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LUCIMAR BORDIGNON
Desafios do Mundo do Trabalho no Centro e Periferia Capitalistas no Século XXI.
CURITIBA 2008
Secretaria de Estado da Educação
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA
LUCIMAR BORDIGNON
Desafios do Mundo do Trabalho no Centro e Periferia Capitalistas no Século XIX
Este trabalho é composto de um Objeto
de Aprendizagem Colaborativa (OAC) e constitui-se como pré-requisito para certificação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2008, sob a orientação do Prof. Sandro Marlus Wambier.
CURITIBA 2008
Desafios do Mundo do Trabalho no Centro e Periferia Capitalistas no Século XXI. Autor: LUCIMAR BORDIGNON Estabelecimento: CEEBJA – MARIA DEON DE LIRA Ensino: ENSINO MÉDIO Disciplina: HISTÓRIA Conteúdo: RELAÇÕES DE TRABALHO Orientador: SANDRO MARLUS WAMBIER Palavras – chave: capitalismo tardio; barbárie sistêmica; mais-valia; caráter rentista; valor-de-uso; valor-de-troca; lumpenização; precarização; informalidade; imperialismo. PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO Chamada para a problematização:
Os trabalhadores produzem riqueza, mas não usufruem dela, aumentam a
produção de bens, mas não podem consumi-los. Desenvolvem novos recursos, mas são
relegados à formação de um exército de reserva de mão-de-obra, ou vivem as mazelas
do trabalho precário. Porém, somente os trabalhadores serão capazes de “criar um
mundo novo, revelar a nova vida, recordar que existe um limite, uma fronteira para
tudo, menos para o sonho humano. Moldar com as mãos o mundo, revelar com os olhos
a vida, recordar nos sonhos aquilo que virá.”
“ O mundo que fotografo é o do trabalho e o dos trabalhadores.”
(Sebastião Salgado) Texto:
Hoje não falta trabalho somente na periferia capitalista. A crise nas
condições de vida tem atingido a população mundial. São muito reveladoras hipóteses
como o “fim do trabalho”, pois não apenas as nações denominadas “desenvolvidas”,
mas a população do mundo todo tem atravessado uma crise nas condições de vida cujas
causas e duração, com exceção dos períodos de guerra, não encontram paralelos na
história contemporânea, ou talvez em nenhum outro período.
A união entre microeletrônica e a informática, permite um raio X mais
preciso e rápido a respeito das condições sociais, políticas, econômicas e ambientais das
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sociedades da atualidade. A evolução dos transportes e novas leis contribuíram para
aumentar a circulação e o consumo. Nesse mesmo contexto verifica-se também a
destruição do meio ambiente em larga escala, assim como o alerta e o desrespeito às
leis.
“... a utilização predatória do meio ambiente nunca foi tão
dramaticamente verificada e, ao mesmo tempo, tão alertada e tão
deliberadamente desrespeitada, como provam, entre os principais
países poluidores, os EUA. À ampliação das fontes e canais
informativos entre agentes de decisão, seguiu-se, desastrosamente,
uma imensa concentração de poder e seu uso unilateral por
interesses governamentais bélicos atendendo, ademais à sanha de
grupos anônimos de especuladores financeiros, cuja capacidade de
manipulação de capital lhes permite alterar o destino das nações.
Frente a essa concentração de poder e de riquezas, não se tem
notícia, pelo menos nos ‘períodos de paz’, de tantas e tamanhas
atrocidades contra a natureza humana, como as que presenciamos
atualmente: a crescente quantidade de pessoas vivendo abaixo da
linha da miséria no mundo não é mais um fato isolado de países
molestados pelas últimas guerras coloniais, mas se apresenta nas
estatísticas das grandes potências, cujas classes, em todos os níveis
sociais, têm assistido a conflitos, contravenções e atos de violência
num grau de perversidade ainda não compreensível.” (PINTO,
Geraldo Augusto. p.08)
Diante desse quadro, observa-se que a miséria e a violência não são mais
características somente de países subdesenvolvidos, passaram também a fazer parte nas
estatísticas dos países de centro. Observa-se que, no processo de homogeneização do
capitalismo mundial nos últimos trinta anos, as relações entre os países centrais e
periféricos, não tem mais permitido autonomia de decisões aos últimos, não só em
questões de soberania internacional, mas também em questões internas como segurança
alimentar e políticas de emprego, renda e educação. Países como Brasil, Argentina,
México e outros, estão atrelados a acordos e interesses de organismos financeiros
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internacionais, contribuindo para a ampliação da riqueza dos centros capitalistas em
detrimento da miséria e degradação do trabalho humano nas periferias.
Sabemos que é a capacidade de trabalho, enquanto atividade constituída de
“planejamento” e “execução” que diferencia o homem dos demais seres vivos, tornando
possível o desenvolvimento cerebral humano e ampliando nossa capacidade de
comunicação através da linguagem corporal e verbal. O trabalho sempre foi e ainda é, a
base da sobrevivência humana, o ato primário e pressuposto de toda a nossa história. O
trabalho consolidou a cultura dos povos e a diferenciação política interna de suas
comunidades, assumindo, por fim, no âmbito da sociedade atual, o papel central na
constituição das classes sociais que a compõe, sendo que, no interior destas, está a base
da formação da identidade de seus indivíduos.
Tomando-se aqui as palavras de Dejours (2004 a, p.18):
A tese conhecida como “centralidade do trabalho” mostra que o
trabalho desempenha um papel essencial de formação do espaço público, pois
trabalhar não é tão-só produzir: trabalhar é ainda viver junto. Ora, viver junto não é
produto de geração espontânea; pressupõe uma atenção em relação ao outro, um
respeito pelo outro e contribuições extremamente complexas por parte de todos, na luta
contra o poder dos interesses privados. O trabalho é mesmo, certamente, o lócus
principal em que se realiza o aprendizado da democracia. Mas, se a renovação do viver
junto fracassa, então o trabalho pode se tornar uma perigosa força de destruição da
democracia e de difusão do cinismo e do cada-um-por-si. (...) O individualismo é uma
derrota e não um ideal.
Privar uma pessoa do trabalho, além do risco à sua sobrevivência física, é
privá-la do reconhecimento da própria identidade e subjetividade. Nas palavras de
Lancman (2004, p.29):
O trabalho é mais do que o ato de trabalhar ou de vender sua
força de trabalho em busca de remuneração. Há também uma remuneração social
pelo trabalho, ou seja, o trabalho enquanto fator de integração a determinado grupo
com certos direitos sociais. O trabalho tem, ainda uma função psíquica: é um dos
grandes alicerces de constituição do sujeito e de sua rede de significados. Processos
como reconhecimento, gratificação, mobilização da inteligência, mais do que
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relacionados à realização do trabalho, estão ligados à constituição da identidade e da
subjetividade.
