revista festival
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-
1711 2011. Trezentos anos de arte
e cultura. Esta foi a homenagem que
o Festival de Inverno de Ouro Preto e
Mariana Frum das Artes 2011,
promovido pela UFOP, prestou s
cidades coloniais mineiras, ao adotar
como tema a criao das primeiras
vilas de Minas, que formaram o
eldorado brasileiro no alvorecer do
sculo XVIII.
Descoberto o ouro, embora a
regio tenha crescido rapidamente,
com o afluxo de gente vinda de vrias
partes, o processo de urbanizao da
regio, mais tarde conhecida como
Minas Gerais, foi lento, precrio e
conturbado, marcado por conflitos
contra a administrao portuguesa,
especialmente nas duas primeiras
dcadas do sculo XVIII. E mesmo
quando a Coroa se mobiliza, com a
criao das chamadas Vilas do Ouro,
em 1711, resultantes dos primeiros
arraiais mineradores nascidos no
entorno do Ribeiro do Carmo e das
serras do Ouro Preto e do Sabara-
buu, formando, respectivamente, a
Vila de Nossa Senhora do Carmo
(Mariana), a Vila Rica de Nossa
Senhora do Pilar (Ouro Preto) e a Vila
de Nossa Senhora da Conceio
(Sabar), estes ncleos mineradores
vo se transformar em povoaes
com forte sentimento de perten-
cimento, que se traduzir em
ideologia poltica, culminando na
Inconfidncia Mineira.
Vista como tentativa de organi-
zao administrativa pelo governo
portugus, a criao das Vilas parece
ter contribudo para o fortalecimento
do sentimento patritico, que
moldar uma sociedade singular,
com maneiras prprias de pensar,
agir e se informar, capaz de forjar
uma conscincia de si mesma, a
despeito do controle e da explorao
Ao comemorar 300 anos das Vilas do Ouro, o Festival props um dilogo frtil e intenso com o
legado setecentista das Minas Gerais, componente da identidade brasileira.
comercial, quase sempre espoliativa,
mantidos por Portugal. Apesar de
nascer e sub-existir da transplan-
tao de cdigos e valores lusitanos,
esta sociedade faz af lorar uma
cultura de base humanstica, com
feies prprias e alcance amplo da
esfera poltica social e notadamen-
te pela artstica , curiosamente, a
partir de 1750, quando se verifica a
exausto das jazidas de ouro.
Da opresso criao
Possivelmente em consequncia
da poltica coercitiva praticada pela
Coroa Portuguesa, que, alm da
cobrana do Quinto do Ouro, lanava
mo da Derrama, as Vilas de Minas
experimentam surto de genialidade
artstica e intelectual, imprimindo as
bases de uma autntica cultura
brasileira. Bem formada e dotada de
g o s t o r e f i n a d o , a s o c i e d a d e
mineradora vai se expressar pela
criatividade, seja na msica, na
literatura, na arquitetura ou na arte
rel igiosa bar roca. Trazido da
metrpole para a Bahia e principais
povoaes do litoral, o barroco
europeu alcana autonomia criativa
em Minas, embora persista at finais
do sculo XVIII e incio do XIX.
Com caractersticas peculiares, a
sociedade que se forma pela primeira
vez nos r inces interiores da
possesso portuguesa surpreen-de.
Mostra um conjunto de homens
abastados, cultos e sintonizados com
seu tempo (sobretudo com as ideias
iluministas que circulavam na
Europa) e uma classe mdia de
feies urbanas, formada por artistas
e artesos, unidos pelo sentimento de
emancipao e apreo arte. Basta
citar dois dos melhores artistas da
poca. Antnio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho, e seu contemporneo, o
pintor Manoel da Costa Atade que
trabalharam na construo da igreja
So Francisco de Assis, de Ouro
Preto, considerada obra-prima do
rococ mineiro. Despontam tam-
bm os letrados inconfidentes
Manoel Incio da Silva Alvarenga,
Cludio Manoel da Costa e Toms
Antnio Gonzaga, cujas obras
dominam a temtica nacionalista e o
canto exaltador terra natal.
Esse perodo de efervescncia
cultural, vislumbrado por meio do
patrimnio cultural formado por
obras plsticas e arquitetnicas de
vinculao Barroco-Rococ e por
iderio l iber tador, representa
componente fundamenta l da
identidade brasileira. E, como
manifestao artstica genuna,
traduz-se em espao propcio a novos
modos de se pensar e fazer arte.
Passados 300 anos, mais que a
celebrao de uma data redonda, o
Festival de Inverno props dilogo
frtil e intenso com o legado artstico
e cultural das Minas Gerais.
Povoaes com forte
sentimento de
pertencimento, que
se traduzir em
ideologia poltica,
culminando na
Inconfidncia
Mineira.
Por Patrcia Lapertosa
5
Vilas de arte e culturaApresentao
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO5 REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
papel de parceria da Universidade
com a comunidade.
O Circuito Festival, que reuniu
de trilhas ambientais gastrono-
mia, passando por exposies e
abertura de atelis, foi um desses
tantos festivais do Festival. O
mesmo acontecendo com os
encontros musicais Tirando o
Mofo e Fora do Eixo, e com a
Caravana nos Distritos. O que
dizer ento da reunio de peas
teatrais estreantes ou premiadas,
das mostras de cinema e de fotogra-
fia e da programao de oficinas?
No foi por acaso que as cidades
receberam mais de 250 mil turistas
em 17 dias.
Por tudo isto, o Festival lanou,
este ano, sua prpria revista, que
passa a ser a memria do evento e da
integrao entre artistas, educado-
res, alunos, turistas, instituies e
empresas que ajudam a construir a
histria do evento e a contar a
prpria evoluo da arte. Como diz
o compositor Renato Teixeira em
uma de suas obras-primas, lem-
bre-se sempre que, mesmo modes-
ta, minha casa ser sempre sua,
amigo. Seja bem-vindo.
Editorial
Por definies de dicionrios, a
palavra festival significa, em
resumo, uma grande festa, uma
celebrao ou mesmo uma competi-
o ar tstica de deter minada
espcie. Em 2011, Ouro Preto e
Mariana sediaram um evento
especializado em reunir todas estas
caractersticas, mas ainda capaz de
se reinventar. No foi apenas um e
sim vrios festivais simultneos,
tendo como referncia a consagrada
marca Festival de Inverno/Frum
das Artes, desta vez com estrutura e
conceitos recuperados e renovados.
Ao mesmo tempo em que
manteve suas razes, por meio do
tema escolhido - o tricentenrio das
trs primeiras vilas de Minas -, o
evento superou a proteo e o
conforto das montanhas gerais e foi
lanado tambm em So Paulo, com
receptividade e resultados surpre-
endentes. Da mesma forma que
recuperou o Frum das Artes, em
seus objetivos originais, fortalecen-
do espaos de imerso, de debates e
de aes efetivas nas reas de arte,
cultura, educao e patrimnio,
fortaleceu, por meio de projetos
como o Festival com a Escola, o
-
1711 2011. Trezentos anos de arte
e cultura. Esta foi a homenagem que
o Festival de Inverno de Ouro Preto e
Mariana Frum das Artes 2011,
promovido pela UFOP, prestou s
cidades coloniais mineiras, ao adotar
como tema a criao das primeiras
vilas de Minas, que formaram o
eldorado brasileiro no alvorecer do
sculo XVIII.
Descoberto o ouro, embora a
regio tenha crescido rapidamente,
com o afluxo de gente vinda de vrias
partes, o processo de urbanizao da
regio, mais tarde conhecida como
Minas Gerais, foi lento, precrio e
conturbado, marcado por conflitos
contra a administrao portuguesa,
especialmente nas duas primeiras
dcadas do sculo XVIII. E mesmo
quando a Coroa se mobiliza, com a
criao das chamadas Vilas do Ouro,
em 1711, resultantes dos primeiros
arraiais mineradores nascidos no
entorno do Ribeiro do Carmo e das
serras do Ouro Preto e do Sabara-
buu, formando, respectivamente, a
Vila de Nossa Senhora do Carmo
(Mariana), a Vila Rica de Nossa
Senhora do Pilar (Ouro Preto) e a Vila
de Nossa Senhora da Conceio
(Sabar), estes ncleos mineradores
vo se transformar em povoaes
com forte sentimento de perten-
cimento, que se traduzir em
ideologia poltica, culminando na
Inconfidncia Mineira.
Vista como tentativa de organi-
zao administrativa pelo governo
portugus, a criao das Vilas parece
ter contribudo para o fortalecimento
do sentimento patritico, que
moldar uma sociedade singular,
com maneiras prprias de pensar,
agir e se informar, capaz de forjar
uma conscincia de si mesma, a
despeito do controle e da explorao
Ao comemorar 300 anos das Vilas do Ouro, o Festival props um dilogo frtil e intenso com o
legado setecentista das Minas Gerais, componente da identidade brasileira.
comercial, quase sempre espoliativa,
mantidos por Portugal. Apesar de
nascer e sub-existir da transplan-
tao de cdigos e valores lusitanos,
esta sociedade faz af lorar uma
cultura de base humanstica, com
feies prprias e alcance amplo da
esfera poltica social e notadamen-
te pela artstica , curiosamente, a
partir de 1750, quando se verifica a
exausto das jazidas de ouro.
Da opresso criao
Possivelmente em consequncia
da poltica coercitiva praticada pela
Coroa Portuguesa, que, alm da
cobrana do Quinto do Ouro, lanava
mo da Derrama, as Vilas de Minas
experimentam surto de genialidade
artstica e intelectual, imprimindo as
bases de uma autntica cultura
brasileira. Bem formada e dotada de
g o s t o r e f i n a d o , a s o c i e d a d e
mineradora vai se expressar pela
criatividade, seja na msica, na
literatura, na arquitetura ou na arte
rel igiosa bar roca. Trazido da
metrpole para a Bahia e principais
povoaes do litoral, o barroco
europeu alcana autonomia criativa
em Minas, embora persista at finais
do sculo XVIII e incio do XIX.
Com caractersticas peculiares, a
sociedade que se forma pela primeira
vez nos r inces interiores da
possesso portuguesa surpreen-de.
