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Soluções para melhoramento do conforto ambiental em Escolas da Rede Municipal de Caruaru.
Dezembro/2013
Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –
dezembro/2013
Soluções para melhoramento do conforto ambiental
em Escolas da Rede Municipal de Caruaru.
Deborah Cristina Alves de Brito - brito.deborah@gmail.com
Master em Arquitetura
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Recife, Março de 2013
Resumo
A boa arquitetura pode e deve solucionar as necessidades do usuário com nenhuma ou com o
mais baixo uso de enérgia artificial. Tomando a afirmação acima como verdade, o trabalho
apresenta um estudo sobre a existência ou não de soluções arquitetônicas para
melhoramento do conforto ambiental em escolas da rede Municipal de Caruaru, em
Pernambuco.
A cidade é uma das mais populosas do interior de Pernambuco, está localizada a 130km da
capital pernambuca, Recife, e tem clima semi-árido caracterizado por apresentar chuvas
bastante irregulares concentradas em alguns meses do ano provocando estiagem, esse clima,
abrange praticamente todo o nordeste brasileiro.
A inquietação, a respeito das edificações escolares estarem preparadas para oferecer
conforto térmico e visual aos alunos, surgi das novas necessidades mundiais de economia de
energia e do aproveitamentodos recursos naturais para construção de edificações mais
sustentáveis, ou seja edificações que apresentam soluções de menor impacto ambiental.
Um referencial teórico antecedeu a etapa de levantamento e análise dos dados. Inicialmente
foi identificado clima da cidade de Caruaru. Foram estudadas as recomendações para se
obter conforto térmico sem a utilização de energia elétrica sugeridas pela ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas) e por autores como Armando de Holanda, Frota e Schiffer.
Estes estudos, na fase preliminar dos trabalhos, subsidiaram a fundamentação teórica para
as análises que seriam feitas ao longo do trabalho, realizadas através da leitura das plantas e
cortes (levantadas em arquivos municipais) e em visita as edificações.
Sendo assim,o estudo tem como objetivo identificar e caracterizar as soluções de projeto
utilizadas para proporcionar, de forma natural, conforto térmico e visual aos usuários, além
de aprofundar os conhecimentos sobre desempenho térmico e sustentabilidade de edificações.
Palavras-chave:Arquitetura escolar. Conforto ambiental. Recursos naturais.
1. Introdução:
Adequar a arquitetura ao clima significa projetar espaços que proporcionem ao usuário
sensações de conforto térmico, essa sensação acontece quando as trocas de calor entre o corpo
humano e o meio ocorrem sem esforço, e desse ponto de vista sua capacidade de trabalho é
máxima.
No nordeste brasileiro, onde na maior parte do ano temos um alto índice de luz natural, toda
essa luz deve ser aproveitada, porém ela também aumenta a temperatura local que pode ser
solucionada com ventilação natural, como ensina o autor Armando de Holanda em seu livro
Soluções para melhoramento do conforto ambiental em Escolas da Rede Municipal de Caruaru.
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Roteiro para construir no nordeste. O livro traz princípios simples, que, se seguidos podem
conferir o conforto térmico e visual necessários.
Outro arquiteto brasileiro João Filgueiras Lima, o Lelé, em sua trajetória deixa perceptíveis
dois aspectos básicos da construção: o clima e a pré-fabricação. É autoria dele o projeto
arquitetônico do modelo inicial que deu origem a uma das edificações selecionadas para o
estudo. O CAIC – Centro de Atenção Integral à Criança Dr. Amaro de Lyra e César,
localizado no bairro João Mota. O CAIC faz parte de um projeto criado no governo de
Fernando Collor de Melo no ano de 1990, e inicialmente chamava-se CIAC – Centros
Integrados de Atendimento à Criança e ao Adolescente – tinha a intenção de construir cinco
mil CIAC em todo o Brasil. O modelo apresenta mais de duzentos tipos de peças distintas foi
uma solução rápida e eficiente, capaz de se adaptar a diversas situações geográficas.
