revista ijsn - ano iv - nº 4 - 1985
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Instituto J ones dos Santos NevesAnolV - N° 4 - OUTIDEZ DE 1985
VITORIA - ESPIRITOSANTO
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ANOINTERNACIONALDAJUVENTUDE
1985Participação, Desenvolvimento e Paz.
MINISTÉRIO01\ EDUCAÇÃO
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ANOINTERNACIONALDAJUVENTUDE
1985Participação, Desenvolvimento e Paz.
{fa'· "~~~~ . ~. COMISSÃO~:::=:- ~ NACIONAL~~~ DA JUVENTUDE~~
MINISTÉRIOD1:\ EDUCAÇÃO
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~EMEROTECA
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I C E ANO IV - NO 4 - TRJMESTRALVJTÓRIA ESP(RITO SANTO
'JEBATE",eforma Agrária
~feitosda indexação da economiaa remuneração do capital e do trabalho
ornpetência da Nova Repúblicaecer prioridades ed ucacion ~is
ora é de plantar milhocom o subsídio ao trigo
el m da velha prática autoritária
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2427
Registrada sob o número 1854 P 209/73, naDiV1são de Censura e Dlverso"s Públicas do De·partamento de Pol{c,a Federal de Brasl'lJa (DF)
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Endereço: Av. César Hrla1, 437 lO andar Fraia do Suá Vitória - ES - CEP 29.000 ..Te! 227·5044
Coordenador Geral do Projeto EspeCIalCidades de Porto Médio· VitóriaJosé AJ1tônlo Colodcte
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DOS E PROJETOS
iBUNALIVRE
SENHA
2na parada é crime.1m crime que mata até cidade.
IAS-'-'-'~--'-"-'-----
BIBLIOGRÁFICA
~
3unas, I en to ... areia ... tem pol
studos Populacionais projetamr< rede urbana até o ano 2010
• lISTÓRIA
e, Artaud e a Artem se na libertação do delírio
19 Um período históricondustrialização do E Santo
rrl 984 a racionalidade repressivalisubstancia a realidade orwelliana
Grande Capital predominana expansão da economia capixaba
r1\JTREVISTA
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CARTA AO LEITOR
A Lei 4.504, de 30/11/64, mais conhecida como Estatutoda Terra, ficou engavetada durante 21 anos. Feita para atender ao sonho de implantação de um capitalismo moderno e, talvez, de quebra,curnprir o imperativo constitucional que visa "promover a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos", a Leinão resistiu à grita daqueles que não admitem mudanças na secularestrutura agrária brasileira.
O primeiro governo da Nova República, através do ato deentrega ao Congresso da Proposta para Elaboração do 1.0 Plano Nacional de Reforma Agrária, em 27 de maio, desenterrou o Estatuto eressuscitou a gritaria. Quem tem medo da reforma agrária?
A reforma vai beneficiar sete milhões de brasileiros e, segun-do o Estatuto, as terras produtivas são intocáveis. Portanto, quemtem medo são os grandes propríetários de terras ociosas, os especula-dores.
Neste número a Revista IJ5N trata da reforma agrária com oDebate e a Entrevista, reunindo personalidades ligadas ao tema e ouvindo moradores do Município de Ecoporanga.
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Burnier Emll Roger Ricardo
DEBAIE.I)IAB)ODJAlMA
Reforma Agrária.A terra para quem planta?
Falar em reforma agrária na atual conjuntura brasileira é suscitar a explicitaçãode conflitos e aspirações que a noite de vinte e um anos escamoteou.
mo que destampando uma panela de pressão, a Nova República trouxe àbaila o tema, talvez, mais polêrnico deste país-continente.
A sociedade exige que a questão agrária seja amplamente discutida. Umlaboratório de convivência democrática, eis o que poderíamos chamar o
confronto de idéias entre o Membro da Comissão Pastoral da Terra, DerliCasoli, o Presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo, Pedro
Burnier, o Presidente da Ceasa, Emil Schubert, o Chefe da Divisão EstadualTécnica do !ncra, Roger Darío Delboni e o Secretário da Agricultura, RicardoSantos, neste debate, mediado pelo senúdor do I]SN,Dja!ma]osé Vazzoler,(redator e membro do Conselho Editorial da Revista !]SN). Foi convidado
também o Presidente da Federação dos Trabalhadores naAgricultura, AntônioAngelo Moschen, que não pôde comparecer.
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Pelo Plano de Refonna Agrária, 7,1milhões de agricultores receberão um pedaço de terrá. O que isso vai significar para asociedade, principalmente para os empresários da área e trabalhadores rurais?
Ricardo - Nós temos hoje, estimadopelo INCR.l\, cerca de 10,6 milhões de trabalhadores rurais sem terra. E o plano prevê a distribuição de terras para o assentamento de 7,1 milhões de trabalhadores rurais. Isso visa benefici~r diretamente 7,1milhões e, de uma maneira indireta, beneficiar os 3,5 milhões de trabalhadores ruraisque permaneceriam incorporados no mercado de trabalho das empresas rurais e dosproprietários rurais.
Evidentemente, é um plano que temum alcance social e econômico extraordinário. Acho que o país não tem outra alternativa para gerar emprego e renda semelhante ao plano nacional de reforma agrária.
Além disso. ao serem transformadosem cidadãos, mÚhões de brasileiros, que seencontram em condições sub-humanas devida, vão ter muito mais condições de participação política do que têm hoje.
Acreditamos que o associativismo éfundamental para que essas áreas submetidas à reforma agrária sejam fortalecidas. Osprodutores rurais assentados deverão fortalecer a sua ação, fortalecer sua organizaçãode produtores com o objetivo de sobrevivereconomicamente e também com o objetivO de se fortalecerem politicamente, sejasob a forma de propriedade familiar, sejasob a forma associativa ou cooperativa.
Bumier - O que a gente sente e temcolocado é que a proposta de plano apresentada é muito doutrinária e pouco conclusiva. Acho que, em determinados aspec-
tos, ela extrapola o Estatuto da Terra. Émuito interessante e muito proveitoso e atépróprio do clima democrático da Nova República que se discuta, como proposta, todos esses pontos. Agora, apenas acho que,em termos estratégicos de ganhar tempo, aproposta deveria cingir-se mais ao Estatutoda Terra e a ações concretas para, de ime·diato, colocar o processo em andamento.Pegando dois aspectos, o programa de triobutação e o programa de colonização, quesão bastante minimizados no anteprojeto:de pronto, o lncra e o Ministério poderiampartir para uma ação rápida de cobrança dedívida acumulada. E colocar isso numa fase também de reforma de alíquotas a serem cobradas desse imposto, ou seja, transformar esse mecanismo de tributação nummecanismo também coadjuvante ao processo.
Ricardo - Mas isso já está sendo feito.Está havendo cobrança de dívida acumulada.
Bumier - Outro aspecto refere-se àmalfadada colonização feita pelo lncra emtempos anteriores. Um erro não justifica ooutro. Nós também não podemos, numpaís de extensão territorial grande a serexplorada, relegar a um plano secundário acolonização. Essa, em processos passados,tamos as grandes teses do uso social da terra,incentivou o desbravamento que, em mui·tos casos, acumulou experiências positivas.
Outra crítica que faço é sobre o cronograma financeiro. Cr $ 5.250.000 é umaquantia bastante irrisória para cobrir custosde assentamentos. O Plano gasta 56 folhaspara falar de questões doutrinárias e filosóficas, quan10 o cronograma e os custos
lcardo)
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de implantação ocupam apenas uma folha.Além disso, algumas' colocações filosó
ficas foram até provocativas da nossa classe quando, por exemplo, colocam o trabalhador rural como cidadão não pleno enquanto ele não tiver acesso à terra em quetrabalha.
Achamos também que se deveria darmais ênfase à participação da classe empregadora no processo de reforma agrária. Emnenhuma linha desta proposta se falou nacomissão agrária. Exatamente a comissãoagrária é a janela onde a classe produtora(a classe empresarial) poderia participar doplano. Causou espécie à gente não ver issoconsubstanciado na proposta. Afinal, aclasse produtora é também partícipe doprocesso.
Derli - Essa reforma agrária pode fi·car falha se for feita apenas em lugares distantes dos grandes centros do Brasil, comono norte do país (Rondônia, Pará ou Acre),onde atualmente estão acontecendo osgrandes conflitos de terra, onde as terrasboas estão nas mãos de grandes grupos estrangeiros. Quais são as terras para a reforma agrária, hoje, sendo que as melhores terras estão concentradas nas mãos de peque·nos grupos que não vão abrir mão dessasterras? Coloco isso como um desafio paragente. Há no Brasil, hoje, mais de 5 milhõesde proprietários. E, desses proprietários,540 controlam 80% das propriedades. Como fica agora, sendo que mais de 130 milhões de hectares de terras ociosas estão nasmãos desses latifundiários que não estãovendo com bons olhos a proposta de reforma agrária e reagem de maneira violenta?Basta ver no norte do Brasil onde estãoacontecendo grandes conflitos de terras.De repente, chega um fazendeiro para umgrupo de posseiros, diz que a terra é dele ecomeça a briga.' Só este ano, já foram assassinados "96 lavradores, principalmente nonorte do BrasiL Como você explicaria paraa gente essa reação tão desenfreada?
Burn.ier - Hoje, nós, da classe empregadora, estamos muito mais preparados para discutir o aspecto de reforma agráriadentro de um aspecto participativo. Aceitamos as grandes teses do u<o social da terra,da distribuição de terras ociosas... Digo isso das federações de agricultura nas regiõesmais adiantadas, que respondem por maisde 80% do produto agrícola bruto nacionaL Nós nos negamos a sermos vestidoscom aquela camisa de força do grileiro e dojagunço nordestino e amazonense do norte,quer dizer, quem produz alimento e quemsustenta o Brasil de alimentos, seja para apopulação ou seja para exportação, nãopensa dessa maneira. Acho que uma federação como a de Minas Gerais, que tem 350sindicatos rurais, do Rio Grande do Sul,
"o Estatuto, Nesses planos regionais,identificadas as áreas de aç,io den tro dasregiões já declaradas prioritárias no pianonacional, os objetivos específicos, as ;ireasdesapropriáveis, as obras de melhoria e oscustos, Após esses planos regionais, é quepoderá haver alguma desapropriação paraefeito de assentamentos. E, no momentode serem realizadas essas desa propriaçõ\es,há necessidade também da elaboração 'deprojetos específicos para cada imóvel ouentão grupo de imóveis. Portanto, hánecessidade, para a efetiva irnplantaçiío dareforma agrária, da aprovação do planonacional, dos planos regionais e também aseleção das áreas dentro da dedesapropriação. Tem, queS[;lO
dos órgãos específíco.s envolvidos na reforma estabelecidos no Estatuto da Terraem seu artigo 37: o I ncra, a nível nacional,SUdS diretori<ls e também ascomissões que serão criadas apósdefmição das áreas regionais prioritárias. Ascomissões agrárias com põem-se de 3representantes da classe trabalhadora, 3 representantes da classe dos proprietários, 1representante de entidade pública ligada àAgricultura, 1 represen tante de estabelecimento de ensino e 1 representante doIncra, que a presidirá. Então, é precisopassar por essas etapas todas para se chegar a, efetivamente, implantar a reformaagrária.
Mas, aqui no caso do Espírito Santo, ecomo está ocorrendo em vários outrosestados, a gente não está esperando aconclusão de uma etapa para se iniciar aseguinte. Por exemplo, não vamos esperaraprovação do plano nacionar para iniciara elaboração do plano regional. A gente
''As federaçôesagricultura nas reglóes
lllais adiantadas aceÍt(7II1. atesc do 1150 social da terrnda dístríbuiçàc) das ferras
oCiosas
bens-salários: a estrutura de indústria têxtil, indústria de alimentos, inclusive frangose ovos. Vai haver uma expansão de demanda desses produtos. A expansão do mercado interno, de modo geral, beneficiará oschamados produtos de bens-salários.
Eu citaria também setores produtivos
.de máquinas agrícolas e insumos' agrícolas.Na medida em que a tecnologia agrícola seja adaptada às condições naturais e às condições sócio-econômicas de nossos produtores, os setores industriais que hoje estãoproduzindo maquinaria agrÍcola e outtOSinsumos industriais deverão muda r seu perfil e suas linhas de produçi\o para atender auma nova política agrícola, A gente nãopode separar nunca o plano de reformaagrária de uma nova política agrícola. Achoque as duas coisas, na medida em que agente visa democratizar a política agrícolae agrária, têm que marchar de maneira conjugada.
- Que mecaIÚsmos estão sendo ou de·verão ser acionados para que o Plano Nacional de Refonna Agrária se tome umarealidade?
Roger - A implantação efetiva da reforma agrária, de acordo com o Estatuto daT:rra, tem algmnas etapas que estão perfertamente defil1ldas. Em primeiro lugar, hánecessidade de um plano nacional. O quetemos atualmente é uma proposta para aelaboração do Plarw Nacional. Após aprovar esse plano naclOnal -, que var definrráreas prioritárias, os obje tivos para a elaboração dos planos regionais e também oslimites de dotação a nível nacional e decada região -, é que poderão ser elaborados os planos regionais, também definidos
(SllmÍer)
que tem mais de 400 sindicatos rurais,esse pessoal quando fala, fala representando o pensamento dos sindicatos rurais. A
da Bahia, a Associação de Cria-dores Bahia, esse pessoal representa um
do pensamento forte da classe. Quernós ternos que acreditar mais na Fe
da Bahia do que em três fazendeisul da Bahia tlue ameaçam matar to
mundo bala.Derli A realidade é que eles estão
Illd praticando violências e não estão){,Bdo punidos...
Burnier - Aqui tenho o manifesto as,macio peJa Federação da Agricultura daBahia, Associação Baiana de Criadores, Organização de Cooperativas da Bahia, Associaçã.o Comercial da Bahia, Cónselho Nacional de Produtores de Cacau, Associaçãodos Dirigentes Cristãos de Empresas da Bahia e Federação das Indústrias do Estadoda Bahia. Faço questão de citar a Bahia porapresentar-se como um estado conservadore ser nosso vizinho. Diz o manifesto que,ern princípio, os produtores rurais não são
tra a reforma. "Ao contrário, manifesplenamente favoráveis a um projeto
renda às aspirações da ascençãoe das grandes massas ru-
inclusive e principalmente à posse eem próprio. Em parti-
tendem os produ tores que um proreforma agrária deve se apoiar no
l.L!"! U \.U da Terra e res peitar a Constituiçãodo País, Os produtores vêem como
!.UllUH"dU essencial e necessária para o êxitoprojeto de reforma que seja acom
p,'''".dU'V de um programa de políticas agrí:o1as, todas voltadas para a assistência aosprodutores rurais, Uma simples reforma-undiária não será nada mais do que umatenta tiva sem êxito de assen tamento de traaalhadores rurais no campo, E certamente'esu!tará numa reforma agrária falida, E a,'Java República não pode frustrar as aspi-ações, Entendem os produtores agropecuá
que a prioridade das desapropriaçõesleve concentrar-se exclusivamente nas ter-
do governo la tifúndios improdutivos,ms outros juntos, ocupam grande
do nacional, constituem nanegação da função social e econô
terra. Latifúndio imrrodutivocomo reserva de capita é um dipropriedade indefensável". Não é
11e""v,·1 ser mais claro que isso. Ou eles res-citam o que assinaram ou não podemos
discutir.Ricardo Acrescento ainda que esse
"lano, ao gerar emprego para milhões derasileiros que hoje vivem em condições deida difícil, terá um impacto certamente
'J1uito positivo com relação aos setores urmos industriais, produtores dos chamados
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está tentando ganhar tempo nesse sentido.Estamos levantando informações, mantendo contato com diversos órgãos de classe e
do governo, discutindo o assunto eten tando montar esse plano. Esse plano éde competência legal do !ncra, mas ele nãovai assumir isso sozinho, nem poderia, naNova República. Vai procurar ampliar adiscussão.
Derli - Também em outros estados oestá bem adian tado nas discussões.Santa Catarina, por exemplo.
Roger - Paraná, Rio de ] aneiro, Sãop" ulo... O Espírito Santo, inclusive, estáum pouco mais atrasado, porque aquidemorei tomar posse. A gente demoroutambém conseguir dados referentes ao
Santo. Esta semana é que começa-ram a dados melhores do próprioIn crJ.
Ricardo Embora a elaboração estejaum pouco atrasada, a discussão, em termosdos diversos segmentos da sociedade
está muito avançada. E a própriados assentamentos trouxe
discussão á baila.' De maneira concrenós estamos discutindo isso há bastante
tempo.
Roger Foi bem lembrado peloRicardo que o Espírito Santo está aténuma situação privilegiada em relação aoassunto juntamente com o Paraná, SãoPaulo . .Ç os trabalhadores aqui já estão seorganizando, existem vários grupos emfunção do programa de assentamentos dogoverno. As discussões não são recentes, o" se coloca é a elaboração do plano,
lvla s a dis cussão já é an tiga.Ricardo - Com relação às experiências
"Quais são as terras pararefonna agrária sendo que
as melhores terras estão nasmãos de pequenos grupos
que não vão abrir rnãodessas terras?"
(Der/i)
que estão sendo desenvolvidas desde o anopassado pelo governo estadual, no norte doestado, são 3 grupos de ]aguaré, 2 gruposem Conceição da Barra, 2 grupos em SãoMateus e já estamos adquirindo áreas naGrande Vitória para implantar o assentamento péri-urbano. São grupos de trabalhadores organizados e já estão vindo comuma proposta de trabalho associativo. Nósjá temos 174 famílias assentadas e essasfamílias participam da elaboração doprojeto; existe uma metodologia de diálogopermanente dos trabalhadores com ostécnicos da Secretaria de Agricultura, doSistema Operacional da Agricultura e tudoé feito no sentido de que esses grupos detrabalhadores, depois de uma certa fase,consigam obter sua autonomia no sentidode que eles possam gerenciar um projetoagrícola por si só. Numa primeira fase, existe ajuda do governo, ajuda essaantes da primeira safra anual, em que ostrabalhadores recebem alimentos, sementese material de constí'ução de casas rústicas ...A segunda fase, que é a fase efetiva deimplantação do projeto, prevê sempreculturas permanentes e culturas anuais e todo o gasto na propriedade é contabilizadopara pagamento futuro por parte do grupode trabalhadores... Numa terceira fase,esses trabalhadores deixam de ser financiados com fins fundiários e passam a recorrera sistemas normais de financiamentos darede bancária. Em Síntese, a experiência que vem sendo desenvolvida pelogovern o é essa.
Bumier - Uma observação, Secretário,é que nós estamos muito mais atrasados emtecnologia para o pequeno proprietário,especificamente no norte do estado. Mas
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estamos bastante atrasados tam,bém para ogrande e médio proprietários. E claro que,economicamente, esse homem é mais forte,mas devo dizer que, usando especificamente, por exemplo, o problema deirrigação no norte do estado, não foiacrescido, pela máquina técnica do estado,nada ainda a quem arriscou seu dinheiro eseu trabalho comprando o conjunto deirrigação. A irrigação que se faz hojeno norte do estado é sem nenhuma orientação técnica de base. Ninguém estudouciclo de regra para nenhuma cultura, ninguém estudou ainda evapotranspiraçãopotencial para se dar uma orientaçãotécnica para quem está usando o equipamento, Existem equipamentos parados eque custam uma fortuna, exatamente emépocas em que eles deveriam estar sendousados. Eu acho que a falta de informaçãotécnica, falta de pesquisa básica para aagricultura é um grande problema nacional,não é só do Espírito Santo, não.
Ricardo - Você levanta a questão tecnológica de maneira geral. O modelo depesquisa que se implantou no país, sobretudo nos últimos 5 anos, concentra os recursos a nível federal, através da Embrapa,que é a grande empresa que coordena todoo sistema de pesquisa a nível nacional. Para citar um exemplo, em 1982, ela custeava 45% da nossa empresa, Emcapa. Em1985, essa percentagem é abaixo de 5%.Então, houve um fortalecimento do cenrrode pesquisa da própria Embrapa e ela foiretirando apoio às empresas regionais. Essas empresas reiPonais, no caso de uma empresa de pesqmsa como a nossa, tem Importância muito grande porque visa adaptartecnologia às produções naturais da regiãoe às condições sócio-econômicas dos produtores existentes naquela região_ Então, éum problema muito sério que existe emtermos de geração de pesquisas desse paísno sentido de que há grandes centros nacionais gerando pesquisas e gerando tenoIogia que não se adaptam às diversas condições regionais do país, que é um país dedimensão continental.
Além disso, praticamente não existetecnologia adaptada ao pequeno produtorou, quando existe, é deficiente. Você de,verá concordar comigo que talvez poucos'governos estaduais investiram tanto em pesquisas no Estado do Espírito Santo como 9atual. Realmente, nossa grande preocupação é no sentido de gerar uma tecnologiestadual adaptada às diferentes regiões {!Espírito Santo, - nós temos aqui regiõenaturais bem distintas umas das outrase adaptadas às diferentes condições sócieconômicas de nossos produtores. lnvesem pesquisa tecnológica adaptada é uquestão que a gente considera vital
solução dos programas da nossa agriculturade hoje, de agricultura dos chamados setores deformados.
Que. fonuas de assentamentos devemser privilegiadas no pro~o de ReformaAgrária?
Bum.íer - A gen te vê que os assentamentos, aqui no Espírito Santo, foram feitos na forma de assentamentos comunitários. Por que não se tencionou colocar também alguns desses assentamentos pensandona propriedade familiar? Assim teríamos,ao longo de um prazo histórico, um outrotipo de experiência para poder desenvolverpesquisas, até de cunho social,' comparando ou analisando os dois modelos.
Ricardo Em primeiro lugar, essesassentamentos não nasceram de uma iniciativa espontânea do governo mas foi urnaresposta que o governo pretendeu dar amovimentos de trabalhadores organizados,sobretudo os bóias frias existentes no norte do estado. Eles já vieram com propostade .trabalho associativo. Proposta esta queesta sendo submetida a debates Intensosdentro dos próprios assentamentos.
A segunda razão é que o número de famílias existentes dentro desses grupos é tãogrande que o atendimento de módulos oude parcelas de terras individualizadas exigiria uma quantidade de terra muito maiordo que o governo tinha condições de oferecer. Teria que ter pelo menos uns 5 alqueires por família.
Evidentemente que um programa dereforma agrária, com possibilidade de desapropriar terras particulares improdutivas,possibilitará um estoque muito maior deterras efe tivar a ex periência de pro-
familiar.Derli Acabo de chegar de um encon-
tro em Goiânia onde havia representantesde todos os estados do Brasil. E o pessoaldo Rio Grande do Sul colocou uma experiência que eles estão vivendo lá. Os asseIltamentos onde o trabalho é feito de formaindividual e não de forma coletiva não eStão dando certo. Praticamente 2 assentamentos já foram de água abaixo. O pessoalcomeçou a trabalhar de forma individual eforam aos bancos, fizeram os empréstimose agora não estão conseguindo pagar. Osbancos estão tomando as terras, já tomaram de 70 famílias. Do outro lado, um grupo de 115 famílias, e um grupo de 15, decidiram fazer um trabalho de forma coletiva. Ao invés de fazer de imediato empréstimos aos bancos, foram trabalhando, agoraconseguiram comprar até um trator. Tiveram uma produção bastante alta este ano.Provaram, na prática, que a forma de trabalho coletivo é melhor.
Bumier ._- DerIi, quando a gente enfatiza eSSe problema da propriedade indivi-
dual dentro do processo de reforma agrária,é porque a gente nota que o grande objeti.vo do trabalhador rural, o grande objetivodo trabalhador sem terra é o de constituirpara a família dele um pedaço de terra como também um patrimônio. Quem faz areforma agrária, especificamen te os órgãosdo governo Secretaria da Agricultura, olncra e o Ministério da Reforma Agrária -,tem que se auto-policiar para não colocarcomo uma camisa de força no trabalhadoraquilo que O governo ou 05 técnicos achamque seria o ideal.
O que a gente vê ê uma tônica muitogrande de todas as pessoas que a gente conversa na área do Incra e do Ministério delevar o modelo comunitário para esses assentamentos. Nós já tivemos, num passadomais distante, uma série de atividades ondeo técnico quer colocar no público, no trabalhador rural, urna série de coisas que eleacha que é correto. O produ tor rural aceita momentaneamente e depois mostra quehouve, até certo ponto, urna violentação doprocesso, A gente tem que se policiar muito, tomar cuidado, Do contrário, daqui acinco ou dez anos, vamos frustar uma ex·pectativa que nós botamos no trabalhadorsem terra: dele constituir uma propriedade.
Ontem, nós estávamos em Boa Esperançae assistimos a um espetáculo de 29 meeiros,cada um comprando 10 hectares, 5 hectares e recebendo um diploma, Estivemos napropriedade de um deles que se tornou proprietário rural. Hoje, esse antigo meeirotem mais 2 meeiros trabalhando para ele.Eu sei que isso às vezes violenta o modelosociológico, o modelo humanístico que aIgreja e que nós todos podemos querer le-
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var ao campo, mas que às vezes, dentro daimperfeição terrena, não é o modelo que oproprietário, pelo menos lá em Boa Esperança, gostaria de ver im plantado.
Roger Pelo que o Pedro disse, tem-sea impressão que, na proposta de estáse induzindo para formas na Or-ganização da produção, Não é bem aSSlm,Não se está impondo formas de unidadesindividuais, ou associativas, ou mistas. Estáse respeitando a organização própria do trabalhador e seu livre direito de escolher amelhor forma de se organizar. N;io seriajusto por parte do governo impor previamente como o trabalhador vai senesses novos assentamentos, Porque nós sabemos que o grande sucesso da reformaagrárJa está na internalização do própriotrabalhador da responsabilidade e do gran·de desafio que ele tem pela frente,
Bumier Roger. eu faria duastas. A primeira é a seguinte, corno que apropriedade em moldes coopera tivos se encaixaria dentro do Estatuto da Terra? Emsegundo lugar, mais ou menos ligado isso.você prevê que daqui a três anos essessentamentos comunitários marchem paraque tipo de estrutura? Você vai ter daruma forma a isso, você vai [cr queisso de cooperativa de [rabalho comunit;irio, de sociedade com cota !i,m[ada. üu sociedade anônima, enflm, vocé VaI ter quedar urna a isso. Num proces-so inicial, [udo bem. vai a umponto em que você vai tornar financianiento, vai comprar equipamento, vai pleitearrecursos. Esse aglomerado de pessoas têmque se consolidar dentro de uma figura.
Roger - Em primeiro lugar, a gente espera que, na maioria dos assentamentos, os
Roger O [ncra não tem expectativanesse sen tido. E pelo que a gente vê, aquilo
está arraigado na cabeça do trabalhana nossa e na da sociedade, Mas que
outros, optando por outras formas, tam-bém n;lo bloqueados prevIamente.
Quanto ao legal, eu não vejoo Esta tu to da proíba-essa forma,coloca unidades familiares, mas tam·
bém outras formas de organização,Quanto à outra parte da pergunta, a
forma de organização, possivelmente, com() passar do tempo, essas orga nizações detf,' balhac1ores, assen tamen tos que optarem
formas assou" tivas, terão que tambémcaminhando, evoluindo para adquirir
uma forma juridiea que seja mais compatí.vel com a realidade.
Derli .~ A quest;io de que o 'trabalhador tem na cabeça a forma Individualista,não é bem assim, no meu entender. Tantoos trabalhadores do campo como da cidadesentem a necessidade de um trabalho deforma coletiva. Basta olhar o que está acontecendo nas periferias das grandes ci-dades, onde o está se reunindo paraum trabalho Também no campo,
todos os dias que aS famílias da regiãoonde trabalho, Pedro Canário e Conceiçãoda Barra, est;lo se orgamzando para fazerum trabalho comunltário. Estão descobrindo que é o ÚnICO earl11nho para resistiremn;l tcrr.:l,
Emil Eu tive oportunidade de co-nhecer algurnas experiências de colonizaçãono norte do pa ís, em Rondônia e também
V'lo decIdir por unidades ln- de individual seria a melhor forma de exploração da terra.
Ricardo -- Eu gostaria de faz.er umaobservação. O Presidente da Federação daAgricultura, Dr. Pedro Burnier, tem maiorcontatos com proprietários e parceiros, Nóstivemos contatos com parceiros, trabalhadores sem terra, em Santa Tereza. Eles nãoaceitam de forma alguma a exploração dapropriedade sob forma associativa, Está nacabeça desses parceiros e proprietários oseguinte: queremos a nossa propriedade.
Burnier - Pois é, Ricardo, Ele sempreteve o seu talhão de terra separado, diferente do talhão dos outros, Caprichou mais nodele,
Ricardo _. A experiência dele semprefoi do trabalho individualizado, Entretan·to, você não tem tido muito contato comesses grupos de trabalhadores organizadosonde trabalhadores bóias frias que vivemem favelas, nos municípios do norte do Espírito Santo sobretudo, talvez pela necessi·dade de sobrevivência, devido às condiçõesde vida extremente difícil, seja mesmo parareOetir com relação às condições de desemprego ou de se encontrar uma saída paraurna situação muitas vezes até de fome, issotem levado a que se organizem em grupos,E, nesse processo de organizaç;lo, as propostas que vêm são propostas de gue essaorgan ízação seja levada também para ocampo da produção, Então, eu respeitomuito a sua experiência como presidentede federaç;lo e que você está enfatizandomuito esse ponto, levando em conta oscontatos mais freguentes que você têmcom proprietários e parceiros, Mas é importante considerar também que esses grupO.lque estão sendo atingidos S;lO pessoas quese encontram em situação muito mais difícil dentro da agricultura capixaba. Sãotrabalhadores bói~s frias, sendo uma grandeparte desempregados ou subempregado$, Aforma associativa vem sendo imposta poreles mesmos.
A Reforma Agrária, bem como umanova política agrícola poderão contribuirpara a desinflação?
Emil - Eu acho que urna nova políticaagrícola deverá, a partir da realidade do
nosso homem do campo, da realidade brasileira, beneficiar principalmente q pequeno e o médio produtor, desenvolvendo assim urna agricultura alternativa a quetemos aí. Eu quero citar principalmenteuso de adubos químicos, agrotóxicosaquela tecnologia sofisticada que estádo usada aí, muitas vezes desconhecendorealidade do nosso homem do campo, especialmente do pequeno e do médiotor. Então, na medida em que essa novalítica agrícola desenvolver umaadaptada ao nosso homem do campo e
no Pará. Ali sim o trabalhador da terra sofreu um processo de camisa de força, quetdizer, foi jogado nessas novas áreas, muitasvezes arrancado de sua região, totalmentedesconhecidas E o que a gente teve oportunidade de con hecer lá é que havia um interesse muito grande de se organizar, Tantoassim que muitos j;; estão se organizando.Então, eu acho que esse plano de reformaagrária só dará certo se houver uma efetivaparticipação dos interessados. E, se houveressa participação, eles v:lo ter a oportunidade de decidir sobre que forma de assenta-
mento querem, que formas de propriedade querem,
Bumier Se você vaI comprar uma co-letadeira, se você vai construir um galpãopara arnliJ.Zendgc rn, se você vai canlinharpara qualquer cois;\ de uso coletivo, é muito mais fácil aeciIar a idéia da propriedadecoletiva, Agora. o que cu coloco é que elesnão abrin:lm mão dac]uelc direito ;\ terra,daquela idéia de direito ,i terra. Esse é oaspecto que eu coloco quando levantei oproblema,
Roger O individualismo est<Í na ca·beça de todos nós mas a gente verifica noescada que, a partir do momento em g ue ostrabalhadores começam a discutir a quest;locom maior seriedade, eles normalmentetêm optado pela forma coletiva. Eles têmoptado por várias formas de organizar otrabalho. Tem rorma de trabalho totalmen·te conjunto, têm formas mistas, etc. masem nenhum dos assentanlentos eles optaram por dividir a terra.
Burnier Tenho certeza de (lue, sevocê flzer urna enquete entre os técnicosque comandam e orientam esse processo,nenhum deles vai achar que a propriedade
10
a expectativa do In·~ Essa
trabalhadoresdivlduais,
Bumierera?
HEMEROTECA
garantir a sobrevivência dos pequenos produtores. Isso para nós, sobretudo quandose fala do Espírito Santo, é fundamental,levando em conta, em muitas regiões nossas, o problema de como se ter uma política agrícola que garanta a sobrevivência dopequeno produtor. em especial. as regiõesde hortigrangeiros, regiões de café, regiõesde banana, alguns bolsões do norte, ele produção de alimión tos, de mandioca etc.
É preciso gerar e difundir r.ecnologiabem como financiar e organizar a prodtç5:0de tal forma a sustenrar a pequena produ-ção. Ontem mesmo nós vimos o nde de-safio que existe no norte do com re-lação ao problema de de solo cágua para o pequeno produr.or. onde nósnão temos par'a isso.. ESLI
existe para atender ao grandemo por exemplo a irrigaç;lo por aspcrsüo.Se continuarnl0S a não investÍnTlos I1Unl
novo padráo tecnológico para o pequenoprodutor, sobretudo no norte, ele n30 produzirá feijão, n,To produzirá milho.
Emil .:;- O Df. Pedro disse que umagrande parte das terras que não estão emuso hoje são terras pouco produtivas ounão produtivas. Eu acho que nilo corresponde exatamente à realidade do país.
Burnier .... Eu digo o seguinte. Emil:quanto às terras próximas. aos núcleos urbanos que não est30 sendo aproveitadas e sãopassíveis de desapropriação, a expectativa éde que essas terras apresentem um poten·cial de produção abaixo da média. Senàoo pessoal estaria plantando.
Ricardo - Eu concordo com o Pedronaquilo que diz respeito ;1S terras dosgrandes centros. As terras aOs
irrigação, correndo o risco de não ter também orientação e nem assisrência. A terraonde vai ser assentando o pequeno e miniprodutor não vai ser a melhor terra e elenão vai estar com a tecnologia desenvolvidapara ter uma alta produtividade, e ele vaitcr que ganhar alguma coisa. Não vai trabalhar com o escravo para produzir bara toe a periferia da cidade' se alimentar.
Ricardo Eu acho que esse depoimen-to seu, Pedro, é fundamental, na medidaem que ele parte do Presidente da Federação da Agricultura. Você faz uma análisesobre o papel tecnológico da agriculturabrasileira que caminhou no sentido de desenvolver tecnologia avançada para escalade produção maior da agricultura e é adaptada muito mais a médios, grandes proprietários e empresas rurais. E se a gente forobservar o que aconteceu nesses 20 anosatrás, realmente, tudo se caminhou nessesentido. O papel da tecnologia gerada pelasnossas entidades de pesquisa, a própria assistência técnica, se adaptou a tal política.Isso ajudou também a puxar o crédito rurale os mecanismos de .incentivos. Tudo contribui para a concentração da propriedade,da estru tura fundiária.
