o contributo dos telemóveis para a mudança de comportamentos

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Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria Curso de Tradução C. Lopes, F. Francisco, S. Branco, T. Miranda O contributo dos telemóveis para a mudança de comportamentos Leiria 21 de Junho de 2007

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Escola Superior de Tecnologia e Gestão de LeiriaCurso de Tradução

C. Lopes, F. Francisco, S. Branco, T. Miranda

O contributo dos telemóveis para a mudança de comportamentos

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O contributo dos telemóveis para a mudança de comportamentos

Trabalho final de Curso apresentado na disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, orientada pela Professora Doutora Carminda Silvestre, no Curso de Tradução.

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INDÍCE

Introdução....................................................................................................................................................3Resultados dos inquéritos............................................................................................................................4Análise comportamental e social dos resultados dos inquéritos................................................................12

1. O indivíduo e o telemóvel..............................................................................................................122. O telemóvel e as relações sociais...................................................................................................133. A interacção do indivíduo com o telemóvel..................................................................................15

Conclusão..................................................................................................................................................16Webliografia..............................................................................................................................................18Bibliografia................................................................................................................................................18Anexos.......................................................................................................................................................19

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Introdução

Este trabalho tem como finalidade a análise de vários factores, considerados, por nós, determinantes, no que diz respeito à percepção do contributo dos telemóveis para a mudança de comportamentos.

Para isto foi utilizada uma abordagem quantitativa materializada através da realização de inquéritos, sendo que nestes são levados em conta factores como o género, a idade, o estado civil e as habilitações literárias.

Numa sociedade em constante actualização, e em que as relações interpessoais são cada vez mais ou, pelo menos, tendencialmente pautadas pela posse de determinados bens materiais, achámos relevante efectuar um trabalho desta natureza, visto reunir, em si, componentes humanas em relação com componentes tecnológicas, designadamente os telemóveis.

Como tal, pretendemos analisar a transfiguração das relações sociais tendo em conta a utilização destes dispositivos, uma vez que para além de estabelecerem uma ligação entre indivíduos propiciam também uma série de novas formas de interacção.

Ainda à parte destes factos, encontra-se o de que o telemóvel reúne todo um conjunto de funcionalidades que vieram redefinir de forma algo evidente o nosso quotidiano.

Desde o mais recente GPS e dos jogos de maior definição até às suas funcionalidades mais básicas como o relógio e o despertador, este aparelho encontra-se manifestamente presente no nosso dia-a-dia.

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Resultados dos inquéritos

Em média, a nossa amostra são indivíduos de ambos os géneros com idades situadas entre os 25 e os 44 anos, cujo estado civil varia entre solteiro e casado ou união de facto e cujas habilitações literárias se situam entre o 6º e 9º ano. A amostra feminina não possui, em média, telemóveis 3G (possuindo, contudo, telemóveis com funcionalidades aproximadas), ao passo que na amostra masculina se inclui um maior número proporcional de indivíduos com um 3G.

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Ambos, dentro desta faixa etária, ligam, em geral, com mais frequência para familiares. Apesar disso, as chamadas feitas pelos indivíduos que integram esta amostra e que são solteiros são equitativamente feitas para familiares e amigos.

Na faixa etária acima referida, a média de chamadas diárias situa-se entre uma e quatro.

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Os indivíduos solteiros mandam mais mensagens escritas para familiares e amigos, de forma, mais uma vez, equitativa. Os indivíduos dentro da faixa etária em análise enviam, em média, mais de quatro mensagens escritas por dia.

Relativamente ao nível de necessidade que atribuem ao uso do telemóvel, os indivíduos entre os 25 e 44 anos dividem-se igualmente pela denominação “Elevado” e “Normal”, enquanto os indivíduos com idades situadas entre os 18 e os 24 se decidem maioritariamente pela opção “Normal”.

