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Ana Flvia Quinto Fonseca
SADE, AMBIENTE E ZOONOSES:
VISO DOS PROFISSIONAIS DE UMA REGIONAL DE SADE EM BELO
HORIZONTE, 2010
Dissertao apresentada UFMG, como
requisito parcial para a obteno do grau
de Mestre em Cincia Animal.
rea de Concentrao: Epidemiologia
Orientador: Prof. lvio Carlos Moreira
Belo Horizonte
UFMG-EV
2010
-
Deus por me conduzir nessa jornada
terrena e minha me, fonte de inspirao,
tranquilidade, amor e paz. Seu exemplo me
ensinou a nunca desistir de lutar pelo que eu
acredito.
-
Agradecimentos
Inicio meus agradecimentos pela pessoa maravilhosa que tem me acompanhado ao longo dos
ltimos doze anos e com a qual tenho compartilhado muitos momentos especiais. Ao Alexandre agradeo
profundamente pelo amor, apoio e companheirismo, mas principalmente agradeo pelo otimismo e alegria
que foram meu suporte nesta empreitada. Eu te amo.
Agradeo Amanda, gatha e Alice por existirem em minha vida e pela felicidade e amor que
me proporcionam. Ctia por ter sido sempre meu brao direito.
minha me Maria de Lourdes e irmos Renata, Raquel e Frederico pelas palavras de estmulo
e presena nos momentos de necessidade. Pela alegria que trazem ao meu corao.
s minhas queridas amigas Alessandra, Andreza e Mayara da Escola de Sade Pblica do Estado
de Minas Gerais que estiveram presentes na minha trajetria e colaboraram muito em tudo que foi
possvel. Obrigada pela amizade!
Ao Onofre e a Marilene por tornarem possvel a realizao deste trabalho. Obrigada pelo apoio,
motivao, amizade e, principalmente, por me darem as condies necessrias para que esse trabalho
fosse desenvolvido. Sem vocs eu no teria conseguido!
Aos profissionais voluntrios por partilharem comigo sua rica experincia de trabalho no
Sistema nico de Sade, tornando possvel essa investigao. Vocs so exemplos a serem seguidos pelos
profissionais da Sade!
Aos gerentes das Unidades Bsicas de Sade visitadas, Cristina, Fausto e Vitria pelo
acolhimento e encaminhamento.
Ao professores Luiz Brant e Jos Newton pela inspirao, direcionamento, orientao. Pelo
exemplo de profissionais brilhantes.
Ao Colegiado de Ps-Graduao em Cincia Animal da Escola de Veterinria, especialmente
Luzete e Dbora, pela cordialidade, eficincia e presteza na realizao do seu trabalho. Ao professor
Romrio pelo acolhimento e compreenso.
Aos colegas de mestrado pela alegria, incentivo e agradvel convivncia. Agradeo pelas
enriquecedoras e estimulantes discusses.
Finalmente, agradeo ao criador pelo dom da vida e o desejo pelo conhecimento!
-
Eu no tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza no
porque saiba o que ela ,
Mas porque a amo, e amo-
a por isso,
Porque quem ama nunca
sabe o que ama
Nem sabe por que ama,
nem o que amar...
Amar a eterna inocncia,
E a nica inocncia no
pensar...
(Alberto Caeiro)
Belo Horizonte, MG, 2010
-
SUMRIO
RESUMO............................................................................................................... ......................... 13
ABSTRACT..................................................................................................................... ............... 14
1. INTRODUO..................................................................................................... ......................... 15
2. A SADE E SUA INTERFACE COM O AMBIENTE................................................................. 19
2.1 Aspectos sobre a sade......................................................................................... .......................... 20
2.2 Sade e ambiente.................................................................................. ........................................... 22
2.3 Sade e Ambiente no contexto das Cincias da Sade................................................................... 23
3 ENFOQUE ECOSSISTMICO DE SADE................................................................................. 24
3.1 Consideraes sobre os enfoques ecolgicos........................................................ .......................... 25
4 ZOONOSES NO CONTEXTO DOS PROFISSIONAIS DE SADE........................................... 26
4.1 Consideraes sobre o controle de zoonoses em Belo Horizonte................................................... 27
5 REPRESENTAO SOCIAL.............................................................................. .......................... 30
5.1 Dimenses tericas da teoria das representaes sociais................................................................ 30
5.2 Aspectos sobre os limites da representao social.......................................................................... 32
6 ASPECTOS METODOLGICOS........................................................................ ......................... 34
6.1 O campo das Cincias Sociais e a metodologia de pesquisa qualitativa......................................... 34
6.2 Fundamentao terica e metodolgica e caracterizao do estudo............................................... 36
6.3 Campo de pesquisa.......................................................................................................................... 39
6.4 Caracterizao da Regional Oeste......................................................................... .......................... 42
6.5 A escolha dos atores sociais e o desenho da pesquisa..................................................................... 44
6.6 Caracterizao da amostra..................................................................................... .......................... 45
6.7 Coleta de informaes..................................................................................................................... 49
7 ANLISE DAS INFORMAES....................................................................... .......................... 51
7.1 Discurso higienista na relao sade e ambiente............................................................................ 52
7.2 Viso antropocntrica com relao ao ambiente............................................................................. 65
7.3 Fragilidade do conceito de zoonoses no mbito da Sade Pblica................................................. 71
8 CONSIDERAES FINAIS................................................................................ .......................... 79
9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................................ 80
10 ANEXOS......................................................................................................................................... 86
-
LISTA DE TABELAS Tabela 1- Distribuio da amostra e total de recursos humanos em valores absolutos, segundo UBS.
Belo Horizonte, 2010..............................................................................................................
40
Tabela 2- Distribuio da populao de Usurios das UBS em estudo segundo faixa etria. Belo
Horizonte, 2010.............................................................................................................. ........
40
Tabela 3- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo sexo, escolaridade e
realizao de visita domiciliar no grupo de ACS. Belo Horizonte, 2010...............................
45
Tabela 4- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo faixa etria e
Unidade de atuao no grupo de ACS. Belo Horizonte, 2010...............................................
46
Tabela 5- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo sexo, ps-graduao
e realizao de visita domiciliar no grupo de enfermeiros. Belo Horizonte, 2010................
46
Tabela 6- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo faixa etria e
Unidade de atuao no grupo de enfermeiros. Belo Horizonte, 2010....................................
46
Tabela 7- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo faculdade de origem
no grupo de enfermeiros. Belo Horizonte, 2010....................................................................
47
Tabela 8- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo nvel de ps-
graduao no grupo de enfermeiros. Belo Horizonte, 2010..........................................
47
Tabela 9- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo instituio de ps-
graduao no grupo de enfermeiros. Belo Horizonte, 2010...................................................
47
Tabela 10- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo sexo, ps-graduao
e realizao de visita domiciliar no grupo de mdicos. Belo Horizonte, 2010......................
48
Tabela 11- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo faixa etria e
Unidade de atuao no grupo de mdicos. Belo Horizonte, 2010..........................................
48
Tabela 12- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo faculdade de origem
no grupo de mdicos. Belo Horizonte, 2010..........................................................................
48
Tabela 13- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo nvel de ps-
graduao no grupo de mdicos. Belo Horizonte, 2010.........................................................
49
Tabela 14- Distribuio da amostra em valores absolutos e percentuais segundo instituio de ps-
graduao no grupo de mdicos. Belo Horizonte, 2010.........................................................
49
-
LISTA DE FIGURAS Figura 1- Subdivises adotadas na organizao territorial em sade..................................................... 42
Figura 2- Distribuio espacial das Unidades Administrativas Regionais de Belo Horizonte.............. 44
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LISTA DE SIGLAS
ACS Agente Comunitrio de Sade
CCZ Centro de Controle de Zoonoses
CERSAM Centro de Referncia em Sade Mental
CNUMAD Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
COPASADE . Conferncia Pan-americana sobre Sade e Ambiente no Desenvolvimento Humano
Sustentvel
DCZ Departamento de Controle de Zoonoses
ESF Estratgia de Sade da Famlia
FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations
FUNASA Fundao Nacional de Sade
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IJC International Joint Comission of the Great Lakes
INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
MS Ministrio da Sade
NAF Ncleo de Apoio Famlia
NESCON Ncleo de Educao em Sade Coletiva
OMS Organizao Mundial de Sade
ONU Organizao das Naes Unidas
OPAS Organizao Pan-Americana de Sade
PBH Prefeitura de Belo Horizonte
PSF Programa de Sade da Famlia
SES/MG Secretaria Estadual de Sade de Minas Gerais
SMSA Secretaria Municipal de Sade
SUS Sistema nico de Sade
SNVA Sistema Nacional de Vigilncia Epidemiolgica e Ambiental em Sade
UBS Unidade Bsica de Sade
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
-
UP Unidades de Planejamento
UPA Unidade de Pronto Atendimento
URS Unidade de Referncia Secundria
WHO World Health Organization
-
Resumo
A temtica sade e ambiente vem sendo amplamente discutida atravs de disciplinas tanto do campo da
sade quanto das cincias ambientais. No cenrio desta discusso percebe-se a necessidade de um
ambiente equilibrado para o alcance de condies de sade desejveis. Desta maneira, este trabalho de
pesquisa foi realizado na tentativa de compreender a interface entre sade e ambiente e sua relao com o
surgimento de zoonoses, na viso de profissionais da Estratgia de Sade da Famlia (ESF). As zoonoses
se configuram como patologias intimamente relacionadas a alteraes ambientais. No mbito de uma
viso ampliada de sade torna-se desejvel que os profissionais desse campo de conhecimento
apresentem um maior envolvimento na discusso acerca da temtica sade e ambiente. O objetivo deste
trabalho identificar e compreender as percepes, ideias e imagens de alguns profissionais da sade
pblica sobre a articulao entre sade, ambiente e zoonoses. A presente pesquisa foi realizada na
perspectiva das Cincias Sociais sendo desenvolvida no contexto da abordagem qualitativa. Realizou-se a
anlise das informaes obtidas de profissionais Agentes Comunitrios de Sade, enfermeiros e mdicos
de trs Unidades Bsicas de Sade da regional Oeste de Belo Horizonte. Para a definio do nmero de
participantes foi utilizado o critrio de saturao. Como tcnica de anlise das informaes utilizou-se a
anlise de contedo, desenvolvida na perspectiva da representao social. A coleta de informaes foi
realizada atravs de entrevistas semi-estruturadas, sendo entrevistados 29 profissionais. A partir da anlise
das informaes obtidas foram apreendidas trs categorias de anlise, quais sejam, Discurso higienista na
relao sade e ambiente, Viso antropocntrica com relao ao ambiente e Fragilidade do conceito de
zoonoses no mbito da sade pblica. Foi possvel observar que, apesar da significativa percepo com
relao interao entre sade e ambiente, essa percepo se mostra limitada e reducionista. Com relao
ao conceito de zoonoses observou-se uma fragilidade na compreenso do mesmo e sua associao com o
servio de Zoonoses da Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte. Apesar de toda a complexidade
do sistema de organizao da ESF na ateno sade, a discusso sobre sade e ambiente, como um
saber necessrio prtica ampliada da sade, parece no se fazer presente de maneira abrangente e
integrada com a discusso atual. Encontrando-se, ainda, desvinculada de um enfoque ecossistmico de
sade.
