relatorio oficinas-dragagem-pescadores-2014 (1)
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Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista de Cassurubá
Câmara Técnica de Acompanhamento da Dragagem do Canal do Tomba
Posicionamento das comunidades afetadas pela Dragagem do Canal do Tomba:
Problemas e impactos socioambientais do empreendimento e possíveis soluções.
Caravelas-Bahia
Setembro de 2014
i
Posicionamento das comunidades afetadas pela Dragagem do Canal do Tomba:
Problemas e impactos socioambientais do empreendimento e possíveis soluções.
Equipe responsável:
Joaquim Rocha dos Santos Neto – Analista Ambiental/ Resex Cassurubá-ICMBio;
Eduardo Camargo – Gerente Programa Marinho – Conservação Internacional;
Danieli Marinho Nobre – Coordenadora do Programa de Comunicação e Educação Ambiental da
Resex de Cassurubá;
Uilson Alexandre Jesus Farias– Presidente da Associação de Marisqueiras e Pescadores de Ponta de
Areia e Caravelas - AMPAC
Apoio Técnico e Operacional:
Maria Monielle S. C. Monteiro – Estagiária Resex de Cassurubá/ ICMBio;
Nathalia Bittencourt - Técnica do Programa de Comunicação e Educação Ambiental da Resex de
Cassurubá.
Venicius Anjos Santos – Técnico do Programa de Comunicação e Educação Ambiental da Resex de
Cassurubá.
CARAVELAS-BAHIA
SETEMBRO DE 2014
ii
Posicionamento das comunidades afetadas pela Dragagem do Canal do Tomba:
Problemas e impactos socioambientais do empreendimento e possíveis soluções.
Índice:
Página
1 - Introdução 1
2 - Metodologia 1
3 - Resultados 4
3.1 – Problemas e Propostas de Soluções advindas das comunidades 4
3.1.1 – Nova Viçosa 4
3.1.2 – Ponta de Areia/ Caravelas 7
3.1.3 – Barra de Caravelas 10
3.1.4 – Barra Velha 12
3.2 – Agrupamento dos Problemas por similaridade 14
3.2.1 – Problemas de Sinalização 14
3.2.2 – Alterações Físicas e Biológicas 16
3.2.3 – Perdas Diretas 18
3.2.4 – Não confiança (e não repasse) nos monitoramentos 20
3.2.5 - Outros 20
4 – Conclusões e Recomendações 22
5 - Anexos 24
1
Posicionamento das comunidades afetadas pela Dragagem do Canal do Tomba:
Problemas e impactos socioambientais do empreendimento e possíveis soluções.
1- Introdução:
De forma a transportar madeira em tora (eucalipto) oriundos de plantações no Sul da Bahia, para a
fábrica de celulose da Fibria em Aracruz-ES, foi construída em Caravelas-BA, o Terminal de Barcaças
Luciano Vilas Boas. Para que os navios barcaças aportem no terminal, é necessária a dragagem do canal de
acesso à Boca do Tomba. A dragagem ocorre anualmente, preferencialmente durante o verão. O
empreendimento ocorre desde 2002, sendo o licenciamento realizado pelo IBAMA. A última licença (LO
IBAMA 898/2009) foi emitida com validade de cinco anos.
Apesar dos avanços na relação com a sociedade, o empreendimento ainda é bastante questionado por
diversos setores, mas em especial pela classe pesqueira, que são os principais afetados pela obra.
Dada a importância da questão, foi criada em 2010, a Comissão de Acompanhamento da Dragagem do
Canal do Tomba, formada por representantes das diferentes instituições (ONGs, Colônias e Associações de
Pescadores, Órgãos Públicos, além da empresa Fibria). Esta comissão tem o objetivo de acompanhar o
cumprimento das condicionantes, propor melhoria nas metodologias dos monitoramentos e fazer a
interlocução com a comunidade. Atualmente a Comissão é ancorada no Conselho Deliberativo da Resex de
Cassurubá.