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A duração média de cada chamada é para os indivíduos com idades entre os 18 e os 44 anos, portanto, pertencentes às duas faixas etárias intermédias, maioritariamente de um a cinco minutos, sendo que se seguem para os indivíduos com idades entre os 18 e os 24 anos as chamadas com duração superior a cinco minutos, e para os indivíduos com idades entre os 25 e 44 anos as chamadas com duração superior a dez minutos.

No que diz respeito ao número de carregamentos para obtenção de saldo, 40% dos inquiridos efectuam apenas um carregamento por mês, enquanto 32,5% efectua um a dois carregamentos por mês. A opção “três vezes por mês” inclui 12,5 % da amostra e ambas as opções “ uma vez em cada três meses” e “ sem carregamentos obrigatórios” registam 7,5 %. A opção “ uma vez” regista um maior equilíbrio entre idades. Já as opções “ uma a duas vezes” e “ três vezes ou mais” caracterizam-se pelo destaque das faixas etárias “18 a 24” e “25 a 44”, respectivamente.

Quanto ao assunto preferencial de conversação, 45% do total da amostra indicou a resposta “saber como estão amigos e familiares” e 30% indicou a resposta “combinar algo”. A primeira opção destaca-se relativamente à faixa etária “25 a 44” e a segunda entre a “18 a 24”.

Falar sobre “trabalho e informações úteis” assinala números de respostas semelhantes. As opções “onde está o receptor” e “falar sem assunto” têm valores residuais.

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Quanto questionados sobre o número de chamadas que realizariam caso não possuíssem telefone móvel, 65% dos indivíduos respondeu que faria um número menor de chamadas por telefone de rede fixa em comparação com o telefone de rede móvel. Mesmo assim, 27,5 % afirmou que faria o mesmo número de chamadas e apenas 7,5 % efectuaria mais chamadas por telefone fixo.

Acerca da importância dada ao uso do telemóvel no contexto laboral, quase metade da amostra (47,5%) a considera “normal”, enquanto cerca de um quinto (22,5%) classifica essa importância como “elevada”. Nessas classificações ganham destaque as faixas etárias dos 18 aos 24 anos e dos 25 aos 44 anos. Mesmo assim, cerca de um sexto desta última faixa etária escolheu a opção “reduzida”.

Quanto à importância dada ao telemóvel na vida pessoal, 55% dos indivíduos consideraram-na “normal” e 35% consideram-na “elevada”. Ao passo que na primeira opção referida há um certo equilíbrio proporcional entre as faixas etárias abaixo dos 45 anos, na segunda realça-se a faixa etária dos 25 aos 44 anos. As restantes opções (“muito elevada” e “reduzida”) apresentam números residuais, principalmente a última.

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67,5 % dos inquiridos têm apenas um telemóvel, 25% possuem dois e 7,5 % três ou mais. Ao passo que a primeira opção regista um certo equilíbrio proporcional, na segunda quase só existem respostas de indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos e apenas a faixa dos 25 aos 44 anos afirma ter três ou mais telemóveis.

Os inquéritos demonstraram que, relativamente ao meio preferencial para tratar de determinados assuntos, a escolha é também algo dispersa. Assim, de entre “chamada”, “SMS” e “falar cara-a-cara”, quando se trata de “falar de algo embaraçoso” 60% prefere fazê-lo cara-a-cara, quando se trata de “congratular alguém” os valores são semelhantes entre as três opções e quando se trata de uma “resposta a um convite”, a maioria opta por chamadas e mensagens escritas. Nenhum inquirido escolheu a opção “SMS” como meio para tratar de um “assunto profissional”, preferindo 55% fazê-lo através de chamadas e 35% cara-a-cara.

Quanto à apropriação do telemóvel, quase um terço (32,5%) dos inquiridos o utiliza apenas para comunicar, enquanto dois terços (57,5 %) o usam para outras actividades, nomeadamente as lúdicas. É nesta última opção que se verificam as maiores disparidades entre idades.