Mostra um conjunto de homens
abastados, cultos e sintonizados com
seu tempo (sobretudo com as ideias
iluministas que circulavam na
Europa) e uma classe mdia de
feies urbanas, formada por artistas
e artesos, unidos pelo sentimento de
emancipao e apreo arte. Basta
citar dois dos melhores artistas da
poca. Antnio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho, e seu contemporneo, o
pintor Manoel da Costa Atade que
trabalharam na construo da igreja
So Francisco de Assis, de Ouro
Preto, considerada obra-prima do
rococ mineiro. Despontam tam-
bm os letrados inconfidentes
Manoel Incio da Silva Alvarenga,
Cludio Manoel da Costa e Toms
Antnio Gonzaga, cujas obras
dominam a temtica nacionalista e o
canto exaltador terra natal.
Esse perodo de efervescncia
cultural, vislumbrado por meio do
patrimnio cultural formado por
obras plsticas e arquitetnicas de
vinculao Barroco-Rococ e por
iderio l iber tador, representa
componente fundamenta l da
identidade brasileira. E, como
manifestao artstica genuna,
traduz-se em espao propcio a novos
modos de se pensar e fazer arte.
Passados 300 anos, mais que a
celebrao de uma data redonda, o
Festival de Inverno props dilogo
frtil e intenso com o legado artstico
e cultural das Minas Gerais.
Povoaes com forte
sentimento de
pertencimento, que
se traduzir em
ideologia poltica,
culminando na
Inconfidncia
Mineira.
Por Patrcia Lapertosa
5
Vilas de arte e culturaApresentao
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO5 REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
papel de parceria da Universidade
com a comunidade.
O Circuito Festival, que reuniu
de trilhas ambientais gastrono-
mia, passando por exposies e
abertura de atelis, foi um desses
tantos festivais do Festival. O
mesmo acontecendo com os
encontros musicais Tirando o
Mofo e Fora do Eixo, e com a
Caravana nos Distritos. O que
dizer ento da reunio de peas
teatrais estreantes ou premiadas,
das mostras de cinema e de fotogra-
fia e da programao de oficinas?
No foi por acaso que as cidades
receberam mais de 250 mil turistas
em 17 dias.
Por tudo isto, o Festival lanou,
este ano, sua prpria revista, que
passa a ser a memria do evento e da
integrao entre artistas, educado-
res, alunos, turistas, instituies e
empresas que ajudam a construir a
histria do evento e a contar a
prpria evoluo da arte. Como diz
o compositor Renato Teixeira em
uma de suas obras-primas, lem-
bre-se sempre que, mesmo modes-
ta, minha casa ser sempre sua,
amigo. Seja bem-vindo.
Editorial
Por definies de dicionrios, a
palavra festival significa, em
resumo, uma grande festa, uma
celebrao ou mesmo uma competi-
o ar tstica de deter minada
espcie. Em 2011, Ouro Preto e
Mariana sediaram um evento
especializado em reunir todas estas
caractersticas, mas ainda capaz de
se reinventar. No foi apenas um e
sim vrios festivais simultneos,
tendo como referncia a consagrada
marca Festival de Inverno/Frum
das Artes, desta vez com estrutura e
conceitos recuperados e renovados.
Ao mesmo tempo em que
manteve suas razes, por meio do
tema escolhido - o tricentenrio das
trs primeiras vilas de Minas -, o
evento superou a proteo e o
conforto das montanhas gerais e foi
lanado tambm em So Paulo, com
receptividade e resultados surpre-
endentes. Da mesma forma que
recuperou o Frum das Artes, em
seus objetivos originais, fortalecen-
do espaos de imerso, de debates e
de aes efetivas nas reas de arte,
cultura, educao e patrimnio,
fortaleceu, por meio de projetos
como o Festival com a Escola, o
-
76
Artes Cnicas
Reflexo e fruio estticaA Curadoria de Artes Cnicas convidou para o Festival deste ano grupos nacionais e do exterior. A companhia italiana Academia della Follia inaugurou a
programao com a pea Stravaganza. A partir da, foram duas semanas de espetculos que levaram reflexo e fruio esttica, culminando com a apresentao de
O Crculo do Ouro, do Grupo Ponto de Partida, em homenagem ao tricentenrio das trs vilas mineiras.
Por Gustavo Moreira Alves
Fausto(s!)
Quem s imaginava o Centro Acadmico da Escola de Minas (CAEM) como
espao para shows e baladas ficou surpreso com a Cia Preqaria, e o espetculo
Fausto(s!). A pea comeou na rua, por alguns segundos parando o trnsito da Praa
Tiradentes. Foram diversas mudanas de cenrio num itinerrio labirntico dentro
do CAEM. A cada cenrio, uma surpresa. Os atores saam do texto tenso para as
piadas intermitentes, levando o pblico da tenso s gargalhadas e vice-versa.
Prometeus Nostos
Prometeus Nostos, sobre Prometeu, tit que roubou o fogo e deu aos homens,
impressionou na releitura das obras da antiguidade com longas falas em grego
arcaico, conciliadas ao texto em portugus. A pea, da Cia de Teatro Balagan, de So
Paulo, arrepiou os espectadores com, por exemplo, a originalidade da traduo da
Caixa de Pandora. O palco se dividia em quatro e exibia ao pblico, tambm
dividido, encenaes simultneas. Tudo intercalado. A sonoridade da pea foi outro
ponto forte da apresentao: pedra e pau manipulados pelos prprios atores.
Tio Vnia
O Grupo Galpo levou o pblico s lgrimas com a paisagem de frustrao e
tdio do texto de Tio Vnia, de Tchekhov, do sculo XIX. Com cuidado especial no
cenrio e performance de cair o queixo no momento de troc-lo, o espetculo ainda
entrou numa questo cara ao Festival deste ano: a necessidade de cuidado com o
patrimnio natural.
Por Elise
Meu corao parece um cavalo novo com fogo nas patas, correndo em direo
ao mar. A vencedora dos prmios APCA e Shell de melhor dramaturgia em 2005,
Por Elise, do grupo belo-horizontino Espanca!, utilizou-se de uma metfora
engraada para alertar para o cuidado que se deve ter com o que se semeia. A cada
fruto que caa do abacateiro, causando medo na personagem que o plantou, o
pblico era levado s gargalhadas. No final, quem assistia aplaudiu de forma nada
convencional.
Stravanganza
To loucos que a dvida quanto sanidade dos atores pairou no ar. Este foi o
grupo italiano Academia della Follia, que se apresentou em portugus com o
espetculo Stravaganza. Bem humorados, mostraram os conflitos que surgiram
quando uma lei os obrigou a deixar o hospital psiquitrico de Trieste. Um dos
loucos, a certa altura, enlouqueceu os espectadores de agonia ao desenvolver um
monlogo enquanto costurava um pedao de pele que puxou da prpria barriga.
Mais alto que a lua
Mais alto que a lua a stima montagem do Cine Horto P na Rua, projeto de
criao de espetculos do Centro Cultural Galpo Cine Horto. Na Praa Tiradentes
viu-se o resultado da pesquisa sobre a relao do homem com o ambiente urbano,
inspirada na obra Marcovaldo ou as estaes na cidade, de talo Calvino. Uma
reflexo sobre a relao entre o homem, a cidade e a natureza comprometida com a
vida artificial, feita pelo olhar de um trabalhador ingnuo e sua famlia numerosa.
Bartolomeu o que ser que nele deu?
O teatro Hip Hop Bartolomeu: o que ser que nele deu? trata da trajetria de um
funcionrio de escritrio de advocacia que, de repente, confina-se dentro de si
mesmo, recusando a participar do mundo e de tudo o que implica no convvio
social. O Ncleo Bartolomeu inspirou-se no romance Barterbly: o escriturio, de
Herman Melville. O objetivo mostrar a rotina do tpico assalariado que trabalha
em escritrio. Alheio realidade, repete mecanicamente: prefiro no fazer.
O Reino do Mar Sem Fim
Concebido a partir do romance de cordel, O Reino do Mar Sem Fim narra a histria
de amor entre Adriano e Elisabete. O espetculo do Grupo Pedras destaca a estreita
relao entre narradores e narrativas com o personagem Severino da Cocada,
replicado em quatro pelos atores. As questes julgadas do domnio pessoal como
fenmeno psquico intransfervel so reconhecidas e compartilhadas por meio da
linguagem potica, inventividade que devemos tradio oral.
O Crculo do Ouro
Mais dentro do tema do Festival impossvel: O Crculo do Ouro, do Grupo Ponto
de Partida, de Barbacena, contou parte da histria dos 300 anos das vilas mineiras. O
espetculo colocou no palco um dos momentos mais fortes para a histria de Minas
Gerais e do Pas, quando as minas so descobertas e o ouro atrai para o serto o
maior contingente de habitantes jamais visto no Brasil-Colnia. A apresentao
ainda fez meno s igrejas e casares e a personalidades como Cludio Manoel da
Costa, Toms Antnio Gonzaga e Maria Dorotia, a Marlia de Dirceu.
Andarilho dos Sonhos
Andarilho dos Sonhos levou ao pblico a histria de Agapito, um campons sem
terra, pastor de ovelha sem ovelhas. Com a simplicidade de um peo roda peo,
bambeia peo Agapito se envolveu numa fantstica aventura, em busca do amor
de sua Panchita voc gosta de mim, maninha, eu tambm de voc e da
prosperidade de seu povo. Do Grupo Virundanga, a pea vencedora do Prmio
FUNARTE 2009 Artes Cnicas na Rua.
Das lgrimas s gargalhadas, peas premiadas em todo o Brasil fizeram do teatro o ponto alto do Festival.
Iza Campos Cesar Tropia
Naty Trres
Cesar Tropia
Naty Trres
Naty Trres
Cesar Tropia
Naty Trres
Naty Trres
Lucas de Godoy
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
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76
Artes Cnicas
Reflexo e fruio estticaA Curadoria de Artes Cnicas convidou para o Festival deste ano grupos nacionais e do exterior. A companhia italiana Academia della Follia inaugurou a
programao com a pea Stravaganza. A partir da, foram duas semanas de espetculos que levaram reflexo e fruio esttica, culminando com a apresentao de
O Crculo do Ouro, do Grupo Ponto de Partida, em homenagem ao tricentenrio das trs vilas mineiras.
Por Gustavo Moreira Alves
Fausto(s!)
Quem s imaginava o Centro Acadmico da Escola de Minas (CAEM) como
espao para shows e baladas ficou surpreso com a Cia Preqaria, e o espetculo
Fausto(s!). A pea comeou na rua, por alguns segundos parando o trnsito da Praa
Tiradentes. Foram diversas mudanas de cenrio num itinerrio labirntico dentro
do CAEM. A cada cenrio, uma surpresa. Os atores saam do texto tenso para as
piadas intermitentes, levando o pblico da tenso s gargalhadas e vice-versa.
