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II
PROGRAMA
Proposta de programa de treino de
competências de vida para pessoas
sem-abrigo.
Autores: Patrícia Bacelar e Sibila Marques
patricia.ahbacelar@gmail.com
Grafismo: Ruben Lopes
Dezembro de 2014
III
Trabalho de projeto submetido como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Psicologia Comunitária e Proteção de Menores, no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
O “Programa YES- Proposta de programa de treino de competências de vida para pessoas
sem-abrigo” recebeu a 15 de Dezembro de 2015 o Prémio Silva Leal.
IV
“I can give you nothing that has not already its origins within yourself I can throw open no picture
gallery but your own I can help make your own world visible- that is all.”
Hermann Hesse
V
Agradecimentos
Trilhar este caminho foi (re)descobrir em mim, o que me move, o que me motiva, o que me faz
feliz. É sentir-me preenchida por perceber que não o fiz só. Que tenho o privilégio de caminhar com
pessoas que me suportam, orientam e motivam para ser mais e melhor. E sinto-me tão grata.
Grata por vocês meus amigos e família (a biológica e a do coração). Grata por todos os meus
colegas, professores e alunos.
Grata por ter escolhido o ISCTE-UL para reforçar a minha formação. Grata Professora Maria
Manuela Calheiros pela partilha e inspiração e todos os professores que me acompanharam neste
processo. Grata Professora Sibila. Pela motivação, pelas palavras, por me fazer pensar mais, agir
mais. A sua presença e o seu conhecimento foram essenciais.
Grata pela forma como fui acolhida pelo Exército de Salvação. A todos os funcionários do CAX,
pelo acolhimento e ajuda neste processo, muito obrigada.
Grata por ter partilhado histórias e conversas com os residentes do CAX! Obrigada pela vossa
ajuda e por me tornarem mais pessoa!
Grata a ti minha Rita (colega, amiga e afilhada), por esta vida de contrastes. Por me apresentares
a este mundo e por caminhares comigo, lado a lado, nesta fase e em todas as outras. Andrea és uma
inspiração e, mais uma vez, mostraste o teu altruísmo, na supervisão e na amizade. Obrigada
Patrícia Ramos pelas gargalhadas e pelo “coaching”.
Banga! És a minha parceira, companheira, amiga e irmã! Trago-te em mim, todos os dias! Sil é
um orgulho ter-te como minha amiga, és grande e uma inspiração. Obrigada pelo apoio e pela ajuda.
Andreia obrigada por estares sempre presente e por partilhares comigo mais esta etapa!
Grata por vos ter conhecido Filipa C., Filipa G., Mariana e Daniela, o vosso apoio foi essencial.
Obrigado Juca e Joana pelas partilhas! Obrigado Ruben pela tua amizade e pelo desenho do logotipo
do Programa Yes! Rui o gene que nos une é o amor! Obrigada pelo apoio, pelas conversas, por
fazeres parte.
Octávio “no te li nos dos é um so”… sempre perto! Para sempre perto! Grata pelo teu amor,
dedicação e apoio!
Tomás, meu PaiDrasto. Não poderei numa vida expressar o que sinto. Obrigada pela presença,
pela dedicação. Por me mostrar todos os dias que família é quem cuida. E a melhor família é a do
coração.
Mãe obrigada por definires o teu papel na minha vida “eu estou sempre lá para ela,
independentemente de tudo”. E estás. E estás sempre tão bem, mesmo quando eu não consigo
reconhecer. Amo-te. Obrigada por mais esta oportunidade.
Simplesmente grata.
VI
Resumo
Por pessoa sem-abrigo considera-se qualquer individuo que independentemente das suas
características individuais, motivações ou causas para a condição, se encontra numa situação
habitacional inadequada ou inexistente. Não obstante, da literatura emergem várias caracterizações
que sugerem que estar sem-abrigo vai para além das questões habitacionais, remetendo-nos para a
pobreza, dificuldade ou ausência de recursos para suprimir necessidades básicas, ausência de
suporte social e problemas de saúde mental e de consumos de substâncias.
Os modelos de intervenção assentam essencialmente no princípio de supressão das
necessidades básicas individuais. Contudo, uma abordagem situada numa visão multidimensional
das problemáticas da pessoa sem-abrigo permite intervir em fatores estruturais e individuais
relacionadas com a problemática dos sem-abrigo.
O presente trabalho procura responder às exigências da problemática definida e objetiva o
desenho de uma proposta de programa de competências de vida para pessoas sem-abrigo
O Programa YES- Your Empowerment Skills deriva de um modelo teórico de processo, que
orienta a intervenção, focada num diagnóstico de necessidades. O Programa YES visa aumentar a
perceção de autoeficácia e a autoestima e, a identificação social positiva com o grupo de intervenção,
em pessoas sem-abrigo. É objetivo último fomentar uma integração social, da pessoa sem-abrigo, de
forma eficaz e sem reincidência.
Palavras-chaves: Programas de intervenção comunitária; Treino de competências, Pessoas sem-
abrigo; Empowerment; Identidade Social.
Classificação da American Psychological Association (APA):
3020 – Grupos e Processos interpessoais
3373 – Comunidade e Serviços Sociais
VII
Abstract
The literature describes the homeless as individuals who are in an inadequate situation regarding
housing or when a home is inexistent (e.g., referência). This condition is usually attributed to these
individuals regardless their personal characteristics, motivations or causes to presently being at a
homeless situation. Nevertheless, some scholars stress the idea that being homeless is beyond
housing conditions, being in fact also related to poverty, lack of resources to respond to basic needs,
lack of social support, as well as mental health issues and substances abuse (e.g., referência).
Currently, the intervention models available focus mainly on responding to basic individual needs.
However, a multidimensional approach to the homeless’ problems allows a more complete
intervention on the structural and individual factors of this problem.
This dissertation aims to answer these challenges by proposing an intervention program focusing
on life skills of homeless people.
YES –Your Empowerment Skills Program is based on a theoretical process model and focuses its
intervention on specific needs previously diagnosed. YES Program aims to increase the homeless’
perception of self-efficacy and self-esteem, as well as their positive social identification with the
intervention team. Its final goal is to enhance the social integration of homeless individuals in an
effective way, to prevent relapses.
Keys-words: programs of community intervention; life skills training; homeless; empowerment; social
identity.
APA Classification categories and codes:
3020 Group & Interpersonal Processes
3373 Community & Social Services
VIII
Índice
Introdução ...................................................................................................................................................... 1
I. Definição do Problema ............................................................................................................................... 3
II. Enquadramento Teórico ............................................................................................................................ 5
2.1. Conceito, extensão e prevalência do fenómeno de sem-abrigo ............................................................ 5
2.2. Principais problemas da pessoa sem-abrigo ......................................................................................... 8
2.3. Intervenção com Pessoas Sem-abrigo ................................................................................................ 10
2.4. Definição de conceitos ......................................................................................................................... 13
2.4.1. Variável resultado a longo prazo - Integração Social ........................................................................ 13
2.4.2. Variáveis resultado a curto prazo. ..................................................................................................... 14
2.4.2.1. Perceção de autoeficácia. .............................................................................................................. 14
2.4.2.2. Autoestima. ..................................................................................................................................... 16
2.4.2.3. Identificação Social positiva com o grupo de intervenção. ............................................................ 17
2.4.3. Variáveis Independentes. .................................................................................................................. 18
2.4.3.1. Treino de Competências de Vida. .................................................................................................. 18
2.4.3.2. Identificação Social com o Grupo de Intervenção. ......................................................................... 20
2.4.4. Variáveis Moderadoras: consumos de substâncias e problemas de saúde mental. ........................ 22
2.4.5. Variável Mediadora: Empowerment. ................................................................................................. 22
2.5. Modelo Teórico de Processo ................................................................................................................ 24
2.6. Objetivos ............................................................................................................................................... 25
2.7. Hipóteses .............................................................................................................................................. 25
III. Diagnóstico de necessidades ................................................................................................................. 27
3.1. Enquadramento .................................................................................................................................... 27
3.2. Método ................................................................................................................................................. 28
3.2.1.Entrevistas a atores chave. ................................................................................................................ 28
3.2.1.1. Amostra. ......................................................................................................................................... 29
3.2.1.2. Instrumento. .................................................................................................................................... 29
3.2.1.3. Procedimento. ................................................................................................................................ 30
3.2.2. Questionário de Competências de Vida. ........................................................................................... 30
3.2.2.1. Amostra. ......................................................................................................................................... 31
3.2.2.2.Instrumento. ..................................................................................................................................... 32
3.2.2.2.1. Escala Portuguesa de Empowerment. ........................................................................................ 32
3.2.2.2.2. Escala descritiva de Impacto do Quality of Life for Homeless and Hard-to-House Individuals. . 33
3.2.2.2.3. O Questionário de Competências Intrapessoais, Interpessoais e Profissionais ........................ 34
3.2.2.2.4. Escala de Autoeficácia Geral ...................................................................................................... 34
3.2.2.2.5. Medida de identificação grupal. ................................................................................................... 35
3.2.2.2.6. Caracterização da situação atual. ............................................................................................... 35
3.2.2.2.7. Pertinência de um programa de competências de vida. ............................................................. 35
3.2.2.2.8.Representação da pessoa sem-abrigo ........................................................................................ 35
3.2.2.2.9. Questionário de caracterização sociodemográfica ..................................................................... 36
3.2.2.3. Procedimento. ................................................................................................................................ 36
IX
3.3. Resultados ............................................................................................................................................ 36
3.3.1. Que competências/capacidades têm as pessoas sem-abrigo para reinserir socialmente? ............. 36
3.3.1.1. Entrevistas a atores chave. ............................................................................................................ 36
3.3.1.2. Questionário de competências de vida. ......................................................................................... 38
3.3.2. Que competências de vida são necessárias desenvolver na pessoa sem-abrigo? ......................... 39
3.3.2.1. Entrevistas a atores chave. ............................................................................................................ 39
3.3.2.2.Questionário de competências de vida ........................................................................................... 41
3.3.3. Que representação existe sobre as pessoas sem-abrigo, e em que nível há identificação? ........... 50
3.3.3.1. Entrevistas a atores chave ............................................................................................................. 50
3.3.3.2 Questionário de competências de vida ........................................................................................... 50
3.3.4. Qual é a atitude e motivação das pessoas sem-abrigo para o treino de competências de vida? .... 54
2.3.4.1 Entrevistas a atores chave .............................................................................................................. 54
3.3.4.3. Questionário de competências de vida .......................................................................................... 55
3.4. Síntese do Diagnóstico de Necessidade.............................................................................................. 55
IV. Proposta de programa de competências de vida – Programa YES ...................................................... 61
4.1. Enquadramento teórico da Intervenção ............................................................................................... 61
4.2. Conteúdos a desenvolver ..................................................................................................................... 61
4.4.3. Atividades e Modelo Lógico .............................................................................................................. 64
4.4.4. Recursos ........................................................................................................................................... 83
4.5.Outputs .................................................................................................................................................. 83
4.6. Orçamento Previsional ......................................................................................................................... 83
4.7. Potenciais riscos e limitações na aplicação do Programa YES ........................................................... 83
4.8. Avaliação da Intervenção ..................................................................................................................... 84
Conclusão .................................................................................................................................................... 87
Implicações práticas .................................................................................................................................... 88
Limitações.................................................................................................................................................... 89
Direções futuras .......................................................................................................................................... 90
Referências ................................................................................................................................................. 91
X
Índice de Quadros
Quadro 2.1. Síntese do Modelo de Treino de Competências ............................................................... 19
Quadro 23.1 Questões de partida do diagnóstico de necessidades ...................................................... 28
Quadro 3.2. Caracterização da amostra das entrevistas a atores chave ............................................. 29
Quadro 43.3. Caracterização da amostra do Questionário de Diagnóstico ........................................... 31
Quadro 5 3.4. Médias e desvios padrão das dimensões da EPE ............................................................ 39
Quadro 63.5. Impacto da Saúde Física Emocional atual, nos participantes .......................................... 42
Quadro 73.6. Impacto dos consumos de álcool e drogas nos participantes .......................................... 42
Quadro 83.7.Cuidados especiais devido a condições de saúde nos participantes ................................ 43
Quadro 93.8.Caracterização das condições de vida no CAX, pelos participantes................................. 44
Quadro 103.9. Caracterização da envolvente do CAX, pelos participantes ............................................. 45
Quadro 113.10. Caracterização da alimentação e hábitos alimentares dos participantes ...................... 45
Quadro 123.11. Caracterização do vestuário dos participantes ............................................................... 46
Quadro 133.12. Caracterização da situação financeira atual dos participantes ...................................... 46
Quadro 143.13. Avaliação qualitativa da situação financeira atual dos participantes .............................. 47
Quadro 153.14. Competências intrapessoais, interpessoais e profissionais dos participantes ............... 47
Quadro 163.15. Caracterização do suporte funcional atual, dos participantes ........................................ 48
Quadro 173.16. Caracterização do suporte emocional atual, dos participantes ...................................... 49
Quadro 183.17 Fatores necessário para alterar a situação atual, segundo os participantes .................. 49
Quadro 193.18 Distribuição percentual e descrição das respostas dos participantes à pergunta do
questionário “sente que pertence a algo?” ............................................................................................ 52
Quadro 203.19. Medidas de dispersão e tendência central das dimensões do Empowerment nos dois
grupos definidos para o item identificação grupal. ................................................................................ 53
Quadro 213.20 Medidas de dispersão e tendência central das CIIP nos dois grupos definidos para o
item identificação grupal. ....................................................................................................................... 54
Quadro 224.1.Conceptualização e contextualização das variáveis e competências desenvolvidas no
Programa YES ....................................................................................................................................... 62
Quadro23.4.2. Cronograma da estrutura das sessões ............................................................................ 63
Quadro 244.3. Objetivos de processo e objetivos de resultado por atividade, do Programa YES ........... 64
Quadro 254.4.Modelo Lógico do Programa YES ..................................................................................... 65
Quadro 264.5. Design de avaliação do Programa YES ........................................................................... 84
Quadro 274.6.Instrumentos por fases de avaliação do Programa YES ................................................... 85
XI
Índice de figuras
Figura.02.1. Modelo Teórico de Processo .............................................................................................. 24 Figura 0.23.1. Distribuição dos participantes segundo o sentimento de pertença a algo e a identificação
com o grupo de pessoas sem-abrigo .................................................................................................... 52
Glossário de Siglas
ENIPSA – Estratégia Nacional para a Integração da Pessoa Sem-abrigo
ISS – Instituto de Segurança Social
FEANTSA - Federação Europeia das Organizações Nacionais que trabalham com os sem-abrigo
CAX – Centro de Alojamento para Pessoas Sem-abrigo de Xabregas
OMS- Organização Mundial de Saúde
INE- Instituto Nacional de Estatística
EAPN- Rede Europeia Anti-pobreza
1
Introdução
O aumento de pessoas a viver na condição sem-abrigo é cada vez maior, fundamentando a
necessidade de se desenvolver mais investigação e promover estratégias de intervenção. (Toro,
2007). A dificuldade na definição de pessoa sem-abrigo bem como, a deficiente contabilização do
número real de pessoas sem-abrigo, complexifica a forma como é observada e analisada a
problemática.
Em Portugal, a emergência do fenómeno potenciou o desenvolvimento de uma Estratégia
Nacional para a Integração da Pessoa Sem-Abrigo 2009-2015 (ENIPSA), remetendo-nos para a
importância e relevância do fenómeno e, para a necessidade de criar estratégias de intervenção
adequadas. A definição conceptual de sem-abrigo de acordo com a ENIPSA remete-nos para o
aspeto mais percetível da situação, a ausência ou inadequabilidade da habitação,
independentemente das características individuais da pessoa (ENIPSA, 2009).
Contudo, a literatura revela outras questões intrinsecamente relacionadas com o fenómeno dos
sem-abrigo. Nomeadamente, fatores relacionados com pobreza, exclusão social e ausência de
suporte social e, outros aspetos referentes a percursos individuais (e.g., problemas de saúde mental,
consumos de droga, institucionalização na infância)
A literatura aponta para vários modelos de intervenção. A maioria assenta no princípio de
supressão das necessidades básicas individuais. No entanto, as abordagens mais recentes procuram
uma visão multidimensional das problemáticas da pessoa sem-abrigo, procurando intervir em fatores
estruturais e individuais (Federação Europeia de Organizações Nacionais que trabalham com os
Sem-abrigo; FEANTSA, 2003). Revela-se assim, necessário a criação de respostas orientadas para
outros fatores, para além das necessidades básicas.
Neste sentido, o presente trabalho procura responder às exigências da problemática definida e
objetiva o desenho de um programa de competências de vida para pessoas sem-abrigo. O Programa
YES – Your Empowerment Skills, visa aumentar a eficácia da integração social, em pessoas sem-
abrigo, institucionalizadas em Centro de Alojamento. Para tal, foi elaborado um diagnóstico de
necessidades, no Centro de Alojamento para Pessoas Sem-Abrigo, do Exército de Salvação.
A estrutura adotada é a de Trabalho de Projeto sugerida pela disciplina de Projeto de Intervenção
Comunitária do ISCTE-IUL e, recomendada pela Escola de Ciências Sociais e Humanas para o ano
letivo 2013/2014.
Desta forma, foram definidos quatro capítulos: o enquadramento teórico, que contextualiza a
problemática à luz da literatura e fundamenta as opções conceptuais e metodológicas; o diagnóstico
de necessidades, que congrega um conjunto de instrumentos que nos permitiu identificar
competências, estratégias e objetivos orientadores para o programa de competências; e a construção
do programa, no qual são apresentados os objetivos, estrutura e metodologias de aplicação; e,
finalmente, a conclusão e discussão geral onde se identificam limitações e, direções futuras à
implementação e reformulação do programa.
3
I. Definição do Problema
A condição das pessoas sem-abrigo constitui-se como um problema multifacetado, pois abrange
diversas esferas da vida em sociedade.
Em 2009, um trabalho desenvolvido pelo Instituto de Segurança Social (ISS), identificou 2133
pessoas sem-abrigo numa noite, em Portugal (FEANTSA, 2014). Em Lisboa, em 2011, foram
identificadas 2399 pessoas, num estudo levado a cabo por instituições sociais. O Núcleo de
Planeamento e Implementação Sem-Abrigo do Porto (NPISA Porto) reporta 1300 pessoas em
alojamento para sem-abrigo e cerca de 300 pessoas a dormir na rua. Em 2013, a Assistência Médica
Internacional (AMI), apoiou 1679 pessoas na condição de sem-abrigo (FEANTSA, 2014).
O ISS indica que em 2013, 4420 pessoas, estão identificadas como sem-abrigo, no sistema de
segurança social (FEANTSA, 2014).
A ausência de dados atualizados e consistentes dificulta a caracterização da problemática e a
sua tendência global. Contudo, os dados atuais dos serviços sociais, permitem reforçar a ideia de um
aumento geral da procura de apoio alimentar, a par do aumento da pobreza e desemprego e, uma
redução dos benefícios sociais (FEANTSA, 2014).
Existindo um continuum de causas, que passam por fatores estruturais a pessoais, ser sem-
abrigo é uma manifestação de deficits continuados de recursos pessoais e socias inibidores da sua
utilização e, transferência aos vários contextos sociais (Goodman, Saxe, & Harvey, 1991).
A intervenção com a população sem-abrigo é muito vocacionada para a supressão das
necessidades primárias, como a habitação e a alimentação (Minnery & Greenhalgh, 2007). É
necessário assim, intervir junto dos fatores estruturais e individuais que causam e mantém a pessoa
nesta condição.
Para além da ausência de recursos financeiros e habitação, a situação de sem-abrigo, reflete
também problemas relacionados com a gestão de finanças, habitação, autocuidado e dificuldade na
satisfação das necessidades básicas e de saúde (Tryssenaar, Jones, & Lee, 1999). As pessoas sem-
abrigo para além da disrupção dos laços sociais, experimentam também sentimentos de
desconfiança, fracasso, de culpa e de receio de mudar (Bento & Barreto, 2002). A par da
indisponibilidade para a ajuda e incapacidade para cuidar de si e dos outros. Sem rede de suporte
social terão maior dificuldade em regressar a uma situação de casa permanente e estão em maior
risco de incidência ou manutenção da situação (Goodman, et al., 1991).
Potenciar nas pessoas sem-abrigo os recursos necessários para a reconstrução de laços e
relações com a comunidade permitirá criar vantagens na integração social. Existem evidências que
uma forte perceção de autoeficácia permite ao indivíduo a realização de um conjunto de
comportamentos potenciadores para mudar de vida (Epel, Bandura, & Zimbardo, 1999). A
autoestima, por sua vez, surge na literatura como fator de proteção e, de promoção do bem-estar
psicológico (Cohen, Putnam, & Sullivan, 1984; Diblasio & Belcher, 1993, Guindon, 2002).
O treino de competência de vida orienta o indivíduo para a aquisição de competências
necessárias para lidar com a situação e, simultaneamente influenciará a escolha, quantidade e
esforço que utilizará para lidar com obstáculos e para atingir a integração social (Epel, et al., 1999).
4
Assim, o desenvolvimento de competência de vida permitirá potenciar, na pessoa sem-abrigo,
comportamentos necessários que respondam às exigências sociais (Goodman, et al., 1991).
A identificação e, experiências positivas com um determinado grupo, socialmente normativo,
parecem estar relacionadas com a redução de perturbações depressivas (Sani, Herrera, Wakefield,
Boroch, & Gulyas, 2012); aumento da resiliência (Jones & Jetten, 2011), aumento do suporte social
dado e recebido (Haslam, O’Brien, Jetten, Vormedal, & Penna, 2005; Haslam, Reicher, & Levine,
2012) e, diminuição da perceção de isolamento social (Cruwys, Dingle, Hornsey, Jetten, Oei, &
Walter, 2014b). Intervir na desconstrução de representações negativas e promover uma identidade
social positiva, através da identificação com um grupo de intervenção, parece aumentar o
envolvimento social e, consequentemente a eficácia do processo de integração social (Boydell,
Goering, & Morrell-Bellai, 2000; Cruwys, et al., 2014b).
O presente trabalho apresenta dois objetivos: a) Enquadrar teoricamente à luz da literatura e,
fundamentada por um diagnóstico de necessidades, a intervenção; e b) desenhar um programa de
Treino de Competências de Vida.
Neste sentido, apresentamos uma proposta de intervenção corporizada num Treino de
Competências de Vida, cuja finalidade é o aumento da perceção da autoeficácia, aumento da
autoestima e promoção de uma identidade social positiva com o grupo de intervenção, potenciadores,
a longo-prazo, de um processo de integração social eficaz e sem reincidência.
5
II. Enquadramento Teórico
2.1. Conceito, extensão e prevalência do fenómeno de sem-abrigo
O conceito de sem-abrigo tem na sua origem uma diversidade de fatores (e.g., o desemprego, a
guerra, a discriminação racial, e a saúde mental, etc.) que, geralmente combinados entre si, fornecem
pistas para a sua definição (Miguel, Ornelas, & Maroco, 2010). Obter um consenso sobre a definição
teórica do conceito, torna-se importante para orientar a investigação e a intervenção nesta área. Por
outro lado a sua caraterização potencia o desenvolvimento de programas e serviços de suporte,
sustentáveis ao longo do tempo e vocacionados para outros contextos de intervenção para além da
emergência (FEANTSA, 2011; Miguel, et al., 2010; Springer, 2000).
Estar sem-abrigo origina um conjunto de caracterizações que variam entre o sentido literal do
conceito, estar sem teto (Farrington & Robinson, 1999; Toro, 2007), a um mais alargado, enfatizando
questões que vão para além da habitação, como a pobreza e a exclusão social. (Bento & Barreto,
2002; Minner & Greenhalgh, 2007).
Comumente é referenciado na literatura que para um indivíduo participar na sociedade e
desempenhar um papel ativo na vida cultural e social da comunidade onde está inserido, deverá
possuir uma habitação adequada (Shinn, 2007; Springer, 2000).
Kelling (1991) sugeriu uma definição que pressupõe mais do que a questão da ausência de
abrigo, enfatizando a importância de incluir indivíduos sem casa segura e adequada. Marpsat (1999)
ao constatar que existem indivíduos, com habitação, a usufruir de serviços de apoio à população
sem-abrigo, sugere uma definição que encerre características necessárias e suficientes para a sua
inclusão na categoria de sem-abrigo. Assim, e operacionalizando o conceito de sem-abrigo, Benvistes
(1996) sugere três características de inclusão no continuum do espetro da exclusão social. 1) Sem-
abrigo são todos os indivíduos que vivem na rua ou em estruturas não normativas (e.g., carros); 2)
indivíduos que habitam em estruturas comuns, como abrigos ou centros de acolhimento; 3) indivíduos
que vivam em casas particulares mas com sobrelotação de pessoas (e.g., com familiares, com
amigos, etc.) ou em habitações sem condições sanitárias.
A Federação Europeia de Organizações Nacionais que trabalham com os Sem-abrigo
(FEANTSA) desenvolveu em 2005 uma tipologia europeia de exclusão relativa à habitação, a
ETHOS.
A ETHOS permite a compreensão e medição do fenómeno dos sem-abrigo. Simultaneamente
fornece uma linguagem comum para investigação, definição de políticas de emergência, reabilitação
e prevenção, debate e apresentação na comunicação social (FEANTSA, 2011). Neste sentido, o
autor sugere quatro categorias concetuais: 1) sem abrigo: ausência total de teto/abrigo; 2) sem
alojamento: com um local temporário para dormir; 3) habitação precária: em situação de ameaça de
exclusão de habitação devido a circunstâncias de violência doméstica, ações de despejo ou
arrendamentos ilegais; 4) habitação inadequada: alojamentos que não servem para habitação (e.g.,
caravana, carro, barco) ou superpovoado (Meert, Edgar &, Doherty. 2004; FEANTSA, 2011). De
acordo com a ETHOS o fenómeno dos sem-abrigo é percebido como um processo, afetando diversas
pessoas e famílias em diversas fases da sua vida (FEANTSA, 2011).
6
Em Portugal, a Estratégia Nacional para a integração da Pessoa Sem-Abrigo 2009-2015 (2009)
fornece uma definição de pessoa sem-abrigo, bem como os requisitos operacionais que à mesma
deram origem. Assim, “considera-se pessoa sem-abrigo aquela que, independentemente da sua
nacionalidade, idade, sexo, condição socioeconómica e condição de saúde física e mental, se
encontre: sem teto, vivendo no espaço público, alojada em abrigo de emergência ou com paradeiro
em local precário; ou sem casa, encontrando-se em alojamento temporário destinado para o efeito”
(Estratégia Nacional para a integração da Pessoa Sem-Abrigo, p.9, 2009).
Peressini, McDonald e Hulchanski (1995) reforçam a importância de uma definição de pessoas
sem-abrigo uma vez que consideram que esta influenciará a forma como são contabilizadas. A falta
de informação estatística, bem como de métodos adequados para a recolha de dados, enumeração e
estimativa do número de pessoas sem-abrigo e, a inexistência de uma definição consensual dificulta
a apreensão da relevância do problema, e o cálculo da sua prevalência (Springer, 2000).
Tendencialmente as estimativas incidem em elementos administrativos, como o número de
pessoas que recorrem aos serviços de apoio aos sem-abrigo (Miguel, et al., 2010).
Nos Estados Unidos da América, de acordo com o The 2012 Point-in-Time Estimates of
Homelessness, cerca de 633,782 pessoas estão em situação de sem-abrigo e, 62% estão em
instituições/abrigos. Na União Europeia, em 2005, a FEANTSA estimou a partir de relatórios
nacionais, que a prevalência de sem-abrigo apoiados por instituições de solidariedade social ou
serviços públicos era, numa média diária, de 1.1 milhão de pessoas, (Avramov, 2005). As mesmas
estimativas revelam que num período de um ano, 18 milhões de pessoas, encontravam-se numa
situação de sem-abrigo ou confrontadas com dificuldade severas na obtenção/manutenção de casa
(Avramov, 2005). Frazer, Marlier e Nicaise (2010) revelam que em 2009, existiam na União Europeia
4.1 milhões de pessoas sem habitação.
De acordo com a Rede Europeia Anti-Pobreza (2013) no ano de 2011, cerca de 24.2% da
população europeia (aproximadamente 119,6 milhões de pessoas na Europa 27) estava em risco de
pobreza e/ou exclusão social. Em Portugal os Census 2011 (INE, 2011) identificaram 696 homens e
mulheres nesta situação, em todo o país. Este valor foi obtido tendo em conta pessoas inquiridas “no
local onde se encontram na data do recenseamento” (Censos, 2011).
Estas informações ficam aquém da realidade se confrontados com investigação, indicadores
internacionais ou publicações nos media. Estimativas avançadas pelos media indicam que existiam
entre 2500 a 5000 sem-abrigo na década de 90 (Bento & Barreto, 2002). Num estudo em 2006 o ISS
estimou a existência de 2717 pessoas em situação de sem-abrigo (Miguel, et al., 2010). Em 2009,
também o ISS, recolheu, numa noite, dados que indicam a existência 2133 pessoas sem-abrigo
(FEANTSA, 2014). De acordo com a Rede Europeia Anti-Pobreza (2013) no ano de 2011 cerca de
24,4% da população portuguesa estaria em risco de pobreza e/ou exclusão social.
Em Lisboa, em 2011, foram identificadas 2399 pessoas, num estudo levado a cabo por algumas
instituições sociais. O Núcleo de Planeamento e Implementação Sem-Abrigo do Porto (NPISA Porto)
reporta 1300 pessoas em alojamento para sem-abrigo e cerca de 300 pessoas a dormir na rua. Em
2013, a Assistência Médica Internacional (AMI), apoiou 1679 pessoas na condição de sem-abrigo
7
(FEANTSA, 2014). O ISS indica que em 2013, 4420 pessoas, estão identificadas como sem-abrigo,
no sistema de segurança social (FEANTSA, 2014).
Como referido, a ausência de atualizações e informações consistentes dos dados nacionais,
dificultam a caracterização da tendência da problemática dos sem-abrigo. No entanto, os resultados
permitem identificar uma tendência de crescimento do fenómeno dos sem-abrigo entre 2008 e 2013
(FEANTSA, 2014).
No que concerne à caracterização da população sem-abrigo, a investigação remete-nos para a
existência de mais homens do que mulheres, abuso no consumo de substâncias, indivíduos com
perturbações mentais, elevadas concentrações de grupos sem-abrigo em zonas urbanas que tendem
a ser segregados para zonas de pobreza (Goodman, et al., 1991; Minnery & Greenhalgh, 2007; Toro,
2007).
Contudo, alguns estudos remetem-nos para a emergência de novos grupos de sem-abrigo:
mulheres, crianças, famílias, adolescentes/jovens, idosos, imigrantes e grupos étnicos marginalizados
(Dykeman 2011; Haber & Toro, 2004; Minnery & Greenhalgh, 2007; Philippot, Lecocq, Sempoux,
Nachtergael & Galand, 2007; Shinn, 2007).
Em Portugal, Bento e Barreto (2002) baseando-se no trabalho da equipa de rua da Santa Casa
de Misericórdia de Lisboa de 1996, definem um perfil de sem-abrigo nas ruas de Lisboa como sendo
pessoas geralmente do “sexo masculino, raça branca, naturalidade e nacionalidade portuguesas,
idade entre os 35 e os 60 anos, escolaridade mínima, solteiro, sem filhos, sem contactos com a
família, pernoita no centro da cidade de Lisboa, passado institucional (educacional, psiquiátrico,
prisional), doenças psiquiátricas (alcoolismo, psicoses, toxicodependência), vitimização e
mendicidade pouco frequentes” (p. 31).
A mesma caracterização é reforçada pelo inquérito feito à população sem-abrigo da cidade de
Lisboa conduzido pelo Programa Intergerações/InterSituações de Exclusão e Vulnerabilidade Social
(Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 2014). A esta caracterização, adicionam-se um perfil de
pessoas cujo rendimento é obtido através de biscates e mendicidade, com apoio à alimentação, com
escassos apoios à saúde e sem passado de institucionalização.
A FEANTSA (2014), baseando-se no trabalho desenvolvido pelo ISS em 2009, reporta um perfil
de sem-abrigo maioritariamente de sexo masculino, nacionalidade portuguesa e com idades
compreendidas entre 30 e 40 anos. O mesmo estudo refere a existência de pessoas sem-abrigo com
o ensino secundário (31%), consumos de álcool (19%) e drogas (28%) e presença de problemas de
saúde mental (11%).
No presente trabalho, adotamos a definição da Estratégia Nacional para a integração da Pessoa
Sem-Abrigo (2009), uma vez que se trata de uma proposta de intervenção que cumpre com os
objetivos traçados na mesma.
8
2.2. Principais problemas da pessoa sem-abrigo
Associados à problemática dos sem-abrigo estão fatores como as alterações das estruturas
familiares, situação económica de indivíduos e países/nações, o break down das instituições/serviços
sociais e o aumento do consumo de substâncias como o álcool e as drogas (Springer, 2000).
A ausência de casa segura, adequada e acessível é um dos problemas mais emergentes para a
pessoa sem-abrigo. No entanto, com o impacto social do número de sem-abrigo, é igualmente
importante identificar e associar outros fatores associados à exclusão social (Goodman, et al., 1991).
Bento e Barreto (2002, p.26), consideram que a problemática dos sem-abrigo reside na “perda ou
frouxidão dos laços com a família e a sociedade”, implicando assim, a rutura constante com os vários
sistemas social, cultural, económico e psicológico (Bento & Barreto, 2002; Toro, et al., 2007).
A situação de sem-abrigo é cada vez mais vista como uma componente ou expressão do
fenómeno de exclusão social e um processo pelo qual os indivíduos ficam isolados dos mecanismos
sociais que providenciam recursos (Minnery & Greenhalgh, 2007). Estar sem-abrigo remete-nos para
o estado final de um processo que se inicia nos aspetos distributivos da riqueza, encerrando-se nas
questões relacionais e de integração social (Bento & Barreto, 2002). Consiste essencialmente num
processo que se carateriza pela rutura dos principais sistemas de suporte social (e.g., mercado de
trabalho e habitação, Estado/Segurança Social; Família enquanto sistema de apoio social e
económico).
Vários estudos concluem que habitação, trabalho e alimentação são as necessidades
emergentes da pessoa sem-abrigo (Ball & Havassy, 1984; Breakey & Fischer, 1990; Herman,
Struening, & Barrow, 1994; Morse & Calsyn, 1992; Schutt, 1992).
Acosta e Toro (2000) conduziram um estudo com o objetivo de avaliar as necessidades de
pessoas na condição de sem-abrigo, inquirindo os próprios sobre as suas reais necessidades. Os
participantes referiram que a segurança física e a educação como as mais significativas em
detrimento da necessidade de habitação. O transporte/deslocação, tratamentos de saúde, informação
sobre saúde e formação profissional, foram identificados, pelos participantes, como tão importantes
como a aquisição de uma habitação (Acosta & Toro, 2000).
A exposição prolongada a uma situação de sem-abrigo potencia um desenvolvimento e
adaptação à situação, e consequentemente a um aumento de competências específicas que resultam
numa reorganização cognitiva, afetiva e comportamental necessária à sobrevivência. (Snow &
Anderson, 1993; Summerlin, 1995). As pessoas sem-abrigo desenvolvem rotinas com base na
disponibilidade dos serviços de apoio, tornando-se cada vez mais adaptados à vida de rua (Snow &
Anderson, 1993).
Associada à situação dos sem-abrigo encontramos referências de desfiliação social e learned
helplessness (Goodman, et al., 1991). Sentimentos de ligação e segurança nas relações, na fase
adulta, promovem um sentido de significado de vida, autovalorização e autoestima. A situação de
sem-abrigo potencia um sentimento psicológico de isolamento e disrupção de laços sociais (Bento &
Barreto, 2002; Goodman, et al., 1991).
O learned helplessness compreende dimensões, afetiva negativa (desânimo / desamparo),
cognitiva e comportamental e, caracteriza-se por enfraquecimento na realização, baixa persistência e,
9
conduzindo na maioria das vezes à desistência ou abandono de tarefas (Lima Santos, Ribeiro &
Faria, 2002). De uma forma geral, manifesta-se por uma redução da responsividade do indivíduo ao
ambiente e, consequentemente a uma diminuição na perceção de controlo (Goodman, et al., 1991;
Lima Santos, et al., 2002). Esta abordagem sugere que ausência de controlo nas várias áreas da
vida, nas pessoas sem-abrigo, origina uma passividade generalizada face a essas mesmas áreas
(Goodman, et al., 1991).
Snow e Anderson (1993) referem que a autoestima da pessoa sem-abrigo é restruturada em
função da sua adaptação à situação. Neste sentido, o foco da pessoa sem-abrigo é a supressão
imediata das necessidades em prejuízo da organização de recursos necessários para sair da
situação (Summerlin, 1995).