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O questionário revelou que as actividades lúdicas mais utilizadas são os jogos, as fotos e os vídeos. A opção “outras funções” foi das que registou maior escolha apesar de não se referir somente a conteúdos lúdicos (incluindo-se aqui funcionalidades como o despertador, a agenda ou a calculadora).

Embora com um número mínimo de respostas, na questão relativa à compra de conteúdos pode-se notar que os produtos mais requisitados são os toques, as músicas e os jogos. A idade dos inquiridos que adquirem estes produtos varia entre os 18 e os 44.

Quando questionados sobre os casos em que desligam o telemóvel, os inquiridos fazem-no maioritariamente aquando das aulas, consultas, celebrações religiosas e no teatro/cinema. Contudo, nas aulas é a opção “silêncio” que predomina em detrimento da opção “desligo”, nas consultas a opção “silêncio” está também quase equiparada à opção “desligo”, nas celebrações religiosas a opção “silêncio” ultrapassa a opção “desligo”, e no teatro/cinema acontece o mesmo que nesta última situação.

Em situações de conversação directa os indivíduos normalmente não desligam o telemóvel, bem como também não o fazem nos transportes públicos e em comemorações.

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Em relação ao facto de o telemóvel interferir ou não com a vida privada dos indivíduos, a amostra com idades entre os 18 e os 24 anos respondeu maioritariamente que isso acontece “algumas vezes” ou “raramente”, bem como a amostra com idades situadas entre os 25 e os 44 anos.

Relativamente ao facto de os indivíduos se sentirem ou não ansiosos quando saem de casa sem telemóvel, nas faixas etárias situadas entre os 18 e os 24 anos e entre os 25 e os 44 anos, os valores mais altos encontram-se, em ordem decrescente, nas respostas “sim, quando tenho necessidade de fazer alguma comunicação”, “sim, o dia inteiro” e “sim”.

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Análise comportamental e social dos resultados dos inquéritos

1. O indivíduo e o telemóvel

Podemos afirmar, pelos resultados, que existe uma grande difusão dos telefones móveis em Portugal (93% da amostra afirmou possuir telemóvel). Embora os resultados não tenham sido homogéneos relativamente às variáveis (género, idade, estado civil, habilitações literárias), podemos deduzir que o telemóvel é mais popular entre os solteiros com instrução entre o 6º ano de escolaridade e a licenciatura. Apesar dos nossos dados mostrarem uma discrepância relativamente à posse de telemóvel pelos homens e pelas mulheres entre os 18 e os 24 anos, mais mulheres afirmam possuir este dispositivo. Não podemos, contudo, alargar com segurança os dados à população geral, uma vez que os dados referentes às outras idades são semelhantes entre os dois géneros.

Neste contexto, a posse de telemóvel é um fenómeno essencialmente característico de pessoas que sabem ler e escrever, não estando dependente do género.

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Contudo, há mais idosas sem telemóvel que idosos, fenómeno esse que se deverá ao facto de haver mais

mulheres do que homens com mais de 65 anos. Para além disso, não saber ler nem escrever ou fazê-lo com dificuldade é um factor que não motiva ao uso do telemóvel.

O telemóvel aparece como um dispositivo com um nível de necessidade considerado “normal” ou “elevado” para a esmagadora maioria dos indivíduos, independentemente da idade, embora as motivações não sejam as mesmas, como veremos mais adiante.

Cerca de um terço dos indivíduos com telemóvel possui dois ou mais exemplares. Tal factor parece determinado pelo facto de se ser profissionalmente activo, uma vez que ter mais de um telemóvel parece depender das condições económicas ou do facto de se reservar um para o contexto laboral.

Especificamente em relação à dimensão económica, o facto de se ser profissionalmente activo determina a quantia gasta em comunicações já que são essencialmente os indivíduos entre os 18 e os 44 anos que fazem mais de um carregamento por mês.