Palavras Chave: Sade, ambiente, zoonoses, ESF
-
Abstract
The thematic of health and environment has been widely discussed by both disciplines in the health and
environmental sciences. In the scenario of this discussion it is perceived the need for a balanced
environment for the achievement of desirable health conditions. Thus, this research was conducted in an
attempt to understand the interface between health and environment and its relation with the emergence of
zoonoses, in the view of professionals from the Family Health Strategy (FHS). Zoonotic diseases are
configured as closely related to environmental changes. Within an expanded vision of health it is
necessary that professionals in this field of knowledge have a greater involvement in the discussion on the
theme of health and environment. The objective of this paper is to identify and understand the
perceptions, ideas and images of some public health professionals about the connection between health,
environment and zoonoses. This survey was conducted from the perspective of social sciences being
developed in the context of a qualitative approach. The analysis of information was obtained from
professional community health agents, nurses and physicians. For the definition of number of participants
the criterion of saturation was used. As technical analysis of the information has been used content
analysis, developed from the perspective of social representation.
Data collection was conducted through semi-structured interviews, being interviewed 29 professionals.
From the analysis of information three categories of analysis were seized, which are, hygienist speech in
relation to health and environment, anthropocentric view regarding the environment and fragility within
the framework of public health. Despite the significant insight regarding the interaction between
environment and health, it was observed that this perception is limited and reductionist. Regarding the
concept of zoonoses it was noticed a weakness in its understanding and its association with the Zoonosis
Service of the Department of Health of Belo Horizonte. Despite all the complexity of the organization of
the ESF in health care, the discussion on health and environment, as a practical knowledge necessary to
expanded health, doesnt seems to be present in a comprehensive and integrated way with the current
discussion. Lying still, separated from an ecosystem approach to health.
Keywords: Health, environment, zoonoses, FHS
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15
1 - INTRODUO
A formao em Cincias Biolgicas e a prtica
do trabalho de pesquisa em Sade Pblica no
Sistema nico de Sade (SUS) levaram a uma
busca da compreenso acerca da relao
existente entre a sade das pessoas e o ambiente
onde esto inseridas. No mbito da formao
acadmica o curso de biologia favorece uma
percepo mais ampla com relao interao
entre os seres vivos e o meio. No contexto da
prtica profissional o conhecimento acerca do
trabalho de profissionais da Sade Pblica, entre
eles os membros da Equipe de Sade da Famlia
(ESF), possibilita uma sensibilizao acerca da
condio de sade de grande parte da populao.
Tal populao se caracteriza pela utilizao dos
servios pblicos de sade.
Diante da percepo da necessidade de
um ambiente equilibrado para o alcance de
condies de sade desejveis, este trabalho de
pesquisa foi realizado na tentativa de
compreender a interface entre sade e ambiente e
sua relao com o surgimento de zoonoses, na
viso de profissionais da ESF. Estes profissionais
possuem uma relao de proximidade com a
populao, devido ao trabalho que desenvolvem
nas Unidades Bsicas de Sade (UBS), pautado
no estabelecimento de uma convivncia
fundamentada na responsabilizao com as
comunidades de abrangncia. Assim, estabelece-
se tambm uma interao com o ambiente onde a
populao reside, principalmente devido ao fato
desses trabalhadores terem como parte da sua
prtica a realizao das visitas domiciliares.
Para tratar de questes relevantes para a
sade das comunidades so desenvolvidas
polticas pblicas, que pautam suas aes
principalmente na proteo e na preveno da
sade. A Sade da Famlia se configura como
uma dessas polticas e entendida pelo
Ministrio da Sade como uma estratgia de
reorientao do modelo de assistncia, realizada
atravs da implantao de equipes
multiprofissionais em unidades bsicas de sade.
Estas equipes so responsveis pelo
acompanhamento de um nmero definido de
famlias, localizadas em uma rea geogrfica
delimitada. As equipes atuam com aes de
promoo da sade, preveno, recuperao,
reabilitao de doenas e agravos mais
frequentes, e na manuteno da sade desta
comunidade. Elas tm a responsabilidade pelo
acompanhamento das famlias fato que cria a
necessidade de ultrapassar os limites
classicamente definidos para a ateno bsica no
Brasil, especialmente no contexto do SUS
(BRASIL, 2008)1.
Ainda, de acordo com Oliveira e Borges
(2008, p. 370):
Em 1990, como decorrncia dos princpios
consagrados na Constituio, criado o Sistema nico de Sade (SUS), com o
objetivo de alterar a situao de
desigualdade na assistncia sade da populao brasileira, tornando obrigatrio o
atendimento pblico a qualquer cidado. O
SUS se prope a promover a sade, priorizando as aes preventivas e
democratizando as informaes relevantes,
para que a populao conhea seus direitos e os riscos sua sade.
Em vista da necessidade do estabelecimento
de mecanismos capazes de assegurar a continuidade dessas conquistas sociais,
vrias propostas de mudana inspiradas nas
ideias da reforma sanitria e nos princpios do SUS foram esboadas e implementadas.
O Programa de Sade da Famlia (PSF)
uma dessas iniciativas e se concretiza como um novo paradigma de promoo da sade,
focado principalmente no estabelecimento
de vnculos e criao de laos de compromisso e co-responsabilidade entre
os profissionais de sade e a populao.
De acordo com Souza (2002, p. 25), o
PSF foi desenvolvido como estratgia para
promover a organizao das aes da ateno
bsica sade, nos sistemas municipais. Alm
disso, busca uma maior racionalidade na
utilizao dos demais nveis assistenciais e tem
produzido resultados positivos nos principais
indicadores de sade das populaes assistidas
pelas equipes sade da famlia.
O trabalho desenvolvido pelas equipes
de Sade da Famlia promove e possibilita uma
permanente comunicao e troca de saberes e
experincias entre os integrantes do grupo, e
desses com o saber popular trazido pelo Agente
Comunitrio de Sade (ACS). Diante desse
cenrio, todos os profissionais tm a
possibilidade de atuar no desenvolvimento de
estratgias para a promoo da sade da
populao. O modelo mdico-assistencialista
1http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/a
rea.cfm?id_area=149
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16
deixa de ser o referencial. As equipes so
compostas, no mnimo, por um mdico de
famlia, um enfermeiro, um auxiliar de
enfermagem e seis ACS. Quando ampliada,
possui um dentista, um auxiliar de consultrio
dentrio e um tcnico em higiene dental.
No desenvolvimento de suas aes, cada
grupo se responsabiliza pelo acompanhamento
de cerca de 3 mil a 4 mil e 500 pessoas ou de mil
famlias de uma determinada regio (BRASIL,
2004). A atuao das equipes ocorre
principalmente nas UBS, nas residncias e na
mobilizao da comunidade. Caracteriza-se
como porta de entrada de um sistema
hierarquizado e regionalizado de sade, com um
territrio definido e uma populao delimitada,
sob a sua responsabilidade. Ainda tem como
caractersticas, a interveno em fatores de risco
sob os quais a comunidade est exposta, a
prestao de assistncia integral, permanente e
de qualidade, a realizao de atividades de
educao e promoo da sade, a atuao
intersetorial abrangendo situaes que
transcendem a questo da sade, entre outras.
Ao se deslocar para as comunidades,
esses profissionais de sade aproximam-se da
realidade da populao. Neste processo torna-se
possvel uma interao estreita com a
comunidade, o que abre oportunidade para uma
mobilizao mais concreta acerca das questes
de sade. Entretanto, o profissional se depara
tambm, de acordo com a Secretaria Municipal
de Sade da Prefeitura de Belo Horizonte (BELO
HORIZONTE, 2008), com questes delicadas da
vida cotidiana destas pessoas como violncias,
pobreza e dificuldades da vida familiar.
Segundo Souza (2002) as iniciativas de
instalao das equipes e dos ACS vm
acumulando uma experincia muito rica que
possibilita um aumento significativo de
qualidade no processo de desenvolvimento e
consolidao do SUS no pas. Ela ainda afirma
que o PSF humaniza a relao profissional entre
a sade e o cidado, reorganiza as referncias e
racionaliza gastos.
