por uma vida sem catracas! mobilizações populares e luta contra o aumento da tarifa do transporte

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  • 7/28/2019 Por uma vida sem catracas! Mobilizaes populares e luta contra o aumento da tarifa do transporte

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    Enfrentamento. Goinia: ano 8, Edio Especial, jul. 2013. 9

    vrias aes na cidade. Esse grupo contava com indivduos autonomistas, anarquistas,

    bolcheviques, dentre esses, alguns membros de partidos polticos (PT, PCdoB, PSTU,

    PCB, PSOL) e outros que no se vinculavam explicitamente a nenhuma tendncia

    militante.

    As aes da Frente articulavam primeiramente com um objetivo especfico debarrar o suposto aumento que seria anunciado nos prximos dias. Alm disso, almejava

    outras perspectivas como pressionar a CMTC (Companhia Municipal de Transporte

    Coletivo) e a CDTC (Cmara Deliberativa do Transporte Coletivo) para liberar as

    planilhas de custo e de lucros, impor uma participao popular na CDTC, por fim

    concesso do transporte aos oligoplios empresariais, etc. Por fim, aps a revogao

    do aumento, a tarifa zero (sem restrio e universal) foi uma bandeira levantada.

    Alguns acontecimentos foram fundamentais para o crescimento das aes em

    Goinia dentre eles, uma paralisao dos motoristas. Na noite do dia 1 de maio, umagreve de motoristas de nibus do transporte coletivo metropolitano foi decretada. A

    priori organizada pelo Sindicato dos motoristas (Sindittransporte) e, posteriormente,

    sendo superada pelos prprios motoristas que romperam com o sindicato criando uma

    autonomia importante, a greve potencializou a insatisfao dos usurios causando uma

    canalizao do problema para suas ms condies, superlotao, atrasos e preo

    abusivo.

    Logo aps esse crescimento mobilizativo, a Frente organizou alguns atos e

    manifestaes em Goinia.

    O primeiro deles ocorreu

    no dia 8 de maio onde o

    movimento saiu da Praa Cvica

    (localizado no centro da capital)

    e seguiu para o cruzamento mais

    movimentado da cidade, a Praa

    do Bandeirante. Nesse primeiro

    ato, surpreendendo as

    autoridades policiais pelaquantidade de estudantes que ali

    estavam, as formas simblicas de

    manifestao deram a tnica do

    movimento. Queima de pneus,

    bloqueio do maior cruzamento da cidade por mais de 3 horas e a presena de uma

    Figura 1 - Primeiro ato organizado pela Frente de Lutacontra o Aumento da Passagem

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    representante da CMTC deram os passos iniciais de um movimento que perduraria por

    alguns meses.

    O segundo ato ocorreu na Praa

    A e, por assim dizer, pode ser

    considerado como o marco divisor daradicalidade das futuras aes. Aps

    horas de bloqueio da regio do bairro

    Campinas, a tropa de choque da Polcia

    Militar reprimiu violentamente os

    manifestantes e, at mesmo indivduos

    que nem se quer protestavam. A dureza

    e inescrupulncia da ao repressiva dos

    aparatos militares do Estado deram

    seus primeiros atos de violncia e queno quarto ato viriam a retomar, com

    mais potencialidade.

    Apesar da diminuio dos

    conflitos, o terceiro ato foi marcado

    por uma continuidade dos conflitos

    entre policiais e manifestantes. Com

    o intuito de barrar a reunio dos

    representantes dos rgosresponsveis pela deliberao do

    aumento (CDTC, CMTC, Prefeitura

    de Goinia e demais prefeituras da

    regio metropolitana e Governo do

    Estado) o ato se organizou na Praa

    Universitria e saiu em direo

    frente do Palcio Pedro Ludovico

    Teixeira onde aconteceu a referida reunio. Mesmo com a manifestao e pelos apelos

    do no aumento, fora deliberado o aumento de 30 centavos no preo da tarifa. Menosde 12 horas aps da deciso, comeou a cobrar em Goinia e na regio metropolitana o

    novo preo, estipulado em R$ 3,00. Com esse abusivo aumento, a radicalidade tomou

    conta no ato do dia 28 de maio.

    Figura 3 - III Ato na Praa Cvica em frente ao PalcioPedro Ludovico Teixeira, sede do governo do Estado deGois. Crditos: Renan Accioly Wanser.

    Figura 2 - II Ato. Na ocasio, comandante da Tropa de

    Choque agride manifestante no rosto.