O tema escolhido para pesquisa deve-se a falta de um estudo semelhante e a atual situação
encontrada no município de Caruaru, que é a de se ter um modelo padrão de edifícios
escolares que é implantado em qualquer terreno sem que exista uma análise de qual
implantação, quais materiais ou tipos de aberturas seriam mais adequadas aos locais em que
as edificações serão construídas, podendo torná-las mais sustentáveis. O mesmo acontece com
outros tipos de edificações públicas como creches e as Unidades de Pronto Atendimento,
UPA. Mostrando a pouca preocupação com o aproveitamento dos recursos naturais e com a
economia de energia elétrica.
Para seleção das edificações a serem estudas foi levado em consideração a época em que
foram construídas, para que fosse feita também uma análise comparativa da evolução -em
relação a conforto térmico- dessas escolas.
2. Referencial Teórico
2.1 O clima
O IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- disponibiliza um mapa que foi
atualizado pela Diretoria de Geociências, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos
Ambientais, em 2002. No mesmo, existe uma classificação climática brasileira. Segundo esse
mapa, figura 1, o municipio de Caruaru encontra-se na zona Tropical Nordeste Oriental e
dentro desta zona, apresenta clima semi-úmido apresentando durante o ano de 4 a 5 meses
secos com temperatura média ≥ 18º C em todos os meses do ano.
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Figura 1: Mapa Climas do Brasil
Fonte: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/brasil_clima.pdf
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) também apresenta um zoneamento
bioclimático do Brasil, NBR 15220-3, onde distingui oito regiões climáticas. Classificando
também mais de 300 cidades brasileiras e apresentando estratégias bioclimáticas
recomendadas para alcançar o conforto térmico.
Através de um programa, o ZBBR 1.1 (2004), visto na figura 2, desenvolvido pelo Programa
de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos, foi possível
localizar a classificação bioclimática do município de Caruaru e ter acesso as recomendações
da NBR 15220-3 da ABNT.
Figura 2: Classificação Bioclimática dos Municípios Brasileiros
Fonte: Programa ZBBR 1.1 2004
Para a zona bioclimática 8, onde localiza-se o Município de Caruaru, temos as seguintes
recomendações:
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Grandes aberturas para ventilação (área da abertura > 40% da área do piso);
Sombrear aberturas;
Paredes e cobertas leves e refletoras: para paredes, transmitância térmica (U) ≤ 3,6 W/m²K
e para cobertas, U ≤ 2,3 W/m²K;
Ventilação cruzada permanente.
2.2 Como Construir no Nordeste Brasileiro
Alguns autores também fizeram recomendações de como devem ser as edificações no
nordeste, para que, sem uso de energia elétrica, seja alcançado o conforto térmico e visual.
Armando Holanda, autor do livro “Roteiro para construir no Nordeste” é um deles, no qual,
faz as seguintes propostas:
Criar uma sombra – abrigo protegendo do sol e das chuvas tropicais
Recuar as paredes – protegendo do sol, do calor, das chuvas e da umidade
Vazar os muros – filtram a luz e deixam a brisa penetrar
Proteger as janelas – abrigadas e sombreadas podem continuar abertas
Abrir as portas – permitindo tiragem de ar dos ambientes
Continuar os espaços – permitir que o ar circule livremente por toda edificação
Construir com pouco – componentes padronizados com várias possibilidades
combinatórias
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Conviver com a natureza – utilizar o sombreamento vegetal
Tabela 1: Recomendações do livro Roteiro para construir no nordeste de Armando Holanda
Fonte: Holanda, 1976 / Tabela elaborada pelo autor, 2013
Frota e Schiffer, em seu livro “Manual de conforto térmico”, também apresentam
recomendações de como construir em clima quente, mas na escala da cidade. Como por
exemplo:
Pensar edificações de maneira que torne possível que a ventilação alcance todos os
edifícios e permita a ventilação cruzada de seus interiores, prevendo, assim,construções
alongadas no sentido perpendicular ao vento dominante;
Figura 3:Orientação das ruas e sombreamento das construções
Fonte: Manual de conforto térmico, pág 70
Quando ruas que estiverem perpendiculares à direção dos ventos dominantes devem ser
de maior dimensão, para evitar que construções situadas em lados opostos das ruas
transformem-se em obstáculos para os ventos;
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Figura 4: Orientação das ruas e sombreamento das construções
Fonte: Manual de conforto térmico, pág 70
O arranjo das quadras deve incluir soluções quanto as distâncias entre as edificações para
não funcionarem como barreiras ao vento para as edificações vizinhas;
Figura 5:Esquema de ventilação urbana
Fonte: Manual de conforto térmico, pag 72
Criação de caminhos com sombras para pedestres a partir da utilização da vegetação,
marquises, toldos, projeções de andares acima do térreo;
Figura 6:Esquema de sombreamento para pedestres
Fonte: Manual de conforto térmico, pag 73
Evitar materiais que reflitam grande quantidade de radiação solar ou que tenham grande
poder de armazenamento de calor nas superfícies externas, pois a noite o calor
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armazenado, é devolvido para o ar, dirigindo-se para o interior e para o exterior das
edificações.
