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REPRESA CAPIVARA: IMPACTOS SÓCIO AMBIENTAIS E ECONÔMICOS NO MUNICÍPIO DE PRIMEIRO DE MAIO
Professora PDE: Dulcimar Ferreira dos Anjos1
RESUMOEste artigo pauta-se em uma pesquisa que buscou trabalhar com alunos uma problemática relacionada ao seu meio ambiente local e regional. Esse projeto de pesquisa educacional foi desenvolvido com alunos de 1º e 2º anos do Ensino Médio do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco em Primeiro de Maio. Foi idealizado visando à recuperação da história da sociedade local e a inserção do indivíduo nessa comunidade, da qual faz parte, criando sua própria historicidade e identidade. O trabalho proposto teve como objetivo resgatar o processo de mudanças ocorrido no município de Primeiro de Maio com a construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Capivara que represou as águas dos rios Paranapanema e Tibagi mudando totalmente a paisagem e, consequentemente, algumas de suas atividades econômicas. Para o desenvolvimento desse trabalho priorizamos os depoimentos orais e também as fotos. Procuramos resgatar a memória individual e coletiva, traduzindo o sentimento de pertença a esta comunidade, expressas nos conceitos de identidade coletiva, responsabilidade com o patrimônio material, como também o patrimônio imaterial presentes.
Palavras-chaves: História local. Fotografia. Memória coletiva. Identidade
ABSTRACT
This article is guided in a survey that sought to work with students a problematic related to their local and regional environment and regional. This educational research project was developed with both 1st and 2nd years of “Ensino Médio” at “Colégio Estadual Marechal Castelo Branco”, in Primeiro de Maio. It was conceived aiming at the recovery of the history of local society and the insertion of the individual in this community, of which is part, of creating his/her own history and identity. The proposed work had as objective to rescue the process of change occurred in the municipality of Primeiro de Maio with the construction of the dam of the hydroelectric power plant of Capivara which dammed the waters of the Paranapanema and Tibagi Rivers, totally changing the landscape and consequently some of its economic activities . For the development of this work we prioritize oral testimony and photos. We seek to rescue the individual and collective memory, reflecting a sense of belonging to this community, expressed in terms of collective identity, responsibility to the material heritage and also to the intangible heritage present.
Keywords: Local history. Photography. Collective memory. Identity
1 Professora de História da Rede Estadual de Educação.Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional. PDE-2008.E-mail: duanjos@seed.pr.gov.br
Introdução
A proposta deste trabalho foi levar ao conhecimento da comunidade
escolar um período da história da cidade de Primeiro de Maio, precisamente a
década de 70, período em que grande parte do município foi alagada pelas águas
dos rios Tibagi e Paranapanema, represados pela Barragem de Capivara. Através
de entrevistas, pesquisas em jornais da época e imagens procuramos demonstrar os
problemas ambientais e sociais pelos quais a sociedade passou. O trabalho
procurou contemplar também a luta na tentativa de recuperar essas perdas,
transformando a cidade em polo turístico. Este trabalho se justifica por duas razões:
primeiramente por levar uma proposta que estimule os alunos num projeto que
envolve o ambiente escolar, proporcionando assim uma iniciação à pesquisa e uma
maior conscientização da importância que ela tem; e, em segundo lugar, por revelar
a necessidade de se realizar mais pesquisas no âmbito regional. Assim sendo, esta
proposta de trabalho teve como meta a intervenção nas práticas pedagógicas
usadas em sala de aula, possibilitando um encaminhamento metodológico que
possibilite ao educando um ensino de história que tenha significado na sua
aprendizagem, ampliando seu conhecimento e desenvolvimento, propiciando assim
a sua formação histórica.
Memória e ensino de história
Apesar dos consensos construídos acerca da importância da
problematização e do estudo da história local para a formação de crianças e
adolescentes, é possível deparar, no cotidiano escolar, com uma série de
dificuldades para a concretização desses objetivos.
A disciplina de História abre uma gama de particularidades, temas e caminhos
para serem trilhados por estudantes. Mas o que se observa é um eurocentrismo que
toma conta de nossas escolas. Estudam-se muitas vezes a cultura e guerras
relacionadas aos países Europeus e são pouquíssimas as abordagens sobre
“história local”, sobre a cultura na qual nos inserimos, sobre os acontecimentos em
nossas comunidades, enfim, sobre a nossa memória. (RODRIGUES, CRUZ,
CONCBON, 2005, p. 317).
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Segundo IANNI (apud SILVA, 2001, p.90), uma das características da atual
globalização é a perda das referências, ou seja, a destruição do passado. O
crescimento dos jovens vem ocorrendo numa forma de presente constante, sem
relação alguma com o passado público da época em que vivem e, uma das formas
de resistir aos efeitos negativos da globalização, é a preservação da memória local.
Os estudos locais tornam-se material valioso, especialmente para a percepção dos
costumes, das idéias da mentalidade de uma determinada época, pois retratam os
acontecimentos de sua época e os valorizam.
