por uma vida sem catracas! mobilizações populares e luta contra o aumento da tarifa do transporte
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Enfrentamento. Goinia: ano 8, Edio Especial, jul. 2013. 9
vrias aes na cidade. Esse grupo contava com indivduos autonomistas, anarquistas,
bolcheviques, dentre esses, alguns membros de partidos polticos (PT, PCdoB, PSTU,
PCB, PSOL) e outros que no se vinculavam explicitamente a nenhuma tendncia
militante.
As aes da Frente articulavam primeiramente com um objetivo especfico debarrar o suposto aumento que seria anunciado nos prximos dias. Alm disso, almejava
outras perspectivas como pressionar a CMTC (Companhia Municipal de Transporte
Coletivo) e a CDTC (Cmara Deliberativa do Transporte Coletivo) para liberar as
planilhas de custo e de lucros, impor uma participao popular na CDTC, por fim
concesso do transporte aos oligoplios empresariais, etc. Por fim, aps a revogao
do aumento, a tarifa zero (sem restrio e universal) foi uma bandeira levantada.
Alguns acontecimentos foram fundamentais para o crescimento das aes em
Goinia dentre eles, uma paralisao dos motoristas. Na noite do dia 1 de maio, umagreve de motoristas de nibus do transporte coletivo metropolitano foi decretada. A
priori organizada pelo Sindicato dos motoristas (Sindittransporte) e, posteriormente,
sendo superada pelos prprios motoristas que romperam com o sindicato criando uma
autonomia importante, a greve potencializou a insatisfao dos usurios causando uma
canalizao do problema para suas ms condies, superlotao, atrasos e preo
abusivo.
Logo aps esse crescimento mobilizativo, a Frente organizou alguns atos e
manifestaes em Goinia.
O primeiro deles ocorreu
no dia 8 de maio onde o
movimento saiu da Praa Cvica
(localizado no centro da capital)
e seguiu para o cruzamento mais
movimentado da cidade, a Praa
do Bandeirante. Nesse primeiro
ato, surpreendendo as
autoridades policiais pelaquantidade de estudantes que ali
estavam, as formas simblicas de
manifestao deram a tnica do
movimento. Queima de pneus,
bloqueio do maior cruzamento da cidade por mais de 3 horas e a presena de uma
Figura 1 - Primeiro ato organizado pela Frente de Lutacontra o Aumento da Passagem
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representante da CMTC deram os passos iniciais de um movimento que perduraria por
alguns meses.
O segundo ato ocorreu na Praa
A e, por assim dizer, pode ser
considerado como o marco divisor daradicalidade das futuras aes. Aps
horas de bloqueio da regio do bairro
Campinas, a tropa de choque da Polcia
Militar reprimiu violentamente os
manifestantes e, at mesmo indivduos
que nem se quer protestavam. A dureza
e inescrupulncia da ao repressiva dos
aparatos militares do Estado deram
seus primeiros atos de violncia e queno quarto ato viriam a retomar, com
mais potencialidade.
Apesar da diminuio dos
conflitos, o terceiro ato foi marcado
por uma continuidade dos conflitos
entre policiais e manifestantes. Com
o intuito de barrar a reunio dos
representantes dos rgosresponsveis pela deliberao do
aumento (CDTC, CMTC, Prefeitura
de Goinia e demais prefeituras da
regio metropolitana e Governo do
Estado) o ato se organizou na Praa
Universitria e saiu em direo
frente do Palcio Pedro Ludovico
Teixeira onde aconteceu a referida reunio. Mesmo com a manifestao e pelos apelos
do no aumento, fora deliberado o aumento de 30 centavos no preo da tarifa. Menosde 12 horas aps da deciso, comeou a cobrar em Goinia e na regio metropolitana o
novo preo, estipulado em R$ 3,00. Com esse abusivo aumento, a radicalidade tomou
conta no ato do dia 28 de maio.
Figura 3 - III Ato na Praa Cvica em frente ao PalcioPedro Ludovico Teixeira, sede do governo do Estado deGois. Crditos: Renan Accioly Wanser.
Figura 2 - II Ato. Na ocasio, comandante da Tropa de
Choque agride manifestante no rosto.
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Percorrendo a
Avenida Universitria com
destino Praa da Bblia, o
quarto ato engrossou o coro
pelo cancelamento do
aumento da semana anterior.