Realmente, quando a gente fala em reforma agrária, o que se procura, além de seabsorver contigentes enormes de trabalhadores rurais sem terra, é tentar corrigir distorções nessa estrutura fundiária brasileira,a segunda mais concentrada do mundo. Éfundamental que a política agrícola,- e aíestou falando em todos os seus mecanismos, a pesquisa tecnológica, e assistência
técnica, a política de preços mínimos, oapoio às associações e cooperativas na comercialização -, se adapte no sentido de
(Rirnrdo)
"Os assentaI/lentos naonasceranl de uma inÍriatÍ7x7
espontânea do /0
lI/as foi l/rna resposta nosm07. 1inlelltos de
trahalllcldores olgalzizados.50brc'tllâo os !Jóias frias
e.x iste 11 tes li o iI o rte cIoestado.
nós vamos ter também courna desinflação de cus-
Roger .- Exatamente. Mas isso não éque foi gasto, não. É um orçamento.
Burnier -- Com relação à terra, vocêpartiu de que área por família assentada?
Roger 6 a 8 hectares por família.Burnier - Com relação ao problema
do barateamento do custo unitário a serproduzido nos itens dos programas assentados, a gente tem sempre que partir da idéiade que as terras que não estão sendo aproveitadas não vão apresentar uma fertilidademuito grande, Alguma razão sempre houvepara as terras estarem ociosas. São terrasonde se vai gastar mais dinheiro por unidade do que as que estão em uso. O bom senSo caminha nessa linha.
Outro aspecto importante também é oseguinte t a tecnologia não está desenvolvidaparaas~equenas unidades. Entilo, elas vãoter taqlBétnunl~difículdadegrande de terrendimentos compatíveis. Veja o problemade irrigação no norte do estado. E um problema típico. Hoje não existe tecnologiacolocada no norte .ra.;a. produzir. ~e~ão. Aopasso que o propnetano maiOr Ja faz uma
Eu só gostaria de complefitar. Está se incorporando milhões dettares de terras improdutivas no processop'todução. Teremos, então, urna expanna produção de alimentos, de matériasas de origem agrícola para a indústria
mbém de produtos exportáveis, o quemente fará com que haja uma reduçãoreços peja expansão de oferta de pre
es produtos agrícolas.r~ - É interessante o que o Emil
, principalmente se formos analisar oO consolidado no Brasil a partir dopassado quando o governo motivou
antação de indústrias e introduziu noum sistema de trabalho completa
e desconhecido por nossos trabalharurais, como o tipo de máquinas, de
c, de tecnologia ...
Burnier - Urna preocupação nossastante é com os números colocados no
fçBlm'õnto do 1 Plano Nacional de ReformaEu pergun ta ria se tem algum nú
Ja em termos de quantia gasta por faassentada até hoje nos assentamentos
pf(lmovid()s pela Secretaria.Roger - Nos projetos de assentamen
o preço da terra foi comprado a preçobaixo. Daqui para frente há umade 15 milhões de cruzeiros por fa
correspondente à terra. A implanta-ção projeto todo, inclusive a segunda fa-
que o Ricardo disse que será financiada,a 30 milhões o total por família.
lncIuindo a terras e outros
II
nos proprietários beneficiários da ReformaAgrária em suas terras?
Emil - Eu gostaria primeiro de citaralgumas causas da migração do pequenoproprietário. Como primeira causa, eua falta de condições para produzir, para sobreviver, com sua família, na sua própriaterra. Em segundo lugar, a precariedade dascondições de vida no campo, por exemplo,no que diz respeito a estradas, escolas, saúde, eletrificação rural e outros. Em terceiro lugar, a expulsão pela força, por parte degrileiros. Em quarto lugar, a informaçãodistorcida da vida na cidade, da vida em geral fora do campo, levada através dos meiosde comunicação e da própria escola.
Para diminuir o risco de perda da terrada parte daqueles que agora vão receber suagleba, através da aplicação do plano de reforma agrária, é necessário que os produtores se organizem para defenderem os seuspróprios in teresses.
Por outro lado, é preciso mudar a política agrícola, a fim de que o proprietáriopossa produzir e garantir o seu sustento edesenvolvimento; que haja urna reorientação geral da política do governo no sentidode melhorar as condições de vida no campo; que haja uma legislação que iniba a posse da terra para fins especulativos.
Derli - Segundo dados oficiais, 105milhões de hectares de terra estão em mãosde multinacionais. E as melhores terras estão ocupadas com produtos não destinadosao povo brasileiro. O povo está querendomesmo é alimentação, como o milho, o feijão, a batata, ma.ndioca ... são produtos necessários à população. Então fica um[10. Como efetivar a reforma agrária,bendo que as melhores terras estão sendoutilizadas com produtos de exportação? Nonorte do Espírito Santo, planta-se eucalipto nas terras mais férteis. A cana, em SãoPaulo, está nas melhores terras do Estado.A soja, nas melhores terras do Rio Grandedo Sul.
Emil Reforço o que Derli acabadizer e afirmo que esse plano deagrária é naturalmente um plano limitado,não atende aquilo que amplos setoressociedade civil esperam. Ele define,exemplo, que empresa rural não vai sersapropriada, terras produtivas não irãodesapropriadas ainda que tenham milharde hectares. É muito alto o limite que ffixado para a desapropriação.
Derli Há maior concentração de teras com aqueles que têm o dinheiromão, que compraram mais terras. Exísáreas enormes concentradas nas mãospequenos grupos, que, apesar de produmuito, essa produção não fica no BrasUm caso típico: a carne. O Brasilcarne e de repente compra carne.
UIIi!
rlctáriuUCII()!
"0 pequeno proprietáriomigra porque não feliZ
cOlzdiçóes para prodllzir,para sobn-"l'iver, COIII sim
mília, na SIU? própriaferra. EI! oa
ia 11 t lCl S IIstem'o e(101(11Jllcnto
Um dos fatores seria o problema da terra.Outro fator seria a falta de uma tecnologiaapropriada para o pequeno produtor. Esseprodutor tem que ter renda, inclusive parapoder pagar a conta dele junto à Secretariade Agricultura no caso dos assentamentosiniciados que você falou. Nós não podemospartir da miséria no campo, do custo pequeno no campo, para resolver o problemada cidade.
Ricardo - Considero de extrema relevância a questão do preço da terra. A reforma agrária, com certeza, vai trazer uma redução no preço da terra, na medida em queela vai coibir, que ela vai penalizar, quemusa terra para especulação. Isso vai benefIciar inclusive o grande empresário agrícolaque hoje é obrigado a dispender uma grande soma de recursos na aquisição da terrapara implantar o seu projeto agrícola, porque existe muita terra retida para especulação. A desapropriação possibilitará a oferta de terras que antes não estavam disponíveis. E a taxação progressiva, que é uminstrumento complementar da reformaagrária, vai também penalizar quem está segurando terra sem produzir, o que resultará na redução do preço da terra. E a redução do preço da terra vai ajudar a reduzircustos da implantação da reforma agrária eo custo de produção da agricultura de modo geraL Evidentemente que a geração detecnologia adaptada vai também ajudarmuito na redução desse custo. A políticade pesquisa da Embrapa no Ministério daAgricultura da Nova República está muitopreocupada com isso e está havendo umareversão nesse sentido.
O que fazer para consolidar os peque-
grandes centros, na G. V., por exemplo, sãode excelente qualidade para a produção.Entretanto, o Estado não está intervindopara evitar a especulação imobiliária. Demodo que a própria expectativa de crescimento de valor faz com que o proprietárionao precisa produzir.
Bumier Um dos mitos da reformaachar a unidade de produção
ser barata. não concordo com isso.Roger - Quanto à questão de que as
terras ociosas sáo de pior qualidade, o Pedro colocou bem, se situam abaixo da média de produtividade. isso, de modo geral, éde se esperar. Mas. também, a gente deveafirmar gue, no caso do Espírito Santo, pelo pouco que se conhece, existem ex cessões.Existe uma va,tidáo de terras ainda ociosasque são de ótima qualidade. Este fato deque as terras ociosas não são as melhores,não invalida o processo.
Bumier Só digo que encarece o pro-duto.
Roger - Tudo bem. Pode ser um dosfatores que contribuem para isso. Mas, poroutro lado, outras medidas podem ser acionadas no sentido de 'superar esta questão.No inicio, deve-se partir daquelas áreas que
melhores condições. E o desenvolvimen to de todo o processo, que, evidentemente, vai incorporar outras questões
termos de tecnologia, já abordadas anteriormente, v;ii possibilitar o uso dessasterras que hoje.se apresentam em condiçõesin feriores.
Bumier Eu estou querendo alertarpara o seguin te: dizer que o produto agrícola gerado pela reforma agrária será umproduto de custo mais baixo é um engano.
12
surdo. Então, essas áreas estão produzindosem, entretanto, trazer benef{cios para opovo. Porque a produção está ficando concentrada, o lucro está ficando concentrado.
Um problema sério que vejo aí é quan
do se fala na tecnologia adaptada às regiões. A gente tem condições de desenvolver urna tecnologia muito barata aqui noEspírito Santo. Eu, que sou da região deSão Gabriel da Palha, vejo muita água quenão está sendo utilizada para agriculturadaquela região. É só fazer um estudo prático para descobrir que há meios, há condições de se desenvolver uma tecnologia bemsimples, adaptada à situação dos trabalhadores do norte do estado, principalmente.
Burnier - Achamos, como já foi colocado neste debate, que não basta distribuirterras. Há necessidade de uma política agrícola. Até mesmo concordamos que ela privilegie, nessa etapa inicial, de.. poucos recursos e de iniciativa em termos de reformaagrária, os pequenos proprietários. Nesteponto, eu invoco o Espírito Santo comourna terra não só abençoada mas também
Hoje em dia, quem chegar no Es-Santo e disser que não tem crédito
para o pequeno proprietário fazer complementação de várzea e fazer pró-várzea, agente tem que colocar esse camarada numaposição de muita cautela porque todos osprogramas de crédito de pró-várzea no Espírito Santo são dirigidos a pequenos proprietários (propriedades abaixo de 50 hectaresj. Existe um esforço enorme de todosnós neSse sentido. A Federação da Agricultura foi uma que batalhou para que essecrédito de pró-várzea viesse para o estado.Então, nós nos colocamos também no processo como participantes de uma parte domérito disso, na política de desenvolvimento de ações no sentido de amparar e privilegiar o pequeno e mini proprietário.
Infelizmente, não há recursos para todos. O certo seria o recurso que canalizassea atenção e a propriedade para o setor agrícola como um todo. Nós até aceitamos que
uma preferência especial pelo mini epequeno, defendemos isso, trabalha
mos nessa linha. Mas é preciso também queos médios e grandes proprietários sejamapoiados nessa política, principalmente noaspecto de garantia de preço mínimo. Omilho, o feijão ou a mandioca produzidospelo médio, pelo pequeno e pelo grande devem ter, como de fato têm, a proteção uniforme do Estado.
Achamos que a ferramenta do subsídio, por mais que ela possa parecer umaferramenta privilegiadora, como de fato é,deve ser encarada como também um apoioe uma ferramenta a ser utilizada em determinados processos para se ganhar no processo. Sempre foi essa a justificativa empre-
gada e deve continuar sendo empregada.Tenho certeza de que o secretário não abriria mão desse privilégio nosso de 35% aoano para os juros agrícolas no estado. E eleé muito mais justificado quando se emprega para um programa de investimento depequenas propriedades e de Pró-várzea.
Derli Se nós olharmos as estatísticas,os empréstimos foram destinados aos grandes proprietários, nem aos médios, aosgrandes. E também favoráveis à cultura deexportação, caso da cana em São Paulo e asoja no sul. Mais de 50% dos empréstimosdo crédito agrícola foram feitos a esse pessoaL Não houve uma preocupação de emprestar dinheiro aos pequenos. E muito menos aos posseiros. Hoje, no Brasil, há maisde 650 mil posseiros. E eles não têm direito de fazer empréstimos bancários por nãopossuírem documentação das terras. Anosatrás, aconteceu 9ue os empréstimos feitosa pequenos e medios proprietários forambastante direcionados para a zona cafeeira.Em consequência, houve uma queda sensível na produção do milho e do feijão.Não se incentivou plantio desses produtos.
Bumier Mas pensa bem no jeito queo nosso povo no norte do estado, o miniproprietário, planta feijão. Se esse pessoaltivesse se entupido de crédito para plantarfeijão, com o risco que tem aí no norte, seria um desastre. Quanto à mandioca, tudobem. A mandioca é uma cultura muitomais segura. Houve realmente um ptejuízoenorme do pequeno e do mini proprietáriopor não ser apoiado em crédito para mandioca. Estamos sendo estrangulados por umpreço da mandioca há mais de 10 meses.Só para ilustrar, há um ano atrás, eu vendi
"Há áreas enorrnesconcentradas produzindo
rmúto IriaS senl trazerbeneficios para () povo.
Urn caso tipico: a carne. OBrasil exporta came e derepente cOr/1t-Jra carne. É
W11 absurdo ".
(Derlí)
13
mandioca a Cr $ 120 e hoje vendo a Cr $100. E muitos dos companheiros nossos estão vendendo a Cr li 80. Quanto ao feijão,eu discordo de você. Acho qu,e o crédito,como coisa escassa nesse país, deve ser privilégio da agricultura e, den tro da agricultura, deve-se, cada vez mais, privilegiaraqueles que têm mais necessidade. Num estado onde 87% dos proprietários têm abaixo de 100 hectares, você tem que dar pesoa isso. Essa tem sido, pelo menos nos 3 últi·mos anos, cu garan to, a filosofia da nossafederação.
Derli - A monucultura do café é in-justificáveL Se amanhã, ou o cafévier cair de preço, nós estamos arrasados.
Burnier -- Você tern toda razão neSSeaspecto da monocultura do café. Mas nãofoi só o crédito responsável por isso, não.O pessoal caminha para o café porque érealmente a cultura malS segura, a culturamais ren tável, a cultura onde ele tem umconhecimcn to maior.
O processo de Reforma Agrária hojecorre algum risco de provocar um novo golpe militar?
Derli - É bom que fiq ue daro paranós que o golpe de 64 não foi só em decorrência da questão agrária. Quem estava portrás desse golpe era o imperialismo americano, com interesse de controlar o Brasil,com interesse de fazer crescer aqui as multinacionais, de implantar as indústrias deles. E Llm dos problemas foi o de não permitir o crescirnen to da agricultura. Com isso, incentivou-se a migraçiío para a cidadepara servir de mão-de-obra barata nas gr;tndes empresas. A reforma agrária, (lue estavana boca dos trabalhadores do carnpo, f01
mos conhecimento. Há outros aspectos, outros segmentos da sociedade para os quaispoderia ser dado mais apoio, como é o casoda educação, por exemplo, que foi semprerelegada a segundo plano. Não adianta falar aos trabalhadores sobre reforma agráriase não mudar o sistema educacional nocampo. Aquilo gue nossos fllhos estão estudando, estão aprendendo, é o modeloeducacional implantado nos grandes centros urbanos.
Burnier - Eu acho que nós todos, tanto o lado dos produtores quanto o lado dostrabalhadores rurais, temos que nos unirem torno da agricultura. Nós temos que baralhar pelo nosso setor. Evidentemente, nósternos que batalhar pela nação toda, masnós não devemos perder a visão do campo,a visão agrícola nossa e enfatizar bem queesse processo de êxodo rural, esse processode saída do campo é uma conjunção sociológica de vários aspectos como a falta deoportunidade de trabalho, a falta de escola equipada, a falta de saúde, a falta de umaporção de coisas. E, por outro lado, privilegia a cidade em diversos aspectos.
A reforma agrária, por si só, não vaiconseguir ser aquele grande instrumentopara estancar o êxodo rural po;que não ésó o problema da falta de terra, E uma sériede outras colocações, de outras coisas queexistem e são muito colocadas na cabeçado jovem, Você vai no campo hoje e o quevê? Quem está flcando para trás? São os velhos e as crianças que ainda não podemsair. O pessoal de meia idade e a juventudeestá toda saindo do cam po. E não é só aguino Espi'rito Santo, é no país de uma maneira geraL
14
(Der/i)
"O pOVO queré batata,feijão, rnilho ... Hoje, no
Brasil, há mais de650 fnilposseiros. Eeles flão têlTI
direito de fazerernpréstilTlOS bancários por
não possuirerndocllinentação das terras".
ses setores e conseguir, através dessas ligações, fazer com que a reforma agrária caminhe objetivamente, concretamente, semmuitas delongas e sem muitas amarraçõesno passado. Não é esquecer o passado, não,mas é tentar concretamente caminhar.
Derli O Estatuto da Terra foi elabo-rado a partir de algo muito teórico e não separtiu de uma reaLdade concreta. O povonão foi escutado.
Enúl .- Eu acho que atribuir esse Estatuto da Terra unicamente à visão aberta edemocrática dos militares seria desconheceros interesses, principalmente dos EUA edos países europeus e do Japão, em transformar o Brasil num produtor de alimentospara abastecer os mercados dos grandespaíses consumidores.
Ricardo - Não apenas isso. Mas a revolução de 64 fez uma opção fortementecapitalista para o país. E entendia-se, desdeaquela época, que a estrutura agrária doBrasil estava há um século de atraso em relação ao capitalismo brasileiro. E esses problemas se agravaram durante vinte anos. Adecisão de se elaborar o Estatuto da Terrafoi dentro dessa visão rnodernizadora da revolução de 64 com relação ao capitalismobrasileiro. Portanto, o Estatuto da Terranão é nenhum documento revolucionáriodo ponto de vista das classes populares,não. Foi um mecanismo que visou adaptara estrutura fundiária do país às necessidades do capitalismo brasileiro.
Derli - O capitalismo modernizou várias coisas. De repente entrou no Brasil técnicas de produção, entraram aqui meios decomunicação que até então nós não tínha-
destru{da pelo golpe de 64. De repente,ninguém mais podia falar em reforma agrária. Se falasse, era punido, era preso... Foium assunto que saiu inclusive do dia a diado trabalhador rural.
Eu 'acredito que a reação que aconteceu ern 64 nãq aconteça hoje. O nível deconsciência da população e de organizaçãodo povo cresceu. Apesar das ameaças feitas pelo Euclides de Figueiredo, não acredito que há pretenção do próprio exércitoem tentar bhquear esse processo democrático que está surgindo, de participação dopovo nas discussões. Hoje, o Brasil está praticamente desligado dos EUA no campoatômico, por exemplo. No campo militar,o Brasil não tem pratican:ente relações diretas com os EUA. Um golpe hoje no Brasd iria trazer grandes prejuízos não só paraa nação mas também para outros países.Um no Brasil não viria ao encontro
que os próprios americanos estãoou seja, que não é bom 'que haja
malS governos militares. Eles estão dizendoisso. Querern governo civil.
Bumier Acho houve uma evo-muito grande consciência nacío-
e do povo corno um todo. As massasurbanas evoluíram e acho também que nósno campo evoluímos mUito. O proprietáno, o dono de terras produtivas, aquele quevive da a;;;ricultura, evoluiu muito nessesanos. Ele e hoje uma pessoa inteiramente li-
aos problemas maiores do país, o queem 64 não existia. A influência da televi-
do telefone (DDD), dos jornais ... issocna uma consciência de progresso e de liga
com os problemas maiores da nação.que um processo militar fossehoje ao programa de reforma
é ver assombração.Derli Exato. 1sso n;10 entra mais na
do povo. A gente percebe com clareza que os militares sempre estiveram aolado dos grandes empresários e com aqueleslíderes que não estavam a flm de ver umprocesso democrático no país e o povo perce be isso.
Burnier - Eu nã.o vou aqui defender ar,o',ol'1\,;] (] de 64, mas também não posso,pura e simplesmente, encampar a tese doIm perialismo americano, do militarismo corno os grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento agrícola e à implantavão da reforma agrária. Não posso aceitar a tese dacoligação espúria do imperialismo america no e militarismo com o em pregador rural, com o produtor rural. Nisso, eu discordo de você. O Estatuto da Terra, por exemplo, com todas as deflciências que ele possater,. foi um programa ditado pelo governoda revolução de 64.
Temos que ver a posição de cada setorpon tes democráticas para ligar es-
,
POLITICAS
Efeitos da indexação da economiana remuneração do capital e do trabalho
Roberto da Cunha Penedo *
sua
de nossalnteressante
dementa do
i\1011ct~iria" nc)\li ,ISlL duas conota\:ões. Ara, diretarrlcnte va.riaçôcs va··lotes das do Toou·10 Ndcional. maisabrangente, corno correçao aUlonl~lticJ dedeterminados valores com bases em indr·ces que "renetem" urna posição inflacioná-,i;;. Como e sem prc houve, umaflllslura de causa e efelto entre
*Professor Adjunto do departamento de Econorn;:l da Ufes e Técnico do lJSN.
ta caracterÍstica de nítida multindexação.Parece-nos certo afirmar que muito
pior que uma economia indexada é umaeconomia plurindexada principalmente CI11decorrên eia das D [COTOM! AS naSCidas apartir dos reajustes oriundos destas múltiplas indexaçôes. Poderíamos Citai, commaior ou menor grau de utilização, os seguintes índices empregados corno fator decorreção de valores ter'lpOrals: ORTNUPC, IGP, INPC, IPC, IPA, MVR, ICC, Salário Mínimo, Desvaloriz.ação Cambial c
ou tros.História -- Para um melhor entendi·
Um mais polêmicos t'emas relacio-ludos com o atual esdgio de nossa conjuIUI" rea e certamente o grau de
da economia brasileira, Estec1Jscuildo assunto ganha maior dimensãolU Incd,da em que a economia passa por
çllo de seu processo inf1acio-Dentro deste escopo de análise o
sem~Jrc o instrurnento daTllü nct~í.ri;;l..
Njo hir dÚVIda e nem se discute o fato[Jue econOlTna braslleira possui um dos
maiores e mais cornplexos sIstemas de indeXdÇ:iO do mundo livre. Pode-se mesmo afirmar que atualmente nO Brasil quase tudo érndexado; aluguéis, prestações de casa própria. tanfas de serviços públicos, salários,imposto de renda retido na fonte, prestaçôes de serviços prQfissionais, equipamen-
Importados e nacIOnais, custas judiciais,entre muitos outros. Mais recentemente já
tem nolÍcla5 de algumas lojas de roupasmCSlTIO de cnadores de animais de raça
que estabeleceram o preço de seus produ-cm ORTN evitando assirn o desgaste
remarcaçôes.De mancHa geral, ex lstem três
a respeito do teprimeiros defendemda economia como
para acabar comn;lo se im portando com seus
reflexos no restante do sistemaeconômIco. Para os segundos, o prode indexação generaliz.ada é altamen-
henéfico na medida em que cria mecanismos imunológicos para os males inflaCionários. N;, opinião deste grupo, a extinção da correç:io/indexação seria como ataC<ir os sin tomas e deixar livre a doença.Uma terceira corrente de pensamento d_efende o esta belecllnen to de uma poslçaointermediária em qu e o processo de desindexação passaria gradualmen te por mudanças nas formulações de cálculo da correçãolnonetária.
Todavia o problema INDEXAÇÃO noBrasil é bem mais complexo ainda, adquirindo mesmo dimensôes EXÓGENAS, namedida em que a nossa economia apresen-
15
gadas ao cálculo de correção monetária foram tomadas. A primeira diz respeito aolndice de Construção Civil. No Brasil, ainflação é medida através do lndice Geralde Preços - Disponibilidade interna-calculado pela Fundação Getúlio Vargas através de uma média ponderada de três índices: o índic;e de Preços por Atacado (compeso 6), o lndice de Preços ao consumidor- Cidade do Rio de ] aneiro (com peso 3)e o Indice de Construção Civil - R] (compeso 1).
A recente alteração no cálculo do JCC,que julgamos ser tecnicamente justificável.diz respeito à expans.lo da área de abrangência de seu cálculo, saindo do campo res,trito do Estado do Rio de] aneiro para umÍndice Nacional de Custo de ConustruçãoCivil. Além deste novo lndice representarmais realisticamente as variações ocorridasno mercado de Construção Civil, esta alteração também reduziu as grandes pressõesexercidas pelo antigo ICC, nos meses de fevereiro e agosto, época do dissídio coletivodos trabalhadores de construção civil noRio de Janeiro sobre o ICP. A análise dosdados históricos demonstra gue, apesar daredução ocorrida no ICP de Fev/85 emfunção desta mudança, num segundo momento, essa seria mais que compensada nosdemais meses até agosto do corren te exercício (época do novo dissídio coletivo noEstado do Rio de Janeiro para os empregados de Construção Civil), acreditando-semesmo que, a médio prazo, o IGP tenderiaa se elevar no novo cálculo maü que noprocesso de cálculo anterior.
A segunda alteração ocorreu na fórmula de cálculo no lndice de correção monecária. Conforme citado anteriormente, epor determinação do Conselho MonetárioNacional, o Banco Central fixará a Correção Monetária a partir de Maio com basena Média Geométrica da inflação dos últimos três meses. Consegue-s_e assim um processo de antecipação do 1ndice de Corre-
AnosIGP IPA IPC ICC INPC
1979 100,0 100,0 100,0 100,0 100,01980 200,2 209,2 182,8 196,9 178,71981 420,3 445,7 375,8 395,8 357,01982 821,4 864,7 744,0 784,2 702,81983 2.090,8 2.290,5 1.800,2 1.853,6 1.675,31984 6.703,5 7.624,4 5.341,8 5.081,0 4.912,3
Fonte: FGV
TABELA 1
NÚMERO ÍNDICE DOS COMPONENTES 00 IGP
INDlCES
a úmca responsável pela nossa inflação.No perÍodo de janeiro/81 a fevereiro/83,reconhecendo o erro de pré-fixação anualda C. M., as autoridades monetárias decidiram por um acompanhamento das taxas inflacionárias através de valores arbitados para as C. M. em período mais curtos, conse&uindo, por este processo estatísti~o quaselinear, manter a correção monetana bempróxima da inflação.
A partir de março de 1983, por forçade um acordo com o FMI, e através da resolução 802, o Banco Central determinouque a correção monetária seria igual à inflação no período março/junho 83 e que apartir de ju Iho/83 estes valores seriamiguais, porém em bases trimestrais. Esta última determinação acabou não prevalecendo em virtude de utilização intensiva daprática do chamado "Expurgo da inflaçãocorretiva". imposto pelo Governo para reduzir o impacto inflacionário causado peloscortes de subsídios e da maxidesvalorizaçãodo cruzeiro de Fev/83. A partir de 1984, aCorreção Monetária passou a ser fixada pelas autoridades Monetárias a taxas iguais àinOação (IGP-FGV) do mês precedente.Recentemente, com o advento da NovaRepública, retornou-se ao processo de cálculo da correção Monetária através de formulação matemática. Desta feita, a partirde maio/85, a C. M. será calculada atravésda média geométrica das taxas inflacionárias dos últimos três meses. Segundo o próprio comunicado do Banco Central, o conhecimento antecipado da Correção Monetária, eliminadas as atuais incertezas, possibilitaria uma melhora na condução dasoperaç6es de mercado aberto com menores oscilaç6es das taxas do "overnight".Além disso, essa medida contribuirá paraa colocação de papéis de prazos mais curtos, principalmente das "Letras do Tesouro Nacional" facilitando o processo de rolagem da dívida interna de curto prazo.
Recente - Durante o mês de março,duas medidas econômicas diretamente li-
as taxas de variaç6es das ORTNs e as chamadas taxas Inflacionárias, aumenta a necessidade de um melhor conhecimento dosprocessos de cálculos desses (ndiees.
O uso corrente do termo "CorreçãoMonetárIa" esd fTlalS ligado às variaç6esdas ORTNs, criada pela lei 4.357 de 1964,ficando, a desta data, institucionalizado O principio de "CORREÇÃO MONETARlA" e mir.imizada a ocorrêncIa de problenlas econôll'icos graves, tais como:
l Enorme carga fiscal inCldente sobreos lucros ilusÓriOS oriundos do processo inOacionário;
2 AniquilamentO de oferta de créditode longo prno;
3 - Estímulo ao mau pagador, principalmente dos contribuintes que ganhavamcom o "atraso" do pagamento em funçãoda depreciação da moeda;
4 - Desestímulo às aplicaç6es de longoprazo, mesmo no sistema produtívo, como
construção de imóv~is, porde finanCIamento, e
5 - O resultante processo de descapitadas em presas, função da ocorrência
t;\lS como:Subex ti dos cálculos de depre-
talS.
lucro nominal ficl ;ClO !Jus<10 e conscquente pagamento de Imposto de renda sobre esse lu
e,- DIstribuição de lucros nominais sob
a forma de dividendos ou participação acionúrld.
Desta maneira, a oficialIzação do processo de cOf'reção mone tária permitiu aguase eliminação destes e de outros problemas ao mesmo tempo em que viabilizou Oprocesso de formação de poupança de longo prazo estimulando o mercado de capi-
Desde sua cnação até. a data presende fixação de valores parapor 12 critérios distintos
Negar a incerteza gerada nosmercados em função desta fre
na ocorrên cia de alteraç6es de fórmuia de citÍculo das ORTNs sena corno ne-
óbvio. Desde sua criação até dezem-de 1979, as fórmulas matemáticas de
cíiculo (7 ao estavam baseadas, prin-na passada e em alguns
casos. também em previs6es, sempre oti-mIstas. da in futura.
A eliminaç'lo de fórmulas rnatem,írícasde cálculo para a da correção monetária teve ll1ício em janeiro de 1980guando as autoridades monetárias decidiram fixar um índice de correção para oano, de 50%. Registra-se que neste mesmoano mOaç;To atingiu 110%, donde se concluí também náo sel a indexação via C. M.
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da inflação. No de 1981/82,ao mecanismo menor espaçamentovariaç6es para o acompanhamento linear daintlação, a correção moneLírra(quase igual) da ll1 ncando poucoacima do íNPC.
No ano de 1983, com o saldoinflacionário decorrido na economid brdsi·leira, a C. M. fICOU aquém do lNPC e doíGP pela segunda vez, novamente graç:as àmanipulaç::to nos índices de C. M. que sofreram, neste ano, expurgo de inflação corretiva, resultante de coptes de subsídios ede maxidesvaJorização do cruzeiro de Fev/83. A partlr de 1984, com a regra de fixação da C. M, com base na inflação do mêsanterior, o INPC, conforme já ocorrrdo em1981 e em 1982, ficou aCluém da C. M.da in flacão. Aliàs, em todos os anos desdesua instituiçào de cálculo, o INPC vem semantendo abaixo dalGP-G Desta forma, c ,.", ,I,,,,,,,,
da rell] unCr(-lç~~lO
Correção Monetá-ria 1 - Reajuste Taxa de
Anos Anual (%) Inflação2 (%) Diferença(a) (b) . (a-b)
1965 63,00 55,40 7,60
1966 39,20 38,20 1,00
1967 23,23 25,00 -1,77
1968 25,00 25,50 0,50
1969 ] 8,5] 20,10 1.59
1970 19,60 19,30 0,30
1971 22,67 19,50 3,] 7
1972 15,30 ]5,70 0,40
1973 12,84 15,50 2,66
1974 33,31 34,50 ] .19
1975 24,21 29,40 -5, 19
1976 37,23 46,30 9,07
1977 30,09 38,80 M8,!
1978 36,24 40,80 ·4.56
1979 47,19 77,20 30,01
1980 50,78 110,20 -59,42
1981 95,57 95,20 0,37
1982 97,76 99,70 -1,94
1983 156,58 211 ,00 -54,42
1984 215,30 223,80 - 8,5
Fonte: CEF e FGV, Conjuntura Econômica
Os reajustes da Correção Monetária correspondeJTl às variações ocorridas anualmente com as ORTN's.
2 IPA para o perÍodo 65/69; IGP-DI para o período 70/84.
TABELA 2
BRASILCORREÇÃO MONETÁRIA VERSUS TAXA DE
INFLAÇÃO - 1965 A 1984
dos igual, mas, na maioria das vezes, superior à variação da üRTN maís os juros. Este processo é sustentado a nível de mercado pela pressão do desaquecímento da economia sobre o nível de emprego, gerandoum maior poder de barganha para os empregadores nas negociações entre parr6es eempregados quando se enfrenta o fantasmado desemprego. Do outro lado, a remuneração do capital, principalmente o financeiro,contínua a merecer taxas bastante elevadasde juros, graças à força do grande tomadormstitucional do mercado que é o Governonos seus vários níveis, particularmen te oFederal, no processo de cobertura financeira do déflcit pú blico,
A segunda grande diferença é histórica.A análise dos dados estatÍsticos, a pareir de1979, quando do início do cálculo dolNPC até o presente, demonstra bem o processo. No ano de 1980, quando da prefixação da C. M., li variação do íNPC ficou acima da variação das ORTN s, porém aquém
ção Monetária, Realmente, esta medidatenderá a "por fim" à histeria que sempreacontecia no mercado _financeiro para setentar "conhecer" o Indice de CorreçãoMonetária do mês, Tecnicamente, apostase que a antecipação da correção trará aomercado financeiro e à condução da política monetária pelo Governo, as seguintes vantagens:
Devolução ao "overnight" de suacaracterística, ou seja, de termôliquidez da economia;
Estatiza~;ão do mercado de ORTN,vi<:,b,lizancio ainda o lançamento de ORTNs
vencimento-de '1m ano, r~duzindo desforma a deságiO deste título;
Vl:ablJlz.aç:Io do lançamento de LTNsprazo mals curto, 35 a 42 dias, para ge
rll a monetária do dia a dia reduzindo assim a dimensão das aplicaç6es porum dia nO mercado aberto.
d) Ampliaç;io da base para lançamento de mais títulos de rendimento préfixado;e
e) Encerramento da timida atuação doBanco Central na formulação das taxas no"overnight".
Ainda neste campo, medidas complementares tornadas pelo CMN, corno a permissão aos Bancos para sacarem até 40% deseu compulsório para ajustar suas necessidades de liquidez no final de cada expe
teriam o efeito semelhante de urnamenor de injeção de recursos
do Banco Central no sistema fi-
Multiplicidade - Outro grande probleenvolvendo o processo de INDEXA
da economia brasileira está na suade multi-índices. Dentro deste
li malOr dicotomia está registradadiferença entre o índice de correção
trabalho e o índice de correção do ca
pital.A remuneração da mão-de-obra, a tí
tulo de salário, recebe, desde 1979, correção semestral (para quase todos os trabalhadores) com índices baseados nas variações do. !NPC, calculado pelo IBGE. OINPC é um índice de Preços ao Consumidor calculado através dos IPCs, de dez regiões metropolitanas do Brasil, ponderadopor suas respectivas populações.