Prometeus Nostos
Prometeus Nostos, sobre Prometeu, tit que roubou o fogo e deu aos homens,
impressionou na releitura das obras da antiguidade com longas falas em grego
arcaico, conciliadas ao texto em portugus. A pea, da Cia de Teatro Balagan, de So
Paulo, arrepiou os espectadores com, por exemplo, a originalidade da traduo da
Caixa de Pandora. O palco se dividia em quatro e exibia ao pblico, tambm
dividido, encenaes simultneas. Tudo intercalado. A sonoridade da pea foi outro
ponto forte da apresentao: pedra e pau manipulados pelos prprios atores.
Tio Vnia
O Grupo Galpo levou o pblico s lgrimas com a paisagem de frustrao e
tdio do texto de Tio Vnia, de Tchekhov, do sculo XIX. Com cuidado especial no
cenrio e performance de cair o queixo no momento de troc-lo, o espetculo ainda
entrou numa questo cara ao Festival deste ano: a necessidade de cuidado com o
patrimnio natural.
Por Elise
Meu corao parece um cavalo novo com fogo nas patas, correndo em direo
ao mar. A vencedora dos prmios APCA e Shell de melhor dramaturgia em 2005,
Por Elise, do grupo belo-horizontino Espanca!, utilizou-se de uma metfora
engraada para alertar para o cuidado que se deve ter com o que se semeia. A cada
fruto que caa do abacateiro, causando medo na personagem que o plantou, o
pblico era levado s gargalhadas. No final, quem assistia aplaudiu de forma nada
convencional.
Stravanganza
To loucos que a dvida quanto sanidade dos atores pairou no ar. Este foi o
grupo italiano Academia della Follia, que se apresentou em portugus com o
espetculo Stravaganza. Bem humorados, mostraram os conflitos que surgiram
quando uma lei os obrigou a deixar o hospital psiquitrico de Trieste. Um dos
loucos, a certa altura, enlouqueceu os espectadores de agonia ao desenvolver um
monlogo enquanto costurava um pedao de pele que puxou da prpria barriga.
Mais alto que a lua
Mais alto que a lua a stima montagem do Cine Horto P na Rua, projeto de
criao de espetculos do Centro Cultural Galpo Cine Horto. Na Praa Tiradentes
viu-se o resultado da pesquisa sobre a relao do homem com o ambiente urbano,
inspirada na obra Marcovaldo ou as estaes na cidade, de talo Calvino. Uma
reflexo sobre a relao entre o homem, a cidade e a natureza comprometida com a
vida artificial, feita pelo olhar de um trabalhador ingnuo e sua famlia numerosa.
Bartolomeu o que ser que nele deu?
O teatro Hip Hop Bartolomeu: o que ser que nele deu? trata da trajetria de um
funcionrio de escritrio de advocacia que, de repente, confina-se dentro de si
mesmo, recusando a participar do mundo e de tudo o que implica no convvio
social. O Ncleo Bartolomeu inspirou-se no romance Barterbly: o escriturio, de
Herman Melville. O objetivo mostrar a rotina do tpico assalariado que trabalha
em escritrio. Alheio realidade, repete mecanicamente: prefiro no fazer.
O Reino do Mar Sem Fim
Concebido a partir do romance de cordel, O Reino do Mar Sem Fim narra a histria
de amor entre Adriano e Elisabete. O espetculo do Grupo Pedras destaca a estreita
relao entre narradores e narrativas com o personagem Severino da Cocada,
replicado em quatro pelos atores. As questes julgadas do domnio pessoal como
fenmeno psquico intransfervel so reconhecidas e compartilhadas por meio da
linguagem potica, inventividade que devemos tradio oral.
O Crculo do Ouro
Mais dentro do tema do Festival impossvel: O Crculo do Ouro, do Grupo Ponto
de Partida, de Barbacena, contou parte da histria dos 300 anos das vilas mineiras. O
espetculo colocou no palco um dos momentos mais fortes para a histria de Minas
Gerais e do Pas, quando as minas so descobertas e o ouro atrai para o serto o
maior contingente de habitantes jamais visto no Brasil-Colnia. A apresentao
ainda fez meno s igrejas e casares e a personalidades como Cludio Manoel da
Costa, Toms Antnio Gonzaga e Maria Dorotia, a Marlia de Dirceu.
Andarilho dos Sonhos
Andarilho dos Sonhos levou ao pblico a histria de Agapito, um campons sem
terra, pastor de ovelha sem ovelhas. Com a simplicidade de um peo roda peo,
bambeia peo Agapito se envolveu numa fantstica aventura, em busca do amor
de sua Panchita voc gosta de mim, maninha, eu tambm de voc e da
prosperidade de seu povo. Do Grupo Virundanga, a pea vencedora do Prmio
FUNARTE 2009 Artes Cnicas na Rua.
Das lgrimas s gargalhadas, peas premiadas em todo o Brasil fizeram do teatro o ponto alto do Festival.
Iza Campos Cesar Tropia
Naty Trres
Cesar Tropia
Naty Trres
Naty Trres
Cesar Tropia
Naty Trres
Naty Trres
Lucas de Godoy
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
-
O Minto das Labdcias -
Antgona
Unindo o trgico ao cmico, como
numa tpica tragdia grega, o espetculo
O Minto das Labdcias Antgona
colocou no palco os anseios que
atingem todos os mbitos do mundo
contemporneo, com influncia de
elementos do circo, incluindo um coro
de seres humanos monstruosos. Aqui,
numa nova leitura da terceira parte da
trilogia tebana, as Labdcias Antgona e
sua irm Ismnia no contrariam
Tirsias para enterrar os dois irmos,
mas para desenterr-los. Quem pegou
bolinha no comeo da pea pde se
divertir com uma interao pra l de
inusitada.
dipo em 4 estaes
Na pea dipo em 4 Estaes, livre
adaptao de dipo Rei, de Sfocles, as
estaes do ano conduziram tragdia
grega que inspirou Freud. Na histria
do dramaturgo grego, dipo mata o pai
e desposa-se da prpria me, o que
depois iluminou o pai da psicanlise
para a ideia do Complexo de dipo. Na
Mostra, o protagonista tampouco foge
de seu destino trgico. Entretanto, a
trama comea a ser contada a partir de
seu nascimento, com uma referncia ao
Homem Vitruviano, de Leonardo da
Vinci. Depois, a presena da esfinge
diverte a plateia, e a narradora com sua
bicicleta, de visual inspirado na atriz
Audrey Hepburn, encanta o pblico. As
msicas so um show parte. No ters escolha, no ters sada, se a mentira
verdade, se a verdade mentira, azar sorte e a
morte vida
09
Aquitecncia de Alice
Inspirada nos livros Alice no Pas
das Maravilhas e Alice Atravs do
Espelho, de Lewis Carroll, Aquitecncia
de Alice explora a adolescncia da
personagem-ttulo. Em cena, h duas
Alices, a do presente e a do passado,
aquela relembrando o que esta reviveu.
Alm disso, cada personagem contm
em sua representao uma virtude e um
pecado. O espetculo ainda puxa o
pblico para o mesmo buraco onde caiu
Alice, deixando-o livre para transitar no
palco e interagir com os atores.
O Cavaleiro Inexistente
A Praa Tiradentes contou com o
espetculo de rua O Cavaleiro Inexistente,
transcriao cnico-musical da obra
homnima de talo Calvino. O
romance, imaginativo e fantstico,
g a n h a b e l e z a a c u a b e r t o ,
principalmente porque conta com ares
de realidade. A apropriao do espao
fez com que se substitusse o andaime
das outras apresentaes. Os atores se
misturaram com os espectadores,
dando a eles sensao de igualdade,
fazendo-os se sentirem representados.
O espetculo mais um fruto do
Grupo Mambembe Msica e Teatro,
projeto de extenso dos cursos de Artes
Cnicas e Msica da UFOP.
Limiar
Limiar contou a histria de trs
vampiros que se encontram de tempos
em tempos para tentarem descobrir
como suportaro a imortalidade. A
pea teve origem durante uma pesquisa
de linguagem que buscou estudar a arte
gtica e aconteceu em cima de um
tablado circular com o desenho do
labirinto da Catedral de Chartres, na
Frana.
08
Por Gustavo Moreira Alves
Artes Cnicas - Mostra DEART
O Departamento de Artes Cnicas (DEART)
promoveu no Festival 2011 a Mostra DEART,
com espetculos que so objeto de Trabalho de
Concluso de Curso (TCC) e ainda esto em
processo pelos estudantes. E estar em
processo no significa que no tenham sido
aplaudidos de p. Se o Festival fosse uma pea
do Juliano Mendes, dramaturgo que escreveu
dipo em 4 Estaes, pediria para ser reescrito.
No que acabe mal, porque acaba muito bem,
mas acaba, e todo esse espetculo pede para
viver de novo, reviver sempre. uma tragdia
quando acaba. Ainda bem que ano que vem
ganha novos traados.
Espetculos
em processo
recebem
aplausos de p
Iza Campos Naty Torres Naty TorresCesar Tropia Lucas de Godoy Lucas de Godoy
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
-
O Minto das Labdcias -
Antgona
Unindo o trgico ao cmico, como
numa tpica tragdia grega, o espetculo
O Minto das Labdcias Antgona
colocou no palco os anseios que
atingem todos os mbitos do mundo
contemporneo, com influncia de
elementos do circo, incluindo um coro
de seres humanos monstruosos. Aqui,
numa nova leitura da terceira parte da
trilogia tebana, as Labdcias Antgona e
sua irm Ismnia no contrariam
Tirsias para enterrar os dois irmos,
mas para desenterr-los. Quem pegou
bolinha no comeo da pea pde se
divertir com uma interao pra l de
inusitada.
dipo em 4 estaes
Na pea dipo em 4 Estaes, livre
adaptao de dipo Rei, de Sfocles, as
estaes do ano conduziram tragdia
grega que inspirou Freud. Na histria
do dramaturgo grego, dipo mata o pai
e desposa-se da prpria me, o que
depois iluminou o pai da psicanlise
para a ideia do Complexo de dipo. Na
Mostra, o protagonista tampouco foge
de seu destino trgico. Entretanto, a
trama comea a ser contada a partir de
seu nascimento, com uma referncia ao
Homem Vitruviano, de Leonardo da
Vinci. Depois, a presena da esfinge
diverte a plateia, e a narradora com sua
bicicleta, de visual inspirado na atriz
Audrey Hepburn, encanta o pblico. As
msicas so um show parte. No ters escolha, no ters sada, se a mentira
verdade, se a verdade mentira, azar sorte e a
morte vida
09
Aquitecncia de Alice
Inspirada nos livros Alice no Pas
das Maravilhas e Alice Atravs do
Espelho, de Lewis Carroll, Aquitecncia
de Alice explora a adolescncia da
personagem-ttulo. Em cena, h duas
Alices, a do presente e a do passado,
aquela relembrando o que esta reviveu.