Devido à mobilidade do telemóvel, as pessoas não têm de esperar para comunicar. Se não existisse este dispositivo, provavelmente condensaríamos as nossas conversas numa ou em poucas chamadas via telefone de rede fixa. Esta suposição é confirmada pelos resultados que mostram que a maioria dos inquiridos faria um número de chamadas inferior por telefone fixo relativamente às que fazem actualmente por telemóvel (excluindo, obviamente, as chamadas que efectuam actualmente através da rede fixa).

O facto de o número de indivíduos que se sentem ansiosos quando saem de casa sem telemóvel ser bastante elevado mostra a relevância que é atribuída a este intrumento, bem como a profundidade com que está já entranhado na vida dos indivíduos, sendo mesmo levado em conta como um “bem necessário” capaz de causar ansiedade.

2. O telemóvel e as relações sociais

O facto de as chamadas, dentro da faixa etária dos 18 anos 44 anos, serem feitas maioritariamente para familiares e amigos denota, já, a importância deste dispositivo no que importa às relações interpessoais, visto que, quando se pergunta aos indivíduos se fariam o mesmo número de chamadas se não tivessem telemóvel a resposta destes é esmagadoramente negativa. Desta forma, o telemóvel contribui para/fomenta a realização ou materialização das relações interpessoais intra-familiares e entre amigos, servindo como medium entre indivíduos.

A maioria dos inquiridos (57,5%), portanto aqueles que se enquadram nas faixas etárias dos 8 aos 17, dos 18 aos 24 e dos 25 aos 44 anos, efectua uma a quatro chamadas por dia, sendo que há ainda uma percentagem considerável de indivíduos dentro das faixas etárias dos 8 aos 17 e dos 18 aos 24 que afirma fazer apenas algumas chamadas por semana. Este facto, em conjugação com o facto de a maioria destes indivíduos enviar mais de quatro mensagens escritas por dia, dá-nos a oportunidade de inferir que a forma de comunicação preferida por essa parcela da amostra, que apenas realiza algumas chamadas por semana, são as mensagens escritas em detrimento das chamadas de voz. O mesmo não acontece com a faixa etária dentro dos 65 anos ou mais, pois um menor nível de instrução e o facto de não se sentirem tão à vontade

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com o uso das novas tecnologias, em particular das mensagens escritas, faz com que esta opção seja raramente utilizada pelos idosos.

Enquanto as mensagens escritas destinadas aos familiares são equitativamente distribuídas entre indivíduos de diferentes estados civis, as mensagens escritas destinadas aos amigos são essencialmente enviadas por indivíduos solteiros. Isto poderá demonstrar que este meio serve essencialmente para uma organização logística do quotidiano daqueles que enviam mensagens escritas essencialmente para os familiares.

No que diz respeito à duração média de cada chamada, todas as faixas etárias têm respostas com valores equivalentes no que se refere a todas as chamadas com duração superior a um minuto. A excepção verifica-se entre os indivíduos dos 8 aos 17 anos, que não costumam efectuar chamadas com mais de cinco minutos, devendo-se isso, provavelmente, à “substituição” das chamadas pelos SMS, que têm um custo menor.

Relativamente ao tipo de assuntos preferenciais para serem discutidos, a maioria, nomeadamente a faixa etária dos 25 aos 44 indicou a resposta “para saber como estão amigos e familiares”, uma vez que muitos destes terão filhos ou familiares aproximados e encontrar-se-ão afastados a maior parte do dia. A faixa etária dos “18 aos 24” faz chamadas essencialmente para combinar algo com amigos e/ou familiares.

Os dados resultantes desta questão vêm, de novo, comprovar a importância do telemóvel para as relações interpessoais já que a maioria dos inquiridos assinalou como assunto preferencial de conversação “saber como estão amigos e familiares” seguindo-se-lhe ainda a opção “combinar algo”. Assim, fica demonstrada a utilização preferencial do telemóvel como complemento ao exercício de relações entre indivíduos.

Estas duas faixas etárias assinalam respostas proeminentes na questão “falar de trabalho ou informações”. Segundo quase metade dos inquiridos, o uso do telemóvel é para eles, a nível profissional, “normal”, ou

“elevado”, o que mostra que a função do telemóvel como instrumento de trabalho continua a ter lugar de destaque.