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    Percorrendo a

    Avenida Universitria com

    destino Praa da Bblia, o

    quarto ato engrossou o coro

    pelo cancelamento do

    aumento da semana anterior.

    Porm, a truculncia policial

    marcou e deu as diretrizes

    para a manifestao. Com

    bombas de gs lacrimogneo,

    bombas de efeito moral, balas

    de borracha e, at mesmo, uso

    de armas de fogo letal,

    estiveram presentes. Cerca de duas dezenas de manifestantes foram presos e dentreeles, alguns menores. Como maneira simblica, nibus foram incendiados provando

    assim, a insatisfao generalizada com o sistema de transporte e consultivamente, com

    toda a truculncia do Estado.

    No quinto ato ocorrido

    no dia 6 de junho, os resqucios

    do medo e da possibilidade de

    outro confronto violento com as

    formas militares estiveram

    presentes. Saindo do Teatro

    Goinia, localizado em uma

    regio de grande fluxo de

    trnsito, percorrendo at o

    SETRANSP e de l, para a CMTC,

    o quinto ato deixou claro a

    combatividade do movimento

    mais uma vez nas ruas da cidade. Durante o ato, uma exposio ldica de um teatro

    deu outra vez a cara do movimento ao satirizar a ao do choque frente aos estudantese trabalhadores. Com o objetivo de protestar contra as empresas que detm o

    oligoplio do transporte, a Frente foi seguida pela Polcia Militar pelo centro da capital

    at as dependncias do Instituto Federal de Gois. L, aps assembleia geral, os

    manifestantes foram se dispersando e despistando a PM, salvaguardando a proteo

    de seus manifestantes.

    Figura 5 - V Ato em Goinia. Na imagem, manifestantesfazendo o ato ldico de satirizar a Polcia Militar.

    Figura 4 - IV Ato organizado pela Frente de Luta contra oAumento.

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    O esperado dia 20 de junho

    colocou uma multido nas ruas. Este

    foi o sexto ato coordenado pela

    Frente de Luta na cidade de Goinia.

    Porm, como se tratava de um ato

    unificado nacionalmente, uma

    quantidade nunca antes vista de

    pessoas marcaram presena nas

    ruas centrais de Goinia. Com a

    vastido de pessoas que foram s

    ruas veio a vastido de bandeiras,

    deixando em planos inferiores a

    questo do transporte e do

    aumento da tarifa que havia sido

    revogado. O sexto ato com uma

    tonalidade pacifista, desvirtuando

    as aes que at ento a Frente

    havia organizado, saiu do centro da

    capital percorrendo vrias

    localidades da cidade com um tom muito mais de festividade do que de manifestao

    popular3. Porm, no decorrer do ato, um confronto em frente Assembleia Legislativa

    demarcou mais uma vez a ao truculenta do Estado e de seus aparelhos armados:

    cerca de uma dezena de manifestantes foram presos e ainda continuam sofrendo

    processos e respondero por alguns crimes.

    Uma semana aps o

    ato que reuniu cerca de 70 mil

    pessoas, ocorreu o stimo ato

    saindo da Praa Universitria

    rumo ao Ministrio Pblico.

    Com uma tonalidade

    especfica e classista (contra a

    criminalizao dos

    3 Como o espao no para discutir especificamente esse ato deixo como sugesto de leituras, os seguintes

    textos disponveis em forma digital: Uma nao em clera: a revolta dos Coxinhas (http://passapalavra.info/2013/06/79985, acesso em julho de 2013) e 20 de junho: a Revolta dos Coxinhas(http://passapalavra.info/2013/06/79726, acesso em julho de 2013).Figura 7 - VII Ato com a pauta da No Criminalizao dosMovimentos Sociais caminhando rumo ao Ministrio Pblicode Gois.

    Figura 6 - VI Ato em Goinia que reuniu cerca de 70 milpessoas.

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    movimentos sociais), essa manifestao percorreu as ruas do Setor Leste Universitrio

    com um nmero reduzido de pessoas (comparando com as outras aes) e conseguiu,

    aps horas de presses, uma reunio com representantes do Ministrio Pblico

    exigindo a no criminalizao dos movimentos sociais e dos indivduos que foram

    presos nas manifestaes anteriores.