Diante da frequência com que os questionamentos e reclamações são feitos pelos pescadores, a
Comissão percebeu a necessidade de sistematizar estas queixas, de forma às mesmas serem levadas em
consideração quando do andamento do processo de renovação da Licença de Operação a ocorrer no ano de
2014.
Assim, o presente trabalho teve como objetivo ouvir e sistematizar os problemas e possíveis soluções
inerentes aos efeitos da Dragagem do Canal do Tomba.
2 - Metodologia:
Foram realizadas oficinas, utilizando-se de técnicas de Gestão Participativa nas principais
comunidades afetadas pela dragagem (Figura 1). O cronograma e o detalhamento da oficina seguem abaixo:
29/07 – 14:00h – Colônia de Pescadores de Nova Viçosa;
30/07 – 14:00h – Colônia de Pescadores em Ponta de Areia;
31/07 – 18:30h - Barra de Caravelas;
03/08 – 09:00h – Barra Velha.
2
Tabela 1: Programação detalhada da oficina, contendo o tempo previsto e a metodologia para cada atividade
Tempo de
Duração
(min)
Atividade (o que?) Metodologia (como?)
00:30 Abertura (apresentação de objetivos, apresentação
da equipe, acordo de convivência, apresentação da
programação)
Exposição oral
00:13 Vídeo: Dragagem do canal do Tomba Exibição em data show
00:30 Apresentação sobre a Dragagem (histórico e demais
informações básicas - onde, quando, quanto, para
que faz, quem faz, quem licencia, condicionantes,
etc)
Apresentação Power Point/ data
show - seguindo a ordem da
cartilha
00:10 Distribuição das cartilhas elaborada pelo Programa
de Comunicação que aborda a dragagem do canal
do Tomba.
Distribuição aos presentes
1:00 Levantamento dos problemas Chuva de ideias
00:45
Levantamento de alternativas para resolução da
questão
Chuva de ideias
00:20 Fechamento e encaminhamentos Exposição oral
Previamente às oficinas, foi feita a mobilização dos envolvidos, através de convites, ofícios circulares,
cartaz nos murais, bicicleta de som e articulação com as lideranças locais. Vale ressaltar que procurou-se
realizar os encontros nos horários e locais que melhor se adequassem à realidade de cada localidade.
Posteriormente os dados foram sistematizados e os problemas levantados plotados em mapa da região.
Para tanto, utilizamos dos softwares GPS TrackMaker Pro e ArcMap 10.1.
3
Figura 1: Comunidades onde foram realizadas as oficinas para levantamento dos problemas e soluções. É
possível observar a localização das mesmas em relação ao canal dragado, à área de descarte, à rota das
barcaças e à Resex de Cassurubá.
4
3 - Resultados:
Participaram das oficinas diversos atores: Representantes do poder público, Representantes do setor de
turismo, Presidentes das Colônias Z-25 (Caravelas) e Z-29 (Nova Viçosa) e da sociedade civil organizada,
marisqueiras e principalmente, pescadores. Ao total participaram dos encontros 95 pessoas, sendo 19 em Nova
Viçosa, 22 em Ponta de Areia/Caravelas, 45 em Barra de Caravelas e 9 na Barra Velha (Listas de presença e
fotos em anexo).
3.1 - Problemas e Propostas de soluções advindas das comunidades:
Nos quadros e figuras abaixo sistematizamos os problemas e as soluções propostas para cada uma das
situações adversas. Problemas e soluções que surgiram das comunidades ouvidas. Vale lembrar que o mapa foi
produzido como forma de dar uma referência do local do problema. Não trata-se de um geo-refereciamento
haja visto não termos realizado aferimento em campo.
3.1.1 - Nova Viçosa:
Os problemas e soluções propostas pelos presentes na oficina realizada na Colônia de Pescadores em
Nova Viçosa estão sistematizados na tabela 2 abaixo. A localização dos problemas pode ser verificada na
figura 2.
Tabela 2: Problemas e soluções surgidas durante a oficina realizada em Nova Viçosa. Na Coluna “Código”,
aqueles destacados em negrito são os problemas passíveis de serem mapeados, observáveis na figura 2 abaixo.