O significado histórico da palavra memória está ligado ao passado já
vivido. É uma construção social e um fenômeno coletivo, sendo modelada pelos
próprios grupos sociais. De acordo com Le Goff:
A evolução das sociedades na segunda metade do século XX clarifica a importância do papel que a memória coletiva desempenha. (...) A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia (LE GOFF, 1996, p.475, 476)
Trabalhar com os bens culturais do patrimônio histórico no processo
ensino-aprendizagem de História é importante pois estimula nos alunos, o senso de
preservação da memória social coletiva, condição indispensável à construção de
uma nova cidadania e identidade nacional plural.
A temática da memória como patrimônio público, ainda é recente no âmbito da historiografia brasileira e, praticamente ausente no processo de ensino-aprendizagem. Isso ocorre, apesar da grande importância de se trabalhar os bens culturais do patrimônio histórico nesse processo de ensino de História, a fim de estimular nos alunos o censo de preservação da memória social coletiva, como fator indispensável à construção de uma nova cidadania e identidade nacional plural.” (ORIÁ, 2005, p.129).
O senso comum sempre relacionou a expressão “patrimônio histórico” a
prédios, monumentos e outras edificações, priorizando o patrimônio edificado e
arquitetônico, que objetivava passar aos habitantes do país a idéia de uma memória
unívoca e de um passado homogêneo e de uma história sem conflitos e
contradições sociais.
O termo “patrimônio histórico e artístico” foi substituído por “bens
culturais” que pode ser definido como
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Toda produção humana, de ordem emocional, intelectual e material, independente de sua origem, época ou aspecto formal, bem como a natureza, que propiciem o conhecimento e a consciência do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia. (GODOY, apud ORIÁ, p.132)
Podemos, portanto, concluir que, “as formas de expressão e até mesmo os
modos de criar, fazer e viver são bens culturais de uma sociedade e, por isso,
devem ser preservados” (ORIÁ,2005,p133). A valorização e o conhecimento de um
bem cultural que testemunha a história ou a vida do país podem ajudar-nos a
compreender quem somos, para onde vamos, o que fazemos; e faz parte de um
acervo cultural que deve ser preservado por toda a comunidade, pois é revelador e
referencial para a construção de nossa identidade histórico-cultural.
Ao socializar o conhecimento historicamente produzido e preparar as atuais e
futuras gerações para a construção de novos conhecimentos, a escola está
cumprindo um papel social, pois como ressalta ORIÁ “o direito à memória como
direito de cidadania indica que todos devem ter acesso aos bens materiais que
representem o seu passado, a sua tradição, enfim, a sua história” (ORIÁ, 2005
p.138).
Refletindo ainda sobre a importância da memória na construção da identidade
e da cidadania cultural, uso as palavras de Oriá que afirma o seguinte:
É a memória dos habitantes que faz com que eles percebam, na fisionomia da cidade, sua própria história de vida, suas experiências sociais e lutas cotidianas. A memória é, pois, imprescindível na medida em que esclarece sobre o vínculo entre a sucessão de gerações e o tempo histórico que as acompanha. Sem isso, a população urbana não tem condições de compreender a história de sua cidade, como seu espaço urbano foi produzido pelos homens através dos tempos, nem a origem do processo que a caracterizou. (ORIÁ, 2005, p.129)
Concluímos que, sem a memória, perde-se o elo habitante-cidade,
impossibilitando ao morador de se reconhecer como cidadão de direitos e deveres e
sujeito da história.
O município de Primeiro de Maio e a Represa de Capivara
O processo de urbanização que resultou na cidade de Primeiro de Maio,
situada no Norte do Paraná, na divisa com o Estado de São Paulo, na confluência
dos rios Tibagi e Paranapanema, iniciou-se nas décadas de 1920 e 1930,
principalmente por paulistas que buscavam terras férteis para a plantação de café.
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Primeiro de Maio constituiu-se em município autônomo em 1951. Na década de
1970, o número de habitantes era de 25.738, sendo que 6.059 viviam na cidade e
19.679 na zona rural.
Além da agricultura como, a produção do arroz nos banhados do rio Tibagi, o
milho, algodão, feijão, trigo e a criação de animais, devido a sua proximidade com os
rios, desenvolviam-se também atividades como olarias e portos de areia. Para o
acesso ao Estado de São Paulo, a cidade contava com a balsa que fazia a travessia
pelo rio Tibagi, ligando Primeiro de Maio ao Estado de São Paulo, tornando o
movimento da cidade bastante intenso.
Com a instalação da barragem da Usina Capivara, que provocou um
alagamento de grande extensão, desencadeou-se no município de Primeiro de Maio
um processo sócio-ambiental. Houve a necessidade de uma reordenação territorial,
incluindo-se o deslocamento compulsório das populações locais, uma vez que seus
espaços, tradicionalmente ocupados, foram convertidos em reservatório. As perdas
nos diferentes aspectos da expropriação foram, sem dúvida, significativas e
provocaram um grande impacto na cidade.
