semântica implicações

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IMPLICAÇÕESPARTE II DO LIVRO MANUAL DE SEMÂNTICA

MÁRCIA CANÇADO

Semântica: implicações

Esta apresentação é um fichamento de caráter didático-pedagógico, servindo como material de suporte para apresentação em sala de aula na disciplina de Semântica, do curso de Licenciatura em Letras.

Trata-se de recuperação parafrásica de ideias do livro “Manual de Semântica”, de Márcia Cançado.

Implicações

Propriedade semântica.

Senso comum utiliza indistintamente noções como dedução, inferência, acarretamento, pressuposição, implicatura.

Termo será usado conforme tradição da abordagem referencial.

Gradações de implicação

Noção mais restrita da implicação é o acarretamento.

Noção mais abrangente da implicação é a implicatura conversacional.

Entre os dois extremos, há outras noções possíveis.

Tipos de implicação

Acarretamento: só o que está contido na sentença, independentemente do uso.

Pressuposição relaciona-se com o sentido de expressões lexicais contidas na sentença.

Envolve conhecimento prévio, extralinguístico, e conhecimento comum entre interlocutores.

Implicatura: estritamente pragmática. Depende do conhecimento extralinguístico de falante e ouvinte.

Autora trata apenas de acarretamento e pressuposição, geralmente abordados nas teorias referenciais.

Hiponímia, hiperonímia e acarretamento

Hiponímia: relação de palavras em que o sentido de uma está incluído no sentido de outra.

ROSA -> FLOR -> VEGETAL

POODLE -> CACHORRO -> ANIMAL

Léxico de uma língua se estrutura em classes. Relação forma cadeias.

O item lexical que contém todas as outras propriedades da cadeia é chamado hipônimo.

O item lexical que está contido nos outros itens lexicais é chamado hiperônimo.

ROSA -> FLOR -> VEGETALRosa: hipônimo.Vegetal: hiperônimo.

POODLE -> CACHORRO -> ANIMALPoodle: hipônimo.Animal: hiperônimo.

Relação assimétrica: hipônimo contém o hiperônimo, mas este não contém o primeiro.

Sentido do hiperônimo está contido no sentido do hipônimo.

Rosa: flor da roseira.Poodle: cachorro pequeno, de pelagem

espessa e enrolada.

Acarretamento

Ocorre acarretamento quando o sentido de uma sentença está incluído no sentido da outra.

A) Isto é uma cadeira e é de madeira.B) Isto é uma cadeira de madeira.C) Impossível, se A for verdadeira -> Isto não

é uma cadeira de madeira.

Para o acarretamento, não importa se a sentença tem ancoragem na realidade.

A) Eu dei uma flor e uma caixa de bombons para minha esposa.

B) Eu dei uma flor para minha esposa.

Não há acarretamento

A) O João é alto e é um jogador de basquete.B) O João é um jogador de basquete alto.

Pode ser que, mesmo sendo alto, João não esteja entre os mais altos que jogam basquete.

Definições de acarretamento

Se a sentença A for verdadeira, a sentença B também será verdadeira.

A informação da sentença B está contida na informação da sentença A.

A sentença A e a negação da sentença B têm de ser contraditórias.

Se tudo isso se cumprir, A acarreta B.

Acarretamento é também relação assimétrica: A acarreta B, mas B não acarreta necessariamente A.

Se A e B acarretarem-se mutuamente, temos a paráfrase.

Acarretamento é uma propriedade que se aplica apenas ao sentido literal das sentenças, a partir dos itens lexicais que as compõem.

Exemplos

A) Hoje o sol está brilhando.B) Hoje está quente.

Informação de B não está contida em A. Negação de B é possível se A for verdadeira.

A) A Jane comeu uma fruta no café da manhã.B) A Jane comeu uma fruta.

Informação de B está contida em A.Se A é verdadeira, B é verdadeira.Negação de B é contraditória a A.

A) A Jane tomou café esta manhã.B) A Jane tomou algo quente esta manhã.

Informação de B não está contida em A.

A) O João não sabe que a Maria está grávida.B) A Maria está grávida.

Informação de B está contida em A.Se A é verdadeira, B é verdadeira.Negação de B é contraditória a A.

A) O João pensa que a Maria está grávida.B) A Maria está grávida.

Negação de B não é contraditória a A.

Pressuposição

Abordagem referencial: pressuposição lógica ou semântica. Embora se reconheça a faceta pragmática dessa propriedade.

A partir de Frege, pressuposição existe quando a formas de afirmação, negação, interrogação e condição de uma sentença compartilham um mesmo conteúdo. Esse conteúdo é a pressuposição.

A) O João parou de fazer caminhadas.B) O João não parou de fazer caminhadas.C) Se o João parou de fazer caminhadas, ele

deve ter engordado.D) O João parou de fazer caminhadas?

E) Pressuposição: O João tinha o hábito de fazer caminhadas.