A remuneração do fator capital é hoJe formada por duas componentes: a primeira, de recomposição de perda do poderda moeda, denominada de correção moneciria, sendo a segunda, os juros propnamente ditos.
Registra-se, desta forma, a primeiradiferença, Enquanto os salários são
corrigidos semestralmente por índicesiguais ou inferiores ao INPC, o capital recebe remuneração mensal, quando pós-fixa-
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trabalho continua mantida em patamaresbastante inferiores àqueles que compõem aremuneração do fator capital e, principalmente, bastante abaixo da inflaçã.o.
Inflação - O cálculo da inflação noBrasil é realizado p_ela Fundação GetúlioVargas através do 1ndice geral de Preços,Disponibilidade Interna, que é uma médiaponderada do IP A, IPC e ICC (conformejá demonstrada). Esta form ulação de cálculo [GP = 6 x IPA + 3 x IPC + 1 x ICC,
10merece de nossa parte profundos questio·nament:ls 9uanto à sua aplicação a níveldo Brasil, além de seus efeitos perversos naeconomia, conforme demonstramos.
Num primeiro momento, a FundaçãoGetúlio Vargas acaba de corrigir uma dasdistorções deste (ndice ao retirar da fórmula do ICC do R. J. e Introduzir o INCC doBrasil, dando assim uma maior abrangênci'lao fndice de Construção Civil.
É nosso parecer que processo, análogodeveria ocorrer J nível do IPC, tal qual éfeito corn o INPC da FIBGE calculado para10 regiões metropolitanas do pais.
A grande distorção porém diz respeitodO [PA (Indice de Preços ao Atacado). Estendicc "uma tendência" de alta e
11áo urna de preços jil diluída a nível demercado consumidor. Ao se registrar as aI·tas de preços no mercado atacadista, O IPAdefine' tcndéncia de preços para o merca-do Assim, este lndice é um indica-Ovo de futura, ou um "Leading in-dlcador". Portan [O, surpreende que este índice de tendênCl3 futura possua o maiO!peso na determindç'lo da inflação presente.Este atual processo de cálculo, crn verdade,evidencia a chamada antecipação inOacion,ina qu,:, aliada ao rígído esquema de INDEXAÇAO da economia, realimenta o processo inOacionário antes mesmo dele acontecer de fato na íntegra a nível de mercadoconsurnidor final. Exemplificaremos estaassertiva, através do processo de reajustesdos Com preço controlado peloGoverno. os cigarros sáo vendidos no atacado ao preço de tabela. Assim, uma vezconcccEdo um aumento de preços, automa·ticamente, este aumento afeta o IPA. Todavia. todos sabemos, pr'incipalmente os fu-mames, durante pelo menos um més
a de' novos preços, ainda éadquirir cigarros em bares e pon
tos de vcnda similares ao preço antigo. Neste mesmo que o cigarro"O nível do consumidor n50 tenha subido,
cigarro" já se fez sentir no IGPe!evaç50 do IPA. Estamos eví
denciando assim uma antecipação do processo in flacionário, correndo o risco deestarmos gerando uma espiral agregativade aumento de preços, função da expec-
tativa inflacionária realizada pela autorização do aumento do cigarro via elevação doIPA.
Outro problema sem explicação lógicaé a escolha dos pesos destes três índicesque compõem e determinam o IGP. Carece de qualquer fundamentação razoávelatribuir ao IPA (tendéncia de inflação futura) um peso duas vezes igual ao atribuído ao IPC, (que registra a ocorréncia devariações de preços a nível de consumidor).
Avaliações do quadro históríco dosíndices IGP, IPC e INPC de 1979 até opresente pe;mitem-nos afirmar que o lGPesteve bastante acima também do IPC-RIO,(seu componente de cálculo). Tabela (1).Em bora possam parecer desnecessários, testes estatísticos foram realizados e demonstraràm um coeficiente de correlação maiselevado entre as variações do IGP com asdo IPA que aqueles encontrados entre asvariações do IGP com os do lPe. Este fatoapenas reforça a posição de que o IGP assume características nítidas de um índice quesomatiza as forças de certo preço futuro
Surpreende que oIPA, umíndice de,Jendência futura,
possua o mawr peso nadeterminação da inflação
presente.
com as jà efetivamente realizadas no mer-cado. -
Observa-se também que a grande diferença acumulada entre a Correção Monetária e a taxa de Inflação, tem sua origemmaior em 3 anos: 1979, 1980 e 1983 (Tabela 2). A diferença de 1979 é explicadapela subestimativa dos IGPs de valores futuros, componentes de sua fórmula matemática de cálculo utilizado até o final de1979. O ano de 1980 apresentou tambémuma grande diferença só explicada pelapolítica governamental que prefixou a Correção Monetária para o ano em 50%, nívelbastante irreal. Finalmente, a diferença registrada em 1983 é devida à prática do "expurgo corretivo", decorrentes dos cortes desubsidios e de maxidesvalorização do cruzeiro registrados em 1983.
Proposição - A proposta de alteraçãodo cálculo do IGP aqui apresentada nãoobjetiva reduzir valores do IGP, conter pormeio de cálculos a inflação ou coisa similar. Esta proposta possui dois objetivos bàsicos. Prímeiro, reduzir drasticamente o impacto da in flação fu tura no cálculo da in-
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flação presente. Segundo, é muito impor-otante, emparelhar o cálculo da inflação aferida pelo IGP-Dl, ao cálculo do lNPC, eassim permitir uma menos desigual remuneração entre os fatores capital e trabalho.
Para atingir esses objetivos, o cálculodo novo IGP-DI (proposição) deveria obedecer à formulação matemática abaixo:
IGP = 7 x IPC + 2 x IPA + 1 x ICC10
A característica básica desta nova fórmula é dada pela mudança nos pesos, alterado de forma que o peso do IPC passe de30% para 70% e que o peso do IPA seja reduzido de 60% para 20% na compc>siçãodo novo IGP-DI, chamado de IGP*(lndiceGeral de Preços com novos pesos). _
Testes estatísticos e cálculos do Indice Geral de Preços com novos pesos, a partir de dados passados (1982-1984), mostram que, caso im plantado, teríamos umIGP*(que servirá de base para ORTN) bemmais próximo do IPC-R], e este histórica eestatisticamente vem se mantendo próximodo INPC, principalmente quando analisadoem períodos iguais ou superiores a 6 meses(tabelas 3 e 4),
Estas comprovações podem ser feitasatravés de observações dos valores das tabelas 3 e 4. A tabela 3 apresenta, na primeiraparte, as variações mensais do IGP e seuscomponentes, do INPC, da üRTN e dolGP*. Na segunda parte, foi construídauma série de Números (ndices desses indicadores tomando por base Dezembro de
1981 ~ 100. Devido ao fato de as mudan,ças mensais não demonstrarem de formanítida a tendência do relacionamento doIGP* e do IGP com o INPC, passa-se a ob·servar a tabela dos números índices. No final desta série de números índices, dezembro/84, verifica-se que o IGP atinge a 2011enquanto o INPC permanece em 1.675 e oIGP a 1.809. Desta forma, compreende-seque o lGP* aproxima-se mais do INPC quefaz o lGP (hoje u cilizado para a fixação dasüRTNs). Este emparelhamento foi conseguido pela mudança dos pesos do lGP-Dlfazendo assim que o lGP* reflita urna posição mais próxima do IPC-Rio (1.731) quedo lpa (2,190), este último, um "LEADlNG INDlCATOR" de preços futurosconforme já dito anteriormente.
A análise dos índices para variações de6 a 12 meses encontram-se na tabela 4. Osdados para julho de 1984 apresentam o se·guinte quadro: lGP '" 76,4%, INPC = 73,81%e IGP*='74,8% para variação semestral e lGP= 217,9%, INPC = 197,04% e IGP*"198,21% para variação dos últimos 12 meses. Verifica-se que o lGP~ em ambos oscasos, aproxima-se do INPC que faz o IGP.Ainda que esta assertiva não seja válida para todos os meses em estudo, ela o é, po-
rém, para a grande maioria deles, facultando-nos afirmar que o processo de cálculodo ICP com os novos pesos propostos 1'05
sibilíta urna maior aproximação deste lndice com o INPC e com a ORTN. Esta apro-
da variação do IGP com a variaçãodo com variação da ORTN ocorre porV1a de formulação matemática, pois hoje oICI' é a base de cálculo das ORTNs e assimuma ma.íor aproximação do INPC comICr' o aproximará também dasORTNs, conforme verificado em todo oano de 1984, quando a variação da ORTNfoi obtida com base em valores de mesesprecedentes do IGP. Esta colo'cação é maisforte estatisticamente para variações de 12meses, que para as variações de 6 meses,pois permite uma maior divulgação do diferencial entre as variações do IGP, do IGP'e da ORTN calculada pela fórmula atual.
ConclusãO. A simples modificação nafórmula de cálculo do ICP, conforme acima proposto, através da correção do índice de inflação alcança ambos os objerivos
eliminação da pressão altista dosobre os valores presentes e principal
mente aproximação através de raciocíniosem alquimias e com jogo aberto,
do ín(11Ce de correção do trabalho (INPC)o índlce de correção do capital (IGP)
como se estivéssemos fazendo uma correda correção monetána.Finairncnte, há o desejo de expressar o
firme posicionamento do autor de que ide·almente deveríamos manter a economiaINDEXADA, porém a um único índice queservisse de elemento de recomposIção paratodos os ativos e serviços da economia. Opanorama econômico com um único tndiceseria extremamente desejado, pois seriamassim eliminadas todas as distorções hojeexistentes em vários mercados, função doprocesso de plurindexação. Todavia, reconhecendo a impossibilidade técnica e principalmente polltica e uma simples eliminação de todos os índices menos um, pelomenos a curto prazo, é que apresento apresente proposta de alteração da fórmula
de cálculo do ICP-DI que, conforme acimademonstrado, não elimina, porém reduz emmuito as distorções econômicas e sociaisoriundas do uso corren te de vários índicesno processo de recomposição de valores
ativos e passivos econômicos e financeiros. Assim, o objetivo final desta novafórmula de cálculo é a eliminação das distorções acima citadas. O meio de conseguiré o emparelhamento tanto maior quantopossível do ICP com o INPC, uma vez quea correção monetária já vem sendo emparelhada ao ICP, e esta maior aproximação doIGP com o INPC pode ser obtida através denova fórmula de cálculo de IGP, conformeproposto e comprovado.
TABELA 3
iNDICES DIVERSOS E SUAS VARIAÇÕES MENSAIS
TABELA 4
VARIAÇÃO SEMESTRAL E 12 MESES DE fNDICES DIVERSOS
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Écompetência da Nova Repúblicaestabelecer prioridades educacionais
Yvon de Araújo Yung Tay •
dos agentes do colonialismo.Só depois, num segundo momento de
prioridades, dever-se-ão en fatizar ou trosimportantes componentes da educação-cultura: a auto-realização do aluno, a formação moral, vocacional, artística, etc- , .
Por isso, O Município, O Estado e oBrasil, como os demais países do TerceiroMundo, têm que repensar com profundidade e questionar o para quê educar, o comoeducar e o quando começar a mudar a alienação do rumo de nossa educação-cultura,
Necessitam prImeIro de esta beleceruma filosofia de conjunto, com urna vísàode conhecimentos globais do mundo, através do tempo, para que possamos começara fortalecer, material e intelectualmente, osTrabalhadores da Educação-Cultura,
Só assim, começaremos a criar comllções concretas que nos facilitarão a libertarmilhões de brasileiros que vivem até hoje
to da escola-comunidade em busca da verdadeira sobrevivência, questionando a nossa crônica dívida externa e interna e lutando pelo fortalecimento da independênciaeconômica e da soberania do Brasil; contestando e demonstrando como iniciar asuperaç;Ío das dificuldades do atraso cultural, sobretudo, do atraso econômico esocial, nascido dos males profundos que o"colonialismo" nos tem submetido até ho-
Primeiro, há (lue se contestar e tentarsuperar as dificuldades do atraso econômico e cultural, nascidas dos males profundosoriundos da espoliação do co]onialismo queaté hoje nos submete, Para isso é necessário mobilizar, inclusive, a escola-comunidade. para começar a combater, de verdade,a incompetência, a corrupção, os escândalos financeiros e a sanbrria desatada das ri'luezas do Brasil pela crôniea mãnipulação
Professor da PMV e d2 Rede Estadual
A educaCIonal bisLca, naatn"l da Pré-Libertaç50, devefortalecer, rnatcnal e intelectualmente, oTrabalhador dd Educaç'lo-Cultura; lutar pe-lo dos CClrgOS de chefia doGoverno, em por pesso<ls patrióticas,competentes e honestas, c, fInalmente, pro-
o rnáXllT10 de assisrência c ir}[er<lç~lo
Escolct-Comu ni,bdeO educar
" p"c scgurdn-
na sOCIedade em que Vlve. Onde, priorirariarnentc, aprendi!. d desenvolver d aJniz.J-de, c o dever parol comd e 05 "nlorcs" da P;ltri;l, a p;,títil
do lugdr onde Vive, brinca, estuda, tr"b,dha:cnfim, onde o cidadJo aprenda a partlciparcomo verdadeIro "gente e bcnefici,irío dobem comum.
Sen1 esse 111 inirno de Il)(Craç;lo c deoferta de trabalho, de ,diment,rç,io, de convl'vio saucLívc! corn seus farniliarcs e vizi-nhos, a o adolesccnte c O Jovemn;Ío podem amiz<lde clvrca. T,lo pou-co crIar responsdbilidadc cívica pa-
co[n sua consequclltc rnaturaç;1o, tr;lns~
forrn:l··la crn dever crvíco.Por lSSO, ru atndl re,dleLrdc brasileIra,
educar deverá ser,
O alunado pala 'jUC ele aprCllU.dtrabalho, aln1l C'll to, casa pró-ves[]menta decen te. tra nsporte, etc,
para não falarmos de outras Importantesn com D, por excm pio, asslstên
previdencl:rria, rnédrc;L farmacêutica,odontológIca, cultural. lúdica, etc.
Pelo ex posto, a estra tégia de prioridades da nossa educaç50-cultura tem que serplanejada por todos e com muita ref1ex;Ío,porque, neste !l1omerito histórico de prélibertação cultural do Brasil, a interdependência da socledade brasileIra é tipicamenteconf1itante, violenta c de oposiç50, Nin-
pode esquecer a Naçiio brasilei-ra, 'lue nasceu sob a do colonialisInOescravocrata e n;Ío completouamda um século de extrnç50 de sua escrava-
e flutua ao sabor dd doutrina capitalisdo "laisser faire e Lmser passer",
Por rsso, atual crise cíclica dessequem , n50 poderá haver
",rOl "Idel" rn;;.llOr do que o dirccionanlen-
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na escravidão cultural, que se mantêm nopauperismo crônico, na sua indigência edesconhecimen tos globais.
Diante dessa caótica situação, temosque priorizar, por exemplo, a solução doprofessor que, apesar de viver agachadoem desgastantes campanhas salariais, inclusive em posição vergonhosa e humilhante I
não conseguiu até hoje um salário digno.Ora, se o próprio professor não está
politizado e não está sabendo ainda orientar a si mesmo para a vida, como é que elepode preparar· o aluno para a sobrevivência,para que desenvolva sua auto-realização,sua formação moral e sua cidadania?
Que exemplo um professor, vilipendiado em seus valores materiais e in telectuais,pode dar à adolescência e à juventude?
Como o professor pode sobreviver eapresentar uma boa "performance" com salário de miséria e sem tempo para ler, pesquisar e fichar jornais, revistas e livros, paraplanejamentos de aula e avaliação, resumosde "aula-modular", síntese de reflexões,elaboração e correção de testes, interaçãocom alunos, com seus familiares, com osfuncionarias em geral?
Ou não vale nada o exemplo de altivezdo professor, como agente ativado r e dinamizador da liderança de sua escola comunidade? Será que o professor deve continuarcomo se fosse uma "maria-vai-com-as-outras", repetindo o que já vem manipuladopelas "chefias" da Educação-Cultura? Oudeve participar com independência e autenticidade em relação às diretrizes político-filosóficas da Educação-Cultura do povobrasileiro ?
Diante, então, dessa caótica situação,só nos resta enfrentar O dilema de continuar com o atual "status quo", ou nos preparar para começar a contestar e a mudara "Escola Moderna", que aí está a serviçodos privilégios das classes burguesas dominantes. Pois, como diz o Prof. Paulo Freire,"Seria ingênuo crer que as classes dominantes implantassem uma educação inteiramente contra elas".
Por isso, não é uma tarefa fácil contestar a "Escola Moderna", pois, desde a revolução e o triunfo da burguesia em 1789,temos sido formados e informados por ela.Como comprova a história, a institucionalização da universidade da Escola Modernafoi criada pela Revolução Francesa paracombater determinados valores que a nobreza decadente defendia. Mas, ao assumiro poder do mundo capitalista, a burguesiadominante, infelizmente, traiu sua promessas, e, até hoje, não permite que os ideaisda Revolução Francesa de 1789 sejam plenamente estendidos às massas proletáriasdo Terceiro Mundo.
Essa traição começou com as contradi-
POLiTICAS11 , I
ções dos discursos sobre as esperanças decriarmos uma sociedade mais justa e fraterna e das promessas não cumpridas pela burguesia, que induziram o povo ao "Terror",onde, em meio ao engalfinhamento de umaluta fratricida, sacrificaram-se os principaislíderes das diferentes correntes políticas daclasse média jacobina, dos "sans-culottes"(plebe urbana), dos girondinos burgueses,do grupo da "planície", dos senhores daterra e do campesinato.
Até o pequeno burguês Napoleão Bonaparte, que ascendeu ao poder às custasdas esperanças e do sangue de milhares deidealistas, quando se encontrou no auge daglória, traiu os ideais da Revolução Francesa.
Enquanto Napoleão fazia promessas delutar pelo nacionalismo, pela democracialiberal com igualdade entre os homens, pelo acesso à função pública para todos os cidadãos capazes, pela seleção apenas de "talento", nomeava-se imperador hereditário,instituía reis com poder hereditário e no-
ão é uma tarefa fácilcontestar a "Escola Moderna",
pois somos formados einformados por ela.
meava para os cargos e funções públicasmais importantes os seus familiares e a parentalha dos amigos de sua oligarquia nobiliárquica; mantinha a Europa sob o jugodo imperialismo francês; proporcionavaprivilégios no exterior à burguesia da França.
Além do mais, o próprio código Napoleônico foi inspirado no famigerado "Direito Romano", isto é, no "Direito" queera muito bom para as classes dos antigos ericos cidadãos romanos, mas uma desgraça para as multidões da plebe, do campesinato e dos povos periféricos, principalmente, para os que não eram considerados "romanos".
Fato é que esse famigerado "DireitoRomano", reativado pelo Código Civil Napoleônico, continua, até hoje, a protegeros poderosos da burguesia e a menosprezar a grande multidão de miseráveis doTerceiro Mundo.
Enquanto, no passado, essas vítimasdos previlegiados morriam nas galeras e na
21
'n!ME.RD1~EéÃ--8Ibn··...."-,,
servidão da terra, hoje, a "grande massacarcerária" - composta quase que exclusivamente de seres humanos pobres e injustiçados - é completamente desassistida, na grande maioria, desde a infância.E enquanto tudo isso ocorre, sob a inspiração do "Direito Romano", os poderosos da burguesia não fuzilam, não executam nem encarceram nenhum poderos.oresponsável pela violência generalizada, oupelas mordomias, pelas falcatruas generalizadas, pela má apliçação do dinheiro público, pelo descumprimento de promessaseleitorais, pelas comissões de inquérito inconsequentes, pela incompetência, pelascorrupções, pelos escândalos e "bacanais"financeiros do tipo, por exemplo, da Coroa-Brastel, Polonetas, Brascred, Capem i,Inamps, Sulbrasileiro, Brasilinvest, BancoCentral e milhares de tantos outros crimes insolúveis e escândalos "institucionalizados".
Como se vê, toda reflexão é pouca,porque, além da necessidade imediata deuma tomada de decisão para se contestara Escola Moderna, há que se estabeleceruma estratégia de luta para se defender daação coercitiva generalizada, pois o famigerado "Direito Romano" não respalda apenas a Escola, mas também a família, asigrejas em geral, os meios de comunicaçãode massas, enfim, todas as instâncias econômicas e jurídico-ideológicas da burgue-su.
No encaminhamento estratégico dessa luta da pré-libertação da educação-cultura de nosso povo sofrido, é muito maisprioritário repensar primeiro sobre os males dos agentes sociabilizadores. Isso porque, além de serem referendados pela cúpula do capitalismo, eles insistem em "legitimar" apenas a dominação burguesa,que, por sua vez tem gerado, através dotempo, as imensas concentrações de riquezas e capital nas mãos de meia dúzia e asgrandes desigualdades sociais entre o povobrasileiro. Mesmo porque alerta o ProLPaulo Freire: "Uma das tarefas que as classes dominantes propõem é que sua escolaoculte a realidade tal qual ela está se dando".
Por isso, é prioritário, agora, muitomais do que discutir sobre metodologiasdidático-pedagógicas propriamente ditas,questionar e concentrar todos os esforçosna reformulação da escola que nos tem sido imposta pelo "colonizador". Muito maisimportante do que discutir a reciclagem dametodologia da aprendizagem, como "disciplina mental", "behaviorismo" ou "gestaltismo", etc., é começar a lutar contra osagent,es causais da nossa alienação cultural.
E claro que não se pode minimizar osverdadeiros valores didático-pedagógicos do
Nova República não devenegar às crianças em idade escolaro acesso à educação
ensino-aprendizagem criados, por exemplo,por Freud, Jung, Rousseau, Pavlov, Pestalozzi, Montessori, Skinner, Dewey, Rogers,Piaget, Gagné, Bruner, Bloom, Mager, paranão falarmos em dezenas e centenas de outros expoentes educacionais.
Mas, fato é que pouco ou quase nadaadianta discutir, isoladamente, EducaçãoCultura nos países potencialmente ricos doTerceiro Mundo. Há que se questionar, antes ou pelo menos paralelamente, sua inserção prClfunda no contexto da situação-problema-oolução, que se origina na dominação econômica e se respalda no despotismoinstitucionalizado pejas classes dominadoras.
Então, se pretendemQs priorizar a Educaç,lo-Cultura com vistas a uma sociedademais justa e fraterna, por que não mobilizarmos, em primeiro lugar, a escola comunidade para ajudar a contestar a espoliaçãode riquezas pela busguesia oportunista e pelo colonialismo selvagem, inte[[~o e externo, que vem asfixiando o povo brasileirodesde quando os primeiros navegadores ibéricos aqui aportaram?
Como documenta a História in tegrada,o "colonialismo" que rapina as riquezas doBrasil, raiz b;lsica de todos os nossos maleseconômicos e}ociais, é o mesmo que semascarou de nascente burguesIa mercantil portuguesa", apoiada pelo Estado absolutista e pelas classes capitalistas dominantes na época dos descobrimen tos.
Esse capita1ismo coJonialista só temmudado de nome e/ou de técnica de espoJiaçiio dos oprimidos, no decorrer da História: mercadores e entrepostos, "bolsasde mercadorias", ligas de mercadores, "corporações hanseáticas", "piratas", "corsários", mercanrilismo, "companhias privi(egiadas de comércio, "companhias dasIndias ocidentais/orientais", "Jivre-cambismo", pacto colonial (com "colônias","proretorados" e "áreas de influências"),"trust", "cartel", "holding", "multinacionais", "composição associativa", "fundomonetário internacional" (FMl), etc ... oumesmo "dama de ferro Margaret Thatcher",Jlhas Malvinas, "Ronald Reagan" / Granada / Nicarágua, "marines", etc...
Por tudo isso, J educação-cultura nãopode deixar de priorizar essa luta da prélibertação, im plementando os ideais da independênciá econômica e o fortalecimentoda soberania do Brasil. Do contrário, ultrajaríamos o heroísmo e o sacrifício dos verdadeiros vultos nacionais, que, para nos legarem este País potencialmente tão rico,derramaram lágrimas, suor e sangue.
Há que se pensar muito, porque nenhum povo oprimido tem se libertado daopressão do colonialismo selvagem sem sa-
crifícios. Os "colonizadores", que buscan:,contll1uamente, concentrar cada vez maIscapital e sobreviver da miséria dos povos"colonizados", utilizam-se de técnicas sofisticadas, de sua grande capacidade de organização e de administração, de seus capitais cada vez mais disponíveis para empréstimos e aplicação, sem se falar de suacapacidade de coerção e de seu sofisticadopoderio militar.
Portanto, é necessário muito cuidadomesmo, pois a burguesia reacionária só agesubliminarmente, e o colonialismo se camufla com pele de cordeiro para atacar asriquezas das "colônias" em quaisquer par-
tes do mundo, sem se importar com "guerras de ópios", "aberturas forçadas de portos", ou mesmo, sem se importar com a fome e a miséria das multidões de inocentes.
No Brasil, por exemplo, a burguesiareacionária e o colonialismo selvagem manipulam a permanência da sangria crônicade nossas riquezas, impondo uma políticaagrícola e pecuária de exportação, sem antes ter atendido ao mercado interno; provocando o arrocho salarial e o aperto decinto dos brasileiros; exportando gênerosalimentícios e matérias-primas por preçosínfimos; provocando, semanalmente, oaumento oscilante do dólar; "cobrando"
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mensal
sobre Cr$ 14.000.000 - Cr$ 999.596Cr $ 1.400.000Cr$ 1.512.000Cr$ 1.972.000Cr$ 2.690.000Cr$ 3.082.000Cr$ 3.229.000Cr$ 3.360.000
Então, propomos, como primeira prioridade, que, por enquanto, o piso do pessoal do Magistério (e os de nível de escolaridade assemelhado) que "ganham menos"(salário mais regência), numa carga horáriade 25/15 horas, não deverá ser jamais inferior ao percentual de 7,14% do que "ganhamais" em nossa comunidade, que no momento é o Deputado Estadual, em torno deCr $ 14.000.000 por mês. E os demais percentuais mínimos não deverão ser jamaisinferiores aos índices explicitados na tabelaabaixo.
Para o alunado, pleiteamos, imediatamente, refeição completa, passe livre detransporte, assistên cia médico-odon to lógica(obturação e tratamento de canal), maiorpermanência escolar, amplas reformas físicas, construção de novas escolas e fornecimento. gratuito de manuais, apostilas e"sínteses de aulas modulares".
Pleiteamos, também, '60% da carga horária do professor de acordo com o espírito da Lei nO 5.692/71 do MEC e conforme já ocorre nas Universidades Federaispara que ele possa se dedicar melhor às atividades extraclasse da escola-comunidade.Para que o professor, antes de tentar mudaro programa curricular, familiarize-se, emtempo integral, com as aspirações da PréLibertação, discutindo as filosofias, teologias, ideologias, objetivos, metas, doutrinas,experiências vivenciais e tudo que se referir às apologias 4a libertação material e intelectual do brasileiro.
Desse modo, discutindo sindicalismo,posse da terra para os que vivem e trabalham nela, municipalismo, reformas gerais,casa própria, constituinte, etc... , ajudaremos a orientar melhor o alunado para a vida.
E para que, enfim, a sinergia intelecti·va e volitiva do professor fortaleça e dignifique o Magistério, pleiteamos que hajaeleição para todos os cargos de chefia. Poissó assim, preenchendo esses cargos de chefia com pessoas patrióticas, competentese honestas, ajudaremos a libertar milhõesde brasileiros da escravidão cultural, quenos mantém no pauperismo crônico, nanossa indigência e desconhecimento.
% - maior ganho
7,1410,010,814,919,222,0223,0724,00
25h2sh15h15h15h15hlSh15h
Nível Escolar
Ma. PDP (10 grau)Ma. P. 1 (2 0 grau)Ma. P. 2 (Est. Adie.)Ma. P. 3 (Lic. Curta)Ma. P. 4 (30 grau)Ma. P. 5 (Especialização)Ma. P. 6 (Mestrado)Ma. P. 7 (Doutorado)
fazer algo concreto pela ProporcionalidadeSalarial, para que possamos sofrer e gozarjuntos o bem comum. Para que meia dúzianão continue a ganhar, relativamente, tantos privilégios, e tantos não continuem aganhar, relativamente, tão pouco.
Desse modo, pleiteamos uma proporcionalidade salarial, como já existe para osque ganham mais. Por exemplo, o Deputado Estadual, por Lei, não pode ganhar menos do que 2/3 do que ganha o DeputadoFederal; o Vereador, por Lei, não pode ganhar menos do que 1/3 do que ganha oDeputado Estadual; o Desembargador, porLei, não pode ganhar menos do que ganhao Secretário de Estado; o Dentista, por Lei,não pode ganhar menos do que ganha omédico, etc...
erca de mil criançasbrasileiras morrem por dia,
antes de atingirem o primeiroano de vida, em consequência
da fome.
Não é mais possível continuarmos nesse "status quo". Nenhum brasileiro, em sãconsciência, pode aceitar, sem manifestaruma estratégia e consequente contestaçãoque haja tanto desemprego, tanta fome,tanta miséria, tanto desespero e assalto,num país como o Brasil, que - por maisparadoxal que pareça - é potencialmenteum dos mais ricos do mundo.
Numa síntese conclusiva, apelamos para que, na sociedade espoliada e pobre emque vivemos, haja, imediatamente, uma luta estratégica a favor de uma proporcionalidade mais justa e fraterna da riqueza eda pobreza.
Reivindicamos que todas as pessoasque ocupam postos de chefia comecem a
juros flutuantes e extorsivos; remetendo"lucros" excessivos. para o exterior; mantendo latifúndios improdutivos e terrenossob a especulação imobiliária; forçando novas entradas de capital estrangeiro e de novos modelos das multinacionais, etc...
Fato é que a educação-cultura não pode mais "continuar de braços cruzados" assistindo à agonia dos milhões de brasileirosdesesperados; dos 70% da população brasileira que só ganham um salário mínimo;dos 86% da população brasileira que passam fome carencial, pois 80% dos alimentos é consumido por apenas 10% da população; das vítimas do genocídio (cerca demil crianças brasileiras morrem por dia,antes de ati~girem o primeiro ano de. vida,em consequenCla da fome); dos 13 milhõesde paraplégicos; dos 38 milhões de menores abandonados, que só encontram subsistência na contraviolência, na mendicânciae no assalto; das 8 milhões de crianças brasileiras com idade entre 7 a 14 anos, quenão estão frequentando escola; dos 51 milhões de analfabetos, etc ...
Diante, então, de todo esse caótico estado de coisas, não se pode deixar de discutir a estratégia de luta para o encaminhamento da pré-libertação. Há que se deixarcair o véu da hipocrisia ou do comodismoe lutar pelo fortalecimento material e intelectual do trabalhador da Educação-Cultura, assim como pleitear o preenchimento de todos os cargos de chefia do Governo por pessoas patrióticas, competentes ehonestas.
Agora, é indispensável que o Governopublique e todo o pessoal do Magistériodiscuta, constantemente, os resultados conjuntos sobre o retorno econômico e socialdos investimentos aplicados nas prioridades do processo ensino-aprendizagem.
Chamamos a atenção das pessoas responsáveis para essa reflexão, porque os milhões de brasileiros desempregados e/ousub empregados não se compõem apenas deanalfabetos (cerca de 30 milhões) e semialfabetizados (cerca de 21 milhões que desenham apenas o nome). Há, também, legiões imensas de brasileiros desempregados,com nível de escolaridade de 10 e 20 graus,profissionalizante, universitário e até demestrado e doutorado.
São multidões imensas de desempregados e subempregados }ue compõem, juntamente com os bóias- rias e as correntesmigratórias, os chamados exércitos de reserva de trabalhadores do mundo capitalista.
Por tudo isso, é covardia, impatriotismo, incompetência e desonestidade, calardiante de tanta violência generalizada, numpaís como o Brasil, com imensos espaçosvazios, econômico e demográfico.
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A hora éde plantar milhoe acabarcom o subsídio ao trigo
Valdo França'
Oração do MilhoCora Coralina
Senhor, nada valho.Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.Meu gra-o, perdido por acaso.nasce e cresce na terra descuidada.Ponho folhas e hastes, e se me ajudardes, Senhor.mesmo planta de acaso, solitária,dou espigas e devolvo em muitos grãoso grão perdido inicial, salvo por milagre,que a terra fecundou.Sou a planta primária da lavoura.Não me pertence a hierarquia tradicional do trigoe de mim na-o se faz o pa-o alvo universal.O Justo na-o me consagrou Pão de Vida, nemlugar me foi dado nos altares.Sou apenas o alimento forte e substancial dos quetrabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.Sou de origem obscura e de ascendência pobre,alimento de rústicos e animais do jugo.
000
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.Sou a farinha econômica do proletário.Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam avida em terra estranha.Alimento de porcos e do triste mu de carga.O que me pla(lta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,que me fizestes necessário e humilde.Sou o milho.
"Engenheiro Agrônomo, atua na Ação Ecológica no Campo e na Cidade. São Paulo/SP.
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o Brasil importou diversos hábitos ecostumes, formando culturas peculiares deacordo com a adaptação de seus colonizádores às diversas situações sócio-econômicas-culturais e ambientais das regiões emque se fixaram.
O trigo, por exemplo, foi trazido peloseuropeus desde os primeiros tempos coloniais e a sua fixação agrí cola se deu no Suldo país. A proliferação de milhares de pe·quenos moinhos coloniais atendeu não sóao consumo regional como também aosmercados dos estados vizinhos.
O desenvolvimento industrial da panificação e do pastifício gerou uma linha deprodutos alimentícios de pronto consumoe fácil preparo, como, o pão e o macarrão.O sabor, o poder calorífico, a facilidade deconsumo e os preços baixos cativaram opaladar e a preferência do consumidor bra·sileiro.
Os preços baixos desses produtos sãoconseguidos graças a generosos subsídios efacilidades dadas às indústrias importado.ras, moageiras e distribuidores dos derivados do trigo. O "lobby" do trigo é exercido basicamente por trinta grandes gruposeconômicos que, através de pressão econômica e arranjos políticos, centralizaram osetor em 190 grandes moinhos sofisticados,em detrimento dos moinhos coloniais.
A cen tralização industrial e comercialdesse setor, juntamente com os subsídiose benesses fiscais do governo, propiciaramuma avalancha de anúncios nos meios decomunicação e a consequente massificaçãodo consumo dos derivados do trigo. A subs·tituição de hábitos começa pela merendaescolar, atingindo até mesmo as pequenascidades do in terior e a zona rural do país.O milho, a mandioca, o arroz, o inhame, ocará, a batata doce, a fruta-pão, a abóboramoranga, a pu punha e outros alimentos regionais outrora consumidos preferencialmente em grande escala já são preteridospelo macarrão, pão, biscoitos e outros ali·mentos industrializados a partir do trigo.
