tcc 2009 ufsc marcelo braz vieira
Post on 08-Aug-2015
37 Views
Preview:
TRANSCRIPT
MARCELO BRAZ VIEIRA
AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOL VIMENTO EM
CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS.
FLORIANÓPOLIS – SC
2009
MARCELO BRAZ VIEIRA
AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOL VIMENTO EM
CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS.
Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina de
Seminário de Monografia como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciado em Educação Física pela
Universidade Federal de Santa Catarina
Orientador: Prof. Dr. Edison Roberto de Souza
FLORIIANÓPOLIS – SC
2009
MARCELO BRAZ VIEIRA
AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVOL VIMENTO EM
CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS.
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura em Educação Física, tendo sido
julgado pela Banca Examinadora formada pelos
professores:
_________________________________________
Prof. Dr. Edison Roberto de Souza – Orientador
CDS/UFSC
_________________________________________
Prof. Ms. Adilson André Martins Monte – Examinador
CDS/UFSC
__________________________________________
Prof. Mestrando Marcelo Backes Navarro Stotz – Examinador
CDS/UFSC
__________________________________________
Prof. Ms. Osvaldo André Furlaneto Rodrigues – Suplente
CEFID/UDESC
Florianópolis, 19 de junho de 2009.
Dedico este trabalho à minha família,
principalmente a meus pais, Marcelino e
Rosângela, e à minha irmã, Vivian, aos quais
torcem por mim e que amo muito,
incondicionalmente.
AGRADECIMENTOS
O primeiro agradecimento é e sempre será a Deus, pois eu
acredito que todos os acontecimentos de minha vida são
obras dele. E como diz a música de capoeira “e tudo que eu
tenho foi Deus quem me deu” (Mestre Pastinha). Portanto,
Deus me oportunizou conviver com estes que os agradeço
agora.
A minha família, a base de tudo, meu pai, minha mãe e minha irmã, as pessoas que
desde que eu nasci estão comigo. Para a Rosangela, minha mãe, as palavras são poucas para
agradecer, pois me carregou por nove meses e eu já
dava trabalho sendo bem pesadinho (5 kg ao nascer
☺) e sempre cuidou, deu carinho, me mimou e
tudo mais que qualquer mãe faz por seus filhos. O
Marcelino - meu pai - é a muralha, me ensinou
muito a manter o pé no chão, pensar antes de agir e
isto sempre abrindo mão do nosso convívio diário, enquanto crianças, para pensar no nosso
futuro e ainda, sempre que precisei, ele estava lá, estendendo a mão.
A Vivian, minha irmã me ensinou desde cedo a me virar, pois já
aprontava comigo desde que nasci. Tampava minha respiração
quando bebê só para me ver chorar, dava leite com terra e dizia que
era nescau, me ajudava a subir no teto do ponto de ônibus e não a
descer, mas quando precisava, quebrava os que queriam me bater,
pois “se alguém pode bater no meu irmão, esse alguém sou eu” acho que ela pensava assim
☺. Simplesmente, amo vocês, do meu jeito.
A Gabi, que ainda não é da família, mas esta se
encaminhando ☺. Ela me ensinou tanta coisa que nem sabe quanto,
mas sei que a recíproca é verdadeira. Somos tão parecidos e tão
diferentes ao mesmo tempo, o que poderia dar? AMOR. Muito
obrigado pelos anos de companhia, companheirismo e parceria. Ainda
vamos conhecer o mundo juntos e isso está cada vez mais próximo.
A todas as outras pessoas da família que também são importantes, meu
muito obrigado e principalmente a minha madrinha Hely, que
demonstra um amor tão grande por mim que nunca vou conseguir
retribuir, ao meu padrinho Rogério, que tem um coração tão bom que
merece alcançar toda a felicidade que desejar, e a meus avós, Vô Mino,
Vó Cina e Vô Maurílio (in memória), pois vocês
foram os avós que todos os netos devem ter -
puramente avós - e Vó Juty que valorizo cada
momento que ainda estamos juntos.
Ao Grupo de Capoeira Beribazu em geral, pois, minha
formação acadêmica iniciou quando eu entrei na capoeira. Foi este
esporte/arte/luta que realmente me fez decidir, e que hoje tenho a
convicção, de estar no caminho certo. Desta forma, agradeço a
todas as pessoas que me ensinaram na minha vida capoeiristica, os
professores, mestres, alunos, amigos, etc e principalmente ao
Falcão, Nanã, Assis, Lelo, Fabinho, Chiquinho, Aldo, Carlinha, Piqueno, Déia, Lele, Daniel,
Fejão, Kaju, Bodão. Outros que estão sumidos ou que não fazem mais parte deste grupo
Muleka, Maumau, Ana, Léo`s, Ricardo, Jeovana, Sumara. Desde 1997 foram muitas pessoas
que conviveram juntos, por isso, fica o agradecimento a todos.
Ao CDS onde minha primeira disciplina cursada foi em 2001-2.
Conheci, aprendi e convivi com muitas pessoas e tenho certeza que
neste momento esqueceria alguém que teve importância na minha
formação. Assim, me desculpe pelo esquecimento e agradeço a todos
os professores, aos maus que me ensinaram como não ser e aos bons
que me servem de modelo, então muito obrigado Adair, Adilson,
Alex, Amarante, Ângela, Bira, Capela, Cardoso, César, Cris, Diego,
Édio, Fernando, Iara, Iracema, Ledoux, Luciana, Luciano, Luiz Guilherme, Marceli, Maria de
Fátima, Maria Firminia, Marize, Nivia, Paulo, Peter, Rosane, Sidney, Saray, Vanessa. Aos
acadêmicos, estes sim foram muitos, pois estudei em fases mistas, onde conheci muitos que já
formaram ou estão cursando, assim, valeu gente, muito obrigado pelo convívio, foram bem
proveitosos.
Ao PBM – Projeto Brinca Mané – este sim é necessário um
agradecimento especial. Sei que alcancei algumas metas e que
contribui muito com este espaço de educação, portanto, saio pela
porta da frente e sei também que agradeci a cada momento que
vivi com este grupo. Mesmo assim, agradeço primeiramente a
pessoa que me convidou e que sem ela não teria conseguido
construir a história que fiz, por isso Profª. Vera, muito obrigado
por acreditar no meu potencial que nem eu sabia que tinha. Aos demais professores é
impossível descrever o quão estes valem na minha vida, principalmente acadêmica. Edson,
amigo, coordenador, incentivador muito obrigado pelos imensuráveis ensinamentos e pela
confiança a mim atribuída nestes anos, por ti até torci pelo AVAEEE. Rick, ô cara, sempre
com piadas para alegrar o ambiente (e quando o Edson ajuda, aí fica melhor ainda – pula, pula,
pula ☺), amigo que sabe perceber quando precisamos apenas de um abraço (com o lado
esquerdo do peito), organizador nato de eventos, principalmente festivos, muito obrigado pela
amizade e carinho. Julio, você sempre foi o intelecto, que instiga a pesquisa, as vezes nervoso
(alsolêêêênio ☺), mas é essencial no PBM para segurar as nossas loucuras e colocar os pés no
chão, muito obrigado pela convivência. Jolmerson, o que dizer do único professor da
universidade que me colocou pra fora de sala ☺, meio atrapalhado, mas com a vontade que
poucos tem, uma perseverança invejável, tudo que o vi almejar, alcançou, obrigado por
transmitir sua determinação. Sem falar no obrigado pela sua presença no churrasco em minha
casa, uma das poucas festas que estavas presente ☺. Vocês todos se completam, tive sorte de
conviver com vocês, muito obrigado. Foram seis anos de convívio intenso e com grandes
aprendizados. Até o primeiro vôo de avião foi graças ao PBM, e as balas tem que pagar na
saída, (né Edson?). Enfim, o parto está sendo fórceps, mas vai dar bom fruto.
Aos monitores do PBM, desde o começo estive presente e conheci todos até hoje,
mais de 60, entraram, ficaram e saíram e agora é a minha vez. Professores e amigos que me
ensinaram muito e não posso esquecer. Mel, as despedidas já resultaram em falar tudo que
precisava ser falado, Laisa, Maria, Marcos (ou melhor canguru) e Gê, que grupo que
formamos (eim?), gostaria de ter sido criança para ter aulas com a gente, foi demais. Os mais
novos, Ju, Ma, Nathi, Etô, vocês na minha escola tem espaço garantido e da minha memória
nunca sairão. Aos monitores de 2003 Ana, Fernando, Gisele, Talita, Melina, Poliana e Bilica,
de 2004 Ju, Biba, Lua, Gabi`s, Wilian e profas. Ilma e Renata, de 2005 Bruna, Camila, Lucas,
Laudir e Natalia, de 2006 Cacau, Sidnei, Darlan, Taise, Aninha, Simone e Suelen, de 2007
Cícero, Ramon, Juca, Lu e Nayra e por fim de 2008 Simone`s, Mariana, Luiza, Lilian, Julia,
Varejão. Cada um destes que contribuiram para que o trabalho que sempre acreditei pudesse
ser realizado e por isso agradeço. Uns ficarão mais fortemente gravado em minha memória.
As crianças do PBM, essas que são tão carentes de afetividade que
por mais simples que seja a atenção à elas, já nos idolatram.
Obrigado ainda por vocês acreditarem nas minhas falas, nas minhas
loucuras, nas minhas brincadeiras e obrigado por retribuirem todo o
carinho que ofereci a vocês. Vocês já me fizeram chorar, repensar
minha prática, minha vida e meus sonhos, serão sempre fruto de
minhas lembranças.
Agradeço por último as pessoas que contribuíram para que este trabalho pudesse ser
finalizado. Primeiro ao meu orientador, Prof. Edson que me iluminou com apenas uma
pergunta (“o que a capoeira mais desenvolve, pra ti?”) e tudo mais que já foi citado sobre ele.
Ao Prof. Adilson por autorizar e disponibilizar todo o seu equipamento para o teste de
agilidade, tendo paciência e comprometimento nas explicações. Ao Ângelo, que desde o
primeiro contato se dispôs a auxiliar na pesquisa e durante a mesma foi surpreendente. Ao
Colégio da Lagoa em nome da sua diretora Carmen que abriu as portas para a realização da
pesquisa. Aos professores Jean e Tatiane que disponibilizaram o espaço físico durante suas
atividades na escola. Ao meu primo Thyago que de prontidão me ajudou na coleta de dados. E
por fim mas não menos importante, as crianças, que se interessaram em realizar o teste e que
são o foco da pesquisa.
