popcom #06
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’
Ano 2 | Número 6 | Maio de 2013
Tiago Loureiro
Diogo Pascoal
Francisco Ancêde
Joana Martins Rodrigues
Lúcia Santos
Luís Pedro Mateus
Rafael Borges
Eduardo Pereira Correia
Maria Luísa Aldim
Michael Seufert
Miguel Pires da Silva
Rui Albuquerque
O não está de acordo com
o novo acordo. Por isso, é escrito
segundo a antiga ortografia.
Lg. Adelino Amaro da Costa, nº 5
1149-063 Lisboa
goncalobegonha.org
popcom.blogs.sapo.pt
ge.goncalobegonha@gmail.com
2 sumário
Editorial Tiago Loureiro
Palavra de Presidente Miguel Pires da Silva
Da eternidade dos muros Rafael Borges
Sustentabilidade do Estado Social: que caminho? Lúcia Santos
A insustentável indiferença Francisco Ancêde
Michael Seufert: ‘Acho dramático que qualquer política de corte na despesa seja inconstitucional.'
Indefinições, tensões e novos rumos Rafael Borges
Faz ainda algum sentido ser de ‘direita’? Rui Albuquerque
Grandes Discursos do Século XX Eduardo Pereira Correia e Maria Luísa Aldim
A vida e a obra de Margaret Thatcher
Qual é a pressa?
Partido Socialista vive num permanente
estado de negação, representado fielmente
na actuação do seu líder e do seu
secretário-geral. Sócrates, o líder regressado com ar
triunfante, qual D. Sebastião saído da névoa
parisiense, vai cumprindo na RTP a exigente tarefa de
negar as evidências, que ainda nos habitam a
memória, dos seis anos em que o país, sob o seu
governo, percorreu um caminho que quase nos fez
chegar à bancarrota. Seguro, o secretário-geral, luta
para cumprir uma tarefa mais difícil e esquizofrénica:
ao mesmo tempo que também ele tenta negar que
esses seis anos existiram, vai negando que teve,
algum dia, alguma coisa a ver com eles e com o seu
resultado.
Uma das piores consequências desse estado de
negação é uma postura de grave irresponsabilidade.
A resposta que o PS tem na ponta da língua para os
sérios problemas do país, para além de um discurso
vago e demagógico, é uma constante tendência para a
sacudir a responsabilidade para os outros. Seja a
responsabilidade nas causas do actual estado de
coisas, seja a responsabilidade de criar soluções para
a resolução das suas consequências.
É por isso que ver o PS envolvido num processo de
reforma do Estado que implicará coragem,
responsabilidade e, previsivelmente, um encontro
doloroso com a impopularidade, é pouco mais do que
um exercício de imaginação. E isso não deixa de ser
irónico, uma vez que foi o PS que, através do falhanço
das suas opções, condenou o País à inevitável
necessidade de uma reforma virtuosa, regeneradora
e capaz de oferecer um modelo eficaz e adequado ao
funcionamento do Estado, constantemente adiada até
pelo Governo actual.
Se levássemos a sério as palavras de Seguro, o PS
devia assumir a dianteira do processo. Afinal, "quem
criou o problema que o resolva". O PS é hoje uma
O
Tiago Loureiro
editorial 3
A resposta que o PS tem
na ponta da língua para os
sérios problemas do país,
para além de um discurso
vago e demagógico, é uma
constante tendência para a
sacudir a responsabilidade
para os outros.
esses seis anos existiram, vai negando que teve,
algum dia, alguma coisa a ver com eles e com o seu
resultado.
Uma das piores consequências desse estado de
negação é uma postura de grave irresponsabilidade.
A resposta que o PS tem na ponta da língua para os
sérios problemas do país, para além de um discurso
vago e demagógico, é uma constante tendência para a
sacudir a responsabilidade para os outros. Seja a
responsabilidade nas causas do actual estado de
coisas, seja a responsabilidade de criar soluções para
A resposta que o PS tem na ponta da língua para os
sérios problemas do país, para além de um discurso
vago e demagógico, é uma constante tendência
para a sacudir a responsabilidade para os outros.
Seja a responsabilidade nas causas do actual estado
de coisas, seja a responsabilidade de criar soluções
para a resolução das suas consequências.
É por isso que ver o PS envolvido num processo de
reforma do Estado que implicará coragem,
responsabilidade e, previsivelmente, um encontro
doloroso com a impopularidade, é pouco mais do
que um exercício de imaginação. E isso não deixa
de ser irónico, uma vez que foi o PS que, através do
falhanço das suas opções, condenou o País à
inevitável necessidade de uma reforma virtuosa,
regeneradora e capaz de oferecer um modelo eficaz
e adequado ao funcionamento do Estado,
constantemente adiada até pelo Governo actual.
Se levássemos a sério as palavras de Seguro, o PS
devia assumir a dianteira do processo. Afinal,
"quem criou o problema que o resolva". O PS é hoje
uma perigosa mão cheia de nada, de onde apenas
emerge, cada vez com mais pressa, o dedo que
ameaça apertar o gatilho para ajudar à morte do
País.
Por isso, a pergunta que António José Seguro fazia
aos seus camaradas que o queriam ver pelas costas
é a pergunta ideal para lhe fazer quando clama que
quer ver o governo pelas costas: afinal, qual é a
pressa? À esquerda do Governo, onde o sentido de
estado impunha a presença de um partido com
soluções, mora um partido vazio. Um verdadeiro
zero à esquerda.
Um dos pontos da ordem de
trabalhos do último Conselho
Nacional da Juventude Popular
que reuniu em Vila Nova de
Famalicão foi a entrega dos
prémios Amaro da Costa, Krus
Abecassis e Ricardo Medeiros.
A concelhia de Braga da Juventude
Popular venceu o Prémio Amaro
da Costa que distingue a melhor
concelhia do ano de 2012.
Francisco Mota, presidente da
concelhia bracarense, enalteceu o
trabalho da sua equipa desde
2009, que culminou com esta
distinção.
O prémio Krus Abecassis, para a
melhor Distrital, foi arrecadado
pela Distrital de Lisboa. Artur
Alvez, em representação da
estrutura, realçou o facto de o
prémio ter sito ganho pelo
terceiro ano consecutivo pela
Distrital lisboeta.
Já Vera Rodrigues, Presidente da
Mesa do Conselho Nacional da JP,
foi galardoada com o Prémio
Ricardo Medeiros para o militante
do ano, e foi num tom emocionado
que proferiu um discurso que
mereceu uma ovação de pé de
todo o auditório do Conselho
Nacional.
se novamente, não só contornam o
nosso entendimento sobre o
verdadeiro espírito da lei, como
constituem um defraudar das
expectativas que esta criou na
sociedade portuguesa, sob o ponto
de vista da renovação de dirigentes
locais, que a lei efetivamente
pretendia fazer suscitar e justificou a
iniciativa legislativa em si mesma".
Para a JP, a "situação é agravada, pela
nova questão de a lei ter um 'de' ou
um 'da'", considerando que, "por
significativo que isto eventualmente
possa querer parecer a nível legal,
não é de todo aceitável que se venha,
nesta fase (para tentar resolver
artificialmente o assunto), descobrir
um 'suposto erro' na publicação da
lei". Os jovens do CDS assinalam
ainda que o erro seria "muito
conveniente e cirúrgico" e "facilitaria
hipoteticamente a resolução do
'problema'".
O Conselho Nacional da JP, reunido
em Vila Nova de Famalicão, definiu
ainda um grupo de trabalho para
levar a cabo uma proposta de revisão
consctitucional.
A Juventude Popular aprovou no
final do passado mês de Fevereiro,
em Conselho Nacional, uma moção
de repúdio à "discussão artificial"
sobre a interpretação da lei de
limitação de mandatos, defen-
dendo que as candidaturas de
autarcas que já atingiram esse
limite descredibilizam os políticos
e a política.
"Repudiamos a discussão artificial
que tem sido feita sobre a
interpretação desta lei, criando
incerteza e dúvida sobre a realidade
do poder local, que é justamente
aquele que, pela sua própria natu-
reza, maior proximidade deverá ter
junto das populações", lê-se na
moção aprovada com seis votos
contra e 15 abstenções.
Os conselheiros nacionais da Juven-
tude Popular exprimem, assim, "o
seu profundo descontentamento,
perante a polémica que tem vindo a
ser suscitada, ao nível de cândi-
daturas autárquicas no país" e
afirmam que "as candidaturas de
autarcas que já cumpriram os três
mandatos consecutivos, mudando de
concelho para poderem candidatar-
se novamente, não só contornam o
nosso entendimento sobre o
verdadeiro espírito da lei, como
constituem um defraudar das
expectativas que esta criou na
sociedade portuguesa, sob o ponto
4 notícias
Conselho Nacional da JP pronuncia-se sobre lei de limitação de mandatos
JP Braga e Distrital de Lisboa distinguidos
altura de credibilizar a polític: “são
os políticos que fazem as leis, não
devemos procurar contornar essas
mesmas leis”, afirmou.
Dirigentes do CDS como o antigo
coordenador autárquico Hélder
Amaral e o vice-presidente Nuno
Melo pronunciaram-se contra a
interpretação da lei segundo qual
atingido o limite de mandatos num
determinado concelho os autarcas
podem candidatar-se a outro
concelho. Nuno Melo chegou a
advertir para o risco de essas
candidaturas serem inviabilizadas
pelos tribunais.
posição clara e transparente” sobre
a matéria.
Questionado sobre se o apoio a
Seara em Lisboa abre um
precedente, Miguel Pires da Silva
respondeu: “Não sei qual é a
estratégia do coordenador autár-
quico e do presidente do partido,
mas espero que não aconteça em
mais lado nenhum”.
“A lei foi feita para dar oportu-
nidade a pessoas novas que queiram
servir os seus concelhos. Portugal,
apesar de inúmeras crises, não tem
uma crise de talentos”, argumentou.
Para o líder dos jovens do CDS é
altura de credibilizar a polític: “são
os políticos que fazem as leis, não
devemos procurar contornar essas
mesmas leis”, afirmou.
Dirigentes do CDS como o antigo
coordenador autárquico Hélder
Amaral e o vice-presidente Nuno
Melo pronunciaram-se contra a
interpretação da lei segundo qual
atingido o limite de mandatos num
determinado concelho os autarcas
podem candidatar-se a outro
concelho. Nuno Melo chegou a
advertir para o risco de essas
candidaturas serem inviabilizadas
pelos tribunais.
Miguel Pires da Silva contesta candidaturas de autarcas que atingiram o limite de mandatos
O presidente da Juventude Popu-
lar e autarca em Ponte de Lima,
Miguel Pires da Silva, contestou
no final do passado mês de
Janeiro que o CDS apoie cândida-
turas de autarcas que atingiram o
limite de mandatos, defendendo
que é uma “chico-espertice”.
“Não devemos arranjar esquemas
para contornar a lei. A lei não foi
feita com esse sentido e se foi mal
feita não devemos usar isso”,
afirmou Miguel Pires da Silva. O
líder da Juventude Popular, que é
vereador em Ponte de Lima desde
2009, escreveu na rede social
Facebook depois de ser conhecido
que o CDS-PP vai apoiar a
candidatura de Fernando Seara a
Lisboa, que não alinha em “chico-
espertices”. “Eu não alinho em
chico-espertices, como tal não
apoiarei nenhum candidato a presi-
presidência de câmara que tenha já
atingido o limite de mandatos numa
outra autarquia. Espero que o povo
saiba condenar nas urnas esses
ditos chicos-espertos”, escreveu
então na rede social.
Miguel Pires da Silva afirmou ainda,
em comunicação aos orgãos de
comunicação social, que o tema
seria objecto de um Conselho
Nacional da Juventude Popular,
convocado com o objetivo de os
jovens da organização terem “uma
posição clara e transparente” sobre
a matéria.
Questionado sobre se o apoio a
Seara em Lisboa abre um
precedente, Miguel Pires da Silva
respondeu: “Não sei qual é a
notícias 5
O que mudou com o 25 de Abril?
Este foi o mote de discussão
introduzido pela Juventude Popu-
lar de Lisboa (JP Lisboa), no
passado dia 29 de Abril, numa
das faculdades mais prestigiadas
de Portugal, a Faculdade de Di-
reito da Universidade de Lisboa.
Através das doutas experiencias
históricas pré e pós 25 de Abril dos
Excelentíssimos Senhores Profes-
sores Marcelo Rebelo de Sousa e
Pedro Pais de Vasconcelos, o
recheado auditório pode conhecer
outras realidades paralelas e infor-
mais deste marco histórico.
Mas o objectivo capital deste evento
não passava, apenas, pela discussão
da data per si e das correlativas
experiencias, mas sim, também, pelo
impacto da mesma nos dias de hoje.
Foi neste sentido que a JP Lisboa
ouviu com deleite as palavras do
Secretário de Estado do Turismo,
Excelentíssimo Senhor Dr. Adolfo
Mesquita Nunes, que tratou com
optimismo as prepectivas de futuro.
A História só é História se ficar na
memória de quem a viveu e se se
não devemos esquecer que a rigidez, a
severidade, austeridade, muitas vezes,
são condições necessárias para repor
o país e a situação conjuntural
económico-financeira.
Recordámos respeitosamente,
também, os ensinamentos severos,
patrióticos, rígidos, mas não menos
humanos de Margaret Thatcher, os
quais foram recordados em jeito de
esperança para Portugal, na última
conferência organizada pela JP Lisboa,
no passado dia 6 de Maio, em
memória da Baronesa que marcou o
pensamento liberal e conservador
que perfilhamos.
Já dizia George R.R. Martin, a História
é uma roda que se repete. Esperemos
que os jovens de hoje façam renascer
a liberdade com regras, na tentativa
de fazer o melhor em detrimento do
bom ou mau.
Cátia Muchacho, JP Lisboa
Secretário de Estado do Turismo,
Excelentíssimo Senhor Dr. Adolfo
Mesquita Nunes, que tratou com
optimismo as prepectivas de futuro.
A História só é História se ficar na
memória de quem a viveu e se se
perpetuar nas gerações vindouras.
Nesse sentido, a JP Lisboa pauta-se
pela formação educada, infor-
mada e baseada em interpretações
correctas da História, para assim
conseguir imperar a meritocracia na
política portuguesa. Política perante a
qual a JP Lisboa não assume uma
posição de pessimismo, de des-
confiança e de conformismo. Não
esqueçamos que foi o 25 de Abril que
providenciou a pluralidade democrá-
tica que hoje assistimos.
Aludindo à mensagem optimista
passada pelo painel desta confe-
rencia para os mais de cem jovens
presentes naquele Auditório:
devemos esquecer que a rigidez, a
severidade, austeridade, muitas
vezes, são condições necessárias para
repor o país e a situação conjuntural
económico-financeira.
Recordámos respeitosamente,
JP Lisboa debate ‘O que mudou com o 25 de Abril?’
6 notícias
Durante a manhã do passado dia
4 de Maio decorreu em Tomar a
Assembleia Distrital de Santarém
da Juventude Popular. O evento,
que teve lugar no auditório da Junta
de Freguesia de S. João Baptista, foi
organizado pela JP Tomar, repre-
sentando um marco importante no
crescimento da estrutura distrital
na região de Santarém, tendo sido
convocado o I Congresso Distrital de
Santarém da Juventude Popular,
assim como foi aprovado por
unanimidade o Regulamento para o
I Congresso Distrital.
A Juventude Popular continua desta
forma em clara expansão na região
de Santarém, sendo cada vez mais
os jovens que fazem parte das
diferentes estruturas concelhias,
sempre interessados em defender
os interesses das suas
localidades. O surgimento da
estrutura distrital visa agilizar os
contactos entre as diferentes
concelhias e a nacional, tornando
os processos mais rápidos e
eficazes, contribuindo para um
trabalho mais profícuo em prol
da comunidade. João Ribeiro -
Vogal JP Tomar
No decorrer das últimas semanas,
foi lançado o site da Distrital de
Setúbal da Juventude Popular, com
vista a manter os militantes
informados sobre a realidade da
Juventude Popular e do CDS no
Distrito. Contando regularmente
com artigos escritos tanto pelos
militantes do Distrito bem como
contribuições de outros militantes
da Juventude Popular e do CDS, é
um objectivo desta actual Distrital
de Setúbal manter todos os
interessados a par da realidade
política distrital e nacional, nunca
esquecendo porém, a necessidade
da reflexão ideológica e política.
É apresentado no site o primeiro
volume do Caderno de Apoio ao
Jovem Candidato Autárquico
destinado a preparar a Juventude
Popular para as Eleições
Autárquicas que se avizinham e que
conta com a contribuição de
algumas figuras bem conhecidas.
A Distrital de Setúbal da Juventude
Popular convida todas os inte-
ressados a a visitarem o site em
jpdistritalsetubal.wix.com/site
Hélder Rodrigues, JP Distrital Setúbal
A Juventude Popular continua desta
forma em clara expansão na região
de Santarém, sendo cada vez mais
os jovens que fazem parte das
diferentes estruturas concelhias,
sempre interessados em defender
os interesses das suas localidades. O
surgimento da estrutura distrital
visa agilizar os contactos entre as
diferentes concelhias e a nacional,
tornando os processos mais rápidos
e eficazes, contribuindo para um
trabalho mais profícuo em prol da
comunidade.
João Ribeiro, JP Tomar
Tomar recebe Assembleia Distrital de Santarém
notícias 7
Distrital de Setúbal lança novo site e a primeira parte do seu Manual Autárquico
8 notícias
A Juventude Popular de Braga
realizou no passado dia 8 de
Março a tertúlia “A Mulher na
Sociedade”, como forma de
celebrar o Dia Internacional da
Mulher, e contou com sala cheia
na sede do CDS local.
As oradoras convidadas para esta
tertúlia foram Paula Remoaldo,
professora associada do
Departamento de Geografia da
Universidade do Minho, Ana Maria
Brandão, professora auxiliar do
Departamento de Sociologia da
Universidade do Minho e Vera
Rodrigues, adjunta do Secretário de
Estado do Turismo e Presidente da
Mesa do Conselho Nacional da JP.
A tertúlia debruçou-se em reflexões
sobre as conquistas das mulheres
em várias áreas, bem como o
especial contributo das mesmas,
com especial incidência nas áreas
da saúde e na política.
estrutura concelhia, através do seu
Departamento de Implantação, levou
a cabo, no Externato Ribadouro, as
sessões de "E TU, já sabes como vai
ser o TEU futuro no Ensino
Supeiror?", projecto tem como
objectivo aproximar os alunos do
ensino secundário do concelho do
Porto à estrutura da Juventude
Popular local, proporcionando um
evento onde alunos do ensino
superior partilham os desafios e as
oportunidades dos seus respectivos
cursos.
Numa primeira fase os alunos
ouviram uma breve apresentação de
cada curso e no final tiveram uma
conversa informal com o aluno que
representava o curso que lhe des-
pertava mais interesse.
A concelhia do Porto da Juventude
Popular trabalha a todo o vapor
nas tarefas de formação dos seus
militantes e de implantação da
estrutura no concelho. Por isso,
realizou já duas sessões da
sua "Formação de 1ª". A primeira
foi dedicada ao Marketing Político,
com a presença do Dr.º Custódio
Oliveira, consultor de comunicação,
investigador de marketing político
e docente universitário; a segunda
debruçou-se sobre a oratória e a arte
de falar em público, contando com a
colaboração da Dr.ª Maria Luísa
Malato, docente na Universidade
do Porto.