Dar preferência ao uso de cores claras no exterior das edificações, pois estas refletem
mais a radiação solar e, portanto, menos calor atravessará as vedações.
3. Estudos de caso / Análise das edificações
3.1 Colégio Municipal Álvaro Lins
Localizado no bairro Mauricio de Nassau, o colégio teve sua construção feita entre 1952 e
1953 e apresenta várias características da Arquitetura Moderna Pernambucana, trazida por
Luiz Nunes que teve continuidade com vários outros arquitetos contemporâneos a ele como
Delfim Amorim e Acácio Gil Borsoi. Entre elas, as características utilizadas para o
melhoramento do conforto térmico, de forma passiva, que era uma preocupação constante nos
anos 50, auge do trabalho desses arquitetos.
Analisando a edificação, pode-se perceber que desde sua implantação, se pensou em trazer
conforto térmico e visual aproveitando os recursos naturais, pois os blocos de salas de aula
foram implantados no sentido norte/sul favorecendo a iluminação durante todo o dia e
ventilação (nordeste e sudeste) o ano inteiro. Foi projetado também um pátio entre os blocos
de salas de aula o que permite que o vento chegue a toda edificação. E para sombrear esse
pátio fez uso da vegetação.
Figura 7:Implantação da edificação com sua orientação
Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Caruaru
Além da preocupação com a implantação, é perceptível a utilização de diversas estratégias
para alcançar conforto térmico, como- por exemplo- o uso de vários tipos de elementos
vazados, cobogós, que filtram a luz solar, sem impedir que a ventilação entre nos ambientes.
Faz uso da solução de recuar as paredes em relação à coberta sombreando as aberturas quando
o sol está num ângulo mais alto, minimizando a energia solar absorvida pelas paredes
externas, diminuindo, assim, a temperatura interna dos ambientes. O tipo de esquadria
escolhida, as de veneziada de madeira, são bastante eficientes pois permitem a renovação do
ar no ambiente, fluxo do vento na altura dos ocupantes, ventilação constante mesmo quando
as esquadrias estão fechadas, filtram a luz solar e protegem contra chuvas. Outra estratégia
são as bandeiras em vidro transparente acima das portas e janelas que permitem a entrada de
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luz nos ambientes mesmo fechados.Além dissso, faz uso sempre de aberturas em lados
opostos dos ambientes favorecendo a ventilação cruzada.
Fachada da edificação, marquise
protegendo entrada
Interior da sala de aula, visão para o
exterior, uso de cobogós
Interior da sala de aula, visão para
o corredor interno, uso de cobogó
Tabela 2: Fotos das soluções encontradas
Fonte: O autor, 2013
Estratégia de recuar as paredes
Esquadrias de veneziada de madeira
e bandeira em vidro
Pátio entre os blocos de salas de
aula sombreado com vegetação
Tabela 3: Fotos das soluções encontradas
Fonte: O autor, 2013
3.2 CAIC – Centro de Atenção Integral à Criança Dr. Amaro de Lyra e César
Figura 8:Foto de uma foto encontrada na sala da gestora da escola
Fonte: O autor, 2013
Localizada no bairro João Mota, bairro de classe média baixa da cidade, inaugurada em 1994,
o CAIC, faz parte de um programa criado no governo de Fernando Collor de Melo no ano de
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1990, e inicialmente chamava-se CIAC – Centros Integrados de Atendimento à Criança e ao
Adolescente – tinha a intenção de construir cinco mil CIAC em todo o Brasil. O modelo
apresenta mais de duzentos tipos de peças distintas foi uma solução rápida e eficiente, capaz
de se adaptar a diversas situações geográficas. O modelo é de autoria do famoso arquiteto
brasileiro João Filgueiras Lima, o Lelé, reconhecido por sua preocupação com clima e pré
fabricação é também autor do projeto do Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.