Código PROBLEMAS SOLUÇÕES
NV-1 Falta de benefícios para o município de Nova
Viçosa;
o Mudar o local de descarte para terra
ou mar profundo (Zona Economia
Exclusiva) NV-2 Impactos no turismo;
NV-3 Falta de consulta sobre o local de descarte;
NV-4 Praia com lama;
NV-5 Pesca afetada;
NV-6 Área de descarte;
NV-7 Falta de contra Prova dos estudos; o Encontrar Universidade para realizar
estudos, com participação local. Por
exemplo, UFMG.
NV-8 Período de alta pesca do camarão coincidindo com
período da Dragagem;
o Reavaliar o período.
NV-9 Perda de materiais de pesca; o Repor materiais de pesca
5
NV-10 Falta de sinalização na área de descarte; o Sinalização na área
NV-11 Falta de monitoramento de sedimentos em direção
à praia
o Monitorar sedimentos e turbidez na
costa (ondógrafo e armadilhas);
o Ver se o material dragado pode ser
utilizado.
NV-12 Falta de preocupação com os pescadores (Meio
social);
o Fazer uma rodada de audiências
públicas.
NV-13 Comunicação ineficiente por parte da Empresa;
NV-14 Fechamento da Barrinha; o Provar que os sedimentos não vêm
do descarte. NV-15 Formação de uma Ilha no Sul (coroas);
NV-16 Morte de corais, búzios e estrelas do mar na Coroa
Vermelha;
o Monitoramento e contraprova
NV-17 Risco de colisão com a Barcaça; o Mudar a rota de terra
Informação do horário da barcaça
NV-18 Falta de mobilização da comunidade pesqueira
contra a área de descarte.
o Ampliar o trabalho de Ed.
Ambiental
Em Nova Viçosa, os participantes foram contundentes de que o todo o problema se concentra no local
onde é descartado o material. Deixando claro que não são contra a dragagem e sim contra o local onde é
descartado o material.
Percebe-se que o apoio aos pescadores afetados pelo empreendimento (Condicionante 2.13 da LO
898/2009) não está atendendo ao pescadores desta localidade, que são afetados pelo empreendimento.
Os presentes manifestaram seu descontentamento e informaram que acham que a única solução é
fechar o canal com barcos de pescadores para parar a operação, somente assim, farão diferença e serão
ouvidos.
6
Figura 2: Mapeamento dos problemas levantados na oficina em Nova Viçosa. É possível observar a disposição
dos mesmos em relação ao canal dragado, à área de descarte, à Resex de Cassurubá e à própria localidade
(Nova Viçosa)
7
3.1.2 - Ponta de Areia/ Caravelas:
Os problemas e soluções propostas pelos presentes na oficina realizada na Colônia dos Pescadores em
Ponta de Areia/ Caravelas estão sistematizados na tabela 3 abaixo. A localização dos problemas pode ser
verificada na figura 3.
Tabela 3: Problemas e soluções surgidas durante a oficina realizada em Ponta de Areia/ Caravelas. Na Coluna
“Código”, aqueles destacados em negrito são os problemas passíveis de serem mapeados, observáveis na
figura 3 abaixo.
Código PROBLEMAS SOLUÇÕES
CRV-1 Coroa de areia no Rio do Norte quando a maré
está seca;
o Realizar estudos (contraprova).
CRV-2 A lama prejudica a pesca de balão;
CRV-3 Falta de sinalização na área de Descarte durante a
operação;
o Sinalizar área.
CRV-4 Lama afetando os corais próximos à costa; o Realizar estudos (contraprova)
CRV-5 Desconhecimento para onde vai a lama da área de
descarte;
CRV-6 Perda de materiais; o Reposição dos materiais
(comprovar).
o Fazer cadastro de todas as
embarcações que trabalham com
rede;
CRV-7 Falta de informações sobre a rota da Barcaça; o Implementar projeto definitivo de
comunicação.