Porm, a truculncia policial
marcou e deu as diretrizes
para a manifestao. Com
bombas de gs lacrimogneo,
bombas de efeito moral, balas
de borracha e, at mesmo, uso
de armas de fogo letal,
estiveram presentes. Cerca de duas dezenas de manifestantes foram presos e dentreeles, alguns menores. Como maneira simblica, nibus foram incendiados provando
assim, a insatisfao generalizada com o sistema de transporte e consultivamente, com
toda a truculncia do Estado.
No quinto ato ocorrido
no dia 6 de junho, os resqucios
do medo e da possibilidade de
outro confronto violento com as
formas militares estiveram
presentes. Saindo do Teatro
Goinia, localizado em uma
regio de grande fluxo de
trnsito, percorrendo at o
SETRANSP e de l, para a CMTC,
o quinto ato deixou claro a
combatividade do movimento
mais uma vez nas ruas da cidade. Durante o ato, uma exposio ldica de um teatro
deu outra vez a cara do movimento ao satirizar a ao do choque frente aos estudantese trabalhadores. Com o objetivo de protestar contra as empresas que detm o
oligoplio do transporte, a Frente foi seguida pela Polcia Militar pelo centro da capital
at as dependncias do Instituto Federal de Gois. L, aps assembleia geral, os
manifestantes foram se dispersando e despistando a PM, salvaguardando a proteo
de seus manifestantes.
Figura 5 - V Ato em Goinia. Na imagem, manifestantesfazendo o ato ldico de satirizar a Polcia Militar.
Figura 4 - IV Ato organizado pela Frente de Luta contra oAumento.
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O esperado dia 20 de junho
colocou uma multido nas ruas. Este
foi o sexto ato coordenado pela
Frente de Luta na cidade de Goinia.
Porm, como se tratava de um ato
unificado nacionalmente, uma
quantidade nunca antes vista de
pessoas marcaram presena nas
ruas centrais de Goinia. Com a
vastido de pessoas que foram s
ruas veio a vastido de bandeiras,
deixando em planos inferiores a
questo do transporte e do
aumento da tarifa que havia sido
revogado. O sexto ato com uma
tonalidade pacifista, desvirtuando
as aes que at ento a Frente
havia organizado, saiu do centro da
capital percorrendo vrias
localidades da cidade com um tom muito mais de festividade do que de manifestao
popular3. Porm, no decorrer do ato, um confronto em frente Assembleia Legislativa
demarcou mais uma vez a ao truculenta do Estado e de seus aparelhos armados:
cerca de uma dezena de manifestantes foram presos e ainda continuam sofrendo
processos e respondero por alguns crimes.
Uma semana aps o
ato que reuniu cerca de 70 mil
pessoas, ocorreu o stimo ato
saindo da Praa Universitria
rumo ao Ministrio Pblico.
Com uma tonalidade
especfica e classista (contra a
criminalizao dos
3 Como o espao no para discutir especificamente esse ato deixo como sugesto de leituras, os seguintes
textos disponveis em forma digital: Uma nao em clera: a revolta dos Coxinhas (http://passapalavra.info/2013/06/79985, acesso em julho de 2013) e 20 de junho: a Revolta dos Coxinhas(http://passapalavra.info/2013/06/79726, acesso em julho de 2013).Figura 7 - VII Ato com a pauta da No Criminalizao dosMovimentos Sociais caminhando rumo ao Ministrio Pblicode Gois.
Figura 6 - VI Ato em Goinia que reuniu cerca de 70 milpessoas.
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movimentos sociais), essa manifestao percorreu as ruas do Setor Leste Universitrio
com um nmero reduzido de pessoas (comparando com as outras aes) e conseguiu,
aps horas de presses, uma reunio com representantes do Ministrio Pblico
exigindo a no criminalizao dos movimentos sociais e dos indivduos que foram
presos nas manifestaes anteriores.