A todos estes aqui lembrados, meu muito obrigado, do fundo do coração, vocês
fazem parte da minha história e da minha vida.
"Seja você quem for, seja qual for a posição social que
você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha
sempre como meta muita força, muita determinação e
sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus,
que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega
lá."
Ayrton Senna da Silva
“Se quisermos mudar o mundo, é pelas crianças que
devemos começar”.
Ayrton Senna da Silva
CAPOEIRA: "É luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo
de camaradas. É jogo, é bailado, é disputa - simbiose
perfeita de força e ritmo, poesia e agilidade. Única em
que os movimentos são comandados pela música e pelo
canto. A submissão da força ao ritmo. Da violência à
melodia. A sublimação dos antagonismos. Na Capoeira,
os contendores não são adversários, são 'camaradas'.
Não lutam, fingem lutar. Procuram - genialmente - dar a
visão artística de um combate. Acima do espírito de
competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é
um artista e um atleta, um jogador e um poeta".
Dias Gomes
RESUMO
Esta pesquisa exploratória com amostragem não probabilística intencional teve como objetivo
verificar se a capoeira possibilita o desenvolvimento da agilidade em seus praticantes com
idade entre 7 e 10 anos de idade. Para a realização da pesquisa, utilizou-se o teste de agilidade
proposto por Monte em 2009. Este teste, dividido em três momentos distintos (T1, T2 e T3),
analisados separadamente. A pesquisa foi realizada nas dependências de uma escola particular,
com quatorze (14) praticantes de capoeira (PC) com mais de um ano de prática e com dezoito
(18) crianças que neste ano não participaram de nenhuma escolinha de esportes (NP). Todos
os participantes realizaram o teste três vezes para cada lado, da direita para esquerda (TA) e
da esquerda para direita (TB). O melhor resultado de cada lado e de cada criança foi tratado
no Microsoft® Oficce for Windows 2003 - Excel, na qual foram calculados as médias, desvios
padrão e Teste “t” de Student (com nível de confiança p ≤ 0,05) para análise dos resultados.
Os tempos médios totais e desvios padrão (em milissegundos) dos PC no teste foram 5557 ±
443,98 em TA e 5685,28 ± 461,20 em TB, enquanto os NP atingiram 5751,33 ± 412,76 em
TA e 5742,05 ± 524,95 em TB. Estes resultados não apresentaram diferença significativa.
Assim, analisou-se a parcial T2 + T3, parte que requer maior agilidade do teste. Os PC
realizaram o teste para TA em 3428 ± 360,97, e para TB em 3462,35 ± 390,09, enquanto os
NP realizaram para TA em 3741,44 ± 293,81, e para TB em 3706,22 ± 346,71. O teste “t”
para estes resultados foi de 0,008 para TA e 0,043 para TB, concluindo a diferença
significativa entre os grupos pesquisados. Desta forma, foi possível afirmar que os praticantes
de capoeira de 7 a 10 anos de idade, pesquisados neste estudo foram mais ágeis do que os não
praticantes de capoeira.
RESUMEN
Esta investigación exploratoria con amostragem no probabilística intencional tuvo como
objetivo verificar si la capoeira puede posibilitar el desarrollo de la agilidad en los
practicantes con edad entre 7 y 10 años. Para efecto de la realización de la investigación fue
utilizado un teste de agilidad propuesto por Monte en 2009. El teste está dividido en tres
momentos distintos (T1, T2 e T3), que pueden ser analizados separadamente. La investigación
fue realizada en las dependencias de una escuela privada, con catorce (14) practicantes de
capoeira (PC) con más de un ano de práctica y con dieciocho (18) niños que no tuvieron
ningún contacto con cualquier deporte durante el año (NP). Todos los participantes realizaran
el teste tres veces para cada lado, de la derecha para la izquierda (TA) y de la izquierda para la
derecha (TB). Lo mejor resultado de cada lado y de cada niño fue trabajado en el Microsoft®
Oficce for Windows - Excel 2003, donde fueran calculadas las medias, desvíos padrón y Teste
“t” de Student (con nivel de confianza p ≤ 0,05) para analice de los resultados. Los tiempos
medios totales y desvíos padrón (en milisegundo) de los PC en el teste fueran 5557 ± 443,98
en TA y 5685,28 ± 461,20 en TB, no obstante, los NP atingieran 5751,33 ± 412,76 en TA y
5742,05 ± 524,95 en TB. Los resultados no demostraran diferencias significativas. Así, fue
analizado la parcial T2 + T3, etapa que requiere mayor agilidad en el teste. Los PC realizaran
el teste para TA en 3428 ± 360,97, y para TB en 3462,35 ± 390,09, con todo eso, los NP
realizaran para TA en 3741,44 ± 293,81, y para TB en 3706,22 ± 346,71. El teste “t” para
estos resultados fue de 0,008 para TA y 0,043 para TB, concluyendo la diferencia
significativa entre los grupos investigados. De este modo fue posible afirmar que los
practicantes de capoeira de 7 a 10 años, investigados en el estudio fueran más ágiles en
comparación con los niños no practicantes de capoeira.
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 – Autorização da Pesquisa ....................................................................................... 47
Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ......................................... 48
Anexo 3 – Ficha de coleta de Dados ...................................................................................... 49
Anexo 4 – Representação Gráfica – Rabo de Arraia............................................................... 50
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Ilustração do teste de agilidade proposto por Monte em 2009 .............................. 32
Figura 2 – Gráfico Box-Plot do tempo total representando valores mínimo, máximo, médio e
50% .......................................................................................................................................... 38
Figura 3 – Gráfico Box-Plot da soma de T2 e T3 representando valores mínimo, máximo,
médio e 50% ........................................................................................................................... 40
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Características das Fases Motoras (Gallahue e Ozmun 2005) ............................ 20
Quadro 2 – A Agilidade e seus Influenciadores ..................................................................... 27
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Médias e desvios padrão das idades e do tempo de prática dos participantes da
pesquisa .................................................................................................................................... 34
Tabela 2 – Médias e desvios padrão do tempo total das faixas etárias participantes do teste . 35
Tabela 3 - Médias e desvios padrão do tempo total e das parciais (T1, T2, T3) de ambos os
grupos ...................................................................................................................................... 37
Tabela 4 - Médias e desvios padrão do somatório T2 + T3 .................................................... 39
Tabela 5 – Resultados do teste “t” student referente ao teste de agilidade para as variáveis
total e T2 + T3 ......................................................................................................................... 40
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16 1.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................... 16 1.2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 16 1.3. OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 17 1.3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................ 17 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 18 2.1. A INFÂNCIA................................................................................................................ 18 2.1.1 Aspectos gerais............................................................................................................. 18 2.1.2 Características da infância avançada........................................................................ 21 2.2. CAPOEIRA .................................................................................................................. 21 2.2.1 Breve Histórico ............................................................................................................ 21 2.2.2 Capoeira e suas valências motoras ............................................................................ 23 2.3. AGILIDADE................................................................................................................. 24 2.3.1 Conceitos e características ......................................................................................... 24 2.3.2 O jogo ágil da capoeira ............................................................................................... 28 3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 30 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA........................................................................ 30 3.2. PARTICIPANTES DA PESQUISA .............................................................................30 3.3. PROCEDIMENTO DE COLETA DOS DADOS......................................................... 30 3.4. TRATAMENTO DOS DADOS.................................................................................... 31 3.5. TESTE DE AGILIDADE ............................................................................................. 31 3.5.1 Protocolo do Teste de Agilidade de Monte ............................................................. 32 3.5.1.1 Materiais ...................................................................................................................... 32 3.5.1.2 Procedimentos ............................................................................................................ 32 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................................................34 5. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................... 42 6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 44 ANEXOS ................................................................................................................................ 46 ANEXO 1 – TERMO PARA AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA.......................................... 47 ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO......................... 48 ANEXO 3 – FICHA PARA COLETA DE DADOS ............................................................... 49 ANEXO 4 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA – RABO DE ARRAIA ................................. 50
16
1. INTRODUÇÃO
1.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
A origem da capoeira já foi tema muito polêmico entre pesquisadores, entretanto,
alguns destes, como Zulu (1996), Falcão (1996), Vieira (1995) defendem o seu surgimento
em terras brasileiras através dos negros escravos africanos. Esta teoria é defendida por
Waldeloir Rego, citado pelos estudiosos acima. Esta hipótese, a afro-brasileira, será utilizada
como verdade neste trabalho. Desta forma, acredita-se que os escravos utilizaram a capoeira
como arma para buscar sua liberdade. E para alcançar êxito em seus objetivos, os escravos
necessitavam ter muita “mandinga”, malandragem, ou seja, agilidade.
A agilidade, segundo alguns estudiosos, pode ser entendida como a capacidade de
mudar de direção em um menor tempo possível. E segundo Bompa (2002, apud
RODRIGUES, 2007, p.28), “é na pré-puberdade que a agilidade tem seu desenvolvimento
mais efetivo”.
A pré-puberdade, segundo Gallahue e Ozmun (2005), segue a infância avançada e
em meninos vai de 11 a 13 anos, enquanto que em meninas, vai de 10 a 12 anos e a infância
avançada vai de 6 a 10 anos. Contudo, sabe-se que quanto mais valências motoras a criança
for estimulada, maior coordenação e agilidade esta poderá adquirir, mais facilmente.
A capoeira, hoje em dia, é ensinada muito comumente a partir da infância. Assim,
cada vez mais, crianças recebem estímulos motores diversificados. Acreditando que a
capoeira contribui enormemente para estes estímulos, este estudo buscará averiguar se
existem diferenças significativas no desenvolvimento da agilidade entre os praticantes e não-
praticantes de capoeira da mesma faixa etária (infância avançada).
1.2. JUSTIFICATIVA
A capoeira foi bastante difundida no século XX e desta maneira, cada vez mais
crianças passaram a praticá-la. Com o aumento no número de praticantes e o difundismo da
mesma tornaram-se importante também as pesquisas para concretizar o que na prática os
praticantes já conheciam, seu potencial, ou seja, as valências físicas e motoras e que neste
estudo trata-se da agilidade.