CRV-8 Descumprimento da rota da Barcaça;
CRV-9 Risco de colisão com a Barcaça; o Rota por fora da Coroa Vermelha
o Meio de comunicação com a
Barcaça (Rádio).
CRV-10 Barcaça passando nos pesqueiros, rota de terra
(pedrinhas);
CRV-11 Boia sem iluminação no canal Sueste (onde está
equipamento);
o Iluminar a boia
CRV-12 Blocos de lama no Balão o Mudar área de descarte para
terra;
o Melhorar condicionantes para
8
os pescadores (Área perdida
para pesca);
o Efetividade da compensação
(Projeto de saúde: melhoria
médica, PSF, Odontologia).
o Quebra – mar (Rampa, Local
para conserto de barco).
CRV-13 Fechamento das Barrinhas (dentro do Rio da
Barra Velha);
o Fazer análise do material que está
nas barras e rios para ver se é da
Dragagem;
o Empresa apresentar respostas
sobre a causa da morte dos
Mangues.
CRV-14 Coroas de areia/lama dentro do rio;
CRV-15 Mangues morrendo na Barra Nova;
CRV-16 Mangues degradados na Boca do tomba;
CRV-17 Área com muita Lama -do terminal até o Aracaré;
CRV-18 Lama prejudicando acesso à pesca na Barra Nova;
CRV-19 Invasão de água em Ponta de Areia (Aumento do
canal)
o Fazer um quebra mar
Nesta comunidade, percebe-se que os mesmos são conhecedores de apoios aos pescadores, porem os
mesmos citam que deveria haver ações em áreas sociais.
Mesmo com o apoio recebido, os mesmos se mostram descontentes e acreditam que o fechamento do
canal para paralisar a operação da dragagem, seja a forma mais eficaz de serem atendidos a contento pela
empresa.
9
Figura 3: Mapeamento dos Problemas levantados na Oficina em Ponta de Areia/ Caravelas. É possível
observar as disposições dos mesmos em relação ao canal, área de descarte, à Resex de Cassurubá e às
comunidades de Caravelas e Ponta de Areia
10
3.1.3 – Barra de Caravelas
Os problemas e soluções propostas pelos presentes na oficina realizada na Barra de Caravelas estão
sistematizados na tabela 4 abaixo. A localização dos problemas pode ser verificada na figura 4.
Tabela 4: Problemas e soluções surgidas durante a oficina realizada em Barra de Caravelas. Na Coluna
“Código”, aqueles destacados em negrito são os problemas passíveis de serem mapeados, observáveis na
figura 4 abaixo.
Código Problemas Solução
BC-1 Boia fora do lugar
o Colocar iluminação na boia urgente Ausência de boia-viva
Falta de sinalização - boia cega
BC-2 Maré avançando (pontal do sul, Manguinhos e
outros)
o Parar a operação de dragagem
o Defeso dragagem para os pescadores
BC-3
Não devolutiva da pesquisa de camarão
o Devolutiva de resultados do
monitoramento do camarão (com
linguagem acessível)
BC-4 Falta de aviso ao colocar as boias (ou muda-las
de lugar)
o Meios de comunicação - aviso nos
murais
BC-5 Perda de embarcações (cracas, búzios e lama) o Compensar
BC-6 Risco de colisão com a barcaça
Acidentes causados pela barcaça
o Rádio para comunicação Sinalização
das boias
BC-7 Áreas de pesca perdidas por conta do descarte o Compensar (centro comunitário)
BC-8 Licença longa demais o Diminuir o período (para 2 anos)
BC-9 Lama no Aracaré (em toda área) o Compensar
BC-10 Lama/areia sendo levadas para a costa
BC-11 Operação de Dragagem
o Diminuir o peso das barcaças
o Diminuir o calado
BC-12 Descarte afetando a pesca
Descarte em local incorreto
Local de descarte errado
o Mudar área de descarte
o Mudança do local de descarte (por ex.