    Concomitante a esses atos na capital goianiense, outras manifestaes

    ocorrem em centenas de cidades do Brasil. Por exemplo, na cidade de So Paulo alguns

    atos nas primeiras semanas de junho. O primeiro ato em So Paulo ocorreu na noite da

    quinta-feira, 6 de junho, com um protesto contra o aumento da tarifa de nibus que

    bloqueou totalmente as avenidas Paulista, Nove de Julho, Treze de Maio e So Lus. No

    dia seguinte, os manifestantes percorreram avenidas na regio do bairro de Pinheiros,

    a zona oeste de So Paulo; no terceiro ato no dia 8 do mesmo ms, a Avenida Paulista

    parou: a manifestao atravessou o centro de So Paulo e voltou para a Paulista. Esse

    foi o terceiro e maior protesto contra o aumento das passagens de nibus, trem emetr do Brasil, reunindo mais de 100 mil pessoas. Em todos os atos, a presena da

    Polcia Militar e suas corporaes internas foram canalizadoras de atos de violncia

    contra os manifestantes, tal qual acontecido na capital do Estado de Gois.

    Alguns elementos so importantes de se ressaltar nesse texto e que ainda no

    foram contemplados. Alm dos atos organizados, vm se notando com recorrncia

    atos com certa espontaneidade da populao usuria do transporte coletivo em atos

    combativos como, por exemplo, no dia 18 de junho onde trs nibus foram depredados

    no terminal Padre Pelgio na capital de Gois. Esses atos nada mais so do que umaresposta altura da constncia de violncias que sofrem cotidianamente os usurios do

    transporte coletivo.

    No dia seguinte, no setor Itatiaia, nas imediaes da Universidade Federal de

    Gois, um nibus foi incendiado em ato de protesto. Alm de Goinia, outras cidades

    tambm participaram de atos autnomos espontneos tais como Valparaso (GO) no

    dia 21 de junho cerca de 10 nibus incendiados -; Contagem (MG) no dia 27 de junho;

    So Paulo, no dia 11 de junho no Itaim Paulista, zona leste da capital e no dia seguinte

    no bairro do Capo Redondo, no dia 28 de junho a populao incendiou um nibus.

    Alguns dias antes, no dia 20 de junho em Santos, dois nibus incendiados e por fim,agora no incio desse ms um nibus foi incendiado na cidade de Aracaj. Alm destes,

    na noite de 10 de julho, o Bloco de Luta pelo Transporte Pblico ocupou a Cmara de

    Vereadores de Porto Alegre.

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    Organizaes autogeridas nas ruas

    Apesar de no haver lideranas nesses movimentos, jamais podemos dizer que

    eles so desorganizados. Organizao no supe burocracia e vice-versa. Nessesentido, apresentaremos de forma curta abaixo algumas predilees desses

    movimentos acima citados (Frente e MPL).

    A Frente contou no seu bojo de uma srie de princpios, dentre os quais

    podemos destacar: a) autonomia poltica, organizativa e econmica, que assegurou

    suas prprias maneiras de se gerir e autogerir suas aes; b) apartidarismo, que ligada

    noo anterior de autonomia complementou e deixou claro que suas teses devem vir

    diretamente das aes prticas e cotidianas, no deixando entrever interesses

    burocrticos de partidos em si; c) combatividade, atos de violncia com sentido

    revolucionrio como ataques tanto tericos, quanto prticos ao Estado; d) autogestointerna, ou seja, a autorrepresentatividade, deciso coletiva, auto-organizaes nas

    unidades de luta sob a forma da igualdade abolindo a diviso social do trabalho entre

    dirigentes e dirigidos; e) livre associao dos indivduos tendo a liberdade de se desligar

    do coletivo assim que quiser entendendo que suas aes esto ligadas com as

    responsabilidades coletivas; f) ao direta baseada no princpio pautado na

    horizontalidade e fim da intermediao de meios que no so combativos e

    autnomos; g) horizontalidade interna entre os membros, no cabendo superioridade

    entre nenhum de seus componentes; h) decises coletivas baseadas em assembleias

    gerais como ato supremo de suas decises, respeitando o direito de fala das posiesminoritrias, i) revogabilidade e temporalidade a qualquer momento das comisses; j)

    solidariedade entre membros.

    Prximo s concepes da Frente, o MPL tambm se pauta por uma maneira

    organizativa que rompe com os velhos paradigmas partidrios e burocrticos de

    organizao. Rompendo com as concepes de lideranas, os dois movimentos

    reconhecem que a poltica repressiva do estado necessita da criao de lideres para

    atuar com maior veemncia. Por isso, a antiliderana alm de ser um ato poltico e de

    concepo terica tambm um elemento de estratgia frente s aes do governo.