A respeito de sua implantação, assim como o Colégio Municipal Álvaro Lins, teve os blocos
de sala de aula sendo implantados na orientação norte/sul o que favorece não só iluminação,
mas também iluminação.
Figura 9:Implantação da edificação com sua orientação
Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Caruaru
Toda a edificação parece ter sido projetada pensando no conforto ambiental, desde suas
paredes, ao tipo de coberta, bem ao estilo Lelé. O edifício da escola é montado com elementos
de concreto pré-fabricados. As paredes da escola são feitas de blocos de concreto levemente
desencontrados permitindo que o vento atravesse as paredes, deixando-as, mesmo em dias
quentes, frias. As esquadrias, pivotantes, utilizadas permitem abertura total do vão,
favorecendo maior iluminação e ventilação natural. Acima das esquadrias e das paredes (que
dão para os corredores) existem sempre bandeiras de vidro que abertas garantem ventilação
não só nas salas, mas nos corredores internos e a passagem dos ventos para as salas do outro
lado do corredor.
No pavimento térreo existem ambientes, como o refeitório e o auditório, onde as aberturas
vão do piso ao teto, favorecendo além de uma maior ventilação e iluminação natural a
integração com o lado de fora edificação, permitindo permeabilidade entre os espaços.
Interessante perceber que as algumas das esquadrias utilizadas funcionam também como um
tipo de brise vertical barrando a entrada de sol. Essas esquadrias são pivotantes com quatro
folhas e cada folha é formada por uma faixa opaca, a outra parte é formada por um vidro e
outra faixa opaca, sendo a abertura da segunda faixa opcional. Isso se forma quando a faixa
opaca estiver totalmente aberta, um tipo de brise vertical que pode auxiliar na proteção ao sol.
Esquadrias desse tipo foram usadas no auditório.
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Nas cobertas encontramos vários sheds que complementam a iluminação e auxiliam na
ventilação, dependendo da orientação estes servem tanto como captadores de vento, que saem
pelas janelas laterais ou como extratores, quando o ar penetra na edificação pelas janelas
laterais e saem pelos sheds.
Paredes de blocos desencontrados Sala de aula, esquadrias fechadas Sala de aula, esquadrias abertas
Tabela 4: Fotos CAIC
Fonte: O autor, 2013
Bandeiras acima das paredes Visão interna dos sheds Visão externa dos sheds
Tabela 5: Fotos CAIC
Fonte: O autor, 2013
Esquadrias que funcionam como
brises verticais, parcialmente
abertas
Esquadrias que funcionam como
brises verticais, completamente
abertas
Esquadrias vistas do lado de fora da
edificação
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Tabela 6: Fotos CAIC – Esquadrias
Fonte: O autor, 2013
3.3 Escola de tempo integral Rubem de Lima Barros
Inaugurada em Julho de 2012, a escola localizada no bairro Cidade Jardim, bairro de classe
baixa da cidade, é uma escola de tempo integral. Assim como o CAIC, o projeto
arquitetônico segue um modelo, pré projetado, que vem sendo repetido nas novas escolas
municipais de Caruaru, foram visitadas duas delas para que fosse possível perceber: se existiu
alguma adaptação em relação a implantação, tipo de aberturas ou soluções que pudessem
melhorar o condicionamento térmico da edificação.
Implantação da edificação com sua orientação Fachada principal da escola
Tabela 7: Imagens Escola Rubem de Lima Barros
Fonte: O autor, 2013
Analisando a implantação do prédio percebe-se que mais uma vez ela seguiu a melhor
orientação quando se trata de edificações escolares, no sentido norte/sul favorecendo maior
iluminação e ventilação natural.