A) O João conseguiu abrir a porta.B) O João não conseguiu abrir a porta.C) O João conseguiu abrir a porta?D) Se o João conseguiu abrir a porta, ele deve

estar aliviado.E) O João tentou abrir a porta.A, B, C e D pressupõem E.

Acarretamento e pressuposição são implicações, mas são diferentes.

Acarretamento funciona entre duas sentenças, e é estritamente semântico.

Pressuposição é conhecimento prévio compartilhado entre falante e ouvinte, e tem aspectos pragmáticos. E envolve não somente uma implicação, mas uma família delas.

Definição de pressuposição

A sentença A pressupõe a sentença B se, e somente se, a sentença A, assim como também os outros membros da família da sentença A tomarem a sentença B como verdade.

Exemplo

A) A Maria sabe que o Pedro gosta de dormir na aula.

B) O Pedro gosta de dormir na aula.

Acarretamento: Informação de B está contida em A; se A é verdade, B é verdade; negação de B é contraditória com verdade de A.

Há acarretamento.

Pressuposição: toma-se a família de A.A1) A Maria sabe que o Pedro gosta de

dormir na aula. (afirmação)A2) A Maria não sabe que o Pedro gosta de

dormir na aula. (negação)A3) A Maria sabe que o Pedro gosta de

dormir na aula? (interrogação)A4) Se Maria sabe que o Pedro gosta de

dormir na aula, por que não o ajuda? (c0ndicional)

Se B é tomada como verdade para A1, A2, A3 e A4, então há pressuposição.

Ou seja, A pressupõe B.

Exemplo 2

A) Foi a Maria que tirou nota boa em Semântica.

B) Alguém tirou nota boa em Semântica.

Acarretamento: Informação de B está contida em A; se A é verdade, B é verdade; negação de B é contraditória com verdade de A.

Há acarretamento.

Pressuposição: toma-se a família de A.A1) Foi a Maria que tirou nota boa em

Semântica. (afirmação)A2) Não foi a Maria que tirou nota boa em

Semântica. (negação)A3) Foi a Maria que tirou nota boa em

Semântica? (interrogação)A4) Se foi a Maria que tirou nota boa em

Semântica, eu fico feliz. (c0ndicional)

Se B é tomada como verdade para A1, A2, A3 e A4, então há pressuposição.

Ou seja, A pressupõe B.

Exemplo 3

A) Não foi a Maria que tirou nota boa em Semântica.

B) Alguém tirou nota boa em Semântica.

Acarretamento: É possível negar B se A for verdade.

Não há acarretamento.

A1) Não foi a Maria que tirou nota boa em Semântica.

A2) Foi a Maria que tirou nota boa em Semântica.

A3) Não foi a Maria que tirou nota boa em Semântica?

A4) Se não foi a Maria que tirou nota boa em Semântica, pode ter sido outra pessoa.

B é tomada como verdade para A1, A2, A3 e A4. Portanto, A pressupõe B.

Acarretamento não é condição necessária para a pressuposição.

Pode haver acarretamento e pressuposição para as mesmas sentenças, mas isso não é obrigatório.

Exemplo 4

A) Foi o seu comportamento que me aborreceu.

B) Alguma coisa me aborreceu.

Acarretamento: informação de B está em A; se A é verdade, B é verdade; negação de B contradiz A.

Há acarretamento.

A1) Foi o seu comportamento que me aborreceu.

A2) Não foi o seu comportamento que me aborreceu.

A3) Foi o seu comportamento que me aborreceu?

A4) Se foi o seu comportamento que me aborreceu, eu sou um bobo.

B é tomada como verdade para A1, A2, A3 e A4.

Há pressuposição.

Expressões desencadeadoras

Algumas expressões desencadeiam pressuposições

Construções clivadas:Foi o seu comportamento que me aborreceu.O que me aborreceu foi o seu comportamento.

Orações subordinadas temporais:Eu já dirigia automóvel, quando você aprendeu

a andar de bicicleta.

Expressões desencadeadoras

Orações subordinadas comparativas:Ele é bem mais guloso do que você. (em

relação a: você é guloso)

Orações com verbos factivos (saber/esquecer/adivinhar):

O João sabe que os cachorros voam.O João esquece que o Brasil é maravilhoso.

VERBOS FACTIVOS:Diz-se do verbo que, quando us. na oração

principal, determina que a oração subordinada seja interpretada como expressando um fato verdadeiro.

VERBOS NÃO FACTIVOS:Diz-se do verbo que, quando us. na oração

principal, não determina que a oração subordinada seja interpretada como expressando um fato verdadeiro.

Expressões desencadeadoras

Expressões que denotam mudança de estado:O João parou de estudar.O João começou a falar.O João abandonou a vida boêmia.O João compreendeu que pode ser feliz.

CANÇADO, M. Manual de Semântica. São Paulo: Contexto, 2013, p. 31-46.

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