somos todos telebobos

Post on 20-May-2015

41 Views

Category:

Education

2 Downloads

Preview:

Click to see full reader

DESCRIPTION

Livro de poemas

TRANSCRIPT

isaias de faria

somos todos

telebobos

(poemas)

belo horizonte

porospoesia

2013

© Isaias de Faria / porospoesia

Foto da capa: Isaias de Faria

Diagramação e revisão: Isaias de Faria

Contatos:

isaiasjazzfaria@gmail.com

http://isaiasfaria.blogspot.com.br/

Faria, Isaias de

F225s - Somos todos telebobos

Belo Horizonte: porospoesia, 2013.

87p.

1.Poesia Brasileira. I.Título

CDD. 869.1

“marginal é quem escreve à margem,

deixando branca a página...”

paulo leminski

“o significado de um signo é sempre outro

signo”

charles peirce

SUMÁRIO

algo nas coisas e nos

afetos, 09

infância, 10

somos todos telebobos,

11

sem título, 12

cinco partes, 13

leitura, 15

tirinha, 16

antagonismo, 17

poema pubiano, 18

donna, difícil sobreviver

aos teus, 20

moçoila distraída, 21

cinema paradiso boicote,

22

emudecidos e falantes, 23

ao mestre oswaldo frança

júnior, 24

diálogo entre dois

estudantes de Hegel, 25

ainda não foi descoberta,

26

no teu corpo, 27

um pouco mais velha, 28

após o almoço, 29

sarau, 30

sob o mesmo teto, 31

vestido fora, 32

lábios mais que amoras,

33

ocasião, 34

moça passeando com

uma blusinha frente

única, 35

a acrobata, 36

non omne id quod fulget,

aurumest, 37

jazzsensibilidade, 38

o ritmo, 39

você pendurando roupas

no varal toda, 40

não é a bíblia, 41

decepção, 42

desejo, 43

belle époque, 44

comida italiana sem

vinho, 45

adalgisa toda prosa, 46

odisseia, 47

utile dulci, 48

feminina, 49

ela e eu num baile samba,

50

sanha, 51

sopa grega, 52

pra musa m, 53

pergunta, 54

biblioteca fantasma, 55

carta aos poros de uma

mulher, 56

da mesma forma, 57

filme fome, 58

releitura p/ bárbara lia, 59

outubro, 60

clima, 61

descrição, 62

assim, 63

insistência, 64

imagem dentro de um

imóvel abandonado, 65

isso é desilusão, niilismo

ou nenhuma das duas?,

66

imersão, 67

um poema-sinopse para o

filme “cão sem dono” de

beto brant, 68

tentando discordar de

Nietzsche, 69

cinema de animação, 70

ancião pintor, 71

fuga do mundo, 72

dilema, 73

conversa de namorados,

74

poema ao pirronismo, 75

o passeio, 76

6:30, 77

Assim, 78

o antidiletante, 79

lida, 80

livros e sapatos, 81

bia, 82

o homem, o

apartamento, a ópera e a

poesia, 83

trilha acima em belo

horizonte, 84

desaparecido, 85

um pouco mais denso que

o chumbo, 86

uma personagem da cl, 87

9

algo nas coisas e nos afetos

as coisas são afetos? as coisas

apontam os afetos?

as coisas criam os afetos?

as coisas deformam os afetos?

tiram os afetos?

as coisas não devolvem os afetos

as coisas transformam os afetos

às vezes, trans (ferem) os afetos

(sabe-se lá pra onde)

as coisas não estão nem aí pros

afetos.

