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Departamento de Matemática
FCTUC
Coimbra, 24 de Novembro de 2003
Trabalho realizado por:
Filipe Silva
Joana Couto
Raquel Santos
SAÚDE MENTAL NA ADOLESCÊNCIA
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
2
“Ninguém é responsável pelo seu nascimento,
cada um é livre de escolher a morte, portanto de
rejeitar o fardo que recebeu sem o ter pedido.”
RAYMOND ARON (1975)
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
3
ÍÍNNDDIICCEE
página
Introdução 5
História do suicídio 7
Parassuicídio 8
Tentativa de suicídio 9
Objectivos 10
Metodologia 11
- Sujeitos 11
- Variáveis 12
- Procedimento 12
Principais resultados do questionário I 14
Principais resultados do questionário II 17
Resultados da entrevista ao parassuicida 20
Resultados da entrevista à psicóloga da Escola 21
Análise dos resultados 22
Estudo das estatísticas oficiais 24
- Métodos de suicídio 30
- Métodos de parassuicídio e tentativa de suicídio 31
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
4
página
- Factores que podem contribuir para alguém ter
pensamentos suicidários 31
- Motivos de parassuicídio e tentativa de suicídio 32
Prevenção 33
Conclusão 35
Bibliografia 37
Anexos 38
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
5
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
A adolescência é uma época da vida humana marcada por profundas
transformações psicológicas, pulsionais, afectivas, intelectuais e sociais vivenciadas
num determinado contexto cultural.
Será importante revelar que a adolescência, processo dinâmico, se define pela
negativa: o adolescente já não é criança e ainda não é adulto.
Na maioria dos jovens de todo o mundo, o período da adolescência é o mais belo
da vida e decorre com pequenas turbulências, mas sem sobressaltos de maior. Alguns
adolescentes, contudo, têm trajectos mais problemáticos nos quais podem precisar de
ajuda. Os principais agentes preventivos das situações conflituais da adolescência são os
outros jovens, os chamados “pares” – é ao amigo que se conta o primeiro consumo de
droga, a ideia de suicídio ou a grave ruptura com o(a) namorado(a). Atentemos,
portanto, nisto: não é preciso ser-se técnico para criar proximidades e ajudar quem está
aflito ao pé de nós.
Na actualidade, o suicídio verifica-se principalmente na adolescência e na
velhice. É nas faixas etárias que se situam entre os 15 e os 24 anos de idade que o
suicídio parece ser cada vez mais frequente.
Um jovem ter pensamentos suicidários esporádicos não é nada de anormal, até
porque, estes fazem parte do processo de desenvolvimento normal da adolescência. Por
norma surgem à medida que os jovens lidam com os problemas existenciais e tentam
compreender a vida, a morte, e o sentido da vida.
O problema surge com a própria definição de suicídio, uma vez que condutas
bastante diferenciadas são consideradas “suicidárias”, desde a toxicomania, o
alcoolismo, o excesso de velocidade na condução automóvel, até outras situações
claramente ligadas à autodestruição, como a intoxicação medicamentosa e o
enforcamento.
DURKHEIM (1897) define o suicídio como “todo o caso de morte que resulta
directa ou indirectamente de um acto positivo ou negativo praticado pela própria vítima,
acto que a vítima sabia produzir esse resultado”. Esta definição levanta a questão da
intencionalidade do gesto suicida, que Durkheim não elabora (acto que a vítima
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
6
“sabia”), e o estado de consciência do sujeito (… sabia “produzir esse resultado”). Mais
tarde Durkheim é o próprio a reconhecer que podem existir “estados psíquicos sem
consciência”, o que nos coloca no centro da questão da capacidade de decisão sobre o
próprio gesto autodestrutivo.
Este problema da intenção suicida é retomado por HALBWACHS (1930), ao
dizer que “o que distingue um suicídio externamente de qualquer outro tipo de morte é
ser realizado com instrumentos ou meios que nos levam a assumir que o sujeito
pretendia morrer”.
É nesta linha que chegamos à definição de VAZ SERRA (1971): “Suicídio –
autodestruição por um acto deliberadamente realizado para conseguir este fim”.
O estudo do suicídio, que é um fenómeno especificamente individual, apesar de
só em aparência, permitirá a Durkheim demonstrar as fortes relações entre o indivíduo e
a sociedade. Segundo este grande sociólogo há três tipos de suicídio: o suicídio egoísta,
“que resulta de uma individualização excessiva” e cujo grau de integração do indivíduo
na sociedade não se apresenta suficientemente forte (o suicídio varia na razão inversa do
grau de integração da sociedade religiosa, familiar e política); o suicídio altruísta, que,
ao contrário do suicídio egoísta, resulta de uma “individualização insuficiente” (o
indivíduo determina a sua morte por força de “um imperativo social interiorizado,
obedecendo ao que o grupo ordena ao ponto de asfixiar dentro de si próprio o instinto
de conservação”); e o suicídio anómico, que se relaciona com uma situação de
desregramento, típica dos períodos de crise que impede o indivíduo de encontrar uma
solução bem definida para os seus problemas, situação que favorece um sucessivo
acumular de fracassos e decepções propícias ao suicídio (“se a influência reguladora da
sociedade deixa de se exercer, o indivíduo deixa de ser capaz de encontrar em si próprio
razões para se auto-impor limites”).
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
7
HHIISSTTÓÓRRIIAA DDOO SSUUIICCÍÍDDIIOO
A posição da sociedade acerca do suicídio tem-se modificado ao longo do
tempo. Como adverte PRATS (1987), “não há nenhuma sociedade ou microcultura,
qualquer que seja o período histórico considerado, onde não exista suicídio, embora
gerido em cada uma delas de forma diferenciada, conforme a sua mentalidade e
ideologia específicas sobre a vida e o seu valor social e simbólico, sobre a morte e o
significado do após a morte”.
Na Roma clássica, por exemplo, o suicídio era visto de um modo neutro ou
mesmo positivo, mas no século IV a posição radical de Santo Agostinho, ao rejeitar o
suicídio, vem modificar profundamente o modo de o encarar.
No século XIII, S. Tomás de Aquino retoma a ideia do suicídio-pecado ao
afirmar que só Deus tem o direito a dar e a tirar a vida, posição que caracteriza o
período medieval. O corpo do suicida não tinha direito ao enterro cristão e era exposto
nas praças públicas como forma de dissuasão. Esta visão do suicídio influenciou as
comunidades durante muitos anos e levou a que muitos fossem criticados e mesmo
perseguidos pelo facto de terem atentado contra a própria vida.