Já no que diz respeito à política de
próximidade com os jovens
portuenses, nos dias 6 e 9 de Maio, a
estrutura concelhia, através do seu
Departamento de Implantação, levou
a cabo, no Externato Ribadouro, as
sessões de "E TU, já sabes como vai
ser o TEU futuro no Ensino
Supeiror?", projecto tem como
JP Porto aposta nas políticas de formação e implantação
JP Braga realiza tertúlia sobre “A Mulher na Sociedade”
notícias 9
Distrital de Leiria apresenta Cadernos Formativos nas Caldas da Rainha
com a imprensa, e são identificados
alguns lapsos comuns que podem e
devem ser evitados.
Fica mais uma vez presente a forte
convicção e aposta da Distrital de
Leiria na formação dos jovens que,
segundo Diogo Carvalho, “podem
ficar ainda mais esclarecidos sobre
aquilo em que acreditam, sobre o
que é comum a todos os presentes e
sobre os caminhos que têm para se
fazerem ouvir”. Durante a sua
intervenção, José Lello salientou que
"foi muito bom entrar e ver uma
sala cheia de jovens, é um sinal de
crescimento, de trabalho, e
sobretudo de interesse por parte
dos jovens naquilo que importa na
vida de todos". Rodrigo Cipriano, JP Distrital Leiria
Realizou-se no passado dia 27 de
Abril, nas Caldas da Rainha, a
apresentação dos cadernos for-
mativos da Distrital de Leiria da
Juventude Popular. A iniciativa
contou com a presença do
secretário-geral da JP, José Miguel
Lello, o presidente da Distrital da JP,
Diogo Carvalho, e várias dezenas de
jovens do distrito de Leiria. Foram
apresentados o Caderno do Militante
e o Caderno Super Militante, através
dos quais se pretende contribuir
para uma juventude esclarecida e
consciente, que defenda valores e
convicções de uma forma segura. O
Caderno do Militante, apoiando-se
naquilo que são o passado e as
origens da JP, apresenta sucin-
tamente os princípios e pilares
ideológicos que sustentam a
convicção política da Juventude
Popular e sobre os quais a sua acção
deve ser fundada. Neste caderno
faz-se ainda um panorama da
expansão da Juventude, num
contexto do distrital, com o qual se
percebe o crescimento sustentado
que tem vindo a acontecer nas
várias regiões desse mesmo distrito.
No caderno Super Militante são
identificados e explicados os
trâmites legais para a criação de
uma concelhia (bem como os seus
órgãos constituintes), sugerindo aos
jovens uma posição pro-activa e de
iniciativa, que lhes permita intervir
na vida do seu concelho. Ainda neste
caderno são dadas sugestões e
indicações sobre como comunicar
com as pessoas e com a imprensa, e
são identificados alguns lapsos
comuns que podem e devem ser
ideológicos que sustentam a com-
vicção política da Juventude Popular
e sobre os quais a sua acção deve
ser fundada. Neste caderno faz-se
ainda um panorama da expansão da
Juventude, num contexto do distri-
tal, com o qual se percebe o
crescimento sustentado que tem
vindo a acontecer nas várias regiões
desse mesmo distrito. No caderno
Super Militante são identificados e
explicados os trâmites legais para a
criação de uma concelhia (bem
como os seus órgãos constituintes),
sugerindo aos jovens uma posição
pro-activa e de iniciativa, que lhes
permita intervir na vida do seu
concelho. Ainda neste caderno são
dadas sugestões e indicações sobre
como comunicar com as pessoas e
com a imprensa, e são identificados
alguns lapsos comuns que podem e
devem ser evitados.
Fica mais uma vez presente a forte
convicção e aposta da Distrital de
Leiria na formação dos jovens que,
segundo Diogo Carvalho, “podem
ficar ainda mais esclarecidos sobre
aquilo em que acreditam, sobre o
que é comum a todos os presentes e
sobre os caminhos que têm para se
fazerem ouvir”. Durante a sua
intervenção, José Lello salientou que
"foi muito bom entrar e ver uma
sala cheia de jovens, é um sinal de
crescimento, de trabalho, e
sobretudo de interesse por parte
dos jovens naquilo que importa na
vida de todos".
Palavra de Presidente
10 opinião
Mergulhamos numa era do politicamente
correcto, esquecendo muitas vezes o
moralmente correcto. Assistimos no Parlamento,
salvo honrosas excepções, a debates dignos de
autenticas encenações teatrais onde todos
querem brilhar, todos querem dar a conhecer o
seu vasto vocabulário, esquecendo-se muitas
vezes que o povo quer ouvir propostas, quer
soluções e acima de tudo espera mais
proximidade entre os políticos e a
sociedade civil.
Não é fácil estar hoje na política, os erros do
passado dificultam a nossa acção, mas uma coisa
é certa a democracia sem políticos não funciona.
Neste sentido, é nossa obrigação de fazer
diferente, dar o exemplo e recuperar a
credibilidade política perante o Povo Português.
Estamos preparados, estamos convictos e vamos
lutar por um Portugal melhor.
Miguel Pires da Silva
omo é do conhecimento geral vivemos
hoje uma das piores crises de sempre,
fruto de inúmeras irresponsabilidades,
de politicas desajustadas, de políticos fracos e
cuja seriedade deixa muito a desejar. Nos
últimos anos a corrupção e a política apareceram
várias vezes de braço dado. É uma vergonha e é
inaceitável que alguém que está na politica
supostamente com o intuito de servir a
população se preste a tal papel, mas na minha
opinião é tão culpado o político como o cidadão
que se dispõem a corromper, o que me leva a
crer que este é um problema de base. Um
problema para nós, uma banalidade para outros.
Cabe-nos a nós a difícil tarefa de inverter esta
situação, e de uma vez por todas encarar a
politica como um verdadeiro serviço!
É triste mas passados tantos anos após o golpe
de estado de 25 de Abril, as maiores prioridades
continuam a ser as aparências e o ‘show off’.
Mergulhamos numa era do politicamente
correcto, esquecendo muitas vezes o
moralmente correcto. Assistimos no Parlamento,
salvo honrosas excepções, a debates dignos de
autenticas encenações teatrais onde todos
querem brilhar, todos querem dar a conhecer o
seu vasto vocabulário, esquecendo-se muitas
vezes que o povo quer ouvir propostas, quer
soluções e acima de tudo espera mais
C
Rafael Borges
tália
Poucos foram os indivíduos
que, ao longo da história dos
homens, foram capazes de
assenhorear-se de nações
inteiras. Silvio Berlusconi, ex-
primeiro-ministro italiano e
magnata dos mídia, porém, foi
um deles. E não há muito que
possa sugerir à Itália e à Europa
que o seu reinado tenha já
chegado ao fim.
Não é difícil compreender os
motivos pelos quais a república
transalpina se habituou a viver à
sombra de Berlusconi. Chefe de
governo entre 1994 e 1995,
2001 e 2006 e 2008 e 2011, 'Il
Cavaliere' tornou-se no âmago da
própria política italiana, no centro
gravitacional à volta do qual tudo
o resto gira. Durante os seus
sucessivos consulados, porém, o
2001 e 2006 e 2008 e 2011, 'Il
Cavaliere' tornou-se no âmago da
própria política italiana, no centro
gravitacional à volta do qual tudo o
resto gira. Durante os seus
sucessivos consulados, porém, o
país que dirigiu viveu anos de uma
mediocridade económica que
deveria ter sido suficiente para
descredibilizar tanto o homem,
como a agenda que propugnava.
As eleições italianas do passado mês
de Fevereiro foram, para os
italianos, uma oportunidade de
expressar esse exacto sentimento de
exasperação. Com Silvio Berlusconi
mais desgastado que nunca e 'Il
Cavaliere' humilhado pelo golpe
palaciano que viu, em 2011, a União
Europeia afastá-lo do poder, o
centro-esquerda tinha tudo para
atingir um bom resultado eleitoral.
Porém, se é verdade que um
desemprego recorde, uma dívida
galopante e um crescimento
anémico tornavam provável o
esmagamento eleitoral do centro-
direita, a verdade é que, como
sempre, Berlusconi foi capaz de
reinventar-se. Liberto do ónus de
três mandatos desastrosos, o líder
do Povo da Liberdade apresentou-
esmagamento eleitoral do centro-
direita, a verdade é que, como
sempre, Berlusconi foi capaz de
reinventar-se. Liberto do ónus de
três mandatos desastrosos, o líder
do Povo da Liberdade apresentou-
se como um homem novo, impoluto,
sem responsabilidade no caos
económico e financeiro em que
mergulhou o país. Pior: os italianos
deixaram-se ludibriar pela mudança
de imagem e discurso.
Já do lado do Partido Democrático,
principal formação de centro-
esquerda do país, parece evidente
que a oportunidade aberta pelas
eleições de Fevereiro foi
absurdamente mal aproveitada. Se
em Janeiro de 2013 as sondagens se
atreviam a conjecturar um resul-
tado próximo dos 45% para os
social-democratas, a verdade é que
Bersani, líder do PD, não logrou
persuadir mais que 29.5% dos
italianos. Esbanjando uma van-
tagem que chegou a ser de quase
20%, Pierluigi Bersani deitou por
terra qualquer esperança de
estabilidade política para o seu país.
O mau resultado do Partido
Democrático, assim como o relativo
sucesso – Berlusconi perdeu, apesar
Indefinições, tensões e novos rumos
12 internacional
I
20%, Pierluigi Bersani deitou por
terra qualquer esperança de
estabilidade política para o seu país.
O mau resultado do Partido
Democrático, assim como o relativo
sucesso – Berlusconi perdeu, apesar
de tudo, perto de 17% do eleitorado
– de 'Il Cavaliere' não foram,
todavia, as grandes surpresas do
sufrágio transalpino. Ainda mais
inesperada foi a ascensão meteórica
do Movimento 5 Estrelas, um
partido de protesto formado em
2009. Fundada pelo célebre
comediante Beppe Grillo, a nova
plataforma partidária manifestou,
até agora, apenas um objectivo
primordial: o desmantelamento do
sistema político vigente em Itália, a
destruição daquilo que refere serem
os “partidos do sistema” – i.e., o PD e
o PDL – e o abandono da moeda
única. Fora isso, não houve, nos
inflamados discursos de Grillo, uma
palavra sobre segurança,
recuperação económica, posicio-
namento europeu ou política
externa. Aí, como em quase tudo, o
Movimento 5 Estrelas é omisso. A
verdade, porém, é que os italianos
não o penalizaram por isso.
Beppe Grillo, um actor de 64 anos, é
conhecido, sobretudo, pela sua
retórica mordaz. Orador experiente
e político astuto, afirmou-se como
um 'Berlusconi anti-Berlusconi', um
homem disposto a utilizar a política
espectáculo de 'Il Cavaliere' contra o
próprio. Surpreendente e, por vezes,
chocante, Grillo não hesitou em
afirmar que veria com bons olhos
um “ataque da Al Qaeda” desde que
isso auxiliasse a “extinguir os
políticos do sistema.” Aparen-
temente, os italianos gostaram do
que ouviram: com um dos mais
baixos níveis de confiança popular
na classe política, a Itália parecia
destinada a recolher-se no leito da
demagogia radical do M5S.
O rescaldo das legislativas italianas,
assim, não poderia ter sido mais
eleições, o país viu-se desprovido do
único activo que ainda detinha: uma
relativa estabilidade política.
Pierluigi Bersani ficou-se pelos
29.5% dos votos, Silvio Berlusconi
recebeu 29.1% e Beppe Grillo, o
novo político-sensação de Itália,
atingiu a surpreendente marca dos
25.5%. Se as sondagens eram
unânimes no 15-16% que davam a
Grillo, o comediante foi capaz de
dilatar enormemente essa pro-
jecção. Já Mario Monti, incumbente
e candidato do statu quo, ficou-se
por uns vexatórios 10.5%.
As eleições de Fevereiro foram as
primeiras, desde o colapso do
regime fascista, a deixar o país sem
um vencedor claro. Para além de
uma população profundamente
dividida, o presidente italiano
Georgio Napolitano teve de
baixos níveis de confiança popular
na classe política, a Itália parecia
destinada a recolher-se no leito da
demagogia radical do M5S.
O rescaldo das legislativas italianas,
assim, não poderia ter sido mais
inesperado. Entre as sondagens de
Janeiro que garantiam aos social-
democratas uma maioria absoluta
em ambas as câmaras do parla-
mento italianos e o final de
Fevereiro, Bersani perdeu cerca de
15% dos sufrágios. Berlusconi e
Grillo, por outro lado, viram as suas
intenções de voto subir paulati-
namente. Quando chegou o dia das
eleições, o país viu-se desprovido do
único activo que ainda detinha: uma
relativa estabilidade política.
Pierluigi Bersani ficou-se pelos
29.5% dos votos, Silvio Berlusconi
recebeu 29.1% e Beppe Grillo, o
14 internacional
Atirados para um limbo, votados a um contexto de incerteza e indefinição políticas, os italianos têm agora bons motivos para temer pelo seu futuro. E a União Europeia também. Com a chave do equilíbrio político agora nas mãos de Berlusconi, tudo parece ser possível. E, considerando o historial de desonestidade estratégica do ex-primeiro-ministro, há bons motivos para conjecturar um fim prematuro para o actual governo.
Venezuela
Igualmente conturbado foi o acto
eleitoral venezuelano. Ainda na
ressaca da morte de Hugo Rafael
Chávez Frias, o decano dos dita-
dores da América do Sul, a
República Bolivariana não poderia
ter evitado um certo sentimento de
orfandade. Para o bem, e para o mal.
Para os seus defensores, o
desaparecimento de Chávez relem-
brou-os de que, afinal, o regime que
edificou não é algo inamovível,
imune ao tempo. Lamentam o fim
do homem que fez a Venezuela
caminhar pela estrada do socia-
lismo, nacionalizou boa parte da
economia e posicionou a nação sul-
americana ao lado de párias
internacionais como a República
Islâmica do Irão, a República Árabe
da Síria, o Sudão ou a Coreia do
Norte. Para os seus detractores, a
morte de Chávez representou o fim
da era a que emprestou o nome – e
devolveu ao povo a oportunidade de
reconsiderar o caminho por que
optou.
Chávez Frias não foi um caudillo sul-
americano qualquer. Oficial do
exército, tentou chegar ao poder
pela primeira vez em 1992, ano em
que liderou um golpe de estado
contra o então presidente, Carlos
Andrés Pérez. Andréz Pérez, um
centrista, havia sido eleito com a
promessa de cortar laços com o
Fundo Monetário Internacional – a
Venezuela beneficiava, na altura, de
um resgate financeiro – e com os
Estados Unidos. Na verdade, porém,
fez o contrário daquilo com que se
tinha comprometido. Renegando a
intenção de abandonar a
austeridade promovida pelo FMI,
Pérez aprofundou-a; ignorando o
desígnio de afastar-se de
Washington, o presidente reforçou
as relações com os Estados Unidos.
Chocado com o 'U-turn'
presidencial, Chávez sentiu-se
primeiras, desde o colapso do
regime fascista, a deixar o país sem
um vencedor claro. Para além de
uma população profundamente divi-
dida, o presidente italiano Georgio
Napolitano teve de enfrentar um
parlamento igualmente incoeso. Se
na Câmara dos Deputados, câmara
baixa do Parlamento, Bersani logrou
atingir uma maioria absoluta, o
mesmo não sucedeu no Senado da
República. Para resolver um
diferendo que se manteve durante
mais de um mês, Napolitano foi
obrigado a recandidatar-se ao cargo
de Presidente da República – para o
qual foi rapidamente eleito –, e
forçar um compromisso entre as
partes discordantes. Face à recusa
do centro-direita em coligar-se com
um PD liderado por Bersani, o ex-
comunista concordou em retirar-se
de cena. Daí até à formalização de
uma coligação PD-PDL liderada por
Enrico Letta, ex-presidente da
Juventude do Partido Popular
Europeu e sobrinho de Gianni Letta,
homem próximo de Berlusconi, foi
uma questão de dias. A Itália tem já
governo. Resta apenas saber quanto
tempo durará.
Atirados para um limbo, votados a
um contexto de incerteza e
indefinição políticas, os italianos
têm agora bons motivos para temer
pelo seu futuro. E a União Europeia
também. Com a chave do equilíbrio
político agora nas mãos de
Berlusconi, tudo parece ser possível.
E, considerando o historial de
desonestidade estratégica do ex-
primeiro-ministro, há bons motivos
para conjecturar um fim prematuro
para o actual governo. Materialize-
se isso, e a permanência da Itália na
zona euro pode ter os dias contados.
Norte. Para os seus detractores, a
morte de Chávez representou o fim
da era a que emprestou o nome – e
devolveu ao povo a oportunidade de
reconsiderar o caminho por que
optou.
Chávez Frias não foi um caudillo sul-
americano qualquer. Oficial do
exército, tentou chegar ao poder
pela primeira vez em 1992, ano em
que liderou um golpe de estado
contra o então presidente, Carlos
Andrés Pérez. Andréz Pérez, um
centrista, havia sido eleito com a
promessa de cortar laços com o
Fundo Monetário Internacional – a
Venezuela beneficiava, na altura, de
um resgate financeiro – e com os
Estados Unidos. Na verdade, porém,
fez o contrário daquilo com que se
tinha comprometido. Renegando a
intenção de abandonar a auste-
ridade promovida pelo FMI, Pérez
aprofundou-a; ignorando o desígnio
de afastar-se de Washington, o
presidente reforçou as relações com
os Estados Unidos. Chocado com o
'U-turn' presidencial, Chávez sentiu-
se impelido a removê-lo da chefia da
nação. E, embora não tenha
conseguido fazê-lo, Hugo Chávez
afirmou-se, pelo menos, como
principal opositor do consenso pró-
austeridade então existente no país.
Após uma sentença de prisão de
dois anos, o oficial do exército
lançou-se numa segunda tentativa
para alcançar o poder. Fundou um
partido de cariz comunista, o
Movimento Quinta República, e
concorreu a eleições. Venceu.
Cansados de anos de corrupção,
violência e austeridade, os
venezuelanos dispuseram-se a
confiar no homem que, há apenas
alguns anos, havia tentado
subverter o estado de direito
democrático. Depois, já presidente,
Hugo Rafael Chávez Frias iniciou um
amplo programa de reformas. As
principais empresas – bancos,
indústria petrolífera e seguros –
internacional 15
Mahmoud Ahmadinejad, de Bashar
al Assad a Fidel e Raúl Castro,
poucos foram os tiranos com quem
não privou.
A principal dificuldade do regime foi
a economia. Sem dinheiro para
pagar os inúmeros serviços sociais
que facultou aos venezuelanos mais
pobres, o regime chavista foi for-
çado a desvalorizar o Bolívar várias
vezes. Em 2007, a moeda
venezuelana encontrava-se já tão
desvalorizada que Caracas se viu
obrigada a trocá-la por outra: o
Bolívar Fuerte. Carcomido por uma
inflação galopante – que atingiu, em
2012, o valor astronómico de 31.6%
-, o país foi ultrapassado economi-
camente pela maioria dos seus
pares sul-americanos.