A Usina de Capivara, no município de Primeiro de Maio, foi resultado do plano
desenvolvimentista formulado para o Brasil no século XX. A construção da barragem
da Usina Hidrelétrica, no Rio Paranapanema, entre os municípios de Porecatu (PR)
e Taciba (SP), foi finalizada em 1975. Com o término da obra, formou-se o maior
reservatório da Bacia do Paranapanema, alagando 64.000 hectares de terras férteis,
sendo 40.307,09 hectares somente no Estado do Paraná. De acordo com a
CIBACAP (Consórcio Intermunicipal da Bacia Capivara), os municípios do Paraná
tiveram maior número de terrenos alagados, resultando em 10,2% do total de suas
áreas, ou seja, cerca de três vezes mais, comparando-se com o estado de São
Paulo. (PLANEJAMENTO TURÍSTICO INTEGRADO-COSTA NORTE, p.5).
A construção de uma usina sempre provoca um impacto sócio-ambiental e
cultural de grande proporção. Podemos perceber que esse impacto é sempre
ocultado por um discurso que enaltece o progresso e a necessidade de crescimento
econômico como forma de acabar com a pobreza. De acordo com o pensamento
desenvolvimentista nacionalista, que se fortaleceu no país a partir de 1940, o país
não poderia tornar-se refém do atraso e do subdesenvolvimento.
O discurso da modernização e do desenvolvimento foi difundido até tomar
conta da consciência e inconsciência das pessoas. Era a expectativa de melhores
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condições de vida, de que esse progresso atingisse a vida de cada brasileiro. Essa
ideologia procurava despertar o sentimento patriótico e o orgulho de pertencer a
uma pátria como o Brasil. (LIMA, 2006, p.62).
O progresso, no entanto, pode vir acompanhado de vários problemas. O
custo desse progresso é bastante alto para as populações atingidas por barragem.
Em Primeiro de Maio, os rios Tibagi e Paranapanema, se faziam presentes na
vida dos moradores da cidade, de diversas maneiras. Para muitos o convívio com o
rio era cotidiano devido ao trabalho em seus arredores, ou mesmo de lazer, como
nos relata o senhor Silvio Miguel:
No começo era meu pai que pescava, daí comecei a pescar (...) a caça era liberada , a gente caçava também e plantava arroz na ilha. Peixe, pegava muito peixe aquele tempo, corimba, piava, piracanjuba (...) na quarta-feira, de madrugada, tirava o peixe prá fazê entrega pro peixero (...) toda semana, era duas três vezes por semana entregava peixe. Acho que ficou bem mais ruim, porque naquele tempo era gostoso, tinha aqueles planos cheio de areia , aquelas planície de areia na beira do rio, era gostoso, naquela sombra, era legal ! Aquele tempo, fazia piquenique, minha prima ia lá, nós plantava milho, então eles ia na ilha fazê pamonha na ilha, fazia pamonha, curau, tudo na ilha.Aquele tempo, era gostoso aquele tempo,brincava no rio, dentro da água, brincava na água, todo mundo brincava (...) era um tempo gostoso, era bom! (SILVIO MIGUEL, entrevista em 24/11/2008).
Não houve uma preocupação com o impacto que seria provocado com a
construção dessas grandes barragens nos lugares onde seriam instaladas. Modos
de viver foram transformados com a transferência compulsória ou com a expulsão
das populações. Nem todos os proprietários que perderam suas terras, com o
alagamento, conseguiram comprar outros lotes no município; assim, muitas famílias
deixaram a cidade migrando para outros municípios ou estados, em busca de terras
mais baratas, diminuindo substancialmente o número de habitantes na cidade.
Somando-se os problemas advindos da barragem à perda das culturas com a geada
de 1975, Primeiro de Maio que chegou a contar com 27.543 habitantes na década
de 70, atualmente, segundo o censo do IBGE de 2007, conta com 10.753
habitantes.
O modo como foi feito a desapropriação e os valores estabelecidos para a
indenização geraram insatisfação e revolta. Esta problemática é ressaltada pela
Folha de Londrina por ocasião do alagamento, afirmando que, se o fechamento das
comportas de Capivara a 20 de dezembro, 10 dias antes do previsto no cronograma
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da CESP já era um fato liquidado, o mesmo não se podia afirmar quanto às
indenizações referentes às terras que seriam alagadas.
Junto a fontes oficiais a Folha apurou ter havido dois critérios de avaliação, um judicial, chegando até a 60 mil cruzeiros o alqueire, principalmente nas propriedades de menores de idade (co-proprietários): e a da CESP propriamente dita, fixando, de um modo geral, preço entre 20 e 25 mil cruzeiros o alqueire, com algumas exceções nos casos de propriedade menores e com benfeitorias. (...) em Primeiro de Maio, que terá mais de 4 mil alqueires atingidos, (...) dos quase 650 proprietários envolvidos pouco mais de 100 ainda não entregaram as propriedades ou passaram as escrituras (FOLHA DE LONDRINA, 28/11/1975, p.6).