Concomitante a esses atos na capital goianiense, outras manifestaes
ocorrem em centenas de cidades do Brasil. Por exemplo, na cidade de So Paulo alguns
atos nas primeiras semanas de junho. O primeiro ato em So Paulo ocorreu na noite da
quinta-feira, 6 de junho, com um protesto contra o aumento da tarifa de nibus que
bloqueou totalmente as avenidas Paulista, Nove de Julho, Treze de Maio e So Lus. No
dia seguinte, os manifestantes percorreram avenidas na regio do bairro de Pinheiros,
a zona oeste de So Paulo; no terceiro ato no dia 8 do mesmo ms, a Avenida Paulista
parou: a manifestao atravessou o centro de So Paulo e voltou para a Paulista. Esse
foi o terceiro e maior protesto contra o aumento das passagens de nibus, trem emetr do Brasil, reunindo mais de 100 mil pessoas. Em todos os atos, a presena da
Polcia Militar e suas corporaes internas foram canalizadoras de atos de violncia
contra os manifestantes, tal qual acontecido na capital do Estado de Gois.
Alguns elementos so importantes de se ressaltar nesse texto e que ainda no
foram contemplados. Alm dos atos organizados, vm se notando com recorrncia
atos com certa espontaneidade da populao usuria do transporte coletivo em atos
combativos como, por exemplo, no dia 18 de junho onde trs nibus foram depredados
no terminal Padre Pelgio na capital de Gois. Esses atos nada mais so do que umaresposta altura da constncia de violncias que sofrem cotidianamente os usurios do
transporte coletivo.
No dia seguinte, no setor Itatiaia, nas imediaes da Universidade Federal de
Gois, um nibus foi incendiado em ato de protesto. Alm de Goinia, outras cidades
tambm participaram de atos autnomos espontneos tais como Valparaso (GO) no
dia 21 de junho cerca de 10 nibus incendiados -; Contagem (MG) no dia 27 de junho;
So Paulo, no dia 11 de junho no Itaim Paulista, zona leste da capital e no dia seguinte
no bairro do Capo Redondo, no dia 28 de junho a populao incendiou um nibus.
Alguns dias antes, no dia 20 de junho em Santos, dois nibus incendiados e por fim,agora no incio desse ms um nibus foi incendiado na cidade de Aracaj. Alm destes,
na noite de 10 de julho, o Bloco de Luta pelo Transporte Pblico ocupou a Cmara de
Vereadores de Porto Alegre.
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Organizaes autogeridas nas ruas
Apesar de no haver lideranas nesses movimentos, jamais podemos dizer que
eles so desorganizados. Organizao no supe burocracia e vice-versa. Nessesentido, apresentaremos de forma curta abaixo algumas predilees desses
movimentos acima citados (Frente e MPL).
A Frente contou no seu bojo de uma srie de princpios, dentre os quais
podemos destacar: a) autonomia poltica, organizativa e econmica, que assegurou
suas prprias maneiras de se gerir e autogerir suas aes; b) apartidarismo, que ligada
noo anterior de autonomia complementou e deixou claro que suas teses devem vir
diretamente das aes prticas e cotidianas, no deixando entrever interesses
burocrticos de partidos em si; c) combatividade, atos de violncia com sentido
revolucionrio como ataques tanto tericos, quanto prticos ao Estado; d) autogestointerna, ou seja, a autorrepresentatividade, deciso coletiva, auto-organizaes nas
unidades de luta sob a forma da igualdade abolindo a diviso social do trabalho entre
dirigentes e dirigidos; e) livre associao dos indivduos tendo a liberdade de se desligar
do coletivo assim que quiser entendendo que suas aes esto ligadas com as
responsabilidades coletivas; f) ao direta baseada no princpio pautado na
horizontalidade e fim da intermediao de meios que no so combativos e
autnomos; g) horizontalidade interna entre os membros, no cabendo superioridade
entre nenhum de seus componentes; h) decises coletivas baseadas em assembleias
gerais como ato supremo de suas decises, respeitando o direito de fala das posiesminoritrias, i) revogabilidade e temporalidade a qualquer momento das comisses; j)
solidariedade entre membros.
Prximo s concepes da Frente, o MPL tambm se pauta por uma maneira
organizativa que rompe com os velhos paradigmas partidrios e burocrticos de
organizao. Rompendo com as concepes de lideranas, os dois movimentos
reconhecem que a poltica repressiva do estado necessita da criao de lideres para
atuar com maior veemncia. Por isso, a antiliderana alm de ser um ato poltico e de
concepo terica tambm um elemento de estratgia frente s aes do governo.