Em termos da importância na vida pessoal dos indivíduos, poderemos afirmar que o uso do telemóvel é já um dado adquirido, afirmação, de resto, comprovada pela escolha da opção “normal” aquando da realização da questão “Qual o grau de importância na sua vida pessoal?”. Contudo, uma parcela relevante da amostra considera o uso do telemóvel de “elevada” importância na sua vida pessoal, o que nos diz que este é não só um dado adquirido, como também um factor de relevância na sua vida.

Contudo, ainda no que importa às relações interpessoais, os indivíduos preferem, regra geral, “falar de algo embaraçoso” cara-a-cara, dizendo-nos isto que se atribui ao telemóvel um certo grau de impessoalidade no que diz respeito a situações de possível tensão, sendo que para “congratular alguém” os indivíduos dividem-se equitativamente entre fazê-lo “por telemóvel”, por “SMS” e “cara-a-cara”. Isto justifica-se pelo facto de tal assunto não implicar situações de possível tensão, podendo por isso ser tratado de forma mais “impessoal” ou, pelo menos, sem ser in persona. Para a “resposta a um convite”, a amostra opta maioritariamente por fazê-lo através de chamada ou de o envio de mensagem escrita. Aqui encontramo-nos já no domínio do telemóvel enquanto medium, sem juízos de valor (relativamente à importância dada à situação) implícitos. Para tratar de um “assunto profissional”, a maioria dos indivíduos fá-lo através de chamadas. Neste última questão será relevante ter em conta o ritmo comum da sociedade contemporânea, podendo ser considerada a falta de tempo como factor decisivo predominante. Contudo, e pela natureza e implicações sociais de uma interacção dentro deste âmbito, existe ainda uma parcela significativa da amostra que prefere tratar de assuntos profissionais “cara-a-cara”.

Quando deparados com a questão “Em que casos desliga o telemóvel?”, é manifesta a importância deste dispositivo no dia-a-dia dos indivíduos visto que, ainda que haja uma percentagem de alguma relevância que desliga o telemóvel quando se encontra numa consulta, em aulas, numa celebração religiosa ou no cinema/teatro, a verdade é que, regra geral, os indivíduos ou não desligam o telemóvel (caso das situações de conversação, viagens em transportes públicos ou comemorações) ou simplesmente optam pelo modo “silêncio” quer em aulas, concertos, celebrações religiosas ou no cinema/teatro. Assim, podemos inferir que, ainda que as situações quotidianas exijam dos indivíduos certo grau de concentração, estes desejam, regra geral, manter-se sempre contactáveis. Esta será uma das conclusões de maior importância no âmbito deste

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trabalho, já que esta é nitidamente uma alteração de comportamento se e quando tivermos em conta o que se passou mais atrás na nossa contemporaneidade, quando os indivíduos maioritariamente, não possuíam telemóvel.

A questão que se segue – “O telemóvel costuma interferir com a sua vida privada?” - mostra-nos não só como esta é ainda uma questão em definição – devido aos valores que encontramos nas respostas “algumas vezes” e “raramente” serem os mais elevados -, como também que o telemóvel integra de forma manifesta a vida quotidiana dos indivíduos quer a nível pessoal, em toda uma complexa conjuntura emocional, quer a nível das relações interpessoais quer a nível intrapessoal.

Após análise dos resultados, concluímos ainda que os indivíduos buscam um equilíbrio relativamente ao facto de o telemóvel não interferir com a sua vida privada, pois acaba por fazer parte dela, questão esta extremamente complexa de um ponto de vista científico-social.

3. A interacção do indivíduo com o telemóvel

A maioria dos inquiridos do sexo feminino não possui um telemóvel 3G. Contudo, 27% das mulheres possui telemóvel com funcionalidades aproximadas. No entanto, a maioria dos inquiridos do sexo masculino tem telemóveis 3G, o que permite sugerir que os homens terão um fluxo de rendimentos superior e consequentemente poderão adquirir telemóveis mais caros. Poder-se-á também eventualmente considerar alguma necessidade de exibicionismo por parte dos indivíduos do sexo masculino.