O plano de ao, denominado Agenda
21, resultante de um processo que culminou com
a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro em 1992, j trazia, como uma
preocupao consensual entre vrios pases, a
promoo de um modelo de desenvolvimento
que levasse em conta a proteo ambiental e a
justia social. Na introduo do captulo seis
deste documento pode-se observar essa
preocupao:
A sade e o desenvolvimento esto
intimamente relacionados. Tanto um desenvolvimento insuficiente que conduza
pobreza como um desenvolvimento
inadequado que resulte em consumo excessivo, associados a uma populao
mundial em expanso, podem resultar em
srios problemas para a sade relacionados ao meio ambiente, tanto nos pases em
desenvolvimento como nos desenvolvidos.
Os tpicos de ao da Agenda 21 devem estar voltados para as necessidades de
atendimento primrio da sade da
populao mundial, visto que so parte integrante da concretizao dos objetivos
do desenvolvimento sustentvel e da
conservao primria do meio ambiente. Os vnculos existentes entre sade e melhorias
ambientais e scio-econmicas exigem
esforos intersetoriais. Tais esforos, que abrangem educao, habitao, obras
pblicas e grupos comunitrios, inclusive
empresas, escolas e universidades e organizaes religiosas, cvicas e culturais,
esto voltados para a capacitao das
pessoas em suas comunidades a assegurar o desenvolvimento sustentvel.
Especialmente relevante a incluso de
programas preventivos, que no se limitem a medidas destinadas a remediar e tratar
(CONFERNCIA DAS NAES
UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1992)2
Para Forget e Lebel (2001) este documento
reconhece que para atender s necessidades
bsicas das populaes deve-se prestar mais
ateno s ligaes entre sade e a melhoria do
meio fsico e social.
Diante dessa discusso, importante
ressaltar qual o conceito dado ao espao nos
estudos e nas prticas de sade. Em estudos
epidemiolgicos o espao compreendido
separado do tempo e das pessoas, como o lugar
geogrfico que predispe a ocorrncia das
doenas (CZERESNIA; RIBEIRO, 2000, p.
596), ou seja, como apenas mais uma varivel.
Entretanto, segundo as autoras, o espao
constitui-se e distingue-se dos corpos no
momento da vivncia concreta dos fenmenos
atravs de uma interface que se configura no
decorrer da prpria existncia (CZERESNIA;
2http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=co
nteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575
&idMenu=9065
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575&idMenu=9065http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575&idMenu=9065http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575&idMenu=9065
-
17
RIBEIRO, 2000, p. 596). Desta maneira, torna-se
desejvel que a epidemiologia considere o
espao em que ocorre o processo do adoecimento
em sua interface com o corpo. Essa viso atual e
multidisciplinar do conceito de espao pode
ampliar a compreenso da interao entre os
seres humanos e os demais organismos presentes
no meio em que vivem, a qualidade dessa relao
e seus impactos para a sade ecossistmica.
De acordo com Silva (1997, p. 586), a
utilizao do espao como categoria de anlise
para a compreenso da ocorrncia e distribuio
das doenas nas coletividades anterior ao
surgimento da epidemiologia como disciplina
cientfica. Este autor ainda pontua que a
epidemiologia descritiva clssica percebe o
espao como um conjunto de determinantes,
geralmente de natureza biolgica ou natural. Mas
atualmente, com o aumento de neoplasias, a
poluio ambiental e outros fatores fsicos tm se
tornado progressivamente foco de maior ateno.
O autor afirma que Pavlovsky, em sua
teoria da nidalidade natural das doenas
transmissveis (ou teoria dos focos naturais das
doenas transmissveis) desenvolvida em 1930,
realizou possivelmente a primeira apreciao
terica do conceito de espao aplicada
epidemiologia. Esta teoria demonstra marcado
cunho ecolgico e seu grande mrito est
relacionado ao estabelecimento do conceito de
patobiocenose onde o espao era o cenrio no
qual circulava o agente infeccioso. Trabalhando
com a aparncia visvel do espao, a paisagem,
Pavlovsky deixa implcito em sua teoria que h
um conjunto de relaes no interior da paisagem,
que so responsveis pela ocorrncia da doena
(PAVLOVSKY, s.d., a e b). Silva (1997, p. 586)
ainda pontua que:
A modificao do espao determinava alteraes na patobiocenose, alterando a
circulao do agente infeccioso. Ainda que
a que a teoria dos focos naturais de Pavlovsky seja por demais restrita para as
necessidades atuais da epidemiologia, o
modelo do foco natural e da sua transformao pela ao humana com
consequente alterao da epidemiologia de
uma doena fundamental para a anlise do espao enquanto categoria da
epidemiologia. O espao em sua
conceituao clssica em epidemiologia
apenas o substrato que exerce sua
influncia atravs de fenmenos naturais
como o clima.
Como os espaos intocados se tornaram
cada vez mais escassos com a crescente
urbanizao, aps a Segunda Guerra Mundial, a
teoria de Pavlovsky foi colocada de lado. Esta
teoria daria conta apenas das fases iniciais de
transformao dos focos naturais. Uma vez que o
meio j no era natural caberia recorrer
compreenso do comportamento humano. Tal
cenrio se caracteriza pelo salto terico da
ecologia para a sociologia. As produes tericas
realizadas neste contexto colocam em segundo
plano a anlise de transformaes sofridas pelo
espao mesmo quando estas se mostram bvias,
como por exemplo, a relao da construo de
hidreltricas e a disseminao de doenas tais
como a esquistossomose.
No mbito da discusso acerca de
doenas determinadas e geradas pela sociedade,
como determinadas doenas mentais ou do
trabalho, a anlise do espao no ocupa papel to
central quanto no caso de doenas ligadas ao
meio. Mas quando se busca compreender a
epidemiologia destas, como por exemplo, as
zoonoses ou a maioria das doenas infecciosas,
principalmente as transmitidas por vetor, o
espao deve necessariamente ser considerado
como categoria de anlise para que no sejam
desconsiderados processos importantes (SILVA,
1997).
Para Czeresnia e Ribeiro (2000) o
ncleo epistemolgico que orienta a percepo
do espao, do ponto de vista epidemiolgico a
teoria da doena. Assim torna-se necessrio que a
explicao epidemiolgica busque expressar de
alguma forma o espao em que ocorre o processo
do adoecimento, ou seja, a interface entre corpo e
espao. Entretanto essa configurao, tanto no
contexto da abordagem das doenas
transmissveis, quanto no contexto das doenas
no transmissveis, realizada atravs da
utilizao do conceito de risco so limitadas.
Ampliando a discusso sobre o conceito
de espao as autoras afirmam que o
reconhecimento da importncia de valores como
subjetividade, autonomia foram incorporadas no
contexto das transformaes do discurso
cientfico. Tais transformaes trouxeram novos
elementos para pensar a relao entre espao e
doena. Os elementos simblicos contribuem de
modo significativo para a configurao territorial
e, certamente para o processo de adoecer,
individual e coletivo (CZERESNIA; RIBEIRO,
2000, p. 604). Apesar da complexidade das
teorias acerca do conceito de espao em
epidemiologia cabe ressaltar que o que importa
-
18
no so os mtodos ou sistemas de pensamento
definidos, mas a capacidade de resolver
problemas concretos.
De acordo com a reflexo das questes
abordadas neste estudo, torna-se necessrio
discutir sobre as temticas de sade e ambiente
de uma forma mais ampliada e global,
principalmente no mbito do enfoque
ecossistmico de sade, que traz tona questes
profundas e complexas da relao entre a sade
humana e ecossistmica.
Baseada em uma abordagem qualitativa
de pesquisa este trabalho se orienta teoricamente
sob o enfoque crtico-participativo com viso
histrico-estrutural que, baseando-se na dialtica
da realidade, busca conhecer a realidade para
transform-la. Esta linha de pesquisa se
apresenta como uma alternativa metodolgica
frente ao positivismo quantitativista
(TRIVIOS, 2009).
Este autor ainda sinaliza que
diferentemente das pesquisas de natureza
positivista e fenomenolgica, o enfoque
histrico-estrutural, atravs da utilizao do
mtodo dialtico, considera o contexto social do
fenmeno em estudo, privilegiando a prtica e a
funo transformadora do conhecimento
adquirido da realidade que se procura desvendar.
Neste sentido, adota-se neste estudo a
base terica dialtica com enfoque histrico-
estrutural, pois este se encontra de acordo com a
realidade social da pesquisa em sade e ambiente
ao favorecer o alcance da dinmica complexa
dos significados atribudos aos problemas em
questo, suas relaes, qualidades e contradies,
alm de possibilitar uma transformao da
realidade de interesse. Trivios (2009) ainda
pontua que a pesquisa de carter histrico-
estrutural busca, alm da compreenso dos
significados, suas razes numa perspectiva
ampliada do sujeito como ser social e histrico.
O objetivo geral deste trabalho
identificar e compreender as percepes, ideias e
imagens de alguns profissionais da sade pblica
acerca da articulao entre sade e ambiente e a
sua relao com o surgimento de zoonoses.
Buscou-se especificamente identificar
quais so os discursos formulados por estes
profissionais para a descrio de entre impacto
ambiental e zoonoses e verificar a utilizao da
temtica sade e ambiente nas prticas dos
profissionais da rea da sade pblica. Alm
disso, objetivou-se de maneira especfica
tambm verificar a finalidade do binmio sade
e ambiente na prtica profissional.
A presente pesquisa foi desenvolvida no
contexto da abordagem qualitativa, iniciando-se
com a anlise das informaes obtidas dos
profissionais ACS, enfermeiros e mdicos de trs
UBS da regional de sade Oeste. Estas unidades
foram selecionadas conforme orientao da
Gerente Regional de Sade. A tcnica de anlise
das informaes utilizada foi a anlise de
contedo, desenvolvida na perspectiva da
representao social.