jogar em aterro sanitário)
BC-13
Pesquisa feita pela própria empresa
o Contratar uma empresa sem vinculo
com a Fibria
o Participação dos órgãos públicos na
pesquisa
BC-14 Falta de benefícios para a comunidade o Compensar
BC-15 Sem compensação para a sociedade
BC-16
Impacto ambiental
o Fiscalização maior na Fibria pelos
órgãos
BC-17 Porto com lama o Criar um trapiche
BC-18 Perda de materiais pela lama o Compensação de matérias
BC-19 Perda de material pela barcaça
BC-20 Perda de área para pesca de siri o Compensar
BC-21 Perda de recursos para os pescadores artesanais
BC-22
Área de descarte não sinalizada
o Sinalizar os 4 cantos da área do
descarte
BC-23 Draga escavadeira causa mais impacto o Usar somente draga sugadora
11
BC-24 Criação de mais coroas de areias
o Compensar
BC-25 Pontal do sul sumindo
BC-26 Sumiu o canal entre barra e pontal do sul
BC-27 Prejuízos no turismo o Compensar
Figura 4: Mapeamento dos Problemas levantados na Oficina em Barra de Caravelas. É possível observar as
disposições dos mesmos em relação ao canal, área de descarte, à Resex de Cassurubá e à comunidade da Barra
de Caravelas.
Os pescadores da Barra de Caravelas demonstraram uma postura que podemos classificar como
conhecedores da dificuldade de retirada ou paralização do empreendimento. Diante desta situação são
contundentes de que os problemas devem ser dimensionados e que a empresa deve compensar, a altura, os
prejuízos advindos da operação da dragagem e transporte de madeira em navios barcaças.
12
Assim, como em Nova Viçosa, os mesmos afirmaram que não se sentem contemplados com as ações
realizadas pela empresa em atendimento à condicionante 2.13, que versa sobre apoio aos pescadores afetados
pelo empreendimento.
3.1.4 – Barra Velha
Os problemas e soluções propostas pelos presentes na oficina realizada na Barra Velha estão
sistematizados na tabela 5 abaixo. A localização dos problemas pode ser verificada na figura 5.
Tabela 5: Problemas e soluções surgidas durante a oficina realizada em Barra Velha. Na Coluna “Código”,
aqueles destacados em negrito são os problemas passíveis de serem mapeados, observáveis na figura 5 abaixo.
Código Problemas Soluções
BV-1 Lama subindo;
Não podem redar por causa da lama; o Tirar a área de descarte
BV-2 Aumento do nível do mar, agua invade a praia;
Maré invadindo as casas
o Mudar o local da área de
descarte
BV-3 Perda de área de pesca; o
BV-4
Descarte no mar prejudica os pescadores;
o Parar a operação de
dragagem
BV-5 Perdas de materiais; o Compensar materiais
BV-6 Criação de coroas de areias (quando maré seca) o
BV-7 Chegando limo e lama fina (tipo graxa) e outros materiais na praia o
BV-8
Estudos realizados pela própria empresa
o Ouvir a opinião da
comunidade
BV-9 Descarte em local incorreto o
BV-10 Rio fechado de Barra Velha (lama e areia) o Dragar barras fechadas
BV-11 Falta de benefícios para a comunidade
BV-12 Dragagem afeta o turismo (muita lama na Praia, embarcações não
chegam mais ao porto)
A comunidade foi enfática em colocar que na opinião dos mesmos não adianta compensar: “De que
adianta construírem uma ponte, um porto, uma fábrica de gelo, se não teremos mais como pescar, não
teremos mais do que viver?” A Solução que colocam é o fim da Dragagem e busca de outros meios para
transporte da madeira.
Colocações para constar no relatório: “Fecharemos o canal do tomba, para que o descarte não seja
jogado no mar e que a empresa solucione estes problemas. Não aceitamos a dragagem.” Pescadores de Barra
Velha.
13
Figura 5: Mapeamento dos Problemas levantados na Oficina em Barra Velha. É possível observar as
disposições dos mesmos em relação ao canal, área de descarte, à Resex de Cassurubá e à própria comunidade.
