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Processo 0002727-80.2013.8.26.0161 (016.12.0130.002727) - Procedimento Sumário -
Obrigação de Entregar - Rafael Barretto Casanova - Kanui Comércio Varejista Ltda -
ORDEM 216/2013. Vistos. Rafael Barretto Casanova ajuizou ação em face de Kanui
Comércio Varejista Ltda, ambos qualificados nos autos. Em síntese, sustentou que: em
08.10.12 adquiriu a bicicleta Ox Bike Ox Full no endereço eletrônico da ré; em 02.11.12
lhe entregaram o modelo Sku Ox, de valor inferior, mas constou na nota a descrição e
o preço do bem adquirido; após muita insistência lhe foi permitido fazer nova compra
no site e recebeu a informação de que receberia o produto até 23.11.12, mas no dia
03.12.12 entregaram novamente o produto errado; foi informado pela atendente de
que era corriqueira a prática de entregarem produtos diferentes, com preços menores;
tal fato caracterizou danos morais. Pediu a condenação da ré à entrega da bicicleta
Bike Ox Full nº 200337868, mediante depósito nos autos do valor de R$ 565,00 em seis
parcelas de R$ 94,20, e ao pagamento de indenização pelos danos morais de R$
6.780,00. Juntou documentos. Citada, a ré não apresentou contestação (fl.44-v). É o
relatório. Fundamento e decido. O processo está em ordem e comporta julgamento,
sendo inócuo produzir quaisquer outras provas, a teor do art. 330, Ie II, do Código de
Processo Civil. Sabe-se que o demandado não tem o dever de contestar o pedido, mas
tem o ônus de fazê-lo. Se não responde à parte autora, incorre em revelia e cria para o
réu um particular estado processual, passando a ser tratado como ausente do
processo. É o que ocorreu nos autos, tendo a parte ré permanecido inerte após ter
sido regularmente citada. Diante da revelia e tratando-se de direitos disponíveis, como
no caso, torna-se desnecessária, portanto, a prova dos fatos em que se baseou o
pedido de modo a permitir o julgamento antecipado da lide, dispensando-se, desde
logo, a instrução. Isso porque da decretação da revelia surge, nos termos do art. 319
do CPC, a presunção relativa de veracidade dos fatos narrados na inicial, vez que não
são controvertidos. Nesse sentido, cite-se a lição da melhor jurisprudência: “(...) E não
se pode olvidar que a falta de contestação faz presumir verdadeiros os fatos alegados
na inicial, tratando-se, ademais, de direito disponível, pelo que incide, aqui, a regra do
artigo 319 do Código de Processo Civil. Não ofertando a ré tempestiva contestação,
sujeitou-se aos efeitos da revelia, configurada, portanto, a preclusão. De fato, a revelia
caracterizada nos autos faz com que se presumam verídicos os fatos afirmados pela
autora, tal como definido pelo juízo monocrático, nada havendo nos autos a justificar
conclusão oposta, nem se verificando cerceamento de defesa (...)” (TJSP, Apelação nº
992.08.050182-5, órgão: 30ª Câmara de Direito Privado, j. em 07 de abril de 2010).
Não bastasse isto, o requerente trouxe prova da oferta (fl.11), da reclamação
(fls.12/14 e 16 e 18/29), da nota fiscal (fl.15) e estorno dos pagamentos (fl.30). Visando
assegurar segurança às relações jurídicas, a proposta de contrato obriga o proponente,
nos termos do art. 427 do Código Civil. É a manifestação de vontade pela qual o
ofertante demonstra interesse em vincular-se contratualmente a outrem, mediante
prévia aceitação dos termos em que é feita. Traduz-se por ato em que o policitante
cientifica a parte contrária de seu interesse em obter positiva exteriorização da
vontade para concluir o contrato. Pelo art. 30, do CDC, ampliou-se a noção de oferta,
assentando que as informações dadas integram o futuro contrato, pois qualquer
informação ou publicidade veiculada que precisar os elementos essenciais da compra e
venda (objeto e preço) será considerada oferta vinculante, faltando apenas a aceitação
do consumidor. A respeito deste dispositivo, na obra “Contratos no Código de Defesa
do Consumidor”, elaborada por Cláudia Lima Marques, anota a doutrina que: A ratio
legis do Código de Defesa do Consumidor é justamente valorizar este momento de
formação do contrato de consumo, que passamos a analisar. A tendência atual é de
examinar a “qualidade da vontade manifestada pelo contratante mais fraco, mais do
que a sua simples manifestação somente a vontade racional, a vontade realmente livre
(autônoma) e informada, legitima, isto é, tem o poder de ditar a formação e, por
conseqüência.os efeitos dos contratos entre consumidor e fornecedor. A tendência
atual é de examinar também a conduta negocial do fornecedor, valorando-a e
controlando-a, dependendo da conduta (abusiva ou não) a formação do vínculo e a
interpretarão de a quais obrigações o consumidor está vinculado”. (Ed. RT, 2ª Ed.,
2006, pág. 461). A lei tem o intuito de restringir a publicidade enganosa, a qual é
suscetível de induzir ao erro o consumidor, acarretando a falsa noção da realidade.
