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INTRODUÇÃO
“A nossa pequena Nave Espacial Terra tem apenas doze mil quilómetros quadrados de diâmetro, o
que, na enorme vastidão do espaço, constitui uma dimensão quase negligenciável. A estrela mais próxima de
nós – o Sol, a nossa nave-mãe abastecedora de energia – encontra-se a cento e cinquenta milhões de
quilómetros de distância, e a estrela seguinte cem mil vezes mais afastada. (…) A Nave Espacial Terra foi tão extraordinariamente bem inventada e concebida que, tanto quanto
sabemos, os humanos estiveram a bordo dela durante dois milhões de anos sem nunca se terem apercebido
de que se encontravam a bordo de uma nave espacial. E a nossa nave espacial está tão soberbamente
concebida que consegue manter a vida regenerando-se a bordo apesar do fenómeno da entropia, pelo qual
todos os fenómenos físicos locais perdem energia. (…)
Parte do extraordinário design da Nave Espacial Terra, do seu equipamento, passageiros e sistemas
internos de apoio, advêm de termos sido dotados de capacidades intuitivas e intelectuais tais como as de
descobrir os genes, o ADN e o ARN, e outros princípios fundamentais do design dos sistemas vivos, da
estruturação molecular e da energia nuclear. É portanto paradoxal, mas estrategicamente explicável, que
tenhamos até agora espoliado, poluído e usado erradamente este extraordinário sistema químico de
intermutação energética concebido para regenerar adequadamente toda a vida a bordo da nossa nave
espacial planetária.
Se o leitor tiver automóvel, compreende decerto que tem de lhe meter óleo e gasolina, pôr água no
radiador e cuidar da viatura em geral.(…) Não temos encarado a nossa Nave Espacial Terra como uma
máquina integralmente concebida que, para funcionar persistentemente bem, deve ser compreendida e
conservada na sua totalidade.(…)
Para dar início á determinação da nossa posição a bordo da nossa Nave Espacial Terra devemos, em
primeiro lugar, constatar que a abundância de recursos imediatamente consumíveis, obviamente desejáveis
ou absolutamente indispensáveis foi, até agora, suficiente para nos permitir continuar, apesar da nossa
ignorância. Contudo, sendo esses recursos eventualmente exauríveis ou deterioráveis, foram apenas
adequados até este crítico momento. Esta margem de erro que a sobrevivência e crescimento da
humanidade evidenciam foi-nos até agora aparentemente concedida como a um pássaro dentro dum ovo é
fornecido nutriente líquido para se desenvolver até certo ponto. (…) A minha imagem da humanidade actual
mostra-nos prestes a sair para o exterior através dos pedaços da nossa casca de ovo quebrada há apenas
um segundo. Os inocentes nutrientes que sustentam a nossa margem de segurança estão exaustos.
Defrontamo-nos com uma relação totalmente nova com o universo. Devemos abrir as asas do intelecto e
voar ou perecer; isto é, devemos ousar voar imediatamente através dos princípios generalizados que
governam o universo, e não mais pelas regras aceites das superstições do passado e reflexos erroneamente
condicionados. E, á medida que formos tentando raciocínios competentes, começaremos imediatamente a
reempregar a nossa motivação inata para o pensamento global. “
Buckminster Fuller, Manual de Instruções para a Nave Espacial Terra
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F1. “Devemos abrir as asas do intelecto e voar…”| Cataratas Victoria, Zâmbia.
Apesar de esta obra ter sido escrita em 1970, apercebemo-nos de que o texto é actual.
Esta situação é preocupante porque nos últimos 40 anos temos vindo a explorar ainda mais
ferozmente o planeta.
É estimado que em 2050, 75% da população mundial viva em cidades, contrastando com os
actuais 50% (Ricky Bardett, Urban Age, 2008) e que por volta de 2020 existam pelo menos trinta
cidades com mais de dez milhões de habitantes, contrastando com as cinco que existiam há trinta
anos.(Un-Habitat, 2004).
Perante esta situação, é extremamente importante criarmos condições de habitabilidade saudáveis
dentro das cidades do presente e do futuro.
Como tal, o objectivo desta tese prende-se com a importância da relação entre o ser humano e os
sistemas e ciclos naturais do planeta, intervindo-se localmente, com um pensamento global (Think
Globally, Act Locally).
Pretende-se criar um sistema que desperte este sentido nas pessoas, e que ao mesmo tempo sirva
para desenvolver novas ideias e conceitos a nível da relação entre sustentabilidade, arquitectura e
agricultura e explorar todo o potencial que possa advir desta relação.
O ponto de partida do presente trabalho consistiu na identificação de espaços dentro da cidade de
Lisboa que se encontrassem obsoletos, devido á sua topografia acentuada e aí desenvolver
sistemas de agricultura vertical. Posteriormente e após a consulta do P.D.M de Lisboa, identificou-
se os espaços qualificados para zonas verdes de recreio e/ou produção e estabeleceu-se uma
relação entre os dois (topografia e qualificação).
Finalmente relacionou-se os factores de exposição solar, qualidade dos solos, sistema de vistas e
inserção dentro de zona consolidada.
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Após uma breve abordagem do estado da arte, faz-se no capítulo 1 a apresentação do capítulo
sobre Desenvolvimento Urbano Sustentável como capítulo introdutório sobre a direcção pretendida
a seguir. No capítulo 2 aborda-se o tema de Agricultura Urbana, para se tentar compreender melhor
o tema e as dimensões englobadas no mesmo. No capítulo 3 trata-se o tema da Arquitectura
Sustentável explorando a sua definição e conceito bem como o uso de materiais sustentáveis e no
Capítulo 4 faz-se a contextualização da proposta.
Na estrutura da tese, o trabalho termina com algumas considerações finais sobre a proposta e com
a apresentação de bibliografia utilizada e relevante sobre o tema.
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ESTADO DA ARTE
A cidade de Lisboa sempre conviveu com a existência de espaços de cultivo, e não é por
acaso que os naturais desta cidade sejam conhecidos por Alfacinhas (Gomes,2011).
No entanto, estes espaços têm vindo a desaparecer, muito devido ao crescimento da cidade
e á subsequente valorização dos terrenos com licença de construção e também a alteração do
paradigma económico e a consequente alteração das práticas sociais que conduziram ao
abandono progressivo da prática agrícola.
Consequentemente, este cenário tem permitido o aparecimento de vazios urbanos, e
espaços de segregação social, verificando-se nos últimos anos uma maior procura por estes
espaços para o cultivo de alimentos, dando assim origem ao conceito de hortas urbanas.
Veja-se, que esta procura tem-se verificado, seja pelo facto das pessoas sentirem
necessidade de cultivar os seus alimentos, de estarem em contacto com a natureza, para terem
uma alimentação mais saudável ou ainda pelo factor financeiro. A realidade é que estes espaços
têm vindo a aumentar e a fazer cada vez mais sentido dentro da vivência urbana.
Todavia, estes locais são muitas vezes inacessíveis devido ao mau planeamento em vários
pontos da cidade e como consequência cada vez mais vamos encontrando ao longo de viadutos e
auto-estradas estas “novas hortas urbanas “ improvisadas e de génese ilegal mas que vão
funcionando como ajuda e modo de subsistência para famílias mais carenciadas.
Felizmente, temos vindo a assistir á inserção do tema da Agricultura urbana nos temas
actuais da sociedade e de uma maneira positiva, conjugando o tema de um modo interdisciplinar
com outras áreas como a Arquitectura, levando assim ao surgimento de novos conceitos como o de
Agritectura.
Agritectura pode ser vista como a síntese entre agricultura e arquitectura, ou seja o
desenvolvimento e desenho de estruturas que produzam alimentos, bem como equipamentos de
génese similar.
Existe, já uma vasta bibliografia sobre agricultura urbana e o acontecimento de um maior
número de congressos, conferencias e workshops demonstra a elevada importância deste tema no
panorama actual.
Vai-se verificando também por entre a cidade a fraca relação entre o tecido urbano e
morfológico e a consequente relação entre as pessoas que o habitam. O dinamismo social tem-se
vindo a perder e cada vez mais as pessoas se encerram dentro dos seus lugares de segurança, a
sua casa, o seu carro, o centro comercial, o local de emprego. (Bauman, 2006)
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“As autarquias devem começar a fazer a pergunta certa: O que pode a Agricultura Urbana fazer pelo meu
município? Em vez de: O que pode o meu município fazer pela Agricultura Urbana?”.
Luc.A.Mougeout, Growing Better Cities: Urban agriculture for sustainable development"
É necessário dinamizar as cidades e responder aos interesses dos cidadãos – ao invés de
menosprezar a existência destas hortas e destes locais abandonados. Com a criação de soluções
viáveis estes locais irão fortalecer variados aspectos que vão para além do desenho urbano –
economia, coesão social, relações culturais e sustentabilidade.
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CAPÍTULO 01
DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
1.1 PRÍNCIPIOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento sustentável implica um crescimento consciente, satisfazendo as
necessidades do presente sem pôr em causa a capacidade das gerações futuras satisfazerem as
suas próprias. (UNCED, 1987)
"Trata bem a Terra. Ela não te foi doada pelos teus pais mas sim emprestada pelos teus filhos”
Provérbio africano.
A definição de desenvolvimento sustentável tem vindo a ser reformulada e só recentemente
se considerou em pé de igualdade os três sistemas que condicionam a evolução humana.
-Desenvolvimento Económico
-Desenvolvimento Social
-Desenvolvimento Ecológico
F2. Diagrama referente á inter-relação entre os três sistemas
Que constituem o desenvolvimento sustentável.
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Na intersecção das componentes ambientais, sociais e económicas, obtemos as sociedades
daí resultantes, sendo uma mais justa, outra mais viável e outra mais suportável. No entanto é na
resultante de todas estas condições que se encontra o verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Um desenvolvimento de inter-relações entre o ambiente, as pessoas e a economia.
Portanto, criar um modelo de desenvolvimento urbano sustentável deve partir da
implementação da componente ambiental dentro da vida urbana e por consequência dentro da vida
das pessoas, procurando compatibilizar o crescimento económico com o ambiente e a capacidade
de uma sociedade aberta e democrática, aceitar a mudança cultural que essa mesma
compatibilização impõe.
No contexto do desenvolvimento urbano sustentável, o papel dos espaços verdes como
impulsionadores para a qualidade de vida dentro da cidade não pode ser menosprezado. A
vitalidade cultural torna-se assim um dos factores chave do sucesso económico de uma cidade
(Urbanistas, 1998).
È portanto lógico que espaços de agricultura urbana, tais como hortas urbanas, como
espaços verdes de produção e recreio sejam integrados no modelo de desenvolvimento da cidade
e que portanto integrem a estrutura ecológica urbana.
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CAPÍTULO 1 | DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
1.2 PLANEAMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
Relativamente ao tema do planeamento urbano sustentável, é importante começar-se por
fazer-se referência a três personalidades que foram pioneiras e ajudaram a desenvolver este
conceito com maior enfoque na componente ambiental.
Johann Heinrich von Thünen
Economista alemão, nascido em 1783, é o autor da Teoria da Localização Agrícola que foi
desenvolvida através da observação dos seus próprios terrenos agrícolas. Johann Heinrich von
Thünen propôs um modelo conhecido por anéis de von Thunen para explicar a variação do uso do
solo agrícola. Apesar das contínuas alterações que se tem vindo a verificar na agricultura, a sua
teoria continua a revelar-se pertinente na compreensão dos padrões de localização. (Crosier)
Floresta selvagem
Animais
Agricultura de cereais
Combustíveis e materiais de construção
Agricultura diária
Centro da Cidade
F3. Diagrama da localização da propriedade agrícola,
conhecido por “ Anéis de Von Thunen”
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Este modelo é composto por 4 anéis concêntricos de actividade agrícola.
A agricultura diária e intensiva, como vegetais, fruta, leite e outros produtos de consumo
diário está localizada no primeiro anel, o mais próximo da cidade, devido á necessidade de chegar
ao consumidor num curto espaço de tempo.
O segundo anel é composto por combustíveis orgânicos e materiais de construção como a
lenha e a Madeira. Estes convêm estar a uma distância razoavelmente perta da cidade, devido á
dificuldade de transporte
O terceiro anel consiste no cultivo de cereais, devido ao seu tempo de validade ser
consideravelmente superior aos outros produtos diários e também pelo facto de serem mais leves,
o que facilita o seu transporte.