No mbito de uma viso ampliada de
sade torna-se desejvel que os profissionais
dessa rea de conhecimento apresentem um
maior envolvimento na discusso acerca da
temtica sade e ambiente. Tal discusso justifica
o desenvolvimento deste trabalho. No relatrio
final da 12 Conferncia Nacional de Sade
(2002), no Eixo temtico III, diretriz 23,
evidencia-se que o desenvolvimento de polticas
intersetoriais deve estar voltado para a garantia
da promoo da sade e a qualidade de vida
envolvendo prioritariamente setores e
instituies como sade, educao, meio
ambiente, agricultura, trabalho, cultura, esportes,
transporte, Ministrio Pblico, justia, segurana,
assistncia social, dentre outras, para o
desenvolvimento das seguintes aes integradas
(BRASIL, 2003, p. 51):
I. no controle dos processos produtivos e
dos produtos, das condies de trabalho e dos servios prestados pelo poder pblico e
pelo setor privado;
II. na qualidade ambiental nos centros urbanos, na rea rural, nas reas indgenas e
de florestas;
III. na efetividade das aes de fiscalizao
e de vigilncia em sade ambiental,
sanitria, do trabalhador e epidemiolgica;
IV. na eficincia, segurana e acessibilidade do transporte coletivo.
Dessa forma, pensar a relao entre ambiente e
sade deve ser uma prtica presente nas
discusses acerca da qualidade da sade de uma
populao e essa relao com a preservao
ambiental, coordenada principalmente, na rea
da sade, por seus profissionais j que so eles
que lidam diretamente com essa realidade.
Sero abordados, inicialmente, aspectos
da sade e sua interface com o ambiente, no
segundo captulo. Posteriormente sero
enfatizadas as perspectivas do Enfoque
Ecossistmico de Sade no terceiro captulo. A
seguir, o lugar das zoonoses no contexto dos
-
19
profissionais de sade ser discutido no quarto
captulo. Ser discutido o estudo da
representao social possibilidade de
esclarecimentos de fenmenos coletivos no
quinto captulo e os aspectos metodolgicos
deste estudo sero apresentados no sexto
captulo. Finalmente, no stimo captulo ser
analisado como alguns profissionais da ESF
percebem a relao sade e ambiente, e como
associam o impacto ambiental e o surgimento de
zoonoses, no seu cotidiano e prtica profissional.
2 A SADE E SUA INTERFACE COM
O AMBIENTE
As questes de sade so mais
comumente discutidas, ao longo da histria, na
perspectiva de doenas ou condies negativas
de sade que acometem certo grupo de pessoas.
O foco destas discusses ou mesmo de
programas pblicos de sade , principalmente,
voltado para a erradicao ou controle de
enfermidades. O objetivo da sade, ainda a
ausncia de doena. Isso se deve, possivelmente,
ao fato da mesma ser fonte de dor, sofrimento e
desconforto. Esta situao pode estar
relacionada, tambm, forma como percebemos
a nossa sade, ou doena, desde tempos muito
antigos. Assim, a relao entre ambiente e
doena tem um antigo referencial terico.
Existem, desde tempos muito remotos,
inmeras tentativas de explicar ou interpretar a
doena. Na dificuldade do homem primitivo em
estabelecer relaes de causa e efeito,
dependente do grau de conhecimento produzido
e do domnio tecnolgico, com relao origem
da doena, as primeiras tentativas de
interpretao esto associadas ao sobrenatural, ao
mgico. Os primeiros mdicos eram pessoas
que recorriam rituais de magia, exorcismo, com
o intuito de expulsar os maus espritos
causadores do mal fsico. As curas obtidas com
estas prticas possivelmente esto associadas ao
psicossomatismo. Posteriormente a interpretao
da doena passou a ser associada a uma punio,
por parte das entidades espirituais, a
comportamentos que desagradavam aos mesmos,
ou ordem social o castigo divino (LOYOLA
CONTRERAS, 2000).
Hipcrates de Cs, no sculo V a.C.,
afirmava que as doenas estavam ligadas a
causas naturais, estabelecendo uma relao de
causa e efeito, embora a interpretao da sade
ainda tivesse um suporte religioso. Hipcrates
dizia que as doenas resultavam do desequilbrio
dos chamados humores do corpo, quais sejam,
sangue, linfa, bile amarela e bile negra (SCLIAR,
2002 a). De acordo com Capra (2006), no mago
da medicina hipocrtica se encontra a convico
de que as doenas no so causadas por
demnios ou foras sobrenaturais, mas so
fenmenos naturais que podem ser estudados
cientificamente e influenciados por
procedimentos teraputicos e pela judiciosa
conduta individual.
Em meados do sculo XVII, torna-se
hegemnica a teoria miasmtica que preconizava
a idia de que as doenas eram originadas de
emanaes resultantes do acumulo de dejetos,
entretanto a medicina grega tambm apresentava
conceitos e prticas ligadas a miasmas e humores
que influenciaram a cultura medieval. Essa
doutrina foi aceita largamente pela cincia no
sculo XVIII at meados do sculo XIX. A idia
de miasmas surge dentro de uma medicina
racionalista, que busca construir sistemas lgicos
explicativos, atravs da observao e representa
uma das primeiras tentativas de interpretao no
sobrenatural da doena. Esta teoria deu
importantes contribuies no desenvolvimento
do conhecimento do processo sade/doena
(LOYOLA CONTRERAS, 2000).
No perodo Renascentista constri-se
um olhar cientfico que busca dados na realidade,
medindo e manipulando seu objeto de estudo, na
busca de compreend-lo e caracteriz-lo. O
objeto passa a conter a resposta do que ele .
Para Soares de Oliveira (2002) na viso
iluminista a natureza passa a ser percebida como
algo palpvel e o mundo comea a ser
compreendido a partir do concreto, do real. Este
movimento filosfico apaga os traos religiosos
medievais do perodo renascentista.
Com o surgimento da sociedade
capitalista mercantil as relaes sociais foram se
intensificando e se moldando ao mercado. Neste
cenrio, durante a sua interao com o meio o
homem desenvolve a prtica do trabalho. Atravs
deste ele capaz de transformar os objetos e os
seres e assim re-constri e transforma a natureza,
a partir da sua ideao do ambiente.
Para Soares de Oliveira (2002) no
processo de apropriao e modificao dos
recursos naturais, atravs do trabalho, ocorre a
socializao da natureza. O processo social de
-
20
produo capitalista coloca a natureza em um
lugar diferente ao ocupado pelo homem, exterior
a ele, e permite um novo tipo de relao entre o
homem e natureza onde a mesma vista como
um recurso, um fator de produo, e no como
meio de sobrevivncia que deve ser cuidado e
preservado. A autora afirma que existe um
antagonismo na relao capital x trabalho, onde o
capital nutre-se da explorao do trabalho do
homem.
Como o homem que realiza este
trabalho capitalizado, ao entrar em contradio
com o capital, ele entra em contradio com a
prpria natureza. Tal contradio se relaciona
dicotomia entre sociedade e natureza gerada pela
alienao do trabalho e da prpria natureza. Essa
alienao ampliada pela taxa de explorao do
trabalho e da natureza. Assim, (SOARES DE
OLIVEIRA, 2002, p. 4) pontua que a perda da
identidade orgnica do homem com a natureza,
se d a partir do capital, que gera a contradio e
que, essa contradio, gera a perda da
identificao do homem com a natureza e,
consequentemente a degradao ambiental.
A dinmica histrica dessa sociedade
chega ao sculo XIX, sob a gide da Revoluo
Industrial. Como consequncia da mesma, as
cidades crescem e as condies de vida se
tornam cada vez piores. Segundo Barreto (1994),
grande parte da populao dessas cidades vivia
em ambientes extremamente insalubres e o que o
Estado tornava-se cada vez mais forte e influente
na forma de viver das pessoas. Movimentos
sociais buscavam soluo para as crises e, nesse
contexto, os estudos sobre as condies de sade
se intensificaram. Destes estudos surgem
diferentes correntes de conhecimento cuja
agregao d origem nova disciplina: a
Epidemiologia.
De acordo com Loyola Contreras
(2000), com os descobrimentos microbiolgicos,
na segunda metade do sculo XIX, novos fatos
permitem uma ltima interpretao unicausal da
doena. Barreto (1994), ainda pontua que, todo o
conhecimento epidemiolgico at ento
acumulado sobre os fatores de ocorrncia das
doenas e sua determinao social, sofreu um
grande retrocesso. Ocorre uma reconceituao da
causalidade, o parasito se torna a causa definitiva
da doena. O conceito da multicausalidade
(fatores sociais) d lugar novamente
unicausalidade para cada doena um agente
especfico observada nas doutrinas anteriores.
Este conceito se mostra insuficiente
para explicar o enorme dinamismo e
complexidade do binmio sade/doena e d
lugar Teoria Ecolgica Multicausal onde uma
doena no pode ser concebida separadamente
do ecossistema no qual interatuam os fatores que
possibilitam que ela aparea. Esses fatores so
agrupados em trs classes: hospedeiro, agente,
ambiente (LOYOLA CONTRERAS, 2000).
A partir dos anos 60 ou 70 so
formuladas importantes objees s limitaes a
que tem estado sujeita a epidemiologia, devido
ao predomnio da ideologia positivista na qual
predomina a viso biolgico-fsico-qumica
analtica da doena. Como a medicina no
conseguiu resolver importantes problemas de
sade dos pases capitalistas, iniciou-se uma
procura extra-biolgica da doena, no domnio
da Sociologia, da Histria, da Economia, da
Psicologia (LOYOLA CONTRERAS, 2000).