O consumo brasileiro de trigo, para1985, está previsto em 6,5 milhões de tone·ladas e estima-se a produção em 1,5 milhãode toneladas. O déficit a ser importado ca·so seja mantida a mesma política atual parao trigo será de 5 milhões de toneladas, com
uma evasão de divisas da ordem de 750 milhões de. dólares, ou aproximadamente 4trilhões de cruzeiros. Estes recursos serão
canalizados aos agricultores canadenses eamericanos, em detrimento do sofrido agricultor brasileiro. Depois do trigo importado, o transporte, a indústria de moagem, adistribuição, a comercialização a preços artificiais, acessíveis ao consumidor de baixarenda, exigem mais 5 trilhões de cruzeirosde subsídios.
A retirada desses subsídios traria umaretração imediata do consumo de pelo menos 25%, gerando uma economia de 1 trilhão de cruzeiros pela diminuição de 1,25milhão de toneladas de grãos importados.
O montante economizado, totalizando6 trilhões de cruzeiros, poderá ser dirigidoimediatamente para o subsídio das culturasde mercado interno. O estímulo e a incorporação de novas áreas poderá somar 10milhões de hectares plantados, principalmente com milho, arroz, trigo, mandioca,sorgo e outros produtos básicos. A produção dessa área acrescentará no mínimo 20milhões de toneladas na oferta de alimentos no mercado a preços mais acessíveis àpopulação de baixa renda. A instituição e osubsídio, agora com um caráter nitidamente social, da cesta alimentar básica para essapopulação, seria fator decisivo para ampliação do mercado consumidor, com novasdemandas e viabilização econômica do produtor de alimentos para o mercado interno.O subsídio não deve exacerbar o paternalismo, mas ser im plantado com bom sensopelo governo para, através da eliminação dorCM, taxas de Funrural e adoção de outrasfacilidades, concretizar a comercializaçãodireta do produtor ao consumidor, sem ainterferência de intermediários.
O poder público deve difundir, pelosveículos de comunicação de massa e pelosistema educacional, todas as van tagens econômicas e nutricionais dos produtos típicosregionais na alimentação humana.
A incorporação de novos hábitos alimentares, desde que possuam viabilidadeeconômica e sejam produzidos com os próprios recursos regionais, poderão abrandara fome, melhorar a nutrição e a saúde dopovo.
Como exemplo de maus hábitos alimentares, pode-se citar o beneficiamento epolimento dos cereais, arroz e trigo. principalmente. A indústria de moagem do trigo"proveita apenas 78% da totalidade dogrão. Os 22% restan tes, com postos de germe e películas, ricos em vitaminas oleosas,proteínas e fibras, são dirigidos à ração animal.
Os prejuízos para a saúde do consumidor e a economia do país decorrentes dessa prática são incalculáveis a longo prazo, e,
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))
As economias com a retração do mercado, substituição de hábitos de consumo,J uso in tegral do grão e misturas diversascom sucedâneos propiciarão uma reduçãode 70% (3.5 milhões de toneladas) do trigoimportado e, consequentemente, economiaanual de 500 milhões de dólares para o país.
Trigo, A cultura do trigo é favorecidapor inverno ameno com temperatura médiade 200 C, boa insolação e umidade. no solodurante a fase reprodutiva, Os sólidos ácidos com presença de alumínio e manganêse pouca disponibilidade de nu triente~ nãosão propicios à cultura do trigo. Em função dessas particularidades, o trigo no Suldo país tem atingido péssimas produtividades (médias de 500 kg/ha), Mesmo sendo acultura desse grão conduzida por agricultores experientes e com todos os insumosmodernos, o trigo ainda não possui variedades bem adaptadas às microrregiões climáticas do Sul. Para o Cerrado do Brasil Central, existem boas varied~des, geneticamente adaptadas ao plantio durante a seca, epara isso depende-se apenas de investimentoS na irrigação e recuperação da fertilidade do solo, A produtividade dessas áreas[em atingido 2400 kg/ha, marca muito promissora, mas a expansão das áreas plantadas encontra-se amarrada pela falta crônica de capital para investimentos nesse setor. Consequentemente, a auto-suficiênciabrasileira de trigo não será possível a curtoe médio prazos,
A Força do Milho, A cultura do milho,ao contrário da cultura do trigo, é nativa daAmérica e totalmente adaptada às diversas
_'~ '. .Basicamente apenM o pequenp agricultor ainda prepara a tllrra para o cultivo do milho
a curto prazo, significarrf 1 trilhão de cru- condições climáticas do continente, O mi-zciros anualmente, computando-se esse per- lho já alimentou todas as grandes civiliza-centual (22%) do grão importado que é ções americanas: maias, astecas, incas e di-destinado ao consumo animaL versas nações indígenas do Xingu ainda ho-
Apenas a mudança no' hábito alimen- je cultivam variedades primitivas de milho.tal', incluindo o consumo dos derivados do O México e todos os países da Américaaproveitamento intel,rral do trigo, poderá Central e do Sul usam preferencialmente ediminuir 22% do volume de trigo importa- intensivamente o milho. Existem infini-do, ou 1 milhão de toneladas, A mistura da dades de receitas, utilizando-se o milho des-farinha de trigo com as farinhas derivadas de a sua fase verde até os subprodutos, co-de milho, mandioca, soja, sorgo etc, signi- mo o fubá, farin ha, canjica, xerém etc, Es-ficaria uma diminuição de pelo menos mais sas receitas agradam a qualquer paladar,25%, aproximadamente 1 milhão de tone- não existindo, desta maneira, um motivoladas. concreto, a não ser os escusos interesses
econômicos que só privilegiam os paísesexportadores desse grão, para o uso preferencial do trigo em todas as mesas brasileiras de hoje,
Economicamente, o milho ocupa lugarde destaque na agricultura brasileira comoresultado do esforço de 3 milhões de agricultores que plantam em uma área aproximada de 11 milhões de hectares. A médiade produtividade está em torno de 2.000kg/ha mas o seu potencial produtivo ultrapassa os 10.000 kg/ha. Em Santa Catarina,é muito comum a produtividade de 5.000kg/ha, em propriedades adubadas organicamente, Este dado mostra que, apenas coma melhoria do solo com matéria orgânica, oBrasil pode duplicar o volume produzidoatualmente, de 20 milhões de toneladas.Desse total, pouco mais de 3 milhões de toneladas são consumidas pelo homem, o restante é destinado para ração animal, naprodução de proteína cara e inacessível àsclasses pobres,
O milho é viável técnica e economicamente em qualquer dimensão de terra disponível e em todo o território nacional. Ascaracterísticas de adaptabilidade climática,facilidade de plantio e atração do paladardo consumidor pelos derivados do milhopodem servir como elementos impulsionadores da expansão dessa cultura a nível decinturão verde das cidades e também nosterrenos baldios, quintais e outras áreasociosas do espaço urbano.
A economia do milho pode se desenvolver ainda mais com a ampliação da indústria do óleo e com o uso industrial napanificação e pastifício do farelo pré-gela-
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tinado, sendo simplesmente moído juntocom o grão de trigo na proporção de até25%.
É justo que qualquer cidadão tenhaacesso ao alimento de acordo com sua vontade e preferência. Injusto é o subsídio público para hábitos alienígenas, com empobrecimento e fome para a grande parte dasociedade, principalmente para as classesmais pobres.
A retirada imediata do subsídio parao trigo e a obrigatoriedade de aproveitamento integral de pelo menos 50% do trigoindustrializado no país, mais o incrementode diversas misturas com sucedâneos da soja, do milho, sorgo, sarraceno etc., poderãopropiciar uma farinha mais nutritiva e econômica par~ a indústria de panificação epastifício, E claro que esta mudança dehábitos terá de ter o apoio econômico dogoverno. Este apoio deve centrar-se basicamente no subsídio ao agricultor. para a diminuição dos custos da matéria-prima sucedânea, na isenção do IPI para as indústriasde panificação e pastifício que assumirem amudança do processo, '
O governo, através da merenda escolar,da alimentação nos presídios, dos programas de calamidade pública etc., absorveriagrande parte desta produção para viabilizaro custo das indústrias pioneiras.
Pró-Fubá. Além da viabilização destafarinha econômica, a implantação de umprograma específico para o fubá de milhointegral poderá resgatar velhos hábitos deconsumo e melhorar substancialmente a alimentação de todo o povo trazendo benefícios para a saúde e a economia popular.
O grão de milho simplesmente moídoresulta do fubá integral, que contém todosos componentes nutricionais do cereal. Devido à presença do germe rico em óleo, este derivado tem t~mpo útil para o consumo, grosseiramente estimado em torno detrês dias. A partir desse prazo, começa a ficar rançoso, com a oxidação do óleo, O fubá rançoso é prejudicial para a saúde, mas orecém-moído é saudável, sendo o seu podernutritivo melhorado significativamenteatravés da mistura com a farinha de soja,
A estrutura de comercialização e popularização do uso do fubá poderá ser a própria rede Somar. Toda loja deve munir-sede um pequeno moinho com depósito deacrílico transparente para que o consumidor possa ser estim ulado a consumir o fubáfresco.
A campanha para o uso do fubá devese valer da divulgação de inúmeras receitasde cuscuz, polenta, broas, tortilhas etc., incluindo-se dados, valores alimentícios e informações antropológicas da cultura latinoamericana, O poema de Cora Coralina é oexemplo dessa necessária visão,
POLÍTICASI.
Pelo fim da velha práticaautoritáriaVictor 1. Gentilli'
'Jornalista, professor do departamento de Comunicação Social da Ufes e diJetor da Adufes.
Como construir uma democracia estável no Brasil sem um sistema partidáriocoerente e enraizado na sociedade e semmovimentos sociais pujantes, representativos e politizados? Esta talvez seja uma dugrandes dificuldades que o país - e o Espírito Santo começam a enfrentar, nestanova etapa da vida nacional, que podemosqualificar como a fase final da transiçãodemocrática. Se até o ano passado o gra,ndeentrave para a construção de uma democracia no país era o regime autoritário, isto é,os seus inimigos, o problema agora tende ase inverter, já que não se trata mais de, apenas, retirar os entraves, os obstáculos, limpar o terreno, mas de efetivamente iniciara construção do edifício democrático, colocando tijolo sobre tijolo no lento trabalho de concretizar e consolidar instituiçõespolíticas democráticas e sólidas.
A maturidade política exigida dos atores sociais no momento atual implica, antes de tudo, neste processo constituinte emque ingressamos, na capacidade de se viabilizar novos palcos e cenários onde se desenrolarão os inevitáveis conflitos de interesses da sociedade brasileira, cujo processorecente de modernização conservadora tornou incrivelmente complexa e carregada detensões.
O Brasil de hoje, apesar das aparências,não é o mesmo de há vinte anos. No dizerde Wanderley Guilherme dos Santos, "nosúltimos vinte anos o país cresceu, urbanizou-se, capitalizou-se, reprivatizou-se, reestru rurou-se ocu pacion alm en te, educou-se,reordenou-se e tornou-se extraordinariamente mais complexo".
Ora, é indiscutível que, diante de umquadro destes, a prática política dos representantes da sociedade civil não será eficaz,e, portanto, será incapaz de fazer valer arepresentação de seus interesses, se não seajustar às novas condições impostas pelamodernidade.
Unicamente como ilustração, basta vera incidência de conflitos sociais que o paísvive basicamente a partir de 1978, com aentrada em cena do novo proletariado e aenorme variedade de temas capazes de mobilizar e organizar setores sociais como negros, mulheres, homossexuais, mutuários,
consumidores, ecólogos etc.Trata-se, hoje, de dar um conteúdo cla
ramente político aos movimentos sociaise de imbricá-los com a ação política partidária, fundamental para dar-lhes conteúdoe presença no cenário político.
Viabilizada esta empreitada coletiva,ficam postas as condições para a edificação de uma democracia pluralista e de massas, estável e apta a ser aprofundada no curso posterior dos conflitos sociais e da açãopolítica.
Estariam, no entanto, a sociedade esuas instituições "prontas" e conscientes daurgência e da importância desta ação? Oautoritarismo, o corporativismo, o clientelismo, os favorecimentos são heranças deum passado hoje incorporadas no cotidianoda sociedade que permeiam os própriosagentes da transição e das quais não serácom pouco esforço que poderemos nos desvencilhar. A insistência com que se recusama desaparecer (ou ao menos tornar-se algoexcepcional e residual) forçando a convivência entre o "velho" e o "novo" e criando problemas adicionais à transição é umsintoma do grau de fragilidade em que ainda ?e encontram as instituições democráticas da sociedade civil.
Acrescente-se ainda como complicadoro quadro de miséria e desigualdade social,am pliado de forma extraordinária nos últi-
mos vinte anos e que se agravou sobremaneira nestes últimos anos com a recessãoeconômica e o desemprego dela decorrente.
A superação desta imensa crise (econômica, política, social, moral), de qualquerforma, só pode se dar pela via da ação política. É hora de fazer política. Abertamente, ostensivamente, às claras. É hora de participar, de cobrar, de questionar. De desmistificar as verdades absolutas. De romper,definitivamente, com as ilusões do messianismo n.os movimentos sociais e polí-ticos.
Aprender a conviver com a democracia é aprender a conviver com as derrotase meias vitórias, com as concessões; é entender que interesses e visões de mundonão são iguais e, portanto, inexiste monopólio no campo das idéias. A convivênciacom a diversidade e a pluralidade é a baseda convivência democrática e exige, de todos os lados, posturas tolerantes e generosas.
Àqueles que se julgam abrigados nomanto do progresso social, é urgente umareflexão sobre sua teoria e ação, militemem seus partidos, seus sindicatos ou seusbairros. Que compreendam, definitivamente, a importância da democracia num paíscorno o Brasil e assumam, portanto, ostensivamente, a luta pela sua conquista e aprofundamento.
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ESTUDOS &PROJETOS
Estudos Populacionaisprojetamarede urbana do ES até o ano 2010
Sueli Campo'
Existe epenlll uma escola recentemente construlda no locel onde ara o Cebejfl...
Início dos anos 60. No mUnlC1plO deEcoporanga e próximo ao distrito de Imburana, o povoado de Sa.nta Efigênia estácada vez mais próspero. Os moradores sónão imaginam que essa prosperidade vaidurar tão pouco. A secular briga pela posse da terra faz com que muito.s moradoressejam assassinados por jagunços a mandode um grileiro da região. Já nessa época,os populares que passam por Santa Efigênia costumam dizer: esse povoado vaiacabar já. E Santa Efigênia acabou mudando de nome. Passou a Se chamar Cabajá. O tal grileiro conseguiu incorporaro povoado às suas terras e os moradoresque restaram decidiram ir embora commedo de terem o mesmo destino de seuscompanheiros. Por volta de 1965, quasenão mais restavam vestígios de que algumdia existiu ali um povoado. O Cabajá, hoje, existe apenas na lembrança dos moradores antigos de Ecoporanga.
O que ocorreu em Cabajá poderia teracontecido em qualquer outro lugar dedimensões maiores e por motivos diferentes. Afinal, como e por que nasce, cresce edeclina uma cidade, como e por que amplia ou restringe sua área de influência?
Para responder a essas questões e projetar a população urbana das sedes dosmunicípios, vilas e povoados acima de 40casas, até o ano 2010, uma equipe de 11pessoas do IJSN, em convênio com a Cesan, percorreu durante um ano 283 aglomerados em todo o estado do EspíritoSanto. Pela primeira vez foi possível fazer um levantamento completo da redeurbana com as respectivas vinculaçõesfuncionais e econômicas na ordem local,as fronteiras do crescimento observado eo comprometimento com a zona rural eoutras áreas.
Através dos tempos tem-se observado que a ordem econômica é que determina as características de cada aglomerado e os resultados obtidos pelos pesquisadores da própria equipe demonstram queisso não mudou. O principal fator que in-
fluencia o crescimento de uma cidade é aforma como a economia é produzida - estrutura produtiva rural, estrutura fundiária, relação de produção, tipo de bens eserviços oferecidos, in termediação de produtos - e o sistema viário, que não é determinante.
Até o ano 2010, o litoral norte, Linhares e a área central do estado são as regiões que mais irão crescer. Se na décadade 60, as principais cidades regionais eramCachoeiro de Itapemirim e Colatina, alémde Vitória, e o café era o produto predominan te em todo estado, com exceção do
•Jornalista, Técnico do IJSN (Redatora da Revista)
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Douglas Lynch
litoral sul e extremo norte, hOje a situação é muito diferente. Existe uma níticaespecialização do espaço. A Grande Vitória se firmou como centro industrial ede serviços especializados, ampliando suaárea de influência direta. Surgiram pólosimportantes como Linhares e São Mateusque até 1968 não passavam de cidades locais. Em contrapartida,.há uma reestruturação das áreas internas de Cachoeiro deItapemirim e Colatina, com um grau deespecialização urbana cada vez maior, tendo sob sua área de influência uma ou maiscidades locais, consolidando-se como
TUDOS & PROJETOSuaa II IH
2010cidade regional. A área central de cada região é que vai gerar as atividades de pro-
dução.Atualmente, as regiões que mais cres
cem são três: a de São Ma teus especializada em pecuária leiteira, a região central,próxima 'a Grande Vitória, que prometeespecializar-se em olericultura e o litoralnorte, onde predomina a plantação de cana e eucalipto, grandes fazendas .de pecuária e cacau e de culturas como o mamão ea pimenta-do-reino. Essa região é marcadapor grande concentração de terra,: tendocomo mão-de-obra usual os bóias-friasque se localizam às margens da BR-I01Norte ou então na cidade de São Mateus.O objetivo desse tipo de produção não émais a reprodução simples da família e doparceiro, mas a acumulação de capital.Já no sul do estado, onde predomina acultura do café, a estrutura fundiária é baseada na pequena propriedade que utiliza a mão-de-obra familiar. Nas regiões onde a ordem econômica já está estruturada,sul do estado por exemplo, torna-se maisdifícil o ingresso de capital externo. Ograu de resistência às mudanças é maior.
As informações mais específicas decada povoado como dados sociais, políticos, culturais, econômicos e demográficos, infra-estrutura urbana e rural, a relação com a rede urbana e os croquis dospovoados, caracterizando o uso do solo,foram organizadas num único volume,Perfil dos Pov;ados, a fim de subsidiar futuros trabalhos a serem desenvolvidos pelo IJSN.
Nas cidades e povoados balneários, apesquisa foi mais específica devido à população flutuante que durante o ano inteiro, e principalmente nos períodos deférias, visita esses locais.
A metodologia utilizada pela equipepara execução do trabalho foi fundamentada em entrevistas, com um roteiro deperguntas, croquis dos povoados, mapaem escala de 1 :50.000, relação de sedes,vilas e povoados de cada município com onúmero de domicílios e população(IBGE), tabela de população urbana e rural e da situação econômica municipal de1970 e 1980 (IBGE), relação de estabelecimentos agrícolas por faixa de área etaxas de atividades por setores econômicos de 70 e 80 (IBGE), relatório municipal do Programa de Desenvolvimento Regional Integrado - PDRI -, contendo informações sobre produção agrícola e a relação de estabelecimentos industriais. Emseguida, esses dados foram analisados ecom pilados, gerando os 4 volumes quecompõem os Estudos Populacionais paracidades e povoados do Espírito Santo 1985/2010.
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LIMITE DA AREA DE INFLUENCIA DA CIDADE REGIONAL
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urbanarede
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Opmcesso de {o"'>açao eincremento dos assentamentosurbanos está inexoravelmente
ligado às transformaçõessócio-econômicas em processo
no contexto capixaba. Contudo,inegável é a participação
popular que, através de suastradições culturais, imprime sua
marca, perpetua o seu modusvivendi, oferecendo maior
expressão às vilas, povoadosecidades capixabas. Assim têmsobrevivido muitos núcleos
urbanos, onde apelidos ganhama força da terra (que nem mesmo
a força da lei consegue demover).
Como nascem os nomes dos povoadosAntonio Carlos Maia Figueiredo'
•Auxiliar técnico do IJSN e aluno do curso de História na Ufes.
A 10 quilômetros de Cachoeira de I tapemirim, corta do por um bonito riacho ecercado por colinas verdes, está o patrimônio de Córrego dos Monos. Conversandocom oSr. José Tavares, residente há 50anos no lugar, fica-se sabendo a origem dotopônimo. Os primeiros moradores da região, sempre que iam buscar água no córrego, deparavam com um bando de macacos. Surgiu então o primeiro nome do povoado: Córrego dos .Macacos, mais tardetransformado em Córrego dos Monos, devido a designação genérica dos Monos-carvoeIrOS.
Ainda nesse município, encontta-seCiranda. Pequeno povoado economicamente ligado à extração de mármore. Gironda foi ocupado por imigrantes portugueses que assim batizaram a localidade emhomenagem às suas origens.
Bem perto, na mesma região de extração de mármores, aparece o povoado deSambra. Esse patrimônio cresceu em fun-
ção de uma indústria de extração e beneficiamento de mármores. Essa empresa, deorigem do sul do País, chamava-se S/A Mármores do Brasil, Sambra. Há alguns anos, aempresa foi comprada por um grande empresário cachoeirense, que trocou o nomeda firma para Mármores Brasileiros S/A,Marbrasa. O povoado, no entanto, mantémo nome de origem: sambra.
No município de Domingos Martins,Peroba e Paraju são frutos de homenagens àabundância de madeira nobre que existiana região. Os madeireiros foram os pioneiros no desbravamento do território capixaba. Foram eles que limparam a mata parao nascimento das cidades embrionárias epara o plantio de café. Esse ciclo madeiracafé foi o maior responsável pelo surgimento de pequenos aglomerados, para dar suporte às atividades ligadas ao setor primário.
Ponto Alto, no mesmo município tem
uma característica peculiar: denominadoassim por ser o l~gar mais alto do municí·pio e do rio J ucú, o verdadeiro nome doaglomerado seria Ponto do Auto. Quem fazessa revelação é o Sr. Hans, Oscar. Explicaele que o lugar era o último ponto do ôni·bus que fazia a linha para a sede do municí·pio e para Vitória. Não se sabe o motivoque foi trocado pelas autoridades.
O mesmo acontece com a Vila de Aracê, também em Domingos Martins. Um vereador, no afã de desenvolver o loteamentode Pedra Azul, a alguns quilômetros deAracê, conseguiu levar a sede do distrito deAracê para o loteamento. Local ideal parao desenvolvimento de uma comunidade,por se tratar de área de turismo, hoje já échamado de Nova Aracê e o antigo distritoficou entregue ao descaso e agora é conhe·cido com Velha Aracê.
No norte do estado, a ocupação do ter-
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ntono se deu mais recentemente, e por isso a memória do povo ainda é mais forte.Em Itabaiana, patrimônio do municípiode Mucurici, e o mais distante de Vitória,tem muitas histórias interessantes. Localizado na fronteira de Minas-Bahia-EspíritoSanto, até o começo da década de 60, pertencia ao estado de Minas Gerais. Por essaépoca era conhecida por "Coco Pelado",por causa da bela careca do sr. João Lopes,proprietário das terras onde se originou opovoado. O patrimônio progrediu muito,como atestam os moradores, e chegou ater uma feira de produtos rurais muito famosa. Chegavam vendedores econsumidores de toda parte. Acontecia que, certasépocas, eram tantos os vendedores que alguns não conseguiam vender seus produtose tinham que retornar para casa com os legumes, frutas, etc; aí nasceu o apelido de"Volta Quiabo", dado pelos produtores eainda hoje lembrado pelo sr. Antonio Couto, vereador e proprietário do bar do povoado.
Dessa região desciam as carretas carregadas de madeiras. Era uma aventura viajarpor essas bandas, pois quase não tinha estradas. Existia uma parada à beira da estrada para tomar um café e, ocasionalmente,para passar a noite. Aí surgiu Ponto Belo.Esse patrimônio foi crescendo e hoje émaior que a sede do município, Mucurici.Naquela época, Ponto Belo tinha o apelidode "Bozó", nome dado à um albergue para
os madeireiros pernoitarem. Era um galpãogrande, sem divisões internas e que atendiasó aos homens. Hoje, no mesmo local funciona uma pensão que serve o melhor almoço da região.
O vizinho município de Montanha (conhecido antigamente por "Palha", devidoàs construções das casinhas de telhado depalha), também prosperou com a extraçãode madeira, surgindo vários povoados queserviam de base para essas atividades. Ramal da Fumaça hoje está "dando prá trás"como .dizem por lá, mas na época,. o Ramal17, dlVlsão de terras para a retuada damadeira, tinha uma serraria a vapor, quequando trabalhava enfumaçava todo o patrimônio. Hoje só se encontram os escombros dessa raríssima serraria.
Dois patrimônios vizinhos no município de Pinheiro mantêm uma sadia rivalidade. Cada um coloca um apelido no outro. Assim Vila Fernandes e São José doJudiá são conhecidos, o primeiro por "Facão Lascado", motivado por uma briga queaconteceu durante um baile, em que umindivíduo desembaiou um imenso facão e opovo saiu correndo. Já São José do Judiátem cognome de "Ranha", pois sua população é considerada ranheta, ranzinza, na gíria local.
No município de Boa Esperança, entreplantações de feijão, milho, arroz e café, ergue-se o patrimônio de Sobradinho, nome
esse devido à eXlstencla, no lnlClO da colonização da região, de um bonito sobradono .fim da rua principal. Esse sobrado pertencia ao benfeitor do patrimônio, e infelizmente, foi tombado ao chão, antes de ser"tombado" pelo patrimônio histórico estadual.
São Luís Rei, patrimônio localizadono norte do município de Nova Venécia,era conhecido na região como "Patrimôniodos Bêbados", pois existia muita "bagunça". Até que o cabo Vitalino botou ordemno local. lnformações do povoa~8 dizemque o Cabo vive hoje no bairro deSão Torquato, em Vitória.
São João da Cachoeira Grande, àsgens do Rio do Norte, até na prefeituraNova Venécia é conhecido como "Patrimônio do Bis", A faml1ia Bis foi quemdoou as terras que deram origem ao povoado.
Os imigrantes europeus foram grandesresponsáveis pelo aparecimento de váriospovoados no interior. No município deSanta Tereza encontramos dois patrimônios bem próximos: São João de Petrópolise Santo Antônio de Pádua. O primeiro temo apelido de "Barracão de Petrópolis", local onde os madeireiros pernoitavam.J á Santo Antônio de Pádua tem o cognome de"Patrimônio dos Polacos", em homenagemà colônia polonesa, que aqui chegou nocomeço do séc~lo.
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foram desmanchandoascosos e 'levandoprooutro lado dorio,
Sóficaram os pedras doigreja aniiga t o cemitérioe o mastro.
(DepOImentodeD Moriquinha, x- oradora da antiga Vila de Itaúnas). ~.....p.w.Iê:,'~"~·
...HI5TÜRIA
Itaúnas. Vento ...areia...tempo!Helol'sa Dias Figueiredo *Rômulo Cabral de Sá **
Aos 94 anos, Oscar Borgesnão vai assistir, da antiga Vila
de Itaúnq.s, a segundapassagem do Cometa Haley,
neste século. (Oscar Borges,Pulquério Alves dos Santos
(A ntero), Messias Félix deGouvêa, TobiasMiguel,
Raihvil Bonelá Filho, Euclidesdos Santos (Quindinho),
Maria Vasconcelos(Mariquinha), Maria Penha
Cabral de Sá, Gilda Benso(Piquitita) e todos os outrosmoradores da antiga Vila de
São Sebastião de Itaúnastiveram que se mudar.
O sopro do vento, empurrandolevas e levas de areia, soterrou
a vila. Dunas onduladassubstituem o burburinho das
gentes que ali viveram . ..Essa visitação à Vila de
Itaúnas não pretendereconstituir a história completado lugarejo e de sua gente, nem
tampouco explicarcientificamente ofenámeno desoterramento da vila. São dois
os objetivos principais:registrar a versão dos
moradores e fazer mais umalerta sobre os riscos que
corremos com a agressao aomeio ambiente.
A pequena vila de Itaúnas, no extremo norte do Espírito Santo, não é apenasuma "quebrada" procurada por jovens turistas, ("barraqueiros", como são chamadospelos moradores da vila), atraídos pela vidasim pies de seus habitantes e o contatomaior com a natureza. Suas dunas, principal atrativo turístico, encobrem uma outravila mais antiga e, com ela, a cultura deum povo. Alguns remanescentes se lembram ainda da história que antecede o soterramento total da vila, consequência demais um desacerto do homem com a natureza.
rtaúnas, que em tupi significa pedraspretas, deve-se à abundância com que pedras escuras eram encontradas no leito dorio. Alguns moradores, por outro lado, contam que as pedras pretas seriam os recifesde cor escura, da praia.
"Louça especial de bonita e pinturaque fazia os índios foram achados napraia" (Raihvil)
"No início moravam os bugres. pepoisvieram os "brasileiros", com Pedro AlvaresCabral, que escurraçaram os índios prá botar outra nação. Somos descendentes deíndios com o povo de Álvares Cabral quebotava cachorro e pegava aquelas indiazinhas para amansar e educar. l)nha muitopreto. Eram nagô, vinham da Africa antesde irem morar na vila, viviam montados naquelas brenhas. Depois foram chegando,até que vieram pro comércio (a vila)".(Antero)
"0 Barão de Timbuy (Olindo Gomesdos Santos), tinha um sobrado bonito e olugar se chamava morro de Sta. Izabe1. ficava a três léguas de ltaúrias, na beira dorio ItaÚnas. Tinha muitos escravos que depois da abolição ficaram por lá nas roças ouforam pra Barra e São Mateus". (Oscar)
O Sítio onde se instalou a Vila de SãoSebastião de Itaúnas tinha excelentes condições físicas e naturais, com rios navegáveis, terras férteis e proximidade do mar. ºpovoado foi crescendo em função da fabricação da farinha e da exploração da madei,ra nas bacias do rio ltaúnas, principalmenteno morro Dantas, hoje Pedro Canário.
'Socióloga, Técnico do IJSN (Membro do Conselho Editorial da Revista)"Engenheiro Civil, Técnico do IJSN (Colaborador da Revista - ilustrações)
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23.08.1985.111.1I~__~~II!lhtJl.llilll_1l!II"I111111 11 11.11.1 __
I
Douglas Lynch
O povo vai morrer de fomeOu comer erva daninhaPruque raiz de acalipeNem dá pra fazer farinha
Dois temos de Ticumbi, o do Anteroe o do Boizado, além do de Conceiçao daBarra, do Mestre Terto. Quantos temosde Reis-de-boi? É só procurar saber.
Qual o ju rzo que farao os nossos pósteros sobre o nosso atual comportamerlto? Uns idio tas, uns bestas cúmplices detoda uma violência de destruiçao para satisfazer as multinacionais camufladas cornnomes nacionais e testas-de-ferro de vendilho'es da Pátria? De braços cruzados devemos a tudo assistir? Como um ônus dodesenvolvimento econômico?
Ferve-me por dentro o sangue.Ali há gente com uma cultura secu
lar, bi-secular, ou tri-secular, que tem odireito à vida.
Há, pois, um manancial de coisas quejustificam a pretensao do tombamento e énecessário ficar de olho na destruiçao detudo isso pelo vinhoto, responsabilizandoos autores e os "técnicos" que aprovaramo projeto das destilarias de álcool. Agora,antes que seja tarde demais para esperarse um milênio para que a natureza se recomponha, enquanto nós devemos estarnas profundas do inferno, em um caldeirao de breu a 10 mil graus de temperatura e lúcl!er, de cem, a cem anos, dandouma mexida com seu garfo.
Essa minha opiniao, num parecer domeu própn'o punho.
J
o cen:ado do cem iterio desponta das areias bfaReal...
Trecho do parecer encaminhando aoConselho Estadual de Cultura, no processo sobre Itaúnas, pelo Professor Hermógenes Lima da Fonseca.
Nasci nessa regiao, nas margens desserio, no sítio José Alves, nas perobas; ouvindo o barulho constante das ondas domar do outro lado do rio. Te aprendi aconhecer os pássaros e distinguir os seuscantares, os seus gorgeios. Os animais silvestres, os peixes, as árvores frondosas, osarbustos e as relvas rastejantes, No rio, asplantas aquáticas - aninhas, golfas ounenúfares -, as tiriricas, as flores brancase lilases cobrindo o verde das margens. Onegro escuro dos mangues, as garotas naspraias, os aratus, os goiamuns, as tariobas,as mareias, os siris açus, os caranguejos nobater das trevas na quarta-feira santa, afesta nupcial deles nas três primeiras luasdo início do ano. Os gagirus nas praiascom seus frutos vermelhos e as suas folhas que abaixam a taxa de insulina dosdiabéticos; os oricun's de que se fazemchapéu de palha, as tabuas para esteiras,os murtinhos, os cajueiros, as cambucás,os pinheiros, as mangabas, os muricis epor aí a fora.
Que está acontecendo? Os "acalipes"(eucaliptos) tomaram toda a floresta e afauna, isto é, toda espécie de bichos e pássaros procuraram abrigo no pantanal dorio de "pedras negras", ou Itaúnas, comoúltimo reduto; como esta ná toada dePedro Aurora, "A onça da reserva".
Que diz o povo nos seus cantares doReis-de-boi?
Depoimento de Hermógenes Fonseca
"Entre a praia e a vila, havia uma vegetação rasteira e muitas árvores frutíferasnativas: cajueiros, guriri, pitangueiras ecambucás. Nas ruas haviam grandes árvoresfrondosas como castanheiras (chapéu desol) e gameleiras. As casas eram bem feitas,embora fossem de "estuque"; eram rebocadas e assoalhadas. Havia até um sobradinhoda família dos Morais. O local da igreja eraa parte mais alta da vila". (Gilda Benso,Piquitita)
O rio era navegável desde a barra daGuaxindiba até o morro Dantas. Isso facilitava o transporte da madeira em balsas,bem como o escoamento da fa'rinha produ-zida na região até Conceição da Barra.
"A CIMBARRA (Companhia Industrial de Madeira da Barra) foi criada hámais de 45 anos. Antes da Companhia, osempreiteiros que tinha lá por cima já tiravam madeira. Era puxada a boi. Doze boipra puxar uma tora. Encostava lá no ancoradouro, no morro Dantas, hoje é PedroCanário. Vinha pela beirada, os boi puxando. Aí a madeira rolava, ia lá prá dentro dágua. Aquilo era 4 a 5 vaqueiros puxando,Encostava umas 4 toras. Atravessava o varão. Batia a chapa. Passava o arame. Faziaaquela fileira grande. Tudo testado acorrentado direitinho. A gente embalsava elas.A maré ia descendo pelo rio, tudo em balsado. Aí cortava aquelas varas compridas eempurrava. A maré ia puxando. Fazia barraca em cima. Fazia comida. De morroDantas até a Barra, tinha quando levavamês. Hoje não dá fundura." (Raihvil)
A farinha era produzida nas casas defarinha por métodos artesanais (com bolandeira) e a produção era de 12 a 15mil sacas por ano.