No quarto anel estão localizados os animais porque estes conseguem-se mover sozinhos,
não sendo necessário o seu transporte e também devido á relação entre os maus odores e a
população. A seguir ao quarto anel encontra-se a natureza selvagem que estaria a uma distância
demasiado afastada da cidade para ser praticada aí qualquer agricultura.
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Frederik Law Olmsted
Conhecido como o primeiro arquitecto paisagista, Frederik Law Olmsted nasceu nos E.U.A
em 1822 e desenhou importantes parques urbanos entre os quais o Central Park de Nova-Iorque.
Holmsted foi o primeiro a introduzir a noção de arquitectura paisagista como que após uma análise
e diagnóstico dos problemas de um determinado local, as soluções seriam encaminhadas por meio
de desenhos, entendendo a paisagem como um sistema unificado de funções urbanas e rurais
sendo, portanto, objecto de um planeamento social estruturado.
F4. Plano de Riverside proposto por Olmsted, no estado do Illinois.
O plano de Riverside no Illinois é considerado por muitos como o trabalho mais influente de
Olmsted relativamente ao planeamento urbano. A ideia principal deste plano consistia em
assegurar espaço suficiente de recreio e lazer e também garantir que todos os residentes
dispunham de uma paisagem biológica. Como tal foi preservado o leito de cheias ao longo do rio,
para espaço de lazer. A tentativa de Olmsted em garantir um desenho adequado ao terreno,
proporcionou um projecto que acompanhava as colinas e que assim resultava em menos linhas
rectas situação esta que agradou ao arquitecto pois assim conseguia tirar mais proveito da
paisagem, o seu principal objectivo.
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Ebenezer Howard
Nasceu em Londres em 1850, e escreveu o livro “Cidades-Jardins do Futuro”. Howard
imaginava uma cidade, com os benefícios do urbano (oportunidade, diversão e bons salários) e as
do campo (beleza natural, ar puro e rendas baixas). Ele ilustra esta ideia com o seu famoso
diagrama dos três imãs, onde coloca uma pergunta no centro:
Para aonde vão as pessoas?
Para o Campo, para a Cidade ou para a Cidade-jardim?
F5.Diagrama dos Três Imãs, relacionando os prós e contras
da ligação entre cidade e campo.
Howard justificava que esta última (Cidade-Jardim) seria a melhor opção, pois tinha o melhor
das outras duas e propunha novas cidades suburbanas de dimensão limitada e rodeadas por uma
cintura de terrenos agrícolas/produtivos. Acreditava também que as Cidade-jardim eram a perfeita
união entre a cidade e a natureza e que funcionavam de maneira maioritariamente independente.
As duas principais cidades desenvolvidas dentro do sistema de Cidade-Jardim foram a de
Letchworth (1903) e a de Welwyn (1920), ambas no Reino Unido.
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Actualidade
A integração de estratégias relacionadas com o desenvolvimento urbano sustentável, que
equilibram os cenários de desenvolvimento ambiental, social e económico, tem sido a principal
referência das políticas de ordenamento, tanto a nível europeu como nacional. Esta ideia aparece
pela primeira vez no Relatório de Brundtland em 1987, embora a discussão sobre o
desenvolvimento e o Ambiente remonte a 1972, na primeira conferência da Organização das
Nações Unidas.
Apesar disto nos últimos 35 anos pouco se tem feito em relação a estes aspectos e muitas
ideias têm vindo a ficar pelo papel, seja por interesses alheios, falta de investimento ou até mesmo
por falta de motivação e consciência sobre a importância de mudarmos o rumo das nossas
cidades.
Os princípios para a transição para cidades sustentáveis são conhecidas e relativamente simples:
- Um modelo de cidade compacta e contida na sua expansão, que incentive um
desenvolvimento policêntrico, é mais eficiente na utilização de energia e permite uma maior
sustentabilidade dos transportes;
- Conservação de espaços de importância ecológica e produção agrícola, dentro e fora dos
perímetros urbanos;
- A reabilitação do espaço é preferível á urbanização de novos territórios;
- A qualificação dos espaços públicos e a promoção da mistura de usos;
- O desenvolvimento de energias limpas e renováveis como redução da poluição atmosférica e
diminuição do consumo de energias de origem fóssil;
- Reciclagem como elemento redutor do volume e poluição gerada pelo tratamento dos
resíduos urbanos.
No relatório Creating Sustainable Cities (1999), o autor Herbert Girardet argumenta que a
cidade sustentável será aquela que “ se organiza de modo a permitir que todos os cidadãos
satisfaçam, as suas próprias necessidades e elevem o seu bem-estar, sem danificar o meio
ambiente natural e colocar em perigo as condições de vida de outras pessoas, agora e no futuro.”
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CAPÍTULO 1 | DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
1.3 EXEMPLOS DE PLANEAMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
Neste capítulo pretende-se fazer referência a projectos espalhados pelo mundo e que
estejam inseridos no tema de Planeamento Urbano Sustentável, demonstrando metodologias
utilizadas na elaboração do mesmo conceito.
Eagle Street Rooftop Farm, Nova Iorque, 2010
F6, F7 e F8. Fotografias do Projecto Eagle Street Rooftop Farm em Brooklyn, Nova Iorque.
O Projecto Eagle Street Rooftop Farm, localizado em Brooklyn consiste na transformação e
requalificação de um telhado disponível, para um jardim, horta e mercado para a população local.
Aqui cultiva-se, come-se e vende-se o que é produzido, funcionando também como um espaço de
reunião entre a população interessada, onde se aprende sobre agricultura sustentável e se
praticam acções de interesse comunitário.
Os arquitectos responsáveis pelo modelo de Rooftop Farming esperam que este se
multiplique pela cidade reduzindo assim o albedo e melhorando o conforto térmico dentro da
cidade, bem como proporcionar um aumento na qualidade de vida para os habitantes de Nova
Iorque.
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Passage 56/ espace culturel écologique, Paris, 2009
F9, F10 e F11. Fotografias do Projecto Passage 56 em Paris, atelier dárchitecture autogéree ( aaa)
O projecto passage 56 nasce da requalificação de um espaço que se encontrava obsoleto
entre dois edifícios. Deste modo, a localização impossibilitava a construção de um novo bloco de
apartamentos como anteriormente estava previsto. Assim, surgiu a ideia de criar um espaço gerido
colectivamente e que conseguisse acomodar projecção de filmes, workshops, jogos, trocas de
produtos alimentares e actividades relacionadas com a gastronomia local e horticultura.
Os 200m2 albergam o jardim/horta colectivo, um pequeno edifício construído em madeira e
com painéis solares, casas de banho secas, recolha de águas pluviais, talhões, recolha de
sementes e um corredor para os pássaros locais.
Assim, é permitido manter o espaço num ciclo fechado, de um modo tal que se consegue
produzir e reciclar quase tudo o que o local consome: água, fertilizante, alimentos e energia.
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Praça Victor Civita – Museu Aberto da Sustentabilidade, São Paulo, 2008
F12, F13 e F14. Fotografias da Praça Victor Civita em São Paulo, atelier Levisky arquitectos.
Praça-museu: O Projecto propõe a reabilitação dum espaço contaminado a partir da implanta-
ção de deck de madeira montado sobre estrutura metálica reciclada, configurando percursos edu-
cativos sobre tecnologias sustentáveis; sistemas de reutilização de água; energia solar; produção
de bioenergia; processos de descontaminação de solos e águas subterrâneas, bem como um anfi-
teatro para eventos e espectáculos e também espaços de cultivo.
Os visitantes deste espaço têm a hipótese de aprender como funciona o sistema de recicla-
gem orgânico existente bem como aprender sobre métodos de cultivo sustentável.
The High Line, New York, 2009
F15, F16 e F17. Fotografias da Plataforma High Line em Nova Iorque, atelier, Diller Scofidio + Renfro.
A plataforma da High Line desqualificada á vários anos deu lugar a espaço onde a natureza
cresceu selvagem e desregulada, um espaço que a natureza reclamou para si.
No ano de 2003 a ONG “Amigos da Highline”, lançou um concurso internacional, sobre como
requalificar a plataforma tornando-a num espaço público e de lazer.
Como refere a arquitecta vencedora do concurso, Elizabeth Diller “O plano elevado revela-se
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agora como espaço modulado em categorias de “natureza” e “tempo”, combinando a vida vegetal
com fluxos pedestres numa estratégia de “agri-tectura” que conjuga materiais orgânicos e
sintéticos. Um parque suspenso marcado pela lentidão, a espontaneidade, o íntimo e o hiper-
social, de que transparece o balanço entre uma nova ambiência humana e o carácter preservado
do antigo High Line.”
Public Farm 1, New York, 2008
F18, F19 e F20. Fotografias do projecto Public Farm 1 em Nova Iorque, atelier WORKac.
Este projecto nasceu no verão de 2008 e foi concebido como uma intervenção para o MoMa
( Museum of Modern Art ).
Desde 1999 que o museu tem o hábito de lançar projectos com o objectivo de criar
instalações que durem durante o verão e que funcionem como um espaço público onde ocorrem
eventos.
O atelier vencedor no verão de 2008 (WORKac) teve a ideia de criar um espaço de
agricultura urbana bem como um ponto de interacção social que acolhesse variados tipos de
eventos, como programas educacionais e espectáculos criando assim um sentido de comunidade
envolto da experiência de cultivar alimentos. A ideia principal foi trazer a agricultura sustentável em
conjunto com a arquitectura, utilizando materiais recicláveis, painéis solares como geradores de
energia e reutilizar a água da chuva para irrigação.
Em resumo, este projecto funcionou durante todo o verão de maneira auto-sustentável.
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Expo 2015, Milano, 2015
F21, F22 e F23. Fotografias do projecto para a Expo 2015 em Milão, atelier Herzog & de Meuron.
Projecto apresentado em conjunto pelos arquitectos Jacques Herzog, Mark Rylander, Ricky
Burdett, Stefano Boeri, e William McDonough para a expo 2015 em Milão.
Este assenta no tema “Alimentar o Planeta, Energia para a Vida” e irá desenvolver-se ao longo
de 1.4km funcionando como uma nova reinterpretação das paisagens urbanas agrícolas.
Assim, o plano irá estruturar-se como um padrão agrícola ao longo de um eixo, sendo
inspirado nas antigas cidades romanas com os seus eixos cardo e decumanus e ao longo destes
estes vão- se desenvolvendo tendas e lojas onde se demonstrará o processo de cultivo por parte
dos 154 países participantes.
Concluindo, esta intervenção funcionará como um laboratório onde se produzirá alimentação,
energia e transporte para os milhares de visitantes.
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CAPÍTULO 1 | DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
1.4 POLÍTICAS EUROPEIAS
Política Agrícola Comum da União Europeia
A maior parte da Europa é coberta por explorações agrícolas e florestas, que são vitais para
a nossa saúde e economia. A política agrícola comum da UE garante o desenvolvimento da
agricultura de uma forma sustentável com a protecção do ambiente, ajuda a desenvolver o tecido
económico e social das comunidades rurais e desempenha um papel essencial na procura de
soluções para fazer face aos novos desafios como a crise global actual. (Comissão Europeia,2011)
Esta política tem como intenção que os produtores de todos os alimentos - cereais, fruta,
produtos hortícolas, produtos da pecuária ou vinho – sejam capazes de sobreviver, pelos seus
próprios meios, no mercado da UE e nos mercados mundiais.
Devido á exigência dos consumidores, novas medidas tem sido implementadas para identificar
produtos alimentares originários de uma zona geográfica, alimentos elaborados com ingredientes
tradicionais ou segundo métodos tradicionais e ainda alimentos biológicos.