A compreensão do suicídio só pode ser tentada se forem ponderadas as diversas
vertentes do seu enquadramento cultural.
Certas sociedades têm uma posição permissiva face ao suicídio, como é o caso
de Tikopia, uma das ilhas do Pacífico Ocidental.
A posição actual defende a colaboração interdisciplinar para o estudo do suicídio
(OMS, 1984). O suicídio é considerado um fenómeno complexo, multifacetado,
necessitando de esforços coordenados de vários sectores, unidos através de uma correcta
metodologia de intervenção, tanto quanto possível objectiva.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
8
PPAARRAASSSSUUIICCÍÍDDIIOO
O termo “parassuicídio” utiliza-se frequentemente para designar uma tentativa
de suicídio em que a verdadeira intenção não é pôr termo à vida. As raparigas são mais
propensas que os rapazes a um comportamento parassuicida. Tais tentativas são também
habitualmente feitas por jovens mais novos e mais frequentemente como resultado de
alguma crise pessoal grave do que devido a uma grande depressão.
A falta de diálogo com os pais e uma ruptura numa relação pessoal são,
aparentemente, os problemas que mais provocam uma tentativa de suicídio, e nessa
altura os sentimentos que dominam o jovem são a raiva, a solidão e o simples desejo de
se ver “livre” de uma situação. Os métodos escolhidos (muitas vezes uma dose
excessiva de drogas ou cortar os pulsos) são potencialmente menos letais que numa
verdadeira tentativa de suicídio, mas dado que os jovens poderão não ter os devidos
conhecimentos a respeito das drogas, por exemplo, estão assim a pôr as suas vidas em
perigo – mesmo que na verdade não queiram morrer. O seu comportamento deverá ser
encarado mais como uma tentativa de trazer certas mudanças à sua vida do que de lhe
pôr termo.
É-nos fácil menosprezar esta forma semi-sentida de tentativa de suicídio
considerando-a um acto “para chamar a atenção”, mas a verdade é que os jovens que
tentam ou ameaçam suicidar-se precisam mesmo de cuidados e atenção. Qualquer
jovem que tente suicidar-se, seja por que razão for, necessita de ajuda psiquiátrica e,
muitas vezes, a sua família também. Talvez tenham sido os conflitos entre os pais e o
jovem que tenham provocado a crise que deve agora ser resolvida. O jovem precisa
também que o ajudem a entender os seus próprios sentimentos e a aprender a lidar
melhor com os problemas e crises da vida.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
9
TTEENNTTAATTIIVVAA DDEE SSUUIICCÍÍDDIIOO
Ao contrário do parassuicídio, a tentativa de suicídio é entendida como o acto
levado a cabo por um indivíduo e que visa a sua morte, mas que por razões diversas não
é alcançada.
É o nível de intencionalidade uma das principais diferenças entre estes actos,
sendo na tentativa de suicídio superior.
A precipitação propositada de um local bastante alto, pode considerar-se como
uma tentativa de suicídio caso não resulte na própria morte, no entanto, é importante
referir que é neste quadro que resultam mais incapacitações como consequência da
intencionalidade do acto. Dir-se-ia que é um suicídio frustrado.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
10
OOBBJJEECCTTIIVVOOSS
Apreender as principais causas atribuídas ao suicídio juvenil;
Verificar as diferenças e semelhanças das representações sociais do suicídio
(obtidas) em função da idade, do sexo e grau de ensino;
Avaliar a importância da prevenção do suicídio entre os jovens.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
11
MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA
Sujeitos:
A amostra foi constituída por adolescentes, alunos da Escola Secundária Infanta
D. Maria e estudantes da Universidade de Coimbra, num total de 80 sujeitos – 32
rapazes e 48 raparigas.
O Quadro 1 apresenta a distribuição dos sujeitos por sexo e idade, enquanto o
Quadro 2 indica a sua distribuição por sexo e grau de ensino.
Quadro 1
Idade Rapazes Raparigas Total
15 6,25% 12,5% 18,75%
16 1,25% 0% 1,25%
17 8,75% 5% 13,75%
18 10% 13,75% 23,75%
19 3,75% 3,75% 7,5%
20 3,75% 8,75% 12,5%
21 1,25% 6,25% 7,5%
22 0% 3,75% 3,75%
23 5% 2,5% 7,5%
24 0% 3,75% 3,75%
Total 40% 60% 100%
média-etária: 18,575 desvio-padrão: 2,573
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
12
Quadro 2
Grau de ensino Rapazes Raparigas Total
Escola 20% 17,5% 37,5%
Universidade 20% 42,5% 62,5%
Total 40% 60% 100%
Nesta população, 23,75% dos jovens já teve ideias de suicídio, uma ou mais
vezes. Entre estes adolescentes 3,75% fizeram pelo menos uma tentativa de suicídio.
Variáveis:
Consideraram-se como variáveis independentes: o sexo; a idade; e o grau de
ensino (ensino secundário e ensino superior). Foram estudadas como variáveis
dependentes as dimensões explicativas que estruturam as representações sociais das
ideias suicidárias, das tentativas de suicídio e do suicídio.
Procedimento:
No sentido de responder aos objectivos gerais da investigação, foram
construídos dois questionários e duas entrevistas:
O questionário I foi realizado a 30 alunos, escolhidos aleatoriamente de uma
população de aproximadamente 580, da Escola Secundária Infanta D. Maria, no dia 13
de Novembro de 2003. Devido ao ofício circular nº 212/42/03, enviado pela DREC a
todas as escolas, foi-nos negada a passagem dos questionários no recinto da escola. A
solução encontrada foi passá-los fora dos portões desta.
O questionário II teve por amostra 50 estudantes escolhidos aleatoriamente de
uma população de cerca de 20000 alunos da Universidade de Coimbra, no dia 12 de
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
13
Novembro de 2003. O local escolhido para a realização deste questionário foi o bar do
Departamento de Matemática.
Ambos os questionários (que se encontram em anexo) são constituídos por 17
perguntas das quais 14 são para assinalar com cruz e as restantes 3 são de resposta
opinativa.
Uma das entrevistas foi realizada no dia 17 de Novembro de 2003 a uma
rapariga de 23 anos de idade.
Os questionários e essa entrevista foram estruturados de modo a identificar: as
dimensões explicativas da representação do suicídio; as atitudes face ao suicídio e
estratégias de prevenção; e um conjunto de questões para caracterizar os adolescentes
desta amostra.