O impacto que acompanha a implantação de uma usina hidrelétrica é de
grande dimensão e atinge várias áreas: da inundação de terras agrícolas à extinção
de ofícios tradicionais. A cidade de Primeiro de Maio contava com portos de areia
que também tiveram suas atividades paralisadas, como nos mostra essa reportagem
feita no período do alagamento:
(...) Arthur Carlos, disse ainda não saber quanto lhe será dado pela perda da exploração de areia no porto, concessão de seu pai. Acredita-se que terá que encerrar o negócio, pois as informações obtidas por ele são de que no rio Paraná, um lugarzinho, qualquer é cedido por 200 mil cruzeiros: enquanto outros proprietários querem 30 por cento de participação na produção. “Tudo isso, e mais o imposto, desanima a gente. Bom seria que a CESP arrumasse um outro lugar pra gente explorar areia, ao invés da indenização” – afirmou Arthur (FOLHA DE LONDRINA, 29/11/1975, p.9).
Nesse processo de mudanças, se estabelece na região nova dinâmica sócio-
econômica, novos grupos sociais surgem e novos interesses e problemas se
manifestam. Tomemos como exemplo os trabalhadores da área rural.
Na ocasião do alagamento, a FOLHA DE LONDRINA publicou uma
reportagem sobre o dilema enfrentado por esses trabalhadores, que na visão da
empresa, não eram considerados como “atingidos”:
CESP – Centrais Elétricas de São Paulo, quando indenizou as áreas a serem inundadas para a transformação do reservatório de água da usina de Salto Capivara, preocupou-se com os proprietários das terras, esquecendo-se, porém, de um problema social, o dos empregados rurais. Em conseqüência, agora que as águas começaram a subir dezenas de famílias encontram-se desempregadas, não sabendo para onde ir. (...) Outros gastaram o que tinham com a mudança: estão agora sem emprego, sem previsão de rendimentos e sem saber o que fazer (FOLHA DE LONDRINA, 27/12/1975, p.5).
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Rothman considera que há outras dimensões a serem consideradas nesse
processo, além da pecuniária, pois são vários os grupos sociais e sociedades cuja
concepção e vivência do espaço envolvem outros valores. Há perdas que são
resultantes da própria desestruturação de relações predominantes, da eliminação de
práticas, da perda de valores e recursos imateriais (religiosos, culturais) como a
dispersão de grupos familiares, lugares com importância simbólica e religiosa.
(ROTHMAN, 2008, p.45).
Porém existe um lugar onde só a fé está segurando uma pequena parte da população: Vila Nova, no município de Primeiro de Maio. O vilarejo se constitui na única comunidade a ser inteiramente coberta pelas águas. (...) E os moradores que ainda permanecem, aguardam apenas a derradeira festa religiosa no lugar (...) “festa da despedida”. (FOLHA DE LONDRINA, 28/11/1975, p. 6).
De acordo com a Folha de Londrina de 30/11/75, entre Jataizinho e Primeiro
de Maio, todos os depósitos de argila e “barreiros”, às margens do rio Tibagi, seriam
inundados. Muitas cerâmicas e olarias situadas ao longo do trecho encerraram
atividades por falta de matéria prima, que não poderia mais ser extraída.
A modernização tende a mudar a cultura e a forma de organização de um
grupo social. Ela destrói hábitos, valores, costumes e práticas que estão ligados
diretamente à tradição. A modernização destrói ofícios e práticas diretamente
vinculados a uma temporalidade que não é mais interessante que continue existindo
dessa forma. ”Trata-se, com efeito, de um processo de mudança social que interfere
em várias dimensões e escalas, espaciais e temporais”. (ROTHMAN, 2008, p.44).
Diante de tantas perdas: população, agricultura e pecuária, comércio,
empregos, danos causados ao meio ambiente, buscou-se incentivar em Primeiro de
Maio o desenvolvimento do turismo. Uma das formas de reverter a situação foi a
criação de uma área de lazer - Terminal Turístico de Capivara - conhecida como
PARANATUR. A construção foi iniciada em 1976 pelo governo do Estado, como
forma de geração de renda através da atração turística.
Em 1982, foi reivindicada a municipalização da PARANATUR. Em 1986, no
governo do prefeito Jorge Bernardo, o terminal foi municipalizado, com o argumento
de que seria mais bem cuidado e convertido em benefícios para a população. A
partir dessa data passou a existir uma preocupação maior quanto à possibilidade de
investimentos na cidade, para transformá-la em uma atração turística, aumentando a
renda do município.
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Todos os investimentos em infraestrutura, no terminal turístico, atraíram
outros investimentos, como por exemplo, a venda de chácaras de lazer no entorno
do lago, transformando em grande medida a paisagem no município, já
anteriormente mudada pelo alagamento.
De acordo com o Departamento de Cadastros Imobiliários do município de
Primeiro de Maio, são mais de 300 lotes, alguns pertencentes a moradores da
cidade, que têm a chácara para lazer e também como fonte de renda.
Das atividades econômicas mais expressivas no município, existentes
anteriormente ao alagamento no município de Primeiro de Maio e que ainda
persistem, podemos citar a agricultura e a pesca que ainda são praticadas como
lazer e também como trabalho.