Marpsat (2007) identificou que grande parte dos indivíduos sem-abrigo cresceram em famílias
pobres ou com estatuto socioeconómico baixo. Também Haber & Toro (2004) reforçam que as
famílias com baixos rendimentos ou com ausência de competências profissionais a par de baixas
qualificações estão em risco de se tornarem sem-abrigo. Estes resultados sugerem três mecanismos
diferentes que se constituem como problemas identificados na pessoa sem-abrigo
A primeira explicação sugere uma cultura de pobreza. Pessoas que vivenciaram estados de
pobreza ou de baixos rendimentos desenvolvem-se com fraca motivação para sair deste estado.
Outra perspetiva foca-se nas questões mais económicas. Esta sugere que indivíduos
provenientes de cenários de pobreza têm maior dificuldade em fazer face a períodos de maior
dificuldade, uma vez que não dispõe de recursos pessoais ou familiares, independentemente dos
apoios que possam usufruir (Firdion & Marpsat, 2007).
Firdion e Marpsat (2007) sugerem um terceiro mecanismo que indica que cenários de pobreza
estão relacionados com pouca saúde mental e física, originando dificuldades em manter um trabalho.
A pobreza infantil está também relacionada com a oportunidade de adquirir educação/formação e
competência de vida, com consequências na idade adulta. Neste âmbito incluem-se os problemas de
saúde mental e o consumo de substâncias, comumente referenciados como fatores que causam mas
que são igualmente consequência de situações de sem-abrigo. (Firdion & Marpsat, 2007; Philippot, et
al., 2007; Toro, 2007)
Vários estudos dão conta que as pessoas sem-abrigo, em algum momento, experienciaram
várias disrupções no suporte social, incluindo-se a separação ou morte dos pais/cuidadores (Firdion &
Marpsat, 2007; Philippot, et al., 2007), violência doméstica (Firdion & Marpsat, 2007; Philippot et al.,
2007; Toro, 2007) ou divórcios (Toro, et al., 2007). A rede de suporte social é uma importante forma
de proteção e segurança para as pessoas sem-abrigo, sejam elas redes informais ou estruturas
formais de apoio (Shinn, 2007).
Para além da pobreza, dos problemas de saúde física e mental e das condições ambientais, a
condição de sem-abrigo interfere com a capacidade individual de manter casa, trabalho e outros
recursos (Daiski, 2007).
10
2.3. Intervenção com Pessoas Sem-abrigo
De acordo com Dykemen (2004), são três os modelos de intervenção encontrados na literatura:
modelo de orientação psicológica, modelo sociológico e modelo psicossocial. O autor reforça a ideia
de que todos os modelos enfatizam a ideia da supressão das necessidades básicas bem como, no
desenvolvimento de competências necessárias para alterar a situação de sem-abrigo.
O modelo de orientação psicológica foca-se em fatores individuais e centra-se no que está errado
com a pessoa sem-abrigo. Shinn (1992) sugere que os psicólogos para compreenderem o fenómeno
dos sem-abrigo devem ir para além da análise do nível individual. A autora sugere o estudo e
identificação das variáveis estruturais, de outros níveis de análise, até ao nível macrossocial e
desenvolvimento e investigação de projetos transversais e longitudinais.
O modelo de intervenção sociológico descrito por Buckner, Bassuk e Zima (1993, citados por,
Dykemen, 2004) é orientado para a escassez de recursos sociais e inacessíveis a populações
vulneráveis ou de risco.
Toro, Trickett, Wall, e Sallem (1991) sugerem um modelo psicossocial de pesquisa, intervenção e
de desenvolvimento de políticas. Este modelo é baseado na perspetiva ecológica para a
compreensão e intervenção do fenómeno sem-abrigo para reduzir a sua prevalência. Os autores
enfatizam a necessidade de aceder ao contexto, considerando um conjunto de fatores que afetam a
situação, tais como, fatores sociais, pessoais, económicos e os recursos dos serviços.
Neste sentido, propõem que a intervenção se foque na avaliação do ambiente e no
desenvolvimento de um estilo profissional colaborativo e apoiado no empowerment, considerando
quatro princípios de orientação: adaptação, o ciclo de recursos, interdependência de sistemas e a
sucessão (Toro, et al., 1991).
Dykeman (2011) sugere o modelo biopsicossocial estruturado em quatro estádios de intervenção.
O primeiro estádio refere-se à supressão de necessidades básicas identificadas pela pessoa sem-
abrigo, dando-lhe assim a oportunidade de participar no processo. O segundo estádio envolve a ação
colaborativa dos vários serviços da comunidade, envolvendo a avaliação da saúde física e mental e
do funcionamento cognitivo e adaptativo, surgindo nesta o papel do gestor de caso.
A terceira fase possibilita que a pessoa sem-abrigo desenvolva a coragem, empowerment e
produtividade, envolvendo orientações ao nível do trabalho, escola/formação, família, entre outros. O
último estágio é o desenvolvimento de competências que permitam a pessoa sem-abrigo lidar com a
burocracia e os recursos sociais inerentes e necessários para a resolução da sua situação.
Nesta linha de pensamento os programas devem assentar na criação/fortalecimento das relações
sociais e no empowerment através: a) do envolvimento da pessoa sem-abrigo nas decisões que
afetam as suas rotinas diárias; b) da promoção de um ambiente seguro que permita a interação
social; c) do estabelecimento de apoio entre os pares com ênfase nas forças individuais em
detrimento das suas fraquezas; d) da procura de envolvimento ativo da comunidade local; e c) da
ajuda para restabelecer e fortalecer laço familiares e sociais e providenciar gestão de caso para
ajudar a negociar com os serviços de sistema social (Goodman, et al., 1991).
11
Não sendo a população sem-abrigo homogénea é importante que a intervenção seja focada nas
necessidades individuais de cada indivíduo, providenciando uma compreensiva mas flexível gestão
de caso para servir adequadamente toda a população (Goets & Schmiege, 1996).
De acordo com Stephens, Dennis, Toomer, e Halloway, 1991) os programas de intervenção
deverão estar ancorados às necessidades da população sem-abrigo local e desenvolver trabalho que
integre a saúde, as necessidades psicossociais e económicas dos indivíduos, uma vez que nenhuma
das dimensões pode ser separada. Muitos autores criticam a insuficiente coordenação e articulação
entre os vários serviços (Avramoc, 1995; Philippot, et al., 2007), sugerindo que os programas de
integração sejam desenhados, integrando diferentes facetas e serviços necessários à reabilitação da
pessoa sem-abrigo.
A FEANTSA (2003) propõe que uma boa prática no combate à situação de sem-abrigo deve
particularizar o grupo, olhar para a pessoa sem-abrigo numa perspetiva multidimensional,
providenciando soluções para os diferentes problemas de vida (casa, saúde, trabalho, saúde mental e
educação) e, deveria introduzir medidas de prevenção, implementar instalações que ajudem sem-
abrigo e criar projetos de reintegração adaptados a cada problemática.
Considerando a importância de conhecer o estado da arte ao nível da intervenção com pessoas
sem-abrigo, referenciamos a título de exemplo cinco programas, no âmbito do desenvolvimento de
competências nas pessoas sem-abrigo. Apresentaremos para cada programa os objetivos e a
metodologia/estratégias utilizadas e, sempre que possível resultados de todos os programas uma vez
que os mesmos não se encontram publicados.
HEART Project - Homeless Employment and Related Training Project
O HEART Project (Goetz, & Schmiege, 1996) foi desenvolvido no Oregon (EUA), com 30
pessoas sem-abrigos, durante seis semanas. O objetivo do projeto foi desenvolver competências nos
participantes, na área da construção civil e procura ativa de trabalho na área. A par deste objetivo, o
projeto atuava ao nível do tratamento de consumo de substâncias, assistência médica, habitação e
alimentação. Era também finalidade do projeto apoiar a transição para uma habitação permanente.
Completaram o programa 26 indivíduos, dos quais 16 conseguiram trabalho permanente na área
das competências treinadas. Os resultados do programa referem que 65% das pessoas que
completaram o programa conseguiram fazer a transição para uma habitação.
Life Skills Intervention.
O Life Skills Intervention (Helfrich, 2006, citado por, Helfrich & Fogg, 2007) é um programa
desenhado para pessoas sem-abrigo, com o objetivo de desenvolver ou reorganizar as competências
necessárias para uma vida independente e, melhorar a sua capacidade de manter casa. É constituído
por quatro módulos com foco na gestão alimentar, gestão financeira, habitação e autocuidado e,
participação segura na comunidade. Cada módulo inclui seis sessões de grupo e uma sessão
adicional de 30 a 90 minutos individual.
12
A eficácia deste programa é reportada em alguns estudos para a população sem-abrigo com
doença mental vítima de violência doméstica e jovens (Chang, Helfrich, & Coster, 2013; Helfrich,
Aviles, Walens, Badiani, & Sabol, 2006; Helfrich & Fogg, 2007).
Project Employ
O Project Employ (Muñoz, Reichenbach, & Hansen, 2004) é um programa de treino de
desenvolvimento de competências de vida individualizado e em grupo. Centra-se no cliente, no
sentido de ir ao encontro das necessidades manifestadas pelas pessoas sem-abrigo. Estas
necessidades podem incluir o desenvolvimento de competências profissionais, gestão de dinheiro e
recursos, melhoraria da autoestima, aumento de competências sociais e, procura de habitação.
A participação ativa neste pode ter uma duração de até 18 meses e consiste em quatro fases:
pré-inscrição, desenvolvimento profissional e de competências de vida, implementação de um papel
ativo no desenvolvimento e, manutenção desse papel.
Dos 65 participantes da primeira fase do programa 96% permaneceram envolvidos em atividades
relevantes, como trabalho, formação ou voluntariado.
Casas Primeiro
O projeto Casas Primeiro da Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, objetiva
responder à Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo, bem como ao Plano
Cidade para a Pessoa Sem Abrigo de Lisboa.
Este modelo tem como base a habitação permanente e integrada, casas individualizadas e
separação entre habitação e tratamento (EAPN, 2011).
Priorizando a habitação, o programa Casas Primeiro, procede ao acompanhamento das pessoas
em diversas esferas das suas vidas (e.g., saúde, educação, trabalho, higiene, gestão doméstica) Ou
seja, a habitação surge como a estratégia para potenciar a inserção da pessoa na sociedade.
O modelo é assente numa visão contrária aos modelos existentes que postulam a necessidade
de fases de transição entre a rua e a habitação, através de alojamentos coletivos ou temporários.
Em 2012, integraram 60 participantes no projeto, dos quais 58,3% permaneceram na sua casa
por períodos de um ano ou superiores. O projeto revelou um impacto positivo na qualidade de vida
dos participantes, no que concerne à segurança pessoal, comida, níveis de stress, interações sociais,
saúde e saúde mental (Ornelas, 2012).
Programa de Promoção de Autonomia e Integração na Vida Ativa.
O Programa de Promoção de Autonomia e Integração na Vida Ativa, promovido pela Associação
Integrar (Integrar, 2014) e dinamizado pela Associação Cais, é um programa de desenvolvimento de
competências com o objetivo de fomentar a autonomia da pessoa sem-abrigo. Encontra-se
subdividido em 5 subprogramas: a organização e gestão doméstica, do cuidado consigo e com o
outro, pré-profissional, economia familiar e, Agricultura e Horticultura biológicas. Não existem dados
publicados sobre o impacto e eficácia do programa.
13
CAHO-Capacitar Hoje
O CAHO – Capacitar Hoje (CAIS, 2014) é um projeto de empregabilidade da Associação CAIS
(2014-2015). Tem como objetivo central, diminuir o número de pessoas em situação de risco e
exclusão, potenciando a sua capacitação e integração no mercado de trabalho. O programa
Capacitar Hoje (CAHO) procura desenvolver áreas comerciais através da criação de serviços
capazes de integrar pessoas em situação de grande fragilidade económica e motivadas para o
trabalho.
O programa encontra-se em desenvolvimento, não existindo por isso resultados de impacto e
eficácia do programa.
2.4. Definição de conceitos
Para explicar as variáveis que estão na base da intervenção que propomos, faremos
seguidamente a sua revisão baseada na literatura mais relevante.
2.4.1. Variável resultado a longo prazo - Integração Social
O conceito de integração social está intimamente ligado à exclusão social. Um indivíduo é
considerado socialmente excluído quando está inibido de uma participação social plena e/ou quando
se verifica dificuldade ou ausência de acesso a rendimentos e a outros recursos (pessoais, familiares
e culturais), que o inibem de viver adequadamente (Gallie & Paugam, 2002). Assim, a integração
social constituir-se-á num processo que garante às pessoas em situação de vulnerabilidade o acesso
às oportunidades e, aos recursos necessários para participarem plenamente em todas os domínios
sociais.
De acordo com a ENIPSA (2009) a integração social passa pela promoção da autonomia, com
implicações na mobilização e contratualização de recursos disponíveis envolvendo várias áreas de
intervenção: Habitação, Emprego (incluindo formação profissional), Proteção Social e Saúde.
Na literatura emergem diversos modelos de intervenção, com pessoas sem-abrigo, promotores
de integração social: a) intervenções focadas na supressão imediata de necessidades como a fome e
a ausência de abrigo, direcionando-se também para a ajuda de determinadas perturbações mentais e
consumo de substâncias (Haber & Toro, 2004; Toro, 2007); b) intervenções centradas na gestão de
caso que enfatizam necessidades de médio e longo prazo como habitação permanente, formação e
acesso a uma atividade profissional em articulação com serviços de saúde e saúde mental (Toro,
2007; Wong, Park, & Nemon, 2006); e c) intervenções que dão à pessoa sem-abrigo casa
permanente e serviços de proteção social sob orientação de um gestor de caso ou de programas
comunitários, designadas por Supportive Housing (Haber & Toro, 2004).
Em Portugal, a ENIPSA, prevê um modelo assente na figura de gestor de caso. O gestor de caso
cumpre funções de mediador e facilitador dos processos de autonomização e de articulação entre
instituições (ENIPSA, 2009).
A ENIPSA (2009) atua ao nível de três grandes áreas específicas: a) prevenção (abrange todos
os grupos de risco; b) emergência/intervenção (atuação sobre a população sem-abrigo); e c)
intervenção/integração (acompanhamento e integração da população sem-abrigo).
14
Existindo várias causas, que passam por fatores estruturais e pessoais, sendo que estar sem-
abrigo pode ser um episódio temporário ou uma demostração de carências continuadas de recursos
pessoais e socias, (Anderson, 2007; Avramov, 2005) as políticas de intervenção devem considerar,
assim, a importância de providenciar uma casa mas também, circunstâncias sociais e de bem-estar
das pessoas sem-abrigo a longo termo. Neste sentido a integração social deve considerar a
participação social, segurança pessoal, controlo e empowerment. (Edgar, Doherty, & Mina-Coull,
2000). Deve também combinar a prevenção, intervenção precoce, intervenção em situação de crise,
e estratégias de suporte a longo termo com o objetivo de facilitar a independência. Deve focar-se
também na aquisição de competências que vão desde as competências pessoais e sociais às
competências de vida (Minnery & Greenhalgh, 2007).
Assim, pretendemos no âmbito da proposta de intervenção, criar condições facilitadoras de um
processo de integração social pleno.
2.4.2. Variáveis resultado a curto prazo.
2.4.2.1. Perceção de autoeficácia.
Como referenciado anteriormente, a heterogeneidade de condições que contribuem para a
situação de estar sem-abrigo, remete-nos para a necessidade de identificar fatores que potenciam
com sucesso, a integração destes na sociedade. A autoeficácia constitui-se como um fator pessoal
que promove, motiva e suporta estratégias de coping para lidar com situações adversas (Bandura,
1977).
Sendo um dos principais componentes da Teoria Cognitivo-Social de Bandura (1977, 1986,
1997), o constructo de autoeficácia caracteriza-se como a crença desenvolvida pelos indivíduos sobre
as suas capacidades para iniciar, executar e desempenhar com sucesso tarefas específicas. Os
indivíduos com elevada perceção de autoeficácia orientam-se para os resultados visualizando o seu
sucesso em vez de se focarem nos obstáculos ou condicionantes pessoais (Bandura, 1997).
As crenças de autoeficácia determinam os objetivos que os indivíduos têm para si, qual o esforço
e tempo que despendem para a sua concretização e a resiliência que lhes fornecerá estratégias para
fazer face a obstáculos e retrocessos (Bandura, 1997; Schwarzer, 1992; Schwarzer & Hallum, 2008).
A perceção de autoeficácia afeta a escolha individual de tarefas, o esforço e o tempo afetos e a
persistência face às dificuldades (Bandura, 1977; Brown & Inouye, 1978;). Os indivíduos motivam-se
formando crenças sobre aquilo que são capazes de realizar, antecipando os resultados,
estabelecendo objetivos e planeando o decurso da ação (Bandura, 1997).
Segundo Bandura (1997) a autoeficácia regula estados emocionais de várias formas. Os
indivíduos que acreditam na auto gestão de ameaças são menos influenciados por elas. A perceção
elevada de autoeficácia diminui o stress e a ansiedade tornando o ambiente menos ameaçador.
Também indivíduos com crenças de autoeficácia elevada descentralizam-se com maior facilidade dos
pensamentos perturbadores, tendo maior capacidade de relaxar, acalmar e procurar apoio junto de
outros indivíduos, como a família ou amigos. Em contrapartida a perceção de ineficácia social
15
contribui diretamente para estados depressivos e reduz o suporte social, uma vez que não sentem
satisfação nas relações sociais (Bandura, 1997).
Neste sentido, a autoeficácia torna-se determinante no comportamento, quando os incentivos e
as competências necessárias estão presentes. Consequentemente, em qualquer atividade, são
necessárias para além das competências, as crenças de autoeficácia que possam garantir o uso
eficaz dessas competências (Nogueira & Mesquita, 1992). Pessoas com elevada autoeficácia, por
outro lado, atraem o apoio de outros indivíduos, reforçando a sua capacidade de lidar com obstáculos
e retrocessos (Nogueira & Mesquita, 1992). É no suporte social que a pessoa sem-abrigo, pode ir
buscar incentivos e recursos que a sua condição tem em falta (Shinn, 2007).
O indivíduo sem-abrigo é também condicionado pela avaliação pessoal que faz das causas e
recursos que possui (Milburn & D’Ercole, 1991). Assim, é necessário um sentimento de autoeficácia
elevado que produza, motive e sustente estratégias de coping sobre a sua situação.
Alguns estudos indicam que crenças de autoeficácia contribuem para o bem-estar e realizações
pessoais em diversas esferas da vida (Bandura, 1997; Maddux, 1995).
Bandura e Locke (2003) apresentaram uma revisão de nove meta-análises que examinaram as
crenças de autoeficácia em diversos níveis do comportamento humano, tais como, o desempenho no
trabalho, desempenho académico, o desempenho atlético, o funcionamento psicossocial e o
funcionamento no âmbito da saúde. Estas robustecem, a força da autoeficácia, como preditora da
ocorrência de comportamentos de prossecução de objetivos, elevados níveis de desempenho e,
perseverança face problemas complexos ou de difícil resolução. Os autores constataram que a
relação entre o desempenho anterior e o desempenho posterior é fortemente mediado por crenças de
autoeficácia (Bandura & Locke, 2003).
A pesquisa sobre o papel da autoeficácia na obtenção emprego é também relevante. Dois
estudos com homens desempregados revelaram que a autoeficácia foi o melhor preditor de sucesso
na obtenção de emprego (Clifford, 1989; Kanfer & Huh, 1985). Programas baseados na orientação e
reparação da perceção de autoeficácia em trabalhadores despedidos aumentaram os esforços de
busca de emprego e a possibilidade de reintegrar no mercador de trabalho (Eden & Aviram, 1993;
Vinokur, Van Ryn, Gramlich, & Price, 1991). Alguns estudos sobre o efeito do treino de
comportamentos de procura de emprego são mediados pela perceção de autoeficácia dos sujeitos
(Vinokur et al., 1991).
A autoeficácia surge também, na literatura como fator de proteção para comportamentos de risco,
como o consumo de substâncias (Greenfield, Hufford, Vage, Muenz, Costello, & Weiss, 2000; McKay,
Lynch, Pettinati, & Shepard, 2003).
Epel, Bandura e Zimbardo (1999) desenvolveram um estudo que explorava a influência da
autoeficácia nas estratégias de coping relacionadas com a procura de casa e trabalho, em pessoas
sem-abrigo. Os resultados sugerem que uma forte perceção de autoeficácia permite o desempenho
de comportamentos, evidenciada pela literatura como uma forma de sair da situação de sem-abrigo
(Daiski, 2007; Dykeman, 2011; Minnery & Greenhalgh, 2007; Toro, Trickett, Wall, & Sallem, 1991). Os
autores referem que os indivíduos sem-abrigo com maior perceção de autoeficácia passaram mais
16
tempo à procura de habitação e emprego, ficaram no abrigo por um período mais curto de tempo, e
eram menos propensos a passar o seu tempo de forma improdutiva (Epel, et al., 1999).
O valor prático da perceção de autoeficácia para a nossa intervenção reside na força deste
constructo para orientar e influenciar o comportamento da pessoa sem-abrigo, para os objetivos
necessários para a sua integração na sociedade. A perceção de eficácia da pessoa sem-abrigo
determinará, face às competências e incentivos adequados, a escolha das tarefas, a quantidade e
esforço que despenderá para suportar ou lidar com as situações adversas.
2.4.2.2. Autoestima.
A autoestima, tem sido um constructo extremamente investigado, uma vez que tem um papel
relevante no funcionamento saudável da pessoa (Benvistes (1996, Tice, & Hutton, 1989; Jardim,
2007; Mruk, 1995) e, constitui-se como um fator de proteção em situações adversas (Kidd &
Shahar, 2008; Maccio & Schuler, 2011).
Segundo Coopersmith (1981) a autoestima reflete uma avaliação pessoal, geralmente estável,
que o indivíduo faz sobre si, refletindo uma atitude de aprovação ou desaprovação. Esta avaliação
retrata a extensão em que o indivíduo acredita nas suas capacidades. Rosenberg (1986), nesta
sequência, refere que esta avaliação se reflete na forma como o indivíduo avalia o self. No fundo, a
autoestima é a atitude, negativa ou positiva, que o indivíduo tem em relação a si. Envolve geralmente
sentimentos de auto aprovação, autovalorizarão e autorrespeito (Rosenberg, 1986).
Assim, a autoestima é uma componente avaliativa e atitudinal do self (Guidon, 2002). Consiste
num conjunto de apreciações afetivas, como sentimentos de estima e aceitação de si e, que são
desenvolvidos e mantidos pela autoconsciência de competência, senso de autorrealização e
feedback do ambiente externo (Guindon, 2002).
A autoestima constitui-se como uma competência importante na vida das pessoas sem-abrigo,
dadas as dimensões que a constituem. Uma autoestima satisfatória está positivamente
correlacionada com um estado de bem-estar psicológico, de integração social e com um menor grau
de desadaptação (Jardim, 2007).
Alguns autores referem que há uma relação significativa entre a autoestima e a qualidade de vida
e o bem-estar físico e psicológico (Brown, Huajian, Oakes, & Ciping, 2009; Witmer & Sweeney,1992).
Para as pessoas sem-abrigo, a incapacidade ou dificuldade em garantir as necessidades básicas e,
por vezes, os sentimentos de fracasso, insegurança podem desencadear problemas na autoestima
(Cohen, Putnam, & Sullivan, 1984; Diblasio & Belcher, 1993; Guindon, 2002).
O sentimento de improficuidade, que a baixa autoestima gera, pode impedir o indivíduo de agir de
forma adequada e bem-sucedida no trabalho e em atividades sociais e de lazer (DiBlasio & Belcher,
1993). Consequentemente, nas pessoas sem-abrigo, pode bloquear a motivação para encontrar um
emprego, habitação e outras necessidades essenciais (DiBlasio & Belcher, 1993). Ainda assim, uma
pessoa sem-abrigo com trabalho, mantém a incapacidade de suprimir adequadamente algumas
necessidades básicas, como alimentação, vestuário e o sono (DiBlasio & Belcher, 1993; Hopper,
Susser, & Conover, 1985) repercutindo para uma baixa autoestima.
17
Alguns estudos com amostras de sem-abrigo jovens referem que a baixa autoestima tem sido
diretamente relacionada com o suicídio (Kidd 2006; Leslie, Stein, & Rotheram-Borus, 2002),
depressão (Meadows-Oliver, Sadler, Swartz, & Ryan-Krause, 2007), comportamentos desviantes
(Edwards, 1996). A baixa autoestima é referenciada também como um preditor para o uso de
substâncias (Kidd & Shahar 2008). No que concerne à saúde mental, a baixa autoestima é também
referida pela Associação Americana de Psiquiatria (2006) como um dos critérios de diagnóstico para
algumas categorias de perturbações mentais, como a depressão e a perturbação distímica.
No âmbito da nossa intervenção, pretendemos aumentar a autoestima, no sentido de criar um
fator de proteção, contribuindo assim para o bem-estar psicológico e para a integração social.
2.4.2.3. Identificação Social positiva com o grupo de intervenção.
Segundo Tajfel e Turner (1979) um individuo define-se a si e aos outros em função da sua
posição num sistema de categoriais sociais. É através das comparações entre o seu grupo e o(s)
grupo(s) dos outros que os indivíduos procuram construir uma identidade social positiva (Tajfel &
Turner, 1979). Assim, a valorização positiva ou negativa de um grupo, estabelece-se no contexto
social e em comparação com outros grupos.
A identificação social fornece também pistas e define o nosso autoconceito (Turner, Hogg,
Oakes, Reicher, & Wetherell, 1987). Tajfel e Turner (1979) indicam que em determinadas
circunstâncias pode ser difícil para grupos de estatuto mais baixo encontrarem bases de comparação
intergrupal, que potenciaria uma identidade social positiva.
Da literatura emerge a ideia de que a formação de uma identidade de sem-abrigo é um processo
que progride no sentido da aceitação da condição, ao logo do tempo (Boydell, et al., 2000) A
identificação com uma identidade de sem-abrigo, diminui as tentativas do indivíduo na transição para
outras situações mais favoráveis (Osborne, 2002).
Farrington e Robinson (1999) constataram que as pessoas sem-abrigo de longo termo (mais de
dois anos) deixaram de fazer comparações com outros grupos sociais, passando a comparar-se com
outros grupos de sem-abrigo. Neste sentido, referem que aqueles que criaram uma identidade social
enraizada de sem-abrigo, terão maior dificuldade em sair da situação. Para estes indivíduos é
necessário criar uma identidade social positiva, independente da sua condição (Farrington &
Robinson, 1999). Os contextos terapêuticos, de desenvolvimento pessoal e ocupacional, ou uma
situação profissional, ajudariam a pessoa a identificar-se menos com o grupo dos sem-abrigo
(Farrington & Robinson, 1999; Hagan & McCarthy, 1997).
Intervir ao nível da identidade social pode trazer benefícios para os indivíduos. Cruwys e colegas
(2014b) referem que a identificação social reduz a noção de isolamento social, quando associada a
grupo social positivo. Algumas evidências indicam que há associações entre identidade social e a
redução de perturbações depressivas (Sani, Herrera, Wakefield, Boroch, & Gulyas, 2012); aumento
da resiliência (Jones & Jetten, 2011) e, aumento do suporte social dado e recebido (Haslam, O’Brien,
Jetten, Vormedal, & Penna, 2005; Haslam, Reicher, & Levine, 2012).
Assim, pela importância explanada, criaremos um contexto que promova a identificação social
positiva com o grupo de intervenção.
18
2.4.3. Variáveis Independentes.
2.4.3.1. Competências de Vida.
A Organização Mundial de Saúde - OMS (1993) define competência de vida como todas as
competências psicossociais que são necessárias ao indivíduo para fazer frente aos desafios do
quotidiano. A OMS (1993) identifica cinco áreas, culturalmente transversais, associadas às
competências de vida: a) tomada de decisão e resolução de problemas; b) pensamento crítico e
criativo; c) comunicação e competências interpessoais; d) autoconsciência e empatia; e d) estratégias
de coping face às emoções e stress.
Danish, Forneris, Hodge e Heke (2004) identificam quatro níveis de competência de vida: as
competências comportamentais, as competências cognitivas, as competências interpessoais e as
competências intrapessoais, constituindo-se como recursos pessoais do indivíduo.
McFall (1982) conceptualiza o conceito de competência fazendo a distinção entre habilidade e
competência. Assim, o autor diz que a habilidade é o comportamento específico e necessário para a
execução de uma determinada tarefa. A adequação e qualidade da execução da tarefa é a
competência. Competências são assim, um termo avaliativo do desempenho do indivíduo (McFall,
1982; Matos, 1998). A conceptualização proposta por McFall (1982) permite compreender a
possibilidade de um indivíduo executar comportamentos socialmente desadequados, uma vez que
podem ser explicados ou por ausência de habilidades ou por motivos que o inibam de as utilizar.
Face a esta conceptualização, as competências constituem-se como comportamentos específicos
em situações particulares, que conduzem a julgamentos na execução de determinadas tarefas
(Cohen, Danley, & Nemec, 1985).
Helfriche e colegas (2006; 2007) utilizam intervenções de desenvolvimento de competência de
vida baseada na capacidade do indivíduo manter casa e viver de forma autónoma em sociedade.
Neste sentido, as várias conceptualizações de competências convergem para o sentido de
adequação do comportamento social, contextualizado cultural, social e temporalmente (Matos, 1998;
Welsh & Bierman, 2003).
Para a pessoa sem-abrigo as competência de vida constituem-se como uma necessidade para
viver de forma independente. A integração da pessoa sem-abrigo na sociedade requer o
fortalecimento das competência de vida, incluindo-se nestas as competências sociais, competências
profissionais e as competências pessoais (Daiski, 2007).
As competências sociais incluem comportamentos interpessoais, tais como, a empatia,
assertividade, gestão da ansiedade e da raiva e comportamentos de comunicação. Estão mais
relacionadas como o desenvolvimento e manutenção de relações, gestão de conflitos e competências
de intimidade (Epps, 1996 citado por Matos, 2008; Gresham & Elliott, 2008). As competências sociais
englobam a vertente individual, relacional e emocional do indivíduo. O desenvolvimento de
competências reflete-se na autoestima e no autoconceito, na assertividade e na gestão emocional
(Freitas, Simões, & Martins, 2011).
As competências profissionais visam mobilizar de forma integrada e complementar diversos
recursos de apoio à procura de emprego e diferentes medidas ativas de emprego e formação
19
(Estratégia Nacional para a integração da Pessoa Sem-Abrigo, 2009). As competências profissionais
para as pessoas sem-abrigo podem abranger a comunicação e o comportamento profissional,
exploração/orientação para uma carreira, autoavaliação de desempenho, competências básicas,
procura ativa de trabalho, entre outros (Nelson, Aubrey, & Lafrance, 2012).
As competências pessoais integram o desenvolvimento ou reedificação de competências que
permitam ao indivíduo viver de forma independente e o reforço das suas capacidades para manter
uma casa. Dadas as limitações das pessoas sem-abrigo nas competências de vida, é necessário o
desenho e implementação de programas de intervenção que lhes ofereçam a capacitação,
assistência e as competências necessárias para a sua reinserção na sociedade. Alguns estudos
sugerem que serviços que incluam treino de competências, aumentam a taxa de sucesso no
processo de reintegração social, nomeadamente nas pessoas sem-abrigo com doença mental.
(Calysn, Morse, Klinkenberg, Yonker, & Trusty, 2002; Lemaire & Mallik, 2005; Wasylenki, Goering,
Lemire, Lindsey, & Lancee, 1993)
Neste sentido, as competências de vida como recurso individual são passiveis de treino e de
ação sobre um determinado contexto e, permitem ao indivíduo transferi-las para outros domínios da
sua vida. A heterogeneidade, a individualidade e o contexto originam diversas perspetivas teóricas
que visam a compreensão das respostas comportamentais. Contudo, predomina o uso de técnicas
cognitivas comportamentais e afiliações teóricas à Teoria da Aprendizagem de Bandura (Caballo,
2003; Hupp, LeBlanc, Jewell, & Warnes, 2009). Segundo esta teoria, é por observação do
desempenho dos outros, que grande parte, das competências são apreendidas, através de um
processo de assimilação cognitiva de modelos bem-sucedidos (Bandura, 1977). Os modelos de treino
de competências incorporam a noção de aprendizagem por observação de modelos.
O modelo de Treino de Competências é baseado em Técnicas Comportamentais e incorpora
princípios da Teoria da Aprendizagem Social (Nemec, McNamara, & Walsh, 1992). O quadro 2.1.
caracteriza os principais elementos do Treino de Competências.
Quadro 2.1. Síntese do Modelo de Treino de Competências
Finalidade Desenvolvimento de Competências
Origem
Terapia Comportamental, Teoria da
Aprendizagem Social
Componentes
1. Avaliação 2. Aquisição 3. Generalização 4. Manutenção 5. Impacto
Técnicas
1. Instruções 2. Modelagem 3. Role playing
4. Feedback 5. “Trabalho de Casa”
20
O Treino de Competências baseia-se em cinco princípios fundamentais (Nemec, et al., 1992). Na
fase de avaliação são determinadas as competências deficitárias ou em falta. Na fase de aquisição, o
cliente executa as competências alvo, previamente identificadas. Dá-se a generalização dos
comportamentos, com a execução dos mesmos no ambiente natural. O participante continua a
executar os seus comportamentos ao longo do tempo e a nova competência desempenha um papel
significativo na melhoria de vida do cliente, princípios da manutenção e impacto, respetivamente. Este
modelo desenvolve-se com o uso de técnicas específicas e introduzidas sucessivamente (Nemec, et
al., 1992). A Instrução requer que se dê ao participante direções para provocar o comportamento. A
modelagem é o processo de demonstração do desempenho da competência ou das componentes do
comportamento. A técnica do role playing é a prática, por parte do cliente, da competência, seguindo-
se do feedback, como apresentação das forças e fraquezas e reforços e encorajamento para
continuar a prática. Finalmente, o “trabalho de casa”, é a prática da competência em contexto real,
seguindo-se de avaliação e reforço.
Atendendo à possibilidade de transferência das competências aprendidas em determinado
contexto, para outros contextos igualmente relevantes para a vida em sociedade, o programa de
intervenção focar-se-á num modelo de Treino de Competências.
As competências de vida revelam-se como uma área de elevada importância a desenvolver com
a população sem-abrigo, para que esta possa assumir o controlo da sua vida e consequentemente
almejar uma vida socialmente autónoma.
2.4.3.2. Identificação Social com o Grupo de Intervenção.
A Identidade Social refere-se a uma parte do autoconceito que reflete a internalização da
pertença a um grupo (Tajfel & Turner, 1979), conforme explicado anteriormente. Ou seja, é um
processo individual, por meio do qual, a pessoa se apropria dos valores e comportamentos de um
grupo. A literatura demonstra que a identidade social é um recurso positivo para a saúde e bem-estar
psicológico (Cruwys, Haslam, Dingle, Haslam, & Jetten, 2014a; Haslam, Jetten, Postmes, & Haslam,
2009; Jetten, Haslam, & Haslam, 2012).
A identificação com um grupo caracteriza e define o autoconceito (Turner, Hogg, Oakes, Reicher,
& Wetherell, 1987). Quando uma pessoa se identifica com o grupo, seja ele qual for, sente que o
grupo é importante par si e, que ela é importante para o grupo (Turner, et al., 1987).
A exposição a uma situação de sem-abrigo, causa a médio e longo prazo maior identificação
social com o grupo. A literatura refere que os membros de grupos de baixo estatuto procuram utilizar
estratégias de proteção de identidade ou de reforço da identidade (e.g., autoestima, sentimento de
pertença, atribuição de importância), originando, um maior enviesamento intergrupal que grupos de
estatuto elevado (Doosje, Ellemers, & Spears, 1995; Crocker & Luhtanen, 1990; Mullen, Brown &,
Smith, 1992).
Neste sentido, no que concerne às pessoas sem-abrigo, a forte identificação grupal pode, por um
lado aumentar a perceção de autoestima e sentimento de pertença (Crocker & Luhtanen, 1990) mas,
inibe a tendência para reunir recursos pessoais e funcionais para sair da situação, uma vez que há
adoção de estilo de vida congruente com a situação (Farrington & Robinson, 1999).
21
Vários autores (Cruwys, et al, 2014b; Farrington & Robinson, 1999; Hagan & McCarthy, 1997)
sugerem que a intervenção com a população sem-abrigo neste âmbito deve promover a identificação
social positiva com outros grupos, cujas características não se coadunem com o estilo de vida de sem
abrigo (e.g., grupos ocupacionais, formação profissional, emprego).
Cruwys e colegas (2014b), num estudo com população vulnerável, concluíram que a identificação
positiva com um grupo terapêutico e com um grupo institucional está associada à redução do
esquema mental do isolamento social, em pessoas com perturbações de humor/ansiedade e,
pessoas sem-abrigo, respetivamente.