A outra entrevista feita à psicóloga da Escola Secundária Infanta D. Maria, Dr.ª
Conceição Rijo, no dia 12 de Novembro de 2003, teve por objectivo conhecer os
mecanismos de prevenção a nível escolar.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
14
PPRRIINNCCIIPPAAIISS RREESSUULLTTAADDOOSS DDOO QQUUEESSTTIIOONNÁÁRRIIOO II
Dos 30 alunos que responderam a este questionário, a distribuição por idade e
sexo é mostrada no gráfico 1.
Gráfico 1 - Distribuição dos alunos por idade e sexo
02468
1012
15 16 17 18
Idade
Núm
ero
de A
luno
s
FemininoMasculino
Constatou-se que todos estes alunos já ouviram falar do suicídio. Para a maioria,
este acto significa desistência e nunca um desafio (gráfico 2).
Reparou-se também que, para a
maioria das raparigas (64%), a palavra
desistência é a que está mais relacionada com
a palavra suicídio (gráfico 3), enquanto que
apenas cerca de metade dos rapazes escolheu
esta opção (49%) (gráfico 4). Uma pequena
percentagem de rapazes (13%) deu outros
significados à palavra suicídio, como por
exemplo frustração.
Gráfico 2 - Significado de suicídio para os alunos
56%0%
37%7%
desist ência
desaf io
f uga
out ro
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
15
Em relação aos casos de tentativa de suicídio, verificou-se que a maioria das
raparigas tem conhecimento de situações deste género (57%) (gráfico 5), ao contrário
do que se passa nos rapazes, pois apenas 44% destes conhecem (gráfico 6).
Dos 50% de alunos que conhecem estas situações, a maioria (73%) tem
conhecimento destes casos em amigos e,
apenas uma pequena percentagem (7%) em
familiares (gráfico 7). Estes 15 casos
ocorreram todos em pessoas com idade
compreendida entre os 15 e os 24 anos em
que os motivos foram variados (como por
Gráfico 3 - Significado de suicídio para as raparigas
64%0%
36%0%
desistência
desafio
fuga
outro
Gráfico 4 - Significado de suicídio para os rapazes
49%0%
38%13%
desistência
desafio
fuga
outro
Gráfico 5 - Casos de tentativa de suicídio conhecidos pelas raparigas
57%
43%
Sim
Não
Gráfico 6 - Casos de tentativa de suicídio conhecidos pelos rapazes
44%
56%SimNão
Gráfico 7 - Percentagem de casos conhecidos
7%
73%
20%
FamíliaAmigosOutro
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
16
exemplo, desespero, problemas amorosos e dificuldades na escola) (gráfico 8). Destas
pessoas, 87% chegaram mesmo a suicidar-se (gráfico 9).
Dos 7 alunos que pensaram em suicidar-se, a distribuição por sexo e idade está
representada no gráfico 10 e os motivos no gráfico 11.
Destes alunos, 2 tentaram mesmo suicidar-se, um rapaz e uma rapariga. A
rapariga tentou o suicídio por intoxicação medicamentosa e por flebotomia (corte de
veias), enquanto que o rapaz não indicou o método utilizado.
Gráfico 8 - Motivos que levaram às tentativas
7%13%7%
60%
13%
Familiar
Amoroso
Escolar
Outro
Não sabe
Gráfico 9 - Percentagem de falecidos
87%
13%
Não faleceram
Faleceram
Gráfico 10 - Alunos que já pensaram suicidar-se
0
1
2
3
4
5
15 16 17 18
I da de
Feminino
Masculino
Gráfico 11 - Motivos que levaram os alunos a pensar suicidar-se
28%0%14%
29%29% Familiar
Amoroso
Financeiro
Escolar
Outro
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
17
PPRRIINNCCIIPPAAIISS RREESSUULLTTAADDOOSS DDOO QQUUEESSTTIIOONNÁÁRRIIOO IIII
Dos 50 alunos que responderam ao questionário, a distribuição por idade e sexo
é mostrada no gráfico 12.
Gráfico 12 - Distribuição dos estudantes por idade e sexo
02468
1012
17 18 19 20 21 22 23 24
Idade
Núm
ero
de
estu
dant
es
Feminino
Masculino
Verificou-se que todos estes estudantes já ouviram falar do suicídio. Para metade
dos estudantes, o suicídio significa desistência e, para uma parte significativa fuga
(gráfico 13).
Constatou-se também que a maioria
das raparigas têm opinião dividida entre
desistência e fuga (44% e 38%,
respectivamente) (gráfico 14), enquanto que
a maioria dos rapazes escolheu a opção
desistência como significado de suicídio
(63%) (gráfico 15). Uma pequena
percentagem das raparigas (3%) considerou o
suicídio como um desafio.
Gráfico 13 - Significado de suicídio para os estudantes
50%
2%36%
12%
desistênciadesafiofugaoutro
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
18
Grande percentagem de raparigas e rapazes mostram conhecimento de casos de
tentativa de suicídio (71% e 69%, respectivamente) (ver gráfico 16 e gráfico 17).
Têm conhecimento destes casos, 70% dos estudantes, sendo a maioria destes em
amigos (60%) (gráfico 18). Destes 35 casos,
29 ocorreram em pessoas com idade
compreendida entre os 15 e os 24 anos. Os
motivos foram diversos, tais como familiares,
amorosos, fuga aos problemas e solidão
(gráfico 19). Destas 29 pessoas, 28%
chegaram mesmo a suicidar-se (gráfico 20).
Gráfico 14 -Significado de suicidio para as raparigas
44%
3%38%
15%desistênciadesafiofugaoutro
Gráfico 15 -Significado de suicídio para os rapazes
63%0%
31%6%
desistênciadesafiofugaoutro
Gráfico 16 - Casos de tentativa de suicídio conhecidos pelas raparigas
71%
29%
SimNão
Gráfico 17 - Casos de tentativa de suicídio conhecidos pelos rapazes
69%
31%
SimNão
Gráfico 18 - Percentagem de casos conhecidos
6%
60%
34%FamíliaAmigosOutro
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
19
Doze dos estudantes já pensaram em suicidar-se e a sua distribuição por sexo e
idade está representada no gráfico 21 e os seus motivos no gráfico 22.
A única tentativa de suicídio que se encontrou neste grupo da universidade foi
um rapaz de 19 anos que utilizou uma arma de fogo para o fazer.