Alm disso, cada personagem contm
em sua representao uma virtude e um
pecado. O espetculo ainda puxa o
pblico para o mesmo buraco onde caiu
Alice, deixando-o livre para transitar no
palco e interagir com os atores.
O Cavaleiro Inexistente
A Praa Tiradentes contou com o
espetculo de rua O Cavaleiro Inexistente,
transcriao cnico-musical da obra
homnima de talo Calvino. O
romance, imaginativo e fantstico,
g a n h a b e l e z a a c u a b e r t o ,
principalmente porque conta com ares
de realidade. A apropriao do espao
fez com que se substitusse o andaime
das outras apresentaes. Os atores se
misturaram com os espectadores,
dando a eles sensao de igualdade,
fazendo-os se sentirem representados.
O espetculo mais um fruto do
Grupo Mambembe Msica e Teatro,
projeto de extenso dos cursos de Artes
Cnicas e Msica da UFOP.
Limiar
Limiar contou a histria de trs
vampiros que se encontram de tempos
em tempos para tentarem descobrir
como suportaro a imortalidade. A
pea teve origem durante uma pesquisa
de linguagem que buscou estudar a arte
gtica e aconteceu em cima de um
tablado circular com o desenho do
labirinto da Catedral de Chartres, na
Frana.
08
Por Gustavo Moreira Alves
Artes Cnicas - Mostra DEART
O Departamento de Artes Cnicas (DEART)
promoveu no Festival 2011 a Mostra DEART,
com espetculos que so objeto de Trabalho de
Concluso de Curso (TCC) e ainda esto em
processo pelos estudantes. E estar em
processo no significa que no tenham sido
aplaudidos de p. Se o Festival fosse uma pea
do Juliano Mendes, dramaturgo que escreveu
dipo em 4 Estaes, pediria para ser reescrito.
No que acabe mal, porque acaba muito bem,
mas acaba, e todo esse espetculo pede para
viver de novo, reviver sempre. uma tragdia
quando acaba. Ainda bem que ano que vem
ganha novos traados.
Espetculos
em processo
recebem
aplausos de p
Iza Campos Naty Torres Naty TorresCesar Tropia Lucas de Godoy Lucas de Godoy
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
-
desmistifica a ideia de que a msica de
concerto de difcil compreenso,
explica.
Levando a MPB para os entusiastas
do Festival, a Orquestra Cabar,
formada por 22 artistas mineiros,
tambm contagiou e aqueceu. O frio de
13 graus no desanimou as cerca de
1500 pessoas na Praa Tiradentes, em
apresentao nica. Formada em 2010,
em comemorao aos 25 anos da
criao do Cabar Mineiro, a banda
apresentou canes brasileiras do lado
B dos anos 70, em arranjos inditos. A
orquestra busca resgatar parte da rica
produo artstica nacional e unir
clssicos composies de novos
artistas. Para as amigas de Ponte Nova,
Dbora Sanches, 28 anos e Juliana
Machado, 22, as canes animadas
espantam qualquer energia negativa.
um alento para a alma, afirmou
Dbora.
Os bailes a cu aberto ainda
contaram com o Circuito P de Valsa,
que aconteceu com a apresentao da
Orquestra Anos Dourados, no Largo
Marlia de Dirceu. O circuito, idealizado
pela Prefeitura de Ouro Preto, conta
com um pblico formado, em sua
maioria, por pessoas da terceira idade.
Segundo Andr Simes, diretor de
como voltar no tempo; aos anos
80, em que freqentvamos os bailes e
danvamos at o sol nascer, declara o
casal ouropretano Maria Bencia e
Sebas t i o Fer nandes, a s s duo
espectador das apresentaes das
orquestras e bandas dos eventos do
Festival. Embalados pelos acordes de
orquestras e retretas, crianas se
d ive r t i r am , i dosos r ev ive r am
momentos guardados com carinho em
algum cantinho da memria e centenas
de casais puderam danar nas ladeiras e
nos d i s t r i to s de s t a t e r r a de
desbravadores. Por algum tempo, a vida
docemente parou.
Na edio de 2011, a curadoria de
Msica resolveu dar ateno especial
difuso das composies tanto clssicas
como populares, promovendo
interessante dilogo entre elas e
a t r a i n d o, a s s i m , a i n d a m a i s
espectadores. De acordo com o regente
da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo
Toffolo, outro fator que contribuiu para
esse sucesso foram as apresentaes em
todos os distritos ouropretanos. Ao
levar a msica de concerto aos
inmeros distritos, no nosso caso, com
as composies dos Beatles, a
Orquestra contribui para a formao de
um novo pblico e, consequentemente,
eventos da Secretaria de Cultura e
Turismo da cidade, a terceira vez que o
projeto acontece no municpio. O
objetivo levar os bailes nas noites de
lua cheia para os espaos pblicos,
como as praas. Essa iniciativa
comeou em maio e foi at setembro do
ano passado. Agora, ela voltou para o
Festival, explica.
Ao som de Somewhere Over The
Rainbow (Em algum lugar alm do
arco-ris), a orquestra comeou o seu
repertrio e, entre uma dana e outra, l
estava o mesmo casal encontrado em
outros bailes: Dona Maria Bencia e Seu
Sebastio Salgado, danando e
trocando carcias. Faltam eventos
como estes. Ainda bem que o Festival se
encarrega de preencher esse espao,
analisou Sebastio, em mais uma noite
na cidade enfeitada.
Msica
Pra ver a banda passar
Por Jssica Michellin
Orquestras revivem bailes de gala nas ladeiras e distritos
12
Iza Campos
13
Projetos Especiais levaram o ar do Festival para o trem e para as ruas
Ouro Preto e Mariana inspiram e
expiram arte durante o ms de julho;
como um sistema respiratrio, tendo a
arte como fonte essencial para o
funcionamento de tudo o que ocorre
nesta poca, em ambas as cidades. Esse
cenrio infunde artistas que vo para as
ruas, teatros, palcos e praas para levar a
milhares de pessoas o ar do Festival.
O espao pode variar, mas o propsito
sempre o mesmo: preencher cada
artria com as mais diferentes formas
da cultura.
Nesta edio, alguns
eventos ganharam destaque,
no s por sua proposta, mas
tambm por conseguirem
atingir o pblico com extrema
facilidade. Afinal, por que no
uma interveno artstica
durante uma viagem de Ouro
Preto a Mariana, no trem
turstico da Vale? Poesia nos
Trilhos, da Cia. Trem que Pula,
formada por alunos da UFOP,
surpreendeu os passageiros da
locomotiva com poesia e
msica popular brasileira.
Uma apresentao em um
local como esse bem
diferente, mais intimista, j
que voc est muito prximo das
pessoas. Mas o retorno foi muito
bom., destaca a integrante do grupo,
Daniela Fontana.
A rua tambm pode servir de palco
para muitas outras manifestaes. Por
seu carter democrtico, possibilita
contato direto com o pblico, que se
aproxima, interage e, por vezes, at
participa da interveno. Durante o
Festival, a arte pde ser distribuda em
sua extenso, transformando este
espao em um verdadeiro Corredor
Cultural, que reuniu espetculos, peas
de teatro, exposies e dana.
Baile a cu aberto e declamaes de
poesia tambm marcaram esta edio.
Com o Circuito P de Valsa e o Sarau de
poca, o Festival possibilitou o contato
do pblico com a dana e a prtica da
leitura. Em um dos saraus, poesias de
Ceclia Meireles, Toms Antnio
Gonzaga e Alvarenga Peixoto, que
contemplam parte da histria de Ouro
Preto, foram interpretadas, valorizando
o patrimnio cultural da regio.
Segundo a coordenadora do evento,
Marilene Marinho, o sarau integra o
plano de incentivo leitura das
bibliotecas infanto-juvenis
das estaes ferrovirias de
Ouro Preto e Mariana. O
objetivo criar um espao de
cultura, lazer, apreciao
musical e incentivo leitura,
diz.
O que respiramos durante
o ms de julho em cada
pedao de Ouro Preto e
Mariana o que engrandece a
histria das antigas Vila Rica e
Vila do Carmo. o que faz a
regio se tornar um dos
principais roteiros culturais do
Brasil nessa poca. E o mais
importante, o que une pessoas
dos mais diferentes lugares e
estilos numa intensa troca de
conhecimento e experincias, no ar
puro de um inverno acolhedor e
democrtico.
Uma apresentao em
um local como esse bem
diferente, mais intimista,
j que voc est muito
prximo das pessoas.
O retorno foi muito bom.
Daniela Fontana
por Lorena Silva
Ma
rce
loT
ho
led
o
Cesar Tropia
Marcelo Tholedo
Naty Torres
Cesar Tropia
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Mistura Cultural
-
desmistifica a ideia de que a msica de
concerto de difcil compreenso,
explica.
Levando a MPB para os entusiastas
do Festival, a Orquestra Cabar,
formada por 22 artistas mineiros,
tambm contagiou e aqueceu. O frio de
13 graus no desanimou as cerca de
1500 pessoas na Praa Tiradentes, em
apresentao nica. Formada em 2010,
em comemorao aos 25 anos da
criao do Cabar Mineiro, a banda
apresentou canes brasileiras do lado
B dos anos 70, em arranjos inditos. A
orquestra busca resgatar parte da rica
produo artstica nacional e unir
clssicos composies de novos
artistas. Para as amigas de Ponte Nova,
Dbora Sanches, 28 anos e Juliana
Machado, 22, as canes animadas
espantam qualquer energia negativa.
um alento para a alma, afirmou
Dbora.
Os bailes a cu aberto ainda
contaram com o Circuito P de Valsa,
que aconteceu com a apresentao da
Orquestra Anos Dourados, no Largo
Marlia de Dirceu. O circuito, idealizado
pela Prefeitura de Ouro Preto, conta
com um pblico formado, em sua
maioria, por pessoas da terceira idade.