Cruwys e colegas (2014b), desenvolveram dois estudos longitudinais, um com 92 pacientes de
terapia cognitivo comportamental (perturbações de humor e ansiedade) e outro com 76 pessoas sem-
abrigo residentes em cinco centros de alojamento da organização comunitária Salvation Army. O
objetivo dos estudos foi compreender que esquemas inadequados, desenvolvidos através de
experiências sociais negativas, podem ser corrigidos por meio de experiências sociais positivas, uma
vez que estas desafiam diretamente o esquema. De forma a explorar o objetivo dos estudos, os
autores focaram-se no esquema de isolamento social.
Em cada estudo, foi avaliado o esquema de isolamento social em dois tempos distintos, na
sequência de uma experiência social baseada na interação grupal (psicoterapia de grupo ou de
residência temporária numa organização comunitária). A experiência positiva de vida em grupo foi
operacionalizada na identificação social com o grupo terapêutico (estudo 1) ou com os membros da
organização comunitária (estudo 2).
Em ambos os estudos a identificação social levou a uma redução significativa do esquema de
isolamento social. No estudo 2 (organização comunitária) os resultados reportam que este efeito foi
totalmente mediado pela formação de laços com um novo grupo social, de tal forma que a
identificação social serviu de alavanca para o desenvolvimento de novos grupos sociais. Os
resultados revelam assim que a identificação social com um grupo tem uma função mediadora na
formação de novos grupos, seja através da motivação para fazer parte de novos grupos sociais ou,
através da motivação para estabelecer novas relações com membros de outros grupos.
Ainda neste estudo os autores identificaram que há um aumento das estratégias facilitadoras do
envolvimento social, quando estes experienciam positivamente uma forte identificação grupal.
Simultaneamente a experiência negativa com um grupo tem um efeito inverso, sendo menos provável
o envolvimento social com novos grupos e mais favorável o isolamento social. A experiencia positiva
com um grupo pode ser particularmente importante como facilitador de mudança (Cruwys, et al,
2014b).
No nosso trabalho, focar-nos-emos na saliência da identidade do grupo de intervenção (grupo de
treino de competências) de forma a desenvolver uma identidade social positiva com este grupo,
potenciando assim a intenção de pertença a novos grupos e maior envolvimento social, facilitadores
de uma integração social eficaz.
22
2.4.4. Variáveis Moderadoras: consumos de substâncias e problemas de saúde mental.
O consumo de substâncias e os problemas de saúde mental são referenciados como os maiores
problemas a intervir ao nível da saúde e bem-estar para a população sem-abrigo (Wright & Tompkins,
2005)
Alguns estudos indicam que um terço da população sem-abrigo sofre de problemas de saúde
mental (Kamieniecki, 2001; Morrissey & Levine, 1987; Tessler & Dennis, 1989), 30% a 40% consome
álcool (Breakey & Fischer, 1990; Koegel & Burnam, 1988; Wright, Knight, Weber-Burdin, & Lain,
1987), e entre 10% e 20% consomem drogas (Milburn, 1989).
De acordo com o trabalho desenvolvido pelo Programa Intergerações/InterSituações de Exclusão
e Vulnerabilidade Social (SCML, 2014), na cidade de lisboa 15,4% indivíduos sem-abrigo revelaram
sinais de desorganização mental, 30,4% afirmaram ter tido consumos aditivos de álcool e 8,8%
disseram ter consumido drogas, numa amostra de 454 inquiridos.
Os problemas de saúde mental inibem as capacidades funcionais do indivíduo para atividades
primárias do dia-a-dia. Incluem-se a dificuldade em cuidar de si, em estabelecer relações, em
procurar e manter um emprego (Levine & Haggard, 1990).
Vários estudos (Herman, Susser, Struening & Link, 1997; Kamieniecki, 2001) revelam que este
tipo de população, a maioria das vezes não possui ou não consegue usar as competências
necessárias para procurar e obter alojamento, bem como benefícios de outras instituições da rede
social.
As intervenções para a pessoa sem-abrigo documentadas reforçam a importância do tratamento
para problemas de saúde mental e ou abusos de substâncias. Vários estudos revelam que o
tratamento/inibição de consumos ou comportamentos aditivos aumentam os resultados das
intervenções focadas na integração social e profissional do indivíduo sem-abrigo (Goetz &
Schiemege, 1996; Helfrich & Fogg, 2007; Wright & Tompkins, 2005;) .
A literatura sugere que o consumo de substâncias e os problemas de saúde mental dificultam o
envolvimento dos indivíduo sem-abrigo com os programas e serviços que tentam responder às suas
necessidades (Goetz & Schiemege, 1996; Wright & Tompkins, 2005).
O abuso de substâncias como o álcool ou drogas, tem um impacto devastador na vida do
indivíduo sem-abrigo. Para além de inibir as relações interpessoais e dificultar a manutenção de um
emprego e habitação, os consumos e os comportamentos que deles derivam, têm forte impacto na
saúde física e mental (Goetz & Schiemege, 1996; Helfrich & Fogg, 2007; Wright & Tompkins, 2005).
Conclui-se assim, que consumo de substâncias e os problemas de saúde mental, contribuem
significativamente para o impacto dos programas de intervenção. Neste sentido, no âmbito da
intervenção, dever-se-á ter em conta que a presença de consumos de substâncias e de problemas de
saúde mental irá contribuir negativamente para o impacto da intervenção.
2.4.5. Variável Mediadora: Empowerment.
O empowerment é um processo pelo qual os indivíduos, as organizações e as comunidades
ganham controlo sobre questões de interesse para si próprios (Rappaport, 1987). O empowerment é
o processo pelo qual os indivíduos acedem autonomamente aos recursos da comunidade e
23
participam na sua comunidade, através do controlo e mestria sobre as suas vidas (Zimmerman,
1998).
Zimmerman (1998) especifica a conceptualização de empowerment referindo as suas três
dimensões: controlo, consciência crítica e participação. O controlo refere-se à perceção, pelo
indivíduo, das competências que possui para influenciar ou controlar determinada situação (Ornelas,
2008). Esta conceção de controlo está relacionada com a aspiração, confiança e convicção pessoal
sobre a capacidade de um individuo intervir e influenciar as várias esferas da sua vida (Ornelas,
2008). A consciência crítica refere-se ao conhecimento, analise e planeamento estratégico sobre o
contexto social e político, do indivíduo. Permite ao indivíduo identificar, mobilizar e gerir recursos para
a atingir objetivos (Ornelas, 2008). A participação é sugerida como a ação concreta para atingir
objetivos, traduzindo-se no envolvimento com a comunidade.
O empowerment é um processo que ocorre a três níveis: comunitário, organizacional e
psicológico. O nível comunitário diz respeito à ação coletiva para a melhoria da qualidade de vida da
comunidade, no sentido da implementação de estratégias que resolvam necessidades identificadas
(Perkns & Zimmerman, 1995).
O empowerment organizacional refere-se à forma como as organizações das comunidades
proporcionam aos seus membros recursos. Organizações empowered promovem uma participação
ativa de todos os elementos no processo de tomada de decisão e na definição das políticas da
organização (Jesus & Menezes, 2010).
O empowerment psicológico refere-se ao empowerment a um nível individual. O empowerment
psicológico integra perceções de auto controlo, participação na comunidade para atingir objetivos e
consciência critica dos fatores que dificultam ou facilitam o esforço individual para exercer controlo
sobre a sua vida (Zimmerman & Warschausky, 1998).
O empowerment psicológico inclui três componentes: a componente intrapessoal, a componente
de interação e a componente comportamental (Zimmerman, 1995).
A componente intrapessoal inclui a perceção que o indivíduo tem de si e a perceção de controlo
em relação à capacidade para influenciar as diferentes esferas da sua vida. Esta componente
engloba a motivação para o controlo, a competência percebida e a autoeficácia (Zimmerman, 1995).
A componente de interação foca-se na capacidade do indivíduo aceder e integrar os diversos
recursos da comunidade e a forma como influencia o seu contexto. Esta componente sugere que os
indivíduos devem identificar, reconhecer e agir sobre as suas opções num determinado contexto no
sentido de exercer controlo sobre o ambiente. A componente comportamental, foca-se nas ações
concretas do indivíduo direcionadas aos resultados diretos (Zimmerman, 1995; Ornelas, 2008).
De acordo com Zimmerman (1995) o indivíduo é capaz de desenvolver um sentido de controlo e
mestria na sua vida. Neste sentido, o indivíduo é capaz de aprender e usar competências para
influenciar os acontecimentos inerentes à sua vida, mesmo nos ambientes que parecem menos
favoráveis (Rapport, 1987; Zimmerman, 1995).
Assim, pretende-se no programa recorrer ao empowerment psicológico, como mediador na
intervenção, para potenciar a integração social, através do treino de competências. O Treino de
Competências desenvolver-se-á à luz dos modelos de Empowerment, no sentido de facilitar,
24
progressivamente, o processo de autonomização e fortalecimento de competências (Perkin &
Zimmerman, 1995).
2.5. Modelo Teórico de Processo
A revisão de literatura teve como objetivo primordial a criação de um modelo teórico de
processo (Figura 2.1.) que orienta e estrutura a intervenção.
Neste sentido, as variáveis extraídas da literatura e anteriormente explicadas influenciam a
variável resultado, quer por efeito direto, quer por via de moderação ou mediação. Verifica-se assim,
que o Treino de Competências de Vida tem um efeito direto no aumento da perceção de autoeficácia
e autoestima. Numa perspetiva de resultados a longo-prazo, estas variáveis são potenciadoras de
uma integração social eficaz. Postulamos também que a saliência na identificação com o grupo de
intervenção tem um efeito direto no aumento da identificação social positiva, com este grupo e com a
autoestima, consequentemente, promoverá a eficácia, a longo-prazo, da integração social
Estas relações entre as variáveis independentes e as variáveis resultado, são influenciadas
negativamente pelos consumos de substâncias e, de problemas de saúde mental, uma vez que,
estes fatores, quando presentes, influenciam o efeito de qualquer intervenção. Por fim, o
empowerment aparece como uma variável mediadora na intervenção, uma vez que atua como
facilitador do impacto do treino de competências de vida e da identificação com o grupo de
intervenção, no aumento da perceção de autoeficácia e autoestima e, na identificação social com o
grupo de intervenção.
Figura.02.1. Modelo Teórico de Processo
25
2.6. Objetivos
Os objetivos do presente trabalho, mostrados no Modelo Teórico de Processo (Figura 2.1.) são:
1. Aumentar, a curto prazo, a perceção de autoeficácia na pessoa sem-abrigo.
2. Aumentar, a curto prazo, a autoestima na pessoa sem-abrigo.
3. Promover, a curto prazo, a identificação social positiva com o grupo de intervenção na pessoa
sem-abrigo.
4. Potenciar, a longo prazo, a integração social na pessoa sem-abrigo.
2.7. Hipóteses
O Modelo Teórico de Processo (figura 2.1.) estabelece oito hipóteses:
H1: O Treino de competências de vida tem um efeito positivo e direto no aumento da perceção de
autoeficácia, a curto prazo.
H2: O Treino de competências de vida tem um efeito positivo e direto no da autoestima, a curto prazo.
H3: A saliência na identificação com um grupo de intervenção tem um efeito positivo e direto na
promoção de uma identidade social positiva com o grupo de intervenção.
H4: O aumento da perceção de autoeficácia, autoestima e a promoção de identidade social com o
grupo de intervenção potenciam a integração social da pessoa sem-abrigo, a longo prazo.
H5: O consumo de substâncias e os problemas de saúde mental, moderam negativamente a relação
entre o treino de competências de vida e o aumento da perceção de autoeficácia e autoestima.
H6: O consumo de substâncias e os problemas de saúde mental, moderam negativamente a relação
entre a saliência na identificação com um grupo de intervenção e a promoção de uma identidade
social positiva com o grupo de intervenção.
H7: O empowerment intervém positivamente na relação entre o Treino de Competências e o aumento
da perceção de autoeficácia e autoestima.
H8: O empowerment intervém positivamente na relação entre a saliência na identificação com um
grupo de intervenção e a promoção de uma identidade social positiva com o grupo de intervenção.
27
III. Diagnóstico de necessidades
3.1. Enquadramento
Partindo do referencial teórico anteriormente apresentado, realizou-se o diagnóstico de
necessidades, no Centro de Alojamento Temporário para Sem-Abrigo de Xabregas (CAX) do Exército
de Salvação, perspetivando responder a questões de partida que orientaram a construção do
programa de competências de vida.
Os dados apresentados neste ponto, resultam da informação recolhida junto dos técnicos através
de entrevistas (Anexo C) e de documentos internos referentes ao funcionamento da Instituição.
O CAX é uma resposta social de apoio a pessoas em situação de sem-abrigo, prestando serviços
que colmatem as necessidades básicas e promovem a integração social. O CAX tem 75 vagas, 68
das quais vagas são geridas pelo equipamento (60 de homens e cinco de mulheres) e, as restantes
sete vagas estão sob a gestão do Centro Distrital de Segurança Social de Lisboa. A ocupação destas
vagas (cinco de homens e duas de mulheres) é ativada por meio da Linha Nacional de Emergência
Social 144.
Dos serviços prestados pelos CAX, destacam-se os que permitem contextualizar a conveniência
da intervenção. O Gabinete de Serviço Social é constituído por duas Técnicas de Serviço Social
(TSS) cuja intervenção prioriza o apoio, acompanhamento e responsabilização do cliente no
cumprimento de objetivos que o levarão à realização do seu projeto de vida pessoal. O projeto de
vida do cliente materializa-se no acordo de inserção, um documento que estabelece as dimensões
que o cliente terá que trabalhar durante a sua estadia de seis meses no CAX, revisto periodicamente
em reunião de atendimento entre o mesmo e a TSS. Estas dimensões traduzem-se em aspetos
relacionados com a integração social e profissional do indivíduo.
O Gabinete de Educação Social (GES) é orientado por uma Técnica de Educação Social e,
compreende um conjunto de atividades e projetos que visam o apoio nas várias etapas da integração
profissional, organização de atividades de animação e outras atividades de desenvolvimento
psicossocial. Destacam-se dois dos projetos desenvolvidos pelo GES: o CAX 180º e o Espaço de
Capacitação Profissional. O CAX 180º é um projeto que visa o apoio na procura ativa de trabalho e de
formação profissional. O Espaço de Capacitação Profissional (ECP) é uma resposta descentralizada
do CAX, orientado para a maximização das respostas dadas, às necessidades dos clientes no âmbito
da sua integração socioprofissional. Neste sentido, compreende um conjunto de atividades dirigidas
ao acompanhamento individualizado, ações de formação, procura ativa de trabalho e aumento da
rede de suporte social com a finalidade de reinserir profissionalmente e socialmente os clientes do
CAX.
A integração de um programa de competências de vida, na instituição, cumpre com os objetivos
da mesma, complementando o trabalho já desenvolvido.
Como referido, a recolha de dados para a concretização do seguinte diagnóstico de necessidades
foi orientada por quatro questões de partida (Quadro 3.1) Estas questões foram definidas procurando
analisar os elementos que constituem o nosso modelo teórico e, respondidas, através de vários
métodos, por quatro atores chave relevantes e clientes da instituição.
28
Quadro 23.1 Questões de partida do diagnóstico de necessidades
1. Que competências/capacidades têm as pessoas sem-abrigo para reinserir socialmente?
2. Que competências de vida são necessárias desenvolver na pessoa sem-abrigo?
3. Que representação existe sobre as pessoas sem-abrigo, e em que nível se identificam com ela?
4. Qual é a atitude e motivação das pessoas sem-abrigo para o treino de competências de vida?
A primeira pergunta procura avaliar a pertinência da intervenção em relação às variáveis
independentes e moderadoras identificadas no nosso modelo, nomeadamente, empowerment,
perceção de autoeficácia e autoestima. A segunda pergunta pretende aferir que competências de
vida são necessárias à pessoa sem-abrigo para assumir controlo da sua vida e promover mudança. A
terceira questão pretende aferir qual representação vigente de pessoa sem-abrigo e, em que medida
há identificação com essa representação. A última questão procura compreender a atitude e
motivação das pessoas sem-abrigo para a participação em programas de treino de competências de
vida
3.2. Método
Objetivando respostas completas às questões anteriormente enunciadas utilizámos a
triangulação de metodologias. A combinação de métodos, nomeadamente dos métodos qualitativos e
quantitativos oferece uma imagem mais completa e holística do fenómeno em estudo (Kelle, 2001;
Kelle e Erzberger, 2005). A integração de vários métodos permite-nos usufruir das vantagens dos
métodos qualitativos e quantitativos, garantindo maior precisão e rigor na recolha e análise dos dados
(Jick, 1979).
Seguidamente, iremos apresentar os dois instrumentos utilizados no diagnóstico de
necessidades, a entrevista a atores chave e o questionário de competências de vida. Uma vez que
foram usadas para cada instrumento amostras diferentes, em cada um caracterizamos a mostra
descrevendo as suas principais características.
3.2.1.Entrevistas a atores chave.
As entrevistas têm tido ao longo do tempo, um papel relevante nos métodos das ciências sociais.
Os investigadores tornaram-se cada vez mais confiantes na informação verbal e esta propensão não
mostra quaisquer sinais de inversão (Gaskell, 2003). Na metodologia qualitativa a entrevista é uma
técnica de recolha de dados que permite determinar e/ou encontrar outras perspetivas ou pontos de
vista sobre factos, para além daqueles que o entrevistador já possui (Farr, 1982). A entrevista fornece
dados que permitem o desenvolvimento e compreensão das relações entre os agentes sociais e a
sua realidade contextual.
29
3.2.1.1. Amostra.
Participaram nas entrevistas quatro elementos da equipa técnica, considerados relevantes face à
sua intervenção e posição no CAX.
Realizaram-se entrevistas ao Diretor de Serviços, com funções de coordenação e supervisão de
serviços e às duas Técnicas de Serviço Social, cujas funções são idênticas e concretizam-se no
Gabinete de Serviço Social. Efetuou-se também uma entrevista à Educadora Social.
O quadro 3.2. resume as características principais dos atores chave.
Quadro 3.2. Caracterização da amostra das entrevistas a atores chave
Entrevistados E1
Diretor de
Serviços
E2
Técnica de
Serviço Social
E3
Técnica de
Serviço Social
E4
Educadora
Social
Sexo Masculino Feminino
Idade Entre os 40-
50 anos
Entre os 30-40
anos
Entre os 30-40
anos
Entre os 20-30
anos
Nacionalidade Portuguesa
Escolaridade Licenciatura
Tempo de serviço 7 anos 2 anos 16 anos 4 anos
Atividades Acordo de
Inserção
Avaliação
Intervenção
Avaliação
Intervenção
Avaliação
Avaliação
Integração Social Intervenção
Avaliação
Intervenção
Avaliação
Intervenção
Avaliação
Integração
Profissional
Avaliação Avaliação Intervenção
Avaliação
Atividades
Psicossociais
Avaliação Avaliação Intervenção
Avaliação
Para efeitos do diagnóstico de necessidades focámo-nos nas atividades diretamente relacionadas
com os clientes do CAX. O acordo de inserção, conforme referenciado, é estabelecido através da
relação Técnico de Serviço Social e o Cliente. São traçados objetivos que dizem respeito a várias
dimensões que se concretizam na integração social (e.g. apoios sociais, habitação, documentação,
entre outras) e na integração profissional (e.g. procura de trabalho, inscrição no centro de emprego,
formação profissional, estágios, entre outros). As dimensões da integração social são trabalhadas
pelas Técnicas de Serviço Social com o apoio da Educadora Social. No entanto, cabe à Educadora
Social intervir junto dos objetivos definidos no âmbito da integração profissional. As atividades
psicossociais (e.g. desenvolvimento de competências pessoais e sociais, atividades de animação,
entre outras) são desenvolvidas pela Educadora Social. Compete à equipa técnica a avaliação de
cada situação e redefinição de estratégias caso a caso.
3.2.1.2. Instrumento.
Como procedimento na recolha de dados, elaborámos um guião de entrevista semiestruturada
(Anexo B), com o intuito de responder às questões de partida já apresentadas.
A entrevista semiestruturada permite uma maior flexibilidade na exploração das questões e uma
maior adaptação das perguntas ao entrevistado (Gaskell, 2003). Neste sentido, o guião da entrevista
foi utilizado de uma forma não limitativa não descurando a direção e os objetivos definidos.
30
O guião orientador da entrevista (Anexo B) está organizado em duas secções. A secção um,
preenchida pelo entrevistador, contém um questionário que visa a recolha de informação necessária
para a caracterização do entrevistado. A secção dois corresponde ao conjunto de perguntas gerais e
específicas, dez no total, que permitem responder a quatro dimensões, relacionadas com as questões
de partida. Acrescentou-se, nesta fase, a dimensão Intervenção na Instituição como forma de
caracterizar os entrevistados e recolher informação adicional sobre a atividade da instituição.
3.2.1.3. Procedimento.
As entrevistas foram realizadas em três etapas: preparação, condução e análise das entrevistas.
A preparação da entrevista consistiu na seleção das questões que melhor respondessem às
perguntas de partida e, na seleção de uma amostra, pela sua importância e referência na intervenção
com pessoas sem-abrigo.
A entrevista foi conduzida no CAX, em data e horários combinados com os atores chave, de
acordo com a sua disponibilidade. Os entrevistados assinaram o formulário de consentimento
informado (Anexo A), que garante a confidencialidade dos dados.
Para a análise das entrevistas foi utilizado o método de análise temática sugerida por Braun e
Clarke (2006).
A análise temática consiste num método de identificação, análise e descrição de padrões (temas)
nos dados recolhidos (Braun & Clarke, 2006). As autoras identificam seis fases no processo de
análise temática: 1) Familiaridade com os dados; 2) Codificação inicial; 3) Procura dos temas; 4)
Revisão de temas; 5) Definição e nomeação de temas; 6) Descrição dos resultados.
A Familiaridades com os dados compreendeu a condução da entrevista, gravação e posterior
transcrição permitindo o conhecimento das informações a analisar (Anexo C). A codificação inicial
consistiu na reunião de características pertinentes de todos os dados de uma forma sistemática,
confrontando os dados com cada código. A procura de temas decorreu da correspondência dos
padrões de resposta (temas) às questões de partida. Na revisão dos temas verificou-se a relação
entre os temas encontrados e respetivos dados, e a codificação inicial. A definição e nomeação de
temas consistiram na organização dos dados recolhidos em conformidade com os temas já pré-
definidos e, criando-se mapas orientadores da descrição dos resultados. Estes mapas pretendem
responder, individualmente, a cada questão de partida (Anexo D).
Finalmente o relatório, comporta a integração final da análise nas questões de partida. Neste
trabalho, materializa-se na apresentação dos resultados.
3.2.2. Questionário de Competências de Vida.
Recorreu-se à técnica de inquérito por questionário para recolha de informação aos residentes do
Centro de Acolhimento de Xabregas.
O inquérito por questionário é uma técnica amplamente utilizada em investigação. É um
instrumento de recolha de dados, organizado num conjunto mais ou menos amplo de questões que
se consideram relevantes de acordo com as características e dimensão do que se deseja observar
31
(Hoz, 1985). Permitem aceder a opiniões, crenças, representações e informações fatuais sobre um
conjunto de indivíduos e o meio que os envolve (Ghiglione & Matalon, 2001). Neste sentido,
considerou-se, dado o número da amostra e o perfil dos participantes, que a utilização desta técnica
beneficiaria o diagnóstico de competências.
3.2.2.1. Amostra.
O Questionário de Competências de Vida foi aplicado a 40 pessoas em situação de sem-abrigo,
acolhidas no CAX, em Lisboa.
A caracterização geral da amostra, encontra-se no Quadro 3.3.
Quadro 43.3. Caracterização da amostra do Questionário de Diagnóstico
Idade 15% com menos de 25 anos
35% entre os 25 e os 34 anos
20% entre os 35 e os 44 anos
30% com mais de 45 anos
Sexo 75% do sexo masculino
Escolaridade 5% com menos de 4 anos de escolaridade
7,5% com o 1º ciclo do E.B.
27,%% com o 2º ciclo do E.B.
37,5% com o 3º ciclo do E.B.
22,5% com o 12º ano
Situação face ao trabalho 80% está desempregado
Tempo desempregado (meses) M=31,15; DP=29,26
Tempo na situação de sem-abrigo. 67,5% há menos de 1 ano
17,5% entre 1 a 3 anos
15% há mais de 3 anos
Tempo de permanência no CAX 12,5% há menos de 1 mês
57,5% entre 1 a 6 meses
30% entre 6 a 12 meses
Podemos ainda realçar que a amostra se concentra numa média de idades de 38 anos
(DP=11,98), sendo que a idade mínima é 22 anos e a idade máxima 64 anos.
Do questionário, podemos ainda extrair os motivos que levaram cada participante a ficar numa
situação de sem-abrigo e, consequentemente procurar apoio no CAX. Assim, 28% dos participantes
identifica o desemprego como principal fator e, 5% destes associa-o a fatores relacionados com a
ausência/conflito no suporte familiar. Os fatores pessoais, como os consumos, comportamentos
desviantes e, outras problemáticas associadas a escolhas e opções de vida, são identificados por
22,5% dos participantes como contingenciais para a sua situação atual. Fatores relacionados com
situação financeira insuficiente (12,5%) e condições de saúde (5%) são igualmente reconhecidos
como potenciadores de situações de sem-abrigo. Outro fator identificado é um percurso de
32
institucionalização precoce (lar de crianças e jovens e casas de transição) e, consequentemente a
sua desinstitucionalização (7,5%).
3.2.2.2.Instrumento.
Na construção deste questionário (Anexo F), foram considerados um conjunto de medidas: a
Escala Portuguesa de Empowerment (EPE; Nunes, Brites, & Pires, 2010), a Escala de Impacto do
Quality of Life for Homeless and Hard-to-House Individuals ( QoLHHI; Hubley, Russel, Gadermann, &
Palepu, 2009), O Questionário de Competências Intrapessoais, Interpessoais e Profissionais (QCIIP;
Jardim & Pereira, 2005, citado em Jardim, 2007), Escala de Autoeficácia Geral (EAG; Araújo &
Moura, 2011) e, a medida de Identificação Grupal sugerida por Doosje, Ellemers e Spears (1995).
A par das medidas supracitadas consideramos pertinente acrescentar uma seção de questões
relacionadas com a caracterização da situação atual, uma seção relacionada com a pertinência de
um programa de competências de vida, uma seção relacionada com a representação da pessoa sem-
abrigo e, uma seção com um questionário de caracterização dos participantes.
O questionário de Competências de Vida foi pré testado em 13 indivíduos com características
semelhantes à da amostra em análise. Após o pré teste fez-se a alteração de alguns itens, no que
concerne, à clareza e precisão dos termos e forma das questões.
Não se procedeu qualquer alteração à redação de itens, para além daqueles já explicados na
descrição do instrumento.
A partir do pré-teste considerou-se necessária uma uniformização das escalas de maior
dimensão (EPE, Escala de Auto- Eficácia Geral e QCIIP) para evitar efeitos de desejabilidade social
e, facilitar a transição de uma medida para a outra. Foi evidente pela cotação das escalas e, revelado
pelos participantes do pré teste a tendência para fornecer respostas aceites socialmente. Neste
sentido, para estas medidas, optaram-se por escalas de 11 pontos que permitem uma maior
variabilidade de respostas em função do grau de positividade.
Seguidamente, apresentaremos cada uma das medidas indicadas.
3.2.2.2.1. Escala Portuguesa de Empowerment (EPE; Nunes, Brites & Pires, 2010).
A EPE é uma adaptação e pré-validação da Echelle Toulousaine de Hardiesse, Endurance et
Roubustesse para a população portuguesa e, permite-nos compreender o nível de Empowerment e
Resiliência dos participantes.
É composta por 52 itens (II 1 a II 52, no Questionário de Competências de Vida), cotados entre 1
(discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), distribuídos por três fatores: risco, adaptação e
flexibilidade; processos de resolução; e previsibilidade e controle.
O fator risco, adaptação e flexibilidade compreende duas dimensões: Adaptação e Resiliência e
Proatividade e Compromisso social; o fator processos de resolução subdivide-se me duas dimensões:
Segurança e Persistência e Evitamento e Encorajamento; e o fator previsibilidade e controlo abarca
duas dimensões: Previsibilidade Controle positivo (+) e Frustração e Controle negativo (-).
33
Os resultados apresentados pelos autores, na pré-validação da EPE, evidenciam valores de
validade e de fidelidade satisfatórios (Alpha de Cronbach entre 0,58 e 0,87). No nosso trabalho, para
uma amostra de 40 participantes, a EPE evidencia elevada consistência interna na escala global
(α=.86) e nas seis dimensões que a constituem (α Adaptação e Resiliência=.76; α Proatividade e Compromisso social=.78;
α Segurança e Persistência=.68; α Evitamento e Encorajamento=.77; α Previsibilidade Controle + = .62; α Frustração e Controle - =.62).
A versão da EPE usada no diagnóstico de necessidades é semelhante à original exceto na escala
de resposta que, após pré-teste do questionário se considerou relevante a utilização de escalas de 11
pontos.
3.2.2.2.2. Escala descritiva de Impacto do Quality of Life for Homeless and Hard-to-House
Individuals ( QoLHHI; Hubley, Russel, Gadermann & Palepu, 2009.
O QoLHHI é um instrumento que avalia a qualidade de vida de pessoas sem-abrigo ou em
situação de vulnerabilidade ao nível da habitação. É constituído por duas medidas: Escala de Impacto
e a Escala MDT. A escala de impacto oferece informação descritiva sobre a situação de vida dos
participantes e permite fazer uma avaliação do impacto, que vários aspetos da vida, têm nos
participantes. A Escala MDT avalia a satisfação dos participantes, descreve o estado e compara no
tempo a situação de vida dos participantes.
Para o diagnóstico de necessidades considerou-se pertinente o uso da Escala de Impacto (Anexo
F; Secção III), a extensão de cada medida e o tipo de informação que pretendíamos recolher.
Neste sentido, procedeu-se, com a autorização dos autores à tradução da escala de Impacto da
língua inglesa para a língua portuguesa, seguindo o método de tradução-retradução.
A escala foi traduzida independentemente por dois juízes (bilingues) e posteriormente encontrada
uma versão consensual. Um terceiro juiz (bilingue) procedeu à retradução. Procedeu-se depois à
comparação entre as duas versões. Foram respeitadas as características linguísticas e culturais.
A escala de impacto do QoLHHI é constituída por itens que providenciam informações descritivas,
itens que avaliam o impacto e, itens de resposta aberta que permitem compreender qual a
valorização, negativa e positiva, dada a diversas áreas da vida, pelos participantes. São assim
avaliadas aspetos da saúde, das condições de vida (local e envolvente), alimentação, vestuário,
situação financeira e suporte social e emocional.
Ainda associada a esta medida, existe um item sobre a identificação com grupos. Este item está
formulado sob a forma de pergunta de resposta fechada “sente que pertence a algo (grupo,
comunidade ou organização?” (SE10 da Secção V do Questionário de Competências de Vida) dando
a possibilidade do participante comentar. Na aplicação do questionário foi solicitado que os
participantes comentassem a mesma.
Os autores sugerem uma análise qualitativa de resultados, não existindo neste sentido, uma
avaliação das qualidades psicométricas deste instrumento.
34
3.2.2.2.3. O Questionário de Competências Intrapessoais, Interpessoais e Profissionais (Jardim &
Pereira, 2005, citado em Jardim, 2007).
O QCIIP (Jardim & Pereira, 2005, citado em Jardim, 2007) avalia as competências intrapessoais,
interpessoais e profissionais em estudantes do ensino superior. Contudo, considerámos pertinente a
utilização deste questionário, uma vez que, as competências visadas no mesmo, coincidem com as
competências necessárias a reforçar/desenvolver em grupos de adultos num processo de integração
social (Amaral, 2008). O mesmo questionário foi aplicado a uma amostra de reclusas, em
estabelecimento prisional, com o objetivo de compreender que competências pessoais e sociais,
desenvolvem as atividades prisionais, no âmbito da promoção de uma integração social mais coesa
(Amaral, 2008).
O QCIIP é constituído por 73 itens que avaliam competências intrapessoais, interpessoais e
profissionais, avaliadas em seis dimensões: cooperação (20 itens; V1 ao V20 no Questionário de
Competências de Vida); autorrealização (12 itens; V21 ao V32 no Questionário de Competências de
Vida); autoestima (14 itens: V33 ao V46 no Questionário de Competências de Vida); suporte social
(12 itens; V47 ao V58 no Questionário de Competências de Vida); a assertividade (8 itens; V59 ao
V66 no Questionário de Competências de Vida) e a empatia (7 itens; V67 ao V73 no Questionário de
Competências de Vida). O QCIIP apresenta, segundo os autores, uma boa consistência interna
(α=.95).
No nosso estudo, para uma amostra de 40 participantes as dimensões avaliadas apresentam
valores satisfatórios de consistência interna (αcooperação=.94; αautorrealização= .90; αautoestima=.91;
αsuportesocial=.91; αassertividade=.82; αempatia=.87)
A versão do QCIIP usada no diagnóstico de necessidades é semelhante à original, expecto na
escala usada e na redação de alguns itens. Assim, optou-se mais uma vez, face aos resultados do
pré-teste, à alteração da escala de 5 pontos para a de 11 pontos, que variam entre o nunca e o
sempre. No que concerne aos itens, alterou-se a redação dos itens 20, 23, 27, 32 e 73, adequando-
os ao contexto institucional dos participantes – O CAX.
3.2.2.2.4. Escala de Autoeficácia Geral (Araújo & Moura, 2011).
A Escala de Autoeficácia é um instrumento que avalia o sentimento geral de eficácia pessoal para
lidar adequadamente com um conjunto alargado de situações. É uma adaptação e validação da Self-
Efficacy Scale (Schwarzer & Jerusalem, 1995). A Autoeficácia geral é avaliada através de 10 itens
que se organizam em torno de uma estrutura unidimensional, numa escala de 1 (de modo nenhum é
verdade) a 4 (exatamente verdade).
Mais uma vez, considerou-se que a utilização de uma escala comum nas medidas do
Questionário de Competências de Vida, traria benefícios ao nível dos resultados e, alterou-se a
escala original para uma de 11 pontos.
A Escala de Autoeficácia geral apresenta, segundo os autores, uma boa consistência interna
(α=.87) evidenciada igualmente no nosso trabalho, para uma amostra de 40 participantes (α=.85)
35
3.2.2.2.5. Medida de identificação grupal.
A identificação grupal com pessoas sem-abrigo foi medida através de três dos quatro itens da
medida de Identificação Grupal de Doosje, Ellemers e Spears (1995). Os itens abrangem medidas de
aspetos cognitivos, avaliativos e afetivos da identificação grupal, avaliados numa escala de sete
pontos.
A escala original consiste em quatro itens no entanto, considerou-se inadequado a utilização do
item “eu sinto-me feliz por ser sem-abrigo” e retirou-se. Os três itens de identificação grupal formam,
no nosso trabalho, uma escala consistente (α=0,81).
A pontuação relativa à identificação grupal com as pessoas sem-abrigo advém da leitura das
médias de respostas dos participantes que constituem os grupos “elevada identificação com as
pessoas sem-abrigo” e “baixa identificação com pessoas sem-abrigo”, como sugerida por Doosje,
Ellemers, & Spears (1995). Estes grupos foram constituídos, através da leitura da mediana (Me=4,25)
e, os participantes com pontuação acima desta foram incluídos no grupo “elevada identificação com
as pessoas sem-abrigo” e, com pontuação abaixo classificados como “baixa identificação com
pessoas sem-abrigo”.
3.2.2.2.6. Caracterização da situação atual.
Na formulação desta secção utilizamos duas questões de resposta aberta e uma de resposta
fechada. O objetivo é a caracterização dos fatores que levaram o participante a chegar a esta
situação, o tempo de permanência na situação de sem-abrigo e, quais os fatores que os participantes
identificam como necessários para alterar a situação.
3.2.2.2.7. Pertinência de um programa de competências de vida.
Procurámos compreender em que medida os participantes têm interesse em participar num
Programa de Treino de Competências de Vida, avaliada por uma questão cotada numa escala de
Likert de sete pontos.
Considerámos também, pertinente compreender a experiência anterior do participante em
programas semelhantes e, solicitamos aos participantes que descrevessem quais as características
essenciais num programa de competências.
3.2.2.2.8.Representação da pessoa sem-abrigo
Elaboramos uma questão aberta que permite, ao participante, descrever o que é para si uma
pessoa sem-abrigo.
36
3.2.2.2.9. Questionário de caracterização sociodemográfica
Foram considerados itens de caracterização dos participantes referenciados como relevantes na
literatura e que globalmente podem interferir nos resultados: idade, género, escolaridade, situação
profissional.
3.2.2.3. Procedimento.
O Questionário de Competências de Vida, foi aplicado no CAX, após autorização formal. O
processo de aplicação foi facilitado pelo contato já estabelecido pela aluna durante o estágio
curricular e o voluntariado na Instituição.