À data das eleições de 14 de Abril,
era esta a situação enfrentada pela
República Bolivariana. Como
dauphin de Chávez, avançou Nicolás
Maduro. Motorista de profissão,
Maduro iniciou a sua vida política
como sindicalista. Depois disso, teve
um papel preponderante na
organização e fundação do partido
de Chávez, o Movimento Quinta
República. Com a vitória, em 1998,
do seu mentor político, o ex-
motorista tornou-se deputado à
Assembleia Nacional venezuelana –
isto é, o parlamento do país.
Tido como mais colérico que
Chávez, Maduro cedo trouxe
nervosismo à diplomacia norte-
americana. Principalmente, quando
se tornou óbvio que seria ele, e não
o presidente da Assembleia
Nacional, Diosdado Cabello Rondón,
o candidato do PSUV, ou Partido
Socialista Unido da Venezuela. Em
Washington, temia-se que a
assunção, por Maduro, da liderança
do país levasse a um
posicionamento internacional ainda
mais extremista - assim como o
aprofundamento de relações com
países como o Irão, a Síria, a Coreia
do Norte ou o Sudão. Mas Maduro,
aprofundou-a; ignorando o desígnio
de afastar-se de Washington, o
presidente reforçou as relações com
os Estados Unidos. Chocado com o
'U-turn' presidencial, Chávez sentiu-
se impelido a removê-lo da chefia da
nação. E, embora não tenha
conseguido fazê-lo, Hugo Chávez
afirmou-se, pelo menos, como
principal opositor do consenso pró-
austeridade então existente no país.
Após uma sentença de prisão de
dois anos, o oficial do exército
lançou-se numa segunda tentativa
para alcançar o poder. Fundou um
partido de cariz comunista, o
Movimento Quinta República, e
concorreu a eleições. Venceu.
Cansados de anos de corrupção,
violência e austeridade, os vene-
zuelanos dispuseram-se a confiar no
homem que, há apenas alguns anos,
havia tentado subverter o estado de
direito democrático. Depois, já
presidente, Hugo Rafael Chávez
Frias iniciou um amplo programa de
reformas. As principais empresas –
bancos, indústria petrolífera e
seguros – foram nacionalizados pelo
governo, os dissidentes silenciados,
o seu poder fortalecido. As prisões
sucederam-se, as acusações de
“golpismo” também. Em 2002, apro-
veitou uma tentativa de golpe de
estado para enviar adversários
políticos para a prisão. Um deles,
Henrique Capriles Radonski, tornar-
se-ia depois no Governador do
Estado de Miranda e candidato da
oposição no último sufrágio que
disputou. Na frente externa, Chávez
aproximou-se de párias inter-
nacionais, desenvolveu amizades
com ditadores e aprofundou laços
com regimes totalitários. De Kim
Jong Il – e, depois, Kim Jong Un - a
Mahmoud Ahmadinejad, de Bashar
al Assad a Fidel e Raúl Castro,
poucos foram os tiranos com quem
não privou.
A principal dificuldade do regime foi
a economia. Sem dinheiro para
como sindicalista. Depois disso, teve
um papel preponderante na orga-
nização e fundação do partido de
Chávez, o Movimento Quinta
República. Com a vitória, em 1998,
do seu mentor político, o ex-
motorista tornou-se deputado à
Assembleia Nacional venezuelana –
isto é, o parlamento do país.
Tido como mais colérico que
Chávez, Maduro cedo trouxe nervo-
sismo à diplomacia norte-
americana. Principalmente, quando
se tornou óbvio que seria ele, e não
o presidente da Assembleia
Nacional, Diosdado Cabello Rondón,
o candidato do PSUV, ou Partido
Socialista Unido da Venezuela. Em
Washington, temia-se que a assun-
ção, por Maduro, da liderança do
país levasse a um posicionamento
internacional ainda mais extremista
- assim como o aprofundamento de
relações com países como o Irão, a
Síria, a Coreia do Norte ou o Sudão.
Mas Maduro, embora escolhido por
Chávez como seu sucessor, é
também menos carismático e
conhecido que o anterior
presidente. E terá sido isso,
juntamente com outros factores, a
ditar o mau resultado eleitoral que
alcançou.
Contra Maduro, a força do Estado, e
o peso da memória de Hugo Chávez,
avançou Henrique Capriles
Radonski. Capriles, Governador do
Estado de Miranda e opositor de
longa data do regime venezuelano,
havia já defrontado Chávez nas
eleições de Outubro de 2012. Jovem
(tem apenas 40 anos) e carismático,
o candidato da Mesa de Unidade
Democrática, ou MUD, arrancou a
Chávez o melhor resultado da
oposição em anos. Ainda assim, a
votação que alcançou não foi
suficiente para conquistar a
presidência. Após o
desaparecimento do chefe de estado
e consequente repetição do acto
eleitoral, no entanto, as esperanças
Contra Maduro, a força do Estado, e o peso da memória de Hugo Chávez, avançou Henrique Capriles, opositor de longa data do regime venezuelano. Jovem e carismático, arrancou o melhor resultado da oposição em anos.
16 internacional
Chávez como seu sucessor, é
também menos carismático e
conhecido que o anterior presi-
dente. E terá sido isso, juntamente
com outros factores, a ditar o mau
resultado eleitoral que alcançou.
Contra Maduro, a força do Estado, e
o peso da memória de Hugo Chávez,
avançou Henrique Capriles Radon-
ski. Capriles, Governador do Estado
de Miranda e opositor de longa data
do regime venezuelano, havia já
defrontado Chávez nas eleições de
Outubro de 2012. Jovem (tem
apenas 40 anos) e carismático, o
candidato da Mesa de Unidade
Democrática, ou MUD, arrancou a
Chávez o melhor resultado da
oposição em anos. Ainda assim, a
votação que alcançou não foi
suficiente para conquistar a
presidência. Após o desapa-
recimento do chefe de estado e
consequente repetição do acto
eleitoral, no entanto, as esperanças
de Capriles – e, por isso, da oposição
– ressurgiram. Agora sem o caudillo
que havia liderado o país durante
14 anos, supuseram, os dissidentes
estavam mais perto de reconquistar
a chefia do Estado.
O resultado eleitoral espelhou uma
nação dividida ao meio. De acordo
com a Comissão Eleitoral, Nicolás
Maduro venceu com 50% dos
sufrágios, ao passo que Henrique
Capriles arrecadou 49% deles. Mas
a proximidade entre as votações de
ambos os candidatos, assim como os
múltiplos relatos de fraude eleitoral,
impediram um desfecho pacífico das
eleições.
Nos dias seguintes ao anúncio dos
resultados, o país explodiu em
indignação. Quando Capriles lançou
dúvidas sobre a legitimidade do
processo eleitoral, milhares de
venezuelanos, defensores e
adversários do regime, saíram às
ruas. Daí até à eclosão de confrontos
e à morte de 7 civis, pouco demorou.
Suspeitando de uma fraude eleitoral
maioria do povo venezuelano? –
acham ser ilegítimo, o país está
destinado a ter uns próximos seis
anos particularmente difíceis. Na
melhor das hipóteses, Nicolás
Maduro terá um mandato profun-
damente conturbado, em que a
oposição generalizada ao seu
governo o forçará à progressiva
totalitarização do Estado. Na pior,
as desconfianças que rodeiam o
presidente poderão, a prazo, levar a
um golpe de estado por oficiais
extremistas do regime. Um outro
cenário, porventura menos previ-
sível, seria ainda a eclosão de uma
guerra civil entre apoiantes e
oponentes da República Bolivariana.
Qual destas hipóteses se materi-
alizará, é ainda incerto. Isto,
contudo, parece ser inquestionável:
o futuro pouco trará de bom à nação
sul-americana.
processo eleitoral, milhares de
venezuelanos, defensores e adver-
sários do regime, saíram às ruas. Daí
até à eclosão de confrontos e à
morte de 7 civis, pouco demorou.
Suspeitando de uma fraude eleitoral
generalizada, o candidato da opo-
sição requisitou à Comissão
Eleitoral que recontasse os votos.
Maduro, porém, recusou fazê-lo – e
essa é uma posição que manteve até
agora.
Sem uma aceitação pacífica do
sufrágio de Abril, a Venezuela pode
bem encontrar-se numa crise de
consequências imprevisíveis. Já não
são apenas os problemas econó-
micos; a inflação galopante, o
crescimento anémico ou os
elevadíssimos níveis de pobreza já
não, para os venezuelanos, o cerne
das suas preocupações. Com um
presidente-eleito que muitos – a
maioria do povo venezuelano? –
acham ser ilegítimo, o país está
destinado a ter uns próximos seis
anos particularmente difíceis. Na
melhor das hipóteses, Nicolás
Maduro terá um mandato
O resultado eleitoral espelhou
uma nação dividida ao meio.
Maduro venceu com 50% dos
sufrágios, ao passo que Capriles
arrecadou 49% deles. Mas a
proximidade entre as votações
de ambos os candidatos, assim
como os múltiplos relatos de
fraude eleitoral, impediram um
desfecho pacífico das eleições.
internacional 17
Reino Unido
Era um dos grandes testes à
coligação governamental liderada
por David Cameron. Forçado a pôr
em marcha políticas draconianas de
contenção orçamental, o governo
britânico caminhou para as eleições
locais de 2 de Maio com um
irremediável sentimento de perda.
Para eles, a batalha eleitoral
acarretava um único objectivo: o de
limitar, tanto quanto possível, as
perdas que sofreriam. Os traba-
lhistas, por outro lado, viram-nas
como o momento de afirmação
política do seu líder, Ed Miliband.
Nenhum dos dois, porém, alcançou
os resultados que almejava.
Primeiro-ministro desde 2010, o
conservador David Cameron não
tem tido um mandato fácil. No ano
em que ascendeu à liderança do seu
país, Cameron deparou-se com uma
nação escravizada pela dívida e em
severa depressão económica. Após
treze anos de socialismo, a herança
era pesada: o défice estrutural, que
em 1997 – isto é, no último ano dos
Conservadores no governo - não
ultrapassava os 2.2% do PIB,
aumentou entretanto para uns
históricos 11%. O desemprego teve
comportamento semelhante, ao
passo que a dívida pública tocou, em
2010, a fasquia dos 7.8%. Confron-
tados com este cenário, os
conservadores dispuseram-se a
impor ao Reino Unido uma dolorosa
receita de rigor orçamental. Isto,
aliado à aparente irresolução do
Governo britânico no palco europeu,
tem causado uma séria perda de
popularidade para a coligação entre
Conservadores e Liberais.
Mas nem por isso o futuro parece
risonho para a oposição trabalhista.
Embora os conservadores registem
mínimos históricos de apoio nas
sondagens, Ed Miliband aparenta
ser incapaz de conquistar o público
britânico. Esse é, aliás, um dos dois
ao líder da oposição: arrasando o
Partido Conservador, acharam os
trabalhistas, a liderança de Miliband
tornar-se-ia inquestionável.
Não foi, todavia, isso que acabou por
verificar-se. A grande surpresa da
noite eleitoral foi, não o resultado
dos trabalhistas, mas o sucesso dos
eurocépticos do UKIP. Liderado por
Nigel Farage, um ex-conservador
célebre pelos seus discursos entusi-
ásticos no Parlamento Europeu, o
United Kingdom Independence
Party tem vindo a afirmar-se como a
nova pedra angular da política
britânica. E não sem bom motivo:
partido novo com propostas
inovadoras, o UKIP pugna pela saída
da União Europeia, por um sistema
contributivo de taxa proporcional –
ou fixa – e pelo abandono dos
grandes projectos de obras públicas
risonho para a oposição trabalhista.
Embora os conservadores registem
mínimos históricos de apoio nas
sondagens, Ed Miliband aparenta
ser incapaz de conquistar o público
britânico. Esse é, aliás, um dos dois
aspectos em que todos os estudos
de opinião logram convergir: por
um lado, a derrota dos partidos do
governo; por outro, a incapacidade
de Miliband em afirmar-se como
alternativa política. Estas eleições
locais, realizadas num dos
momentos de maior pressão para o
executivo Con-Lib, forneceram,
porém, uma oportunidade de ouro
ao líder da oposição: arrasando o
Partido Conservador, acharam os
trabalhistas, a liderança de Miliband
tornar-se-ia inquestionável.
Não foi, todavia, isso que acabou por
verificar-se. A grande surpresa da
18 internacional
Liderado por Nigel Farage, um ex-conservador célebre pelos seus discursos entusiásticos no Parlamento Europeu, o UKIP tem vindo a afirmar-se como a nova pedra angular da política britânica. Partido novo com propostas inovadoras, o UKIP pugna pela saída da União Europeia, por um sistema contributivo de taxa proporcional – ou fixa – e pelo abandono dos grandes projectos de obras públicas que tanto os conservadores como os trabalhistas apoiam.
permanência britânica da União
Europeia seja antecipado para a
actual legislatura e mão forte contra
a imigração ilegal. E, se Cameron
não se vergou - pelo menos, por
agora – às exigências da ala mais
eurocéptica do seu partido, a
verdade é que foi já forçado a
radicalizar a sua posição face aos
imigrantes. Durante o próximo ano,
anunciou já, serão postos em
marcha projectos-lei com o anun-
partido novo com propostas
inovadoras, o UKIP pugna pela saída
da União Europeia, por um sistema
contributivo de taxa proporcional –
ou fixa – e pelo abandono dos
grandes projectos de obras públicas
que tanto os conservadores como os
trabalhistas apoiam.
Não menos relevante para o
crescimento eleitoral do partido, é a
personalidade do próprio Farage.
Tribuno insigne, Nigel Farage alia à
personificação da imagem do
conservador inglês uma aura de
intensa pugnacidade política. É aí
que, afirma, o UKIP se distingue das
restantes forças partidárias: na
determinação com que se agarra aos
objectivos com que se compromete.
O esforço, compreende-se isso hoje,
deu bons resultados. Apesar de uma
incessante campanha mediática
contra o partido, o UKIP tomou o
lugar dos liberais como terceira
força do país. Já lhe chamaram um
pouco de tudo: Cameron, primeiro-
ministro e líder dos conservadores,
sugeriu que os eurocépticos –
quantos deles, ex-membros do
partido do governo – são “racistas
de armário”. Acusações semelhantes
– e.g., de homofobia, xenofobia e
chauvinismo – choveram sobre o
novo o UKIP. Mas isso não deteve
Farage. Nada o logrou. E, contra
tudo e contra todos, o combativo
eurodeputado britânico fez-se dono
de 23% do eleitorado.
Não se fizeram esperar as reacções
ao terramoto político britânico.
Confrontados com a pior votação da
sua história – um mero 25% dos
votos -, os conservadores reite-
raram o seu pedido por uma política
externa mais firme. Ao primeiro-
ministro, exigiram que o referendo à
permanência britânica da União
Europeia seja antecipado para a
actual legislatura e mão forte contra
a imigração ilegal. E, se Cameron
não se vergou - pelo menos, por
agora – às exigências da ala mais
ciou já, serão postos em marcha
projectos-lei com o objectivo de
limitar o acesso de imigrantes
provenientes da União Europeia a
prestações sociais e serviços públi-
cos – saúde e educação incluídos.
Que influência isso terá na
contenção eleitoral do UKIP, porém,
é ainda uma incógnita. Uma coisa,
ainda assim, é certa: há muitos anos
que a política britânica não era
tão interessante.
internacional 19
A insustentável indiferença
20 opinião
sua matilha/vara - pretendem lançar a dúvida sobre uma Lei
desta Republica. Mas não! A própria Republica conhece hoje
uma Ética que permite aos seus guardiões, numa situação de
alerta para o seu status quo, transformar, travestir e inverter
qualquer Lei. A Ética Republicana hoje, permite aos
autonomeados guardiões do espirito da Lei, a subversão,
alteração e ultraje de Leis votadas na Assembleia com
consagração de poder de ius imperium.
Afinal a República Democrática, terreno da praça pública e
emanação da vontade da maioria, tem dono. E desengane-se quem
pense que este caso de grosseiro desrespeito à Lei é pontual. O
caso é paradigmático ao estado a que chegou a política neste País.
Os partidos políticos - com a humilhante excepção do Bloco de
Esquerda - por conveniência financeira, aparelhista e eleitoral,
principiaram a apresentar de ânimo leve candidatos em total
desrespeito pela referida Lei. Rapidamente muitos foram os que se
insurgiram contra esta situação, apresentando acções judiciais e
promovendo a discussão pública. Face à constatação do problema
gerado os interessados trataram rapidamente de ligar à corrente o
'Playmobil de Belém' que, sem voz, mas com caneta comandada,
tratou de agradar aos seus fornecedores de permutas, bocejos e
sorrisos, descobrindo um erro na redação da Lei.
Não vou perder uma linha a discutir “de” e “da”, deixo isso para
quem o desespero alimenta a imaginação. Mas não posso deixar
de aproveitar este espaço para alertar que nunca como hoje se
tornou público que a República Portuguesa tem sobre a sua alçada
dois Países diferentes, a quem a Lei se aplica conforme o Estatuto,
finança e poder. É verdadeiramente inexplicável que num estado
de direito democrático europeu se possa assistir, com a conivência
dos lideres dos partidos do arco governamental, aos piores
defeitos do cacique eleitoral.
O tacticismo político, a chicana, o desrespeito e a distância dos
partidos políticos face à população Portuguesa são alarmantes,
numa altura em que todos os partidos deveriam estar à altura da
situação nacional. Ser líder é muito mais do que isto, ser politico
não é seguramente isto. A podridão da discussão, a forma como se
pretende abafar as críticas e o silêncio ensurdecedor dos que
pretendem que tudo se passe com a calma de uma manhã serena,
são o sinal da insustentável indiferença que a classe politica
demonstra pelo povo Português e pela Lei aprovada em seu nome.
Resta-nos acreditar que os Tribunais não deixarão passar pelo seu
crivo este fasciculo negro do nosso já tão debilitado estado de
direito democrático.
Francisco Ancêde
uando aceitei o desafio de participar neste
Gabinete de Estudos – cujo trabalho muito me
orgulha - prometi que não deixaria a minha
opinião escorregar para o ziguezaguear
quotidiano da politica nacional. Hoje não me sinto capaz de
continuar a cumprir essa promessa. Os recentes
desenvolvimentos na questão da limitação dos mandatos
autárquicos obrigam-nos a todos a descer ao lamaçal onde
se encontra a discussão.
A Lei 46/2005 encontra-se publicada em Diário da
República desde 29 de Agosto de 2005. A intenção
legislativa era inquestionavelmente limitar a recandidatura
pessoal dos membros dos órgãos aí referidos, ficando estes
limitados a três mandatos consecutivos. Essa foi também a
percepção pública à data da discussão e publicação da lei,
tendo sido recebida com regozijo pela opinião pública. Mas
afinal o que terá mudado? Qual a razão para que haja
discussão nesta matéria? Qual é a dúvida?
Em boa verdade, nada mudou, nem existe nenhuma dúvida.
A lei é clara, transparente e ao alcance de qualquer ser
humano capaz de ler um artigo com apenas três alíneas
escritas em Português. Foi apenas a proximidade das
eleições autárquicas a realizar no próximo mês de Outubro
que trouxe à praça pública a discussão. Como todos
sabemos vários Presidentes de Camara e de Juntas de
Freguesia encontram-se legalmente impossibilitados de se
recandidatarem, uma vez que atingiram o limite dos três
mandatos previstos. Ora heis que nos bate à porta a Ética
Republicana.