Torna-se importante reconhecer o carter
coletivo e, portanto social da doena que , para
esta teoria, resultado de uma transformao das
relaes entre hospedeiro, agente e ambiente,
devida aos processos sociais e intimamente
vinculada aos modos de produo.
2.1 Aspectos sobre a sade
Reflexes acerca do conceito de sade
vm se desenvolvendo h vrios anos, em
diferentes disciplinas, principalmente, da rea da
sade. Segundo Coura (1992) a sade tem sido
conceituada ao longo dos anos de vrias
maneiras, desde a concepo simplista de seu
antnimo, ou seja, ausncia de doena, at
concepes mais abrangentes, como a adotada
pela Organizao Mundial de Sade (OMS,
1981), que a define como um estado de completo
bem-estar fsico, mental e social, e no apenas
ausncia de doena ou enfermidade. O mesmo
autor analisa que o conceito simplista de sade
exclusivamente organicista e ignora os aspectos
sociais e ecolgicos, fundamentalmente
importantes para um bem-estar fsico, mental e
social. Por outro lado, pontua que a concepo da
OMS no representa uma conquista doutrinria
exequvel e exata. Seria um exagero considerar,
por exemplo, que uma pessoa viajando em um
nibus apertado no calor dos trpicos no estaria
dentro dos preceitos preconizados por essa
-
21
concepo, e, portanto estaria doente.
Perkins (1938) define sade como um
estado de relativo equilbrio da forma e funo
do corpo que resulta do seu ajustamento
dinmico bem-sucedido com as foras que
tendem a alter-la. No um intercmbio passivo
entre a substncia do corpo e as foras que o
impelem, mas uma resposta ativa trabalhando
para o seu ajustamento. Por outro lado, Ren
Dubos (1968) diz que o homem mais um
produto do seu meio do que de sua herana
gentica, reforando que a sade dos seres
humanos no est determinada por suas raas, e
sim pelas condies sob as quais vivem.
(COURA, 1992)
Este autor considera que embora a
definio de sade de Perkins (1938) seja bem
mais realista do que a formulada pela OMS, por
considerar o componente adaptativo, ela no
considera os aspectos psicossociais, enquanto a
conceituao de Dubos (1968), bem mais
abrangente, nega exageradamente o componente
gentico, tomando-se inaceitvel do ponto de
vista cientfico.
Ainda de acordo com Coura (1992),
seria desejvel associar a viso de adaptao
relativa definio de Perkins (1938) com a de
modus vivendi de Dubos (1968) e a de integrao
da OMS para alcanar uma definio mais ampla
e real de sade. Assim, em sua concepo a
sade seria conceituada atravs da adaptao do
homem ao seu meio, com a preservao da sua
integridade fsica, funcional, mental e social.
Dessa forma, alm de serem incorporadas as
noes fundamentais de "adaptao" e de
"preservao", tem-se a substituio do subjetivo
"bem-estar", da OMS, por "integridade"
(COURA, 1992).
Segundo Medronho et al. (2006) a
Constituio Brasileira reconhece a sade no
como uma simples resultante do ato de estar ou
no doente mas sim a resposta complexa s
condies gerais de vida a que diferentes
populaes so expostas.
Sem querer esgotar o assunto,
importante ressaltar a complexidade dessa
discusso, em busca de uma definio mais
concreta para o conceito de sade. De acordo
com Almeida Filho (2000, p. 17):
no presente momento, preciso avanar
para um tratamento epistemolgico e terico deste intrigante ponto cego, objeto-
modelo potencial para uma nova definio da Sade em sociedades concretas,
buscando produzir reflexes e indicaes conceituais e metodolgicas capazes de
enriquecer a pesquisa e a prtica no campo
da Sade Coletiva.
Medronho et al. (2006) afirmam que os
subsdios para a tomada de decises e para o
planejamento das aes de sade e bem-estar,
assim como a avaliao do impacto das mesmas,
tm sido limitadas devido insuficincia de
documentao do impacto das importantes
mudanas econmicas que vm acontecendo
internacionalmente.
O mesmo autor afirma que, dessa
maneira, faz-se necessrio, para abordar o estudo
da situao de vida e sade em grupos
populacionais, um modelo conceitual integrador
de condies e qualidade de vida, problemas de
sade e respostas sociais. Contudo, o conceito de
qualidade de vida muito abrangente, pois
considera que cada indivduo, famlia,
comunidade ou grupo populacional, em cada
momento da sua existncia, tem necessidades e
riscos que lhes so caractersticos levando em
considerao idade, sexo entre outros.
O documento Formulando estratgias
para a sade de todos no ano 2000 (OMS, 1981)
estabelece que somente a elevao da qualidade
de vida e a diminuio da pobreza extrema e das
desigualdades sociais permitiriam alcanar as
metas propostas em sua conceituao de sade
(COURA,1992).
Em geral, definies de sade de
plantas, animais, pessoas, comunidades e
ecossistemas envolvem alguma noo de
equilbrio e harmonia, alm da capacidade de
resposta e adaptao a um ambiente de mudana.
A sade est diretamente relacionada ao
cumprimento de metas desejveis e a doena
seria apenas uma restrio na realizao destes
objetivos. A conquista da sade uma atividade
social dentro das limitaes biofsicas, mais do
que uma atividade biomdica dentro das
restries sociais (WALTNER-TOEWS, 2001).
Isso significa dizer que a sade est
mais relacionada ao comportamento das pessoas
em suas prticas sociais do que aos servios e
insumos de sade oferecidos pela prtica
biomdica.
Entretanto, os profissionais que detm
as competncias necessrias para prevenir e
tratar doenas so mal preparados para promover
a sade. Desta maneira, programas de controle e
preveno de doenas podem criar problemas de
sade (WALTNER-TOEWS, 2001).
-
22
2.2 - Sade e ambiente
A temtica sade e ambiente vem sendo
amplamente discutida atravs de disciplinas tanto
da rea da sade quanto das cincias ambientais.
Nos ltimos, anos existe um maior nmero de
estudos relacionando estes temas (PALCIOS et
al., 2004).
Entretanto, a existncia de relaes
entre a sade das populaes humanas e
ambiente j est presente nos primrdios da
civilizao humana, atravs dos escritos
hipocrticos (PIGNATTI, 2004, p. 133).
O pensamento hegemnico de que todos
os recursos naturais seriam infinitos e renovveis
fez com que as sociedades, aps a explorao
dos mesmos, abandonassem esse habitat. Esse
processo afetou profundamente a qualidade do
ambiente e de vida das suas populaes
(AUGUSTO, 2003, p. 178).
Por vrias dcadas, aps a Segunda
Guerra Mundial, vrias partes do mundo uniram
esforos para erradicar doenas atravs da
aplicao de cincias biomdicas e promoo da
sade atravs de programas pblicos,
fomentando equidade social e econmica. Estas
aes pareciam surgir efeito, mas, nos ltimos
anos do sculo XX os esforos para promoo da
sade foram largamente abandonados em favor
do aumento da atividade econmica, ao custo de
um aumento rpido das disparidades de renda
dentro e entre os pases. Isto ocorreu em um
contexto de mudana ambiental global, a uma
velocidade e escala sem precedentes na histria
humana recente (WALTNER-TOEWS, 2001).
De acordo com Sabroza e Waltner-
Toews (2001) o estabelecimento de uma nova
ordem mundial, com a integrao de economias
de diversos pases e o subsequente aumento da
circulao de pessoas e mercadorias, tem levado
a uma perda da unidade dos modos de vida
tradicionais e degradao ambiental.
Diante deste cenrio, o adoecimento da
populao humana e a destruio dos meios de
sobrevivncia ambientais desta e das demais
espcies, tem se tornado um fato cada vez mais
contundente. Frente s importantes alteraes
causadas no ambiente pela imposio de uma
sociedade de consumo, com consequentes
impactos na sade humana, as questes de sade
continuam ainda, na maioria das vezes, sendo
observadas, pelas polticas pblicas, com um
olhar extremamente biologicista.
Segundo Forget e Lebel (2001) no
sculo vinte houve um considervel progresso no
desenvolvimento de modelos para ilustrar e
conceituar as relaes entre o ambiente e a sade
humana. A modelagem da sade humana baseada
na relao humana com o ambiente foi
inicialmente desenvolvida pela experincia do
mundo biomdico e a luta para controlar doenas
infecciosas. Apesar de oferecer abordagens
reducionistas, este enfoque, dominado pelo
clssico modelo biomdico de sade permitiu
que pesquisadores dessem passos importantes na
direo da compreenso das causas das doenas
que afetam seres humanos. Temos agora uma
compreenso muito maior dos mecanismos
basais das doenas e podemos observar que
houve progressos espetaculares na medicina
clnica.
Contudo, torna-se importante ressaltar
que a sade de uma populao depende
intimamente da complexa relao que esta
estabelece com o seu meio. Forget e Lebel
(2001), citando Nielsen (1998), apontam que o
mundo est sujeito influncia de muitos fatores
complexos que minam a sade de todos os seres
vivos, e esta questo no pode ser resolvida
exclusivamente atravs do enfoque mdico
reducionista, a despeito de toda sua sofisticao.
Dessa maneira, a relao existente entre a sade
e ambiente, em toda sua amplitude, deve ser
objeto de ateno, principalmente no
desenvolvimento de polticas de sade.
Entretanto, segundo Minayo et al.
(2006), embora seja bvia a relao desses dois
termos na prtica concreta e emprica, ela no
um dado. Portanto, torna-se necessria uma
maior reflexo acerca dessa relao.