Os participantes foram recrutados pessoalmente, após explicação do trabalho e a leitura do
formulário de consentimento informado (Anexo E).
A aplicação decorreu num espaço destinado para o efeito, em grupos de 3 a 4 pessoas,
devidamente distanciadas e, na presença da aluna. Foi pedido a todos os participantes após
assinarem o consentimento informado, que se mantivessem em silêncio e, em caso de dúvida que
colocassem a questão sem perturbar os restantes participantes.
No final de cada preenchimento foi oferecido um café. Foi também disponibilizada a cada
participante a possibilidade de conversarem sobre o questionário após o seu preenchimento.
3.3. Resultados
Os resultados seguintes serão apresentados de acordo com as questões de partida e pela
mesma ordem com que foram apresentadas. Para cada questão, os resultados serão reportados em
função dos instrumentos aplicados: entrevistas a atores chave e questionário de competências de
vida.
Os atores chave entrevistados serão referenciados por E1, E2, E3 e E4, correspondendo à ordem
com que foram identificados.
A leitura dos resultados adotada é de caracter qualitativo e orientador do desenho do programa
de treino de competências de vida. Os resultados apresentados nesta secção servem um propósito
descritivo relativamente às dimensões em análise dos participantes, representados pela amostra de
40 indivíduos.
3.3.1. Que competências/capacidades têm as pessoas sem-abrigo para reinserir
socialmente?
3.3.1.1. Entrevistas a atores chave.
Quanto à primeira questão de partida procurámos identificar padrões que caracterizassem as
pessoas sem-abrigo quanto à ausência e presença de competências. A análise de dados permitiu-
nos construir um mapa de temas e, agrupar as entrevistas dos atores chave em dois temas principais,
a aquisição de competências e o potenciar e reforçar competências pré-existentes.
37
Os atores chave são proeminentes no que concerne à segmentação da população, ao nível das
competências. Os entrevistados identificam pessoas que não possuem as competências
necessárias para reinserir socialmente (“(…)e aqui o que se faz é mesmo tentar promover ou, o que
está lá e as pessoas não sabem que têm ou então… ou então… desenvolver mesmo do zero, porque
às vezes faz falta” [E2]; “A grande parte deles não têm essa capacidade” [E4]) e, pessoas sem-abrigo
que já as têm e, face à sua situação, necessitam de um trabalho de promoção e reforço das
mesmas (“É assim eu vejo estas pessoas todas com competências fantásticas… O grande desafio é
descobrir esses, essas capacidades e essas habilidades esses dons esses sonhos que estas
pessoas têm” [E1]).
Associados aos dois temas apresentados sobressaem subtemas que explicam esta
diferenciação, nomeadamente, a tipologia de pessoa sem-abrigo, fatores contextuais e fatores
individuais.
O E1 faz no seu discurso a distinção de dois tipos de pessoas sem-abrigo que são acolhidas no
CAX. A pessoa sem-abrigo que assume encontrar-se numa fase negativa e temporária (“Há
pessoas que passam por uma situação de sem-abrigo. E a pessoa que está a passar pela situação
de sem-abrigo ainda tem uma vida muito enraizada lá fora”.) e, a pessoa sem-abrigo que assume a
situação como um estilo de vida (“Outra coisa é a pessoa que já adquiriu um estilo de vida de sem-
abrigo. E, as suas referências são aquelas que ela encontra no próprio centro de acolhimento. Ou nas
pessoas que vivem já numa situação de exclusão social.” [E1]). Também o E2 reforça esta
diferenciação (“Há pessoas que entram aqui já com muita competência com a historia de vida muito
rica… … há outras pessoas que entram aqui com tudo por construir…”).
Associadas ao perfil de sem-abrigo temporário encontramos referências a características de
orientação para o futuro (“há uns que é isso o que querem de nós é basicamente desbloquear
aquilo que eles identificaram como o que falta para poderem seguir a vida deles.” [E2]), esperança
(“Estiveram bem, agora estão mal, mas vão voltar a estar bem, têm esta convicção e estão a pensar
nisso e a lutar por isso” [E2]) e proatividade (“Então a pessoa que está a passar por esta situação
que ainda vive essas referências à sua volta e sonha - não! Ainda quero lutar por isto ou por aquilo”
[E1]).
A pessoa sem-abrigo que opta por um estilo de vida associada à sua situação, apresenta,
segundo os entrevistados, dependência institucional (“As pessoas que sempre foram dependentes
de respostas institucionais, este… ai é um desafio, porque elas próprias têm receio de não conseguir”
[E2]; “Não estamos exatamente… Nós estamos numa fase muito institucionalizada… eles não
pretendem… eles pretendem um RSI e viver com o RSI” [E3]), dificuldade em estabelecer
relacionamentos saudáveis (“E a resposta que eu tive é que não existe confiança nenhuma uns nos
outros. E realmente o fator de falta de confiança, nos relacionamentos, separa. Separa, divide e
destrói.” [E1]), hábitos de exclusão social (“Entendemos que a pessoa adquiriu hábitos de exclusão
social” [E1]; “Eles sentem-se excluídos, e são excluídos todos os dias, e se calhar também se sentem
porque eles se colocam nessa situação “ [E4].) e comodismo à sua situação (“Então nós aqui
lutamos para fazer sair daqui do centro e ele luta para ficar no centro” [E1]; “As expectativas deles
são estarem aqui e pernoitar” [E3]).
38
Outro subtema que emerge da análise discursiva dos atores chave são os fatores contextuais.
Estes fatores são identificados pelos atores chave como condicionantes da aquisição de
competências e no reforço das mesmas. Neste sentido, sobressaem três aspetos da narrativa dos
entrevistados. As más referências/influências (“Mas percebe que há um perigo em certos
relacionamentos. Num lugar destes a necessidade de ser amado é tão grande, mesmo que vindo da
pessoa mais errada, é bem-vindo” E1), a ausência ou conflito no suporte social (“A raiz mais
profunda tem a ver com relacionamentos que foram destruídos ao longo de vida. Relacionamentos
que têm a ver, já desde tenra idade, com o seus pais, com seu círculos de apoios, pessoas a sua
vizinhança, pronto” [E1]) e, mais uma vez a dependência institucional, acrescentando-se a
necessidade de referenciação a um técnico (“(…) aqueles que passam de outra instituição estão
habituados a uma relação de proximidade com o técnico… se é a continuidade da referência do outro
sítio. E nós não podemos ser nunca. Este sítio não é… pronto… a característica não é apenas de
uma proteção, acima de tudo é autonomização.” [E3]).
A par dos fatores contextuais, sobressaem os fatores individuais como a idade (“Cada uma delas
tem no seu interior, na sua vida, alguns mais… alguns deles mais, outros menos… porque uns são
mais novos e outros são mais velhos…” [E1]; “Não podemos estar a ajudar uma pessoa sem-abrigo
com 70 anos da mesma maneira que ajudamos um jovem com 20 anos” [E1]), a experiência de vida
(“Há pessoas que entram aqui já com muita competência com a historia de vida muito rica com se
calhar já viveram em vários países, já trabalharam em vários países, já tiveram de se desenrascar em
varias realidades” [E3]) e o conhecimento de si (“(…)eles não acreditam neles próprios; .
Esquecem-se muito daquilo que já foram e que já viveram” [E4]).
Encontramos assim dois padrões de resposta: um padrão que caracteriza as pessoas sem-abrigo
como capazes e com competências facilitadoras da integração social e, um padrão de resposta que
identifica a necessidade de promoção de competências necessárias a esta integração.
Os entrevistados atribuem que a presença dos fatores apresentados pode condicionar o reforço
ou o desenvolvimento de competências.
3.3.1.2. Questionário de competências de vida.
Com o objetivo de responder à questão “Que competências/capacidades têm as pessoas sem-
abrigo para reinserir socialmente?” organizámos os resultados obtidos de acordo com as variáveis:
Autoeficácia, autoestima e empowerment.
Optamos também por relacionar as variáveis indicadas com a identificação com o grupo de
pessoas sem-abrigo.
Neste sentido, reportaremos resultados referentes à Escala de Auto Eficácia Geral (Anexo F;
Secção VI), Escala de Autoestima do QIICP (Anexo F; Secção V itens 33 ao 46) e a Escala de
Empowerment Portuguesa (Anexo F; Secção II).
A perceção de autoeficácia geral reportada pelos participantes compreende uma média
satisfatória (M=6,29; DP=1,83). Verifica-se igualmente uma satisfatória perceção de autoestima nos
participantes (M=6,70; DP= 1,83).
39
A análise da EPE foi realizada com base nas seis dimensões relacionadas com capacidades e
potencialidades na resolução de situações consideradas difíceis, encontradas por Nunes, Brites e
Pires (2010) no estudo de pré-validação e já explanadas no instrumento.
O quadro seguinte apresenta os valores centrais e de dispersão dos participantes que compõe a
amostra.
Quadro 53.4. Médias e desvios padrão das dimensões da EPE
Fator Dimensões M DP
Risco, adaptação e flexibilidade Adaptação e resiliência 5,82 1,69
Proatividade e compromisso social 6,89 1,74
Processos de resolução Segurança e Persistência 7,28 1,61
Evitamento e desencorajamento* 3,97 1,98
Previsibilidade e controlo Previsibilidade e controlo + 6,34 1,83
Frustração e controlo - * 6,01 1,53
Nota: Escala de 0 a 10 pontos; * Estas dimensões apresentam sentido concetual diferente das restantes dimensões. Para a
leitura das medidas descritivas não se procedeu à inversão dos valores atribuídos pelos participantes.
No que concerne à avaliação do Empowerment, verificam-se valores médios satisfatórios no fator
risco, adaptação e flexibilidade e, na dimensão segurança e persistência. Os participantes
identificaram também, em média, baixos níveis de evitamento e desencorajamento face às suas
potencialidades e capacidades para resolver situações consideradas como difíceis.
Quanto à previsibilidade e controlo positivo, os participantes reportam valores médios satisfatórios
quanto às suas capacidades e potencialidades, contrastando com níveis igualmente positivos de
frustração e controlo negativo. Neste fator, identifica-se alguma dissonância no que diz respeito à
avaliação dos participantes.
3.3.2. Que competências de vida são necessárias desenvolver na pessoa sem-abrigo?
3.3.2.1. Entrevistas a atores chave.
Em conformidade com a análise anterior, a observação dos dados permitiu-nos agrupar os
discursos dos participantes em três temas principais: estrutura do treino de competências, auto e
hétero reconhecimento de necessidades e tipologia de competências.
De uma forma geral, todos os entrevistados consideraram pertinente e importante o treino de
competências com pessoas sem-abrigo (“Parece-me pertinente…” [E2]; “Eu acho que será sempre
importante existir nessas dimensões” [E3]; “É muito importante por isto mesmo. Para eles
conseguirem estar com os outros e voltarem a sentir-se bem na sociedade” [E4]).
A análise discursiva dos entrevistados forneceu-nos indicações relevantes sobre a estrutura
adequada de um treino de competências. Reforçado pelo E1 e E4, o contexto assume um papel
relevante. Os técnicos sugerem uma intervenção fora do contexto institucional (“Eu promoveria
muito outros relacionamentos fora do nosso contexto institucional, relacionamentos a vários níveis”
40
[E1]; “se tivermos um espaço em que a comunidade consiga identificar como “só estão ali pessoas
sem-abrigo” continuamos a exclui-los” [E4]).
No que concerne aos objetivos de um programa de treino de competências o foco deverá ser a
mudança de vida efetiva das pessoas (“Se conseguirmos, transmitir uma nova visão na vida destas
pessoas, tudo poderá mudar na vida deles” [E1]; “E este treino pode vir a mudar a maneira como eles
se veem e a maneira como os outros passam a vê-los” [E4]).
Os técnicos apontam também um conjunto de estratégias, a considerar, nomeadamente a
segmentação da população (“Então começa por um grupinho pequenino. Nunca podemos ter a
pretensão… Uma das coisas que nós procuramos fazer logo no início de eu estar aqui, foi fazer uma
segmentação da própria população. Não podemos estar a ajudar uma pessoa sem-abrigo com 70
anos da mesma maneira que ajudamos um jovem com 20 anos.” [E1]; “(…)se tiverem inseridos num
grupo que são só pessoas sem-abrigo mais uma vez vamos estar a exclui-los.” [E4]), baseado num
perfil de participantes disponíveis e motivados para a intervenção (“Isto dito por outras palavras, em
60 e tal pessoas podemos estar a falar de cinco ou dez que poderão reunir estas características
todas. De serem motivadas encorajadas desafiadas… e elas aderirem.” [E1]). Segundo o E1 a
implementação desta estratégia nutriu resultados noutros programas relacionados com a integração
social de pessoas sem-abrigo, no CAX.
Os E2 e E3 referem a riqueza de respostas à problemática dos sem-abrigo, nomeadamente em
Lisboa e, referem que a articulação institucional é uma mais-valia para a implementação de
programas e, sobretudo para a não sobreposição de intervenções (“As vezes o que falta é a
articulação, há muitas respostas, há muitas ideias há muitos projetos. No fundo aqui é mesmo
maximizar o que há, porque é muito difícil encontrar soluções novas” [E2]; “Lisboa tem imensos
recursos o que nos falta é, ou o que falha muitas vezes é exatamente essa articulação e aproveitar ou
explorar mesmo as capacidades que cada instituição.” [E3]).
O E1 sugere também atividades voltadas para a prestação de um serviço, num sistema de
voluntariado (“(…) eu procuraria promover um estilo de vida de serviço em cada um deles. Agora
como? Isso ai, oportunidades para servir não faltam, não é? Com crianças, idosos, seja o que for. E
através do serviço eu acredito que as pessoas se unem mais, conhecem-se mais, desenvolvem
relacionamento mais construtivo e isso pode desencadear oportunidades muito melhores” [E1]), e de
reconhecimento da importância de servir sem receber nada em troca, como estruturante da
personalidade de uma pessoa e, neste sentido, como forma de aquisição de competências
fundamentais para a integração social num todo (“Portanto desenvolver esse estilo de vida com
valores princípios tais como, a honestidade, a integridade a disciplina, o respeito, enfim, perseverança
a aceitação.” [E1]).
O E1 e ES focam-se também na importância de intervenções em grupo (“Portanto, a palavra-
chave que eu aqui encontraria é dar oportunidade a um grupo de desenvolver-se como equipa”; [E1];
“Porque muitos deles esquecem-se das regras e não as aceitam. O viver em sociedade, o estar em
grupo” [E4]), sugerindo a ultima a heterogeneidade do mesmo.
É igualmente focada a necessidade de centrar a intervenção na pessoa. A identificação das
necessidades pelo próprio e pelo técnico parecem ser potenciadores da eficácia da intervenção
41
(“(…)muitas pessoas não sabem do que é que precisam. Não sabendo do que precisam, também não
valorizam o que precisam e não lutam por aquilo que precisam. Então, andam assim à deriva não
sabendo o que precisam para as suas vidas.” [E1]).
No que concerne às competências apontadas pelos atores chave importantes de serem alvo de
um programa de treino, emergem as competências pessoais, da vida diária e sociais.
No desenvolvimento pessoal surgem as competências de autonomia (“Portanto atividades que
promovam acima de tudo a autonomia.” [E2]), Autoeficácia e resiliência (“(…)que promova
esperança, desejo de mudar de vida, de ir à luta e por ai fora.” [E1]; “(…)todos têm essa capacidade
de ultrapassar obstáculos. Eles próprios criam é obstáculos em si próprios para não os conseguirem
ultrapassar…” [E4]) , auto conhecimento (“Eu acho que a aposta passa por eles acreditarem neles
próprios. Sem isso não chegamos lá” [E3]), autoestima (“Trabalhar muito a questão individual, a
autoestima…” [E4]).
As competências da vida diária, foram identificadas pela TSS1 no sentido de um desenvolvimento
de tarefas de gestão doméstica (“(…)coisas simples para nós…às vezes não são… compras […] É
o fazer por si. Vou sair, fecho a portinha, vou às compras, vou trabalhar. Competências da vida diária,
as pessoas têm de sobreviver.” [E2]).
As competências sociais identificadas são o suporte social (“(..) sou defensor de atividades que
de alguma maneira promovam relacionamentos de confiança e relacionamentos capacitadores de
habilidades dos próprios utentes. Portanto, um relacionamento que promova esperança, desejo de
mudar de vida, de ir à luta e por ai fora” [E1]), nomeadamente nas dimensões familiares e de
relacionamentos saudáveis e positivos, a capacidade de pedir ajudar (“Nós percebemos que nem
sempre sabemos como pedir ajuda. Isto é curioso, pode até parecer estranho e básico, mas não é!
Para muita gente” [E1]), cooperação e trabalho em equipa (“(…)neste aspeto de desenvolvimento
de espirito de equipa, é muito importante.” [E1]; “(…) não conseguem voltar a ter rotinas não se
conseguem adaptar também a trabalhar em grupo” [E4]) e valores de cidadania (“(…) é trabalhando
muito as competências sociais que lhes faltam. As regras. Porque muitos deles esquecem-se das
regras e não as aceitam. O viver em sociedade, o estar em grupo.” [E4]).
3.3.2.2.Questionário de competências de vida
A resposta à questão “Que competências de vida são necessárias desenvolver na pessoa sem-
abrigo?” será analisada em termos do impacto de diversas áreas da vida quotidiana (Anexo F:
Secção III), da identificação com competências interpessoais, intrapessoais e profissionais (Anexo F;
Secção V) e, opiniões e crenças dos residentes do CAX. Não se verificaram em nenhum dos itens,
diferenças significativas ao nível do sexo, idade, escolaridade, situação face ao trabalho e tempo de
permanência no CAX:
Os resultados da Escala de Impacto do QoLHH (Anexo F; Secção III) revelam que, em média, os
participantes atribuem baixo impacto positivo à saúde física e emocional no geral. Ainda em relação à
saúde, 47,5% dos participantes indicam que sentem dor física e, 62,5% sentem dor emocional,
atribuindo baixo impacto negativo ao sentir atualmente dor.
42
O nível de exercício e/ou atividade física tem um baixo impacto positivo e, a qualidade do sono
não tem impacto na sua vida diária.
Dos 40 participantes, 25% tem uma doença ou condição crónica e atribui à sua presença
moderado impacto negativo.
No quadro 3.5., encontram-se os dados que corroboram estas conclusões.
Quadro 63.5. Impacto da Saúde Física Emocional atual, nos participantes
%
*
Impacto
(Escala de 7 pontos)
M
DP
Saúde física 100 4,93 1,93
Sentir dor física 47,5 3,47 1,98
Ter deixado de sentir dor física 32,5 4,23 1,64
Saúde mental e emocional 100 4,50 1,95
Sentir dor emocional 62,5 3,16 2,07
Ter deixado de sentir dor emocional 17,5 4,86 1,57
Nível de exercício e/ou atividade física 100 4,85 1,85
Qualidade do sono 100 4,10 2,17
Ter uma doença ou condição crónica 25,0 2,40 1,27
* Percentagem de participantes que responderam à questão
Os resultados indicam que em relação aos consumos de drogas, verifica-se que 32,5% dos
residentes do CAX consomem álcool e, 27,5% deixaram de o consumir. O consumo de álcool bem
como o deixar de consumir, não tem, em média, impacto na vida atual dos residentes dos CAX
(Quadro 3.6).
No que concerne ao consumo de drogas, 17,5% confirma a sua utilização, com baixo impacto
positivo e, 30% indica que deixou de consumir droga e que esta situação não tem impacto atual na
sua vida (Quadro 3.6).
Quadro 73.6. Impacto dos consumos de álcool e drogas nos
participantes
%
*
Impacto
(Escala de 7 pontos)
M DP
Consumir álcool 32,5 4,15 1,14
Ter deixado de consumir álcool 27,5 4,18 2,14
Consumir drogas 17,5 5,43 0,79
Ter deixado de consumir droga(s) 30,0 4,33 1,50
* Percentagem de participantes que responderam à questão
43
Os participantes na sua maioria identificaram como médio o seu nível de stress (62,5%). Como se
observa no Quadro 3.7., 20% dos participantes deveriam seguir uma dieta especial indicada para a
sua condição de saúde e, não fazem por motivos associados à sua situação atual, quer por fatores
financeiros, quer por ausência de opção nos locais onde fazem as refeições.
Em relação à medicação, 37,5% dos participantes necessita de tomar medicação mas, que por
fatores financeiros, crenças e dificuldade em fazer a terapêutica conforme prescrita. Dos participantes
40% não faz a medicação prescrita pelo médico. No entanto, não valorizam, em termos de impacto
esta situação.
Quadro 83.7.Cuidados especiais devido a condições de saúde nos participantes
%
*
Impacto
(Escala de 7
pontos)
Motivo
M DP
Devia seguir uma dieta especial devido à sua condição de saúde
20,0 -- -- ----
Não segue uma dieta especial indicada para a sua condição de saúde
20,0 1,67 1,15
25 % Por questões financeiras 37,5% Ausência da opção “dieta” ou local para confeção 12,5% Acessibilidade
Necessita de tomar medicação. 37,5 -- -- ----
Toma medicação prescrita pelo médico
60,0 4,50 2,00 ----
Não toma a medicação prescrita pelo médico
40,0 4,00 1,00
7,5% Medicação cara 5% Não acredito em medicação 2,5% Não é possível tomar a medicação como recomendada
* Percentagem de participantes que responderam à questão
Os participantes, na sua maioria, caracterizaram o CAX positivamente em relação à
acessibilidade financeira, às comodidades e acesso às instalações reservadas à higiene, à limpeza
das instalações e, à segurança face aos pertences pessoais, conforme o indicado no Quadro 3.8. A
acessibilidade financeira é condicionada pelo pagamento das refeições e aquisição dos produtos de
higiene. Os participantes consideram ser, de uma forma geral, bem tratados no CAX.
Os resultados demonstram que a ausência de privacidade é referenciada como um fator negativo
e, consequentemente há uma perceção de falta de controlo sobre o seu espaço.
Os participantes demonstram-se preocupados com a segurança pessoal, no que diz respeito, ao
contrair algum tipo de doença no contato com os outros residentes. É também referenciado por
47,5% dos participantes a presença de comportamentos disfuncionais nos outros residentes. A falta
de higiene pessoal e cuidado na utilização de espaços comuns, como a casa de banho, é
referenciado como um fator negativo.
Os resultados evidenciam alguma divisão de opiniões em relação à identificação do CAX com
uma casa. Salienta-se neste item a noção de que o CAX serve como substituto mas, não apresenta
as mesmas características tidas como necessárias e importantes para os indivíduos.
44
Quadro 93.8.Caracterização das condições de vida no CAX, pelos participantes
Características Sim (%) Não (%)
Às vezes/
depende (%) Comentários
Acessível financeiramente 52,5 17,5 30,0 As refeições deviam ser gratuitas
É necessário adquirir os produtos de
higiene.
Possui comodidades
importantes
55,0 32,5 12,5 Falta de privacidade
É melhor do que estar na rua
Acesso à casa de banho 90,0 7,5 2,5
Casa de banho limpa 62,5 17,5 20,0 Má utilização por parte dos
residentes
Segurança na utilização da
casa de banho
57,5 25 17,5 Preocupação em contrair
infeções/doenças
As instalações são
suficientemente limpas
70,0 10,0 20,0 A limpeza dos quartos é insuficiente
Controlo sobre o seu espaço 47,5 22,5 30 Falta de privacidade
Presença de comportamentos
disfuncionais nos outros
residentes
47,5 25,0 27,5 Reflete-se na falta de higiene
pessoal
Privacidade 35,0 50,0 15,0 ---
Demasiadas restrições 35,0 47,5 17,5 ---
Preocupação em contrair uma
doença através dos outros
residentes
60,0 32,5 7,5 ---
Segurança dos pertences
pessoais
57,5 22,5 20,0 Existem cacifos.
Roubos.
O Centro não se responsabiliza.
Tratamento relacional
positiva
70,0 5,0 25,0 Diferenciação de tratamento pelos
funcionários
Tratamento negativo por parte dos
residentes
Sente o CAX como uma
casa?
35,0 40,0 20,0 É temporário
Não tenho outra
Falta a família
Substitui mas não é igual
Gosto de ter o meu espaço
Procedeu-se, qualitativamente, a um levantamento das opiniões, positivas e negativas, dos
participantes face ao funcionamento e instalações do CAX.
Verifica-se que os fatores positivos identificados relacionam-se com as características mais
relacionais e associadas à missão do CAX. Dos aspetos negativos, destacam-se a privacidade e as
questões relacionadas com higiene e cuidados de higiene, atestados precedentemente. A relação e o
comportamento dos residentes são também valorizados como negativos. Denota-se alguma
insatisfação com questões relacionadas com os horários de funcionamento.
Os resultados indicam também, que os participantes consideram que pernoitar no CAX não tem
impacto nas suas vidas (M=4,30; DP= 2,09).
Quanto à envolvente do CAX, mais concretamente Xabregas, há perceção de segurança por
parte dos participantes e existência de recursos. Apesar da perceção de segurança, há a
identificação de más influências na envolvente.
Os participantes não se consideram presos ao bairro. Contudo, há divisão de opiniões quanto ao
sentimento de pertença ao bairro. O Quadro 3.9 faz referência às conclusões supracitadas.
45
Quadro 103.9. Caracterização da envolvente do CAX, pelos participantes
Características Sim (%) Não (%) Às vezes/
depende(%) Comentários
Segurança 80,0 15,0 5,0
Sentimento de pertença 47,5 40 12,5
Sente-se preso 7,5 85,0 7,5
Más influências 45,0 37,5 17,5 Pessoas não residentes
Toxicodependência e Crime
Existência de recursos 50,0 30,0 20,0
Numa avaliação qualitativa ao bairro, os participantes (n=25) identificaram a tranquilidade,
acessibilidade e os recursos como positivos. Contudo, reforçam a existência de “más influências”,
destacando as situações de drogas e a existências de pessoas sem-abrigo. A discriminação e a
pobreza foram igualmente identificadas como negativas.
Relativamente à opinião sobre a sua alimentação, os participantes indicam estar satisfeitos com a
qualidade e variedade da sua alimentação. Referem ainda que apresentam, alguma dificuldade em
aceder aos alimentos preferenciais e em quantidade suficiente. Em relação a estas duas ultimas
dimensões, alguns participantes referem fatores como o local onde fazem as refeições, o número de
refeições que fazem e a situação financeira, como constrangimentos em aceder a alimentos
preferências e em quantidade suficiente.
A alimentação tem um baixo impacto positivo na vida dos participantes, conforme expresso no
Quadro 3.10.
Quadro 113.10. Caracterização da alimentação e hábitos alimentares dos participantes
Características Sim
(%)
Não
(%)
Às vezes/
depende(%) Comentários
Acessibilidade a alimentos
preferenciais
35,0 37,5 27,5 Consigo quando tenho dinheiro
Alimentação nutritiva 67,5 12,5 20,0 A comida é caseira
Não consigo fazer todas as refeições
Pobre em verduras
Qualidade dos alimentos 57,5 12,5 30,0 Depende do local onde como
Consigo quando tenho dinheiro
Variedade 62,5 22,5 15,0
Acesso a alimentos em
quantidade suficiente
27,5 55,0 15,0 Não consigo fazer todas as refeições
Impacto da alimentação M=5,00; DP=1,50
O vestuário tem igualmente um baixo impacto negativo na vida dos participantes. O quadro
3.11 reporta os resultados em termos percentuais, da caracterização de aspetos relacionados com o
vestuário, segundo os participantes.
46
Quadro 123.11. Caracterização do vestuário dos participantes
Características Sim
(%)
Não
(%)
Às vezes/
depende(%) Comentários
Aquisição de tamanhos
adequados
55,0 27,5 17,5 Problemas com o
tamanho
Quantidade suficiente 55,0 37,5 7,5
Satisfação 87,5 2,5 10,0
Local para guardar 95,0 2,5 2,5
Lavagem regular 50,0 40,0 7,5
Impacto do vestuário M=5,10; DP=1,48
De salientar que alguns utentes descreveram o seu vestuário como “barato” ou “sem marca”,
identificando estes fatores como negativos.
No que concerne à situação financeira, é evidenciada alguma preocupação com dinheiro e o
atribuem um baixo impacto negativo à sua condição financeira atual. Os participantes reportam não
ter capacidade financeira para adquirir necessidades básicas e necessidades consideradas
acessórias. Em relação a dívidas, 60% dos participantes diz não as ter.
Apesar de 55% dizer não ter problemas na gestão de dinheiro, 45% indica que os tem,
pontualmente ou frequentemente.
O Quadro 3.12, reporta a caracterização da situação financeira atual dos participantes.
Quadro 133.12. Caracterização da situação financeira atual dos participantes
Características Sim
(%)
Não
(%)
Às vezes/
depende(%) Comentários
Adquirir necessidades
básicas
20,0 70,0 10,0 Não necessito de as comprar
Adquirir necessidades
acessórias
22,5 60,0 17,5
Problemas na gestão
financeira
25,0 55,0 20,0 Gasto muito geralmente
Quando tenho é minha intenção
comprar tudo o que preciso
Dividas 32,5 60,0 7,5
Preocupação com dinheiro 52.5 10,0 37,5
Impacto da situação financeira M=3,15; DP=2,01
47
Os resultados provenientes da avaliação qualitativa foram padronizados e exibidos no Quadro
3.13.
Quadro 143.13. Avaliação qualitativa da situação financeira atual dos participantes
Aspetos Positivos Aspetos negativos
Aprender a viver com as dificuldades
As coisas são mais baratas em Portugal (em
relação ao brasil)
Conseguir comprar coisas para a minha filha
Não adquirir bens desnecessários
Receber a bolsa de formação
Safo-me com os trocos
Viver o dia-a-dia
Desempregado
Estar institucionalizado
Falta de trabalho e subsídios
Não conseguir adquirir alguma coisa: café
Não conseguir adquirir medicação
Não conseguir cumprir com as minhas obrigações
Não poder fazer coisas. Sinto-me preso
Não poder fazer determinadas coisas
Não ter apoios
Não ter como me deslocar
Não ter dinheiro
Ter um rendimento instável ou suficiente
Em síntese, verifica-se que, para alguns participantes, a sua situação financeira atual, pode trazer
benefícios ao nível da aprendizagem e capacidade para lidar com situações adversas. No que diz
respeito à valorização negativa da sua situação financeira atual, alguns participantes focaram-se nos
fatores que a condicionam. Reportam o desemprego, a institucionalização e a falta de apoios sociais.
Outros participantes objetivaram os aspetos negativos referenciando situações concretas em que a
sua situação financeira atual se torna um constrangimento, nomeadamente, na aquisição de bens e
serviços.
Ainda no que concerne às competências de vida dos participantes, avaliaram-se as competências
intrapessoais, interpessoais e profissionais (CIIP).
Como é observado no Quadro 3.14, de uma forma geral, os participantes apresentam elevada
noção de cooperação. Também a autorrealização, assertividade e empatia são identificadas como
competências desenvolvidas nos participantes. Os participantes apresentam em média baixo suporte
social.
Quadro 153.14. Competências intrapessoais, interpessoais e
profissionais dos participantes
n M DP
Cooperação 40 7,65 1,73
Autorrealização 40 6,55 2,07
Suporte Social 40 5,33 2,31
Assertividade 40 6,69 2,07
Empatia 40 6,84 2,18
Analisando descritivamente os indicadores de suporte funcional e o suporte emocional recebido,
verificamos que os participantes indicam que, estes não têm impacto na sua vida atual (M=4,33; DP=
1,83 e, M=4,21; DP=2, respetivamente).
Em relação aos itens que permitem aferir a opinião dos participantes em relação ao suporte
funcional verifica-se que 70% tem alguém que lhe dê conselhos de forma frequente ou pontualmente;
48
77,% tem alguém que lhe dá informações uteis, mesmo que pontualmente; e 67,5% sente que existe
alguém que o ajuda.
Quando questionados sobre a existência na sua vida de suporte funcional, 47,5% responde que o
tem, 27,5% refere que às vezes/depende e 25% que não o tem.
Em relação, à informação qualitativa sobre as pessoas tidas como referência no suporte
funcional, destacam-se os amigos e familiares nas funções de aconselhamento e ajuda e o contacto
institucional, como a Igreja e as instituições de apoio através dos técnicos, na função informativa.
Quadro 163.15. Caracterização do suporte funcional atual, dos participantes
Características Sim
(%)
Não
(%)
Às vezes/
depende (%)
Comentários
Alguém que dê conselhos
52,5 30,0 17,5 Colega de quarto
Contato pouco regular
Irmão
Namorado
Não preciso
Alguém que dê informações
uteis
57,5 22,5 20,0 Amigos e outras pessoas
Contato pouco regular
Igreja
Irmão
Monitora
Procuro saber o que fazer
Técnicos de Segurança Social
Alguém que ajuda
45,0 32,5 22,5 Familiares
Ás vezes não quero ser ajudada
Contato pouco regular
Tenho mas, às vezes preciso no
imediato e não tenho.
Tem suporte funcional
geral?
47,5 25,0 27,5
No que diz respeito ao suporte emocional (Quadro 3.16) a maioria dos participantes considera
ter na sua vida pelo menos uma pessoa para conversar, que o respeita, que o compreende, que se
importa, que o ama e com quem se pode divertir. Não obstante, 47,5% refere não ter alguém em
quem confiar e 42,5% diz não ter alguém que esteja sempre presente na sua vida
independentemente da situação.
Ainda em relação ao suporte emocional, 42,5% dos participantes diz sentir-se sozinho e 35% diz que
pontualmente sente solidão.
De reforçar que a Igreja e/ou Deus são designados frequentemente como a referência para o suporte
emocional.
49
Quadro 173.16. Caracterização do suporte emocional atual, dos participantes
Características Sim
(%)
Não
(%)
Às vezes/
depende (%)
Comentários
Alguém para conversar 67,5 22,5 7,5 Colegas da Igreja
Colegas de quarto
Familiares
Alguém que o(a) respeita 75,0 20,0 5,0 Familiares
Alguém que compreende a
situação atual
67,5 27,5 5,0 Familiares
Amigos
Alguém em quem confiar 45,0 47,5 7,5 Familiares
Alguém que se importa 67,5 20 12,5 Deus
Familiares
Amigos
Alguém que está sempre
presente
independentemente da
situação
45,0 42,5 12,5 Amigos
Deus
Familiares
Alguém que o(a) ama? 77,5 15,0 7,5 Deus
Amigos
Familiares
Gosto de acreditar nisso
Alguém com quem se pode
divertir
70,0 20,0 10,0 Amigos
Sente-se sozinho(a)? 42,5 22,5 35,0 Deus
Muitas vezes sinto-me
Para responder a esta questão de partida consideraram-se as respostas à pergunta “o que
acha que é necessário para alterar a sua situação atual (Anexo F; Secção I, pergunta 3). Os temas
encontrados encontram-se no Quadro 3.17.
Quadro 183.17 Fatores necessário para alterar a situação atual,
segundo os participantes
Fatores %
Emprego 50,0
Habitação 24,5
Não identificou 17,5
Motivações externas - influências positivas, apoio, suporte 10,0
Apoios financeiros institucionais 7,5
Motivações internas - vontade, empenho 7,5
Formação Profissional 7,5
Regularizar documentação 5,0
Saúde 2,5
Vida Nova 2,5
50
3.3.3. Que representação existe sobre as pessoas sem-abrigo, e em que nível se
identificam com ela?
3.3.3.1. Entrevistas a atores chave
A resposta a esta questão não é conseguida diretamente através de questões colocadas durante
a entrevista mas, de uma análise global do discurso dos técnicos. A análise aqui reportada sumaria
pontos já referenciados precedentemente.
Verifica-se assim que os técnicos representam as pessoas sem-abrigo associando-os a duas
tipologias: a) pessoa sem-abrigo, que assumem se encontrar numa situação temporária; b) e os sem-
abrigo que adotaram hábitos de exclusão de vida, como orientadores do seu percurso.
Esta representação é muito evidente nos discursos do E1 e E2 e, tanto o E3 como o E4
reforçaram mais a tipologia “estilo de vida de sem-abrigo”.
Analisaram-se as entrevistas inventariando os aspetos positivos e os aspetos negativos
atribuídos às pessoas sem-abrigo, nomeadamente aos residentes do CAX.
O E1, E2 e o E4 referem a experiência de vida como um fator positivo na vida das pessoas sem-
abrigo. Referindo que é da experiência que muitos deles conseguem ultrapassar as dificuldades e
lutar por uma situação de vida mais favorável. O E1 refere que muitos deles, pelo reconhecimento
que a sua situação é temporária e negativa, conservam a esperança de reverter a situação.
O E4 reforça que estas pessoas, face à sua experiência têm capacidades para alterar a sua vida
mas, a condicionante está na baixa crença de autoeficácia. Esta opinião é partilhada pelo E3. O E1
refere que outra característica desta população, inibidora de comportamentos de mudança de vida, é
a falta de visão, no sentido de encontrar oportunidades de mudança e a dificuldade em trabalhar em
equipa. Ainda neste sentido, referem a falta de confiança nos outros e nas relações.