Gráfico 19 - Motivos que levaram às tentativas
38%
17%
7%
21%17%
FamiliarAmorosoPessoalOutroNão sabe
Gráfico 20 - Percentagem de falecidos
69%
28%3%
Não faleceram
Faleceram
Não sabe
Gráfico 21 - Estudantes que já pensaram suicidar-se
0
1
2
3
4
5
6
7
17/18 19/20 21/22 23/24
Idade
Núm
ero
de E
stud
ante
s
Feminino
Masculino
Gráfico 22 - Motivos que levaram os estudantes a pensar suicidar-se
25%
33%0%
0%
42%Familiar
Amoroso
Financeiro
Escolar
Outro
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
20
RREESSUULLTTAADDOOSS DDAA EENNTTRREEVVIISSTTAA AAOO PPAARRAASSSSUUIICCIIDDAA
Da entrevista à rapariga de 23 anos de idade, ficou-se a saber que se tentou
suicidar 2 vezes. Há 5 anos (tinha ela 18 anos), a 1ª vez que teve ideias suicidárias,
tentou cortar os pulsos e, após 1 ano, tentou o suicídio novamente, tomando uma dose
excessiva de comprimidos Xanax.
Quando lhe perguntámos quais os motivos que a levaram à 1ª tentativa de
suicídio, ela respondeu:
- “Até ao 12º ano achava que era uma boa aluna. Quando entrei em Matemática
e não consegui fazer nenhuma cadeira, fui-me abaixo. Comecei a achar que afinal não
era aquilo que pensava e deixei de ser quem era e de saber o que queria. Este foi para
mim o principal motivo. Depois comecei a ter pensamentos negativos acerca de mim e
atacava-me psicologicamente, sentindo-me cada vez pior até achar que não merecia o
carinho e atenção das outras pessoas. Depois da primeira tentativa tive a «ajuda» de
um psicólogo que não ajudou, porque comecei a sentir-me ainda pior. Depois da
segunda (tentativa) consultei um psiquiatra e achei que também não estava a ajudar.
Por fim tive a inteligência de concluir que só eu, sozinha, me conseguia ajudar, e assim
foi. Hoje estou óptima. Quer dizer, o facto de ter mudado de curso também ajudou, mas
a minha vontade de me sentir bem foi maior.”
Quanto à reacção dos pais e dos amigos, ela afirmou que “ficaram muito
preocupados e tentaram ajudar”. Quanto à procura de acompanhamento psicológico,
ela diz que foi “porque na altura achava que não conseguia resolver os problemas
sozinha”.
Em relação aos arrependimentos, ela se pudesse já teria mudado de curso há
mais tempo.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
21
RREESSUULLTTAADDOOSS DDAA EENNTTRREEVVIISSTTAA ÀÀ PPSSIICCÓÓLLOOGGAA DDAA
EESSCCOOLLAA
No decorrer da entrevista com a Dr.ª Conceição Rijo, com a intenção de obter
informação sobre os mecanismos de prevenção do suicídio utilizados nas escolas,
constatou-se que, pelo menos na Escola Secundária Infanta D. Maria, apenas em casos
de “urgência” são tomadas medidas.
Teve-se conhecimento da existência de dois casos: há 4 anos um suicídio e há
cerca de um ano atrás uma tentativa de suicídio. O primeiro caso, filho de um professor
deste estabelecimento de ensino, provocou uma onda de choque a nível geral. Foi
considerado necessário por parte da escola chamar um psiquiatra para acompanhar e
apoiar os melhores amigos e a turma do aluno. Este profissional, Dr. Carlos Saraiva,
teve por objectivo esclarecer todas as dúvidas e responder a perguntas sobre este tema.
O segundo caso envolveu uma rapariga que tentou cortar os pulsos. Perante este caso, a
psicóloga, depois de uma conversa com a aluna e com os pais, achou conveniente que
esta deveria ser encaminhada para o Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da
Universidade de Coimbra. Ainda hoje esta aluna está a ter esse acompanhamento.
A psicóloga considera que este assunto não deve ser alvo de grandes discussões
achando todavia, que não deve ser encarado como tabu. Perante isto, acha que os
professores devem abordar este tema sempre que ele surja nos conteúdos do programa
da disciplina ou quando é solicitado pelos alunos devido a questões com as quais são
confrontados no dia a dia, como por exemplo num programa/debate na televisão ou em
actividades escolares (sessões de cinema e teatro).
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
22
AANNÁÁLLIISSEE DDOOSS RREESSUULLTTAADDOOSS
A proporção de inquiridos do sexo masculino e feminino do questionário feito à
escola (gráfico 23) difere da do questionário feito na universidade (gráfico 24).
Quanto à possível definição de suicídio, a única diferença relevante encontrada
foi o facto de alguns estudantes da universidade (2%) considerarem o suicídio como um
desafio (ver gráficos 2 e 13, páginas 14 e 17 respectivamente).
Relativamente ao conhecimento de casos de tentativa de suicídio, notou-se um
maior conhecimento destas situações nos estudantes da universidade em comparação
com os alunos da escola (gráficos 25 e 26)
Gráfico 23 - Distribuição por sexo
47%
53%
Feminino
Masculino
Gráfico 24 - Distribuição por sexo
68%
32%
Feminino
Masculino
Gráfico 25 - Casos de tentativa de suicídio conhecidos pelos alunos
50%
50% ConhecemNão conhecem
Gráfico 26 - Casos de tentativa de suicídio conhecidos pelos estudantes
70%
30%
ConhecemNão conhecem
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
23
Comparando os resultados dos 2 questionários, não houve uma diferença
significativa entre as percentagens dos círculos de pessoas onde ocorreram estas
tentativas (ver gráficos 7 e 18, páginas 15 e 18 respectivamente).
Em relação aos pensamentos suicidários também não se verificou grande
discrepância nos resultados (gráficos 27 e 28).
Os motivos que levam os inquiridos da universidade a pensar em suicidar-se são
principalmente do foro amoroso, enquanto que os alunos da escola pensam nisso devido
a problemas diversos, destacando-se mesmo assim os problemas de ordem familiar (ver
gráficos 11 e 22, páginas 16 e 19 respectivamente).
Nas 80 pessoas inquiridas constatou-se uma taxa de 3,75% de alunos/estudantes
que se tentaram suicidar, 2 na escola e 1 na universidade.