10

infância

ficavam dizendo que o cabelo dele

tinha cor de bosta

cantarolavam musiquetas

insultantes

principalmente quando todos do

bairro iam vender amendoins

torrados, frutas e pássaros

silvestres em caixinhas

11

somos todos telebobos

quase dormindo

pulo da ponta do sofá

feito susto de atletista

doces mazelas pulverizam 11 canais

em minhas pupilas semiabertas

e já não posso mais contar com

meu cérebro

12

sem título

o pequenino búfalo

que

espanca teu dorso,

baby,

não sabe de nada,

só espanca

não bebe, não fuma,

fica preso somente

na violência diária

junto ao teu

corpo-pavio-de-pólvora

13

cinco partes

1

fac-símiles de

tuas unhas azul-shok

que quase esqueci

2

saltando pelos

poros:

perfume

3

nos cabelos

o cheiro do

cigarro impregnado

4

tudo

isso

misturado

14

5

lá fora

não

tem paisagem?

15

leitura

meu espirro igual chuva

não danifica o jornal de poesia

apenas acrescenta mais

saliva a ele

pra sair tagarelando coisas

inúteis por aí

16

tirinha

graúna na rua

que quase ninguém vê

quase ninguém se

identifica

só a moça

que tateia o mundo audaz

17

antagonismo

há de se esperar sempre

o pior de mim

não me preocupo

não me engajo

estou me lixando

pra quem não me acha bonzinho

18

poema pubiano

ramagens entre

tuas pernas

me fascinam

por inteiro, mujer!

dos pés as

cabeças

ramagens entre

tuas pernas

me fascinam

por inteiro, mujer!

me dão fome

me dão sede

19

ramagens entre

tuas pernas

me dão taquicardia, mujer!

20

donna, difícil sobreviver aos teus

picos do himalaia sem

panos

21

moçoila distraída

um chuvaréu –

ela entra dentro do ônibus

correndo

e nem repara que seu busto

molhado...

esquenta tudo.

22

cinema paradiso boicote

patife puritano

aquele padre

do cinema paradiso

ceifando beijos de todos

os lados

23

emudecidos e falantes

te encontro

no acaso sem grunhido sequer

até que possamos

nos atracar, num alarido só

24

ao mestre oswaldo frança

júnior

parece linda e amarga,

vida revirada,

que estamos todos a mercê

de teu vendaval

fomente, então,uma ponta,

uma pontinha ao menos

de distração,

esquecimento,

ou algo do tipo:

uma aquaplanagem pura e infinita

25

diálogo entre dois estudantes

de hegel

ela:a clarissa não me oferece nada

de comer. ela come, bebe, na minha

frente, e necas de: vai aí?

ele: que isso! sério?

ela:pois é. eu também pra revidar,

comprei um belo caldo de cana,

virei quase tudo de uma só vez,

bem ao lado dela, e nem falei

nada.

26

ainda não foi descoberta

ninguém olhava pra ela

mas a voz

igualzinha a da billie holiday.

27

no teu corpo

passar geleia

de maracujá

e degustar

28

um pouco mais velha

a menina cresceu –

mas nos joelhos

as marcas da infância.

29

após o almoço

prato de louça branco

raso e grande

sujo de tomate

30

sarau

uma menininha com

com meias listradas

até os joelhos

rouba a cena

num sarau de

poesia

31

sob o mesmo teto

aniquilamentos dispersos.

a vasilha com frutas na mesa

nada diz.

o silêncio,

os corpos atirados no sofá,

os dias que pasmam.

uma dose de rum goelabaixo

todas as noites, antes de ir

dormir,

não passa de uma rotina.

32

vestido fora

bom-bom

café

batom

maçã

saliva

conhaque

chuva

noite

frio

fora do

corpo

o vestido

33

lábios mais que amoras

mais que auroras -

simulacro, paraíso

34

ocasião

feitas as contas,

resta acalentar-me:

à tua planície (pele)

à tua cor (pigmento)

mas é tudo só lembrança

a voz que realçava o

ambiente

mudava o ar

não me lembro da despedida.

35

moça passeando com uma

blusinha frente única

dorso reluzente

aveludado

à mostra

com a ajuda dos cabelos

presos em forma de coque

36

a acrobata

cata-vento ou cadafalso?

ela

altiva em seu trapézio

eles

vislumbram

cativos

ante sua alegoria.