Apesar das reformas, a política agrícola comum é a mais integrada de todas as políticas da UE, o
que implica que consuma uma parte importante do orçamento da UE. Ainda assim, passou de um
máximo de 70% do orçamento da UE nos anos 70 para 34% durante o período 2007-2013. Esta
situação reflecte o aumento da complexidade na gerência da união europeia tendo o orçamento
que ser distribuído por mais novas politicas, originadas por novos problemas. (Comissão
Europeia,2011)
Política Ambiental da União Europeia
As normas ambientais da UE foram sendo desenvolvidas ao longo de décadas em resposta
a toda uma variedade de problemas. Hoje em dia, a luta contra as alterações climáticas, a
preservação da diversidade, a redução dos problemas de saúde causados pela poluição e a
utilização responsável dos recursos naturais constituem as grandes prioridades. Embora o
objectivo principal seja proteger o ambiente e o desenvolvimento sustentável, as iniciativas
adoptadas para dar resposta a estas prioridades também podem, na medida em que incentivam a
inovação e o empreendedorismo, contribuir para o crescimento económico. Assim, para evitar que
a utilização dos nossos recursos naturais limitados conduza a uma crise, são necessárias
19
modificações fundamentais na nossa economia. Para além de legislar, a UE contribui para a
sensibilização do público e a investigação e disponibiliza os fundos públicos necessários para o
efeito.
A estratégia em prol do desenvolvimento sustentável, adoptada em 2001, é completada pelo
princípio de integração das preocupações ambientais nas políticas europeias. (Comissão
Europeia,2011)
Conceito de Regeneração Urbana
As áreas urbanas são sistemas complexos e dinâmicos, que reflectem alterações físicas,
sociais, económicas e ambientais ao longo dos tempos, influenciadas por factores externos e
internos. Estas áreas urbanas, albergam uma dimensão singular e mutável ao longo do tempo, de
acordo com a sua localização e condições que apresentam.
Deste modo, as cidades, ao longo dos anos, sofrem mudanças inevitáveis, geradas por
sistemas económicos, sociais e políticos, o que cria novas oportunidades de progresso económico
e cívico; pois a sua existência permite ajustes e melhorias nas suas áreas urbanas. Estas
mudanças são a causas da constante procura de meios, por parte de políticos, investidores,
urbanistas, entre outros agentes, que visem melhorar e manter essas mesmas condições nas
cidades (Roberts,2000).
Assim, este encontro de respostas acaba por reflectir, em dada altura, os valores económicos
e sociopolíticos da sociedade, sendo esta a mensagem de relação entre as condições físicas e o
meio social que tem vindo a ser parte da requalificação urbana. Segundo, Peter Robert e Hugh
Sykes em “Urban Regeneration”, identificaram 3 pontos que marcam a transformação do conceito
ao longo do século XX:
- habitação e saúde, com o “combate à doença, à melhoria das condições de habitação, ao
abastecimento de água e à criação de espaços abertos”;
- apoio social e o boom da economia, com a “criação de um ambiente que promova a prosperidade
económica”;
- a contenção do crescimento urbano e alteração das politicas urbanas, dado que, uma expansão
das áreas urbanas nos anos 70, assegurou a relação entre o sistema económico, social e físico
das cidades, até este momento independentes; contudo, trata-se de um modelo que consome
recursos escassos, e que remete para a necessidade de “fazer o melhor uso possível dos terrenos
urbanos”.
Deste modo, a regeneração urbana, assume um papel importante na medida em que trata com
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“tecidos urbanos comuns e não com a componente do edifício mais ligada á requalificação urbana,
(…) tem um enquadramento económico e social com preocupações ambientais, na medida em que
o modelo de regeneração para o qual trabalhamos, procura ser económico do ponto de vista
energético e dos recursos, e originar um equilíbrio do ponto de vista social, propostos próximo do
crescimento sustentável – assentes em três pilares: coesão social, crescimento económico,
protecção ambiental” (comissão europeia, 2001).
Por outro lado, a longevidade do processo é fulcral (Rogers,2001), visto que, contrapõem ao
processo de declínio do tecido urbano através de uma prática que converge capital social,
económico e físico – subentendesse o urbano. Para tal, é fundamental um uso adequado dos
recursos naturais, económicos, humanos e outros disponíveis na área urbana, sendo este do maior
interesse de todos os intervenientes no processo. Assim, “a regeneração urbana é uma política
urbana que vem procurar resolver problemas urbanos e dar-lhes oportunidades. Uma política que
procura na relação entre a condição física existente no território, a responsabilidade social, a
necessidade de preservar elementos identitários de um passado e a importância do sucesso
económico” (Pereira, 2007).
Todavia, o boom demográfico e a multiplicidade étnica traduziu-se na expansão das fronteiras
urbanas, colocando em causa a tradicional forma de governança, e por outro lado, conduziu ao
declínio da cidade e á emergência do urbano e necessidade de “re-conceptualização das
realidades urbanas, quer ao nível da forma, quer ao nível das vivencias” (Pires:2009). Assim, o
declínio do Modelo de Cidade, conduz á emergência de novos paradigmas da sustentabilidade,
como um conceito ao qual cabe o conceito da ubiquidade, isto é, etiqueta que está presente no
agora e no futuro, nas decisões politicas que implicam o equilíbrio ambiental, social e económico.
Finalmente, “direcção a um qualquer ideal-tipo” (Pires,2009), que traduz um novo paradigma
de cidade instável e constantemente em mutação, na qual os velhos modelos consensuais não dão
qualquer tipo de resposta, e a regeneração urbana funciona como elo de resolução focalizada nas
varias questões em presença num dado território. Em suma, entende-se por Regeneração Urbana
um sistema que alberga a população como primordial na reconversão de um uso ou área, numa
perspectiva de futuro alargado, e com um conjunto de intervenções a nível do espaço público e
acções estratégicas de futuro.
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Papel da Regeneração Urbana no contexto das Políticas Europeias
Desde o surgimento da União Europeia, que se procura uma política de racionalização do
uso de solo articulando as actividades económicas e humanas no território, em equilíbrio com o
sistema ambiental. Deste modo, esta visão de conjunto que partilha um espaço comum europeu,
traduziu-se nos vários tratados desenvolvidos nos vários Conselhos da Europa e Comissão
Europeia.
Desde logo, a Carta de Terremolinos de 1984, onde se propôs um equilíbrio socioeconómico
entre regiões europeias, num acto de responsabilização dos diversos estados europeus no
processo de ordenamento do território. Por outro lado, a nível académico existiu uma busca
metafórica que representasse a estrutura espacial europeia, na qual Brunet em 1989 publica a
“Banana Azul” ou Megalópolis Europeia. A origem da palavra megalópolis vem do grego e significa
“grande cidade”, isto é, a soma de um conjunto de áreas urbanas em crescimento, que pelas suas
dinâmicas económicas e sociais tem como somatório uma ou varias conurbações entre grandes
cidades. Neste caso especifico, a “Banana Azul” albergava uma área desde o Nordeste de
Inglaterra até o Norte de Itália, contendo cidades como Milão, Manchester, Colónia, Bruxelas,
Zurique, Turim, Londres, Basileia, Estrasburgo, Zurique, Amesterdão, Frankfurt, Nice, Mónaco,
Génova e, finalmente, Luxemburgo como único país. Sendo assim, este conceito explorado por
RECLUS, um gabinete de geógrafos franceses no qual Brunet era responsável, concentrava a
maioria do capital social, económico e industrial da Europa marginalizando o restante espaço
Europeu.
Posteriormente, em Nantes no ano de 1989, com a publicação do “Europa 2000 –
Perspectivas para o desenvolvimento do território da comunidade” conceptualizamos a ideia de
uma Europa de mega - regiões, dado que “com a crescente globalização da actividade económica
e a liberalização das economias planificadas, os países da Europa estão envolvidos num processo
de integração económica cada vez maior”(Europa 2000). Assim, define-se um conjunto de politicas
comuns a ter impacto na agricultura, pescas, trocas comerciais e industriais, emprego, ambiente e
recursos humanos, influenciando inevitavelmente a “estrutura das zonas rurais e costeiras” (Europa
2000), a actividade económica e a migração. Para tal, existiu o contributo de Kunzmann e Wegener
e o seu modelo territorial de cacho de uvas, ou seja, um modelo territorial baseado na
singularidade e importância regional das diversas cidades europeias competitivas e globalizadas.
Em suma, existe um processo de inversão onde o esboço de uma Europa com um sistema
policêntrico emerge, em contraponto com os modelos até aqui explorados no passado.
Embora, só após o tratado de Maastricht ou Tratado da União Europeia (TUE) de 7 de
Fevereiro de 1992, onde se assinala a integração económica, quebrando a barreira única da
22
política existente entre os diversos países da extinta Comunidade Europeia. Neste contexto, os
objectivos do TUE passam, essencialmente, pela instauração da união económica e monetária,
desenvolvimento do capital social, desenvolvimento de uma politica de segurança externa comum,
e finalmente, reforço e legitimidade das instituições e democracias.
Porém, com a publicação do “Europa 2000”, a reabilitação urbana surge como intervenção
física no tecido, e considera pela primeira vez os domínios sociais e económicos. Por seu turno, o
projecto-piloto URBAN financiado pelo FEDER, tinha como principal objectivo o apoio à reabilitação
urbana, apoiando projectos com problemas urbanos, tais como: “carências socioeconómicas, fraco
planeamento do uso do solo, centros históricos negligenciados, fracas ligações entre actividades
de investigação e desenvolvimento e as pequenas e médias empresas; e áreas industriais
abandonadas” (Pinho:2009).
Posteriormente, na Declaração do Rio em 1992, a Agenda 21 foi o principal documento
produzido, onde se define como 1º principio que todos “os seres humanos constituem o centro das
preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável”, no Tratado da União Europeia
assistimos ao lançamento da iniciativa URBAN devido ao sucesso dos projectos-piloto, focalizando
mais fundos e sinergias nas questões urbanas. Assistimos, ainda, à emergência de segundas
iniciativas: INTERREG e o LEADER.
Em 1994, na “Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade”, na qual mantinha uma
relação transversal com as indicações da Agenda 21 de 1992, tinha como enfoco “os centros de
vida social, suportes da economia, pilares das nossas sociedade, bem como, centros de industria,
artesanato, comercio, educação e administração” com o objectivo de “alcançar o bem estar do
homem e do ambiente”.
Passados 10 anos, na carta de Aalborg +10, “reafirmaram os seus propósitos e convicções, o
resultado da conferência foi uma carta semelhante à de 1994” (Ricardo:2009), embora numa
perspectiva objectiva e impositiva, a qual concorre para uma posição de compromisso que diz
respeito á necessidade de alterar hábitos de consumo. “Em 1994, podia ler-se que o consumo de
água não devia exceder a respectiva taxa de reposição, já em 2004 refere-se directamente que tem
de se poupar água e usá-la de modo eficiente. Nas preocupações de Aalborg, expressando a ideia
da necessidade de renovação urbana, no entanto, ainda se incentiva o “planeamento de novas
áreas periféricas”, situação que já não se verifica em Aalborg+10, onde a estratégia aponta para a
regeneração de áreas degradadas e para que se evite, definitivamente a expansão urbana”
(Ricardo:2009). Assim, com a revisão da carta de Aalborg, dá-se os primeiros passos no caminho
da confluência entre a noção de regeneração urbana e desenvolvimento sustentável.
Posteriormente, o conceito de desenvolvimento sustentável esteve sempre presente nos
debates e políticas europeias, com o “Desenvolvimento Urbano sustentável na união europeia:
quadro de acções”, com as “Estratégias da União Europeia para um desenvolvimento urbano
sustentável em 2001”, e finalmente, com a “Revisão das estratégias da união europeia para um
23
desenvolvimento sustentável de 2005”. Assim, estas estratégias e relação simbiótica entre os
conceitos de regeneração e desenvolvimento sustentável, respondem ao problema mencionada no
capítulo anterior, quanto á ausência de modelo de cidade e á emergência de uma nova semântica
urbana - megapolis, conurbações, metapolis, entre outras – e o grau de desconforto que estes
novos paradigmas exercem sobre aqueles que planeiam e gerem o território.
Porém, segundo Parkinson (1996), a “requalificação de sucesso está relacionada com a
necessidade de resolver questões como: rápida mudança no ambiente económico, a diminuição
dos salários, o crescimento das diferenças salariais no sector do trabalho de força, uma ocupação
da mulher em empregos tradicionalmente pertencentes ao homem; novas tendências sociais
resultantes de uma mudança demográfica, as alterações da estrutura familiar tradicional,
descentralização populacional e dos postos de trabalho, movimentam para fora das cidades da
população jovem e da mais capaz, a perda da coesão social e o aparecimento de novas
comunidades.”.