    Para cumprir com seus objetivos frente sociedade civil, o MPL (Movimento

    Passe Livre) claro em sua forma organizativa:

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    Reforamos que o MPL um movimento horizontal e qualquer pessoa

    que se declara liderana do movimento para legitimar-se perante o

    Poder Pblico, no o faz em nome do movimento4

    No texto Princpios organizativos do Movimento Passe Livre Nacional5 nota-

    se uma mudana, ou, melhor dizendo, uma ampliao da pauta de passe livre estudantilpara o passe livre irrestrito ao longo dos seus anos de atuao (de 2003 at 2013). Alm

    disso, reafirma-se as bases antiparlamentares, apartidrias, independentes e

    autnomas frente a entidades no-governamentais e estatais. Nesse mago tambm

    se afirma a articulao do movimento com a necessidade prtica de visar um objetivo

    finalista, que a transformao da sociedade. Vejamos:

    O MPL deve fomentar a discusso sobre aspectos urbanos como

    crescimento desordenado das metrpoles, relao cidade e meio

    ambiente, especulao imobiliria e a relao entre drogas, violncia e

    desigualdade social.

    O MPL deve lutar pela defesa da liberdade de manifestao, contra a

    represso e criminalizao dos movimentos sociais. Nesse sentido,

    lutar contra a prpria represso e criminalizao de que tem sido alvo.

    Alm dos princpios e objetivos do movimento, a clareza de sua forma

    organizacional nos permite afirmar que h um rompimento frontal com as

    organizaes burocrticas. Dentre esses aspectos de ruptura, notemos a forma de

    organizao federativa que preza pela organizao horizontal que articula espaos de

    autonomia em nvel federal e local.

    Organizao e constituio

    O apoio mtuo deve ser a base que garante a existncia do

    movimento em nvel nacional.

    O MPL se constitui atravs de um pacto federativo, isto , uma aliana

    em que as partes obrigam-se recproca e igualmente e na qual os

    movimentos nas cidades mantm a sua autonomia diante do

    movimento em nvel federal, ou seja, um pacto no qual respeitada a

    autonomia local de organizao.

    4 Disponvel em: http://saopaulo.mpl.org.br/2013/07/01/nota-publica-sobre-os-recentes-acontecimentos-em-sao-luis/.5 Disponivel em: http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/carta-de-principios/.

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    As unidades locais devem seguir os princpios federais do movimento.

    Ressalta-se que o princpio da Frente nica deve ser respeitado,

    estando acima de questes ideolgicas.

    O MPL em nvel federal formado por representantes dos

    movimentos nas cidades, que constituem um Grupo de Trabalho (GT).O GT formado por pelo menos 1 e no mximo 3 membros

    referendados pelas delegaes presentes no Encontro. Os grupos

    locais de luta no presentes devem ter o aval dos movimentos que

    fizerem parte do GT. Deve-se garantir a rotatividade dentro do GT de

    acordo com as decises do MPL local.

    Em outra nota pblica, o prprio MPL reitera seus mtodos organizativos ao

    avaliar o ato nacional do dia 20 de junho. Assim diz:

    Nota n. 11: sobre o ato dessa 5 feira

    O Movimento Passe Livre (MPL) foi s ruas contra o aumento da tarifa.

    A manifestao de hoje faz parte dessa luta: alm da comemorao da

    vitria popular da revogao, reafirmamos que lutar no crime e

    demonstramos apoio s mobilizaes de outras cidades. Contudo, no

    ato de hoje presenciamos episdios isolados e lamentveis de

    violncia contra a participao de diversos grupos. O MPL luta por um

    transporte verdadeiramente pblico, que sirva s necessidades da

    populao e no ao lucro dos empresrios. Assim, nos colocamos ao

    lado de todos que lutam por um mundo para os debaixo e no para o

    lucro dos poucos que esto em cima. Essa uma defesa histrica dasorganizaes de esquerda, e dessa histria que o MPL faz parte e

    fruto. O MPL um movimento social apartidrio, mas no

    antipartidrio. Repudiamos os atos de violncia direcionados a essas

    organizaes durante a manifestao de hoje, da mesma maneira que

    repudiamos a violncia policial. Desde os primeiros protestos, essas

    organizaes tomaram parte na mobilizao. Oportunismo tentar

    exclu-las da luta que construmos juntos.

    Toda fora para quem luta por uma vida sem catracas.

    Movimento Passe Livre So Paulo6

    Aps apresentar essas concepes busquemos uma concluso para o texto.