Diante de todos os problemas expostos, o que esperamos é que profundas
mudanças nas políticas ambiental e energética aconteçam, no intuito de construir
um modelo alternativo de desenvolvimento que garanta a justiça social e ambiental.
A história local e o ensino de história
Através do local focalizado - Primeiro de Maio - podemos reconhecer parte da
cultura que se construiu no país e também dos problemas vividos pela população.
Ao torná-lo conhecido, acreditamos estar revelando um pouco de nossa memória,
que é rica e plural. Não apenas as grandes obras e monumentos devem ser
valorizados, mas também as tradições e a memória de diferentes grupos e minorias
precisam ser reconhecidas, o que vai permitir a permanência da vida social e a
elaboração do futuro. Daí, a importância da história local, pois o conhecimento
histórico é indispensável na construção da identidade dos jovens em nossas
escolas. Segundo MANIQUE E PROENÇA:
Uma identidade constrói-se a partir do conhecimento da forma como, os grupos sociais de pertença viveram e se organizaram no passado, mas também da verificação da forma como se estruturam para fazer face aos problemas do presente, tendo uma componente que aponta para o futuro, pelo modo como se prepara por meio da fixação de objetivos comuns” (MANIQUE e PROENÇA Apud FONSECA, 2003 p.156).
Uma das dificuldades, ao se trabalhar a história local, é com relação às
fontes, pois em geral, são constituídos de fatos, textos, materiais produzidos pelas
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prefeituras, pelos órgãos administrativos locais, com o objetivo de difundir a imagem
do grupo detentor do poder político ou econômico. Com relação a esse problema,
Samuel defende a incorporação das fontes orais que, segundo ele, é capaz de fazer
com que os estudos de história local escapem das falhas dos documentos, uma vez
que a fonte oral é capaz de produzir outras evidências, captar, registrar e preservar
a história viva. (SAMUEL, apud FONSECA, 2003, p.154 -155). Em seus escritos,
GRAEBIN e PENNA chegam à seguinte conclusão:
O trabalho com fontes alternativas, como as orais, pode fazer com que o ensino de
história caminhe em direção a muitas descobertas. Os depoimentos estão repletos de
práticas de resistências, vivências cotidianas e processos societários. Num mundo
que perde as suas referências, o trabalho com a memória, valorizando a experiência
social, oferece a aproximação com os sujeitos históricos com todo o impacto das
representações que estes fazem de si e do mundo, bem como auxilia a manter uma
atitude consciente na tarefa de reinventar a vida e no modo de pensar a história
(GRAEBIN E PENNA, 2006, p.97-98).
Uma outra possibilidade metodológica interessante para o estudo da história
local é a fotografia. “Atualmente, lança-se mão, cada vez mais, de uma gama mais
abrangente de evidências, na qual as imagens têm o seu lugar ao lado de textos
literários e testemunhos orais.” (BURKE, 2004, p.11.). Segundo Burke, foi a partir da
década de 1960, que historiadores contemporâneos tornaram-se conscientes do
valor de fotografias como evidências para a história social, ajudando-os a construir
uma história “vista de baixo”, focalizando o cotidiano e as experiências de pessoas
comuns.
De acordo com Canabarro, a fotografia possibilita ao historiador acrescentar
novas e diferentes visões da história social e revela elementos importantes para o
conhecimento da história coletiva. Possibilita ampliar a visão do historiador, pois
coloca em cena atores sociais em diferentes situações de atuação, permitindo que
se conheçam os cenários em que as atividades cotidianas desenvolvem-se, assim
como a diversidade das vivências dos atores sociais que agiram em um determinado
contexto sociocultural. O autor observa também “que o historiador ao trabalhar com
fotografia precisa situá-la em um determinado tempo e espaço e perceber as suas
alterações e as do contexto. A tarefa do historiador consiste na realização da crítica
interna e externa do documento. (CANABARRO, 2005, p.25-26).
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Ainda hoje se discute muito sobre aquilo que realmente a foto nos transmite.
Desde seu advento, as fotografias estiveram sujeitas a muitas interpretações. A
fotografia foi considerada, num primeiro momento, como um registro verdadeiro do
passado. Atualmente, vários questionamentos são feitos a esse respeito, pois não
existem ‘interpretações neutras’. Ao olharmos uma foto, temos que considerar que
ela é produto de escolhas provindas da subjetividade do fotógrafo, que poderia
determinar o que apareceria e o que permaneceria em oculto ao olhar. Essa é uma
das razões por que muitos historiadores têm receio em utilizar material fotográfico
como documento histórico e, portanto, como fonte de pesquisa.
Uma fotografia é um reflexo congelado de um instante do real. Mesmo
considerando as intencionalidades da existência de uma fotografia – o filtro cultural
exercido pelo fotógrafo – a fotografia traz um fragmento do passado, uma memória
de um momento acontecido. Para Kossoy, “Fotografia é Memória e com ela se
confunde”. As imagens fotográficas de outras épocas, na medida em que são
identificadas e analisadas, se constituirão em fontes insubstituíveis para a
reconstituição histórica dos cenários, das memórias de vida, de fatos do passado
antigo como de um passado mais recente. (KOSSOY,1999, p.133).