Tendo em vista que os pais sempre querem o melhor para seus filhos, o resultado de
uma pesquisa realizada através de um teste de agilidade é mais confiável do que a palavra de
17
um professor. Assim, esta pesquisa servirá de subsídio para que os professores de capoeira
possam justificar cientificamente que a capoeira contribui para o desenvolvimento da
agilidade dos praticantes.
Os (meus) cinco anos de docência sistematizada para crianças de 3 até 13 anos de
idade, possibilitaram a visualização da contribuição da capoeira para o aperfeiçoamento da
agilidade.
Além do que, com a capoeira, nunca presenciei momentos como em outras
modalidades, nas quais os pais ficam enlouquecidos por não verem seus filhos nas quadras,
sendo os melhores. E ainda, esquecendo que do outro lado alguma outra criança possa
terminar triste, o importante é “meu filho ganhar”.
Na capoeira consigo perceber a alegria dos pais ao verem que seus filhos realizaram
movimentos que antes não conseguiam mesmo que não tenha sido o movimento mais
complexo da roda ou da aula.
Apesar de notável diferença na agilidade dos praticantes de capoeira quando
comparados com o seu início na modalidade e o passar do tempo, se faz necessário a pesquisa
científica para, quiçá, comprová-la. Desta forma, com este estudo deseja-se chegar à
comprovação de se é justamente a capoeira que é o diferencial no desenvolvimento da
agilidade, que se refletirá junto ao seu desenvolvimento motor.
1.3. OBJETIVO GERAL
Analisar as diferenças significativas na promoção da agilidade entre capoeiras1 e não
capoeiras pré-adolescentes (7 a 10 anos).
1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Discutir sobre a importância da agilidade e seus reflexos no desenvolvimento motor da
criança;
• Identificar a importância da Capoeira no desenvolvimento da agilidade;
• Descrever os resultados relativos o teste de agilidade de cada grupo do estudo;
• Analisar os resultados relativos à agilidade obtidos em cada grupo;
• Refletir e divulgar os resultados relativos à agilidade.
1 Nomenclatura atribuída ao praticante de capoeira. Também usado capoeirista.
18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. A INFÂNCIA
2.1.1. Aspectos gerais
A infância inicia junto com o nascimento do ser humano, porém, antes, desde a
concepção, no período uterino, já ocorre o desenvolvimento motor. Este desenvolvimento
ocorre até o final da vida. (Poeta, 2004).
O desenvolvimento, na sua forma básica, ocorre acentuadamente por volta dos 6 ou 7
anos, e até os 12 anos o que ocorre é um aumento da velocidade, junto com a melhora da
coordenação, controle e habilidades motoras específicas (Poeta, 2004). E ainda, dos 6 aos 10
anos, existe semelhança no desenvolvimento motor para ambos os gêneros.
O desenvolvimento motor citado anteriormente consiste de elementos motores
básicos e dentre eles, destacamos do estudo de Poeta (2004), alguns conceitos fundamentais
para compreensão do mesmo.
A motricidade fina é a harmonia e a precisão dos movimentos finos dos músculos
das mãos, dos pés e rosto ou coordenação de músculos pequenos para atividades finas.
A motricidade global que são as atividades com intervenção dos membros inferiores
ou simultaneamente membros superiores e inferiores e são, em geral, as atividades que
necessitam o desprendimento corporal.
O equilíbrio que se relaciona com a capacidade de assumir e sustentar qualquer
posição do corpo contra a lei da gravidade.
O esquema corporal que é a organização das sensações proporcionadas pelo próprio
corpo em conexão com os dados do mundo exterior.
A organização espacial que é definida como a capacidade de movimentar
integralmente o próprio corpo em volta de objetos num determinado ambiente.
A organização temporal, correspondente a tempo físico, assim é o desenvolvimento
das capacidades de apreensão e utilização dos dados do tempo imediato.
E por fim a lateralidade, que é a preferência lateral, direita ou esquerda, das partes do
corpo (mão, pé, olho, ouvido e hemisfério cerebral).
Portanto, desde o período uterino o organismo encontra-se em desenvolvimento.
Porém os elementos motores básicos, já citados, são mais desenvolvidos durante os primeiros
anos de vida, até os 6 anos. E antes da adolescência, até os 10 anos, o que acontece é o
19
aperfeiçoamento destes elementos. Contudo, fica evidente da importância de atividades
motoras que auxiliem neste desenvolvimento, de forma eficaz, respeitando as características
da criança.
A evolução do desenvolvimento motor ocorre gradativamente, conforme a idade. A
classificação convencional da idade cronológica, usada por Gallahue e Ozmun (2005), divide
os períodos da vida em: vida pré-natal; primeira infância; infância; adolescência; idade adulta
jovem; meia-idade; terceira idade.
A vida pré-natal é dividia em períodos: zigoto (concepção – 1ª semana); embrionário
(2ª semana – 8ª semana); fetal (8ª semana – nascimento). Este período consiste
prioritariamente na formação do corpo. A importância do cuidado da mãe que gera o filho é
imensurável, pois todo o que for realizado pela mãe será sentido pelo bebê em formação. A
alimentação, os sentimentos, os pensamentos, enfim é uma vida dupla e com especiais
cuidados.
A primeira infância se divide em período neonatal (nascimento – 1 mês); início da
infância (1-12 meses); infância posterior (1-2 anos). Após o nascimento a mãe ainda é muito
importante na vida do bebê e deve manter os mesmos cuidados realizados durante a gestação,
pelo menos período neonatal, período que a alimentação deve ser o leite materno. Até os dois
anos, o bebê tem a evolução dos movimentos reflexos para os movimentos rudimentares, ou
seja, dos movimentos em busca de alimentação e proteção para os movimentos intencionais,
que estão ligados à descoberta do novo mundo fora uterino.
A infância (2-10 anos) é dividida em três etapas: período de aprendizagem (2-3 anos);
infância precoce (3-5 anos); infância avançada (6-10 anos). Nesta etapa, ocorre o aumento
significativo do desenvolvimento geral da criança. É um período longo, de 8 anos, de
modificações físico/motora e afetivo/cognitivo. A criança ao passar do tempo torna-se mais
autônoma, porém não excluindo a importância dos pais. É um período de grande aprendizado
e transformação.
Na adolescência a puberdade delimita a classificação da idade, ficando divida para as
meninas em pré-pubescência (10-12 anos) e pós-pubescência (12-18 anos) e para os meninos
pré (11-13 anos) e pós (13-20 anos). Outra característica encontrada neste momento da vida
esta relacionada à diferença entre gêneros. A exemplo, tem-se os meninos com o
desenvolvimento maior da força enquanto as meninas tem maior flexibilidade.
Para conhecimento das outras faixas etárias perante a classificação convencional da
idade cronológica, a idade adulta perpassa de 20-40 anos, a meia-idade 40-60 anos e a terceira
idade de 60 anos em diante.
20
Em relação ao desenvolvimento motor, para Gallahue e Ozmun (2005), este ocorre
por fases. Para cada fase existem características específicas relacionados à faixa etária e seu
estágio de desenvolvimentos, como pode ser visto no quadro abaixo:
Fase Motora
Características Faixa etária aproximada
Estágio de desenvolvimento
Período uterino até 4 meses
Estágio de codificação
de informação
F
ase
Mot
ora
Ref
lexa
Ações involuntárias controladas subcorticalmente. Reflexos primitivos em busca
de alimentos e proteção. Reflexos posturais são
involuntários e similares aos comportamentos voluntários
posturais.
de 4 meses a 1 ano Estágio de
decodificação de informação
do nascimento até 1 ano
Estágio de inibição de reflexos
Fas
e M
otor
a R
udim
enta
r Movimentos involuntários em evolução para os voluntários.
Envolvem movimentos estabilizadores de controle corporal, manipulativos e
locomotores. de 1 a 2 anos
Estágio de pré-controle
de 2 a 3 anos Estágio inicial
de 4 a 5 anos Estágio elementar
Fas
e M
otor
a F
unda
men
tal
Descobertas e experimentações das capacidades motoras. A evolução dos movimentos
rudimentares passa por discretos, em séries e
combinados. Correr e pular, arremessar e apanhar, andar
com firmeza e se equilibrar em apenas um pé.
de 6 a 7 anos Estágio maduro
de 7 a 10 anos Estágio transitório
de 11 a 13 anos Estágio de aplicação
Fas
e M
otor
a E
spec
ializ
ada
Aperfeiçoamento da fase fundamental. As habilidades estabilizadas, locomotoras e manipulativas progridem nas
atividades diárias, recreativas e esportivas. Interdependência
de diversos fatores intrínsecos e extrínsecos.
14 anos em diante Estágio de utilização
permanente
Quadro 1: características das fases motoras.
A partir da divisão das fases de desenvolvimento, consegue-se perceber a relação
existente entre cada momento. Assim, entende-se que o processo de formação humano, aqui
pensando o da criança, é contínuo e interdependente, ou seja, além do aspecto físico/motor,
existe o ambiente, a convivência, os amigos, a região em que vive, etc. E seguindo com os
21
estudos, a partir dos aspectos gerais da infância, dar-se-á maior caracterização do foco dos
estudos à infância avançada.
2.1.2. Características da infância avançada
A infância avançada é constituída por crianças de 6 a 10 anos de idade, porém,
apenas a faixa etária compreendida entre 7 a 10 anos será levada em consideração. Pois, é
justamente este grupo, que antecipa a adolescência e também chamado de pré-adolescência,
que se encontra com os movimentos fundamentais desenvolvidos e ainda não existem grandes
diferenças especificas entre gêneros.
Outro motivo para a escolha desta faixa etária é que, segundo Gallahue e Ozmun
(2005), as crianças de 7 a 10 anos encontram-se no estágio transitório dentro da fase motora
especializada. Neste estágio, as crianças colocam em prática os movimentos fundamentais –
vivenciados nas outras fases – em combinações, ou seja, os movimentos neste momento são
mais controlados e competentes.