Sendo assim, como já mencionei anteriormente, a requalificação urbana deve ter como
intervenientes as cidades, os governos, investidores, proprietários, economistas, associações de
moradores ou movimentos cívicos e também associações ambientais. Segundo, F.Choay existe
uma inflexão no paradigma de salvaguarda, uma vez que, não só os tecidos históricos são alvo de
intervenção, bem como, os “tecidos banais dos finais do século XIX e da primeira metade do século
XX”, de modo a “salvar da prometida modernização e identidade”. Deste modo, cada vez mais, a
regeneração deve assumir um papel de autenticidade e defesa dos valores culturais e identitários,
respeito pela “memória viva” quer ao nível do tecido urbano, quer ao nível das redes regionais.
A Regeneração Urbana tem um papel importante no desenvolvimento sustentável do território
europeu, “com especial enfoque no papel das cidades enquanto pólos aglomerados de população
e geradores de dinâmicas” (Ricardo:2009). E cabe, a uma atitude multi-disciplinar, uma resposta
adequada aos novos paradigmas urbanos, sem cair em conceitos etiqueta do desenvolvimento
sustentável, apostando num planeamento participativo, responsável, pró-activo, associado às
características e necessidades locais numa resposta global.
Com a reforma do fundos estruturais e a implementação do EDEC, a “Comissão deseja uma
melhor tomada em conta da dimensão urbana no conjunto das políticas comunitárias”(URBAN II),
atribuindo através dos Objectivos 1 e 2 10% da verba do FEDER para intervenções urbanas. O
reforço das questões urbanas e sua crescente importância, deu lugar a iniciativa URBAN II, em
detrimento da iniciativa URBAN, focando a problemática, mais uma vez, no desenvolvimento
sustentável urbano tal como aconteceu desde a Carta de Aalborg em 1994. Trata-se de uma
iniciativa que contava com os fundos do FEDER, um orçamento comunitário de 730 milhões de
euros – tal como o URBAN II, as iniciativas INTERREG III e LEADER + também fazem parte das
iniciativas que compõem os fundos comunitários.
Na sua essência, o URBAN II aborda estratégias de regeneração urbana, dando resposta a tecidos
24
urbanos com uma “entidade geográfica e sócio-economica homogénea”, que preenchem três das
seguintes condições:
- Uma fraca taxa de actividade económica e uma necessidade de reconversão resultante de
dificuldades económicas e sociais,
- Uma forte taxa de desemprego de longa duração, de pobreza e de exclusão,
- Uma fraca taxa de educação, importantes lacunas em termos de qualificações e uma taxa
elevada de insucesso escolar,
- Um número elevado de imigrantes, de minorias étnicas ou de refugiados,
- Uma forte taxa de criminalidade ou de delinquência,
- Uma evolução demográfica precária,
- Um ambiente especialmente degradado.
Neste âmbito, o papel dos agentes culturais, económicos, políticos e associações de
moradores, é fundamental para um planeamento colaborativo e participativo, em direcção á
“promoção do conceito de governança urbana” com o objectivo de adequar os novos paradigmas
de cidades e o constante conflito de interesses entre actores sociais, num conjunto de novas
práticas de gestão urbanística e territorial. Com o sucesso da iniciativa URBAN e URBAN II,
conduziu-se à construção de um novo modelo que resulta na generalização das questões urbanas,
incorporando-as em todos os programas e iniciativas, “permitindo, teoricamente, um maior impacto
já que envolve um financiamento a longo prazo e possibilita a integração dos recursos, das
prioridades e das acções sectoriais” (Pinho:2009). Logo, uma maior convergência de sinergias e
fundos – FEDER, FSE e Fundo de Coesão - no desenvolvimento das cidades, dado que, a União
Europeia acredita que o papel das cidades é fundamental para o avançar do desenvolvimento
económico.
Uma proliferação da dimensão urbana como o Parlamento Europeu defende, uma colaboração
mais estreita entre políticas regionais e de coesão, visto que, a valorização das questões urbanas
permite a reformulação do triângulo equilátero esboçado pela Estratégia de Lisboa, onde se
proclamava o equilíbrio em criação de emprego, coesão social e competitividade que, segundo o
Relatório Sapir, é um dos principais pontos negativos e responsáveis pelo fraco crescimento da
União Europeia. Deste modo, o novo triângulo baseia-se no crescimento e emprego, no qual a
coesão social passa a segundo plano e dependente dos outros objectivos, onde através da
25
inclusão económica se atinge a exclusão da pobreza.
Todavia, a base para a elaboração do QREN, tem na sua génese muitos dos princípios
desenvolvidos com a Reunião de Bristol a da Política de Coesão e que dão inicio a uma nova
geração de programas financeiros para 2007-2013. As orientações estratégicas definidas com a
“Estratégia de Lisboa renovada, aponta para os programas a financiar três prioridades principais”
(Pinho:2009):
- Melhoria da acessibilidade, assegurando serviços e sua qualidade e preservando o ambiente
- Melhoria do capital humano, através de um espírito pró-activo e da melhoria do tecido empresarial
- Incentivar a economia e a inovação, através da capacidade de investigação e empreendimento
Finalmente, esta nova geração de programas financeiros, requer a simplificação do período
transacto, entre 2000 e 2006, o que resulta na eliminação do QCA e do Complemento de
Programação, e simplesmente existem os Programas Operacionais e o QREN. Sendo assim,
temos um documento que ganha relevância estratégica no âmbito nacional de cada estado
membro, uma vez que, alberga todo um conjunto de acções e objectivos políticos que um estado
pretende desenvolver ou atingir. Porém, a nível processual, cada estado membro apresenta o seu
Quadro de Referência Estratégica Nacional à Comissão Europeia, esta por seu turno relaciona este
documento com a estratégia definida – neste caso com a estratégia de Lisboa renovada – e deste
modo, mantém um grau de relação e coerência com os propósitos estabelecidos. Finalmente, após
a aprovação e coerência da proposta por parte de cada estado membro, são aplicados os fundos
estruturais. Consequentemente, temos uma maior descentralização e responsabilização quer a
nível financeiro, quer a nível do controlo dos programas, onde cada estado membro é o actor
principal de toda a gestão.
26
CAPÍTULO 02
AGRICULTURA URBANA
2.1 HORTAS URBANAS E SUSTENTABILIDADE DA INFRA-ESTRUTURA URBANA
Lisboa e os “Alfacinhas”
“A origem da designação perde-se: há quem explique que nas colinas de Lisboa primitiva verdejavam
já as "plantas hortenses utilizadas na culinária, na perfumaria e na medicina" que dão pelo nome de
alfaces. „Alface‟ vem do árabe, o que poderá indicar que o cultivo da planta começou aquando da
ocupação da Península pelos fiéis de Alá. Há também quem sustente que, num dos cercos de que a
cidade foi alvo, os habitantes da capital portuguesa tinham como alimento quase exclusivo as alfaces
das suas hortas.”
Gabinete de estudos Olisiponenses
Como podemos confirmar pela definição do termo alfacinha, a cidade de Lisboa sempre
conviveu com hortas.
Contudo, muitas destas hortas sempre se encontraram na periferia da cidade devido a serem
conotadas a uma experiencia mais de campo e não tanto de cidade, ficando assim excluídas de
uma inserção mais profunda na malha urbana, exceptuando apenas alguns casos como o de
bairros operários no séc:XX e o interior de muitos quarteirões na cidade. (Fadigas,2012)
Na actualidade muitas cidades mundiais como Amsterdão, Londres, Filadélfia, Nova-Iorque,
Montreal, Toronto, Vancouver, entre muitas outras, já inseriram a Agricultura Urbana (A.U) dentro
das suas cidades como maneira de lidar com a reciclagem, conservação do meio-ambiente,
terapia, lazer, educação, provisão de alimentos, desenvolvimento comunitário, arquitectura
sustentável e acima de tudo com o intuito de transformar o mundo num local mais harmonioso e
sustentável dado cada vez mais a população mundial viver em cidades e esta tendência continuar
a aumentar… (Mougeot, 2006)
27
F24. Gráfico sobre o aumento populacional nas cidades e consequente
Diminuição na paisagem rural.
A Agricultura Urbana pode ser definida resumidamente como o cultivo de plantas e a criação
de animais para consumo humano, dentro e no perímetro das cidades.
Sendo assim, a principal diferença entre a Agricultura Rural é o facto de a Agricultura
Urbana estar inserida dentro do sistema ecológico e económico da cidade, ou seja inserida dentro
do ecossistema urbano. Esta ligação com a infra-estrutura urbana significa relações com os
residentes, que naturalmente são os trabalhadores/utilizadores destas hortas, com os desperdícios
que servem para composto e irrigação (resíduos orgânicos e as águas cinzentas) e também com
os consumidores urbanos que passam a fazer parte deste sistema urbano de produção de
alimentos.
Deste modo, a Agricultura Urbana passa a ser influenciada pelo planeamento da cidade
competindo com outras funções para a utilização dos espaços e aumenta á medida que a cidade
vai crescendo sendo portanto parte integrante da infra-estrutura urbana.
Em termos gerais a Agricultura Urbana é “ o cultivo, o processamento e a distribuição de
alimentos e plantas não alimentares bem como culturas de árvores e criação de gado, directamente para o
mercado urbano, dentro ou na periferia da cidade.” (Mougeot, 2006).
Já faz parte do conhecimento comum os locais onde esta agricultura acontece, seja em
bermas de auto-estradas, viadutos, terraços, margens da linha do comboio, espaços industriais
abandonados e até mesmo em prisões, escolas e outras instituições. A A.U acontece portanto em
qualquer sítio onde se possa mandar a semente á terra e cultivar o produto final.
Todavia, na actualidade e cada vez em maior número, existe muita gente que se preocupa
com o facto de ter um local onde possa cultivar alguma da sua comida, beneficiando assim a nível
28
de saúde e também do facto de poupar algum dinheiro aproveitando os alimentos que a natureza
fornece a preços muito baixos, ou pelo menos a troco de algumas horas passadas em contacto
com a terra. Estes benefícios a nível da segurança alimentar e a nível monetário parecem
interessar principalmente as mulheres pois conseguem assim trabalhar perto de casa e fornecer
alimentos mais saudáveis e alimentar as suas famílias e principalmente os seus filhos.
(Mougeot, 2006)
Importa salientar que, a Agricultura Urbana não consegue resolver todos os problemas
ambientais, mas ajuda a proteger o ambiente e a resolver alguns problemas, como a reutilização
dos desperdícios orgânicos na criação de composto rico em nutrientes, para utilização nas culturas
e também a reutilização de águas residuais, sendo que no projecto em questão as águas pluviais
servirão para a irrigação dos talhões.
Note-se, que o cultivo em espaços desocupados e até mesmo em telhados permite a redução
da poluição e melhora também a qualidade do ar bem como ajuda a dar um aspecto mais saudável
á cidade. O facto de os alimentos serem cada vez menos transportados para dentro da cidade,
ajuda a reduzir o Co2 dentro da mesma, ajudando assim a reduzir a pegada ecológica mesmo que
a cidade continue a crescer. (Nelson,1996)
F25. Montagem sobre a expansão humana sobre o mundo natural
Apesar de em muitos países a A.U ainda ser vista como algo negativo, devido a ser
associada ao não planeamento e ao crescimento descontrolado, o facto é que a A.U deve ser
encarada como uma ferramenta que contribuí para o desenvolvimento urbano sustentável. Criando
oportunidades para os planeadores e tecnocratas conhecerem mais sobre a Agricultura Urbana o
29
CFP (Cities Feeding People program) tem vindo a promover a inserção da A.U dentro do processo
de planeamento das cidades. Estas acções e formações têm vindo a despertar e a potencializar os
factores positivos da A.U, em detrimento dos factores negativos. (Mougeot, 2006)
Os espaços para A.U só muito recentemente é que começaram a ser inseridos nas cidades
mas mesmo assim ainda muito se tem a fazer, pois muitos espaços que estão vagos e
abandonados durante décadas podem muito bem servir esta função mas infelizmente muitas vezes
é ilegal intervir (agricultura) nestes locais, devido á dificuldade em aceitar a A.U como algo positivo.