O E1 identifica as pessoas sem-abrigo como orgulhosas e, numa situação de acolhimento refere
algum comodismo face à situação. A par do comodismo, o E3 refere a dependência institucional ao
nível dos subsídios, nomeadamente do Rendimento Social de Inserção (RSI), fator que inibe a
pessoa de querer sair do sistema de apoio social. O E2 refere que esta dependência institucional
também se manifesta ao nível das figuras, ou técnicos, como referências e suporte para a mudança
de vida.
O E1 associa também, os comportamentos aditivos à população sem-abrigo ou como fator
destruturante da sua vida ou, como uma forma de escape e comemoração de situações prazerosas.
O E4 ao longo do seu discurso foca a dificuldade que as pessoas sem-abrigo têm em acreditar
em si. No seu discurso vai mais longe, afirmando que estas pessoas são e sentem-se excluídos e,
que eles próprios acabam por se autoexcluir.
Apesar de três dos entrevistados identificarem que as pessoas sem-abrigo têm potencialidades e
capacidades para orientar a sua vida de uma forma favorável, todos atribuem características
condicionantes de uma integração social eficaz e de qualidade.
3.3.3.2 Questionário de competências de vida
Para continuar a responder à questão de partida procuramos perceber como representam os
participantes as pessoas sem-abrigo.
51
Da análise qualitativa das respostas surgiram categorias relacionadas com atribuições feitas à
pessoa sem-abrigo e identificação de causas que caracterizam a situação. Dos 40 participantes 25%
não responderam à questão. Para a análise das respostas teve-se em conta os participantes que
responderam à questão (n=30).
De salientar que apenas dois participantes se identificaram na caracterização de pessoa sem-
abrigo (“Cada um tem a sua história e a minha é porque estou sem pais e sem trabalho e ser como
ter uma casa. Sozinho no mundo” [P14]; “Neste momento, eu” [P21]).
Ainda em relação à forma como caracterizaram as pessoas sem-abrigo, quatro participantes
elaboraram definições, identificando a existência de vários tipos de pessoas sem-abrigo, com
diferentes motivações e características, com valorizações negativa e positiva.
Verifica-se que 43,3% dos participantes que responderam à questão, identificaram a ausência de
condições de vida e de recursos como um fator que caracteriza a pessoa sem-abrigo.
Os participantes identificaram aspetos relacionados com ausência ou identificação do local de
permanência, nomeadamente, “sem habitação” (23,3%), “em centro de alojamento” (3,3%) e “vive na
rua” (10%).
A solidão e o abandono emergem como fatores caracterizadores da pessoa sem-abrigo (20%). A
ausência de suporte social e familiar foi identificado como fator caracterizador por 16,7%. Este fator é
igualmente reconhecido como uma causa para a situação de sem-abrigo (6,7% dos participantes).
Alguns participantes caracterizam também a pessoa sem-abrigo como um grupo alvo de
discriminação (13,3%), sem orientação para o futuro (6,7%) e, 20% refere que as pessoas sem-abrigo
necessitam de apoio/ajuda, assumindo a dependência de outros para sair da situação.
Alguns participantes (6,7%) apontam que os sem-abrigo são também pessoas resilientes capazes
de superar obstáculos e lutar por uma vida melhor e, caracterizam também a pessoa sem-abrigo
como uma pessoa como todas as outras (13,3%). A experiência de um momento negativo e pontual
foi também referenciado como uma característica dos sem-abrigo (6,7%).
No que concerne às causas potenciadoras de uma situação de sem-abrigo, os participantes
identificaram os problemas relacionados com a sua situação financeira (3,3%) e a fuga à realidade
(3,3%) associada ao ser-se sem abrigo por opção (13,3%).
Outro pronto a referir, resultado da análise de outras questões do questionário, é a saliência da
representação da pessoa sem-abrigo como alguém com problemas de higiene e, problemas de saúde
passíveis de contágio. Há uma manifestação clara de problemas com a segurança individual face a
questões relacionadas com higiene e saúde, quando expostos ao contacto com outros residentes, por
parte dos participantes.
Da análise dos dados verifica-se uma caracterização com aspetos negativos, mais do que com
aspetos positivos. Neste sentido, a representação dos participantes de pessoa sem-abrigo é
substancialmente negativa.
Ainda na sequência da resposta à questão “Que representação existe sobre as pessoas sem-
abrigo e em que medida há identificação com a mesma?” verificamos que 52,5% dos participantes
enquadram-se no grupo de baixa identificação com as pessoas sem-abrigo (BIPS) se identificam com
o grupo de pessoas sem-abrigo (n=40).
52
Estes resultados não são corroborados, quando se coloca a questão de uma forma geral, pedindo
aos participantes que indiquem se pertencem a algo, como uma comunidade, grupo ou organização.
Apenas um participante descreveu sentir-se, por vezes parte, de “grupos estereotipados como os
sem-abrigo”.
O Quadro 3.18, explora as frequências de respostas e os respetivos comentários dos
participantes, sobre o sentimento de pertença a um grupo, comunidade ou a uma organização.
Quadro 193.18 Distribuição percentual e descrição das respostas dos participantes à pergunta do questionário “sente que pertence a algo?”
Resposta % Comentários
Sim 35,0
CAX (n=1)
Turma de fomação (n =1)
Illuminat (n =1)
Religião: Cristã (n =5)
Não sei (n=5)
Não 47,5 -----------
Às vezes 17,5
CAX (n=1)
Clube de futebol (n =1)
Grupos estereotipados, com os sem-abrigo (n =1)
Não sei (n=4)
Verifica-se a identificação da Igreja como grupo de pertença. Há uma dificuldade também nos
participantes em identificarem-se com grupos, apesar de considerarem que sempre ou pontualmente
nutrem sentimento de pertença.
Para compreender se existem diferenças significativas entre sentimento de pertença a algo e a
identificação com o grupo (Figura 3.1), face ao número reduzido da amostra, recodificamos a variável
“sentimento de pertença” numa variável dicotómica, correspondendo a uma escala de resposta “sim
ou às vezes” e “não”. Recorreu-se ao teste do Qui-quadrado de independência, para avaliar, se a
identificação grupal depende do sentimento de pertença.
Figura 0.23.1. Distribuição dos participantes segundo o sentimento de pertença a algo e a identificação com o grupo de pessoas sem-abrigo
Observou-se que os participantes que sentem, frequentemente ou pontualmente, pertencer a um
grupo identificam-se na maioritariamente com o grupo de pessoas sem-abrigo. Há uma associação
0
2
4
6
8
10
12
14
16
"sim ou por vezes" "não"
BIPSA
EIPSA
53
significativa entre o sentimento de pertença a algo e a identificação com o grupo de pessoas sem-
abrigo (χ2(1)= 10,15; p < 0,05).
Considerando oportuno uma análise da amostra por grau de identificação com o grupo de
pessoas sem-abrigo, realizamos um teste de comparação de médias (Teste T) para vários itens
avaliados no questionário.
Quanto à perceção de Autoeficácia, não existe diferenças significativas (t(38)=-1,491; p=0,14)
entre os participantes com BIPSA (M= 5,90;DP= 1,51) e os participantes com EIPSA (M=7,32;
DP=1,50).
O quadro 3.19 resume as medidas de dispersão e tendência central das dimensões do
Empowerment nos dois grupos definidos para o item identificação grupal.
Quadro 203.19. Medidas de dispersão e tendência central das dimensões do Empowerment nos dois grupos definidos para o item identificação grupal.
Fator Dimensões
BIPSA (escala de 11 pontos)
EIPSA
(escala de 11 pontos)
M DP M DP
Risco, adaptação e flexibilidade
Adaptação e resiliência 5,39 1,89 6,29 1,34
Proatividade e compromisso social
6,43 1,87 7,39 1,47
Processos de resolução
Segurança e Persistência 6,89 1,47 7,71 1,69
Evitamento e desencorajamento
4,57 1,92 3,31 1,89
Previsibilidade e controlo
Previsibilidade e controlo + 6,10 1,98 6,60 1,66
Frustração e controlo - 6,39 1,51 5,59 1,59
Quanto às dimensões que constituem o Empowerment, não se verificaram diferenças
significativas entre os grupos na adaptação e resiliência (t(38)=-1,730 ; p=.092); Proatividade e
compromisso social (t(38)=-1,792 ; p=0,081); Segurança e Persistência (t(38)=-1,643 ; p=0,109);
Previsibilidade e controlo positivo (t(38)=-0,850 ; p=.401).
Para o fator evitamento e desencorajamento foram encontradas diferenças significativas (t(38)=-
0,850; p= .401) entre os participantes BIPSA e os participantes EIPSA. Neste sentido, há maior
evitamento e desencorajamento face a situações consideradas difíceis nos participantes BIPSA do
que nos participantes EIPSA.
No que diz respeito ao fator frustração e controlo negativo recorreu-se ao teste Mann Whitney,
uma vez que esta dimensão não apresentou uma distribuição normal, para analisar o efeito da
identificação grupal neste fator. Assim, os participantes BIPSA (Me= 6,13) não parecem diferir no
nível de frustração e controlo negativo dos participantes EIPSA (Me= 5,50), U= 147,0, p > 0,05.
Consideramos importante perceber se em relação às competências intrapessoais, interpessoais e
profissionais existem diferenças significativas relativamente à identificação com o grupo de pessoas
sem-abrigo, uma vez que não as encontramos noutros indicadores que caracterizam a amostra.
O quadro 3.20 resume as medidas de dispersão e tendência central competências intrapessoais,
interpessoais e profissionais (CIIP) nos dois grupos, BIPSA e EIPSA.
54
Quadro 213.20 Medidas de dispersão e tendência central das CIIP nos dois grupos definidos para o item identificação grupal.
Competências
BIPSA (escala de 11 pontos)
EIPSA
(escala de 11 pontos)
M DP M DP
Cooperação 7,02 1,91 8,34 1,21
Autorrealização 6,13 2,34 7,02 1,65
Suporte Social 4,73 2,21 5,99 2,29
Assertividade 5,01 2,30 7,39 1,56
Empatia 6,22 1,89 7,52 2,31
Autoestima 6,14 1,96 7,32 1,49
Os resultados seguintes foram desenvolvidos através do método do Teste T e do teste Mann
Whitney para as dimensões que não apresentaram distribuições normais.
Assim, verifica-se que não existem diferenças significativas nas competências autorrealização,
t(38)=-1,385; p=0,174) e suporte social, t(38)= -1,767; p=0,085, entre os participantes BIPSA e os
participantes EIPSA.
Os participantes BIPSA apresentam menor assertividade (M=6,05; DP=2,298) dos que os
participantes EIPSA (M= 7,39; DP= 1,562) e, esta diferença é estatisticamente significativa,
t(38)=-2,135; p=0,039.
No que diz respeito à cooperação os participantes BIPSA (Me=7,60) diferem significativamente
dos participantes EIPSA (Me= 8,50), U= 109,0, p<0,05, r=-0.39. Também se encontram diferenças na
empatia dos participantes BIPSA (Me= 6,43) face aos participantes EIPSA (Me=8,29), U= 109,0,
p<0,05, r=-0.39.
Em relação à autoestima, verificam-se diferenças significativas entre os dois grupos (t(38)=-2,120,
p= 0,041). Os participantes com BIPSA apresentam menor perceção de autoestima
comparativamente com os participantes com EIPSA.
Os resultados permitem-nos verificar que há um maior sentimento de pertença, menor evitamento
e desencorajamento, maior perceção de assertividade, cooperação e autoestima nos indivíduos que
se identificam com pessoas sem-abrigo, que corrobora a ideia de que membros de grupos de baixo
estatuto social podem enviesar a sua avaliação, como estratégia de proteção ou reforço da sua
identidade social (Doosje, Ellemers, & Spears, 1995; Crocker & Luhtanen, 1990; Mullen, Brown, &
Smith, 1992). Este resultado será alvo de uma justificação e discussão mais pormenorizada na
conclusão do diagnóstico.
3.3.4. Qual é a atitude e motivação das pessoas sem-abrigo para o treino de competências
de vida?
2.3.4.1 Entrevistas a atores chave
No que diz respeito à motivação e atitude das pessoas sem-abrigo a programas de treino de
competências, dois dos atores chave identificam quatro grandes temas que podem orientar a
motivação individual das pessoas sem-abrigo.
O E4 refere a importância da relação com o dinamizador (“Tem muita a ver com a maneira com
que nós lidamos com eles… não é… o facto de eles perceberem que nós estamos aqui, realmente,
55
para ajudar pode realmente ser uma mais-valia e uma motivação”). Uma relação centrada no apoio e
na confiança. O E1 reforça esta ideia, enfatizando a importância das relações de confiança na vida
destas pessoas e, questionando que modelos de referência são os técnicos que intervém com esta
população (“(…)que modelos é que nós somos, técnicos e profissionais?... Mas, nós reconhecemos
as nossas fragilidades, as nossas próprias fragilidades, nós como profissionais e, nós com estas
fragilidades todas achamos, entre aspas, um pouquinho superiores àqueles que nós rotulamos de
sem-abrigo. Mas que superioridade é que nós temos? Nenhuma.”).
O E4 refere que uma fonte de motivação é a recompensa. Neste ponto a recompensa é vista
como a manutenção das condições de alojamento (“As motivações deles passam muito por não
quererem perder o pouco que têm”) e, a definição de objetivos no sentido da mudança de vida e da
integração social (“Acho que aqui o grande objetivo tem de ser esse, as pessoas inserirem-se, seja
socialmente seja profissionalmente ou habitacionalmente também, não?”).
O E4 acrescenta ainda que um programa de competências estruturado para um grupo
heterogéneo de pessoas, terá maior impacto e oferece melhores resultados, uma vez que acredita
que a diversidade de participantes inibe comportamentos associados à exclusão social.
3.3.4.3. Questionário de competências de vida
Os participantes (72,5%) indicaram que gostariam de participar num programa de competências
(M=5,18; DP=1,86), identificando algumas características relevantes, que se constituem
eventualmente como fatores de motivação extrínseca, para o seu desenho e implementação.
Nomeadamente, com componente teórica e prática, em grupo e, com dinamização (jogos,
atividades, atuação em contexto real). Os participantes referiram também que deveria constituir-se
como um programa inovador, interessante e intuitivo. Alguns participantes focaram-se mais nos
objetivos de um programa de competência evidenciando a procura de emprego/orientação
profissional, procura de habitação e preparação para a vida e futuro.
3.4. Síntese do Diagnóstico de Necessidade
O diagnóstico de necessidades é baseado nas respostas a quatro questões de partida: 1) “Que
competências/capacidades têm as pessoas sem-abrigo para reinserir socialmente?”
Para a pergunta “Que competências/capacidades têm as pessoas sem-abrigo para reinserir
socialmente?”, podemos perceber que há da parte dos intervenientes uma visão diferente. Os dados
qualitativos das entrevistas revelam que os atores chave consideram que a realidade do CAX é
heterogénea e condicionada por diversos fatores associados às pessoas sem-abrigo. Assim, referem
existir pessoas com características e capacidades para reinserir socialmente e, pessoas que
necessitam de um trabalho de promoção e desenvolvimento de competências. Aos primeiros
associam características mais positivas, voltadas para uma perceção de autoeficácia e orientação
para o futuro e, aos segundos, atribuem características mais negativas que parecem corresponder a
atitudes conformistas e na adoção da situação como um estilo de vida.
56
Os dados do questionário de Competências de Vida evidenciam uma perceção de competências
satisfatórias. Estes resultados, confrontados com a literatura, são coincidentes com a presença de
desejabilidade social, explorada mais à frente
Numa tentativa de orientar intervenção considera-se importante, neste ponto, perceber que
independentemente dos fatores é necessário intervir no âmbito das competências, seja no seu
desenvolvimento seja no seu reforço.
Em relação à questão “Que competências de vida são necessárias desenvolver na pessoa
sem-abrigo?” parece ser comum a atribuição de importância tanto nos atores chave como nos
residentes do CAX.
Verifica-se também, da análise qualitativa das respostas dos participantes do diagnóstico de
necessidades, pontos em comum. Emerge a necessidade de trabalhar questões relacionadas com o
suporte social e gestão financeira/doméstica.
Os atores chave focam as competências de desenvolvimento pessoal e as competências sociais
como as mais necessárias de serem desenvolvidas. As competências da vida diária foram
enfatizadas apenas por um dos técnicos entrevistados.
De uma forma geral verifica-se que a saúde, alimentação, condições de pernoita, vestuário,
situação financeira e suporte funcional e emocional, abordados no Questionário de Competências de
Vida, parecem ter nenhum ou pouco impacto (positivo e negativo) na vida dos participantes. Os
resultados evidenciam ainda que a ausência de privacidade é referenciada como um fator negativo e,
consequentemente há uma perceção de falta de controlo sobre o seu espaço.
Estes resultados podem ser explicados à luz da literatura. Os questionários são técnicas passíveis
de serem controladas pelos indivíduos e as respostas podem não corresponder à realidade mas,
traduzir enviesamentos positivos (Gouveia, Guerra, Farias de Sousa, Santos, & Costa, 2009). A
desejabilidade social surge, neste sentido, como um subterfúgio da identidade pessoal da pessoa
sem-abrigo (Guanaccia e Henderson, 1993; Farrington & Robinson, 1999). Por outro lado as
abordagens do learned helplessness sugerem que a ausência de controlo, das pessoas sem-abrigo,
pode originar uma passividade generalizada face a todas as áreas da vida de um indivíduo, resultado
da exposição a ambientes de baixo controlo (Burn, 1980; Goodman, et al., 1991). Ainda no que
concerne à passividade, emerge também o conceito de shelterization (Grunberg, & Eagle, 1990). A
permanência numa instituição promove o desenvolvimento de estratégias de coping, associadas à
institucionalização, que potenciam um sentimento de apropriação. Este processo de adaptação,
caracteriza-se pelo aumento da passividade e dependência de outros (Grunberg & Eagle, 1990).
Assim, verifica-se que no centro de alojamento, os residentes, têm baixo controlo (real e
percecionado) sobre o ambiente, e as suas necessidades são suprimidas na dependência de
terceiros (e.g., outras instituições, serviços, técnicos). Este facto pode induzir a uma elevada
passividade e enviesamento na perceção de impacto das várias áreas da vida da pessoa.
Estes fatos remetem-nos para a intervenção mediada por estratégias de empowerment, uma vez
que objetivam promover a identificação, reconhecimento e ação, por parte do indivíduo, sobre as
suas opções num determinado contexto no sentido de exercer controlo sobre o ambiente (Rapport,
1981; Zimmerman, 1995).
57
Sintetizando as principais conclusões sobre os vários aspetos da vida percecionados pelos
residentes do CAX, constatamos que no âmbito da saúde os participantes têm algumas dificuldades
em gerir, face à sua situação, questões relacionadas com a medicação e dieta alimentar por motivos
de saúde. Há presença de consumos de substâncias em alguns participantes. Uma vez que o
objetivo da intervenção é abranger o maior número de participantes, deve o programa ter em
consideração este resultado, dado que existem evidências que nos remetem à inibição da eficácia
das intervenções na presença destas variáveis (Pilisuk, 2001; Goetz & Schiemege, 1996; Wright &
Tompkins, 2005).
No que concerne à alimentação, os residentes do CAX reforçam a ideia de não conseguirem
fazer todas as refeições. O vestuário constitui-se no diagnóstico de necessidades como um fator de
menor relevância ao nível das respostas dos participantes. Ainda assim, parece-nos pertinente ter em
conta este aspeto da vida, como parte integrante da imagem da pessoa sem-abrigo. Em relação à
situação financeira, os participantes fornecem pistas para a dificuldade na gestão de dinheiro.
Finalmente o suporte social, como já dito anteriormente, parece ser o fator de maior relevância.
Há evidências da dificuldade em preservar relações de confiança, associadas a sentimentos de
solidão. Neste domínio, a literatura também reforça a necessidade do suporte social na pessoa sem-
abrigo uma vez que se constitui uma importante forma de proteção e segurança (Shinn, 2007). Esta
ideia remete-nos para a importância da identidade social positiva como facilitadora de vontade
aumentar as relações com outros indivíduos e aumentar os grupos sociais de pertença (Cruwys, et
al., 2014). A identidade social positiva é igualmente preditora de baixa perceção de isolamento social
(Cruwys, et al., 2014b).
Os atores chave referem o trabalho em equipa como uma competência a desenvolver em
oposição às respostas dos residentes do CAX, que apresentam índices elevados de cooperação. No
entanto, os participantes consideram que para sair da situação de sem-abrigo o desenvolvimento de
uma atividade profissional seria importante. Neste sentido, poder-se-á incluir a cooperação, como
uma mais-valia no treino de competências e que pode ser projetada para várias situações da vida
pessoal.
A autorrealização, assertividade e empatia são identificadas como competências desenvolvidas
satisfatoriamente pelos residentes do CAX. Contudo, de uma forma geral, são tidas como
necessárias pelos atores chave. Mais uma vez, estes resultados são indicativos da presença de
desejabilidade social. Alguns estudos referem que em medidas de autorrelato, determinados traços,
sobretudo aqueles com ênfase no ajuste social do indivíduo, estão diretamente correlacionados com
a desejabilidade social (Edwards, 1990; Ellinson, Smith, & Sackett, 2001).
Neste sentido, e de forma a sistematizar considera-se que o suporte social é a competência de
vida mais enfatizada pelos intervenientes. A cooperação, assertividade e a empatia, serão alvo de
atenção mais à frente.
Atendendo à literatura e às respostas dos atores chave considerámos também pertinente intervir
as competências de autoconhecimento, objetivando a autonomização e ganho de autocontrolo sobre
si e sobre as suas vidas. Ainda no âmbito da autonomização, parece-nos pertinente abordar temas
relacionados com a gestão financeira e cuidados pessoais.
58
Ter-se-á também em conta no desenho do programa as estratégias e objetivos sugeridos pelos
vários intervenientes do diagnóstico.
Quanto à representação e identificação das pessoas sem-abrigo verifica-se uma
representação expressivamente negativa, tanto da parte dos atores chave como dos residentes do
CAX. Assim, parece-nos pertinente intervir na desconstrução de representações negativas, uma vez
que estas irão enviesar a identidade social. Ainda no que concerne à representação negativa, os
discursos dos atores chave e os resultados apresentados nos questionários fornecem-nos pistas
sobre algumas características que reforçam a representação negativa de sem-abrigo e, que não
surgem explicitamente na sua definição. Nomeadamente, há uma clara identificação da pessoa sem-
abrigo como pessoa com comportamentos desadequados face à higiene, com tendência a ser
portador de doenças contagiosas e, facilidade em optar por comportamentos associados a consumos
de substâncias. A par destas características, os resultados remetem-nos para a dificuldade em
manter relações, trabalhar em equipa, em confiar e desenvolver atividades de mudança de vida.
No diagnóstico de necessidade verifica-se que, apesar de não corresponde à maioria da amostra,
há uma percentagem significativa de participantes residentes do CAX que se identificam com
pessoas sem-abrigo e, consequentemente, com a representação negativa supracitada. Contudo, os
residentes do CAX caracterizam-se como pessoas com competências satisfatórias, tais como,
competências relacionadas com o empowerment, autoeficácia e autoestima. Verificando-se que há
maior perceção de autoestima, maior assertividade, maior cooperação e menor evitamento e
desencorajamento para situações adversas nos participantes que se identificam com as pessoas
sem-abrigo. Os resultados realçam também que são as pessoas que se identificam mais com as
pessoas sem-abrigo que apresentam maior sentimento de pertença face a algo, mesmo não
conseguido concretizar o objeto desse sentimento.
Esta análise permite-nos corroborar a ideia de que há um maior envolvimento social, expresso na
capacidade de criar mais ligações sociais, quando há identificação grupal (Cruwys, et al, 2014b). No
entanto, estes resultados são também consistentes com a presença de um enviesamento das
características individuais, face ao sentimento de pertença a um grupo com estatuto socialmente
baixo (Doosje, Ellemers, & Spears, 1995; Crocker & Luhtanen, 1990; Mullen, Brown, & Smith, 1992).
Este enviesamento é uma necessidade individual de proteger ou reforçar a sua identidade social. De
realçar que a identidade social consiste numa internalização de comportamentos e valores do(s)
grupo(s) de pertença (Tajfel & Turner, 1979). Neste sentido, sendo a representação de sem-abrigo
negativa, há uma maior tendência dos participantes que se identificam com esta representação,
optarem por comportamentos negativos e de pouca proatividade para a mudança de vida (Farrington
& Robinson, 1999).
Estes resultados parecem também, ser consistentes com a desejabilidade social identificada no
pré-teste do questionário. Num estudo sobre a autoperceção de competência e autoeficácia de
pessoas sem-abrigo institucionalizados, Guanaccia e Henderson (1993), verificaram que os
participantes atribuíam características positivas a si próprias e capacidade para interagir socialmente
com sucesso e, em contrapartida respondiam tendencialmente aos itens das medidas usadas de uma
forma socialmente desejável.
59
Neste sentido podemos afirmar a necessidade de intervir não só na desconstrução da
representação da pessoa sem-abrigo mas, na identificação grupal positiva. A literatura sugere a
saliência da identidade de grupo, com grupos de cujas características não se coadunem com o estilo
de vida de sem abrigo (Cruwys, et al., 2014b; Farrington & Robinson, 1999). Assim, sugerimos a
saliência da identificação grupal com o grupo de intervenção.
Outra questão que emerge desta conclusão é a relevância da desconstrução da representação
de sem-abrigo, expressa pelos atores chave. Esta desconstrução poderá orientar as expetativas dos
técnicos, face às pessoas sem-abrigo, num sentido mais positivo.
Finalmente quanto à motivação e atitude face aos programas de competências de vida,
parece-nos que há uma atribuição de importância de todos os participantes do diagnóstico.
Os residentes do CAX, expressam, na sua maioria, vontade de participar num programa de
competências.
Os atores chave oferecem pistas para promover a motivação dos participantes alvo de
intervenção, nomeadamente o foco na relação com o dinamizador do programa, a heterogeneidade
dos participantes como forma de diminuir a exclusão social e, a importância de expressar os objetivos
em termos de mudança de vida. Referem também que é fator de motivação a manutenção das
condições de alojamento (supressão das necessidades básicas).
Por sua vez os residentes do CAX enfatizam a componente prática e grupal do programa de
treino, concretizando a ideia de mudança de vida, expressa pelos atores chave, em objetivos mais
específicos como a procura de emprego/orientação profissional, procura de habitação e preparação
para a vida e futuro fora da instituição.
Concluindo, o diagnóstico de necessidades forneceu-nos pistas marcantes, que suportam a
importância do desenho de um Programa de Treino de Competências de Vida. Há uma efetiva
necessidade de treino de competências, seja numa perspetiva de reforço ou de desenvolvimento das
mesmas. O diagnóstico de necessidades permitiu-nos caracterizar as competências a desenvolver,
as estratégias e a implementar e os objetivos que deverão guiar a intervenção.
Em suma:
Há uma clara necessidade de desenvolver uma intervenção focada no Treino de
Competências de vida e, esta é percecionada como importante pelos vários intervenientes;
O suporte social e a gestão financeira são as duas competências que parecem consensuais
quanto à sua inclusão na intervenção, por parte dos intervenientes.
A identidade pessoal, operacionalizada nas competências de autoconceito e cuidados
pessoais, revela-se primordial para a desconstrução de representações negativas de si
quando associadas à identificação com o grupo de pessoas sem-abrigo.
O reforço de uma identidade social positiva pode facilitar a autoestima e a noção de controlo
na vida, por parte da pessoa sem-abrigo.
Há evidências de desejabilidade social, por parte dos participantes, o que pode ser indicador
da utilização de estratégias de proteção e de reforço da identidade grupal (identificação com
as pessoas sem-abrigo).
60
A identificação com um grupo, positivamente representado, potenciará menor sentimento de
isolamento e maior motivação para o envolvimento social positivo. Assim, é necessário
desenvolver uma identificação grupal positiva, sugerindo-se a saliência no grupo de
intervenção conforme referenciado na literatura (Cruwys, et al., 2014b; Farrington &
Robinson, 1999).
Associadas à saliência da identificação com o grupo de intervenção, surgem as competências
de cooperação, assertividade e empatia, como promotoras de um relacionamento
interpessoal positivo.
É necessário ter presente que o consumo de substâncias e a existência de problemas de
saúde mental, podem enviesar os resultados da intervenção. No entanto, é nosso objetivo
chegar ao maior número de pessoas sem-abrigo.
A intervenção deve ser focada em estratégias de empowerment, para promover no individuo
a capacidade de aprender e usar competências para influenciar os acontecimentos inerentes
à sua vida, mesmo nos ambientes que parecem menos favoráveis
Será apresentado seguidamente uma proposta de programa de treino de competências de vida,
com o intuito de materializar as conclusões e o modelo teórico de processo apresentado.
61
IV. Proposta de programa de competências de vida – Programa YES
4.1. Enquadramento teórico da Intervenção
A Elaboração do “Programa YES”, um programa de desenvolvimento de competências de vida,
resulta do diagnóstico de necessidades desenvolvido no Centro de Alojamento para Pessoas Sem-
Abrigo de Xabregas (CAX) do Centro Social do Exército de Salvação.
O diagnóstico de necessidades avaliou um conjunto de questões (Quadro 3.1.) que orientam os
objetivos, os conteúdos, a metodologia a aplicar e a avaliação a desenvolver. Estas questões são
fundamentadas por um referencial teórico e, pelos resultados obtidos no diagnóstico de
necessidades.
Partimos de um modelo teórico de processo (Figura 1.1.) que postula o treino de competências
como promotor de uma integração social eficiente. Assim, a intervenção é desenhada no sentido de
aumentar a perceção de autoeficácia e autoestima e, simultaneamente, promover uma identidade
social positiva através da saliência da identificação com o grupo de intervenção.
4.2. Conteúdos a desenvolver
O programa de intervenção foi estruturado de forma abordar as competências identificadas no
diagnóstico de necessidades, conforme apresentámos no capítulo anterior. Concretizando, para
trabalharmos o desenvolvimento de competências na pessoa sem-abrigo, focalizamo-nos nas
competências: a) de identidade pessoal e social; b) de suporte social; c) de relacionamento
interpessoal, como a assertividade, cooperação e autoestima; d) e, competências de vida diária como
a gestão financeira e os cuidados pessoais.
A competência da cooperação não será alvo de uma intervenção direta mas, surge como uma
competência transversal, e desenvolvida de forma implícita em todas as sessões, através da partilha
e troca de informação e, das tarefas de grupo. O Empowerment estará presente como estratégia de
intervenção e a Identificação grupal com o grupo de intervenção, será transversal a todo o programa
com a implementação de atividade para o efeito.
Tendo em conta as competências identificadas, torna-se necessário conceptualiza-las, à luz
da literatura. O quadro 4.1. conceptualiza e contextualiza a aplicação das competências no Programa
YES.
62
Quadro 224.1.Conceptualização e contextualização das variáveis e competências desenvolvidas no
Programa YES
Variável/
Competência
Conceptualização Contextualização
Empowerment Capacidade de aprender a usar
competências para influenciar os
acontecimentos inerentes à sua vida,
mesmo nos ambientes que parecem menos
favoráveis (Rapport, 1987; Zimmerman,
1995).
Responsabilização, autonomia e
participação em todas as tarefas,
individuais e de grupo.
Identificação
Grupal
É o processo individual, por meio do qual, a
pessoa se apropria dos valores e
comportamentos de um grupo. (Tajfel &
Turner, 1979)
Desconstrução de imagens negativas do
grupo de pessoas sem-abrigo. Apropriação
de valores do grupo de intervenção.
Cooperação “É a capacidade de operacionalizar
conhecimentos, atitudes e habilidades no
sentido de agir em conjunto, com vista à
realização de um fim comum, maximizando
as potencialidades de cada indivíduo de
forma durável e equilibrada” (Jardim, 2007,
p.)
Compromisso com o grupo e com as
tarefas de grupo. Definição de objetivos
comuns.
Identidade
pessoal
(Autoconceito)
É o conjunto organizado e mutável de
perceções que o indivíduo reconhece como
descritivo de si e que percebe como a sua
identidade. Inclui as características, os
atributos, as qualidades e os defeitos, as
competências e os limites, os valores e as
relações, respeitantes ao próprio indivíduo
(Rogers & Kinget, 1977).
Criar uma identidade pessoal;
Reconhecimento de comportamentos e
competências pessoais; desconstrução de
imagens negativas associadas à categoria
“sem-abrigo”.
Assertividade A Assertividade é a capacidade de rejeitar
ou fazer pedidos, expressar sentimentos
positivos e negativos, bem como iniciar,
manter e concluir conversas de caracter
geral (Lazarus, 1973).
Todas as tarefas permitem o uso da
assertividade como estratégia de
relacionamento positivo.
Empatia A Empatia é a capacidade de
compreensão, manifestada pelo indivíduo,
de compreender reações emocionais e
pensamentos, de acordo com o contexto,
transpondo a imaginação e assumindo o
papel do outro (Jardim, 2007).
Todas as tarefas permitem o uso da
empatia como estratégia de relacionamento
positivo.
Suporte social É a capacidade do indivíduo, numa
situação critica, conseguir reunir habilidade
e atitudes, no sentido de apoiar e/ou ser
apoiado (Jardim, 2007).
Identificar formas de apoiar e ser apoiado.
Estabelecimento de relações de suporte
com os membros do grupo de intervenção.
Literacia
financeira
“A literacia financeira contribui para que os
cidadãos tomem decisões informadas em
aspetos da sua vida financeira como a
gestão do orçamento familiar, o controlo da
conta bancária e a escolha de produtos e
serviços bancários adequados às suas
necessidades” (Banco de Portugal, 2013,
p.16).
Realização de um orçamento doméstico,
aplicado à realidade. Elaboração de listas
de compras de necessidades básicas.
Cuidados
pessoais
É um conjunto de hábitos vocacionados
para o cuidado do corpo e manutenção de
espaços de permanência.
Consciencializar para os cuidados
pessoais, reforçado ao longo da
intervenção.
63
4.4. Caracterização da intervenção
4.4.1. Participantes e caracterização do grupo de intervenção.
Os destinatários do Programa YES são pessoas sem-abrigo que, independentemente do local de
permanência/pernoita, consigam satisfazer, autonomamente ou através de apoios, as suas
necessidades. São também requisitos importantes para a inclusão do grupo de intervenção saber ler
e escrever e, fatores ligados com a motivação e disponibilidade para a participação.
O grupo de intervenção será constituído por 16 elementos. Uma vez constituído o grupo de
intervenção não é permitida a entrada de mais participantes, uma vez que se pretende trabalhar a
unidade de grupo e as ligações e interações entre os elementos. Os grupos funcionam em regime
fechado.
4.4.2. Estrutura das Sessões.
A estrutura da intervenção fundamenta-se no modelo de Treino de Competências (Quadro 2.1),
que se baseia em técnicas comportamentais e incorpora princípios da teoria da aprendizagem social
(Nemec, McNamara, & Walsh, 1992). Neste sentido as sessões são estruturadas de acordo com as
cinco dimensões: Avaliação, Aquisição, Generalização, Manutenção e Impacto.
A avaliação consiste na aprendizagem da competência em termos conceptuais. A aquisição
materializa-se no treino e feedback da competência. A Generalização consistirá na execução da
competência em contexto natural – tarefa de exterior. As dimensões de Manutenção e Impacto serão
avaliadas pós-intervenção pressupondo-se que a nova ou o reforço da competência desempenha um
papel significativo na melhoria de vida do participante, ao longo do tempo.
No sentido de operacionalizar a dinâmica estrutural das sessões, definimos sete fases que a
constituem.
Quadro 23.4.2. Cronograma da estrutura das sessões
Fase Descrição Duração
1 Acolhimento 10 minutos
2 Revisão da Sessão Anterior 40 minutos
3 Avaliação da competência 20 minutos
4 Aquisição 120 minutos
5 Generalização (apresentação) 10 minutos
6 Avaliação da Sessão 10 minutos
7 Encerramento 10 minutos
A intervenção tem uma duração de 48 horas com sessões de quatro horas. No total o Programa YES
tem 12 sessões, duas sessões semanais, com pelo menos dois dias de intervalo, para a aplicação
das tarefas (Generalização). Será realizada uma atividade pós intervenção, uma Exposição que
potenciará a manutenção e impacto identificado no modelo de Treino de Competências (Quadro 2.1).
No Anexo G encontram-se os planos de sessão com a descrição sumária das atividades.
64
4.4.3. Atividades e Modelo Lógico
O quadro X sumaria as atividades segundo os objetivos de processo e os objetivos de resultado.
Quadro 244.3. Objetivos de processo e objetivos de resultado por atividade, do
Programa YES
Atividades Objetivos de processo Objetivos de resultado
Ide
ntifica
çã
o s
ocia
l com
o g
rup
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ção
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t.