Gráfico 27 - Alunos que já pensaram suicidar-se
23%
77%
PensaramNão pensaram
Gráfico 28 - Estudantes que já pensaram suicidar- -se
24%
76%
PensaramNão pensaram
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
24
EESSTTUUDDOO DDAASS EESSTTAATTÍÍSSTTIICCAASS OOFFIICCIIAAIISS
Os comportamentos suicidários são actualmente reconhecidos pela Organização
Mundial de Saúde como um grave problema que afecta a generalidade dos países.
Em todo o mundo suicidam-se diariamente mais de 2000 pessoas (estatística
analisada a partir de 1985). Este número vai aumentando gradualmente de ano para ano
numa grande proporção nos últimos cinco anos.
Quadro 3 – Taxas de suicídio por 100000 habitantes, na Europa e outros países, em 2000
País Global Sexo masculino Sexo feminino
Lituânia 44.1 75.6 16.1
Rússia 35.5 62.6 11.6
Bielorússia 34.0 61.1 10.0
Hungria 32.6 51.5 15.4
Estónia 32.5 56.0 12.1
Letónia 32.4 56.6 11.9
Eslovénia 29.9 47.3 13.4
Ucrânia 29.6 52.1 13.4
Japão 25.1 36.5 14.1
Finlândia 23.4 37.9 9.6
Bélgica 21.3 31.3 11.7
Croácia 21.1 32.9 10.3
Suíça 20.2 29.2 11.6
Áustria 19.6 29.3 10.4
França 17.9 27.1 9.2
República Checa 16.1 26.0 6.7
Bulgária 15.9 24.1 8.1
Nova Zelândia 15.1 23.7 6.9
Polónia 15.0 26.1 4.5
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
25
País Global Sexo masculino Sexo feminino
Moldávia 14.9 26.7 4.1
Dinamarca 14.4 20.9 8.1
Luxemburgo 14.4 22.2 6.7
Suécia 13.9 20.1 7.8
Alemanha 13.6 20.2 7.3
Eslováquia 13.5 22.6 4.9
Irlanda 13.4 23.1 3.9
Áustria 13.1 21.2 5.1
Roménia 12.6 21.2 4.5
Noruega 12.4 18.2 6.7
Canadá 12.3 19.6 5.1
Islândia 12.2 19.1 5.2
EUA 11.3 18.6 4.4
Índia 10.7 12.2 9.1
Holanda 9.6 13.0 6.3
Espanha 8.3 13.0 3.8
Itália 7.8 12.3 3.6
Reino Unido 7.5 11.8 3.3
Macedónia 7.4 10.3 4.5
Israel 6.5 10.5 2.6
Portugal 5.1 8.5 2.0
Albânia 4.9 6.3 3.6
Brasil 4.1 6.6 1.8
Grécia 3.8 6.1 1.7
Geórgia 2.9 4.8 1.2
Arménia 1.6 2.5 0.7
Azerbeijão 0.8 1.2 0.4
Embora a taxa anual de suicídios em Portugal tenha vindo a diminuir
gradualmente nos últimos vinte anos chegando aos 5 por cada 100000 habitantes
(Quadro 4) – taxa comparada à da Albânia, 1/4 da Suíça, 1/3 da Polónia, 1/2 da Índia,
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
26
mas dupla da taxa da Geórgia (Quadro 3) – existem indicadores de que os
parassuicídios têm aumentado significativamente nos últimos anos. A tendência da
razão parassuicídios/suicídios na Europa, apesar da dificuldade de obtenção de dados
fidedignos, andará à volta de 40/1 (entre os 15 e os 24 anos).
Quadro 4 – Taxas de suicídio por 100000 habitantes, em Portugal
Ano Global Sexo masculino Sexo feminino
1980 7.4 11.2 3.9
1981 7.9 11.4 4.7
1982 8.4 12.2 4.9
1983 9.8 14.7 5.2
1984 10.3 14.9 6.1
1985 9.8 14.4 5.6
1986 9.4 13.9 5.2
1987 9.6 14.7 4.9
1988 8.2 13.0 3.8
1989 7.5 11.5 3.9
1990 8.8 13.5 4.5
1991 9.6 14.9 4.6
1992 8.8 13.3 4.6
1993 7.9 12.3 3.8
1994 7.7 12.3 3.4
1995 8.2 12.2 4.4
1996 6.6 10.3 3.2
1997 6.3 10.1 2.8
1998 5.6 8.7 2.7
1999 5.5 8.5 2.7
2000 5.1 8.5 2.0
Em Portugal a taxa global de suicídios tem vindo a descer a partir de 1991, mas
existe uma assimetria regional significativa, com as zonas a Sul do Tejo a terem taxas
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
27
muito elevadas. O sul de Portugal tem taxas globais 3 a 5 vezes maiores que o Norte e o
distrito de Beja é a zona do país com maior taxa (Quadro 5).
Quadro 5 – Taxas de suicídio por 100000 habitantes, em várias regiões de Portugal (média
anual 1996-1999)
Região do país Global Sexo
masculino
Sexo
feminino
Minho-Lima 3.1 5.2 1.3
Cavado 1.4 2.4 0.5
Ave 1.1 1.8 0.4
Grande Porto 0.5 0.7 0.3
Tâmega 2.1 3.5 0.7
Entre Douro e Vouga 2.4 3.9 1.0
Douro 2.1 4.1 0.2
Alto Trás-os-Montes 3.2 4.7 1.7
Baixo Vouga 2.6 4.3 1.1
Baixo Mondego 3.3 5.8 1.0
Pinhal Litoral 6.3 9.2 3.5
Pinhal Interior Norte 6.8 10.5 3.4
Dão-Lafões 2.0 3.3 0.9
Pinhal Interior Sul 6.9 8.1 5.7
Serra da Estrela 1.4 2.9 0.0
Beira Interior Norte 3.8 6.2 1.6
Beira Interior Sul 2.8 3.9 1.8
Cova da Beira 5.9 9.5 2.6
Oeste 13.2 20.9 5.8
Grande Lisboa 7.5 11.6 3.8
Península de Setúbal 8.4 12.5 4.5
Médio Tejo 8.4 13.0 4.0
Lezíria do Tejo 14.0 20.1 8.1
Alentejo Litoral 28.4 42.8 14.2
Alto Alentejo 17.1 26.4 8.3
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
28
Região do país Global Sexo
masculino
Sexo
feminino
Alentejo Central 19.8 30.1 10.1
Baixo Alentejo 19.4 31.3 7.9
Algarve 14.4 22.3 6.6
R. A. Açores 6.0 10.2 1.9
R. A. Madeira 3.0 5.3 0.9
A taxa de suicídio nos rapazes é 2 vezes mais elevada do que nas raparigas, ao
contrário da taxa de parassuicídios (Quadro 6). As raparigas desenvolvem sintomas
depressivos com mais frequência do que os rapazes, mas também acham mais fácil falar
dos seus problemas e procurar ajuda, e isto provavelmente ajuda a prevenir actos
suicidários fatais. Os rapazes são com mais frequência agressivos e impulsivos, e
frequentemente agem sob a influência do álcool e drogas ilícitas, que provavelmente
contribui para o desfecho fatal dos seus actos suicidários.