Pelas palavras do antigo director do Departamento de Planeamento de Dar es Salaam este afirma
que “ Os planeadores urbanos nunca tiveram problemas em pôr de parte e delimitar terrenos para enterrar
os mortos. Não devemos então com mais razão por de parte terra que sirva para as pessoas cultivarem e daí
tirarem a sua alimentação, mantendo-se assim vivas?”
A cidade é um enorme recipiente de acumulação de nutrientes, que absorve alimentos para
satisfazer as necessidades da população que cada vez existe em maior número. Grande parte
destes alimentos vem de fora da cidade o que implica que muitos se deteriorem durante o
transporte e armazenamento. Se este grande recipiente for capaz de reciclar grande parte do que
desperdiça pode assim tornar-se cada vez menos dependente das importações alimentares e
menos poluente a nível atmosférico e dos solos.
Se conseguirmos encontrar uma maneira segura, económica e viável de reciclar todo o lixo
orgânico e águas, podemos tornar as nossas cidades e as do futuro em cidades mais limpas e
sustentáveis, conseguindo a limpeza do ambiente, a redução de riscos para a saúde e claro
aumentar a produção agrícola devido á melhoria da qualidade dos solos através da compostagem
do desperdício orgânico.
Foi feito um estudo por alguns membros, professores e estudantes de algumas
universidades do Ghana em que se estudou 3 das suas cidades (Accra, Kumasi, e Tamale) e
chegou-se á conclusão que através da A.U, Paisagismo e de outros recursos, estas cidades eram
capazes de absorver 20% do seu desperdício orgânico disponível. (Dreschel,2004)
Além disso, no Brasil, mais especificamente em Fortaleza foi levado a cabo um projecto que
incluía aquacultura, cultivo de vegetais, árvores de fruto, ervas medicinais e a produção de
medicamentos á base destas plantas. (Albuquerque,1996). A equipa que organizou este projecto
deu vários workshops de formação e este treino incluía desde técnicas de produção alimentar,
compostagem, plantar e cuidar de árvores de fruto, melhoria dos solos, irrigação e adubagem.
No mesmo sentido, foi criada uma comunidade de jardins medicinais liderado pelas
mulheres envolvidas no projecto onde recebiam formação em cultivo de plantas, secagem e
processamento das mesmas. Ainda, foi contratado um médico para explicar a produção destes
medicamentos para as doenças mais comuns como constipação, febre, gripe, bronquite, asma,
diarreia, micose e parasitas nos intestinos (Collombon, 1996). Este projecto resultou numa maior
30
procura por parte da população neste tipo de iniciativas e inclusive houve um grupo que conseguiu
juntar dinheiro suficiente para criar o seu laboratório de plantas medicinais e um centro de
massagens. (Mougeot, 2006)
Noutro sentido, para avaliar o potencial de um espaço agrícola devemos ter em conta uma
abordagem multidisciplinar juntado esforços entre arquitectos e urbanistas bem como agrónomos e
agricultores, pois só assim se consegue chegar a uma boa compreensão do espaço (Mougeot,
2006). Assim, comparando métodos de Agricultura Urbana e locais disponíveis para o efeito,
chega-se á conclusão de que o tipo de cultura e de uso varia consoante a qualidade dos solos,
exposição solar, tipo de agricultores, (idosos,reformados,activos,deficientes,crianças...) relação do
local com a cidade e outros factores.
Como já foi referido, as cidades produzem muitos desperdícios orgânicos e a A.U
representa o principal interessado neste desperdício, devido a existir muito poucas indústrias
capazes de lidar de maneira tão sustentável com este fenómeno. Outra indústria que também pode
aproveitar bem estes desperdícios é a indústria de produção de biogás. Contudo, a melhor maneira
de lidar com este desperdício é mesmo no local onde este é criado, ou seja nas habitações.
Assim, podem ser criados por exemplo, postos de compostagem comunitários onde cada pessoa
deposita os seus desperdícios alimentares que futuramente os reutiliza para fertilizante,
enriquecendo assim, os solos das suas plantações.
Ao longo da evolução da sociedade temos vindo a notar que são nos momentos de maior
crise financeira que nos preocupamos com o cultivo da nossa alimentação como fonte de
poupança. È inclusive nestas alturas que mais facilmente construímos uma horta num terreno do
que um edifício. Encontramos também o problema do petróleo que com a subida do preço do barril
de crude, inflaciona os preços dos alimentos devido a estes serem transportados, seja por barco,
avião ou camião, resultado de serem cultivados muito longe do local de consumo.
Consequentemente, acontece que as grandes indústrias de agricultura dependem em muito deste
combustível e se pensarmos na quantidade de vegetais e frutos que utilizamos todos os dias em
saladas e sopas temos uma noção do quanto se consegue economizar.
Em suma, e como refere Washington Ipenza, Presidente da Câmara de Villa Maria del
triunfo, Peru
“ As nossas actividades de agricultura urbana promovem a produção, aumentam a competitividade,
melhoram a qualidade dos produtos e permitem identificar discrepâncias entre a oferta e procura local,
permitindo assim consolidar a produção e o marketing. Os nossos indicadores reflectem que os pequenos
produtores e vendedores, homens e mulheres são actores muito importantes.” (Mougeot, 2006)
31
CAPÍTULO 2 | AGRICULTURA URBANA
2.1.1 DIMENSÕES DA AGRICULTURA URBANA
Na segunda guerra mundial ficou demonstrado que espaços desocupados e grandes jardins
serviam perfeitamente para o cultivo de alimentos, daí que a agricultura urbana tenha aparecido
como resposta a uma necessidade local de alimentação e da necessidade de partilha e vizinhança.
(He Plants for Victory,1943)
Estas hortas urbanas têm a particularidade de criarem um forte sentido de envolvência local e de
estarem localizadas dentro da densidade urbana, bem como do facto de serem geridas localmente.
Devido a estes factores e ao facto de estas aparecerem como resposta às necessidades e
desenvolvimento local, podemos afirmar que não existe um modelo nem uma horta tipo.
Estes espaços são geralmente dotados de alguma mão-de-obra voluntária e são locais onde
se juntam pessoas de todos os estratos sociais e faixas etárias, promovendo actividades
relacionadas com o cultivo de alimentos, cursos de formação, visitas escolares, negócios locais
bem como actividades extracurriculares e eventos sociais e de cultura.
Nestas hortas comunitárias existe um factor em comum que é o encorajamento á
participação social e ao desenvolvimento sustentável das comunidades envolventes, sendo que
este desenvolvimento e encorajamento são feitos através da oportunidade dada aos utilizadores de
participarem em várias situações e aprenderem a cultivar os seus alimentos bem como a
participarem na gestão do espaço e a conhecerem outras pessoas. (Viljoen, 2005)
A inclusão e coesão social são feitas através da possibilidade de participação de pessoas
com diferentes backgrounds interagindo assim entre elas e alargando as suas redes de
conhecimentos. Como refere Rob Dark, gerente da horta de Bradford City “As pessoas não têm que
ficar sentadas atrás de uma secretária para aprender algo que seja útil para o futuro. Nós fazemos muitos
trabalhos com jovens, incluindo aqueles que são excluídos da escola e vamos obtendo um bom feedback das
escolas, sendo estas também visitantes regulares da nossa horta” (Viljoen, 2005)
Na horta de Helley City em Sheffield é feita referência ao facto de 83 % dos trabalhadores
da horta terem sido desempregados e 60% deles viverem a apenas 1 milha da mesma.
Efectivamente, estes projectos contribuem directamente para o desenvolvimento da cidade
e da comunidade em causa, gerando um assim um maior dinamismo social bem como regeneração
urbana, através do aumento de espaços verdes na cidade; da criação de mais programas sobre
sustentabilidade, jardinagem, horticultura, agricultura e pecuária; da criação de um maior número
de actividades educativas e visitas escolares; mais oportunidade para pessoas com dificuldade de
aprendizagem e outras necessidades. Como resultante, é bastante comum verificar que a
32
actividade económica e os negócios locais aumentam significativamente. (Viljoen, 2005)
Em jeito de conclusão, depois de estabelecidos, muito destes projectos tornam-se
sustentáveis, cobrando algumas taxas por formações / cursos e também um valor mínimo por cada
talhão a utilizar, bem como a rentabilização de espaços como cafés, mercados e outros serviços de
valor para a comunidade.
33
CAPÍTULO 2 | AGRICULTURA URBANA
2.1.2 FOOD MILES (A VIAGEM DOS ALIMENTOS)
Ao longo deste capítulo pretende-se analisar os impactos da nossa dependência em
alimentos que viajam milhares de quilómetros e tentar perceber as forças por detrás deste sistema,
bem como o que podemos fazer para tentar mudar este modelo de distribuição de alimentos.
O conceito de food miles faz referência á viagem dos alimentos desde a sua produção até
aos supermercados. Hoje em dia uma loja em Lisboa pode comprar uvas do Chile, feijões-verde do
Quénia e água engarrafada do Canadá. Contudo, estas escolhas não saem baratas pois estão
sempre associadas a variados custos, tanto a nível ambiental, social ou económico. (Viljoen, 2005)
As distâncias que os alimentos viajam, para além de serem ambientalmente prejudiciais,
influenciam também a maneira como os alimentos são cultivados e preservados ao longo do
percurso desde a sua produção até ao cliente final.
Noutro sentido, existe também desvantagens para os produtores, principalmente os
pequenos produtores que tentam competir com o mercado global e também com os consumidores
que cada vez mais consomem alimentos que percorrem longas distâncias, significando que são
menos frescos do que os alimentos produzidos localmente.
Este distanciamento entre o produtor e o consumidor permite que aconteçam mais
descuidos por parte do produtor, fazendo com que o mesmo possa ter uma atitude mais
despreocupada perante a saúde de quem irá consumir os produtos o que mais dificilmente
aconteceria se estes fossem produzidos localmente. Assim, este comércio de longa distância exige
que os produtores cultivem determinados tipos de espécies que resistam às longas distâncias a
percorrer e á sua capacidade de armazenamento. É também necessário que cultivem em enormes
áreas e que estas sejam predominantemente monoculturas, isto para poderem competir com os
agricultores do outro lado do mundo, conseguindo um preço mais baixo. O problema é que estas
monoculturas são mais susceptíveis de contrair pestes e doenças e então os agricultores vêm-se
forçados a entrar num ciclo vicioso de uso de agro-químicos, utilizando grandes quantidades de
pesticidas e herbicidas. (Viljoen, 2005)
Deste modo, os pequenos produtores acabam também lesados, uma vez que, esta
agricultura industrial favorece os grandes produtores por conseguirem produzir em maior
quantidade e assim conseguirem melhores preços de venda para os supermercados e corporações
multinacionais.
O transporte de alimentos tem vindo a aumentar ao longo dos anos verificando-se trocas
internas, dentro do mesmo país, e externas entre países diferentes. Verifica-se também a
importação e exportação do mesmo tipo de produtos quando se poderia consumir mais produtos do
34
próprio país.
Noutro sentido, a nível ambiental um dos problemas significativos que se pode observar, é a
poluição, na medida em que o trajecto percorrido dos alimentos desde a sua origem até aos pontos
de venda é longo, optando-se principalmente pelo transporte aéreo a nível das exportações
internacionais. Além disso, os consumidores optam também por comprar a comida em
hipermercados, que estão habitualmente localizados em zonas exteriores às áreas habitacionais,
destacando-se novamente o gasto de combustível. Consequentemente, estas opções vão reflectir-
se com impacto na poluição atmosférica.
Todavia, a produção agrícola moderna e os mercados globais, expandem cada vez mais as
suas cadeias de abastecimento alimentar por todos os continentes e mares do globo. Por exemplo
nos E.U.A, com apenas 1 / 20 da população mundial, é produzido um quarto das emissões de
gases de efeito estufa mundiais e cerca de 35% das emissões de CO2 dos EUA vêm da indústria,
sendo 33% relativos ao transporte de alimentos. (Viljoen, 2005)
Infelizmente, esta realidade não é só nos E.U.A mas também no resto do mundo ocidental
desenvolvido. Além disso, outro problema associado a estas práticas é o desperdício de grandes
quantidades de plásticos e embalagens que servem para preservar e guardar estes produtos ao
fazerem estas viagens, sendo estimado que 1/3 destas embalagens sirvam só para proteger
alimentos e bebidas. (Viljoen, 2005)
Quando os consumidores compram nos Hipermercados estes alimentos que viajam muitos
quilómetros, só uma parte desse dinheiro fica na economia local através dos ordenados de quem lá
trabalha, mas quando estes são comprados numa loja de comércio local este dinheiro multiplica-se
pois vai ser investido em mais bens e serviços locais. A um nível individual os consumidores podem
escolher por comprar comida local, dentro de época, biológica e de comércio justo.