Pode-se dizer que, nas condições dadas pela rápida transformação tecnológica e
pela alta concorrência capitalista em níveis globais, nenhuma esfera do trabalho social
(das artes mais intelectualizadas às mais manuais) está privada da intensa e degradante
exploração das capacidades humanas, em prol de uma acumulação de riqueza despótica
e cada vez mais desterritorializada, sem finalidades ou mesmo padrões de uso
coletivos, o que atesta a extrema desigualdade entre setores econômicos, regiões e
países, paralelamente ao incrível número de doenças surgidas do trabalho.
[...] a incorporação de novas tecnologias, a precarização das
relações de trabalho, a intensificação do ritmo, a diminuição dos
postos de trabalho, a sobrecarga e a exigência dos que permanecem
trabalhando tem ampliado e agravado o quadro de doenças e de
riscos de acidentes. Os distúrbios osteomusculares e as lesões por
esforços repetitivos – DORT / LER, além dos transtornos psíquicos,
são hoje as principais causas do afastamento do trabalho e de
aposentadorias precoces, com forte impacto nas contas da
Previdência. (LANCMAN, 2004, p.27).
Diante das idéias defendidas por Dejours e Lancman, o que esperar de um
mundo onde mais de 180 milhões de pessoas, segundo a OIT, na maioria jovem entre 15
e 24 anos, estão em situação de desemprego aberto, procurando, mas não encontrando
trabalho? O que esperar de um mercado de trabalho impregnado de um contexto
crescente de desemprego e onde a maior parte das pessoas exerce atividades
completamente desvinculadas de suas aptidões e qualificações, fazendo parte de um
mercado de trabalho em constante transformação?
Faz-se necessário uma profunda discussão acerca dos objetivos dessas
sociedades, mais propriamente de suas classes sociais, no âmbito do que chamamos de
modo de produção capitalista. É preciso nos debruçar atentamente sobre as estratégias
de organização que vêm sendo desenvolvidas pelas empresas com o objetivo de
ampliar seus lucros a custos menores e também em relação às principais conseqüências
sociais, políticas, econômicas e ambientais que essas práticas capitalistas têm produzido
na sociedade global atual.
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Referências: DEJOURS, Christophe. “Sofrimento e prazer no trabalho: a abordagem pela psicopatologia do trabalho”. In: LANCMAN, Selma; Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, Brasília: Paralelo 15, 2004b. PINTO, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século 20. Ed. Expressão Popular, São Paulo.2007. INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR Título: MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: CRISE ESTRUTURAL E BARBÁRIE. Texto:
A proposta metodológica desta investigação é perceber que, à medida que o
sistema capitalista foi se estruturando, foi criando em si os mecanismos que o
legitimaram como sistema e também os meios (contradições) responsáveis pela sua
crise estrutural. E essa crise estrutural torna-se mais perceptível quando analisamos a
organização do mesmo enquanto sistema, não só do ponto de vista político-econômico,
mas, e principalmente, sob o ponto de vista social. Diante do modo como foi
estruturado, percebe-se que a humanidade se vê, de um lado, marcada pelos sinais
indeléveis do medo, do desamparo, mas de outro, também se vê diante da necessidade
crítica da realidade como condição para a superação das contradições. Vê como
condição a necessidade de superação do servilismo e o conformismo teórico, fazendo
acontecer o processo de transformação da realidade.
Vários autores buscaram e buscam aproximações compreensivas do atual
estágio do desenvolvimento capitalista, principalmente de suas contradições mais
profundas. Dentre as análises mais recentes, destacam-se as obras de Jean Lojkine (“A
Revolução Informacional”) a qual analisa as possibilidades potenciais de transformação
das relações sociais através da intervenção e generalização das novas tecnologias de
informação (NTI). Sua análise ressalta a atual incompatibilidade entre os interesses
privados e mercantis do capital e o caráter supostamente não mercantil do conhecimento
socializado através das NTI. Segundo ele, no centro capitalista (G7) o setor de
distribuição e serviços tem crescido numa dinâmica mais acelerada que o setor
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produtivo, na periferia projeta-se uma realidade inversa. O aumento geral e médio da
qualificação da força de trabalho demandadas pelas NTI – ou pelo capital? – é
questionável quando se toma como referência justamente a média; não existe uma
relação direta de causa/efeito entre novas tecnologias e aumento geral do nível de
instrução das massas.
Robert Castel, em sua análise da “Sociedade Salarial” ressalta que a
exclusão de contingentes crescentes da força de trabalho dos processos de produção
especificamente capitalistas, tem contribuído substancialmente para o pauperismo das
massas. Apresenta como solução para este problema o fortalecimento dos aparelhos de
seguridade e proteção sociais, ou seja, apresenta apenas uma tática mediadora da
contradição entre capital e trabalho. Sua discussão é de natureza apenas conjuntural e
não estrutural.
François Chesnais contribui com uma análise do atual processo de expansão
do capital, ou de “mundialização”, a partir de dois elementos importantes: Primeiro, está
ocorrendo uma liberdade de movimentação do capital de espaços de baixa taxa média
de lucro para espaços de taxa média mais elevada, superando o obstáculo do Estado
Nacional. Segundo, esta movimentação ocorre através de uma progressiva
ofensiva contra as massas através da inovação tecnológica – substituição do trabalho
vivo pelo morto ou objetivado – e da flexibilização das legislações que regulam o
trabalho, de forma a favorecer amplamente o capital, estimulando um “regime de
acumulação especulativa”.
István Mészáros em sua obra “Para Além do Capital”, propôs a elaboração
de uma teoria de transição, tarefa que deveria encabeçar toda a agenda teórica do
marxismo para o nosso tempo. Uma tarefa desafiadora. Segundo ele, vários são os
aportes para a formulação de uma pauta investigativa: a crescente dicotomia entre a
riqueza da produção (meios de produção e capacidade de trabalho) e a produção da
riqueza enquanto valorização do capital; produção que leva à alienação do trabalho
humano e ao fetiche do capital materializado no valor de troca. Desperdício consumista
do centro capitalista que, além do consumo de bens e serviços, incorporou a
subutilização dos meios de produção e da força de trabalho.
É necessário reconhecer que na teoria marxista nunca haverá unanimidade.
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As contradições subjetivas (programática e de direção) e objetivas (organização) fazem
parte da história do movimento operário. A atual fase do capitalismo tardio
(monopolista) apresenta um acirramento das contradições em relação à produção do
capital. Nessas contradições, em diferentes níveis, de tempo e espaço, se opõem
interesses coletivos e privados, representando uma progressiva incompatibilidade entre
interesses/necessidades privadas (capital) e coletivas (trabalhadores). Essa contradição
transformou o racional em irracional, o progressivo em regressivo e o civilizado em
bárbaro.
São derivações dessa contradição:
• A intensiva e crescente exploração da mão-de-obra, gerando a mais-valia, a superprodução e como conseqüência, o desemprego.