Esse é o motivo do inconformismo do autor, visto que ao concluir o negócio recebeu
da requerida produto diverso do que constava na propriedade. O requerente
comprovou a oferta e a compra. A entrega de produto diverso do adquirido é
presumida, diante dos efeitos da revelia. Portanto, o rompimento desmotivado da
proposta faz recair sobre o policitante o dever de cumprir o prometido, razão pela qual
a pretensão merece acolhida. Já o dano moral pode ser conceituado como sendo o
prejuízo que atinge o patrimônio incorpóreo de uma pessoa, como os direitos da
personalidade, o direito à vida, à integridade física, ao nome, à honra, à imagem, e a
intimidade. Considera-se dano moral a dor subjetiva, dor interior que, fugindo à
normalidade do cotidiano do homem médio, venha a lhe causar ruptura em seu
equilíbrio emocional interferindo intensamente em seu bem estar. Está efetivamente
demonstrado nos autos que a consumidor foi enganado pelo fornecedor, que lhe
entregou produto diferente e inferior àquele que havia adquirido. Não se tratando
aqui de simples descumprimento de contrato. A ré vendeu um objeto e entregou
outro, inferior, por duas vezes. Recusou-se a resolver a questão mesmo após várias
reclamações. Tudo isto é causa de baixa de autoestima e sofrimento, que justifica a
indenização pleiteada. A verba por dano moral é, portanto, de meridiana clareza.
Neste caso a palavra indenizar possui outro significado, não o de repor patrimônio
desfalcado, mas sim um sentido de proporcionar ao ofendido uma satisfação pessoal,
um sentimento de compensação, e, em contrapartida, impor ao ofensor uma punição,
a fim de dissuadi-lo de um novo atentado. O quantum a ser fixado deve variar
conforme o caso concreto, observando-se critérios como a natureza da ofensa; a
intensidade do sofrimento; a repercussão no meio social; a existência de dolo ou grau
de culpa; a situação econômica do ofensor; a posição social do ofendido; as práticas
atenuantes realizadas pelo ofensor, na busca de minimizar a dor. Deve-se considerar
que a tutela jurisdicional não pode servir de meio para o enriquecimento ilícito. No
caso sob exame, em especial pelo valor do prejuízo que a ré pretendia causar ao autor
e pelos transtornos sofridos pela parte, mostra-se proporcional a fixação do quantum,
a título de ressarcimento por danos morais, o importe de R$ 678,00. Diante do
exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão veiculada nesta ação e extinto o feito com
resolução do mérito, com fundamento no art. 269 , inc. I, do Código de Processo Civil ,
para o fim de: a) CONDENAR a requerida a vender ao autor a bicicleta Bike Ox Full nº
200337868, mediante depósito nos autos do valor de R$ 565,00 em seis parcelas de R$
94,20; b) CONDENAR o réu a pagar ao autor indenização por danos morais no valor de
R$ 678,00 (seiscentos e setenta e oito reais), com a incidência de juros de 1% ao mês e
correção monetária, ambas desde a publicação desta sentença (STJ, REsp
2004/0057774-0, 1ª Turma, Min. Teori Albino Zavascki, DJ 11.10.2004 p. 242); c)
CONDENAR a ré ao pagamento das custas, despesas processuais e dos honorários
advocatícios, que fixo em R$ 400,00 (quatrocentos reais), atualizados a partir desta
data, com base no art. 20, § 4º , do CPC . Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Após o
trânsito em julgado, certifique-se e intime-se a parte vencedora para se manifestar
sobre o prosseguimento. Nada sendo requerido, arquivem-se os autos. -
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