Parece que a preocupação com conforto térmico e visual conseguido de forma passiva,
resumiu-se a implantação, já quando se trata de elementos que pudessem conferir conforto
térmico e visual de maneira natural o modelo é falho. As fachadas chapadas não apresentam
nenhum elemento que possa sombrear nem as vedações nem as janelas, fazendo com que
essas vedações recebam a radiação solar durante todo o dia e todos os meses do ano, tornando
os ambientes quentes. As esquadrias utilizadas, do tipo basculante, possibilitam a abertura
total do vão, porém, as salas de aula possuem aberturas apenas de um lado, impossibilitando a
ventilação cruzada, recomendada em climas quentes. Essas aberturas que deveriam
corresponder a pelo menos 40% da área do piso são pequenas e insuficientes também quando
se analisa a questão da iluminação natural. Nos corredores, localizados entre as salas de aulas,
utilizou-se um fechamento em grade e no pavimento superior um fechamento com cobogós, o
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que permite entrada de luz e vento. Porém, nas salas de aula, que numa escola deveriam ser os
ambientes mais agradáveis, não é percebida nenhuma intenção de melhoramento do conforto
de forma natural. As demais salas, como a sala de professores, diretoria, banheiros, refeitório
entre outras, seguem na mesma linha sem apresentar soluções passivas que conferissem
conforto aos usuários da edificação.
Vista da fachada sem nenhum
elemento de proteção solar
Vista do tipo de janela adotada Vista do corredor
Tabela 8: Fotos da situação encontrada
Fonte: O autor, 2013
Vista fachada Vista da Secretaria Vista do refeitório
Tabela 9: Fotos dos ambientes
Fonte: O autor, 2013
3.4 Escola de tempo integral Altair Nunes Porto Filho
Essa escola tem uma história diferente, pois foi construída onde antes se localizava a antiga
Fábrica de Sabão da cidade. Ela é formada por três blocos, dois deles já existentes foram
reformados para abrigar a escola, o terceiro foi totalmente construído. O grande galpão
transformou-se na quadra coberta da escola. Outro bloco, de apenas um pavimento, onde
parecia funcionar a administração da fábrica, foi adaptado para dar lugar ao setor
administrativo da escola, além do refeitório. O terceiro bloco, onde se encontram as salas de
aula é todo novo e foi construído no modelo do bloco de aulas da Escola de tempo integral
Rubem de Lima Barros apresentada anteriormente.
Outra especificidade é que essa edificação ainda não está em funcionamento, pois a reforma
encontra-se ainda em fase de acabamento. Devendo ser inaugurada ainda esse ano.
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A implantação do bloco das salas de aula, edifício destacado em vermelho na figura 10,
seguiu a mesma orientação das edificações já analisadas, Norte/Sul, facilitando a ventilação e
a iluminação natural.
Figura 10: Implantação Escola Altair Porto Filho
Fonte: O autor, 2013
Esse bloco é igual ao bloco de salas de aula da Escola de tempo integral Rubem de Lima
Barros, por ser este o modelo que a municipalidade vem repetindo nas novas escolas da
cidade, com uma única diferença, a vedação dos corredores que na escola já citada foi vedada
com grades no pavimento térreo e elementos vazados, no primeiro pavimento, que permitem a
entrada de luz e ventos. Nessa escola, foi vedada com elementos vazados que permitem
entrada de pouca iluminação e -menos ainda- de ventilação, atrapalhando ainda a relação com
o lado de fora da edificação. Ela, a escola, apresenta os mesmos pontos negativos já
relacionados na construção anterior.
Já no bloco da administração, que foi adaptado para receber essa função, foram deixados os
beirais que sombreiam as paredes. Como também, as aberturas auxiliam na diminuição da
temperatura dentro do ambiente. Fora essas, não existe nenhum outro elemento que possamos
perceber preocupação com conforto ambiental.
A solução da coberta da “passarela” que interliga o bloco administrativo ao bloco de sala de
aulas também foi infeliz, já que foram utilizadas telhas de alumínio que esquentam rápido e
aumentam a temperatura nos ambientes por ela cobertos.
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Vista fachada de fundos do bloco
de sala de aulas
Vista “passarela” que interliga o
bloco administrativo ao bloco de
sala de aulas
Fachada frontal do bloco
adminitrativo
Tabela 10: vistas exteriores da edificação
Fonte: O autor, 2013
Vista corredores, fechamento em
elementos vazados
Elementos vazados utilizados na
“passarela”
Telhas metalicas
Tabela 11: Elementos adotados
Fonte: O autor, 2013
5. Resultados obtidos
É percebitível que ,na Escola Municipal Alvaro Lins e no CAIC, houve uma preocupação
clara com o conforto térmico e visual, refletindo a época em que foram construidos quando
cada vez mais se procurava soluções para amenizar o calor no nordeste brasileiro. Podemos
nessas edificações identificar vários elementos recomendados por Armando Holando, Frota e
Shiffer e da ABNT, como sombrear as paredes, uso de cores claras e garantir ventilação
cruzada permanente.