Quadro 6 – Taxas de suicídio por 100000 habitantes dos 15 aos 24 anos de idade, em Portugal
Anos Global Sexo
masculino
Sexo
feminino
1980 4.7 5.2 4.1
1981 5.7 6.4 5.0
1982 5.9 7.9 4.0
1983 7.3 9.4 5.2
1984 8.8 11.6 6.0
1985 7.3 9.6 4.9
1986 5.5 7.3 3.8
1987 6.3 9.6 3.0
1988 5.0 6.8 3.1
1989 4.7 7.1 2.3
1990 5.4 7.6 3.1
1991 4.6 7.1 2.1
1992 3.9 5.7 2.1
1993 3.2 4.3 2.0
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
29
Anos Global Sexo
masculino
Sexo
feminino
1994 3.4 4.8 1.9
1995 4.4 5.8 3.0
1996 2.9 4.2 1.5
1997 2.7 4.3 1.2
1998 2.3 3.7 0.8
As estatísticas subestimam a taxa porque apenas aos casos com intenção
evidente provada, tais como uma confissão escrita, é dado o veredicto de suicídio pelas
autoridades. Muitas mortes com o veredicto de “acidente” ou “causa indeterminada” são
provavelmente também suicídios.
Todas as tentativas de suicídio devem ser encaradas com seriedade, pois das
pessoas que tentam suicidar-se 20 a 30% fazem nova tentativa dentro de meses e 10%
acabam por matar-se.
Métodos de suicídio:
Os métodos suicidários variam de país para país.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
30
A distribuição dos suicídios segundo o meio pelo qual se concretizam, para os
anos de 1990 a 2000, demonstra que a maioria dos indivíduos optaram pelo
“enforcamento, estrangulamento e sufocação”, com valores mais altos nos homens do
que nas mulheres. A opção por esta forma violenta de suicídio tem vindo a aumentar no
período em análise, quer por parte dos homens quer por parte das mulheres.
No caso dos homens, a maioria utilizou este meio, registando-se a percentagem
mais elevada em 1997, com 60,9% (60,5% em 2000). No caso das mulheres, só a partir
de 1996 é que este meio passou a ser maioritariamente escolhido, pertencendo a 2000 a
proporção mais elevada de mulheres suicidas através desse modo (44,9%).
A segunda forma de suicídio mais actualizada, durante o período em análise, tem
sido o envenenamento, embora no ano de 2000 tenha sido substituída pelas armas de
fogo e explosivos, no que respeita aos homens e pelo afogamento, no caso das
mulheres. No envenenamento encontram-se contabilizados os casos de envenenamento
auto-infligido por substâncias sólidas ou líquidas, por meio de gás de uso doméstico e
por meio de gases e vapores. Este parece ser o meio escolhido maioritariamente pelas
mulheres, embora registe uma tendência de decréscimo em ambos os sexos. As
proporções mais elevadas registaram-se em 1991, para ambos os sexos, correspondendo
a 39,3% e 52,1% do total de suicídios de homens e mulheres, respectivamente, naquele
ano. Em 2000, os valores registados foram de 12,0% para os homens e 16,8% para as
mulheres.
A utilização de “armas de fogo e explosivos” tem constituído cada vez maior
opção, sobretudo por parte dos homens, tendo-se registado a percentagem mais elevada
em 1999; 13,3% em 2000. Nas mulheres, o valor mais alto pertenceu igualmente a
1998, embora com uma percentagem inferior à dos homens (5,8%); 1,9% em 2000.
O recurso à “submersão (afogamento)” como meio de concretização de suicídio
tem sido preferido pelas mulheres, constituindo o segundo meio utilizado em 2000:
17,8% das mulheres optaram por esta forma, contra apenas 3,3% dos homens.
Outro meio igualmente violento como a “precipitação de um lugar elevado”
apresenta igualmente uma tendência crescente, com valores sempre superiores nas
mulheres, pertencendo a 1999 a proporção mais alta para os homens com 6,1% (5,0%
em 2000) e a 1998 o maior valor para as mulheres – 16,4% (13,1% em 2000).
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
31
O recurso a outros processos como a utilização de instrumentos cortantes e
perfurantes e outros procedimentos não especificados e os casos de efeitos tardios de
lesões auto-infligidas não tem sido tão significativo.
Métodos de parassuicídio e tentativa de suicídio:
Cerca de 90% dos casos são auto-envenenamentos, muitas vezes com
substâncias com propriedades analgésicas, como aspirina ou paracetamol e/ou fármacos
psicotrópicos prescritos, algumas vezes acompanhados com álcool. Outros casos são
por métodos violentos, tais como auto-dilaceração.
Factores que podem contribuir para alguém ter pensamentos
suicidários:
Psicopatológicos:
1. Depressão endógena, esquizofrenia, alcoolismo, toxicodependência e distúrbios de
personalidade;
2. Modelos suicidários: familiares, pares sociais, histórias de ficção e/ou notícias
veiculadas pelos média;
3. Comportamentos suicidários prévios;
4. Ameaça ou ideação suicida com plano elaborado;
5. Distúrbios alimentares (bulimia).
Pessoais:
1. Morte de amigos íntimos;
2. Escolaridade elevada;
3. Presença de doenças de prognóstico reservado (HIV, cancro etc.);
4. Hospitalizações frequentes, psiquiátricas ou não;
5. Família actual desagregada: por separação, divórcio ou viuvez.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
32
Psicológicos:
1. Ausência de projectos de vida;
2. Desesperança contínua e acentuada;
3. Culpabilidade elevada por actos praticados ou experiências passadas;
4. Perdas precoces de figuras significantes (pais, irmãos);
5. Ausência de crenças religiosas.
Sociais:
1. Mudança de residência;
2. Emigração;
3. Falta de apoio familiar e/ou social;
Estudos mais recentes sugerem que um estado psicológico de desespero é a
chave precursora do suicídio.