• A contradição crescente entre processo de trabalho e processo de valorização foi rebaixada à condição de resíduo “taylorista-fordista”, através de prognósticos otimistas em relação à elevação geral das qualificações do trabalho derivadas da generalização das novas tecnologias.
• A contradição gerada pelo crescente excedente do capital pode ser traduzida, como a razão para o atual caráter crescentemente rentista ou de acumulação especulativa. A intensificação dessas contradições tem se manifestado, no sentido mais
amplo do modo de produção, como crise estrutural. Essa crise estrutural ocorre em
virtude de um controle cada vez maior do capital sobre o trabalho, estabelecendo
relações cada vez menos sujeitas às mediações do Estado e políticas públicas (livre
negociação). O que se percebe é que o processo de valorização do capital é cada vez
mais dependente dos elementos extra-econômicos, favoráveis à acumulação e
mediadores de contradições internas ao modo de produção.
Basta analisarmos mais recentemente o caso da China. A abertura chinesa
ao capitalismo resultou numa exploração exagerada de sua força produtiva e num
grande acúmulo de riquezas por parte das castas hegemônicas internas e externas. Uma
barbárie fascista, reeditada e revestida de nova aparência, restaurando formas pretéritas
de exploração da força de trabalho – baixos salários e extensas jornadas de trabalho
combinados com o maior êxodo rural da história.
O que podemos observar é que o modo de produção capitalista não é tão
distinto dos modos de produção anteriores a ponto de ter superado a relação entre
hegemonia econômica e dominação militar. Não bastou o discurso humanista da
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ilustração para superar a essência econômica, de caráter histórico, da expansão
militar. Hoje, a “nova ordem” multipolar, caracterizada pelo consenso negociado em
substituição à coerção, faz emergir com evidente clareza o poder militar ampliado do
imperialismo, na forma de poder bélico norte-americano, gerando, nos crescentes gastos
militares, uma dependência em relação ao consumo não produtivo da indústria bélica.
Apenas nos EUA, são quase U$ 500 bilhões em gastos correntes e logísticos
no ano de 2008, gastos que não se objetivam em capital produtivo, não são consumidos
produtivamente na forma de meios de produção ou na forma de meios de subsistência
da força de trabalho; são as mais avançadas forças produtivas mobilizadas para a
geração de forças crescentemente destrutivas.
Na atual fase do capitalismo tardio, observa-se que as contradições do
capital apresentam-se mais claras, deixando transparecer seu teor ideológico. Nunca a
vida foi tão breve para as teorias assentadas na positividade do desenvolvimento da
“economia de mercado”: sociedades em rede, revolução informacional, novas relações
de trabalho a partir da superação da divisão do trabalho manual e trabalho intelectual,
otimismo exacerbado com as novas tecnologias, etc.
As ações mediadoras da atual crise podem assim ser pontuadas:
• Retorno generalizado da mais-valia absoluta, tanto no centro quanto na
periferia capitalistas.
• Intensificação dos métodos de racionalização do trabalho sem alteração
da magnitude do capital empregado.
• Redução dos salários reais (redução do valor da hora de trabalho).
• O crescente caráter “rentista” da economia capitalista, num duplo
sentido: através do crescimento do trabalho improdutivo em relação ao produtivo, e
através do crescimento da renda tecnológica.
• O ampliado desenvolvimento do departamento III, produtor de
mercadorias de luxo e de armas.
A ofensiva do capital sobre o trabalho está sendo capaz de elevar a
extração de trabalho excedente através da ampliação média da jornada de trabalho,
quase sempre sem alteração do montante despendido em capital variável (mais-valia
absoluta).
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(...) verificamos que as magnitudes relativas do preço da força de
trabalho e da mais-valia, são determinadas por três
circunstâncias: 1) a duração do trabalho ou a magnitude
extensiva do trabalho; 2) a intensidade normal do trabalho ou a
sua magnitude intensiva, segundo a qual dada quantidade de
trabalho é despendida em determinado espaço de tempo; 3)
finalmente, a produtividade do trabalho, segundo a qual a mesma
quantidade de trabalho fornece no mesmo tempo uma quantidade
maior ou menor de produto, dependendo do grau de
desenvolvimento das condições de produção. (MARX, 1994,
p.596).
Percebe-se que a relação entre trabalho necessário e excedente tende para
um quadro de variação crescente e combinada entre aumento da intensificação do
trabalho e prolongamento da jornada de trabalho. O caráter generalizado da mais-valia
absoluta, na atual fase do capitalismo tardio, é verificável em função de sua crescente
presença tanto no centro quanto na periferia. No centro capitalista, por exemplo, a
jornada de trabalho está muito associada ao aumento do exército industrial de reserva;
foram abortados os processos de regulação das relações jurídicas de trabalho,
particularmente em relação à estabilidade e à jornada de trabalho. Ocorreu uma
flexibilização da legislação trabalhista, permitindo ao patronato um leque amplo de
flexibilidade em relação a contratos e à jornada de trabalho. Vale ressaltar que tanto na
Europa, quanto nos EUA, a média anual de horas de trabalho vem aumentando ano a
ano, atingindo todo tipo de assalariado e nem sempre significando aumento nos ganhos
dos trabalhadores.
Com relação à periferia do capital há uma desigualdade crescente e em
curso que deve ser levada em conta, entre uma “velha periferia”(América Latina), onde
o fluxo de capital no sentido centro/periferia com o objetivo de instalar as unidades
produtivas e transferir meios de produção (basicamente meios de trabalho) já se esgotou
ou, se ainda ocorre, é residual e significativamente menor que em outros períodos e a
“nova periferia”, Sudeste Asiático(Birmânia, Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia,
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Laos, Malásia, Cingapura, Tailândia e Vietnã), além de China, Índia e Paquistão onde é
perceptível o fluxo de capital no sentido centro/periferia – concomitantemente a um
fluxo muito maior em sentido oposto – na forma de instalação de unidades produtivas.
Praticamente não há uma legislação de proteção ao trabalho na mesma medida que não
há estruturas associativas que sirvam, minimamente, de contrapeso à ofensiva do
capital. Tal quadro é ainda mais acentuado onde existe a garantia dada por uma
burocracia de Estado associada ao capital, como na China e no Vietnã. Além disso, a
existência de uma extraordinária superpopulação relativa de tipo latente (Marx) serve
como um imenso catalisador das condições impostas pelo capital ao mundo do trabalho;
são centenas de milhões de camponeses à disposição para o assalariamento, no maior
êxodo rural da história, num quadro que combina longas jornadas e elevado grau de
intensidade no trabalho.