1 Apresentações Realizar atividades de
conhecimento de todos
os intervenientes na
intervenção
Promover a empatia entre
os intervenientes da
intervenção
Estreitar as relações
interpessoais entre
os intervenientes da
intervenção;
Aumentar a
participação ativa em
contextos sociais;
Utilizar as
competências
adequadas para
responder a
situações
diversificadas ou a
contextos menos
favoráveis;
Aumentar as
experiências
positivas com o
grupo de
intervenção.
2 Representações
– Identidade
pessoal e Social
Desconstrução da
representação de
pessoa sem-abrigo;
Concretizar a
aprendizagem sobre a
diversidade individual
dentro do grupo de pessoas
sem-abrigo;
3 Autoconceito –
Identidade
Pessoa e Social
Realizar tarefas de
autoconhecimento e de
definição do
autoconceito.
Corporizar um autoconceito
positivo.
4 Cuidados
pessoais
Realizar tarefas de
identificação de
estratégias de
autocuidado; Promover
um contato direto e
positivo entre os
elementos do grupo de
intervenção.
Conseguir identificar
estratégias de autocuidado;
Desconstruir os
estereótipos face às
pessoas sem-abrigo.
5 Imagem Pessoal
- Identidade
Pessoal e Social
Concretizar tarefas
promotoras de uma
representação pessoal
positiva
Construir uma identidade
pessoal e social;
6 Competências-
Identidade
Pessoal e Social
Identificar competências
e potencialidades
Construir um currículo de
competências pessoais;
Identificar competências e
potencialidades pessoais.
7 Sucessos-
Identidade
Pessoal e Social
Realizar tarefas que
promovam sucessos
individuais; Promover o
conhecimento do outro
Conseguir identificar
sucessos e estratégias para
os atingir;
8 Assertividade Treinar a assertividade e
as competências de
relacionamento
interpessoal
Conseguir ser assertivo;
aumentar as competências
de relacionamento
interpessoal
9 Empatia Treinar a empatia e as
competências de
relacionamento
interpessoal
Conseguir ser empático;
aumentar as competências
de relacionamento
interpessoal
10 Suporte Social Treinar o apoio e o ser
apoiado
Conseguir oferecer apoio e
ser apoiado
11 Literacia
Financeira
Identificar estratégias de
gestão de dinheiro
Conseguir aplicar
estratégias de gestão de
dinheiro
12 Despedida Facilitar a partilha de
conhecimentos,
reflexões e
aprendizagens
Fazer o balanço do
Programa YES; Promover
uma identificação grupal
positiva com o grupo de
intervenção.
EXPOSIÇÃO DE POSTERS E TRABALHOS
No Anexo G encontram-se as descrições das tarefas associadas a cada atividade.
O quadro X representa o modelo lógico do Programa YES fornecendo uma visão estrutural do mesmo.
Quadro 254.4.Modelo Lógico do Programa YES
Atividades Recursos Produtos Clientes Curto-prazo Médio-prazo Longo-prazo
Apresentações
ANEXO G
Questionário de Competências
de Vida
Árvore das expetativas
Escada do Compromisso
Pessoas
Sem-
Abrigo
Promover a empatia
entre os
intervenientes da
intervenção
Aumentar a perceção
de autoeficácia
Aumentar a
autoestima
Promover a
identificação social
positiva
Facilitar a Integração
Social de Pessoas
Sem-Abrigo
Representações –
Identidade pessoal
e Social
Respostas dos participantes Concretizar a
aprendizagem sobre a
diversidade individual
dentro do grupo de
pessoas sem-abrigo;
Autoconceito –
Identidade Pessoa
e Social
Janela de Joahri
Roda da Vida
Carta a ti
Corporizar um
autoconceito positivo.
Cuidados pessoais Diagrama do Cuidado
Diário do Cuidado
Conseguir identificar
estratégias de
autocuidado;
Desconstruir os
estereótipos face às
pessoas sem-abrigo.
Imagem Pessoal -
Identidade Pessoal
e Social
Respostas dos participantes
Carta de apresentação
Construir uma
identidade pessoal e
social;
Competências-
Identidade Pessoal
e Social
Currículo de Competências Construir um currículo
de competências
pessoais; Identificar
competências e
potencialidades
pessoais.
Sucessos-
Identidade Pessoal
e Social
Respostas dos participantes
Objetivo individual
Conseguir identificar
sucessos e
estratégias para os
atingir;
66
Assertividade Respostas dos formandos Conseguir ser
assertivo; aumentar
as competências de
relacionamento
interpessoal
Empatia Respostas dos formandos Conseguir ser
empático; aumentar
as competências de
relacionamento
interpessoal
Suporte Social Respostas dos formandos Conseguir oferecer
apoio e ser apoiado
Literacia
Financeira
Orçamento doméstico
Lista de compras
Conseguir aplicar
estratégias de gestão
de dinheiro
Despedida Questionário de Competências
de Vida
Árvore das expetativas
Escada do Compromisso
Exposição de Posters e
Trabalhos
Fazer o balanço do
Programa YES;
Promover uma
identificação grupal
positiva com o grupo
de intervenção.
83
4.4.4. Recursos
Quanto aos recursos humanos o projeto deverá contar com um facilitador. O facilitador deverá
reunir um conjunto de competências que o permita abordar todas as competências e respetivos
conteúdos. Deverá ainda conhecer estratégias e técnicas de intervenção com grupos. Sugerem-se
facilitadores formados em Psicologia, Educação Social e/ou Animação Sociocultural.
Os recursos materiais estão definidos nos planos de sessão (Anexo G). No entanto, deve-se
adequar os recursos aos contextos. A utilização de material reutilizável e a construção de material
que possa ser reutilizado sessão para sessão constitui-se uma mais-valia para o Programa e,
simultaneamente, é um indicador de sustentabilidade.
Os recursos logísticos necessários para o bom funcionamento do programa são: uma sala que
não seja usada por outras pessoas durante o decorrer das sessões, cadeiras para os participantes e
para o facilitador e, mesas de trabalho. A sala não deve ser uma sala típica de formação, pelo que a
disposição da mesma deve ser alterada sessão para sessão de forma a corresponder aos objetivos
das mesmas.
4.5.Outputs
Como outputs principais do Programa YES destacamos o Manual Prático (Anexo G) que detalha
as sessões, atividades e a estrutura do programa.
4.6. Orçamento Previsional
O orçamento para a implementação do Programa YES foi estimado a partir de valores de
referência de aquisição de material. Não se contemplou o recurso humano no orçamento. O valor
estimado do projeto, para aquisição de materiais é de 120€.
4.7. Potenciais riscos e limitações na aplicação do Programa YES
Numa perspetiva de antecipar possíveis riscos e limitações agregados à implementação do
Programa YES, faremos a caracterização de alguns pontos a ter em consideração identificando
estratégias de superação.
No momento de divulgação do Programa YES é necessário difundir as mais-valias do programa e
os resultados concretos que a sua frequência pode originar. É importante e necessário que exista
motivação e disponibilidade para a participação. A entrada e permanência no projeto, deve partir da
pessoa e não de uma imposição técnica ou de serviços. Sugerimos assim uma sessão de
esclarecimento, individual ou em grupo, acerca do programa e da estrutura que o constitui.
O horário deve ter em consideração as necessidades do grupo alvo. É importante ter em conta,
nesta população, que existem horários inerentes aos processos de apoio social e às
residências/centros de acolhimento. É importante assumir um compromisso de cumprimento de
horários de ambas as partes.
A gestão de conflitos deve ser uma competência do facilitador. Algumas das tarefas exigem a
partilha e a interação grupal, potenciadoras por si só de constrangimentos individuais e, que podem
enviesar os resultados pretendidos.
84
As tarefas de exterior são parte importante do Programa YES. É importante que todos os
participantes o compreendam. Na tarefa Escada de Compromisso a concretização das tarefas de
exterior devem estar patentes como objetivo de grupo e não, como um objetivo individual. O sucesso
individual deve concretizar-se no sucesso do grupo.
A confidencialidade e a privacidade devem também ser consideradas em alguns aspetos. A
formação assenta numa base de confiança de todas as partes. Nestes sentido, sugere-se que se
discuta os termos de confidencialidade das sessões na primeira sessão. Deve-se assegurar que os
materiais realizados e desenvolvidos pelos participantes fiquem guardados sempre que termine uma
sessão.
4.8. Avaliação da Intervenção
O modelo de avaliação seguido contempla três momentos específicos: avaliação inicial, avaliação
de processo e avaliação de resultados.
A avaliação inicial corresponde à análise do grau de desenvolvimento das competências, antes
da intervenção. A avaliação de processo é realizada, através da verificação da manipulação,
concretizando-se na avaliação das tarefas em contexto de sessão e em contexto exterior. A avaliação
de resultados é a verificação de qualquer consequência ou impacto produzido pelo programa. É
também avaliada a satisfação dos participantes no programa.
No sentido de validar o programa, provando que a intervenção é valida e efetiva e que produz os
resultados pretendidos, sugere-se uma avaliação a partir de um design experimental com pré e pós-
teste (Quadro 4.5). O grupo de controlo é composto por um número semelhante de participantes com
características semelhantes aos do grupo de intervenção. O grupo controlo responde aos
questionários de avaliação ao mesmo tempo do que o grupo de intervenção mas não realiza
nenhuma tarefa de intervenção
Quadro 264.5. Design de avaliação do Programa YES
Grupos Pré teste Intervenção Pós teste Intervalo de tempo
entre pré e pós teste
Grupo de intervenção √ √ √ ± 2 meses
Grupo de controlo √ χ √
Por questões éticas e de responsabilidade social, o grupo de controlo, deverá após primeira
avaliação ser submetido à intervenção.
Ainda em relação à avaliação, apresentamos no quadro seguinte o método e os instrumentos
de avaliação (Anexo G).
85
Quadro 274.6.Instrumentos por fases de avaliação do Programa YES
Instrumentos Avaliação
Inicial
Avaliação de
processo
Avaliação de
Resultados Satisfação
Questionário de
Competências de Vida √ χ √ χ
Questionário de Avaliação de
sessão χ √ χ χ
Grelha de Observação de
tarefas χ √ χ χ
Questionário de Satisfação
com o Programa YES χ χ χ √
O questionário de competências de vida é uma versão mais curta do instrumento utilizado no
diagnóstico de necessidades, contemplando: Escala Portuguesa de Empowerment (EPE; Nunes,
Brites & Pires, 2010), Os itens de impacto da Escala de Impacto do Quality of Life for Homeless and
Hard-to-House Individuals ( QoLHHI; Hubley, Russel, Gadermann & Palepu, 2009); A Escala de
Autoeficácia Geral (Araújo & Moura, 2011); Medida de identificação grupal – Sem-abrigo; Medida de
identificação grupal – Grupo de Intervenção; Questionário de caracterização sociodemográfica
(Anexo G).
O questionário de avaliação de sessão (Anexo G) compreende quatro questões: “Gostou desta
sessão?”; “Na sua opinião esta sessão foi útil?”; “Indique o aspeto mais positivo desta sessão”;
“Indique o aspeto mais negativo desta sessão”. Este questionário apresenta também um espaço para
observações/sugestões.
A grelha de observação de tarefas (Anexo G) faz o registo da assiduidade, do grau de
cumprimento dos objetivos/execução das tarefas planeadas; da reação dos participantes; do grau de
cumprimento das tarefas de exterior; das dificuldades encontradas e sugestões de alteração; de
observações relacionadas com os participantes ou sessões.
O questionário de satisfação com o Programa YES (Anexo G) compreende as seguintes
questões: “Gostou de participar no programa?”; “Na sua opinião este programa foi útil?”; “Indique o
aspeto mais positivo desta sessão”; “Indique o aspeto mais negativo desta sessão”; “gostaria de
participar noutros programas deste género?”.
87
Conclusão
O aumento de pessoas em situação de sem-abrigo, a multiplicidade de fatores que causam e
condicionam a permanência na situação e, a exigência social face a esta problemática remete-nos
para a necessidade de criar estratégias de intervenção.
Em Portugal a Estratégia Nacional para a integração da Pessoa Sem-Abrigo 2009-2012
(ENIPSA) visa implementar um conjunto de estratégias que definem a intervenção com a pessoa
sem-abrigo. A ENIPSA à semelhança da literatura vigente remete-nos para a necessidade de criar
uma definição consensual, para que a intervenção se foque nas características nela incluída. Assim,
propõe uma definição abrangente com enfase na dimensão habitacional: “considera-se pessoa sem-
abrigo aquela que, independentemente da sua nacionalidade, idade, sexo, condição socioeconómica
e condição de saúde física e mental, se encontre: sem teto, vivendo no espaço público, alojada em
abrigo de emergência ou com paradeiro em local precário; ou sem casa, encontrando-se em
alojamento temporário destinado para o efeito” (ENIPSA, p.9, 2009). A orientação conceptual de
pessoa sem-abrigo, baseada na ENIPSA, fundamenta-se na necessidade de integrar a proposta de
programa de intervenção, num plano nacional mais abrangente, constituindo-se como um instrumento
aplicado em diversos contextos de intervenção com esta população.
No entanto, conducente com a ausência ou vulnerabilidade habitacional impõe-se um conjunto de
problemas inibidores à integração social da pessoa sem-abrigo. A literatura reflete as questões
relacionadas com a ausência de suporte social (Bento & Barreto, 2002; Minnery & Greenhalgh, 2007;
Toro, et al., 2007); problemas de saúde mental (Kamieniecki, 2001; Morrissey & Levine, 1987; Tessler
& Dennis, 1989) e consumo de substâncias (Breakey & Fischer, 1990; Koegel & Burnam, 1988;
Wright, Knight, Weber-Burdin, & Lain, 1987); e incapacidade de suprimir as necessidades básicas
(Ball & Havassy, 1984; Breakey & Fischer, 1990; Herman, Struening, & Barrow, 1994; Morse &
Calsyn, 1992).
Estes fatores exigem uma intervenção multidimensional que vá para além da supressão de
necessidades básicas e aquisição de habitação. Assim, optamos por uma intervenção que assenta
num Modelo Biopsicossocial (Dykeman, 2011), procurando que as pessoas sem-abrigo
intercedessem na definição de objetivos do programa, em articulação com os técnicos que intervêm
com a população e, desenvolvendo um conjunto de capacidades e competências nos indivíduos
potenciadoras de uma integração social sem reincidência.
Assim, considerou-se o treino de competências, a intervenção mais adequada às nossas
finalidades e propusemos um modelo teórico cujos objetivos se coadunam no aumento da perceção
de autoeficácia, aumento da autoestima e promoção de uma identidade social positiva com o grupo
de intervenção.
O desenho do programa partiu de um diagnóstico de necessidades, junto de intervenientes
fulcrais no processo de intervenção: os técnicos e pessoas sem-abrigo. O diagnóstico de
necessidades foi orientado por quatro questões: “Que competências/capacidades têm as pessoas
sem-abrigo para reinserir socialmente?”; “Que competências de vida são necessárias desenvolver na
pessoa sem-abrigo?”; “Que representação existe sobre as pessoas sem-abrigo, e em que nível se
88
identificam com ela”; “Qual é a atitude e motivação das pessoas sem-abrigo para o treino de
competências de vida?”. Estas questões foram respondidas, com recurso a métodos qualitativos e
quantitativos por quatro técnicos e 40 residentes de um Centro de Alojamento para pessoas sem-
abrigo.
Os principais resultados remetem-nos para a pertinência da intervenção, contribuindo para a
inclusão e exclusão de competências a serem desenvolvidas. Assim, incluímos na intervenção
competências relacionadas com a identidade pessoal e social, relacionamento interpessoal e
competências da vida diária. Os resultados reportaram também uma identificação significativa por
parte dos residentes do Centro de Alojamento e, uma representação negativa da pessoa sem-abrigo
por partes destes e dos técnicos.
No nosso trabalho, não foi evidente o impacto dos fatores associados à vida diária (saúde,
situação financeira, suporte social, etc.), predominando a passividade face aos mesmos. Os
resultados do diagnóstico de necessidades intensificaram a tendência à adaptação do estilo de vida
de sem-abrigo e ao processo de passividade, focada pelos técnicos e, reforçada pela literatura
(Goodman, et al.; Snow & Anderson, 1993; Summerlin, 1995). Neste sentido, considera-se que há
uma reorganização funcional da pessoa sem-abrigo no sentido de suprimir as suas necessidades
básicas em detrimento da organização de estratégias e recursos para sair da situação. Concluindo-se
por isso a necessidade de intervir junto de fatores que promovam estratégias e recursos de mudança
de vida e, consequentemente promotores da integração social.
Face aos resultados desenhamos uma proposta de intervenção, o Programa YES (Your
Empowerment Skills), orientado por estratégias de Empowerment e, fundamentado pelo modelo de
treino de competências que incorpora princípios da Teoria da Aprendizagem Social e de Técnicas
Comportamentais. O Programa YES é operacionalizado em 11 sessões teórico-práticas e, constitui-
se como um instrumento de trabalho para interventores sociais.
Implicações práticas
Do trabalho decorrem algumas implicações práticas, que nos parecem pertinentes para todos os
intervenientes no processo de intervenção com pessoas sem-abrigo.
Em primeira instância, o diagnóstico de necessidades permite claramente compreender a
dinâmica da instituição enquanto prestador de serviços. Adequando a dinâmica da instituição à
realidade e necessidades, constituem-se benefícios ao nível do sucesso e do impacto institucional
nas populações alvo. Ainda no que concerne ao diagnóstico, permitiu-nos compreender a realidade
das pessoas sem-abrigo institucionalizadas e identificar fatores proeminentes que nos fornecem
pistas de intervenção e minimização da problemática.
Por outro lado, um programa de treino de competências pode ser aplicado por recursos humanos
que geralmente se encontram em instituições sociais. Este ponto remete-nos para as questões da
sustentabilidade de programas de intervenção a longo-prazo. O Programa de Treino pode
complementar as atividades dinamizadas pela instituição e constituir-se como um instrumento de
trabalho institucional.
89
O Questionário de Competências de Vida constitui-se como um ponto de partida para a
construção de um instrumento adaptado e validado para a realidade portuguesa, que avalie as
necessidades das pessoas sem-abrigo. A inexistência de instrumentos validados para esta população
inibe uma definição real do problema, condicionando substancialmente uma intervenção eficaz e
fundamentada.
Finalmente, a construção de um programa para a intervenção com a população sem-abrigo,
contribui para a convergência entre o conhecimento e ação, na Psicologia Comunitária, reforçando a
necessidade de implicação mutua entre o conhecimento gerado pela Psicologia e, a ação psicológica,
que a disciplina realiza em contexto social (Sánchez-Vidal, 2002).
Perkins (2011) refere que o Psicólogo Comunitário é orientado por uma visão única: a de ajudar
as pessoas em situação de vulnerabilidade, dentro e fora dos contextos institucionais, a assumir
controlo sobre o seu ambiente e as suas vidas. A construção do Programa YES espelha a orientação
para a pessoa sem-abrigo, para as suas competências e para a forma como podem reverte-las em
função de uma adaptação ao contexto social e evolução do mesmo. Shinn (1992) afirma que um
atributo muito importante para os Psicólogos na intervenção com pessoas sem-abrigo é a modéstia. A
autora sugere que mais do que localizar a intervenção no indivíduo (e.g. na supressão das
necessidades básicas), almejando a recuperação e a reabilitação de um, o Psicólogo deve reunir todo
o seu conhecimento e prática, ajudando e influenciando os sistemas políticos de forma a reduzir os
fatores que maximizam as situações de sem-abrigo. É neste sentido que surge o Manual Prático do
Programa YES, ambicionando constituir-se como um instrumento de trabalho pluridisciplinar e um
recurso de desenvolvimento e envolvimento social.
O Programa YES espelha o estudo, compreensão, concetualização e intervenção dos processos
através dos quais a sociedade pode responder adequadamente à situação das pessoas sem-abrigo.
Limitações
Estamos conscientes de algumas limitações inerentes ao trabalho desenvolvido, sugerindo assim,
algumas precauções na leitura e na generalização dos resultados.
Em primeiro lugar reportamos algumas dificuldades sentidas na revisão de literatura. A literatura é
abrangente e geralmente, conceptual. Existem poucos estudos sobre o treino de competências com
populações em situação de sem-abrigo e, as intervenções são geralmente em grupos com problemas
no âmbito da saúde mental e/ou consumo de substâncias. Para além disto, a literatura em Portugal é
deficitária, existindo dificuldade por isso em caracterizar a população sem-abrigo em Portugal, definir
fatores contextuais e culturais da problemática e, compreender a sua incidência e prevalência.
Outra limitação refere-se à seleção e construção de instrumentos de diagnóstico. Há semelhança
da literatura são poucos os instrumentos focados na população sem-abrigo e, os encontrados não se
encontram validados para a população portuguesa. Também os instrumentos usados remetem-nos
para precauções de leitura de resultados, uma vez que não existe investigações que os apliquem na
população sem-abrigo.
Além disso debatemo-nos com limitações relacionadas com o tamanho da amostra, que não nos
permitiu fazer generalizações à população sem-abrigo e, fazer inferências com fatores
90
sociodemográficos. Outra limitação refere-se ao problema subjacente a situações de autoavaliação,
uma vez que não conseguimos controlar totalmente a tendência de resposta (desejabilidade social).
No que concerne ao desenho do programa, encontramos outras limitações que se concretizam na
possível presença de participantes com consumos de drogas e álcool e com problemas de saúde
mental. A literatura é expressiva quanto à importância do controlo das dependências de álcool e
drogas e dos problemas de saúde mental em programas de intervenção.
Direções futuras
A impossibilidade de testar o Programa Yes remete-nos para a primeira sugestão. O Programa
deve ser implementado e avaliado, no sentido, de testar as hipóteses subjacentes ao modelo teórico
e perceber o impacto real na população sem-abrigo. Está planeada a implementação do Programa
YES, no Centro de Alojamento de Xabregas do Exército de Salvação. Pretende-se também a edição
do programa em e-book.
Os resultados analisados e discutidos no diagnóstico de necessidades propõem a necessidade
de pesquisas futuras. Assim, sugerimos que sejam replicados com outras amostras de pessoas sem-
abrigo, visando a adaptação e validação do instrumento e o aperfeiçoamento do Programa YES.
Ao terminarmos estamos cientes que este trabalho abre um caminho na construção planificada e
meticulosa da intervenção com pessoas sem-abrigo. Os interventores sociais têm um papel
fundamental, como facilitadores de mudança de vida, na população sem-abrigo e na comunidade em
geral. O desenho, implementação e avaliação de um programa como o que propomos poderá
potenciar no sistema social o apoio necessário nos aspetos mais desestabilizadores da comunidade e
implementar os princípios de humanização, capacitação e empowerment, no sentido de integrar
pessoas e adequar os seus comportamentos e ações em benefício da comunidade.
91
Referências
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98
Anexo A
Consentimento informado para entrevista
Formulário de consentimento informado
Trabalho de Projeto no âmbito do Mestrado em Psicologia Comunitária e Proteção de
Menores
Autora: Patrícia Bacelar
O trabalho de projeto, intitulado “Programa de Treino de Life Skills para Pessoas Sem-
abrigo ”, insere-se num trabalho que decorre no âmbito do Mestrado de Psicologia
Comunitária e Proteção de Menores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa.
Pretendemos contribuir para um melhor conhecimento sobre este tema e, desenvolver
uma intervenção baseada no diagnóstico de necessidades. Para tal, necessitamos da sua
colaboração para recolhermos a informação necessária para criar este programa.
É por isso que a sua colaboração é fundamental.
O resultado deste trabalho, orientado pela Professora Doutora Sibila Marques, será
apresentado no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa no final de 2014
podendo, se desejar, contactar a sua autora para se inteirar dos resultados obtidos.
Este trabalho não lhe trará nenhuma despesa ou risco. As informações recolhidas serão
efetuadas através de um questionário e uma entrevista que deverão ser gravados para
permitir uma melhor compreensão dos factos.
Qualquer informação será confidencial e não será revelada a terceiros, nem publicada.
A sua participação é voluntária e pode retirar-se a qualquer altura, ou recusar participar,
sem que tal facto tenha consequências para si.
Depois de ouvir as explicações acima referidas, declaro que aceito responder a este
questionário.
Assinatura: __________________________________ Data: _________
99
Anexo B
Guião de Entrevista
Introdução ao assunto
Gostava que respondesse a algumas perguntas sobre competências de vida nas pessoas em
situação de sem-abrigo, nomeadamente nos clientes do CAX. Quando falarmos em competências de
vida gostava que pensasse em todas as competências psicossociais que são necessárias ao
indivíduo para fazer frente aos desafios do quotidiano.
Desenvolvimento
Para efeito de tratamento das respostas, agradecemos que nos indique alguns dados pessoais.
Idade: _____________ Sexo: Masculino Feminino
Habilitações Literárias: ___________________________
1. Qual a sua função no CAX? Há quanto tempo?
2. Que tipo de intervenção tem com os clientes do CAX?
3. Que tipo de trabalho considera ser mais importante para os clientes e, que ainda não é
promovido, pelo CAX?
Com o objetivo de compreendermos como poderá ser orientada a intervenção com a pessoa
sem-abrigo no sentido da sua reinserção social, gostaria que me respondesse às seguintes questões:
4. Como perceciona a capacidade, dos clientes, para fazerem face a obstáculos ou situações
criticas, do dia-a-dia?
5. Que expetativas têm os clientes sobre as suas capacidades/competências para desempenhar
com sucesso determinados comportamentos (que os ajudam a reinserir)?
6. O que considera ser mais importante trabalhar, nestas pessoas, para fazerem face às situações
do dia-a-dia?
7. Que competências, considera importantes, para serem desenvolvidas nos clientes do CAX?
8. Que importância atribui ao treino de competências de vida para os clientes do CAX? Porquê?
9. Que outras atividades/intervenções devem ser desenvolvidas com pessoas sem-abrigo?
10. Que tipos de motivações têm estas pessoas para participar neste tipo de programas?
Muito obrigada pela sua colaboração. Gostaria de colocar alguma pergunta ou acrescentar
alguma informação em relação às questões que lhe coloquei?
Anexo C
100
Entrevista 1 (E1)
E: Obrigada pela sua colaboração, gostava que respondesse a algumas perguntas sobre
competências de vida nas pessoas em situação de sem-abrigo e, vamo-nos focar depois mais aqui
nos utentes do CAX. Queria só referir que quando falar em competências de vida que estou a falar
em competências psicossociais que são necessárias ao individuo para fazer frente aos desafios do
quotidiano. Portanto, todas as características que eles devem ter para fazer frente aos desafios do
quotidiano.
Iria começar então por perguntar qual é a sua função no CAX? E há quanto tempo?
DS: Sou Diretor do Centro de Acolhimento para Sem-abrigo de Xabregas gerido pelo Exército de
Salvação e estou aqui desde 2007. Janeiro de 2007.
E: Qual é a sua intervenção com os utentes do CAX? A sua intervenção direta?
D: A minha intervenção tem evoluindo ao longo destes sete anos e essa evolução tem de alguma
forma procurado… tem estado associada ao próprio desenvolvimento do CAX em termos de serviços,
de atividades e por ai fora. Portanto já desenvolvi muito trabalho direto com os utentes. O programa
de reinserção profissional foi um bocado um programa, enfim, no qual me tive de empenhar bastante
no principio porque não tínhamos Educador Social, não tínhamos, era uma fraqueza da própria
instituição. Acolhíamos muito bem, eramos muito conhecidos em Lisboa por sermos uma instituição
que procedia a um acolhimento muito bom mas, no fundo nós não existíamos… se é Centro de
Acolhimento Temporário. Não nos podíamos limitar unicamente à excelência do acolhimento senão
por daqui a trinta anos ainda tínhamos aqui as pessoas satisfeitas de serem acolhidos. Portanto a
minha função foi evoluindo. Neste momento a minha função está a incidir na parte da administração.
Portanto, temos agora duas técnicas superiores de serviço social, uma educadora social, um projeto
de capacitação profissional que está a decorrer, para além dos estagiários excelentes como a
Patrícia.
E: Muito obrigada!
D: E também outras estagiárias que têm vindo a acompanhar e a implementar novos projetos
portanto no fundo, neste momento estou mais a acompanhar a evolução de todos estes… todas
estas respostas e a dar mais apoio na parte da administração… vamos lá… a administração corrente
da instituição.
E: Em relação às atividades que são feitas aqui no CAX, atividades ou o próprio funcionamento
dos gabinetes, para os utentes, o que é que acha que falta no CAX, ainda trabalhar, desenvolver, que
tipo de atividades são necessárias ser promovidas?
D- Eu sempre fui o grande defensor de atividades que de alguma maneira promovam
relacionamentos de confiança e relacionamentos capacitadores de habilidades dos próprios utentes.
101
Portanto, um relacionamento que promova esperança, desejo de mudar de vida, de ir à luta e por ai
fora.
A partir do momento que a nossa resposta obedece mais a parâmetros institucionalizados para
mim, cada parâmetro institucional é um travão ao desenvolvimento de uma relação de confiança. Não
quer dizer por isto que não se tenha que ter uma abordagem institucional. Mas… entre não ter
nenhuma e ter uma abordagem institucional, ainda bem que há uma abordagem institucional. Mas
uma abordagem institucional não chega para transformar vidas na minha ótica. Na minha perspetiva
é uma abordagem mais relacional. Uma abordagem que desenvolva uma relação de confiança, que
leva o seu tempo, e que portanto depois promova a mudança de vida. Portanto isto dito por outras
palavras as atividades são quase secundárias para não dizer terciárias. Para mim as atividades tem
de ter fundamentos se não tiverem os fundamentos e elas forem desenvolvidas acaba por ser giro
mas não transforma, não contribui para… mas são necessárias, obviamente são necessárias mas,
não como alvo em si, como um objetivo em si. Não podemos perder de vista que esta instituição em
si pode acolher e reinserir pessoas. Portanto, pretende-se aqui a mudança de vida das pessoas. Por
muita coisa boa que a gente possa fazer senão promover a mudança de vida, estamos a entreter.
E- Exatamente.
D- Não estamos a promover mudança. E se este fosse um centro de entretenimento então talvez
desse uma valor de 100%. Mas não é um centro de entretenimento. Portanto, que nós tenhamos aqui
as festas que forem necessárias, muito bom! Acho isso fantástico. Mas não pode ser só.
E- Então pegando precisamente nesta parte da reinserção destas pessoas, e para perceber como
deve ser na sua ótica a orientação para a intervenção, queria perguntar-lhe como é que perceciona
as capacidades destas pessoas, portanto, dos utentes e dos sem-abrigo no geral para fazerem face a
obstáculos ou situações do dia-a-dia?
D- É assim eu vejo estas pessoas todas com competências fantásticas. Cada uma delas tem no
seu interior, na sua vida, alguns mais… alguns deles mais, outros menos… porque uns são mais
novos e outros são mais velhos… cada uma delas tem uma riqueza interior que nós muitas vezes não
calculamos, nem imaginamos, estamos aqui muitas vezes com diamantes em bruto, e eles passam
ao nosso lado e nem sequer nos apercebemos disso. O grande desafio é descobrir esses, essas
capacidades e essas habilidades esses dons esses sonhos que estas pessoas têm. Agora, partindo
do pressuposto que cada uma destas pessoas têm capacidades temos perceber porque é que estas
capacidades nunca chegaram a produzir de acordo com aquilo que cada um esperava. E existem
muitos estudos sobre estas questões e um deles foi desenvolvido pelo próprio Exercito de Salvação,
intitulado “sementes de exclusão”, que revela que a principal causa das pessoas caírem numa
situação de exclusão social, foram problemas de relacionamento. Percebemos que não é por falta de
capacidades, percebemos que não é por falta de dinheiro, que não é por falta de casa… percebemos
que não é por falta de qualificações. Pode a ver um pouco disto tudo mas não é a causa, a raiz mais
102
profunda. A raiz mais profunda tem a ver com relacionamentos que foram destruídos ao longo de
vida. Relacionamentos que têm a ver, já desde tenra idade, com o seus pais, com seu círculos de
apoios, pessoas a sua vizinhança, pronto. De alguma maneira todo o trabalho que é promovido e
desenvolvido numa ótica de desenvolver essas competências psicossociais na vida destas pessoas
acho que, elas são bem-intencionadas, e boas, e que devem ser desenvolvidas. Mas outra vez estas
pessoas nunca conseguirão reinserir numa sociedade da qual eles estão a fugir… e pensando
unicamente que o conseguir um emprego e uma qualificação lhes poderá trazer de volta a felicidade
e a esperança que eles desejam. Isso eu… tenho isto muito claro, muito claro! Agora, este é um
percurso muito longo e muito difícil de se alcançar.
E- E agora vamos pensar um bocadinho na perspetiva do sem-abrigo. Sente que eles têm…
Quais são as expetativas que eles têm, do seu contato… qual é a expetativa que eles próprios têm
das suas próprias capacidades para dar a volta? Portanto, para voltarem a estar inseridos na
sociedade?
E- Há pessoas que passam por uma situação de sem-abrigo. E a pessoa que está a passar pela
situação de sem-abrigo ainda tem uma vida muito enraizada lá fora. Então, as pessoas que forem
essas ainda são externas ao centro de acolhimento de sem-abrigo e, se essas referências forem
boas, se forem amigos, honestos, sinceros, não envolvidos em vícios da vida… enfim… hábitos de
vida que destroem a nossa vida, portanto, o álcool, sexo, drogas e por ai fora, atividades criminosas,
por ai fora…. Se essa referencias ainda forem boas e a pessoa estiver a passar por uma situação de
sem-abrigo e, ela encontrar-se neste lugar, essa pessoa ainda sonha com uma vida lá fora, à imagem
de qualquer outro ser-humano ou outra pessoa. Sonha em casar, sonha em constituir família, sonha
em ter uma vida mais equilibrada. Essa pessoa perceber que esta vida aqui não é a vida normal, não
é a referência, não é o padrão, não é assim que se deve viver. Então a pessoa que está a passar por
esta situação que ainda vive essas referências à sua volta e sonha “não! Ainda quero lutar por isto ou
por aquilo”.
Ok! Muito bem… mas esta é uma situação de sem-abrigo. Outra coisa é a pessoa que já adquiriu
um estilo de vida de sem-abrigo. E, as suas referências são aquelas que ela encontra no próprio
centro de acolhimento. Ou nas pessoas que vivem já numa situação e exclusão social. A maior
necessidade do ser humano… a madre teresa de Calcutá dizia uma coisa muito gira “a maior de
todas as impurezas é a falta de amor”. Eu acredito firmemente nisto. E ainda vindo dela, ainda mais.
Acredito. Todo o ser humano procura ser amado. Se uma pessoa que sempre foi rejeitada lá fora
encontrar amor neste lugar, onde é que você acha que a pessoa vai querer ficar? Aqui mesmo. No
entanto sabemos que este não é o lugar para ficar. Mas se calhar a única referência de amor e de
família que essa pessoa teve somos nós. Então nós aqui lutamos para fazer sair daqui do centro e
ele luta para ficar no centro. Então desenvolve-se aqui um campo de batalha enorme e terrível. E aqui
é uma outra dimensão que vai para além das nossas próprias competências profissionais,
académicas. Entendemos que a pessoa adquiriu hábitos de exclusão social. Não se quer envolver
com pessoas. Eu cheguei no principio, no primeiro em que eu cheguei aqui, cheguei a referir isto a
103
alguns dos utentes. Os meus pais emigraram nos anos 70, eu era uma criança mas a vida da
emigração é uma vida que leva as pessoas a se unirem, numa ótica de inserção numa sociedade que
não é a deles, numa cultura que não é a deles, então vivem juntos na mesma casa, até as esposas
chegarem até surgirem os primeiros filhos, então já procuram uma casinha para cada um, repartem
as despesas da casa, enfim, desenvolvem hábitos da sua própria cultura de origem, e por ai fora… E
a minha pergunta aqui é muito simples, se calhar se estas pessoas se unissem, umas duas ou três ou
quatro, alugassem uma casa, e começassem a trabalhar seriamente, ou mesmo não tendo trabalho,
mas repartindo as despesas… não precisariam de viver num centro para sem-abrigo. E eu coloquei
essa pergunta. E a resposta que eu tive é que não existe confiança nenhuma uns nos outros. E
realmente o fator de falta de confiança, nos relacionamentos, separa. Separa, divide e destrói. E
destrói e fragiliza qualquer situação, de qualquer utente. Hoje em dia um utente sai daqui com um
trabalho, ele ainda tem mais medo do que ter trabalho e estar aqui. E nós achamos que é um
sucesso ele ter arranjado trabalho. E é! De alguma maneira é. Mas não é tudo. Porque ele tem medo
de perder o trabalho e tem medo de voltar à rua. E então ai percebemos que a vida não é feita de
trabalho, a vida não é feita de dinheiro porque ele desaparece… cada vez mais…percebemos que
todas as nossas referências que consideramos serem referências seguras, nenhuma delas é mais
segura. Nem uma formação te pode fazer, um doutoramento, um pós doutoramento, seja lá o que
for… pode ter um grande emprego, enfim… nada disto é seguro. E todas estas referências de
segurança caem por terra quando descobrimos a instabilidade do que está à nossa volta. Eu ainda
sonho por… vamos lá dizer… relacionamentos saudáveis na vida destas pessoas. Este mês estou a
fazer um programa de rádio em Sintra, e no programa de rádios nestas próximas três semanas
vamos abordar três coisas: primeiro é “como pedir ajuda?”, segundo “como dar ajuda?” e terceiro
“com quem é que andamos?”. Nós percebemos que nem sempre sabemos como pedir ajuda. Isto é
curioso, pode até parecer estranho e básico, mas não é! Para muita gente. Eu desafio qualquer
pessoa a chegar ali na sala e dizer assim: “ Ok! Vamos aqui todos reunir e eu vou fazer uma
pergunta.” E esta pergunta é “como é que eu vos posso ajudar?”… e muitos deles não saberiam
como… Poderia fazer a pergunta de outra maneira. Do tipo “do que é que precisa?” muitas pessoas
não sabem do que é que precisam. Não sabendo do que precisam, também não valorizam o que
precisam e não lutam por aquilo que precisam. Então, andam assim à deriva não sabendo o que
precisam para as suas vidas. Mas também tem do outro lado a mesma coisa. Quem quer dar. Quem
quer ajudar. Muitas vezes não sabemos como ajudar. Muitas vezes desconfiamos da ajuda, isto é,
“vou ajudar esta pessoa mas será que vale a pena? Será que é digna de confiança? Será que isto vai
fazer algum efeito? Será que isto vai trazer alguma mudança?”. E temos tantas dúvidas de como
ajudar que preferimos até não ajudar. Depois há esta terceira dimensão que é “com quem
andamos?”. E uma coisa é certa, se andarmos com as pessoas erradas, temos as respostas erradas.