37

non omne id quod fulget,

aurumest

aludir a forma

é sumidouro &

signo

aguda a simetria:

luminescência &

mistério

linha longínqua

que não

se vê

38

jazzsensibilidade

foge-se o tempo da

mente

quando anoitece

e o

winton marsalis

habita o ar

39

o ritmo

maquia-se toda

pálpebras movimentam-se

o ritmo é leve e sensual

40

você pendurando roupas no varal

toda de azul na tarde rubro

acaba com meu voto de castidade

41

não é a bíblia

ele era um homem de um livro só.

sim sim,

de um livro só.

muitos diziam:

putz, um livro só!

pois é.

uma vida inteira, 89 anos e meio,

e um livro só.

42

decepção

sou imagem sem graça entre serras

desapontamento

resquício de uma

palavra bonita

ardor abafado

ex-abraço arretado

sou pior, bem pior:

pá de areia que golpeia o desejo

em tua linda boca.

mas não se deve comparar

construções,

não é mesmo?

43

desejo

a língua diz quase tudo

mas ainda quer

percorrer o teu corpo

44

belle époque

quero uma máquina do tempo

sumir pra dentro

de cafés e boulevards

45

comida italiana sem vinho

raviólis & teu perfume.

pilsen.

senza vino questo notte.

pilsen & tortelloni.

46

adalgisa toda prosa

adora pular no rio:

aporrinhar sapos e

pererecas

dentro da

noite sexybashô

47

odisseia

de punta del este

ao teu jardim,

nada de mais.

a não ser um

bom velhinho de cueca na

orla da pampulha

48

utile dulci

minha garota estudou latim aos 15

anos de idade e

tem cílios doces feito balas de

caramelo

quando anda, balança levemente os

braços e os quadris

bagunça tudo dentro de mim

49

feminina

que história é essa de enfrentar

a si mesma sem um escudo protetor?

tome cuidado

frequentemente alguém reclama que

foi gravemente ferido por

suas garras desmedidas

50

ela e eu num baile samba

estarei petrificado

pra esperar sua rejeição

enquanto o samba rola?

a sua calda ondula

e eu sigo quebrando a

petrificação

só pra te agarrar

51

sanha

bifurcam cada um

pro seu lado

os amantes acalentados.

de longe, ela mostra os

seios.

e ele

esnoba.

52

sopa grega

enquanto passo os olhos em

anacreon,

de pé,

na janela pintada de verdescuro,

pombos bicam as telhas de barro na

casa vizinha:

ruídos e filamento.

ártemis e fileleno.

dentro e fora.

53

pra musa m

nem tão bem trovado

lanço-me

aos teus

ensejos:

tentativa de

alçar-me

em

voos kamikazes

tudo dentro do

teu corpo

é paraíso,

é abismo

54

pergunta

tudo depende

do que você

espera?

tudo depende

porque a gente

depende?

tudo pode esperar porque

a gente

pode esperar?

tudo depende

do que a gente pode

esperar?

55

biblioteca fantasma

se os espectros de

marcel proust

estivessem

naquela

biblioteca,

seriam muitos.

e falantes,

imagino eu.

nunca li proust.

o pior é isso.

56

carta aos poros de uma mulher

ir para o lado contrário não pode

matar

a arrepsia, nem te deixar além

nenhuma palpitação e soluço é

igual

se você reparar bem

se vamos nos manter aquém,

capricha no cabelo

que hoje tem

57

da mesma forma

ele tem um jardim que

estampa bem a frente da casa.

dentro, o sol bate e faz as

paredes ficarem com bastante vida

por volta das 10 da manhã.

mas é muito estranho, confuso e

belo ao mesmo tempo,

porque tudo foi deixado como ela

gostava.