Nunca percebi a necessidade de acrescentar à palavra Ética
o adjectivo Republicana. Ética é e sempre será algo que se
verifica ou espera-se que se verifique em qualquer
circunstância, relação ou momento. Mas esta Ética é
diferente, é a Republicana. Baseada no sagrado primado da
Lei, verdadeira e única representação escrita da vontade da
maioria, deveria ser argumento bastante para calar todos
os que – para proveito próprio ou cumprindo mandato da
sua matilha/vara - pretendem lançar a dúvida sobre uma
Lei desta Republica. Mas não! A própria Republica conhece
hoje uma Ética que permite aos seus guardiões, numa
situação de alerta para o seu status quo, transformar,
Q
Um grande discurso deve agitar a alma e inspirar uma nação. Esta inédita antologia reúne discursos completos e memoráveis, introduzidos pelas mais proeminentes figuras da política nacional, que através dos seus escritos e ao longo do tempo, marcaram Portugal. Por isso, e pelo facto de a ex-coordenadora do Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha, Maria Luísa Aldim, ser co-autora deste livro, interessamo-nos por saber mais sobre a obra e o que pensam os seus autores da importância da palavra e da oratória na actividade política.
QUANTO VALE UM DISCURSO? ENTREVISTAMOS MARÍA LUÍSA ALDIM E EDUARDO PEREIRA CORREIA, autores do livro ‘grandes discursos do século xx’
Qual a motivação para fazer este
livro?
Ao longo da nossa formação,
apercebemo-nos que subsistia um
vazio literário ao nível de uma
antologia política, que reunisse os
discursos completos e mais memo-
ráveis do século XX, proferidos por
figuras proeminentes da política
nacional que, ao longo do tempo, a
marcaram. Esta é uma prática
comum em diversos países da
Europa e do mundo, e muitos deles
não têm metade da nossa história
política. Sentimos que faltava na
realidade uma investigação de cariz
politológico, que soubesse seleccio-
nar os momentos que contavam um
século da história política de
Portugal.
O século passado espelhou uma
série de mudanças, contando com
um amplo debate sobre as linhas
gerais e estratégicas do pensamento
e da política externa portuguesa, o
enigma das contas públicas portu-
guesas ao longo de cem anos, as
múltiplas alterações ao sistema
eleitoral mas também de governo, o
período do Estado Novo marcado
pela II Guerra Mundial e pelo
reconhecimento dos territórios
ultramarinos, a Revolução de Abril,
e por fim o processo de demo-
cratização, com destaque na
integração de Portugal no seio da
comunidade europeia, entre muitos
outros temas.
Ao longo de cinco anos fomos
reunindo com diversas personali-
dades que tinham uma memória
histórica e política do século XX, o
que culminou com uma rara
selecção de discursos políticos
notáveis, muitos deles inéditos,
onde se apresentam questões
transversais na política portuguesa.
Como dizemos no livro, são
discursos de D. Carlos I a Francisco
Louçã, o que demonstra bem a
nossa motivação em deixar bem
patente a diversidade de temas e
‘Esta é uma prática comum em
diversos países da Europa e do
mundo, e muitos deles não têm
metade da nossa história
política. Sentimos que faltava na
realidade uma investigação de
cariz politológico, que soubesse
seleccionar os momentos que
contavam um século da história
política de Portugal.’
No caso português, o risco da
compilação de um século da nossa
história é de nos depararmos com
algo que preferíamos não ter a
percepção constante. Quando nos
vangloriamos da nossa posição
neutral e não beligerante na
segunda guerra mundial, esquece-
mo-nos que porventura perdemos
muito mais ao longo de cem anos.
Repare-se que num século, Portugal
perdeu todo o império colonial
português: Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Goa,
Damão e Diu, São Tomé e Príncipe,
Timor e Macau. Sentimos que ainda
existe uma convivência difícil com
esta matéria, como foi possível
perdermos o lugar de destaque no
mundo em tão pouco tempo,
sobretudo desenvolvendo uma
política paralela às grandes ques-
tões internacionais? Só percebendo
a acção política durante o século XX,
torna possível ter uma opinião
formada.
O que é necessário para estarmos
transversais na política portuguesa.
Como dizemos no livro, são
discursos de D. Carlos I a Francisco
Louçã, o que demonstra bem a
nossa motivação em deixar bem
patente a diversidade de temas e
actores políticos que marcaram o
século XX em Portugal.
A que grandes conclusões
chegaram sobre o poder e a
importância da palavra e do
discurso no mundo da política?
O discurso é o reflexo do pensa-mento
político. Pela palavra, se transmite o
pensamento e a emoção, mas sem o
dom da oratória não seria possível
mover uma nação. Claro que são
muitos os factores que fizeram a
nossa história, e o discurso foi o
veículo de trans-missão do pensa-
mento político dos seus actores.
No caso português, o risco da
compilação de um século da nossa
história é de nos depararmos com
algo que preferíamos não ter a
percepção constante. Quando nos
vangloriamos da nossa posição
24 entrevista
através novas tecnologias de
informação e das redes sociais, a
palavra política é sem dúvida o meio
privilegiado para abordar os
cidadãos. Cremos que grande parte
do processo de descredibilização da
actividade política e das suas
instituições deve-se sobretudo a um
facilitismo precoce que foi atingindo
uma geração de poder que
menosprezou e considerou dispen-
sável um discurso completo e
organizativo das políticas defen-
didas. Não basta governar bem, é
necessário fazer uma difusão
política adequada para que esta
possa ser julgada tão claramente
como foi transmitida.
De todos os discursos que
incluíram no livro, qual vos
marcou mais?
É muito difícil escolher somente um
discurso entre tantos, cada discurso
marca um tempo, uma história, a
vida de um autor e a sua posição
naquele momento. Contudo, há
discursos que por serem inéditos na
sua forma e conteúdo, bem como
por nunca terem sido publicados,
despertam mais a atenção e a
curiosidade, como o caso do
discurso do deputado João
Camoesas, em 1925. É um caso raro
no mundo de um discurso de nove
horas num parlamento, afim de
garantir a hegada de diversos
deputados do Porto para contrariar
uma moção de censura. Na
realidade os deputados chegaram,
mas ainda assim os votos não foram
suficientes e o governo caiu. Ficou
para a história o discurso mais
longo alguma vez realizado numa
câmara em Portugal, e reflecte a
história do nosso país desde a sua
fundação. Em contrapartida, o
discurso mais curto desta selecção
pertence a António José de Almeida,
quando em 1914 explica no
Parlamento a razão de Portugal se
envolver na Grande Guerra. Destas
tões internacionais? Só percebendo
a acção política durante o século XX,
torna possível ter uma opinião
formada.
O que é necessário para estarmos
perante um grande discurso
político?
Existem dois grandes tipos de
discursos, que merecem ambos um
destaque póstumo pela História. O
primeiro é automaticamente reco-
nhecido pela audiência, é um
discurso que percepciona sem
mácula o momento, capta a fé dos
auditores e transmite uma mensa-
gem que é totalmente esclarecida e
aplaudida. Depois há discursos que
passam despercebidos, motivados
por um erro ou falta de divulgação,
e só mais tarde são reconhecidos
como palavras de grande sabedoria
e poder. Um discurso político deve
ser crítico e motivador, capaz de
inspirar uma comunidade. Para
além do texto político, um grande
discurso obriga à oratória exemplar
e à demonstração de um coração
acelerado de paixão, que seja capaz
de transformar batalhas, exaltando
a crítica, reformando o mundo e
inspirando um povo para um
esforço excepcional. Os grandes
discursos descrevem de forma
exemplar a história de uma nação.
Crêem que o poder da oratória já
foi mais importante do que é
hoje?
Pelo contrário, cada vez mais a
palavra atinge um poder que é em
muito subestimado. Se associarmos
o discurso político a uma vasta
difusão, seja em comunicações ou
em comícios, que são mais tarde
transmitidos vezes sem conta
através novas tecnologias de
informação e das redes sociais, a
palavra política é sem dúvida o meio
privilegiado para abordar os
cidadãos. Cremos que grande parte
do processo de descredibilização da
discurso entre tantos, cada discurso
marca um tempo, uma história, a
vida de um autor e a sua posição
naquele momento. Contudo, há
discursos que por serem inéditos na
sua forma e conteúdo, bem como
por nunca terem sido publicados,
despertam mais a atenção e a
curiosidade, como o caso do
discurso do deputado João Camo-
esas, em 1925. É um caso raro no
mundo de um discurso de nove
horas num parlamento, afim de
garantir a hegada de diversos
deputados do Porto para contrariar
uma moção de censura. Na reali-
dade os deputados chegaram, mas
ainda assim os votos não foram
suficientes e o governo caiu. Ficou
para a história o discurso mais
longo alguma vez realizado numa
câmara em Portugal, e reflecte a
história do nosso país desde a sua
fundação. Em contrapartida, o
discurso mais curto desta selecção
pertence a António José de Almeida,
quando em 1914 explica no
Parlamento a razão de Portugal se
envolver na Grande Guerra. Destas
três páginas, escrevem-se ainda
hoje centenas de livros.
Certamente que tiveram de deixar
alguns discursos de fora. Qual vos
deu mais pena?
A nossa investigação é fruto de uma
análise exaustiva de mais de
quinhentos discursos examinados,
diversos singulares, com um
carácter único e uma memória
sólida que contam um século da
história política de Portugal. Pese
embora o livro seja somente de
discursos políticos, podemos
encontrar discursos de diversos
poetas, pintores, para além de Reis,
Presidentes da República,
Primeiros-Ministros, e vários
deputados. Porventura lamentamos
não ter tido espaço para alguns
discursos marcantes na sociedade
portuguesa, mas que repetiam
entrevista 25
O livro abrange os grandes
discursos do século passado. Que
discursos feitos já no século XXI
destacam, no plano nacional e
internacional?
A última década tem sido bastante
profícua ao nível de discursos
políticos, sobretudo de acordo com
as novas ameaças e desafios que se
foram formando, sendo que a actual
crise económica tem também dado
lugar a muitos políticos profetas.
Em Portugal fazem-se excelentes
discursos. Na realidade, a língua
portuguesa tem uma forte
identidade e a memória linguística é
propícia a discursos líricos. É
possível vermos diariamente diver-
sos oradores que têm ainda um
espírito deestadistas, e com um
cuidado muito especial de falar para
a história e de capacidade impres-
cindível no enriquecimento da
palavra no discurso político. No
plano internacional há discursos
marcantes que assinalaram a
política internacional, o caso dos
presidentes norte-americanos que
são um exemplo paradigmático na
condução da política norte-
americana e consequentemente
mundial. O mediatismo destes
políticos bem como a diversidade de
postura discursiva no tom
expressado, ora humorístico, ora
fatalista, ora paternal, ora crítico e
severo, pretende sempre expressar
as ideias e emoções para aproximar
e convencer ouvinte. O marketing e
a comunicação política, são cada vez
mais usados como ferramenta para
direccionar e potenciar o poder da
palavra, pelo que assistimos cada
vez mais à sua adopção por este
mundo fora.
Podemos contar com um segundo
volume em breve?
Este livro foi muito bem recebido
pelo público, tem sido uma surpresa
para nós o destaque da
comunicação social, e
fundação. Em contrapartida, o
discurso mais curto desta selecção
pertence a António José de Almeida,
quando em 1914 explica no
Parlamento a razão de Portugal se
envolver na Grande Guerra. Destas
três páginas, escrevem-se ainda
hoje centenas de livros.
Certamente que tiveram de
deixar alguns discursos de fora.
Qual vos deu mais pena?
A nossa investigação é fruto de uma
análise exaustiva de mais de
quinhentos discursos examinados,
diversos singulares, com um
carácter único e uma memória
sólida que contam um século da
história política de Portugal. Pese
embora o livro seja somente de
discursos políticos, podemos
encontrar discursos de diversos
poetas, pintores, para além de Reis,
Presidentes da República, Pri-
meiros-Ministros, e vários depu-
tados. Porventura lamentamos não
ter tido espaço para alguns
discursos marcantes na sociedade
portuguesa, mas que repetiam
excessivamente o autor ou simples-
mente não respeitavam o princípio
de compilar os discursos políticos
fundadores de Portugal. E neste
sentido fomos irredútiveis, nenhum
discurso considerado impres-
cindível poderia ficar de fora, o que
levou à edição de mais de setecentas
páginas. Mas era impossível
compilar as palavras que fizeram a
história política de Portugal no
século XX em menos do que isso,
sobretudo porque existiu da nossa
parte uma grande exigência no
respeito ao equilíbrio histórico de
cada período político.
O livro abrange os grandes
discursos do século passado. Que
discursos feitos já no século XXI
destacam, no plano nacional e
internacional?
A última década tem sido bastante
portuguesa tem uma forte identi-
dade e a memória linguística é
propícia a discursos líricos. É
possível vermos diariamente diver-
sos oradores que têm ainda um
espírito deestadistas, e com um
cuidado muito especial de falar para
a história e de capacidade impres-
cindível no enriquecimento da
palavra no discurso político. No
plano internacional há discursos
marcantes que assinalaram a
política internacional, o caso dos
presidentes norte-americanos que
são um exemplo paradigmático na
condução da política norte-
americana e consequentemente
mundial. O mediatismo destes
políticos bem como a diversidade de
postura discursiva no tom
expressado, ora humorístico, ora
fatalista, ora paternal, ora crítico e
severo, pretende sempre expressar
as ideias e emoções para aproximar
e convencer ouvinte. O marketing e
a comunicação política, são cada vez
mais usados como ferramenta para
direccionar e potenciar o poder da
palavra, pelo que assistimos cada
vez mais à sua adopção por este
mundo fora.
Podemos contar com um segundo
volume em breve?
Este livro foi muito bem recebido
pelo público, tem sido uma surpresa
para nós o destaque da
comunicação social, e
particularmente o vasto interesse
que existe sobre esta matéria.
Apesar de algum cepticismo inicial,
o mercado livreiro aceitou o espaço
necessário para tratar a nossa
história política, e verificamos que
existe uma especial atenção no
tratamento destas matérias.
Actualmente já é possível encontrar
bons livros que descrevem a
memória da política portuguesa. Da
nossa investigação, evidentemente
ficaram muitos discursos por
publicar e sobretudo novas ideias
26 entrevista
palavra, pelo que assistimos cada
vez mais à sua adopção por este
mundo fora.
Podemos contar com um segundo
volume em breve?
Este livro foi muito bem recebido
pelo público, tem sido uma surpresa
para nós o destaque da comuni-
cação social, e particularmente o
vasto interesse que existe sobre esta
matéria. Apesar de algum cepti-
cismo inicial, o mercado livreiro
aceitou o espaço necessário para
tratar a nossa história política, e
verificamos que existe uma especial
atenção no tratamento destas
matérias. Actualmente já é possível
encontrar bons livros que
descrevem a memória da política
portuguesa. Da nossa investigação,
evidentemente ficaram muitos
discursos por publicar e sobretudo
novas ideias que, de acordo com
outras perspectivas, poderá acolher
o interesse do público.
são um exemplo paradigmático na
condução da política norte-
americana e consequentemente
mundial. O mediatismo destes
políticos bem como a diversidade de
postura discursiva no tom
expressado, ora humorístico, ora
fatalista, ora paternal, ora crítico e
severo, pretende sempre expressar
as ideias e emoções para aproximar
e convencer ouvinte. O marketing e
a comunicação política, são cada vez
mais usados como ferramenta para
direccionar e potenciar o poder da
palavra, pelo que assistimos cada
vez mais à sua adopção por este
mundo fora.
Podemos contar com um segundo
volume em breve?
Este livro foi muito bem recebido
pelo público, tem sido uma surpresa
para nós o destaque da
comunicação social, e
particularmente o vasto interesse
que existe sobre esta matéria.
Apesar de algum cepticismo inicial,
o mercado livreiro aceitou o espaço
necessário para tratar a nossa
história política, e verificamos que
existe uma especial atenção no
tratamento destas matérias.
Actualmente já é possível encontrar
bons livros que descrevem a
memória da política portuguesa. Da
nossa investigação, evidentemente
ficaram muitos discursos por
publicar e sobretudo novas ideias
que, de acordo com outras
perspectivas, poderá acolher o
interesse do público.
tratar a nossa história política, e
verificamos que existe uma especial
atenção no tratamento destas
matérias. Actualmente já é possível
encontrar bons livros que
descrevem a memória da política
portuguesa. Da nossa investi-
gação, evidentemente ficaram
muitos discursos por publicar
e sobretudo novas ideias que,
de acordo com outras pers-
pectivas, poderá acolher o interesse
do público.
‘O discurso é o reflexo do
pensamento político. Pela
palavra, se transmite o
pensamento e a emoção,
mas sem o dom da oratória
não seria possível mover
uma nação. Claro que são
muitos os factores que
fizeram a nossa história, e o
discurso foi o veículo de
transmissão do pensamento
político dos seus actores.’
entrevista 27
Da eternidade dos muros
28 opinião
'apparatchiks' mantém-se incólume. A mensagem da
Europa para si própria é a mesma que Honecker
endereçava aos súbditos da Alemanha socialista: pesem
ou não as dificuldades, este é um edifício que não ruirá.
Valha o que valer. Custe o que custar.
É um sentimento generalizado, o de Barroso. Como ele,
abundam os intelectuais de algibeira que não hesitam
em associar ao processo de amalgamação comunitária
uma ideia de fatalidade. É o caso de Henrique Monteiro,
comentador diário do Expresso. Para justificar o
eurofanatismo que revela em “Pelo Euro, pela Europa”,
Monteiro não tem qualquer pejo em ignorar tudo o que
há de objectivo. Mas, diz-nos Ayn Rand, "podemos fugir
à realidade, mas não às consequências de fugir à
realidade." E essa é uma ideia tão válida para os
indivíduos como para as nações. Como Barroso,
Monteiro rejeita o papel que a NATO, verdadeira fonte
da estabilidade continental, teve na preservação da paz
europeia. Como o presidente da Comissão e demais
eurocratas, Monteiro refere que, abandonar o projecto,
seria “a confissão de que não somos capazes de
pertencer ao que se chamou, um dia, o pelotão da
frente.” Mas esse pelotão, a que tantos querem agrilhoar
Portugal, é o mesmo que, de 25% do PIB mundial em
1973, passou a representar, em 2011, uns meros 15%
da riqueza produzida no globo. O louvado clube é hoje
um entrave ao crescimento mundial, exibe níveis
recorde de desemprego e encontra-se em profunda
recessão económica. Goste-se ou não do facto, o
“pelotão da frente” está a ficar para trás. E Portugal não
deve acompanhá-lo nesse processo.
A Europa voltou à era das batalhas de produção:
combate-se, não por causas, mas para não parar de
combater. A peleja autojustifica-se. Os sacrifícios, talvez
acrescentasse Henrique Monteiro, fazem-se por
capricho – e não, como no caso português, por efectiva
necessidade de passar por eles. Para o insigne colunista
do Expresso, Portugal deve manter-se no Euro, não por
ele ser economicamente viável, mas por dotar Lisboa de
Rafael Borges
estado da realidade sobrepõe-se sempre à
realidade do Estado. Em Janeiro de 1989, o
secretário-geral do Partido Socialista Unido da
Alemanha, Erich Honecker, asseverava o mundo de que
“o muro [de Berlim] estará de pé daqui a 50, 100 anos,
se as razões para a sua existência não forem removidas.”
Apenas dez meses depois, os portões que haviam
separado os filhos da Alemanha estavam abertos,
milhões de famílias voltavam a encontrar-se e o regime
comunista colapsava. Bastou a realidade para derrotar
aquilo que Honecker julgava – ou esperava – ser eterno.