Se andarmos com as pessoas certas temos as respostas certas. Nunca vi ninguém conseguir
respostas certas com pessoas erradas. Isto, às vezes leva-nos a ter de acabar com alguns
relacionamentos.
A Patrícia um dia há-de ter filhos, se um dia vir o seu filho a andar com a pessoa errada, você
como mãe o que vai logo procurar fazer? “Acabou-se! Com aqueles não!” Porque você como mãe já
104
vai discernir. Agora, isto pode ser uma má influência, pode ser mau, pode… enfim… desorienta-la, e
o seu filho nessa altura só tem que obedecer senão ainda leva uma palmadinha… Mas nós aqui não
podemos dar palmadinhas… Mas percebe que há um perigo em certos relacionamentos. Num lugar
destes a necessidade de ser amado é tão grande, mesmo que vindo da pessoa mais errada, é bem-
vindo. E esse é o grande desafio que nos deixa a todos nós aqui consciencializados, muitas vezes
com um sentimento de impotência. O que fazer? O que fazer para ver uma pessoa mudar de vida?
Porque trata-se de mudar de vida, não se trata só de arranjar casa. Está num centro de alojamento
para sem-abrigo, muito bem. Isto quer dizer que é sem-abrigo porque não tem abrigo, porque não
tem casa, não tem onde ficar, muito bem… Arranjamos uma casa, vai resolver o problema dele?
Pode contribuir de alguma forma para algo melhor mas não resolve. Nós no princípio do programa de
capacitação chegamos a referir isto várias vezes. Uma pessoa está aqui desempregada e habituou-
se a viver na dependência dos subsídios, ok. Conseguimos convence-lo de procurar trabalho,
começa a procura e arranja um biscatezinho… um biscatezinho há uns dez anos atrás era
considerado ilegal. Isto é economia paralela, economia subterrânea. Muito bem. Hoje não, hoje já
vimos como “olha é uma boa oportunidade”, entre não estar a fazer nada, entre o estar a viver à custa
do estado, ainda bem que está a trabalhar, isso quer dizer que tem de se levantar num determinado
horário, tem de adquirir hábitos de trabalho e por ai fora, muito bem. E a pessoa arranjava isso e
começava a lutar, e aí surgia um trabalhinho mais certinho, com contrato, e a pessoa feliz da vida. E
essa pessoa começava já a entrar num ritmo diferente, mas estando a viver num centro de
acolhimento para sem-abrigo. Tudo muito bem, com muita esperança, com muita alegria e nós
técnicos “Ahhhh que bom! Este é um caso de sucesso, e tal…”, muito bem, ok. Chega o primeiro
ordenado e nesse primeiro ordenado, chega a primeira bebedeira, porque enfim tem que se festejar…
É a primeira bebedeira, e atrás da primeira bebedeira vem aquilo tudo, que coitada daquela pessoa já
há muito tempo que não experimentava, então, vai experimentar. Os bons prazeres da vida, que…
aos quais ele tinha estado um bocado alheio. Ok. Continua o trabalho, depois começa-se a aperceber
que “ok… o meu trabalho é pior que o do meu colega. O meu colega trabalha menos e ganha mais do
que eu”… começa-se a desentender porque acha que o patrão está a explorá-lo. E depois vai
conseguindo o seu ordenadozinho, sempre vai apanhando umas bebedeiras e, depois no outro dia
em vez de chegar a horas ao trabalho normal, atrasou-se porque está na ressaca. E perde o trabalho.
E volta à estaca zero. Arranjou trabalho mas não mudou de vida. Ainda continua com os seus
paradigmas… isto há quem diga “é mais fácil tirar um sem-abrigo da rua, do que tirar a rua do sem-
abrigo”. E esta é uma realidade, quem vive com hábitos de rua o grande desafio não é mete-lo num
centro de acolhimento para sem-abrigo. É tirar a rua da cabeça, não é ? Portanto…
E- Então para de alguma forma sistematizar, porque já o disse várias vezes, e parece-me muito
bem, em relação ao que é mais importante trabalhar para “tirar a rua do sem-abrigo”, o que é que
identificava? Que competências são necessárias trabalhar com estas pessoas, de forma a sintetizar o
que já falamos para trás? Falou das relações, do suporte social.
105
D- Esta é uma grande pergunta. Eu promoveria muito outros relacionamentos fora do nosso
contexto institucional, relacionamentos a vários níveis. Mas não numa ótica profissional. Precisa de
um acompanhamento psicossocial vai falar com uma psicóloga, precisa de saber como deve
trabalhar vai falar com uma educadora social… já existe respostas técnicas para… e as pessoas já
estão todas baralhadas com estas coisas todas que ficam muitas vezes dependentes destas coisas
todas. Então, eu promoveria relacionamentos de confiança, procuraria saber… Eu já lhe tinha dito,
sou um bocado atípico nesta questão, procuraria saber quais têm sido as referências saudáveis nos
relacionamentos que estas pessoas têm desenvolver ao longo dos anos. Isto pode querer dizer
procurar reconciliar-se com um amigo com uma amiga, reconciliar-se com um pai com uma mãe, com
a família, pedir perdão. Estamos a falar de coisas básicas. Nós costumamos dizer que a pessoa sem-
abrigo é uma pessoa muito orgulhosa, isto é, a pessoa está em casa e diz assim “ai é, é só problema,
tchau! Vou embora”. É um orgulho destrutivo, é um orgulho que destrói não só a família como o
próprio indivíduo. Então procuraria restaurar, procurar de alguma maneira reatar isso. Tivemos casos
desses aqui e que foram bons. Depois procurar de alguma maneira fora da instituição, desenvolver
hábitos de vida saudáveis. Nós já desenvolvemos muitas atividades aqui, muitas atividades de
serviço. Eu costumo dizer que quem é servido só se apercebe do valor do serviço quando ela própria
começa a servir. E eu acabo por me aperceber a grande maioria… conheço muito poucos casos que
não entram dentro desta rodagem, desta perspetiva, a grande maioria das pessoas que estão em
situação de sem-abrigo são pessoas prestáveis. São pessoas que se nós chegarmos ao pé delas e
dissermos assim: “olha podes dar-me uma ajuda?”. Elas dão. Então eu colocaria, eu procuraria leva-
los a servir. A servir outras pessoas. Da mesma maneira a que eles têm vindo a ser servidos,
gratuitamente, eu procuraria promover um estilo de vida de serviço em cada um deles.
Agora como? Isso ai, oportunidades para servir não faltam, não é? Com crianças, idosos, seja o
que for. E através do serviço eu acredito que as pessoas se unem mais, conhecem-se mais,
desenvolvem relacionamento mais construtivo e isso pode desencadear oportunidades muito
melhores, não é? Muito mais interessantes para cada um deles. Portanto, o desenvolver
oportunidades de serviços através das habilidades que eles têm, sim… alguns vão dizer logo assim: “
então mas o que é que eu ganho com isto?... o que é que eu ganho com isto?”. É verdade, temos de
perceber isso não é? Mas a vida não é só, não se avalia só numa base do que é que se ganha, não
é? Não podemos estar só a pensar o que ganhamos em dinheiro o que ganhamos em bens materiais,
não podemos. Portanto desenvolver esse estilo de vida com valores princípios tais como, a
honestidade, a integridade a disciplina, o respeito, enfim, perseverança a aceitação.
Estamos a falar de princípios e valores que hoje determinam a entrada ou não num emprego.
Pensamos muitas vezes que é o diploma, a experiência. Mas entre ter uma pessoa com diploma e
experiencia, e não digna de confiança e, uma pessoa digna de confiança, sem essas habilidades
todas, é a pessoa digna de confiança que conseguirá manter. Porque o resto vai vir depois, não é?
Portanto, essas oportunidades de serviço, eu procuraria desenvolve-las. Nós já fizemos isso várias
vezes aqui, já procuramos desenvolver isso várias vezes, obviamente deve ter o seu devido
enquadramento legal e por ai fora. Técnico e por ai fora. Mas, tem de ser com essa perspetiva, uma
106
perspetiva de serviço. E de promover relacionamentos com pessoas de fora da instituição. De fora da
instituição… outras pessoas. Mas não é fácil. Se fosse fácil…
E- Era mesmo essa a pergunta. Estas pessoas estão motivadas? Imagine que se estrutura um
programa de competências baseado nessas mesmas competências. Essas pessoas estão motivadas
e como é que se consegue motiva-las a participar? Que estratégias?
DS- Eu creio que projetos pilotos despertam uma curiosidade e uma motivação muito grande nas
pessoas. E projetos piloto virados para o serviço numa comunidade.
Por exemplo, vou pensar aqui num exemplo concreto. O avançar, o iniciar, com isso… isto é…
nunca se conseguirá motivar todas as pessoas. Temos aqui à volta de 60 e tal pessoas, podemos
estar a falar talvez de umas cinco ou dez.
Participei de uma conferência há pouco tempo e uma psicóloga dizia o seguinte. Muito
sabiamente. Uma coisa é nós termos o cuidado de transmitir amor. Outra coisa é termos o cuidado de
sabermos se realmente a pessoa percebeu esse amor. E a terceira coisa, o terceiro cuidado, é de ver
se a pessoa está a deixar-se ser amada.
Isto dito por outras palavras, em 60 e tal pessoas podemos estar a falar de cinco ou dez que
poderão reunir estas características todas. De serem motivadas encorajadas desafiadas… e elas
aderirem. Então começa por um grupinho pequenino. Nunca podemos ter a pretensão…
Uma das coisas que nós procuramos fazer logo no início de eu estar aqui, foi fazer uma
segmentação da própria população. Não podemos estar a ajudar uma pessoa sem-abrigo com 70
anos da mesma maneira que ajudamos um jovem com 20 anos. Portanto temos de perceber onde
reside o potencial de mudança e onde já não há mais potencial de mudança. Há um potencial só de
cuidar da sua saúde e por ai fora. Portanto olhando para o potencial de mudança é promover
oportunidades de estarem juntos, neste aspeto de desenvolvimento de espirito de equipa, é muito
importante.
Isto é interessante é como ir para a tropa ou fazer uma missão. Uma aventura não sei onde, e ir
uns 4 ou 5. Então criam-se ali memórias e experiências que vão ficar seladas na vida desse grupo
para o resto da vida, e vamos sempre “Eh pá! Tu estás-te a lembrar? Eh pá! Lembras-te daquela
situação?”. Criar essa motivação na base de uma equipa com uma perspetiva de serviço enquanto
estiverem aqui, transmitindo valores, princípio, pois isso, sim… pode ser catalisador de mudança, de
mudança de vida.
Eu sou um homem de fé identifico-me assim no sentido em que é muito difícil para mim perder
esperança… muito difícil… não sei se foi pela vida que eu próprio já levei… mas não desanimo com
muita facilidade. Ao mesmo tempo, sei que com determinadas pessoas todo este esforço irá produzir
frutos e que com outras determinadas pessoas não irá produzir frutos.
Portanto, a palavra-chave que eu aqui encontraria é dar oportunidade a um grupo de
desenvolver-se como equipa e numa perspetiva de servir. Mas servir numa ótica não só de agir mas,
servir numa ótica também de aprender valores e princípios da vida, que são fundamentos para o
resta da vida de uma pessoa. Saber cortar com determinados relacionamentos e saber desenvolver
107
outros determinados relacionamentos. Podemos fazer muita coisa na vida sem nunca construir nada
e isso é uma grande dor quando chegamos aos 60 e 70 anos percebemos que a vida passou num
instante. Fartamo-nos de trabalhar, de sofrer e percebemos que não construímos nada, nada foi
construído e, enfim… trabalhar estas dimensões com os mais novos, é assim se nós os
conseguirmos ganhar, eles têm uma vida inteira pela frente e vão depois até agradecer por terem
passado por aqui e terem aprendido isso. Portanto, tem a ver com competências pessoais.
Agora, que modelos é que nós somos? Oh Patrícia! Eu sou muito honesto, que modelos é que
nós somos, técnicos e profissionais? Eu vou muito longe, Patrícia, eu respeito, a vida de toda a
pessoa, não é? Obviamente. Mas, nós reconhecemos as nossas fragilidades, as nossas próprias
fragilidades, nós como profissionais e, nós com estas fragilidades todas achamos, entre aspas, um
pouquinho superiores àqueles que nós rotulamos de sem-abrigo. Mas que superioridade é que nós
temos? Nenhuma. Nos pagamos tanto como eles, fazemos tanta, tanta coisa errada como eles, e
olha pela graça de Deus não chegamos a esse ponto mas, tenho funcionários a sofrer mais do que
sem-abrigo. E se eu tiver um utente que me chega na receção e me disser “outra vez arroz?”, a um
funcionário que ganha 485€, com uma renda de casa para pagar e dois filhos para sustentar… Se eu
tiver ovos para toda a semana já é uma alegria. Portanto, a nossa própria vida como funcionários aqui
é uma vida enfim, quem somos nós? Quem achamos nós que somos? Por termos um diploma, por
termos uma função de diretor, ou de assistente social ou de educador social ou, seja lá qual for a
função, achamos que sabemos às vezes um pouco mais da vida do que eles. Às vezes não sabemos
nem metade do que eles sabem.
Eles só, talvez num dia, perderam a cabeça e foi tudo por água abaixo, e nós talvez ainda não
chegámos a esse dia, de perder a cabeça e mandar tudo para o chão. Portanto, enquanto nós nos
aproximarmos de uma pessoa sem-abrigo numa perspetiva profissional a verá sempre uma grande
limitação, a verá sempre uma grande limitação.
Eu acredito que a verá sempre uma limitação. No entanto, entre não ter nada e ter isto claro, é
melhor ainda ter isto… a pessoa… a pessoa acaba por sofrer bastante.
O próprio William Booth, fundador do Exercito de Salvação diz que não é por muito que a gente
de comida, não dê um teto, uma atividade profissional regular que a vida de uma pessoa muda. E
oiça estamos a falar do fundado do Exército de Salvação. Se houve um homem que marcou o império
britânico na altura foi ele e, que revolucionou literalmente a sociedade inglesa. E ele tem muito claro
que os fundamentos da vida de uma pessoa não se resumem a qualificações técnicas e habilidades.
Mas, à própria dignidade do próprio ser humano, como sendo criado á imagem de Deus e, ele era um
pregador da palavra, considerado um evangelista, e as pessoas realmente apercebiam-se que algo
nos atrai a algo superior, do que simplesmente vivermos no dia-a-dia.
Não podemos nos desfazer daquilo que fazemos no dia-a-dia. Claro que temos de trabalhar, claro
que temos que ganhar algum ordenado, senão como é que a gente paga a nossas contas? Isto não é
fácil, a gente podia estar a pensar é só… vamos viver só da esperança, viver do ar e Deus dá tudo
e… nós temos que trabalhar, nós temos que nos esforçar não é? Mas, ele entendia e transmitia isso,
em como os fundamentos não podiam ser coisas temporárias, porque essas coisas temporárias
desaparecem. Os meus pais trabalharam 20 anos em França, pouparam dinheiro, construíram uma
108
moradia, essa moradia é velha agora, era um sonho de há 40 anos atrás, agora é velha, e com muito
trabalho e com muito sacrifício mas agora é velha. Tudo bem. Cumpriram com o sonho deles, tudo
bem. Não foi o caso do meu sogro, o meu sogro alimentou um sonho desses e morreu antes de vir…
nunca chegou a gozar da própria casa que construiu. Portanto, estas coisas acabam por ser
temporárias, e o William Booth trabalhava muito e falava muito dessa questão.
A pessoa despertar numa visão diferente que vai além do status ou do ordenado que tem ou da
qualificação que tem. O relacionamento de confiança, o relacionamento de amizade, o servirmos uns
aos outros para mim são fundamentos na construção de uma vida, tudo o resto é provisório. Tudo o
resto é provisório.
Mas, temos feito um bom trabalho nesse sentido, ao longo dos anos e temos ido ao encontro das
necessidades das pessoas que por aqui passam. Há quem as saiba aproveitar, outros não, paciência!
Há pessoas felicíssimas por terem passado por aqui e ainda voltam aqui para nos agradecer. Todo o
mérito é delas, por se terem esforçado, por terem lutado. Nós demos a mão. Muito bem, fico contente
quando uma pessoa chega aqui e diz “Olhe. Já arranjei trabalho, já arranjei casa, já casei e tenho um
filhinho”… e não é isso que nos alegra, caramba!
A gente fica a pensar que tenha sido só para este valeu a pena ter este centro. Uma vida que aos
olhos de toda a agente não valia nada e este homem encontrou uma nova maneira de ver a vida.
Estava a falar com uma pessoa ainda há uns meses atrás que esta a ser apoiada por um
programa em Sintra, e as pessoas que têm necessidades costumam-se agarrar a tudo e mais alguma
coisa. Mas, o grupo que acompanhou essa pessoa para além de o ajudar em termos de roupa,
alimentos, várias coisas. Também tem procurado transmitir os valores de vida diferentes, princípios
de vida diferentes e perceber que há outra maneira de vida. Então é engraçado porque depois de
alguns meses nós perguntamos “então?”, chama-se Carlos, “então Carlos com é que as coisa vão?”.
E ele disse uma coisa, não é uma pessoa com grandes qualificações nem nada, mas ele disse uma
coisa tão profunda, tão profunda que até ao dia de hoje me lembro e nunca vou esquecer. Ele disse
assim “Olha, eu antes de entrar no programa era pobre. E tinha muitas necessidades. Eu a minha
esposa e os meus três filhos. Já acabei o programa todo, já passei pelo programa todo, e contínuo
pobre, continuo a ter as mesmas necessidades, mas uma coisa mudou. Já não vejo as coisas da
mesma maneira”, dizia ele.
Pois. Quando começamos a ver as coisas de uma maneira diferente, já é meio caminho andado,
para a mudança na realidade da vida das pessoas. A bíblia refere isto “o povo padece por fata de
visão”. Todos nós conhecemos o rei Salomão como, ele é citado, ele é hoje citado nas universidades,
o rei Salomão pela sua sabedoria. E ele dizia “o povo padece por falta de visão”.
É interessante, porque ele diz, tendo sido um dos reis mais ricos conhecidos, ele não diz que o
povo padece por falta de dinheiro. Por falta de trabalho. Por uma economia falida. Não, não! É por
falta de visão. Isto é, uma pessoa olha para ali e isto é uma desgraça. A outra pessoa olha para o
mesmo lado e diz isto é uma oportunidade. Porque é que estamos os dois a ver do mesmo lugar da
mesma maneira e um vê de uma maneira diferente. Então é falta de visão. Se conseguirmos,
transmitir uma nova visão na vida destas pessoas, tudo poderá mudar na vida deles.
Pronto, acho que já falei demais não é?
109
E- Não… Eu quero agradecer-lhe a sua colaboração e não sei se quer acrescentar mais alguma
coisa, se quer colocar alguma questão… Se quer acrescentar alguma coisa em relação ao que foi
falado…
DS- Olha Patrícia, eu simplesmente diria o seguinte se vai fazer isto num âmbito de um estágio,
se vai fazer isto num âmbito de um projeto, aquilo que eu gostaria de dizer e de encoraja-la é de
desenvolver a vocação que de alguma maneira Deus lhe deu na mudança de vida de quem mais
precisa.
E- Obrigada.
110
Entrevista 2 (E2)
E- Boa tarde. Obrigada. Gostava que respondesses a algumas perguntas sobre competências de
vida nas pessoas em situação de sem-abrigo. Nomeadamente, as pessoas do CAX. Quando falar em
competências de vida, gostava que pensasses em todas as competências psicossociais que são
necessárias ao individuo para fazerem frente aos desafios do dia-a-dia… do quotidiano. Tanto aqui
(CAX) como, depois, quando transitam. Queria que me explicasses qual é a tua função no CAX e há
quanto tempo?
TS1 – Eu sou Assistente Social e trabalho no CAX há 2 anos…. Faz agora em Marçi, final de
Março dois anos.
E- Qual é o tipo de intervenção que tens com os clientes do CAX?
TS1- há varias fases… portanto nós… Assistente Social começamos pela… recebemos os
encaminhamentos, quando há uma situação que as colegas consideram que poderá ser adequada
para entrar aqui no centro, portanto o colega de outra instituição encaminha, sinaliza-nos a situação…
nós marcamos, fazemos uma entrevista, com o propósito de fazer um diagnóstico. Nessa entrevista,
fazemos várias perguntas, desde o percurso habitacional, profissional, a nível de saúde. Tentamos ter
uma visão abrangente da situação do utente e, tentamos também perceber qual é o projeto da
pessoa, quais são os objetivos o que é que está à procura para solucionar a sua situação e, após isso
há um novo contacto com a colega ou o colega e há uma marcação ou não de uma entrada cá no
centro.
A pessoa entrando, com ela assinamos um acordo de inserção. No acordo de inserção há o
compromisso onde está definido várias coisas, a duração que é um período de 6 meses no máximos
e está prevista também a revisão. Portanto, o contrato é assinado e neste estão vários objetivos,
objetivos de procura de trabalho, se for caso disso, objetivos de procura depois de uma alternativa
habitacional, a questão de tratar de documentação, se for também caso disso… tratar do RSI
(rendimento social de inserção). Pronto, tudo isto é adequado à pessoa que temos à frente. A pessoa
compromete-se, assina connosco o contrato, nós assinamos também a nossa parte, o nosso dever
de articulação, o nosso dever institucional e, passado 2 meses o acordo é revisto e faz-se o ponto de
situação e vê-se se a pessoa está comprometida, continua comprometida com o projeto avaliamos
podemos retirar algumas coisa, acrescentamos o que é necessário. E isso durante o percurso da
pessoa faz cá. Recorre a nos quando é necessário ajuda em qualquer desbloquear, qualquer coisa
burocrática, articular com os outros colegas. Nós somos no fundo aqui o técnico de referência, de
articulação, quando eles precisam… é mais fácil recorrer a nós do que o técnico que esta fora… nós
estamos cá… recorrem a nós… nós estamos cá para apoiar… acompanhamos a evolução até a
saída… que o ideal seria... Trabalho ou não… pronto mas, pelo menos uma inserção… muitas vezes
é uma inserção habitacional apenas e, o ideal seria que existisse outro tipo de inserção… familiar,
profissional… Nós fazemos esse acompanhamento até à saída…
111
E- E que tipo de intervenção é que achas que deveria existir mais, para além daquilo que já
existe… na vossa estrutura? Que tipo de atividades ou intervenções o CAX poderia proporcionar para
estas pessoas
TS1- Nesta área há muita coisa. As vezes o que falta é a articulação, há muitas respostas, há
muitas ideias há muitos projetos. No fundo aqui é mesmo maximizar o que há, porque é muito difícil
encontrar soluções novas… o novo é… então seria aproveitar as respostas existentes, a ver maior
articulação entre instituições e com isso já há uma serie de situações que seriam colmatadas e
evitadas. Portanto aqui, no fundo, seria promover a articulação.
E- Então agora para compreendermos aqui o objetivo… como deve ser orientada a intervenção
com as pessoas sem-abrigo no sentido dessa saída, dessa reinserção social no seu global, ia fazer-te
agora algumas questões.
Como é que percecionas a capacidade dos clientes para fazerem face aos obstáculos, às
situações críticas do dia-a-dia? Qual é a capacidade deles, ou como é que vez esta capacidade?
TS1- É difícil ter uma resposta única porque efetivamente aqui não há uma realidade homogénea.
Pronto, cada pessoa tem as suas competências nós também estamos aqui para tentar promover para
ajudar que elas se desenvolvam, não? Há pessoas que entram aqui já com muita competência com a
historia de vida muito rica com se calhar já viveram em vários países, já trabalharam em vários
países, já tiveram de se desenrascar em varias realidades e tem essas competências e falta só a
oportunidade, o trabalho ou até a questão de promover o apoio familiar… têm, só que estão num
momento difícil… há outras pessoas que entram aqui com tudo por construir… e aqui o que se faz é
mesmo tentar promover ou, o que está lá e as pessoas não sabem que têm ou então… ou então…
desenvolver mesmo do zero, porque às vezes faz falta. As pessoas vêm já destruturadas. Nunca
tiveram fora de uma instituição e isso é que nos preocupa mais… quem teve competências fora, já
esteve fora, esteve independente, pronto. As pessoas que sempre foram dependentes de respostas
institucionais, este… ai é um desafio, porque elas próprias têm receio de não conseguir. As vezes é
verbalizado isso: “ eu não sei como é que vou viver sozinho”… coisas simples para nós…às vezes
não são… compras… pronto. E esses requerem efetivamente aqui uma atenção especial, e por isso
é que a articulação institucional é muito importante, às vezes até para a saúde mental, para promover
aquele acompanhamento diferente.
E- E em relação, agora passando para o lado de lá, qual é a tua perceção em relação ás
expectativas que eles têm face as suas próprias capacidades de uma forma geral, como é que eles
percecionam?
TS1- Há uns que é isto, olha para nós e “Olhe! Você que é técnico… Olhe! Veja lá se me ajuda
aqui a preencher o papel”. Só querem isto. Ajuda a desbloquear a dificuldade de aceder a um apoio
ou falar com ou até as vezes mediar a relação com o técnico gestor de caso, ou falar “veja lá o que
112
pode fazer por mim”… há uns que é isso o que querem de nós é basicamente desbloquear aquilo que
eles identificaram como o que falta para poderem seguir a vida deles.
Há outros em que a relação é construída quase sem expetativa nenhuma, eles não sabem o que
contam. Pronto. Aliás, então aqueles que passam de outra instituição estão habituados a uma relação
de proximidade com o técnico de um centro de apoio… ou centro de acolhimento ou casas de
transição para jovens. O papel do técnico ali é diferente. Então eles olham para nós com muitas
dúvidas, não sabem o que estamos aqui a fazer. Se somos aqueles que os vamos obriga-los a
cumprir as regras ou então por outro lado, se é a continuidade da referência do outro sítio. E nós não
podemos ser nunca. Este sítio não é… pronto… a característica não é apenas de uma proteção,
acima de tudo é autonomização. Isso é o que é mais importante.
E- Consideras que eles têm essa crença de competência? A maior parte deles vêm para aqui
com a crença de que são capazes de sair desta situação? Ou quando chegam aqui é o oposto?
TS1- Depende, nós temos tantas realidades aqui. É muito difícil responder a isto… de uma forma
certa e única… mas há muitos que sim… os que sabem que isto faz parte de um momento mau da
vida deles. Estiveram bem, agora estão mal, mas vão voltar a estar bem, têm esta convicção e estão
a pensar nisso e a lutar por isso. Outros passam por aqui e “Ok! Estou melhor do que estava”, porque
aqui em vez de ser “estou num momento mau” é “estou melhor porque estive na rua e agora estou no
centro que até dá algumas condições para subsistir” e, pronto, permanecem aqui nesta perspetiva. E
depois daqui… até têm receio de sair daqui porque depois, imagina que não conseguem trabalho e
vão viver num quarto com apoio institucional e depois é “eu estou aqui neste centro, já estou
integrado, tenho aqui o jantar, pago um euro, tenho o jantar. E depois como é que vai ser? Tenho um
quarto, vou ter de cozinhar”. Até pensam se calhar que o que vem pela frente é pior do que esta
realidade aqui.
Há outros que nem pensam sequer no futuro. Estão aqui. Pronto.
E- Ao nível de trabalho, dinamizações, intervenções, o que consideras realmente importante
trabalhar com estas pessoas, assim concretamente, para fazerem face ao dia-a-dia? Às dificuldades
e também a todas rotinas do dia-a-dia.
TS1- Tudo o que for promovido tem de ter o objetivo máximo da autonomia. E as atividades que
forem desenvolvidas, quer neste centro ou fora, com esta população, tem de ter uma vertente
cativante para eles, sim! Mas ao mm tempo e muito importante de promoção da independência.
Porque as pessoas têm que se imaginar fora disto. Muitas vezes a conversa que se tem, que nós
temos com os utentes é “Você… já chega de doutores, toca a responder para si, não ter de responder
a ninguém”. Não tem de dar justificação a ninguém. Chega a uma altura que é ser adulto, e ser adulto
pronto… é assumir as nossas responsabilidades para o bem e para o mal e deixar de estra preso a
uma figura institucional. Lá está, porque isto não são soluções eternas e as pessoas vão gastando as
oportunidades que têm… e chega a uma altura que as portas vão fechando. E nós estamos cá para
113
lembrar que as têm de aproveitar, antes de todas as portas se fecharem. Portanto atividades que
promovam acima de tudo a autonomia.
E- Consegues especificar, porque isto entra muito nas competências de vida, nestas capacidades
deles fazerem frente. Assim, competências que tens identificado ao longo da tua prática?
TS1- ….
Muito específicas. Há pouco falavas de atividades mais rotineiras da casa, da gestão doméstica,
consegues identificar algumas que consideres mesmo fundamentais nesta população?
TS1- No fundo o que para nós é básico. Há muitos que têm, já. Para os que não têm, esta
organização diária independente de não ter de dar satisfação ao técnico X. É o fazer por si. Vou sair,
fecho a portinha, vou às compras, vou trabalhar. Competências da vida diária, as pessoas têm de
sobreviver. Até quem vem de meios protegidos, jovens que têm as famílias presentes, tudo isto é
uma aprendizagem. Quando se vive sozinho pela primeira vez tem de se aprender a fazer uma série
de coisas que não fazia antes. Portanto, por ai… não estou a ser muito especifica…mas pronto..
E- Dá para compreender. Que importância atribuis ao treino de competências para estas pessoas
TS1- Parece-me pertinente…
E- Que outras atividades achas que podem ser de desenvolvidas neste âmbito das competências.
Alguma coisa mais que queiras acrescentar?
TS1- Não… está tudo.
E- Agradeço-te a colaboração
TS1- De nada. Boa sorte!
114
Entrevista 3 (E3)
E- Muito obrigada. Gostava que respondesses a algumas perguntas sobre competências de vida
nas pessoas em situação de sem-abrigo, nomeadamente aqui aos clientes do CAX. Quando falarmos
em competências de vida, gostava que pensasse em todas as competências psicossociais que são
necessárias ao indivíduo para fazer frente aos obstáculos e ao dia-a-dia, às rotinas do dia-a-dia.
Começava assim, por perceber qual é a tua função no CAX e há quanto tempo?
TS2- Sou assistente social neste centro há uns 16 anos, não sei precisar.
E- Já é há bastante tempo. Que intervenção é que tens com os utentes?
TS2- Estamos a falar do atual…
E- Sim.
TS2- Nós temos tido várias fases… enfim. Atualmente, a nossa… a minha função é da seleção.
Da triagem, não é! Começa com o contato institucional, por parte de outra instituição, de outros
técnicos, a encaminhar uma pessoa. Nós fazemos a entrevista de seleção, percebemos qual é… as
várias dimensões da situação do utente e percebemos que tipo de projeto é que o utente tem. Se
tem. E se realmente está motivado para ele. Pronto! E a partir daí construímos, tentamos delinear
aqui um projeto de intervenção. Agora é assim, há situações em que não é apresentado um projeto
viável e, em que nós não vamos ajudar absolutamente nada a pessoa. Portanto nestas situações a
pessoa não… não entra neste centro. Há de a ver outras instituições que têm uma resposta bem mais
eficaz. Nós não devemos ser pretensiosos. Nós não respondemos a tudo. Portanto, no momento de
entrada, é marcada uma data de entrada com o utente, no momento de entrada é assinado um
acordo de inserção, tendo em atenção o projeto apresentado pelo utente. Já sabemos que algumas
dimensões, enfim, não vão ser muito queridas pelo utente e estão lá só por proforma. Nós já
sabemos isso, vamos percebendo e depois ao longo da estadia do utente vamos percebendo isso.
Contudo, há algumas dimensões têm que ser alcançadas e trabalhadas. E pronto, ao longo de todo o
percurso nós, é isso mesmo, nós vamos acompanhado, vamos articulando com as colegas a
perceber… e trabalhando também com o utente o seu projeto de vida.
E- Dentro daquilo que já e feito no CAX o que é que consideras também ser importante trabalhar?
Para além daquilo que já oferecem aqui no CAX há mais coisas que consideras importantes que se
deva trabalhar enquanto centro de Acolhimento?
TS2- Penso que não. Lisboa tem, se calhar o país todos, mas pronto nós trabalhamos em Lisboa.
Lisboa já é uma realidade muito sui generis, Lisboa tem imensos recursos o que nos falta é, ou o que
falha muitas vezes é exatamente essa articulação e aproveitar ou explorar mesmo as capacidades
115
que cada instituição. E respeitar também essas instituições. Portanto, se nós não temos uma
resposta para uma necessidade de um utente, existem outras instituições e é uma questão de… eu
acho que é muito mais eficiente articularmos do que estarmos a tentar arranjar essa resposta, quando
ela já existe.
E- Então agora mais especificamente, orientando a intervenção para a pessoa sem-abrigo e aqui
para os utentes do CAX, queria-te perguntar como é que tu percecionas a capacidade destes clientes
para fazerem face à rotina do dia-a-dia, aos desafios do dia-a-dia, aos obstáculos que surgem?
TS2- É muito complicado responder. Acho que não existe uma resposta sequer. Porque cada
individuo é muito específico, muito específico. Depende muito.
E- de uma forma geral, não há um ponto em comum?
TS2- Não consigo definir.
E- Ok. Então agora, quando eles vêm ter aqui quais são as expetativas que eles trazem em
relação a esses projetos de vida e à capacidade deles?
TS2- Muito sinceramente? A maioria não tem expectativas. Acho que não as têm. As expectativas
deles são estarem aqui e pernoitar. Não está exatamente errado. Nós somos um Centro de
Acolhimentos mas somos temporários e o problema começa ai, no temporário. Essa é sem dúvida a
expectativa deles. Alguns… depois existem outras motivações… que passam por outras dimensões.
O profissional, pela… pelo familiar.
E- Ai sentes que eles têm expectativas mais elevadas?
TS2- Expectativas mais elevadas. É muito triste dizer, mas isto são fases. Não estamos
exatamente… Nós estamos numa fase muito institucionalizada… eles não pretendem… eles
pretendem um RSI e viver com o RSI. Podemos tentar trabalhar outra coisa mas normalmente não
sai dali…
E- Já vêm muito orientados para…
TS2- Já vêm muito orientados. E depois com o RSI, ficar aqui… É muito, pronto. É uma fase um
pouco mais negra que estamos a passar mas, há de passar também.
E- Esperemos!
TS2- Não…vai passar, vai passar…
116
E- O que é que consideras importante trabalhar nestas pessoas, portanto nas pessoas sem-
abrigo, para fazerem face, então às situações do dia-a-dia. Por exemplo não estarem tão agarrados a
esta institucionalização como falavas?
TS2- Acabarmos com o RSI, neste momento. Pronto, isto é muito frio de dizer e… há que a nível
estatal há que contrariar a realidade. O RSI serve para isso, agora sinceramente, eu acho que
enquanto existir um RSI… eu estou a falar daqui de algumas pessoas com algumas capacidades.
Não estamos a falar de pessoas, não vamos para casos de pessoas emigrantes que ainda estão na
fase da documentação, não vamos para uma fase de pessoas em que estão em idade de trabalho…
e neste momento nós temos imensos que não são exatamente para trabalho para já, que precisam é
de uma pensão social, que estão muito debilitados fisicamente. Pronto. Eu já me perdi.