A farinha feita nas roças era transportada para Itaúnas em lombo de burro oucavalo. Todos os sábados e domingos chegavam os carregamentos. A comercializaçãoera feita diretamente com os comerciantesda Vila quase que exclusivamente num regime de "troca". Desse modo, os pequenosprodutores obtinham tecido, sal, fumo, cachaça e artigos de armarinho. Portanto, ocomércio se constituía basicamente de armazéns de secos e molhados, funcionandotambém como entreposto da farinha.
A maioria dos habitantes da vila \2ossuía pequenas propriedades de 40 a 100 hanos arredores. Assim, além das roças demandioca, plantava-se abóbora, laranja, café, aipim, melancia, cana, banana da terraetc, para subsistência. Alguns criavam gado,galinhas e porcos.
A dieta alimentar era complementadacom a carne de caça, abundante na região,e com o pescado do rio e do mar. Era habitual as mulheres fazerem quitandas (bolode aipim, bolo de fubá, cocadas, etc).
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A educação, antes da escola pública,que oferecia o curso primário, era feita pOlprofessores particulares em suas casas e,portanto,somente as "famílias de recurso"éque podiam custear o estudo dos filhos.
Como não existia médicos na vila, asdoenças eram tratadas com remédios de"botica" (homeopatia), chás e banhos deervas e raízes. O tratamento podia ser complementado com rezas e benzimentos. Ocurandeiro mais famoso era o DUCA TORA que, além dos habitantes da vila, atendia também outras pessoas da região e deoutros estados como Minas Gerais, Rio deJaneiro, Bahia.
Nos velórios, costumava-se "varar anoite" conversando e tomando cachaça.Por isso, era costume se referir a algumapessoa à beira da morte como "fulano estáperto de dar a cachaça".
As pessoas falecidas no interior (na roça) eram sepultadas na vila. O morto eratransportado numa rede feita com um cobertor velho, atravessado por uma vara ecarregado por duas pessoas.
A descendência, mesclada principalmente por índios, negros e portugueses, refletiu na prática religiosa e na devoção dossantos e suas festas.
"Dizem que o padroeiro antigamenteera São Brás, santo de preto. Depois, quando entraram os brancos, na época do "carrancismo", mandaram tirar o São Brás e colocaram São Sebastião, santo guerreiro debranco. São Brás era santo de samba. Colocavam barril de cachaça no meio da rua e osamba rolava. O São B~nedito veio acompanhando o preto da Africa que trouxe abrincadeira do Ticumbi" - (Folclore deRegião). (Antero)
As festa, mais importantes eram a deSão Benedito (19 de janeiro) e a de São Sebastião, padroeiro da Vila (20 de janeiro).A proximidade das datas deve-se ao fato deo padre de Conceição da Barra ir à vila somente uma vez por ano. Isto é, por ocasiãodas festas. Como não eram celebradas missas no restante do ano, as pessoas se reuniam na igreja aos domingos para cantar "ladain has" e rezar o terço.
A festa de São Sebastião era comemorada com procissão, missa e fazia-se a brincadeira do Alardo (encenação da luta entremouros e cristãos). A de São Benedito, santo de devoção dos negros, tinha tambémmissa e procissão, porém a brincadeira quese fazia era a congada (Ticumbi). As festaseram organizadas pelos festeiros, escolhidosem sistema de rodízio, a cada ano, entre osmoradores da Vila. O festeiro custeava acomida, bebida, enfeites e o "foguetório".
Aos sábados se fazia os bailes com sanfona, que duravam dia e noite.
"Dizem que no tempo do carrancis-
mo" (carrancismo sabe o que é? é a idéia, éo orgulho), baile de branco era de branco,baile de preto era de preto, baile de caboclo era de caboclo. Hoje, tá branco compreto. Os 'colonheiros' (negros) falam assim: "Hoje tá branco cú-preto" (risos).(Antero)
No mês de dezembro, brincava-se o"Reis-de-boi", com vários personagens: aloba, a professora, o cavalo marinho, o vaqueiro e o boi. Os pontos altos da brincadeira eram a morte do boi, a tentativa deressurreição e fmalmente a partilha das carnes e órgãos que eram rimados com os nomes das pessoas da vila: "Focinho é pro seuTiofinho; a rabada é pra rapaziada, as tripas finas prás meninas" e assim por diante.
. Os antigos habitantes da vila, acostumados na fartura e nos festejos, não podiam imaginar que o destino da vila seriatransformado.
Raihvil
A degradação da vegetação de restinga entre a vila e a praia deu início ao processo de soterramento da vila de Itaúnaspelas areias que já se alinhavam em dunasentre a mata e a praia, e que, no entanto,eram fixadas ao solo e barradas contra aação dos ventos NE, predominantes na região, pela mata (restinga). Aproximadamente 8 km dessas matas foram derrubados.O fenômeno do deslocamento das dunas deItaúnas, que alcançam até 20 metros de altura, chegou a soterrar toda a vila, obrigando a dispersão de seus moradores para aslocalidades circunvizinhas. Os mais carentes se fixaram do outro lado do rio, fundando a nova vila de Itaúnas que possui hoje, aproximadamente, 350 pessoas. Esta população mantém vivo em sua memória essedesastre ecológico.
As dunas e sua formação têm tido muitas versões: sobre o seu início, tempo de
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ação, causas e conséquências, seus mistérios e lendas, contadas pelos mais antigosou pelas gerações posteriores que escutaram ou viveram parte do processo.
"As dunas sempre existiram. Depoisdo buraco do bicho até a vila, entre o mar ea vegetação que protegia a vila da entradadas areias. Mas tinha um senhor que não seconformava com o fato de que as ruas terminassem no mato. Então o prefeito daBarra deu autorização para O desmatamento. A partir daí foi muito rápido". (MariaPenha)
"Na beira da praia era mata. Passarama roçar a mata, para abrir mais para a praiae fazer outra rua. Aí ficou tudo descampado. O vento pegou a ventá e veio chegandoa areia, aquela areia da praia. Foi descobrindo, descobrindo, até descobrir uma lagoa de água limpinha e outro morro foiformando. Dodô Soares mandou roçar. Erauma mata alta, lá ainda existe um pedaço
Antero
da mata. As pessoas foram saindo, não ficou ninguém. Depois que o pessoal saiu éque a areia veio até dentro d'água no rio. Aareia vinha com o vento, em 53 já tinha dunas formadas". (Oscar)
"Era um processo.lento, foi aumentando,crescendo devagar. Depois o finado DodôSoares, fiscal da prefeitura, derrubou umamatinha que tinha na frente, mais ou menos uns 8 ki]ômetros, que segurava o vento.Daí o vento encanou mais, e o morro foicrescendo. Já tinha tapado o cemitério numa altura boa. Depois aterrou a igreja. Omovimento das areias é decorrência do vento do nordeste, que sopra constante".(Quidinho)
"O finado Dodô Soares mandou roçaro cambucá, prá ver se crescia o comércio.Mas por detrás do cemitério e da igreja,mandou deixar a mata. Mas o povo começo a bulir para fazer lenha. Então começou
Fotos da familia Theophilo CabralColaboraça-o de A va Carminati
rena. Ficou desgostoso, Vendeu o terrenoporque "um milhão de cruzeiros" é um nome muito bonito. Então eles .venderam oterreno por um milhão e hoje tão na titica.Não dava prá plantar mais porque acabouas matas, A Aracruz tomou tudo. A firmatomou tudo. Só resta umas fazendinhas pequenas lá. O resto tudo é da firma. Do ladode lá, o pessoal tinha 40/50 alqueires daterra, até 100. Aqui acabou tudo, A terratá na mão do tubarão. O tubarão só querprá ele, Se a gente não tiver, morre de fome. Tem muito tubarão aqui. Num precisafalar os nomes. Os tubarão daqui todomundo sabe quem é." (Antero e Messias)
Hoje, uma rlOva atividade surge navila: o turismo. E crescente o número debares, restaurantes, e de moradores que aumentam suas rendas abrindo biroscas oualugando casas e quartos aos visitantes.
Em It~úJlas, asruas gramadas (a VilaNova foi levanXaéla soFre um pasto) ass0c.~a~.
das às dunas, ao rio, à sua vegetação e aomar, que emolduram o lugar, constituem.um visual que não se encontra facilmente,Itaúnas tem merecido destafjue na,jmprenosa estadual e n,,:cional, tanto por sua belezae valor ambiental como pelo~eu v<rlor' Fíis-,t§rú::O e cultural, que seu povo soube pre·servar através de suas festas folclóricas, ar·tesanatos, cantos, danças e de sua pesca ar·tesanal. Dessa forma, a região vem se cons·tltl.lindo, naturalmente, num polo de atra·.çilo para o turisn;lO "alternativo".
Mesmo assim, [taúnas ainda não se lor·nau impune às ameaças de destruição, econtinua fadada aos desastres ecológicos. Onorte do Espírito Santo sofreu, e ainda sofre, as tristes conseq uências do ciclo da Ex·tração da Madeira e do reflorestamento daregião com espécies não apropriadas. Comose não valesse a lição, os rios, já assoreados.estão ameaçados pelo derramamento do vi·nhoto, in natura, pelas destilarias de álcoolque vêm dominando a economia da região,conforme denunciado, recentemente, pelospescadores de I taúnas que encontraram ospeixes de seu rio "de boca aberta", na suoperfí cie das águas, em busca de oxigênio,
É óbvio a necessidade de se reverter talsituação, em defesa da natureza e da sobre·vivência de uma população que parece terno seu sangue uma dose a mais de resistên·CIa:
"Meu terreno aqui eu não vendo nempor quinze milhões. Porque não quero ficarna rua. Isso aqui não vale nada, mas valemuita coisa. Não tem gente saindo de Itaú·nas Nova ainda não. Quem sai de ltaúnasNova é doido, ItaÚTIas ainda é rica". (Ante.rol
\
Com o soterramento, seus moradoresforam obrigados a transferir a vila:
"A areia começou a invadir a vila deixando a população apavorada, e sem ter para onde mudar. Nesta época, meus pais (Sr.Theophilo e Hyerosolina Barcelos Cabral)já moravam aqui em Vitória. E em uma viagem de meu pai à vila de Itaúnas, vendo odesespero de seus conterrâneos, ele resolveu doar parte das terras do seu pasto dolado de cá do rio para a construção de igreja, da praça, escola, etc. E uma parte, vendeu a preço simbólico à prefeitura, paraconstrução das casas". (Maria Penha)
"A rua de cima resolveu se mudar. Arua de baixo ficou. Aí o prefeito da Barracomprou 5 alqueires de terra na mão de seuTheóphilo, baratinho... E o povo mudoupro lado de cá do rio. O primeiro que mudou prá cá foi Seu Tobias, Depois veio SeuOscar, Seu Adolfo, Seu Onofre e mais umtanto. Alguns não quiseram vir e foram prá
Conceição da Barra, São Mateus e Vitória".(Antero)
Na Vila Nova, os moradores ainda subsistem basicamente da pesca, sendo que alguns trabalham na Acesita, Aracruz Celulose, fazendas da região. A maioria das terras (roças), nos arredores da Vila antiga, foram vendidas e originaram, algumas, asatuais fazendas de gado e café da região.
"Bem mais tarde, o resto das terras demeu pai (Theophilo Cabral), que iam de Vila Nova até o Córrego da velha Antônia, foivendido à Aracruz, mas com a promessa deque a Aracruz respeitasse os posseiros, Toda esta documentação encontra-se em nosso poder" (Maria Penha)
Mesmo assim parece que não foi possível evitar a destruição da economia de subsistência e o êxodo ruraL
"Na roça não entrou areia. O pessoalmudou pro lado de cá porque vendeu o ter-
Oscar Borges
a criar aqueles morros por detrás da igrejaque ninguém ligava, Primeiro criou por detrás do cemitério, O povo não cismaram daquilo. Aí é que o povo foi cismar. De ondeque vinha aquela areia? Foram obrigados amudar o cemitério. Aí começou a cobrir aigreja e o povo foi obrigado a mudar o santo (São Sebastião) prá uma casa grande quetinha na rua de baixo, A areia arrebentou aigreja toda e disse: Eu tô como quero.Foi atacando, foi entrando na vila adentro.Isto no início da década de 50", (Antero)
"Aquela areia não vem da praia. Elavai inchando; o vento vai espantando elaprá lá. Aquela areia ali tá parecendo umvulcão, Se ela viesse da praia, ela tinha topado uma baixa que tem uma grama, umacacimba com água especial de boa. Mas nãotopou. Isso foi castigo, porque escurraçaram os índios usando até chumbo"(Raihvie)
"Tinha um tal de buraco do bicho, queera pro lado do norte e meu pai contava
que quando passava por lá, e já era noite,quando vinham no norte prá cá, viam umvulto preto que parecia um padre, era umbicho em forma de padre, Era um buracoenorme e escuro que eu ví com meus próprios olhos. Dizem que de lá é que vieramas areias". (Mariquinha)
"A tarde ventava muito e as areias vinham vindo, quando chegava no outro dia,à beira da porta e nas janela tava tudocheio de areia. A gente pegava a enxada, etirava de dia. A toalha da mesa ficava cheiade areia, os pratos, as louças, tudo cheio deareia. En tão eu disse: Nós vamos sair daqui,não podemos ficar aqui não, Nós precisamos mudar. .. e foi todo mundo saindo, foram desmanchando as casas e levando prooutro lado do rio. Só ficaram as pedras daigreja, o cemitério e o mastro, Alguns foram pra Barra, São Mateus e Vitória" (Mariquinha)
-'OS.I81 e Tobias
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TRIBUNA LIVRE
Nietzsche, Artaud e a Arteintegram-se na libertação do delírio
Viviane de Souza Mosé *
Quemsoueu?Deondevenho?Sou Antonio A rtaude digo-ocomo sei dizê-loimediatamenteVerão meu corpo atualsoltar-se em pedaçose reunIr-sesob dez mil aspectosnotáriosUm novo corpocom que não poderãoesquecer-menunca
Nietzsche trouxe a arte, Dionísio,Apolo e a tragédia. Eles formaram, ao mesmo tem po, unidade e perspectiva. A arteDionisíaca não só apreendeu a totalidadedo delírio louco, como também propicioua perspectiva de um espaço louco: a arte.
Os gregos, com o auxílio da figura domundo de seus deuses, trouxeram.a tona osentido ocylto e profundo da concepçãoartística. E com este pensamento que F.W. Nietzsche inicia sua obra "A Origem daTragédia".
Apolo e Dionísio representam comodualidade as artes gregas. O instinto Apolíneo representa o sonho, a representação, aarte plástica, enquanto o instinto Dionisíaco representa a embriaguês, a vontade, a
*Aluna do curso de Psicologia da Ufes.
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arte sem formas, a mUSIca. Estes dois instintos estão, para os gregos, em guerra aberta e estão sempre, por produto desta luta,produzindo algo novo. O momento maior esublime desta luta consiste no momentoem que, por vontade Helênica e obviamente por consequência desta guerra Apolíneae Dionisíaca, surge a tragédia grega, queé o ponto de encontro destes dois instin·tos, onde eles se encontram e se abraçam.
O ApolÍneo, o sonho, as artes plásticasa representação: "a aparência cheia de bele·za, dos mundos do sonho, na produção do~
quais qualquer homem é um artista perfeito, é para nós, a condição prévia de toda~
as artes plásticas (... ). "Todo homem qUI
for dotado de espírito filosófico há de te]
o pressentimento de que atrás da realidadeem que existimos e vivemos se esconde outra muito diferente e que, por consequência, a primeira não passa de uma apariçãoda segunda."
No que Nietzsche discorre sobre Apoloe os sonhos, nos parece clara uma idéia desonho como realização de um desejo e produto da representação de uma outra realidade muito diferente da que nos é cotidiana. Em "A Interpretação dos Sonhos",Freud desenvolve esta idéia básica dosonho como realização de um desejo e OttoRank não hesita em ver em Nietzsche oprecursor da psicanálise. Mas isto não querdizer que Nietzsche tivesse alguma ligaçãocom o que se tornaria, tem pos depois, apsicanálise e muito menos que Nietzsche,se vivo?, aceitaria essa ligação feita porOltO Rank.
"O artista examina minucio,sa e cuidadosamente os sonhos, porque sabe descobrir, nessa pin cura, a verdadeira in terpretação da vida (... ). Estes fatos confirmamevidentemente que a nossa natureza maisíntima, o fundo com um do nosso ser, encontra um prazer indispensável e uma alegria profunda na imensa paixão de sonhar."
A estratégia Apolínea é o culto à beleza, que esconde a verdade com o véu da beleza, o maia, a ilusão. E, neste culto ao belo, há todo um desejo de libertação. Libertação da dor passando pela beleza.
O homem, através do mundo Apolíneo, liberta-se da moral, da realidade cotidiana que entra numa outra realidade, escondida, camuflada, onde a representação élivre, fluída através do sonho. Mas o homem não se basta aí e se vê dominado pelohorror quando derrotado pelas formas aparentes dos fenômenos e quando cai por terra, o que lhe confere os princípios de individuação. O homem cai en tão na necessidade visceral de negação de toda e qualquerrepresentação, na necessidade de negaçãode si mesmo para penetrar profundamentena embriaguês. Este é o que há de mais pro.fundo no homem, o il1stinto Dionisíaco. Epreciso então abandonar este indivíduo. Es-
te "eu" nada mais é do que representação,que aparência e impedimento para a explosão do homem inteiro, que é próprio universo, o cosmos. Graças à bebedeira narcótica, os povos primitivos cantavam seus hinos. A embriaguês puxa o homem para aexaltação Dionisíaca que vai despertar ohomem para o total esquecimento de simesmo. Perante o estado Dionisíaco, o homem é tomado de uma aliança com a natureza. Agora não existe mais individuação.Agora cada ser é, nele, o universo, o unoprimordial.
"Cantando e dançando, manifesta·se ohomem como membro de uma comunidadesuperior: desaprendeu de andar e de falar,mas vai se preparando para a ascensão. Seusgestos rÍtmicos revelam uma beatitude deencantamento. Agora já os animais falam,já a terra produz leite e mel, porque a vozdo homem adquiriu uma ressonância de ordem sobrenatural. O homem diviniza·se,sente·se Deus, e por isso a sua atitude é tãonobre e tão extática como a dos deuses queele viu em sonhos."
Dionísio representa a quebra total coma representação, é o próprio embaralha·mento dos códigos, o suor, os suspiros, aintensidade e a paixão. Nietzsche nos falaentão das festas Dionisíacas, das orgias eda forma como a potência Dionisíaca semanifestou. Nestas festas, o delírio, a arteinvadem todos os cantos, penetram em todas as frestas. Nelas, o princípio de individuação é exterminado em nome da embriaguês, da arte, do delírio. Nelas, a crueldadee o prazer tornam-se oriundos de uma sóintensidade como se um desejasse o outro,como o sofrimento que produz prazer ou oprazer que se manifesta pela dor.
Diante do templo dos deuses olímpicos, diante de figuras majestosas, há de seperguntar: "Que necessidade desconhecida
o
foi a de dar à luz esta sociedade de criaturas olímpicas?". O mundo olímpico, comseus deuses, não representa dever, ordem,consolação ou imaterialidade. Pelo contrário, eles são exuberantes e exóticos, produ·zem fascínio c excitam nossa imaginação;onde o bem e o mal possuem o seu lugarigualmente divino.
O grego conheceu a dor e o horror deuma existência medíocre e, como sentidopara uma vida agora, presen te, produziu emsonho o mundo olímpico, que representatoda a natureZ<l e existência, em forma dedeuses presentes e acessíveis. Deuses quenão possuem uma distinç50 moral entrebem e mal; Deuses sem moral. simplesmente belos. E preciso tornar a vida desejável,é preciso divi'lizar d vida.e trazer os deusespara junto dos homens. E no próprio mundo humano que vivem os deuses. Divinizase o mundo e n ele moram homens e deuses,e nele copulam homens e deuses.
Se os deuses vivem como nós, se vivemno nosso m LIndo e copulam conosco, estájustificada ;\ nossa existência, pois nossomundo é o próprio paraíso onde tudo podeacontecer. porque n50 existe outro, não háoutra realidade, não há divisão e classifica·ção entre bem c mal. O bem não está comDeus e o ma I conosco. Bem e mal. homense deuses, rodos banham·se no mesmo sol.
O homem na embriaguês Dionisíaca,ou melhor. quando se 10c"liz" entre a realidade Dionis.íaca e a realidade cotidiana, seencontra em um abismo, um vazio que separa um e outro. E, na presença da realidade cotidi"na, surge o aborrecimento emcontato com a mediocridade. O resultado éuma negaç50 da vontade, já que parece ridícula esta pretens,io de consertdr o mundo. "O conhecimento m<lta a ação, poraagir é indispens,ivel que sobre o mundo paire o véu da ilus,io - eis que Hamlet nos ensina 'I,
Quando nada parece surgir que tire ohomem deste ascetismo diante da realida·de cotidiana, a vontade despreza os deusese deseje, a morte. Renega.se a existência.
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Depois de ter sentido a embriaguês Dionisíaca e ter tido novamente contato com arealidade cotidiana, o homem se confrontacom o aspecto horrível e medíocre da existência. Num momento de maior perigo para a vontade, para o mundo Dionisíaco,surge então a arte que, como um Deus, promove a salvação. A arte é a possibilidade, éo espaço da embriaguês Dionisíaca dentroda realidade cotidiana. Não exatamentedentro dela, pelo contrário, a arte acontecefora da realidade cotidiana, mas acontececomo espaço para o delírio dentro destarealidade. A arte, como absurdo, como delírio, nos liberta do aborrecimento.
Mas, para haver arte, é preciso antes detudo abandonar as referências da realidade.O verdadeiro artista é aquele que se libertada individualidade, da slJbjetividade, abolindo o desejo individual, para a contemplação pura e desinteressada da totalidadeuniversal. Cada homem traz em si um universo. O artista está diante da renúncia aoeu, à tirania do eu, que aprisiona os homens a uma realidade dividida, dicotômica,uma realidade dec011hecimento e verdade.O conhecimento mata a ação. Para haveração, é preciso que sobre o mundo paire ovéu da ilusão. A arte vem como o mergulho, através da negação do eu, através dadesintegração da individualidade; a arte é opróprio delírio, é o homem diante do seubismo, O) homem diante de sua dor visceralde existir.
Assim nos diz Nietzsche em "A Origem da Tragédia ". E, se por uns instantes,não falamos em doença mental, em todosos instantes ela esteve presente, pois estesmesmos momen tos Dionisíacos de paixão,arte e beleza, de vida e in tensidade estãopara Nietzsche, não para a psiquiatria. Apsquiatria, com certeza, internaria todos osartistas Nietzscheanos. Ou a sociedade ossuicidaria como fez a Van Gogh e outros.Quando Nistzsche nos diz da arte comosendo unicamente possível por uma negação da individualidade e um mergulho Dionis íaco nas imagens sem formas, nos diz deum momento sublime de grandeza e intensidade. Nos diz da negação de uma realidade dicotômica, para o· encontro universaldo homem ao uno primordial. É incrívelcomo este mesmo homem aparece dividido,despedaçado, desin tegrado e cada um destes pedaços, relu tado, delimitado por umsintoma, por uma doença, justificada poruma ciência. O cerco diante do abismo dohomem, diante da realidade abismal deexistir criou, através da arte, o mundoolímpico. O homem (num outro momento)diante da realidade abismal de existir, diante da presença Dionisíaca que possibilita adesintegração e a desrazão, criou uma
doença e uma ciência que a justifique. OHomem, liberto da tirania dicotômica doeu, é o internado da psiquiatria, o delirante do hospital e das ruas e o suicida dasociedade.
Só agora nos parece clara a micro físicado poder, ou poder micro físico que nosmostra Foucault. O poder do artista quepossibilita a disposição da dicotomia e oencontro com o universo, com o uno primordial, ultrapassa qualquer relação de poder, ou até mesmo, não passa por ela. Talvez esta seja a razão do hospital psiquiátrico, isolar na medida em que se torna impossível domar, domesticar. E, no maiordos casos, suicidar é uma saída da sociedade.
Artaud foi um artista. Artaud foi Dionis íaco. Para a sociedade, existiram doisAntonio Artaud. Um louco que fervilhoua França entre 1896 a 1948 e um AntonioArtaud escritor, poeta que, para a humanidade em livros, e que devemos admitir,trouxe contribuições. Artaud fala de teatro
A arte, como absurdo, comodelírio, nos liberta do
aborrecimento,
e propõe o teatro da crueldade. Artaud para nós, aqui, representa o artista Nietzscheano, e, mLÚto mais que isso, representa o artista psiquiatrizado, por seu Nietzscheano,Artaud e o Nietzsche têm em comum a arte, como a não razão, como saída para oaborrecimento da vida, ou como vômito docotidiano. Entre Artaude Nietzsche se encontra a dor, o palco, o delírio, a embriaguês e Dionísio. Artaud é um drogado eacredita que a droga possibilita a passagempara um estágio onde a vida deixa de ser o"tédio destilado na qual as consciências vegetam", A droga leva o homem a uma outra realidade, onde os códigos sociais sãoridículos e insignifican tes, esta realidadeafasta das normas sociais, possibilita umoutro universo, maior e uno. Talvez o Dio·nisíaco se aproximasse do drogado de Artaud.
A Artaud nos diz em "O Teatro e seuDuplo" num texto intitulado "É Precisoacabar com as Obras Primas",
"Trata-se de saber o que queremos, Se
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já estamos preparados para a guerra, a peste, a fome, o massacre, então nem precisamos falar, basta continuar: continuar noscomportando como esnobes, comparecendo em massa, para ver tal cantor, tal espetáculo admirável e que não ultrapassa o domínio da arte (... ) tal exposição da pinturade cavalete na qual laI1lfejam aqui e aliformas impressionantes, mas ao acaso esem uma consciência verídica das forçasque poderiam acionar. (, .. ) ,Basta de poemas individuais que só trazem proveitoàqueles que os fazem, nunca àqueles que oslêem (... ). Acredito que o teatro utilizadono seu sentido superior e mais difícil tenhaa capacidade de influir no aspecto e na formação das coisas: o encontro em cena deduas manifestações passionais, dois espaçosvivos, dois magnetismos nervosos, é qualquer coisa de tão íntegro, tão verdadeiro,tão determinante quanto no plano da vida,o encontro de duas epidermes num estuprosem manhã.
É por isso que proponho um teatro dacrueldade (... ) mas teatro da crueldade querdizer teatro difícil e cruel principalmentepara mim. No plano da representação, nãose trata desta crueldade que podemos exercer uns sobre os outros, despedaçando-nosmutuamente (... ) mas sim da crueldadem LÚtO mais terrível e necessária que as coisas podem exercer sobre nós. Nós somos livres. O céu ainda pode cair sobre nossas cabeças e o teatro é feito para ficarmos sabendo disso. Ou somos capazes de voltarpor meios modernos a essa idéia superiorde poesia e de poesia pelo teatro que estápor traz dos mitos narrados pelos trágicosantigos (... ) ou então nada nos resta senãonos entregarmos imediatamente e sem reação, reconhecendo que só servimos para adesordem, a fome, o sangue, a guerra e asepidemias. (... ) Para os que se esqueceramdo poder comunicativo e do mimetismomágico de um gesto, o teatro pode reensinar-Ihes tudo isso, porque um gesto, trazconsigo sua força e porque de todo modohá no teatro seres humanos para manifestar a Força do Gesto feito. (... ) O teatro éo único lugar do mundo e o último meio deconjunto para alcançar diretamente o organismo e, nos momentos de neurose e baixasensualidade através dos meios físicos aosquais ela não resistirá,
(... ) Dito assim, isto parece fraco epueril. Tudo depende do modo e da pureza com que se fazem as coisas. O risco existe. Mas que ninguém esqueça que um gestoteatral é violento, porém desinteressado, eque o teatro ensina exatamente a inutilida·de da ação que, uma vez exercida, não maisserá exercida, e a utilidade superior do estado inutiliza pela ação, mas que, revirado,produz a sublimação."
1889 1930. Um período históricoda pré-industrialização do E.Santo
Gabriel Bittencourt"
$ -
ao
fendia a tese dos "Choques Adversos", segundo a qual as duas guerras mundiais e acrise de 1929 teriam tido efeitos estimulantes sobre a industrialização brasileira.
Estudos mais recentes como, porexemplo, os de Waren Dean (1969) questionam esta tese. Segundo Dean, a PrimeiraGuerra, ao contrário, teria obstado o desenvolvimento industrial, ao dificultar a importação de bens de capital. N ícia VilelaLuz e Fishlow procuram avaliar o crescimento industrial anterior ao la GrandeConflito. Este Último, aliás, destaca opapel do "Encilhamento" e questiona orevisionismo de Warren Dean.
Todas essas discussões, a nosso ver,têm sido fecundas. Há, entretanto, inúmeras lacunas a serem preenchidas e estas, emnossa opinião, necessitam de mais estudosde caso, a fim de melhor entender-se o processo de industrialização brasileiro.
"Professor Adjunto da Ufes, Pós-graduado em História Econômica pela "Université de La Sorbonne"
desvantajosos, com graves repercussões para a economia local e para o próprio futurodas iniciativas industriais.
Como as possibilidades de êxito econômico do Estado enquadram-se na área cafeeira, ganhando esta, na década de 1920, novos impulsos, os atrativos para investimentos tanto por parte do Governo como dosempresários serão para ali recanalizados, direto ou indiretamente, representados emtermos de facilidade de circulação, rea parelhamento portuário, crédito bancário etc.
Por outro lado, em termos historiográficos, os estudos iniciais sobre a industrialização no Brasil são relativamente recentes. As primeiras análises e interpretações surgem simultaneamente e/ou englobadas nas sínteses da história econômica doBrasil. Inicialmente, podemos destacar Roberto Simonsen e Caio Prado Júnior, acrescentando-se Celso Furtado (1959) que de-
o aspecto que tomou a colonizaçãobrasileira de uma imensa em presa comerciaL destinada a explorar os re'cursos naturais, não atingiu, no Espírito Santo, o sucesso esperado, A busca infrutífera deouro, no início e a incapacidade de firmarse no mercado mundial do açúcar, posteriormente, redundou na ausência de umaorientação econômica que permitisse acompanhar o "desenvolvimento" colonial.Reduzido a aproximadamente 5% do seuterritório primitivo, ainda assim apresentava uma baixa densidade populacional queteve de ser sistematicamente incrementada,quando se ligou à economia cafeeira de exportação, a partir de meado do século XIX.A fragmentação da população e o vazio demográfico, que caracterizavam o interior,não deram margem para o aparecimento deuma produção artesanal de peso no Espírito Santo, O próprio movimento imigratóriodo século XIX, na região capixaba, serátambém canalizado para a agricultura deexportação do café, verdadeira "vereda desalvação" da economia locaL Contudo, a
despeito da dinâmica econômica do cahos efeitos do multissecular desequilíbrio regional não permitiram a formação de umainfra-estrutura urbana no Estado. 'Logo, osesforços industrializantes do Espírito Santona Primeira República podem e devem serentendidos muito mais a partir de uma intenção governamental de modernização ede diversificação econômica, inclusive, dopróprio setor primário com o qual estavacomprometido do que de estímulo ao início de um sólido processo de industrialização. Faltou à elite político-administrativalocal a com preensão da deficiência infra-estrutural, que se posicionou como a principal barreira aos esforços capixabas.
O aspecto negativo dos esforços industrializantes do Espírito Santo, principalmente da administração Jerônimo Monteiro, concluímos, se explica muito mais pelasua artificialidade. O capital e a tecnologiaeram importados, a matéria prima inexistente, concessões de toda espécie onerandoos cofres públicos, que, sobrecarregados,induziram a administração pública a prender-se ainda mais nas malhas das finançasinternacionais, contraindo empréstimos
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o marco inicial, 1889, corresponde aoperíodo de transformação para um regimepolítico federalista no Brasil, aliado aoqual, nos primeiros anos de sua existência,observa-se a adoção de um aspecto concreto na tentativa governamental de iniciar umprocesso de industrialização no EspíritoSanto.
O limite término, 1930, foi fixado tomando-se em consideração as intensas modificações ocorridas no país, de ordem política e por extensão social e econômica eque trazem t'm seu bojo a transformação davelha estrutura inibidora do desenvolvimento industrial c, com ela, a evidência dos fatores possivelmente ligados à estagnaçãodos projetos capixabas durante o período,ressalvada a especificidade dos problemasinfra-estruturais do próp'rio Estado do Espírito Santo.
O Café. Calcula-se para o Espírito Santo, no início do século XX, uma superfíciede apenas 42.439 km2, 5% apenas do quefora no início da colonização. Desta superfície, 3/4 ainda eram considerados em matavirgem e a bacia do Rio Doce era tida comoa grande perspectiva à exploração econômica, na medida em que se expandia afronteira do café, que penetrara na regiãoa partir da segunda metade do século XIX.
O café, como se fora uma imensa"mancha de óleo", dilatara-se da provínciado Rio de Janeiro e para o norte encontrará no Espírito Santo o seu limite ecológico.O principal produto colonial, o açúcar, cederá seu lugar, ocupando o café toda massade mão-de-obra disponível.
Surgirá uma verdadeira "febre" da cafeiculturura e mesmo os pequenos lavradores abandonarão as culturas tradicionais dosolo, ocasionando uma alta considerávelnos gêneros alimentícios.
O Sul da Província concentrava amaior parte da produção, notadamente novale do Itapemirim, com suas excelentesterras onde se formou a principal oligarquiacafeicultora, deslocada do Rio de Janeiroe Minas Gerais, ficando o imigrante europeu sobretudo nas regiões mais altas, masocupando-se, também, da produção do café, a grande e única perspectiva viável deexploração econômica, que fará o EspíritoSanto todo café.
No início da República. O rumotomado pela formação histórica da antigacapitania do Espírito San to levou-a adtsempenhar sempre um papel secundáriono desenvolvimen to nacional, na medidaem que se ligou tardiamente à economia tropical de exportação, predominantenO modelo brasileiro.
A fragmentação da população e ovazio demográflco que caracterizava oin lerior, a m onocultura, posteriormente,
não deram margem para o aparecimento deuma produção artesanal de peso na provín.cia do Espírito Santo. Logo, o próprio movimento imigratório do século passado, queno Sul do Brasil proporcionou o desenvolvimento de manufaturas e artesanato, naregião capixaba, foi canalizado para a agricultura de exportação, caracterizando umdos únicos momentos favoráveis à sua economIa.
Entretanto, a despeito da dinâmica docafé, os efeitos do multisseculandesequilíbrio regional inibiram a formação de umaestrutura urbana no Espírito Santo como,por exemplo, no Rio de Janeiro ou em SãoPaulo. Não havia condições infra-estruturais para um desenvolvimento manufatureiro expressivo: capitalização, mão-de-obraespecializada e densidade adequada de população.