Segundo Andr Simes, diretor de
como voltar no tempo; aos anos
80, em que freqentvamos os bailes e
danvamos at o sol nascer, declara o
casal ouropretano Maria Bencia e
Sebas t i o Fer nandes, a s s duo
espectador das apresentaes das
orquestras e bandas dos eventos do
Festival. Embalados pelos acordes de
orquestras e retretas, crianas se
d ive r t i r am , i dosos r ev ive r am
momentos guardados com carinho em
algum cantinho da memria e centenas
de casais puderam danar nas ladeiras e
nos d i s t r i to s de s t a t e r r a de
desbravadores. Por algum tempo, a vida
docemente parou.
Na edio de 2011, a curadoria de
Msica resolveu dar ateno especial
difuso das composies tanto clssicas
como populares, promovendo
interessante dilogo entre elas e
a t r a i n d o, a s s i m , a i n d a m a i s
espectadores. De acordo com o regente
da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo
Toffolo, outro fator que contribuiu para
esse sucesso foram as apresentaes em
todos os distritos ouropretanos. Ao
levar a msica de concerto aos
inmeros distritos, no nosso caso, com
as composies dos Beatles, a
Orquestra contribui para a formao de
um novo pblico e, consequentemente,
eventos da Secretaria de Cultura e
Turismo da cidade, a terceira vez que o
projeto acontece no municpio. O
objetivo levar os bailes nas noites de
lua cheia para os espaos pblicos,
como as praas. Essa iniciativa
comeou em maio e foi at setembro do
ano passado. Agora, ela voltou para o
Festival, explica.
Ao som de Somewhere Over The
Rainbow (Em algum lugar alm do
arco-ris), a orquestra comeou o seu
repertrio e, entre uma dana e outra, l
estava o mesmo casal encontrado em
outros bailes: Dona Maria Bencia e Seu
Sebastio Salgado, danando e
trocando carcias. Faltam eventos
como estes. Ainda bem que o Festival se
encarrega de preencher esse espao,
analisou Sebastio, em mais uma noite
na cidade enfeitada.
Msica
Pra ver a banda passar
Por Jssica Michellin
Orquestras revivem bailes de gala nas ladeiras e distritos
12
Iza Campos
13
Projetos Especiais levaram o ar do Festival para o trem e para as ruas
Ouro Preto e Mariana inspiram e
expiram arte durante o ms de julho;
como um sistema respiratrio, tendo a
arte como fonte essencial para o
funcionamento de tudo o que ocorre
nesta poca, em ambas as cidades. Esse
cenrio infunde artistas que vo para as
ruas, teatros, palcos e praas para levar a
milhares de pessoas o ar do Festival.
O espao pode variar, mas o propsito
sempre o mesmo: preencher cada
artria com as mais diferentes formas
da cultura.
Nesta edio, alguns
eventos ganharam destaque,
no s por sua proposta, mas
tambm por conseguirem
atingir o pblico com extrema
facilidade. Afinal, por que no
uma interveno artstica
durante uma viagem de Ouro
Preto a Mariana, no trem
turstico da Vale? Poesia nos
Trilhos, da Cia. Trem que Pula,
formada por alunos da UFOP,
surpreendeu os passageiros da
locomotiva com poesia e
msica popular brasileira.
Uma apresentao em um
local como esse bem
diferente, mais intimista, j
que voc est muito prximo das
pessoas. Mas o retorno foi muito
bom., destaca a integrante do grupo,
Daniela Fontana.
A rua tambm pode servir de palco
para muitas outras manifestaes. Por
seu carter democrtico, possibilita
contato direto com o pblico, que se
aproxima, interage e, por vezes, at
participa da interveno. Durante o
Festival, a arte pde ser distribuda em
sua extenso, transformando este
espao em um verdadeiro Corredor
Cultural, que reuniu espetculos, peas
de teatro, exposies e dana.
Baile a cu aberto e declamaes de
poesia tambm marcaram esta edio.
Com o Circuito P de Valsa e o Sarau de
poca, o Festival possibilitou o contato
do pblico com a dana e a prtica da
leitura. Em um dos saraus, poesias de
Ceclia Meireles, Toms Antnio
Gonzaga e Alvarenga Peixoto, que
contemplam parte da histria de Ouro
Preto, foram interpretadas, valorizando
o patrimnio cultural da regio.
Segundo a coordenadora do evento,
Marilene Marinho, o sarau integra o
plano de incentivo leitura das
bibliotecas infanto-juvenis
das estaes ferrovirias de
Ouro Preto e Mariana. O
objetivo criar um espao de
cultura, lazer, apreciao
musical e incentivo leitura,
diz.
O que respiramos durante
o ms de julho em cada
pedao de Ouro Preto e
Mariana o que engrandece a
histria das antigas Vila Rica e
Vila do Carmo. o que faz a
regio se tornar um dos
principais roteiros culturais do
Brasil nessa poca. E o mais
importante, o que une pessoas
dos mais diferentes lugares e
estilos numa intensa troca de
conhecimento e experincias, no ar
puro de um inverno acolhedor e
democrtico.
Uma apresentao em
um local como esse bem
diferente, mais intimista,
j que voc est muito
prximo das pessoas.
O retorno foi muito bom.
Daniela Fontana
por Lorena Silva
Ma
rce
loT
ho
led
o
Cesar Tropia
Marcelo Tholedo
Naty Torres
Cesar Tropia
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Mistura Cultural
-
Mariana, e Sarravulho, de Campo
Grande (MS), foram algumas das
atraes da msica independente.
Do forr ao rock, passando pelo
samba e pelos covers de bandas
internacionais, participaram do
Conexo, em Ouro Preto, bandas
como Tianastcia, Demnios da
Garoa, Hocus Pocus (cover do
Beatles) e Hanoi Hanoi. Nosso
objetivo era transformar esses
espaos em ambientes de qualidade
musical. Lugares que geralmente
so frequentados por estudantes
tiveram, com o Conexo, a presena
de famlias, pessoas de mais idade e
muitos turistas, analisa PC.
de Poos de Caldas (MG), Madame
Saatan, de Belm (PA) e Apolnio,
de So Paulo (SP).
Joo Volpi, baixista da banda
Tereza, enfatizou a importncia do
evento. bom nos apresentarmos
numa estrutura fsica como a do
Festival, alm de tudo, pela sua
projeo. J Pedro Czar Moraes,
vocalista da K2, lembrou que a
msica est tomando rumos
diferentes, onde cada banda
responsvel pela sua prpria
divulgao, e precisa de eventos
como estes. Temos o mesmo
intuito, que mostrar o som,
divulgar e fortalecer a circulao.
por Joo Felipe Lolli
SAGARANACAEMOs centros acadmicos so, por
d e f i n i o , e n t i d a d e s q u e
representam, normalmente, os
estudantes de um curso de nvel
superior. J um caf-teatro um
espao para debates, discusses e
a p o n t a m e n t o s n o c a m p o
intelectual. Mas, no Festival, estes
locais foram aproveitados para
incluir em sua programao os mais
diversos eventos. Isso aconteceu
com o Centro Acadmico da Escola
de Minas (CAEM), em Ouro Preto,
e com o Sagarana Caf-Teatro, em
Mariana.
O projeto Conexo Festival
CAEM-Sagarana brindou as duas
Viver da msica no tarefa fcil.
Mais complicado quando ela
autoral. A maioria das bandas no
consegue fazer seu som chegar ao
pblico. Na tentativa de valorizar
este trabalho, foram incorporados
programao o Circuito Fora do
Eixo e o Encontro Tirando o Mofo.
Com o incentivo, o Festival buscou
fortalecer o trabalho autoral e a
identidade musical destas bandas.
Fora do Eixo e Tirando o Mofo
reuniram formaes de todo o pas.
O Tirando o Mofo, que teve sua
segunda edio em Ouro Preto,
reuniu grupos de rock alternativo.
Levou para os palcos bandas de
cidades com grandes atraes.
Esses locais receberam, nos trs
finais de semana do evento, seis
shows cada um. Alm disso, a
Conexo abriu os palcos para a
msica independente e bandas
menos conhecidas no cenrio
nacional.
um trabalho desenvolvido
para trazer novas referncias
musicais de outras cidades e estados
e, principalmente, fomentar a cena
local, oferecendo oportunidade para
as bandas da nossa regio, explica
PC Belchior, produtor musical e
coordenador do Conexo Festival.
As bandas Quadrado Fino, de
garagens, formadas, em geral, nos
tempos do colgio, para mostrarem
suas boas novidades. O evento
contou com as mineiras Selvagens e
Seu Juvenal, de Ouro Preto, Rotten
Hell, de Uberlndia, O Melda, de
Belo Horizonte e 4 instrumental, de
Sabar. Alm delas, John no Arms,
de Braslia (DF), e Elma, de So
Paulo (SP).
J o Fora do Eixo levou para
Mariana sete grupos. A cidade pde
conhecer o trabalho das bandas
Sarravulho, de Campo Grande (MS),
Tereza, de Niteri (RJ), Os Barcos,
de Vitria da Conquista (BA), 4
Instrumental, de Sabar (MG), K2,
pequ
eno
doB
rasi
l
retrato das bandas
independentes
por Isabela Azzi
Msica
14 REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO 15REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
MELHOR SOBREMESA EM MARIANAMELHOR PRATO EM MARIANA
MELHOR PRATO EM OURO PRETO MELHOR SOBREMESA EM OURO PRETO
Culinria e Arte - Premiados
1 LUA CHEIA BAR E RESTAURANTE
Endereo: Rua Dom Vioso, 58 Centro
Contato: (31) 3557-3232
Sobremesa Mineirinho Lua Cheia: sorvete de queijo
caseiro com calda de goiaba quente.
1 - LUA CHEIA BAR E RESTAURANTE
Endereo: Rua Dom Vioso, 58 Centro
Contato: (31) 3557-3232
Prato Canjiquinha Lua Cheia da Vila: canjiquinha
com costelinha defumada, ora-pro-nobilis e arroz.
3 RESTAURANTE SABOR DAS GERAES
Endereo: Rua Joo Batista Fortes, 09, Pilar.
Contato: (31) 3551-1074
Sobremesa Amor em Pedaos: doce assado feito
com coco, margarina, acar, farinha de trigo.
1 - O PASSO PIZZA JAZZ
Endereo: Rua So Jos 56, Centro.