Desde 1972, data da primeira
conferncia da Organizao das Naes Unidas
(ONU) sobre meio ambiente, as questes
ambientais foram consideradas objeto de
preocupao e interveno dos estados e de certa
articulao internacional. A partir de ento, vem
se desenvolvendo um processo de tomada de
conscincia gradual e global sobre o fato de que
o uso predatrio do planeta e de seus recursos
pode inviabilizar a vida no mesmo. Neste
processo, as questes relacionadas com a
pobreza frente ao uso racional dos recursos
naturais, do desenvolvimento de novas
tecnologias no poluentes e poupadoras desses
recursos, ganham destaque. Destacam-se tambm
as disparidades entre pases centrais e perifricos
-
23
(BRASIL, 2002).
Com a Conferncia das Naes Unidas
sobre o meio ambiente, consolidaram-se alguns
pontos importantes j apontados em 1972, nos
princpios expressos na Declarao do Rio sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, como:
a) o da sobrevivncia do planeta que se
trata. Assim sendo, todos os pases so
atingidos indistintamente. A responsabilidade de proteger o planeta para
as geraes futuras , portanto, de todos,
guardando o respeito equidade como princpio de justia fundamental na
distribuio dos nus da mudana de rumo
do desenvolvimento em direo proteo ambiental;
b) os seres humanos ocupam o centro das
preocupaes o que coloca a sade humana no centro das preocupaes
articulada ao meio ambiente e ao
desenvolvimento; c) o desenvolvimento sustentvel almeja
garantir o direito a uma vida saudvel e
produtiva em harmonia com a natureza' para as geraes presentes e futuras
(BRASIL, 2002, p. 9).
Fica assegurada a autonomia dos
estados, no mbito da liberdade e
responsabilidade na promoo do
desenvolvimento econmico, de maneira que
responda equitativamente s necessidades de
desenvolvimento humano e ambientais,
introduzindo-se assim, a associao entre o
desenvolvimento, a proteo do ambiente, a
preservao da sade e a promoo do bem-estar
humano de forma sustentvel ao longo de
geraes (BRASIL, 2002).
A partir da Conferncia Rio-92, a
Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS)
iniciou os preparativos para a conferncia Pan-
Americana sobre Sade e Ambiente no
Desenvolvimento Humano Sustentvel, com o
objetivo de elaborar um plano regional de ao
no contexto do desenvolvimento sustentvel,
articulando os planos nacionais a serem
elaborados pelos diversos pases e apresentados
na Conferncia realizada em outubro de 1995
(BRASIL, 2002).
2.3 Sade e ambiente no contexto das
Cincias da Sade
De acordo com Augusto (2003), nos
ltimos 20 anos a denominada Sade Ambiental,
de carter multidisciplinar, vem se
desenvolvendo no campo das Cincias da Sade.
No setor da Sade, at pouco tempo atrs, a
dimenso de ambiente era compreendida pelo
homem como externa ele. Mais recentemente,
o tema vem ganhando relevncia no SUS que
incorporou a Vigilncia Ambiental ao Sistema
Nacional de Vigilncia Epidemiolgica e
Ambiental em Sade (SNVA). A partir do ano
2000 o Ministrio da Sade cria a denominada
Vigilncia Ambiental. Atualmente, encontra-se
constitudo o Sistema Nacional de Vigilncia
Ambiental em Sade.
As questes ambientais relacionadas
sade foram durante muitos anos do sculo
passado uma preocupao quase que exclusiva
de instituies voltadas para o saneamento bsico
no Brasil (TAMBELLINI; CMARA, 1998).
Entretanto, ainda hoje, possvel
perceber que muitas as aes de Sade
Ambiental no mbito governamental tm sido
desenvolvidas na perspectiva higienista, voltadas
principalmente para as aes de saneamento
bsico.
Segundo os mesmos autores, a idia de
ambiente, como elemento importante para o
campo da sade pode ser considerada antiga,
porm sua caracterizao em termos tcnicos
cientficos tem sido considerada suficientemente
vaga e imprecisa para admitir variadas formas e
concepes na elaborao da sua (do ambiente)
possvel relao com a sade propriamente dita
(TAMBELLINI; CMARA, 1998, p. 48). Este
ambiente tem sido percebido como meio externo
ou o cenrio onde os processos de doena se
desenrolam.
Para estes autores a epidemiologia teve
papel decisivo na elaborao de questes que
abriram espao para a incorporao da relao
sade e ambiente no campo da Sade Coletiva.
Entretanto, em um primeiro momento, ainda
prevalecia a idia de ambiente como
externalidade ao sujeito. Algumas concepes
de ambiente ficaram fora do foco central de
preocupaes de uma Sade Coletiva emergente,
como, por exemplo, aquela que o compreendia
no mbito de um espao definido
geograficamente (TAMBELLINI; CMARA,
1998, p. 49), recuperada mais tarde por trabalhos
recentes.
A dimenso ecolgica desta abordagem
a que tem sido menos desenvolvida, atualmente
entre ns, ainda que alguns esforos tenham sido
-
24
feitos nesse sentido, especialmente naquelas
reas que tm como objeto as doenas
parasitrias (TAMBELLINI; CMARA, 1998,
p. 49).
Subsistiu, em um primeiro momento,
margem da Sade Coletiva, uma concepo de
sade ambiental no formato de modelos
epidemiolgicos tradicionais. Essa talvez tenha
sido uma possibilidade para a rea da Sade
Ambiental se desenvolver cientificamente, sem
considerar as questes da subjetividade e as
explicaes das Cincias Sociais que justifique
seu afastamento e quase excluso do mbito da
Sade Coletiva, nesse perodo. A reincorporao
de uma nova Sade Ambiental, integrando o
campo da Sade Coletiva torna-se possvel
quando a Sade do Trabalhador, estabelecida
como disciplina deste campo, aponta e se declara
parte de uma relao mais ampla que envolve a
produo, o ambiente e a sade. Desde ento, a
rea da Sade Ambiental tem fornecido um
significativo aporte de conhecimentos e tcnicas
ao campo da Sade Coletiva. Entretanto, no setor
da sade parece haver maior dificuldade para sua
efetiva implantao e desenvolvimento
(TAMBELLINI; CMARA, 1998).
3 - ENFOQUE ECOSSISTMICO DE
SADE
Num cenrio mais abrangente de
discusso sobre sade e ambiente, uma viso
mais ampliada em relao ao que est sendo
produzido na rea se apresenta na proposta do
enfoque ecossistmico de sade.
Este enfoque apresenta-se como umas
das possibilidades de construo terico-prtica
das relaes entre sade e ambiente nos nveis
microssociais, dialeticamente articulados a uma
viso ampliada de ambos os componentes
(MINAYO et al., 2006, p. 173). Trata-se de um
modelo terico-metodolgico que vem sendo
construdo nos Estados Unidos e no Canad e se
configura como uma proposta de desconstruo
do paradigma antropocntrico e de dominao.
Na busca de respostas a problemas concretos de
qualidade de vida, rene a reflexo de cientistas,
sociedade civil e gestores pblicos (MINAYO et
al., 2006).
Apesar da no aceitao da sade como
simples ausncia de sade na definio da OMS,
quase todos os esforos para melhorar a sade
humana no sculo passado tm sido destinados a
livrar o mundo de vrias doenas. De fato, a
erradicao de doenas contagiosas uma grande
conquista da rea, mas os programas de controle
de doenas no tm sido muito efetivos nos
ltimos tempos. O surgimento de inmeros
organismos multi-resistentes e insetos vetores
resistentes a pesticidas indicam resultados
involuntrios de terapias que utilizamos para
control-los ou elimin-los. Assim torna-se
necessrio encontrar solues mais criativas para
alcanar a sade (WALTNER-TOEWS, 2001).
O autor ainda afirma que o sucesso de
programas que se propem a promover sade em
algumas dimenses, como por exemplo, atravs
da reestruturao ambiental para melhoria do
suprimento de alimento, energia e gua, tm tido
resultados negativos sobre a sade, expandindo
ou criando novos habitats para fauna e flora que
causam doenas, e removendo fontes de
renovao natural da terra. Programas de
controle de doenas podem, por si, prejudicar a
sade, de pelo menos duas maneiras.
Primeiramente, perturbando sistemas ecolgicos
que tornam a sade possvel, como no caso do
uso da DDT para controle do vetor da Malria,
mas que pe em perigo a integridade de
interaes entre insetos polinizadores, pssaros e
a produo de alimento. Em segundo lugar,
suplementao alimentar, vacinao e programas
de tratamento com drogas baseados no modelo
biomdico podem comprometer a capacidade das
pessoas se adaptarem ao seu meio, com seus
prprios recursos. Alm disso, profissionais da
assistncia sade, que so bem preparados para
diagnosticar e tratar doenas so, em geral,
pobremente treinados para promover a sade. De
acordo com ele, os atuais esforos dos programas
de controle de sade e doena esto focados em
encontrar determinantes individuas de doenas e
as amplas condies sistmicas tm sido
ignoradas.
Problemas resolvidos individualmente
originam problemas maiores nos nveis regional
ou global. Assim, salvando crianas atravs de
campanhas de vacinao, sem programas
concomitantes de educao, nutrio, agricultura
e sustentabilidade ambiental, compromete-se a
sade de todas as comunidades (WALTNER-
TOEWS, 2001). Esse fato se deve ao no
desenvolvimento de uma imunidade natural
frente aos patgenos presentes no nosso meio.
Para este autor, de fato, a tenso entre
-
25
uma sade populacional sustentvel, que requer
certa taxa de morte e reposio, e sade
individual para a qual morte o ltimo resultado
negativo, no pode ser resolvida dentro do
modelo biomdico atual. As atuais abordagens
disciplinares ligadas sade, focadas em
questes biomdicas e de comportamento
pessoal, inibem pesquisas que abordem as reais
causas, que refletem interaes entre economia,
poltica e ecossistema.