Porém, nas edificações mais atuais, percebe-se a perda desses elementos em razão da
crescente demanda de novas unidades escolares, trazendo a necessidade de implantação de
várias escolas ao mesmo tempo, o que gerou um modelo único que, parar acelerar a
construção, desconsidera o entorno e os recursos naturais locais.
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Assim, fazendo uma comparação entre as edificações escolares mais antigas e as mais novas,
é percepitível que como a arquitetura residencial, a arquitetura escolar perdeu bastante se
levarmos em consideração as soluções passivas para se alcançar conforto térmico. Justamente
quando a necessidades de economia de energia, e a preocupação de termos cada dia mais,
edificações mais sustentaveis aumentam.
É analisando a obra do arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, o CAIC, que podemos encontrar
a solução para o problema da necessidade de rapidez da obra com a necessidade,cada vez
maior, de conferir conforto térmico de forma natural nas escolas municipais, visto que, a curto
prazo para conclusão da obra pode ser mais oneroso. Porém, a médio prazo a economia de
energia pagaria esse custo inicial de sua construção.
Ainda assim, no CAIC, percebeu-se que os usuários não sabiam “usar” a edificação, fechando
com alvenaria alguns sheds e deixando as bandeiras fechadas não permitindo a passagem do
ar de um ambiente para outro, ou seja, é preciso -ainda- ensinar os gestores a “utilizar” de
forma correta esses elementos.
Logo, é no Colégio Municipal Alvaro Lins, que encontramos uma maior quantidade de
elementos utilizados pela arquitetura moderna difundinda em Permanbuco nos anos 50, são
soluções simples que conferem à edificação o conforto ambiental desejado.
6. Conclusão
Após o período de análise e discussão das informações coletadas, concluimos que: o conforto
ambiental, que já foi prioridade nas construções escolares em Caruaru, como visto nas duas
escolas mais antigas que foram analisadas, hoje não é visto como uma preocupação nesses
edifícios, sendo esquecido em detrimento da rapidez e economia necessárias na construção de
edifícios escolares, visto a grande demanda da tipologia na realidade da cidade. Como já foi
afirmado.
Além disso, percebe-se que, a criação e repetição desse modelo de edificação escolar, é um
problema que afeta gravemente os usuários e os cofres públicos, pois para alcançar o conforto
ambiental adequado acaba tendo que fazê-lo de forma artificial. Logo, o que foi economizado,
tempo e dinheiro, nas etapas de projeto e obra, torna-se oneroso e dificultado no futuro, visto
que é mais prático pensar numa edificação mais sustentável e confortável térmica e
visualmente de forma natural do que adaptar uma edificação já existente para que esta se
enquadre em tais parâmetros.
Não queremos inventar a roda, esta já foi inventada, vamos estudar nosso passado para
aprender a fazer com quem já fez, e fez bem feito, deixando ainda inúmeros exemplares que
podem ser encontrados em Caruaru, em Recife e em todo o Brasil.
7. Referencias
Soluções para melhoramento do conforto ambiental em Escolas da Rede Municipal de Caruaru.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto 02:135.07-001/3 Parte
3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares
de interesse social, 2003
COSTA, Alcilia Afonso de Albuquerque. Arquitetura do sol, soluções climáticas
produzidas em Recife nos anos 50. Disponível em
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.147/4466. Acesso em: 01 de março
de 2013.
EKERMAN, Sergio Kopinski. Um quebra-cabeça chamado Lelé. Disponível em
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.064/423. Acesso em: 01 de março
de 2013.
FROTA, Anésia Barros; SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual de conforto térmico. 6. ed. São
Paulo: Studio Nobel, 2003.
HOLANDA, Armando. Roteiro para construir no Nordeste. Recife: MDU: Universidade
Federal de Pernambuco, 1976
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