O passado dia 9 não poderia senão ter-nos relembrado
dos derradeiros meses do totalitarismo alemão. De
Lisboa a Varsóvia, de Atenas a Helsínquia, a Europa
lançou-se numa campanha de auto-enaltecimento.
Frente ao parlamento romeno, foi depositado um
estandarte comunitário de 140 metros. Por todo o
continente, centenas de instalações e escritórios da
União foram abertos ao público, numa tentativa de
mostrar proximidade entre os cidadãos e as instituições
europeias. Em Florença, o Presidente da Comissão
Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, falou
do “Estado da União.” Na cidade italiana, um dia após
ter-se pronunciado pela “inevitabilidade” da
“intensificação da união política” continental, o ex-
primeiro-ministro pediu mais poderes para Bruxelas.
Enquanto a economia europeia abeira o colapso, o seu
desemprego atinge níveis históricos e a sua dívida
aumenta desmesuradamente, o discurso dos
'apparatchiks' mantém-se incólume. A mensagem da
Europa para si própria é a mesma que Honecker
endereçava aos súbditos da Alemanha socialista: pesem
ou não as dificuldades, este é um edifício que não ruirá.
Valha o que valer. Custe o que custar.
É um sentimento generalizado, o de Barroso. Como ele,
abundam os intelectuais de algibeira que não hesitam
O
combate-se, não por causas, mas para não parar de
combater. A peleja autojustifica-se. Os sacrifícios, talvez
acrescentasse Henrique Monteiro, fazem-se por
capricho – e não, como no caso português, por efectiva
necessidade de passar por eles. Para o insigne colunista
do Expresso, Portugal deve manter-se no Euro, não por
ele ser economicamente viável, mas por dotar Lisboa de
uma aura de “modernidade”. A palavra utilizada foi
mesmo essa. Portugal deve abdicar da sua prosperidade
futura pelo desígnio pueril de ser um país “moderno”.
Deve esvaziar de poderes o seu parlamento, entregá-los
a burocratas não eleitos e manter uma divisa que,
taxativamente, teve efeitos perniciosos sobre a sua
economia. Tudo para poder dizer-se mais moderno que
estados como a Suíça, a Noruega, o Reino Unido, a
Islândia, a Suécia ou a Dinamarca.
Hoje, 63 anos após a Declaração de Schuman, a Europa
encontra-se num limbo. Mas não, creio, por muito
tempo. Os muros, lembra-nos o exemplo alemão, não
duram para sempre – e a realidade não pode ser contida
pela pompa dos Estados. Fora dos escritórios da
Comissão Europeia, há uma Europa que definha. Com ou
sem os receios dos burocratas, pesem ou não os desejos
dos intelectuais de quarta categoria que pululam pelo
continente, acabará por chegar o momento em que a
Europa acordará para a realidade. Compreenderá nessa
ocasião que, malgrado todos os seus esforços, o projecto
comunitário não teve sucesso. E isso é aquilo de que o
continente mais necessita neste momento: após a
'tragōidia', a catarse. O nosso futuro colectivo depende
de como nos prepararmos para essa circunstância.
opinião 29
Rui Albuquerque *
um tempo de diluição de
fronteiras políticas e ideo-
lógicas, agravado pela
queda do muro de Berlim e pela
convicção generalizada de que, desde
esse momento, o mundo vive numa
panaceia de capitalismo liberal,
questiona-se frequentemente a perti-
nência de se manterem as categorias
de “esquerda” e “direita”, como se
entre ambas, e dentro de cada uma
delas, as diferenças fossem ténues,
ou mesmo inexistentes. Está também
muito em voga a moda de tentar
criar novas categorias políticas que
horizontalmente ocupem espaços à
direita e à esquerda, sem verdadei-
ramente se poderem catalogar numa
ou noutra posição. Para algumas
pessoas, o liberalismo, o anarco-
capitalismo
Num tempo de diluição de
fronteiras políticas e ideológicas,
agravado pela queda do muro de
capitalismo e a social-democracia
(da «terceira via» blairiana) são
bons exemplos de teorias e práticas
políticas que não se podem
catalogar em nenhum daqueles dois
campos tradicionais. Frequente-
mente, ouvimos figuras históricas
da esquerda, como Mário Soares,
acusarem correligionários seus,
como Tony Blair ou mesmo José
Sócrates, de cedências ao “mercado”
e ao “capitalismo”, como ouvimos e
lemos liberais e anarco-capitalistas
a recusarem ser catalogados na
direita. Fará, então, algum sentido
manter ainda essa dicotomia
fundadora da nossa modernidade
política?
A minha resposta é claramente
afirmativa: mais do que nunca, faz
agora sentido o aggiorna-
mento político e ideológico à
esquerda e à direita. E acrescento
que esta diluição só prejudica
aqueles que defendem uma ideia
liberal da liberdade, o livre-
mercado, a iniciativa privada, a
redução do estado e os direitos
naturais do indivíduo. É graças a
essa diluição e à crescente falta de
identidade política, que vemos a
esquerda a condenar a direita e o
mercado, a iniciativa privada, a
redução do estado e os direitos
naturais do indivíduo. É graças a
essa diluição e à crescente falta de
identidade política, que vemos a
esquerda a condenar a direita e o
“mercado” ou o “neoliberalismo”
(que ela habilmente utiliza como
sinónimos) dos resultados catas-
tróficos das suas próprias políticas.
Ou será que, por exemplo, não
foram José Sócrates e o governo do
PS os responsáveis pela crise
económica portuguesa, mas sim os
“mercados especulativos”, a “desre-
gulamentação financeira”, enfim, o
“neoliberalismo” os grandes
responsáveis, como nos pretendem
impingir?
É da tradição católica dizer-se que o
grande truque do diabo é negar a
sua inexistência. Com a falta de
demarcação entre direita e
esquerda, esta última, que manieta
habilmente a comunicação social e,
por meio dela, a opinião pública,
tem vindo a alijar as suas
responsabilidades na crise dos
últimos anos, endossando-as a
quem elas não são devidas, nem
poderiam nunca ser, desde logo, por
ausência de responsabilidades
N
Faz ainda algum sentido ser de ‘direita’?
30 ideologia
nacional 31
tem vindo a alijar as suas respon-
sabilidades na crise dos últimos
anos, endossando-as a quem elas
não são devidas, nem poderiam
nunca ser, desde logo, por ausência
de responsabilidades governativas.
Mas, a “explicação” oficial, é que os
pobres governos de esquerda
ficaram reféns dos grandes interes-
ses dos criminosos mercados
especulativos, inspirados por um
desapiedado «neoliberalismo», que
agora há que dominar com férrea
regulamentação. As consequências
disto, a não ser desmentido,
poderão ser avassaladoras para a
liberdade. Até porque, no meio
desta intencional confusão, a
esquerda não deixa para outros os
seus próprios valores…
Como poderemos, então, estabe-
lecer uma demarcação entre
esquerda e direita? Saliente-se,
desde já, que se tratam de duas
grandes famílias, de dois ramos
separados de um enorme tronco
comum – a das ideologias políticas
modernas e democráticas, porque
só destas faz sentido falar – que
conhecem, dentro de cada uma
delas, variações consideráveis. Tem
que haver, todavia, um, ou vários,
comum – a das ideologias políticas
modernas e democráticas, porque
só destas faz sentido falar – que
conhecem, dentro de cada uma
delas, variações consideráveis. Tem
que haver, todavia, um, ou vários,
critérios de distinção, assim como
elementos comuns em cada uma
delas, para que a distinção possa
manter-se e fazer sentido.
O primeiro e mais significativo de
todos os critérios diferenciadores é
o da forma como esquerda e direita
olham para o homem.
Enquanto que a direita vê nele o
indivíduo, a esquerda tem-no como
cidadão. Nesta perspectiva, o
homem é, para a direita, por si
mesmo, sujeito e objecto de direitos
face ao poder político, enquanto
que, para a esquerda, ele existe
essencialmente na sua relação com
a coisa pública, sendo esta que lhe
garante os direitos (e impõe as
obrigações) que a direita vê como
naturais e inerentes à sua condição.
Esta distinção parte de uma
perspectiva diferente da natureza
humana.
Para a direita, o homem não é
naturalmente bom, tão-pouco é mau
por ter sido corrompido pela
Esta distinção parte de uma
perspectiva diferente da natureza
humana.
Para a direita, o homem não é
naturalmente bom, tão-pouco é mau
por ter sido corrompido pela
sociedade. Mas também não é
naturalmente mau, nem segue
instintos que sejam anti-sociais ou
destrutivos. Para a direita, o homem
tem interesses e manifesta-os,
defende-os e, se necessário for,
conflitua por eles, mas consegue
habitualmente compor as suas
necessidades com as necessidades
dos outros. É por isso que a direita
acredita no princípio da cooperação
como instinto social primário, e que
acredita que as pessoas podem
articular, entre si mesmas, os seus
interesses fundamentais. Poderá
dizer-se, a este respeito, que a
direita varia entre uma confiança
plena nas capacidades ordenadoras
naturais dos indivíduos (o mercado)
e uma confiança reservada quanto a
essas capacidades, confiando ao
governo e às instituições políticas e
jurídicas (bem mais do que ao
estado) os poderes necessários e
suficientes para evitar, ou dirimir,
conflitos mais acentuados. No
ideologia 31
essas capacidades, confiando ao
governo e às instituições políticas e
jurídicas (bem mais do que ao
estado) os poderes necessários e
suficientes para evitar, ou dirimir,
conflitos mais acentuados. No
primeiro caso temos as posições
liberais, no segundo teremos as
posições ideologicamente mais
conservadoras. Arriscaria, contudo,
dizer que as segundas são, na
prática, a face político-governativa
das primeiras, e que não existe
verdadeira antinomia política (que
não teórica) entre ambas.
Em contrapartida, para a esquerda o
homem nunca é, por si só, sufi-
ciente. Ele é uma criatura indefesa,
que carece de protecção. Seja pela
via hobbesiana, que alguma direita
ideologicamente mais conservadora
também aceita, do perigo da confli-
tualidade social extremada, seja
pela via mais esquerdista da
dominância de exploradores –
detentores do capital – dos pobres
explorados – apenas detentores da
força “bruta” do trabalho – a esquer-
da considera que o homem só será
objecto de direitos se esses direitos
forem reconhecidos e protegidos
pelo estado (mais do que pelo
governo). Por isso, para a esquerda,
antes do homem está o cidadão.
Melhor dizendo, o homem só o será
em pleno se existir uma estrutura
política que o proteja e lhe confira
os direitos fundamentais à liber-
dade e à igualdade. Também na
esquerda existem óbvias tonali-
dades de cores diferentes deste
princípio, que vão dos que
pretendem a conciliação entre um
estado interventor e um mercado
devidamente regulado, aos que
pretendem que o mercado é sempre
uma fonte de desigualdade e
discriminação, pelo que só
subsidiariamente, face ao poder
público, poderá funcionar.
A segunda distinção tem a ver com a
forma como a direita e a esquerda
O mais significativo d os critérios diferenciadores é a forma como olham para o homem. Enquanto que a direita vê nele o indivíduo, a esquerda tem-no como cidadão. O homem é, para a direita, sujeito e objecto de direitos face ao poder político. Para a esquerda, ele existe essencialmente na sua relação com a coisa pública, sendo esta que lhe garante os direitos (e impõe as obrigações) que a direita vê como naturais e inerentes à sua condição.
direita olha para a sociedade como o
resultado da acção individual, e/ou
da aprendizagem com tradição
cumulativa, da eficácia das insti-
tuições comunitárias, ou mesmo da
vontade superior de Deus, ela será
sempre, de todo o modo, algo que
não é transformável por actos
direccionados da simples vontade
humana, a esquerda olha para a
sociedade como uma ideia moldável
pelas convicções ideológicas de
quem a dirige, isto é, do governo
regulamentador e intervencionista,
actuante sobre os indivíduos e a
sociedade, ou mesmo de vanguardas
ditas esclarecidas.
Esta última distinção estabelece
uma diferença subtil, mas
substantiva, quanto à forma como a
esquerda e a direita olham para a
razão humana. Diferenciam, assim, o
racionalismo político de uma e de
outra, isto para os ramos das duas
uma fonte de desigualdade e discri-
minação, pelo que só subsidiaria-
mente, face ao poder público,
poderá funcionar.
A segunda distinção tem a ver com a
forma como a direita e a esquerda
vêem a sociedade.
A direita considera a sociedade o
resultado de forças que extravasam
o político, podendo essas forças
oscilar do indivíduo isolado no
universo ao indivíduo como parte
integrante de uma ordem trans-
cendental. A esquerda entende que
o “mundo” pode ser transfor-mado
por golpes de vontade e é o
resultado de forças inteligentes e
direccionadas. Enquanto que a
direita olha para a sociedade como o
resultado da acção individual, e/ou
da aprendizagem com tradição
cumulativa, da eficácia das
instituições comunitárias, ou
mesmo da vontade superior de
32 ideologia
normativos que o protejam perante
o poder público, é marca da direita.
O estabelecimento, ou a criação, dos
direitos dos indivíduos, não enquan-
to tal, mas como cidadãos, isto é, os
direitos que o estado atribui às
pessoas na sua relação com o poder
político é marca da esquerda.
O respeito pela tradição, enquanto
experiência acumulada pelas suces-
sivas gerações, é próprio da direita.
A possibilidade de rupturas sociais,
mais ou menos violentas, com
pendor revolucionário ou simples-
mente dirigista, é próprio da
esquerda.
E, last but not least, a função da
política e do governo. Seja por
acreditar numa ordem social
espontânea, seja por duvidar da
bondade do poder, seja por um
certo cepticismo antropológico, seja,
ainda, por crer que existem valores
de ordem superior que não estão à
disposição da simples vontade
humana, a direita oscila entre as
posições liberais do ideal do não-
governo e do reconhecimento
objectivo de um aparelho de poder
público, que importa reduzir ao
mínimo expoente possível, e as
posições mais conservadoras,
segundo as quais se aceita a
necessidade de um governo
concentrado nas funções
tradicionais da soberania (justiça,
segurança, negócios estrangeiros) e
distanciado daquelas que
pertencem ao domínio privado
(economia, educação, ambiente,
etc.). Em qualquer dos casos, a
direita defende sempre um governo
mínimo ou um governo com funções
bem determinadas. Em
contrapartida, o voluntarismo
idealista da esquerda atira-a para
um governo de amplas dimensões.
Se o homem é um ser indefeso, se a
sociedade é aquilo que nós
quisermos que ela seja e se o
destino está nas nossas mãos, então
faz todo o sentido que o político,
uma diferença subtil, mas
substantiva, quanto à forma como a
esquerda e a direita olham para a
razão humana. Diferenciam, assim, o
racionalismo político de uma e de
outra, isto para os ramos das duas
famílias que adoptam o
racionalismo como critério funda-
mental da natureza humana.
Enquanto que para a direita a razão
é sempre atributo do indivíduo, com
o qual ele pode aprender, descobrir
e tomar decisões para a sua vida,
para a esquerda existe uma razão
colectiva das coisas e dos
movimentos da História que pode
ser conhecida e manipulada por
quem governa a sociedade e os
homens.
Como corolários destas duas essen-
ciais diferenças, a esquerda e a
direita abraçam valores políticos e
filosóficos bem diferenciados.
O primado do colectivo e do
colectivismo, para as posições mais
extremadas, é apanágio da esquer-
da. O primado do indivíduo, ou do
indivíduo enquanto filho de Deus e
centro do plano divino, para a
direita mais próxima das religiões
tradicionais, é apanágio da direita.
A propriedade privada, enquanto
direito a dispor de si mesmo ou
enquanto direito fundamental a
dispor do que é seu por legítima
aquisição, versus a sujeição da
propriedade privada a critérios de
utilidade e finalidade pública,
distinguem também a direita da
esquerda.
Os direitos naturais do indivíduo à
liberdade e à propriedade, isto é, os
direitos negativos sobre os quais o
estado não poderá nunca dispor,
reconhecidos por via da Cons-
tituição ou de outros instrumentos
normativos que o protejam perante
o poder público, é marca da direita.
O estabelecimento, ou a criação, dos
direitos dos indivíduos, não
enquanto tal, mas como cidadãos,
isto é, os direitos que o estado
A possibilidade de rupturas sociais,
mais ou menos violentas, com
pendor revolucionário ou simples-
mente dirigista, é próprio da
esquerda.
E, last but not least, a função da
política e do governo. Seja por
acreditar numa ordem social espon-
tânea, seja por duvidar da bondade
do poder, seja por um certo
cepticismo antropológico, seja,
ainda, por crer que existem valores
de ordem superior que não estão à
disposição da simples vontade
humana, a direita oscila entre as
posições liberais do ideal do não-
governo e do reconhecimento
objectivo de um aparelho de poder
público, que importa reduzir ao
mínimo expoente possível, e as
posições mais conservadoras,
segundo as quais se aceita a
necessidade de um governo
concentrado nas funções
tradicionais da soberania (justiça,
segurança, negócios estrangeiros) e
distanciado daquelas que
pertencem ao domínio privado
(economia, educação, ambiente,
etc.). Em qualquer dos casos, a
direita defende sempre um governo
mínimo ou um governo com funções
bem determinadas. Em
contrapartida, o voluntarismo
idealista da esquerda atira-a para
um governo de amplas dimensões.
Se o homem é um ser indefeso, se a
sociedade é aquilo que nós
quisermos que ela seja e se o
destino está nas nossas mãos, então
faz todo o sentido que o político,
este consubstanciado nos seus
aparelhos de poder, o estado e o
governo, tenha poderes suficientes
para proteger o homem e
transformar a sociedade. Num caso
e no outro, significa isto que a
função principal do político,
segundo a esquerda, é promover a
igualdade entre os homens, de
modo, primeiro, a protegê-los
reciprocamente e a formar a
ideologia 33
A direita considera a
sociedade o resultado de
forças que extravasam o
político, podendo essas forças
oscilar do indivíduo isolado no
universo ao indivíduo como
parte integrante de uma ordem
transcendental. A esquerda
entende que o “mundo” pode
ser transformado por golpes
de vontade e é o resultado de
forças inteligentes e
direccionadas.
distribuindo recursos e desen-
volvendo políticas de promoção
económica e de igualdade social.
Este conjunto de diferenças não
esgotará a distinção entre esquerda
e direita. Certamente que mais
haverá a acrescentar e que
certamente encontraremos algumas
excepções a estas regras. Todavia,
parecem-me suficientes para esta-
belecer critérios de diferenciação e
para manter a utilidade da
dicotomia.
ainda, por crer que existem valores
de ordem superior que não estão à
disposição da simples vontade
humana, a direita oscila entre as
posições liberais do ideal do não-
governo e do reconhecimento
objectivo de um aparelho de poder
público, que importa reduzir ao
mínimo expoente possível, e as
posições mais conservadoras,
segundo as quais se aceita a
necessidade de um governo
concentrado nas funções tradi-
cionais da soberania (justiça,
segurança, negócios estrangeiros) e
distanciado daquelas que perten-
cem ao domínio privado (economia,
educação, ambiente, etc.). Em
qualquer dos casos, a direita
defende sempre um governo
mínimo ou um governo com funções
bem determinadas. Em contra-
partida, o voluntarismo idealista da
esquerda atira-a para um governo
de amplas dimensões. Se o homem é
um ser indefeso, se a sociedade é
aquilo que nós quisermos que ela
seja e se o destino está nas nossas
mãos, então faz todo o sentido que
o político, este consubstanciado
nos seus aparelhos de poder, o
estado e o governo, tenha poderes
suficientes para proteger o homem
e transformar a sociedade.