14
3.2 – Agrupamentos dos Problemas por similaridade
De forma a facilitar o entendimento e a forma de ação, os problemas foram organizados em blocos por
similaridade. Para tanto, foram criados os seguintes blocos de problema: Problemas de sinalização, Alteração
físicas e biológicas na região, Perdas direta, Não confiança nos monitoramentos e outros. Vale esclarecer que o
ordenamento seguiram os critérios da equipe organizadora. Assim, problemas que estão em uma classe podem
perfeitamente se encaixar em outra. Além disso, de forma geral, as alteração física e biológicas representam
prejuízos econômicos para os pescadores, pois as alterações levam a maior dificuldade no acesso ou
diminuição da oferta do recurso pesqueiro.
3.2.1 – Problemas de sinalização
Os Problemas relacionados a sinalização e num sentido mais amplo a comunicação, foram agrupados
na tabela 6 abaixo. Uma referência para localização destes problemas é dada na figura 6.
Tabela 6: Agrupamento dos problemas relacionados a Sinalização e comunicação.
Linha do Problema Problemas de Sinalização/ Comunicação Comunidade
Falta de sinalização da
área de descarte
Falta de sinalização na área de descarte; N. Viçosa, Caravelas,
Barra de Caravelas
Comunicação em geral Comunicação ineficiente por parte da Empresa;
Falta de aviso ao colocar as boias (ou muda-las de
lugar)
N. Viçosa, Barra de
Caravelas
Dificuldade de
comunicação com a
Barcaça
Risco de colisão com a Barcaça; falta de informação
sobre a rota, Descumprimento da rota da barcaça,
acidente com barcaça
N. Viçosa, Caravelas,
Barra de Caravelas
Iluminação da boia do
ondógrafo*
Boia sem iluminação (ondógrafo) Caravelas, Barra de
Caravelas,
* Equipamento fixo no local, utilizado para coletas de dados oceanográficos e de turbidez, utilizados
nos monitoramentos
15
Figura 6: Localização dos problemas relacionados a sinalização. É possível observar a disposição dos mesmos
em relação às estruturas ligadas ao empreendimento (canal dragado, área de descarte, rota das barcaças,
óndografos), bem como à Resex de Cassurubá.
16
3.2.2 – Alterações Físicas e Biológicas
As alterações físicas e biológicas que foram levantadas como problemas relacionados à dragagem, na
visão dos pescadores, foram agrupadas na tabela 7 abaixo. Uma referência para localização destas alterações é
dada na figura 7.
Tabela 7: Agrupamento das alterações físicas e biológicas.
Classe do Problema Problema s relacionados Comunidade
Sedimentos na costa e
rios
Praia com lama; Área com muita Lama -do terminal
até o Aracaré; Lama no Aracaré (em toda área);
Lama/areia sendo levadas para a costa; Porto com
lama; Perda de área para pesca de siri; Sumiu o canal
entre barra e pontal do sul; Rio fechado de Barra Velha
(lama e areia); Chegando limo e lama fina (tipo graxa)
e outros materiais na praia, Lama subindo;
N. Viçosa, Caravelas,
Barra de Caravelas,
Barra Velha
Fechamento de Barras Fechamento da Barrinha; N. Viçosa, Caravelas,
Barra Vela
Formação de bancos de
areia
Formação de uma Ilha no Sul (coroas); Coroas de
areia/lama dentro do rio; Coroa de areia no Rio do
Norte quando a maré está seca; Criação de mais coroas
de areias
N. Viçosa, Caravelas,
Barra de Caravelas,
Barra Velha
Degradação Biológica Morte de corais, búzios e estrelas do mar na Coroa
Vermelha; Lama afetando os corais próximos à costa;
Mangues morrendo na Barra Nova; Mangues
degradados na Boca do tomba;
N. Viçosa, Caravelas
Aumento do nível do mar Aumento do nível da maré: Invasão de água em Ponta
de Areia (Aumento do canal); Maré avançando (pontal
do sul, Manguinhos e outros); Aumento do nível do
mar, água invade a praia; Maré invadindo as casas
Caravelas, Barra de
Caravelas, Barra Velha
Alteração física Pontal do sul sumindo Barra de Caravelas
17
Figura 7: Localização das alterações físicas e biológicas. É possível observar a disposição dos mesmos em
relação às estruturas ligadas ao empreendimento (canal dragado, área de descarte, rota das barcaças), bem
como à Resex de Cassurubá.