Waltner-Toews (2001) ainda afirma que
os problemas de sade no esto somente
relacionados falta de investimentos em sade
pblica e infra-estrutura cientfica. Esta muito
importante, mas o no investimento no bem
pblico, generalizado sob as condies da
globalizao, um produto da falta de apreciao
da natureza e complexidade destes problemas.
O desenvolvimento de sistemas e
enfoques que buscam a compreenso de
interaes ecossistmicas aponta uma alternativa
busca no somente de sade, mas de
preservao ambiental e qualidade de vida
(WALTNER-TOEWS, 2001). Diante das
discusses ampliadas acerca do conceito de
sade, os estudos devem estar direcionados para
um pensamento em termos de sistemas
complexos.
3.1 Consideraes sobre os enfoques
ecolgicos
Segundo Forget e Lebel (2001), nos
ltimos 30 anos vrios enfoques ecolgicos
globais tm sido propostos, para fornecer uma
melhor compreenso da complexa relao entre o
cenrio no qual a vida ocorre e o estado da sade
humana. Esses modelos globais, que tm tido
uma forte influncia na sade pblica, so
baseados essencialmente em quatro amplos
componentes que tm impacto na vida das
comunidades e dos indivduos. So eles, cenrio
biofsico (ambiente), fatores sociais (incluindo
aspectos econmicos e estruturais), aspectos
comportamentais dos indivduos (estilo de vida)
e sua bagagem gentica (composio biolgica).
Existem considerveis debates acerca da
relevncia destes componentes no mbito da
sade pblica. Esta linha de pensamento tem
influenciado esforos, por parte das autoridades
da sade pblica, para prevenir doenas e
promover sade, em vez de focar apenas no
tratamento.
Eles afirmam que enquanto uma viso
mais holstica da sade pblica vem se
desenvolvendo, um processo paralelo foi
ganhando dinmica nas esferas da gesto de
recursos naturais e meio ambiente. No Canad,
pesquisadores responsveis pela gesto
ambiental na regio dos Grandes Lagos,
ecossistema compartilhado pelo Canad e
Estados Unidos, propuseram um enfoque global
de gerenciamento de bacias hidrogrficas. O
esquema permite que recursos sejam utilizados
com propsitos econmicos, assegurando a
integridade ambiental e sustentabilidade das
bacias hidrogrficas. Neste contexto surge o
enfoque ecossistmico.
Waltner-Toews (2001) descreve este
enfoque como uma abordagem conceitual e de
gesto desenvolvida e aplicada por ecologistas da
International Joint Comission of the Great Lakes
(IJC). Estes lagos representam 21% das reservas
de gua doce do mundo e so cercados com
algumas das maiores cidades industriais da
Amrica do Norte. Aps a Segunda Guerra
Mundial, essa regio foi submetida a um enorme
crescimento industrial e de agricultura. Nesse
perodo, os lagos e seu entorno recebiam
resduos industriais e humanos. A partir da
dcada de 80, uma srie de estudos apontou para
uma significante degradao ambiental desta
rea.
A IJC foi criada para gerir estes recursos
aquticos, atendendo a objetivos econmicos,
sociais e de sade, assegurando a
sustentabilidade do ecossistema. Ela introduziu a
noo de uma abordagem ecossistmica de
gesto dos recursos que integra conhecimento
gerado para os elementos individuais que afetam
todo o ecossistema dos Grandes Lagos e as
necessidades e aspiraes dos habitantes
humanos da regio (FORGET; LEBEL, 2001).
Os autores afirmam que o enfoque
ecossistmico para a sade humana prope a
promoo da sade coletiva atravs de um
gerenciamento mais sensato do ecossistema,
atravs de pesquisas participativas e
transdisciplinares. Ele explora as relaes entre
vrios componentes de um ecossistema para
definir e avaliar os determinantes essenciais para
a sade humana e sustentabilidade do
ecossistema. Esta abordagem coloca a gesto dos
recursos do ecossistema sujeita a uma melhoria
sustentvel e equitativa da sade humana, bem
-
26
como a sade do prprio ecossistema. A
abordagem ecossistmica para a sade humana
depende de pesquisa participativa e
interdisciplinar, que sensvel s necessidades
dos diferentes grupos sociais e as suas
aspiraes. Alm disso, na clssica abordagem de
gesto de recursos, esse enfoque valoriza
igualmente os trs componentes bsicos:
ambiente, a economia e a comunidade. O ponto
de intercesso entre estas trs reas representa a
sade do ecossistema.
Segundo Minayo (2002), esta
abordagem tem alguns desafios metodolgicos.
Dentre eles encontra-se o posicionamento da
sade pblica e individual dentro de um enfoque
ecossistmico e a insero de um enfoque
ecossistmico dentro do pensamento e das
prticas da sade pblica e individual.
Waltner-Toews (2001) pontua que
existem boas evidncias de que o enfoque
ecossistmico pode nos ajudar a alcanar uma
viso global de sade, entretanto:
Se nada mais, a abordagem ecossistmica traz um profundo conhecimento de que ns
no podemos administrar o planeta para
a sade, mas podemos olhar para as oportunidades de melhor se adaptar e sentir
em casa - para ser saudvel - em um mundo
incerto e contraditrio. Mesmo se as nossas esperanas estiverem perdidas, contudo, e o
controle de doenas especficas e resultados
de sade que buscamos no forem alcanados, os requisitos fundamentais da
abordagem do ecossistema para a comunicao aberta e democrtica, da
tolerncia, negociao e conscincia
ecolgica, certamente fizeram o esforo valer a pena. (WALTNER-TOEWS, 2001,
p. 21).
4 - ZOONOSES NO CONTEXTO DOS
PROFISSIONAIS DE SADE
O carter assistencialista do modelo
biomdico de sade vigente favorece uma viso
limitada e compartimentalizada por parte dos
profissionais e usurios dos servios. Esse fato
colabora com a percepo desintegrada de sade
e ambiente em sua forma mais complexa, que
leva em conta as interaes existentes entre todos
os organismos e o seu meio de sobrevivncia.
Assim, torna-se importante discutir a
questo das doenas relacionadas interveno
humana no seu meio. As zoonoses so
enfermidades que se apresentam de uma maneira
intimamente relacionada ao meio na qual se
insere uma populao e forma como ela
interage com o mesmo.
vila-Pires (1989), afirma que desde a
antiguidade o homem associou o surgimento de
certas doenas e epidemias com a presena ou
influncia de animais que trariam o pressagio de
mau agouro. Ele pontua que:
Das dez pragas do Egito, anunciadas por Moiss (Isaas VII 18-19), cinco so
animais: rs, piolhos, moscas, pestes de
animais e gafanhotos [...] H mais de mil anos os povos do oriente relacionavam as
epidemias de peste bubnica presena de
ratos e o relato bblico da derrota dos israelitas pelos filisteus (I Samuel 5)
constituiu a primeira referncia segura desta
doena (VILA-PIRES, 1989, p. 83).
Este autor ainda afirma que, alguns
helmintos j eram conhecidos no antigo Egito,
mas seus ciclos complexos foram estudados no
sculo XIX. O desconhecimento da taxonomia e
biologia de vetores e reservatrios ocasionou
atrasos na resoluo de questes, por exemplo,
como o fato de que a transmisso da peste se
daria atravs da picada de pulgas de ratos. Esta
dificuldade se deu porque Simond, em 1898, teve
dificuldade de comprovar suas ideias j que no
sabia distinguir, at ento, entre as diversas
espcies comuns de pulgas em ratos.
Somente a aceitao da teoria
microbiana das infeces, que ps fim
polmica que dividia os adeptos do contgio e
dos miasmas, esclareceu a natureza do
princpio viral, abrindo caminho investigao
epidemiolgica e ecolgica das zoonoses
(VILA-PIRES, 1989).
De acordo com o Segundo Relatrio da
Organizao Mundial da Sade/ Food and
Agriculture Organization Expert Group on
Zoonoses (1958), Van Der Hoeden (1964, p. 1)
pontua que zoonoses so aquelas doenas e
infeces que so naturalmente transmitidas
entre animais vertebrados e homem. Este
conceito se mostra muito mais abrangente do que
o significado etimolgico da palavra, qual seja,
doena animal. Desde os primrdios da
histria as doenas dos homens foram
comparadas com as dos animais. Entretanto, no
foi at a descoberta das propriedades da
patogenicidade de bactrias e alguns outros
organismos menores que as semelhanas entre as
-
27
vrias doenas transmissveis do homem e os
animais foram devidamente avaliadas. Em
consequncia disto, muitas ligaes
epidemiolgicas entre as doenas humanas e
animais, at ento desconhecidas, foram
reveladas.
Segundo o mesmo autor, mesmo
doenas de animais que no so transmissveis
ao homem podem ser prejudiciais a ele. Em
certas regies remotas do mundo, doenas epi e
panzoticas podem atingir animais de caa a
ponto de deixar a populao local privada de
alimentos de origem animal, o que pode trazer
srios problemas de deficincia protica. At o
incio do sculo passado poucas doenas
humanas de origem animal haviam sido
reconhecidas (raiva, antraz, varola bovina, entre
outras). Atualmente so conhecidas inmeras
zoonoses, sendo a maioria causada por bactrias,
vrus e zooparasitas. Com a elucidao da
patognese e epidemiologia destas enfermidades
tem se tornado evidente que os animais
configuram um reservatrio amplo de numerosas
doenas humanas.