As crianças desta faixa etária, por estarem em formação, tanto física como cognitiva,
precisam de atividades lúdicas que explorem ao máximo todas as qualidades motoras,
quantitativamente e qualitativamente.
As características que representam as crianças entre 7 e 10 anos de idade perpassam
pelo interesse em jogos de grupo e de disputa, mostrar a força, teatralizar atividades
descritivas, sabem o que querem, ouvem as explicações sem dificuldades, conseguem seguir
ritmos, dentre outras.
Para a iniciação na capoeira é bastante comum que crianças com esta faixa etária se
interessem e sempre a partir de grupos de amigos, pois outra característica desta faixa etária é
fazer parte de um grupo de pessoas que tenham um mesmo interesse. Devido aos movimentos
naturais já estarem definidos e apreendidos, nesta idade pode-se iniciar movimentos
específicos da capoeira, com repetições para aperfeiçoamento, todavia mantendo a ludicidade
como foco central, devido ao processo de formação do corpo destas crianças não estar
completo.
2.2. CAPOEIRA
2.2.1. Um breve histórico
22
A discussão sobre a origem da capoeira atualmente é bem reduzida, devido a grande
parte dos praticantes e pesquisadores a reconhecerem como afro-brasileira, ou seja, trazida
pelos africanos, através de danças, lutas, gestos, e criada em solo brasileiro, no Período da
Escravidão.
“No caso da capoeira, tudo leva a crer que seja uma manifestação dos africanos no Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro-brasileiros, tendo em vista uma serie de fatores colhidos em documentos escritos e sobretudo no convívio e dialogo constante com os capoeiras atuais e antigos que ainda vivem na Bahia, embora, em sua maioria, não pratiquem mais a capoeira devido a idade avançada.” (REGO, 1968, apud ZULU, 1995 p.31).
A capoeira no Brasil pode ser estudada e contada por momentos ou fases. Uma
dessas fases é o surgimento da Capoeira Regional. Até o aparecimento da mesma, a capoeira
era simplesmente capoeira e a partir do surgimento da Luta Regional Baiana, ou seja, a
Capoeira Regional, a primeira passa a ser conhecida por Capoeira Angola.
A Capoeira Angola, mais antiga, tem como grande representante Vicente Ferreira
Pastinha, o Mestre Pastinha (1889-1981). Para descrição deste mestre, Jorge Amado assim o
faz:
“é um mulato pequeno, de assombrosa agilidade, de resistência incomum. Quando êle começa a “brincar”, a impressão dos assistentes é que aquêle pobre velho, de carapinha branca, cairá em dois minutos, derrubado pelo jovem adversário ou bem pela falta de fôlego. Mas , ah! ledo engano! nada disso se passa. Os adversários sucedem-se, um jovem outro jovem, mais outro jovem, discípulos ou colegas de Pastinha, e êle os vence a todos e jamais se cansa, jamais perde o fôlego, nem mesmo quando dança o “samba de Angola””. (AMADO, 1973, p.169)
Amado (1981, p. 253), continua a descrevê-lo “mestre de capoeira de Angola e da
cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo...” “Toda vez que eu assisto a
esse homem de oitenta e cinco anos, cego e hemiplégico, jogar capoeira, dançar samba, exibir
sua arte com o elã de um adolescente, sinto toda a invencível força do povo da Bahia,...”.
A Capoeira Angola permaneceu com as características da “verdadeira capoeira”, a
mais antiga ou a “capoeira tradicional”, com movimentos rasteiros, golpes lentos e ginga
maliciada. Mesmo com estas características, a Capoeira Angola foi descrita como “sem
dúvida, a capoeira Angola se assemelha a uma graciosa dança onde a ‘ginga’ maliciosa
mostra a extraordinária flexibilidade dos capoeiristas. Mas, Capoeira Angola é, antes de tudo,
luta e luta violenta” (PASTINHA, 1964, apud FALCÃO e VIEIRA, 1997, p.20).
23
No mesmo período, outro nome bastante importante como o de Mestre Pastinha, é o
de Manoel dos Reis Machado (1899-1974), o Mestre Bimba, o criador da Capoeira Regional.
Mestre Bimba foi um negro alto e lutador de ringue que na década de 30 sistematizou a
capoeira.
A partir da capoeira já existente, inseriu-se toda uma metodologia de ensino com
Curso de Capoeira Regional, Curso de Especialização, Curso de Cintura Desprezada (técnicas
de agarramento e projeção) e Sequência de Ensino (oito sequências para ser praticadas nas
aulas).
Mestre Bimba com a criação da Capoeira Regional, sistematizada, deu início ao
ensino em academias (em 1932 foi criada o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da
Bahia e foi autorizada oficialmente em 1937). Segundo Falcão (1996), com a sistematização
e a autorização, a capoeira passa da camada popular para a camada dominante e assim
diminui sua perseguição.
Este é outro marco, pois o decreto nº. 487 do Código Penal Brasileiro de 1890,
proibia a prática da capoeira, no capítulo XIII, “Dos Vadios e Capoeira”:
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação Capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta ou incutindo temor de algum mal. Pena: prisão celular de 2 (dois) a 6 (seis) meses. A penalidade é a do art. 96. (BRASIL, 1980)
A capoeira atualmente recebe mais uma nomenclatura, a Capoeira Contemporânea,
ou seja, os grupos que ensinam a Capoeira Angola e a Capoeira Regional em suas atividades.
Porém sem especificidade e sim esclarecendo as diferenças e as contextualizando. No entanto,
ainda é comum encontrar quem diga que ensina somente a Angola ou a Regional.
2.2.2. Capoeira e suas valências motoras
A capoeira certamente possui possibilidades de desenvolvimento das
valências/qualidades motoras. Ao praticá-la, percebe-se nitidamente o aumento de força,
flexibilidade, equilíbrio, coordenação, agilidade, etc. A capacidade de desenvolvimento das
valências motoras é possível para todos os praticantes, sejam crianças, jovens, adultos, idosos
ou portadores de deficiência.
24
A melhora ocorre diferentemente de uma pessoa para outra. Pode ser lenta ou
rapidamente, dependendo da prática ou da característica do praticante e ainda da quantidade
de vezes que se é praticado o movimento.
As valências motoras relacionadas à capoeira podem ser percebidas separada ou
conjuntamente em um mesmo movimento. A exemplo pode-se pensar na ginga2, que é o
movimento que antecede todos os outros no jogo da capoeira. Isoladamente pode-se perceber
que a prática da ginga auxilia no equilíbrio, através das trocas de posição. Em conjunto,
utilizam-se força, velocidade, agilidade, equilíbrio, etc. ao realizar as trocas de posição
preparando a esquiva, golpes ou qualquer outro movimento.
Simas (1986) cita as resistências aeróbia, muscular e muscular localizada, a
flexibilidade, as velocidades de reação, de deslocamento e dos membros, as forças estática e
explosiva, a agilidade, os equilibrios dinâmico, estático e recuperado, a coordenação, o ritmo
e a descontração diferencial como qualidades físicas desenvolvidas pela capoeira.
Neto (2001) realizou os testes de Imobilidade (equilíbrio estático), Marcha
Controlada (equilíbrio dinâmico), Auto-Imagem (noção do corpo), Estruturação Rítmica
(estruturação espaço-temporal), Coordenação Óculo-Manual (praxia manual), Coordenação
Óculo-Pedal (praxia pedal), Tamborilar (praxia fina) para verificar os benefícios psicomotores
da capoeira em crianças de 4 a 6 anos. Entre os testes realizados no referido estudo, nos testes
de Imobilidade, Marcha Controlada, Auto-Imagem e Estruturação Rítmica, os alunos
praticantes de Capoeira apresentaram resultados superiores aos não praticantes.
Apesar dos poucos estudos existentes sobre os benefícios a cerca da capoeira,
comparados com as outras modalidades esportivas ou com as pesquisas históricas e
metodológicas sobre a capoeira, os existentes comprovam o que é visível aos praticantes, ou
seja, seu potencial de desenvolvimento.
Já sobre agilidade, tema deste estudo, não foi encontrado estudo realizado com
capoeiras, desta forma, este que pode ser o primeiro estudo desta origem partirá das
definições da agilidade e a relação com a capoeira, para enfim, buscar em crianças praticantes
a possível diferença em comparação com os não praticantes.
2.3. AGILIDADE
2 A ginga é realizada a partir da posição anatômica, uma das pernas deverá ser estendida e outra flexionada ao mesmo tempo em que o braço contrário da perna flexionada, será flexionado com uma leve rotação e flexão do cotovelo e ainda uma semi-flexão da coluna, no intuito de equilibrar o corpo e proteger a face. O movimento completo acontece com a troca de posição entre as pernas e braços passando pelo centro, posição anatômica.
25
2.3.1. Conceitos e Características
A agilidade divide opinião de autores enquanto conceito. Segundo estudo de Gorgatti
e Bohme (2003), baseado em diversos autores, a agilidade pode ser definida como:
• “Capacidade de mudar rapidamente a direção do corpo ou de partes do corpo” 3;
• “Uma variável neuromotora, caracterizada pela capacidade de realizar trocas rápidas de
direção, sentido e deslocamento da altura do centro de gravidade de todo o corpo ou parte
dele” 4;
• “A capacidade de mudar de direção sem perda de velocidade, força, equilíbrio ou controle
do corpo.” 5;
• “Coordenação dos grandes grupos musculares do corpo em uma atividade particular.” 6;
• “Uma capacidade motora coordenativa complexa muito importante nas atividades
esportivas e altamente dependente de capacidades motoras condicionais como força e
velocidade.” 7.
Para Gallahue e Ozmun (2005) “A agilidade é a habilidade de alterar a direção do
corpo rápida e precisamente. Com a agilidade, podem-se fazer alterações rápidas e precisas na
posição do corpo durante o movimento”. (p. 303)
Tubino (1992) e Dantas (1998) se assemelham quando relacionam a agilidade com a
mudança de direção do corpo no menor tempo possível.
As características a cerca do conceito da agilidade estão, por varias vezes, voltadas à
velocidade e a mudança de direção. A estas características, relacionam-se algumas valências
físicas. Rodrigues (2007), ao buscar maior entendimento sobre a agilidade, sugere que a
velocidade de reação, velocidade de decisão e velocidade de deslocamento, além da
coordenação são valências físicas que interferem na agilidade.