18
3.2.3 – Perdas diretas
Os problemas que, nos critérios utilizados pela equipe organizadora, classificaram como perda direta
às quais os pescadores se queixam, foram agrupadas na tabela 8 abaixo. Uma referência para localização
destes problemas é dada na figura 8.
Tabela 8: Agrupamento dos problemas relacionados a perda direta para a região.
Agrupamento Problemas agrupados Comunidades
Ausência de benefícios/
Compensação
Falta de benefícios/ compensação para a sociedade;
Falta de preocupação com os pescadores
N. Viçosa, Barra de
Caravelas, Barra Velha
Impacto no turismo Impactos no turismo; N. Viçosa, Barra de
Caravelas, Barra Velha
Impactos na pesca Pesca afetada; Período de alta pesca do camarão
coincidindo com período da Dragagem; Perda de
materiais de pesca; A lama prejudica a pesca de balão;
Blocos de lama no Balão; Perda de embarcações
(cracas, búzios e lama); Áreas de pesca perdidas por
conta do descarte; Perda de área de pesca;
N. Viçosa, Caravelas,
Barra de Caravelas,
Barra Velha
Área de descarte Área de descarte; Falta de consulta sobre o local de
descarte; Descarte afetando a pesca; Descarte em local
incorreto
N. Viçosa, Caravelas,
Barra de Caravelas,
Barra Velha.
19
Figura 8: Localização das Problemas relacionados a perdas diretas. É possível observar a disposição dos
mesmos em relação às estruturas ligadas ao empreendimento (canal dragado, área de descarte, rota das
barcaças), bem como à Resex de Cassurubá e às comunidades estudadas.
20
3.2.4 – Não confiança (e não repasse) nos Monitoramentos
Nesta seção agrupamos os problemas relacionados aos monitoramentos realizados. Os
questionamentos foram constantes nas comunidades. Os comunitários não confiam na idoneidade das
empresas que fazem os estudos, bem como acham que os resultados apresentados não são robustos o
suficiente. Na tabela 9, abaixo foram agrupados os problemas relacionados aos estudos realizados como
condicionantes do empreendimento.
Tabela 9: Problemas relacionados aos estudos realizados como condicionantes do empreendimento.
Problemas agrupados Comunidades
Desconhecimento para onde vai a lama da área de
descarte;
Caravelas.
Não devolutiva dos resultados do monitoramento do
camarão
Barra de Caravelas
Falta de contra Prova dos estudos;
Pesquisas feitas pela própria empresa
Nova Viçosa, Barra de Caravelas,
Barra Velha
3.2.5 – Outros
Tabela 10: Problemas diversos (outros) surgidos durante as oficinas:
Problemas agrupados Comunidades
Licença longa demais Barra de Caravelas
Draga escavadeira causa mais impacto Barra de Caravelas
21
Figura 9: Visão geral dos problemas (mapeáveis), surgidos nas oficinas nas diferentes localidades. É possível
observar a disposição dos mesmos em relação ao canal, à área de descarte, à rota das barcaças e à Resex de
Cassurubá.
22
4 - Conclusões e recomendações:
1. O local onde o material dragado é descartado, por ser uma região onde havia intensa pescaria, por estar
localizado próximo à costa, é responsável pela imensa maioria dos questionamentos feitos pelos
pescadores. Considerando que trata-se de um empreendimento que pretende-se perdurar por muitos
anos, torna-se necessário esgotar todas as possibilidades de estudos para mudança da área de descarte,
priorizando descartar o material em terra. Dada a quantidade de famílias que são afetadas, deve-se
levar em consideração não apenas indicadores econômicos na hora de se definir o local e forma de
descarte.