Motivos de parassuicídio e tentativa de suicídio:
Cerca de 10% dos episódios são tentativas sérias de suicídio que falharam.
Noutros casos, a motivação reportada é de fugir a uma situação intolerável ou estado de
espírito e apelar por ajuda, ou uma tentativa de influenciar outra pessoa.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
33
PPRREEVVEENNÇÇÃÃOO
Algumas estratégias preventivas têm como objectivo melhorar a situação de
indivíduos em alto risco, outras reduzir os factores relacionados com o suicídio na
sociedade como um todo.
Dado o facto de que em muitos países e regiões muitos adolescentes frequentam
a escola, parece que este é um excelente local para desenvolver as acções preventivas
apropriadas.
O suicídio não é um incompreensível raio que cai do céu: os alunos suicidários
dão ás pessoas que os rodeiam sinais suficientes e oportunidade para intervir. No
trabalho de prevenção do suicídio, professores e demais pessoal escolar enfrentam um
desafio de grande importância estratégica, no qual é fundamental:
Identificar alunos com distúrbios de personalidade e dar-lhes apoio psicológico;
Forjar laços mais estreitos com os jovens falando com eles e tentar entendê-los e
ajudá-los;
Aliviar a pressão mental;
Estar atento e treinado no reconhecimento atempado de formas de comunicação
suicidárias através de declarações verbais e/ou de alterações comportamentais;
Ajudar os alunos com menos capacidades no trabalho escolar;
Estar atento às faltas à escola;
Não estigmatizar a doença mental e ajudar a eliminar o abuso de álcool e drogas;
Aconselhar que os alunos sejam tratados de eventuais doenças psiquiátricas e abuso
de drogas e álcool;
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
34
Restringir o acesso dos alunos a meios de suicídio – drogas tóxicas e letais,
pesticidas, armas de fogo e outras armas, etc.;
Possibilitar no local aos professores e demais pessoal escolar meios de aliviar o seu
stress no trabalho.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
35
CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Enquanto conceito geral, o suicídio é uma das mais graves consequências das
perturbações psíquicas dos indivíduos. A tensão nervosa, quando envolve conflitos
intrapsíquicos de gravidade muito acentuada, transtorna tão alucinadamente o
psiquismo, que a pessoa vê a morte como única solução. De nada valem as riquezas
materiais, a fama e glória, quando interiormente se vive no tédio, numa amargurante
angústia sem encontrar solução nem saída para esses estados psíquicos.
Os jovens recorrem a uma multiplicidade de razões para explicar o suicídio que
nos remetem para uma abordagem multidimensional, onde se salientam as dimensões
representacionais (significativas) de natureza intra-individual (sentimentos de perda e
desilusão) e psicossocial (influência social/isolamento).
Para os jovens inquiridos, as causas que mais podem contribuir para o suicídio
são, antes de mais, os múltiplos problemas quotidianos – principalmente os problemas
familiares e amorosos.
Enforcamento/estrangulamento/sufocação são actualmente os métodos mais
comuns utilizados por toda a parte, embora o envenenamento (muitas vezes por
medicamentos) permaneça o método mais comum nas mulheres. Outros métodos
incluem afogamento, queda, corte dos pulsos e imolação.
A escola e os professores podem desempenhar um papel muito importante
relativamente aos adolescentes que pensam em morrer. A escola deverá ser um local de
educação, de saúde, devendo proporcionar uma interacção com os adolescentes
promotora de bem-estar e preventiva dos problemas juvenis, nomeadamente o suicídio.
É essencial que os professores sejam capazes de detectar precocemente os sinais
de alarme de um comportamento patológico, sem se convencerem de que tudo é
perturbação mental. Aliás, é importante referir que as perturbações psicológicas como a
depressão grave e o risco de suicídio só podem ser detectados a partir de uma
multiplicidade de factores e nunca após uma observação única ou pontual.
As escolas devem estar sobretudo orientadas para o bem-estar de toda a
população escolar, muito atenta aos sinais e sintomas que podem indiciar
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
36
comportamentos auto-destrutivos e preparadas para prestar elas próprias, apoio ou
encaminhar para serviços especializados.
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
37
BBIIBBLLIIOOGGRRAAFFIIAA
Livros:
Barraclough, Jennifer e Gill, David (Maio de 1997). Bases da Psiquiatria
Moderna. Lisboa. Climepsi Editores.
Fenwick, Elisabeth e Smith, Tony (Julho de 1995). Adolescência – Um valioso
guia para pais e adolescentes. Barcelos. Companhia Editora do Minho.
Sampaio, Daniel (Março de 1998). A Cinza do Tempo. Lisboa. Editorial
Caminho.
Sampaio, Daniel (Maio de 1996). Ninguém Morre Sozinho. Lisboa. Editorial
Caminho.
Sampaio, Daniel (Janeiro de 2000). Vozes e Ruídos. Lisboa. Editorial Caminho.