58

filme fome

as patas de um tigre sobre

teu almoço

nenhum ruído de

tua boca

efeitos colaterais de

tua catarse

59

releitura

p/ bárbara lia

tremendos mistérios estão ali

naquelas

páginas

os átomos que falamos tanto

parecem mais leves

parecem mais pesados

também

após releitura de uma

última chuva

60

outubro

da sala de

sua árvore

a

cigarra te

olha com canto

61

clima

os dois,

bar no bairro,

luz-penumbra,

jazzinho madeleine peyroux

e ela,

linda,

de cabelos cacheados dizendo:

vou fazer 25 anos

62

descrição

a menina segura a bola com mãos

cuidadosas

e olhar distante/

tem o tempo vertido

na expressão e

o vestidinho florido estampado/

a luz nos cabelos/

a mágica idade/

a pouca certeza que a salva

63

assim

atravessa a rua e volta

atravessa a rua e volta

anda de um lado para o outro

vai na casa dos pais

na farmácia

na padaria

no barbeiro

vai na igreja

revira o cotidiano da vida

sem resposta com seu vai e vem

64

insistência

fez

desfez fez

fez desfez

desfez

fez fez desfez

desfez...

a cama depois que ela se foi

65

imagem dentro de um imóvel

abandonado

fotografo você ignorando o

tempo

o nexo dele e a

vida inteira

descontraidíssima, deixa-se

as mobílias observam o

olhar longitroante teu

66

isso é desilusão, niilismo ou

nenhuma das duas?

o amor

sabotou a ponta de alegria que

havia

arruinou a sala de espera

esculhambou

passou de floricultor pra

lenhador

(com motosserra e tudo)

o amor

não é algo sutil

(acho que coisas sutis são sutis

para serem cruéis depois)

o amor

não é algo sutil

mesmo assim consegue ser bem cruel

67

imersão

no quintal de terra, temporãs as

azaleias.

não mais que os sorrisos dela.

(no varal as roupas descansam)

ninguém nota que são lavadas pela

quinta-feira chuvosa.

o dia

parece

imitar os olhos tristes de

amanda.

68

um poema-sinopse para o filme

“cão sem dono” de beto brant

duas perspectivas:

a dele, aleatória, ou

sem palmas ao desejo

a dela, cheia de asas rumo

sabe-se lá aonde

se olham num apartamento

entre poucos móveis e um

vira-lata clássico

a esperança e a dor universal

perpassa-os ali

69

tentando discordar de

nietzsche

esperam feito tantos.

os filhos saem um a um da janela.

ele acompanha circunspecto

o adeus da existência que pode

lembrar.

depois sai,

em pedregosas ruas sem nível,

agacha,

pega um ramo,

e tenta discordar de nietzsche

mais uma vez

que divina é a arte do

esquecimento.

lentamente a tarde acaba.

70

cinema de animação

a fuga das vaginas naquela cidade

causou

um rebuliço

chamaram a polícia

o jornal...

mesmo assim elas fugiram e

formaram um partido (feminista)

e um manifesto

que terminava

assim:

vaginas de todo mundo, ―uni-vas‖!

71

ancião pintor

o mesmo casaco/

diferentes invernos a

fio/

diferentes tintas :

nuas paisagens

72

fuga do mundo

numa bicicleta amarela ela

corre corre/ pedala/

cabelos voam/

atingem o céu

ela foge do mundo

73

dilema

porra, onde eu acho uma caneca do

hitchcock?

pensa ademar lendo o jornal.

não vai fazer meu café ficar mais

gostoso,

muito menos estancar minhas

feridas.

bah, é melhor eu ir ao mercadinho

comprar um

cappuccino.

se bem que isso é coisa de

burguês.

e a caneca não é?

74

conversa de namorados

— que a nossa felicidade é por

adição eu sei, o que eu quero

saber mais é do lento movimento

dos planetas, da verdadeira

materialidade da água, da madeira,

de onde vem realmente essa coisa

que ouvimos o mahler tocar, do

cheiro da tangerina como diz o

Gullar.

— tá, chega amor! vamos mudar de

prosa, e não pra edgar allan poe,

por favor.