No centro capitalista, o “palco de guerra” entre capital e trabalho tende mais
a uma difícil luta de trincheiras e de posições do que uma batalha de movimentos e
ofensivas relâmpagos. Portanto, a combinação encontrada atualmente nos EUA –
redução dos postos de trabalho no setor produtivo, aumento do emprego de trabalho
simples no setor de distribuição e serviços, elevada taxa de desemprego e aumento da
intensidade do trabalho – deve ser tomada enquanto tendência para décadas. Não é
possível afirmar seu caráter estrutural, nesse momento, por ser a força de trabalho nos
EUA a mais vulnerável do capitalismo avançado, juntamente com o Japão; porém,
alguns efeitos a longo prazo, do aumento da intensidade do trabalho, já podem ser
percebidos como, por exemplo, a generalização do duplo emprego junto aos setores
menos qualificados do proletariado, frequentemente empregados nos bolsões de
trabalho simples no setor de distribuição e serviços.
Mais recentemente, dois setores se destacaram na geração de empregos nos
EUA: construção civil e comércio varejista. Ambos vindos de trajetórias de
desvalorização do trabalho, através da redução do valor da hora trabalhada e do
aumento da intensidade da jornada. Saída possível para que, setores de baixo emprego
de tecnologia e de acúmulo de trabalho simples, pudessem elevar sua rentabilidade.
Pelo menos desde o início da década de oitenta, sob a influência
determinante do fetiche da tecnologia, criou-se uma perspectiva mistificada a
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respeito da relação entre aumento da qualificação média, renovação ampliada do capital
fixo e emprego de novas tecnologias. Toda uma literatura que projetou uma suposta
mudança de qualidade na relação entre trabalho assalariado e tecnologia, hoje, e cada
vez mais, apresenta-se como uma afronta à condição dos que vivem do trabalho em todo
o mundo.
Considerando os efeitos do fetiche da tecnologia sobre a produção
intelectual a respeito das mudanças no mundo do trabalho, três questões necessitam ser
levadas em consideração: Primeiro, a destruição dos sindicatos independentes e a
constituição artificial de uma estrutura sindical, pelo capital, são inseparáveis da nova
organização “técnica” das unidades produtivas. Segundo, o caráter desigual do
processo de acumulação de capital entre o centro e a periferia, entre níveis de
produtividade do trabalho, de oferta de força de trabalho, de taxa de mais-valia e,
portanto, de taxa de lucro, e de condições de resistência à ofensiva do capital. Terceiro,
a subordinação do valor-de-uso pelo valor-de-troca impõe, necessariamente, uma
limitação estrutural à suposta progressão do trabalho social autônomo e desalienado,
necessariamente, subordinado ao interesse dominante que transforma o objeto de
trabalho, independente da tecnologia dos meios e da qualidade do trabalho concreto
agregados, em mero meio para o fim da acumulação ampliada de capital. Uma
determinação que afeta toda a rede de produção e consumo, ou seja, orienta a produção,
condiciona o consumo e as estruturas internas do processo de produção na unidade
produtiva.
Ao analisar as questões referentes ao centro e a periferia capitalistas, Marx
chega a estabelecer uma tipologia em relação à superpopulação relativa, de acordo com
seu caráter de origem: flutuante, latente e estagnada. De acordo com a forma dominante
desta superpopulação, é possível estabelecer dois espaços-fronteiras da exploração do
trabalho, considerando que o exército industrial de reserva, associado à superpopulação
relativa, constitui-se na principal variável para a determinação do valor (médio) da força
de trabalho.
Inicialmente podemos estabelecer o espaço do centro capitalista, e também
da periferia que ocupou no passado papel de fronteira de exploração do trabalho com
altas taxas de mais-valia relativa e absoluta. Nestas regiões, que incluem a América
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Latina, os EUA (a força de trabalho mais vulnerável do centro capitalista) e países da
Europa Ocidental (França, Alemanha, Itália e Inglaterra), são perceptíveis um aumento
da superpopulação relativa de tipo estagnada. Um contingente crescente de força de
trabalho marginalizada, subempregada e marcada por um pauperismo crescente, cujo
valor médio está aquém dos meios de subsistência necessários à sua reprodução diária.
Dependentes de políticas eventuais ou sistemáticas de compensação formam a massa
envolvida na chamada informalidade, à margem da legalidade burguesa do trabalho. No
caso da América Latina, tal condição tende a ser dominante, não só em função do
crescimento da chamada economia informal, mas também, e principalmente, em função
da dinâmica em direção às legislações minimalistas do trabalho.
Além da vulnerabilidade material, entre o pauperismo e a mendicância, se
ocupam das tarefas mais simples e degradadas, quando não são cooptados pela
criminalidade; o fato de ser uma população crescentemente jovem, é representativo,
demonstrando o caráter excludente do capitalismo em sua fase de crise estrutural. Essa
massa está à margem, não somente através de uma exclusão vazia e superficial, a da
chamada cidadania (burguesa), mas também e principalmente, através de uma exclusão
sistêmica, ou seja, excluídos como consumidores dos meios de subsistência necessários
e como produtores, como realizadores de trabalho.
O segundo espaço gerador de uma superpopulação relativa vem assumindo
um aspecto mais funcional e tendência para o capitalismo tardio: China, Índia e Sudeste
da Ásia. Nessas regiões, encontra-se mais da metade da população mundial,
predominantemente rural, onde combinam-se dois fatores importantes: de um lado,
constitui-se, atualmente, na fronteira de exploração do trabalho, de outro, é protagonista
do maior êxodo rural já visto em função de uma agricultura de baixo nível de
desenvolvimento técnico e de um processo igualmente histórico de alienação dos meios
de produção, especificamente a terra. Existe, portanto, uma superpopulação relativa, de
tipo latente, capaz de reduzir o valor médio da força de trabalho a níveis comparáveis ao
período da Revolução Industrial (final do século XVIII e início do século XIX), e
favorecendo a realização da grande utopia do capital: mínimo físico dos salários e o
máximo físico das jornadas de trabalho.
A partir desses dados, observa-se no capitalismo tardio ou monopolista, a
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tendência para o trabalho intensivo, poupador de capital. A nova onda de racionalização
do trabalho não é produto de um insight a respeito das potencialidades subjetivas do
trabalho, mas de uma adaptação do capital à crise e às novas condições objetivas para a
extração da mais-valia. Em resumo, “os pós-fordismos” estão plenamente inseridos no
contexto da ofensiva do capital sobre o trabalho em tempos sombrios de crise estrutural.
Quando observamos a realidade global, principalmente no que se refere aos
aspectos econômico-sociais, o que percebemos é um aumento generalizado da pobreza
no mundo todo, constituindo-se este, num dos aspectos mais visíveis da barbárie
contemporânea e sistêmica.