Weineck, 2003, apud Rodrigues, 2007, separa a velocidade de reação em período
latente – desde a excitação de um receptor até a chegada no músculo – e tempo de reação – da
excitação do músculo até a atividade motora em si.
Gallahue e Ozmun (2005) descrevem que o tempo de reação (quantidade de tempo
decorrido desde o sinal de largada até os primeiros movimentos do corpo) e o tempo motor
3 Baumgartner e Jackson, 1995 ; Johnson e Nelson, 1979; Stanziola e Prado, 1982. 4 Marins e Giannichi (1988). 5 Costello e Kreis (1993). 6 Barrow e McGee (1978). 7 Thiess, Schnabel & Baumann (1980).
26
(tempo decorrido desde o movimento inicial até o término da atividade), influenciam a
velocidade motora e a agilidade, e tende a avançar de forma linear na infância.
A partir destas constatações, percebe-se que a agilidade é a valência final ou geral,
partindo do princípio que para aprimorá-la, tem-se que levar em consideração todos os fatores
(valências) a sua volta.
Quando se fala em velocidade, Rodrigues (2007), contribui com o esclarecimento
dos fatores determinantes da velocidade, que são: tipo de fibras muscular (fibras lentas,
intermediárias ou rápidas); Coordenação intramuscular (força dinâmica); Coordenação
intermuscular (harmonia entre músculos agonistas e antagonistas); Temperatura corporal (o
aumento do calor corporal pode fazer a velocidade melhorar em 20%); Glicólise Anaeróbia (o
corpo degrada glicose e produz ácido lático e quanto mais rápido for a remoção destes
elementos,por mais tempo será possível permanecer em velocidade); ATP-CP (treinamentos
específicos para as fibras de contração rápida aumentam o armazenamento destas substâncias
nos músculo); Flexibilidade (mobilidade articular e elasticidade muscular impedem a
frenagem dos músculos antagonistas); viscosidade dos músculos (estão ligados a reservas de
ATP, hiperacidez e ao calor).
A coordenação motora também é de suma importância para o desenvolvimento da
agilidade. Weineck (1989) assimila as capacidades coordenativas com destreza e Rodrigues
(2007) com “habilidades”. E ainda afirmam que estas capacidades habilitam aos praticantes
de uma modalidade, dominar segura e economicamente ações motoras previsíveis
(estereotipadas) ou imprevisíveis (adaptativas) e ainda aprender rapidamente os movimentos
da modalidade.
Ainda em relação à coordenação motora, Weineck (1989) separa-a em coordenação
“gerais e especiais”, na qual a primeira está ligada aos movimentos da vida cotidiana e que se
apresentam em diferentes esportes, já o segunda desenvolvem-se na modalidade específica,
diretamente relacionada à técnica.
Outro fator importante relacionado à coordenação, ainda segundo o autor citado
acima (1989, p. 175), estão às capacidades de análises. “Os analisadores são sistemas parciais
da percepção sensorial que recolhem informação sobre a base de sinais de uma qualidade bem
determinada, recodificam-nas, transmitem-nas e as elaboram.”
Zaciorskij (1972) e Schnabel (1977) apud Weineck (1989) afirmam que os
analisadores, cinco, fazem parte do sistema nervoso central estando ligados às vias nervosas e
centros sensoriais.
27
Os analisadores são: os analisadores cinestésicos, localizado nos músculos, tendões,
ligamentos e articulações, regulam os parâmetros espaciais e temporais. O analisador tátil,
localizado na pele, está ligado ao tato. O analisador estático-dinâmico, localizado no vestíbulo
do ouvido interno, informam os movimentos da cabeça. O analisador óptico, olhos,
caracteriza-se pela visão central e periférica. E o analisador acústico, com papel subordinado,
devido à limitação da informação dos sinais acústicos durante o movimento.
Outros aspectos presente nas definições de agilidade são a direção e o centro de
gravidade (CG). O CG está relacionado ao corpo, ao qual contem uma massa que é
multiplicada pela aceleração da gravidade (9,81 m/s2) e passa a ser o peso do corpo. Assim,
segundo SCHOPPING (2003, p. 8), CG “nada mais é que o "ponto de aplicação" da força
gravitacional (peso)” e que determina o ponto de equilíbrio.
À medida que o corpo se desloca para qualquer direção, o CG tende a modificar-se,
mesmo que este seja relacionado à posição vertical, devido à força gravitacional atuar de cima
para baixo, atraindo as “massas” para a Terra. Desta forma, a agilidade que é medida pela
mudança de direção em velocidade, nos possibilita afirmar que a mudança do CG de um
corpo e o retorno ao equilíbrio é o que importa para a verificação da existência da agilidade.
Assim, após este estudo inicial, levando em consideração as características da
agilidade, seus influenciadores e o que se relaciona a eles, construiu-se o quadro abaixo,
apresentado toda a sua plenitude:
Fatores influenciadores da agilidade
Aspectos relacionados aos fatores
influenciadores da agilidade
Fatores influenciadores da
velocidade Velocidade de
reação e de deslocamento
(tempos de reação e motor)
Período latente – Sistema Nervoso Central
Tempo de reação – Atividade mecânica
AG
ILID
AD
E
VE
LOC
IDA
DE
Tipo de fibra muscular ;
coordenação
intramuscular e
intermuscular;
temperatura corporal;
glicólise anaeróbia;
magnitude de ATP-CP;
flexibilidade; viscosidade
dos músculos.
Velocidade acíclica
Movimentos isolados dependentes da potencia
(força rápida)
28
Sistema Nervoso Central Analisadores cinestésico, tátil, estático-dinâmico,
óptico e acústico.
Desenvolvimento Motor Memória motora
CO
OR
DE
NA
ÇÃ
O
Direção / Centro de gravidade Equilíbrio
Quadro 2: A agilidade e seus influenciadores.
A importância da agilidade nos esportes é algo indiscutível. O seu desenvolvimento
acontece gradativamente e para isso existem diversos treinamentos. Os treinamentos são
específicos – velocidade, força, etc. – e diferenciados para cada faixa etária e modalidade.
Diversos estudos são realizados nas diversas modalidades para conhecerem-na melhor. E a
partir desses estudos, busca-se aproximar e compreender a agilidade na prática da capoeira.
2.3.2. O jogo ágil da capoeira
A capoeira surgiu na época da escravidão, sendo utilizada como luta. Em combate,
uma pessoa não sabe o que vira pela frente, da mesma forma, quando um escravo a utilizava
para se defender, utilizava do improviso como arma para derrotar alguém.
Em livros que descrevem o surgimento da capoeira e a “libertação da escravidão”,
uma qualidade motora evidente descrita ao descrever a fuga e luta dos negros é a agilidade. E
tanto que no decreto de 1890 que proíbe o jogo da capoeira, a referida qualidade motora é
novamente descrita “fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade...” 8.
Atualmente, quando a capoeira é jogada, o jogo continua a ser realizado com
improvisos sem saber quais os movimentos que serão realizados. Salvo exceções, como
apresentações, onde o jogo pode ser combinado ou até realizado de forma individual, para
simples demonstração de movimentos.
Entendendo que para se jogar capoeira, o praticante deve esquivar-se dos golpes e
movimentar-se para surpreender seu adversário, a agilidade encontra relevância ainda maior,
nessa cultura. Assim quem mostrar maior capacidade de mudar seu corpo de direção
rapidamente, para esquivar ou atacar durante o jogo, conseguirá dominar o jogo, ficar mais
confortável, ditar o “ritmo” e por fim ser mais ágil.
8 Grifo meu.
29
A literatura existente que aborde o lado técnico desta arte/luta ainda é incipiente, ao
contrário das pesquisas históricas e pedagógicas. Assim, tentar-se-á dar características que
envolvam a capoeira e a agilidade de forma simples e não técnica, uma vez que ainda esta
sendo estudado sobre este tema para então poder realizar reflexões mais precisas e técnicas.
A agilidade na capoeira pode ser analisada, como acontece comumente, através de
uma metáfora. Um diálogo. Neste, no momento que um capoeira realiza um golpe/movimento,
chama-se de pergunta e assim que o outro se esquiva, ou realiza outro movimento dando
continuidade ao jogo, chama-se de resposta e desta maneira dar-se ao o jogo da capoeira o
nome de “diálogo de corpos”.
Ainda na metáfora do diálogo dos corpos, imagina-se uma boa discussão daquelas
que parece não ter fim, então, pode-se observar um jogo de capoeira com tamanha
“malandragem” 9 que não se consegue imaginar quem domina o jogo, o que acontecerá a
seguir, fazendo com que cada jogador fique o mais atento possível para realizar movimentos
ágeis e por fim não interromper o diálogo.
Ao analisar o jogo da capoeira sobre o aspecto físico, torna-se ainda mais fácil
visualizar a relevância e a importância da presença da agilidade neste jogo. Os movimentos da
capoeira fazem o CG alterar a cada momento. As esquivas fazem o CG abaixar, ao mesmo
tempo em que servem para escapar dos golpes, percebidos pela acuidade visual e analisadores
ópticos. Os golpes buscam o oponente à frente (comumente), podendo também buscar atrás
ou ao lado, enfim, em qualquer direção. Os movimentos são realizados com giros (circular) ou
retos (em linha). E todos estes acontecimentos alteram o CG.
Para melhor entender a complexidade da capoeira, em termos de CG e agilidade,
pensa-se o Rabo de Arraia 10. Neste golpe, com intuito de acertar o alvo (com o pé) que esta
na parte ântero-superior (cabeça), a jogador põe-se (cabeça, troco e membros superiores) para
o lado ínfero-posterior, erguendo uma das pernas em direção ao alvo e realizando um giro
sobre o eixo (outra perna). Este e todos os movimentos são realizados a partir da ginga, que
por si só, já altera o CG, e ainda em velocidade variada para surpreender o outro jogador.
Enfim, o que se encontra a cerca da agilidade na capoeira são livros que apenas citam
a presença da mesma nos jogos ou referenciam os jogadores por possuírem tal qualidade
motora. Como em Moura (1979, apud Brito, 2003), quando diz que “O capoeirista ágil
9 Malandragem no sentido da capoeira significa agilidade, mandinga, fazer de conta que vai fazer uma coisa e faz outra. 10 Nome dado a um golpe realizado na capoeira. Pode ser encontrado com outros nomes. Ver representação do golpe em anexo.