Páginas da Internet:
http://www.tu-importas.org
http://www.spsuicidologia.pt
http://www.alu.por.ulusiada.pt
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
39
QQUUEESSTTIIOONNÁÁRRIIOO II As respostas dadas são confidenciais. O questionário é anónimo. Este questionário encontra-se enquadrado no âmbito de um trabalho para a cadeira de Psicologia Educacional I, no qual se pretende conhecer a opinião dos jovens, com idade compreendida entre os 15 e os 24 anos, em relação ao acto de suicídio. 1 – Idade:___ 2 – Sexo: Feminino ٱ Masculino ٱ 3 – Considera-se neste momento (assinale apenas 4 respostas) organizado ٱ ou desorganizado ٱ realista ٱ ou sonhador ٱ persistente ٱ ou desistente ٱ calado ٱ ou falador ٱ triste ٱ ou alegre ٱ optimista ٱ ou pessimista ٱ confiante ٱ ou inseguro ٱ paciente ٱ ou impaciente ٱ sociável ٱ ou pouco sociável ٱ 4 – Acha que se aborrece frequentemente ٱ raramente ٱ 5 – O seu relacionamento com os colegas é muito bom ٱ bom ٱ razoável ٱ mau ٱ 6 – O seu relacionamento com os professores é muito bom ٱ bom ٱ razoável ٱ mau ٱ 7 – O seu relacionamento com os seus familiares é muito bom ٱ bom ٱ razoável ٱ mau ٱ 8 – Já alguma vez ouviu falar de suicídio? Sim ٱ Não ٱ 9 – Para si, suicídio significa sobretudo (escolha a opção que considera mais relevante): desistência ٱ desafio ٱ fuga ٱ outro ٱ Indique____________ 10 – Conhece algum caso de tentativa de suicídio? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, passe à próxima pergunta, se respondeu sim, em que círculo de pessoas aconteceu? Família ٱ Amigos ٱ
Saúde Mental na Adolescência Suicídio
40
Outras pessoas ٱ Que idade tinha essa pessoa? _____ Qual a razão que a poderá ter levado a essa tentativa? ______________________________________________________________ E faleceu? Sim ٱ Não ٱ 11 – Já alguma vez pensou em suicidar-se? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, passe à pergunta 15, se respondeu sim, passe à pergunta 12. 12 – Porque motivos? Familiares ٱ Amorosos ٱ Financeiros ٱ Escolares ٱ Outros ٱ Indique__________ 13 – E já alguma vez tentou suicidar-se? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, passe à pergunta 15, se respondeu sim, passe à pergunta 14. 14 – Que método utilizou para o fazer? Intoxicação medicamentosa ٱ Envenenamento ٱ Enforcamento ٱ Afogamento ٱ Flebotomia (corte de veias) ٱ Arma de fogo ٱ Outro ٱ Indique___________ 15 – Acha que a sua escola está preparada para ajudar os potenciais suicidas? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, responda à pergunta 16, se respondeu sim, passe à pergunta 17. 16 – Como acha que a escola deveria ajudar os potenciais suicidas? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17 – De que maneira? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Muito obrigado pela sua colaboração!
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QQUUEESSTTIIOONNÁÁRRIIOO IIII As respostas dadas são confidenciais. O questionário é anónimo. Este questionário encontra-se enquadrado no âmbito de um trabalho para a cadeira de Psicologia Educacional I, no qual se pretende conhecer a opinião dos jovens, com idade compreendida entre os 15 e os 24 anos, em relação ao acto de suicídio. 1 – Idade:___ 2 – Sexo: Feminino ٱ Masculino ٱ 3 – Considera-se neste momento (assinale apenas 4 respostas) organizado ٱ ou desorganizado ٱ realista ٱ ou sonhador ٱ persistente ٱ ou desistente ٱ calado ٱ ou falador ٱ triste ٱ ou alegre ٱ optimista ٱ ou pessimista ٱ confiante ٱ ou inseguro ٱ paciente ٱ ou impaciente ٱ sociável ٱ ou pouco sociável ٱ 4 – Acha que se aborrece frequentemente ٱ raramente ٱ 5 – O seu relacionamento com os colegas é muito bom ٱ bom ٱ razoável ٱ mau ٱ 6 – O seu relacionamento com os professores é muito bom ٱ bom ٱ razoável ٱ mau ٱ 7 – O seu relacionamento com os seus familiares é muito bom ٱ bom ٱ razoável ٱ mau ٱ 8 – Já alguma vez ouviu falar de suicídio? Sim ٱ Não ٱ 9 – Para si, suicídio significa sobretudo (escolha a opção que considera mais relevante): desistência ٱ desafio ٱ fuga ٱ outro ٱ Indique____________ 10 – Conhece algum caso de tentativa de suicídio? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, passe à próxima pergunta, se respondeu sim, em que círculo de pessoas aconteceu? Família ٱ Amigos ٱ
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Outras pessoas ٱ Que idade tinha essa pessoa? _____ Qual a razão que a poderá ter levado a essa tentativa? ______________________________________________________________ E faleceu? Sim ٱ Não ٱ 11 – Já alguma vez pensou em suicidar-se? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, passe à pergunta 15, se respondeu sim, passe à pergunta 12. 12 – Porque motivos? Familiares ٱ Amorosos ٱ Financeiros ٱ Escolares ٱ Outros ٱ Indique__________ 13 – E já alguma vez tentou suicidar-se? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, passe à pergunta 15, se respondeu sim, passe à pergunta 14. 14 – Que método utilizou para o fazer? Intoxicação medicamentosa ٱ Envenenamento ٱ Enforcamento ٱ Afogamento ٱ Flebotomia (corte de veias) ٱ Arma de fogo ٱ Outro ٱ Indique___________ 15 – Acha que a sua faculdade está preparada para ajudar os potenciais suicidas? Sim ٱ Não ٱ Se respondeu não, responda à pergunta 16, se respondeu sim, passe à pergunta 17. 16 – Como acha que a faculdade deveria ajudar os potenciais suicidas? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17 – De que maneira? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Muito obrigado pela sua colaboração!
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EENNTTRREEVVIISSTTAA
Data da entrevista: Idade: Sexo: 1 – Há quanto tempo foi a tua 1ª tentativa de suicídio? 2 – De que forma o fizeste? 3 – Já tinhas tido anteriormente ideias suicidárias? 4 – Quais os motivos que te levaram a ter essa atitude? 5 – Após quanto tempo foi a tua 2ª tentativa? 6 – Fizeste-o da mesma maneira? 7 – Como reagiram os teus pais a estas tentativas? E os teus amigos? 8 – Porque é que procuraste acompanhamento psicológico? 9 – Se pudesses voltar atrás, mudarias alguma coisa?
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AUTO-APRECIAÇÃO
Foi-nos muito difícil tratar este tema uma vez que não é de fácil abordagem na medida em que pode ferir susceptibilidades.
O primeiro obstáculo com que nos deparámos foi durante a realização dos questionários pois tivemos que os construir de uma forma gradual, com o objectivo de introduzir o tema de um modo não muito forte.
Outra barreira que nos surgiu foi o facto de não nos ter sido permitida a realização dos questionários na Escola Secundária Infanta D. Maria. Quando fomos falar com a Presidente do Conselho Executivo desta escola, esta mostrou-nos um ofício circular mandado pela DREC a exigir um pedido de autorização para a realização dos questionários no interior da escola. Por falta de tempo e seguindo o conselho da Presidente do Conselho Executivo passámos estes questionários fora dos portões desta escola. Tivemos, no entanto, o cuidado de pedir aos alunos para lerem o questionário antes de decidirem se queriam responder.
Apesar de todas as dificuldades que sentimos, achamos que a realização deste trabalho deu-nos uma visão mais ampla do suicídio, modificando a nossa forma de o encarar.
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