Outra das opções é plantar em casa ou em hortas urbanas. Assim, localmente podem ser
criadas iniciativas de cultivo nestas hortas comunitárias, partilhando métodos e técnicas de cultivo,
fazendo trocas de alimentos e trocando experiências. Comprar localmente também fortalece os
laços entre o agricultor e o consumidor podendo marcar o início de uma produção mais orgânica,
justa e saudável. Além disso, o cliente pode pedir ao seu vendedor para cultivar certo determinado
tipo de produto que satisfaçam as suas necessidades e também que estes utilizem mais métodos
sustentáveis e biológicos.
Concluindo, não devemos ser contudo radicais, pois existem alguns alimentos que só
fazem sentido se forem cultivados no seu local de origem devido às condições climatéricas aí
existentes, sendo então natural que estes percorram mais food miles.
.
35
CAPÍTULO 2 | AGRICULTURA URBANA
2.1.3 PERMACULTURA E AGRICULTURA BIOLÓGICA
Permacultura diz respeito a respostas sustentáveis para o nosso método de vida. È uma
abordagem e metodologia com fortes fundamentos científicos e éticos e é actualmente
representada na Agenda 21 e nos meios referentes a Sustentabilidade. Neste capítulo pretende-se
esclarecer em que ponto a Permacultura pode ajudar na Agricultura Urbana e também se um
agricultor urbano deve ser também um Permacultor. (Viljoen, 2005)
O nome Permacultura deriva da palavra Permanente e de Cultura, significando á letra
Cultura-Permanente ou seja a capacidade de se conseguir ter um espaço capaz de produzir
continuamente e de maneira consciente e sustentável durante o tempo em que for explorado.
O fundador deste conceito foi o australiano Bill Mollison na década de 1970, onde este tem vindo a
desenvolver o conceito até aos dias de hoje.
“A Permacultura desenvolveu-se num método consciente e sustentável para o design de sistemas
que integram habitação, pessoas, plantas, energia e água com estruturas políticas e financeiras
sustentáveis.” (Hopkins,2000).
Bill Mollison desenvolveu no seu livro “Designer´s Manual,1988” uma lista de princípios em
que a sua principal referência no trabalho com a Permacultura é a Natureza:
1. Trabalhar com a Natureza
2. Toda a Natureza tem um papel no trabalho do espaço, o exemplo das minhocas que
arejam o solo.
3. Despender dum esforço mínimo para um efeito máximo.
4. Aumentar as colheitas através, por exemplo da melhoria dos métodos de cultivo.
5. Os Outputs transformam-se em Inputs.
6. Cada função deve ser suportada por vários elementos.
7. Cada elemento desempenha várias funções.
8. Localização relativa, ou seja, cada elemento deve ser localizada no local mais
benéfico para o sistema inteiro.
É possível distinguir a Permacultura pelo facto de esta se servir da natureza como
referência e também pelas suas raízes ligadas á sustentabilidade.
36
Patrick Whitefield (Whitefield, 1997) descreve os três princípios fundamentais da
Permacultura que consistem em:
- Cuidar da Terra, no sentido de se preservar o planeta;
- Cuidar das Pessoas, no sentido em que a sustentabilidade só deve ser conseguida através
da nossa liberdade e qualidade de vida;
- Comércio justo, no sentido de conhecermos os limites do planeta.
Com efeito, estes princípios estão bastante inter-relacionados com a definição de
sustentabilidade apresentada na cimeira de 1992 no Rio de Janeiro, onde como já se referiu que o
desenvolvimento sustentável deve englobar as necessidades do presente sem comprometer as
necessidades das gerações futuras. Assim, a Permacultura é essencialmente uma abordagem de
como criar sistemas inter-relacionados que sejam capazes de se sustentar mutuamente através da
interconectividade dos elementos que o compõe. Importa salientar que tem também uma forte
componente ética baseada na sustentabilidade e uma base científica em ecologia.
No caso da Agricultura biológica, esta é diferente da Permacultura no sentido em que a
primeira é um método de cultivo e a segunda é uma abordagem á produção, relacionando-se com
o design do espaço e colocando mais enfâse no ciclo energético e na interconectividade entre os
elementos que compõe o local. Um dos pontos fortes da Permacultura reside na simplicidade
utilizada na produção e venda dos produtos, tornando-se estas relacionáveis entre si. Assim, e
devido á diversidade encontrada na Permacultura, esta adequa-se ao sistema de trocas local
permitindo uma maior segurança financeira, o que por sua vez permite uma maior variedade de
culturas e um maior número de experiencias e riscos criativos.
A Permacultura por definição procura gerir recursos, o que é bastante interessante na
prática da A.U pois consegue-se aumentar a sustentabilidade e reduzir os custos desta prática,
tornando-a menos cara do que a agricultura convencional. Desde a recolha da água, a casas de
banho de composto que transformam as fezes humanas em fertilizante, esta lógica de reutilização
está patente nas bases da Permacultura. Outro aspecto importante é a não utilização de
fertilizantes químicos e pesticidas preferindo-se ao invés utilizar meios naturais como uma
policultura ao invés duma monocultura sendo assim menos susceptível ao aparecimento de pestes
e também a inserção de predadores dentro do ecossistema que façam o trabalho por nós,
utilizando assim mais uma vez a natureza como nosso auxiliar. (Viljoen, 2005)
Através deste cultivo biológico foi feito um estudo nos E.U.A onde foi comprovada a
presença duma maior concentração de minerais em comparação com o cultivo convencional, como
63% mais quantidade de cálcio,73% mais ferro,125% mais Potássio e 60% mais zinco.
(Sustain,2001). Assim, podemos concluir que a Permacultura é uma mais-valia no que diz respeito
á agricultura urbana, fazendo-se valer por aspectos positivos e poucos ou quase nenhuns
37
negativos, ao invés dum método de cultivo esta facilmente se torna num método de vida.
F26. Diagrama dos ciclos integrantes na Permacultura.
Alimentação, Abrigo, Energia, Ética, Clima, Água e Solo.
38
CAPÍTULO 2 | AGRICULTURA URBANA
2.2 EXEMPLOS DE HORTAS URBANAS
Definição fornecida pela C.M.L do tipo de hortas existentes na cidade: (C.M.L, 2011)
-Hortas Sociais – Horta urbana de uso individual ou familiar, com a área mínima de 100 m2 e cuja
finalidade é a satisfação de parte das necessidades alimentares do respectivo utilizador, servindo,
desta forma, de complemento ao seu rendimento familiar.
-Hortas de Recreio – Horta urbana de uso individual ou familiar, com a área mínima de 50 m2 e
cuja finalidade é a contribuição para uma melhoria da qualidade de vida, proporcionando ao
respectivo utilizador uma actividade de lazer e o contacto com a natureza
-Parque Hortícola – Conjunto de hortas urbanas integradas numa unidade homogénea e
delimitada. Pode ser constituído por Hortas Sociais e/ou Hortas de Recreio.
Parque Hortícola de Campolide
Estas hortas localizam-se em terrenos do domínio privado municipal, definidas também no
Regulamento do PDM de Lisboa como Áreas Verdes de Produção e Áreas Verdes de Recreio.
“O Parque Hortícola, criado de raiz como forma de incentivar a agricultura urbana, reconhecendo as
vantagens e benefícios que lhe são inerentes, quer a nível do equilíbrio ecológico do território quer da
estabilidade sócio-económica de quem a pratica, é composto
exclusivamente por Hortas de Recreio”. (C.M.L, 2011)
F27,28,29. Fotografias do parque hortícola de Campolide ainda em fase de construção.
39
Parque Hortícola da Quinta da Granja, Benfica
Estas hortas localizam-se em terrenos do domínio privado municipal, definidas também no
Regulamento do PDM de Lisboa como Áreas Verdes de Produção e Áreas Verdes de Recreio.
O Parque Hortícola da Quinta da Granja, resulta da reconversão de áreas de ocupação agrícola já
existentes, e é composto exclusivamente por Hortas Sociais.
Este parque é composto por 38 talhões com cerca de 150 m2, sendo que 23 talhões já
foram atribuídos a quem já cultivava o espaço há vários anos. O custo de utilização destas hortas é
de cerca 55 euros anuais e permite a utilização de tomadas de água bem como de casas de
arrumos.
F30,31,32. Fotografias do parque hortícola da Quinta da Granja em Benfica. Nesta fase os talhões já se encontravam
atribuídos.
Hortas não Planeadas
Estas hortas são de cariz diferente, devido ao facto de se encontrarem em espaços sem
planeamento prévio. Assim, muitas destas hortas aparecem nas bermas de estradas e em terrenos
desocupados sem classificação aparente.
O principal objectivo destas hortas é o sustento devido a estas serem ocupadas
principalmente por pessoas de classe social baixa, de onde vem buscar grande parte da sua
alimentação.
Encontramos em Lisboa o maior exemplo deste tipo de hortas, mais especificamente ao
longo do Vale de Chelas, onde centenas de utilizadores cultivam aqui os seus alimentos.Com efeito,
a câmara municipal de Lisboa, á imagem do que já fez na quinta da granja, irá transformar esta
paisagem no maior parque hortícola do país, criando cerca de 400 talhões, bem como as estruturas
de apoio dos mesmos.
40
F33,34. Vista aérea e fotografia do panorama actual de hortas urbanas no Vale de Chelas.
F35,36,37. Fotografias de hortas ao longo da CRIL em Lisboa.
41
Horta de Recreio e Lazer
No verão de 2011 no Aeroporto de Tempelhof em Berlim, existiram umas hortas de recreio
e lazer.
Este Aeroporto deixou de funcionar em 2008 e desde então que tem funcionado com um
gigantesco parque dentro da cidade.
Assim, o conceito deste tipo de horta, funciona essencialmente só de verão ou quando o
clima o permite e consiste na construção de canteiros em madeira e de outros materiais recicláveis.
Aqui, acontecem workshops sobre a construção destes canteiros, de cultivo biológico e ainda de
técnicas de compostagem.
F38,39,40. Fotografias de hortas no aeroporto de Tempelhof em Berlim, Alemanha
42
CAPÍTULO 03
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL
3.1 DEFINIÇÃO E CONCEITO
A arquitectura sustentável insere-se no contexto de desenvolvimento sustentável, e por
definição arquitectura sustentável consiste numa noção projectual que tem por base a envolvente
climatérica, ambiental e recursos de uma determinada região. Este conceito de construção
sustentável remonta ao tempo da antiguidade clássica onde já existiam referências entre a relação
do meio natural com o artificial, mas foi o arquitecto Vitruvio no séc. I a.C. que escreveu o Tratado
de Arquitectura fazendo referência a temas como a localização, orientação e iluminação natural dos
edifícios, sendo esta uma das primeiras referencias bibliográficas de que há registo sobre o tema
da sustentabilidade ou arquitectura consciente. Como era suposto de uma maneira lógica e
evolutiva, este tema da construção sustentável deveria ter sido desenvolvido até aos dias de hoje
mas foi esquecido e colocado de parte. (Marques:2008)
A intensificação desta ruptura com o meio natural deu-se na altura da revolução industrial
quando foi preciso desenvolver-se rapidamente as cidades devido ao êxodo rural e ao elevado
fluxo migratório em direcção das cidades. Com o Modernismo, o triunfo da Industrialização e da
Sociedade de Consumo (Baudrillard:1997) assistimos ao crescente consumo de recursos escassos
e à consequente libertação de CO2 resultando num processo de aquecimento global (Gama & Braz
& Lanham:2004):
“As emissões em massa deste gás, resultantes essencialmente da queima de combustíveis
fósseis quer nas centrais termoeléctricas para produção de energia eléctrica, quer nos meios de
transporte, são uma carga para o ciclo do carbono. Como consequência o CO2 acumula-se na at-
mosfera, contribuindo assim para a retenção da radiação solar na Terra e consequentemente para
o seu aquecimento global.”