30
desvia-se, em tempo oportuno, dos golpes do adversário e não se deixava prender em nenhum
deles”.
Portanto, este estudo caminha na direção de compreender as possibilidades da
capoeira no desenvolvimento da agilidade da criança em relação a não praticantes desta
manifestação. Tal fato, além de inédito, pela ausência de discussão bibliográfica a respeito do
tema, poderá tornar-se um referencial inicial para futuras pesquisas.
31
3. METODOLOGIA
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Este trabalho se desenvolveu através de uma pesquisa exploratória que se
caracterizou, de acordo com (GIL, 1989, p. 44) “por desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e idéias, com vistas na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses
pesquisáveis para estudos posteriores.”.
A percepção dos praticantes de capoeira de que a agilidade é aprimorada com as
práticas já é concretizada em conversas e vivências, porém o numero de estudos científicos
deste assunto ainda é pequeno ou quase inexistente, assim esta pesquisa foi de caráter
exploratório devido ao objetivo de confirmar e divulgar esta característica da capoeira.
A pesquisa ainda conta com a amostragem não probabilística, intencional, na qual o
interesse é segundo (MARCONI, 1990, p. 47) “na opinião (ação, intenção etc.) de
determinados elementos da população, mas não representativos da mesma.”.
A intenção de escolher o grupo a ser pesquisado se dá por conhecer o trabalho
desenvolvido para/com aquelas crianças, ou seja, atividades lúdicas, prazerosas,
enriquecedoras e com mais de 1 ano de prática sistematizada.
3.2. PARTICIPANTES DA PESQUISA
Participaram da pesquisa, praticantes e não praticantes de capoeira com idade entre 7
a 10 anos (infância avançada), de uma Instituição de Ensino Privada, localizada na Lagoa da
Conceição em Florianópolis (SC).
Na amostra intencional, participaram do estudo quatorze (14) praticantes de capoeira
com mais de um ano de prática e dezoito (18) não praticantes de nenhuma modalidade
esportiva além da educação física.
3.3. PROCEDIMENTO DE COLETA DE INFORMAÇÃO
Os testes foram realizados nas dependências da escola. O espaço utilizado para tal foi
a quadra poli - esportiva. Foi montada a estrutura do teste e testado antes de colocá-lo em
prática. Além da utilização dos equipamentos, foi necessário na aplicação dos mesmos, a
32
colaboração voluntária do professor de capoeira do colégio e também de um acadêmico de
educação física.
3.4. TRATAMENTOS DOS DADOS
Os dados resultantes do testes foram tratados no programa Microsoft® Oficce for
Windows 2003 - Excel. Foram analisados as médias, desvios padrão e teste “t” de student
para os tempos parciais e total, além das idades dos participantes e tempo de prática dos
praticantes de capoeira. Utilizou-se do programa de estatistica SPSS 17.0.2, para confirmação
dos resultados e geração dos gráficos Box-Plot.
Os resultados obtidos através do teste de agilidade foram dados quantitativos e a
partir da análise dos mesmos, buscou-se interpretá-los qualitativamente relacionando aos
valores ao tema da pesquisa e responder teoricamente a questão do estudo. Assim, sua
abordagem foi caracterizada como mista, que segundo Creswell (2007, p. 222) “ocorre tanto
dentro da técnica quantitativa (análise descritiva e numérica inferencial) como da técnica
qualitativa (descrição e texto temático ou análise de imagem) e, muitas vezes, entre as duas
técnicas.”
3.5. TESTE DE AGILIDADE
Os testes de agilidades existentes em bibliografias são inúmeros. Porém em sua
grande maioria estes ainda são medidos com cronometragem manual, transpassando pela
sensibilidade humana no momento da coleta de tempo.
Monte (2007) explica como ocorreu a automatização de um dos testes de agilidade, e
que deu origem ao protocolo TATAM, um protocolo para o tênis. Esta automatização se fez
em sete anos. A partir do teste Shuttle Run, foram incrementados aparatos eletrônicos para a
automatização de sua tomada de tempo, porém não surtiu efeito esperado para a modalidade
em questão, o tênis. Desta forma foram criados testes de agilidade e velocidade com
movimentos similares ao jogo de tênis e que foram aprimorados de 2004 a 2007, ano que
Rodrigues (2007) verificou sua especificidade.
Em busca de um teste neutro e automatizado, ou seja, sem a especificidade de uma
modalidade esportiva e com mensuração eletrônica, Monte sugere um novo protocolo. E é
este que foi utilizada neste trabalho.
33
3.5.1. Protocolo do teste de agilidade de Monte
3.5.1.1. Materiais
• 4 Sensores de passagem infravermelho;
• 1 Cronômetro eletrônico;
• 1 fita métrica – 10 metros;
• 3 Cones pequenos – 23 cm;
• 1 cone grande – 50 cm;
• Tabelas de anotação;
• 2 pranchetas;
• 2 canetas.
3.5.1.2. Procedimentos
Figura 1 – Ilustração do teste de agilidade de Monte em 2009.
O teste de agilidade de Monte, 2009, é inédito e consiste em testar a agilidade de
qualquer pessoa, sem a especificidade de uma modalidade esportiva.
34
O esquema do teste, figura 1, apresenta duas linhas paralelas com distância entre si
de 10 metros a partir de seus bordos externos. Em uma das linhas ficam dispostos dois cones
(pequenos) equidistantes 2 metros, a contar dos bordos externos. Na outra linha é colocado
apenas um cone (grande), que coincida com o centro dos cones da primeira linha. A 5 metros
das linhas, no centro, é colocado um cone (pequeno) para identificação. E equidistante deste,
dois sensores de passagem do tipo infravermelho são colocados, paralelamente às linhas, na
lateral do percurso, de maneira que seus feixes de luz se cruzem. Outros dois sensores são
colocados perpendicularmente à linha, onde se encontra apenas o cone grande, com seu feixe
infravermelho cruzando-a.
Os sensores utilizados no teste de Monte são ligados a um cronômetro eletrônico
portátil a fim de gravar o tempo em cada passagem.
O teste foi realizado individualmente. O participante iniciou o teste ao lado de um
cone pequeno (marcado com um “X” na figura 1). Ao sinal sonoro emitido pelo cronômetro, o
participante correu em direção a linha oposta, contornou o cone grande retornando à primeira
linha. Captou-se três tempos (T1, T2, T3).
T1 equivale o tempo da partida até o cruzamento do primeiro feixe de luz, na reta; T2
inicia no primeiro feixe de luz e vai até o segundo feixe, na curva; e T3 conta a partir do feixe
da curva até o até o feixe de luz na reta, pelo outro lado de T1.
T1 está relacionado à atenção, velocidade de reação e aceleração, T2 é direcionado a
frenagem, ou seja, musculatura anterior da coxa como musculatura principal e T3 é o segundo
momento de aceleração ou re-aceleração e a musculatura principal trabalhada é a posterior na
coxa.
O teste foi realizado para os dois lados com três repetições para cada lado e intervalo
de no mínimo 2 (dois minutos) para descanso.
35
4. ANÁLISES DOS RESULTADOS
Ao iniciar o processo de apresentação e discussão dos resultados, optou-se pela
utilização de siglas de abreviação a título de limitar as repetições de termos mais constantes
no processo de análise dos testes:
PC - Grupo de Praticante de Capoeira;
NP - Grupo de Não Praticantes;
TA - Tempo de Deslocamento no sentido Direito para Esquerdo;
TB - Tempo de Deslocamento no sentido Esquerdo para Direito;
DP – Desvio Padrão;
ms – milésimos de segundo (unidade de tempo para o teste de agilidade).
A tabela 1 apresenta as médias e os desvios padrão das idades dos participantes da
pesquisa e o tempo de prática dos capoeiras.
Tabela 1 – Média e desvio padrão das idades e tempo de prática dos participantes da pesquisa.
Sujeitos (n = 32) Idade (anos) Tempo de prática* (anos)
Média 8,21 2,03
Desvio padrão (±) 0,86 0,78
Mínimo 7 1
Praticantes de capoeira
(n = 14)
Máximo 9 4
Média 8,22 -
Desvio padrão (±) 0,71 -
Mínimo 7 -
Não praticantes
(n = 18) Máximo 9 -
* Somente para praticantes de capoeira.
O grupo participante da pesquisa mostrou-se homogêneo, pois, manteve uma média
de idade de 8,21 e 8,22 para os praticantes de capoeira e não praticantes respectivamente. A
idade mínima e máxima dos participantes da pesquisa foram 7 e 9 anos de idade, para ambos
os grupos. No entanto o estudo possibilitou o envolvimento de crianças entre 7 e 10 anos de
idade. Foram pesquisados 4 capoeiras com 7 anos, 3 com 8 e 7 com 9 anos de idade e ainda 3
não praticantes de capoeira com 7 anos, 8 com 8 e 7 com 9 anos de idade. Os capoeiras
36
pesquisados mantiveram a média de 2,03 anos de prática, o dobro do tempo necessário para a
participação no teste (um ano).
O tempo de prática dos capoeiras ressalta a iniciação na modalidade ainda no período
de desenvolvimento das habilidades motoras básicas. E isto pode prevalecer no
desenvolvimento motor, como visto nos estudos de Neto (2001) e por conseqüência na
agilidade, uma vez que estes estão inter-relacionados.
Os NP foram crianças que no momento do teste não estavam participando de
nenhuma escolinha de modalidade específica, ou seja, estas crianças podem ter praticado
algum esporte em outro momento, mas neste ano, participavam apenas das atividades de
educação física.
Nesta escola, houve dificuldade de encontrar crianças que não fizessem nenhuma
escolinha de esporte. Pois, mesmo que atualmente estas crianças vivam numa realidade
informatizada e uma infância eletrônica, suas agendas são sempre comprometidas com
atividades extracurriculares. Normalmente as atividades complementares servem para
manterem as crianças ocupadas no mesmo momento que os pais estão trabalhando.
