padre vilson groh
Post on 06-Mar-2016
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Propostas do padre Vilson Groh para a transformação da realidade.
Eu conheci o Movimento dos Focolares quando eu tinha cerca de 20 anos, durante a
ditadura no Brasil. Quando eu soube que seus membros viviam em comunidade e
colocavam as coisas em comum, para mim, foi uma iluminação. Desde então, eu
pensei que era possível transformação social.
O entendimento de Jesus crucificado e abandonado me levou a olhar internamente.
Era uma maneira de compreender o meu ministério. Então senti que não poderia estar
em uma paróquia; fechado. Eu vivi por um ano em uma catedral, que foi o acordo
com o Bispo, e depois fui para a periferia trabalhar neste tema, onde estou até hoje.
Minha fé causou uma mudança geográfica na compreensão da Encarnação social, de
estar aberto a isso.
Jesus Crucificado e abandonado é um ponto-chave para a América Latina e o Caribe
dentro destes assuntos, o que traz várias imagens dele. Temos em mãos uma grande
chance de responder a partir desta compreensão, Jesus Crucificado e Abandonado é
um meio para a etapa de compreensão desta realidade, oferecendo uma perspectiva de
resgate humano. Na América Latina e Caribe desigualdades são profundas e grandes,
tornaram-se culturais, e se acostumou a conviver com a injustiça social. João Paulo II
disse, em sua primeira viagem à América Latina, que estranhou ver um continente
cristão tão desigual.
Tocar o abandono é a nossa capacidade de entrar nessa relação de comunhão com os
mais excluídos. Pode-se fazer uma outra leitura da Doutrina Social da Igreja na
encarnação e na relação para desencadear processos com e entre as pessoas. Portanto,
é importante inculturar-nos no mundo afro ou indígena, tão profundos. O caminho
antropológico da Encarnação com essas ferramentas nos ajudam a entender essas
desigualdades e ver como trabalhar com o desigual. O discurso comum sobre a
pobreza concentra-se fortemente no acesso às oportunidades. Não está totalmente
errado, mas é muito mais enriquecedor partir do pobre e da sua realidade; não é que o
pobre tenha somente carências, pelo contrário, é alguém muito rico de conhecimento,
de mudanças. Quando Chiara disse que em Jesus Abandonado está todo o Paraíso
com a Trindade, por exemplo, só com isso é possível fazer uma outra leitura dos
documentos da Igreja.
A igreja é um povo de Deus, um grande aporte para o continente, especialmente
graças às comunidades de base, que fazem vivas as Palavras em uma visão social. Os
documentos das conferências falam sobre o pobre, como um rosto do Crucificado que
abre um caminho para a Ressurreição. O grito cria o diálogo. O vinculo com o pobre
abre o diálogo. Na religiosidade popular, Jesus Abandonado está dentro do continente
americano, assim como Maria Desolada. Não podemos nos esquecer que vemos
Maria em Guadalupe e Aparecida já inculturada. Para que Jesus seja ressuscitado,
sem falta, é indispensável o elemento mariano, e nós somos Obra de Maria, que
graças a nossa espiritualidade, podemos fazer uma nova leitura do Magnificat.
Como podemos viver isso nas grandes cidades? É muito interessante faze-lo no
vínculo centro-periferia, ou na relação empresa privada e pobres. Temos que construir
esse diálogo e comunicar-nos através do ecumenismo, dialogando com todos, com o
mundo ateu dentro das universidades, por exemplo.
Nestas novas leituras, recuperando de novo a memória de uma Igreja, que deve estar
em processo contínuo de conversão e missão. Qual pode ser a vontade de Deus para o
continente? O bem comum, para gerar oportunidades através de ferramentas
fundamentais como o trabalho em rede (sozinhos, não vamos a nenhum lugar), e
gerando o protagonismo do pobre, ajudando-os a ser autônomos no exercício de sua
cidadania e promovendo a justiça social.
Temos que criticar a apatia política, que deve ter um compromisso com a
humanização da vida. A solidariedade nasce quando não me dá vergonha a carne do
outro. Deve existir compromisso com a justiça, ajudando a redistribuição dos bens. A
Palavra é força de emancipação e ajuda a recuperar a dignidade, sempre na
supremacia do amor. O bem comum é um direito. É preciso fortalecer a sociedade
com os mecanismos de controle e articulação global e local. Por último, lembremo-
nos de que Jesus Crucificado e Abandonado é um patrimônio do continente, não é
somente para nós.
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