retorno a um itinerário: recapitulação.. É preciso que eu possa considerar a cena à qual são...

Post on 18-Apr-2015

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Retorno a um itinerário: recapitulação.

“É preciso que eu possa considerar a cena à qual são convidadas a comparecer as recordações do passado para que me sinta autorizado a considerar sua inteira sucessão como minha, como minha posse...

Para retornar ao passado, há que esquecer-se do presente como nos estados de posse...

Para reencontrar o presente, há que suspender os vínculos com o passado e o futuro, como nos jogos de inversão de papéis...

Para abraçar o futuro, há que esquecer o passado em um gesto de inauguração, de começo, de recomeço, como nos ritos de iniciação”.

Paul Ricoeur, A memória, a história , o esquecimento.

“Minhas asas estão prontas para o vôo,

Se pudesse, eu retrocederia

Pois eu seria menos feliz

Se permanecesse imerso no tempo vivo”.

Gerard Scholem, Saudação do Anjo

“Oh!, homens malvados,

Em nome de Deus, pelo que há de mais sagrado,

Digam-me por que mataram

Meu filho?”

(trecho de canção popular do dialeto da região de Opole, Polônia).

“Não esquecerei jamais esse silêncio noturno que me roubou para sempre a vontade de viver”.

Elie Wiesel, Noite

“O desmoronamento apaga a vida, as construções, mas também está na origem das ruínas - e das cicatrizes. A arte da memória, assim como a literatura de testemunho, é uma arte da leitura de cicatrizes”

Márcio Seligmann-Silva, História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes.

“Não esquecerei jamais essa fumaça.

...

Não esquecerei jamais as chamas que consumiram para sempre a minha Fé”.

Elie Wiesel, Noite.

“Que dor tão aguda os acomete, capaz de arrancar tamanhos gritos?”.

Dante Alighieri, A Divina Comédia, O Inferno, Canto III

“A memória só existe ao lado do esquecimento: um completa e alimenta o outro, um é o fundo sobre o qual o outro se inscreve”.

Márcio Seligmann-Silva, História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes.

“O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso”.

Walter Benjamin, Sobre o conceito da história, Tese 9.

Imagens:

Anselm Kiefer

Associated Press

Biblioteca Luis Angel Arango - Colombia

Clarin – Buenos Aires

Czeslaw Kaesmaczyk

David Friedman

Deutsche Welle

Doris Salcedo

Folha de São Paulo

Francis Bacon

Fritz Köelle

Henri Cartier-Bresson

Mariam Ruzamki

Mémorial de la Shoah - Paris

Paul Klee

Peter Eisenman

Stephan Köhler

Wikipédia

Wlodzimierz Siwierski

Wladiyslaw Siwek

Textos:

Dante Alighieri

Elie Wiesel

Gerard Scholem

Harald Weinrich

Paul Ricoeur

Márcio Seligmann-Silva

Walter Benjamin

Música:

Henryk Górecki

Symphony no. 3

III Lento – cantabile semplice

London Sinfonietta

David Zinmann, conductor

Dawn Upshaw, soprano

Pesquisa de imagens e textos, roteiro, edição e direção:

Lucia Santiago

Mário Santiago

Apresentação elaborada para o encerramento dos seminários sobre o livro A memória, a história, o esquecimento, de Paul Ricoeur, realizados no âmbito da disciplina Seminário de teoria da literatura – Melancolia e alteridade: formas da memória cultural na crítica cultural latino-americana contemporânea, ministrada pela Professora Graciela Ravetti - Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, da Faculdade de Letras da UFMG, no primeiro semestre de 2005.

Belo Horizonte, 13 de junho de 2005.

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