Desenvolvimento das atividades
Investigar a história local, no caso específico a cidade de Primeiro de Maio, foi
uma maneira de valorizar o lugar e as pessoas que nela vivem. Além do trabalho em
sala, com leituras, oportunizando um conhecimento melhor da história da cidade, foi
realizado o trabalho de campo, onde os alunos puderam ouvir pessoas que vivem na
cidade e que vivenciaram esse período de grandes mudanças. Pessoas cujo
passado histórico pessoal está inserido no próprio passado histórico da cidade.
Iniciamos as atividades com aula expositiva sobre a industrialização, atividade
econômica esta, responsável pela transformação da paisagem em muitos lugares.
Discutimos o tema da industrialização fazendo a seguinte consideração: a sociedade
humana e a natureza são os elementos fundamentais para a construção do espaço
geográfico. A natureza é a fonte original de tudo que existe e a sociedade humana
transforma essa natureza, formando uma segunda natureza. Até o século XVIII,
essas transformações não eram tão intensas e irreversíveis, mas com a Revolução
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Industrial, a natureza passou a ser profundamente modificada, o homem passou
realmente a construir o espaço geográfico.
É importante realizarmos a avaliação diagnóstica no início de qualquer tipo de
trabalho para se ter uma visão geral de como os alunos estão, frente a determinados
conhecimentos. Assim sendo, utilizando a metodologia de elaboração de texto,
procuramos diagnosticar o conhecimento informal, ou seja, o conhecimento prévio
dos alunos sobre os impactos da represa, responsável por toda a transformação da
paisagem na cidade: “Quais intervenções o homem fez e faz na natureza em
Primeiro de Maio?”. Através dos textos, verificamos que parte dos alunos não
percebia a represa como resultado da interferência do homem na natureza, citando
apenas a agricultura, o desmatamento, pois tinham a represa como paisagem
natural no município. Tomemos como exemplo estas citações dos próprios alunos:
Uma das grandes intervenções é o desmatamento, pois há muitas pessoas desmatando para produzir a agricultura (...). B.S. - 2º NormalA maior intervenção foi a agricultura, ela deixou muitas pessoas empregadas, mas houve um grande desmatamento para poder plantar milho, arroz, soja, as hortas (...). T.S. 2º NormalAs principais coisas que o homem fez e faz é o desmatamento, a agricultura. Pois antigamente aqui havia muitas árvores e o homem desmatou e hoje quase não há árvores. Na agricultura, o homem utiliza muito a tecnologia, esquece que com isso polui cada vez mais o ar e também piora o estado da natureza. A.C.S. 2º NormalAlgum tempo atrás existiam mais árvores, esse rio enorme era uma represa bem menor. Depois foram surgindo mais fábricas e com essas transformações o rio foi aumentando mais, o homem construiu muitas casas (...) e tudo foi se modificando (...). A.A.S.1º Normal
Na seqüência, os alunos organizados em grupos, partiram para um trabalho
de campo. Deveriam produzir imagens fotográficas sobre as interferências
realizadas pelo homem na paisagem de Primeiro de Maio.
Com as imagens produzidas, os alunos elaboraram cartazes que foram
apresentados em sala. Foi um momento propício para observarmos e discutirmos a
paisagem natural e a paisagem modificada e produzida em nosso município. Os
alunos puderam perceber as transformações ocorridas devido à existência da
barragem, e as mudanças que continuam acontecendo com as chácaras e
condomínios que não param de aumentar.
Através da conversação com alunos pudemos verificar que, para esses jovens
que fazem parte da sociedade atual e que não vivenciaram esse período da cidade
antes do alagamento, fica extremamente difícil abstrair o rio como integrante da
paisagem natural antes do alagamento, pois sempre tiveram a represa como
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paisagem natural da cidade. Providenciamos então algumas imagens fotográficas
focalizando paisagens do município antes do alagamento, para que os alunos, em
grupos, estivessem fazendo a análise das fotos. Nessa análise deveriam observar o
período das imagens, se era uma paisagem urbana ou rural e a infra-estrutura da
cidade. Com esta atividade eles puderam observar, através das imagens, aspectos
da cidade antes do alagamento, percebendo que o rio fazia parte do cotidiano das
pessoas como forma de trabalho e de lazer.
Figura 1: Pesca no Rio Tibagi Figura 2: Piquenique a beira do Rio Tibagi
Acervo: Silvio Miguel Acervo: Hélio Rodrigues Bicas
Através da apresentação do rio Tibagi, com imagens feitas no início do século
passado, os alunos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais do rio que
antes fazia parte da paisagem da cidade. As imagens apresentadas foram da
exposição de Reinhard Maak – O visionário ambiental (1926-1930).(Obtidas na
WWW Rede Brasileira de História Ambiental)
Figura 4: Expedição Tibagi-1930
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Figura 3: Expedição Tibagi-1926
O objetivo da apresentação dessas imagens foi mostrar aos alunos que a
represa nem sempre esteve incorporada na paisagem e na vida da cidade. Antes da
barragem existia um rio corrente que dava à cidade outras possibilidades de vida,
trabalho etc. Esta atividade foi inserida devido a dificuldade de alguns alunos
entenderem essa mudança (rio - represa). Para alguns alunos, como já dissemos, a
represa sempre esteve incorporada à cidade.