43
F41, Diagrama do ciclo do carbono
Todavia, com a Conferência do Rio Janeiro em 1992, foi enfatizado a necessidade do
aumento de oportunidades para as gerações futuras através duma arquitectura e construção
sustentável direccionada para a relação simbiótica com o planeta: “ A forma como as estruturas
construídas são obtidas e erigidas, usadas e operadas, mantidas e reparadas, modernizadas e
reabilitadas, e finalmente desmanteladas ou demolidas, constituem o ciclo completo das
actividades construtivas sustentáveis “. Assim, a resultante desta conferência, um conjunto de
sinergias a nível mundial convergiram na assinatura Protocolo de Quioto, que visava a diminuição
de emissões de CO2 no sector dos transportes e da construção. Por outro lado, segundo dados da
Comissão Europeia 50% das matérias primas são utilizadas na construção e 40% da energia anual
é despendida no edificado. Esta realidade concorre para a emergência de novas directrizes
Europeias, nomeadamente com o financiamento, através do EDEC e QREN, dos programa URBAN
e URBAN II, determinando a ascensão de um conjunto de metas políticas europeias basilares dos
Estados Membros. Deste modo, numa perspectiva técnica, a sustentabilidade na construção passa
por três medidas essenciais, ou seja, em primeiro lugar a eficiência energética e independência de
sistema de climatização artificial; em segundo lugar recurso a energias renováveis, e finalmente,
utilização de matéria prima local e, sempre que possível,passível de reutilização (Gama & Braz &
Lanham:2004).
44
Sendo assim, tendo as suas raízes no empirismo das regras de boa arte dos nossos materi-
ais utilizados, predominantemente materiais locais, o que permitia uma diversificação e uma explo-
ração limitada de cada tipo de material
. Em jeito de conclusão, o intervalo compreendido no ciclo de vida da construção está entre a
concepção da obra até à sua desactivação, isto é, entendo ciclo de construção em função da fase
de demolição. Para classificar os impactos da construção civil existe dois tipos de abordagens: fase
de produção e utilização da construção. (Sattler:2003)
Finalmente, a inclusão de espaços verdes são fundamentais na promoção do conforto urba-
no e da qualidade de vida das populações, já que, estimulam os sentidos humanos e garantem a
captação de CO2 nos meios urbanos (Costa:2005). Tendo em conta, a impermeabilização do solo
urbano, os espaços verdes contribuem para o aumento de espaços de lazer, ócio e cultivo, melho-
rando no particular os sistemas de drenagem e, no geral, a preservação da Estrutura Ecológica
Fundamental (CML:2009) da cidade de Lisboa
45
CAPÍTULO 3 | ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL
3.2 A MADEIRA COMO MATERIAL SUSTENTÁVEL
Desde tempos imemoriais que o homem utiliza matérias–primas facilmente disponíveis na na-
tureza como a terra, a madeira, a palha, a cal, a pedra, as fibras vegetais entre outros.
A utilização destas matérias tem a conveniência de serem naturais e portanto não prejudicarem o
ecossistema.
Ao longo do tempo, e durante o processo de desenvolvimento das matérias-primas chegou-se
a materiais e métodos de construção que optimizavam certas características dos materiais ances-
trais, assim muitos destes materiais foram sendo substituídos pelos novos…como o alumínio, o
betão, o aço entre outros.
O problema associado á utilização destes “novos” materiais reside no factor ambiental pois dife-
rem dos materiais ancestrais na medida em que são de difícil reutilização, transformam em muito
as paisagens donde são extraídos, e são poluentes.
A Madeira é portanto um material orgânico, sólido e de composição complexa, onde predomi-
nam as fibras de celulose e hemicelulose unidas por lenhina, sendo um material abundante e tradi-
cionalmente utilizado na construção e onde as suas técnicas de construção já se encontram bas-
tante desenvolvidas.
A extracção deste material deverá ser feito em florestas de abate sustentável, devido ao facto
de estas se encontrarem em produção cíclica e por isso o abate ser feito de forma controlada.
Finalmente, os pressupostos explícitos no conceito de Arquitectura Sustentável, demonstram
que a madeira é um material bastante adequado, já que é o que liberta menos Co2, durante a sua
transformação para material de construção.
46
CAPÍTULO 3 | ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL
3.3 EXEMPLOS DE ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL EM MADEIRA
Orquideorama, Medellin, 2006
F42,43 e 44. Fotografias do Projecto Orquideorama situado em Medellin, Colõmbia.
O projecto Orquideorama consiste na noção de que o artificial e o natural são indissociáveis,
assumindo como unidade a organização espacial do local. A sua geometria flexível permite criar um
módulo em planta ao qual os autores do projecto designaram de “ flor-aboral” composto por 7
hexágonos que garantem a expansão do projecto e ainda, a organização programática e
geométrica do espaço.
Folding bamboo Houses, world, 2011
F45,46 e 47. Fotografias do Projecto Folding Bamboo Houses, situado em Chian, China
Este projecto de arquitectura efémera, inspirado na geometria e trabalhos de Frei Otto, são
abrigos desenvolvidos após o terramoto em Chian, de modo a corresponder a dezenas de pessoas
desalojadas de suas casas. Assim, foi necessário alojar 1,5 milhões de habitantes
47
temporariamente, programa que durou 3 anos.
Deste modo, os autores desenvolveram uma estrutura sintética, desdobrável e capaz de se
organizar espacialmente em diferentes contextos. Os materiais utilizados são o bamboo e o papel
de parede.
Going over the edge, Zapallar, 2002
F48,49 e 50. Fotografias do Projecto Going over the edge em Zapallar, Chile
Neste projecto os arquitectos escolheram materiais nobres tais como a madeira e conjugaram
com materiais modernistas, tais como o betão, o que garantiu uma estrutura suspensa e
balanceada sobre a paisagem. Assim, temos um espaço de convívio/miradouro que interage com o
ambiente natural, surgindo um espaço habitável e protegido. Os pinheiros locais foram utilizados na
concepção da estrutura proposta, tendo algumas das vigas 7,5 metros de comprimento.
48
CAPÍTULO 04
CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROPOSTA
4.1 ESTRUTURA ECOLÓGICA FUNDAMENTAL
A Estrutura Ecológica Municipal (EEM) é uma estrutura espacial da paisagem que integra
as áreas e sistemas que, pelas suas características intrínsecas, ou pelo facto de constituírem o
suporte físico de processos ecológicos, são fundamentais à sustentabilidade do território e das
populações que dele dependem. (C.M.Almada)
A EEM tem um papel determinante no estabelecimento de princípios de estruturação e
organização do território metropolitano. É constituída pela Estrutura Ecológica Fundamental
(EEF) e a Estrutura Ecológica Integrada (EEI). Integra o Sistema de Vistas, o Património
Natural e Paisagístico e um Sistema de Retenção e Infiltração de Águas Pluviais.
Estrutura Ecológica Fundamental
A Estrutura Ecológica Fundamental (EEF) define uma estratégia de valorização e salvaguarda
dos sistemas naturais fundamentais, os quais, em articulação com a rede ecológica definida à
escala metropolitana, estabelecem as matrizes do sistema de corredores estruturantes, do
sistema húmido e do sistema de transição fluvial-estuarino.
Articulada através das redes de mobilidade e acessibilidade suave, esta estrutura promove a
continuidade dos sistemas naturais no território urbano, assegura as funções dos sistemas
biológicos, o controlo dos escoamentos hídricos e atmosféricos e o conforto bioclimático assim
como os diversos usos.
49
CAPÍTULO 4 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROPOSTA
4.1.1 CORREDORES ECOLÓGICOS E ESTRUTURANTES
"Continuum Naturale", um sistema contínuo (corredor) de ocorrências naturais que permitem o
funcionamento e desenvolvimento dos ecossistemas e a permanência do potencial genético (biodiversidade).
Gonçalo Ribeiro Telles, Plano Verde
O sistema de corredores estruturantes assegura a continuidade da estrutura ecológica a
uma escala metropolitana e integra áreas públicas e privadas consolidadas ou a consolidar que
estabelecem as ligações existentes e definem reservas para as ligações a promover no âmbito de
projectos ou planos. (P.D.M Lisboa 2009)
Este sistema é complementar a uma rede de mobilidade suave principal que estabelece
relações de continuidade territorial. Num primeiro nível, entre as várias unidades que formamos
corredores estruturantes, num segundo, entre os vários corredores, e num terceiro, através da
continuidade no território metropolitano, constituindo oportunidades para múltiplas funções e usos
urbanos. De acordo com os pressupostos anunciados deve ser garantida a continuidade física dos
corredores e a sua concretização deve ser efectuada na totalidade e não de forma parcial (P.D.M
Lisboa 2009)
Os corredores verdes integrados na estrutura ecológica da cidade, constituem elementos
que estabelecem a ligação entre as áreas integradas nos sistemas húmidos interiores e no sistema
seco. (Telles, 2001)
Deste modo, pretende-se garantir a continuidade entre os sistemas ecológicos, através de
hortas urbanas, neste caso será apenas desenvolvido um exemplo com a intenção de futuramente
ser conectado ao corredor verde oriental e futuro parque agrícola de chelas.
50
F51. Mapa dos sistemas de corredores verdes da cidade de Lisboa
51
CAPÍTULO 4 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROPOSTA
4.1.2 ESPAÇOS VERDES DE RECREIO E/OU PRODUÇÃO
A escolha do local de intervenção foi feita através da análise do P.D.M de Lisboa,
identificando áreas classificadas para uso de recreio e/ou produção. Depois desta caracterização,
identificou-se, ainda, as que se localizavam em áreas de cidade consolidada, e por fim o declive de
cada uma deles e a proximidade e possível futura ligação com os corredores verdes.
F52. Mapa dos espaços caracterizados como verdes de recreio e/ou produção no P.D.M de Lisboa, bem como
o declive de cada.
52
No mapa anterior encontramos representado a cor, as zonas de Lisboa que estão previstas no
P.D.M para espaços verdes de recreio e/ou produção, e ainda o declive de cada uma destas, sendo
classificado por inclinações reduzidas, médias e elevadas.
A tracejado encontramos delimitado o local de intervenção.
53
CAPÍTULO 4 | CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROPOSTA
4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE INTERVENÇÃO
Dentro da cidade consolidada encontramos espaços que pelas suas características se
encontram vazios, abandonados e obsoletos, muitos destes espaços encontram-se em zonas onde
não é possível a sua edificação seja por razões ecológicas, patrimoniais e/ou de propriedade.
Perante esta realidade, é necessário a definição de novas funções e de desenho da paisagem,
tornando estes espaços importantes na definição e implantação de uma estrutura ecológica com
características urbanas.
A intervenção nestes locais pode ter variadas formas, desde um espaço com aspecto bas-
tante natural a um outro mais artificializado, composto pela rua arborizada. Entre estes dois tipos
de intervenção encontramos variações como o espaço público verde e o espaço agrícola, onde se
pode percorrer a pé, de bicicleta ou de carro, dependendo das tipologias. Finalmente, nestes espa-
ços, como no local de intervenção, as funções sociais e de vivência pública interagem com as fun-
ções ecológicas, numa relação benéfica e positiva para o desenvolvimento sustentável da cidade.
O local de intervenção fica localizado num interior de quarteirão junto á Alameda e pertence
á junta de freguesia de S.João de Lisboa.
Com efeito, é delimitado pelas seguintes ruas:
- A Norte; Alameda D.Afonso Henriques
- A Este; Rua Barão de Sabrosa
- A Sul; Rua dos Baldaques
- A Oeste; Rua Actor Vale
54
F53. Ortofotomapa do local de intervenção, representado a cor.
Este terreno tem a particularidade de ter um declive bastante acentuado e de por isso não ser
ocupado, exceptuando a parte superior por esta ser mais plana. Esta ocupação é feita através de
anexos nas traseiras dos prédios da Rua Barão de Sabrosa e é composta essencialmente por ser-
viços, como um armazém de andaimes, alguns stands de automóveis e outras lojas de dimensão
menor.