Seguindo as análises dos resultados, a tabela 2 possibilita a visualização dos
resultados obtidos por todos os pesquisados, separados por suas faixas etárias. As médias e
desvios padrão estão apresentados separadamente para ambos os lados TA e TB.
Tabela 2 – Médias e desvios padrão do tempo total das faixas etárias participantes do teste.
Sujeitos 7 anos
Tempo total (ms) 8 anos
Tempo total (ms) 9 anos
Tempo total (ms)
Média 5643 5591 5492 PC
DP (±) 434 208 508
Média 5651 5860 5669
TA Direita p/ Esquerda
NP DP (±) 313 457 363
Média 5960 5642 5546 PC
DP (±) 475 277 447
Média 5877 5873 5533
TB Esquerda p/ Direita
NP DP (±) 480 542 450
37
Os PC avaliados com 7 anos de idade foram mais rápidos 8 ms do que os NP em TA,
enquanto em TB a diferença a favor de NP é de 83 ms. Para os avaliados com 8 anos, os PC
foram mais rápidos para ambos os lados e em TA a diferença foi de 269 ms e em TB de 231
ms. Aos testados com 9 anos, os PC levaram vantagem em TA de 177 ms, mas, foram mais
lentos em TB 13 ms.
Os DP etsão relacionados a dispersão da média, ou seja, quando menor o DP mais
homogeneo é o grupo. E para os PC de 8 anos de idade a variação de DP foi menor tanto para
TA como para TB. Já com 7 e 9 anos de idade os NP alcançaram o melhor DP em TA. E os
PC variaram menos seus DP com 7 e 9 anos de idade em TB.
Assim, através desta análise, verificou-se que os PC foram totalmente superiores
(melhor média e DP) aos NP com 8 anos de idade. E também alcançaram a melhor média com
7 e 9 anos em TA, apesar dos menores DP terem sido alcançados pelos NP. Por fim, em TB
com 7 e 9 anos, quem alcançou as melhores médias foram os NP, mesmo com os melhores
DP sendo dos PC.
Ao tentar entender os resultados anteriores, buscou-se a média do tempo de prática
de cada idade dos PC. Assim, os que se encontravam com 7 anos de idade estavam nesta
prática em média há 2,12 anos. Já os que tinham 8 anos de idade, participavam da modalidade
há 2,66 anos em média. Enquanto os que estavam com 9 anos de idade tinham 1,71 anos de
média de prática da capoeira. Desta forma, o fato dos alunos com 8 anos de idade praticar a
capoeira há mais tempo, em média, pode ser um fator explicativo para a leve melhora nos
tempos do teste, em comparação com as outras idades, que foram melhores em apenas um
sentido.
Outro possível fator é a melhor fase do testado em um momento específico do teste,
uma vez que os três momentos do teste de agilidade proposto por Monte, 2009, contém
características para medir a agilidade. Entretanto, em cada parcial existem especificidades a
serem analisadas. No primeiro momento, que consiste do sinal sonoro até a passagem pelo
primeiro sensor infravermelho é o período relacionado à velocidade de reação e o tempo
motor, que perpassam pela excitação de um receptor, com origem no analisador acústico
devido ao sinal sonoro emitido pelo cronômetro, chegando ao músculo e excitando-o para a
atividade motora propriamente dita, a corrida.
O segundo momento, que o testado já está correndo, inicia com o recebimento do
estímulo visual, através dos analisadores ópticos, com a visualização do cone que deve ser
contornado. Entram em ação os analisadores cinestésicos e estático-dinâmico, responsáveis
38
por regular os espaços e o equilibrio, para então as musculaturas anteriores da perna,
agonistas na frenagem, entrarem em funcionamento para iniciar a curva.
O terceiro momento é semelhante ao segundo, no entanto a diferença está na
musculatura que entra em ação como agonista que neste momento são os músculos
posteriores. Deve-se levar em consideração que o sentido da curva, faz diferença para qual
musculatura será especificamente a agonista e antagonista.
Assim, a tabela 3 mostra os resultados totais (médias e desvios padrão) de todos os
PC e NP sem discriminação por idade e a medida parcial do teste (T1, T2 ou T3), com a
possibilidade de identificar em que parcial quem foi o mais rápido.
Tabela 3 – Médias e desvios padrão do tempo total e das parciais (T1, T2, T3) de ambos os grupos.
Sujeitos Tempo total
(ms) 1ª parcial - T1
(ms) 2ª parcial – T2
(ms) 3ª parcial - T3
(ms)
Média 5557 2129 1417 2010 PC
DP (±) 443 193 179 255
Média 5751 2009 1531 2209 TA
NP DP (±) 412 150 160 257
Média 5685 2222 1417 2045 PC
DP (±) 461 207 137 282
Média 5742 2035 1557 2148 TB
NP
DP (±) 524 213 150 250
Os valores encontrados pelos PC no tempo total foram menores do que os valores
dos NP. Em TA, o grupo PC foi 194 ms mais rápido que NP e em TB, a diferença foi de 57
ms. Para os valores da 1ª parcial, PC foi mais lento 1120 ms em TA e 187 ms em TB. Na 2ª
parcial, os PC foram mais rápidos 114 ms em TA e 140 ms em TB. Na 3ª parcial, novamente
os PC foram mais rápidos, desta vez 199 ms em TA e 103 ms em TB.
Os DP nesta tabela mostram uma pequena variação a cada momento entre os grupos
participantes. O valor mais alto encontrado foi de 43 ms para T3 de TB. E o menor valor foi
de 6 ms em T1 de TB. Este fato, caracteriza a não significância das variações pelos DP.
39
Desta forma, os NP foram mais rápidos na 1ª parcial para ambos os lados, porém os
PC levaram vantagens nas duas parciais seguintes, alcançando um melhor tempo final do que
os NP em TA e TB.
Ao relacionar estes valores com as características do teste de agilidade proposto por
Monte, 2009, pode-se analisar que o grupo PC teve maior dificuldade em manter a atenção
para a primeira etapa do teste, ou ainda, que sua aceleração a partir da velocidade de reação
não foi suficientemente desenvolvida.
As fases T2 e T3 do teste são os momentos da agilidade propriamente dita. Pois o
participante que já está em velocidade deve trocar de direção o mais rapidamente possível.
Nestes momentos, os PC foram melhores e mais rápidos do que os NP, o que significa que de
forma geral, sua agilidade está mais desenvolvida do que os NP. Todavia é necessário
verificar se a diferença entre os tempos dos participantes do teste são relevantes.
Antes, para melhor visualizar os resultados encontrados, a figura 2 mostra o gráfico
tipo box-plot com as médias dos tempos totais dos grupos PC e NP para ambos os lados. No
gráfico, percebe-se que as linhas horizontais dentro dos retângulos, que indicam as médias,
estão praticamente na mesma linha, indicando uma proximidade dos resultados. O tamanho
dos retângulos que mostram a porcentagem dos resultados (50%), ou seja dos 25% aos 75%
dos tempos, indicam a variação do resultado da amostra e os PC de capoeira levam ligeira
vantagem. Já as linhas verticais mostram os valores mínimos e máximos dos tempos
participantes e novamente encontram-se sem grandes diferenças.
Figura 2 – Gráfico Box-Plot do tempo total representando valores mínimo, máximo, médio e 50%.
40
A tabela 4 mostra justamente a soma das duas parciais que os PC foram melhores, T2
e T3. Para TA, os PC foram mais rápidos 313 ms do que NP e 244 ms para TB. Novamente os
DP não seguiram os resultados dos tempos alcançados por cada grupo. Assim, os menores DP
para os dois lados foram menores para o grupo NP.
Tabela 4 – Médias e desvios padrão do somatório T2 + T3.
Sujeitos T2 + T3 (ms)
Média 3428
PC DP (±) 360
Média 3741 TA
NP DP (±) 293
Média 3462 PC
DP (±) 390
Média 3706 TB
NP DP (±) 346
Os valores encontrados na soma de T2 e T3 que representa a parte de maior agilidade
do teste proposto por Monte são menores em PC. Para verificar esta diferença, novamente
utiliza-se do gráfico box-plot para representar os referidos valores.
As linhas horizontais, dentro dos retângulos, que representam as médias da soma de
T2 e T3, deste gráfico não estão alinhadas como na representação do tempo total da figura 2.
O mesmo ocorre para as linhas horizontais das extremidades (mínima e máxima) que
representam o menor e maior valor encontrado nos grupos pesquisados. Para os retângulos,
que representam os 50% dos testados (entre 25% e 75%), o maior é o grupo PC em TB, que é
justamente o que encontra maior DP.
41
Figura 3 – Gráfico Box-Plot da soma de T2 eT3 representando valores mínimo, máximo, médio e 50%.
A diferença entre os resultados dos PC e NP é relativamente pequena, quando
relacionada ao tempo final e/ou parcial alcançados no teste de agilidade. Assim, para saber se
existe diferença significativa entre os avaliados, utilizou-se o teste estatístico “t” student para
amostras independentes, para os tempos total e parcial (T2 + T3), como mostra a tabela 5.
Tabela 5 – Resultados do teste “t” student referente ao teste de agilidade para as variáveis total e T2 + T3
Praticantes de capoeira Não praticantes
Variáveis Média DP (±) Média DP (±)
p
TA (total) 5557 443 5751 412 0,115
TB (total) 5685 461 5742 524 0,377
TA (T2 + T3) 3428 360 3741 293 0,008*
TB (T2 + T3) 3462 390 3706 346 0,043*
* p ≤ 0,05.
Em TA (total) e TB (total), o tempo decorrido no teste de agilidade não teve
diferença significativa entre os PC e NP, como demonstram os resultado de p para TA 0,115 e
para TB 0,377. Já no somatório das parciais T2 e T3, os resultados encontrados mostram que
42
existe diferença significativa entre TA e TB com p = 0,008 e p = 0,043 respectivamente entre
os grupos PC e NP.
Havendo diferença significativa nos dois momentos mais ágeis do teste, T2 e T3, por
ser o momento de velocidade e mudança de direção especificamente, pode-se constatar que a
capoeira possibilita maior agilidade em comparação com os que não praticam nenhuma
escolinha de modalidade específica. Todavia, em relação ao primeiro momento do teste, ao
qual os NP obtiveram a melhor marca, não se pode afirmar que os PC tenham uma melhor
concentração ou que obtenham melhor força reação.
