t eoria da h istÓria i karina anhezini kanhezini@gmail.com
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TEORIA DA HISTÓRIA I
Karina Anhezinikanhezini@gmail.com
HISTORICISMO (S): A HISTÓRIA COMO DISCIPLINA – RANKE E DROYSEN
MATA, Sérgio da. Leopold von Ranke (1795-1886) In: MARTINS, Estevão de Rezende (org.). História Pensada: teoria e método na historiografia européia do século XIX. São Paulo: Contexto, 2010, p. 187-215.
Obra – interessada em reunir textos dos protagonistas da virada científica da História.
Sérgio da Mata – professor de Teoria e Historiografia da UFOP.
HISTORICISMO (S): A HISTÓRIA COMO DISCIPLINA – RANKE E DROYSEN
DROYSEN, Johann Gustav. Manual de teoria da história. Apresentação e notas Júlio Bentivoglio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, p. 7-34.
Autor da apresentação – Júlio Bentivoglio – Professor de Teoria da História da UFES.
Autor também de: GERVINUS, Georg Gottfried. Fundamentos de Teoria da História. Apresentação e notas Júlio Bentivoglio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
Texto de 1837.
ALGUMAS DEFINIÇÕES...
Historicismo é a forma científica do conhecimento histórico surgido na primeira metade do século XIX.
A) criou um campo autônomo para a ciência histórica;
B) representou um rompimento com a metafísica.
“EM SUMA:
o historicismo procurou elaborar as categorias mestras da ciência histórica, com as quais se entende o passado humano como história, as regras metódicas, com as quais a investiga, e a pretensão pedagógica, com a qual deveriam ser concretizadas” (MARTINS, Estevão de Rezende. Historicismo: o útil e o desagradável. In: ARAUJO, Valdei Lopes de, MOLLO, Helena Miranda, VARELLA, Flávia Florentino, MATA, Sérgio Ricardo da (orgs.). A dinâmica do historicismo: revisitando a historiografia moderna. Belo Horizonte, MG: Agvmentvm, 2008, p. 42).
HISTÓRIA COMO CIÊNCIA
Se desenvolve durante o século XIX nos cenários do historicismo, do positivismo e da escola metódica;
Ponto comum dessas correntes do século XIX: deixam de considerar a história como uma crônica baseada nos testemunhos legados pelas gerações anteriores e entendem-na como uma investigação – o termo História recupera seu sentido grego;
Grande avanço: fundamentação metódico-documental – fundamental para a disciplina “acadêmica contemporânea”.
MITO HISTORIOGRÁFICO
“naturalização do dado” – ceder à tradição e ao argumento de autoridade;
“historiografia positivista” condição necessária para a “revolução” dos Annales;
Positivista seria a historiografia empiricista, política, voltada para a legitimação do Estado nacional, pautada no uso de documentos oficiais, grandes homens, alheia à reflexão teórica;
MITO HISTORIOGRÁFICO
Langlois e Seignobos – ocupam o lugar máximo dessa definição;
Consequentemente, os historicistas alemães que os inspiraram também;
Para Febvre – os derrotados de 1870 – Guerra Franco-Prussiana; importância da 1ª Guerra Mundial.
Ranke – lugar de destaque nessa mitologia.
LEOPOLD VON RANKE (1795-1886)
Família de pastores luteranos; Teologia – maior de todas as ciências; Barthold Georg Niebuhr – inspiração e
recepção positiva de sua obra; Seduzido pelo idealismo alemão; 1817 – produz ensaio sobre Lutero, embrião
para História da Alemanha na época da Reforma;
Tucídides – torna-se modelo insuperável de historiador;
Inversão da fórmula de Walter Scott – “a história como poderia ter sido”;
MATURIDADE 1829-1836
Pesquisas em arquivos da Áustria e Itália – História dos papas;
Religião, filosofia e política – tríade de seu pensamento histórico.
Profunda religiosidade – verdades religiosas estão além da empiria;
Se coloca a tarefa de decifrar o enigma do sagrado – aproximação da filosofia;
DIFICULDADES DE DEFINIR AS INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS
Proximidade de Savigny – Escola Histórica do Direito;
Divergências nas interpretações - Oposição/ influência - Hegel
Desenvolve melhor o papel de estudioso, artista, intérprete e não o de protagonista.