Pretende-se que estes anexos sejam recolocados noutra parte da cidade, deixando o logra-
douro vago para a intervenção proposta neste trabalho.
Em resumo, este local pode ser considerado como um vazio urbano, com forte potencial de
regeneração urbana devido ao excelente sistema de vistas que dispõe e da sua localização dentro
da cidade consolidada.
F54. Fotomontagem panorâmica do local de intervenção, demonstrando o sistema de vistas existente, bem como o
declive do terreno.
55
Terrain Vague (Solà-Morales, 1995) e Vazios Urbanos são os espaços obsoletos abandona-
dos e vazios das nossas cidades. Estas paisagens são geralmente, imprecisas, incertas, confusas
e indeterminadas.
A falta de uso e actividades nestes espaços afasta-se da interacção com o crescimento e
desenvolvimento da cidade, tornando-se em espaços vazios e espaços de “não – cidade”. Por ou-
tro lado, permitem também que estas paisagens se transformem num objecto da imaginação colec-
tiva, devido a serem um espaço com inúmeras possibilidades de utilização e interacção.
Os Terrain Vague têm a capacidade de nos fazer sentir fora da nossa cidade, como se fos-
semos estrangeiros dentro da mesma. Isto acontece geralmente quando encontramos espaços
dentro do urbano que não são dominados pela arquitectura e que nos fazem sentir a nossa insegu-
rança e os nossos receios, mas que ao mesmo tempo vemos reflectidos os nossos sonhos, as
nossas ambições e as nossas utopias devido ao facto de estes espaços serem expectantes como
que á espera de intervenção arquitectónica para os inserir dentro do contexto da cidade e ao servi-
ço das pessoas. (Solà-Morales, 1995)
O entusiasmo por estes vazios urbanos, é uma resposta da nossa estranheza perante o
mundo, a cidade e nós mesmos. Perante esta situação o papel do arquitecto é problemático, pois
desde sempre que a arquitectura está associada á imposição de limites, á forma, á tentativa de
transformar as coisas estranhas em familiares e portanto universais dentro dos nossos parâmetros
comuns. Assim, ao intervir num vazio urbano a intervenção quase sempre será radical pois o antigo
vazio e desconexo terá certamente um imagem mais familiar, conexa e reconhecível dentro do sis-
tema da cidade, afastando-se duma imagem mais incerta e imprecisa.
Será então possível intervir nestes locais sem intervir de maneira abstracta, agressiva e des-
provida de qualquer ligação ao espaço em questão? Pretende-se que a resposta resida numa
abordagem de continuidade, não necessariamente numa continuidade arquitectónica ou urbanísti-
ca mas essencialmente numa continuidade em termos de ritmos, energias e movimentos que o
local foi adquirindo ao longo do tempo em que se foi desconectando com o tecido urbano. (Solà-
Morales, 1995)
Por todas estas razões, tanto na cidade do presente como do futuro, estes vazios urbanos
adquirem a expressão de territórios de transformação e revitalização urbana, com forte responsabi-
lidade de como se irão adaptar e dar continuidade morfológica com o resto da cidade consolidada.
56
F55. Vista aérea do local de intervenção, um vazio urbano.
“Vazio urbano é uma expressão com alguma ambiguidade: até porque a terra pode não estar literalmente
vazia mas encontrar-se simplesmente desvalorizada com potencialidade de reutilização para outros destinos,
mais ou menos cheios... No sentido mais geral denota áreas encravadas na cidade consolidada, podendo
fazer esquecer outros “vazios”, menos valorizáveis, os das periferias incompletas ou fragmentadas, cujo
aproveitamento poderá ser decisivo para reurbanizar ou revitalizar essa cidade-outra”
Nuno Portas, “ Do Vazio ao Cheio
57
Sendo a intervenção neste espaço, essencialmente de cariz agrícola, analisou-se o terreno e
verificou-se a presença de algumas hortas. Além disso, foi também feita uma pesquisa a nível dos
solos, verificando-se que estes são essencialmente arenosos, o que indica uma maior facilidade de
modelação do terreno, bem como um solo que em conjunto com boas práticas de compostagem
ser favorável para a prática agrícola.
F56. Fotografia do local de intervenção, presença de hortas.
58
CAPÍTULO05
PROPOSTA
F57. Ortofotomapa e mapa de estrutura proposto, Rede Cultural,Científica e
Pedagógica (1-Técnico; 2-Alameda;3-Escola de Artes; 4-Mercado de Arroios)
Como já foi referido, o objectivo deste trabalho consiste na criação de um espaço exemplar
que funcione como um modelo desenvolvimento urbano sustentável, englobando vários temas
actuais como a coesão e inserção social, alimentação, educação, sustentabilidade, regeneração
urbana e economia.
Como tal e após várias reflexões cheguei á conclusão de que reutilizando e requalificando o
espaço em questão através de hortas urbanas/comunitárias era possível resolver grande parte dos
59
problemas no local em questão e regenerar esta parte de Lisboa incentivando a um
desenvolvimento e crescimento sustentável.
Como tal o programa existente neste projecto passaria pela incorporação de :
F58. Canteiros do Pomar
- Pomar no patamar superior para permitir sombreamento no verão e produzir fruta de época, bem
como servir como um local de lazer e de observação e aprendizagem sobre os ciclos existentes na
natureza. Exploração a cargo do laboratório.
F59. Mercado
- Mercado biológico com várias bancas que se vão distribuindo por entre o pomar e onde é vendido
todo o tipo de produtos biológicos bem como alguns produtos cultivados nas hortas. Algumas
destas bancas poderão ser eventualmente transformadas em lojas que se insiram no contexto
Ambiental.
60
F60. Lazer
-Espaço de lazer com um parque infantil e estruturas de apoio para a prática de desporto de manu-tenção, bem como convívio e ócio.
F61. Restaurante
-Restaurante panorâmico com o conceito de elaborar pratos que sejam provenientes do cultivo
biológico existente nas hortas.
F62.Laboratório
-Laboratório de Agricultura Urbana e Interpretação Ambiental, onde se pretende desenvolver
61
estudos e novos métodos de inovação e rentabilização da agricultura urbana, sendo composto por
uma interdisciplinaridade entre biólogos, arquitectos/paisagistas, agricultores, engenheiro e
disciplinas que beneficiem o desenvolvimento da agricultura urbana.
F63.Passadiços
-Passadiços em madeira com recolha de águas pluviais, circulação transversal de acesso aos
diferentes programas
F64.Estufa
-Estufa de plantas aromáticas e medicinais para incentivar o cultivo em casa (varandas, terraços,
quintais…) e ensinar sobre as propriedades medicinais das plantas e do quanto se consegue
beneficiar através destes medicamentos gratuitos da natureza.
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F65.Depósitos de água
-Depósitos de água, sendo a recolha das águas pluviais feita através de gravidade.
Estes depósitos são elaborados a partir da reutilização de depósitos de 1000L
F66.Módulos de compostagem
- Caixas de compostagem comunitárias, distribuídas por cada piso, cada agricultor trazem os seus
desperdícios orgânicos não cozinhados para fazer composto de boa qualidade.
F67.Anfiteatro
-Anfiteatro e miradouro, com programação de palestras, concertos, teatro e projecções ao ar livre.
63
F68.Talhões de cultivo
-Talhões com dimensões entre 100 e 50m2, atribuídos consoante a proximidade ao local de cultivo,
número de pessoas no agregado familiar e rendimento mensal. O utilizador fica encarregado de
pagar uma quota anual para a utilização e manutenção do local
F69.Hortas pedagógicas e sociais
-Horta pedagógica, anexada á escola primária inserida no patamar inferior, pretende-se que desde
cedo as crianças entrem em contacto com a terra e aprendam a cultivar alimentos.
Horta de inserção social, também inserida no patamar inferior onde se pretende ajudar pessoas
com dificuldades de aprendizagem, deficientes e idosos sem ocupação.
64
F70.Agricultura Vertical
-Módulos de agricultura e cultivo vertical, como modo de rentabilização do espaço bem como
método de criar ritmo ao longo do projecto.
F71.Módulos de arrumos
-Módulos de arrumos e apoio aos utilizadores das hortas. Arrumos individuais.
65
CAPÍTULO06
CONCLUSÕES
Desde a Industrialização que diversos arquitectos reflectiram quanto às questões e vicissitude resultantes do novo paradigma económico, social e urbano emergente. Essa reflexão levou á produção de uma nova organização das cidades e da noção de comunidade. Por outro lado, o desenho e entendimento de paisagem seriam encaminhados para o conceito de unidade associado às funções urbanas e rurais. Esses conceitos desenvolveram até a nossa actualidade, nomeadamente, a integração de estratégias relacionadas com o desenvolvimento urbano sustentável, que equilibram os cenários de desenvolvimento ambiental, social e económico, e tem sido a principal referencia das politicas de ordenamento, tanto a nível europeu como nacional. Junta a estas variáveis, a cidade compactada/ tradicional converteu-se num modelo de cidade expansiva e com um modelo policêntrico. Em consequência, as zonas históricas tornaram-se desqualificadas e não geram valor económico, social e cultural, logo é sobre esta oportunidade de qualificação e regeneração que este trabalho se debruça tendo em vista as novas noções de sustentabilidade urbana e arquitectónica. Sendo assim, a proposta desenvolve-se num espaço desqualificado e surge como uma oportunidade para promover o rejuvenescimento social e económico e ainda, desenvolver a noção de comunidade que se diluiu com as novas formas de sociabilidade. Noutro ponto de vista, recuperando a noção de equilíbrio entre o urbano e o natural, ou seja, enquanto forma de reconhecer e se consciencializar dos ciclos da natureza. Deste modo, a nível económico, as hortas urbanas são uma oportunidade de gerar comércio local, lazer, espaços de restauração associados á agricultura biológica local, eventos, palestras e finalmente um miradouro que se abre sobre uma cidade de colinas e com uma dimensão telúrica. Todavia, o fundamental da proposta é a abordagem e metodologia que dão resposta aos desafios científicos, políticos e éticos explicados desde a Agenda XXI. A Permacultura por exemplo, corrobora os princípios da Agenda, sendo essencialmente uma abordagem de como criar sistemas inter-relacionados que sejam capazes de se sustentar mutuamente através da inter-conectividade dos elementos que o compõem. Importa salientar que tem também uma forte componente ética baseada na sustentabilidade e uma base científica em ecologia. Por outro lado, tendo em vista o consumo de energia e recursos escassos na natureza, a utilização da madeira, material abundante e reciclável, corrobora os princípios do desenvolvimento sustentável, já que a sua transformação requer o consumo de pouca energia. Em defesa deste princípio, propôs-se um espaço de carácter simbólico que consiste numa clareira de árvores de abate sustentável e controlado que serve de manutenção a algumas estruturas propostas no projecto, por exemplo o abate de uma árvore para a substituição de postes. Esta preocupação é acompanhada pela recolha das águas e pela compostagem de resíduos orgânicos, bem como a instalação de painéis fotovoltaicos, em vista o desenvolvimento pedagógico da comunidade, e, simultaneamente o desenvolvimento com um laboratório de agricultura experimental associado ao Instituto Superior técnico bem com ao Instituto Superior de Agronomia. Em suma, criar uma Rede Científica e Pedagógica. Concluindo, algumas questões ficam em aberto para o futuro. Em primeiro lugar, o Modelo de Interacção Social gerado pela regeneração urbana do espaço e tecido urbano será passível de se expandir a zonar urbanas com o mesmo tipo de variáveis em causa? Por outras palavras, no Plano
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de Estrutura proponho ligar a horta urbana ao novo parque agrícola a nascer em Chelas, e ainda a dois terrenos com o mesmo tipo de classificação e topografia acidentada, associando-se ao Mercado de arroios, á escola de artes António Arroios, á escola primária e ao Instituto superior Técnico. Esta questão expansionista fica em aberto… Finalmente, a segunda questão prende-se com a flexibilidade do espaço urbano, isto é, até que ponto lidamos com a noção de projecto inacabado, ou seja, os actores sociais dão sentido e terminam a obra do arquitecto. Logo, questão central, se as práticas sociais variam consoante as épocas, será que o espaço suporta e tem a capacidade de suportar outros usos e programas? .Este trabalho não foi escrito segundo o acordo ortográfico .Número de palavras 16763
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