E- Estávamos a falar que outro tipo de atividades, abordagens, intervenções se poderia fazer, por
exemplo, para não estarem tão… para não virem para aqui [CAX] só com esse objetivo.
TS2- É um problema… Não se consegue… não se consegue.
E- Não se consegue modificar?…
Consideras que fazer um treino, por exemplo na área das competências… para quando saírem
desta situação… dar-lhes outras coisas para além do saber que vão receber RSI, portanto seria
eficaz. O que é que pensas em relação ao treino de competências de vida?
TS2- Eu acho que será sempre importante existir nessas dimensões. Agora… ao nível de
sucesso… não sei.
E- Se tivesses que escolher competências de vida, que competência de vida seriam utei a
pessoas sem-abrigo, nomeadamente à realidade que tens no CAX?
TS2- Eu acho que a aposta passa por eles acreditarem neles próprios. Sem isso não chegamos
lá. Não saímos da estaca zero… é isso que acontece… eles não acreditam neles próprios.
E- tens alguma coisa a acrescentar…
TS2- não…
E- Então agradeço-te a tua colaboração. Muito obrigada.
117
Entrevista 4 (E4)
E- Boa tarde. Obrigada por teres aceite responder a esta entrevista. Eu gostava que
respondesses a algumas perguntas sobre competências de vida nas pessoas em situação de sem-
abrigo, nomeadamente aos clientes do CAX. Quando falarmos em competências de vida, gostava
que pensasses em todas as competências psicossociais que são necessárias ao indivíduo para fazer
frente aos desafios do quotidiano.
Então para já, gostaria de saber qual é a tua função no CAX e há quanto tempo?
ES- Sou Educadora Social e trabalho a área da reinserção profissional há 4 anos.
E- Falaste que trabalhas na área da reinserção profissional, consegues explicar um bocadinho
melhor qual é o teu trabalho?
ES- Faço apoio na procura de trabalho, ofertas de emprego, construção e elaboração de
currículos, cartas de apresentação, encaminhamentos para as instituições que trabalham nessa área:
centro de emprego, empresas de trabalho temporário, outras empresas com as quais tenhamos
parceria. E procuro desenvolver projetos nesse sentido.
E- Em relação ao trabalho que é feito no CAX, que tipo de trabalho consideras ser importante
fazer-se que ainda não é feito no CAX?
ES- Todo um trabalho de apoio às competências. Exatamente como estavas a falar à pouco no
inicio da entrevista. Todo um trabalho que é necessário, que é apoiar as pessoas, primeiro a
descobrir, realmente, aquilo que querem fazer, sabem fazer e que têm competências para. Trabalhar
muito a questão individual, a autoestima… Tem muito a ver com isso, trabalharmos principalmente o
individuo. Compreendermos que muitas vezes as pessoas não conseguem gerir aquilo que têm. Por
ai.
E- Com o objetivo de podermos compreender como poderá ser orientada esta intervenção com a
pessoa sem-abrigo, vou colocar algumas questões, no sentido de as reinserir. Portanto, sempre no
sentido de as reinserir socialmente.
Como é que percecionas a capacidade dos clientes para fazerem face aos obstáculos ou a
situações críticas do dia-a-dia? Qual é a perceção que eles têm da sua própria capacidade?
ES- A grande parte deles não têm essa capacidade. Encaram, tudo realmente como um
obstáculo que não consegue ultrapassar. A grande maioria sim.
e- E tu como é que percecionas a capacidade deles?
118
ES- Em alguns… todos têm essa capacidade de ultrapassar obstáculos. Eles próprios criam é
obstáculos em si próprios para não os conseguirem ultrapassar. Esquecem-se muito daquilo que já
foram e que já viveram. Claro que alguns têm esses obstáculos. Já estão há muito tempo sem
trabalhar, não conseguem voltar a ter rotinas não se conseguem adaptar também a trabalhar em
grupo. Mas na realidade muitos deles, criam essas barreiras em si próprios.
E- O que é que consideras ser mais importante trabalhar nestas pessoas para fazerem face ao
dia a dia?
ES- Acho que já respondi um bocadinho a isso, a nível da questão da autoestima. Trabalhar
muito por ai. Pensando muito naquilo que eu faço a nível da reinserção, é trabalhando muito as
competências sociais que lhes faltam. As regras. Porque muitos deles esquecem-se das regras e não
as aceitam. O viver em sociedade, o estar em grupo. Muito nesse âmbito.
E- Ok. As competências que consideras mais importantes são muito neste âmbito social e
também de desenvolvimento pessoal. Que importância atribuis ao treino de competências de vida
nestas pessoas, nomeadamente nos utentes do CAX? E porquê?
ES- É muito importante por isto mesmo. Para eles conseguirem estar com os outros e voltarem a
sentir-se bem na sociedade. Eles sentem-se excluídos, e são excluídos todos os dias, e se calhar
também se sentem porque eles se colocam nessa situação. E este treino pode vir a mudar a maneira
como eles se veem e a maneira como os outros passam a vê-los. E ser um facilitador também de
integração, inclusão.
E- Se tivesses que identificar vantagens e desvantagens de um treino de competências o que é
que encontrarias?
ES- As vantagens são isto mesmo, eles conseguirem inserir-se. Acho que aqui o grande objetivo
tem de ser esse, as pessoas inserirem-se, seja socialmente seja profissionalmente ou
habitacionalmente também, não? Não consegues estar totalmente inserida se não tiveres uma
habitação e um trabalho. Por isso eu acho que isto são as grandes vantagens.
As desvantagens, se calhar, se tiverem inseridos num grupo que são só pessoas sem-abrigo
mais uma vez vamos estar a exclui-los, ou se tivermos um espaço em que a comunidade consiga
identificar como “só estão ali pessoas sem-abrigo” continuamos a exclui-los. Mas, desvantagens para
eles, penso que não existam. Muito pelo contrário estamos a dar também um pouco mais de
autonomia e ferramentas para eles conseguirem arrancar com a sua vida.
E- E que tipo de motivações têm estas pessoas para participar neste tipo de programas?
119
ES- As motivações deles passam muito por não quererem perder o pouco que têm. O pouco que
têm passa pelo RSI, passa pelo teto que têm, neste caso os utentes do CAX. Passa muito por ai. Por
outro, as motivações que os levam a frequentar também são tudo aquilo que nós lhes possamos vir a
dar. Nomeadamente, mais uma refeição extra, do que aquela que eles têm habitualmente.
E- Para além da refeição extra o que é que nós podemos fazer também para os motivar para eles
participarem nos programas?
ES- Tem muita a ver com a maneira com que nós lidamos com eles… não é… o facto de eles
perceberem que nós estamos aqui, realmente, para ajudar pode realmente ser uma mais-valia e uma
motivação. O mostrar que estamos aqui para eles, que nos sentamos ao lado deles para eles
alcançarem os objetivos. É muito por ai.
E- Muito obrigada pela tua colaboração. Eu gostaria de saber se tens alguma pergunta ou
gostarias de acrescentar alguma informação em relação a isto que nós falamos.
ES- Posso falar do nosso Espaço de Capacitação Profissional que foi criado há algum tempo mas
q foi colocado em prática no último més de Maio, que foi quando nós conseguimos. Que é um projeto
que pretende exatamente isto, capacitar as pessoas e trabalhar as competências, destas pessoas,
neste caso mais no âmbito profissional. Temos vindo a trabalhar a questão da procura de trabalho, do
ir a entrevistas, de como vestir de como não vestir, treinar telefonemas… e depois por outro lado,
fazer todo um acompanhamento mais individual a nível da procura de trabalho entre outras
formações.
E- Ok. Obrigada, pela colaboração.
124
Anexo E
Consentimento Informado Questionário de Competências de Vida
Formulário de consentimento informado
Trabalho de Projeto no âmbito do Mestrado em Psicologia Comunitária e Proteção de Menores
Autora: Patrícia Bacelar
O trabalho de projeto, intitulado “Programa de Treino de Competências de vida para Pessoas Sem-abrigo ”,
insere-se num trabalho que decorre no âmbito do Mestrado de Psicologia Comunitária e Proteção de Menores do
Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.
Pretendemos contribuir para um melhor conhecimento sobre este tema e, desenvolver uma intervenção baseada
no diagnóstico de necessidades. Para tal, necessitamos da sua colaboração para recolhermos a informação
necessária para criar este programa.
É por isso que a sua colaboração é fundamental.
O resultado deste trabalho, orientado pela Professora Doutora Sibila Marques, será apresentado no Instituto
Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa no final de 2014 podendo, se desejar, contactar a sua autora para se
inteirar dos resultados obtidos.
Este trabalho não lhe trará nenhuma despesa ou risco. As informações recolhidas serão efetuadas através de um
questionário e uma entrevista que deverão ser gravados para permitir uma melhor compreensão dos factos.
Qualquer informação será confidencial e não será revelada a terceiros, nem publicada.
A sua participação é voluntária e pode retirar-se a qualquer altura, ou recusar participar, sem que tal facto tenha
consequências para si.
Depois de ouvir as explicações acima referidas, declaro que aceito responder a este questionário.
Assinatura: __________________________________ Data: _________
125
ANEXO F
QUESTIONÁRIO DE COMPETÊNCIAS DE VIDA
QUESTIONÁRIO
Desenvolvimento de Competências de Vida.
Nas próximas páginas vai encontrar um conjunto de questões, sobre as quais gostaríamos de saber a sua
opinião. Agradecemos que leia atentamente as mesmas e responda, na ordem em que elas estão apresentadas, da
forma mais sincera possível.
Estamos interessados apenas na sua opinião pessoal, pelo que não existem respostas certas ou erradas.
As suas respostas são confidenciais e anónimas.
Muito obrigada pela sua colaboração!
126
I - Gostaríamos que respondesse às seguintes questões sobre a sua situação atual.
1. Como é que chegou à situação em que se encontra?
________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___
2. Há quanto tempo se encontra nesta situação? ______
3. O que pensa que seria necessário para alterar esta situação?
________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___
127
II -Seguidamente irá encontrar uma lista de afirmações.
Considerando 0 (Discordo totalmente) e o 10 (Concordo totalmente) assinale (com uma cruz “X”) cada uma delas
segundo aquilo que corresponde à sua forma de ser.
Tente responder a todos os itens, com sinceridade.
Para cada uma das seguintes questões, assinale apenas um dos níveis com que mais se identifica. Não existem
respostas certas nem erradas.
0 = Discordo totalmente; 10 = Concordo totalmente
1 Entusiasmo-me facilmente com atividades 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
2 Sou agarrado aos meus hábitos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
3 Prever com antecedência permite-me evitar
a maioria dos problemas futuros 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4 Por vezes revolto-me 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
5 Gosto de variedade nas minhas atividades 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
6 Deixo para mais tarde o que tenho para
fazer 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
7 Estou pronto a sofrer para atingir os meus
objetivos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
8 Fujo das responsabilidades 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
9 Esforço-me por atingir os meus objetivos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
1
0 Sou prudente em todas as circunstâncias 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
1
O que faço hoje permite controlar o que
pode acontecer amanhã 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
2 Não suporto bem as frustrações 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
3
Vivo bem as mudanças que me acontecem
na minha vida quotidiana 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
4
Recuso preocupar-me em mudar o percurso
das coisas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
5
Chego a assumir responsabilidades para
evitar dramas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
6
Acredito que tudo o que acontece na vida é
porque tinha de acontecer 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
7 Lanço-me com prazer na ação 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
8
Gosto de estar com pessoas cujo
comportamento é previsível 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
1
9
Sinto que sou capaz de controlar a minha
vida 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
0 Tolero as emoções fortes 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
128
2
1 Assumo riscos por desafio 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
2
Deixo de agir se vejo que estão a
aproveitar-se de mim 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
3
Tenho dificuldade em suportar os reveses
da vida 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
4 Por mais que faça as coisas correm-me mal 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
5
Quando tenho de tomar uma decisão, faço-
o sem hesitar 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
6
Aborrece-mo quando algo de inesperado
acontece e perturba a minha rotina diária 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
7
Geralmente consigo convencer os que me
são próximos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
8 O insucesso é insuportável para mim 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
2
9
Adapto-me a mudanças repentinas de
atividade 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
0
Quando penso na liberdade sinto-me ainda
mais preso 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
1 Sou capaz de assumir situações difíceis 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
2
Habitualmente sinto dificuldade em controlar
as minhas emoções 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
3
Os outros podem contar comigo quando me
comprometo a ajudá-los 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
4 As regras sociais servem-me de guia 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
5
Quando empreendo projetos estou convicto
que consigo realizá-los 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
6 Face aos problemas da vida, reajo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
7 Aceito as incertezas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
8
Não vale a pena esforçar-me porque isso
não vai mudar nada 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
3
9 Aprendi na vida a aceitar 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
0
Tenho dificuldade em gerir as
consequências dos meus erros 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
1
É importante participar na defesa dos
direitos coletivos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
2
Organizar a minha vida é uma maneira de
me sentir seguro 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
3
Controlo as minhas atividades até à sua
realização 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
4 Eu luto para ter sucesso 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
5 Gosto do imprevisto 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
129
4
6
Passo uma grande parte do meu tempo a
fazer coisas sem interesse 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
7
Estou disposto a aceitar compromissos,
para me aguentar 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
8
Uma das melhores maneiras de resolver os
problemas é não pensar neles 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
4
9
Estou preparado para defender aquilo em
que acredito 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
5
0 Penso ter uma influência positiva num grupo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
5
1
O trabalho quotidiano é demasiado
aborrecido para que mereça a pena realizá-lo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
5
2 Em geral, sinto-me manipulado pelos outros 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
0
II -Seguidamente irá encontrar um conjunto de questões relacionadas com a sua qualidade de vida.
Não existem respostas certas ou erradas.
Tente responder a todos os itens, com sinceridade.
130
Gostaríamos de saber o impacto que os diferentes aspetos da sua SAÚDE têm em si.
Pode indicar-nos por exemplo, que a sua saúde física não tem qualquer impacto. Ou pode-nos dizer que tem
impacto positivo e melhora a sua situação. Ou, talvez, que tem impacto negativo e piora a sua situação.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada.
S1. Indique o impacto que a sua saúde física atual tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S2. Indique o impacto que a sua saúde mental e emocional atual tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S3. Indique o impacto que o seu nível de atividade e/ou exercício físico tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S4. Indique o impacto que a qualidade do seu sono, atualmente, tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S5. Como descreveria o seu nível de stress?
131
Baixo
Médio
Elevado
S6. Experienciou dor física recentemente?
Sim.
Não, já deixei de sentir dor física.
Não, dor física nunca foi um problema para mim (Responda agora à pergunta S8)
S7. Indique o impacto que sentir/ ter deixado de sentir dor física tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S8. Experimentou dor emocional recentemente?
Sim.
Não, já deixei de sentir dor emocional.
Não, dor emocional nunca foi um problema para mim (responda agora à pergunta S10).
S9. Indique o impacto que sentir/ter deixado de sentir dor emocional tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S10. Bebe álcool, atualmente?
Sim.
Não, eu deixei de beber álcool.
Não, eu nunca bebi álcool (responda agora à pergunta S12).
132
S11. Indique o impacto que beber/ ter deixado de beber álcool tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S12. Usa drogas como a cannabis, a cocaína ou a heroína?
Sim.
Não, deixei de consumir drogas.
Não, nunca consumi drogas (responda agora à pergunta S14).
S13. Indique o impacto de consumir/ter deixado de consumir drogas tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S14. Tem alguma doença ou condição crónica (por exemplo: SIDA, Hepatite, Diabetes, Deficiência
Motora)?
Sim.
Não. (responda agora à pergunta S16).
S15. Indique o impacto que ter uma doença ou condição crónica tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S16. É suposto seguir alguma dieta alimentar especial devido à sua saúde?
Sim.
Não.
133
S17. Está a seguir alguma dieta especial?
Sim.
Não.
S18. Gostaria que indicasse o impacto que (seguir/não seguir) uma dieta especial tem em si.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S19. Se deveria seguir uma dieta especial e NÃO a está a seguir, indique o motivo.
É porque,
Os alimentos que necessito para esta dieta são demasiado caros.
É difícil conseguir os alimentos que necessito para essa dieta.
Não tenho um local para preparar e guardar os alimentos que necessito para essa dieta.
Porque não estou disposto a deixar de comer alguns dos alimentos que fazem parte dessa dieta (exemplo:
sala, carne vermelha, doces).
Outra: __________________________________________________________________________
S20. É suposto tomar alguma medicação passada por um médico?
Sim.
Não.
S21. Atualmente toma alguma medicação?
Sim.
Não.
S22. Qual o impacto de (tomar/não tomar) essa medicação, na sua vida?
134
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
S23. Se devia tomar medicação e NÃO está a tomar a medicação dada pelo médico indique o motivo
É porque,
A medicação é muito cara.
Porque é difícil guardar a medicação.
Não é possível tomar a medicação como foi recomendada pelo médico (por exemplo: com as refeições; 3
vezes ao dia.)
Porque eu não gosto dos efeitos secundários desta medicação.
Porque eu não acredito em medicação.
Outra: __________________________________________________________________________
Responda agora a questões relacionadas com os diferentes aspetos da sua CONDIÇÃO DE VIDA.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada. Tente responder a todos os itens, com
sinceridade.
Pense na sua situação de vida atual.
SV1. Indique onde vive ou passa a maior parte do seu tempo, atualmente?
Na rua (inclui parques, carros, prédios/casas abandonadas ou estações de comboio/autocarros).
Num Abrigo ou Centro de Alojamento.
Casa de transição (por exemplo: para vítimas de violência doméstica, tratamento para situações de abuso de
substâncias, para ex-reclusos).
Outro tipo de casas (excepto as de transição) com apoio/intervenção (por exemplo: residência comunitária,
resistência de autonomia, residências assistidas).
Habitação temporária de amigos ou familiares (inclui outras pessoas, como namorado(a)).
Quarto/Partilha de quarto.
Habitação arrendada, pública ou social.
Habitação arrendada.
135
Prisão.
Hospital.
Outro: __________________________________________________________________________
SV2.Há quanto tempo vive ou permanece nesse local? _____Meses
Pense no local onde vive ou permanece atualmente.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada. Tente responder a todos os itens, com
sinceridade.
Sempre que possível comente a sua resposta, principalmente se responder “Às vezes ou depende” e “não se
aplica à minha situação”.
LV1. Considera que o sítio onde vive ou permanece é acessível (financeiramente)?
Sim.
Não.
Ás vezes ou depende.
Não se aplica à minha situação.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV2. O sítio onde vive ou permanece tem as comodidades que são importantes para si (exemplo: casa de
banho própria, fogão, frigorifico, elevador…)?
Sim.
Não.
Ás vezes ou depende.
Não se aplica à minha situação.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV3. Tem acesso a casa de banho ou outras instalações para fazer a sua higiene pessoal (como
chuveiro/banheira)?
Sim.
136
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV4. Se SIM: Sente que essa casa de Banho ou outras instalações estão suficientemente limpas para
usar?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV5. Se SIM: Sente-se seguro para usar essa casa de banho ou instalações?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV6. No geral, sente que o sítio onde vive ou permanece é suficientemente limpo?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV7. Sente que tem algum controlo sobre o espaço destinado para si?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
137
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV8. As pessoas com quem vive ou convive têm comportamentos disfuncionais?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV9. Tem alguma privacidade no sítio onde vive ou permanece?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV10. Sente que, no sítio onde vive ou permanece existem demasiadas restrições impostas sobre si?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV11. Está sempre preocupado sobre a possibilidade de contrair uma doença através das pessoas que lá
vivem?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
138
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV12. Sente que as suas coisas estão seguras no sítio onde vive ou permanece?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV13. Sente que é bem tratado no sítio onde vive ou permanece? (por exemplo: funcionários, outros
residentes, etc.)
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LV14. Sente o sítio onde vive ou permanece como uma casa?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
LVA. Qual é o pior aspeto sobre o sítio onde vive ou permanece?
139
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
LVB. Qual é a melhor aspeto sobre o sítio onde vive ou permanece?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
LVC. Tem alguma coisa a acrescentar sobre o sítio onde vive ou permanece?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Referiu alguns aspetos que descrevem o sítio onde vive ou permanece. Gostaríamos agora de avaliar o
impacto que o local onde vive/permanece tem na sua vida.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
Pense no local/bairro do sítio onde vive ou permanece.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada. Tente responder a todos os itens, com
sinceridade.
Sempre que possível comente a sua resposta, principalmente se responder “Às vezes ou depende” e “não se
aplica à minha situação”.
B1. Sente-se seguro no local/ bairro do sítio onde vive ou permanece?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
B2. Sente que faz parte da comunidade do local/bairro onde vive ou permanece?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
140
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
B3. Sente-se preso ao local/bairro onde vive ou permanece?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
B4. Sente que existem más influências no local/ bairro do sítio onde vive ou permanece (por exemplo:
drogas, crime…)?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
B5. Pensa que existem recursos suficientes no local/bairro onde vive ou permanece (por exemplo: banco
alimentar, centros ou serviços de saúde, técnicos de apoio social)?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Ba. Qual é o pior aspeto do local/bairro onde vive ou permanece?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Bb. Qual é o melhor aspeto do local/bairro onde vive ou permanece?
141
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
Bc. Tem algum coisa a acrescentar sobre o local/bairro onde vive ou permanece?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Referiu alguns aspetos que descrevem o bairro do sítio onde vive ou permanece. Gostaríamos, agora, de
avaliar o impacto que o sítio onde vive ou permanece tem na sua vida.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
Pense na sua alimentação.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada. Tente responder a todos os itens, com
sinceridade.
Sempre que possível comente a sua resposta, principalmente se responder “Às vezes ou depende” e “não se
aplica à minha situação”.
A1. Tem geralmente acesso aos alimentos de que gosta?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
A2. Diria que a alimentação que faz é nutritiva?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
142
A3. Geralmente consegue adquirir alimentos de qualidade?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
A4. Sente que come sempre as mesmas comidas/alimentos?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
A5. Tem dificuldade em conseguir alimentos em quantidade suficiente?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Aa. Qual é o pior aspeto da sua alimentação?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Ab. Qual é o melhor aspeto da sua alimentação?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Ac. Tem alguma coisa a acrescentar sobre a sua alimentação?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Referiu alguns aspetos que descrevem a sua alimentação. Agora, gostaríamos de avaliar o impacto que a
sua alimentação tem na sua vida.
Eleva
do
impacto
Mode
rado
impacto
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
Eleva
do
impacto
143
negativo negativo positivo positivo
1 2 3 4 5 6 7
Pense na sua roupa.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada. Tente responder a todos os itens, com
sinceridade.
R1. Consegue adquirir roupas que lhe sirvam?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
R2. Tem roupa suficiente para vestir?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
R3. Gosta das suas roupas?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
R4. Tem algum sítio para guardar as suas roupas?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
144
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
R5. É possível lavar a sua roupa com a regularidade de que gostaria?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Ra. Qual é o pior aspeto da sua roupa?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Rb. Qual é o melhor aspeto da sua roupa?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Rc. Tem alguma coisa a acrescentar sobre a sua roupa?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Referiu alguns aspetos que descrevem a sua roupa. Gostaríamos agora de avaliar o impacto que a sua
roupa tem na sua vida.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
Responda agora a questões relacionadas com os diferentes aspetos da sua SITUAÇÃO FINANCEIRA.
145
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada.
Sempre que possível comente a sua resposta, principalmente se responder “Às vezes ou depende” e “não se
aplica à minha situação”.
Pense na sua situação financeira.
SF1. É capaz de suportar financeiramente as suas necessidades básicas (por exemplo: comida ou
habitação)?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SF2. Tem possibilidades financeiras para adquirir coisas que deseja e que são mais necessidades
básicas?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SF3. Tem problemas em gerir o seu dinheiro?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SF4. Sente que deve muito dinheiro?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
146
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SF5. Preocupa-se muito com dinheiro?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SFa. : Qual é o pior aspeto da sua atual situação financeira?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
SFb. Qual é o melhor aspeto da sua atual situação financeira?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
SFc. Tem alguma coisa a acrescentar sobre a sua situação financeira?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Descreveu alguns aspetos relacionados com a sua situação financeira atual.
Agora, gostaríamos de saber que impacto tem a sua situação financeira atual em si. Pode indicar-nos que
a sua situação financeira atual não tem qualquer impacto em si. Ou pode-nos dizer que tem um impacto
positivo e melhora a sua situação. Ou, talvez, que tem impacto negativo e piora a sua situação.
Assim, gostaríamos de avaliar o impacto da sua situação financeira atual na sua vida.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
Responda agora a algumas perguntas sobre o SUPORTE FUNCIONAL E EMOCIONAL que recebe ou não,
neste momento, na sua vida.
Selecione com uma cruz (X) a resposta que considera mais adequada.
147
Sempre que possível comente a sua resposta, principalmente se responder “Às vezes ou depende” e “não se
aplica à minha situação”.
Gostaríamos de lhe colocar algumas questões sobre o suporte funcional que recebe dos outros.
SF1. Existe alguém na sua vida que lhe dá conselhos quando necessita?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SF2. Existe alguém na sua vida que lhe dá informações uteis quando necessita?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
148
SF3. Existe alguém na sua vida que o ajuda quando necessita?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SF4. Sente que tem algum tipo de suporte funcional (coisas como: conselhos, informações, ajuda) de
outras pessoas?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SFc. Tem algo mais que queira dizer sobre o suporte funcional que recebe de outras pessoas?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________Referiu algumas coisas que
descrevem o suporte funcional que recebe (ou não recebe) de outras pessoas. Agora, gostaríamos de saber
o impacto que tem em si.
Pode indicar-nos que não tem qualquer impacto. Ou pode também dizer que tem impacto positivo e faz
com que as coisas sejam melhores para si, ou que tem impacto negativo e faz com que as coisas sejam
piores para si.
Assim, gostaríamos de saber em que medida a sua experiência em receber ou não receber suporte
funcional de outras pessoas, tem impacto em si
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
149
Responda agora a algumas questões sobre o suporte emocional que recebe de outras pessoas.
SE1. Existe alguém na sua vida com quem pode conversar?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE2. Existe alguém na sua vida que o trata com respeito?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE3. Existe alguém na sua vida que compreende a sua situação atual?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE4. Existe alguém na sua vida em que pode confiar?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE5. Existe alguém na sua vida que se importa consigo?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
150
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE6. Existe alguém na sua vida que está sempre consigo independente do que aconteça?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE7. Existe alguém na sua vida que o ama?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE8. Existe alguém na sua vida com quem se pode divertir?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE9. Geralmente, sente-se sozinho?
Sim.
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SE10. Sente que pertence a algo (por exemplo: a uma comunidade, a um grupo em particular, a uma
organização)?
Sim.
151
Não.
Às vezes ou depende.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
SEc. Tem alguma coisa que queira acrescentar sobre o suporte emocional que recebe dos outros?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
Referiu alguns aspetos que descrevem o suporte emocional que recebe (ou não recebe dos outros).
Gostaríamos de saber o impacto que a sua experiência em receber ou não receber suporte emocional de
outras pessoas, tem na sua vida.
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
Responda agora a algumas questões sobre animais de estimação.
AE1. Tem algum animal de estimação?
Sim.
Não.
Comentário(s):______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
AEa. Qual é o pior aspeto, para si, em ter/não ter animais de estimação?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________
AEb. Qual é o melhor aspeto, para si, em ter/não ter animais de estimação?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
AEc. Tem alguma coisa a acrescentar sobre ter/não ter animais de estimação?
__________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
Qual o impacto que, ter/não ter animais de estimação tem na sua vida?
152
Eleva
do
impacto
negativo
Mode
rado
impacto
negativo
Baixo
impacto
negativo
Não
tem
impacto
Baixo
impacto
positivo
Mode
rado
impacto
positivo
Eleva
do
impacto
positivo
1 2 3 4 5 6 7
153
IV - Gostaríamos que respondesse às seguintes questões sobre competências de vida.
Quando falarmos em competências de vida gostávamos que pensasse em todas as características e
capacidades que são necessárias a uma pessoa para fazer frente aos desafios do dia-a-dia.
Podem ser características relacionadas com a vida pessoal, social e/ou profissional.
Utilizando a seguinte a escala, considerando o 1 (Não aceitaria de todo) e o 7 (Aceitaria sem reservas), assinale
com uma cruz no quadrado que melhor corresponde à sua opinião.
1. Aceitaria participar num programa de competências de vida?
Não aceitaria de
todo 1 2 3 4 5 6 7
Aceitaria sem
reservas
2. Como gostaria que esse programa fosse?
_______________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
______________________________________
3. Já participou em algum Programa de desenvolvimento de competências de vida? Se sim, em qual/quais?
_______________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
_________________________________________________
154
V - Pense na sua situação atual.
Para cada uma das seguintes afirmações, assinale com uma cruz “X” o nível com o qual mais se identifica,
considerando a escala de 0 (Nunca) a 10 (Sempre)
Não existem respostas certas nem erradas.
Tente responder a todos os itens, com sinceridade.
0 = Nunca; 5= Algumas vezes; 10= Sempre
1 Acho que a cooperação ajuda a desenvolver
novas ideias. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
2 Quando trabalho em equipa, gosto de
colaborar com os meus colegas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
3 Quando me apresentam alguém, procuro
acolhê-lo de uma forma simpática. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
4 Numa equipa, quando tenho de resolver um
problema, gosto que todos colaborem na procura de soluções.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
5 Aprecio a união que se cria entre as pessoas
quando trabalho em grupo. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
6 Aprendo com os meus erros 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
7 Quando trabalho em grupo, sinto que o
contributo de cada um é importante. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
8 Costumo escutar com atenção quem fala
comigo. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
9 Quando a vida me coloca novos desafios,
considero-os oportunidades para amadurecer. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
10
Quando lidero um grupo, promovo a comunicação e o entendimento entre todos.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
11
Costumo reconhecer as competências dos meus amigos.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
12
Quando lidero um grupo, elogio publicamente a equipa pelo seu esforço conjunto.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
13
Habitualmente, estou aberto a novas experiências.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
14
Para atingir determinado objetivo, procuro ter uma visão do conjunto das atividades a realizar.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
15
Aprecio o trabalho em equipa, sobretudo pelos momentos de diversão que proporciona.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
16
Quando escuto alguém, demonstro-lhe que é importante para mim.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
17
Antes de realizar uma tarefa com o grupo que lidero, gosto de prever todos os pormenores.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
18
Gosto de convidar os meus amigos para atividades em conjunto.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
19
Quanto mais trabalho em conjunto com os meus colegas, mais os estimo.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
20
Ao exercer uma atividade em grupo dentro do Centro de Acolhimento, faz com que me sinta mais
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
155
satisfeito.
21
Tenho objetivos claros que quero atingir na minha vida.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
22
Sinto que, em cada ano que passa, desenvolvo sempre mais as minhas capacidades.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
23
Os meus familiares costumam apreciar aquilo que eu faço.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
24
Tenho força de vontade suficiente para realizar aquilo a que me proponho.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
25
Sinto-me suficientemente motivado para realizar aquilo que quero na vida.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
26
Envolvo todas as minhas capacidades naquilo que faço.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
27
Costumo reorganizar, à minha maneira, toda a informação que me é transmitida quando exerço uma atividade.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
28
Até este momento, tenho concretizado os meus objetivos pessoais.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
29
Sinto que os meus técnicos estão a contribuir para o desenvolvimento das minhas potencialidades.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
30
As minhas necessidades fundamentais estão satisfeitas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
31
Sinto-me realizado como pessoa. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
32
Sinto-me realizado como trabalhador. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
33
Perante as adversidades da vida, continuo a lutar até atingir os meus objetivos.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
34
Tenho conseguido superar as adversidades que a vida me tem colocado.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
35
Gosto de mim como sou. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
36
Julgo ter capacidades para ser bem-sucedido na vida.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
37
Tenho consciência das minhas capacidades intelectuais.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
38
Sinto que me conheço bem. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
39
Sinto-me bem com o corpo que tenho. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
40
Assumo os meus problemas, dando-lhes a importância que têm, sem os subvalorizar ou sobrevalorizar.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
41
Tenho total confiança nas minhas capacidades para resolver os meus problemas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
42
Sinto que tenho uma boa autoestima. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
43
Consigo minimizar os efeitos negativos das adversidades.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
156
44
Quando uma situação não é passível de ser mudada, aceito esse facto com serenidade.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
45
Mesmo em situações stressantes, mantenho a tranquilidade.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
46
Sinto-me bem quando tenho de enfrentar situações não previstas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
47
Quando necessito, sei que a minha família me apoia.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
48
Um bom relacionamento com os meus colegas aumenta a minha autoestima.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
49
Neste momento, sinto-me apoiado por quem me está mais próximo.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
50
Quando preciso, sei a quem recorrer para resolver os meus problemas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
51
Quando estou triste ou desmotivado, sei que tenho amigos que me ajudarão.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
52
Sinto-me estimado e aceite pelos outros, apesar dos meus defeitos
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
53
Sinto que a convivência com os meus amigos ajuda a conhecer-me melhor.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
54
Quando estou inseguro, sei que os meus amigos me vão transmitir segurança.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
55
Quando manifesto que estou em stress, sou apoiado pelos meus amigos
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
56
Sinto que sou importante para as pessoas com quem me relaciono habitualmente.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
57
A minha rede de contactos sociais é suficientemente grande para me sentir sempre apoiado.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
58
Para fazer um trabalho, procuro alguém que me estimule para o realizar.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
59
Habitualmente, defendo os meus direitos. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
60
Costumo falar num tom de voz claro e audível. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
61
Quando me sinto ofendido, manifesto-o diretamente à pessoa que me ofendeu.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
62
Quando estou em desacordo com alguém, exprimo-o de modo convincente.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
63
Quando converso, olho o meu interlocutor, sem desviar muito o meu olhar do dele.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
64
Numa situação de conflito, costumo saber quando devo ser firme e não devo ceder.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
65
Expresso habitualmente as minhas ideias. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
66
Normalmente, falo o tempo necessário para expor as minhas opiniões.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
67
Apercebo-me, com facilidade, dos sentimentos de quem conversa comigo.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
68
Quando alguém vem falar comigo sobre a sua vida, consigo perceber as suas intenções.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
157
69
Os meus amigos consideram-me acessível e, por isso, procuram-me para falar sobre a sua vida.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
70
Identifico facilmente os pontos fortes da minha personalidade.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
71
Considero-me uma pessoa criativa. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
72
Quando tento resolver um problema, costumo ter ideias originais.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
73
Sinto que as pessoas valorizam o trabalho que realizo.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1
0
158
VI - Pense na sua situação atual.
Para cada uma das seguintes afirmações, assinale com uma cruz “X” o nível com o qual mais se identifica,
considerando a escala de 0 (De modo nenhum é verdade) a 10 (Exatamente verdade)
Não existem respostas certas nem erradas.
Tente responder a todos os itens, com sinceridade.
1 Consigo resolver sempre os problemas
difíceis se for persistente. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
2
Se alguém se opuser, consigo encontrar os
meios e as formas de alcançar o que
quero.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
3 Para mim é fácil agarrar-me às minhas
intenções e atingir os meus objetivos. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
4
Estou confiante que poderia lidar
eficientemente com acontecimentos
inesperados.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
5 Graças aos meus recursos, sei como lidar
com situações imprevistas. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
6 Consigo resolver a maioria dos problemas
se investir esforço necessário. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
7
Perante dificuldade consigo manter a
calma porque confio nas minhas
capacidades.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
8
Quando confrontado com um problema,
consigo geralmente encontrar várias
soluções.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
9 Se estiver com problemas, consigo
geralmente pensar numa solução. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
10 Consigo geralmente lidar com aquilo que
me surge pelo caminho. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
159
VII – Gostaríamos que avaliasse de acordo com a sua opinião as seguintes afirmações.
1. Eu identifico-me com as pessoas sem-abrigo.
Discordo
Totalmente 1 2 3 4 5 6 7
Concordo
totalmente
2. Eu vejo-me como uma pessoa sem-abrigo.
Discordo
Totalmente 1 2 3 4 5 6 7
Concordo
totalmente
3. Eu sinto uma forte ligação com pessoas sem-abrigo.
Discordo
Totalmente 1 2 3 4 5 6 7
Concordo
totalmente
4. O que é para si uma pessoa sem-abrigo?
________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
160
VIII: Para efeito de tratamento das respostas, agradecemos que nos indique alguns dados.
Data de nascimento: ___/___/_____
Sexo: Masculino Feminino
Escolaridade:
Menos de 4 anos de escolaridade
4 Anos de escolaridade (1.º ciclo do ensino básico)
6 Anos de escolaridade (2.º ciclo do ensino básico)
9.º Ano (3.º ciclo do ensino básico)
11.º Ano
12.º Ano (ensino secundário)
Curso tecnológico/profissional/outros
Habilitação de nível superior
Situação Profissional
Desempregado Há quanto Tempo? __________
Empregado por conta própria
Empregado por conta de outrem
Outra _________________________________________
Obrigada pela sua colaboração.
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