Participações políticas – inabilidade
1831 – O CONCEITO DA HISTÓRIA UNIVERSAL
Manuscrito publicado em 1854; Transição entre Historie e Geschichte –
resistência em pensar no coletivo singular; Dimensão artística do trabalho
historiográfico; Progresso entendido como desenvolvimento /
desprovido de teleologia; Contraposição à influência de Hegel, ao seu
imperialismo face à ciência histórica; Crítica vigorosa em profundidade, mas
amena no tom;
OBJETIVIDADE EM RANKE
O historiador deve ser disciplinado e exercer um autocontrole em nome da objetividade;
Há um esforço de depuração das paixões; A muitos de seus contemporâneos sua
objetividade parecia “moralmente inaceitável”;
Para nós, impossível. * discussão – Ranke – é possível
encontrar no texto as características destacadas?
2ª PARTE: ESCOLA HISTÓRICA ALEMÃ
Johann Gustav Droysen (1808-1884); Georg Gottfried Gervinus (1805-1871); Leopold von Ranke (1795-1886); Theodor Mommsen (1817-1903); Heinrich von Treitschke (1834-1896); Droysen estudou na Universidade de Berlim,
onde frequentou cursos do Filólogo clássico August Böckh (1785-1867) e do filósofo Hegel (1770-1831);
Obra de Droysen abriu novas perspectivas para a definição do método histórico e para a autonomia da história ao lado das demais ciências humanas;
INEXISTÊNCIA DE UM PENSAMENTO HEGEMÔNICO HISTORICISTA (REALISTA E
RELATIVISTA)
Droysen e Ranke foram contemporâneos na Universidade de Berlim;
Críticas de Droysen à objetividade de Ranke; Droysen foi “um dos primeiros a recusar a
redução da história a uma mera ciência de textos, a mera crítica de fontes, ou ainda como uma narração objetiva de fatos a partir de um conjunto de documentos” (p. 11).
Ao criticar a objetividade proposta por Ranke, Droysen impõe já em 1858 questões que ainda são atuais.
ESQUECIMENTO E DIVULGAÇÃO DE PARTE DE SUA PROPOSTA
Droysen foi esquecido, mas muitos de seus procedimentos foram seguidos por Langlois e Seignobos.
Os metódicos franceses seguiram Droysen quanto aos procedimentos relacionados às fontes: “crítica segundo a época, o lugar, a origem, o conteúdo e a forma” (p. 10).
1858- MANUAL DE TEORIA DA HISTÓRIA (ANOTAÇÕES DAS AULAS DE METODOLOGIA DA
HISTÓRIA)
Realizou trabalhos a respeito da Antigüidade grega e da História moderna européia e prussiana;
Preocupado em definir uma especificidade para o conhecimento histórico: termo Historik usado por Gervinus em 1837 na acepção Teoria da História e por Droysen em 1858;
Se a Historie (na acepção grega) significava o relato de algo acontecido e Geschichte (desde 1750) passou a significar tanto o acontecimento como o relato - era necessária uma ciência específica;
Objetivo do manual: delimitar e fundamentar a especificidade do conhecimento histórico;
ESQUECIMENTO DE DROYSEN
Muitos o viram como ideólogo da grande Alemanha;
No último quartel do século XIX, a história se aproximou dos modelos das ciências naturais, dos modelos apriorísticos de análise como o materialismo histórico e o positivismo;
A produção dos Annales ignorou as conquistas teóricas de Droysen;
Antes de Marc Bloch, Droysen já afirmava que “o presente é a verdadeira fonte de sentido da história e não o passado”.
TEORIA DA HISTÓRIA DE DROYSEN
A operação historiográfica deve começar com uma pergunta;
Com o reconhecimento dos traços do passado no presente, nas lembranças, nos vestígios (antecipa o historicista italiano Benedetto Croce – “Toda história é história contemporânea” - 1917);
Compreensão da historicidade: pensar historicamente é pensar teleologicamente – a consciência histórica capta o passado no presente e vislumbra o futuro – traça uma tradição.