A necessidade de aumento da receitapública e a dependência das incertezas damono cultura imprimiram, porém, esforçosindustrializantes no Espírito Santo, que podem ser entendidos muito mais a partir deuma intenção governamental de moderni-
o café dilatara-se daprovíncia do Rio de Janeiro
encontrando no EspíritoSan,t9.9 seu limite ecológico.
zação e de diversiHcação econômica do quepela existência de estímulos naturais quepropiciassem tais esforços.
Inserido na região nacional produtorado café e do produto totalmente dependente, já que o mesmo substituíra a parte significativa das outras culturas, a problemáticada monocultura afeta sensivelmente o es·pírito-santense.
O final do século XIX fora de bons recursos para a administração pública, emtermos regionais. O orçamento da Província que, em 1889, não ultrapassavaa Rs. 500:000$000, atinge a mais de5.000 :000 $ 000, no estado, entre 1896 e1898.
O preço do café ocasionará o aumentoda produção, mas o produto já apresentavaos primeiros sinais de sua debilidade. A fragilidade da estrutura econômica brasileira,caracterizada também pela mono cultura,fazia-se sentir sensivelmente de acordo comas oscilações do mercado internacional,quando o café chega a representar 94,33%das exportações capixabas. Logo, consequentemente, mesmo no seio da elite cafeicultora havia permeabilidade às idéias da
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necessidade da criação de mercado parauma agricultura diversificada e que\ isso poderia ocorrer com a implantação de um setor industrial para a absorção da matériaprima local. Por outro lado, o próprio momento político incentiva as iniciativas dosgovernos locais. O advento da República,sob a forma federativa, em princípio, gerava esta euforia autonomista.
No Império, o sistema centralista sugava as principais fontes de contribuição para o orçamento da Nação, ficando a província obrigada a gravar seus tributos em rarostítulos que ainda não estivessem, sobrecarregados com o imposto nacional: As províncias eram-lhes vetado taxar a importação,a criação do selo e a contribuição geral daexportação já era considerada tão alta queseria impossível gravá-la sem que houvessesérios transtornos para a economia local.
Por sua vez, ainda em fins do períodomonárquico, intensifica-se um pouco a vidaurbana, notadamente nos centros de comercialização de café do País, onde a mono cultura, concentrando a mão-de-obra,encetava um formidável fluxo de importação. O próprio processo de emancipação daescravidão e a abolição também para issocontribuirá, liberando consider;ivel parte damão-de-obra rural para os centros urbanos,engrossando, desta maneira, o mercado demanufaturados simples e de baixo custo.
No Espírito Santo, do total "importado", ainda em 1910, calcula-se que 40% erarepresentado por têxteis, 30% por bebidas,20% por gêneros alimentícios em geral, inclusive o sal, 10%, produtos essenciais à vida sim pies e provinciana do pequeno estado e que poderiam ser produzidos no próprio local regional, se houvesse uma boaorientação econômica para a criação deuma infra-estrutura industrial de substituição de im portação.
Não havia, porém, sequer uma tradição artesanal no Espírito Santo, a produção têxtil que Saint-Hilaire registra no início do século XIX sucumbiu ante a inexorável marcha do café.
Aliás, sendo o café um dos menos industrializáveis dos bens primários e, ainda,relativamente diminuto seu mercado local,até a matéria-prima teve que ser incrementada ao se partir para um planejamento industrial artificial, objetivando-se preencherum papel incentivador do crescimento dosetor primário diversiHcado, uma vez que,o tradicional, calculado na monocultura, jádava mostras de saturação.
Esforços. para Modernização. Os primeiros surtos industriais, verificados nasprincipais cidades do País, influenciarãotambém a elite político-administrativa representante dos cafeicultores, que vê nacriação de algumas fábricas um prolonga-
A cafeicultura monopolizou a produção agrlcola dp Esplrito Santo
mento da agricultura e um estímulo à suadiversificação. Disso resultou a Lei Estadual nO 34, de 29 de Novembro de 1892, pela qual o Governo do Estado era autorizadoa conceder a "Garantia de Juros" até umlimite de 500.000 libras esterlinas durante15 anos, às empresas que se propusessemfundar estabelecimentos industriais. Tal incentivo do poder público não tardou a despertar interesses, realizando o Governo inúmeras concessões: para a criação de um engenho central de açúcar no vale do Itapemirim, fábrica de tecidos de algodão e depapel nos municípios da Capital e de Anchieta, e tecidos de "malha" no municípiode Vila Velha.
Não se concretizará, contudo, esta primeira tentativa republicana de esforços industrializantes no Espírito Santo. A dificuldade de matéria-prima, mão-de-obra e,principalmente, capital, inviabilizará os empreendimentos. A única empresa inaugurada, a "Fábrica de Tecidos de Meia" (malharia), foi concluída por cessionários docontrato inicial. Aliás, já se tornara comuma especulação em torno dos contratos deconcessão e privilégios; primeiro das estradas de ferro e colonização agrícola, agorade fábricas. Dessa maneira, tanto pelo artificialismo dos empreendimentos como pela especulação, caducaram as demais concessões supra-citadas.
No entanto, apesar do fracasso dessesprimeiros esforços industrializantes, a problemática da monocultura continuava pressionando a elite política que, originária daclasse cafeicultora, aspirava a oferecer opções de diversificação aos fazendeiros e umorçamento estatal mais estável e mais amplo, evitando-se as susceptibilidades das oscilações dos preços internacionais do caféno mercado mundial.
O amadurecimento desse ideal vai atingir em cheio o governo Estadual de Jerônimo Monteiro, 1908-1912. Originário deuma importante família cafeicultora do vale do !tapemirim, Jerônimo Monteiro, ainda em sua plataforma política, aponta osmeios de realizar seus objetivos de governo: serviços de água, luz, escolas técnicas,lavoura diversificada e implantação de fábricas pelo próprio Estado.
Argumentava Monteiro que havia ummovimento geral de progresso no País doqual o Espírito Santo ainda não participavae, por isso, embora professasse um liberalismo econômico, predominante na época,decide intervir diretamente na economia local.
Para isso, celebra inúmeros contratospara construção de fábricas de tecidos, cimento, "material sílico-calcáreo", aproveitamento de fibras têxteis, óleo vegetal,açúcar, papel, artefatos de madeira, monta-
dora de máquinas agrícolas, beneficiamento de sal marinho e duas usinas hidroelétricas; quase todos os empreendimentos novale do ltapemirim, onde tinha interesseseconômicos.
As diversas operações financeiras doseu antecessor darão respaldo às suas realizações, inclusive os recursos oriundos daprivatização das estradas de ferro do Estado. Ao longo do seu Governo veremos umritmo de obras jamais visto até então.
Tal será o impacto de seus projetos, alguns concluídos ainda durante sua gestão,que no Estado, cuja arrecadação atingiaapenas a Rs. 2.403:056$401, em 1908, sobreveio uma dívida da ordem de mais deRs. 24.000 :000 $ 000, sem que seus detratores conseguissem incompatibilizá-lo coma opi!1ião pública.
As atividades industriais em implantação percebe-se o objetivo do aproveitamento da matéria-prima local e/ou estímulo à
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OouglasLynch
criação de novas ofertas regionais. Não havia uma aspiração em se promover uma sociedade urbano-tecnológica gerada pela indústria: a preocupação com os proprietários de terra e com o sistema por eles controlados se faz presente em todos os atosdo governo.
A indústria têxtil visava criar um mercado para incentivo do cultivo do algodão.A fábrica de cimento aproveitaria as próprias jazidas da família Monteiro e a usinade açúcar seria implantada em pleno meiorural, em local não afetado pela "febre" docafé. Consequentemente, não havia choques com os interesses agrários sempre predominantes no Espírito Santo. O êxito detais unidades produtivas dependia, porém,do mercado local. Este, entretanto, era bastante reduzido, não só pelo baixo poderaquisitivo da população, como, também,pelo vazio populacional que ainda caracterizava o Espírito Santo. Vitória, a capital,
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em 1908, devia contar com uma populaçãoaproximada de apenas 12.000 habitantes.
Por seu turno, ~ara atingir o mercadoregional, dominado pelo Rio e São Paulo,seria necessário tecnologia, preços competitivos, mão-de-obra especializada, matériaprima abundante, energia e capital; carências infra-estruturais tradicionais do Espírito Santo e que não poderia competir comesses dois principais centros industriaisemergentes do Brasil e que, nesse momento, já caminhavam para a concentração industrial.
Logo, sem se aten tar às limitações locais, perder-se-ão esses primeiros esforçosconcretos de implantação de um "distritoindustrial" local.
O primeiro setor beneficiado, energiahidrelétrica, como indústria de base aos demais empreendimentos, passará décadassem que hajam ampliações decorrentes dedemanda industrial. Como melhoramentourbano, sim: cumprirá um impo~tante papel de produzir energia elétrica para a iluminação pública da Capital, até então servida por Iam piões a gás.
Outros setores permanecerão no limitelocal e com pequenas possibilidades nomercado nacional, como por exemplo, otêxtil e o agro-açucareiro. Alguns empreendimen tos nem sequer foram concluídos.A indústria de beneficiamento do sal marinho seria a primeira a sentir os rigores doartificialismo do empreendimento. Implantada em J ucutuquara, Vitória, chegou a algumas experiências consideradas satisfatórias. A falta de técnica e de pessoal especializado, entretanto, tornará o projeto umfracasso já ao tem po do Governo Monteiro,com um prejuízo de Rs. 10.891 $138 emserviços realizados. Por outro lado, a IGrande Guerra de 1914-1918 colherá 05
projetos industriais do Espírito Santo, algumas em plena implantação. Isso apresentará uma dupla conotação para os mesmos.Para alguns empreendimentos podemos,talvez, aceitar a análise "tradicional" deque a guerra teria funcionado como catalisador do impulso inicial da tentativa industrial. É o caso, possivelmente, do setor têxtil, no qual observamos uma nítida ascenção durante o período 1914-1918. O mesmo, também, poderíamos afirmar quantoao setor agro-açucareiro, não fosse os problemas da Usina, de ordem jurídico financeira, que em perrava o seu pleno funcionamento.
Entretanto, o fechamento dos portoseuropeus e o processo de substituição dasperdas de guerra, levado a efeito nos paísesindustrializados fornecedores de bens decapitais aos empreendimentos capixabas,im pediram mesmo a conclusão de algunsestabelecimentos fabris em tempo útil.
Para as fábricas de papel e cimento,por exemplo, não houve meios de completar os equipamentos durante o período.
Esta última, que empregava maquinário alemão, emperrava-a a falta de fornecimento do material para o sistema de caboaéreo para o transporte do calcáreo.
Mas os problemas não se resumiam aesses fatores. Se para as fábricas de papel ecimento faltavam equipamentos, para outras não havia sequer matéria-prima e/ou ocusto de produção tornava-as inviáveis.
Es t es en tretanto são apenas alguns aspectos do problema. Na realidade, os aspectos negativos desses esforços industrializantes, acreditamos, se explicam muitomais pela sua artificialidade. A interferência do Governo, que poderia representarum estímulo à industrialização, terminoupor ficar nos justos limites da própria açãogovernamen tal.
Sem obediência às condições do mercado local, tais implantes industriais nãosurgirão como em outros estados ou regiõesdo país, normalmente voltados para as necessidades locais, na forma de atividades
complementares à atividade predominante.(Sacaria para agricultura regional, oficinade reparo para a construção de equipamentos de açúcar etc).
No caso do Espírito Santo, mesmo aindústria têxtil objetivará a "exportação"e, para a administração pública, haverátambém o escopo do aumento da renda estadual, quer diretamente pela taxação deprodutos industrializados, quer indiretamente pelo incremento da lavoura diversificada. No entanto, as condições incipientesda indústria do Espírito Santo não permitirão à periferia capixaba comrartilhar comsucesso no mercado regiona, onde já solidamente se fixavam as indústrias do eixoRio-São Paulo.
Entre 1907 e 1919, a indústria de SãoPaulo crescera 8,5 vezes, alterando sua participação no total da indústria brasileira de15,9% para 31,5%, no período. A indústriado resto do País crescera apenas 3,5 vezes, reduzindo sua participação de 84,1%para 68,5% e a década de 1920 proporcionaria ainda uma nova expansão da indústriapaulista, consolidando seu processo de concentração.
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Quanto ao Rio de Janeiro, emboraaflore nitidamente a recessão de sua liderança industrial, caindo para 20,8% sua participação industrial no mercado nacional, deacordo com o censo de 1919, na década de1920 a grande expansão cafeeira nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, áreasde sua influência, dará um novo incentivo àindústria carioca.
Paradoxalmente, porém, no mesmo período, estagnavam-se os projetos industrializantes do Espírito Santo. O governo estadual toma algumas medidas paliativas, arrendando fábricas, comprando a produçãofabril, medidas que só prolongavam a agonia de algumas unidades na década de 1920.Para outros empreendimentos, entretanto,a sorte estava selada.
O Governo Nestor Gomes, 1920-1924,por exemplo, resolveu desmontar a fábricade papel e vender seu maquinário. Mesmodestino daria à fábrica de óleo, paralizadapor mais de 13 anos; assim como a "Fábrica-S ílico-Calcareo".
Enquanto isso, as atividades primáriasconservarão a hegemonia sobre as demais econtinuarão em crescimento contínuo.
O café, que em 1910 atingia a 407,970sacas de 60 kg exportadas, em 1916, chega à casa dos 968.195 kg e, em 1926, supera a marca dos 1.224.434 kg. Na décadade 1920, o Espírito Santo ascende ao 30
lugar na produção nacional, ficando o café,como já vinha ocorrendo, responsável pelaquase totalidade dos recursos para a manutenção do aparelho governamental e serviços oficiais. E, por extensão, podemos ainda afirmar, do comércio e da própria indústria sobrevivente, cujo funcionamento sópoderia ser mantido com tais recursos.
Disto concluímos que, cessados os estímulos dos invçstimentos públicos, nãoconseguirá o Espírito Santo atrair os capitais industriais já canalizados para o centronacional. Nem tampouco o capital localque, pr01uz.ido pelo café, ficará imobilizado no propno mecanismo de sua produção.Logo, com o abandono da maioria dos projetos industrializantes, fracassará também oesforço policultor, salvo no que se refere aocacau, que crescerá a níveis consideráveis,mas na proporção dos estímulos externos.
Daí até a crise mundial de 1929, oGoverno local vai procurar pautar suas metas diretamente aos interesses agrário-exportador, limitando a intervenção estatalao transporte e seus congêneres, infra-estruturando com melhor aparelhagem aomodelo tropical de exportação do qual oEspírito Santo era parte na divisão internacional do trabalho, como fornecedor dematérias-primas e importador de produtosmanufaturados.
Em 1984aracionalidade repressivaconsubstancia arealidade orwelliana
"Técnico do IJSN, Mestre em Administração Pública pela Universidade Federal de Santa Catarina,
Este ensaio constitui uma tentativa deobservação de relações existentes entre al
aspectos da Ciência Política ,e a obraGeorge Orwell, 1984. O interesse des
pertado pelo livro, quando da proximidadee decorrer do ano passado, levou a algunscomentários da imprensa nacional (1), quenos parece poderiam ser enriquecidos a partir de análises informadas pela Ciência Política.
As observações a respeito de 1984 serão baseadas em algumas teorias de cientistas políticos, procurando verificar possíveisreferenciais que proporcionem um melhorentendimento da época atual. Na medidaem que as análises se referem ao contextode naÇões industriais avançadas, como é ocaso da obra de Herbert Marcuse, e na medida em que o Brasil adota como modeloeste contexto, as análises que se refiram aomesmo possuem importância ao possibilitar discutir as nossas especificidades contemporâneas, principalmente com relaçãoao processo de Formulação e Avaliação depolíticas Públicas vigente, que procura acelerar o que se entende por desenvolvimento, ou seja, o alcance do 'status' de naçãoindustrial avançada.
A posição aqui adotada é a de que ochamado ficcionista, visto sob o referencialteórico a ser explicitado, assume uma importância que não tem sido consideradaadequadamente, principalmente nos meiosacadêmicos, onde se originam 'tecnologias'de gerenciamento governamental, ou público, e privado,
A Realidade Orwelliana. O Capitalismoconstitui um tipo específico de desenho desociedade, sendo, portanto, característicade um período específico da História. Esteperíodo histórico específico pode ser denominado genericamente de Idade Moderna, abrangendo desde o fim do feudalismo,com o surgimento do capitalismo, até aconsolidação do estágio atual das sociedades industriais avançadas, ou desenvolvidas,
Com a consolidação do capitalismo como modo de produção, ocorre o que KarlPolanyi denomina a 'grande transformação',isto é, a mudança da regulação da vida humana em associação por critérios políticospara critérios econômicos, Assim, os dese-
Hugo Júnior Brandíão"
nhos de sociedade passam a ter o mercadocomo referência básica, regulado através daLei da Oferta e da Procura. A dimensãoeconômica da vida humana em associaçãopassa a ser a dimensão preponderante, fornecendo critérios que, além de viabilizar oatingirnen to das necessidades pertinentes,em termos econômicos, assume uma abrangência maior, antes ocupada pela dimensãopolítica,
Característica básica dos desenhos desociedade centrados no mercado é, portanto, a preponderância da dimensão econômica e da organização destinada a viabilizar oatingimento das necessidades próprias e
essa dimensão, a burocracia, ou organização economicista.
Tanto ao nível macrossocietário, ondese examina o tipo específico de desenho desociedade, quanto ao n'ível organizacional,onde se pode visualizar as organizações burocráticas e instituições no âmbito das esferas pública e privada, um ponto fundamental na presente análise é o tipo específico de racionalidade que os orienta.
De acordo com a tipologia weberianade racionalidade, pode-se distinguir dois ti·pos básicos de orientação para a ação:
"a) Zweckrationalitat, ou Racionalida·de Formal - determinada pela expectati.
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va de resultados ou 'fins calculados';b) Wertrationalitar, ou Racionalidade
Substantiva - determinada independentemente de suas previsões quanto ao sucesso,não caracterizando nenhuma ação concernente com o atingimento de um resultadoposterior a ela" (2)
Esta tipologia, também abordada porMannheim numa retomada da sistemáticawe beriana (3), é analisada por AlbertoGuerreiro Ramos, no seu A nova ciênciadas organizações: uma reconceituação da riqueza das nações, recentemente editado ncBrasil pela Fundação Getúlio Vargas.
Para efeito da presente análise, umaoutra tipologia, como apresentada por Herbert Marcuse, explicita melhor o universoda racionalidade de dominação (4). Marcuse qualifica a racionalidadl! formal ou funcionaI, apontada por Weber, e contrapõe aesta, um outro tipo de racionalidade, a dialética.
A análise de Marcuse demonstra que aracionalidade formal, ou funcional, é umaracionalidade anticrítica e anti-histórica,mantida p~)[ interesses específicos de dominação. A racionalidade formal ou funcional corresponde uma linguagem funcionalizada, abreviada e unificada, a linguagemdo pensamento unidimensional que impedea 'negação' da ordem de dominação. A racionalidade formal é unidimensional, namedida em que possibilita apenas a dimensão da 'afirmação', aa conformidade ao'status quo'. Nas palavras do autor; "se ocomportamento linguístico bloqueia o desenvolvimento conceitual, se ele limita contra a abstração e a mediação, se se rendeaos fatos imediatos, repele o conhecimentodos fatores que estão por trás dos fatos, e,assim, repele o reconhecimento dos faros,bem como o conteúdo histórico destes. Talorganização da locução funcional é de importância vital na sociedade, e para ela; serve de veículo de coordenação e subordinação. A linguagem funcional unificada éuma linguagem irreconciliavelmente anticrítica e antidialética. Nela a racionalidadeoperacional e behaviorista absorve os elementos transcendentes, negativos e de oposição da Razão" (5).
A racionalidade form'al é uma racionalidade mantida por interesses específicosde dominação, fazendo desaparecer a tensão entre o 'é' e o 'deve', entre essência eaparência, potencialidade e atualidade. Estatensão pertence ao universo bidimensionalda locução, universo do pensamento crítico e abstrato. Para Marcuse, no desenvolvimen to do pensamento dialético, manifesta-se o caráter histórico das contradições,da tensão entre o 'é' e o 'deve'. Portanto, adimensão da negação é a dimensão da história, na medida em que permite a trans-
cendência do universo estabelecido de dominação, a transformação qualitativa darealidade, a negação do presente, do 'statusquo' (6). Como explicitado por Marcuse,as melhorias historicamente possíveis da vida humana em associação devem compreender transformações da 'qualidade' intrínseca ao desenho de sociedade, orientadaspela racionalidadade dialética (7). É claroque valores, como justiça social, equidadee solidariedade, entram nesta discussão, namedida em que se verifica uma qualificação da realidade do desenho de sociedade.
Categorização Política. A realidade dodesenho e da dinâmica da sociedade categorizada por Orwell, além de bastante sombria aos olhos do leitor comum, constituiuma categorização lúcida a respeito da Idade Moderna. Com a chave de entendimentoexplicitada anteriormente, espera-se demonstrar o universo da obra do autor como auxílio de um conceito psicanalítico. Orwell salienta em sua obra o grau de internalização desejada da repressão, movida porinteresses específicos de dominação (8). Aconceitualização repressiva, expressa exageradamente na 'Novilíngua', em 1984, obe-
"Em 1984 as super-potênciascolocaram a História
no refrigerador"
ANTONIO CALADO(JornaI1984, TVE 02/01184)
dece à racionalidade do desenho de sociedade específico, representado na hobbsianafigura do 'Big Brother', a totalitária corporificação do 'Partido' da 'Oceania', um superestado. A locução cifrada,abreviada das siglas governamentais, informa-se da racionalidade repressiva. Os lemas do 'Partido' exemplificam o uso dessalocução:
"GUERRA É PAZLIBERDADE É ESCRAVIDÃOIGNORÂNCIA É FORÇA" (9).Da mesma forma, o aparato governa
mental:" .. , os quatro ministérios que entre si dividiam todas as funções do governo:o Ministério da Verdade, que se ocupavadas notícias, diversões, instrução e belasartes; o Ministério da Paz, que se ocupavada guerra; o Ministério do Amor, que mantinha a lei e a ordem, e o Ministério da Fartura, que acudia às atividades econômicas.Seus nomes, em Novilíngua: Miniver, Minipaz, Miniamo e Minifarto(lO).
A 'Novilíngua' orwelliana, substituindo palavras por módulos, é caracterizada,principalmente, pela permanente falsi6cação da realidade e mutabilidade do passa-
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do, de acordo com as eXlgencias do 'Partido'. Um dos conceitos 'novilingüísticos'fundamentais é 'Crimedeter'. Nas palavrasde Orwell: 'Crimedeter' é a faculdade dedeter, de paralisar, como por instinto, nolimiar, qualquer pensamento perigoso. Inclui o poder de não perceber analogias, denão conseguir observar erros de lógica, denão compreender os argumentos mais simples e hostis ao Partido, e de se aborrecerou enjoar por qualquer trem e pensamentos que possam tomar rumo herético. 'Crimedeter', em suma, significa estupidez protetora".(ll).
Além de 'Crimedeter', os conceitos de'negrobranco' e 'duplipensar' são bastantesignificativos na exemplificação das categorizações da locução repressiva, como efetuadas por Orwell: assim como a históriadeve ser falsificada permanentemente, énecessário uma "flexibilidade, de momento a momento na interpretação dos fatos,Aqui, a palavra-chave é 'negro branco'. Como tantas palavras da Novilíngua, esta temdois sentidos mutuamente contraditórios.Aplicada a um adversário, caracteriza o hábito de afirmar impudentemente que o negro é branco, em contradição aos fatos evidentes. Aplicada a um membro do Partido,significa leal disposição de dizer que o preto é branco quando o partido o exige. Significa, também, a capacidade de 'acreditar'que o preto é branco, e mais ainda, de 'saber' que o preto é branco, e de acreditarque jamais se imaginou o contrário. Istoexige contínua alteração do passado, possibilitada pelo sistema de raciocínio quena verdade abrange tudo o mais, e que emNovilíngua se chama 'duplipensar'... 'Duplipensar' quer dizer a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas"(l2).
Estes con~eitos apresentados por Orwell, no contexto de 1984, constituem'insights' importantes, porque demonstrama preocupação política do '6ccionista',que, percebendo o que acontece com a História, suas mudanças, tem importância similar à do chamado 'cientista social'(13).No início da obra, quando o personagemcentral, Winston, tentando driblar a onipotente 'teletela' que a tudo controlava, decide escrever um diário e se pergunta aquem o d:sti~~va, Orwell exemplifica estapreocupaçao: Para quem estava escrevendo aquele diário? Para o futuro, os que nãohaviam nascido... Como poderia se comunicar com o futuro? Era impossível, pelaprópria natureza. Ou o futuro seria parecido com o presente, caso em que não lhe daria ouvidos, ou seria diferente, e nesse casoa sua situação não teria sentido"(14).
O aspecto mais im portante para a presente análise, categorizado por Ocwell, é a
Bibliografia
figura do 'Big Brother', o Grande Irmão.Este é o principal 'insight' do autor, em19&4. Sendo uma figura familia1, constituia principal referência para os indivíduos nodesenho de sociedade descrito na obra. Esta relação pode ser melhor entendida coma utilização de um conceito básico da psicanálise, a 'transferência'.
Em situações de terapia analítica, ocorre uma dependência do analisado em relação ao analista, pelo fato do primeiro transferir ao segun do a im portância merecidaanteriormente pelas figuras vitais de sua experiência. O analisado, 'transferindo' aoanalista a importância ocupada por .outrosem perÍodos signiftcativos de sua experiência, se encontra em uma situação de dependência, onde seu 'Eu' tem como referênciabásica o 'Outro Fundamental', o analista.James Glass, analisando o vínculo de dependência que as organizações burocráticas, informadas pela teoria organizacionalconvencional, procuram firmar com os indivíduos que participam de seu contextonormativo, explicita que é fácil ocorreremadulterações no método psicanalítico.Glass salienta que "para o paciente, a dependência persistente, enraizada através datransferência, pode ser não terapêutica; para o analista, a relação justifica tanto suafunção quanto o seu sustento"(15). Glassargumenta que as organizações burocráticas procuram justamente esse vínculo dedepen dência.
De qualquer forma, o que deve ser salientado é que a espontaneidade para sermanipulada por um Outro Fundamental,na psique da pessoa dependente, num sentido mais profundo, indica uma patologiabásica dos indivíduos na Idade Moderna:um medo que promove a libertação do egopara uma associação que, passando o tempo todo provendo segurança e direção, inibe totalmente a autonomia independenteda função organizacional( 16). Essa patologia básica, em outros termos, indica a necessidade de se ter a organização (nos diferentes níveis, o macrossocietário e o organizacional) como o Outro Fundamental,como o principal ponto de referência parao 'ego' do indivíduo que participa do contexto controlado e normatizado.
Em 1984, a hierarquia social, a dinâmica de funcionamento, o referencial absoluto do Grande Irmão, são mantidos atraveS do instrumental ideológico da verdadeúnica, "que além de imposta a qualquerpreço passa por um contínuo processo desimplificação, visando a eliminação de todaa capacidade de pensar dos membros doPartido (a consciência da massa não importa, basta influenciá-la de 'modo negativo',inculcando-lhe a histeria guerreira)"(17).Através do 'duplipensar', o Grande Irmão
anula consclencias que possam negar a ordem de dominação. E, ainda, "além da eliminação do passado como elemento dedesarmonia com o presente e como instrumento de verificação das afumações doPartido, este recorre a outros meios, bemmais convencionais, para moldar a consciência dos seus filiados: educação permanente, atividade coletiva sem intervalos, puritanismo, rejeição do sexo enquanto fontede prazer, sadismo, valorização do podercomo fim, não como meio"( 18).
Considerações - A realidade do desenho da sociedade atual, mantida por interesses específicos de dominação, onde nãohá uma participação do indivíduo comumno processo de defmição de sua realidadesocial, exige que esse indivíduo se mantenha como, o que Marcuse denomina, 'homem unidimensional', isto é, o indivíduoque somente afirma a ordem de coisas estabelecidas.
A sociedade industrial avançada, através de sua racionalidade, contém a transfor-
1) PACHECO, Marflia et. alli. 1,984 você conhece este tirano? Isto E, São Paulo.7 (362): 40-7, novo 83.
PONTES, Mário. Faltam três meses para1984. Jornal do Brasíl, Rio de Janeiro,2 out. 1983. Suplemento Especial p.1. C. 1, 2, 3, 4 e 5.
2) RAMOS, Alberto Guerreiro. The newscience of organizations. Los Angeles,1977 mimeo. Esta sistemática weberia·na foi também apresentada por ManoelT. Berlinck, em um prefácio a dois en·saios de Max Weber, da seguinte forma:"Zweckrationalitat: baseada na expectaviva de comportamento e objetos dasituação externa e de outros indivlduosusando tais expectativas como 'condi·ções' ou 'meios' para a consecução bemsucedida dos fins racionalmente esco·Ihidos pelo próprio agente.Wertrationalitat: baseada em crença novalor absoluto de um comportamentoético, estético, religioso, ou outra forma, exclusivamente por seu valor e independentemente de qualquer esperança quanto ao sucesso externo". WEBER, Max. Ciência e Política: duas vo'cações. 3. ed. São Paulo, Cultrix, p. 11.
( 3) MANNHEIM, Karl O homem e a socieda·de: estudo sobre a estrutura social mo·derna. Rio de Janeiro, Zahar.
4) O termo dominação é usado neste contexto, no sentido especificado por Marcu·se, ou seja, a de uma dominaçaõ usadapor um grupo ou indivíduo com o intuito de manutenção de uma posiçãop~iyilegiada, isto e, a permanência do'status quo '.
5) MAR CUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial; o homem unidimensio·nal 4 ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1973.p.103.
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mação social. A produtividade crescenteunida à destruição crescente; a eminênciade aniquilamento; o pensamento, as esperanças e o temor subjugados às decisões dospoderes existentes; a miséria preservadaapesar da riqueza sem procedente, "consistem a mais importante acusação -- aindaque não sejam a 'razão de ser' desta sociedade, mas apenas um subproduto, o seu racionalismo arrasador, que impede a efIciência e o crescimento, é, em si, irracional"( 19).
A racionalidade anticritica a anti-histórica da Idade Moderna informa as técnicas,sutis ou não, da dominação psicológica queconsolida a posição de dependência a umreferencial, que não conta com a participação do indivíduo em sua definição.
No caso de 1984, os mérodos do Grande Irmão alcançam, com Winston, seusobjetivos: tornar-se o referencial absoluto einquestionável: "Finalmente lograra a vitórIa sobre si mesmo. Amava o Grande I rmão"(20).
( 6) Ibid( 7) Um exemplo signijicativo, comentado por
Marcuse, da utilização de uma locuçãodialêtica, orien ta do pela racionalidadedialêlica, portanlo bidimensional, é oManifesto do Partido Comunista, deMarx e Engels.•
8) Para enrendimento dos mecanismos de in·ternalização da repressão caracteriSlicada sociedade contemporânea, veja:
MA R CUSE, Herbert. Eros e civilização;uma interpretação filosófica do pensa·mento de Freud 7 ed Rio de Janeiro,Zahar, 1978.
9) OR WELL, George. 1984. 17 ed São Paulo, Ed Nacional, 1984.
Ao n ivel da relação do illdiv iduo COI71 aorganiz_ação burocrâtica, veja.
BRANDIA O, Hugo Junior. Interação inúi·víduo-organização (possiveis implicações psicanaliticas). Florianópolis,UFSC. 1980.
(10) Ibid p. 9-10.(11) IbicL p. 198·199.(12) Ibid. p. 1 98·200.. .(13) Nessa perspectiva, um Importante painel
sobre as consequências do processo deformulação de politicas.públicas, vigen·te no Brasil, é Não veras paIS nenhum,de Ignácio de Loyola Brandão.
(14) Ibid. p. 12
(15) GLASS, James. Conciousness and orgnization. In Administration & SocIety. Vol.7. nO 3, November 1975.
(16) GLASS, James. Schizophrenia and perception: a critique of lhe liberal theory ofextemality In 1nquiry, nO 15. 114-145.
(17) PONTES, Mario. op. cito(18) 1bid(19) MARCUSE, Herbert. p. 17(20) ORWELL, George. op. cito p. 277.
o Grande Capital predominana expansão da economia capixaba
Haroldo Corrêa"
"Professor do Curso de Economia da Ufes, Técnico do IJSN
A economia capixaba, em meados dadécada de seteIlti; dispunha de razoávelinfra-estrutura de !/trànsportes, comunicações, energia elétrica e portos. Contava ainda com um parque industrial relativamenteimportante, concentrado' na região daGrande Vitória e gerador de 26,4% da renda interna estadual. Além disso, desfrutavade uma posição geográfica bastante estratÉgica e privilegiada, pois situa-se entre o suldesenvolvido e o nordeste subdesenvolvido,constituindo-se em área de trânsito, e possui uma extensa costa marÍtima com condições altamente favoráveis à construção deportos.
A essas condições somaram-se váriasoutras, que vieram possibilitar a continuidade do processo de expansão industrial
e retomada do crescimento da agricultura,que havia se mantido praticamente estagnada no perÍodo anterior.
Dentre as várias condições e acontecimentos que vieram favorecer o crescimentoda "economia capixaba" destacamos os seguintes:
· O auge cíclico da economia brasileira ocorrido entre 1969/73, que favoreceu aexpansão do "grande capital" e levou alguns grupos econômicos privados e estataisa tomarem decisões de investimentos quecontemplaram a economia capixaba;
· A política de divulgação de oportunidades de investimentos e de atração deinvestidores para o Espírito Santo, que foiim plementada pelos Governos Estaduais noperíodo de 1971 a 1979;
· O apoio dado aos novos investimentos em termos de incentivos fiscais e de financiamentos a longo prazo, que se realizavam em condições altamente favorecidas;
· A política energética, com a criaçãoem 1975 e implantação efetiva a partir de1979 do PROGRAMA NACIONAL DOÁLCOOL, que trouxe vários investidores eprojetos agroindustriais para o estado;
· A grande geada ocorrida em meadosde 1975, nas regiões cafeeiras do sul dopaís que, ao destruir boa parte da capacidade produtiva do produto, forçou a alta dospreços tornando a cafeicultura novamenteuma atividade compensatória e altamentelucrativa;
A po]{tica industrial arrojada proposta pelo Governo Federal no II PND em1974 que fez deslanchar um novo ciclo decrescimento da indústri" de base na economia brasileira.
Esses diversos fatores e condições fizeram com que, entre 1975 e 1985, umagrande massa de recursos viessem a ser investidos no Espírito Santo, principalmentepor grandes grupos econômicos sediadosfora do estado.