Quanto aos dados e informações especificas relativamente ao uso do telemóvel, questionou-se o inquirido se, de facto utilizava o telemóvel apenas para fins comunicativos ou se o utilizava para usufruir de outras actividades. Verificou-se com a análise de dados que, insolitamente, os que mais utilizavam o telemóvel para fins comunicativos eram os indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos e os que mais utilizavam para outras actividades eram os indivíduos com idades compreendidas entre os 25 e os 44 anos. Esta informação revela-se inesperada, porque geralmente espera-se que sejam os jovens a utilizar mais o telemóvel com fins lúdicos e não os adultos. Apesar de a amostra da faixa etária dos 8 aos 17 anos ser reduzida, os seus dados são bem evidentes: os indivíduos desta faixa etária apropriam-se do telemóvel de um modo afectivo, já que todos o utilizam para outras actividades para além das funções comunicativas.

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Uma vez que a esmagadora maioria dessas actividades diz respeito a conteúdos lúdicos, o facto de os jovens os utilizarem para se divertirem, passar o tempo e de certa forma, serem o público-alvo de uma forma de entretenimento recente, demonstra o valor que o telemóvel tem para eles. Daí surge a relação afectiva referida. No lado oposto, situam-se os idosos, cuja atitude em relação ao telemóvel se apresenta como meramente instrumentalista: apenas o utilizam para comunicar, não criando qualquer tipo de fenómeno cultural em torno deste aparelho.

Em relação à utilização de conteúdos, os jogos, as músicas e os toques são os produtos mais usados pela faixa etária dos 18 aos 44 anos. Aqui poderemos sugerir haver uma tentativa de fuga à rotina quotidiana, sendo que esta faixa etária é, em bruto, aquela que mais adquire tais funcionalidades. Mas como, em termos proporcionais, existem mais jovens até aos 17 anos, inclusive, a utilizarem este tipo de conteúdos, há também que referir que apesar da sua adesão a tais produtos, parecem utilizar basicamente aqueles que já vêm incluídos no aparelho. Ou seja, não têm o hábito de comprar conteúdos lúdicos por SMS ou internet móvel, uma vez que, não sendo activos, estão mais condicionados financeiramente para adquirir esses conteúdos que um adulto

Em termos totais, os conteúdos lúdicos mais requisitados através da internet por rede móvel são os jogos e as músicas.

Conclusão

Após a análise dos dados e apresentação dos mesmos podemos concluir que a posse de telemóvel é um fenómeno essencialmente característico de todos os indivíduos que com menos de 65 anos, que sabem ler e escrever, independentemente do género da pessoa.

O facto de existirem mais mulheres que homens com mais de 65 anos justifica o facto de existirem mais mulheres sem telemóvel, visto que é também nesta faixa etária que vamos encontrar a maior taxa de analfabetismo, e o não saber ler nem escrever ou fazê-lo com dificuldade bloqueia o sentimento de necessidade de telemóvel.

O número de telemóveis que se tem parece depender das condições económicas ou do facto de um destes se reservar para o contexto laboral.

Em relação à dimensão económica, o facto de se ser profissionalmente activo determina a quantia gasta em comunicações.

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Se não existisse este dispositivo as conversas seriam condensadas numa ou em poucas chamadas por

telefone fixo.Os indivíduos sentem-se ansiosos quando saem de casa sem telemóvel, e utilizam-no principalmente “para

saber como estão amigos e familiares”, tendo admitido que não fariam o mesmo número de chamadas se não tivessem telemóvel, o que mostra como este dispositivo é passível de alterar o comportamento dos indivíduos.