Contato: (31) 35525089
Prato Bacalhau da Vila: posta de bacalhau do porto
confinado no azeite extra virgem com batatas ao
murro, lingia picante, azeitonas azapa, passas, alho,
cebola e salsinha acompanhados de arroz branco.
Na
ty T
rr
es
Na
ty T
rr
es
-
Mariana, e Sarravulho, de Campo
Grande (MS), foram algumas das
atraes da msica independente.
Do forr ao rock, passando pelo
samba e pelos covers de bandas
internacionais, participaram do
Conexo, em Ouro Preto, bandas
como Tianastcia, Demnios da
Garoa, Hocus Pocus (cover do
Beatles) e Hanoi Hanoi. Nosso
objetivo era transformar esses
espaos em ambientes de qualidade
musical. Lugares que geralmente
so frequentados por estudantes
tiveram, com o Conexo, a presena
de famlias, pessoas de mais idade e
muitos turistas, analisa PC.
de Poos de Caldas (MG), Madame
Saatan, de Belm (PA) e Apolnio,
de So Paulo (SP).
Joo Volpi, baixista da banda
Tereza, enfatizou a importncia do
evento. bom nos apresentarmos
numa estrutura fsica como a do
Festival, alm de tudo, pela sua
projeo. J Pedro Czar Moraes,
vocalista da K2, lembrou que a
msica est tomando rumos
diferentes, onde cada banda
responsvel pela sua prpria
divulgao, e precisa de eventos
como estes. Temos o mesmo
intuito, que mostrar o som,
divulgar e fortalecer a circulao.
por Joo Felipe Lolli
SAGARANACAEMOs centros acadmicos so, por
d e f i n i o , e n t i d a d e s q u e
representam, normalmente, os
estudantes de um curso de nvel
superior. J um caf-teatro um
espao para debates, discusses e
a p o n t a m e n t o s n o c a m p o
intelectual. Mas, no Festival, estes
locais foram aproveitados para
incluir em sua programao os mais
diversos eventos. Isso aconteceu
com o Centro Acadmico da Escola
de Minas (CAEM), em Ouro Preto,
e com o Sagarana Caf-Teatro, em
Mariana.
O projeto Conexo Festival
CAEM-Sagarana brindou as duas
Viver da msica no tarefa fcil.
Mais complicado quando ela
autoral. A maioria das bandas no
consegue fazer seu som chegar ao
pblico. Na tentativa de valorizar
este trabalho, foram incorporados
programao o Circuito Fora do
Eixo e o Encontro Tirando o Mofo.
Com o incentivo, o Festival buscou
fortalecer o trabalho autoral e a
identidade musical destas bandas.
Fora do Eixo e Tirando o Mofo
reuniram formaes de todo o pas.
O Tirando o Mofo, que teve sua
segunda edio em Ouro Preto,
reuniu grupos de rock alternativo.
Levou para os palcos bandas de
cidades com grandes atraes.
Esses locais receberam, nos trs
finais de semana do evento, seis
shows cada um. Alm disso, a
Conexo abriu os palcos para a
msica independente e bandas
menos conhecidas no cenrio
nacional.
um trabalho desenvolvido
para trazer novas referncias
musicais de outras cidades e estados
e, principalmente, fomentar a cena
local, oferecendo oportunidade para
as bandas da nossa regio, explica
PC Belchior, produtor musical e
coordenador do Conexo Festival.
As bandas Quadrado Fino, de
garagens, formadas, em geral, nos
tempos do colgio, para mostrarem
suas boas novidades. O evento
contou com as mineiras Selvagens e
Seu Juvenal, de Ouro Preto, Rotten
Hell, de Uberlndia, O Melda, de
Belo Horizonte e 4 instrumental, de
Sabar. Alm delas, John no Arms,
de Braslia (DF), e Elma, de So
Paulo (SP).
J o Fora do Eixo levou para
Mariana sete grupos. A cidade pde
conhecer o trabalho das bandas
Sarravulho, de Campo Grande (MS),
Tereza, de Niteri (RJ), Os Barcos,
de Vitria da Conquista (BA), 4
Instrumental, de Sabar (MG), K2,
pequ
eno
doB
rasi
l
retrato das bandas
independentes
por Isabela Azzi
Msica
14 REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO 15REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
MELHOR SOBREMESA EM MARIANAMELHOR PRATO EM MARIANA
MELHOR PRATO EM OURO PRETO MELHOR SOBREMESA EM OURO PRETO
Culinria e Arte - Premiados
1 LUA CHEIA BAR E RESTAURANTE
Endereo: Rua Dom Vioso, 58 Centro
Contato: (31) 3557-3232
Sobremesa Mineirinho Lua Cheia: sorvete de queijo
caseiro com calda de goiaba quente.
1 - LUA CHEIA BAR E RESTAURANTE
Endereo: Rua Dom Vioso, 58 Centro
Contato: (31) 3557-3232
Prato Canjiquinha Lua Cheia da Vila: canjiquinha
com costelinha defumada, ora-pro-nobilis e arroz.
3 RESTAURANTE SABOR DAS GERAES
Endereo: Rua Joo Batista Fortes, 09, Pilar.
Contato: (31) 3551-1074
Sobremesa Amor em Pedaos: doce assado feito
com coco, margarina, acar, farinha de trigo.
1 - O PASSO PIZZA JAZZ
Endereo: Rua So Jos 56, Centro.
Contato: (31) 35525089
Prato Bacalhau da Vila: posta de bacalhau do porto
confinado no azeite extra virgem com batatas ao
murro, lingia picante, azeitonas azapa, passas, alho,
cebola e salsinha acompanhados de arroz branco.
Na
ty T
rr
es
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17
Culinria e Arte
Por Douglas Couto
O resgate da tradicional culinria mineira
comidas secas ( base de farinha) dos
antigos tropeiros. Pde-se apreciar
ainda o inusitado Pudim Real
Brasileiro, o tradicional pudim de leite
misturado a folhas de ora-pro-nobis e
servido com calda de maracuj.
Segundo o chef Adriano Martins, o
efeito visual uma manifestao
singular de patriotismo, j que rene
ingredientes tpicos e o verde e o
amarelo da bandeira do Brasil.
Chefs buscaram informaes
histrico-culturais
Para a coordenadora do Circuito
Festival, Eliane Sandi, o fato de os chefs e
donos de restaurantes terem buscado
informaes histrico-culturais para a
escolha dos ingredientes dos pratos
concorrentes deu um charme especial
ao circuito. Alm do pblico, um corpo
de jurados convidado pela coordenao
do Festival teve a tarefa de julgar
tecnicamente os pratos. O jri foi
composto por professores do curso de
gastronomia a ser implantado pelo
Instituto Federal de Minas Gerais, em
Ouro Preto, por representantes da
UFOP, das secretarias municipais de
Turismo e de Cultura e pelas
associaes comerciais das duas
cidades.
Circuito Culinria e Arte reuniu 31 restaurantes que aceitaram o desafio de criar pratos utilizando ingredientes tpicos da histria secular da cozinha de Minas Gerais
Ora-pro-nobis com costelinha de
porco, feijo tropeiro, vaca atolada,
angu com quiabo e torresmo crocante.
Os fs de comida mineira certamente
conhecem o significado dessas palavras.
O que nem todo mundo sabe que a
origem desses pratos, geralmente
preparados com ingredientes da roa,
confunde-se com a prpria histria de
Minas Gerais, como uma clssica
herana da poca colonial e com o
aroma do fogo lenha.
Alm de oficinas e do rico e variado
roteiro artstico-cultural, uma das
atraes de 2011 foi o cardpio de
sabores. O Circuito Culinria e Arte,
uma das cinco atraes do Circuito
Festival, ofereceu ao pblico um roteiro
gastronmico com a cara do Festival de
Inverno. Trinta e um restaurantes (18
em Mariana e 13 em Ouro Preto)
aceitaram o desafio e elaboraram
receitas e cardpios com o tema do
evento: os 300 anos das Vilas de Minas.
Foi justamente no sculo XVIII que a
cozinha tradicional ou tpica mineira
foi forjada em dois momentos distintos:
o de escassez, no auge da minerao do
ouro, e o de fartura, com a ruralizao
da economia regional.
Atravessando sculos, chegaram at
ns alguns dos mais saborosos pratos
da culinria regional mineira, como o
feijo tropeiro e o angu de milho, ou de
fub, com frango. Para o Festival, os
estilos diferentes foram adotados na
maioria dos restaurantes que criaram
novas delcias utilizando ingredientes
das razes da culinria regional. Os
pratos mais famosos da cozinha mineira
originaram-se no nosso passado.
Muitos so feitos base de milho,
utilizando principalmente o fub e o
feijo nas receitas.
Sabores temperados
com sculos de histria
Nessa linha, o Feijo das Vilas do
Ouro, criao do chef Zezinho, foi a
atrao servida no restaurante e
choperia Casaro, em Mariana. Em
homenagem ao tricentenrio, o chef
elaborou o prato base de feijo
vermelho. A receita uma combinao
de sabores temperados com sculos de
histria. Ingredientes simples, sabo-
rosos e ricos. Mostarda, carne de porco,
costelinha de porco, linguia e toucinho
de barriga defumados, arroz e cuscuz de
torresmo deram origem ao prato,
servido em tigelas de barro, que passou
a fazer parte do cardpio do restaurante.
A Matula de Tropeiros foi outra
delcia revelada pelo Festival. A criao
do Bonser Caf Mineiro base de
carne de frango assada com molho de
jabuticaba servido com arroz branco e
farinha de milho. Assim como
antigamente, o prato servido na cuia e
no coit, moda das negras de tabuleiro
na Vila Rica setecentista. O aperitivo
fica por conta do Crambambuli,
bebida servida em canequinhas de
bambu. De sobremesa, pedaos de
rapadurinha.
Para se ter ideia da riqueza do
Culinria e Arte, o restaurante A Vila
preparou o Sabores da Vila, prato
base de lombo empanado na farinha de
torresmo pururuca, acompanhado de
cuscuz mineiro (uma variao do
cuscuz paulista com farinha de
mandioca) e couve, inspirado nas
16 REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOREVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
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Culinria e Arte
Por Douglas Couto
O resgate da tradicional culinria mineira
comidas secas ( base de farinha) dos
antigos tropeiros. Pde-se apreciar
ainda o inusitado Pudim Real
Brasileiro, o tradicional pudim de leite
misturado a folhas de ora-pro-nobis e
servido com calda de maracuj.