O olhar do presente nunca é estático, sempre está em constante avaliação e reflexão;
CONECTAR AS LEMBRANÇAS E A TRADIÇÃO – ENTENDIMENTO DA CONTINUIDADE HISTÓRICA
“o homem reconhece no presente uma eternidade que é divina, embora o presente mesmo não seja eterno, pois os vestígios do passado precisam ser reconhecidos para que ele possa tornar-se consciente da tradição que o antecede, a fim de não a repetir infinitamente” (p. 24).
elaborar os sentidos do passado – “o conhecimento sensível nunca alcança plenamente a realidade e a partir de particularidades ele se aproxima da totalidade, mas não como uma soma ou uma ampliação estatística de casos” (p. 25).
HISTORICISMO EM CONSTRUÇÃO DURANTE O SÉCULO XIX: ENTRE O REALISMO E O
RELATIVISMO
Os historicistas tenderão a enxergar “a subjetividade não como um problema, mas sim como uma inestimável riqueza, ou mesmo como aquilo que precisamente permite à História constituir-se em um conhecimento de novo tipo, dotado de uma especificidade própria” (BARROS, 2011, v. II, p. 68).
Entre o Realismo e o Relativismo: distâncias entre Ranke/Droysen e Dilthey.
CONTRA O UNIVERSALISMO: OS PARTICULARISMOS
O universalismo positivista herdado do Iluminismo - “o homem universal”;
Para os historicistas “o indivíduo concreto”, particular, histórico e sujeito à finitude.
Assim, o historicismo já nasce relativista – o objeto historiográfico é relativo – variadas fontes porque variadas sociedades examinadas;
Busca da especificidade de cada povo; Contribuição de teólogos e filólogos alemães
que se debruçavam sob os problemas relacionados à interpretação de textos e à inevitável articulação desses textos a contextos específicos e a pontos de vista autorais.
DOIS NÍVEIS DE SUBJETIVIDADE: RELATIVIDADE DO OBJETO E DO
SUJEITO
Ranke e Niebuhr (início do século XIX)– “historicismo realista” – prontos a reconhecer a subjetividade do humano no que concerne às fontes e às sociedade a serem examinadas pelos historiadores- há uma relatividade do objeto;
Droysen e Dilthey (segunda metade do século XIX) – “historicismo relativista” – além da subjetividade das fontes e das sociedades, a subjetividade do historiador e a impossibilidade de neutralidade por parte do sujeito do conhecimento- relatividade do sujeito.
CONSCIÊNCIA RADICAL DA HISTORICIDADE DE TODAS AS
COISAS
O historicismo foi apurando a percepção de que o historiador não pode se destacar da sociedade como pressupunha o modelo das ciências naturais preconizado pelo Positivismo;
O historiador fala de um lugar e a partir de um ponto de vista – não pode almejar nem a neutralidade, nem a objetividade absolutas e menos ainda falar de uma verdade em termos absolutos.
Naquele Homem Universal, imutável dos Iluministas e positivistas – os historicistas passam a perceber a diferença, o movimento – A HISTORICIDADE.
RESUMINDO O HISTORICISMO EM CONSTRUÇÃO
1) o reconhecimento da “Relatividade do objeto histórico”- inexistem leis de caráter geral que sejam válidas para todas as sociedades ou indivíduos – historicidade do objeto;
2) “Especificidade Metodológica”- a História, bem como as demais ciências humanas, deveria requerer uma postura metodológica específica, radicalmente distinta do padrão metodológico das Ciências Naturais;
3) o reconhecimento da “subjetividade do historiador” – impossibilidade da neutralidade;
TRADIÇÃO HISTORICISTA “RELATIVISTA”
Droysen e Wilhelm Dilthey (1833-1911); Hans-Georg Gadamer (1900-2002); Paul Ricoeur (1913-2005); Reinhart Koselleck (1923-2006); Jörn Rüsen (1938); Droysen inaugura essa tradição afirmando que
“no mundo ético [isto é, no mundo histórico], nada existe que não tenha sido mediado”.
Essa mediação passa a ser um foco tão, ou mais importante na análise historiográfica, que a própria informação que possa ser extraída de um documento.
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