O próximo passo foi a leitura e análise das discussões apresentadas no
material de implementação: “Represa Capivara: impactos sócio-ambientais e
econômicos no município de Primeiro de Maio”.
Em grupos, os alunos discutiram os seguintes temas apresentados:
transformação nas formas de trabalho, costumes, demografia, cultura e outros,
possibilitando um aprofundamento maior sobre os impactos sofridos pelo município
com o alagamento do rio Tibagi. As entrevistas apresentadas no trabalho
forneceram informações e peculiaridades reforçando as discussões propostas.
(1) A urbanização e o surgimento da cidade
• Que atividade agrícola desenvolveu-se no norte paranaense no início do
século XX, e qual sua importância na ocupação do Norte Novo no Paraná?
(2) Industrialização no Paraná – Energia Elétrica
• Quais as mudanças tecnológicas que ocorreram no século XIX?
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Figura 5 – A caminho da Foz do Rio Tibagi no Paranapanema
• Qual a representatividade do setor elétrico no final do século XX?
- Comente as características do setor elétrico na década de 20.
• De que forma a Primeira Guerra impulsionou o setor elétrico?
• No governo Vargas, que incentivo foi dado ao setor de energia elétrica?
• Em 2007, quais foram as iniciativas do governo Lula com relação ao setor
elétrico?
(3) O discurso desenvolvimentista
• Comente a frase: “O desenvolvimento como ideologia, teve um papel
importante na defesa de progresso no Brasil”.
• A energia elétrica foi uma conquista do ser humano que transformou tanto a
base produtiva quanto a vida cotidiana da população. Explique e dê
exemplos.
• A modernização tende a mudar a cultura e a forma de organização de um
grupo social. Como isso acontece?
• As implementações na área ambiental pela Duke-Energy através do
CIBACAP conseguiu suplantar as perdas do nosso município com o
alagamento? O que o grupo pensa sobre isso?
• Explique a frase: “Não apenas as grandes obras e monumentos devem ser
valorizados, mas também as tradições e a memória de diferentes grupos e
minorias sociais”.
(4) Atividade individual
• A leitura deste trabalho trouxe informações novas para você? Quais?
Os alunos assistiram também a vídeos, com os quais puderam conhecer
outras comunidades que passaram pelos mesmos problemas que nossa cidade
passou, a forma como reagiram a esses problemas e as lutas que enfrentaram para
preservar suas riquezas naturais, suas comunidades e a criação de novas formas de
trabalho. Puderam também perceber a maneira como essas grandes empresas
tratam o assunto, quais suas prioridades.
Apresentação dos vídeos: “A barragem de Barra Grande” - documento sobre
os impactos da barragem nessa localidade – (Disponível em
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HTTP://www.apremavi.org.br/mobilização/barra-grande/vídeos/) e “Campanha contra
barragem”: A privatização da água – (Portal Dia-a-dia da Educação - TV multimídia - Disciplina
de Geografia.)
O próximo passo foi a elaboração de trabalhos de toponímia de alguns locais
da cidade que sofreram alterações devido ao represamento do rio Tibagi.
Os alunos coletaram imagens antigas da localidade, fotografaram e gravaram
entrevistas com pessoas da comunidade relatando suas histórias de vida com
relação ao alagamento, ou seus conhecimentos a respeito do tema. Com essa
atividade procuramos valorizar a memória das pessoas da coletividade. Os alunos
gravaram vídeos que foram apresentados na sala, socializando seus trabalhos com
os colegas. Esse trabalho propiciou discussões mais profundas quanto ao papel do
governo municipal com relação a trabalho, lazer e melhoramentos na cidade, como
também da responsabilidade da população em relação ao voto, escolhendo pessoas
compromissadas com a coletividade, pois a cidade sofreu muito com os impactos da
barragem e continua sofrendo com tantas perdas.
Finalmente, os alunos confeccionaram painéis com as toponímias
socializando seus conhecimentos e experiências com a comunidade escolar.
Com o objetivo de comparar as idéias prévias dos alunos na fase inicial e
posteriormente ao estudo do tema, pedimos a eles que elaborassem novamente um
texto cujo tema foi: “Que interferências o homem fez e faz na natureza em Primeiro
de Maio”. Essa ação foi de suma importância no processo ensino/aprendizagem,
pois foi o momento de avaliarmos o nosso trabalho e a aprendizagem dos alunos.
CONCLUSÃO
Trabalhar o local e o regional é buscar, a partir dos fatos ou
acontecimentos de um município, de uma dada região, uma explicação para o que
acontece nacionalmente. Esse conhecimento pode ajudar os alunos a melhor
compreenderem conjuntura e estrutura, muitas vezes tão difíceis de serem
entendidas. No momento em que o professor usa um acontecimento local, ele está
falando de algo que todos conhecem, ou ao menos já ouviram falar. Assim, partindo
do que já se sabe, o aluno pode ter uma compreensão mais ampla do assunto a ser
trabalhado.