Assim, iniciou-se, em meados dos anossetenta, uma nova fase do crescimento econômico capixaba que foi caracterizada de
um lado, pelo comando e hegemonia do"grande capital". e de outro, pela diversificação e modermzação de todos os setoresda economia.
A hegemonia do "grande capital" seestabeleceu pela confluência de dois movimentos distintos. Um realizado pelo pequeno capital local, que durante a primeira fase de expansão (1967-74) apresen tou acelerado ritmo de acumulação e concentração, com o que alguns grupos tornaram-segrandes e estenderam sua atuação por outros mercados. Dessa forma, alguns gruposlocais se "nacionalizaram", posto que pas-
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'l'HIBUNA LIVRER Ir.
~..
'am a operar no mercado nacional ~ nãomente no restrito mercado local. E evinte, contudo, que isso só foi possível sedizar a partir do momento em que o próio mercado local assumiu determinadasoporções e esses grupos consolidaram sua.sição nesse mercado, base a partir dalal se projetaram no mercado nacional.
Por outro lado, esse processo não dever se realizado linearmente, pois tão logo oercado local tenha atingido tamanho sig,ficativo, deve ter se acirrado a concorrêna dos grandes grupos nacionais que atuam1 mesma área dos grupos locais. Além dis" os grandes grupos nacionais que procuIm se estabelecer no Espírito Santo não se:stringem apenas às áreas tradicionais e deomínio do capital local, senão se voltamluito mais para o desenvolvimento de atiidades ainda não existentes ou pouco de~nvolvjdas. Isso dinamiza o crescimento e,e certa forma, amplia o espaço de reproução do próprio capital local que, se não~ transformar em grande capital, tem pouas chances de sobrevivência.
Assim, sob a égide do grande capital,mplementou-se um amplo processo deTescimento de todos os setores da econonia capixaba, que tem conduzido a umarescente modernização e diversificação'conâmica, tanto na agricultura como nasttividades tipicamente urbanas.
Modernização da Agricultura. O setor19rícola, que tinha se mantido praticamente,stagnado durante mais de um decênio,rem passando por um intenso processo de,xpansão e modernização que se realiza:om o avanço da forma capitalista de pro:lução. Número crescente de empresas ru:ais tê!!1 sido organizadas pelo grande capital, com o que tem-se concentrado a propriedade e a posse da terra e aumentado,iubstancialmente, o número absoluto erelativo de trabalhadores assalariados nocampo. Além disso, a produtividade daagricultura tem crescido de forma significativa devido à adoção, por parte das empresas rurais, de uma nova matriz tecnológica que envolve o uso em grande escala deinsumos agrícolas modernos, tais como,máquinas e implementos agrícolas, fertili,antes, defensivos, sementes selecionadas,etc.
Todo esse processo de modernizaçãocapitalista da agricultura embora reduza, decerta forma, o espaço de reprodução da pequena produção familiar, convive com estae não elimina totalmente .a pequena propriedade nem a produção familiar dos pequenos proprietários e dos parceiros. Contudo, a pequena produção familiar não per-
manece intacta, sendo também atingidapelo processo de modernização que o desenvolvimento capitalista vai generalizando
e tornando irreversível A modernização seimpõe à medida que a pequena produçãoacaba tendo que concorrer com a produçãode escala capitalista. Assim, vai se constituindo uma nova estrutura de pequena produção que é moderna e radicalmente diferente daquela tradicionalmente dominantedo meio rural capixaba.
A modernização da agricultura podeser avaliada pelo crescimento do consumode insumos agrícolas. O número de tratoresaumentou de 508 em 1960 para 1.131,1. 940 e 5.334, respectivamente, nos anos de1970, 1975 e 1980. O grande crescimento(taxa anual de 22,4%) foi observado no perÍodo de 75/80. Também o número de estabelecimentos rurais que usavam adubaçãoquímica ampliou-se bastante, tendo passado de 0,5% do total de estabelecimentosem 1960 para 17,2 em 1975 e 50,8% em1980. Além desses insumos, cresce substanciamente o uso de arados de tração mecânica, de calcário e de defensivos agrícolas. Essa tendência evidenciada pelos dados acimanão pode ser constatada para o períodoposterior a 1980 devido à inexistência dedados censitários e de pesquisas específicas,
Entre 1960e 1970acafeicultura sofreu uma
redução de 48 %
mas parece bastante razoável supor que tenha prosseguido o processo de moderniz.ação, uma vez que, como veremos a segUir,as principais culturas agrícolas continuaramse expandindo.
A cafeicultura, devido à polltica de erradicação, havia sofrido uma redução de48% no número de cafeeiros entre 1960 e1970, tendo passado de 447,6 milhões para234,8 milhões de pés. Até 1975, em quepese a política de financiamento de novosplantios instituído pelo IBC a partir de1970, a situação não se alterou, pois o crescimen to do número de cafeeiros foi de apenas 5,2%, passando a 247,1 milhões de pés.Somente a partir de 1975, após a geadaocorrida na região sul e o consequente aumento dos preços do produto, verificou-seo crescimento do plantio, tendo a população cafeeira aumentado para 447,1 milhõesde pés em 1980 quando igualou-se ao número de cafeeiros existentes em 1960. Esseprocesso de expansão parece ter prosseguido nos anos subsequentes, pois as estimativas do !BC indicaram para o ano de 1984,um número efetivo de 585 milhões de pésde café.
Essa extraordinária expansão do plantio de café dos últimos dez anos foi acom-
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panhada de uma grande transformação dabase produtiva da cafeicultura estadual,que aumentou significativamente o nível deprodutividade da lavoura. En9uanto notriênio 1960/62 a produção media foi de925 kg de café em coco por hectare, notriênio 1981/83 a produção média elevouse para 1.218 kg/hectare.
A cana-de-açúcar, lavoura mais antigado Espírito Santo, que teve crescimentobastante lento nas décadas de sessenta e setenta, também recebeu um novo impulso apartir de 1.979, quando o PROALCOOLJoi,dinamizado. De uma área média de 20.000hectares, passou-se a aproximadamente50.000 hectares, em 1985, com perspectivas de novos plantios para atender a expansão da capacidade industrial de produçãode álcool e açúcar. A produtividade médiaentre 1975/77 e 1981/83 aumentouton./ha para 50,2 ton./ha, um crl=SCin-lerlt0de 61,9%.
A cultura do cacau, embora nãoexpandido a área cultivada, aumentou deforma significativa a produção devido à me·lhoria de produtividade que, entre 1969/71e 1981/83 passou de 251,7 kg/ha par;l554,6 kg/ha, um aumento de 120,3%.
As demais culturas tradicionais em geral apresentam um comportamento opostoao do café porque concorrem entre si peloscursos disponíveis. Assim como o café des·de de 1975 encontra-se em expansão, asdemais lavouras, principalmente as tem ~orárias, apresentam uma tendência de quedada área cultivada e da 'produção, embora, deforma generalizada, se verifique um aumento de produtividade decorrente da modernização. A exceção dentre essas culturascoube ao feijão, cuja produção e área cultivada se expandiram no período recente,incentivados pelo bom nível de preços vi·gentes devido à insuficiência de oferta doproduto.
Outras atividades têm se desenvolvidonos últimos anos, sem que ainda apresen·tem níveis de produção significativos, embora trate-se de atividades altamente capitalizadas e modernas, como é o caso daavicultura, suinocultura e das culturas depimenta do reino, mamão, abacate, seringueira, etc ... Além dessas, deve-se destacarcomo uma das mais bem sucedidas, a atividade de reflorestamento da qual derivamas produções de carvão vegetal e celulose.A área de reflorestamento apresentou grande crescimento, tendo passado de 25.296ha em 1960 para 98.388 ha em 1975, Noano de 1980 essa área' aumentou para143.178 ha e estima-se que, em 1985, elaseja superior a 170,000 hectares.
A pecuária bovina, a partir de 1975,ao contrário do café, apresentou uma queda vertiginosa do rebanho. Essa atividade,
A partir do 1975 a pecuária bovina apresantou uma queda vartiginosa do rebanho
entre 1960 e 1975, aumentou a área depastagens de 842.656 para 2.'130.563 ha eo rebanho bovino de 653.890 para2.104.159 cabeças, tcndo expandido tantoa pecuária leiteira como a do corte. Entretanto, a partir de 1975, essa tendência foitotalmente alterada tendo decrescido em1980 a área de pastagens para 1.978.794 hae o efetivo de bovinos para 1.844.205. Dados recentes do F1BGE e da Secretaria deAgricultura do Estado do Espírito Santoindicam a permanên cia da tendência de redução da área de pastagens e do rebanho,que em 1984 era, respectivamente, de1.869.532 e 1.742.636. Esse rebanho existente em 1984 correspondia a 82,4% do rebanho de ] 975. tendo decrescido 17,2% nodecênio.
EI1I síntese. a agricultura estadual vempassando, a partir de meados da década desercnt.l, por um processo intenso de modernizaç"o capitalista, onde novas técnicas deprodução c insumos agrícolas modernosS,IO cadd vez mais utilizados, tanto pelasetn presas rurais como pelos próprios pequenos proprietários e pa rceiros. As culturdstr" dicionais de exportação e energéticas(,café, cacau, cana-de-açúcar) e atividades,.como O rcDorestdmento', cuja produção sedestina ao processamento industrial, temse expandido aceleradamente. Por outrolado, as lavouras tradicionais alimentícias(drroz, milho, mandioca e feijão) e d pecuál:ia bovina enfrentam a concorrência daquelas que se encontram têm expansão esofrem um processo de esvaziamento queculmind com a redução dd produção e ddárea cultivada.
Mas é essa agricultura moderna e capitalizada a base sobre a qual vai se ampliando o mercado consu midor local, em parti-
cular o de bens industriais. embora o número absoluto e relativo de empregos gerado pelo setor tenda a se reduzir em funçãoda disseminação dos métodos modernos decultivo.
Estrutura Industrial - O setor industrial, da mesma forma que a agricultura,manteve no período recente altas taxas decrescimento em praticamenco todos os gêneros, embora aqueles tradicionais e maisvoltados para o mercado local tenham apresentado crescimento mais moderado que oscomplexos e mais voltados para o mercadoexterno.
Os primeiros que tinham constituído abase do crescimento industrial na fase inicial da industrialização capixaba ocorridaen tre 1967/7 5 passaram a ter taxas decrescimento mais moderadas e em algunscasos até negativa.
Produtos alimentares, que em 1980ainda representava 32,94% do valor da produraç,'o da indústria de transformação, cresceu d taxa de 10,4%, enquanto a taxa dosecor industrial foi de 11,50/0. O comportamento desse gênero em grande medida reflete o com portamento do setor agrícola,pois os produ tos daquele setor são as suasma térias primas. Assim, podemos verificarimportantes alterações internas do gênero, pois O sub-gênero beneficiamento, torrefação e moagem de produtos alimentares cresceu à taxa de 16,1% enquanto abdte de animais praticamente manteve-se estagnado, laticínios cresceu à taxa de apenas 3,3% e os demias sub-gêneros, principalmente devido à expansão de indústriado cacau, cresceu à elevada taxa de 19,9%.
Madeira, que sem pre foi o segundomais im portan te gênero em valor da produção, com exaustão e total devastação dasflorestas do norte do E. S. e sul da Bahia,
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entrou em decadência e teve taxa decrescimento negativa de 3,3%. Com isso, passoua representar apenas 7,81% do valor da produção enquanto que, em 1975, representava 15,9%.
O gênero de minerais não metálicos,cujo crescimento foi bastante reduzido emrelação ao do período anterior, ainda manteve a elevada taxa de crescimento de 110/0.Esse gênero, entretanto, deve ter sido omais atingido pela crise iniciada a partirde 1982, quando o setor de construção civil pesada, com a conclusão das obrãs- civisda CST, e imobiliária, com a crise do Sistema Financeiro da Habitação, reduziramsubstantivamente suas compras de materiais. Atualmente, com a persistência ddcrise da construção civil, o gênero deve estar operando com boa margem de capacidade ociosa.
Den tre os demais gêneros tradicionais,deve-se destacar o têxtil que cresceu à taxade 9,6%, e, os de vestuário, calçados e artefatos de tecidos e bebidas, que constituíram exceção, pois apresentaram taxas decrescimento bem superiores à média do setor industrial. O primeiro cresceu à taxa de18,3% e o segundo de 32,2%, o que podeser explicado basicamente, pela entrada emoperação da fábrica de cerveja.
Como parece ter ficado evidente oconjunto dos gêneros tradicionais deumostras de perda de dinamismo, no período 1975/80, o que pode ter sido acentuado nos anos posteriores a 1980 quando a recessão econômica tornou-se maisprofunda.
Ao contrário dos gêneros tradicionais,aqueles mais complexos e ligados à indústria de base apresentaram grande dinamismo e taxas de crescimento extraordinárias,tanto do investimento como da produçãoindustrial.
Metalurgi;, química, papel e papelãO,mecânica e material de transporte, foramos cinco gêneros onde se concentraram osinvestimentos do "grande capital", o quedeterminou expressivos aumentos de capacidade produtiva.
A metalurgia, que figurava desde 1970entre os quatro principais gêneros, apresentou um pequeno crescimento (taxa anualde 0,6%) do valor da produção industrialentre 1975/80. Contudo, isso não revelauma tendência, pois esse gênero foi o querecebeu maior volume de investimentos,embora os projetos resultantes só tenhamsido concluídos após 1980. É o caso, porexemplo, da Companhia Siderúrgica de Tubarão, grande usina integrada com capacidade de produção de 3.000.000 ton./ano,maior projeto industrial até agora instalado no Espírito Santo que envolveu investimentos da ordem de 3 bilhões de dólares.
usina só começou a operar em meados de184, mas, no seu segundo ano de atividade,funcíona a plena capacidade produzindo
lacas de aço. Da mesma forma, a Compahia Brasileira de Ferro só colocou emperação o seu segundo alto-forno, a parr de outubro de 1984, quando duplicoula capacidade de produção de ferro-gusaue passou a 120.000 ton./ano. Ainda em985 deverá iniciar a produção uma novasina de ferro-gusa (Cia. Metalúrgica Veto.al) com capacidade de 30.000 ton./ano.
Com a operação desses novos projetos,metalurgia deve ter se tornado principal
ênero da indústria de transformaç~o, tano em valor da produção como em númerote operários. Certamente, já no ano de985 a metalurgia deve ter ocupado a posião de liderança que sempre coube ao gêneo de produto,s alimentares.
A indústria de papel e papelão apreentou grande dinamismo, tendo crescído àaxa anual de 190%, entre 1975 e 1980, olue se deve exclusivamente à operação daábrica de celulose da Aracruz Celulose:/A. Em 1980 esse gênero era o segundo~ais importan te, participando com 11,54%to valor da produção industrial. Sua pro!ução continua se expandindo com o usorescente da capacidade instalada que, em980, ainda não era totalmente utilizada,ma vez que a fábrica havia entrado emuncíonamento no ano anterior.
A industria química cresceu à taxa de14% ao ano entre 1975 e 80, e deve ter:ontinuado a se expandir a taxas elevadas,·isto que entre 1982 e 85 entraram em'peração sete novas usinas produtoras deleool, que possuem em conjunto uma calacidade nominal de 1.060.000 litros/dia.
Por outro lado, o crescimen to da agricultura deve ter elevado o consumo de fertlizantes e rações, o que constitui um estínulo à expansão das indústrias produtoraslestes insumos e, portanto, da própria in'ústria química.
A mecânica também apresentou bomível de crescimento (taxa anual de 33,3%),
) que deve continuar acontecendo, uma vez,ue esse gênero tende a se expandir com o\róprio crescimento industrial, pois trata~ de um gênero produtor de bens de capi.1.
Material de transporte, da mesma fora que metalurgia, apresentou crescimen-
o bastante reduzido entre 1975 e 80, tenJO sido a taxa anual de apenas 1%.
Mas o gênero deve ter retomado asdtas taxas de crescimento a partir de 1982, 'uando começou a funcionar uma fábrica
:ie ônibus para transporte de passageiros doJUpo Itapemirim.
Assim, dado o extraordinário cresci-
mento dos gêneros industriais ligados à indústria de - base, ocorrido entre 1975 e1985, que resultou da realização de investimentos do "grande capital", houve umagrande diversificação da estrutura da indústria de transformação, o que reduziu substancialmente o peso relativo dos gênerostradicionais.
Além da indústria de transformação,também a extrativa mineral recebeu pesados investimentos do "grande capital", queresultaram na implantação de sete usinas depelotização de minério de ferro. Dessas sete usinas que possuem, em conjunto, umacapacidade nominal de produção de 22 milhões de ton./ano, cinco, com capacidadede 17 milhões de ton./ano, foram instaladas na segunda metade dos anos 70. ACVRD e os grupos associados italianos, espanhóis e japoneses são proprietários de 6usinas - 17 milhões de tc:n./ano -:: e o grupoSAMARCO MINERAÇAO S.A. controlauma usina de 5 milhões de ton./ano.
Com essa industrialização recente, a"economia capixaba" integrou-se definitivamente à dinâmica da economia brasileira, tendo assumido um caráter complementar e dependente.
Somente a partir de 1980 aGrande Vitória tomou-se ummercado consum idor urbano
Urbanização e Setor Terciário. Acompanhou o crescimento industrial um intenso movimento de urbanização e de am pliação e modernização do setor terciário.
A população urbana cresceu a taxa elevada desde 1960 até 1980, com o que aumentou de 195.825 para 1.293.378 habitantes e de 28,4% da população total passou a representar 64,2%. Com isso, formou-se um signiricativo mercado consumidor urbano, particularmente na região daGrande Vitória que em 1980 tinha 706.263habitantes, o que representava 35% da população total do estado.
Essa região tornou-se mais importanteainda a partir de 1980, com a implantaçãode novos projetos industriais, particularmente o da CST. Estimativa recente da população realizada pelo Instituto Jones dosSantos Neves indica para a região umapopulação de 922.000 habitantes, o quecorresponde 40% da população do estado.Esse crescimento da população urbana associado à expansão industrial criou as condições necessárias à expansão de várias atividades urbanas do setor terciário, tantomercantis como de serviços pessoais e industriais.
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Nesse setor, excetuando-se aqueles serviços que são monopólio estatal e os serviços industriais altamente especializados quesão dominados pelo "grande capital" nacional, restam uma vasta gama de atividades, nas quais o capital local encontra ascondições ideais para a sua reprodução. Emgeral, o capital local tem preferência por essas atividades mercantis e pela construçãocivi~ porque estas não exigem grande imobilização e são pouco especializadas e, oque é mais importante, comportam manobras especulativas que em geral rendem
bons lucros. Em síntese, preferem menorrisco e maior ren tabílidade. Assim, todos osgrandes grupos locais, que hoje já diversiEcaram suas atividades, têm origem ligada aatividades mercantis, principalmente, comércio de café, transporte de passageiros,transporte de cargas, etc,.
Entretanto, mesmo esse setor, onde ocapital local encontra maiores facilidadespara seu crescimento, o "grande capital"externo tem se colocado numa posição deconcorrência e crescente absorção dos grupos locais. Isso acontece particularmentenaquelas atividades que a nível nacional jásão concentradas, como é o caso de construção civil, supermercados, lojas de departamentos, sistema bancário, hotelaria etc.Assim, os pequenos capitais locais são pressionados a tornarem-se grandes e desta forma adquirirem condições de concorrer] nomercado local e em outros mercados, ouentão a serem abso.rvidos pelo "grande capital" nacional.
Para finalizar, deve-se ressaltar que astransformações por que passou o EspíritoSanto nas duas últimas décadas tornaramsua economia radicalmente diferente d~
quela existente quando da crise da cafeicultura.
Ao contrário do que muitos aindaacreditam, a "sociedade e a economia ca·pixaba" não são mais predominantementerural e agrícola, pois, desde fins dos anos setenta, já apresenta um perfil tipicamenteurbano-industrial. Basta verificar que já noano de 1980 dois terços da PEA (65,2%)estava ligado aos setores secundário e terciário, ou seja, estavam na área urbana, assim como 64,2% da população total. Poroutro lado, embora o último dado de quese disponha seja referente 1975, a renda interna estadual era derivada majoritariamente dos setores secundário (26,4%) e terciário (52,9%).
Essa preponderância desses setores deve ter se ampliado ainda mais com o crescimento pós-80, o que deve ter potencializado os problemas sociais decorrentes deum processo acelerado de urbanização, taiscomo, a favelização, o desemprego, a subnutrição, a marginalidade urbana etc.
ENTREVISTA
"Terra parada é crime.Um crime que mata até cidade" .
Adilson Vilaça
Em 1954 Ali Viela Custódio da Silva tirou posse de um pequeno lote enelelevantou casa, isso próximo ao Rio 9 de Abril. Além das três filhas de pouca idade,
Viela trazia um lote de burros, um porrete de candiúba para tocar a tropa e ofatasma do assassinato de sua companheira, ocorrido poucos dias antes. Um ladrãode cavalos, na tentativa de roubar os animais da tropa, disparou dois tiros em sua
mulher. Foi este o, acontecimento que ditou ao tropeiro a arribação de Pocrani, Minas Gerais.O Vale do 9 de A bri era de águas frescas, encaixado num panelão de montanhas,
propício à extração de madeira e lavoura. O tropeiro Viela abriu algumas dasprimeiras trilhas na região. Viu o crescimento rápido de patrimônios como
Imburana, Cotaxé, Joassuba, Itapeba e tantos outros por onde transportou cargasde arroz, café, feijão e o mais que fosse colhido, além das encomendas de todo mote.
Em 1955 assistiu à festa com que se comemorou a criação do Município de Ecoporanga.O povoado, que um ano antes tinha apenas oito casas, era, então, sede de um
próspero município embicado na divisa com Minas Gerais e Bahia. E foi aí que ahistória entortou suas linhas. A prosperidade atraiu "papas-terras" dos quatrocantos do mundo, confessa Viela. A mando de grileiros muitos posseiros foram
mortos, nasceram as propriedades maiores e o povo foi indo embora.Essa é a história contada pelas palavras e corações de Viela Custódio da Silva
(residen te na sede do município de Ecoporanga), Walter Maciel da Silva (posseiroresidente em Imburana), Sebastião Baio (lutou ao lado dos posseiros e foi um dosfundadores de Cotaxé) e Sebastião Santos (que toca uma pequena farmácia em
Cotaxé). Essa é a história da concentração da terra em nome da improdutividade,da fome e do desespero registrado em alguns outros d.epoimmtos colhidos. Passemos ao mosaico.
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Fuga Para Rondônia
Viela O caititu em manada bota onça pracorrer. E foi isso que os posseiros fizeram.Eu tinha muitos amigos entr,e os posseiros.Os comerciantes daqui também. Os posseiros é que faziam a vida do comércio. Oprimeiro prefeito de Ecoporanga, que foiprefeito colocado e não prefeito votado,viu essa cidade prosperar, Ele foi prefutooutras vezes e se chamava Tolcntino Xavier. Outro que foi prefeito mais de umavez foi o João Corsino. Eles viram essa cidade com quatro máquinas de bcneficiaTcafé e até fábrica de bebida, onde era feito vinho de jurubeba e vinho de gengibre.E quem fazia o comércio andar pra frente?Eram os posseiros, nas suas lavouras. Então todo mundo era amigo dos posseiros.Não só eu. Todo mundo.
'"~ Os posseiros reagiram <, bala. Muitos il<;; tinham sido descansados pela malvadezag dos papa~terras. E por isso eles rCJgirGlnl ,18 bala. fizeram bonito e bem fcito mas um ...
guerra é vencida pelo bicho da gUCrl'Cl. Osposseiros eram bichos da lavoura, pra plantar frutOs, e não aguen taram as levas de soldados. Os grileiros de teml fora m depois sótomando conta daqui e dali, passando alqueires para os grandes fazendeiros.
Entre posseiros tinha um que era espe-
DOIJ9 las LV nch
'da do ônibus gr.itouNa hora da sa1_ filhos. Disse
daçoes aos 1muitas recomen d m Cotaxé e não
r enterra a e , Ique quer se das filhas chorar. SO e adeixou nenhuma .'
. am esse d1relto .e os netoS tlVer
o que fazer.
. . Silva e Élio OliveiraGilson Ohve1~~ e 16 anos, estão par
dos SantOS, comd,· Dona Arcanja, mãe
. d ra Ron o111a. dnn o pa ta' acostuma a comdiz que es h'dos rapazes, 'd . u na estrada a
O marl o sumleSsa sorte. 5 e ela criou os setemais ou menOS 2 anos
filhos na braço. .d d Gilson e Élio, sóCom a partl a fie lha Élia, irmã gê-
m casa uma 1, 'I'restOU e . vO A filha, Rosa Ce la, ca-mea do ma1S no T'. . Garcia e mãe de
J ge elxeHasada com ar b' estava ficando. Jor-dois filhos, tam em d' .a com a inten-
, . d para Ron onlge esta 1n o fi do ano para buscar ação de, voltar no 1m
mulher e os filhbo~, d entre Dona Arcan-. om lna o d
Flcou C , . ue fechariam uma asja e Rosa ?eh
tli; não poderia ficar SOZl
casaS, afma a . ue tem perto de 60nha e Dona Arcan)a, qf do capina nu-
assa a semana azenanos, P 12 uilõmetros.ma fazenda, a q dos filhos de Dona Ar-
Carhnhos, um R dônia foi as-. ., stava em on ,canp que )a e do Ela não sabe o
. d o ano passa . ,sasSllla o n dos filhos malS, D' que tem pena h
Porque. lZ b Ih mato mas ac a. tra a ar nonoVOS Hem . Cotaxé sem terpior eles contmuarem em
Viele teime em não derrubar a casa
xando terra, benfeitoria, lavoura. Um ououtro recebeu um dinheirinho na mão, só aconta pra fazer a mudança.Revista - Entre 1959 e 1962, não suportando as arbitrariedades dos jagunços e policiais, houve reação armada dos posseiros,O Sr. acompanhou de perto esse embate?
Revista - O condutor de tropa já foi umpersonagem indispensável em Ecoporangól.Hoje, além da modernização dos meios detransporte, h~ também umól evidente diminuição da produção agrícola do município.O Sr., que desde 1954 está fincado no mesmo lote, ainda não teve vontade de ir embora?Viela - Vontade não: eu sou é doido pra irembora, Só tenho dó de deixar os amigos,mas a maioria dos próprios amigos já foiembora, Tem gente despejada aí pelo Paraná, Mato Grosso, Rondônia ... De vez emguando eu penso em ir visitar os amigosmas penso dez vezes porque não sou de fazer as coisas assim, nas três palavras. Se eufor passear eu embirro por lá e não volto.Faço como burro ruim: empaco e pronto.Mas ao mesmo tempo que tenho vontadede ir, tem uma coisa que fica me agarrandonesse lugar. As minhas filhas fizeram umacasa nova, boa, e eu fico me amarrando para derrubar essa casa velha, os tijolos virando pó ... Não sei explicar direito. Esse lugar já foi muito bom, de muito movimento, esses patrimônios tinham uma vida decoisa gigante, feira com muita fartura. Depois minguou. Tudo foi andando pra trás.Revista - O tropeiro estava no dia-a-diacom o camponês, fazendo escoamento daprodução e levando mercadorias aos sítios.Como o Sr. explica a revoada repentina detoda essa gente?Viela - Esse é um caso comprido, Muitocomprido. Os posseiros estavam lá nosroçados, fazendo fartura e criando tudoquanto é criação. De galinha pra cima tinhatodo bicho pra comer. Para o tropeiro erauma farra. A tropa era a coisa mais importante, era o primeiro ramo de negócio; todo mundo largava o serviço pra trabalharcom tropas: alfaiate, boticário, sapateiro,tudo. Uns só serviam mesmo era pra burrode tropa, porque não pescavam nada do riscado. Mas o caso é que a fartura chamou aambição de gente gananciosa, dessa gentedo olho esbugalhado que bate o olho numaflor e ela morre. E eles chegaram e foramlogo armando contenda com os posseiros,apresentando documentação de cartório,com jagunços e meganhas comprados. Morreu muita gente boa, trabalhadora. Lá emCotaxé mataram o Danielzinho, bem nomercado. Era um bom homem, muito prosa e brincalhão. Também o Paredão, que inventaram que era malfeitor e coisa e. tal.Ele era um homem trabalhador, satisfeito,um sujeito muito alegre. Foi tocaiado epronto. E assim morreram muitos outros.Crianças e mulheres também foram perseguidas, judiadas. Matavam uma mulher oucriança como quem mata uma saracura nobrejo, sem pensar nem piscar. Por essas epor outras é que o povo foi embora, dei-
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cia!. Era o velho Genuíno, um homem muito bom de muitoju ízo, um pai para todos.Tem uma filha dele que é professora lá emImburana, ela era muito nova na época eservia de mediadora entre os posseiros armados e as patrulhas da polícia militar.Dois filhos dele morreram assassinados.
Foi isso a luta: o bicho da guerra, como bicho do din heiro apoiando, expulsoutodo mundo.Revista - Os povoados de Ecoporanga estão em franco declínio, alguns chegandoperto da velha imagem das vilas fantasmastal é o número de casas fechadas e o poucomovimento comercial. Qual seria a formade revitalizar novamente esses comércios?Viela - Ora, é só plantar. Gado é um bichomuito ingrato. Ele transforma a terra maisrica em ~asca seca; ele só pede capim. Equando o fazendeiro tira· o gado, a terra fica parada porque não tem mais proveito.
Terra parada é crime. Um crime quemata até cidade. 1mburana, Cotaxé, ltapeba, Prata dos Baianos, Ribeirào~inho, eramlugares muito bons. 1mburana, enLlo eraum brinco. Hoje eu não tenho nem coragemde ir até lá. Aquilo acabou. Os posseiros doCórrego do Limão foram quase todos embora. Há povoados encravados dentro dasterras de um fazendeiro: aí não tem maisjeito; acaba mesmo. Isso aconteCé:U no Ca-
o gado acabou com as pequenas propriedades
bajá: os grileiros ameaçaram daqui e dali.Eu avisei ao Zé Bernardo, conversei comele, chamei pra Ecoporanga, e ele me disse que quem morre na véspera é peru. Sóque ele morreu como um porco, a machadadas. Os outros moradores abandonaramos trecos e as lembranças e caçaram caminho.
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Revista - O Sr. tem acompanhado a disposição do Governo Federal em promoveruma reforma agrária? O Sr. acha que umareforma agrária poderia ser o caminho paradar vida nova ao município?Viela - Uma reforma agrária, sem assombro, é coisa de bem. Só que eu tenho 65anos e pouco tempo para acreditar e depoisainda esperar. Mas eu tenho acompanhadoe acho que o Governo precisa só de umacoisa: peito. E essa força ele tem que buscar com o trabalhador da roça porque elevai p~rder, e ter contra ele a força do fazendeIro.
Imburana
Revista - A reforma agrária, ainda em fasede discussão, botou alguns fazendeiros domunicípio de sobreaviso. O Sr. acredita quepossa haver sérios conflitos com a implantação, de fato, da reforma?Walter Na verdade essa gente fazendeiracria muito fantasma. Alguns por aí já estão falando em comprar metralhadoras enão abrir mão nem de um palmo de terra.E esses são os mesmos que emperram nahora de pagar um meeiro, dizendo que apartilha é assim e assim ou que não têm dinheiro.
Na verdade essa história só vai ficando
começoucom a pequena
, povoação dePedra da Viúvaese tomouo posto decomércio maisprocuradopelos posseiros.
F Pedra da Viúva
que nós vivemos, Após o terror, instalou-seessa miséria que todos podem ver.
'.~- ~ -Geralda e Walter participaram do conflito no Cbrrego do Limão D01l9'" Lynch
moderno, com 30 anos e muita saúde, maisou menos em 1940. Eu mais o Firmino, oJoão Soriano e o Leonel fizemos este povoado. No início, aqui era chamado de Pedra da Viúva. Eles morreram todos.
Para fazer este comércio, a gente comprava tudo o que os posseiros traziam. Primeiro eles vendiam lá na feira e o que sobr<lva a gente arrematava. Assim o posseiropegava o hábito de vir aqui. Eu e meus trêscompanheiros ch.cgamos ao ponto de arrematar balaios de maxixe e quiabo e dep\olsdesaguar tudo aí no Rio do Norre. Assimnasceu o povoado,
Depois, com as intrigas dos fncndciros, o que desceu pelo Rio do Nortc, f0ramcorpos de posseiros assassinados. E o Cota-
'. Valhante tem 72 an~s. ASebastlao N -o têm filhos.
co menoS. a fmulher, um pou Q do trabalha é na a-Não têm terra- uan
zenda dos outroS. vai artindo o que ~o·Como meeiro,. a Puenta mais serVIÇO
lhe e vivendo, Nao g ., f melO tnste.
pesado, con . ess~ Ihante é excelente [lau-Sebastlao a d talento, fabricQu
D do prova o .tista. an I d amão a canlvete,
flauta de ta o em,um E encantou-se.e pôs-se a tocar. homem aquele que do-
Era um outro nudo doI d' desperta no ca
minava ,a me o i~ Sebastião Valhante re-mamoeuO. Era. dos combates na
O brevwentesistente. ~o. ntando a vida, que
osse. O mUSICO enc.a;nda perdendo a magIa.
o Encantador de Repente
Revista - Na qualidade de fundador dopovoado de Cotaxé, o Se. acompanhou, como poucos, o conflito entre posseiros e jagunços. O que o Sr. pode nos contar desselitígio?S. Baio - Dizendo a verdade eu nem sei como cheguei a esses 70 anos. Por diversas fiquei encurralado dentro de casa esperandoa escuridão para fugir com a fam ília. Ficava acuado no mato, os jagunços fazendoa gente de caça. Foi isso que me consumiu,essa perseguição, porque eu cheguei aqui
complicada. Eu falo isso como brasileiro,um cidadão que pensa no futuro do País.
.E que está vendo o presente que estamosvivendo, uma ladroagem disparada nas cidades e as terras e o homem do campo abandonados. De 1959 a 1962 os fazendeirostocaram metralhadora para tomar as terras,acabar com as lavouras e soltar gado pra secriar como bicho selvagem. Criaram essesmilhares de alqueires improdutivos, Equando se fala em botar a terra para produzir, eles de novo lembram das metralhadoras. Isso é que é o absurdo,Revista - O Sr. tinha posse no Córrego doLimão'Walter - Não, de meu mesmo eu não tinha.Mas ajudei a lutar porque meus parentes todos tinham posse, a minha companheira éfilha do falecido Genuíno Neto que erauma espécie de líder de todos. A Geralda,nos tempos mais graves, é quem ia a Ecoporanga ou onde fosse para se entendercom justiça e mediar o conflito.