As zoonoses esto entre os mais
frequentes riscos de sade sob os quais a
humanidade se defronta, principalmente nas
regies tropicais e subtropicais, onde vetores
artrpodes desempenham um papel importante
na transmisso destas doenas. H muitas razes
para acreditar que a maioria das doenas
infecciosas e parasitrias da espcie humana tem
origem nos animais. Os organismos patognicos
se adaptaram ao ambiente do corpo humano,
quer como parasitas ou comensais, sendo essas
associaes eventualmente reversveis (VAN
DER HOEDEN, 1964).
Para Gonalves (1995), diante da
definio da OMS, as zoonoses no so aquelas
doenas ligadas a produo animal, mas
sobretudo as doenas de animais que entram no
cenrio da sade pblica. O conhecimento destas
doenas de fundamental importncia, tanto
para mdicos como para os veterinrios, no
sentido de proporem normas tcnicas,
recomendaes e programas, visando seu
controle, nos meios rural e urbano.
Entretanto, para que ocorra o controle
efetivo na transmisso de zoonoses devem-se
levar em considerao as relaes ecolgicas que
os seres humanos tm desenvolvido ao longo de
sua existncia. So exemplos de doenas
relacionadas ao impacto ambiental atravs do
desmatamento, por exemplo, a doena de
Chagas, a Leishmaniose e a Febre Amarela. A
Leptospirose reflete principalmente a baixa
qualidade de vida das pessoas acometendo
populaes residentes em reas de risco, onde h
falta de saneamento bsico, precrias condies
de habitao, presena de lixo e crregos
assoreados.
A conscientizao de que essa ao
predatria traz problemas importantes sade
humana e ecossistmica deve estar clara na
prtica e no discurso do profissional da sade.
Dessa maneira, possvel que essa forma de
pensar faa parte da realidade dos cidados que
utilizam os servios prestados por estes
profissionais.
4.1 Consideraes sobre o controle de
zoonoses em Belo Horizonte
O controle de endemias no Brasil
sempre esteve a cargo da Unio sendo
coordenado atualmente pela Fundao Nacional
de Sade (FUNASA). O trabalho desenvolvido
pelos Agentes de Combate s Endemias. Essa
denominao foi criada pela Lei n 9.490 de 14
de Janeiro de 2008. At ento esses profissionais
eram denominados agentes de sade, guardas de
endemias e, em Belo Horizonte, Agentes de
Controle de Zoonoses. At 1998 o trabalho
desenvolvido por estes trabalhadores cobria
praticamente todos os Estados da Federao.
Neste perodo, devido falta de recursos em
Minas Gerais, a Coordenao Regional de Sade
estabeleceu parcerias com municpios no intuito
de ampliar as aes de controle, principalmente
da esquistossomose (JARDIM et al., 1998).
Funcionrios contratados pelos
municpios eram treinados e trabalhavam sob a
superviso da FUNASA. Neste contexto Belo
Horizonte iniciou suas atividades no controle de
endemias, visando o controle do Aedes aegypti, e
posteriormente incorporou o controle de
leishmaniose. Desta forma, o municpio ficou
responsvel pelas aes de controle cuja
experincia pode ser observada como exemplo
de descentralizao do controle de endemias
(JARDIM et al., 1998).
De acordo com os mesmos autores a
organizao dos servios de controle de zoonoses
no municpio de Belo Horizonte apresentou o
seguinte histrico:
-
28
A primeira abordagem deste tema ocorreu no decreto n. 138, de 1 de abril
de 1943 que aprova o regulamento dos
servios internos da Prefeitura. De
acordo com este decreto o
Departamento de Fiscalizao de
Limpeza, seo de zonas fiscais, tinha
como responsabilidade fiscalizar a
observncia das posturas municipais e
impor sanes legais aos infratores. A
Inspetoria de Limpeza Pblica era
responsvel pela apreenso de animais e
a Inspetoria de Educao e Sade
tratava das questes de sade pblica,
educao e assistncia, de acordo com o
mesmo decreto. Entretanto, antes de
1940 j eram registradas atividades de
captura e apreenso de animais em vias
pblicas. Dentre os servios
compreendidos pela Inspetoria de
Educao e Sade o Servio de Sade
compreendia:
o Servio Mdico, que abrangia a
assistncia mdica e hospitalar;
o Servio Veterinrio Municipal, composto pela Inspeo Sanitria
Animal (servio sanitrio do matadouro e dos mercados) e Defesa
Sanitria Animal (profilaxia anti-
rbica e assistncia veterinria) (JARDIM et al., 1998, p. 368-369).
A Lei n. 209, de 1947, criava o Departamento de Sade e Assistncia
cujas aes de sade pblica estavam
relacionadas com a realizao de
pesquisas em sade pblica, estudo de
incidncia de doenas, realizao de
anlises de gua dos crregos e eleger
prioridade quanto limpeza destes
crregos por parte do Departamento de
Limpeza. Em 1948 torna-se legalizada a
matrcula e vacinao de ces na cidade
e em 1957 fica estabelecida a jornada de
trabalho da funo de enfermagem
veterinria como tarefa da unidade de
Medicina Veterinria Preventiva. Em
1967 o Departamento de Sade e
Assistncia transformado em Secretar
ia Municipal de Sade e Bem-Estar
Social. Em 1970 a Secretaria se torna
organizada em trs departamentos:
Assistncia, medicina Preventiva e
Fiscalizao Sanitria. Com relao ao
ltimo departamento, a Seo de Polcia
Sanitria participava de aes de
saneamento bsico e trabalhos de
enfrentamento de endemias. Neste
mesmo departamento o Setor de Tendal
era responsvel pela inspeo de
matadouros e coordenao e execuo
da profilaxia da raiva no mbito
veterinrio.
Mediante tal falta de estrutura, em 1983, o decreto n. 4.537 dispe
sobre a estrutura da Secretaria
Municipal de Sade criando trs rgos
e cinco departamentos, dentre eles o
Departamento de Controle de Zoonoses
(DCZ). Este departamento, Segundo
Jardim et al. (1998, p. 370) tinha as
atribuies de: executar as atividades
necessrias ao controle fsico, qumico e
biolgico das zoonoses, executar o
controle da populao de murinos,
artrpodes e outros vetores, executar
programas de erradicao da raiva
dentre outras. No ano seguinte o
Departamento de Controle de Zoonoses
ficou composto, dentre outros, o
Servio de Controle de Vetores e
Roedores, pelo Servio de Laboratrio
de Zoonose e o Servio de Profilaxia da
Raiva. Em 1983 o DCZ assumiu
totalmente a responsabilidade pelo
programa de controle de raiva,
executado at ento pela Secretaria
Estadual de Sade de Minas Gerais
(SES/MG). Neste perodo o Laboratrio
de Zoonoses atendia a outros
municpios do Estado, Escola de
Veterinria da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Secretaria de
Estado de Agricultura e particulares.
Todas essas alteraes implicam
diretamente na organizao dos servios
de zoonoses dos municpios.
A sano da Lei n. 4.323/86 e do Decreto n. 5.616/87 marcam as
atividades do controle de zoonoses, pois
revisam as responsabilidades dos
proprietrios sobre seus animais. Com a
Constituio 1988 e a Lei Orgnica da
Sade n. 8.080 de 1990 as decises e
discusses so direcionadas para o
processo de municipalizao e
descentralizao das aes de sade. A
descentralizao das aes de controle
-
29
de zoonoses se concretizou com o
remanejamento de profissionais do DCZ
para os Distritos Sanitrios. O DCZ
perdeu sua posio transformando-se no
Centro de Controle de Zoonoses (CCZ),
com representao de servios nos
Distritos. A Lei n. 6.352 de 1993
normatizou essa nova proposta de
organograma, assim a unidade fsica do
CCZ tornou-se referncia laboratorial e
de suporte para captura e manejo de
animais, atendendo demanda dos
Distritos Sanitrios segundo diretrizes
tcnicas e administrativas da SES. Esta
Lei tambm reconheceu o Servio de
Controle de Zoonoses, dentro do novo
Departamento de Planejamento e
Coordenao das Aes de Sade
(DPCAS), que se trona responsvel pelo
planejamento tcnico das aes e
anlise de dados produzidos pelos
Distritos. Com o aparecimento de casos
de leishmaniose visceral em Belo
Horizonte e o agravamento da situao
nacional com relao ao dengue, no
possvel mais trabalhar com o
atendimento de reclamaes pontuais.
Trona-se necessrio o estabelecimento
de um planejamento anual das aes
com consequente apropriao das
informaes geradas no campo.
O controle de endemias se torna objeto de discusses permanentes
envolvendo todos os nveis. A
realizao e o planejamento dos
servios so revisados e adaptados
realidade do municpio. Os espaos
urbanos adquirem importncia
diferenciada e os servios comeam a
identificar as especificidades de cada
microrea. A partir do conhecimento
dos problemas e desafios especficos de
cada rea um grande avano com
relao ao controle de zoonoses
proporcionado. Entre 1995 e 1996 os
servios de controle de zoonoses foram
descentralizados para as UBS.
De acordo com a Secretaria Municipal
de Sade (BELO HORIZONTE, 2008 a) novos
avanos relacionados s aes de vigilncia,
promoo e proteo sade foram obtidos com
a descentralizao das atividades de controle de
zoonoses para as UBS. Esta nova configurao
demanda a integralidade das aes e a vinculao
com a populao adscrita favorece o cuidado
com o meio ambiente diante das aes de
preveno de doenas transmitidas por vetores.
Este cenrio favorece uma maior vinculao das
aes de controle de zoonoses com a assistncia
e as reas da vigilncia em sade.
A interao dos servios de controle de
zoonoses com a ESF proporcionou a criao de
processos de identificao de territrios e
discusses sobre atribuies complementares
entre os profissionais de campo. Essa
configurao se estabelece no mbito da
organizao da assistncia e da consolidao do
papel dos agentes de endemias como parte
integrante da e
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