Num caso e no outro, significa
isto que a função principal do
político, segundo a esquerda, é
promover a igualdade entre os
homens, de modo, primeiro,
a protegê-los reciprocamente e a
formar a sociedade justa, depois.
Para isso, impõe-lhes direitos e
deveres que os tornam cidadãos,
isto é, iguais para e perante o
estado, e promove as leis
necessárias à igualdade material,
belecer critérios de diferenciação e
para manter a utilidade da
dicotomia.
_______________
* Rui Albuquerque é Doutor em Ciência
Política e CEO do Grupo Lusófona Brasil.
Este artigo foi originalmente publicado
em oinsurgente.org
Seja por acreditar numa ordem social espontânea, seja por duvidar da bondade do poder, seja por um certo cepticismo antropológico, a direita oscila entre as posições liberais do ideal do não-governo e do reconhecimento objectivo de um aparelho de poder público, que importa reduzir ao mínimo expoente possível, e as posições mais conservadoras, segundo as quais se aceita a necessidade de um governo concentrado nas funções tradicionais da soberania. Em qualquer dos casos, a direita defende sempre um governo mínimo.
34 ideologia
Seufert Michael
Acho dramático que qualquer política de corte na despesa seja inconstitucional. ‘ ‘
ichael Seufert
tem 30 anos e
é deputado do
CDS e da Juventude
Popular à Assembleia da
República. Natural do
Porto, foi Coordenador
do Gabinete de Estudos
Gonçalo Begonha entre
2007 e 2009, e Presidente
da Juventude Popular
desde 2009 até 2011.
Actualmente,
desempenha as funções
de Presidente da Mesa do
Conselho Nacional da
organização.
Eleito deputado pelo
círculo eleitoral do Porto
em 2009 e em 2011,
representa o CDS na
Comissão de Orçamento,
Finanças e Administração
Pública e na Comissão de
Educação, Ciência e
Cultura, na qual é o
Coordenador do Grupo
Parlamentar do partido.
38 entrevista
M
que mudam o país todos os dias.
Mais difícil é perceber o impacte a
prazo mais longo. Eu gostaria de ter
a esperança que houvesse o reco-
nhecimento que não podem haver
políticas despesistas e contas
deficitárias como as dos últimos
anos Sócrates e que é a conse-
quência dessas políticas que hoje
vivemos. Infelizmente para muitos
“especialistas” e fazedores de
opinião a austeridade é uma opção
dos malvados direitistas do governo
e não uma consequência lógica e
expectável do que vivemos nos
últimos anos.
Globalmente, que avaliação fazes do
trabalho do Governo PSD/CDS até
O país vive uma grave crise
financeira que tem provocado
significativos problemas a nível
social. Parece-te inevitável que o
momento que vivemos provocará
profundas mudanças na nossa
forma de viver? Quais?
Nem é preciso fazer futurolo-
gia para já ver as consequências
imediatas da crise financeira: im-
postos muito elevadas e cortes na
despesa pública – mesmo naquela
que as pessoas consideram “boa” –
que mudam o país todos os dias.
Mais difícil é perceber o impacte a
prazo mais longo. Eu gostaria de ter
a esperança que houvesse o
reconhecimento que não podem
haver políticas despesistas e contas
v
e não uma consequência lógica e
expectável do que vivemos nos
últimos anos.
Globalmente, que avaliação fazes
do trabalho do Governo PSD/CDS
até ao momento?
Acho que o governo está, dentro das
condicionantes que tem, a fazer um
bom trabalho. Os números de
redução da despesa e do défice são
muito respeitáveis. No entanto há
dois factores que são de difícil
aceitação: por um lado só agora em
Maio de 2013 é que aparecem
verdadeiras medidas estruturais na
despesa do estado (repare-se que
até agora os cortes foram atendidos
com reduções salariais que, quando
não foram inconstitucionais tout
court, eram sempre assumidas
como temporárias). Por outro lado,
e ainda que o efeito de reduzir o
défice seja importante para futuro, a
opção por mais impostos sempre
que os cortes na despesa não
bastavam era tomada, a meu ver,
muito depressa. Vale a pena repisar
no entanto que uma parte muito
significativa dos impostos de hoje
está a pagar políticas, despesa e
dívida do passado – na exacta
proporção do peso dos juros na
despesa pública.
Como classificas o papel do
CDS no contexto da coligação
governamental? Achas que o
partido tem sido 'mal tratado'
pelo PSD?
Não acho que tenha havido “maus
tratos” na coligação. Existem dois
partidos que têm diferentes
eleitorados e projectos e que por
isso nem sempre têm de estar de
acordo. Há em Portugal alguma
dificuldade em lidar com governos
de coligação, mas basta acompanhar
a política na Inglaterra ou na
Alemanha (para nem falar da Itália)
para perceber que é normal noutros
países que em coligações os
entrevista 39
‘Vale a pena repisar
que uma parte muito
significativa dos
impostos de hoje está a
pagar políticas, despesa
e dívida do passado – na
exacta proporção do
peso dos juros na
despesa pública.’
Claramente a diferença é que do
ponto de vista do governo se tem
acesso à realidade em primeira mão.
Por outro lado não temos tantos
graus de liberdade na nossa acção
porque, até em coligação, há
realidades que temos de acomodar.
No entanto, os partidos como os
entendo existem para governar e
não para estar na oposição, por
muito bons que sejam nisso, é
claramente no governo que
podemos desenvolver a nossa
vocação. Se é nesta altura ou com
esta herança que queremos, já é
outra questão.
Tem-se verificado no interior do
CDS e no seio do seu eleitorado,
manifestações de desagrado com
algumas medidas do governo,
nomeadamente as que têm
incidência no aumento da carga
fiscal, e que vai contra algumas
orientações do partido no passado.
recursos que circulavam por via da
dívida que hoje já não podemos
mais contrair. O governo e os
partidos não avaliaram bem o
impacte destas políticas e portanto
houve a ideia de que o ajustamento
seria simples e rápido o que nunca
seria o caso. Ao mesmo tempo o
enquadramento constitucional im-
pede o recurso a medidas menos
dolo-osas e mais rápidas – e com
isso temos de viver e a isso temos
de responder.
Foste deputado na oposição e
agora és deputado num Grupo
Parlamentar que apoia o
governo. Quais as principais
diferenças?
Claramente a diferença é que do
ponto de vista do governo se tem
acesso à realidade em primeira mão.
Por outro lado não temos tantos
graus de liberdade na nossa acção
porque, até em coligação, há
dificuldade em lidar com governos
de coligação, mas basta acompanhar
a política na Inglaterra ou na
Alemanha (para nem falar da Itália)
para perceber que é normal noutros
países que em coligações os
dirigentes e até ministros de dife-
rentes partidos assumam diver-
gências. A lealdade mede-se na
atitude e no momento dos votos nas
diferentes matérias.
Será justo para este governo que
a dimensão da crítica que lhe é
feita supere tantas vezes a que se
fez a José Sócrates, quando é mais
do que evidente que as respon
sabilidades pela difícil situação
do país se encontram mais no
passado do que no presente?
Não é certamente. Basta olhar para
o que este governo enfrenta na
gestão duma situação para a qual
pouco ou nada contribuiu (o
governo nada mesmo, os partidos
que a sustentam já a doutrina diver-
girá) e o branqueamento a que se
assiste do anterior executivo, cujo
responsável tem até direito a tempo
de antena no “serviço público”. No
entanto é razoável dizer que houve,
na campanha eleitoral e nos iniciais
momentos do governo uma péssima
gestão de expectativas.
Portugal viveu anos a fio com 4%,
5% e até 9% e 10% de défices
públicos. Ou seja, o estado endivi-
dava-se ano após ano para pagar
serviços públicos, salários, etc, sem
que se sentisse no imediato o
verdadeiro custo dessas políticas.
Ora com metas exigentes – e bem! –
de redução desse desequilíbrio
(que, tirando a despesa com juros,
ate já ocorreu!) a economia
ressente-se porque se vê privada de
recursos que circulavam por via da
dívida que hoje já não podemos
mais contrair. O governo e os
partidos não avaliaram bem o
impacte destas políticas e portanto
houve a ideia de que o ajustamento
40 entrevista
entrevista 41
manifestações de desagrado com
algumas medidas do governo,
nomeadamente as que têm
incidência no aumento da carga
fiscal, e que vai contra algumas
orientações do partido no
passado. Reves-te nessa crítica ou
encontras alguma 'atenuante'
para essa postura?
Acho que é preciso ver que o
Memorando de Entendimento prevê
expressamente aumentos de receita
fiscal e que o CDS sabia disso e que
por isso, no seu manifesto eleitoral,
deixa de assumir a necessidade da
redução da carga fiscal no imediato
- justamente porque isso estava
vedado pelo memorando. Mas claro
que não é do dia para a noite que
isso muda na cabeça das pessoas – e
ainda bem, porque acho que não
devemos perder esse património.
Percebo no entanto e apesar dessas
atenuantes que haja um impacte
negativo nos nossos apoiantes dos
sucessivos aumentos da carga fiscal
que o CDS tem apoiado. Mas chamo
também a atenção para outra barri-
cada que olha apenas para o défice
como a variável a combater e que
mesmo com aumentos da carga
fiscal importa é reduzir o défice
presente para permitir menos
impostos futuros.
Creio que, por não termos moeda
própria o que permitiria o recurso a
medidas igualmente dolorosas mas
menos visíveis como a inflação, o
ajustamento que estamos a fazer é
absolutamente original. Além disso,
como já disse, muitas medidas de
corte na despesa (e as mais estru-
turais e definitivas) são infelizmente
inconstitucionais; pelo que não se
adivinha grande solução que não
passe pelo aumento de impostos.
Nos últimos tempos, o PS tem
radicalizado a sua ruptura com o
governo, pondo em causa o
consenso político de que o país tem
benefíciado. Que importância tem
‘Os partidos como os entendo existem para governar e não para estar na oposição, por muito bons que sejam nisso, é claramente no governo que podemos desenvolver a nossa vocação. Se é nesta altura ou com esta herança que queremos, já é outra questão.’
42 entrevista
governo, pondo em causa o
consenso político de que o país
tem benefíciado. Que importância
tem esse consenso? Como
classificas essa atitude do maior
partido da oposição?
O consenso tem interesse relativo. É
importante para a nossa credi-
bilização externa e para o nosso
programa, até porque foi negociado
pelo PS. Mas por outro lado é claro
que há políticas que têm de ser de
ruptura com o passado e com as
políticas de endividamento público.
Eu diria que é importante o governo
ter uma porta aberta e que tente
negociar o possível. Para lá disso
não há que ter medo em avançar.
Que consequências práticas
temes possam vir a resultar das
recentes decisões do Tribunal
Constitucional a respeito do
Orçamento de Estado?
Acho dramático, ainda que com-
preenda no nosso enquadramento
constitucional, que qualquer política
de corte na despesa seja incons-
titucional. Ainda para mais
invocando princípios universais e
constituicionais como o da igual-
dade e o da proporcionalidade. É de
assinalar, no entanto que 5 a 6
juízes do TC não fazem essa leitura –
dependendo dos artigos em causa –
e que por isso cai por terra o
discurso de que “era óbvio que era
inconstitucional”. A leitura que se
faz dos ditos princípios é necessa-
riamente subjectiva e muitas vezaes
circunstancial.
As consequências orçamentais prá-
ticas são o encontrar de novas
medidas – e em boa hora o governo
desta vez exclui novas subidas de
impostos – que substituam a pou-
pança intencionada no Orçamento
de Estado. Fundamentalmente
foram as medidas anunciadas no
início deste mês passada pelo
primeiro-ministro que até são
globalmente bem-vindas e pecam
que o CDS tem apoiado. Mas chamo
também a atenção para outra barri-
cada que olha apenas para o défice
como a variável a combater e que
mesmo com aumentos da carga
fiscal importa é reduzir o défice
presente para permitir menos
impostos futuros.
Creio que, por não termos moeda
própria o que permitiria o recurso a
medidas igualmente dolorosas mas
menos visíveis como a inflação, o
ajustamento que estamos a fazer é
absolutamente original. Além disso,
como já disse, muitas medidas de
corte na despesa (e as mais estru-
turais e definitivas) são infelizmente
inconstitucionais; pelo que não se
adivinha grande solução que não
passe pelo aumento de impostos.
Nos últimos tempos, o PS tem
radicalizado a sua ruptura com o
governo, pondo em causa o
consenso político de que o país
tem benefíciado. Que importância
tem esse consenso? Como
classificas essa atitude do maior
partido da oposição?
O consenso tem interesse relativo. É
importante para a nossa credi-
bilização externa e para o nosso
programa, até porque foi negociado
pelo PS. Mas por outro lado é claro
que há políticas que têm de ser de
ruptura com o passado e com as
políticas de endividamento público.
Eu diria que é importante o governo
ter uma porta aberta e que tente
negociar o possível. Para lá disso
não há que ter medo em avançar.
Que consequências práticas
temes possam vir a resultar das
recentes decisões do Tribunal
Constitucional a respeito do
Orçamento de Estado?
Acho dramático, ainda que
compreenda no nosso
enquadramento constitucional, que
qualquer política de corte na
despesa seja inconstitucional. Ainda
‘Passados 37 anos desta Constituição,
ela cumpre com muita dificuldade um
propósito fundamental que é o de
enquadrar a acção do governo de modo a
promover a defesa dos cidadãos face aos
poderes do estado. Defendo um regime
que limite a acção e o poder do estado
frente às liberdades dos indivíduos.’
cidadãos face aos poderes do
estado. É sabido e digo-o sem medo
– ainda que encontrando muitas
vezes uma ignorante incompre-
ensão dos princípios de liberdade
que subjazem a este pensamento –
que defendo um regime que limite a
acção e o poder do estado frente às
liberdades dos cidadãos e dos
indivíduos.
E olhando para três bancarrotas
públicas, pagas com as poupanças
ou o trabalho dos contribuintes (os
“impostados”, como alguém escre-
veu), é evidente que temos de pôr
um travão aos ciclos socialistas da
insustentabilidade das contas
públicas.
Ao mesmo tempo, quem hoje nasça
já tem a seu cargo uma dívida de
mais de 18000€ de dívida pública.
Há algo de profundamente injusto
nisto com uma solidariedade inter-
geracional de sentido único e há
uma imoralidade subjacente no
sistema que o permite. 'No taxation
without representation' é um lema
fundamental do estado de direito
que não vale para os futuros
pança intencionada no Orçamento
de Estado. Fundamentalmente
foram as medidas anunciadas no
início deste mês passada pelo
primeiro-ministro que até são
globalmente bem-vindas e pecam
por tardias.
Ainda a esse propósito,
defendeste recentemente que o
melhor a fazer à actual
Constituição seria porventura
revogá-la e “escrever uma nova”.
Onde é que te parece que a actual
constituição falha de forma mais
grave, e porque é que este texto
já não serve o país?
É evidente que passados 37 anos de
regime desta Constituição, ela
cumpre com muita dificuldade um
propósito fundamental que é o de
enquadrar a acção do governo de
modo a promover a defesa dos
cidadãos face aos poderes do
estado. É sabido e digo-o sem medo
– ainda que encontrando muitas
vezes uma ignorante
incompreensão dos princípios de
liberdade que subjazem a este
Orçamento de Estado?
Acho dramático, ainda que com-
preenda no nosso enquadramento
constitucional, que qualquer política
de corte na despesa seja incons-
titucional. Ainda para mais invo-
cando princípios universais e
constituicionais como o da igual-
dade e o da proporcionalidade. É de
assinalar, no entanto que 5 a 6
juízes do TC não fazem essa leitura –
dependendo dos artigos em causa –
e que por isso cai por terra o
discurso de que “era óbvio que era
inconstitucional”. A leitura que se
faz dos ditos princípios é necessa-
riamente subjectiva e muitas vezaes
circunstancial.
As consequências orçamentais prá-
ticas são o encontrar de novas
medidas – e em boa hora o governo
desta vez exclui novas subidas de
impostos – que substituam a pou-
pança intencionada no Orçamento
de Estado. Fundamentalmente
foram as medidas anunciadas no
início deste mês passada pelo
primeiro-ministro que até são
globalmente bem-vindas e pecam
entrevista 43
acelerem mutuamente os efeitos
num espaço de moeda único –
seriam sempre os mais novos e os
mais velhos (que mais dificuldade
têm em entrar no mercado de
trabalho) os mais prejudicados. No
caso dos jovens é particularmente
injusto porque não tiveram voz nas
decisões políticas que aqui levaram.
Mas é nisto que dão políticas
quando se acredita que “no longo
prazo estamos todos mortos”. Por
isso volto a repetir: porque são os
jovens de hoje que sentem na pele e
de forma particular as conse-
quências do descalabro das políticas
de mais de 30 anos de desgoverno
são também os jovens que têm de
dar um sinal de que não querem que
isso se repita com os seus filhos.
Com a experiência que tens
enquanto deputado da Juventude
Popular e seu ex-Presidente, que
análise fazes da participação dos
jovens na política? O que esperar do
futuro?
Os jovens têm por vezes o “vício” de
politicamente intervirem de forma
Portugal não precisa nem deve
procurar um conflito geracional,
mas devemos reconhecer que para o
evitar devemos (a nossa geração)
tudo fazer para entregar aos nossos
filhos um país mais solidário.
As gerações mais novas parecem
ser as mais prejudicadas pelas
decisões que nos conduziram à
infeliz situação actual, ao mesmo
tempo que foram os que menos
contribuiram para ela. Como
fazer- lhes justiça e salvaguardar
o seu futuro?
É muito importante, do meu ponto
de vista, perceber que o sucessivo
acumular de dívida levaria sempre a
uma situação de dificuldade como a
que hoje vivemos. E que no
momento em que rebentasse – que
é relativamente imprevisível, dife-
rente de país para país, ainda que se
acelerem mutuamente os efeitos
num espaço de moeda único –
seriam sempre os mais novos e os
mais velhos (que mais dificuldade
têm em entrar no mercado de
trabalho) os mais prejudicados. No
geracional de sentido único e há
uma imoralidade subjacente no
sistema que o permite. 'No taxation
without representation' é um lema
fundamental do estado de direito
que não vale para os futuros
contribuintes.
Assim não vejo outra solução que
não seja introduzir garantias de
defesa dos mais fracos e dos sem
voz – que são as crianças e os que
ainda não nasceram – nomeada e
principalmente na limitação dos
endividamentos públicos.
Não há nada pior para um regime
que ver uma geração a apontar à
anterior o dedo e a viver um conflito
geracional. Aconteceu nos anos 60,
na sequência da segunda guerra
mundial, na Alemanha e na França
onde levou ao terrorismo armado
de extrema-esquerda e ao Maio de
68, respectivamente.
Portugal não precisa nem deve
procurar um conflito geracional,
mas devemos reconhecer que para o
evitar devemos (a nossa geração)
tudo fazer para entregar aos nossos
filhos um país mais solidário.
44 entrevista
Que mensagens deixas aos nossos
leitores, em especial os militantes
da Juventude Popular?