Segundo as Nações Unidas, no seu relatório sobre o Desenvolvimento
Humano, o 1% mais rico do mundo aufere tanto quanto os 57% mais
pobres. A proporção, no que se refere aos rendimentos, entre os 20%
mais ricos e os 20% mais pobres no mundo aumentou de trinta para
um em 1960, para 60 para 1 em 1990 e para 74 para 1 em 1999, e
estima-se que atinja os 100 por 1 em 2015. Em 1999-2000, 2,8 bilhões
de pessoas viviam com menos de dois dólares por dia, 840 milhões
estavam subnutridos, 2,4 bilhões não tinham acesso a nenhuma forma
aprimorada de serviço e saneamento, e uma em cada seis crianças em
idade de freqüentar a escola primária não estava na escola. Estima-se
que cerca de 50% da força de trabalho não-agrícola esteja desempre
gada ou subempregada.
(Minqi Li, “After Neoliberalism: Empire, Social Democracy, or
Socialism?”, Monthly Review, January 2004, p.21.)
Este absurdo aumento da pobreza, caracterizado por uma superexploração
do trabalho humano, precarização e informalidade, não é produto de uma crise
econômica localizada ou de um rebaixamento recente dos mecanismos de proteção
social; é produto sim, da ocupação direta e recente do espaço pelo capital em áreas onde
não havia e talvez não haja, mecanismos de proteção ao trabalho, como na Índia e em
parte do Sudeste Asiático; ou em áreas onde houve uma simbiose entre a burocracia do
Estado e o capital estrangeiro, como é o caso da China e do Vietnã., que dispuseram
para exploração, uma força de trabalho coercitivamente impedida de construir
mecanismos de defesa.
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Um processo mais traumático afeta a força de trabalho no centro capitalista e
nas velhas fronteiras de exploração do trabalho, onde a precarização assume mais
visivelmente um caráter regressivo. Durante décadas, e até hoje, a tipologia ideológica
da divisão das nações em função de seu desenvolvimento, real ou em potência, e da
importação de capital, gerou a promessa e a esperança de uma ascensão qualitativa na
divisão internacional do trabalho, especialmente Argentina, México e Brasil. Esses
países, aliás, durante muito tempo acalentaram o status de países em desenvolvimento,
status este que soa cada vez mais como uma ironia de gosto duvidoso pois os rompantes
de desenvolvimento foram projetados por governos populistas (Perón, Cárdenas e
Vargas), foram também influenciados significativamente pela luta de classes, onde se
iniciou a construção de um sistema legal de proteção ao trabalho e, bem menos mas
também, um sistema de inspiração keynesiana de salário indireto, com investimentos na
saúde e educação públicas.
A recente ofensiva do capital sobre o trabalho na região, materializado
através das políticas econômicas neoliberais, teve como principal resultado a
formação de uma superpopulação relativa de tipo estagnada, indissociável aos processos
de lumpenização e pauperização das massas.
No centro capitalista, desemprego e subemprego avançam formando pólos
de pobreza. Nos EUA, nos setores de agricultura, pesca e reflorestamento, para se ter
uma idéia, 24% da força de trabalho empregada é constituída por imigrantes ilegais,
trabalhadores desprovidos de qualquer sistema de proteção e seguridade. Na Europa, os
índices de desemprego insistem em manter-se elevados, pondo em xeque um histórico,
e até recente, modelo de pleno emprego, e expondo eloquentemente elementos
crescentemente reveladores da pauperização, como os “distúrbios” da juventude da
periferia pobre de Paris.
Alguns fatores podem ser apontados como colaboradores nesse processo de
desenvolvimento das contradições no centro capitalista:
• Desemprego estrutural: uma superpopulação que será expulsa (população
acima de 40 anos) ou que será incorporada pelo capital (jovens) aos processos de
trabalho tecnicamente mais desenvolvidos, de tecnologia intensiva com uso amplo
de trabalho complexo, mas que na realidade se limitará à realização de trabalhos
simples nas fronteiras mais marginais do sistema de acumulação.
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• Desindustrialização: fenômeno ocorrido nas duas grandes áreas do centro
capitalista (EUA e Europa Ocidental), regiões importantes do passado no processo
de valorização do capital e para a geração de trabalho produtivo e que estão em
pleno retrocesso. É o caso do “Cinturão da Ferrugem”, no nordeste e centro-oeste
dos EUA, que sofre um processo acelerado de fechamento de fábricas e de cortes de
empregos, ou mais precisamente, de destruição das forças produtivas.
• Aumento do setor de distribuição: o crescimento do setor ocorre em
virtude da exploração do trabalho simples, precário e de baixo valor, contribuindo
para a queda do salário médio. A ampliação desse setor não implica em aumento da
quantidade de empregos, principalmente em relação à ocupação do comércio
varejista pelo grande capital, provocando a crise de pequenos e médios comerciantes
e empregadores.
• Informalidade e precarização do trabalho enquanto tendência dominante:
a ação dos Estados, mesmo no centro capitalista, não é o combate à precarização do
trabalho, mas sim promover o desenvolvimento da precarização e da informalidade
com o objetivo de pressionar a ação pública no sentido de criar uma legislação que
favoreça o capital em detrimento do trabalho.
A lumpenização e a pauperização são processos que, além de
indissociáveis, representam mais claramente o desenvolvimento de uma barbárie
sistêmica, partícipe do próprio desenvolvimento do modo de produção
capitalista em sua fase tardia, de crise estrutural.
A lumpenização social representa um retrocesso no processo
civilizatório, tomando como critério o desenvolvimento da capacidade produtiva
e criativa da força de trabalho, de qualificação média e à qual é reservado o
espaço marginal das atividades mais repulsivas. É um contingente
social considerado “empregado”, obtendo, no entanto, mais ou menos
somente os meios necessários à sua reprodução física, criando um espaço
propício para a prática de atividades ilegais e a participação efetiva no chamado
crime organizado (black money).
Quanto a pauperização, ela é produto das condições objetivas
engendradas, e em ampliação, pela ação do capital sobre o trabalho, através do
aumento da superpopulação relativa e da desvalorização da força de trabalho, ou
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seja, “o mínimo físico possível dos salários e o máximo físico possível da
jornada de trabalho.”
Representado pela crescente “financeirização” do capital, o
capitalismo em sua fase tardia, apresenta um acelerado processo de valorização
do capital através da especulação financeira.
Com base em Marx, a financeirização pode ser tratada através de
um duplo enfoque: Primeiro: o dinheiro derivado do sistema de crédito,
representando a valorização do capital através dos juros e que tem sua origem na
partilha da mais-valia produzida, leva ao endividamento famílias, empresas e
Estados, numa exacerbação do capital fictício, aproximando-se mais daquilo que
Chesnais chama de capital especulativo ou rentista. Segundo: o caráter
especulativo através do investimento nas bolsas de valores, verdadeiras “bolhas
financeiras” que conduzem à formação de “valor” além da riqueza (valor real)
possuída, mesmo em potência, pelas empresas na forma de patrimônio, meios de
produção e força de trabalho.