Para cumprir com seus objetivos frente sociedade civil, o MPL (Movimento
Passe Livre) claro em sua forma organizativa:
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Reforamos que o MPL um movimento horizontal e qualquer pessoa
que se declara liderana do movimento para legitimar-se perante o
Poder Pblico, no o faz em nome do movimento4
No texto Princpios organizativos do Movimento Passe Livre Nacional5 nota-
se uma mudana, ou, melhor dizendo, uma ampliao da pauta de passe livre estudantilpara o passe livre irrestrito ao longo dos seus anos de atuao (de 2003 at 2013). Alm
disso, reafirma-se as bases antiparlamentares, apartidrias, independentes e
autnomas frente a entidades no-governamentais e estatais. Nesse mago tambm
se afirma a articulao do movimento com a necessidade prtica de visar um objetivo
finalista, que a transformao da sociedade. Vejamos:
O MPL deve fomentar a discusso sobre aspectos urbanos como
crescimento desordenado das metrpoles, relao cidade e meio
ambiente, especulao imobiliria e a relao entre drogas, violncia e
desigualdade social.
O MPL deve lutar pela defesa da liberdade de manifestao, contra a
represso e criminalizao dos movimentos sociais. Nesse sentido,
lutar contra a prpria represso e criminalizao de que tem sido alvo.
Alm dos princpios e objetivos do movimento, a clareza de sua forma
organizacional nos permite afirmar que h um rompimento frontal com as
organizaes burocrticas. Dentre esses aspectos de ruptura, notemos a forma de
organizao federativa que preza pela organizao horizontal que articula espaos de
autonomia em nvel federal e local.
Organizao e constituio
O apoio mtuo deve ser a base que garante a existncia do
movimento em nvel nacional.
O MPL se constitui atravs de um pacto federativo, isto , uma aliana
em que as partes obrigam-se recproca e igualmente e na qual os
movimentos nas cidades mantm a sua autonomia diante do
movimento em nvel federal, ou seja, um pacto no qual respeitada a
autonomia local de organizao.
4 Disponvel em: http://saopaulo.mpl.org.br/2013/07/01/nota-publica-sobre-os-recentes-acontecimentos-em-sao-luis/.5 Disponivel em: http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/carta-de-principios/.
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As unidades locais devem seguir os princpios federais do movimento.
Ressalta-se que o princpio da Frente nica deve ser respeitado,
estando acima de questes ideolgicas.
O MPL em nvel federal formado por representantes dos
movimentos nas cidades, que constituem um Grupo de Trabalho (GT).O GT formado por pelo menos 1 e no mximo 3 membros
referendados pelas delegaes presentes no Encontro. Os grupos
locais de luta no presentes devem ter o aval dos movimentos que
fizerem parte do GT. Deve-se garantir a rotatividade dentro do GT de
acordo com as decises do MPL local.
Em outra nota pblica, o prprio MPL reitera seus mtodos organizativos ao
avaliar o ato nacional do dia 20 de junho. Assim diz:
Nota n. 11: sobre o ato dessa 5 feira
O Movimento Passe Livre (MPL) foi s ruas contra o aumento da tarifa.
A manifestao de hoje faz parte dessa luta: alm da comemorao da
vitria popular da revogao, reafirmamos que lutar no crime e
demonstramos apoio s mobilizaes de outras cidades. Contudo, no
ato de hoje presenciamos episdios isolados e lamentveis de
violncia contra a participao de diversos grupos. O MPL luta por um
transporte verdadeiramente pblico, que sirva s necessidades da
populao e no ao lucro dos empresrios. Assim, nos colocamos ao
lado de todos que lutam por um mundo para os debaixo e no para o
lucro dos poucos que esto em cima. Essa uma defesa histrica dasorganizaes de esquerda, e dessa histria que o MPL faz parte e
fruto. O MPL um movimento social apartidrio, mas no
antipartidrio. Repudiamos os atos de violncia direcionados a essas
organizaes durante a manifestao de hoje, da mesma maneira que
repudiamos a violncia policial. Desde os primeiros protestos, essas
organizaes tomaram parte na mobilizao. Oportunismo tentar
exclu-las da luta que construmos juntos.
Toda fora para quem luta por uma vida sem catracas.
Movimento Passe Livre So Paulo6
Aps apresentar essas concepes busquemos uma concluso para o texto.
