestas evoluções, os
operadores têm deinvestir centenas demilhões de euros.
Agora é a vez do SG,
mas daqui a poucoanos será a vez do 6G
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