Digo que, apesar de ser a altura
mais difícil do país desde o 25 de
Abril, sermos chamados a governar
é um desafio que temos de enfrentar
com grande responsabilidade e
resiliência. E que no entanto
saibamos sempre questionar e
avaliar com espírito crítico. A JP
deve servir para juntar todos os que
dizem não aos socialismos em
Portugal e criticar, nesse espírito, os
socialismos também no governo e
assumir-se como a grande força
juvenil de direita em Portugal.
quem votar. Se havia vontade de
combater a corrupção, era mais útil
criar meios e legislação que ajudasse
ao seu combate “no acto”. Quanto à
reforma, poderia ter ido mais longe
com, por exemplo., um debate sobre
as competências e atribuições das
freguesias em meio urbano (que hoje
em dia e não obstante alguns grandes
autarcas pouco fazem). A fusão de
municípios que muitas vezes é
chamada a este debate poderia ter
existido nalguns sítios (nas áreas
metropolitanas de Porto e Lisboa,
p.ex.) mas trariam provavelmente a
necessidade de criar algum tipo de
outra estrutura intermédia.
Que mensagens deixas aos nossos
leitores, em especial os militantes
da Juventude Popular?
Digo que, apesar de ser a altura
mais difícil do país desde o 25 de
Abril, sermos chamados a governar
é um desafio que temos de enfrentar
com grande responsabilidade e
resiliência. E que no entanto
saibamos sempre questionar e
avaliar com espírito crítico. A JP
deve servir para juntar todos os que
dizem não aos socialismos em
Portugal e criticar, nesse espírito, os
socialismos também no governo e
assumir-se como a grande força
juvenil de direita em Portugal.
Popular e seu ex-Presidente, que
análise fazes da participação dos
jovens na política? O que esperar
do futuro?
Os jovens têm por vezes o “vício” de
politicamente intervirem de forma
fechada em temas “de juventude”, o
que eu acho um erro. Acho que é
importante intervirem de forma
transversal, transmitindo a sua
visão (igual ou diferente, mas
sempre própria) sobre o que está na
agenda. Isso obriga, ao nível das
organizações políticas de juventude,
à constituição de equipas multi-
facetadas o que na JP sempre se fez
com bastante sucesso – hoje vejo
muitas pessoas das equipas do João
Almeida e do Pedro Moutinho a
intervirem politica ou empresa-
rialmente duma forma directa nas
áreas que acompanhavam na
direcção nacional da JP.
O que vejo hoje directamente na JP é
uma grande importância na forma-
ção e na produção de documentos
de imensa qualidade sobre o
pensamento político e os temas
mais quentes. Acho que isso indica
um futuro muito saudável, se esses
documentos chegarem aos militantes
e forem debatidos internamente.
Ainda este ano, o país será
chamado a um novo acto
eleitoral: as eleições autárquicas.
Parece-te que a reforma
administrativa levada a cabo era
fundamental e foi bem feita? Qual
a tua opinião sobre a questão da
limitação de mandatos
autárquicos, que muita polémica
tem causado?
Sou contra a limitação de mandatos
– acho que os eleitores não
precisam duma tutela sobre em
quem votar. Se havia vontade de
combater a corrupção, era mais útil
criar meios e legislação que
ajudasse ao seu combate “no acto”.
Quanto à reforma, poderia ter ido
mais longe com, por exemplo., um
O que vejo hoje na JP é uma grande importância na formação e na produção de documentos de imensa qualidade sobre o pensamento político e os temas mais quentes. Acho que isso indica um futuro muito saudável, se esses documentos chegarem aos militantes e forem debatidos internamente.
entrevista 45
Margaret thatcher
A VIDA E a OBRA da
seus governos ajudaram a incen-
tivar outas tendências interna-
cionais que alargaram e apro-
fundaram, durante os anos 1980 e
1990, como o fim da Guerra Fria, a
propagação da democracia e do
crescimento de mercados livres e o
reforço da liberdade política e
económica em todos os continentes.
Margaret Thatcher tornou-se um
dos líderes políticos mais influentes
e respeitados em todo o mundo,
bem como um dos mais contro-
versos. Um ponto de referência para
os amigos e os inimigos.
mente com Ronald Reagan, um dos
fundadores de uma escola de
fundadores de uma escola de
políticos de convicções conser-
vadoras, o que teve um impacto
poderoso e duradouro sobre a
política na Grã-Bretanha (bem como
nos Estados Unidos) e lhe rendeu
uma maior visibilidade inter-
nacional do que qualquer político
britânico tivera desde Winston
Churchill. Com a progressiva – e
bem sucedida – mudança da política
britânica em termos económicos e
de política externa para a direita, os
seus governos ajudaram a incen-
tivar outas tendências interna-
cionais que alargaram e apro-
fundaram, durante os anos 1980 e
1990, como o fim da Guerra Fria, a
propagação da democracia e do
urante os seus mandatos,
Thatcher reformulou quase
todos os aspectos da
política britânica, reavivando a
economia, reformando as institui-
ções ultrapassadas e revigorando a
política externa do país. Desafiou e
contribuiu decisivamente para
derrubar a mentalidade de declínio
que se enraizara no país desde a
Segunda Guerra Mundial, procu-
rando a recuperação nacional com
uma energia e uma determinação
impressionantes. Nesse processo,
Margaret Thatcher tornou-se, junta-
mente com Ronald Reagan, um dos
fundadores de uma escola de
políticos de convicções
conservadoras, o que teve um
impacto poderoso e duradouro
sobre a política na Grã-Bretanha
D
com os traumas do pós-guerra, bem
como com o aumento do nível de
tributação e regulação estatal. Ao
contrário de muitos conservadores
na época, tinha facilidade em conse-
guir a atenção de qualquer audi-
ência e falando de forma simples e
directa, com força e confiança, em
questões que eram importantes
para os eleitores.
1951-1970
FAMÍLIA E CARREIRA
Foi também em Dartford que
Margaret conheceu o seu marido,
Denis Thatcher, um empresário local,
que geriu a empresa da sua família
antes de se tornar um executivo da
indústria do petróleo. Casaram em
1951. Em 1953 foram pais pela
primeira vez, dos gémeos Mark e
Carol.
Na década de 1950, Margaret
Thatcher estagiou como advogada,
1950-1951
CANDIDATA POR DARTFORD
Com vinte e poucos anos, Margaret
concorreu como candidata conser-
vadora par o lugar de Dartford, um
bastião trabalhaista, nas Eleições
Gerais de 1950 e 1951, ganhando
notoriedade nacional como a
mulher candidata mais jovem do
país. Perdeu as duas vezes, mas
contribuiu para reduzir a maioria
do Partido Trabalhista de forma
acentuada e gostou extremamente
da experiência de campanha. Alguns
aspectos do seu estilo político foram
forjados em Dartford, perante um
eleitorado em grande parte cons-
tituído por operários, que sofreram
com os traumas do pós-guerra, bem
como com o aumento do nível de
tributação e regulação estatal. Ao
contrário de muitos conservadores
na época, tinha facilidade em
conseguir a atenção de qualquer
1925-1947
GRANTHAM E OXFORD
O início da vida de Margaret
Thatcher em Grantham desem-
penhou um grande papel na
formação das suas convicções
políticas. Os seus pais, Alfred e
Beatrice Roberts, eram metodistas.
A vida social da família foi vivida,
em grande parte, dentro da
comunidade perto da congregação
local, definida por fortes tradições
de auto-ajuda, o trabalho de
caridade e a honestidade pessoal. A
família Roberts geria uma loja e
criava as suas duas filhas num
apartamento por cima da loja.
Margaret Roberts frequentou uma
escola pública local e, poste-
riormente, conseguiu um lugar na
Universidade de Oxford, onde
estudou química na Somerville
College (1943-1947). O seu tutor foi
Dorothy Hodgkin, um pioneiro da
cristalografia de raios X, que ganhou
o Prémio Nobel em 1964. A sua visão
foi profundamente influ-enciada pela
sua formação científica. Mas a
química ficou em segundo plano,
perdendo o primeiro para a política
nos planos de Margaret Thatcher
para o futuro. Política conservadora
sempre foi uma característica da sua
vida: o seu pai desempenhara
funções políticas em Grantham e
partilhava com ela as questões do
dia-a-dia. Margaret foi eleita
presidente da Associação de Estudan-
tes Conservadores em Oxford e
conheceu muitos políticos proemi-
nentes, tornando-se conhecida para
as figuras mais relevantes do seu
partido no momento da derrota
devastadora frente ao Partido Tra-
balhista nas eleições gerais de 1945.
1950-1951: CANDIDATA POR
DARTFORD
Com vinte e poucos anos, Margaret
Margaret Thatcher nasceu no seio de uma família de
comerciantes, na pequena localidade de Grantham. A
educação e a vivência da infância haveriam de marcar
decisivamente o seu futuro político.
48 especial
1975
LÍDER DO PARTIDO
CONSERVADOR
Muitos conservadores estavam
prontos para uma nova abordagem
depois do governo de Heath e
quando o partido perdeu uma
segunda eleição geral em Outubro de
1974, Margaret Thatcher concorreu
contra Heath para a liderança. Para
surpresa geral (ela próprio incluída),
em Fevereiro de 1975, Thatcher
derrotou Heath, embora contestada
por meia dúzia de colegas mais
velhos. Ela tornou-se, assim, a
primeira mulher a liderar um partido
político ocidental e a servir como
líder da oposição na Câmara dos
Comuns.
1975-1979: LÍDER DA OPOSIÇÃO
O Governo trabalhista de 1974-1979
foi um dos mais profícuos em crises
na história britânica, levando o país a
um estado de falência técnica em
1976, quando um colapso no valor
da moeda nas bolsas estrangeiras
forçou o governo a negociar crédito
do Fundo Monetário Internacional
(FMI). O FMI impôs controlos
rigoroso da despesa do Estado como
condição para o empréstimo, que,
ironicamente, melhorou a opinião
pública sobre o Partido Trabalhista.
No verão de 1978, ainda parecia a
reeleição ainda parecia possível. Mas
durante o inverno de 1978/79, a
sorte do governo esgotou-se. As
reivindicações sindicais conduziram
a uma epidemia de greves e mostrou
que o governo pouca influência
conseguiu exercer sobre os seus
aliados no movimento sindical. A
opinião pública virou-se contra o
Partido Trabalhista e os
Conservadores conquistaram a
maioria parlamentar na eleição geral
de Maio de 1979. No dia seguinte,
Margaret Thatcher tornou-se
Eleito com promessas de
recuperação económica através do
controlo dos sindicatos e da intro-
dução de políticas de mercado livre,
executou uma série de políticas
contrárias - apelidadas de 'U-Turns' -
para se tornar um dos governos mais
intervencionistas da história bri-
tânica. A negociação com os
sindicatos para introduzir um
controlo detalhado dos salários, pre-
ços e dividendos, foi disso exemplo.
Derrotado nas eleições gerais em
Fevereiro de 1974, o governo Heath
deixou um legado de inflação e
conflito industrial.
1975: LÍDER DO PARTIDO
CONSERVADOR
Muitos conservadores estavam
prontos para uma nova abordagem
depois do governo de Heath e
quando o partido perdeu uma
segunda eleição geral em Outubro de
1974, Margaret Thatcher concorreu
contra Heath para a liderança. Para
surpresa geral (ela próprio incluída),
em Fevereiro de 1975, Thatcher
derrotou Heath, embora contestada
por meia dúzia de colegas mais
velhos. Ela tornou-se, assim, a
primeira mulher a liderar um partido
político ocidental e a servir como
líder da oposição na Câmara dos
Comuns.
1975-1979: LÍDER DA OPOSIÇÃO
O Governo trabalhista de 1974-1979
foi um dos mais profícuos em crises
na história britânica, levando o país a
um estado de falência técnica em
1976, quando um colapso no valor
da moeda nas bolsas estrangeiras
forçou o governo a negociar crédito
do Fundo Monetário Internacional
(FMI). O FMI impôs controlos
rigoroso da despesa do Estado como
condição para o empréstimo, que,
indústria do petróleo. Casaram em
1951. Em 1953 foram pais pela pri-
meira vez, dos gémeos Mark e Carol.
Na década de 1950, Margaret
Thatcher estagiou como advogada,
particularmente em matéria relaci-
onadas com fiscalidade. Foi eleita
para o Parlamento em 1959 por
Finchley, um circunscrição no norte
de Londres que continuou a
representar até ser eleita membro da
Câmara dos Lordes (como Baronesa
Thatcher) em 1992. Em de dois anos,
foi-lhe dado um pequeno cargo no
governo de Harold Macmillan e entre
1964-1970 (quando os conser-
vadores estavam novamente em
oposição), estabeleceu o seu lugar
entre as figuras séniores do partido,
servindo continuamente como um
dos ministros sombra. Quando os
conservadores voltaram ao poder,
em 1970, sob a liderança de Edward
Heath, Thatcher manteve a sua tem-
dência ascendente e chegou a
ministra da Educação.
1970-1974
MINISTRA DA EDUCAÇÃO
Margaret Thatcher passou um mau
bocado como ministra da Educação.
No início dos anos 1970 viveu o pico
do radicalismo estudantil, bem como
enormes tumultos em termos sociais.
Manifestantes interrompiam os seus
discursos, a imprensa ligada à
oposição difamava-a, e a política de
educação em si parecia caminha
inexoravelmente para a esquerda
sem que ela o conseguisse travar, o
que a deixou muito desconfortável. O
próprio governo de Heath teve vida
difícil durante o seu mandato (1970-
1974) e decepcionou muita gente.
Eleito com promessas de
recuperação económica através do
controlo dos sindicatos e da
introdução de políticas de mercado
livre, executou uma série de políticas
contrárias - apelidadas de 'U-Turns' -
Após uma experiência no governo como Ministra da
Educação, Tatcher concorre à liderança do Partido
Conservador em Fevereiro de 1975 derrota o adversário,
Edward Heath.
especial 49
de que faria o que fosse necessário
para mantê-la baixa. O orçamento da
Primavera de 1981, com um
aumento de impostos no ponto mais
baixo da recessão não pareceu o
mais convencional, mas permitiu um
corte nas taxas de juro e reiterou a
determinação férrea das convicções
do governo. A recuperação econó-
mica iniciada no mesmo trimestre e
foi seguida de oito consecutivos anos
de crescimento. O apoio político
aumentou com as conquistas, mas a
reeleição do governo só foi
determinada por um evento impre-
visível: a Guerra das Falkland. A
invasão argentina das ilhas em Abril
de 1982 encontrou uma Margaret
Thatcher firme e determinada na
direcção certa. Embora tenha traba-
lhado com os EUA na busca de uma
solução diplomática, um contingente
militar britânico foi enviado para
tomar as ilhas de volta. Quando a
diplomacia falhou, a ação militar foi
rápida e bem sucedida e as Ilhas
Falkland estavam novamente sob
controlo britânico em Junho de 1982.
O eleitorado ficou impressionado.
Poucos líderes britânicos ou
europeua teriam lutado por ilhas tão
pequensa e distantes. Ao fazer isso,
Margaret Thatcher lançou as bases
para uma política externa muito mais
vigorosa e independente durante o
resto do 1980s. Nas eleições gerais
de Junho de 1983, Thatcher foi
reeleita e a maioria parlamentar dos
Conservadores mais do que triplicou
(144 lugares).
2º MANDATO
O segundo mandato de Thatcher
começou com quase tantas
dificuldades como o primeiro. O
governo viu-se desafiado pelo
sindicato dos mineiros, que pôs em
marcha uma greve de um ano de
duração em 1984-85. O movimento
sindical como um todo tentava
colocar uma dura resistência às
económico do país. A curto prazo,
medidas dolorosas foram neces-
sárias. Embora os impostos directos
tivessem sido cortados, para
restaurar os incentivos, o orçamento
teve de ser equilibrado, e os
impostos indiretos foram aumen-
tados. A economia já estava a vias de
entrar numa recessão, mas a inflação
subia e as taxas de juro tiveram que
ser aumentadas para a controlar. Até
o final do primeiro mandato de
Margaret Thatcher, o desemprego no
Reino Unido representava três
milhões de pessoas e começou a cair
somente em 1986. Uma grande parte
da ineficiente indústria britânica
estava a fechar. Ninguém previra a
gravidade da crise. Mas ganhos de
longo prazo fundamentais foram
conseguidos. A inflação foi contro-
lada e o governo criou a expectativa
de que faria o que fosse necessário
para mantê-la baixa. O orçamento da
Primavera de 1981, com um
aumento de impostos no ponto mais
baixo da recessão não pareceu o
mais convencional, mas permitiu um
corte nas taxas de juro e reiterou a
determinação férrea das convicções
do governo. A recuperação
económica iniciada no mesmo
trimestre e foi seguida de oito
consecutivos anos de crescimento. O
apoio político aumentou com as
conquistas, mas a reeleição do
governo só foi determinada por um
evento imprevisível: a Guerra das
Falkland. A invasão argentina das
ilhas em Abril de 1982 encontrou
uma Margaret Thatcher firme e
determinada na direcção certa.
Embora tenha trabalhado com os
EUA na busca de uma solução
diplomática, um contingente militar
britânico foi enviado para tomar as
ilhas de volta. Quando a diplomacia
falhou, a ação militar foi rápida e
bem sucedida e as Ilhas Falkland
estavam novamente sob controlo
britânico em Junho de 1982. O
eleitorado ficou impressionado.
primeira mulher a liderar um partido
político ocidental e a servir como
líder da oposição na Câmara dos
Comuns.
1975-1979
LÍDER DA OPOSIÇÃO
O Governo trabalhista de 1974-1979
foi um dos mais profícuos em crises
na história britânica, levando o país a
um estado de falência técnica em
1976, quando um colapso no valor
da moeda nas bolsas estrangeiras
forçou o governo a negociar crédito
do Fundo Monetário Internacional
(FMI). O FMI impôs controlos
rigoroso da despesa do Estado como
condição para o empréstimo, que,
ironicamente, melhorou a opinião
pública sobre o Partido Trabalhista.
No verão de 1978, ainda parecia a
reeleição ainda parecia possível. Mas
durante o inverno de 1978/79, a
sorte do governo esgotou-se. As
reivindicações sindicais conduziram
a uma epidemia de greves e mostrou
que o governo pouca influência
conseguiu exercer sobre os seus
aliados no movimento sindical. A
opinião pública virou-se contra o
Partido Trabalhista e os Conser-
vadores conquistaram a maioria
parlamentar na eleição geral de Maio
de 1979. No dia seguinte, Margaret
Thatcher tornou-se Primeira-
Ministra do Reino Unido.
1979-1990
OS ANOS EM DOWNING STREET
1º Mandato
O novo governo liderado por
Margaret Thatcher comprometeu-se
a analisar e inverter o declínio
económico do país. A curto prazo,
medidas dolorosas foram
necessárias. Embora os impostos
directos tivessem sido cortados, para
restaurar os incentivos, o orçamento
teve de ser equilibrado, e os
Em Maio de 1979, Margaret Thatcher e o Partido
Conservador obtém uma significativa vitórias na Eleição
Geral. Thatcher sobe ao cargo de Primeira-MInnistra,
herdando um país economica e socialmente de rastos.