    6 Disponvel em: http://saopaulo.mpl.org.br/2013/06/21/sobre-o-ato-de-5a-206-nota-publica/.

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    Consideraes conclusivas

    Como tentamos demonstrar, as lutas no Brasil insurgiram de movimentos pelo

    transporte e foram se ampliando a partir das demandas sociais, que so policlassistas.

    Essa adeso fundada na pluralidade difusa rompeu com os limites orgnicos desses

    grupos que coordenavam, at por que, no cabe a eles serem o sujeito revolucionrioque derrubar essa sociedade e fundar outra. Tal ideia seria no mnimo ingenuidade

    de nossa parte. Esses movimentos foram no mais amplo pensamento que podemos ter

    uma expresso da luta de classes e posso dizer, estamos ainda bastante distantes de

    um processo revolucionrio.

    A entrada da classe trabalhadora com suas pautas no mago das lutas poder

    abrir um espao para um projeto poltico efetivo de transformao social. Com isso, as

    bandeiras de projetos classistas e combativos devem se levantar no sentido de ampliar

    seus objetivos. Essa ampliao s pode se dar na unidade e na coerncia de meios efins. Alas burocrticas devem ser combatidas, pois elas reproduzem as relaes sociais

    capitalistas. Por isso, o momento de fortalecer estes movimentos autnomos e

    combativos que so organizados de formas autogeridas.

    Para deixar com clareza a nossa diferena com a mdia burguesa, entendemos

    que a violncia contra o capital de determinada concepo terica-poltica, ou seja,

    feita por aqueles que compreendem ser necessria a superao violenta das relaes

    sociais vigentes para uma sociedade ps-capitalista, fundada em bases autogeridas.

    Por fim resta dizer que as movimentaes continuam em julho, apesar dodescenso mobilizativo. No entanto, as lutas radicalizadas e libertrias destes meses no

    Brasil mostram a importncia de suas presenas no jogo da histria feitas pelas mos e

    ps de movimentos minoritrios e combativos que atuam para muito alm dos

    partidos, sindicatos e, consecutivamente, do Estado visando a superao de todos eles.

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    AESPONTANEIDADE DAS MANIFESTAES

    Edmilson Marques

    O Brasil est sendo tomado no atual momento por um conjunto de

    manifestaes espontneas. O que ser que vem provocando esse fenmeno que acada dia est tomando propores cada vez maiores (se manifestando em vrios pases

    e com quantidade crescente de pessoas) e mais radicais (do enfrentamento direto e

    declarado com o estado)?

    Para tratar deste tema preciso primeiramente discutir o que

    espontaneidade. Esta parte da natureza humana. Ela se expressa de diversas

    maneiras no cotidiano de nossas vidas. a expresso do desejo humano em

    transformar o seu cotidiano para que este possibilite o atendimento de suas

    necessidades bsicas, como comer, beber, se vestir, morar, se locomover semdificuldades, criando, assim, uma realidade onde possa desenvolver naturalmente suas

    diversas potencialidades.

    A atividade espontnea atividade livre do eu e implica, psicologicamente, oque significa literalmente o radical latino do termo sponte: por sua prpriavontade. Por atividade no temos em vista fazer alguma coisa, e sim a

    qualidade de atividade criadora que pode agir igualmente nas experinciasemocionais, intelectuais e sensoriais da pessoa (FROMM, 1983, p. 205).

    A liberdade, no entanto, parte fundamental desse processo, pois, s pode

    haver espontaneidade se houver liberdade para se expressar e, desta forma, torna-se

    tambm, expresso de sua natureza. Assim, ser espontneo demonstrar atravs de

    aes prticas a potencialidade e capacidade criativa, atuando na transformao da

    realidade, criando e gerando o novo, porm, em liberdade.

    A espontaneidade, no entanto, pode ser limitada em consequncia de aes

    controladoras. Isso ocorre quando as relaes sociais estabelecidas entre os seres

    humanos inibem e limitam aes individuais e coletivas, impedindo o desenvolvimento

    natural de suas diversas potencialidades, a exemplo do que ocorre nas escolas, em que

    uma criana no cria, mas reproduz o conhecimento criado por outro, atravs da

    imposio realizada pela burocracia escolar. Quando isso ocorre um novo sentimento gerado, o descontentamento. O descontentamento a demonstrao de que alguma

    Professor no curso de Histria e Economia da Universidade Estadual de Gois, doutorando em Histriapela Universidade Federal de Gois, militante do Movimento Autogestionrio e pesquisador do Ncleode Pesquisa e Ao Cultural NUPAC.