Segundo o chef Adriano Martins, o
efeito visual uma manifestao
singular de patriotismo, j que rene
ingredientes tpicos e o verde e o
amarelo da bandeira do Brasil.
Chefs buscaram informaes
histrico-culturais
Para a coordenadora do Circuito
Festival, Eliane Sandi, o fato de os chefs e
donos de restaurantes terem buscado
informaes histrico-culturais para a
escolha dos ingredientes dos pratos
concorrentes deu um charme especial
ao circuito. Alm do pblico, um corpo
de jurados convidado pela coordenao
do Festival teve a tarefa de julgar
tecnicamente os pratos. O jri foi
composto por professores do curso de
gastronomia a ser implantado pelo
Instituto Federal de Minas Gerais, em
Ouro Preto, por representantes da
UFOP, das secretarias municipais de
Turismo e de Cultura e pelas
associaes comerciais das duas
cidades.
Circuito Culinria e Arte reuniu 31 restaurantes que aceitaram o desafio de criar pratos utilizando ingredientes tpicos da histria secular da cozinha de Minas Gerais
Ora-pro-nobis com costelinha de
porco, feijo tropeiro, vaca atolada,
angu com quiabo e torresmo crocante.
Os fs de comida mineira certamente
conhecem o significado dessas palavras.
O que nem todo mundo sabe que a
origem desses pratos, geralmente
preparados com ingredientes da roa,
confunde-se com a prpria histria de
Minas Gerais, como uma clssica
herana da poca colonial e com o
aroma do fogo lenha.
Alm de oficinas e do rico e variado
roteiro artstico-cultural, uma das
atraes de 2011 foi o cardpio de
sabores. O Circuito Culinria e Arte,
uma das cinco atraes do Circuito
Festival, ofereceu ao pblico um roteiro
gastronmico com a cara do Festival de
Inverno. Trinta e um restaurantes (18
em Mariana e 13 em Ouro Preto)
aceitaram o desafio e elaboraram
receitas e cardpios com o tema do
evento: os 300 anos das Vilas de Minas.
Foi justamente no sculo XVIII que a
cozinha tradicional ou tpica mineira
foi forjada em dois momentos distintos:
o de escassez, no auge da minerao do
ouro, e o de fartura, com a ruralizao
da economia regional.
Atravessando sculos, chegaram at
ns alguns dos mais saborosos pratos
da culinria regional mineira, como o
feijo tropeiro e o angu de milho, ou de
fub, com frango. Para o Festival, os
estilos diferentes foram adotados na
maioria dos restaurantes que criaram
novas delcias utilizando ingredientes
das razes da culinria regional. Os
pratos mais famosos da cozinha mineira
originaram-se no nosso passado.
Muitos so feitos base de milho,
utilizando principalmente o fub e o
feijo nas receitas.
Sabores temperados
com sculos de histria
Nessa linha, o Feijo das Vilas do
Ouro, criao do chef Zezinho, foi a
atrao servida no restaurante e
choperia Casaro, em Mariana. Em
homenagem ao tricentenrio, o chef
elaborou o prato base de feijo
vermelho. A receita uma combinao
de sabores temperados com sculos de
histria. Ingredientes simples, sabo-
rosos e ricos. Mostarda, carne de porco,
costelinha de porco, linguia e toucinho
de barriga defumados, arroz e cuscuz de
torresmo deram origem ao prato,
servido em tigelas de barro, que passou
a fazer parte do cardpio do restaurante.
A Matula de Tropeiros foi outra
delcia revelada pelo Festival. A criao
do Bonser Caf Mineiro base de
carne de frango assada com molho de
jabuticaba servido com arroz branco e
farinha de milho. Assim como
antigamente, o prato servido na cuia e
no coit, moda das negras de tabuleiro
na Vila Rica setecentista. O aperitivo
fica por conta do Crambambuli,
bebida servida em canequinhas de
bambu. De sobremesa, pedaos de
rapadurinha.
Para se ter ideia da riqueza do
Culinria e Arte, o restaurante A Vila
preparou o Sabores da Vila, prato
base de lombo empanado na farinha de
torresmo pururuca, acompanhado de
cuscuz mineiro (uma variao do
cuscuz paulista com farinha de
mandioca) e couve, inspirado nas
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Circuito Trilheiros
Desvendando a biodiversidade e a histria preservada em povoados e parques ecolgicos
por Jssica Michellin
Sete trilhas para a
conscientizao ambiental
Includo pela primeira vez no
Festival, o Circuito Trilheiros buscou
valorizar as belas paisagens de Mata
Atlntica e de Cerrado por meio de
passeios aos parques ecolgicos da
regio, entre eles o Parque Horto dos
Contos, o Parque Arqueolgico do
Gogo e o Parque Estadual do
Itacolomi. De acordo com os
organizadores, todas as 215 vagas
oferecidas esgotaram e, em alguns
casos, foram abertas mais vagas, devido
alta procura.
O objetivo foi conscientizar turistas
e a comunidade local da importncia
histrica e ambiental desses espaos a
partir de passeios ciclsticos, expedies
e at mesmo oficinas, alm de fortalecer
o envolvimento da populao
ouropretana e marianense com o
Festival.
Ao todo, o Circuito contou com sete
trilhas, montadas por especialistas em
ecoturismo. A Trilha Mariana-Ouro
Preto, com in c io no Parque
Arqueolgico do Gogo, em Mariana, e
chegada no Parque Natural das
Andorinhas, passando antes pelo stio
arqueolgico do Morro da Queimada,
ambos em Ouro Preto, promoveu a
integrao com a histria antiga de
Minas. O percurso considerado
marco inicial da colonizao das duas
cidades.
Trs outras tr i lhas duas
caminhadas e um passeio ciclstico
levaram os participantes a distritos de
Ouro Preto e Mariana. Bento
Rodrigues-Camargos prestigiou um
dos mais antigos distritos marianenses:
Camargos, endereo da antiga fazenda
Tesoureiro, onde, no sculo XVIII, se
recolhia o Quinto do Ouro. J os
participantes que optaram pelo
caminho Ouro Preto-So Bartolomeu
percorreram o cume da Serra de Ouro
Preto, que divide a Bacia do Rio das
Velhas e do Rio Doce. A trilha passou
pela estrada imperial, chegando a uma
das primeiras regies habitadas na
explorao do ouro, o distrito de So
Bartolomeu.
O percurso Ouro Preto-Lavras
Novas, passou pelo Parque Estadual do
Itacolomi, por trechos da Estrada Real
e pela Bacia do Custdio, at chegar em
Lavras Novas, povoado ouropretano
que teria sido reduto de escravos no
sculo XIX.
J na antiga Vila Rica, a Trilha
Parque Horto dos Contos, a mais
amena de todas, explorou a riqueza das
espcies nat ivas, enfocando a
preservao e a integrao ambiental
rea urbana. O roteiro ecolgico
plantado no centro histrico, ligando a
Igreja So Francisco de Paula Matriz
de Nossa Senhora do Pilar.
O Circuito contou ainda com a
expedio ao Pico do Itacolomi e a
Oficina Plantas: Objeto de Curiosidade
e Estudo em 300 Anos das Vilas do
Ouro, que buscou despertar o interesse
pela biodiversidade da flora da regio.
A comunidade elogiou bastante a
iniciativa, afirma Eliane Sandi,
coordenadora do Circuito Festival. Para
o aluno de Jornalismo da UFOP, Flvio
Ulha, as atividades conscientizaram os
participantes para questes como o
desperdcio de materiais e a utilizao
dos combustveis fsseis. As pessoas
devem pensar duas vezes antes de jogar
uma lata fora ou desperdiar algum tipo
de material, comenta.
Aventura, superao e o privilgio de uma vista extasiante
Seis horas de expedio
ao Parque do
Itacolomi
19
A nvoa encobria os horizontes e
no se podia enxergar o Pico do
Itacolomi da Praa Tiradentes, ponto
de encontro do Circuito Trilheiros.
Nem a sensao trmica de 15 graus,
nem o horrio de sada da expedio,
marcada para s 8h, desanimaram os 50
participantes da expedio ao Parque
Estadual do Itacolomi, incluindo eu,
uma aspirante a jornalista, no
praticante de esportes comuns e muito
menos de esportes radicais.
Atraindo turistas do Esprito Santo,
So Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais, o grupo comeou o seu
percurso com o aval do guia do parque,
Joo Paulo Carvalho Ribeiro. Os
monitores entregaram o mini kit de
sobrevivncia para as seis horas
seguintes, composto por uma barrinha
de cereais e uma garrafa dgua. Tudo
bem, pode ter sido exagero o adjetivo
sobrevivncia, mas a questo que
muitos ali e eu me enquadro nesse
grupo no estavam preparados
fisicamente para os 22 quilmetros de
caminhada e uma cansativa subida em
direo ao Pico. A atividade era um
teste para os nossos limites.
De cara, uma moa desistiu. Mas o
resto do grupo estava obstinado a ter o
privilgio da vista de Ouro Preto e das
redondezas sob a tica de um dos
pontos mais altos da regio, o Itacolomi
na lngua tupi, filhote da
montanha, pedra menina ou pedra
me em seus altivos 1.772 metros de
altitude.
O frio e a umidade eram meros
coadjuvantes, j que o foco de nossas
atenes era a paisagem exuberante da
Mata Atlntica, na qual se destacam as
quaresmeiras e as candeias, rvores
tpicas dessa regio, ambas de um tom
verde bem forte. Trazendo coloraes
mais quentes e vibrantes paisagem, as
sempre vivas, plantas raras de tons
vermelho, laranja e violeta, ofuscaram o
ve rde do cen r io, a t en t o
predominante. Essas plantas tm esse
nome, porque suas flores demoram
para murchar, conservando sua
aparncia por muito tempo.
Conforme subamos, o terreno ia
ficando mais ngreme e os campos de
afloramentos rochosos tornavam
nosso caminho mais tortuoso e a
expedio mais cansativa. Quando
pensava em desistir, era s olhar para o
lado e observar a matriarca de uma
famlia, no auge dos seus 50 anos: No
desiste, no, minha filha!. Dava at
vergonha de encostar numa pedra para
descansar.
Firmes e fortes, uns mais cansados,
outros menos, chegamos ao Pico do
Itacolomi. Depois de duas horas e meia,
tive a oportunidade de avistar a minha
cidade atual sob um ngulo plong
(fazendo jus s aulas de fotojornalismo)
e conseguir imagens incrveis.