6 Disponvel em: http://saopaulo.mpl.org.br/2013/06/21/sobre-o-ato-de-5a-206-nota-publica/.
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Consideraes conclusivas
Como tentamos demonstrar, as lutas no Brasil insurgiram de movimentos pelo
transporte e foram se ampliando a partir das demandas sociais, que so policlassistas.
Essa adeso fundada na pluralidade difusa rompeu com os limites orgnicos desses
grupos que coordenavam, at por que, no cabe a eles serem o sujeito revolucionrioque derrubar essa sociedade e fundar outra. Tal ideia seria no mnimo ingenuidade
de nossa parte. Esses movimentos foram no mais amplo pensamento que podemos ter
uma expresso da luta de classes e posso dizer, estamos ainda bastante distantes de
um processo revolucionrio.
A entrada da classe trabalhadora com suas pautas no mago das lutas poder
abrir um espao para um projeto poltico efetivo de transformao social. Com isso, as
bandeiras de projetos classistas e combativos devem se levantar no sentido de ampliar
seus objetivos. Essa ampliao s pode se dar na unidade e na coerncia de meios efins. Alas burocrticas devem ser combatidas, pois elas reproduzem as relaes sociais
capitalistas. Por isso, o momento de fortalecer estes movimentos autnomos e
combativos que so organizados de formas autogeridas.
Para deixar com clareza a nossa diferena com a mdia burguesa, entendemos
que a violncia contra o capital de determinada concepo terica-poltica, ou seja,
feita por aqueles que compreendem ser necessria a superao violenta das relaes
sociais vigentes para uma sociedade ps-capitalista, fundada em bases autogeridas.
Por fim resta dizer que as movimentaes continuam em julho, apesar dodescenso mobilizativo. No entanto, as lutas radicalizadas e libertrias destes meses no
Brasil mostram a importncia de suas presenas no jogo da histria feitas pelas mos e
ps de movimentos minoritrios e combativos que atuam para muito alm dos
partidos, sindicatos e, consecutivamente, do Estado visando a superao de todos eles.
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AESPONTANEIDADE DAS MANIFESTAES
Edmilson Marques
O Brasil est sendo tomado no atual momento por um conjunto de
manifestaes espontneas. O que ser que vem provocando esse fenmeno que acada dia est tomando propores cada vez maiores (se manifestando em vrios pases
e com quantidade crescente de pessoas) e mais radicais (do enfrentamento direto e
declarado com o estado)?
Para tratar deste tema preciso primeiramente discutir o que
espontaneidade. Esta parte da natureza humana. Ela se expressa de diversas
maneiras no cotidiano de nossas vidas. a expresso do desejo humano em
transformar o seu cotidiano para que este possibilite o atendimento de suas
necessidades bsicas, como comer, beber, se vestir, morar, se locomover semdificuldades, criando, assim, uma realidade onde possa desenvolver naturalmente suas
diversas potencialidades.
A atividade espontnea atividade livre do eu e implica, psicologicamente, oque significa literalmente o radical latino do termo sponte: por sua prpriavontade. Por atividade no temos em vista fazer alguma coisa, e sim a
qualidade de atividade criadora que pode agir igualmente nas experinciasemocionais, intelectuais e sensoriais da pessoa (FROMM, 1983, p. 205).
A liberdade, no entanto, parte fundamental desse processo, pois, s pode
haver espontaneidade se houver liberdade para se expressar e, desta forma, torna-se
tambm, expresso de sua natureza. Assim, ser espontneo demonstrar atravs de
aes prticas a potencialidade e capacidade criativa, atuando na transformao da
realidade, criando e gerando o novo, porm, em liberdade.
A espontaneidade, no entanto, pode ser limitada em consequncia de aes
controladoras. Isso ocorre quando as relaes sociais estabelecidas entre os seres
humanos inibem e limitam aes individuais e coletivas, impedindo o desenvolvimento
natural de suas diversas potencialidades, a exemplo do que ocorre nas escolas, em que
uma criana no cria, mas reproduz o conhecimento criado por outro, atravs da
imposio realizada pela burocracia escolar. Quando isso ocorre um novo sentimento gerado, o descontentamento. O descontentamento a demonstrao de que alguma
Professor no curso de Histria e Economia da Universidade Estadual de Gois, doutorando em Histriapela Universidade Federal de Gois, militante do Movimento Autogestionrio e pesquisador do Ncleode Pesquisa e Ao Cultural NUPAC.
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