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Através da avaliação diagnóstica tivemos a oportunidade de conhecer as
dificuldades dos alunos, e adaptarmos as atividades didáticas para que os
resultados fossem os mais próximos possíveis dos objetivos propostos, podendo
considerá-la, sem dúvida, como parte integrante do processo ensino aprendizagem.
A avaliação é vista como o momento em que os alunos constroem seu
conhecimento histórico, a partir de procedimentos desenvolvidos pelo professor em
sala de aula.
A análise do desenvolvimento do trabalho e dos materiais produzidos
pelos alunos nos possibilitou verificar as mudanças e avanços no conhecimento
histórico demonstrados por eles. Porém, muitas dúvidas ainda não foram totalmente
sanadas, como por exemplo, a noção do antes e depois, com relação a rio - represa,
a dificuldade de entenderem que a ilha surgida com a represa não é a mesma que
existia no rio antes do alagamento, que existia um rio que foi alagado formando a
represa, que o rio não era uma represa menor. Esses são alguns exemplos de
conceitos errados que não imaginávamos que existiam na mente dos alunos e que
foi preciso um trabalho intenso para que fossem mudados. A realização deste
trabalho permitiu identificar algumas dificuldades e problemas que este tema suscita,
bem como a necessidade de serem trabalhados em nossas escolas, tendo como
objetivo a busca do conhecimento histórico de nossa cidade e consequentemente a
formação de uma identidade.
Apesar de todos os empecilhos encontrados no decorrer da pesquisa e
sua implementação, acreditamos ter alcançado a nossa meta inicial, uma vez que,
através dos estudos, entrevistas e vídeos, muitos alunos puderam ampliar a visão e
seu conhecimento sobre a cidade, fazendo um paralelo Primeiro de Maio/ Paraná/
Brasil. Constatamos que os alunos conseguiram fazer uma analogia dos temas
estudados com a sociedade em que vivem permitindo a eles uma visão mais crítica
do processo histórico de nossa cidade.
Através dos textos abaixo, podemos perceber as mudanças e
conhecimentos adquiridos pelos alunos depois das atividades desenvolvidas:
(...) Uma intervenção que abalou Primeiro de Maio foi a Represa Capivara
que alagou parte das terras de cultivo e casas, fazendo com que muitas
pessoas se mudassem para outros lugares.(...)G.R. 2º Normal.
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(...) Houve uma grande intervenção em nossa cidade e foi a Represa de
Capivara, com isso várias pessoas perderam tudo, casas, lavouras.
Enfim, vários e vários hectares de terras. As únicas pessoas que receberam
indenização foram os proprietários, donos da terra, agora já os trabalhadores.
(...) ficaram sem nada. F.Z. 2º Normal
Nesses dois textos, as alunas citam a represa como uma intervenção do
homem na natureza e algumas das conseqüências dessa intervenção, como a perda
das terras e a situação de abandono dos trabalhadores rurais que perderam seus
empregos.
Nos textos a seguir as alunas já citam as formas de trabalho que
deixaram de existir na região devido ao alagamento e a diminuição da população.
Demonstram também, reconhecer a importância da memória social coletiva e a
valorização da memória como forma de preservação da história local.
(...) Após a abertura dessa represa várias portas se fecharam para diversos
trabalhadores, pois várias cerâmicas (olarias) se fecharam, pois eles não
tinham mais de onde tirar a matéria prima que era o barro porque o local de
onde eles tiravam esse barro foi tomado pela água.J.M.O. 1º Normal
(...) Por volta da década de 70 a 80 aconteceu um desastre onde mudaria a
história de nossa cidade.Agricultores perderam suas terras
(...), perdemos espécies de peixes, a população diminuiu pelo fato de que
agricultores foram embora para outras cidades (...). I.B.S. 1º Normal
(...) Na nossa cidade houve muitas modificações e a população também
sofreu mudanças porque eles usavam muito o rio, tanto para o divertimento
quanto para a sobrevivência.(...) Devemos valorizar os mais velhos por causa
das histórias que eles têm para nos contar, devemos dar mais valor à riqueza
das lembranças deles.
(...) Necessitamos dar valor àqueles que estão do nosso lado porque têm
muito para nos ensinar. Quando nos damos conta não temos tempo para
essa história que é rica em detalhes. Mas precisamos modificar nosso modo
de pensar sobre nossa cidade
(...) desde a política da nossa cidade. Assim poderemos caminhar para o
futuro melhor em prol de nossos filhos e netos e melhorar a vida de nossa
comunidade. F.E. 1º Normal.
Percebemos que, trabalhar histórias de regiões e histórias locais, é importante
para que os alunos entendam melhor o mundo em que vivem, percebam as relações
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entre os seres humanos, como essas relações acontecem e como podemos, através
da história, entender melhor os homens e seus feitos através do tempo.
REFERÊNCIAS
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