Mais do que patrimnio natural, a
rea do parque foi importante na
histria da ocupao da regio e no
descobrimento do ouro, j que o pico
foi referncia para os desbravadores, no
sculo XVIII. L de cima, com muito
frio, intensificado pela chuva fina e
gelada, refleti sobre os fatores
positivos dessa cobertura: o contato
com a natureza e com a histria da
regio, alm da superao dos meus
prprios limites fsicos. Ponto para o
Festival, que conseguiu incluir, em um
evento de arte e cultura, aventura
ecolgica aliada reverncia a um
smbolo, testemunha de tantas
expedies de heris, viles, cobia e
encantamento: pedra me, pedra
menina, filhote da montanha.
Em seus altivos
1.772 metros de
altitude, o Pico do
Itacolomi na
lngua tupi, filhote
da montanha,
foi referncia para
os desbravadores
da regio dos
Inconfidentes.
Estagiria de Jornalismo acompanha circuito e conta sua experincia
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Lucas de Godoy
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Circuito Trilheiros
Desvendando a biodiversidade e a histria preservada em povoados e parques ecolgicos
por Jssica Michellin
Sete trilhas para a
conscientizao ambiental
Includo pela primeira vez no
Festival, o Circuito Trilheiros buscou
valorizar as belas paisagens de Mata
Atlntica e de Cerrado por meio de
passeios aos parques ecolgicos da
regio, entre eles o Parque Horto dos
Contos, o Parque Arqueolgico do
Gogo e o Parque Estadual do
Itacolomi. De acordo com os
organizadores, todas as 215 vagas
oferecidas esgotaram e, em alguns
casos, foram abertas mais vagas, devido
alta procura.
O objetivo foi conscientizar turistas
e a comunidade local da importncia
histrica e ambiental desses espaos a
partir de passeios ciclsticos, expedies
e at mesmo oficinas, alm de fortalecer
o envolvimento da populao
ouropretana e marianense com o
Festival.
Ao todo, o Circuito contou com sete
trilhas, montadas por especialistas em
ecoturismo. A Trilha Mariana-Ouro
Preto, com in c io no Parque
Arqueolgico do Gogo, em Mariana, e
chegada no Parque Natural das
Andorinhas, passando antes pelo stio
arqueolgico do Morro da Queimada,
ambos em Ouro Preto, promoveu a
integrao com a histria antiga de
Minas. O percurso considerado
marco inicial da colonizao das duas
cidades.
Trs outras tr i lhas duas
caminhadas e um passeio ciclstico
levaram os participantes a distritos de
Ouro Preto e Mariana. Bento
Rodrigues-Camargos prestigiou um
dos mais antigos distritos marianenses:
Camargos, endereo da antiga fazenda
Tesoureiro, onde, no sculo XVIII, se
recolhia o Quinto do Ouro. J os
participantes que optaram pelo
caminho Ouro Preto-So Bartolomeu
percorreram o cume da Serra de Ouro
Preto, que divide a Bacia do Rio das
Velhas e do Rio Doce. A trilha passou
pela estrada imperial, chegando a uma
das primeiras regies habitadas na
explorao do ouro, o distrito de So
Bartolomeu.
O percurso Ouro Preto-Lavras
Novas, passou pelo Parque Estadual do
Itacolomi, por trechos da Estrada Real
e pela Bacia do Custdio, at chegar em
Lavras Novas, povoado ouropretano
que teria sido reduto de escravos no
sculo XIX.
J na antiga Vila Rica, a Trilha
Parque Horto dos Contos, a mais
amena de todas, explorou a riqueza das
espcies nat ivas, enfocando a
preservao e a integrao ambiental
rea urbana. O roteiro ecolgico
plantado no centro histrico, ligando a
Igreja So Francisco de Paula Matriz
de Nossa Senhora do Pilar.
O Circuito contou ainda com a
expedio ao Pico do Itacolomi e a
Oficina Plantas: Objeto de Curiosidade
e Estudo em 300 Anos das Vilas do
Ouro, que buscou despertar o interesse
pela biodiversidade da flora da regio.
A comunidade elogiou bastante a
iniciativa, afirma Eliane Sandi,
coordenadora do Circuito Festival. Para
o aluno de Jornalismo da UFOP, Flvio
Ulha, as atividades conscientizaram os
participantes para questes como o
desperdcio de materiais e a utilizao
dos combustveis fsseis. As pessoas
devem pensar duas vezes antes de jogar
uma lata fora ou desperdiar algum tipo
de material, comenta.
Aventura, superao e o privilgio de uma vista extasiante
Seis horas de expedio
ao Parque do
Itacolomi
19
A nvoa encobria os horizontes e
no se podia enxergar o Pico do
Itacolomi da Praa Tiradentes, ponto
de encontro do Circuito Trilheiros.
Nem a sensao trmica de 15 graus,
nem o horrio de sada da expedio,
marcada para s 8h, desanimaram os 50
participantes da expedio ao Parque
Estadual do Itacolomi, incluindo eu,
uma aspirante a jornalista, no
praticante de esportes comuns e muito
menos de esportes radicais.
Atraindo turistas do Esprito Santo,
So Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais, o grupo comeou o seu
percurso com o aval do guia do parque,
Joo Paulo Carvalho Ribeiro. Os
monitores entregaram o mini kit de
sobrevivncia para as seis horas
seguintes, composto por uma barrinha
de cereais e uma garrafa dgua. Tudo
bem, pode ter sido exagero o adjetivo
sobrevivncia, mas a questo que
muitos ali e eu me enquadro nesse
grupo no estavam preparados
fisicamente para os 22 quilmetros de
caminhada e uma cansativa subida em
direo ao Pico. A atividade era um
teste para os nossos limites.
De cara, uma moa desistiu. Mas o
resto do grupo estava obstinado a ter o
privilgio da vista de Ouro Preto e das
redondezas sob a tica de um dos
pontos mais altos da regio, o Itacolomi
na lngua tupi, filhote da
montanha, pedra menina ou pedra
me em seus altivos 1.772 metros de
altitude.
O frio e a umidade eram meros
coadjuvantes, j que o foco de nossas
atenes era a paisagem exuberante da
Mata Atlntica, na qual se destacam as
quaresmeiras e as candeias, rvores
tpicas dessa regio, ambas de um tom
verde bem forte. Trazendo coloraes
mais quentes e vibrantes paisagem, as
sempre vivas, plantas raras de tons
vermelho, laranja e violeta, ofuscaram o
ve rde do cen r io, a t en t o
predominante. Essas plantas tm esse
nome, porque suas flores demoram
para murchar, conservando sua
aparncia por muito tempo.
Conforme subamos, o terreno ia
ficando mais ngreme e os campos de
afloramentos rochosos tornavam
nosso caminho mais tortuoso e a
expedio mais cansativa. Quando
pensava em desistir, era s olhar para o
lado e observar a matriarca de uma
famlia, no auge dos seus 50 anos: No
desiste, no, minha filha!. Dava at
vergonha de encostar numa pedra para
descansar.
Firmes e fortes, uns mais cansados,
outros menos, chegamos ao Pico do
Itacolomi. Depois de duas horas e meia,
tive a oportunidade de avistar a minha
cidade atual sob um ngulo plong
(fazendo jus s aulas de fotojornalismo)
e conseguir imagens incrveis.
Mais do que patrimnio natural, a
rea do parque foi importante na
histria da ocupao da regio e no
descobrimento do ouro, j que o pico
foi referncia para os desbravadores, no
sculo XVIII. L de cima, com muito
frio, intensificado pela chuva fina e
gelada, refleti sobre os fatores
positivos dessa cobertura: o contato
com a natureza e com a histria da
regio, alm da superao dos meus
prprios limites fsicos. Ponto para o
Festival, que conseguiu incluir, em um
evento de arte e cultura, aventura
ecolgica aliada reverncia a um
smbolo, testemunha de tantas
expedies de heris, viles, cobia e
encantamento: pedra me, pedra
menina, filhote da montanha.
Em seus altivos
1.772 metros de
altitude, o Pico do
Itacolomi na
lngua tupi, filhote
da montanha,
foi referncia para
os desbravadores
da regio dos
Inconfidentes.
Estagiria de Jornalismo acompanha circuito e conta sua experincia
REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO REVISTA FESTIVAL | 2011 | UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
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Exposies em museus e atelis de artistas locais homenagearam a produo intelectual das trs primeiras Vilas de Minas
20
cidade, ngelo Oswaldo de Arajo
Santos, que mapeou um passeio
histria cultural da regio.
J o Circuito Atelis Abertos
contou com a participao de
aproximadamente 70 artistas plsticos,
de Ouro Preto e de Mariana. Eles
abriram as portas dos 55 atelis para a
comunidade conhecer o manuseio das
matrias-primas que compem as obras
de arte. Segundo a produtora do
Circuito Festival Eliane Sandi, a ideia
foi criar um dilogo ainda maior com as
pessoas das duas cidades: O Circuito
foi o lugar em que o Festival pde
dialogar ainda mais com a comunidade.
Para isso, chamamos os artistas locais
para abrirem os atelis e mostrarem
seus trabalhos, ressaltou.
Em Mariana, no Museu da Msica, a
exposio Trs Vilas, Trs Senhoras e
Trs Museus reuniu imagens das
Nossas Senhoras padroeiras das antigas
vilas: Nossa Senhora do Pilar, de Vila
Rica do Pilar (Ouro Preto), Nossa
Senhora do Carmo e Nossa Senhora da
Conceio, das vilas de mesmos
nomes, hoje Mariana e Sabar,
respectivamente. As imagens foram
cedidas pelo Museu Arquidiocesano de
O Circuito Expositivo, que
compreendeu aes das curadorias de
Artes Plsticas, Visuais e de Patrimnio,
teve o intuito de apresentar uma
programao de exposies artsticas
ligadas ao tema dos 300 anos das Vilas
de Minas. Entre fotografias, pinturas,
poesias e esculturas, distribudas em 18
espaos nas cidades de Ouro Preto e
Mariana, o pblico pde conhecer a
produo intelectual dos artistas locais
ao longo dos ltimos trs sculos.
E n t r e o s t e m a s e s t a v a m
homenagens s Nossas Senhoras
padroeiras das trs vilas tricentenrias,
aos artistas locais e s prprias vilas. Ao
todo, foram 11 atividades, que iam
desde mostras e exposies at
intervenes urbanas, como a
ocupao da rea externa da Casa da
Baronesa, revestida
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