A importância do telemóvel no que importa às relações interpessoais é absolutamente manifesta visto que este fomenta a realização ou materialização das relações interpessoais intra-familiares e entre amigos, servindo como medium entre indivíduos, não acontecendo isto, contudo, com os indivíduos de idade superior a 65 anos já que tendencialmente não se sentem tão à vontade com o uso de novas tecnologias.

O uso do telemóvel continua a desempenhar o papel para o qual foi inicialmente atribuído, as comunicações no contexto laboral. Assim, a nível profissional, esse uso é considerado “normal”, ou “elevado”, o que mostra o lugar de do telemóvel como instrumento de trabalho, sendo que, contudo, ao nível das relações interpessoais, os indivíduos preferem, regra geral, “falar de algo embaraçoso” cara-a-cara, o que atribui ao telemóvel um certo grau de impessoalidade. Tendo em conta que para a “resposta a um convite” a amostra opta maioritariamente por fazê-lo através de chamada ou de o envio de mensagem escrita, podemos concluir que este meio é preferido para resolver assuntos que não requeiram a presença do indivíduo, sendo que o mesmo se aplica a nível profissional.

Os indivíduos desejam, em geral, manter-se sempre contactáveis. Esta será uma das conclusões de maior importância no âmbito deste trabalho, já que esta é nitidamente uma alteração de comportamento se tivermos em conta que há aproximadamente quinze anos eram muito poucos os portugueses que possuíam telemóvel.

O telemóvel integra já a vida quotidiana dos indivíduos quer a nível pessoal, em toda uma complexa conjuntura emocional, quer a nível das relações interpessoais.Os indivíduos buscam ainda um equilíbrio relativamente à questão do telemóvel interferir ou não com a sua vida privada, o que representa uma situação sociologicamente complexa uma vez que o telemóvel integra essa mesma vida privada.

A predominância de telemóveis 3G entre o sexo masculino pode ser considerada de diversos pontos de vista, embora aquele que aqui pareça ressaltar seja o da maior apetência dos homens por tecnologia avançada.

Embora a utilização das características não-comunicativas do telemóvel seja uma característica inalienável da apropriação, por parte dos menores, deste dispositivo, essa tendência continua entre os indivíduos até aos 44 anos (inclusive), embora de modo algo decrescente. As pessoas com mais de 45 anos têm uma relação mais instrumentalista, ou seja, utilizam o telefone móvel apenas para comunicar (fazendo maioritariamente comunicações que consideram imprescindíveis), apropriam-se apenas das suas funções básicas e não vem de modo algum como uma “extensão” da sua personalidade. O contrário acontece entre quem tem menos de 25 anos e principalmente, de 18 anos – uma utilização avançada das variadas funções do aparelho e da rede móvel, presente na utilização de SMS e dos conteúdos lúdicos, cuja compra, apesar de testemunhar um novo tipo de consumo cultural, ainda se revela pouco significativa. A faixa etária dos 25 aos 44 anos revela uma interacção de factores mais complexa: apesar da utilização avançada (contudo, menor que os das idades abaixo) e de partilhar com a faixa etária dos 18 aos 24 uma perspectiva do telemóvel também como importante instrumento profissional, acrescenta a esses aspectos o contributo deste aparelho na gestão das suas interacções diárias com o agregado familiar.

Em resumo, podemos afirmar que a introdução do telemóvel no nosso mercado e a sua evolução contribuiu para a mudança de certos comportamentos, principalmente entre os adultos e os menores de idade, traduzindo-se esta numa nova atitude do indivíduo na interacção com os outros, ao estar permanentemente acessível, numa certa reorganização do espaço e tempo das comunicações diárias com pessoas próximas, numa redefinição das comunicações profissionais e em alguma influência nas relações pessoais (embora não possamos afirmar que as fortalecem ou enfraquecem) e num novo instrumento de

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afirmação da personalidade e de entretenimento, principalmente entre os menores. Apesar de tudo isso, as constantes evoluções tecnológicas no mundo dos telefones móveis, que nos levam, inclusivamente, a questionar-nos se ainda os devemos denominar de telemóveis, são um dos principais motivos para que todos estes aspectos se transformem continuamente.