2. Algumas estruturas de sinalização que são obrigatórias não vem sendo cumpridas a contento
(Iluminação do ondógrafo localizado a norte do canal). Isso tem levado a transtornos e risco de vida
dos pescadores Torna-se necessário resolver estas questões com urgência. Deve-se ainda buscar
sinalizar com boias os limites da área de descarte. Essa ação resolverá algumas outras que estão
relacionadas a entrada pelos pescadores na área de descarte por desconhecimento preciso dos limites
desta.
3. O trânsito de barcaças pela região leva a situações de riscos e prejuízos para os pescadores. Os relatos
de pescadores que perderam materiais e passaram por situação de risco por colisão com os navios são
vastos. Torna-se necessário, além do programa de ressarcimento de material, comprovadamente
perdido pela barcaça, a implementação de um programa de comunicação efetiva entre a barcaça e as
embarcações, informando horários de passagens com maior precisão possível;
4. A região passa por uma intensa mudança nas dinâmicas físicas e biológicas. Na opinião dos
pescadores estas mudanças são potencializadas, se não causadas, pela dragagem do canal do Tomba.
Os estudos apresentados como resultado dos monitoramentos não são conclusivos, deixando margem a
uma série de dúvidas. Assim, sugere-se a realização de estudos conclusivos para se inferir com maior
certeza sobre a movimentação dos sedimentos após deposito na área de descarte.
5. Considerando que o município de Nova viçosa tem no turismo uma de suas principais fontes de renda,
sendo a praia o principal atrativo; considerando que a dragagem ocorre em período de alta temporada
(verão); considerando que o vento preponderante na região durante o verão é em direção Nordeste (o
que ocasiona o carreamento dos sedimentos na direção sul), sugere-se a ampliação da escala de risco
utilizada atualmente para proteção dos recifes de coral, para proteção da região costeira (praias), com
instalação de equipamento necessário em local adequado para captar eventuais aumento de sedimentos
em suspensão em direção à costa.
6. A condicionante 2.13 da LO 898/2009 versa que a empresa deverá “Executar atividade de apoio à
atividade pesqueira voltada às comunidades de pesca afetadas pelas atividades de Dragagem” (grifo
nosso). Considerando que, dentre as localidades ouvidas, apenas a de Ponta de Areia/ Caravelas não
demonstrou descontentamento com a falta de apoio, percebe-se que nem todas as comunidades
afetadas pela atividade de Dragagem estão sendo contempladas com as atividades da referida
23
condicionante. Torna-se necessária ampliação das atividades, de forma a atender todos os pescadores
que são afetados pelo empreendimento.
7. As empresas responsáveis pelos monitoramentos não têm passado segurança para a comunidade
pesqueira; Dados oriundos de monitoramentos não estão sendo repassados para a comunidade de
forma satisfatória. Diante desta situação, sugere-se que, para a realização dos monitoramentos, sejam
priorizadas Universidades, Centros de pesquisas e outras Instituições que tenham conhecimento e
confiança das pessoas da região.
8. Por fim, de forma a evitar revolta por parte dos pescadores que afirmam não terem suas opiniões
consideradas, sugerimos que as informações contidas neste documento, fruto de oitivas nas
comunidades diretamente relacionadas ao empreendimento sejam consideradas quando do processo de
renovação da Licença da dragagem do Canal do Tomba. Foi constante em todas as localidades o
sentimento de revolta e predisposição para agirem de forma revoltosa, fechando o local, de forma a
impedir a operação da Dragagem.
24
5 - Anexos:
25
REGISTRO FOTOGRÁFICO
Imagens da Oficina em Nova Viçosa:
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27
28
Imagens da Oficina em Ponta de Areia/ Caravelas
29
30
31
Imagens da Oficina na Barra de Caravelas:
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33
34
Imagens da Oficina na Barra Velha:
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36
LISTAS DE PRESENÇA
Nova Viçosa:
37
Ponta de
Areia/Caravelas:
38
39
Barra de Caravelas:
40
41
42
Barra Velha:
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