50 especial
as greves de fome nas prisões em
1980-1981. A sua política era
implacavelmente hostil face ao
terrorismo, o que não a impediu de
negociar o Acordo Anglo-Irlandês de
1985, com a República da Irlanda. O
acordo foi uma tentativa de melhorar
a cooperação de segurança entre o
Reino Unido e a Irlanda e de dar
algum reconhecimento para a visão
política dos católicos na Irlanda do
Norte, uma iniciativa que ganhou o
apoio da Administração Reagan e do
Congresso dos EUA. A economia
continuou a melhorar durante 1983-
87 com as políticas de liberalização
económica que até foram prorro-
gadas. O governo começou a adoptar
uma política de venda de activos
estatais, que haviam totalizado mais
de 20 por cento da economia quando
os conservadores chegaram ao poder
em 1979. As privatizações britânicas
dos anos 1980 foram o primeiro do
seu género e veio a ter grande
influência em todo o mundo. A ala
esquerda do Partido Conservador
sempre se mostrara desconfortável
com esta líder. Em Janeiro de 1986,
as divisões duradoura entre
esquerda e direita no gabinete de
reverter as suas principais
características. Em outubro de 1984,
quando a greve ainda estava em
andamento, o Exército Republicano
Irlandês (IRA) tentou assassinar
Margaret Thatcher e muitos ele-
mentos do seu gabinete, bombar-
deando um hotel em Brighton
durante a conferência anual do
Partido Conservador. Embora ela
tenha saído ilesa, alguns de seus
colegas mais próximos estavam
entre os feridos e mortos e o quarto
ao lado do dela foi severamente
danificado. No século XX, nenhum
outro primeiro-ministro britânico
chegou perto de ser assassinado. A
política britânica na Irlanda do Norte
tinha sido uma fonte permanente de
conflitos para cada primeiro-minis-
tro desde 1969, mas Margaret
Thatcher despertou um ódio especial
do IRA devido À sua recusa em
atender as pretensões políticas da
organização, nomeadamente durante
as greves de fome nas prisões em
1980-1981. A sua política era
implacavelmente hostil face ao
terrorismo, o que não a impediu de
negociar o Acordo Anglo-Irlandês de
1985, com a República da Irlanda. O
militar britânico foi enviado para
tomar as ilhas de volta. Quando a
diplomacia falhou, a ação militar foi
rápida e bem sucedida e as Ilhas
Falkland estavam novamente sob
controlo britânico em Junho de 1982.
O eleitorado ficou impressionado.
Poucos líderes britânicos ou
europeua teriam lutado por ilhas tão
pequensa e distantes. Ao fazer isso,
Margaret Thatcher lançou as bases
para uma política externa muito mais
vigorosa e independente durante o
resto do 1980s. Nas eleições gerais
de Junho de 1983, Thatcher foi
reeleita e a maioria parlamentar dos
Conservadores mais do que triplicou
(144 lugares).
2º Mandato
O segundo mandato de Thatcher
começou com quase tantas dificul-
dades como o primeiro. O governo
viu-se desafiado pelo sindicato dos
mineiros, que pôs em marcha uma
greve de um ano de duração em
1984-85. O movimento sindical
como um todo tentava colocar uma
dura resistência às reformas que o
governo tentava introduzir no
mundo sindical, que começaram com
a legislação em 1980 e 1982 e
continuou após a eleição geral. A
greve dos mineiros foi uma das mais
violentas e de longa duração na
história britânica. O resultado era
incerto, mas depois de muitas voltas,
o sindicato foi derrotado. Este
acontecimento veio a revelar-se um
desenvolvimento crucial, pois asse-
gurou que as reformas de Thatcher
teriam viabilidade. Nos anos que se
seguiram, a oposição trabalhista
tranquilamente aceitou a populari-
dade e o sucesso da legislação
sindical e comprometeram-se a não
reverter as suas principais
características. Em outubro de 1984,
quando a greve ainda estava em
andamento, o Exército Republicano
Irlandês (IRA) tentou assassinar
Margaret Thatcher e muitos
Um dos acontecimentos mais marcantes do seu primeiro
mandato em Downing Street foi a Guerra das Falkland. A
invasão argentina das ilhas em Abril de 1982 encontrou
uma Margaret Thatcher firme e determinada.
especial 51
influência em todo o mundo. A ala
esquerda do Partido Conservador
sempre se mostrara desconfortável
com esta líder. Em Janeiro de 1986,
as divisões duradoura entre
esquerda e direita no gabinete de
Thatcher foram expostos publica-
mente pela renúncia súbita do
ministro da Defesa, Michael
Heseltine, devido a uma disputa
sobre os problemas de negócios da
fabricante de helicópteros britânicos,
Westland. A precipitação do "Caso
Westland 'desafiou a liderança de
Margaret Thatcher como nunca. Ela
sobreviveu à crise, mas seus efeitos
foram significativos. Thatcher foi
submetida a fortes críticas dentro do
próprio partido devido à decisão de
permitir que aviões dos EUA
voassem a partir de bases britânicas
para atacar alvos na Líbia (Abril de
1986). Houve rumores de que o
governo e a sua líder estariam
'cansados' depois de tanto tempo no
poder.
A sua resposta foi característica: na
conferência anual do Partido
Conservador, em Outubro de 1986, o
seu discurso prenunciou uma massa
de reformas para um terceiro
governo Thatcher. Com a economia
tão forte, as perspectivas eram boas
para uma eleição e o governo foi
reconduzido com uma nova maioria
parlamentar em Junho de 1987.
3º Mandato
A plataforma legislativa do terceiro
mandato de Thatcher esteve entre os
mais ambiciosos alguma vez
apresentados por uma adminis-
tração britânica. Houve medidas
para reformar o sistema de ensino
(1988), a introdução de um pro-
grama nacional para a primeira vez.
Implementou-se um novo sistema
fiscal para o governo local (1989), a
Comissão de Comunidade, ou
"imposto de votação", como foi
apelidado pelos adversários. E não
havia legislação para compradores e
Major, em 1991). Por outro lado, as
reformas na educação e na saúde
mostraram-se duradouras. Dentro
do Partido Conservador e do próprio
governo havia uma discordância
profunda sobre a política europeia.
Thatcher encontrava-se cada vez
mais em desacordo com seu ministro
das Relações Exteriores, Sir Geoffrey
Howe, sobre todas as questões que
diziam respeito à integração
europeia. O seu discurso em Bruges,
em Setembro de 1988, começou o
processo pelo qual o Partido
Conservador - ao mesmo tempo em
grande parte "pró-europeu" - se
tornou predominantemente "euro-
céptico". Paradoxalmente, tudo isso
aconteceu em um cenário de eventos
internacionais profundamente úteis
à causa conservadora. Margaret
Thatcher, desempenhou um papel
importante na última parte na última
fase da Guerra Fria, tanto no
fortalecimento da aliança ocidental
contra os soviéticos no início de
1980, como no sucesso da vitória
nesse conflito. Os soviéticos haviam
Implementou-se um novo sistema
fiscal para o governo local (1989), a
Comissão de Comunidade, ou
"imposto de votação", como foi
apelidado pelos adversários. E não
havia legislação para compradores e
fornecedores distintos dentro do
Serviço Nacional de Saúde (1990),
abrindo o serviço a uma medida de
competição pela primeira vez, que
aumentou as possibilidades de uma
gestão eficaz. A maior parte das
medidas foi profundamente contro-
versa. A Comissão de Comunidade,
em particular, tornou-se um sério
problema político, com conselhos
locais a aproveitarem a introdução
de um novo sistema para aumentar
os impostos, responsabilizando por
esse aumento o governo Thatcher (o
sistema foi abandonado pelo su-
cessor de Margaret Thatcher, John
Major, em 1991). Por outro lado, as
reformas na educação e na saúde
mostraram-se duradouras. Dentro
do Partido Conservador e do próprio
52 especial
conquistou a maioria dos votos. No
entanto, sob as regras do partido a
margem era insuficiente, e um
segundo escrutínio foi exigido. Tendo
recebido a notícia numa conferência
em Paris, ela imediatamente anunciou
a sua intenção de lutar pela vitória.
Mas um terremoto político aproxima-
va-se . Após o seu regresso a Londres,
quando muitos colegas do seu
gabinete - insensíveis sobre a sua
posição sobre a Europa e duvidando
que ela poderia ganhar uma quarta
eleição geral – abandonaram abrupta-
mente Thatcher deixando-a sem apoio
e sem outra escolha que não a retirada.
Thatcher renunciou ao cargo de
Primeiro-Ministro em 28 de novembro
de 1990. John Major sucedeu-lhe,
tendo ficado no cargo até a eleição
esmagadora do governo trabalhista de
Tony Blair em Maio de 1997.
nhou um papel construtivo na diplo-
macia que tornou mais suave o
desmembramento da União Soviética.
No final de 1990, a Guerra Fria
acabou e capitalismo venceu. Mas
esse evento desencadeou a fase
seguinte da integração europeia, uma
vez que a França retomou o projecto
de uma moeda única europeia, com a
esperança de controlar o poder de
uma Alemanha reunificada. Como
resultado, as divisões sobre política
europeia no seio do governo britânico
que foram aprofundadas até o final da
Guerra Fria, agora tornar-se-iam pro-
zfundamente agudas. No dia 1 de
Novembro de 1990, Sir Geoffrey
Howe fez um discurso de renúncia
amargo e precipitou um desafio à
liderança de Margaret Thatcher do
seu partido por Michael Heseltine. Na
votação que se seguiu, Thatcher
conquistou a maioria dos votos. No
entanto, sob as regras do partido a
margem era insuficiente, e um
segundo escrutínio foi exigido. Tendo
recebido a notícia numa conferência
em Paris, ela imediatamente anunciou
importante na última parte na última
fase da Guerra Fria, tanto no
fortalecimento da aliança ocidental
contra os soviéticos no início de 1980,
como no sucesso da vitória nesse
conflito. Os soviéticos haviam
apelidado Thatcher de "Dama de
Ferro" – algo que ela adorou –
inspirados pela dureza dos discursos
que proferira contra eles pouco
depois de se tornar líder do Partido
Conservador em 1975. Durante os
anos 1980, Thatcher ofereceu um
forte apoio às políticas da
Administração Reagan. Mas quando
Mikhail Gorbachev surgiu como um
potencial líder da União Soviética,
Thatcher convidou-o a ir ao Reino
Unido em Dezembro de 1984 e
anunciou que aquele seria um homem
com o qual ela estaria disposta a
negociar. Por isso, Thatcher desempe-
nhou um papel construtivo na
diplomacia que tornou mais suave o
desmembramento da União Soviética.
No final de 1990, a Guerra Fria
acabou e capitalismo venceu. Mas
esse evento desencadeou a fase
Em 1990, Margaret
Thatcher abandonou
Downing Street, deixando o
Reino Unido numa situação
económicao e financeira
melhor do que a tinha
encontrado. Foi uma grande
estadista, responsável pela
recuperação do respeito
internacional pelo Reino
Unido e pela queda do
comunismo. A 'Dama de
Ferro' deixou uma marca
inigualável na política do
século XX.
especial 53
54 especial
Sustentabilidade do Estado Social: que caminho?
sofrer sucessivas alterações a nível da designação e da
respectiva orgânica. Actualmente, com a entrada em funções
do XIX Governo Constitucional, foi extinto o Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social e criado o Ministério da
Solidariedade e da Segurança Social, transitando as áreas do
trabalho, emprego e formação profissional para o Ministério
da Economia e do Emprego.
Mas as transformações que foram ocorrendo não foram
apenas no nome e na estrutura, que não representam mais
do que a simples adaptação ao evoluir dos tempos e das
necessidades, as verdadeiras modificações aconteceram ao
nível das condições sobre as quais assentou a construção do
Estado Social como hoje o conhecemos, que se alteraram por
completo, tornando a discussão do seu modelo de
financiamento um tema actual e urgente.
A composição etária da população portuguesa entre 1970 e
2011 mudou radicalmente. Em 1970 a população portuguesa
tinha mais jovens (28,47%) do que idosos (9,67%), sendo os
adultos o grupo predominante (61,86%). Duas décadas
passadas, no ano de 1991, o povo português continua a
registar mais jovens (19,99%) do que idosos (13,61%),
embora já seja evidente o decréscimo da população entre os
0 e os 14 anos, e os adultos permanecem como grupo
predominante (66,40%). Mais vinte anos depois esta
realidade assume contornos dramáticos.
No final da primeira década do século XXI o grupo
maioritário continua a ser o dos adultos (66,08%), mas os
idosos cresceram de forma preocupante (19,03%), o que
seria apenas um sinal positivo resultante do aumento da
esperança média de vida, reflexo da grande evolução ao nível
das condições de vida, se este não fosse acompanhado por
uma igualmente forte redução do número de jovens
(14,89%), fruto da diminuição do número de nascimentos.
Em cerca de 40 anos, o país e o seu território mudaram
profundamente. A população activa manteve-se o grupo
maioritário, verificando um acréscimo de 31,04%, passando
de 5 326 435 a 6 979 785 habitantes. Por sua vez, a
população jovem registou um decréscimo de -35,87%,
passando de 2 451 850 a 1 572 329 habitantes, enquanto a
população idosa observou um aumento de 141,35%,
passando de 832 840 a 2 010 064 habitantes.
A realidade é que, numa Europa em contínuo e crescente
Lúcia Santos
mbora imperfeito e com inúmeras contradições,
o Estado Social é uma conquista civilizacional que
tem contribuído para a coesão social e a
correcção de desequilíbrios, assentando na ideia de uma
forma organizativa de sociedade que dá uma resposta
colectiva às necessidades de cada uma das pessoas.
Mas sem colocar em causa nenhum destes pressupostos,
nem a sua importância, a verdade é que estamos
perante um cenário crítico, no qual as economias
europeias e, em especial, a portuguesa, não se
desenvolvem a um ritmo suficiente para assegurar a
sustentabilidade financeira deste modelo, ao mesmo
tempo que os gastos com os sistemas sociais e de saúde
aumentam para níveis dificilmente suportáveis.
Apesar da criação do Ministério do Trabalho e
Previdência Social em 1916, extinto nove anos depois
após várias alterações orgânicas, foi durante o período
do Estado Novo, com a criação do modelo da
Previdência Social, que se formaram as bases
institucionais em que assenta o actual Estado Social em
Portugal. As decisões políticas sobre a previdência
tomadas no período entre 1933 e 1973, em particular a
Reforma da Previdência de 1962, constituíram marcos
significativos na história desta construção.
As etapas ultrapassadas durante este período foram
muito relevantes, mas a grande transformação na
Previdência Social ocorreu na década de 70, com a
criação das bases para a concretização de um
verdadeiro sistema de Segurança Social, o qual apenas
foi concluído na década seguinte.
Ao longo de todos estes anos, e segundo as políticas
definidas por cada Governo, o sector governamental das
vulgarmente chamadas “áreas sociais” tem vindo a
sofrer sucessivas alterações a nível da designação e da
respectiva orgânica. Actualmente, com a entrada em
funções do XIX Governo Constitucional, foi extinto o
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e
criado o Ministério da Solidariedade e da Segurança
E
inserção, é um contributo desestabilizador decisivo em todo
este processo.
Analisando novamente apenas a evolução na primeira
década do século XXI é possível constatar que o número de
beneficiários do subsídio de desemprego cresceu 57,06%
em apenas 10 anos, passando de 190 463 a 299 147
beneficiários. Por sua vez, o número de beneficiários do
rendimento social de inserção verificou um acréscimo de
128,47%, passando de 46 357 a 105 911 habitantes.
De facto, a seguir ao aumento dos gastos do Estado com as
pensões, a subida da despesa com o subsídio de
desemprego, segunda mais importante prestação social,
provocou um impacto social profundamente negativo, pelo
custo adicional que introduziu na equação.
Perante este cenário a questão que se impõe é como
poderemos nós assegurar a manutenção do Estado Social
em Portugal.
Em qualquer situação que se possa colocar, a distribuição
depende sempre da criação de riqueza, pelo que a sua
garantia tem obrigatoriamente de significar, sempre e em
primeiro lugar, gerar os recursos necessários para a sua
preservação.
Mas a verdade é que o modelo está assente num pressuposto
que já não se observa. A deterioração do ratio de
dependência entre os que pagam e os que recebem é uma
realidade e perante esta restam apenas duas opções: ou
temos a coragem de desenhar um novo sistema adequado à
nossa estrutura social ou deixamos que a demagogia leve a
melhor e por um simples populismo eleitoral nada fazemos.
Esta segunda opção apenas tem um desfecho possível, o
colapso do Estado Social.
Nós, enquanto jovens, temos a obrigação de exigir a coragem
necessária para a mudança. Que a esquerda radical não
assuma este problema em nada surpreende. A novidade é
ver o Partido Socialista (PS) recusar participar neste debate,
mas o momento em que os socialistas olham para o lado
procurando o eleitoralismo fácil está registado.
Fica assim claro que, apesar da coragem demostrada pelo
Governo em trazer esta discussão fundamental para a ordem
do dia, a esquerda se demitiu da sua obrigação de encarar
estes factos e de apoiar na construção de um modelo ade-
quado aos nossos dias. O PS arruinou o nosso presente e está
com vontade de destruir o nosso futuro. Vamos deixar?
população jovem registou um decréscimo de -35,87%,
passando de 2 451 850 a 1 572 329 habitantes, enquanto a
população idosa observou um aumento de 141,35%,
passando de 832 840 a 2 010 064 habitantes.
A realidade é que, numa Europa em contínuo e crescente
declínio demográfico, Portugal sobressai pela velocidade a
que este envelhecimento populacional acontece. Em 2012
nasceram 90 026 bebés e morreram 107 287 pessoas,
valores que se traduzem em mais 17 261 funerais do que
partos. Esta situação ganha outra dimensão quando se
verifica que em 2008 o saldo era positivo em 314 indivíduos.
Foram necessários apenas quatro anos para que estes
valores atingissem uma discrepância com esta ordem de
grandeza.
Quando se analisa a evolução do número de beneficiários de
pensões, principal prestação social, facilmente se percebe o
custo social deste envelhecimento demográfico. Em apenas
uma década (2001-2011) o número de pensionistas sofreu
um acréscimo de 18,55%, passando de 2 074 443 a 2 459
338 beneficiários. O mesmo tem vindo a acontecer com a
saúde, embora em menor escala.
Este cenário torna-se ainda mais dramático quando
considerados os valores das projeções demográficas para o
ano de 2050, que tornam possível constatar que o
envelhecimento populacional se vai manter e agravar,
prevendo-se atingir um total de 243 idosos para cada 100
jovens em 40 anos.
Considerando que o Estado Social tem como um dos seus
pilares de sustentação a população activa suportar a
dependente, facilmente se percebe que, com uma demografia
que desequilibra as transferências intergeracionais e
aumenta a despesa com a protecção social e a saúde, estamos
perante uma equação de difícil resolução.
Mas este não é o único problema que assombra o Estado
Social. A verdade é que outros factores há que tornam o
sistema actual ainda mais desequilibrado.
A actual conjuntura socio-económica tem favorecido o
crescimento gravoso do desemprego e a consequente
degradação do poder económico da população. Este
acréscimo da população em situação de grave carência
económica e em risco de exclusão social, que se traduz num
aumento do recurso a subsídios de desemprego e a outras
medidas de protecção social, como o rendimento social de
inserção, é um contributo desestabilizador decisivo em todo
este processo.
Analisando novamente apenas a evolução na primeira
década do século XXI é possível constatar que o número de
beneficiários do subsídio de desemprego cresceu 57,06% em
apenas 10 anos, passando de 190 463 a 299 147
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