Webliografiahttp://www.obercom.pt/client/?newsId=318&fileName=rr4.pdf

Bibliografia

Inquéritos por questionário realizados pelo grupo.

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Anexos

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O contributo dos telemóveis para a mudança de comportamentos Questionário

Por favor, assinale com uma cruz (X) a opção escolhida:

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SexoMasculinoFeminino

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1. Possui um telemóvel?

2. Possui um telemóvel 3G?

Não, mas tem funcionalidades aproximadas

3. Geralmente, para quem liga com mais frequência?

FamiliaresTrabalhoAmigosOutros

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Idade8-17 18-2425-4445-64+ de 65

Estado civilSolteiroCasado/ União de facto Viúvo (a)/ Separado (a)/ Divorciado (a)

Habilitações literáriasanalfabetos/ instrução (mas sabe ler e escrever4º ano9º ano12º anoBacharelato/ LicenciaturaMestrado/ Doutoramento

SimNão

SimNão

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4. Em média, quantas chamadas efectua por dia?

1 1-4 +4Algumas vezes por semana

5. Para quem envia mais mensagens escritas?

FamiliaresTrabalhoAmigosOutros

6. Em média, quantas mensagens envia por dia?

1 1-4 +4Algumas vezes por semana

7. Qual o nível de necessidade que atribui ao uso do telemóvel?

ElevadoNormalPoucoNada

8.Em média, quanto tempo dura cada chamada?

Menos de 1 minuto1-5 minutosMais de 5 minutosMais de 10 minutos

9. Em média, quantas vezes carrega o telemóvel por mês?

1 vez 1 a 2 vezes3 vezes ou mais1 vez em cada 3 mesesO meu tarifário não tem carregamentos obrigatórios

Leiria20 de Junho de 2007

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C. Lopes, F. Francisco, S. Branco, T. Miranda

10. Sobre que tipo de assuntos fala?

Saber como estão amigos e familiaresSaber onde está o receptor Combinar algoConversar sem assuntoFalar de trabalho / informações úteis

11. Se não tivesse telemóvel faria o mesmo número de chamadas com telefone fixo?

SimNão, faria maisNão, faria menos

12. Qual o grau de importância na sua vida profissional?

Muito elevadaElevadaNormalReduzida

13. Qual o grau de importância na sua vida pessoal?

Muito elevadaElevadaNormalReduzida

14. Quantos telemóveis possui?

123 ou mais

15. Por que meio trata dos seguintes assuntos? Leiria

20 de Junho de 200723

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C. Lopes, F. Francisco, S. Branco, T. Miranda

16. Utiliza o telemóvel simplesmente para comunicar ou para outras actividades?

Só para comunicar Também para outras actividades

17. Tipo de actividades

Jogos Internet / WAP Mobile TV

Fotos Vídeos Outras funções 18. Tem por hábito comprar através do telemóvel:

Toques Músicas Vídeos

Imagens/logos Jogos Outros

19. Em que casos desliga o telemóvel?

20. O telemóvel costuma interferir com a sua vida privada? Leiria

20 de Junho de 2007

Por telemóvel

SMS Cara-a-cara

Falar de algo embaraçosoCongratular alguém Resposta a um conviteAssunto profissional

SIM NÃO Modo SilêncioConversas particularesViagens em transportes públicosConsultas, exames médicos, etc.ComemoraçõesAulas/ conferências Concertos/espectáculosCerimónias religiosasCinema/ teatro

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C. Lopes, F. Francisco, S. Branco, T. Miranda

FrequentementeAlgumas vezesRaramenteNunca

21. Sente-se ansioso/a quando sai de casa sem telemóvel?

Sim Sim, mas só quando fico sem telemóvel o dia inteiroSó quando tenho necessidade de fazer alguma comunicaçãoNão Nunca me aconteceu

Agradecemos a sua colaboração!

Leiria20 de Junho de 2007

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