43
5. CONSIDERAÇÕES
Este estudo foi realizado com o objetivo de verificar se a capoeira possibilita o
desenvolvimento da agilidade em seus praticantes com idade entre 7 e 10 anos de idade. Para
a realização da pesquisa, utilizou-se o protocolo proposto por Monte em 2009. A pesquisa foi
realizada com praticantes de capoeira com mais de um ano de prática e com crianças que
neste ano não participaram de nenhuma escolinha de esportes. A partir do pesquisado obteve-
se os resultados e as considerações descritas a seguir.
O teste de agilidade de Monte, 2009, que utiliza sensores de passagem infravermelho
para medir o tempo, em milissegundos, dos participantes da pesquisa foi essencial para o
estudo, como planejado. Pois, a mensuração de tempo eletronicamente, possibilitou a precisão
dos resultados sem o possível erro humano, como o que ocorre ao utilizar cronômetros
manuais. Além da mensuração das parciais que atribuiu a melhor desempenho para
determinado grupo em cada parte do teste.
Os resultados apresentaram que os praticantes de capoeira foram mais rápidos do que
os não praticantes, porém com uma diferença muito pequena de apenas 57 ms (0,057
segundos) para o lado TB, ou seja, da esquerda para a direita. Para o lado TA, direita para
esquerda, o valor encontrado também foi maior para os praticantes de capoeira e atingiu 194
ms (0,194 segundos). Estes valores tão baixos não apresentaram diferença significativa no
teste “t” com p = 0,115 para TA e p = 0,377 para TB.
A partir da constatação de que houve melhor resultado para os praticantes de
capoeira, porém, não significativo, buscou-se encontrar em quais parciais esta diferença foi
maior. Assim, encontrou-se no somatório das duas últimas parciais do teste, T2 e T3, os
melhores momentos dos praticantes de capoeira.
Eles foram mais rápidos 313 ms (0,313 segundos) em TA e também mais rápidos 244
ms (0,244 segundos) em TB. Estes valores também pequenos, porém relacionados a apenas
dois momentos do teste foram significativamente diferentes no teste “t” . O valor para TA foi
de p = 0,008 e de p = 0,043 para TB
As características do teste de agilidade de Monte, 2009, divide-o em três momentos.
Assim o primeiro que requer velocidade de reação, força de explosão e atenção, os não
praticantes de capoeira foram melhores. Todavia, os momentos seguintes são os momentos
mais ágeis do teste, momentos estes que requerem o uso da musculatura anterior da coxa para
frenagem, ao iniciar a curva e musculatura posterior para re-aceleração, os praticantes de
capoeira foram melhores.
44
Assim, após estas constatações é possível afirmar que os praticantes de capoeira de 7
a 10 anos de idade pesquisados neste estudo foram mais ágeis do que os não praticantes de
capoeira. E também, a capoeira contribui para o seu desenvolvimento da agilidade em
crianças de 7 a 10 anos de idade.
Por fim, acredita-se ao final deste estudo que este teste deva ser realizado com outros
grupos para constatar se esta diferença na agilidade persiste com adolescentes, adultos e
outros. E também, que este teste possa ser realizado com crianças que pratiquem outro tipo de
escolinhas para verificar quais as modalidades que mais auxiliam neste desenvolvimento.
45
6. REFERENCIAS
AMADO, J. Bahia de todos os santos: guia das ruas e dos mistérios da cidade de
Salvador. 25ª ed., São Paulo: Martins. 1973
AMADO, J. Bahia de todos os santos: guia de ruas e mistérios. 30ª ed., Rio de Janeiro:
Record 1981.
BRASIL, Decreto nº. 847, de 11 de outubro de 1890. Promulga o código penal. Lex: Coleção
de Leis do Brasil, V.10, pág. 2664, 1890. Código Penal.
BRITO, E. P. de, No Caminho do Mestre. 2ª. ed. atual. Trindade - GO: Artcrio. 2003.
CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2ª ed.,
Porto Alegre: Artmed, 2007.
DANTAS, E. H. M. A Prática da Educação Física. 4ª.ed., Rio de Janeiro: Shape, 1998.
FALCÃO, J. L. C.; VIEIRA L. R. Capoeira História e Fundamentos do Grupo Beribazu.
Brasília: Starprint Gráfica e Editora Ltda., 1997.
FALCÃO, J. L. C. A escolarização da capoeira. Brasília: Royal Court Editora, 1996.
GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês,
Crianças, Adolescentes e Adultos. 3. ed., São Paulo: Phoerte, 2005.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 2 ed., São Paulo: Atlas, 1989.
GORGATTI, M. G.; BOHME, M.T.S. Autenticidade Científica de um Teste de Agilidade
para Indivíduos em Cadeira de Rodas. Revista paulista de Educação Física, São Paulo,
17(1): 41-50, jan./jun. 2003.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 1990.
46
MONTE, A. MONTE, F. G. (2007). Testes de agilidade, velocidade de reação e velocidade
para o tênis de campo. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano.
Vol. 9 n. 4.
Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/rbcdh/article/view/4110/3470
Acesso em: 15 abril 2009.
NETO, P. C. O. (2001). O perfil de escolares da educação infantil, praticantes de capoeira,
em relação as variáveis psicomotoras. Uruguaiana, 53 f. Monografia (Graduação/Educação
Física) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul.
RODRIGUES, O. A. F. (2007). Teste de Agilidade para Tênis de Campo Proposto por
Monte (2004): Um Estudo Comparativo com Tenistas e não Tenistas. Tese
(Mestrado/Educação Física). Florianópolis, 94 f. Centro de Desportos, Universidade Federal
de Santa Catarina.
SCHOPPING, K. (2003). Centro de gravidade e equilíbrio dos corpos. Florianópolis, 39 f.
Trabalho de graduação. (Projeto de Pesquisa) – Curso de Física, Departamento de Física,
Universidade Federal de Santa Catarina.
SIMAS, L. A. N. Cultura e qualidade da luta da liberdade. Artus - Revista de Educação
Física e Desportos, Rio de Janeiro, v. IX , n. 17, p.30-32, 1986.
TUBINO, M. J.G. As Qualidades Físicas na Educação Física e Desportos. 10ª. ed., São
Paulo: IBRASA, 1992.
VIEIRA, L. R. O jogo da capoeira: cultura popular no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.
WEINECK, J. Manuel do Treinamento Esportivo. 2. ed., São Paulo: Manole, 1989.
ZULU, Mestre. Idiopráxis de Capoeira. Brasília, Fundação Educacional do Distrito Federal,
1996.
47
ANEXOS
48
Pesquisa:
AGILIDADE: A CAPOEIRA CONTRIBUI PARA O SEU DESENVO LVIMENTO EM
CRIANÇAS?
Prezado Professor
Diretor Geral do Colégio da Lagoa
Estou realizando um trabalho de pesquisa que irá subsidiar meu trabalho de conclusão
de Curso de Graduação em Educação Física na UFSC, sob orientação do Professor Dr. Edison
Roberto de Souza. Para isto, gostaríamos de contar com a permissão deste conceituado
colégio para realizar um teste com alunos (8, 9, e 10 anos) praticantes e não praticantes de
capoeira, na perspectiva de analisar a agilidade dos mesmos.
Asseguramos que todas as informações prestadas serão sigilosas e utilizadas somente
para esta pesquisa. A divulgação das informações será anônima e em conjunto com os dados
obtidos dos sujeitos observados e entrevistados.
Esclarecendo que após conclusão do estudo remeteremos cópia do mesmo a esta
Unidade de Ensino.
No aguardo de vossa compreensão e autorização, antecipamos agradecimentos.
Atenciosamente,
Marcelo Braz Vieira Prof. Dr. Edison Roberto de Souza
Graduando em Educação Física Orientador
49
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Senhores Pais
Sou aluno do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC e estou realizando uma pesquisa para verificar a agilidade em
crianças de 7 a 10 anos praticantes e não praticantes de capoeira do Colégio da Lagoa.
Assim, gostaria de convidar o seu (sua) filho (a) para participar de um teste de
agilidade, que será realizada nas dependências da escola. Para tanto, pedimos a sua
autorização para a realização do teste com seu (sua) filho (a).
Anotaremos os dados com a garantia de que estas informações serão tratadas
como confidenciais, transformando-se em números em nossos registros para análise
dos dados. O teste consiste em correr e mudar de direção, com duração máxima de 15
(quinze) minutos, incluídos tempo de corrida e descanso.
A participação do seu (sua) filho (a) nesta pesquisa é voluntária e o mesmo
poderá desistir no momento que desejar. Lembrando que não há qualquer perigo no
teste a ser realizado.
Caso haja dúvida deixo meu contato Marcelo Braz Vieira (48) 8404-8580,
marcelodego@yahoo.com.br para possíveis esclarecimentos.
Eu ................................................................................................................................................, portador do CPF ............................................................................ li o termo acima e concordo autorizando o meu filho ..................................................................................................... nascido em ........./........../.......... a participar do teste de agilidade.
Florianópolis, ......... de Maio de 2009
______________________________ Ass. Responsável
50
FICHA DE COLETA DE DADOS
Nome: Data nasc.:
Esporte praticado: Tempo de prática:
Olhos: MMSS: MMII: Lado:
Nome: Data nasc.:
Esporte praticado: Tempo de prática:
Olhos: MMSS: MMII: Lado:
Nome: Data nasc.:
Esporte praticado: Tempo de prática:
Olhos: MMSS: MMII: Lado:
Esquerda p/ Direita Direita p/ Esquerda T1 T2 T3 T1 T2 T3
1a.
2a.
3a.
Esquerda p/ Direita Direita p/ Esquerda T1 T2 T3 T1 T2 T3
1a.
2a.
3a.
Esquerda p/ Direita Direita p/ Esquerda T1 T2 T3 T1 T2 T3
1a.
2a.
3a.
51
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA – RABO DE ARRAIA
11
11 Parte principal do golpe. A intencáão é acertar o alvo (com o pé), na parte ântero-superior (cabeça). O jogador põe-se (cabeça, troco e membros superiores) para o lado ínfero-posterior, erguendo uma das pernas em direção ao alvo e realiza um giro sobre o eixo (outra perna).
top related