Houve muita morte, muito desmando,Isso é história para não se repetir. Por issoé que é preciso se constituir um novo País,como u ma lei severa e pura elaborada poruma Assembléia Nacional Constituinte. Dojeito que est", não h,í dúvida, só vai piorar.Revista - O Sr. ainda está lidan do com alguma atividade agrícola?Walter - Estou, é claro. Quem sabe plantartem que plantar, Se há cerca e pasto nessaterra toda, a gente planta no quintal. Aquicu tenho uma chácara de mais ou menosmeio dlqueire e nesse pedaço eu plantomandioca, banana, um pouco de cacau, milho, um pouco de café, cará japecanga, carabiçú, cana, e toco um viveiro de arroz àmeia com meu vizinho, produzindo de 40 a45 sacos todo ano. E num pedaço de terrado Dico plantamos milho à meia. A minhasaúde é pouca, tenho 55 anos, mas gosto defazer fartura.Revista - Quantos anos o Sr. viveu no Córrego do Limão?Walter - Eu tenho 38 anos de moradia nomunicípio; 28 anos eu morei no limão eagora, há três anos, estamos aqui em Imburana, esse lugar que já foi tão bom e agoraestá parado no tempo. A Geralda é diretorada escola de 10 grau daqui do povoado.
No Limão vivemos bons tempos. E foram muitos anos, o que dá para comprovaro erro da justiça em ter desalojado posseiros que já estavam no pedaço de terra há30 anOs ou mais. Outras pessoas, ainda vivas e morando por aí, podem contar também essa história. E há posseiros foragidospara longe daqui e que têm medo, até hoje,de vir aqui visitar os parentes. Só quem viveu aqueles anos de 61 a 62, embrenhadono mato, lutando para defender a produçãoe a própria vida, é que pode contar o terror
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ebastião Baio, um dos fundadores de Cotaxé,viu os 644 alqueires da atual fazendado Dr. Leão cercarem o povoado.
-
xé agora é esse lugar morto, encravado nafazenda de 644 alqueires do Dr. Leão (]oãoFernandes Leão),Revista - Quais foram os fazendeiros queparticiparam da expulsão dos posseiros?Eles ainda têm propriedade na região?S. Baio - O chefe de quase toda a intrigafoi um tal de Lamartine (Lamartine Lourei·rol que depois vendeu toda a posse para oDe Leão. Já esse é um homem de boa fé,
nunca mandou praticar maldade contraninguém. Mas as terras dele fizeram um cinturão que envolve o Cotaxé: para um cristão sair para qualquer norte tem que pisarchão de terra do Dr. Leão. Se o povoadoquisesse crescer nem tinha jeito porque ele
está preso, cercado de mourões e arame.Revista - O Sr., então, não acredita na possibilidade do Cotaxé voltar a crescer e sero centro comercial que todos esperavam?
t
S. Baio - Ora, não acredito não. Essa fénão mora mais comigo. Em 1956 eu fiz umlevantamento que era destinado a passar oCotaxé para cidade. Naquele tempo sim, euacreditava e todo mundo acreditava. Agoranão.
A não ser que o governo resolvesse re·partir essas terras que estão improdutivasporque necessidade tem e, aí, o comérciovoltaria a vicejar. Do jeito que anda, comessa praça fraca, o comerciante está fechando as portas.
Comércio de Cotaxé
Revista - Há quanto tempo o Sr. abriu comércio em Cotaxé? O que está faltando para uma melhoria geral do povoado?S. Santos Eu estou instalado aqui há seteanos, labutando com essa farmacinha, vendendo um comprimido, um mercúrio-cromo, aplicando uma vitamina B-12 numamulher que está com fraqueza para parir,enfim, fazendo o mais simples para não errar e nem tirar do freguês o que ele nãotem no bolso. Aqui ninguém tem dinheiro,por isso, não há meio de se apurar dinheiro. A praça é muito fraca.
Para uma fTlelhoria geral de Cotaxé, falta muita coisa. Aqui não tem policiamento,não tem mais feira, as casas comerciais, quenão conheci abertas, como Casas Tigre, Pernambucanas, Leão do Norte, trancaram asportas.
Estão iniciando o calçamento da praça, construindo galpão de mercado, botando esgoto ... Mas isso não resolve o caso armado. Para um bem geral do comércio épreciso lavoura nas redondezas porque oque faz movimento na praça é lavoura à roda.Revista - O Sr. ainda não pensou em abandonar o Cotàxé e abrir comércio em outrapraça?S. Santos - Eu não tenho mais idade paraaventura, não estou mais no tempo de fazer tentativa. Estou com 72 anos e só mantenho comércio porque a pensão do Funrural só dá para lamber uns dias, não dá para a família comer 30 dias no mês.
Os ricos não moram aqui, estão instalados nas capitais. E opobre,.quando nãoconsegue fazer movimento, fazer o de alimen tar e tranquilizar a casa, fica uma criatura humilde mas muito nervosa porque apessoa quando não está funcionando direitinho tem os nervos atacados.
Eu não vou mais fazer tentativa. Acabando esses vidros da prateleira, eu vou fechar o comércio.Revista - O Sr. Conhece algum povoado,no município de Ecoporanga ou próximo,que tenha passado uma situação idêntica a
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Jesus Anda Desanimado
I'.l.•..y;;t::t:?e que tenha conseguido vicejar
I.Santos - Isso tem em Ecoporanga. O~fJrrego do Dois, por exemplo, é um lugar~e fartura novamente. Eu acho que por ser~uito alto, lá não serviu para criação de ga;40. E o pequeno foi subindo aqueles mor.~os, semeando e as flores nascendo, os frutos sendo colhidos de novo. Em Ponto Be),0 (Município de Mucurici) a vida tambémivoltou. Mulher trabalha, a fartura está insftalada; tem uma feira que começa na sextalà tarde e vai até ao meio-dia do sábado.: Aqui, há semana que não se acha umaibanana para comprar. Essa beira de,rio toIda é só de fazendeiro. E fazendeiro quer sa-
I'ber lá de banana? Pequeno proprietário éque cuida disso.
I~evista - O Sr. está apontando a pequenaiRropriedade como uma solução para revitaIli,zar a vida no in terior. O que precisa serIfeito para a terra deixar de ser tão concenrirada e produzir mais?:S. Santos - Eu não acho que só a pequena;propriedade seja a solução e, além disso,!acredito que uma mudança na propriedadeida terra vai melhorar a vida do país inteiro,inão só aqui no interior. O pobre da cidade'está passando fome, pagando 50 contos por'dois quilos de carne. Isso o pobre nãoaguenta e o País vai ficando uma terra degente derrotada.
Mas o que precisa ser feito é dar direito do trabalhador planta~ e para isso é preciso terra e assistência. E preciso que sejafeito uma boa reforma agrária porque a coisa está ficando feia demais. Um lugar como~sse aqui está sujeito a acabar se não for tomada uma providência.
Quando mexi com propriedade nuncative miséria em casa. Pensando que o trem~ta fácil, vendi e agora está dif(cil garantir allimentação do dia. Há dias atrás a mulhernventou de fazer um bolo. Eu peguei umegue emprestado e fui buscar um feixe deenha. Peguei umas lascas de tapicuiú e:rouxe no jegue. Na en trada aqui da vila to?ei com um vaqueiro, que me olhou atravessado. No outro dia encontrei com eleno comércio e expliquei: - "peguei as lascas e não dei aviso porque era coisa pouca,;ó para a mulher fazer um bolo". Ele me-espondeu: - "mas aquilo que o senhor pe;ou é tapicuiú, madeira de cerca". Então,u aumentei o assunto: - "era coisa pequela, não dava pra nada. Mas, então, não sen[o tapicuiú posso pegar?" Ele respondeu:- "Também não".
Veja só a situação do pobre: não tem olue botar dentro da panela e nem como.otar fogo debaixo dela.
Outro que foi caçar um tatu levou umaalha de um vaqueiro, bem aqui na porta deasa. O vaqueiro, arrogante, disse ao coita-
CotaxéIeumpovoadoabandonadocommuítascasasfechadas.
. J . Gonçalves de Je-O marceneuO ose . I d
_ d' ara buscar o matena esus leva tres las~. fi' Compra
b Ih ue uu\1za na o ICwa.tra a o q (MG): cola, verniz, pa-tudo em NanRuqul:ma que a madeira é esrafusos, etC. ec
cassa. d de serviço é pouca. OA encomen a, . b' mbore-
b'li"o da vila e mUlto po re.ta .
mo I an I . V' "Vlven-camas prate euas. aites, mesa,., b'liazinha", con-do de fabncar uma mo 1
forme dibz.. os fazendeiros a agonia doAtn Ul a . I· , rico"
d "Quem faz a misena e o filh'povoa O, uanto enSWa aO oafirma a Jesus enq ancar um prego dade dois anos como arr
madeira. ra é improdU-"EI dizem que a ter_ es d' na mão deles. Isso
tiva. E impro utlVa lhor" E mede. ., f . melhor Bem me . ,
aqUl p 01 , . d praça de Cotaxe,o atraves a . do temp. do o movlmento e
como se esuvesse v~n
feira que já se fez ali.
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Jesus Anda Desanimado
~t Cotaxé e que tenha conseguido vicejarn.pçvame nte?~fSantos - [550 tem em Ecoporanga. O
~~:6rrego do Dois, por exemplo, é um lugarI~~ fartura novamente. Eu acho que por sermuito alto, lá não serviu para criação de ga:qo, E o pequeno foi subindo aqueles morros, semeando e as flores nascendo, os fruços sendo colhidos de novo. Em Ponto Belp (Municipio de Mucurici) a vida também[voltou, Mulher trabalha, a fartura está ins[talada; tem uma feira que começa na sextafá tarde e vai até ao meio-dia do sábado.[ Aqui, há semana que não se acha uma
Ibanana para comprar. Essa beira d,e rio to,da é só de fazendeiro. E fazendeiro quer sajber lá de banana? Pequeno proprietário éigue cuida disso.Il{evista - O Sr. está apontando a pequena[propriedade como uma solução para revitafUzar a vida no interior. O que precisa serrf~ito para a terra deixar de ser tão concenItrada e prodmir mais?:S, Santos - Eu não acho que só a pequenaIpropriedade seja a solução e, além disso,'acredito que uma mudança na propriedade:da terra vai melhorar a vida do país inteiro,:não só aqui no interior. O pobre da cidade'está passando fome, pagando 50 contos por'dois quilos de carne. Isso o pobre nãoaguenta e o País vai ficando uma terra degente derrotada,
Mas o que precisa ser feito é dar direito do trabalhador planta~ e para isso é preCiso terra e assistência. E preciso que sejafeito uma boa reforma agrária porque a coisa está ficando feia demais, Um lugar como~sse aqui está sujeito a acabar se não for tomada uma providência.
Quando mexi com propriedade nunca~ive miséria em casa. Pensando que o trem~ra fácil, vendi e agora está difícil garantir allímentação do dia. Há dias atrás a mulher.nventou de fazer um bolo. Eu peguei umegue emprestado e fui buscar um feixe deenha. Peguei umas lascas de tapicuiú e:rouxe no jegue. Na en trada aqui da vila to)ei com um vaqueiro, que me olhou atravessado. No outro dia encontrei com ele~o comércio e expliquei: - "peguei as lascas e não dei aviso porque era coisa pouca,;ó para a mulher fazer um bolo". Ele me-espondeu: - "mas aquilo que o senhor pe~ou é tapicuiú, madeira de cerca". Então:u aumentei o assunto: - "era coisa pequela, não dava pra nada. Mas, então, não senlo tapicuiú posso pegar?" Ele respondeu:- "Também não".
Veja só a situação do pobre: não tem olue botar dentro da panela e nem comolotar fogo debaixo dela.
Outro que foi caçar um tatu levou umaalha de um vaqueiro, bem aqui na porta deasa. O vaqueiro, arrogante, disse ao coita-
Cotaxé/eumpovoadoabandonadocom muítascasasfechadas.
. J 'Gonçalves de J e-O marceneHO ose . I d
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como se estlvesse venfeira que já se fez ali.
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do: - "para caçar nessas terras só com permissão. Se lhe en'contFar de novo por lá, vaiter". O homem ficou caladinho, humilde,só o ouvido funcionando de tão quietinhoque ficou. O vaqueiro esporeou o cavalo esaiu no pinote. O pobre, humilhado, sentouna min ha calçada e ficou quase hora só cismarando a vida.
Mas o vaqueiro não é culpado, é umiludido. Tem vaqueiro que está morrendode fome por aí, ganhando 100 mil contospor mês, e se ouvir falar de reforma agráriaach~ que vai perder o patrão, fic~ doido ..ReVlsta - E os fazendeIros daqUl da regrão,como reagiriam diante de uma reformaagrária?
S. Santos - A gente nem, deve falar muitodisso: tem que ficar igual a pinto perto degalo, de bico fechado. Os fazendeiros estão com o poder todo, não querem ouvir opobre e nem ouvir a barriga dele roncar.Mas muitos estão temorosos, dá para pressen tir. Afinal,. ficaram com ,muita terra,pouco fazendo nela, e agora estão com medo da justiça.
Eu acho isso difícil, a reforma agrária,porque vai mexer com os latifundiários, oshomens que mandam no Brasil. Mas o Brasil, para voltar a ser o Brasil de todos osbrasileiros, tem que ter uma reforma agrária. Até um cego enxerga isso.
Se o povo for conscientizado, de umlado e do outro, poderia ser feita uma reforma agrária sem briga, sem violência. Euacompanho as notícias pelo rádio e há algum tempo, bastante tempo, ouvi que naChina teve e todo mundo está vivendo, acabou um pouco da fome.
Revista - A nossa chegada aqui em Cotaxécoincidiu com a partida de algumas pessoaspara a Rondônia. Alguns, inclusive, partindo sem levar a família porque não dava para pagar a passagem de todos e a própria vida nova por lá ainda era coisa muito incerea. O Sr., que tem filhos ainda novos, nãotem vontade de partir com eles?
S. Santos - Eu sou da opinião que os filhos,crescendo, devem ir pro.curar melhor sorte.Eu tenho 11 filhos e só três aqui comigo.Os outros estão espalhados aí pelo mundo.A coisa é mais complicada para as moças,é de fazer pena, isso em toda família. Os irmãos vão arribando e as mocinhas ficamencurraladas aqui nessa cerca de capim.
Tem muita geme indo para Rondônia.As casas vão ficando fechadas, com os troços trancados, uma desolação.
Desde pequeno que ouço falar na reforma agrária. Se vier para o tempo dosmeus filhos, dos netos, eu fico satisfeito.Mas eu vou ficando por aqui mesmo, nesse lugar de gente velha e fracassada.
<<O pobre não tem o que botardentro da panela e nem
como botar fogo debaíxo dela))
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RESENHA
Posseirosmortos, terra arrasadaDIAS, Luzimar Nogueira - Massacre em Ecoporanga. Vitória, Coies, 1984.
COTAXÉ,1957
Uma centena de posseiros ouve a mú~
C<I acompanhada por um sanfoneiro da\feia Militar destacado em Cotaxé:
guejo,. deixa de roubar.
guejo, caranguejo,sujeito a te matar.terra custou dinheiro,
eiro cu~tou a ganhar.amos que vamos,pau lá quebrando
o pau vai quebrar.terra é do seu "Franquin"
não é pro senhor roubar.amos, caranguejo,e o pau tá quebrando
e o pau vai quebrar.A terra é do seu "Franquin"não é terra pra você morar,não é terra pra você entrar.
Eles dançam durante várias horas, Nuse desajeitados, homens, mulheres e crianças circulam dentro do curral da fazenda deFrancisco Modesto. Encostados na cercade arame, em tomo do sanfoneiro, estáo oscomponentes da captura comandada pelotenente Jadir Resende, recentemente nomeado delegado de Ecoporanga.
Em fila, os posseiros continuam dançando.
Eles são os caranguejos.A fila é assim: sem distinção de sexo
ou idade, os lavradores requebram em círculo, sob ameaça de armas, cada um comuma mão sobre o ombro do outro e com odedo na bunda do companheiro da frente.De vez em quando um chicote estala nascostas dos que se revoltam com a humilhação. Estes são obrigados a lamber pisadurasdos animais presos no curral.
Os militares riem e, impotentes, muitos moradores do povoado assistem ao quadro.
, LUZIMAR
~I NOGUEIRA
/ DIAS.-"' /,1,
"Massacre em Ecoporanga" relata osconflitos entre posseiros, grileiros e latifundiários na zona do Contestado, localizadana divisa do Espírito Santo e Minas Gerais.Retrata, com detalhes e fidelidade, as lutasdos posseiros no período que antecede a"revolução" de 1964. Falar em lutas doscamponeses sem terra é falar sobretudo nasdimensões ideológicas e políticas de suaprática histórica como classe. Isto é, tratase do modo como eles elaboram e exprimem seus interesses coletivos, do modo como lutam para fazer valer tais interesses, domodo como se integram no processo político e na correlação de forças sociais, ou seja, com quem se aliam e a quem se opõem.
A luta pela modificação de uma estrutura agrária injusta nada mais é do que aprojeção no meio rural do conflito milenarentre a minoria que é dona dos meios deprodução e a imensa legião dos que apenasdispõem de sua força de trabalho. Ela setrava de maneira surda e aberta, por meiospacíficos ou violentos, entre os que monopolizam a terra e aqueles que nela trabalham ou dela vivem, mas não lhe possuema propriedade.
Domina no campo uma prática patro-
nal e das classes dominantes de descaracterização das relações sociais e dos diferentes setores do campesinato. Há um paternalismo autoritário e de caráter privadoque marca todas as relações. Quem se-inte·gra como trabalhador assalariado deve "gratidão" ao "favor" do patrão. Os parceirosarrendatários e agregados, devido à "ajuda"e à "boa vontade" do proprietário da terra,passam a ser "matadores de favor". Os que,sem título de propriedade, ocupam e usamterras não são ICposseiros'l mas "invasores"!na ótica das classes proprietárias. En fim,existe um código dominante que descarac·teriza e subordina os diferentes segmentosde trabalhadores.
De' todos os conflitos, tanto ruraisluta pela posse de um pequeno pedaço deterra - como judiciais, nota-se uma preocupação do autor em deixar registrado a bravura e o desejv de posse da terra dos posseiros daquela região.
O capixaba Luzimar Nogueira Dias trabalhou em O Diário, A Tribuna e em A Gazeta. Foi editor de Posição, semanárioalternativo extinto em 1979. Neste mesmoano de 1979, Luzimar lançou "ESQUERDA ARMADA", um testemunho de pH.s.OSpolíticos.
Tratando da questão agrária na regiãodo conflito, registra Luzimar: "Os fazendeiros, os latifundiários que agora despontam,já encontram naquelas terras o trabalho dolavrador humilde. Aqueles que buscavamna terra o susten to do seu lar e possibilitavam, inclusive, o abastecimento de grandesáreas consumidoras, sofreram então a per·seguição desumana dos poderosos, que,acumpliciando-se à polícia local, forçarama sua retirada, com tiros de fuzis e metralhadoras, vendo de um momento para outro o seu trabalho sacrificado pelo fogoateado em sua miserável barraca que lheservia de teto".
"A terra deve ser daqueles que a trabalham ou nela desejam trabalhar": a Históriaexige a leitura de "O Massacre em Ecoporanga".
lu/ia Demoner*
*Fonnada em Letras pela Ufes, Técnico do IJSN (Redatora da Revista)
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N o T ""I c I A sFrancisca Proba'
'Jornalista, TécJÚco do IJ8N (Redatora da Revista)
AtraçãoLiterária
Com uma vontade imensade garantir o seu lugar ao sol, àlua e à luz de outros corpos celestes, foi lançada recentementeentre conhecidos e desconhecidos, a Revista IMÃ, recheada deilustrações capixabas, de gentecomo Atílio CoJnagno, Hilal Sami Hilal, Ivan Alves, J oyce Brandão, Lando, Marco Antonio Neffa e Cesar Cola.
Abrindo veredas para gen tenova e aclamando os já consagrados como Luiz Melodia, HélioOiTicica, Waly Salomão, IMÃocura o seu espaço pelo toquede c[ualidade, criatividade e umaexc~lente programação gráfica.
Recentemente, lançada emSão Paulo, Rio de Janeiro, BeloHorizonte e Salvador, a revistapercorre os caminhos culturaisdo país.
feita e editada no Espírit::>Santo, o magnetismo de IMAnão se limita só aos capixabas,mas é aberta à participação depess02s do país inteiro. Está àvenda em livrarias do Rio e SãoPaulo e futuramente em Curitibae Salvador.
O próximo número contarácom um poema de Carlos Drummon d de Andrade, além da par-
ticipação de Caetano Ve!oso,Herbert Daniel, Amylton de Almeida, Caio Fernando Abreu,Roberto Piva, Antonio Cícero,Lígia Clarck, Matinas editorda revista Ilustrada, e Itamar Assunção.
IMÃ é essencialmente umaRevista literária, nova e com ênfase para a criação gráfica. Poreste motivo, sai semestralmente,evitando queda na qualidade queespelha. O brilho, a técnica e aimaginação do espelho gráfico,estão entregues aos dedos e delírios de Ivan Alves.
A convite da editora de IMÃSandra Medeiros, Waly Salomãoe Antônio Cícero vão dividir aedição de textos na próxima revista. Todos os números terãoduas páginas dedicadas à literatura infantil, sendo publicado omelhor trabalho, tanto feito porcriança ou adulto, dando preferência à criança.
TaJento é o único requisitode IMA para atrair colaboração.Ligue-se.
Feira doLivro
"O resgate dos valores culturaIs de uma terra é um passo decidido para a afirmação de umpovo". Com um olho no exemplo de IMÃ e outro na PraçaCosta Pereira, a mais popular deVitória, o Departamento Estadual de Cultura DEC, lutoupara que a Feira Capixaba de Literatura voltasse a ocupar o seuespaço, urna vez que este eventohavia desaparecido das praças deVitória. Assim, aconteceu emagosto de 1984 a Ia feira, repetindo-se este ano, com o mesmovigor.
Com o objetivo de divulgara literatura não só do EspíritoSanto, a feira veio trazer ao povodesta terra um maior incentivo à
leitura, conhecimentos literáriose, principalmente incentivar o escritor capixaba, que pôde ver suaobra sendo divulgada e procurada. Intitulado Feira do Livro, este evento foi muito mais do queisto: houve mostra de filmes coma presença de autores, adaptaçãode textos para cinema, comoaconteceu com a obra de Guimarães Rosa - A Hora e a Vez deAugusto Matraga - adaptada pelo cineasta paulista Roberto Santos. Paralelo à feira aconteceutambém um Seminário Cultural,com palestra de vários autoresnacionais.
Comercialmente falando, grandes objetivos foram alcançados, com um gratificanteconsumo de livros, totalizandouma venda de Cr $ 250.000.000.A leitura da Feira confirma a intenção.
Gritosde Eugênio
"É como se cada desenhoou pintura fo~~e uma estória <1,uequero contar. Como· convemaos gritos de seus sonhos, a pintura de Eugênio Herkenhofftransmite um secreto erotismo,magia e angústia, enriquecidospor sua sensibilidade e talento,presentes em cada uma de suasemolduradas manhãs.
Eugênio Geaquinto Herkenhoff, capixaba de 26 anos, n<lScido em Cachoeiro do It<lpemirim-ES, atualmente trabalha noIJSN onde faz a maior parte dasilustrações da Revista/IJSN. Essaé sUa primeira exposição individual, que permaneceu na GaleriaHomero Massena até 30 de agosto.
Esta exposição, como definiu Oscar Gama, é "feita para amassa cultural, onde não cabem
nomes, individualidades e nemexiste a preocupação de seguirum estilo e sim, o desejo de revelar nas cores vibrantes um mistério". Mas tudo fica mais claroquando se descobre que com cada um dos quadros acontece alguma coisa além das formas geométricas e das cores, capaz demostrar um in tenso mergulho detalento, prazer e expressão.
Capixabasem São Paulo
No dia 08 de agosto, artistascapixabas pintaram 'o 7 em SaoPaulo. Na Fundação ArmandoÃlvares Penteado, variados e diversos artistas plásticos daqui expuseram desenhos e óleos numaamostra bem representativa daarte no Espírito Santo.
Ivan Alves, Sazito e Zupo,colaboradores da Revista do Instituto Jones dos Santos Neves,participaram da exposição quepermaneceu até 15 de agosto.Mais uma vez 'o talento pulou omuro. Após ''feri-Io com pinceladas e bicos, óbvio.
AgriculturaAlternativa
Aconteceu em Vitória o 10Seminário de Agricultura Alternativa, na Estação ExperimentalMendes da Fonseca, em Aracê,Domingos Martins, nos dias 19 a23 de agosto.
O objetivo do Seminário é ode debater os métodos naturaisde controle da produção agrícolae o uso dos re cursos disponíveisem cada região, bem como o deincentivar uma agricultura querespeite o meio ambiente, produzindo alimentos de melhor quali-
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Preparo de subextrato para produção de mudas de café
C.ons ti tu in tedo Café
flexibilidade necessana ao atendimento dessa clientela heterogênea.
Inicialmente, desenvolve-setodo um trabalho de diagnóstico que resulta na classificação éeleição dos Municípios e das atividades agropecuárias a serematendidas. Passando a fase seguinte, identificam-se as comunidades, dentro da área eleita, queapresentam maiores problemasde desempenho.
Sem qualquer despesa paraos participantes, os treinamentossão programados par:! atender àsreais necessidades do grupo esempre o mais próximo possível de seus locais de trabalhoevitando assim o deslocamento ~o afastamento do homem desuas obrigações diárias.
O Senar/ES promoveu até omês de junho/85, o aperfeiçoamento de 32.061 produtores etrabalhadores rurais, totalizando52.904 horas em treinamento,sendo 36.542 horas realizadaspor outras instituições em convênio com o Senar e 16.362 horasrealizadas diretamente pelas Unidades Operativas.
Com a promoção da Secretaria de Estado da AgriculturaSEAG, foi realizado em Vitória,no auditório da própria Secretaria, debates e palestras intitulados Constituinte do Café, no período de 15 a 16 de agosto.
Reunindo autoridades e técnicos da área cafeeira, foram discutidos temas básicos da Política do Café, tais como: Problemas Estruturais e Conjunturaisda Cafeicultura, apresentado porRegis Norberto da Cunha Alimandro, economista e técnico daFundação Getúlio Vargas; Política de Produção do Café, porOdilon Fevoretto; Política de Comercialização e Consumo Interno, por Vanderlino de MedeirosBastos, Política de Exportaçãodo Café, por Elias Breda.
Para encerrar, houve debatescom Nahum Soeiro, Diretor doIBC e Ricardo Santos Secretáriode Estado da Agricultura.
Treinamento de castração de bovinos
início à formação de seu corpotécnico com vistas a assumir direta e definitivamente as atividades de planejamento, execução, acompanhamento, avaliaçãoe controle das ações de Formação Profissional Rural.
Metodologia. A falta de literatura e de uma metodologiaadequada à Formação Profissional no meio rural levou o Senara desenvolver sua própria metodologia. Hoje o Senar possui osprincípios básicos e um ModeloOperativo bem defmidos.
As características de dispersão da população e diferentes necessidades direcionam as açõesdesenvolvidas pelo Senar paraum tipo de ação móvel, com a
ral são, via de regra, os menosletrados e que apresentam' maiores dificuldades em assimilar astécnicas disponíveis e necessáriasà produção agropecuária.
Dentre os fatores de produção, terra, capital e trabalho, amão-de-obra é o mais importante e sua qualificação se faz necessária e indispensáveL A formação profissional rural é umprocesso educativo e permanente, resultado de uma necessidadesentida pelo próprio indivíduoque deve ser chamado a particular da decisão de "em que seaperfeiçoar" e "em que grau depro fundidade".
História. Com a finalidadede organizar e administrar Programas de Formação Profissionalno meio rural, foi criado, em 31de março de 1976, o Serviço Nacional de Formação ProfissionalRural- Senar -, vinculado ao Ministério do Trabalho, representado em todos os Estados brasileiros através de suas Delegacias.
A exemplo das demais Delegacias do Senar, a do EspíritoSanto iniciou suas atividades em1979, delegando a outras instituições através de convênios aresponsabilidade de realização detreinamento de mão-de-obra rural. A partir de 1980 o Senar deu
A CUCA voltou para mexerm a sua cabeça.
A revista de Cultura Capixa, que promete ser bimensal,á de volta com a intenção de, como veículo de informa, análise e difusão da nossadução artística e dos nossosores culturais.
A CUCA vai pegar autoresnsagrados, iniciados e debuntes em geral. Neste número,ém de poemas inéditos de Miam Cardoso (do conselho Edi-
arial da Revista IJSN) temosontos de Paulo Roberto Sodré,
peça de teatro de Paulo desobre Domingos Martins e
Mão-deObra Rural
e e garantindo ao agricultorór auto-suficiência no pro
produtivo.A abertura do Seminário secom um.. proposta do Se
, 'o de Agricultura no dia 19gosto, seguindo na tragetória
dias com a participação dosatedores Jorge Zimerman, da,presa Brasileira de Pesquisaopecuária do Distrito FedeManoel Baltazar, da Secretade Agricultura de São Paulo,dilson Paschoal, da Escolaerior de Agricultura Luiziroz-USP-SP.
Nos últimos anos vêm crescendo os debates sobre a funçãosocial da terra. Fazer a terra produzir mais e melhor é um desafio que não se pode evitar, e terá que ser vencido, sob pena dese ver aumentar ainda mais a fome.
O longo tempo que passousem se dar o devido valor, e omerecido apoio às causas da agricultura, e paralelamente, a melhoria das condições de vida dapopulação de periferia das grandes metrópoles, provocou um esvaziamento no setor agrícola,com o agravante de que aquelesque permaneceram no meio ru-
61
c o R R E I o
REGISTROAssembléiaConstituinte
De todas as matérias publicadas, chamou-me atenção a entrevista com o governador Camata e o Debate. Acerca da entrevista com o governador, admirou-me a fé desse moço idealistanos destinos do Brasil e principalmente do nosso Espírito Santo. Só o achei, a falar verdade,demasiadamente otimista a respeito da futura constituinte. Eleacredita ser a Constituinte "o anseio da consciência democráticanacional". E é. Mas, para atingirmos o ideal a que visamos, necessitamos que os futuros constituintes passem uma esponja dedesinfetante sobre o que vigiuaté. a eleição de Tancredo Neves e que os que ficaram substituindo o grande mineiro não seprendam a estabelecer encon troscom aqueles que foram baluartes ostensivos do autoritarismo,em entrevistinhas que servem ademonstrar nã,? terem estes perdido a força. E necessário, agora, que se tenha sem pre em mente que o lobo, perca embora pelo, não perde nunca a índole má.
Que os futuros constituintespensem mais no Brasil do que
pensaram os do autoritarismo falhado e falido que envergonhoueste país.
Antônio Pinheiro - Rio deJaneiro-RJ.
DiscriminaçãoRacial
Lí estarrecido e humilhado,na Revista J]SN, o lúcido artigo de Miriam Cardoso sobre oproblema racial. O artigo conseguiu sintetizar a problemática daopressão dos pobres em geral edo negro pobre em particular.É claro que o homem de cor queatinge melhor situação financeiragoza de regalias, como é própriodo sistema capitalista, mas nemcom todo o dinheiro do mundoconsegue se libertar da discriminação.
A situação é revoltante, bárbara, injusta e envergonha o cristianismo, o socialismo e todo otipo de pensamento que se diz"p rogressista".
Não fica bem sequer elogiaro artigo, que é ótimo.
Fausto Porto - Superintendente da Companhia de Engenharia Rural e mecanizaçãoAgrícola - CERMAG.
Uma revista bem impressa ede excelen te feição gráfica, quese preocupa única e exclusivamente com nossa unidade federada, cuidando de seus múltiplosproblemas, sobretudo dos quepertinem à sua situação sócioeconômica.
É, portanto, digno de encômios a postura da revista, paraa qual felicitamos sua direção,seu corpo redatorial e seus colaboradores, augurando que continue a trilha que tem pautadoseus atos, dentro de um jornalismo sério e dinâmico.
Domingos Gomes de Azevedo - Coordenador Estadual daFundação Projeto Rondon
•Congratulo-me com a Revis
ta IJSN onde se registram, oportunamente, os mais diversificados assuntos, mormente, na áreapolítico-ideológica.
Trabalho de grande envergadura como este, merecerá, porcerto, os aplausos de todos oscapixabas.
Roberto Luiz Com per - Coordenador Estadual do SINE/ES
Recebi com alegria a Revist;IJSN e tive a satisfação de constatar o elevado e apurado conteúdo das mesmas.
Agradeço muitíssimo e gos·taria de poder receber suas varia·das publicações rotineiramente,
João Eurípedes FranklinLeal- Rio de Janeiro-RJ.
•Agradecemos o envio da Re·
vis ta, en fa tizan do a satis fação deencontrar em seus artigos "a par·ticipação popular nas tomadasde decisão".
Marculino Camargo - Presi·dente da Associação Difusora deTreinamentos e Projetos Pedagó-gicos - Aditepp Curitiba-PRo
•Parabéns pela excelente pu
blicação, não só por sua arte-final como pelos textos divulgados,
Renato J. c. Pacheco - Instituto Histórico e Geográfico doEspírito Santo.
•Acusamos com prazer ore·
cebimento da Revista, realmenteuma contribuição inestimável pa·ra difusão da cultura de nossopovo.
Alda Martins de Paulo - Secretária Municipal da Administração da Prefeitura de Viana-ES.
•Envio cumprimentos pela
excelência da publicação e seusubstancioso con teúdo.
Agradeço a gentileza da remessa, esperando receber exem-
•pIares de novas edições da Re·vista I}SN.
Deputado Gil César Moreirade Abreu - Secretário de Estadode Minas e Energia-MG.
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MARQ,uES. W;lIIC(. Sarney wornete á CN8B não recuar nil queStão d;i reformail9rilr>d. G.1.Zf!I.1 Mt:rr:,111/11. Siio P,luIO. 26 jun. 1985. 1. ctld p. 6. c 1 e 2(Polst;! Aqrlculrur.1 - 21
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T(';r<l de ne~ócio e lefl<! de Ir,lb;)lho; cOl1lfibulçSo para o estudo da qu/!s,ISO ilgrjlrl;! no Bras>!. Cad~r"lIOs do CEAS, Saivador 167i:34·44. rniliollun. 1980
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~'"1 A colonização do Espírito Santo reuniu o trabalho e a esperançaI de muitos povos..As marcas desse esforço ficaram registradas~ nos c05tumes, nos hábitos, nas artes: no solo espiritossantense.1 A saga familiar encontra seu mais fiel c'ronista no mobiliário típico_I -,' de cada gente. Peças de rica expressão sobressaem no~ vasto painel da história capixaba.~~ A preservação do mobiliário dos povos que construíram essa terra~ prodigiosa é uma forma do Espírito Santo contar a sua história.
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