75

poema ao pirronismo

agora

cintilam pos

síveis

nuanç

as raquíticas n

a form

a ma

s

fe

rozes ante

o se

r que

falamos

i n o c e n t e m e n t e

o desvelo é

i n a t i n g í v e l

76

o passeio

descem a rua noturna/

molhada de chuva/

pontos iluminados pelas

luzes dos postes...

passeiam:

salvos em instantes por

não pensarem em nada

77

6:30

dramático e catatônico ele busca o

lápis pra grifar

o freud na varanda

deixa de lado e observa o sol

crescer

tomando chá em xícara-bacia

de manhã, as cores são sempre

mais novas...

as cinco lições de psicanálise

são esquecidas na mesa

78

assim

ruazinha pueril tranquilinha

melhor assim que os arranha-céus

buzinas

100 carros engarrafados

formigueiro no centro

cidadecaos...

grande disparate

79

o antidiletante

tenho um amigo imaginário

que é radical e

revoltado

disse :

se eu chegar na sua casa

e alguém pegar o violão,

eu encho ele de porrada

80

lida

norberto escrevia poema

enquanto quase todos os outros

trabalhavam na

cidade administrativa.

de um ramal qualquer o telefone

toca:

— ei, o que está fazendo?

— nada.

— aprontando nada?

— é, exatamente isso.

— até logo então. só liguei pra

saber o que estava fazendo. beijo.

— beijo

81

livros e sapatos

— livro bom, meu amor, é aquele

gasto, surrado, triturado por

olhos que entenderam muito, pouco,

ou nada do que eles queriam dizer.

— gosto de sapatos, mesmo os de

salto baixo, meio ofuscados na

vitrine. nada me impede de comprá-

los, nem mesmo as vendedoras que

tentam imitar o meu nariz

empinado.

— estávamos falando de livros.

— ah é, detesto aquelas marcas de

dedos sujos na lateral branca do

livro fechado, detesto aquelas

dedicatórias de autores que nunca

mais irão se lembrar de seus

leitores, detesto. detesto.

— você tá amarga...

— não estou tão amarga assim, mas

eu detesto aquele monte de livros

que você guarda.

82

bia

bia bebia e balançava a cabeça, o

pescoço, os quadris,

o corpo todo em sintonia com a

música frenética.

passava das duas.

bia bebia e balançava a cabeça, o

pescoço, os quadris,

o corpo todo em sintonia com a

música frenética.

será que a dança é algo pra fazer

a gente não envelhecer?

83

o homem, o apartamento, a

ópera e a poesia

adalberto queria tirar tudo fora e

não voltar com nada

naquele apartamento semiescuro e

lúgubre.

―é necessário deixar tudo fora‖

pensava, seriíssimo, com a testa

contraída e as sobrancelhas

levantadas.

queria deixar uma sensação de

vazio

para colocar somente a vitrola no

chão

rodando una furtiva lagrima.

84

trilha acima em belo

horizonte

filmava a trilha que fazia.

lá do alto avistava as curvas sem

fim das

serras.

por horas,

parado,

filmava as curvas sem fim das

serras.

nada mais que isso.

85

desaparecido

jogou a toalha molhada mas errou.

acertou a cunhada absorta na

novela das sete.

atravessou a rua,

sumiu pra sempre.

quatro anos se passaram desde

então.

agora, na varanda, as irmãs em

silêncio...

e a imagem dos seus passos

brincalhões,

principalmente em dias

ensolarados.

86

um pouco mais denso que o

chumbo

o tempo ia passando em

ritmo-tartaruga

no relógio da parede.

todos ali,

bem parecidos com estátuas de

gelatina,

porém,

um pouco mais densos que o chumbo.

sento, e aguardo em inércia.

adoro enxugar gelo:

é um exercício filosófico por

excelência.

87

uma personagem da cl

ia acordar bem cedo pra

aproveitar o dia

como havia aprendido num livro

com uma pobre magra

personagem da clarice lispector

e se uma chuvarada marcar presença

o tempo todo?

até da solidão se aproveita

88

top related