Marx destacou a importância da submissão (formal e real) do
trabalho ao capital para a consolidação do próprio modo capitalista de produção,
uma condição necessária para a produção de mais-valia (absoluta e relativa) e
para a organização dos processos de trabalho em função desta finalidade.
Independentemente da composição técnica do capital empregado na
produção, dois elementos são perenes em relação ao gerenciamento do emprego
do trabalho alheio: o objetivo do lucro máximo e custo mínimo, e o meio para a
realização deste objetivo, o trabalho alienado. O trabalho é duplamente alienado:
a priori, alienado das condições objetivas para sua existência independente do
capital, ou seja, enquanto mercadoria, e a posteriori, enquanto trabalho vivo em
movimento que, independente da qualificação, é alienado em relação aos
objetivos da produção. Essas duas dimensões constituem-se em obstáculos
históricos à existência de uma força de trabalho autônoma e independente.
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REFERÊNCIAS: CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, Vozes, 1998. CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital – São Paulo, Ed. Xamã, 1996. GRAMSCI , Antonio. L´Ordine Nuovo: 1910-1920. A cura di Valentino Gerranta e Antonio A. Santucci. Torino: Giulio Einaudi, 1987. HARVEY , David. A Condição Pós-Moderna. 16ª ed. São Paulo, Ed, Loyola, 2007. LOJKINE , Jean. A Revolução Informal – 2ª ed. São Paulo, Cortez, 1999. MARX , Karl. O Capital – Livro I, Cap.VI – São Paulo, Livraria Ed. Ciências Humanas Ltda, 1978. __________. Trabalho Assalariado e Capital & Salário, Preço e Lucro; São Paulo – Ed. Expressão Popular, 2006. MÉSZÁROS, István. O Desafio e o Fardo do Tempo Histórico – São Paulo, Ed. Bontempo, 2007. ______________. Para Além do Capital – São Paulo, Ed. Bontempo, 2002. KATZ , Cláudio; COGGIOLA , Osvaldo. Neoliberalismo ou Crise do Capital? - 2ª ed. São Paulo, Ed. Xamã, 1996. KUENZER e GRABOWSKI . Educação Profissional: pressupostos para a construção de um projeto para os que vivem do trabalho. Perspectiva. Florianópolis, UFSC-2006. OLIVEIRA , A. Marx e a exclusão. Pelotas: Seiva, 2004. PERSPECTVA INTERDISCIPLINAR Título: O Processo de “Organização do Trabalho.” Superando Habilidades e Competências. Texto:
A origem da palavra trabalho já esteve associada a um instrumento de
tortura antigo chamado tripalium. Em sentido amplo, podemos entender trabalho como
um “conjunto de atividades intelectuais e manuais, organizadas pela espécie humana e
aplicadas sobre a natureza, visando assegurar subsistência.”
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O trabalho nem sempre foi desejado por homens e mulheres, no entanto,
sempre foi realizado por homens e mulheres, ora temendo soberanos e divindades, ora e
isso em todos os tempos e ainda hoje, como meio de sobrevivência.
Considerando o trabalho como meio de subsistência, percebe-se que a
preocupação dos homens e das mulheres, em relação à organização de suas atividades
de trabalho, vem de muito longe. Desde o princípio de organização de suas relações
sociais internas aos grupos familiares que constituíram, passando também pelo âmbito
das relações sociais que estabeleceram com outras ordens comunais, tribais e nas
diversas formas de sociedade surgidas ao longo da história.
Em se tratando especificamente do modo de produção capitalista,
especialmente após as primeiras revoluções industriais, do século XVIII em diante,
observa-se que o trabalho foi incorporado por esse modo de produção e submetido aos
interesses de classes nele predominantes.
“(...) a organização do trabalho foi elevada à categoria de matéria do
conhecimento a ser conquistada com base na luta política e econômica
explícita entre o empresariado (classe proprietária dos meios de
produção e compradora de força de trabalho) e os trabalhadores
(classe social expropriada nesse processo e cuja existência atual exige
vender sua capacidade de trabalho em troca de salários).”
(PINTO, Geraldo Augusto. p.19). Tomando a indústria como plano de análise, percebe-se que enquanto os
capitalistas eram apenas fornecedores de matérias-primas e coletores do resultado da
transformação destas pelos trabalhadores ao final de um dado período, entregando-as
como produtos acabados aos comerciantes e consumidores, ao trabalhador, envolvido
nesse processo, cabia apenas desenvolver as habilidades e competências para bem
desempenhar suas funções.
Com o desenvolvimento dos sistemas de comércio e produção, a luta pelo
controle do trabalho humano intensificou-se. Os donos do capital concentraram cada
vez mais a posse sobre os instrumentos de trabalho, as terras e matérias-primas,
restando aos trabalhadores a venda de seus conhecimentos, experiência e força de
trabalho.
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“A esses últimos, agora desprovidos de sua autonomia enquanto
Produtores independentes, cabia lutar pelo controle do conhecimento
sobre o processo produtivo, o que lhes permitia ao menos controlar o
tempo de execução das tarefas, através da habilidade que somente a
experiência no trabalho traz.” (PINTO, Geraldo A. p.21).
É necessário salientar que, para o trabalhador, a partir de então, somente
habilidade e competência para executar tarefas não serão mais suficientes. As
exigências de precisão nos prazos de entrega e a qualidade dos produtos devido à
concorrência e competição por novos mercados, fará com que a necessidade
de ampliação do conhecimento, envolvido no âmbito da produção, passe a ser assumido
como prioridade estratégica pelos capitalistas empregadores, e ao trabalhador, não
restará outra saída senão a capacitação.
Essa constatação torna-se mais perceptível a partir das últimas décadas do
século XIX e adentrando a todo século XX, com o fordismo e toyotismo. O trabalho
humano empregado na produção, tendo em vista a capacidade produtiva, padronização,
especialização e diversificação da produção industrial, passa a ser visto pelos detentores
do capital como um mero coadjuvante do processo produtivo, porém, para fazer parte
desse processo, as exigências em termos de qualificação para os trabalhadores passam a
se fazer presentes com maior intensidade.
“A grande proliferação de estratégias cada vez mais agressivas visan
do aumentar as escalas de produção, padronizar a qualidade dos
produtos, diminuir os custos de produção e transporte etc., consolidou
e levou ao mais cruel estágio o controle sobre o trabalho humano na
produção, tido cada vez mais, pelos empregadores, como simples “in
grediente” dos processos produtivos, agora realizados em lugares
especialmente determinados para tal.” (PINTO, Geraldo A. p. 23).
É daí que surgem as primeiras fábricas como espaços tecnicamente
organizados conforme os produtos a serem nela elaborados (como as grandes
tecelagens, siderúrgicas, metalúrgicas etc.) e, posteriormente, os parques industriais
integrados em cadeias produtivas – cada qual fornecendo produtos determinados às
demais, num processo contínuo no tempo e no espaço, constituindo-se na organização
base do sistema produtivo do século XXI.
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Referência: PINTO, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século 20. Ed. Expressão Popular, São Paulo. 2007. GOUNET, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo Editorial, 1999. CONTEXTUALIZAÇÃO Título: O conhecimento como mercadoria e sua utilização na produção de patentes e armas Texto:
A temática abordada, tendo as relações de trabalho e de
cultura como conteúdos estruturantes, destaca-se no processo de relação com o
presente, na medida que permite pensar a sociedade a partir de questões do
cotidiano, possibilitando uma compreensão mais abrangente daquilo que
envolve o mundo do trabalho e o processo de produção cultural na sociedade em
que estamos inseridos.
Uma questão estranhamente negligenciada pelos teóricos das novas
tecnologias de informação é a condição do conhecimento como mercadoria e,
portanto, como fonte de acumulação. Isto é particularmente importante na atual
fase do modo de produção capitalista, quando qualitativamente foi acentuada a
relação entre conhecimento/ciência e capital que, evidentemente, não foge à
lógica da subordinação do valor de uso pelo valor de troca. A livre circulação
do conhecimento através das NTI não deve assumir, em seus aspectos
fundamentais, um caráter não mercantil, as NTI são, ao mesmo tempo, fontes e
meio de acumulação de capital.
O verdadeiro caráter rentista do capitalismo não se limita, como
vimos, à sua tendência “financeira”, ou melhor, ao componente
crescentemente fictício do capital. O crescimento absoluto e relativo do
trabalho improdutivo também deve ser considerado. Definido por Marx como
aquele trabalho que não se realiza em mais-valia, que não gera valores de
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troca e é trocado por renda (dinheiro improdutivo), não por capital (variável);
seu consumo ocorre em função do seu valor de uso e não como valor gerador de
valor (mais-valia).
Outro elemento importante para o caráter rentista do capitalismo
tardio é algo já apontado por Mandel no início dos anos 70 e que vem atingindo
um conteúdo preocupantemente amplo: a renda tecnológica, ou seja,
‘superlucros’ monopolistas originados dos avanços técnicos, descobertas e
patentes favorecidas pelas práticas monopolistas.”
Mesmo mediando tal perspectiva, o mais importante e um tanto
subestimado por Mandel, é o caráter eminentemente parasitário da renda
tecnológica, obtida menos através de ganhos de produtividade, e mais em
virtude da propriedade monopolista da técnica, do conhecimento, na medida que
o direito de propriedade estabelecido pelo regime de patentes ultrapassa a
“descoberta” científica e se apropria de elementos da natureza, inclusive da vida
(patente sobre a vida).
Outro aspecto a ser observado é a longínqua relação entre guerra e
economia, desde as Guerras Médicas e mais especificamente nas sociedades pré-
capitalistas, o desenvolvimento da produtividade do trabalho não só encontra
seus limites na técnica e nos meios de trabalho, como também na possibilidade
de expansão devido à dificuldade de conquista da terra. Nestes modos de
produção, a riqueza a ser produzida estava condicionada aos limites naturais de
fertilidade da terra e de clima. A introdução de novas técnicas, especialmente
agrícolas, resulta muito mais em crescimentos contínuos do que em saltos de
produtividade; dessa forma, a guerra aparece como opção econômica
objetivando inflexões e saltos na acumulação da riqueza.
Por esse motivo, inclusive, nos modos de produção pré-capitalistas
as ideologias legitimadoras da agressão são incomparavelmente menos
significativas que ao longo dos séculos XIX e XX, quando do advento do
capitalismo; a lógica econômica das guerras, “ao vencedor as batatas”, era mais
compreensível à consciência prática das massas.
Com o modo de produção capitalista, importantes características da
ação bélica adquirem significativas expressões: Primeiro, a tecnologia agregada
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e a dimensão dos conflitos ampliaram seus efeitos sobre a população civil
numericamente superior. Tanto efeitos objetivos (econômicos, baixas e
mutilações) quanto subjetivos (o horror diante da destruição ampliada e o
desconforto de um senso comum refratário à guerra). Esta situação exige uma
mobilização ideológica muito maior por parte dos capitalistas no sentido de
legitimar a produção bélica e também de seus “funcionários” ligados aos
aparelhos de Estado e de informação.
Hoje, a guerra é muito mais ideologizada, por força até mesmo de
uma outra construção ideológica: a paz como valor absoluto e a serviço da
reprodução do status quo.
Uma segunda característica envolve uma economia armamentista
permanente, com um complexo industrial-militar em constante atividade,
adquirindo a produção bélica uma relativa autonomia em relação ao seu uso
imediato, passando a ter uma importância estrutural para o processo de
acumulação de capital. Finalmente, a relação entre desenvolvimento
tecnológico, complexo industrial-militar e Estado vem sofrendo uma mudança
qualitativa, ou seja, é crescente o financiamento estatal da pesquisa realizada por
universidades, institutos e empresas associadas ou integrantes do complexo
industrial-militar, cujo desenvolvimento foi significativamente financiado pelo
Estado. Em síntese, crescentes volumes de recursos econômicos e humanos são
consumidos para o desenvolvimento de tecnologias de destruição, para o
desenvolvimento das forças de destruição. Para o pensamento marxista, várias
dessas questões não passaram despercebidas, ao contrário, a abordagem do papel
da produção bélica a partir dos instrumentos da crítica da economia política
produziu uma elaboração acumulada fundamental para a compreensão desse
importante aspecto do capitalismo em sua fase tardia.
Em relação a essa questão, mesmo que brevemente, merece uma
leitura mais cuidadosa, Rosa Luxemburgo. Em, “A Acumulação do Capital”,
estabeleceu as bases teóricas, do ponto de vista marxista, para a análise do
militarismo. Até sua formulação, o militarismo era visto como uma das mazelas
do capitalismo, da dominação de classe e imperialista através da coerção e do
“monopólio da violência”. Rosa Luxemburgo analisou o papel funcional da
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produção bélica para a acumulação de capital numa conjuntura histórica
marcada por elementos como a “Paz armada”, a ofensiva colonialista e a
reestruturação das organizações operárias após a derrota da Comuna de Paris,
especialmente na Alemanha. O Estado, segundo ela, através dos gastos públicos,
contribui para a realização da mais-valia contida nos valores de troca, assumindo
um significado ainda maior nas conjunturas de crises mais agudas de
superprodução. As medidas econômicas do Nazifascismo e do New Deal
corroboraram a análise de Rosa Luxemburgo sobre o papel ativo e estrutural do
Estado no processo de reprodução ampliada do capital em tempos de crise. O
mecanismo dos impostos indiretos sobre os meios de subsistência consumidos
pelo trabalhador é responsável pela transferência de valor do capital variável
para o Estado, trazendo como conseqüência desse processo, a redução do
consumo da força de trabalho em função da elevação relativa do valor dos meios
de subsistência. Portanto, o mecanismo dos impostos indiretos altera a relação
de valor de consumo entre a força de trabalho e o setor produtor de meios de
consumo. Este valor, extraído daqueles que vendem sua força de trabalho, em
troca dos meios de subsistência necessários, permite, através do Estado, um
aumento do montante de valor destinado à acumulação do capital.
A transferência da maior parte dos gastos destinados ao sustento
de seu séqüito para a classe trabalhadora (e aos representantes da
produção simples de mercadorias: camponeses e artesãos) permite
aos capitalistas deixar livre uma parte maior da mais-valia para a
capitalização. (...) Pelo sistema de impostos indiretos e tarifas
aduaneiras, os gastos do militarismo são principalmente
suportados pela classe operária e pelo campesinato. (...) Devido à
diminuição relativa da quantidade de meios de subsistência
necessários para a renovação da força de trabalho, permanece
livre uma quantidade correspondente de capital e trabalho vivo.
Esse capital constante e seu trabalho vivo podem ser dedicados a
outra produção, se há na sociedade uma nova demanda com
capacidade de compra. É o Estado que representa essa nova
demanda, uma vez que ele se apropria de uma parte do poder de
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compra da classe operária graças à legislação fiscal.
(LUXEMBURGO, 1976, p.401-3)
Há globalmente um processo complexo de redistribuição da mais-valia,
inclusive de natureza política, além dos mecanismos propriamente econômicos,
produto da hegemonia militar e política dos EUA que possibilita o financiamento de
déficits e dívidas públicas. Apesar de sua complexidade e dimensão atuais, a mais-
valia deve ser considerada como uma das fontes de financiamento dos gastos
militares. É possível afirmar que, em última instância, por meio de novos e
tradicionais mecanismos de expropriação, inclusive mecanismos fiscais, o capital
variável e o consumo para reprodução da força de trabalho ainda constitui a fonte
privilegiada de financiamento, apesar e inclusive através da complexa rede de
mutação do capital. Se não for assim, estamos diante de um paradoxo: o aumento
contínuo dos gastos militares juntamente com as medidas neoliberais de redução dos
impostos sobre o capital.
Talvez a grande questão que envolve o desenvolvimento da economia
armamentista é a possibilidade aberta, através dela, para a utilização ou valorização
do capital excedente; e é precisamente neste aspecto que, segundo Mandel, a
“economia armamentista permanente” cumpre sua principal função.
Referências: LUXEMBURGO, Rosa. Acumulação de capital. Nova Cultural, 1985. MANDEL, Ernest. O Capitalismo Tardio. Ed. Abril Cultural, São Paulo, 1982. Sítio Título do Sítio: Minha Periferia Disponível em (endereço web): http://www.uff.br/revistacontracultura/Minha%20 Acessado em (mês.ano): Novembro/2008 Comentário: Este sítio trás dados comparativos entre as periferias de várias cidades importantes da atualidade. Um deles refere-se a Chanteloup Les-Vignes, periferia de Paris. Nos mostra a potência ambígua de uma definição do outro que se dá pela comparação. A Paris da Torre Eiffel, Arco do Triunfo, a Catedral de Notre-Dame, Museu do Louvre,... onde chega a cultura oficial, por sinal muito estimulada na França, em oposição a uma Paris - 26 -
onde a cultura oficial não chega. Desde o início, o episódio se constitui como uma quase exceção por estabelecer níveis de comparação que problematizam as delimitações dos conceitos de centro e periferia, em termos sócio-econômicos. Sons e Vídeos Categoria: Áudio – CD/MP3 Título da Música: Mágoas de Boiadeiro Intérprete: Pedro Bento e Zé da Estrada Título do CD: Mágoas de Boiadeiro Número da Faixa: 11 Ano de Lançamento: 2006 Letra: Nono Basílio/Índio Vago Disponível em (endereço web): http://vagalume.uol.com.br/pedro-bento-e-ze-da-estrada/magoas-de-boiadeiro.html Comentário: A canção aborda aspectos relacionados ao progresso, as mudanças ocorridas a partir do emprego da tecnologia no manejo do gado, realizado agora pelos caminhões, deixando o boiadeiro sem opção de trabalho. Categoria: Vídeo Título: A Classe Operária Vai ao Paraíso Direção: Elio Petri Duração (hh:mm): 126 min./cor Local de Publicação: Itália Ano: 1971 Disponível em (endereço web): http://melhores filmes.com.br/filmes/a-classe-operaria-vai-ao-paraiso Comentário: SINOPSE: Adorado por seus superiores por ser um trabalhador extremamente dedicado e odiado pelo mesmo motivo por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos sonhos de consumo da classe média, alienado em meio aos movimentos de protesto de sua classe, até que um acontecimento inusitado põe em xeque suas opiniões. Este filme constitui-se num clássico do cinema político italiano. Categoria: Vídeo Título: Central da Periferia: Paris também tem periferia. Apresentação: Regina Case. Emissora: Rede Globo de Televisão. Data de Exibição: 14 de outubro de 2007. - 27 -
Disponível em (endereço web): http://video.globo.com/videos/player/noticias/0,,GIM 742826-7823-CENTRAL+DA+PERIFERIA+PARIS+TAMBEM+TEM+PERIFERIA 00.HTML. Último acesso: 24/11/2008. Proposta de Atividades Título: Identificando permanências e transformações no mundo do trabalho. Texto: 1) Música. A partir da música indicada “Mágoas de boiadeiro”, propomos o estabelecimento de problematizações relacionadas às mudanças provocadas pela utilização de Novas Tecnologias no desenvolvimento da atividade (ocupação) sugerida pela canção e em outras atividades. Quais as implicações que essas tecnologias tiveram e ainda têm no desaparecimento dessas ocupações que prevaleceram durante longos períodos e que com o passar do tempo vieram a desaparecer? 2) Internet Utilizando-se do Sítio proposto e dos vídeos sugeridos, selecionar fatos, imagens e cenas que identifiquem permanências e mudanças relacionadas ao mundo do trabalho, bem como as implicações deste no modo de vida das pessoas abordadas nas respectivas fontes. Sugestão de Leitura Categoria: Entrevista Assunto: Desafios do Mundo do Trabalho – O Papel a ser desempenhado pelo Brasil diante das mudanças verificadas na sociedade pós-industrial. Reportagem: Jornal da Unicamp Entrevistados: POCHMANN, Marcio. (Instituto de Economia) e ANTUNES, Ricardo. (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas). Disponível em (endereço web): http://Desafios do mundo do trabalho no século XXI. www.saudeetrabalho.com.br/desafios-pochmann.pdf Comentário: O economista Márcio Pochmann e o sociólogo Ricardo Antunes analisam a centralidade do trabalho e o papel a ser desempenhado pelo Brasil no contexto das profundas mudanças registradas